Capítulo 21
I try to capture every minute
The feeling in it
Slipping through my fingers all the time
Do I really see what's in her mind
Each time I think I'm close to knowing
She keeps on growing
Slipping through my fingers all the time
(Escorregando pelos meus dedos o tempo inteiro
Eu tento capturar cada minuto
A sensação neles
Escorregando pelos meus dedos o tempo inteiro
Será que eu realmente vejo o que se passa na cabeça dela?
Cada vez que acho que estou perto de saber
Ela continua crescendo
Escorregando pelos meus dedos o tempo inteiro)
ABBA, Slipping Through My Fingers
– E aí o príncipe encantado veio e resgatou todos do...
– , mais baixo, por favor. – Falei em um sussurro para minha filha e abaixei seus pés do banco.
– Desculpa, pai. – Ela falou, fazendo uma careta, e eu a puxei para o meu lado, voltando a olhar para o palco.
– Agora, gostaria de chamar aqui a matrona convidada pela turma de jornalismo da Universidade de Boston de 2019, . – A representante da turma falou animada e a turma de uns cinquenta alunos se levantou, aplaudindo e gritando pela minha esposa.
se levantou do seu assento no palco, ajustando seu tubinho preto e, com um sorriso tímido nos lábios, se encaminhou até a menina que antes falou. Em um abraço rápido, se colocou em frente ao microfone, olhando para o pessoal.
– Boa noite! – Ela falou, sorrindo. – Quando eu recebi o convite desses alunos na minha frente para ser a matrona de turma deles, eu tive que ler o e-mail diversas vezes para ter certeza de que eles estavam falando com a pessoa certa. – Algumas pessoas soltaram uma risada. – Era uma surpresa, na verdade, ser convidada por pessoas que eu nem conhecia para ser uma peça importante na formatura deles. – Ela sorriu. – Mas depois que a surpresa passou, eu senti um orgulho enorme de mim mesma e da nossa profissão com o que eu li. – Ela suspirou. – É bom, em meio a tantas dificuldades, ser um modelo para jovens que estão começando a carreira. – Ela olhou por um momento para baixo. – Primeiro de tudo, eu gostaria de agradecer pelo convite, agradecer por vocês, que acompanham meu trabalho, mesmo depois que eu saí do convencional. Afinal, sair do jornalismo não é só pedir demissão, como eu fiz. Ele tem que sair de você, e ele não sai com facilidade. – Ela abriu um largo sorriso. – E, depois de agradecer, eu gostaria de dar um conselho: não desistam. Pode parecer uma batalha. Sei que alguns de vocês deve ter tido dificuldade para conseguir um estágio ou já estão na luta por um emprego. É difícil, o salário não é bom, e pode haver decepção em diversos momentos, mas tem o outro lado. Aquela felicidade incrível quando uma fonte responde, quando seu texto é publicado sem correções, quando o chefe te dá um ‘bom trabalho’, mesmo que só para você, quando você consegue a pauta de capa do jornal, quando você pode entrevistar alguém que você considera fabuloso, um político, um famoso, um chef... Não importa! Cada coisa que pode ser considerada pequena é motivo para felicidade. Eu fiquei bem feliz quando conheci alguns dos meus ídolos. – Ela sorriu, rindo fraco. – Mas uma coisa que eu dou como conselho: ética é chato, cada um pode classificar como quiser, mas importa. Eu tive minha dificuldade pessoal nesse aspecto e, por mais que não tenha sido algo de proporções grandes, é complicado. – Os alunos riram. – Se aproximem dos professores, os façam saber quem vocês são e do que vocês gostam. Eles serão seus melhores conselheiros, seus mentores. – Ela virou para a banca de professores. – Alguns aqui me ajudaram bastante. – Ela suspirou, olhando para trás. – E por último: sejam felizes. Façam o que vocês gostam e o que vocês quiserem. A vida é de vocês, o futuro é de vocês, e ele está cheio de surpresas. – Ela sorriu, suspirando. – Obrigada pelo convite, mais uma vez. Fazer parte da Universidade de Boston, nem que por pouco tempo, me tornou uma pessoa melhor, uma profissional melhor, e espero que tenha feito o mesmo com vocês. – Ela sorriu. – Parabéns!
Não só os formandos, mas também os convidados, parentes e amigos se levantaram para aplaudir . Eu fiz o mesmo. Senti um orgulho enorme da minha esposa. Fazia três anos que ela havia largado o jornalismo e criado um blog pessoal para comentar notícias do momento. Era um blog opinativo, como ela dizia, mas foi assim que os alunos da BU a descobriram. Além disso, ela havia voltado para a ID com a Megan, mas ela cuidava somente de mim. Já havia começado a participar das minhas entrevistas, então era fácil, e ela sempre já sabia o que estava acontecendo, facilitava muito o trabalho. E agora com Megan e Ruth mães também, era difícil conciliar tudo. Quando completou três anos no fim do ano passado, a gente começou a levá-la em alguns eventos, o que facilitou bastante para gente.
Vi a mesma aluna que a apresentou abraçando-a e entregando um buquê de flores, fazendo-a sorrir. Ela estava com os olhos vermelhos, tinha chorado, com certeza! O diretor do curso de jornalismo anunciou a entrega dos diplomas e se colocou em pé, ao lado de alguns professores. Os alunos começaram a ser chamados e subiam aos poucos, passando pelo patrono, que era um dos professores da faculdade e que entregava o canudo. Em seguida, eles abraçavam , que colocava o capelo neles. Tiravam fotos os três e desciam novamente. No momento em que colocava o capelo neles, eles a abraçavam fortemente. Alguns falavam algumas coisas, outros ficavam meio acanhados, mas a maioria dava um abraço de urso nela e, em seguida, tiravam a foto e voltavam correndo para baixo, ajeitando a beca e o capelo na cabeça.
– Quer falar? – O patrono cochichou para perto do microfone e ela se aproximou do mesmo.
– Atenção! – Ela falou, fazendo com que as pessoas ficassem quietas novamente. – Eu vos apresento a turma de jornalismo da Universidade de Boston do ano de 2019. – Ela falou, animada nas últimas palavras, e os formandos jogaram os capelos para cima e gritaram, comemorando.
Peguei no colo, fazendo questão de pegar seus bonecos juntos, e levantei do meu assento, vendo abraçar apertado alguns de seus antigos professores de quando ela fez sua pós-graduação na Universidade de Boston. Ela desceu do palco, sendo parada por alguns alunos e convidados para tirar foto. Era muito bom não ser a atração principal em algumas situações. Ela observou os formandos por um tempo, soltando um suspiro alto, e virou o corpo, vindo em nossa direção com o buquê em mãos.
– EI! – Ela falou, trocando comigo, pegando a no colo e eu pegando o buquê de flores.
– Você foi muito bem. – Falei e ela sorriu, rindo do beijo que dava nela. – Deu saudades, não?
– A faculdade é um tempo tão bom... Faz falta depois. – Ela suspirou e eu afirmei com a cabeça. – Vamos embora? Alguém já passou da hora de dormir. – Ela olhou para , que escondeu o rosto nas mãos.
– Ah, mãe! – Ela reclamou e ajeitou seu vestido.
– Vamos, sapeca! – Falei, seguindo para fora do teatro da Universidade de Boston.
– Bomba! – Ouvi a voz de e um foguete passou por cima da minha cabeça, caindo com tudo na água.
– ! – gritou, puxando-a pelo braço e a trazendo para superfície da piscina. – Cadê as boias? – A mais nova tirou os cabelos castanhos cacheados do rosto.
– Solta, mãe, eu já sei nadar. – Ela falou, puxando o braço de . – E vocês estão aqui. – Ela disse, afundando novamente na água e nadando até o outro lado da piscina.
– Isso é fase? – Perguntei para enquanto ela virava o rosto, de costas para mim.
– Espero que sim! – respondeu, segurando meus braços quando os coloquei em seus ombros.
– Pai, me joga longe? – Ela voltou com a respiração acelerada e eu ri fraco, vendo franzir a testa.
– Cuidado! – Ela me alertou e eu sorri. – Vou tomar banho e ir ao ateliê do Rupert pegar meu vestido. – Afirmei com a cabeça.
– Ele já voltou da Itália? – Ela riu fraco, subindo pela escada da piscina, me fazendo passar os olhos pelo seu corpo enquanto me puxava pelo braço.
– Voltou sim. Provavelmente vou demorar! – Ela piscou para mim e eu ri fraco. – Ele deve ter bastante coisa para contar. – Ela riu.
– Tchau, mãe! – gritou e eu observei minha esposa caminhar até uma das espreguiçadeiras, pegar sua toalha e sumir dentro de casa. – Mamãe é bonita, né?! – Ela comentou e eu sorri, confirmando com a cabeça.
– Você puxou ela, sabia? – Falei, segurando suas mãos e a ajudando a me escalar.
– Mas eu tenho olhos azuis. – Ela falou, pisando nos meus ombros.
– Mas só isso você puxou de mim, o resto é tudo a mamãe. Cabelo cacheado, boca pequena, sobrancelhas largas, bochechuda... – Falei e ela riu alto.
– Para! – Ela apertou minha mão, caindo de volta na piscina e rindo. – Eu não sou bochechuda.
– Ah, não? – Soltei uma risada, me aproximando dela e a vendo se esquivar de mim pela piscina. – Me deixa mostrar suas bochechas. – Ela riu, jogando água em mim, e parou na borda da piscina, respirando fundo.
– E de você, o que eu tenho? – Ela perguntou e eu a puxei da piscina, colocando-a sentada na beirada.
– Além dos olhos? – Ela afirmou com a cabeça. – Meu nariz feio. – Apontei para ela. – Mas pode melhorar.
– Como? – Ela se levantou, deixando a barriga gordinha a mostra.
– O corpo está em constante mudança, quem sabe quando você crescer. – Falei e ela virou o rosto, pensando, do mesmo jeito que fazia.
– Legal! – Ela riu fraco e pulou na piscina de novo. – Vem me pegar! – Ela gritou, afundando na piscina.
– Como está se sentindo? – me perguntou, arrumando minha gravata.
– Como se eu fosse vomitar. – Respondi, fechando os olhos fortemente e suspirando. – Tá difícil.
– Está tudo certo, amor! – Ela falou, descendo as mãos pelos meus ombros, apertando-os. – Vai dar tudo certo.
– Como foi para você? – Perguntei, olhando meu terno no espelho dos bastidores do evento.
– O quê? – Ela perguntou, aparecendo no reflexo do espelho com um batom na mão.
– Terminar um ciclo, sair da ID, da Details... Como foi?
– Doloroso. – Ela falou sincera, passando os braços pela minha barriga. – Mas faz parte da vida, nos ajuda no nosso crescimento. – Ela suspirou e eu engoli em seco, puxando o ar com força.
– Acho que não estou pronto. – Admiti.
– Disse o cara que pensou mil vezes se deveria entrar nesse mundo. – Ela falou, com um sorriso no rosto.
– E já faz dez anos que eu neguei esse papel diversas vezes. E eu ainda o fiz. – Ri fraco e ela suspirou, fechando os olhos por um momento.
– Está na hora de largar o escudo, Steve. – Ela falou visivelmente emocionada, com a voz embargada e suspirou em seguida. – Nem eu estou pronta para isso.
– É minha vez de agradecer por todo o apoio, em todos esses anos. – Ela sorriu enquanto eu me virava para ela.
– Pense assim... Quem realmente importa, não se distancia. Igual o pessoal da ID. Todos são meus amigos ainda porque eu quis que fosse assim. – Ela passou a mão levemente nos olhos. – O da Details, eu não me importei. – Ela sorriu de lado. – É o valor que damos as pessoas que as classificam como amigos ou não. – Suspirei. – Você fez amigos incríveis, Chris, pessoas com quem você pode contar pelo resto da sua vida, e tenho certeza de que eles pensam o mesmo de você. – Passei meus braços pelos seus ombros, apertando-a contra meu corpo.
– Eu tinha 27 anos quando isso tudo começou. Eu estou com 37 agora, é surreal. Tanta coisa aconteceu nesse tempo... – Ela sorriu.
– Tanta coisa mesmo. A gente se conhece faz pouco mais da metade disso aí! – Ela falou rindo e eu sorri.
– Meu Deus, que loucura! – Falei, soltando-a lentamente.
– Eu estarei contigo todo o tempo. – Ela disse, arrumando meu cabelo.
– Vamos? – Megan falou com , que usava um vestido lilás rodado, em seu colo.
– Vamos. – falou por mim e ela me estendeu a mão, a qual eu segurei firmemente, puxando o ar novamente. – Vem, filha! – pulou do colo de Megan e se aproximou de nós, segurando a mão de .
– Vai dar tudo certo, papai! – Ela falou, me fazendo abrir um largo sorriso.
Megan abriu a porta da sala e saímos lado a lado no corredor largo. Haviam feito um jeito diferente para a última première dessa turma na Marvel, nos colocaram em um tipo de hotel ao lado de onde estava ocorrendo o evento e onde a porta de entrada dava diretamente para o tapete vermelho.
Eu acompanhei os passos pesados de Megan e andei pelo corredor em silêncio com . O único barulho que tinha era os saltos de e seu vestido azul que batia em minhas pernas diversas vezes pelos panos esvoaçantes. Olhei a luz clara no final do corredor e achei que era uma metáfora até que engraçada! Balancei a cabeça e pisei com o pé direito no tapete vermelho da première de Os Vingadores: Guerra Infinita, parte 2, sentindo meu coração apertar por um momento, abrindo um sorriso um tanto quanto falso para as fotos.
Eu podia notar na cara de todos os outros atores a mesma coisa. A première estava lotada, todo mundo que fez ou fazia parte do universo Marvel estava lá. A maioria das pessoas ia continuar, tinham alguns contratos para finalizar e tudo mais, mas os seis vingadores que começaram lá na fase 1 estavam com uma dor no peito, e a maioria deles demonstravam no sorriso ou na fala de um. Na hora da apresentação, foi impossível não chorar. E pensar que eu neguei tantas vezes esse papel e foi uma peça importante na minha vida, talvez a mais importante.
ficou ao meu lado o tempo inteiro, não era brincadeira. Ela ficou comigo nas fotos, nas entrevistas, junto com os fãs, em todo momento. era uma peça especial nesse quebra-cabeça todo. Ela era uma aparecida, então ela se colocava na frente das câmeras, fazia pose, ria, brincava, ia para o colo de todos os meus amigos de elenco, no meu, mas logo dormiu no colo de Megan.
Ela não entendia, eu tinha certeza. Tentamos explicar que o papai era famoso e tudo mais porém, na cabeça dela, era tudo uma fantasia, como se eu fosse um dos príncipes que ela assistia incansavelmente na TV ou manipulava, criando histórias imaginárias. A maioria dos meus filmes, ela não assistia. Ela ia aos eventos, mas a colocávamos para dormir antes do filme começar, e os que ela assistia, não entendia muito. Um dia, ela entenderia. A outra opção seria esconder tudo isso dela, mas não durou dois segundos para tirarmos essa ideia da cabeça. Afinal, ela cresceu nesse meio, não podíamos escondê-la.
– Eu estou orgulhosa de você. – falou, passando os braços pelos meus ombros quando meu nome apareceu nos créditos. – Eu sempre estou orgulhosa de você. – Ela insistiu, me apertando em meus braços, fazendo com que as lágrimas escorressem de meus olhos sem medo.
– Ei, garota! – Falei, ouvindo o sininho, assim que eu abri a porta.
– Oi, pai! – Ela falou, sem desviar os olhos dos seus bichos de pelúcia no chão.
– Cadê sua mãe? – Perguntei, olhando o local vazio.
– Na cozinha! – Ela falou.
– Não sai daí. – Falei, trancando a porta novamente e caminhando pelo estabelecimento, passando a área de atendimento e chegando à porta da cozinha.
– Traz um cupcake para mim? – Ela gritou e eu ri fraco.
Olhei para dentro da cozinha de e tive a maravilha da vida. Diversos doces, bolos, cupcakes, sobremesas, bombas, sonhos e mais um monte de doces de diversas nacionalidades estavam estendidos pelas largas bancadas e ela estava no canto, colocando cobertura em algum dos cupcakes, com os cabelos presos e o avental sujo de farinha.
– Amor! – Falei, me aproximando dela.
– Oi, amor, tudo bem? – Ela falou, erguendo os olhos para mim por um momento e olhando novamente para os cupcakes faltantes.
– Tá tudo certo. Não é melhor parar, ? Tem bastante coisa aqui. – Ela suspirou, erguendo o rosto.
– Eu não quero que falte nada. – Ela falou, suspirando.
– Contando que tem um milhão de doces aqui, duvido que falte algo.
– Tem mais na geladeira! – Ela disse, soltando o saco de confeitar e se aproximando de mim. – Você tem noção de quantas pessoas confirmaram presença na inauguração?
– Tenho sim, mas metade daquele povo é fã meu ou seu e mora, sei lá, no Japão. – Falei, a segurando pela mão. – Você precisa descansar para amanhã. Vai ser um sucesso, não se preocupa.
– Tem certeza? Eu estou tão nervosa... – Ela falou, puxando o ar fortemente pela boca.
– Claro que sim. Seus doces são maravilhosos, esse lugar está lindo e é um dos melhores pontos de Hollywood. Sua confeitaria vai ser um arraso, ! – Falei animado e ela sorriu.
– Eu só preciso relaxar. – Ela falou e eu afirmei com a cabeça.
– Sim, vamos para casa, tomar um banho quente, colocar a para dormir e eu faço uma massagem em você. – Passei minhas mãos em seus ombros, apertando-os lentamente. – Suas mãos já devem até estar com bolhas de tanto apertar esse saco. – Falei.
– Devem não, já estão. – Ela falou, erguendo as mãos e movimentando os dedos.
– Então vamos fechar isso tudo e ir para casa. Amanhã o pessoal te ajuda, vai ser uma festança.
– Promete que terei massagem? – Ela perguntou e eu sorri, afirmando com a cabeça.
– E o que mais você quiser. – Colei meus lábios nos seus.
– Pai, cadê meu cupca... Opa! – Ouvi a voz de e me afastei de , fechando os olhos.
– Pega o que você quiser, . – falou e eu abri os olhos, vendo a cara de , que se segurava para não dar risada.
– Dorme bem, ok? – Vi puxar a coberta até o pescoço de , que virou o corpo para ela. – Qualquer coisa, o Jordan está na sala e o Matt está lá fora. – A pequena afirmou com a cabeça, apertando o urso polar de pelúcia em seu braço.
– Tudo bem, mamãe. – A mais nova bocejou, soltando uma risada em seguida. – Eu to cansada, não vou acordar. – Ela falou, com os olhinhos pequenos.
– E também estarei no celular. – Ela falou, sentada na beirada da cama de nossa filha.
– Divirta-se! – Ela abriu um sorriso. – Vocês merecem.
– Bons sonhos, minha pequena, que seus anjos lhe protejam! – falou, fazendo um sinal da cruz no peito da filha, e depositou um beijo em sua testa.
– Pode dei... – Ela fechou os olhos, bocejando, virando o rosto para o lado.
– A gente te ama. – finalizou a frase e se levantou, ajeitando a barra do vestido bege em seu corpo e se virou para a porta. – Me espionando?
– Sempre! – Sorri para ela, vendo-a se aproximar a passos lentos até a porta do quarto.
– Vamos para a nossa noite? – Estendi minha mão para ela e ela sorriu, segurando-a.
– Vamos!
– Eu vou precisar esconder seu celular? – Perguntei, fechando a porta do quarto de .
– Talvez. – Ela falou com um sorriso no rosto e eu ri. – Qualquer coisa, você tem nosso celular, Jordan! – falou para Jordan e ele acenou com a cabeça.
– Vai se divertir, senhora . – Ri fraco e apoiei a mão nas costas da minha esposa, a encaminhando em direção à porta.
Abri o carro para ela, para que entrasse no mesmo.
– Aonde vamos? – Ela perguntou.
– Vamos fazer umas recordações. – Falei e ela franziu a testa, puxando o cinto de segurança.
– Recordações? – Ela perguntou e eu me silenciei.
Fazia muito tempo que a gente não saía, a vida estava uma loucura ultimamente. Eu estava fazendo produção de alguns filmes independentes, atuando em um drama, e agora tinha a confeitaria de que estava bombando, fazendo com que ela entrasse antes das seis e chegasse em casa depois das nove da noite alguns dias, ainda tendo tempo para atualizar meu site. estava entrando na escola. Esse encontro havia sido marcado com um mês de antecedência quase, mas era bom, a prova de que estávamos indo muito bem no trabalho. Apesar da distância, eu amava minha vida.
Nesse encontro, eu estava tentando recriar nosso primeiro. Claro que não estávamos em Cape Ann, muito menos em Massachusetts, mas eu tentaria fazer uma versão californiana da situação. Dirigi em silêncio até Santa Mônica, ouvindo minha esposa cantarolar alguma música que tocava na rádio e com a mão em sua perna, a pegando me observar de vez em quando, da mesma forma que ela fez da outra vez. Parei o carro na orla da praia, próximo ao parque temático, e desliguei o carro, vendo-a abaixar a cabeça e balançar a mesma, soltando uma risada fraca.
– Essa é sua Cape Ann? – Ela perguntou e eu não respondi.
Saí do carro e dei a volta, abrindo a porta para ela. Ela segurou minha mão e desceu do carro, dando um beijo rápido em minha bochecha, e olhou para o horizonte. A mesma sensação. Ela caminhou até a beirada da praia, tirou seus saltos e caminhou pela areia. Eu fiz o mesmo, ficando a alguns passos dela. Seus cabelos e os detalhes do seu vestido voaram com o vento e ela soltou uma gargalhada gostosa, dando um giro em volta de si, virando seu corpo de frente para mim novamente.
Passou os braços em volta do meu pescoço, colou o corpo no meu e seus lábios nos meus, me deixando surpreso. Passei meus braços pela sua cintura, sentindo os tecidos de seu vestido coçar minhas mãos, mas a apertei contra mim. Mordi seu lábio inferior levemente, ouvindo um gemido baixo vindo de seus lábios, e subi uma das mãos para seus braços, sentindo sua pele arrepiada.
Seus dedos brincavam com meus cabelos e ela os puxou levemente, fazendo com que eu suspirasse, soltando o ar pela boca e roçando meu nariz no seu. Ela deu alguns pequenos beijos em meus lábios, soltando a respiração fortemente, e eu sorri, encaixando meu pescoço no seu, a abraçando e fechando os olhos, sentindo o cheiro do seu tão conhecido perfume.
Ela ergueu o rosto e passou suas mãos em meu rosto, em um carinho de leve. Eu apoiei minha mão sobre a sua, entrelaçando nossos dedos, e ela sorriu, o mesmo sorriso que eu conhecia há mais de cinco anos, o sorriso que me acordava todos os dias, o sorriso que me acalmava.
– Vamos jantar? – Perguntei e ela afirmou com a cabeça, sorrindo.
Jantamos em um restaurante na orla da praia, era um dos especialistas em peixe de Los Angeles. A comida deles era fantástica, o lugar pequeno, aconchegante, perfeito para um encontro a dois, jantar à luz de velas, música ambiente... Foi uma ótima escolha. Na volta para casa, ela não dormiu dessa vez. O percurso era mais curto mas, mesmo assim, ela ficou quieta, com o ombro encostado no assento, as pernas em cima do banco e o rosto focado em mim.
Abri a porta de casa e encontramos Jordan no mesmo lugar de antes. Nós o dispensamos e deixamos que ele fosse embora. Ele não fazia o tipo babá, mas não se importava também. seguiu direto para o quarto de , tirando os saltos no meio do caminho, e eu fui atrás dela. Ela entrou no mesmo, pegou o bicho de pelúcia que caíra no chão e colocou de volta nos braços de nossa pequena. Puxou a coberta mais uma vez e deu outro beijo em sua testa. Olhei para o lado e Leslie dormia, jogada em um dos cantos. Havíamos decidido doar os outros filhotes. Não era algo que queríamos, mas todos ficaram na família: um com Lílian, outro com Scott, um com Tara e um com Rodrigo, então sabíamos que estavam em boas mãos. Estava difícil dar atenção até para Leslie, apesar de que, desde que nascera, ela só dava atenção para . Havia virado o xodó dela, isso porque minha filha fazia a Leslie de cavalo de vez em quando.
Entrei no quarto e dei um beijo em minha filha, puxando a cortina de sua cama, fechando-a. Saí do quarto com em minha frente, que ia entrando no nosso.
– Vem cá! – Falei, chamando-a do corredor.
– O que você preparou? – Ela perguntou, andando com os pés descalços pelo piso de madeira.
– Só não quero que essa noite acabe. – Falei e ela, sorrindo, segurou minha mão até a sala.
Eu me aproximei do som e liguei uma música baixa, selecionando um dos meus CDs românticos para ouvir. Escolhi a nossa música, a música que levou a nossa primeira vez e a música do nosso casamento. Ela soltou uma risada fraca, identificando a música nos primeiros toques, e eu me aproximei dela, estendendo minha mão e fazendo uma reverência a ela. sorriu, apoiando uma das mãos em meus ombros e esticando a outra.
– Eu te amo, sabia? – Falei.
– Eu sei! Eu sinto isso. – Ela me respondeu e eu sorri. – Eu te amo.
– Parece que faz uma eternidade que eu não falo. É bom te lembrar disso.
– É bom demais ouvir. – Ela falou enquanto eu a girava pela sala de casa, tomando cuidado com os móveis e seus pés descalços.
Ela soltou uma risada quando bateu a canela na mesa de centro e abaixou a cabeça, tentando fazer silêncio novamente. Soltei uma risada e encostei meu pescoço no seu, vendo-a se aninhar em meu braço, me fazendo passar meus braços pelo seu corpo, dando um beijo em sua testa.
– Ah, meu Deus! – Ouvi uma menina falar quando eu ergui meu rosto e abri um sorriso. – É você mesmo! – Ela falou em um inglês difícil e eu sorri. – Você está realmente aqui. – Soltei uma risada fraca.
– Oi! – Falei, já acostumada com essas fãs do Chris que apareciam porque ele falava demais dos meus cupcakes no Twitter e postava diversas fotos dele comendo, me fazendo virar um ponto turístico em Los Angeles. – Estou aqui! – Falei animada, ajeitando meu avental vermelho.
– Eu ouvi falar tanto dos seus cupcakes. – Ela falou, se complicando no inglês.
– De onde você é? – Perguntei.
– Do Brasil! – Ela respondeu e eu abri um largo sorriso.
– Então podemos falar na nossa língua. – Falei em português, notando que eu estava com um forte sotaque, e ela sorriu. – O que eu posso oferecer hoje?
– Eu quero cupcakes, é claro. Ouvi falar maravilhas dele. – Sorri, afirmando com a cabeça, sentindo uma das minhas ajudantes esbarrarem em mim, atendendo ao pedido de outra cliente da fila longa. – Chris Evans posta bastante sobre.
– E come bastante também. – Respondia fazendo rir, andando pelo corredor de dentro até a vitrine com os diversos tipos de cupcakes.
– Ele é fantástico, vocês são fantásticos. – Ela falou animada e eu ri, apontando para uma mesa no canto da confeitaria, mostrando meu marido conversando com Anthony Mackie e Sebastian Stan enquanto minha filha estava sentada em uma cadeira, rabiscando algum papel. – Ah, meu Deus! – Ela falou animada e eu ri. – Ah, me deixa fazer meu pedido. – Ela balançou a cabeça. – Eu quero um de cenoura, um de banana, um de chocolate, um brownie e um sonho, para lembrar de casa. – Sorri, colocando a luva de plástico e, em uma caixa branca com os escritos em vermelho “About Pastries”, coloquei o pedido dela, lacrando-o com uma etiqueta e colando um papel em cima com os pedidos e quantidade assinalados.
– Aqui! Só seguir ao caixa. – Falei, sorrindo e ela afirmou.
– Foi um prazer te conhecer! – Ela respondeu com um sorriso no rosto. – Eu não devia, mas posso tirar uma selfie? – Ri fraco.
– Claro! – Falei, achando engraçado o povo pedir para tirar foto comigo, mas eu me debrucei no balcão, vendo-a tirar a foto, acenei quando ela saiu. – Já volto, Julian. – Falei para o ajudante ao meu lado e tirei o meu avental, o colocando no cabideiro e seguindo em direção a mesa onde Chris estava.
– Obrigada! – Falei olhando para Chris. – Você me trouxe mais um cliente, dessa vez do Brasil. – Falei, apoiando a mão em seu ombro, e ele riu, escondendo o rosto com as mãos. – Eu não estou reclamando.
– Tá trabalhando bem, hein, ? – Sebastian falou. – Você corre de um lado para outro. Deve ser cansativo.
– Eu gosto, Seb! – Falei, com um sorriso largo no rosto. – Não sou mulher de ficar parada sem ter o que fazer, sou adepta àquela filosofia: quando menos você faz, menos você quer fazer e isso é péssimo, te deixa preguiçoso e tudo mais. – Falei sorrindo.
– Mas isso é bom, , olha como isso está cheio. E são quatro horas da tarde de uma terça-feira. – Ele falou.
– E deveria. É tudo uma delícia! Peguei um daqueles pratos com os doces pequenos e nossa... – Anthony falou com a boca cheia, escondendo a mesma com o guardanapo.
– Obrigada por encher minha bola, gente! E pela divulgação também, vejo todas as postagens que vocês me marcam. – Falei.
– Falando em postagem! – Chris falou, desbloqueando o celular e me entregando o celular. – “Símbolo de humildade”. – Ele falou a mesma coisa que eu li no título da postagem de uma foto com uma pessoa na confeitaria.
– “ , como faz questão de ser chamada, mesmo sendo casada com um dos atores mais bem pagos e famosos da atualidade, além de ser jornalista, esposa e mãe, ainda é confeiteira. Decidiu parar de trabalhar e, provavelmente por tédio e amor aos doces, abrir uma das confeitarias mais movimentadas em Hollywood. A surpresa não está aí: vários famosos ou esposas de famosos têm trabalhos incríveis na indústria alimentícia, mas a surpresa maior foi vê-la atrás do balcão, com avental, rede no cabelo e bolhas nos dedos, correndo para atender os diversos clientes, a maioria jovens que provavelmente vieram espiar se seu marido estava por ali. Ele não estava, mas sua fofa filha de quase quatro anos estava, sentada quieta em uma mesa, brincando com suas bonecas enquanto sua mãe corria de lá para cá. Onde eu quero chegar com isso? Que a humildade está na pessoa, não dá para se tornar humilde. tinha todos os motivos para virar uma dondoca, mas não. Ela estava lá, trabalhando duro para que os elogios fossem justos a ela. Obrigada por uma das experiências mais deliciosas da minha vida”. – Respirei fundo. – Ah, meu Deus, eu vou chorar. – Falei, entregando o celular ao Chris.
– Vai nessa, garota! – Anthony brincou e eu ri.
– Vou mesmo. Vou lá para dentro, tenho que fazer mais uma dobra na massa folhada antes e começar a abrir. – Falei, os vendo afirmar com a cabeça. – Chris, se você for embora, leva a para casa. Ela precisa dormir cedo hoje, eu vou tentar chegar cedo em casa. – Ele afirmou com a cabeça.
– Pode deixar, amor, a gente já vai. – Ele confirmou.
– Eu estou com um pressentimento! – Ouvi Chris falar após beber um gole de sua cerveja.
– O quê? – Perguntei, virando meu rosto e tirando uma das pernas de dentro da piscina.
– Esses dois. – Ele apontou para e Joseph, que corriam pelo quintal de casa.
– Ah, Chris! – Falei rindo, bebendo um gole de Coca-Cola direto da lata.
– Que foi? – Ele falou irônico.
– Isso é ciúme dela. – Respondi, virando o corpo para ele.
– Claro que é! Minha princesinha. – Soltei uma risada fraca, balançando a cabeça.
– Sim, sua menina, mas ela não tem nem quatro anos, amor, tem bastante tempo para isso acontecer. – Bati em sua perna.
– Que acontecer o quê! – Revirei os olhos. – Nada vai acontecer.
– Melhor ser com o Joseph do que com alguém que não conhecemos. – Falei e ele ponderou com a cabeça. – Mas também, isso pode ficar só na amizade. Nós dois temos esse exemplo.
– Na nossa época, era diferente. – Ele falou, balançando a cabeça.
– Me senti com 50 anos agora. – Falei, o fazendo rir.
– Vamos mudar de assunto, vai. – Ele disse. – Onde vamos passar o Natal desse ano? O Natal e todas as comemorações do fim do ano. – Ele falou e eu ri.
– Passamos o ano passado no Brasil. Podemos fazer em casa, ou passar em Boston. – Dei de ombros, virando meu corpo e encostando minhas costas em seu tronco.
– Minha avó está doente, vai ser difícil tirar minha mãe de Boston. – Afirmei com a cabeça, franzindo a testa.
– Verdade! – Suspirei. – Podemos ir para Boston, acho que a vai gostar de um Natal com neve. – Abri um sorriso, vendo minha filha se esconder atrás de uma árvore.
– A ou você? – Virei o rosto para Chris, sentindo sua respiração em meu pescoço.
– Eu amo um Natal com neve. – Falei, abrindo um largo sorriso, lembrando-me do Natal quando tinha dois anos. – Certifique-se que nevará em Boston esse ano. – Ele riu baixo contra meu ouvido.
– Pode deixar, vou ligar para minha mãe amanhã. – Afirmei com a cabeça. – E sua mãe? – Soltei uma gargalhada, o vendo franzir a testa.
