Prólogo
- Por que estamos aqui? – Ele me questionou com a testa franzida e um olhar confuso.
- Precisamos conversar.
Um silêncio incômodo, mas familiar, se instalou entre nós. Evitando o contato de seus olhos, comecei a reparar nos detalhes da paisagem nos cercando e respirei fundo, o que causou que o cheiro das flores, juntamente com o perfume do homem parado a menos de 30cm de distância, me fizessem sorrir.
- O que é tão engraçado?
- Nada. – Respondi revirando os olhos pelo nível de irritação já demonstrado por ele – Eu achei que você concordaria em conversarmos, mas se não acha um bom momento eu...
- Quem disse que eu não acho um “bom momento”? – Me interrompeu com um ar zombeteiro, levando suas duas mãos para cima e fazendo o sinal da paz para demonstrar as aspas. Foi a minha vez de soltar um bufo de irritação e revirar meus olhos novamente.
- Já faz três meses que não conseguimos ter uma conversa decente, ... Eu realmente sinto sua falta no dia a dia. – Disse a última parte me virando lentamente em direção oposta, na tentativa de esconder meu rosto. – Mas agora que você está aqui, não me sinto muito diferente.
- Um pouco contraditório, não acha? – Pude ouvi-lo chegar mais perto e consequentemente fechei meus olhos ao sentir seu perfume novamente. Dessa vez, não sorri. – Eu acho que você sente falta de um que já não existe mais. Ficamos tanto tempo separados que... Eu ainda tenho uma visão de você que já não é mais, quem você é, entende? – Ele soava tão confuso ao tentar se expressar, exatamente como eu me sinto em relação a nós. – É por isso que não conseguimos ter uma conversa longa sem discussões.
Fiquei muda. Me surpreendi por não ter uma resposta na ponta da língua, ou por não simplesmente mandá-lo se afastar quando senti seus braços envolver minha cintura. Senti minha garganta fechar por um choro reprimido e apertei mais os olhos numa tentativa fraca de não sentir o que eu não posso ver. e eu estamos juntos por 8 anos – High School Sweethearts, é como nos chamam. Nada do clichê melhores amigos finalmente percebendo que se amam, ou do garoto popular finalmente notando a nerd esquisita, longe disso: nenhum de nós foi muito lembrado no ensino médio. Nos aproximamos pois estudávamos no mesmo ano e tínhamos o mesmo caminho pra casa: em um belo dia nublado, enquanto eu caminhava, olhei pra trás para checar se era seguro atravessar a rua ou não, e lá estava ele, andando em minha direção. Descobrimos morar apenas a 7 minutos de distância – minha casa sendo mais longe – e sem planejarmos, acabamos dividindo a volta para a casa todos os dias. Conversa vai, conversa vem, nos conhecemos melhor e logo os dois já tinham interesse.
Nosso primeiro beijo foi na esquina que normalmente nos despedíamos e eu seguia meu caminho sozinha para casa, mas ele quis tentar um jeito diferente de dizer adeus e acabou me atrasando 40 minutos para o almoço com meus pais. me pediu em namoro no primeiro dia que decidimos que precisávamos de uma dose diária maior um do outro, não somente de 20 minutos caminhando – me convidou pra almoçar em um restaurante fast food depois da aula e fez a pergunta ali mesmo. Namoramos até a formatura, e também durante a faculdade, mesmo cursando em lugares diferentes – foram 4 anos de namoro a longa distância, com direito a visitas aos finais de semana e brigas imaturas por motivos que nem lembramos mais. Hoje, eu sou formada em humanidades e em psicologia esportiva, eu trabalho como consultora de imigração autônoma e trabalha como psicólogo em sua antiga universidade.
Decidimos não morar juntos depois da universidade por questão de autonomia. Eu nunca havia morado sozinha, e ele tampouco. Eu queria saber quem eu era fora da vida de estudante, como adulta. Fizemos a decisão em conjunto, e ao saber do meu ponto de vista ele pareceu até aliviado. Eu me mudei para perto de sua universidade, como meu trabalho é remoto e eu escolho minha carga horária, me pareceu mais justo. Ele achou um apartamento mais perto da universidade, a 7 minutos de distância do meu – achamos que era predestinado, por motivos óbvios, e ele se mudou.
Por ser psicólogo esportivo da faculdade, acaba passando muito tempo viajando com os times, pois ele é convocado para qualquer competição – de qualquer esporte – em outra cidade. Ele passou os últimos 3 meses em um acampamento de verão no interior, vale lembrar, sem recepção de celular. Recebi dois pequenos emails durante esse tempo, ele confirmando que estava bem e sobre o progresso de alguns atletas, já que ele ainda não leva o sigilo entre clientes muito a sério. Respondi ao email dizendo que sentia sua falta e que iria buscá-lo na universidade quando voltasse. E fui.
Dirigi até seu apartamento com meu Honda Civic prata, chegando lá eu pedi para que ele levasse suas coisas para cima enquanto eu o esperava no jardim localizado atrás do prédio. Ele subiu hesitante, pois nós só havíamos nos encontrado nesse jardim duas vezes: a primeira, quando eu tive que lhe contar sobre a morte da minha gata de 18 anos, Leslie. A segunda, quando eu questionei minha profissão e precisava de um conselho. Sabendo disso, provavelmente já sabia que eu queria conversar sobre algo sério, o problema é que eu não sei ao certo como. Acho que ele já sabia antes de mim que isso acabaria. Nós.
- Não acho que é porque não nos conhecemos. – Coloquei minhas mãos sobre as suas, que ainda se encontravam em minha cintura. – Você me conhece melhor do que eu mesma.
- Eu quis dizer... – Ele hesitou e sua voz ficou mais fraca – Romanticamente.
Soltei suas mãos para afastar os cabelos que caíam no meu rosto, ele aproveitou o momento para virar minha cintura para si, a fim de que nossos rostos se encontrassem. Imediatamente senti meus olhos se enchendo de lágrimas e seu polegar direito se arrastou em minha bochecha, a fim de limpar lágrimas que já caíam sem eu perceber. Coloquei minhas mãos em seus ombros para me endireitar e fazer com que o pouco contato que nossos corpos faziam sumisse, o que fez com que ele soltasse um suspiro de frustação.
- Eu te amo... Mais do que eu já tenha amado alguém, mais do que eu vá amar. – Sua mão se moveu de minha bochecha para os meus fios de cabelo ainda teimando em cair no rosto, e vi um olhar de adoração em seus olhos – Eu te amo, . – Seus olhos finalmente encontraram os meus.
Ouvir meu apelido saindo de sua boca após essa declaração foi o fim de minha estabilidade. Com as mãos em volta de seu pescoço, o puxei de modo que nossos narizes se encostaram e lhe dei o melhor sorriso que pude. Senti mais lágrimas escorrendo por meu rosto e pescoço ao ver que ele também sorria. Sorrimos, pois ambos tínhamos certeza de que nos amávamos. Chorei, pois eu concordei com ele sobre o que disse de nossa paixão ter acabado, e senti como se fosse o fim de nossa história.
é o único homem com quem eu já estive. Com ele, tudo é confortável, e infelizmente, isso se tornou num empecilho nos últimos meses que passamos juntos. Sinto que estou com meu melhor amigo, mas não sinto meu coração bater mais forte quando vejo uma notificação de ligação com seu nome, não sinto ciúmes ao vê-lo olhar para uma mulher mais atraente, não sinto ansiedade em ir dormir sem saber onde ele está, não sinto, simplesmente. Quero lhe contar sobre meu dia, quero assistir um filme que eu sei que ele vá dar risada enquanto assistindo, quero que ele seja parte da minha vida para sempre. Mas não o quero. Não romanticamente. Não com paixão. Não do jeito que uma namorada deveria.
- Me desculpa, ... – Comecei com a voz embargada de choro, mas ele logo interrompeu:
- Nunca se desculpe comigo. O que você acha sobre tudo isso?
Lhe dei um selinho sem perceber antes de me afastar, o que me fez arregalar os olhos e colocar as duas mãos sobre a boca e lhe arranquei uma gargalhada.
- Força do hábito, me descul... – Seu olhar me repreendeu – É isso que eu acho, babe. Tudo sobre nós ultimamente é essa tal força do hábito, nada do que fazemos parece ser genuíno. Eu te amo tanto – Me aproximei dele novamente e peguei suas mãos repetindo suas palavras – Mais do que eu já tenha amado alguém, mais do que eu vá amar. E eu não posso viver num mundo que você não é parte da minha vida.
- Ficou louca? – Ele sorriu, subiu as mãos para os meus ombros e me chacoalhou – Não existe sem .
Rimos juntos e eu o abracei o mais forte que pude por um longo tempo, e depois me afastei um pouco, mas não o suficiente, então ainda sentia seu perfume como se fosse meu.
- Promete?
- Eu.. – Hesitante, seu olhar foi dos meus olhos para minha boca – Prometo.
- Por que está me olhando desse jeito? – Eu sorri do jeito mais inocente que consegui. Eu sei o porquê de ele estar me olhando desse jeito. Eu conheço o , conheço esse olhar. Ele sorriu do jeito mais sacana que conseguiu.
- Porque eu acho que uma despedida como essa, merece ser lembrada de um jeito fantástico.
Sua mão esquerda se espalhou em minhas costas e nossas pernas ficaram entrelaçadas com a falta de espaço que o abraço causou, minhas mãos encontraram sua nuca e aproximei nossos lábios, mas me afastei assim que senti seu lábio inferior roçar no meu.
- , acabamos de deixar bem claro que a paixão entre nós acabou. – Arregalei os olhos, mas não pude conter o sorriso em meus lábios.
- Eu sei que você só namorou uma vez – Ele sorriu comigo – Mas chegou o momento de nossas vidas que nós dois descobriremos que paixão e tesão são duas coisas diferentes.
- ... – Empurrei seu peito a fim de que se afastasse, ele entrelaçou as mãos em minhas costas e provou minha tarefa impossível – Não acha que isso vai mudar algo?
- Espero que mude nossa vida sexual – Dei um tapa em seu braço esquerdo, enquanto ele gargalhava – Vai mudar o que vamos lembrar do nosso término. Se eu não for ser a grande paixão de sua vida, me deixe ser o melhor sexo.
Sua mão esquerda se moveu lentamente para o meu pescoço, me fazendo arrepiar em todo o corpo. tentou puxar meu rosto e eu sorri sarcástica enquanto movi meus pés para frente, o forçando a andar para trás até colidir com um banco de madeira que fora posto estrategicamente longe do olhar de qualquer apartamento e da entrada do jardim. Ele me olhou de cima abaixo enquanto se sentava e apoiou os dois cotovelos no banco, levando a mão esquerda a orelha para brincar com o brinco de argola ali. Golpe baixo. Com um grunhido de irritação e desejo, joguei uma perna de cada lado de seu corpo e levei minha boca ao lóbulo da orelha que sua mão estava momentos antes.
- Queria nunca ter te contado sobre como ver você nessa posição me deixa. – Ouvi seu gemido baixo enquanto inspirava com a boca em cima de uma trilha de saliva que fiz no seu pescoço com minha língua. – Mas dois podem jogar esse jogo, babe. – Sussurrei a última palavra em seu ouvido antes de ajustar meu corpo de frente ao seu.
Joguei meu cabelo para trás com as duas mãos a fim de deixar meu busto à mostra, levando minhas mãos para sua nuca em seguida. Senti uma câimbra na coxa direita e mexi meu quadril para me ajustar ao mesmo momento que puxei a nuca de para que seus lábios fossem em direção ao meu decote, o movimento fez com que ele fechasse os olhos e apertasse a mão direita em meu glúteo.
Soltei um suspiro ao sentir seus lábios em contato com a minha pele, e foi ali que decidi: Eu ia deixá-lo ser o melhor sexo da minha vida, e esse foi o primeiro ato de minha vida sexual enquanto solteira.
- Precisamos conversar.
Um silêncio incômodo, mas familiar, se instalou entre nós. Evitando o contato de seus olhos, comecei a reparar nos detalhes da paisagem nos cercando e respirei fundo, o que causou que o cheiro das flores, juntamente com o perfume do homem parado a menos de 30cm de distância, me fizessem sorrir.
- O que é tão engraçado?
- Nada. – Respondi revirando os olhos pelo nível de irritação já demonstrado por ele – Eu achei que você concordaria em conversarmos, mas se não acha um bom momento eu...
- Quem disse que eu não acho um “bom momento”? – Me interrompeu com um ar zombeteiro, levando suas duas mãos para cima e fazendo o sinal da paz para demonstrar as aspas. Foi a minha vez de soltar um bufo de irritação e revirar meus olhos novamente.
- Já faz três meses que não conseguimos ter uma conversa decente, ... Eu realmente sinto sua falta no dia a dia. – Disse a última parte me virando lentamente em direção oposta, na tentativa de esconder meu rosto. – Mas agora que você está aqui, não me sinto muito diferente.
- Um pouco contraditório, não acha? – Pude ouvi-lo chegar mais perto e consequentemente fechei meus olhos ao sentir seu perfume novamente. Dessa vez, não sorri. – Eu acho que você sente falta de um que já não existe mais. Ficamos tanto tempo separados que... Eu ainda tenho uma visão de você que já não é mais, quem você é, entende? – Ele soava tão confuso ao tentar se expressar, exatamente como eu me sinto em relação a nós. – É por isso que não conseguimos ter uma conversa longa sem discussões.
Fiquei muda. Me surpreendi por não ter uma resposta na ponta da língua, ou por não simplesmente mandá-lo se afastar quando senti seus braços envolver minha cintura. Senti minha garganta fechar por um choro reprimido e apertei mais os olhos numa tentativa fraca de não sentir o que eu não posso ver. e eu estamos juntos por 8 anos – High School Sweethearts, é como nos chamam. Nada do clichê melhores amigos finalmente percebendo que se amam, ou do garoto popular finalmente notando a nerd esquisita, longe disso: nenhum de nós foi muito lembrado no ensino médio. Nos aproximamos pois estudávamos no mesmo ano e tínhamos o mesmo caminho pra casa: em um belo dia nublado, enquanto eu caminhava, olhei pra trás para checar se era seguro atravessar a rua ou não, e lá estava ele, andando em minha direção. Descobrimos morar apenas a 7 minutos de distância – minha casa sendo mais longe – e sem planejarmos, acabamos dividindo a volta para a casa todos os dias. Conversa vai, conversa vem, nos conhecemos melhor e logo os dois já tinham interesse.
Nosso primeiro beijo foi na esquina que normalmente nos despedíamos e eu seguia meu caminho sozinha para casa, mas ele quis tentar um jeito diferente de dizer adeus e acabou me atrasando 40 minutos para o almoço com meus pais. me pediu em namoro no primeiro dia que decidimos que precisávamos de uma dose diária maior um do outro, não somente de 20 minutos caminhando – me convidou pra almoçar em um restaurante fast food depois da aula e fez a pergunta ali mesmo. Namoramos até a formatura, e também durante a faculdade, mesmo cursando em lugares diferentes – foram 4 anos de namoro a longa distância, com direito a visitas aos finais de semana e brigas imaturas por motivos que nem lembramos mais. Hoje, eu sou formada em humanidades e em psicologia esportiva, eu trabalho como consultora de imigração autônoma e trabalha como psicólogo em sua antiga universidade.
Decidimos não morar juntos depois da universidade por questão de autonomia. Eu nunca havia morado sozinha, e ele tampouco. Eu queria saber quem eu era fora da vida de estudante, como adulta. Fizemos a decisão em conjunto, e ao saber do meu ponto de vista ele pareceu até aliviado. Eu me mudei para perto de sua universidade, como meu trabalho é remoto e eu escolho minha carga horária, me pareceu mais justo. Ele achou um apartamento mais perto da universidade, a 7 minutos de distância do meu – achamos que era predestinado, por motivos óbvios, e ele se mudou.
Por ser psicólogo esportivo da faculdade, acaba passando muito tempo viajando com os times, pois ele é convocado para qualquer competição – de qualquer esporte – em outra cidade. Ele passou os últimos 3 meses em um acampamento de verão no interior, vale lembrar, sem recepção de celular. Recebi dois pequenos emails durante esse tempo, ele confirmando que estava bem e sobre o progresso de alguns atletas, já que ele ainda não leva o sigilo entre clientes muito a sério. Respondi ao email dizendo que sentia sua falta e que iria buscá-lo na universidade quando voltasse. E fui.
Dirigi até seu apartamento com meu Honda Civic prata, chegando lá eu pedi para que ele levasse suas coisas para cima enquanto eu o esperava no jardim localizado atrás do prédio. Ele subiu hesitante, pois nós só havíamos nos encontrado nesse jardim duas vezes: a primeira, quando eu tive que lhe contar sobre a morte da minha gata de 18 anos, Leslie. A segunda, quando eu questionei minha profissão e precisava de um conselho. Sabendo disso, provavelmente já sabia que eu queria conversar sobre algo sério, o problema é que eu não sei ao certo como. Acho que ele já sabia antes de mim que isso acabaria. Nós.
- Não acho que é porque não nos conhecemos. – Coloquei minhas mãos sobre as suas, que ainda se encontravam em minha cintura. – Você me conhece melhor do que eu mesma.
- Eu quis dizer... – Ele hesitou e sua voz ficou mais fraca – Romanticamente.
Soltei suas mãos para afastar os cabelos que caíam no meu rosto, ele aproveitou o momento para virar minha cintura para si, a fim de que nossos rostos se encontrassem. Imediatamente senti meus olhos se enchendo de lágrimas e seu polegar direito se arrastou em minha bochecha, a fim de limpar lágrimas que já caíam sem eu perceber. Coloquei minhas mãos em seus ombros para me endireitar e fazer com que o pouco contato que nossos corpos faziam sumisse, o que fez com que ele soltasse um suspiro de frustação.
- Eu te amo... Mais do que eu já tenha amado alguém, mais do que eu vá amar. – Sua mão se moveu de minha bochecha para os meus fios de cabelo ainda teimando em cair no rosto, e vi um olhar de adoração em seus olhos – Eu te amo, . – Seus olhos finalmente encontraram os meus.
Ouvir meu apelido saindo de sua boca após essa declaração foi o fim de minha estabilidade. Com as mãos em volta de seu pescoço, o puxei de modo que nossos narizes se encostaram e lhe dei o melhor sorriso que pude. Senti mais lágrimas escorrendo por meu rosto e pescoço ao ver que ele também sorria. Sorrimos, pois ambos tínhamos certeza de que nos amávamos. Chorei, pois eu concordei com ele sobre o que disse de nossa paixão ter acabado, e senti como se fosse o fim de nossa história.
é o único homem com quem eu já estive. Com ele, tudo é confortável, e infelizmente, isso se tornou num empecilho nos últimos meses que passamos juntos. Sinto que estou com meu melhor amigo, mas não sinto meu coração bater mais forte quando vejo uma notificação de ligação com seu nome, não sinto ciúmes ao vê-lo olhar para uma mulher mais atraente, não sinto ansiedade em ir dormir sem saber onde ele está, não sinto, simplesmente. Quero lhe contar sobre meu dia, quero assistir um filme que eu sei que ele vá dar risada enquanto assistindo, quero que ele seja parte da minha vida para sempre. Mas não o quero. Não romanticamente. Não com paixão. Não do jeito que uma namorada deveria.
- Me desculpa, ... – Comecei com a voz embargada de choro, mas ele logo interrompeu:
- Nunca se desculpe comigo. O que você acha sobre tudo isso?
Lhe dei um selinho sem perceber antes de me afastar, o que me fez arregalar os olhos e colocar as duas mãos sobre a boca e lhe arranquei uma gargalhada.
- Força do hábito, me descul... – Seu olhar me repreendeu – É isso que eu acho, babe. Tudo sobre nós ultimamente é essa tal força do hábito, nada do que fazemos parece ser genuíno. Eu te amo tanto – Me aproximei dele novamente e peguei suas mãos repetindo suas palavras – Mais do que eu já tenha amado alguém, mais do que eu vá amar. E eu não posso viver num mundo que você não é parte da minha vida.
- Ficou louca? – Ele sorriu, subiu as mãos para os meus ombros e me chacoalhou – Não existe sem .
Rimos juntos e eu o abracei o mais forte que pude por um longo tempo, e depois me afastei um pouco, mas não o suficiente, então ainda sentia seu perfume como se fosse meu.
- Promete?
- Eu.. – Hesitante, seu olhar foi dos meus olhos para minha boca – Prometo.
- Por que está me olhando desse jeito? – Eu sorri do jeito mais inocente que consegui. Eu sei o porquê de ele estar me olhando desse jeito. Eu conheço o , conheço esse olhar. Ele sorriu do jeito mais sacana que conseguiu.
- Porque eu acho que uma despedida como essa, merece ser lembrada de um jeito fantástico.
Sua mão esquerda se espalhou em minhas costas e nossas pernas ficaram entrelaçadas com a falta de espaço que o abraço causou, minhas mãos encontraram sua nuca e aproximei nossos lábios, mas me afastei assim que senti seu lábio inferior roçar no meu.
- , acabamos de deixar bem claro que a paixão entre nós acabou. – Arregalei os olhos, mas não pude conter o sorriso em meus lábios.
- Eu sei que você só namorou uma vez – Ele sorriu comigo – Mas chegou o momento de nossas vidas que nós dois descobriremos que paixão e tesão são duas coisas diferentes.
- ... – Empurrei seu peito a fim de que se afastasse, ele entrelaçou as mãos em minhas costas e provou minha tarefa impossível – Não acha que isso vai mudar algo?
- Espero que mude nossa vida sexual – Dei um tapa em seu braço esquerdo, enquanto ele gargalhava – Vai mudar o que vamos lembrar do nosso término. Se eu não for ser a grande paixão de sua vida, me deixe ser o melhor sexo.
Sua mão esquerda se moveu lentamente para o meu pescoço, me fazendo arrepiar em todo o corpo. tentou puxar meu rosto e eu sorri sarcástica enquanto movi meus pés para frente, o forçando a andar para trás até colidir com um banco de madeira que fora posto estrategicamente longe do olhar de qualquer apartamento e da entrada do jardim. Ele me olhou de cima abaixo enquanto se sentava e apoiou os dois cotovelos no banco, levando a mão esquerda a orelha para brincar com o brinco de argola ali. Golpe baixo. Com um grunhido de irritação e desejo, joguei uma perna de cada lado de seu corpo e levei minha boca ao lóbulo da orelha que sua mão estava momentos antes.
- Queria nunca ter te contado sobre como ver você nessa posição me deixa. – Ouvi seu gemido baixo enquanto inspirava com a boca em cima de uma trilha de saliva que fiz no seu pescoço com minha língua. – Mas dois podem jogar esse jogo, babe. – Sussurrei a última palavra em seu ouvido antes de ajustar meu corpo de frente ao seu.
Joguei meu cabelo para trás com as duas mãos a fim de deixar meu busto à mostra, levando minhas mãos para sua nuca em seguida. Senti uma câimbra na coxa direita e mexi meu quadril para me ajustar ao mesmo momento que puxei a nuca de para que seus lábios fossem em direção ao meu decote, o movimento fez com que ele fechasse os olhos e apertasse a mão direita em meu glúteo.
Soltei um suspiro ao sentir seus lábios em contato com a minha pele, e foi ali que decidi: Eu ia deixá-lo ser o melhor sexo da minha vida, e esse foi o primeiro ato de minha vida sexual enquanto solteira.
Capítulo 1
Caro leitor,
Ao longo de minha jornada
Espero que não se importese, mas irei falar diretamente com você ao longo de minha jornada.
Uma hora e vinte e três minutos. Vinte e quatro palavras. Duas e trinta e sete da manhã. Nem em meus pensamentos consigo formar frases coerentes. Soltei o lápis em cima da mesa de vidro ao lado do caderno que me presenteei no Natal do ano passado com a ambição de que seria um ótimo começo para minha nova carreira como autora. Patética.
Me levantei rápido demais e minha lombar me lembrou porque eu não deveria ficar sentada por muito tempo. Com um suspiro, levei as mãos aos pés e estiquei meus joelhos o máximo que pude, respirei fundo e coloquei as mãos em minhas coxas e estiquei as costas perpendicular ao chão, formando uma figura sete com o meu corpo, expirei levando novamente as mãos aos pés. Depois de repetir os movimentos três vezes, senti minha dor nas costas melhorar e me xinguei mentalmente antes de começar a andar para a cozinha a fim de abrir uma garrafa de vinho tinto.
O barulho do interfone me fez derrubar algumas gotas de vinho no chão e do lado de fora da taça, deixando minha mão marcada de vermelho sangue. Quem diabos liga para um apartamento as duas e quarenta e cinco da manhã? Peguei um pano de prato cinza jogado em cima do fogão e limpei o vinho de minha mão, manchando o pano com a plena consciência que eu nunca tentaria limpá-lo totalmente.
- O que foi? – Atendi ao interfone ainda com a mão direita, enquanto a esquerda ainda segurava o pano.
- ! – . Claro, só ela seria capaz de trazer o ar da graça para meu apartamento em plena madrugada de quarta feira. – Abre para mim.
- O que te faz pensar que eu vou te deixar entrar essa hora? – Indaguei enquanto jogava o pano em seu lugar de origem em cima do fogão e checava se minha roupa era decente suficiente para receber minha amiga.
- Por favor, só abre. Não estou com muita paciência. – Eu que o diga.
Digitei o código para liberar o acesso no portão de entrada e me dirigi à sala, para destrancar a porta. Voltei a cozinha e limpei ao redor da taça de vinho com um papel toalha, sorri satisfeita por ter sucedido pelo menos em uma tarefa hoje, e me sentei por cima de minha perna esquerda no sofá, enquanto o meu pé direito se apoiava na almofada para eu poder usar meu joelho como encosto do meu cotovelo. Respirei fundo, sabendo que assim que os cabelos de fizessem parte da minha visão, ela acabaria com minha paciência assim como acabou com a própria.
foi minha colega de quarto nos tempos da universidade, começou cursando humanidades comigo, mas acabou mudando para pedagogia quando percebeu não gostar tanto de sociologia. foi presente em meus melhores e piores momentos como estudante, me ajudou a memorizar nomes e datas para provas, mentiu para meu (ex) namorado quando eu estava bêbada demais para atender suas ligações, foi às minhas aulas quando eu estava doente demais para ir eu mesma e se fez presente em qualquer palestra que eu tive que apresentar para mais de 5 pessoas. Ela foi, e ainda é, a irmã que eu nunca tive. Atualmente ela mora com o namorado, Lucas, com quem namora desde o 3º ano da universidade.
- E se fosse um maluco tentando invadir seu apartamento? – Entrou me olhando acusatoriamente enquanto puxava uma mala de viagem para dentro.
- Mas é uma maluca tentando invadir meu apartamento! – Coloquei minha taça em cima da mesa de centro e me levantei para fechar a porta enquanto ela levava a mala para o quarto de hóspedes. Pensando bem, ela é basicamente a única hóspede que já recebi, o quarto é dela mesmo.
Me sentei no sofá com as pernas cruzadas e segurei minha taça com as duas mãos, tomei um gole de vinho e fechei os olhos tentando aproveitar a sensação maravilhosa de senti-lo descer.
- Você deveria tentar escrever sobre vinho. – Não vi quando ela entrou na sala e pegou meu caderno que eu encarava minutos antes – Seria muito mais fácil.
- Está em cima da bancada se quiser, só tenha cuidado para não pisar nas gotas que eu derrubei no chão. – Voltei minha atenção para minha taça.
pegou uma taça para si e encheu-a até não ter mais espaço, bebericou um pouco por cima da pia mesmo, até o vinho estar em uma altura confiável para ser carregado até o sofá sem vazar. Sentou em uma poltrona ao lado da televisão, ficando assim de frente para mim e levantou a taça como quem diz “saúde” e virou a taça até não conter mais líquido dentro. Eu a olhei boquiaberta enquanto ainda segurando minha própria taça com as duas mãos.
- Vai me contar o que aconteceu? – Indaguei em um tom baixo para que não fosse recebido da forma errada.
- Não podemos falar sobre você? – Perguntou esperançosa.
Eu poderia falar sobre mim. Queria falar sobre mim. é uma das poucas pessoas que eu posso expressar minhas frustações sem ser julgada, e depois de passar quase uma hora e meia escrevendo meia linha, existem muitas frustrações, medo de não ser boa o suficiente, arrependimento de ter deixado minha carreira de consultora trancada em algum lugar do passado. Mas hoje não pode ser sobre mim, se ela está aqui, ela precisa de mim muito mais do que eu preciso dela.
- Quem sabe mais tarde... – Levantei e troquei nossas taças, ficando com a vazia e novamente a vi jogar o líquido para dentro de uma vez só. – Só vai com calma, tá bom? A última coisa que eu preciso é você vomitando no meu tapete novo.
Coloquei as duas vazias na mesa de centro e joguei meus braços para os lados enquanto sorria a fim de mostrá-la minha mais nova aquisição.
- É lindo, . – Seus olhos se encheram de lágrimas e imediatamente eu me sentei no braço da poltrona e a abracei do melhor jeito que pude.
Não sei por quanto tempo ficamos na mesma posição, mas decidi que já era tempo demais quando minha lombar resolveu me lembrar novamente que não tenho mais vinte e três anos. Me afastei dela, mas continuei sentada, ela olhava diretamente para os meus seios.
- Não acha essa camiseta um pouco indecente para me receber? – Perguntou sorrindo.
Olhei novamente para minha roupa que havia checado antes de ela entrar, uma calça de moletom larga e verde, muito verde, e uma camiseta velha de um show do Simple Plan que eu fui anos atrás, mas que eu havia cortado o decote a fim de que meus seios se mostrassem mais. Agora, que peso mais do que eu pesava quando fiz minha arte, realmente meus peitos mostravam muito mais e se eu pulasse, com certeza um deles saltaria para fora, se não os dois.
- Eu achei que você fosse fã deles. – Disse acariciando meu busto. Nós rimos juntas.
Aproveitei o momento de descontração do que quer que for que ela estivesse passando e levantei para levar as taças de volta para a cozinha, voltando para a sala com o restante da garrada de vinho em mãos. Novamente tomei um gole e passei o resto da garrafa para Neni, que precisava mais do que eu.
- Está tudo bem com o Lucas? – Decidi ir direto para o assunto.
- Se tivesse, eu não estaria aqui, estaria? – Revirou os olhos e levou a garrafa a boca novamente – Desculpa, ... Eu só não sei por que ele não me deixa ser parte da família dele.
Ah, a grande família Rossi. Lucas é o terceiro filho de Roberto e Paloma Rossi, renomados advogados previdenciários que construíram, literalmente, um império. Sociedade Rossi de Advocacia atingiu o ápice de sua fama um ano antes de Neni e Lucas começarem a namorar, quando um homem de 56 anos teve sua mão amputada enquanto trabalhava em uma fábrica e o dr. Rossi decidiu tomar conta do caso de graça. O caso esteve nas notícias por pelo menos três semanas, e depois de conceder a justiça que o homem de 56 anos precisava, o dr. Rossi virou uma celebridade no mundo da advocacia.
Lucas estudou direito e se especializou em direito criminalista, algo que seu pai não aprovou. Afinal, as duas irmãs mais velhas de Lucas nunca se interessaram por direito, portanto ele era o sucessor direto de Roberto para continuar seu reinado. Luc, no entanto, não tinha o menor interesse em ser o filho do chefe, e assim que se formou em direito, antes mesmo de sua especialização, deixou bem claro aos seus pais de que não continuaria o legado que eles estavam criando. Não foi uma discussão bonita, e ele não fala com os pais desde então. Sua mãe, Paloma, ainda tenta contato em datas importantes como aniversário e Natal, mas não consegue falar com o filho por mais de três minutos. Eu não duvido que nem saibam onde ele mora.
- Neni, nem ele próprio quer ser parte da família dele... – Tentei continuar meu raciocínio, mas o olhar machucado que recebi em resposta me fez me calar.
- Ele me pediu em casamento.
- O QUÊ? – Não consegui conter o grito de surpresa e o sorriso em meu rosto, que foi se desfazendo aos poucos ao ver sua expressão. – Você disse não?
- Sim... – Sua expressão se tornou confusa – Quer dizer, não. Eu pedi um tempo para pensar, por isso eu vim para cá, preciso do meu próprio espaço, sabe?
- Claro, o seu próprio espaço. – Concordei sarcástica – E o que você tem para pensar? Sem querer desvalidar seus sentimentos, mas, amiga... Você não percebe o quanto ele te ama?
- É claro que eu percebo, elle). – Levantou-se e eu logo me arrependi de ter aberto a boca – Você acha que eu sou uma pessoa tão superficial assim que nem consegue enxergar o amor do próprio namorado?
- É claro que não....
- O problema – ela me interrompeu e eu decidi deixá-la colocar tudo para fora – é que eu nunca imaginei que começaria uma família com alguém que não quer que os pais sejam presentes. Eu entendo que eles têm suas diferenças e desavenças, mas ele não está disposto nem a convidá-los ao nosso casamento, assumindo que exista um. – Jogou as mãos para o ar em sinal de desistência – Eu sempre quis ter uma família grande e feliz, nunca imaginei as nossas vidas nunca iriam se juntar dessa maneira. Eu quero que meus filhos tenham quatro avós. Eu não quero que ele tenha essa grande parte da vida dele que ele não está disposto a compartilhar comigo. – Eu fiquei calada enquanto ela me olhava – Não vai dizer nada?
- Desculpa, não sabia se podia. – Soltei um riso baixo e ela revirou os olhos – Mas , isso não é um segredo que ele guardou as sete chaves, ele sempre foi muito sincero em relação a isso...
- Eu sei... E é por isso que eu estou tão confusa. Não quero dar a entender que eu o iludi por todos esses anos, eu entendo sua situação e eu o amo tanto... – Seus olhos se encheram de lágrimas novamente – Mas quando eu ouvi o pedido... Foi tudo que consegui pensar. Eu quero ser e dar a família que ele precisa, e não entendo por que ele não ter contato com os pais importa tanto para mim. Isso é uma MERDA! – Gritou a última palavra e se sentou no chão como uma criança, abraçando os próprios joelhos enquanto chorava.
Levei minha mão direita à testa, sem saber o que fazer. Verdade seja dita, eu não sou muito boa com conselhos e palavras de efeito, eu sou a amiga que se oferece para ouvir tudo e depois oferece uma garrafa de vinho. é muito melhor nas palavras do que eu, e a única pessoa que saberia o que dizer para ela... É claro!
- , por favor sente-se no sofá. – Praticamente implorei e me xinguei mentalmente por minha falto de tato com a situação. – Eu vou preparar um banho de banheira para você, está bem? E vou usar do meu melhor sal, nada daquele que eu comprei na farmácia da última vez.
Ela sorriu enquanto eu estendia as mãos em sua direção para ajudá-la a se levantar, a puxei para um abraço apertado antes de soltá-la e ir em direção ao banheiro. Liguei a água quente após tampar o ralo da banheira e peguei meus melhores produtos de espuma e sal dentro do armário embaixo da pia. Joguei um pouco de cada enquanto a banheira enchia e olhei por trás da porta se ela ainda estava sentada de costas para mim, e estava. Corri para fora do banheiro e para dentro do meu quarto o mais rápido que pude, e pulei na cama a fim de encontrar meu celular. Liguei para o número mais recente da minha lista de chamadas.
- Já terminou o rascunho? – Ouvi sua voz de sono depois do segundo toque.
- Não, infelizmente não pude continuar a escrever... – Óbvio que não vou confessar que só escrevi vinte e quatro palavras em uma hora e vinte e três minutos. Ainda não. – Fui interrompida por se mudando para meu apartamento.
- ? Por quê? – Ouvi um pigarro do seu lado da ligação.
- Desculpa mesmo te acordar essa hora... – Achei que ele me interromperia, mas logo me lembrei do tamanho de sua paciência. Ele sempre me deixa terminar minhas frases. – Luc a pediu em casamento. E ela entrou numa paranoia nervosa e pediu um tempo para pensar.
Eu nunca admitiria para que eu a acusei de estar em uma paranoia nervosa. Mas com ele, eu nunca preciso medir as palavras, ele me conhece e nunca irá me julgar por usar palavras que não deveria por impulso as vezes. Na maioria das vezes.
- Você quer que eu já compre um desodorante no caminho? Já que o seu acabou. – Me peguei sorrindo com sua pergunta.
Mais cedo, enquanto entrava em minha própria paranoia em meio a escrita – se é que podemos chamar vinte e quatro palavras de escrita – liguei para ele para desabafar. Ao longo da nossa conversa de 30 minutos, acabei desabafando que para ajudar minha situação meu desodorante havia acabado. Achei um desabafo qualquer, mas é claro que ele prestou atenção. Vale ressaltar que ele já adivinhou o que eu pediria antes mesmo de pedir. Ah, a sintonia.
