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Prólogo - I can't seem to get her off my mind.


Albuquerque – 1956.

Seis e meia da tarde.
66 Dinner, mais conhecido como Route 66 Dinner, estava, como de costume, cheio e bem animado. Casais beirando seus vinte a vinte e cinco anos apreciavam os melhores lanches que a estrada de Albuquerque poderia oferecer, juntamente com os maravilhosos milk-shakes de canudo duplo, feitos especialmente para os apaixonados. Alguns homens aproveitavam a noite para curtir o som do rock’n roll ou do clássico Jazz diretamente da Jukebox, trajando suas melhores calças jeans, blusas simples, casaco de couro preto e com um topete impecável, chamavam suas parceiras que esbanjavam suas melhores estampas em vestidos ou saias rodadas. A faladeira estava alta, era complicado de ter uma simples conversa, era por essas e outras que Angie e Ralph sempre escolhiam a mesa do canto esquerdo, um pouco próxima ao banheiro, mas não se incomodavam tanto, o mínimo de barulho possível já era bom.
– E eu não sabia que ela poderia fazer algo desse tipo, convenhamos, não era muito sofisticado, aposto que Ruby deve ter avisado a ele, mas Johnnie tem uma terrível mania de não ouvi-la. – Angie disse, pondo algumas das batatas fritas na boca marcadas pelo forte batom vermelho nos lábios.
– Não me surpreendo muito disso ter acontecido, mas me surpreendo pelo fato do pai de Ruby não ter fechado a cara ou soltado o verbo, sabe como aquele homem é, tenho medo de me aproximar daquela casa. – Ralph comentou embalando em uma risada. Seu riso era contagiante, era impossível não rir com seu modo de falar e Angie adorava aquilo, lhe fazia se sentir uma boba apaixonada. Enquanto o rapaz terminava de contar sobre sua aventura que passara com Johnnie em uma das noites, brincando com uma das batatas no prato, Angie mordiscou o lábio inferior, encarando o jovem que estava com os cotovelos apoiados na mesa.
Ralph estranhou aquele ato da mulher, ela não costumava ser alguém que só encarava, ela conversava, ria e jamais deixava um papo morrer. Não tinha medo de falar o que pensava, talvez tivesse sido aquilo que o conquistou mais ainda: sua forte personalidade. Tudo bem que ele estava explicando algo, mas… Por que ela não havia feito seus comentários o interrompendo como sempre fazia?
Ergueu somente a cabeça, a encarando de volta. Franzindo o cenho, Ralph encostou-se no sofá azul ainda tendo os intensos olhares castanhos da morena sobre si. O que ela tinha?
– Angie, o que foi? – disse soltando um pequeno riso de nervosismo.
– Nada, não posso te admirar?
– Pode, mas sinto que sua admiração é outra. – e realmente era. Não era um encarar de paixão ou de “como ela tinha sorte de tê-lo”, soava mais como uma memorização de cada traço de seu rosto, como uma última vez que o veria daquela maneira, mas Angie não sabia como falar aquilo. Estava entalada pela primeira vez, em anos. Sentiu a garganta logo secar e um tremor absurdo se instalou em seu pé, que batia freneticamente no chão e não era por conta da música que tocava no local.
Ela e Ralph não eram namorados, não queriam entrar em um compromisso tão cedo, apenas queriam curtir a companhia um do outro, o momento e principalmente as aventuras que ambos encaravam no Ford F100 - carro que pertencia a Ralph -, mas claro que a atração em diversas vezes falava mais alto e era impossível de controlar. Já havia rolado de tudo, mas algo mais sério, não. Entretanto, Ralph tinha planos, tinha desejos e um deles era ter a jovem ao seu lado. Talvez quando ganhasse mais coragem ou sentisse alguma indireta de Angie ou simplesmente, tentaria fazer isso naquela noite. I Forgot To Remember To Forget do Elvis Presley tomou conta daquele silêncio que logo se instalara, deixando o contato visual mais intenso. Angie ainda o encarava, assim como Ralph, mas em com um semblante curioso. Viu a jovem rapidamente se levantar e estender a mão para ele.
– Dança essa música comigo, por favor. – ela pediu serenamente. Encarou as mãos da jovem e aquelas unhas tão vermelhas que diga-se de passagem, parecia que sua intenção era de combinar com o batom. Logo em seguida, se levantou, sendo guiado por ela até uma parte onde alguns casais dançavam. Os braços de Angie se aproximaram de sua nuca, o envolvendo e sentiu o corpo da jovem próximo ao seu. Ficou um pouco sem entender, já que aquela música não lhe parecia favorável para uma dança a dois, daquela maneira, mas logo envolveu a mão na cintura dela, iniciando um movimento com o corpo indo de um lado para o outro de acordo com o ritmo. Colou sua boca próximo ao ouvido da garota, sussurrando em seguida:
– Angie, você quer…
– Meu pai aceitou a oferta. – soltou a frase de vez sem ao menos deixá-lo terminar. Já sabia o que ele queria perguntar. Sua pequena pausa antes de retomar a fala só deixou Ralph mais tenso do que o normal. Em casos assim, a notícia nunca era boa. O forte suspiro em seguida confirmou suas suspeitas. – Estarei indo amanhã para Chicago e de lá, partirei para o Brasil. – assim como ela, o coração de Ralph doeu. Suas mãos enrijeceram e seu olhar só focava o ladrilho da parede a frente, enquanto seguiam com os movimentos de dança. Talvez uma facada doeria menos quanto aquelas palavras. E assim seguiram à noite, com aquela estranha sensação do adeus.
E aquele pedido jamais chegou aos ouvidos de Angie.
Sua pouca coragem do pedido foi esquecida.
Angie nunca chegou a dizer sim.
Ralph não chegou a comprar o anel da vitrine que a jovem sempre admirava.
Os dois nunca chegaram a ter um compromisso sério.
Angie resolveu esquecê-lo, mesmo o coração chorando de saudade.
Ralph resolveu seguir em frente, mas se pegava em algumas noites escrevendo cartas que jamais foram entregues a ela.
Aquele amor era aventureiro, que iniciou nos anos 50, mas que ainda não teve um final.



Capítulo 1 - You're always in my head.


Santa Mônica – Dias atuais – 03:30 p.m

Talvez o tempo soubesse que para ambos, não seria um dia tão belo como um pôr do sol no fim da tarde. As gotículas de água que caíam do céu tomavam conta do para-brisa do carro, enquanto as flores que havia comprado com tanto gosto, ainda possuíam o intenso vermelho e branco, mas haviam perdido o significado para ele.
Havia perdido a noção do tempo com tantos pensamentos formando perguntas que somente ele não entendia. A música no fundo não ajudava a relaxar, pelo contrário, lhe trazia saudades. Tudo estava um caos em sua vida, o destino havia o virado de cabeça para baixo, nada mais fazia sentido, somente a raiva e indignação tomava conta de si. Não queria se sentir assim, mas era quase impossível controlar os sentimentos depois de tudo o que havia feito, depois de tudo que havia acontecido.
Por quê?
Como?
Mas… Como foi possível perder de tal forma tão brusca?
Sua ficha ainda não havia caído; sentia as lágrimas formarem um caminho em seu rosto e uma decepção tomar conta de si. Só queria ir para casa, tomar um remédio que o fizesse dormir ou aliviar toda aquela tensão. Talvez abrir a tão sonhada Jack Daniels que o esperava lacrada em seu quarto ou saborear aquele vinho tinto que seu tio havia importado da Itália.
Ouviu a buzina dos carros atrás de si e logo percebeu que o sinal havia ficado verde. “Bando de apressados”, ele pensou assim que engatou a marcha para avançar sobre a avenida, dando uma forte arrancada, cantando pneu. A música havia mudado, mas ainda não o ajudava tanto, por mais que adorasse The Chainsmokers, Closer estava longe de ser a melhor música que o ajudaria no momento. Apertando os botões do rádio freneticamente, mal havia percebido que a sua frente, o sinal havia fechado e uma freada brusca foi sua salvação para que não ocorresse mais outro acidente em sua vida.

Poucos metros dali, o dia até que estava indo bem para ela, tirando a forte chuva. Uma nova cidade lhe proporcionaria novas aventuras, e ela amava aquilo, mas talvez o medo de uma nova vida pudesse ainda criar novas expectativas e quebrar outras que ela tanto sonhava. Ter uma desilusão estava fora de cogitação, por mais que tivesse ouvido das pessoas “viaje, mas não crie expectativas, nem sempre sai tudo como deseja”, era impossível não manter seus sonhos vivos naquele lugar. Tudo era tão mágico e irradiante e por mais que a chuva e o frio de 12 graus não tivesse ajudando tanto, seu coração ainda se sentia acolhido pela cidade, mas ao mesmo, preocupado com os anseios da jovem. Abraçada sobre si mesma e trajando três casacos, a volta para casa nunca havia se tornado tão longa, talvez o tempo tivesse apenas dando tempo aos seus pensamentos. Momentos frios e chuvosos eram perfeitos para pensar. Ergueu o olhar vendo o sinal branco de passagem de pedestres ligar, mas não se atreveu a atravessar, sempre esperava algumas pessoas atravessarem para assim, continuar seu caminho. Pôs os pés na faixa para continuar a caminhada, ouvindo ao longe, uma freada brusca.


Dias depois. – Campus Universitário – 09:50 a.m

, me espera! – a garota atrás gritava enquanto andava o mais rápido possível segurando a barra do seu vestido para que não voasse, tentando alcançar a amiga à sua frente. andava apressadamente com a atenção em seu relógio dourado de pulso e em seu caminho pelo campus. Em sua mente, xingava todo tipo de nome, tanto em português, sua língua nativa, quanto em inglês e as poucas que sabia em francês, devido a uma colega francesa que conhecera no Brasil antes de viajar. O vento frio do final da manhã ainda a atingia em cheio, a primavera americana, por mais que estivesse no final, ainda conseguia deixar algumas lembranças do intenso inverno, mas ela não ligava, apenas abraçou o corpo seguindo o caminho com em suas costas, ainda gritando. – ! – o berro de a fez parar e esperar a aproximação da amiga.
– Eu odeio aquele homem com todas as minhas forças. – esbravejou.
– Pelo menos não levamos detenção ou falta. – comentou. Apoiou suas mãos nos joelhos recuperando o fôlego perdido durante a árdua caminhada para chegar até a amiga, mas seu momento foi frustrado quando percebeu que a mesma começara a caminhar novamente. Revirou os olhos, bufando em rendição. Passou a caminhar então ao lado dela, tentando manter seu ritmo acelerado e irritadiço. – ...
… esse professor conseguiu estragar todo o meu prazer de uma manhã fria! Sim, sorte nossa não receber detenção ou coisa do tipo, mas levamos indiretas no meio da sala toda! – começou a falar, sem parar. – Ele não vê o quanto isso é vergonhoso? Isso foi ridículo, como se ele nunca na vida chegou tarde em uma sala de aula! Mas também, esse é um dos motivos para eu odiar você, por não ouvir a porra do despertador e não saber dormir no horário.
– Eu dormi mais cedo ontem, ok?
– Que horas? Três da manhã?
– Duas e quarenta. – lançou um olhar mortal para a amiga que a fez recuar um pouco seus passos e encolher os ombros.
– Ok, pode ter sido um pouco tarde, mas prometo que às onze já estarei na cama e, mudarei o toque do despertador para algo mais agitado. The Scientist do Coldplay não ajuda muito.
, eu tive que jogar um copo d’água na sua cara para acordar! Sem falar das tentativas de bater o travesseiro na sua cara. Você não acordava de jeito nenhum, continuava largada na cama, pensei que tivesse morta com a bunda virada para cima e babando o travesseiro.
– O que posso fazer se tenho sono pesado?
– O que eu posso fazer se somente água te acorda? – revirou os olhos e encarou a amiga com sua famosa cara de deboche, vendo-a dar de ombros. – Sim, você irá comigo hoje à noite?
– Claro que irei, não é todo dia que a Universidade dá convite de graça para uma palestra de tradutores e intérpretes onde logo após, terá um maravilhoso coquetel. – Você está indo pela palestra ou pela festa? – cruzou os braços, já imaginando a resposta da amiga.
– Festa, monamour. – sentiu apertar suas bochechas e a mesma recuou, rindo um pouco do modo de como a amiga falara. com certeza era a pessoa mais festeira na qual havia conhecido. Conheceu por acaso no primeiro dia, ela também era brasileira, mas sua residência no país seria mais longa do que a de , já que seus avós residiam no país.
– Tudo bem, nos encontramos na hora do almoço para ver os vestidos.
– Não estará no trabalho hoje? – referiu-se ao trabalho de meio período que havia conseguido no campus, na área de edição do jornal.
– Não, o pessoal da edição me liberou por conta do evento.
– Vida boa essa! – deu uma cutucada com o cotovelo na amiga. Não era bem uma vida boa, seria realmente maravilhosa se não precisasse passar quatro horas da sua tarde trancafiada em uma sala, ajudando com o jornal da instituição, porém, por outro lado, o pouco do dinheiro que ela ganhava dava para sustentar sua vida social, não dependendo tanto de seus pais. Ela havia feito um acordo com eles, iria tentar arrumar um pequeno trabalho e era o que estava fazendo, ao contrário de que por sorte, possuía suas tardes livres graças ao bom grado de seus pais por a manterem ali.
– Vida boa é a sua que não precisa trabalhar no campus.

{...}


Marina Del Rey – Salão de Festas – 11:30 p.m

A música clássica tomava conta do salão enquanto homens e mulheres formalmente vestidos, conversavam coisas alheias e bebericavam suas taças de champagne e vinho. Os garçons andavam de um lado para o outro em um terno preto e branco com luvas claras nas mãos servindo formalmente alguns petiscos. Os lustres enormes davam ao local um brilho a mais, evidenciando assim o piso de puro mármore branco. Por mais que coquetéis fossem agradáveis, não fazia o estilo de . A garota gostava de algo mais agitado, livre, sem ter que usar saltos tão finos e roupas elegantes e exuberantes. O mix da sombra dourada e nude deixavam seu aspecto mais leve, dando um belo contraste com o batom vinho em seus lábios. Seu cabelo cacheado estava em um perfeito coque com alguns fios caindo sobre seu rosto. Seu desejo era se desfazer daquele quilo de laquê e grampos e libertar seus definidos cachos, mas infelizmente aquilo teria que esperar. Se arrependera amargamente por não ter optado por um penteado mais solto, como via em algumas mulheres ali.
– Quanta elegância! – exclamou segurando sua bolsa de couro preta e elevando mais o peitoral, dando ainda mais postura naquele vestido longo verde de pedrarias. – Sabe o quanto amo essas festas?
– Sabe o quanto eu odeio isso?
– Deixe de ser rebelde, mulher. Aproveite esta noite de petiscos e champagne ao som do clássico de Beethoven por um piano magnífico. Sinta a melodia!
– Hum, acho que estou sentindo.
– É disso que eu gosto! – falou animada.
– Sentindo fome. Ai! – exclamou ao sentir a bolsa pesada da amiga em seu braço.
– Tenha modos. Bem, vou ver se acho um toalete por aqui e depois vou pegar uma taça para mim, me acompanha?
, para com essa fala formal, e valeu, vou ficar por aqui.
– Estou a me retirar, madame. Nos vemos em algum canto deste magnífico salão. – deu uma última olhada para amiga, soltando uma pequena piscadela e em seguida, saiu do local perdendo-se na multidão do salão.

examinou mais o lugar procurando por uma parte mais calma. Não gostava muito de aglomerações, mesmo que não existisse ali. O local nem se comparava ao último evento na qual foi. Provavelmente teria menos pessoas naquele local, muito menos, mas não chegava a um vazio.
Avistou ao fundo algumas portas abertas, cobertas pelas longas cortinas finas bege. A brisa vinha dali e logo associou a um jardim. Dito e certo, o local estava arrumado com algumas cadeiras no gramado extremamente verde, iluminado por algumas luzes de chão da mesma cor e postes brancos. Duas bancadas de bebidas estavam montadas, assim como uma enorme mesa onde serviam comida. A garota se aproximou, levantando seu longo vestido azul, e pediu um coquetel de frutas com álcool. Não demorou muito para tê-lo em mãos e sair explorando todo aquele lugar.
Era simplesmente lindo aquele local.
Passava o olhar admirando e procurando pela amiga, mas sua atenção acabou se desviando quando percebeu um jovem rapaz sentado em um banco de costas para ela. Ele estava cabisbaixo com os cotovelos nos joelhos e passava as mãos pelo rosto como se limpasse algo.
Não sabia se era algum aluno da universidade ou até mesmo da sua sala. Logo uma vontade absurda de ir até lá a dominou, mas sua insegurança de começar uma conversa com um estranho se instalou. Adorava ajudar, mas odiava o medo de errar.
E se ele não quisesse papo? E se ele acabasse sendo grosso ou simplesmente estivesse bem, só que bêbado? “Bem, para estar tão cabisbaixo, bem era a última coisa que ele estaria”, ela pensou. Resolveu ir se aproximando como se não quisesse nada, prestando atenção naquele jovem rapaz e em seus movimentos. Durante o trajeto, sua decisão veio à tona.

Ele encarava o par de sapatos social em seu pé e balançava freneticamente sua perna direita. As mãos passavam pelos seus olhos, bochechas, pescoço, até chegar no Martini ao seu lado. Talvez fosse a terceira dose, talvez fosse a quarta, mas ele não se importava. Queria sair dali, mas não podia causar uma má impressão e também, para onde iria? Para casa e ter que aturar seus problemas? Ou melhor “o problema”? Não, sua mente não estava disposto para aquilo. A companhia de uma boa bebida lhe fazia se sentir melhor, mesmo sabendo que a ressaca poderia acabar sendo pior.
Ainda olhando para baixo, sentiu como se não estivesse sozinho, mas não deu a mínima, afinal, muitas pessoas passaram por ali enquanto estivera sentado.
– Oi. – ouviu uma voz feminina ao seu lado e se assustou quando percebeu uma jovem sentada ao seu lado, o encarando. – Pode ser meio invasivo demais, principalmente porque não te conheço, mas está tudo bem? – ela perguntou com delicadeza. Delicadeza demais, como algumas outras pessoas faziam ou como uma fez. Demorou um pouco para responder, pois ainda estava digerindo as palavras ouvidas, aquele momento e tudo ao seu redor.
– Comigo? Sim, claro. – ele se reergueu, ajeitando a coluna e limpando os rastro de lágrimas já caídas.
– Tem certeza? Porque não choramos quando estamos bem, a não que você esbanje felicidade com ombros caídos, olhares cabisbaixos e uma voz totalmente embargada…
– Droga, estou chamando muita atenção? – o jovem rapaz rapidamente começou a olhar de um lado para o outro. não se conteve, soltou um pequeno riso abafado e se acomodou ao lado dele.
– Não sou muito de julgar, mas pelo que já explorei nessa festa, você pode estar caído no chão completamente bêbado e o máximo que irão fazer por você é jogar água na sua cara. Então acho que ninguém percebeu não, a não ser que você tenha amigos, mas se eles não chegaram aqui até agora, aconselho a rever isso. – ela ajeitou o canudo do seu coquetel, mexendo em seguida, chamando a atenção do rapaz.
– Bem, mas você percebeu.
– Isso mostra que minha mãe estava certa quando falava que eu não era todo mundo. Prazer, . – demorou um pouco para que ele percebesse que a mesma havia estendido a mão em um cumprimento. Sua atenção estava mais focada nos gestos tão serenos que a garota tinha. Mesmo com pouca iluminação naquele local, ele pôde perceber o quanto linda ela era. Claro que a maquiagem dava um toque a mais em seu perfil, porém somente pelo modo de como ela o percebeu ali, o deixou curioso.
. – ele disse com um sorriso acanhado.
– Nome bonito, . Lembra muito do meu sobrinho, ele é um bom garoto. Mas então, , o quanto você costuma ficar do lado de fora das festas, olhando para o nada como se estivesse arrependido de algo?
– Normalmente quando tenho algum problema. – ele falou, apoiando novamente seus cotovelos nos joelhos e girando o copo de martini em suas mãos.
– Isso acontece sempre?
– Às vezes. – e em uma golada, todo o líquido do copo descia rasgando por sua garganta.
– Wow, alto lá, marujo. Bebidas são feitas para serem apreciadas.
– Apreciar olhando ou bebendo? Porque se for o seu modo de apreciar, prefiro continuar virando tudo de vez que ganho mais. – ele disse mirando o coquetel da garota que ainda continuava um pouco cheio.
– Ou eu aprecio a minha bebida, ou eu te ajudo. Você escolhe. – sua voz estava calma demais em relação a sua pequena exaltação. Sentia o efeito da bebida já em si.
– E quem disse que eu preciso de ajuda?
– Por que vocês, homens, insistem em reprimir um sentimento de tristeza? É tão mais fácil pôr tudo para fora, principalmente quando alguém desconhecido deixa uma festa de lado só para ver se outra pessoa está bem. Reprimir não lhe deixa mais forte, querido. – ela se levantou, ajeitando seu vestido.
– Existe algo chamado “querer ou não”, na qual, no momento, não quero compartilhar.
– Tudo bem, não tiro esse seu direito. Então espera um dos seus amiguinhos pararem de encher a cara e se tocarem que um amigo não está bem para você ter conselhos de pessoas bêbadas que mal sabem onde estão. – fez menção de sair dali, mas a realidade era que a mesma não queria. Sabia que o modo grosseiro do homem poderia ter sido causado por problemas e bebidas. Pessoas descontavam suas frustrações nas outras sem ao menos perceber.
estava confuso. Não sabia se deveria realmente confiar naquela jovem ou deixá-la ir. Queria desabafar, mas com uma estranha? Entretanto, de uma coisa ele tinha certeza, as palavras de se fixaram em sua cabeça o tornando mais confuso ainda. Ela não havia gritado, se exaltado… Todas suas palavras foram calmas e serenas. Derrotado, ele deu um forte suspiro e começou a fitar seus sapatos novamente.
– Sabe quando você se vê entre a cruz e a espada por causa de uma pessoa? – ele começou a falar, chamando a atenção da jovem. – Quando tudo chega a um momento em que você se vê perdido, sem saída, com o coração partido e preso a algo? Você tenta de todas as maneiras consertar, mas a cada tentativa, é como se fosse mais um erro? – ele começou a se exaltar um pouco. – É complicado de explicar… – abaixou sua cabeça colocando as mãos nas têmporas e as massageando um pouco forte.
– Ei. – retirou as mãos deles do local, suspendendo sua cabeça para olhar em seus olhos. – Você não precisa contar detalhes para a estranha aqui, ok? – ele riu de leve. – Independente do que seja, quando você começa a se sentir preso a algo que não está te fazendo bem, é necessário que essa corrente se quebre imediatamente, principalmente quando você tenta e não consegue mais consertar. Vai doer, vai lhe causar sensações estranhas, mas se você não tentar, nunca saberá se valerá a pena ou não, e na maioria dos casos, se libertar de algo que não lhe faz bem é uma maravilha. Você passa a ver o mundo com outros olhos. – encarava fixamente os olhos castanhos da garota iluminados pela luz do poste à fora. – Vai para casa, toma um…
– Não posso ir para casa. – ele a interrompeu.
– Vai para a casa de algum amigo, irmã, parente… Toma um banho, coma e tome algo que não contenha álcool, porque sua dose diária já chegou ao fim. Seite em uma cama e durma. Amanhã… Quer dizer… – ela olhou seu relógio que marcavam meia noite e meia. – Hoje, mais tarde, será um novo dia e você terá mais tempo para pensar em tudo, ok? – ele assentiu, levantando-se em seguida.
– Como é seu nome mesmo?
. .
– Obrigada, . – ele sorriu e caminhou em direção à salão principal, sumindo entre a multidão e da visão de .



