Finalizado em: 28/02/2020

Prólogo

Todos dizem que o amor não tem idade, tamanho e cor, mas na prática essa atitude de “indiferença” ainda é tão difícil de ser manifesta. O olhar das pessoas sobre mim como se eu fosse maluca é tão difícil de encarar; me sinto menor a cada comentário feito acerca da minha vida e das minhas escolhas, mas, tudo bem, passar por tudo isso vai valer a pena, afinal, as tempestades passam, eu vou superar.


Capítulo 1

Já se passaram oito meses e as pessoas ainda não se acostumaram a me ver com ele, ainda não se acostumaram a ver as nossas mãos dadas e, com os seus olhares, nos obrigam a parar de demonstrar as nossas atitudes de afeto nas ruas, praças, aonde for, para eles o nosso amor é uma aberração. Ainda é difícil encarar a minha família, mesmo eu já sendo uma mulher de 24 anos. O olhar da minha mãe é de decepção, enquanto os olhos do meu pai demonstram a vergonha que ele sente de mim; minha irmã mais velha sempre se demonstrou muito amiga, mas afirmou que eu passei dos limites, o único com quem eu posso contar de fato é meu irmão, o meu porto seguro.
Eu tenho sorte em ainda poder contar com a minha melhor amiga. Nos conhecemos na faculdade, estudávamos na mesma turma e rolou uma afinidade logo de cara sabe? Desde então nunca mais nos separamos. Eu lembro que sempre sonhei em ter uma amizade assim, verdadeira, que permanecesse firme apesar das adversidades; sempre sonhei com uma amizade como aquelas de filme e, bom, graças a Deus, a Melissa entrou na minha vida e nunca mais saiu. Parando pra pensar, ela sim deveria estar decepcionada e com vergonha de mim, afinal, eu estou namorando o seu pai, mas, pelo contrário, ela nos apoia em tudo e nos ajuda a suportar o julgamento dos outros e, mesmo com toda essa loucura acontecendo, a nossa amizade só cresceu.
Depois que a bomba estourou, eu decidi ir morar sozinha, não dava mais pra suportar o ar que tinha se instalado na casa dos meus pais, nunca soube lidar com a indiferença. Alguns dias o vem dormir comigo, mas preferimos ir com calma, afinal, ainda quero receber a Melissa aqui sem ter que encarar uma situação estranha já que ele ainda é o pai dela. Mas devo dizer, os dias que ele passa comigo são com certeza os meus melhores dias.
É estranho está deitada em minha cama uma hora dessas, são 11:30 da manhã e é feriado, mas meu corpo está tão acostumado com a correria da faculdade e trabalho que não sabe aproveitar as oportunidades que tem. Preciso levantar e arrumar alguma coisa pra comer. O único motivo pelo qual eu sei que o dia vai ser bom é saber que ele está bem aqui do meu lado.
Ainda tomada pelos meus pensamentos, senti fortes mãos me abraçarem.
— Bom dia!
— Bom dia, ! — sorri.
— No que estava pensando?
— Em como nos metemos em toda essa confusão — disse, com um riso falho.
— Tudo aconteceu tão rápido. — era notório que a sua mente viajava tanto quanto a minha. — As pessoas ainda nos encaram de cara feia.
Passei a mão em meus cabelos, soltando um leve suspiro. Estava cansada.
— Outro dia um cliente lá do café me fez um comentário em relação à nós. Ele disse o quanto éramos feios juntos, que eu deveria ter vergonha na minha cara por está trazendo essa vergonha à minha família e que você só estava me usando.
— As pessoas realmente não sabem nada sobre nós, porque se nos conhecessem saberiam o quanto eu sou louco por você.
Sorrindo, coloquei a minha mão em seu rosto.
— De qualquer forma, vamos deixar isso pra lá. Não quero que se irrite com essas coisas ou se sinta culpado. Essas pessoas não merecem que fique assim.
— Chega a ser tão ridícula toda essa situação.
— É, eu sei, ! essas mentiras me ferem mais do que você possa imaginar. — sentei na cama. — Meus próprios pais me criticam. Não é fácil pra mim, saber que pessoas estão falando mal sobre nós.
— Isso tudo me deixa tão nervoso. Eu não sei o que fazer. Me dói ver você ser atacada desse jeito. As pessoas não deveriam ligar para o que as outras fazem ou deixam de fazer.
— Infelizmente não podemos fazer nada por elas a não ser continuar vivendo o nosso amor. — virei-me de frente para ele e lhe dei um selinho. Sorri. — Vamos, vamos comer! Daqui a pouco abre um buraco no meu estômago de tanta fome que estou.





Enquanto estava na casa dos meus pais eu podia aproveitar de toda a mordomia, já que eles me sustentavam, então eu não precisava me preocupar, mas agora, morando sozinha, preciso correr atrás se eu quiser ter algo. Meu apartamento não é dos mais caros, mas é habitável, apesar do ter uma estabilidade econômica ,eu não quis usar do dinheiro dele, até porque ainda não moramos juntos.
, sua mãe nunca te ensinou que não pode ficar brincando com água, garoto?
Estávamos na cozinha, e ele estava lavando dois copos que estavam sujos. O que deveria ser feito em um minuto, já tinha se passado três e ele ainda não tinha terminado de lavar os copos.
— É pra garantir que vai estar limpo, querida! — disse, sorrindo.
— Tenho certeza que já está — disse, rindo.
Logo ele iniciou uma conversa sobre uma assunto qualquer, mas parou de falar no meio de uma frase.
, seu celular está tocando. — avisou, ouvindo um som abafado.
— Onde eu larguei ele mesmo?
— A última vez que eu vi estava em cima da cama.
Enquanto eu andava como louca pela casa em busca do meu celular, o achei em cima da cama, exatamente onde o falou que estava.
— Oi, Mel!
— Amiga, meu pai ainda está aí com você?
— Está sim! De acordo com ele, hoje o dia é meu e dele. — a cada palavra que eu proferia é como se o meu sorriso se alastrasse ainda mais.
— Não, querida, hoje o dia é nosso! 10 minutos e estou chegando aí. Beijo!
Não deu tempo nem eu responder, pois ela já havia desligado o celular. E como morávamos perto, eu sabia que ela estaria em meu apartamento em poucos minutos.
Ao voltar o encontrei sentado no sofá da sala, assistindo TV.
— Era a Melissa, amor. — caminhei até ele e sentei em seu colo — Ela está vindo pra cá.
— Você disse a ela que era o nosso dia?
— Sim e ela aproveitou isso para se incluir. — um riso fraco escapou dos meus lábios. — Ela é mesmo sua filha.
— Epa! — exclamou, fingindo me beliscar — Vem cá! — fui agarrada por ele juntando os nossos corpos e colando a nossa boca. O beijo teve início de forma lenta, mas foi se aprofundando de tal forma que era quase impossível que os nossos corpos pudessem se aproximar ainda mais.
— A Melissa está chegando, . — dizia entre selinhos.
— Mas ainda não chegou, Elizab...— no mesmo instante, a campainha tocou. — Droga!
! — ralhei, mas não aguentei e cair na risada sendo acompanhada por ele.
— Oi, amiga! — abri a porta com um enorme sorriso no rosto por ver aquela pessoa a minha frente.
! — disse a garota correndo para me abraçar — Estava com saudade!
— A gente se viu ontem na faculdade.
— Não importa! — procurava pelo pai com os olhos — Papai!
— Oi, Mel! — ele já a esperava com os braços abertos para abraçá-la.
— O que estavam fazendo?
— O seu pai estava me agarrando.
— Urgh! — exclamou se desvencilhando do pai e arrancando gargalhadas da gente.
— Amiga, não esquece do trabalho da faculdade que temos que fazer. É pra semana que vem. — a garota dizia, se sentando no sofá.
— Eu sei, Mel, mas relaxa que ainda temos tempo.
Passamos o resto do dia sentados no sofá assistindo um filme atrás do outro, mas a verdade é que conversamos mais do que prestamos atenção no que estava passando.
Meus momentos junto com esses dois são definitivamente os melhores, não tem grilo, basta a gente se olhar que o assunto vem de cara, eu e a Mel ainda vamos mais longe, basta nos olharmos que começamos a rir como duas idiotas adolescentes na rua. E pensar que nove meses atrás, logo quando eu e o passamos a nos encontrar e a Mel ainda não sabia, quase colocamos tudo a perder, eu quase coloquei tudo a perder, quase a perdi por medo, quase o perdi por medo, pra ser mais sincera, eu quase me perdi por medo.
O dia passou num piscar de olhos e quando me dei conta já era noite e eu estava sozinha. A vida tinha mudado tanto de um ano pra cá. Eu era conhecida por muita gente por está namorando o , sério, chegava a ser assustador; em um dia estávamos assumindo o nosso relacionamento para os meus pais, no outro, todo mundo já sabia e estava nos condenando.
Mas será que o que estamos fazendo é realmente tão errado para as pessoas estarem nos tratando desse jeito? Quer dizer, não estamos matando ou roubando ninguém, só estamos tentando ser feliz. Mas o que mais tenho percebido nesses dias, é que a felicidade custa caro.


Capítulo 2

Quando eu era pequena, eu costumava a ser a bonequinha do meu pai, eu era a filha mais nova então toda atenção vinha para mim, porém, com o tempo isso evoluiu e logo eu passei a ser superprotegida por ele e pela minha mãe como se eu fosse uma boneca prestes a quebrar. Isso me incomodava muito, tinha dias que eu chorava tanto a noite que dormia em meio ao choro. Para ir para escola, na adolescência, eles precisavam me levar e, quando não podiam, eu ia com os meus irmãos, mas nunca sozinha. Ao entrar para faculdade as coisas melhoraram um pouco, mas quase nada, eu já podia dirigir sozinha, mas só saía se estivesse de carro e o meu horário era regrado, pois eles sabiam exatamente quanto tempo duravam as minhas aulas e quanto tempo eu levava até chegar em casa, ou seja, precisava chegar em casa na hora certa porque quando eu me atrasava a briga era certa.

Flashback On

, onde estava? — indagou Susan.
— Mãe, tive que ir pra casa da Melissa pra terminar de escrever a resenha.
— Podia ter ligado. Preciso ser informada de onde você está e com quem está. Não vou suportar se algo acontecer com você, filha.
— Mãe, a casa da Melissa fica a dois quarteirões da faculdade e olha, eu ‘tô bem mãe, estou inteira — disse balançando as minhas mãos na frente do meu corpo já cansada de tanta proteção.

Flashback Off

Era sempre assim, não importava se eu chegava somente 30 minutos depois do horário certo, quando eu passava pela porta da sala era bombardeada com gritos e milhares de perguntas.
Sabe o que é pior em toda essa situação? É que mesmo eu tendo passado a minha vida toda presa e com os meus dias controlados pelos meus pais, hoje eu sinto falta deles, não do que eu passava e dos choros, mas dos carinhos do meu pai e dos conselhos da minha mãe, sinto falta das longas conversas com minha irmã no meio da noite e dos abraços esmagadores do meu irmão que, mesmo permanecendo ao meu lado, não é a mesma coisa já que ele ainda mora com meus pais e eu já não mais.
Eu sempre achei que ser adulto era uma maravilha, ninguém pra me dizer o que fazer, poder sair e chegar a hora que eu quisesse, mas, então eu cresci e percebi que isso era uma grande ilusão, antes todos os meus namorados, que só haviam sido 2, eu encontrava as escondidas e com medo de ser descoberta pelos meus pais, agora, com essa liberdade que ganhei morando sozinha é tão estranho, alguns devem achar que meus dias são superbadalados e tenho vários compromissos empolgantes, mas a verdade é que alguns dias são uma chatice, as vezes não tenho nada pra fazer e só faço dormir, em contrapartida, outros dias são uma completa loucura. Estou no último ano da faculdade de Direito, preciso concluir minha pesquisa pro TCC, apresentar trabalhos, trabalhar, arrumar a casa, fazer comida e ainda ter tempo para a Melissa e pro . Com tudo isso só queria deixar claro que a minha alimentação não é das melhores. As vezes passo um dia todo sem me alimentar de verdade, só comendo besteiras, mas, também, com essa correria, não era pra menos.
Moro no interior da Inglaterra, numa cidade pequena com média de 500 mil habitantes chamada Bristol, ou seja, as notícias por aqui voam rápido e todo mundo acaba sabendo da vida de todo mundo e, portanto, querendo opinar na vida de todos. Eles não têm esse direito, eu sei. Uma pena eles não saberem disso. Trabalho no Cafe Kino*, famoso pelo seu café e por servir as melhores comidas veganas da cidade; como é um lugar que recebe muita gente todos os dias e todos me conhecem ou, melhor dizendo, ficaram sabendo da minha preferência por homens mais velhos, eu realmente não sei como não fui despedida já que a minha imagem poderia atrapalhar o comércio, mas, pelo contrário, parece que aquele lugar encheu ainda mais. As pessoas daqui gostam mesmo de uma fofoca.
?
— Oi, amor! — atendi ao celular que já estava tocando à tempo, me despertando do meu sono.
— Quais são os seus planos pra hoje?
— Os melhores possíveis. Ficar em casa e comer até virar uma baleia. — respondi, rindo.
— E com certeza será a baleia mais linda dessa cidade. — eu quase podia ver o sorriso dele.
Sorri.
— Você não muda, ! Sempre me fazendo ficar vermelha.
— Quer dizer que a minha meta foi alcançada — comemorou. — Janta comigo essa noite?
— Você sabe que eu não diria não.
— Perfeito! Te pego às 20h.





— Você está linda! — ele disse dando-me um selinho e indo abrir a porta do seu carro preto para mim.
— Obrigada! — o olhei de cima a baixo — Você também não está de se jogar fora.
— Sempre tão carinhosa — disse com o riso falho.
— Sempre, amor. — sorri e entrei no carro. — Pra onde vamos? — questionei observando ele sentar no banco do motorista.
— Para o seu lugar favorito.





Estávamos no Riverstation*, ele fica aqui mesmo em Bristol e é um dos melhores restaurantes da cidade. O lugar é tranquilo e, apesar de receber muitos clientes todos os dias, é calmo, tem um bom ar e me faz relaxar.
A nossa mesa ficava em frente a uma enorme janela de vidro onde podíamos observar a noite linda que estava do lado de fora misturada com a beleza nata daquela cidade.
Engatinhamos uma conversa e logo o garçom trouxe o menu à nossa mesa.
— O que vai pedir? — perguntou, enquanto eu procurava por algo que me agradasse naquele menu.
— Steak au poivre. — respondi olhando para o garçom.
— O mesmo para mim, por favor. — olhou para o garçom. — E o melhor vinho tinto que tiver.
O garçom saiu disposto a mandar preparem o nosso pedido e o meu olhar se voltou para o homem à minha frente.
— Como foi o seu dia? — perguntou, interessado em saber.
— Apesar de ter muita coisa da faculdade pra resolver, eu estou tão cansada dessa rotina, que joguei tudo pro alto e dormir toda a tarde. Quando me ligou, eu havia acabado de acordar.
— Percebi. Sua voz de sono era nítida. — sorriu.
— Pode dizer, minha voz de sono é sexy. — arqueei a sobrancelha direita, com um sorriso no rosto.
— Ah, sim! Passei o resto do dia com ela na cabeça. — deu risada.
— Eu sei, eu sei, tenho esse poder. — disse me abanando de forma descontraída. — Mas e o seu dia, como foi?
— Passei todo o dia preparando hambúrgueres gourmet, almoços, tortas… E dando ordens. Às vezes é difícil ser um chef profissional.
— Deve estar exausto.
— Meu corpo sim, mas eu precisava te ver. — ele fez uma pausa rápida. — Estava com saudade. — segurou a minha mão por cima da mesa.
Sorri.
Ele era assim, o não era como aqueles homens que têm medo de demonstrar os seus sentimentos, que têm medo de amar e ser amado, pelo contrário, ele fazia questão de deixar claro aquilo que se passava em seu coração e em sua mente e não é uma forma de chamar atenção, ele realmente é assim.
As pessoas dizem que em um relacionamento um aprende com o outro, bom, se o aprende algo comigo, eu não sei, mas eu, com certeza, aprendo muita coisa com ele. Com esse jeito, ele me ajuda a ser mais carinhosa, a expor mais o que se passa dentro da minha cabeça; venho me tornando muito mais romântica por assim dizer.
— Também estava com saudade, amor. — falei, sem conseguir evitar que o meu sorriso aumentasse ainda mais.
— Hey, tem uma senhora baixinha que não tira os olhos da gente. Ela tá com uma cara feia. — disse, baixinho para que só eu ouvisse.
— Ela deve está incomodada em nos ver juntos. — bufei, me inclinando para olhar quem era a querida.
— Não, não olha! — disse, me impedindo de virar por completo para ver a mulher. — Vamos dar a ela algo interessante pra observar. — sorriu maleficamente.
Ao terminar de falar, ele se aproximou de mim por cima da mesa e puxou o meu rosto com as mãos, me puxando para si e colando os nossos lábios.
— Ela está praticamente nos fulminando com o olhar. — o falou, ainda com sua boca colada à minha, me fazendo abrir os olhos e encará-lo. — Não se afasta!
Ao invés de parar o beijo, ele o aprofundou, pedindo passagem para a língua e passando uma de suas mãos pelo meu cabelo, enquanto a outra estava repousada na minha nuca.
, daqui a pouco essa mulher faz um escândalo aqui com a desculpa de que estamos estragando a boa vibe do restaurante. — com os olhos abertos, tentava contê-lo, argumentando entre selinhos, na enorme tentativa falha de acabar com aquilo, já que ele continuou a me beijar por um breve tempo.
se afastou de mim e se endireitou em sua cadeira. — Relaxa, ela está se levantando para ir embora — balançou os ombros, com um riso estúpido, mas encantador, nos lábios.
— Não acredito! — surpreendi-me, olhando para trás de pressa ao ponto de ver a mulher indo embora. — Somos terríveis. — caí na risada.
— Ela que pediu por isso. — afirmou sorrindo, levantando as mãos na altura dos ombros.
Cinco minutos depois, o garçom trouxe o nosso pedido e pudemos jantar com tranquilidade. De fato, os meus encontros com o são os melhores, de uma forma ou de outra sempre tenho uma surpresa diferente.





— Adorei o nosso jantar, principalmente ver aquela mulher saindo irritada do restaurante por nossa causa — sorri, ao me lembrar da situação. Estávamos no carro, parados em frente a porta do meu prédio. — Obrigada pela noite incrível, !
— Foi uma honra, ! — sorriu e se inclinou para me beijar.
Saí do carro e me direcionei para o prédio, andando rápido até perceber que já estava dentro do meu apartamento. Subi as escadas, como uma boba que acabou de ter o encontro perfeito, até dar de cara com o meu quarto. Estava exausta, a única coisa que eu queria era um banho e poder dormir à noite toda como um bebê. E assim fiz, naquele quarto sozinha, eu dormi com um sorriso no rosto, na certeza de que não estou vivendo um sonho, apesar das dificuldades, a vida pode ser boa e eu estou disposta a vivê-la.


Capítulo 3

Música do capítulo - só coloque quando eu avisar ok?

Segunda de manhã, o dia está ensolarado, pássaros voaram até a minha janela para me acordar com os seus cantos como naquelas histórias onde tudo é lindo, uma pena que aqui é a realidade e preciso assumir minhas responsabilidades. Ir pra faculdade, trabalhar, enfim, sinceramente, preferia estar em um conto da Disney*.
Existem dias em que tudo o que eu quero é permanecer na cama, assistindo Um Amor pra Recordar, com uma xícara de café na mão. Ah, se eu pudesse, todos os meus dias eu viveria assim.
Estou a caminho da faculdade. Meu carro deu pau então minha única solução foi ir a pé, sorte a minha que meu apartamento fica perto do campus.
A duas quadras da Universidade de Bristol, avistei de longe um homem alto, forte, cabelos escuros… Ah não, não pode ser!
— Papai! — exclamei baixinho, assustada.
Caminhei mais rápido em sua direção. Fazia tanto tempo que não o via.
— Pai? — questionei ao chegar perto dele, parando ao seu lado.
. — Ele disse, sem mais, continuando a andar.
— Pai. — com uma voz de choro, implorei. — Por favor!
O som da minha voz embargada pelo choro preso em minha garganta, o fez parar e se virar para mim.
Me aproximei mais dele.
— Eu sinto a sua falta. — confessei, baixinho para que só ele ouvisse.
Vi seus olhos expressarem a reciprocidade da saudade, no entanto, seu corpo ainda estava rígido e sua face sem expressar emoção alguma.
— Deveria ter pensado nisso antes de decidir me envergonhar dessa forma, . — disse, seco.
— Papai, eu só estou tentando ser feliz. — tentei explicar, enquanto as lágrimas insistiam em escorrer dos meus olhos.
— Tentando ser feliz? E eu, será que estou feliz? Será que a nossa família está feliz? Você acha que é fácil pra nós ter que ouvir os vizinhos falando o quanto você é uma bastarda? — alterado, ele fez uma pequena pausa. — Você já tem idade pra saber que as suas escolhas não afetam somente a você.
— Me desculpa. — pedi, buscando com a minha mão direita pela sua.
— Tenha um bom dia, !
E então, sem pensar duas vezes, ele virou-se de costas para mim e saiu andando. Nunca pensei que a dor da rejeição poderia piorar. É tudo culpa minha, talvez se eu nunca tivesse aceitado sair com o , ou se eu nunca tivesse o beijado, ou talvez se eu nunca tivesse conhecido a Mel...
Tornei a andar em direção a faculdade. Devo está com uma cara horrível, porque todos que passam por mim me encaram, uns com pena, outros com um olhar de deboche e, alguns outros, com um olhar de “bem pouco”, esses devem conhecer a fama que ganhei.
Encarei a entrada do campus a minha frente e tudo o que consegui fazer foi correr até o banheiro, sentar no chão e desatar a chorar.
Não sei quanto tempo passei sentada naquela privada com a porta fechada, só sei que quando dei por mim a Melissa estava batendo freneticamente na porta.
, abre essa porta. — suplicou.
Silêncio.
— Posso saber porque as pessoas estão falando que você entrou aqui que nem uma condenada se acabando de chorar?
Mais silêncio.
— Quer saber? Chega! Abre já essa porta! — continuou, elevando em dois tons a sua voz.
Destranquei a porta, interrompendo as batidas incessantes daquela garota.
— Finalmente! — ela adentrou o minúsculo espaço onde eu estava. — O que houve, amiga?
Eu olhava para o chão com a minha cabeça entre as mãos.
— Eu encontrei o Jonas quando estava vindo pra cá — um soluço escapou quando terminei a frase.
— Amiga…
— Ele me disse coisas terríveis, Mel. Tivemos uma breve conversa, mas foi o suficiente pra ele expressar o quanto está decepcionado comigo. Ele mal olhou pra minha cara, Melissa. — voltei a chorar.
— Amiga, não fica assim, por favor! Você não é errada por correr atrás da sua felicidade e o meu pai te faz feliz, não é mesmo?
— Sim, Mel, ele faz. Mas isso, infelizmente, não faz com que, a dor de saber que os meus pais me odeiam, diminua. — olhei em seus olhos.
Devia estar com a maquiagem toda borrada e com o cabelo bagunçado já que eu não parava de gesticular e chorar.
, você tem o seu namorado e também tem a mim. Sei que sente falta da sua família, mas, se eles não podem te apoiar no momento, lembre-se que eu sempre vou está ao seu lado. Eu te amo, cara, não consigo nem sequer imaginar viver sem você. — ela sorria.
Tentei sorrir, mas deve ter parecido mais com uma careta porque ela riu.
— Vai ficar tudo bem, amiga. — me puxou para um abraço. — Eu ‘tô aqui.
— Eu te amo!
— Eu também te amo! — disse, com os olhos fixos nos meus. — Agora vamos sair daqui, esse lugar fede. — fez uma careta.
E, como um arco-íris, o riso preencheu o lugar.





Eu não vejo a hora desse semestre acabar, não aguento mais tanto estudo, eu sei, quem faz Direito precisa estudar muito e gostar disso, mas não se trata disso, eu amo estudar e amo a área que escolhi, mas eu ‘tô cansada! Podia estar em Malibu a essa hora, no entanto, a vida não colabora.
Eu e a Mel estamos procurando o carro dela que, como sempre, ela tinha esquecido onde tinha estacionado.
— Você vai almoçar na minha casa hoje. — ordenou Melissa. — O meu pai não está em casa e a gente pode ter um tempo só nosso. Dá pra tirar a ferrugem.
— Garota, não exagera! Você fala como se eu fosse uma péssima amiga que não te dar nenhuma atenção.
— Mas essa é a verdade, . Depois que começou a sair com meu pai, lá se foi o nosso relacionamento.
É claro que ela estava fazendo drama, essa é sua especialidade.
— Nossa, que mentira! — exclamei. — Você é a pessoa mais dramática e exagerada que eu conheço.
— Olha que eu te denuncio por abandono de incapaz. — ameaçou ela.
— A sua cara não arde, Melissa! — disse — Sabe do que você está precisando? De macho pra ver se apaga esse fogo.
— Cala a boca, garota! — repreendeu-me com o olhar, mas não aguentou e deixou com que o riso escapasse.
Depois de sair apertando o alarme do carro para todos os lados, o achamos do outro lado do estacionamento.
O caminho até a casa da Melissa é agitado, todo dia tem engarrafamento, mas o lugar é encantador; o percurso que fazemos é cercado por árvores grandes que são tão lindas que é impossível olhar para elas e não sorrir. Fomos o caminho todo cantando as músicas que passavam na rádio e, quando dei por mim, o carro já estava parado em frente aquela casa enorme e elegante.
Entrei naquela casa já tão conhecida por mim, me livrando imediatamente da bolsa e do sapato, correndo até o sofá e me jogando nele.
— Eu amo esse sofá! — disse, agarrando a almofada. — Estou aceitando um de presente.
— Está pedindo a pessoa errada, meu bem, o dono do dinheiro aqui é o senhor .
— Estou a ponto de fazer uma lista de coisas e entregar à ele pra ele comprar pra mim. — rindo, falei.
— Bem capaz que ele compre mesmo. Ele é louco por você, , nunca vi meu pai desse jeito, a não ser pela minha mãe, mas, depois disso, é a primeira vez que eu o vejo sorrindo à toa e com os olhos brilhando por uma garota.
A mãe da Mel faleceu quando ela tinha oito anos em um acidente de carro. Ela estava sozinha no carro indo para o hospital onde trabalhava quando um carro desgovernado atingiu o dela. Tanto ela como o outro motorista morreram na hora. Graças a Deus a Melissa estava com o pai no momento em que tudo ocorreu.
— Eu também estou muito feliz com ele amiga, sério. Ele é totalmente diferente dos outros caras que eu namorei, não é como se ele fosse perfeito, porque ele não é e você bem sabe, mas é diferente, é um relacionamento muito mais maduro. — contava para a garota sentada à minha frente.
— Você deveria vir morar aqui com a gente, amiga.
Ao ouvir o que ela disse, tive um ataque de riso, tamanho o meu susto.
— É sério, ! Você só tem a gente e essa é uma forma de estarmos todos juntos.
— Eu não acho que daria certo, Mel. Fico feliz de não ter problema com isso, mas, para mim, seria estranho viver com o seu pai, dormir no mesmo quarto que ele, com você dormindo no quarto ao lado. Eu seria definitivamente sua madrasta. — falei, fazendo uma careta.
Ela riu.
— Tecnicamente você já é minha madrasta, . Mas tudo bem! — parou de falar por um minuto. — Vou tomar banho, se quiser também, pode usar o banheiro do quarto do meu pai, tem roupa sua no meu guarda-roupa.
— Valeu, amiga!
Fui até o quarto dela a procura de roupas minhas para vestir, como sempre estou por aqui, uma parte do guarda-roupa dela é praticamente meu. Peguei a roupa e partir para o banho. Preciso me livrar desse cheiro de suor adquirido pelo sol.
Enquanto a água quente caia sobre o meu corpo, me peguei pensando em meu pai. Ele não é um cara ruim, pelo contrário, ele só está magoado, não deve mesmo ser fácil ver que sua filha não seguiu o caminho que ele julgava ser o correto.
Quando eu era pequena meu pai costumava a me pegar no colo e fingir que ele era um cavalo só pra me ver sorrir; ele fazia cócegas em mim até eu ficar vermelha e chorar de rir e, mesmo com toda sua superproteção comigo, ele sentava na minha cama a noite e imaginava junto comigo como seria o meu futuro. Sinto saudades dele.
Saí do banheiro já vestida com uma roupa casual e me pus a frente do espelho, aquele reflexo revelava muito sobre mim, mas eu não conseguia me reconhecer mais. “Eu estou feliz, eu amo o , ele foi a melhor decisão da minha vida”, pensei.
— E por que você parece tão triste? — questionei ao meu reflexo no espelho.
Voltei a arrumar o meu cabelo, espantando aqueles pensamentos mórbidos. Ao terminar voltei para sala em passos lentos, me deparando com uma Melissa de blusão, short e com um pote de chocolate na mão, esparramada no sofá.
— Pode encolher as pernas que eu quero sentar.
— Oh o outro sofá ali, menina! — disse, apontando na direção do sofá do outro lado da sala.
— Mas eu quero sentar aí com você, ué. Não disse que eu não te dou mais atenção e blá blá blá. — empurrei as pernas dela, me sentando ao seu lado.
— Olha só, fez coisa errada e agora quer se redimir.
Ela olhava pra mim com os seus olhos pretos, balançando a cabeça em negação.
— Te catar, garota! — ri.
— Amiga, eu tenho uma coisa não muito legal pra te contar. — ponderou. — A coordenação do nosso curso entrou em contato comigo e, dessa vez, não vamos estagiar no mesmo lugar.
— Não acredito! — espantada, exclamei.— Por quê?
— Parece que a última vaga para estagiários foi preenchida com a minha entrada e não tinha como te encaixar.
— Isso quer dizer que eu vou ter que encarar aquelas clientes chatas sozinha?
Ela balançou a cabeça confirmando.
— E quando começa?
— Semana que vem. Estamos só ajeitando os últimos detalhes.
— Boa sorte! — sorri de lado. — Amanhã procuro a coordenação para saber a minha situação.
Por segundos, o silêncio se estabeleceu naquela sala.
— Sim, Melissa, você disse que eu iria almoçar aqui com você. Cadê essa comida? — elevei o tom de voz. — Eu estou com fome!
— A empregada está de folga hoje, então vamos comer o que sobrou de ontem. — respondeu, rindo.
— Yay!
A Marta, que é a empregada dos ’s, tinha preparado carne assada no dia anterior e deixado na geladeira e, como nenhuma de nós estava disposta a preparar qualquer outra coisa, foi isso mesmo que comemos.





Os dias estão passando tão rápido que não dá nem pra acreditar. Um dia desse era natal de 2015 e agora já são 6 de março 2016, me espanto toda vez que lembro disso principalmente porque lembro que estou envelhecendo. Como os outros dias hoje não foi diferente, a manhã passou rápido e já são 18h da noite e ainda estou na casa da Melissa. Estamos em seu quarto e na verdade só eu estou acordada, já que ela apagou antes das 17h.
Sentada na cama mexendo no celular, senti ela se remexer ao meu lado.
— Boa noite, bela adormecida! — olhei para ela enquanto sorria.
— Boa noite! — respondeu, sorrindo, com a voz de sono. — Que horas são?
— Seis horas, honey. — olhei no celular. — Você apagou legal.
— Minha vontade era de acordar só amanhã. — disse, virando-se para o lado oposto a mim.
— Boa noite, garotas!
Uma voz vinda da porta soou e eu nem precisei olhar porque, mesmo sem ter feito isso, eu já sabia quem era. A voz dele é impossível de não reconhecer. No mesmo instante um sorriso tomou conta dos meus lábios.
— Boa noite, amor! — respondi.
— Boa noite, papai!
Caminhando em nossa direção, parou a minha frente depositando um beijo em meus lábios e depois partiu em direção a filha, beijando a sua testa.
— Chegou cedo — disse Melissa.
— Consegui adiantar a maioria dos pedidos mais cedo para poder chegar em casa antes das 19h.
Depois de falar com a filha ele se voltou em minha direção, fazendo com que eu me afastasse um pouco e sentando-se atrás de mim, iniciando um cafuné gostoso em meu cabelo.
— Você está todo suado e sentado nessa cama com esse rabo sujo. — o repreendi.
Então ele, em um impulso, me surpreendeu ao me agarrar por trás, me prendendo em um abraço, arrancando de mim um grito fino.
— Agora você está suja também. — disse, rindo.
— Poxa, , que bosta! — me debatia nos braços dele.
— Não tem problema. Eu ainda te amo! — falou, brincalhão.
— Amor, volta a fazer o cafuné que ‘tava bom, vai — pedi, sentindo-o depositar um beijo na minha bochecha e voltar a mexer no meu cabelo.
— Ai, nossa! Como é bom ficar de vela. — como se quisesse nos lembrar da sua presença, Melissa disse, cobrindo o rosto com o travesseiro.
— A gente nem tá fazendo nada demais amiga.
— Pois é! Seria muito pior se estivéssemos aqui sem roupa, aí sim.
— Ai, nem diz um negócio desse que não gosto nem de imaginar — tirou o travesseiro do rosto. — Deixem pra se pegar assim quando eu estiver com o meu boy porque aí estarei fazendo coisas muito mais interessantes do que ficar vendo vocês dois com esse love todo.
— Ih, amor! Deixa essa mala aí. Vem, vamos pro meu quarto.
Nós dois levantamos da cama e saímos do quarto da Melissa com ele me puxando pela mão até o seu quarto.
— Você sabe que daqui a pouco eu vou precisar ir pra casa, não sabe?
— Relaxa, eu te levo. Vai dizer que eu não sou mais importante do que aquele seu apartamento frio e vazio?! — perguntou, com uma cara estupidamente sexy e convencida.
— Sim, mas amanhã eu acordo cedo. Você já passou por isso, sabe o quanto é cansativo.
— Eu sei, mas vai dar tudo certo.
Caminhou até mim, me acolhendo em um abraço e, ao direcionar a sua boca ao meu rosto, começou a depositar beijos em todas as partes dele.
Me agarrando mais a ele, escondi a minha face na curvatura do seu pescoço.
— Fica aqui enquanto eu tomo banho. Não vou demorar. — beijou-me nos lábios.

(Hora da música)

Nos separamos e ele seguiu até o guarda-roupa em busca do que vestir, partindo para o banheiro em seguida, enquanto eu sentava na cama à sua espera.
Olhei em volta daquele quarto e vi os porta-retratos espalhado por todo o quarto com fotos dele com a Melissa, fotos dele comigo, de nós três juntos na praia e vi aquela parede, aquela linda e acidental parede cinza.

Flashback On

, você tem que pintar direito ou tudo isso aqui vai ficar macacado.
Ainda estávamos no início de toda a decoração e dizendo o que estava pintando a parede.
— Não pode ficar parando com o pincel no meio da parede, amor. — expliquei.
— Esse negócio cansa. Devíamos ter chamado um profissional. Da próxima vez você não vai me convencer a fazer isso sozinho.
O plano é pintar o quarto todo de branco com uma parede de destaque em cinza; ele gostou da ideia, mas a verdade é que ele queria pagar alguém pra fazer isso, enquanto eu achei que seria muito divertido se fizéssemos isso por nós mesmos.
— Vai ficar bonito, você vai ver. — sorri.