- Sim, por favor. Te dou vinte minutos para chegar aqui, estou preparando um banho pra ela e preciso da sua companhia só pra mim por alguns minutos antes de entrar nesse drama novamente. – Ah, as palavras mal pensadas que saem por impulso. O ouvi dar um riso do outro lado da linha.
- Te vejo em vinte minutos.
- Até! Nesse momento, você é a pessoa que eu mais amo na face da Terra. – Admiti.
- Ouch, nesse momento? – Pude imaginar seu sorriso irônico.
- Ok, sempre. Até já, . Vou desligar antes que a água da banheira vaze para todo lado.
Desliguei sem precisar dar um adeus apropriado e voltei ao banheiro correndo, mais uma vez, mas me sentindo muito mais leve. A melhor das ajudas estava a caminho.
Espero que não se importe
Uma hora e vinte e três minutos. Vinte e quatro palavras. Duas e trinta e sete da manhã. Nem em meus pensamentos consigo formar frases coerentes. Soltei o lápis em cima da mesa de vidro ao lado do caderno que me presenteei no Natal do ano passado com a ambição de que seria um ótimo começo para minha nova carreira como autora. Patética.
Me levantei rápido demais e minha lombar me lembrou porque eu não deveria ficar sentada por muito tempo. Com um suspiro, levei as mãos aos pés e estiquei meus joelhos o máximo que pude, respirei fundo e coloquei as mãos em minhas coxas e estiquei as costas perpendicular ao chão, formando uma figura sete com o meu corpo, expirei levando novamente as mãos aos pés. Depois de repetir os movimentos três vezes, senti minha dor nas costas melhorar e me xinguei mentalmente antes de começar a andar para a cozinha a fim de abrir uma garrafa de vinho tinto.
O barulho do interfone me fez derrubar algumas gotas de vinho no chão e do lado de fora da taça, deixando minha mão marcada de vermelho sangue. Quem diabos liga para um apartamento as duas e quarenta e cinco da manhã? Peguei um pano de prato cinza jogado em cima do fogão e limpei o vinho de minha mão, manchando o pano com a plena consciência que eu nunca tentaria limpá-lo totalmente.
- O que foi? – Atendi ao interfone ainda com a mão direita, enquanto a esquerda ainda segurava o pano.
- ! – . Claro, só ela seria capaz de trazer o ar da graça para meu apartamento em plena madrugada de quarta feira. – Abre para mim.
- O que te faz pensar que eu vou te deixar entrar essa hora? – Indaguei enquanto jogava o pano em seu lugar de origem em cima do fogão e checava se minha roupa era decente suficiente para receber minha amiga.
- Por favor, só abre. Não estou com muita paciência. – Eu que o diga.
Digitei o código para liberar o acesso no portão de entrada e me dirigi à sala, para destrancar a porta. Voltei a cozinha e limpei ao redor da taça de vinho com um papel toalha, sorri satisfeita por ter sucedido pelo menos em uma tarefa hoje, e me sentei por cima de minha perna esquerda no sofá, enquanto o meu pé direito se apoiava na almofada para eu poder usar meu joelho como encosto do meu cotovelo. Respirei fundo, sabendo que assim que os cabelos de fizessem parte da minha visão, ela acabaria com minha paciência assim como acabou com a própria.
foi minha colega de quarto nos tempos da universidade, começou cursando humanidades comigo, mas acabou mudando para pedagogia quando percebeu não gostar tanto de sociologia. foi presente em meus melhores e piores momentos como estudante, me ajudou a memorizar nomes e datas para provas, mentiu para meu (ex) namorado quando eu estava bêbada demais para atender suas ligações, foi às minhas aulas quando eu estava doente demais para ir eu mesma e se fez presente em qualquer palestra que eu tive que apresentar para mais de 5 pessoas. Ela foi, e ainda é, a irmã que eu nunca tive. Atualmente ela mora com o namorado, Lucas, com quem namora desde o 3º ano da universidade.
- E se fosse um maluco tentando invadir seu apartamento? – Entrou me olhando acusatoriamente enquanto puxava uma mala de viagem para dentro.
- Mas é uma maluca tentando invadir meu apartamento! – Coloquei minha taça em cima da mesa de centro e me levantei para fechar a porta enquanto ela levava a mala para o quarto de hóspedes. Pensando bem, ela é basicamente a única hóspede que já recebi, o quarto é dela mesmo.
Me sentei no sofá com as pernas cruzadas e segurei minha taça com as duas mãos, tomei um gole de vinho e fechei os olhos tentando aproveitar a sensação maravilhosa de senti-lo descer.
- Você deveria tentar escrever sobre vinho. – Não vi quando ela entrou na sala e pegou meu caderno que eu encarava minutos antes – Seria muito mais fácil.
- Está em cima da bancada se quiser, só tenha cuidado para não pisar nas gotas que eu derrubei no chão. – Voltei minha atenção para minha taça.
pegou uma taça para si e encheu-a até não ter mais espaço, bebericou um pouco por cima da pia mesmo, até o vinho estar em uma altura confiável para ser carregado até o sofá sem vazar. Sentou em uma poltrona ao lado da televisão, ficando assim de frente para mim e levantou a taça como quem diz “saúde” e virou a taça até não conter mais líquido dentro. Eu a olhei boquiaberta enquanto ainda segurando minha própria taça com as duas mãos.
- Vai me contar o que aconteceu? – Indaguei em um tom baixo para que não fosse recebido da forma errada.
- Não podemos falar sobre você? – Perguntou esperançosa.
Eu poderia falar sobre mim. Queria falar sobre mim. é uma das poucas pessoas que eu posso expressar minhas frustações sem ser julgada, e depois de passar quase uma hora e meia escrevendo meia linha, existem muitas frustrações, medo de não ser boa o suficiente, arrependimento de ter deixado minha carreira de consultora trancada em algum lugar do passado. Mas hoje não pode ser sobre mim, se ela está aqui, ela precisa de mim muito mais do que eu preciso dela.
- Quem sabe mais tarde... – Levantei e troquei nossas taças, ficando com a vazia e novamente a vi jogar o líquido para dentro de uma vez só. – Só vai com calma, tá bom? A última coisa que eu preciso é você vomitando no meu tapete novo.
Coloquei as duas vazias na mesa de centro e joguei meus braços para os lados enquanto sorria a fim de mostrá-la minha mais nova aquisição.
- É lindo, . – Seus olhos se encheram de lágrimas e imediatamente eu me sentei no braço da poltrona e a abracei do melhor jeito que pude.
Não sei por quanto tempo ficamos na mesma posição, mas decidi que já era tempo demais quando minha lombar resolveu me lembrar novamente que não tenho mais vinte e três anos. Me afastei dela, mas continuei sentada, ela olhava diretamente para os meus seios.
- Não acha essa camiseta um pouco indecente para me receber? – Perguntou sorrindo.
Olhei novamente para minha roupa que havia checado antes de ela entrar, uma calça de moletom larga e verde, muito verde, e uma camiseta velha de um show do Simple Plan que eu fui anos atrás, mas que eu havia cortado o decote a fim de que meus seios se mostrassem mais. Agora, que peso mais do que eu pesava quando fiz minha arte, realmente meus peitos mostravam muito mais e se eu pulasse, com certeza um deles saltaria para fora, se não os dois.
- Eu achei que você fosse fã deles. – Disse acariciando meu busto. Nós rimos juntas.
Aproveitei o momento de descontração do que quer que for que ela estivesse passando e levantei para levar as taças de volta para a cozinha, voltando para a sala com o restante da garrada de vinho em mãos. Novamente tomei um gole e passei o resto da garrafa para Neni, que precisava mais do que eu.
- Está tudo bem com o Lucas? – Decidi ir direto para o assunto.
- Se tivesse, eu não estaria aqui, estaria? – Revirou os olhos e levou a garrafa a boca novamente – Desculpa, ... Eu só não sei por que ele não me deixa ser parte da família dele.
Ah, a grande família Rossi. Lucas é o terceiro filho de Roberto e Paloma Rossi, renomados advogados previdenciários que construíram, literalmente, um império. Sociedade Rossi de Advocacia atingiu o ápice de sua fama um ano antes de Neni e Lucas começarem a namorar, quando um homem de 56 anos teve sua mão amputada enquanto trabalhava em uma fábrica e o dr. Rossi decidiu tomar conta do caso de graça. O caso esteve nas notícias por pelo menos três semanas, e depois de conceder a justiça que o homem de 56 anos precisava, o dr. Rossi virou uma celebridade no mundo da advocacia.
Lucas estudou direito e se especializou em direito criminalista, algo que seu pai não aprovou. Afinal, as duas irmãs mais velhas de Lucas nunca se interessaram por direito, portanto ele era o sucessor direto de Roberto para continuar seu reinado. Luc, no entanto, não tinha o menor interesse em ser o filho do chefe, e assim que se formou em direito, antes mesmo de sua especialização, deixou bem claro aos seus pais de que não continuaria o legado que eles estavam criando. Não foi uma discussão bonita, e ele não fala com os pais desde então. Sua mãe, Paloma, ainda tenta contato em datas importantes como aniversário e Natal, mas não consegue falar com o filho por mais de três minutos. Eu não duvido que nem saibam onde ele mora.
- Neni, nem ele próprio quer ser parte da família dele... – Tentei continuar meu raciocínio, mas o olhar machucado que recebi em resposta me fez me calar.
- Ele me pediu em casamento.
- O QUÊ? – Não consegui conter o grito de surpresa e o sorriso em meu rosto, que foi se desfazendo aos poucos ao ver sua expressão. – Você disse não?
- Sim... – Sua expressão se tornou confusa – Quer dizer, não. Eu pedi um tempo para pensar, por isso eu vim para cá, preciso do meu próprio espaço, sabe?
- Claro, o seu próprio espaço. – Concordei sarcástica – E o que você tem para pensar? Sem querer desvalidar seus sentimentos, mas, amiga... Você não percebe o quanto ele te ama?
- É claro que eu percebo, elle). – Levantou-se e eu logo me arrependi de ter aberto a boca – Você acha que eu sou uma pessoa tão superficial assim que nem consegue enxergar o amor do próprio namorado?
- É claro que não....
- O problema – ela me interrompeu e eu decidi deixá-la colocar tudo para fora – é que eu nunca imaginei que começaria uma família com alguém que não quer que os pais sejam presentes. Eu entendo que eles têm suas diferenças e desavenças, mas ele não está disposto nem a convidá-los ao nosso casamento, assumindo que exista um. – Jogou as mãos para o ar em sinal de desistência – Eu sempre quis ter uma família grande e feliz, nunca imaginei as nossas vidas nunca iriam se juntar dessa maneira. Eu quero que meus filhos tenham quatro avós. Eu não quero que ele tenha essa grande parte da vida dele que ele não está disposto a compartilhar comigo. – Eu fiquei calada enquanto ela me olhava – Não vai dizer nada?
- Desculpa, não sabia se podia. – Soltei um riso baixo e ela revirou os olhos – Mas , isso não é um segredo que ele guardou as sete chaves, ele sempre foi muito sincero em relação a isso...
- Eu sei... E é por isso que eu estou tão confusa. Não quero dar a entender que eu o iludi por todos esses anos, eu entendo sua situação e eu o amo tanto... – Seus olhos se encheram de lágrimas novamente – Mas quando eu ouvi o pedido... Foi tudo que consegui pensar. Eu quero ser e dar a família que ele precisa, e não entendo por que ele não ter contato com os pais importa tanto para mim. Isso é uma MERDA! – Gritou a última palavra e se sentou no chão como uma criança, abraçando os próprios joelhos enquanto chorava.
Levei minha mão direita à testa, sem saber o que fazer. Verdade seja dita, eu não sou muito boa com conselhos e palavras de efeito, eu sou a amiga que se oferece para ouvir tudo e depois oferece uma garrafa de vinho. é muito melhor nas palavras do que eu, e a única pessoa que saberia o que dizer para ela... É claro!
- , por favor sente-se no sofá. – Praticamente implorei e me xinguei mentalmente por minha falto de tato com a situação. – Eu vou preparar um banho de banheira para você, está bem? E vou usar do meu melhor sal, nada daquele que eu comprei na farmácia da última vez.
Ela sorriu enquanto eu estendia as mãos em sua direção para ajudá-la a se levantar, a puxei para um abraço apertado antes de soltá-la e ir em direção ao banheiro. Liguei a água quente após tampar o ralo da banheira e peguei meus melhores produtos de espuma e sal dentro do armário embaixo da pia. Joguei um pouco de cada enquanto a banheira enchia e olhei por trás da porta se ela ainda estava sentada de costas para mim, e estava. Corri para fora do banheiro e para dentro do meu quarto o mais rápido que pude, e pulei na cama a fim de encontrar meu celular. Liguei para o número mais recente da minha lista de chamadas.
- Já terminou o rascunho? – Ouvi sua voz de sono depois do segundo toque.
- Não, infelizmente não pude continuar a escrever... – Óbvio que não vou confessar que só escrevi vinte e quatro palavras em uma hora e vinte e três minutos. Ainda não. – Fui interrompida por se mudando para meu apartamento.
- ? Por quê? – Ouvi um pigarro do seu lado da ligação.
- Desculpa mesmo te acordar essa hora... – Achei que ele me interromperia, mas logo me lembrei do tamanho de sua paciência. Ele sempre me deixa terminar minhas frases. – Luc a pediu em casamento. E ela entrou numa paranoia nervosa e pediu um tempo para pensar.
Eu nunca admitiria para que eu a acusei de estar em uma paranoia nervosa. Mas com ele, eu nunca preciso medir as palavras, ele me conhece e nunca irá me julgar por usar palavras que não deveria por impulso as vezes. Na maioria das vezes.
- Você quer que eu já compre um desodorante no caminho? Já que o seu acabou. – Me peguei sorrindo com sua pergunta.
Mais cedo, enquanto entrava em minha própria paranoia em meio a escrita – se é que podemos chamar vinte e quatro palavras de escrita – liguei para ele para desabafar. Ao longo da nossa conversa de 30 minutos, acabei desabafando que para ajudar minha situação meu desodorante havia acabado. Achei um desabafo qualquer, mas é claro que ele prestou atenção. Vale ressaltar que ele já adivinhou o que eu pediria antes mesmo de pedir. Ah, a sintonia.
- Sim, por favor. Te dou vinte minutos para chegar aqui, estou preparando um banho pra ela e preciso da sua companhia só pra mim por alguns minutos antes de entrar nesse drama novamente. – Ah, as palavras mal pensadas que saem por impulso. O ouvi dar um riso do outro lado da linha.
- Te vejo em vinte minutos.
- Até! Nesse momento, você é a pessoa que eu mais amo na face da Terra. – Admiti.
- Ouch, nesse momento? – Pude imaginar seu sorriso irônico.
- Ok, sempre. Até já, . Vou desligar antes que a água da banheira vaze para todo lado.
Desliguei sem precisar dar um adeus apropriado e voltei ao banheiro correndo, mais uma vez, mas me sentindo muito mais leve. A melhor das ajudas estava a caminho.
Capítulo 2
- E o que você acha sobre tudo isso? – perguntou, enquanto nos sentávamos em lados opostos da mesa esperando sair do banho.
Apoiei meus cotovelos na mesa e levei as mãos à cabeça, a fim de massagear minhas têmporas. Fechei os olhos e percebi que eu estava mais estressada com o fato de não ter tido sucesso em minha escrita essa noite do que com o fato de minha melhor amiga ter aparecido em meu apartamento às duas da manhã, porque o seu namorado a pediu em casamento e ela está com medo de dar esse passo sem conhecer a família dele. Eu sou uma péssima amiga. Suspirei e abri os olhos, não me surpreendi com o fato de estar parado com as duas mãos entrelaçadas em cima da mesa e me olhando sereno. Invejo a paciência desse homem.
- Sendo sincera, não estou muito preocupada com isso tudo. Ela só precisa de um tempo sozinha e logo vai perceber que ela quer o Luc como sua família, com sogros ou não. – Dei de ombros e coloquei mais vinho em minha taça – vinho que trouxe de sua casa, pois supôs que havia tomado todo o meu. Homem esperto.
- Vejo que a escrita foi produtiva... – Senti meu rosto queimar ao ver meu caderno em suas mãos e um sorriso sacana em seus lábios. – E é isso que está te preocupando de verdade?
- Eu... – Não havia motivos para eu não admitir derrota – Eu não sei se fiz a coisa certa, babe. Os meus clientes de consultoria não estão totalmente perdidos, às vezes é melhor voltar a fazer algo que sei que sou boa o suficiente.
- , você é boa o suficiente em qualquer coisa. Na verdade, – Ele se levantou e deu a volta na mesa até chegar em minha cadeira, onde ele se ajoelhou – Qualquer pessoa é suficiente para qualquer coisa, basta esforço e paciência.
Levantei minha mão esquerda com o intuito de dar um tapa em sua nuca, mas ele se desviou a tempo, porém perdeu o equilíbrio e acabou caindo de costas no chão. Levei as mãos a boca com a surpresa e as mantive ali, para não deixar minha risada muito aparente.
- Qualquer dia eu vou participar da sua aula de ioga. – Disse se apoiando na cadeira para se levantar – Meu equilíbrio está uma merda. Quer parar de rir? – Seu tom indicava que ele também queria rir.
- Quem vê a cara bonita, não imagina o trapalhão que é. – Disse finalmente conseguindo conter o riso e me levantei para encará-lo – Obrigada por vir.
- E eu tinha escolha? – Levantou a sobrancelha esquerda. Reparei em como sua blusa preta deixava seus olhos mais cativantes.
- Claro que sim – Levantei os dedos, mostrando o número de suas opções – Poderia ter vindo ou ter perdido o direito de se comunicar comigo por uma semana.
- Se eu soubesse dessas opções, ficaria muito tentado, mas te ver nessa camiseta fez o esforço valer a pena. – Lhe fiz uma careta levantando o lábio superior e colocando a língua no meio dos dentes enquanto revirava os olhos. Ele colocou cada mão de um lado da minha cabeça e me chacoalhou.
- Para com isso, inferno. – Dei um tapa em seu braço direito e levantei o joelho direito para perto de sua virilha, demonstrando o que aconteceria se ele não parasse.
- Tira esse sorriso do rosto que eu paro. – Me deu um sorriso irônico antes de dar um tapa no meu joelho com a mão esquerda e se virar em direção ao sofá.
- Você já falou com o Luc? – Perguntei, me sentando na poltrona antes ocupada por .
- Tentei ligar, mas foi direto pra caixa postal. Passo lá amanhã de manhã antes de ir para o trabalho.
Olhei para o relógio na parede da cozinha. Três e cinquenta da manhã.
- Você quis dizer, daqui a algumas horas? – Ele virou a cabeça para onde eu olhava e soltou um suspiro frustrado ao perceber que já era amanhã. – De verdade, obrigada por vir. Quer se deitar um pouco na cama? Ainda está arrumada.
- Não, eu gosto mesmo é desse sofá. – Disse tirando o tênis e se esticando no sofá, deixando sua perna esquerda cruzada por cima da direita.
Fechou os olhos e eu aproveitei o momento para me levantar e arrumar um pouco da bagunça ali. Levei o tênis de para a sapateira ao lado da porta e recolhi as taças de vinho e as garrafas e coloquei dentro da pia. Enquanto olhava dentro da geladeira tentando descobrir o que comer, ouvi a porta do banheiro se abrir e corri para o corredor para avisar com as mãos a não fazer muito barulho.
- Eu estou um pouco lesada, mas ainda não bêbada – Respondeu aos meus gestos com um tom irônico.
- Pelo jeito que está esticando cada palavra eu duvido muito. – se levantou do sofá e encarou com uma expressão digna de um pai desapontado. abriu a boca e arregalou os olhos demonstrando sua surpresa, mas rapidamente cerrou os olhos em minha direção e bufou alto, me repreendendo por ter chamado .
Soltando um palavrão alto, marchou para o quarto de hóspedes e bateu a porta fortemente, me fazendo dar um pulo involuntário com o susto. Olhei para , mentalmente pedindo desculpas e paciência, e ele acenou minimamente com a cabeça em concordância antes de se jogar de volta no sofá. Corri para o quarto atrás de , e sabendo que não havia tranca na fechadura, dei algumas batidas leves na porta enquanto já adentrava o cômodo.
- O que ele está fazendo aqui? – Me perguntou, sentada na cama com os braços cruzados.
- Eu pedi para ele vir. – Confessei, fechando a porta atrás de mim – Eu achei que ter mais um ombro amigo seria bom pra você.
- Ele está aqui para me analisar. – me olhou acusatória.
- Não, não está. Ele é psicólogo esportivo – frisei a palavra, a fazendo revirar os olhos – e está aqui porque te conhece tão bem como eu, e ficou preocupado com você. – Mentira que ajuda não dói, já dizia minha avó.
- Eu não quero falar sobre Luc hoje.
- E não precisa. Estamos aqui por você, não pelo babado. – Um sorriso tímido surgiu em seus lábios. – Mas se tiver algum problema eu o ter chamado...
- Não, nenhum. Eu amo o . Já você... – Me olhou sugestivamente.
- Isso de novo não, , por favor. é meu melhor amigo, não é nada demais. – Respirei fundo dando a minha amiga o pouco da paciência que me restava.
- , eu sei que você acha que vocês terminaram amigavelmente e já não rola mais nada, mas digamos que o jeito que vocês terminaram não foi muito saudável. E essa relação que vocês mantêm é linda, mas muito esquisita.
- , já faz dois anos. Não rola mais nada romanticamente entre e eu há dois anos. – Deslizei pela parede até meus cotovelos acharem meus joelhos e enterrei meu rosto entre minhas mãos – E estamos ótimos desse jeito, não espero que você entenda exatamente o que sentimos um pelo outro, mas eu não quero voltar a tê-lo como namorado. E ele também não me quer desse jeito.
passou o indicador e o polegar entre os lábios, demonstrando que iria ficar calada sobre o assunto, mas seu olhar permaneceu sobre mim como se soubesse de um segredo. Decidi me sentar ao seu lado e fiquei grata quando não disse mais nada, mas me senti culpada por minha falta de paciência quando ela só queria falar de qualquer outro assunto que não fosse ela e Lucas.
- e eu nos conhecemos há muito tempo. – Comecei com a voz baixa – A conexão foi tão forte e éramos tão novos que acabamos reconhecendo como um sinal de que deveríamos estar juntos. O fizemos, mas... – Suspirei enquanto olhava para minha amiga, que me encarava com os olhos arregalados. Não era comum eu falar com ela abertamente sobre . Não depois que terminamos. – O fato é que nós dois sabíamos que ia acabar quando acabou. Acabou antes de qualquer um de nós machucar o outro, e sempre fomos sinceros sobre nossos sentimentos. Ele me entende, eu o entendo. Por que um término de namoro seria um obstáculo para uma amizade tão verdadeira?
Não a dei oportunidade de me responder, pois me levantei e saí do quarto em direção a cozinha, deixando a porta do quarto aberta. Meu tom de voz foi suave, mas por dentro meu sangue estava fervendo, não gosto quando questionam minha amizade mais duradoura. Não parei de andar até chegar em minha cafeteira, contei minha respiração até o café passar completamente, numa tentativa de me livrar do desconforto que a irritação estava me causando. Peguei uma xícara extra de café e fui para a sala me sentar na poltrona de frente para , que estava com os olhos fechados, talvez até dormindo. Olhei para seu rosto relaxado e sorri imaginando como seria bom eu estar tão tranquila e relaxada desse jeito, meu olhar baixou para o seu tórax totalmente coberto pela blusa de moletom preta e usei a neutralidade da cor para concentrar em minha própria respiração e me acalmar.
Falar com sobre era muito fácil, até terminarmos. Ela nunca entendeu por que eu me permiti transar com ele uma última vez, e por que ainda fazemos parte da rotina um do outro como se nada tivesse mudado. Exceto que tudo mudou: agora eu e podemos ser nós, sem a preocupação do futuro que estava nos sufocando e nos afastando por não podermos ser honestos. Não me arrependo de terminarmos, ou de como terminamos, e sinto um alívio enorme por ainda tê-lo como grande parte da minha vida. Infelizmente, não acho que alguém além de nós vá entender esse alívio e conforto que sentimos um com o outro, teima em tocar no assunto toda vez que encontra uma oportunidade, e isso me estressa.
- Você está só se acalmando do estresse do seu discurso ou está me secando? – perguntou divertido.
- Não foi um discurso. Você ouviu tudo? – Dei um gole no café e me senti apreensiva.
Apesar de nossa amizade que prevaleceu depois de tudo, e eu nunca havíamos colocado palavras sobre o que sentíamos ou até mesmo discutido sobre o assunto depois de nosso término. Tudo fluiu tão bem que nunca foi preciso, logo foi a primeira vez que ele ouviu me falar de nossa relação atual.
- Digamos que eu sinto pena de você se ela já trouxe o Luc pra passar a noite aqui com essas paredes finas. – Riu enquanto se sentava e apontou para minha xícara de café, que eu lhe estendi – Obrigado. , eu concordo com tudo o que disse, não precisa me olhar desse jeito assustado.
Ri sem graça e senti meu rosto queimar novamente. Aproveitei que o assunto não lhe causou qualquer desconforto aparente e lhe perguntei:
- Você se arrepende de termos namorado? Digo... – Olhei para a xícara de café em suas mãos ao invés de seu rosto – Se só tivéssemos sido amigos por todos esses anos, você acha que teria sido melhor?
- Não. Se você não estivesse usando essa camiseta com os seios de fora poderia até dizer que está agindo como uma adolescente insegura. – Ah, a sutileza. Ri alto e balancei minha cabeça juntamente com meus braços para demonstrar estar me livrando de tais pensamentos e me levantei num pulo.
- Fico nervosa quando me questionam. – Eu disse, dando de ombros.
- Eu sei, mas nem todo mundo é um psicólogo altamente qualificado para desvendar os mistérios da mente de . – Sorriu colocando a xícara na mesa de centro e se levantou parando em minha frente – Não acho que alguém além de nós vá entender nossa relação. Eu consigo aceitar isso, você consegue?
- Sim. – Sorri quando ele colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha e passei meus braços ao redor de seu pescoço, o puxando para um abraço. Senti o cheiro de seu perfume e não resisti em colocar meu nariz bem perto do seu pescoço e respirar fundo.
- Tá vendo, é por isso que as pessoas ficam com tanta dúvida. – Riu se desfazendo do abraço e segurou meu rosto ao me dar um beijo na testa.
- Estou interrompendo o casal? – A voz de se fez presente.
e eu não nos movemos, aproveitei que ele estava entre e eu e revirei os olhos o mais dramaticamente que pude enquanto me olhava sorrindo. Ele sibilou “Não seja grossa” com os lábios e eu revirei os olhos mais uma vez, dessa vez respirando fundo e expirando qualquer impaciência – tentando, pelo menos.
- Não, até porque esse casal – me afastei de e apontei para nós dois com o indicador – de melhores amigos está a sua completa disposição. – Sorri abertamente para que olhou de mim para com um sorriso sarcástico.
- Eu preciso de algum doce. – Ela disse e andou rapidamente para a cozinha.
- Se ela insinuar que nós somos um casal de novo... – Eu sussurrei para que me interrompeu, colocando o dedo indicador sobre meus lábios.
- Você vai sorrir e concordar. – Lhe lancei o meu melhor olhar matador – Ela está procurando uma distração, talvez seja melhor deixar ela se iludir com nossa relação não existente.
Fui para a cozinha e encontrei sentada no chão com um pote de sorvete de Cookies & Cream, com algumas lágrimas caindo pelo rosto. Oh não.
- ! – Chamei em um tom desesperado. aproximou-se de cauteloso e sentou-se ao seu lado no chão. Eu me movi lentamente e me sentei do outro lado de , a cutucando com o cotovelo para pedir um pouco do sorvete que ela detonava.
- Vocês combinam. – Ela disse em devaneio.
- Eu sei. – Eu concordei com um sorriso e usei minha mão direita para limpar uma lágrima caindo de seu rosto. – E eu sei que você talvez não queira ouvir isso, mas você e o Luc combinam mais.
- Você acredita que algumas pessoas são predestinadas a ficar juntas?
Eu ri da pergunta e me olhou curioso.
- Se me perguntasse quando eu tinha dezoito anos, sim, com certeza. – Eu respondi, sincera – Mas hoje eu acredito que é mais questão do quanto você está disposto a se dar a outra pessoa, e o quão disposta ela está para te receber. O destino não se mete.
Me senti orgulhosa do que disse, até ver o olhar de confusão no rosto de minha amiga.
- Eu não sei se você realmente não fez sentido, ou esse é o jeito que o universo achou de dizer que é hora eu empacotar.
Rimos juntas e nos apoiamos uma à outra a fim de nos levantarmos. Já em pé, percebi que nos sentamos em cima das gotas de vinho que eu havia derrubado mais cedo, apontei para a mancha na parte de trás do short de e me virei de costas para ela e apontei para minha calça verde, agora manchada no meio do meu glúteo direito. Rimos ainda mais e a puxei para um abraço no meio do riso.
- Quem ver vai até achar você meio romântica. – Brincou, sua voz nasalada por conta dos risos.
- Para você, sempre! – Dei um beijo estalado em sua bochecha e segurei suas mãos – Tudo vai ficar bem, amiga. Chamei o até aqui para te dizer algumas palavras de sabedoria, o melhor que eu posso fazer é te dizer que te apoiarei a cada decisão que tomar. Conta comigo.
- Obrigada, . Você é a única pessoa que eu preciso nesse caos.
– Eu já vou então. – finalmente levantou do chão e colocou a mão sobre o peito simbolizando sua dor. o puxou para um abraço e o vi depositar um beijo demorado em sua bochecha. – Nossa, você é realmente muito cheiroso. – repetiu meu ato de minutos atrás e respirou fundo no cangote de , fazendo-me rir com a cena. Se desvencilhou do rapaz com os olhos fechados e me mandou um “jóia” com o polegar antes de cambalear de volta para o quarto de hóspedes.
Com o olhar desaprovador de em minha direção, concordei que talvez uma garrafa inteira de vinho tinto em menos de vinte minutos não tenha sido uma boa ideia.
Apoiei meus cotovelos na mesa e levei as mãos à cabeça, a fim de massagear minhas têmporas. Fechei os olhos e percebi que eu estava mais estressada com o fato de não ter tido sucesso em minha escrita essa noite do que com o fato de minha melhor amiga ter aparecido em meu apartamento às duas da manhã, porque o seu namorado a pediu em casamento e ela está com medo de dar esse passo sem conhecer a família dele. Eu sou uma péssima amiga. Suspirei e abri os olhos, não me surpreendi com o fato de estar parado com as duas mãos entrelaçadas em cima da mesa e me olhando sereno. Invejo a paciência desse homem.
- Sendo sincera, não estou muito preocupada com isso tudo. Ela só precisa de um tempo sozinha e logo vai perceber que ela quer o Luc como sua família, com sogros ou não. – Dei de ombros e coloquei mais vinho em minha taça – vinho que trouxe de sua casa, pois supôs que havia tomado todo o meu. Homem esperto.
- Vejo que a escrita foi produtiva... – Senti meu rosto queimar ao ver meu caderno em suas mãos e um sorriso sacana em seus lábios. – E é isso que está te preocupando de verdade?
- Eu... – Não havia motivos para eu não admitir derrota – Eu não sei se fiz a coisa certa, babe. Os meus clientes de consultoria não estão totalmente perdidos, às vezes é melhor voltar a fazer algo que sei que sou boa o suficiente.
- , você é boa o suficiente em qualquer coisa. Na verdade, – Ele se levantou e deu a volta na mesa até chegar em minha cadeira, onde ele se ajoelhou – Qualquer pessoa é suficiente para qualquer coisa, basta esforço e paciência.
Levantei minha mão esquerda com o intuito de dar um tapa em sua nuca, mas ele se desviou a tempo, porém perdeu o equilíbrio e acabou caindo de costas no chão. Levei as mãos a boca com a surpresa e as mantive ali, para não deixar minha risada muito aparente.
- Qualquer dia eu vou participar da sua aula de ioga. – Disse se apoiando na cadeira para se levantar – Meu equilíbrio está uma merda. Quer parar de rir? – Seu tom indicava que ele também queria rir.
- Quem vê a cara bonita, não imagina o trapalhão que é. – Disse finalmente conseguindo conter o riso e me levantei para encará-lo – Obrigada por vir.
- E eu tinha escolha? – Levantou a sobrancelha esquerda. Reparei em como sua blusa preta deixava seus olhos mais cativantes.
- Claro que sim – Levantei os dedos, mostrando o número de suas opções – Poderia ter vindo ou ter perdido o direito de se comunicar comigo por uma semana.
- Se eu soubesse dessas opções, ficaria muito tentado, mas te ver nessa camiseta fez o esforço valer a pena. – Lhe fiz uma careta levantando o lábio superior e colocando a língua no meio dos dentes enquanto revirava os olhos. Ele colocou cada mão de um lado da minha cabeça e me chacoalhou.
- Para com isso, inferno. – Dei um tapa em seu braço direito e levantei o joelho direito para perto de sua virilha, demonstrando o que aconteceria se ele não parasse.
- Tira esse sorriso do rosto que eu paro. – Me deu um sorriso irônico antes de dar um tapa no meu joelho com a mão esquerda e se virar em direção ao sofá.
- Você já falou com o Luc? – Perguntei, me sentando na poltrona antes ocupada por .
- Tentei ligar, mas foi direto pra caixa postal. Passo lá amanhã de manhã antes de ir para o trabalho.
Olhei para o relógio na parede da cozinha. Três e cinquenta da manhã.
- Você quis dizer, daqui a algumas horas? – Ele virou a cabeça para onde eu olhava e soltou um suspiro frustrado ao perceber que já era amanhã. – De verdade, obrigada por vir. Quer se deitar um pouco na cama? Ainda está arrumada.
- Não, eu gosto mesmo é desse sofá. – Disse tirando o tênis e se esticando no sofá, deixando sua perna esquerda cruzada por cima da direita.
Fechou os olhos e eu aproveitei o momento para me levantar e arrumar um pouco da bagunça ali. Levei o tênis de para a sapateira ao lado da porta e recolhi as taças de vinho e as garrafas e coloquei dentro da pia. Enquanto olhava dentro da geladeira tentando descobrir o que comer, ouvi a porta do banheiro se abrir e corri para o corredor para avisar com as mãos a não fazer muito barulho.
- Eu estou um pouco lesada, mas ainda não bêbada – Respondeu aos meus gestos com um tom irônico.
- Pelo jeito que está esticando cada palavra eu duvido muito. – se levantou do sofá e encarou com uma expressão digna de um pai desapontado. abriu a boca e arregalou os olhos demonstrando sua surpresa, mas rapidamente cerrou os olhos em minha direção e bufou alto, me repreendendo por ter chamado .
Soltando um palavrão alto, marchou para o quarto de hóspedes e bateu a porta fortemente, me fazendo dar um pulo involuntário com o susto. Olhei para , mentalmente pedindo desculpas e paciência, e ele acenou minimamente com a cabeça em concordância antes de se jogar de volta no sofá. Corri para o quarto atrás de , e sabendo que não havia tranca na fechadura, dei algumas batidas leves na porta enquanto já adentrava o cômodo.
- O que ele está fazendo aqui? – Me perguntou, sentada na cama com os braços cruzados.
- Eu pedi para ele vir. – Confessei, fechando a porta atrás de mim – Eu achei que ter mais um ombro amigo seria bom pra você.
- Ele está aqui para me analisar. – me olhou acusatória.
- Não, não está. Ele é psicólogo esportivo – frisei a palavra, a fazendo revirar os olhos – e está aqui porque te conhece tão bem como eu, e ficou preocupado com você. – Mentira que ajuda não dói, já dizia minha avó.
- Eu não quero falar sobre Luc hoje.
- E não precisa. Estamos aqui por você, não pelo babado. – Um sorriso tímido surgiu em seus lábios. – Mas se tiver algum problema eu o ter chamado...
- Não, nenhum. Eu amo o . Já você... – Me olhou sugestivamente.
- Isso de novo não, , por favor. é meu melhor amigo, não é nada demais. – Respirei fundo dando a minha amiga o pouco da paciência que me restava.
- , eu sei que você acha que vocês terminaram amigavelmente e já não rola mais nada, mas digamos que o jeito que vocês terminaram não foi muito saudável. E essa relação que vocês mantêm é linda, mas muito esquisita.
