Quarto 277

Última atualização: 13/12/2020

Capítulo 1 – Eu estou viva!

Não sei quantas horas haviam se passado desde que eu tinha entrado naquele avião, mas não tinha vontade de conferir. Há nove anos eu tinha ido embora da Coreia, voltado para o Brasil e me desligado, aos poucos, de tudo o que tinha deixado para trás. Não que não amasse a Coréia, praticamente tinha crescido ali, mas tinha uma carga muito pesada que eu e minha mãe havíamos deixado por lá: meu pai.
Minha mãe tinha decidido separar do meu pai depois de se cansar da forma abusiva com que ele a tratava. Nos dezesseis anos em que convivi com ele, não me lembro de um dia sequer em que ele tenha sido carinhoso com minha mãe, mesmo que ela tivesse deixado a carreira e a família para viver com ele, recém-contratado em uma empresa grande, no outro lado do mundo.
Lembro-me dos jogos psicológicos em que ele a envolvia, além de toda a culpa que ele a fez carregar sem motivo algum. Eu sentia a dor da minha mãe todos os dias, desde que tive ciência do que ela sentia e do que ele fazia com ela. E para mim, nunca tinha sobrado carinho suficiente. Meu pai sempre foi ausente, se importava mais com o trabalho do que com a família, um homem frio e rígido. Eu via minha mãe sempre com medo e presa a ele e, por consequência, eu também.
Há dois anos, minha mãe foi diagnosticada com câncer e eu a vi sofrer até o seu último suspiro, há poucos meses. Na época da doença, eu precisei pedir ajuda financeira ao meu pai, pois só ele poderia pagar o tratamento dela, mas, em troca, ele exigiu que eu voltasse para Coreia por um tempo assim que ela melhorasse. Mesmo que minha mãe tivesse morrido, resolvi cumprir a minha parte do acordo, porque não queria ficar sozinha. Ainda que meu pai não fosse uma boa companhia, eu sabia que meus amigos de verdade haviam ficado em Seul, e eu precisava deles agora, mesmo que os tivesse abandonado há anos. Respirei fundo, percebendo que já era madrugada, reclinei a poltrona até que virasse uma cama, e então fechei os olhos. Queria tentar dormir e foi o que aconteceu.
Xx
Sorri ao passar pelo portão de desembarque, eu não tinha noção de como aquele lugar me fazia falta. Era inverno em Seul, na parte externa do aeroporto estava nevando. Eu gostava disso, sentia falta da neve. Fechei um pouco mais o casaco para não sentir frio. Por que eu nunca tinha voltado? Por que eu tinha me desligado de tudo o que eu tinha conquistado aqui?
Mesmo com todos os pensamentos em minha cabeça, me apressei a procurar pelo motorista que meu pai havia mandado para me buscar, porque nem se dar ao trabalho de recepcionar a filha ele seria capaz. Alguns passos depois, em minha frente eu via um homem alto, de uniforme e segurando a placa com meu nome em mãos. Tão sério. Acenei para ele, me identificando, o sujeito se aproximou e me cumprimentou sem hesitar:
— Senhorita ? — confirmei com um movimento de cabeça e ele continuou. — Meu nome é Lee Jihoon. O senhor Walter me mandou para levá-la até sua casa. — confirmei novamente com a cabeça. — O seu pai pediu para informá-la que sente muito por não ter vindo ele mesmo, mas ele precisou resolver problemas urgentes na empresa.
Era a desculpa que meu pai sempre dava. Sorri para Lee Jihoon, aceitando suas palavras, afinal, ele não tinha culpa de nada, só estava fazendo seu trabalho. Então o homem apressou-se a pegar minhas malas para levar para o carro e eu o segui na mesma velocidade, eu estava doida matar as saudades da minha casa. E conhecendo o senhor Walter , o lugar deveria estar do mesmo jeito que deixamos há anos.
Meu pai morava em uma área afastada do centro de Seul, o condomínio de luxo prometia um ambiente mais sossegado, e cumpria bem o prometido. Eu gostava de lá, porém a viagem seria de, no mínimo, 40 minutos, e contando que a estrada estava escorregadia por causa da neve, o tempo poderia ser de até uma hora. Mesmo com o tempo que passaríamos juntos no carro, não tinha esperança nenhuma de ter uma conversa empolgante com o motorista à minha frente, e considerando que eu ainda estava cansada pela longa viagem, aproveitei o silêncio e meu tempo, recostei de forma mais confortável no banco traseiro do veículo e fechei os olhos. Pouco tempo depois, já estava dormindo tranquila, porque sabia que ao passar pelos portões do condomínio, Jihoon me acordaria.
