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31 DE JULHO DE 1989 – RESIDÊNCIA STARK


Mesmo estando no meio do verão, aquele dia estava mais quente que o normal, e a sensação de calor que a mulher sentia apenas piorava a cada passo apressado que dava. Como temia que alguém as reconhecesse, ela tinha os cabelos escondido por de baixo de uma touca, e um par de grandes óculos escuros que cobria boa parte de seu rosto. A criança em seus braços estava envolvida na coberta mais fina que encontrara, com seu delicado rosto completamente escondido, estando incaracteristicamente quieta demais, e no fundo a mulher agradecia por isso. Elas já estavam atraindo atenção demais, se a criança ainda começasse a chorar, aí que não passariam despercebidas.
Não havia sido nenhum sacrifício entrar na residência dos Stark: por ter trabalhado um bom tempo com Howard, a maioria dos empregados ainda se lembrava dela, rapidamente permitindo sua entrada, principalmente depois de notar que o embrulho que carregava nos braços em alguns momentos se mexia e ocasionalmente resmungava. Todos logo entendiam que sua visita era problema, só não imaginavam quanto.
- Srtª Smith – cumprimentou-a Jarvis, depois de abrir a porta para que ela entrasse na sala – Pode se sentar, o Sr. Stark já está descendo.
- Obrigada, Jarvis, mas prefiro esperar em pé – sorriu ela para o homem, que apenas assentiu e deixou o ambiente.
Não demorou muito para que Howard e sua esposa aparecessem no topo da escada, ambos com olhares apreensivos em sua direção. Como se reconhecendo a presença dos avós, o bebê nos braços de Lauren resmungou alto, tentando a qualquer custo afastar o tecido que cobria sua cabeça. Howard queria quebrar alguma coisa, talvez o pescoço de seu filho. Há quase um ano que não via aquela garota que tanto lhe ajudara no período que trabalhara para ele, e agora ela voltava com uma criança nos braços, quando ele sabia que Anthony havia desacatado sua ordem e se envolvido com a garota.
- Sr. Stark... – sussurrou ela com a voz falha quando o homem se aproximou com sua esposa em seu encalço – Sra. Maria.
- Lauren... – sorriu a mulher mais velha, que tentava disfarçar sua apreensão, diferente de seu marido – É bom te ver novamente.
- Você sempre foi tão gentil – comentou a garota, pigarreando em seguida para tentar fazer com que sua voz demonstrasse alguma firmeza – Eu não queria ter que voltar aqui.
- Esse... Esse bebê...? – começou Howard, tentando controlar sua vontade de gritar.
- Eu não queria causar problemas, queria criar ela bem longe daqui, mas... – os olhos de Lauren adquiram uma tonalidade leve de vermelho enquanto algumas lágrimas se formavam. Ela se sentia inútil. Havia colocado a criança no mundo e agora não era capaz de protegê-la, havia falhado com alguém que sequer conseguia ainda entender o conceito de falha – Eu não consigo.
- Ela?
– repetiu Maria, em um estado muito semelhante ao da garota, levando as mãos à boca, embora suas lágrimas tivessem um motivo diferente – É uma garota?
- Eu nunca quis entregar ela, mas...
- Entregar? – estranhou Howard, com sua voz potente ecoando pela ampla sala e surpreendendo as duas mulheres – O que você está falando, Lauren? O que você quer com essa visita?
Lauren teve que respirar fundo e mais uma vez tentar se convencer de que aquele homem não estava irritado apenas com ela, e sim mais essencialmente com seu próprio filho. Embora tivesse trabalhado por um tempo considerável nas Indústrias Stark e presenciado momentos em que Howard se exaltava com algum subordinado, nunca ela fora o alvo, e agora se via levemente sem saber o que fazer.
- Eu nunca contei a ninguém quem ela era, mas alguém sabe, e está me ameaçando – disse a garota, arriscando um rápido olhar para a garotinha que esticava a mãos para tocar seu rosto, molhando seus pequenos dedos com as lágrimas que Lauren já não tinha mais controle – Ameaçando o bebê.
- Ameaçando? – repetiu Maria, protetoramente se adiantando para a jovem. Enquanto um braço passou por de trás dos ombros trêmulos de Lauren, a outra mão seguiu para a cabeça agora descoberta do bebê, afagando os poucos fios de um tom de castanho escuro.
- Cartas exigindo que eu a entregue, meu apartamento sendo invadido, uma tentativa de assalto alguns dias atrás... – enumerou a jovem, apertando inconscientemente a criança em seus braços, como se os perigos já passados pudessem retornar a qualquer instante – Alguém sabe que ela é uma Stark. E se ela continuar comigo, tenho medo de que eles vão conseguir pegá-la.
- Por que fariam isso? – indagou Howard, cruzando os braços. Não queria admitir, mas em um passado não muito distante confiava plenamente naquela garota, só que agora ela parecia outra pessoa. Aquela postura não combinava com a imagem forte que tinha de Lauren, e aquela história estava muito mal contada.
- Eu não sei e nem quero imaginar... Deixar ela com vocês é o máximo de segurança que eu consigo imaginar.
- Você está abandonando a criança?! Até onde sabemos você pode estar inventando isso tudo – acusou o homem, sem mais conseguir se controlar. Não queria desconfiar da garota, mas não tinha outra escolha. Desde que seu filho começara a se mostrar nada mais do que um playboy que cenários como aquele perturbavam o seu sono, por isso ele pensava estar preparado. Só nunca imaginara que a mulher que tentaria aquele golpe seria alguém em que ele vira um futuro tão brilhante – Ela pode nem ser filha do Anthony.
- Howard!
- Vocês podem fazer teste de DNA, apenas a protejam, por favor – pediu Lauren, se virando de frente para Maria, que não hesitou em pegar a criança nos braços – Ela não tem culpa de nada. Ela não merece nada disso.
- Você vai deixar ela conosco e apenas ir embora? – murmurou a mais velha, também cedendo às lágrimas. Maria sabia muito bem como era difícil se separar de um filho, ainda mais quando tão pequeno, e seu peito doía em compaixão pela garota – Vai abandonar a sua filha?
- Ela ficar comigo é perigoso – Lauren forçou as palavras a saírem, finalmente conseguindo se desvincular do cobertor do bebê, se sentindo vazia sem tê-la em seus braços – Tenho que pensar no que é melhor para ela.
- No que você se meteu, Lauren? – questionou Howard, de repente abandonando suas teorias de golpe. A garota não estava pedindo nada, ela estava fugindo – Está tudo muito mal contado.
- Ela não tem culpa nenhuma, senhor. Proteja-a por mim.
Lauren girou os calcanhares para deixar a casa, mas parou ao ouvir uma pergunta inocente de Maria.
- Qual o nome dela, Laur?
- Ela não tem um – respondeu a garota, de costas para o casal – Sei que vão escolher um bonito para combinar com o nome da família.
- Ela parece ter uns três meses, Lauren – insistiu a mulher – Você não a chama por nenhum nome?
- Dominik – sussurrou a garota, se virando para os dois com um sorriso triste – Mas, por favor, não quero que a chamem assim. Talvez esse nome que trouxe má sorte. Ela merece um novo nome, um novo começo.
Lauren estava prestes a sair da casa pela última vez quando congelou ao som de uma voz conhecida que há muito não ouvia, mas que sua memória não lhe deixara esquecer. Estavam no meio das férias de verão, mas ela tinha esperança de não encontrar o jovem Stark naquela visita. Não queria vê-lo novamente, ainda mais da forma que estava mudando a vida do playboy. Era uma responsabilidade grande demais para o garoto, algo que ela sequer saberia dizer se ele teria algum dia. Porém, embora ainda se esforçasse para acreditar naquilo, era ao lado do pai que sua filha tinha as melhores chances.
- Jarvis me disse que a grande Lauren Smith estava de volta, e eu tinha que ver com meus próprios olhos – anunciou Tony alto, enquanto descia as escadas com um sorriso travesso nos lábios – A garota que recusou trabalhar nas Industr... Isso é um bebê?
Lauren assistiu a expressão de Tony sair da provocação para confusão, não demorando muito para que os questionamentos ficassem óbvios em seus olhos escuros.
- Apenas cuidem bem dela, por favor – foi a última coisa que Lauren disse antes de correr para fora da casa, ignorando as perguntas dos empregados que encontrara no caminho sobre o tal bebê.
- Maria, vá lá para cima com a criança... – ordenou Howard – Eu preciso conversar com Anthony.

