Parte I
There's an ache in you, put there by the ache in me...”
As juntas dos meus dedos doíam absurdamente enquanto segurava o volante da minha velha caminhonete e me dirigia até o mercado mais próximo de casa. Meu dedos doíam porque fazia alguns anos que eu não vinha até Coney Island, a fria Coney Island, mas devido ao diagnóstico sobre a saúde da mamãe, senti que era hora de voltar, ao menos para as festas de final de ano deste ano. Infelizmente, não havia como largar tudo na minha vida corrida em Los Angeles mais. Até tentei convencer mamãe a ir para lá e viver comigo, numa cidade mais quente e que daria menos problemas para a saúde já debilidade dela, mas falar qualquer coisa a Marjorie era perda de tempo, ela só fazia o que queria e ir morar comigo do outro lado do país não era uma delas.
Passar as festividades em Coney Island era algo que eu não fazia há alguns anos, desde que decidi tentar a carreira de atriz em Los Angeles, e isso aconteceu alguns anos após o high school, ou seja, quinze anos atrás, que também foi quando consegui passar na Universidade da Califórnia para Artes Cênicas. Depois desse dia, nunca mais voltei, a vida era sempre corrida, sempre tentando testes, tentando o melhor para mim e de mim, fazendo séries, e meus pais sempre iam para lá nessa época, só que dessa vez foi impossível e tive que voltar para a minha cidade natal.
Havia chegado a Coney Island na noite de ontem. Como havia chegado tarde, apenas fiquei em casa curtindo meus pais e nada além disso, não teria pique para outras coisas, fora que Coney Island ainda era cheia de memórias para mim, cheia de fantasmas, felizes e tristes, e eu não queria lembrar os tristes, não agora.
Estar em Coney Island agora era unicamente para poder aproveitar o tempo com a minha mãe, o que era exatamente o que eu buscava para o meu fim de ano. O chocolate quente com marshmallow, embaixo do velho cobertor de pelinhos brancos e sentada ao lado de mamãe assistindo The Holiday ainda era meu programa favorito no mundo, apesar do tempo e da vida.
Dona Marjorie e eu sempre tivemos uma conexão muito grande. Não foi nada fácil para ela me ver deixar a costa leste do país e me mudar para a oeste, mesmo após tantos anos e com todas as visitas corriqueiras feitas por ela a mim. Ela sempre dizia que faltava algo e que eu seria muito mais feliz em New York do que em Los Angeles, mas eu não pensava assim e não penso até hoje. Lógico que o meu sonho sempre esteve em primeiro lugar no mundo e Los Angeles era esse lugar, mas me livrar de Coney Island e ficar o mais longe possível desse lugar era o que mais desejava também.
Uma buzina alta e ardida me fez acordar dos pensamentos que rondavam a minha cabeça, fazendo com que eu colocasse a mão para fora e desse o dedo do meio para a pessoa atrás de mim, que buzinou ainda mais alto assim que viu meu gesto.
— Coney Island e sua hospitalidade de sempre — falei enquanto ajeitava a marcha da velha caminhonete e voltava a dirigir, saindo do semáforo no qual estava parada.
Não podia negar que Coney Island também despertava um ar irritadiço em mim e isso sempre acontecia desde a primeira vez que saí daqui. Não sei se eram as coisas que já havia vivido aqui, as lembranças ou os fantasmas, mas era sempre assim. Fora que ainda eram oito da manhã, em uma véspera de Natal, na qual dona Marjorie me fez levantar da minha cama quentinha, me encher de roupa, dirigir a minha caminhonete velha e caindo aos pedaços e ainda andar na neve para ir ao mercado comprar mel, porque era a única coisa que faltava para a sua receita de Natal.
Assim que cheguei ao mercado, estacionei a caminhonete e caminhei rápido até a entrada, porém, sem perceber e num deslize em caminhar rápido na neve, a hora em que estava a poucos passos da entrada do local, meu pé escorregou, o que me fez ir de bunda ao chão num tombo bem bonito e característico meu.
— Você precisa de ajuda? — Escutei uma voz feminina falar atrás de mim. Era uma voz em um tom que eu parecia já ter escutado em algum lugar, alguma vez.
— Não, obrigada, já estou me levantando — respondi, já me colocando em pé e batendo as mãos pela minha roupa para tirar o acúmulo de neve.
Em seguida levantei o meu olhar para a pessoa à minha frente e para a minha surpresa aquela exata pessoa era um fantasma do passado, um fantasma bom, ao qual eu não poderia negar um abraço. Audrey , a irmã gêmea do fantasma que eu não gostava muito de lembrar.
— ? — Audrey perguntou, se aproximando.
— A própria — respondi de braços abertos, vendo Audrey se aproximar e me envolver num abraço.
— Quanto tempo — Audrey voltou a faltar assim que nos separamos. — Por onde você andou?
— Los Angeles, não sei mais viver nesse frio, você pode notar bem — respondi rindo e tendo a certeza de que realmente Coney Island não era mais para mim. — Mas e você, como anda?
— Ainda aqui, com uma filha de dez anos e casada — Audrey disse com um ar feliz.
— Você ainda está com o Tobey? — perguntei curiosa e realmente estava.
Audrey e Tobey haviam começado a namorar no nosso primeiro ano de high school, ou seja, era há muito tempo.
— Sim! Tivemos nossos altos e baixos, mas ainda permanecemos juntos. — Audrey agora tinha realmente um ar genuinamente feliz. — Mas e você? …
— Foi ótimo te ver, Audrey, de verdade — disse a cortando por imaginar aonde aquele assunto iria dar. — Mas preciso comprar umas coisas para a mamãe, se não ela vai me deixar louca.
Assim que disse aquilo, Audrey acenou um sim com a cabeça ao mesmo tempo que deu um sorriso suspeito, parecendo pensar em algo.
— Foi bom te ver, , uma grande surpresa mesmo — Audrey disse se despedindo. — Espero te ver mais vezes por esses dias, seria legal.
Apenas concordei com a cabeça.
— Sim, quem sabe — respondi. — Agora preciso mesmo ir.
Audrey riu e fez um sinal com a mão para que eu fosse até o mercado. Apenas disse um até logo inaudível e me encaminhei com cuidado dessa vez, para que não ocorresse outro tombo com a presença de mais alguma outra pessoa do passado.
