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Finalizada em: 28/06/2021

Capítulo 1



O dia não tinha amanhecido um dos melhores. Mesmo que estivesse no inverno, eu tinha tido um vestígio de esperança de que pelo menos poderia ter tido sol, mesmo com o frio que fazia, e assim eu poderia levar Áries para brincar no jardim branco cheio de neve, como costumava fazer depois na véspera de Natal e no próprio dia mesmo. A nevasca deixaria ela irritada, então teria que pensar em outra coisa para que pudesse distrair a cabeça dela.
Para começar, no café da manhã desci até a cozinha do castelo para preparar as coisas que sabia que minha pequena gostava de comer. Os empregados me olharam assustados quando passei pela enorme porta dupla. Todos lá dentro congelaram com os olhos arregalados olhando em minha direção, suspeitei que não estivessem respirando também. Não falei nada, apenas peguei uma maçã verde na cesta de frutas e comecei a separar as coisas que Áries gostava, claro, incluindo o bolinho de avelã que fez a menina ficar viciada.
Comi minha maçã enquanto preparava os ovos, ouvindo apenas os passos dos empregados de um lado para o outro, dando pequenos cochichos, certamente assustados pelo príncipe, vulgo próximo rei de Vermillion, estar ali entre eles como se fosse alguém normal. Mas o que não entendiam era que eu era uma pessoa normal, como cada um que estava dentro daquela enorme cozinha, castelo, e reino. Um título não me fazia melhor que ninguém ali, ainda mais um roubado. Eles não precisavam saber disso, e provavelmente jamais sonhariam com tal hipótese.
Arrumei tudo na bandeja e segui até o jardim mesmo no meio da tempestade, colocando uma capa para proteger meu rosto e meu corpo. Caminhei apressado até a roseira e peguei uma rosa vermelha, a única que ainda tinha sobrevivido em meio àquela tempestade fervorosa. Ela estava aberta, escondida atrás das outras que já tinham morrido. Parecia que estava ali esperando para ser salva, já com alguns flocos de neve em suas pétalas de cor vibrante. Cortei seu caule com o punhal que havia levado e retornei para o castelo.
Tirei a capa, colocando onde estava antes e passei a mão em meus longos cachos, os jogando para trás. Caminhei até o balcão com a rosa em mãos e ainda com o punhal cortei cada um dos espinhos com cuidado, sem machucar a flor para que não furasse os dedinhos de Áries.
Meus olhos subiram para a mulher que parou na minha frente, me estendendo um pequeno vaso com água, em seus lábios tinha um pequeno sorriso. Fiquei encarando-a por um tempo e peguei o que estava me entregando. Assenti com a cabeça em forma de agradecimento.
— Obrigado pela gentileza — disse em um tom baixo de voz, vendo seu sorriso ficar maior. — Como você se chama? — Quis saber.
— Galleaux, alteza — pronunciou seu nome com certa timidez.
— Feliz Natal, Galleaux — desejei e virei, pegando um dos bolinhos de avelã que estava na certinha por perto e lhe entregando. Seu rosto foi tomado com uma expressão de surpresa e ela abriu a boca. Eu sabia que iria recusar o bolinho, pois eles eram apenas para a realeza. — Um pequeno presente por sua gentileza. Aceite, por favor — pedi.
— Muito obrigada, alteza — agradeceu, fazendo uma breve reverência um tanto quanto feliz pelo bolinho.
— Por nada — falei, colocando a rosa no vaso. — Você pode me ajudar a levar isso até o aposento da Áries, por favor? — Requisitei, pegando a bandeja.
— Claro, alteza. — Odiava profundamente que me chamassem de alteza, mas teria que aguentar aquilo.
Galleaux pegou o vaso e foi andando na frente, abrindo as portas para que passássemos, atraindo o olhar dos guardas em nossa direção mesmo que tentassem disfarçar. Paramos na frente do quarto de Áries e, quando entramos, pude ver Cristine já arrumada e prestes a acordar a criança. A babá arregalou os olhos por não me esperar ali tão cedo e aquilo me fez rir. Ela era engraçada demais.
Fui até a cama, colocando a bandeja na beira dela, e Galleaux colocou o vaso com a rosa na mesa de cabeceira, me dando um pequeno sorriso e depois olhando Áries, que ainda dormia, sorrindo mais abertamente.
— Ela será uma linda princesa — comentou baixinho, me fazendo sorrir de leve e concordar com a cabeça. — Desejo um ótimo Natal para vocês, alteza. Se me der licença, preciso voltar à cozinha e terminar de preparar o café da manhã.
— Obrigado por isso, e por sua ajuda. Pode ir — a liberei e ela saiu rapidamente do quarto, fechando a porta atrás de si. — Cristine, venha cá — chamei, e a garota veio correndo, com seus olhos assustados. — Sente aqui. — Gesticulei com a mão para que se sentasse na cama do outro lado.
— Claro, senhor . — Fez o que pedi.
Sacudi Áries de leve. A menina resmungou alguma coisa e se virou na cama, me fazendo rir. Então peguei seu pezinho por debaixo das cobertas, fiz cócegas e ela logo acordou berrando e rindo, se sacudindo de um lado para o outro, batendo suas pernas, tentando se livrar de minha mão que segurava seu calcanhar esquerdo. Cristine segurou a bandeja para não cair.
— Para, papai! — Gritou entre as gargalhadas.
— Você não acordava, tive que usar outros recursos! — Soltei seu pé e ela veio pulando em cima de mim, abraçando meu pescoço com seus bracinhos. — Bom dia para você também.
— Bom dia! — Beijou minha bochecha e me soltou, se jogando sentada na cama. Só então percebeu a bandeja ali. — Ah! Bolinho! — Berrou, pegando um bolinho de avelã e dando uma enorme dentada, sujando seu rosto de um jeito fofo. — Bom dia, Quistini — falou de boca cheia, tirando uma risada nossa.
— Bom dia, Áries — a babá respondeu.
— Come com a gente — pedi a Cristine, que me olhou com seus enormes olhos castanhos arregalados. — Não me olhe com essa cara, mulher. Apenas coma — mandei, porque às vezes ela costumava ser meio devagar com as coisas.
— O pode comer com a gente? — Áries perguntou, me fazendo olhá-la no mesmo instante, sentindo meu coração ficar acelerado.
não está no castelo hoje — informei. — Mas podemos ir visitá-lo, nós três. O que acham? — Meus olhos se viraram para Cristine agora, vendo sua pele pálida ganhando cor rapidamente.
— Quero! — Minha menina berrou, jogando seus braços para cima toda empolgada. — Ele pode me contar muitas histórias de Natal! — Ri daquilo, negando com a cabeça.
— Nada de ficar importunando o pedindo para ficar contando milhares de histórias, certo? — Avisei, apontando em sua direção e Áries fez um biquinho. — E nem adianta fazer essa cara.
— Tudo bem — resmungou, comendo o bolinho.
— Cristine, você quer ir? — Perguntei, porque se não quisesse, eu poderia lhe dispensar.
— Quero — respondeu em um tom baixo, olhando para a comida na bandeja e pegando uma laranja.
— Ótimo. Depois que terminarmos aqui, prepare Áries. E você vista algo bem quente — avisei e a babá concordou com a cabeça.
— Que rosa linda! — Áries soltou do nada, se dando conta da flor que tinha sido colocada em sua mesa. — Quem colocou aqui?
— Papai Noel — brinquei, dando um riso fraco.
— Fala para o papai Noel que eu amei! — Soltou, chegando perto dela e a cheirando. — Tem um cheiro tão bom. — Suspirou, rindo um pouco e me fazendo rir junto.
Ficamos comendo enquanto Áries contava o que queria fazer para o dia de hoje e aquilo me tirava boas risadas, e até mesmo algumas pequenas de Cristine, que parecia estar feliz ali com a gente. Ela estava conosco desde que Áries tinha apenas três meses e eu a considerava da família quando cuidava da minha menina com todo amor e paciência, quando sabíamos que aquela criança não era nenhum pouco fácil de lidar.
Assim que acabamos de comer, segui até meu aposento para me arrumar. Decidi tomar um banho antes de sair. Acabei demorando mais tempo do que o normal para me arrumar, quando também não consegui decidir qual óleo usar, me perguntando qual deles deveria mais gostar da fragrância. Por fim, optei por um de rosas com pimenta. Era doce, mas forte, gostava bastante daquele, mas não usava com tanta frequência, apenas para ocasiões especiais. E hoje seria um dia desses.
Vesti uma blusa de seda vermelha e um calção preto, com minhas botas na mesma cor. Coloquei um casaco vinho e joguei uma pele de urso por cima de meus ombros. Passei a mão em meu cabelo molhado e prendi a parte da frente para trás, para que os fios não caíssem sobre meu rosto. Me olhei no espelho, vendo se estava tudo certo, e, antes de sair, peguei um pequeno saquinho que estava na gaveta de minha cabeceira e o coloquei em meu bolso.
Voltei até o aposento de Áries, vendo que já estava pronta. Seu cabelo tinha um belo penteado com um par de tranças embutidas. Ela estava com um vestido de mangas longas verde escuro, botas e uma capa branca de pele bem pesada. Estava uma graça. Já Cristine, vestia um vestido mostarda com branco, também de mangas longas, e uma capa marrom por cima de seus ombros estreitos. Seu cabelo estava solto agora e tinha pequenos cachos nas pontas. Percebi que seu rosto estava levemente vermelho, assim como seus lábios, certamente passou algo neles para ganharem mais cor. Sorri para as duas e acenei com a cabeça, indicando que deveríamos ir.
Áries correu em minha direção e segurou minha mão, me fazendo rir fraco. Saímos do quarto e pedi para o guarda que estava a postos na frente da porta providenciar uma carruagem e que não precisava de cocheiro. Ninguém poderia nem ao menos sonhar que estávamos indo até a casa de . O guarda não questionou, apenas assentiu e saiu na frente, andando apressado.
Não avisei ao rei e muito menos à princesa sobre a nossa saída. Na volta, talvez eu falasse algo se meu humor estivesse razoavelmente bom.
Seguimos até a saída do castelo e a carruagem já estava lá. Coloquei Áries na cabine junto a Cristine e subi a parte da frente, já batendo as rédeas para os cavalos nos levarem embora dali o quanto antes. Puxei o gorro que tinha na pele que eu vestia e guiei os cavalos até a residência do meu guarda, que ficava um pouco longe do castelo. A viagem demorou mais do que se eu estivesse feito o percurso de cavalo sozinho, mas estava tudo bem, o que importava era que logo chegaria lá.
A tempestade diminuiu um pouco, mas ainda não tinha parado totalmente. Eu deveria ter colocado minhas luvas e praguejei por ter esquecido daquele pequeno detalhe, mas poderia aquecer minhas mãos quando chegasse à casa de .
Até que finalmente cheguei, parando na frente da pequena casa e descendo da carruagem. Fui até a cabine, pegando Áries no colo para que não sujasse suas botas de neve, e ajudei Cristine a descer, lhe dando a mão. Fomos até a porta da frente e bati apenas duas vezes esperando que fosse aberta logo para que eu pudesse colocar as meninas para dentro e depois guardar os cavalos. Não demorou muito e a Narcissa, tia de , abriu a porta, ficando surpresa ao nos ver ali, mas um sorriso surgiu em seguida. O padre Lake, que estava sentado à mesa, tomando algo, já nos olhava, sorrindo brevemente.
, vem ver quem está aqui — chamou, dando passagem para que entrássemos. — Fique à vontade, alteza — disse quando passamos por ela.
— Me chame de , por favor — pedi em um tom baixo, dando um pequeno sorriso.
Assim que apareceu, senti meu ar parar de entrar por um segundo quando meus olhos encontraram aqueles tons dourados em seus orbes, e sem que eu me desse realmente conta disso, meu sorriso se estendeu em meus lábios, ficando maior rapidamente. O brilho que já existia em seus olhos pareceu ficar mais intenso e passou para os seus lábios com o belo sorriso que ele abriu, ficando cada vez maior ao descer seus olhos por mim de uma forma rápida.
— Oi — quase sussurrei para ele.
— Ia pedir para alguém me beliscar pra ver se estou sonhando, mas odeio que me belisquem — soltou incrédulo, me tirando uma risada fraca, deixando seu sorriso ainda mais largo do que estava, me fazendo morder o canto do meu lábio inferior de leve, admirando aquele homem. — Estou tão feliz que esteja aqui — sussurrou pra mim, mordendo seu lábio sutilmente e eu compartilhava daquela felicidade. Então olhou de forma doce e cativante para Áries. — Todos os flocos de neve estão te invejando nesse dia, princesa Áries. Os flocos de neve nessa época são feitos apenas para enfeitar o reino inteiro como um presente. Eles até são mágicos, mas só algumas pessoas sabem disso. Porém, não há magia alguma que eles tenham que substitua a sua, princesa. — Então fez uma reverência para ela enquanto eu não conseguia tirar meus olhos dele por nenhum momento sequer, adorando a forma como falava com a minha menina. — Estou muito lisonjeado e feliz que tenha vindo também, lady Cristine. — Olhou rapidamente para a moça, que corou rapidamente antes de voltar seus olhos até mim de uma forma mais intensa.
— Eles são mágicos? — Áries soltou com um enorme brilho dos olhos. — Como você sabe disso? Eles te contaram? — Já começou com suas perguntas que eu saberia que não teriam fim.
— Áries, vamos com calma — pedi e ela já me olhou emburrada. — Que tal você falar com o padre Lake? Ele vai ficar magoado que você não lhe deu atenção ainda. — A menina olhou para o homem, que estava sentado à mesa e observava tudo silenciosamente. Sabia que ele estava pegando tudo o que estava acontecendo ali. — , você pode me ajudar com os cavalos? — Pedi, enquanto Áries já foi falar com o padre.
— Claro, Ez. — Sorriu, então olhou para sua tia, que o olhava horrorizada. Tive que morder minha bochecha por dentro para não rir do que ele havia acabado de fazer sem ao menos perceber. — Quer dizer. Claro, … Príncipe. Desculpa. — Senti até meu rosto ganhando uma cor por causa do riso que eu estava segurando.
Apenas assenti com a cabeça e me virei, saindo da casa o quanto antes, ou realmente iria soltar uma risada alta por causa do embaraço de na frente de sua tia. Assim que cruzei a porta e a fechei quando passamos, não aguentei e acabei rindo, colocando a mão na boca por saber que Narcissa ainda poderia me ouvir por estar perto.
Quero dizer. Claro, — tentei imitar sua voz, ainda rindo daquilo, já caminhando em direção aos cavalos. — Pensei que me chamaria de alteza. — Lhe lancei um breve olhar.
— Não teve graça alguma, seu abusado. — Mostrou a língua pra mim no instante seguinte de proferir suas palavras em um tom emburrado e envergonhado. Era adorável vê-lo daquele jeito. — Seria pedir para receber a torta de maçã que está em cima da mesa bem no meu rosto se eu chamasse de “Alteza”.
— Claro que teve graça. Você todo embaraçado sem saber o que falar — contei ainda com um sorriso e me virei, dando uns passos de costas. — Sem levar em conta que é adorável te ver ficando vermelho. — Mordi a ponta da minha língua com aquela pequena provocação, segurando meu riso. estreitou seus olhos na minha direção, ficando mais emburrado ainda. — Bem, levando em consideração que a torta parecia apetitosa, talvez eu te jogasse na neve só. — E deixei meus olhos descerem até o chão, mostrando que aquela ainda poderia ser uma ideia válida.
— Não é adorável nada! Você me paga, príncipe abusado. — Deixou seus olhos dourados ainda mais estreitos, mas agora continha um sorriso preso no canto da boca. — Se me jogasse na neve, você ia vir junto comigo e ia fazer questão de te rolar nela. O que seria uma pena, você está muito elegante. — Então abriu seu sorriso gentil. — Vou até me sentir um pouco mais e dizer que foi para o seu guarda preferido mesmo. — Piscou seu olho para mim, se referindo sobre estar arrumado daquela forma.
— Ah, se você pudesse ver com meus olhos o tom que suas bochechas ficam quando está envergonhado com algo… — A ponta de minha língua passou por trás de meus dentes e agora olhava para com certa intensidade. Então me virei, já chegando perto dos cavalos. — Duvido que você conseguiria me derrubar — disse, dando um riso fraco, soltando os animais para tirá-los dali. — E você acertou. Estou elegante para o meu guarda favorito. Me arrumei só para ele. — Pisquei em sua direção, dando um sorriso de lado, já puxando os animais. — Tem um estábulo ou algo parecido por aqui?
— Para de me deixar mais vermelho. — Abaixou sua cabeça, coçando sua bochecha levemente corada. Senti uma vontade de me aproximar e dar um beijo exatamente naquela região, mas apenas fiquei olhando para ele por alguns segundos antes de desviar o olhar. — É muito injusto você duvidar de mim aqui e agora. Só não te faço morder a língua porque, como eu disse… Você está muito elegante. — Suspirou e fez um biquinho como se lamentasse, me arrancando um pequeno riso. — Seu guarda favorito tem muita sorte em recebê-lo na casa dele e ainda sabendo que se arrumou todo só pra ele. — Abriu mais aquele sorriso que eu sabia que era verdadeiro e puro. — Temos um estábulo, sim. — Indicou levemente com a cabeça para eu segui-lo até um lugar fechado, que ficava um pouco mais afastado da casa, onde dava para termos a vista do campo de tulipas perfeitamente.
— Desculpa, é mais forte do que eu — pedi, e deixei meus dentes passarem pelo meu lábio inferior ainda vendo como estava vermelho por causa do que falei. — Ops — soltei, rindo um pouco mais sobre aquilo, vendo seu bico ficar ainda maior. Era errado querer mordê-lo? Por favor, , não pense nisso agora. Não hoje, pelo menos. — Ele tem sorte mesmo, mas eu também tenho. Esse guarda é uma pessoa muito especial — contei, puxando o ar com um pouco mais de vontade agora, notando-o sorrir de forma adorável ao ouvir aquilo.
Seguimos até o estábulo e me ajudou a levar os cavalos para dentro. Colocamos eles juntos perto da comida e da água, junto aos outros. Senti sua mão tocando a minha quando fomos soltar as rédeas dos animais para que eles não ficassem presos ali dentro. Olhei para por um momento, sentindo seu toque bem mais quente na minha pele que estava extremamente gelada, e aquilo me causou um arrepio. Logo meus olhos desviaram, voltando a prestar atenção no que estava fazendo. Amarrei uma das cordas com mais força que deveria, não me importando que seria difícil de tirar depois.
— Nós vamos passar o dia aqui. Pensei que poderíamos comprar comida para fazer uma ceia. Vocês ceiam no dia 24? — Perguntei, me encostando de leve na viga de madeira ao meu lado.
— Não podia receber presente melhor do que saber disso, sabia? Acho que esse vai ser o melhor Natal que já tive. Quer dizer, tenho certeza. — Ele ficou tão animado e pude sentir no seu tom de voz e seus olhos, que sorriam juntamente aos seus lábios. — Sim, fazemos a ceia no dia 24 mesmo. Mas sair para comprar comida? Ez, não precisa.
— Não seja exagerado, — falei, dando um pequeno riso sobre aquilo. Às vezes, eu não conseguia entender como ele podia ficar tão feliz por causa da minha presença. — Ótimo. Sim, para comprar comida. Não quero dar gastos inesperados para vocês — declarei, pois sabia como era a situação deles. — E Áries é um dragão comendo — comentei, rindo um pouco. não se aguentou e soltou uma gargalhada gostosa. — Vai comer a sua casa se deixarmos.
— Não é exagero. Estava mesmo morrendo de saudades suas — falou baixinho, me olhando sério e depois desviou. Aquilo tinha me pegado totalmente desprevenido. — Da Áries também. Ela está tão adorável! Posso mostrar o campo para ela depois? — Perguntou, apontando ao campo de tulipas vermelhas cobertas de neve. Sorri de leve. — O segredo que a princesa tem um dragão no estômago ficará guardado a sete chaves — brincou, rindo mais um pouco. — Mas, Ez, olha essa tempestade. Está frio para sairmos e o senhor tá sem luvas! Como você sai nesse tempo sem luvas, ? — Então tocou minhas mãos com as dele que estavam quentes, me fazendo olhar para elas juntas no mesmo instante.