– Eu me esqueci de te contar. – Falei rindo.
– O quê? – Ele perguntou rindo.
– Lílian me contou que minha mãe está namorando. – Chris gargalhou, jogando a cabeça para trás.
– Sério?
– Sim! – Falei, virando o corpo para ele. – Ela falou que foi pegar um negócio em casa, tinha um carro diferente estacionado na frente e, quando entrou, estavam os dois conversando na maior intimidade na sala de casa.
– Ah, meu Deus! – Chris riu. – Você o conhece?
– Não por nome, mas eu saí de lá faz quase dez anos, mal me lembro do povo que estudou comigo. – Comentei, dando de ombros.
– Será que dura?
– Não sei, mas quero que ela seja feliz, ela está precisando.
– E Lílian? – Ele perguntou, passando os braços pelo meu corpo. – Você comentou de um ex-namorado.
– Jonas. – Falei, suspirando. – Eles namoraram no ensino médio, não deu certo. Depois namoraram quando ela terminou a faculdade, aí ele ia casar com outra, se mudou para o Chile, e agora voltou. – Revirei os olhos.
– E ele foi atrás dela?
– Pior que não. Ele é fotógrafo, voltou de férias para minha cidade, viu a agência de marketing dela e entrou para pedir parceria. Ela falou que tomou um susto quando se reconheceram. – Soltei uma risada fraca.
– E eles se machucaram nesses términos? – Ele perguntou.
– O primeiro foi por falta de maturidade, ciúmes. O segundo foi pelo tal casamento dele, que ele tinha outra, mas ninguém realmente ficou machucado com isso. Pelo menos, não a Lílian. – Dei de ombros.
– E o que você acha dele? – Soltei um suspiro fundo, passando a mão na testa.
– Ele é legal, gente fina, minha família inteira gostava dele e tal, mas eu não sei. Acho que essas montanhas russas eternas não dão em nada. – Cocei a nuca. – Mas ela já tem 36 anos. Ela se faz de durona, mas eu sei que ela tem sonhos também. – Suspirei. – Eu estou casada há quase cinco anos e sou mais nova. Eu não sei se ela se liga nisso, mas eu penso nisso diversas vezes.
– Se for para dar certo, vai dar! – Ele falou, estalando um beijo em minha nuca.
– É guerra! – Ethan, sobrinho de Chris, agora com 11 anos, gritou, jogando uma bola de neve no tio, que soltou uma risada, montando uma bola de neve com as mãos e a devolvendo em seu sobrinho.
Virei para o lado, encontrando e Stella fazendo anjos de neve no quintal de Lisa, rindo que mais rolava do que fazia anjos. Peguei minha caneca de chocolate quente novamente e bebi um gole, sentindo meu corpo relaxar, e bocejei em seguida. Eu estava com frio. Adorava neve, mas conseguia ficar muito pouco tempo do lado de fora. Meu nariz congelava, eu não sentia a ponta dos dedos, era uma sensação engraçada.
Coloquei a caneca vazia dentro da pia e fui para o segundo andar, entrando no quarto de Chris e encostando a porta atrás de mim. Sentei sobre a cama e tirei as botas, colocando umas meias de lã por cima da que eu estava. Puxei as diversas mantas por cima do meu corpo, cobrindo até os braços, e peguei a revista na mesa de cabeceira. Comecei a folhar a mesma, procurando as marcações que Megan havia feito que diziam que eu ou Chris estávamos na revista. Nesse caso, era mais uma reportagem sobre a confeitaria em uma página e Chris na outra, falando sobre os seus futuros lançamentos, que aconteceriam no ano seguinte.
– , desce aqui! – Ouvi uma voz gritando e me assustei, empurrando a coberta para fora do meu corpo e saindo do quarto correndo, quase deslizando no chão por não ter trocado de sapato. – A se machucou. – Chris falou, colocando no sofá.
– O que aconteceu? – Perguntei, descendo as escadas, vendo o queixo de sangrando e a ouvindo chorar. – Ah, meu amor. – Falei, ajoelhando em sua frente e limpando suas lágrimas. – O que foi?
– Ela e o Miles trombaram. – Ele falou apontando para Miles, que também chorava no colo de Carly.
– Vou pegar os primeiros socorros. – Marcus falou, se retirando da sala.
– Calma, meu amor, não foi nada, só deu uma ralada. – Passei minhas mãos pelos olhos de e beijei sua testa. – Está tudo bem.
– Mas tá doendo. – Ela falou, puxando a respiração forte e formando um bico em seus lábios.
– Aqui, ! – Chris falou, estendendo o pacote de algodão e o soro antisséptico.
– Não, mãe, isso arde. – Ela reclamou.
– Não arde, amor, é só soro. – Falei, colocando um pouco do soro no algodão, vendo-a se esquivar com o rosto.
– Confia na mãe, filha. – Chris falou, passando a mão na testa de .
– Tá tudo certo, amor. – Falei, encostando levemente o produto para que ela se acostumasse com ele. – Viu?! – Comecei a limpar o ferimento. – Não foi feio, está tudo certo. – Entreguei o algodão novamente para Chris e, pegando a pomada de sua mão, coloquei um pouco em meu dedo e passei em seu queixo.
– Dá um curativo, amor. – Pedi para ele, limpando o dedo em minha calça jeans. – Pronto, bebê. – Destaquei o mesmo e coloquei em seu queixo. – Tá pronta para a próxima.
Ela puxou o ar com o nariz, passando as mãozinhas no queixo e mantendo o bico na boca. Ela ergueu o corpo no sofá e me abraçou forte, escondendo o rosto em meu pescoço, ficando em silêncio por um tempo.
– Está tudo certo, aqui? – Shanna perguntou, acariciando os cabelos de .
– Está sim. – Falei, esfregando as mãos nas costas da minha filha. – Foi só o susto.
– Dá um sorriso para o papai. – Chris falou, brincando com ela atrás de mim. – Não vai ganhar chocolate quente assim. – Ele disse.
– Chocolate quente? – Ela perguntou e eu ri fraco.
– Vovó fez chocolate quente! – Lisa falou e eu ri, sentindo se soltar de mim aos poucos, encostando as mãos em meus ombros.
– Vai logo, sua sapeca! – Soltei uma risada fraca e ela desceu do meu colo, correndo novamente.
– Que bom que não é nada grave. – Carly comentou e eu ri.
– E os dois só servem para gritar por ajuda! – Apontei para Chris e Marcus, parados atrás de nós.
– Para brincar, é fácil! – Ficamos sérias por alguns segundos e caímos na gargalhada, os vendo revirar os olhos.
– Você me trouxe para um hotel, Chris? – Perguntei, o seguindo para dentro da suíte do hotel em Boston.
– Era o único jeito de ficarmos realmente sozinhos. – Ele falou, fechando a porta do quarto e passando os braços pela minha cintura.
– Ah, é? – Perguntei para ele, virando o corpo para ficar de frente. – E por que você queria ficar sozinho? – Questionei, passando as mãos em seu pescoço.
– Comemorar um pouco. Nem todo mundo pode dizer que fez bodas de madeira. – Ele franziu a testa. – É madeira, não?!
– Tá sabendo mais que eu! – Falei rindo e ele segurou meu rosto com as mãos e me beijou, abrindo um largo sorriso.
– Vem, preparei um jantar para gente. – Ele estendeu a mão e seguimos para dentro da suíte, onde eu encontrei uma pequena mesa redonda com dois pratos cobertos, duas taças e um vinho.
– Como você faz tudo isso? – Perguntei para ele, soltando uma risada fraca.
– Tudo por você. – Sorri, colocando a mão em seu pescoço, ficando na ponta dos pés e beijando seus lábios de forma urgente, bagunçando seus cabelos enquanto suas mãos apertavam minha cintura.
– Acho que esse jantar pode esperar. – Falei ofegante, puxando os botões do meu casaco com pressa, jogando-o para trás.
– Pode?! – Ele falou com um sorriso largo no rosto, puxando seu suéter para cima e colando minha cintura em seu corpo.
– Eu sei que estou devendo nessa parte faz um tempo. – Falei, dando uma piscadela para ele, fazendo-o me levantar pelas coxas, e colocando as mãos em seus ombros.
Ele me encostou na parede, colocando os lábios em meu pescoço, me fazendo soltar a respiração forte para cima. Passei as mãos em seus cabelos, puxando-os em alguns momentos, o fazendo soltar a respiração quente em meu pescoço diversas vezes.
Ergui seu rosto, colando seus lábios nos meus, sentindo-o sugar minha língua até que a minha encostasse-se à dele, me fazendo movimentar meus lábios de um lado para outro, sentindo seu nariz roçar no meu diversas vezes. Minha respiração falhou em diversos momentos.
Ele me puxou novamente, me segurando pelas pernas, e andou comigo às cegas até que chegássemos à cama, fazendo com que ele me soltasse aos pés dela, puxando minha blusa para cima e encontrando mais uma peça de roupa.
– Eu odeio frio. – Ele falou e eu ri baixo quando ele puxou minha blusa para cima, fazendo o mesmo com seu corpo.
Deitei na cama, o vendo engatinhar em minha direção. Encostei as mãos em suas costas, trazendo seu corpo para perto do meu. Senti Chris me beijar calmo dessa vez, mantendo um ritmo lento, mas sua mão deslizava pelo meu corpo enquanto outra se mantinha na cama, sustentando seu peso. Passei meus braços pelo seu tronco, sentindo sua pele se arrepiar, e sorri, sabendo que eu ainda tinha esse efeito nele.
– Acho que está na hora da ter um irmão. O que você acha? – Ele falou, sabendo que uma segunda gravidez era algo que nós realmente queríamos, e eu sorri, virando meu corpo.
Eu o coloquei deitado com as costas no colchão. Fiquei por cima dele, encaixando as pernas nas laterais do seu corpo e deslizando os lábios pelo seu peito.
Capítulo 22
Nothing is right, nothing is right when you're gone
I'm losing my breath, I'm losing my right to be wrong
I'm frightened to death, I'm frightened that I won't be strong
I wanna someone to love me for who I am
I wanna someone to need me, is that so bad?
I wanna break all the madness, but it's all I have
(Nada faz sentido, nada mais faz sentido
Nada está certo, nada mais está certo desde que você se foi
Estou perdendo a respiração, estou perdendo o meu direito de estar errado
Estou morrendo de medo, estou com medo de não ser forte
Eu quero alguém para me amar, como eu sou
Eu quero alguém que precise de mim, isso é tão ruim?
Eu quero acabar com a loucura, mas isso é só o que eu tenho)
Nick Jonas, Who I Am
– A gente vai conseguir, amor. – Falei, passando meu braço pelos seus ombros quando ela se sentou na cama.
– Já faz mais de um ano que estamos tentando regularmente. – Ela encostou a cabeça em meus ombros e eu suspirei. – Com a foi tão fácil...
– Porque não estávamos tentando. – Falei, sentindo-a me abraçar pela cintura. – Simplesmente aconteceu.
– Normalmente é ao contrário, o primeiro planejado e o segundo não. – Ela falou, soltando uma risada sem graça, e eu ergui seu rosto com a ponta dos dedos.
– Vamos conseguir, amor. – Falei firme, vendo-a afirmar com a cabeça um tanto relutante, e eu sorri.
– Vamos sim! – Ela sorriu.
– Mãe, vem me ajudar! – Olhei para trás, vendo , agora com cinco anos, com uma touca no cabelo, um avental grande de em seu corpo e lambendo uma colher suja de alguma coisa.
– Já vou, meu amor. – Ela se levantou, passando as mãos nos olhos e entrando no banheiro.
– O que você está aprontando? – Brinquei com ela, vendo-a abrir um sorriso sapeca e movimentar os ombros, rindo.
– Biscoito! – Ela sorriu.
– E o que era isso na colher? – Apontei para ela, sabendo que aquilo não era massa de biscoito.
– Leite condensado. – Ela falou rindo e eu dei a volta na cama, pegando-a no colo.
Ela gritou quando eu a levantei.
– Vamos dividir esse ouro aí?! – Perguntei, apontando para a colher.
– Me leva na cozinha. – Ela apontou a colher como se fosse uma espada para frente e eu a levei em direção a cozinha.
Senti querer sair do meu colo e a coloquei em um dos bancos próximo ao balcão, vendo-a se sentar no mesmo e roubar uma das gotas de chocolate que estavam em um pote.
– O leite condensado está ali! – Ela apontou para uma tigela um pouco mais longe de si. – Pega uma colher. – Ela sussurrou.
– O que vocês estão falando aí? – apareceu e eu ri fraco, vendo esconder a colher atrás do corpo, ficando quieta.
– Nada. – Ela falou, sorrindo.
– É? E o que é isso no seu queixo? – perguntou e vi abrir a boca, tentando lamber seu queixo.
– Droga! – Ela falou, fazendo bico, e se virou no banco novamente.
– O que você já fez? – perguntou, indo para a parte de dentro da bancada.
– Separei os ingredientes. – falou sorrindo e eu ri.
– Mediu certinho? – perguntou e ela prontamente afirmou com a cabeça.
– Sim, xícaras em xícaras, colheres de sopa com colheres de sopa. – Ela falou feliz e eu passei a mão em seus cabelos castanhos em rabo de cavalo, dando um beijo em sua testa.
– Então vem cá que você que vai sujar as mãos hoje.
– Mas você não disse que ia bater na batedeira? – Ela falou, pulando do banco, caindo de joelhos e dando a volta na bancada.
– É assim que você rala seu joelho. – Falei, vendo os dois joelhos com curativo, e ela riu fraco. – E depois chora.
– Para de implicar, Chris! – riu, batendo a mão em meu ombro, e eu ri, piscando para ela.
– Você vai misturar a massa, é como eu fazia antes da confeitaria. – falou e ela sorriu. – Eu tinha uma batedeira que não batia massa pesada igual de biscoito. – Ela continuou.
– Tá, então eu mexo! – Ouvi sua voz por trás da bancada.
– Tem que mexer direitinho, hein?! – brincou com ela.
– Eu quero que eles sejam em formato de estrela hoje! – Ela falou animada, erguendo a mão para o ar. – E também fazer cobertura azul e branca neles.
– Vamos fazer a massa então. – falou, pegando a cadeira que já tinha arrastado para pegar os ingredientes nos armários do alto, e subiu na mesma.
– Vamos! – Ela falou, animada.
– Eu vou ver jogo, ok?! – assentiu com a cabeça.
– Se você conseguir. – Ela riu fraco. – Sabe que essa se empolga um pouco. – Soltei uma risada fraca, afirmando com a cabeça e me jogando no sofá da sala de TV.
Entrei em casa quieto e vi que não tinha movimento. Estranho! Nem Leslie estava jogada em seu almofadão no meio da sala. Já passava das oito da noite e já deveria ter voltado da confeitaria. Coloquei minha mala no canto da cozinha e tirei meu casaco, jogando-o no sofá da sala. Desgrudei a blusa do corpo. Com certeza, estava mais quente em Los Angeles.
Andei pelo corredor de casa, encontrando a porta do meu quarto fechada. Eu me aproximei da mesma, ouvindo algumas vozes lá dentro. Dei de ombros e coloquei a mão na maçaneta, abrindo a mesma, notando que me olhou mas mal se mexeu.
– O que as mocinhas estão fazendo? – Perguntei, entrando no quarto.
– Papai! – Ela virou o rosto para mim e ficou em pé na cama, pulando nas pernas de e pulando em meu colo. – Você chegou! – Eu a abracei, quando ela passou as pernas pela minha barriga.
– Se comportou direitinho? – Perguntei, estalando um beijo em sua bochecha, sentindo-a fazer o mesmo.
– Uhum! – Ela falou, afirmando com a cabeça, e vi se aproximar.
Encostei meus lábios nos dela levemente.
– Que bom que voltou, amor! – Ela falou e eu sorri, abraçando-a com outro braço. – Como foi?
– Tudo certo, mais uma gravação finalizada. – Sorri, vendo-a afirmar com a cabeça.
– Pai, me solta, quero terminar de ver o filme. – Ri fraco e a soltei de volta na cama, a vendo tomar o meio da cama de casal do meu quarto.
– O que você está vendo?
– Valente! – Ela falou animada, fazendo carinho em Leslie.
– E aí, menina? – Acariciei o pelo de Leslie, que soltou a respiração fortemente por um tempo e abaixou a cabeça na cama de novo.
– Ela anda meio devagar. – falou, franzindo os lábios.
– Buldogues. – Falei, sabendo que eles viviam pouco tempo, mas não querendo continuar o assunto. – Podemos conversar lá na cozinha rapidinho? – Perguntei e ela franziu a testa.
– Aconteceu alguma coisa? – Ela perguntou ansiosa, como sempre.
– Eu só tive uma ideia, relaxa! – Ela soltou uma risada e passou a mão na cabeça de .
– A gente vai na sala, filha, já voltamos! – Ela falou e nem se moveu, tinha a quem puxar seu amor pela Disney.
Segurei a mão da minha esposa e saímos do quarto. Ela fechou a porta e andou um pouco atrás de mim pelo corredor de casa. Entrei na sala de TV, pisando no tapete claro, ficando de frente para ela, vendo-a olhar para mim com um ponto de interrogação no lugar dos olhos.
– Você está me assustando, Chris. O que foi?
– Por que mulher sempre pensa que vem coisa ruim na história? – Ela riu fraco.
– Fala logo!
– Ok, ok! – Respirei fundo, apertando suas mãos. – Qual a sua opinião sobre adoção, ?
– Adoção?! – Ela franziu a testa um pouco. – Acho uma ideia ótima para aqueles que não conseguem ter filhos ou que tem um espaço sobrando no coração. Além de se ajudarem, ajudam quem precisa. Por quê a pergunta?
– Aqueles que não conseguem ter filhos e tem um espaço sobrando no coração. – Falei e apontei para nós dois em seguida, vendo-a abrir a boca, surpresa.
– Ah, meu Deus, Chris! – Ela falou, em um misto de surpresa e alegria. – Você acha que...?
– Nós não estamos tendo sucesso no modo tradicional. Já fomos ao médico e sabemos que não há nenhum problema conosco, o bebê só não vem.
– Você acha que daria certo? Que nós somos qualificados para adotar alguém? Será que damos conta? Ah, meu Deus. – Eu a segurei pelos ombros.
– , calma! Respira! – Falei e ela fechou os olhos, soltando um suspiro em seguida e abrindo os olhos de novo. – É uma ideia.
– É uma ideia maravilhosa, Chris! – Ela falou, apertando minhas mãos. – Mas tenho um medo interno.
– É um processo gigantesco para adotar alguém aqui nos Estados Unidos, eu lembro quando foi com a Shanna. Você se cadastra, depois tem a entrevista, a seleção da criança baseada em nossa entrevista, visita à casa e, só depois, se passarmos por tudo isso, aí sim. Tem tempo para se acostumar com a ideia.
– Isso é incrível, Chris! – Ela falou, soltando minhas mãos e passando os braços pelo meu pescoço, ficando na ponta dos pés.
– Você acha que gostaria da ideia? – Perguntei para ela, que se separou de mim imediatamente com o rosto sem demonstrar nenhuma expressão.
– Vamos perguntar. – Ela falou e eu arregalei os olhos. – Eu jogo isso nas suas costas.
– Obrigado! – Ri fraco.
Ela estendeu sua mão esquerda, onde vi sua aliança brilhar em seu dedo. Segurei sua mão, vendo-a me puxar de volta pelo corredor, me fazendo rir. era uma pessoa decidida. Entramos no quarto novamente e continuava com o olhar fixo na TV. Pelo que eu conhecia do filme, estava na metade. Eu dei a volta na cama e sentei em um lado dela. sentou no lugar que estava antes. Passei minha mão pelas costas da minha filha, que encostou o corpo no meu.
– . – Eu chamei.
– Hum. – Ela respondeu, sem olhar para mim, e eu ri.
– Você gostaria de ter um irmãozinho? – Perguntei na lata.
Nós não protelávamos. Eu era ansioso e era agitada, então...
– Ele vai brincar comigo? – Ela perguntou.
– Claro que vai, amor. – respondeu e ela sorriu.
– Seria legal ter alguém para brincar comigo, a Leslie não pode segurar uma boneca. – Ela suspirou. – E nem comenta filmes comigo. – Soltei uma risada fraca. – E o Joseph não pode vir sempre.
– Mesmo se ele fosse diferente? – Ela virou o rosto para mim nessa hora.
– Como assim ‘diferente’? – Ela olhou para mim com seus olhos claros.
– Ele não seria do mesmo jeito que você, não nasceria da mamãe, mas seria seu irmão do mesmo jeito. – Tentei explicar, sabendo que não fui muito claro, principalmente porque a conversa ‘de onde vêm os bebês’ não tinha acontecido ainda.
– Então ele não seria diferente, ele seria da família. – Ela falou sorrindo. – Igual a Leslie. Ela é diferente, mas é da família. – Ela abraçou a cadela e eu ergui meu olhar para , que tinha os olhos apertados, segurando a risada.
– Então você ia gostar? – Perguntei.
– Ia ser legal! – Ela suspirou e se mexeu novamente, colocando as pernas em cima de .
Olhei minha esposa, que tinha um sorriso no rosto com a mão em cima da perna de , e eu sorri, feliz em saber que estávamos criando nossa filha do jeito certo. Encostei minha cabeça no travesseiro e suspirei.
– A ideia é maravilhosa, filho. – Minha mãe falou, tomando um gole de seu café. – E o melhor é que vocês querem fazer isso por vocês. – Olhei para sentada no sofá e a vi sorrindo.
– É uma ideia que o Chris teve, e estamos realmente cogitando isso. – falou, observando beber um gole de água e devolver o copo à mãe, prestando atenção aos presentes que a avó Lisa havia trazido.
– Isso é incrível, irmão. – Shanna falou, ao meu lado, me ajudando na lavagem das louças do almoço. – Significa muito para mim.
– Eu sei, irmã, mas não pense que isso foi feito pensando em você. – Soltamos uma risada e riu fraco.
– Eu sei que não e isso me deixa mais feliz ainda. – Ela sorriu, me estendendo o pano para eu secar minhas mãos.
– E vocês já pensaram em algum país, instituição...? – Franzi a testa, vendo virar o rosto para mim com a mesma dúvida nos olhos.
– A gente nem falou sobre isso, na verdade. A ideia é aqui nos Estados Unidos mesmo, não queremos fazer disso um espetáculo ou com uma instituição que realmente não conhecemos. – Afirmei com a cabeça e desliguei a pia da cozinha.
– Quando eu pesquisei para adotar a Shanna, eu vi uma aqui na Califórnia que chama Saint Thomas. Eles faziam um trabalho incrível com as crianças, é todo comandado por voluntárias, fica em Pasadena. Acho que rolaria uma viagem até lá.
– É pertinho daqui de Los Angeles, acho que seria um ótimo jeito de começar. – Falei, pulando minha filha e seus brinquedos no chão, e sentei ao lado de no sofá.
– Seria bom mesmo! – sorriu.
– E gente... – Shanna nos chamou. – Não sei a faixa etária que estão pensando, mas se for muito pequeno, deixa claro que é adoção, ok? – Ela sorriu. – As pessoas têm a ideia de que crianças adotadas são mais susceptíveis a problemas e desorientação, mas não. É só não esconder e tratar da mesma maneira. – Afirmei com a cabeça, abraçando pelos ombros.
– E outra, se vocês quiserem mesmo adotar e quiserem para agora, um processo de adoção pode demorar mais que uma gravidez às vezes. – Olhei para , que riu fraco.
– É até engraçado. No Brasil pode, durar anos. – Ela sorriu.
– Você está pronto? – me perguntou, ajeitando minha gravata e passando as mãos em meus ombros como sempre fazia.
– Estou, e você? – Ela estava mais pálida que um papel e suas mãos tremiam.
– Sim, estou bem! – Ela falou, soltando um longo suspiro em seguida.
– Vai dar tudo certo, é só uma entrevista, você já fez isso milhões de vezes. – Falei, segurando suas mãos.
– Normalmente, sou eu quem faço as perguntas. – Ela sorriu e eu ri fraco.
– Que bom que você também sabe respondê-las. – Ela mexeu os ombros, nervosa, e balançou a cabeça.
– Vamos lá! – Ela falou e eu estendi a mão para ela, sentindo segurar com firmeza.
Olhei para o orfanato Saint Thomas em minha frente, subi os cinco degraus que davam da porta e ouvi os saltos de baterem contra o concreto. Ergui o dedo e apertei o interfone uma vez, ouvindo uma voz em seguida.
– Olá, boa tarde! Quem é? – Ouvi uma voz doce falando.
– É a família Evans, temos uma entrevista com Jane. – respondeu e eu sorri, olhando para ela.
– Claro, podem entrar. Primeira porta à direita. – Ouvi uma trava e eu empurrei a porta, dando espaço para minha esposa entrar.
Um grande hall com uma enorme escada se encontrava logo na entrada. Do lado esquerdo, uma grande sala de jantar com diversas mesas largas, tipo de acampamento, eram dispostas. Do lado direito, uma porta fechada. Eu bati duas vezes e, como não tive resposta, eu a abri, encontrando uma senhora com os óculos de grau fino nos olhos, um terninho simples no corpo e diversos papéis em sua frente.
– Boa tarde! – Notei que era a mesma voz do interfone e eu a cumprimentei com a mão, vendo dar um beijo em sua bochecha, como era de seu costume.
– É um prazer recebê-los. – Ela sorriu. – Jane irá vê-los agora, ela é a dona do orfanato. – Ela apontou para outra porta e a abriu, dando de cara com uma mulher, um pouco mais nova que a senhora da recepção e com os cabelos pretos bem curtos.
– Jane, a família Evans. – A mulher, que deveria ser um pouco mais nova que minha mãe, olhou para cima, abrindo um sorriso.
– Ah, sejam bem-vindos! – Ela falou, animada. – Prazer, sou Jane, dona do orfanato Saint Thomas.
– É um prazer. – foi a primeira a se dispor, cumprimentando-a com um aperto de mãos dessa vez.
– Prazer! – Falei, repetindo o gesto de .
– Por favor, sentem-se! – Ela falou, apontando para o lado direito da sala, onde tinha um sofá e uma poltrona. – É um muito bom tê-los aqui. – Ela sorriu. – Gostariam de algum café ou uma água?
– Estamos bem, obrigada! – falou e ela sorriu.
– Bem, sem delongas então! – Ela riu fraco. – Minha assistente conversou com pelo telefone, certo? – afirmou com a cabeça. – E ela disse que o principal motivo da adoção é que vocês não conseguem engravidar.
– Isso, exatamente! – afirmou com a cabeça.
– Mas vocês já tem um filho, certo?
– Uma filha, ela fez cinco anos no fim de dezembro. – Falei e ela puxou uma prancheta, apoiando em seu colo.
– Cinco anos e um mês. – falou.
– E vocês tem alguma ideia de faixa etária?
– Nós... – colocou a mão em minha perna.
– Na verdade, temos interesse em um bebê, mas viemos de coração aberto. – Jane sorriu alegre.
– Bem, interrompendo um pouco, nós não temos nenhum bebê disponível para adoção, o que para nós é incrível.
– Claro, quer dizer que os abandonos são cada vez menores. – Ela sorriu.
– Os abandonos de bebês sim, mas trabalhamos junto com o atendimento social da Califórnia e também recebemos diversas crianças que foram retiradas dos pais. – Dobrei o lábio, suspirando.
– Ah, meu Deus! – murmurou.
– Então gostaria de saber se vocês ainda se interessam antes de passar para a próxima parte. – virou o rosto para mim e eu a olhei, afirmando com a cabeça.
Seria incrível, não importando a idade. A ideia ainda era maravilhosa.
– Sim! – sorriu. – Sem idade. – Jane sorriu.
– Bom, nesse caso, nós fazemos o seguinte: vocês completam uma ficha e, com base nas respostas de vocês, nós selecionamos as crianças que achamos que tem o perfil que combina mais. – Ela sorriu. – Claro que, caso vocês não se interessem, podemos ver outras.
– Ah, isso é tão estranho. – falou, passando a mão na testa. – Parece que estou escolhendo um produto de uma loja. – Ela suspirou, incomodada, e Jane afirmou com a cabeça, com a boca comprimida.
– A sensação é horrível, não?! – Ela falou e suspirou. – Fazemos isso já que as pessoas normalmente vêm aqui, têm contato com a criança e nem sempre dá certo. Depois a criança fica querendo, lembrando, então optamos por preferir o menor contato possível.
– Entendemos. – Falei e ela sorriu.
– Aqui está o papel. – Ela entregou a prancheta e uma caneta para nós. – São muitas respostas longas e chatas, mas é importante. Vou deixá-los à vontade. – Ela se levantou, ajeitando a saia. – Estarei lá fora, só me chamar. – Ela sorriu, caminhando até a porta. – Ah, e como chegaram até nós? – Viramos para ela.
– Minha irmã é adotada, minha mãe indicou esse lugar.
– Ela foi adotada aqui? – Neguei com a cabeça.
– Não, foi em Boston.
– No Lar das Meninas? – Olhei para ela.
– Lá mesmo. – Ela sorriu e abriu a porta, se retirando.
– O que temos aqui? – Eu me aproximei de , olhando para a prancheta.
– Começa com o básico. Nome, endereço, profissão, sobre o casamento... Depois entra sobre a casa, cômodos, cuidados, empregados, animais e, então, a parte de hobbies, gostos pessoais... Por último, é sobre doenças e histórico familiar. – Ela falou, arqueando os olhos para mim.
– A gente vai ficar aqui a tarde inteira. – Falei e ela riu fraco.
– Vai, vamos começar. – Ela riu fraco. – Christopher Robert Evans. – Ela falou, enquanto escrevia com a sua letra linda. – Andrea Evans. – Ela riu fraco. – Não acredito que você só descobriu meu segundo nome quando casamos.
– Você nunca me disse e nem tinha uma página no Wikipedia naquela época. – Ela gargalhou. – 35 e 39 anos. Alguém tá chegando aos quarenta. – Ela brincou e eu franzi a testa. – Fica feliz amor, você está muito bem. Hollywood Hills, número... Qual o número de casa? E da rua? – Ela franziu a testa e foi minha vez de gargalhar.
– Muito bem, senhora Evans. – Peguei a prancheta dela, começando a escrever. – Quarto? A vai dividir ou...
– Seria legal um só dele, poxa. Viver em um orfanato não deve ser muito confortável. Um quarto dele seria legal. – falou.
– Então tchau, cinema. – Falei, anotando que tinha três quartos, sem contar o quartinho.
– Tchau mesmo. Depois que colocamos uma TV no nosso quarto e uma na sala de TV, só usamos quando tem muita gente, o que é raro. – falou, irônica, e eu ri.
– Três salas, uma cozinha, uma piscina, três banheiros e um na suíte. – Fui anotando os números e ia me acompanhando com os olhos. – Dois empregados...
– Especifique. – Ela apontou e eu escrevi.
– Seguranças.
– Um cachorro. – Falamos juntos e eu ri fraco.
– Você pulou. – Ela falou. – Jornalista e ator. – Ela apontou, puxando a prancheta de volta. – Como você esqueceu isso? – Ela riu e eu a empurrei pelo ombro.
– Jornalista por formação, agora é confeiteira. – Falei devagar enquanto escrevia e ela riu.
– Eu quero ir. – falava entre um choro, um grito e um grande bico nos lábios, sentada na nossa cama.
– Amor, olha para mim. – abaixou o corpo e segurou o rosto de nossa filha. – Lá não é lugar para você, não vai ter nenhuma criança para você brincar. – Ela falou, firme. – E para de dar esse show, não te ensinamos isso. – bufou, cruzando os braços.
– Joana está aqui, vocês vão brincar bastante. – Falei, finalizando o nó da gravata.
– Ah! – Ela suspirou. – Por que você não faz um filme para mim, papai? Um desenho? – Sorri, me abaixando em sua frente.
– Eu vou pensar. Pode ser? – Perguntei e ela afirmou com a cabeça.
– Você promete que vai se comportar? – perguntou, se abaixando até ficar da altura dela enquanto eu colocava o paletó.
– Prometo. – Ela falou suspirando. – Você está linda, mamãe. – Ela falou sobre o vestido preto e rendado e a trouxe em seus braços, abraçando nossa filha.
– Não demoramos! – Ela falou, se levantando com nos braços. – Não se esquece de jantar. Tem bolo no micro-ondas, vê se a Joana quer também. – Ela falou e afirmou com a cabeça. – Amamos você.
– Também amo vocês. – Ela sorriu e a colocou no chão, fazendo-a correr para a sala.
– Seria interessante você dirigir uma animação. – se aproximou de mim, ajeitando a gola do meu paletó. – Ou um filme de princesas.
– Eu ia gostar de dirigir um live action.– Falei, animado.
– Até eu ia. – Ela sorriu, dando um beijo de leve em minha bochecha.
– Você está linda. – Ela sorriu. – Rupert virou um grande estilista, mas ele ainda tem tempo de fazer seus vestidos.
– E ele pega na agulha pelos meus. – Ela falou sorrindo e suspirou. – Sinto falta dele.
– Agora ele viaja o mundo inteiro. – Ri fraco. – Ele volta logo.
– Ah, se volta! – Ela riu fraco. – Vamos para seu novo filme, senhor diretor? Eu estou realmente empolgada com esse. – Ela sorriu.
– Claro! Você ama drama. Lembro quando assistiu Gifted. – Ela riu fraco, passando os braços pelo meu pescoço, me fazendo abraçá-la pela cintura. – Você vai gostar desse.
