Secret, my secret

Fanfic Finalizada

Capítulo 1 — O vizinho do 88

Hansol


A vida de estagiário em uma das empresas de segurança mais renomadas do país não era nada fácil. Como estudante de Administração, eu já sabia que ia ser difícil, mas, caramba, ninguém me avisou que seria tanto.
Ainda faltava um semestre para que eu acabasse o curso e conciliar isso com o estágio era difícil. Ainda mais depois de um coração partido. Depois que Seungcheol disse que ele e estavam namorando, eu tinha ido ao aquário e contado a ela. Ela pediu um milhão de desculpas com a voz embargada e eu lhe garanti que não era culpa dela. Eu esperava de verdade que ela e Seungcheol fossem felizes, eles mereciam. Mas ver meu amor de infância partindo assim não foi fácil. Só me restava agora seguir em frente.
E era exatamente isso que eu estava fazendo ali.
Sexta era dia de happy hour e a galera do trabalho estava reunida no bar de sempre, reclamando das coisas de sempre e ameaçando o chefe. Eu tinha saído do estágio mais cedo porque tinha que resolver uma coisa na universidade, mas tinha combinado de encontrá-los ali, então tinha passado na modesta casa que agora eu dividia com Seungcheol e tinha ido andando, morávamos perto dali, afinal.
Estava tomando uma cerveja quando uma das garotas da empresa se aproximou de mim e sentou ao meu lado. Eu não a conhecia, provavelmente ainda não tinha passado no setor dela, então não dei tanta atenção.
— O que você faria se seu vizinho fosse um psicopata? — ela perguntou de repente. Era jovem e bonita, mas parecia levemente alcoolizada.
— Boa noite? — respondi em tom de pergunta, claramente sem entender o que ela tinha perguntado.
— É sério, o que você faria? — ela insistiu.
— Chamaria a polícia? — perguntei.
— Eu já fiz isso, desligaram na minha cara depois da sexta ligação. — ela deu de ombros. — O que a gente faz quando a polícia ignora a gente? — ela voltou a perguntar.
— Não insiste. — respondi.
— É verdade, preciso de provas. — ela respirou fundo e seu olhar se iluminou.
— Quê? Moça, eu não disse isso. — tentei apagar o brilho no olhar dela, sabendo que coisa boa não sairia dali.
— E você vai me ajudar. — ela sorriu e tomou minha mão na sua. Levantou do banco onde tinha sentado no início daquela conversa sem noção e começou a andar em direção à saída.
— Ajudar em quê? Moça, pelo amor de Deus, eu... Eu nem sei seu nome. — tentei argumentar.
. — ela parou de repente e me encarou. — Agora me ajuda.
, agora eu sabia, me arrastou para fora do bar e começou a caminhar em direção à esquina da rua. Virou à direita, seguiu caminhando e virou à direita no final da rua de novo. Se aproximou de um arbusto e me puxou para baixo.
— Ali. Ele mora ali. — ela apontou para uma casa do outro lado da rua. — As luzes estão sempre apagadas.
— Ele deve estar dormindo. — apontei.
— Não... Hansol, né? — ela perguntou.
— Hansol Chwe. — respondi. — Mas pode me chamar de...
— As luzes realmente nunca se acendem. Tá sempre tudo escuro, mesmo pela manhã. — ela sussurrou, me interrompendo.
— E como você sabe disso? — perguntei.
— Eu tento observar ele às vezes, mas nunca consigo ver nada. — ela suspirou frustrada.
, você sabe que isso é crime, né? — perguntei.
— Só se ele me descobrir. — ela sorriu. — Que cheiro é esse? — ela perguntou. Inspirei ao redor, tentando sentir o que ela sentia, mas só consegui sentir o cheiro da grama, como se ela tivesse sido aparada recentemente. De repente, colou o nariz no meu pescoço e respirou fundo, fazendo minha pele arrepiar. — É seu perfume, Hansol. Você cheira bem. — ela disse com a voz parecendo embriagada.
, que tal se eu te levar até a sua porta? — perguntei com um fio de voz. Precisava voltar ao bar, mas ela já estava passando do ponto, tinha que ir para casa. E talvez eu também.
— Minha porta é essa aqui. — ela apontou para trás.
— Você observa o vizinho daqui? — perguntei. Parecia meio longe.
— Eu tenho um binóculo. Uma lente está meio desfocada, mas serve. — ela explicou e levantou. — Depois vamos falar sobre isso, Hansol. Você não vai fugir de mim.
— Certo, . Depois falamos sobre isso. Mas agora você precisa dormir. Nos vemos na segunda? — perguntei sem querer saber a resposta.
— No café. Eu te acho. — ela procurou a chave na bolsinha e, com esforço, abriu a porta.
A observei entrar em casa e, em seguida, comecei a caminhar de volta ao bar pensando que tinha arrumado um grande problema no momento em que se apresentou.

🌒

Estava sentado em uma das mesas do café, observando as pessoas entrando e saindo do prédio quando sentou ao meu lado, descabelada e parecendo acabada.
— Que diabos aconteceu com você? — perguntei. Se nosso chefe a visse assim, ela, no mínimo, levaria uma advertência.
— Não dormi. O vizinho chegou de madrugada e entrou em casa sem acender as luzes. — ela começou a explicar. — Quem anda em casa sem acender as luzes? Isso mesmo! Um psicopata.
— Mas você o viu? Digo, na rua? Conseguiu ver o rosto dele?
— Não. Estava escuro demais e eu não estava enxergando muito bem por conta do... Enfim. — ela suspirou. — Passei a noite olhando a casa dele, ou pelo menos tentando, mas o meliante é sorrateiro, ardiloso.
, quanto café você ingeriu? — perguntei temendo a resposta.
— Duas garrafas... e meia. E tem uns adesivos de cafeína colados na minha bunda, mas isso não vem ao caso. — ela deu de ombros.
— Por que na... ?
— Cara, foca aqui que eu quero falar do psicopata do meu vizinho. — ela baixou o tom de voz, como se fosse me contar um segredo.
, você precisa parar. — alertei.
— Hansol, né? — ela perguntou.
— Hansol Chwe, mas pode...
— Então, eu sou viciada em casos criminais. — ela me interrompeu, pois, como sempre, parecia não me ouvir. — Eu não vou parar até pegar ele. — ela bateu a mão em punho na mesa, assustando os presentes.
— Escuta. Vou falar sério agora. — respirei fundo. — Primeiro, para sua segurança, acho que não é uma atitude sábia abordar pessoas no bar e depois levá-las até sua casa. — ela respirou para me interromper, mas levantei a mão para que ela parasse o que nem tinha começado. — Somos todos da mesma empresa, mas até sexta eu não sabia seu nome.
— Você tem um ponto. — ela admitiu.
— Segundo, falando como alguém que conhece pessoas do jurídico, você precisa parar. Tenho quase certeza de que stalking é crime previsto em lei. — expliquei devagar, como se falasse com uma criança.
— Hansol, é sério, eu sei do que eu tô falando. — ela passou as mãos sobre o rosto. — O cara chegou tem uma semana e nesse tempo o cachorro da vizinha sumiu. Simplesmente sumiu! — ela elevou a voz para falar a última frase.
— O cachorro não pode simplesmente ter fugido? — perguntei. Era uma hipótese válida.
— Ou o vizinho do 88 pode ter matado ele. O que o configuraria como um verdadeiro psicopata. — ela apontou como se fosse óbvio. — É um bom nome de caso: “o vizinho do 88”. — ela abriu as mãos como se esticasse uma faixa e eu segui seu olhar perdido.
— A vizinha do 107 também vai ser um bom nome de detenta se você for presa. — apontei.
— Eu não vou. Porque você vai me ajudar. — ela sorriu para mim. — E eu moro no 103.
— E como eu vou te ajudar? — perguntei. — O máximo que eu posso fazer é te arrumar um advogado se te pegarem.
— Eu vou reunir minhas provas e vamos montar um dossiê para apresentar à polícia. — ela sorriu satisfeita.
— Você nem sabe a identidade... , veja bem onde está se metendo. — alertei.
— Primeiramente, me chame de . Pare de ficar repetindo “”, me dá nos nervos. — ela suspirou. — Em segundo lugar... Você sabe de alguma coisa, Hansol? Porque parece que não está me contando algo. — ela apoiou os cotovelos na mesa e aproximou o rosto do meu, esquadrinhando minha expressão como a polícia analisa um suspeito.
— Se está suspeitando de mim, não deveria ter me levado até a sua porta na sexta. — cruzei os braços sobre o peito.
— Você tem um ponto. De novo. — ela ponderou. De perto, os olhos amendoados pareciam cansados, porém alertas. — Mas ainda me parece suspeito.
— Eu só estou tentando fazer com que não seja presa e cause um escândalo. — lembrei. — Trabalhamos em uma empresa de segurança. Imagine o caos se você for presa por perseguir uma pessoa.
— O namorado da é do Direito. Ela consegue me tirar de lá sem levantar poeira. — ela cruzou os braços sobre o peito com uma expressão vitoriosa no rosto.
— A herdeira da Bee’ Safe Private Security & Investigations? — perguntei um pouco chocado.
— Eu tenho meus contatos, Hansol. — ela deu de ombros. De repente, seu semblante franziu. — Que cheiro é esse?
Ri sozinho porque ela tinha feito a mesma pergunta antes, mas provavelmente estava bêbada demais para lembrar. descruzou os braços, inclinou o corpo por cima da mesa novamente e, como antes, cheirou meu pescoço. Se eu achava que a atitude anterior tinha sido por conta do álcool, eu estava enganado. Aparentemente era apenas sendo ela mesma.
— Seu cheiro é bom, Hansol. — ela elogiou perto do meu ouvido e se afastou. Tentei controlar o arrepio na minha nuca e desviei o olhar. — Vai ser interessante trabalhar nesse dossiê com você. — ela sorriu de lado.
— Preciso ir, . Ainda sou um estagiário aqui. — levantei, pronto para ir para a sala lotada de papéis que com certeza estavam me esperando. — Se precisar de mim...
— Eu vou te achar. Não se preocupe. — ela piscou.
Stalking é crime. — reforcei.
— Bom dia, Hansol. — ela acenou.
Dei as costas e fui para a “minha sala”. Estava estagiando na Contabilidade. As contas estavam uma bagunça. Assim como eu.

🕳️
88

A casa ainda estava um caos, eu estava atolado até o pescoço com o trabalho. Quase duas semanas e eu não tinha tido tempo de esvaziar as caixas ou limpar as janelas, ou mesmo trocar as luzes queimadas. A pouca iluminação entrava pelas persianas quebradas das janelas da sala por onde eu agora olhava a vizinha da frente que tentava me espiar com... Um binóculo?
— O que ela está fazendo? — meu amigo que dividia a casa comigo perguntou atrás de mim. Tomei lentamente o café da minha xícara e estreitei os olhos para ela.
— Não faço ideia. — respondi a ele.
— Eu já limpei o porão. — ele anunciou.
— Ótimo. Hora da nossa corrida matinal? — perguntei e bebi o resto do café na xícara.
— Não com você sem blusa, garanhão. — meu amigo me deu um tapinha no ombro. O olhei por cima do ombro o encontrando também sem blusa.
— E quanto a você? — perguntei.
— Eu gosto da liberdade do vento batendo no peito enquanto corremos entre as árvores. — ele suspirou.
— O que você é, um quileute? — gargalhei. Ele apenas deu de ombros. — Vista uma roupa e vamos. Não queremos matar ninguém hoje.


