Sincerely Yours

Última atualização: 10/03/2024

e , antes profundamente apaixonados e em um relacionamento de longo prazo, se encontram em uma encruzilhada ao perceberem que sua paixão diminuiu. Apesar de sua história compartilhada e conhecimento íntimo um do outro, eles tomam a difícil decisão de seguir caminhos separados romanticamente, mas permanecem comprometidos em preservar sua amizade.
Ao navegarem pela vida pós-separação, e descobrem a beleza de seu vínculo platônico. Eles se apoiam nos altos e baixos, contando um com o outro para apoio emocional e companheirismo. Sua amizade se torna uma fonte de consolo e estabilidade em meio à incerteza de suas jornadas individuais.
Anos se passam, e tanto quanto evoluem como indivíduos, mas sua conexão permanece firme. Inesperadamente, um encontro casual reacende a faísca entre eles. À medida que passam mais tempo juntos, sentimentos antigos ressurgem, e eles se veem se apaixonando novamente, mas desta vez com um renovado senso de paixão e apreciação um pelo outro.
Sincerely Yours é uma história de amor, amizade e do poder duradouro da conexão. Explora as complexidades dos relacionamentos, a importância da comunicação e compreensão, e a possibilidade de encontrar o amor em lugares inesperados. Através de suas jornadas, a história nos lembra que às vezes, o amor tem um jeito de voltar para nós quando menos esperamos.


Prólogo

- Por que estamos aqui? – Ele me questionou com a testa franzida e um olhar confuso.
- Precisamos conversar.
Um silêncio incômodo, mas familiar, se instalou entre nós. Evitando o contato de seus olhos, comecei a reparar nos detalhes da paisagem nos cercando e respirei fundo, o que causou que o cheiro das flores, juntamente com o perfume do homem parado a menos de 30cm de distância, me fizessem sorrir.
- O que é tão engraçado?
- Nada. – Respondi revirando os olhos pelo nível de irritação já demonstrado por ele – Eu achei que você concordaria em conversarmos, mas se não acha um bom momento eu...
- Quem disse que eu não acho um “bom momento”? – Me interrompeu com um ar zombeteiro, levando suas duas mãos para cima e fazendo o sinal da paz para demonstrar as aspas. Foi a minha vez de soltar um bufo de irritação e revirar meus olhos novamente.
- Já faz três meses que não conseguimos ter uma conversa decente, ... Eu realmente sinto sua falta no dia a dia. – Disse a última parte me virando lentamente em direção oposta, na tentativa de esconder meu rosto. – Mas agora que você está aqui, não me sinto muito diferente.
- Um pouco contraditório, não acha? – Pude ouvi-lo chegar mais perto e consequentemente fechei meus olhos ao sentir seu perfume novamente. Dessa vez, não sorri. – Eu acho que você sente falta de um que já não existe mais. Ficamos tanto tempo separados que... Eu ainda tenho uma visão de você que já não é mais, quem você é, entende? – Ele soava tão confuso ao tentar se expressar, exatamente como eu me sinto em relação a nós. – É por isso que não conseguimos ter uma conversa longa sem discussões.
Fiquei muda. Me surpreendi por não ter uma resposta na ponta da língua, ou por não simplesmente mandá-lo se afastar quando senti seus braços envolver minha cintura. Senti minha garganta fechar por um choro reprimido e apertei mais os olhos numa tentativa fraca de não sentir o que eu não posso ver. e eu estamos juntos por 8 anos – High School Sweethearts, é como nos chamam. Nada do clichê melhores amigos finalmente percebendo que se amam, ou do garoto popular finalmente notando a nerd esquisita, longe disso: nenhum de nós foi muito lembrado no ensino médio. Nos aproximamos pois estudávamos no mesmo ano e tínhamos o mesmo caminho pra casa: em um belo dia nublado, enquanto eu caminhava, olhei pra trás para checar se era seguro atravessar a rua ou não, e lá estava ele, andando em minha direção. Descobrimos morar apenas a 7 minutos de distância – minha casa sendo mais longe – e sem planejarmos, acabamos dividindo a volta para a casa todos os dias. Conversa vai, conversa vem, nos conhecemos melhor e logo os dois já tinham interesse.
