FFOBS - Vuelvas a Mi, por Bea H.


Última atualização: 15/03/2020

“Não sei porquê insisti nessa confusão. Preciso ir, vai ser melhor assim.
De sua eterna fã,
.”

Capítulo 1

Cama. Era por isso que meu corpo clamava.
Faziam exatas cinco horas que eu e estávamos no estúdio. Ela fotografando e eu esperando meu momento para entrevistar a modelo que fazia várias poses para câmera.
Meus olhos fitavam o relógio na parede, quase como se pedissem socorro aos ponteiros, implorando para que o tempo passasse mais rápido. Eu só queria voltar para casa e descansar um pouco.

A reta final da faculdade de Jornalismo estava me matando, os estágios combinados com os estudos e elaboração de TCC poderiam me fazer entrar em colapso a qualquer momento. Eu agradecia aos céus por poder dividir essas dores de cabeça com minha melhor amiga, que era , a fotógrafa que já havia falado.
Não era nada fácil estar no auge dos vinte e um anos, ter que conciliar uma faculdade, um estágio, um trabalho de meio período como babá e cuidar de casa. Algumas vezes eu só precisava sair e relaxar, mas nem isso era possível. Raramente eu e tínhamos folgas conjuntas, e eu odiava sair sem ela, não era tão divertido.

Eram apenas três perguntas, e cada uma levou um pouco mais de dois minutos para ser respondida. Pela quantidade de vezes que a modelo me perguntou se eu estava bem, cheguei a conclusão de que meu rosto entregava o cansaço.
Depois de tudo finalizado e de toda equipe ir embora, liguei o laptop para enviar os anexos para meu chefe.

- Vamos logo, . - minha amiga disse enquanto guardava suas lentes em uma bolsa preta. - Você termina isso em casa.

Suspirei e concordei com a fala da garota. Precisávamos sair dali o quanto antes, para chegarmos em casa e conseguirmos fazer o jantar, ou pedir algum delivery, que era o que acabava acontecendo, no fim das contas.

- Vai ficar com Matheus amanhã? - se referia ao menino de quatro anos que eu cuidava pela parte da manhã.

- Não, ele já está de férias na creche, a mãe me liberou por esse mês. - encostei a cabeça no banco do carona. Eu agradecia mentalmente às forças divinas por terem me dado, ao menos, um terço do descanso que eu precisava.

- Então vamos para revista comigo. Os fotógrafos vão ter uma reunião amanhã de manhã e depois vamos sair para almoçar. - ela sorriu, mantendo os olhos na estrada.
- Pode ser. - disse. - Eu realmente preciso falar com o Sr. Cláudio. Ele disse que mês que vem passaremos por um treinamento com o pessoal que escreve sobre música. - dei de ombros.

- Deve ser isso que os fotógrafos falarão com os estagiários amanhã. - ela estacionava o carro na vaga reservada em nosso prédio. - Finalmente sairemos da moda.

- Sabe que meu forte é o esportivo. - comentei e ela assentiu, desligando o veículo. - Mas, finalmente me sinto livre do ambiente que pode ser resumido em competição e distúrbios alimentares. - suspirei novamente. - Eu, sinceramente, tenho nojo dessa indústria que acaba com as mulheres por conta de um padrão que eles acham ser o perfeito.

- Uma mulher sábia, eu diria. - falou e eu ri fraco. - Vamos, ainda temos um último editorial para enviar.

Naquele dia, passamos a noite em claro. Minha amiga editava as fotos, enquanto eu editava a entrevista. Ao nosso lado tinha uma grande e térmica garrafa de café, que era o combustível para conseguir finalizar aquele trabalho.
Exigiam três vezes mais de estagiários, e eu poderia provar isso apenas com minhas olheiras.

- Acabamos. - fechou seu computador de colo, aliviada. - Preciso dormir. - murmurou.

- Vamos dormir, então. Amanhã tem mais. - falei e a garota me respondeu apenas com um olhar de exaustão. - Sem reclamar, faltam apenas quatro meses para nos formarmos.

Cada uma tomou seu banho, comemos pedaços da pizza que tínhamos pedido e fomos dormir.

[...]

No dia seguinte…

- Bom dia, flor do dia. - eu disse, assim que passou pela porta da cozinha.

- Se eu não estivesse de bom humor te xingaria pela animação matinal. - ela pegou uma banana na fruteira e ajeitou sua mochila nas costas. - Sorte sua que acordei bem. - riu fraco. - Vai aproveitar a carona?

- Mas é claro, acha mesmo que eu vou de ônibus em um calor desses? - falei. - Daria tudo para estar no Canadá agora.

- Mas você está no Brasil. - comeu um pedaço da banana. - Vamos, pelo amor de Deus. - ela me apressou e eu levantei rapidamente.
O caminho até a sede da revista era rápido, pelo menos durante as manhãs. acelerava o carro como se estivesse em um filme de perseguição, o que fazia com que a gente sempre chegasse ainda mais cedo que o normal.

Levei minhas coisas até a sala onde ficávamos e na volta acabei esbarrando com meu chefe, que caminhava em direção à sala de reuniões.

- . Me desculpe. - ele disse, cordial.

- Que nada, Sr. Cláudio. - sorri, voltando para meu caminho.

- , espere. - ele me chamou, e eu virei em sua direção. - Estou indo para uma reunião com os fotógrafos, se quiser aparecer, seja bem vinda. É um assunto de interesse de todos os estagiários. - sorriu e eu meneei em concordância. O mais velho seguiu seu rumo até a sala de reuniões e eu fiquei alguns segundos parada no corredor, decidindo se eu iria até lá ou esperaria para receber as informações vindas de . Depois de pensar, percebi que o melhor seria que eu aparecesse e pegasse as informações por mim. Isso mostraria para Cláudio o quão interessada estou em aprender um pouco mais.

- Como vocês sabem, temos um vínculo grande com a Sony Music, e isso nos favorece um pouco. - assim que entrei na sala, essa era a fala de Cláudio, que sorriu para mim e apontou uma cadeira vazia para que eu sentasse. - Não sei se já ouviram falar sobre a boyband latina; CNCO. - abri um sorriso, eu não era fã dos caras, mas sim de quem os criou; Ricky Martin, proprietário do mundo. - Eles estão em turnê e daqui três meses passarão pelo Brasil fazendo seus primeiros shows no país. - ele manteve o sorriso no rosto. - Sei que alguns de vocês já tiveram a oportunidade de fotografá-los durante entrevistas no ano passado. Mas, esse ano será diferente. - ele deu uma pausa, quase dramática. - Selecionaremos três dos nossos melhores estagiários para acompanhá-los durante toda a estadia no Brasil, principalmente durante os shows. - pigarreou. - A Sony está querendo material visual para criar algum tipo de documentário. Então, nós e uma outra grande empresa de vídeo, estaremos disponibilizando estagiários para esse projeto. - uniu uma mão à outra. - Bom, espero que consigam dar o melhor de si. As avaliações comportamentais e profissionais começam a partir de agora. O resultado da seleção sairá na última semana de Setembro. - sorriu. - Concluindo que vocês têm apenas um mês e alguns dias para me surpreenderem. Boa sorte. - finalizou sua fala saindo da sala, como sempre fazia.

Eu odiava ter que entrevistar ou lidar com artistas, mas eu sabia o quão importante para seria conseguir essa oportunidade, já que seu sonho era ingressar nesse meio. Então deixei todas minhas vontades de lado e decidi que ajudaria minha melhor amiga a ganhar essa seleção.


Capítulo 2

- O que você disse? - perguntei para , que escovava os dentes no banheiro de seu quarto, enquanto eu estava sentada em sua cama.

- Que Bruno vem almoçar conosco hoje. - ela cuspiu o resto de pasta que estava em sua boca.

- É sério isso? - bufei. - Você sabe que eu não gosto dele. - revirei os olhos.

- Mas eu gosto. - guardou a escova no armário e veio em minha direção. - E você gosta de mim. Então, seja uma boa menina. - ela tocou a ponta do meu nariz e eu ri.

- Você merece coisa melhor. - falei, enquanto ela saía pela porta.

Hoje era um dos raros dias de folgas conjuntas que eu e tínhamos. Normalmente marcaríamos de fazer algo juntas, como ir ao cinema ou à um parque durante a tarde, e uma balada pela noite. Mas, a garota tinha decidido chamar Bruno para almoçar. Ele era seu namorado, ou ficante, ou qualquer palavra usada para caracterizar o tipo de relacionamento que eles tinham.
Nunca gostei dele e ele nunca gostou de mim. Meus motivos eram claros: ele era extremamente tóxico para , mas de certa forma ela não conseguia enxergar aquilo. Talvez a paixão que sentia por ele a cegasse. Eu tentava a alertar sempre, mas ela não me dava muita atenção.

Levantei da cama e fui para meu quarto tomar um banho e colocar uma roupa.
Na semana passada tínhamos sido avisados da tal seleção para passar quatro dias fotografando o CNCO no Brasil. Eu estava ajudando de forma honrosa. A garota estava muito empenhada em ganhar, porque aquilo deixaria seu currículo três mil vezes melhor.
Em meu caso, ontem fui avisada de que seria escalada para fazer uma entrevista com eles. Eu tentei chorar para que o Cláudio mandasse outro em meu lugar, mas ele preferiu me deixar como fixa para aquela situação. “Você é nova, bonita, estilosa. Vai se dar bem com os rapazes e a entrevista vai fluir bem.” foram as palavras dele quando eu implorei para que ele mandasse Carlos, o outro estagiário, em meu lugar.

Desde então, eu tenho estudado bastante sobre eles, pesquisando músicas, outras entrevistas, gravando o nome de cada um e todo o resto. Eu e estávamos passando pelo verdadeiro intensivão CNCO, e de toda maneira, estava sendo divertido. Suas músicas eram boas, eles dançavam bem, eram super simpáticos e bem bonitos, por sinal.
Eu poderia dizer que até o dia da entrevista eu e já poderíamos ser chamadas de fãs.

- , o Bruno chegou. - minha amiga gritou da sala e eu suspirei.

- Então mande ele ir embora. - gritei do quarto. - Brincadeira, já estou indo. - não era brincadeira, mas eu não poderia simplesmente ser grossa sem motivos. Caminhei até a sala e vi o loiro com um sorriso nos lábios e tentei ser falsa o suficiente para retribuir, mas acho que a minha expressão foi de nojo, já que me cutucou com o cotovelo.

- Vamos para a lasanha, então. - a garota disse, colocando a travessa em cima da mesa e nos servindo.

Passamos o tempo de refeição sem falar uma palavra, almoçamos em silêncio, nos levantamos em silêncio, e cada um lavou sua louça - adivinhem - em silêncio.
Passei por minha amiga e a avisei que sairia para uma volta, assim ela e o namoradinho poderiam ficar sozinhos.
Eu podia não gostar dele, mas ele a fazia feliz no momento. Entretanto, eu sabia que um dia aquilo ia acabar e ela ia sofrer horrores. Mas, enquanto esse dia não chega, eu deixaria minha amiga transar à vontade. Pelo menos ele era bonitinho.

Peguei minha bolsa em cima da cama, logo depois de escovar os dentes, e fui para rua. Peguei o carro de emprestado, já que ela não iria a lugar nenhum e fui dar um passeio no shopping.

Eu tinha pensado em ir ao cinema, mas desisti em primeira instância, já que nenhum filme que interessava estava em cartaz. Então, fui à livraria passar o tempo. Normalmente me perdia em meio aos livros, CDs e DVDs que haviam naquele lugar.
No corredor de música, no meio da prateleira de Internacionais, me vi procurando o CD da tal banda latina que entrevistaria daqui três meses. Encontrei o segundo álbum deles, homônimo à banda. E depois de muito lutar contra meu ‘eu interior’, eu comprei.

A volta para casa foi toda escutando aquele álbum que havia comprado. Agora eu sabia de cor todas as músicas, tinha as minhas favoritas e aquelas que eu pulava quando estava sem paciência. Mas, eu tinha adorado. Sempre fui fã de música latina e isso me ajudou um pouco a criar uma afeição pela sonoridade dos garotos.

Estacionei o carro e olhei o relógio, provavelmente o garoto já tinha ido embora. Subi o elevador e andei até o apartamento, abrindo a porta logo em seguida. Observei e não tive nenhum sinal de Bruno. Mas, sabia que estava pois conseguia ouví-la cantando One Direction com todo seu fôlego enquanto tomava banho.
Aproveitei para usar o outro banheiro e fazer o mesmo, porém sem a parte de cantar.

Normalmente os dias de folga eram bem parados e como eu não estava tão animada, provavelmente ficaríamos em casa.

Eu colocava uma roupa enquanto entrou no quarto.

- O programa de hoje é assistir a formação daqueles bonitinhos que você vai entrevistar e eu vou conseguir acompanhar. - ela bateu palmas, animada e eu sorri. - Sabia que eles também foram formados através de um programa? La Banda.
- Isso eu sabia. - ri e a garota levou a mão até sua testa.

- Fã de Ricky Martin, me esqueci. - ela riu e eu dei de ombros. - Mas você não assistiu o programa. - falou e me puxou pela mão quando terminei de vestir a blusa. - Venha, quero uma nova boyband para sofrer, já que One Direction só me magoou até então. - ela dizia enquanto me levava até a sala e eu apenas ria. era certamente um anjo incompreendido, ela merecia, acima de todos ali, ganhar aquela oportunidade. Eu já iria conhecê-los devido a entrevista, e isso com certeza acrescentaria coisas à meu currículo. Mas, não era tão importante para mim. Eu estava curtindo o som deles e todo o resto, mas aquela não era minha área e nunca seria. Já estava se esforçando tanto para saber mais sobre eles, a rotina deles e como eles são, que só me mostrava o quão importante era para ela conseguir aquela oportunidade.

Me sentei no sofá e foi preparar uma pipoca de microondas. Três minutos depois ela voltou com um balde cheio delas e se jogou ao meu lado.

- Que venham as audições. - apertou o play, dando início ao que poderia ser uma maratona inocente de um reality show ou mais do que isso; talvez o início de um novo vício.