– Claro porque, além de você dirigir, tem você meu amor. – Ela pegou sua bolsa na cama e estendeu a outra mão para mim. – Vai dar tudo certo.
– Você precisa parar de vir aqui. – cochichou para mim enquanto decorava um bolo com deliciosos morangos que eu roubava de vez em quando.
– Por quê? – Perguntei, soltando uma risada fraca.
– Você tira a atenção dos meus clientes e também dos meus funcionários. – Ela cochichou, dando a volta na bancada.
– A culpa não é minha. – Falei e ela revirou os olhos. – E eu gosto de te ver trabalhar. – Dei de ombros, sentando em um banco no canto da cozinha.
– E de comer. Tá criando barriga já, nem eu estou com barriga. – Ela falou, cobrindo agora com confete o bolo.
– Já enjoou de tudo que faz, assim é fácil. – Dei de ombros, sentindo um tapa na mão quando ia roubar outro morango.
– E eu também nunca vou ao seu trabalho. – Ela falou.
– Vai sim. – Ela ergueu o dedo para mim.
– Fui uma vez, em 2013, e a gente nem namorava ainda. – Ela falou e eu puxei na memória, ela estava certa.
– Nossa, faz tempo. – Ela riu fraco.
– , telefone para você. – Uma atendente falou e minha esposa saiu de perto, apontando um dedo para mim e indo em direção ao telefone, onde a outra funcionária estava.
– Obrigada! – Ouvi falar. – Nossa, oi! Faz tempo mesmo. – riu, me chamando para perto dela. – Mesmo? – Ela abriu um largo sorriso, começando a dar alguns pulinhos no mesmo lugar. – Sim, pode marcar! – Ela afirmou com a cabeça. – Estaremos lá! – Ela desligou o telefone, dando pulos histéricos e rindo junto. – O pedido de adoção foi aprovado! – Ela gritou, me fazendo arregalar os olhos surpresos, e eu passei os braços pelo seu corpo, sentindo-a tirar os pés do chão.
Eu a rodei no ar, notando que os funcionários batiam palmas para gente.
– Mesmo? – Perguntei, sentindo meus olhos cheios de lágrimas.
– Mesmo! – Ela sorriu, passando as mãos no rosto.
– É para irmos lá na semana que vem. – Afirmei com a cabeça, com um sorriso gigantesco no rosto.
– Olá, sejam bem-vindos novamente! – Jane falou, nos cumprimentando. – É ótimos tê-los aqui.
– Obrigada. Ficamos surtados com a sua ligação. – falou com um largo sorriso no rosto e eu ri fraco, abraçando minha esposa pela cintura.
– Imagino, a felicidade dos pais é enorme mesmo. Eu já adotei, então é ótimo. – Ela sorriu. – Parabéns, primeiramente. O perfil de vocês é ótimo, pudemos finalmente dar a oportunidade para algumas crianças que nunca tiveram a chance. – Ela sorriu, visivelmente alegre.
– O que você conseguiu para nós? – Perguntei, apertando o ombro de minha esposa.
– Vamos para o segundo andar que eu lhes mostro. – Ela falou.
Eu e a seguimos pelo orfanato, subindo as escadas do primeiro andar, dando de cara com outra igual no outro. No segundo andar, deu para ter uma noção do tamanho do orfanato. Diversas portas fechadas, algumas mostrando que era, banheiro, quarto de menina, de menino, sala da brincadeira... Entramos em uma sala cuja porta Jane fechou atrás de nós. Tinha uma grande janela e, na frente, uma escrivaninha. Era outro escritório, mas mais largo dessa vez.
– Sentem, por favor. – Ela falou sorrindo, nos sentamos no sofá que tinha lá e ela pegou alguns papéis em cima da mesa. – Nós conseguimos selecionar três crianças com o perfil de vocês. – Ela pegou os papéis. – Parece pouco, mas é bastante. Na verdade, a escolha é mais difícil. – Ela riu fraco. – Temos uma menina, Megan, de cinco anos. – Ela passou a folha. – Temos Mark, de quatro. – Ela falou, mudando de folha novamente. – E temos... Sabemos que passa um pouco da faixa etária inicial, mas ele tem dez anos, faz onze esse ano ainda. – Afirmei com a cabeça, respirando fundo.
– Qual o nome dele? – perguntou, apontando para a folha.
– Lawrence, mas o chamamos de Larry. – imediatamente virou o rosto para mim, com os olhos cheios de lágrimas.
– Larry. – Ela falou para mim com a mão na boca e eu a abracei, nosso Larry ainda fazia falta.
– Vocês procuram uma pessoa? – Jane perguntou.
– Na verdade, é um amigo nosso. Ele morreu há alguns anos. – Falei e ela juntou as folhas novamente.
– Acho que vocês já têm um escolhido, então. – Ela falou sorrindo. – A não ser que a idade seja um problema. – olhou para mim.
– O que você acha? – Ela perguntou, apertando minha mão.
– Vai ser difícil, mas eu não posso ignorar a coincidência do destino. – Falei, puxando a respiração fortemente, notando que eu estava chorando também.
– Ele é uma das melhores crianças que temos aqui, em questão de comportamento, amizade, atitude... Ele é ótimo. – Ela sorriu. – Faz anos que tentamos dar um lar a ele, mas as pessoas sempre acham um desafio.
– Por causa da idade? –Perguntei e ela negou com a cabeça.
– Não, na verdade, mas quando contamos aos pais o passado dele. – Ela prensou seus lábios um no outro.
– Você pode nos contar? – perguntou, apertando minhas mãos.
– Eu devo contá-los, apesar de não gostar de me lembrar disso. – Ela suspirou, se levantando. – Lembra quando vocês vieram para a primeira entrevista, há mais de quatro meses, que eu disse que temos uma parceria com o atendimento social da Califórnia?
– Sim. – respondeu, não desviando os olhos de Jane.
– Bom, Larry veio desse jeito. – Ela suspirou. – Ele foi tirado dos pais. – Ela passou a mão nos cabelos curtos.
– Por quê? – Eu me atrevi a perguntar.
– Ele sofreu abuso, desde os quatro anos de idade. Chegou a nós com sete. – prendeu a respiração, apertando minhas mãos. – A mãe era bêbada e drogada, fazia programa, então o pai nem deve saber da existência dele. – passou uma das mãos nos cabelos. – Ele tem cicatrizes de facas e marcas de cigarro. – Fechei minha mão em um punho, realmente bravo.
– Como aconteceu? – Jane abraçou o próprio corpo.
– Uma denúncia anônima ligou e, quando foram lá, a situação realmente acontecia. O garoto estava deplorável. Ficou internado por meses até melhorar. Ele tem problemas respiratórios, quase perdeu um pulmão. – Ela respirou fundo. – Em compensação, é um dos garotos mais carinhosos que tem aqui. – Ela passou a mão no rosto, limpando uma lágrima.
– Ah, meu Deus! – falou, deitando o rosto em meu ombro. – Como...?
– Eu sei que é pesado, mas eu não daria essa opção se não soubesse que vocês seriam capazes. – Ela sorriu, se aproximando da mesa. – Eu os conheço, já ouvi falar, mas fui pesquisar. Todos falam bem de vocês. As entrevistas de vocês, a forma que vocês aparecem somente quando necessários e tem uma estabilidade enorme... – Ela sorriu. – Se meu trabalho permitisse, eu diria que são perfeitos. – Ela sorriu e eu afirmei com a cabeça.
– Sim! – Falei, sem mesmo olhar para . – Eu só quero abraçar esse garoto. – Falei e olhou para mim com os olhos cheios de lágrimas mas com um sorriso gigante no rosto.
– Ele precisa de uma família. – falou e eu afirmei com a cabeça. – Sim, é só o que ele precisa.
– Ah, meu Deus, eu sabia que seria emotivo, mas nem tanto. – Jane falou, se aproximando de nós, se levantou e ambas se abraçaram. – Obrigada! – Ela repetia diversas vezes. – É sempre uma alegria esse momento.
– É! – Foi o que conseguiu falar, passando as mãos embaixo dos olhos.
– Vocês gostariam de vê-lo? – Ela perguntou e eu e nos entreolhamos com um sorriso grande nos lábios.
– Sim! – Respondemos e ela nos chamou em direção à grande janela que dava para o quintal do orfanato.
Olhamos para baixo e diversas crianças brincavam lá, cada uma com uma roupa diferente. Alguns corriam, outros brincavam de boneca, outros desenhavam... Tinha para diversos gostos.
– Olhem ali! – Ela apontou para uma das mesas dispostas no gramado. – De blusa verde. – Ela comentou.
Eu me aproximei mais da janela, quase encostando o rosto no vidro, e vi um garoto sentado no banco na lateral da mesa, a cabeça baixa e os olhos atentos em uma revista ou algo parecido. Outro garoto estava ao seu lado, acompanhando a mesma revista e, de vez em quando, eles riam juntos, voltando à leitura. Dali, não era possível ver seu rosto. Ele estava bastante compenetrado na leitura, bem interessado no assunto. Seus cabelos eram escuros e encaracolados, foi só o que deu para ver.
– Ele gosta de ler! – Jane falou. – Provavelmente, algum super-herói. – Ela virou para mim. – Ele te conhece, já passamos ‘Os Vingadores’ para eles. – virou o rosto para mim, com um largo sorriso no rosto. – Pena que ele não olha para cá.
– Não importa, vai dar certo. – Ri fraco, suspirando, com o que disse.
– A gente faz dar certo. – Falei e ela sorriu.
– Posso preparar a papelada e mandar para o juiz?
– Com certeza! – Respondi e ela abriu um largo sorriso.
– Parabéns, papais! – Ela falou, abraçando a mim primeiro e depois . – O processo demora um pouco, mas até o fim do ano, no máximo, ele já estará com vocês.
– Ah, que ótimo! – sorriu feliz. – Eu só tenho uma dúvida.
– Sim! – Jane olhou para ela.
– E a mãe biológica dele?
– Faleceu há uns dois anos. – Ela respondeu e afirmou com a cabeça. – Ele é filho de vocês agora. – passou os braços pela minha cintura, encostando o rosto em meu peito, suspirando.
– Fica quieto! – Dei uma cotovelada em Scott e ele colocou a mão na boca, se segurando.
Andei a passos lentos, sentindo meus pés deslizarem no piso frio de madeira, e guiei os ombros de até a porta do quarto. Abri a mesma devagar, com medo de que ela rangesse, e eu fiquei realmente aliviada por ela não ter rangido.
Chris ainda dormia. A blusa estava toda torta em seu corpo, um dos braços largados do meu lado da cama e o outro em cima de seu corpo. A respiração estava calma, os olhos fechados, estava tudo bem. Olhei à minha volta, onde Scott, Carly, Shanna, Tara e Lílian estavam, além de Anthony Mackie, Sebastian Stan, Chris Hemsworth e Chris Pratt, todos em pé às seis horas da manhã só para aquilo.
Estendi minha mão esquerda, mostrando três dedos e todo mundo afirmou com a cabeça, com risinhos nos rostos. Abaixei um dedo, deixando o pessoal surtado, mas sem soltar um pio. Mais um, estava perto. Prendi a respiração por um minuto e abaixei o último dedo, ouvindo o estrondo de tampas de panelas batendo uma contra a outra, e risadas escandalosas vindo do pessoal que estava em volta, fazendo Chris pular de susto na cama, colocando a mão no coração.
– Parabéns para você, nessa data querida! Muitas felicidades, muitos anos de vida! – O coro gritava animado. – Parabéns para você, nesta data querida! Muitas felicidades, muitos anos de vida!
– E para o Chris nada! – Mackie gritou.
– Tudo!
– Então como é que é! – Mackie continuou.
– É pique, é pique, é pique, é pique, é pique! É hora, é hora, é hora, é hora, é hora! Rá, tim, bum! Evans, Evans, Evans! – Os homens começaram a jogar confete em cima dele.
Ele tinha um sorriso bobo no rosto, havia se sentado na cama e ria desconcertado. Passou a mão no rosto amassado, a barba um pouco espetada, e eu ri, segurando pelos ombros. Ele olhou para cima, com uma risada boba no rosto.
– Ah, gente! – Foi a primeira coisa que ele falou, rindo fraco.
– Assopra! – falou, esticando um cupcake com cobertura azul em cima. – Chris fez o que a filha pediu, assoprou a pequena vela enquanto ainda estava na mão de e depois segurou o cupcake, colocando na mesa de cabeceira. – Parabéns, papai! – pulou na cama, abraçando Chris fortemente, fazendo com que eu sorrisse.
– Que sua nova década lhe traga muitas surpresas! – Pratt falou rindo e eu o acompanhei, mostrando o polegar a ele.
Chris jogou a coberta para o lado, com em seu colo, e eu o abracei, depositando um beijo em seus lábios e o vendo sorrir.
– Feliz aniversário, meu amor. Espero que eu possa ajudar a superar a crise dos quarenta. – Ele soltou uma risada fraca e me abraçou.
Chris colocou no chão e todo mundo que acordou cedo para vir parabenizar meu marido pelos seus quarenta anos se aproximou, dando um forte abraço nele e fazendo uma piadinha em seguida.
Da turma da Marvel, poucos foram os amigos que realmente sobraram. Amigos mesmo, pois conhecidos todos eram, mas amigos mesmo eram poucos. Anthony havia se tornado um amigão para Chris. Ele morava na vizinhança, então eles saiam para correr quase sempre. Sebastian era um pouco mais difícil o contato. Morava perto, mas havia se casado com uma romena, do seu país de origem, então viviam muito lá. Hemsworth era tão ocupado quanto meu Chris em filmes e produções, então sempre estava sumido e, quando estava livre, estava com a sua família ou na Austrália, seu país de origem. Já Pratt dava umas sumidas, afinal, cuidar de trigêmeos não era fácil, mas às vezes aparecia de surpresa.
Abracei minha irmã de lado e fui para a sala com ela, fazia questão de passar a mão em sua pequena barriga de três meses. Abri a mesa de café da manhã que eu havia preparado para aquela pequena festa ao amanhecer e o pessoal não demorou a atacar. Chris se aproximou com no colo e a colocou no chão, vendo-a correr atrás de Leslie, que andava pela casa. Ele veio até onde eu estava, atrás do balcão, e passou os braços pela minha cintura, dando um beijo em meu pescoço e soltando um suspiro em seguida.
– Obrigado! – Ele falou, sussurrando.
– De nada, mas a ideia foi da sua filha. – Falei sorrindo.
– Talvez, com vocês, não seja tão mal. – Ele virou o rosto para mim, beijando minha bochecha. – Apesar de que eu ainda acho que meu melhor ano foi quando te conheci. – Ri fraco.
– Não seja saudosista, faz tempo já. – Falei enquanto ele se afastava para a bancada.
– Ainda sinto como se fosse a primeira vez. – Ele piscou para mim e eu abaixei a cabeça, balançando-a.
– Oi, amor. – Chris falou, abrindo a porta do quarto de , que estava sentada no chão, brincando com alguma de suas bonecas. – Podemos conversar com você um pouco? – Ele perguntou e eu encostei a porta atrás de mim, me aproximando dela.
– Pode sim. O que foi? – Ela perguntou, abaixando suas bonecas e olhando bem para Chris.
Eu e Chris nos entreolhamos e nos sentamos ao lado de no chão, quem Chris a trouxe para o seu colo, abraçando-a pela cintura.
– Como foi na escola hoje? – Ele perguntou, dando uma aliviada no papo, ou começando do pior jeito possível.
– Foi bem, a professora Jean nos ensinou a fazer dobra... Dobra... Você entendeu. – Ela falou, se perdendo nas palavras, e eu ri fraco. – E foi bem divertido. – Ela sorriu.
– Que bom, amor, e já está aprendendo a escrever que eu sei. – Ele falou, a apertando em seus braços.
– Já sim! – Ela falou animada. – Já sei escrever o meu nome, o seu e da mamãe.
– Tem que aprender a escrever da Leslie também. – Eu falei, a fazendo afirmar com a cabeça, feliz.
– Sim, eu vou aprender!
– E do seu novo irmãozinho. – Chris falou, fazendo-a virar o rosto para ele, virando o corpo em seu colo.
– Irmãozinho? – Ela perguntou em um misto de curiosidade e alegria.
– Sim, você vai ganhar um irmãozinho. – Seus olhos se iluminaram.
– Lembra lá no fim do ano passado que te perguntamos o que você achava de ter um irmãozinho? – Falei para ela, passando a mão em seus cabelos.
– Faz bastante tempo isso. – Soltei uma risada fraca.
– Faz mesmo. – Sorri para ela.
– Lembra também que dissemos que ele não seria da barriga da mamãe e sim do coração? – Ela prensou os lábios e confirmou, feliz.
– Ele vai chegar em algumas semanas. – Chris falou, sorrindo para ela.
– Mesmo? – Ela se animou, se levantando e dando pulos pelo quarto. – É menino? Menina? Como é? Vai brincar comigo? – Eu e Chris soltamos uma risada fraca.
– O nome dele é Larry, ele fez onze anos faz pouco tempo, é mais velho que você. – Ela sorriu, feliz. – A gente quer que você cuide bastante dele, ele se machucou bastante na vida. Você consegue fazer isso? – Chris perguntou.
– Consigo sim! – Ela falou alegre. – Eu prometo. – Ela sorriu. – E vocês também, vão cuidar de nós dois. – Ela falou, cruzando os braços.
– Vamos, meu amor, nós vamos. – Eu respondi, sentindo-a pular em meu colo, me abraçando.
– Cuidado para não riscar a parede, Chris. – Falei para ele, que montava a cama do quarto novo de Larry. – E com o chão também, já limpei três vezes.
– Desculpa. – Ele falou, dando mais uma parafusada na cama e a colocando no chão novamente. – Pronto! – Ele colocou os pés da cama no chão levemente. – Acho que era só o que faltava. – Ele se levantou, respirando fundo. – Ah, tô velho. – Soltei uma risada fraca.
– Acontece! – Respondi e ele riu fraco.
– Aqui. – Estendi uma ponta do lençol para ele, que me ajudou a colocar na cama e, em seguida, o edredom. – Quem diria que esse cinema tinha somente um blackout e essa vista linda! – Falei, rindo fraco, e Chris deu de ombros, sorrindo.
– Mãe! – Ouvi bater os pés fortemente no chão e entrar pela porta do agora quarto.
– O que foi, filha? – Perguntei, a vendo rir fraco.
– Aqui, para ele. – Ela me estendeu um de seus diversos ursos polares que usamos para decorar seu quarto quando ela nasceu. – Quero que ele fique com isso.
– Ah, que lindo, . – Chris falou sorrindo e o pegou das mãos de , colocando em cima da cama dele.
– Quero que ele goste bastante quando chegar aqui. – Ela segurou a barra do vestido e rodopiou no ar, sorrindo.
– Ele vai sim, amor.
– E tá muito lindo. – Ela deu algumas saltitadas pelo quarto, observando tudo em volta.
Havíamos comprado diversas roupas para ele, baseado no tamanho que Jane havia nos dito, alguns gibis de diversos super-heróis, um videogame e alguns jogos, não sabendo exatamente do que ele gostava. Também decoramos a parede com alguns adesivos. O quarto era inteiro em tons de azul, branco e preto, com uma cama de solteiro no canto esquerdo do quarto, uma mesa de cabeceira baixa ao meu lado, um armário na frente, algumas estantes e a televisão. Em frente à cama, uma escrivaninha. Eu, particularmente, havia amado a escolha de Chris. Tentamos cobrir o básico e gostava de acreditar que tínhamos conseguido, então só nos restava esperar que ele se sentisse em casa.
– Oi, o que você está fazendo? – Ergui a cabeça, encontrando a senhora Jane entrando no meu quarto.
– Lendo. – Falei, apontando para o gibi do Lanterna Verde.
– Está gostando desse aí? – Ela perguntou, se sentando ao meu lado.
– Estou sim, está bem legal. – Ri fraco.
– Eu queria conversar com você, se possível. – Ela falou e eu ergui o rosto, sentindo-a passar a mão em meus cabelos cacheados. – Você me concede dois minutos? – Ela perguntou e eu afirmei com a cabeça, fechando o gibi.
– Eu juro que não fiz nada. – Ela riu fraco, me abraçando de lado.
– Eu sei que não, querido, é outra coisa. – Ela sorriu.
– O que é então? – Virei o rosto para ela.
– São só três palavras que eu gostaria de te dizer.
– O que? – Ela abriu um largo sorriso e pude notar que ela tinha os olhos molhados, o que fez com que eu franzisse a testa. – O que foi, senhora Jane?
Ela passou os braços pelo meu corpo, me abraçando contra o seu, e eu não conseguia entender nada. Por que ela estava chorando?
– A senhora está bem? – Perguntei novamente.
– Estou sim, meu querido Larry. – Ela sorriu, passando as mãos no rosto. – Eu gostaria de te pedir para arrumar suas coisas, querido. – Ela mordeu seu lábio e puxou a respiração fundo, me fazendo demorar para entender o que ela queria dizer porque, se ela pedia para eu arrumar minhas coisas, isso só significava uma coisa. – Você foi adotado. – Abri a boca levemente, sentindo meus olhos ficarem molhados rapidamente, e a abracei, chorando de verdade em seu colo.
– Eu fui adotado? – Perguntei. – Mesmo?
– Mesmo, querido, você vai ter uma família agora, uma família que te ama. – Coloquei a mão no rosto, não me importando com o quanto que eu chorava, sem saber que a gente podia chorar de felicidade também. – Eles vêm te buscar amanhã.
– Eles vão cuidar de mim? – Perguntei e ela afirmou com a cabeça.
– Vão cuidar de você, te amar, te dar carinho... Eles são pessoas maravilhosas, você vai gostar. – A senhora Jane falou e eu a abracei, sentindo meu nariz entupir. – Eu disse que ia conseguir, não disse? – Ela falou.
– Disse sim. – Falei, sentindo minha barriga borbulhar.
Eu sentia muita coisa ao mesmo tempo: felicidade, tristeza, alegria e coisas que eu nem sabia o nome direito.
– Ah, meu Deus, eu estou muito nervosa. – Falei, sentada no sofá da sala de Jane e batendo meus saltos no carpete.
– Pior que eu nem posso te acalmar, não sou qualificado no momento. – Ri fraco, encostando meu rosto em seu ombro.
– E se ele não gostar da gente? – Perguntei, olhando para um ponto aleatório na sala.
– Eu duvido que isso vá acontecer. – Chris se virou para mim, apertando minhas mãos. – Ele só quer amor. – Afirmei com a cabeça, continuando a bater o salto no carpete, olhando para a porta que permanecia fechada a mais de 20 minutos.
Vi e ouvi a porta se abrir e, imediatamente, me levantei, vendo Chris se levantar logo atrás de mim. Jane entrou na sala com seu estilo de sempre e segurava a mão de uma criança que apareceu pela porta logo em seguida. Ele era da altura de uma criança de 11 anos, uns 1,30m, os olhos eram verdes e a pele morena. O cabelo era cacheado, e enchia sua cabeça. Ele se colocou ao lado de Jane e não se mexia, só estava levemente boquiaberto.
Eu e Chris nos olhamos. Eu já não conseguia conter a emoção, ele era lindo demais. Meus olhos já estavam embaçados assim que o notei e meu corpo tremia inteiro, dividindo essa sensação com o arrepio. Não sabia definir. Era um misto de emoções, incluindo um frio na barriga que parecia que ia sair voando.
– Larry, esses são seus novos pais. – Jane falou, colocando as mãos no ombro do garoto. – e Christopher. – Ela falou, com um sorriso largo no rosto.
Ele ficou parado por um tempo, olhando de mim para Chris e de Chris para mim. Os olhos mexiam de um lado para outro, sem dizer nada.
– Eu... – Ele enroscou para falar e engoliu. – Eu fui adotado pelo Capitão América? – Soltei uma gargalhada, o vendo correr em nossa direção e me abraçar forte, enterrando o rosto em minha barriga, fazendo com que as lágrimas que estavam presas em meus olhos caíssem sem permissão pela minha bochecha, me fazendo abraçá-lo forte.
– Foi! – Ouvi Jane falar em meio às lágrimas também.
– Ah, pequeno. – Falei, sentindo Chris me abraçar de lado, não conseguindo falar muita coisa.
– A gente vai cuidar de você agora. – Ouvi Chris falar e encostei minha cabeça na dele, dando diversos beijos em sua bochecha.
– Vem aqui! – Chris o abraçou fortemente, erguendo em seu colo.
Nesse momento notei que meu marido tinha o rosto vermelho. Provavelmente, eu não estava diferente.
– Você vai ser feliz. – Ele falou, olhando para o garoto nos olhos, secando as lágrimas. – Você vai para casa.
– Nossa! – Larry falou assim que saiu do carro. – Essa vista é linda! – Ele falou e eu me coloquei atrás dele, dando um beijo em sua cabeça. – Aqui é legal! – Ele riu fraco.
– Vem, queremos te apresentar a algumas pessoas. – Chris falou, esticando a mão, e ele correu até Chris. – Jordan, Matt, venham aqui, por favor. – Ele falou e os dois seguranças nossos apareceram, lado a lado.
– Senhor. – Matt, o mais novo, dei uma rápida corrida até nós.
– Eu quero apresentar a vocês nosso novo filho. – Ele apertou os ombros do pequeno, que tinha um sorriso tímido nos lábios. – Larry.
– Larry? – Jordan olhou para ele e Chris afirmou com a cabeça. – Como você está, garoto? – Ele esticou a mão para o pequeno, que bateu rapidamente.
– Bem. – Foi o que ele falou e Jordan riu. – Oi! – Ele acenou para Matt.
– Vai ser muito bom te ter por aqui. – Jordan falou e eu respirei fundo, vendo Larry voltar em minha direção, segurando a mão de Chris.
– Vamos entrar! – Falei, esticando minha mão para ele dessa vez e caminhando para dentro.
Abri a porta e dei espaço para ele entrar, curioso em olhar tudo em volta. A casa estava arrumada e limpa, tudo estava pronto para chegada dele.
– Seja bem-vindo. – Falei e ele abriu um largo sorriso. – Entre!
Ele colocou os pés para dentro e começou a dar algumas voltas ao redor dos móveis, um pouco abismado com tudo aquilo. Ele passou a mão no sofá, devagar, suspirando. Ouvi um barulho vindo do fundo e franzi a testa, tentando saber de onde viria, quando vi Leslie vir correndo dos quartos em direção a Larry.
– Opa, garota! – Chris correu, se colocando no meio dos dois. – Larry, essa é Leslie! – O mais novo soltou uma risada fraca, vendo Leslie andar em direção a Larry e começar a cheirá-lo e a respirar em cima dele.
– Posso fazer carinho? – Ele perguntou.
– Claro! – Falei e ele fez um carinho na cabeça dela e depois em seu pescoço, vendo-a se aninhar cada vez mais perto dele, fazendo-o rir.
– Boa menina! – Ele falou, rindo fraco em seguida.
– Mãe. – Ouvi uma voz falar um pouco ao longe e olhei para o corredor, onde estava com um de seus bichos de pelúcia da Disney na mão, visivelmente quieta.
– Aqui! – Andei até , colocando minhas mãos em seus ombros. – , esse é Larry, seu novo irmãozinho. Larry, essa é .
Ambos estavam com vergonha. A diferença dos dois era quase cinco anos, então era bastante. Eram duas gerações já, e tinha muita diferença de criação dos dois.
– Você gosta de brincar de bonecos? – Ela perguntou, com seus olhos brilhando.
– Gosto! – Ele respondeu com um sorriso de lado.
– Então vem brincar comigo. – A mais nova falou, puxando Larry em direção a seu quarto no fim do corredor.
Eu apenas observei, com os olhos lacrimejando novamente, me fazendo respirar fundo. Chris apareceu ao meu lado, passando os braços pela minha cintura, e eu o abracei forte pelo pescoço.
– Vai dar tudo certo. – Ele falou comigo, encostando a cabeça em meu pescoço, e eu sorri, afirmando com a cabeça.
– Mãe, caiu! – se aproximou correndo com seu dente de leite na minha mão e eu ri, estendendo minha mão para ela.
– Me deixe ver! – Ela olhou feliz para o dente.
– Olha que legal! – Ela olhava com os olhos brilhando para o dente.
– Guarda que você vai colocar embaixo do travesseiro para a fada do dente vir pegar durante a noite. – Respondi e ela olhou para mim alegre, surpresa.
– A fada do dente existe? – Ela arregalou os olhos.
– Claro que existe, e todos os outros personagens. – Chris falou ao lado dela.
– E ela pega os dentes para quê?
– Ela guarda, como se guardasse suas lembranças, e te dá um presente em troca.
– Presente? – Ela sorriu.
– Deixa que eu guardo, vai lá brincar. – Chris estendeu a mão e entregou o dente.
– Cuida bem! – Ela falou.
– Sim, senhora! – Ele falou rindo e bateu continência para ela que saiu correndo, rindo.
– Licença. – Minha mãe apareceu ao meu lado e se sentou ao meu lado. – Não tivemos tempo de conversar ainda.
– Não, vocês estão paparicando o neto novo que até se esquecem da filha que não veem há tanto tempo. – Fiz um drama e ela riu, me abraçando.
– Eu estou tão feliz, queridos... – Ela falou para mim e para Chris. – Isso é incrível, ele é um garoto incrível. – Olhei para frente, abrindo um largo sorriso.
Lílian e Scott eram os melhores tios que essas crianças poderiam ter. Tara e Rodrigo também, que haviam se tornado os padrinhos de Larry. Estavam os quatro mais Larry e brincando de roda – ou fingindo. Os mais velhos cantavam alto, fazendo os mais novos entrarem na brincadeira. Eles tinham um espírito jovem. Eu me achava mais mãe. Jovial quando precisava ser, mas mais protetora.
– Eu estou tão feliz, mãe... – Falei, suspirando. – Nunca imaginei que podia ser feliz assim.
– Pois é, querida, a vida é mesmo uma caixinha de surpresas. – Minha mãe falou e eu suspirei.
– É sim. Bem, Lílian está grávida, você está namorando, eu com uma família completa... Parece que está tudo certo.
– Não só parece, querida, está tudo certo. – Encostei minha cabeça no ombro da minha mãe, sentindo-a me abraçar. – Vocês fazem um bom trabalho.
– Obrigado, sogra! – Chris falou e ela sorriu, esticando o braço para ele também, fazendo-o entrar no abraço nosso.
– Eu que tenho que agradecer, por tudo. Sua filha me faz o homem mais feliz do mundo. – Afirmei com a cabeça, soltando uma risada.
– Permaneçam jovens, gente. A idade é só um número, Chris. – Ele soltou uma risada.
– Por que todo mundo me zoa pela minha idade? – Ele falou rindo.
– Porque quem já passou por ela já passou pela crise dos quarenta, mas sabe que também foi muito bom. – Ela sorriu, apertando sua mão. – E é uma fase ótima também, talvez melhor que os trinta.
– Eu duvido. – Ele sorriu, esticando a mão para mim, suspirando.
– Mãe! Pai! – Ouvi um coro gritar e olhei para frente, vendo e Larry apontando para gente e nos chamando em seguida, junto de seus padrinhos. – Vem brincar! – Eles falaram juntos de novo, rindo.
Eu e Chris nos levantamos, caminhando em direção a eles. Fazia quase quatro meses que Larry estava em casa. Tudo começou devagar. Ele tinha aquele medo inicial, perguntava se podia fazer qualquer coisa: tomar banho, ir ao banheiro, comer... Mas as coisas foram mudando. Aconteceria devagar e aos poucos. Nosso foco era que ele perdesse o trauma causado aos seus sete anos.
No começo, alguém precisava ficar com ele até ele dormir. Chris vivia dormindo lá, já que ele também acordava no meio da noite e tinha medo de ir ao banheiro ou fazer alguma outra coisa mas, algumas noites atrás, isso havia parado. também foi de uma ajuda incrível. Eles haviam se tornado grande amigos. Faziam tudo junto, até quando era para jogar futebol, mesmo ela sendo pequena ainda para fazer isso. Mas não importava, contanto que eles fizessem tudo junto.
Larry era um menino doce. Como a vida tinha sido ruim para ele é que eu não conseguia entender. Ele tinha vergonha, então raramente nadava. Raramente queria que eu ou Chris o ajudássemos no banho, devido às suas cicatrizes nas costas, principalmente, e algumas espalhadas pela barriga, mas esperávamos que aquilo melhorasse. Havíamos marcado já uma consulta para ele com Dr. Waton, meu psicólogo. Diziam que o mesmo psicólogo não podia cuidar mais de uma pessoa da mesma família, mas eu o queria. Ele era a melhor pessoa para ficar de olho no meu filho, já que eu não conseguia entrar em sua cabeça em diversos momentos.
Ele me puxou pela mão, me tirando dos meus pensamentos, e eu sorri, me colocando no meio da roda, entre Larry e , soltando uma risada com o sorriso que ambos me davam. Aquela sensação era maravilhosa.
– E agora todo mundo abraçando a mamãe! – Rodrigo disse e todo mundo gritou, me assustando, e correram me abraçar não só meus filhos como também meus amigos, meu marido e minha família, me fazendo respirar fundo, sentindo meu coração completo.
Meu pé batia freneticamente no chão, suspirava diversas vezes. Ainda bem que a música estava bem alta e as luzes no palco eram bem exageradas, pois eu estava bem nervosa e estava na primeira fila, o que era realmente péssimo. Apesar de ter visto o show em um dos melhores lugares, aquele era o primeiro ano que eu assistia da primeira fileira, mas o motivo era ótimo.
