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FINALIZADA.

Prólogo

1992


O tempo era morno. Normal para o verão austríaco. Algumas pessoas se exercitavam, outras caminhavam pelas ruas com seus cachorros e outras aproveitavam o calor que desapareceria em poucos dias com a chegada do outono.
No geral, as ruas de Viena estavam calmas para aquele domingo de manhã, com exceção da Stephansplatz, praça de Santo Estêvão, a principal da cidade. Diversos carros estavam parados em seu entorno, e seguranças guardavam todas as entradas, impedindo que turistas de todo o mundo entrassem de penetra no casamento que acontecia dentro da catedral.
Alguns chamavam de casamento, já outros o chamavam de tragédia do século. Um monte de velhos e ricaços engravatados ocupavam boa parte dos bancos. Já o restante dos lugares, eram ocupados pelos familiares e amigos dos noivos. Todos estavam lá, apesar da jovem idade deles: 17 ela, e 20 ele. Ninguém perderia o casamento do futuro do automobilismo, e herdeiro de parte dos investimentos austríacos.
Na verdade, quase ninguém. A melhor amiga da noiva chegava aos arredores da praça e tentava arranjar um lugar na rua Bauernmarkt, exatamente à frente do largo calçadão que dava para a catedral. Ela já tinha coberto o tradicional vestido rosa claro, de escolha da mãe do noivo, com uma jaqueta de couro preta, e os óculos escuros destoavam do bonito penteado com uma flor na cabeça.
Ela olhou para o relógio de pulso, vendo que faltava pouco para 10 horas e sabia que, se sua amiga realmente tivesse coragem de lutar pelo que queria, logo mais a veria correndo por entre as pessoas. Mas com a quantidade de pessoas dentro da catedral, ela sabia que seria difícil.
Ela seguiu pela rua mais uma vez, procurando por uma vaga, mas acabou optando por parar em faixa dupla e ligar o pisca-alerta, quando as badaladas do sino da catedral lhe assustaram. Ela contou devagar enquanto cada badalada fazia o caos na rua, no calçadão e na praça se silenciarem.
Seu coração pareceu bater mais forte a cada nova badalada. Parecia que cada segundo era uma eternidade.
— Seja forte, . — Ela sussurrou para si mesma, apertando a correntinha de São Estêvão pendurado no espelho retrovisor.
— Com licença, senhora. — Ela se assustou quando um policial apareceu ao seu lado.
— AH! — Ela gritou, olhando para ele da Mercedes SL 500 conversível que estava. Ao menos alguma vantagem esse casamento teria.
— Desculpe, não queria te assustar. — Ele disse. — Você não pode estacionar aqui, senhora.
— Eu já estou saindo, só mais um minuto, por favor. É minha amiga, ela está chegando. — Ela disse, indicando o calçadão, esperando que aparecesse magicamente em sua frente.
— Sinto muito, senhora, você não pode ficar. — Ele disse. — Saia ou lhe darei uma multa. — Ela bufou.
— Ok, ok, saindo. — Ela abanou a mão e o policial atravessou a rua novamente, se colocando em sua posição novamente ao lado de outro. — Ah, ! — Ela olhou rapidamente para o policial, vendo que o olhar dele estava nela e Ylvi suspirou, ligando o carro novamente. — Arschloch*! — Ela sussurrou um xingo, olhando no retrovisor para sair de onde estava, esperando um carro lhe passar.
— YLVI! — Ela pisou no freio novamente com o grito e virou o rosto para a praça, vendo uma pessoa correndo com um vestido branco e sabia que só podia ser .
— VEM, ! VEM LOGO! — Ela gritou e a noiva correu o mais rápido que podia, desviando das pessoas. — VAI, ! — Ylvi a empolgou e a menina atravessou a rua na pressa, pulando para dentro do banco de trás do carro como se mergulhasse em uma piscina.
— VAI! — Ela gritou e Ylvi não esperou duas vezes antes de pisar no acelerador novamente, saindo na frente de um carro e cantando pneu.
— Você conseguiu, amiga! — Ylvi falou aos risos, sentindo as lágrimas de emoção tomarem sua face. — Você conseguiu, amiga! — Ela buzinou animada e se sentou direito no banco de trás, virando o rosto para a rua.
Ela viu Torger frear a corrida na beirada do calçadão e engoliu em seco, tentando não pensar que nunca mais o veria na vida. Apesar de como tudo estava acabando, eles haviam se tornado amigos. Agora, ela teria que se contentar com sua última lembrança dele: cabelos compridos, grossas sobrancelhas e o terno preto com camisa branca totalmente amassado pela corrida.
— Verzeihung*, Toto. — Ela sussurrou um pedido de desculpas antes de virar o rosto para Ylvi novamente.
— E aí, amiga? Para onde vamos? — Ela perguntou e não sabia muito o que dizer, a decisão de fugir veio minutos antes de entrar na igreja.
— Me leva para a estação, eu preciso sair da Áustria. — Ela suspirou, deslizando o corpo no banco e apoiando as mãos no colo, no vestido branco bufante, esperando que essa decisão não lhe assombrasse para sempre.

*Arschloch é idiota em alemão, língua materna da Áustria.
*Verzeihung é perdão em alemão.

Capítulo 1

Seis de dezembro de 2021


— Bom dia, senhora !
— Bom dia! — Falei, atravessando a entrada do prédio da Sauber.
— Bom dia, senhora !
— Bom dia! — Dei um aceno de cabeça, observando o relatório em minha mão.
— Bom dia, senhora !
— Bom dia! — Falei, acenando mais uma vez antes e entrar no elevador e apertei o botão do último andar.
Observei os gastos relativos do ano e neguei com a cabeça. Estava surpresa pelos valores de batidas de nosso piloto mais experiente estar mais alta do que de nosso novato. Estávamos piores do que ano passado por causa da pandemia. Ergui o rosto com o barulho do elevador e saí do mesmo, caminhando pelo andar da presidência.
— Bom dia, senhora ! — Vi minha assistente falar.
— Bom dia, Greta! — Falei, lhe entregando o papel.
— Kimi* bateu mais do que o Antonio*, é isso mesmo? — Ela me seguiu.
— É... Sim, senhora. É isso mesmo! — Ela disse e acenei para alguns funcionários antes de empurrar a porta da minha sala.
— Como isso é possível? Ele tem 42 anos! — Falei irritada, deixando minha bolsa na cadeira antes de tirar o casaco.
— Excesso de confiança, talvez? — Greta disse, colocando uma xícara de chá em minha mesa e peguei-a antes de dar um primeiro gole. — Ao menos ele ficou em nono na lista e Antonio em décimo sexto.
— Deveria estar em último — falei bufando e ela tirou minha bolsa antes de me sentar.
— E faltam os gastos da última corrida.
— Como foi o resultado de ontem? — Perguntei, movimentando o mouse, vendo a tela acender.
— Antonio em nono e Kimi em décimo quinto... O último, por causa dos abandonos. — Suspirei, passando a mão na testa.
— Ah, Kimi! Espero que Valtteri* e Zhou* tenham mais pique para o ano que vem. — Neguei com a cabeça. — Como vamos ficar na classificação geral?
— Se nenhum milagre acontecer na última corrida... — Ergui o rosto dela quando ela parou. — Novo...
— Die scheiße...* — Falei em um suspiro.
— Décimo sexto e décimo oitavo. — Passei as mãos nos cabelos.
— Ah, chega! Desastres logo cedo não. — Suspirei. — Frédéric* já voltou? Quero falar com ele antes que ele vá para Abu Dhabi.
— Hum... Na verdade, é sobre isso que eu preciso falar com a senhora. — Ela disse e ergui o olhar para ela.
— O quê?
— Ele positivou para Covid. — Revirei os olhos.
— Já não basta o caos dessa corrida na Arábia Saudita, agora isso... — Neguei com a cabeça. — Jan está bem?
— Sim, ele está, mas... — Ela suspirou. — Os acionistas souberam disso antes e acham que a equipe precisa de você em Abu Dhabi.
— Por que eu? — Minha mão acabou batendo na mesa e a xícara tombou. — Ah, merda! — A ergui com rapidez e Greta correu pegar algo para limpar. — Desculpe.
— Está tudo bem. — Ela disse, colocando alguns guardanapos no líquido.
— Por que eu? — Refiz a pergunta.
— É a aposentadoria do Kimi e a recepção do Valtteri, além da finalização da temporada... Eles acham que se a CEO da empresa for, vai trazer mais credibilidade para nós. — Ela deu um curto sorriso.
— Eu não... Eu não vou a corridas, Greta! Foi o acordo que eu fiz com a diretoria quando me chamaram para ser a CEO. Está no meu contrato!
— Eu sei, senhora . Eu disse a eles... — Ela continuou limpando a mesa. — Eles insistiram, senhora. Caso queira falar com eles, você pode...
— O que eu menos preciso agora é de um bando de investidores suíços me falando que eu tenho que vestir a camisa da empresa depois de 20 anos. — Ela deu um aceno de cabeça e passei a mão em meus cabelos, pensando no que eu poderia fazer quanto a isso.
— Posso ser um pouco invasiva, senhora ?
— Acho que pelos anos que trabalhamos juntas, você pode. — Ergui o olhar para ela, apoiando as mãos na mesa.
— A senhora é CEO de uma empresa em que uma das subdivisões mais importantes é a Fórmula Um... — Dei um curto sorriso.
— Você quer saber por que eu não vou a corridas. — Falei e ela deu um aceno de cabeça. — Fórmula Um é um espetáculo, um circo itinerante... E é preciso ter muita cabeça fria para enfrentar isso, se colocar perante a mídia várias vezes ao dia, enfrentar e provocar seus adversários com um sorriso no rosto... — Ela riu fracamente. — E você já deve ter percebido que eu não sou assim.
— Já sim. A senhora é muito transparente... — Assenti com a cabeça.
— E muito irritada! — Falei rindo. — Mas é... Por isso eu pago uma equipe especialmente para isso...
— Mas nesse caso...? — Ela esperava uma resposta e suspirei.
— Chame a equipe de marketing da área de Fórmula Um e limpe minha agenda. Eu preciso de um midia trainning urgente. — Ela assentiu com a cabeça.
— É para já, senhora. — Ela finalizou de limpar a mesa antes de se afastar. — E logo trago outro chá para senhora.
— Acho que um chá não vai ser o suficiente. — Falei. — Traga café preto!
— É para já, senhora! — Ela disse sorrindo, saindo da sala.
Ergui meu olhar para o computador, sentindo meu olhar ficar perdido por um tempo e minha cabeça foi para quase 30 anos. Julho de 1992. Eu só era uma criança de 17 anos, com pais ricos e influentes, e cursava o primeiro ano de engenharia mecânica por causa da ligação da família com automobilismo.
Meu pai era CEO da HWA AG, uma empresa que desenvolve e constrói veículos e componentes para a Mercedes-AMG. Dois anos antes, ele me falou de um garoto, Torger, novo acionista, de somente 18 anos. Ele não tinha muito dinheiro, mas era um gênio em investimentos e levaria a empresa para outro nível. Eu só não sabia que esse nível me incluísse.
Nesses dois anos, fui apresentada a ele e sua família. Meu pai se apaixonava por ele cada vez mais por todas as melhorias que estava fazendo e sugerindo na empresa. Minha mãe o via como um futuro marido para mim, e não podia negar que gostava da imponência que ele apresentava. Foi esse pensamento que fez com que meu pai tivesse a maior ideia de todas: me casar com ele.
Com isso, meu pai passaria suas ações para mim e, juntando com as poucas de Torger, nós seríamos os acionistas majoritários da empresa e, futuramente, Torger tomaria seu lugar, mantendo tudo em família. Talvez como um homem de negócios, ele aceitou sem nem fazer perguntas. Eu estava entre meus 15 e 17 anos, perdida sobre muitas coisas e lidando com espinhas ainda.
Sua mãe também achou a ideia incrível. A médica sempre admirou todas as conquistas do filho, já que seu pai faleceu quando ele tinha somente oito anos. A organização do casamento não poderia ser maior e eu estava no meio de tudo, somente provando, experimentando e dando acenos de cabeça para quem precisasse, mas eu não trocava mais do que rápidos cumprimentos com Torger.
Faltando uns três meses para o casamento, ele veio me perguntar o que eu achava disso tudo e eu não soube o que dizer. Parecia tudo perfeito demais, mas eu acreditava em amor, e tinha medo de que esse homem alto, moreno e de olhos escuros nunca fosse meu marido de verdade. E, mesmo sem que eu dissesse uma palavra, ele soube o que eu pensava.
Daquele dia em diante, começamos a nos conhecer melhor. Em todos os jantares ele tirava parte do tempo para perguntar como foi meu dia, como estava indo a faculdade e realmente se preocupar com meus sonhos e vontades. Viramos várias noites acordados só papeando sobre a vida ou fazendo exercícios de física quântica.
Uma das minhas noites favoritas foi quando ele me chamou de “”, disse que o nome era arcaico demais. Como se ele tivesse muita moral com o nome de “Torger”. Acabei criando um apelido para ele também, “Toto”, simples e carinhoso. Um apelido de amigos.
Tudo na minha cabeça parece que se encaixou até aquele fatídico domingo, mas quando eu coloquei o vestido de noiva, eu não estava pronta para desistir de todos os meus sonhos e me tornar a esposa de Torger Christian Wolff. Eu queria continuar sendo Viktoria . E foi só eu comentar casualmente com Ylvi e, cinco minutos depois, tínhamos um plano de fuga.
Devido a quantidade de seguranças em volta, além da família de Torger, eu não consegui evitar a entrada na igreja e todo o cortejo triunfal. E ver o sorriso de Torger naquele terno maravilhoso, quase me fez desistir de tudo. Mas o sorriso de meu pai enquanto me entregava para ele me fez lembrar do que realmente importava.
Quando Toto olhou para mim, só consegui sussurrar um pedido de desculpas, dei meia volta e corri como se minha vida dependesse disso. Minha surpresa foi quando ele foi atrás de mim, ele gritou meu nome pela praça, mas eu não conseguia voltar. Não enfrentar parecia mais fácil do que tudo.
Fui para Suíça somente com o vestido de noiva que eu usava. O começo foi difícil. Não tinha dinheiro, pais, emprego e tudo era caro em Zurique. Fui conseguir finalizar minha faculdade só com 28 anos. Fiz busca tradicional de empregos, consegui uma vaga na Sauber na parte de mecânica e fui crescendo até me tornar CEO em 2019 quando a empresa mudou para Alfa Romeo. Enfrentei a pandemia de Covid, perdemos vários funcionários e precisamos demitir outros, mas continuamos em pé.
Só fui saber de Torger novamente em 2013, quando ele se tornou chefe de equipe da Mercedes. Ele ainda usava o apelido que eu o dei há 30 anos e isso trazia um aperto estranho ao peito, mesmo depois de tudo. Após desse dia, por causa da profissão, foi impossível não saber mais sobre ele a cada dia. Sobre ele, sua equipe, seu sucesso com oito títulos seguidos, e sobre sua esposa, ex-esposa e filhos...
Então, apesar de ter uma mentira muito bem bolada – e crível – do porquê eu não gostar de ir para Fórmula Um, só tem um real motivo de eu não querer ir: ele. Encará-lo depois de quase 30 anos.
Sabia que não adiantava brigar com a diretoria e os acionistas, agora eu precisava me preparar para encontrar Toto Wolff em três dias.
E eu não estava preparada para isso.

*Kimi Räikkönen, piloto finlandês de 42 anos, se aposentou no final de 2021 da F1, dirigindo pela Alfa Romeo, equipe que ele começou, antes chamada de Sauber.
*Antonio Giovinazzi, piloto italiano de 28 anos, ficou na Alfa Romeo de 2017 a 2021. Foi trocado pelo novato Guanyu Zhou, então optou em dirigir pela Fórmula E e ser piloto reserva da Ferrari.
*Valtteri Bottas, piloto finlandês de 32 anos, dirigiu de 2017 a 2021 pela Mercedes, optou pela Alfa Romeo para ter maior protagonismo.
*Guanyu Zhou, piloto chinês de 23 anos, novato, está em seu primeiro ano da Fórmula 1 em 2022 pela Alfa Romeo.
*Die scheiße é merda em alemão.
*Frédéric Vasseur é CEO e chefe de equipe da Sauber Alfa Romeo.