Nosso primeiro beijo foi na esquina que normalmente nos despedíamos e eu seguia meu caminho sozinha para casa, mas ele quis tentar um jeito diferente de dizer adeus e acabou me atrasando 40 minutos para o almoço com meus pais. me pediu em namoro no primeiro dia que decidimos que precisávamos de uma dose diária maior um do outro, não somente de 20 minutos caminhando – me convidou pra almoçar em um restaurante fast food depois da aula e fez a pergunta ali mesmo. Namoramos até a formatura, e também durante a faculdade, mesmo cursando em lugares diferentes – foram 4 anos de namoro a longa distância, com direito a visitas aos finais de semana e brigas imaturas por motivos que nem lembramos mais. Hoje, eu sou formada em humanidades e em psicologia esportiva, eu trabalho como consultora de imigração autônoma e trabalha como psicólogo em sua antiga universidade.
Decidimos não morar juntos depois da universidade por questão de autonomia. Eu nunca havia morado sozinha, e ele tampouco. Eu queria saber quem eu era fora da vida de estudante, como adulta. Fizemos a decisão em conjunto, e ao saber do meu ponto de vista ele pareceu até aliviado. Eu me mudei para perto de sua universidade, como meu trabalho é remoto e eu escolho minha carga horária, me pareceu mais justo. Ele achou um apartamento mais perto da universidade, a 7 minutos de distância do meu – achamos que era predestinado, por motivos óbvios, e ele se mudou.
Por ser psicólogo esportivo da faculdade, acaba passando muito tempo viajando com os times, pois ele é convocado para qualquer competição – de qualquer esporte – em outra cidade. Ele passou os últimos 3 meses em um acampamento de verão no interior, vale lembrar, sem recepção de celular. Recebi dois pequenos emails durante esse tempo, ele confirmando que estava bem e sobre o progresso de alguns atletas, já que ele ainda não leva o sigilo entre clientes muito a sério. Respondi ao email dizendo que sentia sua falta e que iria buscá-lo na universidade quando voltasse. E fui.
Dirigi até seu apartamento com meu Honda Civic prata, chegando lá eu pedi para que ele levasse suas coisas para cima enquanto eu o esperava no jardim localizado atrás do prédio. Ele subiu hesitante, pois nós só havíamos nos encontrado nesse jardim duas vezes: a primeira, quando eu tive que lhe contar sobre a morte da minha gata de 18 anos, Leslie. A segunda, quando eu questionei minha profissão e precisava de um conselho. Sabendo disso, provavelmente já sabia que eu queria conversar sobre algo sério, o problema é que eu não sei ao certo como. Acho que ele já sabia antes de mim que isso acabaria. Nós.
- Não acho que é porque não nos conhecemos. – Coloquei minhas mãos sobre as suas, que ainda se encontravam em minha cintura. – Você me conhece melhor do que eu mesma.
- Eu quis dizer... – Ele hesitou e sua voz ficou mais fraca – Romanticamente.
Soltei suas mãos para afastar os cabelos que caíam no meu rosto, ele aproveitou o momento para virar minha cintura para si, a fim de que nossos rostos se encontrassem. Imediatamente senti meus olhos se enchendo de lágrimas e seu polegar direito se arrastou em minha bochecha, a fim de limpar lágrimas que já caíam sem eu perceber. Coloquei minhas mãos em seus ombros para me endireitar e fazer com que o pouco contato que nossos corpos faziam sumisse, o que fez com que ele soltasse um suspiro de frustação.
- Eu te amo... Mais do que eu já tenha amado alguém, mais do que eu vá amar. – Sua mão se moveu de minha bochecha para os meus fios de cabelo ainda teimando em cair no rosto, e vi um olhar de adoração em seus olhos – Eu te amo, . – Seus olhos finalmente encontraram os meus.