— E então, o que achou? — perguntei, olhando para o quarto já pintado.
— Eu acho que fizemos um bom trabalho. — sorriu, me abraçando de lado. — Vamos inaugurá-lo!
— Inaugurar o que? O chão? Porque aqui nem cama tem. — dizia, rindo.
— Inaugurar o chão com as paredes novas ué, pra que melhor?
Ele sorriu e me virou para si tentando me beijar enquanto eu virava o rosto para todos os lados contrários possíveis. Não é como se eu não quisesse ser beijada por ele, mas é engraçado vê-lo tentando me agarrar, continuamos nessa guerra até que eu cedi e me rendi aquele abraço, aqueles beijos, aquele homem.
Como uma dança no quarto, íamos de um lado para o outro do quarto sem nos importar para onde estávamos guiando um ao outro, as nossas línguas dançavam uma com a outra assim como num concerto bem ensaiado e as minhas mãos subiam pelas suas costas tentando ao máximo explorar todo o espaço. Íamos andando para trás e é como se toda aquela sala desaparecesse e por um momento só eu e ele existíamos, mas o momento foi pouco já que logo senti o baque nas minhas costas.
— Urgh — gemi.
Ele abriu os olhos e começou a rir, automaticamente os meus olhos se voltaram para trás, assim como o meu corpo, dando-me de cara com uma parede cinza marcada pelo contorno do mesmo.
— Ótima forma de eternizar a sua marca no meu quarto, amor — disse, rindo.
— Ah, cara, tá de zueira! Tanto trabalho pra isso. — reclamei.
A minha cara de indignação era nítida e o não parava de rir.
— Isso não tem graça, amor, estou toda suja.
Ele não parava de rir e eu até tentei permanecer brava, mas o estrago já havia sido feito e com ele parado a minha frente rindo e dizendo bobagens não ajudava. Um riso fraco escapou dos meus lábios e quando vi, estava sentada no chão ao lado dele vendo o meu “corpo” naquela parede cinza. Estávamos brincando sobre a situação quando o se levantou, observou a parede e o desenho e virando-se de costas, encostou-se na parede deixando ali o desenho do seu corpo ao lado do meu. Não conseguia olhar para aquilo sem sorrir, e realmente havia ficado bom, como se tivesse sido algo planejado.
— Só está faltando uma coisa. Me espera aqui.
Corri até o quarto da Melissa em busca daquela caixa preta. “Ai, Mel, onde você colocou?” indaguei em pensamento; depois de procurar no guarda-roupa e banheiro, me lembrei de olhar embaixo da cama encontrando aquela caixa onde todos os nossos melhores momentos estão eternizados em fotos.
Voltei para o quarto do e o encontrei sentado no chão. Andei até ele e sentei ao seu lado abrindo a caixa e tirando de lá fotos de nós três.
— Agora você só precisa de ótimos porta retratos e tudo pronto. — disse, levantando as fotos com uma das mãos e sorrindo.
— Tenho certeza que vai ficar ótimo. — sorriu.
E então, ele me beijou.

Flashback off

A parede continuava lá, do mesmo jeito, cinza e com os nossos desenhos nela. Agora, olhando para esse quarto, é como se todas essas lembranças me invadissem, arrancando sorrisos de mim.
— Porque está sorrindo?
O ouvi perguntar.
Voltei os meus olhos para a porta do banheiro. — Nada, só lembrando o quanto eu sou grata por te ter em minha vida.
Sentou na cama ao meu lado, já vestido, me acolhendo em um abraço.
— Hoje, indo pra faculdade, eu encontrei o meu pai.
— Como foi?
— Ele me tratou da mesma forma que ele tem me tratado nesses últimos dias, mas dessa vez eu vi saudade em seu olhar, .
— Ele ainda te ama, amor, ele só está magoado.
— Essa situação está me matando. Preciso que eles entendam que eu não estou tentando atingi-los ou machucá-los.
— Eu acredito que eles sabem de tudo isso, eles só não estão sabendo lidar com a situação devido à pressão da sociedade.
— Você acha que, com o tempo, eles podem me esquecer? — levei a minha mão ao olhos, enxugando uma lágrima que havia escorrido.
— Isso é impossível de acontecer, . Eles te amam demais pra isso, tanto que passaram todo esse tempo tentando te proteger de tudo e todos. Vai ficar tudo bem, amor. — beijou o topo da minha cabeça.
Ficamos um tempo em silêncio só ouvindo o som da nossa respiração e dos nossos corações batendo como num uníssono.
— Tenho que ir, . — disse com voz arrastada.
— Vou fingir que nem ouvi isso.
Ri.
— É sério! Amanhã ainda vou pra faculdade e você sabe o quanto sou difícil pra levantar cedo.
— Certo! Vamos, eu vou te levar.
Fui à procura da Mel e a encontrei ainda no quarto, deitada na cama.
— Amiga, eu já vou.
— Mas já?
— É, amanhã ainda temos aula, esqueceu?
— Verdade! O meu pai vai te levar?
— Vai sim, ele já está lá em baixo.
— Tá bom, até amanhã! Te amo!
— Também.
Saí em passos rápidos até o andar de baixo, encontrando o sentando no sofá.
— Vamos? — perguntou.
— Vamos! — sorri.
No percurso até em casa, me peguei observando o , seus olhos, seu nariz, sua boca, o jeito que ele olha para pista focado para não perder o controle nem só por um minuto, o jeito como o maxilar dele trancou quando um animal passou de repente em frente do carro, o jeito como ele coloca a sua mão na minha perna sem qualquer outra intenção além de mostrar que ele está ali do meu lado; enquanto pensava meus olhos pairavam por todo o seu corpo até que os parei em suas mãos; ásperas elas revelam o esforço do seu trabalho. Fixei em sua mão direita, o nosso anel de compromisso estava em seu dedo anelar me lembrando que havíamos feito uma promessa de que iríamos nos esforçar para passar pelas lutas que iriam surgir.
Ele olhou de relance pra mim.
— O que foi?
— Só estou te observando. — balancei os ombros.
— Você está sorrindo.
Como se me acompanhasse, os seus lábios se voltaram em um sorriso.
— Só estou pensando.
Encostei a minha cabeça na janela do carro e fechei os olhos, desejando que aquele caminho que eu já conheço tão bem, nunca acabasse.


Capítulo 4

Olhei ao redor do quarto onde estava, porta-retratos estavam espalhados por todas as paredes da sala. Me aproximei de uma parede em especial em que tinha uma foto de toda a família reunida, a Megan, o Mason, papai, mamãe e eu, todos sorrindo no parque. Naquele dia tínhamos feito um piquenique no Hyde Park* e nos divertimos muito; Megan e eu estávamos sentadas próximas ao lago e ela me ensinava como pentear o cabelo da boneca, enquanto o Mason, correndo, circulava todo o lago empinando a sua pipa vermelha; mamãe e papai estavam sentados na grama mais afastados conversando e eu olhava para eles como se eles tivessem saído de um conto de fadas de tão lindos que eles eram juntos. Continuei olhando para aquela foto e era como se eu estivesse vivendo todo aquele momento de novo.
Sorri.
— O jantar está na mesa.
Meu corpo se virou ao som daquela doce voz.
— Mamãe!
Ela sorriu.
— Vamos! Preparei a sua comida preferida.
Fui atrás dela em direção a cozinha e encontrei a mesa posta com todos já sentados ao redor dela. Megan estava tão linda, seus longos cabelos loiros caiam pelos seus ombros e ela sorria como se não me visse há anos; Mason estava lindo como sempre, mas tinha sua barba marcada por alguns cabelos brancos; papai estava radiante, com um sorriso encantador nos lábios; ele apontava para a cadeira ao seu lado me convidando para sentar ali. Caminhei até lá e olhei para mesa posta a minha frente, o cheiro estava tão bom, lembrava-me da minha infância quando, depois de me explicar pela milésima vez o porquê de eu não poder brincar na rua como as outras crianças, minha mãe preparava a minha comida favorita para poder contornar a situação. Olhei o refratário na mesa e vi o frango tailandês, estava com uma cara tão boa que ouvi o meu estômago roncar na mesma hora e, pelo visto, foi alto porque risos puderam ser ouvidos na cozinha. Me sentei na cadeira ao lado do meu pai e ele sorriu para mim.
— É bom te ter de volta. — disse, sorrindo, com sua mão por cima da minha.
Não consegui entender o que ele quis dizer, mas na mesma hora senti correntes serem apertadas nos meus tornozelos. Espantada olhei por baixo da mesa e me dei conta de que estava presa.
— O que está acontecendo? — questionei, sem entender o que era tudo aquilo.
De repente, todos os sorrisos desapareceram dos rostos e em seu lugar feições sérias apareceram.
— Filha, entenda, não podemos te perder novamente.
Minha mãe falava demonstrando tristeza e determinação em sua voz.
Ouvi um barulho do lado de fora e um homem gritando o meu nome; a porta se abriu e me surpreendi com um suado e desesperado do lado de fora. Tentei me levantar, porém correntes prendiam os meus pulsos. Lágrimas já escorriam sem parar pelos os meus olhos e vi o se afastar, sendo arrastado por algo com força, enquanto se esforçava com todo o seu corpo para me alcançar.
Acordei gritando.
Acendi o abajur, levando rapidamente as mãos aos olhos devido a claridade repentina, peguei meu celular na escrivaninha ao lado da cama, 4:30am, virei para o lado contrário ao abajur e me forcei a dormir. O sono havia ido embora. Levei a minha mão para baixo do travesseiro e repousei a outra entre as minhas pernas, eu queria chorar, mas estava muito preocupada para tal. Tornei a pegar o celular e disquei um dos meus números favoritos.
— Mason?
? — disse, com voz de sono. — São 4:30 da manhã, o que está fazendo acordada a essa hora?
A preocupação era nítida em sua voz.
— Tive um pesadelo. — respondi. — Nele vocês me afastavam do e me prendiam em casa, literalmente.
— A gente nunca te prenderia aqui, . Você seria uma péssima prisioneira, fugiria na primeira oportunidade.
Um riso falho escapou dos meus lábios e, mesmo sem o ver, tive certeza de que ele sorria.
— Sinto falta de vocês.
— Também sinto sua falta, , e tenha certeza de que eles também sentem, só precisam se acostumar com a ideia de que você cresceu e precisa tomar as suas próprias decisões.
— Eu queria que tudo fosse diferente. Não queria está fazendo isso com vocês, mas não posso escolher entre o e meus pais. Ainda tem a Meg. — suspirei. — Como ela está?
— Está bem! Ela e o Brian não tem vindo muito aqui. Você sabe como aquele marido dela é, nunca vi um homem pra gostar tanto de ficar em casa assim como ele. — respirou fundo. — Mas eles estiveram aqui semana passada e ela perguntou sobre você, sem os nossos pais ouvirem é claro, ela não quer deixar transparecer para eles que ela ainda se importa.
— E o que você disse?
— Que você sente a falta dela. Disse que ela deveria te visitar. Ela está triste por estar longe de você, mana. Vocês faziam tudo juntas, o tempo todo, é claro que ela se importa.
— Justamente por isso que ela deveria ficar do meu lado, Mason. Nunca pensei que ela fosse capaz de fazer isso comigo. — desabafei.
Cinco minutos foi o tempo que ficamos em silêncio, foi o tempo que eu tentava me acalmar da mistura de sentimentos que se instalara dentro de mim.
— O sono está chegando. — disse.
— Que bom porque eu ainda trabalho hoje. — deu risada, sendo acompanhado por mim.
— Canta pra mim?
— A mesma de sempre?
— Você me conhece bem — sorri.
— When you're down and troubled and you need a helping hand, and nothing, oh nothing is going right, close your eyes and think of me and soon I will be there to brighten up even your darkest night...¹
Ele começou a cantar e o sorriso não conseguia desaparecer do meu rosto. Essa é a nossa música. Ele sempre cantava para mim depois que eu me machucava ou depois que meus pais surtavam comigo por algum motivo banal, ele sempre me fazia lembrar que ele estava ali e que eu poderia contar com ele. Geralmente os irmão vivem em um pé de guerra, mas com a gente era diferente, a Meg, o Mason e eu éramos como os três mosqueteiros, fazíamos tudo juntos, inclusive nos metíamos em encrenca juntos. É claro que as vezes discutíamos, mas cinco minutos depois voltávamos a nos falar. Apesar da forma como os meus pais me tratavam, nós três tivemos uma boa infância juntos.
Eu não sei por quanto tempo mais ele continuou a cantar porque eu logo adormeci, só que dessa vez meu sono foi tranquilo, não tive mais nenhum pesadelo e a luz acesa do abajur ajudou para que eu dormisse rapidamente.
O barulho da chuva forte que caía me fez acordar. Na janela, pingos de chuva estavam espalhados por todo lugar, mas uns em especial me chamaram atenção, ou eu estava muito louca e apaixonada ou aqueles pingos de chuva estavam formando um coração na minha janela, optei pelo o bom senso e conclui que eu estava estupidamente apaixonada. Forcei o meu corpo a se levantar daquela cama e me encaminhei ao banheiro para tomar banho. Tomei banho, escovei os dentes e fui em busca de uma roupa apropriada para mais um dia de estudos. Já pronta, desci até a cozinha no andar debaixo, encontrando uma maçã em cima da mesa que me pareceu muito convidativa, de qualquer forma já estava atrasada e não podia me atrasar ainda mais.
Após toda uma manhã de aulas e de cobranças, que pioram a cada dia, voltei para casa disposta a fazer a minha parte em um trabalho que vou apresentar junto com a Melissa. Enquanto eu fazia algumas pesquisas para usar como base, bebericava a minha bebida favorita, o café preto.
— Calma, , falta só mais um semestre. Vai ficar tudo bem!
Repetia isso para mim mesma várias e várias vezes em uma tentativa de fazer com que essa verdade me animasse, no entanto, parece que o efeito era totalmente ao contrário já que minha vontade de fazer o trabalho diminuía cada vez mais.
— Caramba! Eu poderia estar dormindo, Deus. Realmente, eu poderia estar dormindo.
Peguei a xícara de café e deitei minha cabeça sobre a mesa, apoiando o meu corpo nela. De repente aquela xícara branca com o desenho da Torre Eiffel me pareceu tão interessante. O modo como as linhas pretas se cruzam ao ponto de tomarem a forma de uma torre; o jeito como quem a decorou escolheu a cor amarela para desenhar simples detalhes. É incrível como uma simples xícara pode ser mais interessante do que um trabalho de faculdade.
O celular começou a tocar.
— Mais que droga! Nem admirar uma xícara eu posso mais.
Bufando, me levantei daquela cadeira e fui até o sofá da sala onde havia deixado o celular, longe o bastante para não me distrair. Como se adiantasse.
— Cara, eu te amo! Mas você acabou de me tirar de um momento único. — disparei ao atender.
— Isso lá é jeito de atender o seu maravilhoso, lindo, querido irmão, ?
— Quando ele me atrapalha sim.
— Afinal, o que você estava fazendo de tão importante?
Bufei.
— Estavaobservandoumaxícara — falei tudo de uma vez.
— O que? Repete. Não entendi nada.
— Estava observando uma xícara.
Pude ouvir uma gargalhada vinda do outro lado do celular.
— Esse stress todo simplesmente porque eu te atrapalhei de observar uma xícara? — questionou sem parar de rir.
— Eu estava observando minuciosamente, tá legal?! — respirei fundo — Mas agora que já me interrompeu, pode falar.
— Para de reclamar, . Lembre-se a vida é bela.
— Tá, tá, sei.
Ele riu.
— Então, criança, vamos sair mais tarde comigo? Acho que você precisa se divertir um pouco.
— Concordo com você! Pode vim me buscar? Meu carro tá com algum defeito.
— A noite passo aí então. Sete e meia, pode ser?
— Claro.
— Até mais tarde! Não se atrase, mocinha.
Juro que tentei voltar para cozinhar e continuar a estudar, mas meu Instagram me pareceu tão interessante. Descobri que uma antiga amiga minha de infância casou no fim de semana; uma outra amiga estava grávida e que o Nicholas Sparks havia lançado mais um dos seus maravilhosos livros de romance, mas, enquanto vasculhava o meu feed, um aviso em vermelho nas solicitações de seguidores me chamou atenção. Curiosa, cliquei para saber quem era; meus olhos se encheram de lágrimas e um sorriso preencheu os meus lábios, o convite era da minha irmã que, pra quem antes não queria contato com essas redes sociais, ela me surpreendeu, mas, minha maior surpresa foi ver que ela queria ter algum tipo de relação comigo. Meus dedos foram mais rápidos do que eu e logo aceitaram aquele inesperado pedido. Ela não estava online e talvez ainda não quisesse conversar comigo, mas acho que essa atitude dela já foi um grande avanço.
Graças ao meu intenso esforço e determinação, consegui terminar o trabalho ainda durante a tarde ao invés de ceder ao sono e agora posso sair sem nenhuma preocupação com o meu irmão. Passava as minhas mãos no meu cabelo vendo o meu reflexo no espelho, já estava pronta e só estava esperando ele chegar. Peguei o meu celular sobre a cama e comecei a andar em direção a porta, sentindo-o vibrar logo em seguida no meu bolso.
— Já estou aqui em baixo. — Mason disse.
— Tô descendo. — respondi.
Desci as escadas do meu prédio com uma leve pressa. Só de imaginar que estaria fora daquele lugar a animação já saltava de dentro de mim. Ele estava me esperando em frente ao seu carro e, ao contrário do sonho, a sua barba continuava com os cabelos pretos e ele não estava com a aparência de velho.
— É tão bom ver que você não está velho. — disse, me aproximando dele.
— Por que eu estaria velho? Colé, , eu só tenho 28 anos, sou um neném em ótima forma.
— Com o ego sempre inflado em irmãozinho? — dei-lhe um rápido abraço. — Não foi nada, só pensei rápido. — sorri.
Ele segurava a minha mão e me olhava de cima a baixo.
— Você está linda!
— Se eu não soubesse que você só está fazendo o seu papel de irmão, eu até acreditaria em você.
Ele riu.
— Nunca mentiria para você e vamos combinar que você teve a quem puxar.
— Sim, a D. Susan é linda mesmo.
Sorrimos.
— Para onde vamos? — perguntei.
— O parque de diversão está na cidade e pensei em irmos lá.
Como uma criança comecei a dar pulinhos no meio da rua e como ela não estava deserta, as pessoas passavam por nós, olhavam para mim e davam risada. Devia mesmo está interessante ver uma mulher de 24 anos pulando no meio da rua. O Mason segurou nos meus ombros para me acalmar e logo o equilíbrio me invadiu e pudemos entrar no carro e ir em direção ao parque.
— Estou saindo com uma pessoa. — Ele disse, enquanto dirigia.
— Sério? Qual o nome dessa?
— Marin. Mas essa juro que estou levando a sério.
Arqueei a sobrancelha.
— Quantos encontros já tiveram?
— Três.
Caí na risada.
— Parabéns, bateu seu recorde!
— Eu sei! Disse que estava levando a sério. — deu uma pausa.— Pelo menos por enquanto — um sorriso safado tomou o seu rosto.
Meu irmão é assim, uma ótima pessoa, mas não adianta se apegar, ele não quer nada sério com mulher nenhuma.
— Espero ansiosamente pelo dia em que te verei bobo e apaixonado.
Ele deu risada.
— Isso não vai acontecer.
— Ah, querido, um dia acontece. Pode apostar. Nesse dia ainda irei te falar “eu te avisei”. — pisquei o olho.
Ele sorriu e voltou novamente a sua atenção para a estrada que começava a ficar cada vez mais movimentada por estarmos chegando ao destino.
O local não estava tão cheio ao ponto de ser insuportável ficar ali, mas tinha gente o suficiente para tornar aquele lugar legal. Crianças corriam para todos os lados enquanto eu e Mason esperávamos na fila da roda gigante com os nossos algodões-doces em mãos. A nossa vez chegou e entramos na cabine junto com outras duas pessoas. Meus olhos se voltaram para a cidade que estava abaixo de mim, as luzes das casas acesas e as pessoas andando traziam uma beleza diferenciada ao local. Ficamos mais um tempo ali e o meu irmão apontava para todos os brinquedos que ele ainda queria ir; nós fomos em tantos que não dá nem pra contar com os dedos das mãos.
— Teve uma hora que eu achei que iria vomitar. Já não estava aguentando mais ficar tantas vezes com a cabeça para baixo. — disse.
Estávamos sentados na grama próximos a um carrinho de pipoca.
— E porque não vomitou? Ficaria conhecida pelo resto da noite.
— Hahaha, engraçadinho. — respondi, empurrando-o com o meu corpo.
— Sabe, , até hoje não entendo como esse seu relacionamento com o começou. Quer dizer, nunca soube que você tinha uma atração pelos pais das suas amigas. — disse, com um rosto confuso.
— E eu não tinha! — ri fraco. — Eu não sei, foi tudo muito louco, May. Não foi amor à primeira vista, entende? Ele era só o pai da minha amiga.

Flashback On

As aulas começaram há um mês, mas já estou cheia de trabalhos para fazer, coisas para resolver e ainda tem meus pais complicando tudo, controlando tudo o que faço. Pelo menos injustos eles não são, eles estão vendo o quanto eu tenho me esforçado e me dedicado aos estudos e por conta disso me permitiram vir estudar com a Melissa na casa dela.
Melissa é aquele tipo de pessoa em que eu posso conversar por horas, todos os dias e eu nunca enjoo. Por vezes eu a vi andando na rua, apesar de que na época ainda não nos conhecíamos, mas sempre tive aquele sentimento de que, bom, podíamos ser boas amigas.
Desde quando nos conhecemos essa é a primeira vez que venho na casa dela, que por sinal é enorme, mas isso eu já imaginava, até porque o seu pai trabalha em um dos melhores e mais famosos restaurante da cidade como chef, no entanto, essa é a única coisa que sei sobre ele.
— Direito penal é o ramo do direito público dedicado às normas emanadas pelo Poder Legislativo para reprimir os delitos, lhes imputando penas com a finalidade de preservar a sociedade e proporcionar o seu desenvolvimento. — Melissa disse, jogando-se na cama, fazendo com que todos os artigos caíssem no chão do quarto. — Sociedade, eu luto por vocês, mas agora eu só queria lutar em favor da minha preguiça.
Ri.
— Não vejo a hora de pegarmos algum caso superimportante. Já pensou nós duas no tribunal lutando por uma vítima indefesa? Vai ser muito bom! — empolgada, falei.
— Aí enquanto o outro advogado estiver falando, a gente grita “objeção!”.
O riso preencheu o ambiente atuando como plano de fundo para os nossos olhos sonhadores que vislumbravam um futuro emocionante.
— Eu nunca, em toda a minha vida, tinha imaginado que um dia você estaria aqui na minha casa e seria tão importante para mim. Que mundo louco! — ela falava olhando para o teto.
— Não é? Estava pensando nisso enquanto vinha para cá. Ainda mais por conta dos meus pais que não me deixam sair pra canto nenhum. Isso aqui — fiz um movimento circulatório com o dedo. — só está sendo possível porque o universo resolveu colaborar.
— Obrigada, universo! — gritou.
Ela olhou para mim e o sorriso foi espontâneo em nossos rostos.
— Amiga, cata esses papéis do chão e vamos continuar. O dia da apresentação está chegando, gatinha.
— Esse negócio é muito chato! Podíamos ter ficado com outro tema, pelo menos não estaríamos estudando esse assunto.
— Sim, mas olhe pelo lado bom. Semestre que vem quando for acrescentada a disciplina de Direito Penal, já teremos uma noção do assunto.
Ela se levantou da cama, pegou os papéis que estavam no chão e se posicionou a minha frente. Fiquei de pé e começamos a repassar novamente tudo o que nós tínhamos até então para a apresentação.
— Senhorita futura advogada, acho que agora podemos dar um tempo. — disse.
— Ai, obrigada! Não estava aguentando mais.
— Acho que tenho que ir. — sorri de lado.
— O que? Não, espera! Agora que chegou a parte boa. Vamos fazer alguma coisa!
— Hey, lembra? Meus pais são pessoas difíceis…
— Ah, ! 10 minutos a mais não vão fazer nenhuma diferença.
Ela olhou para mim sorrindo e começou a caminhar para trás se virando logo em seguida e indo correndo ligar o home theater. Me Without You do TobyMac soou alto.
— Vem! Você precisa relaxar.
Me levantei da cama e caminhei em direção a uma Melissa sapeca com um sorriso enorme no rosto, me aguardando com os braços estendidos. Ela me segurou pelas mãos e começou a pular me levando a fazer o mesmo. Dançávamos como se nada mais existisse no mundo além de nós duas, era como se por um breve tempo todos os meus problemas tivessem sumido e uma alegria imensa invadiu o meu ser. A música acabou e depois veio outra e mais outra, até que eu olhei para a porta e no mesmo instante todos os meus músculos se enrijeceram.
— Boa tarde! — disse, tímida.
A Melissa parou de dançar e olhou na mesma direção para qual eu estava olhando.
— Pai!
— Garotas. — respondeu.
Ele estava parado na porta sorrindo como quem pega uma criança pequena no flagra.
— Pai, essa é a . — apontou para mim. — , esse é o meu pai. — apontou para ele. — .
— Muito prazer! — o cumprimentei com um aperto de mão.
— O prazer é todo meu, !
— Me chama de , por favor! é muito pesado.
— Tudo bem, . Vi que estavam bem animadas.
Passei a mão no cabelo.
— Todo mundo merece um descanso depois de tanto estudo, pai. Principalmente a .
— Tudo bem! — sorriu. — Estou no quarto. Se precisar de mim é só chamar — gritou, enquanto sumia das nossas vistas.
Olhei para a garota ao meu lado e comecei a rir.
— Que jeito legal de conhecer o seu pai.
— Relaxa, ele é do bem.
O meu celular começou a tocar e no visor o nome da minha mãe não parava de piscar.
— Tenho que ir! — balancei o celular.

Flashback Off

— Não teve nenhuma borboleta na barriga ou arrepio, ele só foi mais uma pessoa que conheci.
— E quando foi que ele deixou de ser “só mais uma pessoa” e passou a ser o cara pelo qual estava apaixonada?
— Quando eu percebi que eu ficava muito melhor quando estava perto dele. — sorri. — Quando percebi que eu queria poder cuidar dele nos momentos difíceis e não só dizer “vai ficar tudo bem” e, principalmente, quando eu me dei conta que eu não conseguia ficar mais perto dele sem querer agarrá-lo.
— Uau, isso foi inspirador!
— Você ainda não entende. — balancei a cabeça em um movimento de negação.
— Depois de quanto tempo vocês ficaram juntos?
— 3 anos depois que nos conhecemos, ele me beijou pela primeira vez. Nessa época eu já estava perdidamente apaixonada por ele, com direito a borboletas na barriga. — um riso fraco escapou. — Estávamos no cinema e a Mel havia ido ao banheiro...

Flashback On

Ele está bem ao meu lado direito, as minhas mãos estão suando e eu nem consigo mais prestar atenção no filme porque os meus pensamentos simplesmente estão em outro lugar, em outra pessoa.
Depois de tanto insistir aos meus pais e do conversar com eles, finalmente conseguimos sair nós três para nos divertir. Isso já era algo natural nosso, nos dávamos superbem e, na verdade, parecíamos três adolescentes quando estávamos juntos e não três adultos que têm compromissos. Mas o que está me deixando aérea não é isso e sim o fato de que há um tempo não estou conseguindo mais controlar essa necessidade de estar perto do , de tocá-lo. Há um tempo que esse sentimento tem me invadido e agora já não dá mais pra negar, minhas mãos suam e eu fico parecendo uma boba ao lado dele. O que mais me intriga é que algo dentro de mim me diz que estou sendo correspondida. O jeito como ele me olha, que me toca e até mesmo como fala comigo o denuncia, não é possível que eu esteja louca ao ponto de está criando coisas na minha mente.
se mexeu ao meu lado me chamando atenção.
— O filme é bom, né?
Sorri minimamente.
— É interessante.
— Você está bem? Estou te achando meio longe.
Não sei se isso é possível, mas da forma como eu o estava olhando, senti como se os meus olhos pudessem penetrar os dele e alcançar a sua alma.
— Sim, estou bem! — respondi, despertando-me de um transe. Sorri. — Só estava pensando.
Voltei novamente a minha atenção para a tela e fingi para mim mesma que estava prestando atenção no filme.
A sede chegou com tudo e me lembrei do refrigerante que até então estava intacto no seu lugar. Ergui minha mão até o copo para pegá-lo, mas a mão dele me impediu. O choque térmico, causado pela diferença de temperatura do nosso corpo, correu por todo o meus ossos e órgãos e senti que os olhos deles me encaravam. O olhei, e os segundos que passamos nos encarando pareceram horas, era como se estivéssemos tentando nos descobrir, como se estivéssemos tentando entender o que estava acontecendo com os nossos corações, no entanto, aquela troca de olhares começou a me incomodar, precisava tomar alguma atitude, queria beijá-lo e finalmente descobrir que gosto tinha o seu beijo. Felizmente não foi preciso que eu tomasse a iniciativa porque ele a tomou, ele me beijou e pude notar o quanto ele queria aquilo tanto quanto eu, mas assim como ele rápido me beijou, rápido ele me soltou e eu retornei à minha posição inicial como uma estátua sem saber o que fazer ou falar.
Não demorou muito para que a Melissa voltasse explicando o porquê da sua demora. Pelo visto um cara que é afim dela não parava de ligar até que ela resolveu atender e dar um basta naquilo. O detalhe era que eu a ouvia, mas não estava entendendo nada do que ela estava falando, me sentia inerte a toda aquela situação e eu realmente estava.
— Vocês estão bem? Estão tão quietos. — ela disse, desconfiada.
— Estamos prestando atenção no filme e era isso que você também deveria fazer. — respondeu e o silêncio incômodo se instalou entre nós.
O filme acabou e eu não sei dizer nada do que foi retratado nele.
Saímos da sala e ficamos passeando pelo shopping com a Mel correndo a cada vitrine em que via um sapato que ela estava louca pra ter. Foi em uma desses momentos dela que novamente eu senti o toque da mão dele na minha e todos aqueles sentimentos da primeira vez voltaram.
— Depois a gente conversa. — sussurrou.
Eu só tive capacidade para balançar a cabeça em concordância e ele soltou a minha mão.

Flashback Off

— Então vocês estão juntos desde essa época? — Mason perguntou.
— Não, pelo contrário. As coisas não foram tão fáceis assim. Não estão sendo fáceis para os nossos pais, assim como para mim e para o também não foram fáceis.

Flashback On

Melissa está dormindo aqui do meu lado, ela está em um profundo sono e nem imagina o que está se passando bem dentro da casa dela, nem imagina a confusão que eu o pai dela nos envolvemos. O e eu combinamos de nos encontrar durante a madrugada para conversarmos. Mas, resolver isso de que forma quando tudo o que eu quero é beijá-lo novamente?
“Vem aqui na sala.” dizia a mensagem que ele acabara de me enviar. Levantei com o todo o cuidado possível para não despertar a garota do meu lado e sair para encontrá-lo, mas a verdade é que nem eu sabia o que iria encontrar de fato.
Ele estava sentado no sofá com cabeça baixa, tão concentrado que nem notou a minha chegada.
.
Ele olhou para mim.
— Senta aqui, . — disse, sério.
Sentei ao seu lado. Permanecemos em silêncio como se estivéssemos com medo de quebrá-lo.
— Me desculpe por hoje mais cedo! — ele falou, quebrando o silêncio.
Não consegui ter uma reação imediata, só depois de um tempo foi que o meu cérebro conseguiu captar o que ele estava querendo dizer.
— Eu não vou te desculpar e nem vou pedir desculpa por algo que eu sei que nós dois queríamos que acontecesse. — disse, sem quebrar a conexão do nosso olhar.
— Nem sempre querer é poder, !
— E por que não podemos? — levantei. — Eu gosto de você, , e eu sei que você sente o mesmo por mim.
...
— Quê? Vai dizer que me beijou hoje sem querer? — me aproximei dele.
Estava tão perto do seu rosto que podia sentir a sua respiração batendo na minha face.
— Não, não foi sem querer.
— Então. — contornava a boca dele com o meu dedo indicador.
Ele respirou fundo.
— Mas isso não pode acontecer de novo. Imagina o que seus pais vão pensar disso tudo, o que a Mel vai pensar. Eu tenho 42 anos, Giovana, sou 20 anos mais velho que você. Você entende isso?
— Entendo e não ligo pra isso. Isso só me prova que somos maduros o suficiente para lidar com essa situação.
Ele nada falou.
— Ok, já vi que essa é a sua decisão final. — fiquei em silêncio. — Tudo bem! Boa noite, senhor !
Estava voltando para o quarto quando ele segurou no meu braço e resolveu se pronunciar.
— Ainda quero sua amizade, .
— Nada aconteceu, então nada mudou. Pode ficar tranquilo que a Mel não vai saber de nada. — soltei meu braço de sua mão. — Boa noite, !

Flashback Off

— Então quer dizer que ele tentou evitar toda essa situação.
— Sim.
— Nossa, a história é mais longa do que eu pensava.
— Nem imagina o quanto. — disse, acompanhada de um riso baixo. — Mas com o tempo percebemos que não se pode impedir o amor. Alguns defendem que vida sempre vai dar um jeito de cruzar os destinos novamente, bom, eu ainda prefiro acreditar que Deus é quem se encarrega disso.
— Vocês se amam verdadeiramente, hein?
— Disso não tenho dúvidas.
— Devo admitir que no início não gostava muito desse cara, mas só de saber que ele te faz bem já começo a ir mais com a cara dele.
— Se vocês passarem um tempo maior juntos, vocês vão se dar muito bem. Ele ouve falar tanto de você que você nem imagina.
— Acho justo.
Sorri.
— Me leva em um lugar?
— Claro! Pra onde?
.






Mason me deixou em frente à casa dessa família que virou minha, mas ainda não tive coragem de tocar a campainha. As lembranças de tudo o que aconteceu não saem da minha mente, tanto as coisas boas como as ruins fazem parte da minha história que, querendo ou não, não seria a mesma sem elas. Tomei coragem e toquei a campainha e logo a porta foi aberta por uma Melissa de pijama.
— Amiga? Porque não ligou avisando que vinha?
— Porque tem pouco tempo que decidi isso. — sorri. — Estava com o Mason e aproveitei pra pedir a ele pra me trazer aqui.
— Entra aí. — deu espaço para que eu passasse.
— E o ?
— Lá em cima.
— Vou subir, tá?
— Desde quando você pede? — ela riu. — Pode ir.
A cada degrau que eu subia novas memórias vinham à minha mente, o primeiro encontro; quando contei para a Mel; quando meus pais descobriram, mas então eu me dei conta de que estava paralisada no meio da escada.
— Amiga. — fui atrás dela, que ainda estava parada próximo a porta me olhando.
A abracei como nunca antes, com uma força inexplicável, na tentativa de fazê-la entender tudo o que eu queria dizer com aquele abraço.
— Eu te amo! — soltei de uma vez, ainda abraçada a ela. — Muito obrigada por não ter me deixado, por não me odiar mesmo com toda essa história com o seu pai, pois sei que tem todos os motivos para tal. Obrigada por permanecer ao meu lado, sério, não sei o que faria caso você fosse contra tudo isso.
Eu não sei se era eu quem a apertava mais ou se ela era quem fazia isso, mas, se fosse em qualquer outro momento, já teríamos reclamado de dor.
— Confesso que em um momento até pensei em gritar com vocês dois, mas eu não podia, eu via nos olhos de vocês que vocês se amavam, não seria eu quem iria estragar isso. Uma vez eu prometi dentro do meu coração que estaria sempre com você, fosse para sorrir ou dar bronca, mas, principalmente, sempre iria te apoiar e estou cumprindo isso. Eu sempre estarei aqui, meu bem.
A apertei um pouco mais nos meus braços, me afastando logo em seguida sorrindo.
— Tá legal, agora eu vou subir.
— Se manda! — sorriu.
Voltei a subir as escadas e dei de cara com o corredor que me levaria até o quarto dele.
— Uau, que visão maravilhosa! — exclamei ao parar em frente a porta aberta do quarto.
estava deitado na cama sem camisa.
— Uau, que visão maravilhosa! — repetiu o que eu disse.
— Gostou? Vim te ver.
Caminhei até ele, tirei as sandálias que estava usando e deitei por cima dele na cama, depositando em seus lábios um selinho demorado.
— Não ligo se quiser me fazer uma visita dessas todos os dias.
Sorri durante mais um beijo que ele me dera.
— Eu saí com o meu irmão hoje. Fomos ao parque e ele aproveitou para tirar de mim toda as informações possíveis sobre como eu e você nos conhecemos. — olhei para ele.
— Já vi que ficaram horas conversando.
— Relaxa, eu resumi. Mas contei à ele sobre o fora que você me deu naquela noite depois do cinema.
— Não foi um fora.
— Ah, , foi um fora sim. Um superfora. Eu ali, disponível, e você se fazendo de difícil — revirei os olhos teatralmente.
— Só estava preocupado com você, .
— Eu sei, amor. Estou brincando. — mordi o seu queixo.
Ele me apertou mais contra o seu corpo e, em um movimento rápido, eu já estava por baixo dele, sentindo seus beijos que eram depositados no meu rosto.
— Urgh! Fechem a porta!
Nossos olhos se voltaram a procura da dona daquela voz. Melissa estava parada na porta com uma cara de nojo.
— Ninguém mandou você ficar parada aí, mocinha. — disse.
— Em minha defesa, eu estava indo para o meu quarto quando passei e vi isso.
— Tá legal, amiga! A gente te entende. — me afastei do homem que ainda estava em cima de mim e caminhei em direção a porta segurando-a com a mão. — Agora, boa noite! Te amamos!
Acenei para ela e fechei a porta, mas não antes de ouvir ela gritar — nojo, que nojo.
Virei em direção a cama e o me olhava com um sorriso maldoso.
— Fica longe de mim. — apontava para ele, rindo.
— Eu não sou o lobo mau, . Estou mais para o Superman.
A gargalhada que escapou da minha garganta foi tão alta que precisei colocar a mão na boca para abafar o som.
— Meu, na boa, fica quieto!
— Você quer o quê? Que eu faça um striptease pra você? Eu faço.
Eu não conseguia parar de rir, enquanto o via levantar da cama e vir lentamente na minha direção com a cara mais sexy possível.
— Eu não acredito que você vai mesmo fazer isso.
Ele dançava e fazia movimentos com o corpo tentando me seduzir, no entanto, eu só sabia rir da situação.
— Uh, gatão! — batia palmas.
Ele pegou um cinto que estava jogado no chão e começou a rodá-lo. Eu não consegui me conter e ri ainda mais alto.
— Amor, para vai. Você não tem dom nenhum pra isso.
Ele tentou parecer bravo, mas se rendeu e gargalhou junto comigo. Fui até ele e lhe dei um abraço, acompanhado de um beijo. Permanecemos um tempo abraçados só sentindo a respiração um do outro. Sentia o peito dele subir e descer e logo a minha respiração se igualou a dele e entramos no mesmo ritmo.
— Não vai rolar nada mesmo?
Ri fraco.
— Desculpa, mas a sua filha, que também é minha melhor amiga, está dormindo no quarto ao lado. Não vai rolar.
— Tá na hora da Melissa se mudar.
— Também acho, mas não conta isso à ela — sussurrei.
— Amor? — perguntou, cheirando o meu pescoço.
— Uhm... — murmurei.
— Você está precisando de um banho — se afastou milimetricamente de mim.
— Estou, né?
— Uhum — balançava a cabeça em concordância.
— Ridículo. — rindo, dei-lhe um tapa no braço. — Eu vou tomar banho, mas me faça o favor de catar essas roupas do chão porque você não é nenhum porco.
— Sim, senhora! — bateu em prontidão.
Peguei uma camisa e uma cueca limpa dele no guarda-roupa e fui para o banheiro a fim de tomar banho. A água quente caia pelo meu corpo me fazendo relaxar e desejar ficar ali para sempre, o sorriso não saia do meu rosto e eu só conseguia pensar em quão sortuda eu sou.
— Amor?
— Quê? — respondi, ainda no banheiro.
— Vai pra faculdade amanhã?
— Pretendo. Porquê?
— Nada.
Ele ficou um tempo em silêncio e algo me dizia que não era bem isso que ele queria saber.
— Amor?
— Uhm!
— Quero te perguntar uma coisa.
— Eu sabia! Pergunte — falei, já parada na porta do banheiro com os braços cruzados.
— O que você acha de termos um filho?