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Tony estava há mais de meia hora encostado no batente da porta de seu antigo quarto, o quarto que havia sido preparado às pressas para abrigar a tal criança que aparentemente ele tinha feito. Depois de um dia inteiro naquela casa, ele já sabia que aquela criança tinha algo contra longos períodos de silêncio, e começava a associar aquela quietude com ela sentindo que alguém estava próximo, como se tivesse atraindo uma presa idiota com aquela cara gorducha de bebê e voltaria a berrar quando estivesse próximo demais para fingir que não estava lá.
Aquela criança era dura na queda, não estava ali para brincadeiras.
Bufando alto, Tony amassou a cópia do resultado do exame que seu pai lhe entregara mais cedo, e a jogara em um canto qualquer do quarto enquanto avançava com passos cauteloso até o berço encostado na parede mais distante da porta. Sua expressão séria e fechada não assustara a garotinha, que já olhava em sua direção antes mesmo de ele entrar em seu campo de visão, provavelmente sendo guiada pelos ruídos que Tony produzia, mesmo com ele se esforçando ao máximo para ser o mais silencioso possível. A criança ainda segurava o próprio pezinho próximo à boca, o que devia ter sido o que a mantinha entretida e quieta nos últimos minutos, mas seu olhar estava travado no de Tony, com o vestígio de sorriso em seus lábios sumindo gradativamente até que também estivesse séria, embora seus grandes olhos castanhos denunciassem sua curiosidade.
- Para de olhar para mim – ordenou ele, mas os olhos arregalados do bebê continuavam a acompanhar seus movimentos. Tony se afastara do berço para puxar a única cadeira que havia no quarto, provavelmente para os momentos que ela precisasse ser alimentada, e a arrastou até estar bem próxima ao móvel, se sentando ali e deixando um braço apoiado na grande enquanto voltava a fuzilar a criança com os olhos – Howard me entregou o resultado os exames. Sabe, aqueles que dizem que você é minha... Você deve lembrar, tirar sangue quando criança é uma coisa meio traumática. Mas eu não acredito nos resultados. Até onde eu sei, meu pai pode estar fazendo isso para tentar me fazer ser mais responsável.
O bebê fez um som que parecia estar concordando com ele.
- Então esse é mesmo o plano? – resmungou ele, esticando a mão para cutucar de leve a barriga fofa da criança como forma de provocação – Alguém não parece ser boa em guardar segredos.
O bebê tentou de qualquer jeito agarrar a mão de Tony, fazendo um barulho engraçadinho quando não conseguiu e se encolheu em seguida, soltando uma risada alta, mantendo seu sorriso largo mesmo quando ele franziu o cenho.
- Você nem se parecesse comigo. Nem com a Lauren. Crianças deveriam se parecer com os pais, mas você não – bufou ele, se ajeitando melhor na cadeira para apoiar os dois braços na grade – Lauren pode ter te achado na rua e pensado que seria uma boa ideia pregar uma peça na família toda. Como eu posso saber se você não andou tingindo o cabelo e está usando lente de contato, hein?
O bebê voltou a ficar sério, enchendo a boca de ar e soltando várias vezes seguidas, deixando seu rosto ainda mais cheinho, e rindo dos próprios barulhos que produzia, ignorando completamente as acusações que o garoto lhe fazia.
- Agora eu me pergunto: como diabos vou tirar sangue de você para refazer os testes sem que você comece a gritar de novo? Hein? – perguntou Tony, e por mais bizarro que parecesse, a criança voltou a ficar séria, chegando até a inclinar a cabeça para o lado como se tentasse entender o que ele dizia – Qual é, coisinha. Me dê alguma sugestão. Tenho que provar que você não é minha.
Por mais idiota que se sentisse, Tony respeitara o turno de fala da garota, esperando que pelo menos algum movimento ela fizesse, e ela fez: o bebê ergueu os bracinhos em sua direção, os sacudindo com vontade a cada segundo a mais que era ignorada.
- Quer que eu te pegue? Não vou te pegar. Não vou. Não adianta espernear – a cada sacudida de braço Tony retrucava, balançando a cabeça negativamente – Eu não ligo. Você já está morando no meu antigo berço, não vai conseguir mais nada de mim.
Cansado daquela discussão, Tony se desapoiou da grade para encontrar uma melhor posição na cadeira, apenas percebendo o erro que cometera ao ouvir um choramingo baixo, o aviso de que o pior estava por vir.
- Não. Não se atreva – ameaçou ele, voltando a se apoiar na grade do berço. Se entendera o aviso, o bebê simplesmente o ignorou, aumentando a intensidade do choramingo enquanto ainda esticava seus bracinhos em direção a Tony – Quieta. Ei, coisinha. Fica quieta. Não é assim que se fica quieta. Nã... Tudo bem.
Se dando por vencido – e querendo poupar seus próprios ouvidos –, Tony se inclinou sobre o berço. Um pouco sem jeito e hesitante, ele travou ambas as mãos embaixo dos braços finos do bebê, bufando alto antes de finalmente a puxar para cima.
- Manipuladora você, hein? Abre o berreiro se não conseguir o que quer com esses olhões brilhantes? – resmungou ele, segurando o bebê bem longe de seu corpo, tecnicamente ainda dentro do berço – Isso não vai funcionar comigo.
Sentindo que aquela posição logo incomodaria os músculos de seus braços, Tony voltou a se sentar na cadeira, apoiando seus pés no topo do berço e deixando que o bebê apoiasse os pezinhos em sua barriga, deixando que as costas buscassem apoio em suas coxas levemente inclinadas.
- Meu pai está totalmente mentindo para mim... – resmungou o garoto enquanto a garotinha tentava sem descanso se jogar em direção ao seu rosto, mas ele a segurava firme contra suas pernas – Se você realmente fosse minha, não é nessa hora que eu ficaria todo “puta merda, eu sou pai!”? Isso não é quando se pega o bebê pela primeira vez? Eu não estou sentindo isso, pirralhinha. Você não é minha.
Fosse irritada com o que Tony tinha dito ou apenas por estar sendo impedida de se movimentar livremente, a garotinha franziu os lábios e suas finas sobrancelhas se uniram, e Tony não teve a menor dificuldade em identificar aquilo como um aviso amigo de que era melhor deixá-la fazer o que quisesse.
- E você só se parece um pouco comigo quando eu era do seu tamanho... Bem pouco – resmungou ele a contragosto, engolindo em seco quando ela se deitou contra seu peito – Mas todos os bebês parecem iguais nessa idade, não é? Ah, agora você vai ficar quieta? Quer que eu pareça um idiota falando sozinho com um bebê que não responde? Você realmente só veio para cá criar o caos, não é? Aposto que você tem o nome de um furacão. Mas te aviso de uma coisa: eu sou o encrenqueiro dessa casa, e você não vai roubar meu posto.
Sem entender exatamente o que ela planejava, Tony deixou que o bebê o escalasse, deixando uma mão próxima ao corpinho pequeno para que ela não caísse por acidente, se sentindo tentado a morder aqueles dedos pequeninhos quando ela apoiou a mão em sua boca, quase que uma forma não verbal de mandá-lo se calar. A pirralha havia chegado há um pouco mais de um dia e estava mandando-o calar a boca. Antes que pudesse talhar com ela, Tony logo entendeu o que havia capturado a atenção do bebê. Ou melhor, ele sentiu.
- Certo
, acho que magoei seus sentimentos, não é? – resmungou ele, tentando afastar aquela mãozinha perigosa de seus cabelos – Eu não quis dizer aquilo, desculpe. Agora solta meu cabelo. Menina, solta. Não é brinqued... Puta merda, quanta força um bracinho desses pode ter? Sua mãe estava te alimentando com o que? Bomba? Solta meu cabelo. Ok, então pelo menos arranca de uma vez invés de ficar puxando toda hora...!
Como se estivesse satisfeita, o bebê riu com gosto quando Tony conseguiu afastá-la de seus cabelos, fazendo-a se sentar em sua barriga ainda com alguns fios entre seus dedinhos.
- Você me odeia, não é? – rosnou Tony, sem notar que seus pais assistiam a cena do lado de fora do quarto – Eu também não gosto de você, coisinha.
Foi o riso abafado de Maria que atraiu a atenção do garoto, que quase derrubou o bebê no desespero de tentar agir indiferente.
- Vim procurar o botão de desligar desse troço... – mentiu Tony depois de pigarrear, devolvendo a criança para o berço com seu rosto quente de constrangimento por ter sido flagrado – Ela não parava de chorar e estava me endoidando.
Como se tivesse combinado, seus pais concordaram com a cabeça e soltaram um “claro” sugestivo em sincronia, o fazendo revirar os olhos. Como não tinha mais nada para fazer naquele quarto, Tony se direcionou para a porta, se lembrando de uma dúvida que surgira há um tempo logo depois de passar pelo casal.
- Qual o nome dela?
- Lauren pediu que nós escolhêssemos – contou Maria, que já avançava para o berço para pegar sua neta nos braços – Não quis que ela ficasse com o nome que ela tinha escolhido.
- Que era...? – insistiu Tony.
- Dominik.
Dominik. O nome ecoou por seus ouvidos mais algumas vezes. Não fazia ideia de qual era a origem ou o significado do nome, mas ele não parecia tão ruim. Dominik Stark até que soava uma boa combinação.
- É só um nome... – desdenhou ele, cruzando os braços e voltando a se apoiar no batente da porta – Vai manter esse ou vai escolher outro?
- Gosto de – confessou Maria entre risadas, virando a garota em seus braços para os dois homens parados à porta – Ela tem cara de , não tem?
- ... Maria – murmurou Tony, com o olhar perdido no quarto, apenas percebendo que pensara em voz alta quando percebeu o olhar marejado de sua mãe. Ele queria que sua filha levasse seu nome, e ela não poderia ficar mais feliz – Maria Stark. Soa ok. Bem, você que vai criar a garota mesmo.
- Anthony.
- Tony está certo por um lado, querido – se apressou Maria em intervir, não querendo que discussões acontecessem na presença de ouvidos inocentes – Ele não vai conseguir criar a garota sozinha, e eu não deixaria também.
- Bom, eu consegui desligar a coisinha e acho que vocês também conseguem se for necessário – disse Tony sumindo de vez do quarto, voltando segundos depois apenas para deixar um aviso importante – E mãe? De verdade, cuidado com o cabelo. Ela é mais forte do que parece.
Maria agradeceu com um sorriso carinhoso, voltando a ninar sua neta agitada sob o olhar rígido de seu marido.
- Maria Stark – ela repetia algumas vezes em sussurros, sentindo algo bom em seu peito toda vez que a garotinha reagia ao som de sua voz, quase como se aprovasse a escolha do nome.
- Você está sendo muito mole com o garoto – começou Howard, depois de perceber que não teria atenção de sua esposa de volta sem esforços – Eu nem deveria o chamar mais assim, ele é um homem adulto. Ele tem uma filha. Uma criança que teoricamente deveria depender dele.
- Empurrar de uma vez toda essa responsabilidade para ele vai fazer mal a todos, principalmente a ele e a – argumentou a mulher – Se passou apenas um dia, Howard... Você demorou muito mais para se acostumar com Tony quando ele nasceu.
- Você está se deixando levar pelas emoções, Maria – desconversou ele, se aproximando da mulher e passando o braço por trás de seus ombros – Você sempre quis uma garota.
- É claro que estou, já viu como ela é fofa?
- Maria... – repreendeu-a Howard, segurando a vontade de rolar os olhos.
- Segure-a um pouco, você vai ver – insistiu a mulher, lhe oferecendo a garota que ele aceitou com falta de jeito, afinal, fazia muito tempo que não pegava um bebê no colo – Não é tudo ruim nisso tudo. Ela é sua neta. Nosso sangue.
Howard respirou fundo, desviando o olhar de sua esposa para o pequeno ser em seus braços, assistindo com atenção ela tentar alcançar seu bigode. Para tentar distraí-la, o homem deixara a mão livre próxima a ela, que logo a agarrou.
- Isso é um aperto forte... – riu Howard, e a garotinha o acompanhou – Uma verdadeira Stark, hein? Com um aperto desses posso até te ver na presidência das Indústrias em breve enquanto eu aproveito uma praia... Ou comandando a S.H.I.E.L.D., que tal, hein? Maria?
Quase se virou para a mulher, ela estava com ambas as mãos na cintura, com um sorriso descrente enquanto balançava a cabeça, mas seus olhos entregavam a felicidade que sentia.
- Que foi? Não me olhe assim, a fofura dela me atingiu. Não era isso que você queria? – provocou ele – Céus, Peggy vai enfartar quando souber disso! Dez pratas que ela vai pensar em como transformar esse trocinho em uma espiã.
- Quase certeza de que ela viria aqui mais tarde – lembrou Maria, se direcionando para deixar o quarto com seu marido a seguindo com poucos passos de distância – Já deve estar quase chegando, na verdade.
- Puxe o cabelo dela com bastante força, tudo bem? – avisou Howard ao bebê em um sussurro, embora soubesse que Maria conseguia ouvir e ainda ria de ambos. Não demorou muito para que ele retomasse sua postura mais característica, ajeitando a garota em seus braços para que ela também adquirisse uma postura mais reta – Mas agora temos que ficar sérios, mocinha. Temos que apresentar a Srtª Stark para as visitas.

