15 and Pregnant

Finalizada em: 31/03/2020

Prólogo

A história da minha vida vai ser contada em duas partes e a primeira vocês lerão agora.

Nasci praticamente na mesma casa que a minha melhor amiga. Daí vem a ideia dela ser minha melhor amiga.
Na verdade, nossas mães sempre foram inseparáveis e tinham a ideia de ter filhos juntos para que eles fossem tão grudados quanto e assim por diante. Minha mãe acabou engravidando tempos antes, nos dando uma diferença de sete meses. Não é muito para nós, mas foi para nossas mães.
Quando descobriram que eu era homem, as duas torceram para a minha tia (sim, a chamo assim mas seu nome é Maris) ter um homem também. Quando a notícia de que ela esperava uma menina veio, por uns segundos ficaram desanimadas; mas só até a mente brilhante do meu pai soltar um “O meu filho vai estragar a sua filha” bem machista e elas se tocarem que seria incrível, já que poderíamos casar e ter filhos - o que as juntaria mais ainda, tornando-as da mesma família.
Meu pai realmente sempre apoiou a ideia de eu, literalmente, estragar a filha do sócio dele.


Capítulo 1

Sempre tive os melhores amigos que todos sonham e como tenho orgulho de todos eles, vou apresentá-los rapidamente.
- Um dia ficamos amigos dele quando fomos jogar bola no parque. Ele é bem esquisito, mas é portador da melhor risada do mundo.
- Muito quieto e na dele enquanto você não dá confiança nem intimidade. Ele apareceu um dia no colégio achando que ia colocar mais terror do que eu e então ficamos amigos. E os pais dele nunca estão em casa, então não nos importamos com o fato dele entrar para o grupo...
- Acreditem se quiser, eu não faço ideia de como ele chegou e nem como ficou. Mas é um cara incrível e sensato, então tudo bem.
- Na maioria das vezes é legal. Apareceu depois que entrou na pré-escola. A aceitamos de vez quando descobrimos que ela é a única que tem poder sobre .
- Minha melhor amiga.
Aquela que “eu vou estragar”.
- Essa aí é chata mesmo. Só deixamos entrar no grupo porque ela é minha vizinha e a mãe dela ajuda a minha na horta que temos em casa. E porque ficamos com pena quando soubemos que ela era nova na cidade e não conseguia fazer novos amigos.

Eu estava como sempre caminhando até a casa de . Como morávamos perto, íamos juntos para colégio todos os dias. E se tivesse algum programa do grupo, também.
Fiz um barulho com a boca assim que cheguei perto de sua varanda. Logo que me viu, levantou do banco que estava sentada e veio ao meu encontro. Dei um aceno de cabeça para ela e continuamos nosso caminho calados. Com a graça de , que me ligou, pude relaxar enquanto falava com ele ao telefone. Desliguei, dei mais alguns passos e bati na porta da casa que eu mais entrava em toda cidade, depois da minha.
A porta logo se abriu deixando à mostra uma mulher ruiva e sorridente.
- Amor da minha vida. - ela me abraçou forte e eu retribuí. - estava aqui na sala agora mesmo. Querem entrar?
- Tudo bem ficamos aqui fora. - eu disse e pude ver concordando.
- Não façam essa desfeita comigo. - ela nos olhou torto.
- Eles não vão fazer, mãe. Já estou aqui. - apareceu por trás de sua mãe, vestindo calça jeans e blusa branca.
- Não voltem tarde. - Maris a olhou, negando com a cabeça. Então se virou toda séria para mim. - Toma conta dela.
- Até parece que eu não vou. - respondi dando uma piscadinha.
- Até parece que precisa. Eu que tomo conta dele. - cortou meu barato com a mãe dela e depois dessa acenamos juntos e fomos embora, caminhando na direção da casa mais festeira de toda Londres.

Assim que chegamos, pudemos perceber que os já presentes estavam extremamente animados. Ouvia-se a risada escandalosa de da esquina. Provavelmente já tinham bebido um pouco e estavam assistindo vídeos sem nexo.
Toquei a campainha mais por educação mesmo, já que não costumava trancar a porta de casa.
- Até que enfim, já estava achando que tinham se perdido. - o mesmo abriu a porta sorridente me dando um tapa (porrada) nas costas.
As meninas estavam mais atrás um pouco, conversando. Elas sempre atrasavam a caminhada porque não eram espertas o suficiente para falar e andar ao mesmo tempo. Por isso, na maioria das vezes, alguém tentava arranjar o carro de algum dos pais quando íamos sair.
Como ninguém tinha carteira, o único que realmente podia usar carro era eu. Eu até tinha um, meio antigão, mas sem carteira dificultava nossos esquemas.
- Nem que eu quisesse, você sabe... Meus pés me trariam para cá de qualquer forma. – disse, já entrando na casa e me sentando em um dos sofás, após acenar para , que estava deitado de barriga para baixo em um divã. apareceu com na porta da cozinha e reparei que os dois estavam um pouco vermelhos na parte acima do queixo. - Pegou raiva do ? - perguntei maroto enquanto tirava uma almofada do lugar.
e finalmente entraram atrás de .
- Você é engraçado, . Juro. Eu que não estou muito a fim de rir. - respondeu fazendo cara de deboche. Mandei dedo para ele.
sentou do meu lado e como era de costume, pegou a primeira coisa que encontrou em cima da mesa de centro para xeretar. Era uma caixa de madeira. Como bom fofoqueiro que sou, tentei olhar de rabo de olho o que continha lá dentro. Ela tirou de lá um papel, o desdobrou, leu e riu alto. apareceu dois segundos depois, arrancou tudo da mão dela enquanto a olhava feio, guardou a caixa em um armário e sentou de frente para nós dois.
- Quer, por favor. parar de mexer nas minhas coisas sempre que vem aqui?
- É inevitável, suas coisas me chamam, elas têm um ar misterioso. - rolou os olhos e, então, como se uma luz tivesse sido acesa em seu cérebro, ficou em posição ereta e olhou sério para ela.
- Eu ainda quero a minha boxer do pulp fiction de volta. - sussurrou. Ela negou e ele apoiou as mãos nos joelhos dela. - Ela é a minha preferida, eu não pediria de volta se não fosse. - me segurei para não rir.
Não dava para acreditar. Estávamos a menos de cinco minutos no recinto, sem beber uma gota de álcool e a conversa já estava em um ponto decadente. levantou, abriu o botão da calça, abaixou o zíper e sorriu cínica.
- Essa aqui? - arregalei os olhos, puxei sua blusa para baixo e a olhei feio, como quem dá bronca. Ela com certeza tinha conseguido beber antes de ir. Provavelmente mexeu no armário de bebidas do pai. – Ih, , vai ficar dando uma mãe, é? - ela rolou os olhos e subiu o zíper.
- Ela pediu para eu tomar conta de você. - disse ainda sem largar a blusa, enquanto ela fechava o botão.
- Ela te pede isso toda vez que você põe o pé lá em casa. É mais normal do que dar bom dia, sejamos sinceros.
- Ela se preocupa com você. - ela rolou os olhos e levantou, puxando junto. Os dois foram para a cozinha.
Aproveitei para ir até o bar dos pais de e abri uma portinha pequena. Me sentei no banco alto e abri uma bebida meio amarelada. Entornei um pouco em um copo para não parecer que tinham mexido. e assoviaram para mim e acabei colocando para eles também.
Engolimos tudo de uma vez só. Dei uma leve mexida na cabeça. Saí do bar e me deitei no sofá, olhando o teto.
Pouco tempo depois, senti cutucadas na parte lateral da barriga; abri os olhos devagar e estava na minha frente sorrindo. Sorri de volta e ela me cutucou de novo.
- Eu estou acordado, sabia?
- Estava de olhos fechados.
- Mas ainda assim, estava acordado. - fechei lentamente os olhos e a ouvi bufar, sem paciência alguma.
- Vamos brincar do jogo das cantadas.
- Isso já passou. - me movi, procurando uma posição melhor.
- Mas dessa vez tem prêmio. e eu decidimos mudar um pouco as regras. Vamos, agora é mais legal.
- O que eu não faço por você? - suspirei e deixei os ombros caírem.
- Isso, vem comigo. - ela se levantou e puxou meu braço para que eu fosse junto. Mais uma tarde animada na casa dos . E como sempre, o Jogo das Cantadas acabava sendo o ponto alto da noite.

O "Jogo das Cantadas" nada mais era do que nós sentados em uma roda, uma garrafa vazia e cantadas toscas. Cada ponta da garrafa indicava quem ia cantar e quem ia ser cantado. A pessoa que era cantada avaliava e dava uma nota de zero a dez. No final, a pessoa que somasse mais pontos, ganhava um prêmio do resto do grupo. Geralmente variava entre sorvete, alguma comida, ter o direito de escolher o próximo filme que iríamos assistir juntos... Coisas do tipo.
e criaram o jogo em um dia que não tínhamos nada para fazer e resolvemos imitar alguns caras do colégio que passavam cantadas horríveis nos corredores, antes das aulas.
Nos acomodamos na sala de jogos dos para ouvir as incríveis novas regras do nosso ultrapassado jogo. Estávamos, em sentido horário: Eu, , , , , e .
- As novas regras são... - olhou para nós e riu "maleficamente". - Se a pessoa gostar da cantada, ao invés de pontos, agora quem cantou vai receber um prêmio na hora. - ele rodou um dadinho no meio dos dedos. - Meus pais acham que sabem esconder... - só então fui reparar. Tinha um dado na mão dele com ações do tipo "beijo", "lambida", "abraço" e por aí vai. arregalou os olhos. Provavelmente não era isso que tinham combinado. Na hora que vi, ri alto. Ela sempre foi a mais "pura" de todos nós.
A mesma resolveu se pronunciar.
- Caso a pessoa não goste da cantada, bebe um gole de vodca. - se acomodou, sentando de pernas cruzadas e todos olhamos para ela meio embasbacados.
- Quem teve a brilhante ideia? - fez a pergunta que todos nós nos fazíamos mentalmente. sorriu e tossiu, cutucando-o com o cotovelo. Ele fechou a cara, indicando-a com o dedo. - Você é minha diva. - fez pose mandando beijos e então continuou.
- Mas a graça é pensarmos que alguém do nosso interesse está realmente usando a cantada. Não podemos ficar pensando que quem falou foi um amigo, senão não faz sentido. - concordou enquanto rodava o dado no meio dos dedos. - E eu não dei ideia do dado das ações, só falei que poderíamos fazer algo mais picante. Já que dar nota está um pouco ultrapassado. - terminou tirando o dela da reta antes que a auréola caísse.
- A ideia era só dar uma animada, mas achei ainda mais interessante adicionar um nível de dificuldade, com o dado de partes do corpo humano. - sorriu com maldade enquanto tirava do bolso um outro dado. Todos nos olhamos sem acreditar no que ele tinha falado.
Ficamos uns dois minutos em total silêncio, até que eu resolvi quebrar o momento. Peguei a garrafa e perguntei quem iria começar.
- Roda você, já que está com a garrafa na mão. - deu de ombros.
- O hábito fala mais alto. - comentou e eu mandei dedo para ela. Mereço. Um dia ainda atiro nessa menina. Brinquei pesado, desculpa.
Rodei. cantava .
- Olha o respeito, ouviu bem? - ela foi logo falando.
- , pensa no menino dos seus sonhos te cantando do jeito que ele vai te cantar. - lembrou e todos nós prendemos a respiração para ver como seria a primeira rodada com as novas regras. Estávamos todos ansiosos.
Olhamos para e ele fazia movimentos estranhos com a boca. De repente sorriu olhando para a vodca.
- Você gosta de Ice? - se voltou para , que confirmou com a cabeça. - Ice eu te pego. - nós rimos alto e ela arregalou os olhos. Os dados estavam parados no meio da roda. Ela os pegou e os jogou. Ficamos tão chocados que nos entre olhamos enquanto os objetos rodavam no tapete. Assim que pararam, fez uma cara triste.
se levantou, foi até como quem caminha para a morte e lhe deu um beijo na bochecha.
- Fajuto esse dadinho, eu mando uma super na moral e essa droga vem com esse papinho de lambida beijinho na bochecha. Nada a ver. - ele cruzou o braço e nós rimos. era surreal.
- Quer algo mais quente, leva a para o quarto. - comentou, já se preparando para desviar do sapato que jogou logo após ouvir a frase. a segurou por um braço e então voltamos a rodar a garrafa. e eu. - Pensa numa mulher belíssima, .
- Ainda se fosse você me cantando, né? Mas com o não dá. - nós todos rimos. Mais por saber que eu e nunca no mundo iríamos nos relacionar, do que realmente por ter feito o comentário sobre .
Nos viramos atentos, esperando o que sairia da boca de . Ele costumava ganhar o jogo, era realmente esforçado, talentoso.
- Eu deixo um brigadeiro e um beijinho na mesa. Tem um terremoto e o brigadeiro cai. E o beijinho, rola?
- Nossa, ... - levantou as mãos e se jogou para trás. Deixei minha cabeça pender para o lado, enquanto tentava entender o que tinha acontecido com o talento do nosso amigo.
- OK, um mulherão... - falei alto, enquanto olhava para o tapete e brigava internamente com meus botões. Poucos segundos depois, peguei os dados e riu alto. bateu os pés no chão e bateu palmas. seguia estático, mas abriu a boca para fazer seu comentário.
- Só queria entender como manda uma cantada tão péssima e ainda consegue o prêmio.
Joguei os dados e fiquei ansioso esperando o resultado. Com sorte, seria muito melhor do que a cantada em si.
- É cara, acho que o beijinho vai rolar. - comentou após olhar o resultado. Beijo na barriga. Recebi uns tapinhas nas costas enquanto ria.
levantou a blusa e sorriu debochado. Em um segundo fiz o que devia e voltei a sentar. levantou um dos braços, apontou para enquanto olhava para mim e reclamou com uns "Ei, ei, ei".
- Não tem escrito a duração do beijo. - comemorei com uma dancinha bem mal feita.
voltou a rodar a garrafa. Aquela vodca ainda estava inteirinha me olhando. e .
- Você é a mordida da minha Apple. - soltou rapidamente, o que me deixou bem assustado, já que eu não tinha nenhuma cantada realmente boa na ponta da língua.
a olhou estranho e abriu a garrafa dando um gole. É, nunca foi muito boa com as cantadas.
- Essa foi muito melhor do que a do . Injustiça. - se meteu, enquanto segurava a garrafa vazia na mão. - Ela queria era beber que eu sei. - ele reclamou e quando foi responder, chamou a atenção de volta para o jogo. rodou a garrafa. Eu com .
Sorri maliciosamente para ela, que me deu um tapinha com a maior cara de deboche do mundo, já se preparando para pegar a vodca.
Eu não era um competidor de destaque nesse jogo, admito...
- Miau, miau, miau. - fiz o som enquanto olhava para ela.
- Você está se sentindo bem? - ela riu e eu afirmei com a cabeça.
- Só tentando me comunicar com você. - então se levantou e me abraçou bem forte pelo pescoço.
- Ai que lindo! - ela pegou os dados e jogou. Logo depois sentou no meu colo, me dando mais um abraço forte. Olhei o resultado. Era exatamente o que ela tinha feito.
- Seus pais são fracos demais , fala sério. Esse dado é para criança de 10 anos, não para nós. - reclamou em desespero, no auge de seus 15 anos.
- Somos tão adultos... - comentou levando uma almofadada de . Ela rodou a garrafa, e . Ele levantou as sobrancelhas. animado. - Vou tirar uma foto sua e colocar no Wikipedia como sinônimo de perfeição.
- Desculpa, . - deu um longo gole na bebida. - Nenhuma mulher me ganha desse jeito.
- Quem disse que eu queria te ganhar hoje? - ela deu de ombros com o nariz pra cima.
- E quer nos outros dias? - perguntou rapidamente. e riram alto. mandou língua para , reclamando que nunca ficaria ele.
Mas todos sabiam que eles eram o casal mais provável do grupo.
- Gente, hoje eu entrei na página do Google. - interrompeu enquanto mexia no cabelo e todos nós rolamos os olhos. - Só ia dizer que hoje é o aniversário de 30 anos do Pac Man, aquele joguinho que todo mundo que existe e não existe, mas já jogou... - jogamos almofadas em , na esperança de que ele se calasse.
acalmou os ânimos de todos e olhou sem paciência para . Para acabar com a bagunça de uma vez, rodei a garrafa. e . Tenso.
- Hoje é o 30º aniversário do Pac Man, vamos brincar de come-come? - explodimos em risadas com a associação relâmpago e tomou um gole da vodca, sem nem pensar duas vezes.
Não foi boa, mas foi ao mesmo tempo. rodou a garrafa. e .
- Não tinha GPS por isso demorei muito para te encontrar. - pegou os dados e bufou assim que viu o resultado. riu alto com todo o sarcasmo que podia, enquanto levantava sua blusa. então lambeu sua barriga e e eu rimos sem parar por quase dois minutos, após sair correndo para o banheiro.
- Agora sim está melhorando! - batemos as mãos em um hi-five de respeito.
Enquanto não voltava e e eu não conseguíamos parar de rir, e foram até a cozinha pegar refrigerantes. Assim que voltaram, acabamos sentando em lugares diferentes do que estávamos antes.
Acabamos alterando a ordem para, em sentido horário: eu, , , , , e .
voltou vermelho, já sentando e rodando a garrafa. e eu, tenso ao quadrado.
- Não sou acionista da bolsa de valores, mas quero investir em você. - ela arregalou os olhos pegando rápido a garrafa e bebendo quase que por todo mundo. arrancou a vodca da mão dela e nós rimos. - Não foi tão ruim, vai.
- Claro que não, foi péssima. , por favor, antes de sair com alguém ou mesmo ANTES de alguma coisa, corra para mim, preciso te iluminar. - todos riram, alto menos eu.
Estava todo crente que essa iria finalmente ser boa.
- Deixa sua mãe saber que você fica bebendo desse jeito. - joguei com as armas que eu tinha e em segundos vi o corpo dela ao lado do meu. Seus olhos quase me furavam. - Calma, eu não vou falar nada, você sabe.
- Acho bom mesmo. - disse voltando ao seu lugar de origem. assoviou e rodou a garrafa chamando atenção para o jogo. e .
- Não sou o presidente dos Estados Unidos mas, YES, WE CAN! - arregalou os olhos o máximo que pôde, pegou os dados e os jogou.
O resultado foi um pouco inesperado, não vou mentir. riu alto e sentou de frente para , esperando-a tomar uma atitude.
segurou o queixo de e deu um selinho nela, logo depois fazendo uma careta.
- Fresca. - rolou os olhos comentando.
- É porque não foi você. Se fosse seria muito pior. - alfinetei. Mais fresca que ela, nem .
- Cala a sua boca, . Beijar a deve ser a mesma coisa que beijar você. - ela me mandou dedo e os caras fizeram barulhos, esperando a continuação da briga que provavelmente seria mais animada que o jogo.
- Está me chamando de quê? - levantei uma sobrancelha e ela deu de ombros.
- OPA! - gritou, veio para o meu lado e apoiou a mão no meu peito, como quem tenta apartar uma briga. - Olha que coisa, é você de novo! – disse, me olhando e apontando para a garrafa. Segui olhando puto para . Abaixei para enxergar a garrafa e quase me bati. levantou a sobrancelha (de um jeito sexy) e rodei minha cabeça atrás de uma cantada que a fizesse jogar os dados só para me vingar.
- Pronta? - perguntei sorrindo, já com o gostinho da vingança na boca.
- É só mandar. - ela sorriu de volta, convencida.
- Ei, morena provocante, vamos tomar um refrigerante? - assim que terminei a frase, a sala ficou alguns segundos em silêncio. Até que não se conteve e abriu a boca.
- Ah, cara, que broxa! - os meninos começaram a me zoar e eu me concentrei apenas em e os dadinhos. Eu sabia que a cantada era péssima, mas com ela funcionaria.
Sorri grande quando ela os jogou, deixando todos os presentes chocados.
Assim que olhei o resultado dos dados, sorri de lado.
- Sua chance de dizer se comigo é melhor. - fiz bico e ela riu alto, se esticando para chegar mais perto de mim. Fiz o mesmo e ela segurou meu rosto e me deu um selinho. - E aí, eu sou melhor?
- Não sei, nunca dei selinho na . - então, sem deixar a oportunidade cair no esquecimento, rapidamente empurrou para mais perto de .
- Eu apoio. - disse fazendo cara de interessado. O que era raro.
- Sai da frente, né, ? - o empurrou para o lado, abrindo espaço na roda para que ela pudesse ver melhor. deu um selinho em e me olhou séria.
- Verdade, não é a mesma coisa. - sorri vitorioso de novo. Não tinha como ser melhor do que eu. - É bem pior. - fechei a cara enquanto ouvia todos rirem alto do forão que eu tinha levado.


Capítulo 2

Eu estava atrasado para as aulas de e precisa pegá-lo com , que tinha ficado com ele. Liguei insistentemente para o celular dela já o que o telefone só dava ocupado.
Fui arrumar algumas coisas no quarto esperando que ela retornasse e acabei perdendo mais ainda a hora. Como já estava atrasado mesmo, liguei para o curso avisando que não iria comparecer à aula e fui andando até a casa dela. Passei por uma voltando da padaria com uma visivelmente satisfeita. Acenamos um para o outro enquanto eu buscava novamente meu celular no bolso da calça. Liguei mais uma vez para . Maris atendeu o telefone.
- Fala, meu genro.
- Sua filha está? - perguntei já chegando na esquina da casa delas. Ela fez uns barulhos com a boca, parecendo que estava procurando algo.
- ? - ouvi ao longe alguns barulhos altos e risadas. - Ah, sim, ela esta lá em cima falando no outro telefone.
- Meu ficou aí, será que tem como eu passar e pegar?
- Ah, , faça-me o favor, né?! Já deveria estar aqui. - respondeu meio sem paciência e eu ri. Por mais educado que eu fosse, Maris não iria mudar nunca sua postura de ficar chateada se eu pedisse permissão para fazer alguma coisa quando era relacionado à casa ou à família dela. Dei de ombros e resolvi mudar um pouco o caminho assim que uma luz se acendeu na minha cabeça.
Passei em uma floricultura e depois em uma loja de chocolates. Voltei meu GPS interno para a rota da casa de e em poucos minutos já estava batendo na porta.
Esperei alguns segundos e assim que a porta foi aberta, uma vassoura caiu na minha cabeça. Maris apareceu com os olhos arregalados, já pedindo desculpas.
- Mas até que enfim, menino! - me puxou e ajeitou minha blusa e meu cabelo. Depois segurou meu rosto. - Não vai dar galo, você está a salvo. - comentou virando meu queixo e analisando minha testa. Assim que soltou, abriu espaço para que eu entrasse na casa. - Você demora tanto para chegar que sempre acho que se perdeu. - eu ri enquanto ela fechava a porta. Quando caminhamos mais para dentro da sala, pude notar que ela olhava a caixa e as flores na minha mão com um certo interesse. – Sobe, sobe, sobe. - me deu um tapa na bunda e eu ri mais alto, entendendo que ela tinha achado que eram para outra pessoa.
- Mas eu trouxe para você. - ela arregalou os olhos bem surpresa. - Até parece que eu ia esquecer que hoje é seu aniversário.
- Você é o melhor genro que eu poderia ganhar. - Maris me abraçou de lado e sorriu contente.
- Solta o menino, mãe. - apareceu na nossa frente, na ponta da escada. Estava com um vestido de moletom e uma bandana na cabeça. – Oi, .
- Olá. - sorri sem graça. Maris passou por nós indo em direção à sala de jantar. entortou a cabeça como se me chamasse para ir junto e seguimos sua mãe.
Acabei levando um susto quando vi entrei e vi todas aquelas pessoas lá dentro. Inclusive minha mãe. Há, eu sabia que a história da hora extra no trabalho era mentira.
- Esqueceram de te avisar? - sussurrou ao meu lado segurando o riso.
- Acho que eu que esqueci que ia ter festa. - mexi no cabelo meio sem graça e bateu seu ombro no meu.
- Quem é essa gracinha? - a avó de nos interrompeu. Ela nunca se lembrava de mim.
- , prazer. - me apresentei como se fosse a primeira vez (e não a quinquagésima). Estendi minha mão, peguei a dela e beijei a parte de cima.
- ? Aquele pedaço de gente agora é isso? - ela abriu a boca como se estivesse muito surpresa em me ver. Na verdade ela tinha me visto há poucas semanas.
- Vó! - gritou e bateu com a testa no meu ombro ficando ali um tempo.
- Tudo bem, é todo mundo da mesma família. - Maris surgiu do meu lado e me abraçou, apoiando a mão no meu ombro livre. - É meu genro, mãe. - ela sorriu para a senhora.
- Mas tão cedo? - ela arregalou os olhos e nós também, só que pela reação dela.
- Mãe, seu bolo está lindo! - apontou para o bolo, mudando de assunto, fazendo todos virarem a atenção para a mesa de doces.
Go, !

Estava sentado no sofá conversando tranquilamente com sobre qualquer coisa relacionada à música, quando minha mãe me cutucou nos ombros.
- Vamos indo porque amanhã ainda tem aula. - joguei a cabeça para trás e suspirei. - , está tarde. - resmunguei um pouco e me levantei de má vontade, andando até algumas mulheres que eram conhecidas da minha mãe. Me despedi de todas e fui em direção à porta. Parei na frente de , batendo minha testa na dela.
- Até daqui algumas horas.
- Daqui seis horas nos vemos. - ela riu e me abraçou.
- Não se fazem mais homens como antigamente, sabe? No meu tempo as coisas eram diferentes. Mas olha, está aprovadíssimo! - a avó dela falou atrás de nós. Nos separamos e viramos para ela, que sorria da forma mais gentil que uma senhorinha poderia sorrir. Beijei a mão dela novamente.
- Meu Deus, desculpa. - tampou o rosto com as mãos e eu ri.
- Tá tudo bem. Querendo ou não, eu vou sempre ouvir sua mãe me chamando de genro e fazendo questão de espalhar isso pra vizinhança inteira. - dei de ombros.
- Me desculpa de novo, não consigo controlar.
- Sem grilo. - dei de ombros. Ouvimos uma buzina um pouco alta para o horário e enxerguei minha mãe no volante. Abri a porta e me virei. - Em seis horas te vejo.
- Vê se não apronta, viu? Não vou estar de babá.
- Aprontar dormindo? Essa é boa. - desci a escada da varanda mandando um beijo para Maris.
- Ei! - me gritou quando eu estava chegando perto do carro. Me virei e vi que ela vinha correndo em minha direção - Estava para te falar. Não pude atender o telefone hoje porque estava combinando umas coisas com a e...
- CARACA, o ! - dei um tapa na minha testa e me debrucei sobre a porta do carro. – Peraí, mãe! - corri até a casa dela com a mesma atrás de mim. Fui entrando sem pedir licença e subi as escadas na velocidade da luz, como se a casa fosse minha. - Desculpa, pode continuar, com a e...?
- , me escuta! - ela falou mais alto quando chegou no topo da escada e eu virei, olhando-a. - Meus pais vão viajar de lua de mel, mas esse ano eles vão mais cedo. A e a vão vir para ficar comigo, mas como temos medo de ficarmos só nós três sozinhas, você poderia vir?
- Quando? - voltei a minha atenção ao corredor. Segui um pouco e abri a porta do quarto dela, encontrando o computador ligado. Um David Beckham sem camisa estava no plano de fundo. - Uf, devia ser eu ali, ao invés dele. - ela riu e eu peguei meu , que estava no canto do quarto, já dentro da capa.
- Semana que vem. Tudo bem para você? Não vai te atrapalhar? - passei por ela indo em direção ao corredor.
- Tranquilo, estarei aqui. - parei no topo da escada, peguei o rosto dela beijando sua testa e desci correndo. Assim que cheguei no andar de baixo, olhei para ela lá em cima e gritei. - MANDA UM BEIJO PRA SOGRA.
- ENGRAÇADINHO. - ouvi-a responder e ri alto enquanto fechava a porta da segunda casa que eu mais frequentava.

Como combinado, alguns dias depois fui participar do sleepover na casa de . Saí de casa com minha mochila, munido de pijama, muda de roupa, iPod, fones de ouvido e paciência.
Assim que cheguei, toquei a campainha e segundos depois fui surpreendido por uma de pijamas do Bob Esponja e pantufas com o rosto do personagem. Entrei desejando boa noite enquanto tirava o casaco e deixava perto da porta.
A noite ia ser longa.
- Boa madrugada, né?! Já viu que horas são? - ela reclamou trancando a porta. Fui conferir o relógio. Eram 11 da noite. - Está muito tarde para chegar na casa da sua melhor amiga para proteger a bonita e mais duas amigas do mau.
- Houve um imprevisto, mas agora estou aqui. - fui em direção à sala, afim de sair do frio que fazia no hall. Com certeza tinha esquecido de ligar o aquecedor. - Boa noite, donzelas em quase não mais perigo. - mexi no cabelo de e sentei do lado de beijando a cabeça dela. - Olá.
- Eu já estava pensando em quem seria meu novo melhor amigo.
- Mas que decepção. Eu chego na maior boa vontade e é assim que sou recebido, como um quase ex-melhor amigo.
- Para de chorinho e assiste o filme com a gente. - ela mexeu as mãos indicando que aquela falsa discussão não daria liga e me virei para frente, para olhar a TV. Avatar passava.
Como não sou muito fã desse tipo de filme, acabei por me ajeitar no sofá e ficar trocando mensagens no telefone com os caras. Queria saber por que só eu estava ali passando perrengue cuidando de três medrosas.
Estava tão aéreo, que não percebi que lá fora chovia forte. Gosto quando chove porque é mais fácil de dormir. E acabou acontecendo exatamente isso. Peguei no sono minutos depois e quando me dei por acordado, estava com três meninas desesperadas se amontoando em cima de mim.
- Tá chovendo muito e muito forte! Tá rolando trovão e tudo! - tremia do meu lado direito enrolada no meu braço.
Levantei devagar e fui até a janela para ver em que pé estava a chuva. Um clarão iluminou a rua inteira e fiz uma careta assim que o barulho do trovão se fez audível. É... Parecia que o mundo ia mesmo acabar. Mas tudo ok para nós, estávamos em um local seguro, com comida, roupa e aquecedor. Nada podia dar errado, não tinha como sair de controle.
- Agora deu para ventar e parece que vamos ser sugados que nem nos filmes quando as vaquinhas são levadas pelo furacão. - comentou assim que fechei as cortinas e me virei de volta para elas.
- Não tem nem chance de acontecer isso aqui, relaxa o facho. - me sentei de volta no sofá e fechei os olhos. Poucos segundos depois ela me cutucou mais uma vez. - O que é agora, caramba?
- O telefone está tocando! - arregalei os olhos como se fosse a coisa mais assustadora do mundo.
- Atende, eu hein. - deitei a cabeça e levei outra cutucada. - OK, porra, estou indo! - me estiquei para pegar o telefone sem vontade nenhuma e quase gritei com a pessoa do outro lado. - Eita, desculpa aí pela grosseria, sim, está, um minuto por favor. - olhei feio para . - É a sua mãe. - me enrolei no cobertor e percebi que havia sumido. - , que fim levou a outra?
- Ela disse que ia pegar uma mala e que já voltava.
Subi até o quarto de e a vi jogando algumas roupas desesperadamente em uma mochila. - Você está atrasada? Vai se mudar? O avião sai que horas?
- Vou para a casa da , aqui eu não fico. Com esse tempo, nem ferrando.
- Você sabe que não vai parar de chover e trovejar mesmo que você vá para lá, né?! - me sentei na beirada da cama. - É só dormir. Eu, por exemplo, estava dormindo superbem.
- Porque você dorme e toma forma de pedra, eu não. - ela parou uns segundos de mexer nas roupas, me olhou e sorriu. - A ligou para a mãe dela porque ficou meio assustada então ela vai vir nos buscar. Vamos aproveitar e te deixar em casa.
- E te deixar comigo, você está sob minha responsabilidade, se não se lembra.
- Dos seus pais. - ela rolou os olhos enquanto fechava o zíper da mochila.
- Está com eles ou comigo agora? - ela riu me jogando uma meia embolada e entrou no banheiro. - Minha casa. - me levantei jogando a alça da mochila nas costas e indo até a porta do quarto. - E foi totalmente desnecessário vocês fazerem isso. O tempo está uma merda e vocês vão tirar a mãe da garota de casa. Egoístas e sem noção. Ela fechou a porta do banheiro me ignorando com louvor. Entendi aquilo como o sinal para que eu descesse e foi isso que fiz. Chegando na sala, e estavam sentadas juntas no sofá enroladas em um edredom e os olhos fechados.
Deixei a mochila de perto da porta de entrada e fui me sentar de novo no sofá.

Uma hora depois, após enfrentar um temporal sem igual dentro de um carro para andar umas cinco quadras, chegamos à minha casa. Pude ver ao longe a luz da sala acesa e a silhueta de minha mãe perto da janela.
- Obrigado. Me desculpa o trabalho. - agradeci meio sem graça à mãe de , que tinha feito o incrível favor de subir com o carro na calçada para nos deixar embaixo da cobertura da varanda.
Ela fez um barulho com a boca e logo partiu. Abri rápido a porta e minha mãe já estava ali mesmo nos esperando.
- Que tempo estranho! - comentou fechando a porta assim que entrei. - Ainda bem que resolveram vir para cá, estava ficando agoniada só de pensar em quatro adolescentes sozinhos em casa e o tempo assim. - ela nos abraçou por um longo tempo. Me soltei do abraço e deixei a mochila de perto da escada.
- Dá nada, mãe, era só dormir. - fui até a cozinha a fim de pegar o chocolate quente que estava cheirando bem.
- Que educação, hein, menino! - minha mãe rosnou e eu ignorei. Voltei ao hall entregando uma caneca à . - Subam, já está tarde. - obedecemos e fomos até o segundo andar. Acompanhei até seu quarto (podem acreditar, minha mãe transformou o quarto de hóspedes em quarto da ) e lhe entreguei sua mochila. Me escorei no batente da porta e soltei o ar pelo nariz.
- Ainda vai ficar com medo ou vou precisar ficar aqui até você decidir ser corajosa?
- Nossa, pode ir, traste. - ri tampando a boca para não acordar meu pai, que dormia no quarto do lado.
Resolvi então mudar de assunto, uma vez que tinha reparado que meu carro estava na garagem.
- Viu meu carro lá embaixo? - sorri maroto, todo feliz. - Amanhã te levo para dar uma voltinha pelo bairro. - pisquei me sentindo super galanteador.
- Com esse tempo vai ser mesmo um passeio superagradável. Obrigada por me proporcionar momentos tão maravilhosos na sua presença, . - ela juntou as mãos e sorriu meiga. Bem falsa.
- Por nada, desgraça. - sorri e fechei a porta do quarto sem dar chance para que ela me respondesse.
Fui até o meu quarto, coloquei uma calça quente de pijama e deitei deixando a porta meio aberta. Sempre que dormia lá, deixávamos as portas entre abertas para que ela se sentisse confortável caso precisasse nos chamar.
Como já era de se esperar, não demorou muito para que eu dormisse de novo.


Capítulo 3

Fui até a janela do meu quarto, mais dormindo do que acordado. Olhei para fora e o tempo estava bem nublado. Típico de Londres.
Caminhei até o fim do corredor. Abri de leve a porta do quarto de e pude ver por debaixo da porta que a luz do banheiro estava acesa, indicando que ela já tinha se levantado.
Desci me arrependendo de não estar usando meias, uma vez que o aquecedor de casa não estava tão bem regulado. Cheguei na cozinha e vi de longe um recado de minha mãe preso na geladeira. Também, com aquele papel rosa neon como alguém não veria?

“Fui até o mercado e já volto. Mãe x”

Não entendia por qual motivo ela ainda insistia em colocar “mãe” no final. Era meio lógico que eu sabia que era dela o bilhete. Meu pai não se daria ao trabalho de escrever um.
Abri a geladeira procurando algo comestível. Fechei a porta com uma garrafa de suco de laranja nas mãos. Peguei dois pratos e uma colher. Joguei o cereal em uma tigela e coloquei dois pães em uma torradeira. Tirei a manteiga da geladeira e sentei apoiando o queixo no braço, fechando os olhos. Minutos depois o cheiro das torradas invadiu a cozinha e me levantei para pegá-las. Joguei as duas no outro prato e abri a gaveta embaixo da pia para pegar uma faca. Me sentei de novo e peguei o cereal com a mão.
- Essa mão está lavada por acaso? - me olhou feio da porta da cozinha e eu rolei os olhos afirmando com a cabeça.
- Não. - sorri bem cínico.
- E o que ela faz passeando pelo meu cereal matinal?
- Senta e come, . - ela riu prendendo o cabelo e sentou, comendo em silêncio.
Levantei a mão para alcançar a torrada e ela jogou a cara na frente dando uma mordida gigante.
- Quer fazer o favor de comer o seu cereal? Já fui bonzinho demais de ter posto para você, para de roubar a minha comida.
- Fresquinho, é só fazer outra. - preferi não entrar na discussão das torradas e comi a outra enquanto lutava para permanecer com os dois olhos abertos. A cara de enterro era certa.
Terminamos de comer e ela deitou a cabeça no meu ombro, fechando os olhos. Apoiei o rosto nas minhas mãos e me perdi pensando no que faríamos no dia.
- Vejo que a noite foi boa, nenhum dos dois consegue abrir um só olho. - meu pai chegou sorridente na cozinha. Ele sempre achou que tínhamos algum tipo de relação amorosa e sexual.
- Pelo amor de Deus, pai. - bati a cabeça na mesa e riu alto. Meu pai me jogou um gelo e pousou a mão na cabeça dela.
- Tudo bem?
- Tudo, tio. - ela sorriu e ele retribuiu.
- Ele está te tratando bem?
- Como sempre. - ela continuou com aquele sorriso que eu tinha certeza que significava que eu iria ter que fazer algo por ela mais tarde, por estar salvando a minha pele naquele momento. Me salvar do meu pai machista era um grande feito.
- É bom mesmo. Se ele te desrespeitar, pode bater. - não pai, não era para você ter falado isso...
- Bom saber que eu posso. - sorriu abertamente para mim e eu coloquei minha mão na cara dela, rindo.
- Você não pode nada. Pode me obedecer.
- Me deem licença. - meu pai saiu assoviando.
Ele jurava de pés juntos que e eu tínhamos relações sexuais e que eu mandava na relação.
Após dois minutos, ele voltou. Já estava me preparando para alguma bronca de brincadeira, até que ouvi meu nome e seguido dele, as chaves do carro do meu pai voando em minha direção. As peguei no ar e sorri em agradecimento.
Meu pai me emprestar as chaves do carro só significava uma coisa: home office.
Nem conseguia acreditar que aquele monstro que ele chamava de carro ia ser meu o dia todo.
- Valeu.
- Vê se não apronta, não quero meu carro sujo. - definitivamente meu pai alimentava a ideia de casal. Afirmei com a cabeça para ele e o vi sair de verdade da cozinha.
- Desculpa pelo meu pai. Ele realmente acha que...
- Eu com a minha mãe e você com o seu pai. Acho que não precisamos nos desculpar, estamos quites. - ela deu de ombros.
- É verdade. Me promete que casa comigo um dia?
- Prometo. - ela se levantou e foi até a pia para lavar a louça. - Hoje eu faço esse favor. - arrancou o prato da minha mão e eu sorri.
- Eu amo você.

Desci do monstro do meu pai e ouvi a porta do lado da batendo. Esperei que ela parasse do meu lado na calçada. Entramos em uma cafeteria, fizemos os pedidos, pegamos e saímos. Resolvemos que era mais jogo andarmos pelas ruas apenas para passear, do que ficar em casa passando canal de tv.
Ainda chovia, mas não era tanto quanto na noite passada. Dividíamos um guarda-chuva.
Arranjamos um banco meio seco e nos sentamos observando o movimento da cidade.
- Você ainda sai com aquela menina loirinha? - ela me perguntou quebrando o silêncio.
- Não. - me mexi no banco, meio desconfortável. - Não deu certo, ela mora meio longe. - dei de ombros; na verdade, nem lembrava mais dela. - Mas também, não estou desesperado por uma namorada nem nada.
- Eu gosto de ser solteira, é tão bom. Dá liberdade, sei lá. - disse enquanto estendia as pernas. - Lógico que é bom você ter alguém por perto, mas é tão bom ficar sozinha também.
- Vocês mulheres costumam ser mais resistentes. Eu sou meio carentão, mas também não vou dizer que fico por aí procurando, porque não fico.
- Você não tem ninguém porque ninguém te atura, pode falar a verdade. - ela bateu o ombro no meu, sorrindo engraçado.
- Na verdade, é porque eu já tenho alguém do meu lado que faz o papel de mulher chata na vida de um cara.
- É, o é um ótimo amigo mesmo. - ela falou segurando o riso e dei um leve empurrão nela. - Eu sei que sou eu.
- Ainda bem que sabe.
- Ei, vamos até o shopping? - ela levantou em um pulo, mudando de assunto. Esticou a mão para mim e continuou:- Quero blusas novas. E vi que saiu a nova coleção da Hurley... - levantou as sobrancelhas, na esperança de me chantagear.
- Estou cansado de andar... - resmunguei. Ela pegou nossos copos e jogou em um lixo perto. Então, parou do meu lado me esperando levantar.
- Até quadriculado agora tem. - ela abriu um sorriso e eu sabia que significava que o interesse na nova coleção era todo um pretexto para ganhar presentes.
- Vai ter que me levar de cavalinho porque andando eu não vou. - cruzei os braços. Ela segurou meu pulso e me puxou forte, me fazendo cair para frente no meio da rua.
- Agora que caiu, levanta e vamos embora. - mostrei o dedo do meio enquanto ela ria e levantei devagar. Assim que o sinal de pedestres abriu, ela saiu puxando minha mão e gritando. - Ao infinito, e ALÉM!