Capítulo 5

— Psiu! — tentava chamar a atenção da garota sentada a uma carteira após a minha.
— Melissa!
Ela estava tão concentrada fazendo anotações sobre o que o professor estava falando que até então não havia nem me olhado de relance.
— Tá legal, garota, você precisa olhar pra mim agora!
— Shii! — o garoto sentado entre a gente, exclamou.
Olhei feio para ele.
— Se você me ajudasse a chamá-la, isso não estaria acontecendo.
— O que foi, ?
Meu olhos se voltaram para ela.
— Depois a gente precisa conversar.
Ela concordou com a cabeça e voltou a escrever em seu caderno rosa.
— Sério que você fez essa agonia toda só pra falar isso? — o garoto perguntou.
— Vai estudar vai, querido. — revirei os olhos e voltei a prestar atenção no que o professor dizia.



— Cheguei! Pode começar a falar.
Melissa surgiu a minha frente segurando o seu almoço em uma bandeja, enquanto sua bolsa estava apoiada em seu ombro.
— Você não vai acreditar no que o me disse ontem. — comecei a falar, sendo observada atentamente por ela. — Ele simplesmente propôs que tivéssemos um filho.
Os olhos da garota quase saltaram da órbita ao ouvir o que eu tinha dito.
— É o que? — Gritou, chamando a atenção das pessoas que estavam perto de nós.
— Não grita, garota! — a repreendi. — Só senta aí.
— Que história é essa, ? — Perguntou, colocando as coisas na mesa e sentando-se de frente para mim.
— Isso mesmo que você ouviu.
Ela permanecia estática me encarando.
— Aí ele começou a rir e eu me toquei que era brincadeira. — balancei os ombros e mordi minha maçã.
Virei o meu corpo para o lado na tentativa de escapar da mão dela que queria me acertar.
— Você é louca? Eu quase surtei aqui. Achei que iria mesmo ter um filho. — dizia indignada, enquanto eu ria descontroladamente da situação. — Você é louca meu, não faz isso!
— Essa foi exatamente a reação que eu tive quando ele me falou. Achei que o tinha pirado ou alguma coisa do tipo, até que ele começou a rir da minha cara e eu taquei um travesseiro nele.
— Imagina se ele realmente estivesse falando sério. O que você faria?
— Pra ser sincera, eu não sei. Quer dizer, eu não poderia engravidar agora; tem a faculdade para terminar, preciso me estabelecer no mercado e ainda tem a minha família que no momento está me odiando.
— Verdade. Mas pense, teríamos uma criancinha correndo pela casa gritando mamãe e papai para todo o lado.
— É… Não. Não vai rolar — ri fraco. — Come logo isso aí vai. Já deve estar frio — apontei para a comida na bandeja.
Ela começou a comer e as minhas pálpebras começaram a fechar revelando todo o meu cansaço. Me esforcei ao máximo para deixar os meus olhos abertos, me concentrando numa árvore que tinha ali perto, até que meus ouvidos começaram a captar uma voz me trazendo ao mundo dos acordados.
— Quando começa seu estágio, ?
— Semana que vem. — respirei fundo. — Vou sair do trabalho.
— E como pretende se sustentar sem trabalho? Tudo bem que não te pagam superbem lá no café, mas a remuneração do estágio é menor ainda.
— Isso é verdade, mas não tenho como lidar com tanta coisa ao mesmo tempo. Algo iria ficar mal feito e não posso recair aqui na faculdade agora que está terminando, então é melhor sair do trabalho. Não tem jeito.
— Eu não entendo porque não deixa que meu pai pague as coisas pra você. Ele quer fazer isso, eu quero que ele faça isso, só você que fica nesse orgulho.
— Não é questão de orgulho, Melissa. Não tem nada a ver com isso. Tem a ver com o fato de que não quero que ele se sinta responsável por algo que ele não é. Você falando desse jeito parece que eu estou passando fome.
— Não está, eu sei que não está, mas podia estar levando uma vida muito melhor e sabe disso.
— Certo, cansei desse assunto. — me levantei da cadeira, pegando a minha bolsa que estava na mesa. — Tenho que trabalhar.
Ela olhou para mim demonstrando o cansaço obtido pela conversa e eu balancei a cabeça para mostrar que estava tudo bem. Caminhei até ela e lhe dei um beijo na testa de despedida.
Hoje o dia será bastante cansativo. Terei que trabalhar até as 22h da noite no lugar de uma colega que me cobriu ontem no trabalho e graças a ela eu pude ter uma breve folga, se bem que, nesse exato momento, estou me arrependendo disso, uma vez que ao invés de chegar em casa às 17h, chegarei as 22:30.
Cheguei no Cafe Kino e o lugar estava mais cheio do que o de costume. Aparentemente um grupo de executivos resolveram fazer a sua reunião lá; respirei fundo, coloquei o avental, vesti-me do meu melhor sorriso e comecei a atender aquelas pessoas, onde muitas testaram a minha paciência ao ponto de eu desejar esmurrar a cara de cada uma delas e sair por aí exibindo o meu sorriso de assassina e, por um momento, a ideia de cada uma delas sofrendo me pareceu muito convidativa até que um barulho irritante que indicava que, alguém estava me chamando, me lembrou que eu deveria parar de parecer uma psicopata e ir servir os clientes.
Parada no balcão desfrutando do meu saboroso minuto de descanso, senti alguém tocar em meu ombro.
, como foi o seu dia de folga?
Era Charles, o meu chefe.
— Cansativo, Charles. Eu estudei e só estudei. Precisava adiantar algumas coisas da faculdade. Mas não se preocupe, irei trabalhar até mais tarde hoje.
— Ótimo! Preciso que lembre que as mesas precisam ser limpas… — ele ainda estava falando quando senti o meu celular vibrar no bolso do avental e instintivamente eu coloquei a minha mão sobre ele para que o Charles não percebesse. Celulares são proibidos aqui.
— Não esquece, .
— Ahm, ok, Charles! — disse, sem conseguir me lembrar o que ele havia dito.
Voltei ao trabalho, mas, a caminho da mesa de um velho babão chato, o meu celular vibrou novamente me fazendo tirá-lo do bolso às pressas para saber quem era. Ao olhar o visor foi como se tudo ao meu redor parasse, o nome Megan aparecia nele e automaticamente as minhas mãos começaram a tremer e a tarefa simples de atender um celular se tornou difícil. Corri para o banheiro mais próximo e ouvir o velho gritar chamando a minha atenção; ele teria que esperar. Me tranquei dentro do banheiro e atendi a ligação enquanto me apoiava na pia para conseguir apoio, tamanho era o meu nervosismo.
— A... Alô. — atendi nervosa e com a voz baixa.
, é a Megan!
— É, eu sei. Não apaguei o seu número. — ri fraco.
— Ahm, podemos nos encontrar? Quero te ver.
— Claro, claro. — disse rápido. — Onde e que horas?
— No único restaurante que fica perto do seu trabalho. Hoje, às 19h.
Estava para confirmar quando me lembrei que trabalharia até mais tarde.
— Meg, hoje não vai dar. — ouvi um muxoxo. — Não, é sério, Megan! Vou cobrir uma menina aqui do trabalho. Pode ser amanhã? Podemos almoçar nesse mesmo restaurante.
— Tudo bem! — o silêncio constrangedor se instalou entre nós. — Tá, então até amanhã, !
— Até amanhã, Meg!
O “tum” indicando o fim da ligação pôde ser ouvido e o meu instinto me fez começar a pular e gritar dentro do banheiro e só depois eu me lembrei de onde eu estava e que pessoas estavam me ouvindo. Abri a porta devagar e me pus para fora, as pessoas me olhavam sem entender e um riso tímido escapou dos meus lábios; me lembrei do velho e corri para atendê-lo, encontrando uma outra colega de trabalho servindo-o, ela olhou para mim com uma cara de quem pergunta o que aconteceu e eu balbuciei um desculpe para ela.
Passei o dia atendendo pessoas, servindo refeições e recebendo cantadas, mas para minha alegria o horário passou rápido e eu já estava me arrumando para voltar para casa.
— Por que não veio a minha sala, ?
Parei o que estava fazendo e olhei para trás.
— Desculpa?
— Eu disse a você que te esperaria na minha sala hoje. O que houve?
Dei um tapa na minha testa.
— Desculpa, Charles! Com a correria eu acabei esquecendo. — na verdade, eu nem lembrava que ele tinha falado isso. — O que foi?
— Toma. Aqui está o seu pagamento — esticou para mim um envelope. — Faça bom uso.
— Obrigada, chefe!
Ele se virou para ir embora quando eu lembrei que precisava falar com ele.
— Charles — ele me olhou e eu me aproximei dele. — É muito bom trabalhar aqui e eu te agradeço por tudo, mas tenho que sair. Semana que vem começa o estágio. Teria como fazermos algum acordo? Sei que se eu for demitida tenho direito a alguns benefícios e, apesar de eu está pedindo para sair, não queria perdê-los.
— Tem certeza disso? Posso diminuir sua carga horária aqui.
— Muito obrigada, mas não vai dar. Ficaria sem tempo algum para estudar.
— Tudo bem… Não acredito que vou perder a minha melhor funcionária!
— Te mando um clone meu — sorri.
Ele me abraçou.
— Você trabalha até sexta. Depois a gente resolve a diferença.
— Obrigada!
Peguei as minhas coisas e segui o meu caminho para casa. Estava tão radiante que eu não conseguia me conter, não conseguia parar de sorrir e era engraçado porque as pessoas achavam que eu estava sorrindo para elas, uma senhora, por exemplo, me disse “ai você é tão gentil, querida! Obrigada por alegrar o meu dia sorrindo para mim desse jeito.”, eu realmente espero que ela não tenha notado a minha cara de confusão.
— Boa noite, senhorita! — disse o porteiro do meu prédio.
— Boa noite, Mathew! — sorrindo, respondi, enquanto entrava no local.
— Posso saber o motivo de tanta alegria?
— A vida é bela, Mathew! — gritei.
Subi correndo a escada que me levaria até o meu apartamento. Esse dia não poderia estar melhor; sim, a Meg não me disse nada demais, mas ela querer me ver é um bom sinal, certo? Perguntava a mim mesma. Sentei no sofá pequeno que compunha aquela sala e decidi relaxar, afinal iria dar tudo certo.
— Certo, desisto! Preciso falar com alguém. — disse, pegando o celular.
A pior coisa é quando eu quero falar com alguém e a outra pessoa não atende, quer dizer, pra que ter celular se na hora da precisão é o mesmo que nada? — Anda, atende — já estava impaciente — Melissa, oi, até que enfim!
— Desculpa, estava ocupada. Fala.
— Chama o e coloca no viva voz. Quero a opinião de vocês sobre algo.
— Ele está aqui do meu lado. — ouvi a tecla do celular ser tocada. — Pronto.
— Oi, amor. — a voz dele soou.
— Hey, babe! — sorri. — Ahm, hoje aconteceu algo inusitado. A Megan me ligou.
— Megan? Sua irmã? — Melissa perguntou, surpresa.
— Sim, e disse que quer me encontrar. Marcamos de almoçar juntas amanhã.
— Amor, isso é ótimo!
— É amiga. Você já não queria que isso acontecesse?
— Sim, mas agora estou com medo. Não quero que as coisas piorem. — minha voz demonstrava todo o mundo que eu estava sentindo.
— Calma, ! Vai tomar um banho quente, come alguma coisa e tenta dormir. — disse.
— Amiga, presta atenção. Respira fundo e tenta não pirar, tudo bem? É normal sua irmã querer te ver, aposto que ela quer resolver as coisas.
— Vou tentar.
— Relaxa! Amanhã a gente conversa, tá? Se cuida!
— Vou ficar com você amanhã, amor. Cuidarei de você. — se manifestou com o seu jeito carinhoso de ser.
— Tá bom! E , estou esperando por isso. Boa noite!
— Boa noite! — disseram em um uníssono.
Encerrei a ligação e fiz exatamente o que o me sugeriu fazer. Tomei um belo e demorado banho quente, comi um pedaço de pizza que estava na geladeira e me rendi à minha cama. Eu queria muito ter efetuado completamente o pedido dele, no entanto eu não conseguia dormir; virava pra um lado e pro outro, mas meus olhos insistiam em permanecer acesos, eu até cheguei a cochilar por uns 10 minutos, mas logo despertei novamente e não consegui dormir mais, não dá nem para dizer que não estou ansiosa.
Não precisei do despertador para acordar e ir para a faculdade, afinal a ansiedade já fez o trabalho por ele. Estou com olheiras tão profundas que pareço mais um panda do que um ser humano, mas, bom, pelo menos os pandas são fofos. A manhã passou em uma lentidão absurda, mas, graças ao Deus misericordioso, a Melissa estava comigo todo o tempo e ajudou a me acalmar, precisou me sacudir algumas vezes, mas pelo menos agora eu parei de roer as minhas unhas; coitadas, elas estavam tão lindas e grandes. Cheguei no restaurante 10 minutos antes da hora combinada e escolhi uma mesa mais reservada, no canto do restaurante; não conseguia parar de balançar a minha perna direita e fazia cinco minutos que eu havia voltado a roer as unhas, com certeza eu sairei daqui precisando urgentemente de uma manicure.
Eu a avistei de longe. Ela está com um vestido amarelo e um par de rasteirinhas fofas que deixava ela com uma aparência meiga e de fato é o que ela é. A Meg sempre foi doce e delicada, apesar de ao mesmo tempo ter um gênio forte em que quando ela se irritava ou queria algo, ninguém gostava de estar por perto. Eu não sei se ela percebeu, mas o meu nervosismo aumentou. Preferi esconder as minhas mãos debaixo da mesa, mas a verdade é que eu não parava de mexê-las mesmo tendo as escondido. Observei ela caminhar até mim e me consertei na cadeira, assumindo uma postura reta e tentando disfarçar um pouco mais o nervosismo. Eu não sabia se deveria abraçá-la ou cumprimentá-la com um simples aperto de mão, contudo, nada disso foi necessário, pois ela simplesmente veio até mim, sentou-se em sua cadeira e me encarou por alguns longos segundos.
— Olá, ! — disse.
Não houve abraços, apertos de mãos formais ou um simples toque no meu braço como um gesto de cumprimento, foi simplesmente um oi.
— Oi, Meg!
Por um momento somente as nossas respirações podiam ser ouvidas e eu percebi que ela estava tão nervosa quanto eu e também não sabia como agir.
— Já fez o pedido? — perguntou.
— Ainda não.
O garçom foi chamado e, após olhar o menu, ela fez o seu pedido.
— Não vai pedir nada?
— Não se preocupe. — respirei fundo. — Eu comi na faculdade.
Passamos o resto do tempo em silêncio até o rapaz trazer o pedido para a mesa, então eu resolvi me pronunciar, mas como se fosse combinado ela fez o mesmo e um choque entre as nossas vozes ocorreu.
— Pode falar. — eu disse.
— Olha, , eu não sei como agir, tá legal? Eu não aguentava mais ficar longe de você, sem poder falar com você. Sim, eu sei que tecnicamente foi eu quem provoquei isso, mas eu precisava te ver. Eu tinha todo um discurso programado na minha mente, o ensaiei várias vezes antes de sair de casa, mas então eu cheguei aqui e te vi e tudo sumiu da minha mente.
Permaneci em silêncio sem saber o que dizer.
— Por favor, fala alguma coisa.
— Eu também estou nervosa, Meg. Muito por sinal. — ri e mostrei as minhas mãos para ela. — Eu não consegui dormir, sabia? Idealizei tanto esse momento que simplesmente não tive sono algum. A Melissa precisou me acalmar hoje porque senão acho que teria dado um treco.
— Ótimo! Pelo menos não sou a única nervosa aqui. — riu. — Senti sua falta, mana.
— Também senti a sua. — sorrindo, estiquei os meus braços por cima da mesa e ela segurou em minhas mãos, enquanto também sorria.
— Tenho uma novidade para te contar e esse é um dos motivos para me estar aqui hoje.
— Conta! — disse empolgada, enxugando o cantos dos olhos.
— Estou grávida.
— Ai meu Deus, eu não acredito! — levei as mãos a boca.
— Sim, e eu sempre disse que quando isso acontecesse você seria a primeira pessoa saber após o Brian. Eu cumpri a promessa.
— Meu Deus, Meg! — Levantei de forma rápida e a abracei fortemente, não só pelo que acabei de descobrir, mas pela enorme saudade que estava dela.
— Está de quantos meses?
— Dois meses só. Descobri há pouco tempo. O Brian pulou de alegria quando eu contei. Você precisava ver, ele até chorou.
— Eu imagino, lembro que esse sempre foi o sonho dele. — sorri. — E o papai e a mamãe, quando vai contar para eles? E o Mason? Meu Deus! Ele vai pirar quando ficar sabendo.
— Estou preparando um jantar na minha casa justamente para isso. Agora que você já sabe, estou liberada para contar aos outros — sorriu. — Você deveria ir para o jantar.
— Ahm… Eu acho melhor não, mana. Vai ficar um clima bem pesado e eu não quero estragar a sua noite, além do mais, eu não iria lá sem o .
, tem certeza de que ele é bom pra você?
— Tava demorando... — bufei.
— Calma, não está mais aqui quem pergunto.u — levou as mãos na altura dos ombros.
Respirei fundo, tentando ignorar o que ela falara anteriormente.
— Eu estava pensando em fazer compras depois daqui. Quer ir comigo?
— Sim! Já terminei aqui, podemos ir.
— Só preciso ligar para a Jennifer e pedir para ela me cobrir no trabalho de novo.
Liguei para a outra funcionária e mesmo relutante ela concordou em fazer isso por mim, uma vez que, garanti a ela que no outro dia sem falta eu ficaria no lugar dela. Pedimos a conta e saímos do restaurante que havia sido testemunha de uma reconciliação tão linda. Mas mais lindo ainda foi saber que a Megan estava de carro e eu terei alguém para me levar em casa com as sacolas.
Acabamos de chegar e, para a minha felicidade, o estabelecimento não está cheio como sempre, pelo contrário há pouquíssimas pessoas no local. Começamos a rodar por todas as prateleiras e fui pegando somente aquilo que era realmente necessário como produtos de limpezas, de higiene pessoal e algumas comidas prontas.
— Quando falou que ia fazer compras, eu achei que ia encher esse carrinho. Isso aqui não é fazer compras, . — apontava para o carrinho. — Quase não tem nada aqui.
Ri.
— Eu não tenho o seu dinheiro, Meg.
— Está passando fome?
— Ai meu Deus, Megan! Claro que não! As pessoas precisam mesmo parar de pensar isso. Eu só não compartilho do mesmo luxo que você, ainda mais agora que vou ficar sem trabalhar.
— Vai sair do emprego? — ela perguntou, enquanto entrávamos em mais um corredor com prateleiras cheias.
— Já pedi demissão, mas só saio na sexta. Semana que vem o estágio vai começar e não iria conseguir conciliar tudo. Vai ser melhor pra mim.
— Entendi. Mas se precisar de alguma coisa, saiba que pode falar comigo.
— Eu estou bem, Meg. Relaxa! — lancei o meu melhor sorriso para ela. — Prontinho, vamos para casa. — disse depois de pegar o último item da lista.




— Seja bem-vinda ao meu humilde apartamento, senhora Finnings! — abri os braços para ela — Posso te confessar uma coisa? Prefiro mil vezes o sobrenome da nossa família do que esse seu aí. Drummond é tão mais fino.
— Eu também prefiro. — gargalhou.
— Sinto muito pela sua perda. — ri. — Bom, senta aí, pode ficar à vontade. Só vou pôr essas coisas na cozinha e volto.
Larguei tudo em cima da mesa da cozinha e voltei para onde ela estava a tempo de ver ela observando uma foto minha e do que ficava sobre a lareira.
— Tiramos essa foto na primeira vez que fomos juntos à London Eye. — Megan tomou um pequeno susto e olhou para mim.
— Hum! Como vocês estão?
— Estamos bem! Ele é incrí... — o som da campainha tocando me interrompeu. — Um minuto.
Corri até a porta para atendê-la e me deparei com um de bermudas e camisa polo a minha frente. Imediatamente os seus lábios tocaram os meus, depositando ali um selinho.
— Trouxe várias besteiras pra gente comer. — levantou um saco cheio de chocolates, pipocas e deu para enxergar que entre eles havia também um pote de sorvete.
— A Megan está aqui. — dei espaço para que ele a enxergasse.
— Ah! Oi, Megan! — entrou na casa e acenou para ela.
— Oi, ! — respondeu, sem demonstrar muita emoção por vê-lo.
virou-se para mim.
— Eu volto outra hora. Vou deixá-las sozinhas. Você está bem?
— Estou sim, amor. Depois eu ligo para você, ok?
— Uhum. — me deu um beijo na testa e me entregou o saco com as merendas. — Tchau, Megan!
O acompanhei até a porta e me despedi dele, voltando logo para a sala novamente, mas a Meg não estava mais lá.
— Megan?
— Na cozinha. — gritou.
Fui até lá, a encontrando sentada à mesa.
— E o ?
— Ele já foi. Depois ligo para ele. — deixei o que segurava junto com o resto das compras.
Ela murmurou algo.
— Ele é ótimo para mim. Me faz tão bem, Meg. Sei que você e meus pais tem resistência com ele, mas ele é bom para mim.
... — Ela me interrompeu.
— Fala — peguei um copo para beber água.
— Eu vi o com outra mulher — ponderou. — Ele está te traindo. — olhou-me com pena.
Por um momento foi como se tudo ao meus redor tivesse perdido a cor; meus olhos ficaram turvos, minhas mãos começaram a tremer e, de repente, o copo que era de vidro, tornou-se cacos pelo chão.


Capítulo 6

Uma semana havia se passado desde que ouviu aquelas duras palavras saírem da boca da sua irmã; sete dias desde que algo dentro dela havia mudado, no entanto, se foi pra melhor ou pra pior, ninguém sabe; quer dizer, está mais atenta e desconfiada deveria ser algo bom, certo?! Mas, por que a vida parecia ter perdido um pouco mais da sua graça e beleza?
A verdade é que ela decidira ignorar o que sua irmã havia dito. Depois que Megan terminou de falar e que o copo se estraçalhou no chão, caminhou muda durante todo o caminho da cozinha até a sala, colocou a sua irmã para fora e se limitou a ir para o quarto tentar dormir, embora a sua mente estivesse congestionada com os inúmeros pensamentos que a enchia. Ela poderia ter se desesperado, chorado horrores ou ligado para o e terminado tudo, mas o coração dela preferia acreditar que a sua irmã estava enganada ou, até mesmo, que aquela conversava não passara de um pesadelo terrível do qual ela logo despertaria. Mas os dias se passaram e o “pesadelo” continuou. , percebendo que ela havia mudado, tentava ao máximo descobrir o que ele tinha feito de errado, mas tudo o que conseguia arrancar da garota era uma mudança drástica do assunto.
— Eu estou começando a ficar preocupada com você, . — Melissa disse, depois de um tempo em silêncio. — O que tá acontecendo?
— Nada, Mel! — respirou profundamente. — São só as preocupações e o cansaço diário. — respondeu, enquanto dirigia.
— Não mente pra mim, . Você sabe que a pior coisa que podem fazer pra mim é mentir.
— Não é mentira, Mel. O carro, por exemplo, depois de tanto stress só agora ficou bom e, ainda sim, tive que lidar com o idiota do mecânico que queria dar um de esperto pra cima de mim. Você acredita que ele queria me cobrar 300 dólares a mais? Aquele infeliz achou que eu era otária.
— Tem certeza de que é só isso? Porque até o meu pai tem te achado estranha ultimamente. — falou, desconfiada.
— É só cansaço, Mel. Logo, logo eu volto ao normal. — deu um sorriso fechado.
— E o que você fez?
— Ahn?
— Com o homem do carro, lerda.
— Ah! Eu disse a ele que eu sabia quanto aquele serviço custava de fato e que se ele continuasse a tentar me enganar, eu iria processá-lo. — deu de ombros.
Melissa riu ao tentar imaginar a cena.
— E se eu já estivesse realmente exercendo o cargo de advogada, seria pior.
— Desse jeito você ficará rica só de tanto processar gente.
— Esse é o objetivo, gata… Não, pera. Que nenhum juiz me ouça falar isso. — riu com o próprio comentário.
— Vá por mim, é o que muitos deles pensam também.




— Pronto, está entregue, madame — disse, parando o carro em frente ao local de estágio da amiga.
Elas se entreolharam por uns segundos e se abraçaram, mas não era qualquer abraço, era daquele tipo acolhedor, que quer cuidar.
— Fica bem, amiga! Seja o que for que está acontecendo, quando quiser falar, estarei aqui.
— Mas eu... — gaguejou. — Eu já disse que é só cansaço.
— À essa altura você já deveria saber que eu sei quando está me escondendo algo. — olhou profundamente nos olhos da amiga e sorriu com o canto da boca.
Ao terminar de falar, Melissa desceu do carro, deixando olhando para o nada com uma cara de nada pior ainda, mas satisfeita com a melhor amiga que escolhera para si. Ela voltou a dirigir, mas agora em direção ao seu próprio estágio que, por sinal, estava tomando muito do seu tempo; de fato, tinha feito bem em deixar o emprego.
Às vezes ela gostaria de saber se todos à sua volta estavam percebendo a sua mudança repentina assim como a Melissa e o , apesar de que no fundo ela não estava realmente se importando com que poderiam estar achando, ela só precisava de um tempo para si própria, só que até isso estava sendo uma missão impossível; faculdade, trabalho e cansaço mental formam um pacote perfeito de desânimo e estresse.
Hoje, a noite tem todo o potencial para ser maravilhosa, afinal, , e Melissa vão jantar juntos; o fato era que os três precisavam de um tempo para relaxar e se divertir e, mesmo sendo “família”, eram acima de tudo amigos, no entanto, a cara da não estava demonstrando muita empolgação para esse encontro; ela passara o dia todo com a mente nas nuvens, em seus próprios conflitos internos que faziam todo o seu estômago embrulhar ao nível em que o medo de vomitar ali mesmo, em meio a tantos profissionais sérios, a possuiu, mas o dia passou, isso não aconteceu e, ao que tudo indica, somente o corpo dela estava naquele banco do carona do carro do seu namorado, pois aqueles dois conhecidos por ser a sua nova família, que por tanto tempo a fizeram rir, agora não podiam nem ser ouvidos por ela.
Diante de todo o silêncio apresentado pela garota ao seu lado, vez ou outra a olhava com o objetivo de decifrar o que estava acontecendo para haver aquela esquisitice toda, mas não conseguia entender o porquê de tudo aquilo. Olhou para a filha pelo retrovisor do carro, recebendo um levantar de ombros da mesma em um sinal de quem também não estava entendendo nada.
— Estamos chegando. — ele resolveu se pronunciar para tentar atrair a atenção dela.
— Yay! — comemorou Melissa.
Era perceptível que eles estavam tentando animar e ela sabia disso, mas dentro de si não achava forças para agir de forma diferente de como estava agindo, ela não tinha vontade de sorrir ou brincar porque toda as vezes que ela olhava para ele, só conseguia pensar se realmente ele seria capaz de machucá-la a tal ponto, mas, mesmo contra toda a sua vontade, ela sorriu para os dois, embora não tenha sido tão convincente quanto era pra ser.
Os três desceram do carro e foram em direção ao restaurante escolhido da noite. e caminhavam de mãos dadas, acompanhados por Melissa que, mesmo estando “sobrando” ali, parecia totalmente disposta a se divertir. podia sentir a mão de acariciando a sua e naquele momento lembrou de tudo que eles já haviam passado juntos e resolveu dar uma chance para eles, dar uma chance de ser feliz para si própria; ali, sentindo o polegar dele acariciando a sua mão, ela percebeu que precisava melhorar a sua postura pelo menos naquele dia, já que ela mesma estava fazendo com que aquele momento fosse o mais chato e constrangedor de todos.
— O chato do meu chefe teve a péssima ideia de gritar comigo hoje na frente de todos. Ele estava se achando meu pai. — reclamou Melissa.
— Ele realmente não sou eu. — levantou as mãos acima dos ombros. — Eu com certeza sou muito mais bonito, não é verdade, amor? — virou-se para que estava ao seu lado na mesa.
A bela garota pensou em simplesmente lançar um sorriso fraco para o rapaz, mas lembrou-se do que havia decidido há pouco; respirou fundo, segurou o rosto do amado entre as mãos, lhe deu um selinho e sorriu.
— Sim! Com toda a certeza o mais bonito de todos.
Algumas vezes fingir que nada está acontecendo é melhor do que encarar o problema.
, a sua opinião não vale. Você é suspeita em falar. — rebateu Melissa.
— E você também deveria ser.
— Claro que eu acho o meu pai lindo. Ele é meu pai, ué, não tenho muita escolha.
— Ei! — gritou, ofendido.
As duas garotas riram.
— Mas o seu chefe é um gato, amiga! Se eu não estivesse namorando, eu pegava.
— Ei! — gritou novamente. — Eu ainda estou na mesa sabia?! — fingia-se de ofendido. — A pessoa passa o tempo todo calada, pra quando finalmente falar, falar bosta — balançava a cabeça em negação.
Um riso fraco, quase imperceptível, escapou dos lábios de , mas foi como se ninguém tivesse notado isso, pois continuavam rindo da situação.
— Mas, sim, como eu estava dizendo…
Melissa continuou a contar como foi o seu dia e a risada, como de costume, fora o prato principal da mesa. Não houve mais nenhum comentário sobre o estado em que se encontrava ou o porquê disso, no entanto, ela continuou estranha, mas conseguiu disfarçar bem, tendo a sua estranheza somente para si pelo tempo em que o jantar ocorreu. Quem olhasse de fora jamais poderia imaginar o que aqueles três estavam vivendo, as alegrias, as dores, as confusões…
Eles aparentavam ser o trio perfeito, sem nada a acrescentar nem a diminuir, somente três pessoas comendo em um restaurante. Mas quem os conhece, ah! Esses sim sabem o que eles enfrentam e mais do que isso, sabem que não tem como se manter longe de toda essa confusão por muito tempo; a vida do casal, principalmente, é como um imã que puxa todos que estão em volta e os fazem mergulhar na dor e felicidade que é viver o amor.
A estrada na volta para casa estava escura e vazia, os sons dos carros indo e vindo com os seus faróis acesos era o que a preenchia; dentro do Civic preto, o som de uma música country preenchia o ambiente trazendo um pouco de paz aos corações agitados e aos corpos gelados, o que era justamente o que precisava por um tempo, paz.
Vez ou outra os olhos dela se cruzavam com os olhos pretos de , produzindo em seu corpo fortes arrepios que a fizeram cruzar as pernas no banco e respirar fundo; as suas mãos se fecharam em cima das suas pernas e ela inspirou profundamente, como se tentasse possuir todo o ar que existia naquele pequeno local e, então, ela sentiu uma mão macia tocar em seu ombro nu e, sorrindo, soltou o ar que estava preso, tocou a mão da amiga com a sua própria mão e acariciou-a, sentindo uma gigantesca paz invadi-la. Interrompendo-a do seu momento de descanso, o carro parou e a mão do tocou a sua coxa.
— Chegamos, amor!
Ela abriu os olhos e o olhou, e o seu olhar alcançou o espírito dele; naquele momento foi como se um encontro de almas acontecesse ali mesmo, dentro daquele carro, como nunca antes havia acontecido, e ela soube, mais do que nunca, que não poderia viver sem ele.
destravou o cinto de segurança que o prendia e saltou do carro, atravessando-o e se pôs em frente a porta do carona para abri-la, permitindo, assim, que saísse do veículo.
Com ela encostada na lateral do carro e a sua frente, as mãos se cruzaram, as testas se encostaram e os suspiros se fizeram ouvidos.
— Fica. — ela disse.
Ele balançou a cabeça concordando com o pedido da moça e abriu o carro para dar as chaves para sua filha.
— Toma, Mel. — jogou as chaves para ela. — Você vai ter que voltar dirigindo. Eu vou ficar aqui essa noite.
Melissa o olhou sorrindo. Ela compreendia o pai, compreendia o amor que ele sentia por e que ela sentia por ele, assim, mudou do banco de trás para o da frente, desejou boa noite aos dois e partiu em direção à sua casa; passaria essa noite só, mas não estava se importando, o seu único desejo era que, seja lá o que estivesse fora do lugar, se resolvesse.
e caminharam para dentro do prédio em silêncio, o medo de quebrá-lo e estragar o momento era maior que a vontade de falar qualquer coisa que fosse. O sentimento que os possuía não era de desejo sexual ou sequer egoísta ao ponto de não se importar com que o outro estava sentindo, pelo contrário, o mais puro amor os dominava, o desejo de saber, de conhecer, de cuidar um do outro habitava no coração dos dois e, guiados por tal sentimento, foi que eles adentraram o apartamento, deitaram abraçados no sofá e se amaram, não no teor carnal da palavra, mas no real significado do verbo amar.
—Você lembra como nos conhecemos? — ela disse, depois de um longo tempo de um gostoso silêncio.
— Claro que sim. Jamais poderia esquecer. — apertou-a mais contra o seu corpo, depositando no topo da sua cabeça um beijo. — Eu cheguei em casa depois de um dia cheio no trabalho e me deparei com você e a Mel dançando no quarto. — riu fraco.
— Eu fiquei tão envergonhada naquele dia que eu não sabia onde enfiar a minha cara, mas com certeza se tivesse um vaso sanitário ali, eu enfiaria a minha cabeça e daria descarga. — escondeu o rosto com as mãos.
— Ah, não, foi fofo! — ele distribuía carinhos sobre os braços dela. — E desde aquele momento eu me dei conta que você seria muito importante na minha vida e que provavelmente me meteria em confusão.
— Eu acho que nós dois somos culpados disso. — olhou para ele, sorrindo.
— Você lembra quando a gente tinha que se encontrar escondido da Mel? Era muito perigo pro meu coração de velho.

