Capítulo 1
SE LEMBRAVA vividamente do dia em que decidiu que tentaria uma vaga no time de quadribol da Corvinal. Na época, ela ainda estava no terceiro ano e a ideia parecia um pouco ousada, até mesmo incongruente. Sempre foi uma aluna aplicada, do tipo que passava mais tempo na biblioteca do que em qualquer outro lugar, e embora adorasse voar pelos jardins da família durante as férias, jamais havia pensado em competir. Porém, algo dentro dela ansiava por mudança.
Naquela manhã em particular, as escadas de Hogwarts decidiram mover-se de maneira inesperada, desviando-a do caminho planejado. suspirou, frustrada, quando percebeu que estava em um andar desconhecido, seus pensamentos sendo interrompidos bruscamente. Foi então que ouviu uma voz familiar, carregada de um charme mal contido.
— Parece que as escadas resolveram pregar uma peça em você, Slughorn.
Ela se virou rapidamente, encontrando Sirius Black encostado na parede com um sorriso despreocupado e os braços cruzados. A postura dele sugeria que estava ali por acaso, mas sabia que, com Sirius Black, nada era por acaso.
— Sirius — disse ela, tentando manter o tom neutro. — O que você está fazendo aqui?
— Apenas dando uma volta pelo castelo — ele respondeu com indiferença, dando de ombros, como se não houvesse nada de especial em sua presença. — E você?
— Tentando chegar à biblioteca, mas parece que as escadas tinham outros planos — respondeu, ajustando os livros que segurava contra o peito.
Sirius deu um passo à frente, seus olhos brilhando com uma curiosidade que a desconcertava. Havia algo nele que sempre a intrigava, uma espécie de magnetismo que não podia ignorar, mas ela sabia que não era a única a sentir isso. Ele tinha metade da escola aos seus pés.
— Talvez o castelo esteja tentando te mostrar algo — sugeriu ele, o sorriso alargando-se.
revirou os olhos, mas antes que pudesse responder, Sirius estendeu a mão e, com um gesto ágil, pegou alguns dos livros que ela carregava. O toque dos dedos dele no dorso de suas mãos a fez estremecer de leve. pensou em protestar, mas, em vez disso, permitiu que ele caminhasse ao seu lado pelo corredor, mesmo desconfiando de suas intenções.
— Diga-me, Slughorn, além de ser a aluna mais brilhante da Corvinal, o que mais você faz? — perguntou ele de repente, pegando-a de surpresa.
estreitou os olhos, avaliando-o. Havia um desafio oculto naquela pergunta.
Ela hesitou, não por falta de resposta, mas porque não tinha certeza se queria compartilhá-la com Sirius. Ainda assim, sempre havia algo na expressão dele que a encorajava a ser sincera.
— Eu gosto de voar — admitiu, relutante. — Sempre gostei… mas não é algo que eu vá fazer aqui em Hogwarts.
Sirius a observou com um brilho nos olhos que ela não conseguiu decifrar, algo entre interesse genuíno e uma satisfação silenciosa.
— E por que nunca tentou entrar para o time de quadribol? Já tem idade para isso.
deu de ombros, sentindo-se acuada.
— Não sei se é para mim — mentiu, defensiva. — Prefiro coisas mais seguras. Além disso, não é o que planejo para o meu futuro.
Sirius arqueou uma sobrancelha, parando de andar de repente, com o olhar penetrante.
— Eu discordo — disse ele, dando um passo em direção a ela, encurtando a distância entre eles. — Não acho que seguir o caminho mais seguro seja o seu estilo.
recuou até sentir as costas quase tocarem a parede. Mas manteve a voz firme ao levantar o queixo e encará-lo.
— E o que você acha que é o meu estilo, Sirius Black?
Sirius soltou uma risada leve, um som profundo que reverberou pelo corredor.
— Acho que você quer mais do que só seguir as regras, Mare — murmurou ele, quase como um segredo compartilhado. — Vi você se esgueirando para assistir ao treino da Lufa-Lufa outro dia. Você tem paixão pelo quadribol, talvez até mais do que imagina.
O coração de acelerou. Ele tinha razão, a simples menção ao quadribol a enchia de excitação, mas até então pensava que estava escondendo bem esse sentimento. Seus pais a preparavam para uma carreira no Ministério, não para os campos de quadribol.
Ela abriu a boca para responder, mas as palavras falharam. Sirius sorriu, como se soubesse o efeito que causava sobre ela. sentiu um rubor subir pelas bochechas, enquanto ele recuava, ainda com os olhos fixos nos seus.
— Me prometa uma coisa — disse ele, o tom agora mais suave. acenou, sem perceber. — Vai fazer o teste para o time de quadribol da Corvinal na próxima semana.
— Eu não…
— Você tem que tentar — ele a interrompeu, com uma firmeza surpreendente. — Não passe a vida pensando no que poderia ter sido. Você é melhor do que isso, e inteligente o suficiente para saber que deve seguir o que ama, e não o que esperam de você.
tentou formular uma resposta, mas nada saiu. Ele estava certo, e ela sabia disso. O sorriso satisfeito que brincava nos lábios de Sirius indicava que ele sabia disso também.
— Nos vemos por aí, Slughorn — acenou ele antes de se afastar, desaparecendo pelo corredor, deixando-a sozinha com seus pensamentos.
Foi naquele momento que decidiu que faria o teste para artilheira. As palavras de Sirius tinham sido o empurrão que ela precisava, o incentivo final para seguir em frente. E agora, ali estava ela, em seu sexto ano em Hogwarts, como capitã do time de quadribol da Corvinal.
Um sorriso de satisfação iluminou seu rosto enquanto abotoava as luvas de couro de dragão em suas mãos pequenas e eficazes. Ela ajustou o elástico que prendia seus volumosos cabelos naquela tarde, e apertou o cabo da vassoura com firmeza entre os dedos, antes de marchar com determinação para o meio do campo de quadribol. Os jogadores da Corvinal a acompanharam de perto, confiantes sob sua liderança.
Aquele seria o seu primeiro jogo como capitã do time de sua casa. As cores azul e prata destacavam-se em seus uniformes aprumados, e os brasões reluziam sob a luz solar.
As arquibancadas lotadas aplaudiram entusiasticamente quando eles entraram. Um misto de euforia e excitação tomou conta de . Ela sentiu o peito se expandir de orgulho ao ver as bandeiras da Corvinal tremulando com força contra o vento. abriu um sorriso largo e resplandecente, embora muito afiado, quando parou de frente para o capitão do time adversário.
James Potter também carregava um sorriso no rosto, presunçoso e familiar. o conhecia desde a infância, mas nem a amizade a impediria de massacrá-lo naquele jogo. James estendeu a mão em um cumprimento formal. Atrás dele, seu fiel amigo inseparável, Sirius Black, espiou por cima do ombro.
— Boa sorte hoje, Potter — disse , impondo mais força no aperto de mãos do que o necessário.
— Para você também, Slughorn. Veremos se Corvinal consegue nos acompanhar este ano — a voz de James saiu confiante e, por um segundo, se divertiu ao imaginar sua expressão quando ela o derrotasse.
Antes que pudesse falar mais alguma coisa, no entanto, Sirius Black se aproximou, colocando-se sorridente ao lado de James. Seus olhos cinza-tempestuosos, sombreados por uma camada generosa de pestanas negras, encararam em desafio. Ela prendeu a respiração por um segundo, sentindo uma onda de eletricidade correr pela espinha.
— Não vou tirar os olhos de você hoje, Slughorn — disse ele, em um tom que era ao mesmo tempo provocativo e intrigante.
ergueu o queixo em resposta, sem deixar transparecer o leve nervosismo que sentiu. Sirius também fazia parte do time da Grifinória, era um dos batedores mais talentosos e havia dado trabalho a ela nos últimos anos. Mas desta vez Grifinória não teria chances contra Corvinal.
— Eu detestaria se o fizesse, Black — sua voz soou suave, melodiosa como uma armadilha bem feita. Ela piscou um olho para Sirius antes de dar-lhe as costas, de ombros retos e nariz empinado, como se ele não fosse mais do que uma pequena distração.
As risadinhas de Black e Potter foram tudo o que ouviu às suas costas enquanto se afastava para se juntar ao time. Os jogadores da Corvinal já estavam acomodados em suas vassouras em uma formação perfeita, os espelhou, assumindo sua posição de artilheira minutos antes de Madame Hooch, a árbitra, soar o apito para que se preparassem.
Ela soltou a Goles e deu início à partida.
se lançou imediatamente no ar, sentindo o vento contra os seus cabelos ao ganhar velocidade. Não demorou muito para que seus olhos ávidos estivessem presos na bola vermelha. Como artilheira, seu papel principal era agarrá-la e marcar a maior quantidade de pontos através dos aros adversários. Era uma adrenalina que apreciava, um fogo que acendia seu espírito competitivo.
