CAPÍTULOS: [Único]





What is this?






Finalizado em: 09/08/2017

Único



Como podemos saber que a hora de recomeçar chegou? Não acredito que esse tipo de mudança aconteça de uma hora para a outra. Não é possível que nos levantemos da cama em um belo dia e, de repente, seguimos em frente.
Deixar de olhar pra trás, parar de remoer a culpa e as lembranças dentro de nossos corações, não é tão simples quanto parece. Mas sempre há algo, ou alguém, que chega inesperadamente mudando toda a nossa perspectiva em relação ao mundo. Nos mostrando que, às vezes, nós não nos conhecemos tão bem quanto achávamos.

This is the start of something beautiful


15 de Janeiro de 2011


Meus olhos se abriram ao ouvir o barulho irritante do despertador. Eu me movi entre os cobertores, colocando uma mão para fora ao desligar o aparelho que não cessava o toque, realizando determinadamente a tarefa de me acordar para o trabalho.
Me aconcheguei em meio às cobertas novamente. O inverno tinha acabado de chegar à Surrey. Essa época na Inglaterra dificultava o meu desempenho em me levantar cedo. Prometi a mim mesma que seriam apenas mais cinco minutos deitada, mas como sempre, acabei pegando no sono de novo.
Acordei por conta própria, sem nenhum despertador. Pude ver o dia claro através do pano de vidro do meu quarto. Pulei da cama no mesmo instante, com o coração batendo rapidamente em meu peito. Olhei o relógio e...

7h42

Eu deveria estar no estúdio às 7h00! O Sr. Gosling não ia gostar nem um pouco quando me visse chegar atrasada pela segunda vez naquela semana, ainda mais sabendo que haveriam gravações importantes em breve.
Corri para o meu closet e vesti aquilo que consegui pegar primeiro. Lavei o rosto no banheiro, escovei os dentes e penteei meus cabelos negros e curtos rapidamente. Peguei as chaves do carro em cima da bancada na cozinha estilo americana. Corri para a garagem e entrei no meu i30 Hyundai.
Eu tinha pegado um copo com café expresso antes de sair do apartamento e fui tomando durante o caminho até o estúdio. Não tinha sido fácil conseguir o emprego de designer ilustrativa no Sticky Studios, então eu não me daria o luxo de perdê-lo. A minha parceria com Jake Gosling era bem simples, eu trabalhava com ele oferecendo minhas ideias e mão de obra aos artistas que gravavam lá. Sendo assim, uma porcentagem do lucro ficava com Jake. Os dois saiam ganhando.
A neve no caminho estava me atrasando mais ainda, levando em conta que eu deveria dirigir com cuidado na pista escorregadia. Alguns minutos depois, eu estacionei em frente ao estúdio, peguei meu computador e blocos de nota no banco de trás do carro. Sai correndo sem prestar muita atenção nas coisas e acabei esbarrando em alguém. Todas as minhas coisas caíram no chão. Meu bloco de notas se abriu, deixando a mostra algumas das minhas composições, que eu criava como hobby para passar o tempo. Comecei a juntar tudo apressadamente e o respectivo ser no qual eu tinha esbarrado, se agachou para me ajudar.

- Meu Deus, eu sinto muito. – Não cheguei a olhar para o rosto dele devido ao meu estado afobado. Só ouvi uma voz masculina muito gentil. Ele me ajudou a pegar as minhas coisas e agradeci mentalmente por meu notebook estar intacto dentro da case. Quando tudo estava organizado novamente, eu me levantei e olhei para o rosto do garoto que me ajudara. Ele tinha uma pele muito branca que contrastava com seus cabelos intensamente ruivos e bagunçados. Seus olhos, muito gentis, eram azuis como o mar circassiano.

- Obrigada pela ajuda. – Eu sorri delicadamente para ele, que retribuiu o gesto. – E me desculpe por esbarrar em você. Eu estou um pouco atrasada e não olhei o caminho.

- Não se preocupe. – Ele deu de ombros. – Eu estava meio distraído também.

Eu estendi a mão para cumprimentá-lo de forma meio desengonçada, devido à quantidade de coisas que eu carregava. Ele retribuiu o cumprimento.

- Eu sou Ed. – Sua mão estava tão quente. Eu nunca consegui entender como ela poderia estar daquela forma em um inverno de 5°C. – É um prazer te conhecer.

- Eu sou . – Eu olhei furtivamente para a porta do estúdio e depois para o meu relógio. Eu definitivamente precisava entrar logo. – Também foi um prazer te conhecer, mas eu preciso mesmo ir.

