Última atualização: 09/09/2021

Capítulo 1

Ser babá não é uma tarefa nada fácil, mas eu posso dizer que tirei a sorte grande sendo babá da pequena , ela é uma menina tranquila, educada, engraçada e a maior parte das gente boa recompensa por suas maluquices, é bastante divertido. E como uma adolescente sonhadora (isso mesmo no feminino) ele está na busca incessante pelo seu verdadeiro amor, sim ele ainda sonha e acredita que vai encontrar o amor da sua vida, que apesar dos tombos que teve na sua vida amorosa ele ainda acredita, e além do mais ela não precisa vim montada num cavalo branco, o importante é chegar.
Agora dizer dele como pai é dizer que ele nasceu de fato pra coisa, ele é ótimo demais para a , sempre presente, dando todo do seu amor e carinho todos os dias, jamais deixa faltar algo para sua pequena garotinha, quando ela pede algo inesperado ele se dobra em dois para dar a ela e faze-la feliz, mas não permite de forma alguma que essas coisas a deixem mimada, ele sempre que pode está brincando com sua filha pela casa, e soltando gargalhadas, muitas vezes quem acaba se machucando é ele ao invés de .
E tanto como pai como pessoa eu o admiro demais!
Agora dizendo da relação entre mim e : nos damos bem, nem parece que sou sua funcionaria e ele meu patrão, somos muito amigos, principalmente por causa da , procuramos com nossa amizade deixar o lar mais leve e agradável, melhor do que acabarmos vivendo em um ambiente pesado e esquisito tendo a relação de patrão sempre estar pegando demais no pé da funcionária e gerar aquele clima nada agradável.
é chefe de cozinha e tem seu próprio restaurante, que com muitos esforços e muito estudo está cada vez mais crescendo, seu restaurante não é muito famoso, é razoavelmente conhecido em Nova Iorque causando uma quantia bem considerável de clientes principalmente nos finais de semana. Não podemos contar que ele é rico com o que ganha lá, mas o que ganha dá para proporcionar uma boa vida para ele e sua filha, e ainda consegue me pagar como babá.
Com o salário que eu ganho de babá, dá para mim viver digamos que de forma tranquila, deixando minhas contas em dia e o restinho que sobra divido para comprar algumas coisinhas para mim ou para meu apartamento, a outra metade eu junto para abrir meu próprio negócio um dia, a minha tão sonhada loja de doces. É um sonho que ainda está meio cru no papel que conforme vou tendo tempo e criatividade vou aprimorando essa idéia.
Como citei ali a pouco ainda está em busca de seu verdadeiro amor, alguns finais de semana ele assim que saia do restaurante ia direto para outro local para um de seus encontros com alguma mulher que conheceu, como ele diz "nesses encontros vai que um dia a sorte sorri para mim, e eu encontre o grande amor", e eu somente lhe desejo boa sorte. Não que eu não acredite no amor, eu acredito sim, mas com muitas desilusões amorosas que já tive em minha vida aprendi a ser mais pezinho no chão, e apenas aprendi que príncipes encantados não existem, somente existem pessoas dispostas a fazer a relação dar certo e te fazer cada dia mais feliz. Que pessoas perfeitas não existem, mas sim pessoas que têm defeitos e mesmo com seus defeitos você a ama cada dia mais.
Fiquei escrevendo e escrevendo sem parar que esqueci de dizer a idade de cada um, bem começando pelo mais velho. tem 26 anos, tem 5 aninhos, já eu estou com meus 25 anos.

Falando um pouco mais sobre meu trabalho durante a semana eu dormia no serviço por conta da escola de , como ela estudava de manhã eu a maioria das vezes era quem a acordava e a ajudava a se aprontar e dava seu café da manhã. Isso quando o pai dela estava mais dormindo que a própria filha, mas quando ele estava bem-disposto ele quem fazia isso, ai eu somente lhe dava o café da manhã.
Os finais de semana em que ele saia para ter um encontro muitas noites ele voltava meio tarde mas voltava, quando era uma pessoa que ele se interessava um pouco mais eles iam para outro lugar depois do jantar (se é que você me entende), aí nesses dias eu deixava de dormir no meu apartamento para dormir no trabalho fazendo companhia para a pedido do meu patrão, que se não telefonava na hora ele já deixava avisado antes de sair de casa.
Nisso meu patrão era conservador e cabeça firme, em nenhum de suas noites de encontros eu acordei e vi uma mulher diferente perambulando pela casa praticamente nua, não fazia isso em respeito a mim e principalmente em respeito a sua filha tão pequena.
E aqui chegamos a outro fato da história, um fato delicado que é sobre a mãe de , nunca entrou exatamente em detalhes sobre o ocorrido, eu soube por cima que eles se casaram meio que cedo demais, e logo ela ficou grávida, e assim que nasceu ela adquiriu uma forte depressão pós-parto, o que acorrentou no fator seguinte de ela ter ido embora em uma madrugada qualquer com uma outra mulher até então desconhecida por mim, deixando a própria sorte, sobre a responsabilidade de que também era novo e tinhas suas grandes inseguranças também sobre como cuidar de um bebê tão pequeno, indefeso e tão dependente, a pequena garotinha tinha apenas 3 meses de vida. compreensivelmente ficou desesperado, mas aos poucos conseguiu lidar com o abandono da esposa enquanto tinha que aprender muita coisa sozinho a como cuidar de um bebê tão pequeno, cuidados muitos a quais são mais delicados e rigorosos do que obviamente se tratando de uma criança com mais idade.
Uma época na minha crise dos 21 anos de idade por estar desempregada, uma amiga solidária com a minha decadência viu uma oferta de emprego no jornal me indicou, e dias depois lá estava indo eu para a entrevista de emprego de babá que mudaria minha vida dali em diante.
O pouco que eu sabia sobre como cuidar de um bebê era o pouco que eu havia aprendido ao ver algumas tias cuidando de meus priminhos quando bebê, mas eu com certeza ainda tinha muita coisa para aprender, o que me salvou para conseguir aquele emprego era o desespero de e junto sua boa vontade em me ensinar o que tinha aprendido no longo um ano de vida de sua pequena filha .
Confesso que eu não tinha entendido muito bem a parte em que a mãe de tinha fugido com uma mulher, só aí depois de um tempo com uma breve explicação do próprio é que eu entendi que essa mulher que ela fugiu, não era uma amiga, e sim sua nova namorada, a mãe de se descobriu lésbica, e até imagino o quão mal teve ter ficado ao descobrir isso, não por preconceito, mas ele deve ter se sentido meio que impotente diante a isso.

Era uma sexta feira eu estava na cozinha preparando o café da manhã enquanto meu patrão acordava a filha e a arrumava para a escola, eu estava preparando o café da manhã para mim (que com muita insistência fez questão que eu comesse tudo aquilo que eles dois comia, mas como uma pessoa tímida eu não levava tão a sério isso claro), e .
- você tem algum compromisso marcado para esse final de semana? - dizia enquanto adentrava a cozinha.
- Não tenho não.
- Certo e você poderia fazer o grande favor de dormir aqui em casa? – seu sorriso de por favor se alargou em seu rosto.
- Posso sim. Sem problemas.
- Ótimo muito obrigado.
- Outro encontro?
- Exatamente, mais um. Iremos sair hoje e dando tudo certo sairemos final de semana também. Quem sabe esse não dá em alguma coisa além de apenas uma noite depois do jantar.
- Estou torcendo por você. – cruzei meu dedo indicador com o do meio é sinal claro de torcida e ele riu.
- Bom dia tia . - entrou na cozinha meio animada.
- Bom dia , e que animação toda é essa? - perguntei me sentado na mesa.
- Não sei, só acordei de bom humor. - deu de ombros.
- Certo. quem irá buscar na escola hoje?
- Você, eu tenho muito trabalho no restaurante hoje.
- Papai, você vai na minha apresentação de bale no mês que vem, não é?
- Claro que irei filha. Jamais perderia uma coisa tão importante assim da minha garotinha.
- Que bom papai, pois espero muito que você não me troque pelo trabalho, ou eu terei que ir embora de casa, por magoa do senhor.
- Papai nunca faria uma coisa dessas, meu amor. E só de pensar em você me abandonando papai já fica maluco, não consigo mais viver sem você minha pequena. – passou uma mãos pelo cabelo de .
- Eu te amo papai.
- E eu te amo ainda mais minha filha.
me olhou e ambos sorrimos ainda mais, eu naqueles momentos de afeto entre os dois tudo o que eu conseguia fazer era ficar observando admirada e com um sorriso bobo no rosto.
- Pronta filha?
- Sim papai. - ela respondeu já se levantando da cadeira.
- Então vamos, antes que a gente nos atrase.
- Vamos, tchau tia .
- Tchau minha pequena - dei um beijo em sua testa.
- Tchau , e até mais tarde. - acenou de longe.
- Tchau senhor , até mais tarde.
Me olhou com a cara fechada e os semicerrados os olhos pois toda vez que eu o chamava de senhor ele "brigava" comigo alegando que ele se sentia muito velho quando eu o chamava assim, mas quando eu o chamava ou era esquecimento ou era de propósito mesmo só para ver ele bolado, e descontrair ainda mais o ambiente.

Eu presenciei muitas fazes bacanas e desesperadoras da vida de bebê de , ela ainda é um bebê claro, pois pra nós eles nunca vão crescer. Mas umas das desesperadoras foi quando ela tinha por volta dos 2 aninhos eu passei por uma grande preocupação com , eu senti muito medo naquele dia, e eu sentimos um medo avassalador de perder ela. A pequena havia nos dado um grande susto, no meio da noite corremos com ela para o hospital pois ela estava com muita febre, e o lado do seu pescoço e mandíbula estavam inchados, e ela não comia nada, apenas chorava.
O médico depois de alguns exames diagnosticou que estava com amigdalite.
Mas graças aos céus não demorou muito estava de volta em casa e bem, correndo pela casa aprontando, espalhando sua alegria e sorriso por onde passava.

e saíram de casa, enquanto eu continuava na mesa reunindo mais disposição para fazer as coisas que tinha que fazer ali, como principalmente retirar as comidas do café e lavar a louça, não demoraria muito eu teria que preparar o almoço para mim e depois buscar na escola.
Depois do café arrumei a cozinha, a sala, a cama de e de que por conta da correria que quase se atrasaram não puderam arrumar. Coloquei umas roupas para lavar e dei uma geral no meu quarto. Eu havia sido contratada somente como babá, mas eu fazia uma faxina na casa por conta própria, pois não me custava nada e me ajudava a passar o tempo, principalmente quando eu lavava a louça.
Depois até a hora do almoço fiquei no computador mandando e-mails importantes, e fiz algumas pesquisas.
Quando vi já era hora do almoço, peguei as sobras do jantar do dia anterior mesmo, esquentei e almocei, logo depois voltei ao computador respondi alguns dos e-mails que tinha recebido, e logo depois fui arrumar o restante dos cômodos da casa que faltava.
Terminei a arrumação praticamente em tempo recorde, e o fato de que a casa não estava tão desorganizada me ajudou bastante, então depois fui para meu quarto que ficava perto da lavanderia. Graças a Deus não ficava de frente para a lavanderia exatamente e sim um pouco mais afastado em um pequeno corredor e eu também tinha um banheiro no meu quarto, que não era pequeno, mas também não era tão grande, era confortável, eu não reclamava porque também tinha semanas que eu dormia de segunda a segunda no trabalho, mas tinha dias também da semana e nos finais de semana que eu dormia em meu apartamento, então aquele quarto estava ótimo para mim.
25 anos, solteira, morando sozinha em um apartamento de um quarto, sala, cozinha e um banheiro, então pra mim dormir no serviço muitas vezes era lucro, pois pelo menos eu tinha a companhia de duas pessoas, principalmente de , que nas noites de muita chuva, trovões e relâmpagos, ou até mesmo quando ela tinha um pesadelo, ou eu dormia no quarto dela com ela, se não as vezes ela dormia comigo no quarto, isso quando seu pai saia para algum encontro, mas quando ele sempre estava era nos braços dele que ela se refugiava.
Mas muitas vezes não era um lucro dormir no trabalho, pois o que eu mais queria era ficar sozinha na solidão do meu apartamento.

Deu a hora de buscar na escola, peguei as chaves do carro que era meu, que com muitas economias consegui comprar, peguei minha bolsa e meu celular e saí de casa rumo a escola de , assim que eu pegasse ela eu iria aproveitar que estava na rua, para ir ao mercado comprar umas coisinhas, a despensa estava começando a ficar vazia. Disse a e ele me deu um dinheiro a mais para fazer as compras.
Estacionei em frente à escola e desci parando em frente as escadas que dava para a entrada da escola, por sorte (ou não) daquela vez eu tinha chegado cedo até demais, e só percebi quando cheguei em frente à escola e consultei o relógio do celular.
(Longos) Minutos depois o sino da escola tocou e aquele mar de pequenos projetos de gente, tomou as escadas, com certeza algum acidente (que tomara não tenha sido muito grave) já havia acontecido, envolvendo aquelas escadas e uma criança eufórica e imperativa para ir para casa aprontar e tirar a paz de seus pais ou babás.
Logo reconheci uma menina de cabelos louros feito um penteado de maria Chiquinha e uma mochila rosa nas costas vindo em minha direção, mas quando ela parou em minha frente, ela não abraçou minhas pernas ou pulou no meu colo como sempre fazia, ela estava de cabeça baixa e parecia triste.
Me agachei na altura dela, coloquei um dedo indicador em seu queixo e ergui sua cabeça, olhando seus lindos olhos verdes, ela estava triste e meio brava.
- Ei princesa, o que houve? Por que está triste? Você acordou tão feliz hoje, o que te deixou assim?
- Não foi nada tia , é bobagem.
- Não importa, me conte pequena.
- Desculpa tia , mas não quero falar disso agora, estou com raiva demais para falar. - falou daquele jeitinho dela de criança, me fazendo segurar o riso.
- Tudo bem, então que tal irmos ao mercado e depois irmos ao parque que você gosta e tomamos um sorvete?
- Pode ser. - desfiz meu sorriso, aquela proposta era infalível quando estava triste.
- Vamos lá , ânimo pequena, vamos fazer o que você mais gosta.
- Eu sei tia - ela respirou fundo. - Tudo bem vou tentar me animar mais.
Deu um pequeno sorriso, sorri para ela e peguei a mochila de suas costas, dei a mão a que a segurou a guiei até o carro, abri a porta de trás do carro e a ajudei a entrar e colocar o sinto. Dei a volta e entrei na parte do motorista, coloquei a mochila dela no banco do passageiro ao lado da minha bolsa, olhei para o espelho retrovisor central e vi sentadinha com a cabeça encostada na porta do carro e com a carinha ainda triste, vê-la daquela forma me partia o coração, era uma menina linda e maravilhosa ela não merecia ter o coração partido por ninguém.

Chegamos ao mercado coloquei ela sentada dentro do carrinho e durante todo o momento que ficamos ali no mercado tentei de todas as formas animar , mas ela continuava com a carinha triste, mas ela fazia um esforço para parecer animada quando eu tentava.

Saímos do mercado e rumei para o parque que mais gostava. Quando chegamos ela pareceu se animar um pouco mais, sua carinha de tristeza havia se desfeito um pouco me deixando mais alegre, apostamos uma corrida até o carrinho de sorvete mais próximo e obviamente quem ganhou foi , ela era uma criança ainda, jovem demais, com muita disposição, eu já tinha meus 25 anos e mesmo muitos me dizendo que eu também estava muito jovem, eu tinha minhas fadigas, minhas dores nas costas, e minhas intermináveis preguiças (que me acompanha desde que eu era realmente jovem).
Compramos o sorvete e sentamos na grama, na sombra de baixo de uma grande arvore ali, que eu e ela amávamos.
Assim que terminou seu sorvete, que para minha sorte ela não tinha se lambuzado tanto, ela deitou a cabeça em meu colo, de barriga para cima, e eu fazia carinho em seu cabelo, seus olhinhos verdes observavam as folhas da arvore e uma parte do céu.
-Por que meninos tem que existir? - ela perguntou voltando a ficar com a carinha triste.
- Eles existem porque querendo ou não precisamos deles para muitas coisas. - se seu pai não existisse você não estaria hoje aqui, completei mentalmente.
- Eu prefiro não precisar deles, eles são uns completos idiotas, uns babacas. - a olhei meio assustada pelo modo como ela tinha xingado, será que sabia que com apenas 5 anos já xingava daquela forma? Bom, se é que ele não tinha ensinado aquilo a ela.
- Quem te ajudou a expandir seu vocabulário dessa forma? - ela apenas me olhou e deu de ombros. - Se foi seu pai eu vou dar cascudo nele.
- Não é culpa do papai, tia , ele não sabia que eu estava escutando.
- Mesmo assim, você ouvindo ou não ele não deve falar essas palavras feias. - novamente ela deu de ombros.
- Tia , você tem namorado?
- Não tenho .
- Nem tenha tia , eles dão muito trabalho.
- Ainda mais se forem como seu pai. - disse pensando alto, me olhou, mas não falou nada, eu apenas dei de ombros. - Mas você tem namorado para saber que eles dão trabalho?
- Não tenho. Mas imagino. Hoje uma amiga minha contou para um menino que eu achava ele bonito, ele ficou todo se achando. Fiquei decepcionada com ele, bonito, mas arrogante. - a forma como ela falava como se fosse adulta com apenas 5 anos já não me surpreendia tanto.
- Não acredito, então era por isso que você estava triste e com raiva?
- Sim, eu acabei brigando com a minha amiga, ela foi uma idiota, como ele é.
- Não se preocupe , aposto que amanhã mesmo vocês voltam a ser amigas.
- Tomara, mesmo ela sendo uma idiota ela ainda é minha amiga, eu ainda gosto dela.
- Aposto que sim.

Saímos do parque e voltamos para casa, no meio do caminho reclamou que estava com fome, mesmo tendo chupado sorvete e comido um algodão doce, tudo bem que isso não enche barriga, apenas engana.
Então assim que chegamos em casa, corremos para a cozinha e fiz bolo de chocolate com a ajuda de , e no final saímos toda suja de farinha e chocolate.
E enquanto o bolo estava assando foi tomar banho, ajudei ela a lavar o cabelo tirando o grude de água e farinha.
Mas quem disse que eu saí seca do banho com , ela fez questão de me molhar, mas não tinha como ficar brava com ela, eu teria mesmo que tomar banho uma hora ou outra e ela estava se divertindo e eu também.
Assim que ela estava arrumada, ela sentou no sofá e ficou assistindo desenho animado, desliguei o forno do bolo e fui tomar um rápido banho.
Quando sai comemos o bolo e ficamos na sala assistindo desenho, eu assistia, mas minha cabeça estava meio que longe, pensando em um monte de coisas ao mesmo tempo, principalmente em onde o poderia estar já eram quase sete e meia da noite, e foi então que eu me lembrei que ele havia me falado que quando o restaurante fechasse (que o horário normal era as sete da noite) ele iria sair em mais um de seus encontros que apelidei de "em busca do verdadeiro amor", não resisti.
Deu oito horas da noite eu fui preparar o jantar para em seguida colocar na cama. Preparei uma macarronada e esquentei uma lasanha aos quatro queijos congelado. comeu tudo e rápido.
Não demorei muito terminei minha comida, arrumei a cozinha, lavei a louça que tínhamos usado no jantar e fui para a sala, chamar para ir dormir.
- , está na hora de dormir, amanhã você tem escola.
- Ah não tia , não quero dormir agora, deixa eu ficar um pouco mais acordada, quero esperar o papai.
- , você acorda cedo no dia seguinte, e seu pai vai demorar para chegar em casa hoje.
- Por que? Ele não vai me colocar para dormir? - perguntou fazendo biquinho.
- Eu acho que hoje não meu amor, o restaurante do seu pai está indo muito bem, ele merece comemorar. – e eu combinamos juntos que não contaríamos a sobre seus encontros pois não queríamos confundi sua cabecinha feliz, mesmo ela sendo quando adulta com 5 anos. Não é que estávamos mentindo estávamos apenas omitindo, quando em um momento tudo ocorresse bem, ele contaria para ela.
- É, você tem razão. - mesmo assim ainda estava meio triste.
- Mas ei, ânimo , amanhã à noite tenho certeza que ele vai coloca-la para dormir, e ainda mais feliz, pelo sucesso que está fazendo.
- É, papai merece comemorar.
- Merece sim. Então vamos escovar os dentes e já para a cama, porque hoje quem vai te colocar pra dormir vai ser a tia . Ou você não quer?
- Queroo - se animou ficando em pé no sofá e esticando os bracinhos em minha direção, enquanto sorria sapeca, faltando dois dentes da frente.
- Que foi?
- Me lava até o quarto no colo tia ?!
- Ah não, você já está grandinha e pesada, e eu estou ficando velha.
- Ah por favor, tia . - ela fez aquela carinha de cachorrinho que caiu do caminhão de mudança, e que a maior parte das vezes eu não resistia aquela carinha.
- Tá bom, você tem que parar de fazer essa cara quando quer alguma coisa, isso é chantagem emocional.
- O importante é que funciona. - ela deu ombro e a olhei boquiaberta.
- Vou me lembrar disso da próxima vez, pra que não funcione. E você não acha que muitas vezes é adulta demais para sua idade?
- Não, porque eu sou uma adulta. - ela sorriu se sentindo a adulta.
Abri a porta de seu quarto e a coloquei deitada na cama e me ajoelhei no chão perto da cama.
- Não, você não é adulta, você é uma criança, uma bebê ainda. A bebê da tia .
- Para tia , não me chama assim, não sou mais um bebê, sou uma adulta.
- Ah, não é não, é meu bebê.
- Não sou não. - ele cruzou os braços e fez cara de brava.
- Ah vai ficar brava é?! - perguntei sorrindo já tendo algo em mente.
- Vou!
- Não vai não, vou fazer você dar um sorriso para mim.
- Não quero dar um sorriso, estou brava com você. - continuou com a cara amarrada e com os braços cruzados, mas querendo muito rir.
- Ah vai sim, as cosquinhas são infalíveis. - levantei as mãos e arregalou seus olhos verdes lindos, que eu tinha uma certa inveja.
- Cosquinhas não.
- Cosquinhas sim.
- Não tia por favor.
Era tarde demais comecei com as sessões de cosquinhas, gargalhava e pedia para que eu parasse.
Segundos depois parei com as cosquinhas e ela me olhou com os olhos semicerrados.
- Você é muito má tia . - falou como querendo me dar uma bronca.
- Estou acostumada a ouvir isso, seu pai fala isso quase que o tempo todo.
- Papai tem razão.
- Olha que eu começo as cosquinhas de novo.
- Não, desculpa tia .
- Tudo bem, vai escovar os dentes que eu vou te cobrir. - disse me levantando do chão.
Assim que ela terminou de escovar os dentes se jogou na cama, e eu a cobri.
- Antes o que tem que ser feito meu amor?
- Orar pro papai do céu.
-Isso mesmo. Pode começar. – juntamos nossas mãos e ela começou.
- Papai do céu muito obrigada por mais um dia de vida e saúde que o senhor nos deu. E peço que guarde e abençoe a mim, ao papai, a tia e todos aqueles que amamos. Amém.
- Amem. Boa noite , durma bem e sonhe com os anjos.
- Boa noite tia, durma bem e sonhe com o papai. - ela sorriu sapeca e eu franzi a sobrancelha a olhando.
- Sonhar com quem ?
- Com os anjos.
- Tudo bem, até amanhã. - dei um beijo na testa de , a cobri e sai do quarto encostando a porta.
Fiquei mais um tempo na sala, esperando chegar, enquanto isso assistia a televisão e checava umas coisas em meu computador.
Deu onze horas me ligou meio sem jeito dizendo que o jantar se estendeu para outro local, para não o deixar mais sem jeito apenas disse que entendia, dei boa noite e desliguei.
Como ele já tinha ligado resolvi por fim ir dormir, mas antes de deitar subi novamente dei uma olhada em que dormia tranquilamente e fui para meu quarto peguei umas coisas lá e subi para o quarto de hospedes, recomendações de as noites que ele não estava eu dormia naquele quarto ao invés do meu até por aquele ser mais perto do de que precisando de algo eu estaria mais perto, e ela não dormiria sozinha naquele andar.
Me aprontei e me deitei, ainda assisti um pouco mais de televisão, mas o sono estava começando a aparecer e acabei me rendendo a ele.


Capítulo 2

Um barulhinho muito irritante insistia em tentar me acordar, eu me virava de um lado para o outro na cama, colocava o travesseiro no rosto para abafar o som e voltar a dormir, mas aquele barulho insistia em continuar perturbando.
Em um surto de consciência me lembrei que ainda era sexta dia de semana, e que tinha escola. Levantei de imediato desligando o relógio e constatando que graças a Deus eu não estava atrasada.
Fui ao banheiro escovar os dentes, me troquei e fui para o quarto de acorda-la, mas antes passei no quarto de e a cama continuava da mesma forma que eu havia deixado quando arrumei na tarde do dia anterior, as coisas devem ter ido muito bem pelo simples fato dele não ter retornado para casa na madrugada, chequei meu celular e nada de ligação ou mensagem dele mas acreditava eu que ele estava bem.
Conhecendo a bom tempo como o conheço sabia que ele chegaria em casa envergonhado e daria dia explicação do que ocorreu para ter passado a noite inteira fora, eu somente imploraria que me poupasse dos detalhes sórdidos é claro.
Adentrei o quarto de e ela dormia gostoso, coberta da cabeça aos pés pois Nova Iorque fazia frio naquele dia, era uma pena que eu teria que acorda-la, mas se ela quisesse fazer uma boa faculdade futuramente e ser ainda mais inteligente ela teria que frequentar a escola regularmente, faltar em casos de emergência apenas.
- acorda, você tem escola, anda. - tirei o edredom de sua cabeça e comecei a cutuca-la.
- Não quero ir pra escola hoje, eu estou com sono, quero dormir. - ela reclamou voltando a colocar a coberta na cabeça que eu tinha tirado.
- Não senhora, você vai pra escola hoje ainda mais que é a última aula da semana. E outra mocinha se você quer ser bem de vida e melhorar o mundo quando crescer tem que se sacrificar agora. Está frio? Esta, mas você tem que ir para a escola.
- Eu já sou bem de vida. E o mundo eu posso mudar ele aqui na minha cama, pois eles não irão sentir meu mal humor quando sou acordada a força.
- Não adianta tentar dar uma de espertinha e tentar filosofar comigo mocinha, pois não irá funcionar. Você irá sim na escola.
- Se eu for todos irão sentir o peso da minha fúria por ter que acordar.
- Não vai não, quando você despertar você voltará a ser meiga. Agora anda levanta. - fui até o pé da cama dela, ergui o edredom e peguei seus dois pés os puxando. Ela se debatia segurando uma parte do colchão e tentava se soltar.
Quando ela conseguiu se soltar, respirei fundo arrumando meu cabelo que com um certo impacto dela ter conseguido se soltar, o deixou mais desgrenhado do que já estava. Coloquei a mão na cintura, caminhei até a janela e abri com tudo as cortinas e me decepcionei com o tempo lá fora.
- Acorda agora , olha que dia lindo que está fazendo lá fora, você precisa aproveitar e o primeiro passo é, indo para a escola.
Uma miniatura de gente se levantou do meio de um monte de travesseiros e enormes edredons.
- Está tão lindo o dia lá fora, que o céu está até chorando. - ela reclamou irônica e meio chateada.
- Não está chovendo, só está nublado. - dei um pequeno sorriso.
- Eu quero dormi! - ela reclamou praticamente gritando, bufando e batendo as mãos no edredom.
- Mas não vai, você vai é para a escola mocinha. Eu vou contar até três e você vai levantar dessa cama. UM... DOIS...
- Af, você é chata.
- TRÊS. - bati palma e ela logo tratou de levantar da cama, e foi para o banheiro
- VÊ SE AGORA NÃO DORME NO BANHEIRO EM?!
Peguei o uniforme de escola dela no guarda roupa e deixei em cima da cama. E fui saindo do quarto, mas não sem antes gritar para .
- Não demore para que não acabe se atrasando, o café da manhã logo estará pronto.
- TA BOM, TA BOM.
Sai do quarto rumo a cozinha, peguei as coisas para o café nos armários e geladeira e fui colocando a mesa, quando escutei um barulho na porta principal, me aproximei da sala atenta ao barulho, para qualquer coisa eu atacava. E do nada a porta se abriu e eu me assustei, a sorte (ou não) da pessoa era que eu não estava tão perto da porta, senão eu teria matado, literalmente.
- Nossa calma, abaixa essa faca, sou eu . Abaixa essa faca . - só então percebi que estava com uma faca na mão e aprontava em direção a .
- Ah, desculpe não percebi que estava com ela na mão. - sorri tímida e voltei para a cozinha com em meu encalço.
- Tudo bem não tem problema. já acordou? - se sentou em uma das cadeiras da mesa.
- Sim, se ela não estiver dormindo no banheiro.
- Ela vai acabar se atrasando para a escola.
- , ANDA ANTES QUE VOCÊ SE ATRASE. O CAFÉ JÁ ESTÁ NA MESA. - gritei e fez careta mexendo na orelha.
- Vai com calma aí, quase fiquei surdo.
- Me diz como foi seu jantar? Que se estendeu até o café da manha - me sentei o olhando.
- Foi bacana, ela é legal e faz coisas incríveis. – bufei
- Por favor não conte os detalhes sórdidos. Isso é horrível de se imaginar, caramba.
- O que? Não. Ok que ela faz coisas incríveis nesse sentido também, mas sem ser nesse sentido ela também faz coisas incríveis.
- É? - perguntei colocando café na caneca. – Então ela faz alguma acrobacia? Tipo brincar de jogar facas no ar e as pegar, ou então ela cospe fogo?
- Não, ela não faz esse tipo de coisa. – deu risada me acusando ser maluca pelo olhar.
- Isso é uma pena, pois isso é fazer algo incrível sem ir parar no hospital por amputar seu próprio dedo. Mas me conta como é o nome dela e idade?
- Quer CPF e RG dela também só para garantir?
- Se eu trabalhe em uma loja e fizesse cartões isso seria ótimo. – rimos.
- Ela se chama Katherine, ela tem 23 anos. Solteira, linda e maravilhosa.
- É pelo jeito a noite foi boa mesmo. - beberiquei meu café.
- Foi e muito, passamos a noite em um hotel.
- Por que em um hotel e não motel?
- Queríamos algo mais discreto e ar leve, que não exale o tempo inteiro sacanagem.
- Entendo.
- Eu acho que talvez seja ela. Mas eu meio que acabei fazendo uma pequena loucura.
Estava com a boca na caneca pronta para tomar um pouco do café, mas parei quando ele falou aquilo e o olhei ainda com a boca na caneca, quando ele falava que havia feito uma pequena loucura, pelo tom de sua voz e seu olhar boa coisa não era. Coloquei a caneca na mesa e o olhei.
- O que você fez ? - perguntei cautelosa, com medo da resposta.
- Eu contei uma pequena mentirinha. - me senti um pouco mais aliviada.
- Mentir é pecado e você sabe disso.
- Todo mundo mente . - revirei os olhos.
- Nem todo mundo. Mas é meio que normal, você ter mentido sobre sua idade ou algo assim.
- Mas a minha pequena mentira não foi sobre a idade, .
- Foi sobre o que? - lá vinha o medo de novo, não me incluindo nas loucuras dele de novo para mim estava tudo bem.
- Então eu e Katherine tínhamos acabado de acordar, conversamos um pouco ainda na cama quando ela anotou seu telefone num papel e para se certificar de que eu não esqueceria de ligar ou perderia o papel ela pegou minha carteira e colocou o papel ali dentro, foi quando ela achou uma foto da que eu sempre carrego na carteira, daí ela ficou meio brava achando que eu era casado e traia minha mulher ainda mais tendo uma filha pequena. Com muito custo e travesseiros sendo arremessados em mim, falei pra ela que eu não sou casado, mas sim que eu e a mãe da estamos separados, que eu já tinha até entrado com o pedido de divórcio.
- Mas por que você mentiu sobre isso? Era só ter falado que a mãe de foi embora. - peguei minha caneca e fui para a pia lavar.
- Aí ter que explicar que a mãe da se descobriu lésbica? Não gosto de ter que ficar pensando nisso, imagina contar para a pessoa que eu gosto, ela vai achar o que de mim?
- Que você é meio frouxo na cama, mas tudo bem isso não vem ao caso já que vocês dormiram juntos. Então, quem é a mãe de na sua história inventada?
- Então , promete que não vai gritar nem ficar brava comigo? - deu aquele sorriso sapeca, daquela forma ele ficou idêntico a filha, ou a filha fica idêntica a ele, tanto faz.
- Vou tentar.
- No desespero eu acabei falando que é você. - ele mordeu o lábio, me olhando meio incerto.
- O que? - fiquei olhando para sem nenhuma reação, o que ele tinha na cabeça ao falar aquilo para a garota? Ele só podia estar brincando, ou então ele caiu da cama ao acordar e bateu a cabeça muita força no chão, não que eu não goste do meu chefe, eu gosto, mas como amigos.
- É, para a Katherine agora, você é a mãe da . - eu parei para pensar e meu Deus que loucura o tinha feito, ele não podia ter mentido daquela forma.
- ANDA LOGO QUE VOCÊ VAI SE ATRASAR. Você está maluco ? - gritei por e encarei meu patrão, elevando um pouco mais minha voz, usando minhas mãos para escorar na pia da cozinha.
- Mas vendo por esse lado você de fato é praticamente uma mãe para a , você está cuidando dela a mais de 6 anos praticamente. Vocês se apegaram demais e não se largam.
- Não importa . Como você acha que a Katherine vai ficar quando souber que eu sou apenas a babá da menina?
- E quem disse que ela precisa saber? Pelo menos não por agora, pelo menos até que eu possa sentir segurança de contar a verdade para ela.
- Então você pretende mentir para ela, para sempre? Que tipo de pessoa é você? Relacionamentos se constroem primeiramente na confiança e na verdade.
- Não estou mentindo, estou omitindo uma parte muito dura e dolorosa da minha vida que foi o abandono da minha esposa e mãe de sangue da .
- Você não vai conseguir esconder isso por muito tempo dela e você sabe disso.
- Sim disso tenho ciência, corro o risco de sofrer grandes consequências depois, mas por agora eu preciso muito da sua ajuda . Por favor. – olhando para ele e vendo o tanto que ele correu atrás de uma pessoa legal para viver e pensar que essa Katherine fosse essa pessoas eu não conseguia negar a ele ajuda.
- Tudo bem, eu serei apenas a mãe de , Katherine apenas ouvira falar de mim, mas ela nunca irá me ver. Certo? – mesmo sabendo que foi uma pergunta não respondeu, isso estava começando a ficar perigoso. – Certo, ?
- É quase isso. – já tratei de lançar a ele um olhar mortal.
- O que? - lá vem mais bomba.
- Ela me fez marcar um jantar entre nós.
- Mas ela já quer conhecer a ?
- Também , mas o nós eu digo eu, ela, a e você.
- O QUE? Você ficou maluco de vez . - eu estava nervosa eu não conseguiria me passar por ex-mulher do meu patrão eu não sou tão boa atriz assim.
- Vai dar certo, você só precisa fingir que é a mãe de e minha ex-mulher. Ser você mesma, comigo e com a você sempre é você mesma, então não fara muita diferença, não será tão difícil.
- Não sei não , isso é loucura, mentir para ela dessa forma não está certo.
- Todo mundo oculta coisas , as vezes ocultar é preciso.
- E como você pretende contar isso para a , ?
- Contando a verdade? - o olhei meio incrédula.
- A verdade? "Olha , o papai está a procura de uma pessoa e achei ela, então pra mim conseguir continuar saindo com ela, você fingira que sua babá é a sua mamãe”. Você está louco.
- Não será exatamente dessa forma. Qual é não estou sendo um monstro com ninguém. Somente quero uma segunda chance de formar uma família, e dessa vez pra valer.
- ?!
- Pronto cheguei, eu em que estres tia .
- Não estou estressada .
- Está sim. Oi papai. - deu um beijo em .
- Oi minha princesa, dormiu bem?
- Sim, mas dormiria ainda melhor se tia não tivesse me acordado nesse frio.
- Você precisa ir à escola filha, garantir seu futuro.
- Tudo bem, tudo bem, essa lição se moral tia já me deu.
- E você sabe que eu estou certa mocinha. - ela apenas revirou os olhos.
- Do que vocês falavam papai? – me olhou e tudo o que consegui fazer foi desviar o olhar e dar uma leve negação com a cabeça.
- Filha assim que eu chegar do restaurante mais tarde, teremos que ter uma conversa.
- Eu não fiz nada papai, eu juro pode perguntar pra tia , eu me comportei a semana toda.
- Ainda é sexta se aprontar ainda vai contar. Mas o que você aprontou em? - perguntei semicerrando os olhos para a garotinha aminha frente.
- Nada, só estou me defendendo, me garantindo.
- Bom vamos , você já está quase atrasada. - falou se levantando da mesa e me olhando
- Vamos papai, tchau tia .
- Tchau , até mais tarde. - deu um beijo em sua testa, e entreguei sua mochila rosa para que me olhou pidão.
- Pense com carinho sobre isso, por favor. E pode deixar que eu busco na escola.
- Ok, eu vou pensar.
e saíram pela porta, não demorando muito escutei o carro de sendo ligado e ele saindo, me sentei na mesa e fiquei pensando na loucura que ele havia me proposto, principalmente na tal de Katherine que havia grandes chances de ser a sortuda de ocupar um lugar tão especial no coração de .
Eu não queria dizer nada sobre isso mas, no dia que eu cheguei na casa de para fazer a entrevista eu me encantei por ele, por sua carisma principalmente mas por sua beleza também. tem olhos azuis, cabelos curtos em um tom de castanho médio ( havia herdado os olhos verdes da mãe).
Confesso que quando vi pela primeira vez meu coração palpitou e pequenas imagens se passaram por minha mente coisa na qual não me orgulho muito, ainda mais quando o pensamento era como seria beijar aquele homem.
Ao conseguir a vaga de babá ele elogiou algumas coisas em mim, como meu sorriso, minha carisma e tudo mais, e tudo isso colaborou ainda mais para que o caminho até em casa eu fosse com ele nos pensamentos, meu mais novo patrão era um homem e tanto (em muitos sentidos). Dormi pensando nele, não era pecado deseja-lo, ele não era casado, tinha uma filha apenas não significava que ele não poderia ter alguém ao seu lado novamente para ama-lo.
E foi doendo aos poucos em mim quando eu via ele marcando encontros com algumas moças e todo sorridente quando uma parecia que iria para frente. E eu fui percebendo que ele não iria reparar em mim em momento algum, pois eu sentia que para ele eu não passava da simples babá da sua filha, aquela em que ele nem tentaria saber se daria certo, para que depois caso algo dê errado não ter o trabalho de correr atrás de outra babá, quando o clima entre nós ficasse péssima após a tentativa frustrada. Então eu me obriguei a fazer o que me doeria, mas era preciso, eu teria que tirar dos meus pensamentos e do meu coração, tudo bem que eu não era completamente apaixonada por ele, mas eu gostava realmente dele.
Demorou um tempo, doeu, claro que doeu, mas depois eu consegui fazer com que nossa convivência fosse melhor, relação de patrão e funcionária pelo menos em minha cabeça, mas também amigos, eu dava puxões de orelhas nele quando preciso, o aconselhava, o ajudava em muitas coisas, e torcia para que em um de seus encontros ele encontrasse o amor de sua vida, e quando eu sentia que o aquele sentimento estava começando a voltar eu já cortava pela raiz.
E com Katherine algumas (muitas) coisas poderia mudar, eu tinha um certo medo de nessas de ter que fingir ser mãe de e ex-mulher de influenciasse em algo e eu acabasse voltando a sentir algo a mais por ele, como eu gostava a um tempo atrás só que dessa vez, ainda com mais intensidade do que da primeira vez.
Mas também precisava de ajuda e eu não poderia recusar ajuda a ele, o que aconteceu com ele no passado foi horrível, ninguém espera e todos têm medo de serem abandonados um dia, e foi o que aconteceu com ele, e ainda por cima se viu tendo que cuidar sozinho de um bebê com pouco tempo de vida. Quando ele mais precisava da esposa ela não estava lá, e ele precisava dar mais uma chance ao coração, ele merecia ser feliz, então se a felicidade era ela (Katherine), então eu estaria feliz por ele.

Almocei fiz o que eu tinha que fazer na casa, e depois fui para meu quarto dar uma geral lá, assistir um pouco de televisão e fazer algumas anotações, só sai quando escutei o carro de , ele havia chegado com .
Fui para a cozinha e parei na janela da sala de jantar e fiquei observando os dois saírem do carro. desceu primeiro sorrindo largamente abriu a porta do carro para filha, fazendo ainda uma certa reverência, estava de novo brincando de ser uma princesa e seu mordomo.
- Madame. – ele falou pegando a mão de e ajudando a descer do carro, que estava com a cabeça erguida sorrindo.
- Obrigada senhor .
- É sempre bom servi-la minha linda princesa, sempre que precisar estarei à disposição!
- Muito bom!
Segundos depois os dois caíram na gargalhada, pegou no colo (eu queria entender como ele aguentava carrega-la, ela já tinha seis anos, estava pesada) e adentrou a casa.
Vendo aquela cena não pude evitar de sorrir, não tinha como não admirar pois ele lutou muito pela criação e boa educação de sua pequena, mesmo quando ele não estava não bem emocionalmente ele se demostrava forte por . Ela sempre teve apenas o amor do pai, que contava como mãe também, porque foi o pai e mãe para . A garotinha também teve o meu amor, o amor da babá, que eu esperava muito que contasse.
Ela apesar de não demostrar claro que sabemos que ela sente falta do amor de mãe, pois é diferente.
Foi de partir o coração quando fomos a uma reunião escolar dela, eu estava conversando com uma outra babá quando procurei ao meu lado e ela não estava, desesperada sai pela escola em sua busca, foi quando a encontrei sozinha sentadinha do balanço tristonha, me sentei ao seu lado no outro balanço foi quando ela me fez a pergunta “tia por que eu não tenho uma mamãe?”. Fui pega tão de surpresa mesmo já esperando por essa pergunta um dia, gaguejei umas vezes até dizer que ela tinha só que sua mamãe não estava ali naquele momento, como ela é bem esperta ela claro questionou dei uma desculpa que ela pareceu acreditar, mas deixei claro a ela que o papai dela amava tanto quanto sua mamãe a amava, e que seu papai jamais a abandonaria.
Voltando a atualidade, será que era desejar demais querer ter um marido e pai para os meus filhos, igual é?
- Tia ! – entrou na cozinha já abraçando minhas pernas e me tirando do mar de pensamentos.
- Oi princesa. – me agachei e a abracei.
- Filha?! – chamou da sala de estar.
me olhou parecendo estar meio que com medo da conversa que o pai queria ter com ela, ela pegou na minha mão e foi me puxando para a sala junto com ela, que achava que se ele começasse a brigar com ela eu a defenderia, ela estava meio enganada.
Em relação a educação de eu não me metia, só opinava quando me perguntava, eu deixava a educação dela apenas com ele, até porque ele era o pai e eu apenas a babá, e também estava indo muito bem sobre como educa-la.
Chegamos na sala ela me olhou de novo e eu dei de ombros, dei um empurrãozinho nela para que ela se aproximasse mais do pai.
- Senta aqui princesa, quero falar com você.
- Você vai brigar comigo? – ela perguntou daquele jeitinho que deu até vontade de pega-la e guardar em um potinho.
- Não meu amor, o papai só quer conversar.
- Ah bom. – ela me olhou e se sentou ao lado do pai.
- Bom eu vou para a lavanderia, vou deixar vocês conversarem. – falei meio sem jeito, eu respeitava esses momentos de pai e filha.
- Não , fica. – sorriu, ele sabia que se eu tivesse ali na hora da conversa poderia ser mais fácil, muitas vezes quando ele conversava com sobre algo sério, ela ficava nervosa e brava com o pai, daí apenas eu conseguia acalma-la, para então depois eles retomarem a conversa e decidirem sobre.
- Tudo bem. – Me sentei na poltrona ali no canto da sala.
- Então filha, não sei bem por onde começar, mas vou direto ao ponto porque te enrolar sei que não vai dar certo, e você não irá conseguir entender quase nada.
- Fala papai, pode falar. – o olhava atentamente e o encorajando com aqueles olhinhos verdes.
- Então filha, eu conheci uma moça muito legal, ela se chama Katherine e eu meio que tive que omitir umas coisas para ela. – ele olhou para mim e eu o olhei com cara de tédio. – Então filha chegando ao ponto... - ele me olhou e eu o encorajei com o olhar - Para ela sua mamãe é a .
Nossa, ele falou que ia direto ao ponto, mas eu não sabia que seria tão direto assim.
– Dai ela pensou em marcarmos um jantar para que ela conheça você e a . O que acha?
Ele terminou de falar e não falava nada apenas o olhava atentamente, desviou o olhar da filha para mim, ela parecia bastante apreensivo eu apenas dei de ombros.
- A sua namorada pensa que a tia é minha mamãe? – perguntou e deu um sorriso como que confirmando. – Porque você mentiu pra ela, papai?
não parecia brava ou chateada, ela estava mesmo é curiosa.
- Eu não menti meu amor. – respirou fundo e vendo que para ele tinha mentido sim, e não adiantaria discutir ele sabia que ela estava certa. – Tá, foi uma pequena mentirinha.
- Mentir é feio pai. O papai do céu não gosta de mentira.
- Mas olha, você não considera a como sua mãe? - eu apenas me mantinha quietinha ali na poltrona apenas ouvindo e observando até onde aquela conversa iria, eu tinha até meio que receio da resposta para aquela pergunta, eu sempre fiz de tudo para ver bem, para ver seu lindo sorriso ali em seu rostinho lindo e delicado, mas eu não sabia até que ponto ela me considerava.
Assim que eu conheci e comecei a trabalhar para , não demorou muito para que eu e ela fizéssemos amizade, ela era uma criança doce e praticamente quase tudo a deixava feliz.
E agora não se passa um dia sem que eu pense em , as vezes até mesmo em .
- Sim, eu considero ela como minha mamãe. – ela me olhou sorrindo tímida, e eu não aguentei e sorri também.
- Então, não será difícil.
olhava para o pai, semicerrava os olhos, as vezes levantando uma sobrancelha, quase que o tempo inteiro desviava seu olhar dela para mim, e tudo o que eu sabia fazer era dar de ombros o fazendo revirar os olhos, estava analisando o caso eu não podia interromper ou adivinhar qual seria a sentença final da garotinha.
- Aí papai, como você me dá trabalho. – ela bufou e achei graça daquilo, era uma criança única, nunca achei tanta graça em coisas que bebês/crianças faziam quanto eu sentia quando ela os fazia.
- Isso é um “sim papai, eu aceito a tia como minha mãe de mentirinha e encontrar Katherine”? – ele sorriu largamente, mas ainda meio cauteloso.
já tinha concordado, mas ela não falou diretamente deixando seu pai ainda confuso e esperançoso, era assim mesmo, concordava mas não diretamente e sempre foi preocupado sobre a opinião da filha, quando ele queria fazer algo a opinião dela era muito importante e nisso vinha sempre em primeiro lugar, mesmo que ele fazendo aquilo fosse certo e ela negasse, aí na dúvida ele vinha até mim para concretizar o sim ou o não.
Voltando para a conversa séria, passou a me olhar e até eu comecei a ficar nervosa, desviei meu olhar para que se vingou dando de ombros para mim, e eu fiz uma careta para ele, que me devolveu mostrando a língua para mim. Fiz uma cara de ofendida, as duas crianças esqueceram que havia uma outra criança no recinto.
Era porque ela estava ali se não ele ia ver o sinal lindo que ele ia receber do meu dedo da mão.
- Parem vocês dois, parece até duas crianças. – reclamou fazendo aquele drama de criança e dando uma de a adulta por ali.
- Seu pai que começou. – ele mostrou a língua pra mim.
- Mentira, foi a que começou. – eu mostrei a língua pra ele.
- Não quero saber, parem os dois.
- Não tenho culpa! – falei me defendendo e erguendo as duas mãos para o alto me rendendo.
- Ei mocinha os adultos aqui somos nós, não você.
- Não parece. – ela fez uma cara de deboche e eu olhei incrédula para .
- Olha lá em, eu troquei suas fraldas, aguentei seus vômitos, te dei muitas mamadeiras. – falei tentando me defender dela me acusando de ser criança.
- Tá isso não importa eu também fiz muito isso, mas o assunto principal não é esse. E aí filha, qual sua resposta sobre minha proposta? – ele parecia ainda mais esperançoso.
- Sim papai, eu aceito. Mas se ela for chata, vou dar um chute no joelho dela e vou embora daquele restaurante. – ela falou toda convicta de si, tentei segurar o riso mas escapou um sopro e me olhou feio, essa é demais. Aí como eu amo essa garotinha.
- Tá ok, te garanto que ela é legal, vocês vão se dar bem. – ele depositou um beijo na testa da filha.
- Assim espero papai.

Capítulo 3

- Continuo achando que isso não é uma boa ideia, .
- Jade, relaxa, vai dar tudo certo, é só um jantar para Katherine conhecer vocês.
- Qual mulher em sã consciência quer conhecer a ex do namorado? – perguntei, incrédula.
- Ela é diferente.
- Ela é tonta, isso sim.
- Não fale assim dela, Jade, ela só quer ter a certeza que está tudo bem para você, que eu e ela estejamos em um relacionamento.
- Para mim tanto faz, você faz o que bem entender da sua vida.
- Mas para ela você é minha ex-mulher e mãe da minha filha, então a sua opinião para ela meio que importa.
- O que não é verdade.
- Mas ela não precisa saber disso. Pelo menos não agora. – estávamos sentados no sofá, ele com seu computador e eu com uns papéis, fazendo umas anotações sobre a , quando deu umas três espirradas.
- Alguém está ficando resfriado. – o olhei e ele deu de ombros.
- Não, deve ser só uma alergia. – e lá vai dar mais uns três espirros.
- Alergia, sei que sim. – me estiquei até ele e coloquei a mão em sua testa e depois em sua garganta, para checar se ele estava com febre. – Você está meio quente, vou pegar o termômetro.
Me levantei do sofá e escutei bufar. O olhei, mas ele estava concentrado em seu computador, fui até o quarto de , que brincava com suas bonecas enquanto passava um desenho na televisão. Ela brincava e cantarolava a música do desenho.
Ela me viu entrando e sorriu, continuando a cantarolar, fui até seu banheiro e no armário peguei seu termômetro, mas antes de eu sair do quarto, me questionou sobre o que tinha acontecido.
- Nada, , só vou medir a temperatura do seu pai.
- Papai está bem, tia Jade?
- Está sim, princesa, pode ser só uma alergia.
Sai do quarto, encostando a porta, e desci as escadas. continuava sentado no sofá, concentrado em seu computador. Parei em sua frente e ele me olhou.
- Oi, Jade. – sorriu.
- Oi, . Levante o braço, por favor. – pedi, sorrindo.
- Para quê? – levantei o termômetro em seu campo de visão. – Ah, não precisa.
- , levanta o braço! – ele bufou, mas me obedeceu. Liguei o termômetro e coloquei embaixo de seu braço. desceu as escadas correndo.
- não corra nas escadas para não cair e se machucar. – alertei a menina, que como era muito afobada, algum acidente poderia acontecer.
- Papai, você está bem? – ela chegou perto do pai, colocando as duas mãos nas bochechas de .
- Estou sim, filha, deve ser só uma alergia, a Jade que é muito exagerada.
- Ei, eu estou aqui sabia?!
- Não falei nada além da verdade.
- Fica bem, papai. – deu um beijo na ponta do nariz do pai e voltou para seu quarto.
- Você vai levar a Katherine na apresentação de balé da ?
- Talvez.
- E já conversou sobre isso com ?
- Ainda não, estou esperando ver se elas se darão bem no jantar.
- Tudo bem.