Ao mesmo tempo em que não demorou para que eu dormisse, não demorou nada para que as coisas ficassem estranhas na viagem. Trinta minutos devem ter se passado desde que saímos do aeroporto, e mesmo inconsciente eu pude sentir os movimentos acontecendo.
Começou devagar, mas senti meu corpo balançando com força sobre o assento, como se o carro me empurrasse à medida em que ele deslizava. No banco da frente, Jihoon murmurava algo que eu não entendia, mas não parecia calmo como o homem que encontrei no portão de desembarque minutos atrás. Buzinas. Ouvi a buzina do nosso carro primeiro, e depois algumas buzinas vindas do lado de fora. Dessa parte em diante, as coisas perderam o controle.
O veículo chacoalhava com mais agressividade, e eu sentia meu corpo bater com mais força no espaço que o acomodava. Ouvi freios, o barulho da mão do motorista tentando controlar o volante. O perigo era real, não era um pesadelo que eu estava tendo a caminho de casa, a coisa, seja o que fosse, estava acontecendo. Quando me dei conta do que estava se passando, me acovardei e mantive meus olhos fechados, encolhi mais meu corpo, como se o que eu não pudesse ver não fizesse mal a mim. Os pneus cantaram e a voz do motorista aumentava a cada segundo. Eu ainda não entendia o que ele estava falando, é como se o meu pavor me impedisse de entender a língua dele.
Mesmo que eu tivesse retraído meu corpo como proteção, nada impediu que no segundo seguinte eu fosse jogada para a parte de baixo do banco, ficando entre o assento traseiro e o assento dianteiro do veículo. Abri os olhos para encarar o que era inevitável e então vi Jihoon lutando com suas últimas esperanças para controlar o volante, os ombros tensos e o suor escorrendo por sua nuca.
— O que...
Gritei para o motorista a fim de saber o que estava acontecendo com a gente, mas fui impedida assim que ele gritou mais alto que minha voz. As mãos de Jihoon cruzaram em frente ao seu rosto, como uma defesa, eu deveria me defender também, mas tudo aconteceu tão rápido que não tive tempo, então só fiquei olhando. Como que entregando os pontos, Lee Jihoon pareceu se lembrar da minha presença no banco de trás, virou o rosto pra mim e em silêncio, só com o movimento de seus lábios, o vi me pedir desculpas. E então entendi que havia acabado. Para mim e para ele.
Sem sair do lugar em que tinha caído, senti o carro rodando para fora da pista. Lee Jihoon já não esboçava movimentos próprios, ele parecia um boneco dançando conforme o carro o fazia dançar. Meu coração disparou na adrenalina, mas antes que eu pudesse lamentar o destino de Jihoon, senti minha cabeça batendo com força em algum lugar e depois disso eu não vi mais nada. Só escuridão.
Xx
Eu nunca acreditei em fenômenos sobrenaturais, tudo tinha uma explicação lógica em minha cabeça. Só que nada podia explicar o que estava acontecendo comigo. Loucura, nada mais que loucura. Mas algo estava acontecendo. Não sei por quanto tempo eu estava assim, já que o tempo parecia algo bem subjetivo nessas condições. Não lembrava como eu tinha ficado desse jeito, mas me parecia algo sério. E se eu pudesse explicar de uma forma bem resumida toda a situação, só um termo definiria esse momento: estava presa em mim.
Sim, presa em mim!
Conseguia escutar meus pensamentos, como se uma voz interna falasse comigo mesma, mas não conseguia abrir os olhos, falar em voz alta, mexer ou sentir meu corpo. No começo disso, eu gritava como se o mundo externo pudesse me ouvir, fazia barulho em minha própria cabeça como se alguém pudesse me acordar e me libertar daquilo. Era tão alto, que doía a ponto de me calar, como se meu corpo pedisse para que eu ficasse quieta.
Era assustador!
E o pior era a escuridão. O grande vazio negro dentro dessa caixa em que eu estava. Nada à minha frente, só um espaço oco preenchido somente com meus ecos. Somente o vazio. No começo, a angústia me dominava, fiz todo o possível para sair dali: chamei pelo meu pai, mas ele não veio. Chamei por Deus, que também não veio. E todos os dias eu chamava por minha mãe, mas adivinha? Ela não apareceu. E foi assim que eu descobri que estava viva, porque se eu tivesse morrido, ela teria vindo me buscar. Não teria?!
