Finalizada em: 10/01/2021

Prólogo

Seul, 17/04/2017

? ?? — ouvia alguém me chamando, mas não pude identificar a voz. Eu sentia falta de ar e minhas pálpebras pareciam pesadas demais. — Socorro! Alguém me ajude!
A pessoa, seja quem fosse, entrelaçou os seus dedos aos meus.
— Você não vai morrer, ok? Eu não vou deixar isso acontecer! — a voz se aproximou do meu ouvido. Era uma garota.
Tentei abrir os olhos, mas algo tampava a minha visão.
— Não se esforce muito, hum? Tente ficar acordado, por favor... — ela parecia chorar, desesperadamente.
Percebi que algo quente escorria em meu rosto, provavelmente sangue, e tampava minha visão. Senti minha cabeça dar alguns rodopios e o som de uma sirene começou a soar longínquo. Eu queria dormir.
, aguenta mais um pouco... — a voz desconhecida se tornava cada vez mais baixa.
Forcei meus olhos se abrirem mais uma vez e, felizmente, obtive êxito. Durante meus últimos dez segundos lúcido, minha visão se focou em nossas mãos entrelaçadas. Apesar do sangue espalhado pelo chão, enxerguei um cordão fino preso em seu pulso. Uma pulseira simples, com um pingente em formato de quebra cabeça, marcado pelas iniciais .
Depois de gravar essa imagem em minha mente, tudo ficou escuro.
°°°

Seul, 29/05/2017

Um barulho irritante me acordou e uma dor de cabeça insuportável me atingiu. Meus olhos se abriram e tentei me localizar. Paredes brancas, uma poltrona azul no canto, uma planta que parecia artificial e... Máquinas.
? Você acordou? — alguém abriu a porta, chamando minha atenção.
— Ah... Oi, mãe. — respondi baixo, tentando não forçar nenhuma parte do meu corpo. Certo, eu estava em um hospital. Mas, por quê?
— Ai meu Deus! Enfermeira, venha cá! O meu filho acordou, ai minha nossa, graças a Deus! Graças a Deus! — minha mãe se virou com a voz chorosa. Eu fiquei internado por tanto tempo assim?
Rapidamente, duas pessoas entraram na sala. Eles se apresentaram com doutor Han e enfermeira Shin.
— Bom, , como está se sentindo? Consegue falar tranquilamente? — o médico me perguntou depois de avaliar-me superficialmente e observar meu eletrocardiograma.
— Só estou com dor de cabeça.
— Compreendo... — ele anotou na própria prancheta, concentrado. — Certo, você sabe por que está aqui?
Tentei lembrar-me de como fui parar no hospital, mas minha mente parecia vazia. Senti como se algo estivesse faltando, algo muito importante.
— Não me lembro de nada... — respondi cabisbaixo. Eu tinha me esquecido de tudo? — Doutor, que dia é hoje?
— Hoje é dia 29 de maio, . Você passou mais de um mês em coma depois de um acidente. A perda de memória é normal, você pode recuperá-la com o tempo.
Meus olhos arderam, mas não permiti que nenhuma lágrima escorresse. O que tinha acontecido? E o pior, por que eu me sentia tão vazio?
— E eu posso saber o que aconteceu?
— Filho, eu acho melhor... — minha mãe se pronunciou pela primeira vez desde que os médicos chegaram.
— Não, mãe. Eu quero saber. — a enfermeira me ofereceu um copo de água e um comprimido. Minha mãe e o doutor se entreolharam. Uma lâmpada se acendeu em minha mente e minha espinha estremeceu. — Alguém morreu?
— Não! Filho, não fala uma coisa dessas...
, você sofreu um acidente. — o doutor começou, depois de soltar um suspiro e olhar para a prancheta algumas vezes, como se avaliasse se era melhor me contar, ou não. — Mais especificamente, te atropelaram. O motorista fugiu, mas te socorreram a tempo. Você bateu a cabeça e desmaiou. Sua vida estava por um fio.
Soltei a respiração que nem mesmo sabia que prendia.
— Como isso aconteceu? — voltei a questionar depois de um tempo em silêncio. Ninguém respondeu. — Eu estava voltando de algum lugar? Indo para casa ou, não sei, para a escola?
Hum... Bem, você tinha saído e estava voltando para casa. — minha mãe respondeu com a voz trêmula. Uma luzinha de desconfiança surgiu na minha consciência, mas tentei ignorar.
— Para onde eu tinha ido?
— Não sei. Você não me disse.
— Certo... — falei com os olhos cerrados, ainda desconfiado. Me virei para o médico, que permanecia calado. — Como faço para me lembrar das coisas?
— As memórias voltam naturalmente. Não é bom forçar-se a lembrar, pois elas podem vir em enxurrada e sua mente acaba não aguentando. Se isso acontecer, você pode se lembrar de tudo, mas vai esquecer novamente e voltar à estaca zero.
Mordi o lábio, sentindo minha esperança se esvair. Eu queria me lembrar, seja lá o que eu tivesse esquecido. Algo em meu coração me dizia que eu precisava me lembrar.
— Tem uma forma de fazê-las voltar mais rapidamente?
— Já disse: elas voltam de forma natural, com o tempo. Enquanto você estiver na escola, com seus amigos, por exemplo, pode ter um flashback de algo que você passou com eles no colégio. Mas, lembrando, não é bom forçar.
Um fogo se acendeu em meu peito, como se a esperança estivesse voltando. Eu poderia me lembrar no futuro, independentemente do que fosse que meu coração sentia tanta falta.
— Mais alguma pergunta? — minha mãe questionou, parecendo levemente nervosa. Neguei com a cabeça e a mulher soltou um suspiro aliviado.
Ela estava me escondendo alguma coisa.
— Certo, vamos fazer alguns exames e, se estiver tudo bem mesmo, te dou alta em três dias.

Esse grande mundo que me partiu em pedaços
Cada vez mais sinto a solidão em mim
E eu nem sei qual parte está faltando


