Capítulo Único
Abri os olhos, sentindo um braço em volta da minha cintura. Merda! Vários flashes surgiram em meu cérebro turvo e tive que voltar a fechar os olhos para me acostumar com a ideia de que eu havia finalmente cedido à uma transa casual com - o rapaz que havia começado a trabalhar em minha cafeteria fazia alguns meses.
Não me leve a mal, era lindo e adorável, mas a última coisa que eu precisava no momento era de um relacionamento com um subordinado gostoso. Eu só queria uma transa deliciosa depois de uma semana cansativa de trabalho, e ele estava lá, me olhando com aqueles olhos adoráveis... Ele não se importava que eu estivesse com trigo no rosto ou com uma touca na cabeça para que o meu cabelo não caísse em nada, ele sempre estava me olhando como Gilbert olhava Anne, como Peralta olhava Santiago ou como Ross olhava Rachel. E confesso que aquilo mexia comigo; porém, eu continuava com a ideia de que ter um relacionamento com um subordinado era completamente errado, mesmo que a transa da noite anterior tivesse revirado meu estômago - onde as malditas borboletas insistiram em aparecer depois de muito tempo sem dar as caras.
Senti seu braço me puxar ligeiramente mais para perto e seu nariz encostar no topo da minha cabeça e percebi, finalmente, a enrascada que eu havia me metido. Tentei retirar seu braço da minha cintura com cuidado e percebi que ele continuou dormindo. Não fazia ideia de que horas eram, mas ainda era escuro na rua e eu precisava ir para casa trocar de roupa para abrir a cafeteria de qualquer maneira. Vesti meu vestido florido de qualquer maneira, calcei meu coturno verde militar sem nem amarrar os cadarços e dei uma vasculhada pelo quarto atrás de meu celular. Dei uma última olhadela, vendo-o dormir de lado com o braço esticado onde antes estava meu corpo, seus ombros cobertos de pintinhas para fora do edredom azul marinho. Fiz a caminhada da vergonha, com os cabelos bagunçados, o vestido amarrotado e os olhos borrados pelo hall de entrada do seu prédio enquanto chamava um Uber para minha casa.
Eu não me orgulhava de sair de fininho do seu apartamento, não me orgulhava de fingir que aquilo não tinha me afetado, mas o que eu deveria fazer? Ficar abraçadinha a ele até o seu celular despertar, esperá-lo fazer um café para mim enquanto sorria bobo para qualquer coisa? Isso era coisa de filme de romance. Eu tinha um trabalho para gerenciar, tinha contas a pagar e pessoas para servir no melhor café de Knightsbridge, não tinha tempo a perder com romancezinhos irrelevantes - mesmo que os flashes de puxando o cabelo da minha nuca e lambendo da minha clavícula até o lóbulo da orelha me arrancassem suspiros e fizessem pressionar minhas coxas uma contra a outra. Irrelevantes, é.
Tomei um banho quente, ainda me lembrando das suas mãos correndo pelo meu corpo, e o sol já surgia na janela quando terminei de secar meu cabelo e prendê-lo em um coque frouxo com um palito de madeira japonês. Passei uma maquiagem leve no rosto, pois a cafeteria era em um bairro nobre e era sempre bom estar apresentável, e segui para lá mesmo estando bem cedo. Não tinha cabeça para fazer outra coisa além disso.
Chegando lá, moí grãos de café para me fazer um expresso, eu precisava de café nas minhas veias para enfrentar o dia que viria pela frente. era o nosso barista, então, quando me vi na frente do maquinário de café, já pude enxergar seu sorriso adorável enquanto mexia nos equipamentos. Porra, eu precisava resolver este assunto com ele assim que chegasse, estava me sentindo péssima. Não conseguia tirá-lo da cabeça.
Pouco a pouco, os demais funcionários foram chegando, Freddie, que cuidava do fogão e da chapa; Louise, que cuidava do caixa e Annie, que atendia as mesas, George cuidava do balcão e do almoxarifado e eu fazia a parte de pâtisserie. Só faltava nosso barista. Ninguém sabia que eu e ele tivemos algo ontem, todos foram embora como sempre e se ofereceu para me acompanhar nas compras da semana (alegando que em dois seria mais fácil) e eu aceitei, já que realmente apreciava a sua companhia. Fomos ao mercado juntos e nos divertimos enquanto escolhíamos nozes, damascos e tudo que se imaginaria que poderia fazer com confeitos. Voltamos à cafeteria para colocar tudo em ordem e, quando já estávamos na rua nos despedindo para nos vermos no dia seguinte, me surpreendeu com um beijo que sumiu com todo o ar em meus pulmões.
