O oráculo de Onerio

Finalizada em: 09/02/2024

Capítulo 1 - Ainda é melhor que biocel.

Monte Olimpo, na montanha mais alta do mundo mortal — onde o tempo não é calculado, mas as horas passam.
— Eles precisam da nossa ajuda.
— O que eles precisam é de um milagre do Olimpo.
— E não é exatamente isso que somos?
A fala de fez bufar. Ela não estava planejando sair do Olimpo para salvar vidas mortais naquela manhã — mas muito menos estava planejando negar algo à .
Herakles era a filha de Hera, feita pelas mãos da mãe — que após uma conversa com Afrodite e Ártemis, decidiu que procuraria o amor também em uma criança — moldada na areia na praia onde a beleza nasceu, abençoada pela luz do luar. Afrodite lhe deu beleza e força, Ártemis lhe deu a coragem e instinto — e também um belo par de chifres de cervídeo.
recebeu seu epíteto quando tinha quinze anos mortais, mas nunca foi capaz de contar para ninguém as palavras proferidas pelas Moiras. A única coisa que sabia, era que a amante nunca mais tinha sido a mesma após aquele dia.
encarou a outra deusa, um sorriso culpado no rosto.
— Vamos lá, meu amor, eu juro que será rapidinho.
E a missão rapidinha tomou a manhã inteira de .
era a filha de Poseidon e Amphitrite e, como a princesa dos corais e da maré, ela também tinha a responsabilidade do bem estar aquático — uma tarefa nada fácil considerando os comportamentos dos mortais — e, sempre que podia (o que era sempre que pedia), arrastava junto consigo para fazer suas demandas. Hoje, ela precisava dar início a um ajuste em uma das áreas em eutrofização do mar. Malditas algas reclamonas.
escutou um chamado, a voz de sua mãe reverberando em seus ouvidos como um eco.
— Precisamos ir.
Foi tudo que ela disse.

— Mamãe?
Quando as duas deusas chegaram na sala da casa de Hera, encontraram-a junto com Deméter e Ártemis. A mãe de tinha longos cabelos ondulados na cor roxa, usava um vestido lilás com pérolas e fitas roxo escuro em volta, muitas jóias douradas também — juntamente com uma presilha de pavão. Deméter tinha a pele mais escura que a de Hera, seus cabelos verdes claro sempre sendo decorados com fitas ou flores, às vezes os dois, suas roupas sempre parecendo voar junto com a brisa. Já Ártemis, com seus cabelos vermelhos, mas tão escuros que parecia marrom, roupas bege com fitas de terracota e seu arco ao redor de um dos ombros.
— O que aconteceu? Outra esfinge fugiu do museu? — questionou, pendendo a cabeça para o lado. Ela ainda tinha pesadelos com a criatura metade leão, metade mulher.
— Temo que o mundo mortal pereça como Tebas pereceu: levando todos seus moradores à loucura, à uma morte lenta e miserável.
— E o que é piedade aqui? Matá-los antes que se matem?
— Não, jamais… — Hera balançou a cabeça em extrema negação — não posso aguentar mais mães enlutadas ou viúvas em negação.
— Devíamos ir ver Elleipygeia nos confins do mundo inferior, ouvi dizer que ela adoeceu novamente, isso já é um sinal de que o mundo entrará em guerra — falou, mencionando a deusa da doença e dor.
— Se a guerra que estamos pensando realmente acontecer, Elleipygeia não irá se curar jamais.
pressionou os lábios e sua amante a olhou de esguelha, temendo por seu silêncio.
— Por que está tão calada, criança?
Quando Ártemis perguntou, Deméter e se encararam rapidamente, mas não rápido o suficiente para que os olhos de águia de Hera não notassem.
, diga-me o que sabes.
A deusa respirou fundo, os olhos olhando a mãe com medo. Não por temer sua reação, mas por temer contar a verdade.
— Quando eu recebi meu epíteto, eu fui até Dodona, e o oráculo falou.
— O que ele disse? — quem perguntou dessa vez foi , que tão pouco sabia da história.
— As árvores sussurraram para mim, o vento levou as palavras até meus ouvidos, — a voz da deusa começou a se desvanecer, como se estivesse a quilômetros de distância — eu conversei com Apollo depois disso, ele leu as runas para mim, mas apenas encontramos Rho em toda tiragem.
Rhainon… — Hera sussurrou, os olhos cheios de compaixão pela filha — esperar pelo tempo certo… Era um oráculo de um futuro distante.
— E o que dizia, ? — Ártemis se aproximou da deusa menor, colocando as mãos em seus ombros — O que o oráculo falou?
Uma oportunidade surgirá àquele com os dedos na mudança, a ancestral familiar encheu-se de bençãos, frutos colhidos antecipadamente também serão descartados. A colheita sempre será cheia — seja divergente ou de bons presentes.
O sangue dourado de Hera gelou, e ela precisou se sentar ao ouvir o oráculo. Ártemis deu um passo para trás, sem tirar os olhos de sua apadrinhada.
— Ártemis, chame-o.

A casa de estava em completo silêncio.
Nenhuma música era ouvida, nenhum som, nem mesmo passarinhos ou o correr do pedaço de mar que ela tinha em seu quintal.
O lugar era adornado em dourado e branco, com muitas conchas e decorações remetendo ao oceano — queria ter certeza que a amante se sentiria em casa. A sala de estar, onde as duas estavam sentadas, possuía um tapete de musgo, que crescia pequenas florzinhas ao ser tocado, um presente de Deméter e sua filha. A herdeira de Hera brincava com ele, tentando ignorar o silêncio incômodo na sala.
— Por que você foi até o oráculo? — finalmente o quebrou, os braços cruzados, se levantando do sofá. Ela não estava aguentando ficar sentada, muito menos calada.
— Ele veio até mim.
— Não digo sobre os dizeres, digo sobre o templo. Por que foi até Dodona?
— Por favor, você sabe que não posso mentir para você, não me pergunte aquilo que não posso dizer.
— Por que não poderia me dizer? Por que, de repente, me escondes? — se ajoelhou na frente de , fazendo carinho em seus joelhos.
— Tenho medo do que pensará quando souber.
, a deusa da dúvida, — a filha de poseidon brincou, sorrindo amorosa para a outra — se duvidares de Zeus, irei defendê-la, mas duvide de meu amor e terei que contrariá-la, o que, em meu coração, jamais pretendo fazer.
deixou lágrimas salgadas descerem de seus olhos — que foram secadas pelas mãos da deusa dos corais.
— Meu epíteto é minha bênção e meu declínio, — ela parou de falar por alguns segundos, em um transe nostálgico — não há maneira de salvar o mundo e a mim ao mesmo tempo, querida.
— Então deixaremos o mundo queimar.