Flashback On

— Corre, ! Corre!
a segurava pela mão, puxando-a para andarem mais rápido, uma vez que haviam conseguido sair de perto de Melissa sem que ela percebesse. A festa no pub ocorria sem parar ao fundo e, no momento da fuga, a sua filha estava mais concentrada em ser paquerada por um cara do que preocupada com que o seu pai e a sua amiga estavam fazendo.
— Estou tentando, . — ela dizia sem conseguir parar de rir.
Eles continuaram correndo e rindo até se depararem com uma rua deserta, iluminada e que tinha um único banco amarelo bem no centro. Andaram até lá e se sentaram ainda rindo da situação em que se encontravam, mas logo o riso foi tomado pela urgência que os seus corpos sentiam de encostarem um no outro e a necessidade que os seus lábios tinham de se tocar. Ela o beijou e todos esses sentimentos vieram à tona, eclodindo juntos em perfeita harmonia, enquanto as suas mãos passeavam por todo o cabelo dele; se fosse possível para um ser humano contar quantos fios de cabelo existem em uma cabeça, saberia dizer com toda a certeza quantos haviam ali.
— Será que ela não vai sentir a nossa falta? — perguntou ao se afastarem.
— Duvido muito. Nesse exato momento ela deve estar em algum banheiro se atracando com aquele cara.
Apesar da graça com que ela falou, a cara de nojo que apareceu no rosto de foi inevitável.
— Por favor, me poupe dos detalhes. — falou, a fazendo rir assim como sempre fazia.
— A lua está linda. — ela disse, apontando para cima.
— Imagina se eu e você morássemos lá, os únicos humanos ocupando aquele espaço.
— Iríamos ter que povoar a lua bem no estilo Adão e Eva.
O riso fraco os tomou.
— Eu te levaria para conhecer todos os lugares existentes ali.
— Que, na verdade, são todos iguais. — olhou-o com graça.
— Relaxa! Iríamos levar a urbanização.
Eles se olharam sorrindo ao perceber o que estavam fazendo. Não era simplesmente uma conversa boba feita por dois adultos bobos, mas ela revelava muito do desejo do coração dos dois, pois demonstrava a vontade de viver um futuro juntos.
Com rapidez, se levantou do banco e estendeu a sua mão para a garota a sua frente.
— Senhorita , dança comigo?
riu, surpresa.
, não tem música aqui.
— Quem te disse isso? Você só precisa fechar os olhos e ficar bem quietinha para ouvir. Eu estou ouvindo. — sorriu.
Ela estendeu a sua mão para ele e levantou, tendo em seus lábios um sorriso encantador. Obedecendo a orientação dada, fechou os olhos e encostou a cabeça no ombro dele, inspirando o seu perfume. Eles iniciaram uma dança lenta que passava por toda a praça, transformando-a em um verdadeiro salão de dança onde só eles estavam presente. rodopiava e era levantada no colo como naqueles filmes de princesa e então, um som pôde ser ouvido, a voz de soou calma em seus ouvidos onde cada melodia era muito mais do que ouvida, era sentida. As letras de “My Heart Will Go On” continuaram a serem ouvidas por um bom tempo e uma incrível sensação de calmaria e de felicidade dominava os corpos dos dois, fazendo-os se sentir em um universo paralelo de amor. Se alguém estivesse ali para vê-los, com certeza se emocionaria porque uma grande paixão emanava dos seus corpos ao ponto de contagiar e emocionar qualquer um que estivesse por perto.

Flashback Off


— Eu odiava ver aquelas mulheres pulando em cima de você como cachorras no cio. Tudo ridícula. — bufou.
não conseguiu se segurar e riu com o comentário.
— Não ria, seu idiota! — um tapa acertou em cheio.
— Ai! — gritou ao sentir a dor. — Você sabe que eu só tinha olhos para você, amor.
— Acho bom que ainda tenha. — murmurou.
— Mas, confesso que a cara que você fazia era ótima.
— Cala boca, !
Rindo, ele a beijou.
— Esses dias a Mel estava lembrando de quando contamos a ela sobre nós.
— Naquele dia, eu achei mesmo que ela ia me bater. — ponderou. — Tive medo de perder minha amiga.
— Você nunca ia perdê-la, . Eu imaginava que ela ficaria chateada conosco, mas nunca sequer cogitei a ideia de que ela te abandonaria. Você não faz ideia de como você faz bem pra ela.

Flashback On

Depois de mais um encontro secreto com o cara que estava roubando o seu coração, estava sentada na cama de Melissa contando todos os detalhes sobre a noite passada, assim como a mesma tinha a ordenado a fazer.
Para muitos talvez seria estranho estar na casa do cara com quem se está saindo, contando para a filha dele sobre o encontro que tivera, ainda por cima estando sob o mesmo teto que ele, mas evitava pensar sobre isso e se concentrava em contar tudo o que tinha ocorrido.
— Ele foi um perfeito cavalheiro durante toda a noite. Me levou para jantar e depois fomos passear no parque.
— Do jeito que você fala sobre esse cara, ele parece ser um bobo romântico.
— E é. — riu. — Mas eu gosto disso. É bom ter alguém que quer cuidar da gente.
— Quando eu vou conhecê-lo?
— Não sei, Mel. É melhor esperar mais um tempo. Se a coisa ficar mais séria, aí a gente pensa nessa possibilidade de vocês se conhecerem.
Melissa fez um estalo com a boca em descontentamento, mas logo os seus olhos repousaram sobre a garota a sua frente em completa atenção e curiosidade.
— Isso por acaso é um chupão no seu pescoço?
— Quê? Ahn? — passava a mão no lugar.
Melissa se levantou em direção a ela e tocou no local que estava roxo.
— Safadinho ele, hein?
— Melissa!
— Só foi um comentário.
— Até parece que nunca teve um marca dessa.
— Me conta: como foi?
— Não vou falar disso com você. Me recuso. Muita informação.



O dia estava terrivelmente chuvoso naquele domingo à noite. estava mais uma vez na casa da amiga, porém dessa vez para dormir. Ela chegou a conclusão de que esses dias em especial, os seus pais estavam de bom humor. Como todos ali já eram íntimos, ela não estava se importando em desfilar de um lado para o outro de moletom e pantufas. A televisão estava ligada e era usada por Melissa e que assistiam um documentário sobre leões. No entanto, apesar do programa está interessante, ela não conseguia ficar parada no sofá assistindo junto com eles, pois o nervosismo a consumia por inteira. Ela e haviam combinado de contar naquela noite para Melissa o que estava acontecendo entre eles, mas até então ele não tinha se manifestado para falar sobre o assunto. As mãos dela suavam e ela não suportava mais esperar. Queria saber a opinião da amiga, apesar de que parte dela estava com muito medo de receber vários gritos e xingamentos. Por isso, para evitar que sua boca acabasse falando o que não devia, ela havia se levantado há cinco minutos e andava sem parar; ia da cozinha à sala, da sala para o quarto e depois voltava, como uma galinha quando está para pôr.
— Minha querida, você pode por favor parar de marchar pelo chão desta casa? Daqui a pouco a gente vai parar no porão por conta do buraco que você vai abrir aqui.
— Ai, desculpa! É que eu estou agoniada.
— Agoniada com o que?
— Estou com fome, Mel. Muita fome.
Virando as costas para a amiga foi até a cozinha e se serviu de um copo com leite, enquanto respirava fundo e ao mesmo tempo contava até dez.
— Você precisa se acalmar.
Deu um pulo ao ouvir um sussurro.
— E você precisa contar logo pra ela, — sussurrou de volta.
— Eu vou contar, mas tem que ser no momento certo. Não dá pra contar do nada. “Ah, já que o programa entrou no intervalo, deixa eu aproveitar então e te contar que estou namorando a sua amiga, filha.”
revirou os olhos.
— Dá um jeito!
— Relaxa!
— Eu estou com medo, . Com muito medo. Muito, muito, muito medo.
Eles se entreolharam, tentando encorajar um ao outro a enfrentar o momento difícil que viria logo mais.
— Vai ficar tudo bem, amor.



Estavam todos os três sentados no chão da sala conversando e rindo. já estava mais calma agora, afinal, talvez toda aquela agonia estivesse sendo precipitada e aquela conversa nem acontecesse hoje.
— Quando vou conhecer esse seu namorado misterioso, ?
O susto foi tão grande que ela se entalou com a própria saliva e começou a tossir.
— Namorado misterioso?
— Pois é, pai. está saindo com uma pessoa há meses e até agora eu não sei quem é.
A cara de terror estava estampada na face de e a respiração dela estava tão rápida e funda que era a única coisa que era ouvida naquela sala.
— Mel, eu preciso te contar algo. — disse, encarando a filha. — Na verdade, a gente precisa te contar algo — lançou um olhar de relance para .
Os olhos de Melissa alternavam entre o pai e a amiga.
— Sou eu o namorado misterioso da . Eu e a sua amiga estamos namorando.
Os olhos da garota se arregalaram e ela abriu e fechou a boca várias vezes, mas nenhum som pôde ser ouvido além da forte respiração de .
Sem dizer qualquer coisa, Melissa se levantou, ficou parada em pé no meio da sala por um tempo, e depois caminhou até a sua bolsa a pegando com rapidez e soltou um “preciso pensar” antes de sair de vez pela porta.
O silêncio foi o que sobrou naquele apartamento, enquanto os dois novos namorados se entreolhavam sem saber o que iriam fazer de agora em diante.



Depois que a amiga saiu, percebeu que ela havia levado a chave, mas não estava muito preocupada porque, para todos os efeitos, ela não estava sozinha e uma outra chave havia ficado na casa. Sim, estava lá com ela, mas acharam por bem dormirem em quartos separados para evitar o risco de Melissa chegar no meio da noite e se deparar com os dois dormindo juntos. Ia ser trauma demais para um dia só.
Na cama, ela se virava de um lado para o outro, mas o sono havia resolvido abandoná-la essa noite.
Perdida em milhares de pensamentos que a acusavam de ser uma péssima amiga, a lâmpada do quarto se acendeu e ela virou rapidamente em direção a porta.
— Pensei que já estava dormindo.
— Estou sem sono.
Melissa sentou-se ao lado dela na cama.
— Achei que só ia chegar amanhã de manhã. Estava preocupada com você. Fiquei com medo de que acontecesse alguma coisa ruim.
— Estou decepcionada com você, . Sabe, esse é o tipo de coisa que eu achei que você não me esconderia. Mas aí hoje eu descubro que a minha melhor amiga e o meu pai estavam se pegando esse tempo todo debaixo do meu próprio nariz.
— Amiga…
— Há quanto tempo estão juntos?
— Desde dezembro.
— Quatro meses, ? Sério? Esse tempo todo e só agora pensou em me contar?
— A gente já queria contar, Mel, mas não sabíamos como. — a essa altura já estava sentada na cama. — Pelo já tínhamos contado desde o segundo encontro, só que eu fiquei com medo, amiga. Não quero te perder. — segurou a mão dela. — Mas também não quero perder o , Mel. Pra mim ele não é só o seu pai, mas ele é o cara por quem me apaixonei de verdade. Parece loucura, eu sei, só que ele viu algo em mim que eu mesma não via há anos. Ele me enxergou, amiga, e, por mais doido que seja, ele me achou linda.
O silêncio foi a resposta de Melissa por um tempo. Enquanto a outra ansiava por uma resposta, Melissa estava em pé, de olhos fechados, como em uma tentativa de organizar os seus pensamentos.
— Depois que eu saí daqui, eu fiquei andando de carro pela cidade e pensei muito a respeito de tudo isso. Nesses últimos meses eu te ouvi falar desse cara, que agora eu sei quem de fato é, e vi os seus olhos brilharem. Nunca ouvi você falar assim de ninguém. Não sei se foi proposital, mas demonstrou muito do que sente por ele.
— Não foi. — sorriu.
— E quer saber?! Até que faz sentido agora. Meu pai é um cara apaixonante. — riu fraco. — Eu amo vocês, ! Ainda preciso me acostumar com a ideia de ver vocês dois juntos como um casal, se pegando por aí, mas eu não poderia separar vocês. Jamais.
Ao ouvir as palavras que sua amiga acabara de pronunciar, se lançou nos braços da amiga em um abraço apertado, no qual ela permaneceu por um longo tempo.

Flashback Off


— É tão bom saber que tudo acabou bem entre vocês.
— Sim. Se ela não nos apoiasse não sei o que faria.
— Xí. — como se segurasse uma criança amedrontada, embalava nos braços. — Não pensa nisso.
— Vem! — se levantou. — Estou com sono. Vamos dormir!



Os dois estavam deitados na cama, onde , na verdade, já tinha apagado, no entanto ainda não tinha conseguido pegar no sono.
Quando finalmente estava no início de um sonho qualquer, ouviu o toque do celular que estava em cima do criado-mudo ao lado da cama. Ao olhá-lo, viu que era uma mensagem da sua irmã. Com os olhos lutando para se fecharem, ela leu tremendo aquela mensagem:
“Se eu fosse você tomava mais cuidado com quem tem passado as noites contigo. Tem gente que não consegue enxergar o que está bem na frente dos olhos. Mas, como dizem, o pior cego é aquele que não quer ver. Abra os olhos, !”


Capítulo 7

Às vezes eu sinto que a terra está prestes a abrir a sua enorme boca e me engolir, e as vezes, só algumas vezes, eu queria que isso realmente acontecesse. Eu sempre acreditei que todos deveriam correr atrás dos seus objetivos, afinal, não há conquista sem luta, mas nunca imaginei que uma simples decisão poderia transformar tanto a minha vida. Arruinada é como estou me sentindo. Acabada, em pedaços e sozinha.
O engraçado é que nada lá fora mudou, enquanto tudo aqui bem dentro de mim virou pelo o avesso.
— … E essa é uma das maneiras pelas quais nós podemos reverter esse caso. Alguma dúvida?
Silêncio.
— Eu acho que a tem todas. Certo, ?
A voz do professor de Direito Tributário II me despertou, me fazendo lembrar onde estava.
— Ahn? Desculpa, o que disse?
— Alguma dúvida?
— Não. Nenhuma.
Risinhos irritantes e inibidores soaram na sala.
Será que seria muito errado voltar para o meu próprio mundo agora?



— Queria saber aonde minha amiga nerd se escondeu. — Melissa disse, me cutucando com o braço.
Olhei para ela.
— Você precisa voltar à ativa, garota.
Voltei a olhar para a grama verde onde eu estava sentada.
O nosso campus é bem bonito. É enorme e tem a sua maior parte coberta por gramas com grandes árvores, onde eu posso me esconder quando preciso.
— Por favor, me conta o que tá havendo, . Eu estou super preocupada e não sei como te ajudar. — suplicou.
Existem palavras que são como espadas em nossos corações. Elas entram perfurando a nossa mais profunda escuridão sem que tenhamos como impedi-las.
Senti as lágrimas começarem a escorrer pelo meu rosto e antes que eu pudesse impedir, eu já estava em prantos. Soluçando como um bebê. Deitei a minha cabeça sobre o colo de Melissa, enquanto as suas mãos passeavam pelos meus cabelos, buscando me acalmar. Passamos um bom tempo assim, bem quietinhas, sem pronunciar uma palavra sequer, até que as lágrimas finalmente foram diminuindo gradativamente e restaram somente baixos soluços.
— Agora que já está mais calma, me diz o que tá havendo, amiga.
— Nem eu sei o que está acontecendo de fato. Eu tô perdida, sabe? Não sei o que fazer, eu — hesitei. — eu só quero dormir e poder fugir da realidade.
— Tem haver com o meu pai, não tem?
Suspirei.
— Eu sabia.
— É melhor não conversarmos sobre isso, Mel. Você não tem que ficar entre nós dois.
— Eu quero te ajudar, . Não aguento mais te ver mal desse jeito. Você tá comendo? Dormindo? Porque a sua cara está dizendo ao contrário.
— Eu não estou comendo muito bem, mas de qualquer forma eu não comia direito antes mesmo. — sentei ao seu lado ao terminar de falar. — E eu não consigo dormir direito com tanta coisa na minha mente.
— Vocês brigaram?
— Não, a gente não brigou porque eu não estou com cabeça para brigas. — arfei. — Para ser sincera, eu não estou com cabeça pra nada ultimamente.
— O que ele fez?
— Por que acha que ele fez alguma coisa?
— Eu não sei, . Eu não estou entendendo nada. Não sei mais o que pensar, só quero conseguir compreender o que tá rolando porque você não é mais você e o meu pai, bom, ele também não tá bem. Ele está preocupado com você. Fica me perguntando toda hora se eu já falei com você, como você está e tudo mais. — ela se calou por um instante. — Não é só você quem está sofrendo com isso, amiga.
Enquanto os soluços voltavam junto com uma corrente de lágrimas incessantes, Melissa me tomou em seus braços, em um abraço reconfortante.
— Vai ficar tudo bem, amiga.
— Eu não sei o que fazer, Mel. Eu estou perdida, de verdade. — um soluço escapou mais uma vez da minha garganta. — Eu amo o ! Amo tanto que chega a doer, mas eu só não sei mais de nada.
— Você precisa conversar com ele, . Precisam se resolver, por favor, eu não quero ficar numa encruzilhada. Eu amo muito vocês dois pra aceitar viver numa situação dessa.
Ela me olhava com aqueles grandes olhos pretos iguais aos do pai, levando as suas mãos ao meu rosto para enxugar as lágrimas que ainda escorriam.
— Desculpe por te fazer passar por isso.
— Não, não precisa se desculpar. Sei que está sofrendo. Poucas foram as vezes em que te vi nesse estado e olha que morar com os seus pais já era tortura o suficiente para tal. — brincou, em uma tentativa falha de me fazer sorrir. — Sei que não está bem e nós vamos passar por isso juntas — respirou fundo. — Eu só não posso escolher um lado, então, por favor, colabora comigo, dê um jeito de se resolverem.
Sorri.
— Eu prometo que vou tentar melhorar. E também vou voltar a ser nerd. — um riso fraco escapou.
— Aaah, deixa eu te contar! Aquele menino gato do 6° semestre me chamou pra sair.
— Não acredito! Sério?
Melissa gargalhou.
— Sim.
— E você aceitou né?
— Claro! Sabe a quanto tempo torço pra isso acontecer?!
— Que dia vão sair?
— Hoje a noite. Vamos jantar… Comer umas coisas legais... Dar um beijinhos...
— Você é a melhor pessoa dessa vida — disse, sorrindo. — Divirta-se, amiga! Depois quero saber de tudo.
, você já deveria saber que eu não sou daquelas que ganha um chupão e fica quieta.
— Af! — cobri o meu rosto com as mãos.
Melissa riu.
— Você vai ficar bem? Quer que eu passe a noite contigo? Se quiser eu cancelo o encontro. Não tem problema.
— Não, de jeito nenhum. Pelo amor, vai se divertir, menina! Eu vou ficar bem.
— E se você não ficar bem, o que a gente faz?
— Acho que é errado eu te pedir pra bater no seu pai.
— Vocês vão ficar bem. — falou depois de soltar um riso fraco, lançando-me logo em seguida um sorriso tênue. — Sabe que estamos perdendo uma aula bastante importante, né? A professora de Direito Processual do Trabalho II está na sala.
— Droga!
Me levantei depressa e a puxei pelo braço, passando correndo pelo corredor sem a soltar.
— Calma, ! Pode parar de correr. É só uma aula.
— Você não disse que queria a sua amiga nerd de volta?! Pois bem, aqui está ela. — lancei-lhe um sorriso forçado. — Agora, corre!
Devo dizer que a manhã passou em uma incrível, mas não surpreendente, lentidão. Não suportava mais ver a cara daqueles professores que falavam sem parar e se portavam como se fossem superiores a todos os outros. Metade dos meus anos aqui eu passei com vontade de dar na cara de muitos deles, mas, então, lembrava de que eu sou uma boa menina assim como minha mãe costumava a me dizer: “Você é uma boa menina. A minha menininha.” e, no fim, ela sempre dava aquele sorriso que me acalmava. Ah, mamãe... Sinto sua falta!
Meus pais não eram perversos, um pouco surtados, talvez, mas não eram pessoas más. Nunca fui espancada ou ofendida com xingamentos, no entanto, meu coração era destruído somente com os olhares que eles me lançavam ou com os nãos que eles me davam, porque não eram simplesmente nãos, eram proibições exageradas e sem sentido. Os meus próprios vizinhos sabiam como eles me tratavam e alguns até quiseram me ajudar, no entanto, nada adiantou e eu continuei sendo mantida presa. Era um verdadeiro cativeiro familiar.
Como se meus pensamentos tivessem total domínio sobre mim, meu corpo se auto direcionou até a saída da faculdade e de lá para o meu carro, então quando dei por mim, eu estava em frente a casa amarela onde meus pais viviam. Provavelmente, Mason está trabalhando no momento assim como o meu pai, mas depois de exatamente uma hora com o carro parado na frente da casa, eu pude ver um movimento de alguém andando pela sala e uma luz ser acesa. Com toda certeza era a minha mãe. Respirei fundo várias vezes seguidas, as minhas mãos começaram a tremer e eu percebi que estava suando. Saí do carro antes que eu retomasse o meu juízo e me desse conta da bobagem que estava fazendo, balancei a minha cabeça para espantar todos os pensamentos incômodos e caminhei lentamente em direção àquela porta que nunca me pareceu tão fria e intimidadora. Devo ter ficado ali parada olhando para aquela fechadura uns 10 minutos, pensando no que eu estava fazendo e se eu deveria ir em frente, e depois de pensar e repensar várias e várias vezes eu toquei a campainha. Os dois minutos que passei esperando até que ela viesse abrir a porta foram os mais longos da minha vida.
Mas, então, a porta se abriu tomando toda a minha atenção, e na mesma hora eu senti todo o meu corpo se enrijecer. Os olhos verdes da minha mãe encontraram os meus me fazendo sorrir instintivamente, no entanto, ela não sorriu de volta, pelo contrário, depois de me olhar e suspirar profundamente ela fingiu que eu não estava ali e fechou a porta. Assim, sem mais. Eu simplesmente não era ninguém para ela. Toquei a campainha de novo, mas tudo que recebi em troca foi um completo silêncio. Eu não podia desistir. Não cheguei tão longe pra me satisfazer com uma porta fechada na minha cara. Levei os meus dedos da mão direita novamente a tocarem aquela campainha e comecei a socar a porta com tanta força que eu sei que depois eu vou sentir dor por causa disso, contudo eu não queria parar de bater, eu precisava continuar tentando para ter a certeza de que fiz tudo o que me cabia fazer.
— Você realmente não vai vim aqui fora falar com a sua filha, Susan? — gritei com todo o fôlego que havia em meus pulmões. — Isso é sério? Qual o seu problema?
Minha respiração estava profunda e acelerada, já estava cansada de bater como uma louca naquela porta sem receber resposta alguma sequer. As forças foram se esvaindo do meu corpo e eu já não conseguia controlar o meu choro, as pessoas que estavam por perto me encaravam, um cachorro perto da lixeira não parava de latir em minha direção, mas tudo o que eu vi dali em diante foi o chão e o tremor das minhas mãos. Sentei encostada de costas para a parede e me permitir chorar, gritar e apertar o meu próprio corpo com as mãos em uma tentativa de aliviar toda a minha tristeza, raiva e angústia que estava sentindo.
— Eu preciso de você, mama! Tá tudo terrível, quero o seu colo. — Eu só conseguia chorar e olhar para cima na esperança de que um milagre acontecesse. — Mãe, por favor! Eu só preciso de um minuto, um minuto pra explicar tudo. — supliquei.
Não sei quanto tempo eu fiquei em frente aquela porta, mas a maior parte dos vizinhos já não me olhavam mais e deviam está dentro das suas casas rindo da minha situação. Só havia sobrado uma, a Mary, uma senhora de quem eu gostava muito, mas com quem eu havia perdido o contato depois que saí da casa dos meus pais. Ela me olhava com pena por me ver naquela situação e eu de fato era digna desse sentimento; sentada na calçada de uma casa, com a maquiagem toda borrada e chorando desesperadamente. Meu Deus! Eu estava sendo digna de pena.
Com um pouco da força que me restava, me pus de pé, pronta para voltar para o meu carro e me levar pra casa, no entanto, contra todas as minhas expectativas, a porta foi aberta; minha cabeça imediatamente se voltou para ela, e eu pude ver minha mãe parada ali me olhando. Os olhos dela estavam vermelhos, indicando que ela havia chorado.
— O que você tá fazendo aqui, ?
Estava atônita. Parecia que tudo o que eu tinha para falar com ela, havia simplesmente desaparecido da minha mente. Eu não sabia o que falar.
— Eu posso … Uh … Eu posso entrar?
— Acho melhor não. — Desviou o olhar para o chão.
Ela estava visivelmente desconfortável.
— Mãe, por favor, a gente precisa conversar.
— Não é uma boa hora, . Você precisa ir pra casa. Vá pra casa.
Os olhos dela encheram de lágrimas, enquanto ela olhava profundamente nos meus olhos. Eu não estava muito melhor que ela, pelo contrário, já havia desistido de controlar o choro.
Permanecemos nessa conversa entre olhares por mais um pouco de tempo, até ela dar um passo para trás e fechar a porta. Era isso. Ela não iria voltar.
A raiva começou a dominar todo o meu corpo. Respirei fundo, enquanto secava as lágrimas do meu rosto. Naquele momento tomei uma decisão da qual nunca imaginei que fosse tomar. Não iria mais procurá-los, não iria mais me submeter a uma situação como essa como se eu fosse a pior pessoa do universo, que cometeu um crime terrível. Se eles quiserem algum contato comigo, eles que venham me procurar, porque eu cansei. Tá tudo uma merda? Sim, está. Mas é a minha vida e eu vou conseguir superar essas distorções ridículas que estão me fazendo ter pena de mim mesma.
Peguei a chave do carro que estava espalhada graças ao meu momento de fraqueza e me levantei decidida a ir embora. Há alguns passos distantes da casa, eu voltei para frente da porta e me encostei nela com o objetivo de fazê-la ouvir cada palavra que eu iria pronunciar.
— Sabe, mãe, o maior problema aqui é que por um minuto eu cogitei a ideia de que você estava certa e eu errada. — sorri amargurada. — Mas isso que você acabou de fazer comigo só me prova que a egoísta aqui é você.
Chutei a porta com raiva e voltei a andar para longe dali, sentindo o olhar dela que havia aberto a porta logo que saí, mas além disso o olhar da senhora Mary também me acompanhava.
— Boa tarde, Mary! — ao passar por ela, lancei-lhe um olhar acompanhado de um sorriso verdadeiro, mas cansado.
— Boa tarde, pequena !
Eu não sei se ela estava triste, compreensiva ou com raiva de mim devido a tudo que ela viu, mas eu também não estava me importando, eu só queria ir pra casa.



Uma música maluca no estilo heavy metal ecoava por todo o apartamento. Segurava uma garrafa de uísque em uma das minhas mãos, enquanto eu balançava a outra para todos os lados em harmonia com a minha cabeça.
— Trust I seek and I find in you, every day for us something new, open mind for a different view and nothing else matters. Never cared for what they do, never cared for what they know*— A música foi interrompida por batidas estridentes na porta.
Andei cambaleando até ela e ao abrir dei de cara com o síndico do prédio em que morava, me olhando com cara de poucos amigos.
— Ou você abaixa o volume desse som agora — enfatizou a última palavra. — ou você pode começar a arrumar as suas coisas para ir embora amanhã mesmo.
— Ahn, certo! Me dexculpe, senhor! — tentei sorrir de lado.
— E pelo amor de Deus, , chama alguém pra te ajudar. O seu estado está deprimente.
Ele saiu e me deixou sozinha com a típica cara de bêbada confusa, mas era melhor desligar logo aquela porcaria de som antes que eu ficasse sem um lugar pra morar.
O ambiente ficou em silêncio, mas não por muito tempo. Meu celular começou a tocar e a foto do Mason na tela denunciava quem era.
— Fala, irmãozinho querido do meu coração! — gritei exageradamente ao atender.
— Eu posso saber o porquê que os vizinhos me disseram que você fez um show aqui hoje, e nossa mãe está trancada no quarto desde a hora que cheguei?
— Otários! — revirei os olhos. — Por acaso também te disseram que ela fechou a porta na minha cara e me ignorou todo o tempo que estive aí? Te disseram que eu em prantos insisti que ela me atendesse e conversasse comigo? — elevei o tom. — E que enquanto eu implorava pelo perdão dela, todos eles me assistiam sem fazer absolutamente nada? — gritei.
— Não. — suspirou.
— Então, por favor, não venha agora com sua hipocrisia me dizer que a errada da história sou eu.
— Sinto muito, .
— Eu cansei de sentir muito. Agora, se me der licença, eu estou esperando alguém e preciso terminar de me arrumar.
— Tudo bem, mas nada de beber mais, ok? Chega por hoje.
— Boa noite, Mason!
Desliguei o aparelho sem antes mesmo ouvir uma resposta, e me joguei no sofá, tomando um longo gole do uísque que estava em minhas mãos.
Passei o meu dedo por toda a lista de contatos do meu celular, pensando se eu deveria ou não fazer aquilo. Mas que diferença ia fazer? Eu já estava na merda mesmo.
? Tá tudo bem?
— Oi, abiga! — sem conseguir me conter, funguei, caindo em prantos logo em seguida.
— Tá bêbada. — resmungou. — O que houve?
— Mel, você pode vir aqui?
— Claro, claro. Já estou indo!
A linha ficou muda.



— Vai me contar o que está acontecendo ou eu tenho que continuar fingindo que você está bem?
Ela havia chegado a pouco tempo, mas por sorte eu já estava tomada banho, um pouco melhor, no entanto, com a cabeça latejando de dor e com o corpo mole.
— Eu bebi demais. — olhei em seus olhos.
— Não, isso eu tô vendo! O que eu quero saber é por que você bebeu demais.
— Sabe, eu queria que esse corredor continuasse sendo só um corredor e não um lugar para interrogatórios.
— Você só pode está de brincadeira com a minha cara. — riu incrédula. — , eu estava jantando com um cara maravilhoso, que eu esperei por muito tempo que me convidasse para sair, mas, quando isso finalmente aconteceu, eu tive que sair no meio do encontro porque você me ligou bêbada me pedindo, chorando — enfatizou a última palavra. — pra que eu viesse aqui. Então acho bom abrir a porcaria da boca e começar a falar.
Engano se ela acreditava que eu não queria falar, eu só não conseguia, o medo me consumia, e as palavras simplesmente não saíam. Passei a mão nos pingos d’água que escorriam do meu cabelo molhado e caíam no chão, respirando fundo inúmeras vezes, em uma tentativa de encontrar o mínimo de coragem que ainda pudesse existir dentro de mim.
— Eu fui na casa dos meus pais hoje. Minha mãe estava em casa, mas não quis falar comigo. Ela nem sequer me deixou entrar.
— Sinto muito! — Melissa disse, verdadeiramente sentida, depois de um tempo em silêncio.
— Fiquei na frente da porta por um bom tempo, chamando por ela e ela não veio, Melissa, e quando finalmente apareceu, me mandou ir embora. — o silêncio se estabeleceu entre nós por um tempo. — E agora eu fico com essa porcaria de dor de cabeça por causa do erro dos outros.
Levantei bufando em direção a cozinha, enquanto Melissa me seguia em silêncio até lá.
— Ah e você quer saber a melhor parte de todas? O melhor problema que tem tirado o meu sono? — engoli o comprimido acompanhado da água. — O seu pai está me traindo.
De repente foi como se o mundo tivesse parado. A cara de espanto da garota a minha frente, me assustava, e sua boca não emitia nenhum som aparente.
— Não. Ele não está.
— Já cansei de me iludir com essa mentira.
— O quê? , você tá louca? Ele não tá te traindo, cara.
Murmurei algo, disparando logo em seguida a andar pelo apartamento com a Melissa no meu encalço. Sempre achei que seria mais fácil contar coisas assim para a minha melhor amiga, quer dizer, os melhores amigos são sempre uma das pessoas mais confiáveis dessa vida, mas eu acho que essa pequena regra não vale quando esse tipo de coisa é contada para a filha do seu namorado. Quando eu e contamos para ela sobre nós, ela o fez prometer que cuidaria muito bem de mim, no entanto acho que ela nunca pensou que isso poderia acontecer. Que ele poderia ser um idiota, babaca, coração de gelo e traidor.
, você está me ouvindo? Ele não está te traindo! O te ama. Meu pai está completamente apaixonado por você, e eu sei disso porque muitas vezes chega até ser irritante. — ela revirou os olhos. — É claro que ele não está te traindo.
— Como você pode ter tanta certeza sobre isso?
— Porque ele é meu pai e eu conheço ele o bastante pra saber que ele jamais faria isso com você.
— Você não pode afirmar um negócio desse baseado na crença de que conhece alguém, pois as pessoas erram, Melissa, e elas mudam também.
— Você o trairia?
— É claro que não! — exclamei irritada com a pergunta feita por ela.
— Pois é, e eu sempre soube disso porque eu te conheço e sei que tem um bom caráter. Sei ainda mais que você o ama. Então, sim, eu não acredito que meu pai esteja te traindo, uma vez que eu sei quem ele é.
— Certo, então me diga uma coisa: durante todos esses dias ele não tem chegado nem uma vez tarde em casa, ou saído misteriosamente num dia de folga dizendo que, sei lá, que teria que resolver algo do trabalho?
— Sim, mas ele trabalha em um restaurante super requisitado, . Essas coisas são normais de acontecerem quando se é um dos chefs.
— Então, você está me dizendo que se fosse você na minha situação, vivenciando exatamente a mesma coisa, você não iria pensar o mesmo que eu?
— Talvez sim, mas esse não é…
— Ah, então, pronto, querida! Sabe que eu não estou errada em pensar isso.
— Você não está pensando, você está afirmando. — disse, perdendo a paciência. — Por que você tem tanta certeza disso, ? E não venha me dizer que é por ele chegar tarde em casa ou porque você está tendo pressentimentos, porque eu sei que não é verdade.
Fiquei em silêncio ao tempo em que uma dúvida cruel se instalava na minha mente. Não sabia se deveria ou não contar para ela sobre o que a Megan havia me dito, se contava ou não sobre as mensagens. Olhei para ela várias e várias vezes, mudando todas as vezes o foco do meu olhar, até que eu me dei conta de que não conseguiria sair daquela situação sem falar a verdade.
— A Meg me contou que tinha visto ele com outra mulher.
Uma risada estridente e incrédula pôde ser ouvida por todo o apartamento.
— E você acreditou nela? Na mesma pessoa que virou as costas pra você quando você mais precisava de alguém?
— A gente já superou isso.
, você está sendo a pessoa mais idiota do mundo nesse momento! Você nem sequer parou pra pensar que talvez a traidora da história seja a sua irmã que apareceu do nada com essa história louca?
— Ela não faria isso.
— Ah, claro! Mas enquanto você tem tanta certeza disso, você está acusando e jogando fora as pessoas que te amam e que se importam com você de fato. Não se esqueça de que foi o meu suposto pai sem coração que acolheu você no momento mais difícil da sua vida.
E, então, foi como se um tiro atingisse o meu coração o dilacerando por completo. Uma profunda raiva se misturou com toda a dor que eu já estava carregando dentro de mim há dias e, quando eu me dei conta, havia arremessado um vaso de flores no chão da sala. Todo o choro guardado há dias dentro de mim, encontrou o caminho para o lado de fora, inundando todo o meu rosto. O choro foi ficando cada vez mais alto até que braços finos me confortaram em um abraço silencioso.
— Me desculpa! Eu não devia ter falado aquilo. Desculpa! — disse Melissa depois de uns minutos em silêncio, enquanto afagava os meus cabelos. — Vou passar essa noite contigo, tá bom? Vamos comer pipoca e assistir filmes de comédia até você ter uma dor de barriga de tanto rir
Respirei fundo, finalmente me acalmando e a apertei um pouco mais em meus braços.
Apesar de todo alvoroço que houve nesse fatídico dia, a noite não estava terminando tão mal assim. Estava deitada sobre um colchão de casal, no chão da sala, com a minha melhor amiga ao meu lado, assistindo um dos nossos filmes favoritos: Se Beber, Não Case.
— O Alan é muito idiota, cara. Não é possível. — rindo, Melissa disse.
— Pelo menos ele vivia no próprio mundo dele e não tinha que viver essa vida dolorosa.
— O filme é engraçado, . Para de colocar drama nele.
— Amiga, será que eu devo fazer como o Phil: me casar com um garoto de programa e ter um filho?
Ela se limitou a jogar uma almofada na minha cara.
Mesmo sendo um ótimo filme, os meus risos eram poucos, pois toda a minha mente estava voltada para o meu relacionamento que caminhava para o fracasso.
— Estou cansada de sofrer, Mel. É tudo o que eu venho fazendo desde nova. Eu não aguento mais.
— Eu entendo, mas devo dizer que acho que está sofrendo antecipadamente e talvez por nada. Você precisa conversar com o meu pai e ouvir o que ele tem para te dizer sobre tudo isso.
— E se eu não gostar do que vou ouvir?
— É um risco que você vai ter que correr, amiga. — lançou-me um sorriso de canto.
Continuamos assistindo o filme, e depois daquele vieram outros dois, contudo, ao olhar para o lado percebi que Mel já havia adormecido e o terceiro filme já estava quase no fim. Então me levantei e caminhei até o banheiro, fechando a porta atrás de mim. Lavei o meu rosto inchado pelo choro e o encarei refletido no espelho; minha falecida vó sentiria vergonha de mim se pudesse me ver. A quem eu estou querendo enganar? A minha vida é um desastre. Uma menina de 24 anos, apaixonada por um homem de 44 que tem uma filha, praticamente da mesma idade que ela e, para melhorar a situação, abandonada pelos pais. Ah sim, um perfeito fracasso.
Tomei o meu celular nas mãos e esperei até que o responsável por toda a recente confusão na minha vida, mas também, o dono do meu coração, atendesse a ligação.
, o que tá acontecendo? — soava cansado.
A pergunta dele tinha um sentido muito mais profundo do que simplesmente a curiosidade de saber porque eu estava o ligando tão tarde.
— Te acordei?
— Na verdade, não tenho conseguido dormir.
. — exitei.
— Oi.
— A gente precisa conversar.

