Última atualização: 25/12/2020

Parte I - Sobre gatos e dragões

Charles fechou os olhos levemente, apreciando a brisa fresca que acariciava sua pele, enquanto um leve enjoo se formava na boca de seu estômago, causado pelo vendaval que balançava a canoa em que estava de modo poético, mas quase violento. Respirou fundo, sentindo os cheiros do lugar se misturarem em suas narinas e seu corpo se encher de alegria. Ou talvez fosse a altitude absurda em que se encontrava e aquilo era apenas hipóxia. Ele abriu os olhos novamente, tomando um minuto para observar os arredores. Apesar de ter sido criado numa família de bruxos puro-sangue, educado em um dos melhores colégios bruxos da Europa, que por sinal era localizado na idílica Escócia, viajado por diversos países exóticos — devido a sua profissão, que também era um tanto quanto exótica, ele não conseguia se lembrar de alguma vez na vida ter se encontrado tão maravilhado com um cenário.
Obviamente ele ouvira falar sobre o lago Titicaca. Todo bruxo que se preze já ouvira falar sobre o lago Titicaca e a comunidade milenar bruxa que ele abrigava em suas ilhas flutuantes mágicas: os Uros. Porém, nem todos tinham o privilégio de pisar naquele lugar.
O imenso lago de águas límpidas se encontrava no alto de uma das montanhas que formavam a Cordilheira do Andes e era o lar de diversas pequenas comunidades bruxas, além dos Uros. Grande parte ainda vivia isolada do resto da sociedade urbana bruxa. Os próprios Uros, na verdade, eram de certa forma isolados. Com a maioria da população formada por mulheres e sendo estritamente matriarcal, não era permitida a entrada de qualquer homem em seus territórios. O processo para conseguir a permissão para a pesquisa de Dragões Raros ou Ameaçados de Extinção no território deles foi demorado e exaustivo, sendo necessário incluir diversas exigências do povo em relação ao estudo e a como ele seria desenvolvido. Charles não gostava da ideia de que estaria sempre sob o olhar vigilante das mulheres do povoado, mas sabia que não tinha outra escolha a não ser aceitar as condições. Ele sabia que valeria a pena.
A comunidade dos Uros era cercada por uma vegetação tão diferente da que ele estava acostumado. Ele gostava daquilo. A ideia de explorar aquele lugar exótico, aprender segredos de magia centenária, encontrar animais nunca vistos em terras europeias... Sem dúvida, ele tinha o melhor emprego do mundo. Precisava se lembrar de enviar uma coruja em agradecimento para o diretor do Santuário Romeno de Dragões por aquela oportunidade.
O único lado ruim era que, graças a pesquisa que teria que desenvolver, não estaria presente para o natal na Toca. Ele sabia o quanto sua mãe ficara magoada com a notícia. Desde a morte de Fred, a união na família Weasley se intensificou, mas ele sabia também que eventualmente ela entenderia.
A embarcação atingiu a ilha flutuante de forma delicada, mas foi o suficiente para que Charlie e o canoeiro Juan se sobressaltassem um pouco. Estavam imersos demais no ambiente ao entorno para perceber que o destino almejado estava bem ali, à frente deles. Inclinou-se um pouco, dando espaço para que Juan ancorasse a pequena canoa utilizando um feitiço que lhe era desconhecido. Ele observou alguns poucos moradores da vila — em grande maioria, mulheres — desviarem a atenção de seus afazeres rotineiros e mirarem os dois homens que acabavam de chegar.
Um gato dourado — diferente de qualquer outro gato que ele já vira em sua vida — se embrenhou com pressa por entre as pernas dos moradores mais próximos da água, como se estivesse ansioso para checar o que estava acontecendo, e sentou-se pela borda do lado com uma postura superior típica dos felinos, os olhos âmbar fixados no intruso ruivo.
Charles Weasley — Charlie, para os mais próximos — era o intruso ruivo em questão. Segundo filho de Arthur e Molly Weasley, ele era um homem simples e desapegado, e gostava de pensar em si mesmo como um espírito livre e selvagem, que vaga pelas montanhas de pequenos países europeus domando feras e enfrentando os mais perigosos animais que a natureza pensara em criar: os dragões. Era um renomado domador e estudioso daqueles lagartos gigantes voadores. Todo o mundo bruxo o reconhecia como o melhor em sua área. E ele não precisava de falsa modéstia, sabia que era verdade.
Com tanta coragem correndo em suas veias e em seu DNA, era um tanto quanto complicado para ele mesmo assumir que o maior dentre todos os seus pouquíssimos medos o encarava, naquele exato momento, sem piscar.
Nada o aterrorizava mais que gatos. Ele conseguia reconhecer que eles eram fofos, esse não era o problema, apesar dele preferir anfíbios e répteis. Mas eles também eram incertos. Eles se aproximavam, pediam por carinho, comida e amor, e depois iam embora para sempre. Como se nunca tivessem se conectado com você na vida. E geralmente deixavam suas marcas em sua pele, em arranhões profundos, antes de desaparecerem — um artifício maligno para que você não se esquecesse tão cedo dos momentos que tiveram juntos.

É, gatos eram cruéis.

Ele respirou fundo e desviou o olhar daquela criaturinha astuta, observando enquanto Juan saía da canoa e meio que engatinhava até a plataforma flutuante. Ele coletou sua pequena bolsa de viagem e seguiu o homem baixinho para fora da canoa.
Apesar de evitar olhar naquela direção, por algum motivo o ruivo sabia que estava sendo observado por aquele gato infernal. Rolando sobre a plataforma, Charlie se apoiou em suas mãos para se levantar e, ao fazê-lo, seus olhos se encontraram novamente com os olhos malignos do felino. Era ao menos possível que gatos tivessem cara de deboche? Porque aquele ali definitivamente tinha! Ele sentiu o impulso de jogar o bichano dentro do lago com um chute discreto, mas pensou que talvez não fosse uma boa primeira impressão a causar nos moradores já um tanto quanto desconfiados.
Se ajeitou, sacou sua varinha do bolso interno de suas vestes, de um tom bordô profundo, e lançou um rápido feitiço em seus joelhos e pés, para deixá-los secos e limpos. Sentindo um pouco de sua dignidade voltar ao corpo, Charlie passou o dedo entre os cabelos ruivos relativamente longos e olhou ao seu entorno. Juan conversava em espanhol animadamente com uma senhorinha pequena, de postura tão enrugada quanto sua pele morena, mas que possuía um sorriso reconfortante e um tom de voz acalentador. Ela trajava roupas que, sob o olhar do estrangeiro, eram tipicamente sul americanas: saias coloridas e cheias, que iam até o chão, tecidos floridos e felizes, ponchos de cores vibrantes e um lenço em seus cabelos grisalhos.
Charlie deu alguns passos até eles, se posicionando ao lado de Juan e esperando ser formalmente apresentado, quando percebeu algo quente passando por entre suas pernas. Sentiu seu corpo congelar de medo e baixou seus olhos lentamente. Seu coração disparou e um gritinho agudo e afeminado escapou de seus lábios, enquanto ele desviava seu corpo para trás e levava a mão ao peito, curvando o corpo para frente e se apoiando em seus joelhos, com a respiração falha pelo susto.
Juan e a senhorinha idosa o encaravam com expressões igualmente espantadas e duvidosas nos rostos, enquanto o próprio felino maligno — enviado diretamente das profundezas do inferno — se arrepiava por inteiro, nas pontas das patinhas, chiando e mostrando as presas para o ruivo de modo ameaçador. Ele se endireitou, mantendo o contato visual — Charlie sabia que aquela era a melhor maneira de lidar com bestas perigosas daquele nível —, dando passos cautelosos para trás.

— Ca-calma, gatinho… — Charles gaguejou, tentando controlar seu tom de voz e inutilmente expressar uma tranquilidade que não existia, no momento. — So-so-somos amiguinhos…
, deixa o homem em paz! — a senhorinha interrompeu Charles com seu sotaque pesado, e repreendeu o gato, embora suas feições continuassem amáveis como sempre. O felino pareceu responder bem a voz da mulher, prontamente se acalmou e se afastou do homem com um certo desprezo em sua postura. A senhora então se dirigiu a Charlie. — Mil desculpas, rapazinho. A é meio arisca a primeira vista, especialmente em relação a homens. Aliás, que cabeça a minha, — ela deu um tapa impaciente em sua própria testa. — Meu nome é Carmen, sou a representante política de nossa comunidade.