- Eu estou querendo fazer isso há um tempo – disse com aquele sorriso que fazia meu coração palpitar de modo diferente. Era óbvio que eu o achava bonito, misterioso e charmoso ao ponto de me deixar tonta, mas nunca havia passado pela minha cabeça que ele pudesse querer algo além de amizade profissional comigo. Por este motivo, sem aviso prévio, o agarrei pelo pescoço para mais um beijo, já que o primeiro havia aberto uma porta em meu cérebro que eu não estava mais conseguindo fechar. E este beijo nos levou até seu apartamento, onde tivemos a melhor transa que tive em anos, a química era inegável.
chegou na cafeteria no instante em que Annie estava indo até a porta virar a placa de “Fechado” para “Aberto”, Seus olhos estavam baixos e as sobrancelhas, unidas em uma linha tensa. Senti meu coração dar um baque surdo vendo o modo como ele me ignorou e ignorou as outras pessoas, indo até a parte de trás pegar seu avental.
- Alguém acordou de mau humor... – George comentou, erguendo as sobrancelhas e Annie concordou com os olhos arregalados.
- Calma, gente, deem um tempo ao nosso barista preferido – Louise o defendeu, usando o apelido que costumávamos chamá-lo, e eu concordei com a cabeça, sem coragem de falar nada. Meio minuto depois, ele veio até onde eu estava, já que eu já tinha dito que assumiria a parte de cafés caso ele faltasse, e me pediu licença com a voz embolada. Aquilo me afetou de uma maneira que não achei que fosse e me afastei dele sem conseguir pensar em nada para dizer. Vi-o fazendo um ristretto e bebendo como se fosse uma dose de whisky. amava café, assim como eu. Foi um dos motivos pelo qual o contratei, eu vi o seu amor por café se transformando em palavras enquanto ele respondia o motivo de ter ido até àquela cafeteria para pedir um emprego. Não consegui chamá-lo para conversar, pois o local começou a encher por ser uma avenida movimentada, e sabia que aquele horário do dia era o mais trabalhoso para . Segui para a cozinha, enquanto Annie já cantava os pedidos para Freddie e para mim quando era algo doce.
O dia foi atipicamente movimentado, já que era sábado e aquela semana estava tendo um festival de imóveis que chamava o público de toda a Europa.
Trabalhamos feito loucos sem ter tempo nem para almoçar direito, e, no final do dia, chamei todos para agradecê-los pela semana, como eu fazia todo sábado. Sexta era dia de compras; sábado, de agradecer e, domingo, dia de limpeza pesada. Cada dia da semana tinha uma tarefa extra que fazia com que aquele negócio funcionasse com qualidade.
- Pessoal, eu queria agradecer o comprometimento de vocês essa semana, todos foram pontuais e fizeram um ótimo trabalho. Vou levar a caixinha de sugestões para casa e, caso haja algum problema, resolvemos na próxima semana. Mil vezes obrigada, vocês são demais! – falei, sorrindo sincera. Estávamos no meio da cozinha, em um semicírculo, e todos bateram palmas, inclusive , que, por mais raiva que sentisse de mim naquele momento, ainda se esforçava para ser educado.
- , você consegue ficar mais um pouquinho? – perguntei me aproximando dele enquanto todos retiravam seus aventais para ir embora. Ele concordou sem olhar em meus olhos, desatando o nó das costas enquanto eu respirava fundo, fazendo o mesmo. Quando todos foram embora - alguns com olhares furtivos para nós na esperança de conseguir alguma fofoquinha antes -, vi que ele ficou me esperando na frente da máquina de expresso. Sentei-me no balcão a sua frente enquanto ele mexia no equipamento, preparando um café para si. Eu não sabia como começar aquela conversa, meu coração parecia querer sair pela boca e, quando a abri para iniciar um pedido de desculpas forjado com alguma brincadeira para quebrar o gelo, ouvi sua voz rouca dizer:
- Nós somos adultos, sabe? – pigarreou logo após, limpando a garganta. – Eu não esperava que você fosse querer um buquê de flores ou um anel de compromisso depois de ontem, porque já te conheço o suficiente para saber que você não gosta desse tipo de clichês – ele dizia calmo, pegando uma xícara no balcão, colocando leite na prensa francesa e deixando-o com uma consistência cremosa maravilhosa. – Mas me largar no meio da noite, fugindo silenciosa como uma vítima de um crime hediondo não estava no topo da minha lista de como a noite de ontem ia terminar – a sua voz denunciava o quão chateado ele havia ficado e, como eu disse, eu não me orgulhava de ter feito aquilo.