*Confiança eu procuro e eu encontro em você, cada dia para nós, algo novo, mente aberta para uma nova visão e nada mais importa. Nunca me importei com o que eles fazem, nunca me importei com o que eles sabem.


Capítulo 8

Flashback On

Meus olhos passavam por todas aquelas casas enfeitadas com árvores, pisca-piscas e todas aquelas decorações natalinas que fazem com que essa época seja a melhor do ano. Pelas janelas era possível apreciar a vista de algumas famílias reunidas para a ceia de Natal, e um pouco mais no centro da rua, um número interessante de crianças brincavam, aproveitando o milagre que aquele ano nos proporcionou, a chuva de neve.
Mais a frente, pude notar bonecos de neve com cenouras penduradas no que era para ser as suas faces, representando o nariz, deixando claro que por ali passaram algumas crianças dispostas a se divertirem. Sorri diante de toda aquela magia natalina que geralmente vem acompanhada de um espírito incrível de perdão e amor.
É justamente disso que estava precisando depois de um dia cansativo no trabalho: do espírito natalino. Sim, é natal e é feriado, mas isso não significa exatamente nada para o meu chefe que acreditava que hoje era, sim, o melhor dia para abrir a loja e ganhar dinheiro. O resultado? Bom, ficamos horas em pé, parados, sem fazer absolutamente nada, atendendo à somente alguns clientes que surgiam, mas de resto, só ficamos vendo a hora passar. E alguns, assim como eu, esperavam ansiosos pela hora de ir embora.
Uma vibração estranha e vinda do nada pôde ser sentida na minha perna, subindo com dispersão pelo meu corpo, sendo imediatamente acompanhada por outra e outra vibração. Só então percebi que alguém estava tentando me contatar por meio do meu celular que estava na bolsa. Ao olhá-lo, obtive a resposta do porquê de tantas vibrações seguidas. Melissa me mandou 3 mensagens para avisar que ela e o pai já estavam na minha casa, me esperando para a ceia de natal, e que antes que uma explosão de confusão se instalasse na minha mente, eu deveria saber que a minha própria mãe foi quem os convidou para estarem lá nesta noite. Nem quero imaginar a minha cara devido a tanta surpresa; fazia muitos anos que os únicos participantes da ceia eram as mesmas pessoas vistas diariamente, a não ser pela Meg — essa eu não vejo mais todos os dias desde que ela se deu em casamento.
A frente da nossa casa não se diferenciava muito das residências vizinhas. Haviam enfeites para todos os lados, e da parte de fora já podia ser ouvida a música ambiente que tocava no local. Ao abrir a porta, a atenção dos meus olhos foi tomada para todas as pessoas ali presentes, que não eram muitas, mas fez com que meu coração se enchesse de gozo; contudo, uma onda forte de calor e uma repentina timidez tomou todos os músculos do meu corpo no momento exato em que os meus olhos repousaram nos olhos pretos dele. Eram de uma tonalidade escura e não azul, mas me faziam sentir como se eu estivesse mergulhada no oceano, rodeada de todos os peixes mais lindos que existem, e, ao mesmo tempo, eram como se fogos de artifícios pudessem ser ouvidos.
— Boa noite, !
O tom de voz grave me fez voltar ao mundo real.
— Olá, !
— Filha! Por que não me disse que iria voltar andando? Eu teria mandado o seu pai te buscar. — os braços da minha mãe ao redor do meu corpo, tomaram a minha atenção.
— Queria apreciar a vista.
— Também se aprecia a vista de dentro do carro. — disse meu pai, se intrometendo.
— É, amiga. Não sabe como é perigoso andar sozinha às sete da noite num dia de Natal? — provocou Melissa, surgindo na porta da cozinha, a qual fazia divisa com a sala.
E eu, que até então estava parada, lancei-lhe um olhar cansado, revirando os olhos logo em seguida.
— Eu estou bem. Só preciso subir para tomar um banho e já volto.
Virei-me em direção à escada que dava para o andar de cima para fazer o que era preciso. Entretanto, ao contrário do que imaginei, eu não subi sozinha. Depois de dizer que eu iria subir, a voz da Mel soou, avisando que ela iria comigo.
Sempre me arrumei rápido, não ligando muito para maquiagem e afins, mas hoje foi diferente. Eu queria estar bonita. Então, o que era pra durar 30 minutos, teve uma prorrogação de 15 minutos; porém, eu consegui o que eu queria. Assim que pisei os pés na cozinha, a atenção dele se voltou completamente para mim, e, sem ninguém saber, eu comemorei por dentro.
A comida foi posta a mesa, animando a todos os presentes porque, afinal, essa é sempre a melhor parte. Com uma pequena oração de agradecimento antes, começamos a comer e a conversar sobre diversos assuntos que pudessem preencher o ambiente. Os meus pais nunca foram muito próximos de ninguém, mas o estava conseguindo mudar isso.
— A sua filha é uma menina muito educada, .
— Obrigada, Susan! A mãe da Mel faleceu quando ela era ainda criança, então tive que aprender a me virar só. — a minha mãe concordou com a cabeça, e ele prosseguiu. — Claro que a avó da Melissa ajudou muito, mas, no fim, a responsabilidade maior sempre foi minha.
— Imagino. Como a sua mulher morreu?
— Mamãe! — ralhei, do outro lado da mesa.
— Não tem problema perguntar. — ele sorriu. — Acidente de carro.
— Oh, sinto muito! — disse, Megan.
— E você não pensa em casar novamente? — perguntou, minha mãe.
, passa o vinho — Mason sussurrou ao meu lado.
Dei a ele o que ele pediu e voltei a minha atenção à conversa que continuava a ocorrer na mesa, mas sem conseguir ouvir qual tinha sido a resposta para aquela pergunta. Todos estavam muito próximos, conversando, brincando e sorrindo, no entanto, uma pessoa em especial era quem tomava toda a minha atenção.
Não podemos chamar isso de paixão. Atração, sim, talvez, mas nada mais que isso, afinal, eu mal conheço o . Mas seria um pecado e tanto dizer que eu não tenho nenhuma vontade de agarrá-lo e me apresentar melhor.
Todo mundo deveria prestar atenção naquele rosto de lindo. Chega até a se assemelhar com uma obra de arte desses grandes artistas renomados. Olhos tão perfeitos e marcantes como nunca antes vi, assim como a boca, nariz, maxilar, o qual tinha suas curvas próprias, e bochechas. Aquele rosto definitivamente merecia o prêmio de perfeição da vida.
!
Alguém gritou por mim.
— Quê? — virei o meu rosto procurando quem havia sido. — Oi.
— Tava aonde? A coitada da sua amiga está falando com você há horas. — questionou meu pai.
— Ah! É que só agora reparei no quanto aquele quadro da vovó é bonito. — apontei para o próprio que se encontrava atrás do corpo do pai da minha amiga. — Possui uns detalhes tão fortes. Sinto falta dela!
— É um retrato muito lindo mesmo. — disse, sorrindo para mim como quem sabia o que eu realmente estava fazendo outrora, passando a olhar logo depois para a foto.
Todos os outros pareciam ter engolido aquela desculpa ridícula de tão esfarrapada, pelo menos era no que eu acreditava até ouvir uma risada baixinha que eu conhecia bem. O Mason tinha sacado tudo.
— Você nunca vai aprender a mentir. — sussurrou para mim, que apenas revirei os olhos em resposta.

Flashback Off


— Chegou rápido aqui. — Disse , ao dar passagem para que entrasse.
— A estrada estava livre.
Depois de falar com ele em sua casa, eles decidiram que aquela conversa precisava ocorrer o quanto antes, foi aí, então, que optaram por conversar naquela noite mesmo, até porque nenhum dos dois teria mais sono depois daquela tensão toda que fora a ligação, e muito menos estavam dispostos a deixarem as coisas como estavam. Visando dar um basta em toda aquela conflituosa situação, avisou que iria para a casa do amado naquele exato momento para poderem conversar. Acordou a amiga que se encontrava em um sono profundo para avisá-la para onde iria, apesar de que não acredita que ela tenha realmente a escutado, e rumou direto para o seu carro a fim de chegar lá o quanto antes, sem nem se preocupar em primeiro mudar de roupa. Deve ser aceitável sair de pijama de oncinha às três horas da manhã.
— Interessante a escolha de visual.
A garota enfim deixou escapar um pequeno sorriso.
— Não queria demorar para chegar aqui.
Um silêncio incômodo surgiu entre eles.
— Olha... — os dois iniciaram de uma só vez.
— Você pode começar a falar, .
A garota respirou fundo.
— Bom, eu não sei como essa conversa vai terminar. Se vamos terminar felizes ou odiando um ao outro. Por isso, antes de qualquer coisa, eu quero um abraço seu. Preciso desse abraço porque eu sinceramente não consigo mais ficar longe de você e essa situação toda está me matando.
não hesitou em correr para tomá-la em um abraço apertado. Com um beijo acolhedor na testa e suas mãos acariciando as costas dela, eles permaneceram abraçados durante um tempo. escondeu o rosto no pescoço dele, enquanto lágrimas escorriam dos seus olhos, molhando os ombros nus de . Em um certo momento, porém, o abraço foi desfeito, sendo substituído por um beijo carregado de saudades e dúvidas, que se misturada com as lágrimas salgadas da garota e revelava a bola de sentimentos que habitava há dias na vida do, até então, casal.
É invejável a perfeita conexão e harmonia que há quando a boca daqueles dois se chocam. É sempre assim, o encaixe perfeito, a dança sincronizada das línguas… Sem perceberem, os dois entraram no compasso de uma canção pertencente somente a eles. No entanto, apesar de que naquele momento era como se tudo ao redor deles tivesse desaparecido e os únicos seres vivos da Terra fossem eles, ambos sabiam o motivo pelo qual estavam ali juntos na madrugada e, definitivamente, não era para namorar.
O beijo foi sendo encerrado com diversos selinhos que somente provavam o que tanto um como o outro sabia: que eles não queriam se desgrudar. O olhar de encontrou o de , e eles se encararam por um tempo, buscando descobrir o que o outro estava pensando. Até que a garota resolveu se afastar completamente, limpando os olhos e parando para observar as muitas fotos penduradas na parede, em algumas quais ela mesma estava presente.
— Não estou gostando de como está olhando para essas fotos.
— Eu só estou as admirando. — disse, ainda observando as fotografias.
— Está olhando como se todas fizessem parte de um passado muito distante, como se estivesse se despedindo de tudo isso. — o homem soou preocupado, e deu um longo suspiro em resposta.
, nós dois somos adultos, e eu nem preciso te lembrar do quanto é mais maduro que eu, mas eu também não sou nenhuma criança. Por isso, eu vou direto ao assunto — lançou seu olhar para ele. — Eu quero saber se… — A garota não conseguiu o encarar e voltou os olhos para o chão. — Por acaso você… — ela suspirou sem saber como falar aquilo, e voltou a encará-lo. — , você está me traindo?


Flashback On

O dia está maravilhoso. A cidade de Bristol foi abençoada com um tempo ensolarado e poucas nuvens no céu, o que significa um dia perfeito para passear no parque e se divertir. E diversão era o que não faltava, principalmente quando estava por perto. Ele sempre me fazia rir com o seu jeito, embora seja o seu modo natural de ser, o que, com certeza, é uma qualidade. Pelo menos agora eu já sei a quem a Melissa puxou.
Depois de caminhar por todo o local, e parar para comer alguma coisa que enchesse o nosso estômago faminto, nós três, que já há algum tempo só andávamos juntos como bons amigos, resolvemos sentar na grama verde e descansar um pouco, sentindo aquele cheiro de ar puro, e observando as crianças se divertirem, enquanto os seus pais ficavam loucos.
— Eu lembro de quando você era dessa idade, Mel. Nunca tinha visto uma criança tão curiosa como você. — disse, fazendo graça da filha.
Eu observava boba toda aquela cena, uma vez que aquilo não era comum para mim. Os meus pais são carinhosos e cuidadosos, contudo, ainda assim era diferente.
— Vocês dois são tão amigos. Se não os conhecesse e os visse na rua, nunca diria que são pai e filha.
— É que com tudo que já passamos, eu e meu pai construímos um relacionamento muito saudável, . De amizade mesmo. É claro que as vezes ele me enche o saco. — olhou para ela com uma cara de indignação. — Mas eu sei que posso contar com ele pra tudo, e falar sobre tudo também.
— Sobre tudo mesmo! Você precisava ver o dia em que ela me contou sobre a primeira vez que dormiu com um cara, . — uma cara de nojo acompanhou a fala.
Foi impossível não soltar um riso escandaloso.
— Meu Deus! — exclamei, entre risos. — Não se conta esse tipo de coisa para os pais.
— Relaxa, amiga! Não deu nada. Ele vivia me perguntando, teve um dia que finalmente tive o que contar. — sorrindo, deu de ombros.
— Acredite, eu sei de tudo. Tudo mesmo. — deixou escapar uma risada gostosa.
— E você, ? Não são todos os dias que vemos um homem maduro como você, com essa disposição impressionante.
— Você está me chamando de velho?
— Em uma maneira educada de falar, mas sim — sorri abertamente.
— Aposto cinquentinha que eu consigo alcançar vocês duas no famoso pega-pega, em menos de 10 minutos. — disse, arqueando a sobrancelha durante toda a fala.
— O quê? Eu não vou sair correndo nesse parque. — decretei, descrente com a proposta dele.
, você está com medo?
Ao ouvir aquela pergunta desafiadora, me levantei num pulo, mexendo os braços e as pernas como em um aquecimento, sendo acompanhada pela minha amiga que fazia os mesmos movimentos. O que era para ser um som de um apito foi simulado com a boca por Melissa e nós saímos em disparada para o mais distante do homem possível, sendo seguida por ele que corria sem cansar como um jovem de 20 anos de idade.
Corri, corri e corri até começar a ficar ofegante, e quando olhei para trás para ver como estavam as coisas, percebi que Melissa tinha acabado de ser pega e estava parada, congelada, como a famosa brincadeira entre as crianças. Agora corria em minha direção como um menino atrás da bola para fazer o gol. Voltei a correr, mas não consegui suportar e a risada logo saiu pelas minhas cordas vocais, me fazendo, então, parar um pouco para tomar fôlego, foi aí que aconteceu o que eu mais temia no momento. Quem eu achei que estava longe, acabou chegando perto demais, e quando notei, as mãos dele já estavam posicionada na minha barriga e ele gritava alegremente que tinha conseguido, ele venceu a aposta.
— Não vale! Quero revanche.
— Você acha mesmo que pode me pegar? — gargalhou.
— Por que não? Corre!
Como adultos, parecíamos muito mais dois jovens na flor da idade que estavam no início da paixão.
saiu na frente rindo e correndo, enquanto eu saí atrás, jurando para ele e para mais quem quisesse ouvir de que eu iria conseguir fazer aquilo. Eu tinha que conseguir. Melissa mais ao fundo ria de toda a situação, e por um momento eu a olhei rindo também, entretanto, me arrependi de tê-lo feito; meus pés se enroscaram na grama, então, enquanto em um segundo eu estava em pé, no outro eu caí, usando as minhas mãos como proteção para que o meu rosto não sofresse todo impacto.
! — gritou, vindo me ajudar. — Você está bem? Se feriu?
Ainda do chão, olhei para ele e sorri sem graça.
— Acho que não. Eu tô legal. Só me diga que ninguém está olhando. — era mentira. Eu sabia, ele sabia, contudo, mesmo assim ele balançou a cabeça em concordância.
— Ninguém está olhando.
— Amiga, você está bem? — Melissa chegou perto de mim, preocupada.
— Sim, sim. Só preciso levantar daqui.
— Vem, segura na minha mão, . — estendeu a sua mão para mim.
Imediatamente agarrei aquela mão, desejando o quanto antes me livrar daquela situação e deixar de ser o centro das atenções. Quando finalmente as nossas mãos se encostaram uma na outra, instantaneamente o meu olhar foi levado a encarar os olhos dele, e mais uma vez, assim como no dia de natal, eu me perdi naquele oceano com fogos de artifícios. Todos os pelos do meu corpo se arrepiaram, sob o efeito do seu toque, entregando as sensações que ele causava sobre mim. Com um impulso ele me trouxe para cima, colando o meu corpo ao dele. O silêncio foi permitido entre nós, enquanto eu ainda tentava ao máximo entender tudo aquilo que estava acontecendo exatamente naquele momento. Deslizei as minhas mãos pelo os braços dele e ouvi ao fundo uma tosse forçada. A conexão dos corpos foi quebrada, mas não a do olhar que vez ou outra se cruzava novamente.
— Eu acho que você ganhou. — sorri. — Aqui está seu dinheiro. — estendi a mão com o valor para ele, que fez de tudo para que quando o pegasse, a sua mão tocasse a minha.

Flashback Off


Ao escutar o que a garota o perguntara, o corpo de enrijeceu, e ele sentiu como se todos os órgãos que possuía tivessem parado. Em outras palavras, foi como se ele tivesse acabado de sofrer falência múltipla dos órgãos.
— Como é que é?
— Você está me traindo?
— O quê? Não! Óbvio que não. — com os olhos arregalados e o coração acelerado, ele respondeu um pouco alterado. — De onde você tirou isso, ?
— Uma pessoa me contou que viu você com outra mulher.
— Provavelmente. Eu trabalho em um restaurante rodeado de mulheres. — respondeu com um tom de obviedade.
— Você entendeu, . — vociferou.
O rapaz, ainda tentando se acalmar, caminhou lentamente até ela, indeciso se deveria ou não tocá-la naquele momento. Por fim, resolveu fazê-lo, arrependendo-se logo em seguida quando viu ela, que ainda a pouco estava em seus braços, se desvencilhar do seu toque.
— Eu não sei como você pôde fazer isso comigo. — ela passou a andar de um lado para o outro com as mãos na cabeça, até que parou e olhou com raiva para ele. — Eu — arfou com raiva. — eu quero te matar nesse momento.
— Ei, ainda posso me defender ou você já tem a sua sentença? — questionou. — Nesse momento eu estou muito bravo com você por achar que eu faria isso contigo, mas como você mesma disse antes, nós somos adultos, então eu não vou agir como um adolescente mimado com o ego ferido e entrar numa discussão recheada de gritos e tapas da sua parte.
, então, deu meia volta em direção ao sofá a fim de sentar-se, deixando um espaço para ela sentar também ao lado dele.
— Agora, se você quiser resolver isso como uma pessoa madura, você vai vir até aqui, se sentar ao meu lado, e nós vamos conversar. E isso significa que você também vai precisar me ouvir.
Um turbilhão de pensamentos confusos veio de uma só vez à mente da mulher. Olhando para o chão, ela pensava na decisão que deveria tomar. Ficar em pé, gritar com ele e ir embora daquele lugar? Ou, sentar-se ao lado do cara em quem ela mais confiou nos últimos tempos, e tentar ser pacífica? Bem, tanto na primeira opção como na segunda, ela poderia acabar frustrada no final, e talvez sem um homem para chamar de namorado, mas foi então que ela se deu conta de que já estava na merda, e que sentar e conversar com ele não pioraria tanto as coisas, somente daria a ela mais uma chance de ser feliz.
Assim, a garota caminhou até ele, mantendo um forte contato visual durante todo o tempo, e se sentou no mesmo sofá onde ele estava, mas ainda assim mantendo uma considerável distância dele.
— Agora me explica direitinho o porquê que eu estou sendo acusado de traição.
“Maldito homem pacífico e maduro de 44 anos”, pensou.
— Te viram com outra mulher.
— Quando essa pessoa diz ter me visto?
— Eu não sei. — sussurrou, se sentindo cada vez mais tola por estar causando tudo aquilo sem argumentos consistentes.
— Você não sabe.
— Não, não sei. Eu estava muito chateada pra lembrar de perguntar que dia foi que eu virei corna.
O homem a frente dela segurou o riso, já sabendo que o nervosismo não adiantaria de nada naquele momento.
— Quem foi que te contou isso?
— A Megan. — revirou os olhos.
— Ah sim, entendi. Bom, eu sinto lhe dizer, mas a sua irmã é uma mentirosa de quinta. Eu nunca te traí. Isso nunca aconteceu e nem vai acontecer, porque você roubou meu coração e o escondeu em um lugar tão difícil de encontrar, que mesmo se eu quisesse achá-lo para dar a outra pessoa, eu não conseguiria.
— Droga! Por que você é tão pacífico? Eu quero gritar, idiota.
— Eu não vou brigar com você por acreditar na sua irmã, apesar de eu não querer ver a cara dela na minha frente. Ela é sua irmã, e eu sei que depois de tudo, você quis acreditar que podia contar com ela. — sorrindo minimamente, estendeu a mão para ela. — Eu não estou te traindo, amor.
olhou para a mão dele estendida, ainda sentindo sua cabeça em confusão.
— Eu ainda não sei em quem acreditar, desculpa. — sussurrou.
— Espero que em mim. — suspirou, colocando a mão de volta sob as suas pernas.
— Sinto que tudo que eu vivi até agora foi uma mentira. Como se todos tivessem mentido para mim. Agora eu não sei em quem confiar ou o que é verdade.
— O nosso relacionamento não é uma mentira, .
— Eu quero confiar em você, eu realmente quero, mas eu também confio na minha irmã. Eu acho que preciso de um tempo. — olhou para ele com receio.
ouviu cada palavra em silêncio, pensando no que poderia fazer para fazê-la acreditar nele, sem que o relacionamento acabasse ali mesmo.
— Vamos perguntar a ela! — falou, de repente.
— O quê?
— É isso! — exclamou para si mesmo. — Eu e você vamos tirar essa história a limpo. Procuraremos a sua irmã e ela terá que explicar essa história por completo.
riu incrédula. Aquele cara era mesmo doido.
— Tem certeza disso?
— Eu não estou traindo você, e eu sei que a única forma de acreditar em mim é se fizermos isso. Então, sim, tenho certeza disso.
A conversa terminou assim, sem muitos enfeites, choros e abraços. Ela simplesmente chegou ao fim, deixando uma tensão no ar que se misturava com o medo do porvir. No entanto, após o silêncio se estabelecer e ficar claro que nenhum dos dois acrescentariam mais alguma coisa, se levantou do sofá, o maior telespectador do momento, e convidou a garota para tentarem dormir. Claramente nenhum dos dois realmente dormiu direito, , por exemplo, demorou para pegar no sono e quando isso aconteceu, não foi mais do que um rápido cochilo. Não há nada pior do que ansiedade misturada com inúmeros outros sentimentos difíceis.
Mas, ao contrário do que era esperado, os dois permaneceram abraçados sobre a cama, calados, porém, ainda assim o amor que era sentido pelos dois era maior do que os vendavais que apareceriam, dispostos a destruir toda a cabana que eles construíram juntos. Enquanto pensava em como poderia ser a conversa com a irmã, resolveu checar o celular em busca de algo novo, surpreendendo-se ao constatar que havia recebido uma mensagem da mesma, perguntando se ela não gostaria de ir para o jantar em sua casa onde seria revelada a surpresa da gravidez.
— O seu desejo foi atendido. — ela ficou de frente para ele.
— Como assim? — questionou, confuso.
— Nós vamos jantar na casa da Megan hoje.


FlashBack On

“Estou indo aí” foi o que estava escrito na mensagem que acabei de receber do . Faz algum tempo que ele deixou de ser “o pai da Melissa” para mim e passou a ser somente , aquele que ultimamente estava sendo a pessoa que mais arrancava gargalhadas de mim, e que faziam os meus olhos apresentarem um brilho especial.
Embora tenhamos atuado tantas trocas de olhares, como as daquele dia no natal e as do parque, nunca imaginei que posteriormente a esses e tantos outros momentos, iríamos acabar onde estávamos agora: nos encontrando às escondidas para conversar e ter um tempo a sós. Não é namoro, mas eu sinto que também não é uma coisa qualquer. Estamos no estágio entre o ficar e o namorar, se é que isso existe.
Barulhinhos de pedrinhas chocando contra o vidro da minha janela fizeram-se ouvidos por mim e me impulsionaram a ir até lá, já esperando encontrar o causador daquilo. Ao abrir a janela para observar o lado de fora, vi as causadoras do barulho espalhadas pelo chão, e mais a frente um homem escondido atrás de uma moita com a mão fechada, aparentando estar cheia delas.
Um riso gostoso escapou da minha boca, mas a tempo de eu impulsionar a minha mão contra ela para abafar o som. Observei o rapaz caminhar até mim, olhando para um lado e para outro para ver se de fato estava sozinho, e tomando o maior cuidado para não fazer muito barulho.
— Aí está você. — aproximou-se de mim, sorrindo.
— É que eu moro aqui, sabe? — ri.
— Engraçadinha. Venha aqui!
Ele me puxou para um beijo, enquanto ao mesmo tempo tentava agarrar a minha cintura, achando dificuldade por conta da janela. Após ver a cara de desgosto dele por não poder me abraçar direito, eu entendi o que deveria fazer e passei para o lado de fora para ficar perto dele que, finalmente pôde me abraçar decentemente.
— O que estamos fazendo é tão perigoso.
— Eu sei! — sua fala expressava animação. — Me sinto um adolescente de novo.
— E eu sinto que você está me levando para o mau caminho.
— Provável que você sempre teve esse seu lado e só agora está o colocando para fora. — senti o nariz dele passando pelo meu pescoço.
— Você não tem jeito.
— Eu consigo nos imaginar assim na frente de todos. Você não?
Abruptamente, fiquei de frente para ele.
— O que quer dizer?
— Que já está na hora de tornarmos isso sério. Qual é, ! Eu sei o que eu quero, e sei que você também sabe o que quer. Por que não?
Um sorriso discreto insistia em nascer no canto dos meus lábios.
— Vai ser tão difícil... Você acha que conseguimos enfrentar todas as dificuldades que vão aparecer?
— Acha que pode me amar?
— Como se fosse difícil te amar.
— Então, eu acho sim que a gente consegue.
e contra o mundo. — coloquei as mãos na cintura como uma super heroína.
— Nós dois contra o mundo. — concordou sorrindo abertamente, beijando-me logo em seguida.



Capítulo 9

Nessa noite, o céu aparentava estar mais escuro que o normal e as inúmeras estrelas o cobriam por completo, permitindo que a noite fosse recheada por uma beleza natural e imprescindível. e eu caminhávamos pelas ruas em direção à casa da minha irmã admirando esses pequenos detalhes da vida que, no fim, se tornavam enormes e faziam toda a diferença.
Em todo o tempo, ele estava ao meu lado, contudo, não estávamos com as nossas mãos entrelaçadas, pelo contrário, eu decidi que deveria ficar um pouco distante para que o cheiro entorpecente que exalava do corpo dele não entrasse pelas minhas narinas, causando confusão em minha mente e impedindo-me de fazer a escolha certa. Vez ou outra ele falava alguma coisa para quebrar o silêncio que nos seguia e eu me limitava a concordar com a cabeça ou liberar alguns sons, até que, ainda de longe, avistamos a casa que a minha irmã e o marido moravam. sorriu para mim, encorajando-me.
— Você toca a campainha! — falei, encarando a porta.
E assim ele fez. A campainha foi tocada, e nós ficamos esperando até que alguém viesse atender. , notando o meu nervosismo, acariciou o meu ombro, sendo surpreendido não muito depois pela porta sendo aberta, revelando o rosto dela.
— Ah, oi! — era notório o quanto ela estava sem graça. — Ele veio.
— Espero que não se incomode, Meg. Não poderia vir sem ele.
Ela me lançou um sorriso forçado.
— Não tem problema. Podem entrar! — deu um passo para trás para que pudéssemos passar. — Sejam bem-vindos!
Adentramos a casa, sendo guiados por ela que ia à nossa frente em silêncio, soltando suspiros ora ou outra que revelavam a sua insatisfação com a presença de ali.
— Estávamos todos te esperando, . — Megan falou quando chegamos na sala de jantar.
Todos os olhares das pessoas que estavam presente se voltaram para mim, inclusive o de minha mãe que me encarava extremamente séria.
— Ah! Posso sentir como todos ansiavam pela minha presença. — sussurrei para mim mesma.
— olhei em direção a quem me chamava, e vi Mason caminhar até mim com os braços abertos. —, estava com saudade.
— Ai, eu também, May!
Retribuí o abraço apertado que ele me deu, notando que, logo depois de falar comigo, ele foi até o lhe dando um abraço caloroso que foi prontamente correspondido. Engatinhamos uma conversa sobre como estávamos e sobre os nossos dias, até que fomos interrompidos pela grave voz do meu pai que soou de repente.
— O que vocês estão fazendo aqui?
— Por que acha que eu perderia um jantar de família?
— Você não é mais da família. Muito menos esse ser que está do seu lado.
— Sr. … — tentou intervir.
Fiz um sinal com o braço na intenção de deixar claro que ele deveria ficar calado.
— Eu estou aqui porque Megan me convidou. Além disso, até onde eu sei, a casa é dela e não sua.
! — o pai a repreendeu.
— Ah que legal! Voltei a ser da família.
— Menina insolente. — Susan sussurrou.
— Você ainda fala, nossa!
… — Mason e , preocupados, me advertiram de uma só vez.
Diante de toda tensão que preenchia o ambiente, eu olhei em volta, encarando nos olhos cada um que estava ali. Brian e Megan estavam quietos, os dois olhando para mim; era perceptível o quanto os dois estavam decepcionados com o que estava acontecendo. Mason encarava o chão sem saber o que dizer. Enquanto meus pais me encaravam com uma profunda raiva e decepção. Permaneci olhando-os até que senti a mão de tocar a minha. A respiração saiu pesada entre os meus lábios, me levando a perceber que a estava prendendo dentro de mim.
— Vamos comer. — para aliviar a tensão, Mason se pronunciou, cortando o silêncio.
As duas mulheres se levantaram da mesa acompanhadas pelo meu pai e pelo Brian para buscar as coisas na cozinha. Mas eu não poderia ir.
Realmente não sou mais parte dessa família.
O jantar foi servido acompanhado de poucas conversas, rápidas e passageiras, mas recheada de trocas de olhares das quais, se falassem, levariam horas discursando. Depois que aquele pequeno conflito ocorreu, a cada 10 minutos me perguntava se eu estava bem e se não gostaria de ir para casa; é até admirável essa atitude de cuidado, entretanto, eu ainda não consigo confiar plenamente nele. Uma vozinha continuava a ecoar na minha cabeça trazendo-me inúmeras dúvidas sobre ele e sobre o que vivemos. No momento eu me encontro sem saber com quem foi que eu dormi durante todos esses meses.
— Alguém quer mais vinho? — Megan perguntou, se levantando da mesa.
— Eu quero, por favor. — depois de passar a maior parte do tempo calado, se pronunciou.
Meg balançou a cabeça em concordância e se virou em direção à cozinha. Me levantei depressa, deixando claro que iria com ela, enquanto, ao mesmo tempo, olhares eram lançados em minha direção. Não que fizesse muita diferença, já que durante todo o jantar foi assim: olhares queimando em cima de mim.
A cozinha era imensa e toda planejada, me fazendo babar por cada detalhe que a preenchia. Apesar de não cozinhar muito, ter esse espaço devidamente organizado e com o design correto é, definitivamente, o meu sonho de consumo.
Encostei o meu corpo no primeiro lugar confortável que encontrei, e me deixei observar a minha irmã que abria a geladeira em busca do que ela havia vindo buscar.
— Quando vai contar a eles sobre a gravidez?
— Agora — sorriu pra mim, logo depois de ter pego o que queria. —, estou nervosa.
— Sabe que não precisa se sentir assim. Eles vão adorar a notícia. Jonas e Susan sempre quiseram netos, lembra?
— Jonas e Susan? — ela questionou, recebendo como resposta o balançar dos meus ombros. — Eles ainda são seus pais, .
Dei-lhe o silêncio como resposta.
— Você está errada. — balançava a cabeça em reprovação à minha atitude.
— Eu estou errada? Eles me abandonaram e sou eu quem está errada?
— Sim, você está errada.
Bufei.
— Você tem ideia do que você está fazendo com a sua vida? Da vergonha que está trazendo para a nossa família? Para eles? — apontava para onde eles estavam. — Aquele cara lá fora, , tem idade para ser o seu pai e você anda com ele por aí como se fosse a coisa mais normal do mundo, exibindo um troféu que na verdade é falso. E você ainda exige que os nossos pais aceitem isso.
— Então o meu enorme e vergonhoso pecado — dizia entre aspas. — se resume pelo fato do ser mais velho?
— E ter uma filha da sua idade.
“Mais nova”, corrigi em minha mente.
— Você esqueceu que ele está te traindo?
— Quando o me traiu, Megan? — perguntei, já cansada do assunto.
— Provavelmente agora mesmo pelo celular, nunca se sabe.
Olhei em direção ao lugar em que estava.
— Não, agora ele está lá sentado, sem graça, devido a tanta gente olhando para ele com cara feia.
— Pelo amor de Deus! Deixe de ser inocente, ! — passou as mãos nos cabelos num claro sinal de estresse.
— Você disse que o viu com outra mulher. Quando foi isso, Megan?
— Uns dias antes de nos encontrarmos pra almoçar.
— Seja mais exata.
— Eu não tenho como lembrar exatamente o dia, . Você sabe que minha memória é péssima.
— Faz um esforço! — disse, perdendo a paciência. — Você me joga uma bomba dessas, me manda mensagens e não sabe o dia em que viu ele me trair? Você é louca, por acaso?
— Estão esperando o vinho. — levantou a garrafa que segurava.
— Você não vai sair daqui até me dizer que dia foi isso. — vociferei. — Ao menos que você seja uma mulher tão nojenta ao ponto de mentir sobre isso para a própria irmã.
Enquanto observava o rosto dela se tornar levemente vermelho pela a irritação, e os olhos sobressaltados devido ao efeito das palavras outrora pronunciadas por mim, o meu corpo e a minha mente foram tomados por milhares de sentimentos que faziam com que eu sentisse meu coração bater rapidamente, e a minha barriga embrulhar com o medo da resposta que eu poderia receber. Sim, eu estou com medo, não dela, mas sim do rumo que o meu relacionamento com o pode tomar de agora em diante.
— Eu não acho que seja bom pra você saber disso.
Suspirei.
— Fala logo, Megan. — pedi, demonstrando impaciência, contudo, por dentro, a curiosidade me tomava por completo.
— Na quarta. Eu o vi com uma outra mulher na quarta-feira, uma semana antes de nos encontrarmos.
Ao ouvi-la, um minucioso riso incrédulo saiu por entre os meus lábios. O embrulho cessou no meu estômago. O problema agora estava no meu sangue que queimava.
— Passamos o dia todo juntos nesse dia. — lancei-lhe um sorriso desapontado, mas a minha cabeça já estava longe. — Eu sinceramente espero que essa criança que está carregando na sua barriga seja exatamente como eu. — acabo de descobrir que posso ser debochada.
Saí da cozinha fazendo um coque no meu cabelo que até então estava solto, determinada a sair daquele lugar deixando com que todos soubessem que a partir daquele momento eu não era mais uma menina frágil e carente que precisava da aprovação deles. Naquele momento, nem eu mais me reconhecia.
Caminhei lentamente até a mesa onde todas aquelas pessoas olhavam para mim e para a direção da cozinha preocupados com que eu havia deixado para trás.
— Bom, eu sei que todos aqui amaram a minha presença nessa noite. Alguns até mais que outros — olhei para os meus genitores, enquanto gesticulava a cada fala. —, mas agora temo dizer que está na hora da minha partida. — procurei com o olhar. — Vamos, querido?
Ele se levantou confuso e veio até mim, não demorando muito para que eu tomasse a sua mão e nos virássemos em direção à saída, mas ainda a tempo de eu ver a Megan chegando no local, ainda atordoada.
— Ah! Quase me esqueci de algo. — bati na testa, teatralmente, voltando a encará-los. Olhei das pessoas sentadas à mesa para a Megan que estava em pé ao lado do marido. — A Megan está grávida. — Sorri vitoriosa, bebendo o resto do vinho que estava na minha taça sobre a mesa.
Caminhei para fora o mais rápido possível, acompanhada de que chamava o meu nome sem parar para que eu o explicasse o que fora aquilo. Porém, faltando pouco para estarmos definitivamente fora do jardim daquela residência, a voz da Megan, gritando por mim, fez-se ouvida. Ela me pedia, agonizantemente, que eu parasse e escutasse o que ela tinha para dizer. Não parava de repetir um pedido de desculpas que vinha acompanhado de soluços, sinalizando que ela estava chorando. Aquela voz se repetia várias vezes seguidas sem parar, até que parou, e ouvimos o barulho de algo batendo com força no chão. Eu e o , que até então nos encontrávamos de costas para ela, viramos rapidamente para ver o que tinha acontecido, e nos deparamos com a Megan caída no chão, com as mãos na barriga e chorando muito. Ela havia tropeçado numa pedra, enquanto corria em nossa direção.
Com o barulho, todos que estavam na casa saíram para ver o que tinha acontecido, encontrando o ajoelhado em frente a mulher caída. Ele gritava para que chamassem uma ambulância. Foi uma correria. Meu pai, Brian, meu irmão, todos ligando ao mesmo tempo para a emergência, enquanto eu não conseguia me mover. Eu só conseguia respirar fundo e sentir as lágrimas molharem todo o meu rosto, ao mesmo tempo em que as minhas mãos tremiam sem parar. Estava paralisada. Era culpa minha. Eu tinha feito aquilo.



