Finalizada em: 23/11/2023

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Prólogo


20 de julho, Londres, UK


O evento do lançamento do novo álbum e do curta-metragem já estava ocorrendo, mas ainda estávamos dentro do nosso camarim compartilhado. caminhava por todo o espaço, nervoso e preocupado se estava arrumado o suficiente para ser fotografado. era o mais relaxado, escutando um pouco de Michael Jackson para evitar a voz dos inúmeros jornalistas do lado de fora. comentava sobre algo que eu não me dava o mínimo de trabalho de escutar, agora só se passava uma coisa em minha mente, .

A pré-visualização desse álbum havia sido extremamente bem-vinda, principalmente pela sexta música presente na track do álbum, mas eu só me perguntava se havia visto ela e como havia sido sua reação. não estava saindo da minha mente desde que a vi pela última vez, quando ela falou que não estava pronta para isso. Bem, eu sabia que ela não estava pronta desde a primeira vez em que ela fez isso se tornar um inferno.

Flashback on:

Lá estava , envolvida pelos braços de um alguém que eu não conhecia e, provavelmente, ela também não sabia quem ele era. Um vazio se instalava em mim, como se um pedaço do meu corpo estivesse sendo tomado pelo vácuo. E então, o que era para ser mais um aniversário divertido de um dos meus amigos, que seria uma memória para lembrar e rir, se tornou algo que eu odiaria me recordar, por toda a minha vida.
O corpo de parecia apaixonado por tudo aquilo, então, me vinha a pergunta, será que sua mente também estava apaixonada por aquilo?

Me viro na direção oposta e coloco um dos piores sorrisos em meu rosto, tentando disfarçar o quanto eu queria sumir daquele lugar ou danificar toda a face daquele sujeito.


[...]


— Você é insuportável, ! — jogava suas roupas na mala. — Foi um beijo, só isso! Não significou nada, ok?
Pela primeira vez, depois de dois dias que eu havia “sumido” um pouco, eu havia confrontado pelo o que ela havia feito.
— Mas continua sendo um beijo, um beijo que você não se mostra nem um pouco arrependida. — Eu tentava manter plenitude, cruzando os braços em sua frente.
— Sinceramente, me cansei de você!
— Acha que não estou cansado também?
— Não, é obvio que não está. — fechava a sua bolsa. — Eu sei que não está, .
A garota começou a caminhar em direção à porta de saída, me fazendo sentir todo o vazio que eu havia sentido na festa, tudo novamente.
Me jogo na frente da porta, impedindo, por conta de segundos, a sair de lá. Eu não poderia deixar uma pessoa como escapar da minha vida.
— Me desculpe. — Minha voz consegue sair sem que eu vomite. — Eu… Eu não deveria ter brigado com você, , me desculpe.
O arrependimento estava extremamente presente em minha voz, fazendo um breve sorriso invadir o rosto da garota. Eu gostava de fazê-la sentir que poderia confiar em mim.
— Tudo bem. — Ela balançava a sua cabeça de leve. — Calor do momento, não é?
— Exatamente. — Sorrio junto com ela. — Que bom que me entende!
Puxo para perto e toco a sua boca com a minha, iniciando um beijo leve.

Flashback off

Como eu sou um estúpido.

, está ouvindo? — A voz de invade os meus pensamentos.
— Hã? Oi? — Me viro na direção dos três, vendo os risinhos invadirem seu espaço. — Eu só estava meio distraído…
— Se estiver aqui, tampamos ela, não se preocupe! — brinca, até me fazendo entrar no meio de risadas deles.
— Vamos, cara, estamos atrasados. — simboliza um “vem, vamos” com o braço.
Caminho até eles e, então, saímos para o lado de fora do camarim, indo em direção ao tapete verde, combinando com o álbum. Eu teria que estar pronto para todas as fotos e perguntas que iriam me rodear, eu sabia disso.
Depois de alguns minutos tirando fotos no local onde o tapete estava, e o banner era o fundo, vejo uma jornalista sibilando o meu nome, então caminho até ela, quando me certifico que todos os outros já estavam em entrevistas.
, o que está achando desse começo de noite? — a jovem jornalista pergunta, assim que chego perto o bastante.
— Simplesmente incrível — respondo brevemente. — O evento está lindo, assim como todos os convidados que estão aqui presentes. Fico feliz pelo apoio dos fãs com o álbum, significa muito para mim e para os garotos, e eu espero muito que gostem das músicas que estão na track!
— Que bom, que bom. — O cameraman se espremia diante de todos os outros jornalistas. — Bom, sobre a sua composição solo que está presente no álbum, cantada por você e pelo — ela começou, se ajustando. Eu sabia o que viria a seguir. — Todos já sabemos que a música conta sobre o seu antigo relacionamento com a modelo , mas o que ninguém sabe foi o que resultou para que a música contivesse tanto ódio e tristeza por um relacionamento?
E lá vamos nós novamente.