Oito de dezembro de 2021


— Seja bem-vinda!
— Obrigada! — Sorri, recebendo a chave do quarto e guardei meus documentos na bolsa antes de me virar novamente. — Vamos? — Virei para Greta, dando uma rápida olhada no lobby, vendo alguns uniformes vermelhos e laranjas, mas nada do branco da Mercedes.
— Por aqui, senhora. — Greta disse e andei com ela pelo local, ouvindo os saltos ecoarem pelo piso do Yas Viceroy Abu Dhabi Hotel. Ela pegou um elevador aberto e fui para o fundo do mesmo antes de ela apertar o botão e relaxei quando ninguém mais entrou.
Apertei a mão na cabeça, erguendo os óculos de sol e peguei o celular dentro da bolsa casualmente, vendo se tinha alguma nova mensagem mais urgente, mas logo o elevador chegou ao andar e saí devagar, dando uma olhada se o corredor estava vazio. Andei rapidamente pelo corredor, encontrando meu quarto e coloquei a chave no mesmo, empurrando a porta.
A suíte era larga e a grande janela me atraiu diretamente para a mesma, me deixando surpresa pela vista. Era minha primeira vez em Abu Dhabi, então já tinha passado por vários tipos de surpresa, mas o hotel ficava em cima do circuito e o sol, a marina, tudo era simplesmente perfeito.
— Senhora?
— AH! — Me assustei, virando para Greta, vendo um carregador trazer as malas para dentro. — Obrigada! — Falei para ele, vendo-o assentir com a cabeça e Greta lhe entregou alguns dirrãs* antes dele se retirar.
— Está tudo bem, senhora? — Ela perguntou e suspirei.
— Sim, está tudo bem! — Falei rapidamente, estalando os dedos e fui até a minha mala, puxando-a para perto do quarto.
— Desculpe ser invasiva, senhora, mas não parece estar tudo bem... — Bufei, puxando a respiração devagar e deixando-a sair lentamente em seguida.
— Sabe? Foda-se! — Virei para ela, deixando a mala de lado. — Eu preciso compartilhar isso com alguém. — Ela arregalou os olhos.
— O que aconteceu? — Ela perguntou e suspirei, me aproximando devagar.
— Você precisa me prometer de que isso não sai daqui, Greta. — Pedi, pressionando os lábios. — É muito importante!
— É claro, senhora! Eu sou muito leal a senhora e a este trabalho. — Suspirei, soltando a respiração devagar.
— Tem um motivo de eu não querer vir a corridas, Greta. Não é só pelo caos, não é só pelas falsas representações, eu amo o esporte, eu cresci assistindo Fórmula Um, é que... — Puxei a respiração fortemente, soltando-a devagar, me abanando com o calor repentino que havia subido. — Eu quase me casei com Toto Wolff.
— O QUÊ?! — Ela gritou mais alto.
— Xi! — Pedi e ela colocou as duas mãos na boca.
— Desculpe, senhora, eu não... Eu não esperava por isso e... — Ela suspirou. — Como aconteceu? Faz pouco tempo?
— Não, não, faz quase 30 anos. — Abanei a mão. — Eu morava na Áustria ainda, tinha só 17 anos, Torger tinha 20 e meu pai queria usar esse casamento para enriquecer mais... — Suspirei. — Mas a questão não é essa! Quem dera fosse só essa... — Ela suspirou.
— O que... O que aconteceu, senhora?
— Eu fugi! — Falei, pressionando os lábios. — Eu larguei aquele lindo homem no altar, Greta! Você tem noção do que é isso? — Suspirei, sacudindo a cabeça. — E ele era bonito desde os 20 anos, mas... — Suspirei. — Eu não consegui... — Me sentei no sofá atrás de mim. — Se tudo desse certo, talvez eu fosse a senhora Wolff hoje, mas... — Engoli em seco. — Eu não teria nada disso.
— E... O que aconteceu depois? — Ela perguntou calmamente, se sentando em minha frente.
— Eu fugi. — Suspirei. — Não tinha mais coragem de olhar na cara de meus pais, nem na dele. — Passei as mãos no rosto, suspirando. — Vim para Suíça, aprendi a me virar, finalizei minha faculdade, consegui um emprego na Sauber e tudo seguiu... — Ela deu um aceno de cabeça.
— E agora você está nervosa em encontrá-lo novamente... — Assenti com a cabeça.
— Sim... — Suspirei. — Acho que depois de tantos anos, eu ainda me envergonho disso.
— Não acho que precise se envergonhar, senhora... Faz 30 anos, era outra realidade, mas se meu pai quisesse me casar com alguém, eu provavelmente faria o mesmo que a senhora. — Dei um curto sorriso. — Mas acho que talvez esteja na hora de a senhora encarar seus pesadelos, não acha? — Suspirei. — Uma mulher bonita e inteligente como a senhora, com o emprego que a senhora tem... Deveria ir para casa e aproveitar com seus filhos, marido...
— Acho que a vida me deixou traumatizada com casamentos... — Falei e ela riu fracamente.
— Talvez seja exatamente por isso que a senhora deva enfrentar seus demônios. — Assenti com a cabeça.
— Eu não tenho ideia de como olhar na cara dele depois de anos... — Suspirei.
— Você acha que ele vai te reconhecer? — Ele perguntou e engoli em seco.
— Não mudamos nada. — Pressionei os lábios. — É como se tivéssemos congelados no tempo... — Suspirei. — Escute o que eu estou dizendo, mesmo com a máscara, ele vai me reconhecer... — Suspirei. — Porque eu fiquei sem saber nada sobre ele por 20 anos e, quando eu vi, o reconheci na hora. — Ela assentiu com a cabeça.
— As respostas vão aparecendo pelo caminho, senhora. Vai dar certo. — Assenti com a cabeça.
— Espero que sim, não tenho como voltar atrás agora. — Suspirei, me levantando e deixando a saia deslizar pelo corpo.
— A senhora quer que eu faça algo por você? — Ela perguntou.
— Poderia providenciar meu jantar e pedir para Blanda vir aqui? Quero saber meu cronograma de amanhã. — Ela assentiu com a cabeça.
— Sim, senhora. — Ela falou.
— Depois pode tirar o resto do dia para si, Greta. É Abu Dhabi! Aproveite! — Ela sorriu misturado de um riso.
— Obrigada, senhora! — Ela disse, saindo pela porta.
Me aproximei da janela novamente, observando o circuito Yas Marina por entre o hotel, os iates e as arquibancadas preparadas para amanhã. Era quase um conto de fadas, como meu casamento seria. Decoração rosa com branco, um lindo vestido branco bufante, smoking tradicional preto e branco, a catedral mais bonita da cidade... E tudo terminou em pesadelo.
As imagens daquele dia nunca saíram de minha cabeça, mas sabia que elas ficariam muito mais vívidas amanhã.
Era melhor eu aproveitar a calmaria e ter uma ótima noite de sono, pois sabia que meu pesadelo recomeçaria pela manhã. E duraria muito mais do que só quatro dias.

*Moeda dos Emirados Árabes.

Capítulo 2

Nove de dezembro de 2021


— Vamos encarar, senhora? — Greta perguntou e observei a entrada do paddock com as catracas e engoli em seco.
— Vamos! — Coloquei minha máscara e ela saiu à minha frente, abrindo a porta para mim.
Puxei a respiração forte e peguei a bolsa, trazendo-a junto de mim, apoiando-a no braço. Ajeitei a camisa polo da escuderia por dentro da saia longa preta e senti minhas pernas tremerem no primeiro passo. Firmei as sandálias no chão e segui para a entrada do paddock. Ouvi o som de alguns obturadores e percebi alguns fotógrafos enquanto batia minha identificação na catraca.
Quando passei pela mesma, fiquei maravilhada pelo que vi. Já estava abismada por tudo que havia visto desse país até aqui, mas os prédios do paddock eram incríveis. A arquitetura moderna misturava com a tradicional do Oriente Médio. Era tudo maravilhoso.
— Uau! — Greta disse.
— Incrível, não? — Falei e ela assentiu com a cabeça. — Não estamos mais na Suíça. — Falei, suspirando.
— Senhora ? — Virei o rosto, vendo Blanda aparecer pelo paddock.
— Ei, Blanda! Veio nos salvar? — Brinquei, ouvindo-a rir.
— Com toda certeza! Venha comigo, por favor. — Ela disse e fomos ao lado dela.
— Somos as últimas a chegar? — Perguntei.
— Não, senhora. Os mecânicos, assessores e chefes de equipe estão chegando por agora. Alguns pilotos já chegaram, mas outros chegam até umas dez horas. — Ela disse e caminhamos juntas pelo paddock e desci os óculos escuros para o rosto, vendo mais fotógrafos mirando em mim. — E os fotógrafos, é claro! — Ela disse. — Você é o brinquedinho novo, senhora, é melhor se acostumar rápido.
— Se o meu maior problema for esse, está tudo certo. — Falei e ela riu fracamente.
— Antonio já chegou, Jan também. Kimi ainda não.
— E onde estão? — Perguntei.
— Todos no nosso motorhome de apoio, estão tomando café agora. — Ela disse.
— Perfeito! Já vejo todos de uma vez só. — Falei e viramos uma rua e vi os tais motorhomes de apoio. Milhares de euros gastos por ano para deixar essas belezinhas mais confortáveis para eles.
Parece que mesmo vendo isso em minha mesa todos os dias, eu ainda me surpreendia. Estar em Abu Dhabi tornava tudo mais glamoroso do que era, mas ainda era loucura. Várias pessoas atravessavam apressadas ali, as roupas variando entre laranjas, vermelhas, vinhos, azuis, verdes e brancas, cada uma deixando óbvio a equipe da pessoa. Mecânicos passando com pneus e materiais pesados eram os principais por agora.
— Essa bagunça só piora com o passar das horas. — Blanda disse rindo e assenti com a cabeça. — Mas todos são inofensivos... — Ri fracamente.
— Não estou preocupada sobre isso. — Observei um homem alto passar pelo outro lado e meu corpo gelou, mas o uniforme da Red Bull o denunciou, me fazendo suspirar.
— Nossos vizinhos são Alpine e McLaren. — Ela disse, indicando o laranja da McLaren de um lado e o azul da Alpine. — Na frente temos Red Bull e Mercedes... — Olhei para os motorhomes deles, engolindo em seco. — Acho que eles já têm problemas o suficiente nesse fim de semana. — Ri fracamente.
— Vai ser uma corrida interessante. — Falei, mencionando o empate entre Hamilton e Verstappen. Quem ganhar essa corrida à frente do outro, será campeão mundial. Aposto que Toto não estava nada feliz com isso. Tem sido uma temporada complicada.
— Nem fala! Talvez o melhor seja ficar fora do caminho deles. — Ela subiu a rampa do motorhome e fui logo atrás dela.
— Não sou esse tipo de pessoa, Blanda! — Falei.
— Não quis dizer sobre isso, senhora, mas sobre os boatos de manipulação. — Ela disse e ri fracamente.
— Nenhum boato é infundável, Blanda. Pode confirmá-los. — Falei, ouvindo-a rir.
— A senhora acha que são verdades? Que Toto e o Christian possam estar envolvidos nisso? — Ela perguntou e virei o rosto de volta para o paddock.
— Não os conheço ainda, mas com o reajuste orçamentário? — Neguei com a cabeça. — Tudo pode acontecer. — Suspirei.
— A senhora está certa. — Ela disse.
— Senhora... — Virei o rosto para Greta.
— Sim... — Falei e ela indicou a cabeça para frente e virei para onde ela tinha falado, sentindo meu corpo gelar com o feito.
Torger Christian Wolf caminhava pelo paddock com outro homem e mulher da Mercedes. A calça social preta, camisa branca arregaçada até os cotovelos, tênis, máscara e cabelos pretos me fizeram lembrar dele parado novamente na Stephansplatz, me olhando pular para dentro de um conversível. Meu corpo simplesmente travou. Parece que nenhum dia havia se passado.
— Peça para Lewis vir falar diretamente comigo quando chegar. — Ouvi a voz baixa de Toto com seu forte sotaque austríaco, assim como eu ainda mantenho o meu. — Não quero a imprensa assediando-o mais do que o necessário. — Ele falou para a mulher. — E quero falar com George também, se a Williams liberá-lo.
— Sim, Toto.
— Senhora? — Ouvi me chamarem. — Esse é Toto Wolff, chefe da Mercedes. — Blanda disse. — Lindo, não? Todos babam por ele. — Ri fracamente, lembrando dos meus jantares com ele, ninguém tirava os olhos dele.
— É... Ele é. — Engoli em seco, vendo-o subir na rampa do motorhome da Mercedes e fui pega desprevenida quando ele percebeu meu olhar sobre o dele.
Ergui os óculos de sol para a cabeça e pressionei os lábios. À distância não conseguia ver todos os detalhes de seu rosto, mas Torger não tinha envelhecido nada. Os cabelos escuros eram os mesmos, ele só tinha mudado o comprimento.
Seus olhos sustentaram nos meus e eu tinha certeza de que ele sabia quem eu era. Seus olhos se espremeram e sua cabeça negou algumas vezes antes de sua mão puxar a máscara para baixo, mostrando seus lábios entreabertos.
— Parece que ele gostou de você, senhora... — A voz de Blanda apareceu em meus ouvidos novamente. — Boatos que está se divorciando. — Ri fracamente.
— É claro... — Sussurrei para mim mesma. — Greta?
— Sim, senhora. — Ela disse e meus olhos não saíam de Toto.
— Me tira daqui. — Pedi e ela me puxou pelo braço. Meu olhar sustentou com o de Torger mais um pouco antes de eu ser obrigada a virar para dentro do nosso motorhome, me dando de cara com o logo de nossa escuderia.
— Você está bem, senhora? — Greta perguntou.
— Sim... Eu acho que estou. — Suspirei.
— Ele te reconheceu... — Ela sussurrou e assenti com a cabeça.
— Eu te falei que ele reconheceria. — Suspirei, seguindo com Blanda para dentro do motorhome, sentindo meu coração bater igual uma batedeira.
— A senhora quer uma água? — Greta ofereceu.
— Eu estou bem. — Suspirei, lhe entregando minha bolsa. — Vamos trabalhar. — Virei para Blanda.
— Comigo, senhora! — Ela disse e a segui pelo motorhome.
Observei algumas pessoas espalhadas pelo mesmo, alguns trabalhadores e dei rápidos acenos para todos eles. Fomos para o segundo andar e mais algumas portas, vi o grande restaurante com boa parte dos trabalhadores e um delicioso cheiro de café.
— Senhora ! — Vi Jan Monchaux* se levantar, e fiquei feliz em encontrar um rosto conhecido.
— Jan! — Estendi a mão, cumprimentando-o.
— Que bom que finalmente se juntou à nós. — Ele disse e sorri, apesar da máscara em meu rosto.
— Ah, Frédéric estava um pouco indisposto, então vim conhecer um pouco da bagunça! — Ri fracamente.
— E o que tem achado por enquanto? — Ele perguntou.
— Se não fossem os resultados, me parece perfeito. — Ele deu um aceno de cabeça.
— Voltaremos fortes ano que vem, senhora. — Foi minha vez de assentir com a cabeça.
— Esperamos que sim. — Soltei sua mão. — Mas não se preocupem, não precisarão se preocupar comigo por muito tempo, Frédéric estará de volta até sábado e cuidará da equipe no próximo ano.
— A senhora é sempre bem-vinda! Sempre foi e sempre será! — Assenti com a cabeça.
— Sempre querido, Jan. — Ele assentiu com a cabeça. — Agora, eu gostaria de conhecer minha equipe de verdade. — Falei.
— É um prazer. — Ele disse, indicando a pessoa ao seu lado. — Esse é Luigi Valentino*, nosso engenheiro aerodinâmico.
— Prazer! — Lhe estiquei a mão, apertando-a.
— Alessandro Cinelli*, chefe de aerodinâmica.
— Oi! — Falei, cumprimentando um por um.
— Xevi Pujolar*, engenheiro de pista. — Jan foi apresentando um por um. — Julien Simon-Chautemps*, engenheiro de Räikkönen. — Ele disse. — Manuel San Antonio, engenheiro de Giovinazzi... — Os cumprimentava um por um. — E essa é...
— Ruth Buscombe*. — Falei, vendo a loira de 32 anos sorrir.
— Ela você sabe. — Jan disse.
— É claro! Preciso saber quem coloca vocês na linha. — A cumprimentei, vendo-a sorrir. — É um prazer conhecê-la.
— O prazer é meu, senhora . — Ela disse e assenti com a cabeça.
— E esse é Antonio... — Jan me indicou o italiano.
— Faz tempo que não aparece para tomar um chá, Antonio. — Falei e ele me esticou a mão.
— Espero que ainda me receba para um chá no próximo ano. — O cumprimentei e assenti com a cabeça.
— Com prazer, Antonio. — Dei um curto sorriso.
A saída dele para o ano que vem foi em conjunto. Ele queria ter mais protagonismo e precisávamos de alguém que desse mais resultados. Ele vai para a Fórmula E, e contratamos um jovem da Academia Ferrari que teve excelentes resultados em todas as categorias que passou. E, com a aposentadoria tão desejada de Kimi, contratamos Valtteri Bottas. Ele cansou de ser esnobado por Toto e optou pelo protagonismo que podemos oferecer com a saída do finlandês mais velho.
— Galera, essa é , CEO da Alfa Romeo. — Jan anunciou, fazendo os olhares de alguns finalmente me derem atenção. — Na empresa há 20 anos e CEO desde 2019. — Assenti com a cabeça, dando rápidos acenos. — Primeira vez que ela vem para um paddock, então, vamos mostrar como se faz aqui e ter um ótimo resultado no domingo.
— É um prazer conhecê-los! — Falei, assentindo com a cabeça. — Desculpe demorar tanto tempo para vir, mas saibam que eu ouço falar sobre cada um de vocês semanalmente e sou muito grata por todo trabalho e dedicação à essa empresa e essa equipe! Espero poder conhecer ao máximo do trabalho de vocês e ajudar a encontrar as soluções para sairmos do final do grid e começar a competir de verdade. — Jan puxou uma salva de palmas e assenti com a cabeça, pressionando os lábios. — Obrigada, obrigada... — Abanei a mão. — Jan, uma palavrinha, por favor?
— Claro, senhora. — Ele disse, indicando o caminho e fui com ele, seguindo para fora do refeitório.
— Eu quero que seja bem honesto comigo. — Falei.
— Sim, senhora.
— Quais as chances de esse campeonato estar sendo manipulado? — Perguntei e ele suspirou.
— É difícil dizer, senhora, mas... É só olhar os números, um empate exatamente igual? — Ele disse. — Justo entre as duas equipes mais rivais dentro do paddock? — Assenti com a cabeça.
— E os chefes de equipe? — Perguntei.
— Temos mais contato com a Ferrari pelo motor, mas penso que Christian está fazendo mais do que Toto esse ano. — Ele disse.
— Fazendo? — Ele suspirou.
— Monetariamente... Manipulações. — Assenti com a cabeça.
— Ninguém veio falar com vocês, veio? — Perguntei.
— Senhora? — Ele me olhou confuso.
— Uma bandeira amarela, um safety car que seja, pode definir essa corrida, Jan. — Falei. — Para eles pagarem para alguém deslizar, bater e causar uma bandeirada, não custa. — Ele assentiu com a cabeça.
— Sim, senhora.
— Não caia nessa! — Falei firme. — E se eu souber que alguém caiu, é demissão na hora. — Ele assentiu com a cabeça. — E avise Antonio. Caso aconteça, será entrado em análise.
— Kimi não? — Ele perguntou.
— Kimi mal vê a hora de se aposentar. Se ele pudesse não correr, ele preferiria. — Ele riu fracamente.
— Honestamente, senhora. — Ele disse.
— Bem, eu não quero atrapalhá-lo. É meu primeiro dia aqui, mas a última corrida da temporada, vocês devem estar cansados e cheios de trabalho a fazer. — Falei.
— A senhora não atrapalha. Nos junte para um café? — Ele perguntou.
— Sim, por favor. — Falei e ele indicou as mãos de volta para o refeitório.

*Jan Monchaux é o atual diretor técnico da Alfa Romeo.
*Os nomes com asterisco são pessoas que realmente trabalham na Alfa Romeo, os outros são inventados.


