O Reino de Jade

Finalizada em: 08/12/2021

I — Tóquio

nunca pensara que ganharia como presente de formatura uma excursão para o Japão. Achava que toda aquela história de festejar o fim do ensino médio era uma grande baboseira, mas acabara extremamente animada em ouvir da professora Lee que todas iriam para o Japão.
Sempre tivera vontade de visitar o país que servia de lar para a maioria dos animes que acompanhava, queria conhecer a Torre Tóquio ao lado das melhores amigas de infância, assim como queria ver se os rapazes eram mesmo tão bonitos quanto aparentavam nos filmes. No fundo, era uma menina sonhadora — mesmo que muitas coisas dali não levasse tão a sério quanto deveria.
Já era dia de se despedir dos pais e passar uma longa semana fora. Com um bocado de esforço, arrastava a mala pesada casa afora, com seu típico sorriso em formato de coração desenhando os lábios pintados num batom vermelho vivo. Na escola não costumava usar maquiagens que gostava, assim como o tom vivo de laranja em seus cabelos, que era estritamente proibido — as garotas estavam sempre da mesma forma, com pouca base no rosto, os cabelos negros como a noite e o uniforme horroroso no corpo. Detestava todas aquelas regras e estava dando glória aos deuses por estar livre da escola — somente para meninas — e prestes a entrar na faculdade. Poderia ser, finalmente, livre.
A buzina ecoou alta dentro de sua casa, assustando-a e quase fazendo com que deixasse a mala cair em seu pé, mas fora salva por seu pai, que soltava risadas do afobamento da filha. O homem ajudou-a e carregou a mala para o carro do vizinho, o senhor , que levaria sua filhinha até o aeroporto.
, meu amor, tome cuidado — o mais velho murmurou, segurando-a pelo rosto. — Se comporte e não apronte por lá. Fique sempre perto de e , sim?
— Pode deixar, papai. — Sorriu e beijou a bochecha do mais velho, deixando-lhe com a marca de sua boca. — Ficarei sempre perto das meninas e da professora Lee, eu prometo. A semana passará rápido! Diga a mamãe e Dawon que as amo e mande meus sentimentos e desejos de melhoras à titia Sunhee.
O mais velho riu e abraçou a filha uma última vez. Ignorou o aperto em seu peito e o pesar em suas costas — era a primeira vez que a filha de apenas dezoito anos saía de suas vistas. Sua esposa e a filha mais velha estavam na cidade natal da família, Gwangju, tomando conta de uma tia que adoecera de maneira rápida. Dawon, como a única médica da família, logo seguira para lá acompanhada da mãe para cuidar da mais velha, despedindo-se de apenas por mensagens e ligações rápidas.
acenou para o pai uma última vez e, assim que o carro deu partida, virou-se para as amigas animada, abraçando-as com força.
! — exclamou, tirando a amiga de cima de si enquanto ria. — Pare com isso!
— Meu Deus, ! — Fitou a garota de traços delicados e bonitos. — Você está tão linda com o cabelo assim. Não acredito no que estou vendo. Só você que não mudou em nada, não é, ?
— Eu cortei mais o cabelo, . — A mais velha entre as três revirou os olhos enquanto tinha um sorriso contido nos lábios. Os cabelos de estavam cortados na altura das bochechas, num estilo chanel e a franja com uma mecha branca cobria-lhe olhos.
— Novidade. — Revirou os olhos e voltou-se para , acariciando-lhe os frios recém pintados de loiro e que iam até os ombros.
— Você deveria cortar o seu também — comentou, olhando as unhas longas. — Não sei como aguenta essa coisa batendo em sua cintura.
deu de ombros e murmurou qualquer coisa, logo mudando de assunto ao notar que os pais de riam de si nos bancos da frente.
O caminho até o aeroporto fora calmo e rápido. Todos conversaram e brincaram muito, felizes com a viagem e com o fato de estarem, finalmente, de férias. Os pais de estavam aliviados sabendo que as três meninas haviam sido aprovadas com notas acima da média e muito provavelmente passariam no vestibular. Eram garotas de ouro.
— Não se esqueçam de avisar quando chegarem a Tóquio, ok? — a mãe de murmurou de maneira suave, acariciando as bochechas coradas da filha, logo dando-lhe um abraço apertado. — Muito juízo, garotas!
— Isso temos de sobra, tia — murmurou com um sorriso largo, mostrando suas covinhas bonitas nas bochechas e aceitando o abraço da mulher mais velha. — Fique tranquila.
— Ok, ok. — Suspirou, abraçando em seguida. — Confio em vocês.
Conversaram por alguns minutos, enquanto viam outras alunas chegarem acompanhadas da professora Lee. Caminharam em direção a ela, cumprimentando-a e ficando por perto. Não demorou muito para que todas estivessem com check-in feito e as passagens já em mãos.
— Boa viagem, garotas — os pais de disseram em uníssono, abraçando-as uma última vez.
Sorrindo e acenando, o trio seguiu as outras colegas e a professora responsável, que assegurara a todos os pais presentes que outras professoras iriam encontrá-las lá, além de outras profissionais japonesas as aguardando.
— Será que conseguiremos visitar alguma festa? — perguntou baixinho, apenas para as amigas ouvirem.
Tsc, , se acalme — pediu com um risinho contido, jogando o cabelo curto para trás. — Com certeza conseguiremos sair sem que ninguém veja.
— Eu preciso de um cigarro — murmurou, fazendo com que as outras rissem. — Estou nervosa.
— Está com medo de voar, ? — provocou, fazendo a outra revirar os olhos e sorrir. — Que pergunta a minha, é óbvio que sim. Por sorte nossas poltronas são juntas, apenas sente-se no meio e segure nossas mãos, sim?
— E você tem alguma dúvida de que ela fará isto, unnie? — revirou os olhos, sorrindo em seguida. — Nós vamos proteger você, princesa — referiu-se à , puxando-a para um abraço apertado e fazendo-a rir. — Agora vamos, senão nos perderemos da professora Lee.
E juntas, apressaram o passo.

j a d e


A viagem fora rápida, porém um tanto cansativa já que o voo saíra cedo demais para um sábado de férias. No entanto, o trio de amigas não se importara muito com o cansaço. Logo, , e foram as primeiras a pegarem as malas e seguir em direção à saída do avião, atrás de alguns poucos passageiros. Aguardaram as colegas e a professora Lee e foram para a área de desembarque.
— Estou tão animada! — murmurou no ouvido de , enquanto falava alguma coisa com a professora Lee ao longe. — O Japão é um país tão bonito...
riu da amiga e deu-lhe um beijo na bochecha, fazendo-a sorrir mais. Eram amigas desde crianças, as três. Por isso tinham aqueles atos carinhosos o tempo inteiro e o instinto de proteger umas às outras. Se amavam e cuidavam tanto que nem mesmo seus pais saberiam como descrever uma amizade tão bonita.
— Nós faremos um passeio amanhã. — se juntou às mais novas, abraçando-as pelas cinturas por ser a mais baixinha entre as três. — Logo, ao chegarmos ao hotel... Teremos a tarde e noite livres. Só precisamos ser rápidas e discretas para que ninguém note nosso sumiço.
— E se notarem, a culpa será sua — murmurou. — Nós estaremos apenas sendo coagidas pela mente maligna de .
— Idiota. — empurrou , e logo as três estavam rindo enquanto seguiam o fluxo de passageiros.
Foram necessárias duas vans para que todas as alunas fossem acomodadas. As professoras japonesas eram muito educadas e simpáticas, além de saberem coreano fluentemente — e provavelmente serviriam de guias para todas ali.
O caminho até o hotel fora barulhento e agitado. Todas conversavam e comentavam sobre tudo, rindo e brincando umas com as outras. No entanto, notara uma garota um tanto deslocada, apoiada na janela e olhando a paisagem.
— Por que ela sempre é tão isolada? — perguntou para as amigas, que pararam de conversar e seguiram seu olhar.
— Não faço ideia. — deu de ombros. — Talvez não saiba como socializar.
— Ou ninguém quis se aproximar — completou. — Ela estudou conosco apenas esse ano, talvez ainda se sinta como novata.
— É, talvez... — suspirou, voltando ao assunto anterior das amigas. Não queria prender-se àquela menina dos cabelos castanhos, mas algo em seu interior dizia que precisava se aproximar, ou talvez mostrar um bocado de interesse. Sentia-se extremamente incomodada por vê-la sempre tão distante.
Ao chegarem ao hotel, ficaram divididas da forma que quiseram — já que todas as alunas estavam pagando pela estadia. A divisão facilitara bastante as ideias que tramava em sua cabeça diabolicamente inteligente, e as amigas estavam deveras ansiosas para o resultado de tudo aquilo. Eram boas garotas, claro que eram, mas adoravam festejar e conhecer as boates de Tóquio seria maravilhoso para elas. Tentariam sair à noite, escondidas. Não conheciam o lugar, no entanto, não temiam nada por ali. E o GPS do celular poderia ajudá-las.
Após ouvirem todas as informações da professora — horários e afins — seguiram para o quarto antes das demais colegas, aproveitando o elevador. Estavam conversando e rindo das coisas que tramavam para aquele restinho de sábado quando a garota dos cabelos castanhos adentrara o elevador em seguida, carregando consigo uma mala pequena.
Automaticamente, a fitou. Aquela garota era tão interessante aos seus olhos, lembrava-se dela nas aulas de matemática avançada e sabia que era a mais inteligente da turma — , o seu nome.
Logo ao lado, e notaram os olhares da amiga para a outra garota que permanecia fitando o chão conforme o elevador subia. Deduziram, então, que estavam no mesmo andar e que muito provavelmente daria um jeito de criar amizade com a durante aqueles sete dias — e esperavam que, assim, a ruiva aquietasse e sanasse sua curiosidade de uma vez por todas.
As portas metálicas se abriram e ergueu o rosto, reparando os olhares do trio sobre si. Sentiu as bochechas corarem automaticamente e ofereceu um sorriso retangular para as três colegas de classe, que sorriram de volta. E em seguida, saiu em passos apressados.
— Você deveria ser mais discreta, murmurou. — Vai assustar a garota se sempre olhá-la desta forma.
— Não diga besteiras, unnie. — deu de ombros e puxou sua própria mala para fora do elevador. — Apenas estou curiosa em relação a ela.
— Sabemos bem disso, Seok... — murmurou enquanto segurava uma gargalhada e saía do elevador junto às outras.
Seguiram dando risadas e fazendo piadas umas com as outras até encontrarem o quarto que reservaram, adentrando-o com pressa. ainda tinha um grande plano para finalizar.
A noite caiu e, com ela, a ansiedade das três amigas cresceu. não parava de sorrir enquanto se maquiava em frente ao espelho do banheiro, assim como e — já de maquiagens prontas — se vestiam com toda a dedicação possível.
chamou, recebendo apenas um murmúrio como estímulo para continuar falando. — Você não está esquecendo de nada?
— O quê? — A mais velha parou, indo até à porta e apoiando-se no batente para encarar as amigas.
— Nós somos menores de idade. — revirou os olhos. — Como vamos entrar nessas festas?
— Por acaso temos cara e jeito de menores? — A garota sorriu, realçando ainda mais o batom roxo chamativo em seus lábios pequenos e bonitos. — Como vocês são bobas. Acharam mesmo que eu esqueceria de algo assim? Me dei a liberdade de pedir ao meu primo para fazer identidades falsas. São idênticas às originais. Estão na minha carteira, podem pegar.
riu de forma escandalosa e animada, batendo palminhas. Já , apenas suspirou e foi procurar os documentos — não que fosse a chata do trio, mas simplesmente se sentia incomodada, às vezes, com toda aquela inconsequência de . Contudo, não havia nada a se fazer senão aproveitar as regalias que a mais velha conseguia para elas. Nunca foram pegas e, se continuassem daquele jeito discreto, jamais seriam.
Acabaram de se arrumar devagar, sem se preocuparem com o horário, pois quanto mais tarde saíssem, melhor; sabiam que seriam barradas se alguma professora as encontrasse àquela hora zanzando por ali. Separaram dinheiro, celulares e guardaram numa bolsa que ficaria com , a mais responsável entre as três.
— Certo, vamos lá. Hora de nos divertir! — exclamou animada, tentando não gritar como sempre fazia.
Saíram juntas do quarto e a passos rápidos, porém silenciosos. Desceram os andares de escadas, já que poderiam encontrar qualquer responsável no elevador. Tinham certeza de que a professora Lee era do tipo que andava por todo o hotel antes de dormir e não queriam — nem iriam — ser pegas. Em questão de poucos minutos, estavam do lado de fora do hotel, contemplando a noite de Tóquio.
A noite estava mais fresca do que esperavam e um vento gostoso bagunçava-lhes os cabelos.
Um tanto quanto perdidas, esperaram por um táxi, pegando-o e seguindo para a boate mais próxima dali. Ao chegarem ao local, sorriram automaticamente. Gostavam da sensação de liberdade e de estarem num lugar novo; estavam prestes a provarem se a noite japonesa era tudo aquilo que sempre falavam — e esperavam que fosse melhor.
Passar pela segurança com os documentos falsos fora fácil e somente aquilo bastou para terem certeza de que a noite seria incrível, mesmo que tivessem que sair dali cedo demais. Adorariam ver o dia clarear enquanto dançavam e pulavam, mas sabiam que não poderiam; às três da madrugada teriam que voltar para o hotel e não deixar que ninguém desconfiasse daquele passeio noturno.
E sem pensarem mais, sorriram uma para a outra, deixando que a música alta chacoalhasse seus corpos de uma vez por todas.

