Finalizada em: 10/03/2021

Capítulo Único

Playlist recomenda para a leitura da fanfic AQUI.
Eu estava errado e você estava certa
Se eu fosse seu e você fosse minha
Mas foi tão bom
Você se foi e eu voltei
E eu era bom e você era má
Mas foi tão bom
Porque eu sou um viciado, sou seu paciente
Seus lábios são a medicação
Venha aqui querida, só você sabe o que eu quero
Bom Bidi Bom
– Nick Jonas


Houve um tempo em que eu muito questionava e pouco fazia. Mas isso foi até eu aprender detalhes sobre mim mesmo que por vários anos de minha existência foram camuflados pelos meus medos. Hoje, eu concluo que é possível pensar bem antes de agir e mesmo assim seguir com decisões sem achar que sempre vai dar errado.
Existem muitas possibilidades na vida, nem todas elas podemos viver, embora tudo sempre dê certo no final. Relativamente, claro.
Aprendemos diariamente. Todo dia é uma chance para chegarmos mais um passo perto de um mínimo de conhecimento mais humano e libertador. E para isso acontecer, bom, existem diversas oportunidades. Repito, diariamente.
Quando eu conheci numa passagem rápida pelo Brasil, em 2017, foi uma época em que eu estava mais atento a essa virada de chave. Foi quando eu decidi que mudaria minha assinatura, por exemplo, saindo de Rap Monster para apenas RM. Eu não era e nem sou um monstro, portanto, não fazia sentido.
Eu não consigo dizer ao certo qual foi o momento ou o que exatamente me fez querer que fizesse parte do meu mundo, mas isso aconteceu e nunca haveriam arrependimentos.
Eu me apaixonei por ela à primeira vista, disso tenho certeza.
Porém eu não podia firmar algo certo e correr por ela, conquistá-la da maneira que qualquer pessoa faria. Riscos que corro por ser um idol. O que me deixou cego para a realidade do que sentia. Não era bem um interesse casual, como achei a princípio.
Então tive a ideia de repetir com ela o que fiz com Ahni, mas somente para que eu pudesse conhecer mais sobre , me aproximar mais e, de forma egoísta, eu reconheço, tê-la ali comigo até que eu pudesse virar o cenário e viver com ela o modo correto do afetivo.
Entretanto, não soube lidar muito bem com essa descoberta. Eu me afastei de todo e qualquer sentimento e coloquei apenas a parceria sexual em superfície. Conscientemente, eu não soube fazer dela o que eu queria e não a deixei ser para mim o que ela poderia ser.
Em um idioma mais claro: eu fiz merda atrás de merda. E agora é apenas um passado em forma de escola para me dizer muita coisa até sobre mim mesmo.
Ela se tornou minha doença incurável quando entrou no primeiro avião para ir embora, sem hesitar. E não foi por falta de tentativas, porque ela tentou, eu que não valorizei e desperdicei.
No fundo, em meu íntimo, eu esperava que aquela tivesse sido apenas uma despedida momentânea.

Brasil, 2017
Yoongi me encarava como se eu fosse um alien, ao mesmo tempo que sua feição era de puro tédio – como de costume. Mas eu estava nervoso e mesmo que ele me olhasse daquele modo, não conseguiria absorver isso. O telefone em minha mão começou a vibrar e eu fui recebendo em sequência as mensagens que esperava. Olhei para meu amigo e ele se levantou, imediatamente entendendo que eu lhe pedia mais uma vez para que me acompanhasse naquela loucura que estava prestes a fazer. Os outros já estavam ocupados com suas tarefas para irem descansar, eu só precisava cumprir uma para ter o mesmo rumo. E como Suga ainda era o único por dentro do que de fato eu estava querendo, ele foi a minha opção de companhia.
Saí do quarto vestindo meu boné e máscara, assim como o mais velho fez, e seguimos para o elevador. Ele tinha murmurado algo sobre as minhas complexidades e eu apenas deixei o comentário pairar no ar. Não cairia na pilha e precisava lidar apenas com um motivo de tensão, passar a questionar meu método de viver minha vida pessoal era algo para outra hora. Então, em silêncio, caminhamos sorrateiramente e com cuidado até a saída do hotel, evitando chamar a atenção. E quando encontramos o motorista que estava encarregado de nossos traslados, pedi educadamente para que me levasse ao endereço anotado na mensagem. A feição dele foi estranha, mas não me escondeu que era um lugar fora da cidade e bem longe, quase esquecido.
Durante o caminho, eu me questionei o que estava fazendo.
A ideia de ter uma parceira sexual fixa para evitar qualquer problema a mais era algo que tive de optar por conta da decisão de não me relacionar seriamente com outra pessoa devido ao BTS. Era uma complexidade única para introduzir minha vida pessoal aos fãs e misturar com a mídia; um relacionamento sério envolvendo afeto seria, no mínimo, doloroso para todas as partes. Eu queria ter a segurança de uma paz antes de me expor e expor alguém a isso.
Talvez não tenha sido a decisão mais sábia da minha vida, me privar de viver ela e ser metódico a esse ponto, mas era o que eu tinha.
Então eu tive Ahni, ela era uma amiga e entendia bem o que eu “buscava” e não queria ficar pulando de galho em galho, até mesmo por respeito próprio. Não era do meu feitio sair com uma mulher a cada semana. Ahni me sugeriu aquela amizade colorida e, por eu ter minha vida completamente controlada, os responsáveis pela minha carreira sabiam sobre isso. Foi difícil ter de me acostumar com a imposição de um contrato por conta da imagem, porém Ahni foi muito compreensiva e acabou, por fim, aceitando.
Não sei dizer até que ponto foi benéfico essa situação toda; enquanto estava no caminho para o endereço, com a desculpa de devolver um item esquecido, eu só conseguia pensar em como dizer para uma estranha que eu queria que ela fosse minha parceira sexual com a segurança de um contrato. E para ampliar a loucura, para isso acontecer, seria necessário que se mudasse para a Coreia do Sul para viver comigo.
Mas tinha esse “algo” em que eu não conseguia compreender, que me prendeu total a atenção e, sem negar, me deixava tenso. Eu não conseguia tirar o perfume dela da minha cabeça e o cheiro ainda estava vivo em minhas narinas, parecendo que ao invés de ser Suga, era ela quem estava ali do meu lado. E eu queria mais, eu sentia essa necessidade de mais.
— Eu poderia estar dormindo, mas estou aqui, então não espere que eu vá entrar. — ouvi Suga dizer, me trazendo à realidade. Havíamos parado em frente a um prédio, já dentro do condomínio.
— Tudo bem, eu não esperava mais do que isso mesmo. — rebati, recebendo um rolar de olhos dele.
— Mas é mais do que você merece. Não compactuo com essa sua palhaçada.
Respirei fundo para não ser grosseiro com Yoongi, relevando o seu humor por conta do sono.
— Tenta não matar ninguém que passar por aqui pelo menos, não devo demorar. — digo abrindo a porta do carro.
— Tá, tá, que seja... não me chame se ela achar que você é um louco por aparecer na casa dela. — novamente um comentário com tom ácido. Yoongi conseguia ser extremamente adorável, mas em questão de pouco tempo mudava para o mais puro ácido em pessoa. — Depois quando falam que gente famosa só vê o próprio umbigo, vocês ficam reclamando...
— Já destilou? — perguntei colocando parte do corpo para fora.
— O quê?
— Esse veneno, sua naja. — tentei soar um pouco ofendido. Mas ele riu, é.
— Eu já te dei minha opinião bem clara quando você me perguntou sobre isso, não sei porque espera que eu seja uma manteiga. Vou continuar falando sim e se não gostou, o problema é seu. — deu de ombros e se ajeitou mais no banco.
— Você fala como se sua vida amorosa fosse um exemplo a ser seguido, Min Yoongi.
— Mas pelo menos eu não escondo nada de ninguém, Namjoon.
— Claro, a sua queridíssima é relativamente famosa também... — o provoquei sabendo que aquele era um assunto delicado.
— Deixe a Maya fora disso. E eu tô falando sobre seus amigos, você só me falou porque a Ahni teve aquele surto antes de ir embora e me procurou para desabafar e agora eu sei desse seu... — respirou fundo. — É, todo mundo sempre me procura para ajudar com problemas.
— Entendi sua revolta. Tratamos disso depois em uma sessão de terapia, que tal? — brinquei já saindo do carro.
— Vai se fod-
Fechei a porta rindo, não ouvindo ele completar o xingamento, apesar de não precisar.
No fim, a conversa e troca de elogios foi necessária para que eu não entrasse em colapso e pudesse seguir os seguranças com tranquilidade para dentro do prédio. Me movi tão rapidamente e distraído pelo medo do que acharia, que mal notei quando estava parado em frente à sua porta. Pelo menos o número eu consegui identificar.
— Quer que espere aqui? — ouço um dos seguranças perguntar e aceno positivamente.
Conto os segundos, mas de forma relapsa, não percebendo quando a porta é aberta assim que eu toquei a campainha — minha mão parando no meio do caminho de volta. Quem abre é uma mulher de cabelos loiros, de sorriso bem aberto, com dentes tão brancos quanto a cor em si e com um ar bem interessado. Diferente do que senti ao encontrar com pela primeira vez, o que me fez concluir mesmo que eu não estava louco.