- , eu... – tentei iniciar, mas ele continuou como se não tivesse meu ouvido.
- Eu realmente achei que você fosse diferente, – ouvi-lo dizer meu nome inteiro depois de ouvir sua voz rouca gemendo no meu ouvido era tão difícil quanto encarar seus olhos duros naquele momento. Ele lambuzava a xícara com caramelo no fundo, antes de colocar o café. – Eu gostei de você desde o momento em que você me entregou o meu avental, me apresentando ao pessoal como o barista mais legal que já tivemos – engoli seco por ele lembrar daquilo, foi no seu primeiro dia. Ele estava nervoso e tremia feito vara verde enquanto fazia os primeiros cafés na máquina. – E eu nutri um sentimento por você por todos esses meses, me alimentando de todos os seus sorrisos, suas brincadeiras e todas as vezes que você tocou em mim para me ensinar um comando novo na cafeteira ou quando tentava me ensinar algo de pâtisserie lá na cozinha. Eu já sabia que estava fodido no dia que fizemos aquela pequena guerra de farinha na cozinha, e eu sabia que estava mais fodido ainda quando você correspondeu àquela droga de beijo – ele disse, colocando o leite cremoso na xícara, fazendo um desenho que não consegui ver e me entregando a xícara logo em seguida, por cima do balcão. Era meu capuccino preferido, o capuccino que só ele sabia fazer. Em cima, tinha um desenho perfeito de um trevo de quatro folhas, símbolo este que eu tinha tatuado no meu quadril onde apenas uma pessoa que tirasse minha calcinha conseguia ver. Ele viu. Engoli seco.
- ... – consegui juntar forças para falar enquanto ele preparava os grãos na máquina para fazer um café para si. – Acho que, antes de tudo, te devo desculpas. Sei que o que fiz foi completamente egocêntrico e desnecessário, já que, como você mesmo disse, somos adultos – eu segurava a xícara que ele havia me dado com as duas mãos, deixando o calor me aquecer do momento gelado em que estávamos. – Eu realmente não consigo fazer uma retrospectiva que me explique o motivo de eu ter saído daquele jeito. Na hora, me parecia o certo – admiti, bebendo um gole da bebida maravilhosa que ele havia feito. Seus olhos com as sobrancelhas unidas queimavam minha pele e tive que desviar o olhar antes de continuar: - Mas acho que um dos motivos de eu ter feito o que fiz é porque eu sabia que, se eu tivesse acordado ao seu lado, eu me apaixonaria por você – falei, lambendo os lábios para tirar a espuma de café da boca. mal deixou a máquina terminar de pingar o seu café e novamente engoliu o mesmo como se fosse uma dose de whisky.
- Porra, , não fala isso para mim – fechou os olhos e suspirou alto. Flashes da noite anterior, onde ele suspirava exatamente do mesmo jeito ao pé do meu ouvido, fez os pelinhos do meu braço se levantarem.
- É verdade – fui sincera, vendo-o contornar o balcão, vindo até mim. – E eu não sei se posso deixar que isso interfira no meu trabalho.
Era mesmo verdade, e o dia de hoje, que não troquei uma palavra ou uma brincadeira com ele, acabou por ser um dos dias mais insuportáveis por qual já passei a minha vida inteira. Vê-lo me ignorar com uma verdadeira mágoa no coração era algo que eu não estava preparada para aguentar.
- Você me desculpa, ? – perguntei, tomando mais um gole do meu café, desta vez o olhando com olhos realmente arrependidos, enquanto ele sentava-se ao meu lado.
- Eu te desculpo, , mas não sei se consigo mais continuar do jeito que estávamos antes. Não depois do que fizemos ontem.
