O Porquê de Eu Te Amar

Finalizada em: 19/12/2021

Capítulo Único

Os fios dourados se encontravam perfeitamente alinhados, roupas escolhidas a dedo emolduravam a estrutura física de meu namorado. Por vezes custava a acreditar que era ele o responsável por me tirar suspiros, o modulador das minhas frequências cardíacas e aquele que trazia os mais sinceros e brilhantes sorrisos aos meus lábios.
Poderia enumerar as razões do porquê o amava, mas entre todas elas, a que estaria no topo era o modo como Kise me olhava. Ele me enxergava em todas as minhas nuances, seus olhos de um amarelo como a pedra de topázio decifrava os enigmas do meu coração. Era claro que ele não era perfeito, havia momentos em que seu lado infantil tirava-me do sério e o seu ego lhe rendia alguns tapas aqui e ali estalados em seus braços. Afinal, Kise Ryouta era um indivíduo pouco comum, um atleta esmagador dentro das quadras e um homem de tirar o fôlego fora delas. E era justamente por conta desse segundo motivo que estávamos ali, às vésperas do Natal em um estúdio no qual Kise estava terminando a sessão para uma marca de roupas masculinas. Havia passado numa cafeteria a caminho dali, porém devido a longa duração a bebida comprada para ele já havia sido descartada por ter ficado fria. Meus olhos embora o observasse ainda assim se distanciavam de sua figura, ele era muito sociável e isso era algo de sua própria personalidade o que aumentava o número de fãs embora ele fosse apenas um aluno do colegial.
Meus olhos recaíram sobre o relógio em meu pulso, a capital japonesa encontrava-se fria em sua costureira época invernal; mesmo que a temperatura não fosse das mais agradáveis, não tirava o acessório do meu pulso, fora um dos primeiros presentes que ganhei de Kise. Como sabia que seria impossível de chegar a tempo para a reserva do restaurante, me distanciei do estúdio seguindo pelos corredores parando próxima às escadas de emergência, na qual as imensas janelas exibiam o mar de edifícios ainda presente com o grande número de assalariados. Retirei o aparelho de meu bolso, discando o número do restaurante e cancelei a reserva, não fazia sentido ocupar a vaga de um dos restaurantes mais concorridos nesta época do ano.
Observar a selva de pedra era algo agradável e não me deixava agitada, como as sessões de Kise. Em minha mente repassavam momentos bons e ruins que passamos juntos, de início eu era apenas a vizinha de Ryouta. Uma mera presença de seu dia a dia, estudamos nas mesmas instituições desde que eu conseguia entender. Mas até então nunca havia sido fisgada por seu olhar, não até aquele dia…