— Eu devo confessar que por um instante achei que o rapaz da portaria estava zoando com minha cara. — ela disse, dando espaço para que eu entrasse.
Obviamente estranhei, sem nenhum cumprimento formal ou algo menos íntimo que aquela forma como falava comigo, parecendo me conhecer há anos. Ela deve ter notado como fiquei parado, sentindo que estava com a famosa tela azul, pois riu fraco e estendeu a mão, dizendo:
— Me chamo e, como pôde perceber, sou fluente em inglês. Não precisa se assustar, é normal que as pessoas saibam outro idioma hoje em dia... — tentei captar seu comentário sem soar como ofensa por parte dela. — Entra.
Depois de apertar sua mão e entrar, me dei conta de que realmente não haveria mais volta.
— Me desculpa, sou Namjoon. Kim Namjoon. — Me viro para sua direção, já dentro do apartamento, vendo-a fechar a porta e virar-se para mim.
está no banho — foi direta. Talvez não tenha conseguido sua simpatia em primeira instância.
— Eu aguardo.
Apertei a bolsinha em minha mão, lembrando que aquilo era o motivo que eu usaria como desculpa — até então havia esquecido completamente desse detalhe e meu corpo todo estava hesitando. Talvez Suga tivesse razão em suas reclamações e aquilo tudo era uma baboseira.
Deixei o objeto em cima da mesa de centro, observando sutilmente o local à minha volta. Era um apartamento pequeno, bom para duas pessoas viverem e tudo era colocado no seu devido lugar minimamente. Observei que me olhava de soslaio enquanto fazia algo na cozinha que era separada apenas por um tipo de balcão, no estilo americano, da sala. Estando na pia, ela conseguia me olhar e eu evitei olhar em sua direção.
Talvez ela soubesse quem eu era e pudesse ler através de mim, agindo daquela forma para me mostrar que a qualquer passo em falso, eu estava em sua mira. Engoli a seco, tentando evitar o pensamento. Não devia ser um crime uma pessoa se interessar pela outra assim. Ou talvez eu estivesse pregando em minha mente a própria repreensão, e, sem necessidade, me autojulgando. Fiquei ali na sala, no meio daquele silêncio, virado para a direção da sacada, me concentrando em não agir como um garotinho entrando na pré-adolescência. Eu sabia o que queria, portanto, agora deveria seguir em frente com meus planos. E prestando atenção em meus próprios pensamentos, ainda consegui ouvir a movimentação de , conversando algo com no que entendo ser a frente da porta do banheiro. Era um diálogo no idioma delas, então não compreendi nada.
Mas meu corpo compreendeu muito bem a voz dela, pois a tensão que eu tinha sentido mais cedo havia voltado novamente. E de novo eu estava sentindo como se ela fosse um ímã e eu o metal.
Contei mais alguns carneirinhos e, depois de um certo tempo, ela retornou. Ouvi seu pigarro e me virei, me curvando devagar (como um gesto automático), vendo-a se curvar em minha frente também. Aquilo me fez sentir um formigamento na altura da pélvis novamente. Eu não conseguia evitar qualquer pensamento impuro ao vê-la daquela forma, levando em consideração um background de submissão. Como eu queria ter na minha cama! E eu podia dizer que isso, desejar alguém assim, não era um crime, certo?
— Ei! — exclamei e depois de vê-la repetindo o meu gesto, desta vez mais concentrado racionalmente, complemento: — Você sabe que não precisa fazer isso toda vez que me encontrar, não sabe? — sinto um tom mais gentil em meu tom de voz, o que me deixa tranquilo, pois tive o receio de soar mal-educado pela falta de coerência em meus próprios pensamentos.
— Acho que me acostumei... — ela responde baixo. — Desculpa te fazer esperar, cheguei há pouco tempo e fui tomar banho. Aconteceu alguma coisa?
Não precisei de minutos para sentir meu corpo sair daquela leveza para a rigidez novamente, com a forma direta que ela chegou ao assunto. Claro que em algum momento me perguntaria o que eu estava fazendo ali na sala de sua casa, obviamente isso era um objeto de dúvida. O principal. O que eu estava esperando?
— Tudo bem, eu preciso pedir desculpas pela inconveniência. — suspirei, depois de formular a primeira coisa que me veio em mente. — É que você deixou sua bolsa de... Bom, você deixou no armário e eu achei que seria de bom tom trazer para você. — apontei para o objeto em cima da mesinha. Ao contrário da feição tensa que eu havia tido dela desde mais cedo, desta vez não consegui ler sua expressão. Ela estava impassível e apenas moveu o olhar de mim para a mesinha, da mesinha para a minha direção.
— Obrigada.
— Não tem o que agradecer. — novamente aposto na primeira resposta automática.
O silêncio se instalou entre nós dois e eu pude analisar ela por completo, mais uma vez naquele dia. Eu sentia aquele clima tenso, novamente me remetendo à situação de um imã perto de um metal. Ela era o imã e eu o metal, claramente a atração havia começado por mim e eu teria muita sorte se ela acabasse por compreender e aceitar. Não deveria ser complicado o envolvimento sem compromisso entre duas pessoas, e talvez eu estivesse dramatizando demais toda a situação, mas não queria com sentimento de posse — muito provavelmente, eu não saiba de fato como a queria. Foi desejo à primeira vista, resumindo.
No meio daquele transe que parecia como o tempo em Nárnia, ouvi um barulho vindo da cozinha e olhamos para a direção em sincronia. fez mímica de algo, o que achei ser um pedido de desculpas, e então meu corpo se mexeu inquieto. A vontade de dizer para ela alguma coisa a mais era grande, mas sendo mais racional, aquilo tudo estava sendo uma tremenda bobagem. Ela era uma desconhecida e eu também um desconhecido. Mais uma vez Yoongi poderia estar certo em algo. Então eu desisti de prolongar qualquer coisa a mais.
— Eu... Preciso ir. Nos vemos amanhã?
A parte do “nos vemos amanhã” acabou por sair automaticamente. Era o meu inconsciente trabalhando na ideia maluca em cima da vontade de estar com .
Me despedi dela de forma simples e acenei para a amiga, que me deu um sorriso diferente dessa vez, um pouco mais simpático — pensei que ela estivesse bem feliz por me ver ir embora finalmente, por isso o sorriso. E conforme caminhei para a saída, depois de ouvir a porta se fechando atrás de mim, senti meu coração acelerar. Algo dentro de mim, bem no fundo, e que com a minha maturidade da época eu não conseguia enxergar, dizia que eu não estava apenas interessado em por sexo ou qualquer envolvimento superficial.
Foi à primeira vista que eu me apaixonei, mas eu ainda não sabia.


A convivência com os outros seis integrantes do BTS não é difícil, chega até ser extraordinária qualquer situação de conflito que leve a algum clima extremamente tenso. Mas não demorou muito para que no dia seguinte, o dia do primeiro show, as piadinhas sobre meu interesse em começassem. Até porque se tem uma coisa que eu não consigo disfarçar é quando estou tenso e, infelizmente, meu corpo demonstra isso. E é com qualquer tipo de tensão.
Entretanto, mesmo que as piadas fossem para não perder o momento, eu me peguei refletindo sobre elas. E realmente não era mesmo uma boa ideia chegar para uma estranha e dizer: “Estou extremamente atraído por você, mas meu método de relação não envolve sentimentos, você topa?”. Ela iria me achar, no mínimo, um idiota. E, com muita sorte, só isso mesmo.
No primeiro show eu consegui viver tranquilamente, depois de jogar uma água fria no rosto para centralizar meu raciocínio no que realmente eu estava fazendo. Às vezes nós realmente não podemos ter o que queremos e em muitas delas, o que queremos é besteira. É fruto de uma imaginação muito fértil, alimentada por romances literários e de filmes como Titanic, em que a intensidade é o ponto forte.
Na vida real, é difícil ser intenso.
Mas eu consegui, depois de muito me concentrar. Por mais que fosse difícil ver ela tão de perto, dançando com a gente. Porém, em nenhum momento desejei que Ahri estivesse ali — claro que não passando pela parte em que ela se ausentou por problemas de saúde, partindo deste princípio, eu nunca desejaria que ela estivesse fora.
O segundo show foi do mesmo jeito e eu já estava me sentindo mais acostumado com a presença dela, sabendo me controlar. Embora ainda não conseguisse manejar minhas expressões corporais quanto ao clima tenso já citado. Estava conseguindo me virar até que, no final da noite, quando todos estavam no backstage, eu reparei a euforia dos meninos.
Todos compreendem bem inglês e falam tanto quanto, apesar de eu ser o que mais fala, eles também sabiam muitas coisas — exceto por Jin, que volta e meia se perdia. Então a confusão de vendo aquele bando de homem falando tudo e nada ao mesmo tempo, fez eu me aproximar. Porém, senti um formigamento estranho ao ver Jungkook rodeando os ombros dela com o seu braço, o que também pegava muita gente desprevenida, já que ele era o mais tímido de nós quando o assunto era mulher — e para qualquer situação.
— ...Eu nunca gostei de uma pessoa como ela, me ajuda a convencê-la! — Kook dizia em coreano a Jin quando me aproximei, olhando novamente para e completando: — Você vai e ponto final. Damos um jeito de ir para casa depois, sã e salva.