Parei o carro no estacionamento do shopping e esticou os braços assim que eu parei na frente dela. A ajudei a sair e fomos até a entrada. O shopping era pequeno e calmo e como fomos em um horário mais tranquilo, quase não tinha ninguém.
Andamos calmamente olhando as lojas. Paramos na porta da Hurley e ela ficou olhando a vitrine abobada.
- Não deixa a baba cair, senão fica ruim pra mim. - comentei em seu ouvido. Ela me deu um tapão.
Um dos vendedores veio até a porta falar comigo. Esticou a mão e eu a apertei.
- Fala, sumido!
- E aí, Michael. - sorri e dei um aceno para o resto do pessoal da loja. - Fala aí!
- Veio ver as novidades? - ele perguntou já cruzando os braços e se escorando na ilha de acessórios.
- Recebi o e-mail da loja. - entrei na loja e passou rápido por mim, estava engatada em um papo superanimado com uma vendedora que lhe mostrava umas blusas. Dei de ombros e segui Michael para a lateral da frente da loja. Ele me mostrava umas blusas novas.
- , olha só! - jogou na minha cara uma camisa de flanela, quadriculada preto com verde, toda esquisita.
- Isso é masculino, . - devolvi para ela enquanto voltava minha atenção para uma blusa branca.
- Mas é linda! - ela continuou e jogou a camisa no meu ombro. - Veste. - rolei os olhos e a vesti por cima da minha blusa. Ela sorriu. - Essa a gente leva.
- A gente quem? - levantei uma sobrancelha. - Eu não vou levar isso, não gostei de nada nela. - joguei de volta em cima do ombro dela.
- Vai levar sim, não quero saber. Você compra e eu uso, simples. - ela largou a camisa em cima da ilha, como se estivesse separando.
- Não é mais fácil você comprar?
- ! - ela rosnou e eu joguei a camisa para Michael. Ele riu e deixou no caixa.
Escolhi algumas coisas que me interessavam e fui até o provador ver se alguma delas servia. A maioria era grande demais.
- Qual a demora? Se enrolou aí dentro? - bateu na porta e eu a abri.
- Quer parar de encher o saco, garota? - ela riu e deu um sorriso gigante quando viu a blusa que eu estava vestindo. - Está bem, levo essa também.
- Você vai usar essa blusa sempre que sair comigo. - Ela vai precisar lavar, sabia? - ela rolou os olhos e eu fechei a porta de novo. Vi o pé dela por debaixo da cabine. - , vai procurar uma loja de sapatos, vai. Me deixa em paz. - abri a porta e a empurrei e ela riu indo olhar outras coisas.
Tirei a blusa, vesti a minha e saí da cabine com algumas poucas na mão.
- Vou levar essas aí, Michael. - entreguei para ele e olhei em volta para ver onde a bênção de Deus estava.
Claro que não demorei muito para achar. - Ei, , me deixa levar esse boné? - parou na minha frente fazendo uma pose estilo rapper, com um boné cinco vezes o tamanho da cabeça dela. Quase não dava para ver seus olhos. - Eu pareço aqueles rappers todos bolados, né? Estou linda, não estou?
- Quer tentar disfarçar, por favor? - falei baixo olhando diretamente para ela. Me virei para Michael entregando meu cartão a ele.
- Você não vai me deixar levar esse boné? Ficou superlegal e eu posso colocar inveja no . - Michael riu recebendo uma olhada feia dela. - Você deveria estar me ajudando, Michael. - ela bronqueou e depois me olhou pidona, como se não tivesse uma roupa no armário. - Por favor, .
- Tá, , vai, leva essa droga logo. - ela deu um gritinho animado e pegou um chaveiro no caixa me dando um sorriso amarelo logo depois. Eu ri e baguncei a franja dela jogando o chaveiro para Michael. - Fecha logo a conta antes que eu não tenha mais dinheiro. - ele concordou e começou a bater os produtos.
- E as aulas de , cara, como andam? - Michael puxou assunto enquanto removia algumas etiquetas de preço. Me encostei no balcão.
- Essa semana eu não pude ir porque sequestraram meu . - olhei feio para e ela fez cara de cachorro abandonado. - Mas estão indo bem.
- Vocês vão mesmo montar uma banda? - ele perguntou enquanto olhava a tela do computador.
- Vamos cara, estou te falando. - peguei a máquina de cartão das mãos dele, já digitando a senha. - Nós vamos mandar ver na Inglaterra, no mundo todo. - olhei de lado e pude ver que já tinha ido conversar de novo com a vendedora da loja.
- Música é muito concorrido aqui, , vocês deviam achar outra coisa para fazer, tem tanto tempo ainda. Eu tentei e olha onde vim parar. - disse meio desanimado enquanto terminava de embalar as peças. - Tenho quase 23 anos e nem sei direito se a faculdade que estou fazendo é a que eu quero mesmo. Engenharia é um caso complicado... - observei-o finalizar a sacola e passar por uma máquina. - Pensa sério, cara, vocês ainda estão no tempo de saber se é isso mesmo que querem. - percebi que ele falava bem sério e aquilo me assustou.
Ele saiu de trás do balcão com minha sacola na mão e me acompanhou até a porta.
- Deixa comigo. Vê se passa lá em casa qualquer dia desses. - apertei a mão dele e sorri.
- Venha comprar mais. E traga sua amiga junto. - apontou para uma animada no fundo da loja.
- Da próxima vez eu deixo em casa. - rimos juntos e assoviei para chamar a atenção dela. - Vamos embora.
- Espera aí! - ela fez um movimento com a mão e continuou conversando. Meu celular tocou e atendi rápido sem ver quem era. Uma mulher gritou do outro lado.
- GENRINHO!
- Oi, Maris. - rolei os olhos já sabendo que a conversa ia ser longa. Peguei a sacola da mão de Michael e fiz um aceno de cabeça indicando que estava agradecendo.
- Minha filha está com você?
- Sim, estamos no shopping e pode ficar despreocupada que não vou deixá-la me assaltar. - continuei a conversa enquanto andava até onde estava.
- Cuida bem dela. Liguei para avisar que já chegamos.
- Deixa comigo. - assim que cheguei perto, puxei pela blusa, lhe entregando o celular. - Sua mãe. - assim que ela o pegou, coloquei minha mão em seu ombro e a guiei para fora da loja.


Capítulo 4

Um dia, o gerente da loja da Hurley me ligou e disse que eu estava despedido. O estranho foi que eu fui mandado embora sem nunca ter trabalhado lá. Então, ele disse que eu aparecia tanto nas gravações da câmera de segurança que achou que eu trabalhasse. Na verdade, eu só ia lá para bater papo com Michael durante as férias.
Depois de ver que eu era um dos clientes mais fiéis de lá, o gerente resolveu me convidar para trabalhar lá e bem... Eu aceitei.
Estava conversando com Michael, que tinha adorado a ideia de eu trabalhar lá com ele, sobre coisas inúteis como o preço dos jogos de vídeo game. e entraram na loja e eu quase tomei um susto com o cabelo de . Estava azul neon. Comecei a rir desesperadamente e ele me mandou dedo.
- Virei cobaia da . - já chegou se explicando.
- Isso que dá querer namorar uma menina dessas. Não se pode namorar, a gente dá a mão e elas não pegam nem o braço, é o corpo todo, até a alma. - comentei e concordou ainda rindo.
- Fica na sua porque pelos olhos do seu pai você está quase casando com a outra lá.
- O que vieram fazer aqui? - mudei de assunto mais rápido do que o flash com pressa.
- Gostei do boné da e vim comprar um. - comentou, procurando os bonés. Rolei os olhos não acreditando naquilo; mostrei a prateleira com os vários tipos e ele pegou dois. Um azul escuro e outro preto. – Toma, cara, eu te dou de presente. Vai esconder isso aí até você pintar seu cabelo de novo. - deu um pedala em , mas não tirou o bendito da cabeça.
Acabou que eles só pagaram e foram embora lembrando que iríamos tentar escrever algumas músicas de noite. Concordei e voltei ao balcão.
Com o movimento fraco, continuei conversando com Michael, até que uma voz conhecida chamou minha atenção. Maris entrou na loja.
- Soube que você está trabalhando aqui e vim prestigiar. - ela sorriu já esticando os braços na minha direção. Retribuí o abraço, meio sem jeito. - Meu genrinho lindo que ontem estava chorando na incubadora agora está aqui, um homem, trabalhando. - eu sorri muito sem graça por aquele momento meio íntimo demais para uma loja de shopping e acabei por apenas ficar parado onde estava, concordando com a cabeça.
Ouvi risadas vindas da porta e rolei os olhos assim que vi com o tal do boné e o cabelo meio bagunçado.
- Como o é invejoso. - ela e entraram na loja. - Mãe, larga o . - Maris fez uma careta para ela.
- Vim prestigiar o primeiro trabalho do pai dos seus filhos.
- Mãe, na boa... - rolou os olhos. riu alto tirando a moral dela, que deu um cutucão na outra. – Olá, . Vai na casa do mais tarde?
- Vou sim. Passo para pegar você duas. - ela concordou e então puxou Maris.
- Ela só queria passar para te ver mesmo. - disse enquanto me abraçava de lado, falando que estava orgulhosa. me abraçou do outro lado e eu beijei o topo de sua cabeça.
- As sete eu passo lá.

Responsável como sou, às sete estava na porta de , esperando ela e para irmos até a casa de . Não que fosse superlonge, mas trânsito é uma coisa que sempre me tirou do sério.
Não demorou muito e as duas apareceram com umas caras estranhas. Fomos ouvindo rádio para dar uma animada, já que ninguém falava nada.
A casa dos realmente era o nosso "point".
Virei a maçaneta, entramos e eu fechei a porta, trancando-a por dentro, já que não se preocupava em fazer isso.
subiu direto para a sala de jogos, onde fazíamos o que queríamos, e me esperou. Foi esquisito, pois quem sempre me esperava era . Passei um braço pelo ombro dela e subimos as escadas.
- Já estava na hora, né?! - comentou assim que chegamos. - Vamos, jogo das cantadas de novo. Amei as novas regras e vai ser a minha primeira coisa da minha lista de maravilhas do mundo de .
- Depois da bebida, né? - comentou.
- Oh, tinha me esquecido. Como pude? - beijou a garrafa e o olhei estranho. - Me desculpe, meu amor.
- Para com isso e vamos jogar. Senta todo mundo. - ordenou e fomos nos ajeitando na roda. Ficamos ao lado um do outro: eu, , , , , e .
rodou a garrafa. e . - Me chama de tequila e me vira de uma vez. - ele começou mas todos percebemos que foi de um jeito ruim. - Que horrível. - ela virou a vodca e fez uma careta.
A garrafa rodou no meio de novo. e .
- Se eu disser que sou um papelzinho você me dá uns amassos? - ela riu e jogou os dados. Ninguém acreditou no feito.
bufou e levantou dando um selinho em .
Mais uma vez a garrafa rodou. e .
Ela sorriu e ele deu uma balançada de lado, indicando que estava esperando. - No My Space ou no seu? - arregalou os olhos e jogou os dados depois de rir alto. Ele lambeu a barriga dela e eu senti uma pontada esquisita dentro de mim. Só queria abaixar aquela blusa.
Não esperei muito. Peguei a garrafa e rodei, ainda meio puto. sorriu para .
- Meu nome é Vince... Vince Dusir. - riu alto e bebeu a vodca quase toda. Tirei a garrafa da mão dela e rodou a vazia. e .
- A noite é uma criança, vem cá e me deixa ser seu brinquedinho. - reclamou, alegando que não podia dizer aquele tipo de coisa e enquanto os dois discutiam o que podia ou não, bebeu.
Outra rodada, e eu. - Seu nome é Selma? - eu ri tentando entender qual seria a piada.
- Não, por que?
- Porquê Selmagracinha. - deixei meus ombros caírem e joguei os dados. riu alto. Rolei os olhos e me levantei depois de ver o resultado. - Não se aproveite de mim.
- Como se eu quisesse muito. - ela rolou os olhos e se levantou também. Era meio estranho, eu estava sem graça, mas tinha que pagar. A puxei pelo pescoço e a beijei por um tempo. Depois a soltei e voltei para o meu lugar.
já tinha rodado a garrafa. e .
- É nois, gracinha. - ela riu animada. - Me joga na forminha e me chama de empadinha. - ela riu mais alto ainda e bebeu um longo gole.
Girei a garrafa, e .
- Seu nome é Inês? - ela negou. - Nossa, inesquecível. - jogou os dados e deu uma risada sem graça. Ela lambeu o pescoço dele e nós rimos com as caras de nojo que ele fazia.
- Chega. - se intrometeu, rodando a garrafa. - Ei, eu e . Essa garrafa nos quer! - ela concordou toda solta. - Vai, me bate com leite e me chama de Milkshake. - negou com a cabeça e bebeu.
Rodou a garrafa e olhou de um jeito esquisito para .
- Me joga no paredão e me chama de eliminado. - eu ri para manter a amizade mas a vontade era de dizer que tinha sido horrível. bebeu a vodca.
Estávamos fracos mesmo...
e .
- Cerveja é boa no verão, você é boa em qualquer estação. - ela sorriu meio idiota e jogou os dados. abriu um largo sorriso e lambeu a barriga dela demoradamente. Teve direito a mordidas e tudo.
Joguei uma almofada nele e vi arregalando os olhos para . A olhei rápido. Percebi que a garrafa nos anunciou e ela levantou um pouco o olhar para mim, esperando a cantada.
- Sua mãe é costureira? - ela negou sem expressão. - Porque você é feita sob medida. - aposto que ela estava esperando alguma coisa melhor. Admito que essa foi meio sem pensar, mas como já tinha funcionado uma vez e eu queria entender o motivo pelo qual ela estava me ignorando desde que tinha entrado no carro, tive que tentar de novo. Ela me olhou feio e bebeu. Arranquei a garrafa da mão dela. - Da última vez você não bebeu, você jogou os dados.
- Não preciso gostar da mesma cantada mais de uma vez, preciso? Não está nas regras, está? - nossa, ela estava de TPM, só podia. De tarde, quando foi à loja ela estava tão bem e do nada vira do avesso.
Bufei e sentei.
Alguém rodou a garrafa, e eu. - Você é a chave de fenda que desmontou minha bicicletinha. - riu alto com e . não demonstrou nenhuma reação e ficou paralisado.
- Joguei. - avisei e ri vendo fazer outra careta assim que os dados pararam. Me levantei e sentei na frente de , dando uma mordida no seu queixo.
nos afastou, cheio de ciúmes e rodou a garrafa. e eu.
- Queria ser um peixinho, para nadar no seu aquário. - os meninos negaram com a cabeça e ela bebeu.
Alguns minutos depois, quando parei para observar todos nós, me toquei que já tínhamos bebido por todas as nossas vidas. Não estávamos relativamente bêbados, estávamos ainda meio (semi) sóbrios, mas a brincadeira começou a esquentar. resolveu jogar com dois dadinhos. O da sanidade e o da impureza. Jogávamos o da sanidade primeiro e todos viam no que dava. Depois jogávamos os outros e víamos em que posição e onde iríamos fazer aquilo.
É, só foi curtir a brincadeira de verdade quando essa nova versão começou; logo depois indo para a lista de maravilhas do mundo dele.
Comecei a me sentir tonto. Depois comecei a jogar o dadinho em qualquer cantada, fazendo todo mundo achar que eu era fácil assim. começou a me ignorar mais e mais e eu não sabia o porquê e não tinha como resolver naquele momento.
O quarto estava virando uma bagunça; nas costas de tentando lamber a barriga dele, e trepados um no outro tentando se beijar. e , os mais civilizados até então, estavam de cabeça para baixo tentando morder a orelha um do outro. Sentei esperando todo mundo virar gente. É, isso demorou bastante. Uma hora eles se aquietaram e rodaram a garrafa.
Eu e . O clima ficou meio tenso, mas ignorei.
- Eu sou o David Beckham dizendo o que vou dizer para você agora, pense bem. - ela continuou com cara de paisagem e eu soltei. - Vi na TV que devemos preservar as belezas naturais. Posso cuidar de você? - na hora ela fechou a cara e eu sorri vitorioso.
- Beckham é o ponto fraco e você sabe, seu puto. - ri alto vendo-a jogar os dados. Ri mais alto ainda quando vi o resultado.
- Pode vir, eu também não mordo. - ela se agachou na minha frente se apoiando nos meus ombros e deu um suspiro. - Está esperando o que?
- Eu prefiro sair. - ela sentou de volta onde estava e pegou a garrafa. - Até onde eu bebo?
- Lugar nenhum, essa regra de desistir não existe mais e você mesmo que a criou. - atiçou a brincadeira arrancando a vodca dela.
- ! - ela o olhou feio. - Eu as criei e posso descriar ou crias novas. Nova regra, só a pode desistir.
- Não vale. Anda, paga o prêmio. - os dois discutiam e eu continuava olhando a cena. Todos já estavam de pé tentando fazer e pararem de brigar pela garrafa e pelas regras. Meu olhar encontrou com o dela e eu me levantei, me nivelando aos demais. Cruzei os braços já sem paciência. - Você não gosta de brincar quando acontece algo que você não sustenta, né?
- , eu deixo você desistir também. - ela me ignorou novamente e segurou os braços de , que tinha passado a bebida para .
- Acaba logo com isso, por favor. - sussurrou para mim e eu descruzei os braços, parando atrás de . me olhou estranho e deu dois passos para trás. se virou e eu segurei os braços dela, olhando-a nos olhos esperando a autorização para me aproximar. Ela então deixou os ombros caírem e concordou levemente com a cabeça. Me aproximei mais, acabando logo com tudo aquilo.
- Caralho. - ouvi dizer assim que voltei para o lado de , cruzando os braços novamente.
- Foi de língua mesmo? - perguntou baixo, mas todos ouvimos devido ao silêncio que ficou na sala. - Não pode enganar os dados senão vocês vão ter que repetir. - provocou.
- O que era aquilo passando eu não sei porque não vejo o que o tem na boca, mas que deu para ver, deu. - comentou enquanto apoiava a vodca no chão e concordou dando um gole na bebida.
- Eu vou para casa. - pegou a bolsa e arrancou a garrafa da mão de . - Obrigada e boa noite.


Capítulo 5

Nem eu nem ninguém entendia o motivo de se afastar de mim. Estava há quase dois meses sem falar direito com ela e tendo que fingir para a Maris que eu sabia onde ela estava, para deixá-la menos preocupada quando me perguntava. O que ME deixa preocupado, uma vez que eu não sabia mais por onde ela estava andando.
chegou a cogitar a ideia de ir conversar com ela, mas nunca conseguiu. Ele tinha medo da fera e toda vez que surgia a oportunidade, ela arranjava desculpas. As meninas não quiseram ajudar e comecei a achar que o problema era eu. Comecei então a me afastar. Se o problema era eu, nada mais justo do que o causador ir embora. Os meninos ficaram meio sem jeito de vir falar alguma coisa e as meninas nunca iam mexer um pé.
Até que um dia eu estava em casa jogadão na cama, todo errado só de calça jeans com metade da boxer para fora, com uma perna para fora da cama, quase roncando e ao mesmo tempo jogando video game, quando bateram na porta. Quase xinguei minha mãe; ela sempre soube que eu detestava quando batiam na porta quando não estava fechada. Olhei para a porta quase voando no pescoço dela. Tomei um susto e levantei quase caindo de novo. Tentei ajeitar a calça, mas vi que não ia rolar. Fechei a porta do quarto e sentei na cama coçando a nuca.
- Pô, desculpa a bagunça. Não estava esperando que ninguém viesse aqui.
- Não tem importância. - ela me cortou rápido e eu fiquei quieto. - Quer me explicar o motivo de se afastar?
- Você é a última pessoa que eu pensei que colocaria os pés aqui no meu quarto. - ela me olhou feio e me calei. - Acho que o problema tem que ser afastado. Como eu sou o problema, eu me afastei. - recebi um tapa no ombro que ardeu bastante. Passei rápido a mão pelo local. - Não precisava ser tão delicada.
- Cala a boca. - sentou do meu lado e eu encostei na parede. - Não era para você ter se afastado. Fica todo mundo com cara de merda, sem saber o que fazer achando que todo mundo é responsável por alguma coisa ali no meio.
- Me diz você, por que se afastou? Até um tempo atrás eu não precisava nem pensar para te entender, era automático. Agora é essa droga, nem olhando para você, nem tentando entender eu consigo.
- Isso não tem nada a ver, eu continuo igual, você que não percebeu ainda que talvez esteja com dificuldade de lidar com algum problema e com isso não me entende. Eu continuo igual.
- Não continua não. Você não fala mais comigo, não passa mais na loja, não liga... Meu pai acha que eu terminei com você e me deixou de castigo. Estou sem poder sair por uma semana.
- Seu pai precisa de tratamento. - ficamos em silêncio.
Peguei o controle do video game voltando a jogar sem prestar muita atenção no que acontecia em volta. Acho que se ela pegasse um revolver e atirasse, eu nem ia perceber. Senti cutucões uns minutos depois e fiz um barulho com a boca indicando que eu estava ouvindo. A TV ficou preta e me virei para olhá-la indicando que agora sim eu estava realmente ouvindo.
- Fala.
- Você não vai brigar comigo se eu te contar a verdade, vai? - olhei incerto para ela. Era melhor eu saber a verdade ou não? Não precisava brigar, só dar uns toques, umas bronquinhas, chamar a atenção. Neguei com a cabeça. - Eu fui em uma cartomante. - arregalei os olhos e ela me olhou desesperada. - Você disse que não ia brigar. Me deixa continuar. Fui lá antes da última partida de cantadas que a gente teve, quando minha mãe foi te visitar na loja... - confirmei e ela prosseguiu. - Ela disse que era para eu me afastar de você porque você vai errar feio comigo. Que desse erro vão originar coisas que vão mudar as nossas vidas. - rolei os olhos e a deixei continuar. - E eu pensei que me afastando de você eu pudesse impedir que algo acontecesse.
- São por motivos como esses que eu já disse que não gosto de você indo nesse tipo de lugar. Que coisa mais idiota! O que eu posso te fazer que vá mudar as nossas vidas?
- Ela disse que é algo envolvido com outra pessoa, mas não disse quem.
- Ah, óbvio, já sei até o que é. Vou arranjar uma namorada, ser escroto com você o tempo todo por causa dela porque vou estar de quatro por ela e te esquecer? E você vai acreditar nisso agora?
- Você é homem...
- E você mulher. Acabou. Que coisa mais babaca. - passei a mão pelo rosto sem conseguir acreditar naquela idiotice toda. - Sério, se eu souber que você foi lá de novo ficar ouvindo esse tipo de besteira...
- Eu não vou. - ela pulou na minha frente. - Pronto. Mas ela estava certa, olha só, já estamos mudando com nós mesmos por causa dela.
- Ela não é a terceira pessoa porque não existe essa terceira pessoa nem motivos para ela existir. - levantei indo até a TV. - Vai continuar falando essas bobeiras? Porque prefiro te ignorar e jogar video game do que ter que ouvir coisas desse tipo.
- Não vou, pode deixar.
- Então parou essa babaquice de me ignorar? - a vi concordar com a cabeça baixa. Fazia isso quando estava com vergonha. - Vem aqui. - a puxei para um abraço e ela riu. - Desculpe-me pelos meus trajes.
- Que trajes? - ela riu de novo, dei um tapinha nela e ficamos um tempo abraçados. Meu pai entrou no quarto engrossando a voz assim que gritou meu nome, mas logo parou ao ver quem estava comigo.
- Vejo que se entenderam. - ele sorriu franco. - Já estava vendo a esperança de ter netos indo embora.
- Pai, não começa. - fiz um movimento com a mão, indicando que era para ele ir embora.
- Deixe-o falar. - ela sussurrou no meu ouvido e eu gelei concordando.

Estava no estoque da loja arrumando algumas coisas, quando pude ver lá de cima, entrando e indo em direção à Michael.
- Olá, Michael. - sorriu e acenou para os outros vendedores.
- Hey, e aí? Procurando o ?
- Na verdade, vim te ver. - eles riram. - Mentira, vim ver seu amigo mesmo.
- É óbvio, o que mais você faria aqui? - ele brincou saindo de trás da ilha. Fui descendo as escadas com cuidado, ouvindo a conversa.
- Compras, talvez? - ela levantou uma sobrancelha.
- Corta essa, vai. - apareci no fim da escada, já sem o uniforme e Michael passou por mim sorridente. - Sua namorada te espera.
- Já estou sabendo. - beijei a testa dela sentindo seus braços em volta da minha cintura e me mexi para saírmos da loja.
Acenei para Michael e fui.
- Onde vamos hoje? viajou.
- Mentira! - parei de andar na mesma hora e ela negou. - Que droga, cara, eu ia para casa dele agora mesmo. - para onde teria ido sem nos avisar? - Quer ir no cinema, então? Você não marcou nada com as meninas?
- Pode ser. - andamos sem pressa até o cinema. Paramos em frente à tela onde mostrava os filmes e ficamos horas discutindo. Acabamos por ver Indas e Vindas do Amor, que estava quase saindo de cartaz e aposto que ela já tinha visto umas cinco vezes. Queria dar uma de bonzinho, então fomos.
Sentamos sem pentelhar ninguém pela primeira vez na vida. Enquanto o filme não começava, ela não parou de falar ao celular com . Provavelmente outra que estava indignada com o sumiço de ; todos estávamos. Cutuquei-a assim que o trailer começou. Ela fez cara feia, mas desligou. Já para o meio do filme eu estava cansado daquela baboseira toda do Kutcher sendo chutado pela Alba, da Swift louca querendo dar para o Taylor e do resto do filme.
- Vou dar uma volta, já é? - sussurrei para ela, já me levantando.
- Já era, fica onde está. - me puxou de volta e sentei machucando a bunda. - O filme é legal.
- Você não enjoa? - ela me ignorou. - Na boa.
- Você não consegue ver um filme sem ficar falando?
- Vou mesmo ter que ficar vendo esse filme? Achei que podia ser interessante, mas tá ruim demais.
- Já está aqui, agora fica. - arregalou os olhos indicando a cadeira.
- Obrigado por me amar tanto, sério.
- Eu te amo, eu te amo, eu te amo. - pegou meu rosto intercalando beijos na minha bochecha com os “eu te amo” que dizia. Uns segundos depois cansei de ouvir tanto “eu te amo” e sem querer virei recebendo um selinho. Ela riu e juntou nossas testas. - Não era para ter virado.
- Ah, desculpa se quem sai me beijando sou eu mesmo agora. - nós rimos e ela levantou esticando a mão. - Você me convenceu. Vamos embora?
- Não, vamos mudar de sessão. - a segui para a saída do cinema olhando as outras portas. Alvin e Os Esquilos 3 anunciava na sala da esquerda. Um homem nos olhava e nós saímos em direção a porta do Alvin. Eu não aguentei a voz deles e puxei-a saindo dali. Abrimos a porta, o cara não estava mais lá. Olhei as outras. Fúria de Titãs, Cinquenta Tons de Cinza... Cinquenta Tons de Cinza. Entramos lá e sentamos. De repente, um lanterninha entrou com outro homem e começaram a iluminar as pessoas. - Quer ser expulsa do cinema?
- Que? - ela olhou o lanterninha e riu. - Não, né?!
- Follow my lead. - ela concordou e ficamos esperando os caras passarem por nós. Até que recebemos um feixe de luz no rosto.
- Vocês são dessa sessão? Não são muito novos? Os ingressos, por favor.
- Estão com você? - olhei para tentando fazê-la entender o que eu queria dizer.
- Você jogou fora junto com a nota fiscal assim que entramos.
- Droga. - bati na minha testa. Os caras nos olharam feio e eu não tinha escolha. - Levanta para ver se não caiu por aí. - ela levantou e peguei seu pulso, correndo para fora do cinema. Uma atitude bem 10 anos de idade mesmo, mas para dar uma adrenalina, já que nenhum filme prestava o suficiente. No fim, acabamos na praça de alimentação comendo tudo que podíamos.


Capítulo 6

Minha vida começou a se resumir em: escola até as 15, trabalho de 16 às 20 e duas de segunda a sábado; e finais de semana (domingo) casa do quando eu conseguia levantar. Eu estava começando a ficar muito irritado, pois não tinha tempo para mais nada. Tive que escolher entre ganhar meu dinheiro e o . Na verdade, escolhi o , mas minha mãe disse que eu só poderia continuar se eu mesmo pagasse, uma vez que nem ela nem meu pai concordavam em me deixar continuar, já que eu queria formar uma banda. Eles achavam que isso não daria bons frutos, que apesar de ser bem remunerado as chances eram uma em um milhão e que era melhor perder meu tempo com alguma coisa que rendesse.
era prodígio, nunca morreria de fome. Tocava guitarra porque seu pai tocava antigamente em uma banda então... É dom de família. Colocamos para tocar guitarra uma vez que (pensávamos) ser incapaz. Não deu certo e começamos a reparar na mania dele de batucar em tudo e logo ouvíamos música até quando ele batucava o lápis nos dentes. sempre neandertal era ruim em tudo, menos na guitarra. Cara, quando ele pegava aquele instrumento, não tinha para ninguém. Descobrimos o talento do pequeno e então formamos a banda. e ficavam horas tentando escrever alguma coisa. Enrolávamos no som e sempre saía alguma coisa legal.
Logo eu estava me matando de trabalhar e ao mesmo tempo tentando arranjar algum momento para ter uma aula de 50 minutos de com um dos melhores professores da Inglaterra: o meu. Mas infelizmente parei de fazer as aulas e até me ofereceram uma bolsa, o meu horário na loja não permitia e meu pai ia me brigar comigo se eu largasse o emprego. Até que foi um ponto positivo para mim me matar de trabalhar lá; eu ganhava bastante dinheiro. 300 libras por semana mais o que eu conseguisse de comissão. Basicamente eu ganhava 400 e poucas libras por mês. Era o bastante para mim.

Bati na porta da segunda casa que eu mais ia (a do era a terceira) e ninguém atendeu. Esperei um tempo e bati de novo. Toquei a campainha. Passei cinco minutos parado na porta e ninguém veio me atender. Peguei o celular e liguei para o telefone fixo. Ninguém atendeu também. Todo mundo tinha saído e eu e meu estresse estávamos ali sozinhos? Droga!
- Olá. - ouvi uma voz simpática atrás de mim e uma senti uma coisa gelada nas pernas. Me virei cansado.
- Podia ter avisado que ia sair, estou aqui tem dez minutos. - a vi caçar o molho de chaves dentro da bolsa com um pouco de dificuldade. Segurei seu pulso e procurei eu mesmo.
- Ainda bem que comprei hidratantes e óleos essenciais, você está precisando urgente relaxar. - ela riu e eu rolei os olhos. Encontrei as chaves e fui na direção da porta, sem muita paciência. Assim que entramos ela deixou algumas sacolas na cozinha e trouxe outra consigo. Quando olhei para a escada que iríamos subir, já me deu vontade de chorar. Eu só queria deitar no chão. - Fugindo do trabalho?
- Hoje é domingo, não trabalho. - respondi tentando vencer os degraus. Ainda estava na metade do caminho.
- Essa sua carga horária é barra pesada. Você é muito novo para o nível de estresse que está. - tagarelou já entrando no quarto. Assim que cheguei também, ela sorriu indicando a cama e colocando para fora da sacola as coisas que tinha comprado. Colocou um dos óleos essenciais no difusor e o ligou - Deita aí. - me deitei de barriga para sem cerimônia alguma, deixando os músculos relaxarem de leve. - Tudo bem se eu ligar a TV? Vai passar Cold Case e hoje é o último episódio.
- Faz o que quiser. - respondi abafado, com a cara meio de lado no colchão. A TV foi ligada e fechei os olhos tentando esvaziar minha mente de todo o estresse que o trabalho e a falta das aulas de e da banda de garagem estavam me fazendo.
Senti minha blusa ser puxada e levantei meu tronco meio de mau humor, tirando-a. Voltei a deitar e a escutar o som da TV baixinho no fundo. As mãos quentes de pousaram sobre minhas costas nuas fazendo leves movimentos e soltando meus músculos presos. Pouco depois uma gosma gelada foi passada e me lembrei de que era o tal creme hidratante. Cheirava a lavanda. Relaxei quase todo com a massagem suave e agradeci mentalmente por ter uma melhor amiga mulher. Ter a visão do me massageando não era nada legal. Ele com certeza iria me deixar pior do que eu já estava.
A massagem foi ficando cada vez melhor, até que me senti relaxado por completo. Aí reparei o quão cansado eu estava; parecia que tinha acabado de sair de uma rave. Meu corpo pesou por inteiro e me entreguei ao sono exatamente às dez da manhã.


Capítulo 7

Depois da massagem renovadora de , todo domingo eu ia alegremente para a casa dela receber mais e mais doses daquela coisa viciante. Não sei bem o motivo, mas a loja me deu umas miniférias e uma carga horária menos extensa. Meio período. Logicamente me senti mais feliz do que nunca. Iria trabalhar apenas das 16 às 20, de segunda à sexta. Aquilo me aliviou bastante.
Apesar de não ganhar mais a mesma coisa, não estava ligando muito. Tudo bem, já tinha bastante dinheiro guardado e dava para o final do ano todo já que não costumava torrar dinheiro. E eu poderia voltar a passar mais tempo fazendo aquilo que realmente gostava: tocar. Comecei a me empolgar para escrever coisas com e logo eu estava mais presente na banda.
Mesmo com minha melhor amiga estando cabisbaixa na semana da notícia, não me esforcei para procurar saber o que era porque uma comemoração não podia passar em branco. Tanto eu quanto ela poderíamos beber sem nos preocupar. Apesar de ser ilegal na Inglaterra menores de 18 dirigindo, meu pai me deixava apenas dirigir por perto. A casa de era perto, não era? Era mais ou menos, mas de qualquer maneira eu aparentava ter mais idade do que tinha e ninguém ia me parar no meio da noite.
confirmou a festa para sexta às 22. Convidamos só algumas pessoas do colégio e apesar de a notícia sempre se espalhar, naquele dia o número de gente lá dentro era razoável.
Cheguei com e já alegrinhas por ter uma festa para ir. entrou na casa dos já chamando atenção. Estava com uma saia preta que tinha uns brilhos, um negócio muito louco. Às vezes o brilho ia no fundo do olho e dava até nervoso. Eu estava com uma calça jeans dessas mais coladas. As meninas disseram que ia ficar lindo com a minha blusa branca, então confiei.
Até que assim fechei a porta e me virei, dei de cara com . Vestindo uma calça jeans, blusa azul bebê e um blazer por cima. Olha, eu nunca fui o cara mais estiloso do grupo, mas o , sinceramente, dava pena.
Dei um toque de mão com ele e perguntei onde estava . Não foi preciso responder, já que no segundo seguinte pude ouvir dando um grito e chamando pelo nome dele. Olhamos para o lado e lá estava ele. Já sem blusa, se amassando com alguma garota que eu não conseguia ver quem era.
eu não precisei procurar, porque me deu um murro no peito e logo depois puxou , pelo cabelo mesmo, a levando para a cozinha. Um estilo homem das cavernas.
Olhei em volta tentando descobrir se no meu campo de visão tinha mais gente que eu conhecia. Não tinha reparado se estava por ali. Era estranho, pois ela costumava ser uma das primeiras a chegar.
bateu de leve seu ombro no meu, indicando que iria para a cozinha. Fui junto. Lá dentro estava uma bagunça. e discutiam sobre qual bebida eles iam dividir. Abri o freezer e peguei uma Heineken long neck. Temos que começar com calma. Entreguei uma para e fui para a porta, observar em que estado estava a sala.
Olhei por alguns segundos até que algo chamou minha atenção. estava linda. Usava um vestido sem alças. Preto, mais justo. E um salto vinho; uma cor que me seduzia muito se você quer saber. Mulher de salto vinho me ganhava. Ela olhava horrorizada para um casal no sofá e eu ri, chegando perto e puxando-a para a cozinha.
Uns três casais já estavam se animando então abri a geladeira, peguei duas cervejas e saí com ela dali.
Fomos até o andar de cima procurar por um quarto tranquilo. Três deles estavam abertos e um trancado - o dos pais de . Os banheiros estavam lotados. Acabamos por voltar para o andar de e ficar na escadinha da porta de entrada. Sentamos e conversamos por um bom tempo. Ela me contou que estava com uns problemas na família porque a empresa dos nossos pais estava falindo e o pai dela não conseguia criar o anúncio que o cliente lá queria então estava um estresse só. apareceu tempos depois roubando-a dos nossos papos, alegando que ela já voltava e que precisava dançar alguma música em especial com ela. então sentou do meu lado e começamos a conversar sobre a nossa banda. O pai de tinha conseguido um miniestúdio para nós e logo isso significava que esse era mais um motivo para comemorar e aproveitar aquela festa. Não que eu fosse de beber até cair, nunca gostei muito, mas comemoração é comemoração.

Fazia muito tempo que estava todo mundo desaparecido. Rodei a casa atrás dos meus amigos e só via uma muvuca na sala. O jardim estava sem ninguém, os quartos, os banheiros e até mesmo a cozinha. Me aproximei da muvuca assim que avistei olhando para os lados que nem um louco, gritando “Desce!” e algo do tipo “Tira mais!”. Não que eu seja tarado, mas gostaria muito de saber o que estava acontecendo.
me avistou e me puxou pela gola da camisa, me jogando lá para o meio. A festa inteira tinha juntado ali e quando virei para ver o que era, quase tive um treco. dançava sensualmente tirando os sapatos e jogando-os em cima de qualquer um que estivesse na frente. Fingia que ia abrir o vestido e voltava deixando aqueles tarados loucos. Ela não estava em seu estado normal, já devia ter bebido umas sete doses de tudo que tinha direito e que tinha naquela casa. A mesa onde ela estava não era muito alta por ser uma mesa de centro então assim que me viu, me chamou com um dedo e eu fui. Parei na frente dela e cruzei os braços; ela apoiou as mãos no meu ombro, subindo e descendo. Ela colocou a mão dentro do vestido, eu arregalei os olhos, ela riu e abaixou até a altura do meu ouvido.
- Essa é para você. - não sei se aquilo foi bom, mas vê-la tirando o sutiã no momento não foi nada sexy. OK, por um lado foi, mas ela não podia fazer aquele tipo de coisa. Olhei-a sério e ela riu pegando mais um copo de não sei quem atrás de mim e eu o segurei com força puxando-o. bateu o pé e se não estivesse naquelas condições eu teria rido. Deixei o copo na mesa e a peguei pelas pernas fazendo-a ficar com a bunda para cima, apoiada no meu ombro. me seguiu colocando a mão na altura de onde o vestido de acabava. Ouvi gritar “A FESTA ACABOU, SEUS VAGABUNDOS” depois de me xingar.
tirou um molho de chaves do bolso e abriu o quarto especial (que era um quarto usado só pelos amigos íntimos dos ). Deitei na cama e desceu avisando que ia pegar água e um pano molhado. Ela se sentou e me olhou sem emoção alguma.
- Você como sempre tinha que acabar com a diversão, né?
- Você acha digno sair por aí fazendo striptease na casa do seu amigo e jogar o sutiã na cara de alguém? - ela riu alto prendendo o cabelo.
- Era o lilás? - que raios de pergunta era aquela?
- Não, era um vermelho. - os olhos dela se arregalaram como se aquilo não pudesse acontecer, mas logo riu de novo e deitou na cama me puxando junto. Caímos no momento em que e entraram com caras preocupadas. – Ajuda, por favor. - não soltava o meu pescoço e eu já estava ficando sufocado.
- Ninguém toca nele! - ela rapidamente bateu na mão de , que se afastou com medo. - Ele é meu e só meu. - ficamos parados esperando o que mais poderia acontecer. Aos poucos ela foi fechando os olhos e quando parecia que tinha dormido, fez sinal positivo e eu tentei me levantar com cuidado. Assim que cheguei na metade do caminho, ela levantou 30 vezes mais elétrica e expulsou todos do quarto menos eu. Trancou a porta e passou as pernas do lado do meu tronco. - Você ficou com ciúmes, eu sei. Faço um só para você.
- Eu não quero nada disso. - empurrei-a para o lado e segurei seus pulsos para que ela não tentasse aprontar mais nada. - Faz assim, toma um banho e a gente conversa depois.
- Você me promete?
- Sim, eu prometo. - ela sorriu e foi em direção ao banheiro. Sentei na cama relaxando um pouco e fechando os olhos. Ouvi o chuveiro sendo ligado e o barulho do trinco na porta. Pensei que teria paz por alguns minutos. Mas só durou o tempo de um suspiro, porque em segundos ela estava em cima de mim de novo, me fitando. - O que foi?
- Você é tão... - esperei o resto da frase meio desconfiado. - Lindo.
- É eu sei, meus pais capricharam. - sorri e ela sorriu de volta. Segurei sua cintura e ela colou nossas testas. - A água está correndo, melhor você ir para o banho.
- Só um segundo. - ela colou a boca na minha e ficou parada. - Quero ver se é mesmo pior que beijar a . - soltei o ar pelo nariz e ela negou. - Vamos, me beija. Ou então eu vou te beijar. - não tive escolha, ela me apertou e eu segui meus instintos. Nos beijamos como se aquele fosse o nosso último minuto na terra.


Capítulo 8

Estava deitado com dormindo ao lado e a respiração calma. bateu na porta e eu a abri com cuidado sem fazer muito barulho. O medo de acordar eletrica de novo era grande.
- Ela já está melhor?
- Acho que sim. Fica aqui um pouco? Preciso comer. - ela concordou e tomou o meu lugar.
Passei pelo longo corredor e pude ver que ainda tinham peças de roupas espalhadas. Aquelas que não voltariam para seus donos, mas iriam para o saco de lixo preto pós festas de . Abri a porta do quarto de hóspedes e e dormiam esparramados na cama. O quarto dos pais dele permanecia trancado e o quarto dele abrigava , que estava encolhida na coberta. Entrei com cuidado e fui até o banheiro para lavar meu rosto e usar o enxaguante bucal. Saí rapidamente e continuei meu trajeto pelo corredor e seus obstáculos.
Desci as escadas lentamente e pude ouvir a TV. deveria ter deixado ligada enquanto assistia algum programa de ciências ou sei lá. Passei direto para a cozinha e achei que veria por ali assaltando a geladeira, mas não; o que vi foi algo pior. Um casal dormia em cima da ilha de , seminus. Acordei os dois cutucando-os com uma colher de pau. Os dois saíram de lá com as caras vermelhas que nem pimenta e correram pela porta da cozinha que dava para o jardim e os fundos da casa. Joguei a colher fora e fui catando alguns pedaços de pano pela cozinha e tacando dentro do lixo preto pós-festas de . O lixo estava bem cheinho então resolvi limpar a mesa. Passei um desinfetante barato que devia ter comprado antes da festa junto com as bebidas e joguei quase todo ali. O mármore da pia estava com umas gosmas nojentas então joguei mais. O vidrinho estava quase acabando. Abri a torneira e deixei a água cair dentro do recipiente, chacoalhando um pouco. Yeah, mais desinfetante barato. Continuei meu trabalho até minha barriga roncar. Lavei bem as mãos depois de limpar a pia e a torneira. Abri a geladeira depois de passar bem um pano por ali e vi que não tinha quase nada, apenas umas frutas que deviam estar passadas assim como os iogurtes. Fui até a dispensa na maior cara de pau e abri a portinha. Uma garrafa de água (quente) estava fechada lá dentro ainda com o lacre. A peguei e fui atrás de um copo; depois de analisá-lo muito, deixei a água cair ali e bebi.
Voltei à sala com o saco de lixo e fui catando mais e mais peças. Poderíamos abrir um achado e perdidos ou mesmo uma loja, um brechó... Iríamos faturar e ainda investiríamos o dinheiro na banda. Achei a ideia legal e preferi anotar no bloco de recados dos pais de . Havia um recado do ano de 1500 lá. Risquei-o com toda a cara de pau que eu ainda tinha e anotei minha ideia genial. A TV ainda estava ligada. Deixei o saco de lado por uns instantes e fui desligá-la. me chutou e me virei tomando um susto com ele.
- Você está parecendo um zumbi. - comentei após o ataque cardíaco passar.
- Sei disso. Me deixa ver o desenho por favor. - sentei ao lado dele.
- Estava tirando os pedaços de pano perdidos pela casa. Já limpei a cozinha toda, só faltou o chão e o teto.
- Isso fica por minha conta. - concordei e me perguntei por qual motivo não tínhamos uma pinça gigante para ocasiões como aquelas. continuou vendo Tom & Jerry e eu fiquei absorto em pensamentos. - Cara, estou falando com você.
- Foi mal, me perdi aqui. Pode falar. - balancei a cabeça.
- Que cara de mongol é essa? - ele riu alto.
- Nenhuma, ora. Estou com sono apenas. - enquanto falava, reparei atrás da TV um brilho e levantei indo até lá. Tirei um sutiã vermelho sem alça e com certeza nós sabíamos de quem era. Me sentei de novo ao lado de e deixei o sutiã do meu lado.
- Isso não é sono, é susto. O susto foi por me ver?
- Na verdade, não. - ele me olhou como se eu fosse um alienígena.
- Como está a situação lá em cima?
- Normalizada. ficou enquanto eu vim colocar ordem. - nos calamos e resolveu uma hora levantar e continuar meu trabalho. 10 minutos depois de ver a sala limpa de peças de roupas, pegamos vassouras, panos, o desinfetante barato de e um balde. Enrolamos os panos nas vassouras, jogamos todo o líquido dentro do balde e pela primeira vez na vida, fizemos um trabalho de limpeza bem feito. A sala brilhou de tão limpa assim que terminamos. Olhei os panos: pretos. não devia limpar a casa nunca. Os pais dele deviam estar na Alemanha naquela hora discutindo relações empresariais e nós estávamos terminando uma festa. Ai se eles soubessem...
Subimos as escadas ainda catando restos e terminamos de limpar o corredor tempos depois.
- Ei, psiu. - ouvimos e então olhamos para frente. Era , parada na porta do quarto especial. - , vem aqui. - larguei com o saco e parei na frente dela. - Não consigo mais controlar. - ela fechou a porta e foi ao encontro de . Respirei por dois segundos e entrei no quarto. estava aos prantos. Sentei na cama vendo que a TV estava ligada em um canal qualquer. Abracei-a e esperei que ela se sentisse a vontade para falar o que quisesse. O choro foi parando aos poucos.
- Me desculpa, beber é tão feio.
- Acontece, você bebeu um pouco além da conta. - beijei a testa dela. Só então reparei que tinha um saco atrás da porta. - O que é aquilo ali?
- Surpresa. - ela sorriu e foi até lá, tirando de dentro uma garrafa de vinho tinto. Eu não podia acreditar. - Escondi para nós dois. - sussurrou.
- Nós não vamos beber isso. Você já passou dos limites por hoje. - ela me olhou que nem um cachorro sem dono e esfregou a garrafa na minha cara. Era o meu vinho preferido. - Só um gole e nada mais.