Capítulo 1

Seul, 26/08/2019

O segundo semestre do terceiro ano. Os últimos seis meses no colégio. As aulas voltaram depois das minhas últimas férias de verão.
Minhas memórias também tinham voltado, inclusive. Bem, uma boa parte, pelo menos.
— Boa aula, filho. — minha mãe desejou enquanto eu saía de casa.
— Obrigado!
Enquanto caminhava até o ponto de ônibus da esquina, fui refletindo sobre como a minha vida andava. Tranquila, sem imprevistos, nem acidentes. Apesar de diversas lembranças terem sido totalmente esquecidas nesse último ano, eu estava, teoricamente, bem.
Tinha os mesmos amigos, até onde minhas memórias me permitiam lembrar-me. Estudava na mesma escola, o que me ajudou muito a recuperar algumas recordações, e fazia as mesmas coisas. Eu deveria me sentir completo novamente, mas não.
O vazio permanecia.
— Ai! — voltei à realidade assim que trombei em uma garota. Ela tinha cabelos longos e vermelhos, provavelmente tingidos, que tampavam seu rosto.
— Só olhar por onde anda na próxima vez. — dei de ombros ao perceber que o ônibus se aproximava. Assim que ele encostou, subi no mesmo e notei que a desconhecida me acompanhava. — Vai me seguir agora?
— Não sei se você percebeu, mas eu também vou ‘pra escola. — ela reclamou, finalmente tirando o cabelo do rosto e me olhando. Enquanto seus olhos se arregalavam gradativamente, os meus rolaram com tédio.
Segui até um assento vago, relaxando meu corpo assim que me sentei. Apesar de ainda ser o primeiro dia de aula, eu já podia sentir o cansaço tomando conta de todo o meu corpo.
A menina caminhou, a passos lentos, até o banco ao meu lado. Busquei meus fones dentro da mochila, prevendo, pela sua expressão, que a garota puxaria algum assunto.
? — levantei meu rosto assim que ouvi alguém me chamando.
— Sim, esse é o meu nome, por quê?
— Vo-você não se lembra de mim? — ela perguntou num sussurro, fazendo com que meu rosto formasse uma careta.
— Eu nem te conheço. — voltei a procurar os fones.
— Você realmente não se lembra... — foi o último murmúrio que escutei antes de apertar o play em meu celular. Eu nunca tinha visto aquela garota, o que ela queria comigo?
Segui o resto do caminho, observando a passagem correndo e, rapidamente, chegamos na escola. Desci apressado, com medo da desconhecida vir atrás de mim, mas felizmente ela não o fez.
— Chegou cedo. — se aproximou, pondo o braço sobre meus ombros.
— Só não cheguei atrasado como sempre. É o último semestre, preciso dar um jeito, né?
— Você ‘tá certo, sim. — ele riu e eu o acompanhei. — Como foi lá em Jeju?
— Incrível! — comecei a contar, animado. — As praias, uau. Precisamos viajar para lá juntos, .
— Nós já fizemos isso. — ele respondeu rindo, mas não consegui acompanhá-lo daquela vez. — Desculpa, bro. Se serve de consolo, nem foi tão legal assim. Algumas coisas aconteceram e nós quatro tivemos que antecipar a viagem.
Nós quatro? Quem foi com a gente?
empalideceu. Juntei as sobrancelhas, estranhando aquele ato repentino dele.
— Você está bem, cara? — perguntei, começando a me preocupar. Parecia que meu amigo desmaiaria a qualquer momento. Seus olhos estavam cravados em algo, mas não consegui identificar o que era.
— Estou bem... Hum, cara, eu preciso fazer uma coisa. Vai indo para a sala, já deixei minha mochila lá. Te vejo depois! — ele disse, apressado, dando alguns tapinhas no meu ombro e se afastando.
Acompanhei-o com o olhar e percebi que ele se aproximou da garota que trombou comigo mais cedo. Eles se conheciam? Ou melhor, eu a conhecia e por isso ela sabia meu nome?
Balancei a cabeça, abafando meus pensamentos. Meu coração parecia se aquecer com aquela cena e acreditei que algum flashback viria, mas não foi o caso.
O vazio que eu sentia mostrava-se ainda maior naquele momento, então preferi seguir até a sala e esperar por . Algo no meu interior dizia que esse semestre seria diferente, e eu não sabia dizer se estava ansioso por aquilo, ou com medo.

Se juntarmos essas peças espalhadas,
Estaremos juntando nossas histórias
E meu coração vazio encontrará a sua peça