18 DE DEZEMBRO DE 1991 – CEMITÉRIO


A paisagem era excessivamente branca, criando um contraste melancólico com todas as pessoas trajando preto. Um choro silencioso dominava todos que cercavam as duas lápides reluzentes recém-colocadas, com exceção dos dois Stark ainda vivos. estava à frente do pai, ainda reclamando mentalmente da quantidade absurda de camadas de roupa que sua babá lhe obrigara a vestir. A porcaria da touca que protegia sua cabeça estava bem em cima dos cortes que ganhara no acidente, quase dois dias atrás, mas sabia que se a tirasse – além de levar bronca de algum adulto – os olhares em sua direção se intensificariam, já que aqueles ferimentos e hematomas era uma lembrança de que também estava no carro. Todos comemoravam que a cadeira para criança salvara sua vida, mas nada do que falassem a fazia se sentir melhor. Seu olhar estava travado num amontoado de neve ao longe que lembrava um boneco, na tentativa de ignorar os olhares piedosos que as pessoas a sua volta lhe lançavam. Tony era o único que não a olhava.
O olhar do agora mais velho dos Stark não abandonava a lápide dos pais, sem saber ao certo classificar o que estava sentindo. A vontade de Tony era de sumir dali o mais rápido possível, mas parecia que o tempo não estava a seu favor. Parecia que estava há dias parado naquele lugar, e aquele vazio em seu peito apenas parecia aumentar. Alguma parte de si não estava conseguindo digerir o que acontecia, fantasiando que seus pais apenas tinham saído de férias e decidiram em um último momento deixar a neta para trás, que nenhum acidente acontecera.
Quando o enterro terminara e as pessoas começaram a se dispersar, Tony logo girou os calcanhares para deixar o local. Não queria falar com ninguém. Queria sua casa. Sua família de volta. Nunca tivera um bom relacionamento com seu pai, mas isso não significava que não doía. Não importava se passariam o resto dos anos discutindo, ele só queria seu pai de volta, assim como sua mãe. Não queria mais ninguém repetindo que sentia muito, não se importava como os outros se sentiam. Sequer sabia como ele próprio estava se sentindo, não precisava dos sentimentos dos outros.
Sem que precisasse de instruções, seguiu com seus passos curtos e apressados ao seu lado, mantendo o silêncio que começara desde a manhã anterior, quando acordara no hospital. Tony não conseguiu não se surpreender com a postura da garota: aquela mesma criança tagarela e que chorava por tudo estava quieta e inexpressiva, sequer marejados alguém havia visto seus olhos ficarem. Era difícil admitir, mas a garotinha parecia estar se controlando melhor do que o pai. Mesmo muito jovem, era inteligente – uma verdadeira Stark. Tia Peggy havia sugerido não explicar para a criança o que acontecia, e ficou abismada quando pediu que ela parasse de mentir e dissesse logo que seus avós não voltariam. Praticamente não se lembrava do acidente, mas tinha completa ciência do que acontecera. Desde então ela estava quieta, apenas deixando que seus olhos agora opacos analisassem o que acontecia ao seu redor, embora parecesse não ter mais interesse em nada.
Por isso Tony estranhou quando uma de suas mãozinhas agarrou o tecido de sua calça para atrair sua atenção.
- O que foi? – perguntou ele simplesmente, olhando para baixo para visualizar o rosto emburrado da filha.
- Tia Peggy está nos seguindo.
Embora não precisasse do aviso por saber que a mulher não o deixaria em paz tão facilmente, Tony se virou minimamente para trás, a tempo de ver Peggy a uns bons dez metros, conversando com alguém que ele não se dera o trabalho de guardar o nome.
- E?
- Ela quer que eu fique com ela – explicou , ainda indiferente, mas algo em sua voz a entregara. Era algo bem sutil e ouvidos amadores nunca notariam aquilo com tanta facilidade, mas havia uma leve irritação em sua voz. Quando Tony apenas ergueu a sobrancelha em resposta, ficou ainda mais óbvio – Não vou ficar com ela.
- Você não decide nada, coisinha.
- Vovó não gosta quando você me chama assim – repreendeu-o a criança, e, ao hesitar em respondê-la, Tony quase pode ver certa satisfação em seus olhos, como se tivesse atingido seu objetivo – Não me mande ficar com a Tia Peggy, por favor.
- Da última vez que eu chequei, você gostava dela.
- Mas eu quero ficar com você.
Sempre que queria se impor, cruzava os braços e batia o pé, por isso Tony acabou sem palavras diante da filha: suas mãos mesmo fechadas em punhos e cobertas com grossas luvas tremiam, seus ombros estavam caídos, e seus olhos não ardiam em determinação. Na verdade, ela parecia prestes a chorar, e só então Tony percebeu que só estava se segurando por causa dela, que estava tendo o mínimo de controle apenas porque aquele pequeno ser não merecia ver o pai desabando. Por isso um nó se instalou em sua garganta, e ambos ficaram apenas encarando um ao outro, sem saber o que fazer.
foi a primeira a esboçar alguma reação, quando Peggy se aproximou dos dois, depositando uma mão no ombro de Tony, começando aquele mesmo discurso que fizera à garota mais cedo, sobre como seria melhor que a mulher ficasse com ela por um tempo. Antes que ela pudesse terminar, correra para longe dos dois, mesmo sem saber para onde estava indo. Seu pai gritava às suas costas, ordenando para que ela parasse de correr, mas a garota não lhe dera ouvidos. Sabia muito bem que estava fazendo uma cena e todos ao seu redor estavam assistindo, que seu avô lhe daria uma bela bronca se pudesse, mas mesmo assim ela continuou a correr. só parou quando sua sapatilha ficou presa entre um amontoado de pedras escondido pela neve fofa.
A garota teria caído de cara no chão se mãos ágeis não tivessem a segurado pelos braços, puxando-a para perto enquanto a própria pessoa também caía, mas absorvendo todo o impacto. sabia muito bem quem era, mas não deixou de erguer olhos assustado para seu pai.
- Quando eu te der uma ordem, você obedece. Entendeu? – resmungou Tony ríspido e irritado, se arrependendo logo em seguida ao assistir as mudanças na expressão da criança. Não queria ter soado tão duro, mesmo com aquela pequena corrida tendo o tirado do sério. era só uma criança, estava tão ou mais confusa do que ele próprio. Por isso mais algo pareceu se quebrar em seu peito ao perceber como a garota tremia, seu rosto contorcido na tentativa falha de impedir que as lágrimas lhe escapassem.
Com cuidado, Tony se sentou no chão coberto de neve, soltando os braços finos da criança apenas para tirar seu sobretudo e o depositar em seus ombros. não o fitava. Seu olhar estava fora de foco, e então ela só percebeu o que acontecia quando sentiu o homem a puxar para mais perto, travando um dos braços por suas costas e mantendo sua cabeça na curva de seu pescoço coberto por um fofo cachecol. Sem que precisasse pensar muito, as pernas da garota travaram ao redor do tronco do homem, e suas mãos se agarraram com vontade no tecido de seu terno. Quando sua mente finalmente entendera que Tony estava pegando-a no colo, seu choro reiniciou.
A última vez fizera tanto tempo que ela sequer se lembrava, embora existisse uma fotografia como prova de que aquele dia existira.
Peggy esperou pacientemente até que Tony alcançasse o grupo novamente, com seus passos demasiadamente lentos, como se não lembrasse como se andava com uma criança em seus braços, temeroso que fosse a derrubar ou algo do tipo. Mesmo de longe a mulher podia notar certa vermelhidão em seus olhos, e seu coração pareceu diminuir em seu peito. Ela queria mais que tudo fazer com que aqueles dois se sentissem melhor, só não sabia como.
Quando ela abriu a boca para propor o que já havia comentado com a criança, Tony apenas negou com a cabeça e continuou caminhando em direção a seu carro. Olhares nunca o abandonavam, porém Tony sequer prestava mais atenção. Tudo que seus sentidos captavam era a respiração cada vez mais regular da garota em seus braços, que ao mesmo tempo em que se acalmava, também adormecia.