— Também senti sua falta — confessei em um tom quase inaudível, mas pude reparar no sorriso dele que ele tinha gostado do que tinha escutado. Como aquilo era possível quando nós tínhamos nos visto no dia anterior? Eu sabia a resposta e ainda assim continuava a ignorando para o bem de nós dois. — Claro, ela vai amar. Mas a leve no colo, ou irá se sujar inteira de neve, está bem? — Aquele era o meu único pedido. — Hoje dei uma rosa para Áries de presente. Você tinha que ter visto o sorriso que ela deu — comentei, deixando um sorriso ser desenhado gentilmente em meus lábios, lembrando da cena. — Perfeito — respondi sobre guardar o segredo do dragão que vivia no estômago da garotinha que parecia tão dócil. — Você pode me emprestar um par de luvas se tiver sobrando — pedi, dando um pequeno sorriso. — Eu esqueci. Falha minha, estava distraído. — O que era novidade para mim aquilo, eu nunca me distraía, era sempre metódico com tudo. Cheguei mais perto de , notando que talvez ele tenha prendido seu ar. desceu com seus olhos pelo meu rosto quando estávamos mais próximos, seus olhos percorriam cada traço do meu de uma forma única, lenta e intensa. — Não me importo se você aquecer minhas mãos depois também — disse, levando meus lábios até sua testa, depositando um pequeno beijo ali. suspirou prolongado em seguida por causa do meu ato, então dei um passo para trás, mas sem soltar a sua mão.
— Tudo bem, prometo não deixar ela se sujar de neve — respondeu, soltando o riso de forma baixa, apenas assenti. Seus orbes castanhos se tornaram até um tom mais claro devido ao brilho que ficou em seus olhos quando me ouviu contando sobre a rosa que havia dado a Áries. — Ah, Ez, eu adoraria ter visto o sorriso dela. Tenho absoluta certeza de que deve ter sido fascinantemente adorável. — lambeu seus lábios, voltando ao sorriso que estava em um tom de admiração e curiosidade. Eu poderia falar que ele poderia ter desenhado aquela cena, mas não tinha ideia de que eu sabia sobre os seus desenhos. — Então tudo bem. Vou pegar uma para você porque não quero que você fique doente. — Retorceu seus lábios ainda com preocupação em sua expressão e tom de voz. — Espera… Você? Distraído? — Assisti ele erguendo suas sobrancelhas e então estreitou seus olhos na minha direção. — Eu adoraria poder aquecer suas mãos, — disse em um tom rouco e sussurrante, me fazendo segurar um pouco de meu ar, que quis sair de forma pesada. — Ah, se você for mesmo, eu quero ir junto então.
— Foi sim, você teria sorrido vendo a cena da Áries com a rosa — comentei, controlando o suspiro que quis sair pelos meus lábios, imaginando os dois naquele momento. — Agradeço por isso e por sua preocupação com o seu príncipe — respondi sobre me emprestar um par de luvas, ainda achando engraçado a cara que fez por conta daquilo. Eu não ficaria doente, mas a sua preocupação foi extremamente adorável. — É. Distraído — me limitei a falar sobre aquilo quando tinha lhe chamado a atenção uma vez por estar distraído por minha causa, quando, ao sair de meu aposento já vestido, pensando em , havia me esquecido totalmente de minhas luvas. — Irei gostar bastante disso — contei, sorrindo de leve, sem desviar meus olhos dos seus nenhum instante. Aquilo era aceitável, certo? Só queria que esquentasse minhas mãos. Não deveria ter nada demais naquilo, pelo menos era o que estava dizendo para mim mesmo naquele momento para não pensar em outra coisa. Senti ele segurar minha mão com as suas duas mãos, esfregando-as levemente e sorrindo um pouco mais, tirando mais um pequeno sorriso meu. conseguia me fazer reagir a ele com tanta facilidade, que às vezes até me surpreendia. — Bem, mesmo se eu falar que não precisa ir comigo, sei que será teimoso e irá discordar, e não quero ver você emburrado por causa disso. Então, pegue um cavalo de montaria para irmos — pedi, dando um sorriso maior.
— Você e ela me tiram muitos sorrisos fáceis. Tenho certeza de que iria sorrir mesmo e não ia manter a pose de guarda não — disse em meio à sua risada baixa. — Não precisa agradecer. Só quero o bem do meu príncipe. — deixou o sorriso se estender para o canto, piscando um de seus olhos e eu não podia negar para mim mesmo que adorei ouvir aquilo. Então apenas concordei com ele. — E quanto à sua distração… — Balançou sua cabeça em negação, como se fosse dar uma bronca. — Ótimo. Eu iria ficar emburrado mesmo e teimar contigo se não me deixasse ir junto. Acertou minha reação mais uma vez. — Jogou um pouco sua cabeça para trás ao soltar uma risada um pouco mais alta, me fazendo rir junto, porém a minha fora mais baixa. Então reparei mostrar extrema empolgação por poder ir junto. — Vou só buscar as luvas antes, meu príncipe — dizendo isso, ele se aproximou de mim, levando minha mão até seus lábios, que estavam com uma temperatura agradável, e beijou o dorso da minha mão antes de soltá-la.
— Devo dizer que é algo totalmente recíproco. Sorrir contigo é algo fácil. E adoro quando você perde a sua pose de guarda — confessei, rindo fraquinho por isso, pois sabia que era extremamente perigoso ele perder a sua pose, ainda mais se fizesse isso na frente de alguém que não fosse eu. soltou outra risada, negando levemente com a cabeça. — Melhor não falarmos sobre ela — pedi em relação à minha distração, que não poderia ser cometida novamente. Ele concordou com a cabeça, mas ainda mantinha seus olhos estreitos em minha direção. — Às vezes você é um pouco previsível. — Pisquei um olho para , dando um sorriso de lado. — Está bem, vou te esperar aqui… Meu guarda — sussurrei a última parte, ainda o olhando de forma admirada por ter beijado o dorso de minha mão de um jeito tão doce.
— Ou você que anda conhecendo seu guarda bem demais. — Levantou os ombros e fez uma expressão engraçada de quem se achava por isso. Acabei soltando um riso nasalado.
Então se afastou e saiu do estábulo, me deixando ali sozinho com meus pensamentos e a falta do calor de suas mãos nas minhas. As esfreguei e levei até meus lábios, soprando de leve para tentar esquentá-las, mas não adiantou muito. Caminhei em passos lentos até a janela que tinha ali, olhando o campo de tulipas que estava branquinho e com alguns pontos vermelhos os quais a neve ainda não havia coberto, me fazendo sorrir de leve por estar mesmo bonito. Como algo tão simples como olhar para um campo de flores poderia fazer meu coração ficar acelerado e levar meus pensamentos direto para ? Lembrar de seu sorriso, de seu olhar, do som de sua risada, do seu toque quente em minha pele que me arrepiava, de seus abraços e beijos sutis em meu rosto ou mãos. Ele sempre fazia aquilo com tanto carinho que me preenchia de uma forma que nunca havia sentido ainda. Eu sabia o que era e ainda assim ignorava todos os dias, todos os momentos, especialmente aqueles os quais estávamos juntos. Esperava aguentar aquilo por tempo suficiente, ou pelo menos até aquele tipo de sentimento ficar menor e se tornar apenas uma ternura a qual supria por uma pessoa querida.
Respirei profundamente, fechando meus olhos com certa força, colocando tudo no lugar. Pelo menos era o que achava que estava fazendo, mesmo sabendo que tiraria tudo assim que voltasse para aquele estábulo. Passei a mão em meu cabelo, colocando uma pequena mecha solta para trás de meu ombro. Me virei ao ouvir um barulho na porta, vendo o padre Lake ali. Ah, não. Desviei o olhar na mesma hora e voltei a olhar através do vidro em uma tentativa de fugir, ou pelo menos esconder o que estava sentindo. Ele não falou nada, apenas caminhou e parou ao meu lado, encarando o campo branquinho junto comigo.
— Está ficando difícil, né? — Sua pergunta me fez travar o maxilar e ainda assim não o olhei.
— De ficar no castelo? Sim. Está. — Sabia muito bem sobre o que estava falando e não era do castelo.
, você não está conseguindo esconder isso tão bem quanto gostaria. Acho que está perdendo seu dom. — E eu podia ouvir um tom de divertimento em sua voz. Ele estava achando graça da minha situação. Padre filho da puta.
— Não estou escondendo nada — rebati e o encarei.
— Hm, talvez seja isso, então. — Riu fraco, umedecendo seus lábios e me olhando de volta. — sabe sobre os seus sentimentos? — Desviei o olhar.
— Ele não tem que saber sobre isso. Vai confundi-lo. — E foi a primeira vez que eu admiti sentir algo em voz alta e aquilo foi extremamente estranho. Apenas suspirei e abaixei a cabeça de leve. — precisa construir uma família e não ficar preso a mim.
— E é isso que ele realmente quer? Construir uma família? Foi isso que te disse? — Suas perguntas foram como tapas na minha cara. — Você deveria lhe dar a opção de escolha quando é isso que prega por onde passa. Isso que está fazendo não é o que um líder rebelde faz. Talvez você tenha se perdido dentro das paredes daquele castelo. — Travei o maxilar com força quando jogou aquilo na minha cara e o olhei com certa raiva.
— Você sabe muito bem que não é assim que as coisas funcionam! — Soltei em um rosnado. — Sabe muito bem quem sou e tudo o que levo comigo por onde passo. Não posso simplesmente arrastar o para a merda! Eu… — Travei meus lábios em uma linha reta e fechei meus olhos. — Prefiro fingir que o que está crescendo dentro de mim não existe do que o ver mal.
— Claramente, você não percebeu, mas ele já está nessa contigo há muito tempo — apenas rebateu e se virou, se afastando. Então parei para pensar naquilo e em tudo que já tinha me falado sobre querer ficar ao meu lado e que eu era a pessoa mais importante em sua vida. — O que está fazendo só vai ferir ele, você querendo ou não — disse, então parou na porta antes de sair. — Muitas pessoas podem te querer bem, mas vai ser a que mais irá querer isso e sabe disso melhor do que eu quando parece conhecer bem o coração dele. Ele daria a vida dele pela sua sem pensar sequer uma só vez. — Aquela merda me tirou a porra do ar e meu coração se apertou demais. Eu sabia de tudo aquilo e mesmo não estando sob meu controle, não queria que se sacrificasse por minha causa. — Tenha um bom Natal, .
Não respondi nada, me mantive calado, tentando normalizar a merda da minha respiração que tinha se perdido mais do que antes, e sentia meu peito apertado com meu coração batendo rápido demais. Sinceramente, eu não tinha mais ideia do que fazer depois de ter ouvido aquilo mesmo que já soubesse de cada palavra que me foi dita. Pela primeira vez na minha vida, eu me senti de certa forma desesperado e sem saber o que fazer em uma situação.


Capítulo 2



Quando estava voltando com o par de luvas, parei na porta do quarto dos meus tios e sorri de leve ao ouvir minha tia conseguindo tirar umas risadas dele. Fazia um bom tempo que não ouvia a risada dele e aquilo aqueceu mais ainda meu coração. Sentir o amor e carinho no tom de voz dela ao dizer que até o príncipe estava em nossa casa com sua linda filha. Meus lábios se abriram mais naquele sorriso quando ouvi ele dizer que eu deveria ser mesmo alguém especial para o .
— O sempre olhou para tudo e todos com muito amor e carinho. Mas você tinha que ver como ele ficou quando viu o príncipe aqui hoje. — Mordi minha bochecha internamente ao ouvir ela contar aquilo para o meu tio. — Não consigo colocar em palavras, porém me deixou muito feliz vê-lo daquela forma.
Dei uns passos para trás, não escondendo o sorriso ao me afastar e caminhar de volta para o estábulo. Segurava o par de luvas pensando que o certo seria eu ter avisado que iríamos sair, mas sabia que minha tia iria se preocupar e era bem capaz até de proibir o príncipe de fazer aquilo. Seria engraçado vê-la tentando impedir o de fazer algo. Lambi meus lábios e parei antes de entrar no estábulo, quando ouvi a voz do padre lá dentro. Deveria dar privacidade aos dois e voltar depois, mas não consegui me mover dali quando escutei meu nome na conversa.
Encostei meu corpo e encarei as luvas quando ouvi o padre perguntar se eu sabia sobre os sentimentos que o tinha por mim. Uni levemente minhas sobrancelhas e ignorei aquela parte honrada dentro de mim mandando eu ir embora dali, mesmo que o assunto fosse sobre mim, sabia que não era para eu ouvir. Puxei e engoli um pouco de ar com a resposta do príncipe, virei meu rosto em direção à porta do estábulo e notei que não conseguia respirar direito. Não podia ser aquilo que eu estava pensando que era…
Retraí meus lábios e os pressionei com força um no outro com ele dizendo que eu precisava construir uma família. Me lembro de ter dito a que queria saber como era me apaixonar e não que eu queria ter uma família, então foi exatamente isso que o padre perguntou para ele. Céus! A cada segundo que eu me encontrava violando minha própria honra ao ouvir aquilo eu não conseguia sentir o ar entrar mais. Meus olhos ficaram presos na neve com as palavras do padre para o , acabando que me acertando mesmo que ele não soubesse que eu estivesse ouvindo.
Certo, me dar a opção de escolha. Eu teria uma escolha ali?
Soltei o ar de forma pesada com o tom de voz que o estava usando, ele estava nervoso e isso me deixava triste. O sentimento ruim dentro de mim pareceu crescer com suas palavras. Já sabia que ele sempre iria tentar me manter afastado por medo de acontecer algo comigo. Estava ciente de sua preocupação em me colocar no meio dos seus problemas, dos seus planos e por mais que eu adorasse estar na sua presença... Não, era bem mais que adorar. Ele tinha sido sim a melhor coisa que já tinha me acontecido e para sempre seria. Mas o meu coração se apertava demais naquelas situações porque seu objetivo e seus planos eram a vida dele. Saber que ele sempre iria querer me manter de fora daquilo era quase como me manter de lado de sua vida. Fechei meus olhos, forçando minhas pálpebras ao ouvi-lo dizer que preferia sentir aquilo dentro dele não existir do que me ver mal.
Ouvi o padre lhe responder e notei que ele estava mais próximo da porta, fiquei encarando-a aberta e notando minha respiração mudar ainda mais com cada sílaba proferida por aquele sábio padre. Ele também era um rebelde, o que já estava bem óbvio, apenas pela forma como ele conhecia bastante o para estar te dizendo aquilo tudo sem medo algum. Mas ele também estava certo em cada parte que disse que se remetia a mim. Sim, acabava me ferindo saber que eu sempre seria mantido de fora. E, mais uma vez, sim, eu sacrificaria minha vida pelo sem nem hesitar. Sem pensar duas vezes.
Não reparei nem quando o padre saiu do estábulo, mas nossos olhos se encontraram e eu li perfeitamente nos olhos dele que ele soube que eu tinha escutado. Seus lábios formaram um sorriso compreensível e então murmurou extremamente baixo um “boa sorte” para mim. Franzi levemente meu cenho com aquilo e observei ele se afastar, voltando para a casa. Não consegui voltar para o estábulo logo de primeira, fiquei estático naquela mesma posição, naquele mesmo local. Sentindo a neve cair no meu cabelo escuro e pintar todo meu lar e o reino de branco.
Um tempo atrás, e eu estávamos em um dos quartos brincando de sujar um ao outro com farinha. Naquele mesmo dia, em um específico momento, eu realmente senti vontade de unir nossos lábios e aquele sentimento nunca mais saiu de mim. Por mais que eu soubesse o quanto aquilo era errado e não pelo fato de ser realmente considerado um pecado, aquilo não me importava. O verdadeiro pecado para mim era julgar as pessoas por quem elas amavam, sendo que muitos pecados piores eram cometidos até pelos próprios líderes da igreja. No entanto, era errado querer beijá-lo por sempre pensar que por mais que ele pudesse se interessar por mim daquela mesma forma, eu ainda era apenas um guarda.
Um guarda e também seu amigo. Assim como aquela pessoa que ele mesmo disse que não iria arrastar para o meio dos seus problemas.
Respirei fundo mais uma vez e entrei no estábulo, entendendo por que o padre tinha me desejado boa sorte agora. Conhecia bem o para saber que aquela expressão dele não significava as melhores. Dei alguns passos vagarosos até chegar perto dele e olhar para onde ele estava olhando também.
— Vamos? — Perguntei, estendendo o par de luvas para ele, que olhou para elas e as pegou.
— Uhum — murmurou, já vestindo as luvas com seu cenho franzido. — Vamos em qual cavalo? — Se virou, olhando os que estavam ali, evitando me encarar.
— Podemos ir em dois. Vai ficar mais fácil e prático de trazer as coisas — respondi baixinho, sentindo tudo dentro de mim se revirando daquele jeito péssimo toda vez que ele fazia aquilo comigo.
— Tudo bem. — Parecia que estava limitando suas palavras agora, elas eram curtas e seu tom direto.
Então eu também simplesmente parei de tentar puxar assunto. Pegamos os cavalos e fomos em silêncio para o comércio mais próximo. Sentia minhas mãos trêmulas mesmo com as luvas e isso foi só minha confirmação de que eu não tremia de frio e sim por estar engolindo tudo que eu estava sentindo naquele instante. manteve o silêncio entre nós dois até quando chegamos ao comércio e fomos comprando as coisas. Tudo que eu perguntava ou comentava sobre os mantimentos ele me respondia daquela mesma forma. Seco e com a menor quantidade de palavras que ele conseguisse usar nas respostas.
Voltamos para onde tínhamos deixado os animais e tive que impedir meus próprios olhos de olhar para ele enquanto guardávamos os mantimentos nas bolsas. E mais uma vez o silêncio perturbador prevaleceu no caminho de volta para minha casa. O sol estava escondido devido ao frio, mas, mesmo assim, o dia estava extremamente bonito mesmo com a neve não parando de cair por nenhum instante. Todas as árvores cobertas por ela, dando um contraste no verde com o branco. Daria um belo desenho mesmo que todo esboço que eu fazia ultimamente era relacionado ao príncipe rebelde que mal estava me encarando agora.
Lá estávamos nós de volta ao estábulo, mas antes de entrarmos nele, conseguimos ouvir as risadas altas que vinham da casa. Deu um sentimento bom em saber que lá dentro pelo menos o clima estava quente, bem melhor do que estava aqui fora. Inspirei um pouco forte quando deixamos os cavalos nas baias e assim que vi pegar a bolsa que estava no cavalo que ele tinha usado, não fiz o mesmo.
— Não vou conseguir passar o Natal dessa forma, . Não com você agindo daquele mesmo jeito quando você quer me afastar — soltei as palavras com pesar por infelizmente não conseguir controlar aquilo. Ele me olhou lentamente, deixando seus olhos se encontrarem com os meus. — Você tem algo para me dizer? Algo te incomoda?
— Desculpa, vou disfarçar melhor — foi o que me respondeu, desviando o olhar agora, colocando a alça da bolsa por cima de seu ombro. — Não tenho nada para dizer, . É coisa minha, não tem que se preocupar com isso, logo passa. — Vi claramente que o pequeno sorriso que deu foi forçado, fazendo eu negar levemente com a cabeça. O olhei com uma certa mágoa, pegando a outra bolsa enquanto soltava o ar como um suspiro frustrado.
— Por que é muito mais fácil fingir que não existe, não é? — Por mais que minha voz tenha saído baixa e falha, soube que ele conseguiria ouvir. Passei por ele para poder sair daquele lugar logo, mas senti sua mão segurar meu braço, me impedindo de fazer aquilo.
— Do que você está falando? — Perguntou, me puxando para trás e agora olhando dentro de meus olhos. Seu maxilar estava claramente travado, dava para ver ele ressaltado pela força que fazia.
— Nada, príncipe. Pode voltar ao seu disfarce. — Puxei meu braço da sua mão, tentando mais uma vez passar por ele, mas sua mão empurrou a porta com força, me impedindo de sair. Vendo claramente como ele ainda estava tentando ser sonso comigo, além de magoado, agora eu estava irritado.
— Não vamos começar isso agora, vamos? Príncipe? A próxima vez que se referir a mim vai ser alteza? — Seu tom de voz saiu baixo, mas dava para sentir a sua raiva. Até que puxou o ar com força e umedeceu seus lábios, deixando seu olhar descer agora. — Você não tem nada a ver com meus problemas, me desculpe por ter ficado evasivo.
Desviei meus olhos dele, abaixando a cabeça e respirando forte. Fechei meus olhos apenas por alguns segundos, aqueles longos segundos que poderiam ser considerados como tortura. Mordi de leve meu lábio e voltei a olhar para ele.
— É. Eu não tenho nada a ver com os seus problemas, — pronunciei seu nome como um pedido de desculpas por ter usado o título. Fiz um gesto para ele me dar passagem ou abrir a porta de volta para podermos voltar para dentro da casa.
— Está bem — soltou baixo, mas não se afastou. — Você ouviu a minha conversa com o Lake, não é? — Perguntou, e eu podia sentir agora seu olhar de volta em mim.