Seattle, Estados Unidos — 13:47
Delia era uma estudante de biologia — mesmo que passasse mais tempo no campo da faculdade do que na sala de aula.
O que mais adorava era sentir o sol quente em sua pele, a sensação de receber um abraço dos raios solares era incrível (muito mais incrível que ouvir o professor de biologia celular explicando durante duas horas sobre o microscópio de luz).
Ela estava sentada em um dos campos verdes, um livro em seu colo e seu celular ao lado, inúmeras mensagens dos colegas para avisá-la que o professor iria passar a lista de presença.
não podia se importar menos.
Ela olhou para os céus, vendo as nuvens cinzas começarem a chegar, bufou pela situação, mas seu corpo ainda sentia calor, como se o sol estivesse brilhando só para ela. Na direção dela.
O momento ajudava ainda mais a sua sonolência, seus olhos se fechando, prestes a dormir.
Fazia duas noites que Delia não dormia. Ela tirou alguns cochilos quando a luz adentrou seu quarto, o nascer do sol a confortando, mas não durava muito tempo, acordando em poucos minutos, perturbada por seus sonhos.
Seus sonhos não eram ruins, muito pelo contrário, ela sonhava com tudo aquilo que queria e este era o problema: sonhar com algo tão inalcançável.
Seus olhos correram pelas pessoas caminhando, correndo para as salas de aula… O ginásio, alguns passos de distância dela, recheado com as atléticas.
Por um momento, não se sentiu parte de nada.
Mas então sentiu o sol em sua pele — e o calor a fez acordar.
Estamos todos sob o mesmo sol, estamos todos sozinhos juntos, e o calor não escolhe a quem aquecer.

— Você tem certeza que é aqui? — questionou, os olhos percorrendo a sala de estar em que estavam.
— As moiras podem esconder muitas coisas, mas elas não mentem.
As duas se encararam. Era uma visão engraçada, duas mulheres com longos cabelos cacheados — sendo um deles cheio de algas, pedaços de conchas e corais e uma estrela do mar colorida que se mexia quando ela colocava o cabelo atrás da orelha e o outro tendo um par de chifres de cervo — e vestes vindas da Grécia antiga.
Quando viu uma mulher com chifres enormes em sua casa, ela deu o grito mais alto que podia e alcançou o que conseguiu: um abajur que arranjou em uma das suas idas ao brechó.
— Puta que pariu, caralho, porra, merda — ela estava certa de que tinha acabado de encontrar demônios em sua salinha de estar, tinha passado cera no chão ontem e hoje ele já estava cheio de água, plantas e… areia?
Aquilo tirou de seu transe de agonia e medo, ela morava tão longe da costa que precisaria pegar mais aviões que os dígitos em sua folha de pagamento. O que não era muito, mas era o suficiente para fazê-la estranhar a situação.
As mulheres eram altas, mas tinha a impressão de que estaria intimidade mesmo que elas fossem menores que ela. O olhar delas era aterrorizante, especialmente o da moça com chifres.
Moça? Criatura? Demônio que sujou minha sala de estar? não sabia como chamá-las.
se perguntou se deveria se vestir daquela maneira também, talvez enrolar um lençol branco em seu corpo já ajudaria.
— Olá! — acenou, um pequeno sorriso no rosto — Sou e essa é , filha de Hera e Zeus.
queria rir, quem aquelas doidas eram? Ela nunca tinha imaginado que podiam existir ladrões cosplayers.
— Filha de Zeus? O maior garanhão do Olimpo? — ela decidiu entrar no roleplay, era o famoso ditado: “finja loucura com loucos e será normal”.
— Não ouse proferir tamanhas calúnias em nome de meu pai! — chegou perto do rosto da garota, que arregalou os olhos, imediatamente se arrependendo de ter feito uma piadinha. tocou no ombro da deusa e pode jurar que viu a íris dela mudar ao toque — Vocês não-olimpianos adoram colocar-nos em seus rótulos monogâmicos… caixinhas tão pequenas para fazer parte… até Elpis ficaria aterrorizada com elas, e ela teve toda aquela situação com Pandora!
agora estava a alguns passos de distância, olhando pela janela com os braços cruzados.
— Certo, hm… deixa eu ver se entendi, você é filha de Hera e do Zeus?
— Papai me adotou, mas sim, isso mesmo.
— E você é deusa do que?
— Isso não te interessa. — respondeu, o rosto se contorcendo em uma careta. quis bater em sua própria cara, parecia que sempre errava ao falar com a deusa mais aterrorizante da dupla.
— E eu sou filha do Poseidon e da Amphitrite, princesa dos sete mares, deusa dos corais e da maré! — se aproximou, a mão indo de encontro à humana, ela não sabia o que significava, mas sempre via mortais o fazendo.
franziu o cenho, mas apertou a mão da “deusa” mesmo assim.
— E o que duas deusas querem comigo? — perguntou, confusa mas muito curiosa com a situação.
E se fosse verdade? E se ela tivesse acabado de entrar em uma história onde era a protagonista?
— Bom, é aí que está o problema, a gente ainda não sabe exatamente — disse, rindo baixinho com um sorriso culpado no rosto — mas sabemos que tem haver com você!
se sentou no sofá, cruzando os braços.
— Se sinta honrada, você é o bom presente!
— Ah, sim, muito sortuda, só se o presente for carvão do papai noel — riu de sua própria piada, era meio engraçado como foi a rena que veio entregar o presente.
— Papai noel? — franziu o cenho, encarando — você disse que ela não tinha pai.
— Mas ela não tinha! — se aproximou da garota humana, o olhar bravo diga-me agora quem é Noel!
— Relaxa, meu deus do céu, é só um velho fictício… — disse, a mão em seu ombro com uma força sobre-humana — pera aí, como sabem que não tenho pai?
As duas deusas se encararam, e encarou as duas de volta, tentando entender como elas conversavam apenas com olhares.
— Sabemos de tuuuuudo… — mexeu os dedos, tentando fazer a mortal acreditar.
— Mas não sabem por que estão aqui.
— Bom… é. — A deusa grega concordou, dando de ombros, as flores em seu chifre caindo no chão.
— Mas você precisa nos ajudar! — a filha de Poseidon afirmou, prestes a implorar — o mundo vai entrar em colapso se você não o salvar.
gargalhou, ao menos até notar que era a única rindo. Ela estava ficando louca? Ou era a única sã da sala?
bufou, dando a um olhar questionador — a deusa do mar assentiu —, e, em instantes, a planta espada de são jorge que tinha em sua sala começou a criar corais de todas as cores, algas verdes enrolando-se na terra, uma fina camada de espuma do mar podia ser vista ao redor dos dedos de .
— Puta que pariu… — sussurrou, os olhos arregalados e a boca aberta.
Merda, aquilo era muito real. Nunca foi uma pessoa cética, na verdade, acreditava muito em todas as coisas, desde superstição até runas, mas fazer parte disso era completamente diferente do que só crer em segredo.
O que ela poderia fazer? Não podia negar que a ideia de que se o mundo acabasse, não teria que fazer o relatório do último trabalho de laboratório era até encantadora…
Olhou para o chão, onde os raios solares entravam pela janela, o calor tocando a ponta dos seus pés sussurrando: vá, vá, vá.
Quem era ela para negar algo ao calor?
— E onde nós vamos?
— Para onde todos vão quando não sabem para onde ir — disse em tom de obviedade — ao limbo.

Capítulo 2 - David Bowie não atuaria aqui.