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Tony não havia pensado nas consequências de dispensar todos os empregados da casa quando tomou aquela decisão mais cedo, mas até que não se saíra tão mal: tanto ele como estavam bem alimentados, e até aquele momento nenhum dos dois apresentara sinais de intoxicação alimentar, o que já era uma vitória. A ampla cozinha também estava em bom estado, diferente do banheiro, já que sua experiência em dar banho em alguém não era das melhores.
Já fazia algumas horas que havia colocado para dormir. Só não sabia agora como se colocar para dormir.
Sua mente não parava, e isso parecia estar afugentando seu sono. Em um primeiro momento culpava a casa, mas no fundo sabia que o problema era si próprio. Até o começo daquela semana nunca pensara que poderia carregar tanto arrependimento, e isso estava o matando por dentro.
O som de um choro baixo o tirou de seus pensamentos confusos, e Tony não teve a menor dificuldade de reconhecer a fonte, tanto por ter ouvido muito aquele som no carro como por ser a única outra pessoa na casa. Só então percebendo como estava cansado ao sentir os músculos de suas pernas o repreenderem pela movimentação, o homem foi se arrastando até a porta, encontrando a criança sentada no corredor com o rosto escondido entre os joelhos, ao lado da porta fechada de seu próprio quarto.
- Ei, ? O que foi? – perguntou ele em um sussurro, se agachando ao lado da garota – Por que não entrou?
chegou a abrir a boca para contar sua primeira versão da história do acidente que ainda atormentava seus pensamentos, mas desistiu ao relembrar as palavras um tanto insensíveis dos médicos, algo sobre ela ter passado por uma situação traumática e que tinha imaginado coisas. Agora ela também já não tinha muita certeza do que vira. Estava muito escuro, e a dor que sentia em todo seu corpo atrapalhavam seus sentidos, mas isso não impedia que a voz de seu avô voltasse a ecoar em seus ouvidos, pedindo para alguém socorrer sua mulher e neta, e o socorro nunca chegara. Enquanto tentava desesperadamente desemperrar o fecho de seu cinto de segurança, vira uma figura rondar o carro. Sua avó pediu que ficassem em silêncio, mas ela não obedeceu, continuou a lutar com o material que a impedia de sair dali, sem saber explicar o motivo, mas com medo do que estava de lado de fora do carro. A garota estranhou quando não ouviu mais os pedidos de sua avó para que ficasse quieta, e principalmente quando não conseguiu mais localizar visualmente a pessoa desconhecida. Se tivesse condições, teria gritado quando o homem apareceu na janela ao seu lado, seu olhar frio estudando o interior do veículo, quase que como ignorando sua presença. Com mais desespero do que nunca, ela voltou a lutar com o cinto, se surpreendo ao não encontrar mais o homem na janela quando voltou a olhar naquela direção. queria ter respirado aliviada, mas não conseguia. Ela estava com medo. Não sentia a presença de ninguém ao seu redor, e o que mais a assustava era não ter sentido a presença do homem desconhecido quando ele estava em seu campo de visão, embora pudesse ouvi-lo.
Quando o socorro chegou, a única sobrevivente do acidente estava em estado de choque, sequer mais chorava, embora visíveis rastros de lágrimas marcassem seu rosto. A partir daquele momento, ficou mais calma – sentia a presença de pessoas, e sempre tinha alguém por perto até aquela noite.
Aquele era o principal motivo de agora não querer ficar em seu quarto: seu pai havia dispensado todos os empregados da casa, e ela sentia que realmente apenas ela e Tony estavam ali, mas nada impedia daquele homem também estar. Ele podia estar em qualquer lugar, e isso a amedrontava.
- Vovô não gostava que eu entrasse no quarto no meio da noite – contou a garota com a voz baixa. Nenhum dos adultos acreditava em sua história, e talvez fosse melhor aceitar que nada tinha acontecido como ela lembrava – Dizia que eu tinha que me virar sozinha com meus medos.
Tony teve que controlar a vontade de bufar. Aquela era uma ação tão insensível e típica de seu pai que nem estava surpreso. Claro que a criança havia recebido o mesmo tipo de tratamento que ele recebera a infância inteira, com a diferença que ela recebia em dobro, já que também não era muito diferente de Howard.
- Hoje não vai ser assim, tudo bem? – contou ele com um sorriso triste, pegando-a no colo pela segunda vez naquele dia e rumando de volta para seu quarto, se ajeitando entre os cobertores com a garota ao seu lado.
- Eu vou mesmo ficar com a Tia Peggy? – perguntou ela depois de um tempo, apoiando o queixo no ombro do pai.
- Seria uma ideia tão ruim assim?
- A Sharon fica muito lá também... – começou a garota emburrada, fazendo Tony rir de leve – Ela tenta ficar mandando em mim, e depois fala para a Tia Peggy que eu sou a chata.
- Eu realmente não sei como as coisas vão ficar agora, – confessou ele, apertando o pequeno corpo da criança contra o seu – Nem aqui, nem nas Indústrias, nem em lugar nenhum.
assentiu e ficou quieta, embora tivesse ouvido tio Obadiah dizer para algum outro adulto que assumiria a presidência das Indústrias por seu pai não ter idade para um cargo desses.
- Vai ser só a gente agora, não é?
- Vai sim, coisinha – respondeu Tony, beijando sua testa enquanto ela revirava os olhos – Só eu e você daqui para frente.

13 DE MARÇO DE 2003 – POINT DUME ELEMENTARY SCHOOL, MALIBU


batia seu pé impacientemente no piso lustrado, mais para irritar a diretora da escola do que qualquer coisa. Por ser sua terceira visita a seu escritório naquela semana, a garota já sabia que seria expulsa – e até que havia durado mais do que o esperado naquela escola. Não era exatamente como se ela quisesse criar problemas, e era isso que a assistente de seu pai tinha problemas para entender: talvez interação com pessoas de sua idade fosse importante, mas era completamente diferente das outras crianças, e nem os professores faziam questão de fingir que ela era apenas mais uma aluna. Por isso aquela era a segunda vez naquele ano que teria que mudar de escola, e no fundo começava a temer a reação de Pepper Potts.
Aquela ruiva às vezes conseguia assustá-la, embora não soubesse disso.
- Sua mãe já está a caminho – avisou a diretora, devolvendo seu telefone ao gancho.
- Ela não é minha mãe.
- Olha minha cara de quem se importa – retrucou a mulher, sorrindo cínica, assim como a garota de cabelos escuros.
Não demorou mais do que meia hora para que Pepper chegasse, ouvisse o resumo do que havia acontecido e assinasse os papeis. Em nenhum momento a mulher se opôs, apenas concordando com tudo que a diretora falava, e em instantes ambas deixavam a diretoria da escola, com Pepper lhe olhando feio a cada três segundos.
- Não comece, okay? – pediu a garota, bufando enquanto jogava sua mochila de qualquer jeito em suas costas – Sei de cor todo o sermão de “como se comportar na escola”.
- Não vou dar sermão – avisou Pepper, atraindo olhar curioso da jovem – Vou tomar uma decisão.
- Espera, você? – estranhou a garota, parando no meio do caminho da entrada da escola para a rua, onde Happy as esperava – Com ou sem o consentimento do Sr. Stark?
- Sem.
- Mostrando as garrinhas, Srtª Potts? – debochou , cruzando os braços e mostrando um sorriso travesso – Bem que eu tinha um pressentimento de que você seria melhor dos que as últimas assistentes dele.
- Não vai perguntar o que eu planejo fazer?
- Espero que não seja tentar me deixar de castigo, porque não vai funcionar.
- Vamos lá, ...! – riu a ruiva, voltando a caminhar em direção ao carro – Pergunte para onde vamos agora?
- Para onde vamos, oh grande Pepper Potts? – perguntou em um tom monótono, depois de bufar alto.
- Para o campus da UCLA.
- O que?! – gritou a garota, olhando para a mulher como se uma segunda cabeça estivesse saindo de seu pescoço – UCLA tipo “Universidade da Califórnia em Los Angeles”? Se for outra coisa eu vou ficar muito desapontada.
- Você tem um teste de admissão em duas horas.
- Se for brincadeira, é esse o momento para você confessar.
- Não é brincadeira.
- Meu Deus, Pepper! – exclamou a garota, soltando a mochila no chão e levando ambas as mãos às laterais do rosto – Eu não estou acreditando nisso!
- Vou assumir que você gostou da ideia – disse ela simplesmente, se agachando para pegar a mochila de e ajeitar em seus ombros.
- Gostei? - repetiu , incrédula – Você é a melhor pessoa da vida, Pepper!
O largo sorriso de se espelhou nos lábios de Pepper. Já fazia certo tempo que estava trabalhando para Tony Stark, e consequentemente acabava tendo que conviver muito com a herdeira, que apenas via rindo quando estava em frente a uma câmera, para satisfazer a mídia. Desde que começara naquele emprego, aquela era a primeira vez que via a garota genuinamente feliz, e o fato de ela estar assim por uma ação sua apenas fazia com que a ruiva se sentisse ainda melhor.
- Obrigada, Pepps – disse , tão baixo que a mulher quase não ouviu. Sorrindo ainda mais, a ruiva esticou uma mão para bagunçar os cabelos escuros da garota, que ria enquanto reclamava – Eu tenho uma entrevista, você não pode acabar com a minha aparência.