— Senhora... — Ergui o rosto do celular, vendo Blanda entrar no escritório de Frédéric, que haviam oferecido para mim.
— Sim. — Bloqueei o jogo aleatório e olhei para ela.
— A senhora não gostaria de conhecer a garagem? Ver os carros? Estamos nos preparando para tirar a foto da equipe. — Suspirei, sabendo que, por mais que eu quisesse ficar escondida e longe de Torger, eu não conseguiria fazer por muito tempo e, honestamente, precisava conhecer essa parte tão importante da Alfa Romeo. — Também, nós mulheres, gostaríamos da senhora na foto, é a única equipe comandada por uma mulher. — Dei um sorriso.
— Claro! Não poderia perder isso por nada. — Me levantei, deixando o celular na mesa.
— Venha comigo. — Ela disse e passei a mão na gola da blusa, tirando os óculos escuros e deixando na mesa também, e segui com ela. — Hoje é o dia mais animado aqui no paddock. As equipes todas estão tirando fotos.
— Isso só acontece uma vez por ano? — Perguntei.
— Duas, na verdade. Acabamos tirando algumas fotos no início da temporada, quando eles fazem as gravações, mas nada como hoje. — Ela disse e engoli em seco ao me aproximar da porta do motorhome.
— Uma pena Frédéric perder isso. — Falei.
— Sim, com certeza, mas a senhora está aqui hoje e isso é uma grande novidade, certo? — Ela disse rindo e parei na entrada do motorhome, levando meu olhar diretamente para o da Mercedes, vendo se Toto saía de lá.
O paddock estava mais cheio do que na hora que eu entrei, agora reconheci vários pilotos andando de um lado para o outro devidamente uniformizados e acompanhados de familiares ou de esposas e namoradas.
— DANNY, NÃO! — Me assustei com o grito, vendo uma mulher passar correndo em minha frente e o piloto da McLaren a abraçou pela cintura, fazendo-a gargalhar alto. — Danie-e-el! — Ela disse rindo quando ele deu um beijo em sua bochecha, e Blanda riu ao meu lado.
— Daniel e Harper*. Um dos casais queridinhos aqui. — Ela disse. — Ela ficou desde o final de 2019 sem vir em uma corrida por causa da Covid, agora ela finalmente apareceu de novo.
— A pandemia prejudicou todo mundo. — Falei em um suspiro.
— Nem fala. — Ela disse. — Vamos?
— Claro! — Falei rapidamente, seguindo mais apressada atrás dela, tentando me misturar entre as pessoas, mas talvez o vinho sangue do uniforme da Alfa Romeo não ajudasse nessas horas.
— Quando vamos para o circuito, nós só viramos aqui. — Ela disse, virando 180 graus para dentro do motorhome e vi pequenas tendas cobrindo corredores do outro lado. — E aqui é a entrada para a pista. — Ela indicou e segui por um corredor, notando a diferença. — Bem-vinda a garagem! — Ela disse e vi Greta em um dos corredores, conversando com um dos mecânicos e sorri.
Não sou só eu que preciso de umas férias fora do escritório.
— VAMOS, GALERA! NÃO TEMOS MUITO TEMPO PARA ISSO! — Outra mulher apareceu, batendo palmas e parou em mim. — Senhora !
— Oi. — Lhe dei um aceno.
— Essa é Mikaela, nossa assessora-chefe. — Blanda disse e a mais velha me estendeu a mão.
— Alguns me chamam de assessora-chefe, outros de babá. — Ri, apertando sua mão.
— Prazer te conhecer, Mikaela! — Ela assentiu com a cabeça.
— A senhora vai participar da foto, não vai? — Ela perguntou.
— Sim, claro. Alguém tem um batom para me emprestar? — Perguntei e Mikaela tirou um do bolso.
— Sempre preparada para isso. — Sorri.
— Obrigada. — Peguei o batom e Blanda me esticou seu celular.
— VAMOS, GALERA! NÃO ENROLA, KIMI! — Mikaela voltou a gritar e passei o batom vermelho nos lábios, me vendo pela tela do celular.
— Obrigada. — Falei.
— Posso? — Blanda perguntou.
— Claro! — Lhe estiquei o batom.
! — Virei o rosto, dando de cara com Kimi.
— Kimi! Bom te ver! — Falei e trocamos um abraço apertado.
— Milagre te ver aqui. — Ele disse no seu forte e seco sotaque.
— Há! Engraçadinho! Milagre te ver fazendo piadas. — Falei.
— Eu estou feliz. — Ri fracamente.
— Sua aposentadoria finalmente chegou, Kimi. Aproveite! — Ele deu um aceno de cabeça.
— Agradeço por ter me dado essa oportunidade. — Ele falou sério.
— Agradeço por ter nos escolhido para terminar sua carreira, mesmo que não tenha sido como esperava. — Falei. — Desejo boa sorte para você no que decidir escolher, você, Minttu, as crianças.
— Obrigado, ! — Ele disse e trocamos um rápido abraço. — Agora que eu estou indo embora, você está chegando e...
— Só por essa corrida, Kimi. Nenhuma a mais! Vou embora assim que eu ver a bandeira quadriculada. — Falei.
— KIMI! — Mikaela gritou.
— Vem! — Ele disse e seguimos pela garagem. — Já o viu? — Engoli em seco.
— Uma vez. — Assumi, seguindo para o pit lane, vendo Mikaela e os outros assessores organizando as fileiras de mecânicos e engenheiros.
— Ele te viu?
— Sim... — Suspirei.
—Ele te reconheceu? — Ele perguntou.
— Sim! – Olhei rapidamente para os lados, vendo as outras equipes se organizarem e percebi o verde da Aston Martin de um lado e... — É claro! — Vi a Mercedes se arrumar do nosso lado.
— Ele falou contigo?
— Não! — Virei de costas para eles, observando a organização de Mikaela.
— Você sabe que não vai poder fugir para sempre, certo? — Kimi disse e suspirei.
— Você sabe que eu fugi por quase 30 anos, certo? — Virei o rosto para ele que deu de ombros.
— Exato! Você fugiu, ! Você perdeu 30 anos da sua vida por causa disso. — Ele se colocou em minha frente. — Até quando vai fugir mais? — Suspirei, virando meu corpo para trás e encontrei Toto parado em frente a organização da Mercedes com os braços cruzados e o rosto virado para mim.
— Por mais 10 minutos, talvez menos. — Falei em um suspiro.
— Só posso te desejar boa sorte. — Ele disse.
— Você não vai...
— Não vou contar para ninguém, senhora . Relaxa! — Ele disse zombeteiro e seguiu para perto de seu carro.
— Ah, Räikkönen idiota. — Suspirei, virando de frente para nossa equipe.
— Senhora ? — Mikaela me indicou o lugar central e respirei fundo antes de sentar no lugar em que Frédéric deveria estar.

*Personagens da minha fanfic The Honey Badger – Love & Affection.

— MUITO BOM, GENTE! — Mikaela disse pelo megafone. — VOLTEM AOS SEUS TRABALHOS!
Vi as pessoas começando a sair dos bancos, Kimi e Antonio se levantaram dos carros colocados em frente aos bancos e algumas pessoas da equipe começando a tirar algumas fotos individuais. O finlandês me olhou quando se virou e me levantei, dando alguns passos em sua direção, vendo os mecânicos já começarem a se livrarem dos bancos.
— Você quer que eu o distraia ou... — Kimi disse e ri fracamente.
— Você é um bom amigo, Kimi. — Apoiei a mão em seu ombro. — Mas como você mesmo disse, eu preciso parar de fugir.
— Imagina se fôssemos a Red Bull, hein?! — Kimi brincou. — Seria o clichê perfeito.
— Se fôssemos a Red Bull, tínhamos 50 por cento de chance de ganharmos o campeonato. — Falei séria e ele fechou o sorriso.
— Há! Engraçadinha! — Ele disse e ri fracamente.
— Você que está muito engraçadinho, Matias! — Falei, vendo-o revirar os olhos.
— Eu sei teu segredo, Viktoria, não me teste! — Ele me ameaçou e foi minha vez de revirar os olhos.
— Aposto que isso traria mais problemas para ele do que para mim... — Falei em um suspiro.
— Para quem nunca aparece aqui, seu nome está na boca de várias pessoas... — Ele disse e pressionei os lábios.
— Eu vou sair antes de eles descobrirem minha idade! — Sorri, vendo-o rir.
? — Meu corpo se arrepiou e não sabia se era com o conhecido sotaque austríaco ou com o velho apelido.
— É ele... — Kimi sussurrou e engoli em seco.
— Eu sei... — Puxei a respiração fortemente.
— Precisa de algo? — Ele falou mais baixo e neguei com a cabeça.
— Obrigada, Kimi, mas eu cuido disso agora. — Ele apertou minha mão em confiança e se afastou alguns passos.
Puxei a respiração algumas vezes e pressionei uma mão na outra que pareciam suar cada vez mais agora, e não era o tempo dos Emirados Árabes. Girei meus calcanhares para trás e engoli em seco quando vi o chefe da Mercedes.
Agora de mais perto, era possível ver a idade óbvia nos olhos de Toto, misturadas com o olhar surpreso. 29 anos e cinco meses haviam se passado desde aquele dia. Eu o encontrei mais cedo e tomamos um café da manhã com nossas famílias antes de nos arrumar. A calça jeans, camiseta e tênis de corrida podem ter sumido, mas Torger ainda era o mesmo que antes.
— Oi, Toto... — Minha voz finalmente saiu e ele pareceu travar.
Seus olhares estavam fixos nos meus da mesma forma que ele fazia quando estávamos sozinhos. Como se ele conseguisse ver dentro de minha alma. Como se ele pudesse entender todos os motivos de eu ter partido sem dizer uma só palavra.
— Não vai dizer mais nada? — Perguntei em um suspiro, cruzando os braços.
— Eu... — Ele sacudiu a cabeça, como se saísse do transe. — Eu não sei como começar...
— Eu não sei se é o lugar ideal, mas você pode começar gritando comigo. — Falei, tentando não rir com a sugestão.
— Eu não... — Ele suspirou. — Eu não te vejo em 30 anos e você espera que eu grite contigo? — Dei de ombros.
— Eu não sei o que esperar, honestamente. — Falei.
— Eu só estou surpreso em te ver aqui. — Ele disse rindo de nervoso.
— Eu sou a CEO da Sauber. — Falei.
— Eu sei. — Ele deu um curto sorriso. — Eu sei disso desde 2019. — Entreabri meus lábios confusa.
— Como? — Perguntei.
— Conhecendo a competição... — Ri fracamente.
— E como nunca foi atrás de mim? — Me forcei a perguntar.
— Pensava que, como CEO da Sauber, você viria à corridas, mas... — Assenti com a cabeça.
— A culpa é toda sua. — Falei fracamente.
— Fugindo de mim? — Ele perguntou e pressionei os lábios.
— Eu não sabia o que esperar... — Suspirei.
— O que você esperava? — Ele perguntou e dei de ombros.
— Que você me odiasse. — Engoli em seco.
— Eu nunca te odiaria. — Ele disse fracamente, rindo logo em seguida. — Foi difícil enfrentar aquela igreja sozinho... — Dei um curto sorriso. — Mas quando sua amiga voltou com sua carta, tudo ficou óbvio. — Engoli em seco. — Não seria certo. — Assenti com a cabeça. — Você era muito nova, queria mais coisas e, claramente, as conseguiu... — Dei um sorriso. — E eu? — Ele deu de ombros. — Eu não sei, o poder me cegou.
— Você queria correr*, Torger! — Falei rindo. — Só você não via isso. — Ele riu gostoso, me fazendo sorrir.
— E eu corri! Não tive grandes feitos, mas... — Ri fracamente.
— Eu sei... — Suspirei. — Diferente de você, sei sobre você desde 2013...
— Quando entrei na F1. — Assenti com a cabeça.
— Eu sempre segui o esporte e...
— Sempre gostamos das mesmas coisas, , só não era para ser...
— Talvez não ou talvez sim... — Suspirei. — Perdi muito com aquela decisão.
— Eu sei. — Ele suspirou. — E o que ganhou? — Puxei a respiração fortemente.
— Não muito... — Suspirei.
— Com licença, senhora ... — Virei o rosto, vendo Blanda.
— Sim...
— Vai começar a reunião de engenharia, a senhora gostaria de participar? — Blanda disse.
— Sim, claro! Me dê um minuto. — Falei, vendo-a assentir com a cabeça e se afastar.
— “Senhora ”, hum? — Toto disse e ri fracamente.
— Só você me chama de “”. — Falei em um sorriso.
— Prioridades. — Ele disse em um sorriso e ri fracamente.
— Enquanto isso, o mundo inteiro do automobilismo te chama de “Toto”. — Cruzei os braços. — Me parece injusto. — Ele abaixou a cabeça em um sorriso. — Vou ter que voltar a te chamar de Torger agora. — Ele assentiu com a cabeça.
— Contanto que você realmente chame, não vejo problema com isso... — Assenti com a cabeça.
— Bom te ver, Toto. — Dei um curto sorriso e ele retribuiu, me fazendo virar para frente da garagem, dando alguns passos para frente.
? — Virei o rosto para Toto novamente. — Jante comigo mais tarde?
— Tem espaço para um jantar na agenda lotada de Toto Wolff? — Ele riu fracamente.
— Sempre para você. — Senti meu rosto aquecer da mesma forma de quando ele olhou para mim pela primeira vez.
— Soube que você precisa relaxar... — Ele riu fracamente.
— Ou de um exorcista! — Sorri.
— Só mais três dias, Toto! — Ele assentiu com a cabeça.
— Espero sobreviver até lá... — Neguei com a cabeça.
— Sei que estamos ficando velhos, Torger, mas espero que o check-up esteja em dia. — Ele riu fracamente.
— Sim, no meio dos milhares de teste de Covid! — Ri fracamente.
— Até mais, Toto. — Falei com um sorriso discreto no rosto.
— Nos encontramos depois? — Ele perguntou mais alto.
— Me procure no meu hotel. — Dei um aceno de cabeça antes de me virar novamente e, dessa vez, eu consegui ir, pressionando os lábios em um sorriso.

*Em geral, todas as informações sobre Toto são verídicas, mas algumas informações foram trocadas. Ele começou a correr em 1992 e foi até 2009 após bater o recorde de pista em Nürburgring em um Porsche. Seus pais nunca foram ricos, ele fundou duas empresas de investimentos em 1998 e 2004 e ele começou a investir em automobilismo somente em 2009.

Me olhei no espelho, me sentindo incrivelmente intimidada com o reflexo. 30 anos é uma grande diferente, agora as rugas começam a aparecer entre os olhos e embaixo dos lábios, algumas correções são feitas, nada exagerado. Mas agora, tentando enxergar aquela menina de 17 anos que tirou a maquiagem do casamento no banheiro da estação de trem, era como se elas se misturassem.
A menina de 17 anos ainda está aqui.
Ouvi dois toques na porta e suspirei. Peguei o batom cor da pele e passei nos lábios antes de guardar em minha necessaire novamente. Saí da suíte, andando pela antessala do quarto em que estava e fui até a porta, abrindo-a devagar. Toto estava com uma roupa mais casual, jeans e camiseta, sem os diversos patrocínios das escuderias.
— Oi, .
— Oi. — Dei um curto sorriso.
— Você está pronta? — Assenti com a cabeça.
— Sim, onde vamos?
— Pensei em irmos em um dos restaurantes do hotel mesmo... — Assenti com a cabeça. — Não se preocupe, o hotel só tem pessoas das equipes.
— Não me preocupo com isso. — Falei. — O famoso aqui é você! — Ele riu fracamente.
— Você que é o brinquedinho novo do paddock, todos querem saber sobre você...
— Ah, me sinto muito importante agora... — Entrei novamente no quarto, pegando minha bolsa e voltei até ele. — Vamos! Estou com fome, essas reuniões de engenharia me cansaram. — Puxei a porta, ouvindo-o rir.
— Achei que gostasse de engenharia. — Ri fracamente.
— Adoro, todas as minhas láureas são na área, mas hoje eu só trabalho no administrativo. — Ele riu.
— E como estão as coisas na Sauber? — Ele perguntou e virei para ele enquanto andávamos pelo corredor.
— Isso é uma pergunta pessoal ou profissional? — Ele riu fracamente.
— Pessoal! — Sorrimos juntos. — Apesar de que acho que não preciso me preocupar com vocês, não?
— Ah! Essa doeu! — Falei, ouvindo-o rir. — Estão bem! Mudança de gestão nunca é fácil, você sabe...
— Uhum... — Ele assentiu com a cabeça e apertou o botão do elevador.
— E depois da pandemia...
— Ah, sim! Essa foi a pior parte.
— Uhum! Imagina estar na presidência há um ano e ter essa bomba estourada nas suas costas?
— E como você lidou com isso? — Ele perguntou e indicou o elevador quando o mesmo se abriu sozinho.
— Álcool, calmantes... — Ele gargalhou, me fazendo rir com ele. — Às vezes ambos juntos...
— Belo jeito de lidar com as coisas...
— Bom... — Dei de ombros. — Não é fácil. — Ele apertou o botão do décimo terceiro andar e imaginei que ele conhecesse o hotel mais do que eu. — Mas estamos indo, esse ano já foi melhor e a previsão para o ano que vem é melhor ainda.
— E para a equipe? — Ele perguntou e ri fracamente.
— Preocupado se vamos cuidar bem do seu piloto? — Virei para ele, vendo-o rir e ele indicou à frente novamente quando o elevador parou.
— Não diria que a palavra é essa, mas...
— Vamos ser honestos, Torger, você está feliz por Valtteri sair. — Ele abaixou o rosto, mantendo as mãos atrás das costas.
— “Feliz” não é a palavra correta, George é um piloto incrível, mas trabalhar com rookies* não é fácil.
— Não se você moldá-lo da melhor forma. — Dei de ombros. — E George não entra muito na categoria de rookie, ele teve dois anos na Williams!? Mais alguns de reserva com vocês?
— É... Algo assim! — Ele disse, ponderando com a cabeça. — Você vai ter que lidar com um rookie no ano que vem, não?
— Eu não, Frédéric. — Ele riu fracamente.
— Vai continuar fugindo daqui mesmo depois de me encontrar? — Ri fracamente. — Eu faço os dois trabalhos, Brown da McLaren é CEO... Aposto que os homens adorariam ter uma CEO entre nós nas reuniões e coletivas... — Ri fracamente.
— Se eles querem me ver, mais fácil pegar uma foto. — Virei para ele e ele indicou para um lado e o segui, vendo as luzes se tornarem mais intimistas e a movimentação de pessoas ser menor.
— É... Essa é que eu conheço. — Sorri.
— Bem, vamos ver como vai ser esse fim de semana, mas acho que prefiro minha vida mais calma na Suíça. — Ele assentiu com a cabeça e entramos em um restaurante com decoração em preto e bege.
— Reserva para Toto Wolff, por favor. — Ele disse e pensei se essa reserva já tinha sido feita antes de nossa conversa mais cedo.
— Por aqui, por favor. — Ele disse e mais uma vez Toto indicou à frente e segui junto com o maitre.
Andei pelo restaurante, procurando por algum rosto conhecido ali e não encontrei, nem chefe de equipe ou piloto. Talvez o lugar intimista não seja o mais ideal para eles. O maitre nos levou para uma mesa de dois lugares reservada e puxou a cadeira para eu me sentar e agradeci com um aceno de cabeça.
— Fiquem à vontade. — O garçom disse pouco antes de se afastar e vi o QR code na mesa.
— Desvantagens da pandemia... — Falei e ele riu fracamente.
— Eu não sirvo para isso! — Rimos juntos e tirei o celular da bolsa.
— Será que eles têm Käsekrainer*? — Brinquei e ele sorriu para mim.
— Hum... Käsekrainer e uma cerveja agora... — Ele suspirou, me fazendo sorrir.
— Meu pai não me deixava beber... — Ele riu fracamente.
— Mas eu sim... — Assenti com a cabeça.
— Sim! — Ri fracamente, mordiscando o lábio inferior. — Você... — Suspirei, vendo-o erguer o rosto de seu celular. —Você manteve contato com eles?
— Quem? — Ele perguntou.
— Meus pais. — Mordisquei meu lábio inferior.
— Você nunca falou mais com eles? — Neguei com a cabeça.
— Eu tentei algumas vezes... Por cartas... — Suspirei. — Minha mãe respondeu duas vezes, uma dizendo que estava com saudades... E a segunda dizendo que não responderia mais. Essa última acho que foi meu pai. — Ele assentiu com a cabeça.
— Você soube sobre eles? — Assenti com a cabeça.
— Sim... — Suspirei. — Meu pai em 2015 de ataque cardíaco, certo? — Ele deu um aceno com a cabeça. — E minha mãe de Covid ano passado... — Ele afirmou novamente. —Você falava com eles ou...?
— Eu vivi a vida que você não teve, praticamente... — Assenti com a cabeça. — Sempre que eu estava em Viena, ia almoçar com eles... Tentava agir como se aquele dia não tivesse acontecido. — Assenti com a cabeça.
— Não tem um dia que eu não me arrependa daquele dia, exclusivamente, por isso... — Suspirei.
— Sua mãe claramente sentia mais sua falta... Agora seu pai fingiu que você não existia e renegava qualquer pequena menção à aquele dia... — Assenti com a cabeça.
— Não precisa falar isso, Torger. Honestamente, acho que seja melhor não ouvir. Não vai fazer diferença agora.
— Para eles não, mas para você, talvez. — Ele disse e afirmei com a cabeça.
— Obrigada! — Suspirei. — Por cuidar deles.
— Não precisa agradecer. — Ele deu um curto sorriso.
— Acho que se esse papo continuar pesado, vou realmente precisar de uma cerveja. — Ele riu fracamente.
— Vamos pedir... — Ele disse e voltei a focar em meu celular.

