Capítulo Único
- Panfleto de recrutamento do Gringotes
Para não existia nada melhor do que férias. Passar horas fazendo absolutamente nada, poder visitar sua família em Nova Iorque, ir á praia, jogar quadribol com seu time amador... Mas, acima de tudo: poder dormir até meio dia. Portanto, não é preciso dizer que a jovem desfazedora de feitiços não ficou nada feliz quando uma coruja invadiu sua pequena quitinete e a acordou com bicadas na cabeça.
– Sai, bicho estúpido... – ela disse com uma voz arrastada enquanto socava o ar para afastar o pássaro.
Esfregou os olhos, ainda grogue, e olhou o relógio na sua parede. Os ponteiros marcavam sete da manhã. olhou para o teto e bufou. Quando voltou seu olhar para baixo, notou um envelope amarelado em seus lençóis. Selando o mesmo, havia um carimbo com o símbolo do Gringotes. Esfregou os olhos mais uma vez, talvez estivesse com a visão turva. Tornou a abrir os olhos e percebeu que não estava imaginando coisas.
Abriu o invólucro com as mãos nervosas. Ainda tinha cinco dias restantes de folga, não deveria estar recebendo nada do trabalho. Poderia ser um aumento? Um bônus! Sorriu satisfeita com essa possibilidade, sua última missão no Peru definitivamente merecia um bônus por todas as complicações que ela tinha enfrentado. Tinha ficado um mês inteiro com a cor de sua pele esverdeada. No entanto, a carta não dizia nada sobre isso.
Sra. ,
Solicitamos urgentemente que se apresente no gabinete da Desfazedora de Feitiços- Chefe na manhã deste mesmo dia. É uma ordem.
Banco Gringotes.
– Simpáticos como sempre – murmurou em voz alta.
Sem escolha, saltou da cama e começou a se trocar. Era melhor que eles tivessem uma boa justificativa para atrapalharem seu perfeito sono de ininterrupto de dez horas seguidas.
aparatou na sala de espera de sua chefe. Tinha demorado mais de uma hora para efetivamente se aprontar, ela não era muito ágil de manhã. Ainda tinha parado para comprar um café no caminho, pediu para que colocassem na conta do trabalho, é claro. Pagar seu precioso café com leite era o mínimo que eles deveriam fazer.
– Você está atrasada – o secretário disse por detrás de sua mesa. – A Sra.Mortem e o outro desfazedor estão á sua espera.
– Outro desfazedor? – perguntou confusa.
– Eu gaguejei? – disse ainda mais grosso.
Duendes. A mulher pensou, revirando seus olhos. Com a mão livre, deu três batidas na porta e a abriu. Tabitha Mortem, sua supervisora, conversava animadamente com um jovem de longos cabelos ruivos. Ela ria de algo que ele tinha falado e seu rosto parecia iluminado com sua presença. Ele estava de costas para a porta, mas assim que se virou pude entender um pouco da animação de Tabitha. Ele não era exatamente muito bonito, mas tinha um ar bastante charmoso, suas roupas chamavam bastante atenção e o sorriso de canto que ele deu ao vê-la a fez derrubar um pouco de café no chão.
– ! – Tabitha sorriu. – Sente-se, por favor!
obedeceu e puxou a cadeira ao lado do bruxo. Queria voltar o mais rápido possível para sua cama, então decidiu ir direto ao ponto.
– A que devo a honra de estar aqui? – brincou irônica.
– Certo, sem enrolações, não é mesmo? – Tabitha recobrou a sua seriedade de sempre. – Infelizmente, , creio que teremos que encurtar suas férias.
sorriu nervosa e franziu as sobrancelhas.
– Como assim? – a jovem bruxa disse e riu como se tivesse ouvido uma piada. – Elabore.