01 — Negação


15 de março, Londres, UK


— Já faz dez dias, você não cansa? — abria a porta do quarto, fazendo a luz invadir o cômodo, me incomodando.
— Me deixa em paz! — Me virei para o outro lado.
estava chorando também, mas já está por aí, transando com qualquer um. — O garoto não havia saído do quarto e, agora, recolhia as embalagens de comida que se espalhavam pelo quarto. — Supera, vai a algumas festas, você tem status, idiota.
— Como sabe que ela esteve chorando? — Era tudo que minha mente conseguia raciocinar.
— Uma amiga dela me contou que ela ficou os três primeiros dias chorando sem parar, no mesmo estado que você ainda está. — Sua voz ainda se espalhava pelo quarto, junto ao barulho de seus passos. — Um dia ela veio aqui bêbada, querendo falar com você, mas a expulsou.
Me virei novamente, com um pouco de raiva dentro de mim, o que me fez sentar na cama. Talvez pela primeira vez em uns dois dias.
— Vocês a expulsaram? — A raiva faltava se materializar. — Mas que merda tinham na cabeça? E se fosse algo importante?
— Esquece, cara, ela não vai voltar. — parou em minha frente. — E, mesmo se quisesse, não vamos deixá-la nem pisar os pés próximo de onde você estiver. Esquece, !
— E se eu quiser ela próxima? — Me levantei em um sopro, ficando cara a cara com .
— Você pode querer, mas ela não! Ela não quer nem saber se está vivo ou não, seu idiota. Entenda, ela nunca gostou de você! — o garoto gritava, fazendo o meu sangue esquentar ainda mais.
— Como sabe que ela nunca gostou de mim? — Eu havia começado a gritar também. — Por acaso sabe o que é ser amado, ?
— Talvez eu não saiba como é ser amado por alguém, mas eu sei o que é amor e sei que isso está longe de ser um. — havia voltado a recolher as coisas espalhadas por ali. — Ela não quer saber de você, .
Saí do quarto ignorando as suas palavras. Eu sabia que ainda me amava, só teria que saber como expressar isso da forma correta, eu sabia disso.
Procurei um lugar mais fechado e reservado na casa para que eu pudesse ligar para ela sem ser interrompido. Acabei me trancando na despensa, já que era o último lugar onde procurariam por mim. Peguei o telefone e comecei a discar o número da garota, que me atendeu assim que a chamada tocou pela quarta vez.
O fundo estava meio barulhento onde ela estava, mas ainda dava para ouvir sua voz conversando com um outro alguém quando, finalmente, falou comigo.
? — Sua voz estava sonolenta, ou algo do tipo.
, que bom que atendeu, estive com saudade. — Um sorriso brotou em meu rosto.
— Ah, ... — Seu tom de voz fez o meu sorriso evaporar. — Olha, eu não queria te machucar, mas é que não vai rolar.
Fiquei em silêncio por um tempo, até ouvi-la novamente chamando o meu nome.
?
— Eu te fiz feliz? — Ouvi um "hã?" vindo dela. — Falaram que você chorou muito por um tempo, então, eu te fiz feliz?
— Olha, , pode me deixar em paz? — Sua voz carregava um tom furioso. — Pare de agir como um bebê sem mãe e cresça! Não quero que seja um pé no saco como era em nosso relacionamento. Apenas me deixe em paz, está bem, ? Não me procure!
O som da ligação sendo encerrada foi como uma flecha em meu coração. Então estava tudo realmente finalizado?
O fim de uma possível vida?
Este realmente é o fim?
Este é o tempo final.
Coloquei o celular em uma das banquinhas da despensa e despenquei no chão com o meu rosto já cheio de lágrimas. Estava tudo despedaçado dentro de mim.
Elas continuaram lá, descendo, até serem interrompidas por batidas na porta.
— Já faz quase duas horas que você está aí chorando, vem cá. — A voz de fez meu choro cessar por um tempo, mas ele voltou.
— Quando estiver pronto, vai ter um filme te esperando — disse, tranquilizador.
O som dos passos deles se misturaram com o som do meu choro, enquanto eu estava encolhido no chão, me perguntando o que faria a partir dali.