*Rookie: novato na F1.
*Käsekrainer é uma salsicha defumada e assada, típica da cozinha austríaca, feita à base de carne de porco e que caracteriza-se por conter queijo do tipo Emmentaler.


— Fale sobre sua vida, Torger! O aconteceu depois daquele dia? — Ele suspirou, descansando o talher e limpando a boca.
— Bem... — Ele riu fracamente.
— Como você é o homem mais rico do automobilismo? — Ele abriu um largo sorriso.
— Você não está tão longe, !
— Alguns milhões atrás, mas sim... — Ele riu fracamente.
— No mesmo ano do fatídico casamento, eu competi pela Formula Ford Austríaca e no ano seguinte. Depois na alemã. Ganhei as 24 horas de Nürburgring... — Assenti com a cabeça. — Mudei para o campeonato GT alemão e italiano, aí lá para 2000 eu comecei a comprar ações nas equipes. Primeiro na Williams, me tornei um dos acionistas minoritários, até que a Mercedes me chamou para ser o diretor executivo, recebi 30 por cento das ações e as coisas começaram a ser o que são hoje. Fui me livrando das ações da Williams até 2016.
— Agora é só a Mercs...
— Foi como tudo começou, não? — Assenti com a cabeça, rindo em seguida. — E você? Como saiu de fugir vestida de noiva para a CEO da Sauber? – Suspirei, também descansando meus talheres.
— Eu não pensei muito quando decidi fugir, foi algo de última hora... — Suspirei. — Eu só sabia que precisava sair da Áustria, meu pai colocaria cada policial e segurança atrás de mim...
— E colocou... — Toto disse, me fazendo rir fracamente.
— Então, eu fui para a estação de trem e peguei o próximo trem, que era para Suíça, fui até Zurique e a Ylvi me ajudou com algumas economias... — Ponderei com a cabeça. — Deu para eu viver por uns 15 dias, esperando que realmente me encontrassem. Quando eu caí em si, eu mandei as cartas e não foi exatamente uma recepção de braços abertos...
— Seu pai sempre foi cabeça dura e...
— Meu pai queria ficar mais rico, Toto... — Suspirei. — Ele nem sequer pensou em me perguntar se eu queria isso. — Dei de ombros. — E eu fui criada para nunca questionar, eu me senti presa... — Ele assentiu com a cabeça. — Enfim... Eu comecei a me virar em Zurique, até conseguir voltar para a faculdade, me formei com 28 anos e no mesmo ano consegui um emprego de assistente de engenharia na Sauber e fui ficando... — Dei de ombros. — Fui crescendo na empresa até eles me convidarem para ser CEO em 2019... — Ele confirmou com a cabeça. — Foi onde eu criei minha vida, minha família...
— Você nunca se casou? — Ele perguntou e ri fracamente.
— Não... — Suspirei. — Acho que entrar em uma igreja não me trazia boas lembranças...
— Por isso que eu nunca me casei em uma. — Ele disse e ri fracamente.
— Quantas vezes que você casou? — Franzi a testa.
— Duas. — Ele disse dando um sorriso que o deixou envergonhado.
— Uau! Até parece que estava tentando compensar algo do passado! — Brinquei, ouvindo-o rir.
— Não exatamente. Só aconteceu... — Ele deu de ombros. — Eu me casei da primeira vez com 25 anos, tive meu mais velho que hoje tem 20 anos... — Assenti com a cabeça. — Nos separamos 10 anos depois quando eu conheci minha atual esposa. — Ri fracamente. — Nos casamos em 2011, tivemos um filho em 2017 e, agora...
— Você tem um filho de quatro anos, Torger? Não está um pouco velho para isso, não? — Perguntei, ouvindo-o rir.
— Só na carteira de habilitação. — Ri fracamente.
— E o que aconteceu entre você e...
— Susie? — Ele suspirou. — Estresse, falta de diálogo, Fórmula Um...
— Diferenças irreconciliáveis? — Brinquei e ele riu fracamente.
— Meu maior casamento é com a Mercedes e, no começo, é tudo belo, compreensivo, ambos cedem, mas depois desanda e enfraquece. — Assenti com a cabeça.
— É... Eu entendo o que é isso. — Suspirei, colocando um pouco mais de pasta na boca.
— Parece que entende o sentimento. — Ele disse.
— Nunca casei, mas tenho um filho de 16 anos. — Falei, vendo-o abrir um sorriso. — Uma filha.
— Não!? — Ele falou surpreso e sorridente.
— Uhum... Elëa . — Ele assentiu com a cabeça. — Nem tudo foi ruim na Suíça. — Dei de ombros, incomodado com esse largo sorriso.
— Eu te contei detalhes... Não vai ficar quieta agora, vai? — Ri fracamente.
— Nos conhecemos na Sauber. Trabalhos juntos na área de montagem... — Dei de ombros. — Tudo se encaminhou bem, até eu seguir para o administrativo. As horas extras e o trabalho em prédios diferentes, começou a desgastar também... — Suspirei. — Nos separamos quando Elëa tinha nove anos. — Ele assentiu com a cabeça.
— Sem casamento? — Ri fracamente.
— Não. Isso foi algo que desgastou também... — Suspirei. — Ele sabia da história, dizia que entendia, mas...
— Com as brigas, parou de entender...
— É, algo assim... — Assenti com a cabeça.
— E agora? — Ele perguntou.
— O quê? — Ri fracamente.
— Como está seu coração? — Ri fracamente.
— Ainda batendo! — Brinquei e ele riu fracamente.
— E sobre você e Kimi? — Franzi a testa.
— Räikkönen? — Ri fracamente.
— É, vi vocês conversando, parecia que ele queria me matar. — Gargalhei alto, cobrindo a boca com o guardanapo.
— Kimi é... — Ri fracamente. — Kimi é um dos meus melhores amigos, na verdade.
— Kimi? — Ele riu fracamente, perguntando confuso.
— É. Nos conhecemos no meu primeiro ano na Sauber, eu trabalhava na área de produção do carro, então ele sempre estava lá em volta... — Ri fracamente. — Ele saiu no final daquele ano, mas mantivemos contato.
— E vocês nunca...?
— Eu e Kimi? Ah, não! Nunca gostei de loiros. — Rimos juntos e ele sorriu no final.
— E ele sabe da história? Porque pela forma que me olhou...
— Sim, ele sabe. Começou a ficar difícil inventar desculpas do porquê eu não ia em corridas. — Ele assentiu com a cabeça.
— E você nunca foi em uma corrida?
— Também não, né?! — Brinquei, ouvindo-o rir. — Por muito tempo fui como uma qualquer, na arquibancada, mas quando cheguei nos 40, comecei a ficar cansada. E encarar paddock estava fora de cogitação. — Ele assentiu com a cabeça.
— Foi por isso que acabou indo para o administrativo? — Ele perguntou. — Digo... Montagem, elaboração do carro.
— Mais ou menos... — Ponderei com a cabeça. — Tive oportunidade de trabalhar diretamente no paddock e na garagem, mas com Elëa... Ela é meu mundo. — Ele sorriu.
— Penso o mesmo do Benedict e Jack. — Assenti com a cabeça.
— Nossas prioridades vão mudando, né?!
— É... — Ele deu um curto sorriso. — Cada dia mais.

— Obrigada pela noite. — Ele disse com os braços atrás do corpo.
— Foi bom. — Dei um curto sorriso.
— Melhor do que nossos jantares... — Ri fracamente.
— Não sei... Agora eu tenho coragem para falar contigo. — Ele riu fracamente.
— Como assim?
— Você era imponente, Torger! Era como falar com o capitão do time de basquete da escola. Todos olhavam para você, todos queriam agradar vocês... — Ele riu fracamente. — E, nas poucas vezes que estávamos juntos, você... — Suspirei e ele ergueu o rosto para mim. — Você tinha esse mesmo olhar. Como se pudesse decifrar todos os meus medos.
— Queria, mas não acho que consegui daquela vez...
— Nem eu acho que consegui. — Suspirei, caminhando pelos corredores do hotel.
— Não vamos trazer coisas ruins para nossa conversa. — Ele disse e assenti com a cabeça.
— Como você está? — Virei o rosto para ele.
— Sobre...?
— A corrida? — Perguntei como se fosse óbvio.
— Você deve saber o que está acontecendo...
— Um pouco... — Suspirei. — Empate de pontos, uma rivalidade difícil de engolir, vários momentos perigosos durante a temporada... E várias decisões equivocadas suas, de Horner e de Masi*... — Ele suspirou. — Mas não sei mais do que isso.
— Você simplificou um ano em poucas palavras. — Ele suspirou.
— O que está realmente acontecendo, Toto? Não parece rivalidade, parece guerra. — Uma risada estranha saiu de meus lábios.
— Quase isso... — Ele suspirou, andando comigo.
— Não vou tomar partido nessa briga entre vocês, estamos bem em nono lugar... — Ele riu fracamente e entramos no elevador. — Mas como você está internamente? — Ele se virou para mim, erguendo o rosto abaixado, deixando a diferença de altura mais evidente.
— Eu estou bem. — Ele disse.
— Você nunca soube esconder seu nervosismo, Torger. — Puxei seu braço, obrigando-o a soltar as mãos de trás das costas. — Sempre que anda assim, eu sei que você está nervoso. — Ele deu um curto sorriso.
— Ainda sabe como eu me comporto? — Ele perguntou e segui para fora do elevador quando as portas se abriram.
— Não é minha culpa se você não mudou nada. — Ouvi sua risada logo atrás de mim. — Suas saídas das reuniões as quatro da manhã, o telefone tocando no meio dos jantares, seu andar cabisbaixo... Você continua bonito para andar desse jeito. — Falei.
— Você também. — Ele disse e dei um curto sorriso, caminhando pelo corredor da minha suíte. — Você ainda tem o mesmo sorriso de quando te conheci. Bonito e discreto.
— Algumas coisas não mudam. — Mordisquei o lábio inferior antes de chegar em meu quarto. — Mas espero que esteja se cuidando, domingo vai ser complicado... — Virei de frente para ele novamente.
— Eu estou. — Ele assentiu com a cabeça. — Álcool e calmante. — Ri fracamente, assentindo com a cabeça.
— Funciona bem, não é?
— Ainda mais quando se mistura. — Ele brincou e sorri. — É melhor você descansar, amanhã começa o caos.
— Eu estou praticamente de férias, você precisa descansar de verdade. — Falei e ele deu um aceno com a cabeça.
— Eu vou. — Ele disse. — Só vim te acompanhar.
— Obrigada pela noite. — Falei fracamente.
— Eu que agradeço. — Ele deu um curto sorriso, estendendo a mão. — Fiquei feliz em te ver de outra forma que não seja correndo em um vestido branco.
— Não acredito que você correu atrás de mim. — Coloquei minha mão em cima da sua.
— Foi instinto, eu acho. — Assenti com a cabeça, sentindo sua mão quente sobre a minha.
— O que faria se me alcançasse? — Ele riu fracamente.
— Não tinha processado essa parte ainda. Talvez falado contigo? Tentado entender seu lado? Quem sabe não teríamos uma história de amor de verdade? — Sorri e ele levou minha mão aos seus lábios, deixando um beijo em meus dedos, me fazendo mordiscar os lábios. — Para uma mulher atenta à tudo, você não percebeu o mais importante.
— O quê? — Perguntei, vendo seus olhos escuros subirem para os meus.
— Que eu gostava de você. — Ele endireitou o corpo e engoli em seco. — Sempre um prazer, . — Ele soltou minha mão e senti a respiração entrar forte em meu peito.
— Boa noite, Toto. — Falei fracamente, vendo-o se afastar pelo corredor e seu olhar virou para trás.
— Boa noite, ! — Ele disse antes de voltar para o elevador, me deixando com os lábios mordiscados.

*Michael Masi: ex-diretor de corridas da F1. O motivo do final da corrida de Abu Dhabi ter sido tão controverso.

Capítulo 3

10 de dezembro de 2021


Não foi difícil acordar no dia seguinte, pois para isso eu precisaria ter dormido. Talvez uma soneca de duas horas, mas o restante da noite foi difícil e o cronograma dizia que começávamos mais tarde hoje.
Fui deitar pensando nas palavras que Toto disse para mim. Como assim ele gostava de mim? Como assim aquele homem incrível e imponente gostava de mim? Não acredito que depois de todos os problemas e todo peso em meus ombros, eu ainda teria que lidar com a opção de quebrar o coração desse homem.
Torger não tem o coração quebrado, ele quebra corações!
Bom, ele provavelmente não era largado no altar e eu o larguei.
Fazia 30 anos, eu sei, mas por algum motivo eu me senti incomodada com aquilo, como se precisasse pedir desculpas por algo.
Nesse momento nossas conversas durante os três meses que antecederam o casamento fizeram sentido. Ele não começou a conversar comigo para saber o que eu estava pensando ou o que eu achava do casamento, ele estava garantindo de que aquilo realmente fosse um casamento. E era impossível não me sentir a pior pessoa do mundo com esse pensamento.
Tinha perdido boa parte da noite pensando no tal “e se”. E se fosse diferente? Eu não sei. Será que Toto seria um bom marido? Será que ele deixaria eu ser quem eu sou hoje? Será que ele me inspiraria a ser quem eu sou hoje? São tantas perguntas que eu acho inútil fazê-las agora.
Muito tempo passou, seguimos vidas diferentes, não é para mais memórias voltarem.
Tentei deixar esses pensamentos no travesseiro quando me levantei. Perdi vários minutos na banheira de espumas, me preparando para o calor de Abu Dhabi. Depois aceitei de bom grado o café que Greta havia enviado para mim e, antes de realmente encarar o dia, tive uma reunião com Blanda sobre a coletiva mais tarde.
Duvidava que alguém fosse realmente perguntar sobre nossa performance hoje, mas, como Torger disse ontem, eu era o novo brinquedinho do paddock, eles estavam interessados nisso, na aposentadoria de Kimi e em nossos pilotos do ano que vem: um novato e um que está desesperado por protagonismo.
Me arrumei da mesma forma de ontem com uma saia preta, camiseta polo da Alfa Romeo e saltos nos pés. A diferença é que optei por uma sandália ao invés do scarpin e fiz um rabo de cavalo com meus cabelos. Não dava para deixar a beleza falar mais alto, o calor ganhava.
— Você está quieta, senhora. — Greta comentou no carro e virei o rosto para ela.
— Só preocupada com hoje. — Dei um curto sorriso e ela assentiu com a cabeça.
— Vai dar tudo certo. — Ela disse e forcei um sorriso.
O carro parou em frente ao paddock e abaixei os óculos escuros antes de sair do mesmo, puxando minha bolsa no braço. Os fotógrafos estavam mais espertos hoje, mas eu também, então segui diretamente para as catracas, batendo meu crachá antes de entrar, sentindo o sol em meu rosto.
Meus pés foram em largas passadas pelo paddock, vendo-o mais cheio de quando cheguei ontem pela manhã. Agora tinha mais gente, mais pilotos, mais fotógrafos e mais repórteres, e eu realmente não estava a fim de falar com nenhum deles agora. Meus olhos passavam pelas pessoas, mas os óculos de sol escondiam minha busca por alguém em especial.
Não que fosse difícil procurar por Torger, seus quase dois metros de altura eram óbvios quando se via, ainda mais com aquele largo sorriso enquanto conversava com outras pessoas e o uniforme branco da Mercedes. Ao menos alguém sabe esconder muito bem o que está sentindo. E dessa vez eu digo sobre a corrida.
— Bom dia, ! — Ele disse quando me aproximei.
— Bom dia, Torger. — Falei, vendo-o com Lewis Hamilton e George Russell, seu novo pupilo. Ele me puxou pela cintura, me obrigando a parar e senti seus lábios em minha bochecha.
— Dormiu bem? — Ele perguntou e me senti intimidada pelos seus olhos por trás dos óculos de grau.
— Sim. — Menti. — E você? — Ele assentiu com a cabeça.
— Meninos, essa é . CEO da Sauber. — Ele disse e dei um curto sorriso para ambos.
— É um prazer finalmente conhecê-la! — Hamilton foi o primeiro a me cumprimentar com um aperto de mão.
— O prazer é meu! — Virei para o mais novo, apertando sua mão.
— A senhora é uma lenda! — George disse, me fazendo rir.
— Ah, não, só muito ocupada! — Ergui os olhos para Toto.
— Ela vai finalmente vir... — O austríaco disse e ri fracamente.
— Espere sentado, Torger! — Dei um tapinha em seu ombro.
— Conseguindo aliados logo cedo, Toto? — Ouvi uma voz e virei o rosto, vendo o chefe de equipe da Red Bull passando com algumas pessoas.
— Você deveria tentar! É bom ter amigos! — Toto respondeu e revirei os olhos.
— Eu vou entrar. Nos falamos depois. — Falei para Toto. — Boa sorte no treino, meninos! — Falei para os pilotos.
— Prazer em conhecê-la. — Eles disseram e virei de costas.
— Ah, Torger! Eu quero alguns minutos com seu piloto, se me permite! — Me referi a Bottas, dando um curto sorriso e ele deu um aceno com a cabeça.
— Eu vou pensar no seu caso. — Ri fracamente, seguindo para a ladeira em frente ao nosso motorhome e vi Greta e Blanda ali.
— Você se enturma rápido. — Blanda disse. — Parceria com a Mercedes é sempre bom. — Ele disse e ri fracamente.
— Sem parceria, só sendo educada! Ele ainda é o chefe do Valtteri. — Falei a primeira coisa que pensei antes de entrar no motorhome. — Me leve até o Jan, quero atualizações da noite.
— Sim, senhora! — Ela disse, correndo à minha frente e a acompanhei pelo motorhome.