Seul, 20/12/2019

A aluna nova estava na minha sala e, por incrível que pareça, ela e eram bem próximos. Descobri que seu nome era e, aparentemente, estudamos juntos no passado.
Apesar de estranhar esse fato, já que nem , nem minha mãe, nem nenhum dos meus outros colegas me contaram sobre a existência de , preferi restringir nosso relacionamento como simples companheiros de sala, nada mais.
Sua presença me incomodava e eu não sabia dizer se era de uma forma boa ou ruim. Vez ou outra, ela ficava me encarando por um bom tempo, como se quisesse falar algo para mim. Era estranho.
As poucas vezes em que conversávamos era no ponto. Ela geralmente me caçoava quando eu me atrasava e quase perdia o ônibus, ou eu ficava dando-lhe respostas atravessadas e ranzinzas, apenas para irritá-la, mas nenhum de nós se esforçava para realmente criar um laço de amizade.
até tentava fazer com que interagíssemos na escola, já que passava a maioria dos intervalos conosco. Porém, ela dificilmente falava. Só ficava em silêncio, sorrindo para algumas piadinhas que meu amigo contava, respondendo algumas perguntas que fazíamos sobre a aula, ou comentando brevemente sobre algum assunto. Nunca se prolongava em nenhuma fala, nem mesmo soltava uma risada.
Era como se ela quisesse apenas estar ali, por algum motivo. E aquilo era o suficiente.
O sinal que findava a aula tinha acabado de tocar, então arrumei minhas coisas e saí da escola. Eu e não éramos próximos, por isso nunca esperávamos um pelo outro para irmos até o ônibus juntos.
— Sabe, acho que podíamos ser amigos. — ela se aproximou do ponto, batendo o ombro no meu e chamando minha atenção.
— Eu já acho que nossa relação está ótima do jeito que está. — respondi secamente.
revirou os olhos, virando-se em minha direção. Permaneci olhando para a rua.
— Você parece uma criança com essa atitude.
— Que madura você me chamando de infantil, senhora. — ironizei, mandando-lhe um sorriso cínico.
Touché! — ela sorriu, ignorando minha ironia. — Hoje estou de bom humor. Suas respostas rabugentas não irão me irritar.
— Que bom para você. Eu estou com um humor péssimo. Será que a senhorita poderia, por obséquio, calar a boca e fingir que eu não existo? — falei formalmente, provocando uma risada em . Um apito pareceu soar em minha mente, como se eu pudesse me lembrar vagamente de sua risada.
— Hoje foi o último dia de aula antes das férias de inverno, como você pode estar tão ranzinza assim? É a crise da meia idade?
— Que? Somos do mesmo ano, pare de me chamar de velho.
— Como sabe que somos do mesmo ano? — ela arregalou os olhos, surpresa.
— Você acha que eu sou burro ou o quê? Se vamos nos formar juntos ano que vem, é óbvio que nascemos no mesmo ano.
A feição animada e chocada de se desfez, mostrando que ela tinha se desanimado, de alguma forma, com minha resposta.
— É... Você tem razão. — sua voz soou cabisbaixa.
— Claro que tenho. Eu sempre tenho razão. — respondi, convencido. Apesar de não ser o maior fã de sua companhia, eu odiava ver pessoas tristes, então precisava animá-la de algum jeito.
acabou soltando uma risadinha, me deixando levemente orgulhoso por ter provocado alguma reação positiva nela:
— O que foi?
— Nada. — ela levantou o rosto, com um sorriso. — É que, quando éramos próximos, você vivia dizendo isso para mim.
Mordi o lábio, pensativo. Comentar sobre como eu era antes de perder a memória me deixava chateado, mas sabia que ninguém fazia aquilo por mal. Pelo menos, era nisso que eu gostava de acreditar.
— Como a gente era? — perguntei, de repente me sentindo curioso.
— A gente, desculpa, o quê? — se afastou com uma expressão de pânico.
— Como era nosso relacionamento? Tipo, éramos amigos?
piscou algumas vezes, como se sua alma estivesse voltando para o corpo.
— Ah... Éramos mais próximos do que você imagina. — ela sorriu levemente. — Éramos praticamente melhores amigos.
— É o quê? — ri, não acreditando.
— Estou falando sério, . Você pode não acreditar, mas sempre fomos eu, você, e a Minnie.
— Quem é Minnie?
— Minha prima. Ela se mudou para o Japão alguns meses antes de... Você sabe. Minnie não voltou mais desde então, mas vive perguntando de ti. — contava animada, como se estivesse viajando entre lembranças.
Sorri com todo seu entusiasmo. não era uma má pessoa, apenas me incomodava muito. Talvez por sorrir toda hora, mesmo quando eu a caçoava no ônibus ou fingia que ela não existia na escola.
— Enfim, viu? Você está sorrindo! Nem parece o mesmo garoto rabugento que sempre pega ônibus comigo. — começou a rir e fechei minha expressão.
— Agora que já conversamos um pouco, pode me deixar em paz?
Hum... Não. — ela sorriu travessa, me fazendo revirar os olhos. — Já disse, quero ser sua amiga. Podemos começar do zero, vai.
Hum... Não. — a imitei e fez uma careta. — Já disse que não quero ser seu amigo.
— Você não disse exatamente isso com essas exatas palavras, então eu ainda tenho esperanças.
Apenas neguei com a cabeça, achando engraçado seu excesso de fé.
— Sabe, , acho que podemos ser amigos confidentes. Você pode desabafar comigo quando precisar.
— E por que eu desabafaria com você? — questionei, olhando para o ônibus que se aproximava. — Nem mesmo somos próximos.
— Exatamente por isso! — parou de falar enquanto subíamos no ônibus, mas voltou a tagarelar assim que nos sentamos em assentos vizinhos. — Eu não vou te julgar por nada, e prometo não contar para ninguém, nem mesmo !
Era uma proposta tentadora de certa forma. Eu gostaria de ter alguém para desabafar, mas estava sempre me pressionando para contar-lhe o que se passava na minha cabeça, e compartilhar meus pensamentos com minha mãe estava fora de cogitação.
Eu definitivamente precisava de novos amigos.
— Você conhece o meu passado, não sei se é uma boa ideia.
— Justamente por eu saber sobre você e, ainda assim, não sermos próximos, é que é uma boa ideia.
— Você soa como uma louca.
— Qual é, ! Todos têm problemas, e ter alguém para com quem desabafar faz bem. Eu posso te ajudar, tanto como sua melhor amiga de alguns anos atrás, quanto a estranha que você não suporta. E, modéstia parte, eu sou uma ótima ouvinte.
— Não sei se eu me sentiria confortável desabafando contigo.
— Você não precisa começar com nada grandioso. — ela revirou os olhos, expressando seu raciocínio com seus movimentos exagerados com as mãos. — Pode começar me contando como foi o seu dia, ou como dormiu durante a noite. Quem sabe você já se sinta confortável em compartilhar suas angústias comigo até a formatura ano que vem.
Respirei profundamente, avaliando minha situação. Embora a ideia soasse meio insana, já que eu realmente achava que não batia muito bem da cabeça, eu precisava de mais amigos.
era um ótimo melhor amigo, e eu não podia reclamar de seu cuidado e paciência comigo. Quando perdi a memória, ele se mostrou ser a única pessoa, além da minha mãe, disposta a me ajudar a recuperar o máximo de lembranças possíveis.
Mas, ao mesmo tempo que sua preocupação me confortava, acabava me pressionando de certa forma. Depois que apareceu na escola principalmente. vivia me perguntando se eu tive mais algum flashback ou se me senti mal em algum momento. Eu sempre negava, mas confesso que o vazio parecia aumentar as vezes.
?
Hum? Oi? — acordei de meus devaneios com o chamado de , que sorriu doce.
— A gente tem que descer.
Olhei para a janela e percebi que o ônibus já desacelerava ao se aproximar da nossa parada. Peguei minha mochila, colocando-a em minhas costas, e fiquei em pé ao lado da garota.
Descemos juntos, mas parecia inquieta:
— Enfim, me manda mensagem se aceitar a proposta, ‘tá? Tchau. — acenou, já se virando de costas e descendo a rua até sua casa.
Fiquei parado no ponto por um tempo, raciocinando. Eu dormi durante o caminho de casa e não percebi? Por que eu estava tão avoado por ter apenas refletido um pouco sobre a minha vida? Por que estava considerando a proposta estranha, e levemente invasiva, de ? Por que eu estava pensando nela? E por que sua risada permanecia soando em minha mente?
— Argh! Eu devo estar muito cansado mesmo. — resmunguei, batendo três vezes na minha cabeça, como se aquilo fosse me acordar para a realidade.