02 — Raiva


20 de março, Londres, UK


— Uma vadia interesseira! — eu gritava, com a voz alterada pela bebida. E a mente também.
A boate estava barulhenta, então tínhamos que gritar para que o outro ouvisse.
— Isso aí cara! — me dava tapinhas nas costas.
— Você deveria foder com a melhor amiga dela! — gritou, recebendo um tapa na cabeça de . — Aí! O que eu fiz de errado?
— Nasceu! — o garoto gritou, em seu ouvido. — Vai com calma, !
— Calma não existe. Eu amei a ideia de ! — defendi o garoto dolorido. — Eu quero que aquela desgraçada me olhe com nojo, como se eu estivesse fazendo a mesma coisa que ela fazia comigo!
— Hum, não pensei nisso. — aparentou concordar um pouco com a ideia estúpida de .
— Mas, olha, isso não importa agora, deveríamos aproveitar a noite! — colocava mais uma dose de tequila em nossos copos de shot.


[...]


Minha cabeça pesava e o cheiro do local estava totalmente diferente. Consegui perceber que estava sem uma parte de minhas roupas quando senti um frio prevalente em meu tronco.
Uau, tomar vários shots de tequila me fez parar na cama de alguma desconhecida e não lembrar de nada, que surpresa!
Olhei ao redor e fiquei com a certeza de que não conhecia nenhum centímetro daquele lugar, mas conhecia um rosto de uma foto que estava na cômoda ao lado da cama. Era uma foto com algumas garotas e . Merda, será que eu havia feito aquilo?