***


Acordei cedo em um pleno sábado. não tinha aula e aproveitava para dormir até mais tarde, de sábado ela somente tinha aula de balé, mas somente depois do almoço. Como a apresentação se aproximava, acharam melhor reforçar os passos também de sábado, era meio puxado, mas elas seriam recompensadas depois com as férias de inverno, que também se aproximavam, por ser o mês da apresentação.
Quanto a , ele iria para o restaurante, mas também seria depois do almoço. Fiquei frustrada por ter levantado cedo demais, sendo que não tinha nada de importante para fazer na parte da manhã.
Durante a noite, naquele mesmo dia, teria o jantar com a Katherine. Eu não estava muito a fim de ir, para ser bem sincera, mas eu não tinha muita escolha a partir do momento em que escolhi ajudar .
Fiz o que eu tinha que fazer em meu quarto e fui para a cozinha. Preparei um café e vasculhei os armários, já resolvendo o que eu faria para o almoço. Bem que poderia resolver por fazer o almoço, mas eu achava muito difícil, segundo ele, minha comida era uma delícia e ele já tinha comido muito da sua própria comida, chegando a enjoar (vê se pode uma coisa dessas?), ele muitas vezes já fazia o jantar ou o almoço, e podia dizer que era um cozinheiro de mão cheia.
Estava sentada na mesa tomando meu delicioso café quando meu celular apitou, anunciando uma nova mensagem.

''Jade, você pode vir aqui no meu quarto um instante, por favor?!''


Quando quer ser folgado, ele entra na fila duas vezes. Me levantei e caminhei até seu quarto, mas antes dei uma passada no quarto de , que dormia tranquilamente, mas quase caindo da cama. Ajeitei e fui para o quarto do senhor .
Dei duas batidinhas e ele permitiu minha entrada, com a voz meio fanha.
- Do que você precisa, senhor ? – me aproximei de sua cama e ele bufou, as bochechas dele estavam bem vermelhas.
- Você pode, por favor, fazer meu café e trazer aqui?
- Claro. Você não está nada bem, só piorou de ontem para hoje. – entortei a boca, analisando seu rosto.
- “Dão”, minha garganta “da” doendo muito, estou com frio e meu nariz está entupido. Mas eu vou melhorar logo, eu só preciso “dorbir”.
- Bem, alergia que não é mesmo. É gripe. – coloquei novamente o dorso da mão na testa e no pescoço de , ele queimava em febre. – Você está queimando de febre, .
- Droga, eu preciso ir “dabalhar” hoje, e à noite tem o jantar com a Katherine.
- Não, senhor, você vai ficar em casa e repousar. Está frio lá fora e sei que você não quer acabar pegando uma pneumonia. Quanto ao jantar, teremos que remarcar.
- “Dão”, eu “dão” posso remarcar, Jade.
- Pode sim, você está doente, , ela terá que entender.
- Vou ligar para ela e pedir para ela vir até aqui.
- Acho melhor não, pois aposto que não vai ser muito legal ela chegar aqui e encontrar sua ex-mulher cuidando de você. – ele me analisou e acabou por concordar.
- É, você “dem” razão, Jade, “atchim”. - fiz careta.
- Eu sempre tenho! Eu vou até a farmácia comprar xarope, porquê os que tenho são os da , e para você não vai adiantar muito. Vou aproveitar e dar uma passada no mercado, comprar suco com vitamina C, vai ajudar bastante.
- Eu aceito o suco, mas o xarope “dão”, obrigado.
- O xarope vai te ajudar a melhorar logo, .
- Xarope “dem” gosto ruim, Jade.
- Larga a mão de ser criança, , a única criança nessa casa é a . – ele apenas bufou. - Daqui a pouco estarei de volta.
- Ok, mas, por favor, cuidado no “dansito”. – assenti e sai do quarto.

Assim que sai da farmácia, fui até o mercado mais próximo. Eu estava no corredor dos sucos, procurando um que tivesse mais vitamina C, quando meu celular começou a tocar, aquela não era uma boa hora para alguém ligar, eu precisava procurar o suco.
Ao checar o visor, o nome de minha irmã estava ali.
- April?!
- Oi, maninha, tudo bem?
- Tudo e com você?
- Eu estou ótima, estou te ligando para avisar que quero que você esteja pronta umas oito horas da noite.
- Para quê? Posso saber?
- Hoje vamos à uma casa noturna.
- Não vou poder ir, April.
- Por que não, Jade?
- Meu patrão está doente, está meio debilitado, então terei que ficar cuidando de , provavelmente terei que dormir no trabalho.
- Sério? E o que ele tem?
- Ele está com uma forte gripe.
- Ah, qual é, Jade, não é possível que ele não consiga cuidar da própria filha estando somente com uma gripe. Pelo menos por umas horinhas... Onde você está agora?
- Estou no mercado, comprando suco com vitamina C para ele.
- Jade, você está mais é parecendo a mulher dele, do que a babá da filha dele.
- Não. – logo me lembrei da ideia absurda de , ele mentiu na cara dura para a nova namorada. – Pelo menos, não de verdade. - pensei meio alto, mas em tom de voz baixo.
- Como assim não de verdade, Jade? – ótimo, April escutou.
- Nada, eu só estou o ajudando a melhorar logo.
- Sério mesmo, Jade? Que você vai tentar mentir para mim? Eu sou sua irmã, te conheço muito bem.
- Não estou mentindo para você. – tentei disfarçar, mas estava meio difícil.
- Está sim, Jade, você é uma péssima mentirosa. Anda, Jade, desembucha. O que você e o seu patrão estão aprontando?
- Não é nada, April.
- Jade. – ela falou meu nome de forma firme e vi que não teria como eu fugir, April não esqueceria aquela história, merda.
- April, a gente conversa depois, quando eu estiver em casa e tudo mais. E quanto a casa noturna, não poderei ir, mas da próxima farei de tudo para ir.
- Que bom, quero saber melhor sobre essa história. Promete mesmo que da próxima você vai comigo?
- Prometo. – cruzei os dedos como uma forma de não validar aquela promessa.
- Ok, beijos. Quando você estiver no seu apartamento, me liga que eu vou te ver para gente conversar.
- Tá bom, ligo sim. Beijos.
- Beijos, maninha.
Desliguei o celular, peguei o suco, paguei e voltei para o trabalho.

Cheguei em casa e tudo estava em silêncio, não era possível que ainda estava dormindo, mas tudo bem, ainda era meio cedo para acordá-la, ela não se atrasaria para o balé.
Coloquei as coisas que havia comprado no balcão da cozinha e comecei a preparar o almoço, para mim e para fiz comida normal, já para , fiz uma sopa.
Quando estava tudo pronto, coloquei o suco, um copo, o prato com a sopa, os talheres e o xarope na bandeja e fui para o quarto de .
Ao adentrar o local encontrei e na cama, acordados e brincando, dava risada.
- Tia Jade.
- Até que enfim acordou, hein, mocinha. – falei para , colocando a bandeja na cama, perto de .
- Para quem é tudo isso? – se esticou para olhar o conteúdo da bandeja.
- Para o seu pai.
- Nossa, tirando o xarope, está tudo ótimo. Obrigado, Jade.
- De nada. Vem , vamos almoçar e se aprontar para o balé.
- Vamos.
- Assim que eu terminar de comer, vou ligar para o restaurante avisando que você não irá trabalhar hoje.
- Obrigado.
e eu terminamos de comer e ela correu para seu quarto para tomar um banho e se aprontar.
Peguei o telefone fixo da casa e voltei a me sentar na mesa enquanto esperava alguém do restaurante atender minha ligação.
- Fala, ?!
- Aqui é a Jade, Tom. – Tom era o melhor amigo e ajudante geral, que estava mais para quase gerente no restaurante. Por Mathews conhecê-lo a tanto tempo e demonstrar em ações ser pessoa confiável, em não ter dado qualquer tipo de prejuízo para o restaurante, é que ele estava nesse cargo.
Tom é um homem muito bonito, com o seu cabelo loiro e olhos azuis, mas era uma pena que ele muitas vezes era um idiota.
- Ah, e aí, Jade, o que é que manda?
- Liguei para avisar que não irá trabalhar hoje, ele está doente.
- Mas ele está bem? – sua voz continha um tom de preocupação.
- Está sim, ele só está gripado.
- E você virou a enfermeira particular dele?! – ele disse em um tom de malícia, está vendo como ele é idiota?!
- Tom?
- Sim?
- Cala a boca.
- Calma, Jade, não precisa ficar nervosa. Faz assim, fala pra ele que mais tarde eu passo aí para ver com ele está.
- Tá, aviso sim.
- Cuida bem dele, hein, Jade. – mais uma vez, Tom maliciando.
- Vai para merda Tom. – desliguei o telefone sem esperar ele dizer mais nada, se sou mal educada? Sim, às vezes, a real é que eu não tinha muita paciência para as babaquices do Tom, e de qualquer outra pessoa.
Fui para o quarto de e o encontrei sentado na cama, assistindo televisão. Ele sorriu ao me ver entrar.
- E aí, está melhor?
- Estou sim, obrigado.
- Liguei para o restaurante e avisei ao Tom que você não irá.
- E o que ele disse?
- Apenas que irá vir mais tarde ver como você está.
- Está certo, obrigado mais uma vez, Jade, você é um anjo. – ele falou com um sorriso lindo nos lábios. Coração, não é hora para você palpitar.
Apenas sorri pequeno, agradecendo o elogio.
- Bem, eu vou levar a para o balé e daqui a pouco estou de volta.
- Pode ir para casa, Jade, não se preocupe comigo, dou um jeito de buscar depois.
- Não, imagina, eu provavelmente vou ficar lá para vê-la ensaiando. Eu prometi que ia ficar da última vez, e você precisa descansar, precisa dormir se quiser ficar melhor logo.
- A já dá trabalho demais para você, agora eu? Não está certo!
- Não se preocupa, . Vou lá e já, já estamos de volta.
- Ok, e obrigado mais uma vez, Jade, você é boa demais para gente. – dei um sorriso e sai do quarto, encostando a porta.
Me escorei na parede ao lado da porta e respirei fundo, me elogiando muitas vezes não dava certo, meu coração dava aquela palpitação, meus sentimentos precisavam continuar escondidos, trancados à sete chaves. Ainda mais agora que ele tinha Katherine em sua vida, e eu não sou do tipo de mulher que deseja/gosta de homens que estão comprometidos.
Respirei fundo e fui para o quarto ao lado, que era o de . Ela estava vestida com o seu collant cor de rosa infantil para balé, seu tutu da mesma cor, o cabelo ainda estava solto, pois ela me esperava para que eu fizesse seu coque e colocasse a rede em seguida.
Ela se balançava para lá e para cá no quarto, ela praticava os passos tendu, jeté e fondu, estava tão empolgada para a apresentação que a maior parte do tempo ela passava praticando seus passos.
Quando ela me viu parada na porta a olhando, ela sorriu tímida com as mãos unidas de frente para o corpo e se balançava devagar, aquele jeitinho dela me fez sorrir largamente, como eu queria morder e apertar ela.
- Você é a bailarina mais linda que eu já vi na minha vida.
- Obrigada, tia Jade, mas não precisa falar só para me agradar. – me aproximei dela, me sentando no pé de sua cama, e a puxei para mais perto de mim.
- Não estou falando isso só para te agradar, , estou falando porque é verdade. você é a garotinha mais linda que eu já vi. – era delicada, com seus olhos verdes, seus cabelos que iam até o meio de suas costas, liso, mas que nas pontas eram ondulados. Inteligente, linda, muito linda, uma verdadeira princesa.
- Obrigada, tia Jade.
- De nada, minha princesa. Agora vire-se e deixe eu fazer seu cabelo para que possamos ir.
Enquanto eu penteava o cabelo de , cantarolávamos uma musiquinha infantil que ela tinha aprendido na escola e que ela fez questão de me ensinar. tinha me ensinado tantas coisas, muitas vezes ela chegava da escola e me fazia sentar na sala ou na cozinha, e assim me ensinava tudo o que tinha aprendido, mesmo eu já sabendo sobre aquilo.



Eu estava mal, muito mal, o ruim não era tanto a tosse, e sim a dor na garganta que graças aos céus tinha melhorado um pouco com o xarope que Jade havia me comprado.
E por falar em Jade, eu tinha tantos adjetivos sobre ela. Quando a contratei, que foi no mesmo dia em que fiz a entrevista com ela, o que me atraiu nela foi seu jeito tímido e meio sem jeito, junto com sua grande determinação. Seu carisma durante nossa conversa só reafirmou minha certeza de contratá-la, e pelo seu jeitinho, eu soube que ela e minha pequena se dariam muito bem, mesmo que não fosse na primeira vez que se vissem, mas que não demoraria nada para que isso acontecesse. E quando Jade começou, quando pegou pela primeira vez no colo, a pequena observava Jade o tempo todo, e em pouco tempo depois já havia se apegado a Jade de uma forma incrível.
E confesso que no dia da contratação da Jade, assim que ela foi embora, algumas coisas me intrigaram, me trazendo uma grande curiosidade de querer saber mais sobre ela, e isso resultou em longos dias com ela habitando meus pensamentos. E esse habitar de pensamentos já estava para completar 6 anos.
Você com certeza deve estar se perguntando: “mas, , por que não chegou nela e conversou, contou o que sente?”, eu poderia sim fazer isso, mas não era tão simples, algumas questões me impediram de fazer isso, como por exemplo, o fato dela ser meio fechada, principalmente no início. Nos 3 primeiros anos trabalhando com minha filha, ela nunca em nossas conversas citou sobre sentimentos na área amorosa, relacionamentos ela quase não falava nada sobre, e não demostrava nem uma pontinha de interesse (se ela tinha, ela disfarçava muito bem), então eu conclui que ela não sentia nada por mim. E eu não queria assustá-la contando o que eu sentia. Era bem melhor manter Jade por perto como amiga, do que longe.
Eu também tinha receio de que se algo entre mim e Jade acontecesse, como reagiria, ela poderia amá-la como sua babá, mas eu não sabia como seria quando ela se tornasse a ‘namorada do papai', tinha receio da cabeça da minha filha virar um nó e tudo isso não acabar bem, pois minha filha é a pessoa mais importante na minha vida, e eu não queria que ninguém saísse machucado.
Durante os dois primeiros anos de Jade trabalhando para nós como babá, eu sentia muitas coisas intensas quando estava perto dela, e nessa época, outra coisa me brecava de tentar. Era o fato de que eu tinha sido abandonado, e não era recente, mas a dor do medo daquilo se repetir ainda era presente. Quando a mãe biológica de foi embora, me vi em um beco sem saída, destruído por ainda amar ela, mas perdido e com medo, pois eu estava sozinho e tinha que cuidar da milha filha que ainda era apenas um bebê e tão dependente de mim. E por nada me garantia exatamente que isso, o abandono, não iria retornar a acontecer, então eu preferia não arriscar com Jade.
Naquela época então, preferi guardar somente para mim o que eu sentia, claro que minha mãe sabia, a única que sabia, pois as mães por mais que você tente esconder, elas sempre descobrem, e descobrem antes mesmo de você.
Sentimentos antigos foram camuflados, mas atualmente não podia negar, mentindo que eu não sentia exatamente mais nada pela Jade, pois estaria mentindo para mim mesmo. Ela ainda mexia comigo, mas ainda continuava na insistência de ignorar isso.
Agora a pergunta que vocês devem estar fazendo é: “e por que agora você não diz o que sente por ela?”. Simples: medo. Mas não o medo de ser abandonado, não, isso foi em partes superado, o meu medo é o mesmo de antes, assustá-la e perdê-la. Então tento buscar em alguma outra mulher, as mesmas qualidades dela. Se não a posso ter somente para mim, prefiro continuar a mantendo por perto. Se sou covarde? Sim, muito.
E então eu conheci Katherine, eu não estava completamente apaixonado por ela, mas eu tentaria. Rolou um clima bem diferente quando tivemos nosso primeiro encontro, foi gostoso estar ao lado dela. Sei que foi uma loucura e uma grande babaquice ter mentido daquela forma para ela, e fazer com que Jade finja ser a mãe de e minha ex-mulher, mas eu simplesmente fiquei perdido e somente disse o que eu já havia percebido, que sentia Jade como sua mãe postiça, talvez? Não sei, mas o laço entre as duas ia além de uma simples criança e sua babá. Eu jamais me posicionaria contra aquilo, pois fico feliz por ter escolhido uma pessoa tão maravilhosa como Jade para construir aquele laço tão bonito.
Muitas noites me pegava pensando na mãe biológica da minha filha, e sentia o pavor se apoderar de mim quando cogitava a possibilidade de um dia ela do nada reaparecer e exigir seus direitos como mãe, direitos aos quais ela não é nem um pouco merecedora. Ela nem deu a chance de a conhecer, mas talvez tenha sido melhor assim, pelo menos não sofreu quando ela foi embora. E nesse dia, vendo só eu e minha filha, eu reforcei a promessa de que eu cuidaria dela, que se fosse preciso, eu daria minha vida por ela, que eu não permitiria que ninguém fizesse mal algum a ela, e nem partissem seu coração tão puro.

Voltando para o presente, eu me levantei da cama e fui até o quarto de ver se elas já tinham saído. Encontrei uma cena que me fez sorrir, Jade e cantarolavam uma musiquinha que tinha aprendido na escola, enquanto Jade sorria e penteava o cabelo da minha pequena.
Quem conseguisse o coração de Jade, poderia se considerar o cara mais sortudo do mundo, por ter uma mulher linda e maravilhosa do lado, e ainda mais sortudo se ela o amar de volta. Eu gostaria de ser esse cara, mas nem tudo o que desejamos podemos ter.

Capítulo 4



Assim que terminei o cabelo de , pegamos as coisas e fomos para o balé.
se concentrava apenas em seus movimentos e vê-la ali, se movimentando e deslizando por aquele salão com tanta maestria, em alguns momentos me fazia viajar, mas não de tédio e sim para o futuro onde eu via uma adulta, protagonizando em cima de um palco, e no final da apresentação ela sendo aplaudida com louvor pelo maior teatro do mundo, lotado.
Tinha momentos que a pequena me olhava, sorrindo, e eu levantava o dedão da mão como se estivesse aprovando sua dança, e lhe dizendo que ela estava se saindo muito bem, não tinha como não se orgulhar de .

O ensaio acabou e voltamos para casa, se jogou no sofá da sala e lá ficou assistindo televisão enquanto eu ia até o quarto de ver como ele estava. Quando entrei no quarto ele estava dormindo, chequei se ele estava bem coberto, mas antes que eu pudesse sair de vez do quarto, ele acordou.
- ?!
- Oi, eu e acabamos de chegar, e vim ver se você estava melhor, mas desculpe por ter te acordado.
- Não, não se preocupe, eu já estava acordado.
- Certo. E como se sente? – me aproximei mais de sua cama e ele se sentou.
- Muito melhor, o xarope é ruim, mas me ajudou bastante.
- Que bom! – sorri tímida e me aproximei, colocando as costas da minha mão em sua testa e pescoço, ele apenas me olhava e de uma forma que estava começando a me deixar envergonhada. – Bom, você não está mais com febre, o que é muito bom.
- Certo... Minha mãe me ligou, e como estou doente, ela falou que vem buscar no final da tarde para passar esse final de semana com ela, e ela ordenou que você vá para casa e descanse.
- Não posso deixar você aqui nesse estado.
- Não se preocupe comigo, qualquer coisa minha mãe ou meu pai podem vir me socorrer.
- Não me importo de ficar, não tenho nada para fazer em meu apartamento mesmo.
- Eu insisto, . Vá para casa ou saia para se divertir com sua irmã. Você precisa de uma folga de mim e da . – soltei uma pequena risada de suas palavras finais.
- Louca eu ficaria se tivesse longe, preocupada se vocês estivessem aprontando algo. – foi a vez dele se soltar uma risada e eu apenas sorri. - Mas está bem, já que insiste. Assim que sua mãe vir buscar a , eu vou ir para casa.
- Tudo bem, bom fim de semana e até segunda.
- Até segunda. Se precisar de algo, é só me ligar.
- Ligo sim.
Assim que cheguei na sala, reclamou que estava com fome, preparei uns sanduíches para nós duas e ficamos ali.
Até que, no final da tarde, quando a senhora foi buscar , que não parou de pular um minuto por saber que iria passar o final de semana com a avó, mas logo depois ficou preocupada com o pai, ela estava com medo de deixá-lo sozinho na casa, mas ele conversou com ela dizendo que ele ficaria bem, que só estava com uma gripe boba que logo passaria, e eu assegurei que qualquer coisa que ele precisasse eu iria correndo para lá para ajudá-lo e aquilo a tranquilizou um pouco mais, aceitando ir para a casa da avó, que lhe prometera muitas guloseimas e brincadeiras.

Assim que cheguei em meu apartamento, me joguei em meu sofá e me lembrei que April pediu para que eu lhe mandasse uma mensagem quando estivesse em casa, mas naquele dia o interesse dela era de sair e me levar junto, e eu não estava muito afim de receber nenhum tipo de visita, mesmo estando com um pouco de saudade da louca da April.
Assim que criei um pouco mais de coragem, me levantei do sofá e fui para a cozinha fazer um lanche, que, reunindo muita coisa da geladeira, acabou virando algo bem agradável de se comer. Passei quase uma meia hora ali no cômodo do apartamento, eu fiquei um bom tempo ainda sentada no balcão, pensando em muitas coisas, tentando colocar a cabeça em ordem, o que eu não consegui fazer, por mais que eu me esforçasse muito.
Acabei por desistir de ficar só pensando, pensando e não chegar em lugar algum. Passei na lavanderia do apartamento, peguei minha toalha e fui para meu quarto, separei uma roupa quente e confortável, para então ir para o banheiro no final do corredor e tomar um banho quente e relaxante.
Quando terminei meu banho, peguei umas revistas, uma tesoura, umas canetas e sentei no sofá, liguei a televisão em um canal de filmes e comecei a fazer umas recortagens e pintar de caneta alguns desenhos que eu encontrava nas revistas, só para me distrair.
Passada mais ou menos uma hora, uma hora e meia, meu celular começou a tocar. Até fiquei com certo receio de atender por poder ser a April me perguntando onde eu estava, e eu não mentiria, eu diria que estava em meu apartamento e ela mandaria que eu me arrumasse e eu não teria como negar.
Mas eu estava enganada sobre quem estaria me ligando, era .
- ?
- Oi, .
- Está tudo bem?
- Sim. Quer dizer, mais ou menos.
- O que houve? – eu já estava me levantando do sofá.
- Eu não consigo encontrar o termômetro da .
- Ah, isso. – respirei mais aliviada. – Está em uma das gavetas do banheiro dela.
- Eu já procurei por todo o banheiro e não consegui achar.
- Como não conseguiu? Eu guardei aí da última vez.
- É, mas eu não consigo achar. Pera aí, vou ver se tem algum no meu banheiro.
- Certo. – esperei na ligação, eu escutava apenas sua respiração.
Passou uns dois ou três minutos e só escutava o barulho dele revirando umas coisas, até que escutei algo se quebrando do outro lado da linha.
- ? Que barulho foi esse? o que houve? – mais uma vez fui me levantando do sofá, pronta para correr para lá se necessário.
- Merda. – ele xingou baixo.
- , está me ouvindo?
- Oi, estou sim. Desculpe. O que disse?
- O que aconteceu? Que barulho foi esse?
- É só um vaso que eu esbarrei sem querer e caiu no chão, se tornando somente milhares de caquinhos de vidro.
- Você se machucou?
- Não muito, foi um corte pequeno, daqui a pouco sara.
- Aham, sei, conheço esse seu daqui a pouco. Estou indo para aí, não se mova.
- , relaxa, não foi nada demais.
- Por via das dúvidas, prefiro ver de perto, daqui a pouco chego aí.
- , não...
- Tchau, . – desliguei o celular, coloquei uma roupa para sair, peguei as chaves, celular, bolsa e sai de casa.

***


Ao chegar na casa de , estava tudo apagado exceto as luzes de seu quarto e do quarto de , peguei a cópia das chaves da casa e entrei.
Fui tateando no escuro para que não esbarrasse em nada, e logo consegui encontrar as escadas. Fui subindo e umas duas vezes tropecei, mas logo me recompus e consegui chegar ao andar de cima.
Apaguei a luz do quarto de , que não tinha ninguém e só estava gastando energia à toa, e fui para o quarto ao lado.
A porta do quarto de estava encostada, bati duas vezes e ele autorizou minha entrada, ele não estava sentado na cama. Fui para o banheiro e o encontrei sentado na banheira com um pano branco já bastante manchado de sangue na mão.
O chão do banheiro tinha várias gotas de sangue, havia terra espalhado pela cuba da pia, balcão e chão, a planta estava jogada no piso e ainda tinha muitos cacos de vidro espalhado pelo mesmo. Me perguntei como ele não tinha cortado o pé também com aqueles cacos. O olhei com as sobrancelhas arqueadas e ele sorriu torto pela bagunça que havia feito no banheiro.
- E você ainda diz que foi um corte pequeno. – disse, apontando para sua mão.
- E foi pequeno. – ele deu de ombros com cara de criança que foi pega fazendo arte.
- Estou vendo mesmo que foi. – pulei uns cacos para que não me cortasse, mas com cuidado também para que eu não acabasse escorregando no chão, e consegui chegar até , com ele a todo momento me dizendo que tomasse cuidado para não me machucar.
Peguei sua mão e tirei o pano, foi um corte de tamanho razoável, e sangrava bastante.
- Certo, não foi tão feio quanto parece. – me distanciei dele, voltei a desviar dos cacos para chegar até o armário do banheiro, onde peguei o kit de primeiros socorros. – Como você fez esse corte?
Voltei para perto dele novamente.
- Quando o vaso caiu, eu fui pegar um pedaço do vidro do chão, mas minha mão escorregou e acabou cortando.
- Aí, aí, aí, você precisa ser mais atento nas coisas, .
- Desculpe. – novamente, sorriu torto.
- Certo, vou fazer curativo, pode arder um pouco.
- Eu aguento.
Tirei novamente o pano da palma de sua mão onde tinha cortado, peguei o algodão molhado e comecei a passar no corte, se contorcia um pouco, mas tentava passar a imagem de forte, que aquilo não estava doendo nada. Eu apenas segurava o riso.
Eu estava quase terminando, estava colocando o esparadrapo para segurar a gaze, ficava me olhando de uma forma digamos que carinhosa, e eu me segurava para não ficar com vergonha e minhas bochechas me denunciarem, mas a cada segundo que ele continuava me olhando daquela forma, era mais difícil de segurar a timidez.
Assim que terminei o curativo, o ajudei a voltar para o quarto e ele se sentou na cama com muito custo, pois ele queria porque queria me ajudar a arrumar a baderna do banheiro, mas não deixei, porque vai que ele se machucasse de novo, aí seria um trabalho a mais.
Nem demorou muito para que eu arrumasse aquela bagunça, logo eu já estava sentada em uma cadeira bem perto da cama de , bem onde ele estava deitado para descansar um pouco.
- Você não tem algo importante para fazer em um pleno sábado à noite? Como uma festa com os amigos ou jantar com o namorado.
- Não, eu não tenho namorado, e você sabe disso. – rimos. – E festa? Minha irmã queria me levar em uma casa noturna essa noite, mas eu não estava muito no clima para ir.
- Por que não?
- Estou mais caseira, ultimamente.
- Vá se divertir, , já dei trabalho demais para você, aproveite a noite, você merece um tempo de folga e de muita diversão, há seis anos você tem feito muito por mim e pela , como já disse para você hoje mais cedo.
- Nah, vocês não dão trabalho, principalmente , ela é um amor. Também não estou muito afim de aturar a April bêbada e me jogando para os caras.
- Não sei nem como agradecer a você por tudo que tem feito.
- Não precisa agradecer.
- Preciso sim, você foi um anjo que caiu do céu para socorrer eu e minha pequena. Eu não sei o que eu faria sem você, .
- Aposto que muitas coisas. – sussurrei e ele me olhou, sorrindo pequeno, me olhando da mesma forma que ele me olhava enquanto eu fazia o curativo em sua mão, e eu tive que conter muito a vontade de beijá-lo.

***


- Você está louca, ? – April praticamente gritou.
- Eu não fiz nada, foi ele quem inventou essa história toda para a pobrezinha da mulher.
- É, mas você aceitou participar dessa loucura, .
- E você queria que eu fizesse o que, April?
- Negar, talvez?!
- Eu não podia negar.
- E por que não?
- Porque ele já fez muitas coisas por mim. E ele está nessa busca pelo grande amor, pelo menos a coragem de correr atrás que eu não tenho, ele tem. E se essa Katherine for a mulher que ele tanto procura, e eu não ajudá-lo e ele perdê-la, eu irei me culpar para sempre.
- Não é só isso, – minha irmã me analisou e eu fiquei meio desconfortável com seu olhar de análise profunda. - Não me diga que seus sentimentos por ele estão voltando?!
Peguei um copo de água, tomei, e a olhei meio incrédula.
- Claro que não, ele é comprometido, April.
- Isso não te impede de gostar/desejar ele.
- Eu não sou do tipo que deseja homens comprometidos.
- , você trabalha com ele há seis anos, então tecnicamente você chegou primeiro, amor.
- Claro que não, April, trabalhar com ele esse tempo todo não o torna meu.
- Bem que você queria que fosse.
- Talvez, antes dele conhecer a Katherine. E outra, ele não iria querer uma mulher como eu.
- Aposto, irmãzinha, que ele gostava e ainda gosta de você. E o que você quis dizer com “uma mulher como eu”?
- Uma mulher desastrada, que não tem nem metade do dinheiro que ele tem.
- Mas, , amor de verdade não vê se você tem status social, dinheiro, mas sim vê seu coração, como você é por dentro.
- Não me iluda, April, por favor.
- Não estou te iludindo, maninha, estou apenas abrindo mais os seus olhos para as coisas.
- Eu só quero ver o que vai acontecer nesse jantar. – fiz careta, eu estava muito apreensiva por dentro.
- Vai dar tudo certo, já que você aceitou participar dessa loucura toda, você terá que fazer o papel de ex-mulher e mãe de muito bem.
- Não sei se vou conseguir, April.
- Vai sim, querida, é só um pequeno jantar.
- Mas e se ela decidir passar a noite lá no final de semana, aí eu chego e ela descobre que sou a babá da filha dele? – eu estava quase entrando em pânico, April apenas revirou os olhos.
- , você se preocupa demais com as coisas. Relaxa, maninha, se isso acontecer, não será sua culpa e sim dele por ter mentido para ela, quem namora ela é ele, e não você. Você só fez aquilo que seu patrão pediu.
- Você tem razão, quem me meteu nisso foi ele. Vai dar tudo certo, no final, terei que vê-la e fingir ser o que não sou, apenas uma vez.
- Exatamente, , agora vai, se arrume bem linda, mais linda do que você já é, e deixe arrependido por estar com Katherine e não com você. – April falou, piscando para mim enquanto mordia uma maçã.
- Eu não conseguirei ficar linda como você fala, não sou tão sexy como você, April. – fiz cara de desânimo.
- Ei, não desanima. – ele se aproximou de mim e pegou em meu queixo, levantando meu rosto. – Você é sim sexy, só que da sua maneira, cada mulher tem sua maneira de ser sexy. E pode deixar que eu vou te deixar irresistível essa noite.
Piscou novamente, me dando um abraço.

***


Tomei um banho e coloquei um vestido longo azul de alça, com uma fenda, meio justo no busto, realçando mais meus seios. Me olhei de frente para o espelho e respirei fundo.
- Você está maravilhosa, e olha que ainda falta a maquiagem. – ela sorriu, parando atrás de mim e olhando meu reflexo pelo espelho.
- Acho que nem a maquiagem vai ajudar a tirar essa cara de songa monga que eu tenho.
- Para, , não se rebaixe dessa forma, nem para si mesma, nem para ninguém, cada mulher tem sua beleza natural. Se mamãe te escutasse falando isso ela te bateria. Agora vem, deixe-me fazer sua maquiagem.
Ela me puxou e me sentou com tudo na cadeira da mesinha do meu computador, me virou para ela, e foi aí que eu vi que April tinha lotado a mesa do meu computador com maquiagens.
- Você vai passar tudo isso em mim? – perguntei, meio desesperada, eu nunca fui o tipo de mulher de usar uma tonelada de maquiagem.
Eu usava de vez em quando uma base, pó ou batom, e de vez em quando eu passava um rímel e um delineador, somente.
- Não. Passarei apenas alguns, mas preciso ter opções.
- Certo.
- Vamos começar.
April primeiro passou a base, e o pincel que ela usava para aplicar a base em meu rosto, muitas vezes quase entrava dentro do meu olho e boca, e quando ela foi passar o pó por cima da base, o pó muitas vezes entrava um pouco dentro da minha boca e meus olhos, e April ainda brigava comigo para que eu mantivesse os olhos e boca fechada.
Ao passar o blush foi tranquilo, mas quando ela chegou na parte dos olhos, eu dei trabalho para ela, coitada, ela passou a sombra e até aí tudo tranquilo, mas na hora que ela foi passar o delineador, eu acabava piscando, a fazendo quase furar meus olhos. Foi a mesma coisa com o rímel, mas aí teve uma hora que eu não aguentei e espirrei, borrando o rímel e o delineado, April faltou chorar.
- Você tinha que espirrar justo agora, ?
- Desculpe, deu vontade e não consegui segurar.
Ela respirou fundo e tirou o borrado, retocando a base e o pó. Passou novamente o rímel e daquela vez nenhum incidente aconteceu.
Eu estava quase pronta depois de quase uma hora em que April tentava terminar minha maquiagem, só faltava o delineado e o batom. No primeiro olho ela passou o delineador direitinho sem incidentes, mas quando ela estava passando no outro olho, me deu uma coceira no olho do nada e eu pisquei tão forte que ela acabou passando uma linha grossa de delineador do ponto onde ela estava até a minha testa, eu sorri de lado e eu pensei que ela fosse me matar, mas ela respirou fundo e pegou o algodão com demaquilante.
- Você não ajuda mesmo, hein, , pelo amor de Deus, não é hoje que eu termino sua maquiagem.
- Desculpa novamente, meu olho começou a coçar do nada.
- Tá, vou repassar de novo o delineador e se eu borrar por sua causa eu paro e você vai com delineador na testa e batom por todos os dentes para esse jantar, entendeu?
- Entendi. Poxa não foi minha culpa. – cruzei os braços, meio chateada.
Ela passou o delineador e sem nenhum incidente dessa vez, graças aos céus, eu não queria aparecer naquele jantar com o delineador todo borrado.
E para finalizar minha produção, ela passou um batom matte da cor vermelha. E ao me olhar no espelho eu quase não me reconheci, eu estava linda, April havia feito um ótimo trabalho.
- Uau, você fez um ótimo trabalho, minha irmã. Não deve ter sido nada fácil. – sorri agradecida para April.
- Obrigada. E não foi fácil mesmo.
- Por quê? – ela me olhou daquela forma de “por que será né?”, e eu ri.
- Agora vá colocar seu sapato que está quase na hora de você ir.
Peguei os sapatos que April tinha separado para mim e os coloquei, eles eram um pouco mais altos comparado ao que eu estava acostumada a usar, e aconteceu que em um passo que eu dei para ir até o espelho, eu cai com tudo no chão.
- Meu Deus, , você está bem? – April ajudou a me levantar do chão. Dei uma ajeitada no cabelo e respirei fundo.
- Sim estou bem, foi só um tombo.
- Cara, você é desastrada demais.
- Faz um tempo que eu não uso esses sapatos.
- Tudo bem, a culpa é dos sapatos.
Dei língua para ela e me foquei em meu reflexo no enorme espelho no canto do meu quarto, eu realmente parecia outra pessoa.
- vai se apaixonar ainda mais por você nessa noite.
- Não viaja, April, isso não irá acontecer. – mas por dentro eu desejava que aquilo realmente acontecesse.
- Vai por mim, amor, será impossível algum cara nessa noite olhar para você e não desejá-la.
- Que nada, isso é coisa da sua cabeça, April.
- Não é não, acredite, se eu fosse um homem e se eu não fosse sua irmã, eu te pegava de jeito e de todos os jeitos possíveis e impossíveis. – ela sorriu, maliciosa, me fazendo rir.
- Você é maluca, April.
- Mas você me ama do mesmo jeito.
- Fazer o que, né?! – ela me mandou beijo pelo ar. – Não quero perder minha maquiadora.
Recebi um belo dedo do meio de sua parte depois do que eu disse, mas não contive a risada.

Eu e April nos despedimos no estacionamento do meu prédio, ela me desejou boa sorte e mais uma vez me lembrou da festa na casa de um amigo dela mais tarde, e daquela vez eu teria que ir, senão April me matava de vez.
Cada uma foi para seu carro, ela foi para a casa do peguete dela, e eu fui rumo ao restaurante, orando muito para que eu não falasse alguma bobagem e colocasse tudo a perder.

Capítulo 5

Assim que cheguei no restaurante, um manobrista abriu a porta para mim. Eu fiquei meio pé atrás de dar a chave do meu carro para ele, eu não estava tão acostumada com aquele tipo de tratamento, e eu tinha dado muito duro para comprar aquele carro, então eu não podia perdê-lo. Mas mesmo com esses receios, dei a chave do meu carro para ele, que foi estacionar.
Entrei no restaurante e ao captar os detalhes do local, fiquei encantada. Muitas pessoas bem vestidas enchiam aquele restaurante; famílias, amigos e casais em um jantar romântico.
Fui adentrando o restaurante à procura deles, até que escutei gritando.
- MAMÃE. – vi uma menininha vindo correndo em minha direção, me agachei, mesmo estando de salto alto, e a abracei de forma meio desajeitada para que eu não levasse outro tombo.
- Oi, meu amor. Você está linda. – estava com um vestido lilás rodado, e com uma enorme laço atrás, a deixando mais linda do que ela já é.
- Você também está tão linda. – ela sorriu, depositando um beijo na ponta do meu nariz, e eu desejei naquele momento mais que tudo que eu fosse a mãe dela de verdade.
Mas a realidade me atingiu, eu era a mãe de , mas apenas de mentirinha, que realidade cruel!
Assim que saí de meus pensamentos, foi me puxando até a mesa em que e Katherine estavam sentados, não tirava os olhos de mim, ele parecia até estar me admirando, enquanto Katherine me olhava sorrindo e meio sem jeito, eu esperava que ela não estivesse se sentindo inferior a mim, pois ela era ainda mais bonita que eu.
- ! – falei diretamente, com uma sobrancelha arqueada, e ele pareceu sair do transe, se levantando em seguida.
- , é bom te ver... Bom, essa aqui é a Katherine. Katherine essa é a , minha ex-mulher e mãe da . – eu sorria pequeno enquanto apertava a mão estendida da nova namorada do meu ex-marido (vamos entrar no papel de atriz).
- É um prazer finalmente conhecê-la, dona . – Katherine parecia bem feliz e empolgada por estar me conhecendo, ah, se ela soubesse que eu era apenas a babá da filha do namorado dela.
- O prazer é meu, Katherine. Pode me chamar , apenas . – sorri e me sentei em seguida.
O garçom apareceu em nossa mesa no mesmo instante, perguntando quais seriam nossos pedidos.
- Eu quero um peixe ao molho de maracujá e o vinho tinto Los Haroldos Malbec Roble. E você, filha, irá querer o que para comer? – perguntei para , que estava distraída, brincando com os talheres.
- O mesmo que você, mamãe.
- Então dois peixes ao molho de maracujá. – sorri e me virei para a Katherine, que se decidiam sobre o que pedir.
- Traga quatro pratos de peixes ao molho de maracujá e três taças do mesmo vinho que pediu. – falou ao garçom, apontando para mim em seguida.
- Sim, senhor. Logo trarei seus pratos.
- Mamãe, o papai me deu sorvete antes de sairmos de casa.
- . – a repreendeu e eu o olhei com as sobrancelhas arqueadas.
- O que eu falei, ? Nada de sobremesa para antes do jantar, e ainda mais sorvete, o tempo não está tão favorável para isso. – esse pequeno sermão eu não precisei forjar, pois eu de fato, como babá, pedia a não fazer, dar sobremesa antes do jantar, pois muitas vezes acabava perdendo o apetite e não queria comer.
- Desculpa, , mas ela insistiu muito.
- Não importa, , você é o pai dela, e se você disser não, ela terá que obedecer. – desviei meu olhar para . – Ouviu, ?
- Sim, desculpe. – sorriu.
- Tudo bem, dessa vez passa. Apenas essa vez.
Distraída durante uma conversa aleatória que tínhamos ali na mesa, fui bebericando mais e mais o vinho de minha taça, nem reparando que eu poderia estar exagerando um pouco para a ocasião. Percebendo, interveio sobre aquilo, sabendo através de mim como eu podia agir quando ficava alterada.
- Ahn... , eu acho que você não deveria beber muito.
- E por que não, ? – perguntei, curiosa e meio confusa, sabendo que o alerta dele era inocente, mas eu estava nervosa demais para detectar.
- Porque quando você bebe, você faz uma loucura atrás da outra. – ele arregalou os olhos, tirando uma certa onda da minha cara. Eu entendi que ele queria também somente descontrair o clima que estava começando a pesar, e não sair como ruim pelo alerta.
Eu tinha que fazer muito bem meu papel de atriz ali, e eu o faria, mas também iria me divertir, por que não? Se está, eu também vou.
- Igual a loucura que você fez na festa do nosso casamento? – perguntei e Katherine olhou para com cara de 'o que você fez?'.
- Eu não fiquei fazendo a dança da minhoca com ataque cardíaco no meio da pista de dança.
- Querido, você subiu em cima da mesa e queria arrancar a roupa toda ali mesmo. – eu e Katherine rimos, e ele também não aguentou e riu junto.
apenas observava, tentando entender o que exatamente estava acontecendo ali.
- Sem contar que você ficou fazendo uma dança bem sensual com o seu melhor amigo. Que, por sinal, também estava bêbado.
- Isso não é verdade. – protestou, me olhando, incrédulo.
- Ah, é verdade sim. Sinto em dizer, mas foi um fiasco aquela dança de vocês dois.
- Nossa. – Katherine olhou meio espantada de mim para .
- O que é sensual, mamãe? – perguntou, bem curiosa.
- Sensual é uma bebida, que só adultos devem tomar. – se adiantou e explicou para a filha.
- Sim, filha. Uma bebida que seu pai não deve mais tomar. – e novamente nos três rimos.
- Ah, não vamos nos esquecer da nossa viagem de lua de mel. Quem foi mesmo que comeu demais na festa e passou mal e ficou trancada o tempo todo no banheiro do avião? Isso mesmo, você, .
- Que mentira, . – o olhei, incrédula. – Eu não tive culpa se o buffet que sua mãe contratou fazia ótimas comidas.
Falei de forma triste e beberiquei minha água dessa vez, Katherine riu do meu jeito. Pelo menos o clima estava descontraído.
- Os passageiros estavam quase pulando do avião, do alto mesmo.
Boquiaberta com o que ele disse, não me aguentei e dei um chute na perna de .
- Aí, .
- Que foi, , eu não fiz nada. – respondi com a maior cara de pau.
Nossos pedidos chegaram e voltei a tomar do meu vinho. Fiquei flertando com o garçom, apenas lançando alguns olhares que ele parecia perceber, pois sorria de lado de vez em quando para mim.
Confesso que achei o garçom bem sexy, ele era bem gato, mesmo ele saindo de perto, ainda fiquei meio que fantasiando com ele (que foi? Eu sou humana, tenho minhas necessidades).
- O garçom ficou até sem graça de tanto que você flertava com ele, . – falou de um modo como se estivesse me dando uma bronca.
- Eu só estava olhando. Ele ainda está inteiro, flertar não arranca pedaço, poxa.
- Sim, mas flertar com outro cara na frente da nossa filha não é muito legal. – parecia não ter gostado de eu ter flertado com o garçom. Mas eu não podia fazer nada.
- Qual é? Ela está distraída com a comida e o canudo, ela nem percebeu. E eu só o achei bonito. – tentei me defender.
- Sei muito bem suas intenções com ele. – disse, me repreendendo com o olhar.
- Eu não vejo problema algum em flertar com outros caras, eu não sou mais casada.
- Mas já foi e tem uma filha, muitos caras têm preconceito com isso. Muitos não querem uma mulher que já tem bagagem. – ele disse, parecendo se divertir com aquilo, por eu estar "presa" a ele, enquanto a coitada da Katherine apenas nos olhava, divertida.
- É, eu posso ter uma filha e já ter sido casada com você, mas eu ainda sou nova, tenho um corpo bonito.
- Então você quer um homem que goste apenas do seu corpo e não do que você realmente é? Que ele te ame com os olhos e não com o coração? Que horror, . – certo, Mathews me pegou de jeito naquela questão.
- Desejar isso, , eu não desejo, mas é difícil mostrar para um cara e fazer com que ele preste atenção que você gosta de verdade dele, mas mesmo assim, eles continuam preferindo as outras. – uma pequena indireta para , mas ele pareceu não perceber isso.
- O que você quer dizer com isso? – ele me olhava atentamente.
- Nada, , não quero dizer nada.
Assim que terminamos o jantar, pediu a conta e fez questão pagar sozinho.
Estávamos na frente do restaurante, esperando o manobrista voltar com o meu carro, enquanto isso conversávamos mais um pouco.
- Foi um enorme prazer te conhecer, . – Katherine falou, sorrindo largamente.
- O prazer foi meu, Katherine. Desejo a você e o muitas felicidades. – tudo bem que por dentro não era bem aquilo que eu desejava para eles, sendo sincera. Mas por fora, eu precisava manter as aparências, fingir que tudo aquilo não me afetava.
- Obrigada, .
- vai ficar com quem essa noite, ? – perguntou, mas seus olhos pediam para que eu levasse comigo para casa, eu sabia muito bem o que ele queria fazer com Katherine, mas eu já tinha outro compromisso marcado, onde eu iria não poderia jamais levar .
- Com você.
- Comigo?
- Sim, eu tenho um compromisso com a April.
- Que compromisso?
- Eu vou a uma festa com ela.
- Sério? É que eu tinha também outros planos. – tentou argumentar.
- Sinto muito, querido, mas onde irei, não poderei levar . – sorri, preocupada, para ele.
- Ah, entendi. Tudo bem, não tem problema, eu fico com ela. Dou meu jeito. – ele sorriu de forma que me dissesse que eu ficasse despreocupada.
O manobrista chegou com meu carro, me agachei na altura da e passei uma mão por seu cabelo, ela me olhava, sorrindo. Ela era uma ótima atriz, com certeza Katherine tinha acreditado mesmo que eu e éramos mãe e filha.
- Meu amor, você vai ficar com o papai, ok? Porque eu vou encontrar a tia April, mas amanhã irei te buscar para irmos tomar sorvete, ok?
- Tá bom, mamãe.
- Tchau, meu amor, e até amanhã.
- Até. – dei um beijo em sua testa e ela me deu outro, também na testa.
- Bom. Tchau, e Katherine.
- Tchau, . – Katherine estava animada demais com o fato de ter me conhecido.
Entrei no carro e logo dei partida, rumando até a casa de um amigo de April onde ocorria a festa.

***


Assim que cheguei, a rua estava lotada de carros e a um quarteirão de distância já se ouvia um pouco do som alto, e um pouco mais a frente, consegui identificar o carro de April.
Estacionei uma quadra depois da casa e desci, acionando o alarme. Caminhei até a casa, muitas pessoas ainda chegavam, e as casas vizinhas estavam todas apagadas, provavelmente todos os moradores ali já dormiam e eu não duvidava muito que logo os vizinhos reclamariam do barulho para a polícia, ainda mais os vizinhos que tinham filhos pequenos.
Adentrei a casa e a sala estava escura exceto pelas luzes coloridas ali. Muitas pessoas entravam, saiam, dançavam, bebiam, conversavam e beijavam muito. Cheguei até a ver um casal fazendo coisas mais íntimas ali em pé em um canto escuro da sala, que era bem grande por sinal. Pois é, as festas que April frequentava era sempre daquela forma, muita bebida e orgia, e sabia muito bem disso, por isso ele estava com receio quando disse que tinha um compromisso com April.
Por falar nela, eu andei pela sala e cozinha atrás da dita cuja, mas não consegui encontrá-la, eu ainda não tinha procurado no andar de cima, nos quartos e banheiros, até porque eu não queria vê-la em um momento íntimo com ninguém. Então fui para o quintal da casa, e a encontrei perto da piscina em uma roda de amigos, bebendo e dando muitas risadas. É, April já estava meio bêbada.
- ! – April se levantou e gritou pelo meu nome.
- April. – assim que ela estava próxima o suficiente de mim, ela me abraçou com toda a força que tinha, até parecia que havíamos ficado anos sem nos ver e não apenas algumas horas.
April, quando estava bêbada, seu humor oscilava muito, um minuto ela estava toda carente e dramática, no minuto seguinte ela estava toda risonha e solta até demais. E muitas vezes aquilo me tirava do sério, mas eu me controlava, pois eu sabia que minha irmã não estava em seu estado normal.
- Que bom que você veio, maninha, eu estava morrendo de saudades de você.
- Eu também estava, April, eu também. – sorri pequeno.
- Vem, vou te apresentar uns amigos. – pegou minha mão e saiu me puxando.
- Tudo bem.
Nos aproximamos da roda de amigos em que April estava minutos antes, ela se sentou e me apresentou cada um deles. Ao total eram 3 mulheres e 4 homens naquela roda, e todos pareciam ser bem simpáticos, e bastante bêbados.
Fiquei em pé ao lado de April, mesmo ela tendo tentado me forçar a me sentar, mas eu não estava muito afim. Segundos depois, apareceu um carinha do nada, me entregando um copo de plástico da cor vermelha com cerveja sendo seu conteúdo.
- , e aí, como foi o jantar como ex-mulher do chefe?
- Foi tranquilo. – vocês já devem ter percebido que eu estava meio desconfortável ali, mesmo todos daquela roda sendo legais, aquele tipo de festa não era muito a minha praia, ainda mais quando se olhava ao redor e só via-se gente se pegando.
- Conte detalhes, amor.
- Em casa a gente conversa, April.
- Tudo bem, não vou insistir.
- Obrigada.
Fiquei um tempo observando o povo ali da roda conversar e beber cerveja, vodca, tequila, entre outros, praticamente um atrás do outro, só de ver aquilo já me dava dor de cabeça e tontura.
Enquanto isso, eu me perguntava como estava sendo o resto da noite de e Katherine, como eu queria ser uma mosquinha para saber o que estava rolando lá, ainda mais com a presença de na casa. Mas eu esperava que eles estivessem se divertindo.