Por um segundo, ela pairou no ar estrategicamente, observando os movimentos do time adversário com olhos afiados. No mesmo instante em que dois artilheiros da Grifinória intencionavam passar a Goles entre si, se lançou no ar em direção à Goles em movimento com uma velocidade extraordinária, entrando no espaço entre os dois jogadores com perspicácia. Com um sorriso que lhe rasgava o rosto, ela inclinou o corpo para que sua vassoura subisse enquanto carregava no braço a Goles presa com firmeza.
Os artilheiros adversários praguejaram alto o suficiente para que ela os ouvisse, mas estava focada demais para se importar. Toda a sua atenção estava nos aros à frente, e na estratégia que já começava a formar em sua mente.
se inclinou sobre a vassoura, mantendo o corpo leve para ganhar ainda mais velocidade enquanto se lançava em direção aos aros. O goleiro de uniforme vermelho e dourado estava posicionado um pouco mais à frente, pronto para defender. Mas parou de repente, ziguezagueando pelos ares enquanto o goleiro tentava acompanhá-la a todo custo. E então, com um movimento calculado, ela arremessou.
Enquanto subia com a vassoura em direção ao aro maior e levava o goleiro junto, lançou a Goles para o aro mais baixo, acertando-o com sucesso.
A torcida banhada em tecido azul e prata urrou alto em comemoração, e sentiu uma onda de satisfação inundar seu peito.
— DEZ PONTOS PARA A CORVINAL! — berrou Ethan Corner, aluno do quarto ano da Corvinal e comentador dos jogos de Quadribol em Hogwarts. — EXCELENTE JOGADA DA SLUGHORN! ESSA GAROTA AINDA VAI ME MATAR DO CORAÇÃO…
gargalhou, deixando que a alegria da partida a dominasse. Sentia a adrenalina cada vez mais presente em seu sangue ao ver seu time avançar com ainda mais vontade. Mas não teve muito tempo para comemorar. Sirius Black surgiu em seu campo de visão quando ela tentou se aproximar do jogador adversário que estava em posse da Goles.
Ele abriu um sorriso amplo ao arremessar um Balaço em sua direção. praguejou, mas conseguiu ser rápida o bastante para se desviar, rodopiando habilidosamente para o lado. A força do Balaço lançado por Black fez os seus cabelos se arrepiarem. Ele estava tentando desestabiliza-la, mas aquilo só fez com que um sorriso divertido aflorasse nos lábios de .
Terence Lynch, um dos batedores da Corvinal, aproveitou a distração de Sirius para acertar um Balaço em cheio no artilheiro que ainda mantinha a Goles. O garoto foi jogado para o lado com brusquidão, vacilando em cima da vassoura e quase caindo, perdendo a Goles no processo. Kirke foi rápida o bastante para apanhá-la, indo em alta velocidade em direção aos aros e marcando mais 10 pontos para a Corvinal.
— BOA, ! — gritou para amiga, frenética demais para apenas apreciar em silêncio.
Não demorou muito para que colocasse as mãos na Goles novamente. Ela driblou dois artilheiros da Grifinória enquanto tentava chegar aos aros, mas foi interceptada por mais um Balaço.
Não precisou procurar a fonte que o arremessara, sabia que tinha sido Black. E desta vez ele a acertou. A vassoura de balançou com o baque, e a Goles escapou de seu braço. Um artilheiro adversário a apanhou com rapidez no mesmo instante em que os dois batedores da Corvinal arremessavam Balaços simultâneos em sua direção.
Benjamin Brock apanhou a Goles e mais pontos foram somados para a Corvinal.
Mesmo que o goleiro da Corvinal, Aaron Davies, estivesse fazendo excelentes defesas, Grifinória também continuou marcando pontos sobre eles, levando a torcida vermelha e dourada à uma completa euforia.
passou perigosamente perto de Sirius ao descer para impedir que a Grifinória tomasse posse da Goles mais uma vez. Ele disse algo que ela não conseguiu entender, mas que se pareceu muito com uma cantada barata, algo que a fez revirar os olhos. Sirius Black nunca perdia uma chance.
Os batedores da Corvinal lhe deram cobertura quando conseguiu apanhar a bola. Aparentemente, os dois batedores adversários estavam em sua cola naquele momento. não ousou olhar para trás para conferir, apenas tomou velocidade em direção aos aros e arremessou a Goles com toda a força que conseguiu. Por pouco o goleiro da Grifinória não a apanhou.
Para sua felicidade, a torcida da Corvinal urrou lá embaixo mais uma vez.
O placar mostrava gloriosos 160 pontos a favor do seu time. sentiu o peito se encher de orgulho. Mas antes que pudesse se lançar novamente contra os artilheiros adversários, ela viu Burke e James Potter, os apanhadores de cada time, em um voo acirrado.
Enquanto e Benjamin marcavam mais pontos espetaculares contra os adversários, ela observou, com o coração batendo forte no peito, fechar os dedos em torno do brilho dourado do Pomo de Ouro em meio a uma manobra arriscada contra as arquibancadas. A garota ergueu os punhos, vitoriosa, e o silêncio tenso que havia se estendido entre os torcedores foi rapidamente substituído por uma explosão de gritos e aplausos ensurdecedores vindos da torcida da Corvinal, que invadiu o campo com uma energia avassaladora.
— BURKE CAPTURA O POMO DE OURO! CORVINAL VENCE GRIFINÓRIA COM CINQUENTA PONTOS DE DIFERENÇA! — a voz de Ethan Corner soou quase perdida no meio do alvoroço.
Um sorriso gigantesco se formou no rosto de , enquanto lágrimas de alegria e alívio preenchiam seus olhos. O placar brilhava em letras douradas: 260 para Grifinória e 310 para Corvinal.
desceu com a vassoura até o gramado, sentindo os pés tocarem a terra firme com uma euforia que quase a fazia flutuar. Assim que desmontou, correu para abraçar seus companheiros de time, que pulavam e gritavam em uma comemoração frenética, entrelaçados em um só corpo de alegria. Era a primeira vez em dois anos que a Corvinal conseguia vencer a Grifinória em uma partida de Quadribol, e ser a capitã do time vencedor enchia com uma sensação de êxtase indescritível. Ela gritou e comemorou, deixando a emoção transbordar.
Por entre os abraços, vislumbrou James Potter pousando a uma certa distância, com Sirius Black logo atrás. O cansaço era evidente nas expressões dos dois, mas o olhar exausto de Sirius, especialmente, fez com que uma pontada de satisfação ainda maior surgisse no peito de , alimentando sua vontade de comemorar ainda mais alto.
Do outro lado, Sirius revirou os olhos, mas havia um sorriso singelo no canto de sua boca.
Naquela manhã em particular, as escadas de Hogwarts decidiram mover-se de maneira inesperada, desviando-a do caminho planejado. suspirou, frustrada, quando percebeu que estava em um andar desconhecido, seus pensamentos sendo interrompidos bruscamente. Foi então que ouviu uma voz familiar, carregada de um charme mal contido.
— Parece que as escadas resolveram pregar uma peça em você, Slughorn.
Ela se virou rapidamente, encontrando Sirius Black encostado na parede com um sorriso despreocupado e os braços cruzados. A postura dele sugeria que estava ali por acaso, mas sabia que, com Sirius Black, nada era por acaso.
— Sirius — disse ela, tentando manter o tom neutro. — O que você está fazendo aqui?
— Apenas dando uma volta pelo castelo — ele respondeu com indiferença, dando de ombros, como se não houvesse nada de especial em sua presença. — E você?
— Tentando chegar à biblioteca, mas parece que as escadas tinham outros planos — respondeu, ajustando os livros que segurava contra o peito.
Sirius deu um passo à frente, seus olhos brilhando com uma curiosidade que a desconcertava. Havia algo nele que sempre a intrigava, uma espécie de magnetismo que não podia ignorar, mas ela sabia que não era a única a sentir isso. Ele tinha metade da escola aos seus pés.
— Talvez o castelo esteja tentando te mostrar algo — sugeriu ele, o sorriso alargando-se.
revirou os olhos, mas antes que pudesse responder, Sirius estendeu a mão e, com um gesto ágil, pegou alguns dos livros que ela carregava. O toque dos dedos dele no dorso de suas mãos a fez estremecer de leve. pensou em protestar, mas, em vez disso, permitiu que ele caminhasse ao seu lado pelo corredor, mesmo desconfiando de suas intenções.
— Diga-me, Slughorn, além de ser a aluna mais brilhante da Corvinal, o que mais você faz? — perguntou ele de repente, pegando-a de surpresa.
estreitou os olhos, avaliando-o. Havia um desafio oculto naquela pergunta.
Ela hesitou, não por falta de resposta, mas porque não tinha certeza se queria compartilhá-la com Sirius. Ainda assim, sempre havia algo na expressão dele que a encorajava a ser sincera.
