Prólogo
Observei o prédio branco com alguns detalhes laranja em minha frente e suspirei. Você não pode desistir, disse a mim mesma e suspirei. As letras ID estavam até que discretas para o prédio de seis andares em Boston, longe do centro. Afinal, nenhum prédio de assessoria gostaria de ser um ponto no meio da cidade com luzes neons apontando para ele com a frase “estou aqui” para quem tivesse o interesse de ir lá e encher o saco de alguns dos astros e empresas mais famosas e lucrativas da atualidade.
Conferi o horário em meu relógio e, como sempre, estava 15 minutos adiantada. Conferi em minha mão a pasta transparente com alguns de meus releases mais novos, um portfólio e também algumas cópias atualizadas do meu currículo. Conferi se todos os botões da minha blusa social branca estavam fechados e se a calça social preta não havia nenhum resquício do meu almoço. Meus saltos pretos estavam ajeitados e meu rabo de cavalo não aparentava ter nenhum fio arrepiado saindo dele. Suspirei, 10 minutos. Hora de entrar.
As portas se abriram assim que coloquei o pé mais próximo a ela, sentindo o ar gelado em comparação ao quente de Boston naquela segunda-feira à tarde. Obriguei meus pés a andar até o balcão da recepcionista, apoiei levemente a pasta que estava em minhas mãos e recebi um sorriso simpático da ruiva com sardas no rosto.
- Olá, posso te ajudar? – Ela falou com a maior simplicidade do mundo, mantendo o sorriso branco em seu rosto.
- Eu tenho uma entrevista às 14 horas com Kelly Bush Novak. – Falei, tentando manter a confiança em meu peito, mas minhas pernas pareciam uma gelatina, estavam prontas a despencar e, devido à minha altura, não seria uma queda muito pequena.
- Claro. , certo? – Confirmei com a cabeça, mantenha-se sorrindo, sorria. – Irei chamá-la, fique à vontade!
Virei meu corpo de lado e vi que, dos dois lados da porta, haviam sofás de couro branco vazios, só eu estava lá. Andei calmamente até um dos sofás e me sentei, apoiando a pasta em meu colo e a bolsa por cima.
- Senhorita ? – Ergui meu rosto, dando de cara com uma mulher com os cabelos bem curtos e loiros, possuía um sorriso gracioso e um terninho executivo berinjela em seu corpo, não deveria ter mais de 55 anos.
- Sou eu! – Ela abriu um sorriso, estendendo a mão para mim, e fiquei um pouco confusa se eu me levantava, apertava a mão dela ou se pegava minhas coisas.
Escolhi por apertar sua mão e depois levantar.
- Me acompanhe, por favor!
Eu a segui, passando pelos detectores de metais, pelos seguranças e por alguns olhos curiosos que eu tinha certeza que pensavam que eu era um peixe fora d’água e que realmente não deveria estar ali. Confiança, , confiança. Fui levada para uma sala com um ar condicionado mais forte ainda e agradeci mentalmente por ter escolhido uma blusa de manga cumprida, só esperava que eu não estivesse suando pelo pouco tempo que ficara lá fora.
- Fique à vontade! – Ela apontou para uma das cadeiras na ponta da mesa e eu me sentei, vendo-a fazer o mesmo do lado contrário.
Apoiei a pasta na mesa de mogno escuro e minha bolsa se manteve em meu colo.
- Então, ... Conte-me um pouco de você. O que uma brasileira faz perdida em Boston? – Achei a pergunta até que engraçada, pois Boston era um dos lugares com maior foco de brasileiros no mundo, mas não deixei me abalar.
Senti meus ombros relaxarem e tentei fazer com que minha voz saísse o mais normal possível. A conversa fluiu, dei graças a Deus pelo meu inglês não falhar, ou não ter acontecido de Kelly fazer alguma pergunta que eu confundisse com a tradução literal e desse algum vexame. Depois de um tempo, eu realmente me mantive calma... Até ela fazer a última pergunta.
- Por que eu devo contratar você, uma jornalista, e não os RPs que eu entrevistei essa manhã?
Eu não sabia me vender, e também não estava esperando por aquela pergunta. Suspirei e tentei me lembrar das aulas de assessoria na faculdade, onde as discussões Jornalista x Relações Públicas eram constantes. Minha voz saiu calmamente, minha descendência italiana descansou, fazendo com que minhas mãos não se mexessem tanto, e pude formular com calma a resposta que estava guardada há uns nove anos em minha boca. Ela sorriu.
Conferi o horário em meu relógio e, como sempre, estava 15 minutos adiantada. Conferi em minha mão a pasta transparente com alguns de meus releases mais novos, um portfólio e também algumas cópias atualizadas do meu currículo. Conferi se todos os botões da minha blusa social branca estavam fechados e se a calça social preta não havia nenhum resquício do meu almoço. Meus saltos pretos estavam ajeitados e meu rabo de cavalo não aparentava ter nenhum fio arrepiado saindo dele. Suspirei, 10 minutos. Hora de entrar.
As portas se abriram assim que coloquei o pé mais próximo a ela, sentindo o ar gelado em comparação ao quente de Boston naquela segunda-feira à tarde. Obriguei meus pés a andar até o balcão da recepcionista, apoiei levemente a pasta que estava em minhas mãos e recebi um sorriso simpático da ruiva com sardas no rosto.
- Olá, posso te ajudar? – Ela falou com a maior simplicidade do mundo, mantendo o sorriso branco em seu rosto.
- Eu tenho uma entrevista às 14 horas com Kelly Bush Novak. – Falei, tentando manter a confiança em meu peito, mas minhas pernas pareciam uma gelatina, estavam prontas a despencar e, devido à minha altura, não seria uma queda muito pequena.
- Claro. , certo? – Confirmei com a cabeça, mantenha-se sorrindo, sorria. – Irei chamá-la, fique à vontade!
Virei meu corpo de lado e vi que, dos dois lados da porta, haviam sofás de couro branco vazios, só eu estava lá. Andei calmamente até um dos sofás e me sentei, apoiando a pasta em meu colo e a bolsa por cima.
- Senhorita ? – Ergui meu rosto, dando de cara com uma mulher com os cabelos bem curtos e loiros, possuía um sorriso gracioso e um terninho executivo berinjela em seu corpo, não deveria ter mais de 55 anos.
- Sou eu! – Ela abriu um sorriso, estendendo a mão para mim, e fiquei um pouco confusa se eu me levantava, apertava a mão dela ou se pegava minhas coisas.
Escolhi por apertar sua mão e depois levantar.
- Me acompanhe, por favor!
Eu a segui, passando pelos detectores de metais, pelos seguranças e por alguns olhos curiosos que eu tinha certeza que pensavam que eu era um peixe fora d’água e que realmente não deveria estar ali. Confiança, , confiança. Fui levada para uma sala com um ar condicionado mais forte ainda e agradeci mentalmente por ter escolhido uma blusa de manga cumprida, só esperava que eu não estivesse suando pelo pouco tempo que ficara lá fora.
- Fique à vontade! – Ela apontou para uma das cadeiras na ponta da mesa e eu me sentei, vendo-a fazer o mesmo do lado contrário.
Apoiei a pasta na mesa de mogno escuro e minha bolsa se manteve em meu colo.
- Então, ... Conte-me um pouco de você. O que uma brasileira faz perdida em Boston? – Achei a pergunta até que engraçada, pois Boston era um dos lugares com maior foco de brasileiros no mundo, mas não deixei me abalar.
Senti meus ombros relaxarem e tentei fazer com que minha voz saísse o mais normal possível. A conversa fluiu, dei graças a Deus pelo meu inglês não falhar, ou não ter acontecido de Kelly fazer alguma pergunta que eu confundisse com a tradução literal e desse algum vexame. Depois de um tempo, eu realmente me mantive calma... Até ela fazer a última pergunta.
- Por que eu devo contratar você, uma jornalista, e não os RPs que eu entrevistei essa manhã?
Eu não sabia me vender, e também não estava esperando por aquela pergunta. Suspirei e tentei me lembrar das aulas de assessoria na faculdade, onde as discussões Jornalista x Relações Públicas eram constantes. Minha voz saiu calmamente, minha descendência italiana descansou, fazendo com que minhas mãos não se mexessem tanto, e pude formular com calma a resposta que estava guardada há uns nove anos em minha boca. Ela sorriu.
Capítulo 01
I'll meet you there
(Não importa aonde a vida me leve
Eu irei te encontrar lá)
Simple Plan, Meet You There
Assim que as portas de vidro se abriram, um rosto cheio de sardas e os cabelos ruivos já sorriam para mim, me esperando de pé. Sorri de volta.
- Vamos? A senhora Novak quer falar contigo antes de você começar. – Afirmei com a cabeça, ajeitei minha bolsa vinho no braço e acompanhei Genevive, a ruiva, pelo corredor com detector de metais e os seguranças.
Os homens fizeram um gesto com a cabeça, me cumprimentando. Repeti o gesto. Caminhamos pelos longos corredores da ID até estarmos dentro de um elevador. Genevive pressionou o botão seis e a porta se fechou atrás de mim.
Não falamos nada pois, pela rapidez do elevador, não daria tempo para isso. Quando chegou ao andar desejado, Genevive me deu um sorriso empolgado e eu saí do elevador, vendo as portas se fecharem rapidamente, e notei que ela não havia saído. É agora que eu fico nervosa?
Dei passos lentos em direção à sala enorme que se estendia pelo sexto andar. Não havia portas de divisão, somente uma que deveria ser o banheiro. Em compensação, todas as paredes eram da metade para cima de vidro fosco, que eu sentia que poderia se transformar em uma persiana rapidamente, deixando a senhora Novak com mais privacidade.
Ela estava lá, com os óculos escuros no rosto, um novo vestido – verde escuro, dessa vez – e os mesmos saltos que eu já reconhecia em seus pés. Assim que eu dei um passo um pouco mais forte, ela ergueu os olhos, abrindo um sorriso de lado, indicando uma das cadeiras em sua frente.
- Fico feliz que esteja aqui conosco, . Primeiramente, bem-vinda! Espero que goste da ID, e claro, que se sinta confortável para tirar qualquer dúvida que possa vir a ter em sua carreira ou em seu ambiente de trabalho. É muito bom ter alguém mais jovem aqui, fazia um tempo já. – Ela deu uma risada e eu me senti confortável em seguí-la.
- Obrigada, senhora Novak, é um prazer estar aqui. Eu sempre gostei de assessoria, então é muito bom poder trabalhar no que eu gosto.
- Nada de senhora, me chame de Kelly, por favor. – Assenti com a cabeça, concordando. - Vamos dar uma volta e te apresento a algumas pessoas? – Ela falou, já se levantando de sua confortável cadeira preta e eu repeti o gesto.
Ela já estava me esperando com as portas do elevador abertas. Passamos por todos os andares da empresa de assessoria. Os primeiros quatro andares eram salas de alguns dos assessores que trabalhavam em Boston ou de suas equipes. No quinto andar, era o estúdio fotográfico. No sexto, era somente a sala de Kelly, junto com um espaço para os seguranças e sala de reuniões. Após toda a apresentação, voltamos ao quarto andar, com ela falando sobre meu novo trabalho.
- Bem, como sabe, temos várias equipes com assessores chefes em cada equipe e, analisando seu currículo e suas respostas na entrevista, achamos que você deve ficar na equipe da Megan Pachon. Ela é só alguns anos mais velha que você e cuida de artistas como Amy Adams, Emily Deschanel, Rachel Weisz e Chris Evans.
Abri um sorriso discreto de lado. Eu era, secretamente, fã do Chris Evans e viciada em filmes da Marvel, mas tentei me conter.
– Boa parte da equipe da Megan fica em Los Angeles, tirando uma parte que ficará aqui em Boston, cuidando de assuntos, especialmente do senhor Evans, já que ele é daqui. – Assenti com a cabeça.
No quarto andar, havia três portas e, em uma delas, o nome Megan Pachon – Equipe estava em destaque. Foi nessa porta que entramos. Era uma pequena sala, com as paredes brancas e os sofás de couro preto. No meio, uma mesinha de centro de madeira escura e alguns papéis jogados em cima dela de um modo aleatório. À direita, havia uma pequena copa com alguns utensílios culinários, mas continuamos em frente. Da sala, havia mais quatro portas e somente duas estavam abertas, incluindo uma com os dizeres – Jornalista, que aparentava ter sido recém-acrescentada na porta escura.
- Seja bem-vinda, senhorita . – Uma voz mais grossa veio por trás de nós e me virei.
Um rapaz alto em um terno escuro e com a barba cheia estava parado atrás de nós. Ele mantinha as duas mãos em frente ao corpo e um sorriso até que fofo nos lábios.
- , esse é Derek, ele faz parte da equipe de Megan aqui em Boston mas cuida de casos um pouco mais tensos, as atrizes. – Kelly falou com delicadeza.
- Você deu sorte, novata, vai ficar com os atores. Eles são menos rebeldes do que as atrizes de Hollywood. – Ele falou, acariciando de leve meu ombro e abrindo um largo sorriso.
- Exatamente por isso, Derek. Não queremos assustar a menina, certo? – Kelly falou e, ao mesmo tempo mexeu, no bolso de seu terninho, pegando um celular preto de onde agora era possível ouvir o barulho dele vibrando em sua mão. – Com licença. – Ela falou, se afastando e, mesmo ela a poucos centímetros do meu lado, não conseguia mais ouvir sua voz.
- Seja bem-vinda, ... Posso te chamar de , certo?! – Abri um sorriso de lado e confirmei com a cabeça. – Somos quatro aqui, contando com a Megan, mas ela passa muito tempo em Los Angeles e hoje a Ruth não veio. Ela foi fazer um ultrassom para saber o sexo do bebê, estou muito empolgado com isso. – Ele abriu a porta que continha meu nome e entramos no pequeno espaço.
Eu abri um sorriso largo, porque ele sorriu ao meu lado e me empurrou de leve com o ombro. A sala tinha as paredes brancas e a que ficava de costas para a porta era metade de vidro, igual à de Kelly. Os móveis eram em branco e preto, todos eles. Havia uma escrivaninha branca com detalhes pretos exatamente no meio da sala, e uma poltrona preta e duas cadeiras aparentemente macias em frente à mesa. Um pouco na diagonal, um armário e um cabideiro também pretos completavam a sala. Em cima da mesa, ainda havia um notebook fechado, alguns post-its, blocos, telefone e algumas coisas que eu achei que seriam necessárias.
- Isso é demais! – Falei um pouco mais alto, ouvindo Derek sorrir ao meu lado.
- Que bom que gostou, senhorita ! – Kelly falou atrás de mim, tocando meus ombros levemente. – Eu preciso sair, é uma emergência familiar. Derek, por favor, mostre o resto do local para e, depois, fale um pouco sobre suas responsabilidades. – Ele acenou com a cabeça e eu também, os dois sorrindo. – E ... – Nossos olhos subiram para ela. – Seja bem-vinda, mais uma vez, à ID.
Entrei na sala e acendi a luz, vendo toda a sala se iluminar com as luzes do teto e de um abajur alto na escrivaninha. Entrei pelo cômodo, andando por ele e parando em frente ao vidro que cobria metade da extensão da sala. Apoiei minhas mãos no batente e encarei a cidade lá embaixo. Por mais que estivéssemos um pouco longe do centro, o movimento era ainda intenso, nada muito exagerado, mas era possível ouvir o barulho dos carros e da cidade mesmo com as janelas fechadas.
- Megan deu uma olhada em seu currículo e realmente ficou interessada por alguém que saiba mexer em redes sociais, sites, edições e alguns segredos a mais que seu portfólio nos mostrou. – Eu me virei para encará-lo, parado no batente da porta.
- Vou cuidar da parte online então? – Ele abriu um largo sorriso, e eu ri também.
- Sim. Espero que você goste, somos quase uma família aqui, e espero que possa se sentir parte dela, brasileirinha.
- Obrigada, Derek, é muito bom estar aqui, muito mesmo. Eu sempre gostei de assessoria e poder trabalhar nisso, depois de sete anos formada... Isso é bom demais! É finalmente se sentir livre, independente, é a...
- Melhor sensação do mundo? – Ele completou minha frase, e eu dei uma risada.
- Pois é! – Derek riu e me estendeu a mão. – Hoje você não vai trabalhar porque, afinal, Megan está em Los Angeles cuidando de algumas coisas do Chris Evans, então... Café? – Olhei para ele meio em dúvida e ele riu, mantendo a mão estendida. – Eu estou no comando aqui agora e, realmente, você precisa de um café para relaxar. – Abri um sorriso de lado e segurei sua mão.
Havia uma Starbucks na esquina da ID e poucas pessoas a frequentavam. Reconheci algumas pessoas que eu vi na agência, mas que não se deram o trabalho de me cumprimentar, e eu não fiz o mesmo para ficar com a mão erguida.
Sentamos em uma mesa próxima a uma das janelas – esse povo gosta de janelas e vista, isso é fato – e fizemos nossos pedidos. Pedi um café com creme e um muffin para acompanhar, e ele pediu só o café. Assim que nossos pedidos chegaram, Derek se interessou em minha história.
- O que uma brasileira veio fazer em Boston? Você não veio para tentar uma vida melhor que eu sei. – Ele me encarou, dando um gole em seu café.
- Consegui uma bolsa para fazer pós-graduação aqui, de um ano. eles bancaram tudo, e incluía um trabalho na assessoria da faculdade, mas falta somente um mês para minhas aulas acabarem e eu realmente não quero ir embora de Boston agora. Acho que essa cidade me cativou. Aí eu saí distribuindo currículos pela cidade até cair aqui na ID. Achei que seria um passo maior do que minhas pernas pelo fato de ser uma agência de assessoria bem ampla mas, pelo jeito, não. – Sorri, dando uma pequena mordida no muffin de chocolate com chocolate branco.
- Precisamos de pessoas novas, renovar o estoque um pouco, pessoas que não enlouqueçam logo na primeira semana quando derem de cara com algum famoso com uma crise, mas também precisamos de pessoas com o pensamento diferente. E você é brasileira, aposto que tem diferentes meios de pensar. – Ele suspirou e apoiou o copo na mesa.
- Espero que eu possa colaborar com isso. – Ergui meu copo e ele fez o mesmo, tocando no meu em um rápido brinde.
Pude conhecer um pouco de Derek, que tinha 27 anos, a mesma idade que a minha, formado em Jornalismo também, nascido e criado em Boston. Cuidava dos casos mais complicados, como artistas em surto, e às vezes acompanhava as clientes em eventos. Ele era casado com Rupert há pouco mais de três anos, e descobri que Rupert era igual a ele porém ruivo, um pouco mais alto, grande e mais velho.
Contei um pouco de minha mãe e minha irmã que ficaram no Brasil, meu pai que já era falecido e sobre algumas antigas experiências amorosas minhas. Todas desastrosas, preferi frisar, fazendo-o rir. Falei um pouco de meus gostos, de experiências anteriores, até que o assunto passou a ser ele.
Derek parecia ser uma ótima pessoa, não superficial e muito menos interesseira. Era o tipo de pessoa que eu gostaria de ter por perto, um amigo talvez, já que não havia feito nenhum laço muito forte na pós, só com alguns brasileiros que foram comigo para lá e que acabaram se tornando meus amigos por conveniência.
Os dois primeiros meses passaram voando. Eu fiquei arrumando sites e redes sociais de todos os famosos da sessão de Megan, conhecendo um pouco mais do comportamento deles e projetos futuros aos quais eu deveria ficar atenta. Megan era uma pessoa legal, ela deveria ter no máximo 10 anos a mais que eu. Era um pouco mais baixa, tinha os cabelos loiros um pouco desbotados e usava óculos de grau, como eu. Vestia-se um pouco mais informalmente do que eu e Derek, e percebi com o tempo que poderia vir mais confortável para o trabalho.
No começo do terceiro mês em que eu trabalhei lá, meus trabalhos de campo iriam começar. Chris Evans estava gravando Capitão América 2: O Soldado Invernal e estava ficando muito em Washington e Cleveland, mas Megan não poderia ficar muito tempo com ele, tendo que se dividir entre seus outros clientes. Pois é, fui designada para essa viagem, e agora?
- Você pode ficar bem tranquila, , não se preocupa não. Você cuide da agenda dele, certifique-se que ele estará no set e nos compromissos pessoais na hora e local exato. Terá um carro à disposição de vocês, - Megan falava enquanto andava pela sua sala, e eu ouvia parada da porta. – com o contrato da Marvel. Chris já passou várias vezes por isso, ele sabe o que deve fazer e muito mais: sabe o que não deve fazer. – Ela parou em minha frente, entregando uma pasta grossa com Chris Evans escrito à caneta na capa, provavelmente o arquivo mais longo que eu já havia visto na minha vida. – Mas relaxa, Chris nunca se envolveu em escândalos. Ele mal sai de casa, na verdade. – Ela suspirou. – Ele precisa sair. – A última parte ela falou um pouco mais baixa.
- E como vai ser? Como eu faço? Devo estar me confundindo. – Falei, tentando procurar as palavras exatas.
- Chris está aqui em Boston visitando sua família hoje. À noite, vamos nos encontrar para vocês se conhecerem. Eu vou passar as últimas informações, horário de viagens, hotel, compromissos e tudo mais...
- Você precisa falar mais devagar, Megan! – Eu a interrompi, a fazendo rir.
- Eu sei, mas não consigo, é simplesmente viciante. – Ela abriu um sorriso e olhou para o relógio. – Bem, são quase 17 horas. Acho que você pode ir para sua casa, não é como se tivesse algo para me entregar. - Ela acrescentou um tablet onde a imagem do novo hotsite de Chris Evans estava sendo montado. – Parabéns, está tudo aprovado! – Eu sorri, desligando o aparelho e colocando tudo em minha mesa, livrando o espaço no corredor.
- Obrigada! – Ambas sorrimos. – Bem, então... A gente se vê às 19h30 no restaurante, certo?
- Certo. Qualquer imprevisto, eu te ligo, mas não creio que vá ter. Se ele se atrasar dois minutos, ele sabe que é um homem morto! – Ela afirmou com a cabeça, me fazendo soltar uma risada fraca.
Juntei todos os materiais em minha mesa e desliguei o computador antes de encarar o logo da ID no plano de fundo. Já fazia dois meses que eu trabalhava lá e ainda parecia um sonho. Havia conhecido alguns dos famosos, tanto da equipe da ID como da equipe pessoal de Megan. Na minha porta, não encontrava mais só meu nome e minha formação e sim algo um pouco mais intimidador: as palavras Equipe Chris Evans. Foram acrescentadas somente alguns dias depois de eu conhecer Megan, mas aquela noite seria a primeira vez em que eu iria conhecer o próprio Chris. Devia assumir que estava um pouco nervosa com a situação, mas não era como se eu fosse fugir de minhas responsabilidades.
Megan havia me recebido muito bem. Contara-me que, quando meu currículo apareceu nas mãos dos assessores principais, ela ficou realmente louca atrás de mim devido aos meus conhecimentos específicos de informática. Ela poderia estar falando aquilo só para me agradar, mas suas palavras aparentaram ser sinceras, e eu estava me sentindo muito bem recepcionada naquele meio todo. Além de Megan, Derek e eu, o quarto nome da equipe era Ruth. Ela era estagiária, 21 anos, mas gostava muito dessa área e era muito feliz por poder trabalhar nesse campo. Ela só trabalhava na parte da tarde e não assumia grandes responsabilidades. Na maioria das vezes, seu texto passava em minhas mãos, nas de Derek ou nas de Megan antes da publicação, em qualquer lugar que fosse, mas ela cuidava da parte de recebimento e encaminhamento de e-mails, fazendo com que só os realmente relevantes caíssem nas mãos de nós três. Por mais nova que ela fosse, tinha tirado uma licença devido à sua gravidez. Quando Derek me contou a respeito disso, pensei que ela fosse um pouco mais velha.
Ouvi a porta destravar atrás de mim e a empurrei, quase caindo no chão do meu apartamento. Coloquei as pastas e papéis em cima da mesa do telefone, que ficava ao lado da porta e, antes de fechar a porta, pendurei a bolsa no cabideiro acima da mesa. Andei mais um pouco, larguei a chave em cima da mesa de jantar e corri para minha larga cozinha para beber um pouco de água antes de suspirar. Eu tinha 27 anos e ainda sentia um orgulho enorme quando alguém elogiava algum trabalho que eu fazia bem. Parecia uma aluna no primário que recebia uma estrela dourada ou uma nota 10 e um parabéns escrito na prova, mas era algo que talvez nunca mudaria.
Eu havia alugado um apartamento quando minha pós acabou. Na teoria, era para eu voltar para o Brasil e pronto mas, com o emprego, consegui um visto de trabalho e aluguei um apartamento há algumas quadras da agência, em um condomínio familiar. Não era muito grande mas, como eu morava sozinha, não era como se eu me importasse. Era composto de uma suíte, onde eu tinha uma grande e alta cama de casal decoradas em tons de rosa e vermelho, um armário e uma cômoda nas laterais. No outro quarto, que era o menor, eu havia criado um escritório. Claro que cabia tudo aquilo em meu quarto mas, como era só meu, gostava de espaços abertos. Além da suíte, havia mais um banheiro ao lado do escritório, uma sala de estar dividida em três espaços: sala de estar, jantar e de TV, que eu havia transformado somente em uma sala de estar com TV – se isso fizer algum sentido. E ao fundo, a minha cozinha, estilo americana, com tons verdes e azuis e janela que dava de frente para o fogão. Dali, podia ver o nascer do Sol de uma forma espetacular.
Joguei minhas roupas no cesto e peguei os arquivos, colocando-os em meu escritório. Tomei alguns deles para saber por pelo menos quantos dias eu ficaria em Washington, porque eu precisava fazer a mala. Logo na primeira página, havia as palavras “Última semana de gravações” e, com isso em mente, eu fiz a mala para pouco mais de sete dias. Como tinha alguns eventos, acrescentei alguns vestidos mais bonitos na mala. Com alguma dificuldade, eu consegui fechá-la. Eu precisava de uma mala nova.
Assim que estava pronta, notei em meu relógio que já passara das 18h30 e eu já estava relativamente atrasada, pensando no trânsito de Boston. Droga! Puxei um vestido branco e azul com detalhes em vermelho no meu armário, saltos nude e saí correndo para o banheiro. Eu me arrumei rápido até, só precisava secar meu cabelo, fazer uma leve maquiagem e, claro, me vestir. Conferi o relógio de novo. Que droga!
Enquanto descia as escadas do meu prédio – sim, escadas, porque o elevador estava quebrado e eu morava no nono andar –, peguei meu telefone e liguei para um táxi. Eu estava muito atrasada.
- Deixa para lá! – Falei para o senhor no telefone quando um táxi freou em frente ao condomínio assim que eu estendi a mão. – Para o centro, por favor! – Falei rapidamente, ajeitando minha bolsa em meu colo e conferindo se meus documentos e carteira estavam lá.
O táxi estacionou em frente ao hotel em que o restaurante ficava e eu paguei o taxista rapidamente, acho que acabei agradecendo em português sem nem ter notado. Eu preciso de um carro, foram meus últimos pensamentos antes de entrar no hotel. Só notei que estava quase correndo quando o segurança na porta do restaurante me olhou com uma cara um pouco suspeita.
- Desculpa! – Sussurrei, entrando mais devagar no restaurante e dando de cara com uma maître muito bonita em um vestido preto e muito bem maquiada.
- Boa noite! – Ela falou, exibindo um belo sorriso branco.
- Boa noite, é... – Interrompi um pouco, me perdendo nas palavras – Reserva no nome de Megan Pachon.
- Senhora ? – Confirmei com a cabeça. – Me siga, por favor.
A maître mudou de postura rapidamente, parecia mais rígida e eu realmente não sabia se eu ficava da mesma maneira ou não. Caminhamos até o fundo do restaurante e subimos por uma escada em espiral, onde as luzes não tinham o tom mais branco e sim um pouco amarelado, quase vintage.
Assim que eu coloquei meus pés no último degrau do lance de escadas, pude ver Megan. Ela estava como a Megan que eu conhecia de sempre, um vestido azul bem escuro, sem decote nenhum, os cabelos soltos jogados de lado e uma maquiagem quase imperceptível. E ao seu lado, eu podia achar que era um deus grego, até lembrar seu nome.
- ! – Megan levantou, me abraçando assim que a maître nos deixou, e eu abri um sorriso, sentindo seus braços passarem por meu corpo em um rápido abraço.
- Desculpa o atraso. – Falei de modo que só ela ouvisse e ela riu próximo ao meu ouvido.
- Relaxa... Você está um arraso! – Ela falou e eu soltei uma risada ao mesmo tempo em que ela me soltou. – Quero te apresentar uma pessoa! – Ela não estava falando comigo, estava falando com ele.
Estava com uma calça jeans clara, uma de suas famosas botinas no pé e uma simples blusa azul com uma pequena abertura na gola em V. Ele se levantou ao meu lado e pude medir nossa altura um pouco. De salto, eu ficava da mesma altura que ele, e aquele cheiro de perfume de grife... Eu realmente sabia quem estava do meu lado, e era a mesma pessoa que eu acompanharia a partir daquele momento.
- Ela vai cuidar de você por um tempo. Por favor, é uma das melhores em nossa equipe. Não seja chato, ok?! – Ouvi a risada de ambos e senti a mão de Megan em minhas costas esquentarem.
Respirei devagar, sentindo meus ombros caírem um pouco. Seu olhar encontrou com o meu e eu precisei abaixar a cabeça por um momento ou iria desmaiar. Ele estava loiro, por causa do papel de Capitão América, e sua barba estava começando a crescer de novo. Ele estendeu a mão e eu fiz o mesmo, sentindo um choque da minha mão gelada com a sua incrivelmente quente.
- Essa é , nossa nova assessora, que vai cuidar de você por um tempo! – Ela tirou a mão das minhas costas e era a hora em que eu precisava me virar sozinha.
- Oi! – Falei, me sentindo uma boba dois segundos depois.
- Oi, Chris Evans! – Ele falou abrindo um largo sorriso.
Minha mão ficou segurando a dele por um tempo. Sendo bem honesta, eu não sabia se estava perdida naqueles olhos azuis, no sorriso branco, na brecha da sua blusa onde sua tatuagem podia ser vista ou se ele não havia soltado minha mão mesmo e mantinha aquele sorriso lindo para mim. Um pigarro de Megan me fez voltar para a realidade em rápidos segundos, me destravando.
- Sou ! – Ele manteve o sorriso largo e sentamos nas cadeiras, eu à sua frente e Megan à minha esquerda.
Ok, agora você tenta relaxar, , é um jantar de negócios.
Eu tentei prestar atenção mesmo no cardápio que o garçom havia colocado em minha frente, tentei realmente analisar as diversas opções de carnes, frangos e peixes, mas estava quase impossível. Eu juro, aqule homem cheirava à perfume, e cheirava muito bem. Enquanto escolhíamos, todos ficaram em silêncio. Não sei se era em respeito a mim, ou se era comum assim, mas logo o garçom nos interrompeu e a atenção foi focada em mim novamente.
- Gostariam de beber alguma coisa, senhores? – O senhor de meia idade se aproximou com um guardanapo pendurado em seu braço.
- Eu bebo um vinho! – Megan falou, direcionando o olhar para mim.
O que ela queria que eu falasse?
- Eu aceito também. Um vinho tinto, por favor! – Ouvi a voz de Chris e tentei prender a respiração por alguns segundos. – Você aceita, ? – Ergui meus olhos um pouco arregalados do cardápio, tentando assimilar se era comigo mesmo.
- Claro! – Abri um sorriso de lado. – Por favor! – Eu me direcionei ao garçom.
- Por favor! – Evans falou, acenando para o garçom também.
Ok, , tá tudo certo!
Demorou poucos minutos até que nossas taças estivessem cheias do líquido avermelhado e para que eu me segurasse para não virar aquela taça inteira goela abaixo. Era só eu ou estava realmente quente ali? , para, que saco!
O silêncio estava realmente me incomodando e eu era comunicadora, não conseguia ficar quieta por muito tempo. Mas antes que eu pudesse falar alguma outra coisa, o garçom apareceu de novo para anotar nossos pedidos. Dessa vez, eu fui a primeira a falar. Pedi um salmão com um risoto e voltei a ficar muda em meu canto. Agora sem ter o cardápio em minhas mãos para me distrair, eu ficava passando meus olhos desde a contagem de dentes em cada garfo sobre a mesa até quantas flores havia nos arranjos do restaurante inteiro.
- Então... – Ouvi minha voz sair e me assustei por um segundo, relaxando os ombros.
- Vamos falar de negócios então? – Megan falou, apoiando as mãos sobre a mesa.
- Espera a comida chegar antes, Megan, não rola falar de compromisso de barriga vazia! – Chris falou, se espreguiçando à minha frente, e eu soltei uma risada fraca discreta. – Vamos falar de você, !
- Oi? – Eu me assustei um pouco, tendo que encarar aqueles olhos azuis em minha frente e tentei me manter calma. – Ah sim! Eu... Bem, não é como se eu tivesse muito para contar da minha vida!
- Bem, você está aqui em Boston, eu sei que é brasileira... Alguma história você tem, e eu gostaria de ouvir! – Ele apoiou os ombros na mesa, se ajeitando na cadeira e ficando um pouco mais perto.
- Ok! – Falei, tentando me manter mais relaxada.
Tentei contar rapidamente sobre minha pós-graduação e do interesse em continuar nos Estados Unidos por achar que teria mais oportunidades de trabalho. Contei um pouco sobre meu último ano e também dos últimos meses mas pela, minha rapidez, eu creio que havia falado um pouco rápido demais porém, ao chegar ao fim, acho que já falava mais como uma pessoa normal, mais como eu.
Chris manteve sua atenção em mim esse tempo todo. Megan ficava dividindo a atenção entre minhas palavras, alguns comentários para tentar descontrair e também seu celular, que não parava de vibrar em nenhum momento, até o ponto em que ela precisou se retirar para atender, bem quando a comida havia chegado.
- Então, ... – Ele me encarou por um tempo antes de encarar sua comida. – Estive no Brasil ano passado, realmente gostei de lá! – Eu esperei minha boca estar bem vazia antes de responder.
- Por mais que eu esteja aqui a trabalho, não troco aquele país por nada, é meu xodó! – Ele deu uma risada de lado.
- Os fãs são bem... – Ele pareceu medir as palavras com bastante cautela.
- Loucos? – Falei, soltando uma risada de lado.
- Eu ia dizer intensos. – Ele acompanhou minha risada e me encarou por alguns segundos.
- Quando eu era mais nova, eu fazia parte desses fãs “intensos”. – Fiz aspas com os dedos na palavra e ele riu. – Somos meio loucos, mas acho que é nosso jeito de demonstrar que nos importamos. – Ergui meus ombros rapidamente e ele riu.
- Me assustei um pouco no primeiro dia, mas acho que consegui entender um pouco. É um povo muito caloroso. – Sua atenção estava em seu prato.
- Pode dizer louco, eu entendo! Não vai me magoar não! – Ele deu uma gargalhada, erguendo a mão até seu peitoral e, com a outra, tentando esconder a boca.
Eu me senti confortável em acompanhá-lo. Isso, , pode se soltar, você está se saindo bem.
Megan apareceu ao meu lado rapidamente, falando algo sobre Emily Deschanel e algum evento que iria acontecer. Como não era meu departamento, não focamos muito no assunto. Meu departamento estava na minha frente.
- Então... Qual era o papo? – Megan falou antes de dar uma garfada em seu prato.
- Os fãs brasileiros são loucos. – Chris falou e eu abri a boca levemente, como se eu estivesse ofendida. – Mas você disse...
- Eu tô brincando! – Falei, rindo da cara de assustado que ele fez.
- É a , Chris, precisa levar as coisas mais na brincadeira com ela, sério! – Megan falou, dando uns tapas de leve em meu ombro.
- Acontece! – Descansei meus talheres em cima do prato, limpei minha boca rapidamente com o guardanapo em meu colo e dei mais um gole em minha taça.
Chris logo me acompanhou e esperamos quietos por alguns segundos enquanto Megan terminava de comer, algo que não seria muito demorado, pois já havia notado que ela realmente preferia comer mais rápido e resolver seu trabalho do que ficar batendo papo sobre assuntos aleatórios da vida.
- Vamos falar de Washington! – Megan falou descansando, os garfos em cima do prato e puxando uma pasta preta com algumas informações sobre a viagem.
A viagem seria de somente uma semana, algumas gravações de “Capitão América 2: O Soldado Invernal” dentro de estúdio e uma entrevista em um programa local. Meu trabalho? Seguir, guiar e ajudar Chris na ida e volta das gravações, passar algumas respostas de perguntas antes das entrevistas, o aconselhar quase 24 horas por dia sobre qualquer passo que ele fosse dar fora do set ou fora do hotel e alguns assuntos mais que poderiam rolar no caminho.
Notei que, quando começamos a falar de trabalho, Chris tomou uma posição mais rígida em sua cadeira. Sua cabeça estava baixa nos papéis que Megan havia dado para ele, iguais aos que eu já tinha recebido aquela tarde, mas dava para notar que seus ouvidos estavam focados nas palavras de Megan. Ele realmente estava prestando atenção, por mais que eu soubesse que ele já deveria ter ouvido aquele discurso milhares de vezes, já que Megan era sua assessora desde os tempos de Quarteto Fantástico. Mas uma parte da conversa, notei que era mais para mim do que para ele: assédio da mídia. Para quem conhecia, era sabido que Chris Evans era raramente visto na mídia, o motivo ninguém nunca soube exatamente porque ele não aparecia, e essa resposta ficou clara logo nas primeiras palavras sobre o assunto. Chris não era do tipo que gostava de uma farra gratuita ou de aparecer só para dizer que apareceu. Ele podia ser assim antes mas, depois que passou dos 30, seu foco passou a ser outro.
- Relaxa, vai dar tudo certo! – Chris falou, fechando a pasta, a apoiando onde antes estavam nossos pratos e relaxando um pouco o corpo na cadeira. – Você tá comigo!
- Você ouviu o chefe, né?! – Megan falou e eu soltei uma risada sem graça, quase tímida. – Bem, crianças, eu preciso ir porque minha noite ainda não acabou. – Ela falou, se levantando, e eu ia fazer o mesmo quando ela apoiou a mão em meu ombro com força, me obrigando a sentar novamente. – Conversem um pouco, se conheçam. Veja a como Megan 2.0, pode ser? – Ela virou para o Chris e ele acenou com a cabeça. – Ou como o Derek, quem sabe?
- Nunca vou vê-la como você, muito menos como o Derek. – Ele falou, Megan riu e eu juro que senti meu rosto esquentar um pouco.
Megan pediu a conta. Juro que a vi acertar a conta da mesa inteira, mas eu preferi não falar nada. Ainda estava tentando me acostumar com essa vida de assessora de famosos e sabia que quase todos os gastos à parte eram acertados pela conta da ID, ou seja: quem havia pagado o jantar no final das contas era o Chris. Simples assim.
Outra garrafa de vinho tinto apareceu na mesa e o papo acabou ficando mais descontraído – por favor, diga que eu não estava bêbada. O papo da garota do interior do Brasil sumiu e foi passado para o de um garoto nascido, criado em Boston e que, hoje em dia, fazia o Capitão América.
Ele falava de um jeito bem descontraído. Suas mãos se mexiam relaxadamente quando ele falava e era nítido a felicidade em ter conseguido realizar seus sonhos. Talvez a falta de foco em aparecer na mídia e não ter muito contato com as redes sociais fosse só um obstáculo pelo qual ele não conseguia passar mas, quando ele falava sobre os testes, filmes e todos os trabalhos que ele já havia feito, sentia como se eu estivesse falando com um garoto de sete anos que esperava o melhor presente de Natal e o ganhara por último, depois que todos os embrulhos haviam sumido de baixo da árvore.
- É bom ouvir falar sobre sua paixão por atuação. Minha única experiência como atriz foi quando eu tinha cinco anos de idade. – Falei descontraidamente e notei que ele se manteve quieto, pedindo para que eu continuasse. – Era uma peça da escola, eu era uma rainha e sabia todas as falas de cor, até a dos outros personagens. – Falei um pouco mais baixo a segunda parte e notei um sorriso abrir em seus lábios.
- E quando você se apaixonou pelo jornalismo? – Ele pousou a taça vazia novamente em cima da mesa.
- Não sei bem se eu me apaixonei ou se ele simplesmente me puxou pelas pernas e eu acabei convivendo bem ao lado dele. – Dei de ombros e ouvi meu suspiro.
- Mas, pela conversa hoje, dá para notar que você é feliz com o que faz. – Seu corpo veio para frente um pouco, apoiando os cotovelos na mesa.
- Agora que eu tenho um emprego na área que eu gosto, sim, sou muito feliz. Mas é que não é fácil ter sucesso nessa área, não é fácil nem ter um emprego nessa área. – Dei de ombros mais uma vez. - Mas eu tinha alguns planos em minha mente caso o jornalismo não desse muito certo.
- Qual seriam seus outros planos?
- Eu gosto de cozinhar, muito. Então talvez meu plano B estaria ligado à gastronomia, ou algo do gênero. – Levei a taça novamente aos lábios e entornei o pouco que restara do vinho.
Já chega por hoje, né?!
O silêncio se instalou por alguns segundos e o desconforto começou a me pinicar. Eu comecei a contar as flores nos arranjos novamente e vi que o restaurante estava bem mais vazio e muito menos barulhento também. Bati os olhos em meu relógio e já passava das onze horas.
- Acho melhor eu ir... – Falei, puxando minha bolsa para meu colo. – Fico meio emburrada quando não durmo as horas que eu preciso. – Falei calmamente e ele riu.
- Então é melhor irmos, dois emburrados em uma viagem que não dá tempo nem de dormir não vai ser uma boa! – Ele falou rindo e eu me levantei.
Fomos andando até a porta e ele estava dois passos atrás de mim, quase podia ouvir sua respiração. Assim que passamos pela maître, vi ela assentir para o Chris e, de relance, ele imitar o gesto. É nessa hora que eu pergunto se a conta está realmente paga ou eu saio e deixo por isso mesmo? Não tive tempo de ter resposta para essa pergunta porque, se eu virasse de costas, ia dar com de cara com Chris Evans bem perto de mim.
- Precisa de uma carona? – Ele falou quando estávamos no lobby do hotel.
Lá fora estava ventando e calmo, nenhum sinal de pessoas loucas gritando por ele. Por mais que ele fosse de Boston, raramente sabiam quando ele estava por lá.
- Não precisa se incomodar, vou pegar um táxi para casa. - Eu falei, sentindo o vento bater forte em minhas costas enquanto a porta de vidro do hotel era aberta.
- Tem certeza? – Afirmei com a cabeça mais uma vez e saímos para o vento. Cidade com praia venta à noite, eu precisava me lembrar de levar casaco sempre que saísse.
- É totalmente fora de mão onde eu moro e onde você mora. – Falei, observando alguns táxis em fila na porta do hotel. – A gente se vê amanhã de manhã no aeroporto? – Fiz um gesto com a cabeça.
- Pode deixar, ! – Sorri, me aproximando do táxi, mas parando logo em seguida.
- Chris! – Gritei para ele, mas não foi necessário já que ele só havia dado alguns passos para o lado em direção à cabine do valet em frente ao hotel.
Ele se virou automaticamente e eu ri dessa reação.
– Eu não vou me segurar! – Falei e me aproximei dele novamente!
- O quê? – Seus olhos se arregalaram por um momento.
- Posso tirar uma foto com meu ator favorito? – Falei com a mão já dentro da bolsa para pegar o celular.
Ele abriu um lindo sorriso e vi suas bochechas ficarem vermelhas por um tempo, mas ele logo relaxou e se aproximou de mim novamente.
- Se eu sou seu ator favorito, você pode!
Peguei o celular, rapidamente o destravei e coloquei na câmera, me aproximando um pouco dele até os nossos rostos estarem dentro do quadrado da foto. Notei seu sorriso tímido na foto, era o mesmo sorriso que ele fazia em todas as fotos de fãs que eu já havia visto, os dentes brancos à mostra, mas parecia um pouco mais discreto que os de durante o jantar, um pouco mais profissional. Tentei dar um sorriso não tão alegre, mas foi quase impossível, pois minha mente ficada gritando: Você está conhecendo o Chris Evans! Você está conhecendo o Chris Evans! Apertei o botão da foto umas três vezes e logo abaixei o celular, soltando uma risada em seguida.
- Se eu quiser ficar nesse mundo, acho que preciso aprender me controlar. – Falei, dando passos perto do ponto de táxi de novo.
- Acho que não. Ser tietado faz parte do trabalho de artista, não? – Ele deu de ombros, pegando a chave da mão do valet.
- É o que eu acho também! – Dei um rápido sorriso, acenando para o taxista a minha frente. – Até amanhã, senhor Evans! – Assenti com a cabeça e o vi fazer o mesmo gesto antes de eu entrar no táxi.
Indiquei o endereço para o motorista e me afundei no banco de trás do táxi branco com listras marrom de Boston. Peguei meu celular e fui direto para a galeria de fotos. Passei as três fotos que eu havia tirado e escolhi a que eu estava mais bonita. Era um sorriso sincero, não o sorriso de , assessora de Chris Evans. Era o sorriso da conhecendo o Chris Evans, o ator favorito dela, e eu me senti uma criança assistindo Quarteto Fantástico de novo, só uma fã.
“Fã ou assessora? A realização do sonho é a mesma! #ChrisEvans #Journalism”. Escrevi essas palavras rapidamente no Instagram, fiz questão de não colocar filtro nenhum na foto e a postei, a compartilhando no Facebook, Twitter, Tumblr e todas as redes sociais ligadas à minha conta. Sorri para a foto novamente e me senti satisfeita. Talvez escolher jornalismo como profissão fosse uma boa! Apesar de falar isso naquele momento, na época da faculdade, o ‘não viver do jornalismo’ era uma opção muito mais prazerosa. Mas era o que sempre me disseram: a coisa vem quando a gente menos espera.
Guardei meu celular novamente e, após alguns minutos, o taxista parou na frente do meu adorável condomínio. Entreguei o dinheiro para ele, agradeci e saí, logo entrando no condomínio e acenando para o porteiro.
Entrei em casa, sentindo o calor do meu apartamento, e fui rapidamente me preparando para dormir. Meu apartamento estava quente mas meu corpo ainda estava frio. Após me cuidar e me trocar, deitei em minha cama e fechei os olhos, sentindo meu corpo relaxar dentro do edredom. Minha mente relaxou por um tempo e, logo, estava dormindo.
Abri os olhos com dificuldade quando meu celular tocou e tive vontade de jogá-lo na parede. Fazia duas horas que o sol tinha nascido, e isso era considerado cedo para mim. Desliguei o despertador, ativei o Wi-Fi do celular e fui para o banheiro. Em poucos segundos, ouvi meu celular tocando diversas notificações. Isso que dá colocar foto com famosos... Fiz minha higiene matinal rapidamente e corri para a cozinha para tomar um café da manhã ou, pelo menos, um café que me mantivesse em pé até chegar ao aeroporto. Passei manteiga rapidamente na torrada que acabara de pular da torradeira e a prendi entre meus dentes enquanto voltava para o quarto.
A cada peça de roupa que eu colocava, era uma mordida que eu dava em minha torrada. Quando terminei a torrada, vesti minha camisa polo roxa de meia manga. Fiz uma maquiagem rápida e conferi meu celular. Tinha 10 minutos antes do carro passar em casa, ao menos cinco aplicativos gritando e a setinha para o lado indicava que mais alguns estavam escondidos. Abri um sorriso de lado.
Conferi em minha mala se algo estava faltando. Chequei minha bolsa e estava pronta para viajar para Washington D.C. Faltando alguns minutos até eu ter que descer, sentei em minha cama e abri a notificação mais importante de todas: da minha mãe.
“Bom dia, filha. Acho que para você ainda não, né?! Vi sua foto com Chris Evans. Realizou seu sonho? Está feliz? Me ligue. Beijos, te amo.”
“Oi, mãe, agora é ‘bom dia’ aqui! Estou bem feliz, foi difícil manter a seriedade, mas precisei tirar minha foto. Estou indo para Washington com ele e equipe para gravação de Cap 2, a gente vai se falando. Amo você, beijos”.
Enviei a mensagem e abri o Instagram rapidamente. A foto já tinha pouco mais de 50 curtidas e alguns comentários surtados, incluindo um da minha irmã. Ri e bloqueei o celular, deixando para responder aquilo depois. Levantei e calcei meu peep toe preto. Ajeitei a mala em um ombro e a bolsa em outro. Conferi se todas as luzes estavam desligadas e tranquei a casa. Assim que saí pelos portões do condomínio, um carro preto da ID estava parado com um motorista conhecido me esperando pelo lado de fora.
- Bom dia, Jason! – Falei, entregando minha mala para ele.
- Bom dia, senhorita. Pronta para viajar? – Ele respondeu educado.
- Não muito! – Soltei uma risada e entrei no carro.
Não mesmo, eu tenho medo de voar.
O caminho para o aeroporto foi até curto. Mas também! Não era todo mundo que estava acordado às oito horas da manhã de um sábado. Conferi rapidamente a pasta com as instruções que Megan havia me dado. Logo, já estava fazendo check-in no balcão e despachando minha mala. Passei em um balcão de doces para comprar chicletes e uma água e tomei um calmante antes de entrar na sala de embarque.
Eu havia esquecido como aquilo era grande. Caminhei para perto do portão de embarque à procura de Evans, e não foi muito fácil. Devo ter dado umas três voltas, o que estava chegando a me deixar envergonhada, até que avistei um boné azul escuro no canto da sala de embarque com óculos escuros e a boca levemente aberta, o que me deu a impressão de que mais alguém estava com sono além de mim.
Aproximei-me devagar, tentando me manter calma. Não era porque eu tinha conhecido ele que eu tinha me tornado íntima. Apoiei minha bolsa na mesa em que seu pé estava apoiado e sentei em uma cadeira ao seu lado.
- Bom dia! – Falei em um tom de voz normal e eu tomei um susto quando ele se mexeu, tomando um susto por eu ter falado. - Ah, calma!
- Ah! – Ele falou, passando a mão nos olhos por baixa dos óculos escuros. – Como você sabia?
- Não se esqueça de que eu estou cuidando do seu site e, afinal... Você só tem esse boné? Seu aniversário tá chegando, acho que já sei o seu presente! – Ele riu, tirando os óculos e o colocando na gola de sua blusa.
- Ha, ha, ha. Engraçadinha! – Ele falou com a voz de sono.
Nós nos mantivemos em silêncio por um tempo e notei que ele estava cochilando novamente quando sua cabeça pendeu para o meu lado. Ri baixo e peguei meu celular conferindo as notificações de meu celular, respondendo mensagens e comentários na foto, até que chamaram para o nosso voo. Eu levantei e fui pegando minhas bolsas, mas ele ficou só olhando para a fila que se formava.
- Não vai entrar? – Perguntei, apontando para a fila.
- Por mais esnobe e até idiota que pareça, somos os últimos a entrar. – Ele falou, colocando os óculos novamente.
- Ah, sim. – Suspirei, me sentando novamente.
E foi o que aconteceu. Assim que todas as pessoas passaram pelos portões, foi nossa vez. A mulher confirmou rapidamente, com uma feição muito nervosa. Eu entendo, amiga, já passei por essa. E nos liberou. Entramos no avião pelas portas de trás e, logo, sentamos em nossa fileira, que era a última. Como era voo doméstico, não havia divisões de classes.
Ajeitei minha bolsa na parte no compartimento de carga, me sentei na cadeira, prendi o mais firme possível o cinto e segurei firmemente as laterais da poltrona. Pude vê-lo me encarando ao lado. Respira, .
Quando o capitão liberou a decolagem, eu senti meu corpo enrijecer como sempre fazia. Segurei mais forte as laterais da poltrona e pude ouvir o barulho das turbinas do avião. Respira, , vai dar tudo certo. Quando os nós dos meus dedos começaram a ficar brancos e pequenas lágrimas rolaram por minhas bochechas, eu senti uma mão quente em cima da minha e uma voz baixa perto de meu ouvido.
- Também não gosto de voar. – E notei, pelo embaçado de meus olhos, que ele estava com um sorriso nervoso nos lábios.
A aeronave correu na pista e pude sentir as rodas saírem do solo. Minhas mãos firmaram por mais alguns segundos nas laterais da poltrona e, depois, se soltaram como sempre acontecia quando eu passava a me sentir segura. Passei minhas mãos em minha bochecha, secando as lágrimas, e soltei a respiração bem devagar.
- Eu não consigo gostar. – Falei simplesmente, não quis dividir minhas experiências com ele, principalmente porque ainda era um desconhecido para mim. – Não consigo me acostumar.
- Eu entendo isso. Eu não gosto de voar, mas é uma obrigação no meu trabalho então, com o tempo, eu fui me acostumando. – Ele estava sem os óculos escuros e me encarava com seus olhos azuis.
- Se eu viajasse com frequência, creio que já teria perdido meu medo. – Falei simplesmente, apoiando minha cabeça na poltrona.
A viagem correu sem mais conversas. Ligaram a televisão, então pude caçar algum filme que estivesse passando e ficar assistindo até chegarmos a Washington. O voo de Boston para Washington era menos de uma hora.
Assim que chegamos, peguei minha mala e logo nos deparamos com um carro com responsáveis da Marvel nos esperando. Eu entrei com ele no carro e fomos levados a um hotel no centro da cidade. Não havia nenhum fã esperando mas, pelo que eu havia entendido, teria alguns no set. No entanto, ele não iria para o set hoje. Teria somente prova de roupas, ensaio e discussão de roteiro. E eu iria acompanhar tudo aquilo. Tente não surtar, ... Era impossível.
Ficamos no último andar do hotel, onde várias pessoas do elenco ficavam. Eu fiquei em um quarto e Chris ficou no da frente. No momento em que chegamos, somente Samuel L. Jackson e Anthony Mackie estavam já hospedados para fazer algumas cenas. Samuel tinha cara de ser aquela pessoa séria e tudo mais pela interpretação de Nick Fury mas, na vida real, ele era uma pessoa muito amorosa e foi quem saiu me apresentando ao resto do elenco e equipe. Anthony era uma figura, impossível ficar 10 segundos com ele sem que você risse. Em um dos jantares com o elenco, saiu refrigerante pelo meu nariz, o que não foi muito legal com o povo da Marvel da mesa, mas causou boas risadas.
Três dias antes de irmos embora, Scarlett Johansson e Sebastian Stan chegaram para fazer a grande cena de luta nas ruas de Washington, aquela em que o Soldado Invernal arranca o volante do carro deles e tem aquela cena maravilhosa de ação. Honestamente, foi cansativo ver aquela cena ser feita. Era quase como se cada segundo fosse um take, e depois eles mudavam para os atores, depois para os dublês, depois dublês e atores, atores e dublês... Nossa. Juro que quase dormi na cadeira do set. Scarlett e Sebastian também eram pessoas incríveis. Scarlett era uma ótima pessoa, ela e Chris eram amigos desde o primeiro filme deles juntos em 2004, Nota Máxima, então ou ela estava sendo incrivelmente simpática e fofa ou ela queria ficar ok comigo por eu ser a assessora dele, nem que provisória. Sebastian era uma pessoa totalmente diferente do Soldado Invernal ou até de Bucky Barnes. Ele tinha aquela pose toda que te faz perder o fôlego, mas ele era incrivelmente tímido com pessoas novas, então demorou um pouco para batermos um papo. Depois, ele se mostrou um incrível piadista.
Eu juro que tentei, mas eu tive que dar uma surtada. Era a Marvel, eram os atores da Marvel, e eu era uma pessoa viciada naquilo desde que eu me conhecia por gente... Mentira. Desde que a Fase I de Os Vingadores começou. E trabalhar com aquilo era maravilhoso. Desses sete dias que ficamos lá, Chris teve que gravar em cinco, e nos dias que ele não gravava, ele dormia metade do dia e, a outra metade, ficava na academia. Às vezes, batíamos um papo na hora do jantar para falarmos sobre o dia anterior, mas nada mais que isso.
É o que eu havia falado. Ele, quando falava de trabalho, era incrível, mas quando ele realmente trabalhava, tinha uma felicidade, uma energia e uma seriedade de dar inveja em qualquer um. Nem eu, que trabalhava em um escritório, era tão séria quando ele. Então, devido a isso, fazer piadinhas não era uma boa ideia para tentar deixar o clima menos tenso.
Não sei como ele era com Megan mas, aparentemente, ele estava gostando de me ter lá. Quando chegávamos ao set, ele gostava de me mostrar tudo, cada detalhe, apresentar pessoas novas, mostrar a magia do cinema, camarins, trailer e todas as partes obscuras da Marvel.
Enquanto estávamos lá, tinha esse tom mais sério mas, no último dia, assim que ele tirou o uniforme de Capitão América e se permitiu relaxar, ele já era o Chris Evans novamente, e não o Steve Rogers. Nesse dia, houve mais um jantar com o elenco. Fomos a uma pizzaria. Os garotos fizeram competição de quem comia mais – e acredite, eu estava fora da competição, mas creio que eu poderia ter empatado com algum deles de tanto que eu comi. O mais engraçado era a cara de Chris quando eu falava para o garçom que ele podia servir os vários pedaços que chegavam de uma vez só. Eu olhava para ele, tinha os olhos arregalados. Eu ria, ele também, e eu dava de ombros e continuava normalmente. “Comer é bom, sabia? ”, era o que eu dizia. No fim daquela noite, eu pedi para tirar uma massive selfie, com todos os presentes, atores e produtores. Ficou muito boa e era uma das fotos mais curtidas em meu Instagram.
Fomos embora no oitavo dia de manhã, mas nos separamos ali. Eu fui para Boston e ele ia para Los Angeles, Megan o encontraria lá. Ele me agradeceu por ter ido acompanhado tudo e também falou que eu lidei com tudo muito bem. Não sabia o que aquilo queria dizer, mas fiquei feliz. Cheguei em casa e relaxei. Com Megan em Los Angeles, eu só teria que cuidar do novo site do senhor Evans, fazer algumas matérias e nada mais, então minhas horas de trabalho se reduziam pela metade, pois era bem cansativo fazer isso.
Capítulo 02
I still feel it on my lips
(Eu lembro de quando nos beijamos
Ainda sinto nos meus lábios)
Miley Cyrus, Goodbye
Abri os olhos, sentindo meu corpo pesar, mas notei que não era eu e sim um braço passado em volta da minha barriga. O corpo ao meu lado dormia pesadamente, não estava lá quando eu fui dormir na noite anterior. Mantive meus olhos fechados por um momento e visualizei os olhos castanhos dela e o movimento de sua boca em uma risada. Suspirei, encarando o teto branco de meu quarto. Fazia poucas semanas que a conhecia e estava me sentindo um bobo.
Um bobo apaixonado.
Encarei a pessoa do meu lado. O cabelo era parecido, mas não era a pessoa que eu queria em meus braços, e a pessoa da cama já deveria ter ido embora há muito tempo. Eu me mexi desconfortável na cama, fazendo questão de me movimentar o máximo possível, senti as mãos saírem de meu corpo e pude me levantar. Andei pesadamente até o banheiro e fiz minha higiene matinal, encarando meu rosto no espelho. Eu estava com os cabelos loiros desbotados, onde via um pouco do castanho aparecendo e, sem barba, devido a algumas cenas de Capitão América que estavam sendo refeitas.
Saí do banheiro e puxei minha blusa ao lado da cama, vestindo-a rapidamente antes de encarar a pessoa que se espreguiçava em meu quarto. Ela deve ter notado que eu não estava muito feliz pois, quando virou o rosto para mim, seu sorriso sumiu rapidamente.
- É nessa brincadeira que a gente vai ficar? – Falei, cruzando os braços involuntariamente.
- Não sei do que está falando. – Ela resmungou, ajeitando a blusa.
- Eu terminei contigo, Minka. – Ela bufou. – E quando se termina um relacionamento, normalmente as pessoas não devem mais entrar na casa dos outros desse jeito.
- Mas eu não sei se quero terminar, Chris. Estávamos indo tão bem...
- Foi um acordo. Íamos terminar porque não estava dando mais...
- Devíamos tentar de novo. – Ela me cortou.
- Minka, eu não quero mais.
– Mas Chris...
– Eu estou em outra fase da minha vida. – Eu a interrompi – À procura de outras coisas também.
- Tem alguém nessa história? Estávamos tão bem, acomodados...
- Eu não quero estar acomodado. Eu quero romance, amor, paixão. E não quero que seja contigo... – Falei a última parte mais baixo, mas não deixando de encará-la. - Achei que já tinha deixado isso claro.