Capítulo 2 — Ted, o... assassino



Duas semanas tinham se passado desde que conheci Hansol e, nesse tempo, não tínhamos avançado nenhum passo. Era difícil encontrá-lo com tempo livre desde que ele era um estagiário, e, pior, um estagiário da Administração. Eu já tinha passado por aquilo e sabia o quanto era difícil.
Eu estava do lado de fora da minha casa, vendo uma movimentação na casa da frente, mas tudo ficou quieto de repente. Sem sombras, sem barulhos. O cachorro da vizinha continuava sumido e Hansol, apesar das minhas inúmeras tentativas, não estava me ajudando em absolutamente nada.
Continuei a varrer a calçada sem realmente varrer a calçada, apenas observando qualquer movimento suspeito com o binóculo. Já estava ali há bons 40 minutos.
, o que diabos você está fazendo? — uma voz masculina perguntou atrás de mim e eu pulei de susto, o que me fez jogar o binóculo em um dos arbustos na frente da minha casa. Provavelmente devo ter quebrado a lente que já não estava boa.
— Puta merda, Hansol! Que susto do caralho. — ralhei, me virando para encontrá-lo com o cachorro da vizinha no colo. — Quando você chegou e o que faz com o Buzz no colo?
— Eu estava caminhando um pouco e o encontrei próximo a uns arbustos. — ele explicou com os olhos beirando a inocência.
— Caminhando por aqui? — perguntei e tomei o cachorro de seus braços. Buzz já começava a espernear e daqui a pouco começaria a latir.
— Eu moro aqui perto. — ele explicou simplista.
— Você está bem? — perguntei ao cachorro, o analisando de perto para ver se não tinha de fato nada errado com ele. Buzz estava imundo, mas parecia bem.
— Sim, só um pouco dolorido por causa do trabalho. — Hansol respondeu e movimentou os ombros largos.
— Eu perguntei ao Buzz, Hansol. — avisei. — Mas que bom que está bem. Agora vem, vamos devolver esse bebê para a mãe dele.
Comecei a caminhar em direção ao final da rua, não sem antes dar uma olhada na casa da frente, procurando qualquer movimento suspeito. Hansol caminhou atrás de mim, quase respirando no meu pescoço. Bati na porta da senhora Martín e ela abriu no segundo toque.
— Buzz, por Deus. Você está imundo, mas está vivo! — ela tomou a bolinha de pelos dos meus braços. — Ah, minha querida. Que bom que o trouxe de volta. — ela me abraçou desajeitada.
— Na verdade, senhora Martín, foi meu amigo que o encontrou. — avisei e apontei para Hansol atrás de mim.
— Um bom e belo rapaz. Obrigada, meu anjo. — ela o abraçou. Pude ouvir a risada contida dele enquanto ele repetia “não foi nada”. — Desde que Genevive se casou, Buzz tem sido meu companheiro.
— A filha da senhora Martín é autora, sabia? Eu amo os livros dela, principalmente Boss. — expliquei a Hansol.
— A Gen é casada com um asiático. Jackson, da China. De onde você é, querido? — ela perguntou a Hansol.
— Daqui mesmo. Minha mãe é norte-americana e meu pai é sul-coreano. — Hansol sorriu.
— Senhora Martín, e quanto ao vizinho do 88? A senhora viu alguma coisa? — toquei no assunto que mais me interessava.
— Não, minha querida. Meus horários estão complicados, não consigo reparar muito bem nos vizinhos. — ela suspirou. — Mas o que tem ele?
— Ele me parece suspeito. — baixei a voz.
— Você o viu? — ela arregalou os olhos.
— Não. Ele entra e sai sem ser notado. E isso está me matando.
— Deveríamos levar algum prato de boas-vindas, . Pode ser uma boa. — a senhora Martín lançou a ideia.
— Eu vou pensar sobre isso, senhora Martín. Obrigada. — agradeci de coração. Ela reforçou o agradecimento a Hansol e fechou a porta. — O que será que um assassino come, Hansol?
, pare com isso. — ele riu ao meu lado. — Você sequer o conhece. Como pode saber que é um assassino?
— Sabendo, Hansol! — quase gritei. — Eu vou acabar pirando, sabia?
— E você já não é pirada? — ele cutucou meu ombro. O olhei sem expressão e seu sorriso de dentes bonitos murchou. — Vamos, eu te deixo na sua porta. Preciso ir à academia.


A semana tinha acabado e eu seguia pensando em como executar a ideia da senhora Martín. Resolvi usar de todos os meus dotes culinários e assar alguma coisa.
Enquanto preparava uma bandeja de muffins, minha cabeça oscilava os pensamentos entre o assassino do 88 e Hansol, que parecia não conseguir sustentar o olhar de cor de chocolate no meu.
— Ted, mamãe vai ficar louca. Sério. — murmurei para o meu gato, minha única companhia naquela casa.
Tirei a bandeja do forno e a coloquei sobre o balcão. Estava pensando no que fazer quando finalmente visse o vizinho do 88, mas todas as ideias sumiram da minha cabeça. Usei uma luva para pegar os muffins e os colocar em um prato que comprei especialmente para isso. Reuni toda a minha coragem, peguei o prato, atravessei a rua e, em um rompante de coragem, bati na porta do 88.
— Oi. — uma moça de cabelos escuros abriu a porta. Não estava com uma cara de muitos amigos.
— Eu te conheço? — franzi o cenho para ela. Algo nela me era familiar.
— Receio que não. — ela me encarou com seriedade.
— Você mora aqui?
— Ah, não. Só estou...
— E onde está o dono da casa? — a interrompi sem me preocupar se aquilo tinha soado mal-educado.
— Vernon saiu cedo e não sei que horas ele volta. — ela explicou.
— Vernon. — repeti, o nome soando estranho aos meus ouvidos.
— Isso é para ele? — ela estendeu a mão para pegar o prato e eu o entreguei.
— São de chocolate com recheio de frutas vermelhas. — expliquei.
— Eu aviso que você veio. Qual o seu nome? — a moça quis saber.
, do...
— Do 103. Vernon já falou de você. — ela sorriu pequeno.
— Ele já falou de mim? — perguntei assustada.
— Sim, algumas vezes. Você é exatamente como ele descreveu. — ela aproximou um pouco o rosto e eu dei um passo para trás. — É impressionante a riqueza de detalhes.
— Ah. Então tá. Bom dia. — dei as costas e saí dali o mais rápido que pude.
Vernon.
Soava como Venom, e me lembrava sangue e morte.
Balancei a cabeça para espantar os pensamentos. Vai ver ele nem era nada disso e Hansol estava certo.
Ou vai ver ele era e eu estava certa. E ele estava me observando.
Peguei o celular e liguei para Hansol.
, eu estou um pouco ocupado. — ele atendeu no segundo toque.
— Eu fui no 88. Uma moça me atendeu. Disse que o vizinho me descreveu para ela. Com detalhes, Hansol. Eu estou em pânico total! — gritei a última parte.
Tá, fica calma. Quer vir até a empresa? Eu estou aqui. Pelo menos você não fica sozinha. — ele ofereceu.
— Chego em 15 minutos.
Desliguei o celular, entrei em casa correndo e quase tropecei em Ted.
— A mamãe já volta. — avisei ao meu gatinho. Conferi rapidamente as janelas, peguei a bolsa e saí. Tomei um táxi e cheguei à empresa antes do previsto. Subi para o andar de Hansol e, sem pensar muito bem, corri até ele e o abracei pela cintura.
— Hey! Tá tudo bem. Fica calma. — ele me abraçou de volta. Mesmo sem ver, eu sabia que ele estava sorrindo e aquilo me tranquilizava um pouco.
— Me desculpe. — soltei o abraço e me afastei, só então reparando bem nele. Hansol vestia uma camisa branca com as mangas dobradas, a gravata pendia frouxa no pescoço e os primeiros botões estavam fora das casas.
— Você está bem? Se machucou? — ele perguntou enquanto me analisava, me segurando pelos ombros.
— Eu estou bem. Só estou em pânico. — respirei fundo. — Eu vou pegar um café para mim. Você quer?
— Por favor. — seu sorriso contido espalhou uma estranha onda de tranquilidade no meu corpo.
Desci até a sala de descanso e enchi dois copos de café, voltando à sala de Hansol e o encontrando em meio a pilhas de papéis, uma expressão de cansaço no rosto.
— Aqui. — o entreguei o café. — O que tem nesse monte de papel?
— Bagunça. Isso aqui tá uma bagunça. — ele afrouxou mais a gravata.
— Se eu fosse você, começaria tirando essa gravata. É sábado. Você nem deveria estar aqui. — apontei. Hansol riu, mas tirou a gravata e abriu mais um botão, a pele do pescoço ficando cada vez mais exposta. Eu estava com uma séria e estranha vontade de aproximar meu nariz daquela pele e sentir o cheiro bom que eu sabia que estava ali.
— E agora, , qual a dica? — ele quis saber.
— Se você me disser o que fazer, eu posso ajudar. — Hansol me encarou com as sobrancelhas franzidas. — O que foi? Eu trabalho no setor de aquisição de materiais e faço minha pós nessa área, mas eu sou formada em Administração, tá? Assim como você, eu entendo de números, Hansol Chwe. E eu me formei antes do tempo. — apontei convencida.
Com um sorriso que eu julguei sacana, Hansol me entregou uma pasta da pilha e me disse o que estava fazendo. Ele basicamente estava checando se havia falhas nas compras ou nos pagamentos dos funcionários, alguém devia estar desconfiando de alguma coisa. Depois de incontáveis horas, fomos tirados do nosso silêncio pelo som da minha barriga roncando.
— OK, acho que já deu por hoje. Segunda eu termino. — ele sorriu. — Vamos, eu pago seu almoço.
— E me leva em casa? — arrisquei.
— E te levo em casa. — ele confirmou.
— E...
— Sim, . Eu fico um tempo com você. — ele adiantou minhas palavras. — Só vamos ter que ir de ônibus. Eu deixei o carro na oficina e só fica pronto mais tarde.
— Tudo bem. Vamos. — juntei minhas coisas. Hansol recolheu o terno e a gravata largada, a colocou na mochila e nos levou ao elevador.
Durante o almoço, o atualizei sobre minhas recentes suspeitas sobre o vizinho do 88 e ele opinou no que achou relevante. Decidi chamar um táxi até em casa e fiz questão de pagar. Assim que saltamos do carro, olhei para minha porta e notei algo estranho. Me aproximei e encontrei um post-it amarelo pregado lá.
“Vim deixar o prato e vi que você esqueceu a chave do lado de fora da porta. Venha buscar junto com seu prato.
88.”
— Mas nem fodendo! — gritei, assustando Hansol. Ele se aproximou o suficiente e leu o bilhete.
, como você pretende entrar em casa?
— Pela janela. Nem é tão alta. Vamos, me ajude. — me adiantei na direção da janela e ele me segurou pelo braço.
— E depois?
— Depois nós trocamos a fechadura. Eu já estava querendo comprar uma fechadura digital mesmo. — dei de ombros. — Vamos, me ajude aqui.
— Você deixou alguma janela aberta? — ele questionou.
Parei para pensar e a resposta é: não. Eu lembro de ter trancado todas as janelas antes de sair para evitar que Ted fugisse.
— Droga! Não. Que inferno. — resmunguei. — Já sei. Vou abrir com o canivete.
, você anda com um canivete na bolsa? — ele perguntou parecendo preocupado.
— Claro, Hansol. — afirmei enquanto já começava a procurar o dito canivete na bolsa. — Às vezes ele demora para abrir porque é uma avaria da empresa, mas funciona.
— Então é para cá que vêm as avarias da empresa?
— Não todas. — me abaixei para tentar enfiar a ponta do canivete no buraco da chave. — Faça silêncio, Hansol. Preciso me concentrar.
Mexi a ponta do canivete para um lado e outro, tentando fazer a porta destravar. Quando notei uma movimentação nas engrenagens parei por um momento.
— Hansol, use um cartão para abrir. Passe de cima para baixo. Com calma. — pedi. Ele fez exatamente o que eu pedi e com um movimento pequeno, ouvi o clique da porta. Testei a maçaneta e a porta se abriu. — Bem-vindo.
— Você é assustadora às vezes, . — ele sorriu e entrou na minha casa.
— Obrigada.
Quando entrei, Ted apareceu na porta e encarou Hansol com um olhar de julgamento.
, você tem um gato! — Hansol exclamou.
— E que tipo de solteira viciada em casos criminais eu seria se não tivesse um gato? — fechei a porta atrás de mim. Olhei para Ted e o vi se aproximando lentamente de Hansol, como se fosse atacar. — Hansol, não se mexa. Deixe-o reconhecer você. Ele não está acostumado com machos no território dele. — alertei.
Hansol mal respirou durante um minuto inteiro, enquanto Ted o cheirava aqui e ali, como que para reconhecer se ele era um humano aceitável. Quando ele finalmente esfregou a cabeça nas pernas de Hansol, eu quase pude ouvir seu suspiro de alívio.
— OK, você passou. Hansol, esse é o Ted. — sorri para Hansol. — Oi, meu amor. — fiz um carinho atrás das orelhas do meu gato.
— Como o ursinho? — Hansol perguntou com um sorriso fofo.
— Não. Como o assassino, Ted Bundy. — expliquei.
— Eu sempre me pergunto como eu vim parar nessa situação. — ele resmungou.
— Que situação? — perguntei já com a mão na cintura.
— Nessa, . Com você totalmente doida das ideias. — ele riu.
— Você já não consegue viver sem mim, Hansol. — peguei Ted no colo enquanto o ouvia resmungar alguma coisa em um idioma que eu desconhecia. — Fale num idioma que eu entenda, Hansol.
— Não foi nada importante. Esquece.
— Quer beber alguma coisa? — mudei de assunto.
— Não, preciso sair para buscar o carro. Você está segura aqui com Ted, não é? — ele quis saber.
— Eu vou colocar um móvel contra a porta só por precaução. E amanhã eu vou comprar outra fechadura. Então acho que sim?
— Então eu estou indo. — Hansol se adiantou e segurou meu ombro com uma mão, rapidamente se aproximando e deixando um beijo na minha testa. Levantei o rosto para encará-lo e ele desviou o olhar. — Se precisar de mim, é só me ligar. Tchau, Ted.
E se foi, saindo rápido como uma bala.
— Tio Hansol está birutinha, Ted. — ri para meu gato e ele miou como se concordasse. — Agora vamos nos preparar. Vai ser uma longa noite.