Assim que saiu do restaurante deixando comigo, fomos para a minha casa, eu não iria a um hotel com Katherine e junto.
Quando entrou naquele restaurante, eu não consegui não olhá-la e admirá-la, ela estava tão linda que chamava a atenção de quase todos ali presentes naquele restaurante. O vestido que ela estava usando a deixava ainda mais confiante, e realçava cada curva de seu corpo.
Assim que chegamos em casa, Katherine se sentou no sofá e eu me mantive em pé, me dirigindo para .
- Filha, está na hora de você ir para a cama.
- Mas já, papai? – fez bico e eu soube que não seria fácil fazê-la ir dormir.
- Sim, até porque amanhã sua mãe vai te levar para tomar sorvete, e aposto que você quer estar bem-disposta para aproveitar cada segundo com a mamãe, certo?
- SIM, PAPAI.
- Então vamos para a cama.
- Vou tomar sorvete com a mamãe amanhã. – cantarolava enquanto subia as escadas.
Me aproximei de Katherine e lhe dei um beijo.
- Ela gosta muito da mãe, hein?! – Katherine falou, achando graça do jeito de .
- E se gosta, está com há muito tempo.
- É, né, deu à luz a .
- Exatamente. – não tinha dado à luz a , mas dava o amor que a mãe biológica de se recusou a dar a ela. – Eu vou colocá-la para dormir e já volto.
- Tudo bem, estarei à sua espera.
Lhe dei um selinho e subi correndo para o quarto de . Assim que entrei no quarto, ela estava sentada na cama, olhando distraída para a parede.
- Filha, está pronta para dormir? – me sentei em sua frente na cama.
- Estou sim, papai.
- Ótimo. Então deite. – ela se deitou e eu ajeitei o edredom em cima dela.
- Papai?
- Sim?
- Eu gostei da tia ter sido minha mamãe.
- É mesmo, pequena?
- Sim, eu ia gostar muito se ela fosse minha mamãe de verdade.
- Eu também, pequena. – eu ainda não tinha tido coragem de contar para ela o que tinha exatamente acontecido com a mãe biológica dela, eu tinha contado apenas que a mamãe dela estava fazendo uma longa viagem, o que não deixava de ser verdade. ainda era muito pequena para entender tudo o que tinha acontecido, mas eu sabia que um dia não teria jeito, que eu teria que contar tudo à ela.
Ela fez sua oração de toda noite, lhe contei uma história, que ela ouvia atentamente, mas já piscava duro, pois o sono já estava chegando. Não demorou muito para que pegasse no sono.
Depositei um beijo em sua testa, apaguei o abajur, encostei a porta e desci para a sala de estar, encontrando Katherine ainda sentada no sofá e parecendo estar vagando em algum outro mundo em sua mente, enquanto observava a parede. Me sentei ao seu lado no sofá e assim que ela notou minha presença ela sorriu, retribui seu sorriso e a beijei.
Conforme os beijos iam se intensificando, mãos bobas iam rolando e íamos nos deitando no sofá.
- , espera. – Katherine partiu o beijo.
- O que foi?
- Você tem vinho?
- Vinho?
- Sim.
- Agora?
- Sim.
- Tudo bem. Os vinhos estão em um armário próprio na cozinha.
- Obrigada. Eu volto já. – ela sorriu, me dando um selinho, e se levantou do sofá. Eu fiquei meio desolado, até porque não é todo dia que você é trocado por uma garrafa de vinho. Mas aquilo tinha sido bom, por outro lado, não estávamos em um hotel, estávamos em minha casa, onde estava presente. Não seria confortável ou nada legal se acontecesse de depois do ato dormíssemos e acordássemos no dia seguinte com nos observando, tentando entender aquela loucura toda. Preservar a inocência e o respeito dela comigo, e meu com ela, era sempre importante.



Eu decidi por fim deixar April na rodinha de amigos conversando e bebendo, enquanto eu dava uma ronda pela casa à procura de mais alguém que eu conhecesse, o que não seria difícil.
Eu dei uma volta pela sala e o som da música parecia ainda mais alta do que quando eu havia chegado, deixei novamente o andar de cima para lá, pois não queria ver o que não devia, e fui por fim para a cozinha, vi uma moça distribuindo cerveja, sorri para ela e ela me entregou mais um copo vermelho cheio de cerveja, agradeci e quando eu ia sair da sala e ir para a área de lazer, vi uma pessoa que eu conhecia bem, ele conversava com uma menina enquanto sorria galanteador, mas quando me viu, sorriu ainda mais e se despediu da menina, provavelmente prometendo encontrá-la depois.
Ainda sorrindo largamente, ele foi se aproximando de mim, e quando estava próximo o bastante, ele não disse nada, apenas me abraçou apertado, e eu retribui o abraço, fazia um tempo que eu e ele não nos víamos.
Adam era um dos meus melhores amigos desde o colegial. Adam era lindo em seu 1,80 cm de altura, olhos castanhos claros e cabelo preto, seu sorriso era irresistível e sempre funcionava de primeira com muitas meninas, mas comigo isso não funcionou quando ele chegou em mim da primeira vez no colégio.

Capítulo 6

Eu estava no refeitório comendo meu lanche, quando vi alguém chegando perto da minha mesa, e o cara se sentou à minha frente com o sorriso que ele sempre distribuía para as meninas que ele queria ter algo a mais que uma simples conversa.
- O que você quer? – nem me preocupei em ser educada, e o sorriso dele meio que vacilou, mas logo se recompôs.
- Dar um oi, saber como você está. Saber seu nome...
- Você deveria saber meu nome, porque estudo na mesma sala que você nas aulas de literatura. Mas você não deve saber mesmo porque, 1, você só se interessa e se lembra dos nomes das loiras e descerebradas da escola, 2, você pode até se lembrar o nome das meninas comuns, mas só se for para elas passarem cola para você na hora da prova. – dei um sorriso para ele e dei uma mordida no meu sanduíche.
- Nossa. – o sorriso desapareceu de seu rosto, mas logo voltou. – Se a loira descerebrada te escutasse falando isso dela.
- Eu estou pouco me lixando se ela sabe ou não sabe, o que iria ou não iria fazer, o que eu estou mais interessada é no meu lanche. – a culpa do mal humor era também por duas razões, ser de manhã (não curtia levantar cedo), e a fome louca que eu estava.
- Você é grossa assim sempre? A menina mal-educada.
- Não, sou só com quem é estúpido o suficiente para acha que se chegar sorrindo como um panaca para mim, eu vou para a cama com ele. Porque eu não vou.
- Essas não eram as minhas intenções.
- Ah, é mesmo? Então porque você, o galã da escola, o popular, iria chegar em uma menina como eu, que não é popular e nem gostosa, só para conversar? Só se for porque, 1, você e seus amiguinhos babacas fizeram uma aposta mais babaca ainda, 2, você se acha o tal, a ponto de pensar que chegar com esse sorriso idiota na cara vai conquistar qualquer uma que passar na sua frente. Mas eu tenho uma novidade para você, comigo não funcionou e não vai funcionar.
- Você gosta de fazer listinhas, não?!
- Bom, agora eu gostaria de voltar para o meu almoço.
Ele se levantou e saiu da minha mesa.


E meses depois ele começou a ficar na minha cola, eu pensava que ele ainda queria alguma coisa comigo, mas daí ele revelou que queria apenas amizade, que ele tinha gostado do meu jeito, pois eu falava tudo o que pensava, e estava pouco me lixando sobre o que falavam ou deixavam de falar sobre mim. E então resolvi abaixar um pouco minha guarda e dar uma chance a ele, mas somente em foco à amizade, e nisso Adam e eu viramos muito amigos, ele sempre me defendia de tudo e me apoiava em tudo, me ajudava a tomar decisões, dava alguns conselhos pervertidos e puxava a orelha quando preciso.
Mas então quando viramos adultos, muitas vezes eu e ele acabávamos tendo uma intimidade a mais além da amizade, mas era algo casual e ele sempre, acima de tudo, me respeitava.
- Quanto tempo, hein, menina mal educada, anda sumida. O que aconteceu com você, hein, gatinha? – ele me soltou, mas ainda continuou com uma mão em minha cintura.
- Estou sumida porque estou trabalhando.
- Eu estava com saudade de você.
- Que fofinho, estava com saudades de mim.
- Claro que estava. Você é inesquecível, . – ele falou, sorrindo.
- Sei.
- A cada vez que te vejo, você parece que fica ainda mais linda. – ele segurou em uma mão minha e me fez rodar, me analisando toda.
- Que nada. São seus olhos, meu querido.
- Mas me diz, amor, como vai o trabalho?
- Está indo muito bem, obrigada.
- E o patrão querido?
- Como assim?
- April.
- Ela é muito dedo duro, e eu já falei que eu não estou apaixonada pelo meu patrão.
- Tem certeza, ? – Adam perguntou com uma sobrancelha erguida. - Absoluta. Pode ser apenas uma atração, que logo irá passar.
- Não é só isso, . Eu já te disse que você é péssima em mentir?! - Não estou mentindo.
- Ok, não importa. Vamos apenas beber e dançar.
Ele pediu uns shots de tequila, um pouco de sal e fatias de limão, e então entramos na farra, só eu e Adam.

Uns shots de tequila depois, eu e Adam estávamos na pista de dança, e dançávamos da melhor forma que podíamos, por estarmos bem alegres por conta da bebida. Claro que o salto eu tirei e deixei em um canto ali. Assim que direcionei meus olhos para o rosto de Adam, percebi que nossos rostos estavam pertos demais, Adam sorriu, pervertido, e grudou nossas bocas em um beijo quente, ele não perdia tempo. Ele sabia muito bem como enlouquecer uma garota, ele beijava de uma forma que te deixava beirando o êxtase. Ele passava as mãos em minhas costas e barriga.
- Certo, vamos para o seu apartamento. – parti o beijo por falta de ar, ele apenas concordou e saiu me puxando para fora da festa.
Eu nem iria me despedir de April, mas ela iria entender.
Assim que eu e Adam chegamos até o meu carro, antes que eu pudesse entrar, ele me puxou pelo braço, me prensou contra o carro e voltou a me beijar, cada vez mais de forma mais ardente. Suas mãos deslizaram até a barra do meu vestido, que ele ia subindo. Em um segundo de sanidade, o afastei de mim.
- Não podemos fazer isso aqui, Adam. - ele beijando a pele exposta do meu pescoço, não estava ajudando meu momento de lucidez.
- Não, mas seria interessante. O perigo torna ainda mais atrativo. - meu corpo se arrepiou ao ouvi-lo falar de forma sedutora em meu ouvido.
Com dificuldade de me desgrudar dele e de seus beijos, entramos no carro, claro que cada um no seu, eu não iria deixar o meu ali. Mas iríamos para o mesmo destino.
Assim que chegamos em seu apartamento, saímos do carro às pressas, Adam me alcançou, me abraçou e começou a depositar beijos molhados pelo meu pescoço, me deixando arrepiada.
Entramos praticamente correndo em seu prédio, chamamos o elevador, e quando ele chegou no térreo, Adam me empurrou para dentro, me prensando no espelho e começando a me beijar ardentemente, agora eu poderia dar de vez um adeus para sanidade. As portas metálicas já tinham sido fechadas e o elevador já subia até o 15° andar, que era onde seu apartamento ficava.
A sorte dos moradores ali do prédio foi que ninguém inventou de pegar o elevador, porque senão, iriam ver duas pessoas se atracando loucamente ali dentro, e não algo que todos adoram ver. Porém, nós nos mantivemos mais comportados somente nos beijos, pois ali havia câmera de segurança.
Assim que chegamos no andar do apartamento de Adam, saímos do elevador direto na sala do apartamento dele. Ele era um cara bem rico e o prédio que ele morava era luxuoso, contendo um apartamento por andar.
Me desvencilhei novamente dos braços de Adam e fui andando até seu quarto, claramente expondo toda a sensualidade que eu podia ter, quando comprovei que ele olhava atentamente para mim após dar uma leve virada em meu rosto para vê-lo.
Ao chegar no quarto dele, virei meu corpo totalmente para ele e o chamei com o dedo, se os olhos expressassem de forma bem explícita e direta como nos sentíamos por dentro, naquele momento os olhos de Adam mostrariam chamas de fogo. O danado não perdeu tempo e veio até mim, agarrando minha cintura e impulsionando meu corpo para cima, enlaçando minhas pernas em sua cintura, o fazendo deitar meu corpo sobre a cama enorme e macia, ele sobre mim apalpava todas as partes do meu corpo que conseguia enquanto nossos lábios novamente se encontravam.
Suas mãos entraram dentro da saia do meu vestido, sua mão deslizava pela lateral do meu corpo, e eu me contorcia em desejo e expectativa para as próximas ações. A base de beijos e mais carícias, cada peça de roupa era retirada, se perdendo pelo quarto, e quando vimos já não tínhamos mais nenhuma peça de roupa no corpo e estavámos embolados nos lençóis. Sendo as quatro paredes daquele local, cúmplices de todo aquele desejo.

***


Na manhã seguinte, acordei com um barulho muito irritante vindo de algum lugar do quarto, eu não queria abrir meus olhos, mas o barulho era irritante demais e continuava insistindo naquilo. Abri os olhos, olhei para o outro lado da cama e vi Adam dormindo calmamente, como eu queria estar igual ele. Dormir sem ouvir aquele barulho chato.
Cutuquei Adam, que resmungou.
- Adam, atenda o telefone. Eu quero dormir.
Ele tateou a cabeceira da cama e olhou o visor de seu celular, mas o barulho continuava.
- Não é o meu celular, . – droga, só podia ser o meu.
Assim que me dei conta de que era meu celular que estava tocando, bufei, me levantei, me enrolando direito no lençol branco, por estar sem roupas. Adam somente trocou de posição, voltando a dormir. Achei meu celular jogado no chão do quarto perto da porta do closet, por um momento, fiquei me perguntando como ele havia ido parar ali, mas pela loucura da noite anterior era plausível ele ter ido parar onde foi.
- , cadê você? – foi a primeira coisa que ouvi ao atender o telefone. E ao julgar pelo tom de voz de , ele estava meio bravo.
- Ahn... Estou... – olhei ao meu redor, para o quarto e para Adam somente de boxer preta na cama. - Estou em um lugar.
- Em que lugar, ? – curioso, muito curioso. Bufei baixinho, tirando o celular da orelha.
- Você quer mesmo saber, ?
- Não. Melhor não. - ao julgar pela sua voz, ele já até imaginava onde, só não imaginava com quem. - E por que, afinal, você me ligou? – eu só queria voltar a dormir.
- Porque você tem que levar sua filha para a sorveteria.
- Minha filha? – eu não conseguia me lembrar de ter adotado ou parido alguma criança.
- A , . Minha filha, você está fingindo ser a mãe dela, lembra? – sussurrava pelo telefone.
- E por que você está sussurrando? – sussurrei também.
- Porque Katherine está por perto.
- Ela dormiu aí?
- , você perdeu a memória ou só está se fazendo de sonsa?
- Nenhuma das duas coisas, . Minha noite passada só foi agitada.
- Que inveja. – resmungou, baixinho.
- Por quê? - me segurei para não rir, já imaginando o que poderia ter ocorrido. - Pera aí, não me fale que você e ela não fizeram nada?
A risada estava querendo sair, se ele confirmasse, eu não ia conseguir segurar.
- O quê? Não. Quer dizer, nós nos divertimos muito.
- Não precisa mentir para mim, .
Ele ficou uns segundos calado, para então suspirar e dizer:
- Digamos que ela gosta muito de vinho.
Ao ouvi-lo dizer aquilo eu entendi tudo e soltei uma risada.
- Ela te trocou por uma garrafa de vinho?! – eu falei que não ia conseguir segurar a risada.
- Eu não disse isso, , e pare de rir.
- Desculpa. Mas pelo jeito de ontem, pensei que vocês fossem se divertir bem mais.
- . – me repreendeu, mas eu não conseguia parar de rir. – Vem logo para cá, está muito animada à sua espera.
- Certo, já estou a caminho. – encerrei a chamada, parando de rir e secando uma lágrima imaginária dos olhos.
Rodei o quarto com os olhos e achei todas as minhas peças de roupa.
Mais ou menos em um ou dois minutos depois, eu já estava pronta e meio debruçada na cama, depositando um beijo na testa de Adam, que acordou e me agarrou, me fazendo cair na cama com ele.
- Onde você pensa que vai?
- Preciso trabalhar, bonitinho.
- Não vai não. - ele afundou seu rosto na curva do meu pescoço, suspirando pesado.
- Eu preciso.
- Vamos nos divertir mais um pouquinho. - com seu sorriso safado eu queria mesmo ceder, mas não queria deixar esperando muito.
- Proposta muito tentadora, mas eu preciso mesmo ir.
- Ok. Fazer o quê.
- Até mais. - de despedida, o beijei com vontade, o deixando até animado.

Assim que estacionei o carro na frente da casa de , uma garotinha pequena saiu de lá de dentro correndo, em minha direção.
- MAMÃE. – me agachei em sua altura e a recebi em meus braços.
- Minha princesa. Está pronta para irmos na sorveteria?
- SIM! – ela gritou e pulou, me fazendo rir.
No segundo seguinte, e Katherine estavam na porta principal da casa, nos observando.
Voltei minha atenção à e vi que seu cabelo estava amarrado em um perfeito rabo de cavalo.
- Quem arrumou seu cabelo?
- O papai.
- É mesmo?
- Sim. – sorriu largamente.
Me levantei do chão e me aproximei do casal na porta.
- Bom dia, . Katherine.
- Bom dia, . – me cumprimentaram e eu sorri.
- Bom trabalho com o cabelo dela, .
- Obrigado. Aspirador de pó tem suas funções a mais. – mandou uma piscadela para mim, e eu abaixei a cabeça, rindo ao imaginar a cena dele arrumando o cabelo de com o aspirador.
- Sei. Bom, eu e vamos indo. Até mais tarde.
- Até mais. – falou e Katherine apenas acenou, sorrindo.
Voltei para perto do carro e, com , abri a porta da parte de trás para que entrasse, mas antes, ela acenou para o pai, dando um tchau e mandando um beijo no ar.
me esperava ansiosa, parada em frente à sorveteria. observava a loja com os olhos brilhando, sorri com o seu jeitinho e abri a porta de vidro, a pequena não pensou duas vezes antes de entrar como um foguete.
- Crianças! – reclamei, me aproximando de .
pegou um cascão com duas bolas de sorvete sabor chocolate e creme, e eu peguei um milk shake de baunilha.
Nos sentamos em uma mesa perto das janelas de vidro, que nos dava visão para a rua, para o movimento do lado de fora.
Era uma tarde ensolarada, perfeito para passear com os filhos, com os cãezinhos, com a família.
- Eu gostei um pouquinho da Katherine. – desabafou, tirando minha atenção do lado de fora para ela.
- Por que só um pouquinho? – beberiquei meu milk shake. – Ela parece ser uma pessoa legal.
- Sim, ela parece. Mas preciso conhecê-la melhor, saber suas intenções.
- Acho que a intenção de Katherine é fazer seu pai feliz.
- E se não for só essa, tia ?
- Como assim? – me apoiei na mesa para prestar mais atenção nela.
- Eu tenho um pouquinho de medo. – seus olhinhos tomaram um brilho diferente, de medo e receio.
- Medo do que, princesa?
- Medo dela tirar meu pai de mim.
Ao ouvir dizendo aquilo, meu coração se partiu. Para , era muita novidade uma pessoa na vida de , ter que dividir com outra pessoa, mesmo Katherine não sendo a primeira com quem ele saía, mas a diferença era que não sabia.
Eu entendia bem o seu medo, e eu sabia bem que existiam pessoas capazes de tirar, de afastar seus companheiros de seus filhos.
Mas era diferente, o amor que ele sentia pela filha ia além de qualquer coisa, ele jamais deixaria por causa de uma mulher, ele iria contra tudo e contra todos por ela, por sua pequena que ele tanto amava.
- , meu amor. – me levantei e me sentei ao lado de , pegando seu queixo e levantando sua cabeça para que me olhasse. – Ninguém, por mais que queira ou que tente, não irá conseguir tirar seu papai de você. Porque ele te ama demais, e aposto que ele não te trocaria por ninguém.
- Será mesmo, tia ?
- Tenho certeza, pequena, ele te ama muito. Ele não consegue mais ver uma vida sem você. – sorri terna para ela, que me abraçou apertado.
Beijei o topo de sua cabeça e fiz carinho em seu cabelo.
Quando ela se soltou do abraço, já sorria.
- Mas vamos mudar de assunto. Como você está, sabendo que a apresentação já está perto?
- Estou bastante ansiosa, tia .
- Imagino, eu ficava nervosa só quando tinha que ler um texto na escola e sentada em meu lugar. Imagina dançar na frente de um teatro inteiro.
- Tia , você está me deixando ainda mais nervosa e assustada. – me olhava com os olhos arregalados e eu ri.
- Desculpa, pequena, vai dar tudo certo lá. Tenho certeza de que você irá se dar muito bem.

***


Estacionei novamente na frente da casa de , mas daquela vez era para deixar . Havíamos nos divertido bastante naquela tarde, era uma pena que eu já teria que deixá-la em casa.
Abri a porta de trás do carro assim que eu saí do mesmo, e abri a porta para , que saltou dali e correu para a porta, tocando incansáveis vezes a campainha, iria ficar puto, ele detestava quando faziam isso, e sabendo disso, fazia mesmo para irritar o pai, porém, na brincadeira.
Bati a porta do carro e o travei, eu ia me aproximando da porta quando a abriu, e ele estava com uma cara nada boa, parei onde eu estava e reprimi uma gargalhada. Ele olhou para mim, meio confuso, e eu com o dedo indicador apontei para baixo, para , que olhava o pai, sorrindo sapeca, e com os braços meio cruzados para trás.
a olhou com os olhos semicerrados, se agachou na altura da mesma e a tomou nos braços e começou a fazer cosquinhas na pequena, que se contorcia e gargalhava, gritando para que o pai parasse.
Assim que ele parou, me olhou ainda sorrindo, e, divertido, perguntou:
- Você não vem, ? – e adentrou a casa, carregando a filha no colo. Abaixei a cabeça e ri, para então entrar na casa.
já estava largada no sofá assistindo televisão, e provavelmente estava na cozinha, então foi para lá que eu fui. Assim que entrei, vi com o avental, ele picava algumas cebolas e tomates.
Assim que ele me viu, sorriu, dizendo:
- Estou preparando o jantar, e quero que você fique. – e piscou para mim.
- Ah, não, é melhor eu ir. Aposto que você quer um jantar tranquilo com Katherine e .
- Katherine não está aqui.
- Não? – franzi o cenho. Como ela não estaria, ainda mais hoje que ele estava preparando o jantar? - Ela foi embora mais cedo, achei melhor assim.
- Certo... Então se é assim, acho que fico.
- Ótimo. Vou pegar vinho para nós. – ele enxugou as mãos no avental e foi para o armário, pegando duas taças, e em seguida pegou uma garrafa de vinho na pequena adega na cozinha.
Eu me sentei no banquinho da bancada, onde ele cortava as coisas.
Assim que ele abriu a garrafa e serviu para nós dois, fizemos um pequeno brinde.
- A que brindamos mesmo? – perguntei e tomei um gole do vinho.
- À vida?! – o olhei com os olhos semicerrados.
- O que foi? Você e a Katherine já estão noivos?
- O quê? Não. – ele arregalou os olhos e riu. – Certo, então brindamos pela existência da .
- Aí é válido. – sorri e tomei mais um gole do delicioso vinho.
Comemos a comida sem dizer um "a" que fosse, a comida estava deliciosa demais para falarmos alguma coisa. Mas assim que acabamos de comer, correu para a sala, deixando e eu ali na mesa, ainda sentados.
- Estava ótima a comida, como sempre, parabéns, .
- Obrigado. – ele sorriu e se apoiou na mesa, se aproximando mais de mim. – Como foi o passeio de vocês duas hoje?
- Foi muito bom. se lambuzou de sorvete, como sempre. – rimos, mas queria perguntar alguma coisa. - O que mais você quer saber, ?
Perguntei, mesmo já sabendo qual seria.
- A falou algo sobre a Katherine?
- Falou sim.
- O que ela falou? – ele parecia contente em saber daquilo.
- Ela gostou da Katherine, achou ela legal. – respirou fundo, aliviado.
- Que bom. – ele se encostou na cadeira.
- É, mas eu não vou mentir para você, , está com medo. – voltou a se apoiar na mesa e me olhou atentamente.
- Medo de que, ?
- Ela está com medo de que Katherine afaste você dela.
me olhou por uns segundos, para depois olhar para frente, e se encostou na cadeira novamente.
- Eu jamais deixaria isso acontecer, ela é a minha garotinha, eu a amo demais. Eu não sei o que seria de mim sem na minha vida.
- Foi isso o que eu disse a ela, e pareceu tranquilizá-la. Mas acho melhor você mesmo dizer isso para ela. – sorri para ele, que sorriu de volta. – Bom, nos vemos amanhã.
- Até amanhã, . E obrigado. – havia me acompanhado até a porta assim que me despedi de , pois já estava de saída.
Fui até meu carro, entrei e dei partida. ainda estava na porta, me observando, acenei para ele, que acenou de volta, e então saí, rumo ao meu apartamento.

Capítulo 7



Acompanhei até a saída e assim que ela saiu com o carro, entrei em casa e continuava largada no sofá, assistindo desenho animado.
- Filha, vamos para a cama, está na hora de dormir.
- Ah não, papai, só mais um pouquinho, vai.
- Não, , seu tempo de ficar acordada acabou. Vamos escovar os dentes e dormir, já.
Bicuda e bufando, ela se levantou do sofá e subiu as escadas, pisando pesado enquanto reclamava baixinho.
- Sem reclamação, hein, baixinha.
- Eu posso reclamar, eu sou criança. – ela parou no topo da escada, cruzando os braços, ainda bicuda.
- E o que é que tem o fato de você ser criança, com você não reclamar de ter que ir dormir?
- Tem tudo a ver, papai, crianças reclamam dos papais, e eu sou criança.
- Crianças dormem cedo, e como você é criança, já para a cama, mocinha.
- Não sou mais criança, agora sou adulta. Então posso ir dormir tarde. – ela ia descendo as escadas.
- . – a repreendi e então ela deu meia volta e foi para o quarto, pisando duro novamente.
Desliguei a televisão e as luzes do andar de baixo e subi para o quarto de .
Me sentei na cama enquanto ela escovava os dentes. Assim que ela terminou, se deitou na cama e eu ajeitei o edredom sobre ela, a olhando.
- Filha, quero que você saiba que eu estando com a Katherine, não significa que ela irá interferir em algo na nossa relação. Eu te amo, minha princesa. Eu não permitirei que nada, nem ninguém, tire minha garotinha de mim. – fiz carinho em seu cabelo.
- Promete, papai?
- Prometo, minha garotinha. Agora vamos fazer a oração.
- Papai do céu, muito obrigada por mais um dia de vida e de saúde. Peço que guarde e abençoe a mim, ao papai, a vovó, o vovô, a tia , e todos aqueles que amamos. Amém, – terminou a oração e voltou a deitar.
- Amém.
Ela fechou os olhos e logo estava dormindo. A observei dormindo por um tempo.
Eu amava minha filha demais, eu mataria e morreria por ela.
E lembranças boas da pequena apareceram em minha mente, me fazendo sorrir, nostálgico.

Flashback

Acordei com chorando alto, me sentei na cama e esfreguei os olhos para acordar de vez. Logo após, me levantei da cama e caminhei até o quarto de , e quando cheguei perto de seu berço, ela chorava a todo pulmão enquanto mexia os pezinhos e os bracinhos.
- Minha garotinha, o que aconteceu, filha? – com cuidado, a peguei no colo e a tirei do berço.
ainda tinha apenas três meses de vida, e eu tinha muito ainda das minhas inseguranças de como cuidar da pequena, e a insegurança só aumentou depois que Blair foi embora, sem nem se despedir, sem nem sequer se preocupar em me dizer como cuidar de forma correta de um bebê.
Mas já tinha acontecido, eu não podia voltar no tempo, há menos de 24 horas havia acordado, desesperado à procura de Blair, e ela já tinha ido embora, e mesmo que pudesse, eu sabia que nada faria Blair mudar de ideia e ficar, se nem o fato dela ter uma filha tão pequena e tão dependente dela não a impediu de partir, quem seria eu pedindo para que ela ficasse?
Agora era apenas eu e minha garotinha, minha atenção mais do que nunca seria apenas para , meus olhos sempre atentos para o perigo que pudesse estar se aproximando da minha pequena, punhos sempre cerrados para quebrar quem ousasse machucá-la ou partir seu coração, meus braços estariam sempre abertos para reconfortá-la, e as palavras formadas na cabeça e na ponta da língua para lhe contar uma historinha na hora de dormir, e quando ela precisasse, de um conselho.
Eu poderia não saber como cuidar dela, mas eu faria de tudo que eu pudesse.
Deitada em meus braços, ainda chorava muito e eu estava na beira do desespero por vê-la vermelha de tanto chorar e eu não conseguir saber o que ela queria, o que ela precisava. Mas parei por um momento, tentando me recordar do que Blair fazia quando chorava, era meio difícil saber, eu prestava atenção em , mas nem sempre no que Blair fazia para acalmá-la. Não poderia ser tão difícil, mas vê-la chorando daquela forma me deixava sem conseguir pensar em nada.
Pensei que poderia ser a fralda, olhei, mas a mesma ainda se mantinha limpa por não fazer tanto tempo que eu havia a trocado. Então a opção fralda cheia não era.
Busquei no fundo da mente as cenas de alguns filmes românticos; comedia romântica, que Blair me fazia assistir com ela, em que um casal tinha um bebê.
- Calma, filha, papai está tentando pensar. – e a chacoalhava para lá e para cá com ela ainda chorando a plenos pulmões. – Seria tão mais fácil se os bebês nascessem sabendo falar.
Por um momento, ela parou de chorar e me olhou com uma carinha, e seus olhinhos claros como se dissesse: "É, papai, como isso não acontece, tente adivinhar o que preciso." e voltou a chorar.
E então as coisas que Blair fazia quando chorava, vieram em minha mente.
- Certo. Vamos ver, pode ser cólica, então temos que colocá-la de barriga para baixo e chacoalhar devagar. Com cuidado peguei e a coloquei de barriga para baixo em meus braços, e fiquei a chacoalhando devagar e cantando uma canção de ninar.
Uns minutinhos depois, ela parou de chorar e começou a chupar meu braço, babando nele, mas não durou muito, ela logo voltou a chorar.
- Certo, pequena, cólica não é. Dor no ouvido também não pode ser. – a peguei por baixo dos seus bracinhos, a segurando de frente para mim, ela chorava ainda, e eu a olhei com os olhos semicerrados. – Papai já te falou que não é bom em adivinhação, pequena? Pois eu não sou.
Eu estava começando a ficar ainda mais aflito, eu via muito de meus amigos tendo filhos e não sabendo muito bem como cuidar deles, e eu imaginava na hora o que deveria ser feito, mas os pais ficavam meio perdidos. Mas ali estava eu na mesma situação que eles, sem saber exatamente como fazer, um branco na mente. Você sabe exatamente o que fazer até acontecer o mesmo com você; até seu próprio filho nascer e ele começar a chorar sem parar, o desespero de algo acontecer com ele de tanto chorar é tanto que você não é capaz de raciocinar sobre o que fazer. Ainda mais quando se é pai de primeira viagem e de um dia para o outro tem que se tornar pai e mãe ao mesmo tempo. Mas eu tinha fé que logo iria tirar isso de letra, mas quem sabe, quando ela tivesse entrando na faculdade, eu aprenderia a ser um pai decente e fazer as coisas direito, eu só esperava que não fosse tarde demais.
Desculpa minhas falhas e criancices, filha, mas não desiste de mim.
Voltei a deitá-la em meus braços e ela continuava a chorar, até que , com suas mãozinhas pequenas e de forma desajeitada, pegou na minha camiseta e ficava puxando devagar com seus dedinhos numa tentativa de puxá-la para baixo.
- Filha, calma, papai não tem leite. – num piscar de olhos me lembrei do porquê ela estava puxando minha blusa, ela fazia aquilo com Blair quando queria mamar. – É isso, você está com fome, pequena.
Corri (no modo de dizer) até a cozinha, com em meus braços, mas parei na porta da cozinha quando me lembrei de um detalhe, o mais importante: eu não tinha muita certeza de como fazer leite.
Eu sei o que estão pensando: “mas como um chefe de cozinha não sabe fazer leite para um bebê?”, mas concordamos que cozinhar para um adulto é muito diferente do que fazer leite para um bebê. Tem medida certa, temperatura certa do leite, e Blair estava amamentando no peito, o leite que compramos era para caso algo acontecesse com o leite de Blair.
Tchau, calma, e olá novamente, desespero.
Mas, afinal, por que existiam as mães? Isso mesmo, para te ajudar nesses momentos.
Corri (no modo de dizer) até o telefone fixo na sala, e com uma mão, disquei o número do telefone da casa da minha mãe.
Dois toques depois, ela atendeu ao telefone.
- Mãe, estou com um problema.
- Qual, meu filho? está bem?
- Está, mas, mãe, eu não sei ao certo como fazer leite.
- Imaginei que me ligaria por isso.
- Preciso muito da sua ajuda.
- Certo, o correto era ainda estar mamando no peito, mas a irresponsável da Blair...
- Mãe, não vamos falar disso agora. Só quero alimentar minha filha e esquecer essa mulher.
- Certo, filho. Vou te dando as coordenadas enquanto você vai fazendo aí, e com muito cuidado por conta de .
- Ok, obrigado, mãe.
Voltei para cozinha com o telefone pendurado na orelha, sendo sustentado pelo meu ombro, enquanto no outro braço, eu mantinha deitada.
- Você está na cozinha?
- Estou sim, mãe. O que devo fazer?
- Certo, pegue a lata do leite em pó, o específico para bebê, e a mamadeira. Na mamadeira, você medirá 120ml de água filtrada.
- Tá bom. – vasculhei os armários e achei tudo o que minha mãe falou. Graças aos céus, Blair tinha me feito comprar o leite antes que fosse embora. Fui até o filtro e enchi a mamadeira com 120ml de água filtrada. – Merda. – praguejei baixinho.
- O que houve?
- Nada, só caiu um pouco de água no chão.
- Cuidado para não escorregar, enxugue logo o chão.
- Tá, enchi a mamadeira, e agora o que faço?
- Pegue o medidor que vem dentro da lata do leite e coloque quatro medidas do pó dentro da mamadeira. - Ok. – coloquei as quatro medidas de leite na mamadeira. – Agora só tampar e chacoalhar para dissolver o leite, certo?
Graças aos céus, tinha parado de chorar e me observava atentamente, como se soubesse que eu já estava fazendo seu “mama”.
- Isso.
- Certo. – coloquei a tampa com o bico na mamadeira e na primeira chacoalhada espirrou leite em meu rosto, mão e braço. – Oh, merda.
Peguei um pano de prato e comecei a enxugar o leite derramado em mim.
- O que acontece dessa vez?
- Espirrou leite em mim.
- Mas, , você tem que colocar a outra tampa, ou segurar o bico da mamadeira para poder chacoalhar, senão, obviamente, vai espirrar. – minha mãe riu do meu desastre, do outro lado do telefone.
- Certo, eu tinha me esquecido desse detalhe. É meio difícil fazer tudo com um telefone sendo sustentado por um ombro e um bebê em meu outro braço.
- Eu sei bem como é isso, filho.
Segurei o bico da mamadeira e comecei a chacoalhar bem.
Assim que o leite estava pronto, me sentei na cadeira da mesa da sala de jantar e comecei a dar a mamadeira para , que tomava o leite meio que de uma forma desesperada.
- Graças a Deus, ela está tomando tudo.
- Isso aí. Imagino o quão difícil deve ser agora, filho, mas acredite, logo você estará craque nisso. - Eu espero, mãe, mas ainda tenho meus medos de não ser o pai que precisa.
- Filho, você será um ótimo pai, mas a cada dia se esforce ainda mais para ser um bom pai para ela. Seja prudente nos castigos e nas broncas, e pense bem como está a educando. E no futuro você verá a menina maravilhosa que ela se tornará.
- Pode deixar, mãe, darei meu melhor todos os dias pela minha garotinha.
- Isso mesmo, filho. Mas como você está de verdade?
- Estou bem, mãe. está ocupando minha mente, nem parece que foi essa noite em que ela foi embora. Vou pensar apenas na , me focar apenas nela será melhor para todos.
- Faça isso, filho. Somente lembre que você tem uma linda garotinha ao seu lado e ela lhe dará forças para superar esse momento tão difícil.
- Muito obrigado pela força, mãe. Eu amo você.
- Eu também te amo, meu garotinho.
Assim que desliguei o aparelho celular, já havia terminado de tomar todo o leite, com cuidado a coloquei em meu peito e dei batidinhas leves em suas costinhas para que ela arrotasse. Disso eu me lembrava bem, pois algumas vezes em que Blair a amamentava, eu em seguida a colocava para arrotar.
Assim que minha pequena arrotou, a ergui em meus braços, colocando-a meio de lado e dando uma olhada em sua fralda, mas como não consegui ver nada, por via das dúvidas, eu preferi trocar.
Subi com ela até seu quarto e fui até o banheiro, a colocando no trocador, deitada. Abri sua fralda e, meu Deus, que surpresa.
- Nossa. Tão pequena e fazendo uma coisa monstruosa e fedida. Sua fedidinha. – fiz pequenas cosquinhas na barriguinha dela e ela me deu um sorrisinho banguelo.
Peguei fralda limpa, lenço umedecido e talco, colocando ao lado de no trocador.
Retirei a fralda que ela usava, a embolando e jogando no lixo, logo após passei o lencinho umedecido e segurei suas perninhas, a erguendo um pouquinho para então colocar a fralda limpa embaixo dela. Era a vez do talco, mas um pequeno desastre aconteceu quando peguei o talco, ele estava aberto, então formou aquela fumaça. Abanei com as mãos para a fumaça se dissipar, e quando vi, não consegui segurar a risada, me olhava atentamente, mas partes de seu rosto estavam sujas de talco, mas ela não era a única, minha cara também estava branca.
- Prometo, filha, que o papai vai aprender a cuidar de você, sem que mais desastres aconteçam. – e mais um sorriso banguelo para mim.
Eu era o pai mais sortudo do mundo por tê-la em minha vida.

Fim flashback.


Ao me lembrar desse dia, não pude evitar de sorrir largamente, e olhando agora, eu sentia um orgulho imenso dela pela menina educada e esperta, o que consequentemente trazia elogios e amor de todos que a conheciam. Também sentia orgulho de mim mesmo por ela ser o que era, porque eu consegui acertar em sua educação, mesmo sozinho, eu consegui.
Passamos por muita coisa, mas demos a volta por cima e eu aprendi a cuidar muito bem da minha garotinha.
Naquela época, era para estar arrasado pela Blair ter ido embora, mas me obrigou a desviar minha atenção daquilo e focar totalmente nela, e eu agradecia muito à por isso; por ela não ter me dado tempo para pensar no que tinha acontecido e acabar entrando em uma depressão.
Minha pequena garotinha a cada dia me dava mais forças de seguir em diante de cabeça erguida.

***




Dia da apresentação de balé da havia chegado, eu estava na casa de para ajudar a se arrumar, dar apoio moral à pequena, que estava nervosa, com medo de algo de ruim acontecer na apresentação. Mas a acalmei um pouco, dizendo mais uma vez que tudo daria certo, que ela se sairia muito bem na apresentação.
Eu estava na cozinha, limpando a bancada depois de ter feito um sanduíche caprichado para , que estava em seu quarto, repassando a coreografia. Parei de limpar a bancada quando escutei a campainha da casa tocar.
- , atende a porta?! – gritei da cozinha e logo escutei uma correria nas escadas e em seguida vi a figura de na porta. - Você é folgada, hein, , por que você não atende a porta? – ele colocou as mãos na cintura, reclamando de brincadeira comigo.
- Porque estou limpando a bancada da cozinha.
- Isso não é desculpa. – apontou o dedo indicador para mim, fazendo uma falsa cara de bravo, mas eu sabia que ele não estava. E em seguida foi atender a porta.
- Mas funcionou. – falei mais alto para que ele escutasse da sala, mas ele não disse mais nada.
Uns segundos depois, escutei vozes meio altas vindo da sala, a voz de consegui reconhecer, mas a segunda voz era de uma mulher e eu podia ter certeza de que conhecia aquela voz de algum lugar, mas decidi deixar quieto aquilo, pois poderia ser alguma amiga dele.
Continuei limpando a bancada, concentrada naquilo, queria terminar de arrumar a cozinha logo para então começar a ajudar a se arrumar, para que eu pudesse me arrumar também.
Sim, eu iria me arrumar na casa de , porque como eu iria ajudar , uma exigência sua, ficaria muito curto o meu tempo, até eu ir em casa tomar banho e me arrumar, eu poderia me atrasar para a apresentação e exigia também que eu chegasse junto com ela e seu pai no teatro.
- ? – parei de passar o pano e levantei a cabeça de imediato, mas não me virei para a pessoa que me chamava. Foi aí que eu descobri de quem era aquela voz: Katherine. Me virei para ela, sorrindo, ainda segurando o pano na bancada, ela sorria, mas estava com uma cara óbvia de dúvida, claro, né, o que a ex-mulher do namorado dela fazia na casa do cara, e ainda mais com um avental e um pano na mão?
Mas eu poderia ter uma explicação para aquilo, eu só esperava que funcionasse.
- Katherine, oi. – sorri largamente, mas por dentro eu estava com medo.
- O que faz aqui, ? – ela sorria, mas não era de simpatia, cruzou os braços em sinal claro de que queria explicações.
- É que a apresentação da minha filha é hoje, e ela está muito nervosa. Ela insistiu muito para que eu ficasse e a ajudasse a se arrumar.
- Mas precisava ser na casa do ? – certo, eu não sabia muito bem como explicar aquilo. E agora?
- Katherine? – chegou á cozinha, graças a Deus, minha salvação.
- Querido, eu estava perguntando para a o porquê dela estar aqui. - queria muito que a ajudasse a se arrumar, e ela queria estar comigo por perto também, então achei melhor ficar aqui.
- Certo, e por que ela está fazendo faxina na cozinha? – por que tantas perguntas, mulher?
- Porque eu fiz um lanche para e arrumei a bagunça que eu tinha feito.
- Ok. – ela ainda parecia desconfiada, mas eu não podia fazer nada quanto a isso.
entrou correndo na cozinha e agarrou minha mão, começando a me puxar para fora da cozinha.
– Vem me ajudar a me arrumar.
Quando ela viu Katherine, deu um sorrisinho e disse um simples "oi" e saiu me puxando para fora da cozinha, antes de sair de vez do cômodo, dei um sorriso tímido, pedindo licença também através daquele sorriso.
Assim que estava pronta, eu me arrumei. Fui para o meu quarto de fininho para que Katherine não me visse indo e mais perguntas fossem geradas, e aí eu não iria saber mais o que dizer e tudo iria se complicar para o meu lado e para o lado de , e tudo o que eu menos queria era confusão no dia da apresentação da .
Não demorei muito e já estava pronta com um vestido longo da cor preta, um salto alto, cabelos soltos pelos ombros e uma maquiagem bem leve.
Subi para o primeiro andar da casa de fininho para que novamente ninguém me visse voltando da lavanderia, assim que entrei no quarto de , ela não estava ali, provavelmente estava no quarto do pai.
Assim que escutei os três descendo as escadas, fiquei preparada para descer em seguida.
- , vamos logo, antes que se atrase. – me gritou do andar de baixo.
- JÁ ESTOU INDO. – respondi, já abrindo a porta do quarto.
Respirei fundo e desci as escadas, quando cheguei no andar de baixo da casa, encontrei no pé da escada, agachado, conversando com . Mas assim que ele me viu, ele se levantou e ficou me olhando, e percebi uma certa admiração em seus olhos, que me fitavam. se balançava enquanto olhava de mim para e vice versa.
estendeu sua mão para que eu a segurasse enquanto descia os últimos degraus, e eu aceitei de bom grado, ele estava tão lindo, com uma camisa e calça jeans, que meu coração palpitou.
Não pude deixar de perceber o olhar que Katherine direcionava para mim e nossas mãos juntas, ela nem se preocupou muito em disfarçar o olhar, mas eu entendia ela, quem ama cuida, e nisso existia um certo ciúmes. Ela acabava por me ver como uma ameaça, o medo dela era que eu e ele acabássemos juntos novamente, que o fato de termos , fizesse com que nosso amor reaparecesse.
Um amor que nunca existiu. Bom, existiu de minha parte por ele, mas não da parte dele por mim, esse amor ainda estava em mim, mas muito bem guardado, e dali ele não poderia sair.
E eu já tinha entendido que ele agora era dela, eu era a simples babá da filha dele.

Todo o teatro se levantou para aplaudir aquelas pequenas meninas que fizeram um espetáculo e tanto em cima daquele palco. E eu como uma mãe (mesmo que de mentirinha) muito orgulhosa que era, aplaudia e tinha lágrimas nos olhos. Eu não precisava ser mãe biológica de para me sentir orgulhosa daquela garotinha.
Ela olhou em nossa direção e acenou para nós freneticamente, e eu e acenamos de volta para ela, e antes que as grandes cortinas fossem fechadas, eu mandei beijos para ela, que me mandou de volta enquanto pulava em pé no lugar em que estava.
Quando o assunto era criança, e principalmente , eu era uma manteiga derretida.
Enquanto a pequena estava ali em cima do palco, dançando, uma alegria imensa se apossou de meu peito, junto com uma grande vontade de chorar de alegria, por ter conhecido aquela pequena garotinha, por ter me lembrado de quando ela tinha um aninho, aquela menininha pequena que corria para lá e para cá.

Flashback

- , segure ela. – gritei, atrás de .
- Estou tentando. – corríamos eu e atrás da pequena pela casa. Estávamos tentando colocar a roupinha nela, mas ela fugia só de fralda pela casa.
Quando finalmente conseguimos encurralar , ela deu um jeito e escapou por baixo das pernas do pai dela, que me olhou com uma cara confusa, com uma mistura de indignação.
- Vamos atrás dela, . – falei, rindo para ele.
- Ah, eu te pego, sua menininha fujona. – disse, divertido, voltando a correr atrás de .
Ela se divertia fugindo, ria. Quando ela começou a correr em volta do sofá, foi por um lado e eu fui por outro, e enfim consegui pegar a pequena em meus braços.
Me virei em direção a com um enorme sorriso no rosto por ter conseguido pegá-la, e ele fez um joinha para mim e colocou as mãos no joelho, se inclinando para respirar melhor depois daquela correria.
- Está ficando velho, hein, ?!
- Há-há-há, engraçadinha.
Voltamos para sala e finalmente conseguimos trocar - Filha, você tem só um aninho e já dando esse olé em nós, não quero nem ver quando você estiver maior. - se jogou no sofá ao meu lado.
- Tenho dó de você, querido. – falei para ele, dando dois tapinhas em seu ombro.
- Você também vai sofrer, você é a babá dela, esqueceu?!
- Mas não serei para sempre, um dia ela não vai mais precisar de mim. – falei, meio tristonha.
Eu trabalhava ali apenas há seis meses e já tinha me apegado muito a , aquela menininha de apenas um ano de idade me cativou tanto, mas tanto, que pensar que um dia eu já não teria mais utilidade para ela doía muito.
- Quando esse dia chegar, te daremos outro lugarzinho aqui com a gente. Mas está apenas com um ano, ainda tem tempo para pensarmos nisso, .
- O tempo passa rápido, .
- Então vamos aproveitar cada segundo e não vamos pensar no depois. Apenas viver o agora. - Você tem razão.
Quando voltei meu olhar para , ela olhava atentamente para a televisão, ela mal piscava enquanto via uma personagem de desenho animado dançando balé.
- Acho que ela será uma bailarina. – falei e olhou para a filha, sorrindo largamente.
- Ou uma maratonista. – ele arregalou um pouco os olhos e então caímos na gargalhada.
- Não. Ela será uma bailarina e das boas. – dei uma piscada para ele. – Já consigo imaginar ela no palco de um teatro e todos ali aplaudindo a grande bailarina que ela é, mesmo sendo pequena.
Rimos mais uma vez quando começou a bater palminhas para bailarina do desenho animado.
Fim flashback.

Doces lembranças. E ali estava com seis anos no palco de um teatro sendo aplaudida de pé por todos, tudo bem que as outras menininhas mereciam todo o reconhecimento, mas para mim, a única estrela naquele palco era . - Você tinha razão. Desde pequena, é uma grande bailarina. – disse baixo perto do meu ouvido, o olhei e sorri, segurando as lágrimas de uma babá mais que orgulhosa.

Capítulo 8

se aproximou do pai correndo e lhe deu um abraço apertado. - Minha garotinha, você foi brilhante, estou muito orgulhoso de você, filha.
- Você gostou mesmo?
- Se eu gostei? Eu adorei a apresentação. - ele depositou um beijo na testa da filha e se levantou.
se aproximou de mim e eu me agachei, a abraçando apertado.
- Você gostou? - assim que ela saiu do nosso abraço, seus olhos brilhavam em expectativa.
- Eu adorei. Estou orgulhosa de você, minha pequena. Parabéns, eu te falei que você ia se sair bem. - bati de leve meu dedo indicador no nariz da pequena, que estava toda sorrisos.
- Gostou, tia Katherine?
- Eu amei, , parabéns.
Katherine estava meio estranha, ela estava com um sorriso nos lábios, mas o sorriso não parecia dizer aquilo que ela tinha dito para . Algo incomodava Katherine, talvez o que a incomodava era eu.
Desviei meus pensamentos daquilo quando escutei alguém batendo palmas atrás de mim, e quando me virei, Tom se aproximava.
- , não tenho palavras para dizer sobre sua apresentação.
- TIO TOM. - a pequena saiu correndo e pulou nos braços de Tom.
- Tom, que surpresa vê-lo aqui. - falei para ele.
- Eu não podia perder a apresentação dessa garotinha linda, amor. - amor? Que intimidade era essa, agora?
- Você estava certo, eles formam um lindo casal, realmente. - escutei Katherine dizer aquilo para , mesmo tendo falado baixo para que somente ele escutasse. Olhei para e ele sorria, pedindo desculpa com o olhar de "fiz outra besteira".
- Desculpa, o que você disse, Katherine?
- Que você e Tom formam um lindo casal. - me lançou um olhar para que eu confirmasse aquela loucura.
Desviei meu olhar do casal para Tom, que estava com em seu colo e me olhava sorrindo meio de lado, de forma suave.
Cretino, ele sabia de tudo e tinha topado.
- Ah eu e Tom, nós não...
- Ah, qual é, amor? Não precisa mais esconder o que somos, conversei com e ele super apoia nós dois juntos. - Tom se aproximou mais de mim e passou seu braço livre por minha cintura, e quando tentei me desvencilhar dele, ele me puxou para mais perto.
Olhei para , que sorria de forma suave, pedindo com os olhos mais uma vez que eu confirmasse aquilo.
- Aposto que ele apoia. - apenas falei de forma irônica. me pagaria por aquilo.
- Bem. As férias chegaram e eu andei pensando e pesquisando. E com tudo certo, que tal viajarmos? Pensei nos destinos, Disney primeiro e depois para as Bahamas, talvez.
- Eu topo, papai. - disse, toda animada ao ouvir a palavra Disney.
- Acho uma ótima ideia, amor. - quando ela deu um selinho demorado em , desviei meu olhar deles, vê-los se beijando começava a me incomodar de uma grande forma.
Mas, pera aí, eles já estão nessa intimidade toda? Que eles até já vão fazer uma viagem juntos em família? É, estava mesmo muito disposto a fazer aquilo dar certo.
- ? - Tom me chamou e eu o olhei, em seguida desviando o olhar para e .
- Vão e se divirtam. - sorri suave e me olhou com as sobrancelhas franzidas.
- Mas você vai com a gente, . - logo tratou de dizer. Eu senti que aquilo não seria uma boa ideia.
- Ela vai? - Katherine perguntou a com as sobrancelhas franzidas e aquilo me incomodou um pouco. Mas logo se prontificou a confirmar que sim.
- Vai com a gente, mamãe, por favor. - se esticou nos braços de Tom, alcançando meu rosto, que segurou com as duas mãos em cada lado de minha bochecha enquanto me olhava com aquela carinha de cachorrinho que caiu do caminhão de mudança.
E quando ela usava aquela carinha comigo, era difícil uma vez que não funcionasse, e daquela vez não foi diferente, acabei cedendo a viajar com eles, porque, primeiro, eu era babá de e ela iria precisar de mim; e segundo, eu não conseguia dizer não para aquela carinha fofa dela.
- Tudo bem, eu vou. – falei, sorrindo para , que sorriu largamente e depositou um beijo na ponta do meu nariz.
- Que bom, então em três dias partimos.
- Três dias? - perguntei a Tom com os olhos arregalados. - Não vai dar tempo, tenho que arrumar minhas malas, as malas de . - e mais baixo disse: - E ajudar a arrumar as malas dele.
- Amor, fica tranquila, vai dar tempo. Se você quiser, eu te ajudo nisso. – sorrindo, ele se aproximou e juntou nossos lábios em um selinho meio demorado, fui totalmente pega de surpresa.
- Eca. - reclamou, fazendo careta, e riu em seguida quando Tom fez cosquinhas nela.
- Sua destruidora de clima.
Quando olhei para , ele olhava para o chão com uma cara meio séria e meio sem graça, enquanto Katherine olhava sorrindo para Tom e .