Eu já sabia sobre o que estavam falando: levar ela para o hotel e participar do nosso “after party”, que envolvia beber soju, ficar bêbado até cansar e ir dormir para partir no outro dia ainda de manhã. Mas eu não gostava da ideia, não tinha muito a ver com dividir a atenção ou espaço com eles. Sabia que iria regredir no que já havia conseguido centralizar em minha mente, então seria bem provável que eu fosse embora no outro dia extremamente decepcionado com não poder tê-la tido para mim.
— Quem? — perguntei alto, cortando a conversa entre eles e fazendo se assustar com a proximidade em que estávamos. Ela estava parada em minha frente e eu podia sentir o calor do seu corpo próximo ao meu. E seu olhar para mim foi carregado de dúvidas. Provavelmente ela ainda quisesse me perguntar o porquê de ter ido em sua casa, se poderia ter entregado o objeto esquecido no outro dia. Eu, pelo menos, ficaria muito curioso quanto a isso.
. Ela vai com a gente para o hotel. Tem soju suficiente para todos. — Jungkook me respondeu e eu senti que meu olhar queimou em sua direção, pois retirou o braço em volta de . — Se estiver tudo bem para você, claro. — reforçou seu pedido, baixando mais a guarda desta vez.
— Qual é, Nam, último dia em que estaremos com e ela precisa provar soju. — desta vez, foi Hoseok quem tentou me convencer.
Encarei por alguns segundos, na batalha interna de tentar lidar com mais algumas horas na presença dela. Eu já estava começando a me acostumar com a ideia de que não a veria nunca mais. Tê-la em um ambiente mais íntimo seria um caminho fácil de regressão.
Mas eu também não podia simplesmente ditar tudo o que os outros podiam ou não fazer. Ser o líder do grupo não era ter controle sobre até com quem eles fariam amizade.
— Você não pode passar por essa vida sem provar soju. — disse por fim, arrancando um suspiro aliviado dos meninos e uma feição confusa de .
— O que é soju? — ela perguntou com um tom inocente, o que foi suficiente para todos rirem. Inclusive eu.
Nos afastamos, indo para caminhos diferentes e eu logo reparei em como a equipe de staffs estava atenta em mim. Não é como se fosse impossível viver uma vida não controlada por terceiros, mas isso era razoavelmente quase mínimo. Porém, enquanto eu me trocava, conseguia sentir os olhares em cima de mim, quase como se fossem de uma águia me monitorando a cada centímetro que meu corpo se movia.
Talvez Seokjin tenha percebido como aquilo estava me deixando mais nervoso e regredindo as casas que havia caminhado ao decidir deixar aquela baboseira de de lado, pois chegou perto de mim e colocou a mão em meu ombro, com seu tom mais sincero.
— Você vai continuar tentando evitar isso? — o encarei confuso. — Sabe bem do que tô falando. — ele insistiu.
— E você sabe muito bem o que tudo isso implica. — resmunguei terminando de vestir minha camisa.
— Muitas coisas, que até daria para o Suga fazer um rap de quatro minutos em uma velocidade considerável. — Jin riu da própria comparação e eu apenas o encarei com tédio. — Tá, ok. Voltando ao papo cabeça. Tudo bem, são muitas coisas que entram nesse meio, RM. Mas vai ser assim toda vez? Vai esperar mais quanto tempo para começar a viver sua vida de verdade, sem essa palhaçada de dividir RM de Namjoon?
— Jin, não é tão fácil e você sabe! — passo a mão no rosto, levando as duas até a cintura em seguida. — Falando desse jeito, parece que eu estou perdendo a chance de estar com o amor da minha vida. Mas não é, é só uma pessoa que conheci e me despertou o interesse.
Jin me encarou com a feição de poucos amigos dele que nem todos conheciam e eu senti aquele olhar me penetrar. Ele era assim, sempre ouvia, mas quando era sua vez de falar, ninguém segurava — e ele estava certo em todas. Entretanto, desta vez ele me pareceu um pouco equivocado.
— Olha, a gente não vai ficar nesse papo pelo resto da noite mais uma vez. — me apontou o dedo. — Você e Suga deveriam se juntar. É ele de um lado e você do outro, ambos desperdiçando chances únicas. e Maya têm muito em comum, as duas estão aí para dois idiotas.
Eu não tive tempo de me defender, Jin saiu me dando as costas e sem me deixar responder. Por mais que eu quisesse encerrar aquele assunto por completo, talvez eu tivesse que parar para pensar em algum ponto.
Maya e Suga se conheciam há quase um ano e meio, e desde que se viram pela primeira vez — por intermédio de Seokjin — havia aquela faísca, e você podia dizer com toda propriedade que os dois eram o “meant to be” um do outro. Só que eles ficavam nessa história de se pegar e não apegar; ela estudando para assumir a empresa da família, ele pelos mesmos motivos que eu e também alguns outros que só Min Yoongi saberia muito bem como dizer — ou não, já que ele tão pouco desabafa e se expressa fora da música.
Sei que Maya ama Yoongi e tenho quase certeza absoluta de que ele a ama de volta, mas os mundos iriam colidir e muito se fossem juntados. Por ser filha de um grande CEO a nível mundial, sempre estava em páginas de colunas sobre socialites e também tinha seu pai nas de empreendedorismo. Ela também era famosa em um certo ponto, mas os dois tinham esses polos diferentes.
E é esse tipo de problema que queremos evitar.
Queremos não, querem.
Eu não tinha muito o que pensar sobre; analisando o que os dois têm, é completamente diferente do que eu e ainda não temos e que eu gostaria de ter. É realmente um sexo sem compromisso. Não que eu esteja julgando meu melhor amigo, até porque ele tem total noção do que sente e que a mulher com quem divide toda essa aventura é a que um dia irá dividir a vida por completo — eles apenas estão adiando isso.
E eu não tenho o que adiar.
— Eu quero ver quem vai engolir quem primeiro.
Olhei para o lado vendo o tanto de olhos me encarando. Obviamente falavam de mim, mas eu não compreendi.
— Não adianta fazer essa cara, vocês dois ficaram se encarando durante o trajeto inteiro. — Hoseok novamente argumentou.
Estávamos no elevador, apenas nós sete, no outro tinha e o resto dos nomes da nossa equipe. Eu estava realmente muito aéreo, pensando em como foi estar dentro daquela van com ela sentada de frente para mim, encontrando meu olhar vez ou outra, reforçando em minha cabeça que aquela tensão toda era recíproca.
Talvez o que dizem sobre corpos falarem seja real. O meu estava gritando e eu começava a ouvir um pouco do dela. Claro que torcendo para que não fosse apenas uma criação da minha cabeça, como quando se está no deserto e se passa a ver miragens.
— Vocês são insuportáveis quando querem.
— Não, estamos apenas tentando enturmar você e ela. — Taehyung deu de ombros.
O elevador abriu e então saímos, ainda sozinhos no andar.
— Deu para notar, até em inglês resolveram falar. — disse saindo e pegando em meu bolso o cartão do quarto.
— Fazemos sacrifícios por você, líder.
Revirei meus olhos para Jimin e ouvi as risadas acompanhando o sorrisinho sempre debochado dele.
— Fiquem com essas graças que eu já corto a asinha de todo mundo.
Eles continuaram a rir, enquanto entrávamos no quarto, mas logo pararam quando o restante chegou e junto veio . Pelo menos sabiam ser educados e não fazer tanto alarde quando dividíamos espaço com pessoas não tão íntimas.
Nos organizamos no primeiro ambiente do quarto e eu acabei sentando ao lado de , não foi bem proposital, mas aconteceu. E eu senti meu corpo todo vibrar mais uma vez ao sentir seu corpo tão próximo do meu que era possível sentir aquele calor da sua pele. Pelo braço dela estar completamente exposto, por falta de tecido, a parte exposta do meu roçou no seu, me causando aquela corrente elétrica por toda a extensão de meus músculos.
— Isso aqui é soju, . — Hoseok se sentou do outro lado dela, me trazendo à realidade novamente. A partir daquela aproximação eu estava tentando me controlar e muito.
Como é possível a gente se sentir assim por outra pessoa? Esse desejo que parece te consumir inteiro e te afundar na necessidade de fazer com que aconteça...
— Relaxa, não colocamos nada em sua bebida — sussurrei em seu ouvido, vendo que fez uma careta estranha para Hobi. Percebi uma inquietação nela, mas me limitei a sorrir quando me olhou rapidamente, pegando a garrafa em seguida. A careta dela foi instantânea quando bebeu o líquido. O que foi triste para todos que estavam com expectativas ali.
— Eu achei que teríamos uma noite de muito soju. — Hoseok disse, sua voz um pouco baixa.
— Mas vocês podem ter ainda, só que eu vou beber água se necessário. Desde que não seja esse negócio, por mim tudo bem. — respondeu passando a mão na boca, parecendo ávida por tirar aquele gosto de sua boca.
Eu poderia fazer isso com um beijo. Eu queria estar na boca dela, no lugar daquela mão. E, sem notar, minha mão pousou na perna dela, de forma suave e com todo o cuidado do mundo. Ela me encarou e eu senti a corrente elétrica mais intensa que todas as outras, enquanto trocamos aquele olhar tão próximo. Quando a direção de seu olhar foi para meus lábios, eu tive que segurar qualquer instinto que me dizia para beijá-la naquele instante.