Capítulo 2 - Still believe in magic, oh yes I do


Finalmente um sábado, uma semana após a festa.
estava no quarto que dividia com no campus da Universidade, trajando uma legging e uma blusa qualquer.
A bandana na cabeça cobria os fios desajeitados de um penteado mal feito. O inverno já se aproximava, mas o sol brilhava ainda no céu, o único problema era a temperatura que beirava seus quinze graus.
Aproveitando a saída repentina de - mais conhecida como “fuga da faxina do fim de semana”-, aproveitou o momento para ligar o som no máximo e relembrar suas origens, colocando um bom samba para lhe dar ânimo na limpeza, afinal, nada melhor do que uma boa dança.
Diga aonde você vai, que eu vou varrendo. Diga aonde você vai, que eu vou varrendo. – ela cantarolava com a vassoura em mãos, passando-a pelo piso do dormitório. Seu quadril ia de um lado para o outro com sua bunda empinada. Jogava a cabeça de um lado para o outro, enquanto seus ombros seguiam o mesmo ritmo. Nomeava-se um samba bem “único”, já que a mesma jamais soubera sambar direito, de acordo com alguns familiares. – Vou varrendo, vou varrendo, vou varrendo, vou varrendo. – sua animação era tanta que mal percebeu quando entrou no quarto com algumas sacolas em mãos e parou imediatamente ao ver a amiga.
?!
! – ela correu para abaixar o volume, ajeitando a bandana que quase caia sobre seu rosto devido a sua agitação. – Nem te vi chegar.
– Pois é, e acho que vou ter pesadelos depois dessa cena.
– Qual é, . Até parece que nunca me viu dançando.
– Dançando, sim. Fazendo aquele negócio com os pés como se tivesse matando barata, não.
– Isso se chama sambar.
– Eu sei o que é sambar. Tenho meu lado brasileira, lembra? Posso não ser da região, mas com certeza sei que o que você estava fazendo não era sambar. Era como se tivesse várias baratas no chão e você tentava matar todas o mais rápido possível. – bufou em meio ao comentário da amiga e se sentou na cama. Por que sentia a sensação de que já havia ouvido aquilo antes?
– Isso se chama inveja. Você e meus parentes são tudo invejosos. – riu, negando com a cabeça, deixando as sacolas de compras na pequena mesa. – O que trouxe?
– Algumas besteiras para comer assistindo Netflix e uma pizza, que provavelmente deve estar fria, porque encontrei um cara no meio do caminho e… AI MEU DEUS! – ela gritou, colocando as mãos na cabeça e assustando sua amiga, que levantou rapidamente da cama.
– O que foi, mulher?
– O cara!
– Que cara?!
– O cara!
– Que cara, ?! – esbravejou.
– É… – começou a andar de um lado para o outro com as mãos na cabeça, tentando se lembrar do que realmente aquele cara tinha a ver com um aviso. Ela não funcionava bem com pressão, sabia, e como sabia. No mês anterior quase perderam ponto em uma apresentação por causa de uma pergunta aleatória que o professor havia feito para no meio da sua explicação. Por sorte, ela sabia da resposta e logo pediu permissão para responder.
, respira e me diz o que houve!
– Lembrei! – exclamou e parou de frente para a morena. – Você conhece algum ? – ao contrário da situação anterior, a menina perguntou mais calma do que nunca, fazendo arquear uma sobrancelha e começar a se questionar o que tinha.
– Qual o seu problema, garota?
– Nenhum, de acordo com a psicóloga daqui. Mas sim, você conhece ele? – pôs a mão no queixo e começou a alisá-la, tentando pensar de onde e quando havia conhecido alguém com aquele nome. Nenhuma imagem ou momento vinha em sua cabeça.
… Nunca ouvi falar. – ela disse por fim.
– Bem, tem um lá embaixo com a senhora Turner te esperando. Eu estava caminhando tranquilamente, quando aquela velha asquerosa me parou com um grito que quase fez meu coração pular pela boca. Depois de ter que aturar aquele bafo de peixe dela, dei graças a Deus pelo garoto ter a interrompido e começado a falar. Ele disse que conversou com você naquele coquetel. Nossa, você conversou com um boy e nem me avisou, cretina! – ela deu um tapa no braço de , que reclamou.
– Ai! Não foi nada demais.
– Agora você lembra dele, né?
– Ô, depois de você ter finalmente falado da festa. Não sabia o sobrenome dele.
– Mas agora sabe e trate de ir logo, porque estou com pena daquele garoto com aquela lá.
– Mas o que ele quer aqui?
– Te raptar, . – ironizou, revirando os olhos. – Claro que provavelmente conversar, né, criatura? Mas você só vai saber se for lá, porque não sou vidente. Agora tira isso da cabeça e vai lá.
– Tá bom. – revirou os olhos e largou a vassoura em um canto, dirigindo-se a porta e jogando a bandana no sofá.
– Ei! – interrompeu sua ida até a porta. – Você vai assim? – com uma mão na cintura e um dedo apontando para a jovem, sua amiga a questionou.
– Assim como?
– Como se tivesse acabado de sair morta da academia? Ajeita pelo menos esse cabelo, porque ninguém merece. – revirou os olhos e desfez o coque bagunçado, fazendo um rabo de cavalo.
– Está melhor assim, mãe? Ou quer que eu troque minha legging e minha blusa para algo mais formal?
– Dá para o gasto.
Fechou a porta atrás de si sentindo seu coração palpitar um pouco só de lembrar do rapaz. Realmente, durante a semana ela se pegou pensando no que o jovem havia feito, se havia realmente seguido seus conselhos ou se pelo menos estava bem. Ela era péssima ao lembrar de nomes, mas o dele havia fixado em sua mente, porém o sobrenome tinha esquecido de perguntar. Lembrou-se da tentativa falha de procurá-lo nas redes sociais, eram tantos s no mundo que desistiu assim que digitou o nome dele, sem ao menos abrir alguns profiles. Mas não havia comentado nada com , já que a mesma se encontrava bêbada no dia, e no dia seguinte, havia tido uma ressaca terrível, porém sabia que se falasse algo com , a jovem a questionaria como se estivesse em uma entrevista de emprego, e odiava, deveria ser por isso que sempre relutou quando seus pais a incentivava a procurar um emprego mais sério no Brasil.
Assim que desceu os dois ramos de escadas, lembrou-se de perguntar em que lugar exato eles estavam. Lá embaixo poderia ser em qualquer canto. Bufou irritada ao perceber que nem o celular havia levado. Aquele campus era enorme, como encontraria ele? Havia duas entradas, uma pelos fundos que dava para o jardim arbóreo, e a outra pela frente, que tinha acesso ao pátio.
– Ei, Kim. – abordou a jovem loira que entrava no prédio. Não a conhecia muito bem, mas sempre que se encontravam, davam um aceno ou um bom dia. Haviam feito uma atividade em dupla na aula de literatura na qual acabaram indo muito bem. – Sabe onde a senhora Turner está?
– A vi de longe no pátio com um jovem rapaz…
– Muito obrigada. – acabou interrompendo a loira e fez menção de andar, porém, a voz de Kim a parou por um momento quando estava perto da porta.
– Caso ela pergunte algo sobre mim, diga que não me viu, tudo bem?
– Claro! – exclamou saindo para o pátio. Seu corpo logo se arrepiou ao sentir o vento gélido, havia esquecido que a temperatura não estava lá muito quente e que ainda não havia se acostumado com o frio. Por mais que estivesse de manga três quartos, aquilo não seria capaz de aquecê-la, mas já era tarde, não podia deixar o tal esperando por tanto tempo. Abraçou seu corpo em uma tentativa de se aquecer, e foi andando, analisando o local com o olhar. Acabou os encontrando perto da fonte. De longe dava para ver a impaciência que o garoto estava com a companhia da velha. Com o celular em mãos, seu olhar discretamente ia para a tela do visor e o outro para Turner, que falava sem parar. Seu cabelo não estava tão arrumado quanto o da noite. Trajava uma calça jeans escura, blusa cinza e um casaco jeans. Nós pés, um tênis que completava seu traje informal. respirou fundo e caminhou até ambos, chamando a atenção de que não conseguiu esconder um sorriso sem jeito.
– Boa tarde, senhora Turner. – a velha virou-se rapidamente, ajeitando os óculos fundo de garrafa. A modernidade do século vinte e um ainda não havia a atingido, pois vestia-se como se tivesse em outro século, com seu vestido de bolinhas abaixo dos joelhos e um sapato preto fechado, a envelhecendo mais ainda.
– Senhorita , não sabe pedir licença? – o doce sabor da ironia era sua marca. Falava a verdade na cara e não se importava do efeito que causaria na pessoa.
– Perdão chegar assim…
– Não tem problema, já havia terminado de contar ao… Como é seu nome mesmo, meu jovem?
. – respondeu sem jeito.
– Isso, , como conheci meu primeiro namorado. Bem, só não esqueça do horário para visitas, .
– Pode deixar, senhora Tuner. – finalizou com um sorriso sem mostrar os dentes vendo-a se afastar. Quando percebeu uma certa distância, aquele sorriso se transformou em um rangido.
– Pelo visto, vocês se gostam muito, hein? – sentiu a ponta de ironia na fala de .
– Como amo… – respondeu no mesmo tom do garoto, que achou graça. – Desculpa por te deixar tanto tempo com ela, acho que já está enjoado de tanta falação, né?
– Nem tanto, só me incomodei com o fedor de peixe mesmo, mas acho que é da fonte.
– Pode ter certeza que esses peixes são mais cheirosos do que a loção que ela usa. Mas o que você faz aqui? – virou-se para encará-lo, cruzando os braços. – Ou melhor, como me encontrou aqui?
– Posso ter bebido um pouco a mais da conta, mas não cheguei no estágio de esquecimento. – logo a mesma se lembrou de que havia dito seu nome e sobrenome para o mesmo, mas não havia perguntado direito o dele. “Boa, !”, pensou. – Como o evento era de uma universidade e os únicos que não eram daqui era meu pessoal, logo imaginei quem seria você. Cheguei na recepção e perguntei sobre você, e foi aí que aquela senhora apareceu. – ela soltou um “hum” como resposta.
– Gostei da sua inteligência, mas então, qual o motivo do Sir Sherlock Holmes vir a minha procura? – riu com aquela comparação, realmente era uma pessoa agradável e já havia colocado isso em mente desde à festa.
– Queria conversar com você. – sua resposta fez com que a jovem arqueasse as sobrancelhas em um modo de questionamento, afinal, mal se conheciam e já tinham algo para uma conversa, que de acordo com seu tom, era séria?
– Sobre o que? – não queria ser tão direto, na verdade, ele não iria ser. Ainda estava pensando em como abordar aquele assunto com ela, por isso que havia demorado uma semana para procurá-la, como abordaria um assunto pra lá de pessoal com uma estranha? Coçou a cabeça tentando de um modo driblar aquelas palavras, mas a única coisa que fez foi soltar um pesado suspiro.
– Bem, é que… – fechou os olhos e respirou fundo. Como explicaria a ela toda aquela situação que estava vivendo? – Fiquei pensando na noite da festa e no que você falou. Você está ocupada? Poderíamos ir à algum lugar, uma cafeteria, quem sabe? – quando viu o semblante de se intensificar em um desentendimento, soltou um riso abafado. Sabia que estava a confundindo um pouco, afinal, o quão estranho estava se tornado aquela situação? – Não se preocupe com o horário, estará aqui antes da senhora Turner der falta de você. – ela riu com aquele comentário.
– Tudo bem, deixa só pegar um casaco antes que eu congele.
– Pode ficar com o meu. – ele disse já tirando o casaco do corpo.
– Não precisa…
– Eu insisto.

{...}

A cafeteria ficava à quatro quadras da universidade. Por mais próximo que fosse, jamais tinha ido ali, sua vida se resumia mais ao campus e em algumas noites aproveitava para ir à alguma pub ou teatro com . Não costumava sair andando muito pela cidade de Santa Monica a pé, normalmente pedia um táxi, mas já havia programado com a amiga de fazer passeios até os pés cansarem, só estavam esperando uma folga. O local não era tão grande, o balcão mostrava os diversos tipos de doces e salgados. As mesas eram um pouco altas, assim como as cadeiras. O ambiente tinha um cheiro de fornada de pão que havia acabado de sair do forno. Acabaram escolhendo uma mesa um pouco mais no canto, não tendo uma boa vista para a rua. Não demorou muito para que um dos atendentes chegasse até a mesa, não dando muito tempo para que olhasse o menu. Acabou pedindo um donuts de chocolate com um pequeno café ao leite. Já , um chá gelado foi sua única opção. Após a saída do garçom, endireitou a postura, colocando suas mãos para debaixo da mesa, encarando os olhos castanhos do rapaz.
– Esperando o momento certo para falar? – ela questionou, fazendo-o suspirar.
– Pensando em como falar.
– Bem, enquanto você pensa, pode me responder uma rápida pergunta? – ele assentiu com a cabeça. – Por que me chamou? Digo, por que logo eu? – e ele suspirou novamente. Aqueles suspiros já estavam começando a incomodar de uma certa maneira.
– Acho que é um bom início de se conversar. Eu me surpreendi com sua atitude na festa. Entre tantas pessoas, tantas coisas para fazer lá, você sentou ao meu lado e se mostrou preocupada comigo. Você disse coisas que me pegaram de surpresa e coisas que eu precisava ouvir.
– Mesmo que eu tenha sido um pouco dura com você? – indagou sem jeito. se sentia um pouco mal pelo modo de como havia falado com , sentiu-se que foi rude e intrometida, seu receio era de que ele achasse o mesmo, afinal, não foi sua intenção, mas ao contrário do que pensou, apenas viu negar com a cabeça e um sorriso singelo no rosto.
– Você não foi dura comigo. Concordo que foi meio estranho, mas todo mundo precisa ouvir a verdade um dia, né? A verdade machuca, mas ajuda.
– E a minha te ajudou?
– Muito, por isso que te chamei aqui, e também queria te agradecer. – deu um sorriso, sentindo-se aliviada por saber que de um modo, conseguiu ajudar.
– E seu problema foi resolvido?
– Eu acho que sim… – aquela resposta não havia convencido, de fato, a garota. Sentiu um leve fraquejado na fala dele, mas não se sentia no direito de insistir mais, havia sido muito intrometida na vida de alguém que mal conhecia.
– Esperava ouvir um sim, sem o “eu acho que”, mas tudo bem. – logo seus pedidos chegaram e os olhos da garota brilharam ao ver o delicioso Donuts a sua frente.
– Só poderei falar sem o “eu acho que” quando passar um pouco mais de tempo. – ele tentou mostrar um sorriso confiante que ao seu ver, havia enganado . – Mas então, conte-me mais sobre você.
– Por que logo sobre mim?
– Não é assim que se começa uma amizade? – aquela resposta fez o coração de bater um pouco mais rápido. Não era muito de conhecer pessoas que indicavam que queria ser amigo de outras, sempre foi uma pessoa um pouco mais na dela, fazer amizade era algo um pouco complicado, mas não custava nada tentar.
– Você está pedindo algo muito complicado para eu fazer… Posso falar logo meu signo e ascendente? Com isso você já descobre muito mais sobre mim. – ela riu, embalando um riso dele também.
– Se eu soubesse sobre isso, mas infelizmente a única coisa que sei de signos são somente os nomes e fora de ordem.
– Bem, vamos lá… Meu nome você já sabe, mas tenho vinte e dois anos, sou brasileira, curso língua estrangeira, estou cursando um semestre do meu curso aqui. Gosto de filmes de aventura, sou bem eclética em termo de música e de acordo com minha família, eu não sei sambar.
– Sambar?
– É uma dança do meu país, depois te ensino. – eles riram. – E você? Conte-me mais. – ela deu uma mordida no donuts, sentindo o chocolate derretendo em sua boca.
– Tenho vinte e oito anos, vim de outro estado, costumo ser aventureiro em meu tempo livre e escritor nas horas vagas, mas costumo ajudar minha avó na empresa dela, e onde é meu trabalho fixo e o motivo por eu ter ido à festa, e costumava passar um tempo com meu avô na biblioteca onde ele trabalha. – assoprou cuidadosamente o chá, dando um gole, apreciando o leve sabor. – Gosta de viver aventuras ou de assistir?
– Sou mais de assistir, não tenho muito tempo para vivenciar.
A conversa foi tomando um rumo diferente. O que era para ser algo somente sério, acabou em donuts e risadas. contava algumas histórias de aventuras que havia passado anos atrás, como acampamentos e viagens em um velho trailer com alguns amigos. Já contava um pouco como foi sua trajetória para chegar ali, como teve que, com muita dificuldade, convencer aos pais sobre sua profissão e do seu desejo maior de conhecer muito mais o que o mundo tinha a oferecer. Entre conversas e risadas, mal viram o tempo passar e o sol se pôr. Não estava totalmente noite, o céu ganhava cores alaranjadas e roseadas.
– E teve uma vez que eu e a … – a menina parou por um segundo sua fala ao lembrar-se da amiga, pessoa cuja não havia informação sobre ela desde que saíram do campus sem ao menos avisá-la. – Ai meu Deus, a ! – exclamou em um puro nervosismo.
– O que tem ela? – perguntou um pouco assustado em meio aos movimentos de desespero que fazia.
– Eu não avisei a ela que viria aqui contigo e já são... – puxou um pouco a manga do casaco de que estava em seu corpo para checar as horas no relógio de pulso. – Cinco horas! Ela vai me matar…
– Ei, calma… – ele estendeu a mãos, tocando na dela, atraindo o olhar de . – Vamos pedir a conta e terminando a conversa no caminho. – com um pequeno aceno, pediu ao garçom o pedido da conta. Assustou-se novamente quando viu bater com a mão na testa. – Algum problema?
– Acabei esquecendo minha carteira no dormitório…
– Sem problemas, eu pago. – ele disse sem se importar.
– Não, isso é injusto.
– E você vai fazer o que? Lavar os pratos para pagar sete dólares? – ele riu, fazendo a menina rir junto. – Que nada, e também, eu que te chamei aqui e nem deixei você subir novamente para o dormitório. Eu pago.
– Fico te devendo uma.
– Vou deixar a rodada de tequila contigo. – ele brincou.
Após o pagamento, ambos saíram da cafeteria, ainda entretidos na conversa. A noite já chegara, trazendo um frio mais intenso. tentava a todo custo não demonstrar o frio que estava sentindo, já que seu casaco ainda estava no corpo de . Tentava a todo custo pensar em locais quentes, fogo, café, para amenizar os constantes arrepios.
Sabia que a roupa da garota não esquentaria tanto sem aquele casaco. Ele suportaria, por ela. Mal perceberam quando chegaram em frente ao campus.
Alguns alunos saiam para a noitada, enquanto outros andavam com seus livros em mãos.
– Bem… – ele disse por fim, parando de frente para a garota. – Você já tem meu número e eu o seu, espero que o nosso contato funcione melhor. – brincou colocando as mãos no bolso.
– Assim espero. – disse com um puro sorriso sincero. – E ah, obrigada pelo casaco. Espero não ter te causado uma hipotermia.
– Depois mando a conta do hospital. – ele brincou, recebendo um leve tapa de , ouvindo um “idiota” em seguida. – Foi um prazer sair com você essa tarde, .
– Assim digo o mesmo, . E só mais uma coisa, você não me convenceu com o seu “eu acho que sim”, então, seja lá o que estiver passando, lembre-se do que eu te disse na festa, e lembre-se que ao se libertar, você passa a conhecer novos horizontes e nada melhor do que o conhecimento. Não veja isso como um erro e sim como um aprendizado.




Capítulo 03 - I see your colours and I'm dying of thirst


Exausta. Essa era a palavra que definia tanto mentalmente como fisicamente. Sua cabeça latejava de dor, o corpo mal estava se aguentando em pé, quanto mais seus braços que carregavam cinco livros grossos. Começara a sentir o pequeno gosto amargo do arrependimento por ter se inscrito na parte de organização da feira de conhecimentos que tinha anualmente na Universidade. A ajudaria como atividade extra, o que era realmente bom, mas se fosse para sentir todo aquele cansaço nas segundas e quartas, pediria para trocar de cargo. Mal via a hora de tomar um banho e se jogar na cama. Contemplava a imagem da porta do seu dormitório quando chegou no corredor. Ajeitou os livros em um modo desajeitado, livrando sua mão para abrir a maçaneta, porém todo aquele trabalho foi por água abaixo quando abriu rapidamente e pulou para fora, fechando a porta atrás de si.
, o que você aprontou? – logo perguntou, fechando os olhos, já imaginando mil possibilidades do que poderia ter ocorrido, afinal, deixar sozinha por um longo tempo era como se desse liberdade total a uma criança e aquela atitude repentina já começava a ser suspeito. Ainda lembrava muito bem do seu primeiro dia no campus, na qual não pôde entrar no quarto por conta de um vazamento que , acidentalmente - de acordo com as palavras da garota - havia causado.
– Nada, ué. – a amiga respondeu com um sorriso tenso, trazendo-a de volta a realidade. Se tinha sorte em algo, era por não ter escolhido teatro como profissão, tecnicamente seria uma péssima atriz com a terrível atuação.
Mentir não era seu ponto forte.
, posso te conhecer há poucos meses, mas por tudo o que já passamos, eu conheço essa sua cara, e é melhor desembuchar logo, porque livros pesam e meus braços não estão contentes com esse peso. – pressionou os lábios e direcionou seu olhar para o final do corredor, fazendo uma varredura no local. Analisava o local firmemente, enquanto apenas a encarava com uma feição nada satisfatória. Já estava prestes a soltar os livros no chão de tanto que seus braços estavam sofrendo. – !
– TÁ, TUDO BEM, EU FALO! – respirou fundo, já imaginando os sermões que ouviria. – Encontreiumgato. – sua fala saiu rápida e baixa, fazendo franzir o cenho.
– O quê?!
– Euencontreiumgato. – falou do mesmo jeito, evitando o contato visual com a amiga.
, fala direito.
– Eu encontrei um gato! – não era como um grito, mas não chegou a ser um sussurro. A voz soou alta e clara. parou um tempo tentando analisar toda aquela situação. Um gato? Provavelmente a amiga estava falando de um gato de duas pernas que tivesse características de seu agrado, e lhe dado a famosa atração sexual. Bem, era coisa boa, correto? Significava que ela havia desencalhado, saído da seca após tantas semanas.
– Ué, isso é bom, não é?
– Bem, acho que não é esse tipo de gato que você está imaginando… – pôs a mão na maçaneta e a abriu devagar. Estava com medo da reação da amiga, pois sabia o quanto correta ela era. Não gostava de sair das regras, tinha medo das penalidades que poderiam ocorrer. Desafios? fugia. Riscos? Era seu temor dentro daquela universidade. Ao pouco que a porta foi se abrindo e foi tendo uma noção do que realmente se tratava.
Seus olhos se arregalaram ao ver um pequeno gato elegantemente sentado em cima da mesa. Sua pelagem era curta, em seu tronco a cor creme chamava a atenção, mesclando com um marrom mais forte nas patas, assim como acontecia em seu rosto, destacando-se o forte azul no olhar do felino. Não passava de quatro meses, com certeza. tinha uma pequena experiência com gatos, já que desde nova fora criada com alguns.
Ainda com um olhar esbugalhado, ela encarou que exibia o mesmo sorriso tenso e sem jeito.
– Você está brincando comigo, não é? – foi a única coisa que ela conseguiu falar. desfez o sorriso e suspirou pesadamente. Puxou a amiga pelos braços, entrando em seguida no apartamento e trancando a porta.
– Eu não pude fazer nada, ele me seguiu.
– Essa desculpa já é velha, Brooke! Eu amo gatos e não me importaria de cuidar… – apontou para o felino que se lambia despreocupadamente no mesmo lugar.
– Dele.
– Dele, caso aqui não tivesse uma regra que proibisse a entrada de animais! Você sabe o quanto posso ser penalizada por isso? Posso perder minha bolsa!
– Menos drama, . – a garota abanou as mãos, cruzando os braços em seguida. – Eu o encontrei, então a penalidade cai em mim, mas como uma boa amiga, sei que não irá me dedurar.
queria gritar. Era incrível como sempre arrumava problema para cima dela, como se não bastasse da vez em que precisou mentir para uma das professoras, dizendo que a menina estava gripada, sendo que a mesma nem no cômodo estava. Tinha ido a um show e em plena sete da manhã não havia voltado. Para sua sorte, a professora havia caído na mentira e acabou chegando lá pelas nove da manhã.
– Não se preocupe, , ficarei com ele até encontrar alguém. Já entrei em contato com algumas tias e amigos, é só por uns tempinhos… – fez sua famosa cara de pidona. respirou fundo pondo as mãos nas têmporas e as massageando lentamente. Desejava que tudo aquilo fosse um sonho e que acordaria em sua cama, sem nenhum gato a sua frente, sem mais nenhum problema em sua vida.
Seria que cairia mal caso não ajudasse a amiga?
– Tudo bem, mas se algo acontecer, eu… – foi interrompida pelo toque do seu celular. Tateou os bolsos até encontrar o aparelho nos bolsos da frente da calça. – ? – falou um pouco alto para si mesma, pena que havia sido audível para , que lhe lançou um sorriso sacana.
– Ui… O aventureiro gostoso. Vou até me retirar. Vem, Evans. – disse se referindo ao gato, o pegando em seguida e indo para um canto mais afastado. lhe lançou um dedo, rindo do comentário da amiga.
– Diga, .
E ai, estrangeira. O que manda?
– Eu que lhe pergunto, o que manda, comandante?
Queria saber se estará livre mais tarde, lá pelas cinco, para ser mais específico. Consegui aquele Kit em quadrinhos da Marvel que lhe disse semana passada. Pode levar se quiser, só não prometo ir ao shopping. – lembrou-se da última saída em grupo. O fato era que desde a primeira saída, para uma lanchonete perto do campus, e desenvolveram uma amizade, o que incluía , já que tanto ele quanto ela se deram e a mesma costumava acompanhá-los em algumas saídas quando tinha tempo livre.
– Bem que eu gostaria, mas tenho que cuidar de um problema.
das regras em um problema? Estou em um mundo paralelo? – ela deu uma risada falsa em meio a piada do amigo. Até ele com aquela conversa de regras?
– Que engraçado você.
Mas que tipo de problema?
– Um com quatro patas, baixa estatura e que faz “miau”.
Um gato? Isso não é proibido no campus?
– É, mas de acordo com as palavras de , ele a seguiu, mas ela disse que já entrou em contato com alguns amigos para ver um adotante.
Eu tenho uma tia que mora em uma cidade próxima daqui, talvez ela possa querer. Vou entrar em contato com ela e qualquer coisa te mando um aviso. Caso ela se interesse, pego ele amanhã depois da sua aula.
– Se você conseguir isso, você é um anjo!
Seu anjo. não conteve o riso, assim como ele. – Mas já que fui rejeitado por um gato, vou mudar minha programação.
– Vê se não vai danificar seu fígado.
Não lhe prometo nada. cantarolou antes de desligar o celular.