Capítulo 3

Um mês depois...
- Eu não deveria estar desesperada assim. Deveria? - falava rápido enquanto tomava a terceira xícara de café.
- Não deveria. - falei, rindo. - Assim como não deveria estar se entupindo de cafeína. - peguei o copo de suas mãos e o coloquei em cima de minha mesa do escritório. - Vai dar tudo certo, mulher. - segurei seus ombros. - Você precisa relaxar.
- Certo. Relaxar. - ela repetiu a palavra com um mantra por alguns segundos.
- Fotógrafos e estagiários, na sala de reuniões em dois minutos. - Sr. Cláudio apareceu na porta, anunciando, e logo saiu de cena.
- Fudeu. - foi o que disse, arrancando de mim uma risada.
- Vou te acompanhar. - falei, levantando da cadeira e puxando minha amiga pelo braço. - Vamos.
Hoje era o dia no qual nosso chefe anunciaria os ganhadores da tal seleção para fotografar e filmar a passagem da CNCO pelo Brasil. não parava de falar sobre isso desde o momento da primeira reunião. O único problema é que agora ela queria ganhar isso mais que qualquer outra pessoa. Simplesmente porque agora ela era fã da banda. E quando eu digo fã, eu digo fã ao ponto de fazer loucuras caso não consiga a oportunidade.
Eu já curtia o som deles, mas na questão de apoiar de maneira intensa, era mil vezes melhor que eu.
Entrei na sala logo depois de minha amiga, que tinha as mãos suadas e as pernas bambas. Sentei-me no canto da parede, já que apenas os fotógrafos e estagiários estavam à mesa.
Tinha um coffee break sendo servido para todos que estavam no local. Percebi que atacava os pães de queijo, coisa que fazia quando estava nervosa: comia demais.
- Vamos começar. - Cláudio ficou em frente ao fundo branco onde estavam sendo projetadas as fotos dos estagiários no último mês. - Foi uma decisão difícil. Diria que quase impossível. - juntou as mãos. - Mas, conseguimos escolher três de vocês. - apontou para a meia dúzia de estagiários que estavam sentados. - Quero deixar claro que foi difícil porque todos vocês são ótimos. - o famoso discurso de colocar todos para cima, e depois tirar o chão. - Mas, sucintamente, sem mais nada a acrescentar, gostaria que parabenizassem seus colegas: Gabriel Costa, Marvin Lemos e . - quando ele falou o último nome, pude sentir minha espinha gelar. Eu queria gritar, espernear, abraçar minha amiga e apontar na cara dos perdedores. Porém, fiz a fina e apenas bati palmas com um sorriso gigante no rosto. , por sua vez, tinha uma expressão desacreditada, quase estática. Ela não conseguia sorrir ou fazer qualquer outro tipo de movimento. Corri até ela, a abraçando por trás.
- Parabéns, Annie Leibovitz. - falei em seu ouvido e ela se virou com um sorriso. - Vamos estar juntas em São Paulo.
- Você vai entrevistá-los mesmo? - perguntou animada.
- Não tenho muita escolha. - dei de ombros. - Mas, agora que você ganhou eu faço questão de estar lá.
- Obrigada, . - me abraçou forte.
A melhor sensação do mundo é poder ver alguém que você ama feliz. E eu estava feliz por estar feliz.
- Dispensados. - Cláudio falou. - Os selecionados procurem a Kátia no RH e podem ir para casa. Vocês precisam estudar e se preparar. Quero que saiam dessa experiência com bagagem o suficiente para serem contratados efetivamente por uma banda ou artista. - ele tinha um tom sério, mas havia um resquício de orgulho em sua voz. - Boa sorte, meus jovens.
Assim que ele saiu da sala, combinei com de a encontrar para jantar depois do trabalho em seu restaurante favorito, e tudo seria por minha conta. Afinal, hoje o dia era totalmente dela.

--


Depois de uma tarde repleta de relatórios e matérias para entregar, tomei um banho no vestiário da empresa e segui para o restaurante onde encontraria minha amiga. O local era aconchegante e bonito. Sua iluminação não era forte e todos os móveis tinham um tom rústico, feitos em madeiras envelhecidas e todo o resto.
A garota estava sentada em uma das mesas, com o celular em mãos e um sorriso nos lábios.
- Alguém está extremamente feliz. - falei, enquanto sentava à mesa e a garota levantou o olhar.
- Ah, oi . - ela manteve o sorriso. - Eles compartilharam nossas fotos. - levantou o celular.
- Eles? - perguntei, enquanto fazia um sinal para o garçom, que se aproximou de nós rapidamente. - Eu quero um Fettuccine Alfredo, um vinho tinto seco e de sobremesa um Grand Gateau de Nutella. - ele anotou o pedido e se virou para .
- Sim, eles. - ela disse, animada. - A conta oficial da banda. - me entregou o celular, enquanto fazia o pedido. - Um nhoque ao molho de quatro queijos, pode trazer uma garrafa de vinho para nós, e por enquanto não quero sobremesa. - falou para o homem que meneou em concordância e logo saiu para realizar nossos pedidos.
- Não vou cansar de te desejar parabéns, . - falei, devolvendo o celular da garota. - Parabéns. - ela riu.
- Eu estou muito feliz, de verdade. Isso é uma oportunidade única para mim. - suspirou. - Estou feliz por você estar nessa comigo. - sorriu verdadeiramente. - Pode não estar em Curitiba ou Salvador, mas estará em São Paulo e aqui no Rio. Para mim já basta. - segurou minha mão.
- No Rio não tenho certeza. Mas, em São Paulo estarei sim. - falei.
- Você vai a todos os shows comigo, . Eu vou dar um jeito de conseguir fazer isso acontecer. - disse, decidida. - Ou eu não me chamo .
Eu ri da maneira de falar da garota, e ela acabou se entregando e caindo na gargalhada comigo. Teríamos até Novembro para nos prepararmos. Eu teria dois ou três dias inteiros com a banda, já teria uma semana inteira. Dois meses era o tempo ideal para estarmos prontas para isso.


Capítulo 4

11 de Outubro de 2019. Lançamento oficial do novo EP da boyband latina CNCO. Isso significava duas coisas: surtando às quatro da manhã enquanto escutava as músicas em seu fone de ouvido e mais um assunto na pauta para minha entrevista com eles no próximo mês.

Era uma sexta-feira, eu estava de folga e estava na faculdade. Aproveitei para adiantar tudo do meu TCC enquanto a garota, provavelmente fazia o mesmo. Porém, em seu campus.
Eu moro com desde que iniciamos nossos cursos, há cerca de quatro anos, e nossa convivência sempre foi baseada em confiança, pizzas aos fins de semana, filmes adolescentes e música. sempre foi a viciada em boybands da casa. Eu diria que ela ainda sofre da febre One Direction, e de certa forma, acabou me levando com ela. Eu sempre fui a fã de música latina, Ricky Martin era como um deus para mim, se eu pudesse faria um santuário para ele facilmente. Então, quando nossos mundos musicais se uniram através da CNCO, descobrimos que era sim possível escutar apenas um artista durante vários dias seguidos.
‘Pegao’ tocava em alto volume pelo apartamento enquanto eu preparava o almoço. Meu quadril se mexia conforme a música tocava e eu cantava cada palavra como se fosse a última vez que eu pudesse proferi-las na vida.
- Eu deveria filmar isso e colocar na internet. - eu dei um gritinho ao ouvir a voz de vindo da porta da cozinha.
- Porra, quer me matar? - falei, colocando a mão sobre o peito que ofegava.
- Não é o objetivo. - ela riu. - O que está fazendo para o almoço?
- Frango xadrez. - voltei minha atenção à panela enquanto a garota abria a geladeira para pegar um pouco d’água.
- Amo. - ela disse. - Vou tomar um banho e já te encontro para comermos. - deu um beijo em meu rosto e eu sorri, logo depois saiu correndo em direção ao banheiro. Parando, antes, em frente ao home theater e aumentando o volume de ‘Que Va a Ser de Mi’ que começava a tocar. Balancei a cabeça em negação, com um sorriso fraco no rosto. Que bom que não estava à noite, ou estaríamos recebendo uma multa por perturbar a paz alheia com música no último volume.
Quando vi que todas as comidas estavam prontas, arrumei a mesa onde costumávamos almoçar, colocando um pano por cima, e as panelas também. Distribui os talheres e os copos. Quando virei meu olhar para o corredor dos quartos, vi com uma toalha na cabeça e cantando ‘Ya Tu Sabes’ em plenos pulmões.
- Como é possível você já ter gravado todas as musicas, ? - falei em tom alto, já que a voz dos garotos se sobressaía.
- Eu vivo pra isso, . Como se você não me conhecesse. - ela deu de ombros e abaixou um pouco o volume para podermos conversar direito durante a refeição.

--


Depois que almoçamos, fez questão de ir dormir para “repor todo seu sono”, que de acordo com a própria, estava sendo acumulado durante dias em claro estudando mais sobre fotografia de show.
Eu usava o computador para mandar alguns e-mails e acertar algumas coisas do estágio, mas nada que me desse dor de cabeça. Em uma das abas estavam abertos meu Instagram e Facebook.
Comecei a rolar a timeline da segunda rede social, compartilhar coisas que eu achava engraçadas e comentar algumas fotos de amigos. Meus olhos praticamente imploravam para fechar e fazer o mesmo que fazia em seu quarto, mas eu sempre lutava contra o sono. Mudei para o Instagram, onde fiquei vendo a vida perfeita das pessoas que eu seguia.
Então, em uma dessas roladas de feed, eu vi que a conta oficial da banda CNCO tinha feito uma publicação.

“@cncomusic: Animados para os shows no Brasil. Comprem já seus ingressos.

A foto era a oficial de divulgação da turnê. Eles eram realmente lindos, como aquilo era possível?
Abri a seção de comentários e escrevi.

“@. : E o Brasil está animado para receber vocês!

Eu sabia que eles não iam responder, curtir ou até mesmo ver aquele comentário. Mas, alguma parte que habitava em mim me incentivou a comentar.
Sorri fraco com meus próprios pensamentos, que por um momento tinham sido possuídos por uma adolescente de treze anos, fangirl e ansiosa para a passagem de uma banda pelo seu país.
Continuei passando pelas fotos no feed, até que uma notificação surge para mim.

@cncomusic curtiu seu comentário.”
“@christopherbvelezm acabou de seguir-te”

Meu coração errou o compasso por um instante, me fazendo respirar lentamente para que o sangue voltasse a ser bombeado de maneira correta. Aquilo não podia estar acontecendo, não era tão fácil assim.
Por que essa sorte toda não me apareceu quando joguei na loteria?
Eu tinha um sorriso babaca nos lábios, exatamente como a tal fangirl que falei antes. Abri o perfil do equatoriano e curti sua última foto postada. Pronto, já me mostrei presente.
Fiquei encarando o monitor, esperando por uma resposta vinda dele, de alguma forma.
Nada. Nenhuma curtida, nenhuma visualização nos meus stories. Nada.
Fechei o computador, decidi que não surtaria e faria como : deixaria meu corpo descansar. Deitei-me no sofá e fechei os olhos. Quando estava quase deitando nos braços de Morpheus, o apito estridente do celular me avisou que havia uma notificação. Estiquei o braço e apertei o botão central. Abaixei a barra de atividades e quase caí do sofá quando vi.

“[. ]: @christopherbvelezm: Oi, como está?”


Capítulo 5

- Você é a pessoa mais cagada que eu conheço na face da terra. - dizia, enquanto se sentava na cadeira em frente à minha no restaurante. Era segunda-feira e nós estávamos no intervalo de almoço da faculdade. - Você nasceu com a lua na bunda, não com a bunda virada para lua. Porque, não é possível. - ela cortava o bife em seu prato.

- Amiga, você está exagerando. Eles me parecem ser bem acessíveis com as fãs. - dei de ombros, comendo um brócolis que acabara de espetar com o garfo.

- Mas é aí que entra o porém. - ela bebericou seu suco de limão com morango. - Você, dona , não é fã deles.

- Claro que sou. - retruquei, fingindo ofensa. - Você me fez virar fã.

- Você é uma poser. - ela apontou com o garfo para mim. - Tenho que intensificar meu trabalho contigo. - eu ri com sua maneira de falar. - Mas, me diga. Estão conversando? - ela colocou seu canudo prateado na boca e bebericou seu suco.

- Não exatamente. - dei de ombros. - Ele falou comigo, eu respondi e foi só isso. Nenhum contato desde então.

- Por que o Erick não fala comigo? - ela fingiu raiva e eu comecei a rir.

- você tem vinte e um anos, o garoto tem dezoito. Sossega a periquita. - eu ainda ria, mas minha amiga rolou os olhos.

- Simples assim? Vai me dizer que se ele te desse mole você não iria fácil? - ela perguntou, arqueando uma das sobrancelhas e eu fiz uma feição de culpada. - Eu sabia.

O resto do nosso almoço foi resumido em risadas, conversas aleatórias e alguns assuntos de trabalho. Normalmente, não conversávamos muito sobre ele fora do escritório, mas faz um tempo que as coisas estão agitadas, então há a necessidade de se tornar algo extraordinário.

Levamos nossas comandas para o caixa, finalizamos o pagamento e seguimos para o carro de . Como todos os dias, iríamos da faculdade para o trabalho. Como já havia sido dispensada do meu bico de babá, decidi que o melhor a fazer era pegar a carona ao invés de passar em casa antes. Hoje o dia no escritório seria rápido. Nosso chefe e os responsáveis por nossos estágios iriam aprovar algumas matérias e fotos nossas, logo depois iríamos voltar para o apartamento, onde começaríamos a organizar as coisas de para suas viagens, já que faltavam apenas duas semanas para isso acontecer.

Chegamos no prédio onde ficava localizado o escritório e conseguimos encontrar o elevador ainda no térreo, o que era quase um milagre. Subimos ao lado de alguns executivos do escritório de advocacia do andar de baixo, e assim que eles saíram, suspiramos, pois isso indicava que o próximo era o nosso.

- Te encontro daqui meia hora. - falou, me dando um beijo na bochecha e seguindo para o lado direito, onde o pessoal da fotografia, publicidade e marketing ficavam. Mandei beijos no ar em direção a garota que dava passos rápidos e segui meu caminho.

No setor de jornalismo não éramos tantos, se houvessem três estagiários já era muito. A empresa focava na fotografia, produção de vídeo e conteúdo digital, o que fazia com que possuíssem muito mais estagiários do outro lado do corredor.

Cláudio era o chefe, ele comandava a empresa e sua sede no Rio de Janeiro, era como um diretor geral. Não era o CEO, mas tinha toda capacidade de ser.

Coloquei minha bolsa sobre a mesa que fora separada para mim logo que entrei no estágio. Olhei por alguns segundos a foto de minha mãe e irmãos, que estava em um porta retrato com alguns macarrões colados, que ganhei de presente de minha irmã mais nova. Sorri verdadeiramente, tinha saudades da família. Desde que se mudaram para a Argentina, eu não os vejo. Eu sempre estava muito ocupada com a faculdade ou o trabalho para poder ficar quatro horas dentro de um avião e ir vê-las. As vezes me sentia uma péssima filha, e irmã. Mas, minha mãe se orgulhava de mim e sempre deixava isso claro.

, assim como eu, não tem sua família por perto. Já que ela é nascida e criada em São Paulo, e veio para o Rio concluir seu curso. Ela pode estar em um voo de quarenta minutos de distância, mas mesmo assim, ainda está longe. Isso faz com que nós sejamos a família uma da outra. Olhei o outro porta retratos que havia na mesa, esse era um pouco mais refinado, era de bordas brancas, que imitavam uma Polaroid. Na foto estávamos eu e com fatias de pizza na mão e copos de suco de limão em outra. A garota mordia um pedaço da massa e tinha os olhos fechados, eu sorria largamente com os olhos também fechados. Em letras de forma, na parte branca do porta retrato estava escrito: “always be more than just friends… 11-08-2017”.
Aquela era nossa tradição; pizza e limonada para os dias tristes se transformarem em felizes.

Enquanto eu me imergia em boas lembranças, meu chefe se aproximou da mesa com um sorriso.

- , minha querida! - ele falou com uma animação invejável. - Trago boas, ou melhor, ótimas notícias.

- Eu ganhei na loteria? - perguntei, sentando em minha cadeira e ligando o computador.

- Você joga? - ele retrucou com outra questão e eu meneei a cabeça em negação. - Nunca vai ganhar, então. - riu e eu o acompanhei. - Vamos aos fatos. - abriu a pasta de cor parda que estava embaixo de seu braço e tirou uns papéis. - O que acha de acompanhar sua melhor amiga de perto durante todo o processo de cobertura dos shows? - com certeza meu rosto tomou o formato de um ponto de interrogação, porque Cláudio fez uma cara engraçada. - Essas são suas passagens, hospedagens e passes para o show. - ele me entregou os papéis e eu levantei as sobrancelhas como quem estava esperando para a revelação de uma pegadinha. - A revista e a produtora decidiram fazer uma matéria de imersão especial sobre a banda, e como eu já disse, você é a pessoa perfeita para fazer isso. - eu olhava os papéis com cuidado enquanto ele falava. - Minha melhor estagiária da área e a qual eu posso confiar de olhos fechados. - sorriu. - Por favor, não conte aos outros.

