Capítulo Único
pegou o pedaço de papel rabiscado que ocupava sua mesa e o embolou até formar uma bolinha, arremessou em direção à lixeira, errando por pouco. As pernas descansavam cruzadas para o alto, mastigava um chiclete de menta e os ouvidos eram preenchidos por uma música da sua banda favorita. Tudo para matar o tempo enquanto o seu chefe não aparecia com uma nova missão.
Ela era uma agente nível A do governo e poucos sabiam de sua existência, sendo que muitos não viveram o suficiente para espalhar sua identidade por aí. Como o período das eleições para o novo presidente de Kimartin estavam acontecendo, as missões foram reduzidas e só aconteciam quando a situação era de máxima emergência. Faltavam dois meses para saberem se o atual presidente permaneceria no cargo ou não, então sabia que precisava aumentar o seu estoque de chiclete e atualizar sua playlist.
— .
A agente tomou um susto, quase caindo da cadeira que ocupava confortavelmente. O chefe havia surgido atrás de si e cutucado-a no ombro, a expressão impaciente. Ela arrancou os fones e ajeitou a postura, tornando-a mais rígida, assim como seu rosto.
— Senhor. — Lutou para permanecer com a agitação longe de suas feições, não queria revelar o quanto estava empolgada de vê-lo ali, dentro do seu pequeno cubículo que mal cabia sua mesa e cadeira. O homem de cabelos grisalhos usava um terno preto bem cortado, sapatos bem lustrados, não tinha um fio fora do lugar - típico dos ex-agentes de campo e que agora coordenava as operações atrás de uma mesa num escritório luxuoso com vista panorâmica da capital do país. Aquela era uma nova etapa da sua carreira e que antecederia sua aposentadoria, caso sobrevivesse até lá. Triste, porém verdade.
— Código amarelo e os detalhes estão no arquivo. Leia atentamente e reúna sua equipe. — Jogou uma pasta parda sobre a mesa, fazendo um barulho. — Você tem quarenta e oito horas para finalizar a missão.
— Moleza… — Forçou uma tosse para disfarçar ao ver o homem arquear uma sobrancelha. — Sim, senhor. — Afirmou com um gesto de cabeça.
Ele encarou-a por quase um minuto inteiro em silêncio e depois saiu.
A mulher soltou um suspiro de alívio e depois abriu um enorme sorriso, ergueu os punhos e fez uma dancinha ridícula em comemoração.
— Finalmente! — Comemorou animada.
Agarrou a pasta e começou a folhear, lendo cada detalhe atentamente e montando o plano que teria que repassar para sua equipe. Código amarelo significava que seria uma missão de risco médio, então seria bem mais fácil do que ela costumava fazer normalmente.
e sua equipe teriam que resgatar um Hacker havia sido sequestrado pela máfia italiana.
Para sorte do sequestrado e azar dos sequestradores, o cativeiro onde tudo estava acontecendo ficava ali mesmo na capital. Para , aquilo significava que ela podia estudar melhor o local onde toda a ação ocorreria, além de escolher a melhor estratégia junto a sua equipe. Embora agora fosse uma líder, ela já havia estado do outro lado e ao assumir um posto mais alto, decidiu seguir os passos daquela que fora sua mentora por tantos anos e que nunca tomou todas as decisões sozinhas, afinal, várias cabeças normalmente pensam melhor do que apenas uma. Essa era uma das frases populares mais verdadeiras dentro de sua equipe, por isso, depois de ter lido e relido a pasta por diversas vezes, solicitou a quantidade necessária de cópias e caminhava rumo a sala de reuniões, onde seu time a esperava.
— Boa tarde a todos! — Ela sorriu. — Já estava com saudade de encontrá-los aqui. — Ouviu os presentes a cumprimentarem e concordarem com sua segunda colocação, o que fez com que ela alargasse o sorriso. Antes de continuar, a mulher se certificou de que a porta estava fechada e não havia ninguém próximo no corredor.
— Sei que não deveria ser tão transparente com a minha animação, mas não consigo evitar. — Confidenciou. — Temos um código amarelo para resolver em 48h. — Alguns bateram palmas, outros soltaram gritos animados e ela logo pediu para que as comemorações fossem contidas. — Apesar de estarmos todos bem animados, não podemos deixar que isso nos deixe afobados. Precisamos de foco total para mais uma missão de sucesso em nosso currículo, ok? — Embora fosse uma interrogação retórica, ela viu toda sua equipe manear positivamente com a cabeça.
Enquanto ia distribuindo as cópias dos arquivos para cada um, ela também ia explicando melhor sobre o caso.
— Não sei se esse pessoal da máfia está ficando burro ou preguiçoso…
— Ou os dois… — Escutou Macarena responder e todos riram baixinho.
— É, independente do que for, eles estão no Nhat Kiem, o maior arranha-céus da cidade. Quantas vezes já estivemos lá mesmo?
— Se não estou enganado, seis vezes. — Dentre todos, Benjamim era o com a melhor memória para os detalhes e estatísticas. Às vezes se questionava como a mente dele não dava um nó com tantos dados, mas naquele momento ela apenas sorriu e agradeceu.
— Exatamente. Mas isso não quer dizer que vai ser fácil ou da mesma maneira das anteriores já que os italianos podem ter colocado armadilhas ou mudado as coisas de lugar…. Precisamos estar preparados para tudo. Por isso, peço que leiam atentamente todo o conteúdo dessas páginas e sublinhem todos os detalhes que acharem importantes, bem como ideias táticas. Enquanto isso eu vou ver se as plantas baixas que solicitei já foram liberadas pelo pessoal do arquivo.
— Que ironia! — Melina riu ao ler as folhas em suas mãos. — Um príncipe encantado precisando ser resgatado.
Ouviu exclamações confusas em resposta ao comentário e revirou os olhos.
— O nickname dele é Princípe Encantado 66. — Explicou e deu de ombros, encarava os membros da equipe. — Que tal o nome da equipe ser Rapunzel? - Sugeriu com um sorriso zombeteiro brincando nos lábios.
— Está bem engraçadinha hoje, hein! — apontou enquanto seguia até a porta. — Isso é um bom sinal.
Após buscar os papéis que faltavam, passou alguns minutos jogando conversa fora com o pessoal dali e depois tomou lentamente mais uma xícara de café, tudo para que seu time tivesse mais tempo para ler e assimilar as diversas informações envolvendo aquela missão. Por mais que estivesse matando tempo, sua cabeça fervilhava com os preparativos e aquela tal de ansiedade boa estava de volta.
— Acho que já deu. — Falou baixinho para si mesma ao checar o relógio. Decidiu ir ao toalete antes de voltar e quando se abaixou para fazer suas necessidades teve um estalo. — É isso! — Dessa vez ela gritou e pouco se importou se havia alguém nas cabines do lado. Fez o que tinha de fazer, se higienizou e depois praticamente saiu correndo até a sala de reuniões. Felizmente, dessa vez ela não havia esbarrado em ninguém, evitando broncas desnecessárias. Abriu um sorrisinho discreto ao lembrar-se da vez em que atropelou o chefe e seu café voou todo nele, obrigando o mais velho a voltar para casa para trocar de roupa. Como punição, ela ficou algum tempo fazendo trabalho de escritório em vez de ir para o campo, mas isso não durou muito já que ela era muito mais eficiente e dava menos trabalho quando estava fora do prédio.
— Voltei. — Anunciou ao adentrar o ambiente. — Trouxe as plantas baixas do prédio e uma ideia genial de brinde. — Ela não era de se gabar, mas estava feliz com seu plano e esperava que a equipe gostasse também.
— Então nos conte porque não conseguimos sair do tradicional aqui. — Melina disse desanimada.
— Calma. — disse sorrindo. — Pensei em causarmos uma “pequena” infiltração no teto ou alagamento nos banheiros do andar onde estão prendendo o príncipe. — Sorriu maliciosa. — Uns dois ou três de vocês iriam lá agora no meio da tarde disfarçados como se fossem da manutenção. Enquanto fingem estar empenhados em solucionar o problema, vocês aproveitam para analisar o cenário… Depois de um tempo, avisam o responsável pela administradora do prédio que a infiltração ou alagamento é pior do que vocês pensavam e que precisarão voltar mais tarde, com mais gente e mais equipamentos. Ao anoitecer, quando os civis desocuparem o prédio após o expediente, nós voltamos disfarçados e armados. E o resto vocês já sabem... — Agora que havia exposto seu plano ao time, aguardava ansiosa e apreensiva as reações. Escutou palmas vindas do fundo e levou seu olhar até lá, encontrando Macarena.
— Você sabe que eu não sou e não preciso puxar o saco de ninguém, mas… que ideia, chefa! Vai ser perfeito já que esse tipo de coisa é corriqueira e pode levantar menos suspeitas.
— Concordo! — Melina apoiou. — Ainda mais se enviar uma equipe de manutenção só de homens, vai ser muito mais convincente.
— Esperamos que esse cenário um dia mude, mas por enquanto é isso... faz sentido. — concordou, sentindo uma onda de orgulho preencher seu peito. A equipe ao seu lado era incrível e a sinergia entre eles lhe dava forças para continuar.
— Eu sabia que um dia o curso técnico de manutenção que eu fiz antes de entrar aqui ia servir para alguma coisa. — Kasper declarou rindo. — Posso ser bem convincente.
— Perfeito! Kasper, você lidera a equipe que vai hoje à tarde, ok? — O homem assentiu silenciosamente com a cabeça. — Kennie e Iwar vão contigo. — Viu os outros dois comemorarem e sorriu.
— Aqui estão as plantas do Nhat Kiem. — Ela foi abrindo as folhas gigantes em cima da mesa. — Essa aqui é a do andar do resgate. — Apontou para a última. — Hora da sua aula, Benja.
— Demorou! — Ele provocou rindo e viu a chefe bufar e revirar os olhos, rindo em seguida.
— Chegou a hora. Os italianos podem ser desconfiados, mas nós somos espertos e competentes. — declarou sorrindo para seu time. O seu tom de voz era firme, porém sereno. Por mais que fosse uma missão de código amarelo, o risco de entrarem vivos e saírem mortos existia, então ela usava tudo o que podia para deixá-los confiantes. — Lembrem-se das informações repassadas pela equipe de reconhecimento que esteve aqui hoje à tarde e atenham-se ao plano, não tem por que não ser um sucesso. — Ela estendeu o braço direito para a frente com a palma da mão virada para baixo e os outros ali presentes foram criando um montinho, mão sobre mão. Diferentemente do tradicional, eles contaram até três em um tom de voz baixo e apenas jogaram as mãos para o alto, sem extravasar um grito de guerra. Aquela era a tradição deles, já que quanto menos barulho fizessem, melhor.