— Eu gosto de voar — admitiu, relutante. — Sempre gostei… mas não é algo que eu vá fazer aqui em Hogwarts.
Sirius a observou com um brilho nos olhos que ela não conseguiu decifrar, algo entre interesse genuíno e uma satisfação silenciosa.
— E por que nunca tentou entrar para o time de quadribol? Já tem idade para isso.
deu de ombros, sentindo-se acuada.
— Não sei se é para mim — mentiu, defensiva. — Prefiro coisas mais seguras. Além disso, não é o que planejo para o meu futuro.
Sirius arqueou uma sobrancelha, parando de andar de repente, com o olhar penetrante.
— Eu discordo — disse ele, dando um passo em direção a ela, encurtando a distância entre eles. — Não acho que seguir o caminho mais seguro seja o seu estilo.
recuou até sentir as costas quase tocarem a parede. Mas manteve a voz firme ao levantar o queixo e encará-lo.
— E o que você acha que é o meu estilo, Sirius Black?
Sirius soltou uma risada leve, um som profundo que reverberou pelo corredor.
— Acho que você quer mais do que só seguir as regras, Mare — murmurou ele, quase como um segredo compartilhado. — Vi você se esgueirando para assistir ao treino da Lufa-Lufa outro dia. Você tem paixão pelo quadribol, talvez até mais do que imagina.
O coração de acelerou. Ele tinha razão, a simples menção ao quadribol a enchia de excitação, mas até então pensava que estava escondendo bem esse sentimento. Seus pais a preparavam para uma carreira no Ministério, não para os campos de quadribol.
Ela abriu a boca para responder, mas as palavras falharam. Sirius sorriu, como se soubesse o efeito que causava sobre ela. sentiu um rubor subir pelas bochechas, enquanto ele recuava, ainda com os olhos fixos nos seus.
— Me prometa uma coisa — disse ele, o tom agora mais suave. acenou, sem perceber. — Vai fazer o teste para o time de quadribol da Corvinal na próxima semana.
— Eu não…
— Você tem que tentar — ele a interrompeu, com uma firmeza surpreendente. — Não passe a vida pensando no que poderia ter sido. Você é melhor do que isso, e inteligente o suficiente para saber que deve seguir o que ama, e não o que esperam de você.
tentou formular uma resposta, mas nada saiu. Ele estava certo, e ela sabia disso. O sorriso satisfeito que brincava nos lábios de Sirius indicava que ele sabia disso também.
— Nos vemos por aí, Slughorn — acenou ele antes de se afastar, desaparecendo pelo corredor, deixando-a sozinha com seus pensamentos.
Foi naquele momento que decidiu que faria o teste para artilheira. As palavras de Sirius tinham sido o empurrão que ela precisava, o incentivo final para seguir em frente. E agora, ali estava ela, em seu sexto ano em Hogwarts, como capitã do time de quadribol da Corvinal.
Um sorriso de satisfação iluminou seu rosto enquanto abotoava as luvas de couro de dragão em suas mãos pequenas e eficazes. Ela ajustou o elástico que prendia seus volumosos cabelos naquela tarde, e apertou o cabo da vassoura com firmeza entre os dedos, antes de marchar com determinação para o meio do campo de quadribol. Os jogadores da Corvinal a acompanharam de perto, confiantes sob sua liderança.
Aquele seria o seu primeiro jogo como capitã do time de sua casa. As cores azul e prata destacavam-se em seus uniformes aprumados, e os brasões reluziam sob a luz solar.
As arquibancadas lotadas aplaudiram entusiasticamente quando eles entraram. Um misto de euforia e excitação tomou conta de . Ela sentiu o peito se expandir de orgulho ao ver as bandeiras da Corvinal tremulando com força contra o vento. abriu um sorriso largo e resplandecente, embora muito afiado, quando parou de frente para o capitão do time adversário.
James Potter também carregava um sorriso no rosto, presunçoso e familiar. o conhecia desde a infância, mas nem a amizade a impediria de massacrá-lo naquele jogo. James estendeu a mão em um cumprimento formal. Atrás dele, seu fiel amigo inseparável, Sirius Black, espiou por cima do ombro.
— Boa sorte hoje, Potter — disse , impondo mais força no aperto de mãos do que o necessário.
— Para você também, Slughorn. Veremos se Corvinal consegue nos acompanhar este ano — a voz de James saiu confiante e, por um segundo, se divertiu ao imaginar sua expressão quando ela o derrotasse.
Antes que pudesse falar mais alguma coisa, no entanto, Sirius Black se aproximou, colocando-se sorridente ao lado de James. Seus olhos cinza-tempestuosos, sombreados por uma camada generosa de pestanas negras, encararam em desafio. Ela prendeu a respiração por um segundo, sentindo uma onda de eletricidade correr pela espinha.
— Não vou tirar os olhos de você hoje, Slughorn — disse ele, em um tom que era ao mesmo tempo provocativo e intrigante.
ergueu o queixo em resposta, sem deixar transparecer o leve nervosismo que sentiu. Sirius também fazia parte do time da Grifinória, era um dos batedores mais talentosos e havia dado trabalho a ela nos últimos anos. Mas desta vez Grifinória não teria chances contra Corvinal.
— Eu detestaria se o fizesse, Black — sua voz soou suave, melodiosa como uma armadilha bem feita. Ela piscou um olho para Sirius antes de dar-lhe as costas, de ombros retos e nariz empinado, como se ele não fosse mais do que uma pequena distração.
As risadinhas de Black e Potter foram tudo o que ouviu às suas costas enquanto se afastava para se juntar ao time. Os jogadores da Corvinal já estavam acomodados em suas vassouras em uma formação perfeita, os espelhou, assumindo sua posição de artilheira minutos antes de Madame Hooch, a árbitra, soar o apito para que se preparassem.
Ela soltou a Goles e deu início à partida.
se lançou imediatamente no ar, sentindo o vento contra os seus cabelos ao ganhar velocidade. Não demorou muito para que seus olhos ávidos estivessem presos na bola vermelha. Como artilheira, seu papel principal era agarrá-la e marcar a maior quantidade de pontos através dos aros adversários. Era uma adrenalina que apreciava, um fogo que acendia seu espírito competitivo.
Por um segundo, ela pairou no ar estrategicamente, observando os movimentos do time adversário com olhos afiados. No mesmo instante em que dois artilheiros da Grifinória intencionavam passar a Goles entre si, se lançou no ar em direção à Goles em movimento com uma velocidade extraordinária, entrando no espaço entre os dois jogadores com perspicácia. Com um sorriso que lhe rasgava o rosto, ela inclinou o corpo para que sua vassoura subisse enquanto carregava no braço a Goles presa com firmeza.
Os artilheiros adversários praguejaram alto o suficiente para que ela os ouvisse, mas estava focada demais para se importar. Toda a sua atenção estava nos aros à frente, e na estratégia que já começava a formar em sua mente.
se inclinou sobre a vassoura, mantendo o corpo leve para ganhar ainda mais velocidade enquanto se lançava em direção aos aros. O goleiro de uniforme vermelho e dourado estava posicionado um pouco mais à frente, pronto para defender. Mas parou de repente, ziguezagueando pelos ares enquanto o goleiro tentava acompanhá-la a todo custo. E então, com um movimento calculado, ela arremessou.
Enquanto subia com a vassoura em direção ao aro maior e levava o goleiro junto, lançou a Goles para o aro mais baixo, acertando-o com sucesso.
A torcida banhada em tecido azul e prata urrou alto em comemoração, e sentiu uma onda de satisfação inundar seu peito.
— DEZ PONTOS PARA A CORVINAL! — berrou Ethan Corner, aluno do quarto ano da Corvinal e comentador dos jogos de Quadribol em Hogwarts. — EXCELENTE JOGADA DA SLUGHORN! ESSA GAROTA AINDA VAI ME MATAR DO CORAÇÃO…
gargalhou, deixando que a alegria da partida a dominasse. Sentia a adrenalina cada vez mais presente em seu sangue ao ver seu time avançar com ainda mais vontade. Mas não teve muito tempo para comemorar. Sirius Black surgiu em seu campo de visão quando ela tentou se aproximar do jogador adversário que estava em posse da Goles.
Ele abriu um sorriso amplo ao arremessar um Balaço em sua direção. praguejou, mas conseguiu ser rápida o bastante para se desviar, rodopiando habilidosamente para o lado. A força do Balaço lançado por Black fez os seus cabelos se arrepiarem. Ele estava tentando desestabiliza-la, mas aquilo só fez com que um sorriso divertido aflorasse nos lábios de .
Terence Lynch, um dos batedores da Corvinal, aproveitou a distração de Sirius para acertar um Balaço em cheio no artilheiro que ainda mantinha a Goles. O garoto foi jogado para o lado com brusquidão, vacilando em cima da vassoura e quase caindo, perdendo a Goles no processo. Kirke foi rápida o bastante para apanhá-la, indo em alta velocidade em direção aos aros e marcando mais 10 pontos para a Corvinal.