Ouvir meu apelido saindo de sua boca após essa declaração foi o fim de minha estabilidade. Com as mãos em volta de seu pescoço, o puxei de modo que nossos narizes se encostaram e lhe dei o melhor sorriso que pude. Senti mais lágrimas escorrendo por meu rosto e pescoço ao ver que ele também sorria. Sorrimos, pois ambos tínhamos certeza de que nos amávamos. Chorei, pois eu concordei com ele sobre o que disse de nossa paixão ter acabado, e senti como se fosse o fim de nossa história.
é o único homem com quem eu já estive. Com ele, tudo é confortável, e infelizmente, isso se tornou num empecilho nos últimos meses que passamos juntos. Sinto que estou com meu melhor amigo, mas não sinto meu coração bater mais forte quando vejo uma notificação de ligação com seu nome, não sinto ciúmes ao vê-lo olhar para uma mulher mais atraente, não sinto ansiedade em ir dormir sem saber onde ele está, não sinto, simplesmente. Quero lhe contar sobre meu dia, quero assistir um filme que eu sei que ele vá dar risada enquanto assistindo, quero que ele seja parte da minha vida para sempre. Mas não o quero. Não romanticamente. Não com paixão. Não do jeito que uma namorada deveria.
- Me desculpa, ... – Comecei com a voz embargada de choro, mas ele logo interrompeu:
- Nunca se desculpe comigo. O que você acha sobre tudo isso?
Lhe dei um selinho sem perceber antes de me afastar, o que me fez arregalar os olhos e colocar as duas mãos sobre a boca e lhe arranquei uma gargalhada.
- Força do hábito, me descul... – Seu olhar me repreendeu – É isso que eu acho, babe. Tudo sobre nós ultimamente é essa tal força do hábito, nada do que fazemos parece ser genuíno. Eu te amo tanto – Me aproximei dele novamente e peguei suas mãos repetindo suas palavras – Mais do que eu já tenha amado alguém, mais do que eu vá amar. E eu não posso viver num mundo que você não é parte da minha vida.
- Ficou louca? – Ele sorriu, subiu as mãos para os meus ombros e me chacoalhou – Não existe sem .
Rimos juntos e eu o abracei o mais forte que pude por um longo tempo, e depois me afastei um pouco, mas não o suficiente, então ainda sentia seu perfume como se fosse meu.
- Promete?
- Eu.. – Hesitante, seu olhar foi dos meus olhos para minha boca – Prometo.
- Por que está me olhando desse jeito? – Eu sorri do jeito mais inocente que consegui. Eu sei o porquê de ele estar me olhando desse jeito. Eu conheço o , conheço esse olhar. Ele sorriu do jeito mais sacana que conseguiu.
- Porque eu acho que uma despedida como essa, merece ser lembrada de um jeito fantástico.
Sua mão esquerda se espalhou em minhas costas e nossas pernas ficaram entrelaçadas com a falta de espaço que o abraço causou, minhas mãos encontraram sua nuca e aproximei nossos lábios, mas me afastei assim que senti seu lábio inferior roçar no meu.
- , acabamos de deixar bem claro que a paixão entre nós acabou. – Arregalei os olhos, mas não pude conter o sorriso em meus lábios.
- Eu sei que você só namorou uma vez – Ele sorriu comigo – Mas chegou o momento de nossas vidas que nós dois descobriremos que paixão e tesão são duas coisas diferentes.
- ... – Empurrei seu peito a fim de que se afastasse, ele entrelaçou as mãos em minhas costas e provou minha tarefa impossível – Não acha que isso vai mudar algo?
- Espero que mude nossa vida sexual – Dei um tapa em seu braço esquerdo, enquanto ele gargalhava – Vai mudar o que vamos lembrar do nosso término. Se eu não for ser a grande paixão de sua vida, me deixe ser o melhor sexo.