— Boa noite, senhores. Estivemos aqui mais cedo para verificar a manutenção no quadragésimo segundo andar e agora voltamos com os materiais necessários para finalizar o serviço. — Kasper informou aos guardas e ao porteiro que os recebeu na entrada do prédio. Embora estivesse com a adrenalina a mil, Iwar teve de se controlar para não rir da analogia feita pelo colega, mas que obviamente só foi entendida por eles.
Pela segurança dos funcionários do local, era melhor que deixassem o prédio, mas como eles poderiam ser aliados dos mafiosos, optaram por manter o disfarce até que a situação no último andar do prédio estivesse encaminhada. Quando dessem o OK, alguém da equipe viria retirá-los em segurança da cena, se esse fosse o caso.
— Ah, claro! Meu colega do outro turno deixou avisado. Preciso apenas da ordem de serviço e de um documento de vocês antes de liberá-los. — Eles entregaram ao mais velho uma O.S falsa, bem como os crachás com dados nada verdadeiros.
Por um breve momento, Kasper ficou com receio que ele pedisse para verificar as bolsas de equipamentos. Claro que havia ferramentas de manutenção ali, mas não eram nada comparadas a quantidade de armas que eles levavam junto.
Por sorte, nenhuma vistoria adicional foi solicitada e em menos de três minutos já estavam no elevador rumo ao 42º andar.
XXX
manteve a aba do seu boné mais rente ao rosto para esconder suas feições, não queria correr o risco de ser reconhecida por alguém, nunca se sabe onde poderia acontecer. Carregava uma das bolsas de ferramentas que o fundo estava repleto de armamentos, vestia um macacão cinza assim como sua equipe e por baixo usavam coletes a prova de balas. Quando o apito anunciou que havia chegado ao andar certo, fez um breve aceno para os colegas e seguiu Kasper que havia feito o reconhecimento mais cedo. A falsa equipe de manutenção era composta por ela, Kasper, Iwar, Benjamim e Kennie enquanto Macarena e Melina ficaram responsáveis por retirar os civis do local, além de vigiar os arredores e preparem a van para a fuga, podendo entrar para dar reforço, caso a situação saísse do controle. O corredor era repleto de salas envidraçadas estilo empresarial, o que dificultava passar despercebido na hora de render os seguranças que estavam espalhados por ali. A última sala cuja vidraça e porta ficava de frente para o corredor tinha dois homens na porta com roupas civis, claramente, não eram uma segurança contratada como os que encontraram no térreo do edifício, o que poderia significar que apenas aquele andar poderia estar funcionando alguma empresa fictícia da máfia italiana. Os passos ecoavam enquanto os dois homens observavam atentamente a equipe que se dirigia para a porta do banheiro. Um deles fumava um cigarro e o outro tinha os braços cruzados na frente do corpo, a posição era proposital para evidenciar o volume de uma arma no quadril por baixo da camisa, uma forma de intimidar o pessoal. A sala atrás deles era a única com vidros escurecidos evitando que pudesse enxergar algo lá dentro, segundo Kasper e Iwar, os seguranças da tarde eram diferentes e menos intimidadores do que aqueles que os encaravam. A agente observou bem os rostos de forma discreta antes de entrar no banheiro, o lugar tinha cinco cabines e em frente uma longa pia de mármore cinzento com um espelho pegando toda a extensão. Largaram as bolsas no chão e confirmaram se o lugar estava vazio, todos distribuíram olhares entre si dando sinal para iniciar a encenação.
andou até a última cabine e entrou para poder falar sem correr o risco de ser ouvida no corredor.
— Estamos dentro. — Avisou a Melina e Macarena através do comunicador em seu botão. — Salas envidraçadas, apenas uma não conseguimos enxergar dentro e tem dois homens armados na entrada. — Finalizou num sussurro.
— Entendido. — A outra confirmou.
Saiu de dentro do cubículo para se juntar aos demais. Kasper fazia barulho com as ferramentas batendo uma nas outras enquanto Iwar tecia comentários sobre o problema no banheiro para que os homens no corredor pudessem ouvir. Benjamim agachou-se e pegou o zíper para abrir uma das bolsas, mas parou abruptamente, quando a porta abriu repentinamente atrás de si. Nesse momento, o coração de bateu acelerado pela surpresa de não ter ouvido os passos no corredor vazio que ecoaram alto.
O rosto do homem que estava fumando momentos atrás apareceu na brecha e os olhos atentos analisaram cada rosto da equipe.
— Algum problema, senhor? — perguntou educadamente.
Ele lançou um olhar que causou um frio na espinha da agente e deixou-a alerta.
Kasper e Iwar que seguravam as ferramentas quando receberam a visita inesperada, entraram em um dos cubículos e fingiram tentar retirar o vaso sanitário. Ela ficou grata por ser o seu último recurso no disfarce.
— Pediram para que ficasse aqui, caso precisem de algum auxílio. — Deu de ombros e cruzou os braços, as costas descansando no batente da porta.
— Não será necessário, viemos com mais mãos justamente por esse motivo. — Justificou. — Não precisa se preocupar. — Sorriu simpática.
Ele arqueou uma das sobrancelhas.
— Primeira vez que vejo uma mulher numa equipe de manutenção. — Soltou desconfiado.
Ela abriu um sorriso debochado e cruzou os braços, a pose desafiadora.
— Garanto que sou mais competente do que esses idiotas. — Sorriu brincalhona para os colegas de equipe.
O homem respondeu com um resmungo mal humorado.
— Aqui, Hannah! — Benjamim lançou uma ferramenta para a mulher e ela entrou na cabine novamente, fez uma careta de nojo e agradeceu aos céus pelo capanga não ter como ver sua expressão. O colega entrou espremido com ela e enquanto mexiam na privada, olhavam um no olho do outro, dando sempre as costas para o lado de fora ou poderia refletir a comunicação silenciosa no espelho.
— Dividir. — Ergueu o dedo indicador e médio, apontou em direção à cabine ao lado onde os outros colegas fingiam trabalhar. — Verificar perímetro. — Finalizou as instruções movendo os lábios devagar sem sair som.
— Eu fico com você. — Moveu os lábios, apontou o indicador para o próprio peito e o da mulher.
Ambos confirmaram com um gesto de cabeça.
Sabia que seriam quarenta e um andares para verificarem, mas precisavam ter certeza de que o terreno estava limpo para enfrentarem os dois seguranças e os que poderiam estar dentro da sala.
Ela saiu da cabine e parou na direção dos rapazes, o capanga a todo instante acompanhando todo o movimento.
— Vocês precisam verificar os banheiros de todos os andares para termos certeza de onde está o problema. — Falou seriamente. — Mike vai me ajudar aqui e assim que tiverem certeza de que está limpo, vamos dar andamento aqui. — Iwan e Kasper confirmaram, saíram do cubículo e levaram uma das bolsas.
e Benjamim não tiveram escolha, começaram a arrancar a privada o mais devagar possível para dar tempo de os meninos verificarem os andares. Depois do que pareceram horas, mas na verdade foram 40 minutos, Iwan sussurrou no comunicador que estava limpo e que voltariam para o andar prontos para a ação.
— Mike, você pode ver se os meninos estão subindo?
Benjamim confirmou e saiu do banheiro. A agente entrou no cubículo, agarrou uma ferramenta bem pesada e depois, fingiu fazer força. Inclinou o corpo para fora e encarou o capanga com uma cara inocente.
— Senhor…?
— Johnny. — Ele respondeu ao sair da posição e dar alguns passos até o cubículo que a mulher estava.
— Estou aceitando a ajuda que ofereceu. — Sorriu com falsa inocência e recebeu uma expressão de convencimento como resposta.
Ela saiu para dar espaço para o homem entrar enquanto segurava a ferramenta na mão.
— Só segurar as bordas do vaso e puxar, parece que está emperrado.
— Claro, Hannah. — Soltou dando ênfase no nome falso da agente, mas o tom era de provocação e não de desconfiança.
Quando ele inclinou o corpo e deu as costas para , ela levantou a ferramenta e acertou a nuca dele com toda força. O homem apenas gemeu de dor e apagou, caindo de cara no vaso sanitário, o restante do corpo caído no chão. Ela correu para a bolsa de ferramentas e retirou uma fita isolante, entrou no espaço apertado e começou a tentar arrastar o homem para fora dali.
— Foi arriscado. — Benjamim sussurrou enquanto juntava-se a ela, ele agarrou com facilidade o homem pela cintura e desvirou-o, deixando-o sentado no chão com as costas no vaso. se agachou e começou a prender as pernas juntas com fita isolante enquanto o parceiro retirava as duas pistolas escondidas no coldre da cintura, verificando a munição e pegando para si. Quando terminaram de prender as mãos, pés e boca do homem, arrastaram para fora e depois Benjamim ergueu-o pelos braços, a colega pelos pés e com certa dificuldade, colocaram ele na última cabine sentado no vaso sanitário. Arrastaram um dos vasos da cabine do lado para que cobrisse a direção que a perna dele descansava e assim, impedir que alguém o encontrasse.
— Um rato na última cabine. — Avisou em código no comunicador para que Kasper e Iwen fossem direto retirar o cara inconsciente. — Vamos invadir.
— O outro ainda está na porta, mas mexia no telefone. — Benjamim avisou enquanto abria a bolsa e distribuía o armamento. Entregou uma pistola, munição e fuzil para a chefe, em seguida, começou a pegar o mesmo. — Temos poucos minutos até que ele venha procurar o amigo. — Ergueu-se e prendeu o coldre no ombro. — Tem uma cara em cima dele, o jeito vai ser apagar o cara e invadir, teremos pouco tempo até surgir reforço.
— Beleza! Vou me aproximar com uma faca, você fica aqui com a minha arma até ouvir o meu sinal.
— Vamos entrar. — Repetiu duas vezes no comunicador.
Ela entregou o fuzil nas mãos do colega, segurou uma faca e escondeu a mão atrás do uniforme. Respirou fundo e fez um gesto afirmativo para o parceiro antes de abrir a porta e sair. Manteve a mente focada a cada passo que dava, o som ecoava pelo corredor vazio e chamou a atenção do capanga. Quando estava a cerca de 2 metros de distância, fingiu tropeçar nos próprios pés e se lançou na direção dele, por instinto o homem abriu os braços e foi de encontro para segurá-la, a agente aproveitou-se da reação para acertá-lo direto na barriga, enfiando a faca em seguida. O homem tentou lutar, mas ela conseguiu imobilizá-lo e retirar a pistola que estava na cintura. Cobriu a boca do homem e assobiou para alertar Benjamim. Nisso, destravou a arma e parou na parede ao lado da porta de vidro, Benjamim estendeu o fuzil e ela guardou a pistola dentro das calças. Ficaram atentos para qualquer barulho de passos ou vozes, mas o que ouviram foram disparos atingindo a parede perto deles, os tiros vinham de dentro.
— Agora! — Ordenou.
O parceiro atirou na fechadura e ela entrou dando um pontapé com toda força na maçaneta, arrebentando a porta.