{...}

… – uma voz ao longe alertou seu subconsciente, mas não foi páreo para o sono da jovem. Chamou mais uma vez, agora sacudindo seu corpo, não obtendo êxito. Sem saída, foi em direção a geladeira, retirando uma garrafa d’água, colocando um pouco do líquido no copo e se aproximando novamente da garota. Foi rápida e prática. deu um pulo, gritando, ao sentir a água gelada em seu rosto. Tateou a parede em busca do botão para acender a luz do abajur, encontrando a sua frente.
– Ficou maluca? – perguntou indignada, sentindo mais frio do que estava sentindo.
– Você não acordava… – revirou os olhos. – Preciso de sua ajuda.
– Em plena uma da manhã? – verificou o relógio do celular antes de responder.
– Evans sumiu.
– Quem é Evans?
– O gato, o nome dele é Evans! – queria rir, mas lembrou das palavras que acabara de falar. O bendito gato havia sumido.
– Como assim, sumiu?
– Sumiu, evaporou, escafedeu-se. – levantou-se em seguida, andando de um lado pro outro com as mãos na cabeça. – Acordei para beber água e não o encontrei na minha cama. Comecei a procurar com a lanterna do meu celular e nada.
– Vai ver que ele está em algum canto que seja complicado de achar com uma lanterna. Gatos gostam dos lugares mais imprevisíveis.
– Eu até me acalmaria com essa resposta, mas acabei de chegar o banheiro e a janelinha estava aberta. – arregalou os olhos, assustando ainda mais . – Precisamos ir atrás dele, . Está frio, ele ainda está magro, pensa no que pode acontecer se ele sair pra rua novamente? – sem falar que era uma regra bem clara do campus sobre a entrada de animais.
“Onde fui me meter?”, pensou. Com certeza em alguma vida passada fizera algo terrível, porque não era possível, sempre sobrava para ela. Por mais que quisesse estrangular , o olhar de piedade da garota lhe impedia de fazer tal ato e também, ela não tinha tanta culpa, já que o felino havia a seguido. Talvez se tivesse ocorrido com ela, a mesma teria a mesma ação da amiga e abriga-lo. Soltou pesadamente a respiração, jogando o cobertor tão quente pro lado, sentindo o ar gélido da madrugada.
– Tudo bem, vamos atrás dele. – disse indo em direção a sua bota, assim como fizera. – Mas se acabarmos sendo descobertas, você estará frita e nas minhas mãos!

sentiu um arrepio percorrer pelo corpo após as palavras da amiga. poderia ser uma jovem de aparência calma, mas sabia muito bem bolar uma vingança. Pegaram as chaves do quarto e seus celulares, ativando o modo lanterna. Fecharam a porta com cuidado, certificando-se de que o corredor estava livre. Não era permitido andar àquela hora pela instituição nos dias de semana, era advertência na certa. Teriam que chegar até a escada de emergência onde normalmente os funcionários utilizavam para passar com produtos de limpeza e lixo, desceriam dois ramos de escada chegando até uma das portas dos fundos onde dava para fora do prédio. Por sorte a porta do térreo estava aberta, algum funcionário provavelmente deveria ter esquecido de trancar. Ao chegarem no pátio, sentiram o forte vento em seu corpo, fazendo ambas estremecerem.
– Esse lugar é enorme, vamos demorar séculos para encontrá-lo. – comentou , focando a lanterna entre os arbustos.
– A gente vai achar, ele não deve ter ido muito longe.
, ele é um gato! Gatos são ágeis, é capaz dele estar do outro lado do mundo, se possível.
– Só procura, ! – se rendeu, iniciando sua busca. Dez minutos e nada. Procuraram pelas proximidades do alojamento, acreditando na possibilidade dele não ter ido muito longe. Debaixo dos bancos, perto das árvores e lá se passavam mais vinte minutos e nenhum sinal dele. O desânimo já batia, assim como o cansaço de ambas. O coração de só se apertava mais quando pensava na real possibilidade de nunca mais encontrá-lo, já , mesmo com sono, tentava-se manter focada, tentando lembrar dos possíveis locais que um gato poderia estar, já que a mesma já tivera algumas experiências passadas. Prestes a desistir, um leve e baixo miado chamou a atenção de ambas, despertando ainda mais o seu foco. Não demorou muito para perceberem o pequeno, perto da fonte, tentando pegar os peixes que nadavam por ali. O alivio foi imediato, fazendo com que soltasse seu fino grito de felicidade. A garota o pegou no colo e se aproximou de , que suspirou aliviada, acariciando o animal. Tudo havia ocorrido bem pela primeira vez, mas por azar delas, ao se aproximarem do prédio, perceberam uma movimentação estranha perto da porta onde haviam saído.
O inspetor Julivan, um dos piores, pode-se dizer de passagem, trancava com sua cara enfezada a porta na qual haviam saído.
O fino miado do gatinho despertou novamente a atenção de ambas, assim como o do guarda, que começou a vasculhar o local com o olhar.
– O que vamos fazer? – sussurrou, nervosa.
– Eu não sei… Talvez… – pensou um pouco, e logo a ideia surgiu quando mirou o moletom de que possuía um capuz. O gato provavelmente caberia ali, correto? – Já sei! – aproximou-se rapidamente da amiga, colocando o pequeno felino em volta do pescoço da jovem.
– Mas o quê…
– Fica quietinha e só segue o plano. – ainda o segurando, colocou o capuz na amiga, cobrindo o gato. – Agora você vai andar e fazer uma cara de muito doente, como se estivesse passando mal e com um terrível torcicolo. Estarei bem atrás de você, te ajudando a segurar Evans, mas como se eu estivesse te apoiando, ok? – … – a alertou.
– Cala a boca e vai! – deu-lhe um pequeno empurrão. Seguiram em direção ao local onde o homem ainda continuava pela sua busca com uma pequena lanterna. Ao perceber a aproximação das garotas, apontou o objeto luminoso em sua direção, as segando-as completamente.
– Senhor Julivan, somos alunas. Brooke e . – avisou, fazendo o rapaz desligar a lanterna.
– O que vocês estão fazendo aqui? – questionou com sua voz grossa e firme. Mesmo sendo um senhor, sua aparência ainda amedrontava muitos que o encontravam, principalmente à noite, quando era normalmente seu horário de trabalho.
acabou passando mal a noite e resolvi a trazer para aqui pra fora para tomar um ar. Sei que não é permitido, mas ela não estava bem.
– Por que não foi na enfermaria?
– Achei que não fosse preciso, ela só sentiu uma pequena falta de ar e uma dorzinha no pescoço, mas já está bem. Se puder abrir a porta…
O homem a analisou da cabeça aos pés, tentando achar algum requisito de mentira. estava de cabeça um pouco baixa, fingindo constantemente uma pequena tosse, enquanto se encontrava com uma das mãos no ombro da amiga e a outra em sua cabeça, especificamente segurando o filhote de gato.
– Tudo bem, mas retornem logo para o quarto e melhoras, menina. – ele disse, retirando-se em seguida. O temor por serem descobertas havia passado nas duas, entretanto, o pequeno miado a fizeram tremer dos pés a cabeça. Julivan pegou a lanterna e começou mexe-la por todos os lados. – Que miado foi esse? – questionou afoito.
– Miado? Não ouvi nenhum miado. – respondeu , nervosa. – Foi tossindo, né? – olhou para a amiga que ficou sem reação. – Tosse, sua coisa. – a cutucou com o cotovelo, murmurando. Assim como pedido, começou a dar umas altas e finas tosses. – Está vendo. Bem, estamos indo. Boa noite e boa sorte na procura, senhor Julivan! – passaram rapidamente por ele, seguindo em direção ao dormitório.

{...}


Santa Mônica – Third Street Promenade – 02:20 p.m

– Sabe o que é isso? O destino lhe propondo mais aventuras nessa sua vida sem graça. – comentou, alisando o pequeno filhote em seus braços coberto pela jaqueta de couro preta. Ao contrário da noite anterior, o dia estava ameno, os ventos ainda estavam gélidos, mas o sol dava um pequeno conforto. revirou os olhos em meio ao comentário do amigo, que percebendo sua insatisfação, deu uma risada.
– Não pedi nenhuma aventura a ele. – a jovem rebateu, cruzando os braços. – sempre me bota nas piores confusões.
– Isso que é amiga boa, aquelas que te bota em uma situação que no futuro você terá boas histórias para contar. – bufou, por que simplesmente as pessoas não a entendia?
– Mas, e você? Como está? – o suspiro pesado do garoto já lhe passava um aviso de que bem, ele não estava. ergueu-se um pouco, pondo uma de suas mãos no bolso do jeans escuro. Havia acabado de sair da biblioteca municipal, onde costumava ajudar seu avô, que era um dos recepcionistas do local. Amava livros, sempre foi fissurado pela leitura, o que acabou lhe influenciando em suas aventuras.
– Estou… Bem. – desviou o olhar de , olhando para um canto qualquer ao seu lado. – As coisas estão caminhando e melhorando aos poucos. – tornou novamente a encarar a menina, esbanjando um pequeno doce sorriso. – E você?
– Estou bem, também. E melhor ainda porque descobri que terei uma semana de folga.
– Uma semana? Que vida boa de madame é essa?
– Estou ajudando nos preparativos da feira de conhecimentos que ocorrerá na próxima semana, e como agradecimento, teremos a semana livre.
– Queria eu ter essa folga toda na minha época de universitário. – respondeu em um tom brincalhão, mas sentiu que o mesmo forçara seu tom, talvez para demonstrar que não era preciso ter nenhuma preocupação. Ele não estava bem, as piadas do garoto já haviam sido melhores e sempre que o ele tentava brincar com ela, sua animação era outra. Ela queria perguntar, queria realmente saber o motivo na qual tanto se magoava. Desde o dia do café que ele não havia tocado em nenhum assunto parecido com o que falou no dia da festa, era como se não existisse nenhum problema. Sua curiosidade era tremenda e mesmo tendo conquistado uma amizade tão forte com ele em meses, não se sentia ainda bem e íntima para perguntar algo tão pessoal.
deu um suspiro insatisfatório e como sempre, deixou aquele momento passar. Olhou o relógio que já marcava três e quarenta da tarde. Ainda tinha que ir ao Starbucks comprar um brownie que havia pedido.
– Bem, tenho que ir. E mais uma vez, muito obrigada pela ajuda. – referiu-se ao gato, que ronronou ao seu toque. – Diga a sua tia que a agradeço muito e que cuide muito bem desse rapazinho.
– Ela já me ligou umas três vezes hoje pela manhã, perguntando se eu levaria o gato. Diga a que mesmo ela sendo um pouco lerdinha, foi um gesto bonito que ela fez. – não aguentou prender o riso em meio ao comentário do amigo. Assentiu, aproximando-se dele e dando um forte abraço acolhedor. Quando estava prestes a se afastar, sentiu a mão livre de a pressionar mais contra seu corpo.
– Tem como me soltar, senhor? – a menina perguntou em seu tom brincalhão, encarando o olhar castanho do rapaz. afrouxou um pouco o braço, permitindo a saída da garota, mas a segurou pela mão.
– Queria lhe fazer um convite.
– Se for para assistir aquele filme, já disse que…
– Não. – a interrompeu com um sorriso no rosto. – Queria te chamar para uma viagem pela rota do estado. Eu, você e o carro. Topa? – aquele convite lhe causou uma surpresa. Uma viagem, só eles e pela rota do estado? Como assim?
– Uma viagem? , você sabe que…
– Não curto esse tipo de aventura, pois é perigoso. E imagina só o que meus pais iriam pensar? Deixa eu aqui com meus livros, estudando para minha prova do ano que vem. – disse com uma voz afetada, tentando imitar a garota. bufou, e encarou o rapaz. – Sei que foi péssimo, mas qual é, , é só uma viagem, para você sair mais desse seu mundinho e conhecer novos horizontes, conhecer o meu mundo. Já fiz diversas vezes viagens como essa e gostaria que dessa vez fosse ao seu lado. Uma aventura não mata ninguém e você não perderá aula, podemos ir na sua semana de férias. O que me diz? – ela encarou a mão do rapaz que ainda continuava junta a sua, alisando o topo de sua mão.
– Promete que chegarei inteira aqui?
– Prometo de dedinho, você não vai perder nenhum fio de cabelo.



Capítulo 4 - What happens in Vegas, stays in Vegas.


se manteve calma por todo momento, não seria justo que logo ali perderia a paciência. Jogou a cabeça de um lado para o outro ouvindo os estalos da tensão que se instalava em seus ombros. Com as mãos na cintura e uma posição rígida, encheu os pulmões de ar, soltando-os de uma vez só. Ela conseguiria, teria que conseguir, sua carona estaria ali em menos de dez minutos e ela não tolerava atrasos. De uma vez só, a garota deu um pulo caindo de barriga pra baixo em sua mala. Foi se ajeitando, fazendo força para que as extremidades do objeto se encontrassem para que o zíper passasse livremente. Estava travando uma batalha acirrada com sua mala. Havia assistido 3 tutoriais no Youtube de como se arrumar roupas em uma única mala, mas parecia que nenhum havia funcionado.
– Meu deus! – ouviu a voz escandalosa de . – Você vai fazer uma viagem de uma semana ou vai aproveitar e voltar para o Brasil?
– Isso se chama ser “precavida”. não me explicou muito bem o que iríamos fazer, então tenho que estar preparada para tudo.
– Até mesmo para uma noite de prazer? – disse com sua voz maliciosa, pondo um pouco do sorvete na boca.
– Nossa, que engraçadinha. – cruzou os braços, revirando os olhos. ainda ria, mas depois do olhar mortal que recebera da amiga, diminuiu um pouco sua alegria, mas não cessou os risos. – Será que a bonitinha poderia parar de treinar para o Comedy Central e me ajudar aqui?
– Por favor existe, sabia? – disse caminhando em direção a cama, parando em sua frente. – O que quer que eu faça?
– Sobe em cima da mala para eu fechá-la.
– Como se meu peso fosse resolver... – comentou, subindo em seguida na cama e logo após sentando na mala.
– Faz força para baixo.
– Já estou fazendo, você quer o que? Que eu comece a pular? Você com certeza é mais pesada do que eu, se a gente invertesse… – a jovem parou de pular assim que ouviu o barulho do zíper percorrer a mala.
– Prontinho, obrigada, amiga. Eu disse que funcionaria. – mal teve tempo de rebater o comentário da amiga, viu em cima do pequeno criado-mudo, o celular de apitar e logo uma mensagem de surgiu na tela. Saiu de cima da mala, e caminhou até o aparelho, o pegando e entregando a amiga que retirava a mala da cama.
– Seu guia acabou de chegar. – entregou o celular a que logo se prontificou a responder , avisando que já estava descendo. – Por favor, não esquecer de comprar os meus presentes, obrigada. – completou, caminhando até a porta do quarto e a abrindo para a amiga. apenas revirou os olhos e caminhou em sua direção, dando-lhe um abraço e saindo em seguida. – E não esquece dos bons modos que te ensinei!
– Não sou obrigada. – rebateu, seguindo seu caminho corredor a fora. A dificuldade de descer uma mala, por mais pequena ela que fosse, em dois ramos de escada foi seu primeiro desafio.
O campus não estava tão cheio, já que era uma sexta feira a tarde e alguns alunos estavam em seus dormitórios se preparando para o dia seguinte que dava início a feira. Encontrou encostado a sua velha caminhonete vermelha, um Ford F-250, modelo bem antigo. Estava com o mesmo estilo de roupa, um jeans surrado, uma camiseta branca um pouco longa e seu casaco jeans. O cabelo estava um pouco bagunçado, mas nem aquilo havia tirado o charme do rapaz.
Quando percebeu a presença de , ergueu o olhar esbanjando um belo sorriso.
– Pensei que fosse me dar bolo. – respondeu caminhando até ela e lhe abraçando.
– A mala não quis fechar. – ao ouvir aquilo, ele se afastou dela, encontrando a pequena mala cinza ao seu lado.
– Você sabe que mochilas existem, não é?
– E você sabe que as roupas ficam amontoadas e amassadas lá, não é?
– Então acho que as minhas estão uma zona. – ele riu, pegando em seguida a mala, caminhando até o veículo. deu alguns passos à frente, observando aquela caminhonete. Sabia que era um modelo antigo, mas estava bem cuidada. A pintura parecia ser recente, mas não tinha o mesmo brilho de um carro novo. – Não vai entrar? – suas análises foram interrompidas pela voz de que a encarava por cima do carro, do outro lado.
– Tem certeza de que isso vai nos levar e nos trazer a salvos?
– Martilde é um modelo antigo, mas ela funciona muito bem. Só está com uma pequena remenda no tanque, mas nada que possa interromper a viagem.
– Martilde?
– É, caminhonetes antigas têm nome, sabia? Agora entra logo e incorpora o lado aventureiro.
– Você sabe que eu não tenho isso. – disse , abrindo a porta do carro. O interior do automóvel era confortável e muito bem limpo. Não possuía ar condicionado, o painel era simples, porém, pelo menos havia um rádio. – Não existe lado aventureiro em mim e eu nem sei como aceitei essa viagem.
– Você aceitou porque confia em mim e sabe que comigo, as coisas são mais divertidas.
– Ah, claro. – ironizou. – Meus pais nem sonham que estou viajando com um amigo que conheci há poucos meses.
– Manda eles prepararem o dinheiro do resgate, quero cinquenta mil e em espécie. – brincou, recebendo um tapa dela em seguida. – Outch, vai com calma. Curte o passeio.
– E qual será nosso destino final, ó grande guia?
– O destino final será surpresa, mas seguiremos a rota 66, porém, vamos fazer um pequeno desvio para o nosso primeiro destino que é Las Vegas.

{...}


Duas horas e quinze minutos de viagem.
O vento batia nos cabelos cacheados de enquanto A Sky Full Of Stars do Coldplay tocava na playlist que havia feito. A estrada era de linha reta, não tinham muito no que se preocupar. Eram três e meia da tarde, o anoitecer já estava perto já que o pôr do sol ocorria pelas quatro e cinquenta, mas já era possível ver um pouco do rosa do céu misturando-se com o azul intenso e o alaranjado dos raios solares nas poucas nuvens. Pegaram um pequeno desvio, saindo da rota e seguindo em direção a Vegas, mas antes, deram uma pequena parada em Calico, onde ficava a famosa Ghost Town Road.
– Vegas não tem um ar de faroeste. – comentou ao sair do carro e perceber uma pequena cidade fantasma com uma arquitetura de faroeste.
– Essa é a cidade fantasma, um dos grandes atrativos para quem vai da Califórnia à Nevada. Tive que te trazer aqui. Não sei se os atrativos estão abertos por conta do horário, mas nada nos impede de dar uma volta.
Sem muita escolha, o seguiu, entrando naquele cenário antigo. O lugar era de dar medo, mas não tanto por conta do horário. explicou que à noite as atrações eram melhores e tinha até uma ”tour” mal assombrada, aproveitou para contar sobre uma viagem que fez com os amigos para lá, a noite, onde aproveitaram para acampar e no meio da tour, um deles se perdeu. Demorou um tempo até acharem o cara totalmente pálido e assustado. De acordo com Jimmy, seu amigo, ele jurava que havia ouvido vozes e alguns vultos. Parte da galera queria investigar, mas a outra parte resolveu apenas ficar no acampamento esperando o dia amanhecer, entretanto, não conseguiram encontrar nada, apenas deixando Jimmy mais medroso do que já era.
– Não quis comentar nada, mas também ouvi algumas vozes, principalmente chamando meu nome. – comentou ele, caminhando um pouco mais adentro do local com próximo a si. – Ah, e sem falar da sensação estranha de estar sendo observado, mas isso não é nada demais, não é mesmo? – nada demais? Como ele ousava a contar aquelas histórias bem no local onde tudo ocorreu, em uma hora daquelas onde a escuridão chegava aos poucos? – Foi bem ali onde ficamos, quer dizer, era aquele caminho ali. – observou o local que mesmo tendo ainda a luz do sol, demonstrava ser escuro. Era um caminho entre pedras, onde mais pra frente, de acordo com , possuía um lugar plano e bom para acampar. Sentiu um calafrio percorrer pelo seu corpo só de pensar em estar ali mais tarde, em uma escuridão total apenas com uma lanterna e sabe-se lá o que mais. Quando retornou sua atenção para o local, percebeu que não estava mais lá e o pior. Olhou de um lado para o outro sentindo um pequeno temor iniciar em si. Desgraçado, ele havia comentado sobre a tal história a deixando um pouco receosa e depois sumia daquele jeito? Tudo bem, não poderia se desesperar naquele momento, ela só estava em um lugar onde era considerado uma cidade abandonada, com casos sobrenaturais, em pleno fim da tarde e sozinha, que mal poderia lhe ocorrer? Começou a respirar devagar tentando manter o foco e a coragem, mas estava sendo difícil, e tudo foi se por água abaixo quando sentiu algo tocar seu ombro por trás. Pronto, era sua morte chegando. Sentiu-se como um camaleão ao pensar nas diversas cores que sua pele havia adquirido pelo medo, chegando a palidez do branco. Foi algo bem rápido entre sua troca de cores e o grito fino de pavor, assim foi-se quando sentiu a raiva a consumir e seus dentes se tocarem freneticamente ao ouvir a risada do jovem.
Puta que pariu, garoto! – berrou em português, pondo a mão no coração. ainda continuava rindo e a única vontade que tinha era de chamar qualquer fantasma local para que levasse pro inferno.
– Posso não saber sua língua, mas com certeza foi um xingamento. – e ah se foi, só não falou os demais que rondavam em sua mente graças ao seu estado de recuperação pós susto. Mas tudo bem, de acordo com seus cálculos, aquilo não ficaria daquele jeito.
O tempo curto deu tempo para tirarem algumas fotos e conhecerem alguns locais mesmo estando impossibilitados de entrarem nos imóveis. Pegaram a estrada novamente e tiveram certeza de que estavam em Las Vegas quando os letreiros dos cassinos brilharam no painel do carro. Era lindo, exuberante. estava hipnotizada com a tamanha beleza que o local possuía. Wasted Years do Maroon 5 começou a tocar quando chegaram a Las Vegas Boulevard, rua principal da cidade.
– Pequena forasteira. – lhe chamou a atenção, ainda dirigindo. – Já foi a uma festa de casamento?
– Quem nunca? – ela respondeu em um tom óbvio.
– Claro… – ele riu. – Mas já foi a uma como penetra? – o encarou sem entender a mensagem. Penetra? Como assim? De acordo com suas leis, aquilo não era lá uma atitude correta de se fazer. Semicerrou o cenho, encarando a cara divertida que o garoto fazia.
, o que você vai aprontar?
– Sua primeira aventura, forasteira.