Quando adentrei o local, peguei uma cestinha e rapidamente fui para a sessão na qual tinha o mel, que era exatamente por causa dele que havia ido até lá. Para evitar voltar para o mercado por causa de alguma outra coisa que minha mãe pudesse ter esquecido, resolvi ligar para ela e confirmar se precisava de mais alguma coisa. Retirei então meu celular do bolso e o desbloqueei. Assim que fiz isso, vi uma foto minha na praia de Venice Beach.
— Hoje é exatamente aquele dia que sinto a maior falta de casa do que jamais senti — disse para mim mesma, olhando para a tela na minha frente.
Porém, segundos depois, minha atenção foi tirada do celular, pois escutei uma risada conhecida ecoar pelo corredor, uma risada que já foi compartilhada comigo anos atrás. Seria mais um dos fantasmas dessa cidade? Rapidamente olhei para os dois lados, mas não vi ninguém.
— Ver Audrey mexeu comigo, devo estar escutando coisa — disse para mim mesma enquanto balançava a cabeça e voltava a prestar atenção no celular, discando o número de mamãe.
Foi necessária apenas uma chamada para que ela me atendesse, rápido, como sempre era com Marjorie .
— Oi, meu amor — minha mãe disse assim que atendeu a ligação.
— Já estou no mercado. Precisa de algo além do mel? — perguntei.
Porém antes que minha mãe respondesse algo, ouvi novamente aquela mesma risada, aquela inconfundível risada. Olhei mais uma vez para os dois lados, buscando o dono dela, mas não vi ninguém.
— Esse lugar está me deixando definitivamente louca — falei para mim mesma.
— ? — Ouvi a voz da minha mãe falar ao telefone, me dando conta de que ainda estava com ela em linha. — O que está te deixando louca?
— Nada, mãe, achei ter visto algo — respondi, querendo não entrar no assunto. — Mas era coisa só da minha cabeça.
— Você nem ouviu o que te disse então — minha mãe disse de forma retórica.
— Me desculpe, mas não — fui sincera.
— Falei para você trazer mais algumas maçãs para a torta que estou fazendo e pegue uns vinhos para ti. Seu pai esqueceu de comprar — mamãe avisou.
— Okay, daqui alguns minutos eu chego! — falei.
— Até daqui a pouco, meu amor — mamãe disse, encerrando a ligação em seguida.
Assim que coloquei o mel, me encaminhei para a área que havia algumas frutas e peguei algumas maçãs, as colocando na cesta também. Logo me encaminhei para a sessão das bebidas, não podia negar que era a minha favorita. Vinhos eram algo que eu havia criado muito apreço ao longo dos anos, o gosto ácido e seco do líquido extremamente vermelho pela minha garganta era absolutamente tudo o que precisava para passar aqueles dias sem pensar muito, apenas curtir, curtir meus pais, curtir a vida da minha mãe, curtir o meu tempo com eles.
Comecei a passar os olhos pela seção de vinhos, vi a seção do Merlot, e Chardonnay, do Cabernet Sauvignon, todos os que eu tanto amava.
— Quer saber? Eu vou levar um de cada! — Disse para mim mesma pegando os vinhos e colocando um a um na cestinha.
Continuei olhando para ver se iria querer mais algum.
— Você tem alguma preferência? Merlot? Okay! — Escutei uma voz masculina dizer perto de mim, parecendo conversar com alguém.
Mais uma vez era uma voz conhecida, uma voz que parecia pertencer ao meu passado.
Devagar me virei para ver de quem a voz se tratava e assim que fiquei de frente para o dono dela, nossos olhos imediatamente se conectaram, os dois pares de olhos cristalinos que sempre se conectaram tão bem, desde sempre. E ele, exatamente ele, era aquele fantasma que eu tinha tanto medo de encontrar, medo de não resistir, como sempre aconteceu. O fantasma era .
pareceu paralisado assim que me viu também. Ele não disse nada, nós dois apenas nos encarávamos tomando as notas de como cada um tinha evoluído da sua forma. agora tinha uma barba tomando todo o seu rosto bem desenhado, o cabelo também havia crescido e os cachos desciam por sua testa, ambos davam ainda mais destaques para os seus olhos, os olhos que sempre foram a minha salvação, mas também a minha ruína.
Ensaiei dizer alguma coisa, um oi ou o que fosse, mas nada saía de minha boca. Apenas balbuciei alguma coisa, mas nada muito concreto, até que decidi não dizer mais nada, apenas levantar a mão e acenar um oi, tentando ao menos levantar uma bandeira branca pelo nosso passado, mas não fez absolutamente nada.
— Aqui está um pouco cheio demais agora, mais tarde volto para comprar o nosso vinho — escutei ele dizer algo no celular que eu nem havia notado antes.
E então virou as costas, fingindo que não era eu, que eu não existia, que eu não estava na frente dele. A reação dele parecia até um tipo de frio que chegava a embaçar o para-brisa. Havia uma dor nele, uma dor causada por mim, eu sabia disso, e na verdade não era o meu fantasma, eu que era o dele.
Part II
Após sair do mercado e ir para casa, minha cabeça não saía da imagem de em pé, bem na minha frente, sem reação alguma, parecendo uma estátua de gelo, fingindo que eu não existia. Porque apesar de toda a dor que nos assolou no passado, nosso passado não foi um dos piores, não havia nem como ser.
— No que você está tão dispersa? — Escutei minha mãe falar enquanto ajudava a secar a louça das comidas que ela havia feito àquela manhã.
— Só coisas demais — falei, voltando a passar o pano pelo último prato antes de o guardar.
— Essa cara tem um nome em específico, não tem? — Dona Marjorie olhou profundamente para mim.
Ela sempre soube me ler completamente e sabia quais eram as minhas caras para cada pessoa, para cada sentimento, para tudo.
— Sim! — Me dei por vencida, não ia adiantar tentar não tocar no assunto. — Encontrei no mercado.
Minha mãe não pareceu estar surpresa naquele momento, como se já esperasse que isso acontecesse em algum momento.
— Você não está em Los Angeles, era óbvio que vocês iam se esbarrar, ainda mais porque ele também mora nesse bairro — mamãe disse, se sentando em uma das baquetas da ilha da cozinha.
— Ele voltou? — perguntei curiosa.