Região próxima ao Vesúvio, Itália — 14:07
— Puta que pariu, eu nunca mais confio em vocês.
estava sentada no chão desértico, o calor só piorando sua tontura e ânsia de vômito. Sua cabeça rodava tanto que ela sentia ser capaz de levantar vôo como o Dumbo.
— É só teletransporte, para de chorar tanto, mortal — revirou os olhos, cruzando os braços enquanto olhava ao seu redor.
A humana se levantou, grunhindo, pensando no quanto deveria ter pegado sua bolsa, ela mataria por uma doralgina.
deu um grito quando sentiu o chão tremer, olhando assustada para as outras deusas, que não se afetaram. Elas começaram a andar com em seu encalço. Ela conseguia enxergar grandes paredes de terra, onde o solo era repleto de fendas, pelas quais erguiam-se chamas coloridas, os vapores faziam a terra embaixo de seus pés tremer, o som que subia delas era, no mínimo, aterrorizante, mas estranhamente solitário e extremamente triste.
— Onde estamos? — Delia questionou, uma sensação terrível se alastrando por seu corpo, seus pelos se erguendo, a ponta de seus dedos tremendo, ela sentia que podia desmaiar a qualquer momento, entrar em um sono profundo.
— Estamos perto das regiões infernais.
deu um riso incrédulo, sua face mudando para uma assustada e brava ao ver que a deusa aquática estava falando sério.
— INFERNO? Que merda a gente tá fazendo aqui?! Nem fodendo que eu vou entrar aí dentro.
— Bom, você pode entrar com duas deusas ou ficar aqui fora sozinha. Sua escolha. — A de chifres falou, pendendo a cabeça para o lado e caminhando em direção à cratera.
deu um sorrisinho culpado, seguindo a outra deusa. olhou ao seu redor, escolhendo que se fosse morrer, preferia-o fazer já estando no inferno. Parecia ser pior ter de ser arrastada para lá.
O lago averno era muito profundo, o vapor das águas cantava canções de ninar horripilantes, como se fosse criar braços e arrastá-las para dentro de seu berço molhado mortal.
— É tipo o poço do fedor eterno…
— Metade do tempo eu não entendo o que você fala. — reclamou, a mão indo de encontro ao braço cruzado de .
— A outra metade você me acha super inteligente por fazer referências tão boas?
— A outra metade eu nem estou a escutando.
bufou, olhando para , na intenção de ter uma conversa melhor.
— Você não pode abrir as águas? Tipo Moisés e tal?
— Sou deusa da água salgada, não doce.
— Esqueço que tem diferença. — cruzou os braços, dando de ombros.
— Vamos entrar.
— Ah, não vamos não.
a encarou com os olhos cerrados, como se a desafiasse a ficar sozinha naquelas margens do lago. A deusa começou a adentrar a água, andando pelo fundo como se fosse… bom, uma deusa realmente.
— Reze para termos mais sorte que Eneias.
— O que aconteceu com ele? — perguntou, a sensação de suas roupas molhadas quase a fazendo grunhir. Maldita hora que aceitou salvar o mundo.
— É melhor não saber.
sorriu, e as três continuaram sua caminhada pelo fundo do lago, adentrando a gruta para ter acesso às regiões infernais.
O lugar era menos assustador do que esperava, parecia uma caverna escura e sem graça, com poucas luz de velas e uma trilha d'água em um azul muito escuro, mas brilhante.
— Papai nos guarde, — a voz de estava quase assustada, seus olhos se arregalando enquanto olhava ao seu redor —está vazio.
— O que? Não era pra ser assim?
negou com a cabeça, seus olhos temerosos também.
— Este lugar deveria estar rodeado de criaturas… antes dos limites do inferno estão os zelos por vingança, os pesares… tudo de ruim que é capaz de ser sentido… — explicou, seguindo a herdeira de Hera, que guiava o caminho até o barco de Caronte.
— E como eles escaparam? O cara do barco está do lado deles?
— O caronte? Jamais, — deu uma risadinha nervosa, a estrela do mar em sua cabeça se remexendo com medo — os pesares não pagam moedas…
Ao chegar na entrada do inferno, o barco estava vazio.
— Ele deve estar na pausa pro cigarro.
— Pausa pro cigarro? você só pode estar me zuando… — riu incrédula, os nervos à flor da pele. O lugar era completamente horripilante. Ela tentou fingir que estava em uma casa de terror de Halloween. Se segurou para não fazer uma piada sobre vape, barco e tabaco.
— Não iremos espera-lo. Entrem.
entrou, pegando o grande cajado da entidade. As outras duas mulheres encararam ela, ambas incertas.
— Vamos!
As duas se sentaram na estrutura de madeira, estranhamente seca, e a prole dos mares começou a empurrar o barco. O cheiro que entrou nas narinas de foi o suficiente para sentir seu almoço de volta em sua boca. Seus olhos encheram de água, ela não sentia vontade de chorar, mas a sensação de ardência estava ali.
O lugar era menos quente do que ela esperava.
— O que está acontecendo? — os olhos temerosos de encontraram o da amante — está tudo vazio…
Um estrondo foi escutado e então, a visão de se apagou.