Passei a mão em meus cabelos após ouvir a batida da porta e segurei a chave firme em minha mão, mentalizando que precisava dar fim o mais rápido possível. Sim, era uma chave. A chave que eu tinha dado à Minka mas, se meus planos estivessem corretos, eu não ia precisar dar uma chave à minha próxima namorada. Eu ia morar com ela.
Com a chegada dos meus 32 anos no meio do mês, eu estava com esses pensamentos: eu queria uma família ao meu lado. Não importava ter o sucesso que eu estava tendo se eu ia ter que ligar para minha mãe para contar. Eu queria uma pessoa ao meu lado, sempre, com quem eu pudesse contar em todas as horas, que me fizesse rir, chorar, que me fizesse sentir alguma coisa.
Há quatro semanas, eu tinha conhecido . Ela era a nova assistente da minha assessora, cuidava mais da vida nas redes sociais e na mídia mas, às vezes, ela me acompanhava nas gravações, como na vez que ela foi comigo para Washington na gravação de Cap América 2. Ultimamente, eles haviam decidido me integrar mais nas redes sociais para eu ter mais contato com os fãs e haviam decidido que iam criar um hotsite para mim, mas não seria atualizado por mim, seria por , que estava cuidando disso.
Havíamos combinado de nos encontrar na casa dela no dia seguinte para falar sobre isso. O site estava pronto e só faltava colocar no ar. Megan havia dito expressamente que era para eu dar opinião no layout em si e ordenar tudo. Não que eu entendesse dessas coisas, mas eu havia sido mandado para fazer isso, então não era como se eu tivesse muita escolha.
Antes, eu iria para Nova York, no programa The Tonight Show with Jay Leno. O tópico era meu mais novo filme, The Iceman e, pela pauta em que haviam me passado, eu teria direito a uma pegadinha com o próprio Leno.
Encarei minha mochila no pé da cama, tirei as roupas que estavam lá dentro e notei que pelo menos as roupas sujas já haviam sido tiradas de lá, só tinha algumas blusas extras. Andei rapidamente até meu closet e escolhi algumas peças de roupa aleatoriamente, incluindo algumas para levar para Boston. Ajeitei tudo na mochila e a joguei na poltrona mais próxima.
Passei pelas portas do quarto que davam para o quintal e encarei a manhã em Los Angeles. O tempo estava um pouco nublado ainda, mas era possível ver alguns raios de sol escapando das nuvens. Abri um sorriso imenso. Eu era do tipo que não precisava de muito para ficar bem. Um dia de sol já conseguia me fazer feliz. Mesmo em um dia de quase sol, estava tudo bem.
Encarei meu rosto no espelho do camarim de Jay Leno, ajeitei os cabelos com um pouco de gel e os mantive arrepiado. Ergui as mangas da minha blusa azul quadriculada até a altura dos cotovelos e me certifiquei de que pelo menos parte da blusa estivesse presa dentro da calça azul escura, onde um cinto marrom escuro fixava a peça. Agachei por um momento para amarrar minhas botinas bege e conferi o relógio em meu pulso.
- Cinco minutos, Chris. – Megan apareceu na porta do camarim. – Vamos repassar?
- Vamos falar de Boston, Capitão América, gravação de Cap 2, provavelmente vai querer que revele algo, The Iceman, e ele vai zoar comigo da foto do meu personagem e eu vou zoar com a dele. Certo? – Encarei Megan.
- Certo, aí ele vai chamar o Kevin Smith e o assunto vai virar para ele. Provavelmente vão te envolver, mas nada demais, só jogar conversa fora.
- Ok! – Falei antes de bocejar, denunciando meu sono.
- E acorda! – Ela comentou.
- Com licença. – Uma mulher loira da produção apareceu na porta. – Vamos?
- ... Mas antes dele aparecer, vamos ver alguns dos filmes que ele já fez. – Ouvi a voz de Jay Leno e, em seguida, o som de uma rápida introdução minha sendo feita, cena de alguns dos meus filmes foi passado. – Por favor, recebam Chris Evans!
Ouvi as vozes e palmas e apareci pelas portas do cenário, acenando para os fãs ao longe e logo virando para Jay Leno, o cumprimentando. Assim que eu sentei, os gritos e música cessaram e Jay não economizou tempo.
- É bom ver alguém da vizinhança se dando bem!
- Sim, amigos da minha cidade natal. – Falei a primeira coisa que veio em minha mente, dando uma risada nervosa.
A entrevista fluiu, Jay tinha a habilidade de toda entrevista transformar em uma conversa, o que fazia com que eu me sentisse mais à vontade. As perguntas eram simples, nada sobre vida pessoal ou futuros projetos, só sobre trabalho e alguns assuntos de quando eu era mais novo, nada demais.
- Você tem que amar o Red Sox. – Quando notei já estávamos falando de futebol.
- Você já foi no Fenway Park... Você tem que ter isso algum dia?
- Sim, já, foi uma grande coisa.
- Me conte, como foi a primeira vez que você foi a Fenway. – Jay falou, se acomodando em sua poltrona. – Você era criança ou era adolescente?
- A primeira vez que eu fui a Fenway foi na sexta ou sétima série. Eu fui sem supervisão, com alguns amigos meus, e era algo grandioso.
- Você tinha doze ou treze anos? – Jay comentou.
- É. Que idade você tem na sexta ou sétima série? – Virei o rosto, procurando alguma resposta até encontrar a banda de Jay Leno. – 11? Isso é onze anos? – Falei um pouco mais alto. – Não foi com onze, minha mãe não era tão louca. Eu devia ter uns doze ou treze anos. – Falei, rindo. – Era uma viagem sem supervisão para Fenway e estávamos empolgados. Pegamos o trem, chegamos a Fenway. Tínhamos uma certa quantidade de dinheiro, compramos os ingressos e pensamos: isso é o que a gente tem sobrando, então compramos cachorro quente e sorvete. Estávamos nos sentindo adultos e nós percebemos, no final do jogo, que não tínhamos dinheiro para voltar para casa. – A plateia riu. – Isso foi antes da era dos celulares, então a gente não podia pedir carona nem nada. Então saímos do jogo falidos e saímos pedindo dinheiro. E nós encontramos... Encontramos uma pessoa que estava comemorando sua tarde. Bem, o Red Sox ganhou, licença, você poderia... Claro! Ele saiu distribuindo notas de 20.
- Uau!
- Pois é, agradecemos aos bêbados de Boston. – Falei e a entrevista continuou.
Falei um pouco das experiências de ter aulas de motociclismo, todas desastrosas, para a gravação de Capitão América. Também sobre Capitão América 2, que tinha acabado de gravar. Um pouco também sobre a participação de Robert Redford e um pouco de The Iceman, o filme que eu estava começando a divulgar no momento.
- Ele era esquisito porque ele vendia sorvetes. – Jay falou sobre meu personagem. – E esse filme se passa nos anos 70. Vamos mostrar uma foto sua, eu não te reconheci. Aí está você! – Soltei uma risada nervosa, eu era ridículo com aquele cabelo longo.
- Esse era o estilo dos anos 70... Mas espere um minuto, Jay. – Falei, soltando uma risada. – Isso é uma coisa ridícula dos anos 70, acho que todos concordamos. Mas eu encontrei uma foto sua nos anos 70, que aparece bem... – A foto apareceu na tela e eu não consegui segurar minha risada.
Eu tinha uma risada metade histérica e metade silenciosa, aquelas risadas que faziam os outros rirem junto.
- O que é isso?! – Falei, rindo e apontando para a foto.
- Obrigado por vir, Chris, quero te agradecer muito. – Jay falou, brincando, tentando cortar.
- Espera, você pode colocar de novo? – Falei e a foto apareceu. – Jay, me explica. – Levantei e o imitei na foto. – O que é isso? – E logo sentei. – Como isso procedeu em Boston?
- Foi muito bom... Eu estou aqui. – Ele falou, fazendo gestos exagerados e eu não conseguia prestar atenção, só estava rindo. – Estou aqui, espertinho. Mas espera, vamos voltar para sua foto. Isso era seu cabelo?
- Não, era uma peruca, mas essa é a minha barba. Eu tive que me barbear assim, então você deve imaginar. Entre as filmagens, eu tinha que fazer coisas normais da vida assim. Não é fácil.
- Você acha que sobreviveria aos anos 70?
- Eu amei! Todo dia, você chegava ao set e via os carros, as roupas, as músicas...
- Eu cresci nos anos 70 mas, como alguém que cresceu nos anos 90, o que você viu de diferente?
A entrevista comigo acabou logo. Antes disso, ele passou uma cena de The Iceman, uma das quais eu mais me orgulhava no filme. Pensando bem, eu estava mais parecido com meus personagens a cada dia, mas eu não tinha nada de Robert Pronge.
- Obrigado, Chris. Fique aqui que, em instantes, tem Kevin Smith com a gente.
Kevin Smith contou algumas piadas, várias delas incluindo meu corpo e o seu, de como ele estava se achando que iria ao programa do Jay Leno e suas ex-namoradas iam se arrepender, até que ele o colocou ao meu lado, o que tirou algumas boas risadas minhas e da plateia, mas logo que acabou, minha cabeça foi para outro lugar. Para Boston. Eu voaria para lá ainda naquela noite e encontraria para a aprovação do hotsite e também para repassar algumas perguntas de outras entrevistas que eu teria em Boston durante a semana. Mas meu foco não estava nisso. Era só que eu iria encontrá-la, o que já me deixava empolgado.
Assim que o avião pousou em Boston, eu só tive tempo de tirar minha blusa social azul do corpo, deixando a camiseta cinza por baixo colada ao corpo, e tomar um energético. Estava com o sono atrasado, mas não seria agora que eu iria deixá-lo em dia. Como estava sem carro e Megan não havia voltado comigo, eu peguei um táxi e pedi para que me levasse até o condomínio de . O porteiro logo me anunciou e ela liberou minha entrada. Encarei o relógio em meu pulso e era quase meia-noite. Droga, não se deve chegar tão tarde na casa das pessoas.
Assim que abri a porta do elevador no nono andar, uma das quatro portas estava aberta, e dentro da mesma podia ver algumas luzes acesas. Não tinha dúvidas que esse era o apartamento. Bati na porta duas vezes e vi uma cabeça aparecer da cozinha com um sorriso lindo no rosto.
- Ei! – Ela falou, voltando o corpo para a cozinha. – Entra!
- Com licença! – Falei antes de fechar a porta atrás de mim e parar na porta da cozinha.
Ela estava com um cortador de pizza na mão, tinha uma pizza com um cheiro delicioso apoiado no balcão a sua frente e, no mesmo, duas taças com um líquido avermelhado.
- Pizza? – Ela falou, apontando para a mesma. – Vinho?
- Sim, pros dois! – Falei entrando na cozinha, virando de costas e apoiando no balcão.
Assisti cortar a pizza e depois colocar um pedaço em cada prato e também distribuir guardanapos.
- Vem, tenho que te mostrar o site! – Ela segurou o prato com uma mão, pegou a taça com a outra e saiu da cozinha.
Só nesse momento notei sua roupa. Parecia que ela ainda estava na agência. Usava uma calça social escura, uma blusa social branca, mas os pés estavam descalços e seu rosto não possuía mais nenhum resquício de maquiagem. Segurei o prato e a taça e a segui. Ela já tinha sentado no sofá e um notebook estava colocado em sua frente. O prato no colo e a taça no canto do sofá, no chão.
– Vem, senta aqui! – Ela bateu ao seu lado do sofá e mexeu em algumas teclas antes de dar uma mordida na pizza.
Assim que me sentei no sofá e olhei para a tela, pude ver meu rosto em uma das minhas sessões de fotos mais recente, a sessão feita especialmente para o site. Ainda me perguntava o porquê daquilo, mas preferi ficar quieto. Megan e estavam empolgadas com a situação e não seria eu quem acabaria com o ânimo delas. No menu principal, haviam poucas coisas, principalmente sobre mim. O tom era meio azulado, um logo simples era colocado no topo e, pelos meus conhecimentos gerais, estava tudo muito bonito.
- Gostei! – Falei simplesmente, olhando para ela.
demorou um tempo e ficou me encarando.
– O quê? – Perguntei.
- Só isso? – Ela perguntou e soltou uma risada.
- Eu disse, não sou bom com essas coisas.
- Mexe nele, vê as páginas, vê se quer mudar algo ou se quer que tire, ou se for mentira... Fica à vontade. Eu me baseei em informações que estavam na internet. – Ela se afastou do computador e encostou o corpo no sofá, dando atenção à sua pizza.
Mexi rapidamente, abri cada página, li a descrição delas e olhei os arquivos que elas continham. Demorei um pouco mais na minha biografia que era algo mais pessoal, mas estava bem superficial, nada que eu quisesse mudar. Conversamos rapidamente sobre o assunto, mudamos algumas fotos, acrescentamos alguns outros textos. Quando vi, já tinha deixado de lado a esportiva e já tinha focado no profissional de novo. Eu sempre fazia isso, não sabia se era algo bom ou algo ruim.
agia da mesma maneira. Ela ouvia, mudava os códigos, atualizava as postagens, me mostrava para aprovação e, quando notei, a pizza em meu colo já havia esfriado – não que eu tivesse me importando muito com isso.
- Bem, caso você não queira mudar mais nada, é isso! – Ela falou, virando o rosto para mim.
- Não, está ótimo, ! Está bem legal! – Fiz o mesmo para ela e ficamos nos encarando por um tempo.
Ela suspirou após uns segundos e virou para o computador. Dessa vez, eu que suspirei. Não sabia o porquê de eu agir dessa maneira. Sei lá, era pura atração. Quando falávamos de trabalho, focávamos em trabalho, mas quando o papo estava mais descontraído, eu queria continuar. Ela tinha uma boa conversa, conhecia as coisas do mundo, tinha suas opiniões e convicções, e nunca tinha dado em cima de mim. Talvez era por isso. Burro, burro, burro, todo mundo fala que os homens ficam atraídos pelas mulheres que menos lhe dão bola. Burro! Apesar de que... Se fosse profissional do jeito que aparentava, tudo aquilo era uma simples carcaça, fechada e reclusa. Ouvi o barulho do computador desligando e me livrei dos meus pensamentos. Se eu compartilhasse aquilo com Scott, até ele falaria que eu estava ficando louco por falar daquele jeito.
- Bem, é melhor eu deixar você dormir então! – Falei, me preparando para levantar.
- Nem pensar, você vai me ajudar a terminar essa pizza pelo menos! – Ela falou, se colocando em pé.
Soltei uma risada e fiz o mesmo, ouvindo um barulho de vidro se espatifar do chão.
- Droga! – Falei, me virando a tempo de ver a taça vazia se transformar em alguns pedaços. – Desculpa, ! – Coloquei o prato no sofá, mas ela foi mais rápida e já estava colocando os pedaços de vidro na palma da sua mão.
- Relaxa, Chris! – Ela soltou uma risada fraca. – Até que essas taças duraram demais. – Ela falou como se concluísse um pensamento antigo e eu a olhei sem entender. – Isso daqui é vidro, vidro fino ainda. Já quebrei quatro dessas, agora só sobrou uma. – Ela segurou os pedaços na mão e se levantou.
- Cuidado para não se cortar. – Falei e a acompanhei até a cozinha.
Ela colocou um pano sobre a bancada, despejou todos os cacos de vidro no mesmo e, ligando a torneira, pude ver um fio vermelho correr junto da água.
- Tarde demais! – Ela falou rindo. – Pega as coisas lá na sala, por favor? – Confirmei com a cabeça e fiz o que ela pediu, trazendo rapidamente para a cozinha de novo.
Ela mantinha um dedo pressionado em cima do corte e as duas mãos embaixo d’água. Ajeitei os pratos ao lado dela e vi que ela desligou a torneira, puxando outro pano de prato à sua frente. Ela o enrolou em sua mão e o manteve preso com um dedo por um tempo.
- Quer que eu lave? – Falei, em partes para ajudar e em partes porque meus pensamentos estavam me desconcentrando.
- Não, que isso, eu lavo e você pode tratar de comer! As gravações de Cap já acabaram, pode dar uma relaxada na dieta! – Seu rosto se virou para o meu por um tempo e ela me serviu outro pedaço de pizza.
- Obrigado! – Falei baixo e dei uma mordida no pedaço de pizza.
Ela se manteve com o corpo encostado no balcão enquanto lavava a pouca louça que havíamos usado, e eu mantinha meu quadril no mesmo, comendo a pizza rapidamente. Assim que eu coloquei o prato vazio na bancada, ela fechou a torneira. Nós nos encaramos por um tempo e vi suas sobrancelhas se arquearem.
- Sério? – Ela falou rindo.
- Deixa que eu lavo, vai. – Falei, tentando empurrar ela para o lado, mas ela se mantinha parada na frente da pia, tentando me tirar do caminho também.
- Para, Chris, eu estou brincando! – Ela me empurrou com o ombro, já que suas mãos estavam molhadas.
- Não. Deixa, vai! Você nem deveria ter pedido pizza! – Apoiei minhas mãos em seu ombro, empurrando-a de leve.
- Eu estava com fome, ok?! – Ela soltou uma gargalhada, fazendo uma careta depois e parou de me empurrar, tentando conter a risada.
Aproveitei a deixa e me coloquei em sua frente mas de costas para ela, colocando a mão na torneira e a girando.
- Ei! – Ela falou. – Sai, Chris! – Sua voz se tornou manhosa, como a que eu fazia de vez em quando.
A brincadeira havia perdido a graça para ela.
- Ok, culpado! – Desliguei a torneira novamente e me virei, encontrando seu rosto próximo demais do meu.
- Obrigada! – Ela falou e ergueu seu rosto.
Seus olhos focaram nos meus em poucos segundos e meu mundo parou de girar por um instante. Aqueles olhos castanhos focados nos meus, focados em mim, só em mim. Aos poucos, sua risada diminuiu e não tinha mais um sorriso em seus lábios. Estavam entreabertos e eu podia sentir o ar saindo por eles. Minhas mãos subiram até encontrar a mecha de cabelo solta em suas bochechas e coloquei atrás de sua orelha. Esse toque foi o suficiente para um rubor subir por suas bochechas. Entreabri meus lábios involuntariamente e, por um momento, não sabia o que eu deveria fazer, mas mesmo assim o fiz. Encostei meus lábios nos dela delicadamente e, no mesmo instante, ela fechou seus olhos. Era o que eu precisava. Encostei meu polegar em seu queixo e mantive nossos lábios encostados por um tempo. Eu queria aproveitar o momento. Com a mão livre, eu toquei sua cintura e a trouxe para mais perto de mim.
Aprofundei o beijo no mesmo momento em que suas mãos tocaram minha nuca. Seus pés descalços faziam seu corpo ficar um pouco mais baixo que o meu e minha nuca ter que se inclinar levemente para que eu pudesse alcançar seus lábios. Passei a língua levemente por um deles e isso deu poucos segundos para que respirássemos. Suas mãos faziam um carinho gostoso em minha nuca e suas unhas arranhavam a mesma de leve. Apertei mais seu corpo contra o meu e caminhei minha mão para suas costas, agarrando o pano de sua blusa social e ouvindo um pequeno gemido vindo de . Suas mãos desceram da minha nuca até encontrar meu peito e ela me empurrou levemente para trás, descolando nossos lábios.
- Eu não posso fazer isso! – Ela falou ofegante, procurando espaço para sua respiração e mantendo suas mãos em meu peito.
Eu precisava respirar também, mas não naquele momento.
- Eu não ligo! – Falei e colei nossos lábios novamente, não antes de ouvir um pequeno riso abafado dela.
Passei meus braços pelas suas costas e a puxei contra meu corpo um pouco mais, depositando pequenos beijos em sua cabeça enquanto ela mantinha o queixo encostado em meu ombro. Ela não tinha falado nada depois do acontecido, e eu também preferi não falar nada também. Honestamente, eu não saberia o que dizer. Tinha sido bom? Sim. Era errado? Depende, mas acreditava que, na cabeça dela, a resposta era sim. Foi planejado? Em partes. Eu queria de novo? Com certeza.
Suspirei com esses pensamentos, senti ela se mexer levemente e afrouxei meus braços em volta dela. Ela estava se mexendo... Isso era um mau sinal, não?
- Fala algo! – Ouvi sua voz rouca e abri um riso de lado, sentindo meu corpo mais leve.
Ela não iria embora.
- O que você quer que eu diga? – Senti seu corpo relaxar entre meus braços e vi seu rosto descolar de meu ombro, me encarando com aqueles olhos castanhos.
- Qualquer coisa! – Seu rosto era sereno e calmo, assim como sua voz, um lado que eu não conhecia muito bem, medroso talvez. – O que ach...
- Eu quero te beijar de novo. – Falei, encostando nossos lábios por rápidos segundos. – E de novo! – Fiz o mesmo novamente. – E de novo! – Mantive nossos lábios encostados por um tempo, até que eu senti sua mão fazendo um carinho leve em meu rosto.
Ficamos assim por pouco tempo até que ela aprofundou o beijo novamente. Agora não era mais delicado como antes. Eu sentia suas unhas raspando pelas minhas costas por cima da blusa e minhas mãos também se moviam com agilidade do seu quadril para suas costas e, de vez em quando, para seus cabelos. Em um momento, ela parou bruscamente, se afastando o que podia devido a estar encostada na pia, e soltou o ar pesadamente, respirando rápido depois disso. Eu via seu peito subindo e descendo e sabia que eu dividia aquela sensação com ela. Eu podia sentir o suor descer pela minha nuca e, de repente, o lugar estava abafado.
Ela passou as mãos nos cabelos, os tirando do rosto, e ajeitou o corpo, arrumando o primeiro botão de sua blusa que havia se aberto. Depois, puxou a parte de baixo, ajeitando-a no corpo. Nesse momento, eu me afastei um pouco e me aproximei da janela. A madrugada estava quieta, mesmo para um sábado. As únicas luzes visíveis era as da cidade, e algum carro andando acelerado pela avenida em frente a seu apartamento.
- Eu tenho que dormir! – Ouvi sua voz e me virei rapidamente em sua direção. – Vou viajar amanhã cedo... Ou hoje, sei lá! – Ela coçou a cabeça enquanto encarava o chão à sua frente.
– Viajar? – Ouvi minha voz sair e ela ergueu o rosto. – Você não vai comigo para as últimas entrevistas?
- Não dessa vez. Derek vai contigo. Eu preciso visitar minha família. Não os vejo desde que comecei a pós. Megan me deu a próxima semana de folga.
Ela abriu um sorriso de lado e eu tive que sorrir também. Pelo que eu sabia, fazia mais de um ano que ela não visitava sua família.
- Ok! – Falei simplesmente e me aproximei dela novamente. – Mas quando voltar, quer sair comigo? – Segurei suas mãos, a vendo erguer os olhos levemente arregalados para mim.
- Sair? Contigo?!
- Sim! – Falei simplesmente. – Um encontro, se quiser chamar por algum nome. – Ela afirmou com a cabeça, mantendo os lábios colados em um sorriso.
- A gente se fala então! – Ela disse simplesmente enquanto eu caminhava até o sofá e pegava minha mochila.
- Com certeza! – Ela abriu a porta e eu caminhei até o hall, apertando o botão do elevador.
acenou da porta de seu apartamento. Assim que eu abri a porta do elevador, ela deu passos rápidos até mim e, ficando rapidamente na ponta dos pés, encostou seus lábios nos meus novamente, voltando para dentro do apartamento e encostando a porta. Fiquei parado por alguns segundos encarando a porta fechada e soltei um riso fraco. Entrei no elevador e apertei o botão do térreo.
Seria mentira dizer que eu não pensava nela, principalmente nas duas últimas semanas. Eu tive que voltar para Cleveland para gravar as últimas cenas de “Capitão América 2: O Soldado Invernal”. Estávamos no meio de junho e minha mãe insistia para eu largar a festa do meu aniversário em alguma boate de Hollywood para que fosse comemorar em Boston, com ela, com meus amigos de lá e também junto com meu sobrinho, que fazia aniversário no começo do mês seguinte.
Eu já tinha pensado na possibilidade, mas não por aquele motivo. Eu precisava ter certeza dos meus sentimentos. Fazia um bom tempo que eles não me atrapalhavam. Meu último relacionamento havia sido mais questão de comodidade do que de sentimentos, realmente. Era alguém que eu conhecia, já tinha me envolvido, mas não era a pessoa que eu queria e sim uma opção confiável e divertida para ocupar o tempo. Nem isso acabou dando certo. Como romântico que eu era, eu queria mais, eu precisava de mais, nada de comodidade. Se fosse comodidade, que fosse com uma pessoa que eu amasse e que estaria lá, sorrindo quando eu chegasse em casa tarde, ou uma pessoa que brigasse comigo por chegar tarde, por trabalhar demais, por qualquer motivo. Alguém que tivesse uma posição comigo.
Então eu iria. No fim de semana seguinte, eu voltaria a Boston e voltaria, com alguma desculpa, até a agência de assessoria. Eu precisava de alguma desculpa, por mais boba que fosse.
- Filho! – Minha mãe falou ao abrir a porta de casa e se deparar comigo.
Logo, ela me envolveu em um abraço e não deu nem tempo de eu tirar os óculos escuros.
– Meu aniversariante! Feliz 32 anos, meu amor! – Ela falou enquanto segurava meu rosto em suas mãos.
- Obrigado, mãe! – Falei rindo.
Todo ano era exatamente a mesma situação. Eu ia para Boston ou ela ia para Los Angeles. Sempre segurava meu rosto em suas mãos, me dava parabéns e me abraçava. Era desse jeito desde que eu me lembrava.
- Vem, entra! O almoço já está saindo! – Ela me puxou e eu entrei.
Sua casa em Boston tinha uma sala gigante que incluía sala de estar, cozinha e sala de jantar, e atrás da sala de jantar, uma parede de vidro que dava para o quintal. A mesa já estava posta, para oito pessoas.
- Quem não vem? – Perguntei, contando novamente os pratos postos.
- Scott! Ele está preso em Nova York, mas falou para te preparar que tem uma surpresa para você à noite. – Ela falou enquanto colocava uma grande vasilha na mesa.
- Eu deveria ter medo?
- É seu irmão, o que você acha? – Dei uma risada enquanto roubava uma batata frita da mesa. – Christopher! Longe da mesa, agora!
- Irmão! – Carly apareceu na porta do quintal com minha sobrinha no colo.
- Carly! – Falei me aproximando dela.
Ela me apertou fortemente com um braço enquanto segurava Stella com o outro braço.
- Feliz aniversário, meu irmão! Muita paz, saúde, felicidades e mais sucesso ainda na sua vida! Que Deus sempre te abençoe e que você encontre o amor da sua vida! – Ela me olhou com um sorriso no rosto. – E logo! – Soltei uma risada.
- Obrigado, Carly! – Senti sua mão acariciando meu rosto.
Fiquei em silêncio por algum tempo, seus olhos me encaravam com ternura.
– E bem... – Falei devagar. – Talvez... Só talvez eu esteja com alguém agora. – Sua boca se escancarou rapidamente.
- Como assim? – Ela falou em um tom mais cochichado.
- Depois a gente conversa. – Falei baixo, pegando minha sobrinha que acordava em seu colo. – Oi, Stella! – Segurei-a em meus braços e beijei sua bochecha, fazendo ela soltar uma risada.
- Crianças, almoço está na mesa! – Minha mãe falou, colocando uma grande travessa na mesa e chamando o resto do pessoal na varanda.
Os outros dois filhos de Carly vieram correndo, e o marido dela atrás. Shanna vinha ao seu lado.
- Tio Chris! – Cada um abraçou uma perna minha e eu soltei uma gargalhada. – Feliz aniversário! – Eles falaram em coro.
- Obrigado, meninos! – Eu me abaixei com Stella no colo e cada um deu um beijo em cada bochecha minha.
Logo, me levantei.
- Chris!
Shanna vinha logo atrás. Entreguei Stella para Carly e abracei minha irmã fortemente.
– Tudo de bom, meu irmão! Que você seja muito feliz! Sempre! – A cada palavra que ela falava, ela me abraçava mais forte, até que soltou!
- Obrigado, Shan! – Dei um beijo em sua cabeça.
- Feliz aniversário, Chris, tudo de bom! – O marido de Carly me abraçou rapidamente e trocamos um aperto de mão.
- Venham, gente, vamos comer! – Minha mãe insistiu.
Nós sentamos à mesa e notei que minha mãe tinha feito macarrão com almondegas, meu favorito. O almoço correu normalmente, cada um contando sobre os últimos acontecimentos, eu falando um pouco da minha última semana mas sem mencionar . Se eu contasse sobre um possível novo relacionamento para minha família, eu tinha que estar preparado para responder um monte de perguntas da senhora Evans e, como eu ainda não tinha certeza sobre o que ia acontecer entre a gente, preferi ficar quieto. Minha irmã mais velha, Carly, olhava toda hora para mim. Eu soltava um riso fraco e voltava o rosto para meu prato, podendo só imaginar as milhares de perguntas que passavam pela sua mente. Era sempre assim.
Carly foi a pessoa de quem eu sempre havia sido mais próximo. Tínhamos somente dois anos de diferença então, com o passar do tempo, enquanto crescíamos, Carly me ensinava várias coisas, que depois eu repassei para o Scott. Mas com Carly eu tinha uma relação de mais carinho, quase como se ela fosse uma segunda mãe para mim. Além de ser minha irmã, amiga e cuidar de mim, ela me inspirava também, tanto que me inspirou a ser ator. Scott era meu parceiro. Quando eu e ele nos juntávamos, a casa ia abaixo. Desde pequeno, aprontávamos um com o outro – eu mais, é claro – e nossa relação sempre foi ótima. Como irmão mais velho, eu tinha o dever e a vontade de ajudá-lo em tudo, aconselhá-lo, apoiá-lo... Então, quando ele revelou para mim que era homossexual, a reação instantânea foi de susto. Scott tinha só 14 anos e, na minha cabeça, não era como se ele tivesse certeza. Eu, com 16, não tinha muita certeza do que queria fazer da minha vida. Mas eu o apoiei. Quando se é adolescente, não é algo fácil de fazer, principalmente porque as pessoas podem ser e são malvadas, ainda mais quando se é diferente. Mas Scott não estava interessado. Ele queria viver a vida dele e só estava pensando nele, somente nele.
Minha mãe reagiu da forma mais irônica possível. “Eu já sabia”, foram as palavras que saíram da boca dela quando eu contei. Não, eu não deveria ter contado, mas Scott estava começando a ter namorados e minha mãe precisava saber. As mães precisam saber. Ela me contou que, pelo modo que Scott agia algumas vezes, o modo que ele falava, alguns dos seus gestos, isso ficara na cara. Comigo, nada mudou. Nossa irmandade e amizade continuou a mesma. Ele ia continuar sendo meu irmãozinho, uma das pessoas que eu mais amava no mundo. Em alguns momentos, era até melhor ter um irmão gay. Ele que era o primeiro a falar com minhas namoradas, ele que via se elas eram legais ou não. É até engraçado. Ele dá a primeira aprovação, antes da minha mãe, e se torna meio que uma ponte entre eu e ela quando temos problemas. Sei lá se isso faz sentido.
Shanna chegou um pouco depois. Ela era a mais nova de nós quatro, tinha só 25 anos e chegou tarde em casa. Minha mãe a adotou quando ela tinha 9 anos, eu tinha 17 e sei que essa adoção fez com que minha mãe realizasse um sonho. Ela contava que, desde que era pequena, tinha um sonho de adotar uma criança mas que, como teve facilidade para ter filhos, deixou esse sonho de lado quando teve Carly, depois quando me teve e depois com Scott. Quando ela e meu pai se separaram pouco antes dos meus 17 anos, minha mãe ainda estava machucada. Ela estava ferida, e eu já falava sobre sair de casa e Carly já morava fora para a faculdade. Então ela ficaria somente com Scott e, como também estava seguindo a carreira de ator da família, logo ia sair de casa também.
Shanna era muito quieta quando éramos crianças mas, quando eu fui morar fora, quase dois anos sem vê-la fez com que ela entrasse nos eixos da família Evans. Ela era mais solta, tinha mais facilidade em comunicação e se tornou uma pessoa incrível. Tentava mostrar de todas as maneiras o quão grata era por minha mãe tê-la adotado. Ela fazia questão de ser grata e mostrar isso de diversas formas possíveis quando era mais jovem. Ela não demonstrava mais porém, às vezes, ela ficava um pouco abalada com o passado dela, passado esse sobre o qual não sabíamos muito. A única coisa que tínhamos conhecimento era que, quando ela tinha quatro anos, seus pais faleceram em um acidente de carro e ela foi morar em um abrigo de crianças até que fosse adotada. Como normalmente os pais preferem bebês, ela já tinha até perdido as esperanças quando apareceu minha mãe, uma pessoa que não queria outro bebê, já que tinha passado por três e realmente não queria mais trocar fraldas de ninguém. “Somente dos netos”, eram suas palavras. Shanna se irradiou novamente.
Após a separação, meu pai e minha mãe raramente ficavam no mesmo cômodo por muito tempo. Não que eles tivessem ódio um pelo outro mas, sempre que meu pai estava perto, sua nova esposa estava junto, e essa nova esposa era com quem meu pai havia traído minha mãe, então ficava sempre um clima chato. Eu, Carly e Scott ficamos bem chateados com meu pai quando aconteceu mas, com o tempo, não era como se quiséssemos excluí-lo de nossa família, então o contato ficou mais frequente, mas não tanto como voltar para casa da minha mãe. Ele sempre estava lá para me apoiar, lançamentos, filmes... Ele sempre estava presente.
- Bem, eu tenho que passar na agência ainda. – Falei, passando a mão na minha barriga em sinal de satisfação. – Estava uma delícia, mãe! – Disse sorrindo.
- Que bom que gostou, filho! – Ela sorriu de volta. – Bolo e presentes só no domingo, ok?!
Afirmei com a cabeça, rindo. Domingo, então, teríamos a família inteira e meus amigos na casa.
- Eu vou passar na agência e depois vou para casa. Fala pro Scott me ligar, quero saber que horas vamos sair. - Naquela hora, só sobrou eu à mesa e minha mãe do outro lado da bancada, lavando a louça.
- Provavelmente ele vai passar na sua casa umas onze horas, como sempre, então fica pronto. - Soltei uma gargalhada.
- Isso provavelmente é verdade, mas como você o conhece, ele provavelmente vai aprontar alguma.
- Seu irmão? O Scott? – Ela falava com um tom sarcástico. - Ah, filho, imagina! – Gargalhamos juntos.
Bati a porta da minha Lexus ES350 e encarei o prédio à minha frente, focando as letras ID. Ajeitei o boné em minha cabeça e entrei, acenando rapidamente para a ruiva na recepção.
- Feliz aniversário, Chris! – Ela falou enquanto eu me encaminhava para os elevadores.
- Obrigado, Genevive! – Entrei no elevador e apertei o botão do andar que eu já estava acostumado.
Assim que as portas se abriram, eu caminhei até a sala com o nome de Megan. A porta estava fechada mas, como sempre, entrei sem bater.
- Surpresa! – Foi o coro que eu ouvi.
Soltei uma risada, encostando a porta atrás de mim e caminhando até a pequena mesa na sala, onde tinha um cupcake com cobertura azul e uma vela acesa sobre ele. Megan, Derek e sorriam para mim. Eu me abaixei, peguei o bolo em minhas mãos e assoprei a vela, dando uma risada fraca.
- Obrigado, galera! – Megan saltitou em minha direção e me deu um abraço apertado.
- Feliz aniversário, querido! – E logo se afastou.
Derek fez o mesmo movimento que ela, me dando um forte abraço. vinha logo atrás.
- Feliz aniversário! – Ela disse com um sorriso tímido e me deu um rápido abraço, se afastando rapidamente. – Come. – Ela apontou para o cupcake. – Eu que fiz, espero que goste! – Ela se afastou e encontrou Megan no meio do caminho com uma caixa cheia de cupcakes iguais ao meu e um em sua outra mão, mordendo-o e sujando sua boca de cobertura azul.
- Então vocês estão escondendo o ouro? – Falei, tirando a vela do meu cupcake e o mordendo pela metade.
- Estamos escondendo nada, não! – Derek falou com a boca cheia enquanto saía da cozinha.
- Isso está muito bom, ! – Falei, passando a mão no queixo e limpando a cobertura.
- É porque você não chegou no recheio ainda! – Megan falou ao mesmo tempo em que eu dei mais uma mordida no bolo, puxando o chocolate do recheio.
- Oh, meu Deus! – Falei, mastigando devagar o recheio. – Isso é uma delícia! É chocolate? – Encarei , que tinha um sorriso sapeca no rosto.
- Quase! – Ela falou antes de engolir o último pedaço do bolo. – É brigadeiro. Um doce brasileiro!
- É um doce muito bom... Mas que eu prefiro não tentar falar! – Ela soltou uma risada fraca e se mexeu, puxando o celular do bolso e logo colocando em sua orelha.
- Oi! – Ela falou antes de caminhar a passos apressados até sua sala e fechar a porta.
- Hora de voltar ao trabalho! – Derek falou, seguindo o mesmo caminho da , mas entrando na porta à frente.
Peguei mais um cupcake e o engoli rapidamente, tempo suficiente ouvir abrir novamente a porta de sua sala, mas sem sair de lá. Limpei minha boca compressa e caminhei pelo corredor, ficando em frente à porta de sua sala. Lá dentro, ela estava sentada próxima a mesa, digitando algumas coisas rapidamente no notebook. Assim que eu bati na porta, seu olhar subiu para mim e suas bochechas automaticamente ficaram vermelhas.
- Oi! – Falei, entrando na sala.
- Oi! – Ela repetiu, apoiando os braços sobre a mesa.
- Como está o site? – Eu me vi falando.
Dei uma olhada rápida no corredor, encostei a porta delicadamente atrás de mim e me encostei à mesma.
- Sério? – Ela falou arqueando as sobrancelhas e eu dei de ombros.
- Estou tentando puxar papo. – Falei, encarando seus olhos. – A gente não conversou depois... Daquele dia.
- A gente tem algo para falar sobre aquele dia? – Ela falou com um tom de voz mais baixo.
Ela estava zoando comigo, né?!
- Se depender de mim, temos. – Falei no mesmo tom baixo dela e me aproximei da mesa, sentando em uma das cadeiras à sua frente.
- O quê, por exemplo? – Vi que ela engoliu em seco.
- Eu gostei e tenho certeza de que você gostou também. – Ela abriu um sorriso de lado, afirmando com a cabeça.
- Então sim, talvez tenhamos algo para conversar. – Ela soltou uma risada e eu sorri.
- Eu quero mais. – Falei simplesmente, me aproximando da mesa, e a imitei, apoiando os braços sobre a mesa.
- Acho que é possível. – Ela sorriu e comecei a sentir sua respiração bater em meu rosto.
- Eu tenho certeza disso. – Terminei a frase encostando meus lábios nos dela.
Pela mesa em nosso caminho, não deu para aprofundar o beijo nem deixá-lo mais forte, mas só de sentir seus lábios sobre os meus, já me satisfazia.
- Aqui não, Chris. – Ela falou baixo com os lábios colados aos meus também. – A Megan está na sala do lado. – Ela cochichou a última parte.
- Xi! – Falei, arrastando minha cadeira até ao lado da dela e a abracei de lado, encarando a tela do computador. – O que você está fazendo? – Ela automaticamente fechou algumas janelas.
- Surpresa! – Ela falou e eu a beijei novamente.
Dessa vez, deu para aprofundar o beijo mas não por muito tempo, já que o telefone em sua mesa tocou.
- . – Ela falou imediatamente. – Ok! – Ela arregalou os olhos e colocou o telefone de volta no gancho. – Megan quer a gente na sala dela. Agora!
- Ok?! – Falei, me levantando e estendendo minha mão a ela que também levantou.
Assim que eu abri a porta da sala, soltamos as mãos. Mesmo se estivéssemos juntos ou não, estava cedo para oficializar alguma coisa. foi quem entrou primeiro na sala de Megan. Ela se posicionou em um dos lados da mesa e eu entrei ao seu lado.
- Fecha a porta, por favor, Chris!
Ok, fodeu. Fiz o que ela pediu e voltei à minha posição.
- Aconteceu algo, Megan? – perguntou, mantendo as mãos ao lado do corpo, e eu cruzei meus braços.
- Estamos com uma crise, ! E precisamos resolvê-la imediatamente. – encarou Megan meio confusa.
Ela cuidava da minha comunicação, me assessorava, e eu não estava com nenhuma crise...
- Crise? Mas que crise, Meg... – Ela foi interrompida.
- Vocês dois! – Eu arregalei os olhos e pude sentir tensa ao meu lado.
- Mas...
- Eu sou tipo mãe, , e o Chris sabe disso. Não há nada que vocês façam que eu não saiba. Você estava tensa essa semana inteira. Sempre que eu falava o nome do Chris, você tentava agir como se não importava. Já o Chris, sumido a semana inteira e, quando ligava para cá, sempre perguntava de você, inventava alguma desculpa para isso. Acredite, ele não é assim. – Ela falou, se virando e colocando vários papéis em sua mesa.
- Megan, eu... - Fui interrompido.
- E outra, tem câmeras em todas as salas. – Ela riu ironicamente e escondeu o rosto com as mãos. - Eu não ligo, honestamente. – Ela falou séria, mas logo abriu um sorriso. – Vocês dois ficam fofos juntos. E ela é uma pessoa decente, Chris, alguém que eu conheço e sei que vai te fazer feliz.
- Megan, acho que você está adiantando as coisas demais.
- Não, Chris, eu não estou. Vocês podem ficar à vontade, fazer o que quiserem mas, por favor, se não for nada sério, não me deem dor de cabeça. – Ela falou, colocando as mãos na cabeça. – É trabalhoso cuidar de relacionamentos, ainda mais com alguém que trabalha lado a lado contigo, Chris. É mais complicado ainda. Então, por favor, caso isso não for sério, peço que acabem com essa brincadeirinha agora porque eu não vou perder nem meu cliente e nem minha melhor assessora. – Ela bateu a mão na mesa, nos assuntando. – Mas se for sério, o que eu sei que é, façam valer a pena. – Olhei para o lado e afirmava com a cabeça. – Entendidos?
- Sim, chefe! – falou, fazendo Megan rir, e se encaminhou para a porta.
- É sério! – Falei olhando para Megan e pude ver de esguio, parando na porta. – Vai ser sério. – Afirmei com a cabeça, encarando Megan. – Ela vale a pena. – Megan abriu um largo sorriso, fazendo o mesmo movimento com a cabeça.
Assim que eu virei em direção à porta, deu um sorriso e saiu pela mesma. Eu a segui.
- Obrigada! – Ela falou com a voz baixa assim que entrou em sua sala de novo. – Pelo que disse.
- Só disse a verdade. – Falei com o mesmo tom de voz que ela.
- Então... – Falei, quebrando o silêncio que ficou entre nós. – Meu irmão provavelmente vai querer ir em alguma boate hoje, comemorar e tudo mais. Quer ir com a gente? – Cocei a nuca.
- Eu queria ir, mas não posso. – Ela soltou uma risada, arqueei a sobrancelha. – Seu irmão está preparando algo bem divertido e, acredite, eu prefiro ficar fora disso.
- Ele falou alguma coisa? – Ela gargalhou.
- Falou para o Derek! E é melhor que eu não vá junto.
- Você está me deixando com medo. – Assumi.
- É melhor você ficar mesmo! – Ela deu de ombros e se encostou na mesa atrás dela.
- O que o Scott está preparando? – Eu me peguei pensativo e ela riu.
- Só digo uma coisa: se eu sou alguém que ‘vale a pena’, – Ela fez aspas com as mãos. – é melhor se comportar. – Soltei uma gargalhada, colando meus lábios rapidamente nos dela e senti suas mãos subirem para meu pescoço. - Tem alguma coisa vibrando. – Ela falou, descolando os lábios dos meus.
Puxei o celular para fora do bolso, atendendo.
- É melhor que esteja na sua casa, se arrumando. – Ouvi a voz de Scott e soltei uma risada.
- Scott! – soltou uma risada e foi sentar em frente ao computador novamente.
- Estou aqui na ID.
- Espero que ninguém tenha revelado nada. – Ele falou alto, tinha algum som tocando onde ele estava.
- Não. Tentei tirar algo do povo aqui, mas nada. – ria em seu canto.
- Bom mesmo! – E desligou.
- Deu para ouvir tudo que ele disse, sério! – falou em um tom descontraído.
- Bem, melhor eu ir! – Falei, apontando para porta.
- É, hoje eu trabalho até mais tarde. Prefiro finalizar algumas planilhas, e eu me perco muito com elas. – Ela falou, fazendo uma careta ao final.
- Eu te ligo, ok?! – Falei e ela confirmou.
- Leva os cupcakes para casa. Esqueci seu presente, então é meu presente para você. Sei que gosta de sobremesas.
- De fato, eu gosto! – Ela riu. – Até mais! – Acenei.
- Feliz aniversário! – Ela gritou e eu gargalhei.
Dirigi calmamente até meu apartamento em Boston, ficava próximo à casa da minha mãe. Assim que cheguei, tirei minhas botinas e me joguei na cama. Precisava dormir.
Acordei com meu celular tocando. Scott.
- Passo aí em 20 minutos. – Foram suas palavras.
Mas era cedo ainda, não?!
Passei rapidamente pelo banho e coloquei calça jeans claras, uma blusa de manga cumprida preta e minhas conhecidas botinas nos pés. Passei um pouco de gel, deixando meus cabelos para trás, e coloquei minha carteira em um bolso e o celular no outro, saindo de casa.
Todo ano, Scott preparava algo especial para o meu aniversário, e como dissera, era bom que eu ficasse com medo mesmo. Desde que saí de casa, Scott fazia questão de ir me ver, não importasse onde, e preparar uma surpresa de aniversário para mim. Tive algumas situações interessantes e algumas realmente estranhas. Em um ano, ele fechou um aquário e fez um jantar para a família. A parte mais estranha foi que o jantar era peixe também, mas enfim... Teve um outro ano que comemorei na Playboy Mansion, com direito às coelhinhas e o Hugh Hefner em pessoa me congratulando, entre outros. Mas há uns três anos, que foi quando eu definitivamente deixei essa vida de festas e baladas de lado, as festas ficaram mais comuns. Scott provavelmente deveria ter fechado alguma casa noturna de Boston para comemorar meu aniversário, com direito à open bar. Provavelmente meus amigos estariam também e, talvez, algumas dançarinas. Claro, muita mulher bonita, mas eu não o culpava. A única que sabia alguma coisa de era Carly, e só porque eu contara naquela manhã e, para minha mãe falar para eu ter medo, é que Scott realmente aloprava nessas festas. Ele era do tipo fraco para bebida, alguns goles e ele já falaria coisas meio sem sentido, gritando “Party Hard” para todo mundo.
Coloquei os pés para fora do meu condomínio em Boston e uma SUV preta parou na rua. Por trás do vidro, estava meu irmão. As luzes do carro se apagaram e um Scott sorridente veio me abraçar.
- Feliz aniversário, irmão! – Ele me abraçou apertado.
- Obrigado, Scotty! – Dei uns tapas em suas costas e nos afastamos.
- Seu presente! – Ele me estendeu uma caixa preta com um laço dourado.
- Pensei que todo mundo ia me dar presente só no domingo! – Fomos andando até o carro.
- Se eu te desse o presente no domingo, não valeria de nada! – Ele falou rindo e entrou no lado do motorista. – Abre!
- Tá de zoação! – Falei ao abrir a caixa e dar de cara com dois ingressos para o jogo Boston Celtics contra o Los Angeles Lakers, um dos jogos mais esperados da temporada de basquete, um que tinha sido esgotado há muitos meses. – Como você conseguiu isso?
- Não foi fácil mas, quando eu vi a data, tinha que conseguir esses ingressos. – Ele falou, olhando para a rua. – Seus amigos vão nos encontrar lá.
- Isso que é surpresa. – Falei rindo.
Conversamos um pouco até chegarmos no estádio TD Garden, casa dos Celtics. As ruas estavam fervendo, as pessoas procurando lugares para estacionar, os fãs tentando entrar e as duas torcidas bem separadas. Era uma das maiores rivalidades do basquete.
Assim que estacionamos, dois amigos meus de Boston se juntaram a nós.
O jogo foi simplesmente fantástico. Meus grandes amigos comigo, cerveja e amendoim, a galera aloprada por causa dos resultados, a agitação, e o jogo estava muito acirrado. Para ficar melhor, meu time ganhou, nos últimos segundos, com uma cesta de três pontos. Foi o ponto máximo da noite.
Saímos do jogo com uma sensação ótima. Passamos em uma lanchonete e cada um comeu um combo gigante de lanche com fritas e muito refrigerante. Estava me sentindo com 14 anos de novo, a primeira vez em que eu tinha ido a um jogo na vida.
Scott me deixou em casa pouco antes da meia-noite. Perguntei se ele queria subir, mas ele falou que iria passar na casa da mamãe antes, que não tinha conseguido vê-la ainda e estava há quase dois meses fora da cidade.
Eu me arrumei para deitar e, faltando cinco para meia-noite, já na cama, fiz uma rápida oração em silêncio, agradecendo por tudo, por mais um aniversário, pela família e amigos que eu tinha e pelas oportunidades. Eu não tinha nada a reclamar.
Juntei dois travesseiros atrás da minha cabeça e ouvi o celular vibrar na cômoda do lado da cama. Era uma mensagem.
“Feliz aniversário! Tudo de bom, muita paz, saúde, felicidades, amor e mais sucesso na sua vida. Beijos, <3”.
Suspirei. Fazia algum tempo que eu não me sentia assim. Sei lá, eu gostava de me sentir apaixonado, é uma sensação de liberdade, uma sensação de poder voar, uma sensação de leveza. Reli as palavras algumas vezes e, quando notei, já estava discando para . Precisava falar com ela e, se ela havia me mandado essa mensagem, era porque ainda estava acordada.
- Normalmente as pessoas respondem uma mensagem com outra mensagem. – Foram as palavras que eu ouvi assim que ela atendeu.
- Ah, não! Muito impessoal isso. Não me dou muito bem com mensagens.
- Não só com mensagens, mas com nada que seja prático, você quer dizer. – Ela gargalhou do outro lado da linha, me fazendo rir.
- Isso é sacanagem comigo! – Falei, me sentindo ofendido.
- Brincadeira! – Ela falou, ficando em silêncio por um tempo, mas logo gargalhando em seguida.
- Qual é, !
- Ok, eu paro! – Ela falou, ficando em silêncio de novo.
Fiquei ouvindo sua respiração por um tempo e era bom. Ela não falava nada, eu não falava nada, o silêncio era nosso aliado. A noite também.
- Como foi o trabalho hoje? – Eu me vi perguntando.
- Estou zonza de tanto ver planilha. É por essas e outras que eu fiz comunicação. Muitos números me confundem! – Ela falou, fazendo birra. – Pelo menos tenho o dia de folga amanhã! Bem, em partes. – Pude imaginá-la mordendo o lábio inferior e fazendo uma careta.
- Por quê “em partes”? – Falei rindo.
- Essa casa não vai se limpar sozinha, acredite!
- Scott não fez nada louco hoje. Não teve strippers, nem dançarinas exóticas! – Falei, ouvindo sua gargalhada novamente.
- Sério? Do jeito que Derek falou, pareceu que ia ser a balada do ano.
- Não, fomos ao jogo dos Celtics hoje. – Falei, me mexendo na cama e virando de lado.
- Basquete?
- Sério?! – Perguntei.
- Que foi? Brasil é país do futebol, a gente não fica muito ligado em outros esportes, ok?
- Vou pensar no seu caso!
- Sem graça! – Ela ficou em silêncio novamente.
- Eu estava pensando aqui... – Falei meio pensativo.
- O quê? – Ela perguntou.
Fiquei em silêncio por um tempo, precisava saber se o passo que eu estava prestes a dar era maior que minhas pernas, se o próximo passo seria o começo de algo novo, se seria algo que eu estava preparado para entrar de novo e se era realmente o que eu queria.
- Chris? – Ouvi sua voz baixa do outro lado. – Está aí ainda? – Saí de transe.
- Você quer sair comigo, ? Sério! Um encontro? - Foi como se eu prendesse minha respiração e o tempo passasse mais devagar.
Fechei meus olhos e passei meus dedos sobre eles, esperando.
- Quero! – Ouvi sua voz do outro lado da linha e sorri.
Capítulo 03
To pick you up on our very first date
Is it cool if I hold your hand?
[...]
Do you like my stupid hair?
Would you guess that I didn't know what to wear?
(Eu mal posso esperar
Para te pegar para nosso primeiro encontro
Tudo bem se eu segurar sua mão?
[...]
Você gosta do meu cabelo estúpido?
Você adivinharia que eu não sabia o que vestir?)
Blink 182, First Date
- Por que você não faz o que eu estou mandando? – Falei, clicando pelo menos umas vinte vezes a tecla enter e encarando a página que continuava travada.
- Ei, o que o computador te fez? – Ergui a cabeça e encontrei Derek parado na minha porta.
- Ai, isso já travou umas quinhentas vezes só hoje! – Ele entrou na sala e se aproximou de mim. – Toda vez que eu vou postar no site, ele trava e depois, quando destrava, o link quebra.
- Deve ser a internet. Desde a hora que eu cheguei, nem meu no meu e-mail eu estou conseguindo entrar. – Ele puxou a cadeira perto da porta e se sentou ao meu lado, quando a tela destravou.
- Mas isso precisa ficar online hoje. – Suspirei. – Mais uma vez. – Falei e comecei o processo novamente, ouvindo o telefone ao meu lado tocar. – Ah, espera! – Gritei para o telefone. - Pega o link, digita o código, coloca o link no código... – Peguei o telefone e cliquei enter. – Mas que inferno! – Falei, colocando o telefone no ouvido. – , boa tarde.
- Nossa, calma. O que eu te fiz? – Ouvi a voz do Chris do outro lado da linha e fiz uma careta.
- É ele? – Derek sussurrou ao meu lado e eu concordei com a cabeça.
- Não, nada. – Suspirei e abaixei a tela do computador. – O processo tá meio lento aqui hoje, sabe? – Apoiei minhas costas na cadeira e vi Derek aproximar o ouvido do telefone. – Mas e aí... Como você está? – Respirei. – Onde você está, na verdade? – Ele soltou uma risada antes de responder.
- Cheguei em Los Angeles agora. Finalmente posso tirar esse loiro do cabelo. – Ele riu e eu o acompanhei.
- Como foram as gravações? - Perguntei, me levantando da cadeira e vendo Derek me seguir de novo.
Eu o encarei, ele deu de ombros.
- O de sempre. Explosões que não existem, escudos que não existem e até pessoas que não existem. - Eu ri e pude ver, em minha mente, ele sorrindo. - Mas enfim... Vou estar em Boston amanhã, depois de duas semanas. Me desculpa, mas podemos sair?
- É seu trabalho, Chris, não tem problema. – Suspirei. - Sair? Amanhã? É... Acho que dá! – Falei, procurando desesperadamente o calendário no celular e o que Derek tomou da minha mão e abriu rapidamente.
- Pro nosso encontro. - Eu abri um sorriso gigante no rosto, fechando os olhos, animada.
- Você se lembrou. - Minha voz saiu baixa, quase em um sopro.
- Você achou que eu ia me esquecer? - Sua voz parecia meio brava.
- Ah, sei lá. Foram quase duas semanas sem nos falarmos, só por algumas mensagens esporádicas. – Eu o ouvi suspirar.
- Eu disse que não me dou muito bem com celular. - Eu abri um sorriso de lado. - Mas combinado amanhã?
- Claro! O que tem em mente? - Abri um sorriso longo e voltei a me sentar na cadeira próxima à escrivaninha.
- Isso você só vai descobrir amanhã às 17 horas, quando eu te pegar na sua casa.
- Às 17h? Chris, você sabe que eu sou uma pessoa normal, com um trabalho normal, não? Saio às 18h, chego em casa quase 19h e ainda preciso de uma hora mais ou menos para ficar pronta. Antes das 20h, não dá!
- É, mas você tem a Megan como chefe. Relaxa, te pego às 17h. Até amanhã.
- Espera... Chris! - Falei mas ouvi a linha no telefone desligada.
- Ele pode ser bem convincente. - Derek falou, se levantando de onde estava anteriormente.
- Convincente? Ele quer que eu seja demitida, certo? - Suspirei. - Megan está razoavelmente calma com a situação, mas eu não posso simplesmente largar meu emprego para sair com o cliente dela!
- Quem disse que é você que vai pedir para faltar amanhã para “sair com o cliente dela”? - Ele fez aspas no final da frase, e eu o olhei sem entender. - Ele que vai falar, queridinha. E se acalma porque você tá muito irritada. – Eu me joguei na minha cadeira, soltando fortemente a respiração.
- Desculpa... Eu só... - Suspirei de novo. - Sei lá, estou rabugenta hoje.
- Então relaxa, bem! - Ele se colocou atrás de mim. - Endireita as costas! - Ele falou, eu me ajeitei na cadeira e senti suas mãos em meus ombros. - Pensa assim... “Eu vou sair com um dos homens mais gostosos e famosos do planeta”. - Franzi o cenho e ergui o rosto para ele. – Não fala nada, vai, repete.
- Eu vou sair com um dos homens mais gostosos e famosos do planeta. - Falei de má vontade.
- “E eu vou me divertir muito e beijar muito, porque gosto dele.” - A cada palavra, ele apertava meus ombros, massageando.
- E eu vou me divertir muito e beijar muito, porque gosto dele. – Falei, abrindo um leve sorriso nos lábios.
- “E vou estar linda e maravilhosa para ele ficar babando o tempo todo.” - Arregalei os olhos.
- Meu Deus, eu preciso de roupa nova! – Falei, empurrando a cadeira e me levantando da mesma, ouvindo um gemido de dor vindo de Derek por ter empurrado a cadeira em cima de seu pé. - Eu preciso de cabelo, maquiagem, manicure! – Disse, pegando minha bolsa e puxando alguns cartões da mesma, procurando alguns telefones. – Ai, meu Deus, eu não posso sair com “um dos homens mais gostosos e famosos do planeta” assim! Meu cabelo está seco, minhas unhas estão horríveis e... – Eu o encarei e senti segurar meus ombros, me parando.
- Calma, mulher! Relaxa! - Ele encarou fundo em meus olhos. - Calma!
- Tá tudo certo, gente? - Ruth, a estagiária, apareceu também na porta da minha sala.
- Só a se dando conta de que vai sair com um cara lindo e famoso! - Derek falou ironicamente.
- Só agora, ? - Ruth riu.
- Ah, eu não tinha me dado conta disso ainda, ok?! Sei lá, isso é tudo novo para mim. - Falei suspirando. - E outra. Agora que ele realmente marcou, ok?! - Ruth riu.
- Bem, divirta-se. - Ruth falou, acenando. - Eu vou cuidar do meu bebê!
- E como ela está, Ru? - Falei e ela abriu um largo sorriso.
- Ah, ela está ótima. Linda e crescendo mais a cada dia. Todo mundo lá em casa está feliz.
- Tem que trazer ela logo para gente conhecer, ok?! - Ela acenou com a cabeça. - E o pai?
- Ele está indo bem. Sua mãe meio que o obrigou a participar das coisas, mas parece que ele está realmente gostando disso tudo.
- E vocês dois? - Perguntei um pouco mais sutil.
- Não, nada. Sei lá, a gente só teve um filho juntos, totalmente não planejado. Era para ser só uma noite de diversão, e isso acabou nos unindo de alguma maneira. Não penso dessa forma e, pelo jeito, ele também não.
- Ah, pelo menos ele está te ajudando – Derek comentou, ainda atrás da minha cadeira.
- Sim, já é alguma coisa. Ele começou a trabalhar, está ajudando a pagar algumas coisas... Está tudo bem. - Ela sorriu.
- Ah, fico feliz, Ru! Você realmente merece! Você é linda, estudiosa, realmente se preocupa. Você tem tudo para dar certo, querida! - Dei um rápido abraço nela e um beijo em sua bochecha. - Agora vai lá cuidar da sua pequena.
- Tchau, gente, até amanhã! - Ruth gritou enquanto deixava o local, colocando sua mochila nas costas.
- Agora somos eu e você de novo, dona ! - Derek falou, cruzando os braços.
- Prometo que não surto mais! – Falei, erguendo as mãos. - E desculpa pelo pé!
- Não é isso! - Ele balançou as mãos. - É sobre a parte de roupas, maquiagem, manicure e cabelo.
- Ok. – Eu o encarei.
- Acho que está na hora de você conhecer meu marido!
- Não que eu esteja reclamando, mas acho que não entendi. - Mantive meu olhar no dele.
- Que horas são? - Continuei encarando-o, desentendida. - Bem, são quase 18 horas. Termina o que tem que fazer e me encontra no meu carro o mais rápido possível.