A sala estava escura e era repleta de estantes de ferro com muitas pastas que pareciam de arquivo. Bom, ela poderia examinar aquilo mais tarde, pois no momento estava focada demais em salvar sua pele dos projéteis que voavam em sua direção.
— Ei, ei, ei. Podemos conversar? — Ela gritou e instantaneamente os tiros foram cessados, mas o ambiente logo foi preenchido por uma das risadas mais sarcásticas que ela já ouvira na vida.
— Ah, e sobre o que a boneca armada quer conversar? — O tom de escárnio utilizado fez com que apertasse a arma em sua mão com uma força desnecessária para o momento. Inspirou o ar e aproveitou para relembrar a si mesma que havia um civil sendo feito de refém, então ela precisaria de toda a calma, sorte e talento do mundo para salvá-lo. Qualquer ação imprudente poderia transformar aquela missão em apenas um resgate de corpos e ninguém dos seus queria aquilo.
— Então, a boneca quer saber se dá pra soltar o rapaz aí, acredito que assim a conversa será mais tranquila, você não acha? — Tentou manter o tom normal, mas foi impossível não deixar um pouco de deboche escapar.
— Você é mais esperta demais para saber que isso não vai acontecer. Ou você matou todos os seus neurônios enquanto tentava aprender a segurar uma arma? — Escutou ele rir baixo do outro lado da sala e ela travou o maxilar. Desde que havia escolhido essa profissão, ela sempre conviveu com o machismo ao longo do caminho. Infelizmente esse tipo de situação a acompanhava desde a academia, passando depois para situações envolvendo os colegas na agência e, como acontecia ali, recebia esse tratamento até mesmo dos bandidos malditos. Porém, o que eles não sabiam era que cada vez que a diminuíam por ser mulher, aquilo funcionava como gasolina para a sua chama interna, fazendo com que ela trabalhasse dia após dia para se aprimorar, deixando vários machistas no chinelo.
suspirou baixinho e deixou de lado tudo o que queria fazer com o homem, concentrando-se apenas em dar continuidade ao que havia planejado.
— Acho que seu amiguinho ali fora discordaria dos seus comentários. Mas, ah, lembrei! Ele não pode falar. — Sabia que sua fala poderia acarretar duas coisas: o homem poderia ficar ainda mais bravo e agressivo por saber que seu companheiro estava ferido ou morto ou ele poderia, de alguma forma, ficar curioso com as ações da mulher, tornando-o mais suscetível a algum deslize.
— Pelo visto a boneca também sabe blefar. — Outra risada debochada foi ouvida, mas dessa vez a agente sorriu.
O plano estava funcionando, ele estava caindo no jogo dela.
— Existem várias coisas que eu sei fazer, você nem imagina. — Declarou em tom amistoso, enquanto se movia em silêncio para mais perto de onde o italiano e o hacker estavam.
Sabia que Benjamim estava cuidando do lado de fora, mas esperava que ele entendesse o recado que viria a seguir.
Ela bateu o cano da arma na estante de ferro, atraindo a atração do mafioso para lá, que disparou um tiro naquela direção. , no entanto, havia sido rápida ao rolar pelo chão e estava bem mais próxima do que ele imaginava. Aproveitando-se da distração do momento, Benjamim silenciosamente se posicionou na entrada da sala e acertou um tiro em cheio no peito do homem e partir dali tudo aconteceu muito mais rápido.
Ao mesmo tempo em que o criminoso ia ao chão, puxava o hacker pelo braço, a fim de desvencilhá-lo do “abraço” do outro. Assim que conseguiu, ela empurrou o civil em direção a porta para que Benjamim pudesse protegê-lo enquanto recolhia as armas do italiano.
— Temos dois rendidos e um morto. Estamos com o civil, vamos descer. — Comunicou à Melina e Macarena enquanto dava uma última olhada para trás, a fim de evitar surpresas. O elevador de serviço havia sido travado para esperá-los no 42º andar e agora iria descer até o térreo sem parar. Amém para a chave-mestra que possibilita isso. Eles eram fisicamente resistentes para aguentar tanto a subida quanto a descida de todos aqueles andares, mas nesse caso optaram pela opção mais rápida e segura. Alguns agentes estavam escoltando a saída do elevador, deixando a equipe um pouco mais segura.
Se dentro do elevador as coisas pareciam estar mais tranquilas, do lado de fora tudo estava prestes a ficar caótico.
— Atenção! Uma SVU preta chegou com tudo, destruiu a cancela do estacionamento e é bem provável que esteja indo na direção de vocês.
— Delta a postos.
— Yankee a postos.
Pelo comunicador, escutaram dois colegas novos - que ela ainda não havia decorado os nomes nem as feições - avisarem que estavam prontos para o combate que aconteceria a seguir. estava preocupada, sabia que eles eram competentes ou não estariam ali, mas eles estavam em menor número e com a função de atacar e defender ao mesmo tempo.
— Será que essa lata poderia ir mais rápido? — Bufou ao constatar que estavam no vigésimo sétimo andar ainda.
Benjamim nada disse, sabia que tentar acalmá-la nessas horas era praticamente uma guerra perdida. Enquanto isso, o hacker tinha os olhos esbugalhados em uma clara expressão de pavor e algumas gotas de suor podiam ser vistas escorrendo pela lateral de sua face.
— Chefe. — Escutou Kennie chamá-la no comunicador. — Eu, Kasper e Iwar estamos a postos aqui embaixo também. Vou vigiar a saída do elevador para que não tentem nada, enquanto os outros acabam com os mafiosos.
— Obrigada, meninos. — Por mais que não pudessem vê-la, ela sabia que eles perceberiam pelo seu tom de voz que ela estava sorrindo triunfantemente. — Em mais alguns instantes chegaremos para ajudar, mas assim que sairmos do elevador, preciso que Kennie me ajude a proteger o civil. — Ouviu o homem sinalizar um “ok” em concordância e seguiu com as instruções. — Maca e Mi, estejam no lugar combinado em quatro minutos. Caso a gente não apareça dentro do tempo combinado, vocês devem entrar para ajudar, ok? — As mulheres concordaram e direcionou os olhos para o display eletrônico que indicava que agora eles estavam no décimo oitavo andar.
— Você. — Apontou para o hacker. — Quando a gente desembarcar, eu preciso que você siga atentamente as minhas instruções, a menos que queira acabar morto.
— . — Benjamim advertiu. Sabia que a intenção da líder não era apavorar o rapaz, e sim protegê-lo, mas suas palavras duras poderiam ter justamente o efeito que eles não gostariam.
— Sim, senhora. — O civil respondeu baixinho.
A agente olhou para ele novamente e constatou que eles deveriam ter mais ou menos a mesma idade. Estava pronta para dar uma resposta apimentada, mas o olhar censurador de Benja a impediu.
A dupla de agentes firmaram-se lado a lado com as armas em punho, uma espécie de barreira para a proteção do hacker. O único som dentro daquela caixa de aço eram as respirações fortes banhadas pela adrenalina da ação do resgate, pois mesmo que estivessem com as mãos no civil, ainda faltava chegar ao lugar seguro e finalmente, poder comemorar que a missão foi um sucesso.
— Com licença-a. — Gaguejou a voz masculina. — Eu também sei atirar…
— Não será necessário. — Ela cortou-o bruscamente. — Nosso trabalho é te proteger com a nossa vida se for preciso. — Virou parte do rosto para encará-lo, a expressão séria. — Apenas faça o que dissermos e em poucas horas estaremos brindando com uma enorme caneca de chopp por mais um dia de vida. — Sorriu divertida.
Benja mordeu os lábios para impedir a risada de escapar, os olhos focados na tela que indicava os andares.
O rapaz ia abrir a boca para responder, mas foi calado após ser arremessado de costas para o fundo do elevador, após disparos atingirem a porta fechada do elevador no quarto andar. Os agentes espremeram o hacker no fundo para protegê-lo, caso alguma tivesse atravessado as portas.
— Disparos no quarto andar. — Ela avisou no comunicador. — Prontidão.
— Kennie já cuidou dele. — Iwan avisou.
— Preparados? — A líder perguntou para os outros ocupantes do elevador, recebeu o silêncio como um sim, afinal, quem cala, consente. Posicionou a arma em suas mãos e preparou-se para as portas que se abriram.
Acenou com a cabeça para Kasper e Iwar que estavam com as armas em posição, parados próximos ao elevador. O saguão enorme do prédio com piso de mármore estava vazio, não havia qualquer som, através das enormes portas de vidros que os separavam da rua, não tinha qualquer movimento pela calçada ou rua.
— Vamos em frente, Príncipe. — Ordenou.
O quarteto entrou em posição formando um quadrado em volta do hacker para protegê-lo com seus corpos, além de ter a visão de todos os ângulos. Andaram com passos sincronizados em direção às portas de vidro, totalmente focados para disparar nas ameaças que surgirem. Conforme os passos ecoavam pelo saguão, uma van de manutenção parou em frente a calçada, o motor ligado e a porta traseira foi aberta, onde Lina colocou metade do corpo para fora com sua arma posicionada para ambos os lados da calçada.
Benja abriu as portas do prédio enquanto enganchava uma das mãos no braço do hacker e colocava toda sua força para guiá-lo num ritmo mais rápido. Ela passou para o lado dele enquanto a equipe protegia a ambos, aceleraram o passo pela calçada e quando jogou o refém sem qualquer delicadeza para dentro da van, gritos masculinos soaram juntamente com disparos.
— VAI! — Ela berrou empurrando Lina para dentro da van onde estava o hacker e bateu a porta com força enquanto Macarena partia em alta velocidade, restando ela e parte de sua equipe para acabar com a bagunça do local.
No lado esquerdo da calçada de cimento, tinha dois capangas caídos e feridos por disparos, Kasper e Iwar estavam revistando, algemando-os e verificando a gravidade dos ferimentos. Repentinamente, surgiu outro capanga na esquina e efetuou disparos na direção dos membros da sua equipe. Iwar caiu por cima de Kasper, mas a líder não sabia se haviam sido atingidos, entretanto, a posição abriu o campo de visão dela e de Benja, claro que do capanga também, que gastou mais algumas balas enquanto ela se lançava no chão, mergulhando no asfalto com vontade, o olhar pregado na mira de sua arma. A adrenalina correndo solta nas veias, anestesiou a dor do impacto de seu corpo com o chão e do tecido de suas roupas rasgando até a pele. O tempo da queda foi o suficiente para que ela atirasse diversas vezes no homem que tentou fugir por onde veio enquanto recarregava a munição, mas não foi esperto o suficiente para escapar das balas da mulher que o acertaram em uma das pernas e nas costas, fazendo-o cair estatelado no cimento, deixando a arma escorregar pela calçada.
Ela ergueu-se num pulo e olhou ao redor, Benja estava um pouco mais atrás verificando as outras direções.