Sua mão esquerda se moveu lentamente para o meu pescoço, me fazendo arrepiar em todo o corpo. tentou puxar meu rosto e eu sorri sarcástica enquanto movi meus pés para frente, o forçando a andar para trás até colidir com um banco de madeira que fora posto estrategicamente longe do olhar de qualquer apartamento e da entrada do jardim. Ele me olhou de cima abaixo enquanto se sentava e apoiou os dois cotovelos no banco, levando a mão esquerda a orelha para brincar com o brinco de argola ali. Golpe baixo. Com um grunhido de irritação e desejo, joguei uma perna de cada lado de seu corpo e levei minha boca ao lóbulo da orelha que sua mão estava momentos antes.
- Queria nunca ter te contado sobre como ver você nessa posição me deixa. – Ouvi seu gemido baixo enquanto inspirava com a boca em cima de uma trilha de saliva que fiz no seu pescoço com minha língua. – Mas dois podem jogar esse jogo, babe. – Sussurrei a última palavra em seu ouvido antes de ajustar meu corpo de frente ao seu.
Joguei meu cabelo para trás com as duas mãos a fim de deixar meu busto à mostra, levando minhas mãos para sua nuca em seguida. Senti uma câimbra na coxa direita e mexi meu quadril para me ajustar ao mesmo momento que puxei a nuca de para que seus lábios fossem em direção ao meu decote, o movimento fez com que ele fechasse os olhos e apertasse a mão direita em meu glúteo.
Soltei um suspiro ao sentir seus lábios em contato com a minha pele, e foi ali que decidi: Eu ia deixá-lo ser o melhor sexo da minha vida, e esse foi o primeiro ato de minha vida sexual enquanto solteira.


Capítulo 1

Caro leitor,
Ao longo de minha jornada
Espero que não se importe se, mas irei falar diretamente com você ao longo de minha jornada.

Uma hora e vinte e três minutos. Vinte e quatro palavras. Duas e trinta e sete da manhã. Nem em meus pensamentos consigo formar frases coerentes. Soltei o lápis em cima da mesa de vidro ao lado do caderno que me presenteei no Natal do ano passado com a ambição de que seria um ótimo começo para minha nova carreira como autora. Patética.
Me levantei rápido demais e minha lombar me lembrou porque eu não deveria ficar sentada por muito tempo. Com um suspiro, levei as mãos aos pés e estiquei meus joelhos o máximo que pude, respirei fundo e coloquei as mãos em minhas coxas e estiquei as costas perpendicular ao chão, formando uma figura sete com o meu corpo, expirei levando novamente as mãos aos pés. Depois de repetir os movimentos três vezes, senti minha dor nas costas melhorar e me xinguei mentalmente antes de começar a andar para a cozinha a fim de abrir uma garrafa de vinho tinto.
O barulho do interfone me fez derrubar algumas gotas de vinho no chão e do lado de fora da taça, deixando minha mão marcada de vermelho sangue. Quem diabos liga para um apartamento as duas e quarenta e cinco da manhã? Peguei um pano de prato cinza jogado em cima do fogão e limpei o vinho de minha mão, manchando o pano com a plena consciência que eu nunca tentaria limpá-lo totalmente.
- O que foi? – Atendi ao interfone ainda com a mão direita, enquanto a esquerda ainda segurava o pano.
- ! – . Claro, só ela seria capaz de trazer o ar da graça para meu apartamento em plena madrugada de quarta feira. – Abre para mim.
- O que te faz pensar que eu vou te deixar entrar essa hora? – Indaguei enquanto jogava o pano em seu lugar de origem em cima do fogão e checava se minha roupa era decente suficiente para receber minha amiga.
- Por favor, só abre. Não estou com muita paciência. – Eu que o diga.
Digitei o código para liberar o acesso no portão de entrada e me dirigi à sala, para destrancar a porta. Voltei a cozinha e limpei ao redor da taça de vinho com um papel toalha, sorri satisfeita por ter sucedido pelo menos em uma tarefa hoje, e me sentei por cima de minha perna esquerda no sofá, enquanto o meu pé direito se apoiava na almofada para eu poder usar meu joelho como encosto do meu cotovelo. Respirei fundo, sabendo que assim que os cabelos de fizessem parte da minha visão, ela acabaria com minha paciência assim como acabou com a própria.
foi minha colega de quarto nos tempos da universidade, começou cursando humanidades comigo, mas acabou mudando para pedagogia quando percebeu não gostar tanto de sociologia. foi presente em meus melhores e piores momentos como estudante, me ajudou a memorizar nomes e datas para provas, mentiu para meu (ex) namorado quando eu estava bêbada demais para atender suas ligações, foi às minhas aulas quando eu estava doente demais para ir eu mesma e se fez presente em qualquer palestra que eu tive que apresentar para mais de 5 pessoas. Ela foi, e ainda é, a irmã que eu nunca tive. Atualmente ela mora com o namorado, Lucas, com quem namora desde o 3º ano da universidade.