- Ok. - Falei, mas ele já havia saído da sala.
Suspirei e arrastei minha cadeira até a escrivaninha novamente. As últimas duas semanas haviam sido realmente complicadas para mim. Fazia muito tempo que eu não ficava com alguém, e muito menos que esse alguém se importasse comigo. Desde que eu havia chegado em Boston, eu não fiquei com ninguém. Meu foco permanecia todo nos estudos e, em fazer turismo pelos estados ali perto, Nova York, Vermont, Rhode Island, a última vez em que eu estive em um relacionamento havia sido no último ano da minha faculdade, quando eu tinha 21 anos. Também havia durado pouco mais de 4 meses. Ele estava se divertindo ainda, e eu já começava a pensar em meu futuro, um futuro que, até então, não tinha se concretizado.
Então, após o beijo de Chris e ele ter me chamado para sair com ele, foi como se descongelasse meu coração, me fazendo ficar mais leve novamente, precocemente apaixonada talvez. Quando ele meio que sumiu aquela semana com Megan para gravar em Cleveland, eu fiquei pelo menos uns 5 dias sem receber nenhuma notícia dele, somente os relatórios de Megan falando das gravações e alguns comentários do tipo “Ele fala de você” ou “Se preocupa não, ele está ocupado”. No começo, eu não acreditava. Achava que Megan só estava agindo como amiga até que recebi um SMS dele com um simples oi para que pudéssemos conversar, e foi naquela noite que ficamos conversando por SMS, mas depois passou mais alguns dias sem nenhuma mensagem, então isso tinha me deixado brava sim. Eu comecei a imaginar milhares de coisas que pudessem ter acontecido – e claro, começava a criar milhares de situações, chegando até a xingá-lo por achar que tinha saído com outra ou algo assim mas, pelo pouco que eu conhecia ele, eu sabia que ele não faria isso. Ele não era assim. Se ele havia me chamado para sair, era porque ele realmente queria. Ele queria sair comigo.
Agora esse encontro, por mais que eu quisesse sair com o Chris, havia uma parte que, como pessoa, ficava martelando isso na minha cabeça. Ele não era um dos meus ex-namorados que simplesmente ia me levar para jantar e era isso aí. Era o Chris Evans que ia me levar para jantar, uma figura pública com milhares de fãs ao redor do mundo, e ele era simplesmente de tirar o fôlego. Ficar perto dele algumas vezes causava certo transe na minha pessoa. Ele já agia com a maior naturalidade perto de mim, e às vezes eu o olhava como aquela fã do primeiro dia em que eu o conheci. Aquela fã que o amava de uma maneira, mas que agora estava passando a amá-lo como mulher. Uma mulher que mais parecia uma menina ao pensar no beijo na minha casa naquele fatídico sábado.
Encarei minha mão esquerda e notei a pequena marca branca que havia sido causada pela taça quebrada. A marca era menos visível agora, quase imperceptível, mas era algo que eu sempre gostava de olhar, porque aí eu saberia que realmente tinha sido verdade.
- Só espero que estejamos no mesmo capítulo, Christopher! - Suspirei e, àquela hora, consegui fazer rapidamente upload de um vídeo de um evento da noite passada.
Divulguei nas redes sociais da ID e o adicionei ao hotsite dele. Abaixei a tela do notebook, peguei minha bolsa que estava jogada na cadeira em frente à escrivaninha, joguei meu celular e meu pen drive dentro dela e puxei a porta, tanto da minha sala quanto da sessão de Megan.
Derek estava sentado no banco do motorista de seu carro e cantava baixo uma música do Queen. Assim que eu entrei em seu carro, ele deu um sorriso animado e deu partida no carro, saindo do estacionamento subsolo da ID.
- Não quer me levar para casa? - Falei meio manhosa, forçando um bocejo.
- Ah, , ânimo! - Apoiei a cabeça no encosto do carro e escorreguei o corpo um pouco para baixo. - Ei, o que foi? - Ele falou, virando o rosto por um tempo antes de olhar para a rua novamente.
- Sei lá, estou meio... - Fiz uma pausa por um minuto. - ... Incerta sobre isso!
- Por quê? O que há de incerto nisso? Você gosta dele, ele gosta de você. Um encontro, possível relacionamento, hein?! – Suspirei, fechando meus olhos por um momento.
- Ele realmente gosta de mim? Eu não sei, Derek! Ainda não aprendi a ler sentimentos.
- Claro que gosta, ! - Ele freou o carro em um sinal vermelho e se virou para mim. - E ele já deixou isso claro naquela semana do aniversário dele. Ele ligava toda hora para cá!
- É... Mas e essa semana? Ele me ligou hoje, só ficava mandando mensagem. - Continuei com meu rosto abaixado.
- O Chris não mistura trabalho com relacionamentos, ! Você viu isso! - Ele suspirou e continuou a dirigir. - Quando ele estiver longe, liga para ele, faça uma surpresa.
- Eu não tenho esse costume! - Falei baixo.
- Aprenda a ter. Homens também gostam disso. É bom saber que a pessoa que a gente gosta lembra da gente. - Abri um sorriso de lado, ele tinha razão. - Deixa as coisas rolarem. Se for para ser, elas vão rolar do jeito certo.
- Obrigada, Derek!
- Estou aqui para isso, ! - Ele segurou minha mão que estava apoiada no painel e abriu um largo sorriso. - E para te apresentar sua fada madrinha também. - Soltei uma gargalhada.
Assim que Derek estacionou o carro, avistei um sobrado com as paredes pintadas de branco e alguns detalhes em preto. Ele tinha um tom meio moderno e, de longe, passava despercebida de todas as casas, mas quando entrei, notei que era um ateliê.
- O que estamos fazendo aqui? - Comentei quando ele atravessou a cortina em nossa frente e puxou minha mão para acompanhá-lo.
- Rupert? Está aqui? - Ele gritou e foi quando notei o local.
Araras com os mais diversos tipos de vestidos se espalhavam pelo primeiro andar. Quem olhasse de fora, não diria que aquele sobrado tinha todo aquele tamanho. Desde vestidos simples até vestidos de festa, curtos até longos, do mais escuro até o mais branco vestido de noiva que eu já havia visto. Vestidos simples de algodão até vestidos de tafetá e renda guipir. Era o paraíso dos vestidos.
- Derek, é você? - Um ruivo surgiu do segundo andar.
Ele tinha o mesmo porte de Derek, mas era maior e mais malhado e possuía uma barba cheia da mesma cor de seus cabelos. Sua pele era bem clara e algumas sardas podiam ser vistas de longe em seu rosto.
- Oi!
- Uma pessoa aqui precisa da sua ajuda! - Eu soltei uma risada e passei a mão nos meus cabelos castanhos soltos, um tanto quanto envergonhada.
Rupert desceu as escadas e apareceu no primeiro andar do ateliê rapidamente.
- Oi, tudo bem? Rupert! - Ele falou, me dando um rápido abraço e um beijo em minha bochecha.
- ! - Sorri e ele foi cumprimentar Derek.
Não sei se foi por costume ou por mim, mas eles somente deram um beijo na bochecha de cada um e ficaram lado a lado, me encarando.
- Qual é a emergência? - Rupert perguntou, nos olhando.
- Ela vai sair com o Chris. – Derek falou. – Um encontro, amanhã, no fim da tarde.
- Chris? - Encarou Derek. - Evans? - Derek confirmou. - Então você é a garota por quem o Chris está apaixonado? - Nessa hora, eu quis cavar um buraco e sumir rapidinho.
- Acho que sim! - Eu ri e ele me acompanhou. - Derek me trouxe aqui e agora entendo o motivo. Você que desenha os vestidos? São lindos!
- Que bom que gostou. Sim, sou eu! - Ele soltou uma risada e se aproximou de mim, passando a mãos em meus cabelos. - E aqui também tem um pequeno salão também. Usamos para preparar noivas, mas também para outras coisas. - Ele deu uma piscadela para mim e eu senti que fiquei vermelha. – Então... Vamos começar?
- Mas espera! Eu acho que não estou entendendo. - Encarei os dois, um de cada lado meu, e ambos riram, cúmplices.
- Você disse que não tinha roupas, certo? - Derek falou sugestivamente e eu comecei a entender.
- Ah sim! - Comecei a rir e fui puxada por Derek para as diversas araras que preenchiam o primeiro andar.
Ter uma loja inteira de vestidos só para mim era algo que nem em mil sonhos eu podia imaginar! A quantidade de opções que Rupert tinha lá tirava meu fôlego. Cores, tecidos, comprimentos... Tudo era separado em sessões. Ao fundo, atrás das araras, tinha um espaço grande como se fosse uma passarela cheia de espelhos e uma larga porta para os provadores, porta essa por onde eu passei várias vezes. Por mais que eu quisesse mexer e remexer naqueles cabides e descobrir tudo que eles seguravam, Rupert e Derek não deixaram. Eles me colocaram sentada em um sofá e fizeram perguntas sobre que tipo de cor eu mais gostava, curto ou longo, algodão ou crochê... Enfim, tudo. E anotaram isso em um bloquinho. Quando terminaram, me largaram sozinha por uns dez minutos.
Logo eles surgiram novamente. Cada um trazia um vestido e, enquanto eu provava o de um deles, outro já corria atrás de mais alguns, que foram surgindo em minha mão conforme o tempo passava. Eu já tinha ficado até confortável por eles me verem de lingerie – porque não bastava eles procurarem os vestidos, eles também me ajudavam a provar e conversavam entre si sobre roupas, sapatos, maquiagem e todo o resto. A mulher de lá era eu, mas eu me sentia um peixe fora d'água, tentando acompanhar tudo. Havia perdido a conta depois do décimo quinto vestido, e outros surgiram após isso. Quando surgi em um roupão fora do provador, vi uma arara com uns doze vestidos, todos com o cumprimento até o joelho.
- E aí? - Derek falou, me olhando.
Suspirei e comecei a passar os cabides novamente, como se eu não tivesse visto nenhum daqueles vestidos. Eu olhava detalhes, o que sobressaía neles e fui selecionando.
- Acho que é esse! – Falei, tirando o cabide em minha frente da arara.
- Não poderia ter escolhido melhor! - Rupert falou e trocamos um sorriso cúmplice.
Enquanto eu colocava minha roupa do trabalho, Rupert sumiu novamente com Derek. Vesti minha calça social preta e minha blusa azul e peguei os sapatos de salto na mão. Podia sentir meus pés latejando, já que tinha que desfilar com ele a cada prova de vestido, como se já não bastasse passar oito horas por dia em cima deles. Saí do provador, pronta para ir embora, quando Rupert acenou para mim do andar de cima.
- Vem cá! - Soltei meus saltos no chão novamente, próximo ao balcão onde estava minha bolsa, e segui para as escadas.
O segundo andar não era um simples salão como Rupert havia dito. Estava mais para um SPA. Tinha espaço para cabelo, manicure, maquiagem, depilação, massagem e ainda um banheiro com uma hidromassagem gigante.
- É aqui que preparamos as noivas! - Derek falou, folheando uma revista à sua frente, e notei a mulher do seu lado. - Essa é Denise, vai cuidar das suas unhas agora.
Olhei a mulher com a pele acobreada. Ela tinha cabelos pretos cacheados que estavam presos em um rabo de cavalo. Usava as roupas parecidas com Rupert, jeans e blusa preta. Estava muito bem maquiada e tinha luvas nas duas mãos.
- Agora? - Olhei para Derek.
- Você, por acaso, tem algo melhor para fazer? - Ele disse com desdém. - Por favor, hein! - Rupert gargalhou ao meu lado e eu empurrei seu ombro com o meu.
Arregacei as mangas da minha blusa e a barra da minha calça e me sentei em frente à Denise.
Ali eu fiquei por muito tempo. Eu conversava com Derek e Denise enquanto a segunda fazia minhas unhas, pintando as das mãos de vermelho escuro e as dos pés em um branco delicado. Rupert havia soltado meu cabelo e mexia nele, tentando fazer alguns penteados. Pegava a chapinha e o baby liss, fazia e desfazia. Nem que ele tivesse que ir na ID durante a tarde para que eu tivesse meu cabelo feito, meu rosto maquiado e que levasse o vestido junto para ficar pronta no tempo, ele o faria porque, segundo eles, eu ia sair às 17 horas de lá com o Chris, nem se fosse por cima do 'cadáver deles'. Queria só ver se Megan ouvisse isso!
- Seu cabelo é bonito, , só está mal cuidado! - Eu fiz uma careta. - Que tal fazer uma hidratação? Aí eu faço uma escova, prendo essa parte aqui... - Ele falou, puxando a frente do meu cabelo para trás. - Assim... - Pegou os lados e cruzou, prendendo com grampos, e colocou um pouco de spray. – Assim ele não escapa e seu cabelo já faz algumas ondas naturalmente. Dá para gente só firmar elas.
- Vai ficar muito bonita, senhorita ! - Denise falou e eu fiquei me encarando no espelho.
- Vocês não acham demais? – Falei, soltando um suspiro.
- , você tem que mostrar para ele que é muito superior àquelas famosinhas que ele namorou. Você é muito mais que elas, ok? Tirando a parte de ser uma menina estudada, mas isso a gente não precisa nem comentar! - Derek falou com seus olhos focados na revista em sua frente.
- Obrigada por massagear meu ego, Derek, mas eu não estava falando nesse sentido. - Ele baixou a revista e me encarou. - Mas essa é a questão, sabe? Eu não sou famosa. E não quero aparentar ser uma. Quero ser aquela pessoa que ele conheceu naquele restaurante há três meses, aquela menina que saiu com o cabelo molhado e esperou que ele secasse e armasse ao vento, que saiu calçando os sapatos no hall dos elevadores, sabe? - Suspirei, sentindo Denise passar um creme em meus pés e os massagear.
- Você ainda vai ser essa pessoa, ! - Derek falou, me olhando. - Mas, por favor, mulher, você é um mulherão. Nada de menina, ok?! - Soltei uma risada e confirmei com um aceno de cabeça.
- E , isso não tem nada a ver. Toda mulher gosta de se arrumar, não?! Comprar roupas novas, fazer as unhas, ir ao cabeleireiro... Estou certo? - Rupert falou enquanto segurava todos os meus fios de cabelo em uma mão só. - Ou um rabo de cavalo alto, se você preferir. - Eu olhei no espelho novamente e dei uma risada.
Aquela era a quando ficava em casa o dia inteiro, mas poderia ser a de um encontro também.
- Sou de vocês! – Falei, me dando por vencida.
Na verdade, eu já saberia que sairia perdendo porque eu era minoria ali e, é como Rupert falara, que mulher não gostaria de se arrumar? Por mais cansada que eu estivesse do trabalho, eu estava me divertindo provando todos aqueles vestidos, fazendo as unhas e mexendo no cabelo. Era como quando eu era mais nova e brincava de salão com minhas amigas só que, dessa vez, eu ganhava vestidos de verdade, as maquiagens eram bonitas e uma escova não ficava presa no meu cabelo armado.
Assim que Denise terminou de fazer minhas unhas, eles ligaram o ar condicionado e fecharam as janelas do segundo andar. Da mesma maneira que Denise sumiu, ela apareceu novamente com várias maletas, que só mais tarde eu descobri que estavam cheias de maquiagem. Eu sentei em uma cadeira de salão e ela a inclinou um pouco, me deixando quase deitada. Desabotoaram alguns botões da minha blusa e colocaram uma toalha na altura do meu peito.
- Que horas é o encontro? - Denise perguntou, passando um produto para limpar minha pele.
- Às 17 horas. - Falei enquanto ela passava o algodão em meus lábios.
- Então dá para fazer uma maquiagem mais leve! - Ela falou, passando base em meu rosto. - E usar um batom vermelho. Seus lábios são pequenos, vai chamar atenção para eles.
- Eu gosto de batom vermelho. - Falei rindo.
- Perfeito! - Denise falou antes de pedir para eu fechar meus olhos.
- Sei lá, o Chris falou que daria um jeito de eu sair mais cedo, mas não foi muito específico no caso! - Falei enquanto Rupert dobrava o vestido azul e o colocava em uma sacola preta com as iniciais RVS em branco.
- Bem, qualquer coisa me liga mas, se você não ligar até às 15 horas, a gente aparece lá! - Rupert falou enquanto Denise concordava ao seu lado.
- Ok! Derek, me passa seu número! – Falei, puxando minha carteira da bolsa. - Quanto te devo, Rupert?
- Nada! - Olhei com a testa franzida.
- Não. Sério, Rupert! - Abri a carteira, puxando meu cartão. - Eu realmente gostei dos seus vestidos, vou voltar aqui mais vezes.
- Então faremos o seguinte... Quando você e o Chris forem um dos casais mais cobiçados do mundo, prometa que vai usar minhas criações nos eventos! - Revirei os olhos mas não pude segurar uma risada. - Ou quando se casarem! - Não pude conter uma gargalhada.
- Vamos focar no primeiro encontro, ok?! – Falei, tocando seu ombro. - Um passo de cada vez. - Ele deu de ombros e mostrou a língua.
- Bem, estamos combinados, então? - Concordei com a cabeça e peguei a sacola que ele entregava.
- Sim. Qualquer mudança, eu ligo. - Coloquei meus saltos novamente.
- Vamos, , eu te levo. - Derek falou, puxando a chave do carro do bolso.
- Não precisa, eu pego um táxi. Já atrapalhei vocês o suficiente por hoje. - Eles riram e acenaram enquanto eu saía pela porta.
Assim que passei pelo batente da porta de entrada do meu apartamento, eu fui deixando as coisas pelo caminho, começando pelos meus sapatos, depois a bolsa, a blusa, a calça e, por último, minha roupa íntima, que ficou em cima da pia do banheiro antes que eu ligasse o jato de água frio em cima de meu corpo. Fisicamente, eu ainda estava elétrica mas, mentalmente, eu não aguentava mais. Precisava de comida e, depois, da minha cama. Passei o sabonete em meu rosto fortemente, tentando tirar a maquiagem, e passei as mãos nos rolinhos cacheados, tirando os nós. Coloquei uma quantidade exagerada de condicionador no meu cabelo e penteei mecha por mecha com o produto agindo, deixando-o escorrer pelos meus fios enquanto saía com a água.
Saí do banho e enrolei a toalha em meus cabelos enquanto passava um creme pelo meu corpo, Não que eu fosse muito de cremes, mas eu estava merecendo me cuidar um pouco mais – e sim, isso tinha a ver com certo ator famoso que eu encontraria no dia seguinte. Fiquei deitada um pouco em minha cama enquanto o creme secava e, logo, joguei uma camisola por cima do meu corpo. Calcei meus chinelos correndo, montei dois mistos-quentes e os coloquei no grill. Procurei um copo no escorredor, me servi de um pouco de suco gelado e o tomei em um único gole, soltando um suspiro antes de colocar o copo dentro da pia. Peguei um prato e coloquei os lanches nele. Andei até o sofá de três lugares, me sentando de lado no mesmo. Coloquei as pernas para cima e o prato em cima de minha barriga enquanto procurava os controles da TV. Zapeei os canais brasileiros na TV a cabo, mas desisti da programação de novelas e coloquei em algum canal de filmes qualquer.
Quando dei a primeira mordida em meu lanche, vi o rosto conhecido de um ator da Marvel e franzi a testa, tentando reconhecer o filme, e arregalei os olhos no instante seguinte, quando o rosto retangular de Chris apareceu, os cabelos tingidos de um tom puxado para o laranja e raspados nas laterais com somente um grande topete em cima. O cavanhaque propositalmente engraçado e óculos de grau redondos completavam o personagem. Soltei uma risada irônica e larguei o controle novamente no sofá. Esse era, definitivamente, um dos meus filmes favoritos dele. Era um filme totalmente despretensioso, mas muito engraçado. Sempre me fazia rir. O filme já estava no fim, então terminei de comer meus lanches e esperei o final antes de lavar a louça que estava acumulada desde o dia anterior.
Foquei meus olhos no horário e vi que precisava dormir logo porque, se demorasse um pouco mais, eu não dormiria o tempo suficiente e ficaria reclamando de sono no outro dia inteiro, e eu podia ter tudo nele, menos sono. Andei até meu quarto, puxei o celular da bolsa, vendo algumas notificações de mensagem no Facebook e no WhatsApp, e deitei na cama. Liguei o abajur ao meu lado e bati a mão no interruptor ao lado da cama. Abri o WhatsApp e o nome Chris Evans estava em negrito, denunciando uma mensagem dele.
“Te vejo amanhã?” - às 11h33.
“Já falei com a Megan, amanhã ela fala contigo” - às 20h17.
“Como eu sei se você já viu a mensagem?” - às 21h03.
“Esquece x)” - às 21h05.
Não pude conter o riso com as mensagens. A proximidade dele com os programas tecnológicos era engraçado, ele não tinha nenhum conhecimento, nenhuma agilidade. Olhei o horário atual e já passava da meia-noite. Não sabia se ele já estava dormindo, mas achei que ele merecia uma resposta.
“Estou pensando em você” foram as palavras que eu escrevi. Pensei um pouco antes de apertar a tecla de enviar. Soltei um suspiro e, antes que eu partisse para a próxima notificação, o telefone vibrou novamente em minha mão.
“Eu pensei em você o dia inteiro... Todos esses dias”. Abri um sorriso largo e fiquei encarando a foto dele lá no topo da conversa e a palavra online ao seu lado.
“Eu deveria estar indo dormir agora” digitei, incluindo um emoji de sono ao lado e enviei.
“Só te deixo dormir porque tenho vários planos para gente amanhã” foi sua resposta, um pouco mais rápida.
“Que planos?” Respondi, sabendo que a pergunta ia ser em vão, e já mandei outra mensagem “Bom mesmo, você não ia querer me ver com sono... Eu fico meio chata”.
“Não vou contar e vai dormir, te quero desperta amanhã”. Mordi o lábio inferior involuntariamente, deixando meus pensamentos irem longe. “Boa noite, linda!”.
“Boa noite, Christopher”. Olhei as três palavras, acrescentei um coração ao lado e o apaguei em seguida, mandando somente a mensagem.
- Pense em mim. – Sussurrei, desativando o Wi-Fi do celular e o conectando no carregador acoplado na parede.
O dia na ID foi incrivelmente louco. Assim que eu passei pelas portas do elevador, tinha assessores correndo por todos os lados, pastas em suas mãos, folhas espalhadas por todas as mesas e alguns flyers voando pelo chão em qualquer lugar que eu pisava. Algum tempo depois, eu descobri que ia ter um evento na mansão do Michael Jackson para o lançamento de algumas músicas que foram produzidas post-mortem. Naquele dia, fazia exatamente quatro anos que o cantor havia falecido e a maioria dos famosos foram convidados.
Mesmo que isso, aparentemente, não fosse envolver Chris, eu acabei entretida no assunto, fazendo ligações, confirmando a presença de algumas pessoas – em especial, da imprensa, pessoas que seriam convidadas para dentro do evento e que iriam cobrí-lo. Devo ter dado, pelo menos, uns trezentos telefonemas. Meu pescoço já estava ficando dolorido. Se continuasse assim até o fim do dia, Chris ia pegar uma mulher com um torcicolo fenomenal que não poderia nem endireitar a cabeça para beijá-lo. Passei a mão no pescoço e estalei o mesmo, virando para todos os lados possíveis, ouvindo o estalo que eu tanto gostava de fazer, uma mania e tanto.
- Gente, vou sair para almoçar, preciso de um tempo para o meu pescoço destravar. – Falei, arrastando a cadeira de perto da mesa e pegando a bolsa no cabideiro quando passei por ele.
- ! - Megan gritou e eu coloquei a cabeça para dentro de sua sala. - Vai almoçar e não precisa mais voltar por hoje! - Ela piscou um olho e voltou a falar com a pessoa na linha.
Virei o corpo e dei de cara com um Derek sorridente atrás de mim.
- Vou ligar pro Rupert! - Ele falou, já entrando para sua sala e colocando sua carteira dentro do bolso. – Vamos! Eu almoço contigo.
O caminho até o restaurante foi preenchido por eu contando a Derek sobre as mensagens do Chris na noite anterior. E eu podia notar que, a cada palavra que eu falava, soltava um suspiro curto, o que me denunciava e muito.
- Ele tá tão na sua, ! - Ele falou, apertando minha mão que estava em meu colo.
- Ei, nada de ficar dando uma de Greg Wuliger. Esse é outro Chris, hein?!
- Ok, me expressei mal! - Ele voltou a mão para o volante. - Ele gosta muito de você! Qual é! Ele está aprendendo a mexer em redes sociais para falar contigo! Mensagens! Isso nunca aconteceu! - Soltei uma gargalhada, sendo acompanhada por ele.
- Ah, sei lá! Eu estou muito nervosa, você não tem noção. – Suspirei, me afundando no banco do passageiro ao seu lado.
- Tenho sim. Sua mão está congelada! Tirando o fato de que estava toda estabanada hoje. - Ele me encarou e eu ergui uma sobrancelha. – Sério! Você derrubou seu telefone umas quatro vezes... Bem, até a hora que eu contei! - Dei um tapa em seu braço.
- Ok, eu estou apavorada. Acho que isso define muito bem o que eu estou sentindo. - Ele passou a mão na minha e apertou, mostrando confiança. - Algum conselho?
- Seja você mesma! - Bufei, me mostrando contrariada. - Ele gostou de você assim, não foi? Ele te beijou como , pós-trabalho, não? Ele te beijou durante seu trabalho como você, não?! Ele te chamou para um encontro sem ao menos estar te vendo. - Abri um sorriso tímido de lado. - Para de se preocupar com as pequenas coisas e se preocupe em se divertir porque, depois que os momentos passarem, eles não vão voltar.
Ele estava certo, o momento podia acabar rapidamente.
- Eu quero saber de tudo! Não se esquece de me ligar assim que você estiver sozinha, ok? Mas também não some, não me deixa preocupado. - Derek falava dentro de seu carro enquanto uma fila de carros buzinava atrás dele. - Não esquece!
- Eu te ligo, pode deixar! - Gritei de volta e ele avançou com o carro.
Soltei uma risada e acenei para ele enquanto via o carro dele se afastar pela rua e uma fileira o seguir.
- Ele é louco!
Passei pela porta do meu apartamento pouco depois das duas horas da tarde. Eu tinha algum tempo para me arrumar e Rupert não tinha dado sinal de vida ainda, então programei quarenta minutos em meu relógio e tentei tirar uma soneca. Em vão, pois eu não conseguia pregar os olhos com medo de Rupert chegar, ou que a campainha tocasse, ou talvez o telefone e eu não ouvisse. Enfim... O máximo que eu consegui foi ficar três minutos de olhos fechados na minha cama, até que eu lembrei que não tinha decidido que sapato usar naquela noite.
Pulei da cama, abrindo a porta do meu armário que dava para os sapatos e puxei as cinco caixas fechadas de lá, as com os sapatos melhores, que eu usava menos. Eu os joguei em cima da cama, abrindo um de cada vez, até dar de cara com meu scarpin preto de bico arredondado e aveludado também. Não era tão alto e era super confortável... A não ser que eu fosse para uma caminhada, o que não deveria ser o caso. Coloquei os mesmos nos pés e me encarei no espelho preso na parede por alguns segundos. Suspirei e os tirei, conferindo se o par estava limpo, e o joguei em cima da cama, partindo para minha caixa de joias em cima da penteadeira, à esquerda da cama. Escolhi um par de brincos que eu havia ganho no meu aniversário de quinze anos. Eles eram de ouro branco e cada um tinha duas gotas transparente. Era um brinco que eu não usava com muita frequência, só em casos especiais. Peguei o anel do conjunto também, que possuía duas fileiras com a mesma pedra transparente, e separei também um relógio grafite, uma cor que eu considerava mais bonita que o preto.
Separei também um conjunto de lingerie preto. O conjunto era simples, com somente alguns detalhes de renda tanto no sutiã como na calcinha. Rendas quase imperceptíveis, a não ser quando estava no corpo e a cor da pele a realçava. Com tudo que eu pudesse separar pronto, eu liguei na portaria do prédio e avisei que estava esperando por Rupert e que, caso ele chegasse, era para liberar sua entrada. Destravei a porta e fui para o banho.
Aquele foi o banho mais lento que eu tomei durante muito tempo. Eu tomava cuidado para não arrancar parte do meu esmalte enquanto massageava minha cabeça. Esfreguei cada parte do meu corpo pelo menos umas três vezes cada e conferi se minha perna e axilas não tinham nenhum pelo. E os pelos que insistiam em crescer, eu raspei rapidamente com a gilete, me certificando de que não faria cortes na extensão da minha perna. Quando saí do banho, passei o creme mais cheiroso que tinha em meu armário e já aproveitei para escovar os dentes. Saí do banheiro com uma toalha enrolada no corpo e outra no cabelo e fui para meu quarto. Coloquei a lingerie, me certificando que ela não estava enrolada em nenhuma parte do meu corpo, e soltei os cabelos da toalha, voltando para o banheiro. Passei um pente pelos fios, tornando o que antes era um emaranhado em algo mais parecido com meu cabelo.
- Você está um arraso! - Rupert falou, apoiando o corpo no batente da porta do meu banheiro.
- Rupert! - Pulei de susto, procurando pela toalha em cima da pia, tentando cobrir meu corpo o máximo que eu conseguisse.
- Ah, mulher, deixa disso! - Ele deu de ombros e caminhou até a sala. - Já vi tudo isso e você sabe, eu não jogo nesse time! - Soltei uma gargalhada e o segui, enrolando a toalha de volta no corpo.
- Oi, ! - Denise também estava lá, em pé, ao lado do meu sofá, onde meu vestido estava estendido, e segurando uma maleta em cada mão.
- Ei! - Falei rindo. - Você veio também.
- Não podia te arrumar sem minha equipe, certo? - Rupert falou e colocou as duas maletas em cima da minha pequena mesa de jantar.
Abriu ambas, mostrando várias opções de maquiagem em uma e vários apetrechos capilares na outra.
- E aí, pronta para sair com um gato? - Eu ri e dei de ombros.
- Sei lá! - Apertei meus olhos com as mãos e suspirei.
- Vai apanhar, hein? - O ruivo falou e eu lhe mostrei a língua. - Tira essa toalha e senta aqui. Não temos muito tempo para te deixar divina, tá?!
Puxei a poltrona que ficava em meu escritório e me sentei na mesma. Havia desenrolado a toalha do meu corpo e a prendido em minha cintura, deixando meu tronco coberto somente pelo sutiã. Denise esticou uma tolha em meu peito e barriga para que não caísse cabelo nem maquiagem em meu corpo. Ambos colocaram luvas e aventais pretas com as siglas RVS, mostrando o uniforme deles.
Eles começaram pelo meu cabelo – secando-o, para ser mais exata. Rupert trabalhava de um jeito despreocupado. Ele jogava meu cabelo para todos os lados e, de vez em quando, puxava com uma escova. Ele deixou os fios ondularem na ponta e desligou o secador. Como planejado no dia anterior, ele segurou todo meu cabelo no alto e o prendeu em um rabo de cavalo, usando uma mecha do meu cabelo para esconder o laço preto, quase imperceptível em meus cabelos castanhos. Pegou uma parte do meu cabelo que seria a franja, o escovou de modo que formasse uma onda e o colocou de lado, encaixando atrás da minha orelha com um grampo. Rupert escovou a ponta do rabo, fazendo com que ele fizesse algumas voltas e não o deixasse totalmente liso. Por fim, jogou bastante laquê para que tudo ficasse no lugar até o fim da noite.
Denise trocou de lugar com Rupert e começou a preparar minha pele. Mesmo que eu tivesse acabado de tomar banho, ela fez questão de tirar todo o tipo de oleosidade e possível sujeira que talvez tivesse ficado em meu rosto e começou a delinear meus olhos. Ela optou por uma maquiagem até que discreta. A parte de dentro era um tom marrom claro e a parte de fora era esfumaçada por um tom mais escuro, deixando-o bem marcado. Passou lápis preto bem forte em meus olhos e alongou ainda mais meus cílios com rímel da mesma cor. Com um blush cobre, ela marcou minhas bochechas discretamente e passou um batom vermelho em meus lábios, cor que eu já tinha costume de usar quando saía à noite. Era um tom de vermelho mais puxado para o tomate, deixando-os em um tom quase alaranjado.
Eles me ajudaram a vestir o meu vestido, azul com as mangas cobrindo os ombros e um pequeno decote nas costas, sendo todo fechado por botões. Ele era incrivelmente sem detalhes, mas eu simplesmente tinha amado. Não tinha a mínima ideia de para onde ele me levaria, mas acreditava que era um vestido que poderia ser usado tanto em um restaurante chique como também ao comer pizza na mão no píer de Boston. Rupert fechou os botões enquanto Denise ajeitava o cinto vermelho que ia por cima. Não que eu não pudesse fazer aquilo, mas eu ficava feliz que eles tivessem feito, pois eu passava mentalmente palavras que eu pudesse falar sem que eu dissesse besteira durante o encontro, besteiras que pudessem fazer com que esse fosse nosso único encontro... Mas que merda, , um pouco mais de confiança em si mesma, você não é assim. Suspirei, essa não era eu até um cara lindo e famoso me chamar para sair. Fechei os olhos por um segundo.
- Está pronta, querida! - Denise falou e eu abri os olhos novamente. - O que acha? - Andei da sala até meu quarto e me encarei no espelho novamente.
Eu estava feliz com o resultado. O cabelo estava maravilhoso, era um penteado que eu usava sempre, rabo de cavalo, só que Rupert o fez de uma forma um pouco melhor do que eu faria. A maquiagem também. Se não fosse a preparação na pele, era uma maquiagem que eu tinha o costume de usar. Às vezes, eu passava uma sombra cor da pele só para poder usar meus batons vermelhos que eu tanto amava, mas claro que Denise tinha conhecimento e eu poderia ir a um baile de gala assim que estaria adequado. Peguei os sapatos em cima da cama e os calcei, encarando meu corpo de cima a baixo no reflexo no espelho. Virei de costas e fiz o mesmo, abrindo um largo sorriso.
- Acho que temos alguém satisfeita. - Rupert falou, parado na porta do meu quarto, e eu sorri para ele.
- Muito satisfeita. – Eu me aproximei dele e passei os braços pelo seu pescoço, o trazendo para mim em um abraço terno. - Obrigada, Rup! – Falei, me afastando dele.
- Sempre que quiser! - Ele beijou superficialmente minha bochecha. - E quando for casar com o Chris, por favor, não se esqueça que eu faço vestidos por encomenda também, ok?!
- Nossa! Vocês já estão pensando mesmo em casamento, gente? O Derek está louco! - Falei rindo e abracei Denise da mesma forma que abracei Rupert. – Obrigada, gente, por tudo! - Sorri e voltei para meu quarto, separando uma bolsa de mão preta, e coloquei meus documentos, dinheiro, cartão de crédito e celular dentro da mesma. - Acho que estou pronta! - Suspirei. - Que horas são? - Perguntei.
- São quase cinco horas. - Denise falou, erguendo o pulso para ver o horário, mas o som do meu interfone tocando denunciava.
Rupert correu para o aparelho colocado na cozinha e o atendeu.
- Sim, ela já está descendo! - Ele falou e desligou, soltando um grito histérico. - Ele está aí! - Ele disse, olhando para mim.
- Ah, meu Deus! Respira ! – Falei, me encarando no espelho mais uma vez, e atravessei o corredor, voltando para a sala. - Vocês fecham tudo para mim? – Perguntei, olhando suas coisas espalhadas pela sala ainda.
- Não se preocupa, ! - Rupert falou. - Deixamos a chave na portaria. - Assenti com a cabeça e atravessei a, porta apertando o botão do elevador e o vendo se acender.
- Obrigada! - Falei piscando para ambos, que acenavam de dentro do meu apartamento.
- Divirta-se! E não faça nenhuma besteira, hein?! - Denise gritou e eu ri.
- Pode fazer besteira sim! Aproveita! - Rupert já falou e Denise deu um soco fraco nele.
O elevador abriu em minha frente e eu entrei no mesmo, apertando o botão do térreo. Aquele elevador nunca esteve tão lento. No espelho, conferi relógio, brinco, anel, bolsa, vestido, sapatos, tudo. Observei a maquiagem, meus lábios vermelhos e meus olhos levemente amarronzados. Suspirei. Saí do elevador e caminhei até a portaria. Com cada passo, parecia que o barulho dos saltos ficava cada vez mais baixo e eu ficava cada vez mais hipnotizada pelo que me esperava do outro lado dos portões.
Apertei o botão para abrir e, assim que passei por ele, o fechei e olhei para frente. Eu poderia derreter a qualquer momento. Chris estava lá. Ele estava lindo, a blusa azul de manga comprida colada com as mangas arregaçadas, a calça jeans escura um pouco larga, o cinto vermelho preso na cintura quase imperceptível e, nos pés, a conhecida botina bege desamarrada. Na cabeça, um boné virado para trás, e seu Ray Ban estava pendurado na gola da camiseta, que tinha alguns botões abertos, deixando um pedaço da sua pele à mostra. Ele mexia em alguma coisa no celular enquanto estava apoiando em seu Lexus preto. Assim que eu bati o portão da frente do condomínio, pelo barulho, ele ergueu os olhos e pude sentir seu olhar indo desde a ponta dos meus pés até meu último fio de cabelo. Mas seu olhar não sustentou em meu corpo por muito tempo. Ele focou em meus olhos rapidamente, tirando meu ar por alguns segundos.
Dei os poucos passos que me separavam dele e pude notar seus olhos me seguindo a cada trecho que eu vencia. Parei a dois passos dele e, por um momento, eu não sabia que palavras usar e nem como respirava. Ergui meus olhos do chão para seu rosto e pude ver sua boca entreaberta e seus olhos encarando os meus.
- Oi! - Falei com a voz baixa.
- Oi! - Ele respondeu enquanto mordia seu lábio inferior e dava mais uma olhada em meu corpo. - Você está incrível! Linda! - Ele aproximou o rosto do meu e encostou seus lábios levemente em minha bochecha, fazendo meu corpo denunciar e se arrepiar inteiro.
Fechei meus olhos por um breve tempo.
- Você também. – Respondi, reabrindo os olhos e encarando seus, azuis, em minha frente.
Ficamos naquele silêncio por um tempo. Ele não falava nada, muito menos eu. Era como se nenhum dos dois quisesse quebrar aquele clima entre nós. Ele possuía aquele sorriso reto nos lábios, e eu sabia que não estava muito diferente. Sentia minhas bochechas queimando quando seus olhos desciam para meu corpo. Eu não tinha o corpo muito em forma, mas eu era brasileira e considerava meu corpo bonito. Claro que eu odiava fazer exercícios físicos e amava comer, então ficar em forma era definitivamente um desafio para mim. Troquei minha bolsa de uma mão para outra e mexi minhas pernas, descruzando-as uma da outra.
- Chris! – Eu o chamei firme, o que fez erguer seus olhos para mim e soltar uma risada nervosa. - Devo te chamar para subir e a gente deixa o jantar para outro dia? – Falei, apontando para trás.
- Não! - Ele riu, passando as duas mãos no boné, ajeitando ele. - Vamos! - Ele se desencostou da porta e abriu a mesma, dando espaço para eu passar.
Achei esse fato realmente engraçado porque, por um minuto, ele tinha perdido aquela pose que ele tem e se tornou um pouco mais comum. Então passei por ele, me apoiando na porta do carro para entrar, e coloquei a bolsa em meu colo. Assim que ele fechou a porta, não durou mais que cinco segundos para entrar pela porta do motorista e se acomodar ao meu lado. Puxei o cinto de segurança ao meu lado e o travei com um clique. Enquanto Chris dava partida, eu comecei a reparar no interior do carro. Ele era espaçoso, essa foi a primeira constatação que eu fiz ao entrar nele. Como eu não era do tipo baixinha, minhas pernas se esticavam confortavelmente em frente ao banco. E meu corpo também, o banco de couro cinza claro era incrivelmente confortável. O painel tinha detalhes em preto, cinza e partes em madeira também. Uma parte acoplava uma tela de LED. Outra, um relógio analógico pequeno. E embaixo disso tudo, os comandos normais de um carro, incluindo marcha e um espaço confortável entre os dois bancos.
Chris dirigia de forma despreocupada. Ele olhava para frente e, em alguns momentos, virava o rosto para mim e dava um sorriso lindo. Sua mão esquerda ficava o tempo inteiro apoiada no volante e a direita ficava apoiada no espaço acolchoado entre o meu banco e o dele. Em alguns momentos, ele apoiava a mão direita em sua coxa e eu encarava aquilo por um tempo, achando incrivelmente sexy. Mordia delicadamente meus lábios e soltava a respiração devagar pela boca, no maior silêncio. Eu passava uma mão na outra, tentando ser o mais discreta possível, e notava que minhas mãos suavam, mesmo com o ar-condicionado ligado. Não surte, .
- Então... - Falamos juntos e eu ri, olhando para seu rosto, que encarava a rua. - Pode falar! - Falei mais rápido que ele.
- Tá tudo certo? - Ele perguntou e eu abri um sorriso de lado, confirmando com a cabeça. - Você não é tão quieta.
- Não fala! – Falei, dando um leve tapa em seu braço, o fazendo rir. - Tá tudo certo sim... Onde vai me levar? - Perguntei e ele virou o rosto para mim.
- Eu estava pensando... - Ele começou e trocou as mãos no volante. – O quanto você conhece Boston?
- Universidade, casa, casa, Universidade. ID, casa, Boston Harbor Hotel para reuniões, supermercado, alguns shoppings, e todo o caminho inverso. - Ele soltou uma gargalhada gostosa. - Sério, agora que eu posso fazer turismo por Boston, eu não tenho tempo e, quando eu tenho tempo, só penso em descansar. - Fiz um bico involuntário e ele sorriu timidamente para mim.
- Resumindo, você não conhece nada de Boston.
- Culpada! – Falei, dando de ombros.
- Eu vou te levar em um lugar que eu costumo ir quando vou encontrar meus amigos aqui. É ainda um dos lugares em que eu mais me sinto em casa. - Ele falou com o tom de voz mais baixo agora. - Gostaria de dividir com você. - Soltei um suspiro e senti sua mão quente segurar a minha, que estava em meu colo.
- Eu vou gostar disso. - Apertei sua mão com a minha e ele entrelaçou nossos dedos, um toque simples, mas que me fez abrir um largo sorriso.
Consegui ficar em silêncio mais um tempo, e isso estava me incomodando muito. Eu não era assim e eu falava que nenhum homem me deixaria assim, mas parece que eu estava errada. Eu fiquei muito nervosa. Esperava que ele não tivesse notado minhas mãos suadas, ou minha cabeça quente, ou meu pé batendo de leve no tapete do chão, ou talvez a força que eu apertava minha bolsa de mão. Esperava que ele não tivesse notado nada disso. Você precisa se acalmar, minha mente gritou para mim. Se eu não me acalmasse logo, eu gritaria de verdade, e não seria nada legal. Respirei fundo e apertei a mão de Chris entre meus dedos, esperando que ele tivesse notado que eu não tinha intenção nenhuma de soltar.
Chris dirigiu para sul da cidade, indo como se fosse para o interior de Massachusetts. Devido ao horário, o trânsito estava um pouco caótico. Carros para todos os lados, indo para todas as direções, principalmente para fora da cidade. Era igual São Paulo, as pessoas moravam no interior, mas trabalhavam na cidade grande. Como eu não conhecia muito o estado, não sabia para onde as pessoas iam. No meio ao trânsito, eu pude observar Chris. Ele soltou minha mão por um tempo e manteve as duas mãos no volante. O trânsito estava lento, mas eu notava que ele estava calmo, ou aparentava estar. Ele também dirigia em uma velocidade normal, um pouco mais rápido nas avenidas e um pouco mais devagar nos entroncamentos. Dirigia bem. Quando chegamos a uma avenida parecida com aquelas que vemos em filmes, larga, com carros passando por todos os lados, ele começou a ir mais devagar. Com a mão esquerda, ele diminuiu a marcha e se aproximou do meio fio, fazendo uma baliza perfeita. Pressionei meus lábios um no outro e segurei uma risada. Ele podoa não fazer por querer, mas ele estava tentando me surpreender.
- Você já foi a um diner? - Ele perguntou, me olhando, e eu franzi a testa.
- Diner? - Ele confirmou com a cabeça. - É aqueles lugares conhecidos por servirem café da manhã em filmes, não? - Ele virou a chave e puxou o freio de mão.
- Algo assim! Esse é parecido com isso, mas serve lanches e jantar também. Além de ficar no meio da cidade. - Ele tirou o boné da cabeça, jogou no banco de trás e abriu a porta do carro, saindo do mesmo.
Fiquei meio perdida por um tempo, mas não demorou dois segundos e ele já estava abrindo a porta do meu lado do carro para mim. Segurei a mão dele e apoiei nela para sair do carro. Logo, pude sentir o vento bater em meu rosto e jogar meus cabelos presos para trás. Coloquei os pés no chão e parei junto a ele, ouvindo a porta bater ao meu lado.
- Espero que não fique decepcionada. - Ele falou e eu soltei uma risada.
Encostei minhas mãos de leve em seu rosto e o vi fechar os olhos por alguns segundos.
- Fica quieto, Evans. Qualquer lugar que você quiser me levar, eu vou ficar grata por você querer dividir comigo. - Ele abriu os olhos novamente, me encarou com aqueles olhos azuis e sorriu.
- Vem! - Ele segurou minha mão e caminhamos um pouco em direção à esquina do quarteirão.
Logo na curva, havia uma construção com tijolos à vista. Na frente dela, algumas janelas amplas e cada uma tinha um toldo preto acima. Acima do toldo do meio, podia ser lido ‘Mike's City Diner’. De fora, não dava para dizer que era um diner, mas sim um restaurante bem descolado.
Ele abriu a porta de vidro e deu passagem para mim. Entrei. Por dentro, ele já era mais parecido com os famosos diners que víamos nos filmes. Um longo corredor logo na entrada com bancadas dos dois lados onde várias pessoas estavam sentadas e algumas garçonetes passavam pelo local com bandejas e pratos diversos. Chris passou na frente e segurou minha mão firme, me puxando para dentro. Fomos para o lado esquerdo do restaurante. Coladas na bancada, várias mesas de dois ou quatro lugares em um pequeno espaço. Lá não tinha mais que doze mesas. Devido ao horário, estava um pouco vazio ainda. Ele seguiu para uma mesa próxima da janela e indicou a cadeira para mim. Sentei na mesma, não antes de encostar meus lábios rapidamente em sua bochecha. Ele sentou na cadeira da frente e puxou a mesma para mais perto da mesa. Pude sentir seus joelhos encostados no meu, e não fiz objeção nenhuma aquilo.
Na mesa, já estavam postos talheres para cada pessoa e também uma caneca branca. Ao lado, um conjunto com sal, açúcar, pimenta, ketchup e palitos de dente em frascos separados.
- É igualzinho nos filmes! – Falei, observando o lugar rapidamente.
- Eu vinha muito aqui quando era mais novo. Se você for reto nessa rua, você cai em Sudbury. Então, quando queríamos variar o cardápio um pouco, a gente dava um pulo para cá. - Ele apoiou os cotovelos na mesa e encostou o rosto entre as mãos.
Achei aquilo extremamente fofo.
- E por que esse lugar em especial hoje? - Apoiei minhas mãos na mesa.
- Não sei. - Ele suspirou e coçou a cabeça por alguns segundos. - Eu tenho bastante história com esse lugar.
- E aí, Chris! Quanto tempo, cara! - Um homem com blusa roxa do local se aproximou e cumprimentou Chris, que se levantou quando ele apareceu.
- Faz tempo que não passo por aqui mesmo, Louis! - Eles se abraçaram rapidamente.
- E ela, quem é? - Ele se virou para mim.
É agora que eu cavo um buraco e sumo?
- Essa é a ! - Ele falou, abrindo um sorriso para mim e ambos trocaram um olhar cúmplice e um sorriso.
Isso era bom, não?
- Prazer, ! - Ele falou, estendendo a mão para mim.
- Prazer! - Abri um sorriso discreto.
- , Louis é filho do dono. Nós crescemos juntos, praticamente! - Eles estavam abraçados de lado.
- É! Esse cara é da família! - Louis falou e eu ri.
Então estou conhecendo seus amigos de infância, Evans?
- Já foram atendidos? - Chris negou com um muxoxo com a boca e eu ri.
Louis deu uma inclinada no balcão atrás da gente e pegou alguns cardápios. Deu um para Chris e estendeu outro aberto para mim, dando um sorriso.
- Divirtam-se! - Ele falou, ambos trocaram um olhar que só foi entendido pelos dois e eu senti minha bochecha ficar vermelha.
- Valeu, cara! - Chris falou e se sentou novamente.
- Então... Amigos de infância, hein?! - Falei olhando para o cardápio, para a variedade de comidas gordas no mesmo.
- Louis e eu temos a mesma idade. A mãe dele é de Sudbury, então era com ele que eu vinha muito aqui! - Ele falou, apoiando o cardápio na lateral da mesa.
- Me deixa adivinhar... O pai dele é o “Mike”? - Perguntei e Chris riu.
- Quase! É o avô dele! - Mostrei a língua para ele e ele gargalhou, apoiando a mão no peito por alguns segundos.
- Sem graça! - Abaixei meu rosto novamente e fiquei observando as opções. - O que você come normalmente aqui? – Perguntei, ficando totalmente indecisa sobre o que escolher.
Tudo no cardápio eu gostava, tudo mesmo!
- Eu sempre peço um lanche triplo de carne. - Rodei rapidamente o cardápio e notei que era um lanche bem grande. - E você? O que te chamou a atenção?
- Honestamente? Tudo! – Falei, o fazendo rir. - Eu sou boa de garfo, isso você já sabe!
- Sei! Isso é algo bom. - Ele falou simplesmente.
- Acho que eu vou querer essas panquecas com maple syrup e manteiga! - Ele abriu um sorriso. - O quê?
- Nada! É que você escolheu o que eu esperava que escolhesse! - Franzi a testa. - Isso não tem no Brasil.
- Exato! Eu quero conhecer, nunca comi isso. Acredite, eu estou aqui há mais de um ano e nunca experimentei o tal de maple syrup.
- O que você toma de café da manhã? - Ele falou como se tivesse sido um crime eu ter falado que nunca tinha experimentado.
- Pão com manteiga e leite, ué! - Dei de ombros e ele riu.
- Foi o que eu comi quando fui pro Brasil. Tirando o leite, me dou melhor com café! - Ele comentou descontraído e o garçom se aproximou.
Chris fez nossos pedidos, o garçom perguntou quantas panquecas eu queria e Chris logo respondeu que eu queria o maior prato. Não sabia se ria ou se ficava brava, mas ele usou a desculpa de que eu estava experimentando e precisava ter certeza. Tonto! Para beber, eu acabei escolhendo um milk-shake, alguns copos haviam passado por mim e tinham me deixado com muita vontade. Eram copos de quase um litro com muito chantilly por cima e uma cereja. Eu tinha que beber aquilo, e Chris me acompanhou. O jantar, ou lanche da tarde, ocorreu sem muitas surpresas. Conversamos sobre tudo, honestamente. Desde como haviam sido nossas semanas até sobre como eu havia passado a minha vida inteira sem experimentar algumas coisas boas da vida.
- Ah, Evans, fica quieto! Você nunca experimentou feijoada que eu sei! - Ele franziu a testa com a palavra brasileira e eu ri. - Ou coxinha, ou pão de queijo, ou feijão tropeiro, ou tapioca, ou cuscuz, ou quindim, ou caipirinha, ou brigadeiro... Não, brigadeiro você já experimentou. - Falei uma comida atrás da outra, vendo seu rosto se confundir com tantas palavras.
- Ei! Calma! - Ele falou, estendendo as duas mãos para frente, me parando. - Me perdi já!
- Só estou mostrando um lado, tá?! - Dei uma última garfada na minha panqueca e coloquei os talheres para o lado, mostrando que havia terminado. - E pão com manteiga é muito mais gostoso. - Dei um gole em meu milk-shake enquanto Chris gargalhava em minha frente.
- Me mostra, então! - Ele falou, arqueando as sobrancelhas em sinal de desafio.
- Um dia, eu vou mostrar, e você vai ver que eu tenho razão. - Arqueei as sobrancelhas como a dele e voltei o copo vazio para a mesa. - Só não pode ter estômago sensível. – Adicionei, fazendo uma careta.
- Já experimentei umas coisas bem estranhas, viu?! Principalmente quando fui para Coreia!
- E eu te beijei?! – Falei, fazendo uma careta, e ri logo em seguida.
- Sem graça! – Fiz uma careta para ele e apoiei as mãos na mesa.
Chris estendeu a mãos em cima das minhas e ficou fazendo um carinho leve nelas. Virei o rosto rapidamente para a rua e notei que ela estava menos movimentada e que o sol já tinha se posto. Eu me voltei para a frente novamente e pude ver Chris me olhando. Era um olhar simples, mas firme, que me deixou envergonhada por alguns segundos.
- Você é tão linda! - Ele falou e eu soltei uma risada nasalada, permanecendo em silêncio.
Ele inclinou o corpo um pouco para frente e eu senti a necessidade de fazer o mesmo. Pude sentir sua respiração em meu rosto por alguns segundos e depois seus lábios gelados sobre o meu. Creio que parte disso era da nossa bebida. Ele só pressionou nossos lábios por alguns segundos, não tentou aprofundar o beijo e, com uma mesa entre nós, ele não conseguiria. Afastou-se por um tempo, abrindo os olhos, mas manteve o rosto colado ao meu, próximo o suficiente para eu sentir sua respiração mas também para eu fitar seus olhos azuis.
- Tenho mais um lugar para te levar. - Ele falou, quebrando o silêncio.
- Onde? - Ele riu e não respondeu.
Levantamos e Chris foi para o balcão. Tentei me aproximar dele, mas ele mantinha a mão na minha, em sinal de distância Ele não queria que eu pagasse a conta. Suspirei e me aproximei da porta, encarando o céu novamente. O dia estava incrivelmente bonito. Boston costumava ficar um pouco gelada no fim do dia e, como sempre, eu havia esquecido meu casaco. Não que eu fosse precisar de casaco pouco depois das sete da noite, mas eu não estava indo para casa, certo?
- Vamos? - Chris perguntou ao meu lado e segurou minha mão.
Caminhamos lado a lado para fora do diner. Naquele momento, eu já estava um pouco mais relaxada. Havíamos feito algumas piadas e brincadeiras durante o lanche e eu consegui me soltar, as coisas simplesmente fluíram. Nada difícil ou complicado, ele era o Christopher e eu era a , não tinha nada lá fora que nos fizesse agir de forma diferente. Ele abriu a porta do carro novamente para mim e, enquanto ele dava a volta para entrar, coloquei o cinto de segurança.
- Vai demorar um pouco para chegar, ok?! - Ele falou e eu só confirmei com a cabeça.
Ele retornou pelo lugar por onde chegamos, passou próximo a ID e meu condomínio e contornou a cidade novamente. Durante todo o caminho pela cidade, ficamos em silêncio. Eu queria saber para onde estávamos indo e eu sabia que, se perguntasse, ele não ia responder. Pouco tempo depois da dúvida surgir em minha mente, entramos na estrada. Não existiam mais luzes, nem barulho de cidade e nem movimento. Era só eu, ele e uma estrada para algum lugar.
Não prestei atenção em quanto tempo durou a viagem, o caminho inteiro foi ocupado por conversas. Eu sempre fui do tipo livro aberto e, mesmo que ele não aparentasse, ele estava se abrindo completamente comigo, o que me deixava feliz. No caminho, ele segurava o volante com a mão esquerda, o olhar focado na estrada mas, com a mão direita, mexia quando falava, fazendo os gestos exagerados que eu conhecia de algumas entrevistas. Algumas vezes, ele virava o rosto para mim, dava uma rápida piscada e voltava a olhar para a estrada.
Eu já estava confortável no carro, havia largado o pé esquerdo do meu sapato no chão, dobrado essa perna para cima do banco e estava com o braço esquerdo encostado no banco, onde supostamente deveriam estar minhas costas. Eu olhava a silhueta de seu rosto iluminada um pouco com a luz que vinha do painel do carro e dos faróis. seu perfil podia ser definido uma palavra só, suspiro, porque essa era a reação que eu tinha quando não o via há algum tempo. eu sempre suspirava. Não importava quanto tempo ficássemos juntos, eu ia suspirar toda vez que olhasse para ele. Os cabelos levemente arrepiados, a testa longa, sobrancelhas curtas e grossas, o olhar pequeno mas de tirar o fôlego de qualquer um, o nariz com uma marcação no meio, a orelha levemente avermelhada, a boca carnuda mas fina, o queixo bem marcado e alguns pontos pretos querendo nascer nas laterais de seu rosto... Soltei um suspiro um pouco alto demais e o vi virar o rosto para mim. Desviei o olhar ao fechar os olhos e voltei à posição normal a tempo de ver uma placa escrita Cape Ann, MA, próxima entrada a 5 milhas. Não demorou muito para que Chris entrasse lá.
Nesse momento, eu me endireitei no banco, joguei as pernas para o chão do carro novamente e abri um pouco do vidro preto até que ficasse na altura de meus olhos. Cape Ann era conhecida como uma das praias mais bonitas em Massachusetts. Nunca tinha ido para lá, mas era um lugar conhecido por qualquer universitário que quisesse fazer uma festa no fim do ano. Quando estava na minha pós-graduação, todo fim de semana alguma pessoa da turma combinava de ir para Cape Ann mas, como eu estudava pelo governo e não tinha muito dinheiro para extras, eu nunca havia ido, algo que me deixava frustrada porque eu tinha um amor especial por praias. Será que Chris sabia disso?
Assim que Chris entrou na cidade, eu pude sentir o cheiro de água do mar e sentir o vento diferente em meu rosto. Eu amava praia, desde que eu era pequena. Não tinha maior felicidade que entrar de férias e minha mãe falar que iríamos para a praia. Eu sempre estava pronta e sempre fui daquelas que ficava no mar o dia inteiro. Odiava ficar tomando sol e também caminhar na praia, não eram coisas que davam certo para mim. Assim que eu entrasse na água, seria difícil me tirar de lá.
Enquanto eu estava entretida com a paisagem, as cores, o aroma, o vento e tudo relacionado à longa porção de água e terra de Cape Ann, Chris atravessou quase que a cidade inteira até chegar em um local mais alto e rochoso. Ele estacionou o carro e, logo, estávamos saindo do mesmo. Assim que bati a porta, eu fiquei parada por um tempo. Tinha uma sensação meio extasiada na praia. Eu poderia ficar ali parada o dia inteiro e nada me abalaria. O local em que estávamos estava quieto. De um lado, havia grossas rochas e, do outro, areia fina e branca. O vento estava forte, o que bagunçava meu cabelo e também fazia alguns fios rebeldes voarem no topo da cabeça, mesmo com a quantidade de laquê que Rupert havia passado. O mar também estava agitado. Ondas altas e barulhentas batiam contra as rochas e chegavam calmas até a areia branca.
Destravei quando Chris segurou minha mão e, em quase um susto, eu virei meu rosto para ele, encontrando-o com um sorriso largo e risonho para mim. Ele estava me observando. Retribui o sorriso e entrelacei nossos dedos.
- Vem! – Ele falou, fazendo um movimento com a cabeça e indicando o mar.
Havia uma pequena mureta de um metro de altura que separava o estacionamento da areia branca. Antes de pular a mesma, Chris tirou seus sapatos e sua meia, deixou no alto da mureta e pulou para a areia fofa. Tirei meus saltos, deixando ao lado de seus sapatos, e senti suas mãos na minha cintura, me ajudando a descer. Suas mãos subiram pela minha pele, deslizando meu corpo para baixo até que eu estivesse com os dois pés fincados na areia macia e as mãos quentes de Chris firmes no meio das minhas costas.
Seus olhos me encararam por poucos segundos antes de acabar com o pouco espaço que tinha entre a gente. Seu rosto abaixou levemente e pude sentir seu nariz roçando delicadamente no meu. Ergui o braço direito e segurei sua nuca com a ponta dos dedos. Ele aproximou o rosto do meu e mordeu meu lábio inferior, me fazendo soltar um gemido baixo. Esse homem me tirava do sério... Apertei minha mão em sua nuca e subi a outra mão para seu ombro, apertando-o também de leve. Ele escorregou uma das mãos nas minhas costas até que a ponta dos seus dedos encostasse em meu bumbum. Prendi a respiração por poucos segundos e amarrotei a parte da blusa em seu ombro com meus dedos, sentindo a respiração sair pelo meu nariz.