, assim como eu, também tinha ido embora pouco depois do high school. Ele havia passado na NYU, jurava que era por lá que ele ficaria para sempre, afinal, era New York.
— Ele voltou há alguns meses — mamãe voltou a falar, fazendo com que a minha atenção voltasse para ela. — Voltou para tomar conta dos negócios da família, a loja de móveis dos pais.
— Mas e a Audrey? Ela sempre esteve aqui — perguntei querendo saber mais.
— Audrey é médica, , não tinha como ela parar a vida dela para fazer isso — mamãe contou.
— Mas fez isso… — constatei.
— estudou administração, a vida toda ele se preparou para isso — mamãe continuou a contar. — Fora que o casamento dele acabou. Ele não tinha mais o porquê continuar em New York.
Assim que mamãe disse aquilo, senti um nó se formar na minha garganta. tinha se casado e não havia dado certo?
— Vo-cê, você sabe com quem ele era casado? — Foi impossível não gaguejar nessa hora ou pensar na pessoa com a qual ele havia tentado ser feliz.
— Por que você quer saber, ? — minha mãe perguntou, olhando para mim desconfiada.
— Curiosidade — respondi.
O que não era completamente mentira.
— Você sabe muito bem que era para ser você, mas foi você que não quis. Foi você que fugiu depois de um pedido de casamento — minha mãe disse aquilo que eu já sabia e recordava perfeitamente bem em minha mente. — Mas agora estou cansada para repetir isso mais uma vez para você. Vou deitar um pouco para que possamos aproveitar a nossa noite de Natal.
Apenas concordei com a cabeça, vendo minha mãe se levantar da banqueta da ilha e depois sair da cozinha enquanto a minha cabeça ainda pensava em e em tudo o que já fomos um dia. Ficar em casa não me ajudaria, eu precisava me distrair, precisava ir para outro lugar tentar desviar os meus pensamentos e meu coração daquele turbilhão de coisas e fantasmas do passado.
Rapidamente, peguei a chave da minha caminhonete que estava sobre a ilha, peguei minha bolsa que também ainda estava ali e me dirigi para fora de casa para pegar o rumo de um lugar que sempre me fez bem em Coney Island. Assim que entrei na caminhonete, dei partida, mas antes de sair, escrevi uma mensagem para mamãe avisando que daria umas voltas para espairecer, mas estaria logo em casa. Após fazer isso, finalmente soltei o freio da caminhonete e comecei a dirigir por Coney Island. A cada esquina, rua, ou qualquer lugar que eu passava naquela cidade havia uma história, havia algo que me lembrava o passado, um passado feliz, um passado gostoso, mas ao mesmo tempo tortuoso, difícil, como tudo na vida.
Poucos minutos após sair de casa, finalmente cheguei ao destino que desejava, ao píer de Riegelmann Boardwalk, aquele sempre era o meu lugar favorito no mundo. Mesmo morando em Los Angeles, aquele píer com seus bancos com vista para o mar, os carrosséis, o Luna Park, as luzes de Natal, era realmente um lugar tranquilizante.
Estacionei a caminhonete algumas quadras do Píer e, assim que desci, acabei rindo ao notar exatamente onde havia parado. Era em frente à nossa escola, a escola minha e de , onde havia passado anos gloriosos. Balancei a cabeça rindo e segui em direção ao píer. Por ser véspera de Natal e pela nevasca avassaladora que havia dando na noite anterior, o lugar estava vazio. Poucas pessoas andavam por ali, poucas coisas aconteciam, estava realmente calmo e silencioso. Era possível até escutar o barulho das ondas se quebrando a poucos metros e aquele barulho era relaxante, ao menos para mim.
Acabei me sentando em um banco vago que tinha uma vista privilegiada. Conseguia ver o mar e sentir a sua brisa enquanto via o céu acinzentado, e também conseguia ler o Luna Park, um lugar onde eu tinha várias memórias, mas uma em especial mexia mais comigo, não podia negar, porque foi ali, exatamente naquele lugar, que eu havia sido pedida em casamento por , o qual eu não havia aceitado.
ANOS ANTES
— , nós vamos nos atrasar. — Escutei dizer com um tom de voz levemente irritado enquanto se aproximava, subindo as escadas em direção ao meu quarto.
— Estou só terminando uma última coisa — respondi enquanto dava o toque final ao batom em meus lábios.
Assim que virei para a porta, estava ali, parado, meio que hipnotizado olhando em minha direção.
— Como estou? — perguntei, olhando para ele enquanto passava as mãos pelo meu vestido.
— Está perfeita! — respondeu e veio em minha direção, me abraçando pela cintura.
— Tem certeza de que quer ir ao parque? — perguntei, descendo as minhas mãos pelo seu tórax com uma cara sugestiva.
riu e depois deu um beijo leve em meu pescoço.
— Por mais que eu ame ficar a sós com você, ame seu cheiro e ame você, hoje realmente quero ir para o parque de diversões — disse, olhando bem para mim.
A hora que nossos olhares se cruzaram, pude sentir um certo nervosismo neles, e era um tipo de nervosismo que eu nunca havia visto antes, o que me fez até sentir um certo frio na barriga. Não era um bom sinal, mas não queria estragar o clima bom em que estávamos naquele momento. Estar com era algo que eu realmente gostava, ainda mais dessa forma, curtindo o fim do high school sem pensar em grandes responsabilidades. Era fácil, gostoso.
— Vamos? — perguntou, fazendo minha atenção voltar para ele.
Apenas concordei com a cabeça e senti ele soltar a minha cintura, descendo uma das mãos até chegar à minha e entrelaçar os nossos dedos.
Saímos do meu quarto e descemos as escadas em direção à saída. Meus pais não estavam em casa, tinham ido ao cinema curtir um dia só deles. Entramos então no carro de e seguimos em direção ao píer onde estava o parque.
— Quem mais vai com a gente? — perguntei enquanto prestava atenção na paisagem delicada de Coney Island na primavera, a minha estação favorita para a cidade.
— Achei que a gente poderia curtir um dia só nós dois — respondeu, passando a mão sobre a minha perna enquanto prestava atenção na rua.
Senti a sua mão levemente gelada sobre a minha pele, o que indicava também um certo sinal de nervoso.