— Não acho que vá fazer diferença eu ter ouvido ou não, já que se eu não tivesse escutado, eu nunca saberia. — Deixei meus olhos fixos nos dele, sem desviar ou até piscar, conseguindo sentir o ar entrar como se fosse ácido, deixando minha respiração mais pesada. Podia ver que ele tinha ficado tenso de uma maneira que ainda não tinha visto. — Porque claramente eu não posso ter escolhas aqui, não é? Porque claramente é mesmo muito mais fácil fingir que não existe, certo? Absolutamente mais fácil me manter fora dos seus problemas é a solução, mesmo que vá me machucar ou não. Estou errado? — Engoli a seco.
Empurrei ele com uma certa brutalidade de perto da porta para poder sair dali, o fazendo dar uns passos para trás.
— Você quer uma escolha? — Perguntou irritado, sua respiração pesada estava rápida. — Está bem, escolhe. Vai. O que você quer fazer com isso? Me fala como resolver. Porque eu to cansado de tentar arrumar uma solução para algo que só está ficando maior a porra do tempo inteiro! Não sei o que fazer, inferno! — Sua raiva só ia ficando maior conforme suas palavras saíam. — Você quer ir? Pode ir. — Deu passagem para que eu pudesse sair do estábulo. — Eu vou ficar aqui um pouco — disse, se afastando, passando a mão em seu cabelo, o segurando com certa força.
— Você só está me dando uma escolha porque infelizmente eu ouvi a conversa e não porque você realmente quer uma — respondi baixinho, sentindo meu coração doer demais. Seu olhar estava rígido sobre mim, sua respiração pesada e parecia que cada músculo seu estava travado. — Peço perdão por estar sendo um problema na sua vida que está crescendo, pelo jeito. Não era mesmo minha intenção. Não posso te dar uma solução, mas posso ser sincero com você, o que eu não estou recebendo de volta. — Passei de leve as mãos no meu rosto antes de voltar a encarar seus olhos com seriedade, vendo que continuava me olhando da mesma maneira. — O que eu sinto por você não é um problema pra mim. É algo forte, intenso, que me arrebata a cada segundo. Algo que também se torna cada vez maior e eu não me importo com isso. Nunca senti isso por ninguém, então não sei realmente o que é, mas eu sinto por você e eu estou disposto a mais uma vez lutar com tudo apenas para te ter perto de mim. Aquele dia que estávamos fazendo pão, eu percebi que senti vontade de te beijar. Eu me senti um tolo, sabe? — Ri fraco ao confessar isso e agora parecia que seus nós estavam começando a serem desfeitos, porque seus ombros cederam um pouco. — Só mais um plebeu querendo beijar o príncipe. — Rolei meus olhos e balancei a cabeça em negação. — Então você me contou quem realmente era, isso não mudou em nada o que eu sinto por você porque você é e sempre vai ser a pessoa mais importante da minha vida. O padre estava certo em dizer que eu morreria por você, aliás, o padre estava certo em muitas coisas que disse de mim. Só que… — Desviei meus olhos dele para esconder a frustração que voltou a me arrebatar com vontade mais uma vez. — Eu estou cansado de você ficar me afastando. Estou frustrado por descobrir que talvez o que eu sinta por você é correspondido escutando sua conversa sem querer porque você não iria me contar e agora estou também magoado por você ter escolhido disfarçar do que enfrentar. — Me segurei na porta do estábulo, mas não abri para sair. — Você tem algo para me dizer ou eu posso mesmo ir agora? — ficou em silêncio por um tempo.
— Você está certo em quase tudo — disse baixo, fazendo meus olhos voltarem para ele. — Estou te dando uma escolha porque ouviu, porque tenho andado sufocando tudo dentro de mim por um bom tempo, na esperança de que fosse passar, porque acho que seria pior se soubesse a verdade. Sabia que isso te deixaria confuso, ainda mais por me considerar um grande amigo seu, por confiar demais em mim, e… — Mordeu de leve seu lábio inferior. — Sinceramente, eu não sei o que te falar. É difícil para mim lidar com sentimentos, você sabe disso. Não sei o que fazer, não sei como reagir, e isso está me assustando. Porque você sabe que sou controlador e isso está fugindo das minhas mãos. Estou tão frustrado comigo mesmo quanto você. Então tem todo o direito de se sentir assim. Mas escolhi esconder por não saber como enfrentar e é uma merda admitir isso. — Soltou o ar que parecia estar preso por muito tempo. Estava ficando mais aflito e mais tenso com suas palavras. — Não vou te pedir desculpas e nem nada do tipo, porque sei exatamente o que fiz e o que estou fazendo. Tinha ciência de que isso poderia, sim, te machucar como está fazendo agora. Não peço para tentar me entender, porque nem eu mesmo estou conseguindo. Mas quero que saiba que você não é e nunca será um problema para mim. O problema aqui é somente eu. — Passou a língua pelos seus lábios lentamente. Aquelas palavras me fizeram parar de olhar para ele, me sentindo perdido dentro de uma bolha, por mais que parecesse impossível se perder em algo que não tem divisórias, mas eu me sentia preso e afogado, como se não tivesse salvação. — E não precisa se sentir um tolo por ter sentido vontade de me beijar. Também senti muita vontade de chegar mais perto e deixar meus lábios tocarem nos seus nem que fosse apenas por um segundo, mas apenas não fiz por achar que um pequeno ato meu por mero impulso poderia estragar tudo. Porque mesmo te afastando às vezes, eu prefiro você perto do que longe por algo que poderia ter sido meramente controlado por mim. — Deu uma pequena pausa. — Desculpe por estar te cansando. Eu deveria… — não completou sua frase, mas algo dentro de mim me dizia que o final daquela frase seria mais uma vez que ele deveria se afastar de mim. — Não tenho mais nada para falar. Pode ir se quiser — falou ainda de costas para mim.
— Não queria suas desculpas, — murmurei, tentando de uma maneira falha controlar minha respiração quando claramente eu deveria desistir de fazer aquilo. — Mas eu peço desculpas por não ter tentado ver o seu lado e simplesmente ter jogado tudo isso em cima de você. Eu também não sei lidar com nada disso, é tudo novo pra mim. — Segurei minha própria mão, que mais uma vez estava trêmula mesmo estando com as malditas luvas. Não queria admitir isso de novo pra mim, mas estava muito estampado que aquilo era sim um erro. Não deveria ser complicado. Mas era. Não deveria machucar. Mas estava machucando. Tudo em nosso diálogo parecia errado e eu sinceramente não sabia como arrumar e nem sabia se tinha como. — Vamos… Vamos só aproveitar o Natal, por favor — pedi de uma forma dolorosa, abrindo a porta do estábulo e saindo no meio da tempestade que pareceu piorar.
O ar entrava cortando meus pulmões e eu decidi culpar o frio. Mordi meu lábio inferior e o deixei preso como uma saída para não sair berrando no meio daquele campo. Precisava voltar e fingir que eu ainda estava extremamente feliz. Mas eu não estava, queria ter achado a solução que ele me pediu. Queria ter uma escolha, mas eu não tinha. Nem ele parecia ter. Antes que eu chegasse em casa, senti os braços de passarem por minha cintura e minhas costas baterem contra seu peito com certa força.
— Eu não consigo — soltou em meu ouvido, com sua respiração cortada, me causando um arrepio intenso. — Não dá, está bem? Eu não consigo fingir mais, . — Tinha desespero em seu tom, o que causou uma certa violência na forma que meu coração batia. — Não vou conseguir entrar lá e te olhar sabendo que isso tudo está doendo em você… Do mesmo jeito que está em mim. — Seus braços se afrouxaram e ele me virou. Senti meu ar ser preso no mesmo instante. — Eu quero saber a sua escolha para que eu possa fazer a minha — pediu, agora olhando em meus olhos.
— A minha escolha vai ser sempre a mesma, — deixei meu tom marrom se misturar com profundidade em seu tom verde. — Não vai existir situação ou problema em que a minha escolha não seja você. Apenas você. — Respirei fundo. — Eu escolho você, meu príncipe rebelde. — Encostei minha testa na dele, tocando de leve a lateral do seu rosto e desejando estar sem luva para sentir sua pele.
— Certo, nós vamos dar um jeito nisso juntos, então — disse, chegando mais perto e passando seu nariz pela lateral do meu, seus lábios quase passaram sobre os meus. — … — sua voz saiu baixinha e levemente cortada. — Eu… Droga, eu quero muito te beijar agora. Nós estamos no meio da nevasca e está ficando muito frio. — Soltou um riso com aquilo. — Mas não consigo me importar com mais nada disso agora, a não ser chegar mais perto e sentir seus lábios nos meus.
Umedeci meus lábios, sentindo que, de todas as formas que eu já senti meu coração bater, naquele instante, ele se superou. Não entendia se o ar realmente faltava ou ele entrava e virava vapor dentro de mim. Mesmo parecendo estar sendo algo ruim de ser descrito, não era ruim, não agora. Era uma euforia e ansiedade arrebatadora. Nunca em nenhum momento da minha vida eu tinha sentido vontade de beijar alguém como eu estava sentindo agora. Uma vontade tão grande que eu podia sentir minha boca até secar. Meu corpo todo ficou arrepiado só com a ideia.
— O que eu mais quero sentir nesse exato momento são seus lábios, . — Por mais tenso que eu estivesse, meu coração acelerado demais e minha respiração… Ah essa daí já não tinha mais nem explicação.
Eu queria muito que ele me beijasse.
chegou lentamente mais perto, deixando seus lábios tocarem os meus com leveza, resultando meu ar ser solto contra seus lábios como um doce suspiro. Suas mãos me tocaram, uma passando por minha cintura, me abraçando, e a outra veio até minha nuca, me puxando um pouco para cima e para mais perto dele. Seus lábios se intercalaram com os meus de forma suave. Sentia sua respiração presa, até que seus lábios passaram pelos meus de baixo para cima, se afastando um pouco e voltando, agora podendo sentir sua língua passando pelo meu lábio inferior como se pedisse permissão para continuar.
Com bastante cautela e de uma forma vagarosa, deixei meus braços passarem por sua nuca, o abraçando por ali e deixando meu peito mais colado no dele. Sorri de forma tímida com a sensação de sua língua no meu lábio, mas fui entreabrindo os meus aos poucos, ainda com aquele receio. Aquele nervosismo ainda fazia minhas mãos tremerem e meu corpo ficar um pouco tenso. Deixei meus lábios se deslizarem sutilmente pelos dele, até que com bastante lentidão minha língua tocou a dele e isso me fez afastar nossos lábios. Abaixei minha cabeça e prendi meu lábio inferior ao sentir minhas bochechas queimarem. Então o puxei para um abraço forte, morrendo de vergonha de olhar para ele naquele momento.
Sua mão que estava em minha cintura, me segurando, deslizou para o meio de minhas costas, em um afago carinhoso. Seu queixo se encostou em meu ombro, sentindo seu rosto se escondendo na curva de meu pescoço. Sua respiração que estava pesada agora.
— Está tudo bem, — sussurrou bem baixinho em meu ouvido, fazendo eu segurar um suspiro que quis sair. Nunca saberia lidar quando ele sussurrava tão perto assim, sua voz rouca me tirava o ar completamente. — Não precisa sentir vergonha de mim — pediu de um jeito doce. — Eu sei que nunca te beijaram dessa forma.
Retraí meus lábios, ainda sentindo aquela ardência estranha no meu rosto, mas ele tinha razão. Não precisava ter vergonha dele. me conhecia bem demais e eu adorava isso. Adorava tanto que me relaxava. Fui soltando ele levemente daquele abraço apertado apenas para poder olhar em seus olhos. Toquei seu queixo, fazendo um carinho suave ao puxar um pouco mais de ar.
— Não… Nunca beijaram e eu nunca quis também, não como eu realmente quero agora. — Levei meus lábios até sua bochecha e o beijei ali, vendo um lindo sorriso tomar seus lábios, deixando suas adoráveis covinhas surgirem. — Olha, eu sou extremamente devagar com essas coisas, então peço para não desistir, por favor — pedi um pouco nervoso, porque queria beijar ele de novo. Meus dedos que estavam em seu queixo escorregaram por dentro de seu cabelo para segurar sua nuca.
— Eu percebi na forma como você recuou — contou, soltando um pequeno riso nasalado. — Vamos fazer assim… — Deu um pequeno beijo em meu nariz, me tirando uma risadinha rouca e baixa. — Vamos levar as coisas no seu tempo. Sem pressa, sem pressão, apenas vamos deixar levar da forma como você se sentir bem. Eu não me importo se vai ser rápido ou devagar, me importo que seja com você. — Agora levou seus lábios até minha bochecha, dando um outro beijo ali e passando seu nariz por minha pele de cima para baixo, me causando um arrepio tão gostosinho que fez um sorriso fraco aparecer nos meus lábios. — Até porque eu também não faço ideia de como lidar com nada disso e pode ser que me assuste no caminho. Então te peço para ter paciência comigo, porque certamente vai ter uns momentos que vou querer desaparecer, mas você pode brigar comigo quando eu quiser isso e me pegar pelo cabelo se for preciso. — Soltou uma pequena risada. — Ah, e sobre essa sua mão na minha nuca… — Fechou os olhos e jogou um pouco a cabeça para trás. — Isso é perigoso, tem um alto risco que eu te pegue e te beije até seu ar faltar. — Voltou a me olhar agora e seus tons verdes estavam mais fortes. Tá, era normal respirar quente? Ainda mais naquela tempestade? — E a gente está parecendo dois bonecos de neve. — Riu e passou a mão em meus cabelos, fazendo os flocos agarrados neles caírem em meu rosto, derretendo quando caiu em minha pele, fazendo eu rir um pouco mais por causa disso. — Sua tia vai nos matar quando nos ver assim.
— Eu gosto bastante de como soa sem pressa ou pressão, até porque eu também só me importo se vai ser com você. — Deslizei um pouco meus dedos por dentro do seu cabelo, em um carinho suave em sua nuca, vendo que soltou um suspiro por causa daquilo. — E pode deixar que da próxima vez que você tentar desaparecer, eu vou mesmo te puxar pelo cabelo e te dar uns tapas — falei, usando meu tom de voz bravo, o mesmo que eu usava com o pequeno Arthur quando ele tendia a me desobedecer. Mas voltei a sorrir no canto dos lábios, sendo um pouquinho abusado e roubando um selinho dele, e com isso riu de leve. — Hmmm, então eu descobri seu ponto fraco? — Perguntei, erguendo as sobrancelhas e apertando mais um pouquinho sua nuca só para ver a reação, o fazendo soltar o ar de forma pesada dessa vez e me chamar pelo nome completo em um leve tom de advertência. — Eu poderia fazer isso de novo só para ver se não era blefe seu, mas… — Deixei meus dedos de sua nuca caírem para o seu ombro. — A minha tia vai mesmo sair atrás de mim com a vassoura na mão se me vir nessa tempestade. — Fiz uma careta por causa daquilo, rindo em seguida e me acompanhou.
— Perfeito, então. — Sorriu abertamente para mim. — Ah, eu sei que os tapas são reais — comentou rindo um pouco, me lançando um olhar o qual não duvidava que eu realmente fizesse aquilo. Apenas levantei meus ombros em sinal de que poderia ser mesmo real os tapas. — Mas corre o risco que eu goste deles também. — O vi segurar o riso que queria soltar por causa daquilo, mas a brincadeira ou não acabou fazendo meus olhos se abrirem um pouco mais em surpresa. — Talvez tenha — respondeu sobre o ponto fraco em sua nuca, me olhando com os olhos estreitos. — Você sabe que eu não costumo blefar, . — Ergueu de leve suas sobrancelhas, mostrando que estava falando mesmo a verdade. — Vem, vamos entrar logo. — Me soltou e se virou, pegando a bolsa que estava jogada na neve, então voltando e segurando a minha mão. — Ah, antes de entrarmos… — Se virou e me deu um selinho demorado, respirando fundo. — Agora a gente pode ir — disse, rindo de leve.
— Estou ficando bem curioso quanto aos riscos que eu ando correndo. — Deixei o sorriso em meus lábios se estender para o lado, balançando um pouco as sobrancelhas em tom de curiosidade mesmo. — Risco de ser beijado até meu ar faltar, também o risco de você gostar dos meus tapas. Qual é o próximo? — Perguntei baixinho, quase roçando meus lábios nos dele. — Vou me lembrar de mexer mais na sua nuca para comprovar melhor então. — Pisquei um olho para ele, rindo nasalado, o vendo abrir a boca e estreitando os olhos ainda mais. — Eu sei mesmo que não costuma blefar. Estava só te provocando mesmo. — Dei meu melhor sorriso inocente, mesmo sendo brincadeira. sabia que apesar de eu ter zero experiência nisso, eu ainda era abusado.
Balancei a cabeça, lembrando de pegar a bolsa que estava comigo também e nem notei o quanto eu estava sorrindo abertamente só por ele ter voltado para segurar minha mão. Fiquei um tantinho surpreso com o selinho demorado e senti toda aquela sublevação de sentimentos percorrer meu corpo todo somente com aquele toque, que me fazia mesmo sentir as tais famosas borboletas no estômago.
Segui ainda sorrindo abertamente, até chegarmos à entrada da casa. Acabei fazendo com ele o mesmo que ele tinha feito comigo. Bati de leve em suas costas e no seu cabelo que estava coberto de neve. Aquilo me tirou uma risada gostosa e segurei sua mão com mais força. Tinha um sorriso em seu rosto, um fechado e fofo.
— Quando não é feno, é neve. — Lembrei da noite que fugimos para a festa no vilarejo. — O que será da próxima vez? Tenho até medo. — Ri um pouco mais e me aproximei novamente dele, dando outro beijo em sua bochecha bem onde sua covinha estava aparecendo.
— Olha, levando em consideração como eu sou, melhor não se perguntar — contou, dando uma pequena risada, me lançando um olhar cúmplice. Fiquei ainda mais curioso com aquilo, mas mordi minha língua para não o questionar. — E agora você pare de me provocar, . Ou eu nem sei. Sabe que sou impulsivo tem hora. — Mordeu seu lábio inferior e chegou perto do meu ouvido. Minha respiração já esperava o arrepio vir sempre que ele se aproximava assim. Sabia que iria sussurrar no meu ouvido e aquilo me causava arrepios intensos. — Você não precisa mexer na minha nuca para comprovar nada… — sussurrou e beijou a lateral do meu pescoço, engoli a seco com isso e o olhei com as sobrancelhas levemente unidas. — Precisamos entrar agora, vem — disse, se afastando e parando na frente da porta, passando a mão em seu cabelo longo, que agora estava mais molhado do que quando chegou.
— Mas eu nem estava te provocando… — O empurrei de leve por causa disso e ele murmurou um “abusado”, achando engraçado também.
Abri a minha boca algumas vezes para questionar se não precisava mesmo mexer na nuca dele para comprovar se era seu ponto fraco ou não, mas ainda estava me sentindo extasiado com aquele beijo no meu pescoço, conseguindo ainda sentir minha pele arrepiada. Então apenas respirei fundo, concordando que precisávamos mesmo entrar.
Abri a porta para ele passar, tirando minhas luvas e meu casaco molhado em seguida. Balancei as peças molhadas nele só de brincadeira, rindo baixo por isso e só parando quando vi o olhar do padre em nós dois. Lambi meus lábios e assisti o que me pareceu um sorriso nos lábios do padre. Olhei para no momento seguinte, o assistindo lançar um olhar para o padre como se falasse “fique calado”. Deixei meu olhar se intercalar entre os dois, em um questionamento para mim mesmo se o padre tinha visto o que tinha acontecido momentos atrás lá fora, mas me mantive quieto, deixando o casaco pendurado e vendo uma dona Narcissa aparecer com seu avental na mão e aquilo já me tirou um careta, sabendo que vinha bronca. tirou sua capa enorme, que estava toda molhada agora, e a colocou no gancho ao lado do meu casaco.
— Onde é que vocês dois se meteram? — Colocou as mãos na cintura. — Sinto muito, príncipe, mas você também vai levar uma bronca. Onde já se viu saírem nessa tempestade? Por Deus! Passa os dois para a cozinha que eu vou fazer algo quente para vocês tomarem. — Segurei a risada e vi que a soltou mesmo dessa vez, fazendo eu virar meu rosto na direção dele no mesmo momento.
— Vai rindo que ela vai te acertar com o avental dali onde ela está — comentei baixinho, sentindo eu ser acertado pelo pano bem no braço, arrancando outra risada do . — Aí, tia! — A fuzilei com meus olhos, esfregando minha mão onde ela tinha acertado.
— Estou falando sério com você também, Alteza! — Aquilo me tirou uma risada bem alta mesmo.
— Comigo? Mas eu não fiz nada. — Fez de sonso na maior cara deslavada do mundo.
— E ele fica bravo quando chamam ele de Alteza. Então pode chamar mais quando for dar bronca, tia. — Mostrei a língua para ele, rindo ainda mais e quando fui passar pela minha tia, ela segurou meu braço com força.