Ergui-me na ponta dos pés e colei nossos lábios com certa urgência. Rapidamente, Chris entendeu meu recado e logo pude sentir sua língua sob a minha em um carinho delicioso. Existia alguma coisa que esse homem não soubesse fazer? Ele sugou meu lábio, nos separando, e fez uma trilha de curtos beijos até meu pescoço. Uma de suas mãos desceu para minha coxa e ele a manteve ali. Escorreguei minha mão de sua nuca para suas costas, raspando a ponta das unhas, sentindo-o se arrepiar ao meu toque. Cheguei a mão até o cós da sua calça e a coloquei por baixo de sua blusa, usando suas costas como apoio. Chris suspirou em meu pescoço e deu uma pequena mordida no mesmo antes de subir novamente os lábios para minha boca. Minha respiração estava falha e a boca entreaberta. O ar que saía da mesma era quente, diferente do ar gelado que batia em nossos corpos. Minha mão, que estava em seu ombro, subiu para seus cabelos e enrolei meus dedos sobre os fios. Entreabri os olhos e notei que Chris mordia seu lábio inferior. Fiz o mesmo e, logo, senti seus lábios pressionados nos meus, me obrigando a fechar os olhos novamente e aproveitar o momento.
Quando senti que o ar estava me faltando, eu forcei mais meus dedos nos cabelos do Chris e me forcei a nos afastar por alguns segundos. Minha respiração estava pesada e eu sentia meu peito subir e descer com rapidez. Os lábios de Chris estavam mais avermelhados do que o normal e suas pálpebras abriam e fechavam, forçando-as. Suas mãos subiram para as minhas costas e permaneceram lá em um abraço. Ele encostou a bochecha na lateral do meu rosto e permaneceu assim por um tempo. Passei meus braços pelo seu pescoço e relaxei meu corpo um pouco em seus braços. Além do quebrar das ondas, o único barulho naquela cidade era de nossas respirações descompassadas.
- Ah... – Deixei escapar pelos meus lábios.
Chris trouxe seu rosto para o meu novamente e pude encarar seus olhos azuis próximos dos meus. Ele encostou nossos lábios novamente, selando-os por poucos segundos, e manteve assim por um tempo que eu não consegui determinar.
- Você está me deixando encabulada. – Falei com um tom de voz baixo e ele abriu um sorriso sapeca.
- Encabulada? Depois desse beijo? – Dei um tapa de leve em seu ombro e seus braços se afrouxaram em meu corpo, nos afastando um pouco.
- Eu tenho meus momentos!
- E eu estou gostando deles! – Ele se colocou ao meu lado, entrelaçou um de nossos braços e colocou a mão em seu bolso.
Com o braço entrelaçado, eu apoiei ambas a mão livre em seu braço e caminhamos mais à frente na praia.
- Por que me trouxe aqui? Tem algum significado especial para você? – Falei enquanto andava afundando meus pés na areia, fazendo questão de sentir os grãos passando pelos meus dedos.
- Fiquei sabendo que gosta de praia. – Ele virou o rosto para mim e abriu um sorriso simples, franzindo suas bochechas. - Mas agora vai ter um significado especial.
Apertei mais seu braço sobre o meu e, com um vento gelado, senti os pelos de meus braços e minhas pernas arrepiarem. Vi Chris colocar a outra mão no bolso da calça e encolher os ombros um pouco. Antes que chegássemos à areia molhada, Chris parou e ficou olhando para frente. Encarei-o com o canto dos olhos e seu rosto estava sério, os olhos levemente franzidos por causa do vento e a postura reta, bem diferente da minha. Eu estava com queixo apoiado em seu ombro e minhas costas estavam levemente arqueadas para frente, mas não por muito tempo.
Desentrelacei nossos braços e puxei o ar fortemente para dentro dos meus pulmões, sentindo o cheiro de praia, água salgada e areia, combinação quase perfeita. Contei cinco passos até sentir meus pés na areia molhada e coloquei as mãos nos bolsos do meu vestido, arqueando minhas costas. Dobrei os dedos dos pés rapidamente quando vi a onda se quebrar e a água correr pela areia, encontrando meus pés. Olhei para meus pés molhados e vi mais algumas ondas encontrarem os mesmos. Abri um largo sorriso e fechei os olhos. Eu poderia ficar ali para sempre. Eu e o mar, sem pressa, sem compromissos. Senti dois braços passarem pelo meu pescoço em um abraço quente. Bem, eu, o mar e ele.
Chris manteve suas mãos em meu corpo e encostou sua bochecha na minha. Não pude conter um sorriso. Tirei minhas mãos do bolso e as coloquei em cima de seus braços, próximos a meu rosto, fazendo um carinho delicado com a ponta das mãos.
- Você gosta daqui? – Eu o ouvi sussurrar essas palavras em meu ouvido, fazendo meu pescoço se arrepiar e deixar de ser necessário palavras para a minha resposta, então eu só abri um sorriso. – A gente pode vir sempre que você quiser. – Concordei com a cabeça e virei meu corpo para o dele, sentindo seus braços se afrouxarem de meu corpo.
- Obrigada! – Falei baixo, com a boca próxima a sua.
- Pelo o quê? – Ele franziu a testa.
- Por me mostrar que eu tinha razão. – Sua testa se manteve franzida. – Você é especial. – Ele abriu um sorriso, dando um curto beijo em minha testa. – Você vale a pena.
Não notei que o tempo havia passado com tanta rapidez. Ficamos abraçados por boa parte desse tempo. Trocamos alguns beijos, algumas carícias, palavras de carinho e até algumas piadas, o que fazia com que nossas risadas escandalosas ecoassem pela avenida silenciosa de Cape Ann. Só notamos que era bom voltar para Boston quando seu celular vibrou em seu bolso, denunciando uma mensagem de seu irmão, e pudemos ver o horário. Já passava das dez horas da noite. Soltamos uma risada e caminhamos de volta para o carro. Chris me ajudou a subir pela mureta e, logo, subiu atrás de mim.
Peguei meus sapatos e ele fez o mesmo com os dele. Ele abriu o porta-malas e puxou uma mochila preta lá de dentro. Abriu a parte maior da mesma e pegou uma toalha azul escura, me entregando a mesma para secar e limpar os pés. Eu me aproximei de seu carro, sentei de lado no lugar do passageiro e passei a toalha levemente sobre meus pés, tentando tirar toda a areia do mesmo, me certificando de que não entraria areia no carro de Chris e muito menos em meu apartamento. Assim que finalizou, Chris já estava do mesmo jeito atrás de mim, no banco do motorista, esperando a toalha. Virei os pés para dentro do carro e estendi a toalha para ele. Puxei a porta e passei o cinto pelo meu corpo. Chris foi mais rápido que eu e jogou os sapatos no banco de trás.
Ele ligou o carro e deu marcha ré, saindo da vaga e voltando para o caminho que tínhamos usado. Puxei um dos pés para cima do banco e virei de lado novamente, encarando-o dirigindo. Era algo que eu tinha gostado de observar, o deixava incrivelmente sexy. Chris ligou o som baixo e o ar quente para ver se nossos corpos esquentavam um pouco. Não me importei muito com isso, sua mão em cima da minha já era o suficiente.
- Foi divertido! – Falei, vendo seu rosto se virar para o meu rapidamente.
- Fazia tempo que eu não me divertia assim. – Ele falou, seguido de uma risada, e apertou minha mão.
- Precisa parar de trabalhar tanto!
- O problema não é o trabalho, é a companhia! – Eu o vi piscar para mim e voltar a atenção para a estrada.
- Companhia?
- Sim, você! – Ele sorriu e mordi meu lábio fortemente.
Depois daquela, eu não tinha mais nada para dizer. Meu corpo estava cansado. Trabalhar, me arrumar, fazer uma viagem curta, ter um dia perfeito havia sido incrivelmente prazeroso mas, fisicamente, eu estava cansada. Sentia meus olhos pesando, mas os forçava a ficar aberto. Olhei para o perfil de Chris mais uma vez antes de sentir meus olhos fecharem.
Sentia meu corpo encaixado perfeitamente em uma superfície macia. Virei meu corpo para um lado, abraçando melhor o travesseiro, e suspirei. Mexi as pernas, sentindo-as fora da coberta, e percebi um vento frio passar por elas. Tateei a cama e procurei o lençol em vão. Suspirei e abri um de meus olhos, encontrando um quarto diferente do que eu estava acostumada. Sentei na cama em um susto, sentindo uma rápida dor de cabeça ao fazer o mesmo. Eu estava em uma cama de casal mais alta que a minha e em um quarto com poucas decorações. As poucas que tinham estavam em preto e branco. O quarto era amplo, com janelas de vidro cobrindo boa parte de uma das paredes e cortinas brancas balançando por causa do vento que passava por elas. Na cabeceira da cama, podia ver uma foto de Chris com seus irmãos. Estavam os quatro, fazendo uma escadinha do mais alto ao mais baixo. Segurei a foto por alguns segundos e abri um sorriso.
Notei a roupa que vestia e vi que estava com a mesma do dia anterior, incluindo meus acessórios. Sentia que podia morrer sufocada naquele vestido a qualquer momento. Como eu fui parar ali? Passei a mão nos meus cabelos, estavam sem o efeito do laquê e isso os deixavam bagunçados. Saí da cama e, com passos discretos, passei por uma das portas, procurando o banheiro. Fiz um rápido gargarejo, escovando o dente com o dedo só para tentar tirar o possível mau hálito matinal. Com alguma dificuldade, passei a mão em meus cabelos, desfazendo o penteado, e vi que parte da minha maquiagem ainda estava em meu rosto. Peguei um dos sabonetes no banheiro e tirei o máximo possível, principalmente o rímel que já tinha colado meus cílios. Sequei meu rosto e baguncei meus cabelos rapidamente, o vendo armar um pouco por causa do laquê, mas ignorei. Voltei para o quarto à procura dos meus sapatos e não os encontrei.
Saí do quarto, dando de cara com um escritório na primeira porta à direita e, logo em seguida, uma escada larga em espiral. Desci pela mesma e me encontrei na sala, que possuía grandes sofás de couro preto, onde era possível ver uma coberta e um travesseiro bagunçado, denunciando onde Chris tinha dormido aquela noite, e mais algumas decorações discretas e porta-retratos de Chris e sua família. Puxei a respiração e senti um cheiro de algo gostoso e um barulho de algo caindo logo em seguida. Segui o cheiro e o barulho e passei por uma porta, dando de cara com Chris em calças de moletom e sem blusa, o que me deu uma visão perfeita de suas costas e de seu braço direito onde podia ver a tatuagem ‘Família’ escrita. Ele estava em frente ao fogão, tirando uma panqueca da frigideira e colocando em um prato ao seu lado.
- Bom dia! – Falei baixo, me aproximando dele.
Imediatamente, ele virou o rosto. O sorriso dele literalmente iluminou meu dia.
- Bom dia! – Ele deixou a frigideira no fogão e virou o corpo para mim.
Fechei os olhos por um tempo, soltando uma risada ao poder encarar as duas tatuagens em seu tronco. Uma próxima a seu pescoço com uma frase de um autor que ele gostava e outra bem na direção de seu estômago, onde podia ler o nome “Mike, que descanse em paz”.
– O quê? – Ele perguntou e eu revirei os olhos, sentindo seus lábios encostados nos meus por um tempo.
- Nada! – Falei, passando a mão no rosto rapidamente, e abaixei a cabeça, notando seu olhar firme em mim. – Você não tem noção de que é bonito para caramba, né?! Para não usar outras palavras.
- Só eu, né?! – Dei de ombros e senti seus braços se envolverem em meu corpo em um forte abraço.
- O que aconteceu ontem à noite, que eu não lembro?
- Você capotou na volta de Cape Ann. Eu não queria te acordar, então te trouxe para cá. Relaxa, eu dormi no sofá! – Ele falou antes que eu pudesse interrompê-lo.
- Eu não ia falar nada. – Eu me aproximei de onde estava o prato com as panquecas. – Mesmo se tivesse dormido comigo. – Falei a última parte baixo, e ouvi uma risada nasalada vindo dele. - Fala que eu não ronquei. – Virei meu corpo para ele novamente e encarei seus olhos.
- Se quiser, eu não falo! – Ele cruzou os braços em cima do corpo.
Ah, Chris, para! Não sei o que tá mais difícil, olhar para o seu corpo ou seus olhos.
- Eu ronquei? – Falei em um tom de voz mais alto.
- Estava uma gracinha. – Virei meu corpo ao mesmo tempo em que fechei os olhos, fazendo uma careta.
- Ninguém é uma gracinha roncando, Evans! – Falei e senti seus braços em volta do meu corpo, pegando os pratos na minha frente.
- Vem comer! – Ele sussurrou, pegou os pratos, deu um beijo rápido em minha cabeça e se afastou, passando por uma porta que ia para fora.
Eu o segui e vi uma mesa quadrada para somente quatro pessoas posta à beira de uma piscina, jardim e uma área de lazer ao lado. O sol que iluminava a piscina estava forte, me forçando a fechar os olhos por alguns segundos. Na mesa, tinha algumas outras coisas além das panquecas, como ovos, bacon e pão com manteiga. Não contive o sorriso.
- Eu amo bacon, mas não consigo entender como vocês conseguem comer isso no café da manhã. – Falei enquanto sentava ao seu lado.
- Costume! – Ele falou quando não achou outra explicação melhor.
Eu me servi de leite e coloquei algumas colheres do achocolatado recém-aberto que estava na mesa. Chris foi no café, então concluí que aquilo não costumava fazer parte da sua lista de compras. Como uma mulher de 27 anos ainda bebe leite com achocolatado? Costume, seria a minha resposta. Costume de não crescer, isso sim. Primeiro, peguei um pão e o separei em dois pedaços, passando manteiga no mesmo e o mordendo com gosto. Não tinha nada melhor que aquilo, me permiti até soltar um suspiro, o que fez Chris rir ao meu lado.
Dei de ombros e voltei a encarar sua varanda. Não sabia que Chris tinha uma casa em Boston. Achava que tinha um apartamento ou algo assim, mas ele tinha uma casa muito bem montada, isso sim. Após o pão, ainda comi uma panqueca e me permiti atacar um pouco o ovo mexido, o fazendo rir enquanto eu tentava parecer uma pessoa delicada, coisa que eu não era e, pelo jeito, ele sabia disso.
Terminamos o café da manhã falando sobre o lanche no diner, e eu fiz questão de comentar que viraria freguesa do lugar. Era um lugar bom, quieto, gostoso e com comida boa, coisas que eu não dispensava. Enquanto ele tirava a mesa, eu lavei a louça. Dessa vez, sem briguinhas sobre quem faria, ele estava mais preocupado em me fazer meus pelos se arrepiarem com os diversos beijos em meu pescoço. Filho da mãe.
- Quero repetir a dose de ontem. – Ele falou com a boca colada em meu ouvido. – O que tem para fazer hoje?
- Aceito ir a qualquer lugar contigo! – Falei, virando meu rosto e sentindo um beijo em meus lábios.
Nós dois estávamos sorrindo igual tontos, isso estava claro, eu estava no ápice da minha felicidade.
– Contanto que eu tenha o direito de ir para casa, tomar um banho e me trocar. Estou me sentindo sufocada dentro desse vestido já! – Chris mordeu os lábios e eu soltei uma gargalhada nervosa.
Senti minhas bochechas corarem, imaginando o que se passava pela sua cabeça.
- Cinema? – Ele falou logo em seguida.
- Eu quero ver The Iceman! Não vi ainda. – Falei, me lembrando de seu filme que estava nos cinemas.
- Ah, não! – Ele falou soltando as mãos de meu corpo.
- Por quê não? – Soltei uma risada.
- Porque tem eu! – Ele falou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
- Então teremos um pequeno problema. Eu adoro seus filmes. – Falei, passando as mãos no pano de prato e o acompanhei pela porta da sala, me jogando no sofá ao seu lado.
Ele ficou quieto por um tempo e pegou minha mão, acariciando-a. Notei que ele passou o dedo na palma da mesma, em cima da quase imperceptível marca branca.
- É daquele dia? – Confirmei com a cabeça.
- Resultado do nosso primeiro tempo juntos. – Ele gargalhou.
- Já tivemos outros antes daquele dia.
- Esse foi o primeiro sem supervisão adulta. – Eu o lembrei e ele franziu o rosto em uma risada silenciosa.
Ele levou minha mão até sua boca e deu um pequeno beijo na mesma, entrelaçando nossos dedos novamente, e eu sorri, fechando os olhos por um tempo.
- E então? The Iceman? – Falei, voltando ao assunto do cinema.
- Vou pensar no seu caso. – Ele falou emburrado e eu encostei meu rosto em seu ombro, fechando os olhos, mas dessa vez sem dormir.
Capítulo 04
Is not the words I want to hear from you
It's not that I want you not to say
But if you only knew
How easy it would be to show me how you feel
More than words
Is all you have to do to make it real
Then you wouldn't have to say
That you love me
'Cause I'd already know
(Dizer 'eu te amo'
Não são as palavras que eu quero ouvir de você
Não que eu não queira que você diga
Mas se você soubesse
Como é fácil me mostrar como se sente
Mais que palavras
É tudo o que tem que fazer para tornar verdade
Então você não teria que dizer
Que me ama
Porque eu já saberia)
More Than Words, Extreme
Ouvi meu suspiro alto ecoar pelo meu quarto e abaixei a cabeça por alguns segundos, ouvindo o telefone tocar novamente. Imediatamente, apertei o botão para que fosse diretamente para a secretária eletrônica e puxei o fio do telefone da parede. Minha vontade era de jogar tudo para o alto e mandar à merda. Peguei o roteiro que estava em cima da mesa com as palavras “1h30 Train – Chris Evans” em letras garrafais e me joguei na cama. Eu podia ouvir ao longe os outros telefones da casa tocando, mas ignorei.
Apoiei o roteiro em meu travesseiro, virei de bruços e olhei a primeira página. Lá continha o nome de algumas atrizes em potencial que tinham feito o teste para o primeiro filme que eu dirigiria. A produção já havia pré-selecionado algumas pessoas, e restava que eu desse a palavra final, mas aquilo estava me matando. Por ser novo na área de direção, eu tinha muitas indecisões. Não sabia definir o que estava certo e o que estava errado, então uma decisão simples se tornava maçante, e algo que eu podia decidir em poucas horas era protelado durante dias.
Dias... Eu ainda tinha alguns dias para entregar a relação de tudo para a produção a fim de que eles pudessem começar a preparar os outros detalhes como figurino e datas de gravação em Nova York. E também tinha esse título, não estava deixando a equipe – muito menos, eu – feliz.
Joguei o papel para o lado e afundei meu rosto no travesseiro. Eu estava mentalmente cansado há algum tempo. Desde que eu havia voltado de Boston, era só com isso que eu estava focado. Filme, filme, filme. Mas eu precisava voltar para Boston e ver novamente.
Soltei um suspiro, peguei o celular da mesa de cabeceira ao meu lado e desbloqueei o mesmo ao digitar a senha. Nossa conversa da noite anterior ainda estava aberta. A última mensagem era um áudio dela, me desejando boa noite. Áudio, algo que eu tinha aprendido recentemente como usar, mas que estava sendo muito útil. Eu precisava voltar para Boston para vê-la.
Saí da conversa e fui para a agenda, procurando saber quando seriam meus próximos compromissos. Estávamos quase no fim de julho, a Comic-Con estava chegando e também a estreia do meu novo filme, Expresso do Amanhã, na Coreia, dois eventos que eu não poderia nem pensar em faltar, como também um evento da Disney em agosto. Eu poderia resolver o que tinha para resolver nos próximos dois dias e, antes de ir para San Diego, dar uma passada em Boston para vê-la. Seria algo rápido, mas era o que eu estava precisando no momento. Mas... Será que ela não iria para San Diego?
era definitivamente algo que eu estava precisando no momento, alguém que fizesse com que eu me sentisse mais leve, mais feliz, mais confortável comigo mesmo. Alguém com quem eu já tinha feito alguns planos em minha cabeça... Alguém para amar... É, acho que era isso. Amor. Ela entrara na minha vida de um jeito tão simples, tão tímido e delicado mas, ao mesmo tempo, muito arrebatador. Seu sorriso fazia com que minha perna amolecesse, seu toque fazia com que meus pelos se arrepiassem e seu olhar fazia com que eu me sentisse querido, de um jeito que eu não me sentia há muito tempo.
Podia parecer idiota ou um pouco esnobe mas, havia um tempo, eu não me sentia à vontade para me abrir com as pessoas. Isso fazia com que eu ficasse com a imagem de tímido, o que nem sempre era verdade. Eu só era tímido com quem não me conhece. Era só perguntar para . Assim que a pessoa dá liberdade para eu conhecê-la, eu automaticamente dou liberdade para ela me conhecer, e isso normalmente acontece em cinco minutos de conversa. E com a , não sei, parecia que aquele encontro... Ou melhor, reunião de trabalho tornou as coisas tão fáceis que ali já tinha ficado claro que aquela mulher mudaria minha vida. E ela mudou. Ela trouxe de volta o romântico que eu era quando tinha meus 21 anos e estava conhecendo as maravilhas do amor, da paixão e do romance. E essa mulher tinha feito isso com um cara de 32 anos que já estava perdendo a esperança em achar aquele lendário amor verdadeiro, que eu havia descoberto que não era lendário coisa nenhuma.
Voltei para realidade quando o celular começou a tocar em cima da cama. Virei de barriga para cima, sentando na cama, e encarei o nome e foto dela sorrindo no visor do meu celular. Deslizei a tela para atender.
- Sábado é o painel da Marvel na Comic-Con, né?! - Foram as primeiras palavras que eu ouvi.
Precisei parar e processar um pouco para saber se eu realmente tinha ouvido certo com a rapidez que ela falou.
- Calma! - Ouvi sua risada ao fundo e sorri. - Marvel, Comic-Con, sábado? Sim! – Falei, passando as informações na minha mente, e ri.
- Droga! Meus planos acabaram de ir por água abaixo. - Ela suspirou e ouvi algumas coisas batendo do outro lado da linha. - Pensei que fosse dia 27. E a Megan me avisa só agora. Esse povo não conhece comunicação, não?! - Ela falou em tom de brincadeira e eu suspirei, ficava feliz em ouvir sua voz.
- Planos, é?!
- Você ouviu o que eu disse?
- Não, parei na palavra planos. - Fui sincero e ela ficou quieta por um tempo, soltando uma risada.
- Planos que não vão acontecer porque você tem compromisso, senhor Capitão América.
- Eu estava pensando em dar uma passada aí antes de ir para San Diego mas, se você não quiser, tá tudo bem também!
- Mas o drama tá no sangue, hein?! Não tem como duvidar que você é ator! - Ela falou ironicamente e uma gargalhada saiu involuntária. - Mas enfim... Quer passar aqui antes? Quando? Eu já comprei metade das coisas e a outra metade vai chegar do Brasil em até... - Ela deu uma pausa no meio da frase como se procurasse alguma coisa. - ... dois dias.
- Brasil? Hm?! , do que você está falando? - Ela riu do outro lado da linha.
- De algo que você vai descobrir quando vier para Boston. - Ela falou o nome da minha cidade do mesmo jeito que eu costumo falar, aberto, um pouco mais caipira, se assim pudesse dizer.
- Boston? - Repeti o nome da cidade.
- É, Boston, Evans, de onde você acha que eu estava falando? - Eu soltei uma risada e ela ficou quieta do outro lado da linha.
- Não! É que você está começando a falar igual a mim. - Ela ficou quieta do outro lado da linha e suspirou.
- Afeta, sabia? Eu sempre tive esse problema. Bastava falar com uma pessoa por quatro dias que eu ficava com o sotaque ou as gírias dela. Ainda mais no Brasil, onde praticamente cada cidade tem seu sotaque. Nos Estados Unidos que seria diferente.
- Eu gosto de te ouvir falar. - Soltei depois de um bom tempo.
- Boston? - Ela repetiu e eu dei uma risada.
- Sim, Boston! - Eu falei e ela deu uma risada.
- Ah, enfim... Deixa eu terminar, minha outra linha tá tocando. - Ela suspirou. - Quarta ou quinta? Acha que dá?!
- Quarta e quinta. Sexta eu já tenho que estar em San Diego. - Falei pegando o roteiro no espaço vazio da cama.
- Quarta, então! - Ela falou, confirmando. - Te vejo em casa umas 20 horas, tá?!
- Ei, não era à tarde?
- Tarde de sábado. Quarta eu trabalho, espertinho. - Falei e coloquei meus pensamentos para funcionar. - E nada de pedir para eu sair mais cedo de novo. - Ela falou quase como um sussurro gritado.
- Ok, não está mais aqui quem falou. - Soltei um riso logo em seguida. - Quarta então! - Ela fez um barulho de confirmação com a boca e eu sorri.
- A gente se vê então. - Ela falou, suspirando. - Tchau, Christopher.
- Tchau, ! Te ligo à noite. - Senti a necessidade de dizer.
- Ok! - Pude ver em minha mente ela morder o lábio inferior, como sempre fazia quando estava esperando alguma coisa. - Vou esperar! Tchau! - E ouvi a linha muda do outro lado.
Soltei um suspiro, encarei o celular desligado na minha frente e passei o dedo, clicando na galeria de fotos e procurando a foto tirada algumas semanas atrás. Era uma selfie minha e de no cinema, pouco antes da sessão de The Iceman naquele sábado. Sim, ela tinha me convencido a ver o filme. Logo em frente, eu podia ser visto com meu boné que, com o flash, causou sombra em parte do meu rosto. E atrás de mim, segurava um balde de pipoca, tinha um sorriso largo, um par de óculos de grau com armação preta no rosto, os cabelos soltos e molhados. Suas pernas podiam ser vistas um pouco descobertas devido ao short que estava usando. Eu tirei a foto espontaneamente. Na teoria, não era para ter olhado para a foto mas, assim que o flash foi ativado, ela virou e a foto ficou engraçada. Aquela foto nunca foi para nenhuma rede social, era cedo ainda.
Suspirei por um tempo e peguei o roteiro ao meu lado, caminhando rapidamente para meu escritório. Abri meu notebook e coloquei o DVD com testes de cena com todas as possíveis atrizes para meu filme e dei play no vídeo. Analisar a atuação das pessoas era algo chato. Atuar era meu trabalho e, em algumas situações, era realmente chato quando a pessoa ficava avaliando cada vírgula do meu trabalho, mesmo sabendo que cada um tinha seu estilo, então era uma parte que eu realmente ficava tenso em analisar. Então eu havia colocado uma meta para mim que seria escolher a pessoa que eu achasse que combinasse mais. Eu e minha equipe tínhamos um perfil para a personagem principal, mas esse perfil já havia sido pré-selecionado e os vídeos que tinham ido para esse DVD era a pré-seleção da equipe. Faltava eu dar o veredito final.
“Alice Eve” foi o nome que eu escrevi. Assinei meu nome e fechei o arquivo, jogando-o dentro do meu armário em seguida. Voltei novamente para meu quarto e me joguei na cama, pegando o celular na minha mão. Nenhuma notificação. Meu Deus, eu estava ficando viciado nisso. Era como dizia, afeta.
- Agora... Passar o tempo!
Freei o carro em frente a um tão conhecido condomínio e saí do mesmo, puxando minha jaqueta de couro que estava no banco ao meu lado e ajeitando a carteira no bolso. Em dois passos, já havia colocado a jaqueta no corpo, por cima da blusa cinza que eu vestia. Era eu ou estávamos em julho e estava frio? Balancei a cabeça, coloquei uma mão no bolso e toquei o interfone, sendo rapidamente liberado para entrar no condomínio.
Desci as escadas rapidamente que davam para o conjunto com três prédios e entrei no que eu já estava acostumado. Entrei no elevador que estava no térreo e apertei o número 9. Tirei as mãos do bolso e me olhei no espelho do elevador. Passei as mãos nos meus cabelos castanhos arrepiados e ao lado do rosto, nas costeletas, abaixando os fios deslocados. Encarei meu rosto o suficiente para ver o corte meio avermelhado do lado esquerdo, resultado de fazer a barba na pressa. Baguncei os cabelos e saí do elevador para o hall dos quatro apartamentos.
Um rápido barulho de porta se abrindo e batendo na parede e uma pessoa já tinha os braços envoltos em meu pescoço e o peso solto em meus braços. A risada era inconfundível, o perfume também, e os cabelos castanhos em meu rosto mais ainda. Ela soltou os braços do meu pescoço e, quando colocou os pés no chão, pude ver seu rosto. Encostei meus lábios no dela por um momento e pude sentir suas mãos mexendo em meus cabelos. Sua língua tocou na minha rapidamente e uma mordida em meu lábio inferior fez com que nos separássemos. Encarei seu rosto por um momento e a respiração quente batendo em meu queixo me fez sorrir.
- Oi! – Ela falou ainda rindo e eu tive que rir.
Ela estava tão linda...
- Oi. – Eu sorri e ela suspirou, apertando os abraços em meu pescoço novamente e escondendo o rosto nele.
Ela ficou em silêncio por um tempo e eu passei meus braços pela sua cintura, sentindo sua pele quente na minha.
- Entra! – Ela mexeu com a cabeça e entrou saltitante em seu apartamento, onde a luz da cozinha iluminava o local e algumas outras deixavam a sala com um tom meio escuro. - Fica à vontade! – Ela gritou e eu entrei em seu apartamento, fechando a porta atrás de mim.
Parei na porta da cozinha, onde pude ver mexer em um caldo branco dentro de uma panela funda. Sua cozinha não era tão grande mas, naquele momento, ela estava cheia de coisas para tudo quanto é canto e um delicioso cheiro de fritura misturado com vinho enchia o ambiente, fazendo minha barriga gritar por comida. Encarei ela novamente e notei a roupa que ela estava usando. Uma calça escura jeans colada no corpo, um moletom canguru cinza bem escuro e botas de cano baixo onde um pano xadrez aparecia por dentro das mesmas. Os cabelos castanhos estavam presos em um rabo de cavalo alto e o rosto aparentemente sem maquiagem. Ela passava um pano em cima do fogão e o fechava, colocando um pano estampado em cima do mesmo. Ela acomodou os refratários vazios dentro da pia e virou o rosto para mim novamente.
- E esse frio que virou?! – Perguntei, não tendo nada muito melhor para falar ou fazer.
- Foi sorte, meu querido! Porque comer feijoada no calor não dá! – Ela riu e estendeu um prato para mim, onde alguns salgadinhos fritos estavam. – Coloca na mesa, por favor?
- Feijoada? – Perguntei confuso e indo até o outro cômodo, onde uma mesa muito bem posta nos esperava.
Os pratos, os talheres, as taças e até um pequeno arranjo com gérberas vermelhas ocupavam o meio da mesa retangular. Na lateral da mesa, outra estava colada, onde seis panelas e potes fechados estavam enfileirados. Coloquei o prato em minha mão no meio da mesa principal. Notei também que o motivo da sala estar meio escura eram as diversas velas acesas colocadas em vários lugares, iluminando parcialmente o local.
- Comprou mais taças, é?! – Perguntei, vendo duas taças iguais na mesa.
surgiu dando uma risada.
- Dei uma passadinha no mercado e encontrei essas duas. Agora, por favor, nada de quebrar, tá?! – Ela gritou da cozinha e soltou uma risada.
- Ficarei longe delas então! – Falei.
- No nosso primeiro encontro, eu joguei na sua cara um monte de nome de comidas brasileiras, certo?! – Ela apareceu ao meu lado segurando uma garrafa de água em uma mão e uma garrafa de vinho na outra e as colocou na mesa, estendendo o abridor de vinhos para mim.
- É, tenho uma vaga lembrança disso. Certo tom de “Brasil é melhor”, sabe?! – Ela riu e voltou para a cozinha.
Pude ver a luz da cozinha ser apagada e ela aparecer novamente na sala, enquanto eu mexia na rolha do vinho com o abridor, a tirava e servia as duas taças com o líquido escuro.
- Então! – Ela parou ao meu lado, segurou uma taça com as suas mãos e eu fiz o mesmo após deixar a garrafa aberta em cima da mesa. - Eu preparei uma coisinha para você! – Ela se encostou em mim e colocou a cabeça em meu ombro. – Para nós, na verdade.
- Uma coisinha? – Falei em tom irônico e virei meu rosto para ela, que segurava uma risada. – Isso está ótimo, ! – Encostei meus lábios em sua cabeça.
- Acho que sou um pouco romântica. – Ela sussurrou.
- Fico feliz em saber disso. – Falei baixo e ela se silenciou, encarando a mesa posta por um tempo.
Estendi minha taça para ela que abriu um sorriso largo, aproximando a dela na minha e um tilintar baixo soou do tocar de nossas taças.
- Por nós! – Falei e ela mordeu seu lábio inferior.
Vi suas bochechas ficarem vermelhas por um tempo. Ela deu um gole em sua bebida e eu fiz o mesmo na minha.
- Bem... Vamos comer?! – Afirmei com a cabeça e a vi saltitar em direção à mesa.
Dei dois passos rápidos e puxei a cadeira para ela se sentar. Pude ouvir sua risada nasalada enquanto ela se sentava e apoiava sua taça ao lado de seus pratos, corretamente arrumados.
- Eu sou educado, ok?!
- Não estou dizendo nada, Evans! – Ela beijou minha bochecha e foi minha vez de rir.
Eu fui à sua frente, onde a mesa estava posta, e me sentei. Ela tinha as mãos ágeis, tirando a tampa de todas as panelas que estavam na mesa paralela a nossa. Reconheci uma travessa com arroz branco, outra com um caldo espesso marrom, quase preto, com algumas carnes como bacon, calabresa e outras não conhecidas, couve refogada com pedaços pequenos de bacon, uma certa farinha meio bege temperada – não reconheci o que era –, um prato com algumas laranjas descascadas e outro caldo com cebola e tomate em pedaços.
- Como eu como isso?! - Foi a pergunta que saiu da minha boca e soltou uma risada na minha frente.
- Calma! Você come tudo junto, do jeito que você quiser, não tem dificuldade. Mas antes da gente partir para a feijoada, você tem que conhecer a coxinha.
- Cox... O quê? - Ela riu e apontou para o prato que eu havia trazido à mesa.
- Coxinha! Uma massa de batata, recheada de frango, catupiry e frita. Simples! - Ela pegou uma num guardanapo e me entregou. - É um dos sucessos brasileiros, pode-se comer em qualquer lugar e todo mundo ama. Espero que goste também!
- Vamos ver então!
Encarei a massa meio amarelada e crocante e senti o cheiro dela. Era bom. Ela era arredondada embaixo e pontuda em cima. Tudo o que podia ser visto era a massa frita por fora, nenhum dos recheios sobre os quais ela havia falado era evidente.
- Por onde eu começo?
- Depende. Tem gente que começa pelo bico, tem gente que começa pela bunda. - Ela pegou uma com o guardanapo para ela e a virou de bunda para cima. - Eu começo direto no recheio. - E deu uma pequena mordida no salgado, mastigando um pouco antes de voltar a falar. - É a sua primeira vez, então acho melhor começar pelo bico. - Olhei a de rapidamente e vi que era bem recheada. – Tem gente que brinca que não se pode confiar em quem começa a coxinha pela bunda.
- Por quê? – Perguntei rindo.
- Sei lá, falam que é tradição começar pelo bico, vai saber! – Ela soltou uma risada e fez sinal para que eu mordesse logo o salgado.
- Saúde! - Falei brincando e dei uma grande mordida no bico, sentindo o gosto de batata e do frango invadir minha boca.
se mantinha quieta, com os olhos divididos em sua coxinha e em mim. Quando eu fazia a mesma coisa, podia ver as laterais da sua boca se erguerem em um sorriso.
- Isso é bom! - Falei com a boca um pouco estufada devido à quantidade de recheio que eu havia mordido.
- Ponto para o Brasil! - falou com a voz cantada, soltando uma risada em seguida.
- Mas isso é só uma coisa, tá?!
- Relaxa, amor! Tem muito mais! - Ela piscou o olho e eu soltei uma risada quando, na verdade, minha cabeça tinha ido longe, e eu preferi pegar outra coxinha antes que eu falasse alguma das coisas inapropriadas que passaram em minha mente.
- Na verdade, não tem um jeito certo para comer feijoada. Você junta tudo dentro do prato e come, é isso. - falava enquanto me servia de todas as delícias que compunham uma feijoada.
- E o que é essa coisa aí, essa areia meio amarelada? - Falei, a vendo colocar em cima do que seria a feijoada em si, o que eu havia aprendido que era o conjunto, mas que o nome feijoada vinha do feijão.
- Isso é farofa, feita de farinha de mandioca ou de milho, fica bom em tudo. - Ela me entregou o prato e eu o coloquei na minha frente enquanto ela se servia. - E eu não estou brincando. Na carne de churrasco então... Fica uma delícia!
- E essa mistura de cebola e tomate?
- Vocês não conhecem vinagrete? Também fica bom no churrasco, ou em tudo. - Ela deu uma curta risada e colocou seu prato na sua frente.
- Alguma coisa não fica boa com churrasco? - Ela parou um tempo e tombou a cabeça para o lado um pouco.
- Não. Afinal, você pode fazer churrasco com o que você quiser. - E continuou a se servir.
Logo, estávamos jantando. A definição perfeita para essa junção de coisas era gororoba. Sabe quando juntam um monte de coisas diferentes no mesmo prato? Mas ela não era ruim, muito pelo contrário, era deliciosa. Claro, tinha que ter um paladar bem apurado porque eram muitos sabores diferentes, coisa que eu não negava mas, do tanto de coisas que eu já havia comido nesse mundo, estava entre uma das melhores. Acabei repetindo algumas vezes em porções menores.
- Ah, Deus, eu não deveria comer tanto assim! - Falei me espreguiçando enquanto tinha retirado os pratos e mexia em algo na cozinha, já que pude ouvir algumas coisas batendo.
- Ainda não acabou. - Ela falou, voltando para a sala e batendo os pés no chão.
Surgiu com dois potes de vidro com algum creme branco dentro dele.
- O que você tá aprontando, ?! - Falei e a puxei pela cintura, fazendo com que ela se sentasse em uma das minhas pernas e colocasse os potes na mesa.
- Sobremesa! - Ela falou em um sussurro e encostou a boca em minha cabeça enquanto abria os dois potes.
O líquido era branco e espesso, de onde eu via algumas sementes brancas retangulares como também um tipo de farofa com coco ralado no meio. Aproximei a mão do pote e vi que ele estava quente, como se tivesse acabado de sair do fogo, mas não estava borbulhando.
- Canjica com paçoca e coco ralado. Normalmente servido em festas juninas e... Ah, come! Não precisa de explicação para comer coisas boas. – Ela pegou uma colher e seu pote e mexeu tudo, misturando a tal da paçoca, o coco e a canjica.
- Paçoca, ou qualquer coisa que você disse, é tipo a farofa que a gente comeu com a feijoada?
- Não, nenhum pouco! - Ela falou direta e soltou uma gargalhada em seguida. - Paçoca é feita de amendoim, farofa é feita de farinha de mandioca. Um é doce, outro salgado. Os dois são bons! - Ela deu de ombros e eu peguei a colher, vendo pegar a colher, enchê-la com o líquido e colocar na boca.
Tirei a mão de suas costas e fiz o mesmo que ela, vendo seu olhar fixo em meus movimentos. Maravilhoso. Essa é a única definição que eu poderia fazer. Você fazia mais uma gororoba com aquilo e o sabor era divino, não tem motivo para questionar.
- Eu vou engordar contigo! – Falei, encostando a mão na barriga.
- Pior que vai mesmo! - Ela falou dando uma piscada. – Sinto lhe dizer.
- Eu não me importo! - Devolvi a piscadela e ela riu.
- Quer ajuda para arrumar as coisas? Que a resposta não seja 'não', por favor. - Falei, entregando as coisas para ela, que colocava na pia.
- Acho que hoje a resposta é sim! - Ela falou. - Hoje eu deixo você lavar a louça enquanto vou guardando as coisas que sobraram. Depois, podemos assistir um filme. - Concordei com a cabeça, tirei a jaqueta, colocando em cima da geladeira, e abri a torneira, começando pelas louças de cima.
Enquanto eu lavava as louças, podia ouvir os pés da indo e voltando da sala várias vezes. Ela pegava tudo que estava ajeitado na sala e trazia para a cozinha. Dividia as sobras de comida em recipientes ou jogava fora e deixava os potes vazios ao meu lado para que eu lavasse. Não tinha muita coisa para lavar, mas eu não tinha tanta experiência na situação e era um pouco lento no serviço. Então, enquanto eu fazia algo em um tempo, fazia no dobro ou triplo do tempo.
Quando ela desapareceu por um tempo mais longo, voltou sem o moletom cinza e arregaçando as mangas de uma blusa em um tom avermelhado de manga comprida, colada ao corpo. Sem dizer nada, ela pegou um pano e começou a secar as louças que ficavam por cima do escorredor, talvez prevendo um belo de um desastre caso tudo aquilo caísse.
- Até que você não é tão ruim! - Ela comentou, me empurrando levemente com o ombro.
- "Tão"? - Repeti o movimento, esbarrando nela.
- Se nada der certo na vida, dá para você ser dona de casa! - Ela falou, guardando uma tigela dentro do armário.
- Ah, que bom, não é?! - Desliguei a torneira e entreguei o último prato para ela, que secou e guardou.
- Nunca se sabe o dia de amanhã! - Ela deu de ombros.
- Quem sabe você não vira uma modelo da Victoria's Secrets amanhã? - Falei entrando na brincadeira.
- Não iluda uma sonhadora, ok?! - Ela enrolou a toalha rapidamente e bateu na lateral da minha perna.
- Oi?! - Virei para ela.
- Toda mulher sonha em ser modelo da Victoria's Secrets, tá? Não seria diferente comigo! - Ela deu de ombros e pendurou a toalha.
- Você daria certo, sabia? Você é alta e brasileiras são sempre um show à parte! - Passei as mãos pela sua cintura enquanto voltávamos para a sala.
- Claro! Quem sabe se eu perder metade do meu peso? - Ela abanou as mãos e soltou uma risada fraca. - Ser modelo nunca daria certo para mim, minha fome é eterna! - Ela deu uma risada e tirou minhas mãos do seu corpo.
- Você daria certo no que quisesse fazer. Você é persistente, mas não nota isso! – Eu me joguei no sofá.
- Sem conversas motivacionais agora, por favor! - Ela falou. - Escolhe um filme que eu vou ao banheiro! – disse, sumiu pelo curto corredor e ouvi uma porta bater.
- E quais são as opções? - Ela falou, passando as mãos na calça jeans e começou a assoprar as velas que estavam na sala, já que algumas estavam no fim.
Pegou os portas-vela vazios, colocou todos em cima da mesa e se sentou ao meu lado.
- Temos... – Falei, mudando os canais da TV. - Procurando Nemo. - Passei pelo canal da Disney. - O quarto Harry Potter. - Passei pela Warner. - E temos em um canal, Encontro de Amor...
- Deixa! - Ela deu um grito ao meu lado e eu a olhei enquanto ela tapava a boca. - É meu filme favorito de romance, deixa! - Ela deu um pulo ao meu lado, rapidamente tirou as botas e jogou os pés de meia em cima do sofá.
- Favorito?
- Sim, Christopher! - Ela falou em um tom irônico. - Christopher! É o nome do personagem principal, só que ele é senador, e é o Ralph Fiennes. - Ela falou seguida de um suspiro e eu virei meu rosto para ela.
Ela deu de ombros e se virou para a TV, encostando a cabeça em meu ombro. Passei meu braço pelos seus ombros e ela ficou em silêncio rapidamente, suspirando em algumas partes do filme e repetindo algumas frases que ela tanto conhecia. Eram os momentos em que eu começava a dar risada pois, em algumas situações, eu faria igualzinho.
- Se formos ver, esse filme descreve perfeitamente a gente! - Ela falou com o tom de voz baixo, já deitada, com a cabeça em meu colo. - Você é o senador gostosão e eu sou a trabalhadora...
- Gostosona também! - Falei antes que ela pensasse em um adjetivo. - Ei! Quer dizer que eu não sou trabalhador, não? - Ela soltou uma gargalhada.
- Seu trabalho é um pouco mais glamoroso, convenhamos. - Ela comentou.
- Vou te mostrar algumas cicatrizes de gravações.
- Ah, coitado! - Ela falou fazendo bico e, logo, estava rindo da minha cara.
Ela fechou os olhos por um tempo, suficiente para eu ver suas bochechas ficarem vermelhas rapidamente. Passou a mão no rosto e abriu os olhos novamente, voltando sua atenção inteira para a TV, ficando quieta boa parte do filme. Minhas mãos ficaram em seus cabelos enquanto ela ainda soltava curtos suspiros, que eu não sabia se eram pelo filme ou pelo meu carinho. O local estava um pouco mais frio, já que as velas haviam sido apagadas, e a única luz do local era da televisão.
No começo da cena do baile, a cena em que a camareira vai a um baile de gala no MET com o senador, se ajeitou. Ela cruzou as pernas de índio em cima do sofá e manteve os olhos fixos na TV. O sorriso em seu rosto era como uma criança, inocente, feliz. Aquele momento era dela e somente dela, não precisava de mais ninguém. Ela estava assistindo o filme favorito dela, sozinha, um momento que ela já deveria ter passado inúmeras vezes pela repetição de frases, palavras e comentários que ela fazia ao longo do filme sobre como o ator do Ty estava grande atualmente, o Stanley Tucci – que havia feito um filme comigo – que era o melhor coadjuvante que existia na face da Terra, e ela fazia questão de jogar na minha cara o quanto ela achava bonito o Ralph Fiennes e que queria que a Jennifer Lopez fizesse mais filmes. Foi naquele momento, ali, em seu pequeno apartamento em Boston, que eu tive uma certeza. Uma certeza que veio rápido e alto como um trovão.
- I need your love in my life... - Ouvi sua voz me tirando do meu transe ao meu lado e a encarei, notando em seguida que ela cantava junto com o filme a parte em que a Marisa entrava no baile, meu xará ignorava todos à sua volta e a avistava. - I wanna spend time till it ends, I wanna fall in you again, like we did when we first met... – Era assim que eu me sentia. - I wanna fall with you again... – Ela virou o rosto para mim e sua voz sumiu, soltando uma risada em seguida. – O quê? – Ela perguntou e eu encarei profundamente aqueles olhos castanhos que eu tanto adorava.
- Eu te amo, ! – Ouvi minha voz falar a confirmação do que eu já sabia há muito tempo mas que não havia interpretado ainda.
Ela reagiu da melhor forma possível. Manteve os olhos fixos nos meus por um tempo, mas logo pude notar que sua boca se abria lentamente, abismada ou assustada pelo que eu havia dito, e seus olhos se mantinham fixos em mim, sem piscar. Quando sua boca abriu o máximo possível, foi como se a ficha tivesse caído, já que sua feição relaxou e pude ver um sorriso se formar em seus lábios. Era um sorriso largo e seus lábios tremiam um pouco. Seus olhos se fecharam por um tempo e algumas lágrimas escaparam do mesmo. Ela colocou as mãos na boca, soltando uma risada silenciosa. Eu vi essa cena em câmera lenta provavelmente pois, no segundo seguinte, o tempo voltou ao normal e seus braços já estavam em meu pescoço, seus lábios colados nos meus.
Minha mão direita encostou-se à lateral de sua barriga, como um suporte para seu corpo, que se mantinha ajoelhado no sofá. Uma de suas mãos fazia um carinho gostoso em meu rosto, o polegar acariciava minha bochecha e a outra mão arranhava meu pescoço. No início, seus lábios eram mais apressados, mas agora se movimentavam em sincronia com os meus. Podia ser ridículo dizer, mas combinava perfeitamente.
Senti seu corpo cair em meu colo e passei meu outro braço por cima do mesmo para que eu pudesse segurar em uma de suas coxas, próximo à sua bunda, apertando-a fortemente e sentindo sua respiração falhar com o movimento. A mão que antes estava em meu ombro desceu para meu peito, amassando a blusa que eu usava, escorregando novamente para minha cintura e movimentando os dedos pela mesma.
Soltei um suspiro pela boca que fez com que ela se afastasse por alguns segundos e abrisse um sorriso que durou pouco. Logo, meus lábios já estavam colados nos seus novamente. Dava pequenas mordidas em meu lábio inferior e explorava minha boca com a língua. Minha mão adentrava a blusa justa que ela usava. Ela se ajeitou em meu colo, se colocando de joelho com uma perna de cada lado do meu corpo, e se sentou sobre as minhas coxas. Aquele momento fez com que minha excitação começasse a dar sinais de vida e notava isso, pois parecia que ela fazia questão em manter-se ali.
A cada movimento, a cada suspiro, os lábios ficavam mais urgentes, as mãos ficavam mais rápidas, os suspiros mais altos e o ar faltava com mais velocidade. Quando ela deslizou seus lábios pelo meu queixo até meu pescoço, meu corpo estremeceu. O ar saía falhado da minha boca, aquilo era maravilhoso. Ela intercalava entre beijos e chupadas sobre a pele e a única coisa que eu podia fazer era apertar sua cintura a cada movimento dela e suspirar.
De repente, suas mãos estavam em minha cintura e minha blusa deslizava para fora do meu corpo. Eu a ajudei, livrando as mãos da manga comprida rapidamente. Não tinha mais volta, mas eu não queria voltar para lugar nenhum mesmo. Seus lábios desceram para meu peito e alguns beijos foram depositados em cima da minha tatuagem. Já que ela não conseguia fazer nenhum movimento mais baixo sentada em meu colo, ela apertou as mãos na lateral da minha barriga, na região da outra tatuagem em meu tronco. Soltou um suspiro contra minha pele e ergueu o rosto novamente, com um sorriso totalmente novo no rosto, provavelmente o mesmo sorriso que eu estava. Deu mais um suspiro com uma mordida no lábio inferior.
Meus dedos dançavam pela barra da sua blusa e tocavam sua pele quente, mas eu não aguentava mais, as preliminares já estava me enlouquecendo. Puxei sua blusa em um movimento rápido e, por um momento, ela pareceu surpresa, mas só pareceu, pois ela se desfez da blusa com as suas mãos e a jogou no chão ao meu lado. Naquele momento, eu não sabia se eu encarava seus olhos ou se eu olhava para o par de seios dentro do sutiã azul escuro rendado. Sabia que queria minha atenção só para ela porque, em um movimento rápido de sua cabeça e olhos para trás, ficou claro que ela queria sair dali.
Firmei minhas mãos em suas coxas e, rapidamente, tirei as botinas dos meus pés, deixando-as jogadas no tapete de , e me impulsionei para cima, com ela colocando as duas mãos em meu pescoço e se apoiando em mim. Seu corpo encostou-se ao meu e suas mãos bagunçavam meus cabelos, era uma sensação maravilhosa. Andei até o último cômodo do corredor e adentrei seu quarto. Eu nunca havia entrado nele, mas não seria naquele momento que eu iria estudá-lo. Segui reto até que minhas duas pernas não pudessem prosseguir por causa da cama de casal e a deitei delicadamente sobre a superfície macia. Ela escorregou o corpo sobre a cama até que sua cabeça estivesse entre os dois travesseiros e seus cabelos arrepiados devido ao lacinho que os prendiam.
Fixei meus olhos nos dela de forma diferente. Bem... Aquilo era diferente. Ela passou as mãos nos lençóis de forma chamativa e eu desafivelei meu cinto, deixando-o em algum lugar pelo cômodo. Em seguida, foi a vez do botão e zíper da minha calça, que foram abertos e isso fez com que o jeans escorregasse pelas minhas pernas.
- Ok, esse corpo é injusto! – Ela soltou uma risada fraca, mordendo os lábios em seguida, tentando controlar a respiração.
Ajoelhei sobre a cama, posicionei as duas mãos na lateral do seu corpo e encostei meu corpo no seu, dando um curto beijo em seus lábios. Suas mãos imediatamente subiram para minhas costas e suas unhas deslizaram pelas mesmas, causando um arrepio em mim.
Desci minhas mãos pela lateral do seu corpo, distribuindo beijos desde seus seios até passar pela sua barriga, vendo-a se contrair de diversas maneiras e suspiros baixos escaparem de seus lábios. Coloquei minhas mãos sobre sua calça jeans e soltei o botão, descendo o zíper e tentando manter a calma, mas minha excitação não estava com tanta calma assim. Puxei a calça pelas laterais, ela estendeu as pernas e levantou o quadril, colaborando comigo. Por um momento, eu tive que parar o trabalho e tirar as meias dos seus pés para jogá-las para trás de mim. Sua calça se soltou em minhas mãos e ela juntou as pernas uma na outra.
Por um momento, eu não sabia o que fazer a seguir. Só queria olhá-la, seu corpo combinando perfeitamente dentro daquele conjunto de lingerie, a pele arrepiada por causa do frio, os cabelos bagunçados, os lábios avermelhados, e algumas marcas vermelhas que eu havia deixado em sua barriga. Ela tinha as coxas mais gostosas que eu já havia visto, lembro em alguns jantares que ela cruzava as mesmas e me fazia ter alguns pensamentos inapropriados sobre ela. Ergueu uma das mãos e passou em seus cabelos, soltando-os do laço, que caiu ao seu lado na cama. Sua barriga estava contraída, como os braços colocados ao lado do seu corpo. Ela se sentia intimidada quando eu ficava olhando muito para ela, mas não era minha culpa se ela chamava bastante atenção.
- Você precisa parar de fazer isso! – Ela comentou o que eu pensava e eu ria.
- E você precisa parar de ler meus pensamentos! – Falei para descontrair e chacoalhou a cabeça.
Deixei que meu corpo caísse lentamente sobre o dela, encaixando minhas pernas entre as dela. Uma mão se apoiou na cama e a outra se manteve firme em sua cintura, dando pequenos apertões enquanto minha boca passeava pelo seu pescoço e pelos seus seios, ainda cobertos pelo sutiã. Suas mãos faziam o mesmo movimento em minha cintura e seus lábios tocavam minha cabeça levemente enquanto uma de suas pernas se entrelaçava em volta do meu corpo.
Em uma arqueada de suas costas e um movimento de suas mãos, seu sutiã saiu voando para o chão. Eu me ajeitei sobre seu corpo, dando um curto beijo em cada um de seus seios fartos, e ergui meu rosto para perto do seu. Meu nariz tocou o dela por um tempo e pude notar que sua respiração estava descompassada, igual à minha. Seus olhos focaram nos meus e eu movimentei a cabeça, em sinal de permissão. Ela, sem dizer uma palavra, fechou os olhos delicadamente e fez um movimento afirmativo com a cabeça. Coloquei as duas mãos na lateral de sua calcinha e a puxei lentamente para baixo. fechou os olhos um momento e eu suspirei, vendo a reação que eu causava nela. Era a mesma que ela causava em mim.
Distribuí alguns beijos pelas suas pernas enquanto descia a calcinha e, no fim, a joguei para o lado, vendo-a se misturar com as outras peças. Coloquei meus dois pés no chão e, desajeitadamente, eu procurei pela minha calça rapidamente, achando a mesma e pegando uma camisinha dentro da minha carteira. tirou o envelope da minha mão e puxou a ponta com o dente. Logo, tinha a rodinha de plástico em sua mão. Ela ajoelhou sobre a cama e eu fiz o mesmo. Colocou as mãos no cós da minha cueca e a abaixou lentamente até meus joelhos, onde conseguiu, e eu me livrei da mesma em um movimento rápido. Seus olhos se fixaram nos meus por um tempo e procurei seus lábios urgentemente. Passei minhas mãos pelo seu corpo e a deitei novamente na cama.
Fiquei encarando seu peito subindo e descendo embaixo do lençol enquanto seus olhos se mantinham fechados, serenos. Ergui uma mão e tirei uma mecha de cabelo que caía em seu rosto. Ela se mexeu ao meu lado e virou o corpo em direção ao meu, abrindo seus olhos lentamente.
- Não dormiu? – Ouvi sua voz baixa e ela passou um dos braços pela minha barriga e suspirou, encostando seu corpo nu no meu.
- Não! – Falei simplesmente e coloquei minha mão sobre a sua, entrelaçando nossos dedos.
- Que horas são? – Ela perguntou meio sonolenta.
- Quase quatro. – Falei, olhando rapidamente o relógio ao meu lado.
- Ah! – Ela deu uma gemida descontente ao meu lado e eu ri. – Não quero ir trabalhar. Não quero sair daqui! – Apertei um dos meus braços em seu corpo e ela sorriu.
- Não precisa. – Ela sorriu e fechou os olhos novamente.
- Quem dera fosse fácil assim. - Ela falou baixo.
Suas mãos faziam um carinho gostoso em meu peito, sua mão sumia por debaixo das cobertas e subia aparecendo logo em seguida. Ela depositou um beijo na lateral do meu corpo e ergueu os olhos, encontrando os meus. Sua cabeça estava em meu braço e minha mão caía em suas costas, acariciando a pele nua levemente.
- Eu não disse, Evans, eu acho que estava muito extasiada para falar alguma coisa. – Ela falou e eu franzi a testa. - Mas eu também te amo! – Ela falou com os olhos fechados e eu abri um sorriso largo.
abriu os olhos e se levantou, sentando ao meu lado. Suas costas ficaram descobertas. Uma de suas mãos segurava a coberta que cobria seus seios. Eu achava engraçado. Depois de tudo que havia acontecido, ela ainda fazia questão de esconder seu corpo.
- Eu tenho que te contar uma coisa. – Ela falou e virou seu rosto para mim. – Quando eu te conheci, eu era sua fã! – Ela começou. – Ou seja, eu te amava como uma fã. Então, naquele jantar no hotel, e também na viagem para Cleveland, eu estava extasiada, meio idiota também. Era mais ou menos “Nossa, meu ator favorito, meu ídolo”, então eu meio que te amava já, mas era de um jeito diferente. – Ela comentou e soltou uma risada, como se risse de si mesma. – Mas aí, quando você apareceu em casa e teve aquela tensão toda, o trabalho, as piadas, as risadas, uma outra coisa nasceu dentro de mim. – Ela virou o rosto para mim, erguendo as pernas. – Até que você me beijou. – Ela suspirou, lembrando o fato. – Não era meu ator favorito que estava me beijando. Era uma outra pessoa, muito parecida com meu ator favorito, por sinal! – Soltei uma risada. – Eu estava beijando o Christopher. Então posso dizer, Evans, que eu não te amo só como Chris Evans, eu te amo como Christopher também. É diferente, sabe?! – Ela soltou uma gargalhada, escondendo o rosto no meio das pernas. – Isso tá confuso demais! – Eu gargalhei junto dela.
- Não está! – Eu me sentei em sua frente e coloquei um dedo em seu queixo, erguendo seu rosto, e a vi rir. – Eu te entendo... Bem, eu acho. – Ela soltou uma risada e estalou seus lábios em minha bochecha. – Não importa, ! – Falei. – Eu te amo como minha assessora, e como essa pessoa estranha que você é!
- Obrigada! – Ela falou irônica, me dando um tapa no ombro.
- Essa brasileira divertida, inteligente, linda, sexy. – Ela balançou a cabeça e eu ri. – Você não precisa escolher, você pode ter ambos. – Falei e ela sorriu, virando de costas para mim e encostando suas costas em meu corpo, quando eu a abracei pela cintura. – Tanto o Chris Evans como o Christopher te amam. – Sussurrei ao pé do seu ouvido.
- Eu os amo também! – Ela falou encostando a cabeça em meu ombro e fechando os olhos novamente.
Abri meus olhos e me vi sozinho em sua cama. Seu lado estava bagunçado, o relógio já passava das 9 horas da manhã... De uma quinta-feira. Ela deveria estar no trabalho. Ergui meu corpo, sentando na cama, e me espreguicei, ouvindo os ossos das minhas costas estalarem. Passei a mão em meu rosto e joguei as cobertas bagunçadas para frente. Dei uma olhada geral no quarto e peguei minha cueca, que estava jogava ao lado da cama. Vesti e caminhei até o banheiro, fechando a porta do mesmo. Fiz minha higiene matinal e encarei meu rosto no espelho. Eu estava ridiculamente feliz, o sorriso não sumia. Passei a mão em meu rosto e nos cabelos e sequei tudo.
Abri a porta e voltei para o quarto, pegando minha calça e a vestindo, afivelando o cinto rapidamente. Andei até a sala, procurando o resto das minhas roupas, e minha blusa não estava no sofá. Estava na pessoa que vinha deslizando no piso só de meias e com minha blusa, que chegava até o começo das suas coxas, mas que ficava larga nas laterais. Ela tinha o celular apoiado em seu ombro enquanto mexia em um pouco da canjica da noite passada.