Sorri sem muita vontade e sai apressadamente em direção ao estúdio. Eu nem olhei pra trás. Não sabia dizer se Ed ainda estava lá ou se tinha ido embora. Porém eu tive uma sensação muito forte de que eu já o conhecia... Talvez fosse só impressão mesmo. Adentrei a construção aconchegante e deixei meu casaco no suporte da entrada.
Subi as escadas até onde realmente aconteciam as gravações. Abri a porta lentamente e vi Jake com headphones trabalhando em algo no computador. Respirei fundo e me preparei para uma bronca. Fiquei aliviada ao ver que não havia mais ninguém no cômodo para assistir o sermão do meu chefe.
Eu caminhei até a escrivaninha na qual ele trabalhava com muito afinco e cutuquei seu ombro. Ele se sobressaltou um pouco e se virou para mim. Eu já estava preparando todo o meu discurso sobre sentir muito pelo atraso, mas ele impediu o começo da minha fala.

- Você sabe que eu não gosto de atrasos. – Sua voz estava tão rígida que eu fiquei petrificada por um instante, sem conseguir dizer uma única palavra. De forma inesperada, ele soltou uma gargalhada sonora. Eu fiquei muito confusa, sem saber muito bem como reagir. – Eu estou brincando com você, ! Eu compreendo que você ainda está se adaptando ao ritmo do estúdio. Aqui nos criamos arte, não robôs. Mas atrasos constantes não serão tolerados, ok?

- Tudo bem. Obrigada por pegar leve. – Eu respirei fundo para tirar aquele peso terrível de medo em meu peito. – Prometo que não vai acontecer de novo.

- Não prometa aquilo que não pode cumprir. – Ele deu uma piscadela amigável pra mim. – Eu só estava esperando você chegar para atender um cliente.

- Ele está esperando há muito tempo?

- Não. – Jake pegou um celular em cima da mesa e telefonou para que a secretária mandasse o cliente subir. Após terminar a ligação, ele descansou as pernas em cima de uma mesinha perto da escrivaninha.

- Posso saber quem é esse cliente? – Eu estava meio curiosa. Como funcionária de um estúdio, eu estava sempre me preparando para conhecer alguém famoso.

- Tenha paciência. Ele estará aqui em um minuto e você verá. – Um sorrisinho de canto apareceu nos lábio de Jake. Ele tinha uma expressão quase constante de quem está aprontando algo.

Um barulho de passos surgiu na escada de madeira, seguido por batidas na porta acústica. Jake soltou um sonoro “pode entrar” e a porta se abriu. Eu fiquei completamente atônita ao ver quem estava parado ali. Era Ed!
Quando eu o vi parado ali, eu finalmente me lembrei de onde eu o conhecia. Ed Sheeran! Ele já tinha gravado alguns EP’s e estava começando uma carreira promissora de cantor. Eu mal podia acreditar que eu não o tinha reconhecido de primeira. Minhas bochechas começaram a queimar de vergonha.

- Hey, Ed! – Jake se levantou e abraçou o ruivo. Os olhos de Ed iam de mim para Jake o tempo todo, um sorriso divertido tomando conta de seu rosto. Meu chefe continuou falando. – Essa é , designer ilustrativa do estúdio.

- Receio que já nos conheçamos. – Ed respondeu, educadamente. – Mas é bom vê-la novamente, .

- É claro. – Eu me esforcei muito para esconder a minha expressão de constrangimento. – Me perdoe pela forma como eu o tratei mais cedo. Foi muito rude da minha parte deixá-lo falando sozinho daquela maneira.

- Não se preocupe com isso. Eu sei que você teve um bom motivo.

- Bem, já que as apresentações não são necessárias, vamos ao trabalho. – Jake nos levou até o “sofá de negócios”, que era o lugar do estúdio onde discutíamos sobre o desenvolvimento das gravações. Eu também ajudava um pouco com isso em alguns casos. – Ed, fui contatado para realizar a gravação do seu primeiro álbum.

- Isso mesmo. – Ed tomou uma postura séria. Agora eram negócios.

- Eu gostaria de saber o que você tem em mente até então. – Jake se colocou em uma postura estilo “O Pensador” de Auguste Rodin. Era a sua postura de produtor musical.

- Bem, eu tenho uma ideia de um álbum com 12 musicas e mais 4 faixas bônus em uma versão deluxe. – Ele disse, olhando para o teto como se tentasse se reunir todas as ideias dentro de sua mente. – Eu tenho uma facilidade muito grande para compor, então a quantidade de musicas não é problemas.

- Entendo... – Jake prosseguiu. – E o nome?

- Eu gostaria de algo simples e icônico. – Ed levou a mão ao queixo, adotando uma expressão divagadora. – Pensei em “Plus”.

- Bem, é algo a se pensar. – Jake disse, recostando-se no sofá. – Ainda temos um bom tempo até o lançamento do álbum.

- Eu gostei de Plus. – Minha voz saiu mais alta do que eu esperava e ambos olharam para mim imediatamente.

- Gostou? – Era Jake quem se dirigia a mim agora.