A realidade de que tenho falhas,
de que não sou perfeito
Fez me sentir pequenino


Capítulo 2

Seul, 13/02/2020

— Não! — gritei assustado para as paredes do meu quarto, notando minha mão esticada para a frente.
Recolhi meu braço estendido, passando meus dedos sobre minha testa e constatando o óbvio: estava suando. Havia sonhado mais uma vez com o maldito acidente.
Ainda sentado sobre a cama, relaxei minha postura, deixando meu pescoço pender com o cansaço. Por quanto tempo eu havia dormido?
Virei meu corpo para a escrivaninha preguiçosamente, me certificando de que ainda eram cinco da manhã. Eu só precisava sair de casa para ir à escola às oito, então poderia voltar a dormir por mais uma hora pelo menos.
— Me deixe descansar, por favor... — resmunguei ao notar que meu cérebro trabalhava arduamente para me manter acordado. Era sempre assim: eu sonhava com o acidente e não conseguia mais dormir. — Merda.
Decidido a caminhar, já que não conseguiria mais pregar os olhos naquela noite, levantei-me da cama e vesti a camiseta que estava largada sobre a cadeira. Caminhei até o banheiro para escovar os dentes e lavar o rosto, seguindo para o andar inferior logo em seguida.
Silenciosamente, peguei as chaves sobre o rack e coloquei o boné que usara na noite anterior, quando fui jantar com minha mãe. Vesti meu casaco grosso que estava estendido no cabideiro e saí de casa.
A madrugada era fria e o céu ainda estava escuro. As ruas desertas me permitiram refletir durante a caminhada sob a luz da Lua, das estrelas e postes.
As aulas haviam voltado há pouco mais de uma semana e eu não via desde o último dia de aula antes das férias de inverno. De acordo , ela havia viajado para o Japão para ver Minnie e perderia os primeiros dias.
— Idiota... Semana que vem já tem os simulados e ela nem mesmo vai saber o conteúdo. — murmurei enquanto chutava uma pedrinha da calçada.
Eu não a havia dado uma resposta ainda e ela não me mandou mensagens perguntando sobre a proposta. Passara boa parte das minhas férias pesando os pontos positivos e negativos de desabafar com e, por mais louco que soasse, eu achava que poderia me ajudar.
Bem, disse que éramos muito próximos, até mesmo mais do que eu sou de . Se alguém pode me ajudar com vazio que eu sinto, era . Tinha que ser.
Acabei perguntando a sobre o acidente durante as férias, mas ele não conseguiu me ajudar em muita coisa. Suas informações foram bem superficiais:
— Eu não estava contigo, só recebi uma ligação da sua mãe quando você foi internado. Lembro que foi uma das únicas noites que não choveu aqui em Seul e alguém te achou na estrada. Não conseguirei te ajudar nessa, bro. Desculpa, mas às vezes você apenas não deva se lembrar o que realmente aconteceu.
Chutei outra pedrinha, mas acabei desequilibrando e dei uma tropeçada para o lado.
— Achei que você tivesse coordenação motora para andar sozinho pela rua. — alguém se aproximou e levantei meu olhar.
?
— Em carne e osso. — ela sorriu com os olhos, já que uma máscara preta cobria metade de seu rosto. usava um casaco moletom azul e o capuz estava levantado.
— Achei que estivesse no Japão.
— Voltei ontem. — fez uma careta, como se estivesse descontente. — Infelizmente, eu ainda preciso me formar.
— Entendi... — murmurei, olhando para o chão. Eu queria falar sobre o lance de nos tornarmos amigos, mas não sabia como começar.
— Por que está acordado?
— Pesadelo. — respondi sem pensar. Arregalei os olhos ao perceber que soltei informação demais, levantando meu rosto em sua direção.
Achei que fosse demonstrar alguma empatia, por meio de uma expressão de pena ou algo do tipo, mas ela permaneceu com a mesma feição cansada.
— Digo, não tive um sonho bom.
— Ai, , todos temos pesadelos. — disse por fim, pondo as mãos nos bolsos do casaco. — Mas, independentemente do que aconteceu, você sabe que pode me chamar quando precisar desabafar, né? — acenei com a cabeça, concordando levemente.
Hey, posso te perguntar uma coisa? — ela assentiu. — Você fica corada com facilidade?
— De onde você tirou isso? — ela soltou uma risada, junto de uma careta.
— Você quase sempre está com essa região vermelha. — apontei para as maçãs do rosto e nariz. arregalou os olhos levemente, passando a mão sobre seu rosto.
— Não... Deve ser o frio mesmo. — sua voz parecia desconcertada.
— É, pode ser.
Ficamos em silêncio por poucos segundos, sem sustentar nenhuma troca de olhadas.
— Certo... — pigarreou antes de continuar. — Está frio e temos aula daqui a pouco. Eu vou voltar para casa, você deveria fazer o mesmo.
Ela virou-se para trás e, num ato de desespero, puxei o seu braço, fazendo com que ela parasse.
— Espera!
Ela permaneceu parada, esperando pela minha próxima ação. Na verdade, eu não sabia bem o porquê havia a puxado daquela forma. Minhas bochechas esquentaram com a vergonha de ter permitido meus instintos malucos agirem sem nenhum filtro.
— O que foi? Aconteceu algo? — perguntou preocupada, virando-se e se aproximando novamente.
— Eu... — certo, eram apenas quatro palavras. Era apenas dizer que eu queria ser amigo dela, não seria difícil.
Percebi que minha mão continuava circundando seu pulso e puxei-a rapidamente para dentro do bolso, fazendo com que se assustasse.
, você está bem?
— Sim! — respondi automaticamente. — Eu só...
Onde estaria aquele um segundo de coragem?
— Você... — ela continuou, olhando-me com as sobrancelhas arqueadas, como se quisesse me fazer falar logo.
— Quero ser seu amigo.
Os olhos de se arregalaram e seus lábios tremeram, como se não acreditasse em meu pedido.
— Digo, você se ofereceu para escutar minhas lástimas, e eu não tenho por que não aceitar. — voltei meu tom mais grave, tentando convencê-la de que eu não estava desesperado por ajuda.
Ela permaneceu em estátua, processando:
— Você aceita ser meu amigo?! — perguntou num fio de voz, com a expressão ainda surpresa. Arqueei uma das sobrancelhas, estranhando aquele tipo de constatação.
— Por que não, né? Vai que eu preciso de ajuda alguma hora... Você mora a duas quadras de distância, é mais fácil te alcançar do que tentar ir até .
A luz do poste sobre nós me fez perceber que seus olhos lacrimejavam, e comecei a me perguntar o motivo.
— Claro, claro... — respondeu um tempo depois, cortando nosso contato visual ao abaixar a cabeça. — Pode me chamar quando precisar, mas agora eu preciso ir.
Sem me deixar falar mais nada, ela andou rapidamente pela calçada, afastando-se.
A sensação de vazio se fez presente, junto de uma dor de cabeça maldita.

De alguma forma entre as fendas,
podemos preencher um ao outro
Mesmo que possa estar vazio


Flashback

Berry? ‘Tá aí? — perguntei ao bater na porta fechada. Eu não tinha conseguido reconhecê-la, na verdade.
, vai embora. — sua voz abafada se fez presente.
— Você está chorando?
— Não. — ela fungou. — Meu nariz que está entupido.
Sorri abobado automaticamente. Ela não sabia mentir.
— Qual é, berry, me deixa te ver...
— Eu estou doente, sai daqui.
— Já peguei catapora uma vez, posso te ver. Abre a porta logo, berry.
— Dá ‘pra parar de me chamar de “berry”? — escutei sua voz brava, provocando-me uma risada.
— Só se você abrir a porta.
Um silêncio prevaleceu. Apoiei um dos ombros na porta, batendo meu indicador na madeira de forma ritmada.
— Hey, eu ‘tô com saudades de você... Por favor. — as palavras saíam automaticamente. Eu me sentia em um dèja vú.
— Eu também sinto sua falta, todos os dias! Mas você tem que entender que não é só a catapora.
— Minha imunidade é incrível. — reclamei, ficando impaciente. Eu nem podia me lembrar de quem estava por detrás da porta, mas eu sentia muitas saudades, de quem quer que fosse.
— Eu sei. — ela riu. Pude ouvir passos se aproximando e um baque, indicando que ela se encostara na porta. — Se não fosse, você também estaria passando mal.
Respirei fundo, sentindo meus olhos lacrimejarem.
— O que você está sentindo? — perguntei em um fio de voz, ficando com as costas encostadas na porta e escorregando devagarinho, até sentar-me.
— Dor de cabeça e no corpo todo. A catapora já passou, para ser sincera... Só estou receosa de voltar para a escola. Ah, estou com febre também.
, você precisa se cuidar. — espera, ?
— Eu sei, Puppy. Estou melhorando, em breve a gente vai poder se ver. — puppy? Ela me chamava de cachorrinho?
— Me desculpa, berry.
— Que ódio, ! Já disse que a culpa não é sua.
— Você viajou por minha causa.
— E foi uma das melhoras semanas da minha vida! — exasperou, querendo me convencer de que não se arrependia. — Ninguém podia imaginar que aquela lagosta estava estragada.
— Mas eu poderia ter evitado.
, eu juro que se você não calar a boca, eu te mato. — sua voz engrossou, mostrando que sua paciência se esgotava. Acabei soltando uma risada.
— Precisa de alguma coisa? — perguntei depois de um tempo em silêncio.
— Eu já estou melhorando, puppy. Fica tranquilo, vai para casa e descansa, ok?
Um suspiro cansado escapou de meus lábios e me levantei, limpando o pó de minha calça.
— Eu sei que seus pais estão aqui, mas você pode me ligar se precisar de qualquer coisa.
— Obrigada. — sua voz parecia alegre. — Em breve, vamos poder nos abraçar de novo.
— Só isso? — minha voz saiu maliciosa. Por que eu estava falando desse jeito com ?
— Meu Deus, garoto, você não presta! — escutei sua risada e um sorriso brotou em meus lábios.
— E você me adora.
— Ainda por cima é um convencido.
Ficamos em silêncio por alguns segundos, apenas aproveitando a presença do outro, mesmo que estivéssemos separados por uma porta.
O que estava acontecendo?
— Vai logo, . Já ‘tá escurecendo.
— ‘Tá bom, berry. — sorri ao perceber que ela bufara. — Eu te amo, tá?
É O QUÊ?
— Eu também.