Não tinha a menor chance de eu ir embora sem pelo menos sentir o gosto dos lábios dela nos meus.
— Não, vamos pedir algo para você beber. Algo que você goste. — minha voz estava rouca e eu sei que todos perceberam que eu estava tentando me recompor. O que não parecia funcionar, já que ela contraiu os lábios.
— Então eu aceito cerveja. — sorriu, se virando para a direção dos outros meninos.
— Aí você falou a língua de Kim Namjoon. — Jungkook respondeu, levantando-se. — Quantas e qual eu peço?
— Depende, você bebe bastante, ?
— Pede uma quantia razoável, não quero dar trabalho e sair do meu estado sóbrio. — foi simples na resposta, parecendo se concentrar em algo.
Era sexy. A forma como ela se concentrava para dizer qualquer simples sentença, era sexy.
— Pede vinte long necks de Heineken, Kook. — eu pedi a JK.
Então ela se levantou e perguntou sobre o banheiro, o que me deu a súbita ideia de que era o momento certo de eu ir e ter a certeza de que não estava criando sozinho aquele interesse todo.
De um lado, eu tinha algo me dizendo “vai”, de outro, “não vai”.
— Onde fica o banheiro?
— Só seguir nesse pequeno hall, é a porta do meio. — Hoseok apontou.
— Eu te acompanho. — me levantei, recebendo o olhar atento de todos. Foi automático e eu senti que já não tinha mais controle nenhum. — Preciso trocar de camiseta mesmo. — justifiquei.
Não reparei no caminho, apenas notei quando estávamos parados em frente à porta e eu a dei passagem para colocar a mão na maçaneta, observando todo e qualquer movimento dela. Novamente indo pelo automático e colocando minha mão em cima da sua, girando aquela maçaneta e a abrindo. Meu corpo a guiou para dentro do banheiro e eu fui junto, fechando a porta atrás de mim com certa rapidez. Ao me virar para ela, a vi com o olhar fixo em mim.
Torci para que estivesse entregue assim como eu já estava.
— Você pode sair se quiser, caso não o faça, irei te beijar e se você pedir... — ditei com a voz baixa, controlando a respiração ofegante e sem ter noção racional nenhuma do que estava fazendo. — Apenas se pedir, nós vamos foder nesse banheiro.
Ela continuou me encarando, absorta nos próprios pensamentos. Eu esperei alguns segundos e a vendo não sair e nem me bater por achar que eu estava louco, tive a iniciativa de beijá-la. E, a partir desse momento, eu não soube mais onde estava o freio e aquele vagão estava indo a toda velocidade naquele ladrilho.
Com toda certeza eu não podia ir embora do Brasil sem ter experimentado o beijo de . Eu não teria me perdoado se o fizesse.
— Eu quero mais. — pude ouvi-la dizer em algum momento de intervalo daquele beijo.
— O que você está fazendo comigo? — e eu respondi sabendo que não teria resposta certa para aquilo.
Não lhe dei tempo para responder, minhas duas mãos seguraram seu rosto na altura da mandíbula, para que a puxasse para mais um beijo. Desta vez mais intenso, mais preciso e muito invasivo, seguido apenas pelo instinto.
— Fodam-se as regras.
E mais uma vez disse para o nada, separando nossos lábios e tirando minha camisa.
Sabia que estávamos em um banheiro com meus amigos do lado de fora ouvindo tudo, mas eu não estava me importando com isso e ela parecia não ligar também. O encaixe dos nossos corpos foi completamente único e diferente de qualquer outro que eu tenha tido antes dela. A sintonia era tão grande e cada toque de suas mãos em minha pele parecia descobrir mais uma camada de desejo. Sem mensurar a ouvir gemendo meu nome, colocando alto o prazer que estávamos sentindo juntos.
Mesmo sendo uma rapidinha em um banheiro, eu me sentia exausto, porém se fosse para ter mais de , eu teria tranquilamente. Kim Namjoon sofreria e muito para dizer tchau e não poder ter a chance de transar novamente com ela, desta vez em uma cama, num quarto, com mais tempo para fazer melhor. Eu não seria capaz de esquecer nenhum segundo daquele momento e com certeza seu cheiro não sairia de mim nunca mais.
— Se quiser tomar um banho, tem toalha limpa nesse armário e...
Juntei a racionalidade que até então não havia tido, entregando as roupas dela. Senti nossos dedos se tocarem e mentalmente tentei me controlar. Mas eu percebi o meu tom frio, que, com toda certeza do mundo, nunca usaria com ela mesmo se aquilo tivesse significado apenas uma simples foda e nada mais.
— Pode dormir aqui se quiser, amanhã te chamo um Uber.
Tentei mudar o tom, dando um beijo em sua testa e, já vestido, lhe dei as costas.
Eu saí do banheiro me sentindo derrotado pela forma como falei com ela, não por ser , isso não deveria significar muita coisa, mas por ela ser uma mulher. Agora com toda certeza do mundo ela me acharia um problemático se eu chegasse e lhe propusesse do nada um relacionamento apenas pelo interesse sexual.
Mas eu não iria conseguir ir embora sem saber se ela teria aceitado a proposta. Meu corpo não conseguiria se afastar. Como um ímã e metal.
Levantei a cabeça, observando todos me encarando, novamente me sentindo péssimo porque a expus daquela forma, sem ser racional. Eu tinha feito ali a primeira merda com relação a .
— Sem nenhuma palavra sobre isso. — disse sério, vendo todos, principalmente Yoongi e Seokjin, me encararem com desgosto.

Despedidas são como lágrimas
Lágrimas, para mim, são um luxo
Não existem despedidas bonitas
Então apenas comece agora
Vá com calma, corte meu coração devagar
Pise nos cacos que foram quebrados
Para que nenhum outro sentimento permaneça
Meu coração está em pedaços, apenas o incendeie
Tear
— BTS



Dentre todas as coisas que já consegui na vida, não houve nenhuma que eu não tenha pensado sobre, seja para agradecer ou apenas questionar como e porquê. Obviamente que com não foi diferente.
O apartamento estava da forma como deveria ser para aguardar a chegada dela, tudo colocado em seu lugar de forma milimetricamente calculada, assim como me lembrava de ter visto na sua casa em São Paulo. A ideia era fazer com que ela se sentisse bem e à vontade, mesmo estando do outro lado do globo.
Claro que a vinda definitiva dela para a Coreia precisou passar por uma série de burocracias além das leis de imigração — se é que eu podia chamar de burocracia tudo o que tive de fazer para tê-la comigo em Seul. Começou por contar aos meninos depois do que aconteceu no banheiro, enquanto ela tomava um banho e se organizava pessoalmente para encarar a enrascada em que eu a havia colocado. Disso eu me arrependia, com certeza; independente do que fosse para mim, eu e minha necessidade imediatista colocamos ela em uma situação indelicada naquele dia.
Foi realmente um milagre ver que ela não se sentiu acuada e não quis ir embora imediatamente, pelo contrário, quando saiu do banheiro se juntou a todos e passaram a noite acordados.
Contar para os demais com exatidão o que eu queria e quais seriam meus planos foi até um tanto aliviante. Eu passei a ter mais apoio e opiniões que me ajudassem a ser um pouco melhor do que aquilo que eu estava sendo. Pulamos então para a parte em que tomei a decisão de ser honesto com ela e movimentar a equipe ao meu dispor para colocar em mesa para ela o contrato, e explicar que tipo de relação tinha a oferecer, sem hesitar ou parecer com medo da resposta negativa, afinal, tinha o direito de olhar para mim e dizer que eu era um idiota egocêntrico.
Passaram-se longos sete dias, eu desejei por alguns momentos que MIB fosse real, pois eu poderia ter a chance de usar um daqueles apagadores de memória em . Realmente fiquei pensando e remoendo o que e como fiz. Me sentindo um completo idiota.
Mas aí no oitavo dia veio um e-mail, intitulado de “Talvez eu seja louca” em coreano. Eu sabia que só poderia ser dela porque aquele endereço logado em meu celular só quem tinha eram pessoas confiáveis da BH e os meninos. De fora deste círculo só poderia me contatar por ali. O que me deixou aliviado, porém ansioso quando abri e vi que ela estava disposta a conversar mais sobre todo aquele lance.
Discar um número de telefone e salvar nunca pareceu tão bom em toda minha vida, principalmente sendo no WhatsApp. E a partir disso, demorou dois meses para que ela finalmente estivesse saindo de um avião em solo coreano.
E eu estava ansioso. Com toda certeza do mundo.
Meu coração passou a acelerar mais quando ouvi Hoseok gritar meu nome, da sala, dizendo que estava subindo.
Levei mais alguns minutos, somente saindo dali quando ouvi o barulho estridente de risadas e as vozes se misturando.
estava ali.
Me levantei da cama, arrumando o lençol e deixando ali em cima o controle da TV, com cuidado para não derrubar com toda minha delicadeza comum. Respirei fundo e segui o caminho, a vendo abraçar um por um.
— Você vai ter muito tempo para descobrir as peculiaridades da grande Seul. — Jimin riu do próprio comentário e eu não entendi muito bem o contexto.