— Está tudo bem, baby? — perguntei realmente querendo saber, afinal, nunca havia o sentido daquela forma e isso me fazia sentir algo ruim dentro de mim, algo que não gostava.
— Sim, por que não estaria? — respondeu, dando uma leve olhada para mim com carinho.
— Acho que é só coisa da minha cabeça — disse enquanto pegava sua mão e entrelaçava com a minha.
Poucos minutos depois, estacionou seu carro algumas ruas para cima do Luna Park, em seguida descemos animados e ainda de mão dadas fomos em direção ao parque de diversão que havia no píer de Coney Island, um dos mais famosos por sinal. Mas antes que passássemos pelo portão do parque, puxei com força, fazendo com que ele viesse em minha direção e me abraçasse pela cintura. Algo dentro de mim, bem dentro de mim, dizia que aquele poderia ser o nosso último momento feliz juntos, o único em que eu poderia ser genuinamente feliz.
— O que foi? — perguntou bem próximo, quase com nossos lábios se tocando.
Olhei bem profundamente dentro de sua íris, aquela íris que sempre transparecia tanta coisa para mim, depois passei a mão pelo seu rosto, tomando nota de cada detalhe. Os cabelos encaracolados com alguns fios descendo pela testa, os lábios bem desenhados e o sorriso avassalador. Todos eles, tantos detalhes que eu amava tanto.
— Só queria lembrar o porquê amo tanto você — confessei por fim.
juntou então nossos lábios num beijo calmo, gostoso, mas cheio de sentimento, cheio de coisas para se dizer, cheio de nós.
Depois que nos soltamos daquele beijo, seguimos abraçados para dentro do parque. Ali perdemos horas gastando nosso tempo juntos da melhor forma possível, brincando nos jogos de pontaria, de adivinhações, na montanha russa, nos jogos de força, havia sido realmente um dia gostoso e cheio de risadas, um dia que eu lembraria. Deixamos por último a roda gigante, onde poderíamos ter um tempo para a gente, só nós dois, sozinhos, em paz.
Entramos no brinquedo e poucos segundos depois ele começou a girar, mas dava algumas paradas para acomodar as outras pessoas nas outras cabines.
— Gostou do nosso dia? — perguntou enquanto eu olhava o movimento do parque.
Assim que ele disse isso, virei minha atenção para ele e sorri, afirmando apenas com a cabeça.
A roda gigante continuou a girar e colocar a gente mais para cima, até que no ponto mais alto ela parou. De lá, eu conseguia ver o mar, a cidade, o parque, o píer. Eu amava aquela vista, estar na alturas era algo realmente gostoso para mim, parecia que ali, exatamente naquele lugar, eu conseguia ter controle de tudo, mesmo não tendo.
— Baby. — Escutei me chamar.
Desviei minha atenção daquela imensidão à minha frente e olhei diretamente para ele.
— Sim? — respondi enquanto o olhava.
— Quero te dizer que estar aqui, agora e com você, será, com certeza, uma das minhas memórias favoritas. — A roda gigante começou a funcionar enquanto pegava na minha mão e ainda olhava profundamente para mim. — Desde aquele primeiro dia que nos vimos, na escola, quando você chegou a Coney Island, sabia que queria você para sempre e sabia que você seria o amor da minha vida.
A cada palavra que falava, um nó na minha garganta se formava. Apesar de eu sentir tudo exatamente da mesma forma que ele e na mesma intensidade, ainda éramos novos e tínhamos muito o que viver, separados e juntos.
— Desde aquele dia, quatros anos atrás, eu sabia, sabia que seríamos para sempre — voltou a falar.
— … — o chamei em tom de súplica, sabendo aonde aquilo provavelmente ia dar, mas ele fingiu que não ouviu.
— E é por isso que quero dar o próximo passo, quero ter certeza de que a minha vida será para sempre com você — assim que disse aquilo, ele levou sua mão até o bolso, de lá ele tirou um saquinho de pano vermelho, depois o abriu e de dentro dele retirou um anel, um solitário, um anel de noivado. Em seguida se ajoelhou bem à minha frente, de forma desengonçada, pois a cabine da roda gigante era pequena. — , você aceita se casar comigo? — perguntou por fim.
Eu estava sem reação, congelada, por mais que eu o amasse, naquele momento aquilo não parecia o ideal, o certo.
Me abaixei na direção de e o fiz sentar no banco à minha frente. Na mesma hora ele fez uma cara de confuso, não entendendo por que havia feito aquilo.
— , meu amor — comecei a dizer. — Eu te amo demais e realmente acho que nós seremos o amor da vida do outro, para sempre, porém…
— Você não vai aceitar — me cortou antes que eu terminasse a frase.
— Nós somos novos, temos sonhos diferentes para o próximo ano. Acho precipitado, principalmente neste momento em que você está para receber as respostas das suas faculdades e eu das minhas — me justifiquei.
— Mas a gente pode dar um jeito. Você pode tentar aqui, em New York — disse, seus olhos já estavam lacrimejados.
— E por que você não pode ir para a Califórnia? — perguntei com uma leve ponta de irritação por ele só ter proposto que eu ficasse em New York e que ele não fosse para a Califórnia.
— Porque o meu sonho é New York e não a Califórnia! — respondeu o que eu já imaginava que ele diria.
— Esse é exatamente um dos motivos por que eu não posso aceitar me casar com você, não até você entender que os meus sonhos são tão importantes quanto os seus — comecei a dizer realmente brava, não havia a mínima possibilidade de dar certo enquanto pensasse assim. — Eu sou importante da mesma forma que você, eu quero ser atriz e quero tentar isso em Los Angeles.
— Eu sei, só me expressei mal... — tentou se justificar.
— Não, , você não se expressou. Sei que você pensa assim e pensa há anos. — Eu realmente estava irritada. — Se você quer saber minha resposta, ela é não. Eu não vou desistir dos meus sonhos por você e tenho dito.
Assim que disse aquilo, a roda gigante parou para que nós descêssemos. Quando saí por aquela pequena porta, não olhei mais para trás, não quis mais saber de , não por um tempo.
ATUALMENTE
Aquele exato pedido, daquela exata forma, foi a gota d’água para que nosso relacionamento ruísse. Apesar de várias conversas, nunca voltamos a ser como éramos, até que tudo acabou, uns dias antes de eu ir para Los Angeles, e nunca mais nos vimos, até o dia de hoje, até ele fingir que realmente não havia me visto.