- Sim. – Eu dei de ombros, como se não fosse grande coisa eu demonstrar aprovação. – É simples e marcante.

- É exatamente o que eu acho! – Ed disse empolgadamente.

- Okay, então. – Jake ergueu os braços em gesto de rendição, seguido por uma risada divertida. – Vocês venceram. Mas eu admito que gostei da ideia também.

Ed se virou pra mim e deu uma piscadela amigável, como quem diz “Valeu pela ajuda”.

- Agora, Sr. Ed Sheeran. – Jake disse, se levantando e indo em direção a um violão encostado na parede. Ele o pegou e entregou à Ed. – Que tal nos mostrar uma de suas musicas?

Os olhos do ruivo brilharam ao pegar o violão. O cuidado e o carinho dele ao tocar as cordas eram tão grandes que eu fiquei admirada. Ele analisou o instrumento por um instante, como se estivesse criando uma conexão com ele.

- Essa é uma das canções que eu escolhi para estar no álbum. Se chama “Give Me Love”. – Ele posicionou o violão em seu colo e começou a tocar. A melodia da musica era calma e inebriante, como os acústicos costumam ser. A letra era muito profunda e cativante.

Give me love like her
Cause lately i’ve been waking up alone
Pain splattered teardrops on my shirt
I told you I’d let them go


Quando ele terminou de cantar, eu estava completamente atônita. Eu já tinha escutado uma ou duas musicas dele, mas ele estava progredindo muito.

- Uau! – Eu mal conseguia me expressar, fiquei procurando o que dizer por alguns segundos. – Quantos anos você tem?

- 19. – Ele parecia meio encabulado. – Por quê?

- Porque, pra alguém da sua idade, seu controle vocal é impressionante. – Eu respondi. – Eu estou muito surpresa! E em relação a letra, ela é linda e muito bem construída.

- Sem falar no controle da respiração pelo diafragma. – Acrescentou Jake. – Isso é muito importante para um cantor. Você tem tudo pra dar certo, garoto: talento e carisma.

O sorriso de Ed não poderia ser mais sincero. Eu vi a felicidade transparecer nitidamente em seus olhos. Ele estava vendo seu sonho tomar forma e ficar cada vez mais palpável.

- Eu fico muito feliz por saber disso. – Foi só o que ele respondeu, deixando o violão de lado. – E quando começaremos as gravações?

- O mais rápido possível. – Jake replicou. – Vou organizar a agenda semanal do estúdio e te mando um e-mail ou algo nesse sentido. Apenas espere que eu o contate. Por hoje é só.


Ed acenou de forma afirmativa. Se levantou educadamente, agradeceu, saiu pela porta e desapareceu pelas escadas. Eu fui a primeira a quebrar o silêncio entre mim e Jake.

- Não me entenda mal, Jake... Eu realmente o achei impressionante. Mas por que exatamente eu estou aqui hoje?

- O garoto tem muita personalidade. Ele não é do tipo que se daria bem com uma capa de disco genérica, muito menos o encarte. Eu preciso que você se entrose e o conheça, para realizar seu trabalho com maestria e perfeição. É por isso que eu quero que você esteja presente nas gravações.

Fiquei muito feliz com aquele pedido. Ninguém sabia que minha paixão secreta era compor e cantar. Pra mim significava muito estar em uma gravação como aquela, ainda mais sendo de um artista tão talentoso quanto Ed Sheeran.

- Por mim tudo bem. – Respondi. – Tenho mais algum trabalho hoje?

- Não, . Você pode ir. – Ele apontou em direção à porta, indicando que eu estava livre pra sair.

- Obrigada. Até amanhã. – Me despedi devidamente dele, peguei as minhas coisas e sai.

Desci e conversei um pouco com Mary, a secretária do estúdio. Depois de me despedir de Mary também, deixei meu local de trabalho e procurei meu carro. Para a minha surpresa, encontrei Ed parado, aparentemente à espera de alguém.

- Hey, ruivo! – Ele estava tão distraído que se assustou quando eu o chamei. Suas mãos estavam escondidas dentro dos bolsos do casaco e seus dentes batiam uns nos outros devido ao frio. – O que ainda está fazendo aqui? Não querendo ser intrometida, é claro.

- Parece que houve um problema com a minha carona e eu estou sem dinheiro pra pegar um ônibus ou metrô. – Ele passou a mão no cabelo, deixando-o ainda mais bagunçado. Sua respiração quente criava pequenas nuvens de fumaça no ar.

- Sem problemas. Eu te dou uma carona. – Minha voz foi gentil e decidida. Eu não aceitaria “não” como resposta. Ele me olhou surpreso, mas compreendeu que negar, mesmo que por educação, não funcionaria comigo. – Vamos.