— Jimin! Não sabe esconder o tom sorrateiro por um momento? — desta vez foi Jin quem riu.
Neste momento nossos olhares se cruzaram e eu sorri para ela, parecendo hesitar antes de me aproximar mais, a abraçando tranquilamente e deixando um beijo em sua bochecha. Obviamente eu estava tenso. Foram dois meses nos falando apenas por ligações de vídeo e mensagens, estar ali de frente com ela novamente era, no mínimo, merecedor de um pouco de tensão.
Ou tesão?
E, convenhamos, eu não sabia exatamente como seria nosso cumprimento. Como ela queria que eu a cumprimentasse?
— Como foi sua viagem? — perguntei ao soltá-la.
— Tranquila, a não contar pela parte que nossa escala em Dubai teve atraso. — respondeu bocejando.
— Acho que podemos deixar você descansar e voltar mais tarde com comida, o que acham? — Jungkook perguntou, olhando para nós dois em sequência.
— Você quer que eles voltem? — sussurrei em seu ouvido.
— Eu acho que pelo tanto que estou cansada, capaz de cair na cama depois de um bom banho e não sair de lá por no mínimo umas vinte horas de sono.
Rimos, trocamos olhares que diziam muita coisa, mas nada ao mesmo tempo, e eu sabia que ninguém estava acreditando naquelas palavras. Nem parecia estar.


O silêncio é bom e eu gosto de apreciar ele depois de uma boa foda. Mais um ponto que com não se fazia diferente.
Fiquei por muitos dias sem vê-la por causa da agenda complicada e lotada. Mal pudemos nos falar por mensagem e eu estava com aquele incômodo pela falta de sentir novamente seu corpo no meu — o que não acontecia desde o Brasil, por incrível que pudesse parecer. Então, depois de transarmos no balcão de granito da cozinha, eu estava abraçando , com a respiração ofegante, tentando me recompor.
E a segurando como se dependesse daquilo.
Descobri naquele momento que abraçá-la se tornaria meu vício.
— Qual o problema de transar na cama? — perguntou, cortando o silêncio que estava entre nós.
— Nenhum. — ri fraco. — Quer testar?
Ergueu seu rosto, encarando meu sorriso sacana. Nos olhos dela, naquelas cores que me prendiam, pude ver o mesmo tom.
— Só se você me levar para lá no colo de novo, gosto de você concentrado para não cometer nenhum desastre.
— Vou começar a listar as suas peculiaridades também e usá-las contra você. — rebati a pegando no colo em seguida, de supetão.
Eu havia lhe prometido que seríamos bons parceiros e realmente queria que pudéssemos ser. Infelizmente desde que ela chegou em Seul eu não pude dar a atenção suficiente que ela merecia receber, e muito menos ter novamente um momento a sós, como eu queria e acreditava que ela também desejava.
Mas eu não estava conseguindo me conter, vendo ela vestida com aquele pijama e totalmente sozinha ali comigo, depois de tanto tempo. conseguia me deixar louco e sem filtro algum, o que resultou em um sexo matinal em cima do balcão da cozinha.
Entretanto, eu tinha toda a disposição para fazer para valer em uma cama e por mais quantas vezes fossem necessárias para saciar o meu prazer e o dela. Quando chegamos no quarto, em meio aos risos de , concentrada em prestar atenção em mim, se eu ia ou não derrubá-la, a coloquei na cama com todo o jeito do mundo, tocando nela com mais sensibilidade do que eu gostaria de ser tocado.
— Eu acho que tô me acostumando com você me levando para cima e para baixo assim, no colo. — ela disse e eu deixei o sorriso se formar em meus lábios.
— Você tem grande potencial de ser a pessoa que irá se aproveitar facilmente de mim, pelo jeito.
Eu estava em cima dela, com meu corpo por entre suas pernas e apoiado em meus braços nas laterais de seu corpo. Meu nariz roçava no dela por estarmos tão próximos.
— E o que você está fazendo não é se aproveitar de mim? — ela me respondeu com a sobrancelha erguida.
E era como se eu soubesse, sentisse, mas ignorasse igual a um idiota. tinha aquele algo não identificado, que qualquer coisa que fizesse me fazia vidrar.
— De repente você se tornou tão esperta assim, ?
— De repente eu estou por baixo de você em uma cama. Isso faz coisas com as pessoas, Joonie. — ao ouvir um apelido sair por seus lábios, senti aquele formigamento em meu estômago. O bico que ela fazia ao falar era extremamente fofo. — Você faz coisas comigo.
— E você pode me mostrar? — rocei meu nariz no dela mais uma vez, passando os lábios pelos seus.
se moveu devagar embaixo de mim, mudando nossas posições com minha ajuda. Ela passou a se sentar em meu colo, mostrando-se exposta para mim mais uma vez naquela manhã. Ela era linda. Ela era magnífica. Ela estava sendo minha. E eu me sentia um sortudo.
Suas mãos foram para os meus ombros, passando seus dedos frios e macios pela minha pele, antes de subir para meu pescoço e erguer meu rosto com o indicador para que eu a encarasse. Enquanto eu o fazia, hipnotizado naqueles olhos, agora sombrios, ela iniciou a tortura que eu, em outro momento, reclamaria por receber. não teve escrúpulos nenhum ao rebolar em meu colo da forma como passou a fazer.
Mal havíamos terminado uma e eu queria mais.
Agarrei o cabelo dela sem nenhuma, piedade puxando os fios para que seu pescoço ficasse exposto, apenas passando como eu estava me sentindo, e quando fiz menção de levar meus lábios para aquela região de seu corpo, ela se esquivou. Encarei-a com total confusão, a vendo descer da cama parecendo estar decidida em ir para longe de mim. Talvez eu tivesse feito alguma merda, o que não seria nenhuma novidade.
Acompanhei com o olhar o caminho que ela fez até o banheiro, contei até quarenta e logo a vi retornar. Curiosamente suas mãos estavam atrás do corpo e ela parecia envergonhada.
— Devido à minha incapacidade de pensar direito quando você começa a me encarar dessa forma... Achei coerente usar do pacote que tem no banheiro e lembrar dele antes de, novamente, esquecermos de novo.
riu fraco, parando em minha frente e revelando ter em suas mãos um pacote fechado de camisinhas.
Eu senti meu corpo relaxar; primeiro porque ela não estava repensando nada ou algo do tipo, segundo porque ela estava extremamente adorável com aquele semblante preocupado e terceiro porque estava certa, preservativo existe por inúmeras razões e seria responsável da nossa parte lembrar dele. O que não tinha acontecido nas ocasiões anteriores.
E de maneira nenhuma aquilo tinha cortado nosso clima, pelo contrário. Mesmo que eu estivesse rindo.
— Falando assim não parece a mesma mulher que nem meia hora mais cedo estava gemendo "mais rápido". — brinquei e ela revirou os olhos.
— Vai tirar sarro de mim? — fingiu estar ofendida.
— Eu poderia dizer que não, que na verdade meus planos são tirar sua roupa. — logo abriu um sorriso ladino, parecendo compreender o que eu estava querendo dizer, como se compartilhasse da minha mente. — Mas você já está sem roupa. Não tem o que tirar.
— Você está enganado. — ela se aproximou, voltando para meu colo novamente. — Tem muita coisa para ser tirada aqui. — levou os lábios até os meus, dizendo contra eles: — A começar por essa dúvida sobre como é ser fodida de quatro por você. — e novamente rebolou, me arrancando outro arfar.
Novamente me senti entregue para ela e mal havíamos começado. A única noção que eu tinha sobre ela era que eu queria mais e não só sobre sexo, mas de todo o geral. Sem hesitar.


— Se você continuar com essa cara feita para o celular, eu juro que vou pessoalmente comprar uma passagem para voltar para o Brasil!
Olhei para frente e vi Hoseok sério como nunca. Dentre todos, a feição séria mais assustadora era a dele — até porque era totalmente incomum vê-lo bravo ou algo do tipo, então quando acontecia, se tornava marcante por si só. E o ignorar só fez a situação piorar.
— Mas que inferno, Namjoon. Dá para parar? — repetiu o mesmo tom.
Novamente eu ignorei, enquanto atualizava a página da Dispatch freneticamente. Se a notícia sobre eu e termos algo iria sair, com certeza sairia por lá e eu queria ter noção do que haviam escrito sobre nós.
— O que está acontecendo aqui? — ouvi a voz de Taehyung, sentindo-o sentar ao meu lado.
— Namjoon ainda está na pilha sobre terem visto ele entrar no mesmo carro que uma semana atrás e acha que vai sair alguma coisa na Dispatch. — eu tinha certeza de que Hobi revirou os olhos ao explicar para o outro que havia recém-chegado.
— Ele acha que está sob investigação. — a risada de Suga se fez presente.
Legal, todos estavam conversando sobre mim, comigo ali, sem preceito algum.
— Eu agradeceria se vocês parassem de me zoar em minha frente. — pedi sem tirar os olhos da tela do celular.
— E eu agradeceria se você, ó líder, Kim Namjoon, parasse com essa paranoia e se concentrasse na nossa reunião.
Ergui o rosto, o pedido de Jimin foi um pouco diferente do que estávamos acostumados a ver dele. Sem nenhum tom debochado ou risinho indelicado. Ele realmente estava soando preocupado. E preocupado comigo, que estava ligando para um outro assunto e deixando de lado as questões do BTS pelo decorrer daquela semana.