E eu não me arrependo de forma alguma te ter dado aquela resposta, com aquele não. Naquele momento, eu não conseguia ser o que queria, eu não conseguia fazer ele a minha peça central de tudo e nem deveria, eu apenas deveria ser isso para mim mesma.
Confesso que em Los Angeles nada foi fácil após a faculdade. Apesar da vida boa, era estressante, era humilhante, porque era sempre cada dia mais tentando e tentando testes medíocres e várias e várias vezes me imaginei pensando no caminho que eu não tomei. Nesse momento parecia bom, mas eu sabia que não era, sabia disso porque a mesma Los Angeles e a mesma profissão que me machucava, me fazia feliz e me fazia sentir realizada, a qual até ganhei um prêmio, um prêmio que, por ironia do destino, era por uma cena de casamento o qual eu tinha que negar, um prêmio que eu ganhei por ter vivido exatamente aquilo e ao qual eu não agradeci a outra pessoa responsável por ser tão perfeito e por ter feito isso, . Eu não disse o nome dele, nunca agradeci, mas deveria.
Uma leve brisa gelada soprou sobre meu rosto, me fazendo passar as mãos pelos braços para me aquecer e tentar esquecer aquele tanto de memórias que aquele lugar me remetia, porém, assim que virei para o meu lado, exatamente no banco a cerca de três metros do meu, estava a pessoa que estava tanto nos meus pensamentos. Não sei se ele sentiu meus olhares sobre ele, mas poucos segundos depois se virou e direcionou o seu olhar para mim, fazendo que nossos olhos, mesmo a uma distância considerável, se conectarem. então riu e depois se levantou, começando a andar em minha direção, o que me causou uma certa confusão, pois há poucas horas ele havia fingido que eu nem ao menos existia.
— Posso me sentar? — perguntou assim que parou ao lado do meu banco.
— Sim — respondi ainda sem entender e imaginando onde aquilo tudo ainda poderia dar.
Part III
Ver na minha frente, praticamente da mesma forma, com a mesma beleza, com o mesmo sorriso, com os mesmos olhos cristalinos e hipnotizantes me fez agir como se ela realmente fosse um fantasma, como se não existisse, porque apesar de ela estar certa em ter feito o que fez, aquilo ainda era uma cicatriz mal curada, ainda mais depois do que havia acontecido, depois de meu casamento, já destinado ao fracasso, realmente ter ruído.
— Você está com o pensamento longe — minha irmã perguntou assim que cheguei do mercado e deixei as coisas sobre o balcão da casa dela, onde nós passaríamos a nossa noite de Natal.
— Não é nada! — menti enquanto ainda pensava naquele olhos cristalinos me olhando decepcionados quando fingi que ela não estava ali.
— Você a viu! — Audrey constatou.
— Como você sabe? — perguntei levemente confuso.
Realmente não tinha ideia de como ela sabia do meu encontro com .
— Quando eu estava saindo, acabei a encontrando chegando — Audrey contou. — não mudou absolutamente nada, ainda se parece com o grande amor da sua vida.
Aquela última frase fez um nó se formar em minha garganta. Isso eu nunca poderia dizer que não era verdade e depois do fim do meu casamento, tenho ainda mais certeza sobre o quanto ainda está e sempre esteve dentro do meu coração.
— Eu fingi que ela não existia no mercado, que era um fantasma — confessei para a minha irmã.
— Por quê? — Audrey questionou com um tom indignado na voz. — é tudo o que você precisa, , você sabe disso, sempre soube. Você até tentou com outras pessoas, tentou ser feliz, principalmente com a Amie, tentou de tudo para salvar um casamento que todos nós sabíamos que não ia para frente, um casamento que você só quis depois de ver acompanhada passando na TV.
Eu odiava saber que Audrey tinha completa razão, mas não queria pensar nisso agora. Queria aproveitar meu fim de ano, aproveitar minha família e não pensar em , não por agora.
— Não precisa jogar na minha cara, Audrey. Eu sei bem de todas as coisas erradas que fiz ao longo destes anos — disse. — Vou dar uma volta pelo píer, preciso pensar um pouco.
Nem me despedi da minha irmã, apenas peguei a chave que ainda estava sobre o balcão e saí dali, já entrando no meu carro sabendo exatamente onde queria me sentar, onde queria pensar, onde estar.
Devido a ter caído uma nevasca na noite anterior, as ruas não estavam cheias e em poucos segundos acabei chegando ao píer Riegelmann Boardwalk. Logo estacionei o carro e andei em direção a um banco que havia ali perto de um carrossel. Olhar aquele mar, mesmo com a brisa gélida, me fazia bem, ainda mais nesse momento e depois de ver .
Sei que havia ido ali exatamente para não pensar nela ou em algo sobre ela, mas sabia que seria impossível, principalmente porque aqueles olhos estavam tão marcados na minha memória, e os ver hoje novamente me fez lembrar exatamente o dia em que a conheci, ainda no high school.
ANOS ANTES
Aquele só parecia mais um dia comum na minha vida. Havia acordado cedo, tomado meu café da manhã e agora me dirigia até a escola. Ainda era o meu ano de calouro, ainda teriam três anos pela frente até que eu me formasse e pudesse me livrar de Coney Island. Apesar de ter nascido aqui e minha família ter construído sua empresa aqui, ainda sentia que Coney Island não era para mim, não havia nada tão interessante que me prendesse tanto assim.
Quando passei pela porta da primeira aula, que seria biologia, sentei logo na minha mesa sozinho, já que nenhum amigo meu fazia aquela aula. Hoje teríamos aula de laboratório e mesmo com a insistência da professora em sempre querer que eu arrumasse um companheiro, a turma tinha um número ímpar de pessoas, então nunca seria possível.
— Hoje vamos começar a aula estudando a anatomia das plantas. Vocês têm todos os materiais sobre a carteira. — Escutei a senhora Brown dizer.
Na verdade, nós nem gostávamos muito de tratar ela como senhora, já que ela aparentava ter apenas uns 10 ou talvez 15 anos a mais que os alunos, mas por norma da escola era necessário.
— Só me confirmem se vocês têm a placa de petri grande, o bisturi, uma folha com o nome de todas as estruturas necessárias para identificar e um exemplar de uma flor nativa — a senhora Brown voltou a dizer.