2 anos atrás…
A data natalina não era comemorada pela família de meu vizinho, era possível enxergar que, embora eles fossem uma família, eles não eram o maior exemplo de calosidade. Kise era uma figura que eu conhecia, mas apenas por olhar, não partilhamos nenhuma interação real além dos cumprimentos básicos de cordialidade; e como ficamos em salas diferentes nunca houve a chance real de conversarmos embora morássemos um ao lado do outro. No entanto, naquela noite atípica, tive de ficar de cama devido a uma gripe, havia me ausentado das aulas havia três dias enquanto buscava me livrar da gripe teimosa; eu sabia que teria de recuperar o conteúdo, porém de certa forma estava agradecida pelo descanso. Com batidas leves sobre a porta e um resmungar autorizando a entrada, a figura de meu vizinho adentrou o meu quarto. Era gritante como ele parecia destoar do ambiente; sua estrutura óssea lhe dava uma boa altura o que lhe rendia contratos de modelo.
— O presidente do grêmio estudantil pediu para te entregar as anotações e exercícios para alcançar a sua turma. — Kise iniciou sua fala meio deslocado sem saber como se portar.
— Você não precisa ser tão cuidadoso ao falar comigo, Kise, não é como se eu fosse te morder ou algo do tipo. — Soltei uma breve risada embora ela fora interrompida por tosses. Kise me alcançou uma xícara de chá, que até aquele instante não havia notado que ele havia trazido com ele. — Obrigada. — Agradeci após silenciar o ataque repentino.
— É impressionante como nunca tivemos um diálogo real mesmo sendo vizinhos. — Ele riu descontraído sentando-se mais relaxado sobre a cadeira que utilizava para estudar.
— As peculiaridades da vida. — Dei de ombros arrumando o travesseiro.
— Sendo sincero, você sempre pareceu mais intimidadora do realmente é, -san. — Kise ergueu seus olhos topázios encontrando o meu olhar. — As tarefas são apenas uma desculpa para iniciar uma conversa.
A risada entre tosses escapou de meus lábios novamente, eu não imaginava que, dentre tantas características que poderiam descrever sobre mim, intimidadora fosse uma delas. Deixei meu lenço de lado após acalmar a tosse, deitei sobre o travesseiro fechando os olhos por alguns milésimos antes de voltar a sustentar o olhar de Ryouta.
— Eu não esperava que dentre tantas características eu pudesse parecer intimidadora. — O humor estava presente em minha voz.
— Você é assustadora, -san. — Kise me respondeu a contragosto.
— Por que você diz isso? — O indaguei com curiosidade.
— Para alguém que te observa desde que éramos crianças, não é fácil escolher a melhor tática de aproximação. — Ele desviou seus olhos dos meus tendo um leve rubor em sua face.
— Você é a pessoa mais sociável que eu conheço, como eu poderia ser tão assustadora? — Persisti a tirar a verdade dos lábios dele.
— Porque falar com a pessoa que admiramos é uma das coisas mais difíceis de se fazer. — Ele não me olhava enquanto deixava a verdade escapar embora o rubor fosse visto não só em sua face mas também em suas orelhas.
— Você deveria ficar e jantar com meus pais, tenho certeza de que eles não irão se incomodar. — Podia sentir minha face corar.
— E quanto a você? — Ele questionou com uma preocupação tácita.
— Eu preciso descansar para retornar a ativa. — O respondi com humor piscando um olho.
— Ficarei aqui até que adormeça então. — Ele me respondeu com tranquilidade, embora seus olhos evitassem os meus ao dizer tais palavras.
— Não seria bom te infectar com essa teimosa gripe que não me deixa em paz. — Me sentei de modo a impor a seriedade.
— Mas não é agradável permanecer sozinho na noite de Natal. — Kise me respondeu sinceramente.
— Eu sei e foi por isso que te convidei para jantar com meus pais, eu vou estar melhor amanhã se eu dormir então não se preocupe. — Sorri enquanto tentava o tranquilizar.
— Não demore a voltar para o colégio. — Ele deixou um beijo em minha testa antes de deixar o quarto às pressas.
Minha face ficou presa na expressão de surpresa por longos minutos, enquanto processava o que havia acontecido; o ato fora do comum que me impediu de dizer qualquer coisa a Kise Ryouta. Meus olhos ainda permaneceram presos a porta fechada antes de rir desacreditada; alcancei o frasco de remédio para engolindo um antes de tomar mais uma xícara de chá. O amanhã poderia ser surpreendentemente agradável.