- Mas é claro que vou contar. Ora essa, não é sempre que meu chefe diz que sou única. - eu comecei uma gargalhada que logo o contagiou. - Ainda estou desacreditada, e eu sei que negar não é uma opção. - dei de ombros. - Então, estou ansiosa para começar esse trabalho.

- Juízo, pelo amor de Deus. Vocês vão ficar praticamente uma semana viajando ao lado de cinco garotos. - ele falou.

- Junto com uma produção gigante, e mais dois estagiários. - falei com obviedade na voz. - Somos profissionais, chefe. - eu falei e ele sorriu aliviado.

- Pode ir embora depois da aprovação das matérias. Arrume as malas. - ele deu dois tapinhas na mesa e seguiu em direção à sua sala.

Você não vai acreditar
2h05pm
Cláudio me escalou para a viagem. Vou estar com você durante todo o processo!
2h06pm



My Soul Mate:
Eu não acredito!!!!!!!!!
2h06pm
CNCO que nos aguarde.
2h07pm


Capítulo 6

Era dia 31 de outubro, e estávamos em uma festa de Halloween que o pessoal da revista organizou. e eu tínhamos a tradição de fazer fantasias combinando em todos os dias das bruxas desde que nos conhecemos. Esse ano, decidimos por nos fantasiar de ‘As Branquelas’ no desfile de moda. Isso mesmo, aquela cena que elas estão com vestidos de gansos. Não preciso dizer o quanto fizemos sucesso com aquelas roupas, até mais que no ano passado, quando nos vestimos de Britney e Justin no VMAs de 2001.

Tocavam várias músicas agitadas e divertidas, o DJ era ótimo e estava animando a todos, mas para a animação que ele estava causando era diferente.

- Amiga, eu preciso beijar este homem. - a garota falava em tom alto, apontando para onde o DJ estava. Ele usava uma máscara, como a do fantasma da ópera.

- Eu estou te segurando? - falei rindo, enquanto bebia um pouco de minha cerveja. - Se joga, Brittany. - falei com a voz afetada, me referindo à personagem da qual ela se caracterizava no momento.

- Vai ficar bem sem mim? - perguntou, com um sorriso no rosto.

- Vai logo antes que eu te chute daqui. - falei e a garota gargalhou, indo em direção a mesa do DJ. Essa era minha garota. Graças ao bom Deus ela e Bruno nunca assumiram nenhum relacionamento sério, o que fazia com que minha amiga desse seus pulos e ficasse com caras mais legais que ele, como o DJ, nesse caso. Eu gostava de classificar Bruno como um pau fixo para .

Ela se aproximou e começou a falar umas coisas perto de seu ouvido. Aquele ali já estava entregue, até o fim da festa eles estariam atracados em algum lugar do salão.
Continuei dançando ao som de Lady Gaga até que dois rapazes que reconheci sendo Gabriel e Marvin, os outros ganhadores da seleção, se aproximaram com um sorriso.

- . - Marvin falou o meu sobrenome com animação. - Ficamos sabendo que vai conosco para a viagem. - ele bateu palmas. - Está ansiosa?

- Você não faz ideia. - eu disse e eles riram.

Os dois garotos eram um casal. Eu e adorávamos tê-los por perto, porque eram as pessoas mais parecidas conosco dentro de todo aquele ambiente que às vezes era um pouco tóxico demais.

- Estamos nervosos porque é um trabalho e tanto. - Gabriel falou. - Mas, acho que estando com você e ficaremos mais tranquilos. - ele sorriu e eu retribuí. - Vai ser divertido.

- Sim, vai ser. - falei.

--
Na semana seguinte…
1º Viagem - São Paulo

balançava as pernas freneticamente ao meu lado na poltrona do avião. Eu a encarava como quem pedia para que ela parasse com aquilo, mas ela apenas me respondia com o semblante fechado.

- Você vai morrer de ansiedade antes mesmo do avião pousar. - falei, rindo.

- Não sei se estou assim porque finalmente está acontecendo, ou porque estou indo para minha cidade. - ela falou, encarando a poltrona da frente.

- Acho melhor você dormir, . - comentei e ela suspirou, concordando. - Tenho dramin na bolsa, se quiser.

- Acho que consigo dormir sem remédio. - falou. - Mas, caso precise, eu te aviso.

Eram apenas quarenta minutos de viagem até a capital paulista, mas minha amiga conseguiu descansar o suficiente para parecerem duas horas de voo. Quando senti o impacto do avião com o solo, sabia que já estávamos em São Paulo. Pela primeira vez, depois de todos os meses nesse processo de conseguir acompanhar a banda, eu senti o nervosismo de estar naquele local. Não era a minha vertente favorita do Jornalismo, mas eu tinha de reconhecer sua importância para o meu currículo. Além disso, Cláudio estava confiando em mim para ser a melhor estagiária que ele já teve. Eu precisava honrar essa oportunidade.

Acordei , que assim que despertou, já começou a se livrar do cinto e todas as outras coisas. Gabriel e Marvin, que estavam nas poltronas atrás das nossas, começaram a ter uma crise de risos com a ansiedade da menina.

- Isso é pelo CNCO ou pela cidade? - Gab perguntou para mim, enquanto apontava para , e eu dei de ombros, o acompanhando numa gargalhada.

- Vamos logo, gente. Temos que pegar as malas e ir para o hotel. Os meninos chegam logo e precisamos estar prontos para receber a equipe e fazer uma reunião… - começou a tagarelar, enquanto levantava da poltrona e pegava sua bolsa no bagageiro.

- Alto lá, inquietude. - falei, rindo. - Temos que ligar para Cláudio, avisar que chegamos e pedir para ele entrar em contato com a produção, marcando o local de encontro, que provavelmente será no hotel.

- Mas, para isso precisamos desembarcar. - ela falou e eu ri, concordando.

Levantei, assim como ela e os meninos, e seguimos a fila que se formava no corredor para sairmos da aeronave. Logo que descemos as escadas e recebemos um sorriso simpático da comissária de bordo, corremos em direção à esteira onde pegaríamos nossas malas. Enquanto as malas passavam, eu fazia um pedido mental para que nenhuma das minhas tivesse sido extraviada. Por sorte, logo depois de pensar sobre, elas passaram em minha frente. Como faltavam apenas as minhas, nos organizamos para sair e pegar um táxi até o hotel.

O hotel onde ficaríamos era o mesmo onde a banda se hospedaria, e mesmo sabendo dessa informação previamente, quando ouviu isso da boca de Cláudio pelo Skype, quase teve um surto. Afinal, já estávamos no saguão do mesmo, apenas esperando a chegada dos cinco rapazes e sua equipe.

Depois que finalizamos a videochamada com nosso chefe, continuamos sentados nos luxuosos sofás. Meu celular apitou duas vezes e uma mensagem de Cláudio apareceu.

Eles já estão à caminho do hotel.
10:00am
Ally, a produtora deles vai conversar com você para combinar as exclusivas. E Jos, o fotógrafo oficial, vai ter uma pequena reunião com vocês sobre os shows e as imagens que serão feitas. Fiquem no saguão, eles vão procurá-los.
10:01am
Pelo visto um dos meninos perdeu o voo e vai chegar só amanhã pela manhã, mas não tem problemas. Amanhã que os trabalhos começarão de fato.
Boa sorte!
10:02am

Respirei fundo, era real. Eles estavam chegando.

Ficamos alguns minutos assistindo o noticiário local pela TV do saguão, até que uma movimentação maior se formou. Pessoa com malas gigantes, roupas pesadas e estatura alta começaram a passar por nós e ir em direção ao elevador.

Uma mulher loira e alta, vestida em um moletom preto com as letras QQS grafadas em seu peito esquerdo, foi em direção à recepção e começou a conversar em inglês com os dois rapazes que atendiam. Logo deduzi que ela era a tal de Ally. , um pouco mais fã que eu, apenas me confirmou que era.

Depois de finalizar todos os check-ins, um dos recepcionistas apontou em nossa direção e ela deu um sorriso simpático, se aproximando de nós.

- Bom dia. - ela falou, ainda com o sorriso no rosto. - Vocês são da equipe que nos acompanhará, certo? - todos concordamos, com sorrisos simpáticos. - Quem é o jornalista? - perguntou e eu levantei a mão. - Aqui, para não tomar muito seu tempo, tomei a liberdade de fazer uma pauta modelo. - me estendeu um papel e eu agradeci. - o Jos está na van com os meninos e Alex, o outro produtor. Logo eles chegarão e Jos irá conversar com vocês. - Qual seu nome? - perguntou para mim.

- . - falei, apertando sua mão em um cumprimento.

- Como você e eu trabalharemos um pouco mais juntas, deixei meu número de contato na folha da pauta. Assim, qualquer dúvida pode me mandar uma mensagem. - ela piscou e eu concordei. - Vejo vocês mais tarde.

Ela foi em direção ao elevador e entrou logo que o mesmo abriu a porta.

- Você vai mandar mensagem pro Christopher agora ou depois? - me encarou séria e eu me fiz de desentendida. - Qual é, . - ela disse. - Você tem uma DM aberta com ele, conversaram um pouco mês passado e agora você se faz de sonsa? - ela disse e os garotos riram.

- Estou aqui à trabalho, amiga. Não vou mandar mensagem pra um garoto de 23 anos que está com os hormônios a flor da pele e, provavelmente, acha que todas as garotas querem dar para ele. - falei.

- E você não quer? - Marvin me encarou com seus grandes olhos azuis.

- Isso não entra em questão agora. - falei e eles riram.

Nesses minutos que conversamos, esquecemos totalmente do fato de que eles estavam a caminho. Só lembramos quando vimos uma van cinza parar em frente ao hotel e algumas fãs serem afastadas da porta por seguranças, formando um corredor para que os rapazes passassem.

, que estava ao meu lado, segurou minha mão com tanta força que eu pude sentir meus dedos serem esmagados.

- Como quer que eu trabalhe sem minhas mãos? - falei para a garota, que logo relaxou os dedos, soltando-as por um instante.

- São eles… - ela falou animada.

- Aja como a fotógrafa, não como a fã. - falei em seu ouvido e ela concordou, respirando fundo e se recompondo.

Ficamos observando pela porta de vidro do hotel e os vimos descendo, um por vez.
Primeiro vieram o segurança, o produtor e o fotógrafo. Logo depois, os artistas começaram a sair. Eu havia gravado seus nomes e rostos, então não era difícil para mim saber quem era quem.
O primeiro a descer foi Zabdiel, tinha um óculos escuro no rosto e um sorriso enorme nos lábios, atendeu todas as fãs e entrou no hotel, onde ficou aguardando ao lado do Alex, o produtor, e Jos, o fotógrafo. Robb, o segurança, estava indo e voltando da van, pois buscava os garotos e os trazia até o saguão. Eu e meus amigos tentávamos olhar o menos impressionados possível.
O segundo foi Richard, que vinha com uma animação indescritível. Em todas as entrevistas que assisti com vi que ele estava assim. Será possível alguém conseguir ser tão animado quanto ele?
Em terceiro, Erick desceu do veículo, acompanhado de Robb. Aquele garoto não podia ser real. Sua beleza deveria ser tombada como patrimônio da humanidade.
Logo que entrou no hotel, seus olhos nos encararam e ele acenou com um sorriso. Olhei para , que por fora apenas respondia ao aceno, mas por dentro eu sabia que estava prestes a ter um piripaque.
Em quarto, e por último, já que havíamos sido avisados de que o quinto chegaria apenas pela manhã, saiu Christopher. Ele, sempre com suas roupas extravagantes, sorria para as fãs e parava para cumprimentar algumas.
Quando todos estavam no saguão, vimos Alex dando uma palavrinha com eles, e os liberando para irem até os seus respectivos quartos.
Os rapazes entraram no elevador junto de seu produtor e segurança, e Jos veio em nossa direção para conversar com os fotógrafos.

- Já que essa função não cabe a mim, vou para o quarto tomar um banho e relaxar. - avisei à eles, que olhavam algo no MacBook de Jos, e sorriram para mim, concordando.

Segui até o elevador, apertando o botão 8, andar onde nós e a equipe de produção ficaríamos. Os meninos estariam hospedados em quartos no andar de cima.
A porta do elevador abriu, revelando o corredor que já tinha sido conhecido anteriormente. Percebi que ainda havia uma movimentação no andar, provavelmente ainda estavam arrumando as coisas. Dei um sorriso para algumas pessoas que estavam por ali e parei em frente à porta numerada com 851, peguei meu cartão no bolso da calça e coloquei na maçaneta.

- , não? - uma voz um tanto rouca falou. Quando me virei para concordar, dei de cara com o garoto de quase um e oitenta de altura, que tinha um sorriso lindo nos lábios. Sua pele era incrivelmente branca e seus braços, que já estavam descobertos do casaco pesado que usava anteriormente, era cheio de tatuagens.

- Christopher Velez lembra meu nome? - perguntei, realmente surpresa.

- Lembrava o primeiro, o segundo precisei colar com Alex agora. - ele apontou para porta onde ele, provavelmente, deveria ter estado com o seu produtor há alguns segundos. - Bom saber que você vai acompanhar nossa turnê por aqui. - seu sorriso era encantador.

- Claro. Fico feliz de acompanhar também. - falei, me perdendo por um momento em seus braços desenhados e seus lábios grossos. Trabalho, , você está à trabalho. - Preciso entrar, foi um prazer finalmente conhecê-los. Nos vemos. - girei a maçaneta e abri a porta.

- Vamos fazer uma festa no bar do terraço amanhã, depois das entrevistas. Será apenas para a produção e bom, nós cinco. É mais como uma comemoração pelos shows dessa turnê. Você e seus amigos vão aparecer? - ele colocou uma das mãos na porta, impedindo que eu fechasse antes de respondê-lo.

- Bom, se durante essa semana eu e eles fazemos parte da produção, creio que já tem sua resposta. - falei, com um sorriso fraco no rosto. - Nos vemos Christopher. - fechei a porta e soltei um suspiro. Meus amigos estavam certos, eu talvez não aguentasse focar no trabalho tendo ele rondando por aí e me provocando apenas por existir.
Eu precisava bolar um plano para sair ilesa disso.