***


- , por favor, dobra as roupas direito, para então colocar na mala, senão, não irá caber quase nada dentro dela. - reclamei para . Eu estava o ajudando a arrumar suas malas, já que as de já estavam prontas e faltava apenas um dia para a viagem. - Estou tentando, mas você sabe que eu não sei muito bem dobrar roupas como você dobra. E, por favor, menos estresse, , iremos viajar em um dia para justamente relaxar e curtir.
- Isso é culpa de vocês, que só deram três dias para fazermos tudo, e eu ainda preciso arrumar as minhas malas. Dobrar roupas não é tão difícil, , só prestar atenção como está dobrando. Só estou um pouco nervosa com a viagem.
- Vai dar tempo, , se você quiser, pode ir mais cedo hoje para casa e arrumar suas malas. Mas me diz o porquê de você estar nervosa com a viagem?
- Mesmo assim, o tempo é curto, . - coloquei uma camiseta dele na mala e respirei fundo, colocando os braços ao lado do corpo.
deu a volta na cama, colocou as mãos em meus ombros, e me fez sentar ao seu lado na cama.
- Por que você está nervosa com a viagem? - ele repetiu a pergunta.
- Eu só não quero estragar tudo.
- Por que estragar tudo, ? Se for pela pequena mentira... Até agora está funcionando, por que não continuaria funcionando?
- Porque eu posso acabar dando com a língua nos dentes. - o olhei, meio aflita, e ele sorriu para mim.
- Você está indo muito bem, , Katherine acreditou mesmo que você e Tom estão juntos.
- Vocês e Tom são malucos. E você ainda me paga por isso, .
- Vocês dão um casal bem engraçado.
- Até eu matar o Tom. - rimos e logo ficou sério. - Mas um dia Katherine terá que saber a verdade, eu não posso fingir para sempre ser a mãe da .
- Eu sei que sim, temo por esse dia chegar. Eu não pensei em nada sobre isso dela saber a verdade. Mas até lá pensaremos apenas no agora, e enquanto isso vou pensando em algo. - ele sorriu para mim, mas uns segundos depois ele novamente ficou sério. - ?
- Sim?
- O que, ahn... Você sentiu quando o Tom te beijou? - que raio de pergunta era aquela?
- Não chegou a ser um beijo, , foi apenas um selinho. Então acho que não conta.
- Mas algo deve ter provocado em você. - ele parecia preocupado e meio sem graça.
- Na verdade, não deu tempo de sentir nada. - soltei uma risada, mas logo fiquei séria quando ele continuou sério. - Não vamos pensar nisso agora, , temos coisas mais importantes para nos preocuparmos agora. E isso inclui terminar de arrumar as malas em tempo.
- Certo.
Ele falou e foi para o closet, mas antes o escutei dizer baixo:
- Não tem como não me preocupar muito com isso.
Me levantei da cama e voltei a arrumar as malas de , enquanto ele pegava mais algumas roupas.
Eu não podia deixar aquelas palavras dele grudarem em meu cérebro e tentar decifrar exatamente o que aquilo significava, poderia ser que eu havia escutado demais, escutado o que eu gostaria de escutar.

***


Dia seguinte, com as malas todas arrumadas, eu colocava os últimos itens dentro da minha enquanto esperava Tom ir me buscar em meu apartamento.
Noite anterior, assim que cheguei em casa, antes de começar a arrumar as coisas, fui para a cozinha e enquanto comia meu sanduíche, fiz uma lista das coisas que eu iria precisar levar para a viagem, para que eu não esquecesse nada, mas caso eu esquecesse, eu poderia comprar.
Quando eu estava colocando as últimas coisas dentro da mala, me lembrei que eu precisava ligar para meus pais, avisando que eu iria viajar, já que eu não os tinha visto até então.
Dois toques depois, meu pai atendeu ao telefone.
- Oi, papai. - falei assim que finalmente eles atenderam o telefone.
- Oi, filha, como você está?
- Estou bem, e vocês?
- Estamos bem, que bom que você ligou. Estaremos indo aí no seu apartamento daqui a pouco. - Então, papai, estou ligando exatamente por isso.
- O que aconteceu, filha, você está realmente bem, minha garotinha? - mesmo crescida, casada, com filho, e velinha, meu pai jamais deixaria de me chamar de “minha garotinha”.
- Estou bem sim, pai, é que eu liguei para avisar que estou indo viajar.
- Viajar para onde?
- Como assim ela vai viajar, para onde essa menina vai? - escutei mamãe perguntando para papai, ela parecia meio brava. Quando o assunto era eu e April, meus pais sempre ficavam muito protetores. - Não sei, querida, estou esperando ela responder.
- Me dê o telefone, querido. - e então meu pai a entregou o telefone. - Para onde você pensa que vai, mocinha?
- Mamãe, calma, estou indo viajar com e .
- Para onde?
- Disney, e depois vamos para as Bahamas.
- Vão só vocês três?
- Não, mãe, vai a Katherine, a namorada do . E o Tom, melhor amigo do .
- Mas se essa Katherine é namorada do seu patrão, seria uma viagem em família. Então por que você está indo? - droga, mamãe sempre foi meio desconfiada e ligava pontos muito rápido.
- Estou indo por . - isso era verdade, mas mamãe não iria acreditar muito nisso, que eu estava indo só pela , ela sabia que tinha caroço naquele angu.
- , você está me escondendo alguma coisa? - não falei.
- Não, mãe, claro que não.
- Me diz logo, porque se eu descobrir, será pior para você. - eu não conseguiria guardar aquilo por muito tempo, então seria melhor contar de vez antes que ela soubesse por terceiros e ela ficaria brava.
- Ok. inventou para a Katherine quando se conheceram que eu sou a ex-mulher dele e consequentemente a mãe da . - mordi o lábio, esperando a bronca.
- Ele o que, ?
- Calma mamãe, até agora está funcionando e não é nada demais, minha dignidade não está comprometida. Eu acho.
- Mas você concordou com essa loucura, , e se essa moça descobrir a verdade? E se ela quiser fazer algum mal a você?
- Não se preocupe, mamãe, arcara com tudo, caso ela descubra.
- , você não poderá fingir para sempre que é a mãe da pequena . - ela tinha razão e eu já havia dito aquilo para . - Um dia essa moça precisará saber a verdade.
Sua voz se suavizou.
- Eu sei, mãe, aí será com . Ele quem inventou isso, então ele não deixará que nada aconteça comigo.
- Eu espero mesmo, eu gosto muito desse rapaz. Mas e quanto ao Tom, por que ele está indo?
- Então, mãe, essa é uma outra parte da mentira.
- .
- falou para Katherine que Tom e eu estamos juntos.
- Quantas mentiras mais vocês estão contando, ?
- Acho que por enquanto, só essas.
- Você sabe, minha filha, o que eu penso sobre mentiras.
- Eu sei, mamãe, mas eu não posso fazer nada, eu não posso chegar na Katherine e contar toda a verdade e colocar a felicidade do a perder. Aceitei ajudar também porque vai que a Katherine é a mulher que tanto o procurou.
- Mentira tem perna curta.
- Eu sei, mas tem seus motivos do porquê ter mentido.
- Certo, e entendo, filha. Só tome cuidado para que nisso tudo, você não saia machucada depois. Novamente. - eu havia contado para mamãe sobre meus sentimentos por , eu não conseguia e não escondia nada dela.
- Pode deixar, mamãe, vou ficar bem.
- Ok, querida. Como sei que não conseguirei te fazer mudar de ideia, se divirta, e mais uma vez, tome muito cuidado.
- Pode deixar. Beijos, te amo.
- Também te amo, querida. - encerrei a chamada e me sentei no sofá, pensando em tudo o que ela havia me dito.
Uns quinze ou vinte minutos depois, o porteiro me ligou pelo interfone, me perguntando se poderia liberar a entrada de Tom, confirmei e logo Tom estava batendo em minha porta.
- . - ele ia me beijar, mas o impedi, espalmando minhas mãos em seu peito e o afastando de mim.
- Somos um casal apenas para Katherine, e como ela não está aqui, nada de beijos, querido.
- Eu só estou interpretando meu papel.
- Você está é querendo se aproveitar da situação que eu sei.
- Não seria uma má ideia. - Tom sorriu, malicioso, enquanto me olhava da cabeça aos pés.
- Tom, ainda estou louca para matar você e o por terem inventado essa loucura, então não me faça antecipar esse acontecimento. - dei as costas para ele e fui em direção ao sofá, aonde minha mala aberta estava.
- Falando assim, até parece que eu sou um namorado ruim.
- Você é um namorado ruim.
- Você nunca me namorou para saber. - ele cruzou os braços e ficou me olhando, um pouco indignado.
- Não preciso disso para saber.
- Mas você tem uma chance para descobrir de verdade se sou mesmo ou não um namorado ruim.
- Não, obrigada.
- Você é muito difícil, .
- Que peninha, não?!
Tom riu e foi me ajudar a fechar as malas.
Quando estava tudo pronto, verifiquei se tudo no meu apartamento estava trancado, se as tomadas estavam desocupadas para que acidentes não acontecessem enquanto eu estivesse fora.
E finalmente descemos com as malas, quer dizer, Tom levava minhas malas, e elas estavam um pouco pesadas.
- O que você está levando nessas malas, , chumbo? - Tom perguntou, pegando as malas assim que o elevador chegou ao térreo.
- Não, só as coisas necessárias.
- Está mais parecendo que você está se mudando, e não viajando apenas por uns dias.
- Tom, prevenida vale por dois.
- Senhor, quer ajuda com as malas?
- Sim, obrigado.
- Não precisa, Mark, meu namorado é bem fortinho. - disse para o porteiro e em seguida olhei para Tom, mandando uma piscadela para ele, e fui em direção ao seu carro.
- , como você pode ser tão cruel? - Tom reclamou, ainda no hall do meu prédio.

Assim que chegamos ao aeroporto, Tom estacionou o carro no estacionamento pago. Ele me entregou as malas dele para levar, já que estavam mais leves, e ele levou as minhas, que estavam mais pesadas. - Estou quase deixando uma de suas malas para trás.
- Não ouse fazer isso, Tom. - o olhei com os olhos semicerrados.
- Estão pesadas.
- Ué, não é você que diz ser o homem fortão, que encara tudo, que leva tudo quanto é tipo de peso no muque. Então faça jus a esse homem fortão que você diz ser. - o encorajei, como uma boa amiga que sou, segurando a risada.
- Você diz isso só para não ter que carregar tudo isso sozinha.
Pisquei para ele novamente e fui adentrando o aeroporto em sua frente.
- , espera. - parei de andar e me virei para Tom.
- O que foi?
Ele deu uma corrida até mim e pegou minha mão, entrelaçando-as, fiquei olhando nossas mãos por um momento e olhei para seu rosto, ele sorria suavemente para mim.
- Temos que começar a atuar.
- Certo. - sorri para ele e voltamos a andar.
Quando nos aproximamos de , Katherine e , percebi que olhava atentamente para as nossas entrelaçadas.
logo veio correndo em nossa direção. Me agachei em sua altura e a abracei apertado, depositando um beijo em sua testa, depois ela foi dar um abraço em Tom e eu me levantei do chão, me dirigindo ao casal em minha frente.
- Olá, . Katherine.
- Olá, . - Katherine parecia mais leve.
Mais leve por saber que eu estava com alguém, mas eu sabia que o medo ainda estava presente dentro dela, lá no fundo, porque ela sabia que o fato de eu estar com o Tom, e estar com ela, não impediria de acabarmos ficando juntos novamente, caso nos apaixonássemos de novo.
Escutei Tom rindo alto e olhei para trás para ver o que estava acontecendo. Vi fazendo careta enquanto fazia bastante esforço para carregar uma de minhas malas.
- Tom, por que você entregou a mala para ela? Está pesada. - eu estava com um tom bravo na voz.
- Eu não queria, mas insistiu que queria carregar a mala da mamãe. - eu sempre sentia uma coisa gostosa por dentro quando era chamada de mamãe, acho que principalmente pelo fato de que meu sonho sempre foi ser mãe.
- Está pesada, mamãe. - sorri e me aproximei dela, pegando a mala.
- Obrigada, filha, por querer ajudar, mas está pesado, querida. Deixe isso com o tio Tom, ok?!
- Mas eu quero te ajudar. - ela fez um biquinho tristonho.
Olhei para as minhas malas perto do meu namorado forjado e fui até elas, pegando a bolsa pequena de mão. Não estava pesada, então podia carregar aquela.
- Aqui, querida. Leve essa, está leve e você conseguirá levar.
Ela pegou a mala, se achando adulta enquanto andava para perto do pai, achando graça. Me virei para Tom, sorrindo, mas logo o olhei com uma sobrancelha arqueada.
- Não faça novamente isso com a minha filha. – disse, tentando parecer brava enquanto dava um tapa fraco em seu ombro. Ele sorriu de lado, passando os braços por minha cintura, eu ia me desvencilhar, mas esqueci que nosso teatrinho já tinha começado, então enquanto dava tempo, passei meus braços pelo pescoço de Tom e ele grudou nossos lábios em um beijo.
Eu sempre tive comigo que, ao beijar alguém, quem quer que fosse, você sempre sentia aquelas sensações gostosas por dentro, aquelas sensações cujos livros e filmes tanto retratavam. Mas eu estava enganada, ao beijar Tom e Adam eu sentia sim algumas coisas, sentia um certo frio na barriga, um frio normal, era de um certo nervosismo, e não aquele frio que você sente ao beijar a pessoa certa, como muito já li nos livros, e sentia uma certa ansiedade.
Quando partimos o beijo, sorri ainda de olhos fechados, e senti um carinho em minha bochecha, era Tom quem fazia aquilo, mas minha mente brincou uns segundos comigo, me fazendo pensar que era ali, bem juntinho de mim.
- Nunca vi um casal tão lindo como esses dois. - ao escutar uma voz conhecida, eu e Tom viramos nossa cabeça para o nosso lado direito e então April estava ali, em pé, com duas malas.
Com o cenho franzido, olhei para Tom e ele me olhou também, meio confuso. Ele conhecia April, eles tinham ficado uma vez quando April tinha ido até o restaurante de saber por mim. Tom e ela ficaram conversando e trocando algumas farpas de brincadeira, e nisso acabaram ficando nos fundos do restaurante, mas ela me disse que nunca mais iria ficar com ele, porque ele era idiota demais.
E o medo se apossou de mim, eu estava agarrada com o cara que minha irmã já tinha ficado, mas que eu percebia que ela havia gostado dele e eu havia dito isso para ela. - Irmã, o que faz aqui? - me desvencilhei de Tom e me aproximei de April.
Ela me abraçou, sorrindo. Bom, pelo menos brava comigo ela não parecia estar.
- Estou indo viajar.
- Sério? Para onde?
- Para Disney e Bahamas, com vocês. Já até comprei as passagens. - ela sorriu largamente, me mostrando as passagens em suas mãos e eu também sorri largamente. Seria ótimo tê-la comigo ao meu lado naquela viagem, pelo menos não teria que aturar tudo sozinha.
Eu tinha ligado para ela dois dias antes falando que iriamos viajar, e que eles tinham inventado que eu e Tom estávamos juntos, mas que ficasse tranquila quanto a mim e Tom, porque era apenas um teatrinho.
- Vocês não se importam que eu vá, se importam? - April perguntou para e Katherine.
- Não, April, claro que não. - respondeu, sorrindo, amigável.
- Que bom, essa viagem será divertida. À propósito, sou April, irmã mais velha da . - April estendeu a mão para Katherine, a cumprimentando enquanto se apresentava.
- Sou Katherine, namorada do . - Katherine apertou a mão da minha irmã.
- Por enquanto.
- Desculpa, o que disse? - Katherine perguntou, confusa.
- Disse somente que eu sei. - April continuava sorrindo, mas eu percebi que por trás daquele sorriso havia uma certa maldade, e ela estava cheia de primeiras impressões sobre Katherine. Assumo que eu estava louca para saber o que minha irmã tinha achado da namorada do meu patrão.
- Sabe?
- Sei, ouvi falar de você. - April disse e olhou para , Katherine também o olhou. E me olhou, droga, April tinha me entregado.
- Imagino que sim. - falou para April, ainda me olhando e com um sorrisinho de lado.
- Certo, não estou entendendo nada. - Tom confessou.
- Você é lerdo mesmo, Tom. - April disse, com seu sorriso malvado na cara.
- E você continua gata como sempre, April. – Tom, seu idiota. Katherine e olharam Tom como se perguntando o porquê de ele estar dando "em cima" da minha irmã.
Fechei os olhos por um momento e em seguida me aproximei de Tom e bati de leve em seu braço, rindo ao tentar contornar aquela situação constrangedora.
- Tom, você larga a mão de ser saidinho.
- Desculpa, amor, foi sem querer, eu quis soar como debochado, mas saiu de outra forma. Desculpa mesmo.
- Eu deixo passar, mas só dessa vez, hein.
- Te amo.
- Eu também. - dei um selinho nele só para disfarçar.
Escutei April reprimindo uma risada, todos nós a olhamos, em dúvida.
- Desculpa, gente, eu só estava me lembrando de uma história muito boa.
- Qual história? Eu gosto de histórias. - se levantou do banco do aeroporto, sorrindo lindamente, se aproximando de April, que se agachou, sorrindo para .
- É uma história de uma princesa e de um príncipe, meu amor. Eles se amavam, mas fingiam não se amarem, e então inventaram uma mentira para outras pessoas com quem estavam. Sentiam tanto ciúmes um do outro, mas enganavam a si mesmos fingindo não sentirem nada, mas os destinos deles se cruzaram através de uma linda garotinha chamada So...
Quando percebi que aquela história era sobre e eu, entrei em pânico. Se April dissesse o nome da garotinha, Katherine iria ligar os pontos e toda a verdade poderia vir à tona. Aquilo não podia acontecer.
- April. - no começo a repreendi, mas suavizei o tom de voz para que Katherine não desconfiasse de nada.
- O que foi? - eu vou arrancar aquele sorriso do rosto dela nos tapas.
- Vamos tomar um café enquanto esperamos o voo ser anunciado? – sorri, a forçando a aceitar.
- Pera, quero ouvir o resto da história. Qual era o nome da menininha?
- Agora não, .
- Ah, mamãe.
- Ei, quando estivermos no avião, eu te conto a história todinha. - April sussurrou para .
- Promete?
- Prometo. - April piscou para a pequena e se levantou, se aproximando de mim.
- Bom, vamos até a cafeteria e daqui a pouco voltamos.
- Posso ir junto? - perguntou, segurando minhas pernas.
- Pode sim.
- , você pode trazer um café para mim? - perguntou.
- Claro. Daquele jeito que você gosta. - sorri pequeno para ele.
- Obrigado. - ele retribuiu o sorriso.
- Posso ir com vocês também? - Tom perguntou.
- Não, você fica aqui. Preciso conversar com April rapidinho. - respondi rápido para então eu, April e nos afastarmos rumo à cafeteria ali do aeroporto.
Fizemos os pedidos, e assim que os pegamos, nos sentamos na mesa, ao meu lado e April em minha frente.
Tomei um gole de café e falei:
- Você está maluca, April?
- O que eu fiz? – perguntou, confusa.
- Você simplesmente quase entrega as verdades para Katherine.
- Era só uma história.
- Uma história que poderia fazer ela ligar os pontos e exigir a verdade.
- , relaxa, nem se eu tivesse falado o nome do príncipe e da princesa ela iria descobrir.
- Tem certeza?
- Claro, ela é meio tonta. Vocês estão dobrando ela há dias e ela nem desconfiou.
- Porque não tem motivos dela desconfiar de nada.
- Tem certeza? , olha o que aconteceu agora pouco. Tom praticamente deu em cima mim, o ficou te olhando de uma forma que não parecia a que um amigo ou patrão direciona para sua amiga ou funcionária. Há motivo sim de desconfiança, maninha.
- Você está vendo coisas, April. - me encostei na cadeira e cruzei os braços, direcionando meu olhar ao outro lado da cafeteria.
- Não estou não. Eu estou te falando, , que gosta de você. Que você é correspondida. - olhei para ela e depois fiz um sinal com os olhos, indicando que estava ao meu lado e ela poderia soltar algumas informações para , mesmo que sem querer.
- O que é que tem? Ela é só uma criança. - ela afastou sua xícara de café e se debruçou sobre a mesa. – , o que o seu papai diz sobre a tia ?
- April. - a repreendi.
- Ele diz que gosta bastante da titia , que ela é muito legal.
- Viu só, . - April levantou as mãos para o alto, dizendo sem palavras exatas que ela estava certa.
- O gostar que ela está dizendo, é o gostar como amigo. Por eu estar sempre o ajudando e cuidando da filha dele.
- Não, titia , um dia eu falei para o papai que eu gostava de ter você como minha mamãe mesmo que de mentirinha, falei também que eu queria que fosse de verdade, e ele falou que também gostaria que fosse minha mamãe de verdade. - ela sorriu doce para mim.
Respirei fundo e meu coração palpitou. Isso não é hora, coração.
Eu não queria mais criar falsas esperanças, mas ela falando todas as aquelas coisas era meio que inevitável não criar nada dentro de mim.
- Eu sei que você não quer criar falsas esperanças, , mas eu vejo e percebo a forma linda que ele olha para você.
- Você está certa, April, não quero criar nada já fiz isso uma vez e olha no deu. E outra, você deve estar enganada. Eu sou apenas a babá da filha dele, ele nunca me olharia com outros olhos.
- Ele olharia sim, maninha. Você pode ser apenas a babá da filha dele, mas tem muito mais qualidade do que aquela sem graça que ele chama de namorada. Você é mais linda e inteligente que ela, e muito capaz de chamar a atenção dele mesmo sendo apenas a babá. Você acha mesmo, , que nesses seis anos trabalhando para ele, não iria parar e reparar em você? , seis anos são mais que suficientes para conhecer a fundo uma pessoa, e tenho certeza que ele encontrou coisas maravilhosas em você. E mesmo ele estando com aquela sem graça, ele não para de pensar em você, que ele está procurando nela, as coisas que têm em você. Mas tenho certeza, , que ele não encontrou nem metade, e ele sabe bem que você é única e especial demais. - ela falava com uma voz um pouco exasperada. - E para de enganar a si mesma, sei que você tem seus medos, mas assuma para si mesma que sente algo por ele. Pode doer, mas por mais que você tente, não consegue fugir disso. Você já tentou uma vez e olha como está agora. - soltei uma risada nasalada.
- Eu ainda o amo, April, eu assumo a você, e a mim mesma, e até para , que pode soltar isso para ele, mas eu assumo. Mas eu não posso o ter, ele tem alguém agora, e tenho certeza que ele está feliz com ela.
- Não, , você não tem certeza. Se ele amasse a Katherine, ele não te olharia como ele te olha. Ele estar ou não com Katherine, não o impede de um dia romper com ela, ao perceber que aquela que ele chama de 'babá da minha filha' é a pessoa que ele sempre sonhou ter ao lado, que ela é especial demais para deixá-la escapar.
- Eu não serei a responsável de acabar um relacionamento.
- Você não, mas o amor fará isso por você.
- April, vamos mudar de assunto.
- Escuta o que estou te dizendo, , você e irão acabar ficando juntos. Você acha mesmo, que esses seis anos trabalhando para uma mesma pessoa, é coincidência? Pois eu não acho, se não for obra do destino, maninha, então eu não sei o que é. Mana, você o ajudou com tantas coisas, trata a filha dele como se fosse sua filha, e isso para ele é algo maravilhoso. E como você mesma me disse algumas vezes, climas entre vocês dois já rolaram. , eu só quero que você entenda que você é uma pessoa boa, maravilhosa, e que é capaz de chamar a atenção do homem que você diz que nunca te olharia com outros olhos.
- E você quer que eu faça o que, April? Vá até lá, pule no colo dele, e fale o quanto eu o amo? O quanto eu sofri nesses seis anos ao vê-lo todos os dias e não poder tê-lo como eu sempre desejei?
- Não estou te falando para fazer nada, só estou te apontando alguns fatos, . - Cansei de me iludir, April.
- , todos nós nos iludimos em qualquer área que for em nossas vidas, a ilusão é uma parte da gente. Nós só torcemos para que essas ilusões se tornem realidade.
- E quando não se torna, o tombo é doloroso demais.
- Tudo tem o seu tempo. Algumas coisas não acontecem de uma hora para outra.
- Já se passaram seis anos e nada, April.
- E pode se passar mais seis, , mas Deus já escreveu o destino de vocês, e esse destino é ficarem juntos. Pode demorar o tempo que for, mas acontece, e nada, absolutamente nada, impede de vocês dois ficarem juntos. E talento para ser mãe, maninha, você nasceu com ele, tanto que você fez a Katherine acreditar que você é realmente mãe da pequena , e olha que a mulher é meio tonta.
- Ela pode estar apenas se fazendo de tonta.
- Nunca se sabe, mas a questão é: você como babá é excelente, imagina como uma mãe de verdade? E vê isso em você, ele deseja uma boa mãe que não teve, e você, maninha, é como uma mãe para ela, tenho certeza.
Não falei mais nada, apenas voltei a me encostar na cadeira, respirando fundo e olhando para April, que sorria suavemente para mim, enquanto toda aquela conversa se repetia em minha mente.

Capítulo 9

Assim que finalmente desembarcamos na Disney, pegamos nossas bagagens e depois o táxi. Fomos em dois táxis, porque obviamente não caberíamos todos em um só.
Em um carro fomos eu, Tom e April. No outro, foram , Katherine e .
- Eu vou aproveitar muito essa viagem. – April disse enquanto se olhava no espelho do banco do carona, ao lado do motorista. – Eu estava precisando muito disso.
- Eu também. Quem sabe até pegar muita mulherada bonita. – Tom respondeu em um tom de malícia e sonhador na voz.
- Vai com essa graça, Tom, se Katherine te ver pegando outra quem vai sair por corna nessa história sou eu. É aí então eu acabo com você de uma vez por todas.
- Relaxa, amorzinho, ela nem vai desconfiar. – Tom tentou novamente me beijar. E eu novamente o afastei de mim, colocando minha mão em sua cara.
- O que eu já te falei de beijos quando a Katherine não está presente?
- April, por que sua irmã é tão difícil?
- É isso que faz com que os caras fiquem caidinhos por ela. – April falou, olhando para mim através do espelho. – E relaxa, maninha, a outra é burra demais para descobrir alguma coisa.
- April eu já te falei que você tá igualzinha aquela personagem daquela série que você adora. Qual é o nome dela mesmo?
- A Alison, de Pretty Little Liars?
- Isso, essa mesma.
- Não. Mas adorei ouvir isso. Eu amo aquela mulher.
- Eu também, ela é muito gata. - Tom se manifestou.
- Você nem sabe do que a gente está falando, Tom. – April bufou em seguida.
- Mas sei que é sobre mulher.
- Tom, fica quietinho fica. – falei, dando leves tapinhas em seu ombro.

Feito o check-in, nos instalamos nos quartos, que seriam: Eu e Tom em um quarto, April em um quarto no andar de baixo do meu. E , Katherine e em outro quarto no andar de cima do meu.
E então, em um consenso, resolvemos sair novamente.
Pedimos dois táxis rumo ao centro da cidade.
Assim que chegamos, nós seis ficamos parados na calçada de uma rua de comércio e observando tudo ao nosso redor, pessoas andando com pressa, famílias passeando por ali com suas crianças fantasiadas de algum personagem da Disney e carregando balões.
- Eu não sou mais criança, mas estou tão empolgada com esse lugar. – April deu uns pulinhos, fazendo rir.
- Ei, , vamos ali naquela loja de brinquedos? – Katherine se aproximou de , que estava abraçada em mim.
- Vamos. Posso ir, mamãe? – ela me olhou com os olhinhos brilhando.
- Claro, querida, mas se comporte e não saia de perto da Katherine. – sorri.
- Pode deixar.
Ela se afastou de mim e eu fiquei seguindo com os olhos as duas se afastarem até uma loja que havia umas bonecas e um grande castelo de brinquedo na vitrine.
Katherine segurava a mão de , que pulava, e a mulher ria do jeito dela. Uma mistura de medo e ciúmes se apossou de meu peito, medo de acabar me trocando por Katherine e ciúmes da pequena estar com Katherine indo até aquela loja de brinquedos, pulando e rindo com Katherine e não comigo. Egoísta, eu sei, mas o que posso fazer? Não consigo controlar as vezes.
- , não precisa ficar com ciúmes. – April chegou ao meu lado e me abraçou pelos ombros.
- Estou tentando não ficar, mas está meio difícil, April. Ainda mais agora que tenho que fingir ser a mãe dela.
- Sei que você está com medo, maninha, mas gosta demais de você.
- Eu não sei até quando ela irá gostar de mim, um dia ela vai crescer, April, e não precisará mais de mim. E quando esse dia chegar, o que eu farei? se tornou praticamente o meu lar.
- . – apareceu na minha frente, sorrindo suavemente. Eu havia até me esquecido que ele estava por perto. – Não fique assim, gosta demais de você, tenho certeza que ela jamais te trocaria. Você está em um lugar especial no coração dela, que ninguém mais conseguirá ter, aconteça o que acontecer entre vocês duas.
- Como consegue ter tanta certeza disso?
- Porque conheço minha filha, , e sei que ela não conseguiria ficar longe de você. Uns dias atrás ela me falou que iria te pedir para que adotasse ela. – soltamos uma risada.
- Vai, irmã, alegria.
- Estou alegre.
- Não, você ainda está com ciúmes da estar com a Katherine naquela loja de brinquedos e não com você.
- O que você quer que eu faça, April, se já estou muito apegada à ? Não dá para reverter isso agora, nessa altura do campeonato.
- E eu te entendo perfeitamente, mas assim como ela está se divertindo, você também tem o direito de se divertir um pouco.
- Ela tem razão, , você não veio aqui só para cuidar de , veio para se divertir também.
- Viu só? Vamos beber um pouco.
- Mas a essa hora? – Tom perguntou, meio indignado.
- Querido, assim como não existe hora para fazer amor, não existe hora para beber.
- Uma coisa é meio que diferente da outra, não acha?
- Não importa. – April disse, ficando séria, e se dirigiu para mim. – Vamos, irmãzinha.
- Certo, vamos. Se precisar de mim, , é só me ligar.
- Fique tranquila, , se divirta.
- Obrigada. Vocês também.
April então pegou em minha mão e começou a me puxar pelas ruas da cidade.

***

- Estamos andando há quanto tempo mesmo, April?
- Mais ou menos uns quinze ou vinte minutos. – April consultou as horas em seu celular.
- Não aguento mais andar, vamos pegar um vinho em uma mercearia aqui perto mesmo. – falei, fazendo April parar de andar e a frustração ficar visível em seu rosto.
- Poxa, eu só queria entrar em um barzinho, beber um vinho de qualidade, dançar um pouco e conhecer uns caras gatos. – ela largou os braços ao lado do corpo, e me olhou, tristonha.
- April, irmã, vamos pegar um vinho na mercearia e vamos até um parque e observamos os caras gatos fazendo caminhada. – sorri maliciosa para ela. - A camiseta colada em seus corpos ou até mesmo sem camiseta, o suor escorrendo por seus corpos sarados...
- Tudo bem, você sabe bem como me convencer.
Coloquei meu braço junto com o de April, entrelaçados, e atravessamos a rua. Entramos em uma mercearia e fomos direto para as prateleiras onde ficavam as bebidas, mais precisamente, os vinhos.
Eu e April olhávamos garrafa por garrafa de diferentes marcas, até que decidíssemos qual seria o melhor para levarmos.
- Tinto ou branco, ?
- Tinto e bordô, suave de preferência.
- Então vamos levar esse. – ela vasculhou algumas garrafas para então encontrar o que ela queria e me entregou a garrafa em seguida.
- Certo, vai essa... – eu ia em direção ao caixa, quando April me impediu, segurando meu braço.
- Olha aqueles caras ali. – apontou de forma discreta com a cabeça.
- O que tem esses caras?
- O moreno não para de te olhar.
- Deixa ele olhar, mas não estou interessada mesmo.
- Por que não, ? te liberou para que se divertisse.
- Sim, mas ele não quis dizer para ficar com o primeiro cara que aparecer na minha frente.
- Tecnicamente, ele não é primeiro cara.
- Não importa. April, não estou interessada.
- , para, se você está se impendido de se divertir porque e estão aqui, eu te bato.
- Não é por causa deles. Eu só não estou afim de pegar ninguém.
- , eu te conheço... Não, pera aí. – ela novamente me impediu de continuar a andar até o caixa. – A última pessoa com quem você dormiu foi com o Adam... Não.
- Não o que, April?
- você está apaixonada pelo Adam?
- Não. O quê? Claro que não, você está maluca, April?
- Não, não estou.
- Adam e eu somos apenas amigos. E de onde você tirou isso? E outra, você, há umas horas atrás, me fez confessar que estou apaixonada pelo , e agora quer que eu confesse que estou apaixonada pelo Adam? – voltei a andar até o caixa.
- Não é isso, , é que você é transparente como água e eu te conheço a minha vida inteira. Só não vi você nascer porque papai, mamãe e os médicos não me deixaram entra naquela maldita sala. – paramos na pequena fila do caixa.
- Que bom, né, imagina os traumas que você carregaria hoje em dia por ter visto a mamãe dando a luz?! E, pera aí, você está querendo dizer que eu demostro quando estou gostando de uma pessoa?
- Sim.
- Não, claro que não. Eu sei esconder isso muito bem.
- Tem certeza, ?
- Sim.
- Aposto que já sabe que você tem uma quedinha por ele. – ela me olhou, sorrindo, maliciosa. – Ou seria um penhasco?
- Você pirou, April. E outra, ele só saberia se você tivesse aberto essa boca grande para ele.
- Não, só estou novamente apontando os fatos, querida irmã. E não me acuse assim, não sou a única a saber disso.
- Isso soou meio falso. – ela apenas deu de ombro, e eu fui pagar o vinho.

- April, para de ser assim pelo menos por um dia.
- Você que é certinha demais, .
- Você que é pervertida demais. – peguei a garrafa de sua mão e dei um gole no gargalo mesmo.
- Maninha, Deus me deu olhos e fez esses homens lindos e gostosos. Obviamente eu iria olhar.
- Tá, mas Deus não te deu essa mente poluída.
- Eu sei que não, isso eu adquiri no ensino médio.
- Verdade. Você era a craque em invadir o vestiário masculino. – falei, reprimindo uma risada.
- Você falando assim, , vão pensar que eu era e ainda sou uma vadia.
- Eu não disse isso, April, você só é.... Apaixonada demais pelo sexo masculino.
- Esse não foi um argumento forte e convincente o suficiente. – dei de ombros e ela tomou a garrafa da minha mão.
- April, é sério mesmo que eu transpareço quando estou interessada em uma pessoa?
- Por que essa preocupação agora? Já sei, você está com medo do ter percebido?
- Estou sim, um pouco para falar a verdade.
- Não fique, maninha, já conversamos sobre isso.
- Eu sei, mas não tem como não ficar preocupada. E se a Katherine perceber? Meu emprego pode estar ameaçado, e eu amo o meu emprego, April.
- Eu sei que ama, , mas não adianta ficar pensando nisso. E outra, você conseguiu fingir que não amava o por 6 anos, não é agora que você irá entregar os pontos.
- E se acontecer, April, o que eu faço?
- Não sei, ainda não pensei nisso. – me joguei para trás, caindo deitada de braços abertos.
- Olá, meninas. – quando escutei aquilo, levantei a cabeça uns centímetros, fechando um olho para conseguir ver melhor a pessoa na claridade.
- Olá. – olhei para April, que sorria de lado, e eu revirei os olhos.
- Qual o nome de vocês, garotas? – sentei na grama, me mantendo apoiada nas mãos.
- Meu nome é April, e essa é minha irmã, . – dei um pequeno tchau para ele, sorrindo, educada.
- Vocês são daqui mesmo? – o cara era até bonito, mas não fazia o meu tipo, então eu deixaria ele todinho para April.
- Não, somos de Nova Iorque. Estamos aqui de férias.
- Que legal, meu nome é... – voltei a me deitar na grama, deixando April e o carinha conversando sozinhos.

***

- ?! – alguém ficava me cutucando sem parar, e caramba, eu queria dormir.
- Me deixa, eu quero dormir.
- , está escurecendo precisamos voltar para o hotel.
- Eu quero dormir.
- Então tá bom, eu vou embora e vou te deixar dormindo aí no meio do mato, sozinha. – resmunguei um “tá bom”. – Ah, , levanta agora. Anda.
Abri meus olhos e vi April tentando me levantar.
- Onde eu estou?
- No parque, . Você acabou pegando no sono assim que o cara gato apareceu.
- Que horas são? – esfreguei os olhos e me espreguicei.
- São quase seis e meia da tarde.
- Nossa, precisamos voltar para o hotel, deve estar procurando por mim.
- É exatamente isso que estou tentando fazer há mais ou menos meia hora, mas você não acordava de forma alguma.
- Desculpa, eu não dormi quase nada na noite anterior e a viagem foi longa.
- Tudo o que eu quero agora é voltar para o hotel e tomar um banho demorado e relaxante.
- Eu também, eu estou um caco.
- Então vamos. – ela pegou o meu braço, me ajudando a levantar, e saímos do parque à procura de um táxi livre.
Quando finalmente chegamos no hotel, desci do táxi e me espreguicei enquanto April pagava o taxista.
Eu e April estávamos no caminho do elevador para irmos ao nosso andar quando escutamos alguém nos gritar, quando nos viramos para ver quem era, nos deparamos com correndo em nossa direção.
- ? O que foi?
- Eu estava a sua procura, você e April saíram, estava anoitecendo e vocês não voltavam. Fiquei preocupado. Tentei te ligar, mas ninguém atendia.
- É, a bateria do meu telefone acabou.
- Se sua queridinha, , não tivesse dormido no parque, teríamos chegado mais cedo.
- Eu já te falei, eu estava muito cansada.
- Certo. Então vocês duas estão bem?
- Sim, estamos, não se preocupe. E , como está?
- No quarto, assistindo televisão com Katherine. – na hora, o ciúme atacou novamente.
- Ok, vamos subir, April. Preciso tomar um banho.
- Vamos, eu também preciso de um longo banho.
- Até mais, .
- Até.
Entramos no elevador e em seguida a porta se fechou.
- Que lindo, o estava preocupado com você, .
- Preocupação de chefe com a funcionária. E ele estava preocupado com você também, não ouviu?
- Eu não importa. Será mesmo que era uma preocupação “normal”?
- Claro.
O elevador chegou no andar de April, quando ela saiu, me mandou um beijo e o elevador foi até o meu andar.
Assim que entrei no meu quarto, encontrei Tom jogado no sofá, assistindo televisão.
- Demorou, hein, amorzinho, onde você estava? Eu fiquei preocupado.
- Eu estou bem. Eu estava com a April em um parque. E não me chame de amorzinho. – taquei minha blusa nele e fui até minhas malas, merda eu ainda precisava desfazer as malas.
- Nossa, um strip tease só para mim? – Tom apareceu na porta do quarto, sorrindo, malicioso.
- Vai a merda, Tom.
Peguei minha toalha e fui para o banheiro, mas, antes, Tom pegou em meu braço, me impedindo de continuar.
- Ah, , não precisa reprimir suas vontades. Posso te fazer bem feliz.
- Agradeço sua força de vontade. Mas, querido, guarde sua felicidade para outra pessoa.– puxei meu braço e entrei no banheiro. Mas não sem antes olhar para ele, rindo, e ele rindo também.

***

Havia se passado apenas um dia em que estávamos na Flórida e novamente estávamos no centro da cidade, e April eram as que mais se divertiam. , como uma verdadeira criança que era, e April, que era uma adulta, mas que parecia muito uma criança na companhia de . As duas comiam algodão doce, pipoca, admiravam as lojas de brinquedo e entre outras coisas.
- Mamãe, mamãe... Olha o meu balão da Minnie, que lindo. – correu até mim, sorrindo largamente, e abraçou minha cintura.
- É, realmente muito lindo, filha, a tia April que comprou para você? – fiz carinho em seu cabelo e ela me olhou, radiante.
- Não foi ela.
- Quem foi então, meu amor?
- A tia Katherine. – olhei em direção a Katherine e ela nos observava, sorrindo de lado. Mas poderia ser somente coisa da minha cabeça por conta do meu ciúmes bobo (com uma certa razão), mas reparei que naquele sorriso suave havia algo por trás.
Se ela estava pensando em tirar de mim ou fazer algum mal a ela, eu seria bem mais rápida e protegeria minha garotinha dela.
As pessoas poderiam fazer e falar o que quisessem comigo, mas que não ousassem mexer com minha família e com as pessoas que eu amo. Eu faria tudo que fosse preciso para protegê-los.
- Você gostou bastante do balão, não é mesmo, querida?! – mexi em seu cabelo enquanto perguntava, sorrindo.
- Sim, gostei muito, mamãe.
- E você agradeceu a Katherine?
- Sim.
- Que bom, então que tal agora irmos até a loja de doces e comprarmos algumas guloseimas, huh?
- Eu quero!
- Então vamos.
- Pera, mãe, vou chamar o papai para ir junto com a gente.
- Tudo bem, mas não demore. – foi correndo até o pai e ali ficaram conversando por uns minutos.
- Que lindo, a família vai passear junto. – April falou, próxima a mim.
- Não é bem um passeio, só vamos até a loja de doces. E, April, por favor, não começa.
- Se eu fosse a Katherine, eu ficaria preocupada.
- Preocupada com o que, Tom? Não há nada com que ela possa ficar preocupada.
- Tem sim, . Para ela, você e já foram casados, e para isso ter acontecido, era porque estavam muito apaixonados. E agora tem a , que aproxima vocês dois, é um laço que une vocês dois para sempre. E isso em algum tempo pode fazer com que a paixão que sentiam um pelo outro, retorne, e ainda mais forte.
- Como chegou nessa conclusão, Tom? – perguntei, cruzando os braços.
- É só parar e pensar que você chegará nessa conclusão.
- E desde quando você pensa?
- E desde quando você é tão malvada e mal criada, April?
- Não viaja, Tom, por favor. – falei, sem muita paciência para as conclusões doidas deles, sobre e eu.
- Você tem medo do que, ? sempre fala tão bem de você, ele pode sim se apaixonar por você.
- Foi o que eu disse a ela. – April falou.
- , você trabalha para ele há seis anos, ele conhece tudo sobre você.
- Nem tudo.
- Quase tudo. E acima de tudo, você cuida bem e trata a filha dele como se fosse sua e deseja muito isso em uma mulher.
- Eu sei, Tom, você e April estão certos nesse ponto – falei um pouco mais alto do que deveria. - Mas nem tudo é como vocês pensam.
- Seria, se vocês parassem de criancice e ficassem juntos logo.
- Um só não pode amar por dois, April.
- E quantas vezes teremos que dizer, que você não é a única que ama nessa história?
- Olha só, chega dessa história, não quero falar nisso pelos próximos dias e nem nunca mais.
- Vem, papai, por favor. – segurava a mão de e tentava o puxar.
- Tá bom, eu vou. – ele respondeu, rindo, e se deixou levar pela filha.
- Vamos, mamãe. – ela pegou minha mão também, ainda segurando a do pai, e foi nos puxando até a loja de doces.

- Está gostando da viagem, ? – perguntou , chegando até mim.
- Sim, estou sim, . Aqui é bem divertido. – sorri para ele e peguei um pouco de balinha de ursinho, meus preferidos. Não me julgue.
- Fico feliz em saber. – ele sorriu e pegou balinhas de ursinho e eu percebi que algo o incomodava.
- ?
- Sim? – ele me olhou rapidamente e eu levantei uma sobrancelha para ele.
- Está tudo bem?
- Sim, por que não estaria?
- Porque você está pegando balinhas de ursinho, e você detesta isso. Você ama marshmallows.
Foi aí que ele percebeu o que estava fazendo e tentou disfarçar, dizendo:
- Eu estava pegando para você.
- Eu já peguei um pouco, , obrigada.
- Um pouco mais nunca é demais, ainda mais você que adora isso. É um presente simples, mas gostoso. Pelo menos para você.
- Obrigada. – peguei o saquinho com as balinhas, colocando em minha cesta, e sorri pequeno para ele, em agradecimento.
E então me virei, começando a andar até onde estava, pegando uns doces em outro corredor.
- Mas me diz, , o que anda te incomodando?
- Por que teria algo me incomodando? Você deve ter confundido. – ele parou de andar e eu também, me virando para ele.
- Tem sim, . Nesses seis anos em que eu trabalho para você acabei aprendendo a te conhecer. E quando tem algo te incomodando e você pensa muito nisso, você faz as coisas de forma muito distraída e automática. – sorri pequeno a ele e voltei a andar, mas parei quando ele segurou de leve meu braço, me fazendo virar de frente para ele.
- , eu quero que você saiba que mesmo eu estando com a Katherine, não vai e nem quero que mude nada entre nós dois. Eu e você.
- Tudo bem, , continuarei sendo a babá da se é isso que te preocupa.
- Não é bem isso que estou dizendo. – ele ficou meio sem jeito.
- Então, o que você quer dizer, ?
- Sobre a nossa amizade, , não quero que nada mude só porque estou com a Katherine. Desde que você começou a trabalhar em casa, nosso relacionamento era mais de amizade, e nada daquela formalidade funcionária e patrão. E não quero que isso mude só por causa da Katherine. Entende?
- Claro, entendo. Fique tranquilo, , quando você fizer uma burrada, eu estarei lá para puxar sua orelha. – sorri para ele e voltei a andar.
- Isso que eu estava dizendo. Obrigado, fico muito aliviado por saber.

- Pega a minha mão, mamãe. – falou, pegando minha mão.
Estávamos voltando da loja de doces e iríamos encontrar os outros em uma praça ali perto.
Parei de andar e me agachei na frente de , que sorria.
- , querida, quando Katherine não estiver por perto, não precisa me chamar de mamãe se não quiser, tudo bem? – sorri suave para ela.
- Tudo bem, eu gosto de te chamar assim, é legal. – olhei para para caso ele não aprovasse aquilo, dela me chamar de mamãe sem Katherine por perto. Mas seu sorriso suave parecia dizer que estava tudo bem.
Sorri para , me levantando e pegando sua mão, voltando a andar.
Durante o caminho todo da doceria até a praça, ao descer e subir uma calçada, eu e segurávamos a mão da pequena e a levantávamos uns centímetros do chão, e ela amava aquilo, toda vez gargalhava e pedia para fazermos de novo.
Quando estávamos nos aproximando dos outros, fizemos mais uma vez aquilo com , ela gargalhava e eu e sorriamos muitas vezes olhando um para o outro. E quando olhei para Katherine, ela me olhava, séria, e parecia que ia pular em meu pescoço a qualquer momento, com isso, meu sorriso acabou se desfazendo. Ela não parecia ser uma pessoa ruim, pelo menos até aquele momento ela não tinha me mostrado ser, mas o que me deixava meio sem graça, confusa e deslocada, eram os olhares nada meigos que ela me direcionava as vezes, mas o medo e o ciúmes podiam fazer muitas coisas com o ser humano, principalmente se a pessoa não se controlasse.
se soltou de nossas mãos e parou de andar, nos fazendo parar também, ela parou em minha frente se esticou um pouquinho e pegou o seu pirulito gigante, e com ele na mão saiu correndo até Tom para mostrá-lo. já era um pouco pequena de tamanho e o pirulito era bem grande, então ele na mão de se tornava o pirulito gigante.
- , por favor, fala que você trouxe o meu doce preferido?! – April se aproximou de mim, sorrindo, interesseira.
- Sim, April, eu trouxe seu doce preferido.
- Eu te amo, maninha, você sempre pensa em mim, mesmo eu sendo chata, egoísta e mal-agradecida, de vez em quando.
Ela me abraçou e eu olhei para que sorria/ria de mim e da April.
- Não ria de mim, . – April reclamou com ele, ainda abraçada a mim.
- Eu não... – desfez o sorriso e tentou se defender, mas não deu tempo.
- Estava sim que eu vi. Eu sinto muito, , se o Tom não é o amigo atencioso e legal para você, assim como a é para mim, mas a diferença é que a é minha irmã, é dever dela me mimar.
- Ei. – protestei pelas suas últimas palavras.
- Entendo perfeitamente, April.
- Entendo também seu lado, que, na verdade, seu desejo era ser o namo...
- Vamos dar uma volta, April?
- Pera aí, maninha, eu...
- Agora, April. – elevei um pouco minha voz.
- Tudo bem. – ela me olhou com o cenho franzido.
- Ótimo. , nós vamos dar uma volta pela praça, logo estaremos de volta ou nos encontramos no hotel.
- Não, nos espere aqui porque caso ela resolva dormir de novo, você a leva no colo para o hotel. – olhei para April com os olhos semicerrados e ela reprimiu uma risada.
- Cala a boca, April, e vamos. – a virei de costas para mim e fui a empurrando de leve para bem longe de , Tom e Katherine.
- April, quando você vai deixar de falar merda nessa sua vida? – parei de empurrar ela e peguei nossos doces nas sacolas.
- Nunca, maninha, até parece que você não me conhece. – entreguei o doce dela a ela e abri minhas balinhas de ursinho.
- Não sei bem o que você está tentando fazer, mas, por favor, pare.
- , eu só estou tentando fazer com que você e o percebam que nasceram um para o outro.
- Não vamos começar com isso novamente, April, desista, isso nunca irá acontecer. Se eu que sou eu, que sou apaixonada por ele, já aceitei esse fato, você também deve aceitar. E vamos lá, não é tão difícil isso.
- Não irei aceitar, ele não fica com você, mas com ela, ele também não deve ficar.
- Para de ser encrenqueira, April. Você parece uma criança.
- Cara, ela ficava quase que o tempo todo perguntando onde vocês estavam. O porquê estavam demorando e o que vocês estavam fazendo. Eu quase esmurrei a cara dela e falei que vocês dois estavam fazendo outro filho. – não consegui segurar uma risada.
- Se controle, April, por favor, pelo bem da e do meu emprego.
- O bem da é o papai e a babá juntos. Quando eu vi vocês se aproximando e brincando com a daquele jeito, eu até acreditei que eram uma família de verdade, foi lindo a forma como você e se olharam.
- Para de viajar na maionese, April. Mas, mudando de assunto...
- Não vamos mudar de assunto.
- Vamos sim ou eu vou embora. E o embora que eu quero dizer é para Nova Iorque.
- Tá, vamos mudar de assunto.
- Você e o Tom já se acertaram?
- O quê? Falar sobre você e o você não aceita, agora sobre aquele cretino do Tom você quer? – ela perguntou, meio incrédula, e levantando os braços para o alto, logo os abaixando. – Não quero falar dele.
- Para de criancice, irmã, assume logo que você gosta dele.
- Sim, eu gosto dele, se for para mandar para o quinto dos infernos. – rimos.
- Isso é amor encubado, April.
- É ódio mesmo, . – ri mais uma vez. – Você está gostando da viagem?
- Estou sim. Está sendo bom passar um tempo a mais com .
- Além do que você passava com ela em Nova Iorque?
- Em Nova Iorque era a mesma rotina de sempre, aqui a gente pode fazer praticamente o que quisermos no dia seguinte.
- Nisso você está certa. Mas, hein, ... – ela me deu uma cotovelada de leve. – Nem fomos em nenhuma casa noturna até agora.
- E nem vamos, April.
- Mas por que não?
- Não, eu quero aproveitar, mas não quero ir em nenhuma casa noturna e ter que voltar carregada.
- Você está parecendo uma vovózinha reclamona que só quer ficar em casa.
- Deixa de ser chata, April.