{...}

A casa era enorme e a vasta fachada dava a entender do quanto de dinheiro aquela família possuía. Os convidados ainda entravam pelo portão coberto por cachos de flores brancas, com uma iluminação bem Las Vegas.
– Por que estamos dentro de um carro, totalmente abafado, com tudo desligado e só espionando as pessoas entrarem ali? – questionou, abanando-se com as mãos. – Ai, meu Deus, vou morrer sufocada aqui, é meu fim! Morta por um ar quente dentro da Martilda.
– Já pensou em ser atriz? Com esse seu drama com certeza ganharia um oscar. – ele disse, a encarando ainda em sua posição agachada no carro.
– Sabe o que é isso? – passou as mãos pela testa molhada, levando consigo um pouco do suor. – S-u-o-r. Eu estou perdendo o líquido do meu corpo, porque você quer dar de um agente 007. – em um ato rápido, passou a mão molhada no rosto do rapaz, que protestou.
– Quando você for famosa, vou contar ao mundo sobre esse seu lado nojento. – ele a encarou, mas não conseguiu manter sua postura séria ao ver que a menina começara a rir. Pareciam dois idiotas rindo um do outro. virou a cabeça um pouco para a janela ao seu lado e percebendo a pouca movimentação que havia agora no local, resolveu agir. Saiu rapidamente do carro e fez o mesmo, sem entender. Quando os portões se fecharam por completo e apenas dois seguranças estavam na frente, ele puxou a garota, atravessando a rua. Ao lado esquerdo da casa, era um pequeno jardim da comunidade. – Greg Kane. – ele falou do nada, analisando o muro um pouco baixo da lateral da casa.
– O que tem ele e quem é ele?
– Meu ex colega de faculdade e meu terror na infância. Éramos vizinhos, ele e meu irmão sempre armavam para mim quando eu era pequeno. Uma vez me deixaram pendurados pela cueca em uma árvore próxima a nossa escola na saída, a garota que eu gostava, Jill, me viu naquele estado. Fui chacota do colégio por dois meses e ela desistiu de ir ao baile comigo.
– Nossa, como eles puderam fazer isso com você? E como ela pôde fazer isso com você?
– Também não sei. Qual é, sou um pedaço de mal caminho, de acordo com minha avó. Mas você pensa que terminou por ai? Fizemos a mesma faculdade, ele não me deixou em paz lá, e por pouco foi meu colega de quarto. Mas um dia encontrei o sapo morto do laboratório na minha mochila e logo soube que foi ele, pois Greg começou a me chamar de sapinho.
– E o que você fez?
– Nada, até agora. – arregalou os olhos e parou no meio do caminho. O local estava escuro e a visibilidade era pouca, somente tendo a luz do evento e do poste. – Como assim, até agora? – sussurrou.
– Eu era um bom aluno nas aulas de computação. Ter um irmão bom ouvinte e pequenos aparelhos de escuta me ajudaram muito. Não se preocupe, só vou fazer uma pequena surpresa de casamento a ele e garantir o nosso jantar. – soltou uma piscadela, voltando sua atenção para o muro. Percebeu então que nos fundos tinha uma pequena porta, onde um dos funcionários saiu com um saco de lixo na mão. Aproveitando a rápida deixa, ambos entraram, se escondendo em um arbusto na lateral da casa. – Trouxe a bolsa que te pedi?
– Sim…
– Ótimo. Você vai até a mesa de doces e salgados e vai colocar o máximo que puder nela. Não ponha muitos, temos que deixar para os convidados. – apontou para a vasta mesa armada no gramado onde estavam. A decoração era bem rústica e alguns toldos estavam armados separando a pista de dança, local dos convidados e a comida. – Enquanto isso, eu vou dar meus parabéns aos noivos.
– O que? Está maluco? E se me virem?
– Você nunca assistiu filmes de espiões, não? Se esconde debaixo da mesa. Aproveita que não tem ninguém aqui e vai.
– Se isso der polícia…
– Não vai, confie em mim. – e assim ela fez. correu em largo passos, entrando debaixo da mesa. Agradeceu por ter optado por usar um tênis e uma calça legging. Olhou novamente ao redor e percebendo a falta de segurança, abriu a bolsa e foi pegando com cautela alguns salgados e doces aleatórios. De vez em quando um funcionário aparecia, mas logo se retirava para a cozinha. Vendo que a bolsa já estava cheia, a fechou com cuidado e olhou de volta para os arbustos, não encontrando . Ela o mataria, com certeza o mataria. Saiu dali e foi caminhando até a frente da casa, pela lateral. O lugar era enorme, a recepção com certeza seria nos fundos, onde um imenso jardim estava enfeitado da maneira mais elegante possível. Enquanto ia caminhando, ouviu o falatório de e logo teve um pressentimento de que aquilo não iria dar certo.
E como não iria.
– Merda. – disse a si mesma ao ver um garçom se aproximar. Colocou um pouco a bolsa para trás de si tentando disfarçar o volume. Ela era péssima com desculpas. – Oi… Sou a maquiadora da noiva… É que eu… Me perdi. Fui ao banheiro. – o menino, que aparentava ter uns vinte anos não ligou muito. Deu de ombros e seguiu em frente. deu um forte suspiro de alívio e voltou a caminhar em direção a entrada, avistando , que estava perto do altar improvisado, ao lado de Greg.
– Sei que não me mandou convite, querido amigo, mas vim mesmo assim, porque no fundo, sei que gosta de mim. – um de seus braços estava ao redor do pescoço de Greg, enquanto sua outra mão batia no peitoral do rapaz. – Amizade das antigas, hein? Até lembro do dia em que você tinha contado para meu irmão que havia pago ao diretor da escola para passar de ano. Agora entendo por que suas notas eram tão boas e você conseguiu uma boa colocação na faculdade. As brigas no time de futebol não estavam no seu histórico, não? E naquele dia que você trocou a pomada do Kevin, que… Olha, ele está aqui! – apontou para o jovem loiro que assistia tudo com uma feição pasma. – E culpou o Carlos… Que também está aqui e lembra do que aconteceu depois? Eles brigaram, foi uma briga feia, você se mostrou ali por eles, mas depois foi lá para casa do meu irmão e começaram a rir. Querida, toma cuidado. – disse , voltando-se para a noiva. – Ele não tem tanto dinheiro como você pensa. Ele deu calote em uma empresa recentemente, boa sorte na cadeia. E mais uma coisa, Greg… Quando uma mulher diz que “não”, é não, então trate de respeitar as decisões dela e principalmente, o relacionamento em que ela está, pois caso contrário, você não irá sair impune, como armou para a Joice terminar o namoro dela de anos só para consolá-la.
Assim como todos, estava boquiaberta com tudo aquilo. Os convidados não sabiam o que fazer e muito menos a noiva, que logo tratou de chamar os seguranças. Percebendo a aproximação dos homens, deu um beijo na bochecha do rapaz e saiu correndo, pegando a mão de e puxando-a consigo. Os dois conseguiram sair por onde entraram e rapidamente entraram na caminhonete. O noivo, assim como os seguranças, ainda estavam atrás, mas o fato do veículo não ligar apavorou .
– Liga isso logo! – ela gritava, enquanto dava tapas no volante, como se aquilo fosse resolver.
– Estou tentando.
– Esse veículo é uma máquina mortal ambulante!
– Calma… Pegou!

{...}

A noite em Vegas não estava fria, ao contrário do que pensaram. As luzes dos letreiros iluminavam toda a rua, escuridão era pouca de se ver por ali. Algumas pessoas caminhavam pela calçada, ainda aproveitando a boa noite de Vegas; outras curtiam os bons e exuberante cassinos. e apreciavam a típica noite em Vegas após um momento incomum, afinal, não era todo dia que invadiam uma festa de casamento levando-a quase por água abaixo. Sentiam-se como dois foragidos da lei, sem a certeza de que os encontrariam ou não. Após a forte arrancada com o carro, percorreram alguns quilômetros parando em uma das ruas principais. não estava tão confortável com aquilo, não era de sua natureza fazer aquele tipo de coisa, mas deixou bem claro que não havia problema, não haviam feito com um estranho, ele conhecia muito bem Greg. E também, era aquela famosa frase, “o que acontece em Vegas, fica em Vegas”.
– Quem aguenta comer esses doces? É tanta coisa misturada que no final não sente gosto de nada. – comentou , colocando o doce rosado de lado.
– Por isso que prefiro meu velho amigo brigadeiro. – disse, pondo um dos brancos na boca, sentindo um leve frescor cítrico. Estavam sentados na borda da réplica da Fonte de Trevi, que aos olhos de , parecia bem com a original. A jovem permanecia com seus pés cruzados, de frente para , que sentado com os pés para fora da fonte, a encarava em um modo questionador sobre o tal brigadeiro.
– O que é isso?
– Brigadeiro? Um doce brasileiro e maravilhoso. Me lembre de fazer um dia para você, se aqui tiver os ingredientes.
– Deve ter... – respondeu, fitando o movimento a sua frente. Vegas não havia mudado desde sua última vez ali, a diferença era que na última vez, ele tinha um destino, tinha uma pessoa diferente ao seu lado, um hotel confortável para se hospedar, reservas em restaurantes magníficos… Ele amava Vegas não importava qual situação estava, mas odiava o fato de sempre lembrar dela. Memórias às vezes eram uma merda.
Seus pensamentos foram dispersos aos ouvir estalos de dedos próximo a si. estalava-os freneticamente a sua frente estranhando todo aquele silêncio repentino dele.
– Terra chamando . – o jovem virou sua cabeça, a encarando, desnorteado. Seus olhos haviam perdido um pouco do brilho que tinha e uma vontade louca de chorar surgiu. Começou a contar até dez fechando os olhos e impedindo as lágrimas de caírem. – Você está bem?
– Estou, por que não estaria?
– Porque você estava paralisado olhando o nada? – disse em seu tom óbvio. Ele suspirou, encolhendo seus ombros. – , tem certeza de que está bem?
– Estou, Lice, eu estou. – pôs a mão na perna da garota, esbanjando um sorriso meio sem jeito.
– Tudo bem, mas e agora, vamos fazer o que? Estou me sentindo daquelas pessoas sem rumo e direção.
– Nós estamos assim, mas queria tomar um banho, poderíamos procurar um hotel de…
– Por que não me disse antes? – e em um rápido empurrão, fez com que o garoto caísse de costas na água gelada da fonte. Aquilo havia se tornado hilário para ela, que começou a rir sem parar, mas para , havia significado uma coisa: guerra. Os risos de logo se transformaram em súplicas ao sentir as mãos molhadas do garoto passarem pelas suas pernas, à carregando. Não teve tempo de pedir um “por favor, não”, e sentiu suas roupas se encharcar. Ambos estavam dentro da fonte, completamente molhados, iniciando uma guerra de água.
– Idiota. – ela disse espirrando mais água nele.
– Olha quem fala, você começou.
– Você disse que queria tomar um banho. – entre risadas e águas, mal perceberam o olhar repreendedor de um dos seguranças locais. O homem de aproximadamente dois metros e o dobro de caminhavam na direção deles. arregalou os olhos e segurando na mão de , a puxou para fora. Recolheram rapidamente os doces e a pequena bolsa onde possuía uma câmera polaroid.
– Deu merda, vamos. – em Las Vegas era comum de se ver qualquer tipo de coisa, menos um casal correndo de mãos dadas pela cidade fugindo de um guarda. Não demoraram muito até sentirem seus pés doerem e o fôlego acabar, por sorte, haviam conseguido despistar o guarda quando viraram na segunda quadra. O coração de estava a mil e já começava a sentir as dores do sedentarismo.
– Deveria ter continuado na academia. – ele disse, tentando recuperar seu fôlego.
– Ninguém mandou você ser um sedentário, isso que dá ficar lendo revistas em quadrinhos.
– Você não pode falar nada, seu estado está pior do que o meu.
– Estou bem melhor, porém com fome.
– Vamos comer então, eu pago.
– Novamente? Sem chance, eu estou te devendo um jantar, essa eu pago.

{...}


Johnny Rockets - 10:30 p.m

– Dois “The Original” com batata frita e milkshake de Oreo e M&M. – a garçonete pôs na mesa os pedidos, se distanciando em seguida. pegou seu milkshake de M&M, erguendo-o para um brinde com .
– Isso é maravilhoso! – exclamou ao sentir o sabor em cheio do milkshake em sua boca.
– Eu disse que você iria gostar. Já estou conhecendo melhor seus gostos.
– Só falta eu conhecer melhor os seus.
– Pensei que já conhecesse.
– Alguns… Mas já falando sobre isso… Você está bem mesmo?
– Recaídas do passado… Quem nunca teve, não é mesmo? – a resposta rápida de fez perceber seu certo incômodo por tocar naquele assunto, sendo assim, ela deixou passar. Não queria questionar tanto e seu hambúrguer estava tão maravilhoso que seria um desperdício não focar nele. – Podemos depois tentar vaga em algum albergue para passar a noite, caso contrário, Martilda será nosso lar.
– Eu só queria uma cama confortável e um cobertor para me aquecer. – choramingou, o fazendo rir. Após um tempo em silêncio, e algumas falas de pouca importância, a conta chegou na mesa.
– 28 dólares e setenta centavos. – informou . Rapidamente tateou os bolsos a procura da carteira, mas não a achou. Procurou em todos os bolsos, até mesmo na bolsa, mas ela não estava ali. Havia deixado no carro, na maldita lateral do carro. Com um olhar curioso, reparava em todos os movimentos do rapaz.
– Algum problema?
– Então… – ele começou a falar sem jeito. – Sabe aquele jantar que você me devia? Pode ser esse, que tal? – finalizou com um sorriso culposo.
– Esqueceu a carteira?
– Na lateral interna do carro. – ria em meio a frustração do amigo.
– Tudo bem, eu pago… – e assim como , tateou em sua calça a procura da carteira. Não estava com bolsa e tinha cem por cento de certeza de que antes de sair do carro, havia pelo menos sua pequena carteira que costumava deixar um dinheiro de sobra, mas não a encontrou. Seu desespero maior foi quando se deu conta de que o que ela havia pegado foi seu passaporte e não a carteira, onde a mesma estava em sua mochila, no carro. Olhou para , desesperada, e ele a retribuiu da mesma forma, porém, sua expressão piorou quando percebeu a aproximação da garçonete novamente.

{...}

– Não entendo a necessidade da minha pessoa ter que usar essa touca de cabelo. – reclamou , tentando folgar mais o objeto em seu cabelo. Já era a quinta vez que ele reclamava de algo na cozinha, já não aguentava mais. Primeiro, por um minuto, teve que ouvi-lo falar do quanto o gerente havia sido inconveniente de não ter permitido a saída deles para pegar a carteira ou ao menos de um. Segundo, foi pelo trabalho que eles teriam que fazer. O terceiro foi pela perda no par ou ímpar para ver quem lavaria os pratos, na qual o mesmo havia perdido. A quarta foi pela água fria e o quinto, a touca. Ok, ela também tinha culpa no cartório por ter esquecido a carteira e deveria ter seguido o conselho que seu pai sempre falava: “Antes de entrar em um estabelecimento, confira o que tem no bolso.”. Jamais pensou que um dia ele estaria certo com suas frases sem sentido.
A pilha de pratos ainda era bem significativa e suas mãos já doíam de tanto ter que enxugar, sendo que as mãos de já estavam enrugadas pelo contato demorado com a água e sabão.
– Jamais pensei que um dia eu acabaria tendo que lavar pratos para pagar um jantar. Olha a que ponto chegamos e ainda estamos no início da viagem. – comentou , suspirando em seguida.
– Pensa pelo lado bom, pelo menos economizamos dinheiro e estamos fazendo algo diferente. – deu uma bela olhada pelo canto do olho para ele, tentando-se manter séria, mas não conseguia. As caras e bocas que fazia causava um ataque de risos nela, era impossível não sorrir. Mas ele estava certo, era algo diferente e bem, por que não aproveitar? Vendo a distração da garota, pegou um pouco do sabão em mãos, soprando na cara dela, onde a viu abrir a boca em forma de protesto.
! – o repreendeu, mas não foi necessário para que o mesmo parasse. Sendo assim, sua única opção foi começar a chicoteá-lo com a toalha.
– Outch. É assim, né? – revidando, pegou o bolo de espuma que possuía em mãos e soprou novamente.
– Eu não acredito! – a guerra havia se iniciado. O pano de prato foi deixado de lado e uma guerra de espumas tomou conta da cozinha, onde no momento só havia eles dois. Bolhas de sabão tomavam conta do lugar, enquanto ambos se divertiam, já praticamente molhados. Em um momento de distração, quando se preparava para pegar mais sabão na pia, conseguiu a prensá-la na pia, segurando suas mãos cheias de espumas. – Isso não vale! – falava, rindo, tentando a todo custo melar , então o mesmo se divertia, vendo a tentativa da garota.
– Claro que vale, não colocamos nenhuma regra. – seus corpos estavam praticamente grudados, enquanto seus rostos ainda possuíam uma significativa distância, mas nem isso foi páreo para que o rapaz deixasse de analisá-la. era encantadora, charmosa e possuía um sorriso contagiante. Era estranho vê-la tão perto já que o máximo que se aproximaram foi em um abraço onde cada um olhava para o lado oposto do outro.
, está sentindo esse cheiro? – a voz questionadora de sua amiga o despertou, fazendo-o, por um segundo, prestar atenção no local. O cheiro forte de algo queimando se intensificava a cada momento e só tomaram conta de que algo realmente estava queimando, quando perceberam uma fumaça cinza adentrar o local. A corrida até a outra parte da cozinha foi rápida, não havia ninguém, já que o estabelecimento já estava fechando e parte dos cozinheiros já haviam ido embora, entretanto, o óleo, ainda quente das batata-fritas, estava esfriando onde algumas bolhas de sabão perambulavam no ambiente.
– Trabalhar para pagar sete dólares, tudo bem, agora para pagar uma lanchonete? Vou morrer trabalhando! – enquanto a jovem jogava seu drama pelos ares, olhava minuciosamente cada detalhe do estabelecimento a procura de uma saída. A culpa não havia sido deles, não podiam controlar as bolhas de sabão e mal tinham percebido na quantidade que haviam produzido. Ele sabia que se ficassem ali, o problema seria pior do que se tentassem fugir, e por sorte, não havia ninguém na cozinha e a fumaça ainda não havia chegado do outro lado do local. Ainda dava tempo de armar algo e escapar dali. Dava, antes do alarme de incêndio tocar e automaticamente os extintores de teto liberarem água.
Merda. Pensou ele se agachando e trazendo a amiga consigo.
– Deixa os aventais aqui e vamos fugir. – disse logo em seguida já se desfazendo dos acessórios extras.
– O que? Você sabe o que pode ocorrer caso a gente fuja?
– Nos livrar dessa? Bem, com certeza será isso. Se fugirmos, poderemos falar que nos assustamos e a fumaça foi tão intensa que procuramos logo a saída.
– Mas…
– Sem “mas” e vem comigo. – puxando-a ambos correram em direção a saída de emergência, antes, pegando seus pertences que estavam próximos, saindo por um beco totalmente escuro e tomado pelo lixo. Ao perceber a porta à sua frente, do outro estabelecimento, adentrou ao local ainda puxando que tentava se equilibrar com as ações repentina do amigo. A cozinha do Hotel Cassino Royal estava lotada, onde funcionários e cozinheiros não paravam por um momento. Foi realmente difícil sair dali, entre esconderijos e rápidas andadas, ambos chegaram ao luxuoso salão principal. Lustres extremamente caros, joias e peças únicas no corpo dos hóspedes, palmeiras enfeitando todo o canto e um luxuoso tapete vermelho dava o toque necessário para a palavra riqueza. estava encantada, admirava cada canto daquele local como se fosse de outro mundo, já , bem, ele conhecia o estabelecimento muito bem, já havia se hospedado ali anos atrás. As lembranças logo preencheram sua mente e um incômodo se instalou em si. Odiava lembrar do passado, principalmente dos bons momentos, a saudade chegava e ele sabia que não poderia fazer nada para trazê-la de volta.
Sacudiu a cabeça, tentando afastar as lembranças de si, e vendo em sua frente, uma ideia lhe veio à cabeça.
– Vem comigo.
Subiram alguns andares pelo elevador, tentando não chamar tanta atenção, até chegar ao último, onde dali seguiram de escada até o topo do hotel.
Las Vegas era linda. O brilho da cidade parecia estrelas em um dia sem nuvens, a movimentação abaixo era intensa e as risadas misturadas com as buzinas dos carros era um som em seus ouvidos. A forte brisa lhe trazia sensações únicas e a vontade de explorar mais ainda cada canto da cidade só aumentava. Jamais em sua vida se sentiu tão livre quanto estava se sentindo. Por mais que houvesse passado por maus bocados, estar ali lhe trazia paz. Foi se aproximando aos poucos até a beirada, onde apoiou seus cotovelos para admirar melhor a cidade. Uma música perfeita poderia se iniciar ali e a sensação de estar em um filme estaria completa.
Um flash foi o que lhe despertou, fazendo-a encarar o jovem rapaz que mantinha em mãos a pequena câmera polaroid.
– O que está fazendo?
– Fotografando essa bela paisagem, não posso?
– Pode, mas me avisasse para eu sair da frente e não atrapalhar a foto.
– Mas ai ela perderia a graça, porque a beleza principal é você. – ruborizada, ela sabia que estava assim, pois logo sentiu suas bochechas queimarem e se não fosse pela noite e pelo seu tom de pele, suas bochechas logo estariam vermelhas. – Fotos são as melhores maneiras de registrar momentos, aposto que gostaria de tê-las contigo. Não se preocupe comigo, apenas sinta o momento. – sorriu e apontou a câmera para a mesma, onde por sua surpresa, ela fez uma pose e logo em seguida voltou a admirar a vista. Ele estava certo, fotos eram uma das melhores opções para registrar momentos e ela queria levar aquilo pelo resto da vida, porém, fotografia havia outra função. Chamou com um leve movimento dos dedos, retirando seu celular em seguida. Ao perceber a aproximação do mesmo, a garota apenas passou um de seus braços por cima do ombro do rapaz, ficando na ponta dos pés e apontando a câmera para ambos.
– Fotografias ajudam a lembrar com quem estávamos compartilhando o momento. – disse em um sussurro, apertando logo em seguida o botão de disparo da câmera. Assim como a espontaneidade do sorriso do rapaz, a foto havia saído do mesmo jeito. O rapaz a olhava com o sorriso gentil no rosto, encarando-a, enquanto a mesma sorria com gosto para a câmera. Entre fotos e risadas, a noite não poderia estar mais perfeita, e ficaria mais, se dois seguranças não interrompessem o momento, questionando em um forte tom o que faziam ali. Sem saída, logo pegou na mão de , a levando rapidamente para a saída de emergência, com os dois seguranças correndo atrás de ambos. Não havia sido fácil despistá-los, sorte que Las Vegas tinha o poder das aventuras e da curtição.



Capítulo 5 - I don't really care if it's wrong or right.


Não tiveram tempo de trocar de roupa, o vento ajudou um pouco a secagem, mas o frio foi consequência. Em menos de poucas horas já estavam saindo de Las Vegas para seguir pela rota 66. Antes, acabaram passando em um pequeno Starbucks para comprar alguns alimentos. Os olhos de começaram a se fechar perdendo para o sono, mas não queria ficar só. Ligou o rádio onde Work This Body do Walk The Moon tocava nas alturas. tomou um susto e repreendeu o rapaz com o olhar, que riu sem se importar.
– Só não te mato agora porque não sei onde estamos e porque eu amo essa banda. – comentou ela, apoiando a cabeça na porta do carro e esticando os pés, o colocando no painel a frente.
– Sabe que é proibido ficar nessa posição, não sabe?
– E quem vai me impedir? – ela o encarou, colocando o canudo verde na boca e deliciando-se do cappuccino, morno.
– Quer mesmo saber? – lhe lançou um olhar desafiador.
– Você não seria louco de… – a forte freada que o rapaz deu no carro fez com que o líquido no copo se espalhasse por toda sua blusa garota, deixando-a em uma posição meio que sem jeito no banco.
! – ela gritou e o rapaz riu mais ainda. – Você me deve um cappuccino novo e uma blusa nova! – esbravejou.
– Você que pediu, forasteira.
– Ah, é assim? Me aguarde.
A estrada parecia que não tinha fim, as poucas luzes dificultavam a visão que tinha na pista. Já se passava das duas da manhã e nenhum dos dois haviam dormido. O cansaço já começava a tomar conta deles, e sem alternativa, entraram em um consenso de encostar o carro em alguma estrada de terra e dormir ali mesmo.
– Você não tinha dito que tudo estava certo? Pensei que incluía hotel…
– Mas está tudo certo, só não expliquei o que é esse certo. E para de falar e procura logo uma camisa minha antes que eu desista de te emprestar uma.
– E quem disse que é emprestado? Assim que estiver no meu corpo, pertencerá a mim. – respondeu por fim, retirando uma blusa cinza de dentro da mochila do rapaz. deitou o banco do motorista todo, deitando-se em seguida. Era desconfortável? Sim, mas era a única opção. Talvez estivesse certa sobre ter reservado alguns hotéis ou até mesmo albergues. Viu a garota sair do carro e fechar a porta em seguida. Ela havia parado de costas para a porta e logo em seguida retirou a camisa que havia sujado. Mesmo estando deitado e tendo parte da porta atrapalhando sua visão, ainda conseguia enxergar levemente a silhueta do corpo de e a cor do sutiã branco que a mesma usava. Os cabelos cacheados estavam em um coque mal feito e alguns caiam sobre sua pele desnuda. Aquela visão durou por pouco tempo, quando sua blusa a cobriu. Percebendo sua volta ao carro, rapidamente pegou o celular, abrindo no primeiro aplicativo que vira.
– Por favor, nem que seja em um rio, mas vamos parar em algum lugar para eu tomar um banho. – ela disse, deitando no banco do carona. – Daqui a pouco vou chamar a atenção dos animais com esse cheiro de cappuccino.
– É seu aroma natural, muita gente gosta de cappuccino. – o encarou, com uma cara fechada, fazendo o mesmo engolir seco. – Ok, sem piadas. Já sei onde podemos ir amanhã.