Atualmente…
Senti um par de braços envolver-me enquanto fios amarelados entravam em meu campo de visão. A cabeça de Kise estava sobre um dos meus ombros enquanto suas mãos detinham-se nas minhas.
— Você sumiu sem avisar. — Seu tom de voz expressava a preocupação que ele sentia.
— Não consigo me acostumar a esse ambiente. — O respondi tranquilamente.
-san, não desapareça sem avisar! — Ele me virou de modo que eu o olhasse nos olhos, embora sua altura superasse em muito a minha.
— Eu não desapareci. — O respondi sem me alterar. — Não iria a lugar algum sem você, bobinho. — Apertei a ponta do nariz de Kise rindo, ele deixou um pequeno bico de insatisfação surgir em seus lábios como uma criança a risada escapou antes que eu pudesse segurá-la.
— Não consigo entendê-la. — Kise comentou passando uma de suas mãos pelos sedosos fios loiros. — Você ainda vai ser responsável por me deixar careca de preocupação!
— Não seja dramático! — A risada ainda escapava de meus lábios enquanto o seguia em direção aos elevadores. — Não sou tão volúvel assim.
— Passei mais de dez anos apenas te observando de longe, , eu posso te dizer que sim, você é imprevisível! — Ele segurou uma das minhas mãos enquanto entrávamos no elevador.
Ele se manteve segurando minha mão embora as garotas da sessão de hoje me observassem em desagrado; não era de hoje que recebia tais olhares e a firmeza do aperto de Kise demonstrava que ele não ligava sobre o que diriam sobre nós. Esse era um dos motivos que me fazia apaixonar ainda mais por ele, com apenas acenos e breves saudações deixamos o prédio seguindo pelas ruas abarrotadas de Shibuya.
— Como já estávamos atrasados para a reserva, eu liguei cancelando antes que você viesse ao meu encontro. — Deixei que um dos braços de Kise envolvesse meus ombros antes de avisá-lo sobre o restaurante.
— Desculpe sobre isso. — Ele parou perto das vitrines para não atrapalhar o fluxo de pessoas seguindo o seu caminho. — Eu não imaginei que a sessão de fotos fosse demorar tanto.
— Você sabe que não estou brava com você, é o seu trabalho e eu entendo que meu namorado é bem popular. — Pisquei para ele vendo um sorriso bobo se formar nos lábios dele a palavra namorado.
— Ainda custo a acreditar que levou tanto tempo para nos aproximarmos. — Ele sorria alegremente.
— E de quem será a culpa?! — O provoquei com gracejo enquanto via ele bagunçar seu cabelo rindo desacreditado da minha fala.
— Se não fosse por sua gripe, ainda estaríamos no mesmo lenga-lenga de sempre. — Ele retrucou com um olhar intenso em seus olhos topázios.
— Essa sua confiança se desfaz na minha presença, hein?! — Gargalhei enquanto segurava a mão dele nos guiando para a estação mais próxima.
— Para onde está nos levando? — Ele perguntou entre a expectativa e a curiosidade.
— Para jantar. — O informei sem dar muitos detalhes.
Kise parecia uma criança ansiosa por mais detalhes, enquanto fazíamos o nosso trajeto ele prosseguia a enxurrada de perguntas às quais respondia com: "Quando chegarmos você verá!”. Pegamos mais dois trens antes que parássemos na estação desejada; após tantas negativas, Kise se calou mantendo um bico em seus lábios. Ele estava adorável, quase me sentia tentada a lhe dizer o local mas não queria estragar a surpresa. Próximo a baía de Tóquio havia um pequeno mas aconchegante restaurante, nos feriados ele era ricamente decorado e o menu sempre alterava de acordo com a estação e o feriado mais próximo.
Os pisca-pisca e algumas bolas de Natal enfeitavam a fachada do estabelecimento, Kise parecia uma criança admirando cada detalhe do ambiente.
-chan!
-chan!
Duas vozes estridentes soaram assim que adentramos o restaurante, meus primos vieram correndo ao meu encontro enquanto Kise observava tudo em silêncio.
— Eu não sabia se viria, mas deixei reservada o seu lugar sempre querido. — Minha tia surgiu sorrindo do balcão.
— Obrigada, tia. — Sorri agradecida a ela enquanto me abaixava para deixar beijinhos nas faces gorduchas dos meus primos. — Quanto a vocês dois: sem bagunça ou ficarão sem doces quando vierem me visitar.
— Tudo bem, -chan. — Eles me responderam baixinho.
— Vou ficar de olho! — Os lembrei com um sorriso. — Venha, você vai adorar a comida desse lugar.
— Eu não imaginava que sua família tivesse um restaurante desses! — Kise expressou sua surpresa ainda observando com admiração a decoração.
— É de família o amor pela culinária. — Dei de ombros enquanto me sentava, acompanhei com o olhar meus primos e balancei a cabeça negativamente, eles queriam se aproximar e aprontar alguma coisa.