Capítulo 10

Nada melhor do que tomar um belo banho relaxante. Assim que saí desse momento maravilhoso, fui em busca de uma roupa decente no guarda-roupa, quando Tom entrou no quarto, se encostando no batente da porta e me olhando com certa malícia no olhar.
- Tom, você poderia me dar licença para que eu possa me arrumar?!
- Pode se arrumar, benzinho, não irei te impedir.
- Tom, sai.
- Por que você está tão agressiva, hein?
- O quê? Não estou sendo agressiva, pedi com educação e te repreendi com educação. – fiz pose de ofendida, mesmo não estando ofendida.
- Não estou dizendo de agora, estou dizendo de outras vezes. Eu só queria conversar. – fez bico de criança, triste.
- Certo, então sobre o que você gostaria de conversar? – cruzei os braços. E ele ficou só olhando para meu busto. – Tom, meu rosto fica aqui em cima.
Falei, óbvia, apontando para meu rosto, mas ele ainda estava distraído olhando para onde não devia.
- O quê? – e então ele saiu do transe, finalmente olhando para meu rosto.
- Sai daqui, Tom.
- Espera...
- Sai, Tom.
- Ta bom. Só para deixar claro que você fica linda de toalha, mas sem deve ser mais ainda.
- Cretino. – soltei uma risada de seu atrevimento e taquei o travesseiro nele, mas a sua sorte foi que ele já tinha fechado a porta.

Passei o vestido por minha cabeça, e escutei batidas na porta, já imaginei que era April.
Assim que voltamos da praça, combinamos de jantar no restaurante do hotel e bebermos uns drinks em seguida, mas sem exagero, claro.
- , sua irmã alcoólatra chegou. – Tom me gritou da sala.
- O que você disse? – April perguntou, parecendo estar irritada, lá vinha briga de novo.
- Apenas a verdade, lide com ela. – Tom respondeu.
- Repete o que você disse, Thomas, se você for homem. Se eu fosse você, ficava esperto, um dia eu posso entrar aqui e te matar durante seu sono.
Revirei os olhos e fui até a sala, que tinha ali.
- Dá para vocês pararem de brigar, pelo menos enquanto estamos fazendo essa viagem?! Parecem dois adolescentes.
- Não dá, , só a respiração dele me irrita.
- Não é o que seus gestos e gemidos diziam naquele dia nos fundos do restaurante, lembra?
- Agora eu te mato, seu ordinário.
- April, coloca esse vaso no lugar agora. – fiquei atenta, caso ela decidisse fazer alguma besteira.
- Não, eu vou tacar esse vaso na cabeça dele.
- Meu Deus, por que vocês querem tanto me matar? – ele se sentou no sofá e levantou os braços para o alto.
- Porque você é um idiota. – April respondeu.
- Não, isso só pode ser amor reprimido.
- Vocês dois não me obriguem a trancá-los em um quarto até aprenderem a ser gente civilizada um com o outro. – falei, fechando os olhos e colocando o dedão e o dedo indicador no nariz. – Vamos jantar, April, vamos.
- Salvo pelo gongo, hein, garotão. – April colocou o vaso no lugar. – Na próxima, você morre.
- Não chegue tarde, . – Tom fingiu não ter escutado o que minha irmã falava.
- Pode deixar, mas não me espere. – empurrei April para fora e sai, fechando a porta.
- Não sei como você aguenta esse chato.
- Ele não é exatamente chato, ele às vezes só parece uma criança bem mimada e louca por atenção. – apertei umas três vezes o botão, chamando o elevador.
- Você está defendendo-o, ?
- Não estou defendendo ninguém, só estou comentando.
- Vem ficar comigo no meu quarto.
- Eu não posso, April, você sabe. – finalmente o elevador chegou em nosso andar e entramos no mesmo. - Empurre ele das escadas, diz que foi um acidente, manda a Katherine para o raio que o parta e vem ser feliz comigo.
- Bem que eu queria, mas não sou assassina e muito menos tão má assim.
- Então você precisa de umas aulinhas de como ser.
- Não, obrigada. – rimos e saímos do elevador a caminho do restaurante.

Nosso jantar foi delicioso e recheado de risadas.
- Gente, para mim já chega, eu pretendo perder peso e não ganhar ainda mais.
- Você está ótima, April.
- Eu preciso ficar, já estou com 27 anos.
- Irmã, quem olha para nós duas, não diz que você é mais velha que eu.
- Mas não tão velha, por favor.
- Você está linda, irmã.
- Você ainda mais. – ela piscou para mim, e eu sorri, tímida. – Então, vamos pedir uns drinks? - April perguntou, animada.
- Vamos, claro. – então ela chamou o garçom, fazendo os pedidos das bebidas.

- Vou parar por aqui. – falei, colocando a quarta taça de drink, em cima da mesa.
- Eu também, acho que estou bêbada o suficiente. Acho que estou até vendo unicórnios. – ela falou, olhando para o nada, e sussurrou em seguida. – Eles são lindos, maninha, e mágicos. – em seguida, April riu, colocando a sexta taça de bebida dela em cima da mesa.
- Nossa, se você puder, pega um unicórnio para mim, eu agradeço. – eu estava mais sã que April, pois eu não conseguia ver os unicórnios que ela via. E eu fiquei meio chateada com isso.
- Irei tentar, mas eles ficam andando para lá e para cá. Acho que eu vou chorar. Por mim eu ficaria aqui na Flórida para sempre.
- Eu também ficaria.
- Esse garçom é muito gato, não?! – April começou a secar a bunda do garçom, que passava atendendo as mesas. E a forma dela trocar de assunto no segundo seguinte era impressionante e confuso.
- Acho que está na hora de irmos, antes que você morda o bumbum do garçom. – falei, pegando minha bolsa na cadeira ao lado e me levantando, mas April pegou meu braço e me puxou, me fazendo sentar na cadeira novamente.
- Espera, maninha, eu tive uma ideia genuína. – April falou, arregalando os olhos, e bateu palminhas. - Ah, não, você não vai mostrar os peitos para as prostitutas de novo.
- Eu já mostrei alguma vez?
- Sim e ficou falando “olha só meus peitos que lindo, e não são silicones. Chupe”. – tentei imitar sua voz. – Se eu não tivesse te tirado de lado na hora, alguma dela iria te esmurrar.
- Nossa, mas não. Dessa vez eu só quero dar um mergulho na piscina do hotel. – cruzei os braços, a olhando com os olhos semicerrados, pensando naquilo.
- Essa ideia parece ser boa, mas acho que você está bêbada demais para conseguir sair depois ilesa, sem não ter morrido afogada.
- Não, fique tranquila, , não vou me afogar.
- Certo, então vamos.
Corremos até a piscina do hotel e quando chegamos na borda, April começou a retirar seu short e sua blusa, sem observar se tinha alguém ali ou não.
- Vamos, , aposto que a água está uma delícia. – seus olhos brilhavam de ansiedade.
Retirei meu vestido e o deixei ali no canto, junto com as peças de roupas de minha irmã.



Saí do restaurante, começando a me preocupar, eu estava bem há uns 15 minutos a procura da e da April. Fui até o quarto de , e Tom falou que ela tinha ido jantar com sua irmã, mas quando eu cheguei no restaurante, procurei e procurei, mas não encontrei nenhuma das duas.
Fui até o saguão do hotel, até o jardim e novamente não as encontrei, até cheguei a pensar que elas poderiam ter ido dar uma volta pela cidade, mas deixei aquilo de lado quando cheguei na área da piscina e vi duas mulheres rindo e mergulhando.
Me aproximei ainda mais da borda da piscina, para que eu conseguisse ver melhor aquelas duas mulheres. Elas estavam nadando em minha direção, me agachei ali e quando elas chegaram na borda e emergiram, eu tive a certeza de que eu conhecia aquelas duas.
- ? O que faz aqui? – perguntou, parecendo estar bastante surpresa.
- Eu estava a sua procura, .
- Aí que lindo. O príncipe finalmente encontrou a princesa. Só faltou o cavalo branco, hein, garanhão.
- April. – a repreendeu no mesmo momento em que suas bochechas tomavam uma cor avermelhada. – Não ligue para o que ela diz, April está meia bêbada ainda.
- Não estou, eu vou me lembrar bem disso amanhã.
- Então, . – desviou seu olhar assassino da irmã para mim, mas seu semblante se tornou meio de preocupação. – Por que você estava a minha procura? está bem?
- Sim, está, eu só queria conversar com você, saber como você está.
- Mas nós nos vimos há algumas horas.
- Sim eu sei, eu só... Eu só queria ter a certeza de que você... Vocês estão se divertindo e se precisam de alguma coisa. – , seu estúpido, que desculpa idiota.
- Não, , obrigada, estamos bem e adorando esse lugar. – ela sorriu suave para mim.
- Acho que essa é minha deixa, aposto que vocês querem conversar a sós, quem sabe até darem uns beijinhos, ou aproveitar essa piscina para fazer outro filhinho. – a irmã de falou, saindo da piscina e recebendo um olhar mortal de .
Depois me olhou, sorrindo novamente de forma suave, eu tentei desviar meu olhar do seu, mas algo em seus olhos me puxavam para ela.
- Ai meu Deus. – exclamou, saindo às pressas da piscina, e quando me toquei de onde estávamos, vi que April estava deitada no chão, dando risada de escorrer lágrimas dos olhos.
- O que aconteceu? – perguntei, me aproximando das duas, tentava levantar a irmã do chão, mas a outra não ajudava muito.
- Ela escorregou e caiu. Vou levar ela para o quarto, ela agora precisa dormir. – tentava equilibrar a irmã, segurando a cintura, e um braço da April por seu pescoço.
Não consegui não reparar no corpo da , seu busto estava bem destacado naquele biquíni, que parecia estar apertado nela, ela tinha curvas maravilhosas que eu não poderia não notar e eu estava ficando louco por ver aquilo, sei que eu não deveria por respeito a Katherine, e ao mesmo tempo eu queria explorar cada parte de , mas eu também não podia por questões simples, mas as principais, não correspondia aos meus sentimentos e por mais que ela começasse a corresponder, eu estava com a Katherine e eu devia todo respeito a ela. Então eu estava simplesmente ficando maluco.
Eu não conseguia desviar os olhos dela, mas eu já estava olhando seu corpo há muito tempo e ela pareceu perceber aquilo, pois ficou meio sem jeito e meio vermelha, e querendo ou não tive que desviar meu olhar para seu rosto somente, sem descer uns centímetros para baixo até o busto dela.
- Quer ajuda?
- Não quero te incomodar, eu dou um jeito. – tentou sair dali, mas sua irmã ficava somente rindo, dificultando qualquer tentativa de ajuda.
- Não será incomodo algum, com a April assim, você precisará de muita ajuda. – ri e ela me acompanhou. Passei um braço pelas costas de April e o outro por baixo dos joelhos dela, a pegando no colo, pois aquele seria o único jeito de levá-la em segurança até seu quarto.
E fomos para o elevador, apertava o botão sem parar, chamando o mesmo, e quando ele finalmente chegou ao térreo, ela correu para dentro dele, meio confuso, entrei atrás dela e fiquei ao seu lado. Ela estava nervosa, eu pude perceber, pois ela estava mordendo o lábio inferior e às vezes mordendo a bochecha por dentro da boca.
- , você está bem? Parece nervosa.
- Não, quer dizer, estou bem. Fiquei sã há uns minutos. - falou baixo, mas pude ouvi-la.
- Me desculpa se eu tenha te atrapalhado em algo, ou sido indelicado, ou indiscreto demais. – as últimas frases falei em tom baixo, mas ela pareceu ter ouvido.
- Não, , você não fez nada. – ela falou, respirando fundo e chacoalhando de leve a cabeça. – É que quando a April bebe dessa forma, ela me dá muito trabalho.
Ela deu um sorriso pequeno, mas não era aquilo que a incomodava de fato. Assim como ela aprendeu a me conhecer, eu também aprendi a conhecê-la, mas eu não iria pressioná-la a falar nada.
- Uau, você é bem mais forte do que eu pensei. – April falou de forma mole e soltando uma risadinha. – Baba, , estou no colo dele, aposto que você está morrendo de inveja, querendo estar no meu lugar.
April riu novamente e eu reparei bem no comportamento de naquele momento, suas bochechas estavam ficando vermelhas de novo.
Dizem que quando a pessoa está bêbada, toda a verdade sai de sua boca. Que o que eles dizem bêbados, eles pensaram sóbrios, no caso de April, ela ouviu sóbria. E o que April tinha acabado de falar parecia ser realmente verdade, desejava estar no lugar da irmã naquele momento, e o jeito em que ficou, não negou, não confirmou, mas ficou vermelha e meio sem jeito, só confirmou.
Mas confesso que gostei de ter ficado sabendo daquilo. Dei sorriso de lado para não perceber, e ela falou:
- E ela me envergonha muito também. – tentou contornar a situação.
- Não se preocupe, quando as pessoas estão bêbadas, elas não têm muita noção do que falam.
Chegamos no andar do quarto de April, abriu a porta, e eu cuidadosamente coloquei uma April adormecida, deitada na cama.
- Obrigada pela ajuda, . - sorriu pequeno, eu já estava para fora do quarto, de saída para o meu quarto.
- De nada, . Você vai para seu quarto?
- Não, eu vou ficar aqui com ela, caso ela precise de algo ou passe mal.
- Certo, se precisar de algo é só me ligar.
- Obrigada.
Ficamos uns segundos em silêncio, apenas nos olhando, e cheguei à conclusão que eu poderia ficar ali, olhando para ela para sempre que eu nem notaria o tempo passar.
Coloquei minhas mãos de cada lado do seu rosto, e conforme eu ia aproximando meu rosto do dela, meu coração batia mais forte.
Devagar aproximei meus lábios de sua testa e ali depositei um beijo, e acho que ela estava sentindo algo também, assim como eu sentia, acho que seu coração também batia mais forte, pois ela tremia de leve.
Tive que me segurar muito para não descer o beijo para os lábios de , tudo estava tão intenso e o desejo ainda maior do que antes.
Afinal, os sentimentos que eu tinha por apenas haviam dado um tempo, quando eu pensei que tinham ido embora de vez, mas ele foi voltando aos poucos e estava ainda mais intenso.
Com certa luta contra mim mesmo, eu me afastei de .
- Boa noite, . - sussurrei a ela.
- Boa noite, . - ela sussurrou de volta.
Chamei o elevador, ele logo chegou no andar, entrei no mesmo e olhei uma última vez para , lutando para não sair do elevador correndo e beijá-la como eu tanto desejava, mas logo as portas do elevador se fecharam.
Abri a porta do meu quarto e quando eu vi que Katherine me esperava, suspirei sem que ela percebesse, e assim que ela me viu entrar, ela se levantou do sofá.
- Onde você estava, ? - ela parecia irritada.
- Fui ver um negócio no saguão do hotel. Eu te avisei que eu ia.
- Precisava ter demorado tanto? - ela cruzou os braços.
- Um dos hóspedes me pegou na conversa.
- E esse hóspede, por acaso, era uma mulher? - ah não.
- O quê?
- É, como a mãe da ? Por exemplo.
- Não vamos começar com isso de novo, Katherine, eu não vou brigar com você por ciúmes. - a maior parte do tempo, ainda mais depois que ela conheceu , brigávamos por causa de ciúmes, mas depois acabávamos fazendo as pazes, só que na cama. Típico.
- Tudo bem, me desculpe me excedi. A propósito, está no quarto dela, te esperando para poder dormir.
- Eu vou falar com ela.
- Não demore, estarei te esperando.
Cheguei no quarto da minha pequena, e ela me esperava sentada na cama, vendo um livro infantil, mas assim que me viu entrar, guardou o livro e sorriu lindamente para mim.
- Papai!
- Oi, minha pequena. - me sentei ao seu lado na cama, de frente para ela.
- Você demorou, papai.
- Desculpa, filha, tive que ajudar com um negócio.
- Já estou com saudades da tia , papai.
- Posso te contar um segredo, filha? - sussurrei para ela.
- Pode sim, papai. – curiosa, sussurrou. - Vou guardar bem o seu segredo.
- Eu também, estou com saudades da . Mesmo tendo visto ela agora há pouco. - ela sorriu largamente, adivinhando o que eu realmente queria dizer.
- Você gosta muito da tia , né, papai?! - perguntou, ao mesmo tempo afirmando.
- Sim, filha, ela é uma ótima pessoa. Principalmente com você.
- Não, papai, você gosta dela, para namorar? - agora continha esperança em seus olhos claros, e brilhantes. - Eu estou com a Katherine, filha.
- Papai. - ela sentou na cama, próxima a mim, e colocou uma mão de cada lado do um rosto. – Você tem que ficar com quem ama.
- Eu quase te confundi com uma adulta agora.
- Papai, é sério. - ela sentou na cama, meio largada e frustrada.
- Desculpa, filha, pode deixar que eu vou seguir seu conselho. - depositei um beijo em sua testa.
Ela fez sua oração de antes de dormir e então se ajeitou na cama.
- Boa noite, papai.
- Boa noite .
Sai do quarto e fui para o meu, e deitada na cama com uma camisola pequena, estava Katherine.
- Vem cá, vem, meu amor. - de forma sexy, ela me chamou.
Eu fui, ela pegou o colarinho da minha camiseta e me puxou, grudando nossos lábios em um beijo quente, colei ainda mais nossos corpos e com minha mão fui passando por toda a parte no corpo de Katherine.
E ali ficamos, mas durante aquele tempo eu não conseguia parar de pensar em , em alguns momentos até pensei ter visto no lugar de Katherine, sussurrando meu nome.
Podem me xingar do que quiserem, mas eu não posso fazer nada quanto a isso. estava me deixando louco. Louco por ela.



Devagar fui abrindo meus olhos, eu ainda sentia bastante sono, ainda mais com o carinho gostoso que faziam em meu cabelo, mas a luz do sol que entrava pela fresta da cortina me incomodava, me fazendo despertar.
- Está na hora de acordar, bela adormecida. – sussurrou, perto do meu ouvido, me fazendo arrepiar, consegui identificar como sendo uma voz masculina.
- Só mais cinco anos. - resmunguei e me aninhei mais sobre os travesseiros e lençol.
- Não, senhorita, daqui a pouco é hora do almoço e você nem tomou café da manhã. - de início, pensei que era e até um sorriso pequeno surgiu em meus lábios. – Vamos, , acorda.
- Eu quero dormir.
Me virei na cama na direção da pessoa, e aos poucos fui abrindo os olhos, quando vi quem era, minha primeira reação foi ficar frustrada por não ser a pessoa que eu tanto queria que fosse; a segunda foi de susto por ver Tom deitado ao meu lado, sorrindo.
- Tom? O que você está fazendo aqui? – rapidamente me sentei na cama, puxando involuntariamente o lençol até meu busto, que estava protegido pela camisa comprida que eu usava para dormir.
- Calma, , não precisa ter medo de mim, eu não fiz nada com você, e antes que você grite comigo ou até mesmo me agrida, nunca se sabe... – ele sussurrou. – Me deixe explicar o porquê de eu estar aqui. – respirei fundo e concordei em ouvi-lo, não custava nada.
- Tudo bem.
- Obrigado. Bom, para começar, April acordou mais cedo e saiu, mas antes dela sair, ela foi até nosso quarto, e pediu para que eu ficasse aqui com você. Te fazer companhia para caso você precisasse de algo. Ela me falou que vocês tinham bebido na noite passada, então aproveitei para pedir o café no quarto, e te trouxe aspirina.
Ele terminou a explicação e sorriu largamente.
- Certo. Obrigada, Tom, mas não bebi tanto noite passada, quem mais exagerou foi April.
- Como sempre.
- Sim, mas mesmo assim, minha cabeça dói um pouco, obrigada por ter trazido remédio.
- De nada, eu fiz isso também para mostrar para vocês que eu não sou tão chato e inútil, como vocês pensam.
- Eu não penso isso. – ele me olhou com cara tipo “sei que não” irônico, mas não disse nada.
- Te agradeço por isso, mas nesse momento não é hora para conversa e sim para comer.
Tom levou a bandeja recheada de comidas gostosas e saudáveis até a cama.
Eu me deliciei com aquele café da manhã. As únicas vezes que eu havia recebido café na cama, era quando eu era pequena e estava doente.
Como eu estava bastante legal naquele dia, eu dividi meu café com Tom. Pois era bem raro quando dividia minha comida com alguém. Tudo bem, tudo bem, podem me chamar de gulosa.
- Tom, você sempre teve muitas mulheres aos seus pés? – perguntei, tomando o último gole do suco de laranja e depositando o copo de vidro sobre a bandeja.
- Não, a minha vida amorosa sempre foi uma merda.
- Sério?
- Sim, quando eu pensava que eu havia encontrado uma pessoa legal e que iria durar mais do que apenas três meses, ela me mostrava ser outra pessoa.
- Puxa. Eu sempre pensei que a mulherada caia aos seus pés, ainda mais da forma como você e conversavam as vezes.
- Você escutava nossas conversas atrás da porta?
- Atrás da porta não, porque na cozinha não tem porta.
- Você me entendeu.
- Sim, às vezes eu escutava, mas era sem querer. Juro.
- Tudo bem. Para você ter uma ideia, uma vez , quando eu ainda estava com a minha ex, a última na qual eu namorei. Eu era louco por ela, eu pensava que eu finalmente tinha encontrado a pessoa certa, e então eu tentava ser o mais carinhoso que eu podia, porque para mim ela merecia. Toda mulher merece ser bem tratada. Mas um dia ela sumiu do nada como quando aconteceu com o , fiquei muito preocupado, e só dois dias depois eu fiquei sabendo que ela tinha me largado para ficar com um antigo amigo de colégio dela. E isso eu fiquei sabendo através de uma mensagem de texto que ela me mandou, e ela ainda reclamou na mensagem que eu era carinhoso e delicado demais com ela, e muito sem graça, principalmente na cama. Meu ego foi muito ferido naquele dia. - Nossa, que história, hein. Além de melhores amigos, você e também foram abandonados por uma mulher. – meu tom de voz saiu mais triste e baixo do que previ.
- Pois é. O destino brincando com a nossa cara? Talvez. Mas então acabei por decidir mudar o que eu sou, porque assim quem sabe, eu não encontre a pessoa.
- Mas, Tom, não mude o que você realmente é por uma mulher que não te merecia. - Talvez ela tenha razão, , o que eu era antes era muito sem graça.
- Não, ela não tem Tom. Não mude suas boas qualidades pelos outros, o problema era ela que não reconhecia a boa pessoa que você é. Eu sei que logo você encontrará a pessoa que amará cada detalhe seu.
- Eu já nem sei se acredito nisso mais.
- Mas deve, Tom. Não podemos desistir, mesmo que na primeira e segunda vez, tenha dado muito errado.
- Acho que ela se perdeu no meio do caminho.
- Um dia ela irá encontrar a porta da sua casa.
- É, quem sabe no dia de são nunca, e outra, eu já estou bem acostumado com minha vida de solteiro.
- Mas não deve. Quando você menos esperar, ela estará batendo em sua porta.
- Se fosse a April, ela esmurraria a porta. – rimos por um momento, mas em seguida o olhei, sorrindo, sapeca.
- Você gostaria que fosse ela! – ele me olhou com os olhos meio arregalados.
- Claro que não, , de onde você tirou essa ideia maluca?
- Não é uma ideia maluca, é a verdade, Tom. Essas brigas de vocês são apenas uma distração para a tenção que há entre vocês dois, e pelo fato que vocês sentirem algo a mais que o "ódio".
- Ok, bela teoria, , mas não há fundamento algum nela. – Tom, meio nervoso, se levantou da cama.
- Tem sim que eu sei, assuma logo, Tom.
- Eu não tenho nada para assumir.
- Tem sim, que você gosta de verdade da April.
- Só se for para mandá-la para o quinto dos infernos.
- Nossa, ela disse a mesma coisa.
- Disse? O que ela te falou?
- Nada muito concreto, mas ela deu suspeitas. Vai, assume logo, Tom.
- , eu gostar ou não dela não vai mudar o fato que ela é uma cavala e que me odeia.
- O amor está mais perto do ódio do que a gente geralmente supõe. Vocês ainda vão ficar juntos. E você, assuma que gosta dela.
- Eu assumir ou não, não irá mudar nada.
- Não, Tom, você está errado, pode mudar tudo, pois ela pode sentir o mesmo.
- Acho muito difícil, aquela mulher não tem coração. – ele falou, apontando para a parede.
- Ela tem sim, Tom, ela só não é de demostrar muito seus sentimentos.
- Então, quando ela demostra é dando porrada na pessoa?
- Tom, não viaja. Vocês dois ficam complicando tudo. – falei, meio irritada, batendo as mãos em minhas coxas e me levantando da cama.
- Vocês, vírgula, , por mim, nós já estaríamos juntos, mas ela prefere só viver brigando.
- Ah, tá vendo só, você assumiu gostar de verdade dela.
- Tá, tudo bem, você venceu, , aí tá a verdade, feliz?
- Muito. Agora é só fazer a April falar a verdade.
- Você não presta, . – ele pegou um travesseiro e devagar tacou em minha direção, peguei o travesseiro, gargalhando.
- Você também não presta, Tom.
- Mas não sou tão terrível como você. E ande, se apronte logo, o pessoal estará nos esperando no saguão do hotel em... Dez minutos. – Tom disse, consultando seu relógio de pulso.
- Por quê? Para quê?
- Quem sabe para passearmos pela cidade?
- Ah não. – manhosa, me joguei de barriga para baixo na cama.
- Ah sim. Você pretende fazer o que a tarde toda?
- Ficar comendo e dormindo.
- Não, senhorita. – ele pegou em meus dois pés e começou a me puxar, mas eu segurava na cabeceira da cama. – Estamos na Flórida, e temos o dever de aproveitar, e muito.
- Mas eu vou aproveitar bastante.
- O que você vai aproveitar?
- O hotel.
- , ou você levanta agora e começa a se arrumar, ou eu chamo o .
- Nossa, tô morrendo de medo.
- Ah é. E ainda por cima, conto todos os seus sentimentos para ele. – aí eu fiquei com medo de verdade, quando Tom falava que ia fazer, ele realmente fazia.
- Tá bom, tá bom. Eu vou me arrumar, estarei pronta em cinco minutos. – respirei fundo, me levantando da cama e deixando os ombros caírem. - Ótimo, porque você só tem cinco minutos e nada mais. E não se esqueça que , e principalmente a , contam muito com você nessa viagem.
- É disso que tenho medo.
- Por quê?
- Porque uma hora eu posso fazer alguma burrada.
- Você está se saindo bem.
- Esse é o problema, Tom, eu começo bem, mas quando está indo bem demais, eu cometo um deslize, e dos feios.
- Não pense nisso, , vai continuar tudo ocorrendo dentro dos conformes.
- Deus te ouça.

Capítulo 11

O elevador estava para abrir as portas no térreo, quando Tom se apressou em entrelaçar nossas mãos. Todos estavam ali no saguão do hotel, em pé e felizes; April conversava com , e Katherine estava agarrada a , que usava óculos escuros, e sorria pequeno para a namorada, mas parecia que ele olhava para outro canto. Talvez, naquele momento, para mim e Tom, o que eu podia fazer se ele mesmo tinha me colocado naquilo? Ele teria que aguentar sempre nos ver daquela forma.
- E então, para onde iremos hoje? – perguntei, sorrindo, enquanto Tom abraçava minha cintura.
- Nós vamos para o castelo da Cinderela. – falou, sorrindo ao lado de April, que tinha um ar brincalhão no rosto.
- Mas o castelo não fica próximo a Orlando, no sul da Flórida? – Tom perguntou.
- Sim, e vamos de carro até lá. – respondeu.
- Que ótimo, estou louca para conhecer o castelo. – falei, animada.
- E depois eu e vamos em um dos parques de terror. – ela e a pequena fizeram um high five.
- Nem pensar que você vai levar minha filha para esse lugar, depois ela não dorme de noite.
- Eu durmo sim, mamãe, eu já sou grandona, eu aguento uns bichinhos feios.
- Não, , da última vez só a música do filme de suspense que seu pai assistia foi o suficiente para te fazer ficar acordada quase que a noite toda.
- Sério isso, só a música? – minha irmã perguntou, rindo.
- Não ria, tia April. – resmungou, cruzando os braços e fazendo bico.
- Desculpa, pequena, foi sem querer.
- Ela deu um trabalhão para dormir. – completou.
- Parque de terror, fora de cogitação. – April disse, frustrada.
- Você se lembra, , que acordamos com um barulho naquela noite e quando fomos ao quarto de ela estava dentro do armário?! – falei, soltando uma risada baixa, e ele também.
- Me lembro bem, tivemos que ficar um bom tempo deitados com ela na cama, até que ela dormisse.
- Vamos, pessoal? Antes que não consigamos aproveitar nada desse lindo dia. – Katherine se pronunciou e saiu puxando .
Eu, Tom e April nos entreolhamos, minha irmã revirou os olhos para, em seguida, sair sendo puxada por .
Tom novamente entrelaçou nossas mãos e saímos do hotel.

Transitamos pelo mezanino do Cinderella's Royal e almoçamos no restaurante, e na companhia das princesas Disney ainda por cima.
Eu e April tiramos muitas fotos perto do poço dos desejos que ali tinha no castelo.
No principal corredor do castelo, cinco murais de mosaico artesanais feitos com peças cobertas de ouro e prata, e mais de um milhão de peças de vidro em 500 cores diferentes contavam a clássica história da Cinderela.
E para fecharmos com chave de ouro, fomos até o Bibbidi Bobbidi Boutique, um salão de beleza onde nossa pequena foi transformada em nossa pequena princesa.
estava o tempo todo maravilhada com o castelo, se sentindo uma princesa de verdade, ainda mais pela magia que o castelo passava.
Com muita insistência e conversa com , eu e conseguimos convencê-la a irmos embora, demorou um tempo, ela ficou bem tristinha, pois falou que seu desejo era morar ali para sempre. Por fim, prometemos umas coisinhas a ela, e a pequena concordou em irmos embora.
e foram primeiramente no Astro Orbiter, um foguete que voa alto sobre o Tomorrowland e somente para duas pessoas.
Logo depois, todos nós fomos no Splash Mountain, navegamos por meio de rios, cavernas e passagens aquáticas em um barco de madeira. Passamos por cenas com personagens que cantam músicas dos filmes de 1946 da Disney, música do Sul. No final da atração, passamos por uma queda de 16 metros, foram gritos e mais gritos de minha parte, da , de Katherine e April.
Enquanto , Katherine e compravam sorvete, eu e April ficamos mais ao longe, observando os três no carrinho de sorvete, mas principalmente observando Tom, que brincava e tirava fotos com o Pateta.
- Ah, eu não acredito nisso.
- Eu também não, Tom está pior que criança. – ri dele.
- Não, não é isso.
- O que é então?
- Aquilo. – ela virou minha cabeça na direção de sua indignação.
- Ah, merda.
- Eu pensando que eu iria ficar para sempre longe dessa demônia.
- Também não precisa falar assim, April. – repreendi minha irmã, que apenas deu de ombros. Cléo nos viu e largamente sorriu, acenando em nossa direção, educada, sorri e acenei de volta.
Conforme ela andava, parecia aquelas cenas de filmes, em que o vento bate em seus cabelos soltos, a deixando mais maravilhosa enquanto uma música maneira toca de fundo. E eu já começava a me sentir um pouco inferior a ela, sabia que não era certo, mas era inevitável.
- Lembre-se, , você é bem melhor que ela. – April sussurrou próximo a meu ouvido, como se adivinhasse o que eu estava sentindo.
Cléo era uma pessoa legal, mas o que a estragava era o fato de que ela se aumentava demais e diminuía os outros, principalmente eu. Quando eu, Cléo e April trabalhávamos juntas na mesma empresa, Cléo sempre que podia implicava comigo, não com o meu trabalho, mas diferenciando nossas vidas, dizendo o quão rica ela era e eu não tinha nada, ela não dizia diretamente com essas mesmas palavras, mas dava para captar bem o que ela queria dizer, ainda mais pela forma que ela se comportava ao dizer, então eu tinha que me segurar e segurar a April para não avançar e estapear Cléo. - , April. Quanto tempo, não?! – ela abraçou nós duas e eu apenas continuava com o meu sorriso educado na cara.
E April também, apesar de não ir muito com a cara de Cléo, minha irmã era educada, pois se não fosse, apanharia de mamãe.
- É... faz bastante tempo. Como você está, Cléo?
- Estou muito bem, e com vocês?
- Estamos muito bem também. – April respondeu, já parecendo estar sem paciência para ela.
- Fico feliz por vocês. – era impressão minha ou Cléo estava mais legal e menos metida?
- E a vida, as novidades, Cléo? – perguntei.
- Ah, a vida foi bem generosa comigo.
- É mesmo? – April cruzou os braços, esperando Cléo começar a se achar.
- Sim, me casei com um homem que é herdeiro de grandes hotéis de luxo espalhados pelo mundo, tenho duas maravilhosas filhas. E é a terceira ou quarta vez que viajamos para a Disney de férias. – é, era só impressão minha mesmo.
- Que bom, Cléo, fico feliz por você. – falei, sorrindo pequeno.
- E você, , o que tem feito? Está casada, divorciada, viúva? Tem filhos?
- Sim, ela é casada, e tem uma filha adorável. – April se apressou em dizer, antes que eu pudesse sequer respirar para responder.
- É mesmo? E quem é ele? Qual o nome da sua filha? – April me deu uma cotovelada de leve, para que eu respondesse logo, pois ela não poderia mais fazer por mim.
- Meu marido se chama , ele é chefe de cozinha.
- Tem vários restaurantes espalhados pelo mundo. – minha irmã completou e eu a olhei com a sobrancelha erguida.
- E minha filha se chama , ela tem seis anos.
- E cadê eles?
- Estão ali. – apontei para o carrinho de sorvete em que eles estavam.
- Sua filha é realmente linda.
- Obrigada.
- Mas quem é aquela moça ao lado deles? - É a nossa babá. – eu estava encrencada, eu estava mentindo para a minha ex-colega de trabalho e "desmentindo" o , se ele ficasse sabendo disso, ele iria rir de mim. Eu não me importava tanto de estar metendo naquela mentira, ele havia me usado uma vez, então eu também tinha o direito de usá-lo.
Antes eu fiquei brava com ele por ter mentido para a Katherine, agora era eu quem estava mentindo também, mas quem começou com tudo isso foi April, principalmente sobre os vários restaurantes dele espalhados pelo mundo, uma grande mentira, sorte que Cléo não perguntou o nome dos restaurantes, pois acabaríamos inventando um ou dizendo qualquer um bem conhecido e se a curiosidade apertasse Cléo e ela pesquisasse sobre, ela acabaria nos pegando na mentira.
- Sua filha parece que é realmente uma graça.
- Obrigada. – o sorriso orgulhoso surgiu automaticamente em meu rosto.
- Bom, eu tenho que ir. Foi bom ver vocês duas novamente.
- Nós também. – April falou e Cléo logo se afastou, e foi como se eu voltasse a respirar.
- Restaurantes espalhados pelo mundo? - É, o que é que tem? Se o marido dela é tudo aquilo, por que o seu não pode ser?
- Porque nem marido eu tenho. Ele é meu patrão.
- Mas é chefe de cozinha.
- E se ela ficar sabendo que ele não tem restaurantes espalhados pelo mundo?
- Aí ela vai se tocar que foi feita de trouxa, e eu vou adorar isso. Relaxa, , você merece sair por cima dessa vaca.
- Às custas do meu patrão.
- O mesmo que às suas custas, tem a namorada que tem hoje.
- Isso não foi uma boa ideia.
- Também acho que não, ela é meio esquisita.
- O quê? April, eu estou falando de ter mentido para Cléo.
- Pelo amor de Deus, , para de paranóia pelo menos uma vez na vida, quem te garante de que ela também não está mentindo?
- Ela pode estar falando a verdade.
- Você viu o marido dela, os filhos ou a conta bancária dela?
- Não.
- Então.
- Tá bom.
Mudamos de assunto quando apareceu perto de nós com uma casquinha de sorvete para mim.
Assim que assistimos a queima de fogos, retornamos para o hotel, tomamos um banho e fomos nos encontrar no restaurante.
Jantamos, brincamos, bebemos vinho, demos muitas gargalhadas, não havia mentiras naquele momento, nem um passado entre e eu, ou entre o Tom e a April, não havia preocupações ou disputas, éramos mais como um grupo de amigos curtindo as férias na Disney, com uma criança.

***

Bati de leve três vezes na porta, e quem me atendeu foi Katherine. - está quase pronta, quer entrar e esperar? – educada, ela perguntou, sorrindo pequeno.
- Ok, obrigada. – entrei e fiquei em pé ali perto da porta.
- Fique à vontade, eu vou chamar eles.
- Obrigada.
Katherine foi atrás de e , enquanto eu ficava ali analisando a decoração do quarto deles e me balançando para frente e para trás, e batendo as mãos para frente e para trás.
Logo estava correndo até mim e abraçando minha cintura.
- Pronta para irmos, querida? – perguntei, mexendo em seu cabelo.
- Sim, estou.
- Onde as senhoritas irão? – perguntou, sorrindo e cruzando os braços.
- Vamos à sorveteria e depois vamos fazer umas comprinhas, enquanto conversamos. – respondi, pegando com a mochila cor de rosa que adorava e levava para cima e para baixo.
- Sobre o quê?
- Sobre coisas de mãe e filha.
- Tudo bem, se puderem, tragam algum presente para mim.
- Tentarei encontrar algo que você possa gostar. Filha, dê tchau, um beijo no papai e vamos.
- Tchau, papai, eu e a mamãe vamos comprar uma coisa bem legal e bonita para você.
- Obrigado, minha princesa. Divirta-se com a mamãe.
- Vou sim, papai.
pegou em minha mão, saímos do quarto e chamamos o elevador, e assim que ele chegou no andar, eu e a pequena entramos no mesmo, e um poucos antes das portas se fecharem, olhei para , que estava encostado no batente da porta com os braços cruzados e sorrindo para nós, sorri de volta e acenou uma última vez para o pai, e as portas se fecharam.
- Vai querer sorvete do que, filha? – perguntei para garotinha, de forma distraída, enquanto olhava a placa com os sabores de sorvete na parede.
- De creme e morango, mamãe. – quando ela me chamou de mamãe, eu percebi que eu havia a chamado de filha, eu realmente estava começando a me acostumar com aquilo, e eu não sabia muito bem se aquilo era bom.
Terminamos de fazer os pedidos, os pegamos e nos sentamos em uma mesa mais ao fundo da sorveteria, que não estava muito cheio naquele dia, apesar de estar bastante calor.
- Você já está gostando do tio Tom, tia ?
- Ele é bem legal.
- Ele é bem legal mesmo, sempre me dá muitos brinquedos.
- Mas quase todas as pessoas conseguem te comprar com brinquedos, . Principalmente com ursinhos de pelúcia.
- Nem todos, tia , a tia April me comprou só uma historinha e sem final.
- Ela só está esperando para ver se essa história realmente terá um final feliz.
- Todas as histórias têm um final feliz.
- Nem todas, . – um minuto e meio, mais ou menos, depois, parou de chupar seu sorvete e me olhou, divertida. - Tia , posso te contar um segredo? – ela falou bem baixinho, quase se deitando na mesa.
- Pode sim, pequena, sei muito bem guardar segredos.
- Eu vi a tia April e o tio Tom se beijando. – o “beijando” ela falou bem mais baixinho e soltou uma risadinha baixa colocando a mão na boca.
- É mesmo? – também ri baixinho.
- Sim, eu acho que o tio Tom e a tia April se gostam de verdade.
- Também acho que sim, eles dariam um belo casal, não acha?
- Sim, dariam sim. – ela voltou a se sentar na mesa direitinho e a se deliciar com seu sorvete.
Mais de um minuto e meio depois, ela voltou a falar, mas ainda chupando seu sorvete.
- Tia ?
- Sim, !
- Você gosta do papai?
- Sim ele é uma boa pessoa, por quê?
- Não assim, tia .
- Então como, pequena? – me debrucei sobre a mesa, mais atenta à sua pergunta.
- Se você gosta dele, como tia April e o tio Tom se gostam, para namorar. – quase me engasguei com o sorvete, ela era mais esperta e curiosa do que eu de fato pensava.
- , para começo de conversa, seu pai está com a Katherine.
- E se papai não estivesse?
- Ele continuaria sendo meu patrão, a quem devo respeito.
- E se ele te demitisse?
- Eu seria uma mulher desempregada, sem dinheiro, provavelmente sem teto e com muitas saudades de você.
- E do papai também?
- Provavelmente sim.
- Tia , um conselho. Não deixe outra pessoa pegar o que você gosta.
- Pode deixar, . Vou sempre me lembrar disso. – pisquei para ela, voltando a me sentar direito na cadeira, e fiquei um pouco impressionada com o seu conselho. – Mas, pequena, me diz uma coisa, como você soube que Tom e April se gostam, eles disseram alguma coisa a você?
- Não, eu só observo os olhares, tia . – ela sorriu, sapeca, para mim. – Eles agora só precisam dizer que se gostam, um para o outro.
- Não é tão fácil assim, , não quando o medo da pessoa não sentir o mesmo e você ser rejeitada anda ao seu lado. E ainda mais quando tem outra pessoa envolvida. – falei de forma distraída, mexendo em meu copo com sorvete.
- Esse é o seu medo?
- Oi? – chacoalhei a cabeça de leve, voltando a prestar atenção no que dizia.
- Você tem medo do papai não gostar de você também?
- Não é bem isso, .
- Ele gosta mesmo de você, tia .
- Sim, pois eu sempre procuro ser uma babá boa para você.
- Não, tia . Papai gosta de verdade de você, eu sei, eu vi.
- Não, querida, você viu o que provavelmente queria ver.
- Eu vejo o que as pessoas mostram, tia .
- Ok espertinha, quem devia dar conselho aqui sou eu, você é a criança e eu a adulta. - Idade não é documento. – deu de ombros.
- Espertinha. – ela soltou uma risada gostosa.
Assim que terminamos nosso sorvete, andamos um pouco pelas ruas da Flórida, paramos em umas lojas de brinquedos e compramos uns bichinhos de pelúcia para .
Depois fomos até um shopping ali por perto e paramos em uma loja de bijuterias, ama bastante brilho em roupas e enfeites que ela usava, às vezes eu a chamava de mini perua.
- Esse aqui é lindo, tia . – se aproximou de mim com uma pulseira de florzinhas, e tanto as pétalas e o miolo da florzinha haviam strass e swarovski, era linda. Mas o único problema era que a pulseira era muito grande para , e mesmo a ajustando, não daria nela.
- É linda a pulseira. Mas, , é grande demais para seu pulso. – falei, me agachando em sua altura. Ela ficou meio tristinha, mas logo tratei de animá-la.
- Ei, . – com o dedo indicador, peguei em seu queixo e ergui seu rosto, para que ela me olhasse. – Vamos fazer assim, vamos procurar pela loja uma mais bonita que aquela, e que dê em seu pulso, que tal?
- Isso. – ela comemorou e correu um pouco pela loja, procurando outra pulseira.
Depois de mais ou menos uma meia hora, e algumas indecisões, conseguimos por fim encontrar uma pulseira que dava no pulso da , e que era ainda mais bonita que a outra. - Olá, meninas. – o gato do caixa da loja sorriu largamente e lindamente para nós duas. – É só isso que irão levar?
- Sim, é só isso por hoje. Se deixar, levaremos a loja toda.
- Fiquem à vontade, e levem o tempo que precisarem. – ele piscou para mim e eu fiquei meio sem graça, ele era muito bonito. Olhos castanhos escuros e cabelo castanho e curto, meio bronzeado e um sorriso de matar. – A propósito, meu nome é Pietro.
- . – apertei sua mão estendida para mim, o cumprimentando. - Mamãe? – senti a saia do meu vestido sendo puxada, e quando olhei para baixo, me lembrei de .
- Essa daqui é , minha filha.
- Olá, .
- Oi. – educada, o cumprimentou, também apertando a mão de Pietro.
- Você é linda, igual sua mãe.
- Obrigada. Mamãe, o que iremos levar de presente para o papai?
- Não sei, querida, ele já ganhou tudo o que gostaria de presente um dia. – ri nasalada, eu realmente não fazia ideia do que comprar para ele.
- Desculpe a indelicadeza e a invasão, mas você é casada?
- Não.
- Sim. – me desmentiu.
- É complicado... Eu e o pai dela era...
- Mamãe, temos que ir, agora.
- , espera, eu...
- Agora, mamãe. – ela não gritou, mas falou de um modo meio firme comigo, e começou a me puxar pela mão para fora da loja, o que não me deu muita escolha a não ser ir com ela, ainda bem que eu já havia pagado os produtos que pegamos.
- Desculpa, eu preciso mesmo ir.
- Tudo bem, até qualquer dia então. Se acabarmos nos encontrando novamente.
- Até mais.
Finalmente saímos da loja, e eu me virei para .
- O que foi aquilo, ?
- Aquilo o que, tia ? – se fez de desentendida.
- A pressa em sair da loja.
- É que eu queria fazer xixi.
- Certo, então vamos correndo ao banheiro.
- Não, não estou mais com vontade. – sorriu, sapeca, e eu fiquei tentando entender o que tinha acontecido, e então entendi.
- Por que você não quis que eu contasse ao moço a história de que eu estou separada do seu pai?
- Porque não, tia . – começou a tentar disfarçar.
- , me conte a verdade.
Ela ficou relutante por um momento, pensando se contava ou não a verdade, mas quando ela me olhava, eu exigia a verdade. - Tá bom, é que se você contasse isso a ele, tia , ele tentaria tirar você de mim, e principalmente do papai. Ele pareceu gostar de você, e o moço mora bem longe da gente.
Respirei fundo com o coração partido pelo o que ela disse, e pela forma que ela disse.
Ela nunca foi de repetir várias vezes as coisas que ela tinha medo, principalmente o medo de eu ir embora um dia, ela só falava quando tinha realmente muito medo disso acontecer.
E eu entendia aquele medo da pequena, pois eu achava que eu era simplesmente a babá, que a qualquer momento poderia ser substituída facilmente, e isso me atormentou por uns tempos, principalmente nos primeiros meses que eu trabalhava para a família, quando eu realmente comecei a me apegar muito a , me apegar a família .
Mas agora eu acho que consegui conquistar um lugarzinho, talvez especial, no coração deles, mesmo sendo como "a babá amorosa e prestativa, que nunca iremos esquecer", mas pelo menos em alguns momentos eu seria lembrada por eles e isso de alguma forma me confortava.
Me agachei na altura de , coloquei as sacolas no chão ao meu lado e coloquei cada uma de minhas mãos na cintura de .
- Princesa, não tenha medo de me perder, meu amor. Pois sempre que precisar, estarei aqui para te ajudar. – sorri de forma doce a ela.
- Você vai ficar comigo, cuidar de mim para sempre, não é?!
- Eu não posso te prometer nada quanto a cuidar de você para sempre, meu anjo.
- Por que não, tia ?
- Porque um dia, meu amor, você irá crescer e perceberá que não precisará mais de mim para cuidar de você, pois você irá querer ser uma menina independente, e você terá tantas outras pessoas ao seu redor para cuidar de você, como a Katherine, seu futuro namorado e marido e, mais para o futuro, seus filhos. Você terá outras responsabilidades, será adulta demais para ainda ter uma babá. Mas todos os dias da minha vida, eu sempre, sempre irei me lembrar de você, e estarei esperando suas visitas, se assim você quiser.
Seus olhinhos verdes expressavam uma tristeza de partir o coração, mas sorri para ela e fiz carinho em seu cabelo.
- Eu não vou deixar você ir embora, tia .
- Eu não vou a lugar algum, princesa, estarei sempre pertinho de você. Sempre que você precisar, estarei aqui por você, como estive desde que você tinha apenas um aninho.
Ela passou seus bracinhos por meu pescoço, me abraçando, depositando um beijo na ponta do meu nariz.
- Sua filha é muito linda. Uma graça. – uma senhora parou próxima a nós duas e elogiou a pequena, me levantei, sorrindo, simpática, a ela.
- Obrigada. – soltei uma risada baixa quando abraçou minha cintura, se escondendo um pouco, em um sinal claro de vergonha.
- Você fez um ótimo trabalho com ela, menina. Vi que conseguiu educá-la direitinho, coisa que muitas mães não se preocupam, ou conseguem fazer. – é, , você realmente conseguiu, parabéns, querido. Pensei mentalmente.
- Foi meio complicado, e o pai passaram por uns maus bocados quando ela ainda era bem novinha, mas eles deram a volta por cima, e hoje é essa menina inteligente, educada e amorosa.
- Eu tive três filhos, e quando eles ainda eram bem pequenos, meu marido nos deixou, nos abandonou. Foi muito difícil, ainda mais no começo, mas com muita força e coragem, consegui educar meus filhos, e hoje eles me dão muito orgulho.
- Não é fácil mesmo, muitas desistem, porque se esquecem do quão forte elas são, e duvidam muito de sua própria capacidade.
- Pois não devem, as pessoas são mais fortes do que imaginam.
- São sim. – sorri para ela.
- Bom, eu vou indo querida, mais uma vez, parabéns pela sua filha.
- Obrigada.
- Tchau.
- Tchau.
Logo a senhora simpática sumiu por entre o mar de pessoas.
- Vamos voltar para o hotel, ?
- Vamos. – ela pegou minha mão e voltamos para o hotel.