- Tudo bem. – Foi só o que ele disse. Ele me seguiu e entramos no carro. Meu primeiro instinto foi ligar o aquecimento. O queixo dele parou de tremer conforme a temperatura ia se estabilizando no ambiente. A tensão de seus músculos foi diminuindo e ele esfregou uma mão na outra. – Obrigado por oferecer a carona.

- Por nada. – Repliquei gentilmente. Dei partida no carro assim que meus dedos pararam de doer devido ao frio. Acelerei e comecei a dirigir pelas ruas calmas da cidade. – E onde você mora?

Ed desviou o olhar imediatamente. Ele fitou o céu nublado através do vidro do carro e demorou alguns segundos para retomar a fala.

- Estou na casa de um amigo. – Seu tom era sério e sucinto. Isso me preocupou, pois não parecia coisa de seu feitio. Mas eu tinha acabado de conhecê-lo, não poderia dizer com certeza o que estava errado.

- Você poderia elaborar isso um pouco mais. – Respondi em tom de brincadeira, tentando quebrar a tensão inexplicável que tinha se formado. – Onde esse amigo mora?

- Perto da estação de metrô. Você pode me deixar lá por perto e eu me viro.

- Ah... Tudo bem. Você é quem sabe. – Eu não estava em posição de discutir com ele. Ele já era bem grandinho pra saber o que estava fazendo. Dirigi em silêncio até a região onde ficava a estação de metrô. Ed também não se esforçou para começar uma conversa.

- Pode parar aqui. – Ele apontou para um prédio de tijolos avermelhados na avenida. – Mais uma vez, obrigada pela carona. Até mais, .

- Até mais, Ed. – Me despedi enquanto ele abria a porta e pulava pra fora do carro. Ele fechou a porta e começou a se afastar em direção ao prédio vermelho. Acelerei novamente e peguei o caminho que me levaria até minha casa.
Eu não conseguia tirar da cabeça a ideia de que Ed estava mentindo pra mim. Mas não era da minha conta, de qualquer forma. Então decidi não confrontá-lo ou agir como uma idiota.
Estacionei o carro na garagem do prédio e subi até o meu apartamento pelo elevador. É incrível o quanto um simples ato pode trazer um grande conforto pra nós. Como tirar sapatos apertados depois de uma manhã de trabalho.
Meu estômago roncou e eu percebi que já era quase 13h. Preparei macarrão com queijo e fui almoçar assistindo Harry Potter pela milionésima vez. Enquanto eu assistia, não pude deixar de notar a semelhança entre Rony e Ed. Me repreendi logo que pensei nisso. Não era saudável ficar pensando nele a cada 5 minutos.
Memórias de traumas passados em relacionamentos me fizeram ter cuidado com esse tipo de coisa. Eu não estava me sentindo pronta pra me apaixonar... Isso estava fora de cogitação! Como se realmente fosse minha escolha. Mas eu evitaria isso a todo custo, sem comprometer meu trabalho.



19 de Janeiro de 2011

Meu celular vibrou quando a mensagem de Jake chegou.

Gravação amanhã às 14h30. Não se atrase!

Ótimo. Minha rotina complicada de trabalhar com Ed Sheeran sem me envolver demais com ele estava começando.
Era meu dia de folga, então eu liguei para , meu melhor amigo.

- Hey, bonitão! – Eu brinquei quando ele atendeu. Olhei pela grande janela do meu quarto e vi o pôr do sol sobre a cidade, tingindo as ruas, as casas e as árvores de um laranja muito vivo. – O que acha de sairmos hoje?

- É claro. – Ele replicou, animado. – Que tal o Hemingway?

O Hemingway era uma espécie de barzinho no qual alguns artistas de rua se apresentavam às vezes. O ambiente do lugar era tão acolhedor que e eu passamos a frequentar o lugar constantemente.

- Ótima ideia. Passo aí em uma hora. – concordou e desligamos o telefone. Tomei um banho rápido e dei uma arrumada no meu cabelo rebelde. Coloquei roupas simples e minimalistas, como de costume.

Uma hora depois eu estava em frente à casa de , mandando muitas mensagens pra que ele saísse logo. Ele demorava mais do que eu pra se arrumar. A porta da casa se abriu e ele finalmente saiu, com o cabelo claro muito bem penteado e vestido bem street style como sempre.

- Que demora, . – Eu revirei meus olhos e dei um tapinha no braço dele. Ele gargalhou sonoramente e deu de ombros.

- Até parece que você não me conhece. Não deveria esperar nada além de atraso.

- Infelizmente. – Repliquei com uma falsa tristeza. Eu sabia que ele estava certo. Nós éramos amigos desde que eu tinha me mudado de cidade para estudar design, aos 16. Dois anos de amizade já deveriam ter me ensinado que eu não podia esperar que ele se arrumasse rápido.