{...}


– Muito tempo que não te vejo hein, garoto? Da última vez você parecia um troço com esses cabelos todo espichado, parecia uma vassoura de piaçava. – o velho e bom Jerry deu dois tapas na enorme barriga cabeluda. Sua mania de vestir blusas um pouco curta e calças onde mostravam parte da bunda não havia mudado, e o antigo trigo ainda continuava em sua boca.
– É o tempo, meu amigo… Tenho ajudado muito meu avô na biblioteca. – respondeu, apoiando os braços no capô da caminhonete.
– Diga aquele velho enxerido que é para ele largar aqueles livros e vir fazer uma visita ao velho aqui.
– Um dia o trago aqui, pode esperar.
– E quem é a jovem moça da cidade?
– Uma amiga.
– Amiga, sei… Da última vez, aquela moça lá não tinha cara de amiga, parecia um carrapato em você. – não conseguiu segurar o riso em meio a comparação de Jerry com Isla. Logo lembrara do dia, estavam indo para Las Vegas em suas férias e seu avô havia lhe pedido para que entregasse um pacote a Jerry. Acabaram saindo cedo, já que o local onde o homem morava não era caminho para Vegas. Com seu jeito humilde de ser e a consideração que tinha por , Jerry não hesitou em chamá-los para tomar um chá, entretanto, o convite não agradou muito Isla, que não saiu de perto do jovem nem um momento se quer. Ela não era acostumada com fazendas ou coisas do gênero, sempre morou em cidade grande e tinha aquilo vida.
– Quem era um carrapato? – a voz de fez com que o garoto tomasse um susto e se encolhesse perto do carro. Pela primeira vez, pôde perceber o quanto era linda com seus belos e longos cachos.
– Não me mata de susto, não! – pôs a mão no coração, fazendo-a rir.
– Como se eu fosse um fantasma, né? – rebateu, fazendo Jerry rir mais ainda. – Obrigada pela ajuda, Jerry. Estava precisando de um banho e finalmente pude tirar o cheiro de cappuccino de mim.
– Ah, então era você? A dispor, minha jovem. Mas então, qual o próximo destino?
– Não sei, estamos percorrendo a rota, tem alguma dica? – questionou, aproximando-se do homem.
– Vocês podem ir ao Grand Canyon, fica a poucas horas daqui, dizem que o passeio de Asa Delta panorâmico é maravilhoso.
– Asa Delta? – questionou. – Não, nem pensar.
– Por que? – indagou.
– Porque eu tenho medo de altura! – revirou os olhos e agradeceu a Jerry, seguindo em direção a caminhonete. fez o mesmo e vinha um pouco mais ao seu lado.
– Não vamos, correto? – ela perguntou.
– O que você acha? – o braço do garoto logo passou pelos ombros da jovem, trazendo-a mais pra próximo de si. Aquela pergunta meio que resposta não agradou muito , ela sabia que de fato, sua próxima parada não iria ser nem um pouco agradável.

{...}

– Eu vou morrer, garoto! – dizia enquanto sentia seu braço ser puxado em direção aos instrutores. A viagem havia sido mais rápida do que pensaram, mas poderia ter sido um pouco mais devagar, de acordo com , para que se preparasse melhor para a hora de sua morte. não era de correr, mas naquele trecho, parecia que estava com pressa de chegar ao local. – , pelo amor de Deus, vai só, me deixa no solo.
– Eu já paguei, . Calma, vai dá tudo certo. Sente o espírito aventureiro.
, eu tô é sentindo meu estômago embrulhar! Eu vou morrer, homem!
– Você não confia em mim?
– Confio, mas não confio nesse negócio aí. – o coração de começou a palpitar mais forte ao perceber que os instrutores já os esperavam com os equipamentos prontos. Sentiu as pernas travarem e seu corpo paralisar. Jamais havia ido tão fundo em uma aventura e voar não estava lá em seus planos. Não deveria ter aceitado o convite da viagem, deveria ter criado qualquer desculpa esfarrapada, qualquer uma, ou até mesmo enviado em seu lugar. – , eu sou cardíaca, vou ter um troço lá em cima.
– Eu te levo para o hospital assim que pousarmos. Vem, o instrutor está nos esperando. – ele tornou a puxar a mulher. pôs na cabeça que era seu fim, seria seu último momento na terra e logo em seguida partiria para outro mundo ou qualquer lugar caso não fosse aceita no céu por seus pecados. Já estava animado, seria sua quinta vez que iria naquele lugar. A cada passo que dava, ela sentia seu estômago dar voltas. A instrução foi bem mais rápida do que esperava e logo, já estava com os equipamentos pelo corpo e um instrutor consigo, prestes a voar. estava ao seu lado, do mesmo jeito e com outro instrutor. Entre xingamentos mentais e rezas para que saísse inteira daquele local, viu um vulto ao seu lado, percebendo que acabara de pular. O temor só piorou. Começou a pedir e implorar ao instrutor para que ela não fosse, mas era tarde demais. Ela se assustou com quando percebeu suas pernas em movimento e logo não havia mais chão. Ela estava literalmente voando.
O grito de pavor exalou sem dificuldade. Olhava para baixo e só via terra e mais nada. Pequenos pontinhos verdes indicavam as árvores. Era seu fim!
Porém, por mais que estivesse com medo, não podia negar que a vista era linda. O vento no seu rosto lhe causava uma boa sensação, mas era só olhar para baixo que o temor já voltava a tomar conta dela. Respirou fundo e fechou os olhos, tinha que aproveitar o momento e nenhum medo deveria lhe impedir de sentir novos prazeres. Entretanto, querendo ou não, o voo todo foi apreensivo e a mesma só relaxou quando sentiu seus pés novamente em contato com o chão.
Por mais que tivesse sido uma nova experiência, ela sabia: nunca mais iria fazer aquilo novamente. Jamais!
– Morreu? – brincou, passando seu braço por cima do ombro da morena, enquanto a via revirar os olhos. Suas pernas tremiam um pouco por conta da adrenalina em si, mas tentava não transparecer um pós nervosismo.
– Não está vendo que aqui é minha alma? – tentava dar uma de durona, mas sabia que no fundo, ela havia gostado, ela não a enganava. Em um rápido ato, ele se aproximou da jovem, dando-lhe um beijo em sua bochecha, fazendo-a sorrir instantaneamente.
– Você é demais, sabia? – ele disse, encarando-a. – Vem, o nosso dia ainda não acabou.

O pequeno hotel de estrada não ficava tão longe do próximo destino, por sorte, conseguiram achar uma vaga em meio a alguns que estavam lotados. sabia o porquê, já não fazia a mínima ideia. O local, por mais desértico que fosse ao redor, era até um pouco arrumado. O vasto estacionamento era aberto, possuindo os quartos de apartamentos ao redor. Uma pequena casa ao lado era a recepção, onde um jovem rapaz havia os atendidos.
Quarto 201.
A cama de casal tomava mais espaço no cômodo e uma cômoda um pouco a sua frente deixava um pequeno espaço para que pudessem se dirigir ao banheiro. Era pequeno, mas nada como uma boa cama ao invés do banco do carro.
– Você consegue se arrumar em dez minutos? – questionou , atirando-se completamente na cama, arrependendo-se em seguida, pois não havia nenhum tipo de mola que amortecesse sua queda. Viu afirmar com a cabeça e seguir em direção a mochila, pegando algumas peças de roupas.
– Você não me disse para onde iríamos, então nem sei o que vestir.
– Digamos que iremos a um barzinho por aqui por perto, então não é muita coisa.
– E por que esse digamos em sua frase?
– Porque pode ser que seja ou não seja, agora vai logo que o tempo tá passando.
Dito e certo, não demorou nem dez minutos para a morena sair do banheiro trajando uma calça jeans preta, uma blusa simples com um casaco jeans por cima e uma bota de cano médio. Os cabelos estavam soltos, esbanjando seus vastos cachos, presos por uma bandana em forma de tiara. precisou se recompor um pouco após ter visto-a. Ela estava magnífica. O leve delineado e um batom nude realçavam ainda mais sua beleza.
O jovem mordeu o lábio inferior, encarando-a de relance, sem que a mesma percebesse, já que se encarava no espelho do quarto, retocando o batom. tinha um jeito encantador, desde o primeiro encontro de ambos, jamais havia conseguido esquecer o belo rosto da amiga e seu modo determinada de ser.
– Como estou?
– Estou até sem palavras… Quer dizer, gostei, tá ótimo, minha vez. – disse nervoso, levantando-se rapidamente, passando por ela e entrando no banheiro. Enquanto esperava por , aproveitou para descansar os pés, sentia que a noite seria longa, entretanto, uma pequena fonte de luz ao seu lado lhe chamou atenção, percebendo que deixara seu celular ali e com uma imagem na tela um tanto quanto curiosa.
A foto de com outra jovem lhe chamou a atenção. Ele parecia estar feliz, possuía um sorriso encantador nos lábios, enquanto olhava para a câmera apontando para o anel de diamante no dedo da garota ao seu lado, que do mesmo modo, sorria demonstrando uma enorme felicidade. Estavam trajados elegantemente e ao fundo uma sala tomada pelos jogos de luzes dos cassinos. Sentia que conhecia aquele local, não lhe era estranho.
Pelos seus cálculos, com certeza estariam em Vegas.
Então, ou já havia noivado com alguém, ou aquela poderia ser uma irmã ou parente. O fato era que por mais que o conhecesse somente há poucos meses, não costumava a contar nada si para ela ou , nem mesmo nos jogos de verdade ou consequência que jogaram uma vez na festa de aniversário de um amigo dele. era fechado, mas não tímido, porém com uma porcentagem altíssima de mistério. Deixou o celular do rapaz onde havia encontrado e seguiu para organizar a mala antes de sair.

Mais rápido do que , o jovem havia conseguido ficar pronto em um tempo recorde, mas se assustou ao perceber que a jovem não se encontrava no quarto. Para onde ela poderia ter ido àquela hora?
Recolheu os pertences e ao procurar a chave da caminhonete, percebeu que o objeto não estava mais em cima da cômoda. E foi ali que seu desespero começou. poderia ter fugido com a caminhonete e o deixado ali? Não, com certeza não seria possível, ele tentava em não acreditar naquilo. Mas ela tudo indicava que aquilo poderia ter sim acontecido.
Então, rapidamente seus pensamentos foram ao mais extremo ao lembrar-se de Isla. Um incômodo logo se instalou e o mesmo começou a sentir os olhos marejarem. A dor iniciava-se aos poucos, e a mesma sensação que sentiu com Isla começava a surgir, entretanto, havia algo estranho, não pelo fato das coisas terem sido diferentes, mas a intensidade da dor, era algo mais intenso, mais sofrido.
“Não é nada, , não é nada.”, disse a si mesmo, respirando fundo e fitando o teto. O barulho da maçaneta o chamou a atenção, exibindo a silhueta da jovem que estava entretida com o chaveiro do símbolo do Canadá e com o nome “Martilda” escrito, preso a chave. O alívio do jovem foi de imediato, mas a angústia ainda estava instalada nele. Ele tinha que parar de levar as coisas tão ao extremo, e sabia disso, mas seu pequeno fato do passado ainda o incomodava e talvez, tivesse mudado algo em si.
– Que fofo esse amor que você tem pela caminhonete. – disse, ainda admirando o objeto em mãos. Quando direcionou o olhar para , percebeu seus olhos um pouco molhados e sua expressão pálida e preocupada. Sua intenção foi logo questioná-lo sobre o que havia ocorrido, mas a voz de a impediu de dar a voz.
– Onde estava? – ele tentava soar calmo, mas a fraqueza em sua voz era nítida.
– A recepcionista bateu aqui, avisando que havíamos esquecido a janela do carro aberta, aí fui conferir… – aquelas palavras foram como um calmante em sua mente. Saber que ela não havia tentado fugir o aliviava em cem por cento. Agora, precisava se acalmar e só curtir a noite. – , você está bem?
– Sim, claro que estou, vamos? – sem entender quaisquer motivos, apenas assentiu com a cabeça, abrindo a porta atrás de si, mas foi surpreendida com as mãos de em sua cintura, a virando e puxando-a para um abraço forte e caloroso.
– Você é maravilhosa, sabia? – o ouviu sussurrar, antes de sentir suas mãos se afrouxando da sua cintura e o corpo dele se afastando do seu. começou a andar em sua frente, com as mãos no bolso do seu jeans. ficou por um tempinho analisando tudo o que havia acontecido. Uma hora ele parecia estar mal e na outra hora o abraçava e a chamava de maravilhosa? Logo um sorriso brotou em seu rosto, mas no fundo, ela sabia que algo estava errado com ele, e iria a fundo para descobrir o que tanto ele escondia.




Capítulo 6 - We were victims of the night.


Flagstaff era uma pequena cidade no estado de Nevada que ficava a uns trinta minutos de onde estavam hospedados. O The Brix era um belo e antigo bar, ainda com sua arquitetura antiga que localizava-se um pouco mais no centro da cidade. Com um vasto balcão de bebidas e um pequeno palco montado aos fundos, era bem conhecido por terem boas atrações em diversas noites. O local estava mais cheio do que o normal. Assim que chegaram, caminharam em direção ao bar, onde imediatamente pediu uma tequila.
– Nossa, já vai começar a noite assim? – perguntou, apoiando-se no mármore da bancada, encarando-o. deu uma leve risada, e ficando na mesma posição que ela, a encarou de volta, umedecendo os lábios de uma forma sexy, o que fez automaticamente morder o lábio inferior.
– Não vai me dizer que você vai pedir suco? – ela riu por um momento, e negou com a cabeça baixa, percebendo logo a aproximação do barman que ali mesmo, preparava a forte bebida do rapaz.
– E se eu quisesse? – questionou, aproximando-se mais dele. pensou por um minuto, tendo os olhos tão intensos da garota sobre si, o que acabou tirando um pouco da sua atenção. conseguia causar um efeito nele que nem ele mesmo sabia, era algo indescritível, talvez fosse uma pequena atração começando, mas eram amigos, ele acreditava na teoria de que um beijo poderia estragar muita coisa, e ele a queria ter ao seu lado por muitos anos. A companhia dela foi um dos maiores bens que ele havia conquistado após um ano tão turbulento. Sacudiu um pouco sua cabeça, dispersando-se daqueles pensamentos e sem obter resposta dele, lançou lhe um sorriso vitorioso, jogando seus belos cachos para o lado e dirigindo-se ao barman. – O mesmo que o dele, por favor.
– Nossa, já vai começar assim? – a imitou com uma voz fina, porém, em troca, recebeu uma cotovelada da mesma. – Outch!
– Mas então, aqui é sempre movimentado assim ou é só porque resolvemos vir que isso aqui encheu?
– Desde quando a senhorita se tornou tão importante para ter fãs? Se você for uma famosa disfarçada, por favor, me avise, não quero acabar na capa daquelas revistas de fofocas sendo o “suposto affaire”, temos que ser O casal. – e novamente ele tomou outra cotovelada, sendo mais forte do que da última vez. – Olha, se você continuar me dando cotoveladas, eu vou te expor para os tabloides dizendo que sofro agressão.
– Nossa… Que medo, olha como estou desesperada. – riu em meio ao teatro da amiga e negando com a cabeça, virou o corpo para a pista de dança, porém apoiando os cotovelos na bancada, enquanto bebericava a bebida. aproveitou o momento e fixou o olhar nele, reparando na beleza do rapaz.
Sim, era lindo, interessante e sexy. Seu perfil era mais atrativo, principalmente com a barba mal feita dos dias de estrada. Se ela estivesse naquele bar e não o conhecesse, provavelmente tentaria algo com ele, e seria de bom grado terminar a noite entre quatro paredes.
Mas ele era seu amigo… Amigo, amizade.
Palavras que resumiam seu dicionário com ele, juntamente com o medo de estragar aquela relação, afinal, estar com a fazia um bem danado. Poderia ser somente meses de amizade, pois a jovem havia chegado ao país naquele ano, entretanto, a forte amizade que criara tanto com quanto com ele, foi algo que ela sempre foi grata por ter.
Mas o que? Não, no que ela estava pensando? Sério mesmo que havia perdido um pequeno tempo refletindo um possível relacionamento com o garoto? Sacudiu a cabeça tentando afastar aquelas ideias da mente, e de vez, tomou todo o líquido que possuía no copo a sua frente. O álcool desceu rasgando a garganta sem dó nem piedade. Fez uma careta e pôs o copo no balcão com força.
– Dois “monstrão”, por favor. – ouviu fazer o pedido e logo lhe lançou um olhar confuso. Que diabos seria um monstrão? Talvez uma bebida ultra forte capaz de lhe tirar o resto da timidez ou alguma comida asquerosa. O que quer que fosse, aquilo não lhe soava bem.
– Que diabos é isso? – questionou. esperou um pouco, não queria explicar sem antes ter o pedido em mãos. Apenas continuou bebericando a bebida com um sorriso confiante nos lábios, ouvindo as perguntas de , que só se aquietou quando You Are The One do A-HA tocou.
– AI MEU DEUS, EU AMO ESSA MÚSICA! – ela berrou, lhe chamando atenção.
– A noite é sua, gata. Vai dançar.
– Mas você é o meu par está noite e como um bom companheiro, precisa me acompanhar em tudo.
– Até se você for ao banheiro? – ela revirou os olhos, e logo em seguida retirou o copo da mão dele, o puxando contra a multidão.
– Você me entendeu, agora vem. – por mais que não soubesse dançar bem, tentou. Tentou seguir o ritmo animado da música, alguns movimentos do pessoal e até mesmo os passos que fazia, mas sabia que estava pagando um mico. Ele odiava dançar, a única vez que dançou bem foi nos 16 anos de sua prima, na qual tiveram quase um mês de ensaio para a valsa e uma dança maluca que a mesma havia resolvido fazer, fora isso, somente quando estava em casa ouvindo suas músicas, sozinho, apenas imitando um cantor no palco. Nem mesmo nas festas de galas que Isla inventava ele não dançava. A jovem sempre acabava dançando com alguns de seus amigos, pois o mesmo sabia que se tentasse, os pés da garota sairiam totalmente destruídos por suas pisadas.
amava música antiga, lhe trazia boas lembranças, principalmente quando tinham um ritmo frenético, e estar no século vinte e um e ter uma local na qual tocavam aquele tipo de música? Com certeza ela teria que aproveitar. Enquanto dançava, cantarolava palavra por palavra, nem sentiu os intensos olhares de sobre ela.
Ele tinha sorte de tê-la encontrado, e falava para si mesmo todos os dias. O tempo da dança foi suficiente para o tal monstrão ficar pronto e ficar a espera deles no retorno. tomou um susto ao ver o tanto de carne que aquele hambúrguer possuía, sem contar as coisas que tinham ali. Tomava quase um prato todo e os queijos jorravam pelos lados.
– Na época da faculdade, durante o summer break, meus amigos e eu costumávamos alugar um carro e fazer esse percurso da rota. Um dia descobrimos esse bar e acidentalmente, o monstrão, graças ao Rodolfo, que viu um cara comendo um desse na bancada, sozinho. Ele nos desafiou a encarar isso e o último que terminasse de comer, pagaria uma rodada de cerveja. Tinha virado tradição fazermos isso todo final de semestre.
– Você sente falta dessas saídas?
– Um pouco, mas nada que não possa ser curado, e o monstrão é a solução. Esse hambúrguer foi um marco para mim e quero que seja para você também. – o sorriso dela foi sua resposta, mas logo foi tomado por uma preocupação. Ela teria que comer aquilo? E o que tinha ali?
– Antes de mais nada, o que tem nessa coisa?
– Seis camadas de queijo variados nos cinco tipos de carnes, sendo uma delas a picanha. Uma camada de bacon, molho especial de atum, uma camada de cebola frita, outra camada de anéis de polvo frito, ovos, alface, tomate, molho especial de barbecue, molho especial de maionese e um molho secreto que nunca soube o que era.
– Resumindo… Uma bomba de colesterol. Você quer me matar?
– Se nesses anos que sempre vim aqui eu não morri, não será na sua primeira vez que irá acontecer isso. – disse rindo.
– Sei não… Não me parece apetitoso.
– Ah, qual é, . Vai amarelar? É só um hambúrguer! Cadê o lado aventureiro?
– Eu já não tinha, e o que estava começando a ter se perdeu quando pulei de asa delta.
– Vamos fazer o seguinte, quem conseguir comer primeiro, paga uma bebida ao ganhador, qualquer bebida… – não lhe pareceu uma má ideia. Antes de tudo, a garota analisou como comeria aquilo. Era enorme, sendo assim, decidiu ir aos poucos e no final das contas, a rodada de bebida foi dele. Não havia conseguido nem chegar na metade do hambúrguer, enquanto comida as últimas rodelas dos anéis de polvo.
– Acho que agora sei quem sempre pagava uma rodada de bebida para os amigos. – ela comentou em um modo divertido, tocando em seu ombro como se o consolasse.
– Nem sempre… Mas sempre andava com um dinheiro extra, nunca sabia quando meu estômago iria cooperar. Mas fiquei surpreso…
– Por eu ter ganhado? – ele assentiu, ouvindo a risada nasalada da garota. – Por que? Só porque sou mulher e não esses caras monstruosos?
– Nha, nem é por isso, vejo muitas mulheres aqui fazendo esse tipo de aposta e detonando no hambúrguer. Mas pensei que você não fosse gostar, pela cara que fez quando viu...
– Não é porque a comida é feia que o gosto pode seguir a mesma linha e por falar nisso, eu até que gostei. – ele arqueou a sobrancelha e virou-se para ela.
– Sério? – a viu assentir e pegar a bebida paga por ele na mão do garçom. Deu um leve gole sentindo a mistura das frutas junto com o álcool.
– É tão sério que vou tentar reproduzir um para . – a gargalhada de ambos foi intensa, sabiam o jeito de e só de imaginar a cara da amiga quando olhasse para a montanha de gordura, com certeza ela surtaria. Começaria a alegar que a dieta dela não permitia aquele tipo de coisa e que se comesse, teria que fazer praticamente um mês de caminhada e exercícios para tirar toda a caloria que consumiu. ainda se arriscava, mesmo tendo algum receio, já , não. – Sabe, … – ela começou, chamando a atenção do rapaz que tentava terminar o hambúrguer, ainda se recuperando do ataque de riso. – Eu queria te agradecer pela viagem. Sair da zona de conforto é bom. – mexeu um pouco no canudo, brincando com o caroço da acerola no fundo do copo. – Não costumo viajar muito, você sabe, jamais pensei que fosse me aventurar em uma rota sem destino e para mim, isso está sendo a maior loucura da minha vida. Mas foi a melhor loucura que já cometi desde que me conheço por gente.
Por um minuto, estava sem palavras. Havia mesmo conseguido mudar a cabeça da amiga em relação a aventuras, estava feliz por aquilo, teria uma parceira de viagem e muitos planos a serem colocados em prática. Um sorriso sincero foi o que ele conseguiu dar como resposta, e logo em seguida, se aproximou dela, a envolvendo em um abraço. o abraçou pela cintura com o rosto próximo a seu peitoral, o perfume forte ainda estava presente e para ela, aquele aroma deveria ser considerado a oitava maravilha do mundo.
– Obrigado por ter confiado em mim… E para comemorar… – ele se afastou, pegando seu copo novamente, erguendo-o. – Um brinde a nós. – brindaram, porém continuou. – E um brinde a sua surpresa. – acompanhou rapidamente o olhar do rapaz até o palco próximo a eles. Quando ela viu os integrantes da banda entrando no palco, seu coração logo palpitou. Não seria possível que ela estaria no show de nada mais, nada menos do que Walk The Moon, banda na qual sempre teve uma grande admiração. Quando as luzes focaram mais nos rapazes, ela teve a certeza de que sim, eram eles, em frente a ela, bem perto.
… como assim? Eles… Você sabia? Como sabia deles? – questionou pasma, tentando de algum modo formar as palavras certas. O garoto ria em meio a situação que havia deixando-a, era inevitável não sorrir vendo a animação da amiga, aquele sorriso tão deslumbrante marcado pelo batom vermelho dos seus lábios e da alegria do momento. estava sem palavras, era como se estivesse no paraíso, uma emoção sem fim.
– Bem, me deu uma ajuda e quando descobri o show deles aqui, tive que dar um jeito de te trazer.
– Eu poderia te beijar agora mesmo! – exclamou , causando uma sensação de surpresa no amigo e um sorriso largo em sua face. Ela teria mesmo a vontade de beijá-lo? Ele não se importaria, de jeito nenhum, por mais de suas dúvidas, parte dele estava disposto a se arriscar, porém, parte dele se sentiria culpado por já começar a se envolver com alguém tão rápido após um momento tão… complicado. Sentiu os braços de o envolver em um abraço e passou os braços pela cintura da jovem, sentindo o forte aperto que ela dava, pendurada em seu pescoço. – Obrigada por esse momento, essa viagem será inesquecível para mim… – afastou-se o rosto um pouco dela, encarando os belos olhos castanhos da jovem, ouvindo sua voz baixa e sexy. – Você é especial para mim.
mal teve tempo de raciocinar as últimas palavras da garota, sentiu seu corpo ser puxado pelas mãos, caminhando entre a multidão para chegar mais perto do palco. o puxava, abrindo espaço sem se importar com as reclamações do pessoal. Era a banda favorita dela, tinha que estar bem perto. Acabaram ficando em um espaço que dava para ver perfeitamente todos os integrantes, os olhos da garota começaram a brilhar quando o primeiro toque se iniciou, começando com a música Shut up and Dance, fazendo-a pular freneticamente na parte do refrão e cantar alto. Ele, ao contrário dela, mantinha sua atenção um pouco na banda e um pouco na amiga, não deixando de sorrir ao vê-la tão feliz, começou a balançar um pouco o corpo pro lado e pro outro, seguindo a batida.
“Oh don’t dare look back, just keep your eyes on me”, virou-se para ele, o incentivando a dançar, mas não sabia como fazer, dança não era muito bem seu forte, mas foi pegando o jeito aos poucos. “I said you’re holding back, she said shut up and dance with me” as mãos da garota logo tomaram conta das dele, e ele as ergueu, fazendo dar uma rodada.
A sequência de música se repetia, ambos já estavam em seus limites, mas fraquejou primeiro, pedindo permissão a ela, dando uma pequena saída para recompor o líquido do corpo quando a banda já se retirava do local, e dava lugar a um DJ que já começava com suas batidas. havia pedido mais outra bebida, e enquanto bebericava no bar, pôde perceber a aproximação de um rapaz próximo a , que ainda dançava na pista de dança. Ficou ali, espreitando toda a movimentação. Já tinha visto o cara loiro em algum lugar, e logo lembrou que ele fora o mesmo que já observava desde quando chegaram ali. Começou a se sentir estranho, incomodado, preocupado, ou com certeza, com ciúmes.
“Ciúmes? Deixe de coisa, , você não está em um relacionamento com ela, é livre para ficar com quem ela quiser.”, ele começou a pensar. Deu mais uma golada na bebida, tentando mudar o foco, mas não conseguia, estava curioso demais. “Deixe disso, , ela é sua amiga. Por que esses pensamentos?” continuou. Pensou de ir lá, falar com , mas ela estava bem conversando com o jovem rapaz, riam enquanto balançavam seus corpos de um lado para o outro. O rapaz encostou o rosto no ouvido dela, parecia falar algo que havia a agradado. Talvez estivessem se conhecendo, como ele havia conhecido sua ex.