E então eu vi, igual ao momento em que você está prestar a morrer, vi todos os momentos em que passei com durante todos esses meses. Vi o dia em que o entrevistei e o dia em que ele espirrou café em toda a sua roupa, tentando consertar a máquina de expresso, fazendo absolutamente todos no estabelecimento dar gargalhadas. Vi o dia em que ele trouxe um pacote de broas caseiras que havia tentado fazer em casa para que eu experimentasse e também o dia da nossa guerra de farinha. Vi todos os olhares furtivos que ele me dava sem achar que eu percebia e todos os sorrisos verdadeiros que roubou de mim fazendo alguma gracinha.
Merda, eu já estava apaixonada por ele.
- E eu não me arrependo de ter feito, mesmo que isso custe a nossa amizade – continuou ele, me tirando de meu pequeno transe. Terminei meu café maravilhoso e virei meu banco para que ficasse de frente para ele.
- Eu acordei hoje de manhã arrependida. Admito. Mas não pelo que fizemos, e sim por medo e angústia do que poderia vir a acontecer depois. E olha só, você ficou sem olhar na minha cara o dia inteiro – falei, enquanto ele me encarava com o rosto impassível.
- Então você não se arrepende de termos transado na noite passada? – um sorrisinho milimétrico surgiu no canto dos seus lábios.
- Não – falei, criando coragem. – Eu me arrependo de ter ido embora – mal terminei a frase e saiu do seu banco, puxando minha nuca para colar nossas bocas novamente. Sua língua misturou-se com a minha e o gosto de café da sua boca adentrou na minha com a memória nítida da noite passada. Seus dedos penetraram em meu cabelo, fazendo o coque se desfazer, e ele sugou meu lábio inferior, causando-me arrepios, antes de separar nossas bocas. O beijo me deixou atordoada, assim como o da noite anterior.
- Você é pior do que café, . Tudo em você vicia, o seu cheiro, o seu toque e o seu gosto. O que eu vou fazer, agora que eu sei que tudo isso existe, mas não posso ter? - disse com a sua voz rouca e falhada, sem ar por conta do beijo.
- Você pode ter, você sempre me teve – admiti finalmente, fazendo-o sorrir bobo antes de puxar meu rosto para mais um beijo.
Não me leve a mal, era lindo e adorável, mas a última coisa que eu precisava no momento era de um relacionamento com um subordinado gostoso. Eu só queria uma transa deliciosa depois de uma semana cansativa de trabalho, e ele estava lá, me olhando com aqueles olhos adoráveis... Ele não se importava que eu estivesse com trigo no rosto ou com uma touca na cabeça para que o meu cabelo não caísse em nada, ele sempre estava me olhando como Gilbert olhava Anne, como Peralta olhava Santiago ou como Ross olhava Rachel. E confesso que aquilo mexia comigo; porém, eu continuava com a ideia de que ter um relacionamento com um subordinado era completamente errado, mesmo que a transa da noite anterior tivesse revirado meu estômago - onde as malditas borboletas insistiram em aparecer depois de muito tempo sem dar as caras.
Senti seu braço me puxar ligeiramente mais para perto e seu nariz encostar no topo da minha cabeça e percebi, finalmente, a enrascada que eu havia me metido. Tentei retirar seu braço da minha cintura com cuidado e percebi que ele continuou dormindo. Não fazia ideia de que horas eram, mas ainda era escuro na rua e eu precisava ir para casa trocar de roupa para abrir a cafeteria de qualquer maneira. Vesti meu vestido florido de qualquer maneira, calcei meu coturno verde militar sem nem amarrar os cadarços e dei uma vasculhada pelo quarto atrás de meu celular. Dei uma última olhadela, vendo-o dormir de lado com o braço esticado onde antes estava meu corpo, seus ombros cobertos de pintinhas para fora do edredom azul marinho. Fiz a caminhada da vergonha, com os cabelos bagunçados, o vestido amarrotado e os olhos borrados pelo hall de entrada do seu prédio enquanto chamava um Uber para minha casa.
Eu não me orgulhava de sair de fininho do seu apartamento, não me orgulhava de fingir que aquilo não tinha me afetado, mas o que eu deveria fazer? Ficar abraçadinha a ele até o seu celular despertar, esperá-lo fazer um café para mim enquanto sorria bobo para qualquer coisa? Isso era coisa de filme de romance. Eu tinha um trabalho para gerenciar, tinha contas a pagar e pessoas para servir no melhor café de Knightsbridge, não tinha tempo a perder com romancezinhos irrelevantes - mesmo que os flashes de puxando o cabelo da minha nuca e lambendo da minha clavícula até o lóbulo da orelha me arrancassem suspiros e fizessem pressionar minhas coxas uma contra a outra. Irrelevantes, é.