Capítulo 7

Acordei um pouco antes de , que dividia quarto comigo, e desci para aproveitar o café da manhã do hotel. O restaurante estava vazio, o que me indicava que ou todos já tinham tomado café, ou eu tinha acordado muito cedo. Peguei meu celular no bolso e chequei que sim, eu tinha acordado muito cedo. O café ainda estava sendo servido, mas o garçom me permitiu ficar em uma das mesas esperando a liberação.
Estava mexendo em meu celular, entretida em algumas mensagens que minha mãe me mandava sobre como estava o tempo na Argentina, até que ouço uma voz suave, com um sotaque quase imperceptível, falando em inglês.
- Bom dia, o café já foi servido? - levantei minha cabeça e vi que o garoto usava um casaco preto, tinha uma touca na cabeça e uma barba por fazer, ele conversava com o garçom, que foi, prontamente, atendê-lo após a pergunta. O sono me impediu de associar quem ele era de primeira, mas assim que o homem saiu de seu lado e ele se sentou em uma das mesas para aguardar, assim como eu fazia, eu percebi que era o quinto integrante que faltava: Joel. Ele era ainda mais bonito pessoalmente, como todos os outros. Ele tinha um semblante cansado. Eu o entendia; voo longo, sem tempo para descansar, apenas tomar um café, um banho e partir para uma rotina de entrevistas.
Fiquei o observando por alguns instantes, sem que ele percebesse, e o garçom nos avisou que já poderíamos comer. Levantei-me da mesa onde estava e fui até o local onde estavam as comidas, ele fez o mesmo, ficando na outra extremidade. O garçom voltou para a cozinha nos deixando ali, enquanto nos servíamos.
- Com licença. - mais uma vez a voz do garoto soou como uma melodia. - O que é isso aqui? - eu me virei para ele e vi que apontava para uma bandeja cheia de pães de queijo.
- São como bolinhas feitas em uma massa de queijo. - falei e ele estalou os dedos, como quem se lembrava do que era.
- Pão de queijo. - falou com um sotaque que me deu vontade de apertar suas bochechas bem ali.
- Isso! - falei e ele sorriu.
- Joel. - ele apoiou o prato na bancada e estendeu a mão para mim.
- . - retribuí o ato. Eu sabia quem ele era, mas aquilo não precisava ficar claro agora. Precisava? - Bom, vim só pegar algumas coisas e tomar café no quarto. Tenho que sair para trabalhar daqui alguns minutos. Foi um prazer. - falei, terminando de colocar algumas frutas em meu prato. - Nos vemos por aí.
- Claro. - ele sorriu. Meu Deus, não era possível que todos eles tivessem sorrisos perfeitos, rostos perfeitos. Isso porque não citei o quão cheirosos eles eram.
Retribui o sorriso e segui em direção ao elevador. Era isso que eu fazia em momentos nos quais eu ficava nervosa, eu fugia.
Respirei fundo dentro do elevador e assim que parou em meu andar, fui até meu quarto, onde já estava acordada e arrumava seus equipamentos em uma bolsa.
- Trouxe coisas pro café. - coloquei o prato em cima da mesa de cabeceira e fui até minha amiga para dar-lhe um beijo no rosto. - Bom dia.
- Bom dia. - ela disse ainda sonolenta. - Vou comer e descer, nós vamos chegar antes, com a produção e os meninos. Ali disse para você se apresentar na rádio as onze, que é o horário que começará sua entrevista.
- Ok, vou tomar um banho e encontro com vocês lá. - falei, entrando no banheiro para me arrumar.
Depois que saí do banho, já não estava no quarto, o que indicava que ela, a produção e a banda já estavam na Rádio onde seria a primeira ronda de entrevistas da semana.
Vesti uma roupa casual, já que eu não precisava estar formal para entrevistá-los. Como o próprio Cláudio disse; você é jovem. Era essa a impressão que eu deveria passar, que assim como eles eu estava fazendo algo que eu gosto, e a partir disso conquistar sua confiança para ter um bom resultado de trabalho. Falando assim parece errado, mas essa é basicamente a função de qualquer jornalista.
Desci até o saguão, onde chamei um táxi para me deixar no local. Eu lia a pauta da primeira entrevista, seriam apenas duas perguntas, pois a cada show faríamos mais, assim entrando cada vez no mundo deles.
Quando o táxi parou em frente à rádio, mostrei o crachá que Ali tinha deixado na recepção do hotel para mim. Havia o logo da banda e “Produção” em baixo.
Assim que subi, encontrei Jos e Marvin fotografando a entrevista, enquanto e Gab ficavam responsáveis por filmar tudo.
Ali me viu chegar e saiu de perto de Alex para falar comigo.
- Está adiantada. - ela riu fraco.
- Eu sei, mas nunca se pode confiar no trânsito. - dei de ombros.
- Boa, garota. - ela deu um tapinha em minhas costas. - Vem, estamos assistindo a entrevista da rádio, logo você entra.
Fui para perto dela, Alex e Robb. Ficamos conversando baixo enquanto os garotos respondiam as perguntas do locutor. Quando terminaram, Ali foi os avisar sobre as perguntas que eles responderiam.
- Pode entrar lá. - ela falou para mim, assim que saiu da cabine. Concordei e abri a porta. Assim que passei por ela, pude perceber o olhar curioso de Joel para mim.
- Bom dia, meninos. - falei, sorrindo.
- Bom dia, . - Christopher respondeu um tanto galanteador e, mesmo com a cabeça abaixada verificando os papéis, pude ver Zabdiel cutucando sua cintura, como se pedisse para ele parar de ser abusado. Ri fraco e balancei a cabeça.
- Bom, vou explicar como vai ser durante esses dias. - me sentei em uma cadeira que estava em frente a eles. O mexicano ainda me encarava. - Eu e essas outras pessoas vamos acompanhá-los nas viagens aqui no Brasil. - apontei para os fotógrafos que estavam de fora da cabine. - Não quero que se sintam acuados, a produção de vocês está fazendo o máximo para que isso seja o mais confortável para todos nós. - eles prestavam atenção em mim. - Serão duas perguntas por show. Mas, serão perguntas mais intimistas, e se não quiserem responder, podem me falar. Sem pressão. - continuei. - Eu não sei como é estar na pele de vocês, mas entendo o suficiente de Jornalismo para saber que alguns de nós somos chatos e intrometidos. - ri fraco e eles concordaram, também rindo. - Vamos começar então? - ouvi um coro repleto de “Ok” e “Vamos” vindo deles.

--

Nove da noite. e eu nos vestíamos para a tal festa que seria dada para a produção no rooftop do hotel. Marvin e Gab estavam sentados em nossa cama, nos ajudando com os looks.
decidiu por uma saia de couro, com o cós alto, um top preto e uma jaqueta branca. Nos pés, calçava uma bota da mesma cor.
Meu caso foi um pouco mais difícil. Eu era, simplesmente, a pessoa mais indecisa do mundo quando se tratava de roupas. Coloquei a última opção de combinação que eu tinha, e me virei para meus amigos.
- Essa está perfeita! - Marvin falou, segurando em sua orelha e eu ri.
- Sua cara, amiga. - falou.
- É essa. - Gab foi o último a falar.
Virei-me para o espelho e gostei do que vi. Jaqueta bomber estilo militar, sutiã cropped branco, calça jeans clara e uma bota preta de salto grosso. Deixei os cabelos soltos e passei uma maquiagem leve. Estava pronta.
- Jos mandou uma mensagem. - Marvin falou, levantando o celular. - Parece que todos já estão por lá.
- Então vamos. - falei, pegando meu celular e colocando no bolso.
Quando descemos do elevador e demos de cara com um bar iluminado em cores quentes, me segurou pelo braço.
- Amiga, eu vou surtar. - ela falou baixo, enquanto Marvin e Gab iam em nossa frente.
- Por quê? Você esteve com eles hoje o dia todo. - dei de ombros.
- Estive trabalhando com eles. - ela enfatizou o verbo. - É diferente. - suspirou. - Vamos estar em uma festa, uma festa, com eles. - ela balançava as mãos freneticamente.
- Ok, vou pegar álcool pra você. - ri verdadeiramente. - E a partir de hoje seu sobrenome é surto. - olhei para cima. - Surto, é fica legal. - a garota deu um tapa em meu braço e nós duas seguimos em direção ao rooftop. Passamos pelo bar, onde já pegamos um copo de bebida. Assim que viramos no pequeno corredor, demos de cara com o pessoal da produção e os meninos conversando perto de outro bar que tinha do lado externo.
Marvin e Gab estavam conversando com Jos e Zabdiel, e quando nos viram logo nos chamaram para participar da conversa.
- Me permita dizer que vocês estão lindas. - o fotógrafo disse e pude perceber corando.
- Permissão concedida. - falei, rindo. - Como estão?
- Querendo ficar bêbados. - o cantor falou e eu ri, concordando com sua fala.
- Então parece que temos o mesmo objetivo. - brindei meu copo de Piña Colada com sua garrafa de cerveja. - Sabe o que deveríamos tomar? - perguntei e ele fez uma feição de curiosidade. - Tequila! - disse animada e pude perceber que o garoto também se animou.
Chamamos um dos garçons que rodava pelo local e pedimos vários shots de tequila, já que ao ouvirem a palavra mágica, os outros quatro integrantes da banda apareceram na roda.
Conversávamos sobre algumas coisas sem sentido até o homem de camisa branca aparecer com os pequenos copos, várias fatias de limão e uma vasilha com sal. Pegamos a bandeja e apoiamos na mesa que estava próxima de nós. Olhamo-nos cúmplices.
- Arriba, abajo, al centro y adentro. - falamos juntos e fizemos o famoso ritual da tequila e quando terminamos, já pedimos outra rodada.
Alguns minutos se passaram e todos já estavam altos por conta do álcool. Tocava reggaeton e meus amigos dançavam animadamente, enquanto eu estava apoiada no bar, os observando.
- Você não dança? - Pimentel se aproximou de mim, estendendo uma garrafa de cerveja.
- Danço, mas não estou bêbada o suficiente para isso. - ri, pegando a bebida.

(coloque a essa música para tocar)

- Então, estou colaborando para isso. - ele levantou a outra garrafa que estava em sua mão e brindamos, enquanto ríamos.

Siempre que ella baila así…

Quando a música começou a tocar, eu tive vontade de correr para longe de , mas não consegui. Porque ela veio até mim, sem nem perceber que Joel estava ao meu lado.
- É a nossa música. Você precisa dançar comigo. - ela falou e eu encarei o garoto, pedindo por salvação.
- Eu acho que você deveria dançar com ela. - ele falou rindo, e eu semicerrei os olhos, o entregando minha garrafa de cerveja, que ele colocou em cima do balcão.
me puxou para a pista de dança, na qual já estavam Richard e Erick junto de Marvin e Gab. Nós seis dançávamos conforme o ritmo, éramos todos muito bons naquilo.
Minha amiga, que antes segurava minha mão e mexia o corpo ao meu lado, logo foi roubada de mim por Erick, que a chamou para dançar.
Fechei os olhos e me entreguei ao som. Mexia meus quadris enquanto passava a mão pelo meu corpo, parando na cabeça, onde segurei meu cabelo por um instante. Eu precisava usar os anos de aula de dança da minha infância e juventude em algum lugar, então decidi que usaria ali.
Eu dançava livremente. Eu dançava para mim. Não queria conquistar ninguém, muito menos seduzir alguém. Eu me divertia como era pra ser.
Quando abri os olhos percebi que todos estavam na pista de dança, com exceção de Joel, que nos observava de longe, ainda parado no bar.
Olhei para frente e vi em frente à Erick, eles estavam perto, bem perto. Ri sozinha por um instante. O quanto ela estava surtando por dentro?
Ele a segurava pela cintura, enquanto ela tinha uma das mãos em seu pescoço. A maneira com a qual eles se encaravam me deixou desconfortável por alguns instantes, pois pude sentir a tensão sexual se formando naquele olhar.
Marvin me tirou dos pensamentos me puxando para se juntar a ele e Gab, que dançavam animadamente com Rich.
Camacho começou a nos ensinar uns passos para usarmos durante a música, o que nos fez ficar sincronizados o suficiente para quem olhar de fora achar que éramos profissionais.
Richard me puxou e começamos a dançar juntos, uma espécie de salsa misturada com tango. Ele me girava, me puxava para perto e depois rebolava comigo. Minhas risadas só não eram tão altas quanto à música.
- Chame o Joel pra dançar. - ele sussurrou em meu ouvido e se afastou de mim, fazendo uma reverência e piscando em seguida. Saiu de onde estava e foi em direção a Chris e Zabdiel.
Ri fraco e olhei em direção ao bar. Joel ainda estava parado, mas sem sua cerveja na mão. Seu olhar estava em minha direção, nunca deixou de estar. Percebi que desde que saí de seu lado para dançar, ele me encarava.
Caminhei em sua direção e estendi a mão.
- Acho que você deveria dançar comigo. - sorri marota e ele retribuiu, colocando sua mão sobre a minha.
O puxei para a pista de dança, onde comecei a fazer os mesmos movimentos que fazia antes, porém, com ele ao meu lado. O garoto dançava tão bem que me senti envergonhada por achar que sabia como me movimentar. Ele se aproximou de mim, como quem pedia espaço para, realmente, dançar comigo.
Cedi e ele colocou as mãos em minha cintura. Não estávamos tão próximos, mas nossos quadris se mexiam em sincronia. Eu evitava ao máximo olhar em seus olhos, não por medo, mas por algum tipo de insegurança. Ele era perfeito demais para ser verdade e eu tinha receio de perceber que tudo aquilo ela um sonho.
Joel me puxou mais pra perto, dançando como Richard dançava comigo há alguns segundos. Mas, com ele era diferente de quando dancei com Rich. Era como se nossos corpos se encaixassem de maneira perfeita; aquelas famosas peças de um quebra cabeça que estavam perdidas e finalmente se encontraram.
Nossa respiração era pesada, mas nossos movimentos eram leves. Cada vez estávamos mais próximos, tão próximos que por um momento me esqueci de todas as outras pessoas que estavam no mesmo local que nós.
Com a mão que estava em minha cintura, me puxou mais para perto.
- Siempre que ella baila así, a mí me daña la cabeza el día que la conocí, tomaba tequila y cerveza… - ele começou a cantar a música em tom baixo e eu senti meu corpo tremer. - Y ahora yo me la paso buscando una razón pa' verte bailando, me robó el corazón sin permiso… - aproximou seus lábios de minha orelha. - Su movimiento me tiene indeciso.
Pisquei forte algumas vezes para sair daquele transe no qual ele estava me colocando, e por sorte consegui voltar ao pouco de sanidade que me sobrava, mesmo depois de tantas tequilas.
A música foi abaixando o volume, indicando que estava prestes a acabar. E quando ela finalmente foi finalizada, dando início à outra, eu me afastei devagar de seus braços.
- Acho que já está tarde. Preciso ir dormir. - falei, com a voz ainda fraca e ele apenas meneou em concordância.
Não procurei ou qualquer um dos outros, apenas fui em direção ao elevador, sem me despedir direito.
- Ei, onde está indo? - suspirei ao me virar e ver Christopher.
- Está tarde, vou dormir. - falei, com um sorriso fraco.
- Tem certeza? - ele perguntou, se aproximando.
- Tenho. - eu olhava para o elevador, esperando que ele me salvasse, mas não aconteceu. Eu não queria papo com ninguém no momento. Essa era uma das horas que eu estava nervosa demais, e eu não podia, de jeito algum, misturar trabalho com vida profissional.
- . - apareceu e eu dei graças à todas as forças espirituais possíveis. - Já vai descer? - concordei. - Então vou contigo.
- Obrigada por se preocupar, Chris. - sorri e envolvi meu braço no de minha amiga, que caminhou comigo até o elevador.


Capítulo 8

Dor de cabeça era o que eu sentia naquela manhã. Definitivamente eu não beberia mais tequila em tanta quantidade como fiz na noite anterior. Todos já tinham tomado café e estavam a caminho das entrevistas do dia, que se resumiam a revistas, alguns canais do YouTube e por último, uma participação no The Noite com Danilo Gentilli.
Uma mensagem deixada por Ally em meu WhatsApp avisava que hoje eu estava liberada de meus afazeres e poderia tirar o dia de folga. Olhei para o teto e agradeci ao universo por ter conspirado para que meu day off fosse o mesmo dia da ressaca. Decidi que dormiria mais um pouco, provavelmente até meus amigos voltarem e decidirem fazer algo.
Foi fácil encostar a cabeça no travesseiro e cair no sono novamente. Não havia sonho ou qualquer resquício de um. Eu tive um sonho pesado o suficiente para não acordar com a movimentação que , Marvin e Gab fizeram em meu quarto. Só realmente despertei quando Marv me balançou na cama, avisando que Gab e tinham voltado para o trabalho e ele estava sozinho no hotel.
- Vamos fazer alguma coisa. Pouco me importa sua ressaca. - ele falou, jogando uma muda de roupas que havia separado para mim.
- Biquinis? - perguntei, tirando as peças de cima do meu corpo.
- Sim, vamos à piscina. - ele falou como se fosse óbvio. - Vista-se.

