Finalizada em: 25/12/2020

Capítulo Único

I've got an angel
She doesn't wear any wings
She wears a heart that could melt my own
She wears a smile that could make me want to sing...
Angel — Jack Johnson



Coloquei uma das últimas bolinhas vermelhas na árvore e suspirei, virando meu corpo. A sala de Marie estava toda decorada e pude sorrir com a pequena decoração, mesmo sendo um pouco simples. A árvore decorada estava no canto, ao meu lado. Havia alguns pisca-piscas espalhados pelo cômodo e na varanda — que fez questão de colocar.
Marie naquele momento tirava uma travessa da geladeira de um provável doce e eu não pude evitar fechar os olhos e dar um pequeno sorriso. Aquele cheiro me era familiar. Todo Natal em São Francisco ela costumava sempre fazer um Meyer Lemon Cake*, o que nossa mãe adorava.
O cheirinho me levou para a época em que todos estavam acostumados a passar alguma data comemorativa juntos, sem qualquer problema. Uma época em que eu e meu irmão sempre colocávamos nossos gorros de Natal e ficávamos chamando Norah para cantar uma música perto da árvore natalina. Ela sempre ia e sempre cantava. Hector uma vez até chegou a tirar uma foto em que nós três ríamos enquanto puxava meu gorro.
Deixei um suspiro leve escapar e dei um pequeno sorriso de canto. Eram essas lembranças que eu adorava ficar revivendo e que, de certa forma, também era a culpada por me deixar pra baixo.
— Eu acho que esse gorro pertence a você.
Virei o rosto para o lado e pude observar com um gorro vermelho na cabeça e um na mão. Em seu rosto tinha um sorriso contido. Dei uma risada fraca.
— Você parece bem animado com isso — apontei para o gorro — na cabeça. Onde conseguiu?
— Eu não vou te contar.
Piscou um dos olhos e cruzou os braços.
— Eu acho que já disse que você é um chato, certo? — Rolei os olhos.
Pude ouvir sua risada de leve.
— Algumas vezes. — Deu de ombros e olhou ao redor. — Vem cá. Quero te mostrar uma coisa.
estendeu uma das mãos e eu a peguei, o seguindo em direção ao corredor. Passamos por meu quarto e paramos em frente à porta do seu. Franzi o cenho, sem entender.
Ele abriu a porta, adentrou e me chamou.
— Primeiro, preciso te dizer... Confesso que quando a mamãe disse que eu iria ter uma irmã, eu peguei o primeiro brinquedo que vi e joguei longe. Era meu carrinho favorito, só pra constar. — Riu baixo, o que me fez rir também. — Eu bati o pé e decidi que não iria ser um bom irmão. Mas... — ergueu os olhos em minha direção. — Mas assim que a mamãe trouxe aquele pequeno embrulho e eu vi você pela primeira vez, eu tive certeza de uma coisa só. Tive certeza de que eu seria o melhor irmão que pudesse ser. E que eu não iria, em hipótese alguma, deixar seu brilho apagar, certo, shine? — Meu irmão se aproximou um pouco mais e deu um daqueles sorrisos que ele sempre dá pra melhorar as coisas. — Hoje, quando vi você olhar daquela forma pra árvore e pra tudo enfeitado, eu vi seu brilho enfraquecer. Eu vi você tão triste... Uma tão diferente e perdida. — Passou uma de suas mãos por meu rosto. — E como o melhor irmão que eu jurei que seria, eu não podia deixar você continuar assim. Eu não posso. Então... — Sorriu novamente e andou até seu armário, tirando de lá um embrulho médio e fofinho. — Eu tenho uma coisa pra te dar.
Passei uma das mãos pelos olhos marejados e funguei.
— Mas eu não comprei nada pra você — disse em um fio de voz. Ele riu e balançou a cabeça negativamente.
— Você sabe mais do que ninguém que eu não ligo pra isso. — Deu de ombros, fazendo uma careta. — Eu espero que goste.
Peguei o embrulho de suas mãos e o abri rapidamente, observando o presente. Era uma almofada não tão grande e azul clara. E nela havia algumas coisas escritas.
Honestidade. Sinceridade. Garra. Força. Bondade. Cuidado.
Coragem.
E amor.
— Essa almofada descreve tudo o que você é e o que eu vejo que você tem — comentou um pouco mais baixo. — Eu agradeço por você ser minha irmã...
— Obrigada, — o interrompi, pulando em seus braços. Ele riu abafado por estar agarrado a mim e beijou meu rosto e testa.
— Eu amo você, .
O olhei por alguns segundos, agradecendo mentalmente por ter um irmão como ele. Antes de responder, pude ouvir a voz de Marie inundar o quarto. Assim que me virei, ela estava sorrindo ao nos olhar.
— Vamos, crianças? Estou terminando o jantar.