Me levantei e comecei a me vestir rapidamente, pensando na merda que eu fiz, logo quando comecei a aceitar um pouco da situação toda. Meu corpo relaxou um pouco quando uma garota de cabelos ruivos adentrou o quarto, com a camisa que eu tanto procurava e uma xícara na mão. Eu a reconhecia da foto na cômoda.
— Pensei que era de ficar. — A ruiva se aproximou de mim, me estendendo a xícara. — Café.
— Obrigado. — Peguei a xícara e tomei um gole da bebida. — Me desculpe, só me assustei.
— Tudo bem. — A garota beijou minha testa. — Não se importa com essas caixas, minha prima veio passar uns dias aqui enquanto não acha um novo apartamento, mas ela não está em casa agora. — Ela se aproximava de mim.
Então estava se mudando. Ela havia insistido tanto para ficar no nosso apartamento e, no final, saiu de lá. Que surpresa, insistindo pelas coisas e desistindo um tempo depois, típica .
— Eu até queria ficar aqui, mas preciso ir. Sabe como é, trabalho. — Revirei os olhos sarcasticamente, ouvindo a risada fraca da garota.
— Aqui a sua camisa.
A garota começou a desabotoar a minha camisa, revelando o seu tronco descoberto e, logo após, as suas pernas com apenas a sua roupa íntima. Acho que fiquei um tempo apenas olhando-a, já que a ruiva começou a cutucar meu ombro, com seu braço estendido com a minha camiseta.
— Obrigado. — Sorri fraco.
— Te ligo mais tarde? — Concordei com a cabeça e a garota depositou um selinho em mim. — Até mais.
Tomei o resto do café, entregando a xícara para ela e saindo logo após.
No corredor do que aparentava ser um grande prédio, eu esperava o elevador chegar ao andar em que eu estava. A parte ruim dos elevadores é que eles tendem a demorar. Após cantar quase uma música inteira do novo álbum, que havia escrito, na minha mente, as portas do elevador finalmente se abriram, me fazendo quase entrar em automático sem reparar em nada, até vê-la.
— É, eu posso pegar o próximo elevador — disse recuando, quase saindo da caixa de metal.
— Qual é, ! — exclamou. — Eu ouvi você e a minha prima a noite toda. Acha que não podemos enfrentar isso? — Ainda fiquei parado na porta do elevador, fazendo a porta se abrir toda vez que tentava se fechar. — Vamos lá, eu sei que você odeia esperar por elevadores.
Desisti de sair do elevador e voltei, ficando do lado oposto de , que aparentava estar irritada com aquilo. Ótimo.
— Como está? — Sua voz me fez ficar confuso.
— Como estou? — perguntei irônico. — É sério isso, ? Depois disso tudo você quer saber como estou? Vá a merda!
— Estou tentando ser gentil, apenas isso.
— Se quisesse mesmo ser gentil, teria sido quando eu te liguei! — Meu corpo já estava virado para ela. — Foram duas horas chorando. — A raiva já invadia os meus gestos. — Eu sei que não devia explicação para mim e que não importa se seu ex está chorando, mas era um momento sensível para mim, um pouco da gentileza que está tentando ter agora cairia bem naquele momento!
— Me desculpe…
tentou terminar, mas meio que impedi isso. Não me importava o quanto ela estava chorando ao meu lado, ou o quanto ela estivesse arrependida, não era mais minha preocupação.
— Te desculpar pelo que, exatamente, ? — Eu me aproximava um pouco do espaço que a garota estava, a fazendo se encolher e ainda não olhar para mim, mesmo eu ainda estando um pouco longe. — Por todas as vezes que me traiu? Ou todas as vezes que me fez me sentir culpado por algo que você havia feito de errado? Ou quando você me fez sentir um merda e eu jurei que faria o meu melhor para mudar, então você me falou que aquilo não importava? — Eu praticamente cuspia as palavras. — Ou te desculpar por você ser a idiota que é?
O choro de estava mais intenso enquanto ela tentava dizer algo como “Eu também estava em um momento ruim”, mas a sua expressão de raiva me deixava mais irritado ainda. Ela que deveria estar irritada?
— Eu não sei por que diabos me apaixonei por você. — As palavras raivosas escapavam da minha boca sem que eu percebesse. — Eu nunca desejaria que alguém se sentisse do jeito que me sinto. — havia finalmente olhado para mim. — Você não imagina como! — Ouvi o barulho do elevador e percebi que as portas já estavam abertas. — É o térreo, eu preciso ir.
— Tchau, .
— Eu espero te ver caindo em desgraça, !
Saí do elevador e percebi que a garota havia saído logo após de mim, mas seguindo uma direção diferente. Por um momento, eu pensei que havia sido muito grosso com ela, mas, sinceramente, aquilo não era nem um quarto do que ela merecia e ainda merece.
merece o inferno.


03 — Barganha


27 de março, Londres, UK


— Ele está ficando maluco. — Eu ouvia os sussurros de enquanto estava, supostamente, dormindo.
— Barganha. — Reconheço a voz de .
— Oi? — pergunta confuso.
— É uma fase, muito presente no luto ou na pós-perda — responde por . — Minha prima é psicóloga, ela falou que existem três tipos. Uma é quando a pessoa tenta negociar consigo mesma, ou com uma divindade, alguma forma de aliviar a dor ou recuperar o que causa a dor. A segunda é quando a pessoa se questiona muito sobre o e se. A terceira é quando a pessoa meio que para de viver por ter visto um outro lado, como seria se ela estivesse no lugar da outra pessoa ou como poderia ter evitado isso.
— Uau, barra pesada.