Capítulo 3 — A viagem


Se eu dissesse que consegui dormir bem no final de semana, eu estaria mentindo. Hansol ligou duas vezes para saber como eu estava, mas eu continuava em pânico. O móvel continuava contra a porta e eu estava me arrumando para sair. Tinha me vestido para impressionar, como a chefe de setor deveria se vestir. Estava usando a saia lápis preta e a blusa rosa de tecido fino que só usava em ocasiões especiais. Coloquei uma presilha no cabelo que não ficaria ali por mais de duas horas e logo seria substituída por uma caneta que prenderia meu cabelo num coque que deixava minha nuca livre. Passei uma maquiagem para esconder meu olhar cansado, ajeitei a ração de Ted e me preparei para sair. Arrastei o móvel, calcei os saltos e saí, não sem antes deixar um beijinho em Ted.
Peguei um táxi e fui até a empresa (ainda não estava confiante de ir de metrô até lá).
— Bom dia, Lindsay. — cumprimentei a recepcionista, que apenas me olhou torto como sempre fazia.
Assim que passei pela catraca em direção aos elevadores, senti um perfume característico e olhei ao redor para encontrar Hansol entrando e cumprimentando Lindsay, que sorriu para ele. Hansol sorriu de volta e me encarou ainda sorrindo. Ele passou pelas catracas e eu usei minha bolsa para segurar a porta do elevador. Ele caminhou em minha direção já tirando o boné e arrumando os fios bagunçados. Assim que parou ao meu lado, segui o rastro de seu perfume até seu pescoço.
— Bom dia, Hansol. — soprei. Eu não cansava de fazer aquilo, as reações dele eram sempre engraçadas.
— Bom dia, . — ele respondeu sem me olhar.
— Animado para a reunião? — perguntei e apertei o botão do meu andar.
— Sim. — ele suspirou, completamente infeliz, e apertou o botão do andar da sala de reuniões. — Por que está tão bonita? — ele me mediu.
— Achei que precisava receber os novos estagiários em grande estilo.
— E não vai subir? — ele franziu as sobrancelhas para o botão do meu andar apertado.
— Só vou deixar minhas coisas e já subo. Guarde um lugar para mim. — brinquei e desci no andar onde ficava minha sala. Arrumei alguns papéis espalhados sobre a mesa, guardei minha bolsa, peguei minha pasta e subi para o andar da sala de reuniões.
— Davis, estávamos esperando por você. — Alisha Jones, a responsável pelo RH e pela contratação de estagiários, me cumprimentou. — Nosso maior prodígio. De estagiária a chefe de setor.
— Faço o que posso, Alisha. — dei de ombros e pela visão periférica, vi Hansol sorrindo.
— Como sabem, temos o sistema de rodízio para que vocês conheçam várias áreas. E hoje é dia de troca. — ela se dirigiu aos estagiários. — Já que chegou por último, vamos começar por ela. — ela mexeu em seus papéis e encarou os presentes. — , você vai ficar com os estagiários que estavam na Contabilidade.
Quase pulei de alegria. Se bem me lembrava, Hansol era da Contabilidade. Com ele ao meu lado por mais tempo, poderíamos trabalhar no dossiê do vizinho do 88.
— Com licença, senhorita Jones. — Hansol chamou. — No caso, é estagiário. Eu fiquei sozinho. O outro rapaz desistiu.
Jones folheou as páginas e encarou Hansol, completamente confusa.
— Tem razão, Chwe. Por que eu nunca coloquei outro para trabalhar com você? — ela perguntou a ele e não o deu tempo para responder. — , vai precisar de mais um com você?
— Não, Alisha. Tenho certeza de que Hansol dá conta. — sorri para ele. Hansol mordeu o lábio inferior para segurar um sorriso que queria nascer e vi suas orelhas ficarem vermelhas. Eu acho que estava flertando com ele, mas não era de propósito. Só era legal ver como ele reagia quando eu me aproximava demais. Ele era bonito, não podia negar. Será que ele aceitaria... Não, melhor não.
Balancei a cabeça para espantar os pensamentos e quando voltei a prestar atenção, Alisha estava terminando de distribuir os estagiários.
— É isso, pessoal. Agora terão dois meses com novos chefes. Não estraguem tudo. — ela finalizou e todos riram e bateram palmas. Olhei ao redor e não encontrei Hansol.
— Procurando por mim? — ele praticamente soprou no meu ouvido, a voz vindo das minhas costas.
— Me respeite porque agora eu sou sua chefe. — dei a volta e saí andando, o som dos meus saltos ecoando pelo andar. Entrei no elevador e Hansol me seguiu.
— O que vamos fazer hoje, ? Estudar seu dossiê? — ele quis saber.
— Eu trabalho, Hansol. Hoje temos muito para fazer. — chequei meus papéis e os entreguei a ele. Hansol olhou curioso e me olhou em seguida.
— Vamos ver os materiais testados? — ele perguntou, genuinamente curioso.
Saí do elevador e ele me seguiu. Quando entrei na minha sala, me desfiz dos saltos e calcei uma sandália mais baixa, o que foi uma ideia ruim porque me lembrava o quão pequena eu era ao lado de Hansol.
— Apesar de você achar que minha função aqui é só pesquisar sobre novos “brinquedos”, eu faço mais. — tirei a presilha do cabelo e o prendi com minha famosa caneta. — Vamos, temos que descer para a área de treinamento.
Hansol semicerrou os olhos para mim, em uma pergunta muda.
— Sempre que chega alguma coisa nova aqui na Bee’, eu mando lá para baixo, para ser devidamente testado pelos seguranças mais antigos e responsáveis. — comecei a andar para fora da sala em direção ao elevador, com Hansol em meu encalço, a pasta das fichas de análise debaixo do braço. — Quando eles terminam, me dizem o que serve e o que não serve e porque não serve.
— E então você leva as avarias para casa. — não foi uma pergunta.
— Só se for seguro para mim. — dei de ombros.
— Como o canivete que não abre. — ele riu.
— E o binóculo com a lente desfocada e agora quebrada, porque você me fez derrubá-lo no chão. — apertei o dedo no peito dele.
— O que mais você guardou, ?
— Uma adaga pequena que o chefe desistiu de colocar para uso e que eu deixo debaixo da minha cama para casos de emergência. — descemos do elevador e saímos para a área de treinamento.
— E isso não é perigoso?
— Só se você for o vizinho do 88 tentando invadir minha casa durante a noite. — sorri e empurrei a porta. — O que temos aqui, Kevin?
! — Kevin, o responsável pelo treinamento dos seguranças me cumprimentou. — Como tem passado?
— Estou quase surtando, mas estou bem.
— Esse é o garoto novo? — ele apontou para Hansol.
— Minha responsabilidade pelos próximos dois meses. — suspirei.
— Hansol. — meu estagiário se apresentou e estendeu a mão para Kevin.
— Nome legal. — o segurança respondeu e apertou a mão estendida de Hansol.
— Já expliquei a ele o que fazemos aqui, Kevin. — entreguei a pasta que carregava para Hansol.
— Ótimo. Então vamos lá. Essas aqui não engatilham. — ele apontou para as armas em cima do pequeno balcão do estande de tiro. — E essa aqui, a menor, finge que engatilha e quando a gente vai atirar, puff, nada. Só prestou em um dos cinco testes.
Passei a mão sobre a pequena arma e alcancei os fones de proteção. Os coloquei um em Hansol e um em mim e vi Kevin arrumar o dele. Em um movimento rápido, alcancei a arma, engatilhei e atirei no alvo. Bom, quase atirei. A arma não funcionou. Quando encarei Hansol, ele estava boquiaberto. Os olhos arregalados em surpresa. Tirei meus fones e os dele e sorri.
— Vou precisar que anote algumas coisas, Hansol.
Ele não se mexeu por um longo minuto, arrancando uma risada de Kevin que já estava mais que acostumado com meus surtos ali dentro. Foi ele quem me ensinou a atirar (ele e as séries policiais que eu assistia).
— Hansol. — estalei os dedos na frente de seu rosto e ele pareceu acordar. — Número de série... Vamos, anote.
Hansol pegou a caneta, abriu a pasta e começou a anotar o que eu dizia, ainda boquiaberto.
— Ah, quase esqueci. Chegou um binóculo novo, menor que aquele. — Kevin tentou disfarçar. — Menos desfocado também.
— Ele sabe. — o tranquilizei. — E isso é ótimo, porque Hansol quebrou a lente do meu.
— Moram perto? — o sorriso de Kevin mudou para um de insinuação.
— Eu cometi a burrice de arrastá-lo para a minha investigação. — suspirei.
— Ainda o vizinho? , isso não é perigoso? — Kevin quis saber.
— Finalmente alguém concorda comigo! — Hansol quase gritou.
— Vocês dois, por favor. Eu vou ficar bem. — afirmei.
— Só estamos preocupados. — Kevin deu de ombros. — Você tem boas habilidades, mas... — ele juntou o polegar e o indicador para me dizer o quão pequena eu era.
— Eu não vim aqui para ser ofendida. — coloquei os fones de volta no balcão e tomei a pasta da mão de Hansol. — Vou fazer o relatório final dos testes. Quero o seu na minha mesa antes das 15h.
— Sim, chefinha. — Kevin riu. — É melhor você correr. — ele apontou para Hansol. — Ela vai sair em três, dois...
E antes que Kevin terminasse eu estava saindo da sala.
, vamos passar o dia fazendo relatórios? — Hansol quis saber.
— Vai me dizer que não é bom com palavras. — alfinetei.
— Sou, mas relatórios... — ele suspirou.
— Ninguém gosta, mas são necessários. — rebati e saímos do elevador em direção à minha sala. — Você vai trabalhar comigo aqui dentro. Vai usar a mesa do finado estagiário.
— Ele morreu? — Hansol perguntou, os olhos quase saindo das caixas.
— É um modo de falar, Hansol. Por Deus. Ele só não aguentou e se demitiu. — suspirei. Dei a volta para trás da minha mesa e encontrei um bilhete sobre o tampo. Eu não tinha secretária (ela também se demitiu), então aquela era a forma de se comunicar comigo quando eu não estava na sala. — Preciso ir na sala do chefe.
— Eu vou com você? — ele quis saber.
— Não, você vai adiantando as coisas aqui. Tem um modelo de relatório no computador. — sorri para ele. — Se demorar e der seu horário de almoço, pode sair.
Hansol apenas confirmou com a cabeça e eu troquei as sandálias pelos saltos outra vez e saí para o elevador. O recado dizia "o chefe quer falar com você". Eu só esperava que não fosse para me demitir por ter ajudado com o namorado.
— Ele está te esperando. — a secretária do chefe disse assim que me viu saindo do elevador.
— Está feliz? — perguntei.
— Está de bom humor. — ela deu de ombros. — Entre. Não o deixe esperando mais.
Respirei fundo antes de abrir a porta.
— Oi, chefe. — cumprimentei da forma mais simpática que consegui.
! Como tem passado? — ele levantou para me cumprimentar. Apertei sua mão estendida, confiante. Ele estava feliz. Não ia me demitir.
— Estou bem. — sorri.
— Fiquei sabendo que hoje teve troca de estagiários. Gostou do seu? — ele perguntou enquanto voltava a se sentar.
— Hansol é um bom garoto. E considerando que eu sequer tinha um estagiário, ele vai ser de bom tamanho. — afirmei.
— Ótimo. Porque eu tenho um trabalho para vocês. — ele apoiou os cotovelos na mesa e cruzou as mãos.
— Estou ouvindo.
Eu estava ouvindo, mas não estava gostando do tom da conversa.
— Vai ter uma conferência de segurança em Washington e eu quero você e seu estagiário lá. — ele despejou as palavras. Fiquei imóvel e incrédula pelo que achei serem horas, mas que com certeza foi apenas um minuto ou menos. — Novos materiais, novas técnicas. E vocês vão ter tudo pago pela empresa. Considere como férias fora de tempo. — ele riu.
— Chefe, eu... — suspirei, as palavras de perdendo.
— Eu sei que foi surpresa, mas, , eu não consigo ver outra pessoa que não você por lá.
— Obrigada pela confiança. — consegui agradecer. — E, meu Deus, quando vamos?
— No final dessa semana. Você dá a notícia ao estagiário ou prefere que eu faça isso? — ele quis saber.
— Eu faço isso. E se me der licença, preciso achar alguém para ficar com Ted enquanto eu estou fora.
— E quem é Ted? — ele franziu as sobrancelhas.
— Meu gato. — eu ri. — Quase um filho. Precisa de cuidados.
— Imagino que sim. — ele riu. — Agora vá. A secretária vai entrar em contato com você para os detalhes. E obrigado, . Você é nota dez. — ele ergueu o polegar em um joinha para mim e eu saí da sala controlando o impulso de correr.
Cheguei à minha sala esbaforida e encontrei Hansol concentrado, com um bico nos lábios.
— Está pronto? — perguntei tirando os saltos.
— Ele vai me demitir? — ele perguntou. Neguei com a cabeça. — Vai te demitir?
— Credo. Não, Hansol. É pior.
— O que pode ser pior que ser demitido, ? — ele cruzou os braços sobre o peito.
— Ter que viajar a trabalho. Com você, Hansol. Bem-vindo ao setor de aquisição de materiais. — tentei sorrir.
— Nós... O quê? — ele não conseguiu formular a pergunta.
— Vamos viajar. Juntos. — suspirei. — Eu só espero que nos coloquem em quartos separados.
— Tem medo de mim, ? — Hansol perguntou sorrindo.
— Tenho medo de mim perto de você, Hansol. — comecei a falar e fui baixando a voz. — Você cheira bem e tem um sorriso atraente. Seria demais.
— O quê? — ele perguntou. Claramente não ouviu a segunda parte.
— Nada. Esqueça. Vamos trabalhar. Temos muito a fazer antes dessa viagem. — suspirei.