Ele estava correto, eu era o líder e precisava agir como tal. E esse era o mal de estar focado em algo sobre relacionamentos, eu estava relapso.
— Desculpa, sobre o que estávamos falando? — guardei o celular, passando as mãos no rosto, tirando o óculos para isso.
— A demo de Dimple, terminou de gravar. — Suga me estendeu um headset. — Posso iniciar?
Concordei, colocando o fone sem fio.
A música começou, com aquela melodia tranquila que havia proposto, como se fosse um som crescente — ela gostava desse estilo de música, segundo o que me disse.
Fechei os olhos me lembrando do dia em que cheguei no apartamento, logo quando ela havia se mudado meses antes, e encontrei o papel do que pareciam ser anotações de uma música em cima do balcão da cozinha. O nome estava rabiscado, mas eu consegui ler a palavra "Covinhas" em inglês. A letra era bem autoexplicativa e eu soube que aquela composição havia sido feita para mim.
Não que eu estivesse sendo arrogante. Era um feeling. E, no fim, eu não estava errado.
O dia em que ela me contou sobre como havia desenvolvido tamanho talento para música, desde compor até tocar instrumentos, como piano, e cantar, eu me peguei vidrado em mais um detalhe de . Custei a convencer que aquela música fosse colocada para o mundo inteiro ouvir, levou uns dias para que Suga e Hoseok me ajudassem no mesmo objetivo, até que ela se deu por vencida. Mas a exigência de que o seu nome fosse excluído dos créditos pegou a todos de surpresa. No fim, acabamos por entender.
A música era ótima, na voz dela estava perfeita, apesar de a própria ter traçado que gostaria de ouvir a sua composição trabalhada para a voz de Seokjin. Entretanto, eu não conseguiria me convencer de nada naquele momento.
Poucos dias antes, tinha ido me buscar no aeroporto no nosso retorno da América do Norte. Ela teve a melhor das intenções, eu reconheço, mas não era algo que devia fazer. Obviamente não briguei com ela ou disse qualquer coisa que pudesse feri-la, afinal, ela não tinha como saber exatamente o que e como era ter uma vida exposta em tabloides. E era uma coisa daquele "mais" que estávamos vivendo, que vinha dela, me fazendo controlar e saber lidar um pouco mais com minhas expressões.
O dever de cuidar da minha imagem e, por consequência de tabela, dela também, partia de mim. Não podia colocá-la em nenhuma posição de pressão. Ela era anônima.
— Tá, chega. Você não consegue se concentrar! — Hoseok interrompeu a música, tirando os fones de mim.
— Por Deus, Namjoon! — Taehyung reclamou. — Você já conversou com ela? — me perguntou e eu virei a cadeira em que estava sentado em sua direção, vendo-o cruzar os braços e me encarar com aquela expressão sem vida que ele sabia lançar a qualquer um quando não estava para muitos amigos. Outro que também sabia ser sério quando queria.
— Sobre o que exatamente? — tentei me fazer de desentendido.
Hoseok bufou, se jogando na cadeira em que estava antes. Suga respirou fundo e passou as mãos no rosto. Olhei de um a um, incluindo o tão quieto e recluso Jungkook, sentado no canto do sofá, um tanto amassado por dividir o móvel com Jimin e Taehyung.
— Joon, acontece o seguinte. — Hoseok começou, cruzando os braços na frente do corpo. — Eu sei que você tem toda essa complexidade... Não, deixa eu falar. — me cortou de tentar cortá-lo, erguendo uma mão no ar. — E a gente respeita isso.
— Hobi está sendo bem humilde em dizer que a gente respeita, mas na verdade estamos preocupados. — Suga o cortou. — Porque gostamos de também.
— E se você estiver apaixonado, é totalmente compreensível.
Me virei para Seokjin, o encarando cético. Ele só podia estar brincando comigo ao falar aquilo. Não tinha como eu estar apaixonado por — em minha cabeça, porque em meu coração já era bem provável, só ainda não conseguia perceber.
— Ela te dá atenção, te vê como Namjoon e também te respeita como RM. Se arrisca fazendo coisas por você, sabendo que é bem provável que irá ganhar um sermão.
— Jimin...
— Não, Jin, é hora de falar o que passamos os últimos dias discutindo pelos cantos, escondidos dele. — o maknae me encarou. — Hyung, escuta, de verdade. Não estamos querendo dizer o que você deve ou não fazer, mas para um pouco e observa. O que disso tudo tem sentido para você? Dizer que não está apaixonado, quando você tem medo de que algo aconteça antes mesmo de descobrir essa paixão aí.
— Em outras palavras, você está estragando uma coisa que quer tanto proteger. — Taehyung concluiu. — Olha o Hobi, voltou dos Estados Unidos todo encantado com Lou J e, por Deus, Namjoon, até ele está sabendo lidar com o que sente! Mesmo sendo difícil.
Não, Taehyung, isso, em outras palavras, quer dizer que estou fazendo merda. E para J-Hope e Lou J não seria tão difícil, eles eram do mesmo mundo praticamente. A diferença de cultura seria algo a trabalhar sem muitos problemas, já que nossa sociedade evolui cada vez mais.
Suspirei, absorvendo as palavras que foram ditas, minha mente começando a trabalhar em retrospectiva dos últimos meses. Mas não consegui encontrar algo em específico para compreender aquela conversa.
— Se for te ajudar a sair dessa tela azul, pense um pouco no método que você está usando com .
Cruzei meus braços, olhando para Hoseok mais uma vez. Ele já não estava tão sério, mas parecia irritado ainda.
— Tudo bem você optar por um relacionamento só por sexo. Ninguém tem o direito de te julgar por ser humano. Principalmente tendo o consentimento dela.
— Novamente alguém sendo humilde nas palavras... — Suga rolou os olhos, falando logo depois de Seokjin. — Sejamos honestos, essa palhaçada de contrato é a forma mais absurda de dizer "eu só quero transar e ponto final".
— Mas a ideia era algo que pudesse dar segurança a ela mesmo estando no outro lado do mundo. — tentei argumentar.
— Não, para você era para simbolizar um aviso de "é para ser só isso". Se fosse tratar realmente do que ela queria, começaria por você não tê-la seguido para o banheiro naquele dia. — Seokjin rolou os olhos. Eu logo comecei a achar que eles podiam adquirir isso como parte da coreografia.
Ah, eu me lembrava daquele dia por diversos ângulos. Desde os melhores pela sensação de ter tido pela primeira vez, até chegar na parte em que eu aceitei ter sido um tremendo filho da mãe com ela — para não dizer algo menos decente, se é que eu poderia me chamar de decente ainda.
— E olha só em que pé estamos. — deu de ombros, continuando. — Não, na verdade é você quem está e estamos te vendo em pé nenhum, já que parece estar tropeçando sobre eles.
Ficamos em silêncio. Eles aguardando alguma constatação minha e eu tentando não colapsar com a chuva de informações. Por fim, eles tinham um ponto. Acho que eu precisei ouvir aquilo para começar a cair em mim.
O que eu tentei fazer com ? E por que eu tentei? Quando e onde foi que isso começou? O que era aquele desejo, a tensão e ansiedade por tê-la para mim, como um objeto de posse? Porque buscando em minha cabeça eu só conseguia pensar que ela era minha, não pelo contrato, porque este, definitivamente, era apenas uma mera ilustração no rodapé daquela história. Em algum momento ele chegou a fazer sentido?
Disponibilizar um motorista, lhe deixar com um cartão de crédito sem limite, celular, computador, intérprete para quando quisesse sair e precisasse lidar com o idioma nativo de Seul, e outras coisas que passaram a ter outro sentido para mim quando me dei conta de que o apartamento que escolhi para ela morar ficava afastado de tudo e de todos.
Sendo mais objetivo: eu tranquei numa torre da qual ela só podia sair se eu aprovasse. Então qual era o objetivo de dar a ela tudo aquilo? Para que se sentisse deslumbrada e aceitasse meu convite delicado para ser uma parceira sexual sem nenhuma via de fato afetiva? Porque para usufruir e viver uma vida que não fosse a que eu queria, com certeza não era. Meu medo, minha insegurança e paranoia em descobrirem sobre ela, acabou caindo por terra com tanto cuidado, pois, no fim de tudo, eu estava estragando aquilo de outra forma.
Que merda eu estava fazendo, afinal? Porque observado por todos os ângulos eu só conseguia enxergar que a melhor solução era que ela decidisse por si se desejava ficar ou ir embora. E eu não queria que essa fosse uma opção.
Massageei minhas têmporas, suspirando.
— O que eu tô fazendo? — perguntei em meio a um alento.
— A pergunta não é mais essa. Você tem que pensar agora o que vai fazer daqui para frente. — Jungkook disse se levantando e trocou um breve olhar com Suga. — Eu não quero estar aqui para o que vem a seguir. — se virou para mim já na porta. — Vou ligar para e dizer que tô indo para lá, eu tenho certeza de que ela notou como você está estranho e deve estar se cobrando.
Ele podia dizer de forma mais direta que estava me recriminando. Mas Jungkook ainda permanecia gentil, assim como todos os outros ali.
— Eu vou com você, Kook. — Jimin disse e foi logo atrás, sendo acompanhado por Taehyung.