Dei partida no carro e começamos a seguir pelas ruas que nos levariam até o pub. Chegamos lá e nos acomodamos na mesa perto da janela que dava pra rua. A mistura de clássico e moderno nunca tinha deixado de cativar minha admiração. No palco haviam equipamentos para o artista que iria se apresentar.

- , você não vai acreditar na jaqueta maravilhosa que eu vi no shopping! Eu acho que vou ficar doente se não tiver aquela jaqueta. – me lançou um olhar de gato de botas ridículo. Eu disparei a rir até a minha barriga doer.

- Isso foi uma indireta porque seu aniversário é no mês que vem? – Falei, me recuperando do ataque de risos.

- Indireta? – Ele fingiu indignação, colocando a mão sobre o peito. – Jamais. Foi uma direta mesmo.

- Vamos ver. Se você estiver merecendo, pode ser que ganhe de presente da fada do aniversário.

- Não existe fada do aniversário. – Ele respondeu, verdadeiramente chateado com a inexistência de tal fada. Eu me preparei para dizer algo, mas refreei a fala. Uma musica começou a tocar e, ao me virar para o palco, senti uma mistura medonha de alegria e raiva.

- Você só pode estar de brincadeira comigo. – Era ele. O próprio Ed Sheeran. Como era possível que ele estivesse se apresentando no meu pub. Tudo bem, eu não era realmente proprietária do Hemingway, mas eu não queria que ele estivesse ali.

- O que aconteceu? – seguiu a direção do meu olhar e percebeu que eu estava olhando para Ed. Ele emitiu um ruído sugestivo, notando que eu estava em um conflito interno. – Quem é o ruivo bonitinho?

- Alguém que eu gostaria de evitar. – Suspirei exasperadamente.

- E ele sabe que você quer evitá-lo? – indagou, com as sobrancelhas arqueadas.

- Não. E ele não pode saber. – Massageei as têmporas, sentindo uma pressão momentânea. – Ele é um cliente do estúdio.

- Entendo... E por que você não quer vê-lo?

- É complicado. – Ficamos em silêncio por um instante e então, a ficha de caiu.

- Você ainda está deixando aquela coisa do Shane te atrapalhar? – Ele estava perplexo e sua voz continha um pouco de raiva. Ele teve a resposta que queria quando eu me mantive eu silêncio. – , já se passaram 2 anos! Mas que droga... Você precisa deixar isso pra lá.

- , eu não sei se posso... Shane me magoou demais. – Meus olhos se encheram de lágrimas, que eu segurei com um pouco de esforço. segurou a minha mão, em um ato de empatia.

- , você sabe o quanto eu amo você e só quero o seu bem. – Ele suspirou e olhou fixamente pra mim. – Eu sei que o Shane te machucou muito e foi um completo canalha, mas está na hora de seguir em frente. Você merece isso.

Eu sorri levemente. Agradeci a Deus por ter na minha vida. Ele sempre esteve ao meu lado quando eu precisei. Eu beijei as costas da mão dele, mas não havia absolutamente nada de romântico nisso, pois eu o via como um irmão mais velho.

- Obrigada. – Respondi. – Prometo que vou pensar sobre isso.

Me virei em direção ao pequeno palco onde Ed se apresentava. Nossos olhos se encontraram por um instante e eu tentava entender como ele podia ter me cativado tão rápido. Mas eu ainda não tinha muita certeza sobre o que fazer em relação a isso. Ele cantava cada palavra de Fall intensamente.

And i’ll fall for you
And if i fall for you
Would you fall too?

Aqueles trechos da musica estavam envolvendo meu coração de uma maneira inesperada. Eu me sentia perdida, mas talvez isso fosse necessário para eu me encontrar verdadeiramente. Eu não conseguia parar de pensar “E se?”
e eu passamos algum tempo batendo papo e comendo batata frita. O show de Ed chegou ao fim e ele começou a guardar suas coisas. sinalizou para que eu fosse falar com ele.

- Absolutamente não! – Rebati, cruzando os braços como uma criança birrenta.

- Larga de ser infantil. – Ele disse, sem dó nem piedade. – Se você não for, eu vou e te garanto que não vai ser nada bonito pra você.

- A que ponto cheguei? Recebendo ameaças do meu melhor amigo.

- Você vai superar a ameaça. – Ele riu. – Agora vai.

Lancei o meu melhor olhar zangado à e ele deu a língua pra mim. Comecei a caminhar em direção ao palco. Ed sorriu quando viu que eu me aproximava e deixou os equipamentos de lado. Ele me ajudou a subir na estrutura de madeira e me apoiou para que eu não caísse.

- Você vai ser sempre essa surpresa boa no meu dia? – Ed perguntou, depois de um abraço rápido. Agradeci pela má iluminação do ambiente, pois senti minhas bochechas corarem.

- Não é nenhuma surpresa eu estar aqui. – Ri em um volume controlado. – A surpresa é que você está aqui! Eu e frequentamos bastante esse pub.