j a d e


Voltaram para o hotel pouco depois das três da madrugada — acabaram perdendo a hora conversando com alguns rapazes japoneses de forma enrolada e que só arrancaram-lhe risadas; sequer se lembravam do que estavam falando. Subiram as escadas tentando não fazer muito alarde e olharam o corredor devagar, procurando qualquer sinal de alguma responsável. Contudo, o que encontraram fora uma garota magra e esguia sentada no chão, apoiando-se contra a parede e a cabeça baixa, deixando que os cabelos caíssem sobre seu rosto e a franja escondesse seus olhos.
fora a primeira a reconhecer a garota dos cabelos castanhos. Afastara-se das amigas e seguira até , ajoelhando-se em sua frente. A menina tinha a respiração ofegante e o rosto marcado por lágrimas, enquanto o rubor lhe tomava as bochechas e o nariz. e ficaram de longe apenas observando, não saberiam o que e como fazer, já que era a mais sociável entre elas — e a melhor com conselhos e cuidados também. Ficaram apenas de longe, apoiadas na porta do quarto em que estavam.
? — chamou, segurando o rosto da garota entre as mãos, erguendo-o. — O que aconteceu, você precisa de ajuda?
— Ho... chamou baixinho. — Eu... Eu preciso que você me tire daqui, por favor, me ajude.
— O que...? — ficou confusa, tentando encontrar os olhos da colega. — Me explique o que está acontecendo.
, então, fungou. Seu coração se apertou e o desespero lhe tomou outra vez, jogando-se contra de forma automática. Não queria que a levassem novamente; não queria ter o resto da vida controlada; não queria render-se à fraqueza que sentia. E sabia que poderia ajudá-la — iria ajudá-la. Desde a primeira vez que vira a em sua sala, sentira que ela era especial, quase um anjo. Um dia sonhara com a ruiva e, quando acordara, um de seus protetores gritara em sua cabeça o quão especial aquela garota era. só precisava se aproximar, no entanto, falhara devido à vergonha e ao medo de sentir-se entregue rápido demais.
E agora estava ali, aos prantos no colo de sua protetora.
Um vento cortou o hotel, fazendo com que todas as meninas — menos — procurassem por janelas grandes o suficiente ali, mas não havia. A ventania ficou mais forte, fazendo com que segurasse o corpo frágil entre seus braços com mais força para que não voasse. Assim como e seguraram a mão uma da outra com força, enquanto se seguravam no batente da porta com a mão livre.
chamou. — Não há mais tempo. Por favor, não me deixe desaparecer completamente. Vá atrás de mim. Eu sei que sente que isto é necessário... Por favor, não me deixe sozinha.
— Mas eu... — tentou falar, mas a ventania pareceu piorar e areia surgiu por todo o corredor, fazendo com que todas estreitassem os olhos ao máximo, para que não os tivessem invadidos por aquelas coisas.
Por um segundo, , e acharam que estavam drogadas e imaginavam tudo aquilo, mas era real. fazia tudo ser real demais.
fora a primeira a soltar-se do batente e fazer com que segurassem-nas sozinha, em total desespero. sentiu o corpo arrastar aos poucos para longe de , mas não atreveu a soltá-la. Tudo estava estranho demais; queria gritar, mas sua voz parecia ter sumido.
chamou ofegante. — Fique com este colar de Jade. Quando chegar a hora, você saberá o que fazer com ele. É um colar muito poderoso, é o que tenho de mais valioso. Tenho certeza de que uma pessoa muito especial irá encontrá-la logo e contará toda a verdade por trás destas coisas. Por favor, não me deixe sozinha. Você é minha protetora agora... Vocês são — se corrigiu, olhando de relance para e abraçadas no chão, aproximando-se mais da ruiva em seguida para olhá-la nos olhos. — Por favor, não se esqueça de mim ao acordar. Proteja-me. Proteja o colar. E coma isto para se sentir forte. — A morena estendeu um embrulho redondo e aceitou; não havia mais o que fazer.
... O que diabos...? — arregalou os olhinhos, sentindo-se cada vez mais confusa. No entanto, não tivera tempo de perguntar mais alguma coisa. O vento que cortara aquele corredor de hotel fora forte demais, tirando de seus braços. E de forma automática, sentiu o coração apertar ao conseguir segurá-la somente por uma das mãos. Apertara a outra com tanta força que sentira seus dedos estalarem, mas não dera importância. Só sentia no fundo de seu âmago que não deveria deixá-la partir — estava sendo doloroso demais, como se alguma forte lembrança atingisse sua mente.
Com uma força que não sabia que tinha, jogou-se contra o vento, sentindo-o mais forte enquanto areia adentrava seus olhos já tão irritados, colando-se em novamente. Porém, como já esperava, não fora o suficiente.
E a única coisa que viu e sentiu fora os lábios macios e bonitos de colados nos seus num selar casto e significativo. De repente, tudo ficou escuro.


II — O Reino de Jade

abriu os olhos e sentiu o corpo reclamar, completamente dolorido. Lembrar-se-ia de nunca mais passar a noite dançando sem parar. Um resmungo lhe escapou a garganta ao sentir-se numa superfície dura, logo abrindo os olhos de supetão ao recordar da madrugada conturbada.

O desespero fora terrível ao não encontrar o corredor branco do hotel em que estava hospedada em Tóquio, mas sim um lugar completamente estranho; cheio de árvores que pareciam flutuar e chão rochoso sob o corpo. Ergueu o tronco completamente assustada, olhando para trás e encontrando as amigas abraçadas e completamente apagadas. Com o coração a mil e os olhos lacrimejando, arrastou-se até elas com pressa — ainda apertando os itens que lhe dera. Sua cabeça doía, seus olhos ardiam e o corpo parecia clamar por descanso, como se não houvesse dormido por horas seguidas.

, ! — chamou desesperada, deixando o corpo cair sobre as amigas. — Por favor, acordem! Droga...

? — a voz baixinha de lhe chamou a atenção, deixando-a aliviada. — O que aconteceu? E... Porra, onde é que estamos?

— Eu não sei, mas precisamos acordar . — deu de ombros, prendendo os longos cabelos num coque alto e logo voltando a atenção à amiga desmaiada.

! — gritou, balançando-a ao máximo e logo a loira fora despertando e resmungando coisas desconexas.

— Ah... — se sentou e abriu os olhos devagar, sentindo o pavor lhe tomar a cada centímetro novo que fitava. — O que... Onde... Como...?

sussurrou, apertando o colar que lhe fora dado. — Vocês se lembram da madrugada, não é? Ou isso é feito de alguma coisa? Nós deixamos aqueles malditos japoneses nos drogar?

— É impossível termos a mesma alucinação — descartou a possibilidade de estarem drogadas. O medo lhe consumia por inteira, mas não sabia o que fazer ou pensar. Sua última lembrança era tão bizarra quanto aquela floresta flutuante em que estavam.

abrira a boca para falar alguma coisa, porém não tivera tempo. Uma forte luz dourada surgira entre as árvores bem cuidadas e verdinhas, logo parando em frente a elas. Abraçaram-se assustadas, encolhendo-se umas contra as outras. Os corações batiam forte, os olhos lacrimejavam de segundo a segundo e os pensamentos estavam embaralhados. Por que estavam ali? Por que elas? Por que desaparecera? Por que uma ventaria surgira dentro de um hotel fechado? E toda aquela areia que invadira-lhes os olhos? Por havia uma luz dourada piscando diante de seus olhos? Estariam elas mortas, presas numa realidade alternativa ou drogadas embora nada fizesse sentido? Estavam tão amedrontadas que não seguraram um grito de horror assim que a luz se apagara, dando espaço a um belo homem alto e forte.

O homem tinha os olhos claros, tão dourados quanto à luz do Sol, vestia roupas verdes e os ombros eram tão largos que, com certeza, seria capaz de carregar as três sobre eles. Seus cabelos eram loiros e bem penteados, repartidos para o lado. Os lábios grossos formavam um sorriso bonito, encantador, leve. Por um segundo, sentiram paz. No entanto, não conseguira controlar suas lágrimas.

A ruiva não sabia se chorava de medo, apreensão, preocupação ou... Emoção. Ver aquele homem em sua frente lhe causara um efeito espalhafatoso que nunca imaginara que poderia sentir um dia. Seu coração batia forte como se fosse pular fora, enquanto o suor frio escorria-lhe as têmporas e a nuca, fazendo com que alguns fios soltos de sua cabeleira laranja grudassem em sua pele.

— Quem é você? — perguntou, mostrando-se corajosa. — O que fará conosco? Por que estamos aqui?

— Olá, Guerreira do Ar. — O homem sorriu, sentando-se de frente para as meninas. — Pensei que nunca mais veria vocês. Não fiquem com medo, eu sou apenas o mago responsável por este reino tão bonito.

— Guerreira... Do... Ar? — murmurou, apertando-se mais contra as amigas. Sentia-se estranha ao ouvir aquilo, e o homem parecia achar engraçado toda aquela confusão que carregavam.

— Me perdoem, Guerreiras. — Ele riu baixinho. — Sou Seokjin de Jade, o mago responsável por tudo o que acontece neste reino. Estou encarregado de explicá-las como funcionam os poderes que receberam na noite passada.

— Hã? — se pronunciou, olhando-o em confusão. — Poderes? Olhe só, moço, nós só queremos voltar para Tóquio. Não sabemos nada de poderes, magos, Jade... Só queremos ir embora, tudo bem? Tentamos ajudar uma amiga ontem e ela desapareceu, precisamos reportar às nossas professoras.

— Vocês de Fogo sempre são tão apressados... — Seokjin bufou. — Serei claro: vocês poderão voltar para Tóquio... Assim que nos trouxerem a princesa Jade de volta. Esta é a missão de vocês três, desde muito tempo atrás.