– Semana passada alguns trouxas abriram um dos túneis das Catacumbas de Paris para dar uma festa – a mulher explicou em tom preocupado –, como sempre mexeram com coisas que não deveriam.
já conseguia ver aonde ela queria chegar. Trouxas tinham o talento de descobrir maldições, era uma dor de cabeça para obliviá-los toda vez que isso acontecia, mas isso facilitava o trabalho dos desfazedores. Onde tiver um trouxa azarado, pode ter certeza que tem um tesouro.
– Eles beberam de uma fonte e foram encontrados por policiais, envenenados. – Tabitha retirou de uma gaveta uma capa de um jornal trouxa com uma manchete enorme escrita: ‘’Festa clandestina acaba em tragédia’’. Embaixo dela, uma foto da tal fonte e cinco homens caídos no chão traziam um quê sensacionalista para a matéria.
– Certo, onde isso entra na nossa jurisdição? – indagou.
– Um de nossos fotógrafos se infiltrou para cobrir o espaço – Tabitha disse e puxou outra foto de sua gaveta. A fonte aparecia ampliada nela, agora era possível ler uma inscrição logo acima da grande bacia de pedra. ‘’Illae La Voisin qui volunt visit domina debet bibere a fonte suo‘’.
– Os que desejarem visitar Madame La Voisin devem beber de sua fonte – o bruxo de rabo de cavalo leu em sua voz rouca.
– La Voisin?! – perguntou estarrecida. – Então os boatos são verdade, a bruxa dos venenos realmente escapou da fogueira.
– Acreditamos que a maldição na fonte é uma fachada para sua tumba, que pode guardar artefatos interessantes para o Banco – Tabitha anunciou enquanto acendia um cigarro. – Todos os outros desfazedores estão espalhados pelo mundo em outras missões, como você é a única que estava por aqui, decidi designar essa missão para você.
– Eu tenho duas perguntas – finalizou com um só gole o seu copo de café e sentiu a garganta queimar ao falar suas dúvidas. – Vou ganhar um bônus por isso? E quem é esse daqui?
– Esse é Guilherme – Tabitha disse e logo se corrigiu. – Perdão, esse é Gui Weasley, como prefere ser chamado, nosso mais novo desfazedor de feitiços júnior. Gui vai te acompanhar na missão para observar e aprender.
Essa história só fica cada vez melhor, pensou ironicamente.
– É um prazer, – o jovem apertou sua mão e sorriu.
– O prazer é todo meu – chacoalhou sua mão rapidamente e se virou para Tabitha – Podemos conversar? A sós?
Sem esperar pela resposta de Tabitha, Gui entendeu a deixa e levantou-se.
– Vou tomar um café – anunciou antes de sair, não conseguiu deixar de reparar que ele era extremamente alto, sua cabeça quase batia no batente da porta.
Assim que ele saiu, se virou para a chefe.
– Você interrompeu minhas férias para eu trabalhar de babá? Sério? – perguntou desanimada.
– É uma missão tranquila, vai ser bom ele te acompanhar – Tabitha disse soltando uma baforada de fumaça ao falar. – Queria eu ter a sorte de passar horas em um túnel escuro com ele.
– Credo, Tabitha – a bruxa disse passando a mão pelo seu cabelo curto. – Ele é um feto, você deve estar uns trinta anos à frente dele.
– Ele é só três anos mais novo que você, ok? – Tabitha crispou os lábios e apagou o cigarro no cinzeiro.
– Eu trabalho sozinha – ignorou a última informação e começou a se levantar. – Vou voltar a dormir, me acorde quando tiver uma oferta melhor.
já tinha se levantado, sua mão estava pronta para girar a maçaneta quando algo a fez dar meia volta e se sentar novamente.
– Que tal um bônus de duzentos galeões?
mal podia acreditar que estava passando uma noite de sábado enfiada debaixo da terra quando poderia estar embaixo das cobertas. Acontece, que ela não conseguiu dizer não para Tabitha e seus duzentos galeões. Então, lá estava ela, rodeada de ossos e afundando suas recém compradas botas de couro de dragão pela lama das catacumbas. Ela não estava sozinha, claro. Gui Weasley, o novato, a acompanhava.