Regiões infernais, o limbo entre a morte e o além — Realmente importa?
— Ótimo, você matou a mortal! Sua mãe ficará tão contente! — a voz parecia quilômetros longe, um sopro nos ouvidos de .
— Não tenho poder de matar ninguém, epítetos não mudam por causa de matrimônio! — uma nova voz foi ouvida, não sabia reconhecê-la — Que ideia foi essa de trazer uma alma viva aqui?
— Ela é uma semideusa, não deveria desfalecer só por causa de um estrondo.
— Semideusa? filha de quem?
se sentou rapidamente, mãos cuidadosas, mas firmes, segurando-a no lugar. Sua respiração descompassada, suas mãos exasperadas tentando agarrar qualquer coisa, o que acabou a levando a agarrar uma estrutura dura e pontiaguda, sua visão parou de ser embaçada e ela notou que segurava… chifres.
grunhiu, se levantando e caminhando alguns passos para longe da mortal, se arrependendo de ter ficado preocupada. a seguiu, sorrindo culpada por ter achado a ação engraçada. A deusa dos corais acariciou a bochecha e os chifres da amada. acalmou ao seu toque como um filhote de cachorro.
— Quem é você? — encarou a nova alma presente.
A mulher sorriu, achando a situação engraçada. Ela tinha uma pele escura, cabelos enrolados e tão pretos como a noite, adornados com inúmeras flores que traziam claridade à sua aparência. Seu vestido dourado, no entanto, se destacava, juntamente com o corvo em seu ombro.
— Sou Perséfone… Proserpina, Kore dependendo de onde você está… — ela deu um riso convidativo e se questionou se aquela mulher realmente habitava o inferno, até que a olhou nos olhos e as chamas de poder e força ficaram claras.
Será que ela iria morrer de medo ao olhar nos olhos de todos os deuses que encontrasse?
Espera.
Semideusa?
— O que vocês estavam falando de mim?
As duas deusas menores se encararam, compartilhando palavras mentalmente novamente.
— Ugh, eu odeio quando vocês fazem isso.
— Quando a gente se olha? Por acaso você é uma daquelas homofóbicas? Porque se for, está exatamente onde deve estar.
a encarou, ofendida.
— Não! Quando escondem as coisas, caramba, como você é difícil…
— Fui criada das ondas, não espere ser capaz de domar a conversa — reclamou.
Um grito de extrema derrota reverberou nos ouvidos de , que olhou assustada para Perséfone. A deusa da primavera não tardou a explicar.
— Estamos ao lado da câmara de julgamento de radamanto… alguém acaba de ser condenado.
sentiu o estômago revirar, mas estranhamente não sentiu o medo de morrer que sempre sentia ou ver filmes ou lembrar da brevidade da vida.
— Por Zeus, ela já está sendo afetada… — a esposa de Hades balançou a cabeça, se levantando e oferecendo uma mão à — que aceitou, se levantando prontamente.
— Então estávamos certas? Eles fugiram? — se aproximou, segurando perto de si.
— Não todos… conseguimos prender discórdia e outros no Tártaro, na verdade, o único a escapar foi o medo.
às olhou confusa, esperando uma explicação, sendo atendida por .
— O abismo de tártaro é como o inferno do inferno… lá estão os titãs que papai e mamãe derrotaram junto com os outros deuses, mas não se preocupe, ele é tão distante dos nossos pés como o céu é da nossa cabeça.
— Mas e o medo? Qual o problema dele fugir?
— Uma fuga dos limites do inferno significa o desaparecimento da sensação no mundo mortal. — Perséfone explicou.
— E isso não é bom? gente sem medo?
— Não, o bom é gente com coragem…Você sabe o que uma pessoa sem medo é capaz de fazer? — perguntou, vendo a humana negar — esse é exatamente o problema.
calou-se por alguns instantes, respirando fundo com dificuldade.
— E não podemos só chamar a coragem pra descer o cacete nele?
As deusas a encaravam sem entender, mas negou mesmo sem entender metade da frase.
— Coragem não existe.
— Está me dizendo que existe personificação do medo, mas não da coragem?! Que tipo de criação é essa?!
— O medo é facilmente imposto, a coragem é criada — disse — Você sente medo daquilo que não sabe — ou daquilo que sabe demais —, mas você só sente coragem se a cria dentro de você. Ninguém pode lhe dar.
não pode contestar a afirmação, olhando ao redor, tecnicamente fazia sentido, mas ela se sentia estranha, talvez incompleta… nem sabia que o medo fazia tanta parte dela.
— Vocês devem ir até as terras dos sonhos, falem com um dos oneiros, algum deles deve saber como arrumar essa bagunça... O caminho está limpo, não há com o que se preocupar — Perséfone disse, sorrindo — mas devo insistir que fiquem até o tardar da noite, Hades organizou uma celebração, seria incrível tê-las.
Claro, era a virada da estação, Perséfone partiria por seis meses para o mundo superior.
— Certo, com certeza ficaremos, Perséfone, obrigada pelo convite… seguiremos viagem.
E assim, as três começaram a longa caminhada até a terra dos sonhos, uma área reclusa do mundo inferior.

Terra dos sonhos, mundo inferior — não existe tempo aqui.
— Falta muito? — sabia que estava soando como o burro do Shrek, mas não podia se conter.
— Precisamos ir até o palácio, por favor, fique quieta.
— Por que não podemos falar? — Delia sussurrou.
— Porque aqui tudo dorme.
Foi o suficiente para se calar.
O palácio do sono era, possivelmente, o lugar mais iluminado do mundo inferior. As luzes amarelas eram calmantes, mas metade do palácio estava com elas ligadas e a outra metade não.
— Quem são onios?
— Oneiros, — a corrigiu quando elas estavam a apenas alguns passos de distância da entrada do castelo — eles são personificações do ato de sonhar, filhos de Nix, irmãos de Hipnos, Tânato e outros seres…
— Por que eles nos ajudariam? O que os sonhos podem importar quando o mundo vai acabar?
— Sua prepotência e ignorância são refrescantes.
colocou a mão na boca de , sabendo que a mortal iria gritar. O susto que levou pela aproximação foi um reflexo de seu corpo.
Ao olhar para o homem, ela tomou noção de sua aparência, ele era um homem bonito, usando luvas e roupas brancas, um homem bonito com um par de asas de penas negras em suas costas.
não fez menção de mover a mão da deusa, se sentindo mais segura com a proximidade.
— Sou , deusa dos Corais e da maré, essa é , filha d-
— Sim, sim, sei quem são.
Ele afirmou, não dizendo mais nada, apenas encarando , sem piscar os olhos, a cabeça pendendo para o lado, um sorriso pretensioso no rosto.
— Trouxeram uma mortal para cá? Rei Hades ficará furioso.
franziu o cenho ao ouvir Hades ser chamado de rei, ela estava acostumada somente com seu pai tendo o título. Ela não vinha muito para o submundo, não era a maior fã da escuridão, isso a assustava terrivelmente.
— Música e camelos, huh?
encarou-o como se fosse um louco.
— Sério? Sua alma é música e camelos? — perguntou, um sorriso divertido em seu rosto.
— Alma?! — tirou a mão da deusa de sua boca, estranhando a fala.
— Sou , deus das visões e desejos, irmão de Morfeu e Ícelo.
Morfeu, o deus dos sonhos e Ícelo, o deus dos pesadelos. lembrava de tê-los visto na Netflix, mas certamente não lembrava de um terceiro irmão.
— Irmão do meio, facilmente esquecido, — deu uma risada — mas estar entre os dois é exatamente minha tarefa.
O homem passou por elas, adentrando o castelo — que abriu suas portas sozinho para ele passar.
o olhou, boquiaberta.
— Não vão entrar? — perguntou, o sorriso pretensioso ainda em seu rosto enquanto ele continuava a andar. Ele sabia que elas iriam acompanhá-lo.

Capítulo 3 - Bridgertons não me ensinou isso.

— Deixa eu ver se entendi: essa mortal é quem deve salvar o mundo humano inteiro? — a encarava com os olhos molhados, ele queria gargalhar, mas tentava se conter (sem sucesso) — caramba, menina, em que templo você jogou pedra para acabar assim?
— Você poderia ser mais positivo, por favor? — bufou, cruzando os braços.
— Não acho que veio até mim por minha positividade, querida.
quis pular no pescoço do homem.
— Muito cruel da sua parte desejar meu esvaecimento enquanto estou na sala.
— Não chame-a de querida, — a filha de Hera resmungou — poderia só se atentar à tarefa?
— Vocês olimpianos são tão inconsoláveis… é aterrorizante o quanto não estão presos no tempo mas se prendem a ele.
O deus reclamou, mas se levantou mesmo assim.
Os quatro estavam na sala de estar do palácio, luzes de vela iluminando o ambiente. O lugar não era o mais bem decorado, cheio de pinturas com molduras velhas e lençóis cobrindo móveis… imaginou-se na residência de Os outros.
voltou-se à mesa segurando um livro e duas folhas de árvore, sentou-se na mesa — tendo apenas e se sentando também.
— Esse é um livro de recortes, aqui tem arquivos de todas as visões e desejos do mundo mortal. Vejamos, Delia…
— O que? Não! Não quero exposição assim! — reclamou, imaginando o livro como uma thread de twitter sobre seus pensamentos mais idiotas e desejos mais impulsivos.
a encarou, bufando e cruzando os braços.
— Você não será capaz de derrotar o medo se não tiver uma memória feliz o suficiente para devorá-lo.
— Eu não vou derrotar o medo! Eu tô aqui de apoio moral, é isso.
— Sinto em lhe dizer, gracinha, mas está mais enganada do que poderia — e precisa aceitar logo tudo isso — não temos tempo a perder.
— Mas temos tempo para ir em festas? — franziu o cenho, bufando também.
— Você está no inferno, meu amor, quer mesmo fazer desfeita do convite de seus reis? — perguntou com um sorriso no rosto, desafiando-a com seu olhar a contrariá-lo.
quis gritar, dar um tapa na cara do deus e fugir com a canoa do caronte.
— Você é mortal, não tem força o suficiente para remar o barco.
Bufou, se levantando, maldita leitura de desejos mental que ele tinha.
— Leia logo. — disse, e assentiu.
O rosto do deus se contorceu, passando as páginas e voltando nelas repetidas vezes. O único som na sala era o de papel sendo revirado.
— Temos um problema.
— Que é? — perguntou, se aproximando para ler o livro.
— As páginas de estão em branco.