--

Fazia um tempo que eu e Marvin estávamos no terraço aproveitando aquela piscina de borda infinita que eu só via em fotos do Instagram. Eu não estava na água, pois queria aproveitar o sol que fazia em São Paulo para colocar o bronzeado em dia. Não que eu fosse totalmente bronzeada, porque eu realmente não era.
Mesmo com os óculos de sol, alguns raios incomodavam minha vista. Estava muito quente, deveriam ser por volta de quatro da tarde. Serviam uns petiscos e bebidas para os hóspedes. Para a comida eu dizia sim, para a bebida eu simplesmente recusava e pedia um refrigerante. Não iria colocar álcool em minha boca tão cedo.
Marv nadava alegremente, até que parou perto de onde eu estava com um sorriso malicioso no rosto.
- Alerta equatoriano gatinho. - ele falou e eu engoli seco. Chris. Peguei a primeira toalha que achei e me cobri com ela. Não era vergonha do meu corpo, até porque eu era bem confiante em relação a ele. Mas era respeito. Eu estava ali à trabalho e é como se Chris fosse meu chefe. Me sentia como se estivesse mostrando meus peitos para Cláudio, e a cena não era nada interessante.
Seguindo ele, vinha Zabdiel com uma toalha enrolada no pescoço e logo atrás e Erick conversando animadamente sobre algo que eu não consegui entender, já que eles falavam rápido demais.
- Boa tarde. - Vélez arriscou no português e sua voz soou como uma arfada sexy que arrepiou todos os pelos do meu corpo rapidamente.
- Boa tarde. - respondi, com um sorriso tímido.
Ele abaixou seus óculos até a ponta do nariz e deu uma piscadela. Aquele homem tinha algum feitiço o rodeando, porque qualquer coisa que ele fazia era absurdamente atraente.
Senti um calor tomar conta de meu corpo e o suor aumentar.
- Não vai entrar? - perguntou, tirando a camisa. Poderiam declarar minha morte ali naquele exato momento.
- Vou ficar pegando um sol. - falei, tentando desviar os olhos de seu peito desnudo.
- Não vai conseguir pegar sol com uma toalha em cima do corpo. - ele deu de ombros e se virou, entrando na água.
Joguei a cabeça para trás, bufando. Não sei se aguentaria ficar mais cinco dias ao lado dele sem o jogar em algum canto e começar a tirar sua roupa.
Tirei a toalha de cima do meu corpo, já não ligando mais para o profissionalismo. Meus hormônios falavam mais alto.
- Amendoim? - a voz carregada de sotaque de Zabdi soou, e quando virei meu rosto o garoto sentava na espreguiçadeira ao lado da minha e tinha um pote com os petiscos em mãos.
- Não, obrigada. - sorri e ele fez o mesmo, se deitando logo em seguida.
Olhei para meu outro lado e observei e Erick parados ao lado do bar, ainda conversando animadamente. Eles estavam bem próximos e a mão do garoto estava sobre a da minha amiga, na bancada. Sorri ao ver a cena. não perdia mesmo uma oportunidade.

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Robb batia na porta de todos avisando que o jantar seria servido para a produção no terraço, novamente.
Olhei para o relógio e pensei seriamente emnão subir, viajaríamos para Curitiba no dia seguinte e eu queria descansar o suficiente para começar a escrever a matéria quando chegássemos na cidade. Mas, como nem tudo é perfeito e meus amigos parecem três leões famintos, fui obrigada a subir.
Eu já estava sem maquiagem, com um rabo de cavalo alto e meio frouxo, que combinava totalmente com meu look sem teto composto por um conjunto de moletom. Mas, quem disse que eu ligava?
No elevador, não sei por qual motivo, Marv, Gab e tinham uma conversa muito séria sobre um possível comeback das Pussycat Dolls. Eu olhava pra eles e me questionava como conseguia continuar a amizade com aqueles doidos. Ri fraco e o elevador finalmente apitou, avisando-nos de nossa chegada ao andar.
Cumprimentamos os garçons e os barmans, e viramos na pequena rampinha que levava até a parte descoberta, onde estava montada a nossa mesa de jantar.
Francamente, estava me sentindo muito importante tendo uma refeição exclusiva. Eu nem queria comer, em primeira instância, mas se eu decidisse, descer até o restaurante do hotel era a melhor opção. Nunca, em mil anos, eu achei que estaria em um terraço, jantando com estrelas mundiais. É, , o mundo gira.
- Boa noite, boa noite. - falei para todos na mesa, que devolveram os cumprimentos.
- Sentem-se. - Ally apontou para cadeiras que estavam vazias e nós concordamos.
prontamente se sentou ao lado de Erick, que abriu um sorriso para garota assim que ela fez. Gab e Marv sentaram-se ao lado de Richard, que os cumprimentou com um soquinho. A única cadeira que tinha sobrado era uma entre Chris e Joel.
Suspirei sem que ninguém percebesse e me perguntei se era possível Deus estar fazendo um jogo desses comigo à essa hora da noite.
Sem mais opções, me sentei dando um sorriso para os dois.
- Como foi seu dia, ? - Joel falou baixo, virando delicadamente seu rosto para mim, enquanto todos os outros estavam se imergindo em uma conversa sobre música. Meu apelido saindo da boca do rapaz era algo que eu não esperaria acontecer tão cedo, mas aconteceu e eu simplesmente fiquei sem reação por alguns segundos.
- Bom. - pigarreei, tentando voltar a realidade. O que era quase impossível com aqueles olhos me encarando como se lessem cada parte de mim. - E o seu?
- Tirei para descansar. Mas, fiquei sabendo que todos estavam na piscina. - ele tinha um sorriso no rosto. Qual era a necessidade de ser tão lindo daquele jeito?
- Sim, estávamos. - voltei meu olhar para mesa e fiquei brincando com o garfo que estava sobre ela por uns instantes.
- Queria saber se você gostaria de assistir um filme hoje. - ele falou, normalmente, e eu virei meu olhar em surpresa. - Sei que viajamos amanhã de manhã, mas eu descobri esse novo documentário sobre música na Netflix e queria muito assistir.
- Nenhum dos meninos aceitou a proposta? - perguntei, tentando fugir da sinuca de bico na qual estava me metendo.
- Digamos que eles não são muito fãs de documentários. - ele riu e eu meneei, o acompanhando na risada.
- E o que te faz crer que eu sou? - perguntei, arqueando as sobrancelhas e o garoto deu uma risada fraca, quase como um sussurro.
- Não sei. Você é? - ele tinha o braço esquerdo apoiado na mesa e o direito estava levantado, o que fazia sua mão estar na bochecha. Virou a cabeça e sorriu de lado, mostrando apenas um pouco de seus dentes. Como eu ainda não tinha percebido quão perfeita era aquela boca?
- Sou sim. - engoli seco e ao perceber que estava agindo estranho, sorri. - Amo assistir documentários.
- Então já temos um programa para depois do jantar. - piscou e eu dei graças aos céus por estar sentada naquele momento.
Ele se virou para seu lado direito e começou a conversar algo com Alex, quando passei meu olhar por toda a mesa, percebi que Zabdiel me encarava com um sorriso engraçado no rosto, como quem sabia o que estava acontecendo comigo. Fez um sinal com os dedos, dizendo que estava de olho em mim e eu ri, dando língua para o garoto.
Respirei pausadamente, tentando recuperar minha consciência que foi totalmente embora devido efeito Joel Pimentel sobre mim e olhei para trás, onde vi que os garçons já traziam a comida.


Capítulo 9

Tentei fugir de Joel quando o jantar terminou, mas ele foi mais esperto e mais rápido, conseguindo entrar comigo no elevador.
- Pronta para o filme? - ele perguntou e eu assenti, envergonhada.
- Relaxa, . Eu não vou te matar, vamos só assistir um documentário. - falou, rindo.
- Desculpa. - respirei fraco. - Eu prezo muito pelo profissionalismo, e isso não é muito profissional. - falei.
- E depois desses poucos dias conosco você ainda acha que somos profissionais? - ele brincou e eu ri de sua fala, assentindo. - Viu? - apontou para mim. - Não custa nada fazermos amizade, . - meu corpo arrepiou no mesmo segundo que meu apelido saiu de sua boca. Parecia que meu nome tinha sido feito para ser pronunciado por ele. - Além do mais, vou te deixar no seu quarto antes das dez. Eu juro. - ele levantou a mão direita, eu sorri.
- Ok. Qual o nome do filme? - perguntei.
- Alive Inside.
O elevador desceu calmamente, e nós não proferimos outras palavras além daquelas. Quando as portas se abriram, não precisamos andar muito, já que o quarto de Joel era bem em frente de onde estávamos.
Ele tirou o cartão-chave do bolso e o colocou na porta, abrindo-a. O quarto estava impecável, sem roupas espalhadas, cama bagunçada ou qualquer outra coisa do tipo.
- Fique à vontade. - ele apontou para o cômodo. - Se quiser, pode pegar qualquer coisa do minibar. - ele tirou o tênis que usava e colocou no canto. - Vou ao banheiro e já volto. Pode ir ligando a TV?
- Obrigada. E sim, posso. - sorri verdadeiramente.
Joel entrou no banheiro, e eu ainda estava em pé no meio do quarto. Decidi tirar meus sapatos, assim como ele, e me sentar na ponta da cama. Peguei o controle da televisão e a liguei, já colocando na Netflix e selecionando o filme escolhido pelo garoto.
As luzes estavam desligadas, então apenas a TV iluminava o quarto. Ouvi a porta do banheiro sendo destrancada e vi que Pimentel saiu apenas vestindo uma calça de moletom. OK. Aquilo era demais para mim. Como um garoto de sua idade, com sua rotina, poderia ter o abdômen definido daquela forma?
Respirei lentamente, tentando oxigenar meu cérebro para me manter mais calma.
- Pode pegar essa camisa que está em cima da mala, por favor? - ele apontou para uma mala preta que estava ao lado da cama e tinha uma camisa da mesma cor pendurada em seu puxador. Eu apenas peguei a camisa e entreguei a ele. - Obrigado. Bom, vamos começar? - assenti e ele se sentou na outra ponta da cama, deixando uma das pernas esticadas sobre o colchão e a outra para fora do mesmo.
Apertei o play no controle remoto e o filme foi iniciado. Tinha uma premissa interessante; era sobre uma pesquisa de uma organização sem fins lucrativos, para provar que a música tem a capacidade de combater a perda de memória. Os experimentos com musicoterapia eram feitos, basicamente, em pacientes com Alzheimer ou Depressão.
Joel estava vidrado no filme e eu me emocionava algumas vezes, mas nada que o garoto pudesse perceber. Nós estávamos ali assistindo um documentário, e apenas isso. Não falávamos nada, nem ao menos trocávamos olhares. O que me deixou mais relaxada.
Quando os créditos começaram a subir, virei meu olhar até Joel.
- Preciso ir. - peguei o meu celular para conferir a hora. - Já está tarde e voamos amanhã cedo. - falei e o garoto assentiu, com um sorriso no rosto.
- Quer que eu te leve até seu quarto? - perguntou.
- Não é tão longe, acho que nada de ruim pode acontecer até lá. - eu disse, rindo e ele me acompanhou.
- Então te acompanho até a porta, pelo menos. - se levantou da cama, assim como eu, e fez um sinal para que eu fosse em sua frente.
Caminhei até a porta do quarto e o garoto, que vinha logo atrás de mim, a abriu, como um verdadeiro cavalheiro.
- Obrigada pelo filme. Eu realmente adorei. - disse, com um sorriso sincero no rosto.
- Eu agradeço pela companhia. - retribuiu o sorriso e por um momento quase desfaleci. Estava começando a perceber o efeito que aquele sorriso tinha sobre mim.
Ele me puxou para um abraço inesperado. Seus braços eram acolhedores o suficiente para eu ter vontade de ficar envolvida neles durante toda minha vida. Seu cheiro era uma mistura de amadeirado com doce, algo único que era incomparável.
- Boa noite, . - ele sussurrou e eu precisei respirar fundo mais uma vez.
- Boa noite, Joel.

--

- Vocês se beijaram? - praticamente gritava ao entrar no meu quarto, as exatas cinco da manhã, ao lado de Marvin e Gabriel.
- Bom dia para vocês também. - eu, que já estava me arrumando para ir ao aeroporto, calçava minhas botas assim que meus amigos entraram. - Tive uma ótima noite de sono, obrigada por perguntarem. - levantei da cama, indo para frente do espelho e ajeitando minha touca na cabeça. - E não, eu e Joel não nos beijamos.
- Você me deve vinte pratas, Gabriel. - minha amiga falou para o moreno que rapidamente pegou a carteira no bolso de trás e tirou duas notas de dez para .
- O que é isso aqui? - perguntei, me referindo à aposta.
- Eu sabia que o vocês não iam se beijar, Gabriel apostou que iriam. Eu ganhei. - ela cantarolou a última frase. - Joel tem cara de gay amiga. - ela falou baixo e riu.
- Ele pode ser uma poc, mas gay não é. - Marvin falou. - Eu entendo de gays, eu sou um. - disse sendo óbvio e deu de ombros. - As bonitas podem continuar esse assunto dentro do avião, porque já estão todos descendo. - avisou e nós concordamos, rindo.
Pegamos nossas malas e logo depois o elevador. Chegamos no térreo e algumas fãs estavam na porta do hotel, esperando pela saída dos meninos. Nós aguardávamos Ali e Jos para nos dar as coordenadas do que faríamos, com quem iríamos e todo o resto.
Alex apareceu antes dos dois, e nos informou que nossas vagas estavam reservadas na van da produção, que seria a primeira a sair. Concordamos e já nos locomovemos até o veículo que estava parado em frente à porta principal do hotel. Guardamos nossas malas, equipamentos e entramos, esperando o resto da equipe de produção chegar. Assim que todos os músicos e fotógrafos entraram, o motorista partiu com a van até o aeroporto, onde pegariamos nosso voo com destino ao primeiro show no Brasil: Curitiba.
Chegando no aeroporto, fizemos nosso embarque e ficamos aguardando pelos meninos, Ali, Alex e Jos na sala de embarque.
Eu me divertia com um joguinho no celular, enquanto estava sentada em uma das poltronas.
- Tão viciada que nem nos viu chegar. - alguém falou perto de meu ouvido, me dando um pequeno susto.
- Que merda, Christopher. - falei ao me virar e encontrar o rapaz com um sorriso maroto no rosto. - Não se assusta alguém assim. - alertei. - Vai que eu sou cardíaca.
- Você é? - perguntou, arqueando uma das sobrancelhas.
- Não. - respondi.
- Então vou continuar te assustando. - riu. - Você fica linda irritada. - piscou e eu senti meu corpo ser invadido por um calor instantâneo. Eu não sei o que aquele garoto tinha, mas era ele apenas ele se aproximar que todo o tesão do mundo achava que tinha direito de tomar conta de meu corpo. Acho que por esse motivo eu era um pouco arrogante com ele, apenas para ficar na defensiva.
- Eu deveria te agradecer ou mandar tomar no cu? - perguntei, revirando os olhos.
- Você que decide. - ele fez questão de se aproximar para sussurrar novamente eu meu ouvido. Meu braço arrepiou de uma forma visível após aquele contato. - Bom saber que eu te causo essa sensação. - passou a mão pelo meu braço que ainda tinha os pelos um pouco ouriçados e naquele momento eu sabia que estava entregue aos encantos do equatoriano. E o pior de tudo; ele também sabia disso.