Chris sorriu nervoso quando a câmera passou por ele, o fazendo apertar minha mão firmemente sobre a sua, só fingindo que eu estava calma, mas era mentira. Se o som que passava por mim saísse, com certeza seria um barulho de uma escola de samba, ou algo realmente similar.
Olhei para atriz ganhadora do ano passado parada ao lado enquanto o vídeo passava e respirei fundo novamente. Ela retornou ao palco e as luzes focaram nela novamente, fazendo com que ela desse alguns passos em direção ao microfone com aquele temido envelope em suas mãos. Enquanto isso, eu soltava a respiração levemente pela boca.
– E o Oscar de melhor ator vai para... – Ela abriu o envelope dourado e eu senti Chris apertar minha mão firmemente, fazendo o que pareceu uma década passar diante de meus olhos.
Eu me lembrei de todos os filmes de Chris, recordando de tudo que o levou até ali. Preferi fechar os olhos. Parecia que assim até o barulho de meus pensamentos se calavam.
– Chris Evans! – Ela gritou alegre e eu abri meus olhos, pasma, virando meu rosto para meu marido que tinha o rosto tão surpreso quanto o meu, me fazendo gargalhar.
Ouvi as pessoas aplaudirem e me levantei, o sentindo beijar meus lábios diversas vezes. Ri sozinha, aplaudindo meu marido. Ele subiu ao palco e segurou a estatueta tão merecida em suas mãos, me fazendo derrubar algumas lágrimas dos olhos, não conseguindo tirar o sorriso do rosto.
Capítulo 23
You're out of line, you're out of sight
You're the reason that we started this fight
But I know I just gotta let it go
I should'a known, I gotta learn to say goodbye now
I throw my armour down, and leave the battleground for the final time now
I know I'm running from a warzone
Você está me assombrando
Você está fora de alcance, você está longe de vista
Você é a razão de nós começarmos essa luta
Mas eu sei que eu tenho que deixá-la ir
Eu deveria saber, eu tenho que aprender a dizer adeus agora
Eu derrubo minha armadura e abandono o campo de batalha pela última vez agora
Eu sei que estou fugindo de uma zona de guerra.
The Wanted, Warzone
Ouvi o despertador e levantei da cama imediatamente, desativando-o. Olhei para Chris na cama, que virou o corpo para outro lado sem nem mesmo abrir os olhos. Suspirei, balançando a cabeça negativamente, e me caminhei para o banheiro, largando meu pijama na pia e prendendo meu cabelo em um coque. Entrei embaixo do chuveiro, tomando um banho rápido.
Saí do banheiro enrolada na toalha e parti para o closet, colocando uma calça jeans, uma camiseta básica e, em seguida, meus tênis de guerra. Soltei meu cabelo novamente e fiz um rabo de cavalo bem alto, abaixando os fios rebeldes com um pouco de spray de cabelo. Voltei para o quarto, encontrando meu marido da mesma forma de antes, quase caindo da cama. Revirei os olhos e saí do quarto, caminhando até o quarto de . Abri uma fresta da porta, entrando pela mesma devagar, e abri a cortina que ela insistia em ter em volta da sua cama. Uma parte me dizia que era pelos mosquitos, eu dizia que era porque ela gostava de se sentir uma princesa.
Passei a mão em seu cabelo, tirando o mesmo do rosto, e dei um beijo em sua testa, vendo-a virar o corpo, ficando com a barriga para cima.
– Vamos acordar, filha, hora da escola. – Falei, passando a mão em seu corpo em um carinho, e ela afirmou com a cabeça, meio sonolenta ainda.
– Já vou! – Ela falou se espreguiçando e eu me levantei da cama, pegando em seu armário uma calça e blusa do uniforme e colocando em sua escrivaninha.
– Não enrola! – Falei, dando uns tapinhas no batente, e caminhei até o quarto de Larry, dando duas batidas na porta.
– Entra! – Ouvi sua voz e abri a porta, encontrando meu adolescente virado de costas, de onde vi as cicatrizes brancas se escondendo por dentro da blusa.
– Tudo certo por aqui? – Perguntei a ele que se virou, bocejando.
– Tudo certo! – Ele afirmou e eu ri.
– Não enrola. – Puxei a porta em seguida.
Caminhei em direção à sala de casa, vendo Leslie bocejar igual quase todos naquela casa, e fiz um carinho em sua cabeça.
– Bom dia, dorminhoca! – Falei, seguindo para a janela onde eu abri a cortina, deixando um pouco da luz da manhã na cidade dos anjos entrar pelas frestas. – Bom dia, Matt! – Acenei para o segurança do turno.
– Bom dia, senhora .
Eu ri fraco. Com quarenta e um anos, eu podia ser chamada de senhora.
– Depois vem pegar um pouco de café antes de ir embora. – Falei a mesma coisa que eu falava sempre para eles.
Entrei na cozinha, batucando as mãos na bancada, e liguei a cafeteira, que eu já havia deixado pronta na noite anterior. Liguei a chapa e, enquanto ela esquentava, eu cortava as tiras de pão caseiro que eu havia feito e passava manteiga, colocando para torrar. Segui para a geladeira e peguei o leite. Nos armários, o chocolate em pó e os utensílios.
Coloquei três pratos, duas xícaras e uma caneca. Enchi a caneca de de leite e coloquei para esquentar no micro-ondas mesmo. Servi as xícaras com café, deixando a de Larry somente até a metade, e completei com leite gelado, do jeito que ele gostava. Ajeitei as duas em frente aos pratos na bancada e tirei os pães, que já cheiravam a manteiga derretida, da chapa, colocando nos pratos deles.
Voltei para a geladeira, peguei uma maçã e presunto e queijo, e retornei à pia. Fiz um lanche para levar para a escola e coloquei na chapa, para dar uma tostada dos lados. Andei até o cabideiro que ficava no corredor da porta principal, peguei a lancheira da nova princesa da Disney de e levei para a pia, cobrindo-a com um papel toalha e o lanche em alumínio antes de colocar lá dentro. Peguei um suco de caixinha na geladeira, colocando junto e fechando a mesma, deixando na beirada da bancada. Quanto à maçã de Larry, eu a embrulhei em um alumínio e coloquei ao lado da lancheira de .
– Bom dia, mãe! – Larry apareceu do corredor ainda coçando um pouco o olho e eu sorri, dando um beijo em sua bochecha.
– Bom dia, amor. Dormiu bem? – Perguntei, o vendo se sentar na bancada e procurar pelo açucareiro.
– Ah... – Ele franziu o rosto e eu olhei para ele, vendo as olheiras embaixo dos olhos novamente.
– Ficou jogando até tarde de novo? – Olhei para ele, que deu um sorriso fraco.
– Desculpe.
– Não pede desculpa, porque eu sei que você vai fazer de novo. – Falei e ele riu fraco, mexendo seu café com leite.
– Bom dia, gente! – apareceu e Larry deu um beijo em sua cabeça antes de ela dar a volta na bancada e me dar um abraço. – Bom dia, mãe.
– Bom dia, amor. – Falei, estalando um beijo em sua bochecha e a vendo voltar para a bancada e se sentar.
– Cadê o... – Ela ia pedir o chocolate em pó, eu apontei para o pote ao seu lado e ela riu fraco.
Bebi minha xícara de café e coloquei na pia, me caminhando para minha agenda e olhando os compromissos do dia, vendo se eu não havia me esquecido de nada.
– Larry, vocês têm aula até mais tarde hoje. Precisam de dinheiro para o almoço? – Virei para ele, que negou com a cabeça.
– Não, eu ainda tenho.
– Ouviu seu irmão, hein?! – Virei para ela, que afirmou com a cabeça. – Nada de ficar brincando e se esquecer de almoçar, hein?! – Ela riu fraco.
– Qualquer coisa, eu caço ela. – Larry falou, passando a mão na lateral do corpo de .
– E você tem oculista depois da aula, manda mensagem para o seu pai. Se ele não aparecer...
– Só falta ele esquecer de novo. Fica aqui sem fazer nada e ainda esquece. – Fiquei quieta, ele estava certo.
– Ele provavelmente vai aumentar seu grau, você está reclamando de dor de cabeça com muita frequência.
– Isso pode ser chamado de vício no videogame. – falou sorrindo e eu ri, ela também estava certa.
– Sua malinha! – Larry brincou e a mais nova mostrou a língua para ele.
– Não começa logo cedo, hein?! – Falei e eles riram, terminando o café da manhã em silêncio. – Escovem os dentes direito. – Falei, vendo os dois entrando no banheiro ao mesmo tempo, me fazendo rir.
Eles nem brigavam mais pelo banheiro, cada um tinha seu tempo. Voltei para o quarto, encontrando Chris dormindo. Peguei minha bolsa na poltrona e saí do quarto novamente, fazendo questão de deixar a porta aberta. Quem sabe Leslie o acordava em alguns minutos. Quando voltei para a sala, Larry já estava com sua bolsa pendurada nas costas e chegava com a sua mochila de rodinhas e a lancheira atravessada no corpo.
Peguei a chave do carro e saí pela porta da frente, vendo Leslie nos seguir, fazendo se distrair um pouco. Destravei o carro, abrindo o porta-malas e os vendo colocar as mochilas e lá dentro. Larry fechou o mesmo e segui para o banco da frente junto dele enquanto sentava no banco de trás e colocava o cinto de segurança.
Dirigi até a escola deles em silêncio, alguma música de alguma banda que Larry gostava tocava no rádio e eu acabava ouvindo também e gostando, já havia até ido a um show junto de Larry no ano anterior. era mais distraída, ficava olhando para a paisagem como se ela mudasse cada dia. Ambos me deram um beijo na bochecha antes de saírem do carro e logo foram andando lado a lado para dentro da escola. Larry levava para o ensino fundamental e depois seguia para o ensino médio.
Dirigi parte do caminho de volta, já que a confeitaria ficava exatamente entre casa e a escola das crianças. Crianças! Era até engraçado falar assim, o mais velho já estava com quinze anos e a mais nova com nove. O tempo estava passando rápido demais. Entrei na garagem da confeitaria e parei o caro no fundo, na vaga reservada para mim. Saí do carro, puxando minha bolsa junto. Assim que entrei na confeitaria, encontrei Maggie e Robb, dois dos meus funcionários, ajeitando as mesas e enchendo os displayers com doces e salgados fresquinhos. Quase roubei um croissant para mim.
– Bom dia! – Falei para os dois, que sorriram para mim.
– Bom dia, . – Eles responderam e eu passei pela cozinha, entrando na sala dos funcionários, colocando minha bolsa no armário e pegando meu avental vermelho.
Eu o coloquei em meu pescoço, dei um laço nas costas e peguei a rede, prendendo meu cabelo em um coque e colocando tudo dentro dela, amarrando atrás da cabeça. Voltei para a entrada da confeitaria e destravei a porta de madeira, abrindo-a e virando a placa para frente. Estávamos abertos. Voltei para a cozinha e dei uma olhada da lista de coisas que precisavam ser feitas na parte da manhã. Cookies eram os principais. Comecei a pegar os ingredientes e olhei o horário, oito horas em ponto.
– Como foi o seu dia? – Perguntei, saindo do banheiro já com meu pijama.
– Normal. – Ele respondeu, dando de ombros e não tirando os olhos do celular.
– Bom! – Respondi e revirei os olhos, me deitando ao seu lado na cama e puxando a coberta para cima de mim. – O dia tem 24 horas e o seu foi normal. – Falei, pegando meu livro na cabeceira da cama e o abrindo na parte que eu parei. – Apesar de que deve ter sido, dormir por doze horas... Pelo menos você se lembrou do seu compromisso com seu filho.
– Foi, , foi normal. – Ele respondeu grosseiro e eu suspirei, revirando os olhos.
– E aí ele fica puto.
– Não gosto que fiquem me perguntando mil vezes como foi. Não teve nenhuma novidade, foi bem como sempre, Larry precisa trocar os óculos, Leslie não aprendeu a voar hoje, nada de muito interessante. O seu dia foi diferente por acaso? – Virei meu corpo na cama, bufando.
– Todo dia é diferente só de você vive-lo, mas claro que o seu não vai ter nada de diferente mesmo. Ficar conversando com sei lá quem o dia inteiro, não colocar a cara no sol... Você é uma pessoa totalmente diferente desde que parou de trabalhar.
– Desculpa, mas foi uma escolha minha. Eu preciso desse tempo, eu me sentia sobrecarregado. – Ele virou para mim. – E não sei o porquê dessa implicância toda.
– Porque você mudou, Evans. Até seus filhos notaram. – Falei alto, no mesmo tom de voz que ele, e me levantei, puxando a porta quando saí.
Eu me sentei em um dos sofás da sala de estar e passei a mão no rosto, suspirando, sentindo minha respiração forte. Eu não vou chorar, ele não merece. Suspirei novamente, escondendo o rosto nas mãos, e senti um focinho gelado encostar em minhas pernas. Olhei para Leslie, que se aninhava em mim.
– Oi, garota! – Falei, passando a mão em sua cabeça, fazendo-a encostar a mesma em meus joelhos. – Eu te acordei, foi? – Perguntei, acariciando seu pelo.
– Não foi só ela. – Ergui o rosto, dando de cara com Larry de pijama em minha frente.
– Ah, filho, me desculpa. – Falei, o vendo se arrastar até o sofá e se sentar ao meu lado, passando seus braços pelos meus ombros. – Mas eu sei que você não estava dormindo, tá cedo para você. – Ele riu fraco.
– O que está acontecendo, mãe? – Ele perguntou e eu suspirei.
– Seu pai. – Falei simplesmente e ele afirmou com a cabeça.
– Ele está difícil de engolir ultimamente, sei bem. – Afirmei com a cabeça, suspirando, e ele me abraçou, encostando a cabeça na minha. – Quieto, sem falar nada, não tem reação nenhuma com as coisas... Eu também noto.
– Ele diz que é só tédio e cansaço de vinte anos trabalhando, mas eu começo a colocar minha cabeça para funcionar e não consigo não imaginar que possa ter algo a mais. Ele olha muito mais que você no celular.
– Não, mãe, para de pensar nisso. Não creio que ele seria capaz de fazer isso.
– Traição nem sempre é por ações, filho. Os pensamentos podem nos enganar algumas vezes. – Meu filho ficou quieto e eu suspirei, fechando os olhos.
– Eu estou aqui sempre, eu e a , não esquece isso. – Ele falou e eu afirmei com a cabeça, dando um sorriso de lado.
– Obrigada, amor! – Ele sorriu e eu passei a mão em seu rosto. – Agora vai dormir. De verdade, dessa vez.
– Quer dormir no meu quarto? Eu durmo aqui.
– Não, amor, eu vou para cama. – Falei e ele se levantou, afirmando com a cabeça. – Não demora para dormir, amanhã é o último dia de aula.
– Eu espero. – Ele brincou.
– Se você pegar uma recuperação, eu juro que tiro o videogame do seu quarto. – Ele riu fraco.
– É brincadeira, mãe. – Ele falou e beijou minha bochecha, andando até o quarto em seguida.
Não era minha intenção, mas eu acabei adormecendo ali, toda torta, com a cabeça encostada no canto e o corpo torto no sofá. Com certeza, aquele seria um dia em que eu teria que ir embora mais cedo ou me entupir de analgésico.
O interessante foi só que eu não acordei no mesmo lugar em que eu dormi. Acordei na minha cama. Nem Larry nem tinham forças para aquilo, então com certeza havia sido o mal humorado ao meu lado.
Depois de muitos dias levando patada, eu havia decidido que ia tratá-lo da mesma maneira que ele me tratava: com indiferença. Se ele gostava de tratar os outros dessa forma, eu faria o mesmo. Se precisasse, fingiria que ele nem existia, ao menos para ver se existia alguma reação da parte dele. E isso aconteceria, já que as crianças estavam de férias de inverno. Passaríamos o Natal em casa naquele ano, somente com amigos. Minha mãe havia viajado com o namorado e a família de Christopher iria passar em Boston. Christopher... Até no nome começava a me dar nojo em falar dele. Eu era irritada desde sempre, mas uma coisa que eu não ia permitir era ser traída e muito menos ser tratada com indiferença.
Como esperado, eu preferi ir embora um pouco mais cedo da confeitaria naquela sexta-feira. A definição certa é que eu não estava disposta e todos os funcionários tinham um dia de folga, já que abríamos a semana inteira. Nas sextas, diversos adolescentes ficavam lá na confeitaria conversando, jogando cartas e rindo até tarde. Eu gostava daquilo, lembrava da minha infância no Brasil. A gente saía da aula de educação física e ia direto para o centro da cidade, normalmente tomar sorvete e brincar em um dos fliperamas que tinham. Parecia que as amizades seriam para sempre, e não foram.
Preparei um bolo de chocolate com morangos para levar para casa. Era o último dia de aula dos meninos, então provavelmente a casa estava cheia de adolescentes esfomeados, aproveitando a piscina. Por mais que estivéssemos em dezembro, o calor em Los Angeles era de matar. Isso era resultado do aquecimento global e eu já falava disso há dez anos.
Cheguei em casa e já vi os amigos de Larry pulando igual loucos na piscina. A adolescência era uma fase boa da vida, a gente achava que estava abafando, só que não. Saí do carro e peguei o bolo no banco de trás, andando em direção à piscina, onde três amigos de Larry estavam, os de sempre. Do outro lado, e Joseph brincavam.
– Olá, crianças! – Falei esbarrando em Larry, que estava parado ao lado da piscina.
– Olá, senhora Evans! – Eles falaram em coro e Larry me deu um beijo na bochecha.
– Vamos deixar uma coisa combinada. Não é porque vocês têm mania de ‘senhor’ e ‘senhora’ aqui nos Estados Unidos que vocês vão me chamar assim, ok?! Me chamem de tia, ou de qualquer outra coisa. – Soltei uma risada fraca e eles riram. – Ou ninguém ganha bolo. – Ameacei e eles ficaram quietos imediatamente. – Vou deixar na geladeira. Não se esqueçam de comer e não entrem molhados em casa. – Falei, apontando para as crianças principalmente.
– Obrigada, mãe! – falou e eu afirmei com a cabeça, entrando em casa e puxando a porta atrás de mim.
– Ei, garota, tá devagar hoje? – Olhei para Leslie, que estava jogada no sofá da sala de TV, e eu caminhei até a geladeira, colocando a caixa do bolo lá dentro e fechando a mesma.
Passei pelo corredor, seguindo para meu quarto e tirando meus brincos no meio do caminho.
– Oi! – Ouvi a voz de Chris da sala de TV e estranhei, franzindo a testa.
– Oi. – Respondi e segui meu caminho, jogando minha bolsa na cama e sentando para tirar meu tênis do pé e os colocar dentro do closet.
Troquei minha roupa por um vestido solto, já que estava bem quente lá fora, e depois tomaria outro banho para dormir. As crianças precisavam de alguma coisa para comer.
Voltei para a cozinha, observando Chris com os olhos fixos na TV, algum jogo dos Patriots, ou algo assim. Deslizei os pés para trás da bancada da cozinha, pegando o pão de forma, um pouco de cenoura ralada, atum e cream cheese, uma comida um pouco mais saudável para eles, afinal, tinha um belo bolo em seguida.
Peguei uma tigela e comecei a misturar os ingredientes, transformando em um patê firme. Separei dois pratos e comecei a fazer os lanches, colocando em um deles, os empilhando. Estariam famintos quando saíssem da piscina, e isso poderia ser bem tarde.
Coloquei um lanche em outro prato, peguei uma Coca-Cola na geladeira e deixei na bancada, junto de sete copos. Peguei seis deles empilhados mais o prato de lanches e coloquei em uma mesa do lado de fora, fazendo outra volta, enchendo um dos copos de refrigerante e depois deixando na mesa das crianças novamente. Juntei o prato que havia sobrado, o copo cheio de refrigerante e segui para a sala de TV, colocando ambos na mesa de centro, onde Chris assistia TV. Voltei para a cozinha, abrindo meu notebook para começar a fazer as contas da confeitaria daquele mês. Precisava terminar aquilo antes do Natal, já que eu daria férias coletivas naquele ano.
– E como é essa situação? Primeiro você estava atrás das câmeras, fazendo exatamente o que estou fazendo agora e, de repente, eu estou aqui te entrevistando. – Ouvi a jornalista e soltei uma risada fraca.
– Bem, eu não posso negar que parte dessa atenção que eu estou recebendo é pelo meu casamento. Tudo começou quando eu me casei, vai fazer 11 anos. Um dia, eu chegava do trabalho de boa. No outro, tinha um paparazzi parado do outro lado da rua tirando fotos minhas só porque eu namorava o Chris Evans mas, por outro lado, eu tenho sorte de ter uma equipe incrível que está disposta o dia inteiro, fazendo diversos tipos de doces e salgados. A intenção da confeitaria era ser um café também, e eu acho que eu consegui isso. Também sem faixa-etária. O pessoal de diversas idades vem aqui. De manhã, são os idosos. Na hora do almoço, os adultos e, no fim da tarde, os adolescentes. Eu posso dizer que é muito bom estar tendo esse sucesso.
– Sim, com certeza, e acho que muitos já fizeram essa pergunta a você, mas por que você saiu do jornalismo?
– Na verdade, você é a primeira. Normalmente, as pessoas perguntam o porquê de eu ter aberto uma confeitaria, mas ninguém pergunta do jornalismo. – Ela sorriu.
– Por quê então?
– Desde que eu era mais nova, eu falava que eu queria ter uma família e, se eu precisasse escolher estando muito bem de vida, escolheria minha família um milhão de vezes. E foi o que eu fiz. – Sorri. – Eu tive uma filha e ter filho pequeno te faz ser muito dependente, principalmente se você não quiser perder momentos importantes, que acontecem nos primeiros anos de vida, e eu o fiz. Eu escolhi minha família. Eu até tentei um pouco em um blog, mas a procura de pauta e essas coisas eram bem mais difíceis quando se é independente. Voltei na antiga assessoria que eu comecei, para poder ajudar Chris nas diversas coisas, mas eu preferi a confeitaria.
– E deu certo? – Soltei uma risada.
– O que acha? – Virei o corpo para trás, onde os funcionários trabalhavam de um lado para o outro e as mesas estavam cheias.
– Acho que sim. – Ela sorriu. – E perdas... Você se arrepende de algo? Dois filhos, uma confeitaria de sucesso, um marido que sempre te apoiou. – Suspirei. – O que falta na vida de Evans?
– Eu acho que me arrependo do começo da confeitaria. Minha filha passou muito tempo aqui na confeitaria nos seus três anos, quatro, e talvez ela não devesse ter ficado tanto aqui. E eu acho que falta um pouco mais de paciência. Parece que, quanto mais velho a gente fica, mais impaciente a gente se torna e tudo ao nosso redor pode atrapalhar nisso, mas não deve. – Ela afirmou com a cabeça. – Eu cheguei aos quarenta, vamos ver como a vida vai levando.
– E qual seu conselho para quem está começando? Tanto no jornalismo, quanto na culinária, quanto com quem está começando uma família?
– Corra atrás dos seus sonhos, mas os persiga mesmo, porque eles não cairão na sua cabeça. E aprenda que estar certo é estar feliz, mas às vezes não. – Ela abriu um sorriso, afirmando com a cabeça.
– Acho que é isso, obrigada! Foi realmente um aprendizado. – Ela se levantou comigo, eu a cumprimentei e suspirei.
Olhei para todo mundo na confeitaria e abri um largo sorriso. Não importando as dificuldades que eu tinha em casa, era ótimo ir para lá e fazer as pessoas felizes. Afinal, era isso que a comida trazia: felicidade. Ainda mais se preparada com amor.
– Toc, toc! – Bati a mão na porta de Larry, que estava aberta, e ele se levantou da cama. – Posso entrar?
– Claro, entra! – Ele falou, se sentando na cama novamente e tirando os olhos da TV.
– Dr. Waton ligou. – Ele já riu fraco, sabendo sobre o que eu ia falar. – Ele disse que você está muito bem. – Ele sorriu. – Por que você não me contou?
– Eu não sei se vou aceitar essa alta que ele me deu, eu não estou cem por cento confiante quanto a isso. – Franzi a testa.
– Por quê, filho? – Eu me sentei ao seu lado.
– Eu ainda tenho... – Ele bagunçou a cabeça. – Pesadelos, às vezes.
– Eu não sou nenhuma psicóloga, amor, mas são suas lembranças. Elas não vão embora tão cedo.
– Às vezes eu me pego pensando nela. – Segurei sua mão, fazendo um carinho na mesma. – Isso me assombra.
– Nada precisa te assombrar, meu amor. Estamos aqui, você sabe disso. – Ele afirmou com a cabeça e passou os braços pelos meus ombros. – Ela nunca foi sua mãe. Jane foi e agora eu. Não vou pedir para você parar de pensar nisso, porque sei que não vai, – Ele afirmou com a cabeça. – mas não se torture, ok? Você é um ótimo garoto, um presente para gente, que merece ser feliz.
– Isso eu sou, mãe. E eternamente grato. – Abri um sorriso e o abracei, o ouvindo suspirar em meus braços.
– Não precisa ficar de conformidades, Larry. – Falei e ele riu. – Está com fome?
– Acabei de comer um pote de pipoca. – Ele ergueu o mesmo do lado da cama e eu revirei os olhos.
– Então depois se vira, hein?! – Falei e ele afirmou com a cabeça. – Vai comigo no mercado amanhã?
– Vou sim! – Ele falou, deitando novamente na cama.
– Eu vou. – Ouvi a voz de Chris vinda da porta e virei o rosto imediatamente, me aproximando da mesma.
– Não preciso de ninguém com cara feia para me acompanhar. – Saí do quarto, me espremendo para passar entre ele e o batente.
– Eu não estou de cara feia hoje. – Ele reclamou.
– Não só hoje como em todos os dias há mais de seis meses. Quando você me contar o que eu te fiz, quem sabe a gente pode conversar. – Falei direta e segui para o quarto de , me virando para ele antes de entrar no quarto ela, apontando o dedo em sua direção. – E não se atreva a brigar comigo na frente dos nossos filhos. – Virei novamente e entrei no quarto de com a respiração acelerada. – Ei, o que você está fazendo? – Soltei uma risada quando a vi vestida de princesa e Leslie ao seu lado, de coroa.
– Não era para você entrar! – Ela reclamou, fazendo um bico.
– Ah, meu amor, o que você está fazendo? Está linda! As duas! – Ela riu fraco, se aproximando de mim.
– To experimentando roupa para o natal. – Ela falou e eu ri fraco. – Mas eu não sei fazer trança.
– Sabe de um segredo? – Abaixei o rosto para cochichar para ela.
– O quê?
– Seu pai sabe fazer tranças. – Virei meu rosto para a porta, onde eu tinha certeza que Chris me olhava, e ele imediatamente abriu um sorriso.
– Sério, pai? – Ela franziu a testa e eu ri fraco.
– Sério! – Ele respondeu, entrando no quarto e pegando no colo. – Vou precisar de um pente para isso, esses cachos devem estar todos embaraçados. – Saí do quarto já que, pelo menos, para a mais nova ele fingia, mas para o mais velho não estava dando certo.
Finalizei minha maquiagem e me olhei no espelho do closet, feliz com o resultado, apesar de já estar começando a suar tudo de novo. Parecia que eu havia trocado o lugar que aconteceria o Natal e estava no Brasil sem saber. Coloquei meu salto alto, me preparando para aguentar com ele a noite inteira, e saí do closet, tropeçando nos pés de Chris, que estava sentado na poltrona, calçando seus sapatos.
– Desculpe. – Falei, tentando conter a risada e caminhei em direção à porta.
– Você está bonita. – Ele falou e eu afirmei com a cabeça, saindo do quarto, suspirando.
Caminhei de volta para a cozinha, os convidados estavam quase chegando.
– Mãe! – Ouvi uma voz e parei na porta do quarto do Larry. – Gravata. – Ele apontou para as tiras jogadas ao lado da sua camisa de meia manga e eu me aproximei dele, fazendo rapidamente um nó.
– Vê se sua irmã precisa de ajuda, por favor, estou atrasada. – Falei, o vendo afirmar com a cabeça e quase tropeçar no fio do seu videogame. – Vai, se mata! – Falei e ele riu.
Saí do seu quarto, ouvindo meus saltos baterem no chão de madeira de casa.
– Ah, que linda que ela está! – Falei, vendo o lacinho vermelho que colocou em Leslie e ri. – Fica bem, minha velinha. – Eu a vi caminhar devagar atrás de mim pela cozinha.
– Tô pronta! – gritou, aparecendo na sala, girando sua saia azul, e eu sorri. – O que acha, mamãe?
– Ué, desistiu de ir de princesa? – Perguntei, tirando o peru do forno e o colocando na bancada.
– Era muito quente. – Ela assumiu e eu ri.
– Eu te falei.
– Precisa de ajuda? – Ela perguntou, subindo em um dos bancos da bancada.
– Só não toque em nada, ano passado você derrubou a vasilha inteira da torta da sua avó. – Ela fez careta, fazendo um pequeno bico, e ia abrindo a boca para responder. – Com o controle do videogame.
– Eu ainda me pergunto como ela fez isso. – Larry apareceu na cozinha também e eu sorri.
– Escapou, ué. – Ela falou e eu ri fraco.
– É para isso que serve a pulseira de segurança. – Larry respondeu a ela e a mais nova mostrou a língua para ele.
– Pega os potinhos e coloca alguns tira-gostos, Larry, e pede para o seu pai ver as bebidas.
– Já estou indo. – Chris passou pela sala e eu afirmei com a cabeça, agradecendo.
– Por que eu sinto que vocês estão mal? – Rupert virou para mim e eu suspirei, virando mais um gole de champanhe.
– Por que você acha isso? – Perguntei. – Porque ele está na véspera de natal vendo jogo com os amigos ao invés de estar ao meu lado? Ou pelo fato dele ter virado monossilábico?
– Então está mal. – Megan falou, se sentando ao meu lado.
– Eu não sei o que fazer. – Assumi, suspirando alto.
– O que ele faz? – Derek perguntou.
– Aí que está! Ele não faz nada. Ele fica o dia inteiro em casa, dorme até tarde, mal sai, fica no celular o dia inteiro... Não sei, não dá um sorriso! A não, mas Larry já notou. Ele está estranho.
– E ele não fala nada? – Derek perguntou.
– Nada. E quando fala, é seco. Eu não consigo não pensar que ele possa estar tendo...
– Não termina, . – Rupert falou, colocando minha mão na perna, e eu suspirei.
– Eu não sei mais o que pensar. Eu fico o dia inteiro fora, Larry tem os amigos dele, e sai também. não fica pensando nisso, mas ele sai muito pouco...
– Teria que ser um gênio para estar te traindo.
– Megan! – Rupert e Derek a repreenderam.
– Ela está certa, a não ser que ele esteja me traindo dentro de casa. – Suspirei, dando um aperto no coração pensar na possibilidade. – Apesar de que as crianças ficam fora até as três da tarde, ele pode...
– Ele pode estar nada. Se esse homem estiver te traindo, eu juro que eu mesma arranco o coração dele com as mãos. – Megan falou brava e eu não pude conter a risada.
– Não exagera.
– Bem, ele decidiu dar um tempo, tá tudo meio entediado ultimamente. – Ela falou e eu sorri, abraçando-a de lado.
– Já tentou conversar com ele?
– E você acha que não? Mas sempre sai briga. Ele começa a ser grosso e eu respondo à altura. Sei lá, espero que seja só uma fase.
– Pode ser uma crise, crise dos dez anos de casado. – Derek falou. – Rupert ficou chato nessa época.
– Onze. – Eu o corrigi.
– Ok, mas você disse que isso está rolando há algum tempo já. – Ele riu fraco.
– E já sabemos que ele não pode parar de trabalhar. – Megan concluiu.
– Ele ficou folgado. Lutou tanto para conseguir o maior prêmio do cinema, conseguiu três em uma premiação só e foi decaindo. Parou de atuar, depois parou de dirigir, ficou produzindo pequenas coisas e agora parou de vez.
– Verdade! Melhor ator, diretor e filme, tudo no mesmo ano. – Rupert falou.
– Foi aí que começou. – Falei, suspirando, mexendo a taça vazia em minha mão.
– Como vocês superaram? – Perguntei para os dois à minha frente.
– Rolou diversas brigas aí no meio, algumas feias mas, depois, tudo voltou ao normal. – Rupert deu de ombros e eu sorri, afirmando com a cabeça.
– Para , nada! – Chris gritou com a pequena no colo.
– Tudo! – Respondemos, batendo palmas no ritmo.
– Então como é que é! – Gritei.
– É pique, é pique, é pique, é pique, é pique! É hora, é hora, é hora, é hora, é hora! Rá, tim, bum! , ! – Gritamos, aplaudindo a mesma, e eu estalei um beijo na bochecha de minha filha, vendo-a apagar as velas feliz.
– Com quem será... – Larry começou e eu soltei uma risada.
– Para, Larry! – Ela gritou para o irmão e eu escondi o rosto, entregando a faca na mão de .
– Para quem é o primeiro pedaço? – Megan gritou enquanto eu observava minha filha cortar um bolo que fiz para comemorar seu aniversário.
Tinha poucas pessoas ali mas, quem estava lá, importava.
– Para mamãe, que fez o bolo! – Ela respondeu, cortando um grande pedaço de bolo e me entregando em um prato.
– Ah, amor! – Falei, dando outro beijo nela, que sorriu.
– Não vale, ela vai ganhar sempre! – Larry gritou, provocando.