Ela estendeu a mão enrugada e trêmula para Charlie, que apertou-a com firmeza, mas não com muita força. Tinha medo de que aquela frágil senhora pudesse se quebrar em seu aperto. Mas, para seu espanto, Carmen fechou os dedos com força em torno de sua mão, enquanto olhava no fundo dos olhos dele de maneira desconfortável, quase invasiva.

— Será um prazer tê-lo conosco durante os últimos dias do calendário romano, Charles Weasley. — ela continuou, finalmente desviando seus olhos pretos dos dele e virando-se para a gata satânica, continuou: — , como você será a supervisora de Charles, espero que você receba o rapaz com toda a hospitalidade que lhe foi ensinada por suas antepassadas.

Embora estivesse um pouco confuso com toda a situação, parte dele estava achando aquilo tudo tão profundamente interessante… Uma experiência antropológica única, ele diria, embora preferisse o estudo dos animais ao dos humanos. Porém, a última fala de Carmen o deixou inquieto. Aquele bicho, por um acaso, o acompanharia de algum modo?

— Dona Carmen, eu tenho certeza de que aproveitarei cada minuto de minha estadia. Estou honrado por estar sendo recebido por sua comunidade, — ele limpou a garganta antes de continuar, ainda um pouco incerto sobre como tocar no assunto. — Mas talvez não haja necessidade de ser acompanhado por .

Ele lançou um rápido olhar de canto de olho para aquela criatura e percebeu que ela ainda mantinha os olhos sombrios fixos nele. Um calafrio percorreu seu corpo. Em nome de Godric, ele estava realmente apavorado, só queria se afastar o mais rápido possível daquela bola de pêlos recheada de maldade.

— Receio que não haja outra saída, meu querido, — Carmen ajeitou o xaile florido que trazia sobre os ombros e começou a caminhar em direção ao centro da plataforma, resmungando: — ela é a única que sabe lidar com as feras.
— Errr… — com um sobressalto ao ouvir o limpar de garganta que vinha de algum lugar próximo a ele, Charlie finalmente se lembrou que Juan também estava presente durante toda aquela interação e voltou sua atenção a ele, que parecia um pouco ofendido por ter sido deixado de lado. — Bem, senhor Weasley, já que você foi formalmente apresentado para Carmen e , meu trabalho com o senhor chegou ao fim, por enquanto. Nos vemos em sete dias?
— Nos vemos em sete dias, Juan. Obrigado por tudo.

Juan se despediu de Carmen e antes de retornar para sua pequena canoa esfarrapada e acenar um adeus simpático. Porque aparentemente todo mundo naquele lugar era amigável, menos o bendito gato.

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Era tarde da noite quando Charlie finalmente foi liberado de suas obrigações do primeiro dia. Nada demais, além de uma tour rápida pelo vilarejo, guiado por Carmen e seguido de perto pelo bichano fedido, sendo apresentado para as principais figuras e conhecendo os lugares que seriam úteis para ele durante a semana. Seu alojamento, uma cabana mágica simples, mas bem equipada, fora montado a alguns passos de distância do Centro P.E.D.R.A.S. — Centro de Proteção e Estudo de Dragões Raros da América do Sul — o que lhe era muito conveniente.
Ele afofou o travesseiro em sua cama de campanha e leu um pouco do seu livro sobre culturas bruxas aborígenes nos trópicos, antes de se render ao sono pesado que a fadiga do jetlag lhe causara. Não se lembrava de algum dia em sua vida ter ido dormir tão cedo e tão profundamente, mas tentava se consolar com o fato de que na Romênia já era quase dia novamente.
Em seu sonho, Charles estava com sua grande família desajustada, celebrando o natal. Fred estava lá também. O cheiro da comida de sua mãe invadia suas narinas e ele conversava animadamente sobre Quadribol com Gui e Rony quando, de repente, um gato dourado gigante pulou sobre a enorme mesa preparada para a ceia de Natal.

Era .

Ela o encarava enquanto caminhava em sua direção com aquele olhar fatal e maligno. Seus irmãos tentavam chamar a atenção do felino em vão, ela sabia qual era seu alvo. Ela estava a centímetros de distância de Charlie agora, mostrando suas presas perigosas enquanto chiava, mas ele estava congelado de medo em sua cadeira. Era o fim. Aquele bicho horroroso estava prestes a pular em seu rosto e deixá-lo com ainda mais cicatrizes.
Ele acordou com um pulo quando o gato de seu sonho saltou em sua direção. A respiração ofegante e o coração disparado. Levou uma mão ao peito, tentando se acalmar. Olhou ao seu entorno e ao encontrar seu relógio, percebeu que estava quase atrasado para o primeiro dia de pesquisa de campo.

— Puta merda! — ele xingou alto, enquanto calçava suas botas de couro falso de dragão e corria para escovar os dentes o mais depressa possível. Quando estava relativamente apresentável, meros quinze minutos mais tarde, saiu de sua cabana e respirou fundo a brisa fresca da madrugada.