- Isso, por favor, Derek! – Ela soltou uma risada com algo que Derek falou. – Isso, por favor. Não! Fala que eu estou com intoxicação alimentar, não consigo levantar da cama e... – soltou uma gargalhada e riu. – Pode ser por isso também, mas melhor não contar à Megan. – Ela mordeu o lábio inferior. – Isso, ok, amanhã ela vai estar em San Diego e teremos folga, podemos sair para almoçar. – Ela confirmou algumas coisas com a boca. – Claro, chama o Rupert também. Ok, me deixa ir, ele acordou. – Ela falou erguendo os olhos para mim e piscou. – Ok, obrigada. Tchau! – E desligou o aparelho, o colocando na mesa. - Se alguém te perguntar, estou com uma péssima de uma intoxicação alimentar, ok?! Culpa da feijoada! – Ela falou dando de ombros e virando o que sobrava da canjica em um gole só.
- E a Megan caiu nessa? – Perguntei, me aproximando dela.
- Isso o Derek vai contar para gente depois! – Ela riu e eu encostei meus lábios em sua testa.
- Bom dia, ! – Falei, ela colocou o pote vazio na mesa e passou os braços pelo meu corpo.
- Bom dia, Chris! – Ela riu e encostou os lábios nos meus rapidamente.
- Eu quero minha blusa de volta. – Estendi minha mão para ela.
- Você já viu o filme “Qual é o seu Número?”, não?! Então já sabe onde isso vai dar, certo?! – Ela me encarou. – E definitivamente não estava pensando muito em roupas hoje.
- Preciso estar em San Diego só amanhã mesmo.
- O que é muito bom por sinal. – Ela deu de ombros e riu. – Eu não vou trabalhar hoje, então pode escolher o que quiser fazer e onde também.
- Posso escolher “com quem” também?
- Se essa pessoa for eu, pode! – Ela riu e deu de ombros, virando o corpo e voltando para a cozinha.
- Pelo jeito, você não vai para San Diego. – Eu a segui, parando na porta da cozinha e vendo-a lavar o pote e colher que ela usava.
- Não vai ser dessa vez. - Ela virou o rosto para mim. - Eu queria muito ir, não só para te acompanhar, mas pela Comic-Con mesmo, mas alguém precisa soltar as informações, né?! - Ela deu de ombros. - Sexta eu não trabalho, mas sábado sim. Vou ficar de plantão.
- Que droga! - Comentei e ela riu.
- É, mas ainda temos um tempo só para nós. - Ela piscou.
soltou um suspiro e eu me levantei da cama, indo me livrar da camisinha no banheiro. Passei uma água em meu rosto e voltei para o quarto, vendo-a com a respiração acelerada soltar uma risada quando eu coloquei uma perna em cada lado do seu corpo e passei meus lábios em sua barriga, entre seus seios e dei uma mordida em seu pescoço, subindo para seu queixo e lábios, deixando meu corpo cair ao seu lado. Ela virou o corpo para baixo, ficando de bruços na cama, e abraçou o canto do travesseiro, encostando a cabeça do mesmo.
- Eu vou ficar mal acostumada. – Ela comentou com a voz manhosa e eu ri.
- Sabe... Eu gostei dessa cama! – Ela soltou uma risada e eu virei meu corpo, passando minha mão em suas costas.
- Queria que você ficasse, mas também quero saber as novidades de Capitão América 2. – Soltei uma risada e ela aproximou seu rosto do meu. – Steve Rogers não precisa ir.
- Ah, ele tem, viu?! – Ela fez um bico e soltou uma risada logo em seguida. - Eu vou viver em Boston, você vai ver. – Encostei meus lábios nos dela.
- Por favor, não consigo ficar mais longe de você. – Subi minha mão para seus cabelos e pressionei meus lábios nos seus.
- A gente vai fazer isso dar certo. – Falei e ela sorriu.
- Quais são seus próximos compromissos? – Ela perguntou.
- Tenho estreia de ‘Expresso do Amanhã’, vou para Coreia na semana que vem. – Falei e ela entortou a boca. – E tenho que dar uma passada em Los Angeles antes para algumas reuniões do filme que eu vou dirigir.
- Megan comentou. Sobre o que vai ser o filme? – Ela perguntou de olhos fechados.
- Dois estranhos desolados se encontram na estação central de Nova York e começam a compartilhar experiências.
- Você já aprendeu a tocar trompete? – Ela perguntou e eu ri.
- Ainda não!
- Essa vai ser interessante! – Ela comentou em deboche.
- Ri mesmo, dona , ri mesmo! – Ela abriu um sorriso torto devido ao travesseiro pressionado a sua bochecha e eu ri.
- E depois? Qual compromisso você tem?
- Tenho que ir para uma reunião em Nova York e depois tem a D23 Expo da Disney!
- Já tá perdendo a graça isso! – Ela falou sem graça.
- Vem comigo! – Comentei.
- Onde? – Ela franziu a testa.
- Coreia, Nova York, D23 Expo... Posso tentar pedir para Megan tirar umas férias e você me acompanha em algum evento.
- Tem certeza? – Ela perguntou e eu concordei com a cabeça.
- Depois de hoje, estou pronto para seguir qualquer passo que você quiser dar. – Ela abriu os olhos e levantou o rosto.
Um largo sorriso apareceu em seu rosto.
- Qualquer um? – Ela perguntou.
- Qualquer um! – Confirmei e senti seus lábios pressionados nos meus rapidamente.
Capítulo 05
You're the only drug I wanna do
I can tell that you're needing my love
And all I want is to give it to you
And don't give up on the moment tonight
(Eu sou viciado em tudo que você faz
Você é a única droga que eu quero provar
Eu posso dizer que você está precisando do meu amor
E tudo que eu quero é dá-lo a você
Então não desista desse momento essa noite)
Maroon 5, New Love
- O que você acha, Derek? - Megan cruzou os braços em cima do corpo e dividiu o olhar de Derek a mim, algumas vezes.
- Você sabe que pode confiar nela, Megan. Nos dois, na verdade. - Derek disse ao meu lado e eu ouvi o suspiro de Megan.
Meu corpo estava tenso na cadeira e eu podia sentir o suor dentro dos meus sapatos.
- É, eu realmente confio em você, ! E nele também. - Suspirei e ela se levantou da cadeira. - Sobre o relacionamento dos dois, vocês que vão decidir quando vão aparecer juntos para a mídia. Sobre isso eu não faço nenhuma objeção. Afinal, a vida é de vocês, e vocês já estão grandinhos demais para tomar suas próprias decisões. - Assenti com a cabeça. - Só, por favor, te peço duas coisas.
- Pode dizer, Megan! Eu faço o que você achar melhor! - Aproximei meu corpo da ponta da cadeira.
- A primeira é... Assim, ele não pode faltar em nenhum evento, a não ser que esteja morrendo, ok?! - Afirmei com a cabeça. - Mas isso ele já sabe. A mesma agenda que você recebe é exatamente a mesma que ele recebe. E você já notou que ele é a pessoa mais preparada da sala, não?! Às vezes mais que a gente. - Confirmei com a cabeça, soltando uma risada fraca.
- Pode deixar. - Falei.
- Ele só tem que estar na conferência de imprensa do filme na parte da tarde e, à noite, ir à première do filme. Combinado? - Confirmei com a cabeça. - E também vou te liberar para ir com ele para Nova York para as reuniões de ‘Before We Go’ que ele tem, está bem?
- Está bem! - Confirmei, sentindo um sorriso meio exagerado se formar em meu rosto, o qual eu não podia demonstrar.
Megan se sentou novamente em sua cadeira, encostando as costas no encosto.
- E tem uma segunda coisa, e isso eu vou pedir como amiga dele. - Ela apoiou os ombros na mesa e suspirou. - Trate-o bem, ok?! Ele já teve vários relacionamentos e nenhum que eu realmente tenha gostado, mas agora é diferente. Você não é nenhuma atriz, modelo ou cantora com quem eu precise me preocupar com a sanidade ou algo assim. - Soltei uma risada nasalada. - Na verdade, você é tudo que eu tenho pedido para que ele possa ser feliz faz um bom tempo. - Pressionei meus lábios um no outro, sentindo meu rosto encher de lágrimas. - Trate-o bem, tá bem? Porque eu sei que ele vai te tratar. - Estendi minha mão sobre a mesa e segurei as suas mãos sobre a mesa.
- Eu vou, Megan! - Suspirei. - Eu o amo. - Ela abriu um sorriso e Derek deu um pulo ao meu lado.
- Opa, opa, opa! - Ele falou e encostou a mão em meu ombro, fazendo com que eu virasse o rosto para ele. - Você não me disse isso! - Megan soltou uma risada.
- Desculpa, mas isso me interessa também! - Ruth apareceu na porta de Megan e eu soltei uma gargalhada.
- Ei! Minha vida romântica interessa a todo mundo? – Perguntei, afastando a cadeira um pouco para poder olhar para todos.
- A sua, um pouco. A do Chris Evans, bastante, viu?! Já sofremos um pouco com essa situação toda. - Derek comentou irônico e eu balancei a cabeça. - Mas já aconteceu? Você já disse?
- Nós já dissemos. - Comentei e os três explodiram em felicidade à minha volta, se aproximando de mim o máximo possível para que eu continuasse a história. - Sério?! - Perguntei rindo.
- Sério! Agora continua. - Ruth comentou.
- Ele foi em casa, antes de ir para Comic-Con, na quarta passada. A gente tinha combinado de se encontrar, eu fiz um jantarzinho só para nós dois, enfim... - Pulei essa parte. - Depois a gente sentou para ver um filme, eu estava prestando atenção na televisão e, uma hora, eu notei que ele estava me observado. Aí eu olhei para ele e ele disse. - Fui falando mais baixo, lembrando o momento em que ouvi aquelas três palavras que eu tinha medo de falar por não saber se ele sentia o mesmo.
- Ele disse antes?! - Derek quase gritou na minha orelha, eu confirmei com a cabeça. - E aí?! - Ele continuou gritando.
- E aí que eu fiquei tão extasiada que uma coisa leva à outra e, quando eu vi...
- Essa parte eu já sei! - Derek abanou a mão e eu ri.
- O que aconteceu? - Megan apertou as mãos na mesa.
- Eles transaram! - Derek voltou a gritar.
- A história é de quem, por favor? – Perguntei, dando um tapa em sua perna.
- Sua, mas é tão bonitinho ver você toda envergonhada aí! - Ele sorriu e passou os braços pelo meu corpo, me abraçando.
- Você não disse que amava ele? - Ruth perguntou atrás de mim.
- Disse! Depois. - Suspirei. - Eu estava tão extasiada que as coisas foram rolando e tudo mais. Só depois eu me toquei que eu havia pensado mas não havia dito. - Suspirei. - Aí eu disse. - Suspirei novamente. - Já estou com saudades. - Passei a mão na trança em meu cabelo, sentindo meu rosto esquentar novamente.
- Ah, , que vocês sejam muito felizes, mesmo, mesmo! - Ruth passou os braços pelo meu pescoço, me abraçando.
- Vou tentar! - Abri um sorriso.
- Vai conseguir! - Megan falou e se levantou em um pulo da cadeira. - Vamos trabalhar, galera! Um, dois! - E saiu expulsando todo mundo da sala dela enquanto batia uma mão na outra. - Daqui a pouco eu te entrego a agenda, ! O avião para Los Angeles sai amanhã depois do almoço, ok?! - Megan falava enquanto eu entrava na minha sala. - Tem quarto reservado num hotel com o qual a gente tem afiliação, mas creio que você vai ficar em Hollywood Hills. - Soltei uma risada, sentando na minha cadeira.
- Vou falar com ele hoje à noite. Qualquer coisa, eu ligo no hotel.
- Combinado, então! A gente vai se falando, vou ficar em Boston essa semana. - Megan disse e eu afirmei com a cabeça.
Entrei em casa, ouvindo a porta bater com o chute que eu havia dado nela. Larguei tanto a papelada quanto minha bolsa no escritório e caminhei até meu quarto, me livrando dos sapatos de salto alto e deitando na cama. Eu estava acabada, estava quebrada. Trabalhar no fim de semana havia me detonado. Pelo menos, teria folga na manhã do dia seguinte e mais algumas ao longo da semana. Eu também viajaria para a Coreia do Sul! Não que fosse meu sonho ir para a Coreia do Sul, mas eu ia para outro país além de Brasil e Estados Unidos. Isso já era alguma coisa.
Puxei o travesseiro com a mão e o abracei firmemente, ainda sentindo o cheiro do perfume de Chris impregnado nele. Gucci Guilty Black, cara, que perfume delicioso. Afundei o rosto no travesseiro e suspirei, sentindo meus olhos fecharem devido ao cansaço. Podendo ficar assim por pouco tempo, meu celular vibrou dentro do bolso da minha calça jeans. Rolei na cama, ficando de barriga para cima sobre a mesma, e arranquei o celular do bolso apertado. Sem mesmo olhar, deslizei o botão verde e coloquei no viva-voz.
- Alô? - Falei com a voz abafada.
- ? - Ouvi a voz dele e dei um pulo na cama, ficando de bruços e colocando o celular entre meus braços.
- Ei! - Falei com a voz mais animada.
- Tá tudo certo? - Ele perguntou, preocupado.
- Só estou cansada então, se eu dormir, tá tudo certo! - Falei e bocejei em seguida.
- Vou falar rápido para te deixar dormir então, ok?!
- Não, pode falar. Gosto de ouvir sua voz. - Falei, seguido de um suspiro.
- Só quero deixar claro que você vai ficar aqui em casa amanhã, ok?! - Ele falou e eu abri um largo sorriso.
- Isso não deveria ser um convite? - Perguntei, seguindo de uma risada nasalada.
- Não! - Ele falou direito. - É mais para convocação mesmo.
- Ah, é assim agora?! - Ele gargalhou do outro lado da linha.
- Ah é! - Eu ri. - Não, falando sério agora. Você nunca veio para L.A. e nada mais justo do que conhecer minha casa. - Soltei uma risada.
- Casa, Evans? Eu moro em uma casa! – Falei, frisando a palavra. - Você mora no... Lugar dos meus sonhos, tá?! - Frisei a última palavra novamente.
- Não existe surpresa ou segredo para você, não é?!
- Me demita da sua equipe que vai ter. – Falei, debochando.
- Vai ser mais difícil pra gente se ver, melhor não. - Ele comentou e eu gargalhei. - Precisamos disso.
- Com certeza. - Falei e joguei meu corpo na cama, ficando de barriga para cima.
- Preciso levar alguma coisa praí? – Perguntei, dando uma olhada geral em meu quarto.
- Se trazer é uma coisa boa! - Revirei os olhos.
- Estou falando sério, Christopher!
- Traz roupa de banho. - Ele falou, suspirando. - Podemos passar a tarde na piscina.
- Aí vi vantagem, hein?! - Falei rindo e ouvi sua gargalhada. - Pode deixar, vou colocar agora na mala.
- Eu vou ter uma reunião e não sei que horas ela acaba, então eu te encontro em casa? - Ele perguntou.
- Sem problemas, vai saber onde me encontrar. Estarei abusando da sua piscina. - Ele riu.
- Vou avisar para o segurança que você tem livre acesso. - Abri um sorriso.
- Acho bom mesmo! - Suspirei, ouvindo somente sua respiração pelo telefone.
- Vou deixar você descansar. - Ele comentou. - A gente se vê amanhã? - Chris perguntou.
- Com certeza! - Suspirei, mordendo meu lábio inferior. - Eu te amo, Chris! - Suspirei novamente.
- Eu te amo, ! - E desliguei a ligação, apertando o celular na minha mão e soltando um suspiro alto.
- Obrigada! - Falei para o taxista, recebendo o troco e guardando de qualquer jeito no bolso.
Saí do carro, fechei a porta e encarei o muro de madeira que circundava toda a "casa" de Chris. O muro não era muito alto, mas a casa também só tinha um andar então, do lado de fora, só era possível ver o telhado. Em uma parte, tinha um portão largo e, descendo um pouco a rua, também preenchida com o muro de madeira, uma porta. Ao passar por ela, a campainha. Passei pela primeira porta que estava destrancada e apertei o botão, rezando para que alguém atendesse.
- Olá, quem é? - A voz do outro lado falou.
- Oi, sou ...
- Ah sim, namorada do senhor Evans! - A voz falou novamente, me fazendo arregalar os olhos. - Pode entrar, te encontro aqui dentro. - E em um estalo, o portão de dentro destravou.
Ajeitei a mochila nas costas e a bolsa no braço e empurrei o portão preto, dando de cara com uma construção baixa, um caminho à minha frente, um jardim à minha esquerda e dois bancos à minha direita. O mato era levemente alto, mas do jeito rústico, não largado. Passei pelo caminho a passos lentos e parei na frente de uma porta de madeira que logo se abriu. Um homem alto, magro e negro abriu a porta, ele facilmente chegava aos dois metros de altura.
- Oi! - Falei, abrindo um sorriso.
- Olá, senhorita ! Entre! - Ele falou, dando espaço para eu passar.
Um curto e largo corredor sem decoração se abria para o que seria a cozinha e a sala de estar de Chris. A cozinha inteira era feita de móveis de madeira e pedra branca de bancada. Ela estava muito bem arrumada, como se alguém não mexesse nela há muito tempo Na bancada, ficava o fogão. Algumas gavetas e armários e, colados na parede, outros eletrodomésticos que só em sonho eu conheceria. Para mim, que amava cozinhar, aquela era definitivamente a cozinha dos meus sonhos.
Passando a cozinha, uma sala de estar com sofás cinzas, mesa preta e tapete branco ocupava um espaço. À frente da sala, longas portas abertas mostravam um pouco do quintal, algumas espreguiçadeiras colocadas em frente às portas e, ao lado, podia ver o começo de uma piscina. O sol em Los Angeles estava ótimo. Devido ao horário, ele começava a se pôr.
- Chris pediu para eu te mostrar a casa, e depois você pode ficar à vontade. Ele volta só mais tarde. - Afirmei com a cabeça.
- Qual o seu nome? - Perguntei enquanto ele passava por mim e ia para a esquerda, passando pela sala de estar e a cozinha, e pude ver outra sala, dessa vez com móveis brancos e uma mesa de vidro que decorava o local com um vaso grande sobre a mesma.
Em cima da lareira, uma televisão colada à parede podia ser vista, e janelas fechadas nas laterais.
- Sou Larry, senhorita.
- Não precisa dessa formalidade toda, Larry, por favor! - Soltei uma risada nasalada e ele afirmou com a cabeça.
- Como quiser! - Sorri.
Ele foi me passando por todos os cômodos da casa, desde a sala de cinema e os quartos de hóspedes até que ele andou por um longo corredor com somente duas portas, uma à direita e outra no fim do corredor.
- À frente, tem mais um quarto de hóspede e aqui é o quarto do senhor Evans, senho... ! - Confirmei com a cabeça, olhando o quarto da porta, não me ousando entrar no mesmo.
O quarto tinha a parede em tons acinzentados, uma cama alta com diversos travesseiros, um banco largo aos pés da cama, uma poltrona de cada lado, uma porta aberta que dava para um closet e outra que seria um banheiro. Na frente da cama, nas portas de correr, um deque com duas poltronas uma de frente para outra com uma aparência muito confortável e uma pequena mesa entre as duas, do tamanho de um tabuleiro de xadrez. As portas estavam abertas, então um vento gostoso passava por elas.
- Nada mal, Evans! - Falei baixo, soltando uma risada sozinha.
- Ele pediu que a senhora ficasse aqui. - Virei para o lado e arregalei os olhos.
- Aqui? - Larry afirmou com a cabeça. - Ah, que ótimo! - Falei com um tom irônico na voz.
- Ele pediu para que ficasse à vontade. Qualquer coisa, você pode me chamar ou o outro segurança, Jordan, pelo número sete no telefone. - Ele me entregou um aparelho que parecia muito com meu celular, mas ele era um pouco mais fino e mais comprido.
- Ah, sim! Obrigada, Larry! - E ele saiu pelo corredor, me deixando parada na porta do quarto de Chris.
Por um momento, eu fiquei parada na porta, pensando exatamente no que fazer. Tá, eu estava agindo como se aquele quarto fosse um local sagrado mas, se pensar bem, até que era, não? Ok, eu estou rindo comigo mesma, isso está ficando ridículo.
Entrei no quarto, coloquei minha bolsa e mochila em cima do banco largo em frente à cama e sentei na ponta que sobrou do mesmo. Estendi a mão pela colcha branca e acariciei a mesma, abrindo um sorriso em seguida pela maciez do pano. Em um pulo, eu me joguei de costas no meio da cama, sentindo meu corpo afundar sobre a superfície macia, rindo comigo mesma pela situação. O cheiro denunciava que Chris passava muito tempo naquela cama. Ouvi meu celular apitar e o tirei do bolso, encontrando uma mensagem do dono daquela cama.
"Aproveitando a piscina? Aqui vai demorar mais que o planejado, mas pretendo aproveitar contigo um pouco, beijos."
Balancei a cabeça, cogitando a ideia, e me levantei da cama em um pulo, alisando a colcha para tentar não parecer que uma louca havia pulado nela. Abri minha mochila rapidamente e puxei minha toalha e um biquíni roxo que eu havia levado a pedido do senhor Evans.
Entrei no banheiro, quase tendo um infarto com o tamanho dele. Aquilo facilmente era do tamanho de metade do meu apartamento em Boston. À direita, uma longa pia de mármore branco e armários pretos. À frente, uma longa banheira e, ao lado, uma poltrona. À esquerda, um box largo que deveria ser três vezes o tamanho do meu cubículo em Boston e, ao lado dele, o vaso sanitário.
Eu me aproximei da janela e dei uma risada com a vista. Eu estava em outro mundo. Tirei meu vestido, dobrando-o delicadamente e deixando em cima da pia. Dobrei a calcinha em cima de tudo. Coloquei a parte de baixo do biquíni, ajeitando as laterais e no bumbum. Amarrei a parte de cima nas costas e depois no pescoço, apertando para que ele não caísse. Eu me olhei no espelho e soltei meus cabelos, que estavam bagunçados, e os amarrei novamente em um rabo de cavalo. Voltei para o quarto e peguei minha toalha. Saí do quarto de Chris pelo corredor e o atravessei, chegando à sala e passando pelas portas de vidro. Pude sentir o vento de L.A. já espetar alguns fios do meu cabelo. Andei até uma das espreguiçadeiras, estendi minha toalha sobre ela e me deitei, fechando os olhos.
A vista que eu tinha daquele lugar era incrível. Eu estava, literalmente, no topo de Hollywood Hills. Podia ver algumas mansões e a vegetação verde e colorida, e também o sol começando a se pôr na cidade dos anjos. Jesus, eu estava na Califórnia e só tinha me dado conta daquilo nesse momento. Eu definitivamente podia ficar um bom tempo ali. Sol, vento, piscina, essa vista, só estava faltando o...
- Chris! - Ouvi uma voz vinda de dentro de casa e me assustei, me sentando na espreguiçadeira e virando meu rosto para trás, quase caindo. - Christopher! – Eu me levantei da espreguiçadeira e reconheci o irmão mais novo de Chris passando pelos cômodos à procura do irmão. Ferrou. Puxei a toalha, amarrando-a apressadamente na cintura, e vi Scott voltar do corredor dos quartos e me ver. Isso não estava nos meus planos.
- Ah, então é você! - Ele falou, deixando sua mochila no sofá e se aproximando de mim. - Me deixa adivinhar. Você é a nova namorada do meu irmão? - Franzi a testa e balancei a cabeça.
- O que ele te contou? - Perguntei, o vendo sorrir.
- Que ele está apaixonado por uma mulher incrível! - Não pude conter um sorriso gigante que apareceu no meu rosto.
- Eu vou jogar tanto isso na cara dele... - Falei e ele riu. - Se for de mim que ele está falando, sou .
- É, bem que ele tinha me dito um nome diferente. - Ele se aproximou de mim, me abraçou apertado e, por um momento, não sabia o que fazer. - Sou Scott.
- Oi! - Falei rindo e ele me soltou.
- Olha, eu não te conheço, mas com certeza ele escolheu bem. - Ele falou apontando para meu corpo e eu soltei uma risada. - E você também é bem humorada. - Dei de ombros, rindo novamente.
- Para mim, tudo tem graça, viu?! Honestamente. - Ele soltou uma risada.
- Cara, eu estou me perguntando como isso aconteceu. - Ele falou. exagerando nos movimentos das mãos.
- O quê?
- Como ele não está com alguma atriz. Você deve ter realmente roubado o coração dele e o está mantendo muito bem escondido.
- Olha, isso eu não sei! - Falei, mexendo as mãos. - Mas se isso aconteceu, ele deve estar com o meu.
- Ah, que lindo! - Ele falou com sua voz mais fina. - Já gostei de você. - E me abraçou novamente, me prendendo em seus braços.
Scott deveria ser exatamente da mesma altura que eu, o que facilitava essa demonstração de afeto por mim.
- Isso significa muito para mim, sabia? – Falei, olhando para ele.
- Pontos comigo você já tem, pode ter certeza. - Ele me soltou. - Quando for conhecer a família, eu estarei do seu lado.
- Ah, com certeza vou precisar. - Ele riu. - É verdade que sua mãe nunca gostou de nenhuma namorada dele? - Scott balançou a cabeça, fazendo uma careta, mas sem dizer nenhuma palavra, então eu franzi a testa, imitando sua expressão. - Então! Uma ajuda com certeza vem a calhar.
- Eu gostei de você, , mesmo! - Ele voltou para dentro de casa, pegando sua mochila.
- Você estava atrás do Chris, faço meio período namorada e assessora. Posso te ajudar? - Ele riu, colocando a mochila nas costas.
- Na verdade, eu estou na cidade, encontrando uns amigos. Só passei para irritar mesmo. Sabe que horas ele volta?
- Realmente não sei, estou esperando também. - Coloquei as mãos na cintura.
- Fala para ele que eu passei aqui. Amanhã vocês vão para Coréia, né?! - Afirmei com a cabeça. - Qualquer coisa, eu passo aqui mais à noite.
- Fica à vontade, provavelmente ficaremos aqui. - Falei e soltei uma risada. - Estou me sentindo a dona da casa já!
- Aqui está precisando de uma mesmo, viu?! - Senti meu rosto esquentar e ri. - A gente se fala depois. - Ele se aproximou de mim e beijou minha bochecha. - Prazer em te conhecer, ! Que vocês dois deem certo. - Afirmei com a cabeça.
- Espero também, Scott! Prazer. - Sorrimos cúmplices, então ele passou pelo corredor e pude ouvir a porta bater.
Um suspiro alto e forte saiu do meu corpo. Meu Deus, eu acabei de conhecer o Scott. Passei as mãos desesperadas no rosto e notei que elas estavam tremendo. Meu Deus! Isso estava planejado? Honestamente, eu não sabia o porquê do surto. Ele tinha gostado de mim, não?! Bem, em cinco minutos de conversa. Não é como se ele tivesse descoberto meu RG e meu tipo sanguíneo mas, mesmo assim, eu e o Chris éramos algo meio secreto ainda, não?! Mas ele havia contado para o Scott, não era como se fosse muito segredo. Ele só não tinha me visto ainda, certo? Ah, meu pai, eu estou surtando de novo.
Respirei fundo e voltei para a varanda, vendo o céu em um tom alaranjado se misturando com o azul claro. Estávamos no pôr do sol. Larguei a toalha novamente na espreguiçadeira, caminhei até a beirada da piscina, me sentando na borda mais alta que tinha em algumas partes ao redor da mesma, e coloquei as pernas na água morna, sentindo quase um alívio pois, pelo meu pequeno surto, eu estava nervosa, tremendo e possivelmente gelada.
Estendi os braços para trás, os coloquei no piso frio, jogando meu corpo para trás, e fechei os olhos, sentindo minha perna se movimentar em círculos dentro da água. Ouvi um rápido barulho e, antes que eu pudesse abrir meus olhos, senti um beijo gostoso em minha bochecha que me fez sorrir.
- Ei! – Falei com a voz baixa e senti seus lábios encostarem novamente em minha pele, dessa vez em meu ombro descoberto.
- Creio que estou um pouco atrasado, não é?! – Abri os olhos e olhei de esguio para trás, vendo seus olhos azuis bem próximos aos meus.
- Tá tudo bem! – Falei, me sentindo extasiada por estar perto dele, como sempre era.
Ele se movimentou um pouco, tirando os sapatos, e sentou atrás de mim, me deixando no meio de suas pernas. Antes que ele encostasse seu tronco em minhas costas, ele puxou sua camiseta de meia manga em um movimento e a jogou para o lado também, próxima a seus sapatos. Suas mãos estavam frias quando entraram em contato com a minha barriga, fazendo com que seu tronco encostasse completamente em minhas costas, me fazendo relaxar. A sensação era ótima, era... Perfeita?!
Coloquei minhas mãos sobre as dele e acariciei suas mãos e seus braços com a ponta dos dedos, algumas vezes até passando a unha sobre a pele dele. Seu queixo estava apoiado em meu ombro e seus lábios passeavam pela minha pele de vez em quando.
- Como foi a reunião? – Perguntei em um tom de voz baixo.
- Nada de muito útil, na verdade. Desisti pelo cansaço. Eu adiei uma parte, queria te ver. – Ele falou e eu suspirei. – Esperou muito?
- Um pouco. – Falei e suspirei. – Seu irmão passou aqui.
- Scott? – Ele falou em um tom de voz assustado e eu afirmei com a cabeça, soltando uma risada fraca. – Você conheceu o Scott?
- Conheci! – Falei simplesmente e ele apertou os braços em minha barriga.
- Conheceu, tá, e aí?! – Ele falou apressado.
- Ainda prefiro o irmão dele! – Falei brincando e ele bufou, afastando o corpo do meu e vindo sentar ao meu lado. – Chris, calma! – Ergui a mão para seu rosto e o acariciei, sentindo os pelos que cresciam pinicar a palma da minha mão. – A conversa foi rápida, ele estava te procurando, falou que você tinha contado sobre mim, algo que eu gostei muito de saber, se você quer saber. – Ele riu e colocou sua mão por cima da minha. – Disse que gostou de mim e que, se eu precisasse de um apoio quando for conhecer sua família, eu vou ter. – Senti um beijo na palma da minha mão e vi Chris sorrindo.
- Você já tem a aprovação do meu irmãozinho, isso já é algo muito bom! – Afirmei com a cabeça e deslizei minha mão pelo seu rosto, levando meu polegar até seu lábio, fazendo o contorno dele com o dedo.
Pude ver Chris fechar os olhos.
- Olhos sexy, boca sexy, corpo sexy, essa barba sexy... Você tem algo de errado? – Perguntei em um tom de voz baixo e ele riu, abrindo os olhos.
- Isso você vai ter que descobrir. – Assenti com a cabeça, sentindo uma felicidade meio engraçada com aquilo.
Quer dizer que realmente tínhamos algo a mais? Então abaixei minha mão.
- Estou ansiosa para isso. – Falei e, com um impulso na borda da piscina, mergulhei dentro da mesma, deixando todo meu corpo submergir na água e subir alguns segundos depois, passando a mão em meu rosto e abrindo os olhos novamente. – Vem, estava te esperando para aproveitar a piscina. – Falei apoiando os braços na borda da mesma e apoiei minha cabeça nos braços, encarando Chris ao meu lado.
Chris se levantou da beirada e deu alguns passos para trás, voltando correndo até a piscina e, em um impulso, ele mergulhou, espalhando água para os lados e mexendo a mesma. Ele subiu para a superfície do outro lado da piscina e voltou devagar em minha direção enquanto eu me afastava da borda e ia até o seu encontro também, parando no meio da piscina.
- Até parece uma criança! – Comentei quando me aproximei dele.
- Como você diz, eu tenho meus momentos. – Balancei a cabeça, soltando uma risada fraca.
- Afeta, é?
- Com toda certeza. - Passei minhas mãos pelo seu pescoço e passei a ponta dos dedos no mesmo, ouvindo um gemido baixo escapar de seus lábios.
Ele colocou suas mãos no fim das minhas costas e fazia movimentos leves embaixo d’água. Encostei minha cabeça em seu ombro e fechei os olhos.
- Parece certo, sabia? – Falei baixo, contra sua pele.
- O quê? – Ouvi sua voz próxima a meu ouvido.
- Isso! – Falei simplesmente e o apertei mais em meu corpo.
Seu corpo se abaixou um pouco, fazendo sua testa encostar-se à minha, e senti suas mãos apertarem firmemente minhas coxas e me puxarem para cima, na altura de sua cintura. Pressionei minhas mãos em seus ombros, apertando-os fortemente com o movimento repentino, o vi rindo à minha frente e senti meu rosto esquentar um pouco.
- Não precisa me tratar como uma boneca, sabia? – Falei, mordendo meu lábio inferior.
- Não consigo me conter. – Aproximei meu corpo do dele, colando nossas peles, e toquei nossos lábios rapidamente em uma brincadeira até que sem graça, só um roçar de lábios.
Chris mordeu meu lábio inferior, me permitindo apertar mais meu corpo no dele, e o soltou em seguida.
- Sabe de uma coisa? – Ele falou após soltar meu lábio. – Isso é certo! – Ele continuou, se referindo à gente e eu sorri, tocando meus lábios no dele mais uma vez antes de soltar meus braços de seu pescoço e deitar sobre a água, com as pernas entrelaçadas em sua cintura e suas mãos firmes na minha, subindo pelas costas de vez em quando para manter meu corpo reto sobre a água.
O despertador do meu celular tocou exatamente na mesma hora em que relógio do Chris apitou ao seu lado, então o meu sonho real havia sido duplamente interrompido. Senti seus braços se soltarem de mim e ouvi sua mão bater forte no relógio enquanto eu desativava meu celular.
Como costume, eu imediatamente virei meus pés para a fora da cama e me levantei, seguindo em passos rápidos para o banheiro, quase antes de sequer abrir meus olhos. Assim que passei pela porta, a fechei. Encarei meu corpo nu no espelho do banheiro de Evans e soltei um riso sozinho ao lembrar da noite passada. Aquilo estava me deixando mal-acostumada, mas o que me acalmava era que aquilo chegaria em algum lugar.
Fiz minhas necessidades rapidamente e escovei meus dentes com a mesma agilidade, abrindo a porta do box e ligando a torneira gelada como eu havia feito na noite anterior antes de deitar na cama de Chris. Procurei pelo meu xampu próximo ao dele na bandeja de vidro presa na parede dentro do box e despejei um pouco em minha mão, imediatamente levando até meu cabelo, fazendo o máximo de espuma que consegui. Antes de entrar de corpo inteiro embaixo do chuveiro novamente, ouvi um bater fraco na porta e Christopher passando pela mesma, bocejando mil vezes por segundo e esfregando as mãos nos olhos.
- Meu Deus, você é rápida! – Ele comentou e pegou sua escova de dente dentro do armário, colocou pasta de dente e a colocou na boca, me encarando dentro do box embaçado.
- Isso é rotina de quem acorda cedo todo dia, amor! – Comentei e ele riu, segurando um bocejo, e se virou para a pia para cuspir e passar a escova pelos dentes. – Cara! – Falei, parando a minha voz rapidamente e fechando os olhos com força após encarar sua bunda.
- O quê? – Ele perguntou, pegando uma toalha e secando o rosto.
- Que bunda sexy, Evans! – Comentei, entrando novamente embaixo do chuveiro, tentando ignorar que eu realmente havia dito aquilo em voz alta e, quando abri os olhos novamente, ele já entrava comigo no box e eu só revirei os olhos.
- O que você disse? – Soltei uma risada fraca e peguei o frasco do condicionador, colocando um pouco em minha mão e espalhando em meus cabelos novamente. – Hein?! – Ele perguntou e eu ri novamente.
- Nada! – Falei quase gritando e suas mãos tocaram minha cintura, fazendo com que eu imediatamente contraísse a barriga com o toque, ouvindo-o rir com o movimento. – A gente tem horário, Evans! Pode tirar a mão daí e sair desse box agora! – Falei com o tom de voz firme e coloquei uma mão em cada lado do corpo, um pouco acima de onde ele me segurava.
- Então eu tenho uma bunda sexy? – Ele perguntou com o rosto próximo ao meu e eu revirei os olhos.
- Desculpa! – Eu soltei uma risada. – É que eu pensei que fossem coisas de Capitão América e tudo mais. É bem redondinha, malhada, certinho... Sei lá, vai ver é coisa do uniforme! – Ele soltou uma gargalhada e eu senti uma lágrima escorrer pelo rosto, me forçando ao máximo para segurar a risada. – Você precisa entrar no Tumblr de vez em quando, Cabooty! – Eu falei sem pensar e, no segundo seguinte, eu gargalhava, passando meus braços pelo seu pescoço antes que eu caísse no chão molhado. – Desculpa. – Pedi novamente, passando as mãos em meus olhos e abrindo os mesmos, encontrando Chris com aquela cara séria que ele tentava fazer para mim. – Suas fãs que falam isso e, bem... Pega! – Ele balançou a cabeça, mantendo a postura séria, eu encostei meus lábios nos seus delicadamente e, depois, dei um curto beijo na ponta do seu nariz, o que fez com que ele abrisse um sorriso delicado. – Eu te mostro um dia! – Comentei e ele sorriu, tocando seus lábios nos meus por alguns segundos.
- Depois dessa, eu não sei nem o que dizer! – Ele comentou e eu ri.
- Diga “bom dia” e cai fora daqui! – Falei, me soltando dele e entrando novamente embaixo do chuveiro, tirando o condicionador dos cabelos e passando as mãos pelos fios.
- Tá me expulsando do meu próprio banheiro? – Ele falou, abrindo a porta do box, e o ouvi fechar em um tique.
- Estou sim! – Comentei, pegando o sabonete. – Esqueceu de falar “bom dia”.
- Bom dia, ! – Ele falou e beijou o box do banheiro, o que me fez rir.
Ele puxou sua toalha do gancho preso na parede e enrolou em sua cintura.
- Bom dia, Evans! – Falei e continuei meu banho rapidamente, já que ele se apoiou na pia, cruzou os braços e ficou encarando cada movimento que eu fazia.
Tentei ignorar aquilo, mas devo admitir que estava interessante. Ele tinha aquele olhar emburrado no rosto, como se estivesse bravo, o que era só charme, e os braços apoiados em seu peitoral nu. Seus olhos passeavam levemente em cada canto do meu corpo, desde quando eu passava o sabonete até a parte em que eu passava as mãos em meus cabelos.
- Sua vez, emburradinho! – Falei, abrindo a porta do box, e torci meu cabelo mais uma vez antes de pisar no tapete felpudo que tinha na frente do box.
Chris desencostou o corpo e se aproximou de mim. Coloquei uma de minhas mãos em cima do nó que sua toalha dava e o puxei em minha direção, fazendo-o dar dois curtos passos até mim com um sorriso travesso nos lábios.
- Só quero a toalha, bonitinho! – Comentei e ele riu, apoiando uma mão de cada lado do meu corpo, me mantendo presa entre ele e o vidro do box atrás de mim.
Ele se aproximou do meu rosto e, ignorando totalmente meus lábios, desceu o rosto para meu pescoço e deu um beijo no mesmo, afastando-se de mim novamente e fazendo a toalha cair de seu corpo em minhas mãos.
- Tem muitos hormônios por aqui. - Ele soltou uma risada.
- Acho que você quer dizer tensão sexual! – Ele falou e um sorriso tímido apareceu em meus lábios.
Eu ergui a toalha para meu rosto, secando-o e esfregando nos cabelos.
- Não demora. Temos que estar em duas horas no aeroporto. – Comentei e ele afirmou com a cabeça, passando por mim e entrando no box do banheiro, de onde logo ouvi o som do chuveiro forte bater contra sua pele.
Eu me sequei somente para que eu parasse de pingar, amarrei a toalha no cabelo e saí do banheiro, deixando Chris tomar banho em paz.
Voltei para o quarto, sentindo minha pele se arrepiar com a temperatura baixa do ar condicionado e encarei o chão, vendo a parte de cima do meu biquíni, a de baixo, a bermuda e a cueca de Chris jogadas em alguns pontos do carpete de seu quarto, mostrando pequenas manchas de água embaixo das peças. Fiz uma careta e puxei minha mochila em uma das poltronas do quarto. Procurei por um conjunto de lingerie, vestindo-o rapidamente. Tirei a toalha do meu cabelo e a coloquei nas costas, procurando pela minha escova de cabelo e passando delicadamente, tirando os possíveis nós para guardar de volta na mochila. Peguei meu vestido preto básico de alças largas até o joelho e o vesti, ajeitando a alça do sutiã embaixo do vestido.
Andei pelo quarto, pegando as peças de roupas jogadas no chão, e notei que elas estavam quase secas. Nessa hora, Chris apareceu na porta do banheiro com minha toalha roxa enrolada na cintura e eu abri um sorriso, tentando segurar a risada.
- Ri mesmo, dona ! - Ele comentou, saindo do banheiro e entrando no closet.
- Não fiz nada! - Comentei, soltando uma risada e parando na porta de seu closet, o vendo vestir uma boxer cinza e pegar a primeira calça jeans que ele viu, vestindo-a também.
- O que é isso na sua mão? - Ele perguntou, voltando para perto de mim
- Nossas roupas de ontem, que molharam todo o carpete. - Comentei e ele deu de ombros.
- Seca! - Ele passou desodorante.
- E fica um cheiro de cachorro molhado delicioso! - Falei irônica e o vi pegar o frasco preto e verde da Gucci e espirrar um pouco em seu corpo. – E esse é o perfume dos deuses! - Falei e me virei para o quarto novamente, colocando tudo na cama.
Dobrei as peças de roupa, separando as minhas da dele. Pendurei as duas toalhas no banheiro e voltei para o quarto, encontrando-o vestindo uma camisa branca e depois começando a calçar as meias para colocar suas botinas bege.
Fechei minha mochila novamente, me certificando de que a única coisa que ficaria em L.A. seria minha toalha, e imaginei se faltaria alguma coisa. Check! Andei até a poltrona e me sentei na mesma, calçando meus peep toe preto e me levantando novamente, Chris fez o mesmo.
- Temos um tempo ainda. Quer comer alguma coisa? - Afirmei com a cabeça.
- Sim, por favor! - Ele estendeu a mão para mim e a segurei, saindo do quarto logo atrás dele.
Eu me sentei em um dos bancos próximo a bancada enquanto Chris preparava um café e lanches para gente. Apoiei os braços na bancada e a cabeça sobre os braços, soltando um suspiro baixo, só ouvindo os barulhos que Chris fazia do outro lado.
- Alguém está cansada. - Ele comentou, apoiando um prato ao meu lado, e eu ergui o rosto, dando um sorriso de lado.
- Desculpa, alguém me ocupou até tarde ontem! - Comentei e ele abriu um sorriso, pegando duas xícaras nos armários.
- Café? Ou prefere leite? - Puxei uma xícara para perto.
- Vai café hoje! - E ele serviu o líquido preto para mim.
- Pronta para ir para a Coreia do Sul? - Arregalei os olhos e suspirei.
- Tenho que estar. - Ele riu e deu a volta na bancada, sentando ao meu lado e pegando seu sanduíche.
- Vamos fazer isso! - Soltei uma risada, o vi morder o sanduíche quente e eu o imitei.
Jordan, o outro segurança de Chris, apareceu logo que eu terminei de lavar o último prato, anunciando que o carro que iria nos levar para o aeroporto havia chegado. Fui rapidamente até o quarto dele, peguei minha mochila, coloquei nas costas e peguei minha bolsa, mantendo-a pendurada em meu antebraço.
- Pode indo, já vou! – Ele falou e entrou em seu closet.
Acompanhei Jordan para fora da casa e, assim que eu coloquei o pé na rua, pude notar algo que eu não tinha notado antes. Mesmo sendo um bairro residencial, alguns paparazzi tinham certa liberdade nas ruas. Como eu não era ninguém importante – ou, pelo menos, não aparentava ser, já que eu parecia do tipo profissional –, eles simplesmente me ignoraram. Por um minuto, eu fiquei meio triste. Seria sempre assim? Mas não quis pensar naquele momento sobre aquilo. Por enquanto, eu estava agindo como assessora dele, então tinha que me comportar como tal.
- Bom dia, Jason! – Falei para o motorista que eu já conhecia.
- Bom dia, senhorita . Tudo certo? – Afirmei com a cabeça e entreguei minha mochila para ele, que a colocou no porta-malas.
- Tudo certo! – Ele sorriu e olhei para a porta, vendo Chris passar pelos portões da sua casa arrastando uma pequena mala de viagem com uma bolsa menor apoiada em cima.
Agora ele havia colocado um óculos escuro no rosto e os paparazzis começaram a trabalhar. Ignorei o fato e entrei no carro, ao lado do motorista.
- Bom dia, senhor Evans, tudo bem? – Ouvi Jason falando e apoiei minha cabeça no encosto do banco, ignorando as conversas paralelas.
Logo, Jason fechou o porta-malas, sentou ao meu lado, Chris atrás de mim, e estávamos a caminho do LAX. Percorremos o caminho em silêncio. Tá, eu acho que estava sendo meio infantil. Todo mundo da ID, incluindo Jason, sabia do meu relacionamento com o Chris, então não era como se realmente precisássemos ficar quietos, mas ok. E eu realmente sabia que não precisava estar agindo desse jeito. Naquele momento, a gente não era nada, certo? Certo? Bem, na cabeça dos outros, a gente não era nada. Para mim, já havíamos passado o caminho mais importante, que era o das três palavras mágicas e do sexo. Eu não era do tipo que abria as pernas para qualquer um, por favor! Mas também não precisava apressá-lo a nada. A parte tensa no relacionamento era a dele, então eu deveria ficar quieta e deixar as coisas rolar. Não deveria? , cala a boca.
Chegando ao aeroporto, foi uma zona um pouco menos organizada do que quando saímos de sua casa. Assim que notaram que Chris Evans estava dentro de um carro, os flashes começaram. Eu respirei fundo e saí antes do carro, tentando fazer o trabalho de uma assessora consciente e contei até dez, procurando manter a calma. Fui rapidamente para o porta-malas, pegando minha bagagem, e acenei para Jason pelo retrovisor que retribuiu.
- Te encontro lá dentro. – Comentei rapidamente para Chris, que acenou com a cabeça enquanto pegava suas malas.
Tracei uma linha reta para dentro do LAX e entrei no mesmo, sentindo um ou dois flashes em meu rosto, o que foi rapidamente ignorado em detrimento de quem vinha atrás, e segui em direção ao guichê da companhia. Entreguei meu passaporte para a atendente, junto de meus documentos, e ela digitou rapidamente em seu computador, retirando minha passagem e despachando minha bagagem. Ela entregou todos meus documentos de volta e eu juntei tudo, dando espaço para o próximo passageiro. Passei por Chris na fila do guichê, que deu um sorriso um tanto como pervertido para mim. Balancei a cabeça e passei pelas portas do salão de embarque de voos internacionais. Ele não estava cheio, o que era comum. Poucos voos internacionais saiam às dez da manhã, então pude procurar calmamente o portão e me sentar, esticando as pernas na poltrona da frente, pegando meu celular rapidamente e enviando uma mensagem para minha mãe, que respondeu com o usual ‘Boa viagem, se cuida, beijos’. Sorri e guardei o mesmo na minha bolsa.
Abri os olhos quando chamaram pelo nosso voo e Chris não estava ao meu lado nem perto de mim. Ele apareceu meio apressado sem nada nas mãos e eu franzi a testa.
- Onde você estava? – Perguntei um tanto quanto rude.
- Algumas fãs me pararam, me desculpa. – Revirei os olhos, ajeitei a bolsa em meu ombro e entrei na fila, ignorando totalmente sua regra de ‘seremos os últimos a entrar’.
Cara, eu estava sendo uma vadia, podia notar isso perfeitamente. Entrei no avião e segui para a primeira classe. Finalmente, foi meu pensamento, e eu ri comigo mesma. Nossas poltronas eram na última fileira, as duas do meio do avião. Eu guardei minha bolsa no pequeno armário embaixo da poltrona e sentei na mesma, sentindo a maciez dela. Eu ficaria bem confortável durante as treze horas e meia de voo.
Chris surgiu após alguns minutos, com uma cara de interrogação enorme no rosto, e eu sabia que estava exagerando um pouco, por algo inútil ainda por cima. Fechei os olhos, suspirei e contei até dez, sendo interrompida no meio da contagem por Chris ao meu lado.
- Tá tudo certo? – Ele perguntou, guardando seus pertences no armário embaixo de sua poltrona.
- Tá sim, só nervosismo da viagem. – Ele confirmou com a cabeça.
Antes que a aeromoça pudesse começar as instruções de segurança, eu já havia afivelado meu cinto fortemente e já havia pedido água para uma das comissárias para que eu pudesse tomar meu calmamente. Como sempre, Chris só observava meus movimentos, e eu tentava ignorar isso. Peguei a cartela de calmante na minha bolsa, destaquei logo dois em minha mão e tomei um grande gole de água, tentando manter a respiração compassada.
Eu mexia minhas mãos na garrafa d’água, fazendo algum barulho de vez em quando, sendo um tanto quanto chata. Provavelmente, estava atrapalhando outras pessoas, mas eu realmente não ligava para elas naquele momento. Encostei minhas costas inteiras na poltrona, apoiei minhas mãos nos encostos de braço e fechei os olhos. A mão quente de Chris surgiu em cima da minha em um aperto de apoio. Suspirei. Abri meus olhos novamente e olhei para o lado. Ele se mantinha do mesmo jeito que eu, mas com um sorriso leve nos lábios. Tentei retribuir, mas devia ter ficado ridículo. Voltei meu rosto para frente e suspirei.
- Você sabe por que eu odeio voar? – Ouvi minha voz saindo e senti meu corpo relaxar, estava contando aquilo para alguém.
- Não. – Ele falou em um tom de voz baixo e podia ver, pela visão periférica, que ele me olhava.
- Eu perdi meu pai quando eu era pequena, tinha somente sete anos. – Falei baixo, sentindo minha voz embargar. – Ele era piloto civil. – Fechei meus olhos. – Era uma viagem de testes, uma coisa boba. – Puxei o ar fortemente. – Morreram todos que estavam a bordo. Depois disso, eu simplesmente não consigo deixar de imaginar que algo ruim pode acontecer enquanto eu estiver em um avião. – Pressionei meus lábios um no outro. – Mas nada acontece duas vezes da mesma maneira, não é?! Deus não me levaria da mesma maneira que levou meu pai, certo?! – Senti meus olhos se encherem de lágrimas e eu puxei o ar fortemente. – Ou talvez sim. É meio egocêntrico pensar dessa maneira, não?! – Fechei meus olhos fortemente e senti as lágrimas rolarem pela minha bochecha. – Talvez pensar assim seja um jeito dEle realmente me levar do mesmo jeito. – Chris apertou minha mão fortemente e sua outra tocou meu rosto, me fazendo virar o rosto para ele e abrir os olhos com a visão meio embaçada.
- Eu não sabia! – Ele comentou. – Você nunca disse nada. – Dei um sorriso fraco e soltei o ar fortemente, sentindo minhas narinas entupirem, dificultando a respiração.
- A gente não tinha essa intimidade antes. – Falei baixo e ele abriu um sorriso, acariciando minha bochecha.
- Eu sinto muito, ! – Ele encostou meu rosto no seu e eu suspirei, fechando os olhos.
- Tá tudo bem! – Comentei, respirando devagar.
- Você pode contar comigo para tudo, qualquer coisa que te atormentar, qualquer coisa. – Ele falou baixo, próximo ao meu ouvido. – Eu sempre estarei aqui! – Um beijo estalou em minha testa e eu abri um sorriso.
Uma aeromoça surgiu com mais uma garrafa d’água e um pacote de lenços, eu agradeci somente com um movimento de cabeça e ela se afastou. Chris retirou um lenço do pacote e passou levemente pela minha bochecha. Depois me entregou o mesmo, com o qual eu sequei as lágrimas e me contive para assoar o nariz – isso não se fazia em frente a namorados. Bebi alguns goles de água e apoiei a garrafa no braço da poltrona.
O capitão deu as boas-vindas ao voo de Los Angeles a Seul, na Coreia do Sul. Agradeceu por termos escolhido aquela companhia aérea e disse também o tempo de voo e temperatura dos dois locais. Sua voz ficou de um jeito diferente, pedindo para todos os comissários tomarem seu lugar pelo rádio e, logo, eles sumiram. Agarrei minhas mãos na poltrona.
- Aeronave pronta para partir. – Fechei meus olhos, pude ouvir o som das turbinas aumentarem em meu ouvido e me assustei quando Chris soltou uma de minhas mãos da poltrona e a agarrou.
Abri um sorriso nervoso para ele. Eu não sei a força que eu usava para tentar tirar meu medo do corpo e o mandar para longe, mas esperava honestamente que eu não estivesse machucando Chris. Eu sabia que os nós dos meus dedos ficavam brancos, a ponta dos dedos vermelhos e que lágrimas caíam pelas minhas bochechas sem permissão, mas eu nunca tive ninguém segurando minha mão nesse momento. Bem, eu nunca tinha deixado ninguém segurar minha mão. Minha irmã já tentara, minha mãe também, e eu sempre soube que eu ia machucá-las.
O avião tirou as rodas do solo e aquela sensação de vertigem passou por mim rapidamente. Fechei os olhos novamente, tentando me manter em um local plano, o que eu com certeza não estava. Quando o avião nivelou e o capitão liberou para que as pessoas andassem pela aeronave, eu soltei a mão de Chris e também a poltrona ao meu lado.
- Tá tudo bem! – Ele comentou e eu olhei para seu rosto, abrindo um largo sorriso.
Se eu pudesse, eu o beijaria naquele momento, mas era melhor não tentar a sorte. Peguei a mão de Chris, que segurou a minha, e vi algumas marcas fundas e finas em suas mãos, minhas unhas.
- Me desculpa! – Comentei, fazendo uma careta.
- Tá tudo bem! – Ele riu e eu o acompanhei, notando meu rosto começar a secar devido às lágrimas.
- Acho que eu preciso ir ao banheiro. – Comentei e ele afirmou com a cabeça. – Porque definitivamente eu vou dormir em breve, esses calmantes dão sono.
- Tem perigo de você dormir ou desmaiar entre essa ida e volta no banheiro? – Ri fracamente.
- Espero que não. – Comentei, o fazendo rir.
Fui ao banheiro rapidamente e, quando voltei, Chris procurava alguma coisa de útil para assistir na televisão. Eu me sentei ao seu lado novamente e, assim que coloquei as mãos nas laterais da poltrona, ele segurou minha mão novamente, sem falar nada. Inclinei um pouco a poltrona para trás e larguei meus saltos no chão, puxando os pés para cima. Chris me copiou, para ficar exatamente da mesma maneira. Acabou optando por algum filme de ação com bastante explosões. Ele me ofereceu o fone de ouvido, mas eu simplesmente neguei com um gesto, encostando minha cabeça em seu ombro, e fechei os olhos.
Quando os abri novamente, o avião estava escuro e lá fora era noite. Não sabia que dia era ou em que fuso estávamos, mas eu suspirei. Chris dormia meio desajeitado ao meu lado. Seu rosto estava virado para o meu, mas o corpo estava virado para outro lado. Soltei uma risada fraca com isso. Fiquei em silêncio um pouco, somente olhando para o rosto de Chris. Os fones ainda estavam colocados em sua orelha, mas a televisão estava desligada. Ergui uma mão e passei pelos seus cabelos, jogando uns poucos fios para trás, e desci a mão pela sua bochecha, acariciando-o levemente. Um suspiro escapou de mim.
Virei meu corpo para frente, tentando mudar de posição um pouco, e fechei os olhos novamente, me espreguiçando na poltrona. Chris se mexeu ao meu lado e eu o olhei novamente. Agora seus olhos estavam abertos e o mesmo sorriso de quando ele acordou em casa naquele dia estava estampado em seu rosto, junto dos olhos pequenos de quem acabou de acordar. Sem dizer nada, ele passou um braço pelo meu corpo, encostando em minha barriga, e eu suspirei. Quer saber? Foda-se. Não seria eu quem iria ficar escondendo uma coisa boa. Aproximei meu rosto do seu e encostei meus lábios nos dele levemente, vendo um sorriso se formar em seu rosto. Eu retribuí o sorriso e ele fechou os olhos novamente, fazendo um carinho gostoso em minha barriga. Senti a preguiça vencer e fechei os olhos também.
Na próxima vez que abri meus olhos, já estávamos em solo coreano. Era dia e o sol entrava fortemente pelas janelas da aeronave. Chris estava acordado ao meu lado, seus olhos focados em algum programa de TV coreano e, em sua mão um sanduíche, o que me fez notar que eu estava morrendo de fome.
- Você precisa se arrumar, vamos chegar em cima da hora! - Comentei e ele concordou com a cabeça, tentando terminar o lanche o mais rápido possível. - Se quiser deixar um pedaço para mim, eu não me importo! - Comentei e ele riu, chamando a aeromoça com a mão.
- Ela quer o mesmo que eu. - E ele virou para mim. - Algo para beber?
- Água! - Falei para a aeromoça que confirmou com a cabeça.
Se eu achava que o Brasil era um país com fãs loucos, a Coréia do Sul ficava em segundo lugar. Assim que as portas de vidro se abriram e uma pessoa de boné azul passou por elas na minha frente, eu quase fiquei surda. Uma massa de fãs coreanos gritava pelo Chris. Homens, mulheres, principalmente adolescentes, e algumas mães com crianças menores sacudiam o filho para ver se o “Capitão América” dava alguma atenção a elas. Atenção que eu e nenhum dos seguranças permitimos. Eu arrumei as alças da minha mochila e vi as seis duplas de seguranças se colocarem em forma de um casulo ao nosso redor. Simplesmente troquei meus óculos por um óculos escuro e olhei para meus pés. Seja a assessora, seja a assessora.
Sentei nos bancos de couro do carro que nos levaria a uma passada rápida ao hotel, já que Chris havia amassado toda sua roupa da conferência de imprensa, e eu simplesmente o quis matar por isso. No carro, ele passou seu braço sobre meu corpo e nos mantivemos em silêncio o caminho inteiro, já que minha visão estava mais para as paisagens do novo país que eu estava visitando e eu fazia questão de registrar tudo com meu celular, pensando em qual eu colocaria no Instagram para minha mãe poder surtar mais tarde. Ri com esse pensamento.
Eu me debrucei sobre o balcão do Conrad Hotel, conversando com a atendente em um inglês que eu posso prometer, estava péssimo. Assim que ela liberou as chaves, eu joguei a primeira que eu vi em Chris e ele sumiu pelos corredores do hotel, se adiantando no processo. Recebi meus documentos de volta, agarrei minha chave entre os dedos e segui até o elevador.
- 25º andar. – Falei e cliquei o botão no elevador, o último do prédio.
As portas se fecharam automaticamente e aquele conhecido frio na barriga quando o elevador sobe muito rápido bateu. Logo vi as portas se abrirem novamente. Uma porta com uma entrada para cartão apareceu na minha frente. Olhei para a chave em minhas mãos e inseri a mesma, ouvindo um clique baixo e vendo uma luz verde entre as portas do elevador, fazendo com que elas se abrissem.
– Legal! – Ri e olhei para o apartamento em minha frente.
Eu estava literalmente no paraíso. Para onde eu olhasse, podia ver o céu, onde o sol começava a se pôr. Uma grande sala aberta e espaçosa estava logo à frente, com sofás de couro e tapetes persa. Um balcão separava uma cozinha da sala e, mais atrás, uma sacada com pisos em madeira mostrava um bar para o lado de fora, com uma jacuzzi ao seu lado. Se eu não soubesse tudo o que aquela tecnologia estranha fazia, eu podia jurar que estava no Hawaii e não na Coreia do Sul.
Na lateral direita, um corredor dava para duas portas, cada uma com uma entrada de chave, uma com a letra A e outra com a letra B. Encarei a minha letra A e inseri sobre a porta, ouvindo o clique e a mesma luz verde vinda da letra em metal. Ao que eu abri a porta e entrei, ela automaticamente se fechou atrás de mim. O quarto possuía uma grande cama de casal com um armário na lateral, uma cabeceira com vários botões tecnológicos e uma poltrona com aparência confortável, na qual joguei minha mochila.
Aproveitei que tínhamos ido para o hotel e renovei o desodorante, o perfume e a maquiagem. Também troquei de roupa, já que havia notado que o tempo estava meio gelado. Coloquei uma calça social preta e uma blusa social branca, ajeitando-a dentro da calça. Calcei meu peep toe novamente e arregacei um pouco as mangas da blusa. Procurei um laço de cabelo e fiz um rabo de cavalo bem alto, abaixando os fiozinhos arrepiados com um pouco de spray. Coloquei o celular no bolso, peguei meu iPad e uma caneta e saí do quarto, puxando a chave de volta.
Ouvi a porta de Chris bater e olhei para trás, dando de cara com ele encarando meu corpo de cima a baixo.
- Gostosa! – Revirei os olhos e soltei uma risada fraca, dando um tapa de leve em seu ombro.