Olhei para a minha bancada, onde havia exatamente todas as coisas que ela havia dito.
— Como tivemos aula sobre a estrutura das plantas na semana pa…. — a Senhora Brown continuava a falar, mas foi interrompida com o barulho de alguém batendo à porta.
Ela então caminhou até esta, a abrindo, em seguida a diretora William passou por ela e pareceram conversar algo. Logo a diretora William saiu da nossa visão, porém uma garota, que aparentava ter a minha idade, passou pela porta. Ela tinha seus belos e longos cabelos e olhos cristalinos, e, para completar o combo, ela vestia um vestido solto, com alguns pequenos girassóis desenhados e um tênis branco. Não podia negar, a minha atenção estava toda sobre ela.
— Pessoal — Senhora Brown chamou a nossa atenção. — Essa é a , aluna transferida de New York.
Assim que a senhora Brown apresentou , ela abriu um sorriso simpático para todos, tão lindo quanto ela.
— , vou pedir que você se sente com o , o nosso único aluno sem parceiro e com um lugar vago ao seu lado.
sorriu novamente para a senhora Brown e pareceu agradecer, depois ela caminhou em minha direção até se sentar ao meu lado.
— Olá, meu nome é , prazer — se apresentou, me estendendo a mão.
Imediatamente, estendi a minha mão para ela e um arrepio subiu por todo o meu corpo, algo que nunca havia acontecido.
— Eu sou . Espero que você goste de Coney Island — disse ainda segurando a mão dela.
— Por enquanto ela está sendo ótima — disse dando um sorrisinho sapeca.
Em seguida soltei as nossas mãos e naquele momento senti a falta dela na minha pele. Por mais estranho que poderia parecer, soube exatamente naquele momento que marcaria a minha vida e seria para sempre.
ATUALMENTE
Era engraçado pensar que eu sabia, sabia desde o primeiro momento, o quão importante seria para mim, o quão intenso e verdadeiro seria o nosso amor e o quanto ele me moldaria para o futuro, principalmente depois de a ver partir.
Não vou mentir, as coisas foram bem difíceis quando ela foi embora e quando negou estar comigo pelo resto de sua vida. Meu coração doeu e se partiu em milhares de pedaços, mas eu havia sido egoísta, havia sido criança de achar que desistiria de tudo por mim e ainda bem que não desistiu, porque era brilhante agora, literalmente a super estrela das séries criminais. Meu coração ficou despedaçado por longos meses, até que Amie surgiu. Não que fosse novidade, Amie e eu havíamos ficado juntos ainda no high school, porém quando chegou tudo mudou e quando ela foi embora pareceu que tudo teve que voltar ao seu lugar. Por isso fiquei com Amie, achando que conseguiria esquecer , mas engano meu, isso nunca aconteceu, nem mesmo no nosso pior momento, naquele acidente, onde tudo já estava perdido, mas no qual o principal se esvaiu. Não foi em Amie que eu pensei, não foi Amie que veio à minha cabeça e sim . E então eu soube, eu deveria parar de tentar fazer algo acontecer que nunca aconteceria, nunca mudaria o que eu sentia por dentro.
POUCOS MESES ANTES
— Amie, a gente não vai mais falar sobre isso — disse explodindo de raiva enquanto a mulher no banco do motorista expressava a mesma cara para mim. — Não agora, você está dirigindo.
— Até quando a gente vai levar isso, ? Até quando vamos fingir que temos um relacionamento perfeito e uma família perfeita quando sabemos que não temos. Eu sou um peso na sua vida, da mesma forma que você é na minha — Amie disse sem tirar os olhos da estrada.
Estávamos voltando para New York, após visitarmos minha mãe, que ainda se encontrava abalada com a morte do meu pai, e não só ela, assim como eu também. E ouvir Amie dizer aquilo em voz alta me fez cair na realidade, nós realmente estávamos apenas sendo um peso na vida do outro.
— Só acho que não é um crime tentar. Ainda mais agora que você está, está… — Não consegui terminar a frase, pois Amie me cortou.
— Grávida, , diga! — Amie gritou enfurecida — É exatamente por isso que acho que devemos nos separar. Não quero o meu filho crescendo num ambiente com duas pessoas que praticamente se odeiam.
Aquilo fez com que uma adaga entrasse no meu coração, parecia que eu estava literalmente sendo cortado por dentro.
— Eu não te odeio, nunca disse isso, você sabe — disse, olhando para Amie mais calmo e ainda sentindo o peso das suas palavras.
— Mas nós não nos amamos, . Estamos apenas atrasando um a vida do outro, você sabe muito bem disso — Amie foi sincera.
Em seguida a minha mulher, que provavelmente não seria por muito tempo, respirou fundo e em seguida me olhou. Seu olhar era de quem não aguentava mais aquela relação, não aguentava mais estar dentro de algo que não tinha mais amor, que não tinha mais uma cumplicidade, algo que não fazia sentido, nem para mim e muito menos para ela.
— Como deixamos isso acontecer? — questionei, pegando a mão de Amie e entrelaçando à minha.
— A pergunta é: por que nos enganamos por tanto tempo, ? — Amie disse sincera. — Eu sabia, e você também, que apenas uma pessoa pode ser dona do seu coração por completo, apenas uma pessoa vai sempre estar dentro dele para sempre. Mas não me arrependo de ter tentado, nunca. Toda história é válida.
Era possível ver certas lágrimas se formarem nos olhos de Amie e na verdade ela tinha toda razão. Mesmo que eu não gostasse de falar nesse assunto, nós só havíamos no enganado ao longo de todos esses anos. Mas agora eu tinha uma certeza, a única certeza, o novo amor da minha vida ainda estava sendo gerado e dentro da barriga de Amie. E isso mostrava que a nossa história havia dado certo, pois estávamos gerando o que seria o melhor de nós, estávamos gerando uma vida.
— Na verdade, a pessoa que será a grande dona de todo o meu coração e de todo o meu amor ainda está dentro de você — disse, por fim, a Amie.
Ela olhou bem profundamente para mim e sorriu, e enquanto sorria uma lágrima escapou dos seus olhos.