O céu ainda estava escuro e estrelado e, por um momento, Charlie amaldiçoou todas as criaturas que preferiam as primeiras horas do dia. Foi então que ele se lembrou que realmente amava aquelas criaturas, que normalmente esse era o horário que precisava acordar quando estava no Santuário da Romênia e que ele só estava sendo rabugento porque estava terrivelmente cansado, graças ao jetlag. A brisa fresca fez com que ele se arrependesse de ter saído sem seu robe mais pesado, mas ele sabia que após alguns momentos com as feras estaria suando. Deu de ombros e seguiu seu caminho em direção ao Centro.
Basicamente, o P.E.D.R.A.S. era o santuário de três das espécies mais raras do planeta: o Dente de Víbora Peruano, o Meteoro Catalão e o Focinho Longo Português. O clima estável e o isolamento do lugar, garantiam as condições básicas necessárias para que essas espécies se reproduzissem e levassem uma vida de qualidade, longe da ambição dos bruxos pelo poder mágico que provinha das diversas partes de um Dragão. De fato, os dragões já eram, de modo geral, animais caros e cobiçados por seu couro, seu sangue, seus dentes. Mas o Dente de Víbora Peruano era ainda mais valioso. Seu veneno — um dos elementos mágicos mais poderosos e perigosos que se tinha conhecimento até o momento — simplesmente não poderia cair em mãos erradas.
Acontece que a última fêmea da espécie — carinhosamente chamada de Hermosa pelos moradores da plataforma — calhou de botar seus singelos dois ovos, inesperadamente, seis meses atrás, totalmente fora do que era esperado pelas pesquisadoras do Centro. Embora tivessem sido pegas de surpresa pela notícia, todas estavam absurdamente felizes. O vilarejo como um todo parecia estar em festa agora que faltavam apenas alguns dias para os dragõezinhos saírem de seus ovos. A notícia logo se espalhou pelos quatro cantos do mundo bruxo, e o diretor do Santuário de Dragões da Romênia entrou em contato para submeter um pedido de acompanhamento do nascimento para fins educacionais em seus terrenos. O Santuário da Romênia é o mais respeitado do Hemisfério Norte e o pesquisador escolhido, mundialmente reconhecido por seus talentos para lidar com as mamães Dragão. Charles Weasley definitivamente tinha um jeito especial com as dragões fêmeas.
Ele caminhou por entre as árvores com um pouco de dificuldade, graças à falta de iluminação e ao fato de aquele ainda ser um lugar inexplorado por ele, até chegar no local destinado a observação da ninhada. Procurou por apreensivamente, parte dele esperava que ela não fosse realmente a responsável por supervisioná-lo… Quer dizer, quem em sã consciência deixaria toda aquela responsabilidade nas patas de um gato, não é mesmo? Nem mesmo Xenofílio Lovegood seria tão alienado.
Seus olhos correram pela clareira da floresta, onde Hermosa zelava por seus dois ovos singelos. Hermosa em si era uma visão à parte! Era a primeira vez que ele via um Dente-de-Víbora Peruano pessoalmente, mas um de ovo de Dente-de-Víbora Peruano ao vivo e a cores… Ia além de seus sonhos mais ambiciosos... Tudo que ele sabia sobre eles eram especulações e desenhos que eram considerados praticamente lendas por toda a Europa. Estar ali, tão perto deles, fez com que ele sentisse uma alegria inexplicável. Por um milésimo de segundo, ele pensou como seria bom de compartilhar aquele momento com alguém que entendesse a grandiosidade dele. Tirando seu irmão mais velho, Bill, nenhuma pessoa próxima a ele parecia nem minimamente interessada em dragões e o máximo de conversa estimulante sobre eles que ele tivera fora do Santuário Romeno fora com Rúbeo Hagrid… Ou naquela única Convenção Internacional de Dragonologistas, dois anos atrás.
Mas ali estava ele: a meros metros de distância daqueles ovos raros. Eles não eram tão grandes quanto os ovos de dragões que eles manipulavam na Romênia, mas as cores… Ele nunca vira algo parecido! Um azul vibrante e metálico cobria toda a extensão deles e, em algumas partes, linhas douradas se destacavam, como se estivessem trincando.
Suas esperanças de não ter que passar o dia com a gata foram por água abaixo quando ela se esgueirou por entre os ovos, farejando-os e roçando a cabeça como se fizesse carinho neles. Aquilo fez Charles congelar em seu lugar. O bicho fedido poderia quebrar os ovos a qualquer momento, caminhando daquele jeito, sem cuidado nenhum.
Mas como por um milagre, ela passou graciosamente por eles e se dirigiu até Hermosa, que abriu um olho preguiçosamente para encará-la e, para a surpresa do ruivo, reagiu como mães Dragões geralmente reagem para com seus filhotes: de modo carinhoso e protetor. A gata se arrastou pela bochecha do dragão gigante como se elas fossem velhas amigas. Como se, na verdade, fosse apenas mais um dragãozinho na ninhada tão esperada.
Charles não conseguia encontrar palavras para descrever o que ele sentira vendo aquela cena… Isso ia muito além do trabalho que ele desenvolvia com as dragões fêmeas na Romênia. Certamente, não é possível comparar o trabalho de um gato e de um humano mas, pelas malas de Newt, aquela gata realmente não era uma gata qualquer.
Após mais algum tempo com Hermosa, caminhou por entre as árvores e desapareceu da vista dele. Ele daria qualquer coisa para poder se aproximar do dragão e de seus ovos do modo como o felino havia feito, mas ele sabia que isso iria contra tantos protocolos que ele não seria capaz de contá-los com os dedos das mãos. Esperou impacientemente que alguém o indicasse o que fazer, mas todas as pesquisadoras ao seu entorno pareciam estar muito mais preocupadas com suas próprias atividades diárias que com o forasteiro ansioso. Ele bufou. Um pouco mais alto do que pensara que bufara, já que logo em seguida uma voz firme e feminina exclamou:
— Cansado, Charlie? Pronto para voltar para a casa de sua mamãe? — ele se virou para encontrar uma mulher morena, alguns centímetros mais baixa que ele, de feições fortes e uma pele que era tão dourada que parecia brilhar. Vestia roupas similares às das outras mulheres pesquisadoras do vilarejo e era obviamente uma delas. Seus traços eram, de algum modo, similares aos de Carmen. Mas onde Carmen era gentil e amigável, essa mulher era dura e ostentava um olhar quase que de julgamento em direção a ele. Os braços cruzados à frente de seu peito confirmavam a teoria. Ela levantou uma sobrancelha para ele, como se o desafiasse. Ele se sentiu amedrontado com a presença dela, mas havia algo naquela mulher que lhe era familiar, embora ele não soubesse o que fosse.
— É preciso um pouco mais que uma viagem para o outro lado do mundo e poucas horas de sono para me cansar, — ele deu de ombros, rindo de lado. Quem ela pensava que era para tratá-lo daquele jeito? Mas sua querida mãe, Molly, sempre o ensinou a tratar as pessoas com gentileza, especialmente quando a pessoa em questão o subestimava. — Não acho que fomos formalmente apresentados, sou Weasley, Charles Weasley.
— Na verdade, Charlie, temo dizer que já fomos apresentados formalmente… Duas vezes. — o vento soprou um pouco mais forte, quase que em resposta às palavras dela. Charlie achou aquilo um tanto quanto poético. E assustador. — Mas aparentemente os bruxos europeus são mesmo muito superiores… Por que você se lembraria de uma bruxa selvagem do Hemisfério Sul, não é mesmo?

Ela caminhou de um jeito que fazia lembrar de alguém — ou algo — e se aproximou o suficiente para estender a mão polidamente, sem desfazer sua postura de poder.

Martinez, diretora chefe do P.E.D.R.A.S. — ela arqueou a sobrancelha novamente, ao ver que ele ainda não demonstrara sinais de reconhecimento. — Também conhecida no vilarejo como .

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jogou seus cabelos para o lado e bufou. Aquele idiota realmente não se lembrava dela? Como ele se atrevia? Sem dúvidas, houve muito Uísque de Fogo e Vinho dos Elfos envolvido na noite em que se conheceram, mas ignorá-la completamente, como se ela não existisse… Que audácia. Aquela noite fora especial para ela de tantas formas: para início de conversa, fora a primeira vez que ela encontrara alguém capaz de manter um argumento válido sobre propriedades do sangue de Dragão e da relação entre o Dente-de-Víbora Peruano e a Varíola de Dragão. Ela não esperava menos de um Dragonologista tão reconhecido por todo o mundo bruxo, mas em sua experiência pessoal, ela mesma sendo uma Dragonologista renomada por toda a América do Sul, os estudiosos europeus costumavam ser tendenciosos em suas opiniões, geralmente como um modo de justificar a carnificina que promoveram ao matar quase todos o dragões da espécie no século XIX. Obviamente ela ainda tinha vários pontos contra ele. Ele discordar com outros Dragonologistas não mudava o fato de que ele ainda achava que a fonte da Varíola de Dragão era aquela espécie, baseado em questões simplesmente sem fundamento.
Mesmo assim ela se lembrava dele constantemente. Se lembrava dos olhos azuis dele, que durante toda a convenção pareciam tristes e opacos, brilharem com entusiasmo quando conversavam. O cheiro dele — de grama molhada, terra, fumaça, uísque e dragão? Era possível alguém ter aquele cheiro? — permanecera em sua memória por muito tempo. Por mais tempo que ela gostaria de admitir para si mesma. sempre atribuiu aquilo ao fato de ela não conviver com muitos homens, talvez uma questão hormonal, quase um acontecimento químico dentro de seu cérebro.
Ela nunca sentira uma atração assim por nenhuma pessoa até aquele ponto de sua vida, e se sentia muito confortável com aquele fato, não gostava de não saber lidar com aquela explosão de sentimentos dentro de seu corpo. Não eram sentimentos românticos, de modo algum, embora ela não negasse que a companhia dele fora agradável naquela noite. Aqueles sentimentos eram puramente carnais e ela não poderia estar mais certa disso. tentara se livrar deles, se envolvendo com outras pessoas nos últimos anos. Não muitas, mas o suficiente para perceber que não era assim tão apática em relação a isso mais.
— Convenção Internacional de Dragonologistas te lembra alguma coisa, Charlie? — ela disse suavemente, brincando com as pontas dos cabelos enquanto o olhava por baixo dos cílios. — Claro, eu não te julgo por não me reconhecer assim, a primeira vista… Faz muito tempo desde a noite em que nos conhecemos, eu mesma não estava certa de que era você quando o vi desembarcar na plataforma.

Era mentira. Obviamente ela sabia que era ele. Ela sabia que ele havia sido indicado pelo Santuário Romeno para aquele projeto. Ela fora a responsável por sugerir discretamente que ele fosse o escolhido, durante a troca de correspondência entre ela e o diretor santuário para o qual ele trabalhava.