– Então, trabalha há quanto tempo como desfazedora? – ele começou a puxar assunto.
olhou para o mapa, ainda faltavam alguns bons metros para chegar na tumba. Um pouco de conversa fiada não seria mal para passar o tempo.
– Cinco anos – ela respondeu.
– Um bom tempo aguentando os duendes – Gui disse e ela riu.
– Você se acostuma – admitiu. – O que te traz aqui? Bom, não aqui obviamente, mas no Gringotes...
Ela se atrapalhou, estava um pouco nervosa com sua presença ali, não tinha o costume de compartilhar missões.
– Comecei a me interessar pelo trabalho ainda em Hogwarts, ano passado fiz minhas provas finais focado em conseguir notas suficientes para o cargo e quando descobri que estavam contratando...Por Merlin, devo ter mandado cinquenta vezes meu currículo. Acho que ganhei a vaga pela insistência.
Os dois riram juntos. Ele era bastante simpático, percebeu que conversar com ele não era lá um grande sacrifício.
– Como sua família lidou com a sua escolha de carreira? – ele perguntou.
– Minha família nunca foi muito fã de trabalho de escritório – explicou. – Meus pais são aurores, meus tios também e minha avó é dragonologista. Acho que trabalhos que requerem adrenalina fazem parte da minha linhagem, eles ficaram bem animados. A única coisa que eles não gostam é de estar tão longe de mim, eles moram nos Estados Unidos.
– Entendo, deve ser difícil morar assim tão longe da família – Gui disse pensativo. – Minha mãe surtou um pouco quando eu disse que queria ser desfazedor de feitiços. Ela é... bem protetora, ainda mais eu sendo o mais velho de seis irmãos.
– Seis irmãos?! – perguntou atônita – Uau, eu mal conseguia me dar bem com uma só, imagine seis.
– A gente tem uma convivência boa – Gui ressaltou. – Na medida do possível...Posso te fazer uma pergunta indiscreta?
assentiu, já imaginava qual seria a tal pergunta.
– Essa mancha no seu rosto... É uma cicatriz de alguma missão?
– Não, eu sempre a tive – a bruxa disse e involuntariamente levou a mão a marca de nascença vinho que cobria parte de seu olho direito e um pouco da bochecha.
– É bonita, única até – Gui disse e agradeceu pelo escuro esconder o rubor de suas bochechas.
– Obrigada – ela disse baixinho, não costumavam elogiar sua marca com frequência.
iluminou o mapa mais uma vez e parou.
– Chegamos – anunciou.
Mais a frente podia se ouvir o barulho da pequena fonte.
– Pode repetir mais uma vez o objetivo da missão, Sr.Weasley? – pediu pela milésima vez, segundo Tabitha ela deveria testá-lo o tempo inteiro.
– Desfazer a maldição da fonte, abrir a tumba de Catherine Monvoisin, mais conhecida como a Madame La Voisin, e recuperar o potente veneno encomendado pela Madame de Montespan para matar seu amante, o rei Luís XIV...
– Ótimo, você decorou bem o arquivo que te mandei – disse satisfeita. – Exceto, que o veneno em questão foi, na verdade, encomendado pelo Gringotes.
– Isso não estava no arquivo – Gui retrucou.
– A maioria dos detalhes que cercam o nosso trabalho não está nos arquivos – disse iluminado seu rosto. – Dica preciosa pra você.
Gui assentiu e continuou a falar.
– Você sabe por que aqueles garotos quase morreram por beber da fonte? – questionou com um ar de mistério.
– Porque são trouxas? – Gui arriscou.
– Porque a água estava envenenada – revelou. – Quando La Voisin escreveu na tumba que aqueles que quiserem encontra-la devem beber da fonte, ela quis dizer...
– Que eles também deveriam morrer – Gui completou confuso – Só mortos poderiam encontrá-la de fato.
– Exato – disse orgulhosa.
– Por que ela faria isso? – Gui perguntou.
– La Voisin não era muito boazinha e odiava compartilhar seus segredos – disse iluminando a fonte com a varinha. – Ela queria matar qualquer um que tentasse descobri-los, mesmo depois de morta.