Flashback on:

— Será que isso foi um sinal do céu, ? — Minha voz embargada ecoava por toda a casa.
— Como assim? — A lentidão que a bebida dava para os quatro, era incrível.
— Será que algo divino quis nos separar por saber que ela me traria mais problemas?
— Ela obviamente traria. — se intromete na conversa. Ele sempre odiou .
— O céu me mostrando a luz…
— Está chapado? — diz, rindo.
— Chapado de amor ou ódio, talvez. — Sinto me socar na barriga quando termino de falar. — Idiota, por que fez isso?
— Esquece esse negócio de amar aquela garota!
— Mas, se isso aconteceu, teve motivo, não teve? — Tomo mais um gole da cerveja em minha mão. — Isso era para acontecer?
— Lá vem o pensador — brinca com a situação.
— Eu estou melhor sem ela, mas será que ela está melhor sem mim? — Bebo mais um pouco da bebida. — E se eu estivesse no lugar dela? Seria bem melhor…
— Você está brisando legal, cara — observa.
— Concordo com ele! — A voz de soa novamente.
— Eu não estou melhor sem ela, eu preciso ligar para !
Assim que me levanto, sinto os três me puxarem para o sofá novamente, enquanto falam “não” repetidas vezes, ainda me segurando quando eu tento levantar do sofá.
— Mas e se a minha vida estiver ruim do jeito que está por eu estar sem ela? — Eu ainda tento me soltar dos seis braços. — Tudo estaria melhor com ela aqui!
— Não estaria, ! — quase grita. — Cai na real, cara, ela não volta e ela é um lixo de pessoa!
Antes que eu perceba, meus músculos estão relaxados e meu rosto encharcado de lágrimas. Cair na real… Merda. Os garotos já haviam cedido nesse ponto, mas eu havia desistido de me mover. Era a bebida fazendo efeito no meu emocional.

Flashback off:

— Calem a boca, seus idiotas! — Desisto de fingir que estou dormindo, ouvindo as risadinhas de todos infectando o ambiente.
— Olha quem voltou dos mortos! — brinca com a situação, como quase sempre.


04 — Depressão


31 de março, Londres, UK


Era como se um buraco puxasse o meu coração para o fundo. No momento em que eu abria os meus olhos, eu só sentia dor, até fechá-los novamente, quando eu esquecia tudo aquilo. Eu sentia como se estivesse voltando para o início do relacionamento, onde nada fazia sentido sem , e nada realmente fazia.

As exposições de revistas na rua com fotos de tiradas por paparazzis na capa me chamavam a atenção. Os vários tweets sobre as festas que ela ia, todas as pessoas com quem se relacionava e como estava sua carreira me chamavam a atenção. O modo como ela estava feliz me chamava a atenção.
Será que eu era o problema de tudo o que acontecia? Será que só era como era para conseguir se livrar de mim?
Será que seria feliz assim se ela continuasse o relacionamento comigo? Será que eu seria mais feliz com ela ou serei mais feliz sem ela? Mas quando?

A fome havia escapado do meu corpo, assim como a vontade de viver e não ficar apenas vegetando no escuro do meu quarto, deitado o dia todo enquanto ouvia as vozes dos meus amigos implorando para que eu, ao menos, tentasse sobreviver.
Meu corpo estava mais magro, eu conseguia reparar nisso apenas me olhando no espelho de corpo inteiro no quarto. Minha pele estava mais pálida que nunca. As bolsas pretas marcaram profundamente o meu corpo, entregando a regularidade do meu sono e do meu choro, assim como o meu corpo entregava o quanto eu comia. Ambos com nada ou quase nada, tirando o choro, que estava sendo a minha grande companhia nos últimos dias.