— Bom, ficamos só nós.
Olhei para Seokjin, ele puxou uma cadeira, ficando mais perto de mim, Hoseok e Suga, na mesa de som daquele estúdio. Os três se encararam por um momento, como se escondessem algum pacto que tivessem feito. Não pude esconder uma irritação crescente, queria estar saindo daquela sala e indo para a cobertura, sentar e conversar com para resolver qualquer coisa que tivesse para ser resolvida. Mas eu sabia que não dava para ser assim, precisava organizar minhas ideias primeiro para entender o que estava sentindo. Errar mais uma vez não era opção.
— Eu e J-Hope ouvimos a demo pelo menos umas mil vezes cada. — Suga começou.
Ele era o mais próximo de , dentre todos, e sei que foi o responsável por descobrir o interesse de em música. Por muitas vezes a vi na BH com ele, escondida de mim — ok, mais uma nota mental de como eu estava sendo idiota. Essa amizade começou quando levei Dimple para eles verem e opinarem, Suga foi o primeiro a dizer que gostaria que produzissem a faixa para o nosso próximo álbum. Eu sabia que havia retornado às atividades com música por causa dele, pelas idas frequentes à BigHit quando se sentia entediada por eu deixá-la sozinha. Com Hoseok foi do mesmo jeito, ela gostava de dançar, então se trancavam nas salas também pelo mesmo motivo. Até porque ela só tinha a nós e, muitas vezes, era só a mim.
E sei que os dois também a alugavam para falar sobre Maya e Louisie, respectivamente.
— E hoje pela manhã recebemos essa mensagem de Steve. — Hoseok deu play no celular e um áudio iniciou.
“Fala, Hobi! Tudo bem por aqui e vocês? Como estão?”, um suspiro e uma pausa, antes de continuar. “Olha, eu ouvi com todo carinho como o Suga me pediu... Para ser bem honesto, a música em si não acho que se encaixe no Neon Future, porém... Olha, Jin e Taehyung ficarão ótimos se vocês produzirem uma base boa, em cima dessa mesmo que já tem do piano. O grave que tem, somado com ele ‘tin tin tin’ ritimado... Remixa, vai ficar incrível com a harmonia das vozes dos dois. Tenho certeza que o que estou falando já deve ter passado pela cabeça de vocês.”
— É o Aoki... — Suga esclareceu, mesmo que não precisasse, enquanto outro áudio começou.
“Agora, Hobi, sobre a voz... Você me perdoa se eu disser que encaminhei para frente essa demo, para pessoas de confiança, claro, e chegou lá do outro lado do mundo?”, eu sabia que Steve estampava em seu rosto um sorriso bobo. “Pois então, Will.I.Am quer conhecer para saber quem é a nova voz que ele mesmo irá apadrinhar, com o meu suporte por aqui! Ele não quer nem um teste, reconheceu a demo bem crua. Então, seja quem for, avisa que Los Angeles a aguarda. E eu mal vejo a hora de conhecê-la e rever vocês.”
Hobi guardou o celular em seu bolso novamente. Eles me encaravam com expectativas.
Dizer que eu soube o que responder de imediato seria mentir e mentir muito feio. Na verdade, como vivia me dizendo, meus “divertidamente” estavam travados, com algo pior que tela azul. E ficou assim por um bom e longo tempo, que na verdade deviam ser segundos.
— Eu falei para eles não fazerem isso. — Seokjin disse. Suga apenas murmurou um “shhh” para ele.
— Não... eu... — fechei os olhos por mais alguns segundos e quando os abri, parecia que o que eu tinha em mente era extremamente certo. — Conta para ela, Suga. Eu não sei de nada e...
— Joon... — Hoseok colocou a mão em meu ombro.
— Não, tá tudo bem, Hobi. — assenti, mais para me convencer, do que o contrário. — Obrigado pelo o que fizeram, não só por ela.
— Somos uma família, Namjoon. Desculpa fazer isso pelas suas costas, mas... — Hobi deixou no ar a interpretação e eu concordei novamente, porém desta vez sem precisar me convencer de nada.
— Fala com ela, Suga. Por favor.
Disse por fim, me levantando e caminhando para a saída da Genius Lab de Min Yoongi.
Eu não queria ser egoísta de colocar para fora o sentimento que me atingiu, a mais pura vontade de que dissesse não a algo que fazia parte da sua essência e crescimento familiar. Queria que me escolhesse mais uma vez e deixasse algo para trás, desde que não fosse para mim aquela despedida que se abria em seu caminho.


Mais um dia de trabalho sendo concluído e eu tinha aquele peso em minha cabeça. tinha aceitado o convite do grande membro do Black Eyed Peas. Ela estava com suas malas, naquele momento, prontas e talvez já estivesse a caminho do aeroporto. Mas para ela, eu ainda não sabia de sua escolha.
Descobri com meus próprios olhos que sua decisão fora tomada da noite para o dia quando apareci no apartamento, depois de dias dando espaço para que ela pensasse, após uma discussão que tivemos porque a encontrei no estúdio de Suga — foi o dia que ele a contou sobre a proposta e ter aquela discussão com ela não passou de uma encenação.
Ela havia hesitado e intencionado para escolher o meu lado. Mesmo que aquele fosse meu desejo real, não queria que desperdiçasse uma chance duplamente de ouro. Não por mim, porque eu havia sido um irresponsável afetivamente com ela e tudo o que mais merecia era poder pensar melhor e longe, para que soubesse enxergar as coisas além daquela dependência que acabou por ter em nós.
Precisava que suas expectativas sobre um nós não existissem. A minha decisão havia sido tomada muito antes de ela sequer aparecer.
Estávamos nos arrumando para ir embora quando ela entrou na sala como um furacão, sem bater, sem pedir para ser anunciada e completamente firme, dona de si. Totalmente diferente da mulher que eu havia conhecido no Brasil e que se mostrava influenciada por meus movimentos. Nem mesmo quando eu enrijeci minha mandíbula por não estar contente de vê-la ali, sendo arriscado qualquer click e tudo o mais, ela não se deixou abalar. Me encarou pela segunda vez, mais incisiva.
Em silêncio, todos saíram, um a um, enquanto eu ajeitava meu cadarço.
Quem observasse aquilo diria que eu estava sendo um idiota com ela, mas eu só não conseguia encará-la novamente. Aquela entrada, aquele semblante e aquelas roupas, tudo só cooperava para que a despedida fosse real. Em meus olhos, era como se eu estivesse soltando sangue ao invés de lágrimas.
E foi como eu descobri que doía. Porque era tarde demais, porque era a mais pura decisão correta a ser tomada por ela, porque eu não a veria e nem gastaria tempo rindo sobre as peculiaridades de nossas personalidades e trejeitos. Doía porque eu escutaria uma música em um álbum do BTS que ela havia composto para mim. Estava doendo porque, naquele momento, erguendo o rosto e a encarando enquanto caminhava automaticamente até a porta, intencionado a trancá-la para o caso de alguém aparecer e interromper o que eu esperava como terminasse aquela conversa, eu recebia uma enxurrada de sentimentos.
O maior deles: aquela paixão, carregando no colo o amor que eu sentia por .
— Você sabe que não pode vir aqui sem me avisar, ... — iniciei com o tom ameno e, pela primeira vez desde que entrou ali, eu a deixei sentir minha tensão apenas pelo tom de voz e o timbre trêmulo ao dizer seu nome.
— Eu não podia esperar e... — percebi que ela buscou o melhor para não ceder ao meu olhar que se tornara incisivo, no famoso modo de inversão de mesas. — Eu imaginei que aqui não seria um lugar que você vá me calar com um sexo estupidamente gostoso. — completou encolhendo os ombros.
Soltei o ar de meus pulmões com tamanho pesar, como se duas bigornas estivessem liberando o espaço. Senti que meu olhar em sua direção estava carregado de tudo o que eu encarava internamente naquele momento, sendo sincero em transparecer a culpa por ele. Se me dissesse que eu era o mal em pessoa, eu ajoelharia naquele momento dizendo “amém”. Ela deu um passo à frente, parecendo estimulada por meu modo estranho.
Em meu estômago, parecia que um pote do Bob Esponja era aberto e de lá saiam milhares de borboletas.
— Você é livre, .
Doeu. Obviamente era doloroso dizer o que eu não queria de fato, enquanto meu corpo gritava outra coisa. Enquanto eu queria vestir a armadura de guerra para lutar por ela, mas em vez disso vestia aquela de autoproteção.
— Não é o que você quer dizer, eu sei. — abraçou a própria cintura.
— O que... — um suspiro e uma mão sendo passada pelos meus fios descoloridos e bem penteados. — Você não entende, , eu sou–
— Você é o líder de um grupo que tem a vida controlada por uma empresa que visa o lucro em cima do uso de cada um destes membros, que inclui você. O que faz de você obrigatoriamente o exemplo de membro para ser seguido. — tentou não soar entediada ao me cortar.
— Não é bem assim também.
— É exatamente assim, Joonie. — desta vez o tédio saiu em seu suspiro. — Só que agora o tempo começou a passar mais rápido e eu não tenho mais certeza se ainda estou nessa frequência.
O pânico se instalou ao perceber que eu não entendi o que ela queria dizer com “estar naquela frequência”. Isso significava que eu descobrir gostar dela era tardio?