- E se fosse um maluco tentando invadir seu apartamento? – Entrou me olhando acusatoriamente enquanto puxava uma mala de viagem para dentro.
- Mas é uma maluca tentando invadir meu apartamento! – Coloquei minha taça em cima da mesa de centro e me levantei para fechar a porta enquanto ela levava a mala para o quarto de hóspedes. Pensando bem, ela é basicamente a única hóspede que já recebi, o quarto é dela mesmo.
Me sentei no sofá com as pernas cruzadas e segurei minha taça com as duas mãos, tomei um gole de vinho e fechei os olhos tentando aproveitar a sensação maravilhosa de senti-lo descer.
- Você deveria tentar escrever sobre vinho. – Não vi quando ela entrou na sala e pegou meu caderno que eu encarava minutos antes – Seria muito mais fácil.
- Está em cima da bancada se quiser, só tenha cuidado para não pisar nas gotas que eu derrubei no chão. – Voltei minha atenção para minha taça.
pegou uma taça para si e encheu-a até não ter mais espaço, bebericou um pouco por cima da pia mesmo, até o vinho estar em uma altura confiável para ser carregado até o sofá sem vazar. Sentou em uma poltrona ao lado da televisão, ficando assim de frente para mim e levantou a taça como quem diz “saúde” e virou a taça até não conter mais líquido dentro. Eu a olhei boquiaberta enquanto ainda segurando minha própria taça com as duas mãos.
- Vai me contar o que aconteceu? – Indaguei em um tom baixo para que não fosse recebido da forma errada.
- Não podemos falar sobre você? – Perguntou esperançosa.
Eu poderia falar sobre mim. Queria falar sobre mim. é uma das poucas pessoas que eu posso expressar minhas frustações sem ser julgada, e depois de passar quase uma hora e meia escrevendo meia linha, existem muitas frustrações, medo de não ser boa o suficiente, arrependimento de ter deixado minha carreira de consultora trancada em algum lugar do passado. Mas hoje não pode ser sobre mim, se ela está aqui, ela precisa de mim muito mais do que eu preciso dela.
- Quem sabe mais tarde... – Levantei e troquei nossas taças, ficando com a vazia e novamente a vi jogar o líquido para dentro de uma vez só. – Só vai com calma, tá bom? A última coisa que eu preciso é você vomitando no meu tapete novo.
Coloquei as duas vazias na mesa de centro e joguei meus braços para os lados enquanto sorria a fim de mostrá-la minha mais nova aquisição.
- É lindo, . – Seus olhos se encheram de lágrimas e imediatamente eu me sentei no braço da poltrona e a abracei do melhor jeito que pude.
Não sei por quanto tempo ficamos na mesma posição, mas decidi que já era tempo demais quando minha lombar resolveu me lembrar novamente que não tenho mais vinte e três anos. Me afastei dela, mas continuei sentada, ela olhava diretamente para os meus seios.
- Não acha essa camiseta um pouco indecente para me receber? – Perguntou sorrindo.
Olhei novamente para minha roupa que havia checado antes de ela entrar, uma calça de moletom larga e verde, muito verde, e uma camiseta velha de um show do Simple Plan que eu fui anos atrás, mas que eu havia cortado o decote a fim de que meus seios se mostrassem mais. Agora, que peso mais do que eu pesava quando fiz minha arte, realmente meus peitos mostravam muito mais e se eu pulasse, com certeza um deles saltaria para fora, se não os dois.