✈️

E o dia que eu não queria que chegasse infelizmente chegou. Eu já tinha deixado Ted em um hotel para pets e estava indo para a empresa encontrar Hansol. Um motorista nos levaria até o aeroporto. Felizmente era uma viagem curta. Assim que desci do táxi, encontrei Hansol e sua mala na porta, sorrindo e acenando como uma criança feliz.
— Pelo visto, só eu estou detestando a ideia. — resmunguei enquanto me aproximava.
— Veja pelo lado bom, vamos poder trabalhar no seu dossiê longe dos olhos do chefe. — ele tentou amenizar.
— Poderíamos fazer isso na minha casa. Ou na sua. — o lembrei.
— Vai ser legal, . Você só está com mau humor matinal. — ele sorriu e fomos para o aeroporto.
Hansol estava errado. Viajar não foi legal.
As poltronas eram juntas demais e eu fui a viagem toda quase sentada no colo dele, que usava um casaco que ocupava muito do espaço que já não tínhamos.
— Eu espero, de verdade, que não tenham nos colocado juntos no mesmo quarto. — reclamei enquanto arrastava a mala pelo hotel. A empresa tinha nos colocado no hotel em frente ao lugar onde seria a conferência. O que me faz pensar que isso já estava planejado há meses e eu só fui avisada praticamente na hora ir. — Uma reserva em nome da Bee’ Safe Private Security & Investigations.
— Senhorita Davis e senhor Chwe? — a recepcionista perguntou. Apenas confirmei com a cabeça. — Quartos 103 e 104. — ela nos entregou as chaves. — Bem-vindos.
— O 103 é meu. — peguei as chaves, entreguei a de Hansol e comecei a andar até o elevador. — Nossa programação começa hoje. — expliquei enquanto subíamos.
— Pensei que iríamos relaxar na piscina e conversar sobre seu vizinho. — Hansol fez uma careta.
Parecem férias, Hansol. Mas estamos aqui a trabalho. Lembre-se disso.
— Vejo você daqui uma hora? — ele perguntou esperançoso quando paramos nas portas dos respectivos quartos.
— Quarenta minutos. Não se atrase. E vista uma camisa menos amassada e um suéter. — quase ordenei e entrei no quarto antes de ouvir as reclamações dele. Troquei minha roupa de viagem, que consistia em uma calça jeans e uma camiseta básica, por minha roupa profissional: uma saia lápis e uma blusinha de gola alta e mangas curtas. Calcei os saltos, arrumei minha bolsa de passeio com o necessário e peguei o sobretudo para caso o tempo esfriasse. Chequei a maquiagem e saí do quarto na mesma hora em que Hansol saiu do dele, vestindo uma camisa de botões e gravata por baixo de um suéter escuro, assim como eu tinha dito. Ele carregava uma bolsa do tipo carteiro escura; o cabelo estava arrumado de lado e à distância ele me lembrava alguém.
— Vamos? — ele perguntou se aproximando.
— Se você tivesse o cabelo mais claro, eu diria que você parece o DiCaprio quando era jovem. — pontuei.
— Eu já ouvi isso. — ele riu e me estendeu o braço.
— E já considerou clarear o cabelo? — aceitei o braço estendido e começamos a caminhar para sair do hotel. — Eu acho que ficaria muito bom.
— Eu fiz isso por um tempo. Mas as comparações estavam passando dos limites. Então eu desisti. — ele explicou.
Atravessamos a rua enquanto Hansol me contava uma situação que tinha passado e entramos no lugar onde aconteceria a conferência. Demos nossos nomes na entrada, pegamos nossos crachás e a programação. Enquanto eu lia o folheto, escutei uma voz conhecida.
?
Olhei ao redor, procurando o dono da voz, e teria sido melhor não olhar. Joshua Hong estava ali, em uma camisa de gola alta com um terno perfeitamente arrumado, os óculos no rosto fino de expressões bonitas.
— Joshua? Meu Deus, o que faz aqui? — perguntei incrédula.
— Sou um palestrante. — ele apontou para a programação nas minhas mãos. Segui o olhar para onde seu dedo bonito apontava e encontrei seu nome ali: "Joshua Hong — Aquisição responsável e controle de gastos". Hansol pigarreou atrás de mim e eu me virei para olhar seu rosto sério.
— Josh, esse é Hansol. Trabalhamos juntos. Hansol, esse é o Joshua, um...
— Amigo. — Joshua completou e estendeu a mão para Hansol, que a apertou com um contragosto visível no olhar sério. — Espero você na minha palestra, . Tenho que ir. — ele se virou para mim, piscou de forma galante e se foi.
— Estudaram juntos? — Hansol quis saber.
— E namoramos por pouquíssimo tempo. Nos conhecemos em um dos dias em que conseguiram me tirar de casa para uma festa. — expliquei. — Hansol, Joshua tem um nome americano e um coreano, Jisoo. Você não tem...
! — Joshua voltou a se aproximar quase correndo. — Estava pensando se não poderíamos tomar um drink mais tarde. Pelos velhos tempos.
— Temos uma reunião quando sairmos daqui. — menti. — Fica para a próxima.
— Eu te procuro. — ele sorriu e realmente se foi. Encarei Hansol com um sorriso.
— Pelos velhos tempos? — ele perguntou.
— Nem faz tanto tempo assim. — dei de ombros. — Vamos, temos que ver a...
— Palestra do Joshua. — ele disse com um leve toque de ironia na voz pesada.
— Não fique com ciúmes. — brinquei, torcendo para tudo aquilo ser de fato uma brincadeira.

🌐

Depois de correr entre palestras e demonstrações com Hansol durante todo o dia, finalmente eu estava no meu quarto. Tinha pedido um jantar, comido enquanto assistia a um documentário criminal qualquer e agora estava relaxando na cama, esperando que o sono chegasse, mas ouvi um barulho no quarto e sentei na cama em estado de alerta. Talvez o caso criminal tivesse mexido demais comigo.
— Se ao menos Ted estivesse aqui... — resmunguei sozinha. Então ouvi o barulho no quarto novamente. Desci da cama quase correndo e saí do meu quarto, batendo na porta do quarto ao lado.
— Eu não... Ah, é você. — Hansol abriu a porta enquanto tentava me dispensar. Ele vestia um pijama de cetim escuro aberto até o meio do tronco, o cabelo escuro estava levemente bagunçado e ele usava um óculos de armação redonda e dourada. — O que foi? Você parece assustada.
— Eu estou. — sem pensar, o abracei pela cintura e apoiei a cabeça no peito quase nu dele. — Eu ouvi um barulho no meu quarto. Não quero ficar lá. E eu também vi um documentário de caso criminal hoje. Então estou assustada. Me deixe ficar aqui.
— Joshua com certeza te deixaria ficar no quarto dele. — ele alfinetou.
— Se eu quisesse ficar no quarto do Joshua, teria aceitado beber com ele hoje. — separei o abraço e entrei no quarto sem me importar com o suspiro resignado dele. — Você usa óculos?
— Nem sempre. Mas hoje meus olhos estão cansados. — ele respondeu enquanto fechava a porta. — E eu já disse pra você parar com esses casos, . Principalmente antes de dormir. — ele andou até a cama e começou a tirar os pertences espalhados ali.
— Estava trabalhando? — perguntei quando vi um dos folhetos que tínhamos ganhado em uma das demonstrações.
— Só tentando adiantar alguma coisa. — ele deu de ombros e sentou na cama, o pijama abrindo mais que o necessário e revelando mais da pele que eu nem devia estar vendo. — Anda, vamos dormir. — ele tirou os óculos, os colocou sobre a mesa de cabeceira e bateu no colchão ao seu lado. — Amanhã checamos o seu quarto.
— Tente não me agarrar enquanto dorme. — tentei disfarçar o nervosismo que eu estava sentindo na boca do estômago.
— Digo o mesmo. — ele deitou de costas para mim. — Boa noite, .
— Boa noite, Hansol.

🌃

E como (não) esperado, eu acordei deitada quase em cima de Hansol. Minha perna estava enrolada à dele e ele me abraçava pela cintura. Ele tinha um bico fofo nos lábios e o cabelo seguia bagunçado. Estiquei o corpo e cheirei seu pescoço, o vendo se arrepiar.
— Bom dia, Hansol. — desejei.
— Bom dia. — ele respondeu ainda sonolento e apertou o abraço.
— Eu disse para você não me agarrar.
— É você que está me agarrando. — ele rebateu de olhos fechados.
— Hansol. — chamei. Ele respondeu um "hm" grave, ainda sem me olhar. — Você namora?
— Se namorasse, jamais estaríamos assim. — ele suspirou. — Você se mexe demais, . Pode ficar quieta pra eu dormir mais dez minutos? — pediu. Não respondi, concentrada em seus lábios finos tão próximos. — ?
Ele finalmente abriu os olhos cor de café e me encarou. Alternei o olhar entre seus olhos e sua boca e mordi o lábio.
— É melhor eu levantar. — ele partiu o abraço e sentou na cama. — E você também. Melhor você ir se arrumar. Temos que sair daqui a pouco.
— Obrigada pela noite. — soltei. E depois ri. — Isso ficou estranho. Melhor eu ir. Vejo você lá embaixo, no café.
Saí do quarto de Hansol e corri para o banheiro. Precisava me livrar do cheiro dele na minha pele. Urgentemente.

Hansol


Assim que saiu do meu quarto, caí deitado na cama e sufoquei um grito no travesseiro.
— Parabéns, Hansol. Você mal se curou de um amor não correspondido e já está aí, querendo cair em outro. — falei sozinho.
Peguei o telefone e liguei para Seungcheol.
— Você vai ter que voltar a morar no dormitório. — disse assim que ele atendeu.
Ficou louco, Chwe? — ele quase gritou.
— Eu vou ter que me demitir, Cheol. está me colocando louco. — confessei.
Seu coração até que se cura rápido, né? — ele riu.
— Eu liguei para pedir sua ajuda, não seu deboche. — revirei os olhos sem que ele pudesse ver.
Diga a ela. Não fique guardando para você como fez com a Deni. — ele suspirou.
— Ou vai aparecer outro espertinho como você...
Ei! Eu não sabia. Não é culpa minha. — ele se defendeu. — De qualquer forma, conte a ela. Minha mãe diz que guardar as coisas faz mal ao coração. Agora eu preciso ir. Amélia está me esperando para o churrasco.
— Você sempre pode morar com sua namorada.
Conte a ela, Hansol! — e desligou.
Como contar a ela não era uma opção no momento, apenas me arrumei para sairmos.
Tomamos café e empurrou uns sanduíches do hotel na bolsa, alegando que precisaríamos de um lanche mais tarde.
O dia foi repleto de palestras e mãos esbarrando; gente falando e dedos quase se cruzando; apertos de mão desconhecidos e sorrisos quase cúmplices.
— Vamos falar do seu vizinho hoje? — perguntei quando parei na porta do seu quarto.
— No meu quarto ou no seu? — ela riu.
— No seu.
Minha cama já tem seu cheiro.
— Eu volto em trinta minutos. — avisei. Entrei no quarto e tomei um banho rápido. Vesti meu pijama e fui bater na porta de , que me recebeu com um pijama que muito se parecia com o meu e que não era o mesmo da noite anterior. — Pijamas combinando?
— Coincidência. — ela deu de ombros e me puxou para dentro. — Vamos ao que interessa.
Negando com a cabeça, peguei o notebook de e abri a pasta onde ela guardava as informações. Nada mais que fatos isolados sem nenhuma prova concreta de que o vizinho da casa da frente era realmente o tal assassino temido de que tanto falava.
— Eu fiquei sabendo de fontes concretas que tem uma garota desaparecida na área. — ela começou a andar de um lado para o outro no quarto. — Supondo que o 88 seja o culpado, onde ele poderia esconder o corpo?
, nós nem sabemos se a garota está morta. Ela pode ter fugido. Decidido mudar de vida. — comentei sem tirar os olhos das últimas anotações dela.
— Você deveria trabalhar na polícia, Hansol. Eles sempre suspeitam primeiro que as pessoas fugiram. E, no final, a maioria está morta. — ela rebateu. — Como eu me livraria de um corpo? — ela perguntou para ninguém.
— Ácido?
— Deixa o corpo fedendo e não derrete quase nada. — ela respondeu de imediato.
— Moedor de carne?
— Como o nome já diz, vai moer a carne. E os ossos, dentes e cabelo? Sem chance. — ela continuou no devaneio.
— E quanto a queimar?
— A temperatura para queimar um corpo completamente tem que ser acima dos mil graus. — ela negou.
— Peso nos pés e jogar no rio? — tentei uma última vez.
— Se não fizer um corte no corpo, os gases vão fazê-lo boiar. As bolhas de ar do próprio cimento podem ajudar o corpo a boiar.
— Como você sabe de tudo isso, ? — suspirei, considerando sair correndo dali.
— Casos criminais demais. — ela sorriu e eu sorri junto.
— E se assistirmos a um vídeo de caso? Depois vamos dormir. Hoje não chegaremos a lugar nenhum. — sugeri.
— E se a gente pular a parte do caso e passar direto pra parte de dormir? — ela perguntou e se aproximou da cama, tirou o notebook do meu colo, o colocando na mesa de cabeceira e sentou ao meu lado. — Tô cansada. Hoje o dia foi cheio.
— Vai me dizer para não te agarrar hoje? — perguntei divertido.
— Eu vou te agarrar de qualquer jeito. — ela deu de ombros. Escorreguei na cama, deitando, e deitou ao meu lado, imediatamente se aconchegando no meu peito. Segurei a respiração e soltei de forma audível. — Hansol, se eu te beijasse, seria assédio? Abuso de poder? Porque eu meio que sou sua chefe, né?
Baixei a cabeça para olhar seus olhos que, naquele ângulo, pareciam inocentes.
— Só é tudo isso se o RH ficar sabendo, não? — perguntei.
— Então você... — sorriu quase vitoriosa.
, eu acabei de entrar no seu setor, isso não...
Eu tentei argumentar, mas fui bruscamente interrompido pelos lábios de colados aos meus. Foi apenas um selar demorado, quase inocente, mas foi bom. Porém não tenho certeza se isso era o certo a se fazer. Não no momento.
— Desculpa, Hansol. Foi no impulso e...
, tá tudo bem. Eu gostei. Mas eu acho que nós não...
— É, a gente não... — ela me interrompeu, sem conseguir concluir a frase.
— Eu vou dormir no meu quarto, tudo bem? Vejo você pela manhã. — beijei sua testa e levantei, pronto para sair, mas querendo ficar.
— Até amanhã. — ela se despediu e suspirou. Sorri para ela e fechei a porta antes que eu fizesse algo de que fosse me arrepender.