- , já faz dois anos. Não rola mais nada romanticamente entre e eu há dois anos. – Deslizei pela parede até meus cotovelos acharem meus joelhos e enterrei meu rosto entre minhas mãos – E estamos ótimos desse jeito, não espero que você entenda exatamente o que sentimos um pelo outro, mas eu não quero voltar a tê-lo como namorado. E ele também não me quer desse jeito.
passou o indicador e o polegar entre os lábios, demonstrando que iria ficar calada sobre o assunto, mas seu olhar permaneceu sobre mim como se soubesse de um segredo. Decidi me sentar ao seu lado e fiquei grata quando não disse mais nada, mas me senti culpada por minha falta de paciência quando ela só queria falar de qualquer outro assunto que não fosse ela e Lucas.
- e eu nos conhecemos há muito tempo. – Comecei com a voz baixa – A conexão foi tão forte e éramos tão novos que acabamos reconhecendo como um sinal de que deveríamos estar juntos. O fizemos, mas... – Suspirei enquanto olhava para minha amiga, que me encarava com os olhos arregalados. Não era comum eu falar com ela abertamente sobre . Não depois que terminamos. – O fato é que nós dois sabíamos que ia acabar quando acabou. Acabou antes de qualquer um de nós machucar o outro, e sempre fomos sinceros sobre nossos sentimentos. Ele me entende, eu o entendo. Por que um término de namoro seria um obstáculo para uma amizade tão verdadeira?
Não a dei oportunidade de me responder, pois me levantei e saí do quarto em direção a cozinha, deixando a porta do quarto aberta. Meu tom de voz foi suave, mas por dentro meu sangue estava fervendo, não gosto quando questionam minha amizade mais duradoura. Não parei de andar até chegar em minha cafeteira, contei minha respiração até o café passar completamente, numa tentativa de me livrar do desconforto que a irritação estava me causando. Peguei uma xícara extra de café e fui para a sala me sentar na poltrona de frente para , que estava com os olhos fechados, talvez até dormindo. Olhei para seu rosto relaxado e sorri imaginando como seria bom eu estar tão tranquila e relaxada desse jeito, meu olhar baixou para o seu tórax totalmente coberto pela blusa de moletom preta e usei a neutralidade da cor para concentrar em minha própria respiração e me acalmar.
Falar com sobre era muito fácil, até terminarmos. Ela nunca entendeu por que eu me permiti transar com ele uma última vez, e por que ainda fazemos parte da rotina um do outro como se nada tivesse mudado. Exceto que tudo mudou: agora eu e podemos ser nós, sem a preocupação do futuro que estava nos sufocando e nos afastando por não podermos ser honestos. Não me arrependo de terminarmos, ou de como terminamos, e sinto um alívio enorme por ainda tê-lo como grande parte da minha vida. Infelizmente, não acho que alguém além de nós vá entender esse alívio e conforto que sentimos um com o outro, teima em tocar no assunto toda vez que encontra uma oportunidade, e isso me estressa.
- Você está só se acalmando do estresse do seu discurso ou está me secando? – perguntou divertido.
- Não foi um discurso. Você ouviu tudo? – Dei um gole no café e me senti apreensiva.
Apesar de nossa amizade que prevaleceu depois de tudo, e eu nunca havíamos colocado palavras sobre o que sentíamos ou até mesmo discutido sobre o assunto depois de nosso término. Tudo fluiu tão bem que nunca foi preciso, logo foi a primeira vez que ele ouviu me falar de nossa relação atual.
- Digamos que eu sinto pena de você se ela já trouxe o Luc pra passar a noite aqui com essas paredes finas. – Riu enquanto se sentava e apontou para minha xícara de café, que eu lhe estendi – Obrigado. , eu concordo com tudo o que disse, não precisa me olhar desse jeito assustado.
Ri sem graça e senti meu rosto queimar novamente. Aproveitei que o assunto não lhe causou qualquer desconforto aparente e lhe perguntei:
- Você se arrepende de termos namorado? Digo... – Olhei para a xícara de café em suas mãos ao invés de seu rosto – Se só tivéssemos sido amigos por todos esses anos, você acha que teria sido melhor?
- Não. Se você não estivesse usando essa camiseta com os seios de fora poderia até dizer que está agindo como uma adolescente insegura. – Ah, a sutileza. Ri alto e balancei minha cabeça juntamente com meus braços para demonstrar estar me livrando de tais pensamentos e me levantei num pulo.
- Fico nervosa quando me questionam. – Eu disse, dando de ombros.
- Eu sei, mas nem todo mundo é um psicólogo altamente qualificado para desvendar os mistérios da mente de . – Sorriu colocando a xícara na mesa de centro e se levantou parando em minha frente – Não acho que alguém além de nós vá entender nossa relação. Eu consigo aceitar isso, você consegue?
- Sim. – Sorri quando ele colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha e passei meus braços ao redor de seu pescoço, o puxando para um abraço. Senti o cheiro de seu perfume e não resisti em colocar meu nariz bem perto do seu pescoço e respirar fundo.
- Tá vendo, é por isso que as pessoas ficam com tanta dúvida. – Riu se desfazendo do abraço e segurou meu rosto ao me dar um beijo na testa.
- Estou interrompendo o casal? – A voz de se fez presente.
e eu não nos movemos, aproveitei que ele estava entre e eu e revirei os olhos o mais dramaticamente que pude enquanto me olhava sorrindo. Ele sibilou “Não seja grossa” com os lábios e eu revirei os olhos mais uma vez, dessa vez respirando fundo e expirando qualquer impaciência – tentando, pelo menos.
- Não, até porque esse casal – me afastei de e apontei para nós dois com o indicador – de melhores amigos está a sua completa disposição. – Sorri abertamente para que olhou de mim para com um sorriso sarcástico.
- Eu preciso de algum doce. – Ela disse e andou rapidamente para a cozinha.
- Se ela insinuar que nós somos um casal de novo... – Eu sussurrei para que me interrompeu, colocando o dedo indicador sobre meus lábios.
- Você vai sorrir e concordar. – Lhe lancei o meu melhor olhar matador – Ela está procurando uma distração, talvez seja melhor deixar ela se iludir com nossa relação não existente.
Fui para a cozinha e encontrei sentada no chão com um pote de sorvete de Cookies & Cream, com algumas lágrimas caindo pelo rosto. Oh não.
- ! – Chamei em um tom desesperado. aproximou-se de cauteloso e sentou-se ao seu lado no chão. Eu me movi lentamente e me sentei do outro lado de , a cutucando com o cotovelo para pedir um pouco do sorvete que ela detonava.
- Vocês combinam. – Ela disse em devaneio.
- Eu sei. – Eu concordei com um sorriso e usei minha mão direita para limpar uma lágrima caindo de seu rosto. – E eu sei que você talvez não queira ouvir isso, mas você e o Luc combinam mais.
- Você acredita que algumas pessoas são predestinadas a ficar juntas?
Eu ri da pergunta e me olhou curioso.
- Se me perguntasse quando eu tinha dezoito anos, sim, com certeza. – Eu respondi, sincera – Mas hoje eu acredito que é mais questão do quanto você está disposto a se dar a outra pessoa, e o quão disposta ela está para te receber. O destino não se mete.
Me senti orgulhosa do que disse, até ver o olhar de confusão no rosto de minha amiga.
- Eu não sei se você realmente não fez sentido, ou esse é o jeito que o universo achou de dizer que é hora eu empacotar.
Rimos juntas e nos apoiamos uma à outra a fim de nos levantarmos. Já em pé, percebi que nos sentamos em cima das gotas de vinho que eu havia derrubado mais cedo, apontei para a mancha na parte de trás do short de e me virei de costas para ela e apontei para minha calça verde, agora manchada no meio do meu glúteo direito. Rimos ainda mais e a puxei para um abraço no meio do riso.
- Quem ver vai até achar você meio romântica. – Brincou, sua voz nasalada por conta dos risos.
- Para você, sempre! – Dei um beijo estalado em sua bochecha e segurei suas mãos – Tudo vai ficar bem, amiga. Chamei o até aqui para te dizer algumas palavras de sabedoria, o melhor que eu posso fazer é te dizer que te apoiarei a cada decisão que tomar. Conta comigo.
- Obrigada, . Você é a única pessoa que eu preciso nesse caos.
– Eu já vou então. – finalmente levantou do chão e colocou a mão sobre o peito simbolizando sua dor. o puxou para um abraço e o vi depositar um beijo demorado em sua bochecha. – Nossa, você é realmente muito cheiroso. – repetiu meu ato de minutos atrás e respirou fundo no cangote de , fazendo-me rir com a cena. Se desvencilhou do rapaz com os olhos fechados e me mandou um “jóia” com o polegar antes de cambalear de volta para o quarto de hóspedes.
Com o olhar desaprovador de em minha direção, concordei que talvez uma garrafa inteira de vinho tinto em menos de vinte minutos não tenha sido uma boa ideia.
Capítulo 3
O barulho de uma motocicleta na rua me tirou a atenção do livro que eu estava submersa pelos últimos trinta minutos. Decido guardar o livro e apreciar o sol tocando minha pele, – vitamina D é inigualável – fecho meus olhos, estendo minhas pernas até meus pés encontrarem apoio na cadeira do outro lado da mesa e entrelaço meus dedos das mãos em cima de minha barriga. Uma brisa agradável faz o cheiro do café pela metade na xícara em cima da mesa encher minhas narinas e eu sorrio respirando fundo.
Com o aviso de minha lombar, sou forçada a voltar a minha posição inicial sentada, e decido terminar a xícara de café com leite que deixei esfriando enquanto lia. Divergente, é o livro que estava lendo. Não que eu não goste desse tipo de leitura – acho muito intrigante, inclusive – mas essa leitura não é para ser prazerosa, estou, na verdade, estudando. Mais uma noite em claro, sem conseguir escrever, decidi recorrer ao livro que prendeu minha atenção durante o ensino médio e tentar aprender como a autora Veronica Roth descreve seus personagens a faz com que o leitor se sinta ali, com eles. Afinal, se meu intuito é fazer o mesmo, mais fácil começar estudando aqueles que já conseguiram, certo?
- Desculpa o atraso, eu não queria vir. – Se minha xícara ainda estivesse cheia, a surpresa em ouvir sua voz me faria derramar o líquido na mesa toda.
- Eu já tinha me conformado com o fato que não viria – Ri, me levantando para cumprimentá-lo com um abraço – Já estava formulando a mensagem passiva-agressiva que mandaria mais tarde.
- Agradeço o voto de confiança. – Disse, retornando meu abraço.
Abracei-o o mais apertado que pude. Quando nos afastamos, coloquei minhas mãos em seus ombros e as deixei descansar ali, enquanto olhava em seus olhos cansados, que evitavam me olhar de volta.
- Como você está, Luc? – Perguntei o mais carinhosamente que consegui. – É bom te ver.
- Estou bem, na medida do possível. – Seu tom era cabisbaixo e colocou as mãos nos bolsos da frente de sua calça jeans com o desconforto para com nossa proximidade.
Me senti como uma estranha para ele, e a sensação me fez murchar o sorriso que carregava no meu rosto. Pigarreei e soltei seus ombros, voltando a me sentar e apontei para a cadeira a minha frente, indicando que também se sentasse.
Lucas se sentou a minha frente e eu tirei cinco segundos para admirar um pouco de sua beleza, respeitosamente, é claro. Lucas tem cerca de um metro e oitenta, tem cabelos castanhos no estilo buzz cut e seus olhos são levemente mais claros, causando um contraste que faz muitas mulheres o encararem por mais tempo do que deveriam – exatamente como eu estou fazendo. Sua pele tem alguns detalhes de sardas que já foram escurecidas pelo sol, e não vou descrever seu sorriso por motivos de já ter o admirado por tempo demais. Olhei em volta na esperança que ele não tenha percebido.
- Ele está aqui, só foi ao banheiro antes. – O encarei confusa ao ver seu sorriso irônico.
- Quem?
- Quem mais está procurando? – Levou as mãos ao cardápio, mas continuou com o sorriso sarcástico nos lábios – , é claro.
Rolei os olhos e bufei, claro que o homem de pensaria as mesmas coisas que ela. Aposto que falam sobre e eu e nossa estranha relação enquanto se preparam para dormir. Aliás, falavam, já que não dormem juntos há duas semanas, desde que apareceu em meu apartamento às duas da manhã, surtando por ter sido pedida em casamento.
- Para começo de conversa, – O olhei com os olhos semicerrados – eu não estava procurando ninguém. E acabando com essa conversa, pode tirar esse sorriso do rosto.
Ele levantou as mãos em sinal de rendimento e levou sua atenção ao cardápio. Fixei meus olhos em seu rosto enquanto me recordava, alheia ao mundo atual, da primeira vez que nos conhecemos. A animação e apreensão de esperando minha aprovação, a timidez de Lucas por estar conhecendo “a ” que não parava de falar sobre... Sorri fraco, ao mesmo tempo que alguém colocou um guardanapo em frente à minha boca e o arrastou até meu queixo.
Assustada, olhei para o dono do braço coberto pelo cardigã azul-marinho e o empurrei com toda força que pude - não tanta para fazer o estrago que eu queria, ao perceber quem era.
- Para você parar de salivar. – Soltou uma piscadela antes de se agachar e beijar o topo de minha cabeça como cumprimento.
- Vocês, homens, estão tirando conclusões muito precipitadas hoje. – Eu disse enquanto passava mão onde havia acabado de beijar.
se sentou na cadeira à minha esquerda, ficando com as costas expostas ao sol. Olhei para seu cardigã e me perguntei como ele usa isso confortavelmente com esse sol de rachar.
- Como você usa isso confortavelmente com esse sol de rachar? – Não resisti.
- Cuida da sua vida, darling – Disse despreocupadamente enquanto olhava ao redor de si – Vocês acham que algum pombo pode entrar aqui ou simplesmente cagar em cima de mim? – Perguntou, dessa vez, com preocupação.
Eu e Luc nos encaramos por alguns segundos e eu lhe fiz um sinal de não com a cabeça, alegando, que dessa vez, não seria eu que iria lidar com isso.
- Cara, eu acho que em qualquer lugar aberto sempre existirá a possibilidade, mas – Luc disse a última palavra um pouco mais alto e levantou o dedo indicador, para evitar interrupções – eu não vejo motivos para se preocupar, tanta coisa pode acontecer que, sinceramente, um pombo não é a pior delas...
Luc sorriu de um jeito reconfortante enquanto o encarava assustado, eu não contive a gargalhada que saiu de minha garganta ao presenciar a cena dos dois homens.
- Que tal só nos preocuparmos em pedir algo para comer? – Sugeri, ainda rindo.
* * *
- Por que sinto que logo vou ficar oficialmente solteiro? – Luc perguntou com ar de indignação, olhando atentamente para sua taça de mimosa agora já vazia.
e eu nos entreolhamos enquanto decidíamos se esse era realmente o momento apropriado para falar de . Ele mordeu o lábio e cruzou as mãos em seu colo, ao arquear as duas sobrancelhas, como se pedindo para eu tomar alguma atitude.
- Ah! Por que eu? – Perguntei em voz alta e ganhei um olhar arregalado de em resposta, assim como um Luc finalmente tirando sua atenção da taça.
- Por que você o quê? – Lucas perguntou entediado.
- Hãn... – Comecei, sem saber ao certo como terminar – Escuta, Luc... não acho que logo você estará solteiro.
- Diga isso para a minha namorada, que recusa minhas ligações todos os dias há duas semanas. – Ele levantou o dedo indicador para o garçom e deu duas cutucadas em sua taça vazia, pedindo mais.
- Eu não preciso dizer, ela já sabe.
- Desculpa se eu não estou tão certo sobre isso como você, . – Seu tom se tornou defensivo e me lançou um olhar machucado.
Eu deslizei as duas mãos sobre a mesa com a palma da mão para cima, a fim de que ele me desse suas mãos, o que não aconteceu. Resolvi ignorar e não levar para o pessoal, afinal, homem bêbado e de coração partido merece empatia.
- Eu não sei mais sobre o seu relacionamento do que você. – Eu disse, calma – Eu sinto muito que vocês dois estão passando por isso, mas creio que você sabe muito bem o porquê de ela ter precisado de um tempo.
Vi se ajustar na cadeira ao lado, relaxar as costas e lentamente levar a mão direita em direção a boca – sinal claro de nervosismo quando ele fica apreensivo: roer unha, ou a pele em volta da unha, como ele alega. Antes de Luc formular uma resposta, o garçom voltou com uma garrafa de mimosa e a deixou no centro da nossa mesa. Eu agradeci e recebi um sorriso sem graça de volta.
- Pois o motivo desse tempo é completamente desnecessário – Luc disse, já enchendo sua taça – Ela sempre soube que eu não queria relação nenhuma com meus pais. Por que porras ela achou que eu iria querer minha futura família e eles tivessem uma relação? Isso é uma baita de desculpa esfarrapada.
Seu linguajar me deixou bem claro que ele já estava bem alterado, mas não pude deixar de defendê-la.
- Você tem razão, ela sempre soube – Foi minha vez de encher minha taça. ainda estava quieto, mordendo a pele em volta da unha do dedo anelar – Não acha que um casamento intensifica um pouco as coisas?
Meu tom óbvio e sem paciência claramente não foi bem recebido.
- , se ela precisa de tempo para processar essas coisas, eu – apontou para si com o polegar – quem deveria ser a pessoa a ajudá-la passar por isso. Simplesmente fazer uma mala e ir embora, sem manter contato algum, é muita imaturidade.
Fiquei muda por alguns segundos, me sentindo culpada e como se estivesse traindo a confiança de ao concordar com Luc.
- Eu também acho – Confessei em voz baixa.
- Então por que não diz para ela voltar? – Sua pergunta soou como uma súplica.
- Só porque eu estou apoiando-a, não quer dizer que eu acho a decisão certa. Mas ela precisa descobrir isso sozinha – frisei a última palavra – Não vou me meter.
- Disse, depois de já ter se metido! – Ele aumentou seu tom de voz, o que fez finalmente tirar a mão da boca e se sentar ereto, com os dois cotovelos apoiados na mesa e olhar para o amigo com uma sobrancelha arqueada – Francamente, cada minuto que ela passa em sua casa apreciando cada conselho seu, é você se metendo.
- Que tal deixarmos esse assunto de lado até nenhum de nós estar com álcool no sangue? – perguntou com um sorriso, enquanto esticava a mão esquerda para tocar no ombro de Luc. Tarde demais, babe.
- Eu não estou fazendo decisões por ela, Lucas. – Revirei os olhos por ter que me explicar – Mas como eu já disse, vou firmemente apoiar cada decisão que ela tomar. Se a decisão dela é ficar longe, eu não vou te deixar chegar perto dela.
- Não vai me deixar? – Levou as duas mãos ao peito, afetado – E você agora virou a guru de nosso relacionamento?
- Não, eu...
- Quer saber, – Lucas me interrompeu, o que me fez encará-lo boquiaberta – não quero saber o que você pensa. Queria saber se estava bem, agora já sei que sim, então já vou. Obrigado pelo convite.
Ele retirou a mão de de seu ombro e se levantou bruscamente, balançando um pouco a mesa enquanto o fazia. se levantou em seu encalço e o seguiu, quando o amigo saiu cambaleando em direção a saída. Me ajustei na cadeira e arrumei algumas coisas em cima mesa sem olhar ao redor, pois sabia que havíamos chamado a atenção das poucas pessoas que estavam ali.
- Eu chamei um uber para levá-lo para casa. – disse, se sentando na cadeira antes ocupada por Luc, enquanto eu mexia dentro da minha bolsa fingindo estar procurando por algo. – O que está procurando?
- Qualquer coisa – Respondi e soltei um suspiro frustrado – Eu não queria estar no meio de tudo isso. Não queria nem que isso estivesse acontecendo.
- Eu sei. Poucos são aqueles que fazem a escolha certa para seus relacionamentos na hora certa. – Respondeu, jogando o cabelo fictício atrás dos ombros. Eu ri.
- Esse tempo já levou tempo demais. – Eu disse, agora mais descontraída – Espero que se acertem logo.
- Bom, eu vou viajar amanhã e não quero que meu último dia aqui seja sobre eles. – Foi a vez de de encher sua taça de mimosa. – Me conta sobre o progresso de sua escrita.
Coloquei os cotovelos em cima da mesa e grunhi em frustação sobre o assunto. Apertei meus olhos com a palma das mãos e parei as mãos em minhas bochechas, apoiando meu rosto, enquanto respondi com um sorriso falso:
- Supimpa.
- Indo de mal a pior, pelo visto – Riu para si mesmo – Sinto muito que o processo está sendo tão dolorido, .
- Só é meio desgastante. Estou com uma ideia sobre como fazer fluir melhor, mas só vou te contar quando der certo. – Voltei a minha posição inicial na cadeira e brinquei com o pouco de comida restante no prato com o garfo. – E você, animado para a viagem?
- Com o time de natação, nunca. – Riu um pouco demais, o que me fez duvidar de sua sobriedade.
- Não sei por que ainda está com a universidade. Se eu fosse você, eu...
- Teria aceitado o contrato dos times grandes que pagam mais, eu sei. Já tivemos essa conversa, de novo não, por favor. – Já não havia resquício de sorriso em seu rosto.
- Já estraguei o humor de um homem hoje, por que não dois? – Sorri e passei uma mão na outra freneticamente, para demonstrar um ato maquiavélico.
- Pede a conta enquanto eu vou ao banheiro para irmos embora daqui. – se levantou e me deu dois tapinhas no ombro direito ao passar por mim.
Após pedir a conta e pagar pelo almoço, – ah, a conta poupança – resolvi esperar do lado de fora do restaurante. Atravessei a rua e me sentei no banco de madeira ali, estendi meu pé direito e depois o esquerdo para testar minha sobriedade. Vi saindo do restaurante e gritei seu nome enquanto acenava.
- Parece que você é o único não sóbrio do grupo. – Eu disse, apontando para minhas pernas se levantando intercaladamente.
- Já te disse que esse teste se faz em pé, não sentada. – Riu enquanto se sentava ao meu lado e só então percebi o quão burra fui, soltei uma risada alta.
- É muito cedo no dia para ter tomado tantas mimosas. Culpo o Luc. – Joguei a cabeça para trás.
- Eu também. – Ele disse colocando o braço ao redor de meus ombros. Relaxei o peso da cabeça em seu ombro direito.
Ficamos em silêncio por alguns minutos. Eu fiquei atenta a sua respiração e fiz meu melhor para sincronizar com a minha. Estendi minha mão direita pelo seu corpo quando senti uma brisa e automaticamente desejei que o sol voltasse.
- Você está tão quentinho. – Comentei antes que ele pudesse reclamar de nossa posição.
- Quem está rindo do meu cardigã agora? – Senti a vibração de voz por seu corpo e sorri.
Sorriso esse que logo foi substituído por uma expressão surpresa ao sentir afastar seu braço e levantar-se calmamente. Coloquei uma mão sobre meu peito e ajustei meus lábios em um grande “O” para dramatizar minha dor.
- ... – Ele disse enquanto colocava seu joelho direito no chão e abria os botões de seu cardigã – Como prova do meu amor... – Desabotoou o último botão e percebi que minha expressão não havia mudado. O que ele está fazendo? – Você aceita o meu cardigã?
Levou uma mão para cada ombro e lentamente escorregou a peça pelos braços, revelando sua camiseta tricô branca que eu lhe dei de presente em seu último aniversário. Esticou os braços em minha direção com o cardigã em suas palmas e me olhou divertido.
- Eu... – Levei minhas mãos ao meu rosto, enxugando lágrimas falsas – É óbvio que aceito!
Me levantei e puxei a peça de suas mãos, a colocando rapidamente com um giro. Isso mesmo, um giro, joguei meus braços para cima e deixei escorregar por meus braços enquanto girava, como se estivesse em um filme romântico.
- Agora me ajuda a levantar, porque eu fiz isso com meu joelho ruim. – disse com uma expressão de dor, enquanto levantava as duas mãos para que eu as segurasse.
O puxei para cima – com muito esforço, ressalto – e quando já em pé, ele começou a abotoar todos os botões do seu cardigã agora em mim.
- Pelo bem de minha sanidade, vou te contar que você ficou maravilhoso nessa camiseta. – Eu confessei quando ele abotoou o último botão. – Nunca tinha te visto usando-a.
- E você, – ele me deu um peteleco no queixo e me olhou de cima abaixo – fica maravilhosa com uma peça de roupa minha. E sem ela também.
Eu arregalei os olhos com o comentário e senti meu rosto queimar. percebeu minha surpresa e arregalou os olhos junto comigo, balançando a cabeça negativamente.
- Eu não quis dizer... Nua. – Ele sussurrou, eu levantei uma sobrancelha – Não que você não seja...
Ri alto, interrompendo seu momento embaraçoso e comecei a andar em linha reta, dando dois tapinhas em seu ombro direito ao passar por ele. Senti uma brisa novamente e dessa vez não senti arrepio algum por estar devidamente coberta. Aproveitei para respirar fundo enquanto o vento leve passava e senti meu coração acelerar com o ato – respirar quando o vento bate sempre me causou adrenalina, nunca entendi direito e não sei se outras pessoas experienciam o mesmo, mas eu amo a sensação.
A mão esquerda de entrelaçou na minha direita, eu abri os olhos e o olhei.
- Podemos fingir que nada foi dito nos últimos vinte segundos? – Percebi o quão corado ele estava e seu cabelo desarrumado, outro sinal claro de nervosismo: puxar o cabelo para trás.
- Como assim? – Respondi, confusa.
- O que eu disse...
- O que disse quando? – Eu o interrompi com um sorriso sugestivo que ele retribuiu de imediato.
- Obrigado. Eaí, o que vamos fazer pelo resto do dia? Você me tem até as oito. – Começou a andar, ainda com nossas mãos entrelaçadas, as balançando exageradamente para frente e para trás no ritmo de nossas passadas.
Com o aviso de minha lombar, sou forçada a voltar a minha posição inicial sentada, e decido terminar a xícara de café com leite que deixei esfriando enquanto lia. Divergente, é o livro que estava lendo. Não que eu não goste desse tipo de leitura – acho muito intrigante, inclusive – mas essa leitura não é para ser prazerosa, estou, na verdade, estudando. Mais uma noite em claro, sem conseguir escrever, decidi recorrer ao livro que prendeu minha atenção durante o ensino médio e tentar aprender como a autora Veronica Roth descreve seus personagens a faz com que o leitor se sinta ali, com eles. Afinal, se meu intuito é fazer o mesmo, mais fácil começar estudando aqueles que já conseguiram, certo?
- Desculpa o atraso, eu não queria vir. – Se minha xícara ainda estivesse cheia, a surpresa em ouvir sua voz me faria derramar o líquido na mesa toda.
- Eu já tinha me conformado com o fato que não viria – Ri, me levantando para cumprimentá-lo com um abraço – Já estava formulando a mensagem passiva-agressiva que mandaria mais tarde.
- Agradeço o voto de confiança. – Disse, retornando meu abraço.
Abracei-o o mais apertado que pude. Quando nos afastamos, coloquei minhas mãos em seus ombros e as deixei descansar ali, enquanto olhava em seus olhos cansados, que evitavam me olhar de volta.
- Como você está, Luc? – Perguntei o mais carinhosamente que consegui. – É bom te ver.
- Estou bem, na medida do possível. – Seu tom era cabisbaixo e colocou as mãos nos bolsos da frente de sua calça jeans com o desconforto para com nossa proximidade.
Me senti como uma estranha para ele, e a sensação me fez murchar o sorriso que carregava no meu rosto. Pigarreei e soltei seus ombros, voltando a me sentar e apontei para a cadeira a minha frente, indicando que também se sentasse.
Lucas se sentou a minha frente e eu tirei cinco segundos para admirar um pouco de sua beleza, respeitosamente, é claro. Lucas tem cerca de um metro e oitenta, tem cabelos castanhos no estilo buzz cut e seus olhos são levemente mais claros, causando um contraste que faz muitas mulheres o encararem por mais tempo do que deveriam – exatamente como eu estou fazendo. Sua pele tem alguns detalhes de sardas que já foram escurecidas pelo sol, e não vou descrever seu sorriso por motivos de já ter o admirado por tempo demais. Olhei em volta na esperança que ele não tenha percebido.
- Ele está aqui, só foi ao banheiro antes. – O encarei confusa ao ver seu sorriso irônico.
- Quem?
- Quem mais está procurando? – Levou as mãos ao cardápio, mas continuou com o sorriso sarcástico nos lábios – , é claro.
Rolei os olhos e bufei, claro que o homem de pensaria as mesmas coisas que ela. Aposto que falam sobre e eu e nossa estranha relação enquanto se preparam para dormir. Aliás, falavam, já que não dormem juntos há duas semanas, desde que apareceu em meu apartamento às duas da manhã, surtando por ter sido pedida em casamento.
- Para começo de conversa, – O olhei com os olhos semicerrados – eu não estava procurando ninguém. E acabando com essa conversa, pode tirar esse sorriso do rosto.
Ele levantou as mãos em sinal de rendimento e levou sua atenção ao cardápio. Fixei meus olhos em seu rosto enquanto me recordava, alheia ao mundo atual, da primeira vez que nos conhecemos. A animação e apreensão de esperando minha aprovação, a timidez de Lucas por estar conhecendo “a ” que não parava de falar sobre... Sorri fraco, ao mesmo tempo que alguém colocou um guardanapo em frente à minha boca e o arrastou até meu queixo.
Assustada, olhei para o dono do braço coberto pelo cardigã azul-marinho e o empurrei com toda força que pude - não tanta para fazer o estrago que eu queria, ao perceber quem era.
- Para você parar de salivar. – Soltou uma piscadela antes de se agachar e beijar o topo de minha cabeça como cumprimento.
- Vocês, homens, estão tirando conclusões muito precipitadas hoje. – Eu disse enquanto passava mão onde havia acabado de beijar.
se sentou na cadeira à minha esquerda, ficando com as costas expostas ao sol. Olhei para seu cardigã e me perguntei como ele usa isso confortavelmente com esse sol de rachar.
- Como você usa isso confortavelmente com esse sol de rachar? – Não resisti.
- Cuida da sua vida, darling – Disse despreocupadamente enquanto olhava ao redor de si – Vocês acham que algum pombo pode entrar aqui ou simplesmente cagar em cima de mim? – Perguntou, dessa vez, com preocupação.
Eu e Luc nos encaramos por alguns segundos e eu lhe fiz um sinal de não com a cabeça, alegando, que dessa vez, não seria eu que iria lidar com isso.
- Cara, eu acho que em qualquer lugar aberto sempre existirá a possibilidade, mas – Luc disse a última palavra um pouco mais alto e levantou o dedo indicador, para evitar interrupções – eu não vejo motivos para se preocupar, tanta coisa pode acontecer que, sinceramente, um pombo não é a pior delas...
Luc sorriu de um jeito reconfortante enquanto o encarava assustado, eu não contive a gargalhada que saiu de minha garganta ao presenciar a cena dos dois homens.
- Que tal só nos preocuparmos em pedir algo para comer? – Sugeri, ainda rindo.
- Por que sinto que logo vou ficar oficialmente solteiro? – Luc perguntou com ar de indignação, olhando atentamente para sua taça de mimosa agora já vazia.
e eu nos entreolhamos enquanto decidíamos se esse era realmente o momento apropriado para falar de . Ele mordeu o lábio e cruzou as mãos em seu colo, ao arquear as duas sobrancelhas, como se pedindo para eu tomar alguma atitude.
- Ah! Por que eu? – Perguntei em voz alta e ganhei um olhar arregalado de em resposta, assim como um Luc finalmente tirando sua atenção da taça.
- Por que você o quê? – Lucas perguntou entediado.
- Hãn... – Comecei, sem saber ao certo como terminar – Escuta, Luc... não acho que logo você estará solteiro.
- Diga isso para a minha namorada, que recusa minhas ligações todos os dias há duas semanas. – Ele levantou o dedo indicador para o garçom e deu duas cutucadas em sua taça vazia, pedindo mais.
- Eu não preciso dizer, ela já sabe.
- Desculpa se eu não estou tão certo sobre isso como você, . – Seu tom se tornou defensivo e me lançou um olhar machucado.
Eu deslizei as duas mãos sobre a mesa com a palma da mão para cima, a fim de que ele me desse suas mãos, o que não aconteceu. Resolvi ignorar e não levar para o pessoal, afinal, homem bêbado e de coração partido merece empatia.
- Eu não sei mais sobre o seu relacionamento do que você. – Eu disse, calma – Eu sinto muito que vocês dois estão passando por isso, mas creio que você sabe muito bem o porquê de ela ter precisado de um tempo.
Vi se ajustar na cadeira ao lado, relaxar as costas e lentamente levar a mão direita em direção a boca – sinal claro de nervosismo quando ele fica apreensivo: roer unha, ou a pele em volta da unha, como ele alega. Antes de Luc formular uma resposta, o garçom voltou com uma garrafa de mimosa e a deixou no centro da nossa mesa. Eu agradeci e recebi um sorriso sem graça de volta.
- Pois o motivo desse tempo é completamente desnecessário – Luc disse, já enchendo sua taça – Ela sempre soube que eu não queria relação nenhuma com meus pais. Por que porras ela achou que eu iria querer minha futura família e eles tivessem uma relação? Isso é uma baita de desculpa esfarrapada.
Seu linguajar me deixou bem claro que ele já estava bem alterado, mas não pude deixar de defendê-la.
- Você tem razão, ela sempre soube – Foi minha vez de encher minha taça. ainda estava quieto, mordendo a pele em volta da unha do dedo anelar – Não acha que um casamento intensifica um pouco as coisas?
Meu tom óbvio e sem paciência claramente não foi bem recebido.
- , se ela precisa de tempo para processar essas coisas, eu – apontou para si com o polegar – quem deveria ser a pessoa a ajudá-la passar por isso. Simplesmente fazer uma mala e ir embora, sem manter contato algum, é muita imaturidade.
Fiquei muda por alguns segundos, me sentindo culpada e como se estivesse traindo a confiança de ao concordar com Luc.
- Eu também acho – Confessei em voz baixa.
- Então por que não diz para ela voltar? – Sua pergunta soou como uma súplica.
- Só porque eu estou apoiando-a, não quer dizer que eu acho a decisão certa. Mas ela precisa descobrir isso sozinha – frisei a última palavra – Não vou me meter.
- Disse, depois de já ter se metido! – Ele aumentou seu tom de voz, o que fez finalmente tirar a mão da boca e se sentar ereto, com os dois cotovelos apoiados na mesa e olhar para o amigo com uma sobrancelha arqueada – Francamente, cada minuto que ela passa em sua casa apreciando cada conselho seu, é você se metendo.
- Que tal deixarmos esse assunto de lado até nenhum de nós estar com álcool no sangue? – perguntou com um sorriso, enquanto esticava a mão esquerda para tocar no ombro de Luc. Tarde demais, babe.
- Eu não estou fazendo decisões por ela, Lucas. – Revirei os olhos por ter que me explicar – Mas como eu já disse, vou firmemente apoiar cada decisão que ela tomar. Se a decisão dela é ficar longe, eu não vou te deixar chegar perto dela.
- Não vai me deixar? – Levou as duas mãos ao peito, afetado – E você agora virou a guru de nosso relacionamento?
- Não, eu...
- Quer saber, – Lucas me interrompeu, o que me fez encará-lo boquiaberta – não quero saber o que você pensa. Queria saber se estava bem, agora já sei que sim, então já vou. Obrigado pelo convite.
Ele retirou a mão de de seu ombro e se levantou bruscamente, balançando um pouco a mesa enquanto o fazia. se levantou em seu encalço e o seguiu, quando o amigo saiu cambaleando em direção a saída. Me ajustei na cadeira e arrumei algumas coisas em cima mesa sem olhar ao redor, pois sabia que havíamos chamado a atenção das poucas pessoas que estavam ali.
- Eu chamei um uber para levá-lo para casa. – disse, se sentando na cadeira antes ocupada por Luc, enquanto eu mexia dentro da minha bolsa fingindo estar procurando por algo. – O que está procurando?
- Qualquer coisa – Respondi e soltei um suspiro frustrado – Eu não queria estar no meio de tudo isso. Não queria nem que isso estivesse acontecendo.
- Eu sei. Poucos são aqueles que fazem a escolha certa para seus relacionamentos na hora certa. – Respondeu, jogando o cabelo fictício atrás dos ombros. Eu ri.
- Esse tempo já levou tempo demais. – Eu disse, agora mais descontraída – Espero que se acertem logo.
- Bom, eu vou viajar amanhã e não quero que meu último dia aqui seja sobre eles. – Foi a vez de de encher sua taça de mimosa. – Me conta sobre o progresso de sua escrita.