— Me dê cobertura. — Ordenou e começou a correr até os meninos, o coração agitado e as veias começando a gelar com a possibilidade de perder um dos amigos. Assim que faltou um metro de distância, Iwar levantou o tronco e caiu de bunda na calçada, a expressão de dor enquanto a mão ia para o ombro atingido que vertia sangue. Kasper resmungou algo e ficou de olhos, abriu os botões do macacão e resmungou mais algumas vezes.
— Preciso de uma ambulância. — Ela pediu no comunicador.
— Já está a caminho. É muito grave? — Maca perguntou.
— Disparo no ombro. — Ela ajoelhou-se próxima aos agentes, abriu o tronco do macacão e pegou sua faca, usou-a para rasgar parte do tecido de sua camisa e guardou a faca novamente.
— Salvo pelo colete. — Kasper falou arrancando as cápsulas que grudaram no tecido na região do peito e depois, pegou o tecido das mãos da líder. — Deixa que eu cuido disso. — E também ajoelhou próximo a Iwar que gemia de dor enquanto pressionava a ferida com a mão que já estava ensanguentada.
— Aguenta firme! A ambulância vai chegar em breve. — Ela deu um aperto reconfortante na perna do homem e recebeu uma confirmação com um gesto de cabeça.
XXX
— Iwar vai ficar em observação, mas amanhã terá alta. — anunciou ao se juntar ao restante da equipe que ocupava o vestiário.
Levaram horas para encerrar a cena no prédio, os capangas feridos foram atendidos e depois presos para serem interrogados por ela e sua equipe, pois precisavam entender o motivo do sequestro do hacker. Benja acompanhou Iwar na ambulância e ficou com o amigo para passar a noite, inclusive foi ele quem avisou a líder sobre a situação do agente. Lina e Maca entregaram o Príncipe para o chefe que iria resolver a parte burocrática. Depois de uma hora preparando um relatório, finalmente, foi liberada para se lavar e colocar uma roupa limpa, encontrando sua equipe ali. Lina, Maca e Kasper estavam sentados no banco de madeira que ocupava o centro do corredor que tinha armários de aço em ambos os lados. A agente seguiu até o seu, girando a trava com a senha e abriu. Retirou uma muda de roupa limpa e livrou o tronco de parte do macacão, ainda vestia a camisa rasgada.
— Então, só vamos beber quando ele tiver alta, né? — Lina perguntou cansada enquanto levantava e se espreguiçava.
— É a tradição. — Kasper concordou e também imitou o gesto da colega.
— Estou destruído. — Maca falou bocejando. — Preciso de férias.
— Ah, qual é, Maca! — Lina zoou e deu um leve empurrão no ombro do amigo. — Você ficou na moleza hoje! Só no volante!
Todos riram.
— O próximo é o Iwar. — declarou enquanto retirava o macacão por completo, vestindo shorts, regata e meias. — Até ele se recuperar. — Esclareceu. Bateu o armário e seguiu até as toalhas limpas que ficavam dentro de um carrinho de metal. Escolheu uma e seguiu até o corredor dos chuveiros, mas parou e virou em direção a equipe.
— Parabéns! A cerveja está por minha conta! — Riu.
— Aí eu vi vantagem! — Lina brincou.
Uma tosse forçada surgiu da entrada do vestiário e fez com que todos assumissem uma postura mais séria, quando viram de quem se tratava. O chefe estava em pé na entrada, a expressão séria e o visual impecável de todos os dias, nem parecia que estava preso no trabalho desde que entregou a missão para .
— Vim para parabenizá-los pelo excelente trabalho. — Falou calmamente, revezando o olhar em cada rosto. — E também, informá-los que a partir de hoje, vocês terão um novo membro na equipe.
— Como assim? — perguntou surpresa.
Todos encaravam o chefe em expectativa e curiosidade.
— Começamos o interrogatório e também conversei com o nosso resgatado. — Explicou sem alterar o rosto ou a voz. — Deixá-lo ir num programa de proteção não é a nossa melhor opção no momento e levando em consideração o que ele sabe, suas habilidades com tecnologia, achei que ele seria uma ferramenta valiosa para a nossa equipe até que tudo se resolva. — Agora, olhava a agente diretamente esperando que tivesse algum protesto.
— E como tem certeza de que podemos confiar? — Ela perguntou desconfiada.
— Creio que ele tem muito mais a perder do que nós, .
A mulher queria protestar, não concordava em expor a sua equipe para um desconhecido que até o dia anterior era refém da máfia e usado para roubar informações do governo. Quem não garante que tudo foi armado para colocá-lo lá dentro?
— Com licença, senhor. — Pediu respeitosamente. — Não sei se seria uma boa escolha. E se ele for um espião? E se tudo foi armado?
— É uma boa suposição, . — Pensou por alguns segundos. — Só poderemos descobrir se ele permanecer conosco, por isso te deixo encarregada disso. — Sorriu de forma dura.
A mulher segurou-se para não transparecer o desgosto, mas forçou um sorriso simpático.
— Maravilhoso! Adoro quando me dá o trabalho mais fácil. — Provocou.
— Se quiser permanecer em sua mesa… — O chefe jogou no ar.
— Nem ferrando!
— . — Censurou-a.
— Mande-o para mim.
— Entre. — O chefe afastou-se da entrada, abriu espaço para o rapaz entrar. Ele ainda vestia as roupas da noite anterior que estavam amassadas, o rosto parecia cansado, além de ter uma expressão simpática como se realmente estivesse feliz por estar ali, ou seja, para ela seria loucura o cara se sentir assim, o que deixou ainda mais alerta em relação a ele.
— Deixo-o aos seus cuidados, . — Voltou para a porta, prestes a sair para o corredor que estava movimentado com agentes perambulando de um lado ao outro. — Treine-o e use as habilidades dele o máximo que puder. Quero vocês aqui amanhã às dez para uma nova missão. — Finalizou. — Boa noite. — Fechou a porta atrás de si e sumiu de vista.
A mulher resmungou e soltou o cabelo.
— Pelo menos vamos ter outra missão. — Kasper tentou confortá-la enquanto pegava a jaqueta e seguia com um sorriso simpático até o hacker que estava de pé, parecia desconfortável com o clima que se instalou no lugar. Quando chegou perto o suficiente, deu dois tapinhas no ombro do rapaz, assustando-o. — Seja bem-vindo, cara! Sou Kasper. — Virou para o restante da equipe. — Nos vemos amanhã! — Jogou a jaqueta por cima do ombro e saiu.
— Não pense que somos amiguinhos. — A agente cruzou os braços emburrada. — Sou Melina.
— Macarena. — A outra se apresentou também. Virou-se para que estava fuzilando o hacker com o olhar, atraindo a atenção dela e deixando o rapaz aliviado por alguns segundos. — Até amanhã! — Partiu para a porta e parou, esperando pela colega.
Melina caminhou lentamente, o olhar ameaçador o tempo todo no rosto do rapaz, quando chegou na porta, o rosto ficou feliz e simpático.
— Boa noite, chefe! — Desejou e acenou.
— Bom descanso para vocês! — Sorriu simpática, mas o cansaço estava evidente em suas feições.
Assim que a porta fechou, eles ficaram a sós sem dizer uma palavra. O rapaz estava desconfortável com a situação e queria fugir dali, mas manteve-se firme no lugar e esforçou-se para permanecer sério. encarava-o com a expressão atenuada. Depois de minutos, mas que pareciam horas, ela seguiu até um armário destravado e abriu. Olhou para ele por alguns segundos e voltou a atenção para o armário, remexeu lá dentro e pegou calças, camisa. Lançou para ele, que quase deixou cair, ao ser pego de surpresa pela atitude.
— Acho que vão servir. — Ela falou num tom sério. Andou até o carrinho e pegou uma toalha limpa, lançou para ele. — Você precisa de um banho e umas horas de sono. — Ironicamente, ela bocejou e aproximou-se dele, as mãos ocupadas por sua própria toalha de banho e roupas limpas.
— Obrigado por ter salvado a minha vida. — Ele disse seriamente. Passou as peças para uma das mãos e estendeu a outra livre para a mulher. — Prometo que darei o meu melhor para retribuir. — Olhava-a diretamente, a dúvida tomando conta por não conseguir ler a expressão da mulher. — Pode me chamar de Príncipe. — A mão ainda estendida.
A agente cruzou os braços, com a postura reta.
— Faz parte do meu trabalho. — Respondeu friamente, viu-o deixar cair a mão.
sabia que estava pegando pesado, mas não podia ser boazinha com um cara que poderia pôr a equipe em risco, caso fosse um espião, por isso teria que se manter num papel que o chefe costumava interpretar.
— Espero que realmente dê o seu melhor e não esteja planejando nos trair. — Disse pausadamente, as feições duras. — Se você pôr em risco a vida de qualquer membro da minha equipe, — baixou o tom de voz para soar mais ameaçadora. — eu mesma acabo com você.
O hacker engoliu em seco.
— Estamos entendidos?
Ele confirmou com um gesto de cabeça.
abriu um sorriso de satisfação, a postura relaxou e pareceu adotar outra personalidade totalmente diferente. Normalmente, não pegava pesado com as pessoas, mas lidar com a possibilidade de uma traição e quem sabe até mesmo ter sua equipe em risco, mudava todo o percurso. Conforme conhecesse o rapaz melhor, quem sabe o tratamento poderia melhorar? Por enquanto, o ideal era que sentisse medo dela.
— Perfeito! — Soou simpática e seguiu até o corredor dos chuveiros. — Tome um banho e depois, vou arranjar um lugar pra você dormir. — Entrou no corredor, mas voltou rapidamente. — Qual o seu nome verdadeiro?
Pela primeira vez nas últimas semanas, o rapaz abriu um sorriso provocador e repleto de satisfação por ter uma informação que apenas ele poderia revelar, quando quisesse ou fosse a hora certa.
— Príncipe. — Insistiu.
— Qual é! — Ela protestou. — Não vou te chamar assim!
— Qual o problema? Não gosta de contos de fadas? — Sorriu brincalhão.
A mulher revirou os olhos.
Ele ficou satisfeito em vê-la longe da pose de durona e admitiria apenas para si mesmo que a agente era ainda mais bonita pessoalmente. Na semana anterior, quando invadiu algumas informações, a foto da mulher e todos os seus dados que deveriam ser confidenciais foram lidos por ele. Nunca pensou que iria encontrá-la pessoalmente ou que a mulher fosse resgatá-lo, infelizmente, ela não sabia que estava com a cabeça a prêmio, o único que tinha essa informação era o chefe dela que optou por manter em sigilo até que avançassem ainda mais nas investigações. Como salvaram a vida dele, preferiu retribuir ajudando-a a manter a dela. De alguma forma, o hacker estava cansado de usar suas habilidades para o próprio benefício, talvez, tenha enlouquecido ou assistido muito Batman.
— A vida é muito mais do que isso. — Ela rebateu.
— E posso saber qual é o seu nome? — Queria selar as apresentações de forma amigável, fingiria que não sabia de nada sobre ela.
— Rapunzel. — Respondeu com uma piscadela e um sorriso que transparecia o deboche.