— Não pode mostrar a língua para alguém da realeza, — murmurou pra mim, contendo muita preocupação em seus olhos e no seu tom de voz.
— O é meu amigo, tia — falei baixinho, olhando para ele por cima do meu ombro e sorrindo.
— Vocês estão mesmo fofocando sobre mim comigo aqui? Isso é sério? — Perguntou, cruzando os braços e apoiando seu peso em sua perna esquerda, fazendo uma pose engraçada, batendo seu pé direito no chão. Aquilo me tirou uma risada baixa, achando ele adorável demais daquela forma.
— Fala para o seu ego que ele também é muito bem-vindo aqui, . — Minha tia me deu outro belo de um tapa no ombro e segurou o riso de tal forma que seu rosto ficou vermelho. — Dá pra parar de me bater? Que coisa mais chata! — Fiquei totalmente emburrado com ela.
— Para de falar assim com o príncipe, ! Você está sem bolinhos de avelã por hoje — disse bem séria e brava.
— Perdeu os bolinhos! — soltou, rindo dessa vez sem pudor, claramente zombando da minha cara.
Então minha tia voltou para a cozinha, gritando nossos nomes de novo e eu olhei bravo para aquele príncipe abusado que estava rindo de mim. Era injusto eu ficar sem meus bolinhos! E ainda mais no Natal que ela me deixava comer em grandes quantidades.
— Pode deixar que eu te dou os meus bolinhos — sussurrou para mim, piscando um olho.
— Obrigado pela gentileza, . — Sorri de forma doce para ele. — Mas tem algo que eu quero mais que os bolinhos agora — sussurrei apenas pra ele ouvir, piscando um olho para ele em seguida e indo para a cozinha antes que a dona Narcissa voltasse.
— Ah, …. — soltou em um murmuro, me lançando um olhar levemente nervoso.
colocou a bolsa sobre a mesa e começou a tirar as comidas de lá de forma despreocupada. Notei que além de assistir ele fazer aquilo, minha tia também via com os olhos extremamente arregalados, como se estivesse vendo um fantasma. Olhei para ela e neguei com a cabeça para ela não discutir com ele sobre isso e nem questionar porque não teria finalidade. Ele já tinha comprado e ele era tão teimoso quanto eu era.
— Papai! — Áries entrou correndo na cozinha como um furacão, aos berros, com os braços para cima, agarrando a perna de , o abraçando. Cristine veio logo atrás correndo e tinha uma cara apavorada. — Aonde você foi? — Ele se abaixou, pegou a criança com um só braço e continuou tirando as coisas da sacola.
— Fomos comprar coisas para a senhorita comer — respondeu, lhe entregando uma enorme ameixa vermelha. — Mas vai precisar dividir conosco. — Naquele momento, Áries o olhou com uma cara fechada, unindo as sobrancelhas e fazendo um enorme bico.
— Mas se você comprou para mim, por que eu tenho que dividir? — Perguntou toda irritada, escondendo a ameixa contra seu peito. Mordi levemente minha bochecha ao controlar o sorriso em meus lábios por estar assistindo aquela cena perfeitamente adorável.
— Porque tem muita coisa e você não vai comer isso tudo. Temos que dividir sempre. Já te ensinei isso — usou um tom bem sério com a garotinha, que ainda o olhava bem feio, então ela apenas estendeu o braço em minha direção com a ameixa na mão.
— Para você — resmungou em uma voz baixa, suavizando suas feições, fazendo aquele sorriso que já estava nos meus lábios ficar ainda maior.
— Sabia que você me faz o guarda mais feliz de todo o reino sempre que me dá um presente? — Falei com ela, deixando o sorriso grande se fixar nos meus lábios. — Mas pode ficar com essa ameixa apenas para você, está tudo bem. — Pisquei meu olho para ela.
— Ela vai jogar essa ameixa na sua cara se você não aceitar — me avisou, tentando não rir, e Áries sacudiu sua mão em minha direção. — Pega logo, .
Acabei pegando e rindo pela ameaça vinda dos dois basicamente, então dei uma mordida na ameixa logo em seguida para não ser acertado por outra coisa. Vai saber… deu outra ameixa para Áries, que a esfregou na camisa dele antes de dar uma bela dentada na fruta.
— Gostaria de comer ou tomar alguma coisa, senhorita Cristine? — Perguntei para a moça, que parecia cansada ali na porta da cozinha e que arregalou os olhos por ter me dirigido a ela.
— N-n-não precisa s-se-se preocupar — gaguejou, ficando totalmente vermelha, deixando-me até levemente preocupado por seu nervosismo.
— Está ficando com problema de dicção agora, Cristine? Quer sim. Pode dar algo para ela. Mania de não querer aceitar as coisas — reclamou, franzindo os lábios. — Você comeu pouco no café. Coma uma fruta ou alguma coisa enquanto o almoço não sai — mandou em um tom sério.
— Coma mesmo, minha filha. Daqui a pouco o vento te leva! — Ouvi minha tia concordar com . Senti vontade de rir daquilo porque ela pegava intimidade muito fácil também, depois me xingava. — Não falo a mesma coisa para o porque ele é magro de ruindade mesmo. Então, pequena Áries e Alteza também, não fica oferecendo comida para ele não. — Passou perto de mim e bagunçou meu cabelo, tirando uma careta minha porque odiava que mexessem em meu cabelo daquela forma.
— Narcissa, posso lhe pedir uma coisa de presente de Natal? — Do nada, soltou aquilo. Olhei para ele com aquele olhar de que sabia bem o que ele iria pedir, era tão nítido pra mim o incômodo que ele sentia toda vez que escutava “Alteza”.
— Com toda a certeza desse mundo. Qualquer coisa — respondeu toda gentil, como se não me batesse com o pano de prato toda hora.
— Me chame de , por favor. Pelo menos neste Natal — pediu, dando um pequeno sorriso, tirando um outro meu.
— Ah, valha-me Deus! — Colocou sua mão em sua boca surpresa e me encarou. — Por isso você está abusado com o príncipe. — Mas riu ao ver meu sorriso de que era culpa do próprio mesmo. — Tudo bem, é o mínimo que posso fazer por tudo que a Alte… — Bateu de leve na sua testa, me tirando outro riso baixinho. — Por tudo que você anda fazendo por minha família e não somente no Natal, .
— Muito obrigado, Narcissa — agradeceu, dando um pequeno sorriso.
Então abriu um sorriso doce de puro agradecimento, voltando a preparar o almoço, dizendo que logo ficaria pronto. Meus olhos captaram Cristine se aproximando da mesa como se fosse mesmo invisível e ninguém fosse reparar nela. Mordi minha bochecha internamente, querendo rir da forma que ela pegou uma fruta em cima da mesa e voltou para onde estava antes em um pulo.
— Ah, , você deveria mostrar o campo de tulipas para a jovem Cristine. — Ouvi a voz da minha tia mais uma vez, arregalei um pouco meus olhos por causa daquilo e vi o virando o rosto bruscamente, a encarando sério. — Você não acha isso, ? — Minha tia questionou com aquele sorriso presunçoso ainda.
Ah não!
Padre Lake soltou uma espécie de risada com um engasgo que não entendi muito bem, então levou sua mão até a boca, pigarreando e olhando para nós, atraindo o olhar do para ele, o mesmo de quando entramos em casa.
— Você quer ir, Cristine? — Perguntou em um tom sério e eu vi os ombros da garota encolherem bruscamente.
— N-n-não. — Coçou sua garganta com o olhar sério de sobre ela. — Quer dizer — sua voz saiu mais firme agora. — Não se preocupe com isso. — Voltou a encarar a fruta em sua mão com seu rosto tão vermelho quanto a ameixa que eu ainda comia.
— Está a maior tempestade lá fora. Não dá pra ver campo algum. Que ideia boba, tia! — A olhei de uma forma séria para ela não tentar fazer aquilo que ela sempre tinha mania. Ficar me empurrando para cima de toda moça que aparecia.
— Aposto que Cristine iria adorar ouvir o contando uma de suas histórias — o padre Lake comentou, o olhei surpreso e depois para Cristine em seguida.
Sério? O que ele estava tentando fazer também?
— Eu quero! — Áries berrou, arrancando uma careta de por ela ainda estar em seu colo.
— Não grita no meu ouvido — ele disse de um jeito rabugento. — Vou ajudar Narcissa com a comida. Vocês podem ir para a sala ouvir o contar alguma história. O Lake fica nos ajudando.
— Desculpa — a criança choramingou e a colocou no chão. — Queria que você contasse a história junto com o — pediu baixinho, fazendo um biquinho.
— Talvez mais tarde, agora preciso ajudar aqui. — Então entregou um pêssego agora para Áries.
— Você sabe que não precisa ajudar, não é? — Falei baixo para ele.
— Não é justo deixar sua tia fazendo comida para nós enquanto ficamos nos divertindo. Eu vou ajudar — rebateu com sua teimosia nata.
— Quem tinha que ajudá-la sou eu e não você. Eu sou o sobrinho dela e você é o príncipe — murmurei, me controlando para não rolar os olhos. — Mas tudo bem… Vamos para a sala, bela princesa. — Sorri para Áries, que parecia ter adorado o pêssego que tinha ganhado de .
— Você não vai mesmo querer discutir comigo agora — resmungou, me olhando de relance, já tirando seu casaco, ficando apenas com uma camisa de seda vermelha, já erguendo suas mangas. — Vamos lá, Narcissa. Você comanda. Agora sou eu quem vou acatar suas ordens — disse, dando um sorriso.
Rolei meus olhos de uma forma bem dramática mesmo para ele ver e me afastei da mesa. Estendi a mão para a Áries como uma chamada para ela me seguir para a sala e olhei para a moça, que ainda encarava a fruta já mordida.
— A Cristine me ajuda com a história, certo? — Chamei a atenção da moça e seus olhos subiram em minha direção rapidamente assustados.
— Não! Ela é péssima contando história — Áries já logo falou, dando uma mordida no pêssego.
— Podemos ensinar ela a contar, o que acha? — Perguntei gentilmente para a garotinha.
— Não sei. — Fez uma careta, mastigando e coçando a cabeça, e olhando para a babá por alguns instantes. — Você quer aprender? — A mulher deu um pequeno sorriso para Áries.
— Tudo bem. O pode contar por hoje, eu vou apenas apreciar — disse em um tom bem baixo com sua voz suave.
— Perfeito então. — Acompanhei elas até a sala que estava bem mais quentinha do que a cozinha por causa da lareira.
— Vocês não vão deixar o Bennet no quarto sozinho, né? — apareceu na sala agora com seu cabelo preso em um coque. — Vou lá buscar ele, seus folgados.
Ele passou por nós e foi até o quarto, não demorando muito para voltar com meu tio em seus braços, o colocando deitado no sofá, voltando até lá e trazendo travesseiros e cobertas, arrumando meu tio ali de uma forma que achei carinhosa. Até me fazendo sorrir em total admiração para ele e depois para o meu tio, que me olhava com amor depois de agradecer umas mil vezes ao .
— Se a história do for ruim, o senhor me chama que eu venho aqui e dou um jeito nele. — Deu uma piscadinha para meu tio com um sorriso pequeno.
— Ele dá mesmo, tio, então não chama não — pedi baixinho, rindo por isso e tirando outro sorriso do meu tio. Aquilo fez meus olhos brilharem de leve, quase me fazendo chorar por ele estar mesmo sorrindo daquela forma.
— Ainda bem que sabe mesmo. — Ergueu as sobrancelhas para mim, quase que me fazendo mostrar a língua para ele mais uma vez naquele dia. — E ainda te deixo no cantinho do pensamento.
— Não! O cantinho do pensamento, não! Lá é um lugar terrível! Tem que ficar pensando por muito muito muito tempo. Parece que vai ser para sempre! Não faça isso com o ! — Então ela me abraçou como se me protegesse de seu pai.
— E você não me venha proteger dessa forma, ou irei te colocar no cantinho junto com ele. — apontou o dedo na direção dela, mas suas mãos me apertaram mais.
— A gente ia dar um jeito de se divertir no cantinho do pensamento juntos e ele nem ia ficar sabendo — murmurei para ela como um segredo, a fazendo rir de forma sapeca.
— Eu protejo ele sim. O é meu amigo. Eu vou sempre proteger ele. — Então deu língua para o , fazendo eu rir no mesmo instante porque ela fez o que eu queria fazer.
— Guarda essa língua agora, Áries — ele falou em um tom bem sério para a garotinha, que fez uma careta ainda maior para . — Garota! — Ela saiu correndo, rindo pela casa e se escondendo dele atrás do sofá. — Eu ainda estou te vendo, seu vestido está aparecendo. — Sua mãozinha puxou o vestido, tirando uma risada minha e do meu tio, assistindo tudo aquilo em diversão mesmo.
— Agora não está mais! — Deu uma gargalhada infantil muito gostosa.
— Sai daí, sua abusada. Senta aqui junto com e Cristine. E pare de aprontar, ou não vai ganhar bolinhos de avelã que nem o . — Aquilo fez Áries sair de trás do sofá e correr até onde estávamos, se sentando entre mim e Cristine. — Ótimo. Estou de olho. — Ela mandou um beijinho para seu pai, o fazendo rir fraco.
— Áries, por que não deixa a Cristine sentar ao lado do ? — O padre Lake apareceu na porta da sala perguntando, fazendo todos nós olharmos em sua direção.
— Não — Áries respondeu simplesmente. Tive que segurar a risada que quis sair por ela me lembrar muito o na sinceridade. — é meu. — Deu língua para o padre e me abraçou, olhando para Cristine, dando língua para a moça também, que fez a mesma coisa para ela.
— Eu não quero o — Cristine cochichou para Áries. — Fica com ele para você.
— Fico! Fico! Fico! Ele é só meu. — Fez uma careta para a babá, me abraçando mais perto, então olhou para . — Mas posso emprestar para o papai, mas só um pouquinho.
Não aguentei e ri disso, abraçando a garotinha de volta de uma forma doce.
— Então você me empresta ele? — perguntou de uma forma curiosa e Áries concordou com a cabeça.
— Mas só quando eu estiver dormindo, porque aí não vejo. — Fiz um bico e gargalhou, negando com a cabeça. — Não tem graça!
— Claro que tem. Ciumenta — rebateu.
— Não sou isso aí que você falou. — apenas riu de novo e foi para a cozinha.
— Certo, vamos à história — comecei, pigarreando levemente e sentindo a atenção de todos em mim. — Em um reinado não tão distante assim, vivia um camaleão que era muito amado por todos…
— Por que não pode ser dragão? — Áries me interrompeu. — Gosto do dragão .
Joguei meu corpo no sofá e soltei uma gargalhada bem alta que ecoou pela sala por causa da forma que ela chamou o . Não consegui nem tampar minha boca para abafar o som da gargalhada. Até meu tio soltou uma risada um pouco tímida por estar rindo do príncipe sendo chamado daquela forma.
— Não entendi por que você está rindo. — Ela me olhava séria agora, piscando seus olhos que tinham o tom mais claro de que o de .
— Foi apenas divertido a forma como você chamou o dragão. Desculpa, não vou rir mais. — Respirei forte, parando de gargalhar aos poucos.
— É porque você não conhece o dragão ! Ele é verde! Enorme! Muito bravo! Cospe fogo em todos os seus inimigos! Não teme nada! E é o melhor amigo da princesa Agatha! Ele sempre salva ela! Eu amo demais o dragão ! — Seus olhos até brilhavam naquele momento e pude ouvir se engasgando na cozinha, só me fazendo ficar mais pensativo em quem era Agatha então, para ele ter tido aquela reação repentina.
— Deixe o contar a história dele, Áries. Sem o dragão ! — Falou alto para que ouvíssemos. Franzi levemente o cenho e fiquei pensativo no sofá.
— Mas eu gosto dele! — Berrou de volta. — E eu amo as aventuras da princesa Agatha! Ela é muito valente! Muito linda! Muito legal! Muito divertida! Muito tudo!
— Áries, o vai te contar outra história. Larga de ser chata — rebateu em um tom bem sério.
— Tá bom. — Cruzou os braços emburrada.
— Desculpa, princesa Áries, eu não conheço muito sobre dragões. — Fiz um biquinho tristonho. — Mas sei que eles são incríveis mesmo e fico feliz que o dragão que você conheça salve princesas.
— Tudo bem, eu posso te contar mais sobre eles depois — sussurrou para mim de forma travessa. — O dragão salva a princesa, mas a princesa Agatha é tão corajosa e valente que também já salvou ele muitas vezes — contava ainda baixinho para não nos ouvir.
— Combinado. Quando a tempestade passar, eu também posso te mostrar o campo mágico que tem aqui. Pedi para o seu pai deixar eu te levar para ver e ele deixou — contei aquilo para ela, abrindo mais o sorriso, vendo seus olhos brilharem em minha direção. — Vou adorar saber mais sobre a valente princesa Agatha e o dragão também — murmurei também para manter o segredo entre nós.
— Sério? Eu vou amar! — Apertou suas próprias bochechas gordinhas. — Ah, o dragão é o irmão mais velho da princesa Agatha, que foi enfeitiçado por um feiticeiro muito perverso e aprisionou ele na forma de um enorme dragão verde. Eles se comunicam pelos pensamentos e a princesa Agatha está procurando por alguém que possa desfazer a maldição. Ela nunca o abandonou, mesmo que tenha virado uma enorme besta que cospe fogo. Sempre diz que ele tem um coração muito bonito apesar do que se tornou — contou baixinho, balançando a cabeça em concordância, fazendo as pontas de suas tranças baterem em seus ombros, só me deixando ainda mais intrigado naquela história toda. — Então eles cruzam reinos em infinitas aventuras! E sempre quando a princesa Agatha está em apuros, o dragão vem e ajuda ela!
— O seu pai vai brigar contigo por estar contando sobre a princesa Agatha e o dragão — Cristine a lembrou.
— Não vai nada se você não contar que eu estou contando! — Fez uma cara feia para a babá, fazendo Cristine dar de ombros no final. — Depois posso te contar uma das aventuras. — Voltou a me olhar. — Agora pode contar a sua história. — Abanou sua mãozinha no ar.
— Desculpa interromper a história, mas preciso que você pegue mais água, . — Minha tia apareceu no corredor.
— Claro. Mais tarde eu conto uma história então, Áries. Combinado? A gente faz essa troca. — Pisco um olho para ela, me levantando do sofá e antes de sair dou um beijo na testa do meu tio.
— Certo! — Sorriu toda feliz. — Vem brincar comigo, Cristine! — Puxou a babá.


Capítulo 3



Almoçamos e passamos o resto do dia fazendo as comidas para a ceia. Eu olhava para Lake às vezes querendo jogar algo em sua cara por estar bancando o engraçadinho para cima de mim. Ele sabia muito bem sobre o que eu sentia por , e com isso pegou e ficou empurrando Cristine para ele, como quem dizia: Você não vai fazer nada, então tem quem faça. Mas algo me dizia que ele sabia que tinha rolado algo entre nós, ainda mais a forma que me olhou quando entramos em casa. Então, na primeira oportunidade, quando Narcissa saiu de perto de nós, eu fui falar com o padre.
— Tem como você parar de graça? — perguntei irritado, vendo ele dar um sorrisinho.
— Estou fazendo algo? — Rolei meus olhos com ele bancando o sonso logo comigo.
— Ah, por favor, Lake! — soltei, o encarando e encostando de lado no balcão. — Para de empurrar a Cristine para cima do .
— Oras, você mesmo disse que ele deveria construir uma família. Cristine seria uma ótima esposa. Olha como ela cuida de Áries. — Aquilo me fez travar o maxilar e quase joguei farinha na sua cara, já que o saco estava perto de mim. — Não estou conseguindo te entender, .
— Vai bancar de engraçadinho para cima de mim? — questionei, respirando fundo. — Eu sei que você viu.
— Eu vi? Eu vi o quê? Aconteceu alguma coisa? — Riu fraco, virando a massa de mão que estava fazendo.
— Não me faça jogar farinha na cara de um padre, se bem que eu não ligo se isso é pecado ou não — falei para ele, que riu um pouco alto. — Vale bosta nenhuma mesmo. Deus está vendo, tá.
— Ele me entende — rebateu. — Quando você vai afastar o garoto? Quando voltar para o castelo? Mas a pergunta que estou realmente me fazendo é se fez aquilo apenas para que ele se calasse por causa do que eu causei — estreitei os olhos em sua direção com aquilo —, ou se realmente queria. Porque claramente você não iria contar para ele. Eu te conheço bem para saber disso.
— Não vou discutir sobre isso com você, Lake — falei sendo grosso mesmo. — Só pare de empurrar Cristine para cima dele, ou vamos ter uma briga — avisei pela última vez.