- Eu achei que você fosse fã deles. – Disse acariciando meu busto. Nós rimos juntas.
Aproveitei o momento de descontração do que quer que for que ela estivesse passando e levantei para levar as taças de volta para a cozinha, voltando para a sala com o restante da garrada de vinho em mãos. Novamente tomei um gole e passei o resto da garrafa para Neni, que precisava mais do que eu.
- Está tudo bem com o Lucas? – Decidi ir direto para o assunto.
- Se tivesse, eu não estaria aqui, estaria? – Revirou os olhos e levou a garrafa a boca novamente – Desculpa, ... Eu só não sei por que ele não me deixa ser parte da família dele.
Ah, a grande família Rossi. Lucas é o terceiro filho de Roberto e Paloma Rossi, renomados advogados previdenciários que construíram, literalmente, um império. Sociedade Rossi de Advocacia atingiu o ápice de sua fama um ano antes de Neni e Lucas começarem a namorar, quando um homem de 56 anos teve sua mão amputada enquanto trabalhava em uma fábrica e o dr. Rossi decidiu tomar conta do caso de graça. O caso esteve nas notícias por pelo menos três semanas, e depois de conceder a justiça que o homem de 56 anos precisava, o dr. Rossi virou uma celebridade no mundo da advocacia.
Lucas estudou direito e se especializou em direito criminalista, algo que seu pai não aprovou. Afinal, as duas irmãs mais velhas de Lucas nunca se interessaram por direito, portanto ele era o sucessor direto de Roberto para continuar seu reinado. Luc, no entanto, não tinha o menor interesse em ser o filho do chefe, e assim que se formou em direito, antes mesmo de sua especialização, deixou bem claro aos seus pais de que não continuaria o legado que eles estavam criando. Não foi uma discussão bonita, e ele não fala com os pais desde então. Sua mãe, Paloma, ainda tenta contato em datas importantes como aniversário e Natal, mas não consegue falar com o filho por mais de três minutos. Eu não duvido que nem saibam onde ele mora.
- Neni, nem ele próprio quer ser parte da família dele... – Tentei continuar meu raciocínio, mas o olhar machucado que recebi em resposta me fez me calar.
- Ele me pediu em casamento.
- O QUÊ? – Não consegui conter o grito de surpresa e o sorriso em meu rosto, que foi se desfazendo aos poucos ao ver sua expressão. – Você disse não?
- Sim... – Sua expressão se tornou confusa – Quer dizer, não. Eu pedi um tempo para pensar, por isso eu vim para cá, preciso do meu próprio espaço, sabe?
- Claro, o seu próprio espaço. – Concordei sarcástica – E o que você tem para pensar? Sem querer desvalidar seus sentimentos, mas, amiga... Você não percebe o quanto ele te ama?
- É claro que eu percebo, elle). – Levantou-se e eu logo me arrependi de ter aberto a boca – Você acha que eu sou uma pessoa tão superficial assim que nem consegue enxergar o amor do próprio namorado?
- É claro que não....
- O problema – ela me interrompeu e eu decidi deixá-la colocar tudo para fora – é que eu nunca imaginei que começaria uma família com alguém que não quer que os pais sejam presentes. Eu entendo que eles têm suas diferenças e desavenças, mas ele não está disposto nem a convidá-los ao nosso casamento, assumindo que exista um. – Jogou as mãos para o ar em sinal de desistência – Eu sempre quis ter uma família grande e feliz, nunca imaginei as nossas vidas nunca iriam se juntar dessa maneira. Eu quero que meus filhos tenham quatro avós. Eu não quero que ele tenha essa grande parte da vida dele que ele não está disposto a compartilhar comigo. – Eu fiquei calada enquanto ela me olhava – Não vai dizer nada?
- Desculpa, não sabia se podia. – Soltei um riso baixo e ela revirou os olhos – Mas , isso não é um segredo que ele guardou as sete chaves, ele sempre foi muito sincero em relação a isso...
