The Keeper II

Última atualização: 27/02/2024

Prólogo

Thomas Blake encarou seu reflexo no espelho observando sua vestimenta preta, passou a mão pelos botões de veludo de seu paletó, seus dedos um pouco trêmulos. Ele respirou profundamente por alguns momentos, esvaziando seus pensamentos, apoderando-se de suas emoções. Um dos principais fundamentos de um bom legilimente era o controle de seus sentimentos. Naquela noite, mais do que outras, Blake esperava perfeição de si mesmo.
Passara os últimos meses se preparando para receber a Marca Negra – teve que passar por lições intermináveis sobre a supremacia bruxa – de como identificar nascidos trouxas, como aplicar eficientemente técnicas de tortura e interceptar mensagens de inimigos. No seu íntimo, ele tinha medo de não ser forte o bastante, de acabar se transformando nessa versão que tanto abominava.
Na calada da noite, sempre com o maior cuidado, ele e sua mãe treinavam oclumência em uma tentativa de esconder a real razão pela qual eles estavam ali. Seu estômago contorceu-se em um nó, e ele sentiu o gosto de biles invadir a sua boca. Blake fechou os olhos concentrando-se, seus ombros pesados. Se encarou mais uma vez no espelho como se buscasse por respostas, como se suas feições tão parecidas com as de seu pai verdadeiro, pudessem lhe dar pistas de como suportar algo tão atroz.
Regulus Black morrera como um espião, tentando proteger quem mais amava no mundo, sua mulher e seu bebê ainda por nascer. Thomas rangeu os dentes realmente se questionando se tinha o que era necessário para seguir em frente. A situação de seu predicamento parecia o sufocar. Em um breve momento de clareza, ele teve sua resposta. Seu pai se sacrificou por amor. E ele estava prestes a fazer o mesmo. Suas similaridades inquestionáveis. O rosto sorridente de preencheu seus pensamentos, e ele fechou os olhos, deixando-se perder em seus olhos castanhos por um momento.
- Querido? - a mãe de Blake chamou no batente da porta. – Está na hora.
A matriarca vestia uma expressão que ele nunca vira em seu rosto.
Os dois saíram da casa dos Hamptons onde estiveram hospedados pelos últimos três meses e seguiram a trilha por trás da mansão floresta adentro. O silêncio sepulcral não assustou o bruxo, ele caminhou com passos confiantes, o braço de sua mãe enroscado delicadamente no seu.
Eles caminharam alguns minutos até se depararem com uma clareira no centro da mata. Um grande círculo composto de pessoas com vestimentas pretas e chapéus pontiagudos os aguardava. Cada um deles segurava uma tocha fumegante de fogo verde. Blake sentiu sua mãe soltar uma lamúria quase que imperceptível como se estivesse conduzindo seu filho direto para a morte, e de certa forma, talvez estivesse. O homem, no entanto, não desviou os seus olhos das figuras que com certeza o encaravam debaixo de suas máscaras monstruosas e prateadas.
Ele também não ficou comovido ao perceber que no centro jaziam meia dúzia de corpos, suas expressões de terror denunciavam o trauma sofrido por eles antes de seu falecimento. Blake fez toda a força para que conseguisse controlar sua ânsia, colocou as mãos para trás para disfarçar o quão estavam trêmulas. Os corpos dos trouxas estavam decapitados, seus membros superiores foram substituídos pelos inferiores, suas entranhas penduradas em seu torço, grandes tarântulas saindo de suas bocas. Blake quis gritar horrorizado pela visão de seus corpos mutilados, mas manteve seu olhar fixo ao centro na sua frente sem nem ousar alterar o ritmo de sua respiração.
Sua mãe soltou seu braço devagar e ele caminhou para o centro sozinho, os corpos dos trouxas aos seus pés, o sangue derramado entrando em contato com seus pés descalços, e ele sentiu a náusea o invadir mais uma vez. Naquele momento, ele fez um juramento: de que todos eles pagariam por sua perversidade.
Um rosto conhecido saiu do círculo que o rodeava e juntou-se lentamente ao seu lado. Luke demonstrava um contentamento sádico. Blake desviou os olhos do bruxo, fixando seus olhos para a floresta adiante, um gesto minúsculo, mas que não passou despercebido pelo outro.
Hampton abriu um novo sorriso cheio de malícia pensando em como Thomas Blake era fraco e nada digno de sua linhagem milenar puro sangue. Luke se aproximou dos corpos dos trouxas, os observando com apreciação, feito um artista que observava sua obra. Ele empurrou a cabeça de um dos corpos, mais tarântulas saindo da boca do trouxa. Os aracnídeos tinham sido sua ideia, uma mensagem simples, mas eficiente para seu receptor. Blake não reagiu, mas Luke teve certeza de que ele entendera sua mensagem, afinal, um passo em falso e terminaria exatamente como eles.