– Bom, se não é bebendo da água que vamos conseguir entrar...Como vamos fazer para abrir a tumba?
– Nós quebramos a maldição – disse com um sorriso de orelha a orelha.
Essa era a parte mais empolgante do trabalho para . Por mais fácil que fosse quebrar a maldição dessa vez, de acordo com o arquivo. A bruxa retirou um frasco do bolso, um líquido amarelado e viscoso se agitava dentro dele. Ergueu o vidro no ar para que Gui enxergasse, ele era terrivelmente mais alto que ela.
– Tiramos uma cópia do relatório que os curandeiros trouxas fizeram das vítimas – disse abrindo o vidro – A água da fonte tem uma mistura de venenos, que se ingeridos podem dar um resultado não tão bom...
– Nossos amigos trouxas hospitalizados que o digam – Gui pontuou.
– Neutralizando a ação dos venenos mais letais, nós tornamos a água própria para consumo – continuou.
– E se bebemos a água e ficamos vivos...Nós burlamos a finalidade da maldição? – Gui indagou.
– Exatamente – disse e despejou o conteúdo do vidrinho na fonte. – Tive que cobrar um favor pra conseguir essa poção, espero que dê certo.
A água borbulhou em resposta ao líquido. foi a primeira a beber da fonte, fez uma concha com as duas mãos e sorveu a água. Gui se juntou a ela, a ponta de seu rabo de cavalo roçando na água da fonte. Os dois se afastaram e esperaram que algo acontecesse.
De repente, o túnel da catacumba se iluminou. Uma forte luz emergiu do tanque. pegou Gui pela mão e gritou um feitiço de proteção sobre eles. Após, o que pareceram ser alguns minutos, o clarão se extinguiu e eles ficaram imersos na escuridão mais uma vez.
– Uau – Gui disse, os olhos arregalados.
– Nem sempre é tão fácil assim – soltou a mão do bruxo e caminhou até onde momentos atrás o objeto amaldiçoado permanecia, agora uma passagem estreita estava em seu lugar.
A bruxa entrou na fenda recém aberta sem hesitar. Quando percebeu que Gui não a estava seguindo, gritou:
– Você vem ou não?
Mas não obteve resposta.
– Gui?
A mulher empunhou a varinha e andou devagar até a abertura. Não ficou nada feliz com o que encontrou. Dois homens estavam ao lado do desfazedor novato, um deles apontava a varinha para seu pescoço. O outro sorria com escárnio para ela.
– Muito obrigado por quebrar a maldição.
xingou baixinho. Estava tão ocupada conversando com Gui pelo caminho que não percebeu que estavam sendo seguidos. Outra coisa que nunca aparecia nos arquivos de casos, mas que aprendeu a duras penas e aparentemente tinha se esquecido naquele dia: nunca pense que é a única a estar procurando um tesouro.
– Como é possível você estar tão calma?! – Gui sussurrou para , o desespero era nítido em sua voz.
o ignorou e continuou andando. Ela tinha um plano, por isso estava calma. Mas, não podia dizer isso em voz alta para o ex-aluno de Hogwarts. Os dois homens tinham amarrado suas mãos e tomado suas varinhas, os obrigando a andar pelo corredor escuro da tumba. Pela conversa dos dois, obviamente eram mão de obra. Caçadores de recompensa. Alguém devia ter vazado a informação sobre a tumba. Espiões filhos da puta, pensou. Se ela um dia botasse as mãos no culpado...
– Quando vi, pensei que eram dois caras – um dos capangas, o mais baixo e loiro disse.
– Devia deixar o cabelo crescer, boneca – o outro disse. inspirou fundo, comentários como esse eram frequentes e ela já tinha virado mestra em ignora-los.
Chegaram até uma sala iluminada por tochas de fogo fátuo. A tumba de Catherine era o destaque do espaço, no centro do cômodo. Prateleiras e mais prateleiras se erguiam pela sala, repletas de frascos de todas as cores. Um dos caçadores os empurrou para o chão e passou uma corda pelos dois. Estavam presos um ao outro.