— Cara, fazem quase quatro dias que você não sai daí. — Ouço a voz de do outro lado da porta. Apenas viro a minha cabeça em direção à entrada do quarto. — Por favor, pelo menos venha comer.
Fico um tempo pensando no que dizer.
— Eu estou bem, . — Minha voz soa fraca, ao menos posso saber se escuta. — Quando eu sentir necessidade, eu vou.
, não tem como alguém ficar nesse estado e ao menos sentir fome. — agora troca o tom de preocupação pelo de bronca. — Vem, a gente pediu pizza, come um pouco, só isso.
Pego o meu celular e me dou conta de que já são dez e quarenta da noite. Me convenço a sair do quarto apenas para fazer a vontade dos três. Levanto rápido demais, ao ponto de ter que me apoiar na cama, por conta da pressão. Assim que me recupero um pouco, cambaleio até a porta, destrancando-a e a abrindo para sair.
— Você está mal — diz, assim que me apoio na porta após abri-la.
— Eu sei.
— Vem, eu te ajudo!
O garoto passa o meu braço por seu pescoço, levando uma parte do meu peso até a cozinha, onde os outros dois garotos, e , estão me esperando, com a caixa de pizza, ainda fechada, no meio da mesa onde estavam.
— Vai, senta aí. — me guia até a cadeira ao lado de , que também me ajuda a sentar.
— Consegue pegar a pizza? — pergunta, enquanto abre a caixa.
— Estou só um pouco fraco, não paralisado. — Mesmo estando agradecido pelos cuidados, acho que um pouco de raiva ainda resta em mim. Eu conseguiria ficar lá.
— Isso é falta de comida e sol — me repreende.
— Isso é falta da — respondo, colocando um pedaço de pizza margherita no prato em minha frente.
— Não, não é — diz, um pouco irritado, mas tentando não demonstrar. — Isso é falta de autocuidado, algo que você deixou de lado quando terminou com ela. — Mordo um pedaço da fatia de pizza, pensando em como sair daquele assunto. — Cara, você mudou completamente em menos de um mês, nem parece ser o mesmo de um mês atrás.
Algumas lágrimas tentam escapar, mas eu as seguro. Agora não é o momento.
— Você tem que perceber que saiu do inferno, não do paraíso — continua por , que está comendo também. Algumas lágrimas já escapam de mim ao lembrar de tudo que vivi com . — Esse é o momento em que você tem que usar aquela felicidade que você tinha. tirou sua paz por um momento, mas não pode tirar tudo de você, principalmente a sua felicidade.
Nesse momento, eu não controlo mais as minhas lágrimas, é como se eu estivesse novamente em meu quarto, em posição fetal após dizer que estava tudo acabado. A pizza já está do outro lado da mesa, meu corpo arqueado em direção à mesa e meu rosto escondido entre os meus braços cruzados, que se encontram apoiados na superfície de madeira clara.
Eu ouço os breves consolos dos meninos, daqueles bem clichês como: “Vai ficar tudo bem, cara” ou “Ela não te merece”. Coisas assim, sabe? Todos os três me consolam com algumas curtas frases e mão apoiadas no ombro. Talvez acabamos brincando com tudo ou não sendo muito bom em lidar com situações emocionais entre nós, mas sempre, sempre tentamos fazer o possível para ajudarmos uns aos outros, principalmente com os casos mais emocionais.
É isso que amigos sempre farão um pelo outro. É isso que sempre faremos um pelo outro.


05 — Aceitação


18 de abril, Londres, UK


Nosso álbum estava quase finalizado, algumas músicas já estavam com clipes gravados ou marcados e as previews que havíamos feito haviam sido recebidas com enormes sorrisos e grandes elogios. O álbum tinha tudo para dar certo.
Nos últimos minutos, eu convenci a todos a colocarem uma nova música que eu havia escrito, POV.


(...)