— Ainda não estamos em padrões competitivos, mas esperamos que com a sua experiência, vontade de ganhar e as mudanças das regras para o ano que vem, consigamos ao menos chegar no meio do grid. — Cruzei os braços.
— Frédéric já me apresentou todo o projeto e eu estou feliz em ajudá-los com isso, senhora . — Ele disse e dei um curto sorriso.
— Vamos cortar esse papo logo no começo, Valtteri! — Disse séria — Você terá pelo menos três anos conosco, talvez cinco se tudo caminhar bem, não precisamos desses não-me-toques. Quero honestidade entre nós. E aposto que Frédéric concorda com isso. — Ele assentiu com a cabeça, rindo fracamente.
— Sim, senhora. — Ele riu fracamente.
— Eu não vou me meter na parte técnica da coisa, sobre vantagens e desvantagens, quem terminará em primeiro e quem terminará em segundo, mas primeiro de tudo, eu quero honestidade entre você e Zhou. E, também, entre vocês e Fred, e vocês e mim. — Assenti com a cabeça. — Pelo visto você não tinha muito disso na Mercedes.
— A honestidade até tinha, mas tinha coisas que me seguravam, um contrato ou decisões de equipe. A prioridade era sempre Lewis, mas eles corriam atrás de mim quando as coisas não davam certo com ele. — Assenti com a cabeça.
— Eu não quero isso. Não quero ordens de equipe, não quero primeiro e segundo, quero que as coisas rolem e que o foco seja melhorar o desempenho do carro cada vez mais. — Disse firme. — Com isso, vocês melhoram e podemos realmente competir por alguma coisa. — Ele deu um aceno de cabeça.
— Combinado, senhora.
— Torger tem muita mais experiência do que eu e tornou a Mercedes sinônimo de poder, mas existe uma grande vantagem em estar em uma equipe que está lutando para crescer. — Falei.
— Qual? — Ele perguntou.
— Só podemos ir para cima. — Ele assentiu com a cabeça.
— Posso perguntar algo, senhora?
— Sim, por favor. — Falei.
— Você e Toto se conhecem? — Ri fracamente.
— Fomos amigos na adolescência, ele foi trabalhar na empresa que meu pai era CEO. — Expliquei algo parcialmente.
— Ah, é que ninguém o chama de Torger e ele parece odiar. — Ri fracamente.
— Bom, eu dei o apelido de Toto para ele, mas já que todo mundo decidiu usar, vou chamá-lo de Torger só para irritar. — O finlandês riu comigo.
— Entendido, senhora.
— Bem, Valtteri, está quase na hora do treino, vou te deixar seguir para a sua equipe, mas saiba que eu estou aqui para ser sua amiga, ok?! Não só sua chefe preocupada com resultados. Me dei muito bem com o outro finlandês na equipe, espero me dar bem contigo também. — Ele assentiu com a cabeça.
— Vai ser um prazer, senhora! — Ele se levantou, esticando a mão.
— O prazer é meu. Tenha um bom fim de semana e... Ah, Valtteri.
— Sim?
— Posso perguntar como está o clima na garagem da Mercedes com essa corrida? — Ele suspirou.
— Está pesado, senhora. — Ele disse. — Até para mim que estou de fora, terminar à frente dos carros da Red Bull é uma exigência de Toto. — Ele deu de ombros. — E hoje ainda é sexta-feira, vai piorar até a corrida. — Assenti com a cabeça.
— E Torger? Como ele fica? — Ele puxou a respiração, ponderando com a cabeça.
— Ele é uma panela de pressão, guarda tudo para si até estourar. — Assenti com a cabeça.
— Boa sorte para você, então. Se precisar de algo, sabe onde estamos.
— Nos encontramos novamente nos testes. — Ele disse e concordei com a cabeça.
— Com certeza. — Apertei sua mão novamente, deixando-o sair da sala de Frédéric e Blanda deu um aceno de cabeça para mim antes de seguir com ele.
O cheiro de comida entrou pela porta, me fazendo suspirar e ergui o rosto para o relógio, estava perto do meio-dia, e uma hora teria o primeiro treino, estava na hora de comer e me preparar para ir para a garagem.

— Levando em conta os resultados na Arábia Saudita, décimo terceiro e décimo quarto são bons resultados para o primeiro treino. — Jan disse e assenti com a cabeça.
— E Valtteri? — Perguntei baixo, andando com ele pelo paddock. — Segundo, certo?
— Sim, entre Verstappen e Hamilton. — Assenti com a cabeça.
— Bom! — Falei firme. — Vamos garantir que tudo dê certo, ok?! — Falei.
— Senhora? — Ele perguntou confuso.
— Eu quero que Kimi encerre a carreira dele de forma boa. Dificilmente ganharemos a corrida e é até bom que fiquemos fora do caos, mas quero que Kimi termine bem. Deixei-o aproveitar ao máximo.
— Com certeza, senhora. — Ele disse e dei um aceno de cabeça.
— Senhora ? — Ergui o rosto, vendo Blanda parada na frente do motorhome.
— Sim? — Perguntei.
— A coletiva logo vai começar, posso te acompanhar? — Assenti com a cabeça.
— Sim, claro, vamos lá! — Falei, virando para Jan. — Nos falamos depois.
— Te encontro no FP2! — Ele disse e assenti com a cabeça.
— Vamos lá, Blanda! — Falei e ela desceu a rampa em frente ao motorhome.
— Por aqui, senhora! — Ela me indicou e acompanhei-a, passando a mão em meu pescoço, sentindo o suor.
Seguimos em direção à catraca novamente e notei outros chefes de equipe seguindo pelo mesmo caminho e reconheci Binotto da Ferrari um pouco mais à frente. Eu tinha mais contato com ele por causa dos motores. Depois reconheci outros seguindo pelo mesmo caminho. Blanda desviou o caminho para o prédio da FIA e fui com ela, entrando no mesmo, agradecida pela mudança de temperatura e fomos guiados pelos assistentes da FIA até lá.
Contei sete chefes de equipe ali, só faltavam Toto e Christian Horner. Mas a porta fechada da sala da coletiva e as luzes de “silêncio” ligadas, imaginei rapidamente onde estariam. Me aproximei devagar, tentando não fazer alarde, mas foi impossível quando meus saltos bateram no chão.
! — Binotto foi o primeiro a falar comigo naquele forte sotaque italiano. — Bom te ver.
— Oi, Binotto, tudo bem? — Falei e trocamos dois rápidos beijos.
— Estou bem e você? Decidiu sair da toca, é?! — Ri fracamente.
— Só um pouco. — Brinquei.
— Bom ter você aqui. — Assenti com a cabeça.
— Você é muito gentil. — Falei.
— Conhece o resto? — Ele indicou os curiosos que não tiravam os olhos de nós.
— Vagamente. — Falei, dando um curto aceno de cabeça. — Oi, como estão?
— Oi. — Eles disseram sorridentes.
— Seidl da McLaren, Rossi da Alpine, Otmar da Aston Martin... — Binotto foi indicando um a um e fui apertando mãos e retribuindo sorrisos, mas de forma bem menos interessada. — Tost da AlphaTauri, Capito da Williams e Steiner da Haas.
— Um prazer te conhecer, senhora. — O último disse com seu forte sotaque.
— Eu sou , prazer conhecer vocês todos. — Falei.
— Te garanto que todos sabem quem você é. — Ouvi outra vez conhecida e vi a porta da coletiva aberta, revelando Christian e Toto logo atrás dele.
— Não precisamos de convenções. Todos sabem quem todos somos. — Toto sorriu em minha direção e mantive a feição séria.
— Diferente de você, Christian, ela conhece a competição. – Toto disse, dando dois toques nos ombros do mais novo e neguei com a cabeça.
— É como a escola de novo. — Falei baixo e Seidl assentiu com a cabeça.
— Precisamos do segundo grupo. — A assistente da FIA falou. — Mattia, , Jost e Guenther. — Ela disse.
— Se me dão licença, eu tenho mais o que fazer. — Falei, me desviando das pessoas antes de seguir a mulher, entrando na sala da coletiva.
A nova coletiva era diferente, tinha três ou quaro pessoas ali somente, o restante era tudo online. Me sentei na segunda poltrona, a indicada por uma assistente que estava lá dentro e ela indicou para que eu tirasse a máscara e o fiz, escondendo-a no bolso da saia. Ela me entregou o microfone e cruzei uma perna, vendo os outros chefes de equipe se ajeitarem.
Virei o rosto para a porta, vendo Toto apoiado no batente do lado de fora, com um curto sorriso no rosto e retribuí antes de ver a porta ser fechada. Senti meu corpo trêmulo e sabia que não podia entrar na dele agora. Era tudo o que eu menos precisava agora e tenho certeza que tudo que ele menos precisava agora nesse caos.
— Boa tarde, senhores. Começando a segunda coletiva dos chefes de equipe. Aqui agora temos Mattia Binotto da Ferrari, CEO da Alfa Romeo, Jost Capito da Williams e Guenther Steiner da Haas. — O jornalista disse. — Vamos começar com . — Segundo Blanda, era esperado. — Bem-vindo ao paddock, . Primeira vez no paddock desde que se tornou CEO da Alfa Romeo, como está se sentindo?
— Oi, boa tarde. — Falei, aproximando o microfone da boca. — É incrível vir aqui e poder acompanhar o trabalho da minha equipe e das outras.
— É incomum um CEO não comparecer às corridas, pode nos dizer o que te impediu de vir ao paddock antes?
— Nada, na verdade. — Falei, sabendo da facilidade de mentir. — Frédéric tem feito um ótimo trabalho na Alfa Romeo, a equipe tem se mostrado muito capaz e evoluída, então, oficialmente, não tem nada que eu possa ajudar a equipe daqui, posso ajudar melhor da Suíça. — Ele assentiu com a cabeça.
— E sua primeira corrida como CEO, imagino, vem a ser a corrida mais esperada da temporada. O que pensa disso? — Ele perguntou.
— Do campo de vista geral, é a corrida perfeita para todo amante do esporte, sem dúvidas. Deixar todo resultado para a última corrida, é realmente final de campeonato, é na raça. Já sobre minha presença aqui, tudo se dá pela aposentadora de Kimi. Ele aceitou dirigir conosco após a mudança de nome e gestão, sabendo que a equipe está em crescimento novamente e poder vê-lo se aposentar é ótimo. E, também, recepcionar Bottas. À partir de segunda-feira, ele já é nosso piloto, fará os treinos conosco, como liberado pela Mercedes, então é o momento ideal. — Ele assentiu com a cabeça.
— Você mencionou a Mercedes, então, gostaria de saber sobre sua forma de trabalho. Toto Wolff é o chefe de equipe com mais sucesso hoje em dia, e vocês dois são da Áustria. Essa vontade de ganhar, essa ferocidade e busca imediata por mudanças é algo que você também tem dentro de si?
— Hum, sim! — Falei rapidamente. — Creio que a primeira coisa para lidar com uma empresa de automobilismo, carros e motores, é essa ferocidade e não se conformar com poucos ou baixos resultados. Então talvez não seja nem ser de Viena, ser da Áustria, é algo interno, não só de mim e Toto, mas de todos. — Ele deu um aceno de cabeça.
— E quais as expectativas para o ano que vem? Vocês terão dois novos pilotos, quais os planos para isso?
— Meu primeiro ano como CEO foi com uma remodelação de equipe, então não é novidade. Teremos muitas mudanças para o ano que vem, então é cedo falar, mas nosso 2021 não foi ideal, então queremos primeiro discutir os problemas desse ano para juntar às novas regras e oficialmente dar declarações de mudanças reais. — Ele assentiu com a cabeça.
— Obrigada! — Ele disse e dei um aceno de cabeça, descansando o microfone no colo.
— Mattia*, vamos continuar contigo agora...

*Todos os nomes citados de chefes de equipe são os devidos chefes de equipes da temporada 2021 e 2022.

Observei o contador chegar a zero e analisei as posições dos meus pilotos de interesse ao final da FP2. Antonio conseguiu melhorar para décimo segundo lugar, mas Kimi caiu para décimo sexto, além de que Bottas foi para terceiro lugar. Era o primeiro dia ainda e ouvi dos engenheiros como a pista de Abu Dhabi era muito mais lisa do que outros circuitos.
Teríamos outro treino amanhã antes da classificatória, mas depois de tudo o que passamos nesses últimos três anos, precisava urgentemente de mudanças. Estamos na Fórmula Um desde o primeiro ano, entre idas e vindas, os dois primeiros campeonatos são nossos com Fangio e Farina, mas já se passaram 70 anos, precisamos ao menos nos colocar no pelotão do meio.
— AH!
— NÃO! — Ouvi alguns gritos e ergui o rosto para a grande televisão na garagem e focou no carro vinho e branco e respirei fundo.
— Quem é? — Perguntei um pouco mais alto.
— Kimi! — Alessandro disse e suspirei, vendo as câmeras mudarem e focar no onboard de Kimi.
Kimi, você está bem? — Ouvi seu engenheiro do fone e virei o rosto para o pit wall, vendo Jan, Ruth e outros ali, todos desolados.
Sim, eu estou bem! — Ele respondeu.
— Não foi exatamente o que eu falei sobre finalizar bem. — Suspirei, virando para Blanda e ela assentiu com a cabeça.
— Os mecânicos vão ter que compensar a noite. — Ela disse e olhei o relógio, vendo que era seis da tarde.
— Que horas começamos amanhã? — Perguntei.
— O treino de pit stop é a uma para a FP3 começar as duas. — Ela disse e suspirei.
— Temos tempo? — Perguntei.
— Sim, temos. — Um dos mecânicos falou.
— Não é a noite que esperávamos, mas dá tempo. — Outro disse e ri fracamente.
— Vocês terão muito tempo para festejar depois da corrida, meninos! — Falei, ouvindo-os rirem.
— Sim! Férias! — Outro disse, me fazendo rir.
— Cala a boca, a chefe está aqui! — Ruth falou firme, entrando na garagem.
— Não os julgo por desejar férias no fim de temporada, Ruth. — Ela riu fracamente. — Não é crime querer um descanso.
— Sim, senhora! — Ri fracamente.
— Me atualize! — Falei para ela.
— Foi uma configuração que fez o carro dele deslizar. O carro está seriamente danificado, mas precisamos ver quando chegar aqui. — Ela disse. — Ele perdeu a traseira, batendo a traseira e depois a dianteira. — Assenti com a cabeça.
— E como está Kimi?
— Está bem, logo chega aqui. — Ela disse e confirmei com a cabeça. — Vamos fazer a reunião de engenharia e analisar os danos do carro, mas a noite vai ser longa. — Ela disse e assenti com a cabeça.
— Diga à equipe que eu ficarei com vocês o tempo que for necessário. — Falei.
— Não há necessidade, senhora. — Ela disse.
— Não estou perguntando, estou anunciando. — Ela deu um curto sorriso, seguido de um aceno de cabeça e abaixei os fones de ouvido. — Me avisa se tiver algo que eu possa fazer.
— Sim, senhora. — Ela disse e vi Greta se aproximar de mim.
— Então, quer dizer que vamos passar a noite aqui? — Ela perguntou.
— Você não precisa ficar se não quiser. — Falei. — Eu preciso ver as coisas pessoalmente para poder representar essa equipe. — Ela mordiscou o dedo inferior, com o olhar perdido.
— Ah... Talvez não seja tão mal... — Ela deu de ombros e foquei em seus olhos, acompanhando para onde ela olhava e notei um mecânico de cabelos claros encarando-a de volta.
— Já vi que perdi minha assistente. — Brinquei, vendo-a rir.
— Não... — Ela disse rapidamente. — Quer dizer... — Ela sorriu. — Não sei.
— Divirta-se, Greta! Falamos disso depois. — Brinquei, vendo-a sorrir.