Capítulo 10 - Parte 1

- Amiga, os dois são gatos, mas você precisa decidir entre um ou outro. - Marvin, que estava ao meu lado no avião, sussurrou olhando para Joel e Chris que arrumavam suas malas de mão no bagageiro. - Ou faz com os dois, eu não te julgaria. - ele falou e eu ri.
- Não é isso, Marvin. - suspirei. - Joel é um fofo, mas não tem iniciativa. Chris é mulherengo e sempre que chega perto de mim eu preciso trocar de calcinha. - falei, sincera e o garoto riu. - Só que você já viu a boca do Joel? - sussurrei. - Ele parece beijar tão bem. - arfei. - Eu estou aqui a trabalho, meu Deus. - me ajeitei na poltrona. - Vocês, nem meus hormônios, vão me convencer a fazer algo que eu não deva.
- Talvez não deva, mas precisa. - levantou as sobrancelhas e se virou para frente.
- Você está insinuando que eu preciso de sexo, Marvin? - perguntei, ofendida, porém com um riso preso na garganta.
- Você que está dizendo, não eu. - deu de ombros e eu bufei. Coloquei o fone de ouvido e me permiti relaxar até pousarmos em solo Curitibano.
O voo foi tranquilo, Marvin e eu dormimos até sermos acordados por e Gabriel, falando que nos deixariam ali caso não levantássemos em alguns segundos.
Nós nos apressamos, pegamos nossas coisas e descemos da aeronave. A van que nos levaria para o hotel já estava à nossa espera. O dia hoje seria bem mais corrido, pois chegaríamos no hotel e organizaríamos as coisas para partirmos até o Teatro Positivo, onde aconteceria o primeiro show. E como cobriríamos Soundcheck e Meet & Greet, precisávamos chegar cedo.
Eu ainda estava um pouco sonolenta dentro da van, até chegar no hotel e ser acordada devido a movimentação das fãs que esperavam pelos meninos.
A cara de frustração delas ao ver que naquela van era apenas produção deveria ser gravada.
Entramos no hotel e já fizemos o Check-in. Como Ali já tinha me dito o que fazer, assim como Jos fez com meus amigos, não precisamos esperar por eles. Então subimos até nossos quartos e já nos instalamos. Dessa vez eu ficaria com e Marvin com Gabriel. Não queria nem imaginar o quanto eles se divertiriam com um quarto só para eles. Ri fraco, como se eu fosse alguma espécie de louca.
- O que foi? - perguntou e eu balancei a cabeça em negação. - Você tá ficando maluca, isso sim. - ela riu. - Mas, nada que um bom sexo não resolva.
- Ah, começou você também. Dizendo que eu preciso melhorar minhas atividades sexuais. - joguei a mochila em cima da cama, que por sinal era gigante, e coloquei a mala em um canto, assim como minha amiga fez com a dela.
- , quem fala “atividades sexuais”? - a garota riu e eu mostrei a língua para ela. - Coloque essa sua língua na boca do Joel… - ela olhou para cima. - Ou do Chris? - perguntou com um olhar malicioso. - Não sei, mas manterei a minha na do Erick. - ela falou e eu arregalei os olhos.
- Perdão? - perguntei, desacreditada.
- Não nos beijamos, calma. Mas tenho certeza que seremos mais rápidos que você e Joel, ou você e Chris. Pelo amor de Deus se decida. - ela riu.
- Nem um, nem outro. - dei de ombros.
- Eu te conheço, . Você não vai aguentar. - ela falou, pegando uma das toalhas e se preparando para ir até o banheiro.
- Claro que vou. - a maneira que falei parecia mais uma birra e isso fez a garota rir. - Vai tomar banho, . Temos que sair daqui uma hora.

--

O Teatro era enorme e lindo, as cadeiras eram bem distribuídas e era o único show da tour que tinha os lugares marcados nos ingressos. Eu e estávamos na fila, responsáveis por colher depoimentos de algumas fãs e tirar fotos, respectivamente.
Era legal vê-las tão empenhadas em conseguir o mínimo de contato que fosse com algum deles. Elas nos trataram super bem, o que foi uma surpresa, já que normalmente qualquer ser do sexo feminino que se aproximasse de integrantes de boybands era odiado.
- Preciso entrar para passar o roteiro pro Marv, vai fazer mais algumas fotos? - sussurrei no ouvido da minha amiga.
- Acho que dá tempo de eu tirar mais algumas. A passagem de som começa em vinte minutos. - checou o relógio e confirmou com a cabeça. - Pode ir, te vejo lá dentro. Avise ao Jos que estou terminando aqui. - pediu e eu pisquei, concordando.
Segui meu caminho pra dentro do teatro novamente. Alguns dos garotos já estavam no palco, fazendo as marcações necessárias.
Subi através da escada lateral e passei pelas coxias. Gab estava sentado num banco de ferro com sua câmera em mãos, quando passei ele virou a lente para mim e capturou minha cara de perdida.
- E aí, . Já se decidiu? - perguntou, mostrando a língua entre os dentes.
- Será que ninguém vai me ver hoje e perguntar se estou bem? - joguei os braços para o ar. - Não vou nem te responder, Gabriel. Apenas trabalhe. Preciso encontrar meu computador.
- Camarim. - ele falou e eu concordei. Saí de cena e com a risada do meu amigo de fundo.
Cheguei até o local indicado por Gab e abri a porta devagar, apenas para garantir que eu não fosse ver ninguém pelado ou de roupas íntimas. Se só de ver a barriga do Joel eu já fiquei sem estruturas, imagina se eu visse mais?
O lugar parecia estar vazio, então entrei com calma e fui até o local onde estavam todas as bolsas e me abaixei para pegar o MacBook que usaria naquela noite. Eu estava tão distraída procurando o carregador, que não percebi quando os garotos entraram para se trocar.
- Opa! - exclamei ao me levantar e me deparar com Zabdiel sem camisa.
- Fala, . - ele disse com um sorriso no rosto.
- Melhor eu sair. - abaixei a cabeça e coloquei a mão sobre os olhos. Quando cheguei na porta, outros entraram.
- Está passando mal, ? - Erick perguntou ao me ver de cabeça abaixada.
- Não. - falei, mantendo a cabeça abaixada.
- Acho que o problema dela é ver homens sem camisa. - Rich brincou e eu não consegui conter a risada.
- Qual foi, . Só o Zabdiel está seminu. - Christopher falou. - Pode abrir os olhos.
Levantei a cabeça lentamente e percebi que era verdade, apenas Zab estava sem camisa.
- Não me entendam mal. - falei, rindo um pouco. - Mas vocês são gatos, e tem corpos lindos. E eu sou uma jovem adulta com hormônios um pouco loucos. - eles deram uma risada e eu os acompanhei. - Preciso manter a postura de mulher séria e trabalhadora que eu instaurei aqui, rapaziada. - ri, ninguém estava me levando à sério naquele local. - Vou embora, não aguento mais vocês rindo da minha cara.
- Que isso, estamos rindo com você e não de você. - Rich falou e eu rolei os olhos.
- Eu vou embora porque vocês precisam se trocar e eu trabalhar. - falei o óbvio. - Bom show para vocês.

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Assistimos a passagem de som, que fora aberta para algumas fãs, e logo depois os meninos voltaram ao camarim, para se arrumarem novamente.
Eu e olhávamos as fotos e vídeos das garotas da fila, quando Ali bateu na porta da pequena sala e entrou.
- Meninas, não querem assistir o show? - ela perguntou, apontando para trás, em direção ao palco. - Começa em cinco minutos. Vocês podem ficar na área de segurança, um pouco a frente das cadeiras. - ela disse e nós nos entreolhamos. Eu sabia que queria aquilo, e queria muito.
- Claro, vamos só guardar as coisas aqui. - falei e a americana sorriu.
- Procurem o Alex desse lado, que ele vai levá-las pro local combinado. - saiu da sala e no mesmo momento se levantou.
- Eu vou ver um show do CNCO, não estou acreditando. - ela disse, se abanando.
- Cara, você foi numa festa com eles, está viajando ao lado deles e não venha fazer cara de sonsa quando eu disser que você está de rolo com um deles. - apontei para a garota, que sussurrou “longe de mim”, e eu ri. - E você está surtando por conta de um show?
- Entenda meu lado fã, . Pelo amor! - bateu as mãos nas coxas.
- Ok, vamos. Hoje estamos de madame, os escravos da noite são Marv e Gab. - falei rindo e ela me acompanhou.
Caminhamos até a coxia onde encontramos Alex, que nos levou até o local que Ali havia falado anteriormente.
Mesmo sem estar escalada para fotografar esse show, tinha sua câmera em mãos. Bom, já eu não tinha nada em mãos além do meu celular e alguns anéis que eu sempre usava.
A luz abaixou e a quantidade de som vinda da plateia aumentou. As fãs começaram a gritar loucamente, e por um momento me assustei, mas ri sozinha.
Como é de conhecimento geral, eu sabia praticamente todas as músicas dos meninos, e estava no árduo processo de me fazer virar a mesma fã louca que ela é. Ainda não me considerava uma fã, apenas uma pequena admiradora.
A música começou a tocar e as meninas começaram a cantar em uníssono. Não importa qual artista estivesse no palco, todo e qualquer show em solo brasileiro tinha uma atmosfera diferente.
fotografava loucamente os meninos, que entre uma música e outra acabavam fazendo umas caretas para a câmera, fazendo com que eu e caíssemos em gargalhadas, assim como as fãs que estavam na primeira fileira, atrás de nós.
Assim que o show terminou, Alex foi nos buscar e disse que iríamos junto com os garotos para o hotel.
Entramos na mesma van que eles, assim como Marv, Gab, Jos e Robb.
- Que show incrível, garotos. - falei. - Aposto que até o final da passagem de vocês por aqui eu viro fã de carteirinha.
- , você é maravilhosa. - Zabdiel, que estava ao meu lado, me puxou para um abraço.
- Ah, você está suado. - o empurrei e ele riu. - Me abrace apenas depois de um bom banho.
- Abraços permitidos? - ele perguntou, fazendo uma carinha fofa.
- Para você sim. - falei e ele começou a apontar para os amigos, rindo, como se aquilo fosse uma vitória para ele. Eu ri de sua atitude infantil.
- Eu só acho que a deveria permitir abraços ao Erick. - tinha que ser Marvin.
- Já permiti, meu bem. - ela falou, do fundo da van, onde estava sentada ao lado de Joel.
- Ela só não quer permitir mais que isso. - Erick falou e todos nós o encaramos ao mesmo tempo. Ele deu de ombros e sorriu, minha amiga continuou o olhando, embasbacada.
- Resolvam isso no hotel, quero dormir. - Chris murmurou e encostou a cabeça na janela.
- Depois dizem que o neném da banda é o Erick. - Richard sussurrou em minha direção e eu ri.
O motorista deu partida na van, seguindo até onde descansaríamos, para logo partir até o próximo destino: Rio de Janeiro.


Capítulo 10 - Parte 2

Essa parte é narrada por .

Assim que chegamos no hotel, fomos para o quarto tomar banho e nos preparar para o jantar, que seria servido em nossas próprias acomodações.

Quando terminou seu banho, avisou que estava indo até o quarto de Marvin e Gabriel para pegar seu computador, que havia ficado com os meninos. Aproveitei a saída de minha amiga para tomar um banho e, depois, começar a editar algumas fotos.

Me joguei na cama, apenas com meu blusão preto e meias de cores diferentes, porque eu queria apenas ficar confortável e não estilosa. Peguei o computador em minha bolsa, e o cartão de memórias da câmera. Não dormiria até conseguir editar, no máximo, cinquenta fotos.
Comecei a fazer meu trabalho, que estava indo bem rápido graças a todas as forças divinas, a internet do hotel era de melhor qualidade.

Duas batidas soaram.

- Entra, . - gritei. - Não sei porque está batendo. - mantive meu foco na tela.

- Ei, belas meias. - virei meu olhar e encontrei os olhos verdes de Erick me encarando.

- Erick. Não deveria estar dormindo? - me ajeitei na cama, querendo ficar um pouco mais apresentável, mas quem eu queria enganar? Eu estava só o bagaço da laranja.

- Deveria, mas algo ficou rondando minha cabeça. - ele falou e apontou para a cama. - Posso? - eu meneei em concordância e o garoto se sentou ao meu lado. - Você realmente não quer me permitir mais que um abraço? - aquele olhar podia matar qualquer um, e eu estava sendo a prova viva (mais ou menos) daquilo.

- Eu nunca disse que não permitia. - tentei ser ousada, entrando em seu jogo, e o garoto sorriu, mordendo os lábios em seguida. - Mas, você não tentou nada até agora. - dei de ombros. - Por que não tenta? - lancei um olhar cheio de segundas intenções e o garoto manteve o sorriso no rosto.

Erick, com toda calma do mundo tirou o computador de meu colo e como um tigre, veio engatinhando lentamente sobre os colchões até mim.

- Você quem pediu. - ele sussurrou e eu soltei um suspiro. Eu estava entregue, naquele ato eu tinha acabado de permitir muito mais que só um abraço.
Seu olhos encararam os meus e logo depois mudaram de foco, ficando vidrados em meus lábios. Esses que eu já devia ter machucado de tanto que os mordia.
O cubano, que estava em cima de mim, colocou a mão em meu rosto e sorriu. Com calma ele saiu de onde estava e ficou ao meu lado, levando meu olhar junto.
Sua mão ainda estava em minha bochecha e seu dedão acariciava minha pele.

- A pode entrar, Erick. - sussurrei, pois eu sabia o que vinha logo em seguida.

- Ela não vai. - ele disse, confiante e eu o encarei com dúvida. - Digamos que eu a fiz ir no terraço resolver uma “briga” que tive com Joel. - ele fez as aspas com a mão que estava livre. - Isso quer dizer, que eu posso te beijar o quanto quiser. - e no final da frase, sem se prolongar, Erick me puxou para perto, selando nossos lábios. Era um beijo urgente, mas com uma pequena velocidade. Queríamos muito aquilo, mas não queríamos que acabasse rápido.

E o que posso dizer é que não acabou.


--


Voltamos à narração de .

- Você e Erick brigaram? - me aproximei de Joel, que estava com Zabdiel perto do bar, e o garoto me encarou com dúvida. - Erick me encontrou no corredor e disse que vocês tiveram uma briga e pediu para eu vir conversar contigo. - eu falei encarando os meninos, que estavam tão perdidos quanto eu. Foi quando tive um estalo. - Que cubano safado! - falei sozinha, arrancando um riso alto dos meninos. - Obrigada, agora que já sei que a briga é falsa, vou embora. - me virei, acenando.

- E vai empatar a foda da sua amiga? - Zabdi falou e eu voltei meu olhar. - Fica aí. Eu já estou indo para o quarto, mas o meu amigo Joelito queria ficar mais um pouco. - ele deu dois tapinhas no braço do garoto. - Por que não faz companhia à ele?

- Acho melhor… - eu falei, perdendo as palavras no meio da frase.

- Vocês já ficaram sozinhos antes, é a mesma coisa. - o porto riquenho se levantou e veio até mim, depositando um beijo em minha testa. - Boa noite, . Até amanhã. - caminhou até o elevador. - Juízo. - gritou antes de entrar pela porta.

Eu e Pimentel nos encaramos por um instante.

- Piña Colada? - ofereceu o copo que antes era de Zabdiel, mas não parecia nem ter sido tocado. Neguei com a cabeça e me sentei no banco que antes era ocupado pelo outro garoto. - Está tudo bem?