Calliro, a floresta da terra dos sonhos, sempre foi muito densa. Grandes árvores cobriam a maior parte do local, dificultando não apenas a passagem, mas também a visão. Era uma tarefa perigosa se aventurar naquele pedaço de terra, mas não o suficiente para deixá-lo sem visitantes.
A floresta nunca estava vazia e nunca era silenciosa.
Além dos sons do vento que farfalhava as cascas das árvores e dos animais que corriam, quebravam e pisavam a vegetação rasteira, também se ouviam palavras. Se você prestasse muita atenção, talvez conseguisse entender o que as árvores estavam sussurrando.
olhava para a área verde com curiosidade, pois nunca havia visto nada parecido. Ela se sentia em Oz ou no País das Maravilhas. Ouviu mandar ficar longe daqui, mas talvez a fuga do medo não afetasse os deuses, talvez seu medo fosse a possibilidade de não entender como a floresta se comportava, de temer não conhecer suas criaturas, ou talvez fosse apenas o fato de que ela tendia a julgar o desconhecido.
Ah, isso entendia.
Respirando fundo e balançando a cabeça, em uma tentativa fracassada de colocar todos aqueles pensamentos para fora, caminhou até uma área parecida com um jardim dentro da floresta.
Ela percorreu o caminho de rosas vermelhas, passando os dedos por alguns dos arbustos queixosos e espinhos irritados. Ela não os condenou, pois vivendo na situação em que se encontravam, era difícil não ser inconformista.
— E aqui vem ela, aquela que nos tirará de nossa miséria sem tirar seu véu.
— Oh, recebam com alegria a Princesa dos Céus.
As flores cantaram com sua chegada. Sorrindo para a garota confusa e movendo suas folhas em favor de acariciá-la.
— Como foi com seu príncipe? —sussurrou a tulipa.
— Ouvi dizer que seu cabelo brilha! — a borboleta comentou animada, pousando confortavelmente na Margarida.
— Duvido mais disso do que da coroa. — disse a papoula, estreitando os olhos.
— Eu não tenho princípe nenhum, muito menos sou uma princesa. — respondeu , sentando-se na grama para conversar melhor.
— A realeza tende a ser complicada... — comentou a lagarta — mas nunca vi ninguém a negar.
As pequenas criaturas se entreolharam, compartilhando o pensamento.
— Você tem o coração dele, isso certamente é motivo para chamá-lo de seu. - Tulipa sorriu calorosamente.
— E muito mais do que qualquer outra princesa deveria ter. Você já o tem, só não sabe ainda! — acrescentou a Papoula, sorrindo vitoriosamente. — Duvido que as flores do outro lugar sejam tão bonitas quanto nós.
— Certamente é difícil de acreditar... — a garota riu, concordando, pois não sabia mais o que dizer, ela estava conversando com plantas! Será que tinha alguma coisa diferente no chá? — mas que outro lugar?
— O outro lugar de sua escolha, vossa majestade.
franziu o cenho, tanto pelo título usado quanto pela frase. Se ela não desejava ser uma rainha, aquilo significava que as flores estavam tendo uma visão? O futuro da humana era esse? Um frio subiu pela espinha de .
— O que realmente queres, princesa? — a lagarta fez sua última pergunta, incapaz de entrar em seu casulo sem saber de tudo.
De repente, tudo se calou.
— Acho que ela ainda não sabe — a voz grossa lhe deu um susto, fazendo-a se virar e olhar para cima.
estava atrás dela, um sorriso no rosto enquanto encarava a humana agachada no chão, conversando com suas flores.
se levantou, passando a mão por sua calça, tentando tirar resquícios de grama.
— E você sabe? — sua voz era acusadora, mas também curiosa.
— Não vejo o que as pessoas não querem. Vejo aquilo que mais querem e aquilo que felizmente, ou infelizmente, se tornarão.
— Então você faz as pessoas serem profetas? Tipo, dá visões a elas e diz o que fazer? — franziu o cenho, imaginando aquele deus asalado gótico como se fosse um episódio de As visões da Raven.
— Se assim funcionasse, o mundo mortal seria um segundo olimpo e eu seria Zeus. Eu mando visões, sim, mas também torno o sono uma mera sensação de viver aquilo que mais deseja… Existe uma camada muito fina entre desejo e derrota — e a maioria das pessoas alcança uma por nem tentar alcançar a outra.
— Profetas e messias, o deus da esquizofrenia.
— Normalidade é um conceito mortal. Aqui o normal é ter mortos lamuriando em sua janela, não buzinas de automóveis.
Touché.
franziu o cenho, não entendendo a palavra. Ele sabia muitas linguagens, mas entender expressões era algo diferente que saber o que um idioma queria dizer.
— Você deve se vestir, coloquei sua roupa em seu quarto.
E se foi, as asas negras arrastando pela grama molhada.

se olhou no grande espelho adornado com dourado, encarando seu vestido esmeralda. Ela nunca tinha vestido algo igual, se sentia uma personagem dos livros safados de época que sua mãe adorava ler.
— Mr. Darcy… — ela fingiu oferecer sua mão e fazer uma reverência a si mesma no espelho, rindo de sua atitude.
— Você irá desafiar qualquer ninfa aparecendo na festa desse jeito.
Ela pulou, virando-se para o intruso (que, tecnicamente, não era intruso, uma vez que aquele palácio inteiro pertencia a ele), uma expressão brava no rosto.
— Eu poderia estar pelada!
— Muito improvável — negou, indo até a cama perto dela e se deitando, apoiando-se em seus cotovelos enquanto a olhava.
— É muito claro que ele é seu pai. Você brilha como ninguém.
A sentença foi capaz de surpreender a humana, que não estava esperando ouvir algo tão bonito vindo dele — que não estava esperando se sentir tão bem por ouvir.
As pontas dos dedos tremiam como sempre faziam quando ela se sentia desejando algo, só não foi capaz de notar o brilho que saía de seus dedos.
— Merda! — o deus xingou, de repente, colocando a mão nos olhos, um chiado de dor saindo de seus lábios.
se aproximou dele, temerosa, os olhos arregalados, olhando para as próprias mãos e então para a divindade, preocupada.
— O que houve? Meu deus, você tá bem?
— Não… não faça isso. — ele negou com a cabeça, tirando sua mão enluvada do rosto e abrindo e fechando os olhos.
pôde notar lágrimas douradas escorrendo de seus olhos, suas pálpebras dolorosas em uma coloração vermelha.
— Você tem o sol em suas mãos. — respondeu, bufando e se levantando da cama, um passo longe da mortal — apenas… use luvas para a festa, okay?
Foi tudo o que ele foi capaz de dizer antes de se retirar do quarto provisório, deixando para trás uma confusa.
Toda vez que ela tinha uma resposta, ganhava mais uma pergunta.