— Você poderia, por favor, nos explicar tudo desde o começo? — finalmente abriu a boca, decidindo que era melhor escutar tudo o que aquele louco dizia para que pudessem finalmente voltar para casa.

— Como eu adoro vocês de Água, principalmente os que têm Safira como essência — o homem sorriu, fazendo com que seus olhos brilhassem mais intensamente. — A colega de vocês que desapareceu... Creio que ela deixou alguma coisa com você, Guerreira de Fogo.

As garotas continuaram em silêncio, confusas. Não estavam entendendo absolutamente nada; por que diabos estavam ali e sendo chamadas de guerreiras por um homem estranho?

— Seokjin disse firme, revirando os olhos. — de Fogo. Vamos, o que Jade deixou para você? É sempre você que ela escolhe, não entendo...

— Jade? — perguntou, mesmo tendo ideia de que era a que aquele homem se referia. — Quer dizer... ?

— Sim, Jade, , Princesa... Como quiser chamá-la — o homem bufou. — O nome que ela usa pouco me importa; aqui sempre será Jade, este reino a pertence. Por favor, o que ela deixou para você?

— Um doce embrulhado e um colar com uma pedra verde enorme — murmurou, mostrando-o os itens. — Por favor, deixe-nos ir... Não sabemos onde estamos e...

— Vocês estão no Reino de Jade, eu já disse — Seokjin a cortou. — Por favor, dividam este doce. Fará bem para vocês e tenho certeza de que suas mentes irão clarear; vocês terão lembranças passadas. Quanto ao colar... Bem, pode ficar com você, Fogo. Coloque-o em seu pescoço ou em seu pulso, servirá de proteção a todas vocês.

As três garotas se deram por vencidas, decidindo, por fim, comer o doce que entregara. Cortaram-no em três pedaços iguais e comeram de uma só vez, temendo ser algum veneno irreversível. No entanto, o gosto não parecia nem um pouco com veneno; pelo contrário, era delicioso e lembrava um pouco de chocolate e amendoim. Ao terminarem de mastigar, ansiaram por mais. Sentiam-se tão vivas, tão acordadas, tão fortes.

As amigas estavam felizes, porém logo a felicidade deu espaço para a confusão outra vez. Olharam-se assustadas, sem entender o que estava acontecendo. Cada uma emanava uma luz esquisita e sentiam-se começar a descolar umas das outras, começando a flutuar também. tentou agarrar-se à mão de , mas não dera certo. Ao se afastar das amigas, pôde vê-las com um intenso brilho em volta de seus corpos — como o homem que apenas observava tudo.

emanava uma luz laranja muito forte, que fazia com que seus olhos brilhassem na mesma intensidade, enquanto o colar verde brilhava em sua mão, mesclando-se com o fogo que lhe cercava. Já possuía um tom verde quase azul, realçando mais seus cabelos loiros e seus olhos que se encontravam completamente negros e medonhos; porém ainda assustada.

Por fim, olhou para si mesma, já que ambas as amigas a encaravam com certo quê de admiração e susto. Vários tons de azul estavam à sua volta, tomando-lhe por completo. Associou tudo à sua volta com o que o homem abaixo de si dissera; Água e Safira. Riu completamente nervosa. O que era tudo aquilo? O que estava acontecendo?

Encarou as amigas novamente, tão assustadas quanto a própria. Nervosas, temerosas. apenas queria aproximar-se e protegê-las, mas não tivera tempo. Logo fora jogada para o alto, acima das árvores, em direção ao céu. e tiveram o mesmo destino. E ali, flutuando sobre Jade, viram suas luzes explodindo por todo o local, deixando claro que haviam chegado.

No fundo de seus corações, sentiram que aquilo deveria ser feito. Precisavam proteger o Reino de Jade, assim como precisavam trazer a princesa de volta. Voltar para Tóquio não parecia tão importante quanto aquilo agora. A conexão que sentiam era maior que antes, quando eram menores e se conheceram. As luzes que emanavam de seus corpos e as cores de seus olhos mudando a cada segundo mostrava que nasceram para aquilo; proteger o Reino. Proteger umas as outras. Cuidar da Princesa; obedecer a Seokjin.

Sentiram-se tontas por alguns segundos e tentaram, novamente, segurar as mãos umas das outras, mas não conseguiram. A distância entre cada uma era grande, formando um grande triângulo de cores no céu.

Tudo parecia tão bonito, tão, tão perfeito.

Seokjin admirava aquele encontro com os olhos brilhando em lágrimas emocionadas. O povo na cidade logo abaixo daquela floresta rochosa já começava a sair de suas casas, admirando a chegada das Guerreiras.

O Mago sentia que seu povo estava feliz agora; sabia que todos esperavam por aquele dia, por aquele momento. E ao ver o colar de Jade soltar-se de e seguir para o centro do céu, sentiu o coração acelerar — assim como todos daquele reino tão querido e adorável.

A pedra verde reluziu no céu, entre as nuvens e ofuscou o Sol por alguns segundos. O triângulo parecia estar ainda mais perfeito, tendo de Fogo no meio, de Água do lado esquero e do Ar ao lado direito. A mistura de todas as cores era maravilhosa; parecia um novo modelo de arco-íris. Tudo tão encantador.

De repente, quando todos menos esperavam, as cores começaram a subir devagar por todos os corpos; desde os pés à cabeça, transformando aos pouquinhos cada uma daquelas garotas preciosas. As cores iam e vinham, subiam e desciam, cruzavam e descruzava, banhando o céu com as mais belas misturas que aquelas cores poderiam dar. Após alguns segundos, o verde escuro de Jade explodiu, tomando todo o céu e causando uma ventaria por todo o reino.

Elas estavam sendo transformadas. Finalmente.

E Seokjin sabia que não importava quantas vezes assistisse àquela mutação, sempre seria emocionante e extremamente belo. O poder de Jade era magnífico. Junto aos outros, então... Tornava-se algo muito além — de palavras, de descrição, de explicação. Simplesmente algo que deveria ser visto e sentido.

Tão rápido quanto começara, acabara. Jade se apagou, voltando para as mãos de . Em seguida, as três garotas voltaram para o chão, com roupas e energias diferentes. Estavam ofegantes e fitavam uma a outra com admiração, partilhando de um mesmo sentimento — como se somente um coração batesse para as três.

— O que aconteceu? — perguntou baixinho, olhando para o próprio corpo e encontrando um tipo de armadura que nunca imaginara vestir. Voltou o olhar para as amigas e encontrou-as da mesma forma, porém com cores diferentes na parte de cima.

vestia calças pretas que pareciam ser de aço — nenhuma ali pensara que fosse possível existir aço de cor preta — e uma camisa de mangas longas vermelha com botões grandes e grossos na cor dourada — tão forte quanto os olhos de Seokjin, pareciam de ouro puro. Em suas costas estava pendurado um arco e uma bolsa de flechas; tudo dourado, muito provavelmente ouro — com exceção das flechas, que tinham as pontas pedrinhas azuis bem escuras. Seus cabelos pareciam ainda maiores que antes, quando batiam em cima cintura esculpida. Agora iam até o meio de suas coxas, grandes, pesados e num tom vivo de laranja quase vermelho, lembrando certamente o fogo.

vestia o mesmo par de calças, mas sua camisa era de azul-turquesa, com os mesmos grandes botões. Não carregava nada além de um grande colar com uma pedra de Turquesa pendurado no pescoço. Seus cabelos também estavam diferentes pareciam mais curtos pegando em seu queixo bem desenhado, num tom loiro ainda mais claro; quase branco. Parecia um anjo; o mais belo de todos. Suas feições bonitas traziam calma, paz, conforto.

E estava um tanto diferente. Seus olhos estavam num tom de azul claro, na mesma cor das Safiras que enfeitavam suas roupas. Sua camisa de mangas longas era azul-marinho, com botões de ouro como das outras duas. No entanto, suas calças eram azuis, quase pretas. O material parecia o mesmo das amigas, como tudo tinha um padrão igual para as três, diferenciando somente nas cores e nas pedras que carregavam. Seus cabelos pareciam mais retos, agora. Porém ainda na altura das bochechas. E sua mecha anteriormente branca, encontrava-se num tom claro de azul; lembrava o oceano.

As três analisavam as roupas, tocando-as com as pontas dos dedos e sentindo que aquilo realmente eram armaduras — estavam com roupas de Guerreiras de verdade, e sentiam como se realmente estivessem indo para a Guerra.

— O que é tudo isso? — perguntou, por fim.

— Vocês se transformaram — Seokjin respondeu com doçura. — Estão em suas formas reais. Com a armadura de Jade, mostrando por que estão aqui. Cada uma de vocês representa um elemento e possui uma pedra preciosa específica para protegê-las e que guiará seus poderes. A princesa Jade escolhera para vocês de acordo com suas personalidades — o mago sorriu. — E ela acertou, como sempre. Vocês encaixam perfeitamente com cada pedra, com cada poder, com cada armadura e cada cor. Agora, sim, conseguirei dar-lhes todas as explicações necessárias. Aceitam dar um passeio pela história do Reino de Jade, Guerreiras?



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Seokjin havia preparado biscoitos e separado algumas frutas, além de mais um doce redondinho para que as três dividissem igualmente. Estavam sentados sobre almofadas fofas em volta de uma mesa de madeira pequena, que estava bem ao centro da pequena sala da cabana do Mago. Comiam devagar, esperando que o mais velho dali começasse sua narrativa.

— Bom... Como disse anteriormente, sou Seokjin — ele sorriu doce ao começar. — Sou o Mago protetor deste reino e controlo o que está em meu alcance. A princesa Jade, ou como vocês conhecem, foi sequestrada há muito tempo atrás... E quando conseguimos recuperá-la, quase a perdemos. Acontece que em volta deste reino há muitas pessoas más e mesmo que colocássemos os melhores Guerreiros na porte de seu castelo, não adiantaria. Então tomei uma decisão, já que crio a pequena Jade desde que esta nascera... A enviei para o país natal de vocês, porque sabia que alguma das três a sentiria. Vocês têm uma ligação maravilhosa. Mas deixei a presença de Jade tão apagada que talvez não tenham tido a chance se notar toda essa conexão.

— Eu sempre senti que deveria me aproximar dela — murmurou. — Antes de ser levada por aquela ventania, ... Jade — corrigiu-se — disse que eu sabia que sentia a necessidade de tê-la por perto. Ela... Nos chamou de protetoras, disse que eu não poderia deixá-la sozinha e me entregou o doce e o colar.

— E o que mais, ? — Seokjin pediu, notando os olhos da ruiva tremerem levemente, logo desviando para outro ponto. — Vocês de Fogo sempre são os mais próximos de Jade, eu não sei o porquê... Ela simplesmente nasceu com mais conexão com vocês.

— Ela... Me beijou — sussurrou. — Quer dizer... Ela apenas colou a boca na minha, um selar simples.

— Tsc — Seokjin estalou a língua. — Jade é sempre muito precipitada... Ela já sabia quem você era desde o começo; provavelmente já estava apaixonada por saber o quão próximas vocês eram em outras vidas, em outras formas e pelos elementos... Mas isso não vem ao caso agora.

— Eu tenho uma pergunta — murmurou, atraindo a atenção de todos. — Por que tudo aqui tem nome de pedras preciosas e elementos da natureza?