— Pelas Malas de Newt! — ele exclamou, levando uma mão até a boca aberta, a figura perfeita de uma pessoa adulta que acabara de receber um presente de Natal que fazia sentido (ela não saberia dizer o por que, mas desde que se tornara um animago, todos insistiam em presenteá-la com peixes). Um sorriso imenso se abriu no rosto marcado por sardinhas do homem à sua frente e aquilo causou um efeito estranho no coração da mulher. Efeito o qual ela preferia ignorar.
! Eu achei que nunca mais fosse te encontrar pelo mundo!
— Menos, Charlie, — ela riu, sem graça. — Quantas Dragonologistas existem no mundo? Não muitas. Infelizmente.
— Não muda o fato disso ser uma coincidência louca! — ele se aproximou o suficiente para segurar os ombros da mulher, como se quisesse observá-la com mais atenção. Para um homem em seus trinta e poucos anos, aquela felicidade dele era jovial. Mas ela sabia que ele tinha esse espírito jovem animado. Os shamans da comunidade vizinha teriam tantas teorias sobre ele.
— Confesso que eu pensei que você fosse me reconhecer assim que pôs os pés aqui, já que fui a primeira a te encontrar… Mas você não parecia muito animado com a minha presença… — deu de ombros enquanto o ruivo parecia quebrar a cabeça tentando entender aquilo. — Mama Quilla nos ajude, Charlie! Como você pode ser um pesquisador tão renomado e ainda assim ser completamente obtuso?
— O que você quer dizer com isso? Eu tenho certeza de que não nos vimos on… — um raivo de compreensão brilhou pelo rosto do ruivo e seus olhos se escancararam em assombro. Se queimar neurônios produzisse algum tipo de cheiro, ela tinha certeza que todo o ambiente estaria fedendo a fumaça naquele momento. — Não… Não pode…
— Sim, Charlie…
— Você… — ele apontou embasbacado em direção ao peito dela. — É aquele bicho fedido? Você é um animago?!
— Vou tentar não me sentir ofendida e focar apenas na sua lentidão. Eu pensei que a conexão entre os fatos seria feita muito mais rapidamente… Sinceramente, homens brancos… — revirou os olhos com impaciência.
— Mas… Não existe nenhum registro…
— No Reino Unido. Felizmente eu não sou uma cidadã do seu Reino frio e nublado. As regulamentações para Animagos na América do Sul estão anos-luz atrás das regulamentações européias, já que Mandrágoras raramente sobrevivem em nosso território. Eu consegui uma folha durante a Conferência e resolvi me arriscar… Deu certo, mas tenho certeza que sou uma das poucas pessoas nesse continente a ter feito isso. É arriscado demais. Especialmente quando se vive perto de florestas tropicais. Mas isso não vem ao caso!
— Vocês fazem um belo trabalho neste centro de pesquisa, ! Isso aqui é pelo menos três vezes maior que o Santuário onde eu trabalho! Isso porque eu só tive a oportunidade de observar a Hermosa, por enquanto.
— Não vou fingir modéstia, o P.E.D.R.A.S. é realmente maravilhoso. — ela deu de ombros, como se já estivesse acostumada com aquela reação. — Mudando de assunto, você já tomou café hoje? Quer ir comigo até a vila para comer alguma coisa? Meu estômago está reclamando de fome faz algum tempo.

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— Eu amo esse clima natalino! A chuva, o calor! — respirou fundo e fechou os olhos, como se aproveitasse o ar fresco, levemente abafado, das ruas do vilarejo. — Além disso, esse ano temos motivo em dobro para celebrar! Logo teremos dois lindos dragõezinhos sobrevoando nossos céus!

Embora Charlie simpatizasse com a alegria de sua tutora temporária, não havia nada no vilarejo que o fizesse pensar no Natal. Nada remotamente relacionado ao tipo de Natal com que ele estava acostumado e, mais uma vez, ele sentiu saudade de casa. Saudade da confusão de cabeças laranjas correndo de um lado para o outro, das vozes altas tentando sobrepor uma à outra, das bugigangas Trouxas de seu pai no depósito, das comidas que não podiam ser consideradas saudáveis nem por um minuto, do vampiro no sótão. Ele passaria pouco tempo no hemisfério sul, mas é que o Natal era a única data em que ele sempre fazia questão de estar com sua família. Ele fez o que pôde para disfarçar o ânimos, afinal de contas não queria desanimar .
Podia parecer besteira mas, dois anos atrás, na conferência, ele realmente havia se interessado por ela. Ele não era o tipo de pessoa que se deixava envolver facilmente, e gostava de dedicar sua vida aos seus estudos e ao seu trabalho. Era o que fazia de melhor. Mas parecia ser o melhor dos dois mundos, quando se conheceram. Infelizmente, ele estava bêbado demais no coquetel da conferência para tentar fazer qualquer tipo de aproximação ou ao menos se lembrar de anotar o contato da mulher, então acabara deixando passar a oportunidade. Agora o mundo parecia estar lhe presenteando com uma segunda chance e ele não desperdiçaria por nada.

— A vida por aqui parece ser tão completamente diferente da minha… — os dois estavam sentados em bancos de madeira, no que parecia ser o quintal da casa de alguém, mas esse alguém os servia um delicioso café da manhã. Como todo bom amante de cafés, Charlie conseguia apreciar a xícara que tomava naquele momento. Era um dos melhores que já havia provado. — Na Romênia. Eu…

Ele hesitou um pouco, não sabia se tinha intimidade o suficiente com para fazer determinadas perguntas, mas a curiosidade o consumia por dentro. Resolveu se arriscar e perguntar, de qualquer modo.

— Eu percebi que a maioria dos moradores da plataforma são mulheres… — ele tomou mais um gole de seu café quente, preparando o terreno antes de continuar. — Os poucos homens que eu encontrei nas poucas horas que passei aqui, assumem tarefas domésticas. Isso realmente me deixou instigado. Mas, o que eu gostaria de saber de verdade é: por quê?
— Não é nada muito estranho… Mas essa plataforma foi fundada, originalmente, por sacerdotisas da Mama-Quilla, nossa Deusa da Lua, que conseguiram fugir da parte central do nosso antigo Império, Cusco, quando os homens europeus chegaram e dizimaram nossa população. — respirou fundo, levemente incomodada. Charlie conseguia perceber que, apesar de aquilo ter se passado séculos atrás, ainda era um motivo de dor. — Quando eu digo que eles dizimaram, eu estou sendo delicada, porque realmente não quero estragar nosso café da manhã. Acho que basta dizer que essas mulheres nunca estiveram tão apavoradas em suas vidas. As coisas que elas presenciaram e às quais foram submetidas… Ainda temos alguns registros da época… É terrível lê-los… É como reviver um pesadelo sem precedentes.
— Eu sinto muito… — levemente arrependido da pergunta que fizera, o ruivo se encontrava desconfortável com a situação em que se colocara.
— Não, tudo bem, — ela deu de ombros e forçou o melhor sorriso que conseguia. — Acho que é importante você saber disso, já que pretende passar algum tempo por aqui. Você talvez já tenha ligado os fatos, mas as sacerdotisas da Lua eram, sem dúvidas, bruxas muito poderosas. Esse foi o único motivo pelo qual elas conseguiram escapar com vida. Elas também foram as responsáveis por salvar alguns ovos de Dragão, durante a fuga. O fato é que nós todas fomos criadas por mulheres, aqui. Não existe lugar no mundo mais harmonioso que nossa plataforma. Nós não somos amazonas, mas poucas mulheres submetem o formulário de residência fixa paterna para trazer seus parceiros para a plataforma. Nós não temos uma população muito grande, também. Por algum motivo, não há registro de alguma criança do sexo masculino ter nascido em nossa vila.
— Nunca?
— Nunca. Mas nós incentivamos nossas meninas a estudar, todas elas são enviadas para o CasteloBruxo, quando chegam na idade para ingressar. Queremos que elas aprendam o máximo possível, que elas possam ter essa vivência e decidir por elas mesmas o que querem da vida. A maioria volta. Algumas decidem ter filhas de maneira independente e algumas poucas resolvem levar uma vida mais… Tradicionalmente ocidental, por assim dizer.
— Esse realmente é um lugar mágico…
— Você ainda não viu nada! — ela sorriu, dessa vez era um sorriso alegre e sincero. A paixão com a qual falava de sua vila… Aquela paixão fazia Charles sentir coisas estranhas em seu peito. Estranhas, mas boas. — Eu mal posso esperar para te mostrar cada canto desse lugar!
— Você também completou sua educação no CasteloBruxo?
— Sim! E foi uma fase ótima na minha vida, — ela bebericou seu café e suspirou. — Mas eu senti saudade da minha vila todos os dias.
— Eu imagino que tenha sido difícil. Eu mesmo fui criado um pouco afastado da sociedade… Mas nada se compara.
— Eu entendo que, pelos olhos de alguém de fora, nosso estilo de vida seja um pouco exótico. — ela acenou em concordância e se levantou, espreguiçando-se. — Sem mais delongas, pronto para começar seu dia?
— Sim, senhorita! — Charles se levantou num pulo e bateu continência, rindo sozinho ao perceber que ela provavelmente não entenderia a piada.
— Bom dia, Charlezito! — Dona Carmen passou por eles, sorridente. Charles riu de seu novo apelido e acenou para a senhora que seguiu seu caminho. Então ela parou de supetão e se virou para eles. — Bom Dia, !
— Bom dia, Dona Carmen!
, minha menina, você parece reluzir hoje. A companhia de Charlezito te cai bem, minha menina. — e, enfim, ela continuou seu caminho.
— A idade deixa as pessoas assim. — deu de ombros e começou seu caminho de volta ao P.E.D.R.A.S.. Charles seguiu a morena de modo quase saltitante. Ele não poderia estar mais otimista em relação a sua estadia na vila.