– Larry! – Eu o repreendi e ele riu. – E também... Feliz Natal, pessoal! – Falei, erguendo o copo vazio em minha mão.
– Feliz Natal! – Eles responderam e eu sorri.
– Obrigada por estarem aqui! – Falei e eles sorriram.
Cortei os pedaços de bolo e servi os pratinhos para o pessoal. Já havia passado a ceia e, com o bolo de cortado, a mesa de doces havia sido aberta. Sentei em uma das cadeiras perto da piscina e comecei a comer meu pedaço de bolo. Só com ele, eu já me sentiria cheia. Vi alguém se sentar ao meu lado, quieto também, e continuei comendo meu bolo em silêncio.
– Feliz Natal. – Era Chris e eu suspirei.
– Feliz Natal. – Respondi e dei um sorriso de lado para ele.
Foi o que ele falou e fez. Enrolou um pouco ao meu lado, mas logo se levantou, voltando para dentro. Uma lágrima deslizou pelo meu rosto.
– Tem certeza de que não quer mais nada, mãe? – Larry perguntou e eu afirmei com a cabeça, lavando um prato.
– Tenho sim, filho, vai dormir. – Falei, vendo-o com os olhos pequenos. – Consegue levar sua irmã para a cama? – Perguntei.
– Papai já levou. – Ele falou e eu afirmei com a cabeça.
– Vai dormir também, só vou terminar de lavar as coisas aqui, tá acabando.
– Ok então. – Ele falou, passando a mão no cabelo. – Boa noite.
– Dorme bem, meu amor. – Virei o rosto, dando um beijo em sua bochecha. – Almoço na Megan amanhã. – Falei e ele afirmou com a cabeça. – Mas pode dormir bastante.
– Valeu! – Ele riu fraco e saiu da cozinha. – Boa noite, pai.
– Boa noite, filho, dorme com Deus! – Chris falou, dando um beijo em Larry, e eu sorri, voltando minha atenção para a louça.
– Precisa de alguma ajuda? – Chris perguntou, coçando a nuca.
– Não, está tudo certo. – Falei para ele, que afirmou com a cabeça.
– Vou tomar banho, então, enquanto você termina aí, pode ser?
– Pode sim. – Respondi, dando um sorriso de lado.
Ele saiu da cozinha, puxando a gravata e a tirando do corpo, e seguiu para o corredor, de onde eu não consegui mais vê-lo. Continuei lavando a louça e a colocando em cima de vários panos de prato que estavam esticados na bancada. Eram muitos pratos, vasilhas, copos, talheres. Pelo menos, o que havia sobrado da comida Megan já havia levado para sua casa, já que almoçaríamos lá no dia seguinte, então facilitou bastante para guardar as coisas. No entanto, os refratários vazios haviam ficado e era complicado lavar tudo aquilo, mas era melhor fazer aquilo às quatro da manhã do dia de Natal do que acordar no dia de Natal e ter uma louça gigante.
No meio do caminho, eu tinha tirado meu salto e deixado no chão, ao lado da pia. Minha batata da perna doía e a sola do pé também, parecia que eu não tinha mais trinta anos. Ri fraco com esse pensamento. Fechei a torneira, dei uma ajeitada nas louças, vendo se nada causaria um strike no meio da noite, e sequei a mão, vendo meus dedos enrugados. Peguei meu salto na mão e segui para o corredor novamente.
– . – Ouvi a voz de Chris da sala de TV e coloquei minha cabeça dentro dela, o olhando com os olhos perdidos no tapete. – Podemos conversar? – Revirei os olhos, respirando fundo.
– São quatro da manhã. Você realmente quer conversar agora? – Perguntei, me sentando no braço do sofá.
– Eu preciso. – Ele respondeu e eu passei a mão na testa.
– Se for sobre o modo que você tem se comportado nos últimos meses, acho que pode esperar. – Falei firme, me levantando.
– Não é só sobre isso. É tudo que tem acontecido ao longo desse tempo.
– Bom, pelo menos você sabe como tem sido. – Fui ríspida. – Seus filhos estão notando. Você não faz mais nada, foi coisa da noite para o dia. Você dormiu como meu marido e acordou como um estranho totalmente diferente. – Passei a mão no nariz. – Eu não sei o que eu te fiz, o que qualquer pessoa te fez nessa casa, mas eu sei que seu comportamento é infantil e inútil. – Puxei a respiração forte.
– Você não sabe o que está acontecendo. – Ele gritou para mim e eu passei a mão no cabelo.
– Claro que não. Você não fala para ninguém, não conversa com ninguém, e o pior de tudo é que ninguém tem nada a ver com o que está acontecendo contigo.
– Não tem mesmo, mas eu sei que isso vai deixar todos à minha volta tristes. – Senti minhas lágrimas começarem a aparecer e puxei o ar forte novamente. – E não quero te ver triste.
– Desculpe, mas você já conseguiu. – Respondi, escondendo o rosto nas mãos.
– , por favor. – Ele tocou meu braço.
– Não toca em mim! – Esquivei meu braço. – Você não tem esse direito. – Falei, passando a mão na bochecha. – Eu não posso viver assim, Chris. Eu não sou nenhuma boneca que acha que está tudo bem, que finge que não está acontecendo nada na rua, que tem que sorrir como se o mundo estivesse maravilhoso mas não está. – Gritei a última parte. – Você prometeu o ‘para sempre’ e eu acreditei em você. – Sentei novamente no sofá, sentindo um frio passando pelo meu corpo.
– Eu não sei se isso é possível. – Ele me falou e eu fechei os olhos.
– Você me prometeu. – Falei, ouvindo minha voz embargada, e puxei a respiração novamente, sentindo meu nariz entupido.
– Às vezes, a vida nos prega surpresas. – Ele respondeu e eu abaixei o rosto no colo. – Eu preciso de um tempo para saber o que está acontecendo com a minha vida.
– E o que você quer que eu diga? Peça para você ficar? Parece que você já tomou sua decisão. – Falei, não conseguindo olhar para ele.
– Eu quero que você me diga que tudo vai ficar bem se eu voltar. – Esfreguei os olhos com as mãos. – Porque eu quero estar aqui, com você, nossos filhos, quando tudo isso acabar.
– Às vezes a vida nos prega surpresas. – Respondi para ele, olhando em seus olhos. – Parece que prometer coisas nessa família não dá muito certo. – Falei com certa ironia na voz e puxei o ar, tentando impedir que mais lágrimas caíssem do meu rosto.
Ele fez um aceno de cabeça e saiu da sala de TV. Pude ouvir seus pés baterem com força no piso de casa e, em poucos segundos, um barulho de vidro estraçalhando no chão. Em seguida, veio o som da porta batendo e Leslie latindo. Fez com que tudo virasse realidade.
Senti meu corpo escorregar do sofá e cair com força, batendo meus joelhos no chão. Escondi o rosto nas mãos, sentindo as lágrimas caindo em meu rosto, me fazendo puxar o ar fortemente. Minha vontade era de gritar mas, se o que Chris tinha feito na sala não acordara as crianças, eu não queria que elas acordassem. Que elas estivessem sonhando com algo maravilhoso, porque a realidade estava difícil de engolir.
– Você prometeu que ia tentar consertar. – Falei baixo.
Eu não sabia onde estava indo, ou o porquê de não ter contado a verdade de uma vez só. Ela era forte, ela iria me ajudar, ela... Droga! Eu era um idiota. Bati a mão forte no volante e fiquei dando voltas pelo bairro até saber para onde eu iria naquela madrugada de Natal. Para o aeroporto, não tinha voos aquele horário. Para o hotel dos meus amigos, não. Todos iriam me matar se eu fosse lá. Virei em uma rua fechada e puxei o freio de mão, parando na frente da casa de alguém que poderia me ajudar, quase atropelando um dos enfeites de Natal que estava na grama.
Desci do carro, batendo a porta dele com força, e andei pela grama até a porta, apertando a campainha diversas vezes e batendo forte na porta. Ouvi o barulho da tranca e Mackie abriu a porta com cara de sono e de pijama, aparentemente surpreso em me ver.
– Você não contou para ela, não é?! – Ele me perguntou.
– Não. – Foi o que eu consegui responder, antes do meu amigo me abraçar fortemente. – Eu não consegui. Tornaria tudo isso real. – Senti as lágrimas deslizarem sem vergonha pela minha bochecha.
– Vem, vai ficar tudo bem! – Ele falou, me levando para dentro da sua casa. – Eu prometo.
Capítulo 24
Se eu tenho um milhão de motivos pra te conquistar, eu não vou desistir
Você é frio, é calor, é febre de amor, saudade de paixão
Eu sigo sempre rumo ao seu coração
Pra ter o seu amor, eu viajei pelo seu mundo
Me vi com seus olhos, descobri quem sou
Pra ter o seu amor, te pedi pra Deus de presente
Pra me ver contente, ele te inventou.
Jorge e Mateus, Pra Ter o Seu Amor
– Eu não sabia o que fazer pai, eu não queria perdê-la. – Suspirei fundo, limpando as lágrimas que caíam de meus olhos. – Eu não posso perdê-la.
– E você acha que o que acabou de acontecer? – Ele me perguntou e eu fechei os olhos, escondendo o rosto nas mãos.
Que decadência, com quarenta e cinco anos nas costas, levando bronca do meu pai.
Eu o ouvi suspirar e, em seguida, senti o assento afundar ao meu lado e seu braço passando pelo meu corpo, me trazendo para perto de si. Encostei minha cabeça em seu pescoço e deixei que as lágrimas caíssem livres de meus olhos. Eu estava na merda, havia perdido tudo, tudo por medo.
– E o filho faz o mesmo erro do pai, tudo que eu não queria. – Ergui meu rosto.
– Eu não a traí, pai, e eu quero voltar para minha família. – Suspirei, esfregando meus olhos. – Não é o mesmo erro. – Ele se levantou e olhou para mim com a testa franzida, a mesma reação minha estava na dele.
– Então eu não entendi. – Ele suspirou.
– Eu estou doente, pai. – Falei, olhando para ele.
Meu pai já não estava muito bem. A idade tinha judiado dele, então ele sentou na poltrona mais próxima, puxou o ar forte e o soltou levemente diversas vezes.
– O que aconteceu? – Ele perguntou após um tempo.
– Faz seis meses. Eu estava mal na rua, notei que meu olho saltou de repente. Fui para o hospital e descobri que é algo ligado a doença que ataca a glândula da tiroide. – Falei e olhei em seu rosto, outro ponto de interrogação.
– E o que isso faz? – Ele perguntou com os olhos fixos nos meus.
– É uma forma tóxica de hipertireoidismo. Tem alguns termos técnicos, mas isso pode causar hipertrofia da glândula e também aumenta o metabolismo. – Falei olhando para ele.
– E por que é tão difícil falar para ? – Respirei fundo.
– Existem diversos sintomas, um deles é o coração acelerado, e eu já tive uma parada cardíaca.
– Ah, meu filho! – Ele se sentou ao meu lado, segurando minha mão. – E você está escondendo isso há quanto tempo?
– Seis meses. – Falei, suspirando. – Foi por isso que eu descansei um pouco, para ver como eu reagiria ao tratamento oral.
– E como você foi?
Neguei com a cabeça, soltando o ar fortemente.
– Não foi. – Ele apertou minhas mãos. – Eu tentei com betabloqueadores, nada. Depois, com iodo radioativo, também nada. Eu vou precisar fazer cirurgia.
– E por que eu sinto que não é algo simples?
– Porque é na garganta, eu tenho que estar sedado. Tirando os outros riscos da cirurgia. – Falei.
Senti que ele tocou em mim e eu passei a mão em sua cabeça, trazendo-o para perto de mim.
– Você não precisa aguentar esse fardo sozinho. – Ele falou, me apertando contra seu corpo. – Você tem uma família que te ama e te quer bem.
– Eu não quero que eles estejam perto se acontecer algo comigo. Eu não aguentaria. – Ele soltou um suspiro e afirmou com a cabeça.
– Nós vamos cuidar disso para você voltar para sua família. – Meu pai falou e eu sorri de lado, não sabendo se eles me receberiam de volta. – A partir de agora, você está de castigo.
– Você precisa saber algumas coisas antes de fazer essa cirurgia, Chris. Existem riscos.
– Imaginei. – Falei, olhando para o médico.
– Toda cirurgia tem riscos e a sua é bastante invasiva. Além disso, tem que ficar um bom tempo de repouso. Os pontos demoram a cair, é um pouco chato.
– Se fosse fácil, não seria tão interessante. – Falei e ele riu.
– Na sua cirurgia, como os dois medicamentos que deram para você não funcionaram, a glândula estará maior, então o tratamento que ocorre antes da cirurgia que é aumentar a glândula, para facilitar sua retirada, não vai ser necessário, já que a própria tireoide se alimentou dos outros medicamentos. – Afirmei com a cabeça.
– E o pós-cirúrgico? – Meu pai perguntou ao meu lado.
– Um mês de repouso. Você fica internado por uma semana no hospital, pois a alimentação será só por sonda, já que ela fica bem próximo a garganta e pode causar inchaço, uma afetando a outra. Em seguida, as alimentações começam a melhorar: sopa, depois coisas mastigáveis... Em torno de um mês depois, tudo volta ao normal.
– E com isso retirado, eu não terei mais problema pelo resto da vida? – Perguntei.
– Como, no seu caso, nós iremos retirar a glândula inteira, não terá nenhuma recorrência, mas pedimos para fazes exames de check-up contínuos, por precaução.
– E o que causa isso? – Meu pai perguntou.
– É uma doença autoimune, então os próprios anticorpos do corpo começam a produzir mais hormônios que o normal. Alguns dizem que fumar predispõe, mas ninguém tem um motivo concreto do que é. Não é o ar, não é a comida, não são agentes externos, é algo que acontece no corpo. – Ele falou e eu afirmei com a cabeça.
– É possível que eu tenha outro ataque cardíaco? – Perguntei e ele afirmou com a cabeça.
– Infelizmente, sim. Se sua pressão subir bastante, pode acontecer.
Passei a mão na testa e suspirei, pensando nas minhas alternativas – que não eram muitas, na verdade. Parecia que tudo estava indo por água abaixo, mas eu já tinha perdido tudo, boa parte pelo meu medo de perder as pessoas que eu amava, que faziam com que elas se afastassem de mim cada vez mais.
– E se eu não fizer a cirurgia? – Perguntei. – O que acontece?
– Todos esses sintomas que você tem como perda de peso, taquicardia, nervosismo, irritabilidade, insônia, o olho saltar, suor excessivo, vão continuar se manifestando em seu corpo. E você não tem respondido ao tratamento convencional. – Ele falou e eu suspirei. – Do contrário, o corpo está absorvendo-o para alimentar a doença. – Cocei a testa. – Não parece sério mas é, Evans. Você teve um ataque cardíaco, tudo por causa de algo pequeno. Não é pequeno. – Ergui os olhos para ele. – Eu sou bom, prometo.
– Além disso, algum outro efeito?
– Você terá duas cicatrizes na garganta. Se isso te curar, não vejo como algo ruim. Para um ator, até que pode ser, mas... – Soltei uma risada fraca.
– Agenda então. – Falei e ele afirmou com a cabeça.
– Eu vou matá-lo! – Ouvi uma voz estridente que eu não ouvia há muito tempo e franzi a testa.
As portas da casa do meu pai bateram uma atrás da outra contra a parede em seguida.
– Calma, vai devagar! – Ouvi outra voz conhecida.
– Não encosta em mim. Quem ele tá pensando que é? – Reconheci a voz da minha mãe e arregalei os olhos, ficando em pé de prontidão.
– Lisa, por favor, vai com calma. – Meu pai falou.
A porta do quarto bateu com tudo contra a parede e uma Lisa raivosa apareceu.
– Quem você pensa que é? – Foi a primeira coisa que ela falou antes de virar um tapa na minha cara, me fazendo arregalar os olhos, e senti o local arder. – Eu não te ensinei isso, moleque. – Ela gritou.
– Lisa! – Meu pai a repreendeu.
– Moleque sim, porque um homem não faz isso. – Ela falou, olhando fixamente em meus olhos. – Eu fui de surpresa passar o réveillon com a sua família, fiz um esforço para ir. Quando eu chego lá, está a maior cara de enterro, sua esposa há dias sem dormir porque não sabe onde você está, ou com quem você está. Seu filho... Se ele te pegar, ele te mata, Christopher! De tanta raiva que ele está. E o pior é a . O que você tem na cabeça? – Ela gritou na minha cara.
– Mãe... – Ela estendeu a mão para cima para que eu ficasse quieto e eu obedeci, como fazia quando criança.
– E o pior... Está aqui em Boston, escondido na casa do seu pai, como se nada tivesse acontecido. – Ela suspirou. – Só me faltava te dar bronca depois de velho. – Ela falou e eu sentei na cama novamente, sentindo as lágrimas caírem dos meus olhos.
– Mãe... – Scott falou.
– É bom que chore. Pelo menos, ele pensa no que fez. – Minha mãe bufou novamente.
– Aconteceu algo, Lisa. – Meu pai falou e eu suspirei, passando a mão no rosto. – Ele está doente.
– Como assim?! – Ela olhava de mim para meu pai, perdida em tudo que estava acontecendo. – O que você não está me contando, filho?
– Chama Doença de Graves. Ele não reagiu ao tratamento convencional, já teve um ataque cardíaco. Vai passar por uma cirurgia em alguns dias. – Soltei um suspiro e ergui o rosto, olhando para minha mãe, que parou por um momento, processando a informação diversas vezes.
– É por isso que você estava diferente nesses últimos tempos? É por isso que você foi embora? – Ela perguntou, se sentando ao meu lado.
– Eu não fui embora, eu só preciso ter certeza de que eu vou ficar bem antes de voltar. – Falei e ela deu outro tapa em meu braço.
– Você nunca ouviu falar de ‘na alegria e na tristeza, na saúde e na doença’? – Ela gritou novamente. – Por acaso, o padre se esqueceu de falar isso para vocês?
– Eu não quero machucá-los, mãe. Especialmente a .
– Mas, desse jeito, você também está magoando-a. Ela não tem ideia de onde você está, com quem, fazendo o quê. Você sabe qual é a principal ideia que uma mulher tem na cabeça, não? – Ela falou e eu afirmei com a cabeça.
– Eu juro que eu não a traí, mãe. Machucaria um milhão de vezes mais em mim do que nela. – Falei e ela abriu um sorriso.
– É bom ouvir isso, filho. Mas você precisa voltar, querido.
– Não. Agora eu marquei a cirurgia aqui. Eu vou ter certeza de que vou ficar bem antes de voltar para eles... Voltar para ela. – Dona Lisa coçou a testa, não muito contente com o que estava acontecendo. – É melhor que ela pense mil coisas erradas minhas do que ficar sofrendo comigo. Nem você era para saber.
– Me mataria se algo acontecesse contigo, filho, mas eu estou aqui contigo, todo mundo está aqui por você. – Ela falou, fazendo meus olhos embaçarem novamente. – Tudo vai ficar bem.
– Espero que sim. – Falei e ela me abraçou fortemente.
– Agora me conte mais sobre essa doença. – Scott falou e eu ergui o rosto a tempo de vê-lo enxugar as bochechas. – Porque eu realmente não quero perder meu irmão. – Soltei uma risada fraca e o chamei para perto de mim, abraçando-o.
– Quando sua mãe me ligou dizendo que você estava aqui, eu só não te enchi de pancada porque ela me contou o que estava acontecendo. – Megan falou assim que entrei pelo seu escritório em Boston que eu tanto conhecia. – Você tem alguma ideia de que sua esposa está triste, que ela...
– Megan! – Eu a repreendi. – Eu sei de tudo, por favor, não faça eu me sentir pior do que eu já estou.
– Não é porque você pode morrer nessa cirurgia que eu vou deixar barato. – Ela respondeu, se levantando. – Minha amiga está com uma dor muito pior do que a sua, e a dela, nenhuma cirurgia cura.
– Como ela está? – Perguntei.
– De coração partido, triste, tendo que aguentar o peso de uma família só para ela, tentando impedir que seu filho mais velho te dê umas belas de umas porradas e ainda enganar uma menina de nove anos, falando que o papai teve que ir viajar. Olha, a é pequena, mas quem viaja na madrugada de Natal? – Ouvi a voz de Derek atrás de mim e, a cada palavra, eu sentia meu coração apertar, aquela foi a pior ideia que eu já tive. – Te fiz se sentir culpado o suficiente?
– Sim, obrigado! – Falei olhando para ele, que deu um sorriso e entrou na sala, fechando a porta.
– Que porra aconteceu, Evans? – Ele perguntou, falando um pouco mais baixo.
– A vida aconteceu, Derek. – Falei e ele suspirou, passando a mão nos cabelos.
– A vida é uma bosta.
– Você não vai dar uma bela de uma xingada nele, Derek? – Megan perguntou e ele riu fraco.
– Só pelo fato de eu já saber que ele não a traiu, eu não o odeio mais. – Ele respondeu e eu sorri, agradecendo com um aceno da cabeça.
– Só me deixa terminar o que eu planejei. – Falei.
– Você planejou isso?
– Sim! – Respondi.
– Você podia dividir com as pessoas os seus planos, sabia? – Megan gritou alto para mim.
– Nem sei por que eu tive um plano. Quando um descobre, conta para mais três. Eu fiquei em tratamento nesses últimos meses, aí eu iria fazer a cirurgia e depois voltar.
– Ah, e um dia você estaria o senhor carrancudo e, no outro, o senhor perfeição novamente? – Ela revirou os olhos. – Aqui, certeza de que esse plano ia dar certo. Você é casado com uma jornalista! Ela investiga as coisas. – Megan falou.
– Capaz de essa sala estar toda grampeada já. – Derek falou assoviando e eu ri fraco.
– Deixe-me resolver isso, ok? Se eu voltar vivo, vocês podem me jogar na fogueira. Só me deixem terminar, agora que já estou na merda. – Falei.
– Só porque você já está na merda, e porque eu sei que você vai apanhar bastante se voltar agora, além de ainda ter que fazer a cirurgia. – Megan falou. – Faça a cirurgia, se recupere e volte para Los Angeles o mais rápido possível. – Ela rosnou a última parte e eu afirmei com a cabeça.
– Eu, hein... Você consegue ser pior que minha mãe. – Falei.
– Sério?
– Não, ela me deu um tapa na cara.
– Vai, Lisa! – Derek falou, comemorando. – Desculpa, ainda sou do time . – Ele deu de ombros, voltando para sua sala.
– Nós vamos te ajudar a corrigir isso, Chris. – Megan falou, colocando a mão em cima da minha. – Agora sai, preciso trabalhar.
– Vai ficar tudo bem, Evans, você não vai sentir nada. Você estará totalmente sob meu controle, só se mantenha calmo. Vá para um mundo onde você é feliz, relembre seus melhores momentos, lembre para quem você está fazendo tudo isso. – O médico falou para mim e eu afirmei a cabeça, segurando a barra da coberta em cima de mim. – Você vai sentir uma picada no braço. Vamos entubar você, colocar o batente de pressão no seu braço e te dar um calmante. Quando você acordar, tudo estará bem.
– Obrigado! – Falei e ele sorriu.
– Me agradeça depois. – Ele respondeu. – Vamos lá!
Um dos enfermeiros empurrou a maca em direção à sala de cirurgia. Se era para eu pensar no meu lugar feliz, que fosse no colo de quem eu amava. Eu errei. Que isso não seja motivo para eu não consertar as coisas de novo, que seja motivo para eu voltar e compensar com as três pessoas mais importantes na minha vida. Que, além disso, eu possa voltar para o povo e fazer o que eu tenho sido tão bom nos últimos anos. Fazer filmes, atuar em filmes... Eu era melhor assim. Tudo que eu fazia era por causa daquilo. Tudo o que eu era, com quem eu havia casado, era tudo por causa da minha carreira, e eu queria melhorar para continuar fazendo aquilo.
Passei a mão em meu rosto e respirei fundo. Aquele não era o fim. Eu não seria estúpido o suficiente para morrer sem antes me desculpar com a mulher que eu amava. Eu não podia ser tão covarde em fazer aquilo.
– Vai ficar tudo bem. – A enfermeira falou para mim e eu afirmei com a cabeça, fechando os olhos novamente.
Fui colocado no meio da sala de cirurgia novamente e as preparações começaram. Senti uma das enfermeiras puxar meu braço e conectar o aparelho de pressão que apertava meu braço a cada cinco minutos e, no outro, conectou um cateter.
– Conte até dez ao contrário, por favor. – Um dos médicos falou enquanto injetava algo em meu braço.
– Dez, nove, oito... – Comecei a ficar zonzo e puxei a respiração forte, ainda vendo um tubo sendo colocado na minha boca antes de eu fechar os olhos.
– Chris. Christopher! – Fui chamado e ouvi alguns estalos próximos ao meu ouvido.
– Não tente falar, você está entubado ainda. – Engoli com dificuldade, notando que tinha um cano em minha garganta, me ajudando a respirar. – A cirurgia foi ótima. Você está na UTI do hospital ainda. Está tudo bem, volte a dormir. Depois, conversamos. – Afirmei com a cabeça e senti meus olhos pesarem novamente, então os fechei.
Eu me olhei no espelho novamente, vendo as duas cicatrizes finas em meu pescoço, e respirei fundo, fazendo um sinal da cruz sob meu peito e uma reza silenciosa. Soltei a gola da blusa novamente, vendo uma das cicatrizes ser escondida. Dei uma risada fraca e neguei com a cabeça, aliviado.
– Senhor Evans! – Olhei para o doutor e sorri.
– Ei! – Falei e o cumprimentei.
– Como você está? – Ele perguntou. – Fiquei surpreso ao me chamarem aqui.
– Eu vim agradecer. – Falei e ele abriu um sorriso.
– Não precisa! – Ele respondeu e eu ri fraco.
– Eu sei que é complicado um médico pegar um caso de outro médico, mas você aguentou minhas burradas e escolhas erradas como se estivesse por dentro da situação. – Ele riu, tirando os óculos.
– Todos nós erramos, não é exclusividade de ninguém isso. – Ele falou. – E sim, às vezes dói, mas só podemos nos perdoar e esperar que os outros nos perdoem.
– Eu espero. – Falei e suspirei.
– Conte a verdade. Se ela te ama do jeito que você a ama, as coisas podem ser consertadas.
– Espero que ela ainda me ame.
– Ninguém deixa de amar uma pessoa em dois meses, principalmente depois de dez anos de casamento.
– Eu estou sendo um idiota há um pouco mais que isso. – Falei.
– Não seja mais. – Ele riu fraco. – Bem, sempre somos. – Ri, balançando a cabeça. – Mas pegue o conselho de alguém que está casado há quatro vezes mais tempo que você: o amor fala mais alto.
– Eu fiz uma promessa para ela antes do nosso casamento e eu não tenho cumprido nos últimos meses. – Entortei a boca.
– Qual promessa? Se me permite perguntar...
– Conserte, não quebre.
– Sim, o povo precisa um pouco mais disso. – Ele sorriu. – Estou torcendo por você.
– Obrigado, estou precisando.
– E, por favor, não suma. Preciso dos seus exames mensalmente. – Afirmei com a cabeça.
– Vamos ver se tudo vai se ajeitar, aí eu volto. – Ele riu fraco.
– Por favor! – Ele sorriu.
Ouvi o despertador tocar e bati a mão dele imediatamente. Como se eu tivesse dormido aquela noite e na anterior, ou pelos últimos dois meses... Maldito! Olhei para a cama vazia ao meu lado e me levantei, aquela era a pior parte do dia. Fui direto para o banho e deixei com que a água quente caísse sobre meu corpo, não enrolando muito. Olhei meu rosto no espelho e vi grossas marcas pretas embaixo dos meus olhos. Passei uma base no rosto, para tentar esconder aquilo, e treinei meu sorriso novamente, conferindo se era o mesmo sorriso falso do dia anterior e das últimas semanas.
Parti para o closet, tentei ignorar o cheiro das roupas do Chris a minha volta e peguei minha calça jeans, uma camiseta e, dessa vez, um casaco quente para acompanhar, já que estava frio lá fora. Vesti tudo e calcei meu tênis.
– Vamos começar mais um dia, menina! – Falei, acariciando a cabeça de Leslie, e saí do quarto, caminhando primeiro para o quarto de . – Filha, amor, vamos levantar. – Falei entrando em seu quarto e me sentei na beirada da cama, fazendo um carinho em seus cabelos. – Vamos, . – Falei, sacudindo-a um pouco.
– Tá frio, mãe. – Eu a ouvi reclamar e me levantei novamente, puxando sua coberta.
– Vai, , está na hora da escola. – Chamei.
Ela bufou, se sentando na cama, e coçou os olhos. – Agora!
– Tá bom, já acordei. – Ela bocejou e eu acendi a luz do seu quarto antes de sair do mesmo.
Caminhei a passos firmes até o quarto de Larry e abri a porta do mesmo, dando de cara com a luz apagada ainda e ele sentado na beirada da cama, passando a mão nos cabelos.
– Vamos, Larry, você vai se atrasar. – Falei e ele bocejou.
– Eu tenho mesmo que ir? – Ele me perguntou, encostando a cabeça na cama novamente.
– Você tem prova de química no primeiro tempo, então acho que sim, tem! – Falei, acendendo a luz do seu quarto também.
– Ah, mãe, não sei como você consegue. – Ele falou, bocejando.
– Só não pensar nisso e a vida continua. Eu ainda tenho dois filhos para cuidar, contas para pagar, pessoas para conviver... – Voltei para a porta. – Se você for para diretoria de novo por brigar, eu juro que quebro seu videogame em dois.
– Ah mãe, menos. Se o papai decidiu ser um filho da puta e sair de casa, não sou eu que vou ficar levando punição.
– Então aja como se nada tivesse acontecido. Pelo menos, para sua irmã. – Respondi.
– O que eu fiz? – Ela apareceu, indo em direção ao banheiro, e eu a olhei.
– Quer um pouco de chocolate para o lanche? – Perguntei e ela afirmou com a cabeça, caminhando novamente para seu destino. – Você também?
– Coloca café na minha térmica, por favor. – Afirmei com a cabeça e segui em direção à cozinha, começando a preparar os lanches e o café da manhã, vendo Larry mal tocar em sua comida também.
Eu estava desmoronando mas precisava me permanecer forte, aquilo ia passar. Eu gostava de me manter um pouco mais otimista do que eu era e fingir que aquilo era verdade. Não havia contado nada para . Para ela, Chris havia viajado para um novo filme que ele tinha arranjado. Achei que seria melhor do que contar que ele havia fugido com outra mulher. Nunca pensei que ele poderia fazer aquilo. Que idiota, acontecendo bem embaixo dos meus olhos, certeza de que ele passava as manhãs fora... Pelo menos, eu não dependia dele parar viver. Já Larry... Bem, se ele encontrasse com Chris na rua, era capaz de dar um soco muito bem dado na cara dele. Eu só tentava controlar tudo mas, sozinha, era difícil.
Larguei as crianças na escola e segui para a confeitaria, estava na hora de trabalhar. Aquela era a minha melhor distração do dia. Larry havia conseguido um trabalho de meio período em um cinema perto de casa, ele falava que era bom para distração também. Ofereci um estágio na confeitaria mas, depois de um bolo quase explodir em casa por excesso de fermento, achei melhor não, e ele não era um dos melhores em matemática. Cada um no seu canto era melhor. passava o dia com a babá, que também acreditava na mesma coisa que contamos a ela. Ele estava em uma gravação de um filme novo. Pena que esse filme não sairia nunca.
– About Pastries, bom dia! – Atendi o telefone da confeitaria com o papel pronto para anotar mais um pedido de casamento.
Estávamos em fevereiro, poucos meses de maio, o mês dos casamentos, então o telefone não parava de tocar.
– Alô? – Perguntei de novo. – Olhei para o telefone novamente e o desliguei. – Acho que foi engano. – Falei, entregando-o para Grace.
– , pode vir nos ajudar, por favor? – Ouvi uma voz vinda da cozinha e afirmei com a cabeça, passando pelo corredor de atendimento, aproveitando para dar uma conferida se todas as mesas estavam servidas.
Entrei pela cozinha, vendo os diversos bolos de chocolate espalhados pelas mesas.
– Precisa passar o chocolate branco por cima deles.
– Me dá um saco de chocolate branco, fica com o preto e a gente termina isso rapidinho. – Ela afirmou com a cabeça, saiu correndo em direção às bacias de chocolate derretido e encheu cada um com um tipo, me entregou uma delas.
Fiz um pequeno corte na ponta e fui, de bolo em bolo, fazendo um trançado de chocolate no meio, o vendo cair pelas laterais do bolo e deixando uma decoração simples e caprichada.
Era aquilo que me acalmava, me distraía um pouco. Era algo que eu realmente gostava de fazer, então ficar por doze horas na confeitaria fazia com que eu saísse do mundo, partisse para uma realidade alternativa, onde ninguém poderia me atrapalhar e eu só fazia as pessoas sorrirem. Era lá que eu queria estar, mas a realidade me puxava pela perna novamente e me jogava de volta para o mundo de verdade. Eu estava começando a cogitar comprar outra casa para mim e as crianças, era muita dor ficar naquela casa com todas as coisas me lembrando do Chris. Era como se, a cada vez que eu pisasse ali, eu fosse estapeada diversas vezes.
Após enfeitar os bolos, eu parti para a fritura dos sonhos. Era quase quatro horas e as crianças começariam a chegar. Em algumas horas, aquilo estaria cheio novamente. Era sexta-feira e minha confeitaria havia se tornado um point para os adolescentes irem brincar e rir, talvez até Larry apareceria por ali depois do serviço.