— BOA, ! — gritou para amiga, frenética demais para apenas apreciar em silêncio.
Não demorou muito para que colocasse as mãos na Goles novamente. Ela driblou dois artilheiros da Grifinória enquanto tentava chegar aos aros, mas foi interceptada por mais um Balaço.
Não precisou procurar a fonte que o arremessara, sabia que tinha sido Black. E desta vez ele a acertou. A vassoura de balançou com o baque, e a Goles escapou de seu braço. Um artilheiro adversário a apanhou com rapidez no mesmo instante em que os dois batedores da Corvinal arremessavam Balaços simultâneos em sua direção.
Benjamin Brock apanhou a Goles e mais pontos foram somados para a Corvinal.
Mesmo que o goleiro da Corvinal, Aaron Davies, estivesse fazendo excelentes defesas, Grifinória também continuou marcando pontos sobre eles, levando a torcida vermelha e dourada à uma completa euforia.
passou perigosamente perto de Sirius ao descer para impedir que a Grifinória tomasse posse da Goles mais uma vez. Ele disse algo que ela não conseguiu entender, mas que se pareceu muito com uma cantada barata, algo que a fez revirar os olhos. Sirius Black nunca perdia uma chance.
Os batedores da Corvinal lhe deram cobertura quando conseguiu apanhar a bola. Aparentemente, os dois batedores adversários estavam em sua cola naquele momento. não ousou olhar para trás para conferir, apenas tomou velocidade em direção aos aros e arremessou a Goles com toda a força que conseguiu. Por pouco o goleiro da Grifinória não a apanhou.
Para sua felicidade, a torcida da Corvinal urrou lá embaixo mais uma vez.
O placar mostrava gloriosos 160 pontos a favor do seu time. sentiu o peito se encher de orgulho. Mas antes que pudesse se lançar novamente contra os artilheiros adversários, ela viu Burke e James Potter, os apanhadores de cada time, em um voo acirrado.
Enquanto e Benjamin marcavam mais pontos espetaculares contra os adversários, ela observou, com o coração batendo forte no peito, fechar os dedos em torno do brilho dourado do Pomo de Ouro em meio a uma manobra arriscada contra as arquibancadas. A garota ergueu os punhos, vitoriosa, e o silêncio tenso que havia se estendido entre os torcedores foi rapidamente substituído por uma explosão de gritos e aplausos ensurdecedores vindos da torcida da Corvinal, que invadiu o campo com uma energia avassaladora.
— BURKE CAPTURA O POMO DE OURO! CORVINAL VENCE GRIFINÓRIA COM CINQUENTA PONTOS DE DIFERENÇA! — a voz de Ethan Corner soou quase perdida no meio do alvoroço.
Um sorriso gigantesco se formou no rosto de , enquanto lágrimas de alegria e alívio preenchiam seus olhos. O placar brilhava em letras douradas: 260 para Grifinória e 310 para Corvinal.
desceu com a vassoura até o gramado, sentindo os pés tocarem a terra firme com uma euforia que quase a fazia flutuar. Assim que desmontou, correu para abraçar seus companheiros de time, que pulavam e gritavam em uma comemoração frenética, entrelaçados em um só corpo de alegria. Era a primeira vez em dois anos que a Corvinal conseguia vencer a Grifinória em uma partida de Quadribol, e ser a capitã do time vencedor enchia com uma sensação de êxtase indescritível. Ela gritou e comemorou, deixando a emoção transbordar.
Por entre os abraços, vislumbrou James Potter pousando a uma certa distância, com Sirius Black logo atrás. O cansaço era evidente nas expressões dos dois, mas o olhar exausto de Sirius, especialmente, fez com que uma pontada de satisfação ainda maior surgisse no peito de , alimentando sua vontade de comemorar ainda mais alto.
Do outro lado, Sirius revirou os olhos, mas havia um sorriso singelo no canto de sua boca.
Capítulo 2
A SALA COMUNAL estava imersa em uma atmosfera tranquila e aconchegante ao cair da noite. Nem parecia que os alunos da Corvinal haviam feito uma grande festa em comemoração à vitória do time mais cedo. O fogo crepitava na lareira impecável, adornada por azulejos azuis e bronze, e o calor do ambiente contrastava com o frio que se espalhava do lado de fora, embaçando as enormes janelas arqueadas.
Gotas de chuva batiam contra o vidro, e afundava-se cada vez mais no sofá aveludado. Sentia o corpo todo dolorido após a intensa partida de quadribol. Sua garganta, irritada pelas comemorações, não lhe permitia concentrar-se totalmente no pesado livro de poções que mantinha aberto sobre o colo. Os óculos redondos de leitura deslizavam preguiçosamente pelo nariz, enquanto seus olhos, embora fixos nas páginas amareladas, apenas fingiam estar prestando atenção.
A mente de vagava, um pouco sem rumo, exausta e sonolenta, mesmo que uma voz insistente em sua cabeça resmungasse que ela precisava estudar para as aulas do dia seguinte. Ao seu lado, mantinha as pernas compridas esticadas sobre o braço do sofá de maneira desleixada. Sua postura também refletia seu desinteresse. Ela brincava com a varinha, fazendo seus livros flutuarem alguns centímetros acima de sua cabeça.
A única que realmente parecia interessada no que fazia era , que alisava o pomo de ouro que havia capturado no jogo mais cedo, como se estivesse diante de um verdadeiro tesouro. Seus olhos verdes brilhavam, e suas anotações de feitiços avançados jaziam esquecidas no chão, intocadas. até poderia achar graça da situação, se não estivesse tão dispersa. Dificilmente alguma coisa conseguia desviar o foco dos estudos de um aluno da Corvinal.
Mas a vitória do seu time havia conseguido essa proeza.
— Argh! Se eu tiver que memorizar mais uma característica de algum ingrediente raro esta semana, meu cérebro vai derreter como se eu tivesse ingerido Poção Baba de Bruxa — chiou de repente, quando um livro de poções caiu aberto em seu rosto com um baque. — Espero que o Professor Slughorn sinta bastante remorso quando isso acontecer!
soltou uma risadinha, finalmente desviando os olhos da bolinha dourada, erguendo uma sobrancelha clara e perfeitamente delineada para a amiga de cabelos crespos.
— Essa poção nem existe!
— Ainda não. Mas quem disse que eu não posso inventá-la? — retrucou. — poderia me ajudar se tirasse a cara desse livro só um pouquinho para nos dar atenção…
meteu um cutucão nas costelas de , que deu um pulo no sofá. Seus olhos, que estavam quase cedendo ao sono, arregalaram-se assustados. e riram alto.
— Bem que poderíamos arranjar uma distração para mantê-la acordada, você não acha, ? — rolou pelo tapete felpudo como um gato preguiçoso. — O que acha de irmos procurar Sirius Black pelo castelo, ? Ele estava bem gostoso hoje à tarde, com aquele uniforme… você tem que admitir!
bufou, olhando feio para a amiga. Mas não deu importância. Ela e gostavam de pegar no pé de . Esse era um dos principais motivos que fizeram com que as três se tornassem melhores amigas ainda no primeiro ano em Hogwarts.
— Acho que gostoso é um eufemismo para aquele garoto, . Você já viu como ele tem uma bunda maravilhosa? Acho que perde apenas para a minha e, talvez, para a de Potter.
revirou os olhos diante daquela conversa, tirando os óculos com um gesto brusco. Ela os colocou de lado antes de se voltar para as amigas, com uma ruga de insatisfação vincada na testa. apertou os lábios para conter o riso.
— Vocês estão delirando. O cansaço da partida está afetando seus cérebros, deve ser isso.
— Ah, … vai dizer que não acha Sirius Black nem um pouco bonito? Ainda mais quando ele fica te cercando pelo castelo…
— Não acho, não! — as palavras deixaram sua boca rápido demais para serem convincentes. Diante das expressões maliciosas das amigas, ela respirou fundo e continuou: — Ele é um adversário. Da Grifinória ainda por cima! É presunçoso demais, metido demais… — bonito demais. Mas ela não diria isso, mesmo que o pensamento faiscasse em sua mente. No fundo, tinha razão: Black seria uma ótima distração, mas não pretendia admitir isso tão cedo.
— E ele perdeu feio para o nosso time hoje. Não sei se vou conseguir ser humilde depois de todos esses anos… então parem de exaltá-lo! Sirius Black não merece.
ergueu as sobrancelhas escuras em descrença, enquanto apenas balançava a cabeça, claramente se divertindo.
— Às vezes você é muito durona. No seu lugar, eu já estaria com Black em algum cantinho escuro… aposto que beijar um adversário deve ser ainda mais gostoso.
— Beije o Pettigrew, então.