Flashback

A ruiva balançava seu corpo no compasso da música. Não ligava para a quantidade de pessoas na pista de dança ou pelo suor que escorria em seu corpo, parecia mesmo gostar de dançar. Já tinha passado alguns minutos desde que seus olhos bateram nela, uma necessidade absurda de se iniciar um papo com ela se instalou nele, ela parecia ser gente boa, divertida, animada, de bom papo, mas bem… Ele não sabia como fazer aquilo. Seus amigos já não estavam mais ali, dois se divertiam entre si na pista de dança, enquanto um conversava com um cara perto do bar.
Ou ele tomava coragem para iniciar um papo com a jovem, mesmo que tomasse um fora, ou nunca saberia se teria alguma chance com ela.
Ele tinha que enfrentar aquilo, e estava decidido. Levantou-se da mesa, ajeitando a blusa e aos poucos, foi se infiltrando na pista de dança, aproximando-se dela. Não foi tão direto quanto queria, não queria assustá-la também. Primeiro, tentou manter um contato visual com a mesma, em uma certa distância, lançando lhe alguns sorrisos. Aos poucos foi se aproximando, sentindo-a entrar no mesmo ritmo que ele.
– Você dança bem. – ele disse aleatoriamente, vendo a garota se aproximar.
– Obrigada, alguns anos de dança tem que servir para alguma coisa, não é? – ela respondeu no mesmo tom alto que o dele.
– Fui forçado a fazer dois meses de dança de salão com minha mãe, mas ela acabou me tirando, disse que eu era muito lerdo para aprender as danças. – a garota riu.
– Bem, se quiser posso te ensinar algumas coisas, mas não garanto nada.
– Se você tiver disposta e ter paciência. – ele disse, rindo. – Prazer, . – esticou as mãos para um cumprimento.
– Isla. – ela apertou de volta. Sim, ela o ensinou a dançar naquele dia, mas não conseguiu acompanhar muito, quando cansaram, se dirigiram ao bar, as conversas foram se prolongando, um beijo dado e uma história de amor foi iniciada.


Flashback Off


Talvez não fosse um momento tão apropriado para lembrar coisas do passado, mas vendo naquele momento, o trouxe uma nostalgia, junto com alguns sentimentos agonizantes. Não estava se sentindo bem, não queria se sentir daquela maneira, e muito menos queria que soubesse que ele estava assim, não pretendia acabar com a noite da jovem. Sendo assim, decidiu-se retirar do local, deixando uma nota em cima do balcão. A noite estava um pouco fria, a rua estava movimentada, e algumas pessoas caminhavam por ali. Foi caminhando em direção a caminhonete, apertando os braços contra si para proteger do frio, encostou-se em Martilde e ali, deixou todo o sentimento de saudade se misturar com os novos que haviam surgido em si.
Ele estava gostando de , isso era um fato.
Ele estava sentindo saudade de Isla, mesmo negando.
Ele não queria se sentir assim, pois tinha medo de se dar uma nova chance.
Ele estava ferrado, pois não sabia o que fazer.
Em meio aos pensamentos, sentiu um corpo se aproximar, exibindo que caminhava do mesmo jeito que ele, sentindo o frio em sua pele.
– Ei, o que houve? – ela foi logo questionando em um tom preocupado. – Te vi saindo do local, achei que iria me deixar aqui. – ela tentou disfarçar o nervosismo e a pequena tensão que havia sentido ao perceber a saída repentina do rapaz com um sorriso, mas não havia conseguido enganar .
– Não faria isso com você, só não me senti muito bem e vim aqui fora tomar um ar, acho que toda essa dança cansou meus pulmões. – ele riu, contagiando-a.
– Isso que dá ser sedentário, vou virar sua personal trainer quando voltarmos.
– Não, por favor, eu amo meus ossos, não quero acabar morto em minha cama.
– Idiota, eu ia ser boazinha… Mas você está melhor? – com ela ali, sim, ele estava melhor. Com aquela conversa, ele havia conseguido dispersar um pouco seus pensamentos. se sentia bem na companhia dela, era uma mulher incrível aos seus olhos, jamais havia conhecido alguém com tanta personalidade e qualidade, por mais que não gostasse muito de suas insistências. Logo pressentiu que se não mudasse de assunto, ela iria começar a insistir em saber a verdade.
Ele não estava pronto para isso.
– Tô sim, não se preocupe… Er… Olha, acho que o cara que você estava conversando não vai gostar muito desse vácuo que você deu, não. – disse em um tom divertido. – Eu não gostaria… Aproveita a noite…
– Mas, e você?
– Estou bem, já disse, a noite é sua, divirta-se, vou ficar bem, te prometo de dedinho. – esticou o dedinho mínimo para ela, que rindo, fez o cruzamento de juramento, mas antes de sair, se aproximou mais dele e tocando delicadamente sua face, depositou um beijo em sua bochecha.

{...}

Já havia se passado dez minutos desde que estava naquele estacionamento sozinho, com o celular em mãos aberto na foto. havia voltado para o bar um pouco preocupada com , mas decidiu ouvir o que ele havia dito; aproveitar a noite. Ele jurava a si mesmo que estava aproveitando, talvez não da maneira que queria, mas estar ali, sozinho, deu liberdade aos seus pensamentos e mal havia percebido quando já estava relembrando momentos do passado com Isla. Para ele, era estranho seguir a vida sem ela, era como estar vivendo em um sonho à espera do despertar para a realidade, onde ele acordaria na cama macia e confortável de sua casa, tendo a dona dos seus problemas ao seu lado. Mas ao mesmo tempo que pensava nisso, não desejava perder , não conseguia ver sua vida sem a causadora das suas risadas. Estar com ela era diferente da outra, ambas tinham personalidades diferentes e que causavam sentimentos distintos nele. Isla era mais casual, gostava de programas a dois e em locais mais elegantes, já era livre, animada e mais simples. O toque, o sorriso, a risada, o modo firme dela ser… era encantadora aos olhos de , mas não conseguia pensar na garota sem se sentir mal, era como se parte dele tivesse traindo Isla, era algo que ainda doía nele.
Era tantos pensamentos que em um momento, ele mal percebeu que a figura feminina havia retornado. não fez muita recepção, estava parada com o rosto próximo a janela do motorista com um olhar fixo. Deu dois toques no vidro chamando a atenção do homem que quando virou, acabou soltando um grito fino de pavor e se encolhendo no banco.
– Misericórdia! – ele gritou, fazendo rir com o susto. – Mulher, eu sou cardíaco, se meu coração parar, eu volto para puxar seu pé!
– Vingança por ter testado meu coração no pulo de Asa Delta, agora deixa de drama e sai, vou dirigir.
– O que? Por que não está lá dentro?
– Você disse que era para eu aproveitar a noite, e estou fazendo isso, só que com você.
– Mas…
– Sem “mas” e sai logo antes que eu tenha que usar minha força.
– Nossa, que grossa, vai rebelde… – ele disse resmungando, passando por ali dentro mesmo até o banco do carona. entrou logo em seguida, ajeitando-se no carro e dando partida. – Para onde vamos?
– Surpresa…



Capítulo 6 - And I wish you could have let me know, what's really going on


120 km por hora marcavam no velocímetro do veículo. Os olhos esbugalhados de não paravam quietos, ora estava em , ora na estrada, ora fechados enquanto rezava, ora estava no velocímetro. Sua mão estava fixa no encosto da porta e seus músculos estavam tensos. se divertia com o carro, aproveitando a pista livre e em certos momentos, cortando caminho por alguns caminhos de terra, relembrando os bons tempos que praticava Rally com seu avô. Os drifts faziam o coração de palpitar mais forte, e jurava que havia sentido seu estômago revirar diversas vezes. Algumas vezes gritava apavorado o nome de que sem se importar, continuava com sua aventura. Ela só parou quando se aproximou do caminhão um pouco a sua frente, onde algumas luzes chamava a atenção.
– Chegamos. – abriu um olho, e logo em seguida o outro, certificando-se de que estava inteiro e ainda continuava na terra.
– Estou vivo?
– Não, é que mortos agora falam, a ciência é incrível. – ironizou , retirando-se do veículo.
– Já podem me entrevistar como o primeiro morto que fala e pensa. Onde aprendeu a fazer tudo aquilo e por que fez isso?
– Costumava fazer Rally com meu avô e, foi uma pequena e nova revanche contra o pulo de asa delta. Tuchê.
– Mas você tinha dito que odiava aventuras.
– Eu não disse que odiava, só disse que não tenho muito um lado aventureiro.
– E não é a mesma coisa?
– Não, agora vem que meu estômago já está roncando de fome. – pegando em sua mão, puxou em direção ao Food Truck. Ele não falou nada, apenas a seguiu sentindo seu coração palpitar um pouco mais rápido após sentir o toque da jovem. As luzes de dentro do caminhão ofuscaram um pouco a visão de que caiu em si, percebendo que na verdade, se travava de um caminhão de cachorro quente. Apenas um casal trabalhava ali, e quando percebeu a presença dos dois, não deixaram de exibir um sorriso amigável.
– Olá, meus jovens, o que desejam para esta noite? – a mulher logo perguntou, ajeitando a touca em sua cabeça. ficou na ponta do pé para ler melhor o cardápio na bancada do veículo, parecia uma criança animada escolhendo um dos seus lanches favoritos. Com tais pensamentos, riu para si mesmo, admirando mais ainda a jovem ao seu lado.
– Um cachorro quente completo e um refrigerante grande. O mesmo para você, querido? – perguntou a que assentiu rapidamente. Não demorou 8 minutos e ambos já estavam com seus lanches em mãos, caminhando para uma mesa não muito afastada.
– Nada como um bom cachorro quente para animar os ânimos, não é mesmo? – questionou animadamente, sentando-se na cadeira próxima de . sabia o quanto gostava de cachorro quente, e não perdeu tempo ao perguntar ao barman onde teria alguma lanchonete aberta àquela hora da noite, mas por sua sorte, e surpresa, um pequeno caminhão costumava ficar aberto durante a madrugada por conta da movimentação do pessoal da cidade. O veículo ficava na beira da pista, montando algumas mesas e cadeiras um pouco mais para dentro do vasto terreno árido. Voltando a atenção para , após dar uma mordida, recebeu apenas um “uhum” como resposta, vendo a cara séria do amigo. Ela queria o ajudar, mas ele não cooperava. A cada momento, ela sentia que ele se fechava mais e tornava alguns momentos desagradáveis. Passaram um tempo calados, com vivendo seus pensamentos e tentando entender o que estava realmente acontecendo com ele. Aquilo já estava irritando , por que ele não contava logo o que estava acontecendo? – Qual é, , vai ficar nessa até quando? – o garoto somente arqueou a sobrancelha, observando a feição séria da jovem. Deu um forte suspiro demonstrando um cansaço, e tomou um gole do refrigerante em seguida.
– Até quando o que? Eu estou normal…
– Não me venha com essa desculpa esfarrapada, seja logo direto. Desde quando estávamos em Vegas você já estava agindo estranhamente, eu deixei passar porque pensei que você pudesse estar arrependido do que fez no casamento do seu tal amigo…
– ...ex amigo…
– Ex amigo, mas parece que esse arrependimento está te consumindo, porque do nada você foge da terra, se perde nos pensamentos e tenho que ficar horas te chamando para que você retorne. Mas tem horas que você demonstra uma atenção e aí percebo que você está na terra. Isso me preocupa, mas você não conta a porra do que está acontecendo! – a voz de já começava a se exaltar, mas a mesma tentava a controlá-la, afinal, por mais que estivesse no meio do nada e somente eles ali, ocupando uma das mesas, ainda havia duas pessoas dentro do caminhão e a coisa que ela mais odiava era plateia.
– Então quer dizer que não posso mais pensar? Não posso lembrar de certas coisas? – respondeu em um tom de puro escárnio. Por que ela insistia tanto? Aquela leve risada de deboche já começava a fazer o sangue de ferver, ela sabia que o mesmo ainda estava com uma quantidade de álcool no sangue, porém a postura e o olhar de ainda demonstravam uma parte sóbria de si, não estava embriagado, com certa, mas ela não entendia o porquê de ele ter falado daquela maneira, muito menos não entendia o porquê dele estar tão fechado, como se vivesse em sua própria bolha. Ela queria falar, mas mentalmente contava até dez para não perder a paciência.
– Tudo bem, . Você é que sabe… Termina logo aí para irmos, sinto que vai chover logo, logo. – foi a última coisa que ela disse antes de continuarem o lanche da madrugada em silêncio.

10 minutos de estrada e tudo parecia uma eternidade. O clima na caminhonete estava tenso assim como a chuva forte que os atingiram de surpresa, apenas Sultans of Swing tocava na rádio, trazendo boas lembranças para ela de sua família e quebrando o silêncio perturbador que ali se instalaria. cantarolava a música em um baixo tom enquanto comandava a direção com destino ao hotel. Já se passavam das três da manhã e a chuva não ajudava muito na visibilidade o que acabou deixando um pouco tensa. Ela não gostava de se pôr em risco, quando saía com as amigas, costumava a ser a motorista da rodada ou quando queria beber, tratava de pedir um táxi e se certificar de que ninguém voltaria dirigindo. Mas tudo bem, ela tinha que enfrentar certos momentos para se divertir, certo? Era o que ela pensava durante o caminho, enquanto observava com pouca nitidez a paisagem tomada pela chuva. A pista era somente de mão dupla, uma de ida e uma de volta. A jovem começou a perceber que algo estranho estava acontecendo quando viu o canteiro da estrada se afastar, como se o carro estivesse entrando em outra via. Rapidamente olhou para o lado, vendo com os olhos fixos na estrada, mas com a mente em outro lugar.
! – gritou quando percebeu que a caminhonete já estava invadindo a pista contrária, por sorte, não tinha nenhum carro vindo na direção por conta do horário. Ele não se mexeu, parecia estar em um transe. Um desespero se instalou nela quando viu um par de luzes se aproximando na direção deles. Em um ato desesperador, puxou o volante para seu lado fazendo o carro voltar para a pista certa, mas de um modo desengonçado, despertando . Ambos ouviram a buzina do carro que vinha na direção contrária, como se o motorista reclamasse. rapidamente tomou o controle do carro, assustado.
, FICOU MALUCA?! – esbravejou em um tom irritado.
– MALUCA? EU QUE TE PERGUNTO ISSO! PARA ESSE CARRO AGORA! – ela exigiu, mas ele ainda estava atordoado, não sabia bem o que fazer. – , PARA A PORRA DESSE CARRO, AGORA!
– Como?! Está chovendo e não sei onde está o acostamento!
– Se você soube onde era a pista contrária, vai saber muito bem onde é a merda do acostamento! PARA, AGORA! – com um movimento brusco, ele encostou o carro no acostamento, vendo-a descer irritada.
! – o que ela estava fazendo?. Ele se perguntou. – Merda! – sentiu a chuva o atingir com tudo após sair do carro atrás de , que já se encontrava a alguns metros de distância do carro. Gritou novamente seu nome, mas não houve resposta. Preocupado, caminhou rapidamente, chegando até ela e a impedindo de caminhar. – O que você está fazendo? Quer pegar uma gripe?
– Prefiro isso do que morrer em um acidente! – respondeu ríspida.
, eu estava prestando atenção, só me desliguei um pouco dos meus pensamentos! Não posso pensar?
– Uma coisa é se perder nos pensamentos por um breve momento, outra coisa é você se perder toda hora nos pensamentos e invadir a contramão! Você me prometeu que me levaria para Universidade inteira! , que porra está acontecendo com você?
– Nada! Já disse, pensamentos quaisquer!
– PENSAMENTOS QUAISQUER QUE QUASE MATAM A GENTE!
, o que você quer? – os punhos de ganhavam forma a cada momento em que ela encarava aquele olhar tão cínico e inconveniente. Ela tentava contar de uma até dez, tentava, mas não estava colaborando. Respirou fundo, fechando os olhos por um breve momento, sentindo a água fria da chuva em si e logo em seguida, voltou a encará-lo.
– Estou tentando ser uma boa amiga, mas você não coopera. – explicou com seu tom alto e forte. – Se você queria viajar para ficar com uma cara de cu do nada, que viesse você e seus pensamentos sozinhos. Se você queria viajar para esquecer dos problemas e apenas curtir a vida, você encontrou a pessoa certa, mas acabou agindo da maneira errada. Para mim, já deu. – talvez o peso das palavras tivessem o atingido em cheio, enquanto via a garota de afastar do local em passos firmes, voltando para a caminhonete. se deu conta do que realmente havia acontecido e um balde de culpa logo caiu em si.
Ela estava querendo ajudar. Realmente, sempre foi uma grande ajuda para ele, a companhia da garota o fazia bem, e como fazia, o riso dela o trazia paz e uma leve sensação de querer curtir mais a vida ao lado da mesma, e era aquilo que ele estava tentando fazer, se não tivesse dito toda aquelas coisas. Porém, em seus pensamentos, ele acreditava que estava certo, não era da vontade dele tocar naquele assunto.
, volta aqui. – gritou, caminhando o mais rápido que pôde para alcançá-la. Quando finalmente se aproximou, já estavam perto da caminhonete. Em um impulso, a parou, puxando-a pelo braço, tentando fazer não muita força. Os olhos de pareciam dois vulcões prestes a explodir, ele teria que pensar em certas palavras ou caso contrário, sua situação pioraria. – Eu… – e logo ele parou. Não sabia o que falar, só havia agido da maneira mais impulsiva e atenciosa, não queria magoá-la, deixá-la, ele havia criado um sentimento de carinho, proteção e não se perdoaria caso algo acontecesse a ela, pois sabia que a mesma tinha um pequeno trauma quando o assunto era “solidão”. Ela nunca chegou a contá-lo, mas também, jamais havia a perguntado sobre aquilo, soube através de uma conversa com . – Você nunca me contou também sobre o seu problema.
– O mais importante aqui é você, , pois o meu problema não está me interferindo em nada e nem sei que problema você está falando. E se me der licença… – puxou seu braço, soltando-se dele. – Quero voltar para o hotel.
… – a chamou manhosamente, mas a garota não deu ouvidos. – Você tem que entender que…
– EU NÃO SOU ELA, ! – esbravejou, batendo com força na lataria do carro. – ENTENDA ISSO, EU NÃO SOU ELA! – a perplexidade estava estampada na face de , enquanto ela arfava como se tivesse liberado um peso dentro de si, mas realmente tinha. Por mais que tentasse o entender, não aguentava mais tê-lo tão distante e para piorar, não sabia realmente o que estava ocorrendo com ele. Se fosse assim, que não a convidasse. – E quem dirige agora sou eu, antes que nosso destino final seja o hospital.

A noite, ao contrário das outras, havia sido diferente. Não houveram risadas, abraços, muito menos palavras. Não teve o contato físico, muito menos visual. O casal que antes esbanjava parceria, companheirismo, felicidade, foi tomado pelo silêncio seco e frio. O peso da decepção havia se instalado no ar, junto com o julgamento do arrependimento. Assim que entrou no quarto, caminhou diretamente para o banheiro, saindo de lá apenas para deixar suas coisas na mala e deitar na cama, tendo, antes de virar para o lado oposto, sua atenção rapidamente desviada para , que retirava a blusa encharcada. Engoliu seco quando sentiu um desejo invadir seu corpo, não era possível que justamente naquela hora ela tinha que sentir atração por ele.
“Você está chateada com ele. Não é hora de pensar nessas coisas! ”. Se repreendeu mentalmente, ajeitando-se no pequeno espaço da cama de casal e dormindo em seguida. Com não foi diferente, observou toda movimentação da garota olhando pelo canto do olho e indo em direção ao banheiro quando percebeu que a mesma já havia dormido. Precisava de um bom banho quente para relaxar os músculos e a mente. Entretanto, uma pergunta não lhe saía da mente: como ela descobriu? Estaria tão na cara que seus momentos reflexivos se voltavam a Isla? Poderia ser um momento pensando no futuro, na viagem, mas como ela sabia que as lembranças se voltavam a jovem ruiva?
Quando retornou ao quarto, observou que ainda dormia tranquilamente em uma das pontas da cama, lhe sobrando o outro lado. Deitou-se com cautela para não acordar a jovem, mas um pequeno susto lhe tomou conta quando a viu se virar, ficando de frente para ele. A serenidade estampava o rosto da jovem, sua respiração calma e compassada estava próxima a si. Muito próximo. Não contou por quanto tempo ficou ali, encarando dormir. Aquela cena, por sua surpresa, lhe trazia paz, algo que há muito tempo ele não sentia.
O traçado do rosto, os olhos, a boca, os belos cabelos presos em um coque, mas que ainda deixava alguns fios sobre a face da jovem. Tudo nela lhe passava uma sensação de calmaria. Um sorriso bobo se formou em seus lábios quando alguns pensamentos lhe tomaram a cabeça. A fuga no casamento, o desastre na cozinha em Vegas, o voo de asa delta, o show, a primeira saída deles, o dia da festa…. Ah, a festa. Só de pensar que por pouco ele não iria para aquele local… Foi uma surpresa quando ela se aproximou, oferecendo uma ajuda tão naturalmente, e havia sido por isso que ele foi a sua procura: ela havia sido diferente das demais com ele. Ele se sentiu bem ao conversar com ela, queria conhecê-la melhor, conversar… Não havia pensado em romance, ele só queria a tê-la por perto.
Logo um arrependimento lhe tomou conta, ela não merecia tudo aquilo, não estava em seus planos reviver os velhos tempos e não poderia deixar com que Isla estragasse seu presente, não novamente, e não poderia perder mais alguém em sua vida, não ela.



Capítulo 7 - It's the morning after midnight.