Parte II - Sobre noites e silêncios

Os dias no Centro de Pesquisa eram repletos de tarefas a se fazer e coisas a se aprender, e Charles amava aquilo. O sensação de dever cumprido ao fim de cada turno, o modo como todos as pesquisadoras e trabalhadoras do centro coexistiam e cooperavam para que tudo corresse como deveria — mas não apenas porque aquele era o dever de cada uma delas, Charles não demorou para perceber que a razão pela qual tudo parecia correr em sincronia era a camaradagem entre elas —, a expectativa pelo nascimento dos dragõezinhos…
À noite, todas se reuniam na única taberna do local, tomavam Pisco dos Chullhachaqui e conversavam sobre as descobertas do dia e os planos para o próximo ano romano. As mais velhas contavam histórias das fundadoras da plataforma, lendas que assombravam os povos daquelas terras por séculos. Toda noite era quase uma celebração antecipada do que estava por vir: pela primeira vez em anos, elas teriam não apenas um, mas dois dragões bebês, coincidindo com as festividades de natal e ano novo. E pela primeira vez em anos, um forasteiro presenciava aquilo.
Depois das festividades, ele e — praticamente inseparáveis — caminhavam por horas, remavam pelo imenso lago, observavam as estrelas e respiravam o ar puro em meio a solitude que parecia ser única daquele lugar: uma solitude que não era, de modo algum, triste. Aqueles eram os momentos preferidos de Charles. Os dois se deitavam lado a lado na canoa instável e observavam o céu em silêncio pelo que pareciam horas. Quando as cores começavam a mudar, anunciando o início do crepúsculo, eles voltavam para a plataforma e seguiam para suas devidas acomodações.
Durante primeira noite, eles conversaram sobre os mais diversos assuntos antes de o silêncio os envolver. Conversaram sobre astronomia e astrologia, conversaram sobre répteis e dragões, sobre feitiços inúteis e poções subestimadas, conversaram sobre os mistérios do universo e do como se sentiam pequenos, perdidos naquela imensidão quase vazia, mas ao mesmo tempo cheia de vida. Falaram sobre as tradições de Natal: na família Weasley, uma grande ceia era preparada, todos os filhos e agregados se reuniam com os pais, a matriarca tecia os tradicionais suéters Weasleys — aí de quem não os vestisse durante o banquete; na plataforma, todas as famílias se reuniam na praça central, cada uma trazia seu prato preferido, vestiam as roupas mais coloridas que encontravam em seus baús e esperavam pela meia noite para atacar a comida. As flautas, charangos, amparas e cajóns eram enfeitiçados para alegrar a comunidade com músicas típicas do lugar, os artesãos traziam suas artes para enfeitar a praça. Esse ano, pequenos dragõezinhos luminosos foram enfeitiçados para sobrevoar o espaço.
Depois disso, ambos deixaram que o silêncio tomasse conta. Charles nunca foi acostumado com isso de silêncio. Muito menos com isso de solidão. Sendo um Weasley, esses eram dois conceitos que simplesmente não se encaixavam com estilo de vida da família. Talvez por isso eles fossem tão atraentes para ele, agora. Ele não sabia que era possível estar em silêncio no mesmo ambiente que outra pessoa e não sentir a necessidade de quebrá-lo. Conversar com era fantástico, ela era extremamente interessante e ele tinha a impressão de que nunca se cansaria daquilo, ainda que não a conhecesse tão bem. Afinal, ele se conhecia muito bem. Mas o silêncio com ela, ali, no meio do nada… Aquele silêncio era mágico.
No silêncio dos dois, o som da natureza se tornava quase ensurdecedor: o vento, a água, as árvores, as corujas e outros diversos animais noturnos. Todos eles se faziam ouvir.
A presença um do outro também parecia se tornar mais forte. Charles estava muito consciente de que a mulher estava deitada ali, ao lado dele, observando o mesmo céu estrelado que ele. A presença dela parecia quase sobrenatural. Era forte, mais forte que qualquer outra que ele um dia presenciara. Era poderosa. E ele percebera isso desde a primeira vez que a viu, anos atrás, na Conferência. Naquela noite ele pensou que, talvez, só talvez, vidas passadas ou destinos ou qualquer coisa que o valha, existissem de fato.

Na segunda noite, uma corrente de vento frio fez com que seus corpos se aproximassem como uma reação natural de proteção. O calafrio que percorreu Charles dos pés à cabeça o fez entender que aquela reação não era ao frio, e sim à . Ele desejou entrelaçar os dedos dele aos dela, sentir a pele dela na dele. Desejou, mas não o fez. Ele sabia que o contato físico com pessoas que não faziam parte da comunidade era algo quase sagrado para as mulheres da plataforma, e saber daquilo foi motivação o suficiente para controlar seus instintos.
O dia havia sido longo e exaustivo, mas também muito produtivo, no centro P.E.D.R.A.S. e a noite, como sempre, animada na vila.
Além disso, refletindo sobre sua vida enquanto observava o céu, ele agradeceu ao fato de que a mulher evitava passar tempo com ele em sua forma de animago, restringindo o uso da forma maligna de gato para os momentos que precisava checar Hermosa. Ele nunca assumiria seu medo para ela. Nunca.
Quando a terceira noite chegou, levemente embriagados pelo Pisco dos Chullhachaqui, eles remaram sem rumo pelo lago até que seus braços estivessem cansados demais. Como todas as noites, usou sua varinha e lançou um rápido feitiço para ancorar a canoa. Como todas as noites, eles se deitaram, conversaram, gargalharam e, finalmente, deixaram o silêncio os envolver.
Charles quase sobressaltou ao sentir a mão de envolver a sua. Os dedos finos se entrelaçarem com os seus. Não era uma mão delicada, apesar de ser significativamente menor que a dele. Era uma mão que entregava o fato dela ser uma pessoa forte. Ela era, aos olhos dele, a personificação de uma guerreira amazona, embora ela nunca tivesse, de fato, lutado em uma guerra. Ele respirou fundo, deixando uma risada baixinha escapar de seus lábios. Se sentia como um adolescente virgem quando estava ali, com ela. Se sentia como um adolescente cortejando a primeira namorada. Era ridículo, mas por algum motivo ele não se importava.
Talvez fosse o fato de que ninguém ali o conhecia ou o julgaria por estar se sentindo e se portando daquela maneira. Havia algo de libertador em se sentir assim e não se importar. Ele se perguntava se ela também se sentia assim, se os pensamentos dela também estavam tão focados nele que, às vezes, se tornava difícil pensar em qualquer outra coisa. Às vezes, muito raramente, ele se esquecia que estava ali por causa de Hermosa, e não por causa de . Ambas eram criaturas selvagens e incríveis, de qualquer modo. Ele riu novamente, achando própria analogia um tanto quanto ruim.
Naquela madrugada, enquanto voltavam para casa, ele a sentiu mais perto que nunca. Naquela madrugada, Charles sonhou coisas inapropriadas sobre e acordou com um sorriso no rosto, mas agradeceu por estar sozinho em sua tenda. Céus, ela só segurara sua mão por alguns minutos e seu corpo reagia daquela maneira… Ele precisava aprender a controlar melhor seus pensamentos.