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estava agoniada por estar dentro do carro, ralhando com Happy toda vez que ele parava em um maldito sinal vermelho. O motorista apenas ria divertido, até indo mais devagar do que de costume apenas para assistir mais um pouco a garota impaciente no banco de trás resmungar irritada, embora o brilho em seus olhos esboçasse nada além de felicidade.
- , não corre! – a repreendeu Pepper, assim que o carro parou em frente à mansão, mas a garota não lhe deu ouvidos, sumindo dentro da casa antes que ela pudesse fazer alguma coisa – Eu daria meu braço para essa garota me obedecer um dia.
- Não é da natureza dela, Potts – brincou Happy, desligando o carro – Mas você conseguiu uma boa evolução hoje. Não via sorrir desse jeito desde quando ela invadiu os arquivos pessoais de Tony.
- Ela ficou realmente feliz, não é? – comentou a mulher, com o olhar no espaço do banco que a garota ocupara até segundos atrás.
- Acha que o Sr. Stark vai gostar dessa ideia? – perguntou Happy em um suspiro. Claro que havia concordado com a ruiva sobre sua decisão, mas o fato de não terem consultado o chefe poderia acarretar problemas para os dois – Você não o consultou antes de leva-la para ser admitida.
- Ele não gostar acho que ainda é um dos melhores cenários... – disse Pepper, e o homem franziu o cenho, confuso – Do jeito que ele é, capaz de sequer dar atenção para a criança.
- E ela voltar ao estado anterior.
Pepper apenas concordou e se despediu do homem antes de também descer do carro, tanto para caso precisasse animar a jovem Stark como para perguntar a seu chefe se tinha mais alguma coisa que quisesse que ela fizesse.
Assim que J.A.R.V.I.S. lhe informara a localização de Tony, correu para a garagem, avistando seu pai em meio a seus monitores antes mesmo de ela liberar sua entrada ao digitar sua senha. Mesmo já recebendo um olhar mal-humorado ao entrar no ambiente, seguiu até a mesa mais próxima, se sentando na superfície e balançando as pernas em um ritmo constante até Tony entender que era melhor lhe dar atenção se queria voltar a se concentrar no que estava fazendo antes, murmurando um frio “oi, ”.
- O que você está fazendo? – perguntou ela, tentando ignorar a parte da sua mente que lhe avisava que não era bem vinda naquele recinto.
- Trabalhando... – disse o homem simplesmente, sequer olhando para filha. A animação que a garota trouxera sumira na mesma velocidade que chegara – Como foi sua aula?
- Fui expulsa da escola. De novo.
- De novo – repetiu Tony, revirando os olhos – Pepper já te matriculou em outra?
- Não, ela não vai fazer isso – contou , e finalmente Tony se virou para ela, com o cenho franzido – Disse que perdeu a paciência.
- Está brincando? Você quebrou minha assistente? , ela parecia uma que ia durar mais do que a média...! – ralhou o homem, e começou a rir. Pelo jeito ambos tinham uma boa visão da mulher, e isso não acontecia com muita frequência – Por que está rindo?
- Se depender de mim, ela não vai embora nunca mais – contou ela, o que apenas fez com que Tony ficasse ainda mais desconfiado.
- O que ela fez?
- Me arrumou um teste de admissão em UCLA – contou , como se não fosse algo importante – Começo semestre que vem.
- Invés de te levar para outra escola, ela te levou para uma universidade? Sem me consultar primeiro? – resmungou Tony, mas sua expressão divertida o entregava – Gosto dela.
concordou, rindo sem muita vontade, e Tony não teve dificuldade em entender o motivo de sua animação ter repentinamente diminuído.
- Ei? – ele chamou sua atenção, a puxando pelo queixo para encará-lo – Estou orgulhoso.
apenas esboçou um leve sorriso, fitando o chão em seguida. Tony estava sendo sincero, ela apenas não sabia identificar isso.
- Tem que estar mesmo – brincou ela, descendo da mesa e já se direcionando para a porta – Acho que você não precisa de mim aqui, então vou subir para o meu quarto.
- Temos um evento beneficente mais tarde – avisou Tony, antes que ela estivesse longe demais – Esteja pronta às sete.
- Sério mesmo que vou ter que aturar o Baker hoje? – resmungou ela, cruzando os braços e franzindo os lábios – Por que não posso ser feliz por muito tempo?
- Ele não é seu namorado?
- Isso não faz dele uma pessoa melhor.

20 DE ABRIL DE 2007 – INDÚSTRIAS STARK, NEW YORK


já começava a ficar impaciente por não encontrar Andrew em lugar nenhum daquele maldito salão. Havia deixado-o encarregado de planejar a fuga dos dois e agora, além de não saber como sairiam daquela festa e para onde iriam, também não encontrava o garoto. O pior que sequer podia deixar o prédio sem ele, já que provavelmente congelaria – seu vestido preto tinha muito mais pano do que costumava usar, com longas mangas e sem decote, mas a fenda na perna esquerda não ajudava no quesito se manter aquecida naquela noite de primavera que mais parecia inverno.
Quando avisou o pai do garoto, Matthew Baker, a poucos metros a sua frente, a garota até pretendia perguntar a ele a localização do filho, mas alguém esbarrou com ela antes. A bebida que a pessoa carregava não chegou a atingi-la, mas o líquido no chão fez com que seu sapato escorregasse no chão já liso, por isso teve que agradecer quando uma das mãos da pessoa se fechou ao redor de seu braço, a impedindo de cair.
- Você está bem, garota? – perguntou uma voz rouca e profunda, com o que demorou um pouco para reconhecer como um ligeiro sotaque russo, quase imperceptível. O homem deveria estar na casa dos cinquenta anos, com um pouco de fios brancos salpicados pelos fios excessivamente escuros – Ah meu Deus... Stark?!
- Me desculpe, senhor – pediu ela, sem graça – Se quiser deixar seu nome na recepção para te pagarmos um novo terno, não tem problema.
- Que isso, meu anjo! Não foi nada, não precisa se preocupar – riu o homem, colocando seu copo agora vazio na bancada do par às suas costas. Depois de pegar um guardanapo e secar as mãos, ele esticou a direita em sua direção – Krigor Ivanov.
- Bom, você já sabe meu nome... – brincou a garota, sem jeito pelo olhar intenso do homem que ainda segurava sua mão. Quando ia dar alguma desculpa para sair de lá, lábios se aproximaram de seu ouvido, e um braço envolveu sua cintura.
- Dois minutos sozinha e sempre quando eu volto ela está na companhia de outro homem... – suspirou Andrew com um sorriso divertido, apertando-a mais contra ele. O tal Krigor soltou a mão da garota, assentindo de leve – Se permite, ela me deve uma dança.
- Meus parabéns – murmurou Krigor, esboçando um sorriso discreto que a perturbou tanto quanto sua fala.
- Hm... Obrigada?
Sem mais oposições, o casal adentrou na multidão de convidados, com Andrew a puxando pela mão para indicar o caminho.
- Quem era aquele cara? – perguntou ele quando pararam próximos à entrada do salão – Não gostei dele.
- Ciúmes, Baker? – debochou ela, rindo enquanto ele revirava os olhos e tirava o paletó para colocar sobre os ombros da garota – Não sei quem ele é. Meio estranho, não?
- Você é um imã de pessoas estranhas, ninguém merece...
chegou a abrir a boca para ralhar com o garoto, mas sua visão periférica captou Tony se aproximando dos dois e, mesmo sem estudá-lo, sabia que estaria com problemas caso ele a pegasse.
- Se você realmente tem um plano, é melhor colocar ele em ação agora porque o Tony está vindo – avisou ela rápido, e em segundos eles já desciam a escadaria da entrada do prédio, acenando uma vez ou outra para os fotógrafos que não se cansavam de registrá-los juntos.
- Por que Tony seria um problema? – perguntou Andrew em um sussurro, enquanto esperavam seu carro – Ele não faz ideia do que estamos fazendo.
- A assistente dele fez ele entender que minha imagem está começando a sair de controle e que era melhor eu ficar longe da mídia por um tempo – explicou ela, olhando repetidamente por cima dos ombros para ter certeza que seu pai não estava próximo. Por ter bebido um pouco e pela quantidade de pessoas ao seu redor, não dava para confiar em seus sentidos – Eu fui claramente proibida de vir nessa festa.
- Claro, porque sempre dá super certo te dizer para não fazer algo... – debochou ele. Não demorou muito para que o carro chegasse, e Andrew abrisse a porta para ela, como mandava o protocolo. Dentro do veículo, retirou os saltos e apoiou os pés no banco, massageando os dedos enquanto o garoto não ocupava o lugar do motorista.
- Para onde vamos?
- Aeroporto?
- Ah, esse é seu plano? – bufou ela, o olhando feio – Não vai chamar nem um pouco de atenção nós dois em um voo comercial.
- Voo privado, idiota. Sei o que estou fazendo – resmungou ele – E estamos indo para Detroit, antes que você pergunte. Temos uma casa preparada para nós lá.
- Quando tempo acha que vamos precisar ficar fora?
- Espero que não muito... – respondeu Andrew, sorrindo de lado – Deus me livre de ter que te aturar por dias sem ajuda.