Seokjin sorriu e virou-se totalmente para , olhando-a nos olhos. Com um tom de voz calmo e suave, respondeu:

— Todas as pedras preciosas surgiram neste reino após o nascimento de Jade. Jade fora a primeira pedra a surgir, junto ao nascimento da princesa. Sua mãe, antes de morrer, decidida nomeá-la ao notar que ela tinha olhos verdes como esta pedra. Assim que a pedra surgira, demos este nome de forma aleatória e todos do reino gostaram como soara bem. E então surgiram as Safiras, Opalas e Turquesas. Que consequentemente, foram as pedras que Jade deu a cada uma de vocês. Você, , tem a pedra de Safira como proteção, ela encaixa perfeitamente com sua personalidade — riu. — Você tem todos os tons de azul, podendo variar para um laranja ou rosa claro; Safira é uma pedra que nos traz equilíbrio e nos ajuda a auxiliar quem precisa de concentração para realizar atividades que envolvam a mente. Pode notar que seu controle com toda esta situação é muito maior do que as outras duas, que se assustam mais facilmente.

— E quanto às Opalas e Turquesas? — se pronunciou pela primeira vez, curiosa em relação a tudo aquilo e o porquê de ter escolhido tais pedras para elas.

— As Opalas são aquelas que estão na ponta das flechas de — Seokjin apontou. — Elas podem ser encontradas em várias cores diferentes, inclusive com tons de laranja, como a que está em seu pescoço, é uma diversidade incrível. É uma pedra capaz de transmitir boas energias, tendo um poder de cura associado à harmonização do corpo e da mente, podendo dar controle emocional, paz, sabedoria e criatividade para quem a estiver utilizando. Muito provavelmente Jade achou a melhor opção para usá-las; talvez seja perfeito para o que vocês enfrentarão mais para a frente; acredito que precisará de muita sabedoria e criatividade, assim como vocês duas também. Já a Turquesa... É a variação de azul mais bonita que nós temos; uma cor nova em seu mundo, mas para nós é um amuleto. Nos proporciona bem-estar, faz com que sejamos fortes e pensemos com mais clareza em meio à guerra. É como se fosse o planejamento de tudo. Turquesa é um de nossos bens mais preciosos.

— E a Jade? O que significa? — perguntou ao perceber que Seokjin não falara muito sobre a pedra esverdeada.

O mago então sorriu. Seus olhos brilharam num dourado forte, como se tivesse total admiração à pedra — e pessoa — citada. Seu coração se encheu de coisas boas e suspirou, fitando em seguida. Por fim, deixou as palavras saírem:

— Jade é uma das pedras mais belas de todo o Universo. Na verdade, para nós, a mais bela — abriu mais o sorriso. — Seu tom vai desde verde-esbranquiçado ao verde-escuro. É a pedra da sabedoria, pureza e serenidade, por isso foi totalmente dedicada à princesa. Sempre soubemos que ela seria incrivelmente inteligente e dona de uma sabedoria crescente e infinita. Seu poder de cura está totalmente ligado ao coração, tanto no campo emocional quanto físico. Se o coração da princesa deseja coisas boas, isto acontecerá. Se sente coisas ruins, uma guerra se inicia. E neste momento, tenho completa certeza de que ela está com medo e com ódio; não queria ser pega. Uma guerra se aproxima, Guerreiras. E vocês irão comandá-la.

soltou um suspiro audível e apertou o colar de Jade entre os dedos. Sentia uma determinação anormal em seu corpo; e sabia que as amigas sentiam o mesmo. No entanto, seu coração permanecia apertado. O sentimento de impotência por ter deixado ir ainda lhe corria as veias. Seus pensamentos estavam confusos e a cabeça doía, como se tentasse lembrar de alguma coisa a todo custo e não conseguisse. Estava tão tensa, tão nervosa...

Com pressa, largou o biscoito que beliscava e pegou sua parte do doce, levantando-se em seguida. Ninguém se atreveu a dizer nada; conseguiriam sentir a tensão da Guerreira de Fogo a milhas de distância. A ruiva seguiu para a varanda a passos largos, levando o doce até à boca durante o caminho. Engoliu-o com pressa, logo sentindo uma força que não lhe era comum. Porém não flutuara desta vez; apenas sentia-se forte e determinada a lutar. Queria salvar , queria segurar sua mão... Queria sentir sua boca novamente.

.

A voz calma e doce de ecoou por ali, assustando a ruiva que logo começara a olhar para todos os lados.

? — respondeu em voz alta.

— Não fale, apenas pense. Eu posso sentir você.

O que? — pensou, arregalando os olhos e levando as mãos à boca.

— Isso, Guerreira — murmurou, soltando uma risada fraca. — Apenas me escute. Não se sinta tão tensa; pode relaxar. Sei que conseguirá me encontrar. Você está conectada a mim, . O doce que lhe dei apenas faz com que seus poderes aflorem mais rápido e a armadura que está vestindo é completamente protegida, assim como das outras. Não posso me esforçar muito para falar com você. Mas quero que saiba que estou bem. Não largue meu colar de Jade, ele será essencial para que você me encontre. Proteja-o. Faça de conta que ele sou eu. Obrigada, .

O que devo fazer? — perguntou em seus pensamentos, completamente perdida.

— O que seu coração mandar — respondeu. — O que ele diz, ?

Que eu preciso lhe salvar e proteger, mas ainda não sei como fazer isto. — Respondeu, fechando os olhos com força para que as lágrimas não rolassem.

— Você saberá em breve, meu amor — murmurou e podia jurar que suas bochechas estavam coradas apenas pelo tom de sua voz.

Meu amor... — repetiu em seus pensamentos e se permitiu sorrir. Tão logo quanto surgira, a presença de desaparecera.

levou as mãos até o lado esquerdo do peito, pousando-as sobre seu coração. Estava tão acelerado e apertado, embora aquecido por ter escutado a voz de sua princesa. Ali notara que aquele era seu destino; tomar conta do Reino de Jade ao lado da princesa; cuidá-la, protegê-la, tê-la em seus braços.

Seu destino era apaixonar-se perdidamente por , mesmo que isso lhe parecesse impossível.


III — A Guerra

— Seokjin disse que precisamos treinar.

A voz de ecoou pela pequena varanda. virou-se para a amiga e logo notou atrás da baixinha.

— Estão levando isso a sério? — a loira perguntou baixinho, cruzando os braços.

— E por que não levaríamos? — sussurrou. — Olhe só para nós, estamos totalmente diferentes e...

— E? — aproximou-se da ruiva, abraçando-a pela cintura. — Pode desabafar, Seok.

— Eu acabei de conversar telepaticamente com — suspirou. — Eu a ouvi claramente...

— Certo. — se aproximou das amigas e abraçou-as com carinho. — Então vamos fazer isso. De acordo com Seokjin, partiremos ao amanhecer. Parece que a refeição que ele nos preparou nos manterá acordadas o suficiente para aguentar um dia inteiro de Guerra.

— Nós precisamos salvar sussurrou, apoiando a testa no ombro de . — Eu não sei o que está acontecendo, mas sua agonia está me matando, .

A ruiva riu, puxando as amigas para mais perto.

— Me perdoem por isso... — murmurou com pesar. — Eu sinto como se devesse cuidar de a todo tempo, desde que a vi pela primeira vez.

— Nós conseguimos sentir isso claramente agora — murmurou. — Você a ama?

— Eu não sei. — sentiu-se levemente incomodada, corando até às orelhas e se desvencilhando do abraço. — Vamos treinar ou não? Precisamos aprender a lutar. Isso parece empolgante!

— Ela definitivamente está apaixonada. — riu. — Não sei como isso é possível, mas não vamos te julgar ou virar as costas, . Tudo bem, vamos treinar. Temos uma guerra para vencer e uma princesa para salvar.

Saíram andando juntas, lado a lado. O mago encarou e sorriu, aproximando da ruiva com cautela. As outras duas continuaram caminhando distraídas, enquanto ficava um pouco mais para trás com Seokjin.

— É natural que as pessoas de Fogo se apaixonem pela princesa — o mago murmurou, fazendo corar outra vez. — Mas não se preocupe com isso. Alma Gêmea ela só tem uma...

não entendeu o que aquilo quis dizer, mas um sorriso automático surgiu em seus lábios. A informação aquecera ainda mais seu interior. Parecendo uma boba apaixonada, correu em direção às amigas.

Logo começaram um treinamento esquisito com o mago Seokjin, que as explicava sobre seus elementos e pedras preciosas, como deveriam usar seus poderes e como lutar. Passaram o resto da tarde naquilo, estudando e aprendendo a controlar suas forças, assim como aprenderam também alguns movimentos de artes marciais — o mago dizia ser necessário e melhor para quando encontrassem inimigos na forma humana.

O dia passara rápido e de forma engraçada. Haviam feito uma grande bagunça naquela parte da floresta, mas não fora intencional. Não tinham culpa se somente conseguia controlar com mais precisão seus poderes. jogara fogo em metade da floresta e a ventania causada por só fizera o fogo se alastrar mais, sobrando para juntar todas as suas forças para conseguir conter o fogo enquanto fazia surgir água do absoluto nada.

Contudo, no fim, aprenderam como fazer para controlar melhor os poderes e aprenderam a flutuar como Seokjin. Assim como conseguiram sentir as pedras preciosas brilhando em seus corações, mostrando-as como deveriam agir. Era uma sensação magnífica voar sobre o reino e fazer movimento com as mãos para que os poderes funcionassem. , no entanto, também aprendera a atirar com arco e flecha — e muitas vezes atirara com fogo, deixando tudo mais intenso. E mostrara-se mais forte do que aparentava. Conseguira, com apenas dois movimentos, fazer com que quase vinte árvores voassem para longe e se estraçalhassem umas contra as outras no ar, espalhando pedaços de madeira por todo o local.

— Vocês destruíram minha floresta — Seokjin disse, entre risos esganiçados. — Pelos deuses, foi tudo tão divertido! Vocês são mesmo incríveis. Só fico preocupado porque tivemos apenas um dia para treinar...

— Fique tranquilo, vamos dar o nosso melhor e voltar com a princesa Jade para vocês — respondeu calmamente, sorrindo de um jeito bonito.

— Sabe, ... — Seokjin começou, puxando-a pela mão e entrelaçando seus dedos enquanto chamava as outras meninas com a mão desocupada. — Eu consigo ver claramente o porquê de Jade entregar tantos poderes nas mãos de vocês. Tenho certeza de que tudo dará certo e nosso povo voltará a ser feliz. Vocês voltarão para a vida de antes e poderá levar e cuidar de Jade naquele mundo tão diferente. Por favor, tomem muito cuidado. Vocês partirão logo que o Sol nascer, e enviarei dois guerreiros para encontrá-las no meio do caminho.

— Tudo ficará bem, mago — murmurou, enquanto sorria e acariciava o ombro do maior com carinho. — Cuidaremos de Jade com nossas vidas.

— Eu sei disso, confio em vocês. — O mago sorriu. — Agora vamos para dentro. Irei prepará-las para que possam partir em perfeitas condições. Levem alguns doces com vocês, tenho certeza de que irão precisar durante todo o dia de amanhã. E, , faça o favor de levantar as árvores que derrubou e salvar as que derem.

— O quê? — a loirinha perguntou contrariada. — Vocês vão entrar para se preparar e eu terei que limpar toda a bagunça?

— Você simplesmente derrubou tudo com essas suas ventanias! — Seokjin rebateu. — Quando terminar, entre para jantar. Boa sorte, elas são bem pesadas.



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estava completamente suada quando voltara para dentro da cabana de Seokjin. Suas amigas riam baixinho de sua cara, enquanto o mago a encarava com uma sobrancelha erguida.

— Está tudo em seu devido lugar, Seokjin — murmurou emburrada. — Eu preciso de um banho.