Olhei para o teto e estava tudo rodando. Olhei a garrafa, um gole para ficar vazia. estava no meu colo e lutávamos para ver quem iria conseguir beber o último gole. Segurei o corpo da garrafa levando-a até minha boca. Ela pegou o bico e o virou para si, já quase entornando tudo. Segurei forte a garrafa e abaixei-a. Ela juntou nossos rostos de lado e abriu a boca. A imitei e ela despejou o conteúdo. Senti o vinho na minha boca e aposto que ela também. Olhei-a rindo feliz da vida por mais álcool nas veias. Ela estava pior do que eu.
- Já deu ou você tem outra escondida? - perguntei esperançoso.
- E você não queria beber... - ri alto e então a porta se abriu. colocou a cabeça para dentro nos olhando estranho. – Olá, , junte-se, vamos começar o esquenta pelos canais pornô. - ela engatinhou e pegou o controle. Voltou para o meu colo e foi mudando de canal. - Que droga, cadê?
- Você está muito louca. - riu cruzando os braços e ela saiu do meu colo indo até ele. - Posso chamar a ?
- Quanto mais gente melhor, chame também os meninos. Vamos começar a melhor festa que essa casa já viu! Eu quero nadar pelada! - saiu animado. voltou a sentar no meu colo e ficamos nos encarando. - Sério, eu fico cada vez mais bêbada com você. Até com esses olhinhos vermelhos você é bonito. Fala sério. - ela pegou meu rosto e o virou para o lado. Voltei à posição original e respondi.
- Como se você fosse horrorosa, né?
- Eu sou mulher, todas as mulheres são lindas. - ela sorriu enquanto analisava meu nariz.
- Nem todas. - me prendi a ela e apoiei meu queixo em seu ombro.
- O pior é que depois que a ressaca passar não vamos nos lembrar de quase nada. E eu queria lembrar dessa festa pornô.
- Eu provavelmente não vou me lembrar de muita coisa. Mas é bom que podemos fazer tudo de novo. - concluí e ela sorriu concordando. - Será que você topa correr pelado na rua? Ia ser muito louco.
- Caraca! Imagina todo mundo jogando o jogo das cantadas bêbados e pelados. Eu estou imaginando. - tentei imaginar também, mas fui interrompido por um suspiro chateado. - Queria dar essa ideia quando os meninos chegassem, mas não tem mais vinho e nem nada alcoólico nessa casa, eu já procurei.
- Se não tem álcool, nós criamos novas regras. Se gostar beija, se não gostar da cantada dá um chute, serve?
- Serveee! - ela levantou os braços superfeliz com a ideia e eu os abaixei. Peguei a garrafa de vinho e rodei. - Começa.
- Me chama de Tsunami e me deixa invadir a sua praia. - ri alto com ela e esperei algum chute mas ela ficou exatamente onde estava. Ela olhava para e rodava a cabeça. - Caraca, foi tão ruim assim?
- Na verdade, eu gostei. - juntou os dedos e os separou e ficou fazendo aquele mesmo movimento várias vezes. Peguei os dedos dela já meio tonto pela bebida e pelo movimento repetitivo. Parei para tentar entender o porquê do silêncio dela, mas minha cabeça só doeu e me deu mais vontade de tomar um vinho e um banho. Rodei minha mente atrás de algo que eu mesmo tivesse dito sobre alguma regra, mas nada me veio à cabeça. Tudo rodou de novo.
- Olha eu não lembro qual foi o combinado, mas vai em frente porque se eu não lembro do combinado duvido muito lembrar do que vai acontecer.
- É mesmo, né? Estamos altos demais para lembrar até como se anda.
- Bora tentar depois?
- Vamos?! - rimos alto e jurei ter ouvido alguém bater na porta. - Posso te beijar então, né?
- Uau, o prêmio é você me beijar? Vai em frente logo! - a puxei e logo estávamos nos beijando muito. Nem eu nem ela conseguíamos parar e não acho que algum de nós ligou na hora, só sei que eu fui ficando cada vez mais animado. Até que eu tive uma ideia e quebrei o beijo. - Tive uma ideia. O que você acha de tomarmos um banho?
- Caraca, você é um gênio. - ela levantou com dificuldade, mas sem derrubar sua euforia.
- Mas na piscina do . - completei como se estivesse passando à diante a cura do câncer.
- Mas deve estar cheia de folhas!
- MAIS LEGAL AINDA! - peguei-a no colo e tentei abrir a porta. Não obtive sucesso então ela ficou de pé e a abriu. saiu batendo em todas as portas existentes no corredor. Andamos cambaleantes, descemos as escadas nos esbarrando, entortando nossas pernas e pés e segurando em nós mesmos. A sala limpa ficou cheia de pés nossos e rimos continuando a fazer marcas. Chegamos à cozinha e abrimos a porta dando de cara com a piscina coberta. Corremos para tirar a lona de cima dela e me atirei com tudo o que vestia lá dentro. Ela pulou também e apareceu rápido na superfície.
- Você acha tranquilo nós dois bêbados sozinhos em uma piscina? E se nos afogarmos?
- Nossa, você fica muito melhor nesse vestido com ele molhado. - fixei os olhos no corpo dela e dei uma babada. Ela riu e se pendurou no meu pescoço.
- Você também parece mais volumoso com esse short aí. - olhei para e pude perceber que parecia mesmo. - Sou só eu ou está tudo rodando?
- Aqui também está tudo rodando, que estranho. - segurei forte a cintura dela e comecei a beijar seu pescoço sem saber o porquê. Ela correspondeu às minhas carícias e em pouco tempo estávamos de novo brincando com nossas bocas e mãos dentro da piscina. Eu não sabia se era ou álcool ou o quê; mas que eu estava ficando viciado a cada vez que a língua dela tocava a minha, ah eu estava. Subia um arrepio e me deixava mais louco do que eu já deveria estar. De repente lembrei que ela era minha melhor amiga. E foi nesse exato momento que voltei à sanidade por cinco segundos, que e apareceram no meu campo de visão. Estavam parados, pasmos com a cena.


Capítulo 9

Os dois estavam estáticos como se estivessem vendo fantasmas. saiu correndo de volta para sala e mexeu no cabelo. Saímos da piscina olhando para ele com olhares maldosos. correu assim que entendeu o recado.
Como a ideia de jogá-lo na piscina não deu certo, andei de volta para casa ainda meio tonto naquelas de vai não vai com um pé na frente e o outro perdido. mas fui. Bati a porta da cozinha sem nem me ligar do que estava acontecendo em volta. Olhei para a sala procurando alguma alma e vi apenas aparecer meio vermelho e com o cabelo despenteado descendo as escadas. Não posso deixar de dizer que ele estava com uma cara muito brava e eu me perguntava o porquê de tudo aquilo.
Ele veio até mim e me puxou pelo braço. Avistei com alguma coisa na mão e com umas toalhas. Deixei o neandertal me levar até a caverna. Fui sentado em um vaso sanitário e olhado profundamente. Minha cabeça pesou e rodou ao mesmo tempo. Achei aquilo muito louco e ri sozinho. estava sentada na pia mexendo em alguns frascos de perfume de , e se encontrava sentado no chão do banheiro. Sem ter mais nada para fazer, mexi meus pés.
- Vejo tudo embaçado. - tentei me comunicar com . Ele me olhou e negou com a cabeça. Mirei e ela ainda se encontrava mexendo os pés no ar e cheirando alguns frascos. – , é sério, não estou conseguindo enxergar vocês direito.
- Dê água para ele. - a contragosto dele, lhe passou um copo e ele me deu. Bebi um gole e instantaneamente comecei a enxergar melhor. Bebi o resto cheio de sede e deixei a cabeça cair para trás. saiu do banheiro e se levantou trancando a porta. Ele ligou o chuveiro. Desde quando toma banho? E desde quando ele toma banho àquela hora da madrugada? Aliás, e banho não são palavras que combinam muito. Aquilo subiu minha cabeça em pensamentos e ri alto. Meu amigo neandertal me deu um tapa e segurou meu braço fazendo-me levantar. Continuei rindo, porém baixo, e observei o que ele fazia. Estendeu uma toalha no vidro do box e abriu a porta. Me empurrou para dentro do frio que as gotas caídas do chuveiro traziam e me olhou o sério.
- Não fode.
É, depois dessa me joguei ainda de roupa debaixo do chuveiro. Eu já estava com aquela roupa molhada mesmo, não ia fazer a mínima diferença molhar mais um pouco. Minha visão ficou totalmente boa e sorri feliz com alguma coisa. Olhei o único shampoo que tinha em casa, um anticaspa que cheirava mal e despejei no cabelo fazendo várias bolhas e me divertindo. Fui ficando sóbrio aos poucos. Tirei a roupa e torci-as o mais forte que consegui. Abri a porta do box e joguei-as dentro da pia. Me ensaboei lentamente e fiquei pensando onde teria se enfiado que desde que saímos da piscina não vi nem sua alma. Desliguei o chuveiro, tropecei em um pé, bati a cabeça no vidro, fez um estrondo, me enrolei na toalha e saí do banheiro. Estava um frio da porra e ninguém dentro daquele quarto do para me receber de braços apertos com uma roupa limpa e seca. Abri a porta do quarto, olhei o corredor e não vi ninguém. A TV estava ligada. Hora: 3:47 a.m., nada passaria de bom àquela hora a não ser pornografia. Me animei de leve e desci encontrando e vendo outro desenho estúpido e dormindo quase babando em cima de .
- Preciso de roupas. - todos eles me ignoraram. apareceu da cozinha com a cara mais fofa do mundo e me entregou uma xícara com chá. Eu preferia chocolate quente, mas e daí? Chá também era legal e quentinho. Menos gostoso, mas ainda assim, quentinho. Tomei quase tudo de uma vez e queimei minha boca, língua, garganta, caminho até o estômago e o estômago. Eu precisava de roupas limpas e de comida. Ela se sentou do lado de e continuaram todos a me ignorar. - Alguém aqui me ouviu?
- Está sóbrio? - me olhou meio sério meio com ódio, mas logo depois riu. era o melhor. - Vamos seu cabeçudo, vou arranjar algum trapo para você.
Segui enquanto segurava a toalha que quase não cabia na minha cintura e adentramos seu quarto. Ele mexeu em uma embalagem fechada dentro do armário e me jogou uma boxer. Olhei torto para ela, mas vesti.
- Desculpa, meus pais ainda acham que eu tenho uns sete anos e curto essas boxers infantilizadas. - confirmei com a cabeça e esperei o resto. Ele me puxou e mandou eu me virar. Peguei uma blusa qualquer de bandas diversas do e vesti. Saí de blusa e boxer mesmo, eu não estava nem aí para as garotas da casa. Aliás, para uma eu estava.
Parei o meu trajeto pelo corredor e voltei uns passos, batendo na porta do quarto especial. Esperei uns segundos e a porta foi aberta. Não sei de onde as roupas vieram, mas que estava de camisola, ah, ela estava. Juro por tudo! Eu não me encontrava mais tão bêbado, estava quase cem por cento sóbrio. Estava 83 por cento. OK, talvez menos. Ela me entregou um copo com água e um remédio para aliviar a dor de cabeça do dia seguinte. Beijei sua testa e bebi tudo ainda morrendo de sede. Fechei a porta e me sentei do lado dela na cama. Ficamos em silêncio por um tempo indeterminado, apenas ouvindo a TV da sala lá embaixo ligada, as risadas de e e alguns passos pelo corredor uma vez ou outra, que devia ser sendo feita de pombo correio mais uma vez pelos ogros da sala.
- Você acha que vai se lembrar de alguma coisa? - perguntou como se tivéssemos acabado de acordar de um surto depois de uma noite muito louca. O que não era exatamente o caso.
- Hum, talvez um pouco. - dei uma mentida mas ficou tudo bem porque ela sorriu e eu retribuí. - Quero que você me responda uma coisa, porque fiquei curioso agora que lembrei. - ela concordou e me esperou continuar. - Eu sou mesmo pior do que a ? - ela riu de leve e me deu uns socos. Não entendi o motivo, mas tudo bem, dizem que tapa de amor não dói, então soco... Relevo.
- Seu pilantra, eu sabia que você iria voltar nesse assunto! - óbvio que eu ia. Quem ia esquecer que deu uns beijos na melhor amiga que estava de salto vinho na festa? Eu não. - É muito melhor. - acordei com aquela frase e achei engraçado o fato de que estávamos conversando como se estivéssemos nos perguntando qual os nossos nomes. Meu ego subiu uns poucos pontos e fiquei felizinho.
- Queria me desculpar por ter feito tudo o que fiz. Você sabe que eu não gosto de beber. Sou meio fraco. - e era mesmo. Dois copos de cerveja já eram suficientes para me fazer cantar sete músicas no karaokê.
- Não tem importância. Eu te fiz beber, eu que sou a errada. Acho que abuso do meu fígado porque sei que sou forte. - sorri de leve para ela e recebi um apertão na bochecha. - Nunca mais quero passar por isso. Me desculpa pelo vexame.
- Seu sutiã está dentro do sofá do , embaixo das nádegas do e da . - nós rimos e apoiou a cabeça no meu ombro. Continuei imóvel apenas ouvindo o que me restava ouvir dos ruídos da casa e estalos dos móveis. O quarto estava iluminado apenas por um abajur com uma lâmpada mais forte e o céu aparecia estrelado pela grande janela. começou a se mexer de forma estranha e levantou me olhando desesperada. Juntei as sobrancelhas não entendendo o recado.
- Acho que eu vou vomitar. - arregalei os olhos e levantei correndo, já abrindo a porta do quarto. A puxei até o banheiro do corredor e a deixei ali mesmo, indiquei que voltaria ao quarto e fechei a porta para que ela tivesse privacidade para vomitar em paz.

Acordei no susto e abri os olhos esperando minha visão voltar ao normal. Percebi que não tinha voltado do banheiro havia um bom tempo e comecei a achar que ela poderia estar desmaiada no chão frio daquele pedaço da casa. Ouvi berros e murros e fui até o corredor meio assustado. Os gritos e os murros aumentaram de volume e descobri que era ela mesmo. Dei uma batida na porta e ela parou de gritar e socar. Um silêncio brotou e ouvi aos poucos a respiração dela.
- Estou presa, quer me ajudar? - girei a maçaneta sem nenhum sucesso. Tentei de novo, nada. Tentei a terceira, quarta, quinta vez e nada de solução nem de porta abrir. A maldita estava mesmo emperrada. - Vou empurrar para ver se ajuda, ok? Tenta de novo. - dei uma puxada mais forte e a porta estalou. Respirei fundo e puxei o mais forte que consegui, abrindo a porta. A força foi tanta que fui jogado para trás e acabei caindo com a bunda no chão. Os idiotas lá de baixo nem para ajudar e eu que me ferrava. Mas também pudera, só tinha aprontado depois que a festa havia terminado. Essa era novidade. riu e apagou a luz do banheiro. Se abaixou e continuou rindo. A acompanhei e ficamos os dois otários rindo da minha própria desgraça. - Machucou muito aí?
- Não, está tudo bem. - ela se aproximou para beijar minha testa mas algo me fez recuar e olhá-la com outros olhos. Acho que um pouco de álcool ainda corria pelas minhas veias. Me aproximei dela, já encostando na parede e fui levantando devagar, trazendo-a comigo. Assim que levantamos, ficamos nos encarando por uns segundos e senti os pés frios dela em cima dos meus, tentando se equilibrar. Passei uma mão pelas costas dela e outra pousei em sua cintura. Ela envolveu os braços no meu pescoço e nos encaramos pela última vez antes de os dois jogarem as próprias bocas para firmar o elo com a outra. Tudo começou a rodar de novo na minha cabeça e eu sabia que dessa vez não era por culpa da bebida. Caminhei até a parede contrária prensando-a o mais forte que conseguia. Ouvi um pequeno gemido e a pressionei mais. Aquilo estava me deixando mais louco a cada movimento e a desgrudei da parede, caminhando lentamente até o quarto especial de com ela ainda nos meus pés. Fechei a porta e esperei enquanto ela a trancava. Quando sua mão voltou para o meu pescoço, andei até a cama deitando-a com não muito cuidado, mas ouvir o gemido de dor dela foi ótimo. Eu não estava enxergando lá muitas coisas, ainda mais depois que o abajur foi desligado pela mesma. Deitei por cima dela e beijei seu pescoço. Ela grudou os lábios no meu rosto e mordeu minha orelha assim que cheguei ao seu colo com meus beijos. Quando ia voltar a beijá-la, ela segurou meu rosto e me olhou profundamente.
- O que é isso? - porra de pergunta era aquela? Eram duas pessoas quase juntando corpos. Não tem muito o que explicar. Ela tinha esses momentos nas piores situações. Era muito difícil realmente entender que... Aí que eu lembrei que ela era minha melhor amiga. Fui tentar me jogar para o lado, mas ela me impediu, prendendo as pernas na minha cintura. - Anda, o que é isso? - ela podia parar de querer uma resposta e ir logo? Não que eu fosse superexperiente até porque dos meninos acho que eu era o único virgem.
- Acho que eu gosto de você. - isso foi o seu melhor, seu babaca? Me odeio. Nossos peitos subiam e desciam feito loucos e minha boca implorava pela dela. Ela sorriu e puxou bruscamente meu rosto, fazendo nossas bocas voltarem à sintonia que estavam antes. Não aguentando mais, me mexi a fim de tirar tudo logo. Ela afrouxou as pernas da minha cintura e tirei a camisola dela. Comecei a subir beijos do umbigo até sua boca e não soltei mais aquele lugar. Um tempo depois ela se sentiu reprimida e tirou minha blusa com uma facilidade incrível. Incrível porque até onde eu sabia, ela também era virgem e nunca tinha tido nada do tipo com os ex-ficantes. Bom ser melhor amigo, hum. Fitei o rosto dela e joguei um pouco mais do meu peso em cima dela. Eu não me aguentava mais por tanto tempo, mas acho que foi bom, ela sorriu e me puxou cada vez mais para ela. se levantou começando a sentar e não demorou para achar a barra da boxer, uma vez que eu mesmo já tinha me livrado da minha calça.
- A caverna do dragão, ? - ela riu olhando para baixo e eu acompanhei, um pouco sem ar. - Não é culpa sua, aposto. - concordei. - Tudo bem, acho que eles não vão se importar de ficar de fora dessa. - a boxer foi jogada longe e quando consegui me livrar da calcinha dela, meus olhos brilharam e a deitei rapidamente, voltando a me conectar ao meu mais novo e descoberto vício. Comecei a me incomodar com a ereção que estava sendo controlada até ali e acho que ela percebeu, porque me afrouxou de novo e desacelerou o beijo. Eu não queria que tudo fosse tão rápido, mas estava sendo difícil de controlar. Continuei beijando-a na mesma velocidade.
- Por favor, me deixa saber de tudo. - ela concordou entendendo o recado e então me lembrou do mais importante. Balancei a cabeça meio puto e tentei pensar onde o principal estaria, mas infelizmente não estava na minha casa. Desci para iniciar o oral, tentando não perder o embalo do momento, e murmurei que já ia pegar. Meu principal pensamento era "Se eu fosse , onde esconderia camisinhas?". Enquanto ela ia se contorcendo cada vez mais rápido, uma luz veio à minha mente. Esperei-a gozar e assim que aconteceu fui me afastando aos poucos, indicando o armário. - Desculpa cortar seu barato. Primeira gaveta no meio das meias. - eu sempre muito inteligente e “conhecedor” do meu amigo, falei e ela se levantou rápido indo até lá. Ouvi poucos segundos depois o barulho da gaveta se fechando assim como o armário e logo tinha voltado ao meu lado. Me preveni e só então voltei para cima dela e a penetrei nivelando o ritmo e a intensidade com o ritmo de nossos beijos. Um turbilhão de sensações explodiu em mim um tempo depois e não erro em dizer que nela também, com um pouco mais de paciência. Fechamos os olhos por uns instantes e senti-a morder forte o meu lábio. Devia ser um sinal de que estava doendo um pouco. Diminuí o ritmo ejaculando e logo estávamos arfando feito loucos na cama do quarto especial de . Me joguei ao lado dela e a abracei. Ela me soltou alegando que estávamos muito suados e rimos nos juntando, mas com um pouco de espaço. Ela me deu um selinho e passou por cima de mim até alcançar sua camisola no chão. A vestiu e jogou minha boxer para mim depois de se levantar. Prendeu o cabelo em um coque todo errado que me fez rir e levar um tapa. - Essa camisola é sua?
- Lógico que é, de quem mais seria? Da mãe do ? - dei de ombros e nós rimos. Me levantei para me livrar da camisinha e quando voltei acabamos por deitar na cama e ficar conversando sobre milhões de coisas. Acho que ela já sabia que iríamos dormir ali.


Capítulo 10

Acordei de manhã com o cheiro de bacon entupindo minhas narinas. Olhei para o relógio digital em cima da porta e chequei a hora depois de piscar umas dez vezes seguidas. Eram apenas nove e meia da manhã, sábado. acordado àquela hora e cozinhando bacons? Ele tinha se dado bem à noite. Como eu não sei, mas tinha.
Fiquei uns segundos de olhos fechados sentindo aquele cheiro bom, mas logo me lembrei de algumas coisas importantes e olhei para o lado. dormia o seu décimo sono feito uma pedra e ri do cabelo dela estar todo embolado. Ela se mataria se visse como estava, mas eu não liguei, tentei dar uma ajeitada (que, garanto, não ajudou muito) e destranquei a porta, batendo-a fraco. Andei pelo corredor me espreguiçando e fui até o banheiro do corredor para não acordá-la. Saí de lá um tempo depois com a cara menos pior, mas ainda sim minha cabeça doía um pouco. Eu tinha dor de cabeça quando ia dormir muito tarde e acordava muito cedo. Desci as escadas e percebi que tudo estava simplesmente brilhando naquela casa. É, eu e somos os caras. Se ele estivesse em casa eu o acordaria e faríamos o hi-five mais longo de todos os tempos. Passei pela sala de e fui logo adentrando a cozinha. Parei com cautela na porta e dei um assobio meio mudo afim de que só ele ouvisse. Não estava nem um pouco a fim de ter que ver pelado na cozinha às nove e tantas da manhã e nem com a sua garota. Ele assobiou de volta e então eu soube que a barra estava limpa. Entrei felizmente, mas ainda sim com sono na limpa cozinha dele. Graças a mim e só a mim aquela bodega estava limpa. Sentei em um banco na ilha e o mesmo me jogou um pão pelas costas sem nem me ver nem mirar. Peguei-o ainda no ar e se virou trazendo com ele suco de laranja, meu favorito, alguma geleia que juro que parecia comestível, manteiga, pasta de amendoim (aquilo não era coisa de americano?) e mais algumas coisas nojentas que ele deve ter encontrado na dispensa e ter achado que realmente ia nos alimentar e não nos matar. Comemos em silêncio e em silêncio lavamos a louça e deixamos para secar no escorredor. Voltei a sentar na ilha ainda preso aos meus pensamentos e ouvi-o pigarrear. Não dei muita atenção, até o terceiro pigarreio. Respondi um “hum” safado e ele deu uma batida no meu braço indicando que queria me ouvir falar alguma coisa de verdade e não um “hm” retardado.
- Você está muito avoado, o que aconteceu? - eu deveria contar a o que tinha acontecido na noite passada? Aliás, foi na casa dele e no colchão dele; ele nos mataria, melhor não. Por outro lado, ele era meu irmão e nunca precisei pedir sua ajuda, ele sempre esteve lá, melhor sim. Enfim, sim ou não? Eis a questão. Eu deveria contar do problema? Mas e se não fosse um problema? Um remédio resolveria tudo. Mas antes não era melhor uma pessoa saber da verdade? Antes de ? Mas ele estava acordado querendo saber o que tinha acontecido e nada o tiraria dali enquanto eu não desse uma explicação razoável (para ele) e a pessoa que deveria saber estava dormindo. Eu estava dividido. Contar ao meu melhor amigo e depois contar à pessoa que deveria saber sem nem eu pensar ou...
- Bom dia. - me salvou de meus ataques pessoais e deu uma bufada. Ela sentou do meu lado e enquanto eu lhe dava um selinho, trazia de volta o suco de laranja e o entregava para ela. sorriu mandando um beijo para e ele riu, me deixando um pouco mais aliviado diante do pequeno clima que tinha se instalado segundos antes. - Todos madrugamos?
- Nem todos, a acompanhante de ainda não. - deixou o prato com bacon e ovos fritos na frente de e me deu um soquinho no braço, negando. - Até parece que não, te conheço muito bem. Para que você faria ovos fritos com bacon a essa hora da manhã?
- Tenho uma hóspede, não posso fazer feio. - piscou para que riu e estendeu o garfo com um pouco de tudo para ele, ele mordeu e engoliu em segundos. - Nossa, como eu cozinho bem. - ela concordou e eu sabia que ele se acharia o rei da cocada preta o resto do dia. Quem não sabe cozinhar ovos com bacon? OK, eu não sabia, mas isso não entra no contexto...
saiu da cozinha e ligou a TV mas eu sabia muito bem que ele sabia que o que eu tinha na cabeça era sério e só sairia da minha boca para ele se antes eu contasse à , então só deixou a TV gastando energia na sala e estava muito bem posicionado no batente da porta esperando para ouvir. Ele não sairia dali e quanto mais tempo eu esperasse para contar para qualquer um dos dois, pior. Os minutos e segundos eram contados e eu não podia segurar mais tempo do que eu estava pensando.
- Eu preciso urgente que você vá até a farmácia. - me olhou engraçado não compreendendo. - Não estou com gases, dor de barriga nem nada do tipo. Ressaca também não, quer dizer, não muita mas eu... - parei de falar para encontrar as palavras certas, não podia vacilar mais do que já tinha vacilado. - Juro que eu não sabia o que ia acontecer e antes de tudo quero que você me perdoe. - ótimo, pela cara dela, devia estar achando que eu tinha saído de noite e transado com metade da cidade.
- Vai direto ao ponto porque estou ficando nervosa. - odiava deixar as pessoas nervosas e principalmente . Então tomei coragem e falei tudo logo, antes que eu não dissesse nunca e a merda estivesse feita.
- A camisinha estourou. - ela me olhou por uns segundos processando o que eu tinha acabado de dizer. Olhei discretamente para o lado com o canto do olho e pude ver comemorando com uma dancinha dos anos 70, super desengonçado. - Preciso urgente que você vá a farmácia e compre a pílula do dia seguinte. Por favor, eu não tive culpa. - ela continuou calada e aquilo estava me preocupando seriamente. A sacudi por uns segundos e a vi fazendo um sinal para que eu esperasse. Parei como pedido e esperei. - Diz alguma coisa pelo amor de Deus. Não vou conseguir ir lá.
- Ei, está tudo bem. - ela pegou meu rosto com as mãos e olhei sério para seus olhos. - Eu tomo pílulas. - suspirei me aliviando por inteiro e a abracei. Acho que eu realmente não estava muito a fim de ser pai antes da hora. - Tomo desde que descobrimos o cisto no meu ovário direito. Eu te contei, não se lembra? Tem uns dois ou três anos já. - a abracei mais forte ainda e ela me soltou a fim de comer o resto da gororoba que tinha preparado. Peguei o garfo da mão dela e terminei com aquilo logo, deixando-a meio bravinha.
- Ainda acho de confiança você comprar aquela pílula e tomar. Não podemos confiar em só uma. - ela alegou que não sabia se era melhor, uma vez que já estava tomando outra pílula. Ficou de resolver com a ginecologista e então fui até o jardim me sentar com as pernas para dentro da piscina. Logo, um corpo estava do meu lado e riu do meu jeito de encarar os fatos. Senti o cheiro de cigarro entrando pelas minhas narinas e eu queria que ainda fossem os bacons. me ofereceu e eu dei uma tragada, mas na verdade de onda, já que eu não curtia muito o gosto do cigarro em si. Também, nunca tinha aliviado nenhum dos meus problemas então... Não adiantava tê-los em mão.
- Você vai contar para os outros? - ótima pergunta, , estava me perguntando isso no mesmo instante.
- Eu não sei, você acha que eu devo? Quer dizer, vai que ela não quer, sei lá. A gente nem namora, foi mais um impulso ontem. Não um impulso, mas eu não sei explicar, eu queria, ela queria e pronto, rolou.
- E você pretende fazer o que agora? - dei de ombros. Nem eu sabia e nem queria ter a resposta tão cedo. O que iria dizer? “Olá quase te engravidei mas quero muito ter outras vezes, mas agora com uma camisinha que preste”? - Você tem que se decidir e se ligar, poderia ter engravidado a menina. - concordei fazendo uma careta desesperada e ele riu. - Nada que seu pai não fosse te abençoar. Mas conversa com ela antes. - deu um tapinha nas minhas costas assim que viu se aproximar e sussurrou. - Você é o meu herói. - herói não sei de que, mas tudo bem, era e nunca mudaria. E nem eu queria que mudasse. – Sério, cara, ela é sua melhor amiga... Ai caralho, eu te amo. - ele beijou uma bochecha minha e saiu apagando o cigarro. sentou do meu lado e encostou a cabeça no meu ombro, balançando as pernas na água.
- está bem?
- É a testosterona, ele não sabe o que fazer. - riu. - Vai jantar lá em casa hoje?
- Algum motivo em especial?
- Por que não jantaria? - era quase sempre assim, sábado eu almoçava na casa dela e ela jantava na minha. Isso rolava mais quando éramos crianças e nossos pais ficavam jogando buraco enquanto conversavam e nós brincávamos.
- Então não tem por que perguntar, oras. - concordei com a cabeça e a preocupação de ter deixado minha melhor amiga com os meus espermas dentro dela ainda não tinha saído da minha mente. Estava me consumindo. - Ainda está preocupado por causa de ontem? - concordei de novo e ela deu um meio sorriso. - Olha, não digo que me orgulho, até porque não era para ter acontecido, mas aconteceu, ninguém pode prever. Mas foi certo você ter me contado logo para não nos preocuparmos muito.
- Obrigado e desculpa. - ela deu de ombros.
- O que é para ser vai ser, não podemos mudar isso. Alguém lá em cima tem mais poder do que todos aqui embaixo, sabia? - ri baixo do jeito dela de encarar um problema como aquele. - Não vai acontecer, pode ter certeza disso. Ele não iria querer que dois adolescentes tivessem filhos.
- Ah se todas as pessoas fossem iguais a você... O mundo seria tão mais fácil, sabia? - ela riu em meio ao meu abraço e me jogou um pouco de água.
- Você anda explorando muitos corpos por aí, é, seu safado?
- Apenas o seu. - acho que foi o tipo de resposta que qualquer uma gostaria de ter recebido, uma vez que quando vi, eu estava quase dentro da piscina tentando apagar o fogo de nós dois em meio aquele beijo.


Capítulo 11

Não que eu odiasse tudo e todos, mas minha mãe sempre exagerava quando ia fazer um jantar e toda vez eu ficava com a mesma cara de "vou matar você" para ela. Ela se empolgava sempre que tinha que fazer alguma coisa mais especial. Ainda mais se essa coisa fosse para a preferida dela. Não escondo que sempre tive vontade de dar uns amassos em certas pessoas, ainda mais depois que essa pessoa completou quinze anos, mas vamos com calma. Dali dois meses ela completaria dezesseis e eu sabia que seria uma grande festa apesar de ela não saber de nada. É, estávamos todos fingindo que não sabíamos de nada; principalmente eu. Os pais dela tinham dado a louca e resolvido montar uma festa em um hotel dos chiques. Eu como melhor amigo tinha que ficar dando opinião de tudo. Só não dei opinião sobre que calcinha e sutiã ela deveria vestir, mas depois da nossa noite eu juro que não me importaria. Na verdade, nunca teria me importado.
Me olhei no espelho mais uma vez antes que a campainha tocasse de novo. Eu estava ok. Passei um pouco de perfume. Ia descendo as escadas pensando e repensando se o que eu iria fazer era o certo, afinal, não era nada demais e eu não iria pedir ninguém em casamento eu só... Queria deixar as coisas mais claras acho que para mim. Me encontrei no último degrau com a minha segunda família parada na porta. Maris me olhou como se não me visse a séculos e se jogou na minha frente me abraçando até todo o ar no meu pulmão sair. Russell, pai de , me lançou a mão e eu a apertei. Nos sentamos à mesa e comemos em meio a conversa alheia. Eu ainda estava avoado e recebi um chute de , por baixo da mesa. A olhei discreto não entendendo nada e pude ler saindo de seus lábios um “O que foi?”. Responderia que estava pensando em coisas que ela não poderia saber? Não. “Nada” respondi de volta e ela se calou assim que meu pai, Norris, resolveu falar:
- Meu menino tem algo a dizer. – obrigado, pai, eu estava tentando me livrar da semiburrada (ou não?) que eu havia feito quando tive a ideia do jantar e estava me dando bem em ficar quieto até o momento. Todos olhavam para mim apreensivos querendo saber o que eu iria dizer.
- Bom, - comecei meio sem graça, mas ajoelhou tem que rezar. Meu pai me mataria, mas eu estava pouco me lixando. - Pai, antes de tudo eu queria que você não fizesse nada comigo e tal. - eles riram amenizando o clima e me chutou e novo. A ignorei (eu receberia uma bronca depois) e continuei. - Eu e os meninos fizemos uns testes aí e, bem, nós conseguimos agradar a um produtor e ele quer que gravemos umas demos. - recebi um chute mais forte e me controlei para não gritar de dor. - Mas antes de isso acontecer ele quer que nossos pais compareçam a uma reunião já que somos menores de idade. E eu quis contar isso aqui no jantar porque, er, eu acho que vocês são a minha família, né. - Maris levantou do lado de e veio me deixar ser ar por mais uns minutos. Russell olhou para o meu pai e deu um aceno positivo com a cabeça para ele. Minha mãe estava muito entretida com Maris babando pelo que eu falei e Russell ainda acenava para meu pai. Olhei para frente e recebi um chute com menos força. me olhou e sorriu. Os lábios dela se mexeram formando “sempre” e eu sorri meio sem graça. Eu não sorriria sem graça antes, mas acho que a minha noite com ela tinha mudado alguma coisa muito séria.

Eu estava sentado em uma espreguiçadeira com quase dormindo no meu ombro enquanto ouvíamos comentários como:
“Ai meus Deus, preciso de uma câmera” da minha mãe ao nos ver naquela posição, de costas. “Preciso tirar fotos para mostrar que mesmo antes de tudo, eles já são apaixonados. É o destino, amiga!”
ou:
“Por que eles não engatam um namoro logo? Até Russell e eu já teríamos começado alguma coisa” de Maris comentando sobre o nosso status de ainda melhores amigos.
ou mesmo:
“É, acho que estamos no caminho certo” do pai dela para o meu.
e até:
“Não dou um mês para eles assumirem” do meu pai para o pai dela a fim de ganhar o primeiro bolão na vida.
Nós dois, lógico, fingíamos que não ouvíamos e ficávamos na nossa tentando não rir. Mas realmente, não tinha parado para pensar ainda em como seria dali para frente. Pense bem, eu literalmente dormi com a filha do sócio do meu pai. Eu tinha conseguido assumir para ela que gostava dela e agora seria em vão só porque eu não tinha coragem para mais nada? Eu sou mesmo um covarde.
- Como a gente fica? - perguntei como se ela realmente fosse me dar a resposta.
- Não sei, você sabe? - neguei com a cabeça e acho que pensamos a mesma coisa como uma vez fizemos, ainda pequenos, quando dissemos “Quero sorvete de uva” juntos. Acabamos repetindo o ato.
- Deixa acontecer naturalmente. - ela se aninhou mais em meu ombro e eu passei um braço pelas costas dela ignorando o flash que veio uns segundos depois. Rimos de novo e fui reparar o quão a nossa família apostava em nós dois. E se não déssemos certo, como seria? A nossa sorte foi que felizmente viemos a querer algum envolvimento com o outro porque senão estávamos ferrados. Beijei a cabeça dela por um tempo e recebemos outro flash. Minha mãe ia ter o celular confiscado se não parasse com aquilo.
Passamos algum tempo conversando e relembrando da nossa infância e finalmente conseguimos ficar em paz, sem ninguém a metros de nós tentando disfarçar um flash ou um comentário ou mesmo um semibolão de duas pessoas. Olhei para o relógio de pulso dela, dez horas. As férias já estavam acabando e em duas semanas o colégio voltaria a nossa vida. Eu não queria, mas teria que voltar. Mas nada me impedia de ser feliz no colégio, impedia? Eu estudava com os melhores amigos de todos os tempos e estava começando a ter algo com a menina que a pouco tempo eu tinha descoberto que era quem eu realmente gostava. A vida não podia ser mais bonita. OK, podia sim, mas o momento só durou até pintar um clima, nós dois nos beijarmos e recebermos um flash na cara. Sério, eu iria matar a minha mãe. Aquilo era constrangedor demais para mim.

Bati na porta da terceira casa que eu mais visitava em todos os tempos e ninguém me atendeu. Só mais uma semana de férias. Deveriam estar aproveitando. Todos menos eu, que estava mais preocupado com outra coisa. Toquei a campainha de novo e nada. Tirei o celular de merda do bolso e liguei para o telefone fixo. Escutei-o um tempo depois e nada. Celular do , nada. Sentei na varanda da casa esperando. Se em meia hora nada acontecesse, eu iria embora e iria matá-lo por não ter me atendido. 15 minutos depois a porta da sala foi aberta e uma ruiva com lábios grandes saiu ainda meio vermelha e meio tonta. É, sabia como aproveitar a última semana de férias... Fui puxado para dentro e fechei a porta, trancando-a para me certificar de que nenhuma outra mulher entraria por ali de novo. Não me preocupei com a porta dos fundos, uma vez que eu mesmo tinha emperrado a maçaneta na semana anterior. Sou uma graça de pessoa.
apontou para as escadas.
- Cinco minutos para me acalmar e te xingar, pode ser? - concordei com a cabeça e esperei os cinco minutos de , que na verdade foram quase meia hora, e o vi descendo as escadas com a toalha jogada nos ombros com a maior cara de “cafetão que foi tirado da hora H, mas está fingindo que não”. - Fala logo senão repito todos os palavrões que repeti em mente. Você viu quem saiu daqui?
- Ela era muito boa, mas em todo caso, você liga para ela de novo. - ele mostrou o celular querendo dizer que não tinha anotado o número e eu ri alto. nunca esqueceria de pegar o telefone de alguma mulher bonita. Ainda mais uma daquelas. - Seu loser.
- Anda pedaço de mau caminho, o que você quer comigo?
- Com você nada, de você, alguma coisa.
- Sugestivo. O que te deixa deprimido? Pela sua cara você não dorme tem umas horas e... NOSSA, que marca roxa é essa no seu pescoço? Ah, seu danadinho... E eu achando que a menina era santa de verdade. Já desvirtuou, foi?
- Seu babaca, cala sua boca. - o empurrei pelo peito e ele se calou. - Acho que te contei uma vez da história da ter ido a uma cartomante e todos esses trecos que eu acho que não servem para porra nenhuma, certo? - ele concordou dizendo algo como “Você chegou a comentar algo...” e morreu me esperando continuar a falar sobre minhas angústias. - Então, eu e ela estamos nos entendendo e tentando entender o que se passa com nós mesmos tem uma semana. Estamos nos dando bem e eu acho que gosto mesmo dela.
- E qual é a porra do problema? Se você e ela estão tranquilos, por que veio aqui? Na boa, eu vou te socar MUITO se eu não achar o papel onde a Coffin deve ter anotado o telefone. - ri alto do nome da menina e guardei meu pensamento sobre uma zoação só para mim. saiu do sofá num pulo e já ia subindo as escadas quando eu olhei para a TV desligada e concluí:
- Ela meio que terminou comigo. - o vi andar devagar esperando o resto. - A tal mulher ligou para ela. - também nunca foi muito de concordar com esses negócios de cartomante e tal, mas acho que guardava sua opinião para ele mesmo. Ele parou de subir as escadas na mesma hora e voltou até o sofá, prestando atenção no que eu dizia. - Disse que a terceira pessoa já está a caminho e que talvez venha acompanhada, ela ainda não tem certeza. - me olhou estranho. - Ela disse que tudo dependia de nós. Se não ficássemos juntos, a terceira pessoa logicamente nunca iria aparecer, mas se ficássemos, ela viria. E agora essa merda talvez venha acompanhada e a está mesmo acreditando nisso então semi me pôs para correr.
- Quem não aprovaria vocês juntos e teria coragem de causar alguma intriga para abalar esse lance? - pensou o que eu ainda não tinha conseguido pensar: o óbvio. Quem seria essa pessoa que iria tentar de tudo para que nós dois não déssemos certo e ainda traria alguém junto para ter certeza de que o trabalho estaria feito direito? - Não consigo achar ninguém no meu cérebro, você consegue? - neguei com a cabeça, mas logo me lembrei de uma pessoa que eu sempre desconfiei muito, mas nunca disse nada à ninguém. A não ser para , que com certeza também lembrou dela na mesma hora, nos fazendo falar juntos:
- !


Capítulo 12

Aulas para que não quero vocês...
Nada como voltar às aulas...
Na boa, quem disse que "Quem cola não sai da escola"? Esse cara é muito otário mesmo. Para que eu iria colar para não sair, se eu nem mesmo quis entrar? Vai entender...
Entrei no colégio e pude ver e se cumprimentando com um selinho nojentinho, e conversando e fumando escondido. era dos meus, escondido sempre foi melhor. Me aproximei dele e sentei ao seu lado. Ele como sempre me ofereceu a nicotina e eu rejeitei. Ele terminou o que deveria ser o seu terceiro ou quarto cigarro, pelo seu cheiro, e começamos a conversar sobre observar os movimentos de . Eu estava adorando a ideia porque me sentia um 007 da vida. Nada mais emocionante.
chegou com cara de sono e emburrada. No mínimo tinha tomado bronca antes de se levantar por ter quase perdido a hora. Era quase todo dia assim. Acenou para os dois casais, quatro pessoas perto de mim e pegou o queixo de , virando-o para dar-lhe um beijo. Tossiu depois de cheirá-lo e deixou sua testa bater no meu ombro, descansando. Abracei sua cintura apoiando meu queixo em sua cabeça e ela levantou um tempo depois do sinal tocar. Andamos todos os três sonolentos até as salas de aula. , e iriam para Biologia e , e eu iríamos para química avançada. Mas quem mesmo precisa de química avançada? E para quê, mesmo? Ah tá. despediu-se de com um desentupidor de pia, sendo parado pela inspetora mais chata do colégio. apenas deu um beijo na bochecha de e acenou para nós. entrou na sala com cara de babaca apaixonado e parou do meu lado. Pobre menino... semicriava raízes do meu outro lado se apoiando hora em mim hora em , como uma gangorra. A inspetora deu um apito fino perto dela, fazendo-a abrir os olhos mal-humorada, o que me fez rir.
- Está rindo do que, seu idiota? - me deu um empurrão achando mesmo que eu ia sair do lugar e tentou de novo e de novo. Não conseguiu nada e riu, vendo segurar a risada. Apontei para a sala onde o professor de Biologia entrava e ela voltou os olhos a mim, depois de avisar ao professor que já estava indo, e os rolou. Segurei sua cintura com uma mão e ela me deu um beijo no nariz (como costumava fazer) e acabou que a puxei ali mesmo para um pequeno beijo. Não queria que ela se ferrasse com o professor, queria um beijo dela e ainda queria ver a reação de . Ela sorriu e me deu um selinho. Deu as costas e estava prestes a entrar na sala quando reclamou:
- Da próxima vez me dá um beijo direito, viu? Minha bochecha não é lixo, sério mesmo. - ela riu e se aproximou dele, pegando em seu queixo de novo. - Não, não, não, sai de perto, não me beija. Não depois de ter beijado o . - nos olhamos cúmplices e seguramos o rosto de , cada um beijando um lado. Ele reclamou e saiu andando a passos duros.
- ! - o professor chamou de dentro da sala. Puxei-a dando-lhe um selinho e depois a empurrei para dentro de sua sala. Saí com ao meu alcance, compenetrada nas unhas. Por que ela me seguia? Aliás, que aula ela teria?