Capítulo 12

Assim que o elevador parou no andar do quarto de , saiu correndo do elevador e começou a bater na porta, quem nos atendeu novamente foi Katherine, ela sorriu para nós e eu me virei para .
- Filha, você vai passar essa noite com o papai novamente, ok, princesa?
- Tá bom, mamãe. – me agachei e ela me deu mais um beijo na ponta do meu nariz, e eu fiz o mesmo com ela.
Me despedi de Katherine com um sorriso pequeno e fui para meu quarto.
Quando cheguei no mesmo, encontrei Tom com seu laptop no colo e várias folhas de papel ao seu redor, espalhados pelo sofá.
- Trabalhando? – perguntei, colocando as sacolas no chão e me jogando na poltrona perto da janela da pequena sala.
- É, estou pesquisando umas receitas novas, e colocando em dia umas pesquisas minhas sobre alguns alimentos.
- Certo. Você quer ir jantar comigo hoje?
- Você está me convidando para um encontro, ? – um sorriso de lado surgiu em seu rosto.
- Não, seu bobo. – ri. – Iremos jantar como amigos, um fazendo companhia para o outro, somente.
- Imaginei, mas tudo bem. Eu topo jantar com você.
- Ótimo.
Horinhas depois, eu e Tom fomos jantar, mas dessa vez, não foi no restaurante do hotel, ambos queríamos comer em um lugar diferente e comidas diferentes, então escolhemos um restaurante mais no centro da cidade e um pouco mais longe do hotel. Nosso jantar foi muito agradável, Tom era uma pessoa bem divertida, eu várias vezes quase me engasguei com o vinho de tanto rir de suas piadas muito idiotas, mas engraçadas. O pessoal que também jantava ali no restaurante só nos observava. Alguns riam juntos, já outros nos olhavam com reprovação por achar que não estávamos sendo elegantes ao ficar com cara de tacho como eles estavam. Só que eu e Tom estávamos pouco nos importando com aquilo, principalmente com o que pensavam ou deixavam de pensar sobre nós.

A volta para o hotel foi a base de muitas risadas e vergonha alheia de minha parte, pois Tom inventou de ligar o som do carro, e ainda por cima cantar feito um maluco, ele era péssimo como cantor, desafinado demais, o que me causava bochechas vermelhas enquanto ele estava pouco se lixando para o que os outros estavam achando dele.
- Como cantor, você é um ótimo cozinheiro, Tom. – falei, rindo, entrando em nosso quarto no hotel.
- Eu sei que você gostou, assuma, .
- Os gatos também gostaram tanto, que saíram correndo e miando desesperados. - Ah, para, não sou tão ruim assim. Quem sabe até eu não participe desses programas de talento.
- Tem certeza de que você quer passar por esse mico?
- É, acho que não vai ser muito legal. Vou ficar só na cozinha mesmo.
- Também acho. – ele ficou tristonho de início, mas logo se animou, voltando a me fazer rir.

Já de madrugada, todos dormiam tranquilamente, menos eu, que não conseguia ficar nem cinco minutos de olhos fechados, eu pensava em tantas coisas que iam se acumulando ainda mais em minha mente, me impedindo de dormir.
Até que, por fim, desisti de tentar e me levantei da cama, consultando as horas no celular. Vi que já se passavam das duas horas da manhã. Aproveitando que eu já estava com o aparelho em mãos, mandei uma mensagem para meus pais, avisando que eu e April estávamos bem, estávamos com muitas saudades e que estávamos nos divertindo bastante na viagem.
Me levantei da cama, coloquei uma roupa melhor, que não fosse um pijama, calcei meus chinelos e devagar fui saindo do quarto, vi que Tom dormia feito uma pedra no sofá e saí de lá sem fazer barulho. Peguei o elevador até o térreo.
O saguão do hotel estava um pouco mais tranquilo naquele horário, mas havia algumas pessoas fazendo check-in.
Decidida, fui até a piscina ao ar livre do hotel, ali havia duas piscinas, uma ao ar livre e a outra coberta. Assim que cheguei lá, deixei meus chinelos em um canto, me sentei na borda da piscina e coloquei somente meus pés dentro d'água, que estava em uma temperatura muito agradável.
Aproveitei que estava ali e que estava tranquilo, para tentar colocar os pensamentos em ordem, e esses pensamentos eram sobre o meu negócio que eu tanto desejava abrir, a minha loja de doces dos sonhos. Eu desejava muito abrir a lojinha, mas eu não tinha muitos recursos para isso, e não era somente essa a questão, outra questão era também o fato de que eu amava ser a babá da pequena .
E eu não conseguiria muito bem reconciliar os dois empregos, tocar a loja de doces e cuidar de ao mesmo tempo.
Tudo bem que eu tinha meus dias de folga, mas, e nos outros dias, como eu faria para cuidar de na casa do , e acompanhar a reforma, a decoração e depois conversar com os fornecedores? Sem contar que eu desejava fazer os próprios bolos que eu venderia na loja.
- Também não consegue dormir?
- Que susto, . – Coloquei uma mão no peito e ele riu nasalado.
- Me desculpe, não foi minha intenção te assustar.
- Não, tudo bem. Não se preocupe.
- Como foi o jantar com o Tom? – olhei para ele com as sobrancelhas erguidas, mas ele prestava atenção na água.
- Foi divertido. Tom é mais legal do que eu pensei, e bem desafinado por sinal.
- Concordo, tenho vontade de socá-lo toda vez que ele resolve cantar no restaurante.
- Os clientes não vão embora, por causa da cantoria, não?
- Não, pois antes que aconteça, passo fita na boca dele. – rimos, mas no minuto seguinte ficamos em silêncio. Não era aquele silêncio constrangedor, era aquele silêncio em que duas pessoas têm coisas demais para dizer, querem dizer, mas não sabem como ou preferem não falar nada, pois acham que assim será melhor. E esse era o meu caso.
- ?
- Sim, ?
- Você poderia me ajudar em uma coisa? – o olhei, esperando que sua resposta fosse positiva. - E o que seria essa coisa?
- Arrumar um encontro entre duas pessoas. – ele me olhou com as sobrancelhas arqueadas.
- Que pessoas? – também arqueei as sobrancelhas, o fazendo pensar quem eram essas pessoas. O que era bem óbvio, quem eram essas pessoas. – Com o Tom ou com o cara do caixa da lojinha?
- Como você soube do Pietro.
- me contou.
- Ela é bem rápida. Mas não é com o Pietro.
- Então é o Tom.
- Sim, eu...
- Você quer sair com o Tom? Por que você quer sair com o meu melhor amigo? – pelo tom de sua voz, eu poderia dizer que ele estava um pouco incrédulo, misturado com um pouco de irritação.
- O que te faz pensar que eu quero sair com o Tom?
- Ah, não sei, só que vocês parecem bem mais íntimos agora. Estão até saindo para jantar quase todas as noites. E isso está até parecendo mesmo um namoro real, e não um fingimento como o combinado. - Eu não estou saindo todas as noites para jantar com ele. E outra, foi você que meteu eu e ele nisso. Por acaso você está com ciúmes do Tom? – ele ficou me observando. – Porque se for, fique tranquilo que eu não vou roubar seu melhor amigo.
- Eu não estou com ciúmes do Tom, .
- Então o que é tudo isso, ?
- Talvez seja de outra pessoa. – na hora do aperto e confusão daquela pequena discussão, acabou soltando aquilo. Ao perceber, ele apenas respirou fundo e ficou na água da piscina.
- Por acaso é de mim? – perguntei, cautelosa, com um pouco de medo da resposta.
- Talvez. – respondeu, dessa vez olhando em meus olhos, e ali eu vi um brilho diferente do que eu costumava ver. Será que era a confirmação de seus ciúmes?
- Não precisa se preocupar quanto a isso, se seu medo é de que eu acabe deixando meu emprego. Relaxa, não pretendo abandonar vocês nem tão cedo. Seu foco maior agora tem que continuar sendo sua filha, e Katherine, que está te esperando no quarto.
- Eu sei disso, e não estou dizendo que não me preocupo com elas. Assim como me preocupo com , eu me preocupo com você e Katherine. - Continue sendo o ótimo pai que você é. E quanto ao encontro, é entre a April e o Tom.
- Ah, certo. Eles se odeiam, mas no fundo se amam. Disso todos sabem.
- Exatamente. Até que é uma criança percebeu.
- Tem vezes que eles dão muito na cara. – rimos.
- Mas insistem em esconder o que realmente sentem.
- As pessoas são craques em mentir ou esconder, ainda mais quando o assunto são os sentimentos.
- Mas, mesmo assim, muitas acabam demonstrando o que sentem.
- Conheci muitas pessoas assim, e ainda conheço. Sente muitas coisas, tentam fingir que não, mas eu acabo percebendo. – ele sorriu sapeca para mim, e eu soube que essa pessoa era eu, pois minha irmã vivia dizendo aquilo de mim.
- Às vezes ela tenta controlar, mas...
- Não podemos controlar tudo, . – me cortou, chegando mais perto com o seu rosto. Nossas bocas estavam centímetros perto, meu coração palpitava rapidamente, e questões como "se eu beijar , um dos meus sonhos se tornará real. Katherine não precisará ficar sabendo, pois o que os olhos não veem o coração não sente." Eu estava começando a ficar fora de mim.
O desejo de quebrar aquela distância e beijá-lo, de finalmente sentir seus lábios nos meus, era enorme. Mas eu não podia me deixar levar pelo desejo.
Se Katherine soubesse, ela ficaria machucada, e não desejo isso a ninguém, por mais que uma pessoa seja ruim, não merece ter um coração partido, dói demais.
E depois que aquele beijo acontecesse, seria para os braços de Katherine que ele iria, e eu é quem sairia machucada depois.
Fechei meus olhos e com uma grande luta interna entre o "querer" e o "não poder", eu me afastei de . Coloquei a cabeça no lugar e disse:
- Está tarde, preciso voltar para o quarto. – sussurrei e ele pareceu frustrado.
Sai da área da piscina antes mesmo que desse qualquer resposta, e sem sequer olhar para trás uma única vez. Para que uma loucura não fosse cometida e para que ninguém saísse machucado.

***

No dia seguinte, assim que eu acordei, fiz o que eu tinha que fazer e troquei minha roupa do pijama, por uma short jeans e uma blusa regata.
Escutei batidas na porta do meu quarto e achei que poderia ser algo bem importante, corri para a porta, mas a surpresa me pegou quando vi Katherine com um sorriso no rosto, parada em frente à minha porta.
- Katherine? O que faz aqui? Digo, o que você precisa? – que você fique longe do meu homem, sua vagabunda. Tratei de responder por ela mentalmente.
- Não sei bem se você irá topar, mas não saberei se não perguntar. Então, eu vim aqui te convidar para almoçarmos. Só nós duas, para que possamos conversar melhor.
Pensei por um momento se aquilo seria uma boa ideia, mas nada me impedindo apareceu em mente. - Tá, tudo bem. Eu só vou pegar minha bolsa.
- Perfeito.
Peguei minha bolsa e saímos do hotel.
Katherine escolheu um restaurante mais ao centro da cidade, e nos sentamos em uma das mesas do lado de fora do restaurante.
- Você toma vinho tinto, ? – ela me perguntou, olhando a carta de vinhos.
- Tomo sim. Na verdade, eu amo vinho tinto.
- Então temos algo em comum, porque eu também amo vinho.
- Claro. - sorri e peguei o cardápio dos pratos.
Assim que o pedido do vinho feito por Katherine chegou em nossa mesa, fizemos os pedidos das comidas, que decidimos por fim pegar o prato do dia, que segundo o garçom, era de lamber os beiços.
- Então, , por quanto tempo você e foram casados? – eu sentia que o interrogatório havia começado, e eu precisaria muito ser ágil e ter a mente bem fértil para inventar uma história para suas perguntas.
Tomei um gole do vinho enquanto pensava um pouco mais sobre o que responder.
- Eu e ficamos casados por quase quatro anos.
- Quantos anos tinha quando vocês se separaram? – Katherine parecia bastante curiosa.
- Ela tinha quase três anos.
- Estranho, falou que ela tinha por volta de quatro anos.
- Não. – soltei uma risada nasalada. Isso que acontece quando não se combina direito as mentirinhas a serem contadas e confirmadas. – sempre foi ruim com datas. Exceto nossos aniversários de casamento, e o aniversário de .
- Ele sempre lembrou?
- Quando ainda éramos casados, sim.
- E ele sempre fazia surpresas para você? – Katherine sorria.
- Sim, ele fazia e sempre era algo diferente dos anos anteriores. Mas nosso aniversário de um ano de casados, foi ainda mais especial, só não muito original. – rimos.
- E que surpresa ele fez a você?
- deixou a casa toda à luz de velas, principalmente o nosso quarto, onde ele espalhou pelo chão e na cama pétalas de rosas. Foi como se tivéssemos voltado à nossa lua de mel.
- Nossa, que romântico.
- É. Quando quer ser bem romântico e inesquecível, ele faz o serviço direitinho.
- Mas, como você e se conheceram? – ela colocou os cotovelos na mesa e apoiou o queixo nas mãos.
- Toda manhã eu saía de casa e ia até um parque perto de casa. Eu me sentava debaixo de uma grande árvore e ali eu lia um livro. Segundo , ele ia sempre ao parque para correr, até que ele me viu ali pela primeira vez. E então depois ele ia lá só para me ver ali sentada debaixo da árvore e lendo um livro. Até que um dia fomos devidamente apresentados por amigos em comum. Viramos amigos, três meses depois começamos a namorar, e um ano e meio depois finalmente nos casamos.
- É uma história linda. – pena que uma parte dela é inventada, pensei mentalmente, respirei fundo discretamente. – O aniversário de está chegando, não é?
- Sim está. 6 aninhos, parece que foi ontem que ela estava dando os primeiros passinhos.
- Eles crescem tão rápido. Eu não faço ideia do que dar de presente a ela.
- Ursinhos de pelúcia, ela tem um monte, mas ela os ama e para ela quanto mais, melhor. Ela não gosta de bonecas, tem medo delas. Livros infantis ela também adora, e coisinhas que envolvam o balé.
- E quanto ao ?
- não gosta muito de usar terno, ele só usa quando realmente for necessário. Os que ele tem no armário é o que a mãe dele comprou a ele, e os que ela o forçou a comprar. Se for dar chocolate de presente a ele, dê dos brancos, se tiver recheio sabor café, melhor ainda, porque ele ama. Muitas vezes quando compro confete ele os separa por cor, e os azuis são dele, estranho, eu sei, mas essa mania o acompanha desde pequeno. De quarta ele faz o jantar para os pais dele, mesmo que ele não jante lá com eles, ele faz isso desde que aprendeu a cozinhar com a mãe dele, e isso faz bem a ele. Os sábados de manhã são de e , os dois ficam no quarto dela assistindo desenhos e brincando, é o dia que ele tira para ficar mais tempo com a filha. Não que no restante ele não fique, mas é que de semana é mais corrido para os dois.
O que era para ter explicado somente o que ele gostaria de ganhar de aniversário, acabei estendendo além e contando coisas que ele faz e Katherine escutava tudo atentamente.
- Você conhece bastante o .
- Quase cinco anos de casados, aprendemos bastante coisas um sobre o outro.
- Certo, entendo. – sorri pequeno a ela e tomei mais um gole do vinho.- . Você acha que o , ficaria feliz em ter outro filho?
Na hora, meu coração parou, depois subiu para a garganta. Não sei como não me engasguei com o vinho, ou até mesmo tombei para trás ou para os lados.
- Por quê? Você está... Grávida? – perguntei devagar para não gaguejar.
- Não. – ela se apressou em dizer, me dando um grande alívio e voltando a respirar. - Até porque se eu estivesse, eu não estaria tomando vinho.
É, parando para pensar nisso, de fato.
- Eu só estou perguntando por curiosidade.
- Ok. Bom, acho que sim, ainda mais se for um menino. Para que ele possa ensiná-lo a jogar bola, a jogar golfe, assistir aos jogos nos domingos à tarde. Coisas que meninos fazem.
- Eu imagino. Se ele é todo babão com a , imagina tendo um menino.
- Aposto que ele ensinará desde cedo o menino a paquerar as gatinhas.
- Isso ele não fez com , né?! – rimos.
- Não. Pelo contrário, quando tinha apenas uns meses, ele dizia a ela que ele não permitiria que nenhum garoto chegasse perto dela antes que ela fizesse 40 anos. E ela só balançava os bracinhos e as perninhas, o olhando atentamente enquanto tentava entender o que ele dizia. – falei, olhando para a rua com um sorriso bobo no rosto, sem perceber.
- é um ótimo pai.
- Ele é sim.
Assim que voltamos do nosso almoço, Katherine foi até seu quarto se encontrar com . Eu fui dar uma volta até o jardim do hotel, que ainda não tinha conhecido, e me falaram que ali era muito lindo. E, de fato, era maravilhoso o jardim. Havia deques com sofás de tamanho médio e muito confortáveis. Muitas plantas e flores ao redor. E mais ao centro do jardim, um gazebo redondo todo de vidro e uma hidromassagem, que te chamava para entrar ali e ficar o resto da sua vida.
Em seguida, encontrei April, Tom e na área da piscina coberta.
Ficamos ali até quase a hora do jantar.

***

- Eu vou acabar ganhando uns quilos bem a mais com essa viagem. É cada comida que não tem como comer apenas com a boca, mas também com os olhos. - Katherine disse, rindo em seguida, assim que nos sentamos à mesa do restaurante.
- Deus me livre desses quilinhos a mais.
- Qual o problema, April?
- Ela acha que está gorda demais. – respondi, rindo de April.
- Imagina, April, você está ótima. Quando me disse que é a irmã mais velha de , eu nem acreditei. Você está super bem.
- Eu também não acreditei, Katherine, porque olha, bendita seja essa família. - Tom olhou fixamente para April, depois disfarçou, olhando para mim e depositando um selinho demorado em meus lábios.
- Sei o que quer dizer. Mas eu fui uma irmã legal e deixei herdar toda a beleza.
- Não liguem para ela, April sempre foi dramática. Toda nossa família é. Mas no colegial, April era paquerada por praticamente todos os caras.
- Claro. Pelos mais novos e baixinhos. - minha irmã resmungou e todos rimos.
O jantar, assim como todos os outros jantares que tivemos na viagem, foi agradável, todos conversávamos sobre coisas sérias e banais, riamos das idiotices de quando éramos pequenos e depois de adultos também.
Quando estávamos voltando para nossos respectivos quartos, minha querida irmã e meu namorado de fachada tiveram a brilhante ideia de nos reunirmos no quarto de e ficarmos jogando conversa fora, bebendo e quem sabe até jogar algum jogo.
Eu tentei fugir, alegando estar com dor de cabeça, mas todos insistiram que eu fosse, principalmente .
- Eu até vou, mocinha, mas você irá para cama assim que chegarmos no quarto. Está tarde e seu tempo de ficar acordada acabou.
- , dá um desconto para menina, ela está de férias.
- Sim, e eu entendo isso, mas desde quando ela era bem novinha estou mantendo seu relógio biológico em ordem. E quero que continue assim pelo bem dela no futuro. - expliquei à minha irmã enquanto todos entravam no elevador, que tinha acabado de chegar no térreo.
- E mesmo assim é difícil fazê-la ir para a cama cedo. - disse.
- Filho dá trabalho, hein.
- Espera só até você ter os seus maninha.
- Não, obrigada, já tenho minha sobrinha que mimo e aperto quando quero.
- Nem vem, eu quero sobrinhos e sobrinhas. - reclamei com April. – Eu tenho esse direito.
- Acho que você vai ficar só querendo mesmo, maninha.
Chegamos ao quarto de e Katherine, e todos foram se acomodando nos sofás e poltrona. - , vamos escovar os dentes, colocar o pijama e dormir.
- Agora não, papai, por favor. - correu até mim na poltrona e sentou em meu colo, como se eu fosse protegê-la de ter que ir dormir.
- Filha, obedeça seu pai. – falei, a colocando de lado em meu colo.
- Não estou com sono agora, mamãe.
- Mas você tem que ir dormir, meu amor. Para que amanhã você acorde mais disposta para aproveitar o dia. - abaixou a cabeça, meio tristinha.
- Você me coloca para dormir?
- Claro, minha pequena. - ajeitei ela em meu colo, me levantando da poltrona. – Eita, como você tá pesada, filha.
Rimos e ela deu uma chacoalhada nas pernas que estavam ao redor de minha cintura.
- Vem também, papai. - chamou.
- Estou indo.
- Com qual pijama você quer dormir hoje? - perguntei a enquanto passava o vestido por sua cabeça, o retirando.
- O pijama de ursinhos.
- A senhorita quem manda. - respondeu, indo até o armário e pegando o pijama.
Ajudei a colocar o pijama, em seguida ela escovou os dentes e logo estava deitada na cama, coberta. Nós três fizemos a oração juntos e em seguida ela já estava pronta para ouvir uma história e pegar no sono em seguida.
- Era uma vez, uma linda menina chamada . Seus pais a amavam com todas as suas forças e faziam o que fosse preciso para protegê-la. Mas ela era uma moça corajosa e desejava explorar mais o mundo lá fora... - parei de contar a história logo no início, pois já dormia. Me inclinei um pouco sobre ela e depositei um beijo em sua testa. fez o mesmo e saímos do quarto, encostando a porta.
- Bela historinha. - deu uma debochada.
- Dá um desconto, vai?! Minha mente não é tão fértil para criar historinhas assim, do nada. - rimos.
Assim que chegamos na sala, vimos que na mesinha de centro havia garrafas de cerveja, vodca, uma jarra com suco de laranja, limão e sal.
- O que é tudo isso?
- Bebidas, sal e limão, talvez?
- Minha filha está logo ali no quarto, dormindo, sabiam?!
- Falou bem, , ela está dormindo, não verá e não saberá de nada. Não vamos dar uma festa, vamos apenas nos divertir um pouco.
- Tenho alguma escolha?
- Não.
- Tudo bem, o que você tem em mente?
- Vocês já jogaram "eu nunca"? - April perguntou, se sentando no chão em frente da mesinha de centro.
- Sim, quando eu era adolescente. - Tom respondeu, também se sentando no chão.
- Pois é, esse jogo é para adolescentes. Coisa que não somos mais. – falei, me sentando no chão ao lado de Tom, que aproveitou e passou seu braço por minha cintura.
- Mas é sempre bom nos sentirmos adolescentes novamente. Sei que esse período para muitos foi bom, então que mal tem em revivê-lo hoje? Vamos lá, gente, vai ser divertido! - e Katherine se sentaram no chão. Todos estavam ao redor da mesinha de centro.
April colocou um copinho pequeno em frente de cada um de nós, e os encheu com vodca.
- Para reforçar a memória de vocês, a brincadeira é o seguinte: a pessoa diz o que nunca fez na vida, e quem já o fez, toma a vodca dos copinhos. Entendido?
- Sim. - respondemos em uníssono.
- Ótimo, eu começo. - minha irmã esfregou as mãos, empolgada, e eu já soube que as perguntas iriam nos entregar. - Eu nunca fugi de casa.
Ela me olhou, rindo, e eu e Tom tomamos a vodca.
- Você já fugiu de casa, ? - parecia bastante surpreso.
- Sim! Uma vez, quando eu era pequena. Minha mãe brigou comigo por causa da April, ela tinha aprontado e depois colocou a culpa em mim. Eu fiquei com raiva, coloquei umas roupas na minha mochila rosa favorita e sai de casa. Voltei dois minutos depois. - April gargalhava de mim.
- Por que você nunca contou isso para mim?
- Porque não é algo que eu me orgulhe muito, . Fugir de casa aos 6 anos de idade.
- Tudo bem. , sua vez.
- Certo. Eu nunca usei drogas.
, Katherine, April e Tom tomaram a vodca.
- e Tom não me espantam. April, deixe mamãe ficar sabendo disso. - ela deu de ombros. - Mas você, Katherine...
- É, um ex-namorado meu fumava, um dia ele me ofereceu e aceitei, mas foi para nunca mais. - rimos.
- Tom, sua vez.
- Eu nunca transei com uma professora minha.
tomou a vodca.
- . - Katherine o repreendeu.
- Minha época de faculdade foi agitada.
- saiu pegando todo mundo da faculdade.
- Isso não é verdade, Tom. - se pudesse matava o amigo com o olhar.
- Ok, , sua vez.
- Eu nunca dei em cima da irmã da minha namorada.
Tom bebeu a vodca.
- Tom. - o repreendi, batendo de leve em seu peito.
- Relaxa, , você não foi a única com quem ele fez isso. - disse, rindo.
- Eu só não te mato agora, Tom, porque tem testemunhas. – tentei falar sério, mas estava bem na cara que eu estava mais para brincadeira.
- Vai em frente, maninha, não vou te dedurar para a polícia. Para todos os efeitos, foi um acidente. - Você é realmente uma boa pessoa, cunhada. - Tom disse, irônico.
- Ok, Katherine, é sua vez.
- Eu nunca me apaixonei por nenhum de meus chefes. Como muitas de minhas amigas. - não, só podia ser brincadeira.
April segurou a gargalhada, olhei para todos na rodinha e era como se soubessem que eu era apaixonada por . E pelo olhar de cada um, parecia que eles esperavam que eu tomasse a vodca do copinho e o da garrafa, porque o negócio parecia grave. Bom, pelo menos os únicos que sabiam eram April e Tom, acho.
Respirei fundo e tomei a vodca do copinho, quando olhei disfarçadamente para , ele me olhava, sorrindo pequeno.
- Certo, April, sua vez. - Tom me salvou.
- Eu nunca fiz sexo a três.
e Tom beberam a vodca.
- . - ele novamente foi repreendido por Katherine.
- Que foi? Eu estava em uma festa da faculdade, estava bebendo demais e duas mulheres me queriam. As duas se queriam, eu queria as duas e resolvemos o problema.
- É, matamos dois coelhos com uma cajadada só.
- , sua vez.
- Eu nunca menti sobre coisas sérias para o meu namorado. - fiquei olhando diretamente para .
Tom, April e tomaram a vodca.
- , sua vez.
- Eu nunca acusei os outros de mentir, quando eu também menti. - como ele sabia da Cléo... April.
Como já estávamos quase ficando alterados ali, mesmo com pouca bebida, o negócio pareceu ficar mais crítico, então levei aquele “eu nunca” de a sério demais. Resolvi entrar na onda e esculachar também. Só me lembrem depois de nunca mais beber nem um pouquinho que fosse, para que mais fiascos como esses a seguir, não se repetissem.
- Eu nunca brinquei com os sentimentos dos outros. – ninguém tomou vodca nenhuma, pois perceberam que não se tratava mais da brincadeira, e sim de uma pequena lavação de roupa suja.
- Eu nunca brinquei com os sentimentos dos outros, sempre demonstrei amar, mas nada aconteceu.
- Eu nunca escondi de ninguém que eu amava.
- Eu nunca escondi meus sentimentos por medo. - será mesmo que não, ? Eu iria levar aquilo adiante, mas resolvi simplesmente ficar quieta, ou melhor, escolhi respirar fundo e me levantar do chão.
- Para mim, o jogo acabou. Vou para o meu quarto dormir.
- Vou com você, amor.
- Não, pode ficar, Tom, se divirta. Eu estou com um pouco de dor de cabeça, nada que uma boa noite de sono não resolva.
Dei um beijo em Tom, um no topo da cabeça de April, e me retirei do quarto.

Capítulo 13

No dia seguinte, acordei, escovei os dentes e voltei para a cama e fiquei assistindo televisão. Acordei naquela manhã com uma vontade imensa de só ficar no quarto, na cama e não ver a cara de ninguém. Era nossa penúltima noite na Disney e depois iríamos direto para as Bahamas, mas a minha vontade mesmo era de voltar para Nova Iorque.
Uns minutos depois que eu estava esparramada na cama, uma angústia enorme apertou meu coração, uma sensação de que algo iria acontecer, e esse algo, seria ruim. Eu só esperava que aquilo fosse algo da minha cabeça, um drama pela época do mês em que todos os meus sentimentos ficavam mais intensos e parecia que tudo de ruim iria acontecer.
Mesmo o som da televisão estando um pouco alto, escutei um barulho vindo da porta principal e deduzi que poderia ser Tom, pois quando acordei, ele não estava em lugar algum do apartamento. Continuei esparramada na cama, a porta abriu e se fechou, uns minutos se passaram e ninguém apareceu na porta do quarto onde eu estava. Comecei a achar que poderia ser alguém roubando o quarto. Me levantei da cama e peguei um taco de beisebol que Tom havia comprado (não sei para quê), e fui para a sala. Vi de relance uma pessoa em pé, fui me aproximando bem devagar dela, fechei os olhos e taquei o taco de beisebol na cabeça do sujeito.
- Aí, , sua louca o que pensa que está fazendo? Doeu. - abri os olhos e vi April com cara de dor e esfregando a mão na cabeça, onde eu havia acertado com o taco.
- April? O que faz aqui?
- Vim te ver sua maluca, mas vi esses papéis desorganizados e vim arrumar, até você bater na minha cabeça com um taco de beisebol.
- Desculpa, achei que fosse um ladrão. - ela me olhou com cara de interrogação, para então revirar os olhos.
- A culpa é sua, April! – falei, praticamente jogando a bolsa de gelo na cabeça de minha irmã.
- Minha culpa? Você quase me mata e a culpa é minha?
- Sim, você entra no meu quarto, em silêncio, o que você queria que eu fizesse?
- Preste mais atenção ao seu redor. Prestar mais atenção no que você está fazendo. Até porque, né, um ladrão iria mesmo parar para organizar papéis na mesinha de centro.
- Ok, April, já te pedi desculpas.
- Tá perdoada... Mas só dessa vez.
- E isso não é algo que precisa ser dito para mamãe e papai, certo?
- Certo. Apesar que eu deveria sim contar, eles quase perderam uma filha, por causa da outra filha.
- Nada aconteceu, April. Para eles, as duas estão erradas, uma porque assustou e a outra porque não prestou atenção no que fazia.
- Eu sei bem como eles são, . - bufou e fez uma careta de dor. - Mas mudando de assunto, o que foi aquilo ontem?
- Cinco adultos brincando de "eu nunca". - Eu quis dizer da pequena "discussão" entre você e .
- Ele que começou, e eu estava estressada.
- Katherine ficou bem confusa, acho que ela meio que percebeu que as coisas entre vocês dois não foram devidamente resolvidas, e nem que foi por definitivo o divórcio. Ou seja, ela percebeu que vocês dois ainda se gostam.
- Não sei o porquê dela achar isso, nem motivos para isso demos a ela.
- A pequena discussão foi o suficiente.
- Chega desse assunto, April.
Me deitei na cama ao lado de April e ela ficou me observando por um tempo, até que falou: - Ok, o que está havendo, ?
- Do que você está falando? - me fiz de desentendida.
- Você está nervosa.
- Não, não estou não.
- Você tá chacoalhando o dedo indicador sem parar, sem contar que está mordendo a bochecha por dentro. – disse, cutucando minha bochecha. - Eu te conheço muito bem, irmãzinha.
- É que eu estou com um pressentimento ruim.
- Credo, . Mas com quem?
- Não sei, só estou sentindo.
- Bom eu estou aqui com você. está com Tom jogando golfe e está com Katherine fazendo compras no shopping. Acho que todos estão seguros, ninguém está sozinho.
- Você tem razão. Deve ser a época do mês em que estou, tudo fica muito intenso.
- Só relaxa. Quantas vezes tenho que dizer isso a você?
- Desculpa, eu estou tentando.

Os créditos do filme de comédia romântica que eu e April assistimos deslizava pela tela da televisão quando meu celular começou a tocar, me estiquei e o peguei na mesinha ao lado da cama.
- ?
- . - sua respiração estava ofegante e ele parecia muito nervoso. Na hora, entrei em estado de alerta.
- Matthew, o que aconteceu?
- , eu preciso que você fique calma para o que eu vou te falar.
- Você está me assustando, . - me sentei na cama e April fez o mesmo, atenta às minhas feições.
- , é a ...
- O que tem ela? Ela está bem, não está?
- Eu espero muito que sim. Ela estava com Katherine no shopping, Katherine me ligou dizendo que-
- O que ela disse? - eu estava entrando em desespero, pensando o pior.
- Dizendo que a nossa pequena se perdeu no shopping. - o telefone escorregou de minha mão, eu não pensava em mais nada a não ser em , que poderia ter sido pega por alguma pessoa má, e sabe se lá Deus o que essa pessoa poderia fazer a minha menina.
Quem terminou a conversa com foi April, que assim que desligou o telefone, se sentou à minha frente na cama e secou uma lágrima que descia por minha bochecha.
- Ela vai ficar bem, minha irmã.
- Como você pode ter certeza, April? Ela pode ter sido pega e-
- E não vamos ficar com pensamentos negativos agora. A polícia foi acionada, assim como os seguranças do shopping, e funcionários de cada loja dali. Todos estão à procura dela, e logo ela estará entre a gente.
- Como Katherine pode ter sido tão irresponsável?
- , não acuse sem antes saber o que realmente aconteceu.
- Se ela tivesse ficado de olho nela o tempo todo, não teria se perdido. - elevei um pouco minha voz.
- Você sabe, , que criança se distrai facilmente.
- Eu só quero a de volta.
- Ela irá aparecer logo, logo. Ela não aguenta ficar tanto tempo longe de vocês. - acabei soltando um sorriso. - Agora vamos, , eles estão nos esperando no shopping, na área em que ficam os seguranças e câmeras de segurança.
Me arrumei rapidamente e descemos até o térreo para pegar o táxi.
Rapidamente chegamos ao shopping, ou eu que estava tão distraída pensando em e a corrida pareceu não ter levado nem cinco minutos, sendo que levou quase vinte minutos por causa do trânsito.
Assim que entramos na área dos seguranças, avistei de cabeça baixa, perto de um policial e de Tom. Assim que me viu, ele deu uns passos em minha direção, assim que entendi o recado, apertei os passos e então nos abraçamos.
Ficamos ali quase dez minutos. Um confortando o outro dentro daquele abraço. depositou um beijo no topo da minha cabeça, me abraçando um pouco mais apertado.
- Quero minha menininha de volta, ... Estou com tanto medo. - sussurrei a ele.
- Eles vão achar ela, , ela está bem. Logo nossa princesa estará em nossos braços novamente. Fica calma, vai dar tudo certo. - beijou novamente o topo de minha cabeça, sabia o quão desesperada eu estava pelo sumiço de , eu podia ser apenas a babá, mas eu me importava demais com aquela garotinha. Aquilo não era encenação por Katherine estar por perto.
Deus, somente e eu sabíamos o tamanho de nosso desespero, o medo de perder era avassalador.
Uns minutos depois, o policial responsável chamou para conversar em um canto, tivemos que sair do abraço e só então eu percebi que Katherine estava sentada ali perto. Assim que ela viu que eu a olhava, ela abaixou um pouco a cabeça, comprimiu os lábios e ficou brincando com seus dedos.
- Me desculpa, ... Eu só queria ter uma tarde divertida com . - seus olhos se encheram d'água e por um momento acreditei nela.
- Eu só quero entender o que aconteceu. Como ela se perdeu, Katherine? - cruzei os braços, me segurando para não elevar ainda mais a voz e acabar fazendo besteira depois. Vendo que eu conversava com Katherine, minha irmã parou ao meu lado, atenta a tudo e qualquer movimento descontrolado.
- e eu estávamos em uma loja de roupas infantis, parei em uma arara e comecei a procurar uma roupinha legal para ela, a todo momento estava ao meu lado. Fiquei conversando com ela o tempo todo, até que não a vi mais ao meu lado. Procurei pela loja toda e não a achei. Procurei os seguranças e em seguida liguei para . - assim que Katherine terminou de explicar o ocorrido, suspirei e alisei meus braços.

***


Meia hora havia se passado. Ao todo, acho que quase uma hora e meia ou duas horas desde que se perdeu, e nenhuma notícia sobre minha pequena. Eu estava ficando ainda mais nervosa e impaciente, parecia que os policiais e seguranças não estavam se importando tanto em procurar minha garotinha, minha vontade era de procurar por mim mesma. Mas quase que o tempo todo minha irmã, Tom e conversavam comigo e pediam para que eu ficasse calma. Como eu ficaria calma? estava perdida por aí, ela poderia estar com medo, muito medo, assim como eu estava de nunca mais poder vê-la.
Os minutos só se passavam e ninguém chegava com minha pequena em segurança, eu tinha ainda mais medo dos policiais acabarem desistindo de procurá-la, mas se isso ocorresse, aí eu mesma iria à procura dela, e só pararia quando a tivesse em meus braços.
O medo e a angústia passaram assim que vi minha pequena correndo até mim quando a encontraram e a levaram para nós, a peguei em meus braços e abracei apertado enquanto ela chorava baixinho em meu ombro.
- Pronto, meu amor, estou aqui com você agora. Não deixarei que nada aconteça com você, meu anjinho. - ela apertava de leve seus bracinhos ao redor do meu pescoço e eu fazia carinho em seu cabelo. Naquele momento, ignorei tudo e todos ao meu redor, o que importava era que minha pequena tinha voltado, deixei as lágrimas de alívio escorrerem por minhas bochechas livremente, uma atrás da outra.
- Eu estava com medo. - a pequena confessou, chorando ainda mais em meu ombro.
- Não precisa mais ficar, princesa, estou aqui com você agora. – falei, olhando em seus lindos olhinhos verdes inundados pelas lágrimas.
- Você está bem, minha princesa? - se aproximou mais de nós duas.
- Estou, papai, agora estou. - foi para o colo do pai, mas continuei fazendo carinho em seus cabelos e costas.
- Como você se perdeu de Katherine, meu amor? - se acalmou, mas soluçava um pouco e passou a nos olhar.
- Eu estava... Conversando com a moça. Tia Katherine. Falou. Que ela é legal. Quando voltei perto da tia Katherine. Ela não estava mais lá. - ela fazia pausas por conta dos soluços.
- Para onde você foi, ? - perguntou.
- A moça comprou sorvete para mim. Tia Katherine falou que eu podia ir.
- Que moça era essa filha?
- Uma moça loira. - e eu nos olhamos, confusos. - Seu nome era-
- Me desculpa, , eu não queria que você se perdesse. - Katherine se apressou em dizer, se levantando da cadeira onde estava sentada.
- , qual era o nome da moça? - parecia aflito e nem ligando para as desculpas da namorada.
- Acho que era... Bianca, papai. - pareceu voltar a respirar, o que me deixou ainda mais confusa.
- O que já falamos sobre conversar com estranhos, ? - dei uma bronca, mas ainda mantive meu tom de voz suave.
- Desculpa. Não vai acontecer de novo.
- Que bom, meu anjo, não consigo nem pensar em ficar sem você.
Naquele momento de distração e de estarmos somente focados em , que finalmente estava com a gente novamente, não parei para analisar o ocorrido contado pelas duas. A história de Katherine e não batia, e eu acreditava mais em do que em Katherine, pois jamais havia mentido para nós.
Depois que o baita susto passou e estava segura com a gente novamente, retornamos para o hotel. Eu, e fomos em um táxi. Katherine, April e Tom foram em outro carro de táxi.
Assim que chegamos no hotel, nem esperamos os outros chegarem e já entramos no elevador. estava no colo do pai e tinha a cabeça repousada em seu ombro, mas se mantinha acordada.
Naquele momento, eu estava muito chateada com Katherine por ela ter confiado em uma estranha para comprar sorvete para , e ainda por cima não ter ido junto, pelo que a pequena havia nos contado. Eu não tinha engolido bem aquela história, tinha algo errado naquilo tudo, eu sentia e iria descobrir.
- Vai para seu quarto? - perguntou.
- Não, eu vou com para o quarto de April.
- pode novamente dormir comigo.
- Acho melhor não, .
- Entendi. Você não quer perto de Katherine por enquanto.
- Mais ou menos isso. Posso não ter direitos legais sobre ela, por ser apenas a babá e não mãe biológica, mas me importo e me preocupo como se fosse minha filha de sangue. - não falei nada mais que a verdade.
- Eu compreendo, . - eu sabia que ambos pensávamos a mesma coisa. Finalmente o elevador chegou no andar do quarto de April. Saímos do mesmo e eu abri a porta para que entrasse.
- Dorme aqui com a gente, papai. - pediu, manhosa.
- Eu gostaria muito, filha, mas somente se a não se importar. - ele então desviou seus olhos para mim, e claramente não iria negar aquilo.
Havia sido um dia tão longo, seria ótimo ser nós três por pelo menos aquele dia, como antigamente em Nova Iorque.
- Claro. Será ótimo ter sua companhia.
- Bom, e se vocês não se importam eu vou para o quarto da . Durmo por lá para deixar vocês dois mais à vontade. - April disse na porta de seu quarto, pronta para sair.
- April antes que você vá, seria inconveniente se eu te pedisse que fosse até meu quarto e conversasse com Katherine por mim? Deixei ela mais ou menos avisada do que poderia acontecer, mas poderia reforçar que eu não posso deixar minha filha sem mim, ainda mais essa noite?
- Sem problemas, , eu vou lá sim. - por mais que April não fosse com a cara de Katherine, foi uma enorme gentileza ela ter aceito fazer o favor.
Ele se importava com Katherine, mas era um momento muito delicado, depois de muito estresse, para que ele deixasse .
Com tudo resolvido, entramos, e nisso, pegou no colo.
- Vamos, pequena, vou te dar um banho para relaxar.
- Tudo bem, papai.
Ele olhou para mim e eu disse:
- Pode ir na frente, eu vou preparar um pijama para ela.
- Ok. - e assim ele entrou com ela no banheiro.
Respirei pesado, fui até as malas de April e achei umas roupas que seriam bons pijamas para .
Estranhei uma cantoria que vinha do banheiro e resolvi conferir, indo até ali. Parei na porta do banheiro, me encostando no batente da porta, e sorri com aquela cena.
tinha no colo, toda enrolada na toalha, eles se olhavam no espelho enquanto cantava uma música. cantava com ele enquanto ria e fazia caras e bocas.
O ar e os ânimos já estavam bem mais leves.
Quanto terminaram de cantar e rir, viu que eu os observava pelo espelho, seu olhar doce para mim com aquele sorriso lindo descompassou meu coração.
- Encontrou pijama?
- Consegui improvisar. - seguimos até o quarto, peguei de seu colo e a coloquei deitada na cama, a secando.
- Enquanto você arruma ela, vou pedir para que tragam três chocolates quentes e uns biscoitos. O que acham?
- Eu quero. – , animada com a ideia, respondeu.
- Ela já respondeu por mim. – sorrindo, saiu do quarto, indo até a pequena sala.
Terminei de arrumar e a deixei na cama bem segura enquanto assistia desenho na televisão. Fui para a sala de frente ao quarto e encontrei em pé, na janela, com o braço direito apoiado na parede.
Vi que dali dava para ficarmos de olho em e me aproximei mais dele, colocando minha mão em seu ombro e dizendo:
- Você está bem?
Ele demorou um tempo para responder, mas o fez assim que soltou o ar pesadamente.
- Estou. Agora estou.
- Foram momentos de muito desespero, mas vamos nos alegrar, agora ela está com a gente de novo e, mais importante ainda, está bem.
Ele virou um pouco sua cabeça em minha direção e segurou minha mão com a sua, que ainda estava em seu ombro.
- Eu tive tanto medo, .
- Eu também.
- Por mais que possa parecer maluquice, cogitei a possibilidade que Blair tivesse pego ela.
- E você acha que Katherine pode estar por trás disso? - não queria colocar caraminholas em sua cabeça, mas era um bom momento para que ele desabafasse seus medos e teorias.
- Eu não sei, mas as histórias de e Katherine não batem. E nunca mentiu para nós.
Nesse momento, ele se virou completamente para mim.
- Entendo seus receios. Mas não pense tanto nisso agora. Só irá te fazer ainda mais mal. Aproveite essa noite para se conectar mais ainda com e mostrar a ela que independente do que aconteça, você sempre estará lá para ela.
- Você tem razão. – rindo, ele me puxou devagar até ele e me abraçou apertado. - Obrigado.
- E eu também sempre estarei aqui para vocês. – sorri, erguendo meu rosto até o seu.
- Obrigado, de coração, , por tudo. Você foi a melhor coisa que aconteceu em nossas vidas.
Se eu não me segurasse, eu iria acabar chorando, mas me segurei. E, enquanto isso, continuamos nos olhando. De vez em quando, meus olhos deslizavam de seus olhos até sua boca. E, céus, aquele era o momento perfeito para aquilo acontecer, estávamos ali, juntinhos em um abraço, perigosamente próximos.
Meu coração parou por uns segundos quando vi aproximar mais seu rosto do meu. Naquele momento não existia mais nada além de nós dois ali, poderíamos até termos negligenciado a presença de e o que ela passou mais cedo, mas sabíamos que ela estava segura ali conosco.
E aquele momento antes de um possível beijo que eu ansiava há quase 6 anos, estava prestes a acontecer. A esperança que nada poderia fazer com que aquele momento fosse cortado era enorme.
Mas, como sempre dizem, "não comemore a vitória antes da hora", nunca se encaixou tão bem em minha vida como ali. O tão esperado beijo teve que ser adiado novamente, para um futuro no qual não tínhamos certeza quando seria, por batidas na porta.
Droga.
- Pode deixar que eu atendo. - sussurrou, contendo sua frustração. Depositou um beijo longo e terno em minha testa, para então se afastar.
Eu nunca quis socar tanto alguém como eu quis naquele momento, fosse quem fosse. Mas nunca agradeci tanto aquela pessoa.
Contraditório, eu sei, mas quando a lucidez retorna é que você percebe a grande talvez "burrada" que estaria prestes a acontecer.
Por mais que aquele quarto, por um momento, tivesse se tornado um outro mundo, só nosso, o outro mundo, o de lá de fora, a realidade, era completamente diferente. Havia acontecido algo que nos deixou muito assustados, o qual envolvia Katherine também. Porém, ela ainda continuava sendo namorada de , a qual ele devia fidelidade. E eu não podia, não me permitiria ser a responsável por romper sua fidelidade.
As coisas acontecem no momento exato em que devem acontecer. E quando pensamos que vem para o mal, na verdade, vem para nosso bem.
Intrigada em saber quem seria, e sabendo que não era o serviço de quarto, me aproximei da porta. quando atendeu, a encostou um pouco.
- , eu já pedi desculpa. Entendo que queira ficar com essa noite, mas e eu? - Katherine.
- Katherine, eu entendo que não fez aquilo de propósito. E eu ainda me importo com você, estamos aqui. Mas minha filha precisa de mim nessa noite.
- Mas ela está com a mãe dela. Não é justo.
- Para você pode parecer que não, pode até parecer uma bobagem, mas é só uma criança, e nesses momentos que você julga ser bobagem, é quando irá aprender que sempre estarei com ela, independente do que seja. Que ela pode contar comigo.
- Mas está aí também.
- Não é o momento de colocar ciúmes nisso, Katherine. Por favor. Volte para o quarto para descansar, e amanhã cedo eu vou até lá e conversamos melhor sobre isso.
E então fui até o quarto, encontrando na cama, dessa vez, sentada na cama, absorta no desenho animado, e então me sentei ao seu lado.
Uns cinco minutos depois, enfim apareceu na porta do quarto, dessa vez com a bandeja com os chocolates quentes e os biscoitos, e quando viu, levantou às pressas da cama.
E ali ficamos os três, deitados na cama, comendo e assistindo desenho com uma criança que agora estava bem mais calma e não se lembrava do ocorrido assustador de antes.
Um momento lindo que sempre levaria comigo.
Na metade do filme infantil, percebi que já dormia, deitada entre e eu na cama. Delicadamente acariciei os cabelos loiros de e quando percebeu, começou a observá-la também.
- Não entendo como uma mãe é capaz de abandonar um filho. – sussurrei, pensando alto, atraindo a atenção de , que nada disse. – Desculpa, disse para esquecer isso e aqui estou eu, comentando.
- Está tudo bem. Eu também não consigo entender isso. – sorriu, acolhedor, para mim.
- Sei que ela estava com depressão pós-parto e que isso é sério. Mas ela tinha você, que poderia ajudá-la a se curar.
- Sim, eu poderia, mas ela não quis ajuda.
- Eu te admiro, , que mesmo com tudo o que você enfrentou, não desistiu de sua filha. E ainda a educou direitinho. Faz até parecer fácil. – sorri, divertida, para ele, que assim retribuiu.
- Eu fiz o meu melhor. E depois que ela fez um aninho, eu tive você para me ajudar. - me olhou de forma intensa mais uma vez. Ainda bem que tinha entre nós, nos mantendo bem afastados daquela vez.
- Mas, mesmo assim, sempre deixei a educação dela em seu critério. Jamais interferiria nisso.
- Mas você já fez muita coisa por nós, . Temos muito a agradecer.
- Faria tudo de novo, se preciso fosse. – sussurrei, com o coração palpitando, recebendo seu sorriso encantador em troca.

***


Na manhã seguinte, acordei assustada, olhei ao meu lado na cama e continuava dormindo tranquilamente.
Quando me acalmei levantei da cama e fui à procura de , ele não estava em canto nenhum do apartamento. Só então lembrei que noite passada ele havia dito para Katherine que na manhã seguinte iria até o quarto deles.
Fui até o banheiro, escovei os dentes e passei uma água no rosto. A água gelada me ajudou a despertar e a abandonar as lembranças de e eu abraçados, e então o quase beijo.
Era nosso último dia na Flórida e eu já sentia muitas saudades daquele lugar maravilhoso.
Antes que eu pudesse acordar , ouvi batidas na porta, fui atender e era April.
- Como você está? – perguntou, entrando.
- Estou bem. O pior já passou.
- Fico feliz em saber. – disse, me dando um abraço. - E como foi passar a noite com o tão perto?
- Foi um pouco estranho, mas ocorreu tudo bem.
- Nada fora do comum ou esperado? – sorriu, sacana, para mim.
- Não, nada fora do comum.
- Entendo.
- E a Katherine, como estava quando você foi lá ver ela?
- Ela parecia bem chocada ainda com o que tinha acontecido. Ela até falava ao telefone, parecia bem brava.
- E com quem ela falava?
- Não sei, não consegui ouvir direito. Mas, então, mesmo assim, é melhor não colocarmos a culpa em ninguém. Principalmente você que é super protetora.
- Eu sei. - abaixei a cabeça e olhei para o chão por uns segundos. - Só é meio difícil para mim. Convivo seis anos com a , é compreensível eu ficar na defensiva por ela.
- Sim, e te entendo. Mas precisa recobrar a consciência que ela é filha somente do . Uma noite ela ficar aqui com vocês, tudo bem, porque até então você ainda é a "mãe" dela. Mas mais que isso não será bom.
- Sei que não posso impedir de chegar perto dela.
- E muito menos você virar a cara e culpar demais a Katherine. Ainda não sabemos o que realmente aconteceu. Mesmo sabendo que não mente.
- Eu entendo. Tem toda razão.
- Tia ?!
- , oi. - fomos interrompidas por uma sonolenta.
- Cadê o papai?
- Deve estar com Katherine, conversando, princesa.
- Tudo bem. Eu estou com fome.
- Que tal irmos a uma cafeteria próxima e tomarmos café? - April propôs e eu e concordamos. - Então vá escovar os dentes, , e se trocar.
já estava bastante recuperada do susto da noite anterior e isso me deixava bastante aliviada.