— Ótimo. — O mais velho sorriu. — Vocês podem se banhar no rio ali embaixo. Basta cruzar a floresta pelo lado esquerdo. Não tem como vocês se perderem já que derrubaram a maioria de minhas árvores... Logo verão o rio correndo entre as pedras. Voltem logo.

As três seguiram juntas por onde fora indicado, brincando e atazanando como era normal. Ao encontrarem o rio, encantaram-se com a visão. O rio corria forte entre as montanhas rochosas, a água era cristalina e dava para ver totalmente as pedras coloridas que Seokjin falara; tudo precioso e rico demais.

Sorriram e tiraram as armaduras, ficando nuas. Correram até a parte mais funda do rio e permitiram-se aproveitar a água morna — proporcionada por , que treinava seus poderes — e relaxante. aproveitou para treinar seu controle entre as águas, vendo como o treinamento e seu controle mental ajudavam. Formara diversas bolas d'água e jogara no rosto das amigas, fazendo-as rir. se defendia como podia, criando ventanias fracas e fazendo a bola d'água se dividir em pequenas gotículas, atingindo seu rosto como se não fossem nada além de respingos, enquanto não tinha para onde correr e se defendia aquecendo a água ao máximo para que as amigas não aguentassem manter-se ali.

Entre risadas e poderes sendo testados, terminaram o banho. fizera com que um vento cortasse todo o local, secando-as completamente com a ajuda do fogo de . Por fim, vestiram as armaduras — que descobriram serem pesadíssimas, apesar da aparência sutil de roupas comuns.

— Eu não sei o que esperar de amanhã — murmurou. — Eu só quero poder ajudar ... Sinto como se ela estivesse cada vez mais fraca... E nós chegamos hoje, o que poderemos fazer?

— Ei! A dona das boas energias é você, não se abale por esse tipo de pensamento. — empurrou a amiga de leve, fazendo-a sorrir um pouco. — Vai dar tudo certo. Só precisamos nos concentrar. Já estamos preparadas, nascemos para isso. Vocês conseguem sentir, não conseguem? É nossa natureza.

Seguiram o resto do caminho em silêncio e de mãos dadas — tinham medo de se perder, ou que algo as atacassem de repente. Ainda estavam assustadas, mas tentavam mascarar tudo aquilo com as poucas descobertas que fizeram, além de ter o apoio umas das outras.

Adentraram a cabana do mago Seokjin com cuidado, ouvindo-o cantarolar enquanto cozinhava alguma coisa. Ele já havia sentido a presença das garotas, então apenas se virou para dar um sorriso a elas.

O jantar não demorara a ficar pronto, todos comeram mais rápido do que o esperado e em total silêncio; estavam perdidos em seus próprios pensamentos.

— Podemos descansar agora, Seokjin? — perguntou, soltando um bocejo. Estava tão cansada...

— Podem, é claro. Basta seguir o corredor à direta, preparei um quarto para vocês — o homem explicou, sorrindo. — Descansem bem, irei acordá-las logo que o Sol nascer.

Seguiram para o quarto e logo viram três camas flutuando ali. Acharam engraçado, mas não se importaram muito com o fato de tudo estar suspenso ali. Era algum tipo de magia que descobririam mais tarde, Seokjin avisou.

e se deitaram e dormiram rápido, ao contrário de , que continuou segurando o colar de Jade enquanto fitava o teto. Estava cansada, mas não conseguia dormir. Queria ouvir a voz de uma última vez.

, está aí? Consegue me ouvir? — murmurou entre pensamentos, fechando os olhos para se concentrar melhor. — Por algum motivo... Sinto sua falta.

— Não se esforce desse jeito, protetora — a voz doce de ecoou em sua mente, fazendo-a sorrir de forma automática. — Eu também sinto sua falta, mas precisa se preparar bem para amanhã.

— Me perdoe por isso, princesa. — abriu mais seu sorriso. — Eu só precisava ouvir você para clarear meus pensamentos. Você está bem? Sinto como se você estivesse cada vez mais fraca...

— E estou, de fato. — Suspirou. — Apenas durma, . Tenho certeza de que irá me encontrar amanhã.

Após ouvir a última fala de , o sono veio de forma imediata. dormiu feito pedra, assim como as amigas.

O Sol nasceu e, como prometido, o mago Seokjin adentrou o quarto sem a menor delicadeza, fazendo barulhos ensurdecedores. O trio de amigas pulou em alerta, arregalando os olhos, assustadas. Ao notarem que era apenas o homem do dia anterior e que nada havia sido um sonho, suspiraram ao mesmo tempo.

— Bom dia para você também, Seokjin — murmurou, enquanto esfregava os olhos e tentava arrumar os cabelos.

permanecia emburrada, enquanto praticamente dormia sentada. Não deviam ser nem cinco da manhã.

— O Sol já nasceu. Agora vocês precisam partir — Seokjin informou. — Me dei a liberdade de preparar uma bolsa para vocês, nada muito grande. Coloquei somente o necessário. Se apressem.

Levantaram à contra gosto e pegaram suas coisas. Ainda preguiçosas, arrumaram as armaduras e testaram uma última vez se ainda lembravam como os poderes funcionavam. Antes de seguirem o mapa que Seokjin dera, foram até o rio para que pudessem lavar o rosto antes de começarem a tal guerra em busca da princesa Jade. Não se demoraram por ali, logo tomando o rumo que precisavam.

Andaram por algumas horas, atraindo olhares das pessoas do reino e sorrindo para aqueles que as cumprimentavam. Foram seguindo o mapa de Seokjin até deixarem de uma vez por todas o reino de Jade. Não sabiam onde estavam, nem o que iriam enfrentar, mas não sentiam medo. Paravam de uma em uma hora para se banharem nos rios às margens dos reinos que cruzavam e para comerem em seguida.

Fora necessário mais duas horas de caminhada até que chegassem ao ponto marcado no mapa. Era o reino onde estava presa. No entanto, não sabiam em qual castelo.

O reino que estavam tinha um clima cinzento e era composto por inúmeros castelos nas montanhas ao longe. O povoado quase não existia mais, tendo somente alguns — prováveis — criados e animais abandonados. Caminharam destemidas por todo o reino, até que encontrassem a trilha que as levariam até o topo das montanhas.

— O que será que nos aguarda? — perguntou, enquanto fitava tudo ao seu redor. Não havia decoração alguma em volta dos castelos, assim como tudo parecia ridiculamente preto e branco. Não havia florestas, matas, uma árvore sequer. Era tudo cercado por montanhas e nuvens carregadas, era como se tivessem sido transportadas para uma outra dimensão; não havia cor ali.

— Não faço ideia, só precisamos resgatar e ir embora daqui — respondeu, enquanto dava de ombros. Sentia-se cansada e curiosa. O rosto, assim como os das amigas, já estava completamente vermelho e suado, assim como todo o resto de seu corpo. Os cabelos longos estavam presos numa trança que ia até suas coxas, havia dito que seria melhor para lutarem daquela forma. E tinha razão.

O caminho estava tranquilo demais, o que fazia com que as três ficassem atentas. Sabiam que a qualquer momento alguma coisa ruim surgiria; e não estavam erradas. Ao chegarem ao início de terceira montanha, um barulho alto fizera com que parassem de andar rapidamente. Algumas poucas pessoas que circulavam pela região saíram correndo imediatamente, ignorando os olhares questionadores das Guerreiras. Provavelmente todos ali sabiam que elas estavam a caminho e não se dariam ao trabalho de contá-las as verdades sobre aqueles cantos — eram totalmente fiéis ao reino, embora este não fosse fiel ao seu povo.

E quando menos esperaram, uma espécie de dragão surgira logo à frente. Ele vinha lento e urrando como podia, as patas faziam barulho contra a terra e o chão tremia a cada passo — era como se um vulcão estivesse entrando em erupção. A criatura descera calmamente, fazendo com que o trio já ficasse preparado para o ataque.

não perdera tempo em puxar o arco e flecha das costas, posicionando-se da melhor forma possível, ao mesmo tempo em que permitia-se flutuar levemente, já pronta para iniciar uma ventania forte o suficiente para que a coisa caísse. , ao contrário das amigas, permanecera calma, apenas observando.

— Ele não vai atacar caso se sinta ameaçado — murmurou, mas as amigas não baixaram a guarda.

— O problema é que eu quero que ele se sinta ameaçado — respondeu determinada, mirando uma flecha na cabeça da criatura. No entanto, sentira as mãos tremerem assim que pôde vê-lo melhor. A criatura nada mais era que... Três em uma.

O dragão era maior do que aparentava e possuía três cabeças esquisitas; uma de cada cor — vermelho, verde e preto. Não conseguiram esconder a surpresa e a vontade de atacar imediatamente. Aquele era o primeiro desafio e já estava sendo deveras bizarro, perguntavam-se o que as aguardava mais à frente, já que acreditavam veemente que o destino final era o castelo no topo da montanha mais afastada, quase chegando aos céus.

Uma bola de fogo voara em direção a elas, porém tivera o reflexo de jogar um jato d'água em direção a ela, fazendo-a tornar-se apenas fumaça em sua frente. E aquela fora a deixa que precisavam.

Automaticamente, começara a atingir flechas de fogo na criatura, mirando em suas cabeças para que pudesse matá-las mais rápido. e flutuaram juntas, concentrando-se em misturar seus elementos e, assim, criar um tipo de tempestade centralizada — dando início à guerra.

O dragão passara a correr mais rápido em direção às três, mas permanecia sendo barrado devido à ventania que causava. Os urros ficaram mais altos, assim como suas passadas nervosas. O chão tremia e já não sabia mais o que fazer para atingi-lo. Era o primeiro desafio, não poderiam perder ali. Precisavam salvar .

precisava tê-la em seus braços novamente; precisava senti-la, abraçá-la, beijá-la.

Saindo de seus devaneios, decidiu juntar-se às amigas nos céus. Com a concentração a mil, permitiu-se voar para o alto, fazendo com que uma cratera de fogo se abrisse sob seus pés. Os olhos estavam num laranja vivo — assim como os de estavam azuis, e os de completamente negros — e alguns fios de cabelo escapavam de sua trança; estava com raiva. Aquele maldito dragão conseguira despertar a verdadeira Guerreira de Fogo que dormia dentro de si.

No entanto, assim que conseguia atirar uma flecha por entre os poderes das amigas e acertar uma das cabeças, outra nascera no lugar que ficara vago por alguns segundos. Um ódio cegante lhe subira à cabeça, fazendo-a atirar cada vez mais, colocando ainda mais força e magia sobre cada flecha. Mas não adiantava; a cabeça caía e voltava. Precisavam montar um ataque melhor, para que, juntas, conseguissem derrubar aquela criatura tão esquisita.

Contudo, antes que pudessem montar algum ataque, as três cabeças viraram em sua direção, cuspindo bolas de fogo grandes demais para que pudesse conter de surpresa. Foram atingidas e voltaram ao chão com força, arrastando-se para o longe daquela montanha. O chão de terra ficara marcado pelas três, e todas tossiam devido ao forte impacto. Quando se deram conta, a criatura já estava voando em alta velocidade para atingi-las novamente.

Porém o golpe não as acertara.

O dragão sequer conseguira chegar perto. E ao mesmo tempo em que o demônio voava para o outro lado, risadas infantis ecoaram por todo o espaço, deixando-as confusas.

— Olá, guerreiras! — um garoto alto gritara, enquanto saltava entre os pequenos relevos de terra. — Perdoem o atraso, Seokjin acabou por nos prender demais em sua cabana.

— Nós iremos acompanhá-las até o Castelo Negro. — Um outro garoto apareceu com uma espada na mão, saltando por cima do primeiro e indo certeiro em um dos pescoços do dragão, arrancando-lhe a cabeça e não demorando para enfiar a espada ali novamente, fazendo-o urrar em agonia e dor.