Mas, que inferno estava acontecendo comigo?
O tempo, que é impossível calcular nessa condição, passou e eu comecei a ouvir vozes, outras vozes. Eram distantes e não pareciam falar comigo, mas estavam comigo. Eu não entendia nada do que diziam, mas, mesmo assim, ouvir essas vozes me confortava, porque desse jeito eu sabia que não estava sozinha. Eu só queria me comunicar com elas, saber que lugar era aquele e como eu tinha parado ali. E nada, eu continuava na caixa preta.
Eu estava cansada, como se toda minha energia fosse gasta tentando sair da escuridão, totalmente sem êxito. Eu só queria descansar, e assim faria se soubesse como. Me entregaria até que não pudesse existir mais e aquela angústia parasse. Durante um período, tentei ficar quieta o bastante para que minha energia deixasse de lutar por mim, tentava não pensar mais, e, por um tempo, o silêncio venceu. Mesmo que eu ainda pudesse enxergar a escuridão e ela ainda me assustasse, eu me sentia mais calma, porque eu estava indo embora. Para sempre!
[N/A: Coloque a música para tocar aqui]
E então, tudo aconteceu.
As coisas mudaram no momento em que escutei a voz. A voz de quem eu nunca conseguia esquecer. Ele estava ali, comigo e estava cantando para mim. Uma música suave que combinava com seu timbre. Eu não conseguia saber que canção era, mas eu tinha certeza de que era algo que me confortava, porque eu estava me sentindo mais segura só por ouvi-la. Se eu pudesse, o agradeceria sorrindo.
E como eu queria chorar em seus ombros!!
Eu queria segurar suas mãos e olhar em seus olhos, dizer a ele que sua presença era o que eu mais queria, desde sempre. Desde o dia em que fui embora de Seul, desde que minha mãe tinha adoecido, desde que ela havia morrido e desde que pisei na Coreia de novo. Queria pedir para que ele ficasse comigo até que tudo passasse. , meu amigo de infância, era ele que estava ali comigo. Por que eu conseguia lembrar claramente dele entre todos? Por que eu não tinha dúvidas sobre a voz dele entre todas as outras vozes que havia escutado antes?
No mesmo instante em que reconheci sua voz, senti uma sensação diferente acontecer, um sentimento grande o suficiente para me agitar. Minha energia tinha voltado, e era poderosa novamente. Pela primeira vez em tempos senti meu corpo querer reagir a alguma coisa, era estranho como se não estivesse acostumada a isso.
A voz de ficava cada vez mais abafada, mesmo que eu soubesse que ele continuava cantando, eu quase não conseguia ouvi-lo mais. O desespero tomou conta de mim, eu não queria ir embora agora, não queria abandoná-lo. Não de novo, não dessa vez. Eu queria ficar, queria continuar ouvindo , mesmo que não pudesse falar com ele ou vê-lo. Queria me agarrar a ele como fazia quando éramos adolescentes e eu estava com medo de algo.
E foi assim, de repente, que o cenário mudou completamente.
Pisquei algumas vezes, mas não era uma sensação falsa, eu conseguia enxergar de novo, e não era mais escuro, agora estava claro. Eu tinha saído da minha cabeça, mas ainda não estava no céu ou em qualquer lugar para onde vamos depois de morrer. Eu estava parada em frente a uma janela e do lado de fora eu via os pinheiros cobertos de neve. E podia ouvir mais do que sussurros distantes, tinha muito barulho à minha volta: um bip constante, os automóveis do lado de fora, pessoas em outros cômodos. Mas não tinha mais a voz de cantando para mim.
Aos poucos, com cuidado, fui olhando ao meu redor, para me ambientar e tentar entender onde estava. Olhei primeiro para baixo e vi meu peito movimentar, e mesmo que não pudesse sentir minha respiração, eu via meu peito mexer para baixo e para cima. Estava viva, como suspeitava. A roupa era uma típica camisola de hospital, o que me assustou um pouco. O que eu estava fazendo no hospital? Aos poucos fui percebendo as paredes, a janela, o ambiente lá fora além dos pinheiros... Eu realmente estava em um quarto de hospital. Ainda devagar, virei meu corpo para enxergar mais.
E então o choque veio.