Salão de festa do palácio de Hades e Perséfone, mundo inferior — O tempo já se foi.
O salão estava decorando com tantas flores que poderia ser facilmente confundido com um dos parques verdes da área rural em que cresceu. No teto, um jardim suspenso de lavanda e crisântemos se espalhava, ela se sentia em uma baile real, como aqueles que via no tiktok com as valsas famosas tocando.
Porém, ao invés de mulheres com vestidos enormes e homens usando smokings, ela estava cercada de demônios, ninfas, deuses e um cachorro de três cabeças.
olhou assustada para uma criatura que acabava de chegar, uma hidra com tantas cabeças que ela teve que parar para contar.
— Cinquenta, a resposta é cinquenta.
A voz de entrou em seu ouvido e, como sempre ficava na presença do deus dos desejos e visões, ela se sentiu nervosa. Não era um nervosismo de apresentar um seminário, mas um nervosismo de uma entrevista de emprego do lugar do seus sonhos: goste de mim, goste de mim.
— Diga-me, mortal, você já dançou com um deus? Eu te garanto que será uma experiência que você jamais esquecerá.
Com um movimento suave e confiante, ele pegou sua mão e levou-a em direção à pista de dança. Quando a música começou a tocar, um instrumental que fazia se sentir em uma daquelas playlist de enemies to lovers to spotify, ele puxou-a para mais perto, a mão apoiada na cintura da garota, os olhos fixos nos dela. A mão em sua cintura queimando-a, as luvas trazendo um calor sem igual para sua pele.
— O que está achando do inferno? Era tão belo quanto você imaginava?
— É menos assustador do que eu pensei… — se forçou a falar, não sendo capaz de pensar direito, mas não querendo parecer uma adolescente tola enamorada.
— Talvez seja pela ausência do medo. Você ainda se assusta, apesar de não surtar, ainda tem seus instintos, isso é bom.
— Gosta de alguém com medo?
Ele a girou, sem responder, os passos dos dois sabendo acompanhar ao outro como se fossem parceiros de dança há séculos — como se conhecessem-se desde que o mundo parou de ser só o caos.
— Você é politeista?
— Sempre me considerei agnóstica — ela sussurrou, como se fosse uma palavra proibida, fazendo o deus rir — Bom, para ser sincera, é reconfortante saber que exista mais de um deus… talvez em um julgamento com júri divino, eu tenha mais chance de perdão.
A confissão o deixou surpreso, mesmo que não transparecesse. O que um ser com uma luz tão brilhante como poderia precisar pedir perdão?
— Sinto lhe dizer, mas quem escolhe isso é Hades, em suas próprias condições. — decidiu acalmá-la da melhor maneira que sabia (e da pior maneira para um mortal), contando a verdade.
— Uau, muito reconfortante, obrigada.
Ele riu, a música aumentando sua velocidade.
— Agora, vamos dar-lhes uma atuação que não esquecerão.
As asas de se abriram, envolvendo como uma saia viva, toda vez que ela rodava segurando a mão do deus, suas penas se abriam. Ela se sentia em Jogos Vorazes — todos os olhares em si, mas ela só era capaz de olhar as orbes escuras de .
— Você é o deus da atenção não requerida.
— Você está amando ser a estrela.
— E você está amando me ter em seus braços enquanto brilho.
A frase rápida e pretensiosa de o surpreendeu. Por um momento, ela achou que o deus ficaria ofendido, bravo talvez, até que ele se aproximou ainda mais dela, os lábios quase tocando seu ouvido e sussurrou:
Touché.

vivia em um constante desequilíbrio de sentimentos, dividida entre sentir tudo ao mesmo tempo e nada constantemente. Seu coração imortal era uma ponte de colapso para a apatia eterna. Ela odiava isso, por consumi-la por inteiro. Ela adorava isso, por poder consumi-la por inteiro.
Mas para onde vão quem está perdido em si mesmo?
Exatamente, você fica preso — e era assim que ela se sentia enquanto segurava a cintura de sua amada, no meio da festa de Perséfone, no centro da pista de baile. Ela deu um beijo em , pedindo licença para ir servir-se de algo para elas beberem. Não foi capaz de dar muito mais que sete passos antes de ecoar o grito mais doloroso que o inferno já havia escutado.
A filha de Hera foi ao chão, suas mãos apertando suas orelhas — que sangravam — enquanto ela chorava sem parar, seus pulmões pareciam faltar ar e todo seu corpo doía, ela podia sentir cada fibra, cada músculo, cada célula se perdendo em algum lugar de si mesma, como se ela estivesse lentamente virando pó, sendo absorvida por sua própria dor.
De repente, tudo ficou em silêncio, inclusive os gritos de .
Até que a deusa começou a gargalhar, rir tanto que sua barriga doía, seu corpo se curvava para frente e seus olhos estavam cheios de lágrimas de riso.
a olhou assustada, ajoelhada ao lado da amada que parecia ter encontrado a comédia em pessoa.
— Vamos, meu bem, você precisa descansar.
A palavra de foi como uma ordem, como um botão sendo apertado, fazendo adormecer ali mesmo, no chão do salão de festas, com inúmeros olhares em sua pele, com sua amada segurando-a em seus braços.

— Ela ficará bem?
— Não sou deus da cura, muito menos do futuro.
e o Oneiro estavam no jardim da casa de Hades e Perséfone, tão belo quanto era esperado ser, pertencendo à deusa da primavera.
— Você vê coisas! Não pode ver se ela ficará bem?! — perguntou, os olhos marejados.
estava prestes a explicá-la que, mesmo tendo seus epítetos de visões e desejos, ele ainda era, antes de tudo, um oneiro, um deus pertencente à terra dos sonhos. Não era um oráculo dos vivos, era apenas um informante do sono.
— Achei que não gostava de .
— Não desejo mal a ninguém, muito menos a alguém que está me guiando.
Ele concordou com a cabeça, parando ao lado dela, a diferença de altura mais palpável do que nunca.
— Não sinto medo, então tudo está revirado… sinto um vazio e isso parece ser pior do que tudo.
começou a chorar, talvez pelo calor das chamas do inferno tão próximas à ela, talvez por só agora estar se dando conta de tudo que estava acontecendo, de toda a pressão que tinha em si, toda a derrota que podia ser capaz de causar para o mundo inteiro — mundo de deuses e homens.
começou a ficar sem ar, respirando fundo enquanto tentava se acalmar,
se aproximou da garota, o ar se esvaindo de seus pulmões a cada centímetro mais próximo que ele estava. Os olhos deles não se desgrudaram, entorpecidos um no outro.
A mão dele foi até a cintura de , os dedos tocando sua lombar e então subindo por sua espinha. De repente, o ar voltou aos pulmões da humana e ela sentiu seu corpo inteiro relaxar.
— Tenha uma ótima noite, mortal.
E então ele foi embora, deixando confusa no jardim.
Demorou apenas alguns segundos para ela notar os laços afrouxados: ele tinha aberto seu espartilho.