Elas explodiram em risadas quando as palavras de cortaram o ar, afiadas. torceu o nariz com um pouco de nojo, enquanto fechava o livro com mais força do que o necessário.
Peter Pettigrew era um dos amigos mais próximos de Black. Mas, enquanto os outros dois que também andavam com Sirius eram garotos bonitos e inteligentes, Pettigrew deixava muito a desejar. Não apenas na aparência — se fosse só por isso, elas poderiam relevar, afinal, ele não era de todo feio. O problema era que Pettigrew era um verdadeiro bisbilhoteiro e tinha apanhado de por isso no quarto ano, depois de dedurar ao Diretor. E numa coisa as três concordavam: garotos covardes não valiam a pena.
— Se parassem de fofocar feito duas velhinhas, talvez conseguíssemos não explodir nada na aula do professor Slughorn amanhã — continuou , desesperada para mudar de assunto.
— Você é prima dele. Slug jamais te deixaria com uma nota ruim — sacudiu o dedo em sua direção.
franziu o rosto, fazendo uma careta para ela.
— Somos primos de segundo grau. Além do mais, é com esse pensamento que eu posso acabar tirando um T de Trasgo, igual ao meu irmão — resmungou.
— Por falar nisso, o que há com ultimamente? — foi quem perguntou, observando juntar seus pertences. Sua expressão tornou-se um pouco mais séria ao entrar naquele assunto. E seus olhos ficaram ligeiramente tristes. — Ele quase não fala mais comigo, sinto falta do seu irmão.
sentiu um gosto amargo se instalar em sua boca. Pensar em a deixava mais atormentada do que as provocações sobre Sirius Black, e não de um jeito bom.
— Nada — mentiu rápido demais. E, diante dos olhos amendoados e extremamente desconfiados de , acrescentou: — Ele só está ocupado demais com o noivado. Anda passando muito tempo com Lydia, é natural. Estou morrendo de fome, o que acham de irmos jantar?
A amiga parecia querer dizer algo mais, mas a expressão de não lhe deu brechas. havia sido muito próxima de nos primeiros anos em Hogwarts. Eles foram o primeiro amor um do outro, e por um bom tempo, pensou que uma de suas melhores amigas entraria para a família. Mas então, seu irmão se aproximou de Lydia Rookwood, uma garota bonita da Sonserina, e tudo mudou.
apenas fechou a boca com um pequeno sorriso e assentiu, forçadamente. se levantou e juntou seus pertences com . Juntas, as três saíram da sala comunal e deixaram a torre oeste da Corvinal. A onda de conversas e risadas que as embalou pelo caminho acabou dissipando um pouco a tensão que havia caído sobre os ombros de quando mencionou o seu irmão gêmeo.
O ar gélido da noite começava a invadir as paredes altas do castelo. Felizmente, elas estavam bem agasalhadas por baixo das capas compridas dos uniformes. Ao alcançarem o Salão Principal, o aroma tentador de comida quente e o alvoroço das conversas entre os alunos as envolveu como um abraço familiar. sorriu de leve, sentindo o estômago roncar.
Ela estava prestes a seguir para a mesa da Corvinal, acompanhando as amigas, que discutiam baixo sobre a beleza chamativa de um terceiranista da Sonserina, quando notou a figura inconfundível de Sirius Black pelo canto do olho.
Parecia estar se aproximando. Com sua típica postura pretensiosa, que deixou repentinamente irritada.
Sirius caminhou até elas com as mãos enfiadas nos bolsos da calça e o seu fiel sorriso torto estampado no rosto. tentou apressar o passo, virando-se de costas e fingindo não vê-lo, mas como sempre, Sirius Black não permitiu ser ignorado.
deu uma cotovelada em quando ele parou na frente delas, impedindo-as de continuar. abafou um comentário malicioso, e pisou com força em seu pé, fazendo-a gritar.
— Ai! Sua...
— Que grosseria, Slughorn! Pisando no pé da amiga — Sirius estreitou os olhos para ela, estalando a língua, embora houvesse um brilho de diversão explícito em seu rosto. conteve a vontade de revirar os olhos, decidida a manter a compostura. — Fiquei sabendo que andaram comemorando bastante. Mas estou surpreso que ainda tenham energia para os estudos.
seguiu o seu olhar, que desceu para os livros que ela carregava, com um misto de interesse e diversão.
— Nem todos estão perdidos como você, Black — retrucou, automaticamente. — Alguns de nós realmente levam essa escola a sério.
Ele soltou uma risada, bem humorado, inclinando-se ligeiramente na direção dela. Sua voz diminuiu para um tom mais suave quando seus olhos se fixaram nos de . Cinzas tempestuosos contra azuis cristalinos.
— Ah, eu sei, e é exatamente isso que me fascina em você — sussurrou. — Sua mente me cativa, Slughorn.
O comentário pegou desprevenida. O rubor subiu pelo seu rosto. Ela sentiu as orelhas queimarem e intencionou responder com algo afiado, mas não conseguiu pensar em nada inteligente no calor do momento. e desataram a rir, deixando-a ainda mais desconcertada.
— O dia que você cansar de provocá-la, eu te dou um saco de galeões — a diversão na voz de era palpável. não precisou se virar para saber que havia lágrimas de riso nos olhos da amiga.
Black deu de ombros, uma sombra de malícia estampando suas feições.
— Só provoco quando ela me dá brechas para isso, você sabe, Kirke — ele piscou descaradamente.
balançou a cabeça, tentando afastar o constrangimento. Ela trocou o peso de uma perna para a outra, impaciente, enquanto lançava uma carranca para as amigas. Emburrada.
— Talvez seja melhor irmos jantar antes que vocês dois comecem a trocar feitiços — sugeriu suavemente, intercedendo por . — Acho que os professores não vão gostar nada se isso acontecer.
concordou e se virou para segui-la, sem dar atenção a Sirius, decidida a ocupar os lugares vagos que avistara na mesa da Corvinal. Mas Sirius a surpreendeu mais uma vez, segurando-a pelo pulso.
O toque foi suave, mas firme o suficiente para mantê-la no lugar quando tentou se soltar. O calor dos dedos dele atravessou o tecido escuro do uniforme, enviando um arrepio inesperado por sua pele. Quando girou nos calcanhares para encará-lo novamente, a usual malícia em seus olhos acizentados havia sido substituída por uma seriedade surpreendente.
— O que foi agora, Black? — ela perguntou, tentando mascarar o leve tremor que acompanhava o calor desconcertante em suas bochechas. Seus olhos encontraram os dele mais uma vez, tentando desvendar as intenções por trás daquele contato repentino.
— Preciso que fale com James — pediu ele, sem rodeios, embora com a voz cuidadosamente controlada. — Ele está um pouco abatido depois da derrota de hoje. Não está acostumado a perder assim, sabe como é… e como foi o seu time que nos massacrou e vocês dois se conhecem desde pequenos, achei que ele te ouviria.
arqueou uma sobrancelha, a incredulidade e a diversão dançando em seus olhos claros por um momento.
— Quer que eu peça desculpas por ter vencido o jogo? É sério isso, Black? Estou ouvindo direito?
Sirius soltou um riso baixo e suave, balançando a cabeça para os lados.
— Não entenda dessa forma, Slughorn — pediu. — Só o console, está bem? Como amigos. Só isso.
Ela quase riu ao notar a pressa em suas últimas palavras. Sirius desviou o olhar, repentinamente constrangido, causando uma onda de satisfação inesperada em .
— Você não pode fazer isso? — continuou ela. — Ele é o seu melhor amigo, não meu. Ou peça a Evans, ou Lupin… qualquer um!
Ele balançou a cabeça novamente.
— Não é a mesma coisa. Nenhum de nós esmagou a reputação de James como capitão no quadribol — apesar das palavras, notou uma pontada de orgulho em seu tom de voz.
Ela se lembrou do fim da partida mais cedo, quando Sirius sorriu para ela de longe, mesmo após a derrota, e do dia em que ele a incentivou a fazer o teste para o time da Corvinal, três anos atrás. Talvez, se não fosse por Black ser tão insistente e intrometido, ela não teria chegado ao título de capitã de quadribol da Corvinal e muito menos levado o time à vitória naquela tarde.
Sem coragem para recusar, finalmente assentiu, cedendo ao pedido.
— Certo, mas só porque quero meu braço de volta — respondeu, com um sorriso travesso.
Sirius esboçou uma expressão satisfeita e, para provocar um pouco mais, deslizou a mão cuidadosamente por baixo do uniforme que ela usava. Ele deixou os dedos roçarem lentamente pela pele do braço de antes de finalmente soltá-la. O toque foi breve e pretensioso, e fez estremecer por dentro, embora ela disfarçasse bem com um revirar de olhos, tentando parecer indiferente.