A minha família não é grande, mas consegue fazer um enorme alvoroço nessas horas. A cada minuto eu via um deles correndo de um lado para o outro ligando para amigos próximos para explicar o ocorrido ou simplesmente buscando informações, apesar do médico ser um profissional excelente e já tê-la atendido. Quanto a mim, eu ainda estava paralisada, ao menos por fora, pois por dentro meu cérebro trabalhava sem parar, enquanto que meu coração não parava de pulsar rapidamente, além do normal.
ao meu lado já havia desistido de falar comigo e se restringiu a me colocar sentada na poltrona existente no saguão do hospital, sentando-se na outra bem ao meu lado. Claramente eu não tinha condições alguma de estar na mesma correria que a minha família, muito menos me sentia no direito de tentar ver a Megan que já estava no quarto. Me limitei a encostar a minha cabeça no ombro de e inalar o seu cheiro, consequentemente me ajudando a relaxar um pouco mais.
Perdida em meus próprios pensamentos conturbados, acariciava a mão dele, fazendo círculos quaisquer que pudessem me distrair, até que, de longe, vi minha mãe caminhar rapidamente em nossa direção, e quando dei por mim ela já estava a minha frente, com o dedo na minha cara e berrando sem parar.
— A Megan perdeu o bebê e a culpa é sua! Ouviu bem? A culpa é toda sua, ! — gritava e chorava ao mesmo tempo. — Tudo o que você tem feito é arruinar as nossas vidas.
Foi tudo tão rápido. Uma hora ela estava vindo em nossa direção, na outra ela estava gritando, e agora o havia se posicionado às pressas na minha frente logo após eu ser acertada com um tapa no rosto pela minha própria mãe.
— Susan, é melhor você sair daqui. — disse, afastando-a com o braço. — Agora!
Ainda assim, eu não conseguia pronunciar nem um som qualquer, tudo que eu conseguia fazer naquele momento era chorar.
— Não! Essa menina precisa aprender uma lição. Vocês dois precisam. Desde que você apareceu nas nossas vidas, tudo vem desmoronando.
Ela lutava contra ele para tentar me alcançar, mas foi impedida pelo meu pai que, chegando, a segurou com firmeza para evitar que houvesse uma confusão ainda maior naquele hospital.
— Eu acho melhor vocês irem embora.
— Vem! Vamos, ! — me puxava para fora do local.
Ao sair de lá, e notando que eu ainda não havia pronunciado nenhuma palavra, disse que iria um pouco mais a frente para tentar encontrar um táxi vazio que nos levasse para a sua casa. Quando voltou, avisando que poderíamos ir, me encontrou com a cabeça baixa e as mãos nos joelhos. Estava em prantos. Senti os seus braços abraçarem o meu corpo.
— Hey, você vai ficar bem, meu amor. — suas mãos subiam e desciam pelo meu corpo em um gesto de carinho. — Vai ficar tudo bem.
— É tudo culpa minha. Eu não devia ter feito aquilo. Eu não deveria ter saído daquela forma, nem estragado o jantar como eu fiz. Eu não queria machucá-la, . Eu não queria. — as minhas mãos passeavam rapidamente pelo meu rosto e por cima da camisa que ele vestia, enquanto chorava em alta voz.
— Hey — segurou em meu rosto, me fazendo olhar para ele. —, nada disso foi culpa sua, ok? Você não a derrubou. Ela estava correndo e acabou caindo. Não foi sua culpa.
— Eu não deveria ter ido lá. Eu deveria ter a escutado quando ela veio atrás da gente. — fui tomada em um abraço novamente. Comecei a rir desesperadamente entre o choro. — Eu tentei ser outra pessoa, . Tentei fingir que eu era destemida e vingativa, mas a verdade é que eu não sou assim. Eu me importo com ela, com meus pais. Eu os amo tanto! E agora eu piorei tudo.
Ele me olhava sem saber o que fazer ou falar. Por fim, segurou a minha mão.
— Vamos pra casa. Lá você vai poder descansar um pouco. Vem.
Ele saiu me levando consigo. Eu estava mais sendo carregada por ele do que andando. Mal estava conseguindo pensar de fato, quem me dera andar direito.
Fui colocada no carro, com ele adentrando o veículo logo depois. O percurso até a casa dele foi tranquilo. Quando eu realmente percebi, já estávamos dentro da casa, e ele a minha frente me estendendo um copo com água.
— Não quero.. — empurrei lentamente a mão dele.
— Você precisa se hidratar, amor.
— Cadê a Mel?
— Ela não está aqui, mas já liguei pra ela e contei o que aconteceu.
— Tá.
Sentei no sofá com as pernas sobre o mesmo, entretanto, ele continuou em pé na sala olhando para mim.
— Não precisa ficar preocupado comigo, . Eu vou ficar bem. Eu só preciso ter notícias da minha irmã o quanto antes. Preciso saber se ela está bem e se tenho chances de ser perdoada pelo que fiz.
, você não fez nada. Todo mundo errou hoje, mas ela cair não foi sua culpa.
Suspirei.
— Você não vai sentar?
— Não sei se deveria.
— Vem, senta aqui do meu lado, .
Devagar, ele se deslocou de onde estava e veio até mim, sentando no local indicado.
— Quero que me perdoe por não ter acreditado em você.
— Não precisa fazer isso.
— Preciso. Preciso sim. — olhei em seus olhos. — Por favor, me perdoa por ter sido idiota ao ponto de quase arruinar tudo entre a gente. Eu te amo, ! E espero que ainda tenhamos uma chance juntos.
— Para com isso, mulher. — sorriu. — Vem cá! Dá um abraço no seu namorado maravilhoso que é completamente apaixonado por você.
O abracei sorrindo, colando os meus lábios nos dele calmamente logo em seguida. Contudo, fomos interrompidos pela chegada de Melissa.
Ela me olhava atentamente na medida que corria para me dar um abraço apertado. Já era. As lágrimas voltaram novamente.
— Sinto muito, amiga.
Permanecemos abraçadas por um tempo que foi o suficiente para que eu concluísse que não importava se você está namorando, casada ou solteira, não há consolo humano que se compare ao dado pela sua melhor amiga.
— Bom, eu vou deixar vocês sozinhas. Se precisarem de mim, estou lá em cima. — se retirou, deixando nós duas sozinhas.
Voltei a sentar onde estava minutos atrás, mas acompanhada por ela dessa vez que, ao contrário do imaginado, não me fez nenhuma pergunta logo de cara. Ela simplesmente sentou lá, de frente para mim, e esperou até que eu estivesse pronta para contar o que tinha acontecido. Eu não conseguia encará-la. Mas as lágrimas escorrendo do meus olhos, deixavam claro o quanto eu estava mal.
— Eu e o fomos até a casa da Megan pra tirar a limpo toda essa história de traição, mas tudo fugiu do controle.
Comecei a falar e ela prestava total atenção em mim e no que eu dizia, enquanto eu tentava parar de chorar e fungar.
— Estávamos na cozinha, somente eu e ela, e quando perguntei quando ela havia visto o me traindo que ela respondeu, eu simplesmente saí de mim, Mel. Porque nesse exato dia que ela diz ter visto ele, nós passamos o tempo todo juntos, e eu tenho absoluta certeza disso porque foi um dos dias mais divertidos que já tivemos.
— Ou seja, ela mentiu.
— Ela mentiu. E sim, eu sei que você me avisou de que isso tudo poderia ser armação dela, mas — hesitar. —, ela é minha irmã, sabe? Crescemos juntas, fazíamos tudo uma com a outra e, de repente, ela faz algo assim. Eu perdi a cabeça. Não me reconhecia mais. — respirei fundo. — Então, eu e o saímos da casa, e ela veio atrás. Foi tudo muito rápido. Ela estava me chamando em um momento e, do nada, ela estava caída no chão com dor.
A feição da mulher a minha frente não estava muito diferente da minha. Ao olhar nos seus olhos, era perceptível que ela também estava muito sentida por tudo aquilo está acontecendo.
— Ela perdeu o bebê?
— Perdeu. — passei a mão nos meus cabelos. — Me diz, como ela pode me perdoar depois de saber que eu fiz com que ela perdesse essa criança? Porque nem eu sei como me perdoar depois disso, amiga.
, escuta aqui. Você não é a culpada por ela ter perdido essa criança, entendeu? A situação toda foi uma merda sim, mas não significa que seja culpa sua. Tudo que eu tenho visto você fazer nesses últimas dias é lutar pelo que você ama...
— Eu tenho me visto é estragar tudo. — interrompi.
— Deixa eu terminar de falar. — pediu, séria. — Você fez escolhas sabendo das consequências que se poderia ter, então agora está na hora de você aprender a lidar com elas de cabeça erguida. A sua irmã errou, os seus pais também e talvez até você tenha errado hoje, mas você não errou quando escolheu ser feliz. Então, para de ficar se culpando pelo o que já aconteceu e você não pode mudar. Segue em frente!
— Eu não sei como fazer isso, Melissa.
— Começa indo visitar a sua irmã.
— Meus pais não me querem lá.
— Você está indo ver a sua irmã e não eles. — deu de ombros. — Se preferir, eu vou com você.
— Bom, eu não prometo nada, mas eu vou pensar, tudo bem?
Ela concordou com a cabeça.
— E amiga, obrigada pelo puxão de orelha. — sorri minimamente.
— Ah, sempre que precisar. — abraçou-me sorrindo.
Gostaria muito de ter conseguido passar o resto da noite tranquila, mas não foi isso que aconteceu. Eu estava, sim, mais calma, porém ainda receosa devido a tudo o que ocorreu. As palavras ditas por Melissa não paravam de ecoar na minha cabeça. Ela é uma mulher incrivelmente cuidadora e prestativa, mas definitivamente sabia falar sério e me corrigir. Chega a ser assustador as vezes. Mas ela estava certa. É hora de enfrentar as consequências.



Fazem dois dias desde que toda aquela confusão aconteceu e minha irmã perdeu o bebê. Em busca de informações, conversei com o meu irmão para saber como a Megan estava e se já estava em casa, foi quando fiquei sabendo que, na verdade, ela ainda estava no hospital em observação. Decidi, portanto, fazer o que a minha amiga já havia me aconselhado antes: ir visitá-la.
Nesse exato momento, me encontro parada em frente a porta que dá acesso ao quarto em que ela está. Graças aos céus meus pais não haviam me colocado como uma das pessoas proibidas de visitá-la; todavia, honestamente, eu não sei se devo ou não entrar, e essa foi a questão que veio martelando durante todo o caminho em minha mente. E se eu entrar e ela me mandar embora? E se ela me culpar por tudo o que aconteceu? Até hoje cedo eu repeti para mim mesma que estava na hora de enfrentar as consequências dos meus atos, contudo, o meu sincero desejo no momento é fugir. Correr para bem longe daqui. Porém, mais rápidas do que a minha própria mente, as minhas mãos se puseram sobre a maçaneta da porta e a abriram. Me deparei com ela deitada sobre a cama com os olhos fechados. Magnifica é essa capacidade que ela possui de permanecer bonita mesmo estando hospitalizada. Sorri em meio a esses pensamentos, virando-me para fechar a porta.
— Pensei que não viria.
A voz dela soou e eu me dei conta de que realmente agora era tarde para correr. Ela estava acordada.
Virei-me para ela e a vi sorrir. Finalmente pude relaxar, notando que também estava sorrindo.
— Eu não poderia deixar de vir te ver.


Capítulo 10

É importante lembrar que sempre depois da chuva surge o arco-íris, assim também como depois da noite sempre vem o dia, ou seja, pode estar tudo um desastre, e tudo o que a pessoa saiba fazer é chorar, mas uma hora vai passar. Tem que passar.
E foi isso que eu descobri nesses dias. Apesar de todas as possíveis coisas horríveis que aconteceram comigo, com a Megan e com a nossa família, as coisas estão surpreendentemente indo bem. Nada que uma boa conversa com choros e pedidos sinceros de perdão não resolvam. Afinal, relacionamento de irmãos é assim mesmo. Uma hora você está odiando a pessoa e quer vê-la morta; 10 minutos depois vocês já estão se falando novamente como se nada tivesse acontecido. E essa é a graça de ter irmãos. Saber que você sempre terá pra quem voltar.
Talvez algumas pessoas fiquem sem entender como depois de tudo o que aconteceu, após toda a mentira que minha irmã lançou contra mim, eu ainda fui capaz de perdoá-la e agir como se nada houvesse ocorrido. O que a sociedade não sabe é que ela fez tudo isso não para me atingir de fato e me ver sofrer e, sim, para tentar me livrar de algo que ela acreditava que estava me fazendo mal.
É complicado de entender, porém o meu relacionamento com a Meg sempre foi movido pela sua intensa necessidade de me proteger de tudo que poderia me ferir. Ela sempre foi aquela irmã mais velha que ao saber que uma menina qualquer estava implicando comigo, ia até o colégio tirar satisfação com a mesma e deixar claro que, para mexer comigo, antes, teria que passar por cima dela.
Diversas vezes os nossos pais tiveram que apartar as nossas brigas porque chegou um momento em que toda essa proteção dela ao meu respeito começou a me irritar. Não era nada exagerado como os sentimentos dos meus pais em relação a mim, mas era extremamente irritante quando eu queria viver alguma aventura, como participar de um racha escondido e ela me impedia (em minha defesa, foi um pensamento idiota fruto de uma adolescente idiota de 13 anos); bom, hoje eu agradeço por isso. Contudo, o fato é que agora eu honestamente sei o quanto ela me ama e faria tudo por mim. Ela errou, eu errei, e ambas sabemos disso, e já nos perdoamos por isso, mas não há nada melhor do que viver com a certeza de que se tem uma irmã para amar.
Desde que tudo se resolveu, ao menos o meu relacionamento com ela, eu venho visitando a casa da Megan quando posso. Nos milagrosos tempos livres em que eu não estou com o , a Mel, ou os dois, eu estou com ela fazendo alguma coisa para recuperar o tempo em que ficamos longe.
Olhando para toda essa evolução, tudo o que eu sinto é alegria, pois finalmente uma parte do meu coração foi colada de volta. Agora ela já consegue ouvir o nome do sem revirar os olhos, assim como também já consegue ser legal com ele.
Contudo, após passar os últimos dias reclamando que agora eu só tenho tempo para a minha irmã, o que obviamente não é verdade, me convenceu a acompanhá-lo em uma partida de boliche juntamente com a Melissa e o novo namorado dela. Sim, agora ela não precisa mais sair sozinha conosco com cara de paisagem enquanto eu e o passamos por um momento nosso; agora ela já tem o próprio namorado com quem pode se atracar em paz.
O único detalhe era que eu já conhecia quem era o rapaz, mas essa seria a primeira vez que o se encontraria com ele.
— Essa cara tá boa pra fazer quando ele chegar? — fez uma cara de sério, tentando amedrontar. — Tá dando medo?
Ri.
— Claro que sim!
— Sério?
— Estou até com as pernas bambas. — disse, rindo ao final.
A cara de tédio que ele fez me levou a rir ainda mais diante de toda a idiotice do momento, e sem demorar muito, fui acompanhada por ele que também ria.
Estávamos em frente à entrada do estabelecimento, esperando Melissa e Tyler para enfim podermos jogar.
— Você nunca teve problema com o fato da Melissa namorar ou não. Não sei por que está ligando pra isso agora.
— Eu não vejo problema em ela está namorando, mas é uma questão de impor respeito. Esse garoto precisa saber que se ele partir o coração dela, eu parto a cara dele.
— Impor respeito? — perguntei, segurando o riso.
— Eu deveria ter vindo com uma camisa sem manga para ele ver os meus músculos.
Esse foi o limite.
Imediatamente um riso alto escapou da minha boca, enquanto eu repetia diversas vezes na minha mente o que ele acabara de dizer.
continuou fazendo caras e bocas para descobrir qual delas poderia aterrorizar o rapaz quando ele chegasse, no entanto, ele fazia isso de modo tão engraçado que nem mesmo ele conseguia segurar o riso.
— Guarda os seus “músculos” só pra mim, tá bom? — segurei o rosto dele entre as mãos e depositei um beijo em seus lábios.
— Não entendi o entre aspas.
Sorri.
— Você pode confiar nela. Ela sabe escolher bem.
— Eu confio. — deu de ombros, sorrindo
Mesmo em momentos simples como esses, era muito bom está do lado dele porque me era transmitida uma paz inexplicável que acalmava todo o meu ser. Mesmo que às vezes nem eu soubesse que o mesmo estava agitado.
Permanecemos esperando pelos dois um pouco mais de tempo, até que ambos os avistamos se aproximando de nós.
, se comporte.
— Oucht! — exclamou.



Mais tarde nesse mesmo dia, já estávamos brincando por cerca de uma hora, e agora só faltavam mais meia para que a partida fosse encerrada.
Tyler Jones e Melissa estavam à nossa frente por alguns pontos de diferença, e tudo o que o sabia fazer desde então era me culpar, afirmando que eu jogava muito mal.
Por diversas vezes eu me peguei parada observando-o. Já estamos juntos há quase um ano, e ainda assim, todos os dias com ele, é como o primeiro. Ainda sinto as minhas mãos suarem e borboletas voarem por todo o meu estômago quando ele se aproxima. A vontade de agarrá-lo a cada 10 minutos ainda existe dentro de mim, e quando ele me toca então, simplesmente me perco nele. Era incrível como mesmo com praticamente todos contra mim, ele permanecia sendo a escolha mais certa que já fiz.
Inesperadamente, fui acordada dos meus devaneios com um grito vitorioso do outro casal.
Eles haviam marcado mais um ponto.
Strike.
Melissa gritava e abraçava o seu parceiro em comemoração.
— Amor, para de me envergonhar, poxa. — balançava a cabeça em desapontamento.
— É o que, ? Os dois últimos pontos quem marcou foi eu. — olhei para ele com com a sobrancelha erguida e um sorriso zombeteiro no rosto.
— Relaxa, coroa! Da próxima você ganha. — disse Tyler, sorrindo.
— Preciso te lembrar que eu sou o pai da Melissa? — indagou, fingindo estar bravo.
O garoto ficou sem graça ao ouvir o sogro. Não sabia o que responder.
— Não, eu-tava brincando — engasgou com as palavras.
Nós três rimos.
— Meu pai está brincando, babe. Não liga pra esse chato.
— É bom se acostumar, Tyler — falei com divertimento.
Logo após, retornamos novamente ao jogo para os 30 minutos restantes.
O resultado final não foi nenhuma surpresa. Melissa e Tyler nos venceram com uma boa contagem superior de pontos.
— Só queria dizer que vocês tiveram sorte. Só isso. — se defendeu.
— Deixamos vocês ganharem por pena. — completei.
Os dois riram das nossas reações.
— Vão aprender a jogar! — rebateu Melissa.
— Quando te via na faculdade, sempre me pareceu que você era uma boa jogadora, . Acho que estava enganado.
— Ninguém te perguntou nada, Tyler. — retruquei, revirando os olhos em seguida.
Risos puderam ser ouvidos.
— Bom, acho que está na hora de irmos. — Melissa se pronunciou.
— Foi um prazer te conhecer, senhor . — disse Tyler, apertando a mão de em cumprimento.
— Pode me chamar de , garoto.
Tyler acenou com a cabeça.
— Então, nos vemos em casa, pai. O Tyler vai me levar.
— Tudo bem! Eu ainda tenho que deixar a em casa.
— Em casa? — questionou Tyler, confuso. — Pensei que vocês moravam todos juntos.
mora sozinha, Ty. — Melissa explicou.
Sorri.
— Porque ela quer. Eu já disse milhares de vezes pra ela vir morar conosco. — olhou-me em reprovação.
— Muito obrigada por lembrá-lo sobre o assunto, Tyler! — o repreendi, pendendo o peso do meu corpo de uma perna para a outra.
Ele balbuciou um pedido de desculpas para mim, enquanto que Melissa sorriu.



O mais novo casal já havia partido para casa e agora só restava nós dois, que nos encontrávamos no carro em direção ao meu apartamento.
Fomos o caminho inteiro cantando e brincando vez ou outra um com o outro, mas a maior parte do tráfego foi percorrido sem um assunto específico. Para ser mais exata, se não fosse pelas músicas, estaríamos em completo silêncio. Porém, isso não foi nenhum incômodo para nós dois.
Depois de tanto tempo convivendo com uma pessoa em especial, você aprende a valorizar e a viver todos os momentos, inclusive aqueles em que os assuntos desaparecem. Sem drama. Sem problema. É só que não é todo tempo que temos assunto e aprender a lidar com isso é essencial. Afinal, somos humanos, não máquinas de falar.
A fachada do prédio em que eu vinha habitando nesses últimos meses surgiu, permitindo-se ser enxergada através do para-brisa.
Sorri.
Mesmo não sendo o lugar mais bonito do mundo, eu me sinto contente por ter conquistado algo que eu posso chamar de meu.
Após acontecer tantas desgraças na vida, as pessoas sempre tendem a pensar que nada mais vai dar certo, e eu me encontrava exatamente nesse nível. Ferrada. Até que descobri que um apartamento, não muito grande, mas aconchegante, estava sendo vendido por um preço acessível. Não pensei duas vezes, o comprei e agora posso dizer que estou feliz por ter feito aquilo.
Saí do carro juntamente com , que havia estacionado na entrada do prédio.
Ele se encostou no veículo e logo eu entendi que deveria fazer o mesmo, no entanto, ao invés de ficar com o corpo colado no carro assim como ele, eu me aconcheguei em seus braços, observando o lugar onde deveria entrar. Segurei em suas mãos que estavam sobre o meu peito, e me permitir aproveitar aquele momento.
As mãos dele se pousaram sobre a minha barriga e se dispuseram a movimentar-se, provocando cócegas em mim. Não conseguia parar de rir. Me contorci de um lado para o outro até que finalmente ele resolveu parar.
— Que horas são?
— Quase 10. — respondi ainda me recuperando das risadas.
— O que acha de irmos caminhar na praia?
— Agora?
— Por que não?
Encolhi-me em seus braços ao sentir o choque do vento gelado passar pelo meu corpo.
— Por isso. — falei, me referindo ao que tinha acabado de acontecer.
— Pega uma roupa de frio lá em cima e vamos.
Ele me deu um leve empurrão me incentivando a fazer o que ele tinha dito. Virei o meu rosto em sua direção, assustada pelo que ele tinha acabado de fazer, então o repreendi com a pronúncia de seu nome, mas o que recebi em troca não foi o esperado. Ele simplesmente bateu na minha bunda com um sorriso enorme estampado em seu rosto. Sorri como quem diz que ele não tinha jeito.
Era melhor buscar logo o casaco.



A praia não ficava muito distante de onde morava, por isso optamos por ir a pé até lá.
Assim como antes, o vento continuava gelado, acredito inclusive que estava piorando a cada minuto que se passava, pois mesmo com o casaco, os pelos dos meus braços estavam arrepiados, e eu andava abraçada ao para garantir que nem eu e nem ele morreríamos de frio.
— Olhando para essa beleza que está esse mar, vai dizer que não foi uma ótima ideia termos vindo aqui agora?!
— Podíamos estar vendo essa mesma lindeza pela manhã e sem morrer de frio. — rebati, rabugenta.
— Ah, larga de ser chata, !
— Ai! — Ele exclamou com o tapa que lhe dei no braço.
— Não me chame de chata.
Essa foi a brecha que ele precisava.
Depois disso ele repetiu a palavra chata por umas cinco vezes, parecendo uma criança de cinco anos. Ele conseguia se desvencilhar todas as vezes dos tapas que eu lançava contra ele, e tudo o que ele sabia fazer era rir de mim, já que nenhum dos tapas o acertava.
— Me conta, como vai a faculdade? — perguntou, voltando a me abraçar.
— A mesma coisa de sempre. O mesmo estresse. — dei de ombros. — A diferença é que agora que o curso está definitivamente caminhando para o fim, a correria vai cada vez mais se intensificando e o meu tempo regredindo. Inclusive, isso significa que eu não vou ter mais tanto tempo assim pra sair com você ou com qualquer outra pessoa, na verdade. Preciso que você entenda isso.
— Quando foi que eu não entendi?
— Você quer mesmo que eu conte? — arqueei a sobrancelha. — Você é o drama em pessoa, . Nunca vi.
— É só pra te abusar — sorriu sapeca. —, mas eu entendo que tem coisas para resolver. Não é como se eu não tivesse nada para fazer também.
Limitei-me a concordar com um aceno de cabeça.
Continuamos andando e conversando sobre as coisas da vida, até que ele, ainda ao meu lado, se agachou no chão.
Senti a sua mão segurar a minha, e meu coração imediatamente disparou.
.
— O-i — meus olhos estavam esbugalhados, e eu senti que começara a suar. Olhei em seus olhos pretos.
— Uma formiga mordeu o meu pé. Ai! — disse, abaixando a cabeça e coçando o pé agressivamente.
— Ah, idiota! — exclamei exasperada.
Distribui leves socos em seus ombros, enquanto ele levantou da areia gargalhando e limpando a roupa.
— Achou que eu ia te pedir em casamento, não foi?
— Não achei nada. Afe! Idiota! — revirei os olhos.
Ele riu.
começou a se abanar.
— Tá calor aqui, né?
— Calor? , eu estou tremendo de frio.
— Tá quente. — sacudiu a camisa.
O rosto dele começou a se transformar em uma face de esperteza e eu logo percebi o que me aguardava a seguir.
Comecei a gritar e andar para trás antes que fosse muito tarde.
— Não! Não! Não!
Ele me tomou em seu colo e disparou a correr.
! Não! — gritei.
Ele continuou correndo em direção a água.
Porém, tudo aconteceu muito rápido, pois ele escorregou de repente e caímos os dois na areia.
Ele bateu a bunda na areia, mas pelos menos eu caí por cima dele. A vingança da natureza é linda.
, machucou? Você tá bem? — perguntei, preocupada, saindo de cima dele para que ele pudesse levantar.
Ele levantou com as mãos na bunda e com cara de dor, mas assim que ele abriu os olhos e os meus se encontraram com os dele, eu não aguentei. Comecei a rir descontroladamente.
— Toma! — gritei. — Ninguém mandou mexer comigo. O universo é ao meu favor, lindo.
Ele riu minimamente, no entanto permaneceu com a cara de dor.



Por voltas das 11 e meia da noite, nós retornamos para o apartamento em que eu morava, com o ainda mancando de dor no início, mas logo depois ele voltou a andar direito.
— O que aprendemos hoje? — perguntei.
— Que você precisa emagrecer.
Gargalhei.
— Aprendemos a não brincar com a protegida do universo.
Ele sorriu junto comigo e beijou a minha testa.
— Tenho que ir.
— Tudo bem. Vê se coloca gelo nessa bunda, viu? — disse, divertida.
— Um beijo é melhor. — disse se aproximando de mim
— Eca! Sai! — o empurrei levemente.
— Boa noite, amor! — sorrindo, disse.
Ele me beijou e saiu em direção ao carro, enquanto eu me direcionava à entrada do prédio.
Já na porta, o chamei.
— Eu aceito. — disse assim que ele olhou para mim.
— Aceita o quê? — sorriu confuso.
— Morar com você. — Sorri. — Boa noite!


Capítulo 11

Fazia uma semana desde que tomara a decisão de se mudar para a casa dos , e ainda não havia caído em si do que havia feito, muito menos do quão bem estava se sentindo em ir morar com eles. Pelo , ela teria se mudado no dia seguinte àquele, entretanto, a mulher preferiu esperar até o próximo fim de semana para o fazer. Esse seria o tempo “livre” dela.
As três malas de roupas e uma pequena mala com sapatos estavam sendo levadas para o carro por Melissa e o pai, ambos empolgados com a novidade, enquanto se despedia do apartamento em que morou durante aquele ano.
Ela decidira alugar o local para uma viúva que a procurou após tomar conhecimento da oferta de aluguel. A senhora parecia legal e simpática. Até se propôs a dar conselhos amorosos para a garota, que prontamente recusou. Não precisava de mais gente opinando sobre a sua vida sentimental.
Terminou de se despedir do antigo lar e entregou a chave para a nova dona. Ela preferiu fazer uma cópia e manter a original consigo caso fosse necessário. entrou no carro que a aguardava e foi levada em direção ao seu novo lar. Estava indo morar com o , o que outrora jamais cogitou que pudesse acontecer; não por que não desejasse isso, mas porque fugia dos seus princípios, ou melhor, dos princípios do seus pais.
O grande sorriso não saía do seu rosto, literalmente não saía; ela até tentou tirá-lo, mas não deu muito certo, e agora o seu rosto já reclamava de dor.



Naquele mesmo dia, enquanto todos estavam sentados na mesa de jantar, o silêncio ininterrupto havia invadido o local sem ser convidado, e os dominava. Todos os três estavam tensos, e ninguém pronunciava uma palavra sequer. então, nem se fala, desde a hora que sentou ali estava com a cabeça baixa. Por algum motivo ela sentia vergonha daquela situação, e não conseguia encarar nenhum dos outros dois nos olhos, até que um riso nada discreto preencheu a sala. Melissa gargalhava com tanta vontade que os seus olhos estavam cheios de lágrimas, levando assim os outros a rirem na mesma intensidade que ela.
— Que situação mais ridícula! — Exclamou Melissa, sem parar de rir.
— Nem fala. — concordou.
— Como foi que chegamos nisso? — questionou, agora mais controlada.
— Você começou a dormir com o meu pai.
As risadas pararam abruptamente, ao tempo em que todos se olharam um tanto quanto assustados pela resposta rápida, no entanto, isso não durou muito, pois logo o riso voltou a preencher a sala.
— Bom, eu vou lavar a louça. — Melissa levantou, recolhendo os pratos. — Alguém quer me ajudar a secar?
fez um som de negação.
— Toda sua, amiga.
Melissa olhou para o pai em busca de ajuda.
— Hoje não, filha. — sorriu minimamente.
Ao perceber que não iria ter a ajuda de nenhum dos dois seres, Melissa rolou os olhos, e saiu andando em direção a cozinha com as mãos ocupadas.
— Eu vou amar essa garota aqui. Eu vou amar. — repetia para si mesmo como um mantra, em provocação aos demais.
O casal riu ao ouvir o que a outra havia dito. No entanto, inesperadamente, a vergonha tomou novamente conta da mulher quando ela viu os olhos do outro sobre ela.
— Não precisa ficar tímida.
— Eu sei. — escondeu o rosto com as mãos. — Nem eu entendo o porquê que estou assim.
— O que vai fazer agora?
— Tenho que terminar de ler um livro para segunda.
— Hum.
— Por quê? Tem algo melhor em mente?
— Não — deu de ombros. —, vou te acompanhar.
Ela olhou para ele desconfiada.
— O quê? Juro que vou ficar quietinho. Você nem vai notar que estou lá.



Durante os 30 minutos que se seguiram, ela já estava em seu novo quarto, que era o quarto do , ao lado dele, que a abraçava. Faltavam somente algumas páginas para que ela terminasse o livro, mas que mais se pareciam enormes capítulos de tão chato que era. Em compensação, ainda mantinha a sua promessa e estava calado, somente olhando para cima e lhe fazendo carinhos hora ou outra. Ele sabia se comportar. Pelo menos era o que ela esperava.
— Sobre o que é esse livro? — Ele perguntou com curiosidade, enquanto tentava olhar por cima do ombro dela para ler do que se tratava.
— Eu sabia! Eu sabia!
— O que foi?
— Você não consegue ficar quieto. — ela disse, rindo.
— É claro que consigo.
— Não, não consegue. Por um minuto até achei que conseguiria, mas…
A cara do rapaz era engraçada. Ele estava ligeiramente ofendido com o comentário da mulher. Por fim, ele se rendeu, dando de ombros.
— É um dom natural.
Sorrindo, ela lhe deu um beijo rápido, logo voltando a leitura do livro.
— Acabei de perceber que você nunca me contou como foi a sua infância de fato. — disse, após cinco minutos de silêncio.
— Ai meu Deus! — Ela exclamou, rindo.
— Eu só estou curioso, ué. — tinha um sorriso brincalhão no rosto.
Algumas vezes ela achava que o namorado era uma criança de cinco anos. Uma criança muito fofa.
sentou-se na cama, pôs o livro fechado sobre o criado-mudo, e, então, olhou rendida para o rapaz, encorajando-o a perguntar o que queria.
— Você se divertiu?
— Sim.
— Sério? — questionou, confuso.
— Sim.
— Mas e todo aquele lance com os seus pais?
— Tudo aconteceu, mas ainda assim eu tive uma infância interessante.
— Agora eu estou confuso.
, eles eram sim terríveis para se lidar, como até hoje são. Tudo o que eu já te disse é verdade, tudo mesmo, mas eu acho que eu que me fiz ser mal-entendida. — suspirou. — Apesar de tudo o que houve, eu vivi momentos legais também. Eu não podia brincar na rua ou sair com minhas amigas, mas eu ainda podia recebê-las em casa, tudo bem que isso não ocorria sempre, mas às vezes existiam milagres, e, além disso, também tinha os meus irmãos para brincar.
— Você foi uma criança feliz?
— Na medida do possível, sim. Além disso, amor, quando se é criança a inocência te domina. Criança não olha o mundo como ele é de fato. São sempre fantasias. — suspirou.— Diversas vezes eu fingi que era uma princesa presa no castelo, esperando pelo príncipe encantado que iria me salvar, entende? Hoje eu sei que era um pensamento triste, mas na época era até divertido.
— Eu não consigo me imaginar criando a Mel dessa forma.
— Não se preocupa, você foi e continua sendo um ótimo pai.
— É claro que eu fui pai de pôr limites, essas coisas, mas eu também a criei querendo que ela soubesse que ela tinha alguém pra rir junto, pra se abrir. Ainda mais depois que a mãe dela morreu e só ficamos nós dois.
— Sim, e isso foi importante. — acariciou a mão dele, sorrindo. — Meu pai já me fez rir muito, . Não só ele, mas a minha mãe também.
— Tá vendo? Por isso que insisto em dizer que tudo isso é somente uma fase. Eles estão passando por um processo de desapego. Era pra terem passado por isso há anos, mas infelizmente só veio rolar agora.
— É, pode ser.
— É como alguém que tem o melhor dos tesouros, : perdê-lo é o pior dos pesadelos, e a única vontade existente é de guardar esse tesouro tão bem guardado que ninguém poderá tomar. — deu uma pausa, mas ela não comentou nada, o fazendo entender que deveria continuar a falar. — Não estou aqui defendendo-os como se estivessem certos, mas tentando fazê-la entender que toda história tem dois lados.
— Você acha que estou errada na história?
— O que eu quero dizer é que...— o barulho do celular dela tocando o impediu de continuar.
— É o Mason. — ela disse, olhando para a tela do aparelho. — Oi, May. — falou ao atender.
— Primeiro, eu quero pedir desculpas desde já — Mason disse apressado, parecendo nervoso. — Segundo, você precisa entender... — parou de escutá-lo quando ouviu Melissa gritar por ela da sala, um andar abaixo de onde o casal estava.
Na mesma hora, ela sentiu o coração acelerar, batendo em uma velocidade tão rápida que nem ela achou que fosse possível. Algo dentro de si a dizia que o motivo de Melissa estar chamando por ela, era o mesmo da ligação do seu irmão.
Ela desceu as escadas com rapidez até o lugar que a amiga estava. Melissa parecia estar alterada e discutindo com alguém que ela não conseguia ver quem era. Contudo, o mistério logo acabou quando ela ouviu o nome da sua mãe ser pronunciado.
— Você deveria ir embora, Susan. — Melissa sugeriu, impaciente.
— Eu não vou sair daqui até falar com a minha filha.
— O que você está fazendo aqui? — apareceu na porta, encarando a mãe com curiosidade.
, tenha paciência. — Ela ouviu Mason gritar desesperado pelo telefone. O aparelho ainda estava ligado, encostado em sua orelha, mas logo ela o desligou sem nem responder.
— A gente pode conversar?
Susan aparentava está nervosa, mas também receosa. Pelo que conhecia da sua mãe, estar ali diante dela deveria está sendo um desafio enorme. A mulher era orgulhosa.
— Pode falar.
— Podemos conversar a sós?
A pergunta fez olhar para trás, notando que tanto Melissa quanto estavam atrás dela, preocupados.
Ela se lembrou da conversa que tivera a pouco com e da ligação urgente do irmão, percebendo que algo estava errado, por isso balançou a cabeça para os dois atrás de si em um sinal de que deveriam sair. Então voltou sua atenção para a mãe. Nem uma das duas disse nada até que a mais jovem cansou de esperar.
— Então, você tem alguma coisa pra falar ou não?
— Eu não entendo como você pôde fazer isso com a sua própria família.
— Ai meu Deus! Vai começar de novo. — disse, cansada. — Olha, mãe, eu estou realmente muito cansada de brigar com você, com o papai, ou qualquer outra pessoa. Cansada dessa imaturidade toda. Eu estou feliz e quero continuar assim, tudo bem? Me desculpe por ter sido a decepção da família, mas eu realmente cansei. Acho que deveria ir embora. — apontou pra rua. — Você quer que eu chame um táxi? — perguntou ao ver que não tinha nenhum carro esperando pela mulher.
— Não, na verdade eu...— a interrompeu.
— Eu vou chamar um pra você.
Ela virou-se para dentro da casa, andando para se afastar da mãe e poder ligar para alguém vir buscá-la, mas parou de andar bruscamente ao ouvir algo que ela não esperava.
— Eu estou morrendo, . — a mãe dela falou de uma vez.
Voltando o seu corpo novamente em direção a mulher, a encarou, pálida.
— Eu estou morrendo, abelhinha.