Tomei um banho quente, ainda me lembrando das suas mãos correndo pelo meu corpo, e o sol já surgia na janela quando terminei de secar meu cabelo e prendê-lo em um coque frouxo com um palito de madeira japonês. Passei uma maquiagem leve no rosto, pois a cafeteria era em um bairro nobre e era sempre bom estar apresentável, e segui para lá mesmo estando bem cedo. Não tinha cabeça para fazer outra coisa além disso.
Chegando lá, moí grãos de café para me fazer um expresso, eu precisava de café nas minhas veias para enfrentar o dia que viria pela frente. era o nosso barista, então, quando me vi na frente do maquinário de café, já pude enxergar seu sorriso adorável enquanto mexia nos equipamentos. Porra, eu precisava resolver este assunto com ele assim que chegasse, estava me sentindo péssima. Não conseguia tirá-lo da cabeça.
Pouco a pouco, os demais funcionários foram chegando, Freddie, que cuidava do fogão e da chapa; Louise, que cuidava do caixa e Annie, que atendia as mesas, George cuidava do balcão e do almoxarifado e eu fazia a parte de pâtisserie. Só faltava nosso barista. Ninguém sabia que eu e ele tivemos algo ontem, todos foram embora como sempre e se ofereceu para me acompanhar nas compras da semana (alegando que em dois seria mais fácil) e eu aceitei, já que realmente apreciava a sua companhia. Fomos ao mercado juntos e nos divertimos enquanto escolhíamos nozes, damascos e tudo que se imaginaria que poderia fazer com confeitos. Voltamos à cafeteria para colocar tudo em ordem e, quando já estávamos na rua nos despedindo para nos vermos no dia seguinte, me surpreendeu com um beijo que sumiu com todo o ar em meus pulmões.
- Eu estou querendo fazer isso há um tempo – disse com aquele sorriso que fazia meu coração palpitar de modo diferente. Era óbvio que eu o achava bonito, misterioso e charmoso ao ponto de me deixar tonta, mas nunca havia passado pela minha cabeça que ele pudesse querer algo além de amizade profissional comigo. Por este motivo, sem aviso prévio, o agarrei pelo pescoço para mais um beijo, já que o primeiro havia aberto uma porta em meu cérebro que eu não estava mais conseguindo fechar. E este beijo nos levou até seu apartamento, onde tivemos a melhor transa que tive em anos, a química era inegável.
chegou na cafeteria no instante em que Annie estava indo até a porta virar a placa de “Fechado” para “Aberto”, Seus olhos estavam baixos e as sobrancelhas, unidas em uma linha tensa. Senti meu coração dar um baque surdo vendo o modo como ele me ignorou e ignorou as outras pessoas, indo até a parte de trás pegar seu avental.
- Alguém acordou de mau humor... – George comentou, erguendo as sobrancelhas e Annie concordou com os olhos arregalados.
- Calma, gente, deem um tempo ao nosso barista preferido – Louise o defendeu, usando o apelido que costumávamos chamá-lo, e eu concordei com a cabeça, sem coragem de falar nada. Meio minuto depois, ele veio até onde eu estava, já que eu já tinha dito que assumiria a parte de cafés caso ele faltasse, e me pediu licença com a voz embolada. Aquilo me afetou de uma maneira que não achei que fosse e me afastei dele sem conseguir pensar em nada para dizer. Vi-o fazendo um ristretto e bebendo como se fosse uma dose de whisky. amava café, assim como eu. Foi um dos motivos pelo qual o contratei, eu vi o seu amor por café se transformando em palavras enquanto ele respondia o motivo de ter ido até àquela cafeteria para pedir um emprego. Não consegui chamá-lo para conversar, pois o local começou a encher por ser uma avenida movimentada, e sabia que aquele horário do dia era o mais trabalhoso para . Segui para a cozinha, enquanto Annie já cantava os pedidos para Freddie e para mim quando era algo doce.
O dia foi atipicamente movimentado, já que era sábado e aquela semana estava tendo um festival de imóveis que chamava o público de toda a Europa.