— Não abusem de seus poderes — o primeiro rapaz gritou, pulando em direção ao dragão e arrancando-lhe outra cabeça, enfiando a espada no buraco como o outro fizera. — Lutar corpo a corpo é mais divertido!

E após finalizar o discurso, ajudara o amigo a destruir a cabeça do meio. Cortaram o animal juntos, fazendo a cabeça voar em direção a Sowon, que chutara em reflexo para que não fosse atingida — a cabeça era enorme, sequer sabia precisar seu tamanho a olho nu. Os garotos enfiaram as espadas no centro do dragão, cortando-o ao meio e dividindo-o em dois pedaços. Os pedaços da criatura voaram para lugares diferentes e, como se nada tivesse acontecido, os garotos pousaram no chão outra vez. Eles sorriam e respiravam ofegantes, como se estivessem apenas saindo de uma sessão de treinos.

— Perdoem-nos pela aparição espalhafatosa — um rapaz baixinho e de voz suave murmurou, ajeitando os cabelos dourados para trás. — Não queríamos assustá-las, mas vocês andaram rápido demais. Somos os irmãos Jeon. — O garoto sorriu de forma graciosa, prendendo a atenção das três amigas. — Eu sou Jimin.

— E eu sou Jeongguk — o garoto que gritara primeiro se apresentou, sorrindo de forma tão adorável quanto o irmão. Ambos eram muito bonitos e pareciam dois príncipes, e não guerreiros. Jeongguk era dono de cabelos e olhos negros tão penetrantes que, por um segundo, as amigas perderam o ar.

— Vocês são os guerreiros que Seokjin disse que nos enviaria? — perguntou, enquanto ajudava e a levantarem do chão, pareciam fracas.

— Somos, sim — Jimin respondeu. — Recomendo que comam o doce de Jade agora. Usaram muitos poderes sem necessidade. Esse tipo de dragão só morre se abri-lo ao meio como fizemos.

— Nós não... — tentou falar, mas foi cortada por Jeongguk:

— Não tiveram tempo de treinar. Seokjin explicou. — Deu de ombros. — Por isso nos apressamos. Os próximos obstáculos serão mais difíceis, façam o que meu irmão falou. E aprendam a usar a espada que receberam.

— Espada? — perguntou.

— Oh. — Jimin riu. — Vocês ainda não sabem que possuem espadas mágicas...

— Mentalizem seus elementos e concentrem-se ao máximo — Jeongguk pediu. — Relaxem, respirem fundo e deixem as mentes vazias por alguns instantes.

As três obedeceram o garoto e permitiram-se quase flutuar novamente. As pedras que carregavam em seus pescoços reluziram fortemente, fazendo-as quase perderem o ar. Em seguida, espadas brilhantes e grandes surgiram nas mãos de cada uma. No entanto, o cansaço fora inevitável e as três caíram de joelhos sobre a terra, tendo de apoiar as mãos no chão para que não caíssem completamente.

— Comam logo o doce de Jade — Jimin murmurou, aproximando-se das garotas com o irmão. — Não temos muito tempo. Nós vamos enfrentar coisas piores que este dragão, mas eu e meu irmão damos conta. Apenas vamos dá-las cobertura para que cheguem ao Castelo Negro.

— Tomem. — Jeongguk estendeu um pedaço para cada uma. — Nós montamos um plano quando saímos de nosso reino. Vocês só precisam segui-lo.

— Como saberemos se é seguro e se estão mesmo sendo sinceros conosco? — perguntou, ponderando em comer o doce que lhe fora oferecido. — Não nos conhecemos direito.

— Somos os únicos dispostos a seguir com esta guerra, Fogo. — Jimin a olhou nos olhos, mostrando-a seu brilho intenso e azul como . — Pode confiar em mim, jamais mostraria minha real forma para outras pessoas se não as de meu próprio reino. Se quiséssemos matá-las, já teríamos o feito.

— Veja — Jeongguk pediu, enquanto começava a flutuar levemente sobre elas, movimentando as mãos para os lados e criando uma forte ventania por ali. O brilho violeta escapava de seu corpo enquanto circulava juntamente ao ar que ele controlava, deixando o céu mais colorido e bonito que antes. Após alguns segundos, voltou para o chão. — Não temos motivos para mentir, guerreiras. Somos iguais, apenas de pedras diferentes.

— Nós seremos atacados daqui alguns minutos — Jimin murmurou. — Precisamos ser rápidos. Comam logo!

Ainda desconfiadas, porém sem alternativas por estarem fracas demais, comeram o doce que lhes fora oferecido. Alguns segundos foram necessários para fazê-las recuperarem as forças e sentirem-se bem o suficiente para a próxima etapa — qualquer uma que fosse. Guardaram as espadas nas costas e se ergueram de uma vez, fitando ambos os irmãos.

— Na próxima montanha, o ataque será mais forte. — Jimin tomou a frente. — Provavelmente várias criaturas voarão sobre nós ao mesmo tempo, mas precisamos que duas de vocês sigam em frente. Eu acredito que Jeongguk dê conta de colocar todas aquelas coisas para longe e ganharemos alguns segundos para cruzar a primeira parte da montanha.

— Na segunda parte ficará mais complicado — Jeongguk explicou. — A quantidade dobra e digamos que... São dragões agressivos.

— O que devemos fazer? — perguntou apreensiva.

— Apenas corram em linha reta. Preciso de para me ajudar a contê-los, já que temos poderes parecidos — Jeongguk respondeu. — Tudo bem para vocês? Não temos muito tempo, de qualquer forma. A presença de Jade está cada vez mais fraca...

— Você consegue senti-la também? — perguntou curiosa.

— É claro que sim. — Jeongguk sorriu. — Todos nós conseguimos. A diferença é que somente você consegue se comunicar, .

Jimin deixou uma risada baixa escapar e revirou os olhos em seguida. Seu irmão nunca perdia a mania de falar demais.

— Cale a boca, Jeongguk — pediu. — Vamos, guerreiras. Temos uma guerra para vencer.

E foram, mesmo sem entender o que os irmãos insinuavam.



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O sol já estava indo embora quando chegaram à montanha seguinte. O ambiente parecia ainda mais medonho e bizarro àquela hora, dando a sensação de que estavam sendo observados bem de perto. Os passos eram lentos e cuidadosos, evitando até mesmo ruídos típicos. Jimin e Jeongguk andavam como se estivessem flutuando, sequer conseguiam vê-los muito bem. Os irmãos se emaranhavam entre as sombras, matando criaturas silenciosamente, enquanto o trio de guerreiras permanecia em alerta. , vez ou outra, jogava bolas d'água em alguns roedores de médio porte, fazendo-os voarem montanha abaixo, caindo num abismo aparentemente sem fim. O silêncio era perturbador.

Mais à frente, era possível ver o tal Castelo Negro que os irmãos Jeon tanto falavam. Explicaram que ali era o covil das maldades do Universo e nunca desistiram de destruir o Reino de Jade. O desejo da Rainha Rubi — a dona de todo aquele império assustador — era transformar o poder de Jade no pior possível, como fizera com a Rubi. A rainha nada mais era que falsa; uma traidora que roubara todas as pedras preciosas da rainha anterior, tornando-se dona de todo um império de pedras vermelhas e negras, distorcendo todo seu poder com a magia mais podre e traiçoeira que existia.

No entanto, a princesa de Jade nunca permitiu que fosse corrompida. Seu desejo de fazer o bem era muito maior que a tentação por todo aquele tesouro que lhe era oferecido em troca da alma. Jade jamais se venderia de tal forma. O Castelo Negro em nada lhe encantava, assim como todas as Rubis que decoravam o reino durante à noite.

Pontos vermelhos tomavam o céu, assim como começavam a brilhar em determinados lugares do Castelo ao longe. Era, sim, um reino rico em beleza, mas nada se comparava à paz do reino de Jade.

— Está na hora, guerreiras — Jimin murmurou, pegando sua espada de forma silenciosa. — e , tomem cuidado. A forma mais eficaz de matar todas as criaturas daqui, inclusive as em forma humana, é acertar o centro do corpo e cortá-las ao meio. Não parem de correr. Eu estarei matando o que estiver em meu alcance enquanto e Jeongguk fazem todos voarem para longe. Nos encontramos no Castelo.

— Tem certeza? — perguntou preocupada, olhando para os irmãos. — Vocês podem acabar feridos... E se não conseguirem seguir? Não é melhor continuarmos juntos?

— Não vamos nos ferir — Jeongguk respondeu com um ar de escárnio, sorrindo. — Estamos acostumados, guerreira. Apenas siga este plano, garantimos que dará certo.

— Não temos tempo — Jimin completou. — Vocês precisam salvar a princesa o quanto antes. Já está anoitecendo. O ritual de Rubi se inicia às três da madrugada, é o prazo máximo que temos para tirar Jade de lá.

— E o que acontece se o ritual começar? — perguntou.

Jimin sorriu de lado e Jeongguk segurou sua espada mais firme. E, em uníssono, responderam:

— A princesa morrerá.

E aquela fora a deixa para que um som esquisito cortasse o local. Quando olharam para a frente novamente, uma legião de criaturas esquisitas e de cores escuras corriam na direção dos guerreiros.

A guerra estava oficialmente iniciada; e não duraria muito.

Jeongguk cortara algumas cabeças antes de deixar a espada de lado para flutuar ao lado de , que com poucos movimentos mandava para longe dezenas de criaturas. O céu estava explodindo em azul-turquesa e violeta, misturando-se ao vermelho escarlate que escapava de cada ser do mal.

Jimin brigava bravamente com tudo o que lhe atacava, partindo-os ao meio, arrancando-lhe cabeças e sorrindo a cada respingo de vermelho que lhe tomava a face e o tronco. Não se incomodava com a sujeira; pelo contrário, sentia-se bem em destruir todas aquelas coisas que queriam tomar seu reino e destruir sua Princesa.

e não tiveram mais tempo para pensar se daria certo ou não. Agarraram suas espadas mágicas e seguiram reto, correndo por entre as criaturas que voavam e os pedaços que Jimin jogava. Determinadas, seguiram em direção aos que tinham forma humana, brigando no corpo a corpo e enfiando-lhes as espadas no centro do corpo como o guerreiro ensinara há poucos minutos.

Gritos, urros, socos, ventania — eram os sons que ecoavam pelo Reino de Rubi naquele momento.

E, do alto do Castelo Negro, a rainha apreciava o espetáculo. Era sempre bom ver o Reino de Jade reagir, no entanto, em sua cabeça doentia, eles nunca seriam páreos para suas criaturas da noite. Passariam facilmente daquela montanha, mas... Será que passariam por ela e suas novas criações? Tsc, é claro que não — pensava.

, num ataque surpresa, fizera surgir uma grande onda do abismo ao redor e afogara as criaturas naquele mar improvisado, enquanto seus companheiros voavam por cima dela e destruíam as criaturas voadoras. Não demorou muito para que ela e já estivessem no início da montanha seguinte.

— Não olhe para trás — a voz de ecoou baixa e fraca na cabeça de , quando esta tentou olhar para o que acontecia com os companheiros.

Engoliu a seco imediatamente, segurando a curiosidade. E com o coração apertado, puxou a mão de para que corressem de uma vez por todas. A noite já estava prestes a cair e não sabiam mais quanto tempo tinham. Precisavam destruir tudo aquilo e salvar .

E iriam.