- Eu sei... E é por isso que eu estou tão confusa. Não quero dar a entender que eu o iludi por todos esses anos, eu entendo sua situação e eu o amo tanto... – Seus olhos se encheram de lágrimas novamente – Mas quando eu ouvi o pedido... Foi tudo que consegui pensar. Eu quero ser e dar a família que ele precisa, e não entendo por que ele não ter contato com os pais importa tanto para mim. Isso é uma MERDA! – Gritou a última palavra e se sentou no chão como uma criança, abraçando os próprios joelhos enquanto chorava.
Levei minha mão direita à testa, sem saber o que fazer. Verdade seja dita, eu não sou muito boa com conselhos e palavras de efeito, eu sou a amiga que se oferece para ouvir tudo e depois oferece uma garrafa de vinho. é muito melhor nas palavras do que eu, e a única pessoa que saberia o que dizer para ela... É claro!
- , por favor sente-se no sofá. – Praticamente implorei e me xinguei mentalmente por minha falto de tato com a situação. – Eu vou preparar um banho de banheira para você, está bem? E vou usar do meu melhor sal, nada daquele que eu comprei na farmácia da última vez.
Ela sorriu enquanto eu estendia as mãos em sua direção para ajudá-la a se levantar, a puxei para um abraço apertado antes de soltá-la e ir em direção ao banheiro. Liguei a água quente após tampar o ralo da banheira e peguei meus melhores produtos de espuma e sal dentro do armário embaixo da pia. Joguei um pouco de cada enquanto a banheira enchia e olhei por trás da porta se ela ainda estava sentada de costas para mim, e estava. Corri para fora do banheiro e para dentro do meu quarto o mais rápido que pude, e pulei na cama a fim de encontrar meu celular. Liguei para o número mais recente da minha lista de chamadas.
- Já terminou o rascunho? – Ouvi sua voz de sono depois do segundo toque.
- Não, infelizmente não pude continuar a escrever... – Óbvio que não vou confessar que só escrevi vinte e quatro palavras em uma hora e vinte e três minutos. Ainda não. – Fui interrompida por se mudando para meu apartamento.
- ? Por quê? – Ouvi um pigarro do seu lado da ligação.
- Desculpa mesmo te acordar essa hora... – Achei que ele me interromperia, mas logo me lembrei do tamanho de sua paciência. Ele sempre me deixa terminar minhas frases. – Luc a pediu em casamento. E ela entrou numa paranoia nervosa e pediu um tempo para pensar.
Eu nunca admitiria para que eu a acusei de estar em uma paranoia nervosa. Mas com ele, eu nunca preciso medir as palavras, ele me conhece e nunca irá me julgar por usar palavras que não deveria por impulso as vezes. Na maioria das vezes.
- Você quer que eu já compre um desodorante no caminho? Já que o seu acabou. – Me peguei sorrindo com sua pergunta.
Mais cedo, enquanto entrava em minha própria paranoia em meio a escrita – se é que podemos chamar vinte e quatro palavras de escrita – liguei para ele para desabafar. Ao longo da nossa conversa de 30 minutos, acabei desabafando que para ajudar minha situação meu desodorante havia acabado. Achei um desabafo qualquer, mas é claro que ele prestou atenção. Vale ressaltar que ele já adivinhou o que eu pediria antes mesmo de pedir. Ah, a sintonia.
- Sim, por favor. Te dou vinte minutos para chegar aqui, estou preparando um banho pra ela e preciso da sua companhia só pra mim por alguns minutos antes de entrar nesse drama novamente. – Ah, as palavras mal pensadas que saem por impulso. O ouvi dar um riso do outro lado da linha.
- Te vejo em vinte minutos.
- Até! Nesse momento, você é a pessoa que eu mais amo na face da Terra. – Admiti.
- Ouch, nesse momento? – Pude imaginar seu sorriso irônico.
- Ok, sempre. Até já, . Vou desligar antes que a água da banheira vaze para todo lado.
Desliguei sem precisar dar um adeus apropriado e voltei ao banheiro correndo, mais uma vez, mas me sentindo muito mais leve. A melhor das ajudas estava a caminho.


Continua...



Nota da autora: Sem nota.

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