Capítulo 1


ELA:


Oito de setembro de dois mil e quinze - Terça-feira

O sonho com o príncipe encantado no cavalo branco poderia nunca acabar, mas o despertador, que ficava na mesinha ao lado da cama, destruía meus sonhos, enquanto eu dormia na cama confortável, coberta com um edredom preto. Resmunguei como se fosse minha mãe me chamando para ir ao colégio, mas essa época já havia acabado há anos.
Abrindo os olhos, como se acordar fosse chato, e logo me virando para pegar o celular, para verificar se havia alguma mensagem de algum ser, logo me levanto com uma preguiça tremenda e a vontade de voltar à cama sendo imensa, mas o dever me chama.
Hoje, haverá uma celebração, ou algo do tipo, de algo que eu não me lembro, mas é relacionado à universidade em que estudo. Havia marcado com meus amigos para nos encontrarmos às nove da manhã em frente ao salão onde aconteceria o evento.
Enquanto me troco e faço as necessidades básicas de todo ser humano, penso no porquê alguém marca uma “festa” pela manhã, numa terça-feira, no meio do mês de setembro.
Pronta para sair, vejo que Joaquim tinha mandado uma mensagem em que perguntava se eu já estava chegando. Respondendo a verdade, digo que sim.

***


— A madame chegou!!! — Joaquim me recepciona.
Sorrio e comprimento com um abraço meu amigo de longa data. Ele havia me convencido a ter vindo, e aqui estou eu.
— Tem como você ficar responsável pela recepção dos convidados? Estou ocupado com a comida lá atrás... — ele pergunta, movimentando as mãos com certo exagero.
— Claro, mas sei exatamente no que você estará ocupado, senhor guloso.
— Querida, preciso manter este corpinho, e ele não ficará lindo e maravilhoso assim, sem a ajuda de certas coisas... — Ele se distancia, enquanto sorrio de sua fala.
As pessoas que foram convidadas chegam aos poucos, mas, mesmo assim, eram oito ou nove gatos pingados no salão.
Ainda é manhã quando a última pessoa chega: um homem, e bonito, até.
— ele fala seu nome para que eu cheque na lista.
— Oi! Fique à vontade! — repito o que havia falado a todos os outros que passaram por mim.

E foi assim que eu vi que a vida colocou ele pra mim
Ali, naquela terça-feira de setembro
Por isso, eu sei de cada luz, de cada cor de cor
Pode me perguntar de cada coisa
Que eu me lembro


As horas (na verdade, se passaram alguns minutos, mas, para mim, foram horas) foram se passando, até que o vem até mim e nós começamos a conversar. Um cara inteligente, bonito, cabelo preto, alto, até, olhos verdes, bonito, porte médio, engraçado e bonito. Ele fala tanto que, em certo momento, enche minha paciência, mas continuo a conversar com o mesmo por toda a educação que minha mãe me deu e, também, por aquela “festa” estar um fiasco. Ele fala, fala, e eu finjo que rio.
Os petiscos, logo, começam a ser servidos, mas nem como, pois é presunto enrolado no melão e não aprecio tanto um melão quanto parece gostar, mesmo preferindo que fosse uma feijoada.
Papo vai, papo vem, após ele se empanturrar no melão, que parecia delicioso à seu ver, começam a vir os assuntos que me interessam: livros; filmes; música etc. No meio disso tudo, tenho certeza que ele havia me cantado, falando que tinha adorado o jeito que eu me vesti, e elogiado minha aparência, mesmo que a única coisa eu que tinha passado em minha face era água, para tirar o excesso de remela da noite.
— Eu vou ter que ir, . — Olha o ponto de intimidade do homem! — Mas vou te ligar, com toda certeza, pois adorei ter te conhecido.
— Tudo bem. Espero que você tenha aproveitado esta festa sem motivo. — Ri e me levantei da cadeira em que eu estava sentada, para dar um abraço de despedida em meu novo amigo.
— Eu adorei, na verdade. Espero que possamos nos reencontrar pelos corredores da uni.
— Claro, claro! — Sigo-o até a porta para me despedir por completo.
— Então... Tchau! — ele diz, dando aquele sorrisinho de lado que amei desde a primeira vez.
— Tchau.
Mas quem disse que um se distanciou do outro? Não nos beijamos loucamente, mas quase... Ou não.
Ele se aproxima, e eu viro meu rosto para que ele possa beijar minha bochecha. Mas quem disse que foi bochecha por completo? Eu me lembro de que teve selinho neste beijo inocente. Pode me perguntar de cada coisa, que eu me lembro como o frescor da folha de hortelã.