Capítulo 4 - Tártaro? Tipo o molho?

Quando foi visitar em seu quarto, encontrou uma escondendo suas lágrimas salgadas.
— Ela acordou?
Se aproximou da cama, encarando a deusa dormindo pacificamente. tinha uma expressão dolorida no rosto.
— acorda e dorme com minha fala, ela parece estar em hipnose, é… assustador… — confessou, sua voz baixa como a maré.
O que sentia não era nada humano. Não, sua necessidade era além do divino, era algo de sua alma, o instinto de seus átomos.
Ela levou sua mão perto da deusa doente.
Ao sentir o toque de em sua testa, as pontas dos dedos novamente brilhando, o corpo de pareceu receber raios de energia, uma fina linha de luz amarela correndo pelas veias da deusa e, então, ela acordou.
— O que você fez? — franziu o cenho, chegando perto da amada.
— Eu, eu não sei… — disse, sincera, seu coração se acelerando.

— Pronto para nossa viagem?
perguntou, chegando no quarto de , e apenas encontrou o rapaz deitado em sua cama.
— vejo que não, mas tudo bem, eu o ajudo.
negou com a cabeça, grunhindo.
— Você não nos acompanhará?
— Não posso ir para cima, mortal — disse, e a garota tentou ler sua expressão, sem sucesso — sou das terras dos sonhos, do sono, o que me queima é o sol, não as chamas do inferno.
— O sol te queima? Tipo, você vira pó se sair daqui?
afirmou com a cabeça, indo até a ela e colocando a bolsa ao redor de seu pescoço e voltando para a estante, procurando algo.
— Além do mais, vocês irão para os campos elísios.
— O que é isso? — perguntou.
Ele permaneceu de costas para ela, apertando seus olhos e respirando fundo, disse em uma voz estranhamente neutra:
— Um lugar que você vai preferir do que aqui.

Campos Elísios, perto de todo e qualquer oceano — 18:44
Os campos elísios eram o que chamaria de paraíso. Um lugar pacífico onde a neve não cai, muito menos gotas de chuva, não há calor ou frio, apenas a brisa amena de Zéfiro. Os campos elísios eram o lugar de paz eterna onde os heróis se deleitavam após suas mortes.
— Então Pégaso nasceu da morte de algo terrível? — franziu o cenho, não se conformando com a história — Como ele deve se sentir sabendo que foi criado a partir de tanta desgraça e falta de misericórdia?
— Ele pode se afogar em autopiedade ou entender que pode fazer um castelo das cinzas daquilo que perdeu.
— Ele é um cavalo, duvido que tenha crises existenciais — resmungou, cruzando os braços enquanto caminhava em direção aos heróis.
— Vamos pegar essa merda de taça e ir embora daqui. — reclamou, caminhando e sendo seguida pelas outras mulheres.
O lugar era impecável, lindo. Exatamente como um paraíso deveria ser.
Mas e suas frases estúpidas não estavam ali. , de repente, pensou em preferir o inferno ao lugar ideal.

A paz que os campos elísios trouxeram foi o suficiente para acalmar os nervos de e fazê-la dormir.
Quando seus olhos se fecharam, os de se abriram. Era automático, instintivo.
Ela cobriu a amada, seus dedos gelados como a água passando pelos cabelos da folha de Hera, sua voz entoando um canto baixinho enquanto mantinha seus olhos fixos nela, com medo de acordá-la, mas incapaz de tirar seu toque dela, aterrorizada de que seu dedo fosse fazê-la desaparecer se saísse da pele de .
Olhando sua amada, sabia que as coisas estavam mudando, que nunca mais seriam as mesmas — e, sob o luar, ela temia o futuro mais do que tudo.
A lua mudava a maré como mudava .
daria a lua para se ela a pedisse. Mesmo que isso significasse que as águas salgadas nunca fossem as mesmas, que o planeta nunca mais trabalhasse da mesma maneira.
Mesmo que isso significasse que ela nunca mais seria a mesma.

Terra dos sonhos, mundo inferior — não existe tempo aqui.
jamais tinha tirado as luvas, nem quando estava sozinho, mas, depois de sua aventura, talvez pela falta de medo em si mesmo, ele sentiu um chamado, uma enorme necessidade de saber o que ele próprio desejava.
Seus dedos trêmulos se aproximaram de sua luva esquerda, puxando o tecido devagar, ansioso. Com a mão desnuda, cheia de cicatrizes e marcas, ele a levou até sua própria testa.
A única coisa que foi capaz de enxergar foi .

Tártaro, tão longe de seus pés quanto o céu é de sua cabeça — lugar onde o tempo não importa
— Esse lugar é muito aterrorizante para o nome que tem.
— Você leva a linguagem muito ao literal, mortal, isso irá ser sua sina.
A voz de soou em seu ouvido, muito mais amedrontadora que qualquer um dos gritos naquele inferno do próprio inferno.
— Quem procuramos X
— Aquela que tudo sabe, aquela que tudo vê — respondeu, olhando para — Mnemosine, a titã original da memória.
E, quando a encontrou, sua respiração parou por alguns instantes. A criatura enorme era aterrorizante, com flocos de neve ao seu redor, olhos completamente brancos e um vestido gigantesco (como ela) na cor azul marinho.
— A costureira que fez isso deve ter tido um trabalhão… — sussurrou, e tiveram que segurar a risada.
Porém, quando a titã se mexeu, os sorrisos foram embora.
procurou a mão enluvada de , apertando-a assim que a achou.
O deus se sentiu bem, como se estivesse em um sono tão tranquilo que virasse uma pena em uma cama, porém, tão rápido quanto a sensação veio, ela se foi, ele se perguntava se realmente o queria, ele se perguntava se ela ainda iria o querer se tivesse o conhecido enquanto o medo estava vivo.
— Mas eu não quero ter medo.
— Ter medo faz parte de ter vida, .
Mnemosine sorriu, um sorriso malicioso, maldoso, e, em palavras sinceras e curtas, acendeu o caos.
— E vem a mim, , a deusa da devoção e do delírio.

Capítulo 5 - Assisti Percy Jackson, serve?

A caminhada de volta à terra dos sonhos foi recheada de um silêncio desconfortável e uma inquietude gritante.
e andavam um pouco mais atrás das duas deuses, deixando-as terem privacidade.
Os dedos dos dois estavam perigosamente perto, sempre na ânsia de se tocarem. nunca havia desejado algo como desejava sentir a textura da luva de em sua pele.
— Você é meu sol.
A voz dele era baixinha, querendo que apenas ela escutasse, querendo apenas ela.
não soube o que dizer, parando de andar e segurando a mão dele, o fazendo parar também.
olhava para o chão, sem coragem de encará-la.
— E isso queima? O meu amor por você te faz fraco e com medo do calor?
A frase de o tirou de sua autopiedade, a olhando direto nos olhos. Ela tinha entendido completamente tudo errado.
— Seu amor me faz querer ver a luz, sinto vontade de permanecer acordado e enxergar uma vida iluminada por raios solares. Não há dor nas queimaduras, não há dor em mais nada.