— Então, o meu resgate ontem foi uma visão moderna do conto de Rapunzel. — Ele riu.
— .
A agente tomou um susto, quase caindo da cadeira que ocupava confortavelmente. O chefe havia surgido atrás de si e cutucado-a no ombro, a expressão impaciente. Ela arrancou os fones e ajeitou a postura, tornando-a mais rígida, assim como seu rosto.
— Senhor. — Lutou para permanecer com a agitação longe de suas feições, não queria revelar o quanto estava empolgada de vê-lo ali, dentro do seu pequeno cubículo que mal cabia sua mesa e cadeira. O homem de cabelos grisalhos usava um terno preto bem cortado, sapatos bem lustrados, não tinha um fio fora do lugar - típico dos ex-agentes de campo e que agora coordenava as operações atrás de uma mesa num escritório luxuoso com vista panorâmica da capital do país. Aquela era uma nova etapa da sua carreira e que antecederia sua aposentadoria, caso sobrevivesse até lá. Triste, porém verdade.
— Código amarelo e os detalhes estão no arquivo. Leia atentamente e reúna sua equipe. — Jogou uma pasta parda sobre a mesa, fazendo um barulho. — Você tem quarenta e oito horas para finalizar a missão.
— Moleza… — Forçou uma tosse para disfarçar ao ver o homem arquear uma sobrancelha. — Sim, senhor. — Afirmou com um gesto de cabeça.
Ele encarou-a por quase um minuto inteiro em silêncio e depois saiu.
A mulher soltou um suspiro de alívio e depois abriu um enorme sorriso, ergueu os punhos e fez uma dancinha ridícula em comemoração.
— Finalmente! — Comemorou animada.
Agarrou a pasta e começou a folhear, lendo cada detalhe atentamente e montando o plano que teria que repassar para sua equipe. Código amarelo significava que seria uma missão de risco médio, então seria bem mais fácil do que ela costumava fazer normalmente.
e sua equipe teriam que resgatar um Hacker havia sido sequestrado pela máfia italiana.
Para sorte do sequestrado e azar dos sequestradores, o cativeiro onde tudo estava acontecendo ficava ali mesmo na capital. Para , aquilo significava que ela podia estudar melhor o local onde toda a ação ocorreria, além de escolher a melhor estratégia junto a sua equipe. Embora agora fosse uma líder, ela já havia estado do outro lado e ao assumir um posto mais alto, decidiu seguir os passos daquela que fora sua mentora por tantos anos e que nunca tomou todas as decisões sozinhas, afinal, várias cabeças normalmente pensam melhor do que apenas uma. Essa era uma das frases populares mais verdadeiras dentro de sua equipe, por isso, depois de ter lido e relido a pasta por diversas vezes, solicitou a quantidade necessária de cópias e caminhava rumo a sala de reuniões, onde seu time a esperava.
— Boa tarde a todos! — Ela sorriu. — Já estava com saudade de encontrá-los aqui. — Ouviu os presentes a cumprimentarem e concordarem com sua segunda colocação, o que fez com que ela alargasse o sorriso. Antes de continuar, a mulher se certificou de que a porta estava fechada e não havia ninguém próximo no corredor.
— Sei que não deveria ser tão transparente com a minha animação, mas não consigo evitar. — Confidenciou. — Temos um código amarelo para resolver em 48h. — Alguns bateram palmas, outros soltaram gritos animados e ela logo pediu para que as comemorações fossem contidas. — Apesar de estarmos todos bem animados, não podemos deixar que isso nos deixe afobados. Precisamos de foco total para mais uma missão de sucesso em nosso currículo, ok? — Embora fosse uma interrogação retórica, ela viu toda sua equipe manear positivamente com a cabeça.
Enquanto ia distribuindo as cópias dos arquivos para cada um, ela também ia explicando melhor sobre o caso.
— Não sei se esse pessoal da máfia está ficando burro ou preguiçoso…
— Ou os dois… — Escutou Macarena responder e todos riram baixinho.
— É, independente do que for, eles estão no Nhat Kiem, o maior arranha-céus da cidade. Quantas vezes já estivemos lá mesmo?
— Se não estou enganado, seis vezes. — Dentre todos, Benjamim era o com a melhor memória para os detalhes e estatísticas. Às vezes se questionava como a mente dele não dava um nó com tantos dados, mas naquele momento ela apenas sorriu e agradeceu.
— Exatamente. Mas isso não quer dizer que vai ser fácil ou da mesma maneira das anteriores já que os italianos podem ter colocado armadilhas ou mudado as coisas de lugar…. Precisamos estar preparados para tudo. Por isso, peço que leiam atentamente todo o conteúdo dessas páginas e sublinhem todos os detalhes que acharem importantes, bem como ideias táticas. Enquanto isso eu vou ver se as plantas baixas que solicitei já foram liberadas pelo pessoal do arquivo.
— Que ironia! — Melina riu ao ler as folhas em suas mãos. — Um príncipe encantado precisando ser resgatado.
Ouviu exclamações confusas em resposta ao comentário e revirou os olhos.
— O nickname dele é Princípe Encantado 66. — Explicou e deu de ombros, encarava os membros da equipe. — Que tal o nome da equipe ser Rapunzel? - Sugeriu com um sorriso zombeteiro brincando nos lábios.
— Está bem engraçadinha hoje, hein! — apontou enquanto seguia até a porta. — Isso é um bom sinal.
Após buscar os papéis que faltavam, passou alguns minutos jogando conversa fora com o pessoal dali e depois tomou lentamente mais uma xícara de café, tudo para que seu time tivesse mais tempo para ler e assimilar as diversas informações envolvendo aquela missão. Por mais que estivesse matando tempo, sua cabeça fervilhava com os preparativos e aquela tal de ansiedade boa estava de volta.
— Acho que já deu. — Falou baixinho para si mesma ao checar o relógio. Decidiu ir ao toalete antes de voltar e quando se abaixou para fazer suas necessidades teve um estalo. — É isso! — Dessa vez ela gritou e pouco se importou se havia alguém nas cabines do lado. Fez o que tinha de fazer, se higienizou e depois praticamente saiu correndo até a sala de reuniões. Felizmente, dessa vez ela não havia esbarrado em ninguém, evitando broncas desnecessárias. Abriu um sorrisinho discreto ao lembrar-se da vez em que atropelou o chefe e seu café voou todo nele, obrigando o mais velho a voltar para casa para trocar de roupa. Como punição, ela ficou algum tempo fazendo trabalho de escritório em vez de ir para o campo, mas isso não durou muito já que ela era muito mais eficiente e dava menos trabalho quando estava fora do prédio.
— Voltei. — Anunciou ao adentrar o ambiente. — Trouxe as plantas baixas do prédio e uma ideia genial de brinde. — Ela não era de se gabar, mas estava feliz com seu plano e esperava que a equipe gostasse também.
— Então nos conte porque não conseguimos sair do tradicional aqui. — Melina disse desanimada.
— Calma. — disse sorrindo. — Pensei em causarmos uma “pequena” infiltração no teto ou alagamento nos banheiros do andar onde estão prendendo o príncipe. — Sorriu maliciosa. — Uns dois ou três de vocês iriam lá agora no meio da tarde disfarçados como se fossem da manutenção. Enquanto fingem estar empenhados em solucionar o problema, vocês aproveitam para analisar o cenário… Depois de um tempo, avisam o responsável pela administradora do prédio que a infiltração ou alagamento é pior do que vocês pensavam e que precisarão voltar mais tarde, com mais gente e mais equipamentos. Ao anoitecer, quando os civis desocuparem o prédio após o expediente, nós voltamos disfarçados e armados. E o resto vocês já sabem... — Agora que havia exposto seu plano ao time, aguardava ansiosa e apreensiva as reações. Escutou palmas vindas do fundo e levou seu olhar até lá, encontrando Macarena.
— Você sabe que eu não sou e não preciso puxar o saco de ninguém, mas… que ideia, chefa! Vai ser perfeito já que esse tipo de coisa é corriqueira e pode levantar menos suspeitas.
— Concordo! — Melina apoiou. — Ainda mais se enviar uma equipe de manutenção só de homens, vai ser muito mais convincente.
— Esperamos que esse cenário um dia mude, mas por enquanto é isso... faz sentido. — concordou, sentindo uma onda de orgulho preencher seu peito. A equipe ao seu lado era incrível e a sinergia entre eles lhe dava forças para continuar.
— Eu sabia que um dia o curso técnico de manutenção que eu fiz antes de entrar aqui ia servir para alguma coisa. — Kasper declarou rindo. — Posso ser bem convincente.
— Perfeito! Kasper, você lidera a equipe que vai hoje à tarde, ok? — O homem assentiu silenciosamente com a cabeça. — Kennie e Iwar vão contigo. — Viu os outros dois comemorarem e sorriu.
— Aqui estão as plantas do Nhat Kiem. — Ela foi abrindo as folhas gigantes em cima da mesa. — Essa aqui é a do andar do resgate. — Apontou para a última. — Hora da sua aula, Benja.
— Demorou! — Ele provocou rindo e viu a chefe bufar e revirar os olhos, rindo em seguida.
— Chegou a hora. Os italianos podem ser desconfiados, mas nós somos espertos e competentes. — declarou sorrindo para seu time. O seu tom de voz era firme, porém sereno. Por mais que fosse uma missão de código amarelo, o risco de entrarem vivos e saírem mortos existia, então ela usava tudo o que podia para deixá-los confiantes. — Lembrem-se das informações repassadas pela equipe de reconhecimento que esteve aqui hoje à tarde e atenham-se ao plano, não tem por que não ser um sucesso. — Ela estendeu o braço direito para a frente com a palma da mão virada para baixo e os outros ali presentes foram criando um montinho, mão sobre mão. Diferentemente do tradicional, eles contaram até três em um tom de voz baixo e apenas jogaram as mãos para o alto, sem extravasar um grito de guerra. Aquela era a tradição deles, já que quanto menos barulho fizessem, melhor.
— Boa noite, senhores. Estivemos aqui mais cedo para verificar a manutenção no quadragésimo segundo andar e agora voltamos com os materiais necessários para finalizar o serviço. — Kasper informou aos guardas e ao porteiro que os recebeu na entrada do prédio. Embora estivesse com a adrenalina a mil, Iwar teve de se controlar para não rir da analogia feita pelo colega, mas que obviamente só foi entendida por eles.
Pela segurança dos funcionários do local, era melhor que deixassem o prédio, mas como eles poderiam ser aliados dos mafiosos, optaram por manter o disfarce até que a situação no último andar do prédio estivesse encaminhada. Quando dessem o OK, alguém da equipe viria retirá-los em segurança da cena, se esse fosse o caso.
— Ah, claro! Meu colega do outro turno deixou avisado. Preciso apenas da ordem de serviço e de um documento de vocês antes de liberá-los. — Eles entregaram ao mais velho uma O.S falsa, bem como os crachás com dados nada verdadeiros.