— Boa garota, Slughorn — soprou Sirius Black, piscando para ela antes de se afastar para encontrar seus amigos na mesa da Grifinória.
ficou parada por um momento, observando-o se distanciar. Ele era uma figura complicada, e apesar de toda a provocação, havia algo genuíno em seus gestos que a deixava confusa na maioria das vezes. Ela sacudiu a cabeça, decidindo não pensar tanto naquele momento. Tinha uma tarefa a cumprir, e mesmo sem muito ânimo, faria o que Sirius havia pedido.
— Não sei como você aguenta ele — comentou enquanto se sentava à mesa da Corvinal. — Sirius Black é… bem, Sirius Black.
Se não fosse pelo suspiro sonhador, poderia ter levado aquelas palavras a sério.
— Talvez seja justamente por isso que ela o aguenta — acrescentou com seu típico sorrisinho malicioso.
, no entanto, não respondeu. Ela estava longe, planejando como abordaria James sem fazer a situação parecer forçada. Ela sabia que ele estava frustrado, talvez até mesmo chateado, como afirmara Sirius. Podia ver sua expressão desanimada entre os amigos na mesa da Grifinória, mas esperava que ele a recebesse de bom grado, como sempre fazia quando eram mais novos.
James e tinham sido grandes amigos por muito tempo antes de ingressarem em Hogwarts e fazerem novas amizades. A relação entre eles havia surgido, principalmente, por causa de seus pais. Fleamont e Arlo tinham sido como unha e carne em seus tempos de escola, e por um tempo essa amizade acabou refletindo em seus filhos.
mal havia terminado de comer quando avistou James Potter saindo do Salão Principal, a cabeça baixa e os ombros curvados. Ela hesitou por um momento, olhando para o prato ainda cheio de comida, mas decidiu que não poderia adiar aquilo por muito tempo. Caso o fizesse, desistiria. Com um suspiro resignado, levantou-se e disse às amigas que precisava resolver uma coisa. Elas trocaram olhares cúmplices, mas não questionaram.
Ao sair do Salão Principal, viu James se dirigir para os jardins do castelo. A noite estava fria, o céu encoberto por nuvens que escondiam a lua, e uma garoa fina caía pelos terrenos de Hogwarts. Ela o seguiu em silêncio, observando a maneira como ele chutava uma pedra no caminho, perdido em pensamentos, com o uniforme e os cabelos escuros já encharcados.
puxou o capuz do seu uniforme, cobrindo a cabeça quando as gotas começaram a engrossar.
— Potter! — chamou, finalmente se aproximando. Estavam a uma distância segura para que poucas pessoas os visse.
James parou, virando-se lentamente. Seus olhos, geralmente brilhantes e cheios de energia, estavam um pouco opacos e cansados. percebeu que ele realmente estava abalado.
Ao vê-la, Potter forçou um sorriso, mas foi perceptível que era apenas para manter as aparências.
— Oi, — ele respondeu, a voz desanimada. — O que houve? Alguma coisa errada?
— Nada errado. Só queria saber como você está — disse ela, tentando manter o tom leve. — Você parece meio… desanimado.
James deu de ombros, tentando parecer indiferente, mas falhou miseravelmente. se lembrou de como ele era orgulhoso.
— Eu? Não, estou bem… só estava… pensando no jogo. Foi um golpe duro, não foi? Mas você se saiu muito bem como artilheira e capitã — acrescentou rapidamente, envergonhado.
James passou as mãos pelos cabelos molhados que grudavam em sua testa. As gotas de chuva escorrendo pelas bochechas e nariz, ao mesmo tempo em que embaçavam seus óculos redondos.
assentiu, aproximando-se mais alguns passos.
— Você jogou bem, James. Todos sabemos que não foi uma derrota fácil. Mas isso não define quem você é ou a qualidade do seu time — disse suavemente, sem saber se havia encontrado as palavras certas. Ela não sabia exatamente como consolar seu adversário sem realmente lamentar por ele ter perdido.
James soltou um suspiro, deixando a máscara cair.
— Não é só o jogo, sabe. É… tudo. Sinto que estou perdendo o controle. Lily… e agora o quadribol. Acho que estou começando a falhar.
sentiu uma pontada de empatia diante de sua risada seca. James sempre fora o tipo que carregava o peso do mundo nos ombros, mesmo que ninguém pedisse. Ele era um bom amigo, um excelente aluno e um dos apanhadores mais competentes da escola. Mesmo que às vezes fosse irritante e metido a besta como a maioria dos alunos da Grifinória, ainda era um bom rapaz.
colocou uma mão no ombro dele, um gesto simples, mas reconfortante.
— Você não está falhando, James. Todos passamos por momentos difíceis, você não é o único na face da terra — brincou. — E quanto a Lily… bem, ela vai perceber mais cedo ou mais tarde que vocês dois foram feitos um para o outro.
Os olhos de Potter brilharam genuínos, e notou que ele não havia se prendido a nada, exceto a parte em que ela mencionou Lily Evans. Obviamente.
— Acha mesmo isso?
Ela revirou os olhos, mas afirmou com a cabeça.
— Sirius te pediu para vir falar comigo, não foi? — perguntou James, o sorriso habitual retornando aos lábios. — Eu vi ele te cercando no jantar. Acho que você tem alguma coisa que sempre o puxa para perto, como um cachorrinho ansioso.
riu, sem jeito. Não precisava que Potter também começasse a inferniza-la com aquilo. Suas amigas já faziam o papel muito bem sozinhas.
— Ele mencionou que você estava meio abatido, mas… — ela parou, olhando para a chuva que caía do céu. — Eu teria vindo de qualquer maneira. Meu time venceu de forma justa e merecida, estou feliz por isso, mas ainda somos amigos, Potter. Não somos?
Ele ficou em silêncio por um momento, como se ponderasse suas palavras. Então, soltou uma risada divertida diante do olhar afiado de . A mesma risada que ela se lembrava de quando eram crianças.
— Sim, é claro que somos — respondeu ele. — Obrigado, . Você é um poço de gentileza.
Ela acenou com a cabeça, erguendo um pouco o queixo, exibindo-se. Satisfeita consigo mesma. James tornou a rir.
— Agora, por que não voltamos para dentro? Está congelando aqui fora e eu não quero ficar gripada por sua causa, Potter — sugeriu, torcendo o nariz em meio as gotas que golpeavam o seu rosto. — Preciso estar com a saúde em dia para massacrar a Sonserina no próximo jogo.
James concordou, e eles voltaram juntos para o castelo. Embora alguns olhos curiosos se voltassem para eles ao retornarem ao Salão Principal, a noite fria pareceu um pouco mais leve para . E ela ficou contente com aquilo. Mesmo depois que James lhe deu as costas para voltar aos seus amigos.
Gotas de chuva batiam contra o vidro, e afundava-se cada vez mais no sofá aveludado. Sentia o corpo todo dolorido após a intensa partida de quadribol. Sua garganta, irritada pelas comemorações, não lhe permitia concentrar-se totalmente no pesado livro de poções que mantinha aberto sobre o colo. Os óculos redondos de leitura deslizavam preguiçosamente pelo nariz, enquanto seus olhos, embora fixos nas páginas amareladas, apenas fingiam estar prestando atenção.
A mente de vagava, um pouco sem rumo, exausta e sonolenta, mesmo que uma voz insistente em sua cabeça resmungasse que ela precisava estudar para as aulas do dia seguinte. Ao seu lado, mantinha as pernas compridas esticadas sobre o braço do sofá de maneira desleixada. Sua postura também refletia seu desinteresse. Ela brincava com a varinha, fazendo seus livros flutuarem alguns centímetros acima de sua cabeça.
A única que realmente parecia interessada no que fazia era , que alisava o pomo de ouro que havia capturado no jogo mais cedo, como se estivesse diante de um verdadeiro tesouro. Seus olhos verdes brilhavam, e suas anotações de feitiços avançados jaziam esquecidas no chão, intocadas. até poderia achar graça da situação, se não estivesse tão dispersa. Dificilmente alguma coisa conseguia desviar o foco dos estudos de um aluno da Corvinal.
Mas a vitória do seu time havia conseguido essa proeza.
— Argh! Se eu tiver que memorizar mais uma característica de algum ingrediente raro esta semana, meu cérebro vai derreter como se eu tivesse ingerido Poção Baba de Bruxa — chiou de repente, quando um livro de poções caiu aberto em seu rosto com um baque. — Espero que o Professor Slughorn sinta bastante remorso quando isso acontecer!
soltou uma risadinha, finalmente desviando os olhos da bolinha dourada, erguendo uma sobrancelha clara e perfeitamente delineada para a amiga de cabelos crespos.
— Essa poção nem existe!
— Ainda não. Mas quem disse que eu não posso inventá-la? — retrucou. — poderia me ajudar se tirasse a cara desse livro só um pouquinho para nos dar atenção…
meteu um cutucão nas costelas de , que deu um pulo no sofá. Seus olhos, que estavam quase cedendo ao sono, arregalaram-se assustados. e riram alto.