***


All I want for Christmas is youuuu... — cantarolou junto à televisão e foi impossível de não cantar junto.
Ohhh, baby... — continuei sua parte, fazendo uma dancinha pra lá de engraçada.
Marie ria junto com a gente enquanto terminava de colocar as coisas na mesa e já começava a se servir, já que, de acordo com o mesmo, estava morrendo de fome.
— Eu não posso deixar passar — ele iniciou com a boca cheia.
— Olha a boca cheia, menino! — Marie o repreendeu, rindo em seguida.
— Ok, ok... Mas isso aqui ‘tá delicioso. Eu sempre gostei da comida da senhora, vó, mas isso está sensacional — disse rápido, dando mais uma garfada na comida.
— Fico feliz por estar gostando, mas fecha essa boca, meu anjo.
E aquela foi minha deixa para dar uma gargalhada, assim que vi a careta que havia feito. Logo ele estava rindo também. Ficamos ali por mais um tempo, mesmo tendo acabado de comer, apenas conversando sobre algumas coisas e relembrando outras. agora estava no sofá com as pernas em cima do mesmo e fazia a vovó rir vez ou outra.
Resolvi pegar meu celular e só então constatei uma ligação perdida de . Desbloqueei o mesmo e ouvi o começar dos toques.
! — Ouvi a voz da menina do outro lado.
— Oi, ! Como estão as coisas?
— Ei, coloca no viva voz! — chegou mais para perto, interessado na conversa.
No fundo, ouvi a gargalhada dela e uma masculina também. Era James.
Eu tentei te ligar mais cedo e não consegui dizia enquanto uma música de fundo tocava.
Não conseguimos, na verdade. — E esse era James.
Soltei uma risadinha e fez o mesmo, se aproximando.
— Fala aí, brother! — disse mais alto, fazendo um James agitado gritar um “Yo!”. Balancei a cabeça.
Eu queria mesmo era dar um Feliz Natal pra vocês. Rapidinho. Nossa família é beeem animada, então já estão querendo ir pra algum lugar — a garota praticamente gritava do outro lado. — Feliz Natal, ! Feliz Natal, !
Feliz Natal! — eu e dissemos juntos, assim que James também disse. Gargalhei e pude ouvir o toque final da ligação.
Deixei o meu dedo seguir até o botão de desligar o display e antes de apertá-lo pude ver a notificação de uma nova mensagem. Havia recebido naquele momento.
Estreitei os olhos e abri o aplicativo.
O nome ali me deu um pequeno susto.
.
Rapidamente a abri, sem perceber que meu sorriso foi crescendo aos poucos.

“Feliz Natal, . Para seu irmão e sua avó. Espero que esteja feliz. Torço para que sim. —
O respondi e guardei o celular, encostando minha cabeça na poltrona. Nunca que eu iria imaginar que ele iria me mandar uma mensagem, logo hoje, mas esse pequeno ato me fez sorrir um pouquinho mais.
Marie agora olhava algo na televisão e no momento que a olhei a mesma se espantou e colocou a mão na cabeça, como se tivesse esquecido algo.
— O que foi? — perguntei. Ela olhou em minha direção e sorriu. tomou sua atenção a nós duas.
— Eu fiquei tão preocupada com a ceia que esqueci o presente de vocês dentro do carro — comentou ainda sorrindo. — Vocês se importariam de ir pegar pra mim?
— Claro que não, vovó.
Rapidamente me levantei, esperando , que passou uma das mãos na barriga — fazendo seu típico drama — e se levantou. Caminhamos em direção à porta.
, a vovó não precisava comprar nada — comentei bem mais baixo. Ele me olhou sem entender e deu de ombros.
— Eu sei! Eu disse pra ela que não precisava.
O mesmo colocou a mão na maçaneta e assim que abriu a porta, paralisou. Ali mesmo.
E é claro que eu tinha esquecido como era respirar naquele momento.
Ela estava ali.
Norah estava ali.
Com seus cabelos escuros caídos pelos ombros, o rosto um pouco mais envelhecido, mas ainda sim linda. Ela estava parada, olhando para nós dois. Tinha dois embrulhos nas mãos e nos esperava com uma felicidade tão grande. Seus grandes olhos azuis, iguais aos de , estavam cheios d’água.
— Mamãe. — Foi impossível não dizer. Os lábios da mulher ficaram trêmulos.
— Mãe — disse, tentando se convencer de que ela realmente estava ali.
Crianças — ela disse, sem acreditar que estávamos ali. — Minhas crianças — continuou e se aproximou, deixando os presentes no chão. Eles não importavam agora. Não importavam mesmo. Abraçou-nos tanto que saudade nenhuma era capaz de expressar aquilo. Ela estava ali, nossa mãe estava ali. Era assim que tinha que ser. — Finalmente. Finalmente estou com vocês.


She gives me presents
With her presence alone
She gives me everything I could wish for
She gives me kisses on the lips just for coming home...



Meyer Lemon Cake é um bolo de limão bem conhecido na Califórnia.


FIM



Nota da autora: Oi, praianas! Primeiro eu gostaria de desejar um Feliz Natal para todos vocês e espero do fundo do meu coraçãozinho que vocês gostem desse Spin Off! Sei que vocês vão ficar curiosas com esse pequeno trechinho e prometo a vocês que tem muita coisa para acontecer além disso ainda hahahah. Feliz Natal, pessoal! <3



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