E foi assim que eu vi que a vida colocou ele pra mim
Ali, naquela terça-feira de setembro
Por isso, eu sei de cada luz, de cada cor de cor
Pode me perguntar de cada coisa
Que eu me lembro
Eu me lembro


ELE:


Dezessete de dezembro de dois mil e quinze - Quinta-feira

! Acorda, seu mané! — Escuto a voz alta e grossa do meu colega de apartamento gritar através da porta de meu quarto.
— Já estou acordado! — respondo enquanto saio do pequeno banheiro precário que havia no quarto.
Abro a porta e dou de cara com a cara toda amassada de Leandro, o cara que é meu amigo desde as antigas quando erámos dois moleques remelentos tentando jogar futebol no meio da rua. Apesar de nossas diferenças, que são muitas, como o fato de eu ser meio que um garoto nerd, que não sai de casa quase nunca, e ele traz, em todo final de semana, alguma mulher “gostosa”, isso nunca atrapalhou nossa amizade.
— Você vai se atrasar para aquela festinha sem noção da sua universidade! — ele diz enquanto vai até a sala e se joga no sofá para assistir seu glorioso jogo de futebol.
— Ainda é meio-dia. Dá tempo de chegar no horário marcado.
— Você e essa sua mania de chegar na hora. Caralho, véi!
Não respondo, pois os argumentos que ele tem são sempre comentários sem noções, e não suporto responder. Hoje, haverá uma festa de despedida de um colega da universidade em um salão no apartamento de alguém. Como eu e o colega, às vezes, éramos parceiros de trabalho, resolvo ir. A festa começará às duas da tarde, então eu ainda tenho tempo para me enrolar pela cidade, pois servirão, obviamente, algo por lá.
— Estou indo! — digo enquanto pego as chaves do meu carro novo em cima da mesinha que tinha ao lado da porta.
— Adeus! Volte com alguma gostosona!
Impossível.

***


Duas e meia da tarde em ponto, chego ao prédio onde se realizará a festa. Entro, já cumprimentando Lorenzo, que viajará para a Itália amanhã. Interajo com o pessoal que está em volta, mesmo não falando muito, para tentar fugir um pouco da solidão que anda sempre ao meu lado.
São três da tarde quando o elevador apita, mostrando que mais alguém chegou; no caso, uma moça muito bonita, elegante e simpática. Ela vem em minha direção, ou é isso que eu penso.
— Oi, queridos amigos! — ela diz, cumprimentando os outros, já que não me conhece.
— Oi — respondo, mesmo não a conhecendo, após os outros.
Achei que ela tinha me escutado, mas, ao invés disso, ela foi ao outro lado do salão, falar com outro cara.

E foi assim que eu vi que a vida colocou ela pra mim
Ali, naquela quinta-feira de dezembro
Por isso, eu sei de cada luz, de cada cor de cor
Pode me perguntar de cada coisa
Que eu me lembro


A festa está bastante animada, as pessoas passam por mim, conversam um pouco e vão ao outro lado, e eu fico lá, parado, tomando alguns drinks. Um pouco depois, colocam em uma mesa uma panela com feijoada, uma das comidas típicas, que eu tanto adoro, do Brasil. Aproveito que não comi nada, além de um pão com maionese, e pego um prato, e encho com feijão com pedaços de porco. Enquanto como, percebo que a moça bonita, que tinha chegado às três da tarde, fica me olhando e, quando estou me deliciando de um pedaço de calabresa, ela chega perto e senta-se à mesa em que estou sentado, assim, começando uma conversa. Infelizmente, tenho que deixar meu prato quase no fim de lado, para dar atenção à mulher maravilha em minha frente.
Papo furado veio, papo furado foi, um ser que eu desconhecia surge dentro de mim. Conversamos sem nenhuma restrição, sem vergonha alguma, e a conversa fluiu, que nem percebemos o tempo passar. Ela me achou muito engraçado, e eu não faço ideia do porquê, nunca havia sido bom com piadas em geral e, quando estava em minha adolescência, era um desastre com as meninas. Trocamos nossos números de telefone, para que pudéssemos continuar a conversar em outra hora, ou, até mesmo, nos encontrarmos pela faculdade em que estudamos.
Em meio ao nosso bate-papo, paro um pouco para analisá-la melhor, disfarçando com total destreza, e me admiro de ela não ter percebido, até o momento, que sua blusa está do lado errado. Apesar de toda a educação que meus pais me deram, não falo nada, pois me encantei mais ainda com a pequena mulher que está me encantando a cada segundo, minuto e hora.
— Eu vou ter que ir, — despeço-me de , este era o nome dela, pois vejo que já era bem tarde e não quero que meu apartamento esteja cheio de mulheres seminuas pelo aproveitamento de Leandro. — Mas vou te ligar, com toda certeza, pois adorei ter te conhecido.
— Tudo bem. Espero que você tenha aproveitado esta festa sem motivo. — Ela ri e levanta-se da cadeira em que estava sentada enquanto conversávamos.
— Eu adorei, de verdade. Espero que possamos nos reencontrar pelos corredores da uni.
— Claro, claro! — Ela me acompanha enquanto nos dirigimos em direção ao elevador.
— Então... Tchau! — despeço-me, já percebendo que o elevador está quase no nosso andar.
— Tchau! — ela diz, sorrindo.
Aproximo-me de para lhe dar um beijo na bochecha, mas, acidentalmente, beijo o canto de sua boca; mesmo sendo rápido e ter beijado somente o canto da boca de , eu me lembro deste simples gesto que ficou em minha memória pelo resto de minha vida.

E foi assim que eu vi que a vida colocou ela pra mim
Ali, naquela quinta-feira de dezembro
Por isso, eu sei de cada luz, de cada cor de cor
Pode me perguntar de cada coisa
Que eu me lembro
Eu me lembro


Fim



Nota da autora: (03/03/2017) Espero que tenham gostado da short, meio louca ela? Sim. Mas a música também tem seus quesitos de loucura hahah Se quiserem me acompanhar nesta jornada de histórias, entrem no meu grupo do Facebook: https://www.facebook.com/groups/1235642799801709/ . Beijos polêmicos à la Clarice!




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