- Ah, claro que está. Só estou sentindo sono e, bom, não posso voltar pro quarto nas próximas duas horas. - olhei para o relógio que estava na parede do bar e sorri fraco. - Vocês que fazem o show e eu que fico assim. - apontei para meu próprio corpo.

- Linda? - perguntou, como se fosse óbvio.

- Não, cansada. - tentei fugir do assunto, rindo sem graça.

- Ok, já entendi que você não quer nada. - ele falou, levantando as mãos em desistência. - Então, vamos fazer um jogo para passar o tempo. - sugeriu e eu concordei. - Por que não me ensina algumas coisas em português?

- Vamos, vai ser divertido. - falei, demonstrando um pouco mais de animação.

- Como eu posso dizer: “perro” em português? - começou a perguntar e eu sorri.

- Cachorro. - falei e o garoto tentou me acompanhar durante a fala, se atrapalhando em algumas letras.

- E como eu digo: “disco”? - continuou.

- Depende, alguns lugares falam balada, outros discoteca, outros boate. - sorri. - É bem regional, na verdade. - ele fez uma feição de quem estava interessado no assunto e sorriu. Se levantou da cadeira, pedindo outra bebida para o barman e se manteve em pé, próximo de onde eu estava… Bem próximo.

- E como eu digo: Quiero besarte? - virou seu olhar, encontrando com o meu, e se aproximou ainda mais, deixando a distância entre nós medida em apenas alguns centímetros.

- Quero te beijar. - falei, com a voz um pouco trêmula.

- Yo también. - e foi nesse momento que não tive poder de escolha. Joel se aproximou ainda mais e fez com que a distância fosse anulada. Meu corpo relaxou assim que seu lábios encontraram os meus. Uma mão segurava meu pescoço e a outra minha cintura. Ele nem precisou pedir permissão para acrescentar a língua ao beijo, eu já havia cedido.
Seus lábios eram macios como eu imaginava, suas mãos tinham um toque suave, que era misturado com alguns apertões de vez em quando.
Quando a falta de ar nos encontrou, nos afastamos por necessidade. Mas, tudo que eu queria era poder continuar o beijando.

Nos encaramos por alguns segundos antes de nos beijarmos de novo.
Aquilo parecia tão certo, mas ao mesmo tempo tão errado.
Me afastei de seus lábios com rapidez, o deixando com dúvidas.

- Eu não posso, Joel. - falei, com a voz embargada pelo desejo e o sono. - Estou a trabalho, vai contra todos meus princípios.

- … - ele falou, quase suplicando, e mais uma vez minhas pernas ficaram bambas ao ouvir meu apelido saindo de sua boca.

- Só aconteceu uma vez, Joel. Não vai, e nem pode, se repetir. - dei o ultimato. - Obrigada pela companhia. - dei um beijo lento em seu rosto e caminhei em passos rápidos até o elevador, deixando o mexicano parado no bar.

Desci até o andar no qual estávamos hospedados. Um aviso de não perturbe estava pendurado na porta do quarto. ainda estava com Erick.
Passei pelo quarto de Marv e Gab, e todas as luzes estavam apagadas. Subi um andar e tentei bater na porta de Zabdiel, porém ele já dormia.

- Está perdida? - a voz de Richard soou pelo corredor.

- Bom, Erick me disse que tinha brigado com o Joel, então eu fui ver o que tinha acontecido. Mas, descobri que era só uma desculpa para ele ir ficar com . Então o Zabdiel desceu para dormir e me deixou sozinha com o Joel. A gente começou a jogar uma espécie de bate-volta de tradução, daí a gente se beijou. Eu fugi e agora não posso voltar para meu quarto porque e Erick estão transando. - falei tudo em uma velocidade tão rápida que fiquei impressionada ao perceber que ele entendeu.

- Ok. - se aproximou de mim, e me abraçou de lado. - Pode dormir no meu quarto. Tem chocolates e alguns hambúrgueres que pedi. - falou e eu sorri fraco. - Vamos, vou te ajudar com essa confusão. - caminhou comigo, ainda me abraçando. Talvez a partir daquele momento, minha amizade com Richard subiria um nível.


Capítulo 11

- Não quero papo contigo. - falei, entrando no quarto e pegando minhas malas.
- O que a fez dessa vez? - Marv chegou logo atrás de mim, junto de Gab.
- Me deixou a noite toda trancada do lado de fora para poder transar com o cubano. - disse, fingindo indignação, já que não estava com raiva de verdade.
- É isso aí garota. - Gabriel levantou a mão para , pedindo por um high-five que foi retribuído em meio a risadas. - Me diz; como foi?
- Ele é maravilhoso, só digo isso. - minha amiga falou, guardando sua última peça de roupa na mala e a fechando. Rolei os olhos, e a menina riu. - Para de palhaçada, .
- Pelo menos ela foi mais rápida que você, senhorita . - o moreno olhou para mim e eu dei de ombros, fazendo uma cara desgostosa, fingindo não ligar para o que falavam. Porém, me conhecia bem o suficiente para saber que eu estava mentindo apenas pelo olhar.
- Qual deles? - ela perguntou com um tom de voz animado, que fez os garotos se entreolharem, um pouco duvidosos do que estava acontecendo. - Vamos, , qual deles você beijou?
- Ela beijou algum deles? - Gabriel praticamente gritou e eu pedi carinhosamente para ele abaixar o tom.
- Beijou. Essa cara de sonsa não me engana. - continuou. - Nós não vamos sair desse hotel até você falar.
Bufei. Por que era tão importante para eles saber se eu tinha beijado um dos dois?
- Joel. - eu disse e Marvin e Gabriel gritaram em comemoração, se abraçando logo em seguida.
O loiro estendeu a mão para , que desembolsou duas notas de vinte e uma de dez, colocando na mão do garoto.
- Outra aposta, sério? - perguntei, rolando os olhos.
- Desculpa, amiga. Eu deixei de acreditar em você e apostei que Joel e Chris se beijariam primeiro. - deu de ombros e eu não consegui conter minha risada ao imaginar a situação.
Três batidas na porta e um aviso de Alex para partirmos foi o necessário para já descermos com todas as malas e equipamentos.
Ao contrário dos meus amigos, eu estava atrasada com a matéria. Eu deveria ter feito as duas perguntas do show de Curitiba no dia anterior, mas os acontecimentos me impediram. Então, eu precisaria, de qualquer forma, fazê-las depois do show do Rio.
Não me satisfazia estar atrasada com o trabalho, principalmente pelo motivo que fez com que eu me atrasasse.
Coloquei um óculos escuro, já que eu não estava com paciência para fazer uma maquiagem e desci junto com meus amigos.
Quando chegamos no térreo, os meninos já estavam dentro da van e o resto do pessoal só nos aguardava.
- Desculpem pelo atraso. Mas eu preciso lidar com três crianças. - falei para Ali e Alex, que riram.
- Não se preocupe, cuidamos de cinco. - arqueei a sobrancelha, concordando.
Dessa vez fomos na mesma van que o resto da produção, e eu dei graças à Deus, pois seriam alguns minutos a mais sem ficar cara-a-cara com o Joel.
Mas, quem eu queria enganar? Eu precisava vê-lo de uma forma ou de outra.
Chegamos no aeroporto, e todos já estavam dentro, menos nós.
Embarcamos por último, tudo estava conspirando para mim neste dia.
Quando entramos no avião, todos já estavam devidamente posicionados. Zabdiel e Richard conversavam animadamente, e quando passei por eles, fizeram questão de se levantarem para me dar um beijo. Joel e Erick dormiam profundamente em outra poltrona e eu ri da cena, mais uma vez agradecendo por evitar o contato. Olhei minha passagem e chequei o assento.
- Parece que seremos colegas de voo. - falei, assim que vi Chris sentado no banco ao lado do meu.
- Finalmente alguém que não ronca. - ele brincou e eu ri.
- É o que você acha. Vamos, deixe-me passar. - pedi para o garoto, que riu e logo afastou as pernas. - Obrigada. O que está assistindo aí? - apontei para a TV que ficava na poltrona.
- Um desses programas de culinária. - ele falou. - Não sei qual é, mas pegou minha atenção e provavelmente eu assista durante toda a viagem.
- Por que não dorme como os outros? - perguntei.
- Não é um voo longo, e eu dormi bem ontem. - sorriu. Aquele maldito sorriso que acabava com todos os pensamentos puros que alguém poderia ter. - Mas, você me parece cansada.
- Você deve saber o motivo. - dei de ombros.
- Erick é um dos meus melhores amigos, óbvio que ele me contaria. - brincou e eu concordei, com um sorriso fraco. - Richard me falou que você dormiu no quarto dele. - afirmou e eu concordei. - Pelo menos alguém te acolheu. - eu ri. - Eu achei que em um desses casos você procuraria Joel ou Zabdiel.
- Ah… - respirei fundo. - Zabdi estava dormindo e Joel… - parei para pensar em uma desculpa que seria perfeita, mas eu estava muito nervosa para isso. - Eu bati na porta dele, mas ninguém atendeu. - dei de ombros.
- Se não me engano ele estava no bar ontem. Por isso não o encontrou. - ele deu de ombros. - Na próxima pode me chamar. Eu brinco daquelas formas, mas não mordo. - deu língua e eu balancei a cabeça em negação, porém com um sorriso no rosto.
- Ok. Obrigada. - falei.
Minutos depois o avião levantou voo, nos levando para nosso próximo destino: minha casa.
Era bom saber que estava a caminho do Rio, nem que fosse para uma passagem rápida. Eu tinha esse negócio de ser muito conectada ao lugar de onde sou, por mais que amasse viajar e conhecer outros lugares.
Sem perceber, adormeci no ombro de Christopher, que fazia cafuné em meus cabelos. No meio desses cafunés eu abri meus olhos, mas não me permitir sair daquele carinho.
Repentinamente, Chris parou de mexer em meus cabelos para poder ajeitar alguma coisa em sua poltrona. Me mexi em seu ombro, murmurando.
- Parece que alguém acordou. - ele falou baixo, botando a mão em meus cabelos novamente. - E não roncou. - riu fraco.
- Uhum. - reproduzi a onomatopeia e ele sorriu sem mostrar os dentes.
- O avião vai pousar, . Sugiro que aperte os cintos. - alertou e eu concordei, tirando minha cabeça de seu ombro. Olhei pela janela e pude ver o oceano. A imensidão azul me fez abrir um sorriso. - Bem vinda de volta ao Rio. - ele disse e eu me virei em sua direção, sorrindo. Seu olhar sobre mim era terno e eu pude sentir meu coração falhar durante algumas de suas batidas.
- Obrigada.


Capítulo 12

O Vivo Rio já tinha uma fila enorme em sua frente. Era um dia chuvoso, e mesmo assim as fãs pouco se importavam. Elas cantavam, riam e se divertiam entre elas, o que fazia qualquer dia feio se transformar no mais lindo de todos.
Depois que Jos filmou algumas pessoas cantando na fila para o SoundCheck, me entregou o cartão de memória e pediu para eu descarregar os arquivos para que ele tivesse mais espaço para fotografar o show.
Fiz o que o rapaz pediu e então parti para o Meet & Greet, onde eu iria entrevistar algumas fãs, depois de seus minutos com eles.
A sala não era tão espaçosa, assim como não era muito iluminada. Mas, mesmo assim, os meus amigos e Jos estavam fazendo mágica.
Era engraçado ver as trocas de olhares entre e Erick. Principalmente quando alguma fã pedia para o garoto a beijar ou algo parecido.
Se tem duas coisas que a não consegue é segurar o riso e disfarçar a cara de nojo.
Cutuquei a cintura da menina com o cotovelo.
- Se recomponha. Pelo que eu sei você é apenas uma fotógrafa. - falei. - Profissionalismo, . Os fãs estão percebendo. - conclui e a garota concordou.
Ao fim do M&G, nos movemos para perto do palco, onde ficaríamos, assim como aconteceu em Curitiba.
Eu já tinha terminado meu trabalho com as fãs naquela noite. Agora, dependia de mim apenas fazer as quatro perguntas após o show.
O show acontecia, eu, Marvin e Gab nos divertíamos. Hoje era o dia de trabalhar ao lado de Jos. Eu já sabia a setlist, porém eles acrescentaram algumas músicas nesse show, que não haviam cantando em Curitiba. Como da outra fez, um show fantástico.

--

- Mulheres entrando no camarim, por favor não estejam nus. - falei em tom de voz alto, enquanto abria a porta do local de olhos fechados.
- Tudo limpo, . Podem abrir. - era voz de Zabdiel que soava. Meneei em concordância e abri um olho de cada vez, devagar. - Vocês vieram nos dizer que o show foi maravilhoso e estão cheias de orgulho? - perguntou, enquanto colocava uma jaqueta e apontava para eu e .
- Não. - arqueei a sobrancelha e ele me mostrou a língua. - Vocês me devem uma entrevista. - apontei para os cinco, tentando evitar contato visual com Joel e Chris. - Então sentem-se e relaxem, são apenas quatro perguntas.
- Não eram duas? - Erick questionou enquanto se jogava no sofá roxo, sem tirar os olhos de minha amiga que preparava a filmadora no tripé.
- Duas para cada show. - falei, me sentando na poltrona de mesma cor, ao lado de onde estava. - Mas, alguém se interessou mais em se trancar com minha amiga no quarto do que responder minhas perguntas. - rolei os olhos e a sala foi tomada de risadas, inclusive de . - Então hoje vocês vão responder as quatro sem reclamar.
- Já te disseram que você fica sexy quando está nervosa? - Richard caçoou e eu levantei o dedo do meio para ele. - Nem um pouco educada. - riu.
- Vamos logo com isso. - liguei o gravador, dei um sinal para começar a gravar e eles concordaram. Todos já estavam sentados, alguns no chão, ao pé do sofá, outros no móvel. - Bom, a primeira seria: O quão difícil para vocês é ficar longe da família durantes as turnês? - levantei meu olhar e Richard fez menção de que iria responder, levantando uma das mãos e se ajeitando na poltrona.
- Muito difícil. Numa escala de 0 à 10 eu diria 11. - riu fraco. - Somos muito conectados aos nossos familiares e amigos, e algumas vezes, por estarmos distantes, perdemos grandes acontecimentos que adoraríamos ter presenciado.
- Comida de mãe faz falta também. - Erick comentou e eu ri, concordando.
- Ok, e para vocês, como foi a questão de: dormi um adolescente comum e acordei um artista? - tiquei a segunda pergunta.
- Bom, não foi do nada que isso aconteceu. Por mais que pareça ter sido. - Zabdi, que estava sentado no chão, começou a responder. - É sempre muito difícil se reconhecer como artista. Saber quem você é, o que quer produzir e passar através de sua arte é um trabalho complicado. Então, minha resposta pra sua pergunta é que ainda somos jovens comuns, que acordam todos os dias se descobrindo cada vez mais como artistas. - sorri satisfeita com a resposta do porto riquenho. Como é de conhecimento geral, eu já tinha assistido algumas de suas entrevistas e sempre percebi o quanto Zabdiel era empenhado em responder as perguntas da melhor maneira possível.
- Perguntas de hoje: como vocês lidam com o assédio das fãs?
- Temos fãs muito apaixonadas, e somos gratos por isso. - quando Joel começou a falar, fechei meus olhos e respirei lentamente, repondo minhas forças. - Mas, tem vezes que passam dos limites. Sabe? - perguntou e eu concordei. - Em alguns M&Gs elas tentam nos roubar beijos ou coisas parecidas. - continuou. - Eu não me recusaria ficar com uma fã, não é o que estou dizendo; até porque temos fãs lindas. Mas, o ponto principal é o fato da falta de respeito pelo espaço pessoal que temos. - ele movimentava as mãos. - Somos seres humanos iguaizinhos à vocês e bom, creio que vocês não gostariam que alguém que você nunca conversou ou conheceu direito te roubasse um beijo do nada. - os meninos meneavam em concordância, até mesmo Chris, que eu pensava se divertir com esse “assédio” das fãs. - Se for para acontecer, você sendo fã ou não, vai acontecer. Pedimos para aproveitar o momento que tem ali conosco, porque assim como é único pra você, também é pra nós. Cada cidade nos trás uma surpresa diferente e amamos isso. - o profissionalismo do mexicano me deixou de queixo caído por alguns segundos. Como ele conseguia ser tão perfeito?
- Ok, vamos para a última do dia. - pontuei, marcando a última pergunta no papel. - Onde vocês se vêem daqui dez anos? - virei meu olhar para eles.
- Juntos, fazendo o que amamos fazer que é nossa música. - Erick respondeu.
- Eu não consigo mais me ver separado desses garotos. Eles se tornaram mais que amigos ou colegas de banda. São minha família e eu realmente espero que isso aconteça. - Chris completou e eu sorri verdadeiramente.
- Finalizamos por hoje rapazes. - falei, olhando para que levantou o polegar indicando que tudo tinha ficado perfeito. - Já estamos de saída, nos vemos amanhã. Porque vou chegar no hotel e dormir, não quero ninguém no meu quarto hoje. - levantei da poltrona onde estava e apontei para Erick. - Estamos entendidos?
- Isso quer dizer que a vai ter que ir pro meu quarto, então? - perguntou, zombando de minha cara e piscando para minha amiga, que sorria maliciosamente. Bufei.
- Fala sério, vocês são nojentos. - fingi que vomitada e eles riram. - Vocês que sabem o que fazem, mas no meu quarto não quero ninguém. - avisei. - A não ser que você traga aqueles hambúrgueres maravilhosos, aí você pode ir. - apontei para Richard que concordou, enquanto ria. - E você também, mas só porque eu te amo e sua companhia é maravilhosa. - falei para Zabdi, que levantou do chão rapidamente e veio me dar um abraço.
- Essa mulher é perfeita. - apontou para mim, enquanto dirigia sua fala aos garotos. Balancei a cabeça, rindo.
- Já vou. Nos vemos. - conclui, ao ver que já tinha guardado todo o equipamento. Nos unimos e fomos caminhando até a porta do camarim. Logo, já estávamos dentro da van junto da produção, em direção ao hotel.