— Está bem, alteza. Algo mais? — me provocou, me olhando tranquilamente.
— Ah, me poupe. — Me virei e fui procurar outra coisa para fazer.
Logo mais colocamos tudo o que fizemos sobre a mesa. Peguei Benett na sala e o coloquei sentado junto conosco. Sentei ao lado de , segurando sua mão de leve por baixo da mesa, lhe dando um pequeno sorriso, e ele me deu um belo sorriso de volta, fazendo meu coração se acelerar. Lake fez uma oração, eu apenas fechei os olhos, mas não acompanhei quando não era religioso e nem nada parecido, porém respeitava. Assim que terminou, abri meus olhos.
— Antes de comermos, eu queria falar — disse rapidamente, olhando para todos naquela mesa. — Quando cheguei a Vermillion eu jamais imaginei que encontraria pessoas especiais por aqui — olhei para naquele momento, deixando meus olhos nos dele por alguns segundos —, especialmente uma que tivesse um coração tão bom e puro, que era capaz de curar o mundo todo apenas com seu sorriso — umedeci meus lábios, puxando o ar —, muito menos que ele poderia curar uma parte minha que achei que não tinha mais salvação. Ele me mostrou que até para o mais cruel dos homens pode haver misericórdia, e, sinceramente, nunca vou me esquecer disso. — Minha mão apertou a de com certa força. — Eu serei eternamente grato. E jamais irei me arrepender por tê-lo escolhido no primeiro dia que cheguei àquele castelo, quando sua bravura e coragem me encantaram de uma forma que ninguém jamais conseguiu. — Então olhei para todos ali. — E ele me trouxe até essa casa hoje, me permitindo conhecer mais pessoas maravilhosas e podendo entender o motivo de ser uma pessoa tão boa, pois quem o criou é tão bom quanto. — Encarei Narcissa e depois Benett, passando meu olhar por Lake, Cristine e parando na pequena Áries. — Hoje agradeço de coração por estar sentado nessa mesa comendo junto a vocês. Obrigado por isso.
— Quem deve um agradecimento aqui somos nós, — Narcissa começou a dizer, secando de leve seu rosto. — Desde quando soubemos que haveria um novo príncipe no reino, ficamos esperançosos e ao mesmo tempo com receio. Vermillion passou por tanta coisa, tanta tragédia e ainda estamos baqueados, tentando sobreviver a cada dia. Você, assim como o tom verde de seus olhos, trouxe esperança junto consigo. Você será um grande líder — disse com sinceridade, me fazendo sentir cada uma de suas palavras e então olhou para ao meu lado, que segurava minha mão com força e eu fazia o mesmo, demonstrando que não iria soltá-lo agora. — Eu perdi minha irmã cedo demais e o perdeu sua mãe. Sempre tive medo da dor da perda que eu sentia e ele também o fizesse ser um rapaz triste e amargurado. Mas ele nunca foi assim, sempre buscou ver o lado bom das coisas mesmo que não houvesse lado bom, ele consegue inventar um ou simplesmente consegue ver o que outros olhos não conseguem enxergar. Mas, mesmo ele sendo sempre tão bondoso, sorridente e amoroso, eu jamais tinha visto ele sorrir da forma como ele sorriu hoje. Da forma que ele vem sorrindo desde quando você chegou ao castelo. — Ela sorriu docemente para e abriu mais o sorriso para mim. Concordava plenamente com tudo que dizia e sabia que era exatamente daquele jeito, definitivamente a melhor pessoa que já tinha conhecido em toda a minha vida e por todos os reinos que já passei. Fiquei muito feliz por saber que eu era o causador dos sorrisos dele. — Então eu agradeço em nome do Bennet também por você estar sendo a felicidade do nosso menino. Você escolheu mesmo certo alguém para cuidar do seu sono de noite. Mas também gostaria de pedir algo para você, , de todo meu coração, mesmo sabendo que é errado eu pedir isso.
— Tia, não… — começou a negar, pedindo para ela não fazer aquilo, o que me deixou bastante curioso.
— Deixe ela pedir, — falei baixinho com ele e voltei a olhar para Narcissa. — Continue, por favor.
— Eu sei que ele faria qualquer coisa por você, exatamente qualquer coisa. Então, por favor, promete pra gente que não vai deixar ele fazer nenhuma estupidez que o levará para sempre de nós? — Mais lágrimas escorreram de seus olhos ao me pedir aquilo com certo desespero.
— Isso não é escolha de nenhum dos dois — declarou com um tom de voz firme que fez todos perceberem que aquilo o irritou.
— Fica calmo, por favor — pedi a ele, fazendo um carinho de leve com meu polegar em sua mão. — Acredite, eu venho tentando isso todos os dias, mas é teimoso demais — contei, dando um pequeno sorriso e olhando para meu guarda ao meu lado. — Mas prometo tentar protegê-lo sempre. E isso não é questionável. Ouviu, ? — Mantive meus olhos nos dele para que entendesse aquilo de uma vez por todas. Nada me impediria de tentar aquilo.
— Não é questionável a sua segurança também, . Apesar de sermos, sim, amigos, eu ainda sou o seu guarda e é meu dever proteger você, a Áries e a Cristine também. Quando eu entrei para a guarda, eu fiz o juramento com a minha vida, meus tios sabem muito bem disso. Então, é errado sim você pedir isso a ele. — Voltou seu olhar para sua tia.
— Narcissa, pega o pano de prato. Pode bater nele. — Apontei para ao meu lado, dando um pequeno riso. — Não vamos discutir sobre isso de novo hoje. Não é, ? — perguntei, o encarando para parar com aquilo, ou eu mesmo o bateria com o pano.
— Acho que além de apanhar com o pano, ele realmente vai precisar ficar no cantinho do pensamento. — Ouvi a voz de Bennet soar fraca, mas divertida. Aquilo tirou uma risada do que mudou sua expressão na mesma hora.
— Vamos comer logo então, porque vou culpar meu humor pela fome mesmo — ele respondeu, fazendo um bico engraçado e apertou de leve minha mão embaixo da mesa.
— Ótimo! Estou morrendo de fome — Áries soltou, tirando uma risada de todos nós, já pegando a colher e a enchendo de ervilhas, à enfiando de forma desajeitada em sua boca.
— Melhora esse bico, ou eu vou ser obrigado a mordê-lo — sussurrei em seu ouvido apenas para que ele ouvisse.
— Fica teimando comigo. Fica! — deu uma leve ameaçada com o tom de voz extremamente sussurrante também para que somente eu ouvisse. Seu polegar alisava minha mão assim como eu havia feito antes com a dele.
— Como se você não fosse teimoso também, além de abusado. Anda, vamos comer — falei e apertei sua barriga para que melhorasse aquela cara. Ele soltou uma risada baixa na mesma hora.
— A gente pode se encontrar sozinhos depois da ceia? Quero te dar uma coisa. — Me olhou sério, se certificando de que todos estavam distraídos com o jantar. Apenas concordei a cabeça, disfarçando igualmente.
Soltamos nossas mãos e começamos a comer também. A comida estava extremamente divina. Narcissa era uma cozinheira de mão cheia. Todos comíamos enquanto conversávamos, nos divertindo. E eu não me lembrava de ter um Natal tão bom quanto aquele, quando os meus em família sempre terminavam em alguma briga ridícula que meu pai começava com alguém depois de ter bebido vinho demais, fazendo minha mãe chorar e eu ter que tirar Agatha de perto da confusão desnecessária. Não teve um Natal sequer que passei em casa onde no final eu não estava trancado no quarto com minha irmã, sentindo medo de nosso pai entrar e nos bater por motivo nenhum ou brigar com a gente por nada. Eu sempre ficava contando histórias para ela, encenando peças que surgiam em minha mente ou que tinha visto na rua para distraí-la, para que não se desse conta dos berros que vinham do outro lado da porta. E no fim acabávamos dormindo enquanto eu cantava alguma música para ela.
Meus pensamentos foram cortados quando Áries reclamou que estava com sono e que queria dormir. O que era novidade, mas certamente estava cansada depois da viagem e por ter brincado o dia todo com Cristine.
— Já vamos, querida. — Sorri para a menina.
— Não vão, não! Ainda está nevando muito lá fora e vai ser uma viagem longa, perigosa e exaustiva. Temos quartos sobrando, por favor, nada de viagens a essa hora da noite — Narcissa interferiu no segundo seguinte, ficando realmente horrorizada com a ideia da viagem.
— Não queremos incomodar — falei rapidamente.
— Eu quero ficar, papai. — Áries esfregou seus olhinhos com os dorsos de suas mãos me fazendo franzir os lábios, sabia que estava fazendo charme para me convencer a ficar.
— Concordo com a minha tia, . Não vai ser uma viagem agradável agora — disse, se levantando da mesa para ajudar a retirar as coisas aos poucos. Suspirei.
— Está bem. Mostre a Cristine onde elas irão dormir, por favor — pedi de forma gentil para que a babá cuidasse de Áries antes que o humor da criança começasse a ficar igualmente ao meu quando estava com sono.
— Perfeito então. — abriu um pouco mais o sorriso. — Vem, tio. Te deixo no seu quarto no caminho para mostrar onde elas vão ficar. — Se abaixou um pouco para passar o braço do Bennet em volta do pescoço e chamou Cristine para segui-lo também com Áries.
Dei um pequeno sorriso assistindo aquela cena e me levantei, ajudando a tirar a mesa junto ao padre Lake e Narcissa. Guardamos tudo e limpamos a bagunça que tinha ficado. Logo tinha aparecido para ajudar e conseguimos acabar mais rapidamente. Narcissa saiu da cozinha, mas voltou logo depois.
, deixei as coisas para você e dormirem na sala. O padre Lake vai dormir no quarto com Cristine e Áries — a tia de informou, me fazendo apenas balançar a cabeça. — Sei que é simples, mas lá está bem quente, arrumei para vocês na frente da lareira. — Deu um pequeno sorriso.
— Qualquer lugar para mim está ótimo. Não me importo com o luxo. Muito obrigado. — Sorri para ela.
— Bem, vou deitar. Estou cansada. Fique à vontade, a casa é sua. Qualquer coisa que precisar, peça à . — Aquilo me fez olhar para o guarda ao meu lado.
— Pode deixar, qualquer coisa vou encher o saco dele. — Dei um pequeno riso. — Boa noite, Narcissa. Durma bem — desejei.
— Boa noite, tia. — Correu rapidamente até ela e lhe deu um abraço apertado.
— Boa noite, rapazes. Durmam bem — disse, dando um riso por causa do carinho de , então se retirou.
— Se vocês não precisam mais de mim, eu também vou me deitar. — O padre Lake bateu com as mãos em suas coxas. — Qualquer coisa, não me chamem, a menos que a casa esteja pegando fogo. — Me lançou um olhar que me fez rir fraco, negando com a cabeça. — Boa noite para vocês.
— Boa noite, Lake — falei, ainda com um sorriso nos lábios.
— Boa noite, Padre. Durma bem. — sorriu gentilmente para ele, piscando seus olhos lentamente.
Assim que Lake saiu, me encostei no balcão da pia e olhei para . Segurei sua mão, o puxando para perto. Agora que estávamos sozinhos, o fiz ficar entre minhas pernas, que estavam esticadas e abertas por estar me apoiando. Meus olhos encararam os seus e as pontas de meus dedos acariciaram a lateral de seu rosto, me fazendo dar um suspiro, apreciando toda a sua beleza. Pude sentir ele segurar minha cintura com uma de suas mãos.
— Queria falar algo comigo? — perguntei ainda curioso sobre o que tinha me dito no jantar.
— Queria te dar algo. — Mordeu seu lábio de uma forma cautelosa.
— Me dar uma coisa? — Fiz um pequeno bico. — O quê? — quis saber, sorrindo em seguida.
sorriu também e antes de se afastar beijou meus lábios de uma forma sutil, suave e doce, me fazendo fechar os olhos com aquilo, soltando o ar de leve por não ter sido esperado.
— Já volto — sussurrou perto dos meus lábios. Então saiu da cozinha no instante seguinte, me deixando ali com um sorriso bobo. Mas não demorou a retornar com um envelope que parecia ter a textura de couro e quando me entregou, vi o que era de fato. — Espero que goste. Eu mesmo desenhei. — Retraiu seus lábios e desceu seus olhos para o presente em minhas mãos.
— Acho meio difícil não gostar de algo que tenha vindo de você, mas tudo bem — falei, dando um pequeno sorriso. Abri o embrulho de couro, deixando se desfazer, revelando um desenho no pergaminho que tinha ali dentro, me fazendo perder o ar no instante que meus olhos viram o que o havia feito. — … — sussurrei, ainda olhando o meu desenho com Áries em um campo de tulipas. Meus olhos subiram até o guarda que estava parado na minha frente pegando todas as minhas reações com seus tons dourados. — É perfeito — disse, voltando a olhar para o desenho, sentindo meu peito ficando cada vez mais aquecido com meu coração que batia tão forte. — Eu amei. — Sorri para ele, vendo o sorriso largo em seus lábios e o puxei para perto, lhe dando um abraço e beijando seu ombro. — Eu falaria que é o melhor presente que já ganhei, mas ter você sem dúvidas é o melhor deles — contei, fechando meus olhos e deixado meu braço o apertar ainda mais. — Hm, eu tenho uma coisa para você, mas estava esperando o momento para te dar. — O soltei e coloquei a mão em meu bolso, pegando a pequena bolsinha e lhe entregando. segurou o presente, demonstrando ansiedade para ver o que era. — Espero que goste. É apenas uma lembrança.
— Já gosto só de ter sido você quem deu. Não me vejo não gostando de algo que venha de você também, seria impossível ou eu teria sido trocado — respondeu, rindo baixo, abrindo a pequena bolsinha e arregalando seus olhos com um brilho muito bonito que fez o tom marrom ficar ainda mais dourado. Seus lábios se estenderam em um sorriso ainda maior quando ele tirou o pequeno adorno de madeira que eu tinha feito, era uma rosa com uma tulipa que se entrelaçava. Notei ele passar seus dedos pelos detalhes e até soltou um suspiro. — Eu não tenho vocabulário para descrever o quanto eu amei o presente, . Vou guardar ele para sempre com todo meu afeto, amor e carinho, assim como a corrente que você me deu. — Voltou seus olhos para mim, tocando o contorno do meu rosto com as pontas dos seus dedos. — Obrigado por ser meu melhor presente também.
— Muito bom que pensamos a mesma coisa um do outro — comentei, dando um pequeno riso por causa daquilo. E eu adorei ver como ficou quando viu o meu presente, eu poderia ficar o admirando naquele momento para todo sempre e tinha absoluta certeza que jamais me cansaria. — Também vou guardar seu desenho dessa forma, — sussurrei para ele, chegando mais perto e passando a ponta do meu nariz pelo seu, dando um sorriso em forma divertida, mexendo com ele, tirando um riso baixinho e gostosinho dele, que se aproximou mais de mim. — Por nada. — Beijei sua testa e o puxei para mais perto. — Esse está sendo o meu melhor Natal. Obrigado por isso — agradeci e afaguei sua cintura de leve.
— Gosto demais de te ver assim, sabia? Feliz, dando esses sorrisos que são a cor que o mundo precisa. — Segurou meu rosto com suas mãos e deixou seu polegar alisar suavemente minha bochecha esquerda, me tirando um sorriso. — Não precisa me agradecer quando você também está me dando o melhor Natal de todos que eu já tive. Sei que você não acredita nisso, mas você está sendo meu milagre de Natal, mas não só no Natal — soltou de forma tímida, deixando seus lábios tocarem minha bochecha onde seu polegar estava antes, e segurei o suspiro que quis sair por causa disso.
— E se eu te falar que você é o causador desses sorrisos? Que depois que te conheci voltei a sentir vontade de sorrir novamente, mesmo que nem tenha motivo para isso? — perguntei, olhando em seus tons dourados que eu tanto gosto, que me tiram o ar e que fazem o meu coração bater como se eu estivesse empunhando uma espada, prestes a entrar em uma batalha onde não fazia ideia se eu sairia dela com vida. me dava aquilo e muito mais. Notei sua respiração ficar um pouco forte e seus olhos se tornarem mais brilhosos como ouro. — Então somos o milagre de Natal um do outro, porque você é o meu também — confessei, dando um pequeno sorriso sem tirar meus olhos dele e me aproximei, beijando sua bochecha do mesmo jeito que havia feito com a minha, de forma doce mesmo que jamais fosse igual a ele, tirando um outro sorriso carinhoso dele. — Vem comigo, coloca um casaco. — O afastei um pouco e o peguei pela mão para sairmos dali e fomos até a porta da sala onde estavam nossas roupas mais pesadas.
— Ah, eu vou ficar tão mal-acostumado com você falando essas coisas tão bonitas pra mim. Você só vai me deixar mais abusado, sabia? — Abaixou a cabeça como se estivesse com vergonha mesmo, mas apertou minha barriga de leve e aquilo me fez rir de uma forma gostosa. — Vou ter que decidir como vou te chamar quando estivermos sozinhos agora. Meu príncipe rebelde ou meu milagre — brincou, sorrindo mais abertamente. Então me seguiu com um sorriso curioso nos lábios, pegando seu casaco preto e eu minha capa de pele de urso.
— Não se acostume. Eu não sou muito de falar essas coisas. E você não precisa delas para ser um abusado quando já é um, e dos grandes — rebati, dando um sorriso largo e até mesmo rindo um pouco. apertou minha barriga novamente em resposta. — Vai? — soltei, erguendo as sobrancelhas. — Não sou um príncipe e nem um milagre, apesar da parte rebelde ser certa, mas não quero que fique falando isso em voz alta. Você vai ter que procurar algo novo. — Assisti ele fazer um biquinho triste, mas balançou a cabeça em concordância.
Então abri a porta. A nevasca tinha passado e agora tudo só estava imensamente branco. Não dava para ver a grama ou terra no caminho por onde costumávamos passar, mas eu sabia até onde queria ir. Segurei a mão de novamente, caminhamos até uma árvore, até que parei embaixo de um galho que não estava muito alto e olhei para cima.
— Visco — sussurrei e olhei para com um pequeno sorriso. — Você sabe, né? A tradição sobre ele.
olhou para cima e estendeu seu sorriso, deixando seus olhos ficarem um tom mais claro. Ele respirou fundo e voltou a me encarar com intensidade.
— Já ouvi dizer sim e sempre questionei se um dia eu teria a chance de realmente realizar essa tradição. — Retraiu seus lábios daquela forma tímida que ele tinha.
— Então… — Mordi meu lábio inferior de leve. — Posso realizar? — perguntei, querendo que as coisas fossem no seu tempo.
— Não existe pessoa mais perfeita para realizar esta tradição do que você, . — Pude reparar que, mesmo com cautela, se aproximou mais de mim e lá estava eu, prendendo o meu ar.
— Eu não acredito em muita coisa, mas desejo felicidade e sorte para nós no ano que está por vir — falei, chegando mais perto e encostando minha testa na dele, minha respiração pesada se misturando junto à sua, criando um pequeno vapor quando saíam de nós. — Eu gosto de você, . Muito mesmo. — Engoli em seco por estar admitindo aquilo com todas as letras para ele e não por ter ouvido uma conversa minha onde eu deixava aquilo subtendido. — E sei como vai ser difícil as coisas daqui para frente, então vou contar com a sorte de todas as tradições e do universo ao nosso favor, porque sou capaz de fazer de tudo para te ter perto de mim. E você sabe bem como que sou. — Deixei meus lábios tocarem nos dele de forma suave, fechando meus olhos e respirando fundo, sentindo tudo dentro de mim ficar muito rápido.
— Acredito que a sorte está comigo desde quando te conheci, . E que apesar de todos os problemas que já tivemos e com certeza vamos ter, eu sempre vou me sentir a pessoa mais sortuda por estar sendo tão feliz ao seu lado — disse de forma pausada, mostrando como suas palavras estavam transbordando tudo que ele estava sentindo, me fazendo gostar ainda mais dele, como se já não fosse o suficiente. Eu só conseguia sorrir para , por estar muito feliz por ouvir aquilo e saber que eu lhe fazia se sentir assim. Suas mãos seguraram meus ombros com mais firmeza. — Eu também gosto muito de você, . Aquela forma de gostar que também vai resultar eu fazer qualquer coisa pra te ter comigo. — Sua voz ficou mais séria e seus olhos mais aprofundados nos meus. Meus braços o envolveram em um abraço, o trazendo para bem perto agora. Jamais tinha me sentido tão bem como naquele momento, ali embaixo daquela árvore, ouvindo me falando o quanto gostava de mim também. Não era algo com o que já sonhei um dia, mas estava sendo melhor do que qualquer sonho que já tive. — Pensar nos problemas pode fazer a gente viver um momento de cada vez, então vamos fazer isso. Viver e aproveitar cada momento porque cada um que eu tenho com você é um presente que eu vou aproveitar mesmo. — Voltou a abrir o sorriso fechado e subiu sua mão até meu cabelo ao pressionar um pouco mais seus lábios nos meus, finalmente soltando o suspiro que quis soltar algumas vezes.