Na quarta noite, ele decidira que precisava deixar de ser tão reservado, talvez estivesse tudo bem se ele tomasse um pouco de iniciativa e demonstrasse seu interesse por ela, e não fosse apenas passivo em relação àquilo. Se tornara óbvio para o ruivo que também nutria algum tipo de afeição por ele. Infelizmente para ele, era um pouco tarde demais. Quando ele tomou a iniciativa para segurar a mão da mulher, ela já estava deitada de lado, observando-o atentamente.
Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa que viera em sua mente, acabou com o espaço entre eles. Ela levou uma de suas mãos até a bochecha do rapaz e acariciou-a com a leveza de uma pena. Seus olhos pareciam ler cada expressão do ruivo com curiosidade. Ele sabia que ela o achava exótico, diferente. Ele sabia que talvez o fato de serem tão diferentes um do outro fosse responsável, em partes, pela crescente atração entre eles.
Em partes, mas não o motivo principal.
Ele sentiu o cheiro de álcool, pisco e mel que exalava dela. Sentiu sua pele arrepiar e algo gelado descer por sua garganta até a parte mais baixa de seu abdômen, quando seus narizes se tocaram delicadamente e ela roçou os lábios cheios e úmidos em seus lábios consideravelmente mais finos. Ele quis segurá-la e beijá-la como nunca quisera algo em sua vida. Mas ele respirou fundo e esperou, curioso para saber qual seria o próximo passo da mulher.
Não demorou muito e sua curiosidade foi saciada quando os dentes dela separaram seus lábios, mordiscando-o com carinho. Ele nunca pensara que fosse possível sentir tanto desejo e tensão sexual com apenas a sugestão de um beijo, mas lá estava ele, em meio ao lago escuro, queimando em desejo. Ele percebeu que não era o único, já que ambos estavam com suas respirações descompassadas.
A língua quente e úmida de pincelou seu lábio inferior e ele, mais que prontamente, entreabriu a boca, numa permissão silenciosa para o que quer que tivesse em mente. Era isso, ele estava oficialmente rendido a uma mulher que mal conhecia. E o fato de que, naquele momento, ela o beijava com um ardor que lhe era desconhecido, mas que correspondera à altura, somente confirmava suas hipóteses: Ele queria tudo dela. O que ela tivesse a oferecer. Ele ficaria feliz com o que quer que ela pudesse lhe dar. Contanto que fosse dela.
Seus corpos reagiam à ação de seus lábios e ele sentia as mãos de deslizarem por seu peitoral, os dedos se entrelaçarem com seus cabelos, as pernas dela se encaixarem com as dele. Ele sabia que ela conseguia sentir o quão excitado ele estava, o quão entregue ele estava. Ele nunca odiara tanto um traje típico como ele odiava as longas saias de naquela noite.

Charles precisava confessar que, na quinta noite, ele estava completamente exausto. Não conseguira pregar os olhos na madrugada anterior, porque seu cérebro estava obcecado com a imagem de beijando-o na canoa, sob a luz da lua e das estrelas. Além disso, ele parecia capaz de guardar o cheiro da mulher e a sensação de seu toque, o gosto de sua boca, com detalhes. Ele estava agitado demais para conseguir se render ao cansaço e, quando o sol finalmente nasceu, ele se viu agradecendo ao fato de ter que trabalhar. Ele precisava de algo para distraí-lo de seus pensamentos nada sãos. Infelizmente para ele, era sua supervisora no trabalho. Ainda mais infeliz era o fato de que, aparentemente, ele era péssimo em disfarçar a atração que sentia por ela. Todas as outras pesquisadoras pareciam estar a par do que estava acontecendo ali.
O modo como ele orbitava ao redor de era quase incontrolável.
Mas esse não era o único motivo pelo cansaço. Além da agitação hormonal de um adolescente de treze anos que havia dominado o cérebro de Charles, o trabalho no P.E.D.R.A.S. havia triplicado naquela tarde, já que um dos ovos começara a trincar vinte e quatro horas antes do esperado. O primeiro ovo de dragão poderia chocar a qualquer momento e eles provavelmente precisariam fazer plantão. Por mais animado que ele estivesse para presenciar o nascimento dos dragõezinhos, ele também estava instigado demais para saber o que aconteceria entre ele e caso eles pudessem remar pelo lago naquela noite. Ele estava realmente ficando envergonhado por nunca tomar uma atitude em relação a ela.
Mas quando a noite chegou, pela primeira vez desde o início da semana, ninguém mencionou beber e celebrar com a vila. Todas estavam concentradas demais em seus afazeres, vidradas com possibilidade do ovo chocar antes do esperado, inclusive , que havia desaparecido em sua forma de gato fazia algum tempo. Quando o cansaço finalmente falou mais alto, Charles pediu licença para se retirar. Ele não conseguia mais manter os olhos abertos e sabia que poderia ser perigoso trabalhar com dragões estando tão fadigado.
Ao chegar em sua tenda, apenas retirou sua calça e camisa e se jogou em sua cama de campanha, deixando-se levar rapidamente por um sono pesado e sem sonhos. Acordou com o sol em seu rosto e algo irritando seu nariz. Abriu os olhos preguiçosamente. Sentia algo quente e fofo em seu peito, bem confortável. Queria dormir mais cinco minutinhos… Algo quente e fofo em seu peito?
Seus olhos se escancararam e ele jogou o gato, que estava aninhado em seu peito, para longe de seu alcance. O gato chiou e, antes de pousar no chão, voltou a sua forma humana. o encarava com um misto de susto e raiva nos olhos.

— Por que diabos você fez isso? — ela exclamou, ofegante, tentando controlar a respiração.
— Puta merda, ! — Charles levou as mãos até o peito esquerdo, como se aquele ato de algum modo fosse acalmar as batidas de seu coração. — Você quer me matar de susto?
— Matar? — ela rolou os olhos com ironia. — Você acabou de me jogar pelo ar!
— Eu não sabia que era você, ok? — ele tentou se explicar, mas sua voz ainda estava carregada com irritação.
— Quantos gatos você conhece no vilarejo, homem?

Ele deu de ombros e deixou seu corpo afundar entre os cobertores.

— E-eu só… — ele gaguejou, tentando organizar seus pensamentos. — O que você está fazendo aqui, de qualquer modo? Que horas são?
— Aproximadamente seis da manhã. — ela caminhou até os pés da cama e sentou-se, cruzando as pernas em cima do colchão. — Eu estava com sono e… E sua tenda é tão próxima ao Centro.
Charlie sorriu ao ver que, pela primeira vez desde que se reencontraram, parecia levemente encabulada em sua presença. Sob a luz do nascer do Sol, ela parecia brilhar. Ele sentiria saudade dela, sem dúvida alguma. Inclinando seu corpo em direção ao corpo da mulher, Charles segurou-a delicadamente pelo braço e a trouxe consigo, deitando-os em sua cama e levando o cobertor até seus ombros.
Os dois se encararam por alguns segundos, um sorriso tímido ainda brincando nos lábios de , antes dela se virar de costas para ele e suspirar levemente. Charles a abraçou, se aconchegando por trás da mulher. Ele respirou fundo, sentindo o cheiro que exalava do cabelo escuro e volumoso, descendo seu nariz até o pescoço dela e sorrindo de lado ao senti-la arrepiar sob seu toque. Não demorou muito para que os dois se rendessem ao sono novamente.