Trabalhamos feito loucos sem ter tempo nem para almoçar direito, e, no final do dia, chamei todos para agradecê-los pela semana, como eu fazia todo sábado. Sexta era dia de compras; sábado, de agradecer e, domingo, dia de limpeza pesada. Cada dia da semana tinha uma tarefa extra que fazia com que aquele negócio funcionasse com qualidade.
- Pessoal, eu queria agradecer o comprometimento de vocês essa semana, todos foram pontuais e fizeram um ótimo trabalho. Vou levar a caixinha de sugestões para casa e, caso haja algum problema, resolvemos na próxima semana. Mil vezes obrigada, vocês são demais! – falei, sorrindo sincera. Estávamos no meio da cozinha, em um semicírculo, e todos bateram palmas, inclusive , que, por mais raiva que sentisse de mim naquele momento, ainda se esforçava para ser educado.
- , você consegue ficar mais um pouquinho? – perguntei me aproximando dele enquanto todos retiravam seus aventais para ir embora. Ele concordou sem olhar em meus olhos, desatando o nó das costas enquanto eu respirava fundo, fazendo o mesmo. Quando todos foram embora - alguns com olhares furtivos para nós na esperança de conseguir alguma fofoquinha antes -, vi que ele ficou me esperando na frente da máquina de expresso. Sentei-me no balcão a sua frente enquanto ele mexia no equipamento, preparando um café para si. Eu não sabia como começar aquela conversa, meu coração parecia querer sair pela boca e, quando a abri para iniciar um pedido de desculpas forjado com alguma brincadeira para quebrar o gelo, ouvi sua voz rouca dizer:
- Nós somos adultos, sabe? – pigarreou logo após, limpando a garganta. – Eu não esperava que você fosse querer um buquê de flores ou um anel de compromisso depois de ontem, porque já te conheço o suficiente para saber que você não gosta desse tipo de clichês – ele dizia calmo, pegando uma xícara no balcão, colocando leite na prensa francesa e deixando-o com uma consistência cremosa maravilhosa. – Mas me largar no meio da noite, fugindo silenciosa como uma vítima de um crime hediondo não estava no topo da minha lista de como a noite de ontem ia terminar – a sua voz denunciava o quão chateado ele havia ficado e, como eu disse, eu não me orgulhava de ter feito aquilo.
- , eu... – tentei iniciar, mas ele continuou como se não tivesse meu ouvido.
- Eu realmente achei que você fosse diferente, – ouvi-lo dizer meu nome inteiro depois de ouvir sua voz rouca gemendo no meu ouvido era tão difícil quanto encarar seus olhos duros naquele momento. Ele lambuzava a xícara com caramelo no fundo, antes de colocar o café. – Eu gostei de você desde o momento em que você me entregou o meu avental, me apresentando ao pessoal como o barista mais legal que já tivemos – engoli seco por ele lembrar daquilo, foi no seu primeiro dia. Ele estava nervoso e tremia feito vara verde enquanto fazia os primeiros cafés na máquina. – E eu nutri um sentimento por você por todos esses meses, me alimentando de todos os seus sorrisos, suas brincadeiras e todas as vezes que você tocou em mim para me ensinar um comando novo na cafeteira ou quando tentava me ensinar algo de pâtisserie lá na cozinha. Eu já sabia que estava fodido no dia que fizemos aquela pequena guerra de farinha na cozinha, e eu sabia que estava mais fodido ainda quando você correspondeu àquela droga de beijo – ele disse, colocando o leite cremoso na xícara, fazendo um desenho que não consegui ver e me entregando a xícara logo em seguida, por cima do balcão. Era meu capuccino preferido, o capuccino que só ele sabia fazer. Em cima, tinha um desenho perfeito de um trevo de quatro folhas, símbolo este que eu tinha tatuado no meu quadril onde apenas uma pessoa que tirasse minha calcinha conseguia ver. Ele viu. Engoli seco.