Já era totalmente noite quando e alcançaram o topo da última montanha, onde o Castelo Negro se encontrava. Estavam suadas e ofegantes, mas não tiveram tempo para pensar ou analisar a situação em que se encontravam. Alguns pequenos dragões surgiram logo à frente, de surpresa, atacando-as. Rolaram para lados opostos e se obrigaram a continuar lutando com todo fervor.

variava entre jogar flechas repletas de fogo e o uso da espada, enquanto alternava entre ondas medianas e o corpo a corpo. Estava começando a ficar difícil demais — quanto mais matavam, mais apareciam.

Em certo momento, e bateram de costas, colando uma à outra. Respiravam pesado e sentiam o corpo prestes a ceder, mas não iriam se render tão facilmente.

— Voe o mais alto que puder, murmurou. — Eu vou destruir essa área. Tente invadir o Castelo.

A ruiva não se deu o trabalho de responder, apenas impulsionou-se para cima enquanto atirava flechas nos dragões e em alguns pássaros gigantes que tentavam segui-la. Assim que toda a paisagem se tornara quase invisível a olho nu, respirou fundo. Só conseguia enxergar uma grande explosão azul, criara uma onda maior que as anteriores, tomando toda aquela área com cuidado para que não atingisse onde a princesa estava raptada.

Logo que a intensidade do brilho da amiga diminuiu, permitiu-se descer. Tudo estava destruído, o reino de Rubi estava aos pedaços como nunca estivera — e a se orgulhava disto. Sabia que as pessoas de bem não haviam sido atingidas; seu coração lhe gritava isto.

Encontrou jogada em algum canto, mastigando o doce de Jade com pressa. Sua respiração era irregular e o corpo tremia.

— Está tudo bem? — perguntou, jogando-se ao lado da amiga.

— Vá para o Castelo — murmurou. — Eu vou ficar aqui fora e darei conta de tudo. Os outros já estão chegando, posso senti-los.

não respondeu, apenas deixou um beijo no topo da cabeça de e seguiu em direção ao castelo. Os longos portões de ferro estavam abertos, convidando-a claramente. Atravessou-os com pressa e determinação, sacando a espada mágica e passando toda sua força para ela. Salvaria .

As criaturas que surgiram à sua frente eram em forma humana, porém mais fortes que todas as outras. Pareciam... Mutações científicas. Como se fossem criados e moradores do reino que foram submetidos a experiências e magia em excesso. Pareciam imortais. estava perdida! Não sabia o que fazer para derrotá-los rápido e sozinha. O suor lhe escorria por todo o corpo, o medo já começava a tomar seu coração e sua espada parecia nem fazer cócegas naquelas coisas.

— Por favor, seja forte — a voz de ecoou em sua cabeça logo que fora atingida. Apenas um soco fora o suficiente para fazê-la voar de volta aos portões de ferro.

Ignorou a voz da princesa e colocou-se de pé novamente, tentando concentrar-se em seus poderes, mas parecia mais fraca — aquelas coisas pareciam sugar toda sua força. Respirou fundo e correu em direção a eles, distribuindo os golpes de artes marciais que aprendera no dia anterior, pulando de uma criatura para a outra enquanto arrancava as cabeças. Fora atingida de várias formas e em vários lugares; seu corpo latejava de forma intensa.

Com um grito esganiçado, deixou que o fogo lhe dominasse de uma vez. Ergueu-se no ar de braços abertos ao ver-se cercada por dezenas de criaturas sobre-humanas e deixou que seu elemento falasse por si. Seus cabelos soltaram das tranças, ficando completamente abertos à sua volta, e seus olhos estavam completamente vermelhos, como se houvesse chamas dentro deles. Sua cabeça tombou para o lado, deixando-a diabolicamente bonita e fez um leve movimento com os dedos, jogando algumas bolas de fogo em direção àqueles que tentavam alcançá-las.

— Que criaturas são vocês? — perguntou com a voz rouca e arrastada; sequer parecia a mesma de instantes atrás. — Acharam que iriam vencer-me sem ao menos poderem voar? Onde está sua rainha, meros escravos?

As aberrações gritavam enfurecidas e sedentas por aquela guerreira ousada. No entanto, não tiveram muito tempo para questionar mais. permitira-se transformar cem por cento em seu elemento, tornando-se uma enorme bola de fogo no ar. Sua luz laranja intensa explodiu por todo o reino, fazendo com que algo parecido a um vulcão transbordasse de seu corpo, voando fogo para todos os lados.

ao longe, já com os outros amigos, precisou criar uma bolha de água junto a Jimin para que abrigasse a todos; aquela montanha parecia o verdadeiro Inferno. O fogo estava se alastrando por todos os lados e as criaturas queimavam até a morte.

A cada segundo que passava, , acima de todos, brilhava mais forte. Sua força parecia estar no auge — e não podia deixar que isto acontecesse.

Uma explosão fora ouvida e, após alguns segundos, um silêncio mórbido tomou todo o local. De dentro da bolha, os guerreiros puderam ver que já não havia mais criatura alguma. havia derrotado todas; mas sabiam que ainda faltava uma — a mais forte de todas: a Rainha.

A Guerreira de Fogo estava caída entre os destroços e pedaços das criaturas que matara, sentia-se fraca e com sede — mas não tinha tempo. Tudo o que conseguia pensar, enquanto tentava se erguer novamente, era em e em como precisava salvá-la naquele momento. Conseguia sentir a presença dos amigos, sabia que estavam bem. No entanto, o medo de tomava conta de todo seu corpo, deixando-a nervosa e agoniada.

Os poderes das Opalas não estavam surtindo efeito algum; não conseguia trazer de volta suas boas energias, não conseguia pensar em algo criativo além do que fizera — e constatara, logo em seguida, que havia sido precipitada diante do desespero. Poderia ter esperado pelos amigos e usar o auge de seu poder ao encontrar a Rainha, para então destruir aquele Castelo repleto de magia negra e práticas diabólicas.

deixou-se cair novamente no chão sujo, completamente fraca. Os longos cabelos laranjas cobriam-lhe todo o corpo, grudando em seu suor e resquício de sangue que escorrera de seu nariz. Mesmo sentindo-se à beira da morte, sentiu a presença dos amigos.

fora a primeira a ajoelhar-se ao lado de seu corpo, jogando pequenas bolhas d'água em seu rosto e em sua boca. Tirou-lhe os cabelos do rosto e limpou-a com cuidado.

— Tragam um doce de Jade para ela — pediu. — Eu guardei o último pedaço. Rápido!

— Aqui. — ajoelhou-se em seguida, pouco se importando com o próprio corpo ferido. — Seja rápida.

— Nada será o suficiente — Jeongguk sussurrou. — Ela usou praticamente toda sua força...

— Por mais que vocês deem mil doces de Jade... Ela não terá condições de lutar contra a Rainha — Jimin murmurou. — Ela está observando tudo, está nos ouvindo. Não demorará a vir ao nosso encontro. provavelmente era sua maior dificuldade por conta da ligação que tem com a princesa.

— Acabar conosco será difícil — Jeongguk assegurou. — Nós temos grandes chances. O problema é que podemos destruir todo o reino.

— E não poderia, por acaso? — perguntou ácida.

— Claro que poderia. — Jeongguk revirou os olhos. — Acontece, , que ela é a que tem mais equilíbrio em relação ao próprio poder. Nós provavelmente vamos nos perder e arruinar todo este reino. Ele deixará de existir. Precisamos de para manter nossa harmonia.

— Então deem o máximo de doce de Jade para ela! — gritou, fazendo com que um forte vento cortasse a montanha, balançando-lhes os cabelos e movendo seus corpos alguns centímetros.

— Está vendo? — Jimin perguntou. — Nós precisamos nos manter fortes e controlados enquanto se recupera. Não adianta dar os doces, não serão o suficiente para acordá-la agora.

— Não viemos aqui para nada — murmurou. — Nós vamos destruir esta Rainha com ou sem .

— Não tenho a menor dúvida disto, . — Jimin ajoelhou-se ao lado da garota, tocando-lhe o ombro com sutileza. — Acontece que nós não estaremos aqui para termos certeza de que a princesa fora salva ou não. é o que nos mantém.

— Lutaremos mesmo assim — a garota respondeu, tirando a mão do Jeon de seu ombro. — Tenho certeza de que acordará.

— Pois eu não teria tanta assim, Guerreira da Água — uma voz arrastada e sensual ecoou pelo ambiente. Um brilho vermelho sangue cortara o céu e logo um corpo esbelto e alto pousara em frente a todos. De forma imediata, Jeongguk e Jimin tomaram sua forma real, completamente transformados.

Rubi estava logo à frente, olhando-os com o queixo erguido em uma superioridade indescritível. Os cabelos vermelhos e cacheados esvoaçavam em sincronia com o vestido preto devido à ventania violeta que Jeongguk causava — estava nervoso, odiava aquela mulher.

— Parece que tenho guerreiros sem harmonia por aqui — Rubi murmurou, sorrindo. — Estão nervosos, não estão? Eu conseguiria sentir esse medo a milhas de distância. Mas vocês me proporcionaram um bom show hoje. Foi uma guerra e tanto. Pena que perdida para vocês.

Todos estavam de pé em volta de , visando protegê-la de qualquer ataque repentino da Rainha das trevas, porém sabiam que qualquer movimento brusco poderia resultar no mais profundo fracasso. Sentiam-se desestabilizados, amedrontados; nem mesmo o controle mental de estava servindo de ajuda naquele instante. Estavam todos perdidos, sem harmonia; não sabiam mais como lutar.

O medo era sufocante. E poderia senti-lo perfeitamente de dentro daquele Castelo Negro.

— Onde Seokjin estava com a cabeça quando achou que vocês poderiam me vencer? — Rubi perguntou. — Vocês sequer conseguem se virar sem a Fogo por perto — desdenhou. — Tão amadores. Tão fracos.

— Eu vou matar você — Jeongguk murmurou, cerrando os punhos. — Eu vou. Matar. Você.

— Quantas vezes já tentou isso e falhou miseravelmente, Jeonggukie? — Rubi debochou. — Mas agora chega de conversas. Sei que querem tempo para que possa se recuperar. Lamento, mas ela já está morta.

E sem aviso prévio, iniciou-se uma chuva de sangue que os deixou tontos e cegos por um instante. O vermelho vivo tomava conta do local, fazendo com que suas peles ardessem. Era como se fossem pequenos cacos de vidro voando em suas direções, cortando-os aos poucos.

Com um urro de ódio, se permitiu voar alto e movimentou as mãos com pressa, jogando um jato de água tão forte que fizera Rubi voar para perto da entrada do castelo, parando com aquela tortura por alguns segundos. Jimin juntou-se à garota, ao mesmo tempo em que e Jeongguk deram as mãos, mesclando suas forças e fazendo com que uma tempestade de vento se iniciasse.

A rainha permitiu-se rir alto, sem ao menos tentar se levantar. Deixaria que eles a atacassem, não se importava.

Sentia-se imortal. Era imortal. Criara a imortalidade enquanto aquele bando de idiotas se preocupavam com uma mísera princesa desleixada e inútil. A sequestrara apenas para manter as aparências, as tradições; mataria a todos com um piscar de olhos se quisesse.

estava sem forças, jogada de lado. E era a única que poderia vir a vencê-la em seu auge.

Aquilo nunca aconteceria; nenhum guerreiro nunca conseguira sair vivo após o ápice do poder — imagine atingi-lo duas vezes.

Água, vento, terra, tudo voava por ali, quase tirando o Castelo Negro do chão. Mas Rubi não se importava, apenas assistia e esperava o momento certo de atacar.

Estalou o dedo, fazendo com que outras criaturas semi-humanas surgissem das sombras. Algumas voaram para longe ao sentir os poderes mais intensos, outras seguiram para a guerra.