- Vamos! – Falei e andei em sua frente, voltando para o elevador e ouvindo os pés de Chris baterem atrás de mim, contra o chão.
Ele havia escolhido uma blusa social azul, calças jeans escura e sapatênis preto para os pés e havia penteado os cabelos para trás. Eu podia ver alguns pelos finos crescendo em seu queixo.
Assim que a porta do hotel se fechou atrás de mim, Chris encostou seus lábios em minha bochecha, o que fez que eu abrisse um sorriso.
- Você precisa relaxar! – Ele comentou e eu ri.
- Só quando esse dia acabar. – Ele abriu um sorriso safado e eu revirei os olhos. – Não desse jeito. – Falei e passei pelas portas do elevador, vendo um segurança se levantar e se aproximar de nós como escolta.
A conferência seria no hotel em que estávamos, mas na parte de escritórios, que era na parte da frente do hotel. Caminhamos até lá, atravessando as duas faixas de trânsito em nossa frente, e entramos no conglomerado Era um prédio mais baixo, mas tão luxuoso quanto. Dessa vez, ficamos no térreo, seguindo para uma das salas de conferências livres e encontrando a porta da conferência de ‘Expresso do Amanhã’. Chris encarou a mesma por um tempo e abriu a do lado. Eu o segui com um ponto de interrogação no rosto.
- Chris, mas... – Fechei a boca assim que encontrei uma sala de espera com Tilda Swinton, Bong Joon Ho, Song-Kang-Ho e Ko Asung sentados nas poltronas disponíveis, todos acompanhados de seus assessores.
Por um segundo, me senti estúpida por não saber que eles não entrariam simplesmente. Chris foi calorosamente recebido pelos companheiros de elenco. Eu fui apresentada a cada um deles rapidamente, indo me apresentar para os outros assessores. Alguns falavam mais, outros falavam menos, mas todos menos comunicativos que eu. Uma mulher coreana apareceu por uma porta ao nosso lado e falou que estavam prontos para começar. Nessa hora, cada ator foi para seu assessor, e Chris veio perto de mim, se agachando ao meu lado, já que eu estava bem acomodada em uma poltrona.
- Você sabe o que fazer, não?! – Falei e ele soltou uma risada, confirmando com a cabeça. – Eles só vão perguntar sobre o filme mesmo, diga o que você achou.
- Fácil assim, não?! – Soltei uma risada fraca, me levantando e o vendo fazer o mesmo.
- Até parece! – Ele riu e a porta foi aberta novamente, por onde os atores começavam a sair. – Eu entro por trás, né?! – Ele confirmou com a cabeça. – Arrase!
Ele abriu um sorriso discreto. Em dois segundos, encostou seus lábios nos meus e saiu pela porta, me largando na sala sozinha. Peguei minhas coisas na poltrona e saí da mesma, entrando pela porta do lado na escura sala com carpetes pretos, um pequeno palco na frente e banners do filme para todos os lados.
A sala estava pilhada de jornalistas, a maioria deles coreano, mas também uns quatro ou cinco internacionais. Eu me sentei em uma cadeira livre próxima ao corredor e desbloqueei meu iPad, abrindo o bloco de notas, e coloquei o gravador do celular para funcionar.
Essas conferências não duravam mais que uma hora, e não foi diferente. As perguntas eram passadas de pessoa para pessoa. Perguntas sobre o filme, a produção, atuação, história, enredo, efeitos especiais, figurino... Tudo que pudesse passar pela boca dos atores, passou!
Chris, como sempre, realmente sabia o que estava fazendo. Eu estava praticamente em uma viagem com tudo pago para Coreia do Sul e isso, na minha cabeça, soava muito bem. Eu anotava algumas coisas no bloco de notas, como informações sobre possíveis filmes, projetos e lançamentos sobre as quais talvez a imprensa pudesse querer detalhes depois que a conferência acabasse.
Várias perguntas passaram pela minha cabeça enquanto outras eram respondidas, perguntas que não havia passado na cabeça de ninguém ali, perguntas que só quem prestasse atenção de fora conseguiria elaborar. Conferências eram ruins pois, se você estiver sozinha com seu bloco e seu gravador, vários furos acabam sendo perdidos, mas não seria eu quem iria dar pauta para a imprensa, então eu anotava a pergunta e ficava na minha.
Ao fim das perguntas e respostas, os fotógrafos pediram por algumas fotos da equipe junto. Uma risada aqui, um comentário ali, até que eles estavam se divertindo. Assim que deram por encerrada a conferência, os vários lugares ocupados esvaziaram. Os atores voltaram para a sala ao lado e eu entreguei um cartão de visita para todas as pessoas da imprensa, junto com os outros assessores, disponíveis para tirar toda dúvida que pudesse haver sobre o que foi dito e o que não foi dito ali, mas ninguém pareceu muito interessado nisso e, logo, a sala esvaziou.
Dei de ombros e me levantei, saindo da sala de conferência e encontrando Chris no corredor, conversando com um de seus companheiros de cena. Assim que ele me viu, rapidamente se despediu e seguimos todos para o mesmo caminho por onde havíamos chegado, com o segurança em nossos pés.
- O que achou? – Ele perguntou ao meu lado.
- Eu preciso ver o filme antes para saber do que vocês estavam falando. – Ele soltou uma risada e passou um braço sobre meus ombros, caminhando para fora do complexo empresarial do Conrad Hotel e entrando novamente na parte da hospedagem.
- Quanto tempo para a première? – Ele perguntou e eu chequei meu relógio.
- Temos umas duas horas e meia, mais ou menos. – Ele suspirou ao meu lado e entramos no elevador.
- Dá tempo de tirar uma soneca! – Abri um riso, segurei sua mão que caía ao lado do meu corpo e entrelacei os dedos, o vendo encaixar o cartão na entrada do quarto.
Logo, ele estava jogado no sofá da sala que antecedia as suítes.
Eu me levantei do sofá em que eu havia deitado e caminhei até a cozinha, procurando alguma coisa para comer na geladeira. Acabei pegando uma lata de Coca-Cola e alguns salgadinhos de uma marca coreana, que me pareciam até gostosos. Sentei na bancada e, a cada gole do refrigerante, era um punhado de salgadinhos que eu colocava na boca. Jogando os pacotes de ambos na lata do lixo poucos minutos depois, lavei minhas mãos na pia, encarei os pés de Chris saindo do sofá e abri um sorriso.
Caminhei até o sofá novamente e vi que sua cabeça estava um pouco para baixo do encosto. Eu ergui a mesma delicadamente e sentei no sofá, passando os dedos pelos fios castanhos de seus cabelos. Ele dormia suspirando, fazendo com que um ronco baixo aparecesse, e eu estava tão apaixonada que até nisso eu o achava bonito. Meu celular vibrou no meu bolso e eu ignorei, mas fez com que Chris se mexesse no sofá, virando o rosto para o lado do encosto, abrindo os olhos e um sorriso logo em seguida.
- Ei! – Falei e ele espremeu os olhos, rindo.
- Ei! – Abaixei o rosto e encostei meus lábios nos seus delicadamente.
- Você precisa de um banho e se arrumar, seu terno chegou enquanto estava dormindo. – Ele afirmou com a cabeça, bocejando novamente, um pouco impossibilitado de falar.
- O que achou?
- Vai ficar parecendo cafajeste. – Comentei e ele franziu a testa.
- Por quê?
- Porque não tem gravata. É mais informal, eu sei, mas mesmo assim... – Ele riu e se sentou no sofá. – A gola aberta, parte do peito aparecendo, o que mais? – Ele passou uma mão pela minha nuca, trazendo meu rosto para perto do seu.
- Esse cafajeste já tem dona. – Soltei uma risada, sentindo o ar faltar quando ele pressionou os lábios nos meus e riu comigo.
- Quero ver então! – Ele mostrou a língua, passando-a pelos meus lábios novamente e, logo, meu corpo estava em cima do seu, sentindo fortes apertões em minhas coxas, onde suas mãos estavam espalmadas.
Meus lábios estavam colados em seu pescoço, dividindo entre mordidas e chupadas. Uma rápida olhada no relógio fez com que eu me levantasse rapidamente de cima dele, saindo desajeitadamente do sofá, quase caindo por cima da mesa de centro, e ele me olhou com uma interrogação no rosto.
- Banho, se arrumar e vamos! – Falei, ele bateu uma continência rapidamente e, logo, se levantou.
- Toma banho comigo? – Ele perguntou sensualmente na porta do seu quarto.
- Hoje não! – Falei firme e entrei na porta do meu quarto, batendo a porta e o ouvindo reclamar do lado de fora.
Eu me encarei no espelho com meu vestido preto e um sorriso se formou em meus lábios. Ele possuía uma manga só, com rendas detalhando totalmente o corpete, formando desenhos de flores do busto até a cintura. Dali para baixo, a saia com um pano firme mas, ao mesmo tempo, leve caía sobre minhas pernas até a altura do joelho. Coloquei meus saltos pretos novamente e andei pelo quarto para saber se aguentaria. Coloquei vários curativos nos meus pés, pois a tarde já tinha deixado algumas bolhas nas laterais e no calcanhar.
Retoquei meu rímel e passei novamente um gloss nos lábios, pegando meu iPad novamente, e saí do quarto. Chris estava jogado no sofá, o corpo estava coberto pelo terno que eu havia visto mais cedo, a blusa azul clara por baixo com o último botão solto, o paletó e a calça social azul escura e, nos pés, sapatos sociais pretos. Ele abotoou a manga da blusa e eu andei em sua direção, fazendo com que meus saltos ecoassem pelo chão de madeira.
- Eu sei que a Megan vai um pouco mais desleixada mas, por favor, eu não consigo ir em um evento desses de calça social, camisa e botas. – Falei já me defendendo quando ele olhou para mim.
- Você está ótima! – Ele falou com os olhos brilhando para mim.
- Continuo com cara de assessora? – Ele confirmou com a cabeça. – Ótimo! – Falei e ele riu.
- Hora de ir? – Olhei no relógio e confirmei com a boca.
- É! Vamos ver um filme! – Falei ironicamente e ele riu de novo, se levantando do sofá.
Aproximei-me dele, segurei o botão de seu paletó e o fechei, passando a mão sobre seus ombros, alisando o pano macio. Não parecia nada com o que os garotos usaram na minha formatura da faculdade. Aquilo era um terno bom, macio, até confortável de usar.
- Obrigado. – Ele falou e eu afirmei com a cabeça sorrindo, seguindo novamente para o lobby do hotel.
No caminho para a première, Chris ficou matutando uma das mãos na minha perna e olhando a paisagem que passávamos. Eu só conseguia repassar os mapas do local, imprensa que estaria presente, contatos de pessoas que poderiam falar comigo e, acredite, não era fácil quando a maioria dos nomes era em coreano. Se tudo fosse João ou Maria, seria mais fácil. A première seria na Times Square da Coreia do Sul, em um dos shoppings. Honestamente, eu não tinha a mínima ideia de como aquilo rolaria. Pelas fotos que eu havia visto do local, era quase uma estação de trem gigante. Às vezes, a falta de experiência podia te pegar, e era o que estava acontecendo naquele momento. Na minha cabeça, uma luz vermelha e piscante, junto de um alerta alto, começavam a apitar. Eu fiz o certo em vir, não é?
Enquanto Chris encarava o dia lá fora, abri o WhatsApp e rapidamente enviei uma mensagem para Megan, um grande e capitular SOS. Bloqueei o celular novamente, tentando passar algumas técnicas básicas de respiração. O ar ruim sai e o bom entra, esse era meu novo mantra.
O carro parou no tapete vermelho. Eu podia ouvir os gritos lá fora, e apertei o celular em minha mão. Megan?! Eu realmente precisava dela naquele momento. Chris, em seu momento relaxado, encostou seus lábios nos meus novamente. Eu estendi um marcador permanente para ele e a porta foi aberta, trazendo para dentro a claridade que Seul oferecia. Nesse mesmo momento, meu celular vibrou, mostrando uma ligação internacional de Megan.
- Eu já vou! – Falei para Chris quando ele virou para mim novamente, vendo meu celular se iluminar em minha mão.
- Tá tudo certo, ? – Mordi meu lábio inferior.
- Só estou nervosa. Você sabe o que fazer. – Tentei dar meu sorriso mais carinhoso possível porque a luz que havia acendido em mim estava fazendo com que meu cérebro quisesse explodir. – Não é como se nunca tivesse feito isso.
Ele confirmou com a cabeça e fechou a porta, seguindo em direção ao tapete vermelho. Eu deslizei o botão verde rapidamente e coloquei na orelha.
- Aconteceu alguma coisa? – Ouvi a voz de Megan.
- Eu estou surtando, parece que foi uma péssima ideia eu vir. – Senti o carro se movimentar e andar um pouco mais para frente para dar espaço aos outros convidados.
- Mas o que foi? Algo saiu dos trilhos?
- Não, está tudo conforme os planos, mas eu estou literalmente surtando. Não sei o porquê, nunca fiz isso antes. – Megan soltou uma risada e um suspiro em seguida.
- Já esperava por isso, sabia? – Ela riu fraco. – , relaxa. Eles não estão aí para você, estão aí para o Chris e só. Você simplesmente acompanha, fica há uma distância de...
- 5 metros, eu sei. Para não sair nas fotos. Mas sei lá...
- Se recomponha, mulher! Você é uma das profissionais mais jovens e uma das melhores que eu conheci nessa profissão. Cultura, cinema, isso é contigo, ok?! Você sabe muito melhor que essas pessoas o que eles estão falando. – Suspirei. – Agora vai lá humilhá-las. – Não me contive e soltei uma gargalhada. – Isso, essa é a que eu gosto. Agora me deixa dormir. – E a ligação foi finalizada.
- Obrigada, Megan! – Falei para o telefone e ri.
O motorista viu que eu havia terminado e desceu do carro, abrindo a porta para mim. Agradeci com a cabeça e segui para o tapete vermelho, mostrando o crachá de imprensa que eu havia pendurado em meu pescoço, tendo a passagem livre para o evento. Chris já havia passado pela sessão de fãs e a atriz morena que estava na conferência de imprensa dava alguns autógrafos.
Passei reto nessa sessão, e também reto em todos os repórteres que entrevistavam Tilda Swinton e o diretor do filme. Eu abaixei a cabeça e passei por trás, próxima ao painel, focando na pessoa que estava à minha frente, posando para algumas fotos. Seu olhar encontrou com o meu e eu dei um sorriso de lado, apoiando meu iPad na mão e até sentindo alguns flashes em meu rosto. Eu sei, eu estou bonita nesse vestido.
Chris acenou para os fotógrafos e fez um movimento com a cabeça. eu fechei os olhos por dois segundos, o que ele entendeu que era para ele continuar andando e entrar no evento, para sair da mira dos paparazziS, e eu o segui a passos lentos, olhando para os lados a procura de algo que eu pudesse fazer: nada.
Assim que eu saí do relento e passei por debaixo da marquise, o tapete vermelho continuava, dando em uma sala no térreo. Chris havia parado depois das portas para me esperar. Mantive minhas duas mãos coladas no iPad e caminhamos lado a lado até entrar em uma sala de cinema.
- Foi difícil lá fora? – Ri fraco.
- Só estava nervosa. Tive um pequeno surto, mas está tudo certo. – Falei e ele confirmou com a cabeça.
- Mesmo? – Eu o empurrei levemente com o ombro.
- Não precisa se preocupar! – Ele concordou com a cabeça, mexendo as mãos dentro do bolso.
- Vamos! – Ele seguiu pelo pequeno corredor da sala e notei que estávamos em uma comum sala de cinema.
Chris rapidamente começou a subir os degraus e eu fui atrás, tentando não cair do salto. Ele havia sido o primeiro ator do elenco a chegar, então seguiu para a última fileira, se sentou em uma das poltronas vermelhas no meio da sala, que continha seu nome, e apontou para a do lado, onde tinha um ‘mais 1’ escrito. Eu me sentei rapidamente.
Os próximos minutos foram mais agitados. Os atores chegavam, eles conversavam sobre o filme, Chris ria e eu ficava ao lado, participando da conversa, rindo junto e tudo mais. Assim que deu oito horas na Coreia do Sul, a tela do cinema se iluminou com o logo do filme e todos seguiram para seus lugares. Até a imprensa, que ficava nos degraus mais abaixo, rapidamente se colocou no seu local, com seus bloquinhos ao lado. Eu estava despreocupada. Não era como se eu precisasse fazer uma reportagem sobre, então eu simplesmente apoiei minhas costas no encosto, coloquei o iPad no colo, os braços na lateral da poltrona e relaxei. Só faltava a pipoca.
As luzes foram apagadas e o filme começou a rodar. Chris relaxou ao meu lado, já sabendo o que o esperava, levantou uma mão e a colocou sobre a minha, entrelaçando nossos dedos. Um sorriso com certeza não passou despercebido por ele, mas não me virei para descobrir se ele estava me olhando.
Meu. Deus. Essa era a única reação que eu podia ter a repeito desse filme inteiro, sem brincadeiras. Era um dos melhores filmes do Chris e, se não fosse, a sua atuação com certeza era. E o modo que o filme foi construído... A cada vez que ele olhava para frente, ele pensava com a emoção e, a cada vez que ele olhava para trás, ele pensava com a razão. Isso deu ao filme uma dinâmica perfeita, nem parecia que o filme se passava em um trem, com a diversidade de cenários que eles usavam e a grandiosidade do elenco.
Chris soltava risadas fracas ao meu lado a cada cena que eu me empolgava, já que eu literalmente apertava a mão dele. Era assim que eu demonstrava minha empolgação ou nervosismo. Teve uma cena em que eu tive certeza de que o filme, se fosse bem divulgado, teria muito futuro e principalmente faria a aparência de Capitão América do Chris de lado e mostraria seu lado dramático: a cena do monólogo de Curtis, pouco antes do fim do filme. A emoção simplesmente pega a gente e, por mais que o ator estivesse ao meu lado, quase acreditava que era real.
Quando os créditos do filme subiram, a reação que eu tive foi a mesma da sala de cinema lotada, levantar e aplaudir aquele filme incrível. Eu estava pouco me lixando se o elenco estava ao meu redor, se o diretor do filme estava ao meu lado, se a estrela do filme estava ao meu lado... Eu só precisava mostrar, de algum jeito, que o filme estava magnífico.
Chris se levantou ao meu lado, com um sorriso nervoso no rosto, e eu passei meus braços pelo seu pescoço, abraçando-o fortemente.
- Está incrível, Chris! – Falei com uma risada em meus lábios. – Perfeito! Você foi incrível!
- Obrigado! – Ele riu, apertando os braços em meu corpo, e logo o soltei, cumprimentando também o diretor do filme que estava ao meu lado.
Falei exatamente as mesmas palavras que eu falei para Chris, vendo também um largo sorriso se formar nos lábios dele também.
- Vamos, Chris? – O diretor Bong Joon Ho falou e eu voltei a me sentar na cadeira, ligando meu iPad, já que agora iria rolar um rápido ‘perguntas e respostas’ da imprensa e de alguns fãs que tiveram o direito de ir assistir à estreia.
Não me dei o trabalho de ligar o gravador. Da distância que eu estava, com certeza não iria pegar, mas abri o bloco de notas, escrevendo “Pós-filme” e fazendo a mesma coisa que eu fiz na conferência. A cada pergunta ou discurso que passava por Chris, eu anotava, e anotava também a resposta por precaução.
Chris, como sempre, fazendo piadas e brincadeiras com as perguntas dos fãs, se mostrando descontraído mas, quando a pergunta era da imprensa, o lado da brincadeira sumia e vinha o lado sério. Era incrível como ele saía de um personagem e ia para outro. Ok, piadinha infame.
As perguntas logo acabaram e a imprensa começou a se retirar, mas permaneci lá em cima, pois agora os fãs que estavam lá iriam tirar fotos e tudo mais, aproveitar o momento com o ídolo. Chris era o mais assediado, e eu tinha que admitir que achava até engraçado, por mais que uma pontinha minha ficasse com ciúmes de ver várias pessoas abraçado e beijando ele. Mas eu tinha que aprender a lidar com isso, era parte do trabalho, parte da fama. Suspirei e bloqueei o iPad, me levantando, e me despedi dos assessores que começavam a se dissipar. Profissionalmente, trocamos contatos mas, pessoalmente, as chances de nos encontrarmos de novo seriam poucas, então foi basicamente por questão de educação.
Chris tirava foto com um casal quando eu pisei no último degrau que dava para o palco e parei ao seu lado, vendo as fotos sendo tiradas.
- Oi, licença! – Uma menina coreana de uns vinte anos me cutucou. – Você é a nova assessora do Chris?
- Oi, sou sim. ! – Estendi minha mão e ela apertou, abrindo um largo sorriso.
- A Megan Pachon ainda continua? – Ri fraco.
- Continua, eu trabalho na equipe dela. Ela precisava de umas férias. – Foi a vez da menina rir.
- É que eu tenho um fã-site coreano do Chris e a gente queria algum tipo de parceria, para ficar por dentro das notícias, algum evento quando ele vier. Eu só estou aqui porque meu pai é jornalista, mas ele nem cobre cultura, foi bem sorte mesmo porque eu meio que insisti para vir. Vocês têm algo parecido assim?
- Claro que sim. – Afirmei.
Isso foi uma mentira, mas agora iríamos ter.
– Faz o seguinte. Eu vou te passar meu e-mail, e você me manda todas as informações do seu fã-site, link, há quanto tempo foi criado, qual notícias que vocês tem preferência, vídeos, fotos... E aí eu converso com a equipe sobre que tipo de parceria podemos fazer. O que acha?
- Acho ótimo! – Ela riu, eu tirei um cartão de visita da capa do iPad e entreguei a ela.
– Eu posso demorar a responder, mas de uma semana não passa e, independente da resposta, você terá uma, ok?!
- Ok! – Ela deu dois pulinhos, feliz. – Isso é muito mais do que eu esperava, mesmo! – Abri um sorriso. – Eu entrarei em contato contigo... ?! – Ela olhou no cartão e eu confirmei com a cabeça.
- Sou brasileira! – Ela abriu um sorriso e riu.
- Que legal! – Ela foi saindo. – Obrigada mesmo, irei mandar o e-mail hoje ainda.
- Vou esperar. – E ela desceu das escadas correndo, indo de encontro a um homem mais velho que deveria ser seu pai.
- Fazendo amigos? – Chris perguntou nas minhas costas.
- Trabalhando. – Falei, fazendo uma pose de orgulho, e ele riu. – Para onde agora? Algum cocktail?
- Não, para o hotel, pedir uma pizza gigante e descansar.
- Pizza? Eu estou na coreia, quero comida coreana! – Falei, descendo as escadas do palco, e ele riu atrás de mim.
A vista do Conrad Hotel dava para o Rio Han, que cortava Seul de uma ponta à outra. Enquanto Chris estava jogado no sofá, pedindo nossa comida, eu me debrucei sobre o vidro da sacada e aproveitava um pouco da minha curta viagem para um país diferente.
Meu celular já devia estar cheio de fotos daquela mesma paisagem, mas eu precisava postar alguma coisa. E foi o que eu fiz quando abri meu Instagram.
"Sabia que esse trabalho me levaria longe, mas não tanto #SouthKorea #Seul #Snowpiercer". Digitei, postei a foto na minha rede social e fui para a página de aprovação de seguidores. Pelo menos, umas 60 pessoas estavam pedindo para me seguir. Depois daquela primeira foto que eu havia postado com o Chris, praticamente assumindo para o mundo todo que eu era assessora dele e eu deixava pessoas me seguirem, recebia novos seguidores quase diariamente, chegando a quase três mil.
- Vamos deixar claro que yakissoba não é comida coreana, ok?! - Chris falou, passando pela porta da sacada, e eu soltei uma risada, apoiando o celular no balcão do bar que tinha ao lado.
- Eu sei mas, honestamente, eu olhei o cardápio e fiquei perdida, aí eu fui no básico. - Falei e dei de ombros.
- Yakissoba, rolinho primavera de queijo, o que, convenhamos, é um pleonasmo, e batata frita?
- Estou no básico, não?! - Ri e virei de volta para a vista, fazendo meus cabelos molhados baterem nas minhas costas. - E nem vem, tenho certeza de que você pediu alguma carne do tamanho da sua cabeça e muita cerveja para acompanhar.
- Ah lá, acha que me conhece! - Ele falou irônico e passou os braços pela minha barriga, encostando seu peitoral em minhas costas.
- E não? - Ele riu e apoiou o queixo em meu ombro.
- Você tem razão. - Ele falou com o tom de voz baixo e eu gargalhei.
- Sabe, eu nunca pensei que eu viria para a Coreia. Tem tantos países que eu quero conhecer, cidades... Mas Coreia do Sul? Realmente não estava na lista.
- Que lugares você quer conhecer? - Soltei minhas mãos da beirada da sacada e coloquei por cima de suas mãos.
- Itália. - Comentei.
- Roma?
- Não, Veneza.
- Interessante! - Soltei uma risada fraca e virei meu rosto, sentindo meu nariz tocar em sua bochecha. - Acho que nunca fui para Veneza! - Virei meu corpo para o seu, passando meus braços pelo seu pescoço.
- Um dia vamos juntos. - Falei e ele confirmou com a cabeça, aproximando seu rosto do meu.
Uma campainha nos distraiu, fazendo com que ele fizesse uma careta e eu ri, abaixando minhas mãos e o vendo se virar para a sala novamente. Peguei meu celular novamente na mesa e entrei, fechando a porta de vidro atrás de mim. Pude ver um mordomo empurramdo um carrinho e saindo do quarto, não antes de Chris depositar uma gorjeta em sua mão.
Chris empurrou o carrinho até ficar ao lado da mesa redonda de tampo de vidro e quatro poltronas de couro e abriu a tampa da bandeja, revelando nossos pedidos. Um yakissoba completo, um prato com rolinhos de queijo, uma porção bem generosa de batatas fritas, o bife gigante de Chris e um prato com um risoto de frutos do mar, tudo em lugares separados.
- Bife e frutos do mar, sério?! – Falei e ele deu risada, mostrando a língua do jeito mais infantil e sexy que eu conhecia.
- O risoto é bom, mas falta uma carne vermelha aí no meio.
- Já pensou em pedir algum que venha, sei lá, bacon? – Falei, olhando para ele.
- Ah, quieta!
- Você é uma incógnita, Chris Evans! – Falei e me sentei em uma das poltronas enquanto ele tirava os pratos do carrinho e colocava na mesa.
Ele abaixou e pegou também o balde de gelo com uma garrafa de champanhe na mesma.
- Vamos celebrar alguma coisa? – Perguntei, separando os hashis em dois.
- Talvez! – Ele apoiou a garrafa na mesa e tirou o lacre até que ele estivesse livre e pudesse se livrar da rolha em um estouro.
- Isso é Dom Perignon? - Chris afirmou com a cabeça. – Você tem ideia do quanto custa essa garrafa? – Eu o vi rindo e me dei conta de algo. – Bem, minha viagem e meu salário estão vindo do seu pagamento para a ID, então...
- Engraçadinha!
- Não, falando sério agora! – Ele se sentou na cadeira à minha frente. – Se a gente for ver, você é meu chefe. A ID oferece um serviço a você, você contratou nossos serviços, então... Assim... Você é meu chefe. Pelo menos, o chefe econômico da ID. Um dos...
- Chefe? – Eu o vi tirar duas taças do carrinho e colocar na mesa. – Eu consigo ter uns ótimos fetiches com isso, sabia? – Juntei os hashis na minha mão e gargalhei.
- Pelo menos, não sou a única! – Abri um sorriso de lado e voltei a atenção para minha comida.
- Interessante, !
- Fica quieto e come! – Falei e ele me imitou, encarando seus pedidos e também beliscando algumas porções da minha batata frita enquanto comia.
O resto da refeição aconteceu em silêncio porque eu estava A) com fome, não comia desde o avião e B) fazia muito tempo que eu não comia um yakissoba e estava uma delícia. Já Chris porque... Bem, provavelmente a alternativa A também.
Juntei os hashis para o lado no prato e peguei um guardanapo, largando os modos de lado e pegando o rolinho de queijo com a mão mesmo, vendo Chris me encarar.
- Que foi? A gente está se pegando há um bom tempo para eu ficar de frescuras, não acha?!
- Você tem um ponto.
- Eu sempre tenho. – Falei e pude ver Chris movimentando os lábios juntos na mesma frase. – Sem graça!
- Ok, você tem vários pontos, e hoje você me deu dois! Só hoje!
- Só hoje? Você me conhece desde abril. – Ele movimentou os ombros. – Deveria ter aprendido mais coisas.
- , quieta! Estou tentando ser romântico. – Franzi a testa e o encarei, apoiando o rolinho novamente no prato.
- Por quê?
- Porque, primeiro, realmente você me conhece muito bem, não só o lado pessoal, mas também sabe muito sobre mim, sobre o ator. Isso é incrível, conhecer alguém que realmente admira meu trabalho. – Abri um sorriso de lado, sentindo minhas bochechas queimarem. – E também como Chris. Você sabe pequenos detalhes da minha vida, meus gostos, meus desgostos, qualquer coisa. – Pendi a cabeça para o lado, mantendo o sorriso no rosto. – E realmente, já tivemos muitas refeições e encontros para ficarmos preocupados se tem algo no dente ou se estamos suando de nervosismo. Não tenho mais nervosismo... Bem, tanto nervosismo em te encontrar. Eu simplesmente quero estar contigo. – Eu o encarei, mordendo meu lábio inferior. – O que eu quero dizer é que acho que está na hora de levar isso para outro nível.
- O que você quer dizer, Chris? – Falei baixo.
- Quando você conhece uma pessoa, você sabe se ela vai mudar sua vida ou não. Você, eu saberia que iria mudar, mas não desse jeito. Quando eu notei, eu já estava apaixonado por você. E depois, amando você. – Ele se levantou e segurou minhas mãos, me fazendo levantar também. – Ironicamente, você não transformou minha vida de cabeça para baixo. Você a organizou, a completou.
- Você vai chegar a algum lugar com isso? – Falei e o vi rir.
- Não dá para ser romântico contigo?
- Romântico, sim. Devagar, não. Sou curiosa. Fala! – Ele riu e segurou meu rosto com as duas mãos.
- Eu quero que você seja oficialmente minha namorada, mesmo, com direito a você mudar status de relacionamento do Facebook e tudo mais. – Soltei uma gargalhada e encostei meus lábios no dele, pressionando-os fortemente e, logo, nos separei.
- Se isso for uma pergunta, eu com certeza quero namorar você! – Ele passou os braços pela minha cintura e eu em seu pescoço, em um abraço forte. – E eu nunca mudei meu status de relacionamento do Facebook! – Eu o ouvi rir próximo a minha orelha. – Eu te amo, Evans!
- Eu te amo, ! – Ele repetiu e eu sorri, me sentindo em casa nos seus braços, aqueles braços. – Podemos celebrar agora?
- Acho que sim! – Passei a mão de seu pescoço para seu peito, abaixando elas até que estivessem ao lado do meu corpo novamente.
Chris pegou as duas taças e serviu do líquido meio esbranquiçado. Ele me entregou uma e ergueu a dele, fiz o mesmo movimento.
- A nós? – Ele perguntou e eu ri, abrindo um largo sorriso.
- A nós e à nossa felicidade. – Falei e tocamos nossas taças em um tilintar, cada um bebeu um gole da mesma.
Chris passou um braço pelas minhas costas, segurando em minha cintura, e eu apoiei minha cabeça em seu ombro, descolando somente para dar curtos goles no líquido. Nunca fui muito fã de champanhe, mas esse era incrível. Explicava o preço da garrafa.
Terminamos de comer a batata frita enquanto assistíamos algum filme que passava na TV a cabo. Não que estivéssemos realmente prestando atenção, suas mãos passeavam pela minha perna e a outra só não se movimentava pois estava ocupada levando a batata até sua boca, como eu fazia. Eu havia encostado meu rosto em seu braço e olhava, de vez em quando para o filme, de vez em quando para sua mão em minha coxa. Realmente não tinha nada mais lá, nada mesmo. Éramos somente nós na madrugada escura de Seul, comendo batatas fritas e bebendo Dom Perignon como namorados.
Namorados. Eu e ele. É, soa bem.
Capítulo 06
I love your hair like that
The way it falls on the side of your neck
Down your shoulders and back
[...]
You've got that kind of look in your eyes
As if no one knows anything but us
Should this be the last thing I see?
I want you to know it's enough for me
Because all that you are is all that I'll ever need
(Você está tão maravilhosa nesse vestido
Eu amo seu cabelo assim
O jeito que ele cai ao lado do seu pescoço
Nos seus ombros e costas
[...]
Você tem aquele brilho nos olhos
Como se ninguém soubesse nada exceto nós
Essa deveria ser a última coisa que eu vejo?
Eu quero que saiba que é suficiente para mim
Porque tudo que você é, é tudo que eu sempre precisarei)
Ed Sheeran, Tenerife Sea
Virei meu corpo na cama king size do Four Seasons Hotel em Nova York e senti que nada impediu isso. Abri um olho, vendo alguns raios de sol entrando pelo blackout levemente aberto. Soltei um suspiro e puxei a coberta mais para cima do corpo, cobrindo até o pescoço.
Ao fundo, podia ouvir alguns sons ambientes. O barulho do ar condicionado ligado no máximo, os dedos de batendo fortemente contra o teclado do notebook e sua voz apressada em português com alguém no telefone. Pelo menos, parecia português, porque tinha uma vaga lembrança dela ter dito que não sabia espanhol. O som foi ficando mais baixo até que ela havia ficado quieta novamente e voltou a bater rapidamente nas teclas, resmungando algumas coisas.
Ergui meu corpo e esfreguei meu rosto com as mãos, sentindo os fios da minha barba me pinicarem. Sentei na cama e olhei para frente, encontrando de costas para mim com uma regata branca e um short jeans curto, debruçada, olhando alguma coisa em seu notebook. Uma perna estava dobrada embaixo do seu corpo e outra, apoiada na cadeira ao seu lado. Os cabelos estavam presos em um coque mal feito, já que vários fios longos caíam pelo seu pescoço. Seu corpo estava inclinado para frente. De vez em quando ela digitava, de vez em quando apoiava as mãos nos lados da mesa, lendo alguma coisa.
Joguei o lençol para o lado e me levantei da cama, escorregando meu corpo para fora. Ajeitei a barra da cintura da minha calça de moletom, andei pelo quarto espaçoso do 45º andar do hotel, peguei uma torrada na mesa em que seu notebook estava apoiado e sentei ao seu lado, tirando sua perna da cadeira e a esticando em meu colo quando me acertei no lugar. Ela desviou os olhos da tela rapidamente, se debruçou sobre mim, dando um rápido e estalado beijo em minha bochecha, e voltou sua atenção à tela.
Eu me servi com um pouco de café, algumas torradas e ovo mexido. digitava um texto que passava de duas páginas no documento. Mudava com as teclas de uma tela para outra, onde seu e-mail estava aberto e, logo, voltava para o documento, digitando algumas informações rápidas, fazendo todos os movimentos com os dedos. Ela finalizou o texto como "ID - Assessoria de Imprensa", salvou-o rapidamente, enviou para uma aba onde pude ler o e-mail de Megan e fechou o notebook em um forte baque, me fazendo pular de susto.
- Bom dia? – Falei, virando para ela.
- O dia não começou muito bom não, mas você não tem culpa de nada, então bom dia! - Ela falou, jogou o notebook na outra poltrona livre e abaixou a perna do meu colo, pegando sua xícara de leite para beber um longo gole. - Já até esfriou. – Ela revirou os olhos.
- O que aconteceu?
- Ah, o Ewan McGregor está largando a ID, então a gente tem que lançar um release para imprensa falando isso. É basicamente um aviso para "não nos mandem mais com perguntas dele". E aí a Megan tá com virose, foi para o hospital, o irmão dela que ligou... Nem sabia que ela tinha irmão! Enfim... Ela pediu para eu escrever isso. Derek tá me mandando todas as informações que ele tem sobre o Ewan, desde que ele entrou, até sua saída, porque ele também está lotado de coisas para fazer, uma crise com alguma atriz ou sei lá. - Ela respirou, pegou uma torrada, passou manteiga na mesma e deu uma grande mordida. - Aí eu tive que selecionar tudo para escrever esse release. - Ela engoliu a comida. - E para ajudar, minha mãe me ligou para falar sobre nosso relacionamento. Meu e seu, não meu e dela. Faz quase dois anos que eu estou aqui. Ela não entende que essa é minha casa agora? - Ela suspirou e se apoiou na poltrona. - E não são nem dez da manhã ainda. - Ela se serviu um pouco de café e virou a caneca quase em um gole, me fazendo arregalar. – Ah, e para ajudar, suas reuniões acabaram e eu volto para Boston hoje à noite.
- Calma, respira! – Falei, passando a mão em sua cabeça e, com a outra, arranquei a caneca da sua mão.
Ela fechou os olhos por um minuto e encostou a cabeça em meu ombro, soltando um suspiro alto.
- Quer falar sobre isso?
respirou e ficou quieta por alguns segundos. Logo, ergueu sua cabeça, levantando o corpo da cadeira e andando até o meio do quarto, parando em frente à cama.
- Desde que eu cogitei a ideia de fazer o concurso para ter a chance de vir fazer minha pós-graduação em Boston, minha mãe sempre falava para eu tentar não me envolver com outra pessoa porque, quando eu voltasse para o Brasil, poderia ter sentimentos, situações não resolvidas, e talvez até um filho. – Ela suspirou, erguendo as mãos na cabeça. – Ah, nessa parte ela sempre surtava. “Imagina se você tiver um filho? Você sabe o quão diferente são as leis? Você vai querer perder seu filho para aquele país?” – Ela suspirou e olhou para mim, dando uma risada fraca. – Ela sempre dizia isso e ela disse de novo recentemente, quando eu disse que tínhamos algo. Antes disso, eu acho que não tinha mencionado que estávamos tendo algo, acho que mais por não saber o que ia rolar no dia seguinte. – Ela caminhou em minha direção e passei um braço pela sua cintura, trazendo-a para perto de mim. – Mas aqui é minha casa, não? Boston! – Ela abriu um sorriso e sentou em meu colo, com as pernas de lado. – Eu estou feliz aqui. – Ela suspirou. – Sim, ela pode ter razão sobre tudo mas, se eu pensar sempre no futuro, eu nunca terei o presente, certo? – Ela deu um sorriso de lado e eu encostei meus lábios em sua bochecha.
- Você pode ter o que quiser. Eu aceito qualquer passo que você quiser dar, lembra? – Sussurrei com a boca encostada em sua bochecha e ela soltou uma risada fraca.
- Eu sei! – Ela virou o rosto e encostou a boca em minha testa. – Eu sou muito feliz por ter você. Estamos juntos há pouco mais de uma semana, oficialmente, mas é incrível, Chris. Você está me mostrando tanta coisa diferente, tantas coisas que eu nunca conheceria na minha vida... Parte disso vem do emprego, mas você torna isso tudo especial, tudo diferente. Certo.
- Fico feliz em saber que não sou o único que sinto isso. – Ela franziu a testa e eu ri. – A maior surpresa da minha vida, , são as coisas que você me apresenta, coisas simples aos olhos de uma pessoa que tem essa vida corrida mas, na minha, são simplesmente incríveis. O modo como você cozinha, como você reclama que algo não dá certo, como você ri das coisas bobas do dia a dia, mas também como você age da maneira mais profissional possível sem perder a essência que você tem... Você ri de tudo, você brinca com todos, com os atores, com os assessores... Isso faz com que eu me apaixone por você cada dia mais. – Ela sorriu e apertou um braço em volta do meu pescoço.
- Não sabia que você era tão romântico assim, Evans! – Soltei uma risada e ela se levantou do meu colo.
- Eu gosto de surpreender um pouco, . – Ela piscou com um olho, andou até a cama e se sentou na beirada da mesma.
- Mas, apesar dos surtos da minha mãe, – Ela falou, retomando o assunto. – ela está feliz por mim e quer te conhecer na oportunidade mais próxima.
- Avise-a que será uma honra. – Ela soltou uma risada e deitou de novo na cama, puxando a coberta novamente até a cintura.
- Você e minha mãe? Ah, como eu quero ver isso! – Ela falou, olhando para o teto.
Eu me levantei da poltrona e me aproximei dela, sentando na beirada da cama, ao seu lado, pousando a mão em sua barriga.
- Sobre isso... - Virei minha cadeira de frente para ela. - Eu vou para Boston contigo hoje. – Ela abriu um sorriso. – É aniversário da minha mãe no fim de semana e, como todo ano, ela faz uma festa para família, amigos e tudo mais. – ergueu o corpo na cama, ficando sentada ao meu lado.
- Chris...? – Ela falou e eu ri.
- Eu quero te levar, pra conhecer minha família e tudo mais. – Ela abriu um sorriso de lado, passou os braços pelo meu pescoço e tocou seus lábios nos meus.
- Mesmo? – Ela falou e eu ri, afirmando com a cabeça.
- Pode estar meio cedo e tudo mais, mas parece que Scott abriu a boca para todo mundo que te encontrou em Los Angeles, e eu estou recebendo mensagens de todos, principalmente da Carly, falando que quer te conhecer. – Passei a mão em suas costas e ela riu. – E minha mãe... Bem... – Eu ri. – Ela quer saber em que campo minado eu estou entrando.
- Posso te garantir que é um que pode explodir a qualquer momento. – Ela falou e deitou novamente na cama, colocando o braço embaixo da cabeça.
- Ah, é assim? – Ela riu e confirmou com a cabeça.
- É assim que a banda toca, namorado. – Ela riu e fechou os olhos, os abrindo logo em seguida. – Tem como eu tirar uma soneca antes do voo? – Olhei o relógio na mesa de cabeceira.
- Se você não for almoçar, dá para dormir por umas três horas. – Ela pendeu a cabeça para o lado.
- Acho que eu vou aproveitar. Pode trazer alguma coisa para mim do almoço? Ou pedir algo? – Afirmei com a cabeça.
- O que vai querer? – Ela já tinha fechado os olhos.
- Estou querendo uma comidinha brasileira. Arroz, feijão, bife, ovo frito e batata frita, na verdade. – Soltei uma risada. – Mas se não tiver, pode ser um hambúrguer, a tímica comida americana. Que coisinha sem graça, hein?! – Ela deu de ombros, virou o corpo para o meio da cama, abraçou a ponta do travesseiro e suspirou.
Ergui a coberta até seus ombros e encostei meus lábios em sua testa, vendo um pequeno sorriso se formar em seus lábios. Ajeitei o ar condicionado, deixando-o um pouco mais quente, e dei uma rápida ajeitada na mesa do café da manhã, facilitando para as camareiras. Sentei em uma poltrona, pegando o computador de e apoiando no colo, erguendo a tela.
Imediatamente, uma foto dela com sua mãe e sua irmã surgiu na tela de fundo. A foto era de corpo inteiro e as três usavam um vestido longo. usava um incrível longo vermelho, parecia mais nova na foto, o vestido tomara que caia com somente um detalhe em renda no decote, a saia com outro pano preto mais fino embaixo de tudo. estava no meio, sendo abraçada pela mãe e irmã de cada lado, talvez alguma festa importante, algo assim, algo de , pelo modo que ela era abraçada. Aquela foto deveria ter alguns anos, já que tinha a ponta dos cabelos tingidos de loiro mas estava com sua cor natural à mostra, além do cabelo bem mais curto que o escorrido da foto. Tive um momento de felicidade ao ver a foto e saí da mesma, abrindo o navegador.
O Facebook de estava aberto, algumas postagens rolavam no feed de notícias e, por um momento, eu senti curiosidade em fuçar sua rede social. Comecei pelo seu perfil. No momento em que ele carregou, uma foto que eu havia tirado dela estava no perfil. Tinha sido colocada há pouco mais de um mês, não consegui lembrar onde estávamos. E a foto da capa era ela de costas, olhando para o Boston Harbour Hotel, um local onde sempre íamos para reuniões da ID. Jantares eram feitos lá também. Foi onde havíamos nos conhecido e era também um lindo ponto turístico da minha cidade.
Em sua cidade atual, estava ‘Boston, MA, EUA’, já em sua cidade de nascimento estava uma cidade com um nome comprido que eu não conseguiria falar, em São Paulo, Brasil. E mais abaixo, seu status de relacionamento estava vazio. Ou melhor, não estava lá. Franzi a testa. Abri suas fotos. Os álbuns eram separados por anos anteriores, mas o do ano atual não estava lá, então abri o álbum do seu Instagram. A única foto que tínhamos juntos era a do dia que ela havia me conhecido, somente isso, com várias curtidas e comentários em português. Por um momento, eu não sabia se ficava feliz pelo fato dela não querer esfregar para todo mundo que estava comigo ou triste pelo mesmo motivo. Não a culpava, porque eu honestamente também não sabia o que fazer com essa situação.
Fazia muito tempo que eu não namorava alguém como ela e, com como ela, eu queria dizer alguém trabalhador e não famoso, alguém que havia chegado ao cargo que ocupava pelos seus conhecimentos, pelos seus desejos e pelas suas lutas. Eu namorara poucas pessoas em toda minha vida, mas só depois que eu comecei a atuar, então a maioria das namoradas foram parceiras de elenco ou eu havia conhecido em algum evento e as coisas rolaram do jeito que deveriam. Mas, parando para pensar, em meus namoros, eu não sabia se havia sido por paixão, por comodidade ou realmente por amor, porque eu sabia que, na época, parecia tudo certo.
Entrei em meu Twitter rapidamente, fazendo uma postagem rápida, e logo fechei o computador de em um baque novamente. Aproveitei e coloquei dentro de sua mochila, já livrando de ela ter que fazer alguma coisa.
Um toque leve na porta me interrompeu de guardar minhas roupas dentro da mochila e, assim que atendi, vi um dos mordomos, empurrando o carinho de comida para dentro do quarto. Depositei uma gorjeta em sua mão e agradeci, o vendo sair logo em seguida. Olhei rapidamente por debaixo das tampas e vi os dois lanches que eu havia pedido. “ ficaria decepcionada”, ri com esse pensamento.
Pensei em comer antes, mas esperaria , então me livrei da minha calça de moletom, meu pijama improvisado, e entrei de cabeça e tudo no banho, sentindo o choque térmico do quarto frio com a água quente. Saí do banheiro com a toalha enrolada na cintura e alguns pingos de água caindo do meu cabelo. Fui até minhas roupas separadas e vesti a calça jeans e uma camiseta preta, calçando minhas botinas de guerra bege.
Alguma coisa começou a vibrar. se mexeu na cama e, meio sonolenta, começou a tatear a mesma até bater com a mão forte na mesa de cabeceira e colocar o celular na orelha.
- Alô? – Ela falou e se sentou na cama, deixando os cabelos caírem em seu rosto. – Ah, droga! – Ela pegou o celular, deslizou a tela e o colocou de novo na orelha. – Alô? aqui. – Ela suspirou e passou a mão no rosto. – Sim. Pelo menos, minha parte está toda certa. – Ela esfregava a mão no rosto e bocejava de vez em quando, confirmando com a cabeça ocasionalmente. – Certo! Tá, ok! Se cuida! – Ela abriu os olhos e me encarou, já que estava próximo da cama. – Sim, chego em Boston às cinco. Amanhã eu chego cedo e a gente conversa. Beijos. – E desligou o celular, jogando o corpo na cama de novo. – Que belo jeito de acordar.
- Megan? – Ela concordou com a cabeça, virou as pernas para fora da cama e levantou, calçando suas havaianas.
- Nem doente essa mulher descansa. Tá louco! – Ela falou e suspirou. – Era sobre o release, tá tudo certo. – Ela falou e, ainda coçando os olhos, puxou sua mochila.
Separou uma troca de roupa e entrou no banheiro. Pelo reflexo do espelho, eu a vi se trocar. Ela puxou sua blusa regata em um único movimento, fazendo seus cabelos bagunçarem um pouco. Ajeitou as alças do sutiã e se abaixou, tirando o short. Um vestido branco foi jogado pela sua cabeça e, bagunçando um pouco mais os cabelos, ela saiu do quarto com os pés arrastando pelo chão. Pude ver que a barra do vestido possuía flores em um rosa chamativo, subindo em degradê pelo corpo. Ela se sentou na beirada da cama e puxou seus chinelos, os guardando dentro da mochila e calçando os tão conhecidos sapatos pretos com os quais eu já estava acostumado.
- Vai ficar me encarando? – Ela comentou, ajeitando os sapatos e se levantando, mantendo seu rosto reto, seus olhos fixos nos meus.
- Você tem esse efeito em mim.
- Você tem noção do efeito que causa nas mulheres? Nas meninas? Nas fãs? – Ela apoiou as mãos em meus ombros.
- Efeito? – Franzi a testa.
- Não se faça de desentendido. Você é gostoso, Chris. Seu corpo, seus braços, suas pernas... – A cada palavra, ela apertava meus ombros e escorregou as mãos pelo meu peito, espalmando eles. – Você tem noção que eu sei.
- Honestamente, eu não tenho. – Ela revirou os olhos e suspirou.
- Você realmente precisa entrar no Tumblr de vez em quando. – Soltei uma risada e aproximei meu rosto do dela, passando minha língua pelos seus lábios. – Tem certeza de que vai me levar para conhecer sua mãe? – Suspirei, me afastando dela.
- Sério que vamos colocar minha mãe no meio do nosso momento?
- Você sabe que não temos tempo para uma transa agora, não é?! – Ela falou e eu ri. – Por sinal, estou com fome. O que pediu?
- Você joga mil perguntas e não deixa que eu responda nenhuma. – Ela riu e levantou a tampa, fazendo uma careta.
- Sem arroz e feijão?
- Não dessa vez. – Eu me sentei na cadeira da mesa e tirei a tampa do meu prato, revelando o lanche. – E sim, eu vou te levar para conhecer minha mãe, minhas irmãs, possivelmente meu pai, meus avós e alguns amigos de infância.
- Ah, que ótimo, é uma reunião da família Evans e agregados? – Ela se sentou ao meu lado e pegou um garfo e faca para comer o lanche enquanto eu já o havia pego com a mão.
- Com medo? – Perguntei, empurrado levemente ela com o ombro.
- Medo? – Ela suspirou. – Morrendo! – Soltei uma risada e a ouvi largar os talheres na mesa e virar o corpo para mim. – Eu nunca conheci família de meus namorados, Chris. Eu só namorei uma vez e ainda foi na faculdade. Não posso dizer que foi um namoro exatamente, foi um peguete. E com meu desemprego depois que eu me formei, eu voltei para minha cidade do interior. Não é como se eu fosse conhecer pessoas novas. Eu sempre convivi com as mesmas pessoas e, esse ano, em Boston, na minha pós, eu não poderia imaginar me apaixonar e depois ir embora, então eu não permiti isso e deu certo. Logo, eu estou, literalmente, em um campo minado, Chris.
- Eu acho que eles vão gostar de você. – Ela franziu a testa e colocou um pedaço de hambúrguer na boca. – Eu acho que minha mãe vai gostar de você.
- Ah é? E por que você acha isso? – Ela falou enquanto mastigava e eu ri.
- Porque você é tudo que eu tenho pedido. – Ela ficou quieta e eu achei que deveria continuar. – Alguém legal, não famosa, porque não aguento mais esses dramas... Alguém que possa manter minha mente sã nessa loucura em que eu vivo.
- Você sabe que eu não posso te dar muito, não é?
- Você me dá tudo que eu preciso, ! Eu não preciso de nada mais, contanto que você me ame.
- I don't care who you are, where you're from, what you did, as long as you love me. - cantarolou e eu ri.
- Backstreet Boys? Sério? – Comentei.
- Eu te amo, Chris. Posso estar me precipitando dizendo que vai ser para sempre, mas eu vou lutar para que seja. Quem sabe eu namorei pouco porque achei que não era certo, mas agora eu sei que isso é. – Ela suspirou e eu sorri. – E eu acho que você precisa parar de fazer isso.
- O quê? – Perguntei enquanto mordia um pedaço do lanche.
- Fazer eu me apaixonar cada vez mais por você só com as palavras que você diz. – Ela abriu um sorriso de lado, fazendo suas bochechas ruborizarem, e voltou sua atenção para o lanche.
- Como vamos fazer? – perguntou dentro do elevador do hotel em Nova York enquanto eu colocava meu casaco vermelho e o fechava pela metade.
- A gente vai se ver amanhã? – Perguntei.
- Duvido muito. – Ela suspirou, arrumando a bolsa no ombro quando as portas do elevador se abriram. – Com essa história do Ewan McGregor, os veículos devem estar loucos atrás de informações.
- Mas não é para impedir isso que você escreveu um release? – Ela riu e parou no lobby do hotel.
- Deveria, mas eles acham perguntas para fazer ainda, acredite se quiser. – Ela deu de ombros e seguiu para o balcão do hotel para fazer o check-out enquanto eu peguei meu celular para passar o tempo.
- Chris! – Ouvi uma voz ao meu lado e virei meu rosto, encontrando minha ex, Minka Kelly, deslizando em um vestido longo estampado de um ombro só, segurando uma bolsa vermelha, os cabelos ajeitados e o rosto maquiado.
Ferrou.
- Ei, tudo bem? – Eu me levantei e ela me abraçou fortemente.
iria me matar.
- Tudo bem, e você? O que faz por aqui?
Ah Deus, sem puxar papo...
- Estou com algumas reuniões para um novo filme. Você?
- Première de O Mordomo da Casa Branca. – Ela falou, passando as mãos nos cabelos.
Ela ainda tentava!
- Ah sim. Coa sorte com esse filme, ouvi muitas pessoas elogiando.
- Obrigada. – Ela sorriu, colocando a mão em meu ombro.
- Vamos embora, Evans! – Tomei um susto com a voz de atrás de mim.
Respira e conta até dez..
– Ah, oi! – Ela comentou, parando ao meu lado e vendo Minka.
- , essa é Minka, minha ex-namorada. – Franzi a testa enquanto falava. – Minka, essa é a ...
- Sua nova assessora, certo? – Ouvi a respiração forte de ao meu lado.
- Namorada, na verdade! – abriu um largo sorriso, apoiando o braço em meu ombro. – Mas assessora também, acontece. – Ela franziu o rosto e um sorriso fofo, mas eu sabia que ela não estava contente por estar ali. – Vamos, Evans? Temos um avião para pegar. – Ela perguntou. – Tchau. – Ela falou para Minka, ajeitou a mochila no ombro e tornou a andar em direção às portas do hotel.
- Isso é sério? – Minka perguntou ao meu lado, segurando meu braço.
- Eu falei que estava à procura de coisas novas. – Falei simplesmente.
- Honestamente, espero que você seja feliz. Mesmo.
- Você também, Minka! – Afirmei com a cabeça e ela saiu na minha frente do hotel.
Restou-me seguií-la. já havia entrado em um táxi que nos esperava enquanto um paparazzi tirava fotos minha na entrada do hotel. Fiquei imaginando se eu e Minka sairíamos na mesma foto, os boatos que inventariam. ia me matar, Megan mais ainda. Imaginei se eles soubessem que eu e éramos um casal. Soltei uma risada fraca.
Guardei minhas coisas dentro do porta-malas e entrei no carro, sentando ao lado de , que se mantinha abraçada em sua mochila. O carro começou a andar.
- Só para deixar claro, eu não gostei dela. – comentou e eu suspirei. – E desculpa, a gente não falou com ninguém que estamos juntos e ela tem fama de fofoqueira entre os fãs, mas escapou.
- Fico feliz que você tenha dito, . – Ela sorriu. – Porque eu ia falar, você só foi mais rápida. – Ela soltou uma risada, fazendo uma careta em seguida. - Não somos nenhum segredo, deixa as coisas acontecerem como devem.
- Bom! – Ela falou e eu ri.
- Mas e aí, o que mais? – Falei, voltando ao assunto de seu trabalho, e ela se virou para mim.
- Bem, como eu cuidei do release, o carro chefe para responder sou eu, como se fosse um caso e eu estivesse cuidando dele, entende? - Afirmei com a cabeça. – E, no fim da tarde, vai ter uma conferência de imprensa com ele e tudo mais, e eu tenho que acompanhar. Pelo menos por interesse da ID, como se estivéssemos passando a tocha. Nenhum rancor, só finalizando o trabalho.
- Então alguém vai trabalhar até tarde na sexta-feira? – Ela riu e se encostou em meu corpo enquanto íamos em direção ao aeroporto JFK de Nova York.
- Espero que até não tão tarde. Eu preciso passar no Rupert e escolher minha roupa, não é?! Tenho que fazer uma ótima primeira impressão para a sogra. – Dei um beijo em sua testa. – E em toda a família, é claro! – Ela soltou uma risada gostosa. – Você pode me pegar no sábado?
- Pode deixar! – Falei. – Por volta da uma da tarde, eu passo lá. E você, tenta relaxar. Eles vão te amar.
- Deus! – Ela falou e riu, fechando os olhos.
Assim que chegamos em Boston, ela foi para minha casa e ficamos literalmente enrolando o dia inteiro, dividindo o tempo entre conversar e aproveitar a piscina. Ambos estávamos cansados. A viagem para a Coréia do Sul havia detonado nosso fuso horário, principalmente o de , que não estava acostumada. Ir diretamente para Nova York depois disso, com reuniões exaustivas todos os dias, realmente matava. Pequenas decisões, desde locação de câmeras até reservas e permissões para gravar em locais da cidade... Nossa, realmente matou, e levei logo para casa, já que ela dormia sentada em meu sofá.
Minha sexta-feira passou da forma mais chata possível, sozinho, na minha cama, recebendo ligações esporádicas da minha mãe, perguntando se eu iria e se levaria para seu aniversário, Scott falando que mamãe estava realmente agitada e louca para conhecê-la – medo – e até Carly e Shanna, ambas animadas, falando que honestamente nossa mãe estava feliz, cantarolando pela casa. Isso era pelo seu aniversário ou pela nossa visita? E havia me mandado uma mensagem por volta das sete da manhã, falando que já estava na ID, com um copo gigante de café, tentando permanecer acordada. Esperava que aquilo tivesse dado certo, pois sua última mensagem foi por volta das nove horas da noite, dizendo que nos veríamos no dia seguinte, já que ela precisava entrar no mundo dos sonhos o mais rápido possível.
Vesti uma calça jeans escura e calcei meus tênis pretos, amarrando os cadarços. Peguei uma camiseta azul dentro do armário e a vesti, ajeitando-a no corpo. Passei as mãos nos cabelos arrepiados, coloquei a carteira dentro do bolso da calça e peguei as chaves do meu SUV. Saí do quarto e desci as escadas rapidamente, parando somente para pegar meu casaco vermelho. Joguei o casaco no banco de trás e conectei a chave na ignição, ouvindo o ronco do motor.
Parei em frente ao conhecido condomínio de e puxei o freio de mão, pulando do carro. O porteiro abriu o portão sem que eu ao menos pedisse e andei a passos rápidos para dentro. Entrei no elevador, apertei o conhecido número 9 e coloquei os óculos escuros no rosto antes que o elevador parasse no andar. Dei dois toques em sua porta.
- Quem é? – Ouvi a voz de lá dentro.
- Sou eu, Chris!
- Tá aberto! – Ela gritou e eu girei a maçaneta, abrindo a porta de seu apartamento e a encontrando decorando vários cupcakes com um creme branco.
Parei para encarar sua roupa. Ela usava um vestido azul, a parte de cima era colada ao corpo e tinha alguns detalhes plissados nos ombros e na barriga, a saia era estampada na barra. Nos pés, ela havia trocado seus famosos sapatos pretos por um branco, de bico redondo e salto fino. Seu rosto tinha uma maquiagem discreta, com um olhar marcado por um lápis preto. Seus cabelos estavam soltos, com aquelas ondas que eu tanto gostava, e a franja estava contida por uma presilha quase imperceptível.
- O que você está fazendo? – Eu me aproximei dela, vendo-a segurando um saco de confeiteiro e cobrir pequenos bolos de chocolate com um creme branco, meio bege por cima.
- Cupcake de chocolate, recheado de beijinho, que nada mais é do que um creme de coco, e brigadeiro branco de cobertura. – Ela comentou e finalizou o último, erguendo o corpo e depositando um rápido beijo em meus lábios.
- Deus, isso deve estar uma delícia! – Falei, aproximando minha mão de um dos bolos, recebendo um tapa na mesma. – Ai!
- Isso não é para você! – Ela comentou e eu fiz bico. – Nem tente. – Ela riu, se livrando do saco de plástico no lixo e lavando a mão rapidamente.
- Por que fez então? – Perguntei, a vendo pegar uma caixa larga de papelão.
- Para levar hoje, ué. – Ela falou e começou a colocar os cupcakes dentro da caixa.