— Um momento de cada vez — sussurrei para ele, passando meu nariz pela lateral do seu em um carinho, e sorri da mesma forma para ele.
Minhas mãos afagaram suas costas, sentindo seus lábios macios tocando os meus com aquela pressão leve. Nossas respirações juntas. Meu coração acelerado demais apenas por causa daquele selinho que estava sendo maravilhoso, melhor do que quaisquer lábios os quais já toquei com os meus, certamente por dessa vez não ser apenas duas pessoas se tocando daquela maneira por pura atração, era bem mais do que isso ali. Eu realmente gostava daquele homem e isso tornava tudo intenso assim na forma como seus olhos encaravam o mundo e especialmente os meus. suspirou contra os meus lábios. Seu toque na minha nuca tinha aumentado um pouco mais a intensidade e meus dedos se fecharam no tecido pesado de seu casaco, na altura de suas costas. Senti ele aliviar a pressão do selinho, recuando um pouco para deslizar seus lábios sobre os meus de um lado para o outro, como um dos carinhos que ele costumava fazer muitas vezes no meu rosto, no meu cabelo ou nas minhas mãos. Aquilo me tirou um sorriso leve, adorando o jeito como fazia. Seus lábios se entreabriram bem sutilmente e prenderam de leve meu inferior entre os seus, dando um beijo terno antes de se afastar só um pouco e sorrir.
Eu sabia que estaria ferrado depois dessa noite, porque iria querer mais e mais depois.
— Realmente… Encontrei algo mais viciante que os bolinhos de avelã — sussurrou, me beijando mais uma vez.
— Hm, eu diria que tenho pena deles, mas não tenho — comentei, dando uma pequena risada nasalada e tirando uma risada dele também.
Desci minhas mãos, abraçando sua cintura com seus lábios voltando até os meus e não aguentei, deixei um sorriso escapar. Eu estava tão feliz que não estava conseguindo controlar, e olha que eu era ótimo em manter minhas emoções no lugar e não transparecer nada. Tombei meu tronco para cima do de , o segurando com mais firmeza e o levando para trás, rindo um pouco, vendo meus cachos caindo pelas laterais de meu rosto e tocando os dele. Pude ouvir soltar uma risadinha abafada também, brincando com meus cachos de uma forma adorável. Passei a ponta do meu nariz pelo seu e lhe dei um selinho apertado naquela posição que estávamos, reparando na forma mais forte que suas mãos rodeavam minha nuca e uma delas ainda segurava meu cabelo. Eu adorava sentir suas mãos em meu cabelo, era algo altamente viciante.
— Você está muito enrolado comigo, agora — disse contra seus lábios, me afastando sutilmente. — Vou querer te beijar toda hora... Na verdade, eu vou te beijar toda hora que tiver oportunidade — confessei, rindo baixo e lhe dando vários selinhos, segurando para não sorrir. Então o puxei para cima, mordendo a ponta da minha língua. — Sei que os guardas reais são treinados para lutar contra outros soldados em batalhas. Mas eles são treinados para uma guerra de neve? — perguntei, já o soltando e me afastando rapidamente, pegando um punhado de neve e jogando em seu peito, dando uma risada. Virei e saí correndo para não me acertar de volta.
— Fico feliz em saber que você vai mesmo aproveitar de cada oportunidade que tiver para me beijar porque seria meu pedido mesmo. — Estalou a língua no céu da boca, tombando de leve sua cabeça, soltando um riso nasalado, roubando outros selinhos em resposta dos que eu havia dado. — Ah, ! Seu abusado! — Olhou para baixo, vendo seu casaco sujo de neve e já veio na minha direção, correndo também. — Agora que acabou o Natal, não me importo em te fazer rolar nessa neve. — Então senti uma bola de neve se desfazer nas minhas costas.
— Eu não me chamo ! Não sou abusado — impliquei, rindo mais. Abaixei, pegando mais neve e fazendo uma bola. — Você pode tentar — berrei, correndo ainda rindo. Me virei depois, sacudindo minha capa para sair a neve que tinha jogado, e lancei a bola que tinha feito em sua direção. — Mas posso apostar que se isso acontecer, não serei só eu quem irá rolar nessa neve! — Passei a ponta da minha língua pelos incisivos, dando um sorriso largo, me abaixando e pegando mais para jogar nele, rindo que nem uma criança.
estava mais perto também e apesar do seu olhar ser ameaçador, ele dava risada sem segurar mesmo. Vi que ele se abaixou para pegar mais neve, sem conseguir parar de rir ao fazer isso. Atirou a bola de neve na minha direção e bateu sua mão no seu braço, tentando tirar os flocos branquinhos grudados no casaco onde eu tinha acertado agora com a bola que havia lançado. Então voltou a correr atrás de mim, soltando umas risadas mais altas por ter acabado tropeçando na neve mesmo e quase caindo, mas não desistindo de correr. Me virei e corri também, com cuidado para não escorregar. Abaixei na corrida e passei a mão na neve, enchendo minha palma rapidamente, já erguendo meu corpo em seguida. No entanto, senti ele conseguir agarrar a ponta da minha capa e me puxar para trás, me fazendo perder o equilíbrio, mas me virei rapidamente, apoiando minha outra mão livre no chão em reflexo, e aproveitei a posição para pegar pela cintura com meu ombro e o joguei na neve, já me sentando em cima dele para não se levantar. Então esmaguei a bola de neve que ainda estava em minha mão em sua cabeça, deixando seus longos fios negros sujos e molhados agora. Gargalhei alto com aquilo, vendo como ele tinha ficado completamente emburrado, se debatendo um pouco embaixo de mim. Quis demais morder suas bochechas naquele segundo.
— Você sabe que pode sempre se render a mim, — falei, rindo e me abaixando, lhe roubando um selinho, e levantei em seguida para voltar a correr.
— Não acredito que você sujou meu cabelo, abusado! Você vai me pagar caro por isso, — me ameaçou, fazendo com que eu apenas risse mais.
— Ops! Estou pagando para ver! — provoquei, agora me preocupando em apenas correr, porque sabia que ele iria me trucidar por causa do que fiz com seu precioso cabelo.
Olhei por cima de meu ombro, vendo que se virou na neve, se levantando logo em seguida. Parecendo levar a brincadeira mais a sério, voltou a correr na minha direção. Segurei a risada por termos dado uma bela volta pelo campo, o ar frio já estava queimando meus pulmões, então senti o bombardeio nas minhas costas sem pausas. realmente pegava a neve com agilidade e jogava sem nem fazer a bola direito nas mãos. Então parei de correr bruscamente, escorregando na neve, quase caindo nela, e me virei já pegando mais neve e jogando em , indo em sua direção agora. Usei a minha capa, a puxando para frente de meu rosto e corpo quando ele jogava mais neve em mim. Ele continuou jogando, soltando umas risadas baixas e pelo som da sua risada notei que ele que estava ofegante também, não consegui ver por causa da capa quando ele passou uma de suas pernas pelas minhas, me fazendo perder o equilíbrio e ser empurrado para o chão. Caí de costas na neve.
— É uma pena desmanchar esses cachos tão bonitos seus, contudo, você está pedindo por isso — me ameaçou, sentando em cima de mim como eu havia feito com ele antes e segurou meus dois braços, os cruzando no meu próprio peito. Então abaixou seu tronco na minha direção e começou a balançar seu cabelo, fazendo a neve que estava nele vir para o meu rosto. Eu ria demais por causa disso.
— Não faça nada que irá se arrepender! — avisei. Ri ainda mais, sentindo meus braços presos contra o meu peito, adorando a forma como ele estava levando aquilo a sério. — Você é competitivo. Já te falaram isso? — perguntei com um sorriso nos lábios, tentando respirar fundo, mas o ar gelado não ajudava muito.
— Estou quase disposto a arriscar, hein — usou seu tom provocativo, que deixava sua voz um pouco mais baixa, vendo-o morder sua boca na tentativa de segurar o riso também. — Não sou competitivo. Você mexeu no meu cabelo sabendo que é inadmissível isso. — Balançou o seu cabelo ao ver que caiu mais um pouco de neve.
Então usou um pouco mais de força na sua mão esquerda ao manter meus braços presos e com a direita pegou um punhado de neve. Arregalei meus olhos com aquilo.
Ah, mas ele não iria esfregar mesmo aquilo em mim.
Apoiei meus pés no chão, dobrando minhas pernas para cima e impulsionei nós dois para o lado, fazendo com que ele caísse, e acabamos rolando pela neve, descendo uma rampa que tinha ali do lado. Senti ele se segurar em meu corpo quando estávamos rolando. Ouvi ele soltar a risada, gargalhando junto comigo mesmo enquanto tentava buscar uma maneira de nos fazer parar. Até que conseguimos parar de rolar e meu corpo ficou em cima do dele novamente. Nós dois completamente cobertos de neve agora. O cabelo escuro dele manchado com aqueles flocos branquinhos que se prendiam em seus fios negros agora bagunçados em seu rosto levemente avermelhado de tanto que ele estava rindo. Aquela imagem era totalmente adorável. Ele estava lindo. Levei minha mão até uns fios que tinham em seu rosto agora e os coloquei para trás.
— Tá bom. Chega! Eu me rendo! — ele soltou ofegante, suspirando enquanto tentava inspirar o ar gelado.
— Repete. Eu acho que não ouvi muito bem. Deve ter entrado neve no meu ouvido — pedi, dando uma risada por ele nunca ter se rendido antes.
— Não repito, não. Você me ouviu muito bem! — rebateu todo abusado, mas também levou uma de suas mãos até meu cabelo e reparei que ele tirava os flocos de neve presos entre os cachos. Mesmo que estivesse muito frio, me senti aquecido por causa daquele ato.
— É um afrontoso abusado mesmo — falei, rindo um pouco. — Mas, de todo o jeito, você se rendeu — soltei, lhe dando língua. Me levantei e estendi a mão em sua direção. — Vamos entrar.
— Fazer o que se eu estou mesmo rendido por você — sussurrou roucamente, olhando mais sério para mim, me causando um arrepio forte. Segurou minha mão no mesmo instante que ofereci e permitiu que eu o puxasse para cima. — Vamos, não sinto meus dedos mais — brincou, me empurrando levemente com seu ombro, mas continuou segurando minha mão ao me puxar com ele em direção à casa.
— Ah, … — suspirei pesado e lhe roubei um selinho, passando meus lábios por cima dos seus com certa pressão. — Não estou nem um pouco diferente — confessei, me afastando e olhando dentro de seus olhos. Segurei sua mão com força quando o puxei. — Hey — falei, quando me empurrou pelo ombro, então fiz a mesma coisa com ele, rindo. — As minhas também estão congelando.
Voltamos para casa de mãos dadas e quando entramos senti como ali dentro estava quente por conta da lareira acesa. Tirei minha capa e passei a mão em meu cabelo, o empurrando para trás, e olhei para , seu cabelo molhado por causa da neve que esfreguei nele. Cheguei mais perto e passei os dedos em seus fios molhados, tentando arrumar a bagunça que eu mesmo tinha feito antes, rindo fraquinho e vendo ele sorrir fofo agradecido.
— Quer beber alguma coisa quente? Estou preocupado de você ficar doente, o senhor ficou muito tempo sem luvas naquele tempo lá fora — ofereceu todo preocupado mesmo, se aproximando de mim.
— Não precisa se preocupar. Não sou aqueles príncipes que ficam doentes à toa por nunca terem saído do castelo. E você também ficou sem luvas lá fora agora — garanti, dando um sorriso para ele e pegando suas mãos, as soprando por estarem tão geladas quanto as minhas, então senti dar um beijo na minha testa. — Mas aceito algo para beber. — Beijei a ponta de seu nariz, observando-o soltar o ar por ele. — Se não for te incomodar — ressaltei.
— Ah, eu sei que não é mesmo. Chegou ao castelo querendo dar uma surra na guarda — brincou, deslizando a ponta do seu nariz por minha bochecha. Aqueles tipos de toques vindos dele sempre acabariam comigo. — Em um dos treinamentos da guarda fomos obrigados a lutar na neve sem luvas mesmo. Então tá tudo bem também — falou docemente, sorrindo de forma despreocupada. — Não vai incomodar em nada, . — Deu um beijo em minha bochecha antes de se afastar em direção à cozinha.
— Cheguei mesmo — rebati, rindo baixinho para não acordar ninguém. — Ótimo. Meu guarda foi muito bem treinado, então. — Pisquei para ele, mas nem por isso parei de soprar as suas mãos. — Perfeito. — Sorri de leve por causa do beijo que tinha me dado, o vendo se afastar.
O segui até a cozinha e me sentei sobre o balcão. Se Narcissa me visse ali daquela forma, certamente eu seria o próximo a apanhar com o pano de prato, mas iria me aproveitar por ela estar dormindo agora e ficaria ali apenas observando preparar algo para nós. Ele fazia as coisas com tanto amor e carinho, fazia meus olhos ficarem presos em cada movimento seu. Era tão bonito de se ver.
Eu sabia, não tinha mais como esconder nem aquilo de mim mesmo, estava totalmente rendido àquele homem como jamais estive por outro. me tinha, era isso, e não tinha mais nada que eu pudesse fazer para mudar aquilo, e sinceramente nem sabia se queria, porque era muito bom tê-lo por perto, ainda mais da forma como estávamos agora. Não me importaria o que meus rebeldes falariam se um dia soubessem daquilo, porque nenhum deles conheciam como eu o conhecia. Confiava nele mais do que em qualquer pessoa. Definitivamente ele tinha me pegado.
Eu estava rendido.


Capítulo 4



Podia sentir o olhar do homem mais bonito que eu já tinha conhecido enquanto eu só procurava onde minha tia tinha guardado a chaleira. Mordi minha bochecha internamente e olhei para ele rapidamente, devolvendo seu olhar e sorrindo de um jeito bobo, mas seus olhos continuavam sérios em minha direção, certamente estava submerso em seus pensamentos. Então voltei a procurar e finalmente a encontrei, despejando um pouco de água limpa que tinha ali na reserva e colocando umas folhas lavadas de hortelã junto. Deixei a chaleira no fogão mesmo, indo até sala, buscando um simples graveto entre as madeiras que sustentavam o fogo. Deixei as chamas ficarem apenas na ponta e então retornei à cozinha, colocando aquele graveto com a lenha para que então o processo de esquentar o chá fosse iniciado.
Meus olhos acabaram sendo presos pelas chamas e acabei voltando às coisas que a princesa Áries tinha me contado. Tudo que ela me contou foi se encaixando aos poucos nas coisas que ele mesmo tinha me contado um tempo atrás. Ele tinha machucado os sentimentos dele mesmo e de alguém ao fugir de casa… Só podia ser sua irmã. A princesa Agatha, como a princesinha tinha contado. Sabia que ela não era de fato uma princesa quando o próprio me contou que ele não vinha de uma família real. Tudo aquilo me intrigou mais ainda, por que ele não podia realmente salvar sua irmã neste momento? Onde ela estava?
Não queria ter descoberto essas coisas sobre ele, apesar de Áries ter soltado na inocência. Sempre preferia saber as coisas dele sendo ele mesmo a me contar. Sentia aquele leve incômodo no meu peito, era bem pequeno em comparação a tudo que eu sentia por ele. Eu realmente gostava dele e faria de tudo, o impossível mesmo, para ficar com ele. Isso queria dizer que eu lutaria até comigo mesmo e com os meus próprios receios. Uma parte minha, uma bem pequena, me alertava e se questionava se toda vez seria assim. Descobrir as coisas dele na base de fofocas ou pressão. O que eu realmente não queria, não desejava mesmo, queria que fosse dele.
E tinha mais uma coisa que ainda me deixava levemente amedrontado, mesmo me sentindo protegido e tratado com muito carinho com a preocupação dele, eu tinha medo do que ele poderia ser capaz para me proteger. E isso incluía até dele mesmo. Ergui minha cabeça e vi que tinha ficado tempo demais olhando para o fogo, totalmente preso nos meus próprios pensamentos e odiando ter dado ouvidos a eles. Peguei a chaleira quando ela começou a apitar, usando um pano para não queimar minha mão, então despejei o chá que tinha um cheiro delicioso, que se espalhou pela cozinha. Coloquei a chaleira de volta no fogão e me aproximei dele, estendendo a xícara.
— Você adoça? — perguntei curioso.
— Gosto sem açúcar — sussurrou, pegando a xícara e me olhando com atenção. Balancei a cabeça com sua resposta. — Eu deveria perguntar se está tudo bem? — questionou, soprando um pouco o chá antes de dar um pequeno gole. — Perfeito. — Sorriu de leve.
— Está tudo perfeito, — respondi baixinho, sorrindo de leve também, fazendo o mesmo que ele, soprando antes de dar um gole, e fazendo uma careta logo em seguida. — Sem condições de tomar sem açúcar. Eca. — Ri um pouco e também, pegando um pouco de mel que minha tia guardava perto dos temperos e então despejei um pouco na minha xícara, bebendo um gole e suspirando por ter ficado ótimo.
— Sei que não sou transparente, que não falo nada sobre mim, a menos que você pergunte, mas se não quiser não precisa ser assim comigo — disse em um tom suave, com seus tons verdes ficando mais fortes sobre meu rosto. — Quando você fica muito tempo na estrada, acaba se acostumando com as coisas em seu sabor natural. Isso me fez parar de gostar de comidas temperadas ou muito doces — contou, dando um pequeno sorriso. — Vamos sentar na frente da lareira? Está frio — chamou.
— Mas eu sou sempre sincero com você, . Sempre fui. Até quando lutamos pela primeira vez, eu fui eu mesmo. Pode acreditar em mim que está tudo bem, sim, eu só dei ouvidos a umas coisas que me incomodam, mas elas não são relevantes. Não agora. — Suspirei baixo, deixando meus olhos ficarem presos nos dele. Então ele apenas chegou mais perto e me abraçou, colocando a sua mão livre nos fios de minha nuca e afagando de leve. Então depositou um beijo na lateral da minha cabeça. Devolvi o abraço, segurando sua cintura suavemente com minha mão livre e encostei meu queixo em seu ombro. — Isso mostra que você não é mesmo um príncipe fresco, huh — brinquei baixinho, virando meu rosto e beijando seu pescoço por cima do tecido da gola. — E vamos, sim, lá para a sala. Aqui está congelante. — Me afastei, segurando sua mão e levando até meus lábios, beijando seus dedos de forma carinhosa ao ir me afastando para voltarmos à sala.
— O que te incomodou? — perguntou ainda abraçado comigo, acariciando minha nuca enquanto sua respiração suave batia em minha orelha. — Isso só mostra que eu não sou um príncipe — disse em tom de correção e riu fraquinho. — Você tem que parar de ficar beijando minha mão assim, isso só piora o meu estado. — Sorriu abertamente de um jeito fofo enquanto me olhava.
— Não quero falar disso agora, — respondi com o tom bem baixo, suspirando com seu carinho e me perdendo totalmente na sua respiração, o apertando mais no abraço. — Neste instante, eu só quero ficar com você mesmo. Aproveitando o momento. — Respirei fundo, me sentindo totalmente inebriado e tomado pelo cheiro que ele tinha. Esquecendo de tudo que eu havia realmente pensado antes. — Não me importo se é ou não um príncipe. Você é quem me importa, sendo o abusado que joga neve no meu cabelo, que toma chá sem açúcar, o que tira meu ar com facilidade e me faz sorrir até dormindo — sussurrei no ouvido dele, distribuindo uns beijos leves em seu lóbulo, vendo-o soltar o ar de uma forma pesada. E acabei rindo quando ele comentou sobre os beijos em seus dedos, só me fazendo beijar de novo e ainda sorrir inocente como se não estivesse fazendo nada. Então fomos para a sala, onde somente a lareira iluminava e também deixava a temperatura totalmente mais agradável.
— Tudo bem — falou, dando outro beijo, agora em meu ombro. — Vamos aproveitar cada segundo — sussurrou e agora foi trilhando um caminho com beijos até chegar à minha testa, subindo pela lateral de meu pescoço, bochecha e nariz. Seus lábios faziam uma trilha de arrepios percorrer por onde seus lábios tocaram e me tirou um sorriso fechado. Um sorriso bobo. Um sorriso extremamente feliz. — Hm, eu faço tudo isso? — questionou em tom divertido, me tirando um murmuro em concordância para aquela pergunta. Fazia aquilo e muito mais. — Ótimo, quero fazer isso e muito mais. — Abri bem mais o sorriso nos meus lábios, deixando ele largo. Ele já fazia, se fizesse mais, ia roubar mais ainda meu fôlego.
segurava a minha mão e não a soltou nem quando se sentou na frente da lareira, me puxando para me sentar entre suas pernas, como fizemos outra vez em meu quarto.