Capítulo 4 — Cheers

🕳️
88


Estava arrumando cuidadosamente o cabelo quando meu amigo apareceu no espelho atrás de mim.
— Para onde vai tão arrumado? Vai falar com ela? — ele quis saber.
— E então o quê? Levá-la para o porão que é o único lugar com luz na casa toda?
— Seria conveniente. Você poderia fazer todo o barulho que quisesse e ninguém ia ouvir. — ele deu de ombros. Ponderei. A ideia não era de todo ruim.
— Mas eu estou bonitão assim, não estou? — mudei de assunto e ele riu.
— Não adianta ser bonitão e ter um sorriso encantador, você tem que ser bom no que faz. — meu amigo apontou.
— Mas eu satisfaço elas. Nenhuma voltou para reclamar. — eu ri.
— Tá bom, matador. Agora pegue seu terno, temos que ir trabalhar.
🕳️



O final da viagem foi no mínimo estranho. Hansol e eu estávamos em uma situação delicada. Ele tentava agir normalmente, mas eu seguia pensando nos seus lábios finos contra os meus.
— Eu vou ficar louca. — reclamei sozinha na minha sala. Hansol tinha saído para almoçar e eu estava tentando me organizar mentalmente. Precisava manter o foco: precisava desmascarar o vizinho do 88.
Abri o arquivo do "caso" que eu mantinha no meu computador do trabalho e ouvi o celular apitar. Era minha fonte segura dizendo que a garota sumida tinha sido encontrada no estado vizinho, com o namorado. Eu odiava admitir, mas Hansol tinha razão. Como ele estava em horário de almoço, resolvi ligar para ele por chamada de vídeo. Hansol atendeu no segundo toque.
— Hansol, o que nós já falamos sobre toucas e chapéus? — perguntei assim que ele apareceu na tela. Estava usando uma camisa de tecido fino e com alguns botões abertos e uma touca preta que cobria seus fios.
, eu estou em horário de almoço. Me deixa. — ele resmungou e sorriu.
— Tem razão. — bufei. — Você sempre tem razão.
Eu fiz alguma coisa de errado? — ele parou de comer e os olhos se arregalaram levemente.
— Você estava certo. — admiti, mesmo a contragosto. — Acharam a moça desaparecida no estado vizinho. Com o maldito namorado.
Isso é bom, . A garota está viva. — ele tentou ser positivo.
— Isso me faz voltar à estaca zero, Hansol. — bufei.
Eu tenho aula hoje à tarde, mas à noite eu posso ir na sua casa, te ajudar a reorganizar o material. Pode ser? — ele sugeriu.
— Eu sequer lembrava que você tinha aula hoje. — suspirei. — Mas pode ser. — aceitei. Ouvi o que se pareceu uma voz masculina e olhei ao redor.
Tá tudo bem, ? — ele perguntou com as sobrancelhas franzidas.
— Tem alguém com você? Porque eu estou ouvindo uma voz ao longe e espero que seja da ligação e não na minha sala.
Meu amigo está aqui. — ele sorriu. De repente, um rapaz também asiático, com covinhas fofas no rosto, apareceu na tela.
Olá! — ele sorriu.
, esse é o Seungcheol, o amigo com quem eu divido a casa. — Hansol explicou e empurrou Seungcheol para fora do ângulo da câmera. — Mais tarde. Não esqueça.
— Não vou. — suspirei e desliguei. Agora só me restava esperar a noite chegar.

🌃

Hansol não voltou para a empresa, então eu peguei um táxi e fui para casa sozinha. Preparei uma massa para o jantar e fui comprar um vinho no mercadinho da esquina. Juntei todas as coisas que eu tinha sobre o vizinho, nada mais que achismos, e coloquei tudo na mesa da sala. Sentei para escovar o pelo de Ted e esperei que a campainha tocasse. O que só aconteceu por volta de sete da noite.
— Desculpe o atraso. — Hansol se desculpou assim que abri a porta. Ele beijou meu rosto e passou por mim, sendo recebido por Ted que se enrolou em suas pernas. — Oi, rapaz. — ele passou os dedos na cabeça do felino.
— Vá lavar as mãos. Vou pôr a mesa. — praticamente ordenei.
Ele largou a bolsa no sofá e foi direto para a cozinha. Fingindo normalidade, passei por ele e fui para o fogão, buscar a massa. Coloquei em cima da mesa e fui buscar o vinho. Quando voltei, Hansol já estava sentado, apenas me esperando para comer.
— Há quanto tempo mora aqui? — perguntei casualmente.
— Eu me mudei há pouco tempo. — ele respondeu sem se atentar à pergunta.
— Não, Hansol. Há quanto tempo mora na minha casa? Você parece bem à vontade.
— Me desculpa. Eu só tive uma tarde cansativa. E quando você disse que tinha preparado uma massa... — ele suspirou.
— Coma antes que esfrie. Está dirigindo? — perguntei antes de servir o vinho.
— Táxi. — ele respondeu com o garfo a meio caminho da boca.
Servi o vinho e começamos a comer em silêncio até que Hansol espirrou uma vez. E espirrou de novo, e outra vez e mais duas.
— Tá tudo bem? — parei de comer e o encarei.
— Talvez eu seja um pouco alérgico a... — um espirro. — Gatos.
— Hansol, por Deus. — levantei, já pegando Ted no colo. — Se tivesse me falado, eu teria afastado Ted pelo menos enquanto comemos. — levei Ted para o quarto reserva que eu usava como escritório. — Coloque uma máscara quando acabarmos. Ted não vai ficar lá para sempre.
— É um escritório? — ele perguntou e coçou o nariz.
— Meu escritório e o quarto do Ted na maior parte do tempo.
— Você não usa o porão? — ele perguntou e coçou o nariz de novo, o deixando vermelho.
— Primeiro, pare de coçar esse nariz. — ralhei e levantei para buscar o antialérgico que eu mantinha na bolsa para casos de emergência. — Segundo, eu odeio porões. Geralmente é onde as pessoas são mantidas em cárcere e encontradas mortas. — joguei o antialérgico em sua direção. — Tome.
Hansol colocou o comprimido na boca sem ao menos ver qual era e o engoliu com um longo gole de vinho.
— Como sabe que eu tenho um porão? — perguntei quando processei suas palavras, ignorando o fato de que ele tinha tomado um comprimido com álcool. Ou o faria muito bem, ou o mataria. E eu esperava que não fosse a segunda opção.
— A maioria das casas aqui tem porão, . — ele sorriu e voltou a comer em silêncio. — Assim que acabarmos, vamos pegar os arquivos. — ele disse, parecendo animado.
Sorri com a animação dele, mas pensei que podia ser apenas um efeito da mistura remédio/vinho. Terminei de comer em silêncio, observando a alergia dele sumir aos poucos. Quando me encarou novamente, Hansol tinha os olhos baixos e um sorriso no rosto. Parecia sonolento.
— Quer que eu lave a louça? — ele perguntou.
— Vai quebrar todos os meus pratos. — debochei.
— Eu estou bem, . — ele coçou o nariz.
— Está sim. Agora pare de coçar o nariz. — ordenei. — Vou deixar Ted no escritório até você ir embora. — levantei e juntei os pratos, os colocando na pia. Lavaria depois. Hansol foi até a sala e sentou no chão, em frente à mesa com os papéis.
— Temos que tirar o suposto assassinato daqui. — ele começou a separar algumas folhas.
— Acha que a polícia faria uma investigação com base no que tem aqui? — eu quis saber. Bêbados eram sempre sinceros. E Hansol estava ou bêbado ou dopado do antialérgico.
— Se você pedir com jeitinho, talvez. — ele deu de ombros. — Pode alegar que está se sentindo ameaçada, sei lá. — ele escorou a cabeça no sofá atrás dele.
— Você não vai embora, não é, Hansol? — perguntei, já levantando e estendendo a mão para ele.
— Você me deixaria ficar? — ele aceitou minha mão estendida e levantou, o corpo ficando a centímetros do meu. Alternou o olhar entre meus olhos e minha boca e anunciou: — Eu vou te beijar.
E beijou. O beijo tinha o doce do vinho e a lentidão causada pelo antialérgico. A língua estava morna e dançou na minha boca. Uma mão quente se instalou na minha cintura e me puxou mais para perto.
— Eu queria fazer isso desde a viagem. — ele confessou quando partiu o beijo.
— Você está bêbado. — eu ri. — Vou te colocar no meu quarto que é o único lugar livre do Ted nessa casa. — suspirei e comecei a puxá-lo pela mão até meu quarto. Eu já estava quase me arrependendo da decisão, mas era isso ou mandar para casa em um táxi um Hansol que não sabia o que estava acontecendo. — Tire a camisa, assim você não amassa e pode usar amanhã. — comecei a desabotoar os botões de sua blusa sob um sorriso enviesado. — Eu vou procurar alguma coisa para você vestir.
Dei as costas para Hansol, esperando que ele tirasse a própria camisa, e fui procurar uma blusa no meu guarda-roupa. Eu amava usar blusas masculinas em casa, uma ia ter que servir nele.
— Acho que essa aqui... — me virei para Hansol novamente e perdi a frase no meio. Ele estava apenas de boxer, terminando de dobrar a calça que usava e a colocando aos pés da cama junto com a blusa também dobrada. Hansol não tinha muita massa, mas tinha os músculos certos nos lugares certos, as coxas bem torneadas, como o David de Michelangelo. — Vista isso. — joguei a blusa em seu rosto. Hansol vestiu sorrindo, e a blusa sequer passou do elástico de sua boxer. — Eu vou dormir na sala.
— Não, . Deita comigo. Nós já fizemos isso, lembra? — ele fez manha.
— Mas você estava vestido. — o lembrei.
— Eu ainda estou. — ele puxou o elástico da boxer e soltou, fazendo a peça estalar em sua pele. Bufando, me aproximei dele e o empurrei na cama.
— Deita aí. — ordenei. Deitei de frente com ele e encarei seu rosto sorridente. — Lembre-se de que eu tenho uma adaga ao alcance da mão.
— Não finja que não quer isso. — ele se aproximou mais de mim, a mão descansando na minha cintura. — Eu não vou lembrar de nada disso amanhã.
— Eu devia ter bebido mais, porque eu vou. — suspirei.
— Boa noite, . — ele beijou minha testa.
— Boa noite para você, Hansol. — desejei, mas ele já estava dormindo.

🛌🏻

Quando acordei, o único sinal de Hansol era o cheiro dele no travesseiro ao lado. Levantei de mau gosto, tomei um bom banho, juntei os lençóis e os levei para a lavadora. Resolvi preparar um café para mim e então vi o bilhete pregado na geladeira.

"Saí mais cedo porque precisava de roupas limpas. Vejo você no escritório.
Obrigado pela noite.
H."