Por favor, fique comigo
Então essa peça se tornará mais clara e bonita

Capítulo 3

Seul, 29/03/2019

Desci as escadas apressadamente, enquanto tentava equilibrar a alça da mochila em um dos ombros e a gravata desamarrada no outro.
— Bom dia para você também!
— Oi, mãe. ‘Tô atrasado, não vou tomar café. Te vejo mais tarde, tchau! — disse embolado, pegando uma maçã na fruteira e minha carteira sobre o rack.
Batendo a porta de casa, corri o mais rápido que pude até o ponto de ônibus da esquina. Se os céus estivessem ao meu favor, ele passaria em um minuto.
— Senhor motorista! — gritei ao chegar na parada e ver que o ônibus fechava as portas. Felizmente, meu berro pareceu chamar sua atenção.
— Por pouco, hein, garoto. — o senhorzinho riu do meu desajeito assim que passei pela porta. — Sente-se logo que já estou atrasado.
Agradeci com um simples curvar de cabeça, sentindo o cansaço da corrida me atingir. Sentei-me no primeiro banco livre e tirei a mochila das costas, largando meu corpo cansado sobre o assento. Minha respiração estava descompassada e eu sentia o suor em meu pescoço.
— Péssimo dia para se atrasar, . — reconheci a voz e soltei uma risada cansada, que mais parecia com um bufar.
— Péssimo dia para me irritar, .
— Não quero te encher hoje. Pelo menos, não agora. — tirou minha mochila do banco ao meu lado e sentou-se, virada de frente para mim. — Você ‘tá péssimo.
— Me conte algo que eu ainda não sei.
juntou os lábios numa linha fina e eu soube que estava ficando irritada. Soltei uma lufada de ar, irônico. Ela virou-se para frente e colocou um dos fones, como se quisesse me ignorar pelo resto do caminho.
Há pouco mais de um mês, eu tive o primeiro e único flashback onde aparecia. Se eu dissesse que não fui atingido com aquela lembrança, estaria mentindo descaradamente.
A verdade era que eu não consegui manter um bom relacionamento com . Não que o que tínhamos antes fosse um bom exemplo de amizade, mas nem colegas éramos mais.
Eu simplesmente não a suportava. E sua presença me afetava.
— Acho que você já pode ir para o banco onde você estava antes. — reclamei, tirando a gravata do ombro e me abanando. Precisava esperar o suor secar um pouco antes de amarrá-la.
— Eu estava em pé.
— Ué? Esse banco estava vago, por que não se sentou? — perguntei com uma careta.
A garota deu de ombros, como se não se importasse tanto assim, dando um play na música em seu celular. Mordi o lábio, me perguntando o porquê ela estava agindo como uma pessoa normal, e não como a chata insuportável das últimas semanas.
— Quer ouvir? — ela me chamou de repente, estendendo um dos fones em minha direção.
— Não acho que você deva ter um bom gosto musical. — murmurei tentando irritá-la, como sempre. Queria que brigasse comigo, mas ela não o fez.
— Se você acha que escutar Rain é ter um mal gosto, o problema é seu. — respondeu simplesmente, colocando o fone, que outrora fora me oferecido, no outro ouvido.
Depois do flashback, eu fiquei com medo de me aproximar mais de e acabei cortando qualquer tipo de relação. Ainda passávamos os intervalos juntos por conta de , mas não trocávamos nem mesmo uma palavra.
Aquele “eu te amo” me afetou muito.
Apoiei minha cabeça na janela, observando as pessoas do lado de fora. Era estranho pensar que aquela era meu último dia de aula no ensino médio. Eu nem mesmo sabia o que cursaria na faculdade.
Quando percebi que o ônibus se aproximava da escola, amarrei minha gravata de qualquer jeito e esperei para descer. continuava em silêncio e, apesar de ela geralmente estar me irritando por apenas existir, vê-la quieta me deixava incomodado.
Ajeitei a mochila nas costas e desci do ônibus, sem esperar pela minha colega de classe. Eu queria fazer logo a minha última prova e ir embora daquele lugar.
! — escutei alguém atrás me chamando e virei-me em sua direção.
Era .
Ela caminhava em minha direção, enrolando o fone em seus dedos e guardando-o na bolsa em seguida.
— Não achei que fosse me esperar. — ela disse ao me alcançar. Dei de ombros pois, sinceramente, nem eu sabia por que tinha ficado parado. — Você vai entrar no colégio desse jeito?
Olhei meu uniforme rapidamente, procurando sobre o que ela estava falando:
— De uniforme, você diz?
— Não. — ela suspirou, finalmente me olhando nos olhos. Ela parecia cansada. — Não surta, ‘tá bom? Licença.
Surpreendendo-me, puxou minha gravata e se aproximou de mim. Senti seus dedos finos circundarem meu pescoço, dando um nó ajeitado no pano. Meu corpo se arrepiou pela aproximação repentina, mas fingi não ter sido nada.
— O que... Você está fazendo? — disse com a voz baixa, entregando meu nervosismo.
— Parecia que um cachorro tinha feito aquele nó. — ela respondeu, afastando-se. Arrumou a bolsa em seu ombro, erguendo o olhar para o meu rosto. — Queria falar contigo depois da prova. Civilizadamente. Sem cinismo ou respostas atravessadas.
Pisquei algumas vezes. queria uma conversa civilizada? Sem nenhum insulto, nem ironia?
— Quem é você e o que fez com a que vive me xingando? — tentei fazer uma gracinha, mas percebi que a menina continuava séria, com os olhos cansados. — Tudo bem. Quer conversar onde?
— Na pracinha na nossa rua, pode ser? — ela finalmente sorriu, me tranquilizando um pouco.
— Você não está planejando nada contra mim, né?
Seu sorriso desapareceu.
— Eu sei que você não me suporta, , mas é realmente importante. É o último dia de aula e eu preciso te contar uma coisa. Tem... Bem, tem a ver com o seu acidente. — endureci a postura. — Por favor, não esquece.
— Não me lembro de ter algo para resolver contigo, principalmente sobre o acidente. — minha voz engrossou automaticamente. abaixou a cabeça, olhando para os próprios pés, com uma das mãos segurando a alça da bolsa. Ela parecia nervosa.
— Só... Aparece lá. — disse por fim, voltando a andar sem me esperar.
Bufei, irritado. Eu não queria conversar sobre o acidente com ninguém, muito menos com .
— Vai ficar parado aí ou vai ‘pra aula? — se aproximou, passando um dos braços sobre meus ombros.
me irritando, como sempre.
Bro, já te disse: fala ‘pra ela que você se lembrou de algo.
Começamos a caminhar em direção do colégio.
— Não sei.
— Eu também quero saber do que diabos você se lembrou, já que agora mal olha para a cara dela.
— Já disse que não vou contar, seu curioso. — tirei seu braço de meus ombros, rindo. — Eu nem entendi o que aconteceu direito.
— Posso te ajudar se você me contar. — ele sorriu.
— Quero entender sozinho, obrigado. — ajeitei a mochila em meus ombros, olhando para o chão. — Mas eai, preparado para a última prova?
— ‘Tá brincando? — sorriu e agradeci mentalmente por ele não estranhar minha troca de assunto. — Graças a Deus esse inferno está terminando.
— Tenho que concordar contigo.
— Você vai na cerimônia de formatura amanhã, né?
— Eu sou obrigado a ir. — revirei os olhos, cansado apenas de imaginar-me sentado por um longo tempo até que o diretor e os professores terminassem de falar e finalmente estar livre da escola. — O problema é que eu não sei o que vou cursar.
— Tenho certeza de que você vai encontrar o que te faz feliz. — ele pôs uma das mãos em meu ombro, como se me confortasse.