- ... – consegui juntar forças para falar enquanto ele preparava os grãos na máquina para fazer um café para si. – Acho que, antes de tudo, te devo desculpas. Sei que o que fiz foi completamente egocêntrico e desnecessário, já que, como você mesmo disse, somos adultos – eu segurava a xícara que ele havia me dado com as duas mãos, deixando o calor me aquecer do momento gelado em que estávamos. – Eu realmente não consigo fazer uma retrospectiva que me explique o motivo de eu ter saído daquele jeito. Na hora, me parecia o certo – admiti, bebendo um gole da bebida maravilhosa que ele havia feito. Seus olhos com as sobrancelhas unidas queimavam minha pele e tive que desviar o olhar antes de continuar: - Mas acho que um dos motivos de eu ter feito o que fiz é porque eu sabia que, se eu tivesse acordado ao seu lado, eu me apaixonaria por você – falei, lambendo os lábios para tirar a espuma de café da boca. mal deixou a máquina terminar de pingar o seu café e novamente engoliu o mesmo como se fosse uma dose de whisky.
- Porra, , não fala isso para mim – fechou os olhos e suspirou alto. Flashes da noite anterior, onde ele suspirava exatamente do mesmo jeito ao pé do meu ouvido, fez os pelinhos do meu braço se levantarem.
- É verdade – fui sincera, vendo-o contornar o balcão, vindo até mim. – E eu não sei se posso deixar que isso interfira no meu trabalho.
Era mesmo verdade, e o dia de hoje, que não troquei uma palavra ou uma brincadeira com ele, acabou por ser um dos dias mais insuportáveis por qual já passei a minha vida inteira. Vê-lo me ignorar com uma verdadeira mágoa no coração era algo que eu não estava preparada para aguentar.
- Você me desculpa, ? – perguntei, tomando mais um gole do meu café, desta vez o olhando com olhos realmente arrependidos, enquanto ele sentava-se ao meu lado.
- Eu te desculpo, , mas não sei se consigo mais continuar do jeito que estávamos antes. Não depois do que fizemos ontem.
E então eu vi, igual ao momento em que você está prestar a morrer, vi todos os momentos em que passei com durante todos esses meses. Vi o dia em que o entrevistei e o dia em que ele espirrou café em toda a sua roupa, tentando consertar a máquina de expresso, fazendo absolutamente todos no estabelecimento dar gargalhadas. Vi o dia em que ele trouxe um pacote de broas caseiras que havia tentado fazer em casa para que eu experimentasse e também o dia da nossa guerra de farinha. Vi todos os olhares furtivos que ele me dava sem achar que eu percebia e todos os sorrisos verdadeiros que roubou de mim fazendo alguma gracinha.
Merda, eu já estava apaixonada por ele.
- E eu não me arrependo de ter feito, mesmo que isso custe a nossa amizade – continuou ele, me tirando de meu pequeno transe. Terminei meu café maravilhoso e virei meu banco para que ficasse de frente para ele.
- Eu acordei hoje de manhã arrependida. Admito. Mas não pelo que fizemos, e sim por medo e angústia do que poderia vir a acontecer depois. E olha só, você ficou sem olhar na minha cara o dia inteiro – falei, enquanto ele me encarava com o rosto impassível.
- Então você não se arrepende de termos transado na noite passada? – um sorrisinho milimétrico surgiu no canto dos seus lábios.
- Não – falei, criando coragem. – Eu me arrependo de ter ido embora – mal terminei a frase e saiu do seu banco, puxando minha nuca para colar nossas bocas novamente. Sua língua misturou-se com a minha e o gosto de café da sua boca adentrou na minha com a memória nítida da noite passada. Seus dedos penetraram em meu cabelo, fazendo o coque se desfazer, e ele sugou meu lábio inferior, causando-me arrepios, antes de separar nossas bocas. O beijo me deixou atordoada, assim como o da noite anterior.
- Você é pior do que café, . Tudo em você vicia, o seu cheiro, o seu toque e o seu gosto. O que eu vou fazer, agora que eu sei que tudo isso existe, mas não posso ter? - disse com a sua voz rouca e falhada, sem ar por conta do beijo.
- Você pode ter, você sempre me teve – admiti finalmente, fazendo-o sorrir bobo antes de puxar meu rosto para mais um beijo.
Fim.
Nota da autora: O recorde é este, gente! Nunca escrevi uma fic tão curta e um período tão curto de tempo. CINCO PÁGINAS, o suor descendo pela têmpora quando vi o número 5 no Word, mas deu tudo certoooooo kkkkkkkk Mas eu não queria perder mais um especial, sendo que já tinha perdido o de semana passada. Para quem chegou até aqui, muito obrigada! <3
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