Jeongguk fora o primeiro a correr em direção àquelas aberrações. Arrancou-lhes as cabeças, partiu-lhes ao meio; matara a sangue frio enquanto seus olhos brilhavam um violeta intenso. não estava tão diferente, esmagando cabeças e arrancando os membros de cada coisa daquela que cruzava seu caminho.

Eles queriam a rainha. Estavam cegos de ódio.

Jimin e continuavam no céu, voando e atingindo com bolas d'água o que desse, tentando dar alguma proteção para que jazia fraca no mesmo lugar.

E permanecia agoniada, sem poder fazer nada, dentro do Castelo.

— Chega de brincar, crianças — a rainha murmurou, permitindo que seus olhos tomassem as cores originais; um estava completamente negro, enquanto outro estava vermelho.

Estava cansada daqueles guerreiros se metendo onde não eram chamados. Mataria todos.

Rubi permitiu-se flutuar lentamente, levando consigo todas as criaturas. A atmosfera ficara pesada, o tempo parecera parar e um frio incomum tomou todos os presentes.

Do céu, Jimin pôde ver quando a montanha descolara de seu lugar de origem, se erguendo junto à rainha. O horror estava estampado em seu rosto e não havia outra alternativa senão todos tentarem atingir seu ápice de poder. Era a única chance que tinham de vencer aquela mulher — ou ao menos deixá-la presa no Inferno embaixo daquela montanha por mais um século.

— O que está acontecendo? — sussurrou quase perdendo as forças.

— Precisamos de nosso auge agora, ou morreremos — Jimin respondeu. — Ela está tomando sua forma natural. Estamos prestes a presenciar o apocalipse.

trincou os dentes e voou para o centro do céu, exatamente acima da montanha. Fechou os olhos com força e deixou que a Safira em seu pescoço lhe tomasse por inteira, permitindo que todo seu poder saísse de si. Já que era a única alternativa, seria a primeira. Mas ninguém sairia morto dali. Hoserok iria acordar, ela sentia. A presença da amiga estava forte em seu peito, como se ela estivesse recuperada. E sabia que sentia da mesma forma; e não ficara surpresa ao ter a loira logo ao seu lado, segurando sua mão.

O céu estava completamente negro, somente com as luzes azul-turquesa e azul-claro brilhando intensamente. e já sentiam os corpos agindo sozinhos, mas não se importavam. Fariam uma tempestade naquele reino, o afogariam se fosse necessário. Mas não deixariam o medo e o frio de Rubi tomarem-lhes os corpos e mentes.

Precisavam salvar . E, sobretudo, .

E então, de repente, o céu se tornou dois tons de azul ao mesmo tempo em que uma chuva forte se iniciara. O vento agressivo de bagunçava tudo em volta, fazendo com que a rainha cedesse à montanha e esta voltasse ao seu lugar de origem, grudada ao chão.

Rubi sentiu-se cair rapidamente, voando e batendo contra a porta de entrada do Castelo — era incrivelmente forte, muito mais do que esperava. Principalmente junto à , que permanecia fazendo a água cair com força.

Jimin e Jeongguk haviam voltado para perto de e a protegiam como podiam, mas sabiam que não durariam muito. As criaturas de Rubi não estavam morrendo — como se as milhares que destruíra estivessem voltando do mundo dos mortos. A tempestade apenas seguraria até Rubi irritar-se completamente.

E dentro do Castelo, apenas ouvindo o pandemônio que acontecia do lado de fora, gritou por ; implorou para que voltasse, para que a sentisse, que focasse em sua própria luz. Gritou, gritou, gritou, gritou e continuou gritando, até que sua voz se perdesse, até que seu coração apertasse outra vez. Gritou quando não tinha mais voz. Implorou para escutá-la. Gritou, gritou, gritou, gritou. Gritou até sentir que sua protetora abrira os olhos.

Jeongguk foi o primeiro a sentir que a harmonia estava voltando aos poucos. Pensou estar enlouquecendo, ou ser poder de e — que vacilaram segundos depois, como se sentissem o mesmo que ele.

— O quê? — Rubi perguntou, sentindo seu interior ferver de ódio. — A Fogo está viva? Isso é impossível!

— Jade — Jimin sussurrou e Jeongguk assentiu sorrindo.

— Parece que nós vamos vencer novamente, Rubi — murmurou, enquanto pousava no chão completamente banhada de luz turquesa. — Está com medo agora que sua imortalidade não serve de nada? Ou achou que não descobriríamos seu plano?

— Vou acabar com vocês, Turquesa — a rainha murmurou entredentes, irritada e pronta para atacá-los com outra rajada de sangue. — Com todos vocês! Morram!

— Eu acho que não, rainha — a voz de ecoou ao longe, enquanto ela mantinha-se de joelhos entre Jeongguk e Jimin. Os cabelos tomavam-lhe o corpo inteiro, escondendo seu rosto e o estado em que se encontrava. — Ninguém além de você morrerá esta noite.

E o que se seguiu fez com que todos ficassem chocados. se erguera por completo, mostrando-se ainda no auge de todo seu poder. Os olhos permaneciam em chamas, os cabelos balançavam desgrenhados e a água da chuva de não lhe afetava em nada.

Rubi não soube o que dizer, tampouco o que fazer. A harmonia daqueles guerreiros era quase palpável; perguntava-se se aquilo era de fato possível. Estava tonta; perdida. Mas não daria o braço a torcer; ainda tinha sua última carta na manga. Aquele era o momento certo para usá-la.

— Tem certeza, guerreira? — Rubi perguntou num tom baixo e medonho, erguendo uma das mãos e estalando os dedos. Todas as portas e janelas do Castelo Negro se abriram, um vento quente e tão forte quanto de e Jeongguk cortara a montanha. , acima de todos, tremeu, sentindo-se repentinamente fraca e caindo em seguida.

— O que... — não tivera tempo de completar sua pergunta, baixando a guarda e voltando à forma humana.

Não demorou muito para o corpo frágil de passar por todos ali, sobrevoando como se fosse um mísero pedaço de papel. O pescoço fora direto ao encontro da mão erguida de Rubi e os dedos logo fecharam contra a traqueia da princesa. O sorriso diabólico crescera rápido nos lábios vermelhos da rainha, deliciando-se com os olhares arregalados e os tremores de ódio no corpo de ao longe.

— Temos aqui a princesa de Jade — murmurou, aproximando-se de e passeando a língua por todo seu rosto. — Foi você quem acordou , não foi? Por isso está fraca assim... Pobre princesa. Será que você está pronta para voar abismo abaixo nesta noite tão macabra?

— Você não... — murmurou, dando um passo à frente. Mas não conseguira terminar sua fala, o corpo de já havia sido arremessado para longe, em direção ao abismo. A princesa estava sem seu colar e não conseguiria voar; estava fraca devido ao esforço que fizera para lhe acordar.

— Não! — gritaram em uníssono, mas fora tarde. já havia sido jogada.

Contudo, permitira-se voar abismo abaixo, junto à sua princesa. A harmonia já estava de volta; a guerra continuaria entre eles. Ela, no entanto, precisava salvar Jade. Ainda estava fraca, mas seu brilho intenso a fazia conseguir enxergar onde a princesa estava caindo — e se não se apressasse, talvez ela não voltasse para seu reino.



Embora todos estivessem apreensivos, decidiram atacar Rubi ao mesmo tempo. Os quatro guerreiros restantes deixaram seus poderes tomá-los por completos e partiram para o ataque; não tinham mais nada a perder. Precisavam arriscar.

A rainha ficara tonta com a quantidade de cores que atingiram sua visão; assim como suas criaturas foram explodindo uma a uma definitivamente enquanto os quatro seguiam em sua direção. Preparou-se para fazer com que seu poder chegasse ao máximo, mas não tivera tempo. As mãos de Jeongguk já estavam em seu pescoço, apertando-lhe com força enquanto Jimin e lhe acertavam em cheio jatos de água no rosto. Engasgou-se milhares de vezes, não conseguia respirar; era como se estivesse levando socos e mais socos.

Era como se estivesse voltando ao purgatório em que vivera no século passado. O gosto amargo na boca, o desespero de não respirar, o medo no peito, o pavor na mente... Mas aquilo não era efeito somente do ataque físico que estava sofrendo. Abriu os olhos vermelhos com pressa, encontrando um brilho verde em volta de um par de olhos negros.

a fitava intensamente, brincando com sua mente e suas memórias enquanto um sorriso macabro lhe tomava a boca. E, com um assopro, sentiu-se congelar de dentro para fora. Jeongguk ainda lhe segurava, enquanto Jimin e pareciam lhe jogar pedras de gelo ao passo que voltava a perturbar sua mente — de forma que nem mesmo ela sabia que era possível fazer — e assoprar-lhe um vento frio.

Com um riso preso na garganta, Jeongguk a soltou, dando um passo para trás.

— Agora é minha vez — a voz calma e ofegante de soou por todo o local, atraindo a atenção. A rainha permanecia congelada ali, apenas observando tudo ao redor.

Um espaço fora aberto para , que carregava nos braços. Com os olhos em brasa, colocou a princesa suavemente no chão e seguiu em direção à rainha.

— Eu lhe disse, rainha — murmurou, fazendo um sinal para que Jimin e parassem de atingi-la, mas continuou controlando sua mente. — Ninguém além de você morrerá esta noite.

Num golpe final, lhe arrancou a cabeça com sua espada em chamas.



j a d e




sorriu doce enquanto segurava a mão de .

Haviam voltado para o Reino de Jade ao amanhecer, depois de salvar as poucas pessoas de Rubi e destruir aquele reino de uma vez por todas. Deixaram o espaço livre para que uma nova história pudesse nascer; sem Rubis, sem Castelo Negro, sem magia má, sem imortalidade. O reino de Rubi se tornara apenas um abismo, um vão, uma montanha vazia e sem formato.

— Como está se sentindo? — perguntou um tanto sem jeito, colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha.

— Muito bem, e você, Guerreira? — lhe sorriu, se sentando à beira do rio e puxando-a junto.

— Bem, eu acho...

.

— Hm?

— Obrigada.

— Pelo quê?

— Por me salvar, por salvar meu povo. Por estar comigo.

— Não precisa me agradecer por isso, princesa. — deu um sorriso tímido, enfiando os pés descalços no rio. — Eu lhe prometi que o faria, não foi? Sempre cumpro minhas promessas.

— Você é maravilhosa — sussurrou, rente à sua orelha. — E eu te amo.

Após dizer isso, se levantou e arrancou as roupas sem vergonha alguma, mergulhando no rio em seguida. paralisou, sentindo o coração martelar o peito e as pernas tremerem; era linda e a amava. Sentia o mesmo, embora não entendesse o porquê. Ninguém lhe explicara sobre sua ligação com — diziam que não precisavam falar nada, seu coração dizia por si só.

— Ei, ! — gritou, enquanto encostava-se em uma das pedras. — Você quer voltar para Tóquio?

— Eu quero, princesa — gritou de volta, arrancando suas roupas e pulando no rio logo depois. — Como faremos isso?

riu e nadou para perto da guerreira, segredando-lhe num tom suave:

— Basta colar seus lábios nos meus.

A ruiva sorriu, percebendo finalmente o que seu coração sempre dizia: era sua alma gêmea.


FIM



Nota da autora: Espero que tenham gostado, até a próxima!



Nota da beta: Minha nossa senhora, o tanto que eu amei essa fic aaaaaaaa. Mulher, eu continuaria lendo horrores sobre essas guerreiras, porque achei incrível demais. Uma é mais foda que a outra e o casalzão da porra, aaaaaaa.
Parabéns, viu? Ficou incrível! ♥

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