Cuidei pessoalmente da preparação dos sonhos e fiz mais massa. Enquanto elas cresciam, eu fazia o creme de confeiteiro novinho para encher os sonhos que estavam sendo fritos. Aquilo era um processo lento, ele precisava ficar bem frito por fora, sem queimar, e ainda ficar cozido por dentro. Como eu estava desatenta, às vezes dava errado.
– Ei, ! – Ergui o corpo, sentindo minhas costas reclamarem, e minha atendente mais jovem sorriu.
– Oi, Nina. – Falei e ela se aproximou de mim.
– Quer trocar? Você está aqui a tarde toda, creio que suas costas estão doendo já. – Ri fraco e afirmei com a cabeça.
– Pois é, trabalho repetitivo! – Falei e ela sorriu.
– Eu fico de olho no que vai saindo. Vai lá para frente, você gosta de ver o pessoal jovem.
– Eu vou. – Falei para ela, que riu. – Deixa eu só terminar de confeitar esses cupcakes que eu já os levo comigo. – Ela afirmou coma cabeça e se colocou em uma das mesas de trás, começando a rechear os croissants salgados, que era bastante pedido naquele horário.
Olhei a cobertura que estava em minha mão e vi o tom azul na mesma. Suspirei e terminei de confeitar a última fornada de cupcakes. Joguei longe o saco de confeiteiro e peguei a bandeja, desviando dos funcionários que atendiam os jovens que começavam a chegar. Olhei para a porta de vidro, vendo que o sol começava a se por. Eu me abaixei por um minuto e comecei a encher a estufa com os cupcakes que estavam na bandeja em minha mão.
– Não, sem brincadeira, Mary, ele era enorme. – Ouvi Josh falar ao meu lado e gargalhei, não contendo a risada.
– Gente, que papo é esse? – Virei para eles.
– O cara com quem eu saí ontem, chefinha. Ele era enorme. – Ele repetiu.
– Isso eu já entendi. – Falei e movimentei a cabeça de um lado para outro. – E não foi só uma saída, pelo que eu entendi! – Olhei para ele de baixo.
– Ah! – Ele deu de ombros e eu me levantei novamente.
– Coube? – Perguntei e Mary gargalhou ao meu lado.
– Cansei desse papo. – Abri um sorriso e continuei organizando os outros doces, que estavam bagunçados.
– Boa noite, eu gostaria de um cupcake com cobertura azul, por favor. – Ouvi alguém fazendo um pedido.
– Você deu sorte senhor, eles acabaram de sair. – Ergui o rosto, não esperando pela pessoa que estava em minha frente, me fazendo ficar estática por um tempo enquanto encarava seus olhos azuis.
– E um sonho com creme de confeiteiro, por favor. Minha esposa os ama.
Eu desaprendi a respirar, a falar, a me mexer. Eu parecia uma estátua ali do lado de dentro. Fechei os olhos por algum momento e puxei a respiração novamente. Achei que era melhor falar alguma coisa, já que eu não havia contado nada para os meus funcionários, mas as palavras não saíam da minha boca. Tossi um pouco, abrindo os olhos novamente, e lembrei que eu não havia feito nada de errado. Decidi então entrar na sua brincadeira.
– Claro, senhor, mais alguma coisa? – Falei, pegando um prato, colocando as duas coisas que ele me pediu e esticando o prato por cima do balcão.
– Dois chocolates quentes, por favor. – Ele mexeu na gola do casaco.
Eu notei duas manchas em seu pescoço e franzi a testa, tentando perguntar pelo olhar o que estava acontecendo, mas ele era tão cafajeste que só ficava sorrindo para mim, como se nada tivesse acontecido. Minhas pernas ainda tremiam.
– Fique à vontade, já levamos para você. – Finalizei e ele afirmou com a cabeça, pegando o prato e indo em direção à mesa em que normalmente sentávamos, no canto do salão de trás.
Suspirei, passando a mão na cabeça.
– E eu pensando que seria um dia calmo.
– Nossa, que tensão! Está tudo certo, chefinha? – Ouvi a voz de Joshua e virei o corpo na bancada, pegando dois copos de isopor e servindo com a garrafa de chocolate quente que já estava ali. – Para, , você está tremendo, eu faço isso. O que aconteceu?
– Bem, vamos só dizer que ele estava sumido desde o Natal e estamos em crise ou nos separamos, vai saber. – Falei ironicamente, o fazendo arregalar os olhos e me puxando para o canto contrário de onde Chris estava.
– Como assim? Então é por isso que você está cheia de olheiras. – Ele falou e eu arregalei os olhos. – Tenta retocar a maquiagem que tudo melhora. – Ele falou e eu suspirei. – Como? O que houve?
– Eu não sei, ele está diferente. Aí depois da ceia de Natal, ele disse que precisava ir, mas queria que eu permitisse que ele voltasse.
– Como assim?
– Eu não sei, estou tão perdida quanto você. Mas se ele foi, cansou da vagabunda dele e agora quer voltar, ele que não vai ter.
– Ah, meu Deus, , eu nem suspeitava.
– Era a intenção. Precisamos ser felizes aqui. – Falei e ele afirmou com a cabeça.
– Por quanto tempo você treinou seu sorriso? – Ele falou ironicamente e eu suspirei. – Vai falar com ele, agora! – Ele me empurrou e eu tropecei em meus pés. – Ou eu vou lá botar ordem nisso.
– Entendi, Josh! Calma!
Tudo que você precisa são cinco segundos de loucura extrema, e eu acho que esses segundos foram muito mais do que eu havia feito em toda minha vida. Chamá-la para sair, ped-la em casamento... Nada disso foi fácil. Afinal, naquela época, eu sabia o que ela pensava de mim e sabia sobre seus sentimentos por mim. Parecia que eu tinha voltado para a estaca zero, um garoto que nunca tinha namorado na vida pedindo para uma garota ir para o baile de formatura. Era louco e torturante e, na maioria das vezes, você levava um não na vida.
Olhei para o cupcake em minha frente e a intenção era apelar pelo sentimental dela porque eu não estava com fome. Não conseguiria comer aquilo mesmo, apesar de eu saber que deveria estar uma delícia. Eu a olhei conversar com um dos seus funcionários e ela quase cair sozinha, sendo puxada por ele.
Ela estava mal, eu podia notar. Não tinha mais aquele brilho em seu rosto. Ela tinha olheiras profundas e eu nunca a vi com aquilo. Seu cabelo estava preso com força em um coque, enfiado dentro da touca da confeitaria. Ela movimentou seus lábios diversas vezes enquanto caminhava em direção a mim. Provavelmente, ela contava para se manter calma, ou tentava algumas palavras que deveria dizer. Eu tentei no carro, mas não deu muito certo.
Parou no cabideiro que eles tinham e tirou o avental, pendurando-o no mesmo, mas manteve a touca em seu cabelo. Ela estralou os dedos enquanto caminhava em minha direção e parecia uma eternidade, ou ela realmente andava devagar. Abriu um sorriso para alguns adolescentes que estavam ali perto, fazendo meu coração bater mais rápido. Dessa vez, não tinha nada a ver com a doença, era por causa dela mesmo. Eu havia esquecido que ela causava aquilo em mim.
Ela puxou a cadeira em minha frente e se sentou, colocando as mãos no colo, tentando escondê-las, mas eu sabia que ela estava mexendo-as freneticamente. Provavelmente, estava suando.
– O que você quer? – Foram as primeiras palavras que ela disse.
– , por favor, não seja...
– Assim? – Ela finalizou minha frase em formato de pergunta. – Como eu deveria ser então? – Ela passou a mão no rosto cansado e suspirou, olhando para mim, mas ela não olhava em meus olhos.
– Eu vim para gente conversar.
– Bom, muito bom, mas eu preferia que você me desse o que eu tenho que assinar e a gente acabasse com isso sem que mais pessoas se machucassem. – Essa doeu.
– O que você está dizendo, ? – Perguntei.
– A não ser que seja para falar de divórcio, eu não entendo o porquê de você ter vindo. – Ela falou, puxando a respiração forte. – Não fui eu que fui atrás de você. Afinal, nem saberia por onde procurar.
– Eu não quero me separar de você. – Falei direto, apoiando os braços na mesa para me aproximar dela.
– Então o que você quer? – Ela perguntou com a voz rouca.
– Conversar. – Encarei seus olhos castanhos.
– O quanto eu vou chorar nessa conversa? – Ela perguntou, respirando fundo.
– Espero que bastante. – Falei.
– Por quê?
– Porque assim eu vou saber que você se importa. – Senti meus olhos ficarem embaçados e ela engoliu em seco, passando a mão no rosto. – Me dê uma chance, eu sei que você não vai se arrepender.
– Então você vai me prometer que vai dizer tudo e eu não vou perguntar nada, nem vou te interromper. – Afirmei com a cabeça. – Comece.
Eu contei toda a história para ela. Tentei não deixar nada de fora, nenhum momento, nenhum desejo, nenhum sentimento. Ela precisava saber de toda a verdade, quem sabe assim ela me perdoasse. Comecei falando sobre o motivo pelo qual eu havia largado do trabalho um pouco, pois eu havia passado mal, tido um ataque cardíaco e começaram a aparecer alguns problemas, problemas que eu não sabia de onde vinham e porque vinham. Havia descoberto que era uma doença estranha, foi quando ela começou a se interessar.
Depois, segui para o problema do tratamento, onde nada parecia ter efeito. Nesse meio tempo, contei que alguns dos sintomas começavam a aparecer e faziam com que eu ficasse em casa o dia inteiro, em uma tentativa de tudo passar. Aí foi que eu entrei no motivo da distância, já que eu não queria machucá-los. Como já era de se esperar que a cirurgia não seria tão simples assim, pelo local em que ela era feita, eu não ia aguentar vê-la triste, sabendo que eu poderia perder tudo em poucos segundos.
Falei de antes da cirurgia. Que, infelizmente, fiz meu plano de ficar isolado do mundo um pouco, já que, além dela, eu tinha um carinho enorme por diversas pessoas da minha vida, e diversas pessoas descobriram onde eu estava: em Boston. Que, ao invés de eu me sentir um pouco melhor ao ouvir tudo que falavam sobre ela, eu não acreditei que eu havia sido estúpido o suficiente para deixá-la sozinha, deixar meus filhos sozinhos. Que se eu pudesse voltar atrás, eu voltaria e fazia tudo de novo.
Por fim, eu contei da cirurgia. Falei do procedimento inteiro, de como foi. Tentei aliviar um pouco a situação, mas ela sabia onde a tireoide era, então não era fácil esconder que você havia feito uma cirurgia na garganta e muito menos esconder suas cicatrizes que ainda estavam com pontos na região. Eu puxei a gola da camiseta um pouco e mostrei a ela.
– Mas está tudo bem, e é por isso que eu voltei. – Respirei fundo. – Porque eu fiz uma promessa à mulher que eu amo, que eu ia tentar consertar as coisas. Demorou um pouco, mas voltei.
E sabe o que ela fez? Ela gargalhou.
Sua gargalhada ecoou pela confeitaria. Não chamou tanta atenção, afinal, aquele lugar estava cheio, então o que você mais ouvia era risada de adolescentes passeando de lá para cá, mas deixou eu seus funcionários assustados, já que era certo que eles estavam espionando, mesmo não conseguindo ouvir nada, eu esperava.
– Ok! – Ela falou, passando a mão nos olhos, não sabendo se era de choro ou de risada, e ela suspirou. – Então você quer dizer que, no meio dessa zona toda, em todo esse tempo, não tinha nenhuma mulher no meio do caminho? – Ela falou e eu franzi a testa, soltando uma risada em seguida.
– Ok, por essa, eu não esperava. – Falei, coçando a testa.
– Mas ainda assim, eu vou dar na sua cara. – Ela falou, aproximando o rosto de mim, falando em um cochichado gritado que eu não entendia como ela fazia. – Como você me faz isso, seu idiota? A gente não prometeu que estaríamos juntos para o que der e vier, na saúde e na doença? – Ela tinha lágrimas em seus olhos.
– Quando eu pensei na possibilidade de te perder, eu só queria me afastar, quem sabe assim causaria menos danos.
– Danos, Evans? – Definitivamente ela já chorava. – Como se afastar pode causar menos danos? Eu pensei que eu tinha te perdido para sempre. Seu filho vai te matar quando você chegar casa. – Sorri.
– Então você me aceita de volta em casa? – Perguntei alegre e ela riu fraco.
– Claro que sim! Pensar que eu havia te perdido foi a pior coisa do mundo. – Ela respirou fundo. – E ainda você fez uma cirurgia. Como isso? Como você me faz tudo isso sem me contar? – Ela colocou a mão na boca, engolindo a seco.
– Eu...
– Quer saber? Não. A gente vai conversar direito quando chegar em casa, essa choradeira já está me dando dor de cabeça. – Ela falou, apoiando os cotovelos na mesa, e apertou a cabeça.
Eu conhecia aquela sensação. Aproveitei a deixa e ergui seu queixo, encostando meus lábios levemente nos dela. Eu sentia saudades daquilo e ela também, pelo suspiro que ela deu, mas se afastou logo em seguida.
– Eu ainda não te perdoei. – Ela falou e se levantou.
– Por que você tem que ser tão difícil? – Perguntei.
– Isso é para você sentir como foi todos esses meses sem você, mais os que você se distanciou de mim. – Ela falou e eu afirmei com a cabeça, rindo fraco. – Saio às oito, se quiser me esperar.
– Se o Larry estiver tão puto quanto todo mundo está falando, acho que preciso de um escudo. – Ela riu fraco.
– E esse era o homem que se dizia Capitão América. – Ela zoou.
Forcei uma risada irônica e ela se afastou da mesa.
– Ei, garoto! – Chris falou batendo na porta de Larry, que estudava para alguma prova.
– O que você quer? – Larry falou rispidamente e eu empurrei Chris pelas costas, fazendo-o entrar no quarto do mais velho enquanto eu o via se aproximar.
Larry se fazia de forte, afinal, ele teve que se fingir de forte por muito tempo durante sua vida, mas assim que alguém o confrontava, ele desmoronava igual manteiga derretida. Às vezes, eu o achava muito parecido comigo para ser adotado.
Assim que Chris o abraçou, ele desmoronou, começando a chorar no colo do pai, tendo como consequência eu chorando ao olhar aquela cena. Eles precisavam conversar e eu precisava ficar bem longe dali.
Caminhei para o quarto de e abri a porta levemente, encontrando minha pequena dormindo. Sua TV estava ligada e ela estava toda torta na cama para tentar ver a TV cada vez melhor. Desliguei sua TV e passei meus braços pelo seu corpo, colocando-a por inteiro na cama e agradecendo por ela já estar de pijama. Puxei a coberta para cima do seu corpo e coloquei um de seus bichos de pelúcia ao seu lado, dando um beijo em sua testa e fazendo um sinal da cruz em seu peito.
– Vamos, Leslie! – Sussurrei para minha cadela e a tirei do quarto de , puxando a porta em seguida.
Entrei em meu quarto novamente, tirando minha roupa e colocando meu pijama de frio em seguida, preparando minha cama para dormir, que não estaria tão gelada naquele dia. Soltei um suspiro e fechei os olhos por um momento. A vida realmente podia nos pregar algumas peças e nós realmente não sabíamos como agir em certas situações. Era só deixar as coisas acontecerem normalmente e não confiar nelas cegamente. Às vezes, você pode estar errada.
No que Chris passou pelo batente da porta, me assustei, pois Leslie começou a latir e a pular nele, me fazendo gargalhar, afinal, ela também estava com saudades. Chris desviava de todos os jeitos da língua de Leslie mas em vão. A sorte era que nossa velinha cansava mais rápido, fazendo com que ela parasse de se agitar por muito tempo.
– O que está acontecendo aqui? – havia saído de seu quarto e coçava os olhos. – Papai! – Ela gritou quando viu Chris. – Você voltou de viagem! – Ela pulou em Chris e passou as pernas pela sua barriga.
Dei um sorriso e suspirei enquanto caminhava em direção ao banheiro. Era um dia de emoção para todos.
– Desculpe! – Ele falou assim que saiu do banheiro, com sua calça de moletom e camiseta branca.
– Pelo quê dessa vez? – Perguntei.
– Por quase perder isso. – Ele sorriu de lado.
– Se você perdesse isso, eu nunca te perdoaria. – Falei e ele se sentou ao meu lado da cama, fazendo com que eu erguesse meu corpo na cama.
– Eu prometo que tentarei não perder nada. – Ele falou e eu afirmei com a cabeça.
– Espero que não mesmo.
Ele aproximou seu rosto do meu, colocando uma mão de cada lado de meu corpo, e encostou os lábios delicadamente nos meus, como se estivesse reconhecendo o território. Eu suspirei, sentia saudades daquilo. Ele subiu suas mãos pela minha barriga, acariciando-a por baixo da blusa e dando uma leve mordida em meus lábios.
Ele subiu na cama, colocando o corpo em cima de mim, e eu passei minhas mãos em suas costas, sentindo seu corpo arrepiar. Ele passava as mãos em meu corpo, tocando cada pedaço de pele como não fazia há muito tempo. Eu suspirei novamente, virando meu corpo, ficando em cima dele e colocando uma perna de cada lado do seu corpo. Puxei minha blusa para cima, o vendo abrir um sorriso de leve.
– Eu senti falta disso.
– Eu também. – Falei entre risadas e ele me silenciou com outro beijo, firmando as mãos no fim das minhas costas, fazendo meu corpo se movimentar junto com o seu.
– Mãe! – Ouvi gritar em desespero e eu e Chris nos entreolhamos, largando os utensílios de cozinha e correndo lá fora. – Ela não está bem, mãe. – A pequena estava ao lado de Leslie, acariciando a cabeça dela, e tinha lágrimas nos olhos.
Imediatamente, eu engoli em seco, sentindo um aperto no coração.
– Vai lá para dentro, filha. – Chris falou, afastando com o braço.
– O que ela tem, mãe?! – Ela gritou, relutante em sair.
– Larry, leva-a para dentro. – Larry apareceu e Chris repetiu, fazendo-o segurar e a erguer no colo, levando-a para dentro.
– Calma, garota, vai ficar tudo bem. – Chris falou, se sentando ao lado de Leslie e acariciando seu pelo.
– A respiração dela está muito fraca. – Falei, olhando para ela deitada no chão gelado com a boca entreaberta, respirando com dificuldade.
– Não me deixa, menina, não agora quando está tudo bem. – A voz de Chris era embargada e eu passei a mão nos olhos, puxando o ar fortemente.
– Ela está...?
– Vamos levá-la ao veterinário. – Ele falou e pegou Leslie no colo enquanto eu corria para dentro de casa. – Leva as crianças junto. – Ele gritou de novo.
– Mãe, o que está acontecendo? – gritou e eu tentei ser forte, mas sabia que não seria possível.
Sentia meus olhos molhados e meu rosto ferver.
– Vamos para o carro, gente. – Peguei a chave do carro, vendo Larry me olhar confuso.
– Leslie? – Ele perguntou e eu afirmei com a cabeça, vendo-o colocar a mão na boca.
– Vamos, crianças, rápido. – Chris já havia colocado Leslie deitada no porta-malas e não parava de chorar no banco de trás enquanto olhava para ela, vulnerável daquele jeito.
Entrei ao lado de Chris e, em silêncio, nós quatro fomos para o veterinário. Quando chegamos lá, Leslie foi levada por um dos veterinários do lugar e nós ficamos do lado de fora, esperando. Foi quando eu entendi o porquê da minha mãe não querer ter cachorro. Você criava um vínculo com o animal e era como se fosse um novo membro da família. Um dia, você teria que dar adeus.
estava com a cabeça deitava em meu colo, aos prantos, era uma das que mais sofria. Durante seus nove anos, quem mais foi sua amiga foi Leslie, mesmo que fosse só para estar presente, e também ela era a que menos estava preparada para uma perda dessas. Larry estava estático ao meu lado. Ele não sabia o que falar e também não chorava. Realmente não se mexia, parece que o tempo havia parado para ele.
Eu pensava mais em Chris. Ele parecia forte, tinha o rosto sério, as mãos no bolso, mas eu sabia que ele não estava bem assim. Seria a segunda grande perda na vida dele e eu sabia que a primeira dor nem havia sido curada completamente quando optamos por ficar com Leslie, mas ele também não falava nada e nem chorava.
– Christopher! – A veterinária abriu a porta e olhou imediatamente. – Venha aqui um momento. – Ela chamou e ele me olhou, fazendo com que eu assentisse com a cabeça, o vendo entrar na sala.
Ele não se demorou lá dentro, foi coisa de dez minutos mas, quando saiu, seus olhos estavam vermelhos, provavelmente iguais os meus. Com certeza, não era coisa boa.
– Crianças, venham aqui. – Chris chamou os dois e eu tentei engolir o choro e esconder os olhos, sem muito sucesso.
levantou chorosa do meu colo e se aproximou de Chris, que a pegou no colo. Larry também se levantou, tentando manter a respiração calma, mas também em vão.
– Vocês precisam dizer adeus. – Ele falou e eu me levantei, ficando de costas. – Leslie precisa ir embora.
– Não! – foi a primeira a dizer e eu sabia que não estava pronta para aquilo.
Corri alguns passos e saí da sala, não querendo ouvir ou ver mais nada. Aquilo doía muito.
O que me parou foi a grade que tinha na saída do veterinário que te fazia descer para um dos lados, não podendo seguir em frente. Ali eu chorei. Aquilo realmente não estava acontecendo, não podia estar acontecendo, era tudo coisa da minha imaginação. Mas por outro lado, eu sabia que ela estava conosco há bastante tempo e também sabia que aquilo era natural. Ela precisava ir.
– Você também precisa dizer adeus. – Ouvi a voz de Chris atrás de mim e virei meu corpo para ele, passando meus braços pelo seu corpo, enterrando meu rosto em seu pescoço.
– Me diga que é mentira.
– Eu gostaria muito de dizer isso. – Ele falou e eu escondi o rosto nas mãos, querendo literalmente sumir dali. – Vem! – Ele falou, segurando minha mão, e eu fechei os olhos por um tempo, tentando fazer as lágrimas pararem mas em vão.
Olhei de canto de olho. Larry e estavam abraçados em um canto da sala de espera. Larry tentava consolar a irmã, mas até ele chorava. Entrei na sala e olhei para minha garota deitada, do mesmo jeito que a encontramos mais cedo mas, dessa vez, em uma maca, os olhos levemente abertos. Eu me sentei no banco que tinha disponível e puxei a respiração, notando que meu nariz estava entupido. Passei a mão em seu pelo. Leslie não se mexia, somente piscava os olhos.
– Oi, garota! – Falei, sentindo a voz embargada. – Eles me pediram para dizer adeus para você, mas eu realmente não quero dizer isso. – Falei, com a visão embaçada. – Eu te amo, menina! – Encostei minha cabeça na maca. – Eu só tenho que te agradecer por tudo, por ser aquele filhote sapeca que praticamente escolheu a gente. Você sempre foi muito importante para gente, deveria ser eterna. – Falei, sentindo a mão de Chris apoiada em meu ombro. – Eu prometo que vamos ficar bem, ok?! – Suspirei. – Mas vamos sentir muito a sua falta. – Falei, fechando os olhos novamente, não impedindo as lágrimas de cair. – Se cuida, ok?! – Falei, dando um beijo em sua cabeça, e soltei a respiração com dificuldade.
O sensor que estava conectado a Leslie parou de apitar e, nesse momento, deu lugar para o tão conhecido toque que se tem nos hospitais quando uma pessoa nos deixa. Foi aí que eu tive certeza de que havia perdido uma grande amiga. Encostei o rosto na maca novamente e fechei os olhos, acariciando a pata de Leslie, esperando que a vida não tivesse nenhuma surpresa ruim para mim.
– Ela faleceu de causas naturais. – Ouvi a voz da veterinária. – O coração começa a trabalhar mais e não aguenta. Normalmente, um buldogue vive por dez anos. Ela passou dois anos da expectativa, ela foi muito feliz.
– Ela foi! – Ouvi Chris falar e suspirei.
– Vai ficar tudo bem agora. – Falei para , acariciando sua cabeça, que estava em meu colo.
– Como você sabe disso? – Ri fraco.
– Porque eu já passei por isso, você já passou por isso. É uma parte de nós que precisa ir embora. – Falei, dando um beijo em sua testa.
– Eu não quero ter mais nenhum cachorro, não vai ser a mesma coisa. – Ele riu fraco.
– Foi. – Ele falou e eu suspirei. – Foi igualzinho.
– Verdade, você já passou por isso. – Ela falou, erguendo o rosto, e eu notei que ele estava inchado.
– Já, e isso nos fortalece. – Afirmei com a cabeça e ela sorriu de lado.
– E o que a gente faz agora? – Ela me perguntou, apertando a cabeça, deveria estar com dor.
– A gente recomeça! – Falei, segurando sua mão. – E continua a viver. – Olhei para ele e dei um sorriso de lado, suspirando.
– Recomeçar! – Ela falou, jogando as pernas para o lado, caminhando para o banheiro.
Capítulo 25
And I didn't mean to get so close and share what we did
And I didn't mean to fall in love, but I did
And you didn't mean to love me back, but I know you did
(Bem, eu não pretendia que isso fosse muito longe como foi
E eu também não pretendia que ficássemos tão próximos e dividir o que dividímos
E eu também não pretendia me apaixonar, mas me apaixonei
E você não pretendia me amar de volta, mas eu sei que amou
Plain White T's, A Loneley September
Olhei para o campus à minha frente e soltei um suspiro, sentindo um momento saudosista passar pelo meu corpo. Balancei a cabeça para os lados, comecei a subir os degraus em frente ao antigo prédio e empurrei a porta com as costas, devido à pesada caixa em minhas mãos. Subi nas outras escadas espirais do lado direito e passei por um longo corredor, onde diversas pessoas iam e vinham, algumas até se esbarrando, mas era dia de mudança, então todos estavam fazendo a mesma coisa que eu: trazendo coisas para dentro.
– Acho que essa é a última! – Falei, entrando no novo dormitório de meu filho.
– Obrigado, mãe! – O mais velho falou, tirando as caixas da minha mão e colocando em sua casa.
– Está tudo certo aqui? – Perguntei, passando uma mão na outra, tirando a poeira dela.
– Está sim. Papai foi dar uma olhada no banheiro, estava pingando. – Ele falou, abrindo a caixa e tirando suas roupas de lá.
– Como se ele fosse consertar alguma coisa. – falou tirando o pirulito da boca, fazendo com que eu e Larry déssemos risada.
– Eu ouvi isso. – Chris comentou e eu ri fraco.
– Você está confortável aqui, filho? Você sabe que pode ficar na nossa casa em Boston. – Ele riu.
– Não, mãe, eu estou bem aqui. Vou ficar por dentro das coisas, não fico cansado de viajar. – Ele sorriu e eu o abracei.
– Mas promete... Qualquer coisa, sua avó ou suas tias estarão aqui em vinte minutos, você sabe disso. – Eu passei a mão em seus cabelos cacheados que estavam ralinhos.
– Eu sei, mãe, e também sei pegar um ônibus para Boston. – Ele riu fraco e eu o soltei.
– Por favor, se comporte!
– Eu vou, mãe. – Ele falou.
– Oi, com licença! – Outro garoto entrou, batendo na porta devagar. – Eu sou o George Matthews, seu colega de quarto.
– Ah, e aí, cara? Sou Larry Evans. – Dei um sorriso quando ele falou o sobrenome do pai.
– Metido! – comentou e eu puxei o fone da sua orelha.
– Você é o filho do Chris Evans, não?! – Ele perguntou enquanto os dois se cumprimentavam.
– Sou sim!
– Acho que tá tudo pronto. Pelo menos, parou de pingar. – Chris falou, saindo do banheiro.
– E ele é o Chris Evans.
– Ei! – Chris se assustou rindo e eu sorri.
– Isso é ótimo, cara! – George falou, rindo.
– Oi, tudo bem? – Sua mãe apareceu na porta, acenando para nós.
– Oi. – Dei o meu melhor sorriso, cumprimentando-a.
– Anna, Luna, venham cá! – George falou, fazendo duas meninas aparecerem na porta. – Larry, essas são nossas veteranas. Gente, esse é o Larry.
– Oi, tudo bem? – Elas sorriram e Larry ergueu a mão.
Eu e Chris nos entreolhamos, rindo fraco.
– Bom, acho que já arrumamos tudo que precisava. Mais alguma coisa, filho? – Chris falou, passando o braço pelo ombro do filho.
– Acho que está tudo certo. – Ele falou, olhando em volta. – Peguei aquela cama, se não tiver problema.
– Que isso cara, tudo igual! – George respondeu.
– Então acho que vamos deixar o George e a família dele arrumando as coisas e vamos embora. – Falei e ele afirmou com a cabeça.
– Não precisa se incomodar. – O pai de George falou.
– Já está na nossa hora mesmo. – Chris falou. – Nos acompanha até lá embaixo, Larry? – Ele virou para nosso filho.
– Claro, vamos lá.
– Foi um prazer conhecê-los. – Falei, cumprimentando os três.
Segui para fora do dormitório de Harvard, com ao meu lado, um pouco desatenta devido ao fone de ouvido. Pulei alguns degraus, sentindo Chris e Larry um pouco atrás de nós. Dei uma olhada na movimentação em volta e vi que o local era gostoso. Não tinha muito movimento e era bastante arejado, afinal, era uma das melhores universidades do país. Virei o corpo quando me aproximei do carro e vi os outros dois se aproximando aos risos.
– É isso. – Chris falou e eu ri fraco, suspirando.
– Nada de ficar triste, mãe. – Larry falou e me abraçou, apertando meu corpo.
– É que você é tão novo, amor. Só tem 18 anos, vai ficar aqui sozinho... – Eu ia falando.
– Você foi com 17. – Chris falou e eu franzi a testa, rindo fraco.
– É diferente! Eu tinha minha irmã. – Afastei meu rosto do dele, segurando em seus ombros. – Enfim, eu quero te pedir algumas coisas.
– Diga! – Ele falou, pronto para o que eu ia dizer.
– Não beba, não se envolva com fraternidades, isso é sempre um problema, fica na tua, estuda, faça amizade com as pessoas certas.
– Eu sei, mãe, já ouvi esse discurso um milhão de vezes. – Ele falou rindo e eu passei a mão em seu rosto.
– E uma última coisa: se você engravidar alguma menina, eu juro que te recluso do mundo pelo resto da sua vida. – Chris gargalhou ao meu lado.
– Você sabe que eu não sou assim, mãe.
– Sei mas, na faculdade, tudo é possível, meu amor. – Falei e ele riu fraco. – E se cuida, ok?! – Dei um sorriso de lado.
– Eu prometo, mãe. – Ele sorriu, dando um beijo em minha bochecha.
– Qualquer problema, estaremos aqui o mais rápido possível.
– Eu sei. – Ele sorriu. – Não vai ter.
– E fica de olho nesse seu colega de quarto, pareceram ser gente boa.
– Chega, , ele não vai guardar metade das coisas. – Chris falou, passando na minha frente, e eu ri, os vendo trocando um abraço. – Só se cuida. Sobre o resto, te demos educação o suficiente para você distinguir o que é certo do errado. – Chris falou, se soltando dele.
– Pode deixar! – Ele sorriu.
– Volta sempre para casa, tá?! – falou abraçando Larry, que afirmava com a cabeça.
– Pode deixar, criança. – Eles riram. – Vou sentir sua falta. – Larry completou.
– Eu também. – Ela falou, sorrindo e dando um beijo em sua bochecha. – Amo você, irmão.
– Amo você, pequena. – Ele respondeu e eu abri um sorriso, sabendo que havia feito o trabalho certo.
Caminhei até o carro novamente e entrei no mesmo, abaixando o vidro antes de fechar a porta.
– Me avisem quando chegar em Boston. – Larry gritou.
– Pode deixar! – Chris falou, entrando ao meu lado enquanto eu puxava o cinto de segurança.
– Ah, filho, mais uma coisa... Espero que esse lugar te inspire. – Falei e ele afirmou com a cabeça.
– Se não inspirar, meus pais já fizeram isso o bastante. – Ele falou sorrindo, fazendo com que uma lágrima saísse de meus olhos. – Eu amo vocês! – Ele falou acenando e eu retribuí.
– Também te amamos, querido. – Respondi, acenando enquanto o carro se afastava dele, fazendo com que eu o observasse cada vez menor até ele fazer uma curva, me fazendo respirar fundo.
– Está tudo bem? – Chris me perguntou e eu virei o rosto para ele.
– Está sim. – Sorri. – Síndrome do ninho vazio.
– Ei, vocês ainda têm a mim. – falou, aproximando o corpo pelo meio dos bancos.
– E você já vale por dois. – Chris brincou e eu ri fraco.
– Engraçadinhos! – Ela falou, voltando para o seu lugar.
– E larga esse celular até chegar em Boston ou vai ficar com dor de cabeça. – Briguei com ela, vendo-a fazer uma careta antes de abaixar o celular.
– Ah, que filha da mãe! Ela vem aqui e abre uma filial do lado de um ateliê de vestidos. – Virei o rosto, dando de cara com Rupert na porta, me fazendo rir.
– Ah, Rupert! – Falei ao me aproximar, sentindo ele me abraçar fortemente. – Não sabia que você estava aí.
– Cheguei agora. – Ele respondeu, esticando um buquê de flores para mim. – Para dar sorte.
– Obrigado, amor! – Estalei um beijo em sua bochecha.