Sorri sozinha, enchi uma xícara com café e fui observar a rua pela janela. Havia uma movimentação no 88, mas eu não conseguia ver muita coisa. Resignada, terminei de me arrumar e andei até o metrô. Queria adiar minha chegada ao escritório. O que não deu muito certo, pois o tempo não colaborou e eu cheguei exatamente na hora.
Estava procurando a chave da sala na bolsa quando senti o perfume que tinha me atormentado a noite toda. Sequer tive tempo de me virar.
— Bom dia. — Hansol soprou no meu ouvido. Por um momento, me permiti apreciar a rouquidão matinal de Hansol, que espalhou um arrepio por todo meu corpo, em lugares que eram impróprios para a hora e o local.
— Você saiu cedo. — achei a chave e abri a porta, me afastando um passo dele. Ele veio logo atrás de mim e fechou a porta. Larguei minha bolsa na minha mesa e sentei na minha cadeira, cansada por antecipação.
— Eu precisava de roupas limpas para não parecer que virei a noite na farra. — ele riu, largou a mochila na própria mesa e sentou na minha mesa, bem em frente a mim. — Você está bem? — ele sorriu e esticou a mão para tomar um mecha do meu cabelo entre os dedos.
— Quem disse a você que podia misturar antialérgico com álcool, Hansol? — suspirei.
— Você ficou preocupada? — ele colocou a mecha que segurava detrás da minha orelha.
— Tire a mão de mim. — bati em seu braço e ele riu. — Você podia ter tido umas 12 reações diferentes. Você tirou as calças, Hansol.
— Eu percebi quando acordei. — ele mexeu na alça da minha blusa. — , eu...
Nós fomos interrompidos pela porta se abrindo. Hansol levantou e se colocou ao meu lado em um pulo enquanto Alisha entrava na minha sala.
— Bom dia! — ela desejou animada. — Como estamos por aqui? — passou o olhar entre Hansol e eu e certamente viu sua expressão de espanto. — Estou atrapalhando?
— Não, só estávamos discutindo sobre um relatório. — menti.
— Como tem passado, Hansol? — ela sorriu para ele. Alisha era jovem e bonita e certamente teria uma chance com Hansol se tentasse.
— Estou ótimo. Trabalhar com a é incrível. — ele sorriu largo para mim.
— Se quiser ficar, eu posso te tirar do rodízio. — ela sugeriu.
— Nem pensar! — respondi imediatamente. — Quer dizer, o rodízio faz parte da experiência de estágio, não é? — completei, nervosa demais com a ideia de ficar mais não sei quantos meses com Hansol na minha sala. Eu provavelmente entraria em colapso. — O que veio fazer aqui, Alisha?
— Parece que não me quer aqui, . — ela riu. — Enfim, eu vim trazer as propostas de compra e contratos dos novos materiais. Quero de volta até o fim da semana. — ela colocou as pastas sobre minha mesa e encarou Hansol. — Se quiser ficar, já sabe. — e piscou para ele.
Hansol acenou tímido e Alisha se foi.
— Tranque a porta. — pedi ele. Eu precisava de uma secretária urgentemente, essas interrupções estavam passando do limite.
— Como eu ia dizer... — Hansol voltou a se aproximar e sentou na mesa novamente. — Eu quero te levar para jantar.
— Hansol, eu não... — e mais uma vez fomos interrompidos, só que dessa vez por batidas na porta. — Pode ir ver quem é? — pedi a ele.
Hansol caminhou sem animação até a porta e a abriu minimamente. Alisha colocou a cabeça para dentro, me encarando por cima do ombro de Hansol.
— Por que trancou a porta? — ela quis saber.
— Precisamos de um pouco de paz para trabalhar. — sorri.
— É só para avisar que o chefe mandou contratar uma secretária para você. — ela sorriu. E então encarou Hansol bem de perto. — Bom dia.
E se foi.
Hansol ficou encarando a fresta da porta por um tempo, então deu de ombros e a fechou, trancando em seguida. Voltou para a minha mesa e me sorriu.
— Então... — ele suspirou.
— Vá direto ao ponto antes que sejamos interrompidos de novo. — pedi.
— Jantar. Quero te levar para jantar. — ele cruzou os braços sobre o peito. — Sei lá, , acho que estou sentindo alguma coisa por você.
— Você acha, Chwe? — perguntei ultrajada. — Eu não vivo de achismos. E eu não acho que isso seja adequado. Nós ainda trabalhamos juntos
, vamos lá. — ele me interrompeu. — Me diga que não sente nada, nem uma coisinha, e eu vou agora mesmo pedir transferência a Alisha.
— Eu... — me interrompi e suspirei. Eu estava mesmo sendo derretida aos poucos por Hansol. Eu só não queria admitir isso.
— Você e eu em um restaurante bacana, um bom vinho... — ele sorriu e enrolou a ponta do meu cabelo entre os dedos.
— Seu salário de estagiário cobre tudo isso? — cruzei os braços sobre o peito. — Você é rico, não é, Hansol? Confesse.
— Eu só sei organizar melhor o meu dinheiro.
— Está me chamando de desorganizada? — perguntei ultrajada.
— Você aceita ou não, ? — ele riu. Encarei seus olhos quentes e suspirei.
— Nada de restaurantes chiques. Você paga muito caro e não come quase nada. — desviei o olhar. Não queria encarar seu rosto convencido e seu sorriso largo.
— Cheol conhece um bom lugar. Buffet livre. Broadway.
— Vamos no seu carro? — eu quis saber. Era um pouco longe dali.
— Metrô. Uma aventura incrível. — ele respondeu e eu o encarei boquiaberta. — Meu carro está com o Seungcheol. Ele precisava levar algumas coisas para o estágio e eu o emprestei. — Hansol levantou da minha mesa. — Vou fazer as reservas. — e antes de sair, ele baixou o tronco e selou meus lábios.
— Hansol! Por Deus. — ralhei. — Se alguém nos pega...
— Quem vai ser demitido sou eu. — ele piscou e foi sentar em sua mesa. E lá ficou durante o dia entre papéis e telefonemas, me encarando de soslaio, sorrindo de canto. Eu literalmente o enxotei da sala na hora do almoço e ele saiu reclamando. Voltou também reclamando e ganhou um empurrão quando tentou me beijar de novo.
— Pronta para ir? — ele me perguntou no final do expediente.
— Vamos nessa. — suspirei.
Andamos até a estação de metrô mais próxima e descemos no nosso destino final: a Broadway. Hansol foi a viagem toda com os dedos resvalando nos meus, e eu apenas fingia que não notava. Quando tomamos a rua novamente, andamos até um prédio alto.
— É aqui? — perguntei olhando para cima.
— Acho que sim. — ele respondeu, também encarando a extensão do prédio. — Vamos. — e tomou minha mão na sua, me puxando até o elevador. Hansol não parava de me encarar, e eu evitava seu olhar.
— Pode parar de me encarar? Está me intimidando. — eu ri. Logo eu, Davis, viciada em casos criminais, acostumada a ver programas com assassinos, estava me sentindo intimidada pelo doce olhar de Hansol Chwe.
E sem aviso prévio, Hansol segurou meu queixo com as pontas dos dedos e virou meu rosto em sua direção, me beijando em seguida. Um beijo discreto, mas que levou meu fôlego com ele.
— Você precisa parar com isso. — alertei quando findamos o beijo.
— Eu já não sei se consigo. — ele praticamente sussurrou. E o elevador apitou para nos indicar que aparentemente chegamos ao nosso andar.
— Bem-vindos ao The View. Sou a Rose, em que posso ajudar? — a moça da recepção perguntou.
— Eu fiz uma reserva. Chwe. — Hansol indicou. Rose olhou seu tablet e sorriu para nós.
— O Carlos vai acompanhá-los. — ela apontou para o garçom. Carlos nos instalou em uma mesa perto da janela que ia do chão ao teto. A vista da cidade ali de cima era incrível.
— A vista é linda. — suspirei, olhando para fora. Hansol riu baixo, o que me fez desviar o olhar para ele. — Diga, Hansol. Eu sei que você quer falar. — instiguei. Ele apenas negou com a cabeça, ainda sorrindo. — Vamos, Hansol. — cutuquei sua mão que descansava na mesa. — "Não tão linda quanto você". — tentei imitar sua voz. Hansol esticou o corpo por cima da mesa e selou meus lábios.
— Você é péssima em imitações. — ele apertou minha mão sobre a mesa.
— Não é mesmo minha especialidade. — confirmei.
, você falou da pós, mas eu nunca te vi em aula. — ele comentou de repente.
— O que é isso de repente? Alguma investigação policial? — cruzei os dedos sobre a mesa.
— Eu só estou curioso. Quero te conhecer melhor. — ele colocou uma mão sobre as minhas.
— Então devia perguntar qual minha cor favorita. — estreitei os olhos para ele.
— E qual sua cor favorita? — ele perguntou divertido.
— Roxo. — respondi rápido.
— E sua pós? — ele insistiu.
— É EAD. — suspirei. — Eu assisto as aulas quando posso e faço as provas pelo computador. Por isso eu te expulso da sala às vezes.
— E onde estão seus pais? — ele perguntou.
— Mamãe resolveu voltar para casa. — sorri lembrando dos meus pais que um dia foram imigrantes ali. — E os seus?
Appa finalmente se aposentou e mamãe não quis ficar na Coreia. Então eles estão aqui. — ele deu de ombros. — Sophia ia te adorar.
— E quem é Sophia? — eu quis saber. E a pergunta me fez lembrar que eu não tinha investigado Hansol, tão absorta estava com o vizinho do 88. Bom, agora não adiantava mais, não é? Eu só esperava que Sophia não fosse alguma ex que nunca foi embora.
— Minha irmã. — ele riu. — Mas ela ficou na Coreia para estudar.
— Se sua irmã se chama Sophia, por que você não se chama, sei lá, Justin? — perguntei, verdadeiramente curiosa.
— Mas eu...
— Com licença, senhor Chwe. — Carlos se aproximou de nós com uma garrafa de alguma coisa. — O senhor Choi mandou.
— Seungcheol está aqui? — Hansol perguntou com as sobrancelhas juntas.
— Não, senhor. Ele ligou. — e sorriu. — Posso servir?
— Pode. — confirmei já que Hansol parecia meio confuso. Carlos encheu nossas taças de algo que parecia vinho e se retirou. — Tá tudo bem? — perguntei a Hansol.
— Estava pensando como Seungcheol sabia, mas eu o mandei uma mensagem perguntando o telefone. — ele suspirou e tomou a taça nas mãos. — Parece caro. — girou a taça e cheirou o conteúdo. O imitei. O vinho tinha um aroma adocicado, com um leve toque de... madeira? Enfim, não entendia dos cheiros, minha especialidade era beber, e foi o que fiz. Hansol sorriu com todos os dentes.
— O que foi? — perguntei antes de dar mais um gole.
— Você precisa beber devagar, . — ele lembrou.
— Eu detesto fazer as coisas devagar. — confidenciei. Hansol bebeu um longo gole da taça. — Precisa beber devagar, Hansol. — repeti suas palavras. Ele apenas sorriu de lado. Eu sabia o que aquele sorriso queria dizer. Entendi quando olhei em seus olhos que de repente pareciam perigosos. — Pervertido.
— Foi você que começou. — ele me acusou.
— Eu vou comer. — anunciei e levantei, ouvindo sua risada baixa. O restaurante era realmente incrível. Precisava me lembrar de agradecer ao tal Seungcheol pela indicação. Isso quando eu o visse. Se é que um dia iria vê-lo de novo.
Hansol disse que estava sentindo alguma coisa por mim, mas não parecia muito disposto a me carregar para a sua vida. E eu o entendia. Por Deus, eu estava praticamente movendo uma investigação sobre o meu vizinho que eu nunca tinha visto. Enchi um prato com tudo o que queria comer e voltei para a mesa.
— Isso parece bom. — Hansol ameaçou roubar meu macaron. Bati em sua mão e ele recolheu o braço.
— Vá pegar para você. — ordenei e coloquei o macaron na boca.
— Você briga por comida, ? — ele afagou a mão.
— Só quando o buffet é livre e mesmo assim você quer comer o meu. — sorri para ele.
Hansol levantou para encher um prato e engatamos uma conversa aleatória. Ficamos comendo e conversando até que meu celular acendeu com uma notificação e eu finalmente vi a hora.
— Hansol, precisamos ir. Tá quase na hora da ração do Ted. — comecei a arrumar a bolsa.
— Eu vou pagar a conta. — ele sorriu e levantou. Fui atrás dele a tempo de ouvir a conversa com Rose.
— Ela disse que está feliz por você. — Rose sorriu.
— Quem? — perguntei sem conseguir controlar a curiosidade.
— Uma amiga. — Hansol respondeu. — Pronta para ir?
— Sim. Eu pago o táxi. — ele ia protestar, mas eu selei seus lábios. Hansol corou na hora.
— Vocês ficam bem juntos. — Rose comentou.
— Obrigada. — sorri para ela. — Agora precisamos ir. — segurei a mão de Hansol. — E nada de protestar sobre o táxi.
— Mas eu não ia. — ele riu enquanto eu o puxava para fora. — Tchau, Rose.
Acenei para o táxi e praticamente joguei Hansol no banco.
, tem algum motivo especial para você estar tão apressada? — ele perguntou sorrindo.
— O Ted. — respondi. Era só isso, não é?
— Está me lembrando uma mulher que eu conheci há algumas semanas. — ele riu.
— Uma louca meio bêbada? Acho que fiquei sabendo. — comentei.
— Suas loucuras já são parte da minha rotina. — ele segurou minha mão. — Eu já te disse isso mais de uma vez, inclusive...
— Em coreano! — quase gritei. — Então foi isso que você falou quando foi a primeira vez na minha casa? — Hansol apenas concordou sorrindo.
— São um casal bonito. — o taxista olhou para nós pelo retrovisor e sorriu.
— O senhor já é a segunda pessoa que nos diz isso. — Hansol comentou. Então virou para mim. — Acho que vamos ter que ser um casal.
— Você não aguentaria uma semana. — desafiei.
— Só saberemos se tentarmos. — ele apertou minha mão.
— Joshua não aguentou. — ri fraco.
— Ele é um molenga. — Hansol sorriu sem mostrar os dentes, um sorriso contido que eu tinha acabado de conhecer e já estava gostando.
— Casal. — o motorista chamou nossa atenção. — Acho melhor vocês irem andando. Está meio engarrafado aqui. — ele apontou para a longa fila de carros. Olhei ao redor, vendo que faltavam apenas algumas quadras para chegar em casa, então saquei as notas da bolsa e o entreguei.
— Obrigada, moço. — agradeci ao motorista e desci do carro puxando Hansol comigo. No final da minha rua (ou no começo, dependia do ponto de vista), tinha um pequeno parque onde as crianças brincavam. Comecei a andar até lá e (quem diria) fiz questão de segurar a mão de Hansol. Ele me olhou de olhos arregalados e me puxou mais para perto. Quando chegamos perto do parquinho, puxei Hansol em direção ao balanço.
— Você não estava apressada para alimentar o Ted? — ele perguntou. Apenas dei de ombros e sentei no balanço. Dei um impulso e ouvi as correntes rangerem. — Você vai cair daí. — ele riu e baixou o corpo, apoiando as mãos nas minhas coxas e me dando um impulso. O balanço foi para trás e para frente e Hansol selou meus lábios quando eu me aproximei, antes de me dar um novo impulso.
— Você fala que eu vou cair e continua me empurrando. — eu ri. Ele apenas me deu um novo selinho e mais um impulso. — Pare de me beijar, Hansol. Eu vou ficar mal acostumada.
— Eu dou conta dos seus maus costumes. — ele sorriu com todos os dentes. Suspirei porque, por todos os heróis, a quem eu queria enganar? Eu queria ficar em maus costumes. Queria ver Hansol beber remédio com antialérgico, quase me colocando louca por não saber como ele vai reagir. Queria vê-lo reclamar do meu refinado gosto por casos criminais.
Fiquei tão absorta nos olhos cor de café que sequer me importei com o carro do vizinho do 88 entrando na garagem. Desviei o olhar e vi que as luzes continuavam apagadas, exceto por uma. Mas quando olhei para Hansol, foi como se ele fosse a prioridade naquela noite.
— Me pega. — gritei para ele e, em um último impulso, pulei do balanço direto para os braços de Hansol, que gritou e caiu para trás, me levando com ele.
— Um dia você ainda me mata. Eu juro. — ele riu, o rosto a centímetros do meu. O nariz afilado brincou com o meu e deslizou pela minha bochecha em um carinho gostoso.
— Achem um quarto! — alguém gritou ao longe e ouvi uma cortina se fechar.
— Acho melhor eu te deixar em casa. — ele sorriu e selou meus lábios. Levantei e estendi a mão para ele. Hansol a segurou e não soltou até que chegássemos à minha porta. — Está entregue.
— Entra. — me vi convidando.
, tá tarde e...
— Entra logo, Hansol. — o puxei pela mão e fechei a porta.
, você tem certeza? Eu não quero apressar as coisas assim. — ele suspirou. Eu ia rebater, mas Ted apareceu na sala e miou alto, como que protestando pela comida que ainda não estava no pote. Já prevendo a crise alérgica que Hansol teria, o tomei pela mão e o arrastei até meu quarto.
— Não saia daqui. — e fechei a porta. Enchi os potes de Ted com ele aos meus pés, esfregando a cabeça nas minhas pernas, e me abaixei para encará-lo. — Mamãe não vai poder te dar atenção agora, Ted.
Ted encarou a porta do meu quarto e, em seguida, me encarou. Eu juro que vi julgamento nos olhos felinos.
— Eu sei que você me entende. — ele miou. — Eu também te amo. — passei a mão na cabeça peluda e fui para o quarto. Quando abri a porta, Hansol estava parado no meio do cômodo, olhando ao redor.
, eu...
— Fique aí. Eu estou cheia de pelos. — corri para o banheiro do quarto, lavei as mãos e tirei a roupa que usava. Vesti o roupão, prendi o cabelo e saí do banheiro. — Pronto, o que ia dizer?
, eu não acho que...
— Hansol, se você não quiser, tudo bem. A porta é ali. Boa noite. — e apontei para a porta.
— E se eu quiser? — ele sorriu.
— Então eu quero. — o abracei pela cintura, beijando seu peito por sobre a roupa.
— Você vai tirar a adaga de debaixo da cama? — ele colocou uma mão na minha nuca e a outra na minha cintura e me sorriu.
— Eu tirei para limpar o chão. — admiti sorrindo.
Hansol me beijou calmo e eu me permiti apreciar a sensação da sua língua na minha, espalhando uma quentura pelo meu corpo coberto pelo roupão.
— Você já esteve com menos roupa nesse quarto. — brinquei. Empurrei o casaco de seus ombros e ouvi o barulho do monte de tecido no chão. Busquei os botões de sua blusa e comecei a tirá-los das casas com a lentidão que eu julguei necessária.
— Eu não vou precisar de nenhuma camisa sua hoje. — ele riu e os dedos atrevidos buscaram o nó do roupão, o puxando sem força.
— Não vai precisar nem da sua. — eu ri e finalmente soltei o último botão, também empurrando a camisa pelos ombros de Hansol, vendo que ela se juntou ao casaco que já estava lá. Me permiti passar a mão sobre a barriga levemente definida e sobre o peito avantajado. Com as mãos em seus ombros, o empurrei de costas até que ele caísse sentado na cama. Passei um joelho de cada lado de seu quadril e sentei em seu colo, recebendo um sorriso ladino em resposta.
— Posso? — ele perguntou e balançou os dois lados do roupão aberto que já mostrava o contorno do sutiã escuro que eu usava.
Confirmei com a cabeça e Hansol deslizou os dedos gelados pelos meus ombros para tirar o roupão de mim. Quando me vi livre, tomei uma de suas mãos na minha e a coloquei sobre o seio coberto. Hansol me encarou por um segundo e então deslizou a mão pela lateral do meu corpo, procurando o fecho do sutiã nas minhas costas, a outra mão fazendo o mesmo caminho. Senti a peça afrouxar ao meu redor e me ocupei de tirar as alças e jogar o sutiã longe. Ele deixou um beijo doce entre os meus seios e quando sua palma tocou meu mamilo, gemi arrastado, jogando a cabeça para trás. Comecei a movimentar o quadril sobre o de Hansol e ele aumentou as carícias nos meus seios até que eu arranhei seus braços e ele parou o que estava fazendo.
. — ele chamou e não disse mais nada. Apenas me colocou deitada e levantou da cama, se apressando em tirar os sapatos e as meias, saindo da calça com pressa, mas fazendo suspense na hora de tirar a boxer. Levei um tempo para apreciar o corpo nu na minha frente. Hansol de fato parecia uma escultura, o corpo moldado e a bunda redonda. Ele se adiantou na direção da cama, mas estiquei a perna e apoiei o pé em seu peito.
— A proteção, bonitão. — o lembrei. Hansol olhou ao redor e procurou a calça que vestia, tirando a carteira do bolso e o preservativo da carteira. Suas bochechas coraram de repente e eu sorri, porque ele parecia fofo, exceto pelo fato de que ele estava nu e excitado ali.
— Eu não acredito que Seungcheol me fez andar com isso na carteira. — ele murmurou e rasgou o pacote, vestindo o látex em seguida. Subiu na cama e colocou o corpo acima do meu, apoiando o peso do corpo em um braço, a mão livre procurando a lateral da minha calcinha. Usei da força das pernas para jogar Hansol deitado na cama. Ele me olhou de olhos arregalados.
— Confia em mim. — sorri para ele e ele sorriu de volta. — Senta. — ordenei. Vi Hansol se arrastar até a cabeceira da cama e me contorci sobre os joelhos para me livrar da calcinha que ainda estava em mim. Novamente passei um joelho de cada lado do quadril de Hansol e segurei seu membro pela base, o guiando para a minha entrada. Hansol gemeu rouco a cada centímetro que se acomodava em mim e me sorriu ofegante quando sentei por completo. Comecei a me movimentar para a frente e para trás, ouvindo o gemido baixo dele. Hansol apoiou as mãos no meu quadril e eu intensifiquei os movimentos até que senti sua boca no meu pescoço.
. — ele mordeu meu pescoço, espalhando um arrepio pelo meu corpo que se acumulou lá embaixo e arrastou meu orgasmo. Me agarrei às suas costas e finquei as unhas ali, puxando o ápice de Hansol. Ele me beijou doce e calmo, os movimentos parecendo calculados, acalmando meu corpo que vibrava com a sensação boa.
— Está tudo bem? — ele me olhou nos olhos, as íris nubladas pelo prazer, o cabelo pregado à testa pelo suor do esforço que fizemos. Parecia lindo. Passei as mãos em seus cabelos, os tirando da testa, jogando para trás, para que eu pudesse ver seu rosto corado. Beijei seu rosto e ele sorriu. Era adorável.
— Me sinto ótima. — respondi quando consegui respirar direito. Ainda estava sentada nas pernas de Hansol, ele ainda estava em mim. — Agora eu sei como a Kate Winslet se sentiu quando gravou a cena famosa com o DiCaprio.
Hansol fez uma careta para mim e me jogou deitada na cama, o membro deixando meu interior (e uma sensação esquisita de vazio). Ele se colocou acima de mim e apoiou o peso do corpo nos braços.
— Quantas vezes eu vou precisar fazer amor com você para você gostar de mim? — ele perguntou com o rosto pairando acima do meu.
— Hansol, por favor. — eu ri. Ri porque era fofo. Fazer amor? Hansol estava mesmo me amando?
— O que foi? Não gostou? — ele riu também. E então aproximou a boca da minha orelha e sussurrou as próximas palavras: — Quantas vezes eu vou precisar te fazer gozar para você gostar de mim?
Respirei fundo e apertei seus braços
Meu corpo arrepiou por inteiro e eu tentei esfregar as coxas para aliviar a tensão que se acumulou ali. Mas lá estava Hansol, com o corpo malditamente grudado ao meu.
— Mas eu gosto de você. — me ouvi confessando. — Considere como uma experiência, uma fantasia. — toquei seu cabelo. — Quando a fantasia sair, ainda vai ser você aqui, Hansol.
Beijei Hansol lentamente, apenas aproveitando o quente de seu corpo ainda sobre o meu. Ele partiu o beijo e deslizou os lábios para o meu queixo. Em seguida, desceu mais um pouco para o meu pescoço. Eu tinha uma ideia de onde ele queria chegar, então segurei seus fios sem força.
— Você precisa me deixar descansar, Hansol. — sorri.
— E vou, mas não agora, . Não agora. — ele murmurou em tom de promessa. A promessa de uma noite incrível.