Coloquei os cotovelos em cima da mesa e grunhi em frustação sobre o assunto. Apertei meus olhos com a palma das mãos e parei as mãos em minhas bochechas, apoiando meu rosto, enquanto respondi com um sorriso falso:
- Supimpa.
- Indo de mal a pior, pelo visto – Riu para si mesmo – Sinto muito que o processo está sendo tão dolorido, .
- Só é meio desgastante. Estou com uma ideia sobre como fazer fluir melhor, mas só vou te contar quando der certo. – Voltei a minha posição inicial na cadeira e brinquei com o pouco de comida restante no prato com o garfo. – E você, animado para a viagem?
- Com o time de natação, nunca. – Riu um pouco demais, o que me fez duvidar de sua sobriedade.
- Não sei por que ainda está com a universidade. Se eu fosse você, eu...
- Teria aceitado o contrato dos times grandes que pagam mais, eu sei. Já tivemos essa conversa, de novo não, por favor. – Já não havia resquício de sorriso em seu rosto.
- Já estraguei o humor de um homem hoje, por que não dois? – Sorri e passei uma mão na outra freneticamente, para demonstrar um ato maquiavélico.
- Pede a conta enquanto eu vou ao banheiro para irmos embora daqui. – se levantou e me deu dois tapinhas no ombro direito ao passar por mim.
Após pedir a conta e pagar pelo almoço, – ah, a conta poupança – resolvi esperar do lado de fora do restaurante. Atravessei a rua e me sentei no banco de madeira ali, estendi meu pé direito e depois o esquerdo para testar minha sobriedade. Vi saindo do restaurante e gritei seu nome enquanto acenava.
- Parece que você é o único não sóbrio do grupo. – Eu disse, apontando para minhas pernas se levantando intercaladamente.
- Já te disse que esse teste se faz em pé, não sentada. – Riu enquanto se sentava ao meu lado e só então percebi o quão burra fui, soltei uma risada alta.
- É muito cedo no dia para ter tomado tantas mimosas. Culpo o Luc. – Joguei a cabeça para trás.
- Eu também. – Ele disse colocando o braço ao redor de meus ombros. Relaxei o peso da cabeça em seu ombro direito.
Ficamos em silêncio por alguns minutos. Eu fiquei atenta a sua respiração e fiz meu melhor para sincronizar com a minha. Estendi minha mão direita pelo seu corpo quando senti uma brisa e automaticamente desejei que o sol voltasse.
- Você está tão quentinho. – Comentei antes que ele pudesse reclamar de nossa posição.
- Quem está rindo do meu cardigã agora? – Senti a vibração de voz por seu corpo e sorri.
Sorriso esse que logo foi substituído por uma expressão surpresa ao sentir afastar seu braço e levantar-se calmamente. Coloquei uma mão sobre meu peito e ajustei meus lábios em um grande “O” para dramatizar minha dor.
- ... – Ele disse enquanto colocava seu joelho direito no chão e abria os botões de seu cardigã – Como prova do meu amor... – Desabotoou o último botão e percebi que minha expressão não havia mudado. O que ele está fazendo? – Você aceita o meu cardigã?
Levou uma mão para cada ombro e lentamente escorregou a peça pelos braços, revelando sua camiseta tricô branca que eu lhe dei de presente em seu último aniversário. Esticou os braços em minha direção com o cardigã em suas palmas e me olhou divertido.
- Eu... – Levei minhas mãos ao meu rosto, enxugando lágrimas falsas – É óbvio que aceito!
Me levantei e puxei a peça de suas mãos, a colocando rapidamente com um giro. Isso mesmo, um giro, joguei meus braços para cima e deixei escorregar por meus braços enquanto girava, como se estivesse em um filme romântico.
- Agora me ajuda a levantar, porque eu fiz isso com meu joelho ruim. – disse com uma expressão de dor, enquanto levantava as duas mãos para que eu as segurasse.
O puxei para cima – com muito esforço, ressalto – e quando já em pé, ele começou a abotoar todos os botões do seu cardigã agora em mim.
- Pelo bem de minha sanidade, vou te contar que você ficou maravilhoso nessa camiseta. – Eu confessei quando ele abotoou o último botão. – Nunca tinha te visto usando-a.
- E você, – ele me deu um peteleco no queixo e me olhou de cima abaixo – fica maravilhosa com uma peça de roupa minha. E sem ela também.
Eu arregalei os olhos com o comentário e senti meu rosto queimar. percebeu minha surpresa e arregalou os olhos junto comigo, balançando a cabeça negativamente.
- Eu não quis dizer... Nua. – Ele sussurrou, eu levantei uma sobrancelha – Não que você não seja...
Ri alto, interrompendo seu momento embaraçoso e comecei a andar em linha reta, dando dois tapinhas em seu ombro direito ao passar por ele. Senti uma brisa novamente e dessa vez não senti arrepio algum por estar devidamente coberta. Aproveitei para respirar fundo enquanto o vento leve passava e senti meu coração acelerar com o ato – respirar quando o vento bate sempre me causou adrenalina, nunca entendi direito e não sei se outras pessoas experienciam o mesmo, mas eu amo a sensação.
A mão esquerda de entrelaçou na minha direita, eu abri os olhos e o olhei.
- Podemos fingir que nada foi dito nos últimos vinte segundos? – Percebi o quão corado ele estava e seu cabelo desarrumado, outro sinal claro de nervosismo: puxar o cabelo para trás.
- Como assim? – Respondi, confusa.
- O que eu disse...
- O que disse quando? – Eu o interrompi com um sorriso sugestivo que ele retribuiu de imediato.
- Obrigado. Eaí, o que vamos fazer pelo resto do dia? Você me tem até as oito. – Começou a andar, ainda com nossas mãos entrelaçadas, as balançando exageradamente para frente e para trás no ritmo de nossas passadas.
Capítulo 4
Ajustei os óculos que teimavam escorregar em meu nariz e joguei meus braços para cima, me espreguiçando. Sorri em direção ao meu livro do outro lado da mesa e bati palmas como uma criança por ter finalmente terminado meu trabalho e poder aproveitar o tempo que quisesse com minha cópia de Insurgente.
Pelos últimos quatro dias, resgatei três de meus clientes de imigração e decidi trabalhar em seus casos por vinte horas semanais. Não é muito, mas é o suficiente para eu ter um pouco de estabilidade financeira e distrair minha cabeça da pressão constante de escrever. O único problema é que tenho passado todo meu tempo livre – e quero dizer todo tempo livre, até mesmo sacrifiquei horas de sono e esqueci de refeições importantes – lendo a maldita trilogia da garota destemida de dezesseis anos.
O pior de tudo é que esqueci completamente da razão inicial de minha leitura, e estou completamente obcecada por Tris Prior, já não prestando muita atenção para a escrita de Veronica Roth. Vale lembrar que li esses livros há dez anos e não me senti tão presa na história como me sinto hoje. Será que existe um Tobias para cada um?
- Sim. – apareceu no meu canto de visão e me perguntei se meu último pensamento havia sido em voz alta, pois ela soou decidida, mas quando a olhei, vi a mala de viagem atrás de si.
- Não brinca com meu coração fraco. – Eu abri um sorriso de orelha a orelha ao deixar meu livro de lado e me levantei com a mão dramaticamente em cima do meu coração.
- Foi idiotice vir até aqui, eu sinto falta dele a todo momento, a cada segundo. – Ela me olhou apreensiva, como se pedindo permissão para fazer o que estava prestes a fazer.
- Vá! – Eu apontei para a porta – Vá atrás do seu homem! Minha está noiva! – Cantarolei a última parte, subi na cadeira e coloquei alguns movimentos de dança para fora.
- Eu te amo! – Ela riu enquanto gritava e corria em direção a porta e saía.
Ri alto de felicidade e continuei a dançar por alguns segundos. Coloquei a mão na boca ao imaginar a reação de Luc. Se eu não soubesse o quanto ela sentia a falta dele, eu teria ficado de coração partido por ela não ter nem se dado ao trabalho de celebrar comigo por cinco segundos, mas sei que o contato físico que ela tanto anseia com certeza não é o meu.
Meu celular despertou perto do sofá e pulei da cadeira, testando perigosamente meus joelhos. Uma onda de desespero surgiu ao perceber que já eram duas da tarde e não consegui me lembrar do porquê de ter programado esse alarme. Do que estou me esquecendo? Procurei alguma dica em meu calendário e em redes sociais, mas ao não encontrar nada, assumi ser apenas um alarme antigo que havia esquecido de desativar. Deitei-me no sofá e liguei a televisão em um episódio qualquer de um sitcom que eu não conhecia muito bem e acabei adormecendo.
* * *
- ... – Ouvi uma voz distante me incomodar – !
Sentei-me assustada ao sentir uma dor aguda em minha testa.
- Você me deu um tapa? – Eu perguntei incrédula ao homem parado em minha frente.
- E isso é o mínimo que você merece por ter me dado um bolo. – colocou as mãos na cintura e me olhou sério.
- Que bolo? Eu nem fiz nada hoje. – Será que eu havia me esquecido de fazer um bolo?
- Você não apareceu, . Eu pedi para me encontrar no Joey’s as duas e meia. – Ah, então era esse o propósito do alarme.
Para ser bem sincera, não me lembro de ninguém mencionando Joey’s, mas me lembro de ter me ligado ontem à noite enquanto eu lia. Minha mais nova obsessão por Tris Prior ia acabar com a minha melhor amizade.
- Desculpa, eu não prestei muita atenção. – Sorri culpada e tentei puxar sua mão. deu um passo para trás. – Como foi a viagem?
- Não teria pedido se não fosse importante! Precisamos conversar. – Mais uma vez não prestei atenção no que dissera, nem que ele não respondeu a minha pergunta, pois estava atenta em seu corpo.
usava um tênis branco fechado, uma calça social bege, provavelmente um tamanho menor que o recomendado, um casaco marrom por cima de uma camisa branca quase transparente e tive certeza de que se não estivesse usando o casaco, eu conseguiria ver seus mamilos.
- Por que está tão bem-vestido? – Perguntei, ignorando o que ele dizia.
- Está dormindo há quanto tempo? – Ele disse apontando para meu cabelo, que eu tentei arrumar com as mãos instantaneamente.
- Deitei-me por volta das duas...
- , são quase oito.
- Nossa, e eu achando que não tinha dormido quase nada. – Ri e cruzei as pernas – Se eu não fui te encontrar as duas e meia, por que veio para cá às oito?
- Fui pra casa, mas me ligou e perguntou se eu podia te dar uma carona.
- Para onde?
- Às vezes eu esqueço o quanto seu sono te transforma nessa pessoa despreocupada e alheia com a vida, deveria dormir mais. – Lhe dei um sorriso irônico ao ouvi-lo – quer nos reunir em seu apartamento para planejarmos sua festa de noivado. – olhou para o relógio em seu pulso – Tem vinte minutos para se desfazer dessa bagunça no seu cabelo.
Sentou-se ao meu lado de modo despojado e cruzou a perna esquerda por cima da direita. O encarei por alguns segundos, tentando reformular sua frase em minha cabeça, que ainda trabalhava mais lentamente do que eu gostaria de admitir. Ao finalmente entender o que disse, gargalhou ao me ver pular do sofá e sair correndo para meu quarto a fim de me arrumar. Se eu aparecesse no apartamento de completamente desleixada no dia que ela fica noiva, eu sou uma mulher morta.
Vinte e quatro minutos depois, já completamente vestida com um vestido acima do joelho vermelho bordô com sobreposição de renda e um decote posterior em V, prendi meu cabelo em um rabo de cavalo com as mechas da frente soltas e passei uma maquiagem básica – depois de propriamente lavar o rosto e hidratá-lo, muito obrigada. Calcei um par de sandálias simples prata e desfilei por meu corredor no melhor estilo Gisele Bündchen que pude.
- Não acha um pouco demais só para um jantar simples? – Eu ri debochada ao ouvir a pergunta cautelosa de .
- Acredite, se já estiver vestida de noiva, eu não me surpreenderia. Hoje é noite de negócios, . Missão madrinha de casamento, tarefa número um: primeiro jantar oficial após o noivado. E isso exige que eu aparente o meu melhor. – Sorri orgulhosa.
- Se você diz... – Me olhou descaradamente de cima abaixo.
- Um elogio não te mataria, sabia? – Peguei minha pequena bolsa preta que já estava pendurada ao lado da porta e saí antes de , sem olhá-lo.
- Eu também não recebi um, direito iguais. – Ele me seguiu e fechou a porta atrás de nós.
No elevador, peguei meu celular e li as exatas treze mensagens que havia recebido de nas últimas cinco horas e a respondi com um simples “estamos a caminho!”. Decidi checar meus e-mails no caminho até o carro, para ter certeza de que havia finalizado todo o trabalho programado para hoje. Agradeci quando abriu a porta do passageiro pra mim. Ainda absorta no celular em minhas mãos, não percebi quando ele se sentou no banco de motorista e começou a dirigir.
- , eu queria muito conversar com você. – Sua voz baixa me tirou a atenção do aparelho e o olhei, preocupada.
- Aconteceu alguma coisa? Está tudo bem? – Nem tive um pingo de decência de perguntar por que ele tinha marcado de me ver mais cedo, a culpa me atingiu em cheio ao ver sua expressão séria.
- Está tudo ótimo, eu só... – Foi interrompido pelo toque alto de meu celular, vi que era e lhe mostrei a tela – Atenda e diga que estamos indo... mas não esquece que precisamos conversar, por favor.
Assenti calmamente e coloquei a mão por cima da sua, tentando amenizar minha própria culpa. Atendi o celular e infelizmente tive que explicar a o real motivo de não ter respondido nenhuma de suas mensagens e ouvi um sermão de sete minutos por ainda não ter sugerido nenhum local para sua festa de noivado.
Ao chegarmos ao apartamento de e Lucas, soltei um riso nervoso ao perceber que me esperava no portão de entrada, o que significava que eu iria ouvir mais alguns sermões, só que dessa vez, em pessoa. Ao descer do carro, não pude me conter e, ignorando os lasers saindo dos olhos de minha amiga, a abracei e gritei o mais agudo que pude; dois segundos depois ela me abraçou de volta e gritou na mesma intensidade. Normalmente, não agimos assim, mas sonhamos juntas com o dia que ela e Luc estariam noivos, e, aqui estamos, no primeiro dia dessa jornada!
Eu disse a que hoje seria noite de negócios, e isso foi comprovado ao entrarmos no apartamento e encontrarmos Luc vestido formalmente com um blazer preto em cima de uma camisa social cinza que combinava com as calças. O cumprimentei com o mesmo entusiasmo que cumprimentei e não me surpreendi ao senti-lo me afastar de si e andar com cara de terror em direção ao .
e eu passamos o que pareceram horas discutindo locais, comes, bebes, músicos enquanto e Luc se embriagavam de cerveja no sofá.
- Agora para o mais emocionante, a lista de convidados! – abriu um sorriso que se refletiu rapidamente em meus próprios lábios, como eu amava a ver assim, feliz – Só da festa de noivado, é claro.
chamou os rapazes para se assentarem na mesa conosco e sorriu timidamente ao coçar a nuca, me fazendo o olhar suspeitosamente. Por que ele está nervoso?
- Bom... – interrompeu meus pensamentos, atraindo minha atenção para si – É de extrema importância que o número de pessoas dessa lista seja exato, para conseguirmos marcar a data certa no local certo. Com isso em mente, começaremos pelos convidados mais óbvios.
A vi desenhar uma linha vertical em cima de um papel sulfite branco, o dividindo em duas partes. No topo da parte direita escreveu e no topo da parte esquerda, escreveu Lucas. Escreveu meu nome embaixo de seu próprio e me senti extremamente amada por ter sido o primeiro nome escrito ali. Escreveu embaixo do de Lucas.
- Ok, temos , ...
- E acompanhante. – a interrompeu, fazendo todos nós o olharmos surpresos.
- Que acompanhante? – perguntou, quase rudemente.
- Taylor. – levou a mão a nuca novamente e eu descobri o porquê de estar tão nervoso.
- Swift? – manteve o tom grosseiro, o que levou seu noivo a lhe lançar um olhar reprovador. – O quê? Se eu vou escrever o nome preciso saber quem é. – Disse, defendendo-se.
- Taylor é minha... – pausou pelo que pareceram minutos e eu me senti uma idiota por ter esquecido que ele queria me encontrar, ele queria me contar sobre sua nova... – Namorada. – Ele completou sua frase juntamente com os meus pensamentos.
Luc e tiraram o olhar de e os levaram para mim. Senti meu rosto começar a ficar do mesmo tom do meu vestido e levei as mãos para cima em sinal de rendição.
- Não me olhem assim, eu não sabia! – Tentei não olhar para pois sabia que sua expressão gritaria “está vendo porque deveria me levar a sério quando eu digo que precisamos conversar”.
- Que tipo de namorada é essa que você não apresentou nem à ? – Ah, a sutileza de uma recém noiva.
- Bom, começamos a sair a algumas semanas... – Pausou como se alguém fosse interrompê-lo, mas ninguém o fez – E eu vou fazer a pergunta oficialmente amanhã em nosso encontro.
- Espera aí... – Luc apontou o dedo indicador na cara de – Não foi com ela que eu te encontrei... – Ele mesmo se interrompeu e arregalou os próprios olhos – Jantando junto no seu apartamento? – Consertou, mas todos nós entendemos o que realmente e Taylor estavam fazendo e não precisou responder verbalmente, pois seu rosto se tornou roxo de vergonha.
Achei graça no claro desconforto de meu melhor amigo, mas decidi salvá-lo, como sei que ele faria por mim se a situação fosse invertida.
- Ótimo, escreva o nome de Taylor entre parênteses na frente do de e marcaremos um jantar em meu apartamento para a conhecermos antes da festa. – Eu toquei freneticamente na lista de com o meu indicador, finalmente tirando sua atenção de – E eu acho que merecemos um champanhe para comemoramos os eventos dessa noite!
Levantei-me da mesa e bati no ombro de para que me seguisse. Ele imediatamente se levantou e me seguiu em direção a cozinha, enquanto eu ouvia Luc repreender . Entrei na cozinha primeiro e esperei entrar e fechei a porta atrás dele, a trancando em seguida para que ninguém nos interrompesse. Me virei calmamente para ele, com os braços cruzados em frente ao peito e o perguntei num tom sério:
- Ela é mais gostosa do que eu? – arregalou os olhos assustados, que se acalmaram ao ver o sorriso em meus lábios.
Me joguei em seus ombros e lhe dei o beijo na bochecha o mais fortemente que pude. Senti o seu suspiro de alívio e seus braços envolveram minha cintura, retribuindo meu abraço.
- Estou tão feliz por você! – Mordi sua bochecha, o que nos fez desvencilharmos do abraço – Seu primeiro relacionamento sério oficialmente como adulto. Está nervoso?
- Estava mais nervoso pra te contar... – Admitiu, mais uma vez levando a mão a nuca – Não queria te contar na frente deles, mas não queria que pensasse que eu estava escondendo algo também.
- Me desculpe por não ter sido presente como amiga. Se tivesse prestado mais atenção, você já teria me contado. – Eu sorri sincera e meu coração explodiu de alegria ao ver o sorriso que nasceu em seus lábios.
- , ele já tem namorada então agiliza isso aí! – Ouvi o grito de vindo da sala de jantar e dei mais um abraço apertado em antes de mandá-lo pegar as taças, enquanto eu tirava o champanhe do freezer.
prestes a planejar o resto de sua vida com o homem de seus sonhos e meu melhor amigo dando um passo em direção a sua própria felicidade, vou me lembrar desse dia para sempre – e provavelmente criar um perfil de namoro online.
e eu acabamos com toda a garrafa de champanhe, já que Luc e resolveram “tirar uma pausa” após terminarem a lista de convidados. Pausa prazerosa, óbvio. Sendo a primeira noite oficial do mais novo casal prometido, e eu decidimos não os incomodar e ríamos alto quando ouvíamos gemidos vindos do quarto. Ah, a intimidade. Me peguei pensando em como seria o sexo com Luc e grunhi em frustração de minha nada ativa vida sexual.
- Preciso te pedir algo. – Ele tentou soar sóbrio, mas suas pupilas dilatadas o entregavam.
- Então peça, babe.
- É sobre a Taylor... – Sua mão foi em direção a nuca novamente e eu revirei os olhos com tamanho nervosismo – Ela ainda não sabe sobre nós...
- Ela não sabe sobre mim? – Perguntei, afetada.
- Ela sabe sobre você, sabe que você é tudo para mim e está louca para te conhecer. Mas ela não sabe de... Nós.
- Onde quer chegar? – Vá direto ao ponto, .
- Eu não quero que ela saiba do nosso relacionamento, pelo menos por enquanto. Acho que algo irrelevante possa assustá-la e fazê-la não ter segurança em nosso namoro.
Eu travei a respiração e senti meu sangue ferver. Irrelevante?
Pelos últimos quatro dias, resgatei três de meus clientes de imigração e decidi trabalhar em seus casos por vinte horas semanais. Não é muito, mas é o suficiente para eu ter um pouco de estabilidade financeira e distrair minha cabeça da pressão constante de escrever. O único problema é que tenho passado todo meu tempo livre – e quero dizer todo tempo livre, até mesmo sacrifiquei horas de sono e esqueci de refeições importantes – lendo a maldita trilogia da garota destemida de dezesseis anos.
O pior de tudo é que esqueci completamente da razão inicial de minha leitura, e estou completamente obcecada por Tris Prior, já não prestando muita atenção para a escrita de Veronica Roth. Vale lembrar que li esses livros há dez anos e não me senti tão presa na história como me sinto hoje. Será que existe um Tobias para cada um?
- Sim. – apareceu no meu canto de visão e me perguntei se meu último pensamento havia sido em voz alta, pois ela soou decidida, mas quando a olhei, vi a mala de viagem atrás de si.
- Não brinca com meu coração fraco. – Eu abri um sorriso de orelha a orelha ao deixar meu livro de lado e me levantei com a mão dramaticamente em cima do meu coração.
- Foi idiotice vir até aqui, eu sinto falta dele a todo momento, a cada segundo. – Ela me olhou apreensiva, como se pedindo permissão para fazer o que estava prestes a fazer.
- Vá! – Eu apontei para a porta – Vá atrás do seu homem! Minha está noiva! – Cantarolei a última parte, subi na cadeira e coloquei alguns movimentos de dança para fora.
- Eu te amo! – Ela riu enquanto gritava e corria em direção a porta e saía.
Ri alto de felicidade e continuei a dançar por alguns segundos. Coloquei a mão na boca ao imaginar a reação de Luc. Se eu não soubesse o quanto ela sentia a falta dele, eu teria ficado de coração partido por ela não ter nem se dado ao trabalho de celebrar comigo por cinco segundos, mas sei que o contato físico que ela tanto anseia com certeza não é o meu.
Meu celular despertou perto do sofá e pulei da cadeira, testando perigosamente meus joelhos. Uma onda de desespero surgiu ao perceber que já eram duas da tarde e não consegui me lembrar do porquê de ter programado esse alarme. Do que estou me esquecendo? Procurei alguma dica em meu calendário e em redes sociais, mas ao não encontrar nada, assumi ser apenas um alarme antigo que havia esquecido de desativar. Deitei-me no sofá e liguei a televisão em um episódio qualquer de um sitcom que eu não conhecia muito bem e acabei adormecendo.
- ... – Ouvi uma voz distante me incomodar – !
Sentei-me assustada ao sentir uma dor aguda em minha testa.
- Você me deu um tapa? – Eu perguntei incrédula ao homem parado em minha frente.
- E isso é o mínimo que você merece por ter me dado um bolo. – colocou as mãos na cintura e me olhou sério.
- Que bolo? Eu nem fiz nada hoje. – Será que eu havia me esquecido de fazer um bolo?
- Você não apareceu, . Eu pedi para me encontrar no Joey’s as duas e meia. – Ah, então era esse o propósito do alarme.
Para ser bem sincera, não me lembro de ninguém mencionando Joey’s, mas me lembro de ter me ligado ontem à noite enquanto eu lia. Minha mais nova obsessão por Tris Prior ia acabar com a minha melhor amizade.
- Desculpa, eu não prestei muita atenção. – Sorri culpada e tentei puxar sua mão. deu um passo para trás. – Como foi a viagem?
- Não teria pedido se não fosse importante! Precisamos conversar. – Mais uma vez não prestei atenção no que dissera, nem que ele não respondeu a minha pergunta, pois estava atenta em seu corpo.
usava um tênis branco fechado, uma calça social bege, provavelmente um tamanho menor que o recomendado, um casaco marrom por cima de uma camisa branca quase transparente e tive certeza de que se não estivesse usando o casaco, eu conseguiria ver seus mamilos.
- Por que está tão bem-vestido? – Perguntei, ignorando o que ele dizia.
- Está dormindo há quanto tempo? – Ele disse apontando para meu cabelo, que eu tentei arrumar com as mãos instantaneamente.
- Deitei-me por volta das duas...
- , são quase oito.
- Nossa, e eu achando que não tinha dormido quase nada. – Ri e cruzei as pernas – Se eu não fui te encontrar as duas e meia, por que veio para cá às oito?
- Fui pra casa, mas me ligou e perguntou se eu podia te dar uma carona.
- Para onde?
- Às vezes eu esqueço o quanto seu sono te transforma nessa pessoa despreocupada e alheia com a vida, deveria dormir mais. – Lhe dei um sorriso irônico ao ouvi-lo – quer nos reunir em seu apartamento para planejarmos sua festa de noivado. – olhou para o relógio em seu pulso – Tem vinte minutos para se desfazer dessa bagunça no seu cabelo.
Sentou-se ao meu lado de modo despojado e cruzou a perna esquerda por cima da direita. O encarei por alguns segundos, tentando reformular sua frase em minha cabeça, que ainda trabalhava mais lentamente do que eu gostaria de admitir. Ao finalmente entender o que disse, gargalhou ao me ver pular do sofá e sair correndo para meu quarto a fim de me arrumar. Se eu aparecesse no apartamento de completamente desleixada no dia que ela fica noiva, eu sou uma mulher morta.
Vinte e quatro minutos depois, já completamente vestida com um vestido acima do joelho vermelho bordô com sobreposição de renda e um decote posterior em V, prendi meu cabelo em um rabo de cavalo com as mechas da frente soltas e passei uma maquiagem básica – depois de propriamente lavar o rosto e hidratá-lo, muito obrigada. Calcei um par de sandálias simples prata e desfilei por meu corredor no melhor estilo Gisele Bündchen que pude.
- Não acha um pouco demais só para um jantar simples? – Eu ri debochada ao ouvir a pergunta cautelosa de .
- Acredite, se já estiver vestida de noiva, eu não me surpreenderia. Hoje é noite de negócios, . Missão madrinha de casamento, tarefa número um: primeiro jantar oficial após o noivado. E isso exige que eu aparente o meu melhor. – Sorri orgulhosa.
- Se você diz... – Me olhou descaradamente de cima abaixo.
- Um elogio não te mataria, sabia? – Peguei minha pequena bolsa preta que já estava pendurada ao lado da porta e saí antes de , sem olhá-lo.
- Eu também não recebi um, direito iguais. – Ele me seguiu e fechou a porta atrás de nós.
No elevador, peguei meu celular e li as exatas treze mensagens que havia recebido de nas últimas cinco horas e a respondi com um simples “estamos a caminho!”. Decidi checar meus e-mails no caminho até o carro, para ter certeza de que havia finalizado todo o trabalho programado para hoje. Agradeci quando abriu a porta do passageiro pra mim. Ainda absorta no celular em minhas mãos, não percebi quando ele se sentou no banco de motorista e começou a dirigir.
- , eu queria muito conversar com você. – Sua voz baixa me tirou a atenção do aparelho e o olhei, preocupada.
- Aconteceu alguma coisa? Está tudo bem? – Nem tive um pingo de decência de perguntar por que ele tinha marcado de me ver mais cedo, a culpa me atingiu em cheio ao ver sua expressão séria.
- Está tudo ótimo, eu só... – Foi interrompido pelo toque alto de meu celular, vi que era e lhe mostrei a tela – Atenda e diga que estamos indo... mas não esquece que precisamos conversar, por favor.
Assenti calmamente e coloquei a mão por cima da sua, tentando amenizar minha própria culpa. Atendi o celular e infelizmente tive que explicar a o real motivo de não ter respondido nenhuma de suas mensagens e ouvi um sermão de sete minutos por ainda não ter sugerido nenhum local para sua festa de noivado.
Ao chegarmos ao apartamento de e Lucas, soltei um riso nervoso ao perceber que me esperava no portão de entrada, o que significava que eu iria ouvir mais alguns sermões, só que dessa vez, em pessoa. Ao descer do carro, não pude me conter e, ignorando os lasers saindo dos olhos de minha amiga, a abracei e gritei o mais agudo que pude; dois segundos depois ela me abraçou de volta e gritou na mesma intensidade. Normalmente, não agimos assim, mas sonhamos juntas com o dia que ela e Luc estariam noivos, e, aqui estamos, no primeiro dia dessa jornada!
Eu disse a que hoje seria noite de negócios, e isso foi comprovado ao entrarmos no apartamento e encontrarmos Luc vestido formalmente com um blazer preto em cima de uma camisa social cinza que combinava com as calças. O cumprimentei com o mesmo entusiasmo que cumprimentei e não me surpreendi ao senti-lo me afastar de si e andar com cara de terror em direção ao .
e eu passamos o que pareceram horas discutindo locais, comes, bebes, músicos enquanto e Luc se embriagavam de cerveja no sofá.
- Agora para o mais emocionante, a lista de convidados! – abriu um sorriso que se refletiu rapidamente em meus próprios lábios, como eu amava a ver assim, feliz – Só da festa de noivado, é claro.
chamou os rapazes para se assentarem na mesa conosco e sorriu timidamente ao coçar a nuca, me fazendo o olhar suspeitosamente. Por que ele está nervoso?
- Bom... – interrompeu meus pensamentos, atraindo minha atenção para si – É de extrema importância que o número de pessoas dessa lista seja exato, para conseguirmos marcar a data certa no local certo. Com isso em mente, começaremos pelos convidados mais óbvios.
A vi desenhar uma linha vertical em cima de um papel sulfite branco, o dividindo em duas partes. No topo da parte direita escreveu e no topo da parte esquerda, escreveu Lucas. Escreveu meu nome embaixo de seu próprio e me senti extremamente amada por ter sido o primeiro nome escrito ali. Escreveu embaixo do de Lucas.
- Ok, temos , ...
- E acompanhante. – a interrompeu, fazendo todos nós o olharmos surpresos.
- Que acompanhante? – perguntou, quase rudemente.
- Taylor. – levou a mão a nuca novamente e eu descobri o porquê de estar tão nervoso.
- Swift? – manteve o tom grosseiro, o que levou seu noivo a lhe lançar um olhar reprovador. – O quê? Se eu vou escrever o nome preciso saber quem é. – Disse, defendendo-se.
- Taylor é minha... – pausou pelo que pareceram minutos e eu me senti uma idiota por ter esquecido que ele queria me encontrar, ele queria me contar sobre sua nova... – Namorada. – Ele completou sua frase juntamente com os meus pensamentos.
Luc e tiraram o olhar de e os levaram para mim. Senti meu rosto começar a ficar do mesmo tom do meu vestido e levei as mãos para cima em sinal de rendição.
- Não me olhem assim, eu não sabia! – Tentei não olhar para pois sabia que sua expressão gritaria “está vendo porque deveria me levar a sério quando eu digo que precisamos conversar”.
- Que tipo de namorada é essa que você não apresentou nem à ? – Ah, a sutileza de uma recém noiva.
- Bom, começamos a sair a algumas semanas... – Pausou como se alguém fosse interrompê-lo, mas ninguém o fez – E eu vou fazer a pergunta oficialmente amanhã em nosso encontro.
- Espera aí... – Luc apontou o dedo indicador na cara de – Não foi com ela que eu te encontrei... – Ele mesmo se interrompeu e arregalou os próprios olhos – Jantando junto no seu apartamento? – Consertou, mas todos nós entendemos o que realmente e Taylor estavam fazendo e não precisou responder verbalmente, pois seu rosto se tornou roxo de vergonha.
Achei graça no claro desconforto de meu melhor amigo, mas decidi salvá-lo, como sei que ele faria por mim se a situação fosse invertida.
- Ótimo, escreva o nome de Taylor entre parênteses na frente do de e marcaremos um jantar em meu apartamento para a conhecermos antes da festa. – Eu toquei freneticamente na lista de com o meu indicador, finalmente tirando sua atenção de – E eu acho que merecemos um champanhe para comemoramos os eventos dessa noite!
Levantei-me da mesa e bati no ombro de para que me seguisse. Ele imediatamente se levantou e me seguiu em direção a cozinha, enquanto eu ouvia Luc repreender . Entrei na cozinha primeiro e esperei entrar e fechei a porta atrás dele, a trancando em seguida para que ninguém nos interrompesse. Me virei calmamente para ele, com os braços cruzados em frente ao peito e o perguntei num tom sério:
- Ela é mais gostosa do que eu? – arregalou os olhos assustados, que se acalmaram ao ver o sorriso em meus lábios.
Me joguei em seus ombros e lhe dei o beijo na bochecha o mais fortemente que pude. Senti o seu suspiro de alívio e seus braços envolveram minha cintura, retribuindo meu abraço.
- Estou tão feliz por você! – Mordi sua bochecha, o que nos fez desvencilharmos do abraço – Seu primeiro relacionamento sério oficialmente como adulto. Está nervoso?
- Estava mais nervoso pra te contar... – Admitiu, mais uma vez levando a mão a nuca – Não queria te contar na frente deles, mas não queria que pensasse que eu estava escondendo algo também.
- Me desculpe por não ter sido presente como amiga. Se tivesse prestado mais atenção, você já teria me contado. – Eu sorri sincera e meu coração explodiu de alegria ao ver o sorriso que nasceu em seus lábios.
- , ele já tem namorada então agiliza isso aí! – Ouvi o grito de vindo da sala de jantar e dei mais um abraço apertado em antes de mandá-lo pegar as taças, enquanto eu tirava o champanhe do freezer.
prestes a planejar o resto de sua vida com o homem de seus sonhos e meu melhor amigo dando um passo em direção a sua própria felicidade, vou me lembrar desse dia para sempre – e provavelmente criar um perfil de namoro online.
e eu acabamos com toda a garrafa de champanhe, já que Luc e resolveram “tirar uma pausa” após terminarem a lista de convidados. Pausa prazerosa, óbvio. Sendo a primeira noite oficial do mais novo casal prometido, e eu decidimos não os incomodar e ríamos alto quando ouvíamos gemidos vindos do quarto. Ah, a intimidade. Me peguei pensando em como seria o sexo com Luc e grunhi em frustração de minha nada ativa vida sexual.
- Preciso te pedir algo. – Ele tentou soar sóbrio, mas suas pupilas dilatadas o entregavam.
- Então peça, babe.
- É sobre a Taylor... – Sua mão foi em direção a nuca novamente e eu revirei os olhos com tamanho nervosismo – Ela ainda não sabe sobre nós...
- Ela não sabe sobre mim? – Perguntei, afetada.
- Ela sabe sobre você, sabe que você é tudo para mim e está louca para te conhecer. Mas ela não sabe de... Nós.
- Onde quer chegar? – Vá direto ao ponto, .
- Eu não quero que ela saiba do nosso relacionamento, pelo menos por enquanto. Acho que algo irrelevante possa assustá-la e fazê-la não ter segurança em nosso namoro.
Eu travei a respiração e senti meu sangue ferver. Irrelevante?
Capítulo 5
- Algo irrelevante como os nossos oito anos juntos? – Tentei manter a calma, mas meu tom denunciava minha raiva.
- Irrelevante para ela saber quando só estamos juntos há algumas semanas, sim. – O tom sereno e um pouco sonso de esgotou a pouca calma que eu tinha.
- Como você pode dizer isso, como se o tempo que passamos juntos não significou nada?
- É complicado demais para ela entender em pouco tempo... pretendo lhe contar tudo, depois que ela te conhecer.
- Ah, que romântico! – Me levantei e bati palmas ironicamente – “E essa é a . Ah, aliás, nós tivemos uma relação amorosa por oito anos”.
- Não dessa forma, obviamente. No tempo, certo vou contá-la aos poucos sobre nós... depois que ela presenciar que realmente não existe nada e que somos apenas amigos. Assim como você explicou para a : criamos algo há mais por acharmos que uma conexão tão forte deveria ser mais que amizade, mas que nunca fomos apaixonados dessa forma.
Sua frase me atingiu como um soco no estômago. Um silêncio constrangedor se instalou entre nós, eu o encarando incrédula e ele com uma expressão confusa ridícula.