– Olha! O estilista mais famoso do mundo. – Chris falou, aparecendo pelo corredor, fazendo Rupert rir.
– Agradeço a vocês dois por isso. – Ele falou, abraçando Chris.
– Se você agradecer mais uma vez, eu cancelo aquele vestido que eu encomendei. – Falei e ele afirmou com a cabeça, rindo e fingindo que trancava a boca.
– Não, ainda preciso da minha modelo principal. – Encostei a cabeça em seu ombro, com um sorriso no rosto.
– Bom mesmo, eu neguei algumas marcas por causa de você. – Falei, sorrindo.
– Várias! – Chris complementou e eu ri.
– E aí? Tudo pronto para a grande inauguração? – Denise apareceu pela porta e eu sorri, correndo dar um abraço nela.
– Está sim. Tem alguns doces saindo daqui a pouco, se vocês quiserem esperar. – Chris falou.
– Com certeza! – Denise brincou e eu sorri.
– Isso está maravilhoso, gente, igualzinho ao de Los Angeles. – Rupert falou, caminhando pelo salão. – Até o papel de parede. – Ri fraco.
– Isso que é uma filial, amigo. – Falei e ele fez uma careta para mim.
– Está tudo maravilhoso. – Denise falou.
– Senta, gente, venham cá! – Chris falou, tirando uma caixa de uma das mesas e pegando as cadeiras ao lado.
– Mas me diga... Como está tudo? – Rupert perguntou, se sentando na cadeira.
– Acabamos de deixar Larry na faculdade e lá na Lisa, para ela não atrapalhar. – Falei, me sentando na cadeira ao seu lado.
– Jesus, Larry já foi para faculdade? – Denise perguntou.
– Já, acredita? – Ela riu fraco.
– Por quanto tempo eu dormi? – Ela brincou.
– Bem... No fim do ano, fazemos doze anos de casados. – Chris falou, virando o rosto para mim.
– Meu Deus. – Ela balançou a cabeça. – Para o mundo que eu quero descer.
– Pois é.
– E como ele está? Está tudo bem? Não quis ficar aqui na casa de vocês ou na casa da avó?
– Não, ele quis conhecer o mundo. – Eles confirmaram com a cabeça.
– E ele está certo, . Ele passou parte da vida dele enfiado em um orfanato. Larry precisa voar, mas eles voltam.
– E Liana? – Perguntei.
– Se forma agora no meio do ano e está querendo ir para Nova York tentar a vida como bailarina, quem sabe na Broadway. – Rupert ponderou com a cabeça.
– E Julliard? Você disse que ela iria tentar. – Chris falou.
– Ela vai, a prova é bem próxima à formatura.
– Então tem tempo ainda. – Chris falou.
– Tem sim. Não queria ela sozinha em Nova York, mas...
– Passarinho tem que voar. – Repeti o que ele disse e ele afirmou com a cabeça. – E Nova York é aqui do lado também.
– Sim, vai dar tudo certo. – Chris falou. – O tempo passa para todo mundo, vamos parar com essa depressão.
– Também, está cada vez mais perto dos cinquenta. – Cochichei.
– Vamos, por favor, não falar disso? – Chris falou, beliscando minha cintura, e eu ri fraco.
– Vamos falar dos doces que estão no forno. – Falei, me levantando.
– Eu te ajudo. – Chris se levantou atrás de mim.
– Até você está sabendo fazer agora, Chris? – Rupert perguntou, surpreso.
– Ah, a gente começa aprender o ofício depois de um tempo. – Ele deu de ombros enquanto eu passava pelo corredor da cozinha.
– Ah, que saudades dessa época. – Falei para Shanna, fazendo carinho em sua barriga de seis meses.
– Quer outro? – Chris perguntou do outro lado da sala, piscando para mim.
– Quem sabe se eu fosse uns dez anos mais jovem. – Falei, o vendo rir fraco.
– E já sabem o sexo dele? Nome? – Shanna suspirou.
– Não, ainda não, decidimos fazer igual a vocês. – Carlos falou, sentado do outro lado de sua esposa.
– Ela já está subindo pelas paredes? – Chris desviou o rosto do videogame de Ethan e eu fiz uma careta para ele.
– Por enquanto, está tudo controlado. – Carlos falou.
– É, mas ele está! – Carly apareceu da cozinha.
– Não faz nenhuma diferença, gente! – Chris falou, dando de ombros. – Nascendo com saúde, o resto se ajeita.
– E a , como está? – Carly perguntou enquanto passava a mão na barriga de Shanna.
– Está bem, agora ela inventou que vai ser jogadora de futebol. – Chris falou. – Droga, Ethan, assim não vale. – Ri fraco, olhando para a tela do videogame.
– Agora ela vai jogar futebol? – Shanna perguntou e eu afirmei com a cabeça.
– Agora vai! – Suspirei. – Até ela resolver desistir, igual ela fez com a pintura, o balé, a patinação e sei lá mais o quê.
– É fase, viu?! – Carly falou. – Ethan e Miles já passaram por tudo isso, agora é a vez da Stella. –Ela finalizou.
– Vamos ver o que vai dar nisso tudo. – Chris falou, dando de ombros.
– E Scott, onde está? – Perguntei, sabendo que faltava alguma pessoa na história toda.
– Acredite se quiser, mas ele teve um encontro. – Marcus respondeu por ele.
– Um encontro, hein? – Eles riram fraco.
– Ah, Jesus, espero que dê certo. Ele merece ser feliz. – Falei.
– Bem, feliz ele já é! – Shanna falou. – Um pouco até demais. – Gargalhamos.
– Gente, fica quieto, a mãe já dormiu. – Chris falou, sendo o primeiro a colocar a mão na boca.
– Faz tempo que a gente não faz isso! – Ouvi a voz de Chris próximo a meu ouvido e afirmei com a cabeça, suspirando.
– Pois é. Mas dessa vez, vocês vão voltar com estilo! – Megan falou, guardando o celular de volta no bolso do seu terninho.
– Só porque estamos em Cannes? – Perguntei e ela abriu um largo sorriso.
– Sim, gente, estamos em Cannes! – Ela falou como se agradecesse aos céus por isso.
– Vamos arrasar então! – Chris falou, segurando minha mão e sorrindo em seguida.
– O trio de volta. – Falei e eles sorriram, soltando uma risada em seguida.
– Não tão jovens quanto antes. – Megan completou.
– Vamos deixar a idade de fora. – Chris falou e eu ri fraco.
– Vamos arrasar! – Megan saiu do carro, abrindo a porta ao lado de Chris.
Ele saiu do carro, fechando seu terno preto e estendeu a mão para mim, me fazendo lembrar de algumas coisas do passado ao sorrir. Segurei sua mão e coloquei os pés no chão, vendo Megan imediatamente ajeitar a barra do meu vestido longo tomara que caia preto e branco, formando um V no centro do vestido, e Chris se colocar ao meu lado, estendendo o braço para mim.
– Você está maravilhosa! – Ele falou e eu sorri, encostando meu rosto em seu pescoço levemente.
– E você vai arrasar, esse é especial. – Ele sorriu, dando um beijo em minha bochecha e começando a andar levemente.
Parece que, depois de um tempo, as coisas ficam robóticas. Olhar para um lado, olhar para o outro, sorrir, rir de algum comentário inapropriado que Chris sussurrava em meu ouvido, sentir seus olhos penetrantes sob meu corpo... Era como se fosse a primeira vez, e eu não me cansava daquilo.
Passei meus braços pelas suas costas, sentindo suas mãos firmes nas minhas, e olhei para ele, arrumando levemente a gola de sua camisa que estava um pouco torta. Olhei para as cicatrizes em seu pescoço. Havia passado alguns anos, mas elas ainda estavam ali, faziam com que eu me lembrasse todos os dias que não importa tudo o que você tem, você ainda precisará lutar por qualquer motivo que aparecer e você vai gostar, mesmo que você perca algumas coisas no meio do caminho, mas o amor cura tudo.
Eu e Chris nos encaramos no mesmo momento, fazendo com que uma risada involuntária aparecesse em meus lábios. Não sei o porquê, mas isso vivia acontecendo. Alguns diziam que era cumplicidade, outros não, mas era bom, a gente curtia e resultava em ótimas fotos no fim das contas.
– Vamos. – Ouvi Megan falar e caminhamos para os repórteres que estavam dispostos ali.
Dessa vez, Chris me queria ali, bem próximo dele.
– Chris, o que você pode falar desse filme? – Um deles perguntou e eu olhei para ele.
– Bom, como minha esposa disse, esse é especial. – Ele sorriu, olhando para mim. – Fala sobre adoção, então toca em alguns pontos sociais importantes, que eu acho que pode fazer algumas pessoas mudar de opinião sobre alguns fatos da vida, algumas escolhas.
– Você diz que esse filme é especial, pois tem bastante ligação com a sua família e seus filhos? – Outro perguntou.
– Você acha? – Respondi por ele e eles riram. – O que a gente vive acaba inspirando nosso futuro e, quando a história é boa, ela rende! – Chris apertou minha cintura e eu ri.
– O que você está vestindo, ? – Soltei uma risada fraca. – Rupert Van Sanders? – Ele continuou.
– É claro! – Respondi, com um largo sorriso no rosto. – Sempre o melhor.
– Como você se sente sendo o principal motivo dele ser o estouro que é hoje? – O repórter perguntou.
– A sensação é incrível, mas o sentimento de ajudar um amigo é melhor ainda. – Sorri.
– Acho que, nas próximas férias, a gente devia viajar. – Falei, suspirando, virando meu corpo na cama para ficar apoiada no corpo de Chris.
– Para onde você está pensando?
– Algum lugar com praia e sol. – Falei sorrindo, apoiando minhas mãos em seu peitoral. – Talvez Bahamas, mas um resort, para as crianças ficarem soltas enquanto a gente aproveita.
– Talvez um presente de aniversário de casamento? – Ele perguntou.
– Não, aí eu quero que sejamos só nós dois. – Respondi, o vendo rir fraco.
– Posso pensar nisso, agora eu entro em produção só em agosto.
– Dá para aproveitar julho. Quem sabe o tempo não ajuda um pouco? – Falei, o vendo sorrir e passar os dedos pelas minhas costas.
– Toc, toc! – Ouvi uma batida na porta e virei o corpo para fora de Chris.
– Entra! – Chris respondeu com um riso nos lábios.
– Cheguei! – falou, escancarando a porta.
– Como foi o aniversário do Joseph? – Perguntei e ela riu fraco.
– Foi legal! – Ela respondeu.
– Quem te trouxe? – Perguntou.
– A mãe da Ellen! – Ela respondeu.
– Vai dormir, então, chegou tarde já! – Falei e ela afirmou com a cabeça.
– Boa noite para vocês dois, sua benção. – Ela falou, mandando beijos.
– Que Deus te abençoe, meu amor. – Respondi. – Vai sair comigo amanhã cedo?
– Aonde você vai? – Ela perguntou.
– Preciso passar no mercado e, depois, resolver alguns assuntos no centro. – Ela fez uma careta.
– Se for depois das dez, eu vou, não antes disso. – Ri fraco, balançando a cabeça.
– Ok, eu vejo. – Respondi e ela bateu a porta de novo.
– Ela mudou tanto... – Chris comentou, virando o corpo e passando um dos braços na minha cintura.
– Tá tão sapeca, moleca! – Falei e ele suspirou.
– É fase. Ela brincou muito de boneca, agora está crescendo, está meio viciada no celular, mas pelo menos ainda corre um pouco, faz exercícios.
– Isso porque a gente deu o celular tarde. – Soltei uma risada fraca.
– Eu achei que ela ia roubar meu cartão no meio da noite e comprar. – Respondi e ele riu fraco, sentindo-o acariciar minha cintura.
– Não, isso não, eles são honestos. – Chris falou. – Os criamos bem.
– Com isso eu nem me preocupo. – Falei, sorrindo.
– Bem, vamos parar de falar neles e voltar a falar sobre nossa viagem para Bahamas. – Ele falou, virando o corpo, se colocando em cima de mim.
– Tem Bora Bora também. Tem cada coisa linda, aqueles chalés sobre a água... – Falei, sentindo-o começar a dar beijos leves em meu pescoço, fazendo meu corpo arrepiar.
– Seria bem interessante isso. – Ele falou, deslizando a mão pelo meu corpo enquanto eu fazia um carinho na lateral do seu corpo. – Não tem algum lugar mais fechado, não? Quieto?
– Ah, então você quer algo bem fechado? – Perguntei, sentindo-o descer a mão por entre minhas pernas, começando a acariciar levemente.
– Sim, algo só eu e você. – Ele respondeu, fixando os olhos nos meus.
– Acho que tirar de casa por uma semana é mais fácil. – Falei, o ouvindo rir enquanto colava os lábios nos meus.
– É uma ideia boa também. – Ele respondeu e eu ergui minha mão, acariciando sua nuca levemente e o vendo sorrir.
– Teremos tempo suficiente para isso. – Ele sorriu, abraçando meu corpo e me girando na cama para me colocar em cima dele.
– Hoje eu tive a certeza de que eu estou velho. – Eu o ouvi falar.
Desviei a atenção do almoço e olhei para Chris, que entrava na sala, deixando sua mochila no cabideiro próximo a porta.
– Não que fosse novidade, mas eu deveria ficar preocupada? – Perguntei, o vendo rir fraco e dar um beijo em minha bochecha.
– Na maioria dos roteiros que eu tenho recebido, eu sou pai de adolescentes. – Franzi a testa. – Pois é!
– Não, não é isso. Você é pai de um adolescente. Quase de dois. Queria o quê? – Falei, olhando para ele.
– Ah, mas não é a mesma coisa. Com 35 anos, eu fazia alguém dez anos mais novo. – Ele se sentou em um dos bancos da bancada e suspirou.
– Ah, amor, o tempo passa para todo mundo. Você quer o quê? Congelar no tempo?
– Posso? – Ele perguntou e eu ri, desligando o fogo.
– Não vai rolar. – Respondi e ele franziu os lábios.
– Mas você pegou algum roteiro novo?
– Não, Megan falou que vai dar mais uma olhada neles.
– Se precisar, me dá alguns que eu dou uma olhada. Estou ficando um pouco em casa agora mesmo por causa da mão. – Estiquei minha mão direita enfaixada. – Não é como seu eu pudesse cozinhar com ela.
– Eu vou falar com ela, mas vamos cuidar disso antes, essa queimadura foi feia. – Ele disse e eu dei de ombros.
– Acontece! – Eu o olhei.
– E sai desse fogão, me fala o que eu tenho que fazer que eu faço.
– Nada, você não vai encostar na minha comida! – Falei, guardando minhas panelas no fogão com o corpo.
– Ah, qual é, só dar uma olhada.
– Fora! – Falei.
– Não deixa o papai encostar na comida! – apareceu na sala. – Eu não quero morrer envenenada!
– Vocês precisam me perdoar. Eu só me esqueci de cozinhar o negócio, passou já!
– Pai, a torta tinha gosto de farinha! – reclamou, arrepiando.
– Tá, já entendi! – Ele deu de ombros. – Perdão não existe nessa casa.
– Não! – Eu e falamos juntas.
– Eu gostei dele, mãe! – Falei, me sentando ao seu lado.
– Ele é legal, não?! – Ela falou e eu afirmei com a cabeça.
– Ele é! – Sorri, olhando o namorado da minha mãe falar com Chris e com o marido de Lílian, Jonas. – Vocês vão juntar as escovas de dente? – Perguntei e ela riu fraco.
– Não, cada um em um canto, não quero isso de novo. – Ri fraco e a abracei.
– Acho que você está certa. Tem que fazer o que te deixa confortável. – Falei, colocando o copo em cima da mesa de centro.
– Sua filha vai matar a minha! – Lílian gritou do quintal e eu ri fraco, me levantando e andando até o quintal.
– , coloca a Eduarda no chão. – Gritei, vendo-a virar o rosto para mim.
– Mas ela que está pedindo mãe. – Ela respondeu e eu ouvi a risada de Eduarda, que já tinha sete anos.
– Ok, mas toma cuidado! – Respondi, olhando para o outro canto, vendo Larry sentado sozinho e com os olhos focados no celular. – Ei, antissocial. – Falei e ele bloqueou o celular na hora, erguendo o rosto para mim.
– Ei! – Ele falou e eu me sentei ao seu lado.
– Parece que alguém está cansado.
– Cansado da viagem! – Ele respondeu e eu afirmei com a cabeça, encostando a minha na dele.
– E com quem você está teclando loucamente no celular? – Ele riu fraco, passando a mão no rosto.
– Uma menina. Se der certo, eu te falo. – Ri fraco.
– Tá certo! – Falei, olhando para frente, onde rodava sua prima no ar. – Vou querer conhecê-la.
– Pode deixar! – Ele sorriu, bocejando.
– Vai dormir, o quarto já está arrumado.
– Já vou sim. – Ele respondeu, bocejando novamente. – Me diz, mãe... Como foi crescer aqui no Brasil? – Ele me perguntou.
– É diferente de como vocês cresceram, não pelo país, mas mais pela vida que a gente leva. É tudo diferente... É mais fácil, mas não é moleza. – Ele riu fraco, afirmando com a cabeça.
– O vovô era bem bonito. – Ele comentou.
– Ele era um dos melhores homens que eu já conheci. – Ele sorriu, afirmando com a cabeça. – Agora vai, sem sentimentalismo, está tarde para isso. – Ele se levantou e deixou seu copo comigo. – Vai se cuidar.
– Ela podia ter escolhido futebol americano. – Chris falava da arquibancada e eu revirei os olhos.
– Ah tá que sua filha de treze anos ia jogar futebol americano. – Falei, balançando os batedores em minha mão, fazendo um barulho oco.
– Ela podia jogar nos Patriots no futuro.
– Fica quieto que o jogo já vai começar. – Falei e ele riu fraco.
– Só não tô gostando daquele papinho dela com o Joseph! – Ele reclamou e eu olhei para o lado oposto do campo, onde estava para o lado de dentro, apoiada na mureta, conversando com Joseph.
– Você acha que dá namoro ali? Será que não é uma amizade igual à que nós tivemos com Tara e Rodrigo? – Perguntei, abaixando os batedores.
– Não é não. O olhar é diferente, ele é apaixonado por ela. – Chris falou e eu olhei novamente para eles.
– E ela o deixa na friendzone? – Perguntei e Chris riu, bagunçando com a cabeça.
– Acho que eles não pensam em namoro ainda, são muito novos. – Ele falou, sorrindo para mim. – Mas podia deixar!
– Ah, Chris, coitado do garoto! – Dei uma cotovelada nele.
– “Ah, Chris” nada, ele pode magoar minha princesa.
– Eu prefiro não entrar nessa discussão. – Falei, virando o rosto para o campo, vendo o time de verde entrar em campo.
– Acaba com eles, filha! – Chris gritou e eu franzi a testa, puxando Chris para se sentar novamente.
– É um jogo de crianças, Chris, ninguém quer morrer aqui não. – Falei e ele riu fraco, coçando a cabeça.
– Acho que me empolguei!
– Igual você se empolga nos seus jogos de futebol. – Comentei e ele riu fraco, fazendo uma careta.
– É aqui que tem uma moça precisando de carona? – Chris perguntou, batendo na porta da confeitaria, e eu corri para a porta, destrancando a mesma.
– É sim! – Falei e ele sorriu, encostando a porta atrás de si.
– O que aconteceu?
– Eu ia pegar carona com uma das funcionárias, já que meu carro está na revisão, mas ela precisou ir mais cedo porque a filha dela passou mal na escola.
– Eita... Virose?
– Não sei, mas parece! – Respondi, ajeitando o pequeno enfeite nas mesas após arrumar as toalhas de leve.
– Que surto, hein?! – Ri fraco.
– A tá bem?
– Tá sim, tá lá de repouso em casa, com um curativo gigante na lateral do corpo. – Ele falou e eu fiz uma careta. – Isso porque alguém disse que futebol não era violento. A menina voou seis metros!
– Não, eu disse que era menos violento que futebol americano.
– Entre futebol e futebol americano, ela vai ter que ficar de repouso até aquele roxo sarar. O médico acha que podia ter acertado o fígado dela.
– Jesus! – Respondi, passando as mãos no rosto.
– Mas está tudo certo. – Ele me aliviou.
– Você não deveria contar as coisas assim, me deixa nervosa! – Falei e ele sorriu.
– Está tudo pronto então? – Ele perguntou.
– Me deixa só desligar o rádio lá dentro e conferir como está tudo. – Falei, caminhando em direção à cozinha, ouvindo a música que tocava baixo.
– A nossa música aí! – Ele falou, se referindo à música de nosso casamento, e eu ri fraco, balançando a cabeça. – Vem, dança comigo! – Ele estendeu a mão.
– A gente precisa ir embora, Evans!
– Vem, é rapidinho! – Ele pegou minha mão, me puxando para perto do seu corpo.
Encostei meu corpo no seu, apoiando minha mão em seu ombro e a outra segurando sua mão, sentindo o corpo de Chris movimentar o meu levemente, no ritmo da nossa música. Mais que nunca, essa música podia ser considerada nossa, afinal, lidar com um casamento nem sempre era fácil. Até nós tivemos nossos altos e baixos, mas você precisa se apaixonar de novo pela mesma pessoa para que ela seja a escolhida pelo resto da sua vida.
E era isso que o Chris significava para mim. Tinha dias que eu queria matá-lo, ficava brava com ele, irritada mas, quando eu ia dormir e olhava seu corpo completando o meu naquela cama, tudo ficava perfeito. Parecia que todas as correrias da vida acabavam que não existia nada que pudesse nos impedir de ser feliz. Bem... Não tinha. Ninguém nem nenhuma ocorrência podia nos manter separado.
Encostei minha testa na sua, com os olhos focados em seus olhos azuis, e suspirei, sentindo suas mãos descerem pela minha cintura. Subi as mãos pelo seu pescoço, balançando o corpo, mesmo que a música já tivesse acabado e outra um pouco mais agitada tivesse começado. Eu realmente poderia ficar ali para sempre. Ele encostou os lábios levemente nos meus e sorriu.
– Como assim o Larry está namorando? Como isso aconteceu tão rápido? Eu não consigo entender. – Falei, andando de lá para cá pela casa, ouvindo o barulho dos meus saltos baterem contra o chão.
– , calma, o garoto merece ser feliz. E nem foi tão rápido, faz quase dois anos que ele está na faculdade.
– Eu sei, mas pensei que ele fosse mais do tipo pegador. – Falei, ouvindo gargalhar.
– Ele é romântico igual o pai.
– Hm, tá! – Falei, rindo fraco. – Você é romântico, Chris, mas também já foi pegador, por muito tempo ainda.
– Ah, é?! Por essa, eu não esperava. – brincou.
– Quem sabe, quando você for mais velha, a gente não te conta! – Chris falou, sorrindo sarcasticamente para ela, que suspirou, fechando a cara.
– Mãe, pai. Cheguei! – Ouvi a voz de Larry e ajeitei minha roupa, vendo Chris se levantar ao meu lado.
– Ah, meu amor! – Falei assim que ele passou pela porta da sala, abraçando-o fortemente. – Que saudades de você.
– Também senti! – Ele falou, rindo fraco.
– Ei, eu conheço você! – Falei, olhando para a menina que estava ao seu lado.
– Ei! – Ela falou e eu olhei para Chris, que gargalhava ao meu lado.
– O que você está fazendo aqui, Liana? – Perguntei e Larry sorriu.
– Mãe, ela é minha namorada. – Arregalei os olhos, olhando de um para outro, tentando processar o que estava acontecendo.
– Então é por isso que ele vivia indo para Boston nos fins de semana. – Chris falou, passando a mão nos olhos de tanto que ele riu.
– Gente, eu estou em choque! – Falei, soltando uma risada fraca. – Por que não me contou antes?
– Eu não sabia como você ia reagir. – Larry falou para mim.
– Ah, querido, eu conheço Liana desde que ela foi morar com os meninos. Você acha que eu faria alguma objeção contra ela? – Passei meu braço pelo seu ombro, vendo-a rir fraco ao meu lado.
– Mas como isso aconteceu? – perguntou, franzindo a testa.
– Nós temos uma história bem parecida. – Sorri, afirmando com a cabeça, afinal, ambos eram adotados. – E aí a gente passou bastante tempo junto, começamos a conversar... – Ele deu de ombros, segurando a mão da sua namorada.
– E tem mesmo, filho! – Sorri, rindo fraco.
– Eu ainda tô em choque, gente, acho que buguei. – falou, me fazendo rir.
– Buga enquanto come então. – Chris falou. – É bom que seja você, Liana! – Ela sorriu.
– Obrigada por me receber bem! Eu estava um pouco nervosa, confesso. – Ri fraco.
– Ah, gente, vocês foram muito bobos. Não tem nenhum problema, pelo amor de Deus. – Falei e eles sorriram.
– Ah, Chris, isso está maravilhoso! – Falei assim que saí do quarto, vendo a casa com diversas velas colocadas no chão e uma mesa redonda para dois colocada no espaço vazio da sala.
– Só cuidado com as velas, eu quase incendiei a casa duas vezes. – Ele falou e eu ri fraco, andando devagar por entre as velas e ele segurando minha mão quando me aproximei da mesa.
– Está tudo lindo! – Falei, apoiando minha mão em seu pescoço e depositando um beijo em seus lábios.
– Achei que deveríamos fazer algo especial só para gente.
– Cadê as crianças? – Perguntei e ele riu.
– Foram dormir na Megan.
– Coitada! – Falei e ele riu fraco, puxando a cadeira para que eu sentasse.
Ajeitei o meu tubinho preto antes de sentar.
– Você que fez tudo isso? – Perguntei, olhando a delicadeza na decoração da mesa.
– Sabia que o Matt é muito bom com decorações? – Ele falou e eu ri fraco. – Vinho tinto? – Ele perguntou.
– Por favor. – Falei, vendo-o servir as duas taças com o líquido arroxeado.
– Espero que você goste do cardápio. – Ele falou. – Risoto de frutos do mar.
– Você sabe que eu adoro. – Falei e ele se aproximou de mim, puxando as duas coberturas dos pratos.
Chris voltou na bancada rapidamente antes de sentar na minha frente.
– Vamos fazer um brinde? – Ele ergueu sua taça e eu fiz o mesmo, olhando para ele.
– Aos quatorze anos de casamento? – Perguntei.
– Além disso. Aos nossos filhos que, apesar das dificuldades da vida, se toraram pessoas maravilhosas. A você, que se dispôs a se mexer e tem sido um sucesso por toda Los Angeles. A quê mais?
– A você, que passou por dificuldade e, mesmo assim, não quis que os outros o vissem chorando, mas deveria. – Ele riu fraco e eu toquei minha taça na dele levemente, ouvindo um tilintar baixo, tomando um gole em seguida.
– Você está tentando recriar o dia que me pediu em namoro, não? – Perguntei e ele ficou vermelho rapidamente.
– Você notou.
– Só que lá não tinha as velas e aqui não tem a vista de Seul. – Ele ponderou com a cabeça.
– Uma coisa compensa a outra.
– Nada precisa compensar nada, estamos aqui do mesmo jeito que estávamos em Seul, mas pensar que já passou muito tempo daquilo... – Suspirei. – Algumas rugas e cabelos brancos apareceram depois dali.
– E eu agradeço por eles todos os dias. – Chris respondeu e ele segurou minha mão sobre a mesa.
– Minha vida virou uma loucura por causa de você. Eu tinha medo de ser mais uma, e olha o que aconteceu! – Assumi e ele riu.
– Eu sei, eu era meio volátil na época. – Ele falou e eu sorri, acariciando sua mão na mesa.
– Eu podia ficar assim a noite toda, sabia? – Falei.
– Nada te impede. – Ele deu uma piscadela para mim.
– Eu vou gostar bastante disso. – Falei e ele riu, abrindo um largo sorriso.
– Vai, Corujas! – Chris gritou no meu ouvido e eu fiquei zonza por um minuto, sem saber se era o grito dele ou se era o sol do meio dia que batia no meu rosto.
– Chris! – Reclamei, empurrando-o com o braço, e ele abriu um sorriso, passando-o pelos meus ombros.
– Ela é boa, não é?! – Ele falou após segurar uma bola que ia em direção ao gol.
– Eu falei, amor. – Soltei uma risada, ajeitei o boné em minha cabeça e coloquei os óculos escuros. – Nossa pequena tem futuro.
– Tá! Também não vamos passar o carro na frente dos bois. – Ele reclamou e eu sorri.
– Presta atenção no jogo, Chris. – Falei, olhando para o relógio e vendo que faltavam poucos minutos para o fim.
– Me diga, onde vocês vão querer almoçar depois? – Ele passou o braço em minhas costas e eu até estiquei o corpo.
– To suada, to suada! – Falei e ele ergueu os braços, revirando os olhos.
– Pelo amor de Deus, , estamos juntos faz quase vinte anos e você vai realmente chiar por causa disso? – Ele me apertou em seus braços e eu ri, olhando para o campo novamente.
– Mas isso é nojento. – Reclamei e ele riu.
– Vai, estou com fome. Onde vamos comer?
– Sua filha escolhe, mas provavelmente sairemos para comemorar. – Falei, vendo focada em outra bola que ia a sua direção, e eu dei um pulo, gritando. – Vai! – Gritei, vendo Chris se levantar ao meu lado.
Pulamos animados porque ela tinha salvo outra bola.
– Eu quero carne! – Chris cochichou em meu ouvido.
– Uma das amiguinhas dela é vegetariana. – Falei para ele.
– Ela que fique. – Ele falou e eu gargalhei, dando um tapa em seus ombros.
– Chris!
– A menina tem quatorze anos, ela deveria estar comendo as coisas erradas da vida e não sendo certinha! – Ele falou de volta e riu.
– Aí vem ela! – Falei, descendo as arquibancadas e vendo correndo em nossa direção.
– Mãe, pai, eu ganhei! Vocês viram? – Ela veio gritando com o uniforme molhado e me abraçou forte, me fazendo rir.
– Vimos sim, amor! – Sorri, beijando sua bochecha, e ela logo correu para o Chris.
– Que pegada, hein?! – Ele falou, abraçando a pequena.
– Viu como eu falei que sou boa? – Ela se gabou.
Eu sorri, piscando para Chris, e ele riu.
– Vimos, filha. – Ele falou.
– Vamos, , a gente vai comemorar agora! – Uma das meninas veio correndo em nossa direção. – Vamos, tia! Vamos almoçar com a gente? – A mais nova falou e eu sorri.
– Claro, aonde vamos? – Perguntei, sentindo Chris segurar minha mão.
– No Napoleon’s! – Ela falou, sorrindo.
– Sim! – Chris gritou ao meu lado e eu gargalhei. – Carne! – Ele sorriu. – É por isso que gosto de você, Sam!
– Obrigada, tio! – Ela sorriu, franzindo a testa, e ela e saíram correndo na frente.
– Mas e a Ellen? – Elas perguntaram da menina vegetariana.
– Ela que coma salada. – A outra respondeu e eu arregalei os olhos.
– Eu gosto dela! – Chris comentou rindo ao meu lado, me segurando pela cintura!
– Meu Deus. – Soltei uma risada.
– Ah! – bufou ao meu lado e eu virei o rosto para minha filha de doze anos, cruzando os braços.
– Não, não! – Falei para ela, abaixando seu braço. – Não em frente às câmeras. – Ela soltou um suspiro e deu um sorriso, olhando para mim. – O que foi?
– Larry! – Ela falou bufando e eu ri, virando o rosto na direção em que meu filho mais velho se encontrava.
Larry e Chris estavam próximos à imprensa, ambos muito bem vestidos. Chris falava, provavelmente, da felicidade dessa reunião da Marvel, de como nunca havia acontecido também e de como não via os amigos há muito tempo, pois foi o que treinamos naquela manhã. Já Larry estava um pouco mais para o lado, conversando com as fãs que gritavam seu nome enlouquecidamente, me fazendo rir e balançar a cabeça. Ele havia crescido e ficado lindo demais. Os cabelos estavam mais curtos, mas ainda com um topete. Por causa de exercícios, seus ombros haviam ficado mais largos e... Bem, apesar do galã Chris Evans ainda estar muito bonito, mesmo depois de alguns cabelos brancos, as meninas de 15 a 25 anos estavam mais de olho no filho dele, que usava um smoking muito bonito.
– Ah, querida, convenhamos que seu irmão virou um pedaço de mau caminho. As meninas vão cair matando em cima dele, em todo evento. – Falei, ajeitando seus fios lisos ao lado do rosto.
– Eca! – reclamou e eu dei risada, virando meu rosto novamente para Cobie Smulders e Emily VanCamp, que estavam ao meu lado. – Aposto que Liana está morrendo de inveja.
– Ela está! – Liana apareceu atrás de mim, com um vestido nude e decotado maravilhoso que seu pai havia feito para ela.
Dava para notar que sua respiração estava pesada, me fazendo rir.
– Devo lembrar às duas que tem várias câmeras tirando várias fotos de vocês? – Comentei e Liana abriu um sorriso, rindo em seguida. – Ele só tem olhos para você, querida. Faz o quê... Dois anos de namoro? – Comentei.
– Já? – Cobie falou, surpresa, ao meu lado.
– E outra, filha, você só não está sendo paparicada porque não quer. Você é a nossa pequena Capitã América, eles amam você. – Comentei e minha filha mais nova abriu um largo sorriso, dando uma pirueta em volta do próprio corpo.
– Você está certa, mãe! – Ela comentou. – Já volto! – E falando isso, ela colocou seu vestido curto azul rodado para caminhar em direção ao pai, segurando na mão dele assim que ela se aproximou.