- Eu queria que papai estivesse aqui com a gente. - reclamou, fazendo um biquinho, mas não parecia triste.
- Leve isso como uma aventura, . Não é toda vez que seu pai poderá estar presente no café da manhã. - minha irmã falou, se acomodando na cadeira da mesa que havíamos escolhido.
- Ela já está bem acostumada a todas as manhãs tomar café com o . - expliquei a April.
- De vez em quando, faz bem quebrar a rotina, ou os costumes. - April piscou para .
- Acho que já fiz isso. Eu não costumo me perder todo dia. - rimos do comentário de , que não pareceu se afetar com aquilo.
Tomamos o café da manhã tranquilamente. E, tranquilamente, sem pressa alguma, retornamos para o hotel. De vez em quando, parávamos para apreciar produtos sendo expostos nas vitrines da loja, e eram coisas mais lindas que as outras.
Assim que chegamos no hotel, encontramos e Tom conversando na recepção, agora com as vestimentas de jogar golfe. Eu, no fundo, esperava que estivesse tudo certo entre e Katherine.
Ao ver o pai, se soltou de minha mão e saiu correndo até , pulando em seu colo. Sorrindo, me aproximei mais dos dois, mas fui pega de surpresa por um selinho que Tom depositou em meus lábios. Quando vi, ele se afastava de mim, reclamando do tapa que dera em sua cabeça.
- Katherine não está por perto. - repreendeu Tom.
- Desculpa, eu acho que já me acostumei em fazer isso quando a vejo.
- Então vai perdendo o costume.
- O que foi, , por acaso está com ciúmes? - aquela pergunta pareceu pegar de surpresa, então fiquei mais atenta àquela conversa boba dos dois.
- Não é questão de ciúmes. está aqui e vendo isso, não é legal.
- Não jogue a desculpa de seus ciúmes na garotinha. - Tom disse de forma brincalhona para o amigo, que apenas revirou os olhos.
- Não estou usando ela como desculpa.
- Está sim.
- Eu vou ali enquanto as duas crianças continuam brigando. – nem um dos dois pareceu me ouvir por conta da discussão que tinham, nem Tom percebeu quando sai de seu abraço e fui para perto de minha irmã.
- Dois homens brigando por você, que emocionante. - April falou baixinho perto de mim e soltou uma risadinha em seguida.
- Não vejo nada de emocionalmente nisso. E essa briga não é por mim.
- Ah, pode apostar que é.
- Eu vou chamar Katherine e já saímos. – encerrou a discussão entre ele e Tom e pegou o elevador, deixando no colo de Tom, que se distraiu rapidamente com a pequena.
Claro que, quando Katherine aparecesse ali, eu não iria de forma alguma tratá-la mal. Acidentes acontecem, claro que eu penso que ela poderia ter ficado bem mais atenta em , mas isso não aconteceu e acarretou o acontecimento de sumir.
Mas ela era humana, como todos, errava. Seu pedido de desculpas e desespero perante o ocorrido haviam sido verdadeiros.
- Lembra o que te falei. - minha irmã me alertou, parecendo ler meus pensamentos.
- Tudo bem, pode deixar.
- Muito bem, maninha. - colocou sua mão em meu ombro e o apertou de leve em sinal de apoio.
Logo, e Katherine saíram do elevador, rindo. Ela parecia bem, e não me deixei afetar com aquilo, pois o mais importante era que havia esquecido o ocorrido.
Eles se aproximaram de nós, nos cumprimentando, e, claro, a cumprimentei de volta sem ironias, deboches ou acusações.
Eu sentia que, por mais de tudo, era o certo a ser feito.

Capítulo 14

Eu, April e paramos novamente na loja de doces e cada uma foi à procura do que queria.
- Por conta daquele negócio todo da noite anterior, você nem me contou como foi o almoço naquele dia com Katherine.
- Pensei que tivesse te contado.
- Não contou não. Mas e aí, como foi?
- Nada muito especial ou impressionante. Ela apenas quis saber algumas coisas sobre mim e , ou sobre só ele. Por exemplo: como nos conhecemos, se era de fazer surpresas, por quanto tempo fomos casados...
- E o que você respondeu? - April estava bem animada para saber tudo nos mínimos detalhes.
- Eu inventei tudo, é claro. Mas ela me perguntou uma coisa que me deixou com o coração na mão. - peguei umas balinhas de ursinho e coloquei na cestinha. Aquelas balinhas não podiam faltar.
- O que ela te perguntou? - April estava ainda mais curiosa.
- Ela perguntou se iria gostar de ter mais um filho. - o choque e o som que April emitiu pela boca foi tão grande que atraiu olhares de outros clientes próximos a nós. Eu apenas dei um sorriso tímido a eles, que voltaram ao seu mundo particular em seguida.
- Meu Deus, não me diga que ela...
- Que ela está grávida?
- Sim. - os olhos de April estavam tão arregalados que pareciam que iam saltar de sua órbita.
- Eu pensei a mesma coisa quando ela me perguntou isso, eu a questionei sobre, claro. Mas ela se apressou a dizer que só estava curiosa.
- Graças a Deus. - ri do alívio de April. - E o que você respondeu?
- Que provavelmente ele gostaria sim, ainda mais se fosse um menino, para que eles pudessem dividir coisas de meninos.
- Ela pode ir tirando o cavalinho da chuva. O próximo filho que terá será com você.
- Não começa com essa paranoia, April. - soltei uma risada nasalada.
- Não é paranoia, , aposto que quer mais um filho. quer um irmãozinho. E você sendo a mãe, os deixará muito felizes.
- Eu quero um irmãozinho. - apareceu em nossa frente, sorrindo.
- É feio xeretar a conversa dos outros . - a repreendi, tentando parecer séria, mas acho que não deu muito certo.
- Viu só? Não te disse?!
- Desculpa, tia , foi sem querer.
- Se assim for, tudo bem. Já pegou as coisas que queria?
- Sim, tia .
- Então vamos para o caixa.
Paguei a conta de nós três e fomos andando pelas ruas da Flórida sem um destino certo, pois o que queríamos mesmo era andar, aproveitando aquela tarde de sol, comendo doces e observando as vitrines das lojas enquanto April flertava com os caras.
Muita gente dizia que eu e April não parecíamos ser irmãs, às vezes. Na aparência éramos um pouco diferentes, e ela era mais alta que eu, por exemplo. E quanto às nossas personalidades, eram bem diferentes (acho que é por isso que nos dávamos tão bem).
Eu sou mais reservada, gosto de fazer amizades, mas para a amizade ser mais estreita, a pessoa precisa me mostrar que posso confiar nela. Não sou do tipo que flerta com todos os caras quando saio de casa. Sou um pouco mais caseira, mas muitas vezes que me chamam para sair, me animo e topo na hora. Amo viajar e amo ler.
April é totalmente o contrário de reservada. Também ama fazer amizades e nisso não tarda dela passar a confiar na pessoa e desabafar com elas sobre sua vida, o que já rendeu a ela muitas decepções. Ela sai praticamente todos os finais de semana, e dia de semana também, se deixar. Ela flerta com todos os caras que consegue, mas são raras as vezes em que ela dorme com um deles. Quando a chamam para sair, ela sempre aceita, são raras as vezes que ela quer ficar em casa.
April não gosta de viajar, pois diz que é entediante, ela só lê e escreve quando preciso, na faculdade era a mesma coisa, pois ela era obrigada se quisesse se formar um dia.
Mesmo quando éramos pequenas, eu era a mais tranquila, já April era a mais agitada. Mamãe muitas vezes perguntava para o papai o que tinha saído de errado na hora que fizeram a April.
Estávamos passando por uma loja de lingerie, quando April parou e me fez parar também.
- Vamos entrar nessa loja. - ela falou, já entrando na loja.
Eu e nos olhamos, eu dei de ombros para ela e seguimos April para dentro da loja. Ela olhava atentamente algumas peças íntimas, e para eu não ficar no tédio ou só ficar sentada comendo como , eu fiquei olhando umas peças.
- , vem aqui um instante?! - cheguei perto dela, que pegou um conjunto e colocou de frente para meu corpo, analisando não sei o quê. - Acho que vai dar certinho, ficará perfeito... Pena que não pode provar. - April disse, triste, tirando o conjunto de frente do meu corpo.
- April, pode ser que dê e que não dê. Nossos corpos são quase iguais. Não são totalmente iguais. Então pode ser que dê para mim, mas não dê para você.
- Mas essa é a intenção. Que dê para você, não para mim. - ela sorriu, voltando a vasculhar os conjuntos de peças íntimas.
- Eu não vou comprar lingerie.
- Ah, vai sim.
- Não, eu tenho. E estou satisfeita com as que eu tenho. - cruzei os braços, tentando dizer que aquele assunto estava encerrado, mas April insistiu.
- Quais? Aqueles sutiãs e calcinhas de vovó? - ela riu.
- Não são de vovó, são confortáveis. Eu não vou usar essas calcinhas que ficam o tempo todo enfiando lá no-
- Está bem, está parte eu já entendi. Mas, poxa, , não custa nada levar umas mais bonitas e sexys.
- E eu vou mostrar para quem? Só se for para o meu reflexo no espelho.
- Aí que você se engana, maninha. - ela deu aquele sorriso que eu conhecia bem, era sinal de que ela estava aprontando alguma.
- O que você está aprontando, April?
- Não estou aprontando nada.
- April . Ou você me conta agora ou, quando eu descobrir, você vai se arrepender.
- Até parece a mamãe falando. - ela disse, mas continuei com minha cara amarrada. – Sério, , que eu não posso mais nem comprar alguma coisinha pra você, que você fica desconfiando de mim?
- Eu conheço esse sorrisinho seu.
- Se o problema é meu sorriso, reclama para mamãe e para o papai, eles que fizeram assim.
- Espero mesmo que não esteja aprontando nada, April.
- Relaxa, maninha, confia em mim. - ela piscou para mim, pegando dois conjuntos de lingerie, e foi em direção do caixa.
- Espero não me arrepender por isso. - sussurrei e respirei fundo.
Muitas vezes, quando April aprontava alguma coisa e isso me envolvia, não dava muito certo. Que mania das pessoas ficarem me envolvendo em suas artes.
Um dos exemplos das artes da April, foram as vezes que ela resolveu marcar encontros para mim, alegando que eu estava ficando velha e não tinha namorado sequer uma vez, mas eu estava feliz sozinha aos meus 18 anos. Mas ela insistiu demais e eu fiz a burrada de ceder mais algumas vezes.
A primeira foi um completo desastre, porque o cara por si só já era muito desastrado, ele conseguiu derramar vinho no meu vestido preferido, e quando ele foi levantar para tentar me ajudar a limpar, ele esbarrou no garçom e parte da comida que o garçom levava caiu em cima da minha cabeça. Foi uma humilhação gigante, ninguém dali riu de mim, mas não foi preciso para que eu me sentisse humilhada. Cheguei em casa naquele dia bufando e batendo a porta com tudo, quase eu espanquei April.
De tanto que ela insistiu, eu acabei dando mais uma chance para ela, que arrumou um encontro para mim com um cara bem gato, bingo. Fomos ao cinema, mas a minha maior decepção foi quando vi a mãe dele uma fileira atrás da que estávamos, e ficou quase que o filme todo tacando pipoca em nossa cabeça quando tentávamos nos aproximar mais um do outro. Eu quase avancei nela. Mas quando cheguei em casa, eu e April caímos na gargalhada.
Dei mais outra chance a April e deixei que ela novamente marcasse mais um encontro, mas esse foi bem divertido que os anteriores, sem mãe ou desastres com bebidas e garçom.
O cara era bem divertido, ele falava bastante sobre ele, mas também queria saber coisas sobre mim. Ele era super fofo, muito gentil e sabia bem como tratar uma mulher com respeito. O jantar foi uma maravilha, nem parecia que havia sido April que tinha marcado aquele encontro, mas pelo menos ela tinha recompensado os outros com aquele, e eu agradeceria muito a ela por ter encontrado aquele fofo.
No final da noite, ele me levou para casa, foi super cavalheiro, trocamos os números de telefone e até um beijo de despedida, mas dois dias depois, veio a decepção, ele não me ligou e nem sequer me mandou uma mensagem. April viu o quão mal eu fiquei e deu a ideia de eu tentar mais uma vez ter um encontro, nem que aquele fosse o último, pensei em recusar, mas vi que ela só queria me ajudar e acabei por aceitar.
Marcamos em um pub e de início ele foi super legal comigo, pensei ter tido sorte novamente, mas depois de um tempo ele só falava de si próprio, não parava de falar um minuto sequer, ele nem deixava eu fazer o pedido da minha bebida direito, de tanto que falava. Eu estava entediada e irritada.
Decidi que era a hora de ir embora quando vi que ele estava bêbado até demais. Do lado de fora do pub, o ajudei a ficar de pé enquanto esperava a boa vontade de um táxi parar e me socorrer daquele tagarela de uma figa. Até que ele se agachou e vomitou em cima dos meus sapatos caros (o único caro que eu tinha) e meu preferido. Senti vontade de chorar, largar ele ali na sarjeta mesmo e ir para casa. O pior veio depois, ele me chamou de prostituta na cara dura, perguntou quanto eu cobrava para brincar com ele. Fiquei super ofendida, mas ele bêbado do jeito que estava, não percebeu. Ele só falava coisa depravada, ele dizia em detalhes as posições e como ele queria fazer na cama comigo, eu estava ainda mais irritada, me segurando, até que eu não aguentei e essa foi bem a hora que um táxi chegou, joguei (de verdade) ele dentro do táxi, bati a porta e falei pro taxista levar ele pro raio que o parta, eu só queria ele bem longe de mim antes que eu o quebrasse no meio.
Voltei para casa batendo a porta com toda a força, assustando April, que desceu as escadas com os olhos arregalados, me segurei para não matar ela.
E então ela viu o completo desastre que era para arrumar encontros e para meu alívio ela desistiu daquela ideia.

***


Já estava quase na hora do jantar, então todos resolvemos voltar para o hotel, tomar banho, nos arrumar, para então todos juntos irmos jantar no restaurante do hotel mesmo. O restaurante não era tão ruim quanto parecia, havia mesas dentro e fora, em um local parecendo um segundo jardim do hotel. Era lindo e com um ar bem romântico.
April implorou para que eu a deixasse tomar banho primeiro, eu deixei só porque eu estava no quarto dela, enchendo o saco dela, mas o papel dela como irmã mais velha era me aconselhar, me proteger e, acima de tudo, me aturar.
Ela demorou um pouco mais no banho, mas esperei a belezinha mexendo no celular e atualizando mamãe de onde e como estávamos, por mensagem.
Assim que ela saiu, eu entrei, e como ela podia demorar no banho, eu também podia, então assim o fiz. Mas estranhei quando entrei no quarto, ao sair do banho, e encontrei um vestido azul em cima da cama, olhei pelo apartamento inteiro atrás de April para saber sobre o vestido, mas ela não estava ali, dei de ombros e me arrumei, colocando o vestido. Olhei meu reflexo no espelho e o vestido caiu super bem em mim.
Nos pés, coloquei um sapato peep toe alto da cor preta. Deixei meus cabelos soltos mesmo como sempre, era apenas um jantar entre amigos e depois quando retornamos para os quartos eu só teria mais trabalho de tirar tudo para poder dormir.
A maquiagem foi apenas rímel, e batom matte vermelho.
Assim que terminei toda a minha produção, que levou por volta de mais ou menos uma meia hora, eu me olhei no espelho e fiquei bastante satisfeita com o resultado final, eu estava bonita e sem muito exagero.
O tempo que eu passei me arrumando, esperei por um sinal de vida de minha irmã ou até mesmo de Tom, eles simplesmente sumiram e nem mensagem eles me mandaram, o que me deixou um pouco irritada, mas logo me acalmei, pois a possibilidade deles já estarem no restaurante à minha espera passou por minha cabeça. Eles poderiam estar embolados em uma conversa animada e esqueceram de me mandar mensagem dizendo que estavam à minha espera. Peguei uma bolsa de mão, coloquei meu celular, uma quantia em dinheiro, e sai do quarto, colocando as chaves dentro da bolsa em seguida. Entrei no elevador, que por minha sorte estava no meu andar e apertei o botão para o térreo.
Assim que cheguei, procurei eles pelo saguão, mas nem um sinal de nenhum deles, e praticamente todos ali me olhavam, principalmente a maioria dos homens. Não sei se eles estavam me olhando porque eu estava bonita ou se perguntando de que zoológico eu tinha saído (sempre tive essa paranoia), mas dei de ombros e segui para o restaurante do hotel. Fui para a área onde as mesas ficavam ao ar livre, e que lugar lindo aquele, o ar romântico que ali exalava me fazia suspirar ao querer um amor possível.
Meio de longe, olhei para um homem que estava sentado em uma mesa para dois, perto de uma árvore iluminada por luzinhas. O homem mexia no celular e ele me era bem familiar. Fui me aproximando mais a passos cautelosos, e quando estava perto o suficiente, ele me olhou e se levantou.
Esse homem era , ele estava lindo com uma camisa social de manga longa da cor azul royal (dobradas um pouco abaixo dos cotovelos), e uma calça jeans de lavagem escura e tênis combinando. Dei um suspiro discreto enquanto ele me olhava, sorrindo daquela forma que me fazia derreter.
- ?!
- ! – nem um dos dois sabia o que fazer ou o que dizer exatamente.
- Você está linda. - com certeza eu corei.
- Obrigada. Você também está muito bonito. – sorri, tímida, para ele. - E cadê os outros?
- Eu não sei, pensei que todos estivessem aqui à minha espera, mas cheguei aqui, não tinha ninguém e a moça me trouxe até essa mesa. Esperei alguém chegar e... Você chegou.
- Eu pensei também que já estivessem aqui, porque todos sumiram.
- Exatamente. Mas sente, acho que eles não vêm, mas mesmo assim vamos comer. - ele se dirigiu até a cadeira de frente a sua, do outro lado da mesa, e a puxou para que eu me sentasse.
Então eu o fiz, mesmo com algo dentro de mim dizendo que aquilo não seria uma boa ideia, como sempre.
- Obrigada. - ele sorriu e se sentou no mesmo lugar em que estava antes que eu chegasse. - Esse lugar é lindo.
- Concordo plenamente. - ele concordou comigo, também observando ao redor. - Como você está, ?
- Eu estou bem, e você? - o olhei e parecia que o sorriso não queria abandonar seu rosto.
- Estou bem também, mas já com saudades desse lugar maravilhoso.
- Eu também. Principalmente da lojinha de doces. - rimos.
- Só você mesmo, .
- Eu sei que sou única.
- E nada modesta.
fez os nossos pedidos, e tempo depois, quando chegou, a comida estava uma maravilha.
Assim que acabamos, ficamos ainda sentados na mesa, de vez em quando nos olhamos e sorrimos, outras vezes apenas observamos as pessoas comendo e conversando animadamente, e alguns casais dançando em uma pista de dança ao ar livre.
Até que começou a tocar a minha música preferida e eu sorri.
- Me concede a honra de uma dança? - ele se levantou, ficando em pé ao meu lado, e estendeu sua mão para que eu pegasse e fosse com ele até a pista de dança. Ele sabia bem que eu amava aquela música.
Eu queria muito aceitar sua mão, mas algo dentro de mim ainda dizia que aquilo poderia não acabar muito bem, mas, mais uma vez, resolvi ignorar essa voz dentro de mim e peguei sua mão, sorrindo, e ele me guiou até o meio da pista de dança.
Juntamos ainda mais nossos corpos, fazendo meu coração palpitar mais rapidamente. Se soubesse o quanto ele mexia comigo, os poderes que ele tinha sobre mim.
Ele passou seu braço direito em volta da minha cintura e o meu esquerdo foi parar em volta de seu pescoço. Juntamos nossas mãos livres, coloquei meu rosto em seu ombro e começamos a nos movimentar no ritmo da música.

Settle down with me
Cover me up
Cuddle me in
Lie down with me
And hold me in your arms
And your heart's against my chest
Your lips pressed in my neck
I'm falling for your eyes
But they don't know me yet
And with a feeling I'll forget
I'm in love now


Sentir os braços de ao meu redor era a melhor sensação do mundo e eu tinha a completa certeza de que eu estava segura ali.
O que eu mais desejava era ter bem pertinho de mim o tempo todo, como estávamos naquele momento, sem nos preocupar com outras pessoas, se íamos ou não íamos machucá-las.

Kiss me like you wanna be loved
You wanna be loved
You wanna be loved
This feels like falling in love
Falling in love
We're falling in love
Settle down with me
And I'll be your safety
You'll be my lady


Essa música dizia tanto sobre nós. Pelo menos sobre mim, sobre os meus desejos. Era como se quem a escreveu me conhecesse tão bem e soubesse tudo aquilo que eu estava sentindo, que para me confortar escreveu a canção.
O maior desejo meu desde pequena era ser amada, e que então se transformou em um desejo de ser amada por ele, por .
Mas me lembrar que eu não podia ser sua me dilacerava um pouco mais por dentro. Eu dizia estar bem, mas não era tão verdade assim. Katherine era dele, eu era apenas a babá da filha dele, uma pessoa por quem eu acreditava que ele era grato por ajudá-lo a cuidar de sua pequena. Aposto que não era a pessoa com quem ele desejaria ter um amor intenso, como sempre as coisas eram comigo.

I was made to keep your body warm
But I'm cold as the wind blows so hold me in your Arms


Não que eu estivesse me rebaixando perante Katherine, como muitos deviam estar pensando, eu acreditava ser merecedora de sim, pois eu acreditava que eu poderia o fazer muito feliz, assim como ele faria. Somente estava apontando algo que provavelmente rondava sua cabeça, de que eu não era nada além da babá.
Tudo bem que havia acontecido muitos momentos na qual quase havíamos nos beijado, mas ele não poderia estar apenas se deixando levar pelo calor do momento?
Eu somente preferia não criar expectativa diante de algo que eu não tinha certeza, e, principalmente, controle.

Yeah I've been feeling everything
From hate to love from love to lust
From lust to truth I guess that's how I know you
So I hold you close to help you give it up
So kiss me like you wanna be loved
You wanna be loved
You wanna be loved
This feels like falling in love
Falling in love
We're falling in love


Levantei minha cabeça e fiquei olhando ele, seu olhar e seu sorriso estavam leves. Eu até podia deduzir que ele sentia que estar ali comigo era onde ele realmente deveria estar.
Se ao fazer um desejo às estrelas, eles fossem atendidos, eu pediria que ele sentisse pelo menos um terço do que eu sentia por ele, já seria um grande começo. Ou que pelo menos uma vez ele tivesse sentido algo.
Ele me olhava de uma forma tão carinhosa que meu coração ficou quentinho ao mesmo tempo que palpitava. Uma pequena chama de esperança e dedução se acendeu dentro de mim, por pensar que talvez poderia sim haver algo ali dentro dele sobre mim, que ia muito além de somente gratidão.
Estávamos há um tempo bem considerável nos olhando, eu simplesmente não conseguia desviar os meus olhos dele, se assim eu fizesse, sentia que seria como se tudo aquilo naquele momento se revelasse um sonho acordado, sendo assim uma grande mentira.
Seria um belo momento para que eu abrisse a boca e dissesse tudo aquilo que meu coração guardava há seis anos. Mas nada saia.
Quando dei por mim, nossas bocas já estavam próximas demais, causando um solavanco em meu coração. Ele pulava de alegria com a expectativa daquele beijo tão sonhado, afinal, o futuro do último quase beijo talvez não estivesse tão distante assim. Mas como existe a emoção, existe a razão, para nos derrubar e trazer de volta à realidade dolorosa.
E a realidade que ele trazia consigo era que a garota dele estava por aí pelo hotel, ou pelas ruas da Flórida. Que depois que aquele jantar terminasse, e principalmente depois que eu dissesse que eu o amava, inevitavelmente seria para os braços dela que ele voltaria. E depois só iria restar eu, em meu quarto, relembrando todo o acontecimento que tanto mexeu comigo.
A razão novamente saiu como campeã, pois eu me afastei de a tempo e saí andando para fora do restaurante sem dizer nada. Seria melhor assim, e seria ainda melhor se ele não fosse atrás de mim, mas ele não respeitou aquilo.
Eu estava passando por uma parte do jardim onde íamos para a entrada do restaurante quando ele me fez parar ao gritar meu nome. Fechei os olhos e me virei para ele.
- O que aconteceu, ? Por que saiu assim?
- Eu não posso, . Nós não podemos.
- Por que não podemos?
- Porque não é justo fazermos isso com a Katherine. O beijo não pode acontecer.
- ?!
- Por mais que eu sonhe com o dia que irei poder sentir seu beijo, não posso ter porque você já tem ela, . A pessoa quem os recebe seus beijos, cujo os seus "eu te amo" são direcionados. Cujo o corpo é aconchegado ao seu na hora de dormir. - as lágrimas começaram a rolar livremente por minhas bochechas. - Por mais que eu te ame, é difícil admitir em voz alta. Eu não posso fazer isso, não só com ela, como comigo mesma. Ela poderá não ficar sabendo, mas eu ficarei, , pois eu terei colaborado com essa traição. Para muitos e talvez para você também, um beijo pode não ser traição, mas para mim é.
Ele não dizia nada, apenas ficava me olhando, absorvendo tudo o que eu dizia. Mas também, o que ele poderia dizer? Ele sabia que eu estava certa.
- Eu sou apenas a babá, .
Se ele ia falar algo, eu não deixei, pois saí dali enxugando as lágrimas enquanto outras desciam em seguida.
Tomei o elevador e fui até meu quarto, onde me tranquei, arranquei os saltos dos meus pés, deitei na cama encolhida e abraçada ao travesseiro, e ali me debulhei em lágrimas.

***


Acordei no dia seguinte sem nem um pingo de vontade de me levantar da cama, mas dessa vez eu tinha um bom motivo. Depois do ocorrido na noite passada, de todas as coisas que eu acabei dizendo a , como ter admitido que eu o amava, eu não sabia se iria conseguir olhar na cara dele novamente. A vergonha começava a me consumir, assim como o alívio, mas também o medo das coisas que poderiam estar passando pela cabeça dele.
Eu só me levantei da cama quando lembrei que iríamos para Bahamas naquele dia, e tínhamos que estar no aeroporto até uma tarde e já eram quase meio-dia. Eu ainda precisava me arrumar e terminar de arrumar as minhas malas.
Me levantei e fui até o banheiro, fiz o que tinha que fazer ali e me arrumei, para então começar a terminar de colocar as coisas dentro da mala.
Um tempo depois, quando eu estava quase terminando, a porta do apartamento se abriu e fechou, e em seguida April apareceu em meu campo de visão. Sorrindo, ela escorou no batente da porta.
- Oi.
- Oi. Já arrumou suas malas?
- Já sim.
Continuei a arrumar minhas enquanto April só ficava me olhando e com um sorriso pequeno no rosto.
- Por que está me olhando assim? - enfim perguntei.
- Nada. - a olhei, desconfiada, mas voltei a arrumar as malas. - Como foi o jantar de ontem?
- Foi legal até. - fui até o banheiro pegar minha escova de dentes.
- Só legal? - ela sorriu de lado, mas eu não captei o que aquele sorrisinho significava.
- Só legal. A comida estava espetacular.
- E quanto ao ?
- Ele foi gentil, foi super legal como sempre ele é. Somente comemos, dançamos um pouco e depois eu voltei para o quarto.
- Nada demais aconteceu? Por que voltou tão cedo?
- Eu vim porque... Espera um pouco. - parei de dobrar uma blusa e olhei para April, que percebeu que havia saído do meu modo distraída. - Você tem tudo a ver com o jantar só eu e ontem!
- Eu? Eu não sei de nada.
- Você é péssima em mentir, April. Como e por que você fez aquilo?
- Eu achei que seria melhor você e terem um jantar a sós, pensei que vocês estavam afastados demais ultimamente. Eu só queria ajudar.
- Não foi uma boa ideia. - então ela percebeu meu desânimo.
- Por que não?
- Porque tudo o que eu sinto por ele voltou com mais intensidade enquanto estávamos tão próximos ali na pista de dança. - respirei fundo e voltei a dobrar a blusa que eu havia desdobrado sem querer.
- E isso não é bom, ? Aposto que ele sente o mesmo por você, é isso que venho tanto tentando lhe mostrar, minha irmã.
- Não, April, você está enganada. Se ele sentisse mesmo algo, ele teria dito depois que eu disse tantas coisas a ele. - joguei a blusa dentro da mala de qualquer jeito.
- O que você disse para ele?
- Eu fiz a maior burrada da minha vida, April, nem sei mais como irei olhar na cara dele depois... Depois que eu admiti em sua cara que eu o amo.
- E o que você sentiu na hora que disse isso? - ele segurou o espanto.
- Um misto de alívio e raiva. E hoje, quando acordei, senti vergonha, muita vergonha, até agora estou me perguntando como vou olhar no rosto de .
- Ele falou alguma coisa quando você disse que o ama?
- Ele não disse nada, apenas me olhava, e então eu virei as costas e saí.
- Vai ser meio difícil você não olhar na cara dele.
- Eu tentarei de tudo. Mas como você fez tudo aquilo, April?
- Bem, eu e Tom armamos todo os planos juntos. Tom pegou no quarto dele com a desculpa de o ajudar com uma coisa importante, depois disso eu fui até o quarto deles e chamei Katherine para uma conversa sobre a noite em que se perdeu, enquanto esperávamos os outros para o jantar, desceu com nós. Depois, Tom apareceu sozinho e quando Katherine estava ficando impaciente com a demora dos outros para o jantar, Tom inventou que tinha recebido uma mensagem de dizendo que não estava muito bem para nos acompanhar. Ela quis subir para ver como ele estava, mas a impedi, alegando que se não fossemos, perderíamos a reserva no restaurante onde a comida era magnífica. Ela acabou por aceitar e não questionou a sua ausência ali. Tom mandou uma mensagem para , dizendo para ele ir para o restaurante do hotel, pois iríamos nos atrasar. perguntou quanto a Katherine, e Tom disse que ela estava comigo tendo uma conversa. E então depois você chegou lá, estava só e então vocês jantaram juntos.
- Vocês não podiam ter feito isso, eu acabei falando o que não devia, April. E isso está começando a me fazer mal. - o plano deles foi muito bom e bem planejado, mas aquilo continuava sendo errado.
- Então você precisa colocar um ponto final nisso, . - April me aconselhou.
- E como você quer que eu faça isso? Quer que eu diga mais uma vez o quanto eu o amo na cara dele? Para depois ele continuar com a vida dele com a Katherine, como se eu não tivesse confessado nada a ele?
- Eu aposto que isso mexeu com ele. E aposto também que ele não irá conseguir esquecer suas palavras nem tão cedo, ou talvez até, nunca.
- Para de viajar, April, é a última vez que te aviso isso.
- Para com isso, , você deseja que tudo isso aconteça, mas se nega a acreditar que isso pode sim ser possível.
- Porque eu já dei um basta com as ilusões do . O que irá me trazer de bom se eu continuar me iludindo com ele? Nada, apenas mais frustração.
- Então obrigue a si mesma de esquecer ele de uma vez por todas. Pois eu sei que é só o nome dele ser citado que já mexe com você. Se esses sentimentos não fazem nada bem a você e ele se recusa a ir embora, arranque de dentro de você à força.
- Eu já tentei. Simplesmente não sei mais o que fazer, April. - me sentei na cama, passando as mãos no rosto.
- Eu já disse o que fazer. Agora é somente com você.
Após dizer aquilo, ela saiu do quarto e eu continuei ali sentada, um pouco desolada com muitas coisas rondando minha mente, como todas as palavras de April.
Eu tentei de tudo para esquecê-lo, e eu acreditava que todos aqueles sentimentos já não existiam mais, mas bastou uma viagem para que eu percebesse que eles ainda continuavam ali, escondidos, e prontos para causar mais uma guerra entre meu coração e meu cérebro. Prontos para me causar ainda mais confusão entre o desejar e o não desejar, entre o querer ter e o não poder ter. E no final de tudo isso, eu só queria ver quem iria vencer essa guerra.
E então, depois de um longo tempo ali, sentada, pensando, me obriguei a me levantar e terminar de arrumar as malas.

Capítulo 15



Eu não parava um minuto sequer de pensar nas palavras de naquela noite no restaurante, ela disse que me amava... Que me amava.
Na hora, fiquei um pouco confuso se aquelas palavras dela eram por impulso, se deixando levar pela raiva. Tanto que, naquela hora, eu não sabia o que fazer, o que dizer mediante aquilo. Eu só prestava atenção em tudo o que ela dizia e tentava digerir o máximo de palavras e reações dela que eu podia, mas meu cérebro não trabalhava direito.
E só depois eu fui perceber que era realmente aquilo. E a esperança cresceu em mim de uma forma inexplicável, uma sensação boa de saber que eu não amava sozinho.
Meu desejo era jogar muita coisa para o alto, não me preocupando com nada e simplesmente dizer tudo o que sentia para e finalmente atender os meus desejos de ficar com ela, mas tinha coisas em jogo, como os sentimentos da Katherine. Ela era boa para mim, e então não queria que ela pensasse que eu poderia estar usando-a.
Estava quase na hora de fazermos o checkout, as minhas malas, as de e de Katherine já estavam todas arrumadas e todos estavam prontos para irmos para o aeroporto.
Um dos funcionários do hotel me ajudou a colocar as malas no carrinho e fomos para o elevador. Chegando no térreo, eu encontrei apenas Tom sentado em uma das cadeiras de espera, mexendo no celular.
- Cadê o restante do pessoal? - Tom apenas deu de ombros.
- Não faço ideia, vai ver que as duas madames se atrasaram.
- Espero que não se atrasem ainda mais, senão perderemos o avião.
Tempos depois, April apareceu, ela não parecia estar com uma cara muito boa. Será que ela e tinham brigado? E se sim, eu já imaginava o motivo. Eu tinha certeza de que iria contar tudo daquela noite à sua irmã.
Mais uns minutos depois, finalmente apareceu no saguão do hotel. Ela parecia meio distraída e distante, e procurava sua irmã pelos cantos do saguão, até que finalmente a encontrou.
Como todos já estavam ali, eu fui fazer o checkout, mas a quase todo o momento eu ficava observando e April conversarem, mesmo não podendo as ouvir. Elas não pareciam brigar, eu queria muito saber qual ou quem era o assunto daquela conversa, mas eu podia imaginar o que era.
Assim que resolvi tudo ali no balcão da recepção, me aproximei de todos:
- Estão todos realmente prontos?
- Sim, estamos. - April respondeu.
- Então vamos, eu já chamei os táxis.
Em um táxi, eu e Katherine fomos, no outro estavam , April, Tom e . Minha filha não queria desgrudar de .

No aeroporto, eu e Katherine fomos fazer o check-in, e então a moça do guichê nos informou que o nosso voo estava atrasado por volta de uma hora e meia, aquilo acabou me desanimando um pouco.
- Nosso avião está atrasado por volta de uma hora e meia. - avisei a todos assim que nos aproximamos.
- Sério? Mas que droga. - disse, um pouco frustrada.
Eu tinha percebido que ela estava meio distante, como se fazendo de tudo para me evitar, acho que talvez o arrependimento de ter dito tudo aquilo naquela noite estivesse pesando em seus ombros. Mas eu não queria que ela se arrependesse, porém eu a entendia, ela disse que me amava e eu simplesmente continuava com Katherine como se nada tivesse acontecido. Porém, eu não conseguia parar de pensar naquilo um minuto sequer.
E para colocar as coisas em ordem, e poder conversar com calma com sobre isso, teria que esperar um tempo. De preferência após a viagem.
Katherine segurou em meu braço e me levou até um canto ali do aeroporto, meio afastada dos outros. A olhei com cara de interrogação e ela logo disse:
- Amor, você não acha que a está meio estranha? – falou, olhando para que tinha no colo, mas ela olhava fixamente para o chão.
- É. Ela está um pouco estranha, mas acho que não é nada demais.
- Será que ela ainda está chateada por aquela vez que se perdeu no shopping? - agora Katherine parecia chateada.
- Você sabe que ela é uma mãe bem coruja, ela se preocupa muito com , e eu também. Ela ainda está meio assim, mas logo ela supera. – sorri, passando a mão em seu cabelo, ela sorriu de lado e me abraçou. Eu estava a cada dia tentando me fazer acreditar que não era a culpa de Katherine por ter se perdido, mas estava meio difícil de acreditar, nunca mentiu para nós e sempre seguia nossos conselhos sobre conversar com estranhos, e pelo o que minha filha falou, Katherine lhe disse que a moça era confiável.
Na hora em que ia falar o nome da moça que a levou de perto de Katherine, gelei com a possibilidade de que poderia ser Blair, mesmo que as possibilidades fossem bem pequenas.
Ela agora não podia simplesmente querer voltar e reivindicar o cargo de mãe de , como se nada tivesse acontecido no passado.
- Às vezes parece que ainda gosta muito de você, . - Katherine me pegou de surpresa com aquelas palavras.
- Talvez seja normal, eu tenho uma parcela de culpa por ela ter trazido para o mundo.
- Eu sei, amor, mas você sabe em que sentido de gostar estou falando.
- Não, ela não gosta de mim nesse sentido. E ela está namorando o Tom, e eu estou com você. Estamos seguindo com nossas vidas.
- Mas você sabe que uma pessoa estando com outra não impede que ela tenha sentimentos por uma outra pessoa.
- Eu sei, mas esse não é o nosso caso. – falei, tentando deixar a entender que aquele era o ponto final da conversa, eu não queria falar sobre os meus sentimentos por , e os sentimentos de por mim, não com Katherine. Eu já estava tendo essa conversa comigo mesmo e estava tenso demais, para, ainda por cima, ser discutido em voz alta.
Olhei para , que agora estava em uma conversa animada com , e como nunca a vontade de que fosse a mãe biológica de me invadiu.


Eu estava em uma conversa tão animada com que nem percebi a ausência de April, Tom, e Katherine. Olhei ao redor e encontrei apenas e Katherine um pouco afastados, abraçados e conversando, aquilo causou uma pontada em mim, mas ignorei. O que eu queria saber mesmo era onde estavam April e Tom. Me levantei do banco e foi correndo até o pai quando lhe indiquei onde ele estava.
Rodei um pouco pelo aeroporto até que finalmente encontrei os dois. Eu fiquei meio em choque, porém, não tão surpresa. Fiquei meio incomodada com a possibilidade de que poderia ter sido Katherine que poderia os encontrar e então eu sairia como corna naquela história, como já havia avisado.
Tom e April estavam em um canto mais afastado e vazio do aeroporto, aos beijos.
O negócio ali parecia estar bem animado, e eu não os culpava e nem os condenava por aquilo, eles se gostavam e não adiantava eles negarem.
Quando partiram o beijo e April me viu, ela arregalou os olhos e afastou Tom de perto dela. Eu apenas revirei os olhos.
- Não precisam parar por minha causa. Mas eu só peço que tenham mais cuidado onde se agarram. Uma hora quem pode pegar vocês no flagra pode ser Katherine.
- Não é o que você está pensando, . Eu e Tom, nós só estávamos...
- Estavam se agarrando. Não precisam me dar muitas explicações. - April bufou.
- Ok, eu gosto desse idiota.
- Eu já sabia. Mas tomem mais cuidado da próxima vez.
Os alertei e voltei para onde eu estava. Em seguida, todo mundo resolveu voltar para lá, eu estava cansada de esperar pelo avião e estava começando a ficar com os nervos à flor da pele. Antes que eu começasse a descontar minha raiva em todo mundo, me levantei do banco e falei:
- Eu vou pegar um café para mim, alguém mais quer? - April, Tom e ergueram a mão. - Eu só não sei como vou trazer tudo, mas dou um jeito. - falei baixo, pensando mesmo comigo mesma.
- Eu vou com você, , te ajudar a trazer os cafés. - se ofereceu. Sério isso? Poderia ser qualquer um, por que justo ele se ofereceu?
- Não precisa, , eu dou um jeito.
Ele não respondeu mais nada, somente me olhou com aquele olhar que de que iria e ponto. Katherine não pareceu concordar muito, mas não fez nenhuma objeção sobre.
- Tá, tudo bem.
Nos afastamos dos outros e assim que chegamos perto das máquinas de café, peguei os copos e os enchi. me ajudou a segurar e, quando todos estavam cheios, retornamos para perto dos outros, mas com menos pressa para que nenhum acidente acontecesse.
- Você não parece que dormiu muito bem essa noite. – falei, cortando o clima silencioso e um pouco tenso, reparando em sua cara de cansado.
- É. Não dormi quase nada, muitas coisas na cabeça.
- Sei como se sente.
- , você sabe que uma hora ou outra teremos que conversar sobre ontem à noite. - ele parou de andar e eu também. Mordi o lábio e respirei fundo.
- Sei que teremos, mas não quero falar sobre isso agora. - Ainda estou muito envergonhada para falar sobre, completei mentalmente.
- Tudo bem, respeito isso. Mas você não pode continuar me evitando.
- Eu não estou te evitando, .
- Está sim, , querendo ou não, eu te conheço. Você nem me olha e sempre está fugindo quando me aproximo de você.
- Isso é coisa da sua cabeça.
- Não fizemos nada de errado, . Não quero que você continue assim por aquele dia.
- Olha, , não vamos falar sobre isso agora, por favor.
- Certo, quando você quiser falar, sabe bem onde me encontrar. - ele sorriu, meigo, e continuamos a andar.
Quando nos aproximamos dos outros, entregamos seus cafés, e em seguida meu celular começou a tocar. Olhei o visor do celular e o nome mamãe brilhava ali.
- É a mamãe. - falei para April, que me perguntava com o olhar quem era.
Me afastei um pouco dali e atendi a ligação.
- , porque não retornou minha ligação?
- Desculpa, mamãe, não ouvi tocar. Peguei o telefone agora.
- Eu estava começando a ficar preocupada, tentei o celular da April, mas ela também não me atendia.
- Ela estava meio ocupada, mamãe. - segurei a risada ao lembrar dela e Tom se pegando no canto.
- Onde vocês estão? Como vocês estão?
- Estamos no aeroporto, nosso voo atrasou. E estamos bem. Bastante animadas para as Bahamas.
- Toma cuidado e juízo, , pelo amor de Deus. Só consigo pensar que essa história que vocês inventaram, pode acabar mal. Vocês não conhecem essa moça direito, .
- Mãe, relaxa. Até agora está indo tudo dentro dos conformes, ela deu umas desconfiadas...
- Viu só, era isso o que eu mais temia.
- Mas não foi nada demais, ela desconfia que eu e ainda gostamos um do outro. Mamãe, quando a merda for jogada no ventilador, eu te aviso.
- Tome juízo, você e sua irmã.
- Pode deixar, mamãe.
- Qualquer coisa errada que ela fizer, me avise que assim que vocês chegarem eu vou dar uns puxões de orelha nela.
- Pode deixar. – respondi, rindo.
- Tudo bem então, vou desligar, eu só queria saber como vocês estavam.
- Estamos bem, mamãe, não se preocupe.
- Beijos, filha, e mande outro para sua irmã.
- Ok, beijos.
Ela desligou e eu voltei para perto dos outros.
- O que a mamãe queria? Só agora eu vi as cinco ligações perdidas dela, eu até gelei.
- Ela queria nos socar pelo telefone mesmo, mas a acalmei dizendo que estamos bem.
- Meu Deus, eu já estava até imaginando o quanto mamãe estava bufando de raiva e nos xingando.
- Ela falou para você se comportar, senão ela puxa sua orelha.
- Até parece, é mais fácil ela bater em você, que é mais danada.
- Eu sou um amor de pessoa e você sabe muito bem disso.
- Mas quando quer, tira do sério a pessoa mais calma desse mundo.
Paramos de conversar e nos arrumamos para embarcar assim que a voz foi escutada por todo o aeroporto, anunciando o embarque imediato do voo com destino à Bahamas. Todos estavam bastante animados, principalmente , que pulava para lá e para cá, cantarolando a palavra praia.

Embarcamos e ficamos assim: eu e April na primeira fileira, Tom e na segunda fileira, e e Katherine na terceira fileira.
Não demorou muito e o avião decolou. Eu ainda não estava muito acostumada a andar de avião, então peguei a mão de minha irmã e apertei enquanto o avião subia. Ela deu risada de início, mas depois seu rosto se contorceu com um pouco de dor.
Algum tempo depois que já tínhamos decolado, todos do nosso grupo estavam dormindo, apenas eu não conseguia dormir, eu me virava na poltrona, fechava os olhos, mas o sono não chegava.
Bufei e me levantei da poltrona, seguindo até o banheiro apertado do avião.
Assim que entrei naquele cubículo, onde ninguém conseguia se mexer, fiz xixi e quase me molhei toda quando o avião teve uma pequena turbulência, mas eu acabei batendo a cabeça ali na parede do banheiro. Esfreguei com a mão o lugar onde havia batido e soltei uns pequenos palavrões.
Joguei um pouco de água no rosto e na nuca, torcendo para que aquilo não me despertasse e sim me trouxesse sono. Ouvi duas batidas na porta do banheiro e revirei os olhos.
- Tem gente. - mas a pessoa não pareceu ter ouvido, pois bateu novamente e insistiu em continuar batendo.
Ao ficar de saco cheio, abri a porta, prestes a gritar com a pessoa surda, mas não deu tempo nem de abrir a boca, pois assim que abri a porta, vi a figura de entrar às pressas no banheiro apertado e em seguida, sem dizer, nada grudou nossas bocas em um beijo urgente. De início, fiquei assustada e em choque, mas fui me deixando levar pelo beijo.
Com um impulso, sentei na pequena pia do banheiro quando ele me ajudou, colocando suas mãos em minha coxa.
Ele parou por um momento de me beijar, me analisando atentamente, principalmente meus lábios, enquanto eu puxava uma respiração aguda e trêmula. Em seguida, ele voltou a me agarrar, segurando meu lábio inferior com os dentes.
Todo meu corpo pegava fogo por ele.
Partimos o beijo por falta de ar, enquanto suas mãos passeavam por meu corpo todo. Eu, ansiosa para o próximo passo, desci minhas mãos, chegando até o cós da calça dele para desabotoar o botão.
Aquele momento estava sendo maravilhoso demais para ser verdade, eu só podia estar sonhando acordada.
Antes que a gente fosse interrompido, ele voltou a me beijar, já se ajeitando entre minhas pernas. E quando finalmente ia acontecer...
A pessoa do outro lado da porta bateu novamente, me despertando daquele pequeno sonho acordada. Me olhei no espelho e vi que tinha suor em minha testa, nuca e pescoço. Eu sabia que só podia ser uma alucinação.
Estava começando a ficar perigoso, pois eu já não sabia mais o limite entre a realidade e a imaginação.
As sensações eram tão reais, mas não se passava de uma imaginação maluca. Respirei fundo e novamente passei água na nuca e rosto, a pessoa do lado de fora bateu novamente na porta. Eu abri e me deparei com uma senhora, quando ela me viu, ela sorriu, devolvi um sorriso fechado e voltei para o meu assento.
Se eu já não estava conseguindo dormir antes, imagina então depois daquilo, que eu poderia jurar que era real.

***


Chegamos no hotel nas Bahamas e estava um calor do caramba, recebi um chapéu de praia de presente da minha irmã e eu usava ele para me abanar. estava fazendo o check-in enquanto eu sonhava com uma taça gigante de sorvete.
Assim que terminou de resolver todas as coisas da reserva com a moça da recepção, que praticamente se jogava para cima dele na cara dura, dando muita vezes a ele sorrisos tímidos e outros cheios de malícia enquanto admirava todo o corpo dele.
Katherine tinha percebido os olhares e sorriso da moça e isso estava a deixando muito irritada, pelo o que percebi, ela se segurava para não dizer poucas e boas para aquela mulherzinha oferecida.
Eu também não estava gostando nada daquilo, eu também queria dar uma boas bofetadas naquela mulher, mas eu me segurava para não fazer nenhuma besteira, e me segurava muito para não acabar demonstrando estar ainda na de e estragar muita coisa, mas ao contrário de Katherine, eu estava com ciúmes, mas não estava vermelha como ela.
Assim como na Flórida, cada um ficou em um quarto de andares diferentes. , Katherine e ficaram no décimo andar; Tom e April (acabamos conversando e, com todos os cuidados, Katherine não desconfiaria) ficaram no décimo primeiro andar; e eu fiquei sozinha no décimo segundo andar.
Seria bom passar um tempo sozinha em um apartamento só meu. Tom era uma grande companhia, mas tudo o que eu queria era ficar sozinha e me martirizar pelas coisas que já fiz e estou fazendo em minha vida.
Assim que entrei no apartamento, eu logo de cara me joguei na enorme cama de molas com aquele lençol branco, delicioso. Por mim, eu ficava ali a tarde toda, aproveitando aquele quarto de hotel e aquela cama maravilhosa, mas April e Katherine marcaram de irmos à praia assim que colocássemos as malas dentro dos quartos, então me levantei da cama e fui em busca de um conjunto de biquíni preto que eu adorava de paixão e que milagrosamente ficava perfeito em meu corpo. Em seguida, coloquei minha entrada/saída de praia branca. Coloquei também meu chapéu e óculos escuros.
Deixei o quarto e peguei o elevador rumo ao saguão. Assim que cheguei, encontrei todos ali conversando animadamente e rindo, eu sempre era a última a chegar, os outros já até tinham se acostumado com aquilo.
- Bom, todos estão aqui. Então vamos para a praia. - Katherine falou animadamente, pegando no braço de e o puxando para fora do hotel.
Eu queria revirar os olhos, mas eu não queria que ninguém visse, foi aí que eu me lembrei que estava de óculos escuros, então o fiz.
Na hora de fazer a reserva em um hotel, acertou em cheio, ele escolheu um hotel à beira mar e, graças a Deus, a janela do meu quarto dava de vista para a praia, com aquela água azulzinha, que trazia uma paz enorme para mim.
e April correram pela praia, deslumbradas com a visão do mar, eu estava por último indo com mais calma, estava com preguiça demais para correr ou fazer qualquer outro esforço físico.
Joguei minha toalha na areia e me sentei.
- , venha até aqui passar o protetor solar. - a chamei e ela me obedeceu, vindo até mim na mesma hora.
Ela se sentou de frente para mim e eu comecei a passar o protetor por toda sua pele exposta.
Assim que terminei, ela se levantou toda serelepe, pronta para correr para dentro do mar onde já estavam April e Tom.
- Vem nadar com a gente. A água deve estar muito boa. - ela segurou minha mão e de leve começou a me puxar para que eu fosse com ela.
- Agora não, meu amor, deixa só eu passar o protetor que eu já vou para água com vocês. Pode ser?
- Pode. Estamos te esperando lá.
- Tudo bem. Já, já estou indo lá. - sorri doce para ela, que logo saiu correndo e se jogou na água onde April a ajudou para que não acabasse se afogando.
Passei o protetor por toda minha pele exposta, sem tirar a saída da praia. Ao meu lado, Katherine fazia o mesmo com , e muitas vezes eu percebia seu olhar em mim.
Assim que terminei, me levantei da toalha e retirei a saída de praia. Eu podia sentir os olhos de cravados em meu corpo sem pudor algum, sem nem sequer se preocupar se Katherine perceberia. Eu podia apostar que ele analisava cada curva do meu corpo, de cima a baixo, de baixo à cima.
Tom saiu da água correndo e parou em minha frente, assobiando e mordendo o lábio. Dei um pequeno sorriso de lado e coloquei uma mão na cintura.
- Você é gostosa para caramba, hein? - se aproximou, enlaçou seus braços em minha cintura e me beijou, por mais que eu quisesse me afastar dele, eu não podia.
- Obrigada, querido, mas agora eu vou para o mar. está à minha espera.
- Acho que ela não se importará de você demorar mais um pouco para ir até ela. Então, que tal irmos para o nosso quarto e aproveitarmos aquela cama maravilhosa com muita luxúria?
Sorri pequeno, me aproximei mais para perto de seu ouvido e sussurrei:
- Por que não faz esse convite irrecusável para April? Tenho certeza de que ela não irá recusar. - vi que ele se arrepiou e eu sorri ainda mais.
Fiquei de frente para ele novamente, que sorria de forma maliciosa pela ideia que eu havia dado a ele, pisquei para o mesmo antes de seguir para o mar.
Olhei para trás, para para ser mais exata, e ele me olhava com a boca meio aberta. Katherine nem tinha percebido, pois estava deitada, tomando sol, e provavelmente com os olhos fechados que estavam por baixo dos óculos escuros.
Sorri pequeno para e segui para o mar, feliz da vida por ter finalmente feito com que provavelmente sentisse um pouquinho da mesma coisa que eu sentia quando o via sem camisa.
- Você veio. - disse, maravilhada, se debatendo na água nos braços de April, que riu.
- Claro que eu vim, eu havia te prometido. - a abracei e ela deu um beijo na ponta do meu nariz, enlaçando suas perninhas em minha cintura.
- A vaca da chegou. - April comemorou, me xingando, somente fiz cara de paisagem para ela.
- Não fala assim dela. - reclamou, brava com April.
- Só estou dizendo a verdade. - minha irmã levantou as mãos em sinal de redenção.
- Não é verdade não, ela é muito legal.
- Você é muito puxa saco, .
- Você que é muito chata.
- Olha lá, garotinha, não se esqueça que, se não fosse por mim, você teria se afogado umas duas vezes. E ainda por cima, é minha irmã, então eu falo como quiser dela. - April mostrou a língua para , que também devolveu mostrando a língua, eu me segurava para não rir.
- Chega vocês duas. Estamos aqui para nos divertir e não para brigarmos.
- Desculpa, tia . Foi ela que começou. - April novamente mostrou a língua e , com certa raiva, saiu do meu colo e foi para perto do pai.
- Sério, April, que você estava discutindo com uma criança de cinco anos? – perguntei, incrédula da infantilidade de minha irmã.
- Foi ela que começou, você viu, não posso mais falar nada de você que ela te defende e briga comigo, como se eu fosse a vilã. - April respondeu, incrédula.
- April, ela é só uma criança.
- Que baba ovo por você. Pelo menos, quando você e o quiserem casar, já terão o consentimento da filha dele.
- Ela me defende, April, por gostar de mim, ela faria o mesmo por você se você fosse mais legal com ela e não ficasse a provocando.
- Mais do que eu sou legal?
- Você está se deixando levar muito pelo seu lado infantil, irmã.
- Sou infantil mesmo. Prefiro ser infantil do que dar uma de adulta e nem se quer conseguir lidar com os sentimentos que sente por outra pessoa. Você só consegue fugir, , e quando diz, é na raiva, e ainda por cima se arrepende depois. - a voz de April se elevou umas oitavas, e algumas pessoas que estavam bem próximas de nós na água nos olhavam, curiosas. Apenas fechei meus olhos e respirei fundo.
- Já acabou? - perguntei com calma e ela relaxou.
- Já.
- Você sabe que não são só meus sentimentos envolvidos nisso tudo. Muitas mentiras já foram contadas para, do nada, tentar reverter assim. E chega desse assunto, pelo amor de Deus. - falei em tom calmo, mas muitas palavras saiam entre dentes.
- Desculpa, ok? Eu ando meio irritada, mais que o normal.
- Eu sei, irmã, mas entenda o meu lado também.
- E eu entendo, mas tem horas que me descontrolo. Desculpa?
- Te desculpo, sua mimada. - joguei água nela, que fez cara feia para mim.
- Mimada eu?
- Sim.
- Pelo menos não fui eu quem mamou até os três anos no peito. - ela jogou água em mim.
- Cala a boca. - rimos e ficamos jogando água uma na outra.