Olhei para o relógio, sete e 20. Fazia umas semanas ou quase um mês que eu estava juntando meu cotidiano mais seriamente com o de . Conversamos um dia antes das aulas voltarem e resolvemos que daríamos uma chance. Eu estava gostando.
não demonstrava emoção nenhuma a nada que fazíamos e eu e a descartamos na nossa lista de pessoas que poderiam acabar com nós dois. PS: nossa lista só tinha .
Meu celular vibrou; era de um número privado. Eu nunca atendia números privados. Por que eu atenderia quem não conheço? E se a pessoa me conhece, por que me ligaria de um número privado? Não existe lógica alguma nisso. Números privados eram uma ameaça. Se quisesse falar comigo, que ligasse para a minha casa ou me ligasse de um número normal, um número não privado. Ele voltou a tocar algumas vezes e o ignorei. nem nenhum dos meninos me ligariam de um número privado, nunca. Então relaxei e fui tomar um banho, deixando o celular no vibra call. Desisti antes de entrar no banheiro e o desliguei. Não queria ouvir nem o celular vibrando em cima da mesa. Levei longos minutos no banho, lembrando que por mais duas noites bem protegidas, eu tinha tido outras chances de não ser mais o virgem. Eu estava começando a ter uma vida sexual ativa?
Saí do banho enrolado na toalha. Meu quarto estava quente graças ao aquecedor que deixei ligado e então abri a porta do banheiro já me sentindo até com um pouco de calor. Pisei para fora do banheiro e a vi ali parada na minha cama. A porta do quarto estava trancada e ela parecia que ia chorar a qualquer momento.
- O que aconteceu?
- Duas notícias. - antes de perguntar se eram boas ou ruins, ela mesmo me respondeu. - Não sei se são boas ou ruins. Mas uma com certeza é.
- OK, vamos com calma, pelo lado mais fácil. Me conta a que com certeza é ruim. - ela negou e fechou os olhos com força. - Vamos, você vai me contar de uma maneira ou de outra. - negou de novo e eu percebi o quanto ia ser difícil arrancar alguma coisa dela. Deixei-a sentada na minha cama e fui procurar uma roupa.
- Você não pode brigar comigo. - falou baixo depois de alguns segundos.
- Não vou, prometo. - falei de costas enquanto pegava uma blusa e uma boxer do armário. Vesti a blusa e a boxer e fui até o banheiro estender a toalha.
- Fui à cartomante. - a vi fechar os olhos assim que eu abri a porta do banheiro. Eu não podia acreditar. Ela tinha me prometido uma vez que nunca mais iria lá. O sangue foi subindo em mim e acabei tropeçando em um sapato. O chutei da minha vida e parei ao lado do armário para escutá-la. - Ela disse que eu vou ficar sabendo da existência da terceira pessoa hoje. Que eu vou saber quem ela é hoje. - eu estava a ponto de pegar o celular dela e ligar para aquela mulher e mandá-la tomar no cu. Mas não o fiz. Apenas sentei do lado dela e a abracei.
- Já teve alguma dica de quem é? - ela negou. - Bom, são... - olhei para o relógio digital na mesinha. Oito e quase 40. - Temos quatro horas para descobrir quem é essa terceira pessoa. - suspirei longo por ter que passar por aquele tipo de situação que nem fé eu tinha. - Então se até a meia-noite ela não aparecer, você bloqueia essa mulher da sua vida, combinado? - ela confirmou e se acalmou um pouco. - Liga para a sua mãe e avisa que você vai dormir aqui.
- Ela já sabe. Falei que vinha aqui e ela disse que se passasse das nove era para eu ficar. - Maris sempre cuidando direitinho da filha, não deixando nada para as mãos de , palmas.
- A segunda coisa. - ela me olhou confusa. - Eram duas coisas. A segunda, vamos. - me olhou como se fosse vomitar e a segurei para que ela não fugisse. Senti uma lágrima dela cair na minha mão e me ajoelhei no chão, olhando-a sério. - Pelo amor de qualquer deus, que aconteceu?
- Não menstruei ainda. - suspirei de alívio e a abracei, me sentando de novo na cama.
- Relaxa, isso acontece toda hora com a minha mãe. Ela não tem a menstruação normal, é toda louca. É coisa de mulher, você deveria saber.
- Eu sei. - ela rosnou e acho que ficou um pouco ofendida com o que eu disse. Mas ela poderia ter sido mais amigável porque pelo menos eu sabia aquele tipo de coisa. provavelmente não. - Acontece que a minha é certa. - lá vinha ela querendo contornar o papo. Provavelmente ia dizer que eu era um merda e não sabia nada de mulher. Era capaz de me mandar estudar - E tem um mês que nada desce. - antes de eu dizer qualquer coisa ela me surpreendeu mais uma vez. - E não me venha com papinho de que em algumas mulheres a menstruação fica presa e elas precisam de remédios para soltar, ok? Eu não precisava de nada disso até hoje.
- Você tomou algum remédio para sair?
- Tomei e a droga do remédio só me custou o olho da cara porque resolver não resolveu merda nenhuma. - OK, comecei a me preocupar. Ficamos um tempo em silêncio e de repente, sem mais nem menos, a vi chorando. Não entendi nada, mas a abracei esperando-a parar. Nunca fui muito bom em dar conselhos, mas eu tentaria. Com alguém eu tinha que tentar.
Ela então se levantou e foi até o banheiro. Não se importou em fechar a porta e nem eu reclamei. Esperei um pouco até ouvir o choro baixo dela e o barulho do xixi. Minutos depois ela saiu de lá com a pior cara que eu já tinha a visto fazer. Me mostrou um tubinho nas mãos e sentou do meu lado, desabando a chorar. Me levantei devagar tentando raciocinar. Estava rosa e daí? Ah sim, só uma coisa indicava. - Eu estou grávida. - puta que pariu.
- Certeza?
- Se ficasse azul era negativo. - ela chorou mais e me vi em pé com ela nos braços e aquela porra de tubinho, mijado ainda por cima, na minha mão.
- E quem é o pai? - ela me olhou puta da vida e saiu batendo a porta do meu quarto, indo em direção ao quarto dela, o de hóspedes. Ah pô, fala sério, falei para descontrair. - ! - corri atrás dela e a peguei pelo pulso. Ela me olhou toda raivosa e mordeu minha mão. Continuou seu trajeto até o quarto. Voltei a pegar em seu pulso. - Ei, calma. Falei por impulso, foi uma brincadeira. - ela se soltou e cagou para o que eu disse. Tudo bem, eu entendia. Corri até ficar na frente dela e segurei forte sua cintura. - Calma.
- Como você é idiota. De quem mais seria?
- Certo eu errei, me desculpa. Não é o tipo de brincadeira que se faz, ainda mais em um momento como esse. Perdão. - ela deu um meio sorriso e isso já tinha me mudado por dentro. Ao menos um meio sorriso, caminho quase que andado. A puxei para o meu quarto comigo e tranquei a porta deixando a chave no criado mudo. Deitei com ela ali e nos cobri abaixando um pouco o aquecedor. Afaguei seus cabelos e tentei pensar na melhor coisa para dizer para ela. - Eu também estou com medo e preocupado, não pense que não. Acha que o sonho da minha vida é ter um filho aos 16? - ela negou e eu concordei. Estávamos os dois fodidos. Só fodidos não, MUITO fodidos. Como eu queria ter feito algo para não ter transado no quarto especial do . Se fosse no meu nada disso teria acontecido, as minhas camisinhas são todas novas. - E ainda mais com você?
- Seu babaca. - deu um riso de leve e um soquinho no meu peito. A abracei apertando-a toda em mim e ouvi sua coluna estralar. Eu ri e comecei a imaginar um mini eu correndo pelo jardim.
- Se for homem aviso logo que vai ser Kitson, Kemp, Kevesten, Kidwelly, Korey... - não continuei pois fui interrompido.
- CREDO. - eu ri baixo. - Kitson? Para que tanto nome com K? - Não sei, vi em um seriado na TV e achei engraçado. K me agrada.


Capítulo 13

Estava esperando todas as pessoas daquela casa (menos uma), abrirem a porta. Segundos depois que toquei a campainha, Maris apareceu e eu fiquei um pouco mais aliviado. Logo quando ela disse que não estava lá, suspirei por completo e disse que tinha que resolver um assunto com ela e com Russell. Ela me olhou estranho com o olhar do tipo “você engravidou minha filha, seu moleque?” e aposto que Russell estaria igual quando me visse sentado esperando por ele. Como dito, fui levado até o escritório dele. Me sentei em uma poltrona fofa e Maris sentou em uma na minha frente. Russell apareceu um tempo depois jogando a pasta ali e afrouxando a gravata no pescoço. Senti como se uma corda estivesse sendo puxada contra minha garganta e esperei-o sentar e me lançar um sorriso gordo.
- Então, o que te trás aqui, rapaz? - engoli seco. Não tinha mais para onde correr.
- O que eu vim falar é sério. - comecei tentando manter minha quase pose de “macho alfa” e ele me olhou um pouco confuso, assim como Maris. Mas ela me olhou com um olhar mais curioso. Russell perguntou se não era mais confortável para mim ficarmos a sós. Não me importei de Maris estar ali porque bem, ela é a mãe da pessoa com quem eu divido salivas tem um tempo, né. - Eu sei que apesar de tentar esconder, todos já perceberam que, bem, eu e nos aproximamos mais e... - o sorriso dele foi abaixando enquanto eu ia falando. Acho que ele não estava nem de perto, pronto para ouvir um “Quero dividir a cama com sua filha” ou “Engravidei sua filha”. - Eu queria que antes de eu tentar qualquer aproximação maior ou algo que vá se tornar realmente sério, eu tivesse a aprovação de vocês dois. - Maris suspirou baixo e Russell pareceu mais aliviado que pato vivo em final de caça. - Porque eu pretendo me aproximar dela à ponto de querer namorá-la. - ele me olhou meio sério mas acho que era tudo o queria ouvir, porque logo depois se levantou da cadeira, esticou as mãos para mim e sorriu dizendo:
- Você tem a minha bênção, rapaz.
E nada poderia dar errado.
Só até a parte deles descobrirem a gravidez, mas enfim. Aí já são outros 500.

Menos de um mês para a festa de e eu estava mais nervoso do que tudo. Não sabia o porquê, mas algo me dizia que era para eu estar nervoso.
A terceira pessoa e seu acompanhante não apareceram até a meia noite então nunca mais se meteu com a mulher. Ela ainda achava que a ligação restrita no meu celular poderia ser a terceira pessoa e disse que eu deveria ter atendido.
Passei a ir com ela comprar roupas e essas coisas para a mãe não desconfiar de nada. Ninguém sabia a não ser nós dois. Nem , nem , ninguém mesmo. Concordamos em ficar calados até o último minuto do segundo tempo.
Um dia a mãe dela mandou que ela experimentasse de novo um vestido que ela tinha experimentado há um tempo, para ver se dava mesmo na “sobrinha da amiga de trabalho dela”. Era um vestido sem alças preto que ia afinando e parava no meio da coxa, cortado em V. Exatamente igual ao da fada Sininho do Peter Pan. sempre fora louca pelos filmes da Disney e logo pelo Peter Pan. A ideia do vestido foi minha, admito. Mas fiquei puto assim que eu me toquei que ela iria usar na frente de todo mundo. Como sou egoísta, só tinha pensado em mim. O que deu foi que a mãe dela mandou-a parar de comer besteiras porque ela quase não estava cabendo no vestido que claramente caberia (se ela não estivesse grávida, óbvio). Parte culpa minha já que eu realmente tinha medo do bebê nascer com cara de doce ou algo do tipo então atendia a todos os desejos dela.

Um dia sem mais nem menos, faltando apenas duas semanas para a grande festa surpresa de , a convenci a falar com os nossos pais sobre a gravidez. Não que fosse super fácil. Até então estava sendo, uma vez que ela ainda estava sem muita barriga e qualquer coisa poderia usar roupas minhas, grandes o suficiente para usar até os cinco, seis meses.
O dia então havia chegado e ela estava tremendo ao meu lado. Quando dei por mim estava parado em frente aos nossos pais na sala. Eu vestido melhorzinho e ela com uma blusa mais larga. Todos nos olhavam apreensivos e pude ouvir minha mãe cochichando para a mãe dela algo como “Olha que gracinha, estão tentando nos dizer algo” e a mãe dela responder “Finja surpresa quando eles assumirem”. Sério, acho que aquele era o momento da vida que elas mais esperavam, os dois juntos. Nós estávamos, sem nada oficializado ainda, mas estávamos. E mesmo que não quiséssemos mais, estaríamos ligados o resto de nossas vidas.
- Bem - comecei bem pra caramba como sempre fazia quando estava nervoso. Vi se esconder atrás de mim e sussurrei um “Covarde”. Mas não a culpo, se estivesse em seu lugar faria o mesmo. - Temos notícias. - ela concordou atrás de mim. Suas mãos que antes estavam cada uma em um ombro meu e seu rosto em meu pescoço, agora estavam segurando forte uma mão minha e seu rosto se encontrava abaixado. Encarei a pessoa que eu mais temia naquela sala: o pai dela. Apesar de ter crescido com ele, morria de medo de Russell. Ele parecia um pitbull quando estava bravo. E a notícia que eu tinha iria chateá-lo. Com toda certeza. - Nós.
- Eu. - falou ao mesmo tempo.
- A ... - me calei e ouvi o bombardeiro dos nossos pais. “Estão namorando?”, da mãe dela. “Vão se casar?”, da minha mãe. “Partiram para o abraço”, do meu pai tentando ser discreto deixando envergonhada. “Os netos virão!”, do pai dela se alegrando com o meu pai. - Pois é, Russell, o senhor quase que acertou. - ele me olhou pálido e eu não tinha mais o que esconder, tive que falar logo antes que o coroa tivesse um treco. - Eles não vão vir daqui um tempo, eles já estão a caminho. - Depois da cara que ele fez, eu juro, mas juro por tudo, que teria preferido não ter feito nada com ela naquela noite.
O que se deu depois disso foi sem comentários.
O pai dela desmaiou, meu pai me olhou feio com aquele olhar de “a gente conversa depois”. As nossas mães ficaram estáticas e do nada começaram a falar coisa com coisa, nada com nada, uma loucura. Pareciam duas araras malucas gritando no meio da sala da casa dela. abraçou forte meu braço e chorou baixo no meu ombro. Me virei abraçando-a. Apertei sua cintura e abaixei minha cabeça até minha bochecha encontrar com a dela. Meu pescoço doeu, mas tudo por ela. Ela passou os braços pelas minhas costas tentando me apertar o mais forte que conseguia. Vi de relance meu pai voltar com um copo de água, pano molhado e um vidro de álcool. É, eu estava fodido. E não era pouco não, era MUITO. MESMO. Suspirei levantando minha cabeça e apoiando meu queixo na cabeça dela.
O pai dela assim que acordou apontou para nós e no segundo seguinte, eu já estava com as mãos dele na minha gola.
- Tire as mãos dela AGORA! - eu ia morrer então precisava dizer minhas últimas palavras, certo?
Errado, elas pioraram a situação.
- Não faça nada que eles mandarem, o bebê é nosso e nós resolvemos. - levei mais uma puxada na gola. Meu bom pai me salvou. Qual é, fiz merda, mas ainda sou filho dele, né? Metade dele comigo, não se esqueçam. - Me liga! - meu pai me arrastou até a porta e minha mãe, que ainda estava meio pálida, acenou para a mãe dela e beijou na testa. - EU TE AMO!
Foi a última coisa que eu gritei antes de vê-la sentar no chão e chorar. Antes de ver a porta ser fechada na minha cara por um Russell furioso e antes de ver pela última vez alguma luz. Meu pai continuava me puxando e toda a adrenalina subiu tão rápido que eu desmaiei. Ali mesmo, na calçada dela.
E até parece que alguém abriu a porta para ajudar. Acordei em casa algum tempo depois, com meu pai espumando na cozinha. É, acho que eu tinha que encontrar outro narrador.

Estava pensado em todas as besteiras que já tinha feito na vida e sim, aquela havia sido a pior de todas. Por um lado, eu estava acabado, mas por outro, um pingo de esperança ainda existia em mim. Tudo bem que eu fui o causador de tudo e não adianta eu tentar dizer não porque como diz a professora de Sociologia: "Vocês, meninos, têm a maior responsabilidade em tudo isso. Apesar de precisar dos dois para formar uma nova vida, quem decide são vocês, nós só carregamos". Sabe, aquela frase nunca me pareceu tão correta em toda a minha vida. Desde que fiquei sabendo da notícia, passava horas voando e refletindo sobre várias e várias coisas. Parei para pensar em como seria dali alguns meses. Eu provavelmente ferrado trabalhando na loja já que meu pai não compareceria à reunião do produtor, em casa fugindo de todos da escola com uma criança berrando em seu ouvido e... Onde nós iríamos morar? Eu tenho um dinheiro guardado e outro aplicado. Meu pai com certeza me faria comprar um apartamento. Cada vez mais percebia o quanto estava sem saída.
Eu jogava uma bolinha para o teto e a pegava, jogava, pegava, jogava, pegava... Ouvi uns barulhos vindos do corredor e tive total certeza de que morreria quando meu pai adentrasse meu quarto. Minha mãe falava baixo o bastante para eu não ouvir nada. Segundos depois o que eu mais temida estava próximo: Minha súbita morte.
Meu pai entrou e fechou a porta. Ele pegou a cadeira da mesa do meu computador e puxou, se acomodando ali. Me olhou sério e eu rezei mentalmente cinco Pai Nossos e sete Ave Marias. Eu não podia morrer. Não deixaria ninguém tomar conta do meu futuro filho a caminho.
Continuei jogando a bolinha enquanto ele não dizia nada. Ouvi-o pigarrear e parei na mesma hora, segurando forte a bola macia.
- Se você puder se sentar... - obedeci e olhei para o chão. - E se puder me olhar... - ouvi uns sussurros atrás da porta e eu sabia que minha mãe estava ali atrás escutando tudo, por isso eu não me sentia confortável em falar algumas coisas que geralmente falaria sozinho com o meu pai. Eu era muito aberto com ele, então... O olhei firme. No fundo no fundo eu sabia que ele queria mandar minha mãe se ferrar e me perguntar como tinha sido, como eu consegui, o que eu senti e afins. Mas tanto ele quanto eu sabíamos que naquela hora, se ele não me desse um sermão sério, minha mãe sugaria nós dois e nos jogaria no poço junto com a Samara. Esperei com que ele resolvesse falar, o que não demorou muito. - Eu realmente não sei como falar isso, , mas acho que você sabe exatamente o que você fez e sabe que vai ter que arcar com as consequências, não sabe? - é, essa última parte eu sabia, mas não queria aceitar muito. Ainda mais porque as consequências com certeza seriam financeiras e sairíam a todo custo do meu bolso. Concordei o mais firme que consegui com a cabeça. Meu pai deu um meio sorriso e continuou escolhendo as palavras. - Espero que você tenha noção do grau do problema que você causou. - admito que se eu tivesse faltado às aulas de Sociologia estaria gritando que não era só culpa minha, mas como eu não faltei...
- Eu sei, pai. - olhei-o firme soltando tudo o que eu podia pela boca. - Não posso dizer que escolhi isso até porque a culpa não foi exatamente minha, fui traído pela proteção e... Antes de tudo eu quero que você saiba que eu nunca escondi nada dela. Eu contei para ela assim que ela acordou e menos de meia hora depois ela já tinha conversado com a médica. - meu pai concordou com a cabeça. Talvez ele não fizesse o mesmo e reconheço, sou mais forte e mais determinado que o meu ele. Isso puxei da minha mãe. Como prova, ela se apoiou tanto na porta, que a mesma se abriu relevando-a ainda ali. Ela sorriu torto e indicou a cozinha. A chamei e ela voltou. Bati no lugar do meu lado da cama e esperei que ela se sentasse. Era melhor falar tudo de uma vez. E melhor uma vez do que duas, passa mais rápido. - Eu vou assumir. - minha mãe suspirou aliviada. Acho que o maior medo dela era eu fugir. Até porque antes de mim, ela engravidou duas vezes de um outro filho da puta e abortou. E vim eu depois, esse desastre da natureza. Ai se ela soubesse... - Quero conversar com eles. - meus pais sabiam que eu estava falando dos pais de e concordaram.
- Espera a poeira baixar. - minha mãe falou calma. Aquilo era estranho. - Agora você pode me responder uma coisa? - afirmei. - Da ONDE você tirou a brilhante ideia de transar com a filha da minha melhor amiga sem antes me consultar, por favor? - ah, minha mãe de volta. Corações.
- Eu preciso te avisar ou perguntar agora com quem eu transo ou deixo de transar, mãe? - é, levei uma surra. Brincadeira, só foi um tapa na nuca, mas nem doeu tanto assim. OK, doeu pra porra.
- Ela é minha afilhada, seu filho da mãe! - eu e meu pai ficamos quietos. - Mas se quer saber, acho ótimo você assumir e querer conversar com a família dela até porque a coitada deve estar levando um esporro daqueles do pai dela, você sabe, né? - concordei de novo. - Quero que você saiba que eu e seu pai não vamos contribuir com nada das despesas. Controle o que você gasta e tente vender mais porque agora é com você. Eu não tive ajuda dos meus pais para te criar e eu também não vou te ajudar, você tem que crescer sozinho.
- Mas eu só tenho 16 anos, mãe! - ela me olhou furiosa e resolvi me calar antes que a minha nuca ficasse marcada.
- Acho que eu acabei por aqui, vou terminar de fazer o jantar. - minha mãe então saiu e fiquei cara a cara com o meu pai de novo.
- Sua mãe já disse o que eu queria dizer. Sei que é duro, mas vocês vão ter que resolver tudo sozinhos. E não pense em virar as costas agora para ela. De qualquer jeito vocês têm de ficar o mais próximos possível. Não quero minha afilhada levando toda a culpa por aí. - respondi um sim meio sem som e meu pai se levantou, foi até a porta, olhou o corredor, fechou a porta e sentou do meu lado na cama. – OK, garoto agora me diz como você conseguiu. Desde que vocês nasceram que eu espero por esse dia, moleque. - ele pegou minha cabeça e enfiou debaixo da axila, bagunçando meu cabelo. Ri alto e ele calou minha boca com a mão - Para de rir, sua mãe vai bater em nós dois! E então, como foi?
- Ah, sei lá. - cocei a nuca e ele me deu um empurrãozinhoo leve. - Ela escondeu uma garrafa de vinho tinto no quarto especial do . Eu não recusei e quando vi, estávamos os dois sem noção dentro da piscina no maior amasso. E eu ainda estava usando uma boxer da Caverna Do Dragão. - nós rimos baixo para não chamar a atenção. - Mais tarde ela ficou presa no banheiro, rolou o clima e depois a camisinha estourou. - meu pai me olhou abobado.
- Você se aproveitou de uma bêbada indefesa, seu traste! - me deu um tapa na perna e doeu muito mais que para a porra. Tentei me explicar mas ele me interrompeu. - OK, eu já entendi, vocês não estavam mais bêbados nem nada e se lembram de tudo. - concordei e ele riu. - Por mim que continue assim, só da próxima vez use uma com validade e... ... Por favor, meu filho, A Caverna do Dragão não, né? - rimos alto e ele esticou a mão. A apertei e ele fez menção de sair.
- Pai? - me olhou esperando que eu continuasse. - Foram três vezes. - ele sorriu grande e me abraçou no abraço estilo tia Maris. Fiquei realmente sem ar por meu pai ser maior e mais forte do que ela.
- Seu canalha. - ele riu pela última vez, bagunçou meu cabelo e me deu uma olhada séria.
É, meu pai não iria mudar nunca.


Capítulo 14

Fomos ao ginecologista eu, , a mãe dela e a minha. O pai dela não iria olhar na minha cara tão cedo então eu o ignorei também e ignorei todas as coisas que ele me dizia que sempre acabavam querendo dizer: afaste-se da minha filha, mas assuma o seu erro. Até parece que eu não ia.
Desci do carro de minha mãe. Eu e estávamos atrás. Nossas mães conversavam normalmente como se nada tivesse acontecido e eu sabia que por dentro elas estavam felizes porque iriam conseguir tudo o que queriam de uma vez só. Os filhos juntos, casamento e netos. Quer dizer, quase tudo, eu não tinha nada concreto com a mas e o foda-se?
Passei um braço pelo ombro dela e deixei minha outra mão pendurada no bolso. Fomos de elevador até o sétimo andar. Sentamos em uma sala de espera e observei que olhava para uma mãe e seu bebê, que dormia. Eu não sabia se a lágrima que caiu dela era boa ou ruim, mas eu fiz o que achava certo. Passei o braço pela cintura dela e a trouxe mais para perto.
- Eu estou aqui. - não precisei dizer mais nada para ela parar de chorar. Logo fomos chamados e ela escondeu o rosto no meu peito enquanto andava, acho que com vergonha das mães que estavam ali presentes e das outras pessoas. Firmei meu braço na cintura dela e passei reto por todos eles. Nossas mães vinham atrás falando baixo e entrei na sala de uma ginecologista pela primeira vez na minha vida. Eu juro para você, nunca vi tanta coisa falando sobre o órgão sexual feminino quanto aquela sala tinha. Me senti até meio esquisito quando olhei uma escultura e achei estranho. A médica afastou a escultura (acho que depois de ver a minha cara) e sorriu para nós.
- Olá, , quanto tempo. - sorriu meio sem graça. - Bom, vejo muitas pessoas aqui hoje. Em que posso ajudar? - eu não sabia mesmo se iria responder à pergunta, então fui na lata e falei, deixando a mulher estática.
- Ela está esperando um filho meu.

Meu pai me abençoou quando cheguei em casa depois que minha mãe contou do acontecido na sala da médica. A mulher ficou tão sem o que falar que apenas levou para fazer uns exames e em minutos nós já tínhamos ido embora.
Pedi ao meu pai as chaves do carro dele e rumei até a segunda casa mais visitada por mim.
Chegando lá não fui muito bem recebido, mas eu estava cagando. Me sentei de novo naquela poltrona fofa do escritório de Russell e esperei. Logo ele apareceu e nada de mão para cumprimentar ou sorriso gordo de novo. Só a cara de serial killer e eu. Meu pai chegou minutos depois e sentou do meu lado. Acho que ele não queria que eu enfrentasse Russell sozinho até porque eu e ele tínhamos um relacionamento muito bom e ele já sabia das minhas intenções.
- Russell, - comecei sem nem gaguejar o nome do futuro sogrão. - só vim aqui te avisar que eu assumo o meu erro e assumo o meu filho. E também quero dizer que independente de qualquer coisa, você querendo ou não, você fazendo tudo o que puder para me separar da sua filha, não vou desistir. Não vou deixá-la sozinha e desde já vou arcar com as despesas e consequências. - não abaixei a cabeça a fim de meu pai ver que eu não ia fraquejar. - Se você concordar, quero que more comigo.
OK essa última frase não precisava ser dita naquele momento e muito menos para ele. Seria mais interessante perguntar para ela antes. Mas eu tinha deixado o pai dela sem fala, e era isso que eu queria: impressionar.
Meu pai me abraçava feliz enquanto eu caminhava para fora do escritório sem nem perceber. Tanto que passei pelo corredor e ignorei totalmente , que estava na porta de seu quarto tentando ouvir alguma coisa. Parei na sala e sentei lá com meu pai. Minha mãe já estava com uma xícara de chá nas mãos. Nos sentamos todos, inclusive que sentou do meu lado a contragosto do pai e repeti tudo o que disse ao pai dela, sem errar uma vírgula. Minha mãe começou a chorar nem Deus sabe o porquê, a mãe dela me abraçou e ela me olhou como se eu tivesse dito a coisa errada. Eu sabia que deveria ter consultado ela antes.
- Eu deveria ter te perguntado ontem, eu sei. Não precisa me dar bronca. Mas é só você quiser. - ela segurou meu rosto e deu um longo beijo na minha bochecha. Passei o braço pelo ombro dela.
- Que marca é essa no seu pescoço? - perguntou depois de analisar. É, minha mãe tem uma mão pesadinha.
- Andei aprontando com a afilhada da minha mãe e fui castigado. - ela riu e ficamos encarando o pai dela. Quer dizer, eu sentia que ele nos encarava a muito tempo e não deixei de fazer nada que eu faria se ele não estivesse olhando. Tanto que quando começamos a nos beijar, ele chamou a atenção de todos e ouvi a última coisa que achei que ouviria na vida:
- Nós vamos comprar uma casa para vocês.
Rolou a maior briga porque os pais dela queriam aquilo e os meus não. Eu e ela subimos para o quarto dela sendo vigiados. Pouco tempo depois a discussão começou de novo. Dois queriam a casa e dois não queriam. As frases de sempre foram ditas.
"Eles são muitos novos"
"Vão dar festa todo dia"
"Se eles tiveram a maturidade para engravidar, podem muito bem arcar com as consequências de uma vida a dois"
"Não vai dar certo, tem que ter alguém olhando"
Etc, etc, etc.
O combinado acabou sendo eu morar na casa dela nos primeiros meses depois que o bebê nascesse e depois nós veríamos. Mas depois mudaram os planos para: Aos sete meses da gravidez completos, eu iria morar lá.
Não que fosse a pior coisa do mundo, mas eu tinha perdido pontos com o pai dela e ele me vigiava.
Quando cheguei em casa, fui surpreendido por meu pai com uma carta. Abri e mal pude acreditar. Eu teria que comparecer à gravadora no dia seguinte às sete horas. Eu iria madrugar, mas não estava ligando. Meu pai tinha ido à reunião e finalmente tinha aceitado que o que eu sempre quis na vida foi tocar. Fiquei tão feliz que o abracei do jeito que eu não fazia desde os cinco anos, quando ganhei um helicóptero que voava sendo controlado por um controle remeto cheio de botões.
- Estou muito orgulhoso de você, .
E foi com aquela frase que eu dormi tão bem quanto eu não dormia há muitos dias.


Capítulo 15

começou a engordar muito e o que eu achava que daria para esconder com as minhas roupas até o sétimo mês, só durou até o quarto. Eu também não usava roupas cinco vezes o meu tamanho. Usava uma, duas... As pessoas do colégio começaram a reparar que ela não comia o que comia antes, que tinha dores de cabeça toda hora, não fazia mais as aulas de educação física e nem mesmo participava das olimpíadas que sempre aconteciam para quebrar um pouco a tensão escolar. Mas até aí tudo bem, ninguém se importava até porque as meninas depois dos 15 começam a ficar chatas para tudo. O que não deu para segurar mesmo foi no dia de um dos jogos da Copa do Mundo.
Inglaterra e Estados Unidos. O jogo estava um a zero para os Estados Unidos e estávamos todos tensos nos sofás de . A casa silenciosa, apenas nossos urros e o locutor da TV. , e eram loucos por futebol então eles sempre batiam, chutavam ou mesmo xingavam alguma coisa. estava roendo todas as unhas dos dedos da mão, estava quase dormindo, provavelmente estava tentando entender de qual lado estávamos jogando, apenas olhava e comentava sobre os bonitos dos dois times, espremia uma lata de cerveja na mão, massacrava a minha mão e chutava a mesa de centro e eu tentava controlar os três. Não ache que era fácil.
Bola vai, bola vem, Inglaterra fez o gol do empate e todos gritaram. gritou porque o jogador que fez o gol era lindo, gritou de susto, gritou comemorando porque tinha finalmente entendido qual era o nosso lado, eu gritei de felicidade e dor por causa da minha mão, chutou a parede, e fizeram hi-five e dançaram com , comemorando. O primeiro tempo acabou então fui até o lavabo para lavar meu rosto. Quando voltei, vi a latinha de cerveja indo direto até a boca de e sem nem pensar duas vezes, corri até lá e tirei da mão dela gritando: - O BEBÊ! - na hora todos ficaram petrificados e eu me senti no filme do Potter. correu para o quarto especial se trancando lá e os outros babacas continuaram me olhando com a latinha na mão e a maior cara de bunda possível. Sorri sem graça e deixei a lata na mesa de centro a fim de correr e me trancar em algum quarto também. Assim que fui me dar bem e correr, me cortou.
- Se mexer um pé, você nunca mais volta aqui. - ele falava sério e eu engoli seco. Estava ferrado. Oh, que grande novidade. Tinha contado um supersegredo que até o momento estava guardado a sete chaves e nem havíamos preparado nenhum deles para aquilo. - Senta nesse sofá e me conta AGORA se o que eu ouvi é verdade. - eu não estava nem um pouco a fim de falar com eles. Na verdade, desde que o problema apareceu eu tinha arcado com todas as consequências e não tinha tido trabalho algum.
- , chama a . - ela me obedeceu e minutos depois as duas apareceram na sala. - Você quer falar ou eu falo? - acho que ela tomou coragem uma vez na vida e desembuchou a falar.
- No dia que eu fiquei muito bêbada, depois que eu já tinha tomado banho e bronca, quando todos foram embora, fiquei presa no banheiro e foi me ajudar. Acabou que, sei lá, o clima rolou e é isso... A pílula que eu tomava não fez efeito. - ela se calou e chorou baixo no meu ombro. Mulheres ficavam chatas e choronas grávidas ou era só impressão minha?
- Você me disse que não estava bebendo porque fez uma promessa! - apontou o dedo indicador para , que olhou para baixo na hora.
- Mas não deixa de ser. Eu prometi que vou ser uma pessoa responsável e parte dessa promessa é não beber para que a criança cresça saudável. - ela deu de ombros.
- Você mentiu para mim! - cuspiu irritado. - Mentiu para todos nós! Não querer falar sobre a gravidez e esperar os primeiros meses tá tudo bem, eu entendo. Mas mentir?
- E VOCÊ QUERIA QUE EU TIVESSE FALADO O QUÊ? - explodiu fazendo com que até eu me assustasse. Caminhou até onde estava e parou na frente dele. - NÃO FIZ ESSA CRIANÇA SOZINHA.
- ELE SÓ NÃO CONTOU SOBRE A GRAVIDEZ. - se exaltou também e comecei a pensar em como eu faria para entrar na discussão. - NUNCA MENTIU SOBRE PROMESSA.
- , calma aí, eu também errei. - comecei a falar de um jeito calmo, na esperança de que isso fizesse com que eles se acalmassem também, já que pelo que pude reparar, os outros presentes estavam tão chocados quanto e não se mexeriam. Mas antes mesmo que eu pudesse começar uma nova frase, fui interrompido.
- E O QUE VOCÊ TERIA FEITO NO MEU LUGAR? - gritou e abriu a boca para responder, mas não emitiu som algum. Os olhos dele iam de um lado para outro e aos poucos ele foi desarmando a pose de gigante que tinha tomado minutos antes. segurava bravamente o choro, mas tinha as mãos trêmulas.
- Estou sendo injusto. - finalmente admitiu. - Não tinha como você dar outra desculpa. Eu não teria aceitado nenhuma outra. - ele mexeu no cabelo com rapidez e sua expressão mudou de irritada para nervosa, como se estivesse encaixando todas as peças do quebra cabeças de uma vez só e estivesse correndo para acompanhar a imagem que se formava.
Ele então pegou uma mão de e a puxou para sentar ao lado dele no sofá. Sentei no outro e esperei para ver como eles iriam resolver a discussão sozinhos.
- Eu não podia mentir, mas também precisava desse tempo para descobrir como iríamos contar para vocês. - ela começou, já mais calma. - Se eu falasse que a promessa era por nove meses vocês iriam desconfiar. Tirando que uma hora a barriga ficará grande e não vou ter como esconder. Para nós, isso sim seria uma mentira. - disse olhando para cada um deles. - E você não aceitaria se eu simplesmente dissesse que ficaria mais do que poucos meses sem beber. Você sabe que mesmo que eu fizesse promessa, não iria ser por um longo período. Então precisei falar que eram só três meses. Era o tempo necessário para descobrir se a gravidez ia mesmo vingar e para pensar em uma forma de trazer a notícia.
- MAS E TODAS AS LATINHAS DE CERVEJA QUE EU DEI NA SUA MÃO MESES ATRÁS E TE VI BEBER UMA POR UMA? - arregalou os olhos e levantou rápido.
- VOCÊ O QUÊ? - levantei junto, tão assustado quanto. Como eu não tinha visto nada daquilo acontecer?
- Não bebi nenhuma delas. - puxou para o sofá e se levantou, vindo até onde eu estava. Minha cara não era boa, devo admitir. Estava bem chocado com o que tinha acabado de ouvir. - Isso foi nas primeiras semanas, logo depois que nós descobrimos na sua casa. - ela segurou meu rosto na esperança de que eu fosse me acalmar. Antes que eu pudesse abrir a boca para dizer mais alguma coisa, ela se adiantou. - Eu abria, mas não entornava o líquido na boca. Prendia com o lábio e dava um jeito de ir até alguma pia ou grama para derramar um pouco. Assim que os exames saíram e ficou confirmado, a desculpa que eu encontrei para não beber pelos primeiros três meses foi a promessa.
- Como você passou dos limites naquele dia, você quis fazer um detox, então prometeu não beber por esse tempo. - completou e abriu um sorriso. Parecia que uma lâmpada estava acesa em seu cérebro. sorriu de volta concordando e eu relaxei no sofá. - E como essa semana completaram três meses desde que você falou... Você aceitou a bebida. - ela concordou de novo, já segurando uma risada.
- Então você ia fingir mais uma vez que está bebendo normalmente até o dia que fosse nos contar? - quebrou o silêncio dos demais, me aliviando um pouco. - E pelo visto você também não sabia dessa parte. - ela me olhou querendo confirmar e eu balancei a cabeça demonstrando um pouco de chateação. - Acho que essa é a primeira vez que te vejo guardar um segredo. Parabéns. - sorriu sem graça. Ela era realmente péssima em guardar qualquer tipo de segredo que fosse.
- Caralho, cara, você vai ser pai. - me olhou como se eu fosse um extraterrestre. Confirmei com a cabeça e ele continuou com a cara de bobo que estava antes.
- Tecnicamente não faz sentido a pílula não ter funcionado... - comentou enquanto coçava o queixo e olhava para cima como se estivesse buscando alguma solução para o problema. - Bom, pelo visto era para acontecer. Mas saibam que estou aqui para o que vocês precisarem. - deixou a frase no ar e concordamos com ele, agradecendo.
- Olha pelo lado bom, vocês dois são bonitos, a criança vai ser maravilhosa. E vamos poder comprar aquelas roupinhas lindas que vemos nas lojas infantis. E fantasias e pijamas de bichos. - nós rimos. Só faria um comentário daqueles mesmo.
- Os pais de vocês já... - dissemos que sim e se calou.
- Eu não acredito que fui tão grosso com você. Me perdoa. - visivelmente mais calmo levantou, veio até onde estávamos e abraçou . - Com tanta coisa na cabeça vocês ainda se preocuparam em como iriam nos contar e eu estraguei tudo. - ele bateu a mão na cara.
- Na verdade quem estragou a surpresa fui eu. - dei de ombros - Estávamos pensando em contar ainda essa semana.
- Você. - apontou para mim. - Ainda vou arrancar fora o seu pinto, seu filho da puta. - tremi na base e ele chegou mais perto. Achei que ele ia marcar alguma parte do meu corpo, mas apenas abaixou, segurou as minhas mãos e sorriu enquanto intercalava seu olhar entre e eu. - Cuidem bem do meu sobrinho, ok? Se alimenta direito, não faz besteira, não anda em montanha russa... - ele ia dizendo todas as coisas que nós dois já tínhamos ouvido da ginecologista, mas ninguém teve coragem de pará-lo.


Capítulo 16

O pessoal do colégio começou a espalhar o talvez não boato da gravidez. Lógico, se uma menina que só usava roupas normais e não muito largas começasse a usar SÓ roupas largas demais, óbvio que todos saberiam que ela estava querendo esconder alguma coisa. Ninguém tinha coragem de perguntar nem nada, mas eu sabia que muito tempo não iria durar.
Eu estava com (que não mais queria me bater e começou a gastar o dinheiro da mesada pouco grande dele comprando coisas para o bebê), no shopping comprando um presente para . Em uma semana seria sua festa surpresa e incrivelmente ninguém no colégio tinha comentado nada. É, acho que seria mesmo surpresa.
Andávamos que nem dois perdidos pelas lojas a fim de escolher alguma coisa que prestasse. Parei em frente a uma que nem o nome eu consegui ler de tão complicada e olhei a vitrine onde um vestido irado estava estendido em uma manequim mais branca que miojo passado. Sorri para e fui entrando quando ele me puxou e me mandou analisar de novo o vestido. Era lindo, qual era o problema? Ela ia amar, qual era o problema? Ia caber nela, qual era o problema? AAAH!
- Ela está grávida, a tendência é aumentar, sua mula. Se você der isso para ela é capaz dela chorar. - é, esse era o problema. O nosso filho. Concordei (como peguei o hábito de fazer) e me deu um pedala. - Você é um péssimo futuro pai.
- Ainda não caiu a ficha, tá legal?
- Mas precisa cair. Daqui um tempo ela vai parir e você vai ficar aí com essa pose de moleque perdido? - era meio escroto, mas eu gostava, ele me puxava para a realidade sem eu nem precisar pedir. - Você pode comprar um colar, as mulheres gostam disso. - abri a boca querendo falar, mas ele me interrompeu. - Não, nada daqueles bonequinhos indicando um menino ou uma menina, isso seria trágico.
- você presta consultoria? - ele deu uma risada irônica e fomos até uma loja de joias. Não antes de eu passar olhando um sapato e ele me puxar alegando que nem a avó dele usaria aquilo. O que foi uma super injustiça, o sapato era vinho!