Em um movimento discreto com a varinha, ele decidiu explorar os pensamentos de seu oponente, mas se deparou com uma muralha fortificada. Luke franziu o cenho tentando encontrar alguma falha em sua fortaleza. Foi a vez de Blake encará-lo com um sorriso sarcástico, mas seu sorriso logo se desfez quando ele percebeu um movimento, uma sombra percorrendo a parte mais densa da floresta.
Ele apertou os olhos tentando enxergar alguma coisa para além da escuridão, mas não conseguia acompanhar a velocidade da criatura. Compreendeu que o quer que aquilo fosse estava correndo em círculos como se fosse um predador em busca de sua presa. Blake concentrou-se para manter a calma, seus batimentos cardíacos acelerados, seus instintos anunciando o perigo iminente.
Seus olhos escanearam mais uma vez a paisagem à sua frente se deparando com dois olhos vermelhos ofídicos brilhando no meio da mata densa. Todos os outros presentes começaram a bater suas tochas no chão formando um grande coro rítmico. As sombras deram lugar a um homem de carne e osso. Se é que Blake poderia descrevê-lo assim. Suas feições o lembravam de uma serpente venenosa. Uma espécie de homem e criatura coexistindo no mesmo corpo físico.
O barulho cessou instantaneamente quando o homem levantou as mãos como se estivesse reconhecendo a plateia pela primeira vez. Nesse momento, ele e Luke se curvaram em sua presença como foram orientados, em sinal de profundo respeito e júbilo
- Luke Hampton – a voz de serpente de Voldemort sibilou na floresta – Levante-se e receba a maior honra que um bruxo puro sangue pode receber.
O homem se levantou com altivez caminhando com passos confiantes em direção ao bruxo. Ele olhou ao redor buscando o rosto do pai entre os outros Comensais da Morte e recebeu um aceno de aprovação. Blake continuou curvado, seus olhos fixos no chão.
- Eu, Luke Hampton, juro solenemente servir ao Lord das Trevas, lutar pela supremacia dos bruxos e pela completa subjugação de trouxas e mestiços.
- Se divulgar os segredos do Lord das Trevas, será julgado e sofrerá o castigo como traidor, que é a morte! - todos os outros gritaram em um uníssono.
Luke abriu os botões de sua manga esquerda e esticou o braço em direção ao Lord das Trevas. Voldemort encostou sua varinha de osso em sua pele pálida e um desenho pontilhado começou a ser marcado em forma de tatuagem em sua pele. O processo não era simples nem rápido, e muito doloroso, o feitiço pontilhava vagarosamente o desenho feito uma agulha. Blake pode observar o sangue de Luke gotejando na grama ao seu lado.
Blake se manteve calmo, seu coração batendo na mesma frequência, quando chegou sua vez, não havia traço de hesitação em seu rosto. Ele precisaria deixar Thomas Blake morrer para se tornar Thomas Black - herdeiro da casa Black e servo do Lord das Trevas.
Voldemort estudou suas feições por um instante como se buscasse semelhanças com a de seu falecido servo.
- Eu, Thomas Blake, juro solenemente servir ao Lord das Trevas, lutar pela supremacia dos bruxos e pela completa subjugação de trouxas e mestiços.
- Se divulgar os segredos do Lord das Trevas, será julgado e sofrerá o castigo como traidor, que é a morte - todos os outros gritaram mais uma vez selando seu destino. Thomas Blake desabotoou sua manga esquerda e esticou o braço para que Voldemort finalizasse o ritual. A dor era inimaginável, mas o bruxo se manteve tranquilo, controlando seus batimentos, e preenchendo seus pensamentos com tudo o que Voldemort desejava ver. Quando finalmente terminou, Blake admirou a serpente e caveira agora incrustada em sua pele, alterando para sempre o curso de sua vida.
- Vocês não são mais indivíduos, são agora parte de uma unidade maior. Uma unidade que não hesita em eliminar qualquer obstáculo em seu caminho - Blake retrocedeu seus passos participando agora do círculo com os demais.
- Nós estamos prontos para lutar pela grandeza do sangue puro, pela supremacia dos bruxos, pela completa subjugação dos trouxas e mestiços. Nós desejamos impor nossa vontade sobre todos que são inferiores a nós – todos repetiram em uníssono. Blake levantou sua varinha para o alto e junto com os outros desenhou uma Marca Negra no céu.




Continua...



Nota da autora: É bom estar de volta! Eu queria escrever a continuação de The Keeper logo que terminei a primeira parte, mas muita coisa aconteceu nesse meio tempo e esse projeto ficou engavetado por muito tempo. Espero que você goste da continuação!
Um beijo,
Di

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