Been travelling these wide roads for so long — começou a cantar baixinho perto de meu ouvido, me causando um arrepio repentino. Sua voz levemente rouca em um tom perfeito, sem perder nenhuma nota, resultando eu respirar a melodia juntamente ao ar. — Oh, I wanna come near and give you every part of me, but there is blood on my hands and my lips are unclean. — Umedeci meus lábios, sorrindo de canto por estar recebendo mais um presente dele que era presenciar ele cantando. — In my darkness I remember momma's word reoccur to me “Surrender to the good lord and he’ll wipe your slate clean”. — Soltou um pequeno riso nasalado e deu um pequeno gole em seu chá. Encostei melhor minha cabeça nele e virei levemente para o lado, para poder olhar seu rosto, então ele sorriu de leve para mim. — Take me to your river I wanna go Take me to your river I wanna know cantava em um ritmo lento e gostoso, me deixando completamente submerso nele mesmo. Podia sentir que até minha respiração tinha parado e eu piscava lentamente em sua direção. — Dip me in your smooth water I go in as a man with many crimes. — Seus olhos desceram e sua mão livre segurou a minha, intercalando nossos dedos de forma suave. — Come up for air as my sins flow down the jordan. — Seu polegar passou pelo dorso de minha mão em um carinho. Segurei o suspiro que quase saiu devido a música e por causa do carinho. — Oh, I wanna come near and give ya every part of me — repetiu aquela parte agora bem perto de minha orelha, deixando seus lábios tocarem bem levemente minha pele. — Take me to your river I wanna go. Oh, go. Take me to your river I wanna know — voltou a cantarolar, então puxou o ar. — I wanna go wanna go wanna go. I wanna know wanna know wanna know — dessa vez cantou um pouco mais forte, me apertando em seus braços e conseguindo fazer eu soltar o suspiro que eu havia segurado.
Estava totalmente inebriado por toda aquela melodia, pela forma como sua voz rouca me hipnotizou e me preencheu com mais felicidade. Meu coração batia aceleradamente, meu ar entrava de forma lenta e quente sempre que eu tentava puxar de uma forma totalmente falha, tentando regular minha respiração. Meus olhos estavam fixos nos dele, senti meus dedos apertarem de leve os seus enquanto o mesmo sorriso admirado aumentou em meus lábios. Somente aquele belo homem de olhos verdes tão intensos quanto os de um felino, com o sorriso mais bonito que o mundo já viu, com a voz claramente roubada de um anjo. Somente aquele homem que eu não me importava se chamavam ele de príncipe ou rebelde, entre outras formas, porque somente ele sendo ele daquele jeito perfeito comigo fazia eu me sentir como a pessoa mais especial de todo o reino ou de todo o universo. Ninguém jamais tinha me colocado assim em seus braços, me dado carinho e cantado daquela forma pra mim. Nenhuma pessoa jamais me abraçou como ele me abraçava, fazendo o calor do seu corpo ser mais confortável do que o calor daquela lareira.
Virei um pouco mais meu corpo, colocando a xícara em cima de uma madeira mais elevada perto da lareira e levei minha mão até seu rosto, tocando sua bochecha com sutileza, mas ainda totalmente mergulhado no seu tom verde e no que ele tinha acabado de fazer. Estava realmente difícil respirar quando tudo dentro de mim pareceu ter sido acertado por cada tom, melodia e sílaba da canção que ele havia cantado. Deixei as pontas dos meus dedos deslizarem pelo seu maxilar, me fazendo prender o ar por ele ser tão bonito daquele jeito. Então as deixei escorregar pela lateral do seu pescoço, raspando apenas as pontas ao empurrar seu cabelo para trás de seu ombro. Lambi meus lábios ao subir meus dedos por dentro de seus fios, os segurando. No instante seguinte, juntei nossos lábios, entreabrindo os meus ao passar pelos dele com mais vontade e então não pensando, só sentindo e agindo, deixando minha língua lamber seus lábios em um pedido mudo para sentir a dele. inspirou profundamente e abriu mais seus lábios, os passando vagarosamente por cima dos meus, e sua língua veio de encontro à minha, a tocando lentamente, passando pela lateral a envolvendo bem devagar. Sua mão subiu até meu cabelo e me puxou para mais perto. Nossos lábios se encaixaram melhor agora, até os seus se fecharem por cima dos meus, tirando sua língua da minha e soltando o ar de uma forma pesada, mas retornando em seguida, vindo com uma intensidade agora. Pude sentir sua língua tomando minha boca e pegando a minha, a alisando e passando em um carinho gostoso por sua lateral, com isso puxou meu ar quando respirou e seus dedos se fecharam nos fios de minha nuca.
Pensei que eu me sentiria totalmente perdido quando fosse beijar alguém pela primeira vez usando a língua e tudo mais, o que costumava me apavorar. Mas não estava sendo nada do que eu tinha imaginado, o que era muito bom. Graças a Deus! Estava mais do que perfeito, nada que pudesse ser descrito. tomava o meu ar para ele e eu queria que ele tomasse mais, queria sentir mais dos seus lábios, era como se fosse uma fome por alguma coisa que você gostasse demais. Quanto mais se tinha, mais se queria, porque parecia insuficiente. Soltei um suspiro rouco contra seus lábios com seus dedos no meu cabelo, deixando minha língua fazer o mesmo movimento que ele tinha feito com a dele. Então ousei um pouco mais e deixei minha língua rodear por baixo da sua, sentindo como ela era quente, e isso acarretou meus lábios se grudarem mais nos dele. Meus dedos enroscados torceram seus cachos, abri um pouco mais minha boca para puxar o ar e soltar dentro da sua logo em seguida, ouvindo ele arfar de leve por conta disso. Deixei meu corpo se virar um pouco mais para ficar de frente para ele, tombando minha cabeça levemente para o lado e de uma forma um pouco menos lenta e menos tímida, deixei minha língua deslizar inteira para dentro de sua boca, gemendo baixinho.
Escutei ele deixando a sua xícara sobre o assoalho de madeira e sua mão agora veio até minha cintura, me puxando para mais perto dele, fazendo com que me virasse totalmente agora. tombou sua cabeça para o lado oposto da minha e me beijou com mais vontade que antes, tocando a minha língua mais rápido e um pouco mais profundo dessa vez, ganhando uma intensidade diferente. Sua mão que estava em meu cabelo puxou de leve os meus fios negros, fazendo eu gemer mais uma vez, indo contra ele com a mesma vontade que usava, sentindo a sua respiração ficar mais pesada agora. Até que seus lábios se afastaram e senti como estávamos ofegantes.
— Senta, você está desconfortável assim — pediu com a voz levemente cortada enquanto me olhava com atenção, pegando cada reação minha.
— Sentar no seu colo? — perguntei um pouco sem graça, mordendo meu lábio inferior.
— Você quem sabe. Pode sentar no chão e passar as pernas pela minha cintura. O jeito que te deixa mais confortável — disse com um tom de voz carinhoso, dando um sorriso pequeno e gentil.
Sorri de volta, descendo meus olhos por ele rapidamente e levando minhas mãos até seus ombros. Então me sentei no chão como ele tinha sugerido, passando minhas pernas por sua cintura e deixando meus braços irem se escorregando em seus ombros conforme eu ia me aproximando até nossos peitos estarem praticamente colados. Por mais que eu estivesse sim sentido vontade de sentar em seu colo, sabia que seria ousado demais. Abracei seu pescoço com meus braços e encostei minha testa na sua, raspando meu nariz no seu enquanto recuperava o fôlego.
— Você é lindo demais — sussurrou baixinho, passando seu nariz de volta no meu. — E fica adorável quando está sem graça. — Me deu um beijo no canto de meus lábios.
— Você adora mesmo me deixar sem graça, não é? — Escondi meu rosto na curva do seu pescoço só de afronta para ele não ver meu rosto avermelhado. — Você que é incrivelmente lindo. — sussurrei contra a gola da sua camisa, a qual escondia a cicatriz em seu pescoço, distribuindo beijos até chegar ao seu maxilar.
— Confesso que adoro mesmo — respondeu em um tom brincalhão. — Certo, certo. Nós somos lindos — rebateu, dando um sorriso pequeno. — Hm, você gosta do meu pescoço? — Tinha curiosidade em seu tom.
— Depois eu que sou o abusado. — Estreitei meus olhos, descendo uma de minhas mãos e dando uma leve apertada em sua barriga, o fazendo pular dando um riso fraco. Acabei sorrindo com o que tinha rebatido, mas não respondi. Não me achava tão lindo assim como ele achava, mas apenas sorri de um jeito bobo e tímido. Deixei meus dentes rasparem onde sua pele começava a aparecer e então mordi de leve sua bochecha quando cheguei até ela. Então me afastei e olhei para ele, levando meus dedos que tremiam um pouco até o botão de sua camisa, na sua gola. — Não sei se gosto… Posso tocar? — pedi baixinho.
— Ah, mas você é um abusado mesmo. Dos grandes ainda. — Apertou minha barriga de volta, fazendo eu dar um pulinho, e me puxou para mais perto. — Me olha — pediu, tocando a ponta de meu queixo com seu indicador e polegar, fazendo meus olhos pegarem os seus que me olhavam de forma intensa, os tons verdes mais claros agora com a luz das chamas dentro deles. — Você pode fazer o que quiser comigo. Me tocar do jeito que tiver vontade. Não precisa me pedir permissão… Nunca. Sabe disso. Eu já lhe dei esse aval há algum tempo. — Então seu polegar passou pelo meu queixo, bem abaixo do meu lábio inferior.
Não consegui responder de imediato porque aquilo me pegou de um jeito que não esperava, fiquei até um pouco tonto pela intensidade de seus olhos e por suas palavras. Ele estava mesmo me dando novamente aquela permissão para tocá-lo e pelo que eu o conhecia sabia que não era algo que ele simplesmente deixava qualquer um fazer. Puxei o ar e deixei meus olhos presos nos dele, balançando a cabeça em concordância. Eu me lembrava do momento que ele tinha dado aquele aval. Então desci meus olhos para os meus dedos e comecei a desabotoar sua camisa calmamente, botão por botão e engoli a seco quando vi sua cicatriz. Soltei sua camisa e subi meus dedos, deixando-os deslizarem em um carinho sutil naquela marca e voltei a subir meus olhos até os dele, conferindo se estava tudo bem mesmo. Então toquei seus lábios em um selinho suave, permitindo eles escorregarem para o seu queixo, o beijando ali com pressão. Minha mão esquerda agarrou o cabelo de sua nuca e o puxou um pouco para trás e arfou. Deixei meus lábios beijarem toda aquela cicatriz, permitindo que minha língua saísse e a tocasse apenas com a ponta. Suas mãos pegaram minha cintura com aquilo, e a apertou de leve, me puxando para mais perto dele, ouvindo sua respiração saindo bem forte. Então sua cabeça pendeu mais para trás, me dando mais espaço. Seu pomo de Adão desceu e subiu sob meus lábios em sua garganta, e uma de suas mãos subiu até meu braço, o apertando um pouco e fazendo eu sorrir de leve contra sua pele, que agora estava arrepiada.
Respirei profundamente entre o beijo e outro que eu continuei trilhando, então suspirei de forma prolongada por causa do seu cheiro. Meus dedos puxaram um pouquinho mais seu cabelo, mas depois comecei a acariciar sua nuca ao passar minha língua novamente bem embaixo do seu queixo, descendo agora com leves mordidinhas até onde a camisa voltava a cobrir.
… — sussurrou meu nome, soltando o seu ar junto a um tom que eu ainda não tinha ouvido antes.
Afastei meus lábios do seu pescoço e o olhei com curiosidade.
— Fiz algo de errado? — perguntei baixinho.
— Não. — Abaixou sua cabeça e me olhou, tinha algo diferente em seus olhos agora, mas ainda era intenso. — Pode continuar. Se quiser — disse pausado bem baixinho.
Balancei a cabeça afirmativamente, passando de leve meu polegar em seu lábio inferior e dando um sorriso suave para ele. Voltei meus lábios até a lateral do seu pescoço, beijando de forma mais suave ali, raspando a ponta do meu nariz de leve e retirando algumas mechas castanhas do seu cabelo para me dar mais espaço. Afastei um pouco mais sua camisa também para começar a esfregar minha língua vagarosamente bem na curva de seu pescoço, mordendo de leve e afastando mais sua camisa para morder seu ombro, sentindo sua mão apertando de novo minha cintura, me levando de encontro ao seu corpo. Meu coração batia mais forte e meu ar parecia mais descompassado do que antes. Seu corpo colado ao meu pareceu deixar ainda mais calor e minha mão puxou um pouco mais sua camisa, fazendo meus lábios beijarem seu pescoço com mais pressão, mal percebendo que agora eu puxava sua pele levemente com eles, a chupando sutilmente, escutando suspirando alto. Voltei pelo mesmo caminho, dando mais beijos e mordidas até o contorno do seu rosto, onde lambi por inteira aquela linha ressaltada. Meus dedos em sua nuca voltaram a agarrar seu cabelo com mais força, puxei o ar como se estivesse sem respirar por horas, mas não consegui parar de querer sentir sua pele quente contra os meus lábios que estavam absurdamente sedentos.
O que estava acontecendo comigo? Deus!
Grudei meus lábios contra seu pescoço de novo e abafei um gemido que saiu, o qual eu ainda não estava compreendendo de onde estava vindo. passou a mão que estava em meu braço por minhas costas com pressão, e senti seus dedos se fecharem em minha camisa, enquanto sua respiração ia ficando ainda mais forte que antes. Sua outra mão em minha cintura deslizou por ela, e seu braço a enlaçou, me puxando com brutalidade e força para cima dele, me fazendo sentar em seu colo.
— Desculpa… — sussurrou, aliviando a pressão de seu braço em minha cintura. Neguei de leve com a cabeça, ele não precisava se desculpar.
— Não precisa se desculpar mesmo — falei baixinho, sentindo meu corpo ficar ainda mais quente agora que estava em cima dele. Isso me fez respirar fundo, soltando o ar enquanto encarava seus olhos mais de perto agora. — … Não sei o que está acontecendo comigo. Nunca senti isso antes — confessei em tom sussurrante. Minhas pernas apertaram um pouco mais a cintura dele, deixando nossos corpos ainda mais colados um no outro. — Eu me sinto totalmente viciado no seu cheiro e absolutamente tomado por essa vontade de continuar te beijando, sentindo sua pele, ouvindo seus suspiros. É normal? — perguntei no seu ouvido, porque sabia que minha voz estava mal saindo.
— Fica calmo — pediu, acariciando minhas costas, agora me olhando bem dentro de meus olhos. — Ah, … — soltou junto a um suspiro baixinho. — É sim, eu também sinto essa vontade — contou, dando um beijo em meu ombro e depois outros em meu pescoço fazendo minha pele se arrepiar. — Quando desejamos alguém, nós sentimos isso. Essa vontade enorme de continuar beijando, sentindo o cheiro, a pele, ouvir os suspiros e qualquer coisa que a outra pessoa possa soltar. E está tudo bem. — explicou baixinho e continha carinho em suas palavras. — Você pode continuar fazendo tudo isso se quiser. Mas provavelmente que seu corpo vai reagir de formas que ainda não sentiu.
Pisquei meus olhos lentamente, entendendo suas palavras aos poucos. Aquele jeito quando você entende e não compreende ao certo. Torci de leve meus lábios ao assumir então pra mim mesmo que eu o desejava. Sim, eu desejava e queria sim continuar tocando nele daquela forma. Mas senti um receio e uma curiosidade ainda maior com o que ele havia dito sobre como meu corpo iria reagir. No entanto, não era aquele receio que eu sentia antes porque eu literalmente me tremia todo com qualquer aproximação que faziam. foi carinhoso e gentil comigo, me explicando aquilo que provavelmente todos diziam que a gente nascia sabendo, só que não foi assim comigo quando sempre me dediquei a outras coisas, nunca me importando em realmente flertar com outra pessoa. Beijar outras pessoas e namorar como costumavam.
— Obrigado por ser perfeito comigo. — Suspirei e deixei um sorriso nascer em meus lábios. — Eu tenho inúmeras dúvidas sobre tudo isso, mas não acho que são perguntas para serem respondidas e sim… — Mordi o canto da boca, buscando uma palavra. — Vividas? — Ri nasalado disso e puxei mais o ar, e um sorriso veio em seus lábios, um bonito e fofo, mostrando suas covinhas que eu tanto gostava. — Posso te pedir uma coisa?
— Não precisa me agradecer quando você sempre foi perfeito comigo até nos momentos que não mereci. — falou, mordendo de leve seu lábio inferior. — E você pode me perguntar qualquer coisa mesmo que queira viver cada uma delas. Não me importaria em nada te responder se isso for te ajudar a entender melhor o que está acontecendo contigo. — Beijou rapidamente a ponta de meu nariz. — Pode. — Me olhava com curiosidade.
— Você sempre mereceu e sempre vai merecer a perfeição. Para com isso! — Estreitei meus olhos para ele em um tom bravo, mesmo estando me sentindo de todas as formas possíveis, menos com raiva. Entortei de leve meus lábios em um sorriso de canto com ele sendo perfeito mais uma vez. — E você vai prometer não rir das minhas perguntas? — Ergui as sobrancelhas em questionamento, me sentindo adorável com o beijo no meu nariz. Ele concordou com a cabeça segurando um riso que só me fez estreitar ainda mais meus olhos em sua direção. Então respirei fundo, segurando seu rosto com mais suavidade, sem desviar meus olhos dos seus. — Quero que você me beije até meu ar faltar.
— Não paro — rebateu, mordendo meu ombro de leve. — Certamente vou achar elas adoráveis, ainda mais porque suas bochechas provavelmente vão ficar vermelhas, eu posso até rir pelo jeito que as fez, mas não por elas — contou, me roubando um selinho.
não respondeu sobre o meu pedido, em vez disso ele abraçou novamente minha cintura fazendo nossos corpos se juntarem totalmente, mas o meu subiu um pouco mais para cima do dele. Sua outra mão veio até minha nuca, me puxando para mais perto, e seus lábios se colocando nos meus diferente das outras vezes. Tinha mais pressão agora, e sua língua tomou rapidamente minha boca enquanto seus lábios começaram a passar por cima dos meus com avidez, sentindo ele puxando o meu ar. Seus dedos se fecharam em meu cabelo, o puxando de leve. Sua língua passou pelo lado da minha, a enroscando, passando por baixo, e a tomando para si enquanto a sua cabeça tombava mais para o lado. Fui contra ele, deixando meu corpo me levar e agarrei novamente sua nuca, não conseguindo conter os suspiros descompassados que eu soltava devido sua mão no meu cabelo.
Era normal aquilo ser tão gostoso?
Ele só estava tocando meu cabelo e parecia que meu corpo se encontrava como um vulcão em erupção. Empurrei um pouco meu corpo contra o dele, tomando sua boca de volta, deixando minha língua passar de um lado para o outro de uma forma que roubou ainda mais o meu ar. Meus dedos apertaram um pouco mais a pele da sua nuca, onde senti sutilmente minhas unhas curtas serem um pouco cravadas naquela região. Meu rosto tombava um pouco mais para o lado oposto, onde deixei a lateral da minha língua lamber a parte de cima da dele e meu corpo se mexer em cima do seu colo, o deixando ainda mais colado no dele, se é que isso ainda é possível.
me abraçou com mais força, me deixando preso a ele, me impossibilitando de me mexer muito e até mesmo ficando difícil de respirar, pois seu braço estava ao redor de meu tronco, prendendo minhas costelas. Seus dedos soltaram meus fios e começaram a bagunçar meu cabelo, e o puxava às vezes resultando em mais suspiros descontrolados e desobedientes meus. Sua língua agora parecia que brigava com a minha para ganhar mais espaço quando ela entrava mais em minha boca, passando por cima da minha, ora por baixo também, até que a pegou e chupou com certa força, envolvendo minha língua com seus lábios. Gemi de forma rouca e pude sentir meus olhos se revirando por baixo das minhas pálpebras. Ele suspirou pesado e a soltou, voltando a tomar minha boca antes que eu conseguisse puxar o ar, segurando meus fios negros e os puxando, inclinando um pouco seu corpo para frente, sobre o meu e depois indo para trás, me puxando com ele, fazendo meu corpo quase pular em seu colo pelo seu braço ter me levado um pouco para cima, ficando mais alto que ele agora.