Estava mais nervoso que de costume. Maris tinha mandado mensagem dizendo que estava chegando e eu estava plantado na porta esperando. O salão estava pouco iluminado e algumas pessoas já dançavam enquanto a aniversariante não chegava. As paredes eram cobertas por um tecido todo em preto com várias bolas brancas espalhadas. Eu estava morrendo naquela roupa. Usava uma calça social preta, blusa social cinza para combinar com o vestido de (Maris me obrigou) e All Star preto. Balões pretos, brancos e pratas foram espalhados pelo salão e alguns estavam grudados no teto, com fitas penduradas. Tinha um grande espaço para dançar, outro com as comidas; barcas e mais barcas de japonês, comida italiana e algumas coisas que se come em festa. Não havia muita bebida e, desde a gravidez, nenhuma muito alcoólica entrava. As pessoas iriam gritar quando soubessem, mas iriam se acalmar com certeza, quando descobrissem o porquê. Não quisemos deixar na tentação então cortamos quase tudo. Melhor para o pai dela que pagou menos. As bebidas que já estavam pagas ele deixou de dentro. Por isso eu estava com a minha Heineken na mão fingindo que ouvia dizer qualquer droga. tinha desaparecido com uma morena gata, e (que surpresa) estavam se beijando em um canto mais escuro e permanecia tendo ataques de nervo na minha frente. A sacudi e riu alto alegando que nós dois estávamos quase tendo ataques do coração e achou melhor sentarmos.
Mal nos sentamos e vi Maris chegar com com uma faixa nos olhos e plugs nos ouvidos. A música foi parada e olhei para frente perdendo todo o ar dos meus pulmões. Não sei qual foi a desculpa que Maris mandou para colocar o vestido, mas que ela estava linda mesmo com aquela barriga maiorzinha, ah, ela estava. O fotógrafo meteu um flash na nossa cara assim que ela chegou do meu lado. Eu fiz um "OK" para o DJ e assim que retirei a faixa da cara dela, I'll Stand By You na versão Glee começou a tocar. Ela começou a roda devagar para ver tudo e assim que voltou à posição que estava, se jogou abraçando forte o meu pescoço. Enterrou a cabeça ali mesmo e eu beijei sua orelha. Ela riu e me deu um beliscão não muito amigável. Mas tudo bem, foi bom porque no embalo do momento eu quase me esqueci do mais importante. Soltei a muito contragosto e fui até sua mãe que já estava perto da mesa do DJ. A vi caminhar com passando e cumprimentando todo mundo. apareceu do meu lado assim que eu agradeci à Maris e ela me beijou forte na testa por um tempo. Vi que uma lágrima se formou no olho dela e saí dali antes que eu tivesse que abraçá-la também. Minha mãe saltou na minha frente e me abraçou sussurrando algo como "Meu garotinho" e começou a chorar. distraía conversando com ela enquanto eu não voltava. Assim que cheguei na frente delas, bateu no meu ombro, olhou dentro dos meus olhos e confirmou com a cabeça. bagunçou meu cabelo e eu dei um peteleco no nariz dela. a puxou e pude ver e entre as outras pessoas. A música ainda não tinha acabado então me ajoelhei. Assim que cheguei ao chão, o DJ abaixou um pouco o som e me puxou para levantar. Eu neguei e ela continuou tentando. As pessoas riram e ela tentou de novo, dessa vez mais forte, em um ato meio desesperado. gritou um "Fica quieta" e ela parou olhando fundo nos meus olhos, assim como eu fazia com ela. A vergonha? Foda-se a vergonha, ali só tínhamos nós dois e mais ninguém. Tomei coragem e pigarreei.
- Você sabe que querendo ou não, o nosso destino é ficar juntos. Nem que a gente tente de tudo para tentar o contrário, nossas famílias vão dar um jeito de nos juntar em algum momento. - ela concordou rindo baixo. - Quero que você saiba que talvez sim, talvez não, por influência deles, mas eu me apaixonei por você e assumo sem vergonha alguma o nosso filho. - não preciso comentar que as pessoas ficaram todas petrificadas. - Casa comigo... - errei a palavra e o salão ficou inteiro mudo. Eu conseguiria ouvir uma pena caindo. - Daqui alguns anos? - sussurrei tentando consertar e ela arregalou os olhos assustada, me puxando de novo. Levantei e ela mexia os olhos e batia o pé sem controle algum.
- Você quis dizer namorar, né? - ela me olhou meio de lado e eu ri tentando não deixar ficar feio para mim.
- Tanto faz, vamos ficar juntos mesmo. - dei de ombros.
- Eu descobri quem é a terceira pessoa. - falou baixo só para mim e a olhei sem reação alguma. - É o nosso bebê. - antes que pudesse responder, senti os lábios dela nos meus e liguei o foda-se mais uma de muitas outras vezes. - Mas respondendo ao seu pedido , eu não quero me casar, você sabe.
- Por agora eu também não quero. - nós rimos juntos. - Por isso perguntei se quer casar daqui alguns anos. Pode ser que a gente mude de ideia. Vamos criar uma pessoa juntos, o elo eterno nós já temos. - ela concordou enquanto mexia a perna de um jeito nervoso. - Não sabemos o dia de amanhã, mas as chances de ficar mais apaixonado são grandes. Fica o pedido e daqui cinco anos conversamos de novo.
- Se é assim, então sim, eu aceito com o maior prazer. Mas por agora que fique claro que estamos apenas namorando. - a abracei pela cintura e a levantei mais feliz do que nunca. Que se danassem o que todos iriam dizer, eu ia ter meu filho as pessoas querendo ou não, eu ia ser feliz independente do que pensassem e o melhor, minha banda tinha gravado a primeira demo e iria para as rádios no dia seguinte.
- Feliz aniversário. - a soltei no chão e La Vie En Rose de Louis Armstrong começou a tocar. Abaixei beijando sua barriga e ela me deu um tapa. Assim que levantei, os esquisitos dos nossos amigos se juntaram em nós e ficaram dando tapas na gente antes de um grande abraço. Eles desfizeram o abraço grupal e correu até Maris, abraçando-a. jogou na minha mão uma vodca pura que não faço ideia de como ele arranjou e tomei um gole esperando sentir o gostinho da morte. Estava morrendo de sede por causa do nervosismo. Ele me abraçou forte e falou no meu ouvido: - Estou orgulhoso de você, criança. Não faça merda e não me decepcione.
- Deixa comigo, pai. - nós rimos e ele me soltou para que me abraçasse e também. Eles me xingaram.
Fui andando calmamente até a mesa onde ainda estava com nossos pais. Passei reto por todas as pessoas que já nos ignoravam e estavam dançando, tirando os nossos verdadeiros amigos. Assim que fui chegando perto, levantou e andou até um certo ponto. Parei na frente dela e ela beijou meu nariz, já que estava de salto e não precisou ficar na ponta dos pés. Como segurava a bebida, pousei meu pulso na cintura dela e a outra mão enfiei dentro do bolso da calça. Ela me abraçou pelo pescoço e esperei até que ela me soltasse. Um tempo depois a puxou e ela sorriu meio sem graça me olhando. Pisquei para ela e me virei indo até minha mãe. Também, se não fosse ficaria sem o meu filhote. Parei ao lado dela e ela arrancou a bebida da minha mão fazendo cara feia.
- O que é isso, bebida alcoólica?! Pode ir cuspindo! - rolei os olhos e ela me abraçou. - Estou orgulhosa de você. Só não venha me dizer que esse casamento sai antes da criança nascer. - neguei com a cabeça.
- Deus me livre, muita coisa para resolver em pouco tempo. Não sei administrar nem minhas redes sociais ainda, imagina tudo isso. - ri alto pensando no desastre que eu ia ser como pai e continuei. - Nosso combinado é o pedido já estar feito e daqui uns anos conversamos de novo sobre.
- Meu bebê. - Maris me abraçou de lado e apoiou a cabeça no meu ombro. Passei meu braço pelas costas dela e ri. - Vê se cuida bem do meu outro bebê.
- Eu vou continuar cuidando mesmo que você me peça para parar. - Maris apertou minha bochecha e meu pai me deu um tapa nas costas.
- Cretino, por essa eu não esperava! - minha vontade era responder "Pois nem eu" mas achei melhor ficar quieto. Já errei tantas vezes, não é mesmo? Um a mais, um a menos não vão me matar.
Nós rimos e eu o abracei. Meu pai era tudo. Ele tinha me dado um novo e eu estava mais na lua do que não sei o quê. Russell acenou afirmando a cabeça para mim e fiz o mesmo. Minha mãe me olhou de novo e eu sorri dando um beijo na bochecha dela.
- Vou indo. - apontei que me chamava fazendo um aceno meio obsceno quando uma menina do primeiro ano passou por ele. Minha mãe o olhou horrorizada.
- Que menino mal-educado! - nós rimos alto. Até parece que iria mudar. Na frente de todos, um cavalheiro. Por trás, o diabo. Se eu fosse gay juro que investia em . Peguei a bebida da mão de minha mãe e ela me olhou meio torto, já abrindo a boca para reclamar. - Essa é a primeira e a última, escutou bem? Não quero você bebendo isso.
- Aham. - aham mesmo, mãe. Até parece. Ri comigo mesmo e ela já devia achar que eu estava alto. Beijei a testa e a mão dela e sorri do jeito mais cafajeste que eu consegui. - Só não se esquece que o seu neto vem por causa do efeito disso aqui, ok? - arrisquei dizer porque já naquela altura todos da família estavam adorando a notícia de ter um neto. Ela me deu um tapa na bunda e eu saí andando devagar de novo, mas um pouco mais rápido que antes, caso ela quisesse me alcançar.


Capítulo 17

Eu estava tenso. Tenso não, MUITO TENSO MESMO. Primeira ultrassonografia que eu ia na vida. Nunca achei que aos 16 iria ter um filho e muito menos que iria vê-lo. Vê-lo nada porque nunca entendi essas paradas. As pessoas dizem que nunca veem nada e que quando chegam a hora enxergam tudo. Maior cagada.
Entrei na sala com já que só uma pessoa podia entrar como acompanhante. A mãe dela quis entrar, mas entendeu que era melhor eu, lógico. Me sentei na cadeira ao lado da maca onde estava deitada com a blusa para cima. Mesmo com uma barriguinha mais saliente ela continuava gostosa. Ai que tentação. A mulher passou um gel azul bizarro na barriga dela e depois passou em cima do gel uma maquininha. Apontou para a tela nos mostrando o que eu deveria entender como sendo o bebê. Até aí tudo bem, estava eu tentando enxergar aquele não mais "feijão" na barriga dela pela tela quando a mulher deu uma notícia maravilhosa para nós, adolescentes, pais de primeira viagem, adolescentes, crianças irresponsáveis, adolescentes sem dinheiro: - São gêmeos!
Legal, mais uma vez eu estava fodidinho. Se eu achei que com um já não ia prestar, imagina dois. Ninguém merece um eu no mundo. Dois eu já estava achando demais, mas três? Caralho, só isso.
olhou para a tela assustada e apontou dizendo que era só um. Acho que ela estava tão desesperada quanto eu. me mandou chamar as outras duas e concordei ainda meio drogado das ideias. Saí da sala e fui direito para a sala de espera onde nossas mães estavam. Parei na frente delas esperando as duas pararem com o bombardeiro de perguntas que não acabaria tão cedo. Segundos depois elas calaram a boca e minha mãe me sacudiu. No mínimo tinha achado que eu tinha morrido.
- Mãe, alguém da nossa família é gêmeo? - eu sabia que da família da ninguém era gêmeo há gerações então ela não poderia...
- Sua tataravó ou sua avó, não me recordo. Mas sim, por que? - senti que poderia vomitar ali mesmo e tentei me acalmar. Corri até a mulher do balcão pedindo água e bebi tudo de uma vez. Minha mãe apareceu do meu lado preocupada. EU poderia parir aquelas crianças naquele momento.
- São gêmeos. - ela deu um gritinho sei lá se foi de animação ou não e correu para a sala. Maris ainda meio em choque beijou minha testa gritando um "Parabéns" e eu continuei olhando reto sem expressão alguma. Apenas balancei a cabeça e última coisa que vi foi uma senhora perguntar se eu estava bem.

Sou horrível quando fico nervoso e desmaiei mesmo. Todo mundo sabe. Eu já assumi tanta coisa por aqui que mais uma não vai fazer a mínima diferença.
A novidade era que desde então, eu passava minhas manhãs aturando dizendo que eu era fraco e iria desmaiar no parto. Ela ria porque não sabia que quem ia desmaiar assim que sentisse a primeira contração seria ela. Eu ria por dentro. Quem ri por último ri melhor, certo?
Certo.
Todos que começaram a aceitar a ideia dos bebês, mas no colégio ainda olhavam torto para nós. não aguentou a pressão um dia e disse que queria sair do colégio, queria estudar em casa etc. Seus pais acabaram atendendo ao pedido. Nossos problemáticos amigos começaram a comprar várias coisas para nós assim que descobrimos que iriam ser bivitelinos. viajava com nas roupas e mandavam bordar coisas com nomes que elas mesmas já tinham escolhido. Bizarro.
continuava a espalhar que seria o tio mais foda e lindo de todos e que iria ensinar todas as coisas boas para o menino que ele chamava de Mark.
estava animado e hora ou outra me ajudava a tentar escolher um nome na minha casa.
Como os reais interessados precisavam concordar com nomes, o combinado era que às segundas, quartas e sextas anotávamos todos os masculinos que gostávamos; terças, quintas e sábados anotávamos os femininos. Até o livro gigante de nomes acabar. E haja paciência, viu? começava a reclamar das dores e as vezes eu ficava tão mau por ela que queria poder ser um cavalo marinho. Se você não entendeu, é porque é o macho que carrega os filhotes e não a fêmea.
Uma pequena confusão rolou entre a nossa família e a de e porque os pais deles não queriam que eles andassem mais com a gente. Eu entendia a preocupação dos pais de . Sempre estavam fora do país. Mas os da não, eles só diziam que era má influência para ela e (que desde sempre namoravam) e não queriam mais os dois perto de nós. A família de não tinha ligado muito. Mas só até a mãe dele se tocar de que me ama e não vive sem mim e ficou com medo de ele fazer o mesmo. Estávamos sendo rejeitados pelas famílias de todos que estiveram sempre com a gente e comecei a me sentir mal, deprimido e meio, sei lá, sem vontade para qualquer coisa.
Comecei a ficar em casa sem querer sair e é horrível chegar a pensar que eu tive vontade de mandar abortar e acabar com tudo logo. Mas isso não resolveria nada até porque as pessoas têm medo da influência, do que pode vir, não do que já aconteceu.
Eu deprimido e chata e deprimida. Ninguém tinha mais saco para nada. Adiantaram todos os testes e provas dela então faltando um ou dois meses para acabarem as aulas, ela já estava de férias e estava quase repetindo o ano em física.
Com o passar dos meses começamos a nos estressar um com o outro por coisas bobas, como um desejo dela que eu não tinha atendido e que tinha que ser eu que tinha que comprar a coisa, um nome, uma visita que eu não tinha chegado na hora... Coisas idiotas.
Maris disse que era só fase e que era assim mesmo, as grávidas implicavam com tudo e ficavam fazendo de tudo para brigar com todo mundo porque os hormônios ficam à flor da pele. Tentei prometer a mim mesmo nunca mais engravidar ninguém. Apesar de eu saber que seria em vão.
Fui visto com outros olhos pelo pessoal do colégio, mas caguei, eu ainda tinha o crédito de quem tinha ido numa festa surpresa e pedido a aniversariante em casamento.
Os nossos amigos nos viam às escondidas porque suas famílias ainda estavam meio chocadas por conta da gravidez e tal.
Já no sétimo mês, me mudei para a casa de e as coisas até que não foram tão ruins. Eu ia para a escola, voltava, almoçava com ela, fazia alguns deveres, ela me ajudava a estudar, conversávamos sobre nomes, eu ia para a loja, voltava, comia e ou dormia de tão cansado, ou ia passar algum tempo com ela já que sempre fui meio carente de natureza.
Era uma quinta-feira então resolvemos gastar nosso tempo resolvendo alguns nomes depois que eu cheguei do trabalho e já tinha tomado banho e jantado. Maris tinha ido ao mercado e Russell estava na empresa com meu pai.
- Nenhum com B? - ela negou fazendo careta. - Vamos no C. - comecei a procurar nomes femininos com C. - Cassy? Castell? Colkins? Curtis? Curzon? Compton? - eu ia dizendo alguns que eu achava tranquilos e ela ia negando com a cabeça. Era difícil demais escolher nomes. Para que isso, Senhor? As coisas podiam ser muito mais fáceis. As crianças poderiam vir com o nome já impresso e ninguém brigaria escolhendo um. Até lá íamos chamando por um apelidinho... Afinal, os pais sempre escolhem os nomes e nem sempre agradam à criança.
- Hey, olha esse. - ela apontou um por cima do meu braço. - Colby é tão lindo.
- Colby, ? Acho tão sem graça. Ainda quero um nome com K. - comecei a procurar o K no livro e achei os masculinos. Se Colby seria a menina, restava a mim escolher o nome do menino. - Mesmo hoje não sendo segunda nem quarta nem sexta, tudo bem se eu te disser os únicos nomes masculinos com K que me agradaram? - ela afirmou e eu sorri. - Eu gosto de Kemp e Kent, mas meu voto vai para Kemp.
- Colby e Kemp... Colby e Kent... - ela ia anotando em um papel e olhava fixo para a parede na nossa frente. - Acho que Kemp. - sorri grande e fechei o livro. - É, eu gosto de Kemp.
- Jura? Achei que você ia achar feio e brigar.
- Não, tudo bem. Eu gosto. - fiquei feliz à ponto de ligar para e dizer que Kemp tinha sido aceito. Ele vibrou comigo e disse que iria então mandar fazer um travesseiro com o nome Kemp, depois de eu ter soletrado cinco vezes para ele ter certeza de que não estava escrevendo errado. - A gente resolve assim mesmo? Fica então Colby e Kemp? - sorri dando de ombros e ela levantou jogando o livro em outro sofá. Deu play no DVD e só então atacou como uma leoa faminta o pote de pipocas sozinha, sem nem oferecer. Ao que terminou o filme, eu já tinha avisado a por mensagem que tínhamos decidido os nomes. Ele não me respondeu e achei aquilo muito estranho, mas acabei relevando. Ele deveria estar com alguma mulher, para variar um pouco. O resto do dia ajudei a subir as escadas, lavei a louça, arrumei alguns livros e depois fiz o que eu sabia fazer de melhor e o que eu podia por enquanto: beijar minha noiva.

Assim que acordei no dia seguinte, fui surpreendido pelo abraço de Maris. Ela sorriu e disse que tinha adorado os nomes. Russell tinha começado a falar mais comigo e chegou a comentar que tinha gostado de Kemp. Disse que era "nome de homem". Como se existisse esse tipo de coisa. Queria saber o que ele iria achar de Finch, que era um outro nome que eu tinha na cabeça...

Com alguns dias já completados os oito meses, reparei que eu tinha parado de ter vida então voltei a sair mais. As vezes até sozinho, já que o único que podia sair comigo sem ser às escondidas era . Saindo mais com ele comecei a perceber que eu tinha passado tanto tempo reparando no meu umbigo, que nem vi quando ele criou raízes embaixo do nariz e da boca. andava sempre de barba arrumada, mas eu sabia que ele ajeitava quase todo dia, por causa do cheiro de loção.
Ele me disse que os pais de tinham entendido melhor toda a situação e estavam liberando-a aos poucos. Isso eu vi, já que ela começou a visitar toda semana e toda semana tomava um susto quando me via apenas de boxer e blusa no quarto que ela costumava dormir quando ia lá. Não ia se acostumar tão cedo com o fato de que eu estava morando na mesma casa que a melhor amiga dela.
Morando basicamente. Eu passava três dias na minha casa e quatro na de . Já sentia falta do meu quarto e do meu sossego. Em semanas eu não o teria mais. Nunca mais.
Esqueci de falar sobre uma música que compomos. A gravamos em alguns dias e assim que foi lançada, estourou nas rádios e eu me demiti da loja quando percebi que iríamos finalmente fazer sucesso. Nosso empresário sabia da gravidez, mas disse que não podia fazer nada com a agenda, uma vez que estávamos começando e não poderíamos escolher dia e a hora para nada.
Gravamos mais músicas e finalmente nosso primeiro CD ficou pronto. Fizemos uma pequena comemoração em casa e depois eu saí com os meninos para algum lugar mais animado desses. quis ir com a um bar que nem que quiséssemos iríamos entrar. Mas como e são muito altos e têm caras de mais velhos, eles entraram e e eu fomos barrados. Eu por não ter tanta cara de adulto assim e porque parecia mais um retardado enquanto falava ao telefone com . Nunca aprovei o que quer que eles estivessem tendo, mas isso eu guardo apenas para mim.


Capítulo 18

O mundo nunca foi um mar de rosas, por mais que esse ditado seja super vó e eu tenha usado-o.
Quanto mais se aproximava do dia em que eu sabia que não seria mais o mesmo, mais eu me assustava por uma coisa. Uma simples coisa: eu nunca mais seria o mesmo. Nunca. E quando eu digo nunca, eu falo sério.
Quer coisa mais assustadora do que ser pai aos 16? Acho que antes, nem que quisesse eu teria dito que sim.
Passávamos por uma semana difícil. Russell e meu pai estavam com os nervos à flor da pele por causa do trabalho. Um empresário alemão tinha encomendado um anúncio para um SPA. O cara não aceitava nenhum slogan. Ele queria algo que as mulheres olhassem e pensassem “Uau, eu preciso disso!”. Algo acolhedor e ao mesmo tempo relaxante. Algo como uma coisa que ninguém conseguia pensar. O SPA seria inaugurado em alguns meses então eles tinham algum tempo para conversar. Eu tentava ajudar, então dava mais atenção ao meu pai do que à .
Minha rotina passou a ser: escola de manhã, voltar para casa, comer, ir para o estúdio, sair quando fosse liberado, ir para casa da dar um oi e ver se estava tudo bem, ficar lá um tempo, ir para casa e deixar minha mãe me alugar dando aulas de como eram as coisas com um bebê. Ela chegou a pegar um bebê de uma amiga emprestado para eu me acostumar. Assustador, eu sei. Aquela criança fedia e pedi aos Deuses para os meus não serem daquele jeito. Porque além de tudo, não era só um, eram DOIS.
Eu já disse o quanto eu estava ferradou ou...?

Um dia cheguei em casa morto de tão cansado que estava e me deitei no sofá achando mesmo que iria poder dormir.
Achando mesmo, leia bem.
Pois é, minha mãe me obrigou a passar na casa onde meus futuros filhos estavam e se eu não passasse era capaz de ainda ficar de castigo. Nessa altura do campeonato. Meu pai me deixou lá como se eu tivesse dez anos e fosse para a festa de algum amigo meu. Meu pai iria perder a base quando me visse com um bebê no colo mas eu não podia fazer nada. Antes pudera.
Bati na porta esperando por alguns minutos. apareceu barriguda e eu a olhei assustado. Não acreditei MESMO no tamanho da barriga dela. Eu realmente vinha voando pelos dias sem perceber nada. Bem que me disse que eu estava errando as mesmas notas no refrão de "Room On The 3rd Floor" e não percebia.
Percebi então que tudo isso acontecia porque me encontrava meio irritado. Irritado porque não acertava uma só nota e ficava irritado com aquilo, irritado porque o pessoal da escola tinha começado a falar muito mais pelas minhas costas e eu sempre odiei que falassem pelas costas. Irritado porque os meus amigos entendiam a situação mas seus pais não, então os proibíam de andar conosco. Irritado porque dentro de alguns dias eu não teria mais a minha liberdade.
A mais nova era que os pais de haviam voltado. Sim, sem mais nem menos, sem avisar. Disseram que como o que tinha acontecido comigo foi inesperado, eles pararam para pensar e finalmente se tocaram que estavam sempre mais fora do país trabalhando do que na própria casa, cuidando do único filho que tinham. Acho que finalmente eles deram a um certo valor. era meio amargo e escroto e eu sempre pensei que fosse porque seus pais nunca lhe deram a devida atenção então ele era do jeito que era por falta de amor.
Eu estava estressado porque em tempo indeterminado eu teria que limpar bunda de crianças, ouvir choros, limpar boca suja, colocar para arrotar, trocar fraldas e... ARGH, eu não podia estar mesmo tendo essa vida; era um pesadelo. Eu me beliscava para ver se não era um sonho ou nada do gênero mas sempre parava no mesmo lugar, na realidade.
- Você vai continuar me ignorando? - ela falou visivelmente já irritada também. Mas mulheres grávidas ficam irritadas com facilidade, não era nenhuma novidade, era? Com certeza não. Continuei embasbacado com seu tamanho e ela rolou os olhos saindo da minha frente. Me gritou em segundos e finalmente entrei depois de ter me beliscado. Subi as escadas vendo-a no topo, andando com dificuldade. Entrei no quarto dela e me sentei na cama depois dela. A TV foi ligada e eu acabei dormindo, tombado ali mesmo.
Eu estava em mais um dos meus sonhos onde minha banda animal rodava o mundo e eu fazia muito sucesso e garotas me queriam e eu não tinha problemas e...
- ACORDA! - acordei na hora do meu sonho que eu gostaria muito que virasse realidade. me chacoalhava. - Seu celular está tocando feito um louco tem tempo já. - senti o celular vibrar do meu lado na cama. Deveria ter caído do meu bolso. - Atende antes que eu mesma o jogue pela janela.
- Que estresse, nossa. Relaxa, já atendi. - baguncei o cabelo e limpei a baba da boca. Levantei indo até o banheiro e lavei o rosto. - Fala, . Eu estava dormindo. - estava mais bêbado que o pai dele na festa de 15 anos da prima dele. Ele gritava, então afastei um pouco o celular do ouvido e respondi um pouco mais alto do que o normal. - Você está muito mamado, . Para de gritar e me diz onde você está por favor? - voltei ao quarto dando um selinho em , que ainda parecia emburrada. - ? Chama o . NÃO , não é o . Ok, ok, chama o . - apontou para fora do quarto e entendi que ela queria que eu saísse. Estava com um dedo pressionado na testa e eu sabia que ela explodiria a qualquer momento. estava muito louco e eu precisava resgatá-lo, já que pelo que pude perceber não estava perto dele e muito menos . Ele estava sozinho. Era claramente pior do que eu imaginava, já que não costumava ter boas ideias quando saía sem a nossa companhia. - Se acalma e me manda a sua localização que chego aí em alguns segundos. - desliguei o celular e voltei ao quarto, parando na porta e colocando minha cabeça para dentro. - está mamado e não sabe onde estão e . Preciso ir até lá. - não disse nada e continuou respirando fundo, massageando a testa e fazendo barulhos estranhos de olhos fechados. Esperei alguns segundos - ? - eu digitava freneticamente mensagens para e . respondeu que estava em um jantar de família e avisou que me encontrava na porta do bar em 10 minutos. - , por favor quer me responder? precisa de ajuda, se importa se eu for até lá? Eu volto depois, prometo.
- Você estava dormindo, se toca. Se voltar vai ser para a sua casa. Anda, vai embora. - ela levantou quase caindo e a segurei antes do desastre e do tombo que ela tomaria. - Quer me largar? Eu sei andar, obrigada. - se soltou e foi descendo as escadas com dificuldade. Que bicho tinha mordido aquela menina? Em um momento estava esquisita e no outro estava péssima. Desci atrás dela arrumando a blusa. Apoiei o celular no móvel que ficava ao lado da entrada. Ela abriu a porta saindo da frente um tempo depois. - Melhor eu sair para você passar.
- Também se não saísse não teria nem como, do tamanho que está. - pensei alto essa escrotidão e quando vi já tinha saído. Eu e minhas merdas, palmas. me olhou mais do que puta e me tacou o sapato na testa. E até que doeu porque eu sabia que ia formar um puta galo ali. Ela continuou espumando pela boca e antes de eu sair sem nem olhar para trás, gritou:
- ISSO AQUI É PARTE SUA. 50 POR CENTO, OK? É TUDO CULPA SUA, SEU CACHORRO. - é, eu não precisava ter feito o que fiz depois: ainda andando reto e não olhando para trás, dei um dedo do meio bem dado para ela e senti segundos depois uma coisa pesada na minha cabeça. Caiu fazendo um estrondo e quando vi era meu celular. - ENFIA NO... Eu não ouvi a outra parte porque gritei algo que em sã consciência eu nunca gritaria para minha namorada grávida: - VÁ A MERDA.
E assim acabou minha noite de sono.
Corri até o bar em que estava, podendo ver descer a toda de um táxi. Entrei no bar sendo barrado logo depois. Olhei o cara da porta e sorri sem graça para ele sem saber o que falar.
- Tem um amigo nosso doidão aí dentro, campeão! - assumiu o momento de fala assim que viu que eu não tinha nada preparado na cabeça, já que a briga com ainda estava recente na memória. Eu e ficamos 15 árduos minutos tentando convencer o cara a nos deixar entrar, sem sucesso algum. saiu do lado da porta de um restaurante chique e gritou em plenos pulmões: - FALA, SEU MERDAS! - e eu nos entreolhamos e milésimos de segundos depois já segurávamos pelos ombros. - EI, ONDE ESTÃO ME LEVANDO? QUERO CONTINUAR AQUI, A SAVANNAH ESTÁ ME ESPERANDO ALI DENTRO!
- Savana não é aquele lugar onde tem uns animais exóticos e tal? - me olhou confuso e eu dei de ombros. - cadê o seu carro?
- Que carro, cara? Nunca tive carro. - ah é, não tinha carro... - Cadê o de vocês?
- O único que tem é o . - bati na minha testa.
- Vim da casa da . - expliquei enquanto dava de ombros e segurava . assoviou e três táxis pararam. Entramos no maior e rumamos até a casa de . Achamos que os pais dele estariam ocupados demais em algum jantar mas nos enganamos ao chegar lá. A mãe dele me viu e já achou que o estado dele era influência minha, mesmo me vendo sóbrio e preocupado; eu e tentamos explicar o que tinha acontecido até onde nós sabíamos e ela tirou dos nossos braços e o empurrou para dentro de casa. Puxou pela gola da blusa o analisando e então o empurrou para dentro também. Depois fechou a porta na minha cara e gritou que nunca mais poderia ter algum tipo de contato comigo.
Eu criando laços familiares, lindo.

Eu e todos os que não estávamos grávidos estávamos fazendo provas. A semana inteira acordando as oito para chegar às nove, fingir que estudávamos até às nove e meia, entrarmos nas salas e fazermos as provas. Até que eu não me saí tão mau assim. Umas eu tentava colar de , que não me dava muita bola. Eu não arriscaria colar de , uma vez que depois que o peguei fazendo uni duni tê, desisti para sempre. apesar de ser inteligente, dormia e cantava mais as professoras do que estudava então eu não arriscaria em seus palpites também.
Como a música tinha estourado nas rádios e nossos mini-shows estavam lotando cada vez mais, ficamos com uma faminha legal pelo colégio e passávamos pelos corredores nos achando os caras. Até os jogadores fortões estavam falando com a gente. Não que fôssemos zero à esquerda, mas nunca falamos com tanta gente na escola como estávamos falando depois que as rádios não paravam de receber ligações pedindo mais e mais as nossas músicas. Pena que só liberamos duas então eu mesmo já estava me enchendo. se sentia orgulhoso por todo mundo, já que dava até autógrafos.
A parada era:
- O lindo que dava autógrafos e era legal com todas as semi-fãs que tinhamos ganhado.
- O engraçadinho meio burro que só tirava onda e gostava de ouvir elogios para deixar seu ego mais alto.
- Garanhão e amado. Ele ignorava todas, fazendo-as ficarem mais loucas por ele. Acho que elas gostam mesmo é dos que ignoram.
Eu - O idiota que só sabia fazer caras estranhas e nada mais para as câmeras.
A fama foi me fazendo bem até porque as pessoas começaram a esquecer que eu teria filhos. Filho, digo. Porque ninguém sabia que seriam dois. tinha me proibido de falar sobre nossa vida pessoal em amor aos bebês. Agora me diz, como eu vou amar uma parada que eu nunca vi na vida e nem tinha sacado ainda que realmente existia?!
disse que isso era impressionismo (essa palavra existe?) e que eu só ia me dar conta quando os pegasse nos braços.


Capítulo 19

Eu estava babando em cima da última carteira da fileira do lado da porta e estava super bem protegido atrás de , com ao meu lado. fingia que prestava atenção, piscava para algumas meninas que não paravam de nos olhar e elas davam risinhos baixos e tchauzinhos ridículos. quase roncava. Acordei com a inspetora que mais me odiava parada na porta me procurando. chutou a minha cadeira e eu recebi uma bola de papel na cara de . Levantei a cabeça limpando a baba. O que queriam comigo? Eu não tinha grafitado nada, explodido nada, feito nada. Eu estava até perdendo minha identidade.
Aviso falso, a mulher me confundiu com outro . Entrei em estado de ira porque podia ter continuado dormindo.

Os pais dos meninos continuavam meio de frescura então paramos de nos ver tanto fora da escola. As desculpas estavam acabando e nem eu, o rei das desculpas, tinha uma sobrando. Tanto porque eu tinha que ocupar meu tempo com coisas como família, futuros filhos, banda, garotas do colégio correndo atrás de mim, broncas, responsabilidades e tudo o que me rodeava a muito pouco tempo; que eu tive que me acostumar muito rápido e muito cedo.
Não que tenha gerado algo ruim dentro de mim, só que eu nunca fui tão maduro assim, vai.
Um dia resolvi olhar no calendário, faltavam poucos dias para as aulas acabarem e meu aniversário estava chegando. Iria completar 17, yeah. Um ano para poder dirigir. Mal podia esperar.
Quanto à , é, eu continuava brigando com ela. Mas era muito divertido se você quer saber.


Capítulo 20

Os dias passavam mais rápido do que eu estava tendo noção e, quando fui ver, já estávamos na última semana de provas. Eu e conversávamos normalmente sobre qualquer coisa que não fosse sobre bebês e fomos interrompidos por mil garotas correndo até nós como se fossem nos comer vivos ali mesmo. Olhei-o assustado já pensando "ferrou" e ele me olhou do mesmo jeito. Elas pararam e respiraram ofegantes. Ficamos olhando as meninas acabarem de respirar todo o ar que conseguiam. Uma delas me olhou séria e falou tudo de uma vez:
- Estão te chamando na coordenação. É meio urgente, vai voando se der. - no começo achei que aquilo era algum tipo de brincadeira, mas a menina me olhou tão sério que eu praticamente voei mesmo. Cheguei na coordenação já pensando nas besteiras que tinha feito: nenhuma. Abaixei me apoiando nos joelhos tentando pegar um pouco de ar e bati na porta, esperando a secretária da diretora me mandar entrar. Sentei em uma cadeira e a diretora me olhou mais séria do que a menina lá de baixo.
- Você está dispensado da segunda prova de hoje, sua mãe já mandou um táxi e ele já está vindo te buscar. - era mais fácil ela ter mandado a menina ter me dito isso, do que ter me feito subir a porra toda e perder o fôlego, né? - Anda, , o que é que você está esperando, menino? Essas crianças vão nascer sem você ver? - ai caralho, por que não disse logo? Saí voando de lá e o táxi já me esperava. Acenei de longe para que me olhava confuso. Entrei no carro e ele partiu feito um furacão. Quando dei por mim, estava na porta do hospital. Meu celular tocou alto e vi no visor que era . Atendi gritando:
- VAI NASCER, CARA! – Aposto que levantou em um pulo e saiu correndo, acho eu que para procurar e os outros. Desligou o celular na minha cara e eu paguei o motorista, correndo até a recepção. Encontrei minha mãe andando de um lado para outro e quando me viu, deu um salto de alegria e me puxou para o elevador. Eu me sentia nervoso e peguei o café da mão dela, bebendo por inteiro. Minha garganta queimou e fiz um barulho alto, envergonhando minha mãe. - Minha garganta, caramba! - ela me expulsou do elevador e fui recebido por Maris me jogando um avental e uma touca. Me senti um completo babaca na frente de todo mundo e sem perceber fui mais uma vez empurrado. Mas dessa vez por uma enfermeira ruiva que me jogou para dentro de uma sala.
- ? - um médico olhou para ela.
- Eu? - me enfiei no meio da conversa e ele sorriu para mim fazendo um gesto para eu o seguir. Fui andando calmamente. OK, mais ou menos calmamente porque eu estava meio nervoso. Ouvi gritos muito altos e me esqueci totalmente que estava brigado com a mãe dos meus filhos quando percebi que os gritos eram dela. Achei que tinha alguém matando-a e entrei com tudo na sala. Ouvi um choro, um grito, um choro, um grito, um choro... Um médico me olhou e me mostrou um pedaço de gente com sangue. Olhei torto e ele riu. Um cara filmava e eu não sabia se ele era da imprensa local ou contratado. Ignorei totalmente o cara e olhei sério para o médico.
- 16, hein? - concordei com um sorriso sem graça.
- Eles insistiram. - apontei para o morro que carregava.
- Acontece. - ele piscou para mim. - Vai querer cortar o cordão? - confirmei todo firme e forte e olhei pela primeira vez para . Ela estava de cabelos soltos, o rosto todo vermelho e me olhava como se fosse me matar. - Lave rápido as mãos ali na pia. - concordei e segui um outro homem. Lavei as mãos e fiquei ao lado do médico. Ele me deu uma tesoura bizarra e me indicou onde deveria cortar. Cortei e me senti meio tonto. Me aproximei de sem nem saber o que falar nem fazer.
Do nada senti um apertão muito forte e quando olhei para baixo, a mão dela esmagava meu pulso. Ela gritou alto e eu me senti mais tonto ainda. Fiquei na ponta dos pés e quando vi, enxerguei outra cabeça e logo depois um choro alto e outro grito. Minha garganta ainda doía e aposto que se estivesse querendo competir com aqueles ruídos eu teria perdido.
Peguei a tesoura de novo e quando fui passar o outro dedo pelo outro buraco da tesoura, só vi o preto e mais nada.

Pode zoar de novo, desmaiei mais uma vez, admito. Não sei o que me fez desmaiar, mas quando dei por mim de verdade, estava em uma sala toda branca deitado em uma maca. Minha mãe se encontrava ao meu lado com um vidro de álcool e outro de água nas mãos. Ela sorriu assim que eu abri os olhos e fui devagar me acostumando com a luz. Coloquei uma mão na cabeça sentindo uma forte dor. Nossa, alguém do terceiro ano devia ter dado uma muito forte na cabeça, de verdade. Me sentei com a pernas para fora da maca e vi um médico me olhar pelo grande vidro da porta.
- Mãe, tive um pesadelo horrível. - ia começar a contar o meu pesadelo quando minha mãe me puxou, me entregando a água e já abrindo a porta me encaminhando pelo corredor para outra porta.
- Não temos tempo para pesadelos, guarde para me contar depois. Agora faz silêncio e entra aí. - abri uma porta e entrei na realidade; não era um pesadelo, droga.
Maris me olhou sorrindo meio abobada e vi de relance Russell com um pequeno sorriso no canto dos lábios. Maris me abraçou e eu continuava estático, sem reação alguma. Me aproximei devagar e já não estava com a cara tão amarrada quanto antes. Ela sorriu simpática então me aproximei mais. Ouvi o baque da porta e nos vi sozinhos no quarto. Me apoiei na cama e pela primeira vez vi os rostos das minhas metades, em dois pequenos berços. Um deles estava escrito "Kemp " e o bebê vestia um negócio parecido com um pijama todo branco e estava com um gorro e uma coberta azuis. Do outro lado havia escrito "Colby " e o bebê vestia o mesmo treco estranho só que amarelo e usava um gorro e uma coberta brancos. Kemp chorou alto e ela o pegou, acalmando-o. Fiquei paralisado olhando para Colby; ela se mexia de um lado para o outro. Ouvi o riso de .
- Você pode pegar, sabia?
- Tenho medo de quebrar. Ou deixar cair. - ela riu de novo.
- Ah, por favor. É só pegar com cuidado. - ela ia me dizendo onde segurar e sorri assim que consegui pegar Colby no colo sem deixá-la cair. Ela se encolheu e encostou o rosto no meu peito, dormindo. Sorri grande e fiquei orgulhoso de mim. Olhei para e ela sorriu de volta concordando com a cabeça. Dei um selinho nela e me sentei balançando Colby de leve. Ela reclamou e abriu um pouco os olhos. Castanhos escuros.

Saí por alguns instantes do quarto porque ainda estava com aquele clima ruim entre nós dois e eu precisava de ar. Era real, caramba. Fui seguindo o fluxo de vai e vem dos médicos até parar na sala de espera. e estavam lá. Sorri desacreditando e senti os braços de em volta de mim. Retribuí e recebi dois tapas de ; um nas costas e um na cabeça. me olhava estranho e eu sabia que ela queria ver os gêmeos. Bati fraco no ombro de e os chamei com a cabeça. Fiz o caminho inverso e bati na porta. Sem esperar resposta, entrei devagar.
- Temos visitas. - disse já chegando perto de . Ela esticou o pescoço tentando ver quem estava vindo atrás de mim. Assim que apareceu em seu campo de visão, ela sorriu largo. Kemp dormia em seu berço. me esticou Colby assim que parou ao seu lado.
- Colby e Kemp? - sorriu meio boba lendo os nomes. - Colby é tão lindo.
- Eles já tinham contado os nomes. - comentou beijando a testa de . Ela estava com um humor bem ótimo para quem tinha parido gêmeos poucas horas antes.
- Só acredito vendo. muda de opinião muito fácil. - concordei rindo baixo. Indiquei o sofá para eles e entreguei Colby para , que a segurou com mais jeito do que eu e juntos.
- Então essa é a minha afilhada? - e eu ficamos um tempo olhando para eles, fingindo decidir se era seguro ou não. - Por que vocês estão nos olhando assim? Eu já peguei no colo, não tem mais volta. - dei de ombros olhando para e ela fez o mesmo.
- Já que não tem ninguém melhor, vai você mesmo... - eu disse cruzando os braços.
- Só não levando para te dar um chute no saco porque respeito os seus espermatozoides. Olha que coisa mais linda que é essa neném. - comentou enquanto levantava devagar e ninava Colby.
- Não vou brigar com pelo Kemp. - disse olhando diretamente para meu filho, que começava a despertar. - Sei que em silêncio vocês já têm esse acordo e vou respeitar. - se virou para , pegando Colby com cuidado e sentando de volta no sofá. - Mas da Colby eu sou padrinho. Não sou? Olha, se vocês escolherem o eu juro que... - ele falava sem parar e o interrompeu.
- Nós não podemos te dar a responsabilidade de ser padrinho do Kemp porque a Colby já te escolheu. - ela deu de ombros enquanto indicava os dois com o dedo indicador. Quando olhei, Colby segurava com força um dos dedos de e abria devagar os olhos, como se o procurasse. Ele então sorriu largo e colocou minha filha mais perto do rosto dele. - Nunca pensei que com 16 anos eu estaria emocionado por ter sido escolhido por um bebê. - nós rimos alto e ele nos olhou com ar de reprovação. - Por favor, façam silêncio, minha afilhada está querendo dormir. - levantamos as mãos como quem pede desculpas e ele se virou para o berço onde Kemp dormia. - Eu sinto muito, Kemp, mas já sou da Colby. Mas ainda assim vou estar aqui por você. - ele se ajeitou cruzando as pernas e passou a mão na cabeça de Colby. - O que lute para ser um padrinho melhor do que eu.

Acordei dos meus devaneios e vi que estava com a xícara de café vazia na mão. e haviam ido embora há algumas horas, nos deixando sozinhos com os gêmeos. Dei de ombros e olhei os berços para ter certeza de que as crianças estavam ali. Colby se mexia sem parar e Kemp dormia tranquilamente. também descansava. Pousei as mãos na mesa e fiquei pensando no que seria dali para frente.
Senti duas mãos em meus ombros e me virei rápido com o susto. Meu pai olhava para frente com lágrimas nos olhos.
- Soube que você desmaiou. - é, o hospital inteiro já deveria saber. Confirmei com a cabeça. - Eles são parecidos com ninguém. - eu ri um pouco só então parei para pensar com quem cada um realmente parecia. Dizem que recém-nascido é tudo igual, tem cara de joelho. - Você nos primeiros dias de vida tinha a mesma cara de joelho que a Colby tem. nasceu incrivelmente bonita, então provavelmente ela vai sair a você. Coitada. - na boa, só meu pai para falar aquele tipo de coisa sobre os próprios netos.
- Sou sua parte e eles parte minha, não se esquece. - pisquei para ele.
- Fazer o quê, né? - ele suspirou e eu ri.