Depois disso, tudo aconteceu muito rápido. Amie voltou a olhar para frente, mas já era tarde. Havia um cervo bem no meio da pista e na tentativa de desviar, ela acabou jogando o carro para o acostamento e fazendo com que capotássemos algumas vezes. E durante aquelas voltas que fazíamos no ar, os olhos , os cabelos e o sorriso encantador de voltaram à minha mente, como se tudo o que havíamos passado estivesse sendo projetado como um filme na minha cabeça.
Assim que o carro parou, por graça divina, nem eu e nem Amie havíamos sofrido algo grave, apenas alguns arranhões. Depois que todo o turbilhão havia passado e conseguimos ligar para a emergência, voltei a lembrar de , sem razão e motivo algum, ela só veio à minha cabeça, como não fazia há muito tempo.
ATUALMENTE
Aquele acidente no primeiro momento pareceu simples, básico e que realmente só arranhões tivessem acontecido, mas assim que chegamos ao hospital, eu e Amie soubemos que uma vida havia sido perdida, a do nosso futuro filho ou filha. Amie estava grávida fazia poucas semanas e devido ao impacto das capotagens, o saco gestacional acabou se descolando, resultando em um aborto espontâneo. Depois daquele dia, nós sabíamos que seria realmente o nosso fim, porque não havia mais nada que nos ligasse um ao outro a não ser as histórias do passado.
Amie e eu permanecemos amigos, na verdade tínhamos uma relação bem melhor agora do que quando estávamos juntos. Além disso, eu havia voltado para Coney Island para cuidar dos negócios da família há poucos meses. Havia me instalado em uma casa no mesmo bairro dos pais de , mas nunca achei que a veria de novo, não aqui em Coney Island.
Uma brisa gélida bateu no meu rosto, fazendo com que jogasse meu cabelo para um lado. Passei uma das mãos para arrumar e assim que virei o rosto para o meu lado esquerdo, não pude deixar de notar que a pessoa a qual eu havia vindo aqui para não pensar, mas que havia pensado demais, estava bem ali, apenas a poucos metros de mim, me olhando profundamente. Nossos olhos então se conectaram como se nunca tivessem sidos separados, como se sempre pertencessem um ao outro.
E, naquele momento, onde nossos olhos se conectaram de novo, acabei rindo. Seria uma peça do destino? Pensando nisso, senti que deveria falar com ela, deveria tentar ao menos dar um fim a tudo isso que sentia e assim, por fim, eu poderia seguir em frente, mesmo que não fosse com ela e mesmo sabendo que ela sempre seria o amor da minha vida.
Me levantei, deixando o banco em que estava para trás, e comecei a caminhar em sua direção. inicialmente me olhou confusa, tentando entender o que eu estava fazendo, provavelmente estava pensando no porquê em um momento finjo que ela não existe e em outro estou me aproximando como se nada tivesse acontecido.
— Posso me sentar? — questionei assim que cheguei próximo a ela e parei ao lado de seu banco.
— Sim — respondeu ainda confusa, mas ainda mais linda do que já havia a visto.
Part IV
[...] And it always leads to you in my hometown.”
Ver ali, parado na minha frente, havia me causado um leve choque, afinal, já havíamos nos visto mais cedo naquele dia, mas agora ele parecia completamente diferente, não estava me tratando com um fantasma e por vontade própria havia se aproximado.
— O que traz a grande de volta a Coney Island? — perguntou enquanto se sentava ao meu lado.
— A maldita temporada — respondi meio sem graça.
riu como se eu tivesse dito a coisa mais engraçada do mundo, o que me fez o encarar confusa.
— O quê? — perguntei sem entender.
— Mesmo após todos esses anos, mesmo você se tornando uma estrela de Hollywood, você ainda tem a mania de chamar as festividades de final de ano de maldita temporada. Me senti novamente no high school — explicou.
Acabei sorrindo ao lembrar disso, realmente era uma coisa que sempre falava e o mais interessante era ele ainda lembrar disso.
— Tem coisas que nunca mudam — constatei ainda sorrindo.
apenas concordou com a cabeça enquanto olhava o mar à nossa frente.
— Senti falta disso por anos — confessou enquanto ainda olhava o mar. — Nenhum lugar me traz a mesma paz que Coney Island.
Quando disse aquilo, desviei minha vista do mar e o olhei. Seu rosto completamente marcado com a barba, os olhos com o mar refletidos nele, o cabelo com os cachos caindo na testa, mas sem nenhum fio fora do lugar. Estava hipnotizada, o que provavelmente o fez notar, pois alguns segundos depois ele virou, ficando cara a cara comigo. Assim que ele fez isso, desviei meu olhar sem graça.
— Preciso confessar que só me dei conta do quanto esse lugar me fazia falta hoje — disse levemente envergonhada por ter sido pega o olhando.
Senti que ainda me olhava e olhava profundamente, fazendo exatamente o que fiz antes, ele provavelmente estava tomando nota de todos os detalhes do meu rosto. Me virei para o encarar e parar de fugir daqueles olhos onde eu já havia me perdido tanto, e, assim que fiz, eles se conectaram mais uma vez, muito mais profundamente.
— Preciso te perguntar o porquê você fingiu que eu não existia no mercado hoje. — Fui direta.
soltou um sorriso sem graça e depois levou a mão até a nuca, a coçando, coisa que ele sempre fazia quando estava envergonhado de algo, isso não havia mudado nele.
— Achei que se eu te tratasse como um fantasma, as lembranças não tomariam a minha mente — começou a se justificar. — Mas foi um engano meu, elas me tomaram com toda a força.
— Preciso confessar que elas também tomaram a mim — confessei. — Inclusive estava imersa em uma delas poucos minutos atrás. Aquela do nosso último dia, quando não aceitei seu pedido.
apenas concordou com a cabeça.
— Aquele fatídico dia — disse mais para si mesmo do que para mim.
Nós ainda nos olhávamos, completamente conectados um com o outro.
— Inclusive gostaria de te pedir desculpas, — começou a dizer.
— Pelo quê? — perguntei, o encarando confusa.
— Pelo pedido — se explicou. — Nós éramos novos, tínhamos sonhos diferentes e eu só agi como uma criança, pensando apenas em mim e não no que nós dois queríamos.