Apontei para , que nos observava descaradamente. Eles acenaram um para o outro.

- Ele parece um cara legal. – Ed disse, sem nenhuma emoção específica na voz. – Estão juntos há quanto tempo?

- O quê?! – Eu ri tão alto que muitas pessoas no pub olharam pra mim. Fiquei meio envergonhada pelo escândalo que eu tinha feito, mas retomei à postura comedida com facilidade. – Não. Não é assim... Ele é como um irmão pra mim.

Ed me olhou de um jeito que eu não consegui interpretar muito bem. Eu nunca fui muito boa em ler expressões faciais.

- Oh, entendo. Falha minha.

- Tudo bem. Só é muito estranho pensar nele dessa forma. – Dei de ombros. Olhei a hora e percebi que já estava ficando tarde. – Bem, é melhor eu ir.

- Já? – Ele parecia levemente desapontado.

- Sim. Tenho que descansar para ao trabalho amanhã. – Ele consentiu em um gesto de compreensão. – E você, vai pra casa do seu amigo?

Ele não me olhou nos olhos e voltou a guardar os equipamentos.

- Sim.

- E você precisa de caron...

- Não! – A rispidez em sua voz fez com que eu me sobressaltasse. Mas arrependimento tomou conta de seu olhar logo em seguida. – Me desculpe pela ignorância. Não precisa se incomodar com isso, muito obrigado.

- Ah tudo bem... – Foi só o que eu disse. Ainda um pouco ressentida. – Tenha uma boa noite. Até amanhã.

- Até... – Ele acenou em um gesto de despedida e depois se virou de costas pra mim, voltando sua atenção para o cabo do microfone.

Eu desci do palco e caminhei em direção a . Acenei para que ele se levantasse e nos dirigimos à saída.

- Hey, você ainda não me disse o nome do ruivinho. – declarou enquanto caminhávamos em direção ao carro.

- Ed. O nome dele é Ed Sheeran.


21 de fevereiro de 2011

Eu estava na parte de fora da sala de gravação, observando Ed gravar “U.N.I”. Eu escutava todas aquelas musicas imaginando de onde ele tirava tanta inspiração para escrevê-las. Era um dom maravilhoso e eu o admirava cada vez mais.
Eu estava sendo bem sucedida na minha missão de apenas manter contato profissional com ele, mas admito que não estava sendo fácil. Eu esperava conseguir me manter forte por mais um tempo, tendo em vista que metade do álbum já estava pronto e logo eu não o veria com tanta frequência.
Quando a gravação acabou, Jake nos deu alguns minutos livres antes de começar a trabalhar na segunda voz da musica. Meu celular tocou e o nome de apareceu no identificador de chamada. Ele com certeza queria me lembrar pela vigésima vez de que era seu aniversário.

Eu atendi.

- Tenho uma enigma pra você. Dicas: 1. É a sua pessoa favorita no mundo, 2. Faz aniversário hoje. – Ele começou a fazer “tic-tac” repetidamente.

- Eu não sabia que o aniversário do Johnny Depp era hoje. – Brinquei. Ele fingiu ficar zangado e eu ri bastante. – Mas me diga, tem algum outro motivo pra você ter me ligado?

- É claro. Tudo bem, vamos lá... Por favor, não se zangue. Eu gostaria que você chamasse o Ed pra minha festa de aniversário no seu apartamento.

- Nem em um milhão de anos. – Rebati, decidida.

- Por favor, ! – Ele estava praticamente implorando. – Poxa, é meu aniversário.

- Só porque é seu aniversário, não significa que eu tenha que fazer tudo o que você quer.

- Você é cruel.

- Tudo bem. Você o quer lá? Chame-o você mesmo. – Essa era a minha palavra final.

- Ah, é melhor do que nada. Me mande uma mensagem com o telefone dele.

- Ótimo. – Olhei para trás e vi Jake acenando para que voltássemos ao trabalho. – Olha, eu preciso ir. Eu amo você e feliz aniversário mais uma vez!

- Eu também amo você. Até mais tarde.

Desliguei o telefone e voltei ao trabalho. Mandei a mensagem com o número para e, no final do expediente, vi Ed atendendo o telefone. Eu não conseguia ouvir o que ele estava falando, mas eu tinha a plena certeza de que era .

[...]

A decoração simples de luzes de natal estava quase pronta. Eu sempre fui apaixonada por essas luzes e sempre as escolhi como decoração, mesmo que não fosse natal. Liguei o som e coloquei algumas musicas agitadas, mesmo que ainda não tivesse ninguém ali pra dançar; Deixei os petiscos e bebidas bem dispostos na mesa.