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Assim que saiu do banheiro ainda com uma toalha na cabeça, a primeira coisa que estranhou foi a expressão concentrada de Andrew deitado enquanto lia algo em seu notebook, com os braços cruzados em frente ao peito. Fazia poucas horas que tinham chegado, mas trabalhavam desde então. O objetivo da dupla era simples: impedir a fusão das suas respectivas empresas. Fazia alguns meses que aquela proposta havia aparecido, e apenas quem gostara mais da ideia do que os acionistas era a mídia – já que daria outra fachada para o que eles chamavam de conto de fadas moderno do jovem casal.
A pressão da mídia não seria nenhum problema se as diretorias das empresas não concordassem com a ideia, e por isso a dupla estava se rebelando. No fundo eles sentiam que algo estava errado naquela história, como se estivessem sendo usados para tirar o foco de outra coisa e, se fosse verdade, eles logo descobririam.
- Achou alguma coisa? – perguntou ela, atraindo o olhar tedioso do garoto.
- Estou começando a achar que se vamos acabar com essa palhaçada, vamos ter que começar a inventar mais coisas – suspirou Andrew, esfregando os olhos antes de continuar a analisar informação atrás de informação – Temos bastante coisa para complicar a transição, mas não o suficiente para a mídia achar interessante. Precisamos de uma bomba.
- Vou dar mais umas olhadas nos arquivos do meu lado, mas não acho que eu possa ter deixado passar alg... – parou assim que viu o garoto empalidecer e seu queixo cair – Andy, que merda você fez agora?
Quando o garoto não respondeu, ela seguiu para o seu lado na cama, passeando os olhos pelos dados que via até entender o que havia o surpreendido.
- A Baker está financiando guerras? – ofegou a garota – Nem é do nosso lado nas guerras!
- Achamos nossa bomba – disse Andrew simplesmente, se virando para a morena ao seu lado, estranhando a expressão preocupada da garota – O que foi? Não acha que isso vai causar problemas o suficiente? Porque eu acho.
- Andrew, isso é muito sério – argumentou , puxando o notebook para seu colo e rolando as informações para ter certeza que não estavam se equivocando – Se deixar isso cair na mídia...
- Já era – concluiu ele – Acaba tudo.
- Isso pode fechar a Baker, inúmeros processos e pessoas sendo presas.
- O que estão fazendo é errado, – retrucou o garoto, mais sério do que ela jamais vira. Andrew sempre fora um pouco mais consciente do que ela, sendo alguns poucos anos mais velho do que a garota ou não. havia sido criada em uma redoma de vidro muito mais resistente do que ele, por isso nenhum artigo mentia quando classificava a jovem Stark como ingênua – Isso traz uma reputação ruim para o meu nome, e mesmo se eu não estivesse indiretamente envolvido... A informação caiu nas minhas mãos, e é meu dever fazer alguma coisa sobre isso.
ficou em silêncio, tentando entender as motivações do garoto. Embora fosse funcionar, aquilo causaria muito mais problemas do que inicialmente planejavam, e, mesmo não atingindo tão diretamente as Indústrias Stark, estava com um pé atrás. Andrew não era o que se podia considerar uma boa pessoa, e, se as Indústrias Baker seriam massacradas publicamente com o auxílio deles, ele não deixaria barato para o lado Stark, tanto pessoalmente como para a empresa. Os escândalos envolvendo os dois já estavam parcialmente encaminhados, mas nada impedia que Andrew fizesse a história ficar pior para o lado da garota.
Pelos dois dias seguintes a dupla se ocupou apenas em arquitetar com cuidado tudo o que planejavam há semanas: cláusulas nos contratos foram alteradas para permitir brechas que poderiam ser maliciosamente aproveitadas, quantias de dinheiro movimentadas dentro das próprias empresas para parecer que estavam passando valores errados, quebra de sigilo dos arquivos das Indústrias Baker sobre envolvimento com guerras do Oriente, e o envolvimento de Andrew e com drogas ilícitas. A parte mais fácil – a que envolvia apenas suas vidas privadas – já estava na internet a certo tempo, e monitorava pelo Twitter enquanto Andrew terminava de substituir arquivos oficiais da Baker.
A casa onde estavam era em um bairro calmo, com pouca movimentação – uma exigência da jovem Stark, já que crescera sob constante vigilância por algumas tentativas de sequestro quando criança. Se iriam ficar afastados por alguns dias, precisava ter certeza que não correria nenhum risco, e por isso ela entrou em leve desespero quando sentiu algumas pessoas circundando a casa.
- Andy...? – chamou-o ela, abaixando seu celular para se concentrar no que acontecia. Andrew resmungou um baixo “que foi?” enquanto levava uma garrafa whisky aos lábios – Você chamou alguém aqui?
- Que?
- Andrew, tem pessoas invadindo a casa.
- Mas hein? Como voc...? – Andrew se desesperou, chegando até a se engasgar com o resto do líquido que ainda estava em sua boca, largando a garrafa no chão de qualquer jeito e buscando seu celular – Você está ouvindo alguma coisa?
- Umas cinco pessoas... – contou ela, seus olhos se arregalando ao notar um fato importante – Andrew, tem gente armada.
- Shh... Calma – pediu ele, pegando sua camiseta amassada de dias atrás e a vestindo de qualquer jeito. Dentro do armário ele tirou uma pequena pistola e um taco de baseball, oferecendo a arma à garota, que negou e se adiantou para o taco – Não acho uma boa ideia...
- Minha mira é boa, só que sou bem mais forte do que pareço, Andrew. Acredite em mim.
Ambos deixaram o quarto juntos, com mais a frente, indicando as direções. Quando se aproximaram da escada, ela sinalizou para que parassem, já que alguém subia. A pessoa não estava armada, isso já era uma vantagem para eles. Baker se escondeu do lado da escada, para ficar às costas de quem quer fosse que estava subindo, e se escondeu na porta mais próxima, para surpreender o intruso pela frente. Andrew não fazia ideia de como ela percebia aquelas coisas, mas já a conhecia há tempo o suficiente para apenas fazer o que ela dizia. O garoto assistiu o intruso passar por ele, e rapidamente o taco de baseball o atingir na barriga e depois no queixo, caindo no chão em seguida.
Não demorou nem para que ele nem para que reconhecesse o homem, que gemia alto.
- Ai meu Deus, Happy? – a garota soltou o taco, tampando a boca com ambas as mãos – Ai cara, me desculpe! Eu não quis... Como você veio parar aqui?!
olhou desesperada para Andrew, que também não parecia estar entendo o que acontecia. A arma em sua mão estava apontada para baixo, e ele a segurava com força, até tremendo um pouco. Eles serem encontrados não fazia parte do plano, mesmo já tendo praticamente terminado tudo. O desespero de ambos apenas aumentou quando Tony apareceu no topo da escada, com a expressão mortalmente séria, intensificada pelas fundas olheiras abaixo de seus olhos.
Tony tinha o olhar travado na filha, mas um brilho metálico atraiu sua atenção quando se adiantou para a direção da garota, um brilho refletido pela arma que o babaca do namorado dela ainda empunhava. Sem delicadeza nenhuma, o homem tomou o objeto de suas mãos, entregando a um dos seguranças que o acompanhavam. Quando voltou sua atenção para a filha, ela socorria seu motorista, pedindo desculpas repetidas vezes e afirmando que não tinha quebrado nada. Da última vez que a vira, ela trajava um longo vestido, até mais comportado do que ela costumava escolher. Agora, graças ao aquecedor da casa, ela vestia apenas uma camiseta grande demais, que talvez ele já tivesse visto no mais novo dos Baker, e isso apenas o irritou mais. Surpreendendo a garota, Tony pulou as pernas de Happy que agora estava sentado no corredor com as mãos nos lábios na tentativa de parar o sangramento, e puxou o braço da filha em um movimento brusco.
- Tony, você está me machucando... – avisou com a voz baixa, tentando resistir aos puxões do pai, quase tropeçando nos próprios pés quando ele a puxou com mais violência, em direção às escadas – Tony!
- Que tipo de merda você tem na cabeça, hm? – esbravejou o Stark mais velho, empurrando-a contra a parede ao seu lado – De verdade, me explica!
- Larga meu braço, Tony – pediu ela mais uma vez. A calma não residia mais em sua voz, que se tornou apreensiva e trêmula. Nunca tinha visto Tony naquele estado, e não podia negar que estava ficando assustada.
- Larga a garota, Stark! – ordenou Andrew, se adiantando para os dois. O que estranhou não foi sua atitude protetora, mas sim sua voz embolada, como se estivesse embriagado. Com um movimento do braço livre, Tony o jogou com violência contra a parede, ele indo ao chão em seguida, onde o garoto não demonstrou querer sair por um longo tempo.
- Você não ouse abrir a boca aqui, Baker. Eu sou capaz de te matar
- Sr. Stark...! – ofegou Pepper, que subira os degraus com pressa – Há fotógrafos cercando a casa.
- O que?!
Por milésimos de segundo, pode ver um sorriso convencido nos lábios de Andrew. Ele havia planejado toda a cena – de alguma forma havia entregado a localização deles para Tony, assim como para a mídia. Aquilo seria a parte visual da polêmica que estavam envolvidos: havia uma quantidade considerável de bebidas na casa, a aparência de ambos poderia ser considerada suspeita, já que mal dormiram nos últimos dias – e nada que um pouco de atuação não ajudasse. Afinal, já tinha agredido seu motorista, algo que nunca faria se estivesse em seu estado normal. O circo estava armado, não tinha mais volta. Talvez fosse ter certa paz logo, mas até lá sua vida seria um verdadeiro inferno.

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Fazia um mês desde que Andrew e decidiram interferir na história, e agora as Indústrias Baker lidavam com inúmeras acusações e processos – aparentemente, quando um grande problema surge, alguns menores também aparecem para se juntar ao menor, formando uma grande bola de neve. Muita sujeira que a dupla não tinha encontrado estava vindo à tona, então a situação estava bem pior do que eles imaginaram no começo – o que se esperava agora era que as Indústrias Baker fechassem as portas, e isso estava perto de se concretizar. Um pouco das dúvidas da Baker acabara respingando nas Indústrias Stark, mas nada que o departamento jurídico não tivesse conseguido resolver com facilidade. Não tinham como provar que eles sabiam das ações escondidas da Baker, e, por precaução, agora eles buscavam o máximo de distância possível que levasse o nome deles. Obadiah pessoalmente pedira que não voltasse a se aproximar do herdeiro dos Baker, com Tony logo rebatendo que a garota só faria aquilo por cima de seu cadáver.
Talvez aquela fosse a maior surpresa daquele mês: a superproteção que o mais velho dos Stark estava demonstrando. Embora ele mal olhasse em seu rosto nas poucas vezes que cruzavam o caminho um do outro na mansão – onde estava sendo mantida em algo que começava a se aproximar de cárcere privado –, Tony insistia que a garota não saísse mais de seu campo de controle, ou de J.A.R.V.I.S. Suas ações nos últimos meses, ele dizia, eram intoleráveis e nunca mais tornariam a se repetir. Pepper, mesmo estando um pouco desconfortável com as decisões muito extremas do chefe, acabava por apoiá-lo. Por mais que doesse ter que admitir, havia cruzado alguns limites que existiam apenas para seu bem, e talvez aquilo fosse necessário. Só esperava que, quando a garota perdesse a paciência com aquele cenário, não terminasse com um escândalo maior do que com que aquela situação começara.
Demorara exatos um mês e dezessete dias.
- Tony, me dá meu passaporte! – berrou , pela terceira vez naquela noite.
- Eu já falei que você não vai!
- Você não manda em mim!
- Da última vez que eu chequei, eu era seu responsável legal, então eu mando!
- Nossa, grande coisa querer usar isso apenas quando você quer!
- Eu só quero seu bem, criatura!
- Quando te convém!
Pepper abriu a boca para se intrometer, mas se calou quando ambos os Stark ergueram as mãos, visualmente a avisando que “não”.
- Você não está preocupado comigo! – acusou a garota – Você apenas está preocupado em como eu posso acabar piorando a situação e ainda é apenas porque Obadiah está com medo de que eu faça alguma merda. Se não fosse ele você estaria pouco se fodendo para mim.
Tony respirou fundando na tentativa de se acalmar, mas acabou que estava apenas recuperando o fôlego para gritar com ela mais uma vez. Afinal, ela deveria ter algum problema de compreensão já que achava que significava tão pouco para ele, e talvez falar um pouco mais alto a ajudasse.
- Me dizer esse tipo de coisa só prova que você é uma garotinha mimada que não sabe o que está fazendo! – retrucou ele – Com essa postura é certeza que você não sai desse país, ou dessa casa!
- Da última vez que eu chequei, é a mesma postura que você tem como CEO das indústrias, e ninguém reclama – lembrou , com sua expressão passando de irritada para incerta em seguida – Tanto.
O mais velho dos Stark bufou alto, suas mãos nos cabelos puxavam um punhado de fios com vontade, mas não diminuía a irritação que sentia. Aquele último mês se resumia apenas a isso: discussões. Tanto em casa como no escritório, e ele também estava em seu limite. Não havia o que fizesse a garota ver algo além de seu ponto de vista. Era perda de tempo, uma luta que não poderia vencer. Por isso Tony não se arrependeu quando entregou os pontos.
O passaporte de estava no bolso traseiro de sua calça. Quando o tirou de lá, não teve o menor cuidado, chegando até a amassá-lo um pouco entre seus dedos em um aperto com mais força que o necessário, estendendo a mão em direção da garota, que tinha o olhar dividido entre raiva e confusão. Em dezessete anos de convivência, nunca havia visto Tony se dar por vencido tão rápido. Claro que aquele tipo de discussão estava se tornando cada vez mais recorrente de uns tempos para cá, mas aquela era primeira vez que um tópico que envolvia mudança de endereço era abordado. Quando ingressara na UCLA em nenhum momento foi cogitada a possibilidade de ela morar perto do campus, tanto por não estarem tão longe de lá como por questão de segurança, e ela ainda ser muito jovem. Agora o cenário era completamente outro: o campus de sua universidade não era mais do lado de casa, mas sim do outro lado do Atlântico. Esperava um pouco mais de resistência de seu pai, mas nem ela entendeu como ficou surpresa com suas ações seguintes.
- Pega essa porcaria e some daqui então.
O tom de voz dele era sério, tão sério como no dia que encontrara ela e seu antigo namorado em uma casa simples em Detroit. O olhar de apenas se movera do passaporte para o rosto do homem uma vez, mas a mudança em seu semblante era imensa: a leve surpresa camuflada por sua determinação deu lugar a uma fúria sem igual quando seus olhos voltaram a se encontrar, o tipo de olhar que se acreditava que poderia matar, se não tivesse cuidado. Com três passos precisos, a garota parou em frente ao pai, tomando o passaporte em mãos, também o amassando um pouco. Tony estava a desafiando, mas ao mesmo tempo também chegava a ser um não tão gentil convite para se retirar. Era o que ele queria dizer, certo? Sua presença não fazia diferença. Ou melhor ainda: sua ausência seria bem-vinda. Ambas as leituras da fala de Tony fizeram com que a respiração da garota se tornasse mais profunda e pesada.
Ele estava dando a ela o que pedira, mas não exatamente da forma que ela esperava.
- Que horas é a porcaria do seu voo? – perguntou Tony, quando a filha ameaçou lhe dar as costas.
- Daqui cinco horas.
- Suas coisas já estão prontas? – continuou ele e, querendo poupar palavras, apenas assentiu – Ótimo, vai pegar porque vou te levar para o aeroporto.
- Não precisa.
- Claro que precisa – insistiu Tony, girando os calcanhares para descer para a garagem – Sabe muito bem a dor de cabeça que vai me causar se sair em algum site que você se mudou para outro país e eu sequer te levei para o aeroporto.