Vernon


dormiu quieta essa noite. Acho que estava cansada demais para se mexer. Abri os olhos e encarei o teto. Meus sentimentos travavam uma luta com a minha razão e era difícil dizer quem estava ganhando.
Ajustei o corpo na cama e se aconchegou mais contra mim.
— Bom dia. — desejei.
— Bom dia. — ela passou a mão no meu peito nu e levantou o rosto para sorrir para mim. Sorri de volta, nervoso, e ela apoiou o peso do corpo no cotovelo para me olhar.
— O que foi, Hansol? — ela perguntou devagar. Eu devia saber que era boa em ler pessoas. Ela estava sempre vendo assassinos mentindo nos documentários e séries que ela via. Era a hora da verdade.
— Eu preciso te contar uma coisa. — suspirei e sentei na cama. Razão e sentimentos ainda estavam em conflito, mas estava na hora.
— Hansol, você está me assustando. — ela sentou também.
, eu...
— Você... — ela incentivou.
— Eu meio que sou o seu vizinho do 88.
prendeu a respiração por uma fração de segundos, e soltou de forma audível. Não reagiu por um longo minuto. E então começou a rir. Um riso nervoso e incrédulo.
— Você está brincando comigo, não é? — ela perguntou, a voz tremendo de nervoso.
— Não. Eu moro ali, do outro lado da rua. Divido a casa com Seungcheol.
— Eu dormi com um assassino. — ela disse baixinho e, de repente, levantou da cama, quase caindo no processo.
, eu não sou um assassino. — eu ri, mas também estava nervoso. tinha passado muitos dias reunindo provas do meu comportamento suspeito, quando, na verdade, eu só estava correndo entre o estágio e a faculdade e, bem, ela.
tinha se tornado uma parte da minha vida, e agora eu não sabia como ficaria se ela simplesmente não quisesse mais olhar na minha cara.
— Você estava comigo ontem quando o carro entrou. Ele só acendeu uma luz. — ela murmurou.
— Foi Seungcheol que chegou. Eu emprestei o carro, lembra? — perguntei devagar. — , fica calma. — pedi para uma que andava de um lado para outro no quarto.
— Não me chame de . — ela esbravejou. — Eu passei dias reunindo provas, Hansol. Você me ajudou.
— Bem, sim.
— Como isso é possível? A moça me disse que o nome do dono da casa era Vernon. Eu devia ter investigado. — ela devaneou.
— Hansol Vernon Chwe. É meu nome do meio e eu geralmente não digo quando vou me apresentar. Me faria ter que explicar muita coisa. — suspirei. — Eu tentei te dizer isso várias vezes quando a gente se conheceu, mas você não queria me ouvir. — eu ri, lembrando da fala enrolada dela quando nos conhecemos no bar.
— As luzes...
— Eu estava sem tempo para consertar. Estava atolado na empresa. — expliquei.
— E os horários?
— Como eu disse, muito trabalho. As contas da empresa estavam uma bagunça, você viu. Eu estava atolado até o pescoço. — eu ri porque parecia fofa enquanto tentava encaixar as peças. — Seungcheol também estava atolado com o estágio no New York Aquarium. A moça que te recebeu no dia dos muffins é a , namorada dele.
? A herdeira do aquário? — ela quis saber. — Eu sabia que ela era familiar. Ela e são amigas, na medida do possível.
— Sim. — levantei da cama e me aproximei dela. deu um passo para trás e eu a segui, segurando seus braços e encontrando certa resistência. Insisti mais um pouco e consegui abraçá-la pela cintura. — Eu sei que está tudo confuso na sua cabecinha, mas eu sou do bem, eu juro.
— Hansol, eu...
— Quer que eu traga aqui? Ela pode te ajudar a entender que, apesar de “suspeitos” — livrei uma mão de sua cintura para fazer as aspas no ar — nós somos boas pessoas.
— Eu vou conseguir entender. Eu acho. — ela evitou me encarar. — Eu só preciso de um tempo sozinha.
— Estou me vestindo. — soltei o abraço e comecei a procurar minhas roupas pelo quarto. — Se precisar de mim, estarei do outro lado da rua. Minha casa agora tem luzes e janelas inteiras. — eu ri, mas não me acompanhou.
A expressão em seu rosto estava realmente confusa e decidi que o melhor a se fazer era deixá-la pensar com calma. Assim que vesti a roupa completa, me aproximei dela e, em um movimento rápido, lhe roubei um selar. tentou sorrir, mas ainda estava nervosa.
— Do outro lado da rua. — lembrei e saí de seu quarto. Agora só me restava esperar.