A sexta e última noite chegou com um pouco de decepção para as Dragonologistas: O ovo trincado ainda não chocara. A maioria das pesquisadoras havia passado a noite em claro, esperando que isso acontecesse a qualquer momento. A consequência daquilo é que todas estavam extremamente cansadas durante o dia. Por esse motivo, o time fora dividido em dois: diurno e noturno. Como aquela era a última noite de Charles na plataforma, ele e foram escalados para o time diurno e, apesar do segundo ovo ter começado a trincar, nada demais aconteceu.
Como na maioria das noites, eles saíram do trabalho e foram até a praça da vila, beberam, conversaram, escutaram histórias, dançaram ao som das músicas típicas e se dirigiram até a canoa velha ancorada no lago. Dessa vez, usou sua varinha para lançar um rápido feitiço, que fez com que eles não precisassem remar até o destino de sempre, em meio ao nada. Charles pensou consigo mesmo que aquela era uma sábia decisão, já que ambos ainda estavam cansados do dia de trabalho no Centro.

— Por que a gente não enfeitiçou a canoa desde a primeira noite? — Charles riu com a estupidez dos dois, mas deu de ombros.
— Eu meio que gosto de remar. — ela abriu a pequena sacola de pano que carregava consigo e retirou uma garrafa de Vino de las Brujas. — Decidi que precisamos te dar uma despedida à altura. Que eu me lembre, da última vez que nos despedimos, você estava vomitando dentro de uma Penseira. — jogou seus cabelos para trás, a cabeça inclinando na mesma direção, gargalhando. Charlie se sentiu meio que hipnotizado pelo movimento, e ele quase se convenceu mais uma vez de que não havia a possibilidade de ela ser totalmente humana. Se ele não soubesse o suficiente sobre Veelas, diria que possuía um pouco do sangue delas em suas veias.
— Eu não tenho dúvidas de que você está me confundindo com um dos meus cinco irmãos, isso parece muito mais algo que o George faria. — ele pegou a garrafa de vinho das mãos de , deixando que suas mãos se tocassem por um breve instante e sentindo como se uma corrente elétrica passasse por seu corpo. Ele se perguntava se ela também sentia tudo aquilo quando estavam juntos. Todos aqueles… Instintos? Ele precisava se controlar a todo momento. — Não é da minha índole.
Ele usou sua varinha para abrir a garrafa em um pop, passando-a para a mulher ao seu lado com um sorriso de lado. Ela tomou um gole generoso da bebida e retornou-a para o ruivo.
— Não, Charlie, não é… Você é um bom moço, certo? — ele percebeu o tom zombeteiro que ela empregou àquela frase e gargalhou, copiando-a e bebendo uma grande quantidade do vinho amargo. Amargo demais para o gosto dele, mas ele nunca daria a ela o prazer de vê-lo reclamar. Ele levantou as sobrancelhas numa falsa expressão de surpresa.
— Por Newt, ! É essa a impressão que você tem de mim? — ele levou uma de suas mãos ao peito, fingindo estar realmente afetado com o comentário. Só ele sabia o quanto se controlara naquela semana para manter a relação entre os dois estritamente profissional.
Mas agora… Agora ela estava impossivelmente próxima. Ele conseguia sentir o cheiro de álcool e grama e flores frescas que vinha dela, ele conseguia praticamente mapear cada uma das pintinhas que marcavam o rosto dela, ele parecia conseguir distinguir cada cor, cada tom, nos olhos dela e, para piorar, os lábios dela nunca pareceram tão convidativos quanto naquele momento, apenas alguns centímetros de distâncias dos dele. Ele observou enquanto ela passava a língua por eles, delicadamente, deixando-os úmidos. Newt o ajudasse, mas para o inferno com o auto-controle!
Charlie levou uma mão até a nuca da mulher e trouxe-a para ele, seus olhos se encontraram por um segundo antes de seus lábios se chocarem num beijo cheio do desejo que eles lutaram tanto para suprimir durante a semana. Não havia nada de doce, comedido ou recatado naquele beijo, e suas línguas pareciam ansiosas para explorar cada pedacinho uma da outra. A princípio, não fora um beijo harmonioso. Fora um beijo forte, conflituoso. Ambos buscando o controle da situação. Mas não muito tempo depois, Charles decidiu que poderia usá-lo como bem entendesse, ele não dava a mínima.
Ela empurrou-o pelos ombros, sem delicadeza alguma, até ele se encontrar totalmente deitado na canoa. Sorrindo de lado, ela passou uma perna por cima dele e montou-o. O pensamento de que ela provavelmente era uma boa jogadora de Quadribol veio à mente, mas logo se esvaiu, porque a mulher em cima dele terminara de beber todo o vinho da garrafa, jogando-a em algum canto da embarcação, e agora o beijava com desejo. Era algo bom o fato de Charles ter decidido não controlar nada, nem se repreender, porque naquela posição, com toda aquela fricção, ele se encontrava inevitavelmente duro. E bastava um olhar nas feições da mulher em cima dele entender que ela sabia o que estava acontecendo ali, e parecia quase orgulhosa daquilo. Ela sorriu entre o beijo, sem nunca separar seus lábios, e colocou um pouco mais de pressão nos quadris, indo de encontro com a ereção do ruivo, que não conseguiu — nem tentou — evitar o gemido que saiu de sua garganta.
Ele estava pronto para tomar o controle da situação, quando percebeu levar as mãos até o cós elástico de sua calça de algodão — presente de Dona Carmen, Morgana a abençoe. — abaixando-a até seus pés e retirando-as ao mesmo tempo que retirava suas botas de couro falso de dragão e as meias de lã. Como sempre, não era assim tão mal deixá-la com a liderança, no fim das contas.
Com um sorriso safado no rosto, prendeu os cabelos volumosos num coque mal feito antes de baixar a boxer que ele usava. O ar frio fez com que ele se arrepiasse, mas nada comparado com o que ele sentiu quando os lábios dela tocaram a parte mais sensível de seu corpo, num toque delicado, antes de mover sua língua em movimentos circulares pela área. Ele suspirou pesadamente, sentindo a impaciência voltar tomar conta de seu corpo. Mas era difícil ter força de vontade quando a base de sua ereção era acariciada pela mão da mulher, enquanto a outra o massageava delicadamente logo abaixo. A boca dela o envolveu por completo, exercendo movimentos de vai-e-vem que faziam os olhos de Charles rolarem involuntariamente. Caralho, aquele era provavelmente o melhor oral que ele já recebera. estava conseguindo levá-lo a loucura. Ele respirou fundo, tentando ter fôlego o suficiente para dizer baixinho:
— Você definitivamente não é uma boa moça, . — e com isso, afastou-a de seu membro, ainda que contrariando seus próprios desejos. Por mais que ele estivesse adorando aquilo tudo, havia coisas que ele precisava fazer antes de ir embora. Ela lançou um olhar confuso a ele, mas logo entendeu o que se passava e o sorriso de lado tomou conta de seu rosto novamente. Eles voltaram a se beijar, enquanto ele retirava a saia e a calcinha de de uma única vez. Com uma pausa, ele se afastou alguns centímetros dela, e foi a vez da blusa dela encontrar um lugar pelo chão da canoa.
Ele sabia que ela nunca usava sutiã, e havia conseguido ficar em paz com aquele fato depois de alguns dias tendo que lidar com a visão, mas vê-la ali, rendida à ele, totalmente nua, era algo completamente diferente. Ela era forte e desinibida, e levemente atrevida. Ela era como um desafio. Aproximando-se de , ele distribuiu beijos por todo seu rosto, trilhando o caminho até a base de seu pescoço, onde intercalou-os com pequenas mordidas carinhosas. Sorriu ao senti-la arrepiar sob seu toque, era bom saber que não era o único afetado por ali. Levou uma de suas mãos até a coxa grossa da mulher, apertando-a com vontade e subindo o carinho para a parte interior mais alta, sentindo o calor que emanava dela, enquanto seus lábios desciam por seu colo até os seios, onde ele se deixou perder por algum tempo, lambendo um dos mamilos com dedicação, enquanto sua mão agia na parte inferior do corpo de , num carinho leve como pena. Ele soltou uma risada baixinha quando sentiu-a mover os quadris em direção a sua mão, pedindo por mais fricção, mais contato. Um gemido impaciente escapou da garganta dela, chamando a atenção dele.
— Você é muito impaciente, . — ele sussurrou, seus lábios subindo novamente até o pescoço dela, e então mordiscando o lóbulo de sua orelha. — Coisas boas acontecem para quem as espera.
— Foda-se a espera, Weasley. — ela resmungou, fincando as unhas com força contra a pele dele, e não fazendo questão alguma de reprimir seu gemido alto sentir Charles pressionar o quadril contra o dela, em resposta, roçando sua ereção contra ela, estimulando seu clitóris ao fazê-lo. Ele estava tão perdido em todas aquelas sensações, que não percebeu quando a mulher recuperou o autocontrole e forçou seu corpo para o lado, fazendo a canoa se agitar perigosamente quando Charles caiu com as costas sobre a base de madeira.
Ela estava por cima novamente. Seus olhos se encontraram, ele podia ver que os dela brilhavam com fogo e domínio quando ela finalmente segurou-o entre as mãos e guiou-o para o lugar onde ele mais queria estar no momento. Ele prendeu a respiração quando foi abraçado por ela, que lentamente desceu por sua extensão, aproveitando cada segundo daquilo, suspirando enquanto deixava-se levar pelo prazer que sentia, até que ele a havia penetrado por completo. Charles sabia que precisava de mais, mas também sabia que ela havia ganhado o direito silencioso de estar no comando, então suas mãos se posicionaram na cintura dela e ele impulsionou o quadril para cima.
entendeu a mensagem rapidamente e começou a se movimentar, primeiramente num ritmo preguiçoso, como se quisesse memorizar cada toque, enquanto as mãos de Charles corriam por seus seios, seu tronco e suas coxas, fazendo a pele dela se arrepiar com o contato, e foi quando o polegar dele acariciou o ponto mais sensível da mulher que ela finalmente deu a ele a velocidade que ele precisava. Em meio aos gemidos e ao suor e aos toques e as respirações descompassadas, ele sentiu o interior de se contrair deliciosamente em torno dele, enquanto ela se tencionava e murmurava palavras desconexas.
Parecia um sonho. , nua, sentada sobre ele, rebolando nele, alcançando seu orgasmo ao ar livre, sob o céu estrelado e o brilho da lua. Ele voltou a estimular o ponto mais sensível dela, com toques leves e rápidos, para que ela pudesse aproveitar ao máximo o prazer que sentia naquele momento, enquanto ele mesmo colocava mais força contra ela em cada penetração, não tentando mais resistir e se entregando ao seu próprio orgasmo.
deitou-se ao lado dele, ainda arfando, o coração batendo descompassadamente, encarando o céu. Ela se sentia eufórica e, ao mesmo tempo, leve. Se sentia livre como nunca antes. Ela não amava Charles, obviamente. Ela mal o conhecia. Mas ele a fazia bem, ela não podia negar. E ela nunca assumiria aquilo para ninguém, mas aquele havia sido o melhor sexo de sua vida, até o momento. A química entre os dois era inegável. Ela gostava do fato dele não ser delicado com ela, mas ao mesmo tempo não tentar se impor. Ele conseguia entender que ela precisava estar no comando em algumas situações e ela gostava que aquilo não parecia incomodá-lo, de modo algum. Ela sabia que alguns homens podiam ser extremamente frágeis em relação àquilo e gostava do fato de Charles Weasley não ser assim.
Ainda se recuperando, rapidamente lançou um feitiço contraceptivo em seu ventre antes de entrelaçar os dedos de sua mão com os dele. Charles suspirou pesadamente ao seu lado, como se estivesse se preparando para dizer alguma coisa, quando o céu foi invadido por fogos de artifício mágicos. As luzes verdes e azuis se entrelaçavam, como se dois dragões gigantes dançassem juntos pelo céu noturno. sorriu e se virou em direção a ele. Ele já tinha seus olhos azuis nela, e um sorriso gêmeo no rosto. Os ovos finalmente foram chocados.
— Feliz Natal, .