Quando abriu os olhos, a parede ao longo da cama foi sua primeira e inesperada visão. Por ela, a primeira coisa que encontraria seria o corpo do homem ao seu lado, provavelmente dormindo ou pelo menos vagando no cômodo, a esperando. Ergueu o corpo, ficando apoiada em seus cotovelos.
7:30 da manhã.
Um pouco cedo para que havia dormido após a meia noite e com álcool nas veias. Mas se para ela já estava cedo, então o que fazia àquela hora da manhã? Talvez estivesse no banheiro, mas sua suposição foi por água abaixo quando percebeu a porta do cômodo aberta e a chave do carro faltando perto da cômoda, entretanto, sua mochila ainda permanecia no mesmo lugar. Talvez ele tivesse saído para dar uma volta ou checar algo no carro.
Logo sentiu um aperto no coração e uma velha sensação tomar conta de si: solidão.
– Calma, , não pense demais… – começou a dizer para si mesma. – Apenas ligue para ele… – a tentativa foi em vão quando a ligação caiu na caixa de mensagens. – Merda! – se jogou na cama com tudo, deixando o celular ao seu lado e pondo os braços sobre seus olhos.
O que ela faria ali?
Pegou o celular novamente pensando em ligar para , mas sua ação foi interrompida quando ouviu o barulho da porta se abrir e observando entrar com dois pacotes em mãos: dois cafés, uma pequena rosa e um sorriso totalmente sereno.
– Pensei que fosse acordar mais tarde. – ele disse pondo a chave do carro na bancada e se dirigindo a cama.
– Er… eu… também pensei que iria... – na mente dela, não se encaixava com nada. O que seria tudo aquilo? E o ocorrido da noite passada? Será que ele tinha amnésia?
– Bem, já que está acordada, podemos então apreciar nosso café da manhã. Mas antes... – entregou a rosa a que sem entender ainda, agradeceu, sentindo um aroma gostoso invadir o local. – Nunca foi minha intenção discutir com você ou magoá-la. Realmente passei dos limites permitindo que meus pensamentos me dominassem e queria pedir desculpas a você pelo modo que agi. Sei que palavras ou coisas… – apontou com a cabeça para os dois copos de café e alguns croissants, que exalavam um forte cheiro fazendo com que a barriga de roncasse. – Podem não resolver muita coisa, mas dou minha palavra de que nada disso irá ocorrer novamente.
– Bem, estamos falando de palavras sinceras e alimentos, então são duas coisas que ajudam muito em um pedido de desculpas… – só de perceber que as gracinhas que fazia estava de volta, não economizou no sorriso satisfatório. Sentou-se ao lado dela, pondo o restante das coisas ao lado da cama. Percebeu a garota se aproximar, ainda na cama e passar os braços pelo seu pescoço em forma de abraço. Era um aconchego gostoso, se pudesse, ficaria naquela posição com ela por várias horas.
Afundou o rosto no pescoço dela, sentindo seu doce aroma de lavanda que ela costumava colocar antes de dormir e a apertando mais contra si. Em um rápido ato, o rapaz começou a se jogar para trás, trazendo-a consigo e caindo de costas na cama. Sua doce risada se misturou com a dele, trocando um intenso olhar.
– Você fica linda com esses cachos bagunçados… – sussurrou, retirando alguns fios que insistiam em cair sobre o rosto dela.
– E você fica lindo com um travesseiro na cara. – em ato rápido, se esticou até uma parte da cama, pegando o travesseiro e o segurando atrás de si, como se estivesse pronta para atacar.
– Não… Não me diga que… – ela não esperou, o golpeou nos dois braços e logo em seguida jogou o objeto no rosto dele, pegando outro que estava próximo a si. A guerra havia começado, não souberam por quanto tempo ficaram ali tacando travesseiros um no outro como se fossem duas crianças. As risadas tomaram conta do local, para ambos, ter aquele momento era mais proveitoso do que se deixar levar pelas tentações de uma briga ou até mesmo o próprio orgulho. Em pouco tempo se tornaram especiais um para o outro; se ampararam, criaram uma amizade na qual lhe faziam se sentir livres, se permitindo nascer algo novo em cada um.

{...}

estava entretida no celular escolhendo a próxima música que tocaria no som da caminhonete após Wolf do Beach Weather terminar. Talvez colocaria Freedom do Kungs ou This Love do Maroon 5, ainda estava em dúvida, enquanto mantinha o olho na estrada. Olhou pelo canto do olho a atenção da garota no aparelho enquanto seu cabelo era bagunçado por conta do vento, deixando um breve sorriso se formar nos lábios. Se pudesse, viveria assim para sempre. Apenas ele e ela encarando aventuras mundo a fora. O trajeto até a próxima parada não demorou. Sedona era uma pequena cidade no estado do Arizona de aproximadamente dez mil habitantes. As pequenas residências típicas americanas eram encantadoras aos olhos de que prestava atenção em cada detalhe. Estacionaram o carro em frente a alguns estabelecimentos e seguiram em direção a um específico. , curiosamente, seguia os passos de se perguntando aonde ele estava indo. Não dava para ver muito bem o nome da fachada, pois o local estava em reforma, só se deu conta de que se tratava sobre uma agência de turismo quando viu os banners e panfletos sobre promoções e viagens pregados na parede. Não se atreveu a ir até o balcão, enquanto folheava uma revista qualquer, acertava sua reserva com a mulher, e em menos de dez minutos, o rapaz retornou com alguns tickets em mãos, entregando a jovem.
– Vamos? – ele a chamou, indo para fora do estabelecimento. Mas ao contrário do que havia pensando, não foi até Martilde que ele foi e sim, a um jipe que os esperava com um guia. O caminho até o deserto foi rápido, aproveitou para tirar algumas fotos e postar em suas redes sociais quando tivesse internet. Ao chegar ao local, se deu conta do que iria fazer: grupos de pessoas esperavam ao lado dos enormes balões coloridos que preenchiam todo o campo árido. Seguiram o guia até o local onde esperariam o balão deles encher.
O sol refletia nas montanhas dando um belo ângulo para a fotografia. Retirou a câmera de celular tentando encontrar a melhor posição, mas acabou se assustando quando ouviu um click atrás de si. estava com uma pequena Go Pro em mãos, posicionadas de frente para .
– Havia conseguido um bom ângulo, mas você se mexeu. Péssima modelo. – negou com cabeça, rindo em seguida, analisando as fotos na câmera.
– E você seria um péssimo paparazzi.
– Pelo menos eu seria um, já você…
– Seria uma ótima, porque consegui tirar umas belas fotos suas sem ao menos você perceber. – a expressão confusa do garoto a fez rir. Se aproximou rapidamente dela, vendo suas fotos na tela do celular. – Eu disse que sou boa.
– Só porque eu te ensinei. – disse convencido.
– Ata, obrigada por ensinar o que não fazer, ó grande fotógrafo. – o papo divertido foi interrompido pela voz do guia informando que já estava tudo pronto. Altura não era bem o ponto forte dela, mas não poderia perder aquele momento por nada. Se fosse para ser, seria e que fosse com ou sem medo. Aos poucos viu a cesta do balão sair do chão e o balão pegar força. Era uma sensação nova, boa e ao mesmo tempo estranha. Assim como eles, outros balões seguiam a mesma rota, apreciando um belo pôr do sol entre as montanhas. Inclinou-se um pouco, debruçando-se na beirada da cesta.
Era algo inacreditável, era uma paz que jamais havia sentido.
Como desejava que seus pais e amigos tivessem ali apreciando a vista. Como estava sendo incrível e inesquecível aquela viagem… E só de lembrar que antes de embarcar havia lhe batido um pequeno pânico e pensamentos de desistência… Foi um medo bem vencido.
Sentiu algo gelado tocar seu braço, o que lhe tirou de seus pensamentos. segurava uma taça e uma garrafa de champagne, com aquele belo sorriso no olhar e no rosto.
– Uma surpresa sem champagne não é uma surpresa bem feita. – pegou a taça de sua mão e quando ambos estavam com suas respectivas taças, brindaram pela aventura, pela amizade e principalmente pelo companheirismo.
– Só queria lhe agradecer…
– Não precisa, … – ele a interrompeu. – Se tem alguém que tem que agradecer aqui, esse alguém sou eu, por ter aceitado vir comigo e pela paciência que teve por esses dias e que ainda está tendo. Apenas vamos apreciar o momento e nada mais. – um sorriso brotou em seu rosto e por alguns segundos, encarou a face tranquila do rapaz que admirava a vista. Abraçou o braço dele, descansando sua cabeça em seu ombro, e passaram o restante da hora apreciando o momento juntos, sem nenhuma palavra.



Capítulo 8 - Addicted to everything you represent


Assim que a noite caiu, antes de voltarem para a estrada e seguirem caminho, pararam em um supermercado para comprar alguns alimentos. Tinham planos para acampar no deserto, então teriam que ser rápidos para curtir aquele início de noite e emendar pela madrugada. Adentraram rapidamente ao mercado, já com um carrinho em mãos e esquematizando o que realmente precisavam comprar para não perderem tempo. A correria foi tão intensa que quase atropelaram um rapaz que escolhia tranquilamente sua carne, por pouco não derrubaram a pilha de cerveja no centro do estabelecimento e para completar, tiveram que driblar o segurança que foi acionado quando um grupo de senhoras os viram correndo com o carrinho. O tempo corria, mas a fila do supermercado não.
O que tanta gente fazia em plena seis e meia da tarde no mercado em plena semana? Parecia os dias de promoção onde o pessoal aproveitava para fazer as compras de meses. Estava quilométrica e pelos seus cálculos, não sairiam de lá tão cedo. olhou por toda extensão do mercado a procura de um caixa na qual não estivesse tão lotado, mas foi em vão, apenas a parte de prioridade estava mais vazia.
– E então, achou? – perguntou quando a viu se aproximar.
– Não, apenas a preferencial que está menos drástica, fora isso, parece dia de pré-feriadão no Brasil ou promoção.
– Ué, então vamos na preferencial. – disse em um tom óbvio, fazendo-a cerrar os olhos. Será que ele não havia ouvido que era caixa preferencial?
– Pelo que eu saiba, nenhum de nós é idoso, possui alguma deficiência, tem bebê de colo ou está grávida. – enquanto cruzava os braços fazendo sua pose de durona, sentiu o olhar cúmplice de pairar sobre ela, causando-lhe um calafrio. Com certeza ele havia um plano, e com toda certeza envolvia ela, o que significava que não era coisa boa. – O que foi? Desembucha, garoto!
– Não somos idosos, não temos crianças e nem deficiência, mas temos uma grávida. – observou pelo canto do olho o braço do rapaz percorrer seu pescoço, a puxando para perto de si. O olhar dele permanecia sobre ela com aquele maldito sorriso largo.
, nem lembro qual foi a última vez que eu transei, nós não transamos, e o único volume que possui na minha barriga foi causado pelo excesso de pizza e hambúrguer. Sem chances.
– Mas se você relaxar mais o seu corpo, estufar sua barriga e incliná-la um pouco para frente. – ele fala enquanto a colocava na posição. – Você tem uma barriga de quatro meses.
– Não, isso é ilegal. – ela se recompôs. – E além do mais, se pedirem ultrassom, só vão conseguir enxergar o bolo de pizza nesse estômago. Sem chances.
– Você põe o meu casaco para dar volume.
– Não, vamos ser civilizados.
– Vamos demorar séculos aqui… Pense bem. – por um lado, ele estava certo. Comparando as filas, com certeza se pegassem a preferencial sairiam de lá o mais rápido do que a fila normal. Entretanto, era contra os princípios de fazer aquilo, vai que não desse certo? Ela não era do país, era estrangeira, seria um problema para ela. Só soube uma vez que aquela arte havia dado certo, foi com sua prima, mas também havia ocorrido no Brasil onde as coisas não eram tão rigorosas. a encarava com um olhar de cachorro que caiu na mudança, aquele maldito olhar. Ela não resistia, não… Era mais forte do que ela, mas a mesma tinha que resistir, não podia, não podia, não…
– Me dá essa merda aqui. – puxou o casaco da mão dele, seguindo em direção ao banheiro.

{...}

, inclina mais o corpo. – sentiu a respiração de próxima a si quando ele falou sussurrando, tocando um pouco sua coluna e a inclinando um pouco mais para frente. Um leve arrepio percorreu seu corpo, fazendo-a passar as mãos pelos braços rapidamente, disfarçando o momento e afastando-se um pouco enquanto esperavam na fila. “Merda”, ela pensou, ele não deveria ter feito aquilo.
– Se eu me inclinar mais aqui, daqui a pouco vou tá fazendo uma ponte e ai sim dê adeus a gravidez. – rangeu com os dentes, falando o mais baixo possível próximo a ele. – Vem cá, agora que parei para pensar, você poderia se passar por senhor aqui, era só pintar isso que você chama de barba de branco.
– E como deixaria essa carinha jovial com mais de cinquenta? – ele estava apoiando os cotovelos no carrinho de compras, enquanto permanecia ao seu lado, esperando serem chamados. Só faltava uma pessoa que já estava no caixa e logo em seguida eram eles. Não viam a hora de sair dali, principalmente , que tinha um peso na consciência.
– Maquiagem?! – respondeu com seu tom óbvio.
– Tempo?! – rebateu no mesmo tom fazendo-a bufar de raiva e virar-se para frente. Ouviu a gargalhada baixa de e logo em seguida seus braços foram parar nos ombros dela, iniciando uma leve massagem, o que acabou relaxando mais a jovem. O que ele estava fazendo?
Novamente sentiu sua respiração próxima a si e sua leve voz sussurrar em seus ouvidos. Puta merda, por que ele não poderia manter uma distância?
– Relaxe, já, já sairemos daqui… – fechou os olhos por um segundo, sentindo aquelas mãos tão abençoadas ainda em seu ombro, puxando um pouco o ar e em seguida, o soltando levemente.
– Você me deve uma massagem e bem dada. – rosnou novamente ouvindo o riso do rapaz.
– Como quiser, querida.
– Que casal adorável. – duas senhoras que estavam atrás de ambos, abraçando suas respectivas bolsas de mão, esbanjavam um doce sorriso em direção a eles. Uma rápida troca de olhares entre eles foi feita com o leve questionamento do que eles fariam ali. gaguejou um pouco, mas respondeu um obrigado e apenas lançou um falso sorriso, já rezando mentalmente para que a pessoa do caixa os chamassem. – Esse bebê será muito bem amado. – uma delas se aproximou um pouco. – Desculpe-me perguntar, mas é menino ou menina. – automaticamente pôs a mão na “barriga”, lançando um olhar assustado para , vendo que o mesmo estava pior do que ela. Abriram a boca poucas vezes antes de voltar o olhar para a senhora.
– Menino.
– Menina. – disseram de vez.
– Menino.
– Menina. – enfatizaram a última letra da palavra, enquanto lançavam para si, um olhar de ordem em meio ao que falaram. Respiraram fundo, e falaram mais uma vez:
– Menina. – ela disse.
– São gêmeos. – ao ouvir a resposta de , a jovem o encarou incrédula, enquanto ele mantinha uma feição como se não pudesse fazer nada. Ela só queria o matar naquele momento, primeiro a faz passar por aquela situação, tudo bem que a mesma aceitou, mas inventar de gêmeos?! – São gêmeos. – ele passou o braço pelo pescoço da jovem, observando a cara de espanto da mulher.
– Nossa, mas está um pouco pequena para gêmeos, não? – ela ajeitou os óculos para enxergar melhor, aproximando o rosto. Se ela se aproximasse tanto, poderia perceber algo, então rapidamente cobriu um pouco mais a barriga, fingindo que a alisava.
– Ainda estão de quatro meses. – a jovem respondeu com um sorriso amarelado.
– Posso tocar? – o que? O que aquela mulher queria? já sentia o suor escorrer pelo corpo mesmo o ambiente estando climatizado com o ar condicionado, por sorte, ouviram o caixa chamar pelo próximo, dando uma breve desculpa a moça, informando que tinham que ir, pois estavam com pressa. Durante o caminho até o caixa, ambos ainda se olharam demonstrando o alívio explícito no rosto. Quando saiam pela porta de segurança, viram o mesmo segurança que havia sido acionado no início, haviam conseguido driblar ele abaixando a cabeça enquanto esperavam na fila, mas perceberam que o mesmo os reconheceram e principalmente, a barriga falsa de . O viram de longe correndo em suas direções com um rádio em mãos. Como estavam com poucas compras, correr foi até fácil, conseguiram o despistar por um momento entre os carros no estacionamento e quando encontraram a caminhonete, trataram logo de sair dali.

{...}

– Finalmente, comida! – girando os gravetos, observava os marshmallows derreterem pouco a pouco no intenso fogo da fogueira. O calor produzido amenizava o frio do deserto na qual estavam, mesmo estando coberta por uma manta que havia levado. Foram poucas horas dirigindo até pararem perto de uma cadeia de rochas, um pouco afastado da rodovia principal, quando decidiram acampar. Montar a barraca havia sido fácil, difícil foi fazer com que o fogo acendesse na madeira, foram minutos de tentativas até que finalmente a primeira faísca apareceu, dando combustão com o álcool jogado.
– E aqui estão as bebidas. – entregou uma das cervejas a jovem, sentando-se ao seu lado. Fizeram um brinde, dando um gole. – Se você deixar os marshmallows muito tempo no fogo, eles vão escorregar do graveto e… – dito e certo. viu, com o coração partido e sua barriga roncando, o tão suculento marshmallow ir de cara com o centro da fogueira.
– Ah, não! , que boca maldita você tem! – deu um leve tapa no ombro do rapaz, o fazendo rir.
– Toma, pode ficar com o meu. – com cuidado, estendeu o graveto próximo a , onde a mesma pegou assoprou por um instante, colocando o doce na boca. – Gostou? – ele a viu assentir, com um sorriso satisfatório nos lábios. Green Eyes do Coldplay tocava ao fundo em Martilde, a leve canção causava uma sensação de liberdade indescritível a . Estava em um momento perfeito, com o cara perfeito e com a música de uma de suas bandas favoritas. Não aguentou, o que antes era um leve cantarolar, havia se tornado em uma intensa cantoria.
I came here with a loooad, and it feels so much lighter... – jogou um pouco a cabeça pro lado de , a apoiando em seu ombro, o vendo sorrir um pouco envergonhado. – Now I’ve met you...
– And, honey, you should know…
– ele completou, a surpreendendo. – That I could never go on, without you… – foi a vez dela sorrir, sentindo aqueles olhos tão intensos em si. E nessa brincadeira de canto, ambos já estavam de pé, dançando juntos, deixando-se levar pela melodia e momento. O forte aroma do rapaz ainda estava em sua roupa, não se importou de afundar seu rosto no pescoço dele, sentindo todo seu perfume. Ela queria gravar cada momento em sua mente, pois sabia que com ele, aquele poderia ser o último. Ele, até então, permanecia com os olhos fechados, aproveitando o presente. Estava concentrado naquilo, nela, na música… Mas só foi abrir olhos e encarar a chama para que seus pensamentos o atingisse novamente, mas ao contrário de antes, os momentos em sua mente só tinham haver com .
Ela só queria seu bem e nada além daquilo. Só queria estar com ele e curtir o que tinham de bom e do melhor, e ele não estava percebendo aquilo.
Como havia sido tolo!
Quando sentiu as mãos da menina acariciarem sua nuca, seu coração acelerou e sua respiração começou a ficar mais pesada. Estar com lhe causava uma felicidade, algo que por muito tempo ele não sentiu, sentia que com ela, ele poderia contar para qualquer coisa, inclusive, sobre contar fatos do seu passado. Bem, ele poderia fazer aquilo, então preferiu esperar a música terminar para falar:
– Preciso te contar algo. – claro que a expressão preocupante da garota não o assustou, já esperava algo parecido. A segurou pela mão, caminhando até onde estavam, passando antes na caminhonete para pegar mais duas cervejas e seguir caminho novamente até a frente da fogueira. Compartilharam da mesma coberta e ficaram ali, bebericando a bebida. o esperava falar e ele, esperava a coragem surgir.
– Então… – viu o rapaz suspirar forte, pegando em suas mãos com ternura e a acariciando. Rapidamente sentiu seu coração acelerar com aquele gesto. O que ele estava fazendo?
– Quando fui à aquela festa, havia prometido a mim mesmo que não demoraria, não estava bem, havia acabado de sair de um término que para mim, foi como se o mundo estivesse desmoronando. – ele deu uma pausa, respirando fundo antes de prosseguir. Sabia que uma hora ou outra iria desabar em lágrimas, mas não queria que fosse tão rápido. – Eu a amava, . A amava demais. Eu fazia planos, reservava momentos com ela, sempre que passava por uma floricultura, fazia questão de levar uma flor nem que fosse apenas uma rosa vermelha… E eu não era assim, nunca fui um cara de me entregar tanto a um relacionamento, mas Isla me conquistou. Foram dois anos, até que a pedi em casamento e pela minha surpresa, ela aceitou. Eu estava organizando o nosso matrimônio, estávamos começando a construir uma vida juntos, mas foi aí que a vi mudar. – ele engoliu seco. Uma lágrima escorreu sem dó nem piedade, mas antes que pudesse seguir seu caminho pela face, sentiu a delicadeza de , secando-a. – Todos os sorrisos extravagantes que eu recebia quando a via, foram transformados em apenas sorrisos. Todos os convites de sair para jantar ou passear, foram trocados por um “estou ocupada” ou “tenho muita coisa para fazer no trabalho”. Eu aceitava, até porque tínhamos vidas livres, não éramos aquele tipo de casal que vivia um para o outro, sabe. Ela saía para a balada com as amigas, eu tinha meus momentos com meus amigos, tinha meu trabalho, ela tinha o dela, mas sabe quando você sente que uma pessoa não faz mais questão da sua presença? – ele não havia conseguido segurar mais, as lágrimas já escorriam livremente pelo seu rosto, deixando um pouco apreensiva e preocupada. Não sabia o que fazer, odiava ver alguém chorar e não poder fazer nada, mas sua atenção ainda estava em suas palavras. – Passamos um mês “tentando” nos ver, mas nada. Até que um dia, resolvi seguir os conselhos de minha irmã e não a procurei. Foram dois meses apenas com as mensagens dela mandando “eu te amo” como se fossem “bom dia”. Eu já estava saturado, até que eu descobri que sua ocupação estava sendo saídas constantes com as amigas para festas, que seu trabalho era na verdade passar o dia nos clubes, vivendo a vida de solteira que ela tanto almejava. Pela primeira vez na vida eu senti o que era ser realmente idiota, e me senti mais ainda quando a questionei e na minha cara ela disse: “não quero mais, apenas cansei”. Eu só me perguntava por que. Por que então se entregar a mim sabendo que o que ela mais queria era apenas viver sozinha? Se ela falasse “não, , estamos indo rápidos demais”, eu entenderia! Mas ela mesma que ficava falando sobre casamentos e a porra toda! Eu…
– Shiiii… – passava cuidadosamente suas mãos nos ombros dele, tentando o acalmar. – Calma, se você não quiser continuar, tudo bem.
– Não, ainda não acabei. – respirou fundo novamente. – No dia da festa, eu estava com a cabeça a mil, pensando em tanta coisa e do nada você chegou, já perguntando como eu estava e a única coisa que conseguia pensar era o que uma jovem tão linda como você estava fazendo ali, se preocupando com um mero estranho. Por um minuto, juro que esqueci dos meus problemas, principalmente quando consegui reparar mais em você. Por um segundo, você me deu um pouco de confiança com suas palavras e quando cheguei em casa, resolvi aplicá-las. Não somente sua beleza e sim, sua personalidade e conselhos haviam fixados em minha mente e a única coisa que eu queria fazer era te ver novamente. Eu tinha que conversar melhor com você e fiquei com medo de que me achasse um stalker ou coisa do tipo. Você se tornou importante para mim e não quero perder isso nunca. – virando-se para ela, ele pôs alguns fios do cabelo para trás da orelha. – Eu te chamei para essa viagem não para esquecer ninguém, e sim, para passar mais tempo com você, mas acabei estragando tudo com essa merda de pensamento.
– Você não estragou, nada. Isso é normal quando somos magoados por pessoas que já foram importantes para nós, ainda continua na sua mente e te atormentará por um tempo, o que você precisa ver mesmo é tudo por outra perspectiva. Eu que tenho que pedir desculpas por insistir tanto, eu só queria saber como você estava. Essa está sendo a melhor loucura que fiz em toda minha vida. – ele riu, contagiando ele em um riso também.
– Eu não quero mais pensar em Isla ou qualquer fato do meu passado. Eu quero pensar no agora e com você. – o toque de afastando seus poucos fios cacheados a despertou, percebendo a tal aproximação repentina do rapaz. Por mais que negasse, ela sentia algo por ele, mas o que a impedia talvez fosse o fato recentemente descrito. E se ele estivesse apenas assim, demonstrando esse tal interesse nela por conta da falta da ex? Ela tinha entendido que ele não estava ali para esquecer ninguém, mas seria correto beijar após um desabafo como aquele? Estava ainda indecisa quando pôs a mão no peitoral do rapaz, o afastando um pouco.
, não acho que seja certo. Você ainda a ama, seus momentos nostálgicos e quase assassinos não negam.
– Nostalgia nem sempre significa saudades, . Estou mais para indignado, porque dói quando você dedica seu tempo a alguém que no final te joga feito lixo da vida dela. Como te disse, não quero pensar nela. Durante a viagem eu percebi que ela não me merece mais, muito menos essa indignação. E novamente digo, não quero pensar nela, não quero pensar no passado, quero focar no presente, com você, só com você e nada mais. E quando digo que você se tornou especial para mim, não é só amizade… Você faz meu coração bater a mais de cem por hora quando sorri. Seu gesto único e simples, seu jeito de curtir cada momento, até mesmo sua feição irritada me proporcionam momentos únicos. É como se eu te conhecesse e surgisse uma vontade única de estar ao seu lado, aproveitando cada momento que foi perdido… Talvez eu…
– Shiii… – seu dedo parou entre os lábios do rapaz, assim como seu corpo se aproximava, debruçando contra o dele. – Talvez seja cedo demais para falar algo mais sério, só vamos… curtir o momento então. – e colando os lábios, teve certeza do que provavelmente sentia, pois a sensação de saudade invadiu seu corpo e o desejo de tê-lo aumentava a cada momento. Era como se ambos conhecessem o toque, carinho, gosto de cada um. Era uma vontade absurda misturada com um estranho sentimento de saudade, de um possível reencontro ou adeus.
Mal perceberam quando chegaram a barraca, com as pernas de cruzadas na cintura do rapaz sem ainda soltar do contato da urgência das bocas.
O toque dele lhe trazia prazer, vontade, segurança, principalmente quando tocava suas costas nuas já descobertas da blusa que a cobria, assim como ele, que já não possuía sua blusa polo no corpo. Não sentiam frio, não precisavam mais do calor da fogueira, a ardência do desejo aquecia um ao outro. Os beijos distribuídos no pescoço, descendo pelo seu colo, as mãos deslizando suavemente memorizando cada curva, as unhas que riscavam deixando a marca nas costas dele, o peso contra o seu, o contato, tudo aquilo se resumia a uma saudade e atração que estavam presos em si. Enquanto seus dedos subiam e enroscava em seus cabelos tão negros quanto a noite, ela trazia para si novamente os lábios tão desejados. Beijavam-se, apreciando cada movimento tanto das bocas quanto das línguas. As mãos de foram descendo chegando a parte da roupa de que ainda cobria sua parte de baixo. Foi desabotoando a calça, quebrando o beijo e encarando aqueles olhos tão cheio de afeto. O sorriso divertido de brilhava no rosto o fazendo rir da mesma maneira. Ambos já sabiam o que aconteceria e elas apenas o encarava, esperando para o momento.
– O que foi? – ela questionou entre risadas.
– Nada, não posso te admirar?
– Pode, mas há outros momentos em que sua admiração pode servir, e creio que agora é um momento errado já que sinto certas partes do meu corpo estão pulsando.
– Seu coração? – ele riu esperando a tal resposta da garota, que apenas virou o rosto rapidamente, rindo da tal pergunta idiota dele.
– Você sabe o que é, então trate de amenizar isso urgentemente. – e assim foi, um beijo e o intenso olhar. Outro beijo, e sem quebrar o olhar. Era um jogo que ela fazia com ela, a cada beijo deixado em seu corpo, era menos de sua calça em seu corpo, quando sentiu o toque dele em sua virilha, foi involuntário não se contrair de prazer.