Passei a mão no pescoço, sentindo o suor acumulado e soltei o rabo de cavalo antes de juntar o cabelo novamente, fazendo um coque e o prendi com o laço novamente. Observei os mecânicos trabalhando no carro de Kimi e o mesmo estava apoiado na bancada. Ele ergueu o rosto para mim e dei um aceno de cabeça, vendo-o fazer o mesmo antes de Julien comentar algo com ele.
Atravessei a garagem, saindo para o pit lane, vendo o céu escuro de Abu Dhabi e as luzes artificiais iluminando o circuito, impedindo de ver as estrelas. Olhei para o lado e tudo estava vazio à nossa volta. Era por volta das onze horas, não tinha nenhum plano disso finalizar logo e o sono já estava começando a me atingir. A noite passada em claro finalmente me atingiu.
Virei o rosto para o outro lado, sendo pega de surpresa quando encontrei um grupo de engenheiros da Mercedes conversando com Hamilton e prendi a respiração ao encontrar Torger entre eles. Por causa de sua altura, ele se destacava fácil entre os outros.
Percebi quando ele virou o rosto para mim e engoli em seco. Sustentei seu olhar por alguns segundos e dei um aceno de cabeça antes de voltar a olhar para a garagem. A área de Antonio estava fechada e a luz só estava acesa para iluminar a garagem inteira, do contrário também estaria desligada.
Vi Blanda colocando algo na boca e senti meu estômago doer. Minha última refeição deveria ter sido logo após o segundo treino. Refeição é uma forma bem-educada de dizer, na verdade. Comi uma barra de cereal durante a reunião da engenharia.
Coloquei meus pés para andar de volta para a garagem e parei ao lado de Blanda.
— Eu vou pegar algo para comer.
— Sim, senhora. — Ela deu um aceno com a cabeça.
— Certifique-se de que eles comam, por favor. — Falei para Jan que confirmou novamente.
Segui pelos fundos da garagem, atravessando o caminho até sair no paddock novamente. O lado de dentro estava quase igual ao lado de fora, mas as luzes de quase todos os motorhomes ainda estavam acesas. Algumas equipes ainda faziam reuniões, outras focavam na comunicação, mas o caos da rua em si não existia mais.
Vi a equipe da McLaren passar por mim e reconheci seus dois pilotos junto de suas respectivas namoradas e de Seidl, que me deu um aceno de cabeça. Segui para dentro do motorhome da Alfa Romeo e vi que o local estava completamente vazio. Subi as escadas para o refeitório com a esperança de que ainda tivesse alguém ali, mas não, o lugar estava igualmente vazio.
— Legal... — Suspirei, passando os olhos pelo local, encontrando duas máquinas automáticas.
Andei até elas, vendo que uma era exclusiva de bebidas, já a outra tinha qualquer tipo de guloseima. Passei os olhos pelos chocolates suíços, mas vi os copos de Cup Noodles embaixo e ri fracamente, me sentindo na faculdade novamente.
Apertei o botão do sabor galinha e esperei o som oco do copo cair e abri a portinhola para pegar o produto. Sacudi o copo em minhas mãos e fui até minha sala, vendo a chaleira elétrica no canto da bancada. Abri uma porta do armário, pegando uma garrafa de água mineral, enchendo a chaleira e apertei o botão.
Batuquei a mão na mesa e inclinei pelo vidro da janela para olhar o paddock vazio lá embaixo. As luzes brancas faziam as cores diversas dos brasões brilharem como neon. Eu já estive em países lindíssimos, mas acho que essa é uma das melhores vistas da vida. Agora que Toto sabe sobre mim, talvez dê para eu tirar algumas folgas e vir para mais corridas.
Falando em Toto, franzi a testa ao vê-lo aparecer a passadas largas pelo paddock e parar entre nossos motorhomes. Seu rosto se movimentou para os lados como se procurasse por alguém e foi quando ele fixou-o no motorhome da Alfa Romeo que pensei que ele estivesse me procurando. Entreabri a janela para fora, me debruçando sobre a mesma e colocando o rosto mais para frente.
— Ei! — Falei um pouco mais alto e acenei, vendo-o erguer o olhar para cima. — Procurando alguém? — Ele abriu um largo sorriso.
— Você, na verdade! — Ele disse rindo e foi minha vez de sorrir.
— Sobe aqui! — Falei, indicando com a cabeça.
— Eu posso? — Ele perguntou rindo e dei de ombros.
— Você está perguntando isso para a CEO? — Fiz uma careta e ele riu fracamente.
— Bom ponto! — Ele disse, sumindo para dentro do motorhome e voltei minha atenção à minha comida.
Tirei o plástico que envolvia o copo, jogando no lixo e entreabri a dobra até parte indicada. Peguei um garfo na gaveta e comecei a furar o macarrão para ele ficar em pedaços menores. Desviei o rosto quando ouvi uma batida na porta e vi Torger ali. Fazia umas 12 horas que estávamos aqui e ele parecia que tinha acabado de chegar.
— Ei, . — Ele disse, dando um curto sorriso.
— Ei, Toto. — Retribuí, vendo-o aumentar o sorriso.
— O que ainda faz aqui? — Ele apoiou um braço no batente, fazendo sua roupa se esticar com ele.
— Kimi bateu. — Falei como se fosse óbvio.
— Sim, eu sei, seus mecânicos devem estar tendo trabalho, mas o que você faz aqui? — Ele perguntou mais enfático.
— Dando apoio a eles? Aprendendo de perto? — Ouvi a água borbulhar e virei o rosto para ela. — Você deveria fazer isso, é um bom aprendizado. — Ele riu fracamente.
— Você não mudou nada. — Ele disse, entrando no escritório e coloquei um pouco de água até a linha antes de fechar o copo novamente, apoiando um modelo de carro em miniatura para mantê-lo fechado.
— O sarcasmo foi minha arma por muito tempo. — Virei o corpo de costas para a bancada, apoiando minhas mãos nela.
— Você não precisa ser sarcástica comigo. — Ri fracamente.
— Força do hábito. — Falei. — E você?
— O quê? — Perguntei.
— O que você está fazendo aqui? Não lembro de ninguém bater. — Comentei, vendo-o passar a mão em seus cabelos.
— Só me certificando de que tudo dê certo amanhã e domingo. — Assenti com a cabeça.
— Não importa o quanto você fale sobre, Toto. Vocês conhecem o circuito, vocês conhecem seu motor, vocês conhecem a capacidade e o talento de Lewis... — Ergui o rosto para ele. — Mas, no final das contas, é tudo sorte, certo?
— Quem dera fosse só sorte. — Ele riu fracamente.
— “Sorte”, Toto. – Fiz aspas com as mãos. — Aqui eles devem chamar de burocracia mesmo. — Ele riu fracamente.
— É. Dessa sorte eu entendo mais. — Ele suspirou.
— Você está nervoso, certo? — Desencostei da bancada, me aproximando dele e levei uma mão até sua testa. — Você costumava suar muito quando estava nervoso.
— Muito mudou em 30 anos, . — Deslizei a mão pela linha de seu cabelo, sentindo sua pele úmida.
— Não isso. — Dei um curto sorriso, observando seus olhos castanhos. — Você ficava noites em claro preocupado com coisas que nem deve se lembrar mais. — Ele riu fracamente.
— Ainda fico. — Abaixei minha mão, deixando-a cair ao lado do corpo novamente. — Com coisas mais importantes agora.
— Elas não são mais importantes, Toto. As prioridades só mudaram. — Ele confirmou com a cabeça e deu um passo à frente e senti o forte cheiro de perfume masculino. Certeza de que esse homem tinha tomado outro banho.
— E você? Quais as prioridades? Dormir depois da meia-noite e comer Cup Noodles de janta? — Ri fracamente.
— A vida no circuito não é tão diferente da vida no escritório, Torger. — Falei rindo. — É quase impossível manter uma rotina de sono e alimentação saudável. — Ele assentiu com a cabeça. — Com filhos, então? Pior ainda.
— Tente ter um filho de quatro anos! — Ele disse e rimos juntos.
— Creio que Elëa será filha única. — Ele sorriu.
— Você não pensa em ter mais filhos?
— Eu já tenho 47, Torger. Você sabe como funciona o corpo das mulheres, não sabe? — Brinquei, vendo-o sorrir e precisei erguer mais meu rosto para conseguir olhar em seus olhos pela proximidade.
— Sim, eu sei, muito bem, para falar a verdade. — Ri fracamente. — Mas existem outros jeitos de...
— Não acho que tenho mais saco para trocar fraldas e me arrastar pelo chão para brincar. O drama adolescente já basta. — Ele riu fracamente.
— Pensava assim quando Suzie engravidou, mas as coisas mudaram.
— De novo, Toto, elas não mudaram, as prioridades que mudaram. — Falei. — Você se casou com uma mulher 10 anos mais nova do que você, o que esperava? — Ele riu fracamente. — Você aceitou os termos dela, do contrário vocês não teriam se casado. — Ele ponderou com a cabeça.
— E você? Quais seus termos? — Senti suas mãos deslizarem na lateral de meu quadril.
— Nunca gostei de novinhos. Eles tentam agradar demais. — Falei, sentindo meus lábios secarem.
— É errado tentar agradar uma mulher incrível? — Ele perguntou e senti uma mão subir para minha cintura.
— Você não tem que agradar. Tentar agradar traz movimentos calculados e travados. — Movimentei a cabeça. — Agir com instinto mostra quem você é e a agrada por convenção. — Disse, dando de ombros, vendo um sorriso se formar em seu rosto.
Sua mão se fechou em minhas costas, apertando a camisa polo e minha respiração estava pesada. Tirando alguns suspiros ao pé do ouvido e conversas mais baixas, nunca havia ficado tão próxima dele assim e era hipnotizante olhar para seus olhos.
— Você é linda, . — Ri fracamente, sentindo sua mão subir para minha bochecha.
— Essa é sua tática? — Brinquei, ouvindo-o rir.
— Não estou flertando, só estou constatando um fato. — Sorri.
— Você não é nada mal também, Toto. — Disse, sentindo sua outra mão ir para minha nuca, fazendo seu nariz roçar no meu.
— Você não vai fugir de mim agora? — Ele perguntou e fui incapaz de rir, somente dando um curto sorriso.
— Ainda estou pensando... — Falei fracamente, sentindo seus polegares acariciarem minhas bochechas.
— Por favor, não... — Ele falou em um sussurro, fazendo nossos lábios se roçarem.
Suas mãos quentes acariciaram minha nuca e seus lábios roçaram no meu lentamente. Minha mão foi até sua cintura, puxando-o pelo cós da calça, sentindo seu corpo colar no meu. Ele olhou surpreso e um sorriso apareceu em meu rosto, fazendo-o sorrir também.
— Instinto, certo? — Ele disse e assenti com a cabeça, sentindo nossos lábios roçarem devagar.
— Vai me beijar ou ficar só olhando? — Perguntei e ele riu fracamente.
— É tentador... — Ele riu, mas seus olhos se fecharam e fiz o mesmo, sentindo sua mão apertar em meu rosto e nossos lábios se pressionaram com firmeza.
! — Ouvi um grito que me fez bufar.
— Ah, justo agora? — Toto se afastou e respirei fundo.
! — A voz falou de novo pausadamente e notei-a mais perto, me fazendo empurrar Toto um pouco para mais longe.
— Quem é? — Toto perguntou e suspirei.
— Meu amante! — Brinquei, virando de costas e fui até meu macarrão que deveria estar frio.
— Pensei que tivesse dito...
... — Kimi apareceu na porta, me fazendo suspirar. — Não sabia que estava acompanhada!
— Não sabia que sabia gritar algo que não seja palavrões. — Falei para ele, abrindo meu jantar. — Toto, você se lembra de Kimi, certo?
— Brevemente! — Ele disse. — Ansioso para se aposentar? — Ri fracamente, colocando um pouco de macarrão na boca.
— Não vejo a hora. — Kimi disse. — Eu estou atrapalhando algo? — Ele olhou sugestivamente para mim.
— Não, só estávamos conver... — Toto disse.
— Você sabe que sim, Kimi. — Falei, vendo a surpresa no olhar de Toto. — Ele é meu melhor amigo, ele sabe! Não aja como se não soubesse! — Voltei a olhar para Kimi. — O que foi? Você precisa de mim ou só veio encher o saco?
— Vamos fazer uma reunião de telemetria, se você quiser participar. — Ele disse.
— Blanda não poderia ter me chamado? — Olhei sugestivamente para ele, erguendo as sobrancelhas.
— Vim atrás de comida! — Ri fracamente.
— Tem água na chaleira! — Falei, colocando mais um pouco na boca.
— Agradeço o patrocínio, mas me sinto uma criança começando Cup Noodles de madrugada. — Ele disse, saindo e ri fracamente.
— Como os velhos tempos, Matias! — Brinquei, ouvindo sua risada e ergui o rosto para Toto.
— É estranho ver esse Kimi. — Ele disse rindo.
— Nunca vi o homem de gelo que dizem que ele é. — Ergui o rosto para ele. — Ele é um amigo como você.
— Eu sou um amigo? — Ele perguntou com um tom de ofensa na voz e ri fracamente.
— Enquanto não finalizarmos o que ele interrompeu, sim. — Dei de ombros. — Um colega, na verdade. — Ele riu fracamente.
— E quando vamos finalizar isso? — Senti suas mãos em minha cintura novamente, se aproximando novamente e ergui o rosto da minha comida.
— Quando não estivermos mais trabalhando. — Ele riu incrédulo. — E eu tiver tomado um banho. — Ele sorriu.
— Você não parecia ser assim quando mais nova. — Ele disse.
— Prioridades mudaram, lembra? — Ele deu um aceno de cabeça. — Agora vamos trabalhar? Eu vou passar a noite na garagem e você vá descansar, amanhã começa! — Ele suspirou.
— Amanhã começa! — Ele disse.
— Tente relaxar antes que tenha um ataque cardíaco de domingo.
— Eu conheço um bom jeito de relaxar... — Ele deu um sorriso sacana e ri.
— Eu sei! — Dei de ombros. — Eu também. Uma comida e um banho quente. Infelizmente não tenho nenhum dos dois agora. — Dei um rápido selinho em seus lábios. — Até amanhã, Toto! — Desviei dele, seguindo até a porta.
— Posso te encontrar mais tarde? — Ele perguntou e observei-o da porta.
— Não. — Falei simplesmente, seguindo pelos corredores do motorhome.

Capítulo 4

11 de dezembro de 2021


Já teve a sensação do tempo ao redor de si pesar? No sentido literal da palavra? Era assim que sentia. Desde que entrei no paddock por volta das 10 da manhã, parece que o tempo claramente pesava. Especialmente entre nossos vizinhos.
A começar que eram poucos os funcionários da Mercedes e da Red Bull que andavam pelo paddock. Os administradores das redes sociais e alguns gerentes apareciam casualmente, mas não posso dizer o mesmo de Toto e de Christian.
Depois do que houve ontem à noite, tive a expectativa de que Toto fosse atrás de mim para terminarmos o que é que aconteceu no escritório, mas parece que até ele tinha noção dos seus limites. Já vi Torger nervoso e sabia como isso o afetava, mesmo que ele dissesse o contrário. Uma boa noite de sono e até um calmamente, talvez seja o que ele mais precisava.
Durante o terceiro treino, no começo da tarde, Hamilton ficou em primeiro e Verstappen em segundo. Bottas ficou com a quarta posição, Kimi em décimo segundo e Antonio em décimo terceiro. Com as especificações do carro, não era nada bom, só esperava uma boa corrida para Kimi amanhã. Precisava ser tudo perfeito. Mesmo que o rabugento preferisse não correr, ainda bem que ele não tinha escolha.
— Senhora ? — Ergui o rosto para Blanda.
— Sim?
— Surpresa para você! — Ela disse e, por um momento, achei que fosse Toto até Frédéric atravessar as portas de seu escritório. Não exatamente quem eu esperava, mas não poderia deixar de ficar feliz por isso.
— Ah, finalmente! — Me levantei rapidamente, seguindo até meu chefe de equipe.
— Está tão ruim assim? — Rimos juntos e abracei meu francês favorito.
— Estaria pior se estivéssemos brigando pelo campeonato. — Falei, ouvindo-o dar um longo suspiro.
— É, eu sei! Mas não podemos fazer nada esse ano, esperamos que as novas configurações nos ajudem ano que vem. — Ele disse.
— Honestamente! — Falei firme. — Não gostei muito do que vi.
— Vá com calma, ! Vamos receber dois novos pilotos, isso e as novas regras vão bagunçar as coisas mais ainda. — Frédéric disse.
— Você ficou doente, Frédéric, eu vim. Tudo o que eu menos quero é calma para o ano que vem! — Falei, cruzando os braços.
— Pelo jeito alguém gostou da brincadeira. — Ri fracamente, dando de ombros.
— Não o suficiente para querer ser chefe de equipe, não se preocupe.
— Ufa! — Ele brincou e ri fracamente.
— Já falou com a equipe? — Perguntei.
— Ainda não. Eles já foram para a garagem? — Ele perguntou.
— Não sei, estava resolvendo algumas questões da fábrica.
— A família do Kimi chegou. — Blanda disse e assenti com a cabeça.
— Estava esperando por isso. — Assenti com a cabeça e ele fez o mesmo.
— Quer continuar cuidando das coisas? — Ele perguntou.
— Não mesmo! Você cuida das questões dentro da pista e eu continuo das de fora.
— Eu vou me arrumar, então. — Ele disse.
— Nos encontramos lá! — Falei em um aceno de cabeça. — Me leve à família do Kimi. — Falei para Blanda e ela deu um aceno de cabeça antes de eu seguir com ela.
O ar-condicionado dentro da sala estava trincando, mas não posso dizer o mesmo do lado de fora. Estar no meio do deserto podia ter uma vantagem, mas a temperatura não era uma delas. Desci as escadas do motorhome, encontrando Kimi com seu mais velho em seus ombros e Minttu com Rianna em seu colo.
— Olha o que o vento trouxe! — Brinquei, vendo a esposa de Kimi virar para mim.
— Ah, não! Isso é uma miragem do calor? — A ex-modelo disse e ri fracamente, me aproximando dela e trocamos dois beijos rapidamente. — O que faz aqui?
— Covid! — Falei rindo, acariciando o rosto de Rianna. — Frédéric voltou hoje, com a aposentadoria do rabugento e a chegada de novos pilotos, precisei vir.
— Ei! — Kimi respondeu e virei para ele.
— Kimi, por favor! — Minttu disse e dei de ombros.
— E essas crianças? — Rianna olhou envergonhada para mim e Robin acenou.
— Você lembra da titia ? — Kimi disse e o mais novo assentiu com a cabeça e espremi suas bochechas para deixar um beijo nelas.
— Menino mais lindo! — Falei, vendo-o sorrir. — Com esses pais também, nem falo nada.
— Devo te lembrar da sua menina, ? — Kimi disse e ri fracamente.
— Ela puxou só a mãe. — Dei de ombros.
— Se tivesse tido outro pai... — Kimi cantou e olhei sugestivamente para ele.
— Matias! — O repreendi.
— Verdade! — Minttu virou para mim. — Toto... E então? — Olhei rapidamente em volta.
— Por favor, fale baixo... — Cochichei e ela riu fracamente.
— Interrompei os dois se agarrando na sala ontem, mas...
— Matias! — Dei um tapa em seu braço, fazendo seu menino rir e Minttu riu ao meu lado.
— Não!
— Não mesmo! — Falei firme. — Foi quase! — Ri fracamente. — Não que eu não queira ir até o fim, mas não o vi novamente, então vamos devagar.
— Se você e esse homem tiverem um filho, vai ser a criança mais linda do mundo. — Ri fracamente.
— Você sabe minha idade, Minttu. Zero intenções disso agora, por favor. — Ela riu.
— Se te consola, não parece. — Ri fracamente.
— Agradeço pelo carinho. — Ela me abraçou de lado, me fazendo sorrir. — Aproveitem o fim de semana, temos um velho para aposentar.
— Há! Há! Há! — Kimi disse, me fazendo rir.

— Ele vai odiar! — Falei rindo, vendo o adesivo recém-colocado no carro de Kimi escrito “Querido, Kimi, te deixaremos em paz agora”.
— Provavelmente. — Fred disse e sorri, me sentindo emotiva pelo fato.
— Ah, Kimi! — Suspirei.
— Está tudo bem? — Fred perguntou.
— Sim, só... — Ri fracamente. — Eu conheci Kimi no meu primeiro ano de Sauber, ele estava começando também, já se passaram 20 anos. — Virei para Fred. — Parece que eu não vi esse tempo passar.
— Não me faça chorar, ! — Virei para trás, vendo Kimi e ri fracamente.
— O dia que isso acontecer, abre uma cratera até o centro da Terra. — Apoiei a mão em seu ombro e ele me abraçou pela cintura. — Aproveite, Kimi! — Indiquei o carro, fazendo-o erguer o rosto.
— Ah, não! — Ele negou com a cabeça. — Não acredito nisso! — O restante da garagem riu com ele e soltei-o, dando um tapinha em seus ombros. — Obrigado, gente! Por tudo. — Ele assentiu com a cabeça.
— Eu que agradeço! — Falei.
— Faça uma boa qualy e uma corrida, e termine isso da melhor forma. — Fred disse e assenti com a cabeça.
— Vamos lá! — Kimi disse e toda equipe o aplaudiu, deixando-o incrivelmente desconfortável.
— Vamos lá, garotos! — Falei, acabando com a diversão, fazendo o pessoal dissipar.
Dessa vez acabei ocupando um lugar no pit wall ao lado de Frédéric, Ruth e o restante dos engenheiros. Eu estava tentando me encontrar ainda. Toto preferia ficar na garagem, Christian no pit wall. Cada CEO ou chefe de equipe tinha sua preferência, eu podia ser CEO da empresa, mas me sentia completamente perdida.
Quando o temporizador chegou a zero, nossos carros foram os primeiros a sair, mas os outros os acompanharam com muita rapidez. Antonio conseguiu fazer o sexto melhor tempo e Kimi o oitavo logo de cara. Verstappen ficou com o primeiro melhor tempo, depois Hamilton melhorou, trazendo Bottas em segundo e o corredor da Red Bull caiu para terceiro. Nas voltas finais, Antonio acabou caindo para décimo terceiro e Kimi para décimo sexto, saindo na Q1, me deixando frustrada.
Na Q2, Antonio fez o oitavo melhor tempo em sua primeira volta, mas acabou caindo conforme os tempos saíam e ele acabou finalizando em décimo quarto. Já sobre os candidatos ao título, Hamilton caiu para segundo lugar, Verstappen à sua frente com quatro centésimos de segundo a menos! O primeiro a cair na casa de 1:22, loucura! Já Bottas veio logo atrás de Hamilton.
Para o momento que todos esperavam, sobraram os três, além do outro piloto da Red Bull, as duas Ferrari, as duas McLaren, o novato da AlphaTauri e o mais novo da Alpine. As Red Bulls saíram na frente e Verstappen fez a melhor volta do fim de semana, Hamilton veio em segundo com 0,371 segundos a mais e Bottas em quarto atrás do mais novo da McLaren que surpreendeu a todos por estar entre eles.
Toto poderia não gostar o que eu vou dizer, mas Verstappen tem talento e está pronto para a briga.
— Dia difícil amanhã. — Frédéric disse e assenti com a cabeça.
— Nem fala! — Suspirei antes de pular do banco e atravessar o pit lane.