- O quê? – Balancei a cabeça, certa de que eu havia escutado errado. Só podia ser.
- A conversa que você teve com a , sobre nós e...
- E sobre nunca termos nos apaixonado? – O interrompi, meu tom mais agressivo do que eu gostaria.
- Por quê? Você acha que não devo mencionar essa parte?
O olhar de me deixou beirando a insanidade – e não do jeito que costumava fazer quando estávamos juntos. O fato de ele estar tão calmo com essa loucura quer dizer que ele realmente acreditava nela, firmemente acredita que não fomos apaixonados, que eu nunca o amei dessa forma. E se isso já não machucasse o suficiente, a pior parte é que nunca foi apaixonado por mim. Eu me enganei esse tempo todo.
- Não, não acho que pega bem você confessar que passou oito anos com alguém por quem você sequer foi apaixonado. – Olhei ao redor procurando uma saída, de repente me sentindo uma estranha em um ambiente que sempre foi tão familiar para mim.
- O que há de errado? – Pela primeira vez, soava preocupado.
Seu tom de voz me levou de volta à primeira vez que eu o ouvi preocupado dessa forma: nossa primeira vez. me olhou como se conseguisse ler cada pensamento que passava por minha cabeça e perguntou “Você tem certeza?”, antes de me tocar de qualquer forma que eu poderia considerar inapropriada. Eu tinha certeza, afinal, nada mais natural e correto do que perder minha virgindade com o meu namorado que eu sabia que me amava, e que eu amava. Como eu poderia questionar a pureza daquele momento, quando éramos apenas um casal de adolescentes com a certeza de nada, a não ser a de sermos apaixonados um pelo outro? Exceto que não éramos. Ele não era. Eu perdi minha virgindade com meu namorado que me amava, mas fraternalmente? Não de uma forma romântica? De repente percebi que meus pensamentos estavam me levando para longe demais, e voltei à realidade com os olhos de ainda sobre mim.
- , eu... Nós não... Eu achei que... – Tentei formar uma frase coerente, sem sucesso – Eu preciso sair.
- Sair pra onde? , fala comigo.
- Você nunca me amou? – Eu tinha certeza de que meu rosto denunciava meu desespero.
- , está louca? De onde tirou isso? Eu te amo, no presente. Eu sempre amei.
- Mas nunca foi apaixonado por mim?
- Eu... – finalmente entendeu e sua feição preocupada se tornou horrorizada – Você também não foi por mim, terminamos por esse motivo.
- O que você está dizendo? Se acha mesmo que eu não era apaixonada por você, por que ficou comigo por tanto tempo?
- , pelo amor de Deus! – Começou a gesticular com as mãos – Entre nós tudo era confortável e estável, só que não existiu a faísca a mais que...
- Não existiu? , eu nem sei o que dizer... – Senti suas mãos entrelaçando as minhas e olhei fixamente para os olhos que eu tanto conhecia, reorganizando meus pensamentos, os quais eu tinha plena consciência que estavam saindo dos eixos – O que todos aqueles anos significaram pra você?
- Ficamos mais próximos conforme o tempo passou, é claro...
- Mais próximos? – Ri em desespero e apertei suas mãos – , eu fui profundamente apaixonada por você.
- O quê? – Ele me olhou como se não me reconhecesse e soltou minhas mãos, como se apenas o meu toque o queimasse.
Nos fitamos por alguns segundos, até que ele balançou a cabeça negativamente e abriu um sorriso irônico, na esperança de que eu fosse retirar o que disse.
- Sinceramente, não sei o que é pior: você nunca ter percebido, ou eu ter criado essa comédia romântica na minha cabeça de que você também foi apaixonado por mim. – Infelizmente minha voz soou exatamente como eu estava me sentindo por dentro, extremamente machucada – De qualquer forma, com certeza não somos tão próximos quanto imaginávamos.
- , eu...
- Não sei se quero ter essa conversa agora. Eu preciso ir para casa.
puxou meu braço esquerdo, me fazendo virar de frente para ele, e imediatamente colocou as mãos em minhas bochechas e colou nossas testas – do jeito que sempre fez quando tentava me acalmar. Minha respiração se tornou descompassada por tentar conter o choro e fechei os olhos, para não me permitir ver a mágoa em seus olhos , onde eu normalmente encontro conforto.
- Vamos conversar sobre isso? – Perguntou tão suavemente que se não fosse por nossa proximidade, eu teria dificuldade em ouvi-lo.
- Eu só preciso de um tempo. – Minha voz falhou assim como minha respiração.
- , por favor, eu... – Apertei mais os olhos ao senti-lo acariciar minha bochecha.
- . – Respirei fundo antes de continuar – Por favor, deixe-me ir, estamos bem.
- Pare de me chamar de com esse tom.
- Seria um tanto inapropriado eu te chamar de babe, você não acha? – Me atrevi a abrir meus olhos, me arrependendo no mesmo instante.
Seu olhar fez meu coração despedaçar. Já o havia visto chorar antes – não é do tipo de homem que tenta esconder sua sensitividade, mas nunca o vi chorar por mim. Seus olhos estavam travados nos meus, lágrimas tornavam suas írises mais escuras, tornando os de seus olhos mais profundos. Não aguentei encará-lo e puxei a gola de seu casaco, o trazendo para mais perto. Afundei meu rosto na curvatura de seu pescoço, deixando meus soluços preencherem o silêncio que se instalou sobre nós. levou uma das mãos ao meu cabelo e o alisou até meus soluços cessarem; depois começou a cantarolar uma melodia que eu não reconheci, com o intuito de me acalmar - ou se acalmar, talvez.
Já havia imaginado como seria quando tivesse que ser quem me consolaria por um coração partido, e em todos os cenários já formados em minha imaginação, ele nunca foi o causador. Talvez eu esteja exagerando e o champanhe tenha contribuído para deixar-nos com nossas emoções à flor da pele, mas pensar em todos os momentos que eu me senti extremamente apaixonada e ter que acrescentar em todas essas lembranças que ele não sentia o mesmo, foi uma dor inimaginável, inigualável.
- Podemos por favor conversar sobre isso? Por favor. – Pediu, aflito.
- Agora não. – Me desvencilhei de seus braços e depositei um beijo leve em sua bochecha. – Eu só preciso de um tempo.
- Leva meu carro, eu estou bêbado demais para dirigir de qualquer forma. – Me entregou a chave e eu sorri fraco em agradecimento.
Virei-me em direção à porta e o ouvi xingar alto após fechá-la. Fiz meu caminho para casa o mais rápido que pude.
***
O som do meu celular tocando me despertou, e tateei a cama ainda de olhos fechados em busca do dispositivo. Encontrei-o e abri apenas um olho, para descobrir qual alma graciosa me tirou a paz: .
- Hãn? – Atendi, sem muita energia para dizer qualquer outra coisa.
- Nossa – Sem tom era acusatório – Pelo menos está viva, já é um avanço.
Revirei meus olhos enquanto me sentava na cama.
- Por que eu não estaria viva?
- Bom, você sumiu depois de ontem à noite e disse que você passou mal... fiquei preocupada. – Os acontecimentos da noite anterior voltaram como um flash e senti meu coração doer. Não pude evitar sentir uma pitada de culpa por ter ido embora sem avisá-la – Então, está tudo bem?
Definitivamente esse não era o momento para divulgar meu desentendimento com da noite anterior, aparentemente eu estava tendo um colapso de sentimentos que deveria ter tido há dois anos, quando e eu decidimos terminar nosso relacionamento – mas descobrir que o único homem por quem já fui apaixonada nunca sentiu o mesmo por mim, me fez infelizmente questionar todo o tempo que passamos juntos. Vale lembrar que já tem suas desconfianças quanto a e eu - claro que a realidade passa bem longe do que ela supõe, mas optei por não precisar de um conselho ou um desabafo no momento – como pedi a , preciso de tempo.
- Ah, é... Desculpa ter saído sem avisar, fiquei com muita enxaqueca e achei melhor vir para casa dormir. Champanhe a vontade tem suas consequências.
- Está se sentindo melhor?
- Não. – Decidi ser honesta – Mas vou passar o dia com as cortinas fechadas e tentar dormir o máximo possível. – Dormir e chorar como uma adolescente por um amor não correspondido há anos atrás é a mesma coisa, certo?
- Ok. Se precisar comprar remédio ou comid,a me avisa que eu busco para você. Nada de sair de casa, se cuida.
- Sim, mãe. – Brinquei e dei uma risada fraca, que desencadeou uma tosse por conta de minha garganta seca.
- Ave Maria, está ruim mesmo. Vá descansar e sonhe comigo, te amo.
- Obrigada por ligar, e desculpa de novo por ontem. Também te amo.
Desliguei a ligação e olhei para a tela do celular, procurando por notificações não visualizadas e não achei o nome de ali. Suspirei aliviada e me levantei decidida a fazer café, percebendo que havia dormido com o vestido da noite anterior. Passei as mãos nos olhos e xinguei em voz alta quando meu dedo indicador se tornou preto, por conta do rímel e delineador que não foram removidos.
Decidi ir ao banheiro primeiro, e a imagem refletida no espelho me fez soltar um grunhido de desaprovação. Meu rosto estava com manchas pretas causadas pela maquiagem arruinada por lágrimas, olhos inchados por ter chorado tanto e meu vestido completamente amassado. Com o pouco de dignidade restante, parei com os cotovelos em cima da pia e olhei no fundo de meus próprios olhos, tentando buscar uma solução para o que sentia. Não desviei o olhar ao ver minha esclera se tornando vermelha e minha visão se tornar turva com a formação de mais lágrimas. Mantive o olhar fixo ao sentir a lágrimas escorrerem, como se meu reflexo fosse me dar o apoio que eu precisava para parar de sentir tanto. Há algo reconfortante em chorar em frente a um espelho.
Respirando fundo, arrumei minha postura e dei um sorriso fraco para o reflexo que ainda me encarava, decidindo que hoje eu seria mais razão e menos emoção. Prendi meus cabelos em um rabo de cavalo e segui minha rotina de skincare calmamente, me atentando ao movimento de minhas mãos, às sensações dos produtos contra minha pele, na falha tentativa de preencher meus pensamentos com algo que não fosse e nosso relacionamento unilateral. Dizem que um coração partido é uma ótima inspiração artística. Quem sabe finalmente conseguirei escrever um prólogo coerente com essa nova motivação? Voltar à escrita cansativa de repente me pareceu extremamente atraente, se comparada com a opção de passar o dia remoendo por lembranças já tristemente alteradas.
Saí do banheiro já tirando o vestido amassado e o joguei num canto qualquer do meu quarto, me dirigi à cômoda e puxei uma camiseta laranja escura velha e alguns vários números maiores do que eu e rapidamente a vesti. Senti o cheiro de café fresco e sorri verdadeiramente pela primeira vez no dia, ao perceber que minhas intenções tornaram minha imaginação super fértil. Levantei os dois braços por cima da cabeça e entrelacei os dedos com as palmas das mãos para cima, as balançando de um lado para o outro enquanto caminhava, me energizando com um alongamento simples antes de tomar meu idealizado café.
Se eu não o conhecesse tão bem, teria me assustado muito mais ao ver o homem parado em minha cozinha em frente à cafeteira. ainda usava as roupas de ontem à noite, os cabelos extremamente bagunçados e as olheiras cansadas serviram de indicativo para uma noite mal dormida por uma preocupação enorme. Sem falar nada e sem me olhar, esticou o braço direito com uma caneca já servida de café em minha direção. Andei calmamente, sem tirar os olhos de seu rosto, e peguei a caneca, fazendo nossos dedos a se tocarem por um breve momento, o que consequentemente, finalmente, fez com que ele me olhasse de volta.
Fechei os olhos e agradeci mentalmente por meu café já estar com leite e açúcar, e tirei alguns segundos para me deliciar com a bebida antes de encarar a realidade parada a minha frente.
- Eu fui andando para casa logo depois de você ter ido embora – quebrou o silêncio e, se eu não estivesse o olhando, me perguntaria de quem era aquela voz, pois soava cansada e rouca, como de outra pessoa – Não consegui dormir e resolvi vir para cá por volta das três e meia. Você estava dormindo, então fiquei deitado no sofá até ouvir você se levantar, que foi quando vim passar o café.
Incerta se dizia algo ou não, apenas balancei a cabeça positivamente e me dirigi em direção à pia, para encher uma garrafa de água.
- Precisamos conversar, . Eu só quero... entender. – Sua voz soou decidida, como se ele tivesse ensaiado exatamente o que dizer.
- Ok. – Foi tudo o que consegui dizer, ainda de costas para ele. Decidi deixar a água de lado e preparei uma nova caneca de café com leite.
pegou alguns biscoitos de manteiga dentro do armário e saiu em direção à sala. Coloquei a caneca na bancada e me agachei até minha barriga encontrar a parte de cima de minhas coxas, com as mãos ainda no canto da bancada, apoiei minha testa no armário à minha frente e fechei os olhos, respirando profundamente e me preparando mentalmente para a conversa que estava por vir.
Tudo aconteceu tão rápido, não sei se sou madura o suficiente para ter essa conversa literalmente na manhã seguinte. Contei minhas respirações e decidi que em minha décima quinta expiração eu levantaria e encararia o homem sentado em meu sofá. Não há uma parte de mim que ame menos, o que eu descobri ontem não muda em nada nosso relacionamento atual, então não há motivos para não conversar civilizadamente sobre meus sentimentos e ouvir os dele. Sinto que cada lembrança de nosso relacionamento, que eu cultivei ao longo dos anos foi alterada, e é a única pessoa que eu realmente quero conversar sobre isso tudo, a única com que me sinto completamente confortável em ser vulnerável.
Eu amo , não o quero longe de mim, não quero mudar nada sobre nossa amizade. Com esse pensamento, me levantei e o segui em direção à sala, com a caneca de café em mãos. Ele já havia terminado o seu café, estava no sofá com os cotovelos apoiados no joelho e com a testa apoiada nas mãos, olhando para o chão. Eu coloquei minha caneca em cima da mesa de centro e me sentei ao seu lado, mas sua posição não mudou. Decidi começar pela parte mais fácil.
- Me desculpe ter ido embora daquela forma ontem.
- Eu acho que eu vou enlouquecer. Estou repassando nossa conversa de novo e de novo na minha cabeça e simplesmente estou com esse sentimento horrível. Eu não quero ser o cara que parte o seu coração, eu odeio esse cara, não era para eu ser esse cara. Odeio como eu fiz você se sentir.
- Como você acha que fez eu me sentir? – levantou a cabeça ao me ouvir falar, levou a mão esquerda ao cabelo e deixou a ponta dos dedos brincando ali, enquanto mexia os dedos agitadamente da mão direita em cima do joelho. Sua calma e paciência, que geralmente me ajudam a acalmar, não estavam presentes, ele estava claramente agitado.
- Desde quando você é apaixonada por mim?
- Bom, eu não sou apaixonada por você. Mas eu já fui muito apaixonada por você. Não sei ao certo quando começou ou quando acabou, mas tenho certeza de que fui.
- Eu sempre senti como se o que sentíamos fosse o mesmo... E não acho que o sentimento mudou depois de terminarmos, por isso simplesmente assumi que nunca me apaixonei, porque não sinto que nada mudou.
- Eu entendo esse ponto de vista..., mas eu não sabia que pensava assim. Infelizmente isso desencadeou um efeito dominó na minha cabeça.
- Como assim?
Senti meu coração bater mais forte. Perdi a noção do tempo e não sei quantos segundos fiquei calada, apenas senti minhas mãos tremerem e fechei os punhos para que ele não percebesse. Não queria culpá-lo e tampouco queria que ele se culpasse.
- Existem momentos de nossa história que eu sei que era apaixonada por você, e acreditava que você também era. Mas agora, sabendo que não é bem assim, essas lembranças machucam.
- Como o quê, por exemplo?
Eu sabia que já tinha me comprometido a ter essa conversa, mas responder a essas perguntas me fez sentir como se alguma parte de nós foi perdida, e que eu estou responsabilizando-o por isso. Não quero que ele compartilhe do mesmo sentimento. Não quero que nada mude.
- , eu só estou tentando entender. – Ele pediu.
- Bom... Como a nossa primeira vez. Sempre me pareceu perfeita e eu nunca quis mudar nada daquele dia, mas agora... eu não sei. Eu não me arrependo – Pausei, na tentativa de deixar bem claro que eu dizia a verdade – Mas fico pensando se seria diferente com alguém que sentisse o mesmo.
não me olhou, apenas encarou os próprios sapatos, acenando minimamente com a cabeça por alguns segundos. Travei a respiração quando o vi respirar fundo, fechando os olhos, como se aquele ato o machucasse.
- Eu sinto muito... Eu não sabia que não era apaixonado por você. Eu sabia que eu nunca tinha experenciado o amor que eu tinha por você, e na minha cabeça significava estar apaixonado. Eu sinto muito , porque eu poderia ter deixado você encontrar um outro alguém, mas eu te quis para mim, de um jeito que mais ninguém jamais conseguiria. Agora eu entendo que pode ter sido por orgulho, mas na época eu não pensei assim.
- Existe alguma parte de você que se arrepende?
- Deus, não. Nenhuma. E quanto a você?
- Não. Nenhuma. – E era verdade. Claro, minhas lembranças foram alteradas, mas o laço que criamos ao longo de tudo foi verdadeiro e duradouro, e eu não o trocaria por nada.
Puxei seu braço esquerdo para cima e me sentei mais perto, olhando seu rosto enquanto seu braço descansava em meu ombro, agora brincando com a gola da camiseta que eu vestia.
- Sinto que estamos sendo testados. – Ele disse, parando os movimentos com a mão e me olhando sério.
- Talvez nós sejamos à prova de fogo.
O vi sorrir verdadeiramente e senti um alívio percorrer todo meu corpo ao sorrir junto, seu braço envolveu meu pescoço, me puxando para um abraço. Sentir seu abraço me trouxe um sentimento de culpa por ainda estar magoada com as palavras ditas ontem.
- O que me machucou mais foi você ter dito que nosso relacionamento foi irrelevante.
me afastou o suficiente para olhar em meus olhos e segurou meu rosto com as duas mãos e quando começou a falar, era como se falasse com uma criança tamanho era o carinho e afeto que haviam em sua voz.
- Não quis dizer que nós fomos irrelevantes, e sim que achava irrelevante contar à Taylor com apenas duas semanas. Me desculpe ter me expressado mal, e, ... – Seu tom de voz diminuiu como se ele estivesse falando mais consigo mesmo do que comigo – Como eu queria ter me apaixonado por você.
Nos encaramos por alguns segundos e eu sorri calmamente, expressando que estava tudo bem. Éramos apenas crianças no decorrer de nosso relacionamento e embora eu tenha me apaixonado, era errado esperar o mesmo sentimento dele, quando ele ainda nem se conhecia por completo.
- Como ela é? – Eu perguntei, ansiosa com minha própria curiosidade. riu.
- Ela é... – Sorri abertamente quando meu melhor amigo suspirou, como se a imagem de Taylor em sua mente fosse o suficiente para ele perder as palavras – Incrível. Eu não quero estragar a sua impressão dela, então não quero contar muito até que você possa tirar as próprias conclusões. Podemos conversar sobre ela após se conhecerem. Eu vou contá-la sobre nós em nosso encontro hoje. – Ele disse, começando a brincar com as pontas dos meus dedos.
- Você acha que vai ser estranho para ela? Digo... diz que nossa relação atual é estranha por existir muito afeto, é disso que tem medo? De ela não gostar dessa situação? – Entrelacei meus dedos nos seus.
- Eu só quero que ela se encaixe. Não quero mudar meu modo de agir perto de você. – jogou sua perna direita por cima do meu colo e deitou a cabeça em cima do seu próprio ombro, fazendo que seu nariz quase encostasse em minha bochecha.
- Olha, eu no lugar dela não me sentira nem um pouco confortável em encontrar meu namorado entrelaçado com outra assim no sofá. – Ri baixo, batendo em cima de sua coxa, também soltou um riso e senti sua respiração bater em meu pescoço.
- Tem razão. Mas vamos ficar aqui por enquanto, já que ela ainda não é minha namorada oficialmente. – Ouvi o cansaço em sua voz e me senti culpada por ter lhe tirado um pouco de paz com todo o drama.
Senti seu corpo se aninhar ao meu e fechei os olhos, aproveitando ao máximo a nossa proximidade. Ficaríamos bem.
- Irrelevante para ela saber quando só estamos juntos há algumas semanas, sim. – O tom sereno e um pouco sonso de esgotou a pouca calma que eu tinha.
- Como você pode dizer isso, como se o tempo que passamos juntos não significou nada?
- É complicado demais para ela entender em pouco tempo... pretendo lhe contar tudo, depois que ela te conhecer.
- Ah, que romântico! – Me levantei e bati palmas ironicamente – “E essa é a . Ah, aliás, nós tivemos uma relação amorosa por oito anos”.
- Não dessa forma, obviamente. No tempo, certo vou contá-la aos poucos sobre nós... depois que ela presenciar que realmente não existe nada e que somos apenas amigos. Assim como você explicou para a : criamos algo há mais por acharmos que uma conexão tão forte deveria ser mais que amizade, mas que nunca fomos apaixonados dessa forma.
Sua frase me atingiu como um soco no estômago. Um silêncio constrangedor se instalou entre nós, eu o encarando incrédula e ele com uma expressão confusa ridícula.
- O quê? – Balancei a cabeça, certa de que eu havia escutado errado. Só podia ser.
- A conversa que você teve com a , sobre nós e...
- E sobre nunca termos nos apaixonado? – O interrompi, meu tom mais agressivo do que eu gostaria.
- Por quê? Você acha que não devo mencionar essa parte?
O olhar de me deixou beirando a insanidade – e não do jeito que costumava fazer quando estávamos juntos. O fato de ele estar tão calmo com essa loucura quer dizer que ele realmente acreditava nela, firmemente acredita que não fomos apaixonados, que eu nunca o amei dessa forma. E se isso já não machucasse o suficiente, a pior parte é que nunca foi apaixonado por mim. Eu me enganei esse tempo todo.
- Não, não acho que pega bem você confessar que passou oito anos com alguém por quem você sequer foi apaixonado. – Olhei ao redor procurando uma saída, de repente me sentindo uma estranha em um ambiente que sempre foi tão familiar para mim.
- O que há de errado? – Pela primeira vez, soava preocupado.
Seu tom de voz me levou de volta à primeira vez que eu o ouvi preocupado dessa forma: nossa primeira vez. me olhou como se conseguisse ler cada pensamento que passava por minha cabeça e perguntou “Você tem certeza?”, antes de me tocar de qualquer forma que eu poderia considerar inapropriada. Eu tinha certeza, afinal, nada mais natural e correto do que perder minha virgindade com o meu namorado que eu sabia que me amava, e que eu amava. Como eu poderia questionar a pureza daquele momento, quando éramos apenas um casal de adolescentes com a certeza de nada, a não ser a de sermos apaixonados um pelo outro? Exceto que não éramos. Ele não era. Eu perdi minha virgindade com meu namorado que me amava, mas fraternalmente? Não de uma forma romântica? De repente percebi que meus pensamentos estavam me levando para longe demais, e voltei à realidade com os olhos de ainda sobre mim.
- , eu... Nós não... Eu achei que... – Tentei formar uma frase coerente, sem sucesso – Eu preciso sair.
- Sair pra onde? , fala comigo.
- Você nunca me amou? – Eu tinha certeza de que meu rosto denunciava meu desespero.
- , está louca? De onde tirou isso? Eu te amo, no presente. Eu sempre amei.
- Mas nunca foi apaixonado por mim?
- Eu... – finalmente entendeu e sua feição preocupada se tornou horrorizada – Você também não foi por mim, terminamos por esse motivo.
- O que você está dizendo? Se acha mesmo que eu não era apaixonada por você, por que ficou comigo por tanto tempo?
- , pelo amor de Deus! – Começou a gesticular com as mãos – Entre nós tudo era confortável e estável, só que não existiu a faísca a mais que...
- Não existiu? , eu nem sei o que dizer... – Senti suas mãos entrelaçando as minhas e olhei fixamente para os olhos que eu tanto conhecia, reorganizando meus pensamentos, os quais eu tinha plena consciência que estavam saindo dos eixos – O que todos aqueles anos significaram pra você?
- Ficamos mais próximos conforme o tempo passou, é claro...
- Mais próximos? – Ri em desespero e apertei suas mãos – , eu fui profundamente apaixonada por você.
- O quê? – Ele me olhou como se não me reconhecesse e soltou minhas mãos, como se apenas o meu toque o queimasse.
Nos fitamos por alguns segundos, até que ele balançou a cabeça negativamente e abriu um sorriso irônico, na esperança de que eu fosse retirar o que disse.
- Sinceramente, não sei o que é pior: você nunca ter percebido, ou eu ter criado essa comédia romântica na minha cabeça de que você também foi apaixonado por mim. – Infelizmente minha voz soou exatamente como eu estava me sentindo por dentro, extremamente machucada – De qualquer forma, com certeza não somos tão próximos quanto imaginávamos.
- , eu...
- Não sei se quero ter essa conversa agora. Eu preciso ir para casa.
puxou meu braço esquerdo, me fazendo virar de frente para ele, e imediatamente colocou as mãos em minhas bochechas e colou nossas testas – do jeito que sempre fez quando tentava me acalmar. Minha respiração se tornou descompassada por tentar conter o choro e fechei os olhos, para não me permitir ver a mágoa em seus olhos , onde eu normalmente encontro conforto.
- Vamos conversar sobre isso? – Perguntou tão suavemente que se não fosse por nossa proximidade, eu teria dificuldade em ouvi-lo.
- Eu só preciso de um tempo. – Minha voz falhou assim como minha respiração.
- , por favor, eu... – Apertei mais os olhos ao senti-lo acariciar minha bochecha.
- . – Respirei fundo antes de continuar – Por favor, deixe-me ir, estamos bem.
- Pare de me chamar de com esse tom.
- Seria um tanto inapropriado eu te chamar de babe, você não acha? – Me atrevi a abrir meus olhos, me arrependendo no mesmo instante.
Seu olhar fez meu coração despedaçar. Já o havia visto chorar antes – não é do tipo de homem que tenta esconder sua sensitividade, mas nunca o vi chorar por mim. Seus olhos estavam travados nos meus, lágrimas tornavam suas írises mais escuras, tornando os de seus olhos mais profundos. Não aguentei encará-lo e puxei a gola de seu casaco, o trazendo para mais perto. Afundei meu rosto na curvatura de seu pescoço, deixando meus soluços preencherem o silêncio que se instalou sobre nós. levou uma das mãos ao meu cabelo e o alisou até meus soluços cessarem; depois começou a cantarolar uma melodia que eu não reconheci, com o intuito de me acalmar - ou se acalmar, talvez.
Já havia imaginado como seria quando tivesse que ser quem me consolaria por um coração partido, e em todos os cenários já formados em minha imaginação, ele nunca foi o causador. Talvez eu esteja exagerando e o champanhe tenha contribuído para deixar-nos com nossas emoções à flor da pele, mas pensar em todos os momentos que eu me senti extremamente apaixonada e ter que acrescentar em todas essas lembranças que ele não sentia o mesmo, foi uma dor inimaginável, inigualável.
- Podemos por favor conversar sobre isso? Por favor. – Pediu, aflito.
- Agora não. – Me desvencilhei de seus braços e depositei um beijo leve em sua bochecha. – Eu só preciso de um tempo.
- Leva meu carro, eu estou bêbado demais para dirigir de qualquer forma. – Me entregou a chave e eu sorri fraco em agradecimento.
Virei-me em direção à porta e o ouvi xingar alto após fechá-la. Fiz meu caminho para casa o mais rápido que pude.
O som do meu celular tocando me despertou, e tateei a cama ainda de olhos fechados em busca do dispositivo. Encontrei-o e abri apenas um olho, para descobrir qual alma graciosa me tirou a paz: .
- Hãn? – Atendi, sem muita energia para dizer qualquer outra coisa.
- Nossa – Sem tom era acusatório – Pelo menos está viva, já é um avanço.
Revirei meus olhos enquanto me sentava na cama.
- Por que eu não estaria viva?
- Bom, você sumiu depois de ontem à noite e disse que você passou mal... fiquei preocupada. – Os acontecimentos da noite anterior voltaram como um flash e senti meu coração doer. Não pude evitar sentir uma pitada de culpa por ter ido embora sem avisá-la – Então, está tudo bem?
Definitivamente esse não era o momento para divulgar meu desentendimento com da noite anterior, aparentemente eu estava tendo um colapso de sentimentos que deveria ter tido há dois anos, quando e eu decidimos terminar nosso relacionamento – mas descobrir que o único homem por quem já fui apaixonada nunca sentiu o mesmo por mim, me fez infelizmente questionar todo o tempo que passamos juntos. Vale lembrar que já tem suas desconfianças quanto a e eu - claro que a realidade passa bem longe do que ela supõe, mas optei por não precisar de um conselho ou um desabafo no momento – como pedi a , preciso de tempo.
- Ah, é... Desculpa ter saído sem avisar, fiquei com muita enxaqueca e achei melhor vir para casa dormir. Champanhe a vontade tem suas consequências.
- Está se sentindo melhor?
- Não. – Decidi ser honesta – Mas vou passar o dia com as cortinas fechadas e tentar dormir o máximo possível. – Dormir e chorar como uma adolescente por um amor não correspondido há anos atrás é a mesma coisa, certo?
- Ok. Se precisar comprar remédio ou comid,a me avisa que eu busco para você. Nada de sair de casa, se cuida.
- Sim, mãe. – Brinquei e dei uma risada fraca, que desencadeou uma tosse por conta de minha garganta seca.
- Ave Maria, está ruim mesmo. Vá descansar e sonhe comigo, te amo.
- Obrigada por ligar, e desculpa de novo por ontem. Também te amo.
Desliguei a ligação e olhei para a tela do celular, procurando por notificações não visualizadas e não achei o nome de ali. Suspirei aliviada e me levantei decidida a fazer café, percebendo que havia dormido com o vestido da noite anterior. Passei as mãos nos olhos e xinguei em voz alta quando meu dedo indicador se tornou preto, por conta do rímel e delineador que não foram removidos.
Decidi ir ao banheiro primeiro, e a imagem refletida no espelho me fez soltar um grunhido de desaprovação. Meu rosto estava com manchas pretas causadas pela maquiagem arruinada por lágrimas, olhos inchados por ter chorado tanto e meu vestido completamente amassado. Com o pouco de dignidade restante, parei com os cotovelos em cima da pia e olhei no fundo de meus próprios olhos, tentando buscar uma solução para o que sentia. Não desviei o olhar ao ver minha esclera se tornando vermelha e minha visão se tornar turva com a formação de mais lágrimas. Mantive o olhar fixo ao sentir a lágrimas escorrerem, como se meu reflexo fosse me dar o apoio que eu precisava para parar de sentir tanto. Há algo reconfortante em chorar em frente a um espelho.
Respirando fundo, arrumei minha postura e dei um sorriso fraco para o reflexo que ainda me encarava, decidindo que hoje eu seria mais razão e menos emoção. Prendi meus cabelos em um rabo de cavalo e segui minha rotina de skincare calmamente, me atentando ao movimento de minhas mãos, às sensações dos produtos contra minha pele, na falha tentativa de preencher meus pensamentos com algo que não fosse e nosso relacionamento unilateral. Dizem que um coração partido é uma ótima inspiração artística. Quem sabe finalmente conseguirei escrever um prólogo coerente com essa nova motivação? Voltar à escrita cansativa de repente me pareceu extremamente atraente, se comparada com a opção de passar o dia remoendo por lembranças já tristemente alteradas.
Saí do banheiro já tirando o vestido amassado e o joguei num canto qualquer do meu quarto, me dirigi à cômoda e puxei uma camiseta laranja escura velha e alguns vários números maiores do que eu e rapidamente a vesti. Senti o cheiro de café fresco e sorri verdadeiramente pela primeira vez no dia, ao perceber que minhas intenções tornaram minha imaginação super fértil. Levantei os dois braços por cima da cabeça e entrelacei os dedos com as palmas das mãos para cima, as balançando de um lado para o outro enquanto caminhava, me energizando com um alongamento simples antes de tomar meu idealizado café.
Se eu não o conhecesse tão bem, teria me assustado muito mais ao ver o homem parado em minha cozinha em frente à cafeteira. ainda usava as roupas de ontem à noite, os cabelos extremamente bagunçados e as olheiras cansadas serviram de indicativo para uma noite mal dormida por uma preocupação enorme. Sem falar nada e sem me olhar, esticou o braço direito com uma caneca já servida de café em minha direção. Andei calmamente, sem tirar os olhos de seu rosto, e peguei a caneca, fazendo nossos dedos a se tocarem por um breve momento, o que consequentemente, finalmente, fez com que ele me olhasse de volta.
Fechei os olhos e agradeci mentalmente por meu café já estar com leite e açúcar, e tirei alguns segundos para me deliciar com a bebida antes de encarar a realidade parada a minha frente.
- Eu fui andando para casa logo depois de você ter ido embora – quebrou o silêncio e, se eu não estivesse o olhando, me perguntaria de quem era aquela voz, pois soava cansada e rouca, como de outra pessoa – Não consegui dormir e resolvi vir para cá por volta das três e meia. Você estava dormindo, então fiquei deitado no sofá até ouvir você se levantar, que foi quando vim passar o café.
Incerta se dizia algo ou não, apenas balancei a cabeça positivamente e me dirigi em direção à pia, para encher uma garrafa de água.
- Precisamos conversar, . Eu só quero... entender. – Sua voz soou decidida, como se ele tivesse ensaiado exatamente o que dizer.
- Ok. – Foi tudo o que consegui dizer, ainda de costas para ele. Decidi deixar a água de lado e preparei uma nova caneca de café com leite.
pegou alguns biscoitos de manteiga dentro do armário e saiu em direção à sala. Coloquei a caneca na bancada e me agachei até minha barriga encontrar a parte de cima de minhas coxas, com as mãos ainda no canto da bancada, apoiei minha testa no armário à minha frente e fechei os olhos, respirando profundamente e me preparando mentalmente para a conversa que estava por vir.
Tudo aconteceu tão rápido, não sei se sou madura o suficiente para ter essa conversa literalmente na manhã seguinte. Contei minhas respirações e decidi que em minha décima quinta expiração eu levantaria e encararia o homem sentado em meu sofá. Não há uma parte de mim que ame menos, o que eu descobri ontem não muda em nada nosso relacionamento atual, então não há motivos para não conversar civilizadamente sobre meus sentimentos e ouvir os dele. Sinto que cada lembrança de nosso relacionamento, que eu cultivei ao longo dos anos foi alterada, e é a única pessoa que eu realmente quero conversar sobre isso tudo, a única com que me sinto completamente confortável em ser vulnerável.
Eu amo , não o quero longe de mim, não quero mudar nada sobre nossa amizade. Com esse pensamento, me levantei e o segui em direção à sala, com a caneca de café em mãos. Ele já havia terminado o seu café, estava no sofá com os cotovelos apoiados no joelho e com a testa apoiada nas mãos, olhando para o chão. Eu coloquei minha caneca em cima da mesa de centro e me sentei ao seu lado, mas sua posição não mudou. Decidi começar pela parte mais fácil.
- Me desculpe ter ido embora daquela forma ontem.
- Eu acho que eu vou enlouquecer. Estou repassando nossa conversa de novo e de novo na minha cabeça e simplesmente estou com esse sentimento horrível. Eu não quero ser o cara que parte o seu coração, eu odeio esse cara, não era para eu ser esse cara. Odeio como eu fiz você se sentir.
- Como você acha que fez eu me sentir? – levantou a cabeça ao me ouvir falar, levou a mão esquerda ao cabelo e deixou a ponta dos dedos brincando ali, enquanto mexia os dedos agitadamente da mão direita em cima do joelho. Sua calma e paciência, que geralmente me ajudam a acalmar, não estavam presentes, ele estava claramente agitado.
- Desde quando você é apaixonada por mim?
- Bom, eu não sou apaixonada por você. Mas eu já fui muito apaixonada por você. Não sei ao certo quando começou ou quando acabou, mas tenho certeza de que fui.
- Eu sempre senti como se o que sentíamos fosse o mesmo... E não acho que o sentimento mudou depois de terminarmos, por isso simplesmente assumi que nunca me apaixonei, porque não sinto que nada mudou.
- Eu entendo esse ponto de vista..., mas eu não sabia que pensava assim. Infelizmente isso desencadeou um efeito dominó na minha cabeça.
- Como assim?