Capítulo 12

, corre aqui! Vem ver o que a mamãe trouxe pra você. — Susan disse animada.
— Presente? — a pequena garota de sete anos perguntou com curiosidade.
Ela corria até a mãe, empolgada com a possibilidade de estar ganhando algo novo e, após ver um embrulho roxo nas mãos dela, o pequeno coração que a menina carregava dentro de si, saltou, fazendo-a correr ainda mais animada para saber o que era aquilo.
Sua mãe deu o presente para ela, curiosa para saber qual seria a reação da garota ao descobrir o seu mais novo presente.
rasgou o embrulho o mais rápido que conseguiu, abrindo a boca em uma reação de surpresa logo depois. Encontrou uma roupa amarela com listras pretas que estava dobrada perfeitamente, mas não por muito tempo já que ela estava tão apressada que desdobrou a roupa para poder ver melhor. Ao olhar para aquela pequena roupa amarela e com anteninhas, onde ela deduziu que colocaria a cabeça, os olhos da menina se iluminaram e um enorme sorriso surgiu em seus lábios.
— Uma roupa de abelha! — gritou, animada.
Depressa, ela tratou de abraçar a mãe.
A pequena garota já estava esperando isso há dias, mais especificamente, desde quando as duas passaram em frente a uma loja de fantasias e a menina cismou que queria a todo custo aquela roupa de abelha que, de acordo com a mesma, iria combinar perfeitamente com as suas manhãs de desenho.
— Obrigada, mamãe!
— Não há de quê. — sorriu. — O que você acha de vesti-la e desfilar pra mim?
sorriu em meio a pulos de alegria.
A garotinha correu até o seu quarto e deu um jeito de trocar de roupa o mais depressa possível, voltando para a sala logo em seguida.
O desfile começou e Susan aproveitava para tirar várias fotos da filha, enquanto a mesma se divertia tanto que soltava gargalhadas e abria sorrisos enormes.
— Você tá linda, filha!
— Obrigada, mamãe! — sorria alegremente. — Te amo! — disse, abraçada a cintura da mãe.
— Te amo, abelhinha!


A lembrança do dia em que ganhou aquela roupa, veio em cheio a mente da não mais garotinha de sete anos, mas da mulher que se tornara. ainda encarava a sua mãe, parada, sem saber o que dizer ou fazer. A mente dela estava trabalhando a todo vapor e, apesar de querer, não conseguia se movimentar ou sequer dizer uma palavra. Até que aos poucos um choque percorreu todo o interior do seu corpo, acordando-a de um transe.
— Isso não pode ser verdade. — ela disse, desacreditada. — Você está mentindo.
A essa altura, lágrimas já invadiam os olhos dela e rolavam insistentemente pelo rosto da mulher, que tentava contê-las.
— Eu tenho Alzheimer, querida. — Susan explicou, não menos emocionada. — Descobri há poucas semanas.
Em um ato de desespero, levou as mãos até os ouvidos, tampando-os, em um esforço inútil de não ouvir o que sua mãe estava dizendo. Ela nem sabia que isso era possível, mas sentia como que a sua alma a tivesse abandonado, porque dentro de si sentia um vazio dolorosamente grande.
— Não te contei antes porque eu não sabia como. Eu errei tanto com você, minha filha. — lamentou-se em meio as lágrimas que escorriam pelo seu rosto. — Quando você foi lá em casa, eu estava enfrentando um dia tão difícil. Fazia poucos dias que havia recebido o diagnóstico e minhas emoções estavam uma bagunça, não muito diferente da minha mente. — aproximou-se mais da filha. — Sabia que em pouco tempo eu não estaria mais aqui e não podia fazer nada, e ainda precisava lidar com a sua perda.
olhou para sua mãe desacreditada nesse momento. Ela não queria acreditar no que ouvia.
— Com a minha perda? Foram vocês mesmos que me deserdaram. — exasperou, sentindo o nervosismo ser misturado com a tristeza que habitava em seu peito. — Eu nunca deixei de amar vocês, foram vocês, foi você — apontou para mulher. —, quem me abandonou.
— Eu nunca deixei de te amar também. — Susan confessou.
O pesar na voz da mulher era notório.
— Não foi o que pareceu. — respondeu, rispidamente.
— Você acha que era fácil pra mim ver minha filha, sobre a qual eu tinha tantos sonhos e projetos, jogar tudo para o alto para viver algo que eu achava um absurdo? Foi difícil, . Ponha-se no meu lugar. Você nunca me contou nada e de repente me joga uma bomba dessas.
— Você nunca se interessou. — ela desabafou, enquanto movimentava as mãos sem parar. — Nunca gostou de me ouvir falar sobre esses assuntos, e não faz diferença, porque mães não deveriam fazer o que você fez.
— Não, , eu sempre me interessei, só me era doloroso imaginar que um dia você não estaria mais comigo. — ela suspirou. — Eu sei que errei com você, filha. Sei que deveria ter ficado ao seu lado, que precisava de mim assim como preciso de você. — colocou-se frente a frente da filha. — Quero que me perdoe, abelhinha.
não conseguia segurar mais o choro. Dentro dela havia uma mistura de sentimentos que a sacudiam para todos os lados sem parar. É claro que ela amava a mãe, mas todas as mágoas estavam entaladas em sua garganta. A ideia de que daqui a algum tempo sua mãe já não seria mais a sua mãe, a atormentava tão fortemente que o desejo dela era arrancar o coração para fora para que assim toda dor também fosse com ele; mas ao mesmo tempo essa dor se misturava com a dor que sentiu durante todos esses meses. Todas as vezes que precisou do colo da sua mãe e não teve, todas as palavras duras que ouviu, o sentimento de abandono… Naquele momento, ela era somente uma caixa cheia de emoções confusas.
Ao perceber que a filha não lhe daria nenhuma resposta, Susan levou as mãos até o rosto dela e olhou no fundo dos seus olhos. As suas mãos tremiam, e ver o quanto sua filha estava sofrendo por sua própria culpa a destruía completamente. Com os olhos repletos de lágrimas e com o rosto vermelho, a mulher respirou fundo.
— Com tudo isso, a depressão tomou conta de mim, . Eu sei que não justifica, mas muitas das terríveis coisas que fiz, que te magoaram tanto, são por causa disso. Eu ainda não estou bem, mas estou lutando contra isso. Não vou me entregar a morte mental tão facilmente, mas sei que ela será inevitável. — tentou limpar as lágrimas, mas continuou a chorar. — Eu só não queria morrer sem antes te pedir perdão por toda dor que causei, meu amor, porque de tudo o que eu não queria esquecer, a noção de quem é você e da sua importância para mim, serão as mais difíceis de perder.
, ainda em prantos, agarrou a sua mãe em um abraço apertado e que parecia não ter fim. De fato, nenhuma das duas queria que tivesse.
As lágrimas pesadas que caíam dos olhos da filha, encharcavam os ombros de Susan, mas ela não se importava. Era o primeiro momento, após meses, em que, finalmente, a filha estava em seus braços, e que ela própria havia deixado para trás o seu orgulho idiota para fazer o que era certo. Susan também chorava naquele momento, entretanto, mais controladamente. Não é que a mulher não queria chorar tanto quanto a filha, mas naquele momento ela não se achava digna para tal; o maior dos erros ali foi ela quem cometeu, então agora, o mínimo que ela poderia fazer era ser forte pela menina em seus braços.
Ainda abraçadas, os choros foram se cessando aos poucos, em contraste com a dor que ainda permanecia lá. E depois de alguns minutos, uma respiração profunda pôde ser ouvida, seguida logo depois pela separação de corpos.
encarou o chão por um tempo, chacoalhando a cabeça antes de voltar o seu olhar novamente para a outra.
— Você vai ficar aqui essa noite e amanhã mesmo nós vamos procurar um outro médico pra ter certeza do que está acontecendo. — ela falou com firmeza, enxugando as lágrimas que restaram, enquanto encarava a sua mãe.
— Filha, eu já fiz isso. O médico que me deu o diagnóstico é o melhor de toda região, além disso, eu procurei, sim, uma segunda opinião.
— Não importa, vamos em busca de uma terceira opinião então. Eles podem estar errados.
Susan, apesar da tristeza que habitava dentro dela há dias, sorriu para a filha tentando confortá-la. Ela sabia que eles não estavam errados.
— E você vai dormir aqui essa noite, assim podemos ir juntas amanhã.
, eu não posso dormir aqui, filha. Preciso voltar pra casa.
— Eu não vou deixar você voltar sozinha uma hora dessa, Susan. Já está tarde — explicou, como quem fala com uma criança teimosa. — Você fica!
A mais velha olhou com orgulho para a sua cópia fiel. Ela estava realizada ao se dar conta de que criara a menina da maneira certa.
— Você é forte. — a elogiou, sorrindo, ao passo que transferia o peso do corpo de uma perna pra outra.
— Digamos que eu tive a quem puxar. — revirou os olhos, enquanto, fracamente, sorria. — Agora eu só preciso avisar ao . — riu se lembrando desse detalhe. — Essa ainda é a casa dele.
— Ela pode ficar. — a voz grave do rapaz soou do andar de cima.
Instintivamente, olhou em direção de onde vinha a voz.
, você estava ouvindo a conversa esse tempo todo? — ela perguntou com a sobrancelha erguida, se divertindo com o atrevimento do namorado.
— A Mel me obrigou. — ele respondeu, colocando a cabeça à vista, enquanto o corpo continuava escondido atrás da parede.
— Hey! — reclamou Melissa, também deixando-se ser vista.
finalmente se permitiu rir ao ver o posicionamento idiota dos dois, enquanto que sua mãe somente observava toda a cena um tanto quanto surpresa.
— Leva ela para o quarto de hóspedes, amor.
— Vamos? — ela perguntou a mãe.
Susan balançou a cabeça em confirmação e esperou a garota fechar a porta de entrada, que só então elas se deram conta de que tinha ficado aberta durante toda a conversa. voltou até ela e as duas se puseram a subir a escada até o quarto onde a mais velha ficaria.
— Estou surpresa que ele tenha me deixado ficar. — Susan confessou em um tom baixo, mais para si mesma do que para qualquer outra pessoa.
— Pois é, esse é o mesmo cara que você dizia que não servia para mim. — Soltou de uma vez, balançando a cabeça em negação. — O meu namorado é um amorzinho, mãe.
O coração da mais velha se aqueceu numa ótima sensação de prazer ao ouvir a filha chamando-a da forma como ela nunca devia ter deixado de chamar.
— É, ele parece ser legal.
sorriu ao, finalmente, ver sua mãe se rendendo.



— Bem — pigarreou para chamar atenção da mãe que admirava o céu pela janela. —, o já combinou tudo com um grande amigo dele que é especialista nesses casos e temos um encontro com ele amanhã pela manhã. — anunciou tudo com rapidez, mexendo as mãos na mesma velocidade, o que não passou despercebido pela outra mulher.
— Tudo bem, querida. — sorriu agradecida.
— E eu já liguei pro Mason, avisando que você vai passar essa noite aqui. — apesar da suavidade com que falou, as suas mãos continuavam inquietas. — Aquele safado! Ele ainda me paga pelo susto de hoje. — semicerrou os olhos.
Susan, sempre muito observadora, olhava para a filha com curiosidade.
— O que foi, ?
— Hum?
— Você não para de mexer as mãos. Sei que está incomodada com algo.
A mais nova sorriu sem graça.
Ela respirou fundo, tomando coragem para falar.
— Eu não sei o que falar. — o rosto da outra entregava que ela não entendia o que aquilo significava. — Com você. Eu não sei como agir. — deixou os ombros caírem ao confessar.
Susan riu como quem entendia perfeitamente a situação.
— Eu também não sei muito bem como agir, na verdade.
— Sério? — questionou, surpresa.
dirigiu-se depressa a cama onde a mãe iria dormir naquela noite, incitando o início de uma conversa. Sua mãe logo notou isso, e sorriu, tratando de sentar-se de frente para ela.
— Passamos muito tempo afastadas, . — a garota fez uma cara feia ao ouvir isso, provocando um risinho divertido na outra. — É normal — sorriu.
— Se você diz…
— Eu sempre estou certa. — deu de ombros.
— Ah, não! Não mesmo, dona Susan. Você estava completamente errada sobre o e sabe disso. Inclusive, por favor, se esforce para amá-lo, ok? Por mim, e peça perdão a ele. Se vocês não puderem conviver em paz, eu não tenho como fazer isso.
— Acho que posso tentar. — respondeu, relutante.
sorriu mediante os avanços que estavam dando numa única noite. Ela não era louca, ela ouviu bem a resposta da mãe, mas ela sabia que no fundo a mulher já havia sido vencida.
A filha inclinou-se, depositando um beijo de boa noite no rosto da mãe, e se levantou sorrindo pronta para deixar o quarto.
— Aonde vai? — Susan perguntou, surpresa, ao perceber que a garota estava saindo.
— Dormir. — riu. — está me esperando.
— Eu estou aqui só por essa noite — falou, sugestiva. —, essa é uma ótima oportunidade para dormir comigo.
riu.
— Mãe… Eu não sou mais criança.
— Isso eu sei, né, ? Você mora com o seu namorado. — a mulher respondeu como uma coisa óbvia.
A garota escondeu o rosto com as mãos, em parte porque estava rindo e em outra porque sentiu vergonha da convicção com que a mãe a respondeu.
— Tá, mãe. — por fim, se rendeu. — Mas antes, eu tenho que dar boa noite a ele.
Ao terminar de falar, a mais nova saiu apressada do quarto, rindo, pela cara de nojo que a mãe tinha feito.



Naquela noite, as duas dormiram grudadas depois de trocarem algumas poucas palavras sobre , Mel e como as coisas andavam na casa dos pais. Sobre isso, a mais nova ainda se preocupava, mas preferia não pensar muito sobre assunto; é sempre preferível viver um dia de cada vez. Evitaram ao máximo tocar no assunto sobre a doença que a mãe teria que lutar contra, apesar de que, se todos os exames estivessem de fato certos, não teria muito contra o que lutar. Ao contrário de tudo aquilo que elas acreditavam e que as definiam, elas só teriam que esperar; uma pena que todas duas desconheciam o que era isso.
Sentindo a mão delicada da mãe passando pelos seus cabelos, ela adormeceu sorrindo, agradecida aos céus por finalmente se sentir em casa novamente, apesar de temer pelo dia que viria a seguir.
Mas como de qualquer forma o tempo tem que passar, as horas passaram, e uma nova manhã surgiu. Contraditoriamente, o dia estava muito bonito, um milagre se tratando do clima inglês. Às oito horas da manhã de sábado, foi acordada pelo despertador do seu celular e pelo sol quente do novo dia que batia em seu rosto. A vontade da garota era continuar dormindo, por isso não se esforçou muito em lutar para manter os olhos abertos, quando os mesmos insistiam em se fechar e levá-la de volta aos bons sonhos, porém, ela se deu por vencida quando sentiu a mãe remexer ao seu lado.
— Bom dia, dona Susan! — desejou, ainda sonolenta, virando-se para vê-la.
— Pra você é mãe ou mamãe, garota. — corrigiu, enterrando o rosto no travesseiro.
— Nem volte a dormir. Pode ir acordando que você não vai escapar da consulta de hoje. — avisou, perdendo imediatamente o sono ao se recobrar do compromisso que teriam ainda cedo.
— Quando foi que você virou a mãe aqui? — olhou surpresa para a jovem.
, sentando-se na cama de costas para ela, deu de ombros e colocou-se de pé se espreguiçando. A garota olhou para mãe esperando encontrá-la de pé, mas revirou os olhos ao notar que ela não havia se movido um centímetro sequer. Quanto a isso ela não mudara nada pelo visto, o sono sempre lhe fora sagrado.
— Levanta! — gritou. Atitude que ela se arrependeu de ter na mesma hora ao sentir o olhar feio da mãe sobre si.
Após a pequena batalha travada na hora de acordar, enfim ela conseguiu que sua mãe acordasse e fosse se preparar para sair. As duas faziam tudo em um silêncio confortável, até que logo estavam prontas para sair.
Ao descerem, descobriram que só estavam as duas em casa, já que provavelmente já estava no trabalho àquela hora e Melissa havia zarpado para casa do namorado. As duas amigas conversaram rapidamente na noite anterior e decidiram que mãe e filha precisavam ter um tempo a sós.
— Vamos? — ela perguntou a mãe
— Já pegou as chaves do carro?
As duas estavam paradas no meio da sala, ajeitando os últimos detalhes para sair.
— Sim, senhora! — bateu em continência.
— Ótimo, então agora eu só preciso me acalmar. — encostou-se no sofá, respirando fundo.
— Vai dar tudo certo, mãe. — sorriu, buscando confortá-la.
A garota recebeu um sorriso nervoso em troca e pegou na mão da mulher para saírem de casa, contudo, já na porta, Susan parou bruscamente como se estivesse esquecendo de pegar algo importante.
— Mãe, o que foi? — perguntou preocupada.
— Você pegou as chaves do carro? — indagou com a face franzida.
Mas ela já não havia lhe feito essa pergunta? ficou triste ao se dar conta do que estava acontecendo.
— Peguei, mama. — triste, sorriu.
Após trancar a casa, as duas foram para o carro de mãos dadas. Dali para o consultório do médico, que, se ela não estivesse enganada, se chamava Paul, não era muito longe. Em meia hora estariam lá, o que significa que chegariam com vinte minutos de antecedência já que o horário marcado foi às 9h30.
Assim como imaginaram, mãe e filha chegaram em seu destino dentro do prazo de tempo, ainda com uma leve folga no horário para relaxarem, mas é claro que não foi assim que as coisas aconteceram. O consultório estava consideravelmente cheio de adultos e seus respectivos filhos pequenos que corriam pra lá e pra cá. Aquele não era um lugar para criancinhas. Certamente os seus pais não tiveram outra opção a não ser levá-los com eles.
sempre gostou muito de criança, ela as amava tanto que em todo o lugar que chegasse e encontrasse algum serzinho, ia correndo brincar com ele, no entanto, dessa vez era diferente, dentro dela não havia vontade alguma de brincar com aquelas crianças. Ela estava tão preocupada com a sua mãe e com o que ouviria do médico que não conseguia prestar atenção em nada a sua volta. Ela até notou quando um garotinho com a cara mais sapeca que ela já vira, aparentando ter os seus cinco anos de idade, se aproximou e lhe tocou o joelho, mas para sua própria surpresa, um mísero pequeno sorriso foi tudo o que ela conseguiu o oferecer.
“Seja forte”, lembrou a si mesma.
Ela voltou os olhos para a sua mãe, a observando. Para a sua surpresa, a mulher não aparentava estar nervosa, muito pelo contrário, ela estava bem tranquila e brincava com uma criança sentada ao seu lado.
Ela sabia o porquê da calmaria da mãe, só não queria aceitar.
— Senhora ? — um homem, vestindo um jaleco branco e na casa dos seus 50 anos, entrou na sala de espera.
— Seja forte. — murmurou para si mesma.
Em silêncio, as duas levantaram e seguiram o homem até uma pequena sala branca com tons beges.
— Você deve ser , certo? — o doutor perguntou ao se sentarem.
Ela balançou a cabeça em resposta.
me falou que viria — sorriu. —, ele só não me disse exatamente sobre o que se tratava o assunto tão urgente. Você poderia me explicar?
Ela começou a explicar toda a situação para homem à sua frente, o qual ela notou que era muito educado e atencioso, no entanto foi a sua mãe quem acabou contando tudo que ela já sabia até então, afinal não sabia direito o que estava acontecendo.
Susan o entregou todos os exames que tinha feito, uma vez que os havia levado na noite anterior para mostrar a filha caso a mesma não acreditasse no que a contaria, e a reação do médico ao os ver não a surpreendeu. Ele estava tenso, apesar de que soube disfarçar muito bem.
— Bom, Susan, o que acha de fazermos agora mesmo uns exercícios de memória bem simples, só para esclarecer algumas coisas? — sugeriu, apesar de não ter dúvida alguma. Os exames estavam todos muito claros. Mas ele já sabia o que estava havendo ali. Veja bem, ele não estava fazendo isso pela mais velha, esteja fazendo pela filha dela.
— Ela faz. — apressadamente, respondeu pela mãe.
Dr. Paul sorriu compreensivo.
— Eu vou citar algumas palavras soltas e eu quero que você tente gravá-las, tudo bem? — Susan concordou. — Vou falar a primeira vez e você vai repetir, depois vamos conversar sobre qualquer outra coisa e te pedirei para repeti-las novamente no final.
— Ok.
— Casa, pente, comida, escola, filhos, paralelepípedo, hospital. Sua vez.
— Casa, pente, comida… — encarou a filha por uns rápidos segundos, tentando se lembrar. — Escola, filhos, paralelepípedo e hospital.
sorriu um pouco mais aliviada.
— Agora, o que acha de me contar um pouco sobre a sua adolescência? — o doutor sugeriu, recostando-se em sua cadeira.
suspirou. Só queria que aquilo terminasse logo.
Para a sua surpresa, a sua mãe estava bem animada, contando ao doutor as suas aventuras da adolescência. Ora ou outra, abria a boca completamente surpresa com o que estava ouvindo, ela não fazia ideia de que a sua mãe já tinha namorado tantos caras antes do seu pai. Claro, ela não era ingênua, sabia que todos tinham um passado, mas nunca imaginaria essas coisas da sua mãe. Quando ela ouviu a mãe contar que fumou maconha aos quinze anos de idade, ela não aguentou; a sua cara de espanto era impossível de disfarçar.
— Você era bem saidinha, hein, dona Susan? — alfinetou.
, minha filha, só se vive uma vez. — como quem não falou nada de mais, ela respondeu.
A mãe lançou um olhar divertido para filha ao vê-la arquear a sobrancelha.
— Nem faça essa cara. — a repreendeu, segurando o riso.
— É por isso que eu fiquei trancada a maior parte da minha vida?
— Claro. — deu de ombros. — Faça o que eu mando, mas não faça o que eu fiz. — zombando, desviou os olhos da menina e cruzou os braços abaixo do peito.
— Muito maduro da sua parte, senhora.
— Não queria atrapalhar o caso de família — intrometeu-se divertido. —, mas você já pode repetir aquelas palavras que pedi pra gravar. Acha que consegue?
— Casa, pente — enumerava com os dedos. —, comida, escola, filhos… — a mulher calou-se abruptamente. Não conseguia se lembrar. — Só um minuto — pediu.
— Fique à vontade — Dr. Paul respondeu, observando-a.
— Casa, pente, comida, escola, filhos… — tentou mais uma vez. — Não consigo lembrar — sorriu em nervoso, olhando de um para o outro.
— Calma, mãe. Pensa direitinho. Você vai conseguir — procurando motivá-la, , também apreensiva, tocou em seu braço.
— Não consigo. Não lembro das outras palavras. — alterada, confessou com lágrimas nos olhos.
Aquilo era demais para . Quando todas as coisas parecem estar voltando para os seus devidos lugares, vem uma força externa e estraga tudo. Ela não conseguiria suportar.
Sem reação, a garota observava a mãe também com lágrimas nos olhos.
— Tudo bem, Susan! Está tudo bem. — o doutor interviu. — Você foi muito bem hoje. Estou orgulhoso. — sorrindo, ele a confortou. — Vou te pedir para estar sempre vindo aqui para acompanharmos o quadro, tudo bem? Entrarei em contato com o seu médico para transferir o seu caso para mim.
— Tudo bem. — concordou ainda perdida, mas mais calma.
não sabia o que dizer, então limitou-se a observar tudo calada, enquanto se perdia em suas preocupações quanto ao futuro.
— Será que você poderia nos dar licença, Susan? Gostaria de conversar um pouco com a sua filha.
Em resposta, ela balbuciou um sim, acompanhado de um balançar de cabeça, saindo logo em seguida da sala.
Era isso. sabia o que vinha a seguir.
O médico deu indícios de que começaria a falar, mas antes que ele pudesse pronunciar qualquer sílaba, ela o calou, levantando a mão em sinal de que ele deveria ficar quieto. Ela deixou com que o choro engasgado em sua garganta viesse para fora com toda a força com que ela sabia que ele viria. Não acreditava que aquilo estava acontecendo com ela. Por várias noites ela foi para cama, sonhando com o dia em que as coisas com sua mãe se resolveriam e elas finalmente poderiam construir uma relação saudável, e agora que uma parte do seu sonho se realizou, algo tinha que dar errado. Ela estava cansada.
— Você vai precisar ser forte, querida. — pegou na mão dela. A dor daquela moça a sua frente estava machucando até mesmo a ele.
Ainda em silêncio, as grossas lágrimas permaneciam rolando no rosto dela.
— Desde quando Susan me mostrou os resultados dos exames que ela havia feito, eu sabia que ela estava doente, mas ainda assim preferi fazer esse simples exercício porque sabia que não iria acreditar se não visse por si mesma. — admitiu com pesar. — Eu vejo em você a necessidade de vencer, . De dar a volta por cima. Mas agora a história não é mais sobre você, é sobre a sua mãe e o quanto ela vai precisar da sua ajuda. Por isso, eu quero que, com todo o respeito, você engula o choro, saia dessa sala, e vá dar um abraço em sua mãe. Ela ainda está no estágio inicial do Alzheimer, mas mesmo com os exercícios médicos, essa é uma doença rápida. — afastou as suas mãos da dela. — A partir de agora, faça com que ela viva os melhores dias da sua vida.
A senhorita ouviu tudo aquilo sem ainda acreditar no que estava ouvindo. Sua mãe, a mesma pessoa que fez tão bem e tão mal para ela, estava doente; a pessoa que deveria cuidar dela e ajudá-la a criar os seus futuros filhos não poderia fazer isso porque daqui a algum tempo ela nem se lembraria mais de quem era.
Finalmente ela conseguiu olhar para o doutor que a encarava com compaixão. Ela tentou sorrir para ele o mais confiante que conseguiu. Ela seria forte. Não tinha escolha. Levantou da cadeira gelada, enxugou os olhos e respirou fundo. Faria o que ele disse. Segurou a maçaneta da porta, jurando a si mesma que deixaria o choro ali dentro — mesmo sabendo que aquilo era uma mentira — e saiu por aquela porta, com um lindo sorriso, ainda que forçado, para encontrar a sua mãe.
— Como foi? — Susan perguntou curiosa ao ver a filha se aproximar. Se ela percebeu que o sorriso era falso, não comentou.
— Vai ficar tudo bem, mãe. — abraçou a mulher o mais apertado que conseguiu e permaneceu agarrada a ela por um tempo. — Vai ficar tudo bem — sorriu. — Vamos?
Susan lhe sorriu em resposta, concordando que já era hora de saírem daquele local.
abraçou a mãe de lado e, juntas, saíram da clínica, sentindo o sol quente bater contra os seus rostos.


Capítulo 13

andava ainda abraçada a Susan quando avistou o seu carro um pouco mais adiante delas. O sentimento de alívio preencheu o seu peito ao se dar conta de que tudo isso podia ter vindo à tona a uns dias atrás quando ela ainda estava com o carro na oficina, mas parece que finalmente o universo começara a conspirar ao seu favor; estava tudo bem entre ela e sua mãe, e ela podia ajudá-la a levando ao médico sempre que fosse preciso.
tirou a chave da sua bolsa e entrou no carro, sentando-se no banco do motorista, enquanto sua mãe se dirigia ao banco ao seu lado.
— Pronta para ir pra casa, dona Susan?
— Se você me chamar assim mais uma vez, você vai ver só, garota!
riu, dando partida no carro em seguida.
O percurso não era muito longo, mas também não era necessariamente perto, por isso, após um tempo de um agradável silêncio, Susan ligou o rádio, deixando com que as batidas da música, até então desconhecida por ela, soasse.
Os dedos de começaram a se movimentar, criando sons segundo o ritmo da canção. A música era calma e suave, fazendo com que aquele ambiente que já era bom se tornasse ainda melhor.
A mais nova acompanhava a música, cantando baixinho, e somente um tempo depois ela se deu conta de que sua mãe a observava atentamente, sorrindo.
— O que foi? — perguntou, envergonhada e sorrindo fracamente.
— Você sempre gostou de cantar. Sempre quando viajávamos em família, você sempre pedia ao seu pai para colocar o CD do seu cantor favorito na época.
— Michael Jackson. — completou.
— Sim. — Susan sorria nostálgica.
— Parece que algumas coisas realmente nunca mudam.
O carro continuou andando por mais um tempo, até que o estacionou em frente à casa amarela.
— Pronto, mama.
— Você não quer entrar?
— Não sei se seria uma boa ideia. — respondeu incerta.
— Seu pai não está. Ele e o Mason combinaram de sair hoje.
A outra nada respondeu. Seu olhar era vago.
— Vamos, só por um tempinho. — Susan insistiu.
Finalmente ela conseguiu convencê-la a entrar, e logo as duas estavam andando sobre aquele chão pelo qual andou muitas vezes.
Ela olhava para todos os lados em busca de encontrar alguma diferença nas paredes, talvez, mas nada tinha mudado.
— Tá tudo tão igual.
— Não mudamos nada. O seu quarto continua a mesma coisa também. Você pode ir ver se quiser.
— Talvez depois.
Susan assentiu.
— Você quer alguma coisa?
— Não, não precisa, mãe. Eu estou bem. — respondeu, colocando um fio de cabelo que estava sobre os seus olhos para trás da orelha.
— Não precisa ficar sem jeito. Essa casa também é sua.
não concordava, mas preferiu não contrariar a mãe.
Ela observou a mulher ir em direção à cozinha, falando algo que ela não conseguiu entender. Não só pela distância que a outra foi tomando dela, mas porque ela havia se perdido olhando os detalhes da casa.
Os retratos ainda estavam nas paredes, e ela notou que em algumas partes as paredes estavam descascando e precisavam de uma nova pintura.
— Ainda tem, ! — Susan gritou animada, chamando atenção da garota.
— O quê? — perguntou confusa, seguindo a mesma direção que a mãe tinha feito antes.
entrou na cozinha, achando a mãe abaixada, pegando algo na geladeira.
— Sobremesa. — respondeu com um sorriso imenso. — Os trogloditas dessa casa não comeram tudo. Milagre. — riu e foi ajudar a mãe a colocar a sobremesa.
Ela pegou os recipientes onde colocariam as sobremesas, mas foi impedida pela mãe.
— Não precisa disso. Pega duas colheres e vamos comer aqui mesmo.
olhou desconfiada para mãe. Isso sim era novidade.
Ela balançou a cabeça rindo suavemente e obedeceu a mãe.
As duas começaram a tomar o mousse e tagarelar ao mesmo tempo. Susan fazia todo tipo de pergunta. Muitas perguntas. Era óbvio que ela queria recuperar o tempo perdido.
beija bem? — Susan questionou, assustando a filha.
— O quê? — gritou assustada, gargalhando logo em seguida. — Mãe, eu sei que a senhora quer que sejamos melhores amigas, daquelas que contam tudo uma pra outra, mas não precisa forçar.
Susan sorriu envergonhada.
— Mas, sim, mãe. Ele beija muito bem... As duas explodiram em risos e permaneceram nisso até perceberem que estavam chorando de rir, foi aí que riram ainda mais.
— Mas me conta — iniciou, recuperando o fôlego. —, como está o papai?
Imediatamente Susan assumiu uma feição mais séria. Ela respirou fundo.
— Preocupado. Ele sempre se preocupou demais e agora não é diferente. Ele está preocupado comigo, com você...
balançava a cabeça em concordância a cada palavra pronunciada pela mãe.
— O seu pai, filha, foi criado em um mundo completamente diferente desse nosso de agora, assim como eu também fui. Então tem coisas que é difícil para nós aceitarmos. Quero te pedir pra ter paciência, porque isso não significa que ele não te ama.
— Eu sei, mãe. — olhava para os próprios pés. — Mas não sei mais o que posso fazer pra ele entender que eu tô bem.
— Ele só precisa saber que o te faz bem e que ele não vai te machucar.
— O é a melhor coisa que já me aconteceu. — elevou os olhos até os da mãe.
Susan acariciou os cabelos castanhos da filha.
— Eu vou conversar com ele, meu amor.
Ela assentiu, mas foi impedida de continuar a falar pelo toque do seu celular que vibrava no seu bolso.
— Oi, amor! — ela atendeu, após constatar que era .
— Oi, anjo. Ainda não saí daqui do restaurante, mas quis te ligar pra saber como foi com sua mãe.
— Estou com ela aqui agora. — sorriu, olhando para mulher ao seu lado. — Ela está te mandando um oi.
sorriu.
— Pelo visto as coisas estão indo muito bem.
— Sim, tirando o fato de que eu já estou com saudade de você.
Pelo canto dos olhos, pôde ver a sua mãe revirar os olhos, fazendo-a rir.
— É essa volta com sua mãe que está te fazendo tão carinhosa assim?
— Talvez. — com um sorriso abobalhado no rosto, ela deu de ombros.
— Tá em casa?
— Não. Estou na casa dos meus pais, mas daqui a pouco estou indo.
— Tudo bem. Nos vemos lá então.
Os dois se despediram e ela finalizou a ligação, passando a ouvir piadinhas da mãe na mesma hora pelo ocorrido.
Elas permaneceram conversando por muito mais tempo, até decidir que já estava na hora de ir para casa; o que ela não fez sem antes ouvir novamente sua mãe dizer que conversaria com o marido sobre o relacionamento dos dois.



chegou em casa uma hora depois de ter falado com a namorada pelo celular. Ao abrir a porta principal, ele percebeu que ela ainda não havia chegado.
Os seus pensamentos não conseguiam mudar de foco; a cada novo segundo tinham que se voltar novamente para ela, por mais que ele tentasse mudar isso.
Sua mente agia como se, por natureza, houvesse sido programada para gerar pensamentos sobre o quanto ela era linda, inteligente e especial. Em tão pouco tempo, numa velocidade assustadoramente rápida, aquela mulher conseguiu tomar não só a mente dele por completo, mas também o seu coração. Fazia tempo que ele sabia que respirava . Não no sentido doentio, mas passou-se o tempo em que lutava para não admitir que estava apaixonado por aquela mulher. Ele a amava, e desde que se deu conta disso nunca se permitiu considerar o contrário.
Já no banho, se viu pensando em todas as coisas que aconteceram com eles nos últimos tempos. Especificamente com . Ela, sim, é a pessoa mais forte que ele conhece.
Nunca foi mentira para ninguém o quanto gostava de ser cuidadoso e carinhoso com as pessoas que ele amava. A própria filha fazia questão de sempre dizê-lo o quanto queria conhecer alguém tão romântico quanto ele. E por mais que ele já tivesse provado de várias formas o quanto ele amava , não sentia que era o suficiente.
Ela era quem o fazia transbordar de felicidade todos os dias e era nela que ele encontrava novas forças para viver mais um dia. Ela era o seu porto seguro. E mesmo que se fosse preciso ele dar sua própria vida por ela para prová-la disso, ele o faria. Ele sentia a forte responsabilidade que possuía de fazê-la se sentir a mulher mais feliz do mundo todos os dias, para sempre.