— Você diz sobre permanecer com nosso contrato? — sinto o pânico em meu olhar.
— E ainda existe um, Namjoon?
O olhar que lhe foi lançado poderia responder de forma simples.
Não existia contrato, nunca existiu. Não de forma real.
— Nam... — se aproxima mais, ficando a poucos centímetros do meu corpo.
Ergui apenas o olhar e travei a mandíbula, deixando minhas covinhas totalmente aparentes e rígidas, de novo. Meu olhar foi o único a se mover em direção ao seu, para baixo devido aos seus vários centímetros a menos.
— A gente ainda vive em cima de um contrato? Fazemos sexo por um contrato? — perguntou definitivamente. — Eu... Eu ainda sou apenas uma parceira para você usar enquanto não tem sua liberdade da vida a dois?
A última pergunta saiu como um sopro de ar preso e eu senti aquele golpe. Ela parecia hesitar pelo medo do que iria ouvir como resposta. Essa era a minha chance de ser claro sobre algo pela primeira vez.
— Você nunca foi apenas uma parceira, ! — minha voz firme mostrava a honestidade, assim como impulsionava aquele pânico. — Não seja tola. Não existe mais contrato, não existe mais sexo por sexo... Eu amo você, .
Me lembrava de dizer que a amava uma vez, mas havia muito soju envolvido. Por isso, ao ouvir tais palavras novamente, as lágrimas de decepção rolaram por suas bochechas. Cada gota percorrendo um caminho sem a tendência de serem curadas por mim, porque foi nesse momento que minha realidade bateu e eu compreendi que ao fazê-la chorar daquela forma, perdia toda a moral para lhe curar. Nunca passaríamos dessa parte dos dizeres. Em nossa realidade, aquilo tudo era complicado demais para ser verdade.
— A gente pode dar um jeito, não pode?
— Você não sabe o que está me pedindo. — fechei meus olhos e novamente meu peito inflou do ar pesado.
— Eu não estou te pedindo nada, até porque isso te dá a margem de me pedir para desistir de algo que–
— Que você não deve recusar. — meu sorriso trazia a opacidade das palavras, novamente dizendo algo que não queria de fato.
— Nam...
Eu não tive tempo de deixá-la pensar, rodeei meu braço em sua cintura e fiz o curtíssimo espaço entre nós diminuir a zero. Meus lábios foram direto para os seus, sendo obrigado a me curvar para a alcançar devido seu déficit de altura. E o beijo que iniciei foi o gás que as borboletas precisavam para continuar as suas atividades, me lançando um tremendo dedo enorme, como quem diz "viemos para ficar".
E como elas poderiam estar chegando se estava indo embora?
Sem nenhuma exigência, mudei o ritmo do beijo para algo que infundiu o tesão com toda aquela necessidade passional. A outra mão que não segurava em sua cintura e passeava por sua nuca, foi direto para a coxa, o que a deu a ideia de que era a deixa para enlaçar as pernas em meu tronco. E assim o fez, sendo segurada por meus braços. Com um beijo incessante, usando uma de suas mãos para bagunçar os fios loiros completamente macios e a outra em meu ombro, a levei até a parede mais próxima.
E, surpreendentemente, o ritmo dos nossos lábios era harmonioso. Havia todo o tesão comum, mas aquele toque passional não parecia querer ir embora. Eu não queria que fosse e parecia estar em perfeita harmonia comigo, como se compartilhamos dos mesmos pensamentos.
Os meus lábios eram precisos como sempre tentava ser, para aproveitar cada centímetro dela, e agora percorriam toda a extensão de seu pescoço, até chegar na clavícula e voltar para seus lábios que haviam soltado um arfar com gemido. A minha mão segurando em sua cintura era firme e a outra passeava pelo seu rosto. Em um ato surpreendente, separando nossos rostos, cessei o beijo com o polegar em sua bochecha, olhando em seus olhos.
Se alguém me perguntasse o que eu queria doze meses atrás, eu diria que queria aquela mulher em minha cama, em minha banheira, no balcão da cozinha, no sofá e em qualquer outro canto. Para infundir nossos corpos. Eu diria para meus amigos mais íntimos que queria a visão dela sendo minha, mas não por inteira. Com certeza usaria as palavras “foder” e “muito” na mesma frase. Mas isso não seria real, de qualquer forma, mesmo que eu acreditasse fielmente.
Olhando nos olhos dela, deixando-a enxergar a minha dor e o arrependimento — que é o sentimento negativo que mais judia —, senti que ela não era mais a que eu havia conhecido no Brasil. E eu também não era o mesmo Namjoon.
Respirei fundo, sentindo que a dor era maior do que qualquer coisa, porém não maior do que a minha vontade de fazer melhor, mesmo que não houvesse mais esperança.
— Eu quero fazer amor com você pela primeira e última vez, . Posso?

Nova York, 2019
Ela estava linda. Não, melhor, ela era linda. Aquele vestido que eu li em algum lugar ter sido feito sob medida e exclusivamente pelas mãos de Donatella Versace apenas acentuava cada detalhe de seu corpo, de sua pele, toda sua extensão. A elegância de seus passos encantava qualquer um à sua volta naquele tapete vermelho e eu estava ali parado, à mercê da espera para sair daquela absorção do excesso de passado. Ela sorria para as pessoas que encontrava em seu caminho, alheia aos meus olhos direcionados a si, como se eu fosse o caçador e ela a caça — comparação clichê, porém extremamente real. E quando alcançou o último degrau da escadaria coberta pelo tapete vermelho luxuoso, olhou para a multidão deixada para trás enquanto se juntava com Lou J, Taylor Swift e Selena Gomez para uma foto.
Eu sabia que ela estava feliz por dentro, seu sonho de adolescência era um dia poder ser tão próxima delas quanto era fã. Mas eu não sabia mais como estava sua vida além do que via por alto nas manchetes e fofocas por aí, então não tinha como afirmar o que sentia naquele momento, estando no lugar que tanto almejou e sonhou. O seu sorriso podia dizer muitas coisas, assim como muitos outros artistas que viviam no mesmo mundo que nós e usavam sorrisos para omitir. E eu não queria divagar por esse pensamento pessimista, a visão do seu sorriso, de seu olhar brilhante e a risada – que mesmo de longe eu sabia exatamente o som que fazia – estavam me confortando e convencendo do seu status de felicidade. Era assim que eu queria saber de , mais conhecida por mim como a mulher que mais amei em minha vida.
— Namjoon...
Olhei para o lado ao sentir uma mão pousar em meu ombro com um toque leve. Era Hoseok, ele me encarou como quem sabia o que se passava em minha mente e eu apenas neguei com a cabeça voltando meu olhar para a direção em que estava, somente para ver ser abraçada de lado por um homem alto, de fios negros e bem colocados para o lado com o uso de algum gel, no mesmo instante lhe dizendo algo em seu ouvido, tampando a boca para não correr o risco de sofrer leitura labial.
Ela sorriu para ele, assim como sorria para mim quando eu lhe abraçava daquela mesma forma e dizia algo explícito em seu ouvido. Era a forma como eu entendia que ela estava entregue a mim e era minha naquela época passada. Essa lembrança me fez sentir o corpo tremer, como se ela ainda fosse um ímã e cada célula estivesse tentada a se aproximar e dizer para , ajoelhado, que eu não estava sendo nada sem ela.
Ela sorria e eu estava chorando.
O contraste realista.
Tão realista quanto o choque que levei ao me situar daquela cena. Das notícias que eu via e conseguia me torturar lendo, a de que e Byeon Woo-suk assumiram em público um romance recentemente era a que mais havia me atormentado. Sim, eu podia ser chamado de egoísta por isso, mas doía saber que fui tão burro a ponto de deixar a minha felicidade passar por mim para aterrissar no braço de outro. Porém, não estava em condições de reclamar a felicidade de ; se o ator coreano estava lhe dando o que eu fui incapaz de dar, então não haveriam razões exatas para eu ser infeliz. Afinal, amar é isso, não é? Ser feliz pela pessoa, mesmo que ela não esteja com você.
O que eu devia a era isso, no mínimo.
— Namjoon, se concentre. — desta vez era a voz de Suga em meu ouvido, sendo exigente como sempre, porém desta vez correto.
Nossa deixa para caminhar pelo tapete vermelho foi dada e eu deveria sair na frente para que eles me seguissem. Solo americano, idioma principal: inglês. Portanto, o Google tradutor e líder deveria colocar a cara a tapa. Não que eu esteja reclamando, chega a ser divertido até.
Os flashes direcionados a nós não me impediam de manter a cabeça erguida para continuar a observando enquanto podia. Ela estava radiante, parecendo tão completa e no ápice de sua felicidade, com certeza me fazendo questionar se eu seria capaz de dar a ela isso. E quando seu olhar encontrou o meu, o sorriso em seus lábios murchou, como se me ver fosse um soco em seu estômago – ou talvez aquela reação surpresa dela fosse o golpe direto no meu. O sorriso logo voltou e ela se virou para dar atenção ao namorado, aceitando sem hesitar os lábios dele nos seus.
E mais uma vez o contraste da realidade, provando que eu não seria capaz de superar o que não tive coragem de dar a .




Fim... Por hora.



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