A peça que preencheu as cicatrizes
do meu coração partido

Saí da sala massageando meu próprio ombro, sentindo-o tensionado por conta da ansiedade na última prova. Eu precisava de apenas três pontos, mas o nervosismo poderia me fazer tirar um zero.
— Foi bem? — surgiu ao meu lado.
— Acho que consegui passar.
— Arrasou, cara! — batemos as mãos em uma comemoração. — Viu, eu vou passar a tarde jogando na casa do Woo, quer vir?
— Eu mal falo com o cara.
— Não tem problema, ele disse para te chamar. Qual é, nosso último dia como estudantes do ensino médio, meu amigo!
— Beleza, vamos.
Senti que estava esquecendo algo importante, mas não me importei. Eu precisava relaxar um pouco.

Você se tornou o meu tudo


— Caramba, já são oito da noite! — surpreendi-me ao ver as três ligações perdidas da minha mãe e suas mensagens pedindo que eu voltasse logo para casa. — Tenho que ir, caras.
— Quer carona?
— Vou aceitar. — peguei minha mochila que estava largada em um dos cantos da sala. — Valeu por hoje, Woo.
— Que isso, bro. A gente marca de jogar de novo.
— Com toda a certeza. — sorri em sua direção. — Vamos, ?
— Tchau, cara!
Saímos da casa de Woo rapidamente, e eu já ligava para minha mãe enquanto entrávamos no carro de :
— Mãe? Aconteceu alguma coisa?
— Você está com o ? — ela me interrompeu com sua voz levemente trêmula.
— Ele está me dando uma carona.
Põe na viva voz, por favor. — atendi a seu pedido, avisando meu amigo que minha mãe queria falar com ele.
— Oi tia.
Oi . Você pode dormir aqui em casa hoje?
Minhas sobrancelhas se arquearam instantaneamente. O que minha mãe queria com ?
Hum... Acho que sim, tia. — ele torceu a boca, pensativo, e virou o rosto ligeiramente em minha direção. — Tem algum problema para você, cara?
— Nenhum. — pendi a cabeça para o lado, voltando minha atenção ao celular. — Mãe, aconteceu alguma coisa?
Eu estou bem. Conversamos assim que vocês chegarem, ok? Venham direto, por favor.
— Tudo bem, tia. Estamos indo.
Desligamos a ligação e acelerou.
— Você acha que pode ter acontecido alguma coisa?
— Sim.
— E você tem alguma ideia do que pode ter sido? — perguntei um tanto nervoso. Meu amigo respirou fundo e mordeu o lábio inferior, me lançando um olhar piedoso.
— Tenho uma ideia, sim.
ficou em silêncio durante o resto do percurso, e eu não me dei ao trabalho de tentar manter alguma conversa. Meu coração batia dolorosamente, ansioso pelo que viria.
O caminho pareceu mais longo que o normal, apesar de termos corrido em 60km/h pelas ruas de Seul.
— Mãe?
— Oi, ... — ela disse baixo assim que cheguei na sala de estar junto de . Seus olhos estavam cabisbaixos e ela segurava uma carta entre seus dedos.
— O que aconteceu? Você está bem? — fui me aproximando, mas minha mãe apenas respirou fundo, dirigindo seu olhar a mim.
— Eu já disse que estou bem, filho, mas preciso que você se sente agora, ok?
Olhei para meu amigo, que parecia ter embranquecido alguns tons. Um arrepio correu em minha espinha e minha intuição gritava que algo ruim estava acontecendo.
voltou o caminho até a porta de entrada e trancou-a, voltando para o sofá logo em seguida, onde eu e minha mãe estávamos sentados.
— Por que vocês estão assim?
Silêncio.
— Você precisa saber de uma coisa. — olhei para , esperando que continuasse. — Mas já vou pedindo desculpas desde já.
— Eu também. — minha mãe se pronunciou.
— Vocês estão me deixando com medo. — murmurei, entortando a boca em uma careta. — Só desembucha.
Minha mãe abaixou os olhos para a carta em suas mãos, respirando fundo antes de entregar.
Assim que segurei o envelope entre meus dedos, a arrepio passou em minha espinha novamente. Meu coração batia acelerado, meus dedos tremiam e eu podia sentir o suor se formando em minha nuca.
Por que eu estava tão nervoso?
Virei o envelope, dando de cara com uma escrita delicada e com a letra inclinada. “De para .”
— Por que a me enviou uma carta? — levantei o rosto com uma careta já formada, procurando uma resposta no olhar de ou de minha mãe.
— Espera, você não falou com ela? — meu amigo me perguntou com os olhos arregalados.
— Falei sobre o que? — minhas sobrancelhas se arquearam em dúvida e uma luzinha se acendeu no fundo da minha mente. Era disso que eu tinha me esquecido! — Ah, acho que ela me chamou para conversar hoje, mas acabei esquecendo.
— Não acredito, ! — bateu a mão na própria testa. — Isso será pior do que eu imaginei. Vou pegar uma água, a senhora quer? — se virou para minha mãe, que apenas assentiu com uma expressão cansada.
— Lê logo, filho.
Cuidadosamente, abri o envelope. Antes mesmo de poder pegar na carta, duas pulseiras caíram do mesmo.
Com dois pingentes de quebra-cabeças dourados.

Minha peça perdida do quebra cabeça


Flashback


Hey, por que não tem o seu nome gravado no meu? — reclamei ao notar que não tinha nada escrito no meu pingente.
— Tem sim, seu cego. — ela mostrou a parte de trás da peça, permitindo-me ver as duas iniciais gravadas em preto.
— Ah...
— Pelo amor de Deus, . Coloca os seus óculos. — começou a rir da minha cara abobada.
— Preguiça.
Revirando os olhos, ela se aproximou e prendeu o fecho da pulseira, cravando seu olhar no meu em seguida.
— Feliz um mês.
— Feliz um mês, berry.
°°°

Olhei para minha mãe com os olhos lacrimejando. Minha cabeça pulsava com a enxurrada de memórias que vinham sem parar.
Bro? — ouvi se aproximando, mas minha mente mergulhou-se em memórias novamente.