Ela sentia o seu corpo cansado; o dia foi longo, e por mais que tivesse conseguido esquecer a doença da mãe por um curto período de tempo, ainda sentia a sua mente doer com a informação.
Depois de buscar a chave da casa na bolsa que ela carregava no braço, abriu a porta principal e foi surpreendida por sons de panelas que vinham da cozinha.
Aquele era o único cômodo iluminado, indicando que, quem quer que fosse, era o único ser presente na casa. Ela caminhou a passos lentos até lá, em partes pelo cansaço, mas também devido a curiosidade que a consumia para saber o que estava acontecendo ali.
A cozinheira da família estava de folga e Melissa não gostava de cozinhar. O que significava que: ou um verdadeiro milagre estava acontecendo, ou estava cozinhando. É verdade que isso não chegava a ser uma novidade, já que essa era a sua atividade favorita, mas ela não queria nem pensar no quanto ele estava cansado depois de um dia corrido como ele provavelmente tivera no restaurante.
O seu próprio cansaço, então, passou a ser fichinha quando ela imaginou como estariam as pernas dele depois de horas em pé.
Ela encarava a cozinha boquiaberta. Estava uma bagunça e andava de um lado para o outro, como se estivesse correndo contra o tempo.
— Estamos tendo uma competição aqui, chef?
se sobressaltou com o susto. Estava tão concentrado que não viu a mulher chegar.
estava parada a poucos metros dele, com a mão na cintura e um olhar travesso no rosto.
Ele sorriu para ela, voltando sua atenção às panelas.
— Resolvi cozinhar pra gente.
Ela murmurou uma aprovação ao que havia ouvido do namorado, se aproximando do fogão para ver o que ele fazia. Ao ouvir o seu estômago roncar, a mulher travou, envergonhada.
— Isso foi mesmo o seu estômago? — ele perguntou rindo.
É, pelo visto ela não havia sido a única a ouvir.
— Eu tô com muita fome. — assumiu com os olhos fechados para dar mais ênfase ao que dizia. — Comi uma besteira na casa dos meus pais, mas não foi o suficiente.
— Isso não me espanta. — ele riu.
Parada na frente dele e o olhando, arqueou a sobrancelha.
Ela estava o atrapalhando ali, mas não se importava.
— O que você está aprontando, mocinho?
— Só quero que você saiba o quanto é importante pra mim.
— Eu sei que sou. — aproximou o rosto da bochecha dele, depositando um beijo demorado ali.
Os dois se encararam sorrindo por um tempo.
— Vou tomar banho, tá?
— Eu iria com você, mas acho que agora não dá. — apontou para a panela que ele não parava de mexer.
— É, melhor não. — se afastou, rindo fracamente, enquanto balançava a cabeça em negação.
— Amor? — ele a chamou quando ela já estava saindo da cozinha, atraindo novamente a atenção da mulher. — Capricha, porque hoje é um dia especial. — concluiu com um grande e brilhante sorriso no rosto, vendo o mesmo sorriso se formar no rosto da mulher.



O banho que a mulher tomou foi totalmente tranquilo, em contraste com o seu coração que palpitava desesperadamente em curiosidade para saber o que o outro estava aprontando. Eles já tinham um bom tempo juntos, mas era engraçado como coisas como essas faziam parecer que eles tinham acabado de se conhecer.
Ela viveu ouvindo a avó dela afirmar com imensa sabedoria que o amor precisava ser cultivado todos os dias para que a chama da paixão nunca se apagasse. Ela estava certa. Depois de meses, ela continua perdidamente apaixonada por .
Este também não tinha ficado muito pra trás. Quando chegou em casa, ele já estava quase acabando de preparar o jantar, aquele na verdade era o último detalhe. Então, depois de terminar de ajeitar a comida, ele correu para preparar a mesa de jantar, que já havia deixado previamente pronta — ele já havia separado tudo o que precisaria, só era pôr no lugar. Depois de tudo pronto, ele percebeu que precisava correr se queria fazer uma surpresa para ela. A limpeza dos pratos teria que ficar para depois.
Após correr e fazer tudo o que era preciso, estava com sua melhor roupa e já na sala de jantar, esperando pela mulher que o conquistara de uma forma que nem mesmo ele sabia que podia ser conquistado.
O tempo não parecia passar e toda hora o pedido que ele fizera para ela caprichar, vinha em sua mente. Estava apreensivo por quanto tempo aquilo poderia levar. Mas não estava reclamando. Só estava um pouco — muito — ansioso.
Ele conferia tudo a cada 10 minutos; estava tudo perfeito.
O som de salto alto chocando-se contra o chão, foi ouvido descendo as escadas. Os olhos do homem apaixonado se voltaram para ela quase instantaneamente. Não conseguia parar de sorrir como um bobo apaixonado.
vestia um vestido vermelho longo que continha uma fenda que subia dos pés até um pouco abaixo do meio da sua coxa. reparou que ela usava os famosos saltos pretos que ele tanto amava. Não sabia muito sobre moda, mas aqueles eram os seus preferidos.
Com os cabelos levemente ondulados e soltos, com o rosto marcado por uma maquiagem leve, tendo um contraste maior somente pelo batom vermelho, lhe devolveu o mesmo olhar intenso, acompanhado de um sorriso encantador.
Ele percebeu que ela também lhe observou por completo, assim como ele fizera com ela a poucos instantes. Ele esperava que ela gostasse. Vestido com o melhor smoking que ele acreditava possuir e com sapatos sociais que combinavam com a roupa, a esperava com a mão estendida.
Ele queria fazer o melhor para ela. Todos os dias servia a melhor comida para os seus clientes que estavam sempre com as melhores roupas, que se questionou por que não poderia fazer isso para pessoa que mais importava na sua vida depois de sua filha.
As luzes da sala estavam apagadas e a mesa se encontrava a luz de velas.
Ela foi caminhando até ele sem tirar o sorriso do rosto até que sua mão encontrou-se com a dele, e se inclinou para beijá-la; primeiro na testa, e depois nos lábios com um selinho.
— Você está maravilhosa!
— Você também está incrível, meu amor. — ela retribuiu o elogio, colando os lábios nos dele de novo.
— Vem, vamos sentar. — segurando em sua mão, a levou até a mesa, puxando a cadeira para que ela se sentasse. — Espero que goste. — disse, sentando-se de frente para ela em seguida.
— Cadê o resto das cadeiras? — ela olhava para os lados curiosa, até voltar novamente a sua atenção para ele.
A mesa possuía um lugar para oito pessoas, mas nessa noite havia tirado todas, deixando somente duas para eles.
— As outras seis não são importantes essa noite. — explicou, e deu de ombros
Ela riu de forma doce e suave.
— Obrigada por isso! — agradeceu e repousou a mão esquerda sobre a mesa, a qual não demorou muito a segurar.
Ele serviu a comida para os dois; primeiramente para ela e depois para ele. havia preparado um delicioso risoto de camarão porque sabia que amava frutos do mar.
O jantar foi regado a curtos e gentis comentários enquanto eles se alimentavam ao som de uma tranquila música de fundo. As trocas de olhares eram constantes, e ambos não conseguiam disfarçar o sorriso de contentamento que habitava em seus rostos.
Para a noite, escolheu um vinho especial muito apreciado por ele e o mesmo não tinha dúvidas de que o sabor seria aprovado pela mulher. E após o jantar, mesmo já o tendo bebido no início, propôs um brinde, colocando novamente o líquido branco na taça da amada, após ela lhe permitir que o fizesse.
— A que vamos brindar?
— A nós. — ele respondeu. — A mulher incrível que você é. Ao melhor presente que os céus poderiam me dar. — levantou, caminhando em direção a ela.
Ele a segurou pela mão para que ela pudesse se levantar, ficando assim frente a frente com ela. Ele a observava com os seus intensos olhos pretos buscando ao máximo gravar cada detalhe da sua face em sua memória.
Eles permaneceram de mãos dadas, enquanto seguravam a taça de vinho com a outra mão.
— Vamos brindar ao milagre que é estarmos juntos. — sorriu para ela. — Eu amo você, , e o motivo pelo qual eu preparei tudo isso foi para deixar isso ainda mais claro pra você. Eu tenho a plena certeza de que você é o amor da minha vida e durante todo esse tempo eu pude ver a mulher incrível que você é. Você é extremamente forte e decidida, e nunca deixe ninguém te dizer ao contrário disso porque eles não te conhecem; eu te conheço e você é maravilhosa. Você é completa em você mesma e mesmo me deixando sempre saber que contava comigo, você nunca foi dependente de mim, porque você não precisava de mim, mas ainda assim escolheu somar comigo.
ouvia cada palavra proferida por ele sem desviar um minuto sequer dos seus olhos. Os olhos dela já estavam cheios de lágrimas e ela sentia as pernas tremerem, ao mesmo tempo que jurava que podia ouvir as altas batidas do próprio coração.
— Com tanta coisa que aconteceu, você poderia ter fugido, mas não fugiu, ficou o tempo todo comigo. — acrescentou, a olhando com admiração.
— Você que tinha todos os motivos para fugir e não fugiu. — fungou devido ao choro entalado em sua garganta. — Eu sempre fui a confusão, enquanto você foi a calmaria.
— Você era a minha confusão. — ele riu fracamente. — A confusão que me trouxe paz.
elevou a sua mão até o pescoço dela, fazendo carinho no local, então mais uma vez ele colou os seus lábios nos dela antes de voltar a sua posição inicial.
— Na verdade, esse brinde não é nem sobre nós, é sobre você. — levantou a taça, levando a sua ao encontro da dela. — Um brinde a você, meu amor. Você é a heroína da sua própria história.
Ao finalizar a fala, os dois estavam com lindos sorrisos nos lábios. ainda emocionada.
O som do tintilar das taças pôde ser ouvido. O vinho foi tomado pelo casal apaixonado, mas esquecido logo depois. pegou as taças e as colocou sobre a mesa ao seu lado.
Ele a puxou para um abraço apertado e ao mesmo tempo acolhedor. enterrou o seu rosto no pescoço da garota, depositando beijos ali, fazendo com que os pelos do local se arrepiassem. Ele sorriu com aquilo e voltou a encarar que o encarava com intensidade.
A conversa entre olhares perdurou até o momento em que as mãos de repousaram-se com uma certa força na cintura da garota, puxando o corpo dela para mais perto do seu. Ela levou as suas mãos ao pescoço dele, acariciando-o. Eles sorriram em cumplicidade. A testa de encostou na dela e, finalmente, os lábios dele tocaram os dela, a beijando. Ela ainda podia sentir o gosto de vinho na língua dele, assim como estava certa de que a dela estava da mesma forma.
O beijo foi cortado porque ambos precisavam de ar.
— E a Mel?
— Enviei mensagem pra ela enquanto você estava no banho. Mandei-a voltar só amanhã. — sorriu travesso.
jogou a cabeça para trás gargalhando e logo voltou a beijá-lo.


Capítulo 14

Segunda-feira, duas semanas depois.

Para , aquele era só mais um dia na Universidade de Bristol, só mais um dia de discussão sobre projetos e, ao mesmo tempo, um dia para se alegrar agora que o fim de tudo aquilo estava chegando.
Ela e Melissa estavam juntas desde cedo naquele lugar tentando resolver algumas coisas importantes, mas agora, no fim da manhã, o cansaço as consumia e é como se nada mais entrasse em suas mentes.
— Socorro! — Melissa exclamou, exausta. — Eu não aguento mais, amiga. Juro — choramingava.
— Você diz isso desde o primeiro semestre. — respondeu, rindo.
— Desde aquele dia eu já sabia que vir pra cá não tinha sido uma boa ideia. Eu sou expert em tomar decisões erradas, sabe?
assistia o drama da amiga com um riso escapando dos lábios.
— Melissa, deixe de drama, pelo amor de Deus. — movimentava a cabeça em negação. — Já tá acabando. Respira.
— Você nunca valoriza a minha dor mesmo.
— Ai, meu Pai amado! — a garota sentou-se na grama, rindo.
Melissa, que já estava sentada, olhou pra amiga com o seu melhor sorriso. Ela sabia que não seriam todos que conseguiriam suportar os seus dramas.
— Como vão as coisas com o Tyler?
— Aquele cara é um pocinho de defeitos que eu não consigo mais ficar sem. — com um sorriso bobo no rosto, Melissa deu de ombros.
— Tu sabes que você também é um pocinho de defeitos, não é?
— Sim — confirmou com a cabeça. —, e é exatamente isso. Hoje ele já sabe de grande parte deles, assim como eu sei os deles e ainda assim insistimos em ficar. Amiga — olhou pra mulher ao lado dela —, não temos mais pra onde fugir. — sorriu.
— Vocês se encontraram. — , também sorrindo, concluiu. — Estou tão feliz por ti, Mel! É legal te ver toda apaixonadinha assim.
Existem poucos momentos em que Melissa pode ser vista com vergonha de algo, mas esse com certeza é um deles. As bochechas da garota adquiriram o tom avermelhado, fazendo com que ela imediatamente levasse o olhar para a grama sob ela. Ela só não esperava que quando levantasse novamente a cabeça, fosse ver o que viu.
Surpresa com a imagem que os seus olhos estavam vendo, Melissa cutucou a amiga, apontando em seguida para a entrada da faculdade. Jonas estava parado lá, olhando em direção às duas.
, não fica nervosa, mas o seu pai está aqui.
“O que eu devo fazer agora?” ela pensou. Com o rosto esboçando toda a surpresa que ela sentia dentro de si, a mulher não conseguia desviar os seus olhos para outro lugar. Estava estática olhando para o homem que por tanto tempo foi o herói da sua vida.
Jonas não estava muito diferente. Com as mãos enfiadas nos bolsos da calça, olhava sem jeito para a filha.
Durante muito tempo, imaginou esse momento: o dia em que ele a procuraria. Mas agora que ele havia chegado, ela não sabia o que fazer.
Imaginou que quando o visse, correria para os seus braços e diria o quanto sentia saudades dele, mas desde o momento em que os seus olhos pousaram sobre o seu pai, ela se sentia perdida. Ela podia juntar todas as coisas de errado que ele já fizera pra ela e simplesmente decidir ignorar a presença do pai, mas depois de um longo suspiro, ela se deu conta de que essa não era a resposta. Deixá-lo ir embora sem antes terem a chance de conversar, não era a coisa certa a fazer.
Só tinha uma razão para ele ter vindo ao seu encontro: seu pai reconhecia que precisava dela, assim como ela dele.
— Vou conversar com ele, Mel. Nos vemos mais tarde.
Levantou-se, pegou as suas coisas e ouviu a amiga concordar.
A caminhada ao encontro do seu pai não aconteceu em câmera lenta como ela imaginou que seria. Antes houvesse sido assim. Quando ela se deu conta, já estava parada diante dele, murmurando um olá.
Notou que o seu pai estava nervoso e estranhamente tímido.
— Será que eu posso te levar pra almoçar? — o sr. perguntou.
— Claro, pai. Só não teremos um tempo longo porque daqui a pouco preciso ir trabalhar.
— Achei que tivesse largado o trabalho.
— A Megan te contou.
Era uma afirmação, não uma pergunta.
— Eu perguntei.
— Hum. — ela murmurou, sentindo algo dentro dela se aquecer. — Estágio.
Os dois se olharam por uns instantes, até que ambos desviaram o olhar para qualquer outra coisa.
Estavam mais calmos, mas nenhum dos dois sabia como agir.
— Vamos? — Jonas perguntou.
— Vamos.
Virando-se para o lado a fim de começar a andar em direção ao carro do pai, sentiu o seu braço ser entrelaçado pelo dele.
— Vamos andando. Vou levá-la a um lugar perto daqui.
Os dois iniciaram a caminhada até o estabelecimento em que iriam almoçar, e foram todo o caminho com os seus braços entrelaçados. A sensação era muito boa.
— Você está aqui pela mamãe?
— Estou aqui por nós dois.
— Mas foi ela quem te convenceu a vir? — a mulher olhava para o pai, esperando uma resposta.
Jonas respirou fundo.
— Já queria fazer isso há um tempo. Te procurar. Mas confesso que precisei de um empurrãozinho da sua mãe pra estar aqui.
Os lábios da mulher se abriram em um pequeno sorriso.
conhecia bem a sua mãe e os seus famosos empurrõezinhos.
— Tô feliz que esteja aqui.
Ela segurou com um pouco mais de força o braço do seu pai. Ou melhor, com um pouco mais de segurança.
Não muito tempo depois disso, pai e filha chegaram ao pequeno restaurante rústico que exalava intimidade. Eles entraram e escolheram uma mesa para dois que se encontrava quase ao fundo do lugar.
— E então, como andam as coisas na faculdade? — seu pai perguntou depois dos dois estarem bem acomodados em suas cadeiras.
Agora um de frente para o outro, eles não tinham mais o que fazer se não encarar o olhar um do outro.
— Pai.
— Hum. — a encorajou a continuar.
Ela respirou fundo. De repente, estava coberta pela ansiedade e pelo nervosismo.
— Não vou conseguir fazer isso sem antes esclarecermos tudo.
observou o olhar cansado e perdido do seu pai ganhar mais profundidade enquanto ele a olhava.
O homem cruzou as mãos em cima da mesa. Todo o discurso que ele havia preparado e ensaiado em casa, havia simplesmente desaparecido de sua mente.
O silêncio preencheu o ambiente por um tempo; não por não terem o que falar, e sim por não saberem como dizer tudo o que precisava ser dito. Nada parecia bom o bastante.
— Eu ensaiei em casa o que eu te diria hoje. — Jonas sorriu tristemente. — Ensaiei antes de vir e também no carro, mas não sei por onde começar.
Com as costas encostadas na cadeira de madeira, enxergava o pai como um borrão, pois os seus olhos já estavam turvos devido às lágrimas que aumentavam de acordo com a absorção das palavras proferidas por ele.
— Você é especial, filha. Sempre foi. Você nasceu e, no momento em que os meus olhos viram os seus, eu sabia que estava completo e que jamais poderia te perder. — com um sorriso nostálgico entre algumas frases, Jonas prosseguiu. — O nascimento dos seus irmãos também foi incrível e eles também são a razão da minha vida, mas quando você nasceu, eu soube: não precisávamos de mais nada, a nossa família estava completa. Te ver crescer foi lindo e ao mesmo tempo apavorante, minha filha. Eu vivia com medo de que algo de ruim acontecesse com você, e as notícias que passavam no jornal sobre crianças sendo sequestradas também não ajudavam. Deixei com que o medo tomasse conta de mim e quando me dei conta, eu e sua mãe já estávamos tomados por ele. Por favor, , nos perdoe por isso.
As lágrimas escorriam livremente pelo rosto dela, apesar das suas inúmeras tentativas de as enxugar.
Tudo o que ela estava ouvindo não eram simplesmente palavras, mas verdades pelas quais ela esperou muito tempo para ouvir.
— Você foi crescendo e eu estava certo de que logo os rapazes chegariam, tentando te roubar de mim. Minha filha, eu nunca deveria ter te tratado como uma propriedade porque você não é. O que eu deveria ter feito era te preparar para o momento em que você quisesse ir, mas eu fui muito cabeça dura pra aceitar isso na época; e quando eu vi, você já estava saindo de casa pra viver um relacionamento com o . Tudo isso porque eu não consegui ser o suporte que você precisava que eu fosse no momento mais importante da sua vida.
Vez ou outra os outros clientes do restaurante paravam para observar a cena dos dois adultos chorando um com o outro na hora do almoço.
O próprio garçom havia desistido de se aproximar no momento exato em que ouviu fungos.
— Filha — Jonas buscou pelas mãos dela. —, eu entendo se você não quiser me perdoar, mas eu preciso insistir mesmo assim. Eu não deveria ter feito as coisas do jeito que fiz, e gostaria muito de poder voltar atrás e consertar tudo, mas sabemos que eu não posso fazer isso, então o que eu posso te prometer é que eu vou ser o suporte que você precisa nesse momento, e que eu vou dar o meu melhor de agora em diante para que todos nós possamos viver bem. Incluindo o .
, que já chorava, ao ouvir isso, deixou com que ainda mais lágrimas rolassem pelo seu rosto acompanhadas por baixos soluços. Sorrindo, ela segurou as mãos do pai com força.
Ela ignorou o nó que estava em sua garganta a impedindo de falar.
— Tá tudo bem.
Sentiu os braços do pai dela a cercarem com força. O rosto dela grudado em seu peito. Estava tudo bem.
— Me perdoa por ter acreditado que você não me amava mais. — disse ela com o rosto amassado pelo abraço.
, eu sou o seu pai. Eu te amo mais do que a mim mesmo.



— Tudo bem — iniciou, empolgada. —, só queria dizer que amanhã a noite vamos todos jantar na casa dos meus pais.
Na sala de casa, e Melissa estavam jogados no sofá observando a mulher que tirava os seus saltos, os jogando em qualquer canto da casa sem nem olhar para ver onde eles cairiam.
Os três haviam acabado de chegar do restaurante em que trabalhava, depois que as duas decidiram que seria legal fazer essa surpresa pra ele.
— Vocês já tinham planejado alguma outra coisa? — ela, que estava andando pra lá e pra cá, parou um instante esperando uma resposta deles, mas logo desistiu e voltou a gesticular animadamente. — Ah, não importa! Cancelem. Por favor, cancelem. — implorou.
— Relaxa, nós vamos. — Melissa colocou-se de frente a amiga e segurou em seus ombros para acalmá-la.
A gesticulação exagerada se encerrou, mas o sorriso que ela dera para amiga, ainda demonstrava nervosismo.
— Você acha mesmo que iríamos perder um jantar épico desse? — perguntou . — Amanhã vamos estar lá no horário combinado.
— Obrigada! — o respondeu. O tom de alívio sendo totalmente claro em sua voz.
— Vem cá. — abriu os braços pronta para recebê-la neles.
Ele era verdadeiramente a sua casa. Ela estava certa disso.
— Eu vou tomar um banho. — Melissa se pronunciou, retirando-se logo em seguida.
sorriu abertamente para o namorado, ao passo em que caminhava ao seu encontro.
O corpo dele era sempre muito confortável para se estar.
deitou no sofá, levando o corpo dela junto com o seu.
Lá fora, o céu estava sereno, e dentro de casa as coisas não estavam muito diferentes. Os corações de ambos estavam em uma paz como em muito tempo não se encontravam.
— Como você está se sentindo, amor? — ele perguntou, verdadeiramente interessado.
— Uma parte de mim está com medo de que tudo isso não passe somente de um sonho em que estou prestes a acordar; uma outra parte, a maior, está feliz. Finalmente eu posso respirar, . — concluiu, e então ela levantou a cabeça, que antes estava sobre o peito dele, para conseguir enxergá-lo. Sorriu.
passava a mão pelos cabelos dela, até repousar sobre o rosto delicado da namorada.
— Você merece. Ainda é só o início de tudo de bom que vai acontecer com você, meu amor.
As palavras eram ditas por ele com tanta certeza que mesmo que lutasse, ela nunca seria capaz de não acreditar nelas.
a beijou levemente.
— O seu pai pareceu confortável em nos convidar para estar lá amanhã? Quer dizer, para receber a mim e a minha filha?
— Não acho que ele já está totalmente contente com o fato de estarmos juntos, mas ele está se esforçando, . Ele realmente está.
— Vai dar tudo certo. Eu vou conquistá-lo. Você vai ver.
riu.
Ela encostou o rosto no pescoço dele. Uma imensa paz a dominava.
— Está pronto para fazer parte da minha família?
a apertou mais em seus braços.
— Meu bem, eu nasci pronto. — brincou, provocando uma risada gostosa na mulher.



— Pai! — falou animada, assim que o pai abriu a porta de casa.
Ela soltou a mão de para poder abraçá-lo.
Pelo canto do olho, Jonas viu o momento exato em que o namorado da filha engoliu em seco e colocou as mãos nos bolsos da calça. Percebeu também que a filha dele estava logo atrás com um pequeno sorriso nos lábios ao observar a cena.
— Que bom que chegaram! — depositou um beijo na testa da filha. Se afastando dela logo depois para cumprimentar os outros.
— Como vai, ?
— Tudo bem, Jonas.
O mais velho estendeu a mão para apertar a do genro. Os esforços estavam sendo nítidos, mas pelo menos existentes.
— Melissa. — com um aceno de cabeça, cumprimentou a última pessoa que restava.
Ela sorriu para ele.
— Vamos, entrem. Estávamos todos esperando por vocês.
Jonas deu espaço para que os três entrassem e juntos caminharam para o interior da residência. e andavam de mãos dadas, e o enorme sorriso não saía do rosto dela.
— Essa casa não mudou nada. — Melissa comentou.
— Mudou. — com um sorriso simples, Jonas balançou a cabeça. — Agora temos paz.
— Eu ouvi um amém? — Mason se intrometeu, acompanhado da mesma alegria contagiante de sempre.
O riso escapou dos lábios dos que estavam presentes ali, e não demorou muito para que o ambiente se tornasse cada vez mais leve.
correu ao encontro do irmão para lhe dar um abraço.
Enquanto ainda falava com ele, a mulher notou a ausência da mãe e de outras duas pessoas: sua irmã e o marido. Com o cenho franzido, ela deixou os outros na sala e foi andando pela casa em busca dos que faltavam.
Encontrou Megan e Brian sentados à mesa no meio de uma conversa aparentemente animada, e de onde ela estava pôde ver a sua mãe na cozinha olhando o forno.
— Quer dizer que vocês não tiveram nem a decência de me receber na porta?
A atenção dos três automaticamente voltou-se para ela que estava parada com os braços cruzados e um sorriso no rosto.
A mãe dela e a irmã se levantaram as pressas para dar-lhe um abraço, sendo seguidas posteriormente pelo rapaz.
— Obrigada por vir! — Susan balbuciou, enquanto lhe dava um abraço apertado.
Mesmo que a outra não pudesse ver, sorriu.
— Todos nós estávamos precisando disso.
Os quatro engataram uma conversa legal sobre as últimas coisas boas que tinham lhes acontecido. lhes contou sobre o estágio e também sobre o final dos estudos na faculdade. O único casal presente na mesa se adiantou a contar para elas que não iriam demorar para tentar engravidar novamente, ainda que soubessem que teriam que contar a novidade de novo mais tarde quando todos estivessem reunidos. E a mãe de volta e meia comentava o quanto estava feliz por finalmente as coisas estarem voltando para o seu lugar, apesar de repetir umas 500 vezes um pedido de desculpas por ter demorado tanto a entender que isso era o certo a se fazer.
Não muito tempo depois, todos os outros se juntaram à mesa para jantar e conversar. Os assuntos não pareciam ter fim e sempre que um tópico se encerrava, alguém tratava de lançar um novo. O único assunto que foi totalmente evitado fora sobre a doença que a matriarca da família estava enfrentando; este eles fizeram questão de esquecer.
A princípio, a conversa foi difícil de chegar e se estabelecer entre Jonas e , mas só foi o tópico futebol vir à tona para que os dois descobrissem que ambos torciam para o mesmo time e, então, para que dali os dois entrassem em uma conversa praticamente particular foi questão de um segundo. Bendito seja o Chelsea. Uma pena foi o Brian e o Mason torcerem para times diferentes que os outros dois. Não tinham nem chance na conversa.
O riso solto preencheu o lugar a maior parte do tempo. A verdade é que quando não estavam rindo, estavam sentindo a dor do tempo perdido, mas mesmo quando se sentiam tristes pelos erros cometidos ao longo dos últimos meses, a esperança voltava para encher o coração deles de expectativa pelo futuro.
As tristezas e preocupações foram esquecidas. Não era hora para isso. Era tempo de aproveitar o tempo.
No fim de mais uma história que Susan contou sobre quando os filhos eram pequenos e traquinos, o som do tilintar da taça soou. Os olhos se voltaram para onde vinha o som e aproveitou para se colocar de pé. o olhou curiosa, sentindo um repentino nervosismo se achegar a ela.
— Não querendo ser ousado demais, já que faz pouco tempo que entrei oficialmente para a família — risos foram ouvidos. —, mas eu gostaria de fazer um brinde à . — olhou para ela que estava ao seu lado. O rosto dele parecia brilhar. — Me perdoem, vocês todos são especiais, mas essa mulher é a minha casa.
Ela cobriu o rosto com as mãos. Estava começando a ficar vermelha.
Quando voltou a olhá-lo, ele ainda sorria para ela, o que a faz retribuir com o brilho nos olhos. Apesar de está olhando para ele, ela sentia que todos os encaravam, mas um olhar em especial roubou a sua atenção por uns segundos: Melissa sorria para ela.
— Conhecer você foi a minha salvação. — ele prosseguiu. — Conheci a Sarah e tive a certeza de que ela era única, e quando ela precisou ir, eu me afoguei ainda mais nessa crença, e de certa forma ela é única, você sabe. — concordou com a cabeça. — Mas só foi preciso eu te conhecer em profundidade, ter revelado a mim a sua essência, para que eu soubesse que estava errado. Você é tão única quanto ela, só que com um universo só seu que é totalmente diferente. Te olhar é encontrar todos os dias a esperança, e com todo respeito aos seus pais, mas você foi feita pra mim, meu amor. Cada célula que compõe o seu corpo tem uma dedicação especial voltada a mim, e eu sei disso porque você se tornou o meu combustível para viver cada dia e eu não sei mais como fazer para viver sem ele. — um riso gostoso escapou dos seus lábios. — Já estava planejando fazer isso há algum tempo, até comentei com a Mel, mas sabia que você gostaria que sua família fizesse parte disso. Desde então vinha orando feito doido para que as coisas achassem o seu lugar e, bom, parece que deu certo. Espero que o seu pai não me mate.
Ela riu em meio as lágrimas de alegria.
Para conseguir mais espaço, afastou a cadeira que estava atrás dele, colocando-se de joelhos logo em seguida. Ele pegou a caixinha, antes imperceptível devido a camisa que a cobria, de cor azul escuro que estava dentro do bolso da calça dele.
O olhar dos dois se cruzou e permaneceu petrificado um no outro. Ambos cheios de lágrimas.
, meu lar, você aceita se casar comigo?
A aliança prata com uma linha circular de diamante no centro parecia sorrir para ela.
Ela enxugou a lágrima que insistia em rolar mesmo quando todas as outras já haviam cessado.
nunca havia visto um sorriso tão lindo como o que ela lhe deu.
— Sim!
Ajoelhando-se de frente para ele, ela o beijou.


Epílogo

Cinco anos se passaram desde o pedido de casamento que fizera para o amor da sua vida — sim, é assim que ele insiste em me chamar. Hoje, com três anos de casamento recém completos, as coisas não poderiam estar melhores entre nós dois; nunca me canso de admirá-lo e de o lembrar do quanto ele me faz bem. Meu coração ainda dispara todas as vezes que ele me olha com os olhos brilhando que, de acordo com ele, acontece sempre que ele para pra me observar. As borboletas continuam habitando no meu estômago e voam todas as vezes em que sinto as mãos dele fazendo carinho nos meus cabelos. Ainda sinto o meu coração doer todas as vezes que temos uma discussão, seja ela boba ou séria, e depois o sinto ser restaurado quando nos acertamos e ele me lembra que vai ficar tudo bem. Os estresses existem sim, assim como as chateações, mas por mais contraditório que pareça, elas servem para me lembrar do quanto eu me importo com ele e com o que temos.
O não foi somente importante durante o meu processo de amadurecimento e independência dos meus pais, mas ele também foi imprescindível para que eu permanecesse firme no momento em que descobri que minha mãe estava doente, e assim ele continua sendo, afinal essa foi a única coisa que não melhorou com o tempo, mas que piorou; a situação dela se agravou rapidamente, apesar de todos os remédios essenciais que ela estava tomando. Ela já não reconhece mais nem a mim e nem aos meus irmãos; na sua mente, ainda somos criancinhas que correm pela casa. Mas eu sei que a dona Susan, que foi tão responsável por tantos sentimentos dentro de mim, ainda existe. Ela está em algum lugar da mente dela, esperando para ser encontrada.
Alguns acreditam que não precisam do amor para viver, eu, no entanto, sou a prova viva do contrário. Sem amor próprio, do meu marido e de todas as outras pessoas que me cercam, eu não teria conseguido viver nem metade do que vivi. Por isso, sim, eu sou grata por ser amada e por amar.
Ainda que agora Melissa e eu estejamos em estágios diferentes das nossas vidas — ela sendo uma promotora extremamente dedicada e morando com o Tyler, enquanto preferi me envolver com o trabalho de maneira mais leve para conseguir me dedicar melhor à minha mãe e a tudo que ela está passando — ela sempre vem nos visitar, apesar da distância; até porque ela insiste em nos lembrar que não é mais somente pela nossa causa, mas principalmente para ver os irmãos. Com dois anos de idade, Thor e Spark já conquistaram totalmente os nossos corações. Nunca vi filhos tão protetores como esses dois labradores.
Durante todos os dias desses últimos anos, venho descobrindo que a vida pode sim ser doce e que não há problema algum em viver um amor mais velho, um romance diferente de tudo que todos estão tão acostumados a experimentar. Não existe problema em se arriscar as vezes; o problema na verdade está em deixar de se descobrir nesses arriscos.




Fim.



Nota da autora: Faz um ano que terminei de escrever essa história e eu choro todas as vezes que leio esse final. Eu não tenho nem palavras para descrever tudo o que eu estou sentindo nesse momento. Oldest Love não foi uma simples história, mas foi uma marca de superação para mim mesma. Superação do achismo de ser incapaz.
Lembro de ver amigas minhas escrevendo e eu sempre acreditei que não tinha dom pra coisa, que nunca conseguiria escrever; então, eu somente entregava pra elas as minhas ideias e deixava com que se preocupassem com o resto, usando a desculpa de que não sabia como fazer acontecer. Oldest Love pra mim é uma conquista.
Essa história foi escrita em 1 ano e 10 meses, e não sei se vocês concordam comigo, mas eu estou realizada com tudo o que aconteceu durante os capítulos e também com o final. Espero realmente que tenham aprendido a amar esses dois e todas as outras personagens assim como eu as amei e as amo.
Obrigada a cada um que investiu o seu tempo pra ler OL! Inclusive, quero agradecer especialmente as meninas que leram a história desde o início, assim que cada novo capítulo saía do forno. Sem vocês, eu não conseguiria.
Flávia, você não poderia ficar fora dessa nota nem sonhando! Sou muito grata por não ter desistido desse meu bebê e por ter betado tão bem a história. Você é ótima!
Vocês aprenderam algo com tudo o que leram? Espero realmente que sim. Muito obrigada MESMO!
Nos vemos por aí, xoxo.


Outras Fanfics:
Talvez um Adeus (Shortfic)


Nota da beta: Ah, Larys, foi um prazer poder betar sua história e a sensação de finalizar a primeira história é incrível, né?! Espero te encontrar novamente nas próximas, você é ótima e tem futuro pela frente! <3
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


comments powered by Disqus