Senti meu coração bater mais forte. Perdi a noção do tempo e não sei quantos segundos fiquei calada, apenas senti minhas mãos tremerem e fechei os punhos para que ele não percebesse. Não queria culpá-lo e tampouco queria que ele se culpasse.
- Existem momentos de nossa história que eu sei que era apaixonada por você, e acreditava que você também era. Mas agora, sabendo que não é bem assim, essas lembranças machucam.
- Como o quê, por exemplo?
Eu sabia que já tinha me comprometido a ter essa conversa, mas responder a essas perguntas me fez sentir como se alguma parte de nós foi perdida, e que eu estou responsabilizando-o por isso. Não quero que ele compartilhe do mesmo sentimento. Não quero que nada mude.
- , eu só estou tentando entender. – Ele pediu.
- Bom... Como a nossa primeira vez. Sempre me pareceu perfeita e eu nunca quis mudar nada daquele dia, mas agora... eu não sei. Eu não me arrependo – Pausei, na tentativa de deixar bem claro que eu dizia a verdade – Mas fico pensando se seria diferente com alguém que sentisse o mesmo.
não me olhou, apenas encarou os próprios sapatos, acenando minimamente com a cabeça por alguns segundos. Travei a respiração quando o vi respirar fundo, fechando os olhos, como se aquele ato o machucasse.
- Eu sinto muito... Eu não sabia que não era apaixonado por você. Eu sabia que eu nunca tinha experenciado o amor que eu tinha por você, e na minha cabeça significava estar apaixonado. Eu sinto muito , porque eu poderia ter deixado você encontrar um outro alguém, mas eu te quis para mim, de um jeito que mais ninguém jamais conseguiria. Agora eu entendo que pode ter sido por orgulho, mas na época eu não pensei assim.
- Existe alguma parte de você que se arrepende?
- Deus, não. Nenhuma. E quanto a você?
- Não. Nenhuma. – E era verdade. Claro, minhas lembranças foram alteradas, mas o laço que criamos ao longo de tudo foi verdadeiro e duradouro, e eu não o trocaria por nada.
Puxei seu braço esquerdo para cima e me sentei mais perto, olhando seu rosto enquanto seu braço descansava em meu ombro, agora brincando com a gola da camiseta que eu vestia.
- Sinto que estamos sendo testados. – Ele disse, parando os movimentos com a mão e me olhando sério.
- Talvez nós sejamos à prova de fogo.
O vi sorrir verdadeiramente e senti um alívio percorrer todo meu corpo ao sorrir junto, seu braço envolveu meu pescoço, me puxando para um abraço. Sentir seu abraço me trouxe um sentimento de culpa por ainda estar magoada com as palavras ditas ontem.
- O que me machucou mais foi você ter dito que nosso relacionamento foi irrelevante.
me afastou o suficiente para olhar em meus olhos e segurou meu rosto com as duas mãos e quando começou a falar, era como se falasse com uma criança tamanho era o carinho e afeto que haviam em sua voz.
- Não quis dizer que nós fomos irrelevantes, e sim que achava irrelevante contar à Taylor com apenas duas semanas. Me desculpe ter me expressado mal, e, ... – Seu tom de voz diminuiu como se ele estivesse falando mais consigo mesmo do que comigo – Como eu queria ter me apaixonado por você.
Nos encaramos por alguns segundos e eu sorri calmamente, expressando que estava tudo bem. Éramos apenas crianças no decorrer de nosso relacionamento e embora eu tenha me apaixonado, era errado esperar o mesmo sentimento dele, quando ele ainda nem se conhecia por completo.
- Como ela é? – Eu perguntei, ansiosa com minha própria curiosidade. riu.
- Ela é... – Sorri abertamente quando meu melhor amigo suspirou, como se a imagem de Taylor em sua mente fosse o suficiente para ele perder as palavras – Incrível. Eu não quero estragar a sua impressão dela, então não quero contar muito até que você possa tirar as próprias conclusões. Podemos conversar sobre ela após se conhecerem. Eu vou contá-la sobre nós em nosso encontro hoje. – Ele disse, começando a brincar com as pontas dos meus dedos.
- Você acha que vai ser estranho para ela? Digo... diz que nossa relação atual é estranha por existir muito afeto, é disso que tem medo? De ela não gostar dessa situação? – Entrelacei meus dedos nos seus.
- Eu só quero que ela se encaixe. Não quero mudar meu modo de agir perto de você. – jogou sua perna direita por cima do meu colo e deitou a cabeça em cima do seu próprio ombro, fazendo que seu nariz quase encostasse em minha bochecha.
- Olha, eu no lugar dela não me sentira nem um pouco confortável em encontrar meu namorado entrelaçado com outra assim no sofá. – Ri baixo, batendo em cima de sua coxa, também soltou um riso e senti sua respiração bater em meu pescoço.
- Tem razão. Mas vamos ficar aqui por enquanto, já que ela ainda não é minha namorada oficialmente. – Ouvi o cansaço em sua voz e me senti culpada por ter lhe tirado um pouco de paz com todo o drama.
Senti seu corpo se aninhar ao meu e fechei os olhos, aproveitando ao máximo a nossa proximidade. Ficaríamos bem.
Capítulo 6
Reli a lista de compras, checando todos os itens pelo menos três vezes e coloquei as mãos nos quadris, sorrindo orgulhosa para minha pequena cesta. Quem disse que não consegue ir ao supermercado sem comprar três carrinhos cheios? Meu sorriso se desmanchou ao andar em direção aos caixas. Correção: ao caixa, visto que só um estava funcionando.
Peguei meu celular ao entrar na fila e me assustei em perceber que já estava dentro do mercado por quase duas horas. fez questão de não vir comigo, disse que eu passo tempo demais olhando para coisas demais e normalmente gasto demais, não pude discordar. A fim de provar o contrário, tirei uma foto da minha cesta e encaminhei para o grupo de mensagens intitulado “Quem é Taylor”, criado por logo após anunciar que Taylor havia concordado em ser sua namorada.
O grupo tornou-se um lembrete constante de minha promessa de organizar um jantar para todos conhecermos a mulher que fisgou o coração de gelo de – palavras de , não minhas. Cedendo à pressão nada amigável, resolvi convidar a todos para um jantar no qual eu cozinharei a minha famosa carne moída cremosa, a favorita de . Por falar em , ou melhor, a personificação de ansiedade, ele já havia me mandado pelo menos cinquenta mensagens, algumas oferecendo ajuda; outras me pedindo desculpas por não poder ajudar; algumas com combinações de roupas sobre a cama, pedindo minha opinião sobre qual gritava “sou um cara bacana e meus amigos também, mas por favor transe comigo essa noite” – palavras dele, não minhas.
Eu me sentia nervosa, como se eu fosse uma mãe em Casamento às Cegas e estava prestes a conhecer minha futura nora. Obcecada por Tris Prior e reality shows, talvez eu queira mesmo voltar a adolescência. Quem sabe eu não coloco um poster de um popstar na parede quando chegar em casa? Depois do que pareceram horas – posso tranquilamente passar horas olhando produtos que eu nunca vou comprar, mas cinco minutos em uma fila parecem uma eternidade, fui atendida por uma aprendiz no seu primeiro dia, e, decidida a ser o rosto a ser lembrado, lhe comprei uma barra de chocolate e lhe desejei boa sorte antes de ir embora.
Não pude fazer muito a não ser cozinhar ao chegar em casa, depois do tempo desperdiçado no mercado. De repente, me senti correndo contra o tempo e soltei um grito alto de frustração quando a água da carne parecia não secar enquanto eu a refogava.
- Hello, hello, hello! – Ouvi Luc adentrando meu apartamento no estilo RuPaul e agradeci aos deuses gays por terem ouvido meu pedido de socorro.
- Lucas se você não fosse prometido a minha melhor amiga, eu te pediria em casamento agora mesmo! – Limpei as mãos em meu avental e fui em sua direção, abraçando-o apertado.
- foi atrasada por uma reunião de pais emergencial na escola e me mandou aqui, imaginando que você seria orgulhosa demais para pedir ajuda. – Ele limpou algo em meu rosto que eu nem sabia o que era – Parece que ela estava certa.
- Eu já estou terminando de refogar a carne e tenho tudo preparado para começar a misturar assim que estiver mais sequinha. Vou terminar a carne, mas você pode misturar tudo e colocar na assadeira com as fatias de queijo por cima e o molho de tomate tampando? – O olhei no melhor estilo gato de botas que pude.
- É claro que sim. – Luc me deu um sorriso meigo, talvez até um pouco demais, e acariciou meu braço.
- Devo te lembrar novamente de sua noiva? – Perguntei me afastando e ele riu.
- Desculpa, eu só queria... Te pedir desculpas. – Colocou as mãos nos bolsos da frente da calça jeans que vestia – Não tivemos um tempo a sós desde aquele dia no restaurante e eu agi...
- Ai meu Deus, Luc! – Eu disse afetada e corri em sua direção, para lhe abraçar novamente – Seria muito estranho viver em um mundo onde irmãos não brigam. E prometa não limpar a bochecha. – Fiquei na ponta dos pés e carimbei um beijo em sua bochecha. – Eu te amo, mas não temos mais tempo para isso.
Eu tirei meu avental – que estampava o torso de um homem extremamente definido e deixava a ilusão que o tanquinho era meu. Era o único avental na promoção e eu não tinha muito dinheiro sobrando – e, como se o coroando, coloquei o avental em Luc. Devo admitir que fica muito melhor nele do que em mim, atiça minha imaginação.
- Taylor e já vão chegar. Ela sabe que namoramos, preciso me arrumar muito, pelo bem da reputação de . – Luc riu baixo concordando e eu lhe agradeci mais uma vez antes de correr para o banheiro.
***
Já pronta, me olhei no espelho e sorri orgulhosa ao passar perfume. Veja bem, é uma questão de reciprocidade: aos meus olhos, nenhum namorado chegará à altura de , ele sempre será o homem mais lindo com quem já namorei, logo eu tenho que ser a dele. Talvez não seja questão de reciprocidade, e sim de orgulho. Estou superanimada para conhecer Taylor, mas também preciso lembrar a quem é a número um. Nada pessoal.
Virei de costas para o espelho e olhei para trás para checar minha bunda – atire a primeira pedra quem nunca – e mais uma vez me peguei sorrindo orgulhosa. Ah, eu preciso de um homem! Eu usava um cropped branco na altura dos seios e uma saia longa de cintura alta branca, com desenhos de folhas de palmeiras e uma fenda começando exatamente na divisa entre meu quadril e minha coxa, deixando minha perna esquerda totalmente a mostra. estava comigo no dia que eu comprei a saia e implorou para que eu não a usasse na frente de nenhum homem que não fosse ele, mas hoje ele teria que dividir com Luc. Decidi calçar uma havaianas simples, afinal eu estava em minha própria casa e não queria deixar minha intenções tão obvias. Gostosa despojada.
Corri para a sala e chamei a atenção de Luc, estralando os dedos algumas vezes, e dei uma voltinha dramática quando ele finalmente me olhou. Gargalhei alto ao ouvi-lo assoviar e começar um grito de guerra que os rapazes da faculdade faziam ao ver um pedaço de carne com quem queriam se envolver.
- Embora eu aprecie o entusiasmo, não se esqueça que isso seria um incesto. – Eu apontei o dedo em sua direção.
- Eu tenho que ir buscar , inclusive. Já coloquei tudo no forno – Ele tirou o avental e eu me peguei encarando o torso do homem seminu ilustrado ali – Então, se quiser ir dar uma rapidinha com o avental, eu volto em quinze minutos.
Lhe dei o melhor sorriso amarelo que pude e mostrei o dedo do meio, mas não pude esconder meu rubor no rosto. Uma coisa é ser patética a ponto de se animar com um avental de cozinha, outra coisa é ser pega no flagra enquanto sendo patética. Luc se aproximou e me deu um beijo na bochecha antes de sair e murmurou algo sobre como eu cheirava bem.
Passados alguns minutos, o cheiro saindo da cozinha estava me matando de fome e eu comecei a andar ao redor da sala, contando os segundos em voz alta até alguém chegar, na tentativa de acalmar minha ansiedade. No segundo setenta e três, ouvi vozes no corredor e dei palmas animadas. Ainda era cedo demais para Luc ter voltado, ou seja, era Taylor! ia morrer de ciúmes ao saber que eu a conheci primeiro; eu culpo a educação infantil e suas reuniões emergenciais. Ao ouvir o toque na porta, arrumei meu cabelo do melhor jeito despojado que pude e chequei se tudo embaixo do cropped estava no lugar.
Abri a porta e meu queixo caiu. Encarei a mulher com a mão entrelaçada na de meu melhor amigo com os olhos arregalados. Taylor usava um vestido azul marinho curto e largo, que combinava perfeitamente com a jaqueta jeans de , que por sua vez, ao perceber o terror estampado em meu rosto, me lançou um olhar questionador. Eu engoli seco e sorri forçadamente, mas fui interrompida antes mesmo de dizer qualquer coisa.
- ... quanto tempo! – A mulher se desvencilhou de e me puxou para um abraço, como se fôssemos grandes amigas.
Fechei os olhos fortemente, desejando que aquilo fosse um sonho ridículo, mas ao abri-los só encontrei ainda me encarando extremamente confuso. Eu a conhecia. Eu a conhecia e não sabia. Agora, eu teria que lidar com as consequências de nunca ter contado a ele sobre meu passado com Taylor e seu irmão, Logan. Ali, encarando seus olhos , ainda envolta em um abraço desconfortável, meu coração disparou.
Peguei meu celular ao entrar na fila e me assustei em perceber que já estava dentro do mercado por quase duas horas. fez questão de não vir comigo, disse que eu passo tempo demais olhando para coisas demais e normalmente gasto demais, não pude discordar. A fim de provar o contrário, tirei uma foto da minha cesta e encaminhei para o grupo de mensagens intitulado “Quem é Taylor”, criado por logo após anunciar que Taylor havia concordado em ser sua namorada.
O grupo tornou-se um lembrete constante de minha promessa de organizar um jantar para todos conhecermos a mulher que fisgou o coração de gelo de – palavras de , não minhas. Cedendo à pressão nada amigável, resolvi convidar a todos para um jantar no qual eu cozinharei a minha famosa carne moída cremosa, a favorita de . Por falar em , ou melhor, a personificação de ansiedade, ele já havia me mandado pelo menos cinquenta mensagens, algumas oferecendo ajuda; outras me pedindo desculpas por não poder ajudar; algumas com combinações de roupas sobre a cama, pedindo minha opinião sobre qual gritava “sou um cara bacana e meus amigos também, mas por favor transe comigo essa noite” – palavras dele, não minhas.
Eu me sentia nervosa, como se eu fosse uma mãe em Casamento às Cegas e estava prestes a conhecer minha futura nora. Obcecada por Tris Prior e reality shows, talvez eu queira mesmo voltar a adolescência. Quem sabe eu não coloco um poster de um popstar na parede quando chegar em casa? Depois do que pareceram horas – posso tranquilamente passar horas olhando produtos que eu nunca vou comprar, mas cinco minutos em uma fila parecem uma eternidade, fui atendida por uma aprendiz no seu primeiro dia, e, decidida a ser o rosto a ser lembrado, lhe comprei uma barra de chocolate e lhe desejei boa sorte antes de ir embora.
Não pude fazer muito a não ser cozinhar ao chegar em casa, depois do tempo desperdiçado no mercado. De repente, me senti correndo contra o tempo e soltei um grito alto de frustração quando a água da carne parecia não secar enquanto eu a refogava.
- Hello, hello, hello! – Ouvi Luc adentrando meu apartamento no estilo RuPaul e agradeci aos deuses gays por terem ouvido meu pedido de socorro.
- Lucas se você não fosse prometido a minha melhor amiga, eu te pediria em casamento agora mesmo! – Limpei as mãos em meu avental e fui em sua direção, abraçando-o apertado.
- foi atrasada por uma reunião de pais emergencial na escola e me mandou aqui, imaginando que você seria orgulhosa demais para pedir ajuda. – Ele limpou algo em meu rosto que eu nem sabia o que era – Parece que ela estava certa.
- Eu já estou terminando de refogar a carne e tenho tudo preparado para começar a misturar assim que estiver mais sequinha. Vou terminar a carne, mas você pode misturar tudo e colocar na assadeira com as fatias de queijo por cima e o molho de tomate tampando? – O olhei no melhor estilo gato de botas que pude.
- É claro que sim. – Luc me deu um sorriso meigo, talvez até um pouco demais, e acariciou meu braço.
- Devo te lembrar novamente de sua noiva? – Perguntei me afastando e ele riu.
- Desculpa, eu só queria... Te pedir desculpas. – Colocou as mãos nos bolsos da frente da calça jeans que vestia – Não tivemos um tempo a sós desde aquele dia no restaurante e eu agi...
- Ai meu Deus, Luc! – Eu disse afetada e corri em sua direção, para lhe abraçar novamente – Seria muito estranho viver em um mundo onde irmãos não brigam. E prometa não limpar a bochecha. – Fiquei na ponta dos pés e carimbei um beijo em sua bochecha. – Eu te amo, mas não temos mais tempo para isso.
Eu tirei meu avental – que estampava o torso de um homem extremamente definido e deixava a ilusão que o tanquinho era meu. Era o único avental na promoção e eu não tinha muito dinheiro sobrando – e, como se o coroando, coloquei o avental em Luc. Devo admitir que fica muito melhor nele do que em mim, atiça minha imaginação.
- Taylor e já vão chegar. Ela sabe que namoramos, preciso me arrumar muito, pelo bem da reputação de . – Luc riu baixo concordando e eu lhe agradeci mais uma vez antes de correr para o banheiro.
Já pronta, me olhei no espelho e sorri orgulhosa ao passar perfume. Veja bem, é uma questão de reciprocidade: aos meus olhos, nenhum namorado chegará à altura de , ele sempre será o homem mais lindo com quem já namorei, logo eu tenho que ser a dele. Talvez não seja questão de reciprocidade, e sim de orgulho. Estou superanimada para conhecer Taylor, mas também preciso lembrar a quem é a número um. Nada pessoal.
Virei de costas para o espelho e olhei para trás para checar minha bunda – atire a primeira pedra quem nunca – e mais uma vez me peguei sorrindo orgulhosa. Ah, eu preciso de um homem! Eu usava um cropped branco na altura dos seios e uma saia longa de cintura alta branca, com desenhos de folhas de palmeiras e uma fenda começando exatamente na divisa entre meu quadril e minha coxa, deixando minha perna esquerda totalmente a mostra. estava comigo no dia que eu comprei a saia e implorou para que eu não a usasse na frente de nenhum homem que não fosse ele, mas hoje ele teria que dividir com Luc. Decidi calçar uma havaianas simples, afinal eu estava em minha própria casa e não queria deixar minha intenções tão obvias. Gostosa despojada.
Corri para a sala e chamei a atenção de Luc, estralando os dedos algumas vezes, e dei uma voltinha dramática quando ele finalmente me olhou. Gargalhei alto ao ouvi-lo assoviar e começar um grito de guerra que os rapazes da faculdade faziam ao ver um pedaço de carne com quem queriam se envolver.
- Embora eu aprecie o entusiasmo, não se esqueça que isso seria um incesto. – Eu apontei o dedo em sua direção.
- Eu tenho que ir buscar , inclusive. Já coloquei tudo no forno – Ele tirou o avental e eu me peguei encarando o torso do homem seminu ilustrado ali – Então, se quiser ir dar uma rapidinha com o avental, eu volto em quinze minutos.
Lhe dei o melhor sorriso amarelo que pude e mostrei o dedo do meio, mas não pude esconder meu rubor no rosto. Uma coisa é ser patética a ponto de se animar com um avental de cozinha, outra coisa é ser pega no flagra enquanto sendo patética. Luc se aproximou e me deu um beijo na bochecha antes de sair e murmurou algo sobre como eu cheirava bem.
Passados alguns minutos, o cheiro saindo da cozinha estava me matando de fome e eu comecei a andar ao redor da sala, contando os segundos em voz alta até alguém chegar, na tentativa de acalmar minha ansiedade. No segundo setenta e três, ouvi vozes no corredor e dei palmas animadas. Ainda era cedo demais para Luc ter voltado, ou seja, era Taylor! ia morrer de ciúmes ao saber que eu a conheci primeiro; eu culpo a educação infantil e suas reuniões emergenciais. Ao ouvir o toque na porta, arrumei meu cabelo do melhor jeito despojado que pude e chequei se tudo embaixo do cropped estava no lugar.
Abri a porta e meu queixo caiu. Encarei a mulher com a mão entrelaçada na de meu melhor amigo com os olhos arregalados. Taylor usava um vestido azul marinho curto e largo, que combinava perfeitamente com a jaqueta jeans de , que por sua vez, ao perceber o terror estampado em meu rosto, me lançou um olhar questionador. Eu engoli seco e sorri forçadamente, mas fui interrompida antes mesmo de dizer qualquer coisa.
- ... quanto tempo! – A mulher se desvencilhou de e me puxou para um abraço, como se fôssemos grandes amigas.
Fechei os olhos fortemente, desejando que aquilo fosse um sonho ridículo, mas ao abri-los só encontrei ainda me encarando extremamente confuso. Eu a conhecia. Eu a conhecia e não sabia. Agora, eu teria que lidar com as consequências de nunca ter contado a ele sobre meu passado com Taylor e seu irmão, Logan. Ali, encarando seus olhos , ainda envolta em um abraço desconfortável, meu coração disparou.
Capítulo 7
7 anos atrás
Sua chamada está sendo encaminhada para a caixa de mensagens e estará...
Desliguei a chamada antes de ouvir o restante da gravação e bufei de raiva pelo que me pareceu a centésima vez. Já havia perdido a conta de quantas vezes havia ligado para meu namorado, após ele me deixar sozinha dentro do avião.
- Ainda tá nessa, amiga? – surgiu em meu campo de visão, adentrando nosso quarto compartilhado.
- Toca, toca e ele simplesmente não atende. Já faz uma semana, e se ele terminou comigo e eu não entendi?
- Ele te idolatra, nunca faria isso. E pode parar que insegurança, não cai bem em você.
- Odeio que eu não posso simplesmente aparecer na porta dele sem avisar. – Me joguei para trás na cama e respirei fundo, pensando nas palavras de . – Eu só queria ouvir a voz dele.
Ela estava certa, eu estava sendo insegura, mas grande parte de mim considerava que meu relacionamento tinha acabado e eu não tinha sido avisada. e eu havíamos ido a São Francisco por um final de semana após algumas semanas sem nos ver, por conta de nossas provas finais. Nós estudamos em universidades que são a três horas de distância uma da outra e infelizmente nenhum de nós têm carro, o que faz com que passar cinco horas dentro de um trem (dez horas se contarmos ida e volta) em época de provas finais não valham a pena. Depois de cinco semanas torturantes, decidimos tirar um final de semana para focarmos em nós, já que nem nossas ligações eram frequentes.
O começo da viagem foi excelente, nos encontramos no aeroporto e tiramos vantagem do tempo de sobra que tínhamos até nosso voo, discretamente tocando um ao outro num canto escuro da sala de embarque. Ainda não entramos pro clube da milha de altura, porque praticamente apaga assim que se senta na poltrona do avião, e confesso que eu tenho minhas dúvidas e medos em relação a esse clube. Chegando em São Francisco, deixamos nossas malas no hotel e fomos a um jogo de basquete do Golden State Warriors, que era um sonho meu. Não sou muito ligada a esportes com exceção do meu time e basicamente topa qualquer coisa relacionada a qualquer esporte, mas golfe com certeza é o seu preferido.
O problema começou em nosso café da manhã de domingo, quando começou a falar sobre a proposta que havia recebido de sua universidade em começar um internato com eles em seu terceiro ano, sendo o terapeuta assistente nos acampamentos de verão que a universidade oferecia aos times. Não satisfeito em aceitar a proposta, também tinha se disponibilizado três finais de semana por mês para treinamento com o terapeuta integral dos times. Quando eu lhe perguntei o que ele faria no final de semana livre, ele simplesmente disse “vou precisar me matar de estudar, mas a longo prazo vai valer a pena”. Eu ironicamente lhe perguntei onde eu me encaixava em sua agenda e recebi um “me pergunte daqui dois anos” como resposta.
Digamos que eu não aceitei sua resposta muito bem e lhe disse que talvez não precisaria perguntar já que não estaríamos juntos. Sob o olhar surpreso dele sobre mim, expliquei meu ponto de vista e disse que realmente não íamos durar se eu só reclamasse o tempo todo e fosse egoísta o suficiente para não celebrar suas conquistas com ele. Não nos falamos novamente até que nosso voo de volta pousou, e ele me abraçou de lado antes de dizer “te vejo por aí” e me deixou sozinha no corredor do avião completamente confusa.
Não o vejo desde então. Ele não tentou se comunicar comigo e nem atende minhas ligações.
- Vocês terão tempo de sobra para ficarem juntos quando o ano letivo dele acabar. – me tirou de meus devaneios – Acho que você deveria focar em sua amiga que você não vai ver pelos próximos dois meses.
- Como assim não vou ver? , você me disse que iria passar o Natal conosco, já que nenhum de nós vai passar com as nossas famílias.
- Eu sei, eu sei... Mas meu tio Paulo teve a melhora do câncer, então eu disse que estaria lá para celebrar com todos... – Ela me olhou no melhor estilo gato de botas.
- Esse provavelmente é o único motivo no mundo que eu não vou usar contra você no futuro. – Me levantei da cama e me aproximei de para lhe dar um abraço – E então, o que faremos para celebrar nossas quase férias?
- Tem uma menina na minha aula de Letramento e Alfabetização que o irmão dela terá uma festa na república dele hoje à noite. Ele já está no último ano e tem bolsa período integral por estar no time de natação. Eu não me importaria nem um pouco em passar minha quinta à noite com homens mais velhos sarados... – me olhou sugestivamente e eu não pude evitar rir.
- Desde que você se lembre de não me incluir em seus flertes, eu aceito.
- Eu ainda não conhecia quando fiz aquilo, agora que eu o conheço e o aprovo, prometo não empurrar homem nenhum pro seu lado. – Ela estendeu o dedo mindinho em sinal de juramento.
Eu entrelacei o meu dedo no dela em sinal de concordância e ela abriu um sorriso vitorioso. Normalmente eu não vou em festas da faculdade, meu tempo livre se resume em , digamos que não sou muito conhecida por ninguém.
Já devidamente higienizadas, vestidas e perfumadas, e eu caminhamos em direção ao prédio da república que tinha holofotes do lado de fora. me interrompeu assim que eu abri a boca para comentar sobre:
- Antes que você os julgue, lembre-se que essa será a última festa dele. Lembra que eu disse que ele cursava o último ano? Ele só quer ser lembrado pelos colegas...
- Não está nem aqui quem ia comentar... – Levantei a mão em sinal de rendimento.
- ! – Ouvimos alguém gritar atrás de nós – Não acredito que você veio mesmo! Você deve ser , muito prazer, me chamo Taylor.
Taylor me puxou para um abraço apertado após abraçar com o mesmo entusiasmo, como se fôssemos amigas de longa data.
- fala tanto de você que eu sinto como se já te conhecesse. – Franzi o cenho ao ouvir o apelido de minha amiga ser dito por uma estranha e resisti a tentação de contar a Taylor que nunca havia ouvido falar dela – É um prazer mesmo, . Pode me chamar de Jas. – A garota riu da minha cara de confusão – Jasmine é meu nome do meio... Eu sei que não é convencional, mas eu também não sou.
Taylor – ou Jas, eu acho – certamente não era nada tímida e eu podia ver nitidamente o porquê dela e serem amigas, afinal. e eu não éramos muito parecidas em personalidade, ela certamente tinha muito mais energia social do que eu.
Jas nos guiou para dentro do prédio de três andares e nos deu uma versão rápida do que eu assumi ser um tour, e acabamos sentadas em um sofá baixo demais para o meu gosto, com uma taça de vinho espumante bom até demais para o meu gosto. Alguns dos novatos passavam com bandejas nos oferecendo mais e antes que eu pensasse demais, eu já estava de pé com e Jas, e balançávamos nossos corpos no ritmo da música que tocava.
_______
Atualmente
- Espera aí... – Jas finalmente se afastou de mim. Com a boca ligeiramente aberta, ela apontou de mim para – Esse é o seu ? O amor da sua vida?
A expressão confusa de crescia a cada segundo, mas por algum motivo eu não conseguia achar minha voz para lhe dar uma explicação plausível. Até que os dedos de Jas estalaram em frente aos meus olhos e eu saí do meu transe subitamente.
- Jas, não imaginei que a veria novamente... Entrem, por favor! – Coloquei meu melhor sorriso e movi meu corpo, dando espaço para que entrassem. me olhou de cima a baixo ao passar por mim, parecendo finalmente reconhecer a saia que eu usava.
Tirei alguns segundos para fazer uma oração silenciosa ao fechar a porta, pedindo para que nada tornasse essa noite ainda mais constrangedora.
- Jas? – nos olhou, ainda mais confuso do que antes e focou sua atenção na namorada – Você disse que te chamavam assim na época da universidade.
- E é verdade, e eu nos conhecemos no final do meu terceiro ano. Ela e Logan tiveram um casinho. – A naturalidade de Jas em revelar algo extremamente errado deixou processando sua frase por alguns segundos.
- Não, não tivemos! – Eu me apressei em explicar, caso ela decidisse aprofundar o assunto e deixar tudo pior. – Eu conheci Jas e Logan na festa de despedida da faculdade dele...
- Fez mais do que o conhecer, convenhamos. – Jas riu, mas logo percebeu que não estava sendo nada receptivo e me olhou assustada – Por que eu tenho a impressão de que eu criei um climão?
- Quando é que você foi de frequentar festas de fraternidade? – Seu olhar finalmente encontrou o meu e silenciosamente exigiu uma explicação.
- Nunca. – Eu respondi e respirei fundo – Eu só fui a uma. Depois de São Francisco.
Os olhos de exclamaram reconhecimento e logo seu semblante se tornou desacreditado.
- E conheceu Logan... – Ele disse tão baixo que eu tive que fazer leitura labial – Então o seu irmão – Sua voz aumentou e ele apontou para Jas – Foi quem tentou levar minha ex-namorada para cama após encher a cabeça dela de porcaria de “relacionamento adulto e saudável”? – Suas mãos sustentaram as aspas no ar e ele olhava para Jas de modo acusatório.
- Olha, eu não...
- , eu trouxe aquele vinho que você... – e Luc adentraram meu apartamento, impedindo Jas de continuar sua fala, mas logo se interrompeu com o reconhecimento de sua velha amiga – Jas? Eu não acredito!
rapidamente deu a Luc as duas garrafas de vinho que segurava e correu em direção a Jas, a abraçando e rindo como uma criança num parque de diversões.
- Você é a Taylor de ! – finalmente soltou Jas e nos encarou confusa ao perceber que ninguém compartilhava seu entusiasmo. – O que rolou?
- Finalmente descobri a identidade do protegido de . – respondeu e me lançou um olhar questionador.
- Logan. – Apenas a menção do nome fez suspirar em reconhecimento.
- Quem? – Luc finalmente se fez presente e sua voz não escondia sua curiosidade.
- O playboy com quem teve um casinho de final de semana na época de faculdade. – explicou para o amigo, com um sorriso sarcástico nos lábios.
Eu o olhei surpresa, desacreditando do tamanho de seu rancor depois de tantos anos.
- Eu não tive um casinho com ninguém e você sabe disso. – Minha mágoa se tornou presente e todos os olhares curiosos se tornaram preocupados.
- Eu não sabia nem o nome do cara, como vou saber que realmente não teve um caso?
- Você tá duvidando da minha lealdade?
- Porra, – A voz de aumentou e eu pude ver a mão de Jas ir de encontro ao seu antebraço – Você esconde a identidade do cara por anos, talvez você estivesse com medo de que eu o encontrasse e ouvisse o lado dele da história?
- Por que não me fala o que você acha que eu e Logan fizemos juntos? – Desafiei a me acusar de traição, mas antes que ele pudesse responder, Jas puxou para perto dela e repousou a mão livre no ombro do rapaz.
- Babe – O apelido que ela usara fez com que e eu a olhássemos espantados – Eu quis dizer que e Logan formaram um vínculo de amizade e não que se conheceram romanticamente. Não quis desencadear uma briga com a data de validade de sete anos atrás.
a olhou com atenção e lhe lançou um olhar compreensivo após alguns segundos, segurando sua mão com carinho antes de lhe responder.
- Tem razão, babe – Meus olhos rapidamente encontraram o chão assim que retribuiu o apelido para a namorada – Desculpe, , não quis te acusar.
Um silêncio desconfortável se instalou sobre todos nós. Jas acariciava o braço de com sua mão livre, olhava para incrédula e eu sentia os olhos de e de Luc sobre mim, e foi o segundo quem quebrou o silêncio:
- Bom, quem está com fome? – Sua voz alegre dispersou a estranheza do ambiente, a não ser a barreira invisível que havia sido levantada entre e mim, mas ninguém além de nós estava ciente que ela existia.
- Eu vou lavar minhas mãos, fiquem à vontade.
Determinada a não olhar para ninguém, fiz meu caminho para o banheiro, ainda sentindo meu rosto queimando com a raiva que havia sentido na discussão. Abri a torneira para o lado de água gelada e encarei meu reflexo, relembrando da noite em que Logan entrou em minha vida.
_______
7 anos atrás
Sorri para o reflexo no espelho e coloquei alguns passos de dança para fora, rindo suavemente de mim mesma ao perceber o quão embriagada eu estava.
- Você tá muito bêbada! – Apontei para o meu reflexo e dei mais uma voltinha, antes de me dirigir para fora do banheiro.
Já no corredor, as batidas vibrantes da música alta e o cheiro de tabaco no ar me fizeram rir novamente, essa era definitivamente a noite mais estranha de minha vida. Ao sentir meu estômago vibrar, decidi procurar algo para comer na cozinha e soltei um grito agudo de frustração ao ver as bacias todas vazias.
Caminhei em direção a sala com uma das vasilhas vazias em mãos e logo reconheci um garoto alto como o irmão de Jas. “Aquele de azul é o meu irmão”, disse apontando para o menino que estava de costas enquanto fazíamos a tour da casa mais cedo. Marchei em direção a ele e cutuquei o seu ombro com meu dedo indicador, o mais grosseiramente que pude. O garoto se virou lentamente, me olhando como se tentasse me reconhecer e achei graça de como suas sobrancelhas denunciavam sua confusão.
- Acabou a batata. – Eu estendi a bacia vazia em sua direção, mas ele não se moveu.
- Desculpe, não estou servindo como garçom hoje. – Ele tentou se virar de costas novamente, mas eu me coloquei na frente dele.
- Mas eu acho que estou com fome. Não sei se é fome ou enjoo, bebi bastante. – Confessei a última parte em voz baixa.
O garoto riu em confusão e eu sorri em aprovação de seu sorriso cheio de dentes brancos e limpos.
- Então vá achar algo pra comer. – Ele apontou em direção à cozinha.
- Acabei de vir de lá. – Estendi a vasilha em sua direção novamente – A festa é sua, me ajuda.
- Eu nem te conheço.
- , – estendi meu braço que não segurava a vasilha em sua direção, o menino retribuiu com um leve aperto de mão – Agora que me conhece, me ajuda?
Mais uma vez me peguei sorrindo junto com ele, e, balançando a cabeça como se em reprovação de si mesmo, ele puxou a bacia de minha mão e caminhou em direção à cozinha. O segui, secretamente analisando o modo com que seus ombros se destacavam em suas costas e de repente me lembrei de dizendo que ele fazia natação, o que me fez suspirar em entendimento.
- O quê? – Ele me perguntou, curioso.
- Eu estava estranhando seus ombros serem tão largos, mas lembrei que você faz natação então faz sentido.
O garoto parou em frente a bancada onde depositou a bacia vazia e me lançou um olhar brincalhão.
- Então meus ombros são desproporcionais ao meu corpo? – Arregalei os olhos com sua pergunta.
- Não, eles são bem proporcionais. Proporcionais até... demais. – A última palavra saiu como um sussurro ao que eu descia meu olhar pelo corpo do rapaz. Percebi o que fazia e logo tratei de disfarçar – Qual seu nome?
- Logan... Logan Alto. – O rapaz, agora levemente corado, esticou a mão em minha direção assim como eu havia feito minutos atrás.
- Prazer, sou . – Eu apertei sua mão, mas dessa vez não nos afastamos.
- É, eu sei... – Ele disse me olhando nos olhos, ainda segurando minha mão.