{...}

– Vinte e cinco. – seu último toque nas costas desnudas do rapaz foi com mais pressão, o ouvindo grunhir de dor.
– Não acredito que você me fez perder cinco minutos da minha vida contando quantas pintas nas costas eu tenho. – ambos estavam ainda na barraca, deitados no fino colchão que só naquele momento perceberam o quão desconfortável era.
– Eu tinha que fazer isso, é uma mania que tenho com as pessoas. – ela deu de ombros. – Acho fofo. Seria mais rápido a contagem, mas os arranhões dificultaram. – ele, que estava de costas para a mesma, se ajeitou, agora a encarando. – Te aconselho a passar algum remédio nisso ou realmente as marcas vão ficar.
– Pelo menos irei ter uma lembrança boa, mas dá próxima vez, corta isso. – apontou para as unhas medianas que possuíam um esmalte azul marinho desgastado.
– Sabe o quanto essas belezuras demoram de crescer? – era engraçado o fato de como levavam tudo na brincadeira, como tudo era divertido quando estavam próximos. Ainda ouvindo a explicação tão “interessante” de sobre suas unhas, ele a envolveu, puxando-a mais para si e depositando um beijo em sua bochecha. – Ai, estou falando. Nossa, se eu soubesse que depois disso você iria ficar pegajoso, teria me controlado e não ter me doado a você.
– Ah, tudo bem, se quer de outra maneira. – ele apenas a soltou, empurrando-a para fora do colchão, já ouvindo seus resmungos.
– Ei, não vale! Não estava preparada para a guerra, mas se quer assim. – se ajoelhou próxima a que ainda permanecia deitado e em um rápido ato, se jogou em cima dela, rolando para o outro lado. Entre risadas e idiotices, o dia já estava prestes a amanhecer. – Tá com sono?
– Não, e você?
– Nhee, dormir é para os fracos. – abanou o ar.
– Já está quase amanhecendo, quer ver o nascer do sol?
– Será bem melhor do que a famosa conversa pós sexo.
– Pensei que já tivéssemos passado disso. – ele disse, jogando a blusa moletom para ela, que apenas possuía suas roupas intimas e uma calça moletom no corpo.
– Graças aos Céus que não precisamos. – caminharam não muito longe, se instalando em no topo de uma das rochas. O céu já começava a tomar sua cor amarelada, misturando ao azul escuro da noite. Era algo único. – Essa viagem vai ficar marcada em minha vida.
Marcada… Aquela palavra rondou um pouco a cabeça de que logo teve uma ideia. Seria meio loucura, não sabia se ela teria coragem, mas de tanta coisa louca que já fizeram, aquela seria como quase um nada.
– Quer mesmo marcar em sua vida? – ela o olhou com um semblante confuso, apenas enxergando seu sorriso presunçoso.

{...}

– Só mais um pouquinho… Acabou. – a ruiva se afastou de , deixando a pistola de lado e retirando as luvas, assim como a máscara. olhou por um tempo seu pulso direito, um pouco avermelhado por conta da agressão que sofrera de pistola de tatuagem. Um pneu de caminhonete estava gravado em si, tendo no centro, feito com uma caligrafia impecável, o nome “Route 66”, assim como possuía, mas no pulso esquerdo.
– Ficou incrível, Ruby! Muito obrigada. – agradeceu a ruiva, que prontamente lhe lançou um sorriso em forma de resposta.
– Não tem de que, o que não fazemos em favor a um amigo, não é? – os olhos de Ruby foram de encontro ao de , que sorriu sem jeito. Através daquelas expressões, já era de se notar que ambos tiveram algo no passado, coisa que logo percebeu, mas resolveu não falar nada, por mais que a curiosidade estivesse a corroendo internamente. – E também, estava devendo uma a ele pela ajuda nas cobranças dos livros.
– Ruby costumava ir sempre a biblioteca para pegar livros quando morava lá. – explicou, aproximando-se da ruiva e a acolhendo em um sereno abraço. – Só que seu mal era de não entregar no tempo.
– Não tenho culpa se sempre tive uma mente tão esquecida. – ela complementou, revirando os olhos. – Mas depois de uma breve conversa e um convite para beber, consegui convencer a driblar o avô dele em relação a cobrança pela demora.
– Perceba a má influência que eu tinha em minha vida, . – riu, contagiando que dava uma risada um tanto sem graça, típica de momentos em que não sabia ao certo do que falavam, mas mesmo assim continuava ali, rindo. – após a animada conversa, se despediram de Ruby e seguiram caminho até a caminhonete, onde de lá, seguiram rumo pela estrada.

A noite já anunciava sua chegada com suas cores exuberantes no céu. A música que tocava no momento animou ambos, que começaram a praticamente gritar a letra e curtir o momento. Albuquerque ainda estava longe, e pelo cansaço do dia, resolveram então parar novamente em uma parte do deserto para novamente acampar.
– Dizem que quem pensa demais, acaba esquentando a cabeça sem necessidade. – entregou um copo de café a ele, sentando-se em seguida ao seu lado, em frente a fogueira em um tronco velho de árvore, compartilhando o mesmo cobertor. Apoiou então sua cabeça nos ombros do rapaz, aconchegando-se, sentindo a cabeça do mesmo encostar na sua. – Um dólar pelos seus pensamentos.
– Não acha que meus pensamentos valem mais do que isso? – brincou ele, ouvindo aquela risada tão gostosa vindo dela.
– Nhaaa, aposto que está pensando por que o fogo é amarelo. – ele riu, bebericando um pouco do café que esquentava um pouco suas mãos devido ao frio desértico. – Você se arrependeu de fazer essa viagem comigo? – aquela pergunta foi tão surpresa para ele, que sentiu um pouco do café descendo pelo lugar errado em seu corpo, causando uma pequena tosse.
– Claro que não, por que insiste tanto nisso?
– Ah, sei lá… Eu sei que você já me contou das coisas, mas isso ainda ronda minha cabeça….
– Acha mesmo que se eu tivesse arrependido, enfrentaria meu medo de agulha e faria uma tatuagem? – separou então sua cabeça da dela, afastando-a um pouco de si só para encará-la. – Essa foi uma das melhores viagens da minha vida e sou tão grato por ter compartilhado com você. Já te contei das coisas e já superei, agora está na hora de você também fazer isso ou eu vou me arrepender de te ter contado só porque você ainda continua martelando nisso. – suspirou. De um certo modo, ele tinha razão. O mesmo já havia superado, não tinha mais aquelas crises de pensamentos onde ficava paralisado por minutos em um outro mundo. Ele próprio, que havia passado pela situação, já estava bem… Por que então ela, que não tinha nada a ver, tinha que continuar pensando naquilo? Pôs sua mão direita no rosto do jovem, sentindo sua barba mal feita devido ao curto tempo que tinham quando paravam em um posto para tomar banho. sorriu levemente e se aproximou dela, selando os lábios em um delicado e doce selinho que aos poucos, se formou em um beijo. A mão livre de se aconchegou nos fios de cabelo do jovem, enquanto a dele caminhava para sua cintura. Foram se separando aos poucos, ainda mantendo o contato através do olhar.
– Obrigada por ter sido a maior loucura na minha vida. – ela disse com ternura, alisando a nuca do jovem.
– Obrigada por ter feito parte da minha loucura. – comentou ele, a puxando para mais perto de si, a englobando em um abraço. E assim ficaram por um tempo. Ambos poderiam ficar assim por um bom tempo, sentindo o contato um do outro, mas no fundo, sabiam que nada daquilo seria para sempre, principalmente , que ainda tinha uma decisão a tomar. Por um lado, gostaria sim de voltar para seu país natal e reencontrar sua família, por outro, gostaria de ficar e aproveitar mais do que aquele novo país em sua vida tinha a lhe oferecer. Ainda não sabia como comentar com sobre aquilo, esperava que o mesmo lembrasse dos seus poucos dias ali. Ele ainda tinha esperanças de que as coisas poderiam mudar, talvez se ela conseguisse alguma oportunidade. – Bem, não estou cansado, então acho que dá para continuar nosso caminho e chegar um pouco mais rápido a Albuquerque, o que acha? – enchendo o peito de ar e ainda sem desfazer do abraço, apenas se aconchegou mais.
– Vamos aproveitar o momento, depois pensamos nisso.




Capítulo 09 - Whispered goodbye and she got on a plane.


Albuquerque. Finalmente haviam chegado ao destino final e mal via a hora de comer. Sua barriga roncava freneticamente e a única coisa que conseguia pensar era em um delicioso hambúrguer ou qualquer comida que o local lhe proporcionaria. A situação já estava mais amena entre ela e , Money For Nothing do Dire Straits embalava com sucesso o momento, dando um clima de descontração e cantoria. O sol já estava se pondo, mas o vento ainda continuava batendo em seus rostos dando-lhes a sensação de liberdade. Pegaram um pequeno desvio de trecho onde pararam em uma ferrovia abandonada. , com seu amor pela fotografia, não perdeu tempo e começou a registrar o momento em sua câmera, usando diversas vezes como seu modelo. Aqueles momentos iriam ficar guardados a sete chaves em seu coração. Com as mãos entrelaçadas, sentaram no trilho antigo de trem observando a paisagem. Querendo ou não era seu antepenúltimo dia de viagem onde no dia seguinte tirariam um tempo para conhecer melhor a cidade e sendo que um dia depois, pegariam a estrada de retorno para casa. Quando a fome apertou, seguiram em direção ao 66 Dinner, uma antiga lanchonete da década de 50 que ainda continuava funcionando e com boa movimentação. A temática ainda era muito fiel, porém com algumas mudanças graças a tecnologia. Adentraram dominado pelo forte uso de luzes vermelhas e brancas que combinavam com a decoração em si do ambiente. Por conta do horário, o local já começava a receber os jovens que ali costumavam a frequentar. Por sorte, conseguiram uma mesa no canto, pedindo primeiro um milkshake de morango de canudo duplo e uma batata frita. Não demorou muito para o pedido chegar e ambos se deliciarem com o intenso sabor daquela comida.
– Isso está muito bom! – disse , pondo uma das batatas na boca, sentindo-a derreter.
– Ganharei uns bons quilos com essa viagem. – comentou risonho. – Me lembre de sempre frequentar a academia e se um dia eu fraquejar, pode aplicar algum castigo em mim. – se ela ainda estivesse ali, com certeza o ajudaria e ainda seria sua companhia. Mas o problema era que ao mesmo tempo em que a viagem finalizava, o tempo de ficava curto. Em menos de dois meses a jovem teria que retornar ao seu país por conta da finalização do seu curso. Claro que gostaria de aproveitar cada momento com , e com , claro, mas tinha medo de acabar se entregando demais, mais do que já havia feito e no final, sair com o coração em pedaços. Ele, por outro lado, ainda sustentava a ideia de fazê-la conseguir uma oportunidade para estender seus dias ali. Eles tinham que iniciar aquela conversa, só não sabiam como. resolveu então tentar esquecer por um minuto e focar na comida, enquanto a encarava, analisando cada detalhe na mesma, fazendo-a perceber.
– O que foi? – questionou um pouco sem graça, mexendo no milkshake à sua frente.
– Nada, não posso te admirar? – rebateu, a deixando mais sem graça ainda. Ela odiava que reparassem muito nela, era uma observação muito detalhista e na maioria das vezes, pensava que tal ato era relacionado a alguma espinha que estava em sua face ou algo estranho. O jovem então aproximou sua mão da dela, entrelaçando-a, atraindo a atenção de . – Não gostaria de entrar nesse assunto, mas você já decidiu o que vai fazer depois que seu curso acabar?
Sério que teriam que entrar naquele assunto justamente ali? Não poderiam emendar para quando estivesse mais próximo da data?
Em um pesado suspiro, se ajeitou na cadeira, sem saber o que falar, muito menos o que fazer. Estava dividida e se odiava por estar daquela maneira. Por essas e outras que ela sempre evitou um contato mais íntimo com qualquer garoto. Sempre que ia nas festas com , a jovem em diversos momentos dava uma desculpa esfarrapada quando percebia que tal pessoa queria conhecê-la melhor, só que de outra maneira, mas com , não conseguiu escapar. Algo nele a atraía muito e foi tudo tão natural que mal havia percebido a tal aproximação repentina.
– Ainda não sei… Você sabe como são as coisas e talvez, realmente meu destino seja voltar. Mas não significa que ficaremos sem manter contato. – começou a fazer carícias na mão do jovem. – Não quero me afastar de você e tecnologia existe para isso, não é mesmo?
– Mas não é a mesma coisa que pessoalmente. Pensa, quando nos veremos novamente? – ela pensou por um momento, dando razão a ele, mas aquilo não impedia de nada. – Se você quiser, posso ver com meu avô sobre você trabalhar na biblioteca até acharmos algo melhor. Podemos conversar com o pessoal da sua faculdade, sei que suas notas são boas e com certeza eles iriam querer te ter.
– Seria muita burocracia, sem falar que tenho alguns trabalhos para finalizar no Brasil no meu curso, não posso deixar o pessoal na mão, foi por isso que vim pra cá, para melhor e levar conhecimento para lá.
– Skype? Telefone?
– É complicado, mas não vamos pensar nisso agora. Ainda temos dois longos meses pela frente e tudo pode ocorrer, tudo bem? – ele assentiu, mas não por vencido. Ainda tentaria tê-la por perto. – Mas sendo assim… – ela se levantou, esticando a mão para ele. – Me concede está dança? – não hesitou e ambos já estavam em um local onde os casais dançavam ao som de Tell Me Why, do Elvis Presley. aconchegou seu queixo no ombro do rapaz, ficando assim mais próxima dele. – Eu gostaria de ficar aqui com você… – sussurrou em seu ouvido, sentindo os braços do rapaz em sua cintura a puxar mais para si, embalando em um abraço confortável.
– Se você ficasse, te faria a mulher mais feliz do mundo, te surpreenderia cada dia só para ver esse seu sorriso brilhar todas as manhãs. – a garota sentiu o coração se apertar a cada palavra dita por ele. Queria chorar, seus olhos já começavam a lacrimejar e tudo o que ela queria era que aquela noite não acabasse. A luta para vencer o choro estava travada, suas mãos puxavam para si como se estivesse agarrado a uma joia única, e realmente era.
– Gostaria de corresponder às suas expectativas, mas a única coisa que posso te falar no momento, é que você foi a maior loucura que ocorreu em minha vida e que jamais esquecerei nenhum momento sequer. – sua voz já começava a falhar. – Merda, , eu te amo tanto! – ao mesmo tempo em que sentia um sorriso brotar em seus lábios, ele sabia que ali, estaria sendo a tão e infeliz despedida que ele sempre pediu para que jamais ocorresse.
– Também te amo. – foi a única coisa que ele conseguiu, antes do silêncio os dominar.



Epílogo - So my darling dreamer, I see you tonight


3 Anos depois...

Marina Del Rey - Salão de Festas - 06:30 p.m

O jardim começava a encher aos poucos com homens e mulheres trajando suas melhores roupas sociais. Alguns começavam a ocupar as cadeiras espalhadas pelo ambiente enquanto outros, aproveitavam o tempo ainda livre para se deliciar com alguns aperitivos da mesa de café da manhã posta pelo evento. Entre jornalistas e pessoas do ramo da literatura e escrita, se encaixava no meio daquela gente trajando sua melhor calça social preta, blazer da mesma tonalidade, tendo um foco maior na blusa social abaixo dele que dava uma certa elegância com seu salto escuro.
– Finalmente te encontrei! – atrás de si, se aproximava em seu colado vestido social verde, esbanjando um poder nos belos saltos negros. – E claro, só podia ser na mesa de comida. – ironizou, vendo a amiga a sua frente tomando um pequeno gole de cafezinho servido ali.
– Não posso fazer nada se o melhor desses eventos se refere as comidas servidas. – respondeu recolhendo seu bloco de notas que havia deixado em um pequeno espaço na mesa, seguindo em direção às cadeiras junto a .
– Três anos se passaram e você ainda continua a mesma, incrível!
– Você queria que eu mudasse? – questionou, sentando-se na cadeira reservada a ela. Viu revirar os olhos e logo em seguida negar com a cabeça. Ela também não mudara nada durante os anos. A amizade mantida ainda continuava a mesma, por mais que estivessem em países diferentes. Não demorou muito para pegar suas malas e aproveitar o melhor do Brasil ao lado de sua amiga nas férias. A relação era mantida por mensagens e sempre que podiam, Skype, já que o fuso horário não ajudava muito. até havia conseguido prestigiar a amiga na graduação, quando se formou em Jornalismo, pena que não ocorrerá o mesmo quando a jovem conseguiu seu diploma de graduada em Letras, onde começou a atuar na parte de tradução para uma empresa e logo em seguida se viu fazendo matérias e indo à eventos internacionais. E aquele era um deles. Na verdade, havia conseguido uma promoção com seu chefe de passar um tempo em outro país para fazer a cobertura dos acontecimentos locais. De início, pensou em qualquer lugar menos Santa Mônica, ela amava a cidade, entretanto, coisas ali não a faziam tão bem e o receio de reviver certos momentos a atordoava, mas com tanta insistência de e com a tamanha saudade, acabou escolhendo o local. Ela não podia deixar de ir a um lugar que tanto amava só por causa de certas… Enfim, e graças a que a jovem estava ali. Havia recebido o convite da amiga dois dias antes, alegando que seria interessante fazer uma cobertura do evento para a empresa em que ela trabalhava e que tinha conseguido um convite extra. Claro que a curiosidade de foi ao extremo quando ao se questionar do que tratava, desligou em sua cara. E durante os dois dias foram assim: perguntava e mudava de assunto, fazendo-a esquecer em certos momentos. – Você não me explicou do que se trata o evento, quero dizer, está na cara que é algum lançamento de livro, mas quem coloca apenas as inicias do nome como o nome de autor?
– Pseudônimos? – respondeu com seu tom óbvio. – Vai ver que a pessoa queria manter sigilo até o dia do lançamento. – parecia ansiosa, ou nervosa, o fato era que sua atitude de sempre olhar ao redor e principalmente para o local a frente onde uma poltrona estava posicionada a frente de algumas luzes, já que era noite, com um poster de bom tamanho com a capa do livro. Com a resposta recebida, a jovem se deu por vencida, abrindo seu bloco de notas e preparando o início da matéria.
– Está esperando alguém? – comentou enquanto escrevia, mas não obteve resposta. Em um momento de distração, olhou para o lado encontrando uma mulher ruiva, elegantemente arrumada e em uma postura impecável em um vestido vermelho longo. Ela estava indo a uma premiação? Mas de um modo, sentiu que a conhecia… Não sabia de onde, mas aquele rosto já lhe foi familiar. Sua atenção saiu da mesma quando os aplausos se iniciaram e uma figura apareceu a três cadeiras a sua frente, indo em direção a poltrona. Se não existissem ossos que segurassem seu queixo, teria a certeza de que ele estaria completamente no chão. Seus olhos se arregalaram e um ataque nervoso começou em si. Seu coração palpitava e por um segundo, sentiu uma terrível falta de ar. Não estava crendo no que via e se pudesse se enxergar, saberia que estava totalmente com uma cara perplexa. caminhava alegremente, esbanjando uma simplicidade em apenas uma calça jeans, sapato social, uma blusa cinza e um blazer azul marinho bem escuro. Seus cabelos estavam alinhados, e a barba totalmente feita. Ele estava totalmente diferente do que conheceu há três anos atrás, do garoto que havia conquistado seu coração e que não falava há exatamente dois anos e seis meses. Sentiu a mão de apertar seu joelho, atraindo sua atenção para ela. Mas seu olhar não foi um dos melhores, a raiva que sentia pelo que a amiga havia feito era tremenda. Como ela pôde armar aquilo para ela? Então a mesma sabia que o tal autor do livro era ?
Ouvir aquela voz que tanto lhe causou um rebuliço de sentimentos era como uma arma para sua defesa, ele estava tão diferente… Tudo não durou mais de uma hora, assim que viu todos ali se levantarem, não esperou nenhum minuto sequer para fazer o mesmo, mas a saída repentina de em direção aonde ele estava foi a razão para que ambos os olhares se encontrassem depois de anos.
Anos após, lá estavam eles, no mesmo local onde se conheceram, sendo novamente, meros estranhos e com um passado em um livro.




Fim...?



Nota da autora: Olá, pessoal, tudo bem?
Quanto tempo que eu não escrevia uma shortfic, na verdade, creio que essa seja minha segunda, tirando as ficstapes. Mas enfim, já tinha uma bom tempo que tive planejando ela e só agora tomei coragem para postar HAHAHA. Tentei sero maximo fiel a Rota, mas é claro que nem sempre conseguimos, então algumas coisas tive que mudar. Espero que tenham gostado e queria agradecer do fundo do meu core a todos que me ajudaram, especialmente minha queria amiga Jenni, que tanto ouviu meus "bla bla bla", por conta da história e sempre me deu aquele apoio e incentivo! Te ama demais, amiga! Obrigada de verdade!
Mas bem, uma verdade sobre a história é que ela foi feita para ter dois finais, ou esse, ou outro que estará na continuação. Ainda estou resolvendo o que fazer davida, mas caso tenha, vocês saberão <3
Obrigada a quem leu e não esquece de deixar aquele comentário falando do que acharam, gosto de saber a opinião de vocês!
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Beijux, Mandy!

OUTRAS HISTÓRIAS:
- American Boy (Outros/Em Andamento)
- Game Of Fame (Outros/Finalizada)







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