18 DE JULHO DE 2014 – TORRE DOS VINGADORES


Ultimamente aquilo se tornava cada vez mais raro, mas os Vingadores estavam de folga naquele dia. Já fazia um certo tempo que escurecera quando Clint sugerira trocar a noite de filmes por videogame, já que certas pessoas – ele jurara de pés juntos que se referia apenas ao asgardiano, mas seu sorriso travesso dizia outra coisa – nunca tinham tido contato com aquele tipo de tecnologia. Steve apenas fingiu que a indireta não era com ele, embora até que estivesse na expectativa para algum desafio, conseguir arrancar algum dinheiro do arqueiro, apenas por diversão. Barton não sabia que ele jogava ocasionalmente com , nem que normalmente ela que perdia.
O grupo explicava pela terceira vez para o deus como que o aparelho funcionava, e Steve começava a desconfiar que talvez ele também já estivesse familiarizado com aquela forma de tecnologia, pelas piscadas que o asgardiano lhe lançava sempre que pedia para alguém explicar novamente. Aparentemente aquela seria uma noite muito mais divertida do que o soldado imaginara em um primeiro momento.
- Certo, todo mundo continua o que estava fazendo – pediu a voz apressada de , saindo do elevador descalça e segurando nas mãos boa parte do tecido do vestido longo que usava. Em um acordo silencioso, todo o grupo se virou para ela – Não há motivos para pânico.
- O que você está procurando? – perguntou Natasha. Steve estava com a pergunta na ponta da língua, só que de sua boca levemente aberta não saia nenhum som. Ele havia visto o vestido naquela manhã, só que no cabide e não no corpo de . O tecido era vermelho escuro, do mesmo tom que seus lábios estavam pintados. Era bem marcado na cintura e depois ficava mais solto no seu comprimento. Ele chegava a cobrir parte do pescoço da morena, mas com um tecido mais transparente e com alguns bordados. Sem aquilo, o vestido seria tomara-que-caia. Os cabelos escuros de estavam com ondas bem marcadas e soltos, consideravelmente fora de ordem por ela estar correndo e se abaixando a cada dois segundos, e mesmo assim Steve havia perdido a habilidade de fala.
- Os brincos que Pepper me mandou usar – respondeu ela, jogando os cabelos para trás dos ombros e suspirando fundo. Ela tinha cinco minutos para estar pronta e ainda estava descalça e sem os malditos brincos – J.A.R.V.I.S., tem certeza que não lembra onde eu deixei?
- Temo que não, senhorita.
- Isso é motivo para pânico – brincou Clint, recebendo um olhar nada animado da mulher – Só respira, . Credo.
- Quando eu encontrar os brincos... Ah! Achei! – festejou ela, de trás do bar do andar. Na mesma velocidade que sua animação chegara, ela também fora embora quando olhou o conteúdo dentro da caixinha de veludo – Eles não combinam. Isso está errado. J., eu por acaso desisti do vestido que Pepper me mandou usar?
- Acredito que não, Srtª Stark.
- Nat, seus brincos são bonitos! – exclamou a morena, parando atrás da ruiva sentada do sofá – Troca comigo?
- Acredito que os seus são mais caros que os meus – comentou Natasha, enquanto tirava seus brincos com cuidado.
- Tem certeza? Eles parecem bem caros – retrucou , analisando a pequena joia – Não foi eu que te dei esses brincos? Eu realmente tenho bom gosto.
- Srtª Stark? – chamou-a um dos empregados da Torre, acompanhado de Tony mais atrás, vestindo um de seus smokings – Seus sapatos.
Como se já estivesse muito acostumado com aquele ritual, Tony parou próximo à filha, lhe oferecendo o braço para lhe dar apoio enquanto ela calçava os saltos excessivamente altos. ficara quase na sua altura quando terminara o processo, passando rapidamente as mãos pelo vestido para garantir que não tinha nenhum amassado.
- Tony, sua gravata está torta – disse ela assim que voltou sua atenção para o pai, já partindo para consertar o nó sem esperar pela permissão.
- Quando você aprendeu a dar nó em gravatas? – estranhou Tony, surpreso com a agilidade que ela desfez seu trabalho e se colocou a refazê-lo.
- Cresci vendo você fazer isso, e eu aprendo rápido – explicou ela assim que finalizou o nó, passando as mãos pela lapela do paletó para garantir que estava tudo no lugar.
- Pensei que ia falar que o Barton te ensinou – resmungou o homem, ainda com um pouco de irritação em sua voz.
- Como se ele soubesse fazer isso direito...
- Ei! Eu ouvi isso! – reclamou Clint, subindo no encosto do sofá para fuzilar a dupla com os olhos – Eu não estou acostumado em missões com disfarces em eventos Black Tie.
- Eu devo estar sonhando...! – ofegou Pepper, antes de sair do elevador – Ambos os Stark prontos sem eu ter que interferir.
- Somos bem crescidinhos, não acha, Pepps? – riu Tony, passando um braço pela cintura da filha e beijando seu rosto. Ali começava a encenação de família perfeita que sempre precisavam fazer quando estavam em público, então logo seu braço passou por trás das costas do homem, a mão descansando em seu ombro – Viu? Ainda lembramos os protocolos.
- , é impressão minha ou seu vestido é aberto nas costas? – perguntou a ruiva, caminhando em direção a seu namorado. assentiu – Então por que seu cabelo está solto?
A morena revirou os olhos, tirando alguns grampos que havia escondido em sua nuca exatamente por suspeitar que seria obrigada a improvisar um penteado. Teria feito aquilo em seu quarto mais cedo, só que o sumiço dos brincos havia atrapalhado ligeiramente seus planos.
- Srtª Potts? – chamou-a , caminhando para o espelho mais próximo – Posso perguntar por que apenas nós estamos prontos?
- Porque esse povo mole não está a fim de festa – respondeu Tony, lançando um olhar desapontado para o grupo, que apenas o ignorou e voltou a explicar como um videogame funcionava para Thor.
- Vocês estão brincando, não é? – ofegou , prendendo o último grampo e se virando para eles – Essa festa é um porre, mas a gente dá uma escapada no meio e aí a festa de verdade começa.
- Passamos – responderam todos em sincronia, fazendo com que revirasse os olhos e fosse se juntar ao casal já pronto.
- Pelo visto vai ser um programa pai e filha – sorriu Tony, lhe oferecendo o braço direito, já que o esquerdo já estava sob a posse de sua namorada.
- Não estou com sapatos confortáveis para isso.
- Se você vai continuar com o comunicador no ouvido, pelo menos tampe a orelha com cabelo, – resmungou Pepper, e a morena xingou baixo enquanto puxava algumas mexas para esconder o dispositivo – Tem certeza que não quer ir, Steve? Ficaria bem mais tranquila se você ficasse de olho na .
- Mas como é? Eu não preciso de babá! – ofegou , ofendida – Vou ficar feliz se você quiser ir comigo, Steve, mas não para me vigiar! Que história é essa, Pepper?!
- Não fale como se eu não tivesse motivos para não confiar em você – retrucou a ruiva, colocando ambas as mãos na cintura coberta pelo vestido verde escuro – Ou esqueceu no que aconteceu na última? Você e Andrew desapareceram por dias.
- Não tenho mais dezessete anos, Pepper. E eu sei me comportar em uma festa – lembrou ela, revirando os olhos e sorrindo travessa em seguida – E o Baker Jr. Não vai estar lá. Posso ter dado trabalho extra para ele hoje para garantir.
- Em que universo paralelo você acha que fazer essa piada foi uma boa ideia? – sussurrou Tony irritado em seu ouvido.
- Pessoas vão te fazer perguntas – continuou Pepper.
- Nesses sete anos de espionagem, ninguém nunca me fez perguntas – se fingiu apreensiva, levando a mão livre à boca. Tony discretamente chutou seu pé, avisando que era uma péssima ideia – Realmente vai ser uma noite difícil.
- Não estou gostando do seu tom, mocinha – acusou a mulher, rumando para o elevador enquanto procurava algo em sua bolsa de mão. Tony começou a segui-la, puxando a filha junto, que se desvinculou de seus braços dizendo que precisava falar com Steve antes de saírem – Te esperamos lá embaixo.
Percebendo que aquela era sua deixa para falar com a mulher, Steve se levantou em um pulo, caminhando até ela com um sorriso largo. O restante do grupo fingiu continuar a escolher um jogo para que não ficasse tão óbvio que estavam assistindo a conversa dos dois.
- Você está deslumbrante – murmurou ele, parando a poucos centímetros a sua frente.
- Ainda dá tempo de você mudar de ideia – comentou ela, se sentindo ainda com menos vontade de ir para aquela festa depois de ver aquele sorriso meigo que não a acompanharia – Pepper mandou fazer um smoking para você, e nem preciso ver para saber que você vai ficar incrível nele.
- Desculpe, mas não sou muito fã desse tipo de evento – suspirou Steve, fazendo uma careta apreensiva – E eu mal me recuperei do Tony e da Pepper fazendo perguntas. Sabe-se lá que tipo de coisas iriam perguntar para gente caso eu fosse com você em uma festa das Indústrias.
- Ei, sem pressão – garantiu ela, puxando o rosto do soldado para um beijo rápido – E estou vendo que aqui a noite vai ser bem mais divertida?
- Ei, ? – chamou-a Clint, se virando para o casal – Algum jogo que o Sr. América seja péssimo?
- Mortal Combat – mentiu sem pensar duas vezes, o que resultou no soldado soltando um fingindo “ei”. A mulher acenou para o grupo, se despedindo. Steve, que ria descrente, se adiantou para um abraço, possibilitando que a morena pudesse murmurar em seu ouvido um risonho “quero metade dos seus lucros dessa noite, Sr. América”.