Por um breve momento, Kasper ficou com receio que ele pedisse para verificar as bolsas de equipamentos. Claro que havia ferramentas de manutenção ali, mas não eram nada comparadas a quantidade de armas que eles levavam junto.
Por sorte, nenhuma vistoria adicional foi solicitada e em menos de três minutos já estavam no elevador rumo ao 42º andar.
XXX
manteve a aba do seu boné mais rente ao rosto para esconder suas feições, não queria correr o risco de ser reconhecida por alguém, nunca se sabe onde poderia acontecer. Carregava uma das bolsas de ferramentas que o fundo estava repleto de armamentos, vestia um macacão cinza assim como sua equipe e por baixo usavam coletes a prova de balas. Quando o apito anunciou que havia chegado ao andar certo, fez um breve aceno para os colegas e seguiu Kasper que havia feito o reconhecimento mais cedo. A falsa equipe de manutenção era composta por ela, Kasper, Iwar, Benjamim e Kennie enquanto Macarena e Melina ficaram responsáveis por retirar os civis do local, além de vigiar os arredores e preparem a van para a fuga, podendo entrar para dar reforço, caso a situação saísse do controle. O corredor era repleto de salas envidraçadas estilo empresarial, o que dificultava passar despercebido na hora de render os seguranças que estavam espalhados por ali. A última sala cuja vidraça e porta ficava de frente para o corredor tinha dois homens na porta com roupas civis, claramente, não eram uma segurança contratada como os que encontraram no térreo do edifício, o que poderia significar que apenas aquele andar poderia estar funcionando alguma empresa fictícia da máfia italiana. Os passos ecoavam enquanto os dois homens observavam atentamente a equipe que se dirigia para a porta do banheiro. Um deles fumava um cigarro e o outro tinha os braços cruzados na frente do corpo, a posição era proposital para evidenciar o volume de uma arma no quadril por baixo da camisa, uma forma de intimidar o pessoal. A sala atrás deles era a única com vidros escurecidos evitando que pudesse enxergar algo lá dentro, segundo Kasper e Iwar, os seguranças da tarde eram diferentes e menos intimidadores do que aqueles que os encaravam. A agente observou bem os rostos de forma discreta antes de entrar no banheiro, o lugar tinha cinco cabines e em frente uma longa pia de mármore cinzento com um espelho pegando toda a extensão. Largaram as bolsas no chão e confirmaram se o lugar estava vazio, todos distribuíram olhares entre si dando sinal para iniciar a encenação.
andou até a última cabine e entrou para poder falar sem correr o risco de ser ouvida no corredor.
— Estamos dentro. — Avisou a Melina e Macarena através do comunicador em seu botão. — Salas envidraçadas, apenas uma não conseguimos enxergar dentro e tem dois homens armados na entrada. — Finalizou num sussurro.
— Entendido. — A outra confirmou.
Saiu de dentro do cubículo para se juntar aos demais. Kasper fazia barulho com as ferramentas batendo uma nas outras enquanto Iwar tecia comentários sobre o problema no banheiro para que os homens no corredor pudessem ouvir. Benjamim agachou-se e pegou o zíper para abrir uma das bolsas, mas parou abruptamente, quando a porta abriu repentinamente atrás de si. Nesse momento, o coração de bateu acelerado pela surpresa de não ter ouvido os passos no corredor vazio que ecoaram alto.
O rosto do homem que estava fumando momentos atrás apareceu na brecha e os olhos atentos analisaram cada rosto da equipe.
— Algum problema, senhor? — perguntou educadamente.
Ele lançou um olhar que causou um frio na espinha da agente e deixou-a alerta.
Kasper e Iwar que seguravam as ferramentas quando receberam a visita inesperada, entraram em um dos cubículos e fingiram tentar retirar o vaso sanitário. Ela ficou grata por ser o seu último recurso no disfarce.
— Pediram para que ficasse aqui, caso precisem de algum auxílio. — Deu de ombros e cruzou os braços, as costas descansando no batente da porta.
— Não será necessário, viemos com mais mãos justamente por esse motivo. — Justificou. — Não precisa se preocupar. — Sorriu simpática.
Ele arqueou uma das sobrancelhas.
— Primeira vez que vejo uma mulher numa equipe de manutenção. — Soltou desconfiado.
Ela abriu um sorriso debochado e cruzou os braços, a pose desafiadora.
— Garanto que sou mais competente do que esses idiotas. — Sorriu brincalhona para os colegas de equipe.
O homem respondeu com um resmungo mal humorado.
— Aqui, Hannah! — Benjamim lançou uma ferramenta para a mulher e ela entrou na cabine novamente, fez uma careta de nojo e agradeceu aos céus pelo capanga não ter como ver sua expressão. O colega entrou espremido com ela e enquanto mexiam na privada, olhavam um no olho do outro, dando sempre as costas para o lado de fora ou poderia refletir a comunicação silenciosa no espelho.
— Dividir. — Ergueu o dedo indicador e médio, apontou em direção à cabine ao lado onde os outros colegas fingiam trabalhar. — Verificar perímetro. — Finalizou as instruções movendo os lábios devagar sem sair som.
— Eu fico com você. — Moveu os lábios, apontou o indicador para o próprio peito e o da mulher.
Ambos confirmaram com um gesto de cabeça.
Sabia que seriam quarenta e um andares para verificarem, mas precisavam ter certeza de que o terreno estava limpo para enfrentarem os dois seguranças e os que poderiam estar dentro da sala.
Ela saiu da cabine e parou na direção dos rapazes, o capanga a todo instante acompanhando todo o movimento.
— Vocês precisam verificar os banheiros de todos os andares para termos certeza de onde está o problema. — Falou seriamente. — Mike vai me ajudar aqui e assim que tiverem certeza de que está limpo, vamos dar andamento aqui. — Iwan e Kasper confirmaram, saíram do cubículo e levaram uma das bolsas.
e Benjamim não tiveram escolha, começaram a arrancar a privada o mais devagar possível para dar tempo de os meninos verificarem os andares. Depois do que pareceram horas, mas na verdade foram 40 minutos, Iwan sussurrou no comunicador que estava limpo e que voltariam para o andar prontos para a ação.
— Mike, você pode ver se os meninos estão subindo?
Benjamim confirmou e saiu do banheiro. A agente entrou no cubículo, agarrou uma ferramenta bem pesada e depois, fingiu fazer força. Inclinou o corpo para fora e encarou o capanga com uma cara inocente.
— Senhor…?
— Johnny. — Ele respondeu ao sair da posição e dar alguns passos até o cubículo que a mulher estava.
— Estou aceitando a ajuda que ofereceu. — Sorriu com falsa inocência e recebeu uma expressão de convencimento como resposta.
Ela saiu para dar espaço para o homem entrar enquanto segurava a ferramenta na mão.
— Só segurar as bordas do vaso e puxar, parece que está emperrado.
— Claro, Hannah. — Soltou dando ênfase no nome falso da agente, mas o tom era de provocação e não de desconfiança.
Quando ele inclinou o corpo e deu as costas para , ela levantou a ferramenta e acertou a nuca dele com toda força. O homem apenas gemeu de dor e apagou, caindo de cara no vaso sanitário, o restante do corpo caído no chão. Ela correu para a bolsa de ferramentas e retirou uma fita isolante, entrou no espaço apertado e começou a tentar arrastar o homem para fora dali.
— Foi arriscado. — Benjamim sussurrou enquanto juntava-se a ela, ele agarrou com facilidade o homem pela cintura e desvirou-o, deixando-o sentado no chão com as costas no vaso. se agachou e começou a prender as pernas juntas com fita isolante enquanto o parceiro retirava as duas pistolas escondidas no coldre da cintura, verificando a munição e pegando para si. Quando terminaram de prender as mãos, pés e boca do homem, arrastaram para fora e depois Benjamim ergueu-o pelos braços, a colega pelos pés e com certa dificuldade, colocaram ele na última cabine sentado no vaso sanitário. Arrastaram um dos vasos da cabine do lado para que cobrisse a direção que a perna dele descansava e assim, impedir que alguém o encontrasse.
— Um rato na última cabine. — Avisou em código no comunicador para que Kasper e Iwen fossem direto retirar o cara inconsciente. — Vamos invadir.
— O outro ainda está na porta, mas mexia no telefone. — Benjamim avisou enquanto abria a bolsa e distribuía o armamento. Entregou uma pistola, munição e fuzil para a chefe, em seguida, começou a pegar o mesmo. — Temos poucos minutos até que ele venha procurar o amigo. — Ergueu-se e prendeu o coldre no ombro. — Tem uma cara em cima dele, o jeito vai ser apagar o cara e invadir, teremos pouco tempo até surgir reforço.
— Beleza! Vou me aproximar com uma faca, você fica aqui com a minha arma até ouvir o meu sinal.
— Vamos entrar. — Repetiu duas vezes no comunicador.
Ela entregou o fuzil nas mãos do colega, segurou uma faca e escondeu a mão atrás do uniforme. Respirou fundo e fez um gesto afirmativo para o parceiro antes de abrir a porta e sair. Manteve a mente focada a cada passo que dava, o som ecoava pelo corredor vazio e chamou a atenção do capanga. Quando estava a cerca de 2 metros de distância, fingiu tropeçar nos próprios pés e se lançou na direção dele, por instinto o homem abriu os braços e foi de encontro para segurá-la, a agente aproveitou-se da reação para acertá-lo direto na barriga, enfiando a faca em seguida. O homem tentou lutar, mas ela conseguiu imobilizá-lo e retirar a pistola que estava na cintura. Cobriu a boca do homem e assobiou para alertar Benjamim. Nisso, destravou a arma e parou na parede ao lado da porta de vidro, Benjamim estendeu o fuzil e ela guardou a pistola dentro das calças. Ficaram atentos para qualquer barulho de passos ou vozes, mas o que ouviram foram disparos atingindo a parede perto deles, os tiros vinham de dentro.
— Agora! — Ordenou.
O parceiro atirou na fechadura e ela entrou dando um pontapé com toda força na maçaneta, arrebentando a porta.
A sala estava escura e era repleta de estantes de ferro com muitas pastas que pareciam de arquivo. Bom, ela poderia examinar aquilo mais tarde, pois no momento estava focada demais em salvar sua pele dos projéteis que voavam em sua direção.
— Ei, ei, ei. Podemos conversar? — Ela gritou e instantaneamente os tiros foram cessados, mas o ambiente logo foi preenchido por uma das risadas mais sarcásticas que ela já ouvira na vida.
— Ah, e sobre o que a boneca armada quer conversar? — O tom de escárnio utilizado fez com que apertasse a arma em sua mão com uma força desnecessária para o momento. Inspirou o ar e aproveitou para relembrar a si mesma que havia um civil sendo feito de refém, então ela precisaria de toda a calma, sorte e talento do mundo para salvá-lo. Qualquer ação imprudente poderia transformar aquela missão em apenas um resgate de corpos e ninguém dos seus queria aquilo.