— Bem que poderíamos arranjar uma distração para mantê-la acordada, você não acha, ? — rolou pelo tapete felpudo como um gato preguiçoso. — O que acha de irmos procurar Sirius Black pelo castelo, ? Ele estava bem gostoso hoje à tarde, com aquele uniforme… você tem que admitir!
bufou, olhando feio para a amiga. Mas não deu importância. Ela e gostavam de pegar no pé de . Esse era um dos principais motivos que fizeram com que as três se tornassem melhores amigas ainda no primeiro ano em Hogwarts.
— Acho que gostoso é um eufemismo para aquele garoto, . Você já viu como ele tem uma bunda maravilhosa? Acho que perde apenas para a minha e, talvez, para a de Potter.
revirou os olhos diante daquela conversa, tirando os óculos com um gesto brusco. Ela os colocou de lado antes de se voltar para as amigas, com uma ruga de insatisfação vincada na testa. apertou os lábios para conter o riso.
— Vocês estão delirando. O cansaço da partida está afetando seus cérebros, deve ser isso.
— Ah, … vai dizer que não acha Sirius Black nem um pouco bonito? Ainda mais quando ele fica te cercando pelo castelo…
— Não acho, não! — as palavras deixaram sua boca rápido demais para serem convincentes. Diante das expressões maliciosas das amigas, ela respirou fundo e continuou: — Ele é um adversário. Da Grifinória ainda por cima! É presunçoso demais, metido demais… — bonito demais. Mas ela não diria isso, mesmo que o pensamento faiscasse em sua mente. No fundo, tinha razão: Black seria uma ótima distração, mas não pretendia admitir isso tão cedo.
— E ele perdeu feio para o nosso time hoje. Não sei se vou conseguir ser humilde depois de todos esses anos… então parem de exaltá-lo! Sirius Black não merece.
ergueu as sobrancelhas escuras em descrença, enquanto apenas balançava a cabeça, claramente se divertindo.
— Às vezes você é muito durona. No seu lugar, eu já estaria com Black em algum cantinho escuro… aposto que beijar um adversário deve ser ainda mais gostoso.
— Beije o Pettigrew, então.
Elas explodiram em risadas quando as palavras de cortaram o ar, afiadas. torceu o nariz com um pouco de nojo, enquanto fechava o livro com mais força do que o necessário.
Peter Pettigrew era um dos amigos mais próximos de Black. Mas, enquanto os outros dois que também andavam com Sirius eram garotos bonitos e inteligentes, Pettigrew deixava muito a desejar. Não apenas na aparência — se fosse só por isso, elas poderiam relevar, afinal, ele não era de todo feio. O problema era que Pettigrew era um verdadeiro bisbilhoteiro e tinha apanhado de por isso no quarto ano, depois de dedurar ao Diretor. E numa coisa as três concordavam: garotos covardes não valiam a pena.
— Se parassem de fofocar feito duas velhinhas, talvez conseguíssemos não explodir nada na aula do professor Slughorn amanhã — continuou , desesperada para mudar de assunto.
— Você é prima dele. Slug jamais te deixaria com uma nota ruim — sacudiu o dedo em sua direção.
franziu o rosto, fazendo uma careta para ela.
— Somos primos de segundo grau. Além do mais, é com esse pensamento que eu posso acabar tirando um T de Trasgo, igual ao meu irmão — resmungou.
— Por falar nisso, o que há com ultimamente? — foi quem perguntou, observando juntar seus pertences. Sua expressão tornou-se um pouco mais séria ao entrar naquele assunto. E seus olhos ficaram ligeiramente tristes. — Ele quase não fala mais comigo, sinto falta do seu irmão.
sentiu um gosto amargo se instalar em sua boca. Pensar em a deixava mais atormentada do que as provocações sobre Sirius Black, e não de um jeito bom.
— Nada — mentiu rápido demais. E, diante dos olhos amendoados e extremamente desconfiados de , acrescentou: — Ele só está ocupado demais com o noivado. Anda passando muito tempo com Lydia, é natural. Estou morrendo de fome, o que acham de irmos jantar?
A amiga parecia querer dizer algo mais, mas a expressão de não lhe deu brechas. havia sido muito próxima de nos primeiros anos em Hogwarts. Eles foram o primeiro amor um do outro, e por um bom tempo, pensou que uma de suas melhores amigas entraria para a família. Mas então, seu irmão se aproximou de Lydia Rookwood, uma garota bonita da Sonserina, e tudo mudou.
apenas fechou a boca com um pequeno sorriso e assentiu, forçadamente. se levantou e juntou seus pertences com . Juntas, as três saíram da sala comunal e deixaram a torre oeste da Corvinal. A onda de conversas e risadas que as embalou pelo caminho acabou dissipando um pouco a tensão que havia caído sobre os ombros de quando mencionou o seu irmão gêmeo.
O ar gélido da noite começava a invadir as paredes altas do castelo. Felizmente, elas estavam bem agasalhadas por baixo das capas compridas dos uniformes. Ao alcançarem o Salão Principal, o aroma tentador de comida quente e o alvoroço das conversas entre os alunos as envolveu como um abraço familiar. sorriu de leve, sentindo o estômago roncar.
Ela estava prestes a seguir para a mesa da Corvinal, acompanhando as amigas, que discutiam baixo sobre a beleza chamativa de um terceiranista da Sonserina, quando notou a figura inconfundível de Sirius Black pelo canto do olho.
Parecia estar se aproximando. Com sua típica postura pretensiosa, que deixou repentinamente irritada.
Sirius caminhou até elas com as mãos enfiadas nos bolsos da calça e o seu fiel sorriso torto estampado no rosto. tentou apressar o passo, virando-se de costas e fingindo não vê-lo, mas como sempre, Sirius Black não permitiu ser ignorado.
deu uma cotovelada em quando ele parou na frente delas, impedindo-as de continuar. abafou um comentário malicioso, e pisou com força em seu pé, fazendo-a gritar.
— Ai! Sua...
— Que grosseria, Slughorn! Pisando no pé da amiga — Sirius estreitou os olhos para ela, estalando a língua, embora houvesse um brilho de diversão explícito em seu rosto. conteve a vontade de revirar os olhos, decidida a manter a compostura. — Fiquei sabendo que andaram comemorando bastante. Mas estou surpreso que ainda tenham energia para os estudos.
seguiu o seu olhar, que desceu para os livros que ela carregava, com um misto de interesse e diversão.
— Nem todos estão perdidos como você, Black — retrucou, automaticamente. — Alguns de nós realmente levam essa escola a sério.
Ele soltou uma risada, bem humorado, inclinando-se ligeiramente na direção dela. Sua voz diminuiu para um tom mais suave quando seus olhos se fixaram nos de . Cinzas tempestuosos contra azuis cristalinos.
— Ah, eu sei, e é exatamente isso que me fascina em você — sussurrou. — Sua mente me cativa, Slughorn.
O comentário pegou desprevenida. O rubor subiu pelo seu rosto. Ela sentiu as orelhas queimarem e intencionou responder com algo afiado, mas não conseguiu pensar em nada inteligente no calor do momento. e desataram a rir, deixando-a ainda mais desconcertada.
— O dia que você cansar de provocá-la, eu te dou um saco de galeões — a diversão na voz de era palpável. não precisou se virar para saber que havia lágrimas de riso nos olhos da amiga.
Black deu de ombros, uma sombra de malícia estampando suas feições.
— Só provoco quando ela me dá brechas para isso, você sabe, Kirke — ele piscou descaradamente.
balançou a cabeça, tentando afastar o constrangimento. Ela trocou o peso de uma perna para a outra, impaciente, enquanto lançava uma carranca para as amigas. Emburrada.
— Talvez seja melhor irmos jantar antes que vocês dois comecem a trocar feitiços — sugeriu suavemente, intercedendo por . — Acho que os professores não vão gostar nada se isso acontecer.
concordou e se virou para segui-la, sem dar atenção a Sirius, decidida a ocupar os lugares vagos que avistara na mesa da Corvinal. Mas Sirius a surpreendeu mais uma vez, segurando-a pelo pulso.
O toque foi suave, mas firme o suficiente para mantê-la no lugar quando tentou se soltar. O calor dos dedos dele atravessou o tecido escuro do uniforme, enviando um arrepio inesperado por sua pele. Quando girou nos calcanhares para encará-lo novamente, a usual malícia em seus olhos acizentados havia sido substituída por uma seriedade surpreendente.
— O que foi agora, Black? — ela perguntou, tentando mascarar o leve tremor que acompanhava o calor desconcertante em suas bochechas. Seus olhos encontraram os dele mais uma vez, tentando desvendar as intenções por trás daquele contato repentino.