Chris olhou para baixo por um tempo e fez um carinho na cabeça da filha, começando a rir com algo que falou. Eu sorri.
– E você? Não vai fazer parte desse grupo? – Emily comentou. – Eles também amam você.
– Eu sei. – Ri fraco. – Mas esse pessoal não se junta faz dez anos. – Suspirei. – O momento é de vocês. – Ri fraco. – Esses dois só estão querendo aparecer um pouco.
– Reunião de dez anos. – Scarlett apareceu, passando o braço em minhas costas e nas de Emily. – Quem diria que as mulheres permaneceriam juntas? – Rimos fraco com ela.
– Dez anos e nada mudou. – Comentei, virando meu rosto para Chris, que estava me encarando.
Soltei uma risada fraca, dando uma mordida em meu lábio inferior, e suspirei.
– E você e o Chris, como estão? Tenho os visto menos. – Cobie perguntou, me fazendo soltar uma risada em seguida.
– Bem, eu tenho ficado muito em Boston por causa da filial, Larry está lá também. Já Chris tem ficado muito em casa. Ele está produzindo bastante coisa, sendo convidado para várias coisas, e tem a escola, então fica aqui em Los Angeles também. – Abri um sorriso.
– Larry está em Harvard, não? O que ele está fazendo?
– Está indo para o terceiro ano de direito já. – Suspirei e vi Scarlett arregalar os olhos.
– Eu estou velha, chega disso! – Ela balançou as mãos rindo e eu sorri.
– Mas temos um legado maravilhoso para deixar para nossos filhos. – Cobie sorriu, olhando em direção a seus filhos.
– Temos. – Sorri, vendo Larry agora com em seu colo e Liana ao seu lado.
– Olha quem tá aqui! – Senti alguém me abraçando pela cintura e me tirando alguns centímetros do chão, me fazendo assustar.
– Mackie! – Gritei com ele, o fazendo rir e me colocar no chão.
– Ah, que saudades, gente! – Ele falou feliz, abraçando Scarlett e eu pelos ombros.
– Mackie, você passou ontem na confeitaria para comprar dois quilos de sonho. – Ele abriu um sorriso fraco, fazendo outros da roda rirem, e beijou minha bochecha.
– Que estavam magníficos, obrigado! – Ele falou, fingindo que limpava a boca de farelo.
– Ah, todo mundo junto! – Hemsworth apareceu, abraçando Cobie, e eu ri. – Que saudades! – Ele falou, todo sentimental.
– Ah, Chris, não vamos exagerar! – Tom Hiddleston apareceu atrás dele, dando um tapa em suas costas, e eu dei alguns passos para trás, abrindo a roda. – Eu nunca vi um evento tão grande. – Ele falou com aquele forte sotaque inglês e eu ri.
– Eu vou sair falando daqui igual você, Hiddles. – Comentei e ele sorriu, esticando a mão, e eu bati a minha contra a dele.
– Meu sotaque é mais legal. – Sebastian Stan falou, se colocando entre eu e Anthony, rindo.
– Eu tenho que concordar. – Hiddleston falou.
– Mackie! – chegou correndo, abraçando Anthony pela cintura, e o mais velho a pegou no colo.
– Como está minha garota favorita? – Ele a ergueu no colo, abraçando-a.
– Estou bem. – Ela falou baixo, sorrindo.
– Do que estamos falando? – Mark Ruffalo se colocou ao lado de Emily.
– Sotaques. – Sebastian falou.
– Nada importante, creio eu. – Robert apareceu atrás dele, rindo.
– Podemos falar dos irmãos da ciência agora. – Hemsworth falou e Mark fez uma careta.
– Isso é tão velho, mas parece novo ainda. – Robert reclamou e eu ri, vendo as esposas começarem a se juntar e a gente formar uma grande roda em meio ao tapete vermelho.
Bem, afinal, isso era um jantar que a Marvel estava dando para comemorar os dez anos do final da Fase Um, Dois e Três de Os Vingadores, ou seja, até o final de Guerra Infinita parte 2, então tinha muita gente ali. Era um jantar só com o pessoal que fez parte do elenco nessas três fases e suas famílias, mas isso dava muita gente. Eu nunca havia visto tantos repórteres e tantos fotógrafos assim. Era muita gente, então eles estavam loucos atrás do pessoal.
– Eu não sei vocês, mas eu estou com fome. – Paul Rudd apareceu com sua filha ao seu lado e eu ri, vendo o pessoal se explodir em risadas.
– Eu também. – Jeremy reclamou.
– Queria falar nada não, mas eu aceitava muito uma bebida agora. – Meu marido apareceu atrás de mim, me abraçando pela cintura e encostando o queixo em meu ombro descoberto pelo vestido tomara que caia preto com costuras em dourado que imitavam penas de pavão por ele inteiro.
– Por quê? Falou demais? – Robert provocou e Chris fez uma careta.
– Aparentemente, já tá liberado. – Meu filho falou, dando uma cutucada nos ombros do pai, saindo da sua roda dos filhos adolescentes.
– Tá liberado, galera! – Mackie gritou, me fazendo assustar, e foi para o chão de novo.
– Vamos, maninha! – Larry estendeu um braço para Liana, que o segurou e deu a mão para sua irmã mais nova, andando em direção ao grande salão.
– Vamos, meu par? – Chris estendeu o braço para mim e eu sorri, passando uma das mãos em seu rosto, sentindo sua barba roçar em minhas mãos.
Dei um pequeno beijo em seus lábios, o fazendo sorrir.
– Vamos. – Segurei seu braço, andando a passos lentos para dentro. – Eu não te vejo pulando de alegria faz tempo.
– Ei, eu não estou chato. – Ele reclamou e eu ri balançando a cabeça.
– Não, não, eu digo em premiações, eventos e tudo mais. – Ele afirmou com a cabeça.
– É! – Ele abriu um largo sorriso.
– Você está com sua gangue. – Brinquei e ele riu.
– Mas a melhor parte é que vocês três estão comigo. – Ele sorriu e eu olhei para frente, onde Larry, e Liana caminhavam. – E Liana, é claro. – Ri fraco. – Antes que Larry volte para faculdade e só volte no Natal.
– Sim, mas a gente fez um bom trabalho. – Comentei e ouvi Chris suspirar ao meu lado.
– Sim, eu tenho muito orgulho do que eles se tornaram. – Ele falou, sorrindo.
– Agora está orgulhoso da sua filha jogar futebol? – Perguntei, o cutucando.
– Você realmente vai deixar nossa pequena de quatorze anos ir jogar bola do Qatar? – Ele perguntou.
– Eu vou deixar que ela participe do campeonato internacional que vai durar quinze dias até ela se formar no ensino médio. Se ela quiser jogar futebol profissional, vai ser aqui ou no Brasil, perto da minha mãe. – Comentei.
– Ah, tá, pensei que a mãe coruja tinha ficado largada. – Soltei uma gargalhada.
– Nunca! – Ele sorriu.
– Apesar de que, para ela querer ir pro Brasil, não é difícil. – Ele ficou pensativo e eu revirei os olhos.
Olhei para o pôr do sol de Los Angeles e bebi mais um gole do meu vinho, olhando para as diversas cores que podiam ser vistas do quintal de casa. Azul, laranja, rosa... Aquele dia estava perfeito para uma véspera de Natal. Olhei para o lado e Chris estava mexendo na churrasqueira, mexendo nas picanhas que eu havia escolhido mais cedo.
Apesar da vida turbulenta, os anos haviam feito bem para mim e Chris. Eu ainda tentava correr um pouco toda noite. Mesmo sem Leslie, eu havia criado esse costume. Se Chris estivesse em casa, ele iria comigo, mas a idade fazia com tudo começasse a ir por água abaixo e cair, literalmente, afinal, poucas pessoas chegam aos 45 inteiras sem cirurgia plástica, e eu me orgulhava de dizer que fazia parte disso, mas não fazia por medo de ficar repuxada, porque gostaria de tirar um pouco do pneuzinho.
Chris estava muito bem também. Ele ainda se exercitava um pouco, não da mesma maneira que antes mas, junto dos cabelos grisalhos em seu peito, um pouco mais abaixo podia ser vista uma barriguinha saliente, já que ele estava em blusa, provavelmente causado pela cerveja que ele virava em sua boca, direto do gargalo.
estava boiando dentro da piscina, boiando literalmente, o corpo deitado sobre a água e os olhos focados no céu, provavelmente observando a mesma beleza natural que eu. Aquele Natal estava quente, mas também estava maravilhoso. estava entrando na pré-adolescência, já tinha menstruado, os seios estavam começando a nascer e tudo aquilo trazia um turbilhão na minha cabeça e principalmente na de Chris, mas ela estava feliz. Chris só se preocupava pelo fato dela e Joseph estarem começando um relacionamento sério e ela ser muito nova para relações sexuais, mas tentávamos controlar da melhor maneira possível. A gente tinha os criado bem.
Virei meu rosto para Chris novamente e o vi derrubar um pouco de cerveja na barriga descoberta. Soltei uma risada e ele olhou para mim, sorrindo.
– Me encarando? – Ele gritou e eu dei de ombros, me levantando da espreguiçadeira perto da piscina e andando devagar em sua direção.
– Só vendo o que o passar dos anos fizeram com a gente. – Comentei, colocando minha taça vazia na mesa ao lado da churrasqueira.
– E o que você acha?
– Nós não somos mais tão jovens! – Falei e ele fez uma careta, sorrindo em seguida e passando os braços pela minha cintura para me abraçar.
– Mas eu te amo da mesma forma desde quando nos conhecemos. – Ele comentou sorrindo e eu afirmei com a cabeça.
– Sim, e você ainda me trata como se eu tivesse 28 anos. – Comentei.
– Ah, nem passou tanto tempo assim! – Ele falou e eu sorri, passando meus braços em seu pescoço e o abraçando fortemente.
– Desculpa dizer, amor, mas passou. – Falei e ele sorriu.
– Contanto que você esteja aqui, deixa o tempo passar. – Chris falou e eu sorri.
– Está dando uma de romântico? – Perguntei e ele deu de ombros.
– É dezembro, eu sempre sou romântico em dezembro. – Ele falou e eu ri fraco.
– Larry chegou! – Ouvi a voz de e virei o rosto para o outro lado, vendo as luzes de um carro entrar na garagem e passar correndo, espalhando água para os lados, então eu me soltei de Chris, me aproximando do pessoal. – Larry! – gritou e Larry saiu do banco do motorista, abraçando sua irmã molhada.
– Que saudades de você, peste! – Ele falou, soltando uma risada. – Só não te xingo porque vou entrar na piscina daqui a pouco.
– Presente para mim? – Ela perguntou sorrindo e eu revirei os olhos, bagunçando seus cabelos.
– Ei, seu aniversário é em uma semana. – Ele falou.
– Presente de Natal então?! – Ela abriu um sorriso engraçado e Larry esticou o embrulho para ela, que saiu pulando de alegria para a primeira mesa que ela viu.
– Oi, mãe! – Ele sorriu.
– Ah, meu querido! – Falei, apertando meu filho nos braços. – Que saudades de você. – Falei, colocando minhas mãos em seu rosto. – Está tudo bem?
– Está sim, mãe! – Ele afirmou com a cabeça. – Senti saudades também. – Ele sorriu.
– Como está a faculdade? – Perguntei.
– Passei em tudo! – Ele falou e eu sorri.
– Parabéns, amor! – Eu o soltei.
– Oi, sogrinha! – Liana veio ao meu lado e eu a abracei forte. – Feliz Natal.
– Feliz Natal, meu amor.
– Filhão! – Ouvi Chris falar e soltei Liana depois de um tempo.
– Está tudo bem em Nova York também? – Perguntei a ela, que afirmou com a cabeça.
– Fala aí, família! – Derek abriu um sorriso com os braços abertos e eu ri fraco.
– Fala aí, família! – Repeti e o abracei forte, soltando uma risada em seguida.
– Que foi? – Ele perguntou.
– Depois de anos de amizade, nós viramos parentes, hein?! – Brinquei.
– É para você ver como as coisas estão certas demais. – Ele falou e eu o soltei, abraçando Rupert, que vinha logo em seguida.
– Alguém emagreceu. – Comentei e ele riu. – Parou de comer os doces da minha franquia lá do lado?
– A diabetes me pegou, , precisei fazer algo. – Ele falou e eu ri.
– Cadê sua avó? – Perguntei para Larry, que falava com Chris.
– Está chegando. A gente se perdeu deles entrando no estado da Califórnia, tio Marcus entrou errado. – Ele franziu a testa. – Mas já liguei, eles estão chegando.
– Bem, vocês estão viajando faz três dias. Sei que é véspera de Natal, mas já estamos assando uma carne para vocês se alimentarem e não terem que esperar até meia noite para dormir.
– A gente não liga, , relaxa. – Derek falou.
– Eu ligo. – Larry falou e eu ri.
– Vamos comer, gente! – Falei, os empurrando.
– Eu tenho um presente para você e o papai depois. – Ele falou e eu revirei os olhos.
– Ah, filho, obrigada, mas você sabe que não precisa ficar gastando seu salário no escritório com a gente. – Ele deu de ombros.
– Ah, meu Deus! – Ouvi um grito vindo de , que provavelmente toda a West Hollywood Hills ouviu. – É um uniforme da seleção da Itália! – Ela gritou novamente e eu ri.
– Sabia que ia gostar, pestinha! – Ele falou e ela esticou a blusa para mim.
– E é do Buffon! – Ela gritou novamente e eu ri, vendo o número 1 e o nome do goleiro favorito dela.
Buffon não jogava há mais de dez anos, mas ela o amava e, honestamente, eu também tive uma queda por ele quando mais nova.
– Guarda lá no seu quarto, filha, para não deixar com esse cheiro de carne logo cedo. – Chris falou, apontando para dentro com o espeto da carne, e eu ri.
– E você, senhora Evans, como está? – Derek perguntou e eu dei de ombros.
– Eu tenho um marido saudável e que me ama, meu filho mais velho se forma em dois anos, está estagiando em um escritório de advocacia em Boston, está indo bem na escola, está se dedicando cada vez mais ao futebol... – Abri um sorriso. – Eu realmente não tenho do que reclamar.
– Você falou de todos, menos de você, . – Liana falou e eu ri fraco.
– Eu moro em cima de uma nuvem, gente, não poderia estar mais confortável. – Falei, eles riram e eu abracei Liana de lado. – Eu estou muito bem. – Suspirei. – Chris me ama com a força de um adolescente, e eu fico feliz por ficar fora o dia inteiro pois, às vezes, não tenho a mesma força que ele para demonstrar.
– Não importa! Você o ama incondicionalmente, isso que vale. Você acha que ele também não está cansado após um longo dia de trabalho? – Soltei uma risada e senti alguém apertar as laterais da minha barriga.
– Sim, ele está, Rupert. – Chris falou ao pé do meu ouvido. – Mas eu me esforço em parecer feliz sempre ao lado dela. – Ele beijou meu pescoço, me fazendo arrepiar.
– E eu não?! – Perguntei, passando minhas mãos em cima da dele.
– Não, definitivamente não. – Ele brincou e riu logo em seguida, me fazendo dar um tapa em sua mão. – Mas eu te amo do mesmo jeito.
– Eu também, mesmo que pareça cansada diversas vezes. – Comentei e ele sorriu.
– Fácil resolver as diferenças deles, não?! – Ouvi Rupert falar.
– Bem, se você fosse o Chris Evans, até eu seria assim. – Derek respondeu e eu gargalhei.
– Acho melhor a gente sair daqui. – Chris falou em meu ouvido e eu ri.
– Eu vou junto! – Liana falou, dando de costas, e eu ri.
Parei na porta do quarto e olhei para Chris deitado na cama, rindo com alguma coisa que ele estava vendo em seu celular. Parei um momento para olhá-lo. Mais um ano de casado. Quem diria que a vida faria tão bem a nós e que, com todas as dificuldades, não seriam nada comparado com todos os momentos de felicidade.
Voltei para o banheiro e tirei a toalha do meu cabelo, pendurando-a. Passei um pente no meu cabelo, achando alguns cabelos brancos perto da minha raiz, me fazendo suspirar. Teria que pintar de novo. Penteei meus cabelos castanhos curtos com algumas mechas douradas por ele e franzi a testa. Estiquei minha camisola e saí do banheiro, puxando a porta do mesmo, fazendo Chris virar o corpo para mim.
– Do que você está rindo aí? – Perguntei, puxando também a porta do closet, e ele balançou a cabeça, ajeitando o corpo na cama e encostando as costas na cabeceira.
– O pessoal está pegando fotos do nosso casamento e comparando com nós hoje. – Ele falou e eu sentei na cama, deitando meu corpo na cama e apoiando a cabeça em seu braço.
– A coisa está feia? – Perguntei, segurei sua mão e o ouvi rir.
– Não podemos impedir que os anos passem, certo? – Ele falou e eu afirmei com a cabeça, o vendo colocar o celular de lado.
– Não mesmo! – Comentei e virei meu corpo, apoiando meus braços em seu peito e encostando minha cabeça nas mãos.
– Você ainda faz isso. – Ele falou e eu sorri, afirmando.
– Sim. – Falei e ele esticou o rosto, dando um beijo em minha cabeça. – Essa é a minha parte favorita do dia. – Falei.
– Dormir? – Neguei com a cabeça, passando a mão levemente sobre seu pescoço, onde a cicatriz branca estava mais escondida.
– Não. – Ri fraco. – Na verdade, sim, pois é o momento em que eu estou mais cansada. – Ele gargalhou. – Mas deitar contigo e falar sobre nosso dia. – Suspirei. – Como foi seu trabalho, como foi na escola, quando Larry liga de Boston... – Ele me apertou em seu corpo.
– Você até arrepia ao falar disso. – Ele comentou, passando a mão em meus braços.
– Eu tenho muito orgulho dessa família, sabia? – Suspirei.
– Sei, porque eu me sinto do mesmo jeito. – Ele falou. – Especialmente de você, por tudo pelo que você batalhou. – Ri fraco, balançando a cabeça, e virei meu corpo na cama novamente, encostando minha cabeça no travesseiro, afofando.
– É... – Ele riu fraco e eu sorri. – Obrigada! – Falei e ele se mexeu na cama, colocando uma das mãos próxima ao meu rosto e a outra em minha cintura, encostando seu corpo no meu.
– Você ainda fica encabulada quando eu te elogio. – Ele falou, roçando o nariz no meu.
– Nem vem que você também fica todo roxo quando eu elogio seus filmes. – Falei e ele riu fraco, distribuindo curtos beijos em meu rosto.
– Para você ver como a gente é! – Ele comentou, fazendo uma careta. – Nós somos demais! – Ele falou e eu gargalhei, subindo uma mão para seus cabelos grisalhos.
– E muito metido! – Comentei, colocando a outra mão em suas costas, o fazendo rir.
Ele desceu o rosto, dando leves beijos em meu pescoço, fazendo com que eu apertasse minha mão em seus cabelos, sentindo sua respiração fazer cócegas em meu corpo. Ele subiu o rosto em direção ao meu novamente, me fazendo sorrir. Ele encostou os lábios nos meus, iniciando um beijo lento, roçando sua língua na minha de leve, ainda causando diversos arrepios pelo meu corpo.
Seu dedo deslizou pela minha bochecha em um carinho de leve e sua mão puxava meus cabelos levemente, me fazendo soltar o ar pelo nariz. Passei a mão por seus ombros, arranhando levemente seu corpo, fazendo Chris separar nossos lábios por um tempo, soltando a respiração pela boca e uma risada fraca. Depositou mais um beijo em meu corpo, subindo a mão por dentro da minha camisola.
– Mãe! – Chris franziu a testa antes que eu e suspiramos, passando a mão no rosto. – Mãe! – Ela gritou de novo.
– Você lembra quando a gente namorava? – Chris perguntou. – Alguém nos interrompendo?
– Tenho uma lembrança vaga disso. – Respondi e Chris saiu de cima de mim.
– Mãe! – Ouvi de novo e a porta se abriu. – Vocês já vão dormir? – Ela franziu a testa.
– Na verdade, não, a gente ia... – Dei uma cotovelada em Chris.
– O que você quer, filha? – Perguntei, me sentando na cama e passando a mão em meus cabelos molhados.
– Vou sair com as meninas e depois vou dormir na Sam, ok?! – Ela falou, puxando a porta.
– Ei, ei! – Eu a impedi e ela abriu a porta novamente.
– Aonde vocês vão? Quem vai? – Perguntei.
– A Rachel chamou a gente para comer pizza na casa do pai dela, e depois vamos fazer uma festa do pijama na Sam! – Ela falou animada.
– Não seria mais fácil fazer a festa do pijama na casa da Rachel também? – Perguntei e ela deu de ombros.
– Já estava marcado na Sam. – Ele falou.
– Ok, leva o celular...
– Como se precisasse pedir. – Chris falou ao meu lado.
– E me avisa quando chegar na Sam, ok?! Se você não me avisar, eu vou te ligar no meio da noite, ou vou ligar na casa da Sam, combinado?
– Mãe! – Ela reclamou.
– Você pode não ir, se preferir! – Chris falou irônico, dando de ombros.
– Ah, pai! – Ela falou e Chris riu.
– Combinado, ? – Perguntei e ela afirmou com a cabeça.
– Combinado! – Ela suspirou.
– Avisa Matt que você está saindo e que não volta hoje. – Ela afirmou com a cabeça.
– Já sei! – Ela disse.
– Pegou tudo que precisa? – Perguntei.
– Peguei. – Ela sorriu feliz. – Posso ir agora?
– Pegou toalha, roupa de cama, pijama, escova de dente... – Ela fez uma careta. – Pois é!
– Esqueci só o pijama.
– Só o mais importante em uma festa do pijama! – Chris riu ao meu lado e eu sorri.
– Vai pegar e pode ir. Liga para gente quando for para te pegar, mas tenha bom senso, hein?! Não fica lá até a noite. Quando o povo começar a ir embora, vem também.
– Tá bem, mãe, eu não sou sem noção! – Ela falou e eu ri. – Até mais.
– Ei! – Chris gritou. – E meu beijo de boa noite? Só porque tá na adolescência, acha que não precisa dar beijinho nos pais? – Chris falou, irônico, e eu ri.
– Boa noite, pai! – entrou no quarto, dando um beijo na bochecha de Chris, e depois ela deu a volta na cama.
– Boa noite, filha. – Chris falou.
– Boa noite, mãe! – Ela falou, beijando minha bochecha, e eu fiz um sinal da cruz em seu peito.
– Boa noite, amor, Deus te abençoe. – Falei.
– A vocês também. – Ela falou e eu sorri. – Posso ir agora?
– Vai logo, a Sam deve estar cansada de esperar. – Chris brincou e franziu os lábios, suspirando.
– Tchau! – Ela falou e eu ri, vendo-a puxar a porta do quarto.
– Finalmente sós! – Chris falou, virando o corpo em cima do meu novamente, e eu ri.
– Você é muito malvado quando quer, sabia? – Falei e ele riu.
– Você sabe que eu gosto de brincar com ela.
– Sei bem! – Comentei e ele deu um beijo em meus lábios novamente.
– Mas é por situações assim que eu sinto falta da nossa época de namorados. – Ele comentou.
– Não adianta. Esses tempos não voltam mais. – Falei e ele ponderou com a cabeça, rindo, beijando meus lábios novamente.
Eu fingia que não estava ouvindo nada, mas Larry e Chris falavam um pouco alto, então tudo que eles falavam eu podia ouvir e com clareza ainda.
– Vocês dois se dão bem! – Larry falou, seguindo de uma risada fraca.
– Eu a amo demais! – Chris falou, suspirando em seguida.
– Amar nunca é demais! – Larry falou.
– Meu filho virou poeta agora?
– Ué, eu cresci com meus pais falando para eu testar meus diferentes talentos, alguma coisa tem que dar certo. – Abri um sorriso de lado, mexendo nas revistas à minha frente.
– Seu talento é ser uma pessoa boa, Larry, você não se deixa abalar. Por isso que escolheu ser advogado, para fazer o bem. – Virei o rosto para trás, vendo os dois dando um gole em suas cervejas, e Chris ficou levemente vermelho, dando um sorriso para mim.
– Eu te amo. – Movimentei os lábios, e ele piscou para mim.
– O que você está fazendo aí, mãe? – Larry perguntou enquanto eu separava as revistas uma do lado da outra.
– Isso aqui, filho, são todas as notícias que saíram do seu pai, de mim, ou de nós, desde que nos conhecemos. – Falei e surgiu ao meu lado, com Joseph um pouco atrás dela. – Há dezessete anos.
– Mentira! – Ela gritou.
– Não, só olhar. Em algumas, nós somos capas, outras têm notícias pequenas nas páginas internas, outras são fotos que eu guardo dos eventos... – Fui mostrando as pilhas para ela.
– É por isso que o quartinho está cheio de coisas! – Larry falou.
– A gente ocupa bastante espaço! – Chris brincou, aparecendo o meu lado.
– Aqui, essa é do nosso casamento. – Estendi a revista da qual fomos capa. – Essa foi quando a nasceu. – Estendi outra capa. – Essa foi quando seu pai ganhou três Oscars de uma vez só. – Estendi outra. – Quando adotamos você. – Ergui outra capa. – E por aí vai! – Falei, rindo fraco.
– Que fashion você era, ! – Joseph falou e eu ri fraco, vendo empurrá-lo.
– E qual é a mais importante para você? – Larry perguntou e eu suspirei.
Tive um estalo e comecei a procurar pela revista mais importante de todas.
– Essa! – Ergui uma revista da People, onde nenhum de nós dois era capa.
– Por que essa? – Abri a página marcada e estendi a , que perguntara.
– Era as últimas gravações do segundo filme do Capitão América, e o primeiro compromisso em que eu acompanhei seu pai.
– Tudo começou aí! – Chris falou e olhou a pequena manchete onde tinha um foto dos bastidores e uma nota falando que as gravações em Cleveland estavam acabando.
– Papai loiro? Essa é nova para mim. – falou.
– Espera aí, você nunca viu Capitão América? – Larry gritou para ela.
– Não, eles não me deixavam ver alguns filmes.
– E depois ela acabou esquecendo! – Falei.
– Até eu já assisti. – Joseph comentou e Chris apontou, rindo.
– Viu?!
– Ah, não, vamos mudar isso agora! – Larry se levantou na pressa e correu ligar a TV da sala, procurando entre os DVDs antigos guardados o primeiro do Capitão América. – Senta aí! – Ele falou e se acomodou no sofá, cheia dos risinhos nos lábios com Joseph ao seu lado.
Eu e Chris nos sentamos no sofá lateral. Assisti àquele filme diversas vezes, mas fazia anos que eu não assistia o filme em que tudo trazia uma lembrança boa para mim. Não tinha como ser diferente.
– Ok, ele não era tão magro assim. – falou rindo e as outras quatro pessoas na sala se calaram.
Os comentários de eram os melhores, mas a melhor parte estava para vir: a parte da transformação. nem piscava, seus dedos mexiam igual os do pai, era nervosismo aquilo, era certeza, e quando as portas se abriram, ela ficou encarando o pai há uns bons anos atrás. – Ok, agora eu sei por que a mãe se apaixonou por você.
– Ah, maldosa! – Chris brincou, jogando uma almofada nela, que riu.
– Licença que eu estou vendo um filme. – Ela falou, pegando a almofada, e eu ri fraco.
– Eu podia escrever um livro sobre isso. – Falei baixo ao pé do ouvido de Chris.
– Pensando em ser escritora agora?
– Nunca pensei, a ideia surgiu agora. – Ri fraco.
– Quem sabe um roteiro, você vende os direitos para mim, e eu produzo.
– Pretensioso! E por que eu venderia os direitos para você? – Ele riu fraco e eu virei meu corpo, encostando minhas costas no seu corpo, voltando a acompanhar o filme enquanto sentia um carinho gostoso em meus braços.
– Porque você me ama! – Ele falou, estalando um beijo em minha bochecha, e eu ri, sentindo cócegas.
– Sim, eu amo! – Abri um sorriso, apertando seus braços em meu corpo.
Epílogo
– Cheguei! – Gritei, batendo a porta de casa e vendo a louça seca do aniversário de Larry em cima da pia.
Imediatamente deu preguiça de guardar.
– Tô no quarto. – Ouvi a voz da e caminhei em direção ao seu quarto, onde ela estava apoiada na escrivaninha, com diversos cadernos à sua volta. – Oi.
– Oi, filha, como foi o dia? – Perguntei.
– Foi tudo certo, tenho prova de física amanhã.
– Precisa de ajuda? – Ela negou com a cabeça.
– Não, fiquei no reforço até tarde hoje, já ajudou. – Afirmei com a cabeça.
– Qualquer coisa me, chama. – Falei.
– Tá. O Larry ligou e disse que já chegou na faculdade de novo, ele falou que quer falar sobre o presente de aniversário do papai mais tarde, quando o papai estiver bem longe. – Afirmei com a cabeça.
– Falando nele, onde ele está?
– Está lá no escritório. – Ela falou e eu afirmei com a cabeça.
– Estuda bastante! – Falei e puxei a porta novamente.
Passei pelo quarto, tirei meus sapatos e coloquei meus chinelos no lugar. Joguei minha bolsa em cima da cama, depois daria um jeito naquilo. O dia havia sido corrido, eu precisava descansar. Passei pela porta do meu quarto que dava para varanda e saí da mesma, pisando na grama mesmo, sem medo de me molhar. Olhei a porta do antigo quartinho aberta e entrei na mesma, vendo Chris sentado na escrivaninha, de costas para a porta.
– Cheguei! – Falei e ele virou o rosto para mim.
– Ei, como está? – Entrei no quartinho devagar para não esbarrar em nada.
– Cansada, mas nada que um banho e sono não resolvam. E aí? – Perguntei.
– Recebi um novo roteiro hoje. – Ele falou, suspirando.
– Atuação ou direção? – Perguntei.
– Direção. – Ele suspirou, fazendo uma careta sofrida.
– E por que parece que esse é tão difícil de aceitar ou negar? – Perguntei.
– Porque é uma produção gigantesca. – Ele ergueu o roteiro e eu arregalei os olhos.
– Nossa! Essa é grande mesmo. – Eu me aproximei dele, colocando minhas mãos em seus ombros e encostando a cabeça na sua.
– O que você acha? – Ele perguntou.
– Eles mandaram isso só para você? – Perguntei.
– Sim, eu sou a primeira opção.
– Bem, se eles te mandaram, é porque sabem que você é capaz. Acho que você só precisa confiar em si mesmo.
– Você confia em mim?
– Claro que sim, e o melhor é que você sabe como funciona. Depois do seu primeiro filme, você se especializou, aprendeu... Já dirigiu vários filmes! – Ele riu fraco.
– Eu estou com medo de não dar conta. – Ele suspirou.
– Dá sim! – Abaixei meu rosto, dando um beijo em sua bochecha.
– Então você acha que eu deveria aceitar? – Ele virou o rosto para mim.
– Acho! Você já treinou bastante com produções menores, agora precisa dar uma guinada nisso. – Ele suspirou. – Você precisa responder isso ainda hoje?
– Não, dá para eu pensar.
– Então vamos lá para dentro, tomar um banho quente, relaxar, faço um chocolate quente... – Falei, puxando sua cadeira para trás, fazendo com que ele se levantasse.
– Acho que eu gostei dessa ideia. – Ele falou, caminhando até a porta.
– Mas, se minha opinião valer de alguma coisa, você deveria aceitar.
– Vou conversar com alguns diretores da marca e pedir uma opinião de profissional. – Afirmei com a cabeça e suspirei, dando mais uma olhada no roteiro, que parecia mais um livro grosso, com o tão conhecido logo vermelho da Marvel estampado na capa, o nome de alguns super-heróis no título e diversos carimbos de “Secreto” colados no mesmo.
Abri um sorriso. Seria igual com o Capitão América, ele também não achava que devia fazer e foi um dos maiores sucessos desse estúdio.
Suspirei, com um sorriso tímido no rosto, sentindo cada vez mais orgulho do homem com quem eu havia me casado, e puxei a porta do escritório, correndo até meu marido. Segurei sua mão, entrelaçando-a na minha, fazendo-o dar uma piscada para mim. Ri fraco, entrando em casa, indo em direção à cozinha, e Chris me puxou para outra direção, me levando pela cintura em direção a nosso quarto.
Fim.
Nota da autora: Ah, chegamos ao final de STALT pela segunda vez! *O*
Eu fiz essa atualização para corrigir algumas coisinhas básicas da história e colocar nessa página linda do site! Então, gostaria de agradecer à Gabi e a Letty que dividiram a betagem dela para mim, foi muito importante para mim vocês me ajudarem nessa, serei eternamente grata!
Às leitoras antigas que voltaram, muito obrigada pelo apoio de vocês há cinco anos. Agora às novas autoras, fico muito feliz de te ter aqui e ver que STALT ainda conquista novos leitores. Não se esqueçam de deixar sua presença nos comentários, hein?
Muito obrigada mesmo! <3
Fiquem de olho no meu grupo para as próximas novidades!
Para quem não sabe, STALT virou livro e caso você queira, pode comprar pelo link aqui.
Essa narrativa encontra-se devidamente registrada e protegida pela lei 9.610/98.
A publicação, transmissão, distrubuição ou reprodução desta obra ou de trecho dela depende de autorização prévia e expressa do autor.
O não cumprimento de tais regras sujeitará o civil às devidas sanções legais.
Lembrando que qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.
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