Capítulo 21

Abri a porta da casa de a fim de sair e esvaziar a cabeça. Fazia uma semana que eu estava morando com ela, tentando dar conta de tudo que dava. Acordava de noite, limpava bunda, dava banho, colocava para arrotar, ninava, trocava de roupa, ouvia choro até não poder mais... Era um horror. Eu estava um caco e não conseguia esconder. Passar as férias daquele jeito não estava sendo nada bom.
Me coloquei para fora olhando reto. Senti uma pedra colidir com o meu pé e olhei para baixo. Topei com ninguém mais ninguém menos que na porta e não acreditei. Aquele moleque estava mesmo lá. Uma semana e alguns dias sem nem dar notícias.
- Finalmente! - ele suspirou jogando os braços para cima e se levantando, batendo as mãos na calça. - Vai ficar me olhando com essa cara de mau comido até quando? Tá bem frio aqui fora. - o abracei forte ainda sem acreditar que ele estava ali, mesmo depois de seus pais o proibindo de ter qualquer tipo de contato comigo. - Até parece que o que os meus pais dizem vai ter algum efeito em mim. Sou vacinado já. - nós rimos. - Estava esperando alguém aparecer na sala para bater na porta. Não quis tocar a campainha com medo de acordar as crianças. Deve estar sendo difícil dormir nessa casa. - realmente era o meu um em um milhão. - Vai me deixar entrar para ver meus sobrinhos ou vou ter que passar por cima de você?
- Entra logo, seu merda. - o empurrei e subimos rindo. Assim que chegamos ao topo da escada, fiz sinal para ele se calar e o vi concordar com a cabeça. Andamos mais um pouco e abri devagar a porta do quarto. Entrei com ele enquanto uma música calma tocava baixo e o umidificador deixava o quarto com cheiro de lavanda. Nos aproximamos do berço gigante que os gêmeos dividiam e se apoiou em um lado, espiando. Ele sorriu abobado e apertou fraco meu ombro.
- Eles são lindos. - concordei. Vai, metade eu, tinha como sair feio? - Essa aqui é a Colby, né? - não tive tempo de responder porque ele mesmo já tinha se tocado que sim. - É a sua cara. Vai sofrer, coitada. - rimos baixo e ele mexeu no nariz dela, que reclamou um pouco. Então se virou para Kemp, abrindo um largo sorriso. - Ah, esse aqui sim, esse é o meu Kemp que vai aprender a ser homem de verdade comigo, a como tratar uma mulher com respeito... Porque se depender do pai, só enrolação... - dei um chute fraco nele e ele segurou a mão de Kemp. - Boa, tem mão forte. Vai tomar decisões importantes. - rolei os olhos não acreditando no que estava escutando e ouvimos a porta bater fraco. entrou de vestido cinza e um arco preto nos cabelos.
- Hey, . - ela ficou na ponta dos pés e beijou uma bochecha dele. - Estava com saudades de você. - ele sorriu e mexeu no cabelo dela.
- Eu também estava começando a sentir sua falta lá em casa. - sorriu e ajeitou o gorro de Kemp. - Eles são... - se perdeu olhando Colby bocejar e abrir um pouco os olhos. - Cara, ela vai ser muito linda.
- Tem a quem puxar. - indiquei e eu, brincando. piscou para ele, pegando Colby no colo. Ele passou a mão no cabelo dela e brincou com os dedos. Colby fez um barulho com a boca e nós rimos. nunca tinha chegado perto de bebês.
- Quer segurar? - ela perguntou e arregalou os olhos meio assustado.
- Posso? - nós concordamos e entreguei o álcool em gel para ele. - Vocês vão confiar um bebê a mim? Tem certeza? Nunca segurei um antes. - o empurrei até a cadeira de amamentação, ele sentou e colocou Colby no colo dele.
- Se você quer ser padrinho, tem que colocar a mão na massa. - eu disse, ajeitando a cabeça de Colby e depois me afastando para ver a cena mais inesperada da vida: no auge dos seus 17 anos com a minha filha recém-nascida no colo. Tirei uma foto sem que ele percebesse.
- Ela nem nasceu direito e eu já estou apaixonado. Como pode isso? É normal? É por isso que as pessoas costumam ter mais de um filho? - comentou enquanto puxava o cobertor que cobria Colby. Ele não se mexia muito. - Não acredito que vocês dois fizeram essa obra de arte. - nos entre olhamos com as sobrancelhas arqueadas como se nos sentíssemos ofendidos e me chamou com a cabeça. - Vê se faz as coisas certas agora, viu? Se alguma coisa acontecer com eles, eu peço a guarda. - Colby mexeu a boca nos avisando que estava prestes a chorar. a pegou no colo e chamei para se aproximar do berço enquanto ela sentava na cadeira para amamentar.
- Não tem como fazer as coisas erradas de agora em diante porque não tem como errar com isso aqui. - apontei Kemp. - Tem só uma semana que conheço esses dois e, , não faz sentido nenhum, mas eu não consigo imaginar como é ficar sem eles. - peguei Kemp no colo colocando sua cabeça em meu ombro e sorriu esticando as mãos.
- Eu conheço tem só alguns minutos e não quero ir embora. - comentou colocando Kemp da forma que eu tinha feito antes. - Mal posso esperar para eles começarem a andar e eu poder sair por aí exibindo esses dois.
- O não vai gostar de saber que tem concorrência.
- Nem vem com essa. Eu já era padrinho na hora que vocês descobriram essa gravidez. Mandaram mais um pra não deixar o esperando o próximo. Quero ver ele ensinar para essas crianças os movimentos da ginástica artística.
- , nem você sabe. - comentou passando a fralda pela boca de Colby.
- Eu aprendo, ué. O que eles quiserem eu ensino. - ele colocou Kemp a centímetros de seu rosto e sorriu. - Não é mesmo? O que você quer ser? Bailarino? Jogador? Ginasta? Não tem problema, o que você quiser o padrinho aprende pra te acompanhar. - eu bati a mão no rosto e ri baixo. Um em um milhão. - Vou indo, prometi voltar cedo para casa. Disse que voltaria antes das sete e tenho compromisso mais tarde. - colocou Kemp devagar no berço.
Percebi que Colby terminara de mamar e a peguei no colo para colocá-la para arrotar. Eu era bom nisso.
- Quero conhecê-la. - se limitou a falar, entendendo que tipo de compromisso tinha.
- Não demora pra voltar. Vai que semana que vem eles decidem qual esporte querem fazer. - falei segurando as costas de Colby enquanto abria a porta do quarto.
- Deixa comigo. - piscou e beijou a testa de . Passou a mão levemente pelas costas de Colby, foi até Kemp, balançou devagar a perna dele e me estendeu a mão. Apertei firme e desci com ele.

Estava dormindo calmamente. Não lembrava se estava sonhando ou não, são coisas muito complexas para se pensar se você for eu. Me mexi na cama tentando abafar o barulho que eu ouvia. Joguei o travesseiro na cara e nada, só ouvi mais ruídos e cada vez mais eles iam aumentando. Fiquei uns minutos me mexendo de um lado para o outro da cama. Peguei o celular na mesa ao lado, levantei a cabeça e olhei o visor: duas e 45 da manhã. Ouvi outro ruído alto e me levantei meio tonto. Saí cambaleando todas; tentando me equilibrar e ao mesmo tempo enxergar meio palmo na minha frente. Fui andando batendo a mão em tudo, mais perdido que cego em tiroteio. Achei a porta e abri. O som ficou duas vezes mais alto e eu finalmente consegui enxergar algo por causa da luzinha que ficava no meio do corredor. Segui até o quarto do lado, realmente muito longe, três passos, e dei uma batida na porta. Ninguém respondeu e achei melhor abrir mesmo que devagar, depois de ouvir de novo o ruído. Meu ouvido estava tão podre que só percebi que era choro depois que entrei no quarto e vi em pé de um lado para o outro com Colby babando no ombro dela. Colby estava enrolada em uma coberta, de olhos semiabertos, mão fechada perto da boca e babando um monte. Suspirei fundo e fui até elas ainda sem ser notado.
- Está tudo sob controle. - disse assim que me aproximei. Passei uma mão na cabeça de Colby que ainda chorava e ela fechou os olhos. Ela mexeu um pouco o braço e eu coloquei o indicador na palma da mão dela. Ela fechou a mão e depois a abriu, segurando meu dedo com a mão toda. Soluçou um pouco, babando e abrindo os olhos de novo. Ficou me olhando por um tempo indeterminado e segurava cada vez mais meu dedo. Hora mais forte, hora mais fraco. Porém, nunca soltava.
Olhei Kemp e ele dormia calmamente. Impressionante o dom daquele garoto de dormir mesmo com todo choro alto e agudo da irmã. Soltei devagar o dedo da pequena mão de Colby - não que eu quisesse realmente soltar - e me aproximei do berço. Assim que o contato foi totalmente quebrado, Colby chorou alto finalmente acordando Kemp, que chorou junto com o susto.
- Ai meu Deus. - suspirou. - Segura aqui a Colby. - obedeci e a peguei no colo com um pouco de dificuldade. Sentei na cama me encostando na parede e dobrei as pernas. Coloquei Colby ali e ela abriu os olhos, me encarando de novo. Mexi no nariz dela devagar e a vi alcançar minha mão. sentou do meu lado com Kemp e vi que ele já havia voltado a dormir.
Maris entrou no quarto com uma cara meio irritada.
- O que está acontecendo aqui? - acho que ela tirou uma conclusão errada do que estávamos fazendo com os bebês, então se aproximou e pegou Kemp, deixando-o no berço depois de balançá-lo um pouco. Chegou perto de mim e pegou Colby sem pedir licença. - , isso aqui não é brinquedo, sabia? Você pode quebrar a coluna dela fazendo isso, por Deus! - Colby chorou alto e foi levada ao berço também.
Acho que eu iria conhecer uma Maris que nunca tinha conhecido antes.
Balancei a cabeça enquanto nós dois (estáticos) víamos Maris balançar o berço devagar. Colby não parava de chorar por nada e até mesmo Maris estava ficando irritada com aquilo. levantou e foi até lá. Não adiantou muito então eu levantei para ver se estava realmente tudo bem e pude ver Kemp enrolado em um cobertor, segurando um brinquedo e Colby esperneando de olhos fechados. Ela se debatia toda e eu estava ficando com medo de estar acontecendo alguma coisa séria. As duas pensaram a mesma coisa porque vi Maris descer amarrando o roupão e procurando algo pelo quarto. O telefone do médico, lógico.
Depois de dois minutos no telefone e 20 tentando fazer tudo o que o homem mandava, estávamos todos desistindo. Sim, todos. A essa altura, Russell já estava acordado e tomava café na sala. Quando mirei o relógio, levei um susto. Eram quase seis horas da manhã e eu nem tinha percebido. A sorte é que era sábado e eu não precisaria ir para a escola.
Eu ainda não tinha tido a oportunidade de tentar fazer algo sozinho para ajudar Colby a parar de chorar. Sentei ao lado de (que estava esgotada) no sofá e olhei o rosto de Colby. Todo vermelho. Aquela menina ia ser dramática e ia chorar muito, dava para sentir.
Fiquei um tempo pensando em algo que elas ainda não tivessem tentado fazer e nada me veio à cabeça. Mas eu não podia deixar para lá só porque elas não tinham conseguido. Procurei alguma palavra para fazê-la se acalmar. Toquei o braço de , que já chorava baixo acho que chateada consigo por não ter dado conta de Colby ainda e ela me olhou meio sem graça.
- Posso? - indiquei Colby com a cabeça e ela confirmou, murmurando algo que eu não consegui decifrar. Russell passou com as mãos nos ouvidos e Maris sentou em uma poltrona, deixando ali três xícaras com chocolate quente. O cheiro estava maravilhoso, mas eu não podia deixar nada de lado para ir beber. Muito menos minha filha.
Peguei Colby com cuidado do colo de e a enrolei no cobertor como se fosse um pacote. A ajeitei perto do meu pescoço e enquanto balançava devagar o corpo, assoprava um pouco de ar perto de seus ouvidos. Em poucos segundos ela parou de chorar. e Maris me olharam como se eu tivesse dito “Hey, ganhamos na loteria!”. Fiz uma cara assustada para elas e olhei pelo espelho que tinha na sala. Colby dormia calmamente em meu ombro. Passei uma mão por seu corpo e com a outra apoiei sua cabeça.
- . - me chamou e eu a olhei. - Ela parou de chorar. - concordei como se fosse a coisa mais normal do mundo e ela sentou de frente para mim e passou a mão no cabelo de Colby. - Você tem o poder. Toma. - ela aproximou a xícara de chocolate quente da minha boca e eu a olhei assustado. Ela aproximou mais e eu então bebi. Estava sendo bem tratado demais. Levantei e fui até a janela observando o pequeno movimento que começava a se formar na rua.
Colby ia dar trabalho. Ah, se ia.


Capítulo 22

deixou o estúdio meio puto porque as músicas estavam saindo erradas. Ele bateu a porta grossa e o vimos andar até o outro lado do vidro e gritar algo como “CANSEI!”. deu de ombros e saiu atrás dele. levantou de um sofá e acenou para nós. também saiu assim como e eu. Sentamos todos nas cadeiras e sofás que tinham ali e o produtor chegou já bronqueando por ter saído sem nem avisar onde ia. apareceu atrás dele com a cara meio triste.
- Deixe-o sozinho por um tempo. - concordamos e ficamos conversando tentando resolver o que iríamos fazer ou onde iríamos comer. Meu estômago roncava alto. Seis horas sem comer nada, trancado em um estúdio só à base de água não estava dando certo (aposto que) para os outros e muito menos estava dando certo para mim. Fui até um dos sofás de canto, apoiei a cabeça no braço do mesmo e acabei fechando os olhos, ignorando o que eles estavam dizendo. As aulas já haviam começado e eu estava acabado. Só tinha na cabeça a minha rotina: Acordar, ir para a escola, voltar, almoçar, cuidar um pouco das crianças, ir para o estúdio, voltar, tomar banho, dormir por 10 minutos ou até algum dos dois chorarem para eu ter que ir até o quarto do lado ficar acordado a noite toda tentando fazê-los dormir. Eu e não estabelecemos regras ou nada do tipo de "vez", de um ou de outro, então eu estava totalmente cansado. Minhas pálpebras pesavam o dia todo e comecei a piorar nas novas músicas. Acordei ouvindo os outros murmurando algo, mas permaneci de olhos fechados.
- está um caco. Parece que ele não dorme há anos. - comentou baixo para não me acordar, eu acho. Abri um pouco os olhos e pude enxergar com a cara amarrada do outro lado do sofá, encarando a parede. - Ele não acerta mais nenhuma nota, até eu estou começando a ficar meio incomodado. E olha que tenho uma paciência gigante. - deu de ombros com e abri mais um pouco os olhos. Nossa, fechei os olhos por um segundo e já era o centro das atenções. deu um grito e o vi olhar furioso pra .
- Cala a boca, ! Você lá sabe o que ele está passando? Ele tem dois filhos recém-nascidos que não o deixam dormir de noite, demandam um monte de atenção, tem que ir para a escola, vir nos ensaios na banda e ainda fazer tudo o que faz por fora. Você acha que é fácil? Ele só tem 16 anos, porra. Vai viver a vida dele então, caralho. - sério, eu nunca tinha visto tão puto. E muito menos já tinha o visto brigar com algum amigo. Cheguei a ficar assustado, mas como estava longe deles, nenhum me viu sentar devagar e segurar a cabeça. - O cara não dorme há noites, quer por favor deixá-lo em paz!?
- Ninguém mandou ter filho. - olhou duro para . Uma briga estaria vindo a caminho. E não minto quando digo que estarei na frente. Fala de mim, mas não fala dos meus filhos.
- Ele não teve por que quis. Nós sabemos tudo que aconteceu e você deveria ter o mínimo de empatia pelo seu amigo antes de sair falando merda por aí. - saiu porta à fora deixando todos sem reação.
abriu a boca, olhou para baixo e deixou o café que tomava de lado. Levantei meio sem graça bagunçando o cabelo e abriu mais ainda a boca quando percebeu que eu havia visto tudo. Bateu a perna na de que a olhou; ela jogou a cabeça para frente me indicando, e ele me olhou assustado. engasgou com o resto de café. Dei um tapinha nas costas dela, que agradeceu, e segui em frente, apertando a bochecha de . Ela sorriu de lado e vi de relance se levantar.
- , foi mal, eu... - não escutei o resto porque coloquei o dedo indicador na cara dele, sem o deixar continuar.
- Quem está faltando com vocês sou eu, a culpa é minha. E poderia ser por outro motivo, então pensa três vezes antes de enfiar meus filhos em qualquer problema que você tenha comigo. - bati a porta com uma força não tão necessária e olhei para fora do estúdio, o dia estava lindo. Desci os degraus e bati os olhos no tênis roxo de .
- Fiquei sabendo. - ele indicou o lado de dentro do estúdio. Confirmei com a cabeça sem dar muito assunto, pois ele tinha sido o primeiro a sair de lá irritado e bastavam dois segundos para outra briga acontecer. Olhei o relógio do Mickey dele. Cinco horas.
- Vou para casa. - o vi concordar. me deu um tapinha no ombro e sorriu; eu retribuí. - Vê se aparece lá qualquer dia desses.

Cheguei em casa sabendo que ninguém me receberia com uma bandeja de macarrão quatro queijos ou mesmo lasanha e um copo de limonada e muito menos receberia um "Olá" animado de qualquer um.
Abri a porta e Maris sorriu para mim. Dei um aceno de cabeça e subi direto para o quarto de . Abri a porta e ela falava ao telefone acho que com , pelo seu tom de voz. As crianças estavam em um quadrado fofo com brinquedos. Quase dois meses convivendo com aqueles pedaços de gente e eu já sabia que se tirassem ao menos um de mim, eu iria morrer.
Deitei no chão e Colby ficou me encarando como fazia todas as vezes que eu aparecia em seu campo de visão. Kemp me ignorou e continuou apertando um boneco qualquer. Eu e Colby ficamos nos encarando por tempo indeterminado, como sempre. Eu não sei se aquilo era mania ou alguma ligação, só sei que quando meus olhos batiam nos dela, eu não conseguia desgrudar.
saiu do quarto ainda no celular. Passou por mim sem nem dizer oi. Me sentei brincando com os gêmeos. Com uma mão eu aproximava e tirava o brinquedo da frente de Kemp (cruel, eu sei) e com a outra... Bem, com a outra eu não fazia nada, uma vez que Colby a apertava e já fechava os olhos.
entrou no quarto com uma bandeja. Deixou-a no chão. Tinha uns biscoitos e cereais e dois copos com algum suco bizarro rosa.
- Ainda bem que você chegou, ela estava inquieta até agora. - concordei sem tocar na comida. - Eles são tão opostos. Kemp é calmo, é na dele... Colby precisa se mexer, fazer barulho... - a vi suspirar. - Ela é tão eu. - fiquei um momento estático pensando e repensando no que ela havia falado. Talvez ela mudasse com o tempo, afinal, só tinha pouco mais de um mês. pegou o boneco da minha mão, pegando Kemp no colo para colocá-lo no berço. Entendi o recado e finalmente coloquei algo no estômago depois de seis horas sem comer nada. Você pode achar que foi um ato de compaixão, mas não, eu ainda não tinha tido coragem para pedir desculpas por tê-la chamado de imensa há um mês atrás, então... Bem, continuávamos na mesma, nos falando, mas poucas palavras.
Lógico que eu sabia que se fosse por ela estaríamos nos falando e muito, mas sempre fui meio orgulhoso e sabia que ela não iria perdoar fácil o que eu disse, então... Deixa isso para lá, com o tempo eu iria reconquistar o meu lugar.


Capítulo 23

Passando os meses, os dois conseguiram se acostumar a dormir e também nos deixar dormir um pouco mais. Eu tinha começado a melhorar nas notas, estava indo melhor na escola, em questão de entender o que os professores diziam, anotar tudo e o principal: estava conseguindo ficar de olhos abertos, yeah. Um grande passo, eu sei.
Os gêmeos estavam com quase seis meses e já começavam a engatinhar. Kemp era o mais engraçado de assistir porque ele engatinhava com as duas mãos da frente e com a perna esquerda. A direita ele deixava esticada e ia arrastando. Minha mãe disse que era uma fase e que tinha feito o mesmo quando começou a engatinhar. O que a fez ficar vermelha e rir. Maris achava um charme e disse que desde aquele momento, já soube que ele arrasaria corações. Pobre Kemp, nem nasceu direito e já estava levando a fama de arrasa corações. Achei engraçado.
Meu pai ficava mais orgulhoso a cada dia que me via trocar uma fralda, comprar alguma coisa que eles precisassem e até o jeito que eu cuidava deles; já minha mãe, ao mesmo tempo que achava que eu só estava fazendo o meu trabalho e nada mais, também gostava, porque sabia que eu estava mostrando ser mais maduro e responsável. Acho que no fundo eu sempre soube que meus pais ficariam orgulhosos de qualquer forma.
Conforme iam crescendo, conseguíamos notar as semelhanças com cada um. Kemp tinha os meus olhos e me fazia achar graça quando não deixava tocarem muito nele. Mas só porque eu sabia que fazia exatamente igual quando bebê. Não era lá muito sociável.
Não dava para ver com quem um se parecia mais, mas nossas mães falavam coisas que davam uma noção. O temperamento de Kemp era muito parecido com o meu. Ele era mais calmo e não parecia ligar muito para as coisas nem para os outros à volta dele. Também não era de chorar nem espernear muito. Gostava de lugares mais calmos e sem muita agitação e isso ele definitivamente puxou de mim.
Já Colby era o oposto. Agitada, barulhenta, mandona. Bem parecida com a mãe. Gostava de atenção e companhia. Tudo tinha que ser do jeito dela e na hora dela. Criá-la seria um desafio.

Nosso segundo CD estava pronto e algumas músicas já estavam nas listas das mais pedidas das rádios. Ficamos em primeiro lugar nas paradas da BillBoard por três meses. E na frente de quem? Kanye West.
Kanye West? Quem É Kanye West? Primeiro lugar. Hã? Quem? Kanye West?
Fizemos uma comemoração na qual por incrível que pareça, compareceu. Fiquei feliz por ela ter saído de casa depois de quase um ano sem colocar os pés nem no jardim direito.
As coisas estavam começando a se ajeitar aos poucos. Talvez estivéssemos mais no devagar quase parando, mas estavam fluindo.
Os bebês estavam ficando um pouco mais independentes. Colby parou de chorar. Descobrimos que ela tinha medo de que nós não voltássemos então chorava até darmos o que ela queria, a nossa presença; sempre demonstrávamos com um olhar ou mesmo com a sensação de nossa mão perto da dela. Apenas estranhamos o fato de que se ela queria isso, era para ela parar de chorar quando a pegasse. Um médico disse que o motivo talvez fosse porquê de algum modo, ninguém sabe o porquê, ela tivesse uma ligação comigo. Ou por puro medo, já que por nove meses ficou dentro da mãe e sabia que ela continuaria ali. Comigo não, eu nunca tinha tocado nela até então, tido nenhum contato então como ela sabia que eu poderia ir embora, talvez quisesse algum contato comigo para ter certeza de que não. Ah se ela soubesse que nem se ela quisesse eu me afastaria...
Kemp era com certeza o mais esperto dos dois. Ele começou a se equilibrar nas coisas já demonstrando que queria andar e um dia depois que me levantei (sem tirar os olhos dele) para pegar o controle, ele saiu cambaleando para onde estava o objeto. Fiquei tão feliz que gritei e acabei o assustando. Ele caiu de bunda no chão e começou a rir. chegou correndo e eu disse o que aconteceu. Ela o pegou o no colo e o encheu de beijos. Ah como eu queria que fosse comigo...
Kemp depois de umas semanas começou a andar e então se exibia, ainda se apoiando nas coisas. Era lindo ver um projeto meu tornando-se alguém de verdade.
Está bem, admito que depois que eles nasceram fiquei TOTALMENTE sentimental com qualquer coisa que viesse de um deles.
Maris tirou férias e começou a passar o dia todo filmando Kemp andar e fazer as besteiras que adorava. Ele tinha mania de pegar tudo o que via pela frente, jogar e depois achar a maior graça. A sorte é que ele não tinha força para pegar meu .
Dois meses depois de Kemp andar, Colby começou a querer imitá-lo e babava enquanto a observava.
e a escola? Bem, ela estava sem aulas até o final do ano e faria supletivo no próximo. Não que fosse difícil, ela sempre foi esperta, só não queria nada com a escola e muito menos queria estudar. Mas tinha total certeza de que ela não iria mais ser daquele jeito e não me arrependi.


Capítulo 24

Era Natal, uma das épocas que eu mais gostava em todo o ano. Resolvemos que iríamos fazer uma grande festa.
teve a ideia de alugar uma casa onde coubessem todos. Inclusive os nossos amigos e as famílias deles. Comemoraríamos antes, claro. Nunca iríamos achar um lugar tão grande que coubesse a família toda de cada um. Como foi em cima da hora, acabamos por ter que fazer a festa de Natal na minha casa mesmo, já que era grande o suficiente para nossos amigos, os pais deles, e nós.
Eu estava acabando de colocar a blusa, intercalando passar um braço e olhar Colby. Colby estava linda. Usava um vestido verde com listras laterais vermelhas e um laço tão pequeno, mas tão pequeno que era menor que minha unha, vermelho; nos pés calçava um sapato estranho também vermelho. Coisa da minha mãe, aposto.
Acabei de colocar minha roupa: calça jeans um pouco mais apertada, All Star verde musgo e blusa branca e passei perfume de leve. Peguei Colby no colo. Ela resolveu querer arrancar minha argola recém-furada no nariz. Ela ria enquanto tentava puxar e eu bronqueava. Aquela droga estava doendo bastante. Desci as escadas ainda lutando com ela, que ria alto e parei bobo ao ver a casa. Toda produzida com enfeites, botas na lareira, Papai Noel que dança em uma mesa, comidas típicas natalinas na grande mesa de jantar e uma música calma de natal ao fundo. Adentrei a sala e passei pela divisória encontrando acabando de colocar alguns enfeites na árvore. Ambas estavam lindas. A árvore era enfeitada com laços grandes prata, verde e vermelho. Tinha umas bolas penduradas também nas mesmas cores, Papai Noel, Mamãe Noel e cia em miniatura pendurados pelos galhos. Ela estava na ponta do pé quase caindo da cadeira tentando colocar a estrela dourada na ponta. Usava um vestido prateado e um bit loafer preto. Procurei por Kemp e não o vi. Eu ainda lutava com Colby então ela deu uma risada alta fazendo com que se desequilibrasse com o susto. Me adiantei para ajudá-la, mas ela se segurou na ponta da lareira, colocando a mão no peito.
- Meu Deus do céu, que susto. Poderia ter dito que estava aí, iria me prevenir da quase morte. - concordei com a cabeça e ela sorriu involuntariamente ao ver Colby. Me aproximei e ela a pegou no colo. Colby se maravilhou com o brilho de uma bola vermelha e tentou pegá-la. A bola ia de um lado para o outro e ela não conseguia segurar. Porém, não desistia. riu e beijou a cabeça dela. Colby se virou no colo dela, me olhando. me devolveu Colby voltando a seu objetivo: colocar a estrela no topo. Isso ficou tão... Não sei, frase de diva.
Minha mãe passou sorrindo boba ao ver Colby. A pegou no colo alegando que ia até o jardim. Concordei e voltei a olhar .
- Você quer ajuda? - ela me olhou e sorriu.
- Acho que não precisa, estou quase lá. - voltou a tentar colocar a estrela no topo. Se ela fosse 20 centímetros maior talvez desse certo mas acho que ninguém tinha tido coragem ainda para dizer aquilo para ela e eu não iria ser o primeiro. Não depois de ter dito que ela estava gêmea de uma montanha, meses atrás. Rolei os olhos não acreditando na cabeça dura dela.
- Está quase lá há horas. - me aproximei dela e me abaixei. - Vai, sobe. - ela me olhou indecisa. Meus ombros ou não? Eu sabia exatamente o que ela estava pensando e não a julgava por isso. - Não vou fazer nada, você sabe. Além disso, você é mãe dos meus filhos. - hesitou um pouco, mas subiu. Com uma mão segurei uma mão dela e a outra, pousei em seu joelho procurando segurá-la. Levantei aos poucos e me aproximei mais da árvore. Eu quase me fundia à árvore na verdade. Ela apertou minha mão, balançando-a procurando equilíbrio e segundos depois a afrouxou. - Pronto? Já conseguiu? - ela murmurou um "sim" baixo e me sentei no chão, perto do sofá. Vi sua perna esquerda passando na frente do meu rosto e me levantei.
- Obrigada. - confirmei com a cabeça e seguimos juntos até o jardim. Várias mesas estavam postas com panos prateados e pequenos detalhes natalinos. Kemp e Colby estavam dormindo em um pequeno colchão perto de Maris. Meu pai e minha mãe arrumavam os pratos, copos e talheres nas mesas. Russell estava na cozinha. Beijei minha mãe na testa e ela riu ajeitando minha blusa.
- Não precisamos de ajuda. Vai embora. - ela indicou com a cabeça. Todos sabiam que eu não tinha tentado nenhuma aproximação séria até então. Rolei os olhos para minha mãe e ela riu. Sentei encostado em uma árvore olhando o céu com algumas estrelas. O colchão das crianças estava perto de mim então não me preocupei em fechar os olhos por alguns instantes. Ouvia levemente a música que vinha de dentro de casa. Com certeza era algum CD de Natal do Mickey Mouse que Maris tinha arranjado com a vizinha. Minha vizinha do lado esquerdo que tinha um bebê e minha mãe deveria ter dito para Maris. Porque do lado direito tinha a casa de . .
Eu até então não tinha parado para pensar em como seria nossa noite. Quer dizer, os pais dos nossos amigos ainda achavam que éramos más influências, mas não iriam deixar de ir até lá porque o convite foi feito cordialmente por todos nós. Era a oportunidade perfeita para mostrarmos que não éramos quem eles achavam. Eu tinha que me mostrar um cara sério, maduro, não o adolescente que iria ver os pais dos meus amigos e dizer “E aí, senhora tal, beleza?”. Não, não, não mesmo. Fiquei remoendo o assunto por tanto tempo que nem reparei uma alma do meu lado. mantinha os olhos fechados, mas de vez em quando abria um para ver os gêmeos. Me encostei nela para avisar que eu estava de olho e ela finalmente ficou sem os abrir por um bom tempo.
Eu deveria tentar me aproximar de , já estava mais do que na hora. Dei um grande tempo para ela me desculpar para si mesma e eu estava pronto para pedir desculpas. Só não tive a oportunidade ainda. Suspirei sem nem pensar em quais palavras usar porque eu sempre soube que mesmo as procurando, sairiam as que eu nunca pensaria em falar, então... Que se danem as palavras.
- . - ela abriu os olhos e me olhou. - Tem como nos tratarmos normalmente pelo menos por hoje? - ela me olhou confusa. - É que não temos sidos os mesmos desde que brigamos e eu me sinto horrível.
- Eu também me sinto assim.
- Então, só por hoje, tem como sermos como éramos antes? Eu sinto tanta falta de quando eu te via ficar enfezada com as cantadas do , de quando eu falava alguma besteira e você me batia porque sabia que era para bater, mas sempre acabava rindo. Sinto falta principalmente de brigar com você para te pôr na linha porque você sempre escapole e ultrapassa os limites. Sinto falta de tomar conta de você. - me calei e ela fixou os olhos nos movimentos dos nossos pais a poucos metros na nossa frente.
- Tudo bem se não for só por hoje? Sinto falta de tudo isso e de mais uma coisa, de fazer algumas de propósito, só para ter a sua atenção toda para mim.
- Por favor. - a vi sorrir e passei devagar um braço pelos ombros dela. Ela se encolheu e encostou a cabeça no meu ombro. Eu podia não ter pedido para ela lembrar que éramos noivos e que eu poderia beijá-la de novo, mas sabia que aquele era o recomeço da minha reconquista.
Enquanto eu olhava Colby acordar e a respiração de Kemp se nivelar e desnivelar toda hora, esqueci totalmente que em poucos minutos nossos convidados chegariam. Colby me olhou e fez uns barulhos engraçados. Se equilibrou em Kemp e sentou. Sorri para ela a fazendo piscar. Ela tornou a fazer os barulhos estranhos e riu, pegando-a. Colocou-a sentada em seu colo e ela logo se alegrou com o brilho do meu piercing. tirou a mão dela enquanto chamava sua atenção e ela chorou. A peguei no colo colocando a cabeça dela no meu ombro e a olhou com compaixão.
- Desculpa, meu amor, mas não pode fazer isso e, se eu não te educar desde já, não sei como vai ser. - ela parou de chorar e vi Kemp se virar. o pegou e o deixou de pé na frente dela. Ele deu uns passinhos, animado, e ela sorriu. - Ah, minha coisa gostosa. - a vi morder de leve a barriga dele e ele se mexer todo. Ri dos dois e Colby se remexeu no meu colo. A virei para mim e ela ficou vidrada no brilho do piercing de novo. Ela segurou com os dedinhos pequenos cada lado das minhas narinas e fixou o olhar no meu nariz. Segundos depois ela se jogou para frente e mordeu meu nariz. Deixou a boca ali e eu ri baixo, chamando a atenção de . Ela também riu e pegou o celular, tirou uma foto e continuou rindo. Peguei-o da mão dela e a mandei sorrir. espremeu seu rosto com o de Kemp e eu tirei a foto. Colby me soltou já adorando o brilho do flash e tentou alcançar o celular. Passei-o para . - Vem mais para cá, quero tirar uma foto de nós quatro. Não temos nenhuma foto juntos. - concordei, feliz com as palavras e ideias dela e me ajeitei ficar mais perto. A vi sentar Kemp do meu lado e deixar o celular em um montinho maior no meio da grama. Apertou o timer, sentou rápido do meu lado e assim como eu com Colby, colocou Kemp em uma perna sua, fazendo os dois ficarem juntos. Passei um braço pela cintura dela e segundos depois recebemos o flash. E esse não tinha vindo da câmera da minha mãe.
A foto ficou um tanto quanto engraçada. Eu e saímos até que normais, apesar de achar que eu não era muito fotogênico e tinha saído com cara de idiota. Kemp na hora olhou para o meu piercing e Colby saiu babando um pouco, meio avoada. Não era a foto perfeita, muito pelo contrário, mas quer saber? Para mim, aquela era a foto mais linda que eu já tinha visto em toda a minha vida e com certeza teria uma cópia reduzida na minha carteira, seria meu plano de fundo do celular, do notebook e estaria na minha mesa de cabeceira.

Eram sete e meia da noite quando a campainha tocou. Me levantei ajudando a equilibrar Kemp no colo. Nos dirigimos até a porta. Encontramo-nos com e já na sala sentados no sofá. e até então não tinham visto os gêmeos já maiores. ficou animada e se juntou com o pobre do que teve que a aturar dizendo que os dois eram lindos e implorar para segurá-los. Concordamos e fomos até os pais dos dois, que nos olhavam meio sérios. Nos aproximamos deles e estendi a mão para o pai de e depois o de . Cumprimentei as mães dos dois e pedi para que eles se sentissem em casa e que se quisessem, já poderiam ir até o jardim. Eles obedeceram e foram, passando antes pelos dois com os meus filhos e brincando com eles. olhava meio abobada da mãe para Colby. ria de provavelmente algum barulho que Kemp havia feito, era a cara dele fazer aquilo. Abracei pelos ombros passando-lhe força. Ela também sabia que aquilo era meio que um "acerto de contas" entre as famílias; sabe, para deixar tudo na paz etc.
10 minutos depois os pais de e chegaram com eles. Eu já estava de prontidão na porta com . Fiz a mesma coisa que havia feito com os outros antes. Meu medo passou e logo os pais do casal 20 estavam se divertindo com os meus filhos.
20 minutos passados e eu estava nervoso, não chegava. Os pais dele eram os que eu mais temia. Todos estavam no jardim e eu estava com e na sala, cuidando dos pequenos. Colby segurava uma mão minha e dava alguns passos. Parava e se mexia no ritmo da música. Fiquei meio abobado e acho que cheguei a babar. Kemp andava por volta da mesa e as vezes esbarrava em Colby, que nem ligava e continuava a dobrar e esticar as pernas como se fosse pular. Kemp estava mais elétrico então não parava quieto e não parava de fazer barulhos que deixavam meio fora de si.
A campainha tocou sem nem eu ter ouvido. Sei que quando olhei para o relógio, eram oito e 40. Virei o olho para o lado e pude ver parado com uma cara de mau. Ele pegou Kemp no colo e ficou o encarando.
- Aí, cara, você está ficando bonito que nem o tio, hein. Tenho pena das paqueras. - eu ri não acreditando no que estava ouvindo. Ele sentou do meu lado e deixou Kemp no chão. - Desculpa a demora, pintou um probleminha, mas tudo nas ordens. - dei de ombros e ele olhou para Colby. - Ah, para que essa é ela mesmo. Vocês não trocaram de bebê, né? - deu um leve chute nele, se fingindo de ofendida. - Colby - na hora em que ele falou seu nome, ela virou, procurando de onde tinha vindo o som. Acho que estava começando a reconhecer que Colby era ela. - você vai dar muito trabalho. - ela virou para ele e sorriu. sorriu e esticou o dedo, indo em direção à bochecha e ela mordeu e fez os mesmos barulhos que Kemp fazia. Depois continuou dançando ao som de "Natal Animado do Mickey Mouse da Disney". Sério, minha mãe pirava de vez em sempre.
Os pais de apareceram uns dois minutos depois e os olhei meio sem ter o que falar. Levantei até a altura que dava, sem soltar a mão das de Colby e estiquei a livre para o pai dele.
- Boa noite, senhor . - ele apertou minha mão e fiz um esforço para cumprimentar a mãe dele. - Senhora . - ela deu um aceno de cabeça e vi se levantar. - Essa é . Mãe dos gêmeos. - apresentei-a para os dois. Não sabia se ela se sentiria confortável caso eu falasse que era minha noiva. levantou com Kemp no colo e quase o matei.
- Meu afilhado. - disse à mãe. Ela soltou um meio sorriso e o pai dele acariciou a cabeça de Kemp. Vi que o pai dele desviou o olhar até Colby e quando fui levantá-la para os dois poderem ver melhor, senhor fez um aceno com a mão.
- Deixe-a aí, parece estar se divertindo. - concordei meio sem graça. Colby iria odiar ser tirada de algo que estava gostando fazer e provavelmente choraria muito.
- Desculpe, ela é meio agitada. - os dois concordaram e seguiram até o jardim. , e apareceram. Ficamos todos na sala conversando, revezando quem ficava tomando conta dos gêmeos. Eu e estávamos sempre em alerta, mas as crianças revezavam com que ficavam.
Às oito e 50 fui até o jardim para falar com minha mãe. Me levantei e na mesma hora Colby, que estava no colo de , chorou ao me ver levantando. Suspirei e a peguei no colo. Ela tornou a segurar o meu nariz a fim de tirar o piercing dali. A sentei no meu braço direito e segurei suas costas com a mão esquerda. Passei com cuidado pela porta e encontrei minha mãe do outro lado do jardim. Atravessei o jardim com os olhares sobre mim e minha mãe sorriu ao me ver. Deu um beijo em mim e em Colby. Avisou que o jantar estava saindo então pude voltar à sala, já que a minha missão era exatamente descobrir que horas iria alimentar minhas lombrigas. Antes de voltar, vi que todos já estavam no jardim e me sentei do lado de . Na mesa redonda estávamos eu, , , , , e . Ajeitei Colby no meu colo depois de me servir e ela sentou a mão dentro do meu prato. Os demais riram alto e a olhei feio. Tirei as mãos dela da comida e ela começou a chorar. Me senti a pior pessoa do mundo mas não podia fazer nada.
- Colby, isso é feio. - ela continuou a chorar e dei um grão de arroz para ela. Ela se animou e colocou na boca. Não que eu pudesse ter feito isso, mas não tinha ninguém olhando mesmo então... Ela enxergou o brilho do colar de e gritou esticando as mãos até ele. sorriu e entregou o colar a ela, que o levou a boca. Ficou minutos com o colar de na boca, até cansar e resolver querer meu piercing de volta. Aquilo já estava passando do limite do cansativo.
Enquanto eu comia, a via brincar felizmente com o meu piercing. Quando descobriu que aquilo rodava, ficou horas se divertindo. Achei ótimo, já que ela ficou sem me dar muito trabalho. Doía um pouco, mas tudo pela felicidade instantânea da Colby.
- ! - ouvi gritar e apontar com os olhos arregalados para Kemp que meio corria meio cambaleava meio tentava se equilibrar pelo jardim. Levantei na hora empurrando a cadeira com a perna. Segurei Colby como dava e corri atrás de Kemp. vinha atrás de mim, rindo. Peguei-o e levantei-o no ar.
- Está se achando o esperto por aqui, é? - ele fez um barulho engraçado e eu ri. se apoiou em mim para pegar ar e riu. Pegou Kemp no colo e fez cócegas na barriga dele.
- Deixa de ser malandro, garoto. - ela me olhou engraçado e semicerrei os olhos para ela. - Nem vem, . Você sabe que ele é todo inteligente. Claro, puxou a mim. - ri alto nem mais lembrando do resto de gente que estava lá.
- Ah, ok. Por favor, né, . Você inteligente?! E meu pai é o Papa. - ela me deu um tapinha e eu deixei Colby no colo dela. - É toda sua. - a vi arregalar os olhos e ri pegando Colby de volta. - Vê se toma conta direito do seu filho, viu? Sua desnaturada. - recebi outro tapinha e eu estava achando ótimo, era o começo do meu recomeço. Nada podia dar errado, certo?
Absolutamente correto, senhor!


Capítulo 25

Quer apostar comigo que esse capítulo vai ser o mais emotivo de todos?
O segundo CD vendeu como água e quando fui checar, minha conta bancária estava umas dez mil vezes maior do que eu tinha visto da última vez. Era maravilhoso ganhar dinheiro com aquilo que eu fazia de melhor na vida.
Um dia cheguei no meu quarto (que eu não via havia um tempo) e tinha um papel dobrado com o meu nome em cima.

,
Cada dia percebo mais que não importa o quanto você viva, vai ter sempre alguém que vai te deixar no chinelo e te ensinar coisas que você não sabia que seriam tão valiosas. No meu caso, essa pessoa é você. Já deixou, na verdade.
Eu nunca teria nem metade da coragem e da confiança que você tem para encarar tudo isso.
Por favor, não faça eu me arrepender de ter ido àquela reunião de maneira alguma. Me prove mais um pouco que fiz a escolha certa.
Estou cada dia mais orgulhoso e espero que meus netos tenham esse mesmo sentimento e te levem como exemplo para o resto da vida.
Vou viajar à negócios para a Alemanha para me resolver com o cliente do SPA. Ainda não conseguimos criar nada para a nova campanha, mas volto em alguns dias.
Ps: Faça bom proveito


Olhei atrás da carta e tinha um papel junto com um clipe. Tirei o clipe e outros papéis caíram. Peguei um por um e fui olhando. O primeiro era uma viagem de uma semana pela Europa, de barco, para duas pessoas. O segundo papel tinha a nota fiscal de compra de uma cama de casal das boas. O terceiro papel era um tipo de vale. Era de uma loja de instrumentos irada do centro. Cara, sério, meu pai é foda. Foda não, mais que foda. Fala sério. Chorei depois de ler e não acreditei.

Com minha conta bombando, aproveitei e comprei uma casa. É porra, eu tinha dinheiro que sobrava para isso e estava mais do que feliz. Comprei então uma casa das simples mesmo, perto de tudo e principalmente de onde meus pais e os de moravam. Apesar de pequena, a casa tinha dois andares. No primeiro, ao entrar, à direita tinha um pequeno banheiro, à esquerda a sala, atrás da sala separada por uma parede, a cozinha, ao lado um quarto pequeno e na frente a escada para o segundo andar. Assim que subia a escada, logo em frente tinha uma suíte que dava para os fundos da casa e, em frente a ela, virado para a entrada, outra suíte. Tinha uma garagem que comportava dois carros e um jardim pequeno nos fundos. Os dois quartos de cima tinham varandas bem pequenas, mas boas para colocar mesa e cadeira.
A casa era toda branca. Os quartos, a cozinha, corredor e banheiro. Só a sala que não. A sala era num tom de azul escuro.
Não tinha contado a ninguém sobre a casa a não ser para o meu pai. No papel dizia que a cama havia sido entregue então provavelmente meu pai já tinha posto lá.
Mas a parte mais importante eu não tinha feito: contar à . Era cem por cento irresponsável da minha parte simplesmente investir em um imóvel sem antes saber se ela concordava com a ideia, se iria se sentir confortável e se queria. Por isso, fui até a casa dela com o rabo entre as pernas.
Assim que cheguei, ela estava no sofá da sala assistindo TV enquanto as crianças brincavam no chão.
- Posso falar com você rapidinho? - ela se virou com a expressão assustada e concordou.
- Mãe, fica de olho neles dois minutos, por favor? - disse da porta da cozinha e ouvi Maris concordando. Subimos até o quarto dela e fechei a porta. Continuei em pé pois estava nervoso. - O que aconteceu? Você agitado assim está me deixando preocupada. Fala de uma vez.
- Comprei uma casa. - ela abria e fechava a boca sem deixar nenhum som sair, o que acabou me deixando apreensivo com a resposta dela.
- Mas que casa? Onde? Como assim? Isso é sério? Para que?
- Comprei pra gente. - pela expressão em seu rosto, ela continuava sem entender nada e eu teria que melhorar o discurso, me explicar. - Eu sei que nós somos muito novos. Mas nós já temos uma família. E apesar de não termos voltado efetivamente, você continua sendo a pessoa com quem eu quero passar o resto da minha vida. - pude ver que ela foi se acalmando e isso me deu confiança para continuar. - Não gosto de ter que ficar vindo aqui para poder ver meus filhos, essa é a sua casa, dos seus pais, não me sinto confortável. Quero poder ter um lugar nosso, para a nossa família. Quero poder fazer as coisas sem me sentir esquisito. Sei que foi errado comprar sem conversar com você antes, mas eu só queria fazer uma surpresa, sei lá. Se formos esperar você se formar, trabalhar e juntar dinheiro para isso, vamos conseguir quando eles tiverem vinte anos. O segundo CD está vendendo bem, tive um lucro bom... - ela então se levantou e me deu um abraço.
- Guarda o discurso para minha mãe. Ela vai querer te matar quando descobrir que nós vamos nos mudar. - ela riu alto e eu a abracei beijando seu ombro.
A parte mais fácil já tinha ido. Faltava a mais difícil: avisar à Maris que seus dias de acordar com a casa cheia estavam contados.
Não queria demorar, então assim que meu pai voltou de viagem, juntei todos em um jantar e contei. Eles obviamente ficaram meio assustados, porém gostaram da ideia. Pedi para que minha mãe intercalasse com a dela para ficarem com a gente mais um pouco nos primeiros meses.
Acabamos por pegar os móveis que já tínhamos e até coisas que nossos pais deram para montar a casa. Então ficou:
Quarto no segundo andar virado para a entrada da casa, o nosso quarto: a cama de casal que meu pai comprou, o armário do quarto de , minha mesa de cabeceira, nossas próprias toalhas, o tapete preto do quarto dela, um mural de fotos que ficou perto da porta e as cortinas do meu quarto, que deixavam o ambiente mais escuro e eu só conseguia dormir no escuro de verdade.
Quarto no segundo andar virado para os fundos da casa, o dos gêmeos: os dois berços, armário do meu quarto, um gaveteiro com trocador em cima (presente da mãe dela), um tapete que minha mãe deu e só.
Quarto três, no primeiro andar, o quarto de hóspedes enquanto eles não crescessem: minha cama de solteiro, um armário que o pai dela comprou, a cabeceira dela e só.
Sala: Nossos pais se juntaram e compraram um conjunto de um sofá e duas poltronas. O sofá era bege, tinha três lugares e as duas poltronas eram iguais (muito boas por sinal), uma mesa de centro que comprou, um hack preto e a TV (comprei os dois). Meu pai me deu o DVD dele e a estante da sala de foi para a nossa. Colocamos DVD's e revistas lá dentro.
Cozinha: geladeira comprada pelo Russell, armários comprados por mim, mesa e cadeiras que já vieram com a casa (risos), talheres, pratos e copos doados pelas nossas mães, um fogão que já estava lá e uma máquina de lavar roupas que estava sobrando na minha casa.
É, nossa casa era uma mistura de nossas próprias casas. Não combinava tudo exatamente e perfeitamente bem. Porém, era nossa. E eu tinha o maior orgulho daquilo.
Minha mãe e a dela revezavam para ficar na nossa casa. Cada semana era uma.
Todos choraram no dia que nos mudamos oficialmente. Até eu. Cara, como eu estava ficando sentimental.