🖤

— Você deveria ter contado antes. — insistiu. — A coitada estava apavorada quando apareceu aqui e ficou sabendo que você a tinha descrito em detalhes para mim.
— Ele tem essa mania de guardar as coisas por anos, não é, Vernon? — Seungcheol alfinetou.
— Eu bem que tentei, mas ela estava envolvida demais nisso. E ela estava fofa toda dedicada. — sorri.
— Ei, eu conheço esse sorriso. — Seungcheol cutucou meu braço. Estávamos os três na sala de casa tomando vinho e jogando conversa fora. ainda não tinha dado sinal de vida e eu estava tentando respeitar o espaço dela.
— A também. Eu sorri para ela assim durante anos. — alfinetei.
— Eu vou embora. — ela ameaçou e levantou no exato momento em que minha campainha tocou. — Não vou abrir. É sua casa. — ela se jogou no sofá novamente.
Levantei de mau gosto e fui abrir a porta. Encontrei uma com um semblante quase desesperado na porta. Ela me abraçou pela cintura sem dizer uma palavra.
— Tá tudo bem? — passei a mão em seus cabelos.
— Eu ainda estou com raiva de você. — ela pressionou um dedo com força no meu peito. — Mas Ted sumiu. Eu preciso de ajuda.
— Fica calma. Vamos encontrar ele. — segurei seu queixo e não consegui controlar o impulso de lhe roubar um selar. Dessa vez, correspondeu, o que me fez sorrir.
— Eu estou assustada, Hansol. Ted é meu bebê. — ela choramingou.
— Cheol, Ted sumiu. Pode nos ajudar a encontrá-lo? — perguntei ao meu amigo.
— Vou buscar as lanternas. — ele avisou. automaticamente se levantou e se aproximou de nós, que ainda estávamos na porta.
— Oi, . . — ela se apresentou. — Desculpe ter te assustado naquele dia. — e sorriu. O mesmo sorriso que me afetou durante anos, mas que agora não passava de um sorriso.
— Está tudo bem, . De verdade. — tentou sorrir. Ainda estava abraçada à minha cintura e a cabeça descansava no meu peito. Mas ela ainda estava com raiva. Tá bom.
— O que é Ted? Gato, cachorro, ave? — quis saber.
— Um gato. Um azul russo. — usei a mão que não abraçava para sacar o celular do bolso e abri uma foto de Ted que ela tinha me mandado certo dia.
— Só consegui achar duas. — Seungcheol se aproximou de nós e sorriu para . — Bom te conhecer pessoalmente. E desculpa te assustar. — ele se apresentou e sorriu. — Vamos achar o Ted.
— Você fica aqui e eu vou com o Seungcheol. — a segurei pelos ombros.
— Mas e a sua alergia? — ela perguntou, visivelmente preocupada.
— Isso não importa agora. Fique aqui, eu já volto. — selei seus lábios e fui correspondido novamente. — Vamos, Cheol.
Saímos de casa e entramos na área arborizada atrás da propriedade. Eu só esperava que Ted estivesse bem.



— Senta aqui, . — chamou e apontou o sofá da sala. Aproveitei para reparar na casa que foi o objeto da minha curiosidade durante meses. Com as luzes acesas, era mais fácil de ver. As coisas eram simples, as paredes claras e a maioria dos móveis era escura. — Quer beber alguma coisa?
— Uma coisa bem forte pra eu conseguir lidar com tudo o que aconteceu hoje. — eu ri.
— Eu e Cheol dissemos ao Vernon pra te contar logo. — ela explicou enquanto ia até a estante com várias garrafas e servia duas doses de tequila. — Mas ele continuava te incentivando e dizendo para nós que você ficava fofa quando estava empolgada...
— O quê? — a interrompi.
— Ele não te contou essa parte? — ela arregalou os olhos.
— Ele não me contou nada. Só disse que era o objeto das minhas pesquisas e dos meus surtos nos últimos meses. Então eu o mandei sair da minha casa e agora estou aqui. — expliquei.
— Então ele ainda tem muito para te contar, . — ela riu.
. Pode me chamar de . — tentei sorrir.
— Foi você que ajudou a com o nerd de óculos dela, não foi? — ela quis saber. Eu ri como ria sempre que lembrava da investigação que fizemos para descobrir fatos sobre Wonwoo, o atual namorado de Bee, a herdeira da empresa.
— Se o pai dela ao menos sonhar com isso, eu sou demitida na hora. — brinquei.
ia responder, mas ouvimos um barulho na porta de entrada. Imediatamente levantei e fui ver do que se tratava. Seungcheol entrava com Ted no colo e Hansol vinha logo atrás dele, espirrando muito.
— O antialérgico, Hansol. — pedi. Ele apenas apontou para a porta da parte de cima do armário. Corri até lá, peguei um comprimido, um copo com água e os entreguei a ele. Então dei atenção ao meu bebê nos braços de Seungcheol. Ted estava imundo, com lama até nas orelhas, e miou assim que eu me aproximei. — Ted, você quer me matar?
Mesmo espirrando, Hansol não evitou o riso sincero. e Seungcheol o olharam sem entender.
— O nome do Ted vem do assassino Ted Bundy. — ele explicou. negou com a cabeça e riu e Seungcheol acompanhou a risada de Hansol quando entendeu o que estava acontecendo.
— Vamos deixar vocês e seu mini assassino aqui e vamos para casa. — suspirou. — Acho que vocês precisam conversar.
— Então sua casa agora é minha casa? — Seungcheol perguntou à namorada.
— E você já não roubou tudo meu? Minha mãe, a governanta da nossa casa... — ela foi listando e se encaminhando para a saída.
— Seu coração... — Seungcheol sugeriu.
— Brega. — ela riu, mas não o desmentiu. — Até mais, Vernon. Foi um prazer, . — ela acenou para mim e puxou Seungcheol pela mão, saindo porta afora. Assim que a porta se fechou, encarei Hansol que já estava mais controlado.
— Eu vou colocar o Ted na caixinha com um pouquinho de catnip para ele ficar calmo e já volto. Realmente precisamos conversar. — avisei. Saí da casa de Hansol e atravessei a rua, coloquei Ted na caixa de transporte junto com a almofada com catnip que ele gostava e voltei à casa da frente.
, eu... — Hansol tentou falar, mas eu levantei a mão e ele parou de tentar se explicar.
— Você mentiu para mim, Hansol. — acusei.
— Não menti. Eu omiti. Você nunca me perguntou se eu era o assassino do 88. — ele deu de ombros.
— Mas eu te perguntei inúmeras vezes se você sabia de alguma coisa. Te perguntei onde você morava. Te perguntei se você tinha visto alguma coisa. E a resposta era sempre não ou silêncio. — suspirei.
— Você já se viu empolgada com alguma coisa, ? — ele se aproximou de mim sorrindo. — Seus olhos brilham, você se ilumina.
— É que eu...
— Eu sei que você ama casos criminais e estava empolgada de pegar um possível assassino. — ele me abraçou pela cintura e eu não resisti. Não queria resistir.
disse que você contou que eu estava fofa toda empolgada. — estreitei os olhos para ele. — Fofa, Hansol?
— Você é fofa, . — ele riu. — Tem informações de como matar uma pessoa sem ser descoberta, mas é fofa.
— Cuidado comigo. — alertei e selei seus lábios.
— Você me perdoa? — ele perguntou, os olhos brilhando inocentes tais quais os do Gato de Botas em Sherek. Suspirei profundamente.
— Não minta para mim de novo.
— Aceita namorar comigo? — ele perguntou com aquele sorriso que me quebrava em um milhão de pedacinhos, só agora eu percebia. Encarei seus olhos cor de café.
— Você vai conseguir lidar com minhas loucuras? — perguntei séria.
— Eu já não consigo viver sem elas. — ele sorriu.
— Então eu aceito.
Hansol me beijou calmo, uma mão escorregando para a minha nuca e se firmando ali. A mão que segurava minha cintura me puxou mais para perto e eu senti o calor do corpo dele no meu.
— Acabamos de fazer isso. Sossega. — eu ri.
— Mas ainda não éramos namorados. — ele respondeu com um bico fofo. — , eu vou ter que pedir demissão? A empresa tem alguma política para isso?
— Você já vai mudar de setor, então acho que não tem problema. — tentei me afastar, mas ele me puxou de volta para o abraço.
— Que bom, porque eu não pretendia me afastar de você.


Epílogo

— Eu estava pensando. — Hansol entrou na sala carregando duas garrafas de cerveja e minha taça de vinho.
— Não vem boa coisa. — Seungcheol resmungou.
— E se nós expulsarmos o Cheol para a casa da e você vier morar aqui? — ele sentou ao meu lado no sofá e me entregou a taça com um sorriso de empolgação estampado no rosto. Estava realmente considerando a ideia.
— Mas e Ted? — perguntou no meu lugar.
— Eu me acostumo. — Hansol sorriu para mim.
— A espirrar durante todo o tempo que estiver em casa? — Cheol perguntou, mas Hansol o ignorou e continuou a me olhar.
— Está tentando me pedir em casamento? — brinquei.
— Se você disser sim, é, talvez eu esteja. — ele colocou uma mecha do meu cabelo detrás da minha orelha.
— Cheol, e se a gente saísse agora? — ouvi murmurar. — Acho que estamos atrapalhando.
— Deni, é o teto que fica sobre a minha cabeça em jogo aqui. — Seungcheol resmungou.
— Fica tranquilo, Seungcheol. Eu não vou morar com o Hansol.

***

Nota mental: nunca subestimar o poder de persuasão de Hansol.
Seis meses. Foi o tempo que ele levou para me convencer a morar com ele e praticamente enxotar Seungcheol para a casa de , que também foi persuadida pelo ser de olhos cor de café que eu chamo de namorado. Segundo o próprio Hansol, gastaríamos menos se morássemos juntos.
Estávamos os três, eu, um Hansol de máscara por causa dos pelos de Ted e o próprio Ted vendo uma série qualquer na TV da sala quando eu percebi uma movimentação na casa que costumava ser minha. Levantei de repente, assustando Ted aos meus pés.
— O que foi, ? — Hansol perguntou.
— Shiii. Fale baixo, Hansol. — fui até a janela da sala e olhei para fora. Nossas luzes estavam apagadas e só a TV iluminava a sala.
, o que está acontecendo? — ele se aproximou de mim.
— Tem alguém se mudando para a minha casa. — respondi e recebi um pigarrear como resposta. — Minha antiga casa. — corrigi. — Vamos investigar depois.
, da última vez que você começou com isso...
— Eu conheci você e olha onde estamos. — me virei rapidamente e selei seus lábios que já não estavam cobertos pela máscara.
— Por isso mesmo.
— Eu não vou te deixar, Hansol. — confessei. — Se é isso que te preocupa.
— Eu sei, mas...
— Aquilo é um corpo? — perguntei vendo o saco preto suspeito que o vizinho novo carregava para dentro. Hansol suspirou alto atrás de mim.
— Lá vamos nós de novo.


Fim



Nota da autora: E acabou a primeira fase do Sverso. Se você chegou até aqui, parabéns. Obrigada sempre a Ilane e a M-Hobi por me arrastarem pra esse universo maravilhoso onde eu queria viver. Eu surto, mas amo.

E obrigada a você leitor por acompanhar nossa trajetória.
Nos vemos por aí. Beijinhos!

Caixinha de comentários: A caixinha de comentários pode não estar aparecendo para vocês, pois o Disqus está instável ultimamente. Caso queira deixar um comentário, é só clicar AQUI



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


comments powered by Disqus