Seu queixo se ergueu, e seus lábios tocando os meus com mais sutileza, pensei que iria parar de me beijar, mas desceu sua mão pegando minha nuca e sua língua voltou entrando com tudo em minha boca, me beijando mais rápido que antes, sentindo sua respiração forte bater em meu rosto. Estava ofegante também, quanto mais eu tentava respirar, mais o ar faltava quando eu retribuía o beijo no seu mesmo ritmo, sendo rápido, intenso e com bastante pressão.
Desci uma de minhas mãos por suas costas e torci o tecido de sua camisa, conseguindo puxá-la um pouco ao arranhar sua camisa desejando ser sua pele ali. Afastei só levemente meu rosto, deixando meu lábio inferior deslizar de baixo para cima nos seus e depois fiz o mesmo movimento com a minha língua, pegando-o com os meus e o prendendo com força, testando apenas puxá-lo e fazer o mesmo movimento que ele havia feito com a minha língua antes. Então chupei seu lábio ouvindo um gemido fraco vindo dele e só o soltei para poder tomar sua boca de novo com a minha língua, levando minhas mãos até a gola de sua camisa, então deixando minhas mãos deslizarem por baixo do tecido aberto, agarrando sua pele em seus ombros.
Arfei entre um suspiro e outro com a falta de ar entre o beijo, mas não iria parar, não queria. Então avancei um pouco mais, o empurrando mesmo contra o chão. Fazendo ele deitar ali me levando junto, pois não soltou meu corpo e isso me fez gemer baixinho e manhoso em sua boca. Meus dedos voltaram aos botões de sua camisa e terminei de desabotoar o restante enquanto voltávamos aquele beijo que pareceu ficar ainda mais intenso, não sabia dizer se estava mais ou não, só que eu mal conseguia pensar com clareza porque meu corpo esquentava a cada instante. Assim que senti todos os botões serem soltos seu braço deslizou do meu tronco, e sua mão apertou minha cintura. Desci minhas mãos por todo seu peito, barriga até apertar suas costelas de leve, parando de beijá-lo apenas para descer meus lábios por seu pescoço de novo, agora tendo mais espaço para isso. Não tive pudor algum em beijar sua pele, lambendo sua cicatriz e a beijando com mais carinho.
Conseguia ouvir seus suspiros com cada toque de meus lábios e língua. Então mordi com sensibilidade a pele de sua clavícula, lambendo aquela região e descendo para o seu peito que estava quente assim como o meu corpo também estava. Sua mão alisou minhas costas e segurou com força o tecido de minha camisa, enquanto a outra fazendo um carinho gostoso em meu cabelo. Deixei beijos molhados por todo seu peitoral, suspirando pesado com aquela vontade absurda que ordenava meu corpo a continuar. Trilhei uns beijos, os quais eu fazia questão de usar a língua em um dos seus mamilos, e escutei arfar pesado por conta disso. Então voltei para os seus lábios vendo que seus olhos estavam presos em tudo o que eu fazia. Encostei meus lábios levemente inchados nos dele que não estavam diferentes, mas não fechei meus olhos, deixei eles presos nos dele. Puxei novamente seu lábio inferior só que agora com meus dentes e uni levemente minha sobrancelha ao sentir todo o calor que deslizava pelo corpo se posicionar em um certo lugar.
Então parei. Levantei e saí de cima dele.
— Eu preciso de ar… — anunciei, passando os dedos nos meus fios negros e correndo para fora da sala, pegando o casaco no cabide e saindo para a neve novamente. Desejando que o ar frio esfriasse aquele calor logo, fechei meu casaco no meu corpo, me sentindo extremamente exposto e envergonhado com o volume em minha calça. Tampei aquilo, respirando um pouco revoltado.
Não precisei olhar para trás para saber que era que estava ali, ouvi seus passos lentos se aproximando, mas não o olhei, e parecia que ele sabia disso, pois senti suas mãos passando por minha cintura. Então me abraçou por trás, apoiando seu queixo em meu ombro sem falar nada. puxou minhas mãos e entrelaçou nossos dedos, fazendo com que eu mesmo abraçasse meu próprio corpo agora. Sua respiração tranquila dava para ser ouvida bem perto de meu ouvido, conseguindo me relaxar aos pouquinhos, e eu podia sentir seu corpo quente mesmo por cima do casaco.
— O que mais te traz paz? — perguntou baixinho. — Não me conta, apenas pensa nisso.
Apertei de leve seus dedos e fechei meus olhos, pensando naquela pergunta que ele tinha feito. Retraí levemente meus lábios, sentindo seu corpo quente, o ar totalmente gelado porque já era madrugada e geralmente ficava muito mais frio esse horário. Meu corpo estava naquela mistura entre fervendo e frio. Forcei um pouco mais minhas pálpebras e sorri de leve quando lembrei de como gostava de ensinar Arthur a ler, aquilo me dava certa paz. Desenhar também enquanto estava no campo do castelo, sozinho e tranquilo naquele sol gostoso de tardezinha. Fui soltando o ar bem suavemente logo quando me lembrei das vezes que dancei com ele, certamente me tirando um sorriso maior. O som da risada dele que era adorável acabou me preenchendo ainda mais e fez meu coração diminuir as batidas para aquelas mais únicas que somente o sorriso dele era capaz de fazer.
— Fala pra mim que você tá com a sua capa aqui fora — perguntei em um tom baixo, mas também para mostrar para ele apenas pelo meu tom de voz que eu estava mais calmo.
— Estou. Não se preocupe com isso — sussurrou em tranquilidade. — Como você se sente agora?
— Estou começando a ficar com frio. — Fiz uma leve careta e fiz seus braços me apertarem um pouquinho mais. — E morrendo de vergonha também — confessei o que ele já deveria saber.
— Eu estaria assustado se você não estivesse com frio — soltou com uma pequena risada. — Quer entrar? — quis saber, mas não se mexeu também. — Eu sei que está. E está tudo bem. Não precisa ficar assim. Estava começando a ficar da mesma forma. É só nossos corpos reagindo ao que sentimos um pelo outro. É bem normal, acredite. — contou, beijando meu ombro e me apertando mais contra seu peito. — Então não precisa de sentir vergonha quando isso acontecer comigo.
Não respondi de imediato sobre entrarmos, ainda sentia minhas bochechas queimarem e sabia que não era somente por aquele frio arrebatador que estava fazendo. Ouvi suas palavras em silêncio, não sabendo nem explicar o quanto ele conseguia esclarecer as coisas e fazer tudo ficar bem mesmo. Ele era incrível, não existia pessoa melhor que ele, isso era um fato. Então deixei um sorriso aparecer em meus lábios e virei meu rosto, deixando ele afrouxar seus braços ao meu redor para me virar de frente para ele.
— Não acredito que você não fechou nem a camisa para vir aqui fora, ! — soltei totalmente incrédulo que ele estava mesmo daquela forma aqui nesse frio vendo a cara de arteiro que fez, que até lembro a de Áries, sua língua tocando o canto de seus lábios e um sorriso travesso. — Vamos para dentro agora mesmo! — O puxei pela mão de uma forma até rápida para dentro da casa.
— Não briga comigo! — reclamou, fazendo uma careta conforme o puxava.
— Você vai é levar uns tapas por isso — ameacei bater mesmo.
— Vou? Hm, interessante. — Riu fraco.
— Vamos ter que conversar sobre esse interesse em levar uns tapas, hein — falei como se fosse sério, rindo baixinho por isso.
— Podemos conversar… — O vi morder a ponta de sua língua segurando o riso, vendo suas covinhas se formarem por conta daquilo, o puxei pela capa para ficar mais perto de mim e comecei a abotoar sua camisa de novo. — Que fofo você cuidando de mim todo brutinho. Pode continuar assim, eu gosto.
— A forma como pronunciou “conversar” me pareceu mais um “mostrar”, . Estou errado? — Ergui uma sobrancelha, ainda abotoando sua camisa, não parei nem quando ouvi sua provocação. Só quando terminei que levantei meu rosto e o encarei. — Brutinho? — Estreitei meus olhos na direção dele e então deixei um tapa fraco na lateral de sua coxa, e ele abriu a boca como se tivesse chocado resmungando um “abusado”. — Não me provoca. — Então me afastei, soltando sua camisa e olhando por dentro do meu casaco para ver se era seguro tirá-lo.
— Você anda conhecendo bem os meus tons — disse, chegando mais perto e me roubando um selinho. — Sim. Me pegou pela capa me puxando para perto… Brutinho. — soltou em provocação novamente. — Se eu não parar. Hm? O que o senhor vai fazer? Vai me jogar na neve? — era um abusado. Então o vi tirar sua capa e pendurar. — Não precisava ter fechado minha camisa, eu ia dormir sem mesmo. — Se virou e saiu andando de volta para a frente da lareira pegando seu chá no chão, mas algo me dizia que ele ainda estava me provocando enquanto a isso.
— Ou será que você está ficando previsível demais? — o provoquei de volta, o vendo erguer as sobrancelhas, sorrindo fraco devido ao selinho. Neguei levemente com a cabeça com sua outra provocação. — Não foi brutinho, foi só eu querendo cuidar do meu abusado. — Fiz um leve biquinho de falsa inocência. — , para! — Peguei um cachecol que estava pendurado ali e bati de leve em suas costas, o fazendo rir baixo. Fiquei o assistindo sendo aquele abusado e ousado ainda por anunciar aquilo naquele mesmo tom.
— Não. Você que está me conhecendo demais — garantiu. — Gosto do jeito que você cuida do seu abusado — disse mais baixo, agora me olhando nos olhos, não tinha brincadeiras agora, estava mesmo falando sério.
Então respirei fundo e tirei meu casaco, o pendurando também no cabide e voltando para a frente da lareira, me sentando ao seu lado e pegando meu chá da mesma forma. Mas antes de levar a xícara até meus lábios para dar um gole, soltei uma risada e tive que tapar minha boca porque comecei a ter uma crise de risos. Não consegui parar de rir e até joguei meu corpo para trás, rindo sem controle, mas não deixando o som se expandir. me olhou sem entender nada.
— Deu crise do nada. O que foi? — perguntou com um pequeno sorriso nos lábios.
— Porque somos dois abusados e bobos — respondi, apertando sua cintura e depois sua barriga. — Achei que nunca fosse conhecer alguém que me superasse e fizesse eu gostar demais dos abusos até te conhecer. Não sei dizer, mas pensar nisso me fez querer soltar dessa forma. — Dei de ombros, me levantando de novo e beijando seu ombro. — E eu acho que sujei o casaco do padre com neve também… — Então me levantei de novo só para conferir aquilo, batendo de leve para tirar os flocos dali, retornando para o lado dele novamente.
— Eu não sou abusado. Quanto absurdo você falando isso para o líder dos rebeldes. — Rolou os olhos e estalando a língua no céu da boca. — Te faz querer rir. Vale nada mesmo. — Riu fraco, negando, então beijou minha cabeça. — Deixa isso aí. Lake é um abusado, ele que reclame que sujaram o casaco dele para ver — reclamou fazendo uma careta, dando um longo gole em seu chá. — Eu gosto disso. Do que temos — comentou baixinho, olhando para a lareira. — Me deixa leve, sabe. Como se tudo o que eu já tivesse feito para chegar até aqui não fosse tão pesado, porque quando te olho, penso que faria tudo novamente apenas para chegar nesse momento. — Me encarou agora com um sorriso suave. — Apenas para poder te olhar e ver seu sorriso. Isso já seria o bastante para mim, mas você consegue me dar muito mais do que isso. — Deitou sua cabeça em meu ombro. — Eu sempre agradeço ao universo por ter te encontrado no meio disso tudo, . — Sua mão segurou a minha e seu polegar fez um carinho pelo meu.
— É muito, bem extremamente abusado mesmo. — Neguei com a cabeça porque já era um abuso ele negar aquilo. — Ei, eu valho sim. — Mostrei a língua pra ele, mas sorri de forma suave com o beijo em minha cabeça. Era bom quando ele me dava esses carinhos. — Coitado do padre, ! — reclamei de volta, não foi esforço nenhum apenas para limpar a neve do casaco dele que foi eu mesmo que sujei. Não me custaria nada. Bebi um pouco do meu chá e voltei meus olhos para ele, ficando totalmente preso no que estava me confessando ali. A verdade era que eu não desejava que ele tivesse passado por nada do que passou não, eu gostava dele demais para desejar aquilo mesmo que se não tivesse sido daquela forma, talvez eu nunca teria o conhecido. Mas sempre me doía saber o tanto de coisas horríveis que ele já passou, começando com suas cicatrizes, cada uma delas deixavam meu peito apertado. Não soltei sua mão, mas passei meu braço pelo seu ombro, o abraçando de lado e deixando minha mão com a sua quase que encostando em seu peito. — Também sou grato por ter te conhecido, . Muito mesmo, talvez eu nunca vou conseguir palavras ou gestos para demonstrar tamanha gratidão. — O puxei mais para perto, beijando de leve sua têmpora. — Mas vou tentar todos os dias, todos os momentos tirar mais sorrisos seus, tentar ouvir mais das suas risadas. Poder ver esse brilho lindo que você está nos olhos agora neste momento. Quero te dar mais momentos assim, , momentos leves que te faça se sentir exatamente assim porque você não merece menos que isso. — Deixei meus olhos ficarem levemente presos nos dele. — Não me importo com o seu título e o que você teve que fazer para tê-lo. Não me importo se já teve sangue em suas mãos. No que os seus lindos olhos já viram ou mostraram a outras pessoas. — Deixei a xícara quase vazia no assoalho e segurei seu queixo com a mão livre agora. — Só me importo com esse homem que está aqui comigo, me olhando desse jeito lindo, que tem esses lábios levemente avermelhados que só me atiça a beijá-lo de novo. O homem que me deu o melhor natal de todos que eu já tive e que me faz ser a pessoa mais feliz desse reino só sorrindo para mim. — Suspirei baixinho ao falar tudo isso, beijando sua bochecha umas duas vezes e rindo fraco por isso, antes de dar um selinho demorado em seus lábios.
— Hm, não vou nem responder essa sua afronta. — Me olhou de rabo de olho. — Vale nada. Quem te iludiu? — Ergueu as sobrancelhas chegando mais perto e mordendo meu ombro. — Coitado de mim que tem que me virar com as coisas que ele apronta. — Rolou os olhos rindo fraco em seguida. — Mas eu gosto do Lake, ele é uma pessoa de bom coração, só tem um jeito meio estranho de me ajudar… — Não me olhou agora. Será que o padre sabia que eu estava escutando a conversa deles no estábulo? — Gosto como demonstra tudo quando você me olha nos olhos me dizendo absolutamente tudo o que sente. É como olhar para o paraíso, . — Sorriu mais abertamente agora, suspirando profundamente e quase tirando um meu se eu não estivesse sem ar no momento. — Você é a luz que faz a minha escuridão desaparecer. Diria até que não precisa me demonstrar nada, mas sei que não vai me obedecer, então, tudo bem. Eu aceito tudo o que quiser me dar, aceito todas as suas tentativas diárias de me fazer sorrir, porque meus sorrisos são realmente por sua causa, assim como minhas risadas e esse brilho que está vendo em meus olhos. Porque é você quem me traz vida todos os dias quando acordo, e me dá todos os momentos que me deixa leve. — Abaixou a cabeça fazendo seus cachos tirarem a visão que tinha de seu rosto. Ele virou sua cabeça, e agora olhava em meus olhos novamente depois de ter ouvido o que lhe falei, sorrindo de um jeito tão lindo. — Você pode beijar esse homem sempre que quiser. — Deu uma piscadinha para mim sorrindo de lado. — Eu sou mesmo muito sortudo por ser essa pessoa que te faz sentir desse jeito. — Colocou sua xícara no chão e segurou a lateral de meu rosto, suspirando profundamente por causa dos meus lábios contra os seus. — Eu não queria dormir, mas estou ficando com sono — disse baixinho, passando a ponta de seu nariz pelo meu. — Posso deitar e ficar te olhando até pegar no sono? — pediu de um jeito fofo, com um pequeno sorriso em seu rosto.
— Fica me chamando de iludido pra ver se eu não te mordo. Além de ser um abusado sonso, ainda me chama de iludido. — Rolei meus olhos e até bufei por causa disso, como se estivesse mesmo claramente indignado. — Sou grato ao Padre Lake também por tudo que ele anda fazendo, ele é uma boa pessoa com o meu tio e minha tia — comentei sobre o padre, mesmo que tivesse sido um favor a pedido do , ele tinha se tornado importante para minha família e todos que queriam o bem do era importante para mim também. — Ai agora que vou sonhar com você falando que é como olhar o paraíso… Ah ! — O apertei de leve contra mim, ficando muito tomado por aquele sentimento bom e único que somente ele poderia me dar. O sorriso não queria sair dos meus lábios e ficou cada vez maior com suas palavras. Era isso. Aquele homem era o dono do meu sorriso também. Dono de todas minhas reações e de tudo que é bom na minha vida. — Vou ser sempre a sua luz, sempre mesmo — sussurrei para ele, deixando meu nariz raspar levemente no dele assim que ele levantou a cabeça para me olhar novamente. — É realmente muito bom saber que minhas tentativas estão dando certo, de verdade. Eu desejo muito a sua felicidade, é realmente tudo que eu mais quero na vida — falei a verdade, o meu real desejo. Sacrificaria a minha felicidade pela dele sem nem precisar parar pra pensar sobre isso. — Então eu vou beijar esse homem sempre que eu quiser. Ele me deu o aval, sabe? Deixou mesmo eu tocar nele… Wow! — brinquei, fazendo uma leve comemoração. Sorri suavemente com suas mãos segurando meu rosto e com seus lábios nos meus, ainda mais com o arrepio gostoso que me causava sempre que ele passava seu nariz daquela forma. — Eu que sou sortudo — rebati em uma leve teimosia apenas para implicar um pouquinho. — Sabia que o chá era milagroso e que fazia as pessoas dormirem. — Soltei o ar pelo nariz e roubei outro selinho dele, sorrindo de uma forma carinhosa e doce para ele com aquele pedido que aqueceu meu coração. — Vai ser ótimo poder dormir olhando para o seu rosto também. — Alisei seu rosto de novo, então fui o soltando aos poucos.
Levantei do chão, pegando sua xícara e a minha para levar para a cozinha, apontando para ele as coisas que minha tia tinha deixado para ele ficar mais confortável. Então fui até a cozinha, lavando as coisas que tinha usado e percebendo que o sorriso ainda estava nos meus lábios, aquele sorriso que não sairia tão fácil e eu nem queria que saísse também. Um sorriso que dizia claramente o quanto eu estava feliz. O quanto meu coração estava preenchido. Mordi de leve meu lábio inferior ao voltar para a sala e observei já deitado enrolado com as cobertas que minha tia deixou, coberto até a metade do seu corpo e sorri ao ver que ele vestia uma camisa de algodão que era minha. Sem tentar fazer barulho ou muitos movimentos, tirei minhas botas e as roupas de cima, deixando elas dobradas perto de onde minhas botas estavam. Peguei as coisas que minha tia tinha separado para mim e arrumei no chão, deitando logo em seguida e como um bom friorento que eu era, me cobri quase por inteiro mesmo estando bem perto da lareira.
Deixei meus tons dourados irem de encontro aos olhos dele que me olhavam de volta também, suspirei pesadamente e fiquei mergulhado ali naquele momento. Vendo como o amarelo das chamas deixavam a iluminação com um tom de ouro queimado. Aquele tom combinava demais com os olhos verdes dele e me tirou um sorriso bem leve no canto dos meus lábios.
— Feliz Natal, — murmurei, piscando meus olhos lentamente.
— Feliz Natal, — desejou de volta segurando minha mão e a levando até seus lábios, dando um beijo em meus dedos, me fazendo respirar fundo e aumentar o sorriso fechado.
Seus olhos não saíam dos meus.
When you look me in the eyes
(Quando você olha nos meus olhos)
I catch a glimpse of heaven
(Eu tenho a visão do céu)
I find my paradise
(Eu acho meu paraíso)
When you look me in the eyes
(Quando você olha nos meus olhos)


FIM



Nota da Sereia: Espero de todo meu coração que tenham gostado desse conto. Eu amei demais escrevê-lo com a mozi. Já comentei que eu amo demais mesmo esse casal, eles sempre têm esse poder de me tombar.
E esse beijo deles na lareira! Deus do céu! Fico até com calor kkkkk.

Nota da Jaden: O que dizer desse final? Na boa, eu estou tombada, rolando na lama e ninguém me tira daqui! Estou tão, mas tão apaixonada por essa short, que a vontade que tenho é de colar ela na minha testa! Sério. Espero que vocês tenham gostado tanto quanto a gente. Esse casal é tudo pra mim! Ahhhh! Ainda não estou pronta para superar o beijo deles e muito menos o jeito que o pegou o de jeito na frente daquela lareira! Nossa! Só de lembrar eu babei aqui. É isso, gente.

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