— Senhora ? — Parei meu passo, vendo Blanda correr em minha direção.
— Sim. — Falei, andando mais devagar para fora da nossa garagem.
— Vim te repassar as informações de amanhã. — Ela disse. — Caso a senhora já esteja de saída.
— Ah, sim, por favor. Creio que vou sim. — Falei, guardando o celular no bolso da saia.
— A corrida em si é só as cinco da tarde, os compromissos dos pilotos começam 15:20 somente, e temos uma pequena homenagem ao Kimi 16:40. — Assenti com a cabeça. — Caso a senhora queira vir só mais tarde e descansar mais um pouco... Aqui fica um tanto caótico em fim de campeonato, mesmo que não estejamos envolvidos diretamente. Tem sempre uma festa ou alguma celebração.
— Obrigada pelo aviso. — Caminhei ao seu lado. — Mas acho que já passei da idade de festas. — Ela riu fracamente e senti uma vibração em meu bolso e puxei o celular do mesmo, vendo a foto de minha menina. — Me dá um minuto, por favor.
— Te encontro no motorhome! — Ela disse e assenti com a cabeça, atendendo a ligação de Elëa.
— Oi, meine perle*! — Voltei para meu alemão.
Oi, mama! — Ela disse, me fazendo sorrir. — Como está aí?
— Está tudo bem, a qualy acabou tem alguns minutos, vou me preparar para voltar para o hotel. — Coloquei a mão livre no bolso, dando alguns passos. — E aí? Como está?
Tudo bem, acabei de voltar da casa do papai. A Vikna estava lá. — Ela disse desanimada e ri fracamente, sabendo que ela estava falando da filha mais nova de seu pai.
— Você não quis ficar lá, querida? Ela é nova, mas ela te ama. — Falei, suspirando.
Não, prefiro ficar em casa com a Sophie. — Ela disse sobre minha governanta. — Ela fez brezel! — Ela disse animada e ri fracamente.
— Que bom, meine perle! — Suspirei.
E aí? Como foi? Encontrou seu ex-namorado? — Ri fracamente, negando com a cabeça.
— Sim, nos esbarramos por aqui, parece que meu receio foi um tanto exagerado. — Ela gargalhou alto.
Eu te disse, mãe. Já faz tanto tempo, vocês estão velhos para ficar de picuinha!
— Elëa ! — A repreendi.
Desculpe, escapou! — Ri fracamente, negando com a cabeça.
— Como estão as coisas com seu pai? Com Nora? — Perguntei.
Você quer realmente saber ou está perguntando de educação? — Ri fracamente.
— Quem me odeia é ele, meine perle! Não tenho motivos nenhum para não querer saber do bem-estar do seu pai... — Senti meu ombro esbarrar em alguém e ergui o rosto rapidamente. — Verzeihung. — Falei, encontrando Toto sorrindo para mim.
— Keine probleme*. — Ele disse cruzando os braços e ri fracamente.
Está tudo bem, mãe? — Elëa perguntou.
— Sim, sim! Só esbarrei em alguém... — Apoiei o dedo no bocal. — Dois minutos. — Pedi para Toto.
Sabe, mãe...
— Sem pressa. — Ele disse.
Eu queria te perguntar uma coisa.
— O que agora, Elëa? — Perguntei, sentindo o olhar de Toto fixo em mim.
A gente é tipo rico, né?! Você é a CEO da Sauber, faz muitas entrevistas e afins... — Franzi a testa. — A gente até que vive uma vida bem discreta, apesar de tudo, certo?
— Onde você está querendo chegar com isso? — Perguntei, cruzando um braço.
Eu queria saber se eu posso te encontrar para corrida! — Ela disse e podia ver o sorriso dela e ri fracamente. — Eu nunca fui, mama! Por favorzinho! Prometo que não vou atrapalhar, mas todo mundo só está falando disso... — Ela emendou uma frase na outra, me deixando atordoada por alguns segundos. — Imagina ter a chance de ver essa corrida de camarote? Vai, mama! Eu adoro o esporte, vai! Por favorzinho, ir só nas corridas daqui de perto enquanto você é daí de dentro é piada. — Elëa! — A repreendi, forçando-a a parar de falar.
Por favorzinho? — Ri fracamente, olhando para Toto que tinha o sorriso para mim.
— Você sabe que são seis horas de voo, não sabe? Para um dia?
Ah, tem o treino na semana que vem, não tem? Posso ficar contigo! — Ela disse rapidamente. — Nem vai cansar tanto. — Suspirei, dando uma olhada em volta.
Elëa, assim como eu, cresceu com gosto pelo automobilismo. Afinal, eu na parte administrativa e o pai na fábrica, era difícil falar de outra coisa. Prometi que a deixaria ir em corridas quando ela fizesse 14 anos. Em 2019, deixei seu pai levá-la nas corridas da França, Áustria, Alemanha e Itália. Quando a pandemia chegou, o ano de 2020 ficou parado sem público, voltando este ano, a qual só tive coragem de liberá-la para da Itália, depois do meio do ano. Sendo CEO da Sauber, tinha que admitir que ela tem razão.
— Ok, ok! — Falei.
ISSO! — Ela gritou, me fazendo afastar o celular da orelha.
— Me escute! — Falei firme. — Eu vou pedir para Greta providenciar sua vinda, mas você vai fazer exatamente o que eu e ela mandarmos, entendeu?
Entendi! Entendi! — Ela disse rapidamente.
— Estou falando sério!
Eu faço o que quiser, mama! — Ela disse rapidamente.
— Faça suas malas, a Greta vai te ligar em breve! — Fale.
Ich liebe dich! — Ela disse animada, me fazendo rir.
— Ich weiss! — Respondi antes de desligar, vendo Toto rir de mim. — Oi, Torger!
— Oi, ! — Ri fracamente. — Se desculpando em alemão? — Ri, guardando o celular no bolso.
— Estava falando com minha menina. E você mudou de idioma bem rápido também! — Ele ponderou com a cabeça.
— A graça de falar alemão é que eles raramente te entendem. — Ele disse.
— Netflix está por perto?* — Brinquei, ouvindo-o rir.
— Sua filha vem amanhã?
— É! O que eu não faço para evitar drama adolescente? — Ele riu fracamente.
— Meus meninos estarão aqui também, caso queira juntá-los ou... — Ele deu de ombros.
— É, claro...
— Afinal, era para eles serem irmãos, não? — Ele disse e ri fracamente.
— Em um passado distante, talvez... — Falei e ele me deu um curto sorriso. — Como você está?
— Bem... — Ele disse, ponderando com a cabeça. — Não foi perfeito, mas...
— Senhora ! — Virei o rosto, vendo Greta aparecendo do corredor da garagem. — Desculpe, não sabia que estava acompanhava.
— Está tudo bem. O que foi? — Perguntei.
— Sua filha me ligou... — Revirei os olhos, levando as mãos à cabeça.
— Ah, Elëa! — Suspirei. — Ah, como ela é apressada!
— Nem parece que é sua filha! — Toto zoou com a minha cara e revirei os olhos.
— Você também? — Perguntei e ele riu fracamente. — Eu preciso lidar com isso, nos falamos depois. — Toquei levemente seu braço, sentindo-o segurar meu braço, fazendo meu corpo arrepiar.
! — Ele me chamou e ergui o rosto para ele. — Eu te encontro para jantar hoje. — Ele anunciou antes de me soltar e ri fracamente, vendo-o seguir para seu motorhome.
— Uh! As coisas estão esquentando! — Ouvi Greta e virei o olhar para ela que deu um sorriso.
— Não me provoque, Greta! — Pedi e ela fez uma careta.
— Então, Elëa? — Ela sorriu.
— Elëa! — Falei, suspirando.

*Meine perle: minha pérola.
*Keine probleme: sem problemas.
*Ich liebe dich: eu te amo.
*Ich weiss: eu também.
*Netflix começou a acompanhar as temporadas de F1 em 2018 para a série documental Drive to Survive.


“Vai dormir!” — Enviei para Elëa.
“Eu estou há duas horas para trás, você que deveria dormir”. — Ri fracamente, bloqueando o celular, sabendo que ela eventualmente me obedeceria, já que ela teria que acordar as quatro da manhã para chegar aqui faltando duas horas para a corrida começar.
Era muita vontade de sair de casa, queria eu ter esse pique.
Vi fracamente, olhando para as indicações que a Netflix me dava e bocejei, sabendo que as noites mal dormidas estavam começando a dar sinais. Havia se passado somente três dias, dois se formos contar os trabalhos com o carro, e eu já estava cansada. Desviei meu rosto ao ouvir alguns toques na porta e me levantei, seguindo até a mesma, abrindo-a e encontrei Toto do outro lado e um carrinho de comida em sua frente.
— Serviço de quarto? — Ele brincou e abri espaço para ele entrar, empurrando o carrinho.
Observei-o, mordiscando o lábio inferior e talvez devesse ter colocado outra roupa além do vestido fresquinho. Esse homem de bermuda caqui e blusa social branca fazia o ar faltar só pelo simples fato de ser lindo demais. Realmente, eu talvez tenha sido a pessoa mais idiota de todas.
— Você já jantou? — Ele perguntou.
— Precisei beliscar alguma coisa, você demorou demais. — Falei, fechando a porta. — Achei que não viesse mais.
— Desculpe, reunião de engenharia. — Ele disse e caminhei para mais perto dele.
— Seu pupilo está pronto? — Perguntei, roubando um breadstick do carrinho.
— Espero que sim! Os dois! — Ele disse e mordisquei o pão.
— Espero receber Bottas em um pedaço na segunda-feira. — Olhei sugestivamente para ele, vendo-o ponderar com a cabeça.
— Vou pensar no seu caso. — Ri fracamente.
— Foram cinco anos usando o Bottas para beneficiar o Lewis, Toto, dá um tempo, vai! — Lambi a ponta dos dedos ao terminar de comer o pedaço de pão.
— Lewis não ganharia sozinho o campeonato de construtores. Ainda preciso dele para ajudar o Lewis a manter o Verstappen longe... — Revirei os olhos. — Tenha esse peso nas suas costas e me diga se você não terá o piloto número um e o piloto número dois. — Ele disse.
— Isso tira a graça do esporte, Torger! Onde está sua empolgação? Sua vontade de vencer? Abrir passagem ou manter posição nem deveria existir aqui. — Andei até a mesa, vendo-o trazer o carrinho para si.
— Não seja ingênua, , você sabe que não é assim. Quando o dinheiro está em jogo, tudo muda. — Suspirei, erguendo o olhar para ele.
— Você não está fazendo besteira, está? — Olhei para ele.
— O que quer dizer? — Ele descobriu os pratos e os colocou na mesa.
— Casualmente molhando a mão da FIA... — Ele arregalou os olhos.
— O quê? Não! Eu nunca...
— Você pode ser honesto comigo. — Falei séria e ele se sentou em minha frente, me entregando os talheres.
— É um esporte sujo, . Você não vai querer saber. — Suspirei.
— Você não é o único a comandar uma empresa inteira, Torger. Eu só trabalho com menores proporções do que você, mas lido com muito mais história do que você... — Ele suspirou, erguendo o olhar para mim.
— Às vezes precisamos sair um pouco do livro para fazer as coisas acontecerem. — Ele deu de ombros.
— Como se casar com uma menina que você nem conhecia? — Seus olhos focaram nos meus, ficando em silêncio por alguns segundos.
— Talvez... — Ele deixou um sorriso se formar em seus lábios.
— Não se queime por pouco, ok?! — Falei casualmente, mexendo um pouco nos fios de massa a pomodoro.
— Pouco? — Ele perguntou.
— Os milhões dos campeonatos podem ser incríveis, mas sua carreira é maior do que isso. — Dei um curto sorriso, colocando o cabelo atrás da orelha antes de inclinar um pouco o rosto para a comida e evitar que fizesse sujeira.

— E como estão as coisas do outro lado do paddock? — Toto perguntou e descansei os talheres, limpando a boca com o guardanapo.
— Não foi exatamente a qualy ideal... — Ri fracamente. — Mas Antonio conseguiu passar para a Q2, já é alguma coisa...
— Perguntei mais sobre a aposentadoria do Kimi, imagino que esteja pensativa sobre... — Ele perguntou e suspirei.
— Eu não sei, honestamente. Kimi é um amigo, mantivemos contato mesmo quando ele saiu da Sauber, fui em seus dois casamentos, conheci seus filhos quando nasceram... Ele correndo ou não, não vai fazer diferença nenhuma. — Apoiei uma mão na mesa. — Não é como se eu viesse muito. — Ele deu um riso fraco, sorrindo para mim.
— E agora? Decidiu vir? — Ri fracamente.
— Quem sabe o que vai acontecer ano que vem? Tem muitas variáveis a levar em conta, mas eu gosto da minha casa. — Ele sorriu.
— Onde você mora? Exatamente. — Ele perguntou.
— Hinwil, é onde a fábrica está. — Falei. — Saí de Zurique quando minha filha completou cinco anos. Achei melhor para criá-la, é mais quieto, as escolas são boas...
— Hinwil... — Ele pensou. — É uns 60 quilômetros de Thurgau, não? — Ponderei com a cabeça.
— Não sei, acho que por aí, por quê? — Perguntei.
— Eu tenho uma casa lá. — Ele disse e ri fracamente.
— Então, esse tempo todo, estivemos separados por 60 quilômetros? — Falei e ele riu fracamente.
— Tenho uma em Oxford também. — Ele disse. — É onde eu passo mais tempo por causa da Mercedes, mas é... Basicamente. — Ri fracamente.
— O mundo é realmente pequeno. — Falei e ele concordou em um aceno.
— Nem fala. — Ri fracamente. — Agora que você decidiu aparecer, podemos nos encontrar no meio do caminho... — Ri fracamente.
— É... Podemos! — Suspirei. — Bem, falamos sobre como ficou o meu lado da garagem após a qualy. E o seu? — Bebi mais um gole da minha taça de vinho.
— Bem, não foi ideal! — Ele riu nervoso. — Mas são só três centésimos. E a primeira curva é à esquerda, se o Lewis fizer uma boa largada, pode compensar. — Assenti com a cabeça. — Valtteri largando em sexto não ajuda muito, mas ele escala o pelotão facilmente.
— É... Eu gosto disso nele. O que ele fez em Monza* foi... — Ele riu fracamente.
— Se a McLaren não tivesse tido o fim de semana perfeito, talvez ele conseguiria ter ganhado ainda.
— Depois do seu queridinho precisar abandonar. — Falei.
— Não, aquilo foi loucura! — Ele aumentou o tom de voz. — Se não fosse o halo, Lewis poderia ter morrido ali.
— Ah, sem dramatizar, Toto. — Falei rindo.
— Sem dramatizar? ! Ele subiu em cima do Lewis! Isso não acontece há anos! — Ele disse.
— Vai ver ele só estava querendo dar o troco sobre a Grã-Bretanha*. — Tomei mais um gole de vinho, olhando por ele por cima da taça ao mencionar quando Lewis o tirou da pista logo na primeira volta. — A vantagem é que o seu queridinho ainda conseguiu ganhar a corrida, em Monza ele se prejudicou também.
— Você está protegendo-o? — Ele perguntou e ri fracamente.
— Eu não estou protegendo ninguém... — Me levantei da cadeira. — Fatos, Toto! Fatos! — Caminhei pela sala. — Não tomar partido, era exatamente isso que estávamos falando no começo do jantar. — Apoiei o quadril no sofá.
— Não tem nada a ver com tomar partido, . Ele transformou a temporada em uma verdadeira guerra. — Ele disse, se levantando, deixando sua altura mais evidente.
— Agora quem está sendo ingênuo é você, Toto! — Cruzei os braços. — Finalmente vocês possuem um competidor à altura e está reclamando? Não fica chato competir sozinho após um tempo? Deve ser péssimo.
— Não desse jeito. Não como ele e Horner fizeram. — Ele deu alguns passos para frente.
— Quer dizer que vocês precisam melhorar seus carros para o ano que vem. — Ri fracamente, vendo seu olhar me encarando. — O quê?
— Eu só estou chocado. — Foi minha vez de franzir a testa.
— Você pode não gostar do garoto, Torger, mas não pode negar que ele tem talento. — Falei.
— Eu realmente não preciso ouvir isso agora. — Ele disse. — Não antes da corrida amanhã.
— Você era menos dramático. — Falei, negando com a cabeça.
— E você falava menos besteira. — Franzi a testa, olhando para ele, vendo-o apertar a cabeça.
— O quê? — Ri incrédula. — Ter sua própria opinião agora é crime?
— Ah, não. Claro que não! Se fosse, você não teria me largado no altar, não é?! — Franzi a testa.
— Desde quando começamos a falar sobre isso? — Sacudi a cabeça.
— Não começamos! — Ele disse firme. — Afinal, nunca falamos sobre isso, do contrário eu não teria pagado o mico do ano na frente de todas as pessoas mais importantes da Áustria. Sabia que ainda me zoam sobre isso? — Respirei fundo.
— Estávamos falando de outra coisa, Torger.
— Quando estávamos falando sobre o que você queria estava tudo bem, agora que queremos falar sobre o que eu quero...
— Eu não sabia que você queria falar sobre isso. Você disse que não queria gritar comigo... — Engoli em seco quando minha voz ficou um pouco mais alta.
— Mas eu não queria gritar contigo. — Ele disse apressado. — Eu só queria entender... — Ele riu fracamente e ali eu via um Toto que eu nunca tinha visto antes: magoado. — Por que você não foi falar comigo? Eu entenderia.
— Falar como? Você demorou dois anos para trocar uma palavra comigo! — Foi a vez do meu tom de voz ficar mais alto. — Quando meu pai sugeriu, você nem chegou a pensar em mim! Só pensou sobre o dinheiro e as conquistas que isso te daria.
— E você não poderia ter falado antes? Precisava ter deixado para o último minuto? — Seu tom aumentou antes. — Nós tomamos café juntos naquele dia! Duas horas antes de tudo começar! Duas horas! Você não achou que deveria ao menos me contar das suas dúvidas? Eu entenderia!
— Ah, estou vendo mesmo! Da mesma forma que está entendendo agora! — Falei firme. — Eu só tinha 17 anos! Eu não estava pronta para aquilo! Minha vida foi decidida por mim em todos os momentos.
— Nós nos conectamos, ! Eu entenderia se você falasse. Você nunca disse nada! — Sua mão esticou para longe.
— Eu nunca tive voz na minha vida, Toto! — Minha voz aumentou e senti as lágrimas chegarem aos olhos. — Durante toda minha vida tudo foi decidido para mim! Cada roupa que eu usava, cada caminho que eu andava, que curso eu faria, que educação eu teria. Eu queria pelo menos escolher com quem passar o restante da minha vida.
— Ah, a tradicional história da menina rica! — Ele desdenhou.
— Você era um pouco mais velho, você que deveria tomar as rédeas da situação. — Dei um passo à frente.
— Não jogue a culpa nas minhas costas.
— Não? Que merda, Toto! Minha filha tem quase a idade que eu tinha naquele dia! Ela é um bebê! — Falei firme. — É um bebê pensante, com sua própria opinião e gostos! Eu nunca tive nada disso! — Falei mais alto. — Nunca que eu obrigaria minha filha a se casar com um completo estranho simplesmente por poder.
— Nunca foi poder, .
— ENTÃO O QUE FOI? — Minha voz saiu mais alta do que o esperado. — Você mal tinha olhado na minha cara quando meu pai propôs aquilo. — Suspirei. — Você mal sabia meu nome. — Engoli em seco. — Você só aceitou... — Ri fracamente em nervoso. — Não se importou em me perguntar qual era minha cor favorita. Qual meu animal de estimação favorito ou qual minha comida favorita. Você só disse sim para o dinheiro. — Ri fracamente e ele olhou para mim.
...
— Me diga uma coisa, Toto. Se realmente tivéssemos nos casado e a vida tivesse seguido como o plano, quem seria o CEO da Mercedes? Eu ou você? — Olhei em seus olhos, vendo-o finalmente sem respostas e assenti com a cabeça. — Eu poderia ser quem eu sou hoje? Poderia ter criado tudo o que criei? Conquistado tudo o que conquistei? — Engoli em seco. — E o mais importante: ainda estaríamos juntos ou você teria me trocado por alguém mais nova? — Mordisquei meu lábio inferior.
— Eu nunca pensei tanto assim, , eu...
— Nem me assusto você estar ambicioso sobre amanhã, seu interesse principal sempre foi o dinheiro. — Falei, pressionando os lábios. — Talvez o problema não seja Lewis ou Max. O problema é você e o Horner mesmo. — Suspirei, sentindo a cabeça doer. — Obrigada pelo jantar, mas preferiria ter passado sem isso. — Mordisquei o lábio inferior.
— Eu não queria...
— É melhor você ir, Toto. Você precisa se preparar para amanhã. — Dei a volta no sofá, me sentando onde eu estava antes de ele chegar.
— Me desculpe, . Eu não pensei, eu... — Sua voz era mais calma.
— Achei que ao menos você entenderia. — Falei fracamente, deixando meu corpo afundar no sofá.
Sua respiração forte ainda soou atrás de mim por alguns minutos, mas pouco tempo depois ouvi seus passos pelo quarto antes da porta bater com força. Meu corpo deslizou pelo sofá e deixei as lágrimas finalmente deslizarem pela minha bochecha.