As pessoas foram chegando aos poucos, e logo também estava lá, irradiando felicidade. Eu dei a ele a jaqueta que ele tanto queria e agora ele se recusava a tirá-la. Às vezes eu tinha a impressão de que o mimava demais, se é que isso faz sentido.
Em um certo ponto da festa, veio até mim com Ed em seu encalço. Ele estava vestido como de costume, sem pompa.

- Hey, eu não sabia que o tinha convidado. – Menti descaradamente e me olhou com ironia.

- Ele me chamou de última hora. – Ed falava muito alto devido ao falatório e à musica alta. – Mas fiquei feliz com o convite.

- Que bom! Aproveite a festa. – Eu me sentia um pouco sufocada, então procurei um lugar mais vazio. – Agora, se me dão licença, eu preciso de ar fresco.

Eu tive a impressão de que ia me fuzilar com o olhar. Ele pediu a Ed que ficasse ali por um instante e veio atrás de mim.

- O que você pensa que está fazendo?! – Ele falou, cheio de revolta.

- Não é óbvio? – Respondi. – Estou ficando longe dele.

- Acredite em mim, está bem óbvio! – Ele segurou a minha mão, me impedindo de dar sequer um passo. – Tanto que eu duvido que ele não tenha percebido.

- E qual é o problema disso? – A frieza na minha voz foi uma surpresa até mesmo pra mim. ficou mais perplexo do que eu esperava. Ele soltou meu braço e acenou em direção à varanda do apartamento.

- Vai. Eu não posso te forçar a nada. – Ele ficou tão chateado que meu coração parecia estar se partindo em mil pedaços, mas não dei o braço a torcer mesmo assim.
Fui da varanda para o meu quarto. Sentei no chão acarpetado e observei as luzes da cidade através do pano de vidro, pensando em tudo e em nada ao mesmo tempo.
A porta do meu quarto se abriu e Ed apareceu lá.

- Oh, desculpe. – Ele já estava indo embora quando eu o impedi e o trouxe pra dentro do quarto.

- Está tudo bem. – Tranquilizei-o. – Mas como chegou aqui?

- . – Ele sorriu meio constrangido. – Ele me disse que aqui era o banheiro.

- Entendo. – Eu não esperava menos de . É claro que ele não ia desistir tão fácil. Talvez a euforia da noite estivesse tomando conta de mim, mas por algum motivo, eu segurei a mão de Ed e o trouxe para se sentar comigo no carpete. Ele não ofereceu nenhuma resistência.

- É uma bela vista. – Ele disse, quebrando o silêncio que pairava no ambiente.

- É sim. – Respondi. – Eu gosto de olhar as luzes... Me ajuda a pensar.

- E no que você está pensando agora? – Ele perguntou, com uma mistura de ansiedade e curiosidade na voz.

- Você.

- Que coincidência. – Ele replicou, passando um braço ao redor do meu tronco, me envolvendo em um meio abraço. – Eu também estou pensando em você.

- Ed, me desculpe por ter te tratado tão mal desde que te conheci. – Eu me desvencilhei de seus braços e olhei fixamente em seus olhos azuis. Senti as lágrimas virem à tona e não tentei impedi-las dessa vez. – Eu passei por um momento muito difícil e não confio facilmente nas pessoas.

Ed levou a mão até o meu rosto e limpou as lágrimas. Ele acariciou os meus cabelos e pude sentir seus dedos entre os fios, trazendo uma sensação de conforto e segurança. Em um movimento gentil, ele encostou sua testa na minha.

- Talvez seja uma oportunidade de recomeço. – Sua voz era nada além de um sussurro. – Pra nós dois.

E com um equilíbrio perfeito entre delicadeza e força, ele me puxou para um beijo. Seus lábios quentes e macios, se entrelaçavam aos meus. O beijo perdurou enquanto, para mim, todo o mundo não importava mais. Porém eu fui a primeira a quebrar o toque.
Eu não sabia o que fazer diante daquilo. Talvez o problema fosse esse, eu pensava demais no que fazer e me esquecia de viver o momento. Ed segurou a minha mão e eu retribui o toque de bom grado. Eu o levantei e o deitei na minha cama, ficando ao seu lado, apenas aproveitando sua presença.
Dessa forma, sem nos importarmos com o que acontecia do lado de fora do quarto, adormecemos na presença um do outro.



27 de fevereiro de 2011.


Naquela semana em que tudo mudara, Ed resolveu se abrir comigo e me contar o que ele tanto tentava esconder de mim.
Aquele suposto amigo com o qual ele havia dito morar, não existia. Tinha sido tudo fingimento. Durante todo aquele tempo, ele estava dormindo na estação de metrô. Ele não queria me incomodar, ou incomodar qualquer um com isso porque, de acordo com ele, “Tudo estava funcionando bem assim pra ele”.
Depois de insistir muito, muito mesmo, ele concordou em passar um tempo comigo. Então, depois da gravação de “Grade 8”, ele ia pegar as poucas coisas que carregava consigo e ia pro apartamento.
As gravações daquele dia foram bem rápidas e tudo correu como planejado. Nós fomos para o apartamento e Ed se acomodou bem.