Logan era alto, por volta de um metro e oitenta, e era muito, muito bonito. Seu cabelo castanho escuro estava ligeiramente desalinhado, o que lhe dava um ar juvenil. Seus olhos azuis penetrantes proporcionavam um contraste cativante com sua tez clara, sua mandíbula era bem definida e me fez pensar que seu beijo deveria ser fora desse mundo de bom. O que mais me atraiu, no entanto, foi o cheiro característico que o garoto exalava, não era seu perfume, mas o cheiro de malte torrado, que me lembrou café e chocolate amargo e fez meu coração palpitar.
Usei nossas mãos que ainda se tocavam e o puxei fortemente em minha direção, o rapaz arregalou os olhos e soltou um pigarro desconfortável.
- Que cheiro é esse? – Perguntei, fungando ao redor de seu rosto.
- O que, da Guiness que eu tomei? – Ele sorria, embora seu rosto estivesse extremamente corado de vergonha devido à minha nada sutil invasão de espaço.
- Guiness? – Soltei uma risada nasalada, e respirei fundo mais uma vez o cheiro que fez meu coração bater mais forte – É a bebida favorita do meu namorado.
Como se eu tivesse dito que tinha uma doença contagiosa, Logan rapidamente soltou minha mão e se afastou dois passos de mim, ficando colado na bancada atrás de si.
- O que está tentando fazer, se tem namorado? – Logan limpou a garganta mais uma vez, demonstrando seu desconforto. Eu ri abertamente, compreendendo o que minhas ações deram a entender.
- Desculpa, eu não estou dando em cima de você. Não que você não mereça, quer dizer... Uau. – Arregalei meus olhos e joguei minhas mãos para cima, tentando mostrá-lo o tamanho de sua beleza. Seu rosto se tornou quase roxo de vergonha e eu ri, não esperando que o anfitrião dessa festa fosse tão tímido.
- Hmm, obrigado? – Logan soava muito mais convincente do que sua aparência denunciava.
Nos encaramos por mais alguns segundos, quando o barulho de vidro se quebrando no chão em algum lugar nos fez desviar nossos olhares.
- Então, ... – Ele se virou, abrindo um dos armários e tirando dali um saco de batatas chips que fez minha boca salivar – Não lembro de ter te convidado para minha festa.
- Ah... – Senti o meu rosto esquentar dessa vez – Eu não fui convidada... Quer dizer, sua irmã convidou minha colega de quarto e eu vim com ela, já que meu namorado resolveu dar um sumiço e não fala comigo há uma semana.
- Problemas no paraíso? – Logan me estendeu a vasilha cheia e encostou as costas no balcão atrás de si novamente, se mostrando interessado no meu relacionamento.
- Ele está me evitando... – Eu coloquei uma batatinha na boca e gemi de tão satisfatório que foi aquilo, os olhos de Logan não saíram de minha boca – Provavelmente porque eu ameacei terminar com ele se ele não achasse tempo pra mim.
- E ele decidiu dar um sumiço por uma semana? Não me parece muito inteligente.
- Pois é, não mesmo. – Admiti para mim mesma – Mas pode ser que eu o tenha assustado, com todo o drama de querer tempo dele. É claro que estou orgulhosa dele ter conseguido o estágio, mas custava admitir que queria um tempo comigo também?
- ...
- . – Eu o corrigi enquanto colocava mais batatas na boca.
- Certo, ... Bom, eu não sei nada do seu relacionamento. Eu nem te conheço. Não conheço o...?
- . – Mais batatas.
- . Não o conheço. Mas se ele conseguiu uma garota como você e agora está alegando “não ter tempo”, talvez eu já não goste muito dele.
Logan aproximou o seu corpo muito próximo ao meu, segurou minha mão e em um impulso me girou, como se estivéssemos em uma dança. Gargalhei alto e segurei em seus ombros ao sentir um líquido amargo em minha garganta.
- Quer que eu te faça esquecer de essa noite?
_______
Atualmente
Um toque ritmado na porta me fez dar um pulo e me tirou do transe que eu me encontrava, abri a porta e Luc me lançou um sorriso.
- Desculpa, queria lavar minha mão também...
- Sem problemas. – Eu respondi, lhe dando espaço e caminhando em direção à sala.
Ouvi a risada alta de e automaticamente revirei os olhos. Estava completamente irritada com sua atitude e imaturidade, querendo tirar satisfação por algo que não aconteceu há quase uma década atrás. Mas eu sabia da verdade, que nada tinha acontecido com Logan e também achava que Jas tinha o potencial para ser uma boa companheira para , então não iria deixá-lo estragar a noite que eu tinha planejado.
- , vendeu muito a sua comida, quero ver se é tudo isso mesmo. – Jas me disse sorrindo, e eu sorri de volta.
- Eu fiz com muito carinho, espero que aproveite! Bom apetite a todos. – Eu fiz um gesto exagerado antes de me sentar no assento de frente a e ao lado de Luc.
Surpreendentemente tivemos um jantar muito agradável, Jas nos atualizou sobre sua vida após faculdade e como ela e se encontraram em um bar numa noitada com as amigas após um término complicado. Ela tomou controle da conversa e eu agradeci por ela não mencionar a cena de casal amargurado que e eu causamos mais cedo.
- Eu vou ter que perguntar sobre isso, me desculpem. – Como se conseguisse ler meus pensamentos, Jas trocou o tópico da conversa rapidamente – Como isso aconteceu?
- O jantar? – perguntou, realmente confusa.
- Não, isso! – Ela apontou lentamente de mim para – , a garota que eu conheci na faculdade era ridícula de tão apaixonada! O que aconteceu com o namoro?
automaticamente levou a mão para os cabelos e os puxou delicadamente, mostrando seu nervosismo. Sua namorada pareceu não perceber, e se percebeu, não se importou, pois me olhava sem piscar os olhos, exigindo uma resposta.
- Bom, nós namoramos por dois anos após a faculdade até que decidimos não continuar. – Respondi o mais amigavelmente que pude, tentando não transparecer meu desconforto.
- Mas por quê?
- Percebemos que estávamos juntos mais por comodidade do que qualquer outra coisa. – me interrompeu antes que eu pudesse responder – Eu te disse que sempre faremos parte da vida um do outro, então sempre haverá carinho e afeto. Só não existe mais o aspecto romântico.
Sorri para , agradecendo-o por ter respondido por mim, e recebi um leve aceno de cabeça de volta. Jas se virou na direção de , fazendo , Luc e eu trocamos olhares desconfortáveis.
- Então é isso? Você não se sente atraído por ?
, que tinha sua taça de vinho nos lábios, se engasgou no líquido e bateu a taça rapidamente na mesa, fazendo com que grande parte do vinho saltasse para fora e pousasse na toalha de mesa. Seu rosto foi se tornando mais e mais vermelho ao que sua crise de tosse aumentava e até que ele decidiu se levantar e andar para o banheiro. Um silêncio se instalou na mesa.
- Jas, não acredito que nem te contei! – mudou a direção da conversa, mostrando o anel de noivado em sua mão esquerda, o que fez com que Jas desse gritinhos de surpresa e felicidade, e as duas e Luc entraram em uma realidade paralela, conversando sobre o noivado.
voltou ao cômodo e parou no batente da porta, nos encaramos, um tentando desvendar o pensamento do outro e após algum tempo ele moveu lentamente a cabeça para a direita, indicando que fôssemos ao sofá e eu balancei a minha cabeça em concordância. Não me dei ao trabalho de dizer ao resto do grupo aonde íamos, pois ainda estavam embargados na conversa e alheios a mim e .
Revirei meus olhos ao sentar-me na poltrona de frente ao sofá, encarando meu melhor amigo. Eu sabia que ele sempre fora inseguro em relação ao que aconteceu com Logan, mas ele nunca havia demonstrado interesse em saber o que exatamente aconteceu, então eu nunca me aprofundei no assunto.
- Na noite em que eu conheci Logan... – Eu quebrei completamente o contato visual que tínhamos e comecei a brincar com os dedos de minhas mãos, depositando minha atenção ali – Ele me perguntou se eu queria que ele me ajudasse a te esquecer por uma noite. – Eu pausei, e via imóvel em minha visão periférica.
- Então vocês realmente tiveram um caso? – Ele soava magoado.
- Não, babe, eu nunca faria isso com você. – Eu rapidamente me levantei e me sentei ao seu lado no sofá – Eu disse para ele que por mais que eu quisesse te esquecer para não sentir tanto a sua falta, te esquecer me faria perder parte de mim. Minha melhor parte. – Suas mãos pousaram em meu joelho e fizeram um carinho suave ali – Então ele me pediu para eu lhe contar sobre nós, e eu passei o resto da noite conversando com ele sobre você. Depois daquela festa, eu só o via quando ele ia visitar Jas na faculdade de vez em quando, mas ela se formou um ano antes de mim, então não o vejo desde o meu terceiro ano.
- Quando é que nós viramos grandes fãs de drama? – enterrou o rosto entre suas mãos – Desculpe insinuar que vocês ficaram juntos... Depois de São Francisco, eu fiquei morrendo de medo de que você ia acabar conhecendo alguém novo e quando você me contou sobre ele, eu meio que instantaneamente bloqueei esse assunto na minha cabeça. – de repente levantou a cabeça e arregalou os olhos – Mas você deveria estar estupidamente gostosa naquela festa pra ele ficar a noite toda com você, mesmo que você estivesse falando de outro cara.
Antes que eu pudesse responder, Jas nos interrompeu e tomou o lugar de no sofá, alegando que queria falar comigo.
- , eu entendo que não role mais nada entre vocês... – Ela suspirou – Também sei que você vai sempre ser a prioridade dele... – Eu fiz meu melhor para controlar minha cara de convencida – Eu queria deixar claro que nunca vou tentar tomar o seu lugar na vida dele, eu só quero me encaixar no espacinho que ele abrir pra mim.
Eu sorri verdadeiramente para a garota, me lembrando da minha conversa com há algumas semanas, quando ele me disse que só queria alguém que se encaixasse. Eu quase gritei pelo excesso de felicidade que me preenchia, sabendo que meu melhor amigo estava em boas mãos.
- Jas, esquece isso...
- Mas não era isso que eu queria dizer. – Ela me interrompeu e seu tom se tornou mais sério – Eu não sei o que rolou naquela festa que nós nos conhecemos, mas sei quem Logan é, e ele não é o tipo de cara pegador e garanhão, embora muitas tivessem tentado. – Jas revirou os olhos com uma careta, como se imaginar garotas flertando com o irmão lhe desse repulsa – Depois que ele se formou, ele criava desculpas para voltar ao campus só pra te ver, e sempre perguntava sobre você. Você realmente chamou a atenção dele, e eu meio que conseguia ver vocês juntos, mas nunca disse nada em respeito ao seu relacionamento.
- Nossa... – Eu não conversava com Logan desde que Jas tinha se formado da faculdade, mas eu me lembrava muito bem de nossa última conversa – Da última vez que eu falei com ele, ele disse que entendia minha conexão com , mas que parecia mais um casal de melhores amigos que decidiram namorar por comodismo e que ele sabia que eu merecia muito mais do que isso.
Jas me encarou com a boca entreaberta, surpresa por minha confissão. Eu não havia contado a ninguém sobre a minha última conversa com Logan, nem mesmo para .
- Talvez eu esteja sendo muito precipitada, mas o que acha de nos encontrarmos para um brunch amanhã de manhã? Eu, , você e Logan.
Jas me lançou um olhar extra curioso, me fazendo entender que talvez ela estivesse mais interessada em testar seu relacionamento com , vendo o quão possessivo ele seria comigo se me visse com Logan. Mas eu não me importava, pois sua sugestão fez com que meu estômago revirasse e eu me sentisse como uma adolescente na puberdade, só de imaginar a possibilidade de reencontrá-lo.
- Eu acho uma ótima ideia. – Respondi, não conseguindo conter meu sorriso.
Sua chamada está sendo encaminhada para a caixa de mensagens e estará...
Desliguei a chamada antes de ouvir o restante da gravação e bufei de raiva pelo que me pareceu a centésima vez. Já havia perdido a conta de quantas vezes havia ligado para meu namorado, após ele me deixar sozinha dentro do avião.
- Ainda tá nessa, amiga? – surgiu em meu campo de visão, adentrando nosso quarto compartilhado.
- Toca, toca e ele simplesmente não atende. Já faz uma semana, e se ele terminou comigo e eu não entendi?
- Ele te idolatra, nunca faria isso. E pode parar que insegurança, não cai bem em você.
- Odeio que eu não posso simplesmente aparecer na porta dele sem avisar. – Me joguei para trás na cama e respirei fundo, pensando nas palavras de . – Eu só queria ouvir a voz dele.
Ela estava certa, eu estava sendo insegura, mas grande parte de mim considerava que meu relacionamento tinha acabado e eu não tinha sido avisada. e eu havíamos ido a São Francisco por um final de semana após algumas semanas sem nos ver, por conta de nossas provas finais. Nós estudamos em universidades que são a três horas de distância uma da outra e infelizmente nenhum de nós têm carro, o que faz com que passar cinco horas dentro de um trem (dez horas se contarmos ida e volta) em época de provas finais não valham a pena. Depois de cinco semanas torturantes, decidimos tirar um final de semana para focarmos em nós, já que nem nossas ligações eram frequentes.
O começo da viagem foi excelente, nos encontramos no aeroporto e tiramos vantagem do tempo de sobra que tínhamos até nosso voo, discretamente tocando um ao outro num canto escuro da sala de embarque. Ainda não entramos pro clube da milha de altura, porque praticamente apaga assim que se senta na poltrona do avião, e confesso que eu tenho minhas dúvidas e medos em relação a esse clube. Chegando em São Francisco, deixamos nossas malas no hotel e fomos a um jogo de basquete do Golden State Warriors, que era um sonho meu. Não sou muito ligada a esportes com exceção do meu time e basicamente topa qualquer coisa relacionada a qualquer esporte, mas golfe com certeza é o seu preferido.
O problema começou em nosso café da manhã de domingo, quando começou a falar sobre a proposta que havia recebido de sua universidade em começar um internato com eles em seu terceiro ano, sendo o terapeuta assistente nos acampamentos de verão que a universidade oferecia aos times. Não satisfeito em aceitar a proposta, também tinha se disponibilizado três finais de semana por mês para treinamento com o terapeuta integral dos times. Quando eu lhe perguntei o que ele faria no final de semana livre, ele simplesmente disse “vou precisar me matar de estudar, mas a longo prazo vai valer a pena”. Eu ironicamente lhe perguntei onde eu me encaixava em sua agenda e recebi um “me pergunte daqui dois anos” como resposta.
Digamos que eu não aceitei sua resposta muito bem e lhe disse que talvez não precisaria perguntar já que não estaríamos juntos. Sob o olhar surpreso dele sobre mim, expliquei meu ponto de vista e disse que realmente não íamos durar se eu só reclamasse o tempo todo e fosse egoísta o suficiente para não celebrar suas conquistas com ele. Não nos falamos novamente até que nosso voo de volta pousou, e ele me abraçou de lado antes de dizer “te vejo por aí” e me deixou sozinha no corredor do avião completamente confusa.
Não o vejo desde então. Ele não tentou se comunicar comigo e nem atende minhas ligações.
- Vocês terão tempo de sobra para ficarem juntos quando o ano letivo dele acabar. – me tirou de meus devaneios – Acho que você deveria focar em sua amiga que você não vai ver pelos próximos dois meses.
- Como assim não vou ver? , você me disse que iria passar o Natal conosco, já que nenhum de nós vai passar com as nossas famílias.
- Eu sei, eu sei... Mas meu tio Paulo teve a melhora do câncer, então eu disse que estaria lá para celebrar com todos... – Ela me olhou no melhor estilo gato de botas.
- Esse provavelmente é o único motivo no mundo que eu não vou usar contra você no futuro. – Me levantei da cama e me aproximei de para lhe dar um abraço – E então, o que faremos para celebrar nossas quase férias?
- Tem uma menina na minha aula de Letramento e Alfabetização que o irmão dela terá uma festa na república dele hoje à noite. Ele já está no último ano e tem bolsa período integral por estar no time de natação. Eu não me importaria nem um pouco em passar minha quinta à noite com homens mais velhos sarados... – me olhou sugestivamente e eu não pude evitar rir.
- Desde que você se lembre de não me incluir em seus flertes, eu aceito.
- Eu ainda não conhecia quando fiz aquilo, agora que eu o conheço e o aprovo, prometo não empurrar homem nenhum pro seu lado. – Ela estendeu o dedo mindinho em sinal de juramento.
Eu entrelacei o meu dedo no dela em sinal de concordância e ela abriu um sorriso vitorioso. Normalmente eu não vou em festas da faculdade, meu tempo livre se resume em , digamos que não sou muito conhecida por ninguém.
Já devidamente higienizadas, vestidas e perfumadas, e eu caminhamos em direção ao prédio da república que tinha holofotes do lado de fora. me interrompeu assim que eu abri a boca para comentar sobre:
- Antes que você os julgue, lembre-se que essa será a última festa dele. Lembra que eu disse que ele cursava o último ano? Ele só quer ser lembrado pelos colegas...
- Não está nem aqui quem ia comentar... – Levantei a mão em sinal de rendimento.
- ! – Ouvimos alguém gritar atrás de nós – Não acredito que você veio mesmo! Você deve ser , muito prazer, me chamo Taylor.
Taylor me puxou para um abraço apertado após abraçar com o mesmo entusiasmo, como se fôssemos amigas de longa data.
- fala tanto de você que eu sinto como se já te conhecesse. – Franzi o cenho ao ouvir o apelido de minha amiga ser dito por uma estranha e resisti a tentação de contar a Taylor que nunca havia ouvido falar dela – É um prazer mesmo, . Pode me chamar de Jas. – A garota riu da minha cara de confusão – Jasmine é meu nome do meio... Eu sei que não é convencional, mas eu também não sou.
Taylor – ou Jas, eu acho – certamente não era nada tímida e eu podia ver nitidamente o porquê dela e serem amigas, afinal. e eu não éramos muito parecidas em personalidade, ela certamente tinha muito mais energia social do que eu.
Jas nos guiou para dentro do prédio de três andares e nos deu uma versão rápida do que eu assumi ser um tour, e acabamos sentadas em um sofá baixo demais para o meu gosto, com uma taça de vinho espumante bom até demais para o meu gosto. Alguns dos novatos passavam com bandejas nos oferecendo mais e antes que eu pensasse demais, eu já estava de pé com e Jas, e balançávamos nossos corpos no ritmo da música que tocava.
Atualmente
- Espera aí... – Jas finalmente se afastou de mim. Com a boca ligeiramente aberta, ela apontou de mim para – Esse é o seu ? O amor da sua vida?
A expressão confusa de crescia a cada segundo, mas por algum motivo eu não conseguia achar minha voz para lhe dar uma explicação plausível. Até que os dedos de Jas estalaram em frente aos meus olhos e eu saí do meu transe subitamente.
- Jas, não imaginei que a veria novamente... Entrem, por favor! – Coloquei meu melhor sorriso e movi meu corpo, dando espaço para que entrassem. me olhou de cima a baixo ao passar por mim, parecendo finalmente reconhecer a saia que eu usava.
Tirei alguns segundos para fazer uma oração silenciosa ao fechar a porta, pedindo para que nada tornasse essa noite ainda mais constrangedora.
- Jas? – nos olhou, ainda mais confuso do que antes e focou sua atenção na namorada – Você disse que te chamavam assim na época da universidade.
- E é verdade, e eu nos conhecemos no final do meu terceiro ano. Ela e Logan tiveram um casinho. – A naturalidade de Jas em revelar algo extremamente errado deixou processando sua frase por alguns segundos.
- Não, não tivemos! – Eu me apressei em explicar, caso ela decidisse aprofundar o assunto e deixar tudo pior. – Eu conheci Jas e Logan na festa de despedida da faculdade dele...
- Fez mais do que o conhecer, convenhamos. – Jas riu, mas logo percebeu que não estava sendo nada receptivo e me olhou assustada – Por que eu tenho a impressão de que eu criei um climão?
- Quando é que você foi de frequentar festas de fraternidade? – Seu olhar finalmente encontrou o meu e silenciosamente exigiu uma explicação.
- Nunca. – Eu respondi e respirei fundo – Eu só fui a uma. Depois de São Francisco.
Os olhos de exclamaram reconhecimento e logo seu semblante se tornou desacreditado.
- E conheceu Logan... – Ele disse tão baixo que eu tive que fazer leitura labial – Então o seu irmão – Sua voz aumentou e ele apontou para Jas – Foi quem tentou levar minha ex-namorada para cama após encher a cabeça dela de porcaria de “relacionamento adulto e saudável”? – Suas mãos sustentaram as aspas no ar e ele olhava para Jas de modo acusatório.
- Olha, eu não...
- , eu trouxe aquele vinho que você... – e Luc adentraram meu apartamento, impedindo Jas de continuar sua fala, mas logo se interrompeu com o reconhecimento de sua velha amiga – Jas? Eu não acredito!
rapidamente deu a Luc as duas garrafas de vinho que segurava e correu em direção a Jas, a abraçando e rindo como uma criança num parque de diversões.
- Você é a Taylor de ! – finalmente soltou Jas e nos encarou confusa ao perceber que ninguém compartilhava seu entusiasmo. – O que rolou?
- Finalmente descobri a identidade do protegido de . – respondeu e me lançou um olhar questionador.
- Logan. – Apenas a menção do nome fez suspirar em reconhecimento.
- Quem? – Luc finalmente se fez presente e sua voz não escondia sua curiosidade.
- O playboy com quem teve um casinho de final de semana na época de faculdade. – explicou para o amigo, com um sorriso sarcástico nos lábios.
Eu o olhei surpresa, desacreditando do tamanho de seu rancor depois de tantos anos.
- Eu não tive um casinho com ninguém e você sabe disso. – Minha mágoa se tornou presente e todos os olhares curiosos se tornaram preocupados.
- Eu não sabia nem o nome do cara, como vou saber que realmente não teve um caso?
- Você tá duvidando da minha lealdade?
- Porra, – A voz de aumentou e eu pude ver a mão de Jas ir de encontro ao seu antebraço – Você esconde a identidade do cara por anos, talvez você estivesse com medo de que eu o encontrasse e ouvisse o lado dele da história?
- Por que não me fala o que você acha que eu e Logan fizemos juntos? – Desafiei a me acusar de traição, mas antes que ele pudesse responder, Jas puxou para perto dela e repousou a mão livre no ombro do rapaz.
- Babe – O apelido que ela usara fez com que e eu a olhássemos espantados – Eu quis dizer que e Logan formaram um vínculo de amizade e não que se conheceram romanticamente. Não quis desencadear uma briga com a data de validade de sete anos atrás.
a olhou com atenção e lhe lançou um olhar compreensivo após alguns segundos, segurando sua mão com carinho antes de lhe responder.
- Tem razão, babe – Meus olhos rapidamente encontraram o chão assim que retribuiu o apelido para a namorada – Desculpe, , não quis te acusar.
Um silêncio desconfortável se instalou sobre todos nós. Jas acariciava o braço de com sua mão livre, olhava para incrédula e eu sentia os olhos de e de Luc sobre mim, e foi o segundo quem quebrou o silêncio:
- Bom, quem está com fome? – Sua voz alegre dispersou a estranheza do ambiente, a não ser a barreira invisível que havia sido levantada entre e mim, mas ninguém além de nós estava ciente que ela existia.
- Eu vou lavar minhas mãos, fiquem à vontade.
Determinada a não olhar para ninguém, fiz meu caminho para o banheiro, ainda sentindo meu rosto queimando com a raiva que havia sentido na discussão. Abri a torneira para o lado de água gelada e encarei meu reflexo, relembrando da noite em que Logan entrou em minha vida.
7 anos atrás
Sorri para o reflexo no espelho e coloquei alguns passos de dança para fora, rindo suavemente de mim mesma ao perceber o quão embriagada eu estava.
- Você tá muito bêbada! – Apontei para o meu reflexo e dei mais uma voltinha, antes de me dirigir para fora do banheiro.
Já no corredor, as batidas vibrantes da música alta e o cheiro de tabaco no ar me fizeram rir novamente, essa era definitivamente a noite mais estranha de minha vida. Ao sentir meu estômago vibrar, decidi procurar algo para comer na cozinha e soltei um grito agudo de frustração ao ver as bacias todas vazias.
Caminhei em direção a sala com uma das vasilhas vazias em mãos e logo reconheci um garoto alto como o irmão de Jas. “Aquele de azul é o meu irmão”, disse apontando para o menino que estava de costas enquanto fazíamos a tour da casa mais cedo. Marchei em direção a ele e cutuquei o seu ombro com meu dedo indicador, o mais grosseiramente que pude. O garoto se virou lentamente, me olhando como se tentasse me reconhecer e achei graça de como suas sobrancelhas denunciavam sua confusão.
- Acabou a batata. – Eu estendi a bacia vazia em sua direção, mas ele não se moveu.
- Desculpe, não estou servindo como garçom hoje. – Ele tentou se virar de costas novamente, mas eu me coloquei na frente dele.
- Mas eu acho que estou com fome. Não sei se é fome ou enjoo, bebi bastante. – Confessei a última parte em voz baixa.
O garoto riu em confusão e eu sorri em aprovação de seu sorriso cheio de dentes brancos e limpos.
- Então vá achar algo pra comer. – Ele apontou em direção à cozinha.
- Acabei de vir de lá. – Estendi a vasilha em sua direção novamente – A festa é sua, me ajuda.
- Eu nem te conheço.
- , – estendi meu braço que não segurava a vasilha em sua direção, o menino retribuiu com um leve aperto de mão – Agora que me conhece, me ajuda?
Mais uma vez me peguei sorrindo junto com ele, e, balançando a cabeça como se em reprovação de si mesmo, ele puxou a bacia de minha mão e caminhou em direção à cozinha. O segui, secretamente analisando o modo com que seus ombros se destacavam em suas costas e de repente me lembrei de dizendo que ele fazia natação, o que me fez suspirar em entendimento.
- O quê? – Ele me perguntou, curioso.
- Eu estava estranhando seus ombros serem tão largos, mas lembrei que você faz natação então faz sentido.
O garoto parou em frente a bancada onde depositou a bacia vazia e me lançou um olhar brincalhão.
- Então meus ombros são desproporcionais ao meu corpo? – Arregalei os olhos com sua pergunta.
- Não, eles são bem proporcionais. Proporcionais até... demais. – A última palavra saiu como um sussurro ao que eu descia meu olhar pelo corpo do rapaz. Percebi o que fazia e logo tratei de disfarçar – Qual seu nome?
- Logan... Logan Alto. – O rapaz, agora levemente corado, esticou a mão em minha direção assim como eu havia feito minutos atrás.
- Prazer, sou . – Eu apertei sua mão, mas dessa vez não nos afastamos.
- É, eu sei... – Ele disse me olhando nos olhos, ainda segurando minha mão.
Logan era alto, por volta de um metro e oitenta, e era muito, muito bonito. Seu cabelo castanho escuro estava ligeiramente desalinhado, o que lhe dava um ar juvenil. Seus olhos azuis penetrantes proporcionavam um contraste cativante com sua tez clara, sua mandíbula era bem definida e me fez pensar que seu beijo deveria ser fora desse mundo de bom. O que mais me atraiu, no entanto, foi o cheiro característico que o garoto exalava, não era seu perfume, mas o cheiro de malte torrado, que me lembrou café e chocolate amargo e fez meu coração palpitar.
Usei nossas mãos que ainda se tocavam e o puxei fortemente em minha direção, o rapaz arregalou os olhos e soltou um pigarro desconfortável.
- Que cheiro é esse? – Perguntei, fungando ao redor de seu rosto.
- O que, da Guiness que eu tomei? – Ele sorria, embora seu rosto estivesse extremamente corado de vergonha devido à minha nada sutil invasão de espaço.
- Guiness? – Soltei uma risada nasalada, e respirei fundo mais uma vez o cheiro que fez meu coração bater mais forte – É a bebida favorita do meu namorado.
Como se eu tivesse dito que tinha uma doença contagiosa, Logan rapidamente soltou minha mão e se afastou dois passos de mim, ficando colado na bancada atrás de si.
- O que está tentando fazer, se tem namorado? – Logan limpou a garganta mais uma vez, demonstrando seu desconforto. Eu ri abertamente, compreendendo o que minhas ações deram a entender.
- Desculpa, eu não estou dando em cima de você. Não que você não mereça, quer dizer... Uau. – Arregalei meus olhos e joguei minhas mãos para cima, tentando mostrá-lo o tamanho de sua beleza. Seu rosto se tornou quase roxo de vergonha e eu ri, não esperando que o anfitrião dessa festa fosse tão tímido.
- Hmm, obrigado? – Logan soava muito mais convincente do que sua aparência denunciava.
Nos encaramos por mais alguns segundos, quando o barulho de vidro se quebrando no chão em algum lugar nos fez desviar nossos olhares.
- Então, ... – Ele se virou, abrindo um dos armários e tirando dali um saco de batatas chips que fez minha boca salivar – Não lembro de ter te convidado para minha festa.
- Ah... – Senti o meu rosto esquentar dessa vez – Eu não fui convidada... Quer dizer, sua irmã convidou minha colega de quarto e eu vim com ela, já que meu namorado resolveu dar um sumiço e não fala comigo há uma semana.
- Problemas no paraíso? – Logan me estendeu a vasilha cheia e encostou as costas no balcão atrás de si novamente, se mostrando interessado no meu relacionamento.
- Ele está me evitando... – Eu coloquei uma batatinha na boca e gemi de tão satisfatório que foi aquilo, os olhos de Logan não saíram de minha boca – Provavelmente porque eu ameacei terminar com ele se ele não achasse tempo pra mim.
- E ele decidiu dar um sumiço por uma semana? Não me parece muito inteligente.
- Pois é, não mesmo. – Admiti para mim mesma – Mas pode ser que eu o tenha assustado, com todo o drama de querer tempo dele. É claro que estou orgulhosa dele ter conseguido o estágio, mas custava admitir que queria um tempo comigo também?
- ...
- . – Eu o corrigi enquanto colocava mais batatas na boca.
- Certo, ... Bom, eu não sei nada do seu relacionamento. Eu nem te conheço. Não conheço o...?
- . – Mais batatas.
- . Não o conheço. Mas se ele conseguiu uma garota como você e agora está alegando “não ter tempo”, talvez eu já não goste muito dele.
Logan aproximou o seu corpo muito próximo ao meu, segurou minha mão e em um impulso me girou, como se estivéssemos em uma dança. Gargalhei alto e segurei em seus ombros ao sentir um líquido amargo em minha garganta.
- Quer que eu te faça esquecer de essa noite?
Atualmente
Um toque ritmado na porta me fez dar um pulo e me tirou do transe que eu me encontrava, abri a porta e Luc me lançou um sorriso.
- Desculpa, queria lavar minha mão também...
- Sem problemas. – Eu respondi, lhe dando espaço e caminhando em direção à sala.
Ouvi a risada alta de e automaticamente revirei os olhos. Estava completamente irritada com sua atitude e imaturidade, querendo tirar satisfação por algo que não aconteceu há quase uma década atrás. Mas eu sabia da verdade, que nada tinha acontecido com Logan e também achava que Jas tinha o potencial para ser uma boa companheira para , então não iria deixá-lo estragar a noite que eu tinha planejado.
- , vendeu muito a sua comida, quero ver se é tudo isso mesmo. – Jas me disse sorrindo, e eu sorri de volta.
- Eu fiz com muito carinho, espero que aproveite! Bom apetite a todos. – Eu fiz um gesto exagerado antes de me sentar no assento de frente a e ao lado de Luc.
Surpreendentemente tivemos um jantar muito agradável, Jas nos atualizou sobre sua vida após faculdade e como ela e se encontraram em um bar numa noitada com as amigas após um término complicado. Ela tomou controle da conversa e eu agradeci por ela não mencionar a cena de casal amargurado que e eu causamos mais cedo.
- Eu vou ter que perguntar sobre isso, me desculpem. – Como se conseguisse ler meus pensamentos, Jas trocou o tópico da conversa rapidamente – Como isso aconteceu?
- O jantar? – perguntou, realmente confusa.
- Não, isso! – Ela apontou lentamente de mim para – , a garota que eu conheci na faculdade era ridícula de tão apaixonada! O que aconteceu com o namoro?
automaticamente levou a mão para os cabelos e os puxou delicadamente, mostrando seu nervosismo. Sua namorada pareceu não perceber, e se percebeu, não se importou, pois me olhava sem piscar os olhos, exigindo uma resposta.
- Bom, nós namoramos por dois anos após a faculdade até que decidimos não continuar. – Respondi o mais amigavelmente que pude, tentando não transparecer meu desconforto.
- Mas por quê?
- Percebemos que estávamos juntos mais por comodidade do que qualquer outra coisa. – me interrompeu antes que eu pudesse responder – Eu te disse que sempre faremos parte da vida um do outro, então sempre haverá carinho e afeto. Só não existe mais o aspecto romântico.
Sorri para , agradecendo-o por ter respondido por mim, e recebi um leve aceno de cabeça de volta. Jas se virou na direção de , fazendo , Luc e eu trocamos olhares desconfortáveis.
- Então é isso? Você não se sente atraído por ?
, que tinha sua taça de vinho nos lábios, se engasgou no líquido e bateu a taça rapidamente na mesa, fazendo com que grande parte do vinho saltasse para fora e pousasse na toalha de mesa. Seu rosto foi se tornando mais e mais vermelho ao que sua crise de tosse aumentava e até que ele decidiu se levantar e andar para o banheiro. Um silêncio se instalou na mesa.
- Jas, não acredito que nem te contei! – mudou a direção da conversa, mostrando o anel de noivado em sua mão esquerda, o que fez com que Jas desse gritinhos de surpresa e felicidade, e as duas e Luc entraram em uma realidade paralela, conversando sobre o noivado.
voltou ao cômodo e parou no batente da porta, nos encaramos, um tentando desvendar o pensamento do outro e após algum tempo ele moveu lentamente a cabeça para a direita, indicando que fôssemos ao sofá e eu balancei a minha cabeça em concordância. Não me dei ao trabalho de dizer ao resto do grupo aonde íamos, pois ainda estavam embargados na conversa e alheios a mim e .
Revirei meus olhos ao sentar-me na poltrona de frente ao sofá, encarando meu melhor amigo. Eu sabia que ele sempre fora inseguro em relação ao que aconteceu com Logan, mas ele nunca havia demonstrado interesse em saber o que exatamente aconteceu, então eu nunca me aprofundei no assunto.
- Na noite em que eu conheci Logan... – Eu quebrei completamente o contato visual que tínhamos e comecei a brincar com os dedos de minhas mãos, depositando minha atenção ali – Ele me perguntou se eu queria que ele me ajudasse a te esquecer por uma noite. – Eu pausei, e via imóvel em minha visão periférica.
- Então vocês realmente tiveram um caso? – Ele soava magoado.
- Não, babe, eu nunca faria isso com você. – Eu rapidamente me levantei e me sentei ao seu lado no sofá – Eu disse para ele que por mais que eu quisesse te esquecer para não sentir tanto a sua falta, te esquecer me faria perder parte de mim. Minha melhor parte. – Suas mãos pousaram em meu joelho e fizeram um carinho suave ali – Então ele me pediu para eu lhe contar sobre nós, e eu passei o resto da noite conversando com ele sobre você. Depois daquela festa, eu só o via quando ele ia visitar Jas na faculdade de vez em quando, mas ela se formou um ano antes de mim, então não o vejo desde o meu terceiro ano.
- Quando é que nós viramos grandes fãs de drama? – enterrou o rosto entre suas mãos – Desculpe insinuar que vocês ficaram juntos... Depois de São Francisco, eu fiquei morrendo de medo de que você ia acabar conhecendo alguém novo e quando você me contou sobre ele, eu meio que instantaneamente bloqueei esse assunto na minha cabeça. – de repente levantou a cabeça e arregalou os olhos – Mas você deveria estar estupidamente gostosa naquela festa pra ele ficar a noite toda com você, mesmo que você estivesse falando de outro cara.
Antes que eu pudesse responder, Jas nos interrompeu e tomou o lugar de no sofá, alegando que queria falar comigo.
- , eu entendo que não role mais nada entre vocês... – Ela suspirou – Também sei que você vai sempre ser a prioridade dele... – Eu fiz meu melhor para controlar minha cara de convencida – Eu queria deixar claro que nunca vou tentar tomar o seu lugar na vida dele, eu só quero me encaixar no espacinho que ele abrir pra mim.
Eu sorri verdadeiramente para a garota, me lembrando da minha conversa com há algumas semanas, quando ele me disse que só queria alguém que se encaixasse. Eu quase gritei pelo excesso de felicidade que me preenchia, sabendo que meu melhor amigo estava em boas mãos.