Flashback
— A já embarcou e... — abriu a porta do quarto. — Cara, para de beber um pouco.
— Eu estraguei a nossa semana, caaaara. — reclamei com a voz entorpecida.
— Para de drama, você não estragou nada. Levanta daí e vai tomar um banho gelado, a gente sai amanhã cedinho.
Meu amigo se aproximou com uma mão tampando o nariz. Com a outra, puxou minha camiseta e levou-me até o banheiro do quarto do hotel.
— Quanto você bebeu nessas duas horas que fiquei com Minnie e no aeroporto?
— Eu não me lembro. — uma risada saiu de meus lábios, fazendo com que contorcesse o rosto com o cheiro forte de bebida.
— A gente trouxe tanta bebida assim? — reclamou, ligando o chuveiro e me enfiando embaixo da água fria de roupa e tudo.
— ‘Tá gelado, !
— Eu sei. — ele riu, pondo a toalha sobre o vaso. — Toma um banho e fica cheirosinho que eu não quero sentir cheiro de bêbado durante a noite.
Meu amigo retirou-se do banheiro e tirei minha roupa já molhada, tomando uma ducha decente. Saí não muito tempo depois, com a toalha enrolada em minha cintura e com a mente funcionando um pouco melhor.
— Está se sentindo melhor? — um de pijamas tirou a atenção do celular assim que me viu no quarto.
— Como ela está?
— A está melhor, bro. — largou o celular sobre a cama, se virando de frente para mim. — Ela tomou uma injeção antialérgica no hospital e parou de vomitar. Fomos para o aeroporto e trocamos as passagens para ela voltar hoje mesmo. Só vamos amanhã.
— Eu deveria ter ido com vocês.
— Você estava bêbado. — revirou os olhos. — Já tive que carregar uma quase desmaiada de tanto vomitar, não conseguiríamos cuidar de você também.
— Se eu soubesse que tinha alergia a carne de lagosta, eu não teria me embebedado.
— Você não deveria ter bebido desde o começo, para ser bem sincero. — o lancei um olhar de tédio, que o fez levantar os ombros. — É verdade, ué. Não somos maiores de idade ainda.
— Eu entendi, ... — minha voz saiu cansada. A culpa tomava conta do meu coração. — Só acho que... Eu podia ter evitado isso tudo, sabe? A é a minha namorada.
— Não é assim que as coisas funcionam, meu amigo. — ele se levantou e pôs uma mão em meu ombro, dando conforto. — Ela vai ficar bem.
°°°

Abri os olhos devagar e percebi que estava deitado no sofá de casa. Como tudo estava escuro, sentei-me vagarosamente enquanto tentava organizar meus pensamentos. Minha cabeça ainda doía.
Eu e namorávamos antes do acidente. Nós realmente éramos próximos, como ela dizia.
— Meu Deus, eu preciso falar com ela. — disse alto sem pensar e percebi que deu um pulo da poltrona, onde dormia.
Peguei meu celular e tentei ligar para , mas caiu na caixa postal duas vezes.
— Merda...
Coloquei o aparelho no bolso da calça do uniforme, que eu usava desde de manhã, e rumei até a porta de casa.
. — minha mãe me chamou antes que eu pudesse sair. — É melhor você a carta primeiro.
Olhei para meus próprios pés, tentando focar meus pensamentos. O que eu estava pensando em fazer? Sair correndo até sua casa e o quê?
— Sobre o que você se lembrou? — perguntou assim que me sentei ao seu lado no sofá.
— Quando ela me deu essa pulseira e da viagem para Jeju. — respondi, olhando fixamente para o pingente em minhas mãos.
Ninguém falou nada por alguns segundos, até que minha mãe se agachou-se na minha frente:
— Não se lembrou de mais nada?
— Foram os dois acontecimentos mais marcantes, eu acho. — olhei em seus olhos, percebendo que ela estava aflita. — Por quê?
— Não conseguiu se lembrar de nada do acidente? — voltou a perguntar.
— Não...Por quê?
— A pessoa que te encontrou, , foi a . — foi a vez de responder. — Ela queria te contar o que aconteceu pessoalmente, mas você não foi encontrá-la.
Um sentimento de culpa surgiu em meu coração, mas ele logo se transformou em raiva.
— Por que vocês nunca me falaram dela? — esbravejei. — Digo, vocês sabiam!
Ambos se entreolharam, cabisbaixos. O mal pressentimento que eu sentia quando cheguei em casa, voltou.
pediu para nunca te contarmos nada. — fora meu amigo quem respondeu, mais uma vez. Minha mãe não parecia confortável em falar daquele assunto. — Ela foi embora por motivos que nem mesmo nós sabemos, mas disse que voltaria e te contaria tudo.
— Ela não queria que fôssemos atrás dela. — minha mãe interrompeu , pegando em minha mão. — Eu fiquei com muita raiva de por te abandonar quando você estava em coma, mas acredito que algo estava acontecendo com ela também.
— Você tinha que se lembrar por si mesmo.
— Lembra que o médico disse que provocar uma volta de memórias descontrolada poderia desencadear uma nova amnésia? — assenti devagar, tentando assimilar tudo o que ambos falavam. — Você tinha que se lembrar sozinho, por isso ficamos quietos.
Silêncio.
— Mas... — comecei a falar depois de um tempo. — O que aconteceu no acidente?
— Nós também não sabemos, bro. Apenas você e sabem... Digo, ah, você entendeu.
Meus ombros caíram, derrotados. Eu não conseguia me lembrar de mais nada e um receio de ler a carta me consumia.
— Não fique muito bravo conosco, nem com . — minha mãe pediu, com os olhos suplicantes. — Eu descobri hoje e por isso te liguei desesperada, mas você não atendia.
Uma curiosidade me atingiu, junto do medo. Para minha mãe ficar tão abalada, era porque algo sério tinha acontecido.
Tirei o papel acinzentado de dentro do envelope, revelando um texto curto, com a mesma caligrafia delicada e levemente inclinada.
Meus olhos se encheram de lágrimas a cada linha que eu lia.
— Cadê a ?!