🐉🐉🐉


Sentindo algo áspero e úmido em sua bochecha, Charles resmungou em seu sono e se remexeu. Sua cama estava mais quente que o normal e ele parecia estar em algum estágio entre desperto e adormecido quando sentiu novamente a textura estranha tocar sua pele. Sua mão correu impacientemente pela área que agora se encontrava levemente molhada, tentando afastar o que quer que fosse, mas encontrou um pelo macio.
— Caralho, , — ele xingou, sua voz fraca com a rouquidão matinal. — por que você não pode simplesmente vir aqui em sua forma humana? — ele se revirou na cama e encarou a cada com um olhar de repreensão. A gatinha inclinou a cabeça e franziu o cenho como se não entendesse o que ele falava e, após alguns segundos, estava deitada ao seu lado.
— Por Jaci e Yara! Como você pode ser tão implicante com gatos, Charlie? — ela perguntou indignada. — Você sabe que sou eu, de qualquer modo.
Ele deu de ombros, ainda um pouco exasperado pelo modo como havia sido acordado.
— Faz muito tempo desde que você chegou?
— Alguns minutos, mas está quase atrasado…. Logo o señor Juan estará aqui para te buscar. — ela sorriu para ele e entrelaçou os pés gelados nos dele, tentando aquecê-los. Ele resmungou, mas não a afastou. — Com saudade de casa?
— Um pouco… Da comida da minha mãe. — riu e rolou os olhos.
— Que previsível, Charles…
— Você entenderia se já tivesse provado a comida dela, é sensacional.
— Ficará para sempre essa dúvida, — ela sorriu debochadamente.
— Sabe, — Charles pausou, arranhando a garganta antes de continuar. — talvez você poderia provar… Quer dizer, se você realmente quiser, claro…
— Isso é um convite, señor Weasley?
— Por favor, nunca — nunca — mais me chame assim. — ele pediu com seriedade. — Mas sim, é um convite, . Eu adoraria te receber na Toca. Claro, eu não passo muito tempo por lá, apenas fins de anos… Talvez você possa fazer uma visita bem profissional ao Santuário da Romênia por algum tempo e depois nós passamos as festas de fim de ano com a minha família? Sem pressão, claro!
— Claro, sem pressão… — os dois estavam corados a estavam altura. Por mais que nunca pensasse sobre relacionamentos, a ideia de passar as festas de fim de ano com a família Weasley parecia interessante.
— De qualquer modo, ainda temos um ano até o próximo natal. Você ainda pode inventar uma boa desculpa para se livrar de mim até lá. — ele abriu um sorriso bobo e arriscou um selinho nos lábios da mulher a sua frente, ajeitando um cacho que teimava em cair por seus olhos.
— Minha amiga brasileira, Victoria, me disse para nunca me envolver com os Weasley… Um deles partiu o coração dela uns anos atrás….
Charles riu alto quando conseguiu fazer a conexão entre as histórias. Seu irmão, Gui, recebera um castigo à altura.
— Eu não sou como o Gui, . Eu raramente me envolvo com alguém, mas eu realmente acho que seria uma boa ideia, sabe? — ele respirou fundo ao pensar na possibilidade. — Tentar.
— Então isso não é um adeus?
— Não! De modo algum! Eu diria que isso é um "até ano que vem", no máximo.


Fim!



Nota da autora: Quem lê essa fic em 20 minutos não imagina o quão desafiador foi escrevê-la. Posso dizer com tranquilidade que eu não esperava que fosse conseguir finalizar essa fic em tempo para a atualização de Natal e por mais que o resultado final não tenha sido realmente o que eu desejava, estou feliz em perceber que estava errada!
Por outro lado, uma parte de mim gostaria de ter tido mais tempo para desenvolver a história dos PPs, a profissão deles, o nascimento dos dragões e tudo mais. Se dependesse de mim, essa fic teria virado long, porque eu queria ter explorado tanta coisa!
Bom, de qualquer modo, fico feliz por ter terminado mais um desafio do Esquadrão HP! Espero que gostem! Leiam também as outras fics do especial de natal com a Família Weasley!
Contem para mim o que acharam, tá?
Feliz Natal!
xx



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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