Eu a ajudei.
- Você não precisa levar nada, sabia disso? É um aniversário. Normalmente, o aniversariante dá a comida. – Ela franziu a testa.
- Eu sei, mas é que eu fui criada de um jeito que, quando você vai pela primeira vez na casa de alguém, você tem que levar algo. Por que não levar algo no que eu sou boa, como cupcakes?
- Você é realmente boa neles. – Passei o dedo na cobertura de um bolo.
Ela me deu um olhar feio e eu ri, colocando o dedo na boca, sentindo o sabor do brigadeiro branco, tão bom quanto o preto.
- Vamos então? – Falei, a vendo fechar a caixa e me entregar.
- Vamos! Só me deixa pegar o presente da sua mãe. Me diz, ela usa brincos? – Franzi a testa.
- Não precisava ter comprado presente.
- Já entendi essa parte que era para eu ir de mãos vazias, mas responde. Ela usa brinco? – Ela me deixou sozinho na cozinha e ouvi seus saltos quicarem pelo apartamento.
Voltou com uma pequena caixa dourada e quadrada na mão e uma pequena bolsa preta na outra.
- Acho que usa, não presto muita atenção nisso.
- Que decepção de filho, hein?! – falou, rindo.
Eu aproximei meu rosto do seu e beijei a ponta de seu nariz.
- Vamos! – Falei e saí do apartamento, a vendo tirar a chave da porta e fechar do outro lado enquanto esperava o elevador chegar. – Você fica linda de azul, sabia? – Ela virou o rosto com um sorriso.
- Você também. – Ela falou, abriu a porta do elevador para que eu entrasse e entrou atrás de mim.
Coloquei a caixa no porta-malas enquanto ela se acomodava no carro. Entrei ao seu lado e a vi prender o cinto. Fiz o mesmo e liguei o carro. Fomos o caminho inteiro em silêncio, algumas músicas da rádio tocavam baixas ao fundo. De vez em quando, batucava o pé no chão do carro e eu suspirei. Tinha que admitir que também estava nervoso por isso. Minha mãe não havia gostado de nenhuma namorada minha e eu não falava isso exagerando. Ela realmente não gostava. Minka foi a que ela ficou mais próxima, já que namoramos duas vezes, mas realmente gostar... Não, nem a pau. Ela sempre falava que queria alguém de Boston, não famoso, que tivesse um trabalho comum, que me mostrasse as maravilhas da vida, que me tornasse mais responsável e mais sério. Isso eu havia conseguido quase completamente, havia conhecido em Boston, mas meu medo era o fato da ser brasileira. Não sabia como minha mãe reagiria e isso me deixava milhões de vezes com medo. Eu queria aprovação porque eu queria um futuro com .
Cumprimentei o porteiro do condomínio de casas e entrei nele, dirigindo pelas ruas. Virei para a esquerda, esquerda e direita, dando de cara com uma longa rua de casas de dois andares. Entrei no caminho da garagem de uma casa branca, com o jardim colorido impecável e o telhado marrom, minha casa de infância. Puxei o freio de mão, virando para , que parecia segurar a respiração.
- Pronta? – Ela fechou os olhos e respirou fundo, apoiando a cabeça no encosto do carro.
- Quantos carros têm aqui em volta? – Ela perguntou e eu sorri, encostando minha mão em meu rosto.
- Esquece tudo isso. – Comentei. – Só tem eu e você aqui, ok?! – Ela concordou com a cabeça. – Respira! – Ela soltou o ar pela boca e inspirou novamente.
- Vamos então, já que não tenho como fugir. – Ela virou o rosto para mim e eu sorri. – Estou pronta.
- Mesmo? – Encostei meus lábios nos seus, sentindo-a pressionar sobre os meus.
- Não pergunte de novo. Do contrário, vou desistir. – Ela disse e eu gargalhei, abrindo a porta do carro e pulando para fora do mesmo.
desceu do carro devagar, todos seus movimentos eram lentos. Enquanto eu desci do carro, peguei a caixa de cupcakes no porta-malas e a esperei parado ao lado do carro. Ela caminhou lentamente a passos curtos, seu salto mal fazia barulho, até que ela parou junto a mim.
- , sem drama! No fim do dia, você vai ver que correu tudo bem.
- Ah, só no fim do dia? – Ela comentou e eu suspirei, equilibrando a caixa em uma mão e segurei a sua mão livre, entrelaçando os dedos.
Pude notar que sua mão estava gelada. Dei um aperto forte na mesma e ela virou o rosto para mim, com um sorriso de lado. Caminhei à frente, não largando sua mão, pelo caminho de pedra feito na grama, conhecido por mim por anos. Eu sempre pisava na grama, o que fazia minha mãe querer arrancar meus cabelos quando eu era mais novo. Paramos em frente à porta de madeira e eu soltei sua mão para tocar a campainha. O barulho alto e estridente tocou, fazendo franzir a testa ao meu lado.
- Eu prometo que vou relaxar. – Ela falou ao meu lado e soltou a respiração fortemente pela boca.
Não passou dez segundos, pude ouvir algumas conversas dentro da casa, alguns passos apressados e o trinco da porta fez um barulho. Então ela se abriu, até eu vi isso em câmera lenta.
Minha irmã Carly estava do outro lado da porta, os cabelos lisos e loiros soltos, a camiseta de manga 3/4 preta, calças jeans e sapatilhas, seu estilo de sempre. O olhar de Carly passou por mim e logo por , fazendo com que ela abrisse um sorriso, um verdadeiro sorriso. Um de cinco.
- Irmão! – Ela falou, me deu um rápido beijo na bochecha e se virou para . – Você deve ser .
- Sim, eu sou! – falou quase imediatamente, abrindo um sorriso sem mostrar os dentes.
- Vem, me dá um abraço! – Carly falou e abraçou , que soltou uma risada, envolvendo a mais baixa em seus braços. – Você é alta, você é bonita! – Carly comentou quando se soltaram. – Vem, entra! – Ela abriu espaço e eu entrei primeiro, vendo atrás.
- Com licença. – Ela falou e eu sorri.
- Onde posso colocar isso, Carly? – Falei, tentando dar uma relaxada no clima e apontei para a caixa em minhas mãos.
- O que é isso? – Carly comentou, abrindo uma fresta da caixa. – Cupcakes! – Ela falou com felicidade na voz. – Você comprou?
- Não, fez! – Comentei e ela olhou para com os olhos arregalados.
- Você? – Ambas riram quando confirmou com a boca. – Tá com uma cara deliciosa. – Ela pegou a caixa da minha mão. - Vem, vamos levar lá na cozinha. A mãe está lá.
Eu e nos entreolhamos e ela soltou uma risada fraca, dando de ombros. Eu estendi minha mão para ela, que a pegou, e acompanhamos Carly lado a lado. A casa em que minha mãe morava era praticamente simples de entender, você entrava pela porta da frente e dava para uma longa sala, que dava a largura inteira da casa, dando de cara para uma parede com portas de correr e altas janelas de vidro, de onde o quintal com várias pessoas conversando e rindo podia ser visto. Do lado direito, havia uma escada vermelha, que dava para o segundo andar e, embaixo dela, um banheiro de visitas e o quarto de minha mãe. Seguindo pela esquerda, um longo corredor dava para a cozinha. Era a típica cozinha americana, um balcão retangular no meio e, nas laterais, os armários e gavetas. Em uma mesma parede, de costas para a porta, uma geladeira e o fogão e, mais para o lado, uma mesa com seis lugares.
Passei pela porta, segurando para passar, e o cheiro de comida na mesma estava incrível. Uma mistura de pasta com peixe grelhado.
- Olha quem está aqui. – Carly falou, chamando a atenção não só de minha mãe como também de Shanna, que mexia algum creme no balcão.
Senti se enrijecer ao meu lado, quando o olhar de Lisa Evans pairou sobre ela. Tanto eu como Carly e Shanna nos entreolhamos. Isso passou em câmera lenta para mim. Minha mãe se virou do fogão e encarou de cima abaixo, sem nenhuma discrição. Ela passou as mãos no avental colocado em sua cintura, tirou o mesmo e jogou em cima do balcão. Aproximou-se a passos lentos de , que se mantinha estática ao meu lado, uma mão segurando a bolsa e a pequena caixa dourada e a outra segurando fortemente na minha. Pelo modo que ela segurava, parecia que eu poderia segurá-la, caso ela desmaiasse, só segurando sua mão.
- Aí está ela! – Minha mãe falou, fazendo todos do cômodo soltar um suspiro relaxado e fazendo abrir um sorriso.
- Mãe, essa é minha namorada, . – Falei olhando para , que mantinha seu olhar em minha mãe.
- Ela é bonita, filho! – Minha mãe falou para mim, que concordei com a cabeça. – Eu sou Lisa, a mãe dele. – Ela falou e soltou minha mão, se aproximando de minha mãe.
Encarei Carly e Shanna e ambas arregalaram os olhos para mim. Fiz uma careta.
- Oi, tudo bem? – falou e ambas trocaram um beijo até que carinhoso nas bochechas e um rápido abraço.
- Ótima, querida, e você? – Minha mãe falou, mantendo a mão na cintura de .
- Bem, muito bem! – Ambas riram cúmplices.
Eu tinha conseguido?
- Então você é jornalista? – Minha mãe comentou e concordou com a cabeça. – Trabalha com a Megan?
- Trabalho! Acho que namorar seu filho me fez quebrar algumas regras do código de ética. – Minha mãe soltou uma gargalhada e eu interrompi.
- trouxe cupcakes, mãe. – Falei, peguei a caixa na mão de Carly e apoiei no balcão.
- Ah! Sério, querida? – Minha mãe olhou para .
- É. Eu faço, e achei chato chegar de mãos vazias.
- Ah, obrigada! – Minha mãe espiou dentro da caixa e mordeu os lábios. – Devem estar deliciosos.
- Ah... Afinal, feliz aniversário! – comentou, mostrou a caixa dourada e os olhos de minha mãe brilharam. – Espero que goste! – Ambas sorriram.
- Obrigada, querida! – Minha mãe apoiou a pequena caixa no balcão e abriu a mesma, puxando um brinco em formato de gota.
Tinha certeza de que gastara uma graninha neles. Quis matá-la.
– São lindos.
- Que bom que gostou. – sorriu e minha mãe segurou seu braço, delicadamente.
- Querido, por que não vai procurar seu irmão e deixa as meninas a sós, hein?! Vai pegar uma cerveja e falar com a família. Já vamos. – Minha mãe falou e eu arregalei os olhos para , que somente confirmou com a cabeça com um sorriso sereno no rosto.
- A gente se encontra lá. – Ela falou e eu fui empurrado por Shanna até a porta.
- Eu e Carly cuidamos dela. – Shanna sussurrou em meu ouvido antes de eu ouvir a porta se fechar atrás de mim.
Eu, Scott, minha amiga de infância Tara, meu amigo Joshua e meu outro amigo Michael estávamos sentados em uma mesa redonda, encarando a janela de vidro que dava para cozinha, de onde podíamos ver as quatro mulheres da minha vida conversando. O clima parecia bom. ria, ajudava em algumas coisas na cozinha mas, na maior parte do tempo, elas somente conversavam sobre algo que eu não podia ouvir do lado de fora. Eu virava um gole da minha cerveja quase involuntariamente, encarando aquela cena.
- Ela parece ser legal, Chris. – Tara comentou ao meu lado.
- Ela é legal! – Eu e Scott falamos juntos e rimos cúmplices.
- Você deve ter feito uma bela propaganda da , Scott, a mãe nem surtou. – Comentei e bebi outro gole da cerveja.
- Ela trouxe cupcakes e presente. Convenhamos que ela já foi melhor que muita ex sua, hein?! – Joshua comentou e eu pendi a cabeça, confirmando.
- É, isso é verdade! – Comentei e nós cinco suspiramos.
- Eu realmente quero que isso dê certo. – Falei, apontando para a janela onde Shanna dava um meio abraço em e ambas riam. – Eu realmente gosto dela.
- Pensando no futuro? – Tara falou e eu afirmei com a cabeça sem dizer uma palavra, mas com um sorriso gigante em meu rosto. – Mesmo? – Ela gritou ao meu lado e eu ri.
- Sério! – Suspirei, me ajeitando na cadeira. – Ela é especial.
- Bem, já posso colocar alguns prós dela, só dessa conversa com a sua mãe. – Michael falou ao meu lado. – Ela parece estar se divertindo lá e não colada em você, como suas ex faziam. Ela está aguentando bem.
- Muito bem, por sinal! – Scott comentou ao meu lado. – Faz o quê? Meia hora que elas estão lá dentro?
- E ninguém morreu ainda. – Joshua comentou e nós cinco rimos. – E nada pegou fogo.
Pude ver segurar sua bolsa novamente entre suas mãos, segurar uma tigela e sair da cozinha, sendo seguida por minhas irmãs e minha mãe, cada uma com uma tigela na mão. Eu me levantei quase em um pulo, deixando a garrafa de cerveja sobre a mesa, e os outros quatro me seguiram. Pude ver esperar todas as mulheres passarem em sua frente antes de sair para o quintal movimentado. Tirando meus amigos, só parentes estavam lá, entre minha avó por parte de mãe, meu pai, alguns irmãos de minha mãe, meus primos e alguns dos meus sobrinhos correndo pelo quintal enquanto a filha mais nova de Carly estava em um carrinho ao lado de meu pai.
Elas colocaram as tigelas na mesa posta e Carly foi pegar sua filha no carrinho. Minha mãe segurou pela mão e começou a apresentá-la de mesa em mesa enquanto Shanna veio em nossa direção.
- E aí? Qual foi o veredicto? – Perguntei, passando o braço pelos ombros de minha irmã.
- Parece que a mãe gostou dela. Não teve nenhuma atravessada, nenhuma pergunta muito íntima. Ela queria saber mais do trabalho, afinal, acho que já estávamos cansadas de ouvir quais filmes incríveis que a pessoa fez.– Shanna deu uma risada de lado e eu revirei os olhos, rindo junto.
- Deixa o passado no passado. – Falei e ela riu, apertando o braço na lateral do meu corpo.
- Acho que vai vingar, Chris. – Abri um largo sorriso, dois de cinco. – Bem, ela está apresentando-a para todo mundo da família. Normalmente, você faz isso. – Soltei uma risada fraca.
- E você? O que achou dela?
- Eu realmente gostei, irmão. Ela parece ser uma pessoa maravilhosa, e ela realmente gosta de você. – Sim, três de cinco.
- Isso é incrível. – Michael reapareceu ao meu lado com um prato de comida na mão, fazendo com que todos à nossa volta soltassem uma risada.
- Ela falou algo sobre ela ser brasileira? – Perguntei, me virando para Shanna novamente.
- Disse “que interessante!” e perguntou como era o país e o que ela veio fazer aqui. – Suspirei.
- E aí já incluiu um pouco da história de vida dela.
- Sim, um pouco sobre ela, seu trabalho, sua educação e tudo mais. – Concordei com a cabeça e virei para meus amigos. – Quando minha mãe soltar dela, eu a apresento a vocês. – Falei e meus amigos concordaram com a cabeça.
surgiu ao meu lado com um sorriso largo no rosto enquanto eu me servia da comida de minha mãe. Passei minha mão livre por seus ombros, apertando-a contra meu corpo.
- Eu estou viva! – Ela falou em um sussurro COM um sorriso no rosto e eu ri, depositando um beijo em sua testa.
- Como foi? – Perguntei, encarando-a.
- Esperava algo pior, bem pior. – Ela comentou e eu entreguei um prato a ela também, que começou a se servir ao meu lado.
- É porque ela gostou de você, porque podia ser bem pior. - Comentei e ela me empurrou de leve com seu ombro.
- É por essa zoeira que eu te amo. – Ela comentou e eu peguei talheres para nós dois.
- Preparada para conhecer meus amigos?
- Depois que eu passei pela sua mãe, eu acho que estou preparada para salvar o mundo. – Ela comentou e eu ri. – Capitão América tá precisando da minha ajuda? – Ambos rimos e eu segui com ao meu lado de volta para a mesa que eu estava antes, mas agora o marido de Tara havia se juntado a nós.
- Gente! – Chamei a atenção de todos na mesma e olhei para ao meu lado. – Essa é minha namorada, . – Apoiei o prato na mesa e segurei o dela também, já que Tara já havia se levantado e abraçava fortemente .
Ambas riram. A aprovação da minha mãe era importante, mas a de Tara chegava ao mesmo patamar, já que éramos amigos desde crianças. Era uma das pessoas que eu mais conhecia na minha vida.
- Chris falou muito sobre você! – Tara falou e eu franzi a testa, procurando qual parte dessa frase era verdade, e riu. – Então você é jornalista? Parece que temos um casal em lados opostos da mídia agora.
- Acredite, eu prefiro estar do lado de cá. – comentou e eu e ela nos olhamos cúmplices.
- Pode dar espaço para os outros, Tara, por favor? – Michael falou, aparecendo junto de Joshua e do marido de Tara, e todos cumprimentaram com rápidos abraços e cumprimentos de mão.
- Muito bom conhecer todos vocês. – falou após abraçar Scott. – Apesar de que esse eu já conheço. – Ela e Scott se abraçaram de lado e todos riram.
- Ela é ótima! – Scott comentou e me sentei à mesa, com se sentando ao meu lado. – E acho que a história do corpo brasileiro é verdade.
- Até parece! – comentou ao meu lado e eu me segurei para não cuspir a cerveja na mesa com a vontade que me deu de rir. – Vocês precisam conhecer outros brasileiros, eu saio totalmente da reta de ‘gostosona brasileira’. – Ela comentou e a mesa riu.
- Fala isso para suas curvas, madame. – Scott comentou e ambos riram.
- Ok, isso até pode ser, mas não sou a modelo do estereótipo brasileiro. – Ela deu de ombros.
Tara fez uma pergunta sobre como nos conhecemos e as duas começaram a conversar, com alguns comentários feitos por Scott e Michael, perguntas de Joshua e risadas da mesa inteira. Senti meu corpo relaxar e sorri, apertando a mão de sobre a mesa, que virou o rosto e devolveu o sorriso para mim. Eu estava feliz, eu era feliz.
- Obrigada por ter vindo, Robert! – Minha mãe falou do jeito de sempre com seu ex-marido enquanto eu mantinha meus braços passados pelos ombros de , que mantinha a mão passada pela minha cintura, nossos corpos colados.
- Sem problemas, Lisa. – Ele respondeu e veio em nossa direção. – Não a deixe escapar, Chris. – Meu pai falou para mim, eu soltei e o abracei fortemente. – Um imenso prazer te conhecer. – sorriu e acenou para meu pai, que virou em direção a seu carro, junto de outros familiares a seus pés.
- Não some de novo, Evans! – Tara falou saindo de casa e apontando para mim. – , você é das minhas, hein?! Trague-o sempre para Boston. – soltou uma gargalhada para mim e ambas se abraçaram como se fossem velhas amigas.
- Pode deixar que daqui ele não some mais. – falou e piscou para mim.
- Tchau, gente, até mais. – Ela falou, deu a mão para seu marido e ambos foram para o carro também.
- Vocês duas se deram bem. – Comentei para e ela confirmou com a cabeça.
- Parece que sim. – suspirou e me abraçou pela cintura.
- Acho que já vamos também, mãe. – Falei e minha mãe se virou.
- Ah, fique mais um pouco. Sobrou bolo, sorvete, cupcakes! – Minha mãe falou, se aproximando da gente.
- Cupcakes? – Scott apareceu com um mordido na mão e a boca suja de creme branco. – Esse é o último. – Ele comentou e gargalhou ao meu lado, colocando a mão na boca.
- Eu não tenho hora para ir embora. – Ela falou para mim.
- A gente fica então. – Falei e entrei com ao meu lado enquanto minha mãe entrava e fechava a porta atrás de si.
Scott se sentou no sofá e eu me joguei ao lado dele, colocando os pés em cima da mesinha de centro, igual meu irmão mais novo.
- Bem, crianças, eu vou arrumar a cozinha. – Minha mãe falou e eu e Scott confirmamos com a cabeça.
- Deixe-me te ajudar, Lisa. – falou e, com seus pés batendo no chão, ela sumiu no corredor.
- Melhor do que você esperava, hein? – Scott comentou e eu ri.
- Você não tem ideia do quão nervosa a estava. – Ele riu e virou o rosto.
- Nossa mãe pode ser cruel com nossos namorados. – Ele comentou e eu ri.
- Não deixe ela te escutar! – Shanna falou, entrando do quintal, com pratos empilhados nas mãos.
Scott colocou em algum jogo de futebol americano e meus sobrinhos entraram correndo do quintal, com Carly atrás pedindo para eles pararem de correr. Ethan, o mais velho, correu até o sofá e se jogou ao meu lado, encostando seu rosto em meu corpo, e Miles, o mais novo, fez o mesmo ao lado de Scott.
- Tio Chris? – Ethan perguntou, não tirando os olhos da TV.
- Oi, Et. – Falei.
- Essa moça de hoje... Ela é sua nova namorada? – Ri baixo.
- É sim. Você gostou dela?
- Gostei, ela é legal! – Dei um beijo em sua cabeça e sorri.
- Eu também gostei dela. – Miles falou ao lado de Scott.
- Eu também, tio Chris. – Scott falou, tirando sarro, e eu dei um cutucão em sua barriga com o cotovelo. – Ah, essa doeu! – Ele choramingou e meus sobrinhos riram.
- Fechem as janelas! – Minha mãe gritou, aparecendo na sala, e Scott rapidamente se levantou e subiu as escadas.
Eu corri para o quintal, pegando alguns presentes na mesa de fora. Imediatamente, vi o céu preto lá fora, o vento forte chacoalhando as árvores e plantas de minha mãe e pude sentir as gotas fortes de chuva baterem contra meu corpo. Dei de cara com na volta, correndo para a mesma mesa. Joguei os presentes no sofá pequeno da sala e virei o rosto, vendo com o resto dos presentes e andando na ponta dos pés, com os saltos do seu sapato branco cheios de barro. Carly a ajudou com os presentes e eu segurei sua mão, ajudando a entrar em casa. Ela apoiou a mão em meu ombro e tirou os sapatos, finalmente pisando no chão de casa.
- Já era! – Ela comentou, me mostrando os sapatos sujos.
- A gente dá um jeito. – Tirei os sapatos de suas mãos e andei até a lavanderia, colocando-os dentro do tanque.
Vi uma toalha presa no pequeno varal e levei para . Passei a toalha pelas costas dela, que agradeceu, se enrolando na mesma.
- Parece que tem um tornado nos arredores da cidade. – Shanna comentou com o celular na mão e, na mesma hora, as luzes e a televisão apagaram, fazendo com que Ethan e Miles agarrassem em Scott no sofá, com medo.
- Não perguntei meninas. Cadê o namorado? Cadê o marido? – Falei, olhando para ambas, que riram.
- Trabalhando, escala de fim de semana. – Carly falou e eu afirmei com a cabeça.
O marido de Carly e namorado de Shanna eram bombeiros e amigos de infância. Faziam quase tudo juntos.
- Espero que não precisem deles. – Comentei e Shanna confirmou com a cabeça, mas sabia que o pensamento estava longe.
- Vamos nos acalmar, crianças! – Minha mãe falou, aparecendo um pouco encharcada também. – Carly, leve os meninos lá para cima, acalme-os. – Minha irmã concordou com a cabeça e os meninos logo levantaram.
- Eu te ajudo. – Shanna falou, pegou Stella, que dormia no carrinho, e começaram a subir as escadas.
- E Chris, sobe com a , tem roupas no armário. Tomem um banho e se aqueçam. Eu vou fazer o mesmo, depois preparo um lanche para gente. E relaxa, , a gente vai dar um jeito no seu sapato. – soltou uma risada e segurei sua mão. – Ah, e Chris, os filhotes nasceram e eu os coloquei no seu quarto, ok?!
- Por que ninguém me disse isso? – Falei e puxei escada acima.
No segundo andar, havia quatro portas. Isso depois de uma pequena reforma que minha mãe havia feito, pois antes existiam somente três e não tinha o quarto do andar de baixo. Eu e Scott dividíamos um quarto e Carly e Shanna dividiam o outro. Após a reforma, os quartos das pontas do corredor eram meus e de Scott e os do meio eram de Carly e Shanna.
- Filhotes? – perguntou e eu virei para a esquerda, abrindo a porta do meu quarto.
Meu quarto, e de todos na casa, eram brancos. Todos os móveis brancos, mas o que diferenciava cada um deles eram os pôsteres na parede. o meu continha alguns pôsteres de filmes clássicos que eu gostava, algumas fotos minhas e de meus amigos coladas na parede e o que havia sido recém-colocado era a cama de casal, no lugar do beliche que ocupava o quarto. A colcha azul diferenciava meu quarto do Scott que era verde, lilás de Shanna e rosa de Carly.
- Esse é seu quarto? – perguntou, dando uma olhada ao redor, mantendo a toalha presa em suas costas.
- É. Teve algumas mudanças, mas foi aqui que eu cresci. – Comentei e olhei no canto do quarto, encontrando um cercadinho de uns 50x50 centímetros, onde pequenas criaturinhas dormiam.
- Oh, buldogues! – comentou com os olhos brilhando e se aproximou do cercadinho, ajoelhando no chão. – São seus?
- Na verdade, é uma longa história. – Falei e me agachei ao seu lado. – Eu tinha um cachorro...
- East. – Ela comentou, me olhando.
- É! Ele faleceu em maio desse ano, de velhice mesmo. – Respirei fundo. – Mas ele era meu companheiro. E ele teve filhotes e tudo mais. – Vi um filhote bocejar e sorri, lembrando do meu East. – E os filhotes ficaram na família, entre minha mãe, minha irmã. Eu não fiquei com um porque ainda dói um pouco, sabe? – Suspirei e segurou minha mão em meu colo. – E aí um dos filhotes do East cruzou com um buldogue inglês e nasceram esses cinco filhotes. – acariciou um com a mão, que rolou por cima dos irmãos, gostando do carinho. – A gente está vendo o que fazer com eles ainda.
- Cruzamento de buldogue americano com inglês, é?! – riu. – Sempre quis ter um buldogue inglês.
- Você realmente gosta de cachorros? - Perguntei.
- Você não tem nem ideia! - Ela soltou uma risada.
- Você tem cachorros no Brasil? – Ela riu e fez bico.
- Não. Eu sempre quis, mas eu era pequena e depois fui para faculdade. Uma coisa leva à outra e minha mãe nunca quis cuidar, aí com o tempo eu desisti de ter, e em Boston eu mal ficava em casa, então... – Ela terminou e soltou uma risada fraca.
- Meio sem chances de ter um. – Finalizei a frase e ela sorriu. – Entendo, esse sou eu em Los Angeles.
- Posso tomar um banho? Estou realmente com frio. – Soltei uma risada e me levantei, puxando ela pelas mãos para se levantar também.
- Claro, eu vou separar uma troca de roupa para você e ligar o aquecedor aqui, está bem?! – Ela me encarou e abriu um sorriso fofo de lado. – Apesar de que estou gostando desse look molhado. – Apoiei uma mão de cada lado de seu rosto e a vi fechar os olhos no momento em que toquei nossos lábios.
Fiz o mesmo. Ela passou os braços pela minha cintura, fazendo um carinho gostoso em minhas costas. Desci uma mão para sua nuca e ouvi seu suspiro. Dei uma mordida leve em seu lábio inferior e escorreguei a mão pelas suas costas, sentindo sua perna se mexer entre as minhas. Ela afastou seu rosto, espalmou as mãos em meu peitoral e eu soltei a respiração forte, vendo-a a poucos centímetros de mim.
- Não me excite, Evans. – Ela suspirou. - Não na casa da sua mãe. - Ela falou brava e eu soltei uma risada, a vendo abrir a porta do quarto e parar na mesma. – Leve as roupas para mim, por favor. – E bateu a porta atrás de si.
havia voltado para o quarto com uma boxer estampada minha no que seria o short e uma blusa de manga comprida que eu não usava há anos, mas que ainda fazia com que ficasse larga nas laterais e que chegassem quase à altura do joelho, os cabelos presos na toalha e o rosto sem maquiagem.
Eu já havia ligado o aquecedor e me levantei para tomar meu banho enquanto ela ficou dentro do quarto. Tomei meu banho rapidamente, porque havia uma fila de três sobrinhos e três irmãos para tomar banho no único banheiro no andar, já que ninguém queria tomar banho no de minha mãe. Coloquei uma calça de moletom aos gritos de Scott na porta para que eu saísse logo, e joguei a toalha nas costas, indo colocar a blusa no quarto.
- Filho! – Minha mãe falou antes que eu colocasse a mão na maçaneta, também já havia tomado banho e trocado de roupa. – Vem cá um minuto.
Segurei a mão de minha mãe e segui até ela pelas escadas até que estivéssemos no andar de baixo. Pude ouvir um trovão alto estourar lá fora.
- Aconteceu algo? – Perguntei, encostando as costas no corrimão da escada.
- Eu só quero dizer que estou muito feliz, filho. – Ela segurou minhas mãos. – Não a deixe escapar! – Abri um sorriso largo e passei meus braços pelas suas costas, abraçando-a.
- Mesmo?
- Querido, só pelo fato dela ter conversado com todo mundo, só com isso ela já teria me ganho. Ela conversou comigo, suas irmãs, seu irmão, seus amigos, seu pai, seus primos... Ela falou até com sua avó. – Minha mãe soltou uma risada fraca. – Eu não tenho dúvidas de que ela vai fazer de tudo para te fazer feliz, querido. – Ela suspirou. – E isso me deixa feliz. Uma mãe só quer ver o filho feliz.
- Eu sou feliz, mãe, eu estou feliz. – Suspirei. – Desde o momento em que eu a conheci, acho que eu sabia que ela ia mudar minha vida. E ela está mudando. – Minha mãe segurou meu rosto e deu um beijo em minha bochecha.
- Faça as coisas devagar então. Respeite-a, como eu te ensinei, que ela vai ser sua para sempre. – Afirmei com a cabeça, com um sorriso gigante no rosto.
- Eu estou surpreso por você ter gostado dela, se quer saber. – Minha mãe gargalhou.
- Acho que uma mãe sabe quando o filho encontrou o amor da sua vida. – Depositei um beijo na cabeça da minha mãe e ela sorriu. – Agora vai lá com ela, vou ver se Carly precisa de ajuda com a Stella. – Afirmei com a cabeça e subi a passos rápidos escada acima.
Encontrei Shanna no corredor e baguncei seus cabelos, a vendo rir e franzir a testa ao mesmo tempo.
- O que foi? – Ela perguntou, seguindo para seu quarto.
- Senhora Evans acabou de aprovar meu relacionamento! – Shanna abriu a boca, surpresa.
- Brincou, né?!
- Não! – Falei e ela riu.
- Isso é demais, Chris. – Ela falou e me abraçou rapidamente. – Ela é uma ótima pessoa, mesmo. – Ela empurrou a porta do seu quarto. – Cuide bem dela. – Afirmei com a cabeça, virei o rosto para a porta do quarto e girei a maçaneta.
Coloquei minha camiseta e senti o ar quente do quarto bater contra meu corpo. Flavia estava sentada no carpete, do mesmo jeito que eu a havia visto voltar do banho. Um dos filhotes estava a seus pés. Ela fazia carinho em suas costas, vendo o pequeno animal se mexer de vez em quando e bocejar, querendo mais carinho. Eu me aproximei dela e a vi erguer o rosto para mim, com um sorriso. Aproximei meu rosto do dela e colei nossos lábios por poucos segundos, sentindo-a acariciar meu rosto com a ponta dos dedos.
- Minha mãe gostou de você. – Falei com os lábios colados e ela os separou imediatamente, afastando meu rosto com a mão.
Tinha um sorriso largo em seus lábios e seus olhos brilharam.
– É sério! – Passei minha mão pelas suas costas e um de seus braços veio para meu pescoço, apertando seu corpo desajeitadamente contra o meu.
Um som fino veio dos nossos pés, o pequeno filhote gordinho se mexia lentamente pelo carpete e raspava os pés de com sua pequena unha. soltou uma risada e o pegou em suas mãos, o colocando próximo a seu peito. Com uma mão, ela o segurava e, com a outra, ela fazia carinho.
- Ela é sapeca. – comentou. – A única fêmea em todos os machos e ela é a mais sapeca. – Soltei uma risada, passando a mão no pelo macio e cheio de dobrinhas do filhote.
- Ela gostou de você. – Comentei e riu. – Por que você não fica com ela? – virou o rosto para mim.
- Pelo mesmo motivo de mais cedo. – Ela riu. – Eu fico o dia inteiro fora de casa. – Ela suspirou. – Mas ela é linda.
- A gente pode fazer isso juntos. – Comentei e ela se virou, olhando para mim.
- Você sabe que é um grande comprometimento, não? – Ela suspirou e colocou o filhote sonolento no cercadinho de novo. – Maior que um relacionamento.
- Eu sei! – Sorri. – A gente pode começar por isso e ver o que vai dar.
- Eu não tenho tempo, Chris. – Ela suspirou e eu me levantei do chão, dando as mãos para ela fazer o mesmo, fazendo a toalha cair de sua cabeça.
- A gente divide isso. – Ela passou as mãos nos cabelos bagunçados e molhados.
- Como, se você mora em Los Angeles? – Sorri e sentei na minha cama.
- Só quando é filhote que você não pode deixar muito tempo sozinho, e ela está mamando, então não vai poder sair daqui pelo próximo mês, pelo menos. – suspirou, pendurando a toalha em uma cadeira. – Quando crescer, você pode deixar sozinha com água e comida. Eu te ajudo. Alguns dias, eu levo para Los Angeles, alguns dias, a gente fica aqui. A gente faz dar certo. – suspirou e se sentou ao meu lado.
- Eu nunca cuidei de um cachorro antes. – Ela comentou e eu ri.
- Então isso é medo.
- É, um pouco, confesso.
- Eu te ajudo. – Ergui a mão e toquei seus cabelos molhados, jogando-o para trás.
- Você tem certeza disso? – Ela perguntou e eu concordei com a cabeça.
- Tenho, ! – Ela suspirou.
- Então a gente faz isso. – Um sorriso largo abriu em seu rosto após ela falar.
- A gente só precisa de um nome agora. – Comentei.
Ela riu, fazendo uma careta, e deitou em minha cama. Aquilo pareceu tão certo...
- East significava Leste mas, por favor, nada de Norte, Sul e Oeste. – Ela comentou e eu ri. - Leslie! – disse em um pulo, se sentando na cama novamente. – O que você acha?
- Leslie? – Pensei por um segundo. – Estranho, mas pode ser. – abriu um sorriso, se deitou novamente na cama e eu fiz o mesmo, passando meu braço pela sua cintura.
- Hoje foi divertido. – Ela comentou. – Tirando a parte do tornado. – Ri fracamente. – Nesses quase dois anos que eu estou aqui em Boston, eu nunca vi neve e nunca vi um tornado ou qualquer tipo de acontecimento natural. – Ela riu e colocou a cabeça em meu peito, ficando de lado na cama.
Uma batida fraca na porta e ela sendo aberta fez com que eu e erguêssemos a cabeça para ver Scott.
- Vem comer! – Ele comentou, se levantou e eu fiz o mesmo.
Assim que passamos da porta, começou a gargalhar.
- Eu sei, Scott. Estou bem fashion! – Nós três gargalhamos e vi Carly e Shanna aparecerem pelas portas dos quartos também.
- Os garotos dormiram. – Carly comentou e ela e Shanna foram à frente nas escadas, Scott logo atrás, escorregando pelo corrimão como fazia sempre.
- Obrigada! – falou ao meu lado e eu olhei para ela, franzindo a testa. - Por me apresentar a eles. – Ela segurou minha mão, entrelaçando nossos dedos. – Eles são demais!
- Considere-os sua segunda família. – Comentei e ela depositou um beijo rápido em minha bochecha antes de começar a descer as escadas, já que minha mãe chamava todos enquanto batia as mãos, nos apressando.
- Todos meus filhos juntos aqui, vamos aproveitar esse momento! – Ela comentou e segurou a mão de , a guiando até à mesa. – Venha, querida, você é nossa convidada de honra! – Ela comentou e sorriu, abraçando a mais baixa de lado, o que me fez rir por causa da diferença de altura.
Olhei aquela cena por um momento. havia sentado na cadeira entre Scott e minha mãe. Ambos se empurraram com os ombros e eu ri. Em poucos segundos, as bandejas de pães e bolos, jarras de leite, suco e café começaram a ser passadas e fazia tudo no automático. Já que seu olhar se focou no meu por um tempo, um sorriso largo se formou em meus lábios, involuntariamente. Descendo o resto das escadas e, ocupando o lugar em frente a e ao lado de minha mãe e de Shanna, recebi um pedaço de pão no rosto, de Scott, soltando uma risada.
Capítulo 07
Vou me adaptar ao seu jeito
Seus costumes, seus defeitos
Seus ciúmes, suas caras
Pra quê mudá-las?
Não precisa mudar
Vou saber fazer o seu jogo
Saber tudo do seu gosto
Sem deixar nenhuma mágoa
Sem cobrar nada
Se eu sei que no final fica tudo bem
A gente se ajeita numa cama pequena
Te faço um poema e te cubro de amor
Ivete Sangalo e Saulo Fernandes, Não Precisa Mudar
- Relaxa, Evans! – Falei pela milésima vez, ouvindo-o bufar do outro lado da linha enquanto Denise mexia em meus cabelos e passava creme.
- Que horas você chega?
- Ah, sei lá, meu voo acho que é o último da noite. Devo chegar aí quase meia-noite.
- Tem como você ver isso para mim?
- Tenho, mas estou aqui no Rupert, só Deus sabe que horas chego em casa e de lá é correr pro aeroporto. – Falei e tirei o telefone da orelha, ouvindo sua voz mais baixa do outro lado da linha. – Ah, que inferno. Qualquer coisa, eu te espero na varanda, já que você tem tanta coisa para fazer. – Falei, respirando fundo, e desliguei o celular.
- Brigando de novo? – Denise comentou.
- Ah, são sempre assuntos tontos e idiotas. Eu sou esquentada, o deixo esquentado, dá nisso. – Suspirei, vendo o celular vibrar na minha mão de novo, e rejeitei a ligação. – Só vou atender quando ele estiver mais calmo. – Suspirei.
- Há quanto tempo que vocês estão juntos?
- Agora no fim de novembro dá quatro meses, Dê! – Suspirei e abri um sorriso enquanto ela riu.
- Viu?! – Ela amarrou meu cabelo em uma toca e me deixou sentar na cadeira. – Vocês brigam, mas ele te faz bem. Você está muito feliz, ! – Abri um sorriso para ela e passei a ponta da toalha em minha orelha. – Agora para de ser orgulhosa e atende ele. Você tem que ficar com o creme no cabelo por pelo menos meia hora. – Sorri para ela, que desceu as escadas do ateliê de Rupert, e suspirei.
Peguei meu celular e o senti vibrando em minha mão, vendo uma foto minha e de Chris aparecer. Respirei fundo e me sentei no sofá mais próximo, deslizando o botão verde. Assim que coloquei o celular no ouvido, pude ouvir um suspiro longo pelo bocal. Meu corpo produziu o mesmo som.
- Vamos parar com isso. – Ele falou e eu soltei a respiração forte pelo nariz.
- A gente precisa. – Falei e passei a mão na testa. – É ridículo. – Soltei uma risada fraca e ele riu do outro lado da linha.
- Só um pouco. – Ele comentou e eu encostei a cabeça no sofá, somente ouvindo a voz dele pelo telefone.
- Meu voo é à noite, por volta da meia-noite. – Falei, ouvindo minha barriga roncar.
- Você está no Rupert? – Ele perguntou.
- Denise, na verdade. Ela está dando um jeito no meu cabelo. – Comentei e passei a mão na ponta da toalha. – Preciso estar bonita para visitar meu namorado, certo?! – Ele deu uma risada do outro lado da linha. – Se você tiver um compromisso ou alguma coisa, você pode ir, só pede pro Larry ou pro Jordan abrir para mim. Eu me viro, você sabe. – Ele suspirou do outro lado da linha.
- É, mas a gente não se vê há mais de um mês. Vou ver o que faço. – Ele falou e eu confirmei com a boca.
- Não se preocupe comigo. – Suspirei. – Vai se divertir. – Ele afirmou com a boca, sem falar mais nada. – Você sabe que, se sair alguma foto de você ao menos olhando para alguém, você tá ferrado. – Ele soltou uma gargalhada.
- Com isso você não precisa se preocupar. – Ouvi um grito próximo de onde ele estava.
- Onde você está?
- No LAX, acho que Megan se esqueceu de mandar alguém me buscar. – Soltei uma risada.
- Coitado. – Comentei e ele riu. – Vou checar isso para você e te mando mensagem.
- Ok. Obrigado, ! – Ele falou e eu ri.
- Você deve estar bem sexy parado no meio do aeroporto, cheio de malas, com o telefone na orelha e essa barba maravilhosa. – Suspirei.
- Você gostou? – Ele perguntou, meio assustado.
- Ah, Deus, sim! – Ele gargalhou do outro lado da linha. – Honestamente, eu tenho um orgasmo toda vez que eu olho para uma foto sua de barba. – Mordi meu lábio inferior.
- Você precisa vir logo para cá!
- Relaxa aí, Evans! – Falei, brincando com seu nervosismo. – Você disse que ia sair à noite, não?
- Estou repensando. – Soltei uma gargalhada e vi Denise aparecer nas escadas novamente.
- Te vejo mais tarde, Chris. Tenho que terminar aqui e ir logo para o aeroporto. – Ele fez um muxoxo com a boca e eu sorri.
- Eu te amo, .
- Nunca vou esquecer. – Comentei. – Te amo também, irritadinho!
- Tá! – Ele comentou e ficou em silêncio.
- Câmbio e desligo. – Falei e desliguei o celular.
- De volta aos trilhos? – Denise perguntou.
- A gente nunca realmente sai dos trilhos, nossa montanha-russa é calma. – Dei de ombros e ela riu.
- Vou fazer uma maquiagem em você, ok?!
- Não precisa, Dê! – Falei rindo.
- Você não o vê faz tempo, prepare uma surpresinha para ele. – Soltei uma risada.
- Uma espinha no meio da testa é uma delas. – Falei, passando a mão no ponto levemente alto em meu rosto.
- Escondo isso facilmente. – Ela pegou a maleta de maquiagens e a colocou ao lado da cadeira em que eu estava antes. – Vamos tirar isso do cabelo e te deixar estonteante.
- Desculpa, Dê, mas isso eu já sou! – Comentei e ambas gargalhamos.
- Você é, , você é!
Dei uma ajeitada na minha roupa antes de passar pelos portões cinza, fechando melhor meu sobretudo preto e ajeitando o cachecol em meu pescoço. Arrumei minha bolsa em cima da minha pequena mala de puxar e entrei. Agradeci a Jordan pelo interfone e fechei o primeiro portão. Assim que passei pelo segundo portão, vi uma pessoa com a roupa muito parecida com a minha sendo iluminada pela pouca luz acima da porta de entrada.
Suas mãos estavam colocadas dentro do casaco pesado e um largo sorriso apareceu quando eu o encarei com meus olhos. Soltei minha bolsa no chão, tirei a mochila das costas e a deixei cair no chão. Fiz o caminho a passos rápidos e passei meus braços pelo seu pescoço, sentindo suas mãos imediatamente irem para as minhas coxas, me erguendo. Eu passei as pernas pela sua cintura, sentindo nossos cachecóis impedirem que nos encostássemos.
- Não foi à festa? – Falei, sentindo seus lábios se chocarem nos meus diversas vezes.
Ele soltou uma risada fraca.
- Na verdade, não. E mesmo se tivesse ido, já passam das três da manhã. O que houve? Estava ficando preocupado. Te ligava e ninguém atendia.
- Ah! - Suspirei, apertando mais meus braços em seu pescoço. – O voo atrasou, aí depois a tripulação estava chegando em outro voo. Nossa! - Suspirei e soltei minhas pernas de sua cintura, colocando os pés no chão. - Aí não tinha táxi às 2 e pouco da madrugada. Como não tem táxi no aeroporto de Los Angeles? - Ele deu uma risada fraca.
- Nós dois com problemas em aeroportos hoje. - Soltei uma risada fraca.
- Nem fala. - Suspirei e ergui minhas mãos para tocar suas bochechas, onde uma grossa camada de pelos cobria as mesmas. - Eu gostei! - Falei e aproximei meus lábios nos dele, sentindo os pelos colarem no meu rosto.
Soltei um suspiro fraco e abaixei minhas mãos até que ambas estivessem em seu pescoço. Sua mão passeava pelas minhas costas, procurando alguma brecha para colocar a mão embaixo do pesado sobretudo. Senti uma leve mordida em meu lábio inferior e afastei nossos rostos levemente.
- Prefiro ficar assim dentro do seu quarto, com o aquecedor ligado, depois de um banho quente. - Cochichei e ele riu.
- Já deixei tudo pronto para você! - Ele falou e um largo sorriso apareceu em meu rosto.
Ele pegou minha mochila no chão e eu peguei minha bolsa, me colocando ao seu lado. Empurrou a porta de casa, me deixando passar, e imediatamente o ar quente do aquecedor fez com que eu colocasse minha bolsa no balcão da cozinha. Comecei a tirar meu cachecol azul, as luvas e o sobretudo de couro sintético, o jogando em cima da bolsa. Um latido fino fez com que eu me alertasse, vendo o ainda pequeno buldogue branco e cor de mel correr meio desajeitado em minha direção.
- Leslie! – Gritei, me abaixando até ela e a vendo pular em minhas pernas. – Sua linda! – Passei minhas mãos em seu pelo, acariciando suas dobrinhas. – Se comportou? – Chris riu ao meu lado e eu a peguei em meu colo, a vendo se acomodar em meus braços.
- Tenho que perguntar isso quando ela fica contigo, ok?! – Ele falou e deu um beijo em minha bochecha. – Vem! Até seu rosto tá gelado.
Eu o acompanhei até seu quarto e coloquei a pequena bolinha de pelos em um almofadão gigante para ela, que estava aos pés de uma cadeira no quarto de Chris. Ela deu um latido fino, mas logo se aquietou, se deitando no local macio. Chris estava na porta do banheiro e eu o segui, apertando minha mão. Dentro do banheiro, sua larga banheira estava cheia e espuma podia ser vista por cima da água, como também era notável um divino cheiro de lavanda no ar.
- Espuma e sais de banho? – Comentei e ele abriu um sorriso de lado, confirmando com a cabeça. – Acho que mereço isso!
- Também acho. – Ele falou em meu ouvido, passou a mão em minha cintura, caminhando até o centro do banheiro, e fechou a porta em um chute baixo.
Os vidros e espelhos do banheiro estavam embaçados e o lugar estava meio esfumaçado. Suas mãos começaram a tocar as laterais do meu corpo e, como sempre, eu havia esquecido como se respirava. Sua respiração estava em meu pescoço, próxima a minha orelha. Minha blusa ia enrolando para cima até que parou abaixo de meus seios. Ele deslizou a mão para minha barriga até que meu olhar escureceu, com ele à minha frente. Uma mão subiu para o meu queixo e ergueu meu rosto, fazendo com que meus olhos castanhos focassem os seus, azuis.
Suas mãos abaixaram novamente e seguraram a barra da minha blusa de manga comprida, puxando a mesma para cima, fazendo com que meus cabelos caíssem desajeitados em meus ombros e minhas costas. Minha mão subiu para seu cachecol e o puxei, fazendo com que ele caísse no chão silenciosamente. Chris soltou uma risada fraca e eu suspirei, colocando as mãos em seus ombros por dentro do casaco e empurrando o mesmo para trás até que ele se juntasse ao cachecol no chão.
Aquele momento literalmente não precisava de palavras. A saudade não podia ser descrita, ela tinha que ser vivida, sentida. As roupas foram jogadas no chão uma a uma, primeiro eu e, depois, ele. Seu braço foi para trás de minhas costas e o outro para minhas pernas, até que meu corpo nu estava em seus braços, sendo colocado delicadamente na água quente, onde imediatamente relaxei.
Chris puxou sua cueca clara para baixo e entrou na banheira, se acomodando atrás de mim, fazendo com que eu me encostasse em seu peitoral. Apoiei minhas mãos em suas coxas e suspirei, sentindo meu corpo encaixar no lugar aonde ele pertencia. Suas mãos passeavam pela minha barriga, fazendo com que eu a contraísse diversas vezes.
Deus! Aquela sensação era boa. Não tinha aquela vontade de sexo no ar, nenhum estava tentando excitar o outro, estávamos quietos. Sua mão passeava calmamente pela minha barriga, e eu me forçava para não encostar em nada, tirando minhas mãos, que estavam espalmadas em suas coxas.
- Sem querer estragar esse momento, mas já estragando... - Ele riu. - Isso está uma delícia, mas eu estou com sono. - Comentei, o ouvindo gargalhar próximo a meu ouvido.
- Vamos dormir então! Temos até o fim de semana para aproveitar. - Ele falou e estalou os lábios em minha bochecha.
Eu me espreguicei na cama e abri os olhos, vendo os poucos raios de sol passar pela cortina fechada. Passei a mão na minha lateral, sentindo o espaço vazio, e suspirei. Joguei minhas pernas para o lado e abaixei a camiseta escura de Chris em meu corpo. Passei rapidamente no banheiro, sentindo o cômodo frio e fiz uma careta ao ligar a água, que demorou para esquentar. Escovei rapidamente os dentes e, na volta para o quarto, puxei uma calça de moletom da minha mochila e a vesti, abrindo a porta do quarto e sentindo o ar quente se misturar com o frio.
Cheguei na cozinha, posso jurar que todos os armários estavam abertos e a surpresa era que não tinha nada neles. Chris passava por todos os armários, incluindo a geladeira, com um bloco de anotações e uma caneta, e fazia uma lista.
- Acho que se você colocar 'tudo', é mais fácil de lembrar. - Falei e passei pela geladeira, encontrando uma embalagem com um dedo de suco de laranja.
- Eu realmente preciso fazer compras. - Peguei um copo no armário e despejei o pouco de suco que restava.
- Isso está pior que a minha casa, e olha que eu almoço fora todo dia. - Virei o copo de suco inteiro para dentro e suspirei. - Não tem alguém que faça compras para você? - Perguntei e franzi a testa.
- Me senti ofendido agora. - Soltei uma risada fraca. - Eu posso fazer minhas próprias compras.
- É, só não com muita frequência. - Comentei e ele riu.
- Eu estive ocupado ultimamente! - Ele bateu uma porta do armário.
- Coçando? - Ele deu de ombros e eu ri.
- Engraçadinha! - Ele bateu mais algumas portas. - O que acha de sairmos para almoçar? Porque já são quase meio-dia. E depois a gente passa no mercado.
- Sou visita, amor, você decide. - Andei pela sala, vendo Leslie erguer a cabeça de sua almofada e começar a me seguir.
- Visita? Tá! – Eu me agachei e acariciei o pelo mesclado de Leslie, que soltava finos latidos. - Ok, eu vou me arrumar e a gente sai em trinta minutos, combinado? - Ele perguntou, passando por mim.
- Fico pronta em dez. - Passei por ele, estalando um beijo em sua bochecha, e caminhei até seu quarto, com Leslie desfilando em meu encalço.
- Ela gosta mais de você do que de mim. - Ele comentou, andando atrás de mim, brincando com Leslie entre seus pés.
- Mulheres têm que permanecer juntas. - Entrei em seu quarto, já puxando minha mochila da poltrona, e a apoiei na cama.
Ouvi uns latidos da pequena Leslie enquanto ela tentava subir na poltrona alta. Chris a pegou e a colocou rapidamente lá, fazendo ela parar. Ele tirou sua calça de moletom rapidamente e vestiu uma calça jeans escura, colocou uma camiseta branca e uma camisa social azul clara por cima, fechando somente os botões de baixo. Um par de botas escuras estava em seu pé, enquanto eu ainda puxava a blusa de Chris que eu havia usado à noite para cima e a jogava na cama. Vesti uma calça jeans e uma blusa de manga comprida verde escura, colada ao corpo. Calcei as botas do dia anterior e passei no banheiro para dar um jeito na minha cara de sono, passando lápis no olho e um batom claro nos lábios.
Quando voltei do banheiro, Chris estava com seus óculos de sol no rosto e colocava sua carteira no bolso de trás da calça. Abri minha bolsa e puxei minha carteira, pegando meu cartão e colocando no bolso da calça, fazendo o mesmo com o celular, mas o colocando no outro bolso. Soltei meu cabelo bagunçado e chacoalhei o mesmo, torcendo para que ele tivesse ficado melhor.
- Vamos deixá-la aqui? – Perguntei, virando o rosto para Leslie.
- Larry e Jordan estão aqui, eles ficam de olho. - Afirmei com a cabeça e ele me deu sua mão, caminhando até o quintal, onde entramos em seu Lexus.
Bati a porta, ouvindo um baque alto demais.
- Desculpa. - Falei, sabendo seu amor por aquele carro, tanto que ele já tinha trocado três vezes pelo mesmo modelo.
- Relaxa! - Sorri. - Onde quer comer?
- Estou em dúvida entre comida mexicana e comida americana. - Falei e ele soltou uma risada.
- Tem um lugar que eu vou sempre de comida mexicana, caso queira conhecer. - Ponderei.
- Eu sei que você já levou outras namoradas lá, mas minha fome não está se importando com isso. - Ele gargalhou e engatou a ré no carro, apertando o botão no controle do portão.
- Tacos, então. - Puxei o cinto de segurança e senti o carro dar ré.
Chris gargalhava, sentado em minha frente, quando quase todo o recheio do meu taco caiu de minha mão para o prato e eu tive que pegar os garfos para finalizar meu almoço. Ele já havia terminado fazia algum tempo e ria do meu desentendimento com comida mexicana. Não era que eu nunca havia comido, era só que eu queria colocar mais comida do que cabia na minha boca e... Bem, isso não dava certo!
Soltei os pedaços que sobraram do taco em minha mão e as limpei no guardanapo, pegando o garfo em seguida. Chris ainda me encarava, os braços cruzados em cima do peito, um sorriso zoado no rosto e as costas encostadas completamente na cadeira. Equilibrei a casca do taco e a coloquei na boca, dando um sorriso cínico para Chris.
- Não sei por qual motivo você tá me olhando assim. Eu ainda quero sobremesa. - Dei de ombros e comecei a caçar a guacamole, sour cream e afins no meu prato.
- O que você quer? - Ele desencostou da cadeira e apoiou os ombros na mesa.
- Churros, é claro.
- Com chocolate? - Fiz uma careta.
- O melhor é com doce de leite mas vocês, meros mortais, não sabem o gosto desse doce delicioso. - Dei um sorriso irônico e podia jurar que, se estivéssemos sozinhos, ele mostraria o dedo do meio para mim.
- O que é esse doce de leite? - Soltei uma risada e coloquei o garfo vazio na boca. - Segredo de estado?
- É que, assim... Os doces ditos 'clássicos' brasileiros são simples de fazer e vocês nem ao menos conhecem. - Apoiei o garfo no prato. - Doce de leite nada mais é do que leite condensado cozido. - Suspirei. - Você coloca na panela de pressão e voilá.
- Tá que é fácil assim!
- Te juro. - Encarei profundamente seus olhos azuis. - E você pode comer com... Bem, qualquer coisa. Adoro com queijo ou banana, ou na pizza, ou... Com churros. - Abri um sorriso e ele esticou o dedo, chamando a garçonete. – E dá para misturar várias coisas, como coco ralado, ou amendoim, ou frutas secas, sei lá.
- Uma porção de churros, por favor. - Abri um largo sorriso, a moça anotou e se afastou. - Você vai ter que fazer para mim. - Ele falou com um sorriso no rosto.
- Você tem uma panela de pressão por acaso? - Ele fechou o sorriso na hora. - Foi o que eu pensei.
- Iremos comprar uma então. - Revirei os olhos e o ouvi rir.
- Ok. - Desapoiei os braços da mesa, vendo a garçonete retirar meu prato e outra colocar uma porção com doze churros em nossa frente e um copo cheio de chocolate derretido.
Peguei o primeiro, molhei no chocolate e coloquei na boca.
- Não tenho nem humor para fazer compras agora. - Ele comentou, colocando um churros em sua boca.
- Eu tenho! - Abri um sorriso e coloquei outro churros na boca.
- Isso é maldade! - Chris comentou após bater a porta de seu carro enquanto eu ajeitava a barra da minha blusa, puxando e cobrindo minhas mãos.
- Da próxima vez, vê se não deixa acabar toda a comida da sua casa. Quem sabe isso não seja necessário. - Ele soltou uma risada e segurou minha mão, entrelaçando nossos dedos, então encostei minha mão livre em seu antebraço.
- Não quer fazer isso para mim?! – Ele questionou, andando em direção às portas do mercado.
- Por que homem odeia fazer compras? – Eu o vi esticar a mão livre para a fila de carrinhos e pegar um, fazendo com que eu soltasse sua mão para ele empurrar o mesmo, mas me mantive ao seu lado.
- É coisa do gênero, sabia? Ou sei lá! – Soltei uma gargalhada, sentindo o ar quente de supermercado bater contra meu corpo, me fazendo soltar as mãos de meus braços.
- Agora o ‘gênero’ – Fiz aspas com as mãos. – tem a ver com comida? – Revirei os olhos. – Ha, ha, ha! Larga de preguiça! – Ele suspirou, apoiando os braços no carrinho e se debruçando sobre o mesmo, empurrando enquanto eu andava na frente. – Você precisa de tudo, certo? Então eu pego e você paga! – Ele gargalhou.
- Sem problemas!
A primeira coisa que foi colocada no carrinho foi uma panela de pressão. Honestamente, eu só havia mexido em uma daquelas quando minha mãe estava por perto. Tinha um pequeno medo daquela coisa explodir, mas qualquer coisa eu arranjava um escudo e a gente se virava.
Algo que eu descobri com Chris no mercado: ele falava que odiava fazer compras, mas ele amava umas guloseimas, algumas besteiras e, claro, cerveja. Ele pegava aqueles sacos de balas de gelatina e lotava o carrinho. Tirando as barras de chocolate, os sorvetes e sei lá mais o quê, se eu já achava difícil ficar com o corpo pelo menos saudável, imaginava ele, que tinha que ficar totalmente em forma. Com o perdão do palavreado, mas porra! Parecia que com homens era tão mais fácil...
- Leite condensado! – Falei, dando um pulo ao ver as diversas marcas, pegando duas latas, conferindo se não estava amassada, e coloquei em cima de tudo no carrinho, que já cobria o topo. – Mais alguma coisa? Mais algum doce? Glicose no sangue? Algo assim? – Chris mordeu minha bochecha e parou no caixa, começando a colocar tudo na esteira.
Eu tomei seu lugar atrás do carrinho e me debrucei sobre o mesmo.
- Eu acho que você está zoando com a minha cara.
- Ah! – Fiz uma voz fofa. – Ainda bem que você só acha. – Pressionei meus lábios em sua bochecha e passei atrás dele, apertando as mãos na lateral de sua barriga, sentindo ele se contorcer.
- Daqui para onde? – Ele perguntou enquanto eu abria as sacolas de papel, começando a ensacar as coisas.
- Sua casa? Agora que temos comida, posso pensar em uma janta, vinho, eu e você, aquela fogueira que você tem no quintal... Quem sabe? – Falei em um tom de voz baixo enquanto ele entregava o cartão de crédito para a atendente e Chris somente confirmou com a cabeça.
- Você e suas comidas deliciosas? - Ele perguntou.
- Exatamente. - Coloquei a última sacola dentro do carrinho e ele guardou sua carteira no bolso.
- O que você tem em mente? - Ele colocou as mãos no carrinho e foi empurrando para fora do mercado.
- Você já comeu a tradicional comida brasileira? - Perguntei, pegando um pacote de bolachas na sacola mais próxima e abri o mesmo, mordiscando a primeira.
- Só o que você fez e, claro, churrasco. Por quê? - Ele perguntou e apontou para a bolacha, abrindo a boca.
- Porque tem uma comida brasileira que, assim, é a coisa mais fácil de fazer. - Falei e peguei uma bolacha, colocando na sua boca, o vendo mastigá-la por inteiro. - É a famosa comida brasileira. - Senti a luz de fora bater em meu rosto e o frio bagunçar meus cabelos. - Arroz, feijão, bife e batata frita. - Falei e coloquei outra bolacha na minha boca.
- Tenho uma pergunta. Outra bolacha. Você sabe fazer algo que não seja brasileiro? - Franzi a testa para ele e coloquei outra bolacha em sua boca.