Ao invés de ter tudo
Nunca perder nada é mais importante


Flashback

— Eu quero terminar. — minha mente parou por alguns segundos, tentando processar o que havia acabado de me falar.
Hey, , me escuta! — chamei ao perceber que ela saía correndo do parque.
Estávamos fazendo um piquenique durante a noite. Não era nenhuma data especial, apenas estávamos aproveitando o tempo um com o outro, até que começou a se sentir mal e pediu para terminar, do nada.
— A gente vai conversar sobre isso primeiro! — puxei seu pulso assim que a alcancei. — Me escuta, por favor.
Seus olhos transbordavam de lágrimas e suas bochechas já estavam bem molhadas.
— Não tem o que conversar, . — ela abaixou o rosto. — Eu vou embora em alguns dias e...
— Para onde você vai? — interrompi-a, sentindo algumas lágrimas se formarem, mas segurei-as. — Eu posso ir te visitar, faço qualquer coisa, juro. Se for esse o motivo para você querer terminar, eu resolvo.
piscou algumas vezes, buscando minhas mãos e segurando-as, enquanto um sorriso triste brotava em seus lábios.
— Eu não quero isso, puppy. — seu rosto se ergueu e percebi que suas maçãs começavam a se avermelhar. — Eu não quero que você me veja sofrendo com a quimioterapia.
As lágrimas finalmente escorreram e acabei gemendo, sentindo uma dor imensurável crescer em meu peito. Eu não podia perder , era simplesmente inaceitável.
— Eu vou explicar o que está acontecendo, ok? — ela segurou meu rosto com as próprias mãos, me fazendo encará-la nos olhos. — Eu estou doente há algum tempo. Descobri que tenho lúpus quando fomos à Jeju e tive reação alérgica depois de comer a lagosta...
Minha mente processava as informações vagarosamente, mas meu coração doía com cada palavra que falava.
— O lúpus me fez desenvolver linfoma. Preciso fazer o tratamento e eu decidi fazer longe daqui.
Minhas lágrimas escorriam sem nenhuma descrição, minha garganta parecia travar e meu coração batia dolorosamente em meu peito.
— Você não pode fazer isso comigo, berry...
— Já pedi para você parar de me chamar de berry, seu bobo. — ela tentou sorrir, mas a tristeza era evidente. — Eu decidi fazer o tratamento em outro país porque eu não sei se vou aguentar.
Senti o tempo parar, junto dos batimentos de meu coração. Nem mesmo as lágrimas escorreram durante o meio tempo que demorei parar raciocinar sua fala.
— Você está dizendo que vai morrer? — encarei seus olhos tristonhos, e ela não conseguiu responder. — Como pode dizer isso para o seu namorado? Seu melhor amigo?!
...
— Não, agora você vai me escutar! — minha voz se elevou alguns tons, mas a raiva que me consumia era tão grande que não me importei. — Você escondeu que estava doente. Escondeu de mim!
Lágrimas voltaram a escorrer de seus olhos e aquela cena partiu o meu coração, fazendo-me respirar fundo antes de continuar, para não gritar:
— A gente ‘tá junto há mais de um ano, . Você é a minha melhor amiga, e namorada! Eu só me pergunto o porquê você me escondeu esse tipo de coisa...
— Eu descobri o linfoma semana passada.
— Ok, mas por que não me contou do lúpus?
— Eu não achei que isso fosse interferir tanto assim na minha vida. Você sabe, dá para viver tranquilamente se fizer visitar regulares ao médico e tomar medicamento corretamente. Eu achei que você pudesse se preocupar à toa.
Um suspiro derrotado escapou de meus lábios. não me olhava nos olhos e suas mãos estavam entrelaçadas atrás de seu corpo, como se não quisesse me tocar.
— Você quer terminar?
Hum? — ela se assustou com minha pergunta, engolindo em seco.
— Você realmente quer terminar? — questionei com seriedade, encarando seus olhos tristes.
não respondeu de primeira, mas ao baixar seu rosto e encolher os ombros eu soube sua decisão.
— Ok.
Com raiva, soltei o fecho de minha pulseira com nosso pingente e caminhei para fora do parque, deixando para trás.
As lágrimas voltaram imediatamente, embaçando minha visão. Minha cabeça rodopiava, meu peito doía e eu me sentia perdido.
A única coisa que ouvi foi uma buzina alta se aproximando e o meu baque do meu corpo contra um carro em alta velocidade.
!
Minha visão foi se escurecendo aos poucos, até que minha última lembrança fosse apenas nossas mãos entrelaçadas e o pingente de quebra-cabeça manchado de sangue.

Eu descobri isso através de você




Epílogo

Seul, 29/03/2021

Há dois anos, foi embora da minha vida. Há dois anos, eu não sabia de mais nada da sua vida.
Não sabia onde estava, como estava e nem mesmo se estava viva.
tentava me tranquilizar quando a saudade e a culpa me consumiam, e acabei vivendo os últimos 730 dias dessa forma.
Me culpando em quase todos os momentos.
A verdade era que eu sempre me perguntava: e se eu tivesse ido falar com quando ela pediu? Talvez eu soubesse onde ela estaria agora.
Peguei sua carta de dentro da gaveta de minha escrivaninha, abrindo-a:

Hey, !
Agora você se lembra de tudo, não é? Espero que eu tenha tido os culhões necessários para te contar pessoalmente, mas se esse não foi o caso, espero que as pulseiras te façam relembrar.
Saiba que está doendo muito te entregar as minhas últimas memórias materiais a você. É bom que você cuide muito bem desses pingentes, ‘tá me entendendo?
Bem, se você está lendo isso, é porque eu já fugi novamente. Me desculpe por me “despedir” dessa forma covarde, mas eu não acho que suportaria te dizer um adeus pessoalmente.
Minhas esperanças foram depositadas nessas pulseiras. Eu acredito fielmente que o tratamento não deu certo porque eu estava longe de você, da minha peça perdida do quebra cabeça.
Desculpa minha breguice, mas é a verdade. Você foi o motivo de eu ter suportado o lúpus por tanto tempo. Você é o meu tudo.
Estou partindo dessa vez e as chances de eu voltar são mínimas, mas se o destino tiver piedade do nosso amor, vai dar tudo certo. As peças estão contigo, então é bom você ter esperança! E uma boa sorte também seria bom...
A cirurgia para o transplante das células tronco está marcada para amanhã pelo entardecer. Eu espero que você já tenha lido essa carta e rezado para todos os deuses que você acreditar!
Eu te amo, puppy. Estou na torcida pela sua vida e, se possível, pela nossa volta.
Da sua berry, que ainda odeia esse apelido,


Fechei o envelope ao ouvir a porta de meu quarto se abrir.
— Pracinha? — colocou a cabeça para dentro do quarto, me fazendo soltar uma risada.
— Você veio até aqui para irmos na pracinha?
— Eu quero sair, por favoooor.
Revirando os olhos, concordei com um simples aceno de cabeça e me levantei da cadeira em que estava sentado. Peguei o celular sobre a mesa e deixei a carta no lugar, logo saindo do quarto com meu amigo ao meu lado.
— Você fica lendo aquela carta toda hora, não é?
— Que exagerado.
— Não é você quem precisa aguentar os próprios lamentos depois. — enrugou o nariz, como se fizesse birra. — Quero respirar ar fresco.
— Eu ainda não sei como você brotou aqui em casa.
— Sua mãe me chamou. — ele atravessou a porta da frente e esperou que eu a trancasse para continuar. — Já que você simplesmente se esquece do melhor amigo para ficar remoendo sua culpa, eu tenho que aproveitar os dias em que a tia me chama para almoçar.
— Dramático. — soltei uma risada. — Ainda não entendi por que você quer tanto ir até a pracinha.
não respondeu, mas continuamos caminhando por poucos minutos até chegarmos no local.
— Desculpa ter escondido isso de você de novo. — foram as últimas que escutei antes de avistá-la de longe.

Você é a minha peça perdida do quebra-cabeça
Que brilha intensamente


Minhas pernas pararam de caminhar e meus olhos cravaram na imagem da menina que vinha em minha direção.
Seus cabelos estavam medianos, com cachos nas pontas. Não estava tão magra como antes e seu sorriso parecia ainda mais deslumbrante.
— Oi, .

Você que era apenas uma peça
Se tornou uma paisagem em meu mundo


... — meus olhos lacrimejaram ao constatar que eu não estava sonhando.
Ela sorriu ainda mais, com lágrimas se formando.
— Eu sobrevivi. — a primeira escorreu. — Eu voltei para você.

Assim como eu não posso soltar sua mão
Nada pode ser completo sem você
Então eu espero que não nos afastemos
Minha peça perdida do quebra-cabeça






Fim



Nota da autora: Finalizei essa fic depois de algumas seções de choro, confesso. Originalmente, ela seria uma tragédia, mas pensei que não combinaria tanto com a música e acabei mudando o final de última hora. Puzzle Piece é uma música do Dream, caso vocês nunca tenham escutado. Tenho um carinho enorme por ela. Recomendo, viu?
Mas enfim, espero que tenham gostado! Hahah, nos vemos numas próximas fics!!
~XOXO B. May






Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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