Terra dos sonhos, regiões infernais — sempre noite
seguiu a amante até seu quarto, a encontrando sentada no chão, o espelho do quarto tampado com um lençol. A deusa se sentou ao seu lado, não tentando esconder as lágrimas.
— Sinto muito, eu queria tanto contá-la?
— E por que não o fez, querida? O que aconteceu?
segurou o rosto de com tamanho cuidado e carinho que a deusa quis morrer de chorar. Ela colocou suas mãos em cima das da amada, fechando os olhos com força.
— Eu lhe disse que não era passível de salvação.
— Mas não me disse que eu seria a causa… sua mente morrerá de amor… — A voz de estava pequena, triste, sentindo culpa por algo que ainda nem ocorreu.
— Não morrerei, só ficarei… sem… sem… — ela não sabia que palavra usar para acalentar a deusa, abrindo os olhos para encará-la — sem qualquer salvação que não seus lábios.
— Então eu a levarei à loucura? — a boca da filha de Poseidon tremia.
a olhou com tanto amor que a própria Afrodite poderia ter nascido de sua íris.
— Há quem esqueça o que ama quando atinge a insanidade. Não há honra maior para mim que alcançá-la por amá-la tanto.

O maior temor da vida de foi sentido, como naqueles filmes de terror, onde o personagem sente uma mão subir por sua perna, onde um frio na espinha é tão gelado quanto o sangue, onde você simplesmente sabe que está prestes a morrer.
Uma criatura surgiu da escuridão, com olhos tão arregalados que as pálpebras mal apareciam, dedos tão finos que eram quase impossíveis de ver.
A respiração de estava descompassada, seus olhos se enchendo de lágrimas à medida que a criatura ficava cada vez mais perto. Ela se movia como a Samara, nunca foi uma de assistir filmes de terror, mas sabia o suficiente para entender que se ficasse parada como estava, iria acabar morrendo.
Ela se sentou na cama, vendo a criatura começar a sorrir.
— Puta que pariu… — foi a única coisa que conseguiu sussurrar.
E então, a criatura foi para cima dela. Com suas garras esqueléticas e sombra clara.
Mas não sentiu nada. Nem um toque, nem medo.
De suas mãos saíram mais que raios de sol, saíram camadas de coragem, o medo não estava apenas cego, estava destruído.
Destruídos pelas mãos da mortal Delia.
Mas, com o desaparecimento do medo, o que restava para acalmar as pessoas, era a loucura.
A personificação da mais pura insanidade, o epíteto de estava definido.
A deusa da devoção e do delírio.
Quando o medo foi morto, sua chama de paz e calor também foi — e seu corpo virou pó, sendo levado para as regiões infernais, ao lado das outras coisas terríveis capazes de amedrontar os mortais.
estava presa, mas ela também não era mais a mesma. Nem saberia que estava enjaulada se não fosse pela falta de ao seu lado — a razão de sua devoção, a voz de sua cabeça e o motivo de sua falta de princípios.
Seus gritos nunca mais cessaram, sua voz jamais se calou, as paredes do inferno ecoavam suas lamúrias de amor.

Casa de Apollon, Monte Olimpo — é de dia, apesar do deus do sol ter tirado uma folga.
— Sinto muito por minha ausência. Acreditei ser o melhor para você… Deuses também erram aparentemente — o alto deus disse, um sorriso triste no rosto — não irei implorar por seu perdão, mas saiba que sempre estive a olhando, seja de dia ou de noite.
— Você sabia sobre a profecia?
— Sim, eu sabia… esse foi exatamente meu problema. Sou deus da divinação e achei que poderia tirá-la de seu destino. Fui tolo como um mortal, mas nunca faltei razões nobres.
sorriu, seus cabelos brilhando pela luz vinda do pai.
— Está tudo bem, eu tive uma vida feliz, — tomou coragem, sua mão tocando o ombro do deus de uma maneira a confortá-lo — e pretendo ter muito mais dias bons embaixo do sol.
se aproxima e solta uma risada leve, seus olhos ainda fixos em . Ele lança um olhar astuto para Apollo, antes de voltar sua atenção para a mortal, sua voz baixa e sedutora.
— Bem, Apollo, tenho que admitir, você tem privado todos nós de uma presença tão encantadora. Mas não se preocupe, , garanto que você não vai achar essa festa chata comigo por perto.
E ela realmente não a achou.

Depois de um tempo, após os deuses e criaturas se dispersarem, e estavam sós, sentados na grama embaixo de uma grande árvore.
Pela primeira vez em seus séculos de sonolência, desejou ser capaz de ver o pôr do sol.
, você é meu Elísio.
Os olhos dela se fecharam, a noite estava prestes a acabar, lágrimas escorriam dos rostos de ambos. Se ficasse, morreria; Se ele se fosse, morreria.
— Mas você não está morta, e não há nada em mim capaz de viver aqui fora. Não a puxarei comigo até o inferno, jamais seria capaz de fazê-la perecer, não porque não a quero, mas porque a quero tanto. Preciso saber que está viva, preciso que fique sob o sol.
negou com a cabeça, seu coração se apertando junto ao peito, um choro silencioso, não sendo capaz de falar nada após sentir os lábios dele nos seus.
Ela ficou parada, sentindo o sol nascer, sentindo sua mão no ar, sem nada para se agarrar.

sentia sono, dormia muito bem, mas antes disso, tentava ao máximo permanecer com os olhos abertos — não porque tinha medo do escuro, ela não enxergava criaturas com três olhos ou monstros esqueléticos querendo puxá-la, não, ela ficava acordada procurando por mãos enluvadas, olhos curiosos e um par de asas negras.

Epílogo

Baía da Viúva, perto do oceano pacífico — 17:55
Um templo na baía da Viúva foi erguido para honrar . Durante o dia, a maré estava a alguns metros de distância, mas todas as noites, quando o brilho do luar chegava, as ondas dançavam nas paredes do templo, ecoando lamúrias de amor.
A deusa dos corais passava a maior parte do seu tempo com suas tarefas, mas nunca longe demais de sua amada. A deusa nadava com um par de chifres em sua cabeça — uma coroa de memórias.
Delia brincava com a areia com seus dedos dos pés, caminhando devagar em direção ao templo com colunas brancas adornadas por conchinhas coloridas. As situações vivenciadas por ela pareciam tão ilusórias que ela se perguntava se tudo foi real ou não.
Ao entrar no lugar aberto para que toda luz do sol fosse capaz de entrar (assim como toda luz do luar e as ondas), haviam dizeres nas paredes: Πνίγομαι στην αγάπη; πνεύμονες αφοσίωσης. Afogo-me em amor; pulmões de devoção.
quis chorar, o coração se apertando, ficando pequenininho pequenininho com o turbilhão de emoções que sentia.
Sim, aquilo tinha sido real, a dor era quase física. A sensação também. Ela quase podia sentir uma mão em seu ombro desnudo. Uma mão com uma textura estranha.
Uma mão enluvada.


Fim...



Nota da autora: Sem nota.



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