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Os olhos de ainda estavam um pouco incomodados pelo número absurdo de flashes que vinham de todos os lados quando chegaram no espaço da festa. A última vez que a mídia tivera a chance de fotografar ambos Stark no mesmo ambiente fora quase uma década atrás, por isso o alvoroço era justificável. Isso e todas as polêmicas que ela se envolvera nos últimos anos. Nas manchetes não apareceriam “Tony e Stark aparecem em festa juntos depois de anos”, mas sim algo como “Homem de Ferro e filha Vingadora aparecem em público juntos pela primeira vez”.
Talvez ela fosse ficar longe da internet por um tempo.
- Tenho que dizer, Srtª Stark... – murmurou uma voz próxima, quando ela fugira um pouco da multidão e fingia conversar com o simpático bartender que logo notou seu desconforto por estar ali. Desconforto que apenas aumentou quando reconheceu a voz como Matthew Baker –Toda vez que te vejo, você parece ficar mais bela.
- Ou pode ser o efeito da bebida – brincou ela, apontando para o copo vazio que o homem segurava. Em segundos o bartender lhe entregara seu próprio copo com a bebida mais forte que tinha, que ela agradeceu fingindo chorar sem que Baker visse, o que fez o rapaz rir.
- Que não tira o mérito de sua beleza – insistiu o homem, gesticulando para que o bartender lhe trouxesse outra bebida – Sequer me recordo da última vez que você nos presenteou com sua presença em um evento das Indústrias, . É bom ver a herdeira de vez em quando.
- Estive muito ocupada nos últimos anos – respondeu ela apenas, buscando com os olhos a localização de seu pai ou Pepper, que poderiam lhe tirar dali. Não demorou muito para seu olhar encontrasse com o de Tony, que em segundos já se desculpava com quem estava conversando e rumava em sua direção.
- Fiquei sabendo. Oxford, S.H.I.E.L.D., Os Vingadores... – Baker continuou a tagarelar, seus olhos deixando claro que era naquele assunto que ele queria chegar, e não estava sendo nada discreto – Os rumores dizem que você ingressou no grupo.
- Os rumores dizem muitas coisas – respondeu , seu sorriso educado mostrando que ele estava passando dos limites naquela conversa.
- Não posso discutir – disse ele, e, antes que pudesse tentar arrancar informações da mulher, Tony se juntou aos dois, travando o braço da filha no seu, já a puxando para longe do Baker.
- Sabe como são as crianças de hoje em dia, não é, Matt? Fácil perder o controle sob elas, certo? – alfinetou Tony, já um pouco distante – Digo para o Andy mais tarde que você mandou um abraço.
escondeu o rosto no ombro do pai para disfarçar a risada. Se Matthew Baker ainda fosse um homem influente, os Stark teriam acabado de ganhar um inimigo perigoso.
- O que Baker estava falando com você? – perguntou Tony, assim que pararam na outra extremidade do bar, se apoiando na bancada ao lado da filha, que virou o líquido do copo que segurava de uma vez, logo acenando para que o rapaz lhe trouxesse mais. Sempre tivera uma tolerância boa para álcool, e depois do cetro ainda precisava de uma quantidade muito maior de bebida para que ela sentisse algum efeito. Claro que ela não conseguiria competir com Steve, mas teria que se esforçar um pouco mais caso quisesse entrar em um coma alcoólico.
- Papo furado – resmungou ela, puxando o braço do pai para checar seu relógio – Quanto tempo ainda temos que ficar aqui?
- Só mais alguns minutos. Somos os donos disso tudo – suspirou Tony, que também parecia cansado, mesmo negando toda vez que ela perguntava – Não somos tão importantes.
- Não sei como Pepper lida com isso tudo – riu , xingando mentalmente quem tivera a ideia de retirar os bancos do bar. Ela poderia matar por um lugar para sentar que não fosse o chão, embora agora ele parecesse bem convidativo – Faz umas duas horas que quero sair correndo.
- O que aconteceu com a mulher confiante de mais cedo?
- Ela está morrendo com esse salto gigante e precisa voltar para a cama dela.
- Você podia ter omitido a última parte – resmungou Tony, com o rosto contorcido em uma careta enjoada – Não preciso saber das suas atividades extracurriculares com seu namorado.
- Eu não disse que queria alguém na minha cama...! Estou contando com isso, mas queria apenas descansar um pouco – explicou ela, rindo. O homem ao seu lado apenas concordou de leve, mas não voltou a relaxar, e sabia muito bem o motivo – Eu estar com Rogers realmente te incomoda, não é? Pepper não está por perto, pode ser sincero.
- Um pouco – confessou Tony, terminando sua bebida recém-chegada em um único gole – Claro que você poderia estar com alguém como Barker miniatura, então eu não deveria ver o Capitão como o maior dos problemas.
riu de leve, aproveitando a música lenta, a falta de pessoas ao redor, e a falta de copos em suas mãos para puxar o pai um pouco para longe do balcão, deixando uma de suas mãos no ombro do homem e segurou a outra mão oposta, não demorando muito para que ele entendesse o que ela planejava e envolvesse a cintura da filha com o braço livre, começando a ditar o ritmo lento da dança.
- Ele é um cara legal – murmurou ela, apoiando o queixo no ombro do pai. Mesmo sem monitorar os arredores, conseguiu notar algumas pessoas fotografando o momento.
- Pode até ser, mas ele se deixa manipular muito fácil por suas vontades – comentou Tony – Se você fazer besteira, arrasta ele junto.
- Desculpe, não entendi direito: você está preocupado comigo ou com o Rogers? – riu , se afastando minimamente apenas para que o moreno visse seu sorriso debochado.
- Você é uma pessoa difícil, . Não podemos negar. Talvez tão ou mais difícil do que eu – explicou ele, assistindo a expressão da filha se alterar para concentrada, tentando entender no que ele pretendia chegar – Eu tenho a Pepper. Ela é meu freio, ela que tenta colocar um pouco de bom senso na minha cabeça. Só que Rogers não é como a Pepper. Não consigo vê-lo batendo o pé no chão, e te mostrando que você está errada. Por isso não acho que ele seja o cara certo para você.
- Nessa sua linha de raciocínio, você está certo. Só que você está vendo o cenário do ponto de vista errado – disse , depois de pensar no que o pai lhe dissera – Eu não seria você nessa história. Eu seria a Pepper: eu que impeço Tony Stark de fazer alguma burrada, eu que tenho que clarear as ideias dele. Às vezes você se esquece de como Steve e você são parecidos.
- Então você está me dizendo que escolheu um cara parecido com seu pai para namorar? – alfinetou Tony, erguendo a sobrancelha e rindo quando a filha contorceu o rosto em uma careta.
- Cara, eu poderia dormir sem essa – resmungou ela, estapeando com certa força o ombro de Tony, mas rindo em seguida – Dormir bem mais em paz, na verdade.
- Como se Rogers fosse te deixar dormir depois de ter te visto nesse vestido... Você está realmente estonteante – Tony disfarçou a brincadeira com o elogio, recebendo um sorriso cínico em agradecimento – Rogers tem sorte de ter te conquistado. Já você nem tanto. Dava para conseguir algo melhor que o Captain Boring.
jogou a cabeça para trás, com seu riso alto atraindo a atenção da maior parte das pessoas do local, não que a dupla tenha notado. Estavam tão imersos em sua conversa que por um tempo esqueceram que estavam em público, que tinha que manter certa postura para não criar problemas com a mídia. Pepper só não esperava que eles se sairiam melhor quando parassem de obedecer suas ordens.

Fim



Nota da autora: O ÚLTIMO MOMENTO NÃO TEM TRETA, GENTE! Ninguém esperava isso, né? Depois de bomba atrás de bomba até eu estranho esses momentos de paz. Mas paz demais também não é bom sinal, certo? [insira aqui minhas desculpas porque eu gosto de deixar suspense no ar]




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