--

realmente saiu do quarto para encontrar Erick, me deixando sozinha com algumas novelas mexicanas meia tigela que passavam durante a madrugada na TV aberta. Por mais que tivesse à cabo e Netflix no hotel, eu estava me divertindo muito mais assistindo aquilo do que alguma série ou filme.
Duas batidas foram dadas na porta.
- A não ser que seja o serviço de quarto ou o Richard com meus hambúrgueres, está convidado à se retirar. - gritei.
- Não sou o Richard, mas trouxe hambúrgueres. - o garoto entrou no cômodo.
- Oi, Joel. - me ajeitei na cama, nervosa.
- Fica tranquila, . Eu vim me desculpar. - ele se aproximou. - Os hambúrgueres são o voto de paz. - riu e eu o acompanhei.
- Como se tivéssemos dado início à terceira guerra mundial. - sorri sem mostrar os dentes, enquanto balançava a cabeça em negação. - Vem, senta. - bati do colchão e o garoto obedeceu, sentando-se em uma das pontas. - Eu estou louca para saber com quem ela traiu o marido. - apontei para a televisão.
- Aposto dez dólares que foi com o irmão dele. - me entregou um dos hambúrgueres.
- Não aceitarei a aposta pois isso é extremamente previsível, e novelas mexicanas também. Então… - dei de ombros e mordi um pedaço do lanche, fechando os olhos de satisfação. Estava tão gostoso que parecia que eu não comia um desses há séculos. - Voto de paz aceito. - falei, com a boca cheia e ele sorriu.
- Desculpe por ter te beijado, .
- Não se desculpe por isso, Joel. Eu te beijei de volta. - falei, já de boca vazia. - Eu só não quero misturar as coisas aqui. - fui sincera. - Estou trabalhando e você, de certa forma, é meu chefe. - ri e ele também. - Não é certo fazer isso.
- Mas…
- Sim, se eu não estivesse à trabalho, provavelmente estaríamos terminando o que começamos. - sorri.
- Então eu preciso te demitir? - brincou, rindo.
- Você não é maluco de fazer isso. - semicerrei os olhos. - Além do mais, eu não quero algo passageiro. - suspirei.
- E Chris? - perguntou e eu quase me engasguei com o refrigerante que tomava.
- Como assim? - perguntei.
- Vocês estavam bem íntimos no avião. - falou.
- Eu não o beijei, Joel. E se tivesse o beijado, ao invés de ter beijado você, estaria tendo esta mesma conversa com ele. - eu esclareci e ele concordou. - Então estamos entendidos? - perguntei. - Amigos?
- Vai ser ótimo ser seu amigo, . - apertou minha mão e sorriu. - Eu não disse que seria com o irmão? - apontou para a televisão feito um desesperado e começou a gargalhar. - Era para você ter aceitado aquela aposta.
E o fim da nossa noite foi exatamente como aquele momento, muitas risadas e até chegamos a solicitar mais comidas para o serviço de quarto. Joel acabou adormecendo em meu quarto, mas eu não me importei muito com o fato. Dormir com ele não era uma opção, nem que fosse daquela forma, sem nenhuma conotação sexual. Mas, ao sentir seus braços envolvendo minha cintura e me puxando para perto durante o sono, eu cedi e o deixei ficar, pelo menos por essa noite.


Capítulo 13

Ok, . Você me convenceu. - joguei as mãos para cima, em um ato de desistência. - Eu sou fã deles agora. - assumi e a garota gritou, assustando Marvin e Gabriel que limpavam suas lentes do outro lado do camarim. - Tem como ser menos escandalosa? - ri, colocando as mãos sobre as orelhas.
- Eu finalmente consegui fazer você virar fã de alguma das boy bands que eu gosto. - abanou seu próprio rosto com as mãos. - Eu não vou chorar. - olhou para cima e eu comecei a rir junto com os garotos.
- Até que eu curtia a One Direction. - falei.
- Isso já é demais pra mim, . - ela se levantou da cadeira. - Não brinque com meu coração. - apontou para mim, fazendo drama.
- Garota, Hollywood está te perdendo. - Gab falou e eu concordei, rindo.
Estávamos nos preparando para mais um show. Estávamos em Salvador dessa vez. Eu nunca tinha visitado a cidade e queria muito um tempo para conhecê-la, mas infelizmente não teríamos, o que me deixou extremamente triste por alguns minutos, até Marvin aparecer com dois shots de tequila e dar um deles para mim.
- O que seria de mim sem você? - perguntei para meu amigo que deu uma risada.
- Provavelmente uma pessoa sóbria. - brincou.
- Touché. - falei e bebi o líquido quente.
Jos passou pelo camarim e chamou os seus companheiros para o acompanharem nas fotos e vídeos da fila e meet. Dessa vez eu decidi que ficaria um pouco mais tranquila, apenas relaxando no camarim. Ouvi o som de fundo acabar, o que indicou o final do soundcheck. Joguei a cabeça no encosto do sofá e fechei os olhos. Nem por um decreto eu sairia dali. Estava confortável e relaxada, eles poderiam trocar de roupa o quanto quisessem, eu continuaria com meus olhos fechados.
Senti o sofá afundar ao meu lado e logo um corpo suado se juntar ao meu.
- Eca, Zabdiel. O que eu te disse sobre abraços com suor? - tentei empurrar o garoto, o que foi em vão, já que ele era mil vezes mais alto que eu, o que o deixava mais forte também.
- Que são os melhores do mundo? - perguntou, fazendo cara de quem não sabia sobre o que eu estava falando.
- É o que você acha. - falei, cutucando seu nariz. - Agora que você me deu esse mimo, acho que vou dar um passeio por aí, quem sabe conhecer alguma fã bonita que possa trazer juízo para essa sua cabeça e te apresentar ela?
- A única pessoa que eu amo é você, . - ele usou um tom galanteador que me fez rir.
- Ok, Don Juan de araque. Vá se arrumar. - joguei uma almofada nele, enquanto eu me levantava do sofá. - Até mais.
Saí do camarim e realmente fui fazer o que falei para Zabdi, com exceção da parte de encontrar uma namorada para ele. Com certeza ele conseguiria fazer isso sozinho.
Caminhava pelas coxias, observando os detalhes técnicos e como tudo aquilo era interessante.
- Perdida? - Chris apareceu em minha frente de surpresa e eu dei um pulo para trás.
- Caralho. - botei a mão no peito. - Não se deve fazer isso com as pessoas Christopher. - o encarei e vi que ele tinha um sorriso bobo nos lábios. Um sorriso lindo por sinal.
- Você fica uma gracinha assustada. - ele falou e eu dei de ombros. - Opa, alguém não gosta de ser elogiada.
- Na verdade eu adoro, pode continuar se quiser. - ri e ele me acompanhou.
- Piadista você. Acho que está andando muito com o Zabdiel. - ele apontou para mim com os olhos semicerrados.
- Ponto pra você. Ele não me deixa, nunca vi alguém me amar mais que aquele porto riquenho. - balancei a cabeça em negação e o garoto continuou sorrindo. - Bom, quer algo, Chris? - perguntei tentando disfarçar o nervosismo que eu ainda sentia ao estar do seu lado. Fala sério, quem conseguia resistir àquele sorriso?
- Na verdade, quero sim. - falou. - Você jantaria comigo essa noite?
Meus olhos arregalaram por um instante e meu coração palpitou mais forte que o normal.
- Er… Já vamos jantar todos juntos. - balbuciei.
- Isso não é problema, pegamos uma mesa para nós dois. - ele deu de ombros. - Pense e me responda até o fim do show. - se aproximou e depositou um beijo longo em meu rosto.
- Bom show. - sussurrei e ele foi embora em direção ao camarim enquanto eu fiquei ali parada com a exata cara de taxo que fiz ao receber seu beijo. Toquei em minha bochecha como uma adolescente boba e sorri fraco. Onde eu estava me metendo?

--

Sim. A resposta para o jantar com Chris foi apenas um “sim”.
Enquanto a produção jantava no restaurante e os outros meninos jantavam em seus quartos, Velez pediu para reservarem uma mesa no terraço do hotel.
A vista estava linda e tudo estava perfeito. Ele estava se mostrando o cavalheiro que eu achei que não era. Puxou a cadeira para que eu sentasse, fez questão de pedir meu prato favorito e ainda conseguiu arrumar flores para me entregar. Ele estava totalmente empenhado em conseguir o que queria.
- Chris, eu achei isso tudo muito lindo de sua parte. Mas, você sabe que isso vai acabar, não? - segurei sua mão sobre a mesa. - Amanhã é o último show no Brasil, vocês vão embora e provavelmente nunca mais teremos contato.
- Eu sei, . Mas, eu quero manter contato com você! - falou, sorrindo. - Você não faz ideia do quanto lutei contra mim mesmo todo esse tempo para não te roubar um beijo. - meu coração palpitou descompassado e eu sorri fraco. - Mas, não farei nada que não queira.
Estar com ele era diferente de estar com Joel.
Com Chris eu me sentia como se estivesse em um parque de diversões; podia sentir o perigo se aproximar à cada segundo, mas aquela adrenalina me fazia bem e me deixava com vontade de experimentar um pouco mais.
Com Joel eu me sentia como se estivesse em um voo livre; toda vez que o via, podia sentir as borboletas no estômago, o nervosismo e, principalmente, a liberdade.
- Chris, não podemos levar isso para frente. Você sabe. - me levantei devagar da mesa. - Muito obrigada pelo jantar. - segurei seu queixo e beijei seus lábios de forma lenta, porém sem intensificar o contato. - Considere isso o máximo que, talvez, conseguirá.
Saí do local, correndo para o elevador.
Quando a porta se abriu, Joel estava parado em roupas de dormir.
- ? - disse surpreso ao me ver.
- Estou descendo, acho que você… - falei, indo em direção ao outro elevador.
- Não, vou descer também. - eu sabia que ele não iria, mas faria isso de qualquer forma.
Descemos em silêncio até o nosso andar, onde o garoto saiu e caminhou comigo até a porta de meu quarto.
- Entregue. - ele sorriu e eu agradeci maneando a cabeça.
- Hm, quer entrar para um filme? - perguntei, apontando para o quarto e ele sorriu. Abri a porta para ele, que logo entrou e pegou o controle remoto.
Eu decidi ir ao banheiro por um instante. Em frente ao espelho eu lavei meu rosto e respirei fundo algumas vezes.
- Quem você quer, ? - falei para o meu reflexo. - Você tem até amanhã para aproveitar tudo que essa viagem tem para te oferecer, coisa que podia ter feito muito antes, porém ficou seguindo essa regra estúpida de não deixar ser afetada no ambiente de trabalho. - eu tocava com a ponta do indicador no vidro. - Você foi uma burra, mais uma vez. Poderia ter qualquer um, amanhã isso acaba e você não teve nenhum dos dois. - rangi os dentes e dei um pequeno soco no mármore da mesa.
- Está tudo bem aí? - Joel bateu levemente na porta do banheiro e eu a abri, olhando fundo em seus olhos. Eu não seria mais burra de não me jogar nos braços daquele homem.
Enquanto nos encarávamos eu me aproximei com velocidade e vontade, juntando nossos lábios em um beijo sedento e repleto de saudade. Diferente de Chris, nossas bocas já se conheciam e sabiam exatamente o que fazer quando estivessem juntas. Joel agarrou minha cintura e me puxou para perto, saindo da porta do banheiro. Entrelacei as pernas em seu corpo, enquanto ele me segurava pela coxa.
Nossas respirações eram ofegantes e tudo que acontecia eram flashes.
Minhas costas estavam na parede e o garoto desenhava o caminho da minha clavícula até minha mandíbula com seus lábios.
Meus olhos estavam fechados e eu estava aproveitando cada toque daquele homem em meu corpo.
Ainda comigo em seu colo, ele caminhou até a cama, me deitando sobre o colchão de maneira sútil.
- É isso mesmo que você quer, ? - ele sussurrou em meu ouvido, enquanto estava sobre mim.
- Não me faça parar para pensar, Joel. Apenas me beije. - puxei seu rosto em minha direção e intensificamos ainda mais o contato.
Eu não tinha feito uma escolha, definitivamente não. Mas ali, naquele momento, eu me entreguei à Joel sem pensar nas consequências.

--

- Ok. Isso não aconteceu. - eu disse, ofegante ao lado de Pimentel na cama.
- Vamos fingir que eu não tive o melhor sexo da minha vida? - falou, irônico. - Tudo bem, então.
- Isso fica entre a gente, Joel. - pedi. - Vocês vão embora amanhã e você nunca mais vai se lembrar de mim. - aquelas palavras que pareciam simples, doeram levemente ao serem ouvidas por mim.
- E se eu disser que estou sentindo algo? - perguntou, passando o dedão sobre minha bochecha.
- Eu sei que você está. - sussurrei. - Mas e eu?


Continua...



Nota da autora: A confusão está só começando. Quem vocês acham que está na vantagem com nossa PP até o momento?
Aguenta coração, porque muitas águas ainda irão rolar.
Ps: Agora temos uma capa! E ela está linda. Essa obra de arte foi feita pela Michele, aka Misha.
Obrigada. <3

Uma mulher com auto controle não quer guerra com ninguém, só com o mundo inteiro!
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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