– E agora? – o capanga alto e de cabelo escuro perguntou para o loiro.
– O patrão quer tudo, pode encher esse saco que eu encho esse outro – o bruxo respondeu, entregando um saco de lona para o colega.
Do lado oposto da sala, Gui se remexia nervoso.
– Nós vamos deixa-los roubar os venenos? – Gui indagou mais uma vez com incredulidade.
– Gui, preciso que você escute bem o que eu vou falar – disse baixinho perto de sua orelha. – Perto do meu bolso direito tem uma faca, pegue e corte a corda.
– Essa corda não parece ser comum – Gui disse notando que a corda cintilava.
– Minha faca também não é – disse sem paciência. – Nós não temos muito tempo.
Gui fez o que a parceira pediu, seus dedos logo alcançou a bainha da faca e ele começou a cerrar a corda de suas mãos. Em questão de segundos, estavam os dois com as mãos livres. tomou a faca do ruivo e cortou a outra corda que os envolvia. Weasley já ia se levantar, mas ela o impediu.
– Agora não.
– Como assim ‘’agora não’’? Agora sim, cacete – Gui disse enervado.
suspirou e estava pronta para dar um pequeno sermão sobre ele confiar nela, mas não precisou. Horrorizado, o homem loiro chamou o companheiro.
– Bernard...
– Estou contando os frascos, Vikander – ele respondeu irritado, provavelmente tinha perdido a conta.
– BERNARD! – Vikander gritou desesperado.
– O que é qu... – Bernard parou no meio da frase ao ver o porquê de seu amigo estar tão desesperado.
O saco de lona de Vikander tinha se desintegrado, mas isso não era o mais curioso. A mão do bruxo das trevas tinha perdido toda a carne, sua estrutura óssea estava a mostra. Uma gosma preta se espalhou pelo corpo do homem, devorando toda a carne que via pela frente. Os gritos de Vikander deram lugar ao som de sua ossada caindo no chão junto de suas roupas.
– Vik... – Bernard murmurou chocado. Então, uma expressão de horror tomou seu rosto. Seu braço começara a desintegrar também, a gosma se alastrando por seu corpo. Um grito enfurecido saiu de sua garganta e ele correu na direção de . Chegou a levantar a varinha, mas não finalizou o feitiço. A poucos passos da desfazedora, seus restos mortais caíram no chão com um estampido.
e Gui, finalmente, se levantaram.
– Mais um ensinamento pra você: sempre espere por uma segunda maldição – disse com um sorriso e uma expressão de ‘’eu te avisei’’.
– Desculpe – Gui disse arrependido. – Não queria falar com você daquela forma, eu...Fiquei com medo.
– Tudo bem, é natural – deu de ombros. – Mas, se você quer ser um bom desfazedor de feitiços, precisa aprender a controlar suas emoções.
Gui assentiu envergonhado, fios de seu longo cabelo grudavam na sua testa suada. mexeu com certo desgosto nos restos dos caçadores de recompensa, recolhendo suas varinhas.
– Agora, me ajude a levantar o túmulo dela – a mulher pediu.
O bruxo deu uma gargalhada alta que ecoou pelos túneis.
– Gui, eu estou falando sério.
– Mas e se tiver mais uma maldição? – o bruxo ficou limpou a garganta e parou de rir.
– Pode ter certeza que se La Voisin tivesse lançado um terceiro feitiço nesse caixão de pedra, nossos dois amiguinhos já teriam sentido os efeitos – ela apontou para os ossos de Vikander e Bernard.
Gui concordou e se juntou a ela para empurrar a tampa rochosa da tumba. Com muito esforço, conseguiram afastar parte do caixão, revelando o que tinha restado de Catherine. Seu esqueleto se agarrava a uma caixa estofada em couro. a pegou com cuidado e os dois tornaram a fechar a tampa. Ao abrir a caixa, encontrou nove frascos cuidadosamente separados por nomes. Todos os venenos e as suas poções mortais mais famosas estavam ali.