— Ele não vai aceitar, eu já avisei! — estava pessimista quanto à música, mesmo tendo sido o mais animado enquanto criávamos o instrumental para apresentar a demo ao produtor.
— Se eu consegui convencer vocês, posso convencê-lo. — A esperança não deixava o meu corpo. Entramos na sala e o produtor rapidamente nos olhou, sorridente. — Tenho algo que você vai gostar! — Ergui o papel dobrado para ele.
— Se for uma música nova, não vai dar, . — Seu sorriso ficou mais fraco.
— Por favor, ela é boa, te prometo! — implorei, vendo uma sobrancelha do homem se erguer. — Veja ao menos a letra. Se achar ela promissora, te mostramos a demo. Se gostar, gravamos tudo em uma noite. Ainda falta tempo para o lançamento do álbum.
— Sim, , mas já vamos enviar para os críticos em breve. Não podemos entregar fora do prazo.
— Eu sei, eu sei, mas, por favor, dê uma chance. — Me aproximei mais um pouco. — Coloquei minha alma nisso e os meninos gastaram a noite me ajudando a fazer a demo ontem, por favor.
— Tá, mas só por conta da sua insistência. — Ele pegou o papel dobrado e o desdobrou, começando a ler a letra da música.
— Ela… Ela já está revisada — disse coçando meu nariz, por conta do nervosismo.

(Colocar letra de POV)

— Uau, está boa. Corações partidos realmente ajudam em algo — o produtor dizia, com um tom engraçado.
— E então? — perguntou, ansioso, antes que eu perguntasse.
— Me mostrem a demo, garotos. — O produtor me entregou o papel novamente.
Todos nós comemoramos, enquanto entregava o pen drive com a demo para o produtor.


[...]


Tudo estava indo bem. Eu não chorava mais ao lembrar de ou sentia vontade de tê-la novamente próxima a mim. Acho que isso é o que chamam de aceitação. Para comemorar a aprovação do crítico quanto ao nosso álbum, eu e o garotos havíamos decidido ir a um pub, como quase sempre fazemos para comemorar algo, mesmo que seja algo idiota.
Tudo estava indo bem, até eu ouvir a sua voz tão próxima a mim que senti medo de ser realidade, mas ela era.
, que bom que ainda está aqui! — Vi a loira sorrir para mim, como se nada houvesse acontecido.
— Oi, .
— Me desculpe te incomodar, eu… — A garota hesitou um pouco ao ver todos virados para ela. — Oi, meninos — disse, incomodada. — Eu só vim devolver essa camisa que estava lá em casa.
segurava uma camisa preta com um esqueleto verde nas costas. Essa era a minha camisa que ela, quase sempre, usava para dormir. Por um tempo, pensei em pegá-la, mas pensei em tudo que aquilo me lembraria e o estrago que faria em mim novamente.
— Pode fazer o que quiser com ela, não preciso mais — disse, recusando a roupa. — Queime-a, jogue fora, use, doe, não sei, mas eu não vou querer, então é sua.
— Ah. — Percebi o tom e a expressão de , ambos decepcionados. — Talvez eu a doe, mesmo. — Ela guardou a camisa em sua bolsa. — Foi bom te ver novamente, .
Apenas sorri em resposta, nunca poderei dizer o mesmo. Vi se distanciar e me virei novamente em direção ao bar do espaço.
— Já sei a cor do álbum, verde.
— Verde? — os três perguntaram confusos, até rindo um pouco.
— Isso, verde.


[...]


? — a repórter chamou o meu nome, talvez não pela primeira vez.
— Sabe, são assuntos pessoais, mas acho que as cinco fases do luto podem resumir isso, pelo menos o fim da relação — respondi, saindo dos meus pensamentos.
— E o que podemos esperar do curta-metragem que vocês prometeram?
— Está ficando muito bom, então acho que vocês podem esperar muita coisa dele. — respondi novamente a sua outra pergunta. — Espero que estejam prontos para verem o meu ponto de vista.


FIM



Nota da autora: POV chegou ao fim!
Acho que POV foi a primeira ShortFic que eu escrevi com o intuito de ser uma ShortFic, então foi um desafio para mim.
A história de POV foi inspirada em uma música que gosto muito, que é a música POV, do McFly. Eu tentei colocar toda a minha interpretação da essência da música nessa história, então espero que eu tenha conseguido isso.
Agradeço a todos que a leram até aqui e que a apoiaram. Sou grata a todos e até a próxima!

Essa história foi iniciada no dia 18/04/2023 exatamente às 19:11 da noite e foi finalizada no dia 24/04/2023 exatamente às 18:17 da noite.





Outras Fanfics:
Run Girl Run [Originais — Finalizada];
03. Love Story [Ficstape — Finalizada].


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