— Então, a boneca quer saber se dá pra soltar o rapaz aí, acredito que assim a conversa será mais tranquila, você não acha? — Tentou manter o tom normal, mas foi impossível não deixar um pouco de deboche escapar.
— Você é mais esperta demais para saber que isso não vai acontecer. Ou você matou todos os seus neurônios enquanto tentava aprender a segurar uma arma? — Escutou ele rir baixo do outro lado da sala e ela travou o maxilar. Desde que havia escolhido essa profissão, ela sempre conviveu com o machismo ao longo do caminho. Infelizmente esse tipo de situação a acompanhava desde a academia, passando depois para situações envolvendo os colegas na agência e, como acontecia ali, recebia esse tratamento até mesmo dos bandidos malditos. Porém, o que eles não sabiam era que cada vez que a diminuíam por ser mulher, aquilo funcionava como gasolina para a sua chama interna, fazendo com que ela trabalhasse dia após dia para se aprimorar, deixando vários machistas no chinelo.
suspirou baixinho e deixou de lado tudo o que queria fazer com o homem, concentrando-se apenas em dar continuidade ao que havia planejado.
— Acho que seu amiguinho ali fora discordaria dos seus comentários. Mas, ah, lembrei! Ele não pode falar. — Sabia que sua fala poderia acarretar duas coisas: o homem poderia ficar ainda mais bravo e agressivo por saber que seu companheiro estava ferido ou morto ou ele poderia, de alguma forma, ficar curioso com as ações da mulher, tornando-o mais suscetível a algum deslize.
— Pelo visto a boneca também sabe blefar. — Outra risada debochada foi ouvida, mas dessa vez a agente sorriu.
O plano estava funcionando, ele estava caindo no jogo dela.
— Existem várias coisas que eu sei fazer, você nem imagina. — Declarou em tom amistoso, enquanto se movia em silêncio para mais perto de onde o italiano e o hacker estavam.
Sabia que Benjamim estava cuidando do lado de fora, mas esperava que ele entendesse o recado que viria a seguir.
Ela bateu o cano da arma na estante de ferro, atraindo a atração do mafioso para lá, que disparou um tiro naquela direção. , no entanto, havia sido rápida ao rolar pelo chão e estava bem mais próxima do que ele imaginava. Aproveitando-se da distração do momento, Benjamim silenciosamente se posicionou na entrada da sala e acertou um tiro em cheio no peito do homem e partir dali tudo aconteceu muito mais rápido.
Ao mesmo tempo em que o criminoso ia ao chão, puxava o hacker pelo braço, a fim de desvencilhá-lo do “abraço” do outro. Assim que conseguiu, ela empurrou o civil em direção a porta para que Benjamim pudesse protegê-lo enquanto recolhia as armas do italiano.
— Temos dois rendidos e um morto. Estamos com o civil, vamos descer. — Comunicou à Melina e Macarena enquanto dava uma última olhada para trás, a fim de evitar surpresas. O elevador de serviço havia sido travado para esperá-los no 42º andar e agora iria descer até o térreo sem parar. Amém para a chave-mestra que possibilita isso. Eles eram fisicamente resistentes para aguentar tanto a subida quanto a descida de todos aqueles andares, mas nesse caso optaram pela opção mais rápida e segura. Alguns agentes estavam escoltando a saída do elevador, deixando a equipe um pouco mais segura.
Se dentro do elevador as coisas pareciam estar mais tranquilas, do lado de fora tudo estava prestes a ficar caótico.
— Atenção! Uma SVU preta chegou com tudo, destruiu a cancela do estacionamento e é bem provável que esteja indo na direção de vocês.
— Delta a postos.
— Yankee a postos.
Pelo comunicador, escutaram dois colegas novos - que ela ainda não havia decorado os nomes nem as feições - avisarem que estavam prontos para o combate que aconteceria a seguir. estava preocupada, sabia que eles eram competentes ou não estariam ali, mas eles estavam em menor número e com a função de atacar e defender ao mesmo tempo.
— Será que essa lata poderia ir mais rápido? — Bufou ao constatar que estavam no vigésimo sétimo andar ainda.
Benjamim nada disse, sabia que tentar acalmá-la nessas horas era praticamente uma guerra perdida. Enquanto isso, o hacker tinha os olhos esbugalhados em uma clara expressão de pavor e algumas gotas de suor podiam ser vistas escorrendo pela lateral de sua face.
— Chefe. — Escutou Kennie chamá-la no comunicador. — Eu, Kasper e Iwar estamos a postos aqui embaixo também. Vou vigiar a saída do elevador para que não tentem nada, enquanto os outros acabam com os mafiosos.
— Obrigada, meninos. — Por mais que não pudessem vê-la, ela sabia que eles perceberiam pelo seu tom de voz que ela estava sorrindo triunfantemente. — Em mais alguns instantes chegaremos para ajudar, mas assim que sairmos do elevador, preciso que Kennie me ajude a proteger o civil. — Ouviu o homem sinalizar um “ok” em concordância e seguiu com as instruções. — Maca e Mi, estejam no lugar combinado em quatro minutos. Caso a gente não apareça dentro do tempo combinado, vocês devem entrar para ajudar, ok? — As mulheres concordaram e direcionou os olhos para o display eletrônico que indicava que agora eles estavam no décimo oitavo andar.
— Você. — Apontou para o hacker. — Quando a gente desembarcar, eu preciso que você siga atentamente as minhas instruções, a menos que queira acabar morto.
— . — Benjamim advertiu. Sabia que a intenção da líder não era apavorar o rapaz, e sim protegê-lo, mas suas palavras duras poderiam ter justamente o efeito que eles não gostariam.
— Sim, senhora. — O civil respondeu baixinho.
A agente olhou para ele novamente e constatou que eles deveriam ter mais ou menos a mesma idade. Estava pronta para dar uma resposta apimentada, mas o olhar censurador de Benja a impediu.
A dupla de agentes firmaram-se lado a lado com as armas em punho, uma espécie de barreira para a proteção do hacker. O único som dentro daquela caixa de aço eram as respirações fortes banhadas pela adrenalina da ação do resgate, pois mesmo que estivessem com as mãos no civil, ainda faltava chegar ao lugar seguro e finalmente, poder comemorar que a missão foi um sucesso.
— Com licença-a. — Gaguejou a voz masculina. — Eu também sei atirar…
— Não será necessário. — Ela cortou-o bruscamente. — Nosso trabalho é te proteger com a nossa vida se for preciso. — Virou parte do rosto para encará-lo, a expressão séria. — Apenas faça o que dissermos e em poucas horas estaremos brindando com uma enorme caneca de chopp por mais um dia de vida. — Sorriu divertida.
Benja mordeu os lábios para impedir a risada de escapar, os olhos focados na tela que indicava os andares.
O rapaz ia abrir a boca para responder, mas foi calado após ser arremessado de costas para o fundo do elevador, após disparos atingirem a porta fechada do elevador no quarto andar. Os agentes espremeram o hacker no fundo para protegê-lo, caso alguma tivesse atravessado as portas.
— Disparos no quarto andar. — Ela avisou no comunicador. — Prontidão.
— Kennie já cuidou dele. — Iwan avisou.
— Preparados? — A líder perguntou para os outros ocupantes do elevador, recebeu o silêncio como um sim, afinal, quem cala, consente. Posicionou a arma em suas mãos e preparou-se para as portas que se abriram.
Acenou com a cabeça para Kasper e Iwar que estavam com as armas em posição, parados próximos ao elevador. O saguão enorme do prédio com piso de mármore estava vazio, não havia qualquer som, através das enormes portas de vidros que os separavam da rua, não tinha qualquer movimento pela calçada ou rua.
— Vamos em frente, Príncipe. — Ordenou.
O quarteto entrou em posição formando um quadrado em volta do hacker para protegê-lo com seus corpos, além de ter a visão de todos os ângulos. Andaram com passos sincronizados em direção às portas de vidro, totalmente focados para disparar nas ameaças que surgirem. Conforme os passos ecoavam pelo saguão, uma van de manutenção parou em frente a calçada, o motor ligado e a porta traseira foi aberta, onde Lina colocou metade do corpo para fora com sua arma posicionada para ambos os lados da calçada.
Benja abriu as portas do prédio enquanto enganchava uma das mãos no braço do hacker e colocava toda sua força para guiá-lo num ritmo mais rápido. Ela passou para o lado dele enquanto a equipe protegia a ambos, aceleraram o passo pela calçada e quando jogou o refém sem qualquer delicadeza para dentro da van, gritos masculinos soaram juntamente com disparos.
— VAI! — Ela berrou empurrando Lina para dentro da van onde estava o hacker e bateu a porta com força enquanto Macarena partia em alta velocidade, restando ela e parte de sua equipe para acabar com a bagunça do local.
No lado esquerdo da calçada de cimento, tinha dois capangas caídos e feridos por disparos, Kasper e Iwar estavam revistando, algemando-os e verificando a gravidade dos ferimentos. Repentinamente, surgiu outro capanga na esquina e efetuou disparos na direção dos membros da sua equipe. Iwar caiu por cima de Kasper, mas a líder não sabia se haviam sido atingidos, entretanto, a posição abriu o campo de visão dela e de Benja, claro que do capanga também, que gastou mais algumas balas enquanto ela se lançava no chão, mergulhando no asfalto com vontade, o olhar pregado na mira de sua arma. A adrenalina correndo solta nas veias, anestesiou a dor do impacto de seu corpo com o chão e do tecido de suas roupas rasgando até a pele. O tempo da queda foi o suficiente para que ela atirasse diversas vezes no homem que tentou fugir por onde veio enquanto recarregava a munição, mas não foi esperto o suficiente para escapar das balas da mulher que o acertaram em uma das pernas e nas costas, fazendo-o cair estatelado no cimento, deixando a arma escorregar pela calçada.
Ela ergueu-se num pulo e olhou ao redor, Benja estava um pouco mais atrás verificando as outras direções.
— Me dê cobertura. — Ordenou e começou a correr até os meninos, o coração agitado e as veias começando a gelar com a possibilidade de perder um dos amigos. Assim que faltou um metro de distância, Iwar levantou o tronco e caiu de bunda na calçada, a expressão de dor enquanto a mão ia para o ombro atingido que vertia sangue. Kasper resmungou algo e ficou de olhos, abriu os botões do macacão e resmungou mais algumas vezes.
— Preciso de uma ambulância. — Ela pediu no comunicador.
— Já está a caminho. É muito grave? — Maca perguntou.
— Disparo no ombro. — Ela ajoelhou-se próxima aos agentes, abriu o tronco do macacão e pegou sua faca, usou-a para rasgar parte do tecido de sua camisa e guardou a faca novamente.