- Por acaso, eu sei, ok? Só me dar a receita. Mas sei lá, é questão de costume mesmo. - Dei de ombros. - Merda! - Falei ao ver uma pessoa parada ao lado de um dos carros do estacionamento e seguir para trás a cada passo que a gente dava, com uma câmera profissional nas mãos. Instintivamente, abaixei o rosto, deixando os cabelos cair no mesmo.
- Não se preocupe. - Chris falou, seguindo em direção ao carro normalmente.
- Eu não... Eu... Chris! - Falei em tom firme.
- Preocupada? - Minhas armas caíram naquela hora com aquele sorriso fofo que ele deu.
- Eu não tenho que ter preocupação nenhuma. - Falei simplesmente. - Você que tem.
- Acho que você ainda não entendeu. - Ele destravou o carro, fazendo o porta-malas se abrir em um clique. - Se eu estou saindo em público contigo, é porque eu quero que o público te veja, entendeu? Ou quer que desenhe? Eu não tenho que esconder minha felicidade. - Soltei uma risada fraca e passei por ele, entrando no carro para esconder o sorriso gigante que eu tinha no rosto.
Logo, eu pude ouvir o barulho do porta-malas batendo. Chris demorou um pouco, mas voltou e entrou no carro.
- O que você pensou? - Ele ligou o carro.
- Como assim?
- Da gente. Você pensou que isso não fosse acontecer? - Suspirei e apoiei minha cabeça no encosto do carro.
- Eu não sabia o que pensar, Chris! Eu nunca namorei alguém famoso. – Falei, elevando meu tom de voz quase que naturalmente. - Eu mal namorei, para falar a verdade. Como você quer que eu saiba como agir?!
- Eu disse que topava tudo contigo, não disse? - Ele manteve seu tom de voz normal e eu suspirei. - Não disse, ? - Ele aumentou um pouco seu tom de voz e o que eu fiz foi só afirmar com a cabeça. - Me responda.
- É, disse. - Suspirei.
- Então?!
- Então... Sei lá. – Eu me ergui no banco do carro. - Honestamente, eu não tenho argumentos para essa.
- Só quero saber se você entendeu que eu estou levando a sério e que, com o tempo, só vou levar mais ainda.
- Entendi! - Abri um sorriso e ele riu, olhando para mim por poucos segundos, depois virando o rosto para a rua novamente. - Vamos falar da nossa janta agora...
- Ah, parece que alguém odeia perder.
- Próximo assunto, por favor. - Falei e ele riu.
- Você tem sorte de eu ser mais calmo. - Ele comentou, apertando o botão do controle remoto.
- Sei, super calmo! - Falei ironicamente e ele nem se abalou. - Quem não gosta de perder agora? - Ele mostrou a língua, o carro entrou no quintal e o portão se fechou novamente atrás de nós.
- Enfim... O que eu ia dizer... - Ele falou enquanto voltava com as últimas sacolas e apoiava na bancada. - Eu posso te dar um descanso e fazer alguma coisa para gente.
- E o que você sabe fazer, senhor Evans? – Falei, me virando no banquinho, fazendo com que ele girasse.
- Sou muito bom com panquecas, por sinal. - Soltei uma risada e apoiei meus cotovelos na bancada.
- Sei! - Suspirei. - Sabe o que eu vou fazer? - Girei novamente no banco. - Eu vou deixar você se virar com a janta, vou tomar um banho quente e me colocar em um pijama mais quente ainda. – Eu me debrucei sobre a bancada e encostei meus lábios nos dele rapidamente, o vendo sorrir. - Por favor, não queime a casa.
- Pode deixar! - Ele riu.
Eu girei novamente no banco, pulando para fora do mesmo, e fui em direção a seu quarto, ouvindo as patas da pequena Leslie correrem atrás de mim. Saí do banho e fiz um coque desajeitado que soltou logo em seguida, colocando meu pijama de manga comprida azul que ainda estava dentro da mala. Dei uma franzida na testa ao ver uma espinha bem avermelhada agora que eu havia tirado todo resquício de maquiagem e suspirei, tendo preguiça de passar algo em meu rosto. Chequei meu celular. Vi que não havia nenhuma mensagem importante, somente algumas notificações do Facebook e do Instagram, e o prendi no elástico do pijama.
- E aí, folgada?! – Falei com uma voz fina que fez Leslie erguer a cabeça da cama, onde ela estava deitada exatamente no meio.
Eu me sentei ao seu lado, a vendo caminhar desajeitadamente por cima da cama macia e deitar novamente, colocando a cabeça em meu colo. Ela abriu a boca, bocejando, soltou um grunhido fofo e fechou os olhos. Coloquei a mão sobre seu pelo e o esfreguei levemente, depois em sua cabeça e fiz um carinho próximo a seus olhos. Suspirei, abrindo um sorriso de criança.
- Eu tenho um cachorro! – Falei baixo, tirei meu celular do elástico e coloquei na câmera fotográfica.
Curvei meu corpo, tentando me mexer pouco para que a bolinha de pelos não acordasse, enquadrei nós duas na foto e cliquei, abrindo rapidamente o Instagram. “Meet Leslie”, foi minha legenda, intercalando emojis de corações e rostinhos com corações no lugar dos olhos. Enviei a foto e, poucos segundos depois, já tinha a primeira curtida. Franzi a testa.
Cliquei nos seguidores, vi que passava dos sete mil seguidores e, a cada nova foto, várias pessoas que eu não conhecia postavam comentários sobre mim ou sobre Chris. A maioria, coisas boas. As ruins, eu simplesmente ignorava. Ninguém ia destruir minha felicidade. Eu me afastei um pouco de Leslie e vi sua cabeça escorregar da minha perna e ser apoiada na cama novamente. Calcei um par de meias e meu chinelo de dormir em formato de sapinho que estava na beirada da cama. Agarrei o celular entre os dedos e voltei patinando para a cozinha, onde um delicioso cheiro de chocolate reinava no ar.
No balcão, tinham três pratos dispostos, todos com uma grande pilha de panquecas. Uma estava coberta com uma grossa camada de mel, outra com uma grossa camada de chocolate derretido e outra estava sem nenhuma cobertura. Eu morri e fui pro céu? Duas taças muito bem lustradas ocupavam espaço em cima do jogo americano, onde dois pratos pequenos estavam colocados juntos. No meio do balcão, um pequeno vaso de lírios, minha flor favorita, ele sabia daquilo.
- O que é tudo isso? – Falei, o vendo de costas para o balcão, lavando a louça acumulada dentro da pia.
Seu rosto virou imediatamente.
- Seu jantar, madame. – Ele comentou e eu ri. – Ou lanche da tarde, na verdade. – Soltei uma risada e passei a mão pelo balcão, contornando o mesmo e parando atrás dele.
- Panquecas? – Soltei uma risada fraca e passei minhas mãos pela sua cintura, em um carinho leve, até que eu chegasse em sua barriga.
- Tinha que fazer uma especialidade, não?! – Ri fraco, deixando a respiração bater em seu pescoço, e depositei um beijo no mesmo.
- E esse prato sem cobertura? O que vai fazer?
- Você disse que doce de leite fica bom com quase tudo, não?! – Fiz um movimento com a cabeça, fazendo meu queixo bater em suas costas.
- Falei! E fica. – Ele riu fracamente.
- Acha que ficaria bom com panquecas? – Soltei uma risada alta.
- Com certeza! – Falei e dei uma mordida de leve em seu pescoço, sugando aquela porção de pele por alguns segundos até que eu visse um pequeno avermelhado no mesmo.
- Deixando marcas agora? – Soltei uma risada fraca e soltei os braços de seu corpo, me colocando a seu lado e avistando um pote de morangos.
- Só delimitando meu espaço. – Soltei uma risada e peguei um morango, o mordendo com gosto.
- Isso é sexy, sabia? – Engoli a parte mordida e soltei uma risada.
- Mas, definitivamente, fica melhor em filmes. Morango puro não é muito bom! – Fiz uma careta, ele riu, ergui a fruta e Chris a mordeu, deixando somente o cabinho verde em minha mão. – Um leite condensado aqui cairia muito bem. – Dei de ombros e lambi o dedo indicador e o médio, me direcionando até as sacolas que ainda estavam no canto do balcão.
Procurei rapidamente a lata e, assim que a encontrei, puxei a mesma. Voltei para o lado de Chris e, com um rápido movimento no quadril, ele se afastou para o lado um pouco. Eu coloquei a lata embaixo d’água, esfregando com a ponta da unha para que o rótulo saísse quase inteiro após uns segundos.
- Sempre tire o rótulo. Falam que, se não tirar, tem perigo do papel dissolver e entupir o bico. Não sei o que pode rolar se isso acontecer mas, se dizem, não é por bobeira. – Ele soltou uma risada, passou as mãos molhadas na calça e foi em direção à panela de pressão ainda na caixa.
Ele tirou o grande saco da caixa e tirou a panela de dentro do saco. Olhou meio estranho para a mesma, o que fez com que eu risse.
- E aí? – Ele trouxe para perto de mim e eu tirei a tampa da mesma, colocando a lata dentro da panela.
Coloquei embaixo da água, enchendo-a até cobrir a lata, e coloquei mais um pouco, desligando a torneira.
- Agora você fecha e coloca no fogo. Quando começar a chiar, você conta quarenta minutos. – Dei de ombros e ele riu debochado.
- Só isso?
- Só isso. – Repeti. – O tempo que você deixa varia a cor e acho que o gosto. Eu nunca deixei menos que quarenta minutos então... Assim... Se deixar menos, ele fica um doce de leite mais claro e mais mole. Mas se você deixa os quarenta minutos, que é o tempo que eu gosto, ele fica uma cor de abóbora queimada e a consistência mais firme, perfeita para rechear cupcakes. Se você deixar quase uma hora, ele fica mais escuro, e não sei o gosto nem a textura. – Ele balançou a cabeça como se entendesse e se aproximou de seu fogão super chique, dos que tem vidro ao invés de bocas.
Ele o ligou e colocou a panela sobre o mesmo.
– Só avisando. Se acontecer alguma coisa, a culpa é sua. – Cochichei para ele e Chris riu, passando um braço pelos meus ombros e me puxando para o outro lado do balcão, de onde ele puxou o banco e abriu espaço para que eu sentasse.
- Espero que goste. Fiz panquecas todos os dias durante toda minha adolescência de café da manhã e todo mundo comia com gosto, então... – Ele deixou a frase no ar e eu vi Chris pegar uma faca e cortar a pilha de panquecas em quatro, como se fosse um bolo, depois colocou um pedaço de cada uma para mim, fazendo-as desempilharem no meu prato.
Peguei o garfo, espetei o primeiro pedaço de chocolate e coloquei na boca. Não era simplesmente chocolate, era uma calda açucarada e deliciosa, que escorreu pelo meu queixo. Só via Chris gargalhando ao meu lado, e não tinha nem com o que eu zoasse com ele. Aquela cena deveria estar realmente hilária, só esperava que não sujasse meu pijama.
Meu celular vibrou na outra ponta do balcão e eu me estiquei para pegá-lo.
- É a Megan! – Anunciei e descansei o garfo, podendo deslizar o botão que atende a chamada. – Quem perturba minha janta? – Falei e ela riu do outro lado.
- Janta? , são cinco e meia da tarde. – Soltei uma risada e ela me acompanhou.
- Reclame com seu cliente. – Troquei o telefone de lado. – Qual o motivo da ligação? – Passei a mão em meu cabelo molhado, colocando uma mecha atrás da orelha.
- Temos uma reunião amanhã sobre o filme do Chris. Ele pode falar? – Sem ao menos perguntar, eu tirei o telefone da orelha e coloquei no viva-voz.
- Ele está te ouvindo, Megan. – Anunciei e Chris abaixou o garfo também.
- Oi, Megan! – Ele falou.
- E aí, Chris!
- Quais as novidades? – Ele perguntou e eu apoiei meu cotovelo na mesa, prestando atenção.
- Eu tenho o roteiro final, os gastos totais do filme e também datas e liberações para gravar em Nova York. Precisamos discutir isso. – Eu o encarei e ele me encarou de volta.
Abri um sorriso de leve.
- Quando podemos nos encontrar? – Chris perguntou.
- Pode ser amanhã? Sei que você está na sua folga, , você não precisa...
- Eu vou, pode ter certeza. – Falei rapidamente.
- Prometo que depois ajeitaremos suas folgas, ok?! – Instintivamente, afirmei com a cabeça e fiz um barulho com a boca.
- Que horas amanhã? – Perguntei.
- Para o almoço?
- Se formos nos encontrar em algum lugar que não tivesse comida, aí sim irei me surpreender. – Nós três rimos. – Pode ser para você, Chris? – Ergui os olhos para meu namorado.
- Confirmado, então! Nos vemos amanhã, no lugar de sempre. – Chris afirmou com a boca. – Tchau, crianças! – E desligou.
Peguei o celular, o empurrei para longe do balcão e peguei o garfo novamente.
- Empolgado? – Perguntei a ele.
- Com o quê? – Ele falou com a boca suja de chocolate.
- Dirigir um filme, colocar sua sorte em algo novo. – Falei de forma fofa e ele abriu um sorriso.
- Estou empolgado, mas estou nervoso também.
- Faz parte quando vamos começar algo que nunca fizemos, não?! – Abri um sorriso de lado e ele afirmou com a cabeça.
- Você está certa.
- E relaxa. Caso algo não dê certo, saiba que eu estarei perto para recuperar suas forças. – Ele apoiou sua mão em cima da minha na mesa e eu escorreguei o corpo para o lado, encostando minha cabeça em seu braço.
- Obrigado. Por tudo. – Ele depositou um beijo em minha cabeça.
- Por favor, diz que você não acabou de lambuzar meus cabelos de chocolate. – Comentei, passando a mão levemente no meu coro cabeludo e olhando a mesma.
- Não, mas relaxa. Ninguém iria notar com esses cabelos pretos aí. – Fiz uma careta.
- Castanho escuro, por favor. Tem uma grande diferença e eu me orgulho demais dessa cor, ok?! – Mostrei a língua e ele riu.
- Ok, chefe! – Ele disse e voltamos a comer em silêncio.
- “Ou estamos indo muito rápido, ou estamos parados”. – Repeti a frase de Johnny Storm em Quarteto Fantástico enquanto eu assistia ao filme na confortável sala de cinema de Chris, equipada com diversas poltronas pretas reclináveis.
- Sério? Quarteto Fantástico? – Sua voz veio de trás enquanto descia a escada que dividia as duas fileiras de poltronas.
- Esse filme é incrível, Chris. Tirando o fato de que você está demais. Você é o Johnny. Ou foi. – Comentei e ele riu, se jogando ao meu lado, vestido de moletom e um suéter velho.
- Não foi muito elogiado. – Ele disse.
- Eu realmente não ligo. – Falei de volta e me mexi na poltrona até ficar deitada corretamente na mesma. – E essas poltronas são demais! – Ele apertou minha mão em cima do braço da poltrona e ficamos em silêncio enquanto o filme passava.
Repetia algumas falas mais conhecidas e só ouvia sua gargalhada ao meu lado e comentários sobre como eu conhecia mais o roteiro do que ele próprio. Pouco antes do fim do filme, lá pela parte em que Sue fica brava por Johnny pular de um prédio, eu acabei dormindo. Acordei meio sonolenta, com Chris me levantando da poltrona. Eu só senti seus braços em meu corpo e meu braço prendido em seu ombro e fechei os olhos novamente, sentindo aos poucos meus sentidos serem desligados, um a um.
Uma vontade chata apertando minha bexiga me despertou. Chris dormia calmamente ao meu lado, com o corpo virado para cima e somente o rosto virado para meu lado. O tempo lá fora estava escuro ainda, o relógio denunciava que eram quase três horas da madrugada. Saí devagar da cama, tomando cuidado para não me movimentar muito. Rapidamente fiz xixi e lavei as mãos na água gelada mesmo, sem paciência para esperar pela água quente.
Voltei para o quarto e conferi se Chris ainda dormia. Abri uma pequena fresta da janela e pude ver Hollywood Hills West toda iluminada pelas luzes de fora. Fechei a janela e voltei para debaixo das cobertas, que começavam a me fazer suar já que meu pijama era quente, o edredom era quente e o aquecedor estava ligado. O frio do inverno estava chegando com tudo.
Chris se mexeu assim que eu terminei de me ajeitar na cama. Ele se virou de lado e, instintivamente ou não, passou um braço pela minha barriga. Eu sorri. Virei meu corpo para o dele e apoiei meu rosto na beirada do travesseiro, próximo ao seu. Podia sentir sua respiração bater em meu rosto. Passei minha mão pela sua barriga nua e ele contraiu o corpo, o que me fez sorrir. Fechei os olhos e não vi mais nada.
Chris saiu, literalmente, desesperado de dentro de casa, com as chaves do carro nas mãos. Ele destravou o carro e ambos entramos correndo. Estávamos atrasados. Mal deu tempo de travar o cinto de segurança e Chris já estava dando ré com o carro. Já estávamos atrasados e a culpa era dele. Era exatamente esse o motivo dele estar quieto, com os olhos escondidos pelo óculos de sol, focados na rua e as feições duras. Fazia quase uma hora que eu estava pronta e ele insistindo em terminar de ver o jogo de basquete que estava passando. Não seria eu quem ficaria insistindo. Quando ele se tocou do horário, saiu correndo e gritando. Eu só disse as palavras que todo mundo odeia ouvir: “Eu avisei”.
O valete abriu a porta para mim quando chegamos ao Huntley Hotel em Santa Mônica. Já que ele estava de mau humor, me coloquei na frente e comecei a caminhar, ouvindo meus saltos baterem fortemente no chão. Passei pelas portas do restaurante e Chris me seguiu lado a lado. Mantive minhas mãos em minha bolsa.
- Chegaram! - O amigo de Chris, Joshua, foi o primeiro a se levantar da mesa, com Megan e mais um homem de uns 35 anos que os acompanhava.
- Desculpe, alguém queria ver o jogo. - Falei enquanto eu abraçava Megan e Joshua e dava um cumprimento de cabeça para a terceira pessoa.
- Minha culpa! - Chris falou, deu um sorriso de lado, cumprimentando todos, e se sentou na cadeira.
- Gostariam de beber alguma coisa? - O garçom se aproximou de nós e nos entregou cardápios.
- Uma água, por favor. - Falei.
- O mesmo. - Chris falou e eu franzi a testa, assustada por ele não pedir vinho ou uma cerveja pelo humor que ele estava.
- Então... Agora podemos falar. - Megan comentou e se ajeitou na cadeira. - , esse é Bill, é da nossa equipe em Los Angeles. Bill, , da equipe de Boston. - Acenei com a cabeça para o terceiro homem, agora identificado.
- É um prazer, senhorita. - Ele falou com um olhar sedutor e eu virei o rosto para Megan, que escondia o rosto para não denunciar sua risada.
Franzi a testa, abrindo um sorriso para o Bill.
- Já escolheram o que vão comer? - Chris perguntou com os olhos no cardápio.
- Que tal salmão? - Josh comentou.
- É, pode ser! - Chris deu de ombros e fechou o cardápio, fazendo os amigos rirem, exceto eu, porque eu sabia que algo estava errado.
- Senhorita? - Bill perguntou e eu senti vontade de socá-lo.
Ele estava me cantando, mas do jeito totalmente errado.
- Super topo! - Falei para a mesa e entreguei o cardápio para o garçom, que acabara de voltar com minhas bebidas e de Chris. - Me vê o drink mais doce que você tiver, por favor. - Falei e o garçom afirmou com a cabeça. - Vamos falar de negócios?
- Chris não é fã de falar de negócios de barriga va... - Bill foi interrompido.
- Não, podemos falar. - Na mesma hora, todos que estavam jogados nas cadeiras, incluindo eu, se ajeitaram, focando os olhos em Megan. - Quais são as novidades?
- Bem, eu basicamente tenho documentos para te entregar. - Megan falou, pegou uma pasta em seu colo e estendeu para Chris.
- O estrago é muito grande? - Chris perguntou, abrindo a pasta.
- Menor do que achávamos. - Bill falou. - Mas eu acho que dá, baseado nas estatísticas de lucro para o segundo Capitão América.
- Isso quer dizer o quê? – Perguntei, apoiando meus cotovelos na mesa e ignorando os modos.
- Como a produção é totalmente independente, Chris vai ter que colocar a mão no bolso para pagá-lo. Isso inclui equipe, locações, alugueis de câmeras, figurino... Enfim, tudo que pode ser revertido se o filme conseguir algum tipo de divulgação depois do lançamento.
- Por falar em lançamento, conseguimos o Festival de Toronto. A Pandora vai patrocinar. – Megan falou e Chris abriu um sorriso.
- Você mencionou Capitão América 2, certo? – Virei os olhos para Bill, me forçando a encará-lo, e ele sorriu, afirmando com a cabeça. – Qual é a relação? – Suspirei, caindo a ficha, e me encostei na cadeira novamente. – Se o filme for um sucesso, o lucro de Chris vai ser equivalente ao gasto, não dando muita diferença no final das contas.
- Exatamente. – Ele falou e eu virei o rosto para Chris, que olhava os papéis em cima de seu prato.
- Mas você tem que lembrar que Mark Kassen está contigo, querido. – Megan falou. – Os gastos são divididos.
- Em partes. – Bill falou. – Ele, como produtor executivo, fica com 1/4 dos gastos, mas já é uma aliviada.
Chris fechou a pasta e se encostou a poltrona. Suas mãos mexiam freneticamente, quase como um tique que ele tinha, coisa que eu fazia muito parecida. Pude ouvir sua respiração sair pelo nariz com a força que ele expelia o ar, até que ele virou o rosto para mim.
- O que você acha? – Arregalei os olhos.
Oi? Eu tenho voto nisso?
- Assim... Eu não sei os números, não sei quanto tem na sua conta corrente nem seus lucros pessoais dos filmes, mas eu acho que, se não tem nada monetariamente ou tecnicamente te impedindo, você tem que fazer. – Falei diretamente. – Desde que eu te conheço, sei que você quer dirigir um filme, então por que você vai parar agora que já está na porta? – Ele abriu um sorriso de canto. – Abre essa porta e vai.
- Eu acho que a está certa. – Joshua falou. – Há quanto tempo nos conhecemos? Esse roteiro está na gaveta há muito tempo.
- Vocês dois? – Ele olhou para Megan e Bill.
- Eu só dou conselhos. – Bill falou e olhou para mim, dando uma rápida piscadela.
Dei um sorriso para não ficar feio.
- Você sabe que eu não palpito sobre essa parte. Está em suas mãos. – Megan disse, se encostando na cadeira novamente.
- É. Vamos fazer isso. – Ele abriu a pasta novamente e tirou um papel do mesmo.
Megan lhe estendeu uma caneta. O papel logo foi preenchido pela assinatura elegante de Chris, como também mais três vias do contrato.
- Nada de fugir mais, hein?! – Joshua falou, brincando, e todos da mesa riram.
Não demorou muito e o jantar foi servido: postas gigantes de salmão com um risoto de queijos e ervas delicioso. O papo descontraiu, Chris tinha ficado menos ranzinza, mas eu sabia que as cantadas meio forçadas de Bill não estavam deixando só a mim irritada e sem graça. Estavam deixando-o também, e isso não era nada bom. Bill não fazia por mal, ele não sabia que Chris e eu estávamos juntos, e parecia que Chris até queria judiar um pouco dele, deixando que ele desse algumas indiretas diretas para mim, mas isso estava me judiando. Eu estava rezando para que a posta do meu salmão acabasse logo para que eu pudesse ir embora, porque aquilo estava demais.
Assim que as grandes travessas esvaziaram, as pessoas começaram a cogitar ir embora, até que Joshua, o salvador da pátria, se levantou, fazendo com que todos levantassem junto. A conta foi dividida entre os homens, eu e Megan já estávamos acostumadas.
- Valeu, gente. – Chris falou, cumprimentando os amigos. – Até a próxima.
- Até mais, Chris. Eu aviso se tiver alguma mudança. – Megan falou.
- Combinado! – Ele falou.
- , você quer uma carona?
Adivinha quem disse isso...
- Obrigada, Bill, mas o Chris já ofereceu. – Falei com a maior educação do mundo.
Cada um foi para um lado, sobrando eu e Chris na porta do hotel em Santa Monica.
- O que foi aquilo? – Ele perguntou, se aproximando de mim.
- O que foi o quê? – Perguntei, franzindo a testa.
- Você e Bill.
- Ah, meu pai. – Soltei uma risada fraca. – Sério?! Não sei se notou, mas eu estava tão desconfortável quanto você. – Falei, brava.
- É, não parecia com os risinhos.
- Se eu fosse grossa com ele, você também não ia gostar. – Falei. – E olha que eu estava quase estourando naquela mesa. Queria que um buraco abrisse para eu sumir, ok?! – Ele bufou e eu revirei os olhos.
Andei dois passos em sua direção e segurei seu rosto com minhas mãos.
– Eu estou com você. Se eu quisesse outro, eu já teria dito, não?! – Falei com a voz mais calma, seguida de um longo suspiro. – É você, Evans. Só você. – Encostei nossas testas. – Vamos parar de brigar por besteira. Eu prometo que tento, mas você não tem dado brecha. – Ouvi o longo suspiro dele e o ar sair pelo seu nariz.
- Ok. Se você promete, eu prometo também. – Ele levantou um dedo e tocou meu queixo, erguendo meu rosto para que seus lábios tocassem levemente os meus enquanto sua mão trazia meu corpo para perto do seu. – Vamos para casa! – Um vento forte bateu em nossos rostos, bagunçando meus cabelos. – Entrar embaixo das cobertas e...
- Aposto que tem gente te ouvindo. – Falei baixo e ele soltou uma risada.
- Vamos! – Ele afastou o rosto e segurou minha mão, entrelaçando nossos dedos e me puxando em direção ao carro que o valete já tinha retirado do estacionamento.
Acordei de madrugada novamente naquela noite. Chris me abraçava, mantendo meu corpo nu quente na cama. Seu corpo estava colado ao meu, me dando certeza de que eu estava em casa quando seus braços me apertavam. O quarto estava quente devido ao aquecedor ligado e o edredom pesado e o corpo de Chris me proporcionava mais calor ainda. Soltei a mão de Chris e coloquei o braço dele levemente para trás para que eu pudesse levantar. Eu não estava com sono.
Coloquei uma calcinha que eu puxei da minha mochila, ainda jogada na poltrona do quarto, e peguei a blusa de Chris que estava embolada na mesma poltrona. Andei a passos lentos até a porta do quarto, ouvindo um ranger enquanto eu a abria, me fazendo olhar rapidamente para Chris, que nem se mexeu. Saí do quarto e fui direto para cozinha, onde eu parei, vendo Leslie confortável no grande almofadão jogado para ela, mas ela também não se mexeu.
Peguei um pote de batatas chips no armário e me sentei no sofá onde meu iPad estava. Eu o destravei, começando a mexer nas minhas redes sociais, respondendo alguns comentários no meu Facebook, e-mails da minha mãe e da minha irmã e fuçando um pouco no Instagram, mas algo me surpreendeu enquanto eu passava as fotos. Uma foto minha e de Chris em uma das contas fãs que eu seguia dele no aplicativo para que eu ficasse de olho sobre como as notícias eram divulgadas pelos fãs. Nesse momento, eu quase dei um grito.
Abri o navegador e entrei rapidamente no site Just Jared, achando já no histórico a página direta do Chris, e quase caí do sofá quando vi duas postagens novas, uma do dia anterior e uma de poucas horas atrás. A primeira era a foto do mercado, nada muito revelador, eu e Chris saindo do mercado enquanto ele empurrava o carrinho, mas a outra era bem reveladora, do hotel. Tinha pelo menos sete fotos ali, como se fosse uma sequência, eu e Chris conversando. Não aparentava ser uma briga, o que eu fiquei muito feliz. Imagina só, fazer barraco na rua? Ok, eu tinha que rir com aquilo. E pelo menos umas três fotos da gente se beijando. E claro, a famosa matéria do Just Jared sobre a nova garota misteriosa.
Soltei um suspiro, não sabendo se eu ria ou se eu sorria. Eu sabia quem era a garota misteriosa, era eu. Deslizei pelos comentários e vi alguns fãs tristes, como sempre, outros já me chamando de vadia e outros comentando que eu era bonita, além do clássico ‘se ele está feliz, eu também estou’. Mas pelo menos três, em particular, chamaram a minha atenção. “Essa é a , namorada dele há um tempo, e também trabalham juntos” e afins. Senti vontade de acordar Chris e mostrar aquilo para ele, mas eu me contive. Ainda não sabia como ele ia reagir mas, se a intenção era me mostrar para todo mundo... Bem, ele conseguiu.
Salvei a foto em que eu e Chris estávamos com o rosto muito próximos um do outro e abri meu Instagram novamente. Selecionei a foto e na legenda dela, só coloquei um coração. Pensei em escrever “Mãe, estou no Just Jared”, mas seria zoado demais e um pouco metido até. Então só coloquei o pequeno coração. Coloquei para compartilhar em meu Facebook e meu Twitter e publiquei, esperando alguns segundos. Era de madrugada no Brasil também mas tinha gente acordada, porque logo as curtidas começaram. O Twitter começou a me mandar notificações de pessoas curtindo e retweetando a foto. No Instagram, pessoas curtindo, comentando e começando a me seguir loucamente. Ok, por essa eu não esperava.
- Agora não dá mais para voltar atrás, . – Falei baixo para mim mesma e suspirei, fechando a capa do iPad e me contendo para não ver o que as pessoas comentavam.
Abaixei meu rosto por um tempo e vi Leslie com os olhos esbugalhados para mim. Abaixei e a peguei, colocando-a em cima do sofá, ao meu lado. Passei a mão em seu pelo e virei o corpo no sofá. Abri a batata. Com uma mão, eu a acariciava. Com a outra, eu colocava batatas em minha boca, esperando impacientemente o sol aparecer em Los Angeles.
Capítulo 08
I don't like the way he's looking at you
I'm starting to think you want him too
Am I crazy, have I lost ya?
Even though I know you love me
Can't help it
[...]
I'm getting ready to face you
Can call me obsessed
It's not your fault that they hover
I mean no disrespect
It's my right to be hellish
I still get jealous
(Não gosto do jeito como ele te olha
Estou começando a pensar que você também o quer
Será que estou louco, te perdi?
Mesmo sabendo que você me ama
Não consigo me segurar
[...]
Estou pronto para te enfrentar
Pode me chamar de obcecado
Não é sua culpa que eles ficam rondando
Não quero te desrespeitar
É meu direito implicar
Eu ainda sinto ciúmes)
Nick Jonas, Jealous
Ah, Deus. Ela iria me matar. Eu sentia aquilo, eu realmente sentia aquilo. E com certeza não era o frio que me fazia tremer, muito menos a falta de casaco sobre meu corpo. Ela já queria me matar na tarde anterior, imagina no dia em que eu tive a cara de pau em vir pegá-la em seu trabalho em plena terça-feira. É, ela me mataria.
Descruzei os braços de cima do peito e virei o corpo, de costas para o prédio branco com detalhes laranja. Suspirei, conferindo o relógio e vendo que já passava das seis horas da tarde. Virei o corpo e apoiei os braços no capô do carro, batendo levemente a cabeça no mesmo e soltando um suspiro alto. Merda!
- Olhe, Derek, é o ator famoso Chris Evans! - Ouvi a voz dela, mais sarcástica impossível, e virei meu rosto para encarar , que saía da ID acompanhada de Derek. – Ele está gravando um filme novo, não?! – Ela arqueou as sobrancelhas como sempre fazia.
- Me tira dessa briga, , estou fora! – revirou os olhos e Derek se aproximou de mim. – E aí, cara, tudo certo?
- Tudo certo, Derek, e contigo? – Perguntei, o cumprimentando.
- Tudo certo! – Ele afirmou e ambos olhamos para , estava linda.
sempre trabalhava do jeito básico, sua calça social preta e, na maioria das vezes, uma blusa social branca. Claro, um sapato de salto alto preto e o seu rabo-de-cavalo, prendendo seus cabelos escuros. Mas quando chegava o inverno, ela ficava estonteante. Colocava um casaco ou um sobretudo por cima de tudo e uma bota que subia pelas pernas e soltava os cabelos ondulados, caindo ao lado dos ombros... Isso está ficando pornográfico já.
- Oi, !
- Christopher! – Foi sua resposta curta e seca, eu suspirei.
- Bem, temos uma tensão não convencional aqui. – Derek comentou e revirou os olhos.
- Você não pode ficar tenso, Derek! – comentou e o abraçou fortemente. – Eu quero saber tudo, ok?! E vai dar certo, tenha fé que dá!
- Ah, nem fala! – Ele apertou a amiga e ambos riram fracamente. – Quem sabe o que nos aguarda em 2014? – riu fracamente. – Um bom Natal para vocês dois, ótimo ano novo, e parem de brigar à toa. Eu hein! – revirou os olhos e Derek a apertou mais uma vez.
- Vai lá, Der. Me conte tudo! – o abraçou. – Nos vemos em 2014.
- Nos vemos em 2014. – Derek me cumprimentou mais uma vez e eu acenei com a mão depois.
- Boas festas, Derek! – Falei.
- Para você e sua família também, Chris. Para vocês também. – Ele olhou para nós e suspirou, escondendo as mãos nos bolsos. – Tchau. – Ele acenou e seguiu para seu carro.
Em poucos segundos, uma buzina fez com que acenasse com um sorriso no rosto e, assim que seu olhar caiu sobre o meu, pude sentir meu rosto queimar, dentro da jaqueta de couro eu estava quase pegando fogo.
- Podemos conversar? – Perguntei, me aproximando dois passos dela, que se manteve parada.
- Acho que já conversamos demais pelo telefone. – Ela falou. – Não estou no clima para começar a brigar de novo.
- A gente não precisa brigar. – Falei.
- Ah, não?! – Ela debochou com a boca. – Então por que não me explica o que estava fazendo com aquela... Mulher, sozinhos, em um restaurante italiano, em Nova York?
- Eu já expliquei...
- Quer saber? Não quero ouvir, não quero brigar. Eu vou para casa. – Ela suspirou, ajeitou a bolsa azul no braço e se dirigiu à esquerda, não para a porta do meu carro.
- Aonde você vai?
- Embora! – Ela gritou, uns dez passos de distância de mim.
- Mas como...? – Ela parou e se virou, pude ver raiva em seu rosto.
- Do mesmo jeito que eu vou toda vez que você não está aqui. Você acha o quê? Minha vida não muda quando você está aqui, ela só se acomoda a você. – Ela suspirou e fechou os olhos por alguns segundos.
- Você vai mesmo pegar o ônibus? – Perguntei, batendo a mão na lataria do carro.
- Vou! – Ela falou firmemente, suspirei.
- Não faz isso.
- Já fiz! – Ela gritou de volta e virou de costas para mim, seguindo pelo quarteirão até virar à direita.
- Merda!
morava próxima a ID. De carro, era coisa de cinco minutos quando não tinha trânsito. De ônibus ela demorava uns 15 minutos já que, como morava em uma rua paralela a uma avenida, o caminho era mais lento. Mas eu sabia que ela não se importava e eu ainda fazia grande caso com coisa pouca.
Dei uma batucada no volante do carro e dei uma olhada para fora, onde um paparazzi estava parado em frente ao condomínio de ajeitando sua máquina. Depois que a foto nossa saiu no Just Jared, ela começou a ser seguida por eles também e, pelo fato dela ser bonita, se vestir bem e ter uma carreira no meio do mundo dos famosos, ela podia ser considerada até uma pequena famosa para eles. Vai saber...
Assim que ela surgiu na calçada, o paparazzi, em um pulo, ajeitou sua câmera e começou a tirar fotos dela. Nesse momento, eu saí do carro, batendo a porta e colocando minha jaqueta por cima da blusa. O paparazzi ficou meio em dúvida por nos ver aparecendo por dois lugares diferentes e tirou algumas fotos minhas também, e logo estava próxima a mim.
- Boa noite, Daniel! – Ela falou ao paparazzi, o que criou uma confusão em meu rosto.
- Boa noite, senhorita !
- Te vejo em Nova York? – Ela brincou, fazendo o tal Daniel soltar uma gargalhada.
- Não é minha área. – riu.
- Até mais, Daniel! – falou, seguindo para o portão de seu condomínio.
- Até! – Cumprimentei o paparazzi com o olhar e segui para antes que ela fechasse o portão na minha cara o que, por pouco, não aconteceu.
Bati o portão atrás dela e simplesmente a segui, já que a única coisa que saía da sua boca era a fumaça causada pela baixa temperatura naquela noite. No elevador, seu foco ficou no espelho do cubículo, vendo o quão interessante era, dos fios mais longos aos fios mais curtos. Quando chegou no apartamento, ela pelo menos me deixou entrar.
- Vamos conversar! – Falei, a seguindo pelo pequeno corredor de sua casa enquanto ela se livrava das coisas em seu corpo.
Bolsa na mesa da sala, casaco em seu quarto e seus sapatos teriam ficado no meio do corredor se não fossem mais complicados de tirar.
- Não! – Ela olhou firme para mim. – Eu estou na minha casa e acho que tenho direito de não querer falar disso.
- Você vai comigo amanhã para Nova York e não quer falar sobre isso?
- Talvez eu não vá! – Ela jogou um pé da bota no chão.
- ! - Falei com o tom de voz mais forte.
- Não quero falar, não quero falar, não quero falar. – Ela falou rápido, como se fosse um mantra.
- Não aconteceu nada, pelo amor de Deus. – Falei, parado no batente da porta do seu quarto, vendo outro pé da bota voar.
- Então, me diz. Por que você estava em um restaurante, em meio a Nova York, nevando, com uma menina, ou tanto faz, chorando? – Ela falou, se levantando com o indicador da mão direita apontado em minha direção. – Ah, e melhor! Uma mulher que vai ser sua co-estrela no seu primeiro filme dirigido! – Ela se aproximou de mim, dando um leve empurrão em meu peito com a unha comprida e muito bem pintada de um rosa chamativo.
Passou por mim, arrastando suas meias brancas até o meio das canelas, que seguravam a calça. Eu ri fraco.
- Eu tenho que fazer reuniões, e não estava só ela lá. Mark também estava, e os outros produtores.
- E você tinha que levá-la de volta para o hotel? – Ela falou bufando e sumiu na cozinha por alguns segundos, reaparecendo de volta com alguns respingos de água em sua blusa simples de manga comprida vermelha.
- Eu gosto de você de vermelho. – Comentei alheio.
- Eu não ligo! – Ela falou firmemente e voltou para o quarto, ligando seu aquecedor e puxando as meias, quase se desequilibrando ao tirá-las.
- Para! – Falei, entrando no quarto e segurando seus ombros quando ela se levantou de novo. – Para. Isso está ficando ridículo já e, mais um pouco, um dos dois vai sair realmente magoado daqui. – Ela fechou os olhos e passou as mãos no rosto, fazendo seus cabelos castanhos serem jogados para os lados.
- Eu não gosto quando eu começo a desconfiar. Eu não devo, mas eu desconfio. – Ela falou, erguendo seus olhos escuros para mim. – Por que você fez isso se sabia que eu ia ficar assim?
- Eu não sei. – Falei sincero. – Eu acho que sou legal demais. – Ela soltou uma risada nasalada fraca.
- Você não tem ideia da vontade que eu estou de te bater agora. – Ela comentou, me fazendo sorrir.
- Se isso fizer com que você se sinta melhor, pode bater! – Ela abriu um sorriso de lado, fechou a mão direita em um punho e deu um soco em meu peito, no local que ela mais gostava do meu corpo, a região da tatuagem.
Meu corpo foi levado levemente para trás, mas ela permaneceu com o sorriso desanimado.
- Não ajudou. – Ela comentou e eu sorri, passando meus braços pelo seu corpo, trazendo-a para mais perto de mim.
- Me desculpa. – Falei e senti seu pescoço se movimentar de cima a baixo encostado no meu.
- Só não faz de novo, ok?! – Afirmei com a cabeça. – Eu sou ciumenta, mas quando começo a achar que tem motivo para eu ser, eu não gosto do que eu me torno.
- Não vai ter necessidade para isso. – Beijei o topo de sua cabeça.
Ela se manteve em meu corpo por um bom tempo. Sua respiração estava acelerada e seu rosto estava gelado. Notei que fazia algum tempo quando ambos voltaram a seu comportamento natural.
- Eu preciso de um banho. – Ela falou, sua voz saiu abafada.
- Vai lá! Eu vou preparar algo para comer. – Falei, soltando minhas mãos de seu corpo.
- Tem que pedir alguma coisa. - Ela comentou. – Com a viagem para Nova York, fui esvaziando tudo ao longo da semana. Você vai achar leite e algumas bolachas sem graça.
- Ih! – Fiz careta.
- Pois é! – Ela riu. – Você sabe onde estão os cardápios, fique à vontade.
- Comida chinesa? – Perguntei.
- Eu nunca nego! – Ela falou antes de tocar seus lábios em minha bochecha barbuda e entrar em seu quarto, logo batendo porta do banheiro de sua suíte.
- Quero saber o que é aquilo que você e o Derek estavam conversando. – Comentei, após um tempo em silêncio, já que ela lia um livro, quieta ao meu lado em sua cama.
- Ah, é um pouco complicado! – Ela falou, fechando o livro e virando seu corpo sobre o meu na cama de modo que seu rosto ficasse próximo ao meu e, suas mãos apoiadas em meu peitoral, protegido pela blusa do pijama. – Derek e Rupert estão na fila de adoção. – Arregalei os olhos. – Pois é. E eles foram selecionados para visita do assistente social. Ia ser hoje à noite, Rupert estava arrumando tudo porque o Derek realmente precisou trabalhar hoje, fechamento de contas, fim do mês... E pior, fim do ano! Enfim... – Ela suspirou. – E eles querem muito isso. Eu não quero ligar para não atrapalhar, mas eu também quero saber a resposta logo! – Ela soltou uma risada.
- Eles têm preferência de gênero, idade, raça? – Ela negou com a cabeça.
- Eles só querem um filho. – Ela deu de ombros, apoiando a cabeça em meu peito.
Uma pergunta escapou de minha garganta.
- E você? Quer? – Perguntei, surpreso com minha própria pergunta e a vendo erguer a cabeça novamente.
- Quero. – Ela falou, simplesmente. – Eu quero todo tipo de felicidade à qual eu tiver direito. – Ela se ergueu, se sentando na cama, cruzando as pernas. – E, com certeza, ser mãe vai ser uma grande felicidade. – Abri um sorriso, me sentando igual a ela, passando as mãos em suas pernas cobertas pela calça de moletom.
- Posso perguntar “e você?”? – Soltei uma risada fraca. - E você? – Ela perguntou, me fazendo rir.
- É o sentido da vida, não é?! – Ela revirou os olhos.
- Não me trate como uma daquelas jornalistas que acham que vida pessoal de famoso é pauta. – Franzi a testa. – O que seu coração quer?
- Bancando a jornalista comigo, ? – Franzi a testa.
- Não, bancando a jornalista boa contigo. – Comprimi meus lábios e afirmei com a cabeça, surpreso. – Responda! – Ela falou.
- Eu quero ser feliz. E eu quero ser contigo. O que você quiser, eu topo. – Ela deu um sorriso de lado e virou seu corpo novamente, deitando na cama.
Colocou sua cabeça sobre meu braço e pegou o livro novamente, folheando as páginas enquanto eu sentia o sono chegando. Eu estava fazendo carinho nela e era eu quem estava ficando com sono, até que um estalo veio em mim.
- Ei! – Falei, fazendo-a virar o rosto para mim. – Que história aquela de cumprimentar paparazzi? – Ela soltou uma gargalhada, apoiando o livro fechado em sua barriga.
Sem brincadeira, a gargalhada dela conseguia superar a minha.
- É que... – Ela riu mais um pouco. – Depois da foto, do Just Jared e tudo mais, ele começou a surgir aqui na frente. E eu perguntei ‘por que eu’, aí ele simplesmente disse que porque foto minha estava vendendo. – Ela deu de ombros. – Aí a cada dia eu vou conhecendo ele. Às vezes, tem outros, mas normalmente é só ele mesmo. – Ela deu de ombros.
- Você é surpreendente! – Comentei.
- Por quê? Fiz algo de errado?
- Não, é que... Nunca em mil anos que eu esperaria isso. Sei lá! – Soltei uma risada.
- Eu posso ser surpreendente de vez em quando, Evans! – Ela piscou e eu ri, já ouvira aquela frase antes.
- Ok, vou começar a mudar minhas opiniões sobre o frio. – falou ao meu lado, com as mãos enterrada no bolso de seu casaco e fazendo com que uma fumaça branca saísse de seus lábios avermelhados. – Eu deveria ter colocado mais uma calça.
- Mais uma? – Peguei a mala da mão do taxista, agradecendo com a cabeça, e virei o rosto para minha namorada, que sempre dizia que as pessoas se vestiam melhor no frio e estava linda. – Você já está com duas.
- Duas eu usava no frio do Brasil, imagina aqui em Nova York! – Ela deu alguns pulinhos, fazendo os saltos de sua bota ecoarem pelo set de filmagem. – Eu quero minha cama. – Ela choramingou e eu toquei meus lábios nos dela, sentindo-os gelado.
- Aqui não vai levar mais de duas horas, ok?! – Ela afirmou com a cabeça, fazendo um pequeno bico com os lábios.
- Mas quanto mais tarde, mais frio. – Ri fracamente.
- Seja forte. – Ela me mostrou a língua.
- Tá fácil não, Evans! – Ela comentou.
- Vamos! Quanto mais rápido formos, mais rápido terminamos. – Ela concordou com a cabeça e passou um braço pelo meu enquanto caminhávamos por aquele quarteirão em direção aos trailers, onde seria gravada mais uma cena do meu filme.
- Um segundo, Chris! – Ela me parou. – Se eu começar a ser mal-educada ou grossa, com a Alice, me dá um cutucão, ok?! – Afirmei com a cabeça.
- Pode deixar. – Ela sorriu e eu depositei um beijo em sua testa.
Caminhamos pelos trailers dispostos no meio da rua naquele pequeno quarteirão de Nova York que conseguimos para a gravação do filme. Não era um espaço muito grande, mas suficiente para o que precisava.
- Megan! – gritou para a colega de trabalho, saltitou, de frio ou de alegria, não sei dizer, e abraçou firmemente a loira. – Está frio, Megan! – Ela suspirou para a mais velha
- Bem-vinda à Nova York, ! – Megan comentou, soltando-a, e deu de ombros.
- Eu já estive em Nova York, mas não no frio. – Ela resmungou.
- Vai lá, Chris, eu cuido da friorenta aqui! – Megan falou.
- Ha, ha, ha! – falou, apertando as mãos no bolso do casaco.
- A gente se vê daqui a pouco! – Falei, apertando meus lábios nos dela rapidamente.
- Bom trabalho! – Ela falou, sorrindo, e eu retribuí.
- Vamos, ! – Megan puxou pelos ombros e eu segui para outro lado, encontrando Mark Kassen próximo aos trailers.
- Preciso de alguma coisa quente para beber! – Ouvi falar longe e soltei uma risada fraca.
- E aí, Mark! – Cumprimentei meu amigo rapidamente e ele me ajudou com algumas das bolsas que eu carregava.
Passei pelo trailer/camarim para colocar a roupa de meu personagem Nick Vaughan. Nada como uma roupa comum, uma calça mais social, um casaco pesado por cima da roupa e um case de trompete que iria como uma bolsa nas costas, mas não no momento. Finalizado a troca de roupa, eu saí do trailer, passando para o que estava na frente, o de maquiagem.
Abrindo a porta do mesmo, já pude notar as fortes luzes claras contrastantes com as fracas da rua. Alice estava sentada em uma cadeira com a roupa parecida com as minhas, com alguns prendedores no cabelo enquanto a maquiadora fazia uma maquiagem sutil nela.
- Boa noite! – Falei, cumprimentando ambas.
- Boa noite, Chris! – Elas responderam.
- Lavou o cabelo? – Andrew, o cabeleireiro, perguntou, se levantando do banco que ficava quase escondido.
- Ha, ha, ha! – Falei e sentei na cadeira vazia, recebendo um olhar fulminante dele. – Isso é um sim! – Eu o vi relaxar e ouvi as duas mulheres rindo ao meu lado. – A ideia era vocês fazerem milagre, não?! – Soltei uma risada fraca
- Com pouco tempo, as coisas complicam. – Janice, a maquiadora, falou. – Está pronta, Alice. Não saia no vento agora, ou vai literalmente tudo para os ares. – Ela soltou uma risada fraca.
- Vai ser só aquela cena mesmo, diretor? – Soltei uma risada irônica, era estranho ser chamado daquele jeito.
- Sim! A gente não tem muito tempo com essa locação. É coisa de poucas horas, amanhã nada disso pode estar aqui mais.
- Que... Merda! – Alice falou lentamente e eu ri.
- Vamos dar uma penteada nessa barba, arrepiar os cabelos, tirar o brilho do rosto e mandar vocês de volta para o frio. – Andrew comentou, pegando um pente fino.
- Manda bala! – Comentei.
estava pálida, com um cachecol que ela tinha arranjado não sei onde. O pouco que se via das bochechas estava fortemente avermelhado, a mão escondida dentro da luva e a luva dentro dos bolsos dos casacos. A mão livre tinha um copo do qual saía uma fumaça excessiva, mas que logo se dissipava no ar. Ela estava sentada em uma das poltronas espalhadas embaixo do toldo montado próximo ao set, ou seja, a calçada. Meus três produtores estavam lá, todos com roteiros nas mãos e telas montadas próximo a eles. Minha cadeira de diretor ficava bem em frente a um desses monitores.
- Como combinado? – Mary, uma das produtoras presentes, perguntou.
- Sim, a gente já saiu muito do roteiro nas gravações da semana passada. – Falei com firmeza na voz.
Já tínhamos gravado quase o filme inteiro. Era a última e... Cara, eu ainda achava complicado.
- Vamos fazer de uma vez só? – Mark perguntou.
- Vamos tentar! – Olhei para em uma das últimas cadeiras ao lado de Megan, que mexia em seu celular, e abri um sorriso para ela que retribuiu.
Não pude ver seus lábios, mas suas bochechas deram uma leve enrugada e saiu fumaça de suas narinas. deu uma olhada rápida na loira atrás de mim, fechou os olhos por um momento e relaxou o corpo novamente na cadeira. Dei um sorriso de lado. Minha garota.
- Em suas posições! – Falei o mais alto que minha voz permitia, peguei o case vazio de trompete e coloquei nas costas, então Alice me seguiu, arrumando sua bolsa na lateral. – Mark, é contigo! – Eu o vi confirmar com a cabeça.
Essa era a cena principal do filme. Contava, basicamente, a história de duas pessoas com suas desilusões amorosas que andam por Nova York e compartilhavam entre si essas experiências. Nesse momento em especial, era onde esse ponto seria abordado no filme.
O problema era o seguinte: a cena não passava de um diálogo, eu falava, ela falava, eu perguntava, ela respondia. Era o ápice do filme, digamos assim, mas tinha algumas insinuações, tanto no diálogo como no ato, e minha namorada, já ciumenta pela minha co-estrela, estava presente nas gravações. Que Deus me ajude!
- Vamos começar! – Mark falou.
Eu acenei para os dois câmeras e para o ajudante, segurando o microfone, e depois para Mark.
– Ação!
- Muito bom, gente! – Falei, me aproximando dos produtores, virando o monitor para mim e começando a assistir a cena novamente. – Bem, depois de 17 vezes. – Todos ao redor riram e logo ficaram em silêncio para que eu pudesse assistir a cena. – Acho que acertei em cheio! – Meus companheiros de produção riram e eu virei meu rosto para trás, encontrando Megan sentada no lugar de antes, mas com uma cadeira vazia ao seu lado.
Franzi meu rosto e Megan só deu de ombros.
– Muito bom, galera! Obrigado pela dedicação, e pelo apoio nesse trabalho. Foi muito bom trabalhar com todos vocês.
Aquele momento caloroso de palmas e abraços do pessoal da produção e do elenco não podia faltar. Até que, para uma pequena produção, era algo bom. Eu tinha a seguinte visão: não importava o tamanho do trabalho, ele sempre deveria ser lembrado e prestigiado.
- Aproveitem as festas de fim de ano que a gente volta a se falar no ano que vem. – Comentei com os produtores e todos afirmaram com a cabeça.
Por mais que as gravações tivessem acabado, havia um longo caminho pela frente na edição, pós-produção e uma possível divulgação.
- Obrigada pela oportunidade. – Virei, encontrando Alice, já com outra roupa e os cabelos presos.
- Não é nenhum Star Trek, mas é alguma coisa. – Comentei e ela deu uma risada fraca.
- Não importa. Um papel é um papel, grande ou pequeno! – Ela falou o que penso e eu afirmei, então nos abraçamos rapidamente. – Não tive a chance de conhecer sua namorada.
- Ela não está acostumada com muito frio, não estava passando muito bem. – Falei e Alice ponderou por alguns segundos.
- Desculpa se isso causou alguma coisa. – Ela falou e eu ri.
- Você não é o problema. – Suspirei. – É a distância. – Ela afirmou com a cabeça.
- Torne essa distância menor. – Ela deu uma piscadela e eu acenei com a mão.
- Vou tentar!
- E aí?! – Tomei um susto com Megan aparecendo atrás de mim.
- Nunca pensei que podia receber um conselho amoroso de um dos objetos de ciúmes da .
- A gente aprende todos os dias. – Megan comentou e eu fiquei de frente para ela.
- Cadê a ? – Falei meio ríspido e Megan arregalou os olhos, relaxando-os em seguida.
- Na verdade, foi um conjunto de vários motivos... – Ela começou.
- Megan!
- Ok, ela não estava muito feliz em ver você beijando ninguém ou quase beijando, então ela... Como ela diz? – Ela colocou a mão na testa, pensando um pouco. – Ah sim! Deu no pé! Acho que ela não está muito acostumada a isso. – Revirei os olhos e soltei um suspiro alto. – Olha, igualzinho à ! – Soltei uma risada fraca e abracei minha agente pelos ombros, a levando para os trailers.
Eu não sairia correndo até , terminaria o que tinha que fazer antes.
Parei na porta do quarto do hotel em Nova York com Megan ao meu lado e ela deu um tapa de leve em minhas costas. Tirei a mochila da mesma e a pendurei em meus dedos, soltando um suspiro.
- Sabia que nunca pensei que, com um frio desses, eu ia conseguir ficar com calor? – Comentei com a loira ao meu lado.
- Boa sorte! – Ela falou, colocou a chave na fechadura no quarto ao lado do meu e entrou. – Tchau! – Franzi a testa e ouvi a porta bater.
Coloquei meu cartão-chave no quarto que eu e dividíamos e ouvi o terrível som dele liberando minha entrada. Abri a porta de uma vez só. O quarto estava vazio – pelo menos, a cama – mas, pela força do aquecedor, ela estava lá. Larguei a mochila na mesa em que seu computador estava e sentei na ponta da cama, tirando meus sapatos e o casaco pesado. Pensei por um segundo se entrava no banheiro ou se esperava ela sair. Preferi esperar.
A cortina mexeu e apareceu de trás dela, saindo da sacada com o celular na mão e um... Largo sorriso no rosto? Seus cabelos estavam molhados e bagunçados e seu corpo estava coberto com um moletom vermelho queimado, calça e casaco e um tênis de corrida nos pés. Acho que nunca tinha a visto daquele jeito.
- Ei?! – Falei, cumprimentei ou perguntei olhando para ela, com um pouco de dúvida.
- Ei! – Ela falou, escondendo as mãos no bolso canguru do casaco e fazendo seu sorriso feliz sumir, aparecendo um sorriso tímido no local.
- Por que você estava sorrindo? – Ela franziu os lábios, esfregando um no outro.
- Derek ligou! – Ela falou, fazendo o sorriso aparecer novamente.
- É? – Eu me levantei da cama. – Novidades pelo jeito.
- Sim! – Ela soltou uma risada fraca, pude notar um brilho em seus olhos. – Foi aprovado! – Uma lágrima solitária deslizou pela sua bochecha. – Eles vão ter um filho. – Ela fechou os olhos por um tempo e me permiti aproximar, envolvendo seu corpo com meus braços.
Ela retribuiu, apertando seu rosto em meu peito.
– Estou tão feliz por eles! Eles merecem muito. – Ela suspirou, se afastando de mim e passando as mãos no rosto.
- Merecem mesmo. – Comentei e ela abriu um sorriso tímido.
Ela puxou a porta de correr e fechou a persiana. Seus pés no carpete do quarto de hotel nem faziam barulho, mas ela andou de um lado a outro pelo quarto até chegar na mesa redonda. Ela puxou uma cadeira, sentou, pegou uma bala que estava no pote de vidro e a colocou na boca.
- A gente precisa conversar, eu sei. – Eu me aproximei da mesa e puxei a cadeira na sua frente, apoiando meus braços na mesa após sentar. – Mas eu não sei o que falar. Eu não tenho nenhum argumento que explique o que eu fiz.
- Você fugiu.
- É, não precisa jogar na cara. – Ela falou irônica e eu ri, estendendo minhas mãos para as dela na mesa.
- O que aconteceu? – Perguntei, sentindo suas mãos frias acariciarem as minhas.
- Eu não sei. – Ela suspirou. – Não estou acostumada a isso. É ficção, mas também é real. É... – Ela soltou uma risada fraca. – Complicado. – Suspirei.
- Isso te machuca? – Ela ponderou com a cabeça.
- Na verdade, não, porque eu sei que não tem sentimento, não tem desejo, vontade... – Ela ergueu os olhos para mim. – Não tem amor. Não tem, certo?! – Ela riu fracamente.
- Tem por você!
- É engraçado isso. – Ela comentou. – Não seu amor por mim. – Ri fracamente. – Eu vejo seus filmes, você com seus pares românticos e tudo mais, e eu não sinto nada, nem ciúmes, raiva, nada. Mas ver ao vivo... Foi diferente. – Abri a boca. – Me deixa terminar. É só questão de costume. Não é sempre, mas eu vou pedir para não vir em algumas gravações. – Ela suspirou. – A gente dá um jeito! – Ela movimentou a cabeça afirmativamente e riu. – Eu vou tentar controlar meus ciúmes.
- Seria bom! – Ela apertou minha mão.
- Ei, você também! – Ela falou sarcasticamente. – Ou devo te lembrar do último jantar? – Ela piscou e eu ri, me levantando da cadeira e a puxando para perto de mim.
- Ok! Combinado! – Ela passou os braços pelo meu corpo, encostando a cabeça em meu peito. – Quero saber qual é desse look. Largou o salto? – Ela riu fracamente.
- Quando eu era pequena e fazia bastante frio, eu costumava ficar assim. – Ela deu de ombros. – Minha mãe meio que me obrigava. Eu vivia ficando doente, rinite, bronquite, sinusite, qualquer tipo de ‘ite’. – Ri fracamente. – E aí me acostumei. Quando o frio começa e eu posso ficar em casa, moletom e tênis, sempre acontece! – Apertei minhas mãos em seu casaco.
- Sua mãe ficaria muito triste se você não ficasse com essas roupas? – Perguntei na inocência.
- Na verdade, sim! – Ela se afastou alguns centímetros de mim. – Porque eu ainda tenho que te contar uma coisa. – Ela apontou para mim e se afastou, se sentando na cama, no meio do colchão macio.
- O que é?
- Sobre o Natal.
- Ah sim, o Natal...
- Ei, eu falo! – Ela se levantou rapidamente. – Você não tem direitos aqui!
- Ok, madame!
- Você já me convidou para conhecer sua família, fazer parte dela e tudo mais. Agora está na hora de eu fazer isso. – Abri um sorriso de lado. – Acho que está na hora de você conhecer minha família. – Suspirei. – São quase seis meses de namoro, as coisas já ficaram sérias do seu lado, acho que está na hora de ficarem sérias do meu lado.
- E isso envolve o Natal? - Ela suspirou.
- Isso envolve o Natal no Brasil. – Ela riu fracamente e eu arregalei os olhos. – Não tem neve, nem essas decorações todas, mas tem amor, carinho, felicidade e muito mais. – Ergui minha mão e toquei seu rosto, acariciando-o levemente. – Você está pronto para isso?
- Conhecer sua família? Conhecer onde você cresceu? – Ela sorriu. – Eu estou pronto, vai ser um dos maiores desafios da minha vida. – Ela riu fracamente. – Mas é... Eu estou pronto. – Ela franziu as bochechas, aproximando seu rosto e tocando os lábios nos meus delicadamente. – Ah, meu Deus, eu vou para o Brasil de novo! – Ela riu e encostou sua testa na minha.
- Para o país de "loucos". - Ela fez aspas com as mãos.
- Você ainda não se esqueceu disso? - Ela gargalhou.
- Evans, eu nunca vou esquecer.