— Toda aquela situação era complicada, — comecei a falar. — Nós éramos novos, as nossas vidas estavam começando. Só não era o momento certo e minha reação não ajudou. Hoje penso que poderíamos ter tentado de outra forma.
concordou com a cabeça e depois voltou a encarar o mar à nossa frente sem dizer mais nada. Nós dois ficamos em um silêncio confortável por alguns minutos, apenas trocando olhares entre si e depois os direcionando ao mar.
— Minha mãe comentou que você se casou — disse cortando o silêncio.
— Casei, mas já divorciei. Tentei, mas não era o certo — falou, voltando a olhar diretamente a mim. — Parece que eu sempre estava tentando te esquecer, mas isso nunca aconteceu, nem nos momentos felizes e muito menos nos tristes.
— Desculpa por te magoar tanto, por não ter feito de você a minha peça central — me desculpei.
Em seguida, levei a minha mão até a de , a apertando, demonstrando meu carinho e minhas desculpas por ela. encarou a minha mão sobre a dele e depois olhou novamente para mim.
— Você não deve se desculpar, . Você tinha seus sonhos e fez certo em correr atrás deles — disse, virando a sua mão e entrelaçando a dele na minha. — Quem dera eu ter entendido isso anos atrás. A gente poderia ter dado certo.
— Como era o certo se hoje eu sinto que a estrada não percorrida parece ter sido melhor? Parece melhor agora... — o questionei.
— Porque você não a viveu — constatou. — E posso te garantir que se você por acaso tivesse ficado aqui, você se arrependeria. E outra, eu não era a melhor pessoa naquela época, eu era tolo.
— Todos cometem erros, — falei. — Inclusive eu.
sorriu ao me olhar, um sorriso que eu havia sentido muita falta por todos esses anos. O mais engraçado era pensar que, agora, nesse exato momento, nós dois ali sentados e conversando, parecia que ainda éramos nós e que os anos nunca tinha passado, que nós não havíamos vivido nossas vidas separados. Parecíamos dois adolescentes, os mesmos de antes.
— Você sente falta do trapaceiro que te levou ao paraíso e te deixou lá? — questionou rindo.
O Trapaceiro era como eu o chamava quando ele fazia com que eu mudasse de ideia sobre algo.
— Por que lembrou disso? — perguntei rindo.
— Porque, apesar de tudo o que vivemos e todos os caminhos que trilhamos juntos, foi quando nos separamos que você conquistou tudo o que queria — confessou.
— Conquistei, mas não foi fácil, porque foi muito difícil abandonar a única pessoa que sabia exatamente todos os meus sorrisos e também a cama mais acolhedora que eu estive. — Agora era a minha vez de confessar e dizer que, apesar das escolhas, também não havia sido fácil seguir, mesmo conquistando todos os meus sonhos.
deu um leve sorriso depois que eu disse aquilo, em seguida trouxe a mão até o meu rosto, fazendo um carinho leve na minha bochecha.
— Você sabe que tudo isso que você está dizendo é apenas por causa da maldita temporada — disse, ainda passando a mão pela minha bochecha.
— Eu só acho que nós nunca tivemos um final digno, me entende? — confessei ainda sentindo seus carinhos.
Aquele carinho que eu tinha sentido tanta falta, tanta saudade, e apesar de tudo o que havia acontecido entre nós, apesar de todos esses anos, ainda parecia o certo.
— Concordo com você, mas nós nunca conseguiremos ser aquilo que o outro quer — voltou a falar. — Nossas vidas são diferentes, a sua em Los Angeles e a minha em Coney Island.
E infelizmente estava certo, não havia nunca como dar certo, porém assim que pensei isso outra coisa também passou pela minha cabeça. Era a maldita temporada e era certo que eu iria embora, mas eu também poderia dar um final digno para a nossa história.
— — o chamei, fazendo com que ele me encarasse ainda mais, mostrando que me escutava. — Sei que tudo isso vai parecer loucura e que isso deve realmente ser por causa da maldita temporada, mas…
Antes que eu pudesse terminar qualquer coisa, se aproximou ainda mais, fazendo com que nossos narizes praticamente se tocassem, fazendo com que eu me perdesse nas palavras.
— Mas? — perguntou, fazendo com que eu sentisse seu hálito quente perto dos meus lábios.
Meus lábios, que já formigavam em desejo por querer estar conectados aos seus.
— Mesmo que eu esteja indo embora, eu serei sua pelo fim de semana — disse de uma vez. — É a maldita temporada.
sorriu e chegou ainda mais perto, fazendo com que nossas testas se tocassem.
— Podemos dizer que então estaremos quites? — perguntou.
— Sim, você pode me chamar de baby pelo fim de semana — confessei.
desencostou as nossas testas, trouxe a sua mão até o meu pescoço e então juntou nossos lábios. Era um beijo necessitado, cheio de saudade, cheio de amor, cheio de momentos e coisas para dizer e fazer que nunca haviam acontecido. Nossas bocas e línguas estavam perfeitamente encaixadas e em sincronia, como se nunca houvessem um dia se separado, como se sempre pertencessem uma à outra para sempre.
Quando nos faltou ar, finalmente separamos nossos lábios, mas voltamos a encostar as nossas testas.
— Eu te chamarei de baby pelo fim de semana — disse ainda ofegante.
— É isso, tudo sempre me leva até você e a nossa cidade natal — disse também ofegante. — Não há nada melhor do que você, a maldita temporada e Coney Island.
FIM
Nota da autora: Olá rainhas, como estão? Espero que bem!
E sim, eu vim com história nova, short, mas é história.
Taylor Swift sempre me inspira demais e, graças ao evermore, tive que escrever uma história baseada nas minhas duas músicas favoritas desse álbum, então foi assim que essa história nasceu.
Me contem nos comentários o que acharam dela e se acham que ela deve ter uma continuação.
Espero vocês nos meus grupos e também para lerem as minhas outras histórias.
É isso.
Love, Kels.
Outras Fanfics:
→ Backstage Queen
→ Queen of My Heart
→ Fração de Segundo
→ Elysian
→ London Boy
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Para saber quando essa fanfic vai atualizar, acompanhe aqui.
E sim, eu vim com história nova, short, mas é história.
Taylor Swift sempre me inspira demais e, graças ao evermore, tive que escrever uma história baseada nas minhas duas músicas favoritas desse álbum, então foi assim que essa história nasceu.
Me contem nos comentários o que acharam dela e se acham que ela deve ter uma continuação.
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É isso.
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