Deixei um espaço da sala vazio para ter certeza de que Kemp e Colby teriam um lugar seguro para brincar enquanto fazíamos outras coisas (sem o sentido ruim).
Um dia me deu a louca e saí com para comprar brinquedo e roupa para eles. Entramos no shopping depois de quase não pagar o taxista porque ele não aceitava cartão e partimos para tudo que era infantil.
Achei uma loja muito grande e foi nela mesmo que quase torrei todo o meu dinheiro. Mentira, mas gastei umas mil libras com brinquedos e roupas e eteceteras para eles.
Comprei tudo em dobro, lógico. Dois andadores, dois conjuntos de colheres com a cabeça mole, dois coçadores de dentes, um Buzz Lighteyer de pelúcia, uma Doris do Nemo de pelúcia, dois babadores, um roxo e um laranja, dois tapetes de atividades tamanho família, dois cobertores personalizados. O de Kemp era camuflado preto e verde e no meio tinha o nome dele bordado em branco. O de Colby era camuflado dourado e prata e tinha o nome dela no meio, em preto. De roupa, comprei para Colby: três vestidos, uma caixa com vários trecos para colocar no cabelo, alguns sapatos que eu achei que dariam nela e uma manta verde. Para Kemp comprei: quatro calças, sete blusas, alguns sapatos e uma chupeta de bola de futebol.
invejoso como sempre, também quis comprar algumas coisas. Comprou uma bola de futebol de pelúcia, dois travesseiros desses com memória, dois brinquedos que faziam barulhos de animais, um gato e uma arara de pelúcia, dois vestidos e duas blusas.
Ainda tive disposição e mão para comprar três caixas de chocolate e mandar embalar e passar em uma loja de camisolas e roupas finas.
Pegamos o maior táxi que tinha na porta do shopping e voltamos para casa, sem nos esquecer de antes passar na Starbucks, pedir muffins e cafés e ainda ser reconhecidos (o que nos fez demorar um pouco mais do que o esperado mas nada trágico), e finalmente entrarmos na minha casa. foi o primeiro amigo a pisar lá e se não fosse eu nem sei o que faria comigo.
Deixamos tudo na sala e vi um recado de dizendo que tinha ido até o mercado com a mãe.
Usei como ajudante só mais um pouco. Colocamos os tapetes fofos no chão, montamos os andadores, jogamos alguns brinquedos pela sala e as roupas deixamos nas sacolas, no quarto deles mesmo. Deixei uma caixa de chocolates na cama do quarto de hóspedes e outras duas na geladeira, embaladas também.
chegou não muito tempo depois de ter ido embora. Ainda era cedo, três e 40 da tarde. Ela entrou sem nem perceber nada e foi direto para a cozinha carregando Colby. Kemp entrou de mãos dadas com Maris, que sorriu para mim e olhou assustada para a sala. Me passou a mão de Kemp e as sacolas que carregava.
- Vou deixar vocês dois sozinhos por uns minutos, ok? Vou até em casa pegar umas roupas. - sorri e fui até a cozinha depois de trancar a porta. Deixei as sacolas na mesa sem falar com . Peguei Colby do colo dela e voltei a me sentar no sofá depois de deixar os dois nos novos tapetes. Ela parou na porta da cozinha e eu a olhei. Olhos arregalados e expressão... Impossível de ler. A vi sentar do meu lado e sorrir.
- Não precisava gastar todo o seu dinheiro com isso. - dei de ombros e parei de fingir que estava zapeando os canais, uma vez que eu não tinha assinado nenhuma TV a cabo ainda. Desliguei a TV e a olhei.
- Fiz porque eu quis. Eu gosto. Lá em cima tem mais. - ela negou com a cabeça e riu ajeitando o cabelo. - Sério, tem para você também. Dois embalados na geladeira e duas sacolas na cama. - a vi levantar uma sobrancelha e se dirigir à escada.
Uma das sacolas continha uma camisola de renda preta e na outra um vestido sem alças lilás, uma saia preta justa e duas blusas. Uma em decote V, vinho e outra de gola alta e mangas compridas, branca.
Eu só queria reconquistar o meu lugar e tentar ter a melhor vida possível sendo pai aos 16 sem ninguém se meter no meio para terminar com tudo, sem muito drama, sem tantas brigas. Era pedir demais? Não.
Ela desceu pulando todos os degraus e me abraçou forte. Como eu sentia falta daquilo. Retribuí e recebi um selinho. É, melhor que beijo no rosto, convenhamos.

Acordei ligado como se eu nunca estivesse estado tão cansado antes. Abri os olhos devagar e me espreguicei. Sentei de lado na cama e senti o chão frio. Era domingo. Olhei para o lado e dormia encolhida. Joguei mais coberta para ela, que se aconchegou mais sem nem acordar. Andei até o banheiro, lavei o rosto e escovei os dentes. Fui até o quarto ao lado e os dois dormiam tranquilamente. Olhei para o relógio digital, sete e 40 da manhã. Fiquei um tempo absorto em pensamentos enquanto olhava os dois e ouvi grunhidos baixos. Saí do transe e pude ver Colby acordando. Ela fez uns movimentos com a boca e logo depois bocejou. Me olhou e mexeu um pouco as pernas e os braços. A peguei no colo esperando um tempo para ter certeza de que Kemp iria continuar dormindo. 10 minutos depois de ficar passeando pelo quarto e olhado através da janela o tempo nublado, voltei ao quarto e peguei meu celular. Uma mensagem de às 1h37 a.m.

“Eles estão lindos. Meus pais ficaram de coração mole e jurei ter ouvido os dois conversando na cozinha sobre ter outro bebê e também posso jurar que ouvi gemidos enquanto passava pelo corredor minutos atrás, mas isso eu prefiro ignorar. Só consegui falar agora porque eles ainda estão meio assim com o assunto. Eles vão viajar semana que vem. Então, quando posso me agregar aí?”

Respondi um “Quando você quiser” e enviei. Colby se animou com o brilho da tela do celular e o pegou, pondo-o na boca. O celular ficou todo babado e ela parecia se divertir de verdade. Tudo bem, eu ia trocar de aparelho mesmo, já estava mais do que na hora.
Descemos até a cozinha. A coloquei em uma cadeira para bebês recém-comprada por Maris e a vi bater meu celular na mesa da cadeirinha. Abri a geladeira procurando algo para nós dois. Alcancei o suco de laranja e coloquei em um copo. Peguei uma das colheres de cabeça macia e abri o pote de papinha dela. No começo ela rejeitou porque viu meu suco e ficou maravilhada com a cor vibrante. Bebi tudo e depois escondi o copo para ela ter certeza de que não iria mais vê-lo. Coloquei o babador nela e a luz do celular brilhou. Ela o bateu na mesa e o tirei da mão dela. Ela chorou e eu fechei a porta da cozinha. Escondi o celular e fiz uns barulhos estranhos enquanto levava a colher até a boca dela. Colby esticou os braços e me aproximei mais. Ela pegou meu nariz e rodou o piercing. Aproveitei o momento de distração dela com a boca aberta e enfiei a colher. Ela a fechou ignorando totalmente a comida. Engoliu e abriu a boca de novo enquanto rodava pela décima vez meu piercing. Consegui fazê-la comer quase todo o mini pote. Guardei o resto na geladeira junto com o suco, lavei a colher e meu copo. Tirei o babador dela, limpei sua boca com o babador mesmo e o lavei. Ela permanecia quieta me olhando. Sequei as mãos e a peguei no colo de novo, levando-a até a sala.
Liguei a TV e passava uns clipes até que divertidos... Para crianças. A sentei no tapete dela e ela se alegrou ao ver a Doris e logo a pegou. Sentei no sofá e uns minutos depois ela chorou. Me sentei perto dela, encostado no sofá ouvindo a TV. A vi me ignorar totalmente e brincar com tudo o que era dela e de Kemp ao mesmo tempo. Não tinha ouvido Kemp ainda, então quando tive certeza de que ela não iria sair por aí abrindo a porta, corri o mais rápido que pude até o quarto deles. Kemp ainda dormia tranquilamente. Ouvi um choro vindo do andar de baixo e desci. Colby chorava agarrada à Doris. Sentei onde estava antes e assim que me viu, ela parou e voltou a me ignorar, brincando. Na boa, quem entende uma pessoa assim? Uma pessoa em formação, quer dizer. Quase o começo de uma. Enfim, continuei a olhando e ela me jogou a Doris. Joguei de volta e ela se animou jogando. Ficamos jogando a Doris um para o outro até que eu cansei.
- Vou na cozinha, não chora. - ela me olhou sem expressão alguma. Não que ela tivesse demonstrado alguma a não ser o choro até o momento, mas... Indiquei a cozinha com o dedo, ela olhou a cozinha e continuou a me olhar depois. Ok, até parece que ela ia me entender. Alcancei meu celular e apertei o botão para bloquear o teclado. Assim feito, apertei qualquer um e brilhou pedindo para apertar dois botões seguidos para desbloquear. Ela esticou os braços e entreguei o celular a ela. Saí para ir até a cozinha. Peguei o copo e o suco de novo e ouvia barulhos alegres vindo dela. Yeah, salvo pelo celular. Demorei um pouco e quando fui voltar, vi Colby em pé tentando se equilibrar se segurando no sofá. Fiquei esperando para ver no que dava e ela dançava ao som da TV. Ri alto sem querer e ela me olhou. Deu um, dois, três passos tortos e me aproximei. Me abaixei ficando de joelhos dobrados até que o inesperado aconteceu: ela falou.
OK, mentira. Falei isso para descontrair mesmo. Ela sorriu de verdade. É, pela primeira vez na vida ela deu um sorriso real. Um diferente dos que ela já tinha mostrado para nós, que pareciam mais involuntários do que realmente reais. E foi para mim. Sorri de volta e ela abriu mais o sorriso. Continuei com o sorriso vidrado no dela, vendo-a sorrir cada vez mais e ao mesmo tempo correr até mim. A segurei e ela logo já tinha jogado meu celular no chão e apertado meu piercing. Colby abriu a boca e a afastei de mim.
- Faz de novo. - até parece que ela ia entender o que eu disse, mas beleza. Esperei-a sorrir e acho que como não compreendeu nada, ela sorriu. Meu celular tocou e vi no visor. Ela ignorou o celular pela primeira vez desde que tinha o descoberto e atendi sem nem dar oi. - , ela sorriu! - ele riu do outro lado da linha provavelmente me achando um pai velho. Ri junto e Colby sorriu de novo. – Caralho, cara, ela está sorrindo. - me senti muito velho quando não ouvia mais o que falava e via Colby ficar embaçada. Desliguei o celular e a sentei no meu colo. Chorei mesmo, admito.
Ouvimos barulhos das escadas e descia com Kemp meio sonolento ainda. Colby a olhou, mas se voltou a mim, como se esperasse algum comando.
parou a uns metros e me olhou assustada. Antes que ela perguntasse o que havia acontecido, já me expliquei.
- A Colby sorriu. - ela abriu a boca não acreditando no que eu tinha dito e sentou do meu lado para ver. Colby pegou meu celular, abriu a boca e sorriu assim que o brilho apareceu. colocou as mãos no rosto e eu sabia que ela iria chorar também. Fala sério, tinha que ser minha filha.

Cheguei em casa em uma sexta feira meio cansado por causa do dia no estúdio. O meu lugar ainda não estava reconquistado, mas eu também não tinha tentado por causa da banda. Acho que nenhum dos dois ligou muito, já que estávamos ocupados demais com nossos gêmeos. estava sentada no sofá em frente à TV e chorava baixo. Ela nunca foi de chorar muito então me preocupei. Abaixei na frente dela e vi Kemp em seu colo arfando. Estava tentando entender o que se passava, mas minha cabeça estava mais na finalização no nosso terceiro CD do que naquilo. Esvaziei a mente e ela continuava chorando baixo, olhando para Kemp.
- Ele não consegue mamar. - eu não sabia o que fazer e tenho a certeza de que ela sabia disso. Afinal, não era eu que dava de mamar ao dois. - Meus mamilos doem. - se eu estivesse no meu pior estado teria achado que aquilo era um convite para fazer uma massagem e acabar no andar de cima; mas como sabia que se tratava de mais do que malícia, fui cauteloso e ignorei meus instintos animais e irracionais. Ela ajeitou Kemp no colo e o vi tentar sugar. Era mais do que óbvio que ela tinha leite, mas infelizmente Kemp não estava mais conseguindo sugar. - Não posso estar incapacitada. - outra coisa óbvia mas preferi deixar para mim. Ela já estava quase desistindo quando me veio uma luz.
- Posso? - indiquei Kemp com a cabeça e ela confirmou. - Licença. - sentei no sofá de frente para ela. Apertei Kemp fazendo-o ficar com o rosto bem colado nela. Com meu indicador e o dedo do meio, apertei um pouco em cima do bico do peito dela. Kemp sugou o leite que nem um bezerro que não recebia alimento desde que nasceu e ela sorriu. Passou o braço esquerdo pelo meu pescoço e me abraçou.
- Obrigada. - não sabia muito o que fazer então continuei com os dedos ali enquanto Kemp bebia tudo o que podia. Eu ainda não tinha pedido desculpas e os dois já estavam com quase um ano. Quase um ano ou mesmo um ano que eu não tocava nela direito. Ela costumava ser minha melhor amiga, não dava para continuar vivendo daquele jeito. A queria totalmente de volta para mim e eu sabia exatamente que aquele era o momento certo.
- . - a chamei e ela murmurou para me dizer que estava ouvindo, enquanto olhava meio apaixonada para Kemp. Fechou os olhos depois de ouvir o barulho da chuva lá fora. - Olha, eu realmente sinto muito por ter te tratado mal quando você estava grávida, não era a intenção. - ela continuou calada. Levantou os olhos lentamente, mas os fixou na parede. - Eu estava estressado. Achava que estava fazendo tudo e devia ter entendido o seu lado também. Você carregou os dois por meses e nem mandou eu me foder, então... Desculpa pelo atraso, mas só agora consegui achar o momento certo para pedir desculpas. - a ouvi rir baixo e fiquei feliz. Era um bom sinal e eu gostaria de receber bons sinais dela, para sempre.
- Já estava mais do que na hora.


Capítulo 26

Finalmente tínhamos saído da escola. O supletivo de foi um sucesso, meu diploma já estava em casa, a banda tinha shows marcados pela Inglaterra toda, começava a estudar jornalismo e eu não podia estar mais feliz.
Kemp foi o primeiro a falar uma palavra completa, sem ser essas coisas de "mama" e "papa". Foi uns meses depois de eles completarem um ano.
Estávamos na cozinha fazendo o almoço. Eu olhava o macarrão na panela, arrumava a mesa e colocava os gêmeos nas cadeiras altas. De repente, Kemp começou a gemer alto e o pegou no colo. Ele continuava a gemer alto e quando fui me aproximar para ver se conseguia descobrir o que era, me afastou.
- Deixa ele. - falou rápido sem tirar os olhos de Kemp. Olhei para sem entender nada e ela deu de ombros, indo até o armário pegar copos e os talheres que faltavam.
- . - o som meio embolado veio de trás de mim e me virei rápido tentando imaginar o que tinha acontecido com a voz do meu amigo.
Até que eu parei ao lado dele e me assustei. Aquela foi a primeira vez que presenciei chorando. Sério, ele chorou. Não consegui acreditar e gravei no celular. O momento foi... Indescritível.
- Ele falou ? - largou o garfo que segurava. - Kemp , você falou ? - ela repetia a pergunta sem acreditar no que tinha ouvido.
- Ele falou . - repeti meio para baixo, pois sempre achei que Kemp seria o primeiro a falar meu nome.
- Caralho, moleque, esse é o meu nome! - beijou o topo da cabeça do meu filho e sorriu largo. - Vai cara, tira uma foto. - me entregou o celular dele e se posicionou. - Quero ter guardado o momento que o filho de vocês disse O MEU NOME.
- Você é ridículo. - resmungou voltando a pegar o garfo. - E ridículo, Kemp, você consegue falar? - perguntou para ele, mesmo sabendo que não receberia reposta alguma. - Aprende, que aí você pode falar ridículo o quanto quiser.
- Fica magoadinha não, viu, minha linda? - debochou. - Ele vai aprender o seu também. Mas só depois de se cansar de falar o meu. - ele riu alto e jogou uma bolinha de guardanapo nele.
- SAÍ DO MEU ALMOÇO.
- Se eu sair ele vai junto. - eu estava parado ao lado de Colby só esperando o anúncio da terceira guerra mundial.
- Senta, come e fica de bico fechado.

Desde aquele dia, Kemp começou a parecer papagaio de pirata. Repetia tudo o que qualquer um dizia e achava a maior graça. Colby não falava nada, só fazia barulhos e gemia. Ficamos preocupados e a levamos a um médico que disse que era normal e que ela só falaria quando estivesse pronta e se sentisse à vontade.
Os dois já andavam melhor, mas de vez em quando precisavam de uma mãozinha.

O inesperado foi no dia em que eu assistia à TV junto com . Víamos o Behind The Scenes do E!, com Alice In Wonderland. foi à Lua e voltou e comentou que deveriam fazer 101 Dálmatas em 3D. Eu pirava só com a ideia de ver 101 cachorros correndo na minha frente. Já bastavam duas crianças em casa, obrigado. reclamou de sede e estava mais sedentária que a minha bisavó Chelsea. No momento em que levantei para ir na cozinha, foi o mesmo momento em que eu quase morri.
- ! - ouvi alto. Tomei um susto e me virei para , que me olhava assustada também. O timbre de voz dela tinha mudado ou era impressão minha?
- Nossa, você imitou os grunhidos da Colby direitinho. - me jogou uma almofada e ouvimos Colby rir. Ela estava abraçada à Doris.
- Não fui eu, idiota! - olhei para o meu pedaço em menina e fiquei sem o que falar. Ela riu de novo. Foi ela. Colby me gritou e muito alto. O mais alto que ela já tinha conseguido. Gritou o meu nome. Abri a boca embasbacado e riu alto. Sim, agora eu tinha certeza de que era ela.
Colby parou do meu lado e puxou fraco minha boxer. Levantou um braço e com o outro, segurava Doris e coçava o olho. A peguei no colo e vi parar do meu lado. Kemp já estava segurando uma mão dela.
- Parabéns, Colby! - ela beijou uma bochecha de Colby, que riu e se encolheu. Eu fiquei tão pasmo que não fiz nada mais do que ligar desesperado para o meu pai.

Depois de colocar os dois papagaios na cama, eu estava sentado na cama procurando algum site que enviasse novas cordas com urgência e entrou no quarto com cara de poucos amigos.
- Nós precisamos conversar. - meu coração gelou de leve mas a curiosidade era maior.
- O que aconteceu?
- Nossos filhos, . A sua banda. A sua fama. - eu não estava entendendo muito bem então bati do meu lado, esperando que ela se sentasse.
- Fala com calma o que te preocupa e vamos conversar. - ela concordou e sentou se encostando na cabeceira.
- Eu não quero que as suas fãs saibam que você é pai. - levantei uma sobrancelha não acreditando que ela tinha falado aquilo.
- Você percebe que isso é praticamente impossível? - falei com calma segurando uma mão dela. Eu queria entender até que ponto a minha crescente fama a incomodava.
- É, eu sei. - respondeu de cabeça baixa. - Na verdade o que eu quero dizer é que não quero que eles sejam reconhecidos. Entende? Não quero que existam fotos deles nas redes sociais, não quero ninguém nos julgando, não quero comentários maldosos... Agora que eles aprenderam a falar fica mais difícil. Criança não costuma ter filtro.
- Nunca pensei em como seria essa relação da minha vida pública junto com eles. Mas você está certa em ter esse cuidado. - encostei a cabeça na cabeceira e fiquei quieto por poucos segundos. - Vamos resolver isso agora? - a vi concordar um pouco mais aliviada e sorri. - OK. A imprensa sabe que nós temos gêmeos, vamos ter que começar a pensar a partir disso. E escondê-los fica difícil. Eu acho que tudo bem termos algumas fotos deles nas redes sociais. Também não podemos agir como se eles não existissem, é esquisito.
- Nada de rosto. - ela respondeu rápido. - Fotos sem mostrar o rosto. - entortei a cabeça pensando se eu achava aquilo muita loucura ou não. Pensei em quantos famosos faziam o mesmo.
- OK, sem rosto. Mas e quando sairmos com eles, qual a sua ideia?
- Lugares mais discretos. - abri a boca para argumentar contra, mas ela foi mais rápida e já continuou. - Não acho que eles devam ser privados de sair com você por aí só porque sempre vai ter alguém para fotografar. Só acho que enquanto pudermos deixá-los em locais discretos e seguros, essa é a melhor opção. Nós temos como pedir em creches ou colégios um contrato de sigilo.
- , você sabe que eu não sou integrante dos Rolling Stones, né? - disse baixo, tentando me manter calmo para que ela não ficasse nervosa.
- Eu estou pirando? - ela respondeu enquanto fazia uma curta massagem nas têmporas.
- Você só é cuidadosa. E eu concordo com algumas coisas. Mas isso tudo nós só vamos conseguir resolver com tempo e experiência. - a puxei para mais perto de mim e a abracei. - Vamos combinar assim, para começo, sem rostos expostos nas redes sociais. E podemos conversar na creche sobre não divulgar fotos ou coisas do tipo. Mas em algum momento alguém vai nos seguir e descobrir onde eles estudam.
- Podemos pedir para os nossos pais buscá-los.
- Essa é uma responsabilidade nossa. Mas você ficando sozinha com eles, acho que podemos conversar de ter alguma ajuda. Como fica nossa relação com locais públicos? Não vamos poder privar os dois de ir à pracinha ou ao shopping.
- Locais públicos são bons cheios, assim ninguém fica com a atenção só em você. Tem sempre outra coisa acontecendo.
- Hm, acho bom. - concordei sem saber se era realmente bom. - E quanto aos shows? E as turnês?
- Acho que por enquanto é melhor não, eles são muito pequenos. E quanto mais eles ficarem fora desse mundo, melhor vai ser. Porque se ninguém souber quem são, vai ser mais fácil de sair sozinha. As pessoas não vão lembrar quem eu sou. O público só lembra de quem cria polêmicas.
- Por hora estamos conversados, então. - disse me ajeitando. - Conforme eles forem crescendo nós vamos adaptando as regras. Pode ser? Isso te deixa mais tranquila? É mais confortável?
- Sim. - ela sorriu e deitou a cabeça no meu ombro. - Sei que vai ser difícil te privar de algumas coisas com seus filhos e me desculpa, mas é só pela segurança deles. Eu ainda não conheço esse seu mundo. Vai ficar mais fácil daqui um tempo, te prometo.
- Eu sei, confio em você. E acho que estamos tomando a decisão certa. - e aquela foi a primeira vez que eu me senti realmente adulto, realmente tomando decisões importantes, realmente me senti um pai de verdade.


Capítulo 27

Dois anos depois
Depois de meses trabalhando direto e finalmente pude ter umas mini férias. As vendas do terceiro CD estavam maravilhosas. O assédio tinha começado a piorar, as entrevistas estavam ficando cada vez mais quentes ou polêmicas e nós preferíamos não falar nada sobre nossas vidas pessoais. Ainda mais porque eu tinha filhos pequenos e iria finalmente ganhar um irmãozinho. Depois de 19 anos. Não dava para acreditar.
Eu estava com no quintal da casa dos meus pais ajudando-a a montar algumas mesas. Era aniversário dos pequenos. Eles estavam fazendo três anos. Colby não largava do meu pé desde sempre (como já deu para perceber, mas depois que ela começou a falar, piorou). Eu jurava que ela se lembrava de como conseguia as coisas quando bebê e me chantageava. Kemp corria de um lado para outro com um carro de controle remoto.
Depois de tudo pronto, fui verificar o bolo que estava dentro da geladeira. Maris o tirou de lá colocando-o em cima da mesa. Era todo de chocolate e tinha o nome dos dois no meio. Fui até a sala com Colby ao meu alcance. Kemp via Barney sentado quieto no grande sofá novo do meu pai e esperei o comercial. Assim que Barney saiu da tela, ele me olhou.
- Vou tomar banho, fica aqui sozinho? - ele concordou fazendo um aceno de escoteiro (que aprendeu no Barney) e sorriu. Sorri de volta bagunçando o cabelo dele e subi. A porta do meu quarto estava trancada. Bati duas vezes até ela ser aberta. Vi a cabeça de e entrei. Ela terminava de colocar a roupa e sentei no sofá antigo da sala que tinha migrado para o meu quarto. Colby tentou subir. Dei minha mão a ela e ajudei-a a sentar do meu lado, abraçada à Doris. - Posso tomar banho? - Colby me olhou confirmando. - Você já tomou o seu? - ela negou e eu suspirei. - , vamos tomar banho, ok?
Colby pulou e correu até a sua bolsa da Disney tirando de lá uma toalha azul com o Rajah (tigre da Jasmine) desenhado. É, decorei todos os personagens da Disney, pode acreditar. Liguei o chuveiro e Colby apareceu enrolada na toalha. Verifiquei a temperatura da água e abri mais a porta do box. Ela entrou e ficou em um canto brincando com alguns patos de borracha enquanto esperava a água esquentar um pouco mais. Saí do banheiro e encontrei tentando acertar o botão da blusa nas costas. Eu ri e recebi um olhar feio. Continuei rindo e a vi parar de costas para mim. Com facilidade fechei o botão e dei um tapa no quadril dela. Recebi um tapinha no peito e a abracei forte. Ela encostou a cabeça no meu ombro e ficamos quietos por uns instantes. Virei-a para mim e a beijei.
Mas não por muito tempo, uma vez que uns minutos depois ouvimos um gritinho:
- Pai! - colei nossas testas e ri enquanto ela fechava os olhos.
- Minha vida não podia ser melhor. - ela me deu um tapa na costela e um beliscão. Saiu do meu lado e foi até a porta, abrindo-a.
- Sorte que Kemp não dá tanto trabalho.
- Você podia uma vez na vida tomar conta dela, dar banho... Ia ser legal.
- Nem que eu quisesse ela me deixaria. Boa sorte, papai. - a safada piscou para mim e saiu rindo. Aposto que Kemp não dava trabalho nenhum mesmo.
Não que tivéssemos feito algum acordo do tipo: Você cuida dele e eu dela. Mas como Colby tem alguma ligação anormal comigo e enquanto eu estiver perto, só eu posso tocá-la, a parte de cuidar dela ficou comigo. Menos quando eu viajava, que ela sabia que eu ficaria fora por uns tempos e então no final do dia deixava por bem ou por mau. Ouvi outro gritinho e tirei a blusa sabendo que ia me molhar. Abri a porta do banheiro e Colby ainda brincava com os patinhos. Ela me viu e sorriu, continuando o que fazia antes. Abri a porta do box e ela me mostrou sua pequena mochila da Pequena Sereia, verde com escamas do lado. A abri e peguei um shampoo e um creme da Minnie. Colby foi até o chuveiro e se molhou. Voltou para a minha frente e passei o shampoo nela. Riu das bolhas e quando eu menos esperava (ou não), recebi um jato de água na cara e no peito. Colby riu alto e jurei ter ouvido a porta do quarto se abrir. Antes que eu pudesse passar o sabão nela, eu já estava praticamente todo molhado. Sorte que o short que eu estava vestindo era para usar em piscina. Dei de ombros e entrei também.
Colby se animou e me fez sentar perto do chuveiro. Subiu em uma perna minha e inclinou minha cabeça para trás, molhando-a. Pegou o shampoo rosa da Minnie e despejou na minha cabeça. Que bom, cheiro de morango no cabelo, era tudo o que eu precisava realmente. Mas tudo bem, tudo pela pequena Colby. Sem perder a rotina, ela girou meu piercing (que não contei, mas tive que fazer uma limpeza de canal nele já que infeccionou e eu não sei o porquê) e jogou o creme em mim. Legal, creme de morango. Animador. Pegou o sabão e o mesmo escorregou de sua mão. Ela riu e esfregou as mãos um pouco gordinhas e passou pelo meu peito. Depois me empurrou para a água e, bem, eu estava meio de banho tomado.
Sentei-a no meu colo e passei sabão nela, começando pelos pés e depois pelas pernas. Aproveitei e passei o creme nela. Desliguei o chuveiro e a enxuguei enquanto ela brincava com os patos. Ela pisou no tapete e a embrulhei em um roupão do Bob Esponja. Ela colocou o capuz e sentou no tapete ainda brincando com os patos. Fechei a porta do box e tornei a ligar a água. Precisava tomar banho da costela para baixo. Tirei o short e a boxer e dois minutos depois eu estava com a toalha enrolada na cintura, com Colby no colo, procurando alguma roupa para mim.
Vesti uma das minhas famosas calças mais apertadas, uma blusa branca lisa e uma quadriculada preto com verde por cima. No pé o All Star preto. Colby mexia na mochila incansavelmente. Sentei no sofá esperando-a escolher a própria roupa e ela me veio com um vestido que se não me engano, era igual ao da Alice. A vesti e coloquei uns sapatos pretos nos pés dela. Ela me deu o pente e quando eu mau tinha acabado de pentear o cabelo dela, o pente tinha sido roubado da minha mão e ela me penteava. A vida com Colby era desse jeito, simples assim.
Só então fui perceber uma coisa que minha mãe havia comentado tempos atrás; ela agia do mesmo jeito que eu quando criança. Ela era minha cópia perfeita. Minha versão feminina. Desde então eu soube que Colby era eu, em outra pessoa.
E quer saber? Eu me orgulhava imensamente.


Capítulo 28

- , você tem certeza? Olha lá, isso é permanente. - minha mãe me enchia o saco mais uma vez naquele dia. Não ia ser a última vez e eu sabia. Tudo bem, era para sempre mas e daí? Primeiro que o corpo é meu, sem querer fazer birra. E depois que era como meus filhos, uma coisa permanente.
Não quero me gabar, mas já me gabando, meus filhos sempre foram muito inteligentes. Também, com os pais que têm, fica difícil ser burro... Começamos a tentar ensiná-los a escrever os próprios nomes. Quer dizer, eu tinha um motivo para isso, mas não contei à ninguém, nem à . Ela concordou com a ideia porque disse que era bom estimular o cérebro desde sempre.
- Preciso da mão deles. - James, o menino da loja colocou aquela almofada preta que sai tinta, gigante, aquele carimbo bizarro, na minha frente. Primeiro peguei Kemp e estiquei a mão esquerda dele. Ele achou divertido então forçou a mão, junto com a minha que já fazia força contra a dele. Ele tirou e a carimbou em um papel. Perfeito, sem nenhum traço faltando, nenhum erro. O sentei no balcão e minha mãe o limpou a contragosto. Colby sentou no meu colo e fez o mesmo, mas com a mão direita. Perfeito também. Minha mãe tirou novamente a tinta dela e Kemp voltou a sentar no meu colo. Pegou outro papel e escreveu o nome dele com uma certa dificuldade. Colby o imitou e logo os dois saíram com minha mãe para passear no shopping. Mas antes de ir, ela negou com a cabeça olhando para mim e eu ri, mandando-a embora. Tirei outro papel do bolso e entreguei à James, que sorriu.
- Esse também? - confirmei.
- É a boca da minha noiva.
- Que coragem. Acho isso irado, sabia? Demonstra o quanto você gosta dessas pessoas... Senta ali. - ele me indicou uma cadeira enquanto pegava os papeis e entregava a um outro homem. - E aí, da onde vem as ideias para essas tatuagens...?
Comecei a contar sobre desde quando engravidei , até onde estávamos no momento e juro que me senti em um daqueles episódios de Miami Ink, que enquanto o cara te tatua você tem que ficar contando a sua vida e o por quê daquela tatuagem.

Saí do carro de minha mãe e desci com Colby e Kemp. Colby corria e Kemp segurava minha mão. Abri a porta e cheguei em casa já sentindo o cheiro de macarrão quatro queijos no ar. Kemp soltou a minha mão e correu para a TV sendo seguido por Colby.
Adentrei a cozinha depois de ter certeza de que os dois estavam bem e a porta estava devidamente trancada e cozinhava de short curto e blusa do Bob Esponja. A abracei por trás ainda sentindo dores e ela se virou sorrindo.
Horas depois de termos comido e os devidos filhotes estarem dormindo, a puxei pela mão para fora da cozinha.
- Tenho uma surpresa para você. - ela sorriu maliciosa. - E não é roupa. - ela rolou os olhos e me seguiu. Assim que cheguei no quarto fechei a porta e a prensei. Começamos a nos beijar como se não fizéssemos aquilo há anos. O que começou com um simples beijo animado se tornava mais quente a cada toque e assim que ela tirou minha blusa, se afastou na mesma hora e colocou as mãos no rosto.
- , o que é isso? - apontou para o meu peito onde haviam dois papeis transparentes. Ela se aproximou e tirou devagar os papeis para ver melhor. No meu peito esquerdo tinha a mão direita de Colby e Colby escrito embaixo. No lado direito tinha a mão esquerda de Kemp e Kemp escrito embaixo. Ela arregalou os olhos e ficou estática.
- Eles que escreveram. - sorri orgulhoso das minhas crias. - Está ardendo um pouco, mas daqui a pouco passa. - ela ainda não tinha falado nada então achei que tinha feito merda e que minha mãe estava certa. Quer dizer, merda não porque eu queria tatuar aquilo, e iria, independente de se gostassem ou não. Foda-se o mundo. Mas ela não parecia ter aprovado. - Não gostou?
- Pelo contrário, eu amei. É a coisa mais linda que eu já vi. - sorri e a abracei de leve porque, bem, a tatuagem só tinha algumas horas. Coloquei os papéis de volta e virei, mostrando para ela outro papel, mas dessa vez no encontro da minha nuca com meu pescoço, do lado direito. Ela deu um grito. - , o que você fez?
- Tira, ué. - ela obedeceu. Esperei uns segundos para ouvir a reação, mas não tive resposta. Me virei e ela me olhou meio brava.
- Que diabos é isso?! - rolei os olhos e ri. Recebi um tapa forte no braço e continuei rindo.
- Não acredito que você não reconhece. - ela semi cerrou os olhos para mim e a beijei. Ela me empurrou. - Não te diz nada? - ela negou. - , pelo amor de Deus, olha bem. - me virei de novo e esperei. Voltei a olhá-la. - É a sua boca!
Ela sorriu sem graça e escondeu o rosto no meu peito, na parte onde não havia tatuagem nem papel.
A boca estava tatuada exatamente no lugar que ela sempre beijava.
- Por que tatuou a minha boca?
- É a parte menos obscena de todo o seu corpo que eu mais amo. - eu ia tatuar os olhos mas convenhamos que ficaria muito estranho e nada melhor do que a boca, certo?
Quase...
Não preciso nem comentar onde terminamos a noite, né?
OK, eu admito, foi na cozinha comendo sorvete e depois fomos assistir Grease.
Hm, ok, não.


Capítulo 29

Era meu aniversário e iríamos comemorar de dois jeitos. No primeiro, iríamos comer fora com as crianças. Depois deixaríamos os dois na casa de Maris e Russell para eles serem felizes mais uma vez na vida e comemoraríamos em um restaurante. Partiríamos para uma boate fechada logo depois e, bem, nossa casa. Nossa sala, nossa cama, nossa cozinha e afins. É, a noite seria longa.
Como prometido, fomos comer em um restaurante onde servissem pratos infantis. Joe & Leo's foi a grande opção para o cardápio do almoço. De barriga cheia, passeamos pelo shopping e me fez comprar blusas e mais blusas e mais gravatas que ela fez questão de pagar... Com o meu cartão já que não trabalhava ainda. Mas tudo bem, tudo pela .
Era meu aniversário, mas quem manda ter filho? E ainda por cima dois? Minha conta no carro, na ida para casa da vovó:
Dois sorvetes com M&M's coloridos, Poney roxo da coleção My Little Poney Baby, as Tartarugas Ninja em tamanho quase real, uma Barbie Califórnia feia que dói, um Scarpin vinho (hum), babador da Disney, balão da Hannah Montana, carrinho de controle remoto, gol para colocar no jardim e um remédio para dor de cabeça. Esse último foi para mim, admito. Mas só por causa das fãs que me reconheceram. Em boa hora se posso dizer, já que nenhuma viu Colby nem Kemp, que estavam puxando para todos os cantos de uma loja de brinquedos.
Maris sorriu boba com os dois pivetes entrando na casa dela e eles fizeram questão de levar tudo o que haviam comprado. Maris foi à Lua e voltou em segundos e nos despedimos dela.

Já de barriga cheia de novo e depois de mais algumas fotos, autógrafos, olhadas indecentes e tapas recebidos da parte de , fomos à boate exclusivamente fechada para minha pessoa. Eu usava calça jeans, All Star e blusa preta. usava um tênis novo e um vestido preto tomara que caia quase caindo que não me agradou muito quando saímos do carro. De presente me dei um carro novo e ele era foda. É, super foda. Um Audi Q5 preto fosco. É, fosco porque é a cor dos manos legais. Fosco porque me agrada mais e a tinta dura mais. Badass.
Como não pude comprar uma casa foda porque não deixou alegando que a nossa estava de bom tamanho, tive que me reprimir e gastar meu dinheiro com algo mais foda. Como estava fazendo 19 anos, achei do rock comprar um carro foda então...
Entramos na boate e pude ver os meus comparsas de crime musical à minha espera já, alegres espalhados pelo camarote. segurava enquanto ele se divertia se fingindo de bêbado. voltava do bar com duas coisas laranjas neon e entregava uma à (que por sinal havia mudado muito; ela começou a ser muito legal e prestativa depois que os gêmeos nasceram). estava sozinho. Ou ele tinha terminado o namoro que mais durou na vida dele ou... Ele estava querendo esconder o jogo. Era sempre assim, nunca mostrou com quem saía por puro... Ciúme. Vai entender.
Assim que subi a escada, pude ver logo de cara que a acústica ali era bem melhor que o resto da boate. Pelo menos dava para conversar caso eu quisesse.
- Um drink pelos seus pensamentos. - disse encostando em assim que vi voltar para o bar e ir atrás.
- Estou decidindo se estou bêbada o suficiente para estar criando coisas na minha cabeça ou se ainda estou bem, mas o não. - ela apontou com o copo na mão para algum lugar mais à frente. estava plantando bananeira se apoiando na parede e tentava rebolar ao mesmo tempo.
- Tenho certeza que estou sóbrio e é por isso que vou aproveitar e gravar essa cena, pois em algum aniversário dele vou poder postar esse vídeo com uma legenda sentimental. - me encarou como se eu tivesse contado que tinha descoberto a cura do câncer.
- Gênio. - ela riu enquanto tirava o celular de dentro da bolsa e me imitava.
- está perguntando se algum de vocês... - falou vindo na minha direção, mas assim que olhou para onde nós filmávamos, parou na hora e cruzou os braços. - Não sei de quem eu tenho mais pena. - disse olhando para que seguia na função rebolar de ponta cabeça e que decidia entre segurar o drink ou uma perna de .
- Ele está sóbrio. - respondeu rápido.
- Essa é a preocupação. - rebateu tão rápido quanto e nós rimos alto. Se não existisse, teria que ser inventado. - Eu amo o meu grupo.
- O que queria saber? - falei um pouco mais alto perto do ouvido de .
- Na verdade, eu quero perguntar se posso beber. - disse mexendo no cabelo.
- Você pode fazer o que quiser. - dei de ombros sem entender por qual motivo ela estava perguntado. - Menos vomitar nessa camisa, ela é muito bonita pra isso.
- É porque você veio de carro. - continuei sem entender, então levantei as mãos para que ela visse minha dúvida. - É seu aniversário. Se você for beber, eu não posso. Alguém tem que voltar dirigindo.
- Vai ser feliz, eu não ligo pra isso. - segurei a cabeça dela com a mão e beijei sua testa.
- Tem certeza? É seu dia, você pode querer fazer algo diferente. - concordei sem me prolongar. - TOM, PEGA O MESMO PARA MIM POR FAVOR! - ela então gritou se virando.

Já depois de todos meio bêbados, falando nada com nada, depois de eu ter me segurado muito para não trazer o terceiro ao mundo muitas vezes, pedi para ir embora porque não aguentava mais. Eu no auge dos meus 19 anos, me segurando para não fazer a mesma coisa que fiz quando tinha 16. E não pense que foi fácil porque não foi. Tanto segurar quanto ter gêmeos em casa. A gente conta amenizando, mas vai ter um para você ver e depois pensa em dois. E de primeira viagem, pior ainda.
Eu era o único realmente sóbrio por ali. e estavam sem noção alguma do que era real e do que era invenção deles. tinha tomado apenas um drink, estava tentando parar de beber então estava quase que sóbria junto comigo. estava há duas horas tomando litros de água para ver se ajudava a não ser pega por policiais. estava mamadão.
Decidimos nos dividir em dois carros. iria dirigindo o carro de levando ele e , eu levaria até a casa dele no meu carro e se sentia bem o suficiente para burlar as leis do país e ir para casa com seu namorado.
Segui até a casa de . Ela deixou os dois na sala e depois fechou a porta. Veio correndo e entrou no meu carro para levarmos .
- Você precisa ir no estúdio qualquer dia desses. - disse alto se ajeitando e olhando para trás.
- Digo isso para ela toda semana. - rolei os olhos. Talvez se outra pessoa pedisse, apareceria para acompanhar o desenvolvimento do novo disco.
- O novo álbum tá ficando do caralho. - ele continuou. - Estou muito animado! Estamos conseguindo colocar nossa própria identidade em um cd, sabe? Finalmente. Estava um pouco cansado de atender só aos desejos do público. Esse agora está com a nossa cara.
- Sua felicidade é a minha. - ela respondeu puxando o nariz dele.
- Não ouvi você dizendo que vai lá essa semana.
- Vou tentar. Não prometo nada. - bufou e nós rimos. Poucos minutos depois chegamos à casa dele. Os pais de ainda nos achavam um pouco más influências, então evitávamos ir até lá. - Não esquece que amanhã você tem um compromisso com o meu filho. Você me prometeu.
- Mais certo eu nesse compromisso do que no meu próprio casamento. Deixa comigo que está tudo certo. - ele abriu a porta e saiu do carro. passou para o banco da frente enquanto acenava para ele.
havia tocado em um ponto esquecido da minha vida. Só então fui pensar no meu casamento de verdade. Estava noivo há cinco anos e nem lembrava disso. Também, com a vida corrida ficava difícil. Meu tempo com era reduzido a cada ano então acho que nenhum dos dois realmente lembrou alguma vez.