— Salvo pelo colete. — Kasper falou arrancando as cápsulas que grudaram no tecido na região do peito e depois, pegou o tecido das mãos da líder. — Deixa que eu cuido disso. — E também ajoelhou próximo a Iwar que gemia de dor enquanto pressionava a ferida com a mão que já estava ensanguentada.
— Aguenta firme! A ambulância vai chegar em breve. — Ela deu um aperto reconfortante na perna do homem e recebeu uma confirmação com um gesto de cabeça.
XXX
— Iwar vai ficar em observação, mas amanhã terá alta. — anunciou ao se juntar ao restante da equipe que ocupava o vestiário.
Levaram horas para encerrar a cena no prédio, os capangas feridos foram atendidos e depois presos para serem interrogados por ela e sua equipe, pois precisavam entender o motivo do sequestro do hacker. Benja acompanhou Iwar na ambulância e ficou com o amigo para passar a noite, inclusive foi ele quem avisou a líder sobre a situação do agente. Lina e Maca entregaram o Príncipe para o chefe que iria resolver a parte burocrática. Depois de uma hora preparando um relatório, finalmente, foi liberada para se lavar e colocar uma roupa limpa, encontrando sua equipe ali. Lina, Maca e Kasper estavam sentados no banco de madeira que ocupava o centro do corredor que tinha armários de aço em ambos os lados. A agente seguiu até o seu, girando a trava com a senha e abriu. Retirou uma muda de roupa limpa e livrou o tronco de parte do macacão, ainda vestia a camisa rasgada.
— Então, só vamos beber quando ele tiver alta, né? — Lina perguntou cansada enquanto levantava e se espreguiçava.
— É a tradição. — Kasper concordou e também imitou o gesto da colega.
— Estou destruído. — Maca falou bocejando. — Preciso de férias.
— Ah, qual é, Maca! — Lina zoou e deu um leve empurrão no ombro do amigo. — Você ficou na moleza hoje! Só no volante!
Todos riram.
— O próximo é o Iwar. — declarou enquanto retirava o macacão por completo, vestindo shorts, regata e meias. — Até ele se recuperar. — Esclareceu. Bateu o armário e seguiu até as toalhas limpas que ficavam dentro de um carrinho de metal. Escolheu uma e seguiu até o corredor dos chuveiros, mas parou e virou em direção a equipe.
— Parabéns! A cerveja está por minha conta! — Riu.
— Aí eu vi vantagem! — Lina brincou.
Uma tosse forçada surgiu da entrada do vestiário e fez com que todos assumissem uma postura mais séria, quando viram de quem se tratava. O chefe estava em pé na entrada, a expressão séria e o visual impecável de todos os dias, nem parecia que estava preso no trabalho desde que entregou a missão para .
— Vim para parabenizá-los pelo excelente trabalho. — Falou calmamente, revezando o olhar em cada rosto. — E também, informá-los que a partir de hoje, vocês terão um novo membro na equipe.
— Como assim? — perguntou surpresa.
Todos encaravam o chefe em expectativa e curiosidade.
— Começamos o interrogatório e também conversei com o nosso resgatado. — Explicou sem alterar o rosto ou a voz. — Deixá-lo ir num programa de proteção não é a nossa melhor opção no momento e levando em consideração o que ele sabe, suas habilidades com tecnologia, achei que ele seria uma ferramenta valiosa para a nossa equipe até que tudo se resolva. — Agora, olhava a agente diretamente esperando que tivesse algum protesto.
— E como tem certeza de que podemos confiar? — Ela perguntou desconfiada.
— Creio que ele tem muito mais a perder do que nós, .
A mulher queria protestar, não concordava em expor a sua equipe para um desconhecido que até o dia anterior era refém da máfia e usado para roubar informações do governo. Quem não garante que tudo foi armado para colocá-lo lá dentro?
— Com licença, senhor. — Pediu respeitosamente. — Não sei se seria uma boa escolha. E se ele for um espião? E se tudo foi armado?
— É uma boa suposição, . — Pensou por alguns segundos. — Só poderemos descobrir se ele permanecer conosco, por isso te deixo encarregada disso. — Sorriu de forma dura.
A mulher segurou-se para não transparecer o desgosto, mas forçou um sorriso simpático.
— Maravilhoso! Adoro quando me dá o trabalho mais fácil. — Provocou.
— Se quiser permanecer em sua mesa… — O chefe jogou no ar.
— Nem ferrando!
— . — Censurou-a.
— Mande-o para mim.
— Entre. — O chefe afastou-se da entrada, abriu espaço para o rapaz entrar. Ele ainda vestia as roupas da noite anterior que estavam amassadas, o rosto parecia cansado, além de ter uma expressão simpática como se realmente estivesse feliz por estar ali, ou seja, para ela seria loucura o cara se sentir assim, o que deixou ainda mais alerta em relação a ele.
— Deixo-o aos seus cuidados, . — Voltou para a porta, prestes a sair para o corredor que estava movimentado com agentes perambulando de um lado ao outro. — Treine-o e use as habilidades dele o máximo que puder. Quero vocês aqui amanhã às dez para uma nova missão. — Finalizou. — Boa noite. — Fechou a porta atrás de si e sumiu de vista.
A mulher resmungou e soltou o cabelo.
— Pelo menos vamos ter outra missão. — Kasper tentou confortá-la enquanto pegava a jaqueta e seguia com um sorriso simpático até o hacker que estava de pé, parecia desconfortável com o clima que se instalou no lugar. Quando chegou perto o suficiente, deu dois tapinhas no ombro do rapaz, assustando-o. — Seja bem-vindo, cara! Sou Kasper. — Virou para o restante da equipe. — Nos vemos amanhã! — Jogou a jaqueta por cima do ombro e saiu.
— Não pense que somos amiguinhos. — A agente cruzou os braços emburrada. — Sou Melina.
— Macarena. — A outra se apresentou também. Virou-se para que estava fuzilando o hacker com o olhar, atraindo a atenção dela e deixando o rapaz aliviado por alguns segundos. — Até amanhã! — Partiu para a porta e parou, esperando pela colega.
Melina caminhou lentamente, o olhar ameaçador o tempo todo no rosto do rapaz, quando chegou na porta, o rosto ficou feliz e simpático.
— Boa noite, chefe! — Desejou e acenou.
— Bom descanso para vocês! — Sorriu simpática, mas o cansaço estava evidente em suas feições.
Assim que a porta fechou, eles ficaram a sós sem dizer uma palavra. O rapaz estava desconfortável com a situação e queria fugir dali, mas manteve-se firme no lugar e esforçou-se para permanecer sério. encarava-o com a expressão atenuada. Depois de minutos, mas que pareciam horas, ela seguiu até um armário destravado e abriu. Olhou para ele por alguns segundos e voltou a atenção para o armário, remexeu lá dentro e pegou calças, camisa. Lançou para ele, que quase deixou cair, ao ser pego de surpresa pela atitude.
— Acho que vão servir. — Ela falou num tom sério. Andou até o carrinho e pegou uma toalha limpa, lançou para ele. — Você precisa de um banho e umas horas de sono. — Ironicamente, ela bocejou e aproximou-se dele, as mãos ocupadas por sua própria toalha de banho e roupas limpas.
— Obrigado por ter salvado a minha vida. — Ele disse seriamente. Passou as peças para uma das mãos e estendeu a outra livre para a mulher. — Prometo que darei o meu melhor para retribuir. — Olhava-a diretamente, a dúvida tomando conta por não conseguir ler a expressão da mulher. — Pode me chamar de Príncipe. — A mão ainda estendida.
A agente cruzou os braços, com a postura reta.
— Faz parte do meu trabalho. — Respondeu friamente, viu-o deixar cair a mão.
sabia que estava pegando pesado, mas não podia ser boazinha com um cara que poderia pôr a equipe em risco, caso fosse um espião, por isso teria que se manter num papel que o chefe costumava interpretar.
— Espero que realmente dê o seu melhor e não esteja planejando nos trair. — Disse pausadamente, as feições duras. — Se você pôr em risco a vida de qualquer membro da minha equipe, — baixou o tom de voz para soar mais ameaçadora. — eu mesma acabo com você.
O hacker engoliu em seco.
— Estamos entendidos?
Ele confirmou com um gesto de cabeça.
abriu um sorriso de satisfação, a postura relaxou e pareceu adotar outra personalidade totalmente diferente. Normalmente, não pegava pesado com as pessoas, mas lidar com a possibilidade de uma traição e quem sabe até mesmo ter sua equipe em risco, mudava todo o percurso. Conforme conhecesse o rapaz melhor, quem sabe o tratamento poderia melhorar? Por enquanto, o ideal era que sentisse medo dela.
— Perfeito! — Soou simpática e seguiu até o corredor dos chuveiros. — Tome um banho e depois, vou arranjar um lugar pra você dormir. — Entrou no corredor, mas voltou rapidamente. — Qual o seu nome verdadeiro?
Pela primeira vez nas últimas semanas, o rapaz abriu um sorriso provocador e repleto de satisfação por ter uma informação que apenas ele poderia revelar, quando quisesse ou fosse a hora certa.
— Príncipe. — Insistiu.
— Qual é! — Ela protestou. — Não vou te chamar assim!
— Qual o problema? Não gosta de contos de fadas? — Sorriu brincalhão.
A mulher revirou os olhos.
Ele ficou satisfeito em vê-la longe da pose de durona e admitiria apenas para si mesmo que a agente era ainda mais bonita pessoalmente. Na semana anterior, quando invadiu algumas informações, a foto da mulher e todos os seus dados que deveriam ser confidenciais foram lidos por ele. Nunca pensou que iria encontrá-la pessoalmente ou que a mulher fosse resgatá-lo, infelizmente, ela não sabia que estava com a cabeça a prêmio, o único que tinha essa informação era o chefe dela que optou por manter em sigilo até que avançassem ainda mais nas investigações. Como salvaram a vida dele, preferiu retribuir ajudando-a a manter a dela. De alguma forma, o hacker estava cansado de usar suas habilidades para o próprio benefício, talvez, tenha enlouquecido ou assistido muito Batman.
— A vida é muito mais do que isso. — Ela rebateu.
— E posso saber qual é o seu nome? — Queria selar as apresentações de forma amigável, fingiria que não sabia de nada sobre ela.
— Rapunzel. — Respondeu com uma piscadela e um sorriso que transparecia o deboche.
— Então, o meu resgate ontem foi uma visão moderna do conto de Rapunzel. — Ele riu.
FIM
Nota da autora: Oie! Aqui estamos eu e a Stone maravilhosa! Mais uma vez, nos aventuramos em uma parceria que quase não saiu - mais por minha culpa -, mas que deu certo. Obrigada, Stone! ❤️ E espero que tenham gostado dessa fic, assim como nós! Não esqueçam de comentar para sabermos o que acharam da fic. Beijos e até a próxima!
Nossa outra parceria: Merry Christmas, Alaska! [Shortfic]
Caso queiram ler fanfics da Thay, comecem por:
● Café com Pattinson [Atores/Em Andamento]
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