— Consigo entender o amor que vocês possuem pelo Natal. — Ele me respondeu abrindo o cardápio sobre a mesa lendo cada linha atentamente. — Os pratos que sua mãe prepara na ceia de Natal também estão no menu. — A risada alegre de Kise era contagiante, o sorriso era impossível de se evitar.
— A sessão ter demorado tanto não foi tão ruim no final das contas. — Comentei com bom-humor rindo da careta ao ter pronunciado a demora.
— É surpreendente como você e sua família não cansam de me surpreender! — Ele mudou de assunto, o que me fez rir de sua tentativa.
— Diga isso ao terminar desta noite. — O respondi de modo enigmático o que levou a uma enxurrada de perguntas…
Ao fim, nos deliciamos com a comida servida pelo restaurante de meus tios, originalmente pertencia aos meus avós, porém como nenhum dos irmãos da minha mãe se interessou exceto minha tia, ficou sobre a tutela dela e de seu marido assumir o restaurante, enquanto minha e seus irmãos seguiam seus anseios profissionais. Como éramos vizinhos, Kise me acompanhou todo o trajeto até a porta da minha casa, meus pais não estariam na residência até a metade do dia de amanhã.
— Eu sei que ainda não é Natal, mas eu tenho algo para você. — Segui em direção às escadas, deixando a porta aberta para que ele entrasse.
Em meu quarto, abri a gaveta da cômoda alcançando uma caixinha de presente; ao me virar em direção a porta encontrei a figura de Kise, seus olhos me observavam com curiosidade e afeto no mais profundo silêncio.
— Há exatos dois anos, esse lugar foi o ambiente que presenciou nosso primeiro diálogo real, esse quarto fora palco de discussões entre nós, mas principalmente de demonstrações de afeto. — Iniciei minha fala me movendo calmamente em direção a Kise. — Eu sou grata aquela gripe por ter te colocado sobre o mesmo teto que o meu, assim eu pude notar que você não era o único a ser observado. — A sobrancelha de Kise arqueou em uma pergunta muda. — Você não foi o único a permanecer apenas observando, meus olhos sempre estiveram indiscutivelmente sobre você. — Segurei uma das mãos dele deixando sobre ela a caixa cuidadosamente embrulhada. — Apenas não havia me dado conta até que você me provocasse com suas palavras e ações pertinentes. — Levei a outra mão até a face de Kise me elevando nas pontas dos pés para depositar um beijo em sua testa, da mesma forma carinhosa que ele deixara em mim pela primeira vez.
— Você está certa. — Ele sorriu, curvando-se antes de selar os seus lábios nos meus.
Eu o recebi de braços abertos, permitindo que ele aprofundasse o beijo, seus braços envolveram minha cintura após deixar os casacos pesados ao lado da porta. A caixa de presente fora deixada ao lado da cama enquanto ele prosseguia na tarefa de me beijar. Após algum tempo envolvido no frenesi de sentimentos enquanto nossas línguas se envolviam e exploravam uma a outra numa dança familiar e provocante, o oxigênio se fez necessário e o som de respirações irregulares preencheu o quarto.
— Você ainda não abriu o seu presente. — O lembrei após regular um pouco minha respiração, sentia meu coração bater em um ritmo acelerado em minha caixa torácica.
Esticando seus longos braços, Kise alcançou a caixa esquecida, seus dedos rasgaram a embalagem sem qualquer traço de paciência. E então ele se sentou com um solavanco, havia um sorriso largo cravado em seus lábios enquanto observava o conjunto de colares de casal, era apenas uma corrente de prata com dois pingentes: uma bola de basquete dourada e um visco natalino que simbolizava a época do ano que marcou a mudança em nosso relacionamento de vizinhos para algo a mais.
— É algo simples e não chama que você pode usar por baixo do uniforme do time da Kaijo se quiser. — Desviei o olhar me sentindo envergonhada.
— Eu adorei. — Ele riu alegre, me envolvendo em seus braços em questão de segundos. Kise então me pediu para colocar nele a corrente, e me fez virar de costas para que ele também colocasse em mim. — É impressionante como você sabe exatamente como me ganhar.
— Passei todos esses anos te observando, aprendi um truque aqui e ali. — Sorri para ele enquanto o observava em admiração.
Passamos a noite assim, observando um ao outro enquanto conversamos sem pressa, atentos às nuances de nós dois e pareceu que apenas nós existíamos… Afinal o Natal é uma época mágica, e não era somente sobre ser presenteado, mas trazer o sorriso mais brilhante a face de quem amamos.




Fim.



Nota da autora: Primeiramente: obrigada por chegar até aqui, espero que tenha gostado da história tanto quanto eu.
Segundo: espero que essa história tenha sido um presente assim como escrevi ela como tal, e não menos importante, terceiro: Feliz Natal 💕🎄.





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