Entrei em casa depois de e fechei a porta. Joguei as chaves no criado mudo depois de trancá-la e afrouxei um pouco o cinto da cintura. tirou um tênis e quando foi tirar o segundo, seu cabelo voou e jurei ter visto um borrão verde e preto nas costas dela. Coloquei uma mão em seu ombro. Ela se virou e me olhou esperando que eu falasse alguma coisa.
- O que é isso borrado no meio das suas costas? - ela me olhou confusa enquanto tentava tirar o vestido. - Juro que tem um negócio borrado aí . - ela riu alto e prendeu o cabelo deixando um fio sem querer meio para fora, na metade do caminho. Se virou de costas para mim. E então pude ver. Um pouco abaixo da nuca, no encontro das "asas". Eu não podia acreditar. De que buraco ela tinha tirado aquilo?
Era uma tatuagem. Mas não uma tatuagem comum, era um dragão todo mal desenhado verde e preto e embaixo tinha escrito mais mal escrito ainda "Para sempre". Lembrei na hora que aquele foi o primeiro desenho (desenho mesmo) que eu fiz para ela. Que ela disse que mais amou na vida toda e iria guardar para sempre. Foi de aniversário.
Sorri grande ainda analisando aquele dragão e depois de alguns segundos comecei a rir.
- Nós combinamos de não fazer tatuagem para o outro. - a virei para mim e ela levatou a sobrancelha enquanto apontava o meu pescoço. Ah, é. Claro. Ela não perderia a oportunidade de jogar na minha cara aquela boca...
- Feliz aniversário, . - a beijei muito feliz mesmo. Aquela era uma das coisas mais legais que já tinham feito por mim, depois de meu pai assinar o contrato de que eu poderia viajar o mundo com a minha banda, se ela desse certo.
- Te amo imenso.

Depois disso não foi nada muito especial, acabamos na mesa da cozinha. Depois de algumas horas acabamos ficando pelo sofá mesmo e repetindo a dose. Quando o sol nasceu no dia seguinte, não vou mentir, decidimos nos mudar para a nossa cama e aproveitar o resto das horas sozinhos e, bem, todos sabemos onde isso terminou.


Capítulo 30

Um ano depois
Meus prodígios estavam cada dia mais lindos e mais prodígios. Aos quatro anos, eram os únicos junto com uma outra menina da turma deles, que já sabiam escrever e toda vez que eu tirava a blusa, me orgulhava daquilo.
Era louco durante esses três anos ninguém ainda tivesse descoberto quem realmente eram meus filhos. Devo isso ao nosso gerente de carreira e ao nosso empresário. Nós conseguíamos ter uma boa privacidade. E também a mim, por ser um cara desinteressante. Quando estava na cidade quase não saída de casa mesmo...
Minha rotina em shows era: avião, hotel, ligar para casa, lugar do show, passar o som, comer, ensaiar, falar com a Colby quando ela insistia em ligar, show, camarim, se rolasse, algum lugar legal ou iria direto para o hotel, banho, ligar para casa e dormir.
Minha rotina em casa: acordar, tomar banho, comer, pegar os pentelhos na escola, pegar no trabalho (nem sempre), sair para almoçar com eles, atender à ligações, fingir que eles não existiam quando havia alguma fã por perto deixando-os com a babá, voltar para casa, brincar com eles, resolver coisas no estúdio, voltar para casa e dormir. E quando tinha sorte, pegava chegando do trabalho (ela estava trabalhando na redação de um jornal local) e conseguia algum momento de prazer. Literalmente.

Com a rotina corrida, meu relacionamento começou a esfriar. Era difícil ter 20 anos, uma carreira maneira e não conseguir curtir algumas coisas que meus amigos curtiam, por conta das crianças. Era complicado manter um relacionamento meio à distância. Não que eu olhasse qualquer uma na rua e tivesse vontade de sair com ela, mas eu como qualquer outro ser humano tinha meus desejos, certo? E eu precisava ser sincero.
Sempre amei e vou continuar amando, mas nós dois sabíamos que precisávamos de alguma coisa para apimentar a relação que estava caindo cada dia mais e mais rápido numa rotina chata. Esperamos até que ela tivesse agenda e resolvemos tirar mini férias. Iríamos para o Caribe.
Não deu certo. Tive umas entrevistas e photoshoots fora do planejamento. Houve um problema no estúdio, um fio deu curto circuito.
Em um outro momento, tentamos aproveitar um feriado para poder ir à Dublin. Um dia antes da viagem umas fãs invadiram a casa de e deu a maior confusão. Não pudemos embarcar pois nosso agente insistiu que montássemos um plano de segurança.
Numa terceira tentativa, iríamos para Itália comemorar o dia dos namorados, coisa pequena, três dias. As crianças ficaram doentes. Ao mesmo tempo.
Sempre que tentávamos alguma coisa, existia um problema para atrapalhar. Começamos a ficar irritados que só existiam problemas, nenhuma solução. E o peso dos problemas pessoais de cada um somou para que não tivéssemos paciência para novos planejamentos. Acabou que no meio de uma briga, eu como sempre falei o que não devia quando disse que ela podia muito bem dar conta do trabalho, das crianças e de mim quando chegasse fodido depois de uma viagem cansativa e deu merda. Machistão, eu sei. Eu estava de cabeça quente e só falo merda de cabeça quente.
Não chegamos a terminar em definitivo, mas demos um tempo. Até porque meses antes estávamos começando a tentar ver alguma coisa para o casamento, mas adivinhe: nada saída do lugar. Eu que toquei no assunto.

Não fui chutado de casa, mas me mudei para o quarto que costumava ser o de hóspedes por pura vontade. E acho que se não tivesse feito isso teria sido chutado para o quarto do andar de baixo do mesmo jeito.


Capítulo 31

Nada de uau a minha vida, era a mesma de sempre.
Eu brigado com a única mulher que eu gostava de verdade no mundo, shows aos montes, meus filhos crescendo e eu me sentindo velho mesmo tendo 20 anos... Na verdade a vida mudou, deu uma abalada sim. Quando uma coisa que ninguém nunca esperaria na vida, aconteceu. Não desejo o que passei para ninguém no mundo. Nem para a pessoa que o fez.

Eu almoçava com , e em um restaurante perto de onde estava com as crianças. Nem eu nem ela sabíamos onde o outro estava. Liguei para o celular dela enquanto esperava o garçom trazer meu suco. Em casa ninguém respondia.
- Oi, . - ela atendeu sem muita emoção.
- Oi. Cheguei agora pouco, onde vocês estão?
- Na Ice Cream Pop. Colby insistiu em um sorvete de baunilha. - Ice Cream Pop era uma sorveteria conhecida. E como obra do destino, era do outro lado da rua então da janela do restaurante eu conseguia ver o fluxo de pessoas na porta do outro estabelecimento.
Chamei com o cotovelo e indiquei a sorveteria. Ele sorriu e concordou.
Em poucos segundos eles apareceram no meu campo de visão. Rose (a babá) carregava a mochila brilhante da pequena sereia e segurava uma mão de Colby, ajudando-a com o sorvete. ajeitava a bolsa enquanto falava comigo ao telefone. Ela estava com Kemp (que se sujava todo) em um braço. Um pouco atrapalhada.
Foi quando tudo aconteceu muito rápido e eu vi de relance. Enquanto eu ia responder que estava basicamente na frente deles, foi passar Kemp para o colo de Rose e quando Kemp estava entre as duas, no ar, uma pessoa com um macacão, boina e óculos pretos passou correndo e o pegou. gritou e não acho que foi porque eu estava no telefone no ouvido que fiquei quase surdo. Ela gritou tão alto e tão agudo que todos do restaurante ouviram também. Todos se levantaram no susto para ver o que tinha acontecido. Levantei direto sem pensar em nada e joguei minha cadeira em cima de . Corri desesperado pela rua atrás da pessoa, assim como e Rose faziam. Rose carregava Colby no colo.
- ROSE, ENTRA EM QUALQUER LUGAR E ME ESPERA. - mandou e depois continuou corrento enquanto gritava feito uma louca de um lado da rua.
Eu? Eu gritava e corria do outro. Até que ouvi um motor alto e segundos depois vi o carro de do meu lado. Indiquei a pessoa que corria com Kemp com a cabeça e a ele seguiu. Atravessei a rua quase sendo atropelado. apareceu me dando um susto também. Eu estava virando a rua quando um carro parou um pouco na frente de Rose e abriu a porta. Ele desceu pegando Colby no colo. Vale lembrar que quase morri do coração de novo, porque como nunca tinha visto o carro dele, fiquei nervoso achando que já era outro sequestro. Mas como Rose já conhecia , fiquei menos preocupado.
Continuei correndo pela rua até que ele desacelerou perto de mim, destrancou a porta e eu entrei no carona. Colby chorava alto no banco de trás. Tentei esticar minha mão para que ela pegasse e se sentisse mais segura, mas não adiantou de muita coisa. àquela altura já tinha tirado os sapatos e estava correndo descalça, segurando a bolsa. Chegando perto do sequestrador e com mais à nossa frente, desacelerou de novo e eu fiz uma das coisas mais burras, porém heroicas, da minha vida: abri a porta me jogando para fora para tentar agarrar a pessoa. É pulei mesmo. Coisa de gente sem noção, mas pulei, foda-se. É meu filho. A pessoa se desviou e entrou em um carro roxo e disparou. continuou furioso indo atrás e eu rezava em plena rua para que ele conseguisse fazer alguma coisa, uma vez que eu tinha acabado de assinar meu atestado de inválido. Meu braço doeu por inteiro e vi pular por cima de mim e então parar. Duvidava que se ela não tivesse o feito, cairia em cima de mim. E aposto que ela pensou o mesmo.
Ouvi alto os freios de e continuei deitado no chão. Ele pulou do carro e se abaixou do meu lado. tremia e parecia que iria ter um piripaque.
- Você tem merda na cabeça, seu merda? - sempre muito educado, como estamos acostumados. - Você podia ter se quebrado todo, sabia? - ele me ajudou a levantar a cabeça e o olhei meio sem foco.
- VOCÊ ANOTOU A PLACA? LIGA PRA POLÍCIA.
- O está com o , eles devem conseguir pedir ajuda. Agora levanta daí.
- Só devo ter quebrado um dedo. - resmunguei. me esticou a mão e eu a peguei. Quando fui levantar, quase desmaiei de dor. Dei um grito e gritou de volta, em choque. Ela remexia a bolsa de um jeito desesperado. - Porra, acho que quebrei o braço.
- Devia ter sido a cara para deixar de ser babaca. Entra aí. - ele abriu a porta do carro e me ajudou a levantar com cuidado. Entrei com dificuldade no carona e vi que tentava se comunicar com . Ela chorava incontrolavelmente e sem avisar, saiu correndo pela rua deixando a bolsa no chão. Merda, merda, merda. entrou no carro com a bolsa dela e pisou fundo. - Ela não vai longe, a polícia é ali na próxima esquina. - me jogou o celular e pude ver que ele tinha filmado tudo desde o momento em que entrou no carro. E o principal: tinha gravado a placa. Gravou tudo e em alta qualidade. Ah, o que é a tecnologia.
Me endireitei no banco novamente para dar atenção à Colby enquanto não parávamos na delegacia.
Paramos na polícia, fizemos uma ficha de ocorrência, entregamos o celular de e sentei recebendo gelo de um policial caridoso. ainda estava sumida. Perguntamos e disseram que não tinham visto ninguém parecido com ela. Ela não teria um lugar para onde iria caso alguma coisa desse errado e isso começou a martelar na minha cabeça e a me preocupar.

Fui levado ao hospital e precisei passar por uma cirurgia de emergência no braço. Tiveram que me sedar porque eu não aceitava entrar na sala enquanto meu filho estava desaparecido. No fim, engessei e passaria dois meses com aquela merda. Como eu me odiava por ter quebrado o braço.
Os shows do McFly foram cancelados sem data prevista por causa do meu pequeno acidente. Isso porque depois do gesso eu teria que fazer fisioterapia. Foda-se tudo.
Acordei já no dia seguinte vendo meu braço esquerdo enrolado no gesso e levantei cagando para onde eu estava. Saí do quarto puxando a bolsa com soro e pude ver e Colby em uma sala reservada para crianças. Nem Rose nem estavam lá.
Colby me viu e correu do colo de , abraçando minha perna. Me abaixei e ela abraçou meu pescoço. tinha o olhar triste e brincava com um café nas mãos. Passei a mão no cabelo de Colby e levantei com dificuldade e dor. Uma mulher estranha veio correndo dizendo que o paciente do quarto cento e tanto tinha fugido. Pegaram uma ficha e viram que era eu. Me gritaram e eu, burro, respondi. Fomos todos até o quarto de novo e um médico veio conversar comigo. Depois de algumas horas tive alta.
- não conseguiu fazer nada. Ele tentou dar fechadas, buzinar, chamar a atenção de outras pessoas para alguém ajudar, gritou, mas... Se ele quisesse mesmo cercar teria que bater nem que fosse na roda de trás do carro e isso colocaria a vida de Kemp em risco. - comentou assim que entrei em seu carro. Concordei e comecei a chorar. Colby chorou junto. Não que ela entendesse perfeitamente o que tinha acontecido, mas só tinha a mim e a naquele momento. - Não fizemos mais do que isso porque sabemos que vocês têm restrição com a imagem deles. - a pegou no colo, colocando-a sentada do meu lado. Tirou da mochila da mesma a Doris e lhe entregou. Colby abraçou Doris e chorou de novo.
- Já tiveram alguma notícia? - perguntei baixo com o coração doendo.
- Nada sobre o sequestro. A polícia está a mil desde que saímos de lá. Eles fecharam todas as vias que dão para Londres; estamos presos. Ninguém entra e ninguém sai. - concordei com a cabeça. - Até a Rainha ficou sabendo já e tem homens dela por aí, furiosos. - concordei de novo pensando que teria que arranjar o telefone da Rainha para agradecer. - E sobre ... - ele me olhou triste e duro ao mesmo tempo. - Ninguém tem notícias até agora. Um dos celulares dela está comigo. O outro só dá fora de área. A casa está apagada e trancada e carro dela não está na garagem.
Merda. Merda, merda, merda. Merda.


Capítulo 32

Kemp sequestrado há dois dias, sumida há dois dias, celular dela desligado, a imprensa já sabendo da notícia do sequestro. O que estavam dizendo por onde eu passava era:

"Menino de quatro anos é sequestrado.
O menino estava com a mãe, irmã e a babá na sorveteria quando foi sequestrado. , da banda McFly e seus parceiros de banda tentaram ajudar. se jogou do carro do amigo , mas não conseguiu nada mais do que um braço quebrado. A mãe das crianças perdeu o controle e continua desaparecida. Aparentemente e estão cuidando da menina que até agora os familiares não deram sinal de vida"


Heróis?
Em ato heroico na última terça-feira, integrantes da banda McFly tentam capturar sequestrador.
A banda almoçava por perto quando viu a confusão e saiu para ajudar nas buscas.


Superman!
Também pai de filhos pequenos, se sensibiliza e salta de carro em movimento para ajudar em confusão na rua.
O artista percorreu alguns metros atrás do sequestrador, mas conseguiu apenas um braço quebrado.


Era duro ver aquilo. Duro por não ter conseguido ajudar Kemp, duro por não ter noção de onde estava, duro porque eu queria contar que era o pai daquelas duas crianças.
E foi ali que eu decidi abrir o jogo e mostrar logo o rosto deles. Sozinho. Sem conversar com . Uma hora ou outra todos iam ver. A única certeza que eu tinha era: Quem sequestrou Kemp já sabia quem procurar.
Então fui até a emissora mais vista e disse que queria falar umas palavras. Ninguém ia me negar uma coisa daquelas no momento. Sentei em uma cadeira e me preparei para falar tudo o que eu queria. Eu não tinha ensaiado nada. Só via e Colby sentados atrás das câmeras. Um homem fez a contagem e eu soube que seria naquela hora ou nunca. Pigarreei e então comecei:
- Boa tarde. Vim aqui fazer alguns apelos e antes mesmo de fazê-los gostaria de deixar claro que eu e meus amigos não somos nenhum protótipo de e muito menos somos heróis. - disse alfinetando a manchete de um dos jornais que vi pelas ruas a caminho da entrevista. - Nós não ajudamos a tentar pegar o sequestrador por pura bondade, por mais que o faríamos se precisássemos. e eu não estamos cuidado da menina porque os familiares não deram sinal de vida. Muito pelo contrário. Acontece que eu sou o pai dessas duas crianças. A sequestrada e a que está comigo. - pude ver que as poucas pessoas presentes ali estavam em choque. - Ninguém sabia até agora porque a mãe deles e eu sempre quisemos preservá-los da vida com câmeras. Estou admitindo tudo isso agora porque eu só tenho duas certezas. A primeira é que eu quero que a mãe das crianças, a mulher que está desaparecida, a minha noiva, volte. Porque ela também está desaparecida. E a segunda é que quem sequestrou meu filho já sabia quem meu filho é. Descobriu de alguma forma e, bem, quer tirar proveito disso. Preciso que todos vocês me ajudem tanto a encontrar minha noiva, , quanto a encontrar o sequestrador e meu filho. Por favor, eu preciso da ajuda de vocês. - foi nesse momento, acabando o que eu tinha para falar, que antes do homem me cortar, eu comecei a chorar e Colby apareceu do meu lado. A peguei no colo.
- Mãe, cadê você? - ela falava abraçada à Doris, com a voz mole. - Volta logo.

Eu estava em casa. Cinco dias sem Kemp. Cinco dias com sumida. O sequestrador chegou a ligar uma vez, mas só colocou Kemp no telefone. Ele chorava um pouco, mas depois falou que estava tudo bem. Até parece que ele sabia se estava tudo bem. A polícia pegou o registro do telefone e de onde ligaram era de uma cabine longe do centro de Londres. Era mais para o norte. Os policiais correram para lá e eu... Bem, eu estava me arrumando para ir junto. estava organizando algumas roupas de Colby porque a levaria para a casa da minha mãe e iria comigo encontrar os policiais. , e estariam em um carro atrás do de e dormiriam todos por uns dias na casa da minha mãe. Segurança em primeiro lugar. Alguns policiais cercavam a minha casa, a da minha mãe e de Maris. Os policiais estavam de plantão com o telefone ligado. Arrumei um dos melhores advogados de toda a Inglaterra e ele iria comigo e com até o norte.
Terminei de colocar a blusa e desci até a cozinha para pegar um copo de água. Não estava me aguentando de dor de cabeça, preocupação, nervosismo e afins. ei um remédio e quando saí da cozinha a porta de casa foi escancarada. O susto que eu tomei foi tão grande que quase deixei o copo cair. Achei que alguém chegaria me fuzilando, metendo bala, mas não, foi ao contrário. Por dois segundos relaxei, porque sabia que se tinha passado pela barreira policial lá fora, era conhecido. Mas pelos próximos, continuei em choque. correu até mim e me abraçou forte. Chorou como nunca a vi chorando na vida. Não pude ver muito o rosto dela, mas aposto que estava horrível.
- Me desculpa, eu não queria fugir, fiquei assustada e não tinha para onde ir, não sabia o que fazer. Arrumei um cão farejador e aí... - afaguei o cabelo dela e apertei-a contra mim do jeito que dava.
- Sh, não precisa se explicar. - ela balançou a cabeça e continuou a chorar. Ela me apertava o mais forte que já tinha apertado em toda vida e eu retribuí.
- Estou com medo. E se eu nunca mais o vir? E se eles estiverem maltratando o Kemp? E se eles fizerem coisas más com ele? Ele é uma criança, não pode se defender, isso é tão injusto! - concordei e Colby gritou da escada. Desceu correndo e se abaixou. Colby a abraçou. Elas nunca foram de ficar muito agarradas, nem eram tão melosas uma com a outra, então acabei me espantando um pouco com o abraço.
- Nunca mais some, mãe, por favor. - levantou com ela no colo.
- Onde você está indo? - me perguntou assim que apoiei o copo na mesa e peguei minha jaqueta que estava na cadeira.
- Vou com e um advogado encontrar os policiais, a ligação anônima veio do norte da cidade, vamos correr para lá.
- Eu vou com vocês. - ela deixou Colby no meu colo e em cinco minutos tinha trocado de roupa e vinha com uma confusa, atrás.
- Acho mais seguro você ficar. - falei olhando para , enquanto fazia movimentos aleatórios com a mão, esperando que entendesse que depois eu explicava. - A Colby vai ficar com a minha mãe, faz companhia para ela.
- Eu vou junto. - ela rosnou tampando os ouvidos de Colby.
Eu não ia contrariar e dizer não, então... Tinha sido mais fácil fingir para Colby que o "moço" levou Kemp para o médico, do que seria impedir uma mãe de buscar um filho.

Paramos em frente à cabine. Era perto de uma escola.
Desci do carro depois de . Ele seguia o advogado e os agentes. Olhei para trás a não avistei . Um pânico começou a correr por dentro de mim e quando virei a cabeça para frente, a vi ao lado de um cara alto de farda, quase agarrada no braço dele.
apenas acenava a cabeça confirmando alguma coisa para um deles. Ele pegou no braço de , cochichando algo para ela e ela o olhou séria e concordou com a cabeça. Ele bagunçou de leve o cabelo dela e ela veio até mim. Continuei olhando duro para onde uma grande equipe da polícia estava e a vi de relance parar do meu lado. Passei meu braço pelo ombro dela e vi o advogado vir em nossa direção.
Ele disse para não fazermos nada do que o sequestrador mandasse e só seguisse a equipe. Nada que não soubéssemos, óbvio.
havia sumido tinha um tempo então resolvi andar até onde os policias se encontravam aos montes. Uma tropa veio atrás de nós e me senti seguro com eles. Sei que não é o certo, mas realmente me senti bem mais protegido com sete caras em minha volta.
Parei em frente a uma cabine telefônica. Uns caras do FBI, sei lá, jogavam pó e o caramba a quatro em tudo que era lugar, fotografavam e limpavam. Uns outros estavam perto de um poste, tentando alcançar a uma certa altura para ver se conseguiam ver até onde a visão do lugar conseguia chegar. Eu não sabia o que fazer então olhei para o lado. saía com dois policiais de dentro da escola.
- O sistema de segurança deles não pega na rua e ninguém viu alguém suspeito por aqui. Afinal, é a rua de uma escola, o que o sequestrador faria aqui? Eu não consegui chegar a nenhuma resposta, desculpa. - balancei a cabeça em negação a . Ele não tinha nada a ver com o caso e estava lá, fazendo mais do que qualquer outra pessoa. Quer dizer, ele sempre foi da família ainda mais depois que as crianças nasceram, mas era difícil vê-lo tão tenso.
Meu braço começou a doer então me lembrei de que ele estava quebrado. Merda de braço quebrado. Sentei em um banco e fiquei olhando todos fazerem alguma coisa. já havia sumido do meu lado e estava pendurada em outro policial.
Dormi de olhos abertos por alguns segundos e acordei com as mãos frenéticas de na minha frente.
- Já ligou para a Colby? - ela sussurrava e eu não entendia o porquê. - Liga, quero falar com ela. - peguei o celular e disquei. Esperei alguns segundos e deixei-a falando com Colby. Eu não queria falar com ninguém, mas quando a vi estendendo o telefone para mim, eu soube que Colby não dormiria se não ouvisse minha voz.
- Oi, Colby.


Capítulo 33

Alguns dias se passaram e recebemos mais ligações anônimas. Umas dizendo que tinham visto um menino igual a Kemp em tal lugar, outras dizendo que viram uma pessoa igual ao sequestrador. Todos se mexeram para procurar e eu estava em casa, tentando coçar o braço, quando o telefone tocou e um policial atendeu. Ele parecia que estava recebendo uma ordem e passou o telefone para mim.
Esperei um segundos e ouvi uma respiração ofegante. Não ouvi nenhum barulho a mais. A não ser uns segundos depois, quando pude ouvir a risada de Kemp. Pulei do sofá e quase quebrei o outro braço. Kemp estava vivo e era o melhor de todos os telefonemas. Eu tinha certeza e não era gravação. Continuei calado e me olhou sussurrando "Fala alguma coisa".
- Não vai dizer nada? - gelei quando ouvi. A voz era uma mistura de adulto com criança, não dava para saber exatamente o que era, mas era bizarro. empurrou os dedos para frente, me indicando a falar. Neguei e a respiração parou. Fiquei uns minutos estáticos.
- Alô?
- Ah, resolveu falar, hã? - não, resolvi perder de propósito a brincadeira do silêncio. - Como pôde perceber, sim, ele está vivo e está sendo bem tratado se é o que você quer saber. Mas se você não seguir à risca tudo o que eu disser, acho que essa terá sido a última risada de Kemp na vida. Seria tão cruel, não é? Ele é apenas uma criança inocente, não sabe do que se trata.
- O que você quer? - falei duro, mas logo meu braço doeu e mordi o lábio segurando a dor.
- Primeiro, três milhões. Sua bandinha não deve ter te rendido muito mais do que isso. Vocês estiveram aqui então já sabe como chegar. Quero o dinheiro na árvore vermelha do parque em frente à padaria do Joe segunda-feira que vem, às duas da tarde. Deixe o dinheiro e vá sem ninguém. Ninguém, ouviu bem?
- E o Kemp? - a maldita pessoa não respondeu e desligou na minha cara. Meu celular começou a tocar insistentemente e abri a mensagem. Número privado.

"Kemp só depende de você"

Que tipo de brincadeira era aquela? Que tipo de pessoa brincava daquele jeito? Três milhões? Não ia dar, minha banda rende, mas não é dinheiro que eu possa sair dando por aí.
Expliquei para todos a situação e logo até o entregador da Starbucks da rua já estava querendo dar sua contribuição para a "vaquinha" dos três milhões. Era legal ver como as pessoas se importavam. Mas era uma merda ver a imprensa surrada em frente à minha casa. pirava de cinco em cinco minutos e eu estava acabado. Nunca tive com Kemp a relação que sempre tive com Colby, mas eu não podia deixar de me preocupar com ele. Ele era minha outra metade e, cara, é meu filho, que se foda que eu não passava o dia todo grudado nele, nem dava banho nele e muito menos o colocava para dormir. Foda-se. O que sempre importou, é que no momento em que eu o tive nos braços, pela primeira vez, eu senti um medo enorme. E não é o medo de cair de uma montanha russa ou de andar no escuro em algum lugar desconhecido. Era o medo de perdê-lo. Não quis nunca mais sentir aquilo e, é, eu estava com aquele medo de volta.
O que eu mais queria no momento era ter Kemp andando pela casa dizendo que era melhor do que eu. Juro que queria.

Resolvi sair de casa para ir até a Starbucks. não estava e não me preocupei em saber onde estaria. Só poderia ser em um lugar: onde Colby estivesse. Saí então, de carro, afim de não ter que ser atropelado na rua por fotógrafos.
Estacionei perto da porta e desci com um segurança do lado. Usava um óculos-escuro e um boné, a fim de quem ninguém me reconhecesse, mas não daria certo por muito tempo, havia visto de longe um paparazzi.
Entrei e fiz meu pedido. Sentei em uma mesa mais distante de todo mundo e tirei o boné. Baguncei o cabelo e fiquei esperando a garçonete com o meu pedido. Peguei meu celular e cliquei em cima, fazendo a tela acender e o meu plano de fundo aparecer. sentada na grama com os dois. Colby estava sentada comportada em uma perna dela e Kemp estava entretido com um quadrado na mão, quase saindo antes da foto ser batida. Como eu sentia falta de Kemp. Eu não podia ficar parado em uma cafeteria enquanto ele estava com pessoas que eu não fazia ideia de quem eram, o que estavam fazendo com ele ou sei lá. Mas também não podia tentar fazer de tudo porque nunca se sabe com quem você está lidando. Senti um aperto dentro de mim e meus olhos começaram a lacrimejar. Merda.
- Java Frapuccino grande com extra chantilly, muffin de chocolate e biscoitos a base de leite e café. - a garçonete deixou o café na mesa junto com o pacote contendo o muffin e os biscoitos dentro. Bebi um pouco e sequei os olhos antes que a lágrima caísse e alguém visse. Eu não estava nem um pouco de bem com ninguém. Na noite anterior havia brigado com , estava insuportável até com e só queria ficar sozinho ao lado do telefone o dia todo.
Pude notar algumas pessoas curiosas se levantando e olhando para fora, onde uma pequena confusão estava se formando. Ignorei os curiosos e bebi mais um gole.
Levantei afim de ir embora e esbarrei em alguns (muitos) curiosos. Ouvi um gritinho e levantei a cabeça rápido. Eu o conhecia bem demais. Saí correndo da cafeteria, estiquei um pouco a cabeça para ver melhor e tive a confirmação: Colby. estava com ela no colo e tentava abrir caminho entre todos, pedindo licença. Ela não sabia se tentava passar segurando a cabeça de Colby na curva de seu pescoço, segurar o celular no ouvido ou arrumar a bolsa. Sem mais demoras abri espaço entre os curiosos, fotógrafos e companhia, com a ajuda do segurança que estava comigo e peguei no braço de . Ela tomou um pequeno sustom mas logo se acalmou. Entreguei a sacola com os biscoitos para Colby e a peguei no colo. Ela estava ficando pesada, mas não podia pensar no assunto. Abaixei a cabeça um pouco, queria que tudo estivesse normal e aquela confusão fosse por causa apenas do novo CD, que, aliás, parou de ser gravado graças ao sequestro relâmpago de Kemp. se ajeitou e esperei-a um pouco afastado. Ela me seguiu e fomos juntos até o meu carro. Entreguei meu café para ela, que o pegou e deu um gole. Fomos seguidos por todos e eu só ouvia o bombardeamento de perguntas: "Vocês se separaram?", "E o noivado de anos?", "E quanto a Kemp?" etc, etc, etc...
Sentei no banco do carona com Colby no meu colo e fechei a porta. O segurança sentou no motorista e entrou no banco de trás. Tranquei o carro. Ela pegou Colby e a colocou no banco traseiro, na cadeira especial. Colocamos o cinto e partimos rápido dali.

- Como você sai sem segurança? Olha a nossa situação! Você não pode simplesmente dar um perdido no cara. Com Colby ainda! E se acontece alguma coisa com ela? - comecei a briga assim que colocamos os pés na sala. Já tinha perdido toda a paciência que havia cultivado a caminho de casa.
- Eu só queria poder andar na rua com eles sem ninguém saber que são seus filhos, que o Kemp está desaparecido, sabendo que nada disso aconteceu. Mas parece que eles gostam de me ver mau, para baixo. Eu não aguento mais isso. Mais de uma semana sem o Kemp está me deixando fora dos eixos. - reclamava em resposta. - Eu fui afastada do trabalho, não consigo dormir, não quero dormir para poder vigiar a Colby, não posso sair na rua, não consigo nem tomar banho direito sem alguém ter que me mandar. Eu estou para morrer, estou um caco. - ela se descontrolava no sofá enquanto eu olhava de cinco em cinco segundos meu celular. - Queria que isso fosse um sonho para dar seis horas e eu acordar logo. - concordei apenas com a cabeça. Eu não poderia dizer mais nada, tínhamos brigado por coisas idiotas como sempre. Não que isso fosse idiota, mas como já tinha sido discutido antes e ela passava por cima, era idiota. O celular dela tocou e então ela me deixou na sala sozinho, ouvindo o choro de Colby e minha mãe tentando acalmá-la. Eu precisava de alguém e esse alguém era .


Capítulo 34

Dias e mais dias passavam e cada um que era novo, eu ficava aflito sem ter Kemp comigo. Colby começou a parar de comer e um dia disse que iria preferir se tivessem levado-a. amos um susto, já que não chegamos a conversar profundamente com ela sobre o assunto, ela era muito pequena para entender.
Ela explicou que queria que os seres de outro mundo tivessem pego-a, em vez de Kemp, porque ela era mais corajosa que ele. E ela gostava de vacas. É, de vacas.
entrou em crise de nervos e teve que ser hospitalizada à força. Ela foi amarrada com a mãe até o hospital e passou dois dias internada. Deram-na alta e adivinha quem teve que ir para o hospital depois? É, eu. Com vários problemas. Primeiro que peguei tétano quando achei mesmo que ia conseguir pular (de braço quebrado) a cerca enferrujada do tal colégio. Depois fiquei com febre alta de quase 40 e tantos e comecei a suar frio e a ter tremeliques. Meu braço só piorava e eu só ficava mais nervoso por não ter como me movimentar. Tive que ir para o soro e o meu braço me rendeu uma cirurgia.

Como a pessoa nunca foi buscar o dinheiro, ficamos sem saber o que fazer e a nova pista era que se quiséssemos Kemp de volta, teríamos que ir até uma praça bizarra de noite e entrar no jogo do sequestrador. É, os policiais estavam quase desistindo e o FBI, ou sei lá o que eram aquelas pessoas. também. A tropa da Rainha já tinha rendido demais e até eu percebi isso. A velha precisava dos seus homens, claro.
Eu, com o braço engessado, bonzinho que só eu (não), Colby um quilo mais magra, meus pais doentes, meus amigos meio fora deles mesmos, quase voltando ao hospital e...
Eu estava em casa com tentando descobrir alguma coisa. Enigma. era mais iluminado então estávamos escrevendo e tentando entender tudo.
Do nada pegou o papel e o virou, desenhando os lugares em que tinham nos mandado ir.
- , olha isso! - olhei o papel e dei de ombros. - Não é familiar para você? Comum? - neguei tentando entender onde ele gostaria de chegar com aquela ladainha toda. - Cara, se liga, o colégio, a padaria, a praça... Isso não te lembra nada?
- FALA LOGO!
- É O CAMINHO QUE VOCÊ FAZIA QUANDO IA PARA A ESCOLA DO PRIMÁRIO, MULONA! - pisquei os olhos e peguei o papel. O fitei por alguns minutos e então a luz me veio à cabeça. Sorri meio idiota e amassei o papel.
- , isso só significa uma coisa! - ele me olhou sorrindo, esperando que eu tivesse entendido. - O próximo lugar vai ser a primeira casa onde meus pais moraram, quando me tiveram!
- Esse é o meu garoto. - me abraçou e pisquei embasbacado. Tínhamos achado Kemp.


Capítulo 35

Entregamos o papel aos policiais e então, em um dia mais nublado que os outros, mas mesmo sem deixar de aparecer alguns raios de sol, saímos. Eu de braço ferrado e me recuperando de tudo, já mais calminha, que estava se achando o fodão, mas também estava nervoso e os policiais. Meu advogado estava perto da minha ex-casa então facilitou as coisas.
Descemos a alguns metros da casa e ficamos todos escondidos. Alguns policiais estavam vestidos normais, para poderem se passar por pessoas comuns. Abaixei atrás de umas moitas, me equilibrando em . Olhei de longe com meu advogado e dois policiais. Ela estava com cara de quem ia pular e abrir a porta da casa. Ela me olhou de relance e fiz um movimento com as mãos, indicando calma. Ela concordou e abaixou.
Uma menina que aparentava ter uns 13 anos saiu da casa com um chihuahua branco de coleira rosa. Uns tempos depois ela voltou e ficou horas procurando a chave, dentro do mini bolso do short. Meu celular tocou alto e ela olhou para os lados assustada. Depois deu de ombros e entrou em casa.
Em poucos minutos um policial encostou no meu ombro, me chamando em um canto. Me mostrou a tela do computador e lá haviam algumas informações. Apenas quem morava ali era uma senhora surda e meio cega por causa da catarata, com a neta. Os pais da menina tinham morrido em um acidente de avião e desde então ela morava com a avó. Tinha 14 anos e estudava perto da praça. Não na escola que eu havia estudado, mas em outra.
Um policial vestido de vendedor de tapetes bateu na porta e pude ver uma das janelas mexer. A menina olhava séria para a movimentação da porta. me cutucou e então olhamos para os policiais. Eles entraram na casa e vi correndo atrás de um deles.
Puxei pelo colarinho e fomos atrás dos outros. A tal menina estava na sala e assim que me viu parecia que estava tendo um treco. Os policiais estavam pressionando-a, já que com a avó não rendeu muita coisa. Ouvi uma risada alta e aquela risada só poderia ser de uma pessoa. me olhou rápido e como um jato na velocidade da luz, nós estávamos no andar de cima. Paramos no corredor vendo e dois policiais virem atrás. Ouvimos a movimentação em um quarto no final do corredor que nem era tão grande assim e corri até lá. Abri a porta e Kemp brincava com uns bonecos. Uma menina falava ao telefone, de costas para nós. Ela virou assustada assim que Kemp nos viu e gritou de felicidade. passou como um furacão, quase me derrubando. Ela se abaixou e abraçou Kemp. O tirou do chão e foi para o lado de .
- QUEM É VOCÊ E O QUE ESTAVA PENSANDO QUANDO PEGOU MEU FILHO? SUA MALUCA! - rosnou e a menina arregalou os olhos deixando o celular cair no chão. me cutucou e apontou para uma das paredes. Me vi em tamanho real na parede e fiquei estático. O quarto inteiro era coberto por posters, fotos e o caramba a quatro da minha banda, mas mais de mim. Fiquei com medo da garota psicótica e me afastei um pouco enquanto os policiais a pegavam.
- Vamos sair daqui. - disse para enquanto empurrava o ombro dela em direção à porta. Kemp sorriu para mim e a maior sensação de alívio que existia tomou conta do meu corpo. Beijei a cabeça dele e descemos.
Quando nos encontramos na sala, com todos nós já mais calmos, mandei mensagens para todos avisando do acontecido e parecia que eu tinha voltado à vida. Peguei Kemp do colo de com certa dificuldade e senti que não o soltaria mais.

Em resumo, a menina era uma fã minha e queria porque queria se casar comigo. O plano dela então era sequestrar Kemp e fazer com que fizéssemos tudo o que ela pedisse, até o dia que nos encontraríamos e ela me daria um boa noite cinderela e quando eu acordasse, estaria apenas com ela em um quarto, já que ela devolveria Kemp. O resto do plano? Não sabemos. Não se pode esperar muito de uma adolescente dessas claramente sem muita estrutura. Eu só queria que ela a partir daquele momento sumisse da minha vida e arrumasse um psiquiatra.
A amiga dela era outra doida que tinha achado o plano maravilhoso e estava quase montando um parecido, só que para conquistar .
- Eu teria conseguido tudo o que eu queria. O meu plano era perfeito, fazer exatamente o caminho que ele fazia. Esperaria que ele se tocasse que o próximo lugar fosse aqui e então viria me encontrar e eu devolveria Kemp com a condição dele ficar comigo. - ouvi a pobre menina admitir para a equipe. - Era perfeito. Só nós dois no nosso ninho de amor. E então poderíamos ter filhos lindos. Não que esses aí não sejam, eles são bonitinhos, até porque são metade você, mas nossos filhos seriam muito mais lindos. Eu fiz uma montagem no crie seu bebê ponto com e tudo, para saber. - ela então se virou para mim. - , nós poderíamos ter sido felizes juntos! Na sua primeira casa. - eu tinha uma interrogação na cara assim como e . - Fiz minha avó comprá-la apenas para você se sentir em casa de novo, como no colo de uma mãe. Você é a minha vida, eu te amo incondicionalmente. Por favor. - não preciso comentar que eu estava sem reação alguma depois de ouvir aquilo, né? Me aproximei dela e sei que foi errado, pois ela era apenas uma menina, minha fã, mas acabei cuspindo palavras rudes na cara dela pois o que tomava conta de mim naquela hora era a raiva.
- Espero que para onde você vá não te deixem ter acesso a CDs e revistas. Minha banda não precisa de pessoas que se intitulam fãs, como você. - saí da frente dela carregando e comigo. Meu advogado ficou para resolver todo o resto com os policiais. Nós não tínhamos cabeça para aquilo. Só queríamos levar Kemp para casa sã e salvo.
Depois de sermos liberados pelo médico da polícia que fez uma rápida checagem em Kemp, chegamos em casa e a única coisa que eu fiz foi deixá-lo no chão e olhar sério para ele. Ele riu me olhando e parou do nosso lado com .
- Elas te maltrataram? - perguntou depois de um tempo calada.
- Elas te alimentaram? - abaixou olhando nos olhos de Kemp. - Claro que sim, , ele fez o exame, tá tudo bem. - ele mesmo se respondeu dando um pequeno tapa em sua cabeça e então continuou. - Elas te deram banho?
- Elas te colocaram para dormir? Brincaram com você? Te bateram? - seguia bombardeando nosso filho.
- Chega! - chamei a atenção dos três para mim. - Ele está perfeito, não fizeram nada com ele. Até parece que a menina iria mesmo fazer. Ela queria a mim, não a ele, se toquem. - me abaixei na altura de Kemp. - Fala que me ama, seu bundão.
- Cadê a Colby? - e riram e eu baguncei o cabelo dele o pegando no colo.
- Vamos buscá-la agora, quer dirigir? - perguntei e ele se remexeu todo feliz concordando.


Capítulo 36

O despertador tocou e eu o esmurrei. Seis horas da manhã. já tinha acordado e estava tomando banho. Me encontrei pelado na minha cama e procurei por minha boxer. A porta do banheiro abriu e vi minha noiva (a mil anos) sair de lá enrolada na toalha. Ela riu e esticou o pé. Pegou minha boxer com os dedos dos pés, passando-os para os dedos da mão. Jogou para mim e abriu o armário procurando a roupa do dia. Levantei meio sem emoção e fui até ela. Beijei seu pescoço e ela me deu um tapinha. Saí do quarto e no meio do corredor pude ver Kemp andando sonolento com Colby atrás dele mandando-o acordar. Ri dos dois e eles se viraram. Colby correu até mim, me abraçando nas pernas enquanto o outro continuava em modo zumbi.
Passei por ele pegando-o no colo ouvindo Colby emburrada por não ter pego-a também. Com um braço só as coisas ficam difíceis.
Descemos até a cozinha e os dois sentaram nas cadeiras. Sentei em outra e ficamos os três nos olhando sem falar nada. Kemp e eu nos revezávamos para ver quem piscava mais pesado. apareceu na cozinha e riu da cena humilhante.
- Estamos esperando o café da manhã. - disse e logo depois levei mais um dos leves tapas "de atenção". Colby apontou para mim e riu, como vingança. Kemp deixou a cabeça pender e bater na mesa.
- Se está com fome, prepare a sua própria comida. - me mandou língua enquanto abria a geladeira. - Você é crescido o suficiente.
- Não te custa nada. Eu nem o olho consigo abrir. - resmunguei. - Por favor.
- Em troca espero receber um vale de dois dias para um SPA. Semana que vem seria ótimo. - a vi abrir o armário onde ficavam as cumbucas.
- Isso é chantagem. É assim que você pretende criar seus filhos? - apoiei as mãos no queixo abrindo um olho apenas.
- Foi você quem começou. - ela colocou as vasilhas com frutas na frente das crianças e então deixou uma com cereal e leite na minha.
- Eu só não te amo mais porque não cabe no meu peito. - ela riu debochada e então se sentou com um iogurte nas mãos.
É, nunca foi e nunca vai ser a família perfeita, mas e daí? Eu tinha Kemp em casa de novo, menos chata comigo, Colby mais mandona e grudada em mim a cada dia e, quer saber? Eu achava ótimo. Se tivesse que repetir, faria tudo igual porque foi uma merda ser pai aos 16, mas e o foda-se?

Depois do episódio do sequestro de Kemp, comecei a perceber algumas coisas esquisitas no comportamento de Colby. Ela sempre teve uma certa preferência por mim. Como um cachorro quando escolhe o próprio dono. Em alguns momentos ela agia de formas fora do normal. Eu desvendaria Colby e não era só mais uma questão na minha cabeça, era uma promessa.




Fim.



Nota da autora: Sem nota.

Nota da beta: Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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