— Preciso que fale com James — pediu ele, sem rodeios, embora com a voz cuidadosamente controlada. — Ele está um pouco abatido depois da derrota de hoje. Não está acostumado a perder assim, sabe como é… e como foi o seu time que nos massacrou e vocês dois se conhecem desde pequenos, achei que ele te ouviria.
arqueou uma sobrancelha, a incredulidade e a diversão dançando em seus olhos claros por um momento.
— Quer que eu peça desculpas por ter vencido o jogo? É sério isso, Black? Estou ouvindo direito?
Sirius soltou um riso baixo e suave, balançando a cabeça para os lados.
— Não entenda dessa forma, Slughorn — pediu. — Só o console, está bem? Como amigos. Só isso.
Ela quase riu ao notar a pressa em suas últimas palavras. Sirius desviou o olhar, repentinamente constrangido, causando uma onda de satisfação inesperada em .
— Você não pode fazer isso? — continuou ela. — Ele é o seu melhor amigo, não meu. Ou peça a Evans, ou Lupin… qualquer um!
Ele balançou a cabeça novamente.
— Não é a mesma coisa. Nenhum de nós esmagou a reputação de James como capitão no quadribol — apesar das palavras, notou uma pontada de orgulho em seu tom de voz.
Ela se lembrou do fim da partida mais cedo, quando Sirius sorriu para ela de longe, mesmo após a derrota, e do dia em que ele a incentivou a fazer o teste para o time da Corvinal, três anos atrás. Talvez, se não fosse por Black ser tão insistente e intrometido, ela não teria chegado ao título de capitã de quadribol da Corvinal e muito menos levado o time à vitória naquela tarde.
Sem coragem para recusar, finalmente assentiu, cedendo ao pedido.
— Certo, mas só porque quero meu braço de volta — respondeu, com um sorriso travesso.
Sirius esboçou uma expressão satisfeita e, para provocar um pouco mais, deslizou a mão cuidadosamente por baixo do uniforme que ela usava. Ele deixou os dedos roçarem lentamente pela pele do braço de antes de finalmente soltá-la. O toque foi breve e pretensioso, e fez estremecer por dentro, embora ela disfarçasse bem com um revirar de olhos, tentando parecer indiferente.
— Boa garota, Slughorn — soprou Sirius Black, piscando para ela antes de se afastar para encontrar seus amigos na mesa da Grifinória.
ficou parada por um momento, observando-o se distanciar. Ele era uma figura complicada, e apesar de toda a provocação, havia algo genuíno em seus gestos que a deixava confusa na maioria das vezes. Ela sacudiu a cabeça, decidindo não pensar tanto naquele momento. Tinha uma tarefa a cumprir, e mesmo sem muito ânimo, faria o que Sirius havia pedido.
— Não sei como você aguenta ele — comentou enquanto se sentava à mesa da Corvinal. — Sirius Black é… bem, Sirius Black.
Se não fosse pelo suspiro sonhador, poderia ter levado aquelas palavras a sério.
— Talvez seja justamente por isso que ela o aguenta — acrescentou com seu típico sorrisinho malicioso.
, no entanto, não respondeu. Ela estava longe, planejando como abordaria James sem fazer a situação parecer forçada. Ela sabia que ele estava frustrado, talvez até mesmo chateado, como afirmara Sirius. Podia ver sua expressão desanimada entre os amigos na mesa da Grifinória, mas esperava que ele a recebesse de bom grado, como sempre fazia quando eram mais novos.
James e tinham sido grandes amigos por muito tempo antes de ingressarem em Hogwarts e fazerem novas amizades. A relação entre eles havia surgido, principalmente, por causa de seus pais. Fleamont e Arlo tinham sido como unha e carne em seus tempos de escola, e por um tempo essa amizade acabou refletindo em seus filhos.
mal havia terminado de comer quando avistou James Potter saindo do Salão Principal, a cabeça baixa e os ombros curvados. Ela hesitou por um momento, olhando para o prato ainda cheio de comida, mas decidiu que não poderia adiar aquilo por muito tempo. Caso o fizesse, desistiria. Com um suspiro resignado, levantou-se e disse às amigas que precisava resolver uma coisa. Elas trocaram olhares cúmplices, mas não questionaram.
Ao sair do Salão Principal, viu James se dirigir para os jardins do castelo. A noite estava fria, o céu encoberto por nuvens que escondiam a lua, e uma garoa fina caía pelos terrenos de Hogwarts. Ela o seguiu em silêncio, observando a maneira como ele chutava uma pedra no caminho, perdido em pensamentos, com o uniforme e os cabelos escuros já encharcados.
puxou o capuz do seu uniforme, cobrindo a cabeça quando as gotas começaram a engrossar.
— Potter! — chamou, finalmente se aproximando. Estavam a uma distância segura para que poucas pessoas os visse.
James parou, virando-se lentamente. Seus olhos, geralmente brilhantes e cheios de energia, estavam um pouco opacos e cansados. percebeu que ele realmente estava abalado.
Ao vê-la, Potter forçou um sorriso, mas foi perceptível que era apenas para manter as aparências.
— Oi, — ele respondeu, a voz desanimada. — O que houve? Alguma coisa errada?
— Nada errado. Só queria saber como você está — disse ela, tentando manter o tom leve. — Você parece meio… desanimado.
James deu de ombros, tentando parecer indiferente, mas falhou miseravelmente. se lembrou de como ele era orgulhoso.
— Eu? Não, estou bem… só estava… pensando no jogo. Foi um golpe duro, não foi? Mas você se saiu muito bem como artilheira e capitã — acrescentou rapidamente, envergonhado.
James passou as mãos pelos cabelos molhados que grudavam em sua testa. As gotas de chuva escorrendo pelas bochechas e nariz, ao mesmo tempo em que embaçavam seus óculos redondos.
assentiu, aproximando-se mais alguns passos.
— Você jogou bem, James. Todos sabemos que não foi uma derrota fácil. Mas isso não define quem você é ou a qualidade do seu time — disse suavemente, sem saber se havia encontrado as palavras certas. Ela não sabia exatamente como consolar seu adversário sem realmente lamentar por ele ter perdido.
James soltou um suspiro, deixando a máscara cair.
— Não é só o jogo, sabe. É… tudo. Sinto que estou perdendo o controle. Lily… e agora o quadribol. Acho que estou começando a falhar.
sentiu uma pontada de empatia diante de sua risada seca. James sempre fora o tipo que carregava o peso do mundo nos ombros, mesmo que ninguém pedisse. Ele era um bom amigo, um excelente aluno e um dos apanhadores mais competentes da escola. Mesmo que às vezes fosse irritante e metido a besta como a maioria dos alunos da Grifinória, ainda era um bom rapaz.
colocou uma mão no ombro dele, um gesto simples, mas reconfortante.
— Você não está falhando, James. Todos passamos por momentos difíceis, você não é o único na face da terra — brincou. — E quanto a Lily… bem, ela vai perceber mais cedo ou mais tarde que vocês dois foram feitos um para o outro.
Os olhos de Potter brilharam genuínos, e notou que ele não havia se prendido a nada, exceto a parte em que ela mencionou Lily Evans. Obviamente.
— Acha mesmo isso?
Ela revirou os olhos, mas afirmou com a cabeça.
— Sirius te pediu para vir falar comigo, não foi? — perguntou James, o sorriso habitual retornando aos lábios. — Eu vi ele te cercando no jantar. Acho que você tem alguma coisa que sempre o puxa para perto, como um cachorrinho ansioso.
riu, sem jeito. Não precisava que Potter também começasse a inferniza-la com aquilo. Suas amigas já faziam o papel muito bem sozinhas.
— Ele mencionou que você estava meio abatido, mas… — ela parou, olhando para a chuva que caía do céu. — Eu teria vindo de qualquer maneira. Meu time venceu de forma justa e merecida, estou feliz por isso, mas ainda somos amigos, Potter. Não somos?
Ele ficou em silêncio por um momento, como se ponderasse suas palavras. Então, soltou uma risada divertida diante do olhar afiado de . A mesma risada que ela se lembrava de quando eram crianças.
— Sim, é claro que somos — respondeu ele. — Obrigado, . Você é um poço de gentileza.
Ela acenou com a cabeça, erguendo um pouco o queixo, exibindo-se. Satisfeita consigo mesma. James tornou a rir.
— Agora, por que não voltamos para dentro? Está congelando aqui fora e eu não quero ficar gripada por sua causa, Potter — sugeriu, torcendo o nariz em meio as gotas que golpeavam o seu rosto. — Preciso estar com a saúde em dia para massacrar a Sonserina no próximo jogo.
James concordou, e eles voltaram juntos para o castelo. Embora alguns olhos curiosos se voltassem para eles ao retornarem ao Salão Principal, a noite fria pareceu um pouco mais leve para . E ela ficou contente com aquilo. Mesmo depois que James lhe deu as costas para voltar aos seus amigos.
Continua...
Nota da autora: Sem nota.
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