Em minha frente, em cima da cama, o corpo estático. O meu corpo. Era como se eu estivesse dormindo, mas não era uma cena tranquila de se ver. Eu estava machucada: havia hematomas, curativos e muitos fios que eram ligados a aparelhos. O oxigênio cobrindo meu nariz e minha boca, o frequencímentro ligado aos fios em meu peito, era dele que vinha o bip que escutava tão alto agora. Mas o corpo em que eu estava ali, acordada, não tinha nenhum hematoma ou machucado como aquele que estava inconsciente. Nada em mim doía, eu não estava sofrendo como aquela em cima da cama parecia estar.
Percebi meus batimentos aumentarem conforme era confirmado com o barulho mais frenético do frequencímentro à minha frente. Eu tinha saído de mim. Eu tinha saído do meu corpo. Senti meus olhos encherem de água, estava prestes a chorar, e foi o que fiz. À minha frente, vi que uma lágrima descia pelo rosto que estava deitado. Dei um passo em direção ao meu eu em coma, mas antes que eu pudesse me alcançar, ouvi alguém engasgando do outro lado da sala.
.
Ele me olhava tão aterrorizado quanto eu olhava para o meu corpo à minha frente. Então percebi que ele conseguia me ver. O vi afastar-se para o mais longe que poderia de mim. Ele não falava nada, mas sua respiração estava bastante ofegante. estava assustado, assim como eu. Seu rosto estava inchado, porém eu não saberia dizer se ele tinha começado a chorar antes ou depois da minha aparição. Estendi minha mão em sua direção por querer que ele a segurasse, mas o efeito foi o pior possível, ele se afastou mais até se encostar à parede atrás dele, esse era o sinal para que eu não me aproximasse. Vi o corpo de começar a tremer.
Aquilo não era natural, eu não era natural!
— O que está acontecendo? — a voz de saiu tremida, quase um choro.
— Me ajuda! — foi tudo o que eu consegui dizer enquanto eu chorava.
A reação do homem foi diferente do que imaginei. Ao me ouvir, não hesitou em sair do quarto às pressas. Fiquei parada naquele cômodo, confusa, por quase um minuto até que um homem e uma mulher, que nunca tinha visto antes, entraram e começaram a checar meu corpo na cama e os aparelhos ligados a mim. não voltou junto com eles e isso só me fez sentir mais perdida. Tentei falar e me mostrar aos desconhecidos que estavam no quarto comigo, mas foi em vão, eles não me enxergavam ou me escutavam. Meu coração acelerou mais, minha cabeça estava tonta com tanta confusão.
O que estava acontecendo?
Desesperada, me aproximei da janela com intenção de fazer o máximo de barulho que conseguia. Comecei a socar os vidros e a gritar por ajuda. Nada. Ninguém me ouvia. O máximo que consegui foi fazer a estrutura balançar um pouco, e as lágrimas desciam cada vez mais em meu rosto.
— Doutora. — ouvi a voz do homem que estava no quarto. Quando me virei para ver o que tinha chamado a atenção do enfermeiro, vi que os dois estavam encarando meu rosto molhado na cama.
— Ela está chorando? — a médica passou de leve a mão, em uma tentativa de secar meu rosto. — Como pode?
— E o coração continua a acelerar. — a máquina que monitorava meus batimentos apitava cada vez mais rápido e mais alto. — Se continuar assim, ela vai ter uma parada.
— Mas como pode? — a médica ainda estava incrédula, eu conseguia ver em sua expressão, mas agiu rapidamente — Vai buscar o sedativo, precisamos aplicá-lo agora! — a ouvir falar para o enfermeiro ao seu lado.
O rapaz saiu correndo pelos corredores, enquanto isso, ouvia a médica sussurrar para que eu ficasse calma. Na mesma hora, eu (a que estava acordada) coloquei a mão em cima do peito e pela primeira pude sentir meu coração, ele realmente batia muito rápido. Vi o enfermeiro voltar com os medicamentos e entregá-los à médica, um frasco e uma seringa. Antes que ela pudesse aplicar a medicação, virei outra vez para a janela, não queria ver aquela cena, nunca gostei de injeções.
E, no estacionamento, estava indo embora. Ele também olhava para mim, sua boca estava levemente aberta, confirmando que ele conseguia me ver. Fechei meus punhos e bati com eles na janela o mais forte que conseguia, ao tempo em que gritava para que ele me ajudasse, mas nada aconteceu, apenas virou-se e correu até o carro, sem olhar outra vez para trás. Ele estava indo embora.
Eu continuava a chorar, mas senti que estava mais calma, que meu coração tinha desacelerado. Quando me virei para as pessoas que estavam no quarto, percebi que havia mais um componente no grupo, só que esse eu conhecia. Parado, observando a situação que se passava ao lado do meu corpo, sua postura era de alguém que estava cansado demais para manter-se em pé e seu rosto era de um homem que havia chorado o bastante por dias.