Capítulo 16

Me rolei de rir quando estava saindo do mar com April, ela tentava fazer aquela saída digna de filmes, mas foi mais digno dos programas de vídeo cacetadas, pois ela ainda estava no mar quando uma onda a pegou de jeito. Eu não aguentei e comecei a rir, até porque não teria nem como segurar, por mais que eu tentasse. Enquanto isso, ela ficava vermelha de vergonha ao mesmo tempo que estava com uma puta raiva de mim por estar rindo dela.
Me sentei na minha toalha estendida na areia, me acalmando da crise de risos, também estava deitado ao lado de Katherine, que estava de bruços. Fiquei por um tempo olhando os caras gatos caminhando à minha frente pela areia só de sunga, era um corpo mais lindo que o outro e pensamentos pecaminosos inundaram minha mente, fazer o quê? Sou mulher e principalmente tenho olhos.
Olhei para o meu lado direito onde o casal vinte estava e me arrependi, pois e Katherine se beijavam. Senti um misto de ciúmes e inveja, então para não fazer ou falar nenhuma merda, e principalmente por não suportar mais ficar ali de vela, eu me levantei, pegando minha bolsa de praia, e saí andando, os dois estavam tão entretidos naquele beijo que nem perceberam eu saindo de fininho.
E mais uma vez, eu me pegava tentando negar a mim mesma tudo o que eu sentia por aquele miserável do . Como, me diz, como ele podia ter tanto poder sobre mim?
Como ele podia? Como ele conseguia causar tantas coisas dentro de mim? Tantos efeitos. Quando essas coisas aconteciam, eu falava para mim mesma que o que eu estava sentindo era apenas por conta do calor do momento. E fingia acreditar nessas teorias minhas.
Encontrei um quiosque bacana e mais afastado daquele casal, me sentei em um dos banquinhos e pedi uma bebida. Logo o garçom me entregou o que eu pedi, e enquanto eu bebia, me forçava a não pensar em nada ou ninguém. O que era mais difícil do que eu pensava que seria, pois enquanto eu pensava não estar pensando em nada, eu estava mesmo era pensando em tudo ao mesmo tempo, e causando ainda mais confusão em minha mente já confusa.
- Uma cerveja, por favor. - ouvi uma voz um pouco rouca e sexy ao meu lado e virei minha cabeça para ver o dono daquela voz, quando o olhei, ele olhava para mim e deu um sorriso pequeno. - Olá.
- Olá. - respondi sem muito ânimo.
- Vem sempre por aqui? - sério que ele soltou aquela cantada?
- Olha, eu esperava mais de você no quesito cantada.
- Na verdade, não foi bem uma cantada, foi mais uma curiosidade mesmo. – um belo tapa na cara agora. É, , tá aí, um estranho tacando na tua cara que o mundo não gira só em torno de você, sua lesada.
- Desculpa, eu estou sendo bem idiota mesmo nos últimos dias. Mas, matando sua curiosidade, é a primeira vez que estou aqui. Nesse quiosque e principalmente nas Bahamas. E quanto a você? - tomei um gole da minha bebida, dando uma olhada nele pelo fundo do copo de vidro, ele soltou um sorriso de lado que arrepiou minha nuca.
- Não, tenho certeza de que você não é idiota.
- Como minha irmã mesmo disse, eu consigo tirar do sério até a pessoa mais calma do mundo. E ela tem razão.
- Acho que sua irmã é meio malvada. - dei de ombros. - Bom, respondendo a sua pergunta anterior, é a terceira vez que estou aqui nesse quiosque e principalmente nas Bahamas. - mais um sorriso de lado, se ele continuasse assim, iria me conquistar, e não queríamos isso.- Você está gostando daqui?
- Estou sim, aqui é maravilhoso, apesar de serem minhas primeiras horas. Mas seria ainda melhor se não fosse por uma certa pessoa que nos acompanhou nessa viagem. - revirei os olhos e ele riu.
- Vocês estão em um grupo de amigos?! - ele balançou com a cabeça e tomou um gole de sua cerveja.
- Sim, mas não. Ela não é minha amiga, se não ela teria tido o bom senso de saber o que é meu e ela teria ido embora. Estou há dias me segurando para não socar ela. - pedi mais uma bebida para o garçom.
- Deixa eu ver se entendi, ela roubou seu namorado, ou a pessoa que você gosta?
- Mais ou menos isso, ele não é nada meu, só nas mentiras mesmo. Mas isso não vem ao caso agora, você não merece ter que ficar ouvindo minhas lamentações.
- Imagina, eu sou ótimo em ouvir as pessoas. - e aposto que é ótimo em outras coisas também, pensei, dando uma olhada disfarçada em seu corpo, e, meu Deus, que homem era aquele?! - E me diz qual o seu nome? Sua idade? Onde mora? Se quiser dizer seu número de telefone também, estou ouvindo. - lindo, educado, sarado e ainda por cima bem humorado, acho que dessa vez meu cupido pode ter acertado bem no alvo.
- Meu nome é , tenho 25 anos, e moro em Nova Iorque. E você? - me sentei na cadeira totalmente virada para ele.
- Me chamo Jhonathan, tenho 22 anos e moro em Londres. - acho que meu queixo caiu uns centímetros, sério que ele tinha 22 anos? Ele parecia ter mais idade que eu e não menos. - Você está assustada agora e pensando em ir embora só porque sou mais novo que você. Se quiser ir, eu entendo.
Saí do meu transe quando o vi com uma carinha triste e finalmente falei:
- Não, não é isso, é que eu, ahn... Estou surpresa. Você parece ser mais velho que eu e não o contrário. - soltei uma pequena risada e ele me acompanhou, meu Deus, de onde esse cara saiu? Só pode ter vindo do céu, por que ele demorou tanto para cruzar meu caminho?
- Sei bem, mas muitas garotas já foram embora enquanto conversávamos por eu ser mais novo que elas.
- Mas aposto que já conquistou muitas, principalmente aquelas que amam caras mais novos.
- É, pode se dizer que sim. - rimos mais uma vez.

Ficamos ali praticamente a tarde toda conversando sobre assuntos aleatórios, eu já estava meio alegrinha por causa das bebidas, mesmo a maioria delas não contendo muito teor de álcool, mas a presença de Jhonathan também me deixava ainda mais alegre, ele era um cara espetacular, conseguiu me fazer esquecer todos os sentimentos que eu tinha por , toda a loucura dele com Katherine e as mentiras que ele contou e me envolveu. Ali com Jhonathan, eu estava conseguindo ser eu, em um mundo onde não tenho muitas preocupações, sem nenhum problema em minha vida. Ele arrancava gargalhadas de mim sem muitos esforços, ele tinha um senso de humor espetacular, muitas coisas ele levava na brincadeira numa boa. A perspectiva da vida para ele era completamente diferente da minha, para ele tudo era simples e tudo ficava ainda melhor com apenas um sorriso. Já para mim, tudo era complicado e tudo só melhorava com a força do braço. Éramos tão diferentes, mas estávamos nos dando tão bem.
A conversa com Jhoathan estava tão boa, e eu estava tão envolvida ali, que nem percebi as horas passando tão depressa, nós não percebemos, pois eu sabia que ele também estava envolvido ali na nossa conversa.
- Caramba já escureceu. - ele disse, sorrindo e olhando para o céu.
- Pois é, eu nem percebi as horas passando. - rimos.
- Eu também não, nossa conversa estava tão gostosa que nem dava tempo de olhar para as horas ou qualquer outro lugar. - Jhonathan me trazia uma paz e calmaria impressionante. Assim como fazia.
- Pois é, você é um cara muito bacana.
- Você também. Você é uma mulher incrível, eu adorei demais conversar com você. - ele pegou na minha mão pela primeira vez e eu senti um arrepio de leve com o seu toque, mas não tanto quanto quando o fazia.
- Eu adoraria ficar mais para conversar, mas tenho que ir, preciso terminar de arrumar as malas. Foi realmente incrível conversar com você. – disse, apertando um pouco mais sua mão, que ainda segurava a minha.
- Eu também, , foi muito incrível. E eu adoraria conversar mais com você, se possível todos os dias que você ainda ficar nas Bahamas.
- Eu digo o mesmo, Jhonathan. Será um enorme prazer vê-lo e conversar com você novamente. - sorrimos largamente.
- Bom, se você quiser, podemos nos ver hoje de novo. - meu sorriso se alargou ainda mais.
- Mesmo? Como?
- Vai ter uma festa, tipo um luau aqui na praia daqui algumas horas. E se você topar vir comigo, ficarei muito feliz.
- Claro, será uma honra te acompanhar nessa festa.
- Bom, como estamos no mesmo hotel, eu te pego no seu quarto ou nos encontramos em algum ponto aqui da praia? - eu ia de bom grado aceitar ele me pegar em meu quarto para irmos à festa, mas me lembrei de Katherine e do meu namoro de fachada com Tom, eu não podia correr o risco de Katherine me pegar com um outro homem.
- A gente se encontra aqui na praia, aqui no quiosque, pode ser?
- Claro, estarei te esperando e muito ansioso.
- Eu também. - nos levantamos do banquinho. - Bom, eu vou indo até mais tarde.
- Até mais tarde, . - ele se aproximou e depositou um beijo no canto da minha boca.
Além de lindo, Jhonathan tinha papo, era sedutor, e sabia muito bem como tratar uma mulher. Deixar ela interessada sem precisar ser um cretino safado com cantadas baratas.
Segui meu caminho para o hotel e ele provavelmente ficou mais um tempo ali no quiosque.
Durante o trajeto todo da praia até o hotel e do saguão do hotel até o meu quarto, eu mantinha um sorriso todo bobo na cara, porque eu não vim antes para as Bahamas? Por que Jhonathan, pela força do destino, não entrou em minha vida antes? Por que ele tinha que morar tão longe de mim?
Assim que cheguei no meu andar, encontrei April ali sentada no chão em frente da minha porta, e assim que ela me viu saindo do elevador, ela se levantou do chão e guardou o celular no bolso do short.
- Onde você estava, ? - ela parecia bastante irritada.
- Eu estava em um quiosque tomando uns drinks, por que? – respondi, franzindo o cenho e abrindo a porta do meu quarto.
- Porque estávamos malucos atrás de você, você saiu de perto da gente do nada e ainda levou a bolsa junto.
- Sim, porque como eu ia pagar as bebidas? - respondi meio óbvia, colocando a bolsa em cima do sofá ali no meu quarto.
- Isso eu sei, mas você demorou demais para retornar, estávamos aflitos com medo de algo mais grave ter acontecido com você. e então nem se fala, a pequena quase chorou. Retornamos para o hotel para ver se você estava aqui, mas nada, todos foram para seus quartos e eu fiquei aqui, esperando notícias suas e encarregada de avisar os outros caso eu encontrasse seu corpo em qualquer canto escuro aí, ou se você chegava viva.
- Credo, April, que horror, estou mais viva do que nunca. Mas por quanto tempo você está aí?
- Faz mais ou menos uns dez ou quinze minutos. - balancei a cabeça e fui até minhas malas, onde comecei a vasculhar minhas roupas em busca de uma boa opção para usar na festa. - Ficamos realmente preocupados com você.
- Não sei porquê, eu não sou mais uma criança, April, sei o que faço e onde vou. E caso fique perdida, eu sei pedir informação. E outra, por que não ligaram no meu celular? Ele está ligado até agora. – falei, a olhando enquanto jogava mais uma peça de roupa em cima da cama, já criando aquele montinho de roupas.
- Boa pergunta. - April ficou com cara de confusa enquanto pensava sobre a opção da ligação, e eu estava feliz porque não era totalmente culpada. - Vem cá, o que você está fazendo? - cruzou os braços, me olhando, confusa. - Estou em busca de uma roupa decente, que me deixe sexy, mas não vulgar. Que caia perfeito em meu corpo. - continuei a vasculhar as minhas roupas.
- Que tal esse aqui?! - April tirou um vestido floral de alças de dentro de uma outra mala, aquele vestido ficava incrível em mim, me deixava sexy e ao mesmo tempo com aspecto de mulher séria, do jeito que eu queria.
- Perfeito, April, você me salvou, maninha, não sei o que faria sem você agora. - lhe dei um beijo na bochecha e corri atrás de uma toalha, uma sandália e alguns acessórios para usar.
- Você sabe que não faria quase nada. Mas por que tudo isso, ? O que você anda aprontando? - acabei nem escutando o que ela perguntava, foi aí que ela falou mais alto, chamando minha atenção. – , você quer me contar o que está acontecendo?!
Em seguida, ela semicerrou os olhos e eu tive que contar a verdade, até porque não tinha mal algum naquilo, eu somente iria para uma festa com um amigo que acabei de conhecer, mas era super gente boa, e aquilo só não podia cair nos ouvidos da Katherine.
- Eu saí de perto de vocês, porque eu não aguentava mais ficar de vela para o casal e Katherine, então fui andando pela praia até que encontrei um quiosque e parei para tomar uns drinks. Foi aí que eu conheci um moço chamado Jhonathan. A nossa conversa foi fluindo de uma forma impressionante, ele me fez esquecer de praticamente tudo ao meu redor, principalmente das horas que passavam tão rápido. Quando vi, já era noite, e aqui estou eu.
- Uau, estou impressionada com esse seu dom de seguir em frente tão rápido. Vai me contar o segredo, ? Como você consegue esquecer uma pessoa tão rápido e ainda por cima, no mesmo momento, consegue conhecer outra pessoa e ainda por cima maravilhosa? Como você descreve.
- Seguir em frente e esquecer não é bem a situação, April. Eu só estou me proporcionando momentos de paz, com pessoas bacanas como esse moço, ao invés de ficar o tempo todo me remoendo por dentro toda vez que eu o vejo beijando-a.
- E eu super apoio você nisso, , se ele pode ser feliz, você então super merece e super deve, ser super feliz.
- Ah, April, ele é tão lindo, fofo, educado e animado. – suspirei.
- Mas me diga mais sobre ele, quantos anos ele tem? De onde ele é? Vocês vão ficar juntos para sempre?
- Calma, April, por favor, uma pergunta de cada vez. Ele tem 22 anos, mora em Londres e, não, ainda estamos nos conhecendo e ele mora longe.
- Peraí, , volta a fita, quantos anos mesmo ele tem?
- 22 anos. - falei um pouco mais baixo, mas ela escutou e seu queixo acabou caindo uns centímetros, o mesmo que aconteceu comigo.
- Você virou papa anjo sem me consultar? - ela não parecia brava, parecia estar se divertindo. - Mas ele tem cara de ser mais novo ou cara de ser mais velho?
- De início, pensei que ele era mais velho que eu. Mas, April, a idade não importa, o que importa é que ele é um doce de pessoa e que nos damos bem.
- E você está querendo levar o novinho para cama, quer corrompê-lo.
- Claro que não, April, somos amigos e nos conhecemos há apenas umas horas.
- Eu te conheço, , sei que pensamentos pecaminosos sobre ele passaram e estão passando por sua cabeça. Se permita sentir, minha irmã, se rolar aquele clima, deixe o resto acontecer. Você pode estar pensando que o é sua alma gêmea, mas pode ser esse Jhonathan. Ele mora longe? Sim. Mas o resto o destino se encarrega de fazer.
- April, eu não penso que é o amor da minha vida. E nem o Jhonatan.
- Pensa sim, , só que você tenta se enganar dizendo que não.
- Eu vou me permitir sentir, e aproveitar cada sensação. Eu não posso mais viver na sombra de uma pessoa que sabe o que sinto, mas é a mesma coisa que não soubesse.
- É isso que estou tentando te dizer. - ela sorriu e apertou minha mão. - Saiba que estarei aqui para tudo o que precisar. - piscou para mim. - Agora vai lá tomar um banho que depois eu vou te deixar linda para o Jhonathan.
Tomei um rápido banho, pois em menos de uma hora ele estaria no quiosque à minha espera.
April me ajudou com a maquiagem e, diferente da última vez, ela só usou em mim um pó, blush, rímel e um batom. No cabelo, ela fez uma trança embutida.
- Você está perfeita. Se já conquistou esse cara, agora irá conquistar ainda mais.

Estava quase chegando no quiosque quando o vi de longe, ele estava lindo com uma bermuda e camiseta vinho e, nos pés, um tênis. Parecendo ter olho na nuca, ele olhou para trás e sorriu largamente ao me ver, acenando para mim. Apertei os passos e cheguei rapidamente até ele, que me abraçou e eu retribuí, e ele depositou um beijo em minha bochecha, me deixando corada.
- Você está simplesmente perfeita. - sussurrou e eu me arrepiei.
- Obrigada, você também está maravilhoso. - sussurrei de volta e ele apenas sorriu.
- Obrigado. Vamos, a festa já deve ter começado.
- Claro, vamos.
- Só te avisando que eu tenho uns amigos aqui meio malucos demais. Então, não precisa se assustar, e eles também tem a língua meio solta, falam praticamente tudo o que vem à cabeça. Mas fique tranquila que irei te proteger.
- Obrigada por avisar, mas meus amigos são do mesmo estilo que os seus. - rimos e continuamos a andar com os antebraços entrelaçados um no outro.
Chegamos ao local onde acontecia a festa, era em uma parte mais deserta da praia, então não incomodaria as pessoas que não queriam estar ali, e realmente tinha bastante gente. Todos riam e conversavam, se divertindo.
- Jhonathan, até que enfim chegou, hein?! – um loiro de cabelo cacheado dos olhos verdes falou, rindo, enquanto se aproximava de nós dois.
- Demorei um pouco mais, mas foi por uma boa causa. - ele me olhou e sorriu de lado, abaixei a cabeça em sinal de vergonha, mas logo o olhei.
- Por uma boa causa mesmo, hein, cara, onde você encontrou essa joia rara? - o amigo de Jhonathan disse enquanto me olhava.
- A conheci em um quiosque essa tarde, e pode tirar os olhos, Patrick. Ela não é para o seu bico.
- Desculpa aí, cara, mas você tirou a sorte grande, irmão. Ela é muito linda, com todo o respeito. - gostei desse cara.
- Sei que é. - novamente Jhonathan me olhou, e dessa vez eu não desviei os meus olhos dos seus. - A propósito, ela se chama . , esse é um dos meus amigos, Patrick.
- Prazer em te conhecer, Patrick! - apertei sua mão que estava estendida, mas ele me puxou e depositou um beijo de cada lado da minha bochecha.
- O prazer é todo meu, ! – sorriu torto, mas logo se recompôs, voltando a falar sério. - Aproveitem a festa!
- Obrigado, cara. - Patrick bateu continência e saiu de perto de nós, e nós rimos. - Eu te disse que eles são malucos.
- Não tem problema, como te disse, estou acostumada.

Eu estava naquela festa fazia mais ou menos umas duas horas, não tenho muita certeza, não deu tempo de consultar as horas, pois eu estava me divertindo para caramba, eu e Jhonathan bebíamos bastante, mas bebida quase sem nenhum teor de álcool, queríamos nos divertir, mas não queríamos ficar bêbados para no dia seguinte não acabar nos lembrando de nada. Nosso propósito era nos divertirmos e ficar guardado na lembrança depois.
Eu e Jhonathan fizemos algumas batalhas como ver quem tomava mais rápido o drinque, e eu sempre ganhava e ele sempre dizia que eu estava roubando. Nós riamos muito e conversávamos bastante, era bom saber mais coisas sobre ele.
Teve uma hora que chegou o grupo de amigos dele e fizemos a disputa de quebra de braço, e eu ganhei de dois amigos deles, que, por sinal, eram muito frouxos, eles foram um pouco zoados por outras pessoas, mas ele tinha completa ciência de que aquilo era apenas uma brincadeira. Em nenhum momento daquela festa, pelo menos as horas em que estava ali, não aconteceu nenhuma briga, e ninguém foi desrespeitoso tanto comigo quanto com qualquer outra pessoa ali. Eles bebiam muito? Sim, mas conheciam seus limites. E não queríamos confusão, estávamos todos ali apenas para nos divertir.
- Vem, vamos dançar. - puxei Jhonathan, que ficou meio relutante, mas aceitou.
Paramos na pista de dança improvisada ali e começamos a balançar nossos corpos no ritmo da música e da forma que conseguíamos e sabíamos. Jhonathan sabia e não sabia dançar, tinha momentos que ele dançava de forma desengonçada, e eu não aguentava e caía na gargalhada. Vendo que eu estava me divertindo ainda mais em suas custas, mesmo assim ele continuou dançando daquela forma só para me fazer rir ainda mais.
- Aí, Jhonathan, a minha barriga já está doendo.
- O importante é que você está se divertindo. - ele sorriu e parou de dançar, foi no mesmo momento que uma música mais lenta começou a tocar.
Ele passou os braços pela minha cintura e colou meu corpo mais ao seu. Eu não conseguia desviar meus olhos dos seus, eram tão lindos.
- Porque eu não te encontrei antes? - falei de forma lenta, praticamente sussurrando, e ele sorriu de forma doce para mim. Aproximando ainda mais nossos rostos.
- Por que você demorou tanto para me encontrar? - ele sussurrou de volta, de forma sexy e suave, e meu coração faltou saltar para fora do meu peito. Como disse a April, apenas me permiti sentir todas aquelas sensações gostosas que ele me proporcionava. Eu não estava completamente apaixonada por ele, como você deve estar pensando, ainda ocupava meu coração. Eu apenas estava me permitindo viver um pouco mais.
- Você é mesmo real?
- Sou. E faço a mesma pergunta a você.
- Estou me sentindo mais viva do que nunca, e graças a você, Jhonathan. Obrigada.
- Não precisa agradecer, fico feliz por saber que estou conseguindo te fazer viver mais.
- E se a gente acabar não se vendo mais? - continuávamos a sussurrar um para o outro enquanto a música lenta ainda tocava.
Ele apenas sorriu e disse:
- Então levaremos com a gente as lembranças de tudo o que aconteceu aqui. Cada momento e cada sentimento continuará vivo em nós.
- Você é incrível.
- Não. Você é incrível! - o abracei e a música acabou. - , você aceita cometer uma loucura comigo? - agora seu sorriso era sapeca.
- Dependendo do que for, eu aceito.
- Pode, por esse momento, confiar em mim?
- Posso.
- Então vem comigo. - ele segurou minha mão e começamos a correr pela areia da praia, até que paramos em um lugar mais afastado da festa.
- Qual a loucura você quer cometer? - eu já tinha uma ideia do que ele queria fazer.
- Vamos nadar. - ele começou a tirar a roupa até que ficou apenas com sua cueca boxer.
- Mas eu não tenho roupa.
- Eu também não, é por isso que tirei a minha. Faça o mesmo, .
- Não. Você é maluco, Jhonathan.
- Vamos lá, , a felicidade está nesses pequenos detalhes. Se permita viver.
- Até mesmo nadar pelados? E durante a noite?
- Não exatamente pelados. Mas esses momentos são os que mais nos fazem feliz, quer viver mais, ? - balancei a cabeça que sim. - Então essa é a sua chance, meu amor.
Todas as vezes eu ficava extasiada com suas palavras, e eu acabei por tirar a roupa, ficando apenas de calcinha e sutiã, e me joguei na água gelada onde Jhonathan me recebeu de braços abertos.
Brincamos de jogar água um no outro por um momento, eu dava uns mergulhos e fingia que iria afogar, Jhonathan gargalhou e me puxou para ele, onde entrelacei minhas pernas em seu quadril. Ficamos apenas olhando um para o outro por um tempo. Eu gravava cada detalhe seu em minha memória, e a luz da lua cheia o deixava ainda mais lindo do que já era.
Nos segundos seguintes, nossos lábios já estavam um no outro, em um beijo que me levou para as nuvens e voltei.
Me arrepiei com sua mão em meu cabelo, puxando os fios de leve, enquanto a outra mão estava ao redor de minha cintura e fazia um carinho de leve em meu quadril.
Assim que nossas línguas se encontraram, meu coração palpitou mais rápido e eu comecei a apalpar todas as partes do seu corpo que eu conseguia.

Abri a porta do meu quarto de hotel com certa dificuldade, pois Jhonathan, quando não estava beijando minha boca, estava beijando meu pescoço, me fazendo arrepiar da cabeça aos pés. Era fato que estávamos com pressa, queríamos um ao outro com urgência.
Assim que consegui abrir a porta, ele a fechou com o pé e me prensou em seus braços, me dando impulso para que eu passasse minhas pernas ao redor de seu corpo, e foi exatamente o que fiz.
No caminho da porta até a minha cama íamos aos beijos, hora e outra íamos de encontro a parede, estávamos tão extasiados naquele momento, sendo movidos apenas pelo desejo, então não sentíamos quase dor nenhuma, e quando sentíamos uma leve dor, era uma apimentada a mais naquele momento.
Assim que chegamos na cama, ele se sentou e eu fiquei sentada em seu colo, ainda nos beijávamos, mas cortamos o beijo para que eu conseguisse passar a sua blusa por sua cabeça, e, meu Deus, que peitoral era aquele. Antes de continuarmos, eu tive que tirar casquinha dali.
Jhonathan elevou suas provocações a outro patamar, ele brincava com o lóbulo de minha orelha em sua boca e sua respiração falha no pé do meu ouvido me arrepiava e me excitava.
Ele segurou a barra do meu vestido e com pressa o tacou em qualquer canto do quarto.
Ainda estávamos molhados pelo banho de mar, o que foi uma aventura e diversão.
Desabotoei o botão de sua bermuda e, com sua ajuda, o retiramos de seu corpo, apenas as roupas íntimas sobravam em nossos corpos que pegavam fogo um pelo outro.
- Cara, você é muito perfeita.
- Você que é. - sussurrei da melhor forma que conseguia em seu ouvido, enquanto sentia seus beijos em meu colo.
Entre apertos e apalpadas aqui, e entre gemidos e beijos ali, chegamos ao auge do prazer.
Ele encostou seu rosto bem próximo do meu e eu senti sua respiração batendo em meu ouvido, me arrepiando.
- Meu Deus, você é demais.
- Você então, nem se fala. - me esparramei na cama ao seu lado.
Ele me puxou para seu peito, respiramos ofegante. Aquilo tinha sido incrível.
Minutos depois, fechei os olhos e peguei no sono com um sorriso no rosto.

"Os sentimentos não precisam de motivos, nem o desejo de razão. O importante é aproveitar o momento e aprender sua duração."

Capítulo 17

Abri os olhos devagar, tentando me acostumar com a claridade. Merda, por que eu não fechei direito as cortinas antes de me deitar?
Poucos segundo depois, comecei a ouvir batidas na porta do quarto, eu não queria me levantar da cama estava gostoso demais ali, então deixei que continuasse a bater, pois se fosse uma das camareiras, elas poderiam voltar mais tarde, iriam perceber que eu ainda estava dormindo e que não queria ser incomodada. Agora, se fosse um de meus amigos ou minha irmã, eles poderiam se comunicar comigo também mais tarde, e se fosse algo urgente, eles poderiam me ligar, eu até atenderia o celular, o que eu não queria era me levantar da cama.
Mas a pessoa do outro lado da porta insistia em querer falar comigo. Bufei, com raiva, e olhei no relógio do celular. Quem em sã consciência incomodava outra pessoa às 08h da madrugada? Essa pessoa com certeza era maluca.
Com raiva, retirei o lençol de cima de mim, e sem querer bati minha mão na perna de Jhonathan, que apenas suspirou e virou para o outro lado da cama. Durante a troca de posição dele, o lençol saiu de cima de seu corpo, deixando parte de sua cueca à mostra, soltei uma risada e o cobri com o lençol. E a pessoa novamente bateu na porta, começando a me deixar ainda mais irritada do que já estava.
- Já estou indo. - gritei mais alto, mas nem tanto, para que não acordasse Jhonathan.
A pessoa bateu de novo e eu me segurei muito para não falar merda quando abrisse aquela porta, ô pessoinha insistente e apressada.
Assim que abri a porta, me olhou e alargou o sorriso, me fazendo apenas arquear as sobrancelhas e dissipar minha raiva.
- . O que precisa à essa hora da manhã? - me escorei na porta e ele colocou as mãos no bolso da bermuda e começou a se balançar para frente e para trás devagar. Uma mania que ele tinha quando não sabia o que dizer ou quando estava com vergonha. A mesma mania que tinha.
- Eu vim saber se você está realmente bem. Ontem você deu um susto em nós. Te procurei em todo canto. E eu queria conversar com você sobre uma coisa.
- April não te falou que horas depois eu cheguei, e viva? E sobre o que você quer falar comigo?
- Sim, ela contou, mas eu queria ter certeza. Também queria saber o que realmente aconteceu para você ter sumido daquele jeito.
- Desculpa por isso, eu só queria dar uma espairecida na cabeça.
- Sei. - ele deu uma olhada para dentro do quarto. - Eu posso entrar, para conversarmos melhor? Prometo não demorar tanto. Sei o quanto odeia ser incomodada logo cedo.
- Tá, claro. Entra. - me desencostei da porta, a abrindo mais, dando passagem para que ele entrasse. O problema não foi ele ter entrado e sim a forma como eu estava vestida.
Eu estava com a camiseta do Jhonathan, assim que terminamos de fazer amor, eu coloquei minha calcinha e a camiseta dele apenas. E então eu esqueci que estava vestindo apenas aquilo assim que abri a porta, e eu também só percebi, pois vi encarando minhas pernas, e então foi subindo seu olhar.
- Bela camiseta.
- Obrigada. – sorri, tímida, e eu torci a Deus para que Jhonathan não acordasse, e que fosse logo embora. A vergonha de ter um homem em meu quarto e termos dormido juntos começava a bater na porta.
- A ficou bem preocupada com você ontem, ela só não chorou pois eu a acalmei, dizendo que você logo retornaria. - ele soltou uma pequena risada. - Ela pensou que você também tinha se perdido igual a ela naquele dia no shopping.
- Me desculpa, eu só saí para espairecer um pouco e acabei esquecendo as horas.
- Claro, eu entendo, e-
parou de falar e ficou olhando por cima do meu ombro, e quando me virei, me deparei com Jhonathan de calça jeans, porém aberto, e sem camisa. Parei de respirar por um momento, eu não queria que me visse naquela situação e pensasse coisas erradas de mim depois.
- Desculpa atrapalhar, não foi minha intenção. Eu... Vou... Voltar para o quarto. - fechei os olhos por um momento, e assim que retornei a abri-los, olhei para , que não tinha uma cara muito boa.
- Quem é ele, ?
- Jhonathan, eu acho melhor você ir. - foi difícil dizer, mas eu precisava que ele fosse.
- Tá ok, você me liga depois? - apenas balancei a cabeça que sim. Ele tinha entendido que eu precisava realmente que ele fosse, e, graças a Deus, ele não pareceu ter levado aquilo mal. Ele retornou para o quarto e minutos depois voltou já vestido, mas sem sua camiseta, pois eu estava com ela, depois eu devolveria a ele, ou não. - Qualquer coisa me liga tá?!
Balancei novamente a cabeça e ele depositou um beijo no topo da minha cabeça. Ele olhou por um momento para , mas ele parecia tentar matar Jhonathan só com a força do pensamento. Então Jhonathan saiu.
- Quem é ele, ? - retornou a perguntar, ele parecia um pouco irritado, mas ainda mantinha a calma na voz.
- Ele é o Jhonathan, um amigo meu. - fixei meu olhar em , não teria porquê eu ficar com vergonha ou receio. Eu não tinha feito nada de errado, aquilo era normal entre adultos, ainda mais eu, que era bem crescidinha e sabia o que estava fazendo e com quem estava fazendo.
- E você sempre dorme com os seus amigos, ? - tinha desviado o olhar dele por uns segundos, mas voltei a olhar, e ele ainda tinha uma cara nada boa.
- Não, eu não durmo com os meus amigos. O que você quer dizer com isso, ? - cruzei os braços.
- Quando e onde vocês se conheceram? - ele simplesmente não respondeu a minha pergunta, mas eu já tinha uma noção do que ele quis dizer com aquilo.
- Nos conhecemos ontem, no quiosque. - eu só queria ver onde aquela conversa ia parar. Quais seriam os julgamentos precipitados sobre mim. Ele soltou uma risada e cerrou os punhos e o maxilar.
- Eu. Todos nós preocupados com você ontem, com medo de algo grave ter acontecido com você, sendo que você estava se divertindo. E nem teve sequer a decência de nos dizer em que porra de lugar você estava. - ele parecia muito, muito irritado, mas eu não conseguia entender o porquê daquela reação dele.
- Desculpa, , mas é da minha vida que estamos falando, e desde quando eu devo satisfações de onde, ou com quem estou, para você?
- Desde o dia em que você pisou o pé na minha casa, e minha filha se apegou a você. Você tem noção do quanto estava desesperada atrás de você? Estávamos muito aflitos, . Enquanto você estava lá nos braços desse cara. - meu coração se apertou, eu não fazia ideia que ficaria tão mal assim como ficou.
- Eu não sabia que iria ficar tão desesperada assim. E eu não estava nos braços dele, estávamos no quiosque, apenas conversando.
- Sei que estavam. Você não podia ter feito isso, . - falou, meio decepcionado, mas já calmo, enquanto eu estava começando a ficar irritada.
- Por que eu não podia, ?
- Caramba, você praticamente se jogou para cima do primeiro cara que viu pela frente.
- Não foi exatamente isso que aconteceu e você sabe disso. Mas espera um minuto, você está tentando chegar aonde com tudo isso? Se você é o exemplo de pessoa que devemos correr atrás do amor da nossa vida.
- Mas não dessa forma.
- Que forma? Ficar com ele na primeira noite? Não se esqueça que você também já fez muito isso.
- Sim já fiz, mas-
- Mas nada, . Quem sabe ele não é a minha pessoa certa. Eu não posso deixá-lo escapar. - não consegui segurar a ironia na voz.
- Assim como a Katherine é para mim. E você pode colocar tudo a perder ao trazer esse cara para o seu quarto. E, por favor, pense, pois a também está por perto.
- Mas não fui eu que inventei mentiras para ficar com ela, você me colocou nisso, . Não vou parar ou atrasar minha vida porque você decidiu me colocar em mentiras suas, querendo levar um relacionamento adiante. O que adianta, , se desde o início já está assim, com mentiras?
- O que eu faço ou deixo de fazer com Katherine é de respeito a mim somente. Eu somente te pedi que me ajudasse, e não que parasse sua vida, mas fosse discreta. E você não fez isso.
- Mas me colocar em suas mentiras sem nem me consultar você pode?!
- Será que eu fui o único a mentir com isso, ?
- Não tente desviar do assunto, .
- Não estou.
Por mais que falássemos baixo, dava para ver bem que nossos ânimos estavam bem alterados. Por que para o ser humano é tão difícil admitir estar errado ou com ciúmes?
O ego e orgulho é tão grande que os incapacita de verem um palmo à sua frente, ou para simplesmente assumir seus erros. Os seres humanos preferem jogar a culpa na outra pessoa à assumir a culpa quando realmente é culpado.
Assumir a culpa não te fará menos mulher ou menos homem.
- Você está simplesmente fora da razão, .
- Certo, , você tem algo mais para jogar na minha cara? Então faça de uma vez. Se for por conta de seus sentimentos por mim, que você me contou e eu não fiz nada até agora. Saiba que eu acordei essa manhã depois de tanto pensar sobre. Disposto a vir até seu quarto e conversar sobre isso, e dependendo de como fosse, nós iríamos tentar. - foi como se eu tivesse levado uns dois socos em meu estômago. – Aí chego aqui e encontro um cara estranho que você dormiu. O que você quer que eu pense?
Eu havia sido pega de surpresa demais para formular uma resposta naquele momento. Mas me esforcei.
- Não é para pensar em nada. Pois você me conhece o suficiente para saber como eu sou. Então lide de forma adulta e responsável com o ciúmes, sem me atacar quando não fiz absolutamente nada de errado.
Dessa vez ele pareceu ser pego de surpresa, baldes de água fria foram jogados em nós dois, nos fazendo nos acalmar. - te tem como exemplo, ela morre de preocupação com você. E você nem para ligar, , avisando que estava bem. Eu sempre que ia a um encontro te ligava, avisando para que acalmasse . Ela sempre se preocupa com você, mas você não se preocupou com ela dessa vez.
- Não diz isso, pois eu sempre me esforcei ao máximo para ser boa para a , e você sabe muito bem o quanto eu me preocupo com ela, . E a tenho como se fosse minha filha, então não me acuse dizendo que não me preocupo ou não amo . Mas não a coloque no meio disso. Ela não tem nada a ver com tudo isso.
- Eu estou nesse momento com a cabeça quente demais.
- Então o que você espera que eu faça?
- Eu não sei. – ele não me olhava naquele momento, apenas encarava a parede ao seu lado.
Então eu decidi por ele o que seria melhor eu fazer.
- Vou voltar para Nova Iorque. Precisamos nos acalmar, e nos vermos o tempo todo só pode piorar… – acho que consegui ver seus olhos brilhando, mas por conta de uma lágrima querendo escapar, e então ele simplesmente saiu do quarto.
Quando tive total certeza de que ele estava longe o bastante de mim, lágrimas começaram a correr pelo meu rosto. Como eu conseguiria ficar sem ? Como eu iria conseguir ficar sem seus sorrisos e risadas contagiantes? Como eu iria conseguir ficar sem seu carinho? Sem suas espertezas? Será que eu tinha estragado tudo?
Ele estava disposto a resolver a situação sobre nossos sentimentos.
Aquela discussão na verdade não foi sobre eu ter dormido com Jhonathan ou não. Pois todos sabemos que eu não estava errada por querer seguir minha vida adiante. Na verdade, nós dois estávamos errados de alguma forma, ele por saber o que eu sentia há tanto tempo e simplesmente não fazer nada, sabia que havia muitas questões envolvidas, por isso não o culpava sozinho.
E eu errada por também não ter deixado explícito meus sentimentos por ele antes, bem antes dele conhecer Katherine. Pois convenhamos que ninguém tem bola de cristal para adivinhar o que o outro sente ou deixa de sentir por você.
Doeria... Estava doendo muito, por muitas questões, mas a principal era a incerteza se eu tinha ou não tinha mais o meu emprego com a família . Mas tanto eu, quanto , precisávamos muito de um tempo, para tentar resolver essas coisas, principalmente as coisas do coração.

Com todas as malas arrumadas, um funcionário do hotel me ajudou a colocar as malas no carrinho, e levar para o hall do hotel. Eu estava triste demais por estar indo embora e ter que ficar longe de , e eu acho que eu nem conseguiria me despedir dela direito.
Assim que chegamos ao hall, encontrei , , Tom e April ali, conversando.
- Você pode me ajudar a colocar as malas no táxi, por favor? - comentei com o funcionário do hotel, mesmo sabendo que ele já faria aquilo, eu só queria adiar um pouco mais a despedida e o adeus da pequena , que havia se tornado meu tudo. O funcionário do hotel apenas assentiu com a cabeça. Os quatro enfim perceberam minha presença ali, se manteve em seu lugar com uma expressão em seu rosto que eu não conseguia decifrar, mas arriscava dizer que ali continha tristeza. Pela minha partida e por coisas não ditas muito antes. Enquanto isso, os outros três olhavam de mim, para as malas, das malas para mim, com caras confusas. E então correu até perto de mim, me agachei à sua altura e ela me abraçou apertado, já sabendo o que estava acontecendo.
- Essas malas são suas, tia ?
- São, meu amor. - seus lindos olhinhos verdes começaram a se inundar de lágrimas.
- Você vai embora? - apenas assenti com a cabeça. - Não vai, tia , por favor, fica comigo. Você prometeu aquele dia que não ia me abandonar nunca. - lágrimas já escorriam por seus olhos e eu enxuguei algumas.
- E eu não vou te deixar nunca, minha pequena. Eu só preciso voltar agora para Nova Iorque, preciso resolver uns assuntos urgentes por lá. Precisamos desse tempo, meu amor. - ela pareceu se acalmar.
- Mas acabamos de chegar. Fica mais um pouco, tia .
- Eu não posso, meu amor.
- Então me leva com você, tia?!
- Não posso levar você comigo dessa vez, pequena. Seu papai está aqui, e ele vai precisar muito de você, assim como você dele. Mas que tal você aproveitar tudo isso por nós duas? - sorri pequeno a ela, que assentiu com a cabeça. - Vou sentir muitas saudades de você! - tentei passar a maior calma e tranquilidade possível para ela, como se não tivesse acontecendo nada demais. Mesmo que eu estivesse inundada de inseguranças por dentro.
- Eu também vou e muita. - ela me abraçou novamente, mas dessa vez mais apertado.
- Desculpa, pequena, por ter feito você passar por tanta preocupação comigo ontem. - pedi e ela deu um sorriso pequeno.
- O importante é que você está bem, tia . - sorri pequeno a ela e bati de leve meu dedo indicador em seu nariz pequeno.
Me levantei do chão e só então percebi que Tom e April estavam próximos a mim, já , se mantinha no mesmo lugar, mas a todo instante seus olhos estavam em mim.
- Por que você já está indo, ? - April perguntou.
- Preciso resolver umas coisas em Nova Iorque. - o que de fato não era mentira, provavelmente eu teria que logo começar a arrumar um outro emprego.
- Não mente para mim. O que realmente aconteceu?
- Não quero falar disso agora. Somente que foi decisão minha de voltar para casa. Depois, outro dia, quando voltarem para casa, nós conversamos. - ajeitei minha bolsa em meu ombro e suspirei. - Preciso ir, vou pegar o próximo voo, quem sabe tenho sorte e saía um logo.
- Eu vou com você. - April disse, decidida.
- Não, fique e aproveite as Bahamas por mim. Não quero que retorne por minha causa.
- Nós somos irmãs, eu nunca vou te deixar sozinha, independente do que tenha acontecido. Prometi para mamãe estar na sua cola o tempo todo.
- Tá bem, como sei que não irá voltar atrás, nós nos vemos no aeroporto, pode ser?
- Pode sim.
- Eu vou voltar com vocês, meninas. - Tom também falou, decidido. - E estou falando sério.
- Vocês vão mesmo deixar , Katherine e aqui sozinhos? - perguntei.
- Sim, o que é que tem? Eles não queriam viagem em família, apenas eles? Agora o desejo deles se tornará realidade. - April falou de forma debochada, olhando para como se soubesse que era culpa dele, e minha cabeça estava cheia demais para repreendê-la naquele momento.
- Vejo vocês daqui a pouco no aeroporto. - abracei os dois e novamente, e fui até o táxi. Minhas malas já estavam no porta-malas, só estava à minha espera para partir.
Assumo que ao mesmo tempo que eu queria que April voltasse comigo para que eu e ela pudéssemos ter mais liberdade para poder conversar sobre o ocorrido, sem que ocorresse o perigo de quem não deveria escutar nossa conversa, eu queria que ela ficasse e aproveitasse mais da maravilhosa Bahamas, ela não merecia voltar antes por minha causa, mas eu estava precisando tanto da minha irmã ao meu lado.

Cheguei no aeroporto, fiz o check-in e me sentei. Eu me sentia meio desolada, sem ter nenhuma noção de como minha vida seria dali para frente, o que aconteceria amanhã (se eu já não sabia antes, imagine agora), o que seria da minha vida dali para frente.
Eu estava acostumada demais com a minha rotina, que era e , cuidar deles e da casa. Agora eu podia entender o porquê muitas pessoas não quererem sair da zona de conforto, a possibilidade de coisas novas acontecerem em sua vida quando você já está acostumada com aquela mesma coisa chegava a ser assustador.
e viraram minha zona de conforto, eu tinha toda a minha rotina na cabeça, todos os dias era praticamente a mesma coisa, me dedicar a eles dois e à casa, mesmo eles não sendo nada meus além de patrão e a filha do patrão. E agora não seria mais aquela coisa todos os dias, seria apenas eu, em meu apartamento, a procura de outra coisa para fazer e para poder me sustentar. Em questão de minutos, minha vida virou de pernas para o ar, e eu fiquei em uma situação de praticamente desolação.
Em questão de meia hora, minha irmã apareceu em minha frente com uma cara de que sentia muito por mim, nem pena era, pois eu a fizera prometer para mim que ela nunca sentiria pena de mim, nessas situações, a pior coisa que um ser humano pode sentir pelo o outro é pena, pelo menos era assim ao meu ver.
April sentou ao meu lado e respirou fundo, e eu fiquei apenas olhando para minha frente, eu queria conversar com ela, mas eu não tinha coragem de ser a primeira a puxar aquele assunto.
- O que aconteceu de verdade, ? - por me conhecer bem como só ela conhecia, puxou o assunto.
- Estragamos tudo, April.
- Quem e por que estragaram tudo?
- Eu e . Por não termos dito o que sentimos muito antes disso tudo. E quando enfim ele resolveu conversar sobre, ele encontrou um cara no meu quarto.
- Mas você não está errada de seguir sua vida. Ele não pode brigar com você por conta disso.
- Não brigamos por eu ter dormido com o Jhonatan.
- Então por que de tudo isso?
- Isso tudo foi na verdade por sermos tão covardes em relação a nossos sentimentos. Foi somente uma reação em cadeia por não sabermos lidar com a situação.
- E então ele mandou você voltar para casa?
- Não, como falei, a minha volta foi decisão somente minha. Ele não sabia o que fazer, imagina o que era para mim fazer.
- Mas ele concordou.
- Ele somente disse que precisávamos de tempo.
- Tempo para que, meu Deus?
- Para pensarmos o que faremos daqui em diante.
- Mas você sabe que teve outra coisa que causou tudo isso, não sabe?
- E o que foi?
- Simplesmente ciúmes.
- Não. Tinha?
- , ele foi até seu quarto resolver a questão de vocês dois. Então ele viu o Jonathan lá e a possibilidade de você ficar com outro e ele te perder já o deixou louco, ele não pensou direito, vocês entraram nessa discussão e terminou nisso. Ele acabou se deixando levar pelo ciúmes.
- Mas era só ele ter entrado nesse assunto que iríamos resolver isso.
- Você pensou nisso quando saiu da praia ao vê-los se beijando? Aquele dia que você sumiu por horas.
- Não. Mas são situações diferentes.
- Que levaram ao mesmo resultado.
- Isso é verdade.
- Mas o mais importante é que vocês já sabem o que realmente sentem, tudo bem que ele não assumiu da parte dele, mas já demonstrou. Agora o passo para algo acontecer por definitivo é menor.
- Mas você sabe que ele irá continuar tentando com a Katherine até as possibilidades se esgotarem.
- Sim, e isso ao mesmo tempo é bom. Pois dará a vocês um tempo para pensarem, ainda mais agora.
- Eu agora simplesmente não sei mais o que farei daqui para frente, eu estava tão acostumada com a mesma rotina de sempre, que agora me sinto perdida. Sei que terei que procurar um emprego, mas não tenho ideia nem de por onde começar.
- É mesmo difícil no início, mas logo você vai se encontrar. - April acariciou meu braço e eu deitei minha cabeça em seu ombro, onde ela começou a fazer um cafuné em meus cabelos.
- Onde está o Tom?
- Ele está fazendo o check-in. Fiz ele ir lá para que pudéssemos conversar melhor, sei que nem tudo você iria falar na frente dele, e eu preciso ter uns minutos longe dele. Ele é um amor, mas é bem grudento às vezes.
- Mas é por isso que você gosta dele. – falei, rindo e dando uma cutucada em sua barriga, ela riu e acabou por assentir.
- Eu não queria muito que vocês deixassem de curtir o restante dos dias que vocês tinham nas Bahamas por minha causa. Mas eu preciso tanto de você, April.
- E é por isso mesmo que eu vim. Li nos seus olhos que você precisava de mim.
- Sei que não sou muito de dizer isso, mas eu te amo, April.
- Eu também te amo, minha bonequinha. - ela beijou os meus cabelos e eu sorri de forma involuntária. Apesar de todas as nossas brigas e palavras ofensivas que lançamos uma à outra nessas horas, a melhor coisa que me aconteceu foi ter April ao meu lado, e melhor ainda como minha irmã. Ela era chata, cabeça dura, mandona, preguiçosa, escandalosa, mas mesmo assim era minha irmã e eu a amava demais.



Continua...



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