*No GP de Monza, Bottas largou em último por penalidades e ainda ficou em 3º. Max e Lewis bateram e abandonaram.
*No GP da Grã-Bretanha, ambos colidiram também e Max teve uma batida equivalente a 56G, mas ficou bem.


Passei as mãos nos olhos, deixando as lágrimas de lado e me levantei do sofá. Caminhei pela sala, andando pelo quarto e vi a bagunça do jantar desastroso. Empilhei os pratos, colocando-os no carrinho e peguei a garrafa de vinho tinto e coloquei-a na boca, virando o restante para dentro, suspirando em seguida.
— Saúde! — Falei para mim mesma.
Que noite terrível! Talvez ficar escondida na Suíça não tenha sido minha melhor escolha, mas é a que dava menos dor de cabeça. Eu sabia disso, sabia que isso ia acontecer, por isso eu fugi por tanto tempo. Sabia que não estava pronta para isso, e era difícil saber que eu tinha razão.
Virei o rosto para a porta quando ouvi dois toques e chequei o horário, era quase meia-noite, Greta não viria casualmente atrás de mim agora, o que só me restava uma opção. Deslizei até a porta, respirando fundo e a abri devagar, dando de cara com Toto novamente. Ele tinha o braço apoiado no batente da porta e ergueu os olhos quando a abri.
— Por favor, Toto. Eu não quero mais fazer isso... — Ele suspirou.
— Sua cor favorita é verde água. — Ele disse fracamente. — Ou azul piscina, o que para mim é a mesma coisa, mas é a cor que usamos na Mercedes até hoje. — Engoli em seco. — Seu animal favorito é cachorro. Especialmente o seu cachorro, Niki, em homenagem ao Lauda. — Pressionei os lábios. — Cheguei a contar isso para ele um dia, ele riu muito. — Ri fracamente. — Você também tinha algo com focas, que eu nunca entendi. — Assenti com a cabeça. — E suas comidas favoritas eram o brezel da Maily, que trabalhava na sua casa... — Mordisquei os lábios. — E käsekrainer, que eu fico feliz em saber que você gosta até hoje.
— Como você sabe is...
— E sobre sua pergunta se estaríamos juntos até hoje, minha resposta é sim. — Ele disse firme. — No começo foi por poder sim. Eu não nasci rico, . Depois que meu pai morreu, eu só queria cuidar da minha mãe e minha irmã. — Pressionei os lábios. — Mas depois... Você não falava muito, mas eu me apaixonei mesmo assim, eu faria qualquer coisa para ficar ao seu lado. — Ele suspirou e senti as lágrimas quererem aparecer novamente. — E provavelmente você seria a CEO, talvez assim tivéssemos bem mais do que oito títulos consecutivos. — Ele deu um sorriso e uma lágrima deslizou em minha bochecha e pressionei os lábios fortemente. — Talvez seja por isso que eu nunca te perguntei o que você queria, pois você talvez não gostasse de mim de verdade. — Engoli em seco. — E eu não aguentaria perder você. — Suspirei. — Foi por isso que eu corri atrás de você, não queria perder a garota mais incrível que eu conheci.
— É claro que eu gostaria de você de verdade, Toto. — Levei uma mão até seu rosto, vendo-o fechar os olhos com o feito. — Por 30 anos eu me perguntei quem é a idiota que te largaria no altar... — Ri fracamente. — Eu fiz isso, e até hoje não tenho certeza se fiz a escolha correta. — Ele deu um curto sorriso.
— Me desculpe, . Pela forma que eu falei contigo. — Assenti com a cabeça.
— Desculpe por fugir de você. — Ele fez o mesmo movimento que o meu.
— Não tem o que desculpar, você está certa, eu deveria ter negado. Eu era mais velho, eu poderia tentar da forma convencional... — Abaixei minha mão, apoiando-a em seu ombro, deixando a diferença de altura mais gritante pela falta de salto alto.
— Ainda pode... — Brinquei, vendo um sorriso aparecer em seu rosto.
— Será que ainda dá tempo de corrigir os erros do passado? — Ele perguntou e assenti com a cabeça.
— Ainda estamos aqui, Toto. — Ele sorriu e dei um passo à frente, apoiando a outra mão em seu peito. — E eu não vou a lugar nenhum. — Falei baixo, ficando na ponta dos pés, colando meus lábios nos dele.
Suas mãos abaixaram pela minha cintura, pressionando os lábios com mais força. Ele me empurrou para trás, me obrigando a dar alguns passos para trás e fechou a porta atrás de nós em um baque.
Subi a outra mão para seus ombros, me mantendo mais próxima dele e suas mãos deslizaram pela lateral do meu corpo, descendo pelas minhas pernas e firmaram em minhas coxas. Em um rápido movimento, ele me ergueu no ar e passei as pernas ao redor de seu corpo, rindo sozinha pela facilidade que ele fez isso.
Ele caminhou pelo quarto, me levando até a bancada da área da cozinha e fiquei feliz por poder ficar literalmente à altura desse homem. Suas mãos foram para meu rosto, me obrigando a olhar em seus olhos castanhos e ele tinha um largo sorriso nos lábios, deixando as rugas mais óbvias.
— Muito mudou, certo? — Comentei, encaixando a mão em sua nuca, deslizando o polegar pelos seus lábios.
— Sim... — Ele acariciou meus cabelos. — Mas também parece que não passou um dia. — Sorri.
— Talvez não. — Sorri e nossos lábios colaram novamente.
Não que eu tivesse tido muitos relacionamentos na vida, mas beijar Toto era uma das experiências mais incríveis da minha vida. Seus lábios sabiam como trabalhar, sua língua sabia como tirar meu fôlego e suas mãos faziam jus à sua altura.
Elas desceram para minhas pernas, apertando as mãos e seu corpo veio para mais perto do meu, fazendo o vestido subir para minha cintura. Minhas mãos foram para seu corpo circundando sua cintura e o puxei contra mim, fechando minhas pernas em sua cintura.
Seus lábios ficaram cada vez mais ágeis sobre os meus, fazendo nossos narizes roçarem diversas vezes. Meus lábios se fecharam sobre os seus, mordiscando-os diversas vezes e dei um curto sorriso quando suas mãos subiram pelas minhas pernas, entrando embaixo do tecido. Seus olhos procuraram pelos meus de forma intensa e dei outra mordiscada em seus lábios.
Ele deixou um curto selinho em meus lábios, descendo pelo meu rosto e minhas mãos descansaram em sua cintura quando ele chegou em meu pescoço. Ele começou a deixar curtos beijos e a sugar minha pele, me obrigando a mordicar o lábio inferior. Suas mãos subiram por dentro de meu vestido, firmando em minha cintura.
Ergui meu rosto, deixando os suspiros escaparem pelo mesmo e mordisquei o lábio inferior quando sua língua deslizou pelo meu pescoço. Apertei minhas mãos em sua cintura, puxando-o para mais perto de mim. Enquanto Torger fazia questão de deixar marcas em meu pescoço, subi minhas mãos para seu peito, começando a desabotoar os botões de forma desajeitada, sem capacidade de focar.
Toto deslizou uma mão para minha perna, apertando a parte interna com o polegar, me fazendo soltar um suspiro e nossos olhares se encontraram novamente, fazendo a respiração sair forte de meus lábios. Ele mordiscou meu lábio inferior, levando sua língua até minha boca e suguei-a para dentro de meus lábios novamente, fazendo-o pressionar nossos lábios novamente e meus olhos se fecharem.
Minhas mãos continuaram o trabalho com os botões e deslizei a mão pelo centro de seu peito, sentindo seu peito nu e que havia conseguido abrir tudo. Deslizei as mãos para a barra de sua blusa, puxando-a da bermuda e nossos lábios se afastaram quando consegui. Desci meus olhos para seu peito e coloquei o cabelo atrás da orelha antes de deixar curtos beijos pelo local.
Subi minhas mãos para seus ombros, empurrando a camisa para trás e Toto puxou-as para trás, fazendo seus músculos tensionarem, ficando mais em evidência. Passei a língua pelo seu peitoral, subindo até seu pescoço e dei curtos beijos no mesmo, sugando levemente a pele, fazendo os lábios estalarem com o feito.
Suas mãos voltaram para minha cintura, pressionando seu corpo no meu e soltei um gemido quando senti sua ereção pressionar em minha vagina, me obrigando a erguer meu rosto, vendo-o com um sorriso nos lábios e a língua brincando dentro da boca. Ele subiu meu vestido, dessa vez erguendo-o e puxou-o pela minha cabeça, jogando a peça para longe.
Sem esperar um segundo a mais, suas mãos deslizaram pela minha barriga, seguindo até minhas costas e ele soltou o sutiã, encarando uma das melhorias que fiz em meu corpo. Ele inclinou o corpo para o meio de meu colo, dando um beijo em meu seio e gemi quando senti uma mordida em meu mamilo.
Minha cabeça automaticamente foi para trás e as mãos apoiaram na bancada atrás de si. Não contente em me fazer ver estrelas com seus lábios, a outra mão apertou forte o outro seio, pressionando o mamilo entre os dedos, me deixando cada vez mais úmida.
Senti meu corpo deslizando cada vez mais para trás conforme minhas pernas deslizavam pela sua cintura e base das costas e a mão livre de Torger foi para o local, me puxando com força para si, tentando atingir os mais diversos pontos ao mesmo tempo.
— Ah, Toto... — Suspirei, passando as mãos nos cabelos e ele deu outra mordiscada antes de alinhar seu rosto no meu, me forçando a abraçá-lo pelos ombros, mantendo-o próximo de mim.
— Deita... — Ele sussurrou, dando uma mordiscada em meu lábio e seu corpo me inclinou para trás.
Senti meu corpo se arrepiar pelo contato com a bancada de mármore gelada, Toto apareceu em minha visão enquanto uma mão acariciava minha cabeça e outra a minha barriga. Ele sorriu para mim e tive a certeza de que eu fiz merda ao fugir dele anos atrás. Talvez não fosse esse Toto, mas caramba...
Sua mão em minha barriga deslizou mais para baixo, adentrando minha calcinha e mordisquei o lábio inferior, tentando manter seu olhar sobre o meu. Minhas pernas entreabriram automaticamente e arfei quando seus dedos tocaram meu clitóris e desceram para minha vagina. Ele deslizou seus dedos pela extensão completa, adentrando os grandes lábios e suspirei.
— Hum... — Apertei meu seio com uma mão e a felicidade acabou segundos depois quando sua mão fez o caminho contrário. — Não faça isso...
— Não? — Seu rosto ficou sério e o vi levar os dedos indicador e médio a boca, sugando-os para dentro e aquilo me arrepiou.
— Não para... — Sussurrei e ele se inclinou em minha direção, segurando meu rosto e colando nossos lábios em um beijo mais delicado.
Segurei sua mão, apertando-a com firmeza e levei-a em direção à minha vagina e um riso misto saiu de seus lábios antes de ele entrar em minha calcinha novamente. Seus dedos seguiram para o mesmo caminho, entrando em meus grandes lábios e ele deslizou dois dedos com facilidade para minha entrada, me fazendo suspirar e contrair a barriga.
Os movimentos de Toto eram firmes e precisos, e a palma de sua mão roçava em meu clitóris, fazia com que alguns suspiros escapassem de meus lábios. Toto se inclinou sobre meu corpo, deixando alguns beijos em minha barriga, seguindo um caminho até meus seios, voltando a beijar e mordiscar meu mamilo.
Suspirei com seu rosto enfiado em meu decote e puxei-o pelo cós da bermuda, querendo-o para perto de mim, mas não conseguia me mover com ele dessa forma e nem trabalhar com somente uma mão. Percebendo isso, ele segurou minha mão, subindo para minha cabeça e seu rosto se alinhou ao meu, dando seu olhar sério, me fazendo suspirar.
— Sich beruhigen*... — Ele mandou eu me acalmar e mordisquei o lábio inferior.
— Ich kann nicht*... — Neguei ao seu pedido e ele afundou mais seus dedos, e deixei um gemido escapar de meus lábios.
Com a mesma força que seus dedos entraram em mim, eles saíram de mim. Toto saiu de meu lado, se colocando na ponta da bancada e suas mãos seguraram firmes em minhas pernas, fazendo meu corpo deslizar pela bancada devido ao tecido da calcinha e suas mãos foram para o local, puxando-a com força para fora, fazendo um som de rasgo ser ouvido.
Ergui meu rosto em sua direção, tentando ver o estrago, mas só encontrei seus olhos fortes e penetrantes nos meus enquanto suas mãos erguiam minhas pernas para seus ombros. Um segundo tinha seus olhos nos meus, no seguinte ele tinha a boca em minha vagina, dando fortes sugadas.
— Merda! — Gemi alto, jogando a cabeça para trás, sentindo suas mãos apertarem as laterais de minhas nádegas e meu corpo funcionava quase como um ímã, mantendo seus lábios colados em meu corpo.
Sua língua começou a trabalhar entre as sugadas e sentia seus lábios sugarem com força, fazendo meu corpo ser inclinado para trás, deixando minhas costelas ficarem expostas. Gemi alto quando senti seus dedos abrindo mais meus lábios para que sua língua chegasse fundo. Conforme eu contraía meu corpo, sua mão apertava com mais força minha bunda.
— Merda, Torger! — Minha voz saiu falhada e entre gritos. Ele deu uma forte sugada em meu clitóris, fazendo um gemido alto sair de meus lábios quando um forte orgasmo me atingiu. — Ah, Toto...
Ele continuou lambendo e mordiscando meus lábios, fazendo com que os gemidos até que contidos se transformassem em curtos gritos com a constante sensação de orgasmo em meu corpo, mandando vários sinais elétricos para todas as partes dele.
— Merda, Toto! Ah, merda! AH! — Um gritinho escapou e vi seus olhos subirem para os meus, me fazendo fuzilá-lo com o olhar.
— Está bom aí? — Ele falou provocativo.
— Eu vou te matar! — Falei entre dentes, sentindo a respiração pesada fazendo meu peito subir e descer.
— Não brinque sem mim. — Ele disse e vi o movimento de suas mãos e um barulho metálico indicou que seu cinto e sua bermuda foram para o chão.
Suas mãos foram para minhas pernas, tirando-as de seus ombros e coloquei os pés na bancada. Ele separou minhas pernas, deixando-as escancaradas e mordisquei meus lábios. Ele se impulsionou na bancada, se colocando em cima de mim e senti sua ereção deslizar pela minha vagina. Ele deixou outra mordida em meu mamilo já sensível e seu rosto se alinhou ao meu, me dando um sorriso safado.
Minha mão foi para sua nuca, puxando seus cabelos tingidos e pressionei nossos lábios, sentindo-o fazer o mesmo, deixando os braços apoiarem na bancada ao lado de meu rosto e suguei sua língua para minha, sentindo-o responder à altura, me deixando sem ar em poucos segundos.
— Merda! — Gemi quando senti seu pênis deslizar pela minha entrada e ele me deu um olhar sério antes de afundar dentro de mim. — Ah, merda! — Apertei meus braços em suas costas, apertando-o com força, sentindo seus lábios afundarem em meu pescoço.
Seu pênis entrou apertado dentro de mim, mas ele não se importou, deixou meu corpo se acostumar com ele dentro de mim por poucos segundos antes de começar a fazer movimentos de vai e vem, fazendo meu corpo já se contrair em prazer. Eu ainda estava em orgasmo de antes, isso seria tortura se não fosse tão bom.
Sua respiração batia forte em meu pescoço, enquanto minhas mãos apertavam e arranhavam suas costas. Uma mão livre sua apertou meu seio, fechando-o entre os dedos, enquanto seus suspiros finalmente se misturassem com os meus, fazendo seu largo pênis sair completamente de mim antes de pressionar de uma vez só.
— Ah, merda! — Fechei as pernas em seu quadril, mantendo seu corpo próximo