- Você parece à vontade. – Falei, abraçando-o carinhosamente. – Então meu trabalho está feito.

- Acho que eu devo lhe agradecer com algo maior do que palavras. – Ele disse, pensativo. – Tenho algo em mente.

- E o que seria? – Perguntei.

- Você verá. – Seu jeito misterioso me fez sorrir. Ele me beijou rapidamente e me empurrou para o sofá, ligou a TV e colocou em um canal qualquer.

- tinha razão sobre você. – Eu disse.

- Ele também tinha razão sobre você. – Essa afirmação me encheu de surpresa.

- O que ele disse à você?

- Ele me pediu pra não desistir de você. Disse que a luta valeria a pena.

Eu o abracei e me deixei levar pelo seu cheiro natural inebriante. Cochilei por um instante e, quando me dei conta, já era noite. Ed também estava dormindo, então eu o deixei para ir tomar um banho.
Quando eu saí, ele estava em pé na sala, colocando alguma musica pra tocar no rádio. Ele escolheu “Slow Dancing in a Burning Room” de John Mayer.

- Me concede essa dança, querida? – Ele estendeu a mão em minha direção. Seu cabelo ruivo mais bagunçado do que nunca, a roupa simples, o olhar bondoso, tudo aquilo parecia... Certo.

- Eu jamais sonharia em recusar, querido. – Andei em sua direção. Ele me puxou para perto e começamos a dançar ao ritmo lento da musica.

- Me perdoe por ser um péssimo dançarino. – Ele disse, em meio a risos.

- Eu não sou muito boa também. – Repliquei divertidamente.

- Parece que temos muito em comum.

- Do que está falando? – Olhei para ele curiosamente. Ele me girou graciosamente e me puxou de volta pela cintura, dançando ao embalo da musica.

- Eu sei que você compõe musicas. – Ele falou. – Eu vi o seu caderno de anotações no dia em que nos conhecemos... Por que nunca comentou?

- Minhas composições não são tão boas assim. Eu escrevo como hobby...

- Bem, espero que não se zangue... Mas eu dei uma olhada. Elas são muito boas, .

- Talvez um dia possamos gravar uma delas juntos, só de brincadeira. – Falei em tom zombeteiro.

- Talvez... – Ele disse sorrindo e me puxou pra um abraço.


10 de Março.


As gravações do Plus já estavam quase no fim. Só faltava uma única musica. Eu ainda não sabia qual era, mas ia acabar descobrindo em breve.
O design da capa já estava pronto. Era uma foto de Ed em um tom único de laranja, como seu cabelo. Um pequeno “+” branco ficava na parte inferior.
Era simples e icônico, assim como o nome do álbum, assim como o próprio Ed Sheeran.
Ele entrou no estúdio para gravar e todos da equipe o cumprimentaram. Ele me puxou de canto e falou baixo, para que somente eu pudesse escutar.

- A última musica do álbum eu escrevi pra você. – Ele disse, com o olhar brilhando de felicidade. – Quero que saiba que cada palavra que eu cantar lá dentro é pra você. É o meu agradecimento e a minha forma de dizer que eu te amo.

Eu fiquei atônita por um instante, tentando processar tudo o que ele tinha falado. Em um gesto inesperado, ele me beijou e, ao me soltar, eu respondi com sinceridade.

- Eu também te amo.

Ele se afastou e entrou na cabine de gravação. Colocou o headphone e pegou o violão. Através do vidro que separava as salas, ele olhou pra mim e começou a cantar.


This is the start of something beautiful
This is the start of something new
You are the one that make me loose it all
You are the start of something new, ooh

And I throw it all away
Watched you fall into my arms again
And I throw it all away
Watch you fall, now

You are the earth that I will stand upon
You are the words that I will sing

And I throw it all away
Watched you fall into his arms again
And I throw it all away
Watched you fall, now

And take me back
Take me home
Watch me fall, down to earth
Take me back for...

This is the start of something beautiful
You are the start of something new

Quando a musica acabou, meu coração batia aceleradamente. Daquele momento em diante, eu soube que tudo ficaria bem e que ele seria meu porto seguro.


This is the start of something beautiful



FIM.



Nota da autora: Essa é uma história criada apenas para entretenimento. Nenhum evento nessa fic corresponde à realidade do que aconteceu; As musicas e letras aqui citadas não são de minha de propriedade intelectual.




comments powered by Disqus




Qualquer erro nessa atualização são apenas meus, portanto para avisos e reclamações somente no e-mail.
Para saber quando essa linda fic vai atualizar, acompanhe aqui.



TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO SITE FANFIC OBSESSION.