– Mais alguma lição? – Gui perguntou, o sorriso de canto se fazendo presente em seu rosto.
riu, umedeceu os lábios e se aproximou do ruivo. Seus rostos estavam a centímetros de distância.
– Se for fazer uma missão conjunta – olhou fundo em seus olhos. – Confie na porra do seu parceiro.
Quando desaparataram em frente ao Gringotes, o céu alaranjado já dava sinais de que o nascer do Sol estava próximo. Não demoraram muito para registrar a caixa no sistema do banco. Tabitha ficou animadíssima ao saber do sucesso da operação e deu o merecido bônus que tanto esperava. ensinou a Gui como fazer o relatório exigido pelos duendes para cada missão, ele aprendia rápido e não desgrudava os olhos castanhos dela.
– Pronto, agora é só carimbar – bateu os papéis na mesa do escritório de Tabitha.
– Perfeito! – Tabitha bateu palmas e carimbou os papéis com seu selo de supervisora. – O Gringotes agradece pelos seus serviços, queridos.
Caminharam juntos em silêncio até a porta do banco. O barulho dos duendes digitando em suas máquinas de escrever e das moedas tilintando já tinha se tornado um som reconfortante para . Porém, ela esperava que por pelo menos mais três dias, ela não precisasse ouvir tão cedo estes sons.
– Meu apartamento fica por ali – apontou para a rua paralela ao prédio que tinham acabado de sair.
– É caminho pra mim – Gui sorriu. – Posso te acompanhar?
– Claro – deu de ombros.
O percurso até sua casa não demorava mais de quinze minutos, mas com o bruxo de companhia o tempo dobrou. Conversar com Gui era fácil, ele sabia quando deixar um assunto morrer e parecia ter sempre uma história diferente para introduzir outro. ria, aquele tipo de risada a ponto de mal conseguir emitir som, com seus causos do tempo de escola. Ele fez imitações tão reais dos duendes que ela chorou de rir. Admitiu para si mesma que ficou desapontada quando finalmente chegaram até o prédio antigo de tintura verde descascada onde ela morava.
– Bom, é aqui que eu fico – ela anunciou com as mãos nos bolsos do casaco, tinha subido dois degraus da entrada do edifício, conseguia olhar em seus olhos sem ter que levantar a cabeça. – Foi bom ter minha vida ameaçada por bruxos das trevas com você.
Gui riu com gosto, a cabeça se inclinando para trás.
– Também achei ótimo ter sido ameaçado de morte junto a você.
– Devíamos fazer isso mais vezes – soltou e se arrependeu na hora, sua impulsividade era uma merda.
– Sim, devíamos – Gui reiterou, retribuindo seu olhar.
Os dois ficaram ali se olhando por um tempo constrangedor para quem olhasse de fora. Então, pega de surpresa, sentiu os lábios de Gui contra os dela. Seus olhos se fecharam e suas mãos acariciaram o cabelo macio do ruivo. Suas costas bateram contra a coluna que sustentava a entrada da porta, os longos braços do bruxo envolvendo seu corpo. Gui cortou o beijo por um momento. Os dois suspirando sem ar.
– Acho que você deveria subir comigo – disse tentando manter o máximo de compostura possível que se pode ter ao se beijar um mais novo colega de trabalho.
– Você acha? – Gui sorriu, o olhar alternando entre sua boca e seus olhos.
– Eu tenho certeza.
buscou a chave com urgência, destrancou a porta e puxou o colega para dentro do prédio verde. Gui e ela pareciam dois adolescentes, rindo e correndo aos tropeços pela escada da portaria. No fim, os duzentos galeões não tinham sido o único bônus daquela missão.
FIM
Nota da autora: Minha primeira oneshot da vida! Espero que tenham gostado! Essa história é só uma pequena amostra da long que pretendo escrever sobre esses dois ;) Bebam água, usem máscara e leiam fanfics <3