- Jas, esquece isso...
- Mas não era isso que eu queria dizer. – Ela me interrompeu e seu tom se tornou mais sério – Eu não sei o que rolou naquela festa que nós nos conhecemos, mas sei quem Logan é, e ele não é o tipo de cara pegador e garanhão, embora muitas tivessem tentado. – Jas revirou os olhos com uma careta, como se imaginar garotas flertando com o irmão lhe desse repulsa – Depois que ele se formou, ele criava desculpas para voltar ao campus só pra te ver, e sempre perguntava sobre você. Você realmente chamou a atenção dele, e eu meio que conseguia ver vocês juntos, mas nunca disse nada em respeito ao seu relacionamento.
- Nossa... – Eu não conversava com Logan desde que Jas tinha se formado da faculdade, mas eu me lembrava muito bem de nossa última conversa – Da última vez que eu falei com ele, ele disse que entendia minha conexão com , mas que parecia mais um casal de melhores amigos que decidiram namorar por comodismo e que ele sabia que eu merecia muito mais do que isso.
Jas me encarou com a boca entreaberta, surpresa por minha confissão. Eu não havia contado a ninguém sobre a minha última conversa com Logan, nem mesmo para .
- Talvez eu esteja sendo muito precipitada, mas o que acha de nos encontrarmos para um brunch amanhã de manhã? Eu, , você e Logan.
Jas me lançou um olhar extra curioso, me fazendo entender que talvez ela estivesse mais interessada em testar seu relacionamento com , vendo o quão possessivo ele seria comigo se me visse com Logan. Mas eu não me importava, pois sua sugestão fez com que meu estômago revirasse e eu me sentisse como uma adolescente na puberdade, só de imaginar a possibilidade de reencontrá-lo.
- Eu acho uma ótima ideia. – Respondi, não conseguindo conter meu sorriso.
Capítulo 8
Assim que estacionei o carro, contemplei ir embora e fingir que eu ter vindo até aqui foi apenas um sonho. Tanta era a minha idiotice que eu questionei minha idade o trajeto completo. Eu devo viver em um mundo paralelo, na minha própria bolha. Mesmo que Logan esteja disponível, não é porque ele esperou por mim todos esses anos, e minha esperança de que ele de repente se tornasse mais do que meu amigo me fez me sentir patética. Até ontem, eu não tinha pensado nele nenhuma vez. Será que ele havia pensado em mim?
Algumas batidas no vidro me deram um pequeno susto, olhei para o lado de fora e identifiquei Jas, me encarando com um sorriso enorme.
- Meu Deus, você está linda! – Jas me cumprimentou com um abraço, assim que eu desci de meu carro.
- Obrigada, eu estava precisando de uma confirmação para acalmar meus nervos. – Eu confessei e nós rimos juntas. – Você também não está nada mal.
- Ah, isso aqui? É a cor favorita de . – A garota revirou os olhos, como se dizendo o óbvio.
Infelizmente para ela, não era verdade. Jas usava um suéter bege com margaridas estampadas em crochê, uma minissaia preta e uma bota de couro preta que passava de seus joelhos. Não era um visual ruim, ela realmente estava muito bonita, mas era daltônico, e sempre jurou que sua cor favorita era verde, embora ele confundisse amarelo com verde o tempo todo. Percebendo a minha falta de jeito com seu comentário, Jas sorriu convencida e me puxou pela mão para dentro do estabelecimento.
- Eu vim com o , mas Logan já deve estar lá dentro. Venha, eu quero muito ver a reação dele ao te ver.
Assim que passamos do corredor principal em direção às mesas, senti meu estômago revirar em antecipação. Eu conseguia contar nos dedos de apenas uma mão por quantos homens eu havia me interessado desde o meu último relacionamento, e o total chegava a um belo de um zero – e vale lembrar de quando aquele relacionamento começou, eu ainda era adolescente. Só o fato do Logan representar uma possível relação amorosa, fez minhas mãos tremerem. Não que eu estivesse totalmente iludida, mas foi para isso que Jas me chamou para esse brunch, certo? Bom, para isso e para testar o relacionamento dela.
- Quer saber... – Jas parou de repente e eu esbarrei levemente em suas costas – Eu acho que vocês merecem um momento a sós.
Antes que eu pudesse contestar, Jas trocou nossas posições e deu um empurrão em minhas costas, fazendo-me olhar em volta, completamente constrangida pela falta de equilíbrio que o empurrão havia causado. E foi então que eu o vi.
Ele, com o mesmo olhar curioso da noite em que eu o conheci, mas agora tão mais maduro. Senti minhas bochechas esquentarem e não consegui conter o sorriso que automaticamente apareceu ao encontrar seus olhos. Logan andou calmamente em minha direção, e eu pacientemente o esperei, não desviando meu olhar nem diminuindo meu sorriso. Era como se ele fosse apenas minha imaginação, uma realidade paralela em outra dimensão.
Eu ainda não sabia qual iria ser a reação de Logan ao me ver e, honestamente, estava incerta de qual seria a minha própria reação. Se passaram muitos anos que não nos víamos e o mais absurdo era que eu nunca tinha demonstrado interesse nele; acho que por eu estar em um relacionamento sério na época criou uma barreira em meu cérebro que eu me recusei ultrapassar. E se ele guardasse rancor? E se eu não fosse mais interessante o suficiente para ele? E se ele não estivesse disposto a conhecer a mulher adulta que eu havia me tornado? Mas aqui, vendo-o andar em minha direção, me olhando como se nada além de nós importasse, eu estava perigosamente otimista e borboletas voavam livremente em meu estômago.
- Oi... – Sua voz fez com que eu me arrepiasse.
- Oi... – Eu respondi, completamente abobalhada.
Nos encaramos de perto por alguns segundos, analisando cada traço como se o tempo tivesse congelado. Logan de repente me puxou para um abraço, e eu suspirei em alívio assim que minha bochecha encostou em seu peito. Qualquer dúvida de que esse reencontro seria desconfortável caiu por terra e eu rapidamente o abracei de volta, mentalmente pedindo para o universo me presentear com uma boa dose de coragem, que eu suspeitava que precisaria no decorrer da noite.
- Como você está? – Logan se afastou, mas deixou sua mão repousando em meu ombro.
- Bem... muito bem. E você?
- Muito melhor do que estava há dez minutos. Como está ?
- está ótimo... está com Jas. – Minhas bochechas começaram a doer de tanto que eu sorria.
- E vocês realmente...
- Não temos mais nada. – Eu o interrompi antes que tivesse que ouvir a pergunta que eu mais ouvia quando as pessoas descobriam que eu não estava mais com .
Logan balançou a cabeça em concordância ao mesmo tempo que lambeu os lábios, e sussurrou um “ótimo” tão baixo que eu fui obrigada a fazer leitura labial.
- Demorou, mas parece que finalmente chegamos à fase dois. – Ele abriu um sorriso convencido que automaticamente me fez lembrar de Jas e do sorriso que ela abriu há alguns minutos.
- Fase dois?
- Você finalmente percebeu que estava presa no comodismo...– Logan levantou gentilmente meu queixo, me fazendo olhá-lo nos olhos, mas antes que ele pudesse continuar, um pigarro atrás de mim o interrompeu.
Assustada, eu virei para trás em um pulo e a mão levantada de Logan caiu em meu ombro, fazendo com que ele me abraçasse de lado. Encontrei os olhos de , raivosos e silenciosamente pedindo uma explicação.
- , esse é Logan. – Assim que eu os apresentei, o olhar de imediatamente pousou na mão de Logan que agora acariciava meu braço gentilmente.
- Muito prazer em finalmente te conhecer, espero que isso não seja tão estranho para você como é para mim. – Logan disse, sorrindo e estendendo a mão livre para o homem a sua frente, que ainda não tinha desviado o olhar.
Logan segurou sua mão no ar até se tornar constrangedor demais, e lentamente a abaixou quando finalmente percebeu que não iria cumprimentá-lo. Eu soltei uma risada nasalada, desacreditada com a cena que eu estava presenciando.
- Ah, pelo amor de Deus! – Eu rapidamente me desvencilhei do rapaz que ainda me abraçava e andei em direção ao corredor principal, puxando pela mão o mais agressivamente que pude. Chegando ao meu destino, me virei de frente para ele e lhe dei um tapa bem dado no lado de sua cabeça.
- Ei, para que você fez isso? – Ele passou a acariciar a região para se livrar da dor que eu esperava ter causado.
- Eu? Para que você fez aquilo? – Eu apontei para onde estávamos antes, onde Logan ainda estava – Qual é o seu problema?
- Eu não tenho problema nenhum.
- Você tem pouco tempo para se explicar, . Não enrole. – Cruzei meus braços na frente do corpo, demonstrando minha seriedade.
- Menos de 24 horas depois de você lembrar que esse cara existe você já está num encontro com ele?
- O quê?
- Você deve ter se controlado muito para não ter me traído com ele, já que não conseguiu nem passar um dia solteira perto dele.
- Primeiramente, já faz dois anos que eu estou solteira. E outra, eu e Logan fomos convidados por Jas, para nos juntarmos ao brunch de vocês. – Eu disse calmamente, embora calma fosse a última coisa que eu sentisse.
- O quê? – Dessa vez, ele era o confuso da história.
Parece que eu estava certa: Jas estava tirando vantagem da minha animação em reencontrar Logan para testar seu relacionamento com . Eu sabia que essa a verdadeira intenção dela ao propor esse brunch, e eu não tive problema nenhum em aceitar o convite, mas eu achei que ela pelo menos o teria avisado. Jas oficialmente acaba de perder alguns pontos comigo.
- Quando ela interrompeu nossa conversa ontem à noite, foi quando ela sugeriu. Achei que ela teria te avisado, desculpa te pegar de surpresa.
- E por que ela não me avisou? – Eu suspirei audivelmente com sua pergunta.
- Eu acho que ela queria analisar a sua reação ao me ver com Logan... para ter certeza de que você não tem nenhum sentimento guardado por mim. – Sorri amigavelmente, sabendo que tinha o triplo de paciência do que eu, e que ele não causaria drama algum.
- Ou seja, ela não acredita em porra nenhuma que eu disse a ela. – Bem, parece que a paciência de alguém encurtou. Eu o puxei pelo braço antes que ele pudesse sair.
- , pare para pensar um pouco... – Ele se virou em minha direção novamente – Ela acabou de descobrir que o ex-namorado que eu alegava que iria me casar e lhe contava histórias de amor sobre, era você. É muita informação para qualquer um assimilar em tão pouco tempo.
- Tudo bem. – disse, respirando fundo e abrindo um sorriso extremamente falso – Melhor assim?
- Desde que você não me dê muito contato visual com esse sorriso macabro, sem problemas.
- Estou treinando esse sorriso faz tempo, só esperando seu próximo namorado surgir. Chegou a hora de usá-lo.
- Deus te ouça, babe. Deus te ouça... mas não estou namorando ainda. – Eu ri, lhe dando um peteleco no nariz – Mas sério, deixa essa passar com a Jas. Se ela demonstrar não confiar em você novamente, prometo que eu mesma a ponho no lugar dela.
- Tem razão, agora... ele faz bem o seu tipo. – arqueou uma sobrancelha e eu ri com malícia.
- Você acha?
- Tá brincando? Ele é até o meu tipo, eu com certeza teria me traído com ele se fosse você. – Apesar de suas palavras, o tom de voz e a expressão de estavam completamente relaxados.
Senti um peso sair dos meus ombros, pois parte de mim sempre teve medo de que quando chegássemos a esse estágio, seria desconfortável demais continuarmos sendo tão próximos e acabaríamos nos afastando. Mas ele me provou errada, e de repente, deixou de ser o meu ex-namorado e passou a ser apenas o meu melhor amigo. Ele havia seguido em frente, e agora estava apenas sendo quem eu precisava que ele fosse. Esse definitivamente era um aspecto novo de nossa relação. Pela primeira vez, tinha oficialmente arranjado uma namorada e eu estava prestes a ter um “primeiro encontro”, mesmo que não fosse oficialmente um encontro.
- Por que você está chorando? – agora me encarava assustado e só então eu percebi que meus olhos marejavam.
- E eu lá preciso de um motivo? – Eu ri, com a voz completamente embargada pelo choro – Eu só não esperava essa reação sua. Obrigada.
- Que hora para ter uma epifania... Ah, mulheres... – riu suavemente e me puxou para um abraço apertado, retribuindo minhas palavras do jeito dele.
Ficamos abraçados por alguns segundos até eu ter certeza de que eu não corria perigo de borrar minha maquiagem com lágrimas. Ao nos afastarmos, me deu uma piscadela e pediu minha mão como um verdadeiro cavalheiro para me guiar de volta para onde havíamos deixado Logan.
- Desculpe, meu cérebro fritou por um segundo. – disse, entregando a minha mão para Logan e estendendo a sua própria em cumprimento – Muito prazer, Logan. me contou muito sobre você.
- Com certeza não tanto quanto ela me contou de você. - Logan segurou a mão de e os dois sorriram como se compartilhassem segredos, e eu mentalmente me perguntei se eles formariam um grupinho de fofocas sobre mim.
Nos assentamos em uma mesa redonda, e entre os pedidos e as comidas, e Logan descobriram uma paixão mútua por futebol (que rendeu um discurso de vinte minutos de defendendo seu time do coração); Logan propositalmente esbarrou o joelho no meu diversas vezes e Logan perguntou a muitas coisas sobre mim, como se eu não estivesse presente, e eu escondi o rosto roxo de vergonha toda vez que meu nome era mencionado. Jas não se pronunciou muito durante a refeição, o que eu estranhei já que foi ela que me convidou e ela parecia estar num bom humor mais cedo, mas decidi por não perguntar sobre quando percebi seu olhar indo de mim para de um modo nada amigável.
Não é todo dia que seu ex participa do seu primeiro encontro com o cara que te queria quando você ainda namorava, mas eu estava mais do que aliviada em saber que não tinha o menor ressentimento por Logan, mesmo que ele tenha tentado algo comigo quando eu ainda era comprometida. E ainda mais aliviada em descobrir que Logan não seria o tipo de cara que tentaria provar nada a ninguém, do tipinho “estou com a sua garota e você é um perdedor”, e tratou como se já o conhecesse há anos. Convenhamos, ele poderia facilmente ser um melhor amigo perdido de com o tanto de informação que já tinha sobre ele.
Pela primeira vez em muito tempo, eu senti que a minha própria vida estava voltando aos eixos. Talvez fosse egoísmo, talvez fosse apenas uma consequência de ser humana, mas durante as últimas semanas, um sentimento agridoce foi tomando conta do meu coração. e Luc noivando, seguido pelo anúncio de estar namorando, fizeram com que meu coração explodisse de alegria por eles, mas essa alegria sempre foi seguida por meu próprio questionamento e insegurança por não saber quando aconteceria comigo. Quando eu teria a oportunidade de seguir em frente.
Seja no ramo profissional ou amoroso, eu sofri calada com uma baixíssima autoestima, sem ter um futuro traçado, sem saber se eu seria forte e resiliente o suficiente para mudar a minha situação ou se precisaria de uma intervenção divina. Se for para eu ser completamente sincera, não sei exatamente qual dos dois aconteceu, talvez um pouco de ambos. Mas eu me senti como não me sentia há muito tempo, estando na presença de minha pessoa favorita, que estava me apoiando em finalmente dar um passo em direção à minha própria felicidade. E algo me diz que Logan foi a pessoa certa para se encaixar nesse passo.
- Pronta? – Logan me tirou do meu transe, estendendo a mão em minha direção, para me ajudar a levantar. Só então eu percebi que todos já tinham terminado de comer e o outro casal já se encontrava do lado de fora do restaurante.
- Nossa, eu estava em outro mundo. – Eu brinquei, aceitando sua mão.
Assim que saímos do restaurante, Jas anunciou uma enxaqueca e praticamente puxou consigo, nos dando tchau de longe. abriu a porta do carro para ela e correu de volta para onde eu e Logan estávamos.
- Desculpa ir embora assim de repente... – explicou – Sabe como a Jas é. Mas foi um prazer, Logan, espero te ver mais vezes.
Eu assisti os homens se despedirem com um sorriso em meu rosto, que foi recebido por com um rolar de olhos. Ele me puxou para um abraço de despedida e sussurrou só para eu ouvir:
- Vê se não dá um fora nele de novo, ele merece um agradinho seu. – Eu ri e lhe dei um tapa no braço ao que ele deu um beijo estalado em minha testa.
- Avisa quando chegar! – Eu gritei, acenando para o carro de que passava por nós, indo em direção a saída.
Assim que o casal saiu do nosso campo de visão, senti a mão de Logan deslizar por meu braço e delicadamente me virar em sua direção. Meu coração pulou uma batida ao sentir nossos corpos se tocarem e uma risada constrangida saiu de minha garganta, o que o fez sorrir.
- , eu sei que tecnicamente nós nem tivemos um primeiro encontro ainda... – Uma de suas mãos pousou em meu pescoço e o acariciou, me causando arrepios por todo o corpo – Mas eu esperei sete anos para poder fazer isso e acho que já foi o suficiente.
Sem esperar por uma resposta, Logan finalmente acabou com o espaço entre nós e eu fechei meus olhos assim que senti o contato de seus lábios nos meus. Sorri ao sentir o aroma de cereja que exalava dele, e ele tomou o ato como um incentivo e não perdeu tempo em aprofundar o beijo, fazendo com que o contato gelado de sua língua na minha quente me causasse uma explosão de sentimentos. No meu primeiro contato com Logan há sete anos, eu já suspeitava que o beijo dele seria um para se lembrar, mas aparentemente eu estava subestimando-o. Logan poderia dar aulas e garanto que ninguém conseguiria chegar aos seus pés, o beijo desse homem é capaz de deixar qualquer um completamente viciado.
Com uma mão em meu pescoço e com outra em minha cintura, ele tinha completo controle da situação e sabia exatamente o que fazia ao me puxar pra mais perto, não deixando nem uma molécula de ar entre nós. Eu soltei um gemido baixo ao sentir a eletricidade navegar meu corpo com tanta proximidade, o que fez com que Logan abaixasse a mão em direção ao meu quadril e apertasse ali levemente, aumento a intensidade de nosso beijo. Percebendo que para um primeiro beijo, talvez o nível de libido estivesse estourado, eu parti o beijo, mordendo meu próprio lábio inferior.
- Eu acho que temos um problema. – O corpo de Logan enrijeceu e eu senti sua respiração pesar – Eu com certeza não vou me satisfazer com um só.
Quase como se nunca tivesse saído dali, seu sorriso aumentou e ele encostou os lábios levemente na ponta do meu nariz depositando um beijo suave ali. Seus beijos foram em direção ao meu ouvido, onde sua voz agora carregada de desejo acordou partes do meu corpo que eu não esperava:
- Estou certo de que posso providenciar uma solução para isso.
Desde , eu não havia me sentido desse jeito com outra pessoa. Parecia que, sem sentimento envolvido, não fazia sentido: eu não aproveitava nada e sempre me arrependia. Mas com Logan, é tão diferente, há tanto desejo. É real. E é muito, muito bom. Como se nós estivéssemos destinados a fazer isso. Enquanto eu pensava em como o universo havia nos roubado alguns bons anos, as palavras que saíram de minha boca me surpreenderam:
- Você quer vir comigo para casa?
Logan também pareceu surpreso com minha pergunta, mas rapidamente se recompôs, sorrindo com tanta malícia que eu senti minhas pernas tremerem.
- , eu adoraria.
Algumas batidas no vidro me deram um pequeno susto, olhei para o lado de fora e identifiquei Jas, me encarando com um sorriso enorme.
- Meu Deus, você está linda! – Jas me cumprimentou com um abraço, assim que eu desci de meu carro.
- Obrigada, eu estava precisando de uma confirmação para acalmar meus nervos. – Eu confessei e nós rimos juntas. – Você também não está nada mal.
- Ah, isso aqui? É a cor favorita de . – A garota revirou os olhos, como se dizendo o óbvio.
Infelizmente para ela, não era verdade. Jas usava um suéter bege com margaridas estampadas em crochê, uma minissaia preta e uma bota de couro preta que passava de seus joelhos. Não era um visual ruim, ela realmente estava muito bonita, mas era daltônico, e sempre jurou que sua cor favorita era verde, embora ele confundisse amarelo com verde o tempo todo. Percebendo a minha falta de jeito com seu comentário, Jas sorriu convencida e me puxou pela mão para dentro do estabelecimento.
- Eu vim com o , mas Logan já deve estar lá dentro. Venha, eu quero muito ver a reação dele ao te ver.
Assim que passamos do corredor principal em direção às mesas, senti meu estômago revirar em antecipação. Eu conseguia contar nos dedos de apenas uma mão por quantos homens eu havia me interessado desde o meu último relacionamento, e o total chegava a um belo de um zero – e vale lembrar de quando aquele relacionamento começou, eu ainda era adolescente. Só o fato do Logan representar uma possível relação amorosa, fez minhas mãos tremerem. Não que eu estivesse totalmente iludida, mas foi para isso que Jas me chamou para esse brunch, certo? Bom, para isso e para testar o relacionamento dela.
- Quer saber... – Jas parou de repente e eu esbarrei levemente em suas costas – Eu acho que vocês merecem um momento a sós.
Antes que eu pudesse contestar, Jas trocou nossas posições e deu um empurrão em minhas costas, fazendo-me olhar em volta, completamente constrangida pela falta de equilíbrio que o empurrão havia causado. E foi então que eu o vi.
Ele, com o mesmo olhar curioso da noite em que eu o conheci, mas agora tão mais maduro. Senti minhas bochechas esquentarem e não consegui conter o sorriso que automaticamente apareceu ao encontrar seus olhos. Logan andou calmamente em minha direção, e eu pacientemente o esperei, não desviando meu olhar nem diminuindo meu sorriso. Era como se ele fosse apenas minha imaginação, uma realidade paralela em outra dimensão.
Eu ainda não sabia qual iria ser a reação de Logan ao me ver e, honestamente, estava incerta de qual seria a minha própria reação. Se passaram muitos anos que não nos víamos e o mais absurdo era que eu nunca tinha demonstrado interesse nele; acho que por eu estar em um relacionamento sério na época criou uma barreira em meu cérebro que eu me recusei ultrapassar. E se ele guardasse rancor? E se eu não fosse mais interessante o suficiente para ele? E se ele não estivesse disposto a conhecer a mulher adulta que eu havia me tornado? Mas aqui, vendo-o andar em minha direção, me olhando como se nada além de nós importasse, eu estava perigosamente otimista e borboletas voavam livremente em meu estômago.
- Oi... – Sua voz fez com que eu me arrepiasse.
- Oi... – Eu respondi, completamente abobalhada.
Nos encaramos de perto por alguns segundos, analisando cada traço como se o tempo tivesse congelado. Logan de repente me puxou para um abraço, e eu suspirei em alívio assim que minha bochecha encostou em seu peito. Qualquer dúvida de que esse reencontro seria desconfortável caiu por terra e eu rapidamente o abracei de volta, mentalmente pedindo para o universo me presentear com uma boa dose de coragem, que eu suspeitava que precisaria no decorrer da noite.
- Como você está? – Logan se afastou, mas deixou sua mão repousando em meu ombro.
- Bem... muito bem. E você?
- Muito melhor do que estava há dez minutos. Como está ?
- está ótimo... está com Jas. – Minhas bochechas começaram a doer de tanto que eu sorria.
- E vocês realmente...
- Não temos mais nada. – Eu o interrompi antes que tivesse que ouvir a pergunta que eu mais ouvia quando as pessoas descobriam que eu não estava mais com .
Logan balançou a cabeça em concordância ao mesmo tempo que lambeu os lábios, e sussurrou um “ótimo” tão baixo que eu fui obrigada a fazer leitura labial.
- Demorou, mas parece que finalmente chegamos à fase dois. – Ele abriu um sorriso convencido que automaticamente me fez lembrar de Jas e do sorriso que ela abriu há alguns minutos.
- Fase dois?
- Você finalmente percebeu que estava presa no comodismo...– Logan levantou gentilmente meu queixo, me fazendo olhá-lo nos olhos, mas antes que ele pudesse continuar, um pigarro atrás de mim o interrompeu.
Assustada, eu virei para trás em um pulo e a mão levantada de Logan caiu em meu ombro, fazendo com que ele me abraçasse de lado. Encontrei os olhos de , raivosos e silenciosamente pedindo uma explicação.
- , esse é Logan. – Assim que eu os apresentei, o olhar de imediatamente pousou na mão de Logan que agora acariciava meu braço gentilmente.
- Muito prazer em finalmente te conhecer, espero que isso não seja tão estranho para você como é para mim. – Logan disse, sorrindo e estendendo a mão livre para o homem a sua frente, que ainda não tinha desviado o olhar.
Logan segurou sua mão no ar até se tornar constrangedor demais, e lentamente a abaixou quando finalmente percebeu que não iria cumprimentá-lo. Eu soltei uma risada nasalada, desacreditada com a cena que eu estava presenciando.
- Ah, pelo amor de Deus! – Eu rapidamente me desvencilhei do rapaz que ainda me abraçava e andei em direção ao corredor principal, puxando pela mão o mais agressivamente que pude. Chegando ao meu destino, me virei de frente para ele e lhe dei um tapa bem dado no lado de sua cabeça.
- Ei, para que você fez isso? – Ele passou a acariciar a região para se livrar da dor que eu esperava ter causado.
- Eu? Para que você fez aquilo? – Eu apontei para onde estávamos antes, onde Logan ainda estava – Qual é o seu problema?
- Eu não tenho problema nenhum.
- Você tem pouco tempo para se explicar, . Não enrole. – Cruzei meus braços na frente do corpo, demonstrando minha seriedade.
- Menos de 24 horas depois de você lembrar que esse cara existe você já está num encontro com ele?
- O quê?
- Você deve ter se controlado muito para não ter me traído com ele, já que não conseguiu nem passar um dia solteira perto dele.
- Primeiramente, já faz dois anos que eu estou solteira. E outra, eu e Logan fomos convidados por Jas, para nos juntarmos ao brunch de vocês. – Eu disse calmamente, embora calma fosse a última coisa que eu sentisse.
- O quê? – Dessa vez, ele era o confuso da história.
Parece que eu estava certa: Jas estava tirando vantagem da minha animação em reencontrar Logan para testar seu relacionamento com . Eu sabia que essa a verdadeira intenção dela ao propor esse brunch, e eu não tive problema nenhum em aceitar o convite, mas eu achei que ela pelo menos o teria avisado. Jas oficialmente acaba de perder alguns pontos comigo.
- Quando ela interrompeu nossa conversa ontem à noite, foi quando ela sugeriu. Achei que ela teria te avisado, desculpa te pegar de surpresa.
- E por que ela não me avisou? – Eu suspirei audivelmente com sua pergunta.
- Eu acho que ela queria analisar a sua reação ao me ver com Logan... para ter certeza de que você não tem nenhum sentimento guardado por mim. – Sorri amigavelmente, sabendo que tinha o triplo de paciência do que eu, e que ele não causaria drama algum.
- Ou seja, ela não acredita em porra nenhuma que eu disse a ela. – Bem, parece que a paciência de alguém encurtou. Eu o puxei pelo braço antes que ele pudesse sair.
- , pare para pensar um pouco... – Ele se virou em minha direção novamente – Ela acabou de descobrir que o ex-namorado que eu alegava que iria me casar e lhe contava histórias de amor sobre, era você. É muita informação para qualquer um assimilar em tão pouco tempo.
- Tudo bem. – disse, respirando fundo e abrindo um sorriso extremamente falso – Melhor assim?
- Desde que você não me dê muito contato visual com esse sorriso macabro, sem problemas.
- Estou treinando esse sorriso faz tempo, só esperando seu próximo namorado surgir. Chegou a hora de usá-lo.
- Deus te ouça, babe. Deus te ouça... mas não estou namorando ainda. – Eu ri, lhe dando um peteleco no nariz – Mas sério, deixa essa passar com a Jas. Se ela demonstrar não confiar em você novamente, prometo que eu mesma a ponho no lugar dela.
- Tem razão, agora... ele faz bem o seu tipo. – arqueou uma sobrancelha e eu ri com malícia.
- Você acha?
- Tá brincando? Ele é até o meu tipo, eu com certeza teria me traído com ele se fosse você. – Apesar de suas palavras, o tom de voz e a expressão de estavam completamente relaxados.
Senti um peso sair dos meus ombros, pois parte de mim sempre teve medo de que quando chegássemos a esse estágio, seria desconfortável demais continuarmos sendo tão próximos e acabaríamos nos afastando. Mas ele me provou errada, e de repente, deixou de ser o meu ex-namorado e passou a ser apenas o meu melhor amigo. Ele havia seguido em frente, e agora estava apenas sendo quem eu precisava que ele fosse. Esse definitivamente era um aspecto novo de nossa relação. Pela primeira vez, tinha oficialmente arranjado uma namorada e eu estava prestes a ter um “primeiro encontro”, mesmo que não fosse oficialmente um encontro.
- Por que você está chorando? – agora me encarava assustado e só então eu percebi que meus olhos marejavam.
- E eu lá preciso de um motivo? – Eu ri, com a voz completamente embargada pelo choro – Eu só não esperava essa reação sua. Obrigada.
- Que hora para ter uma epifania... Ah, mulheres... – riu suavemente e me puxou para um abraço apertado, retribuindo minhas palavras do jeito dele.
Ficamos abraçados por alguns segundos até eu ter certeza de que eu não corria perigo de borrar minha maquiagem com lágrimas. Ao nos afastarmos, me deu uma piscadela e pediu minha mão como um verdadeiro cavalheiro para me guiar de volta para onde havíamos deixado Logan.
- Desculpe, meu cérebro fritou por um segundo. – disse, entregando a minha mão para Logan e estendendo a sua própria em cumprimento – Muito prazer, Logan. me contou muito sobre você.
- Com certeza não tanto quanto ela me contou de você. - Logan segurou a mão de e os dois sorriram como se compartilhassem segredos, e eu mentalmente me perguntei se eles formariam um grupinho de fofocas sobre mim.
Nos assentamos em uma mesa redonda, e entre os pedidos e as comidas, e Logan descobriram uma paixão mútua por futebol (que rendeu um discurso de vinte minutos de defendendo seu time do coração); Logan propositalmente esbarrou o joelho no meu diversas vezes e Logan perguntou a muitas coisas sobre mim, como se eu não estivesse presente, e eu escondi o rosto roxo de vergonha toda vez que meu nome era mencionado. Jas não se pronunciou muito durante a refeição, o que eu estranhei já que foi ela que me convidou e ela parecia estar num bom humor mais cedo, mas decidi por não perguntar sobre quando percebi seu olhar indo de mim para de um modo nada amigável.
Não é todo dia que seu ex participa do seu primeiro encontro com o cara que te queria quando você ainda namorava, mas eu estava mais do que aliviada em saber que não tinha o menor ressentimento por Logan, mesmo que ele tenha tentado algo comigo quando eu ainda era comprometida. E ainda mais aliviada em descobrir que Logan não seria o tipo de cara que tentaria provar nada a ninguém, do tipinho “estou com a sua garota e você é um perdedor”, e tratou como se já o conhecesse há anos. Convenhamos, ele poderia facilmente ser um melhor amigo perdido de com o tanto de informação que já tinha sobre ele.
Pela primeira vez em muito tempo, eu senti que a minha própria vida estava voltando aos eixos. Talvez fosse egoísmo, talvez fosse apenas uma consequência de ser humana, mas durante as últimas semanas, um sentimento agridoce foi tomando conta do meu coração. e Luc noivando, seguido pelo anúncio de estar namorando, fizeram com que meu coração explodisse de alegria por eles, mas essa alegria sempre foi seguida por meu próprio questionamento e insegurança por não saber quando aconteceria comigo. Quando eu teria a oportunidade de seguir em frente.
Seja no ramo profissional ou amoroso, eu sofri calada com uma baixíssima autoestima, sem ter um futuro traçado, sem saber se eu seria forte e resiliente o suficiente para mudar a minha situação ou se precisaria de uma intervenção divina. Se for para eu ser completamente sincera, não sei exatamente qual dos dois aconteceu, talvez um pouco de ambos. Mas eu me senti como não me sentia há muito tempo, estando na presença de minha pessoa favorita, que estava me apoiando em finalmente dar um passo em direção à minha própria felicidade. E algo me diz que Logan foi a pessoa certa para se encaixar nesse passo.
- Pronta? – Logan me tirou do meu transe, estendendo a mão em minha direção, para me ajudar a levantar. Só então eu percebi que todos já tinham terminado de comer e o outro casal já se encontrava do lado de fora do restaurante.
- Nossa, eu estava em outro mundo. – Eu brinquei, aceitando sua mão.
Assim que saímos do restaurante, Jas anunciou uma enxaqueca e praticamente puxou consigo, nos dando tchau de longe. abriu a porta do carro para ela e correu de volta para onde eu e Logan estávamos.
- Desculpa ir embora assim de repente... – explicou – Sabe como a Jas é. Mas foi um prazer, Logan, espero te ver mais vezes.
Eu assisti os homens se despedirem com um sorriso em meu rosto, que foi recebido por com um rolar de olhos. Ele me puxou para um abraço de despedida e sussurrou só para eu ouvir:
- Vê se não dá um fora nele de novo, ele merece um agradinho seu. – Eu ri e lhe dei um tapa no braço ao que ele deu um beijo estalado em minha testa.
- Avisa quando chegar! – Eu gritei, acenando para o carro de que passava por nós, indo em direção a saída.
Assim que o casal saiu do nosso campo de visão, senti a mão de Logan deslizar por meu braço e delicadamente me virar em sua direção. Meu coração pulou uma batida ao sentir nossos corpos se tocarem e uma risada constrangida saiu de minha garganta, o que o fez sorrir.
- , eu sei que tecnicamente nós nem tivemos um primeiro encontro ainda... – Uma de suas mãos pousou em meu pescoço e o acariciou, me causando arrepios por todo o corpo – Mas eu esperei sete anos para poder fazer isso e acho que já foi o suficiente.
Sem esperar por uma resposta, Logan finalmente acabou com o espaço entre nós e eu fechei meus olhos assim que senti o contato de seus lábios nos meus. Sorri ao sentir o aroma de cereja que exalava dele, e ele tomou o ato como um incentivo e não perdeu tempo em aprofundar o beijo, fazendo com que o contato gelado de sua língua na minha quente me causasse uma explosão de sentimentos. No meu primeiro contato com Logan há sete anos, eu já suspeitava que o beijo dele seria um para se lembrar, mas aparentemente eu estava subestimando-o. Logan poderia dar aulas e garanto que ninguém conseguiria chegar aos seus pés, o beijo desse homem é capaz de deixar qualquer um completamente viciado.
Com uma mão em meu pescoço e com outra em minha cintura, ele tinha completo controle da situação e sabia exatamente o que fazia ao me puxar pra mais perto, não deixando nem uma molécula de ar entre nós. Eu soltei um gemido baixo ao sentir a eletricidade navegar meu corpo com tanta proximidade, o que fez com que Logan abaixasse a mão em direção ao meu quadril e apertasse ali levemente, aumento a intensidade de nosso beijo. Percebendo que para um primeiro beijo, talvez o nível de libido estivesse estourado, eu parti o beijo, mordendo meu próprio lábio inferior.
- Eu acho que temos um problema. – O corpo de Logan enrijeceu e eu senti sua respiração pesar – Eu com certeza não vou me satisfazer com um só.
Quase como se nunca tivesse saído dali, seu sorriso aumentou e ele encostou os lábios levemente na ponta do meu nariz depositando um beijo suave ali. Seus beijos foram em direção ao meu ouvido, onde sua voz agora carregada de desejo acordou partes do meu corpo que eu não esperava:
- Estou certo de que posso providenciar uma solução para isso.
Desde , eu não havia me sentido desse jeito com outra pessoa. Parecia que, sem sentimento envolvido, não fazia sentido: eu não aproveitava nada e sempre me arrependia. Mas com Logan, é tão diferente, há tanto desejo. É real. E é muito, muito bom. Como se nós estivéssemos destinados a fazer isso. Enquanto eu pensava em como o universo havia nos roubado alguns bons anos, as palavras que saíram de minha boca me surpreenderam:
- Você quer vir comigo para casa?
Logan também pareceu surpreso com minha pergunta, mas rapidamente se recompôs, sorrindo com tanta malícia que eu senti minhas pernas tremerem.
- , eu adoraria.
Continua...
Nota da autora: Ficou óbvio demais que eu sou caidinha pelo Logan Lerman? Hahaha muito drama chegando para esse casal de melhores amigos, então preparem os coraçõezinhos!!!
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