— Pai?
Sussurrei, mas ele não me escutou, e eu já esperava por isso. Ele conversava com a médica que, por sua vez, já tinha finalizado o procedimento e agora monitorava meus batimentos, que estavam mais controlados.
— O que houve aqui? — a fala do meu pai era tão arrastada quanto a sua postura. Ele realmente estava cansado e eu nunca o tinha visto daquele jeito.
— Senhor , esse tipo de reação que sua filha teve é algo que nunca vi em pacientes em coma. — ela suspirou e tirou as luvas, indicando que realmente tinha acabado, por enquanto. — Em uma semana, essa é a única reação que nos deu, e foi algo forte. — a médica franziu a boca antes de continuar a falar. — Eu não posso dizer que é uma esperança de que sua filha estará com a gente novamente daqui a pouco ou se é algo que vem agravar o quadro dela.
Meu pai deixou o corpo cair na poltrona que estava há alguns minutos, só por ouvir que eu poderia estar piorando. As roupas amassadas, a barba por fazer não eram o estilo dele, aquele homem com o rosto entre as mãos me dava pena e não medo. Aquele não era o pai que eu conhecia.
— Eu não posso mentir para o senhor. — a médica chegou mais perto do meu pai. — continua não respondendo às minhas técnicas, eu a vi chorar e isso foi inacreditável, mas seu corpo não responde a nenhum outro processo meu. Parece que não há vida! — a médica olhou em direção ao meu corpo e eu fiz o mesmo. — Mas por que ela chorou? Por que o coração disparou?
A mulher falava tão baixo que parecia ser para ela mesma e não para meu pai, ela estava absorta em seus pensamentos até ouvir meu pai pigarrear em sua frente. Ela ajeitou sua postura, um pouco sem graça por ter perdido o ar profissional na frente dele, mas continuou:
— Eu não sei explicar o que houve aqui. Se aquele rapaz assustado não tivesse corrido para avisar que tinha algo errado, sua filha poderia ter tido uma parada cardíaca. — ela olhou de novo para mim, deitada na cama, e seus olhos expressavam dúvidas, mas dessa vez ela não deixou que meu pai percebesse.
é o nome do rapaz que te chamou. — meu pai tirou o rosto dentre suas mãos para encarar a médica mais uma vez, estava muito abatido, não parecia estar dormindo bem. — Ele e se tornaram amigos no primeiro dia de escola dela aqui, eram inseparáveis até que ela foi embora. — a voz do meu pai diminuía à medida que ele contava essa parte da minha vida, mas tinha um toque afeto enquanto ele contava sobre minha amizade com . Do outro lado, eu me encolhi enquanto engolia a seco o que escutava.
A médica ignorou a história do meu pai e apenas sussurrou ao encará-lo novamente:
— Como profissional, meu papel é falar a verdade ao senhor, e, por isso, não posso te dar esperança quanto à situação dela. — meu pai começou a chorar de novo, um choro silencioso, discreto como o homem que era. — Mas, como mãe, eu preciso que acredite em sua filha. é uma guerreira, era para ela ter morrido naquele acidente, mas está aqui batalhando e querendo nos dizer algo, mesmo que eu ainda não saiba o que é. Confie nela!
Em seguida, tanto o enfermeiro quanto a médica saíram do quarto, deixando meu pai a sós comigo. Então o vi levantar da poltrona e chegar mais perto de mim. Com delicadeza, como se não quisesse me machucar, ele tocou com o polegar no dorso da minha mão. Fazia movimentos circulares, sem pressa, ao mesmo tempo em que olhava para o meu rosto sem expressão. Meu pai não disse nada, mas eu sabia que ele estava sofrendo.
Sem saber o que fazer, sentei no chão observando a cena de carinho entre meu pai e eu, e então eu pude sentir que o mesmo movimento que ele fazia na em coma eu conseguia sentir em mim. Sorri só por sentir o calor dos dedos do meu pai em minhas mãos. Fechei os olhos torcendo para que aquele pesadelo passasse rápido.





Continua...



Nota da autora: Olá, primeiro gostaria de agradecer a quem entrou aqui pra ler minha fic, espero, de coração que tenham gostado. Quem se sentir à vontade, deixa um comentário para fazer uma autora feliz e deixá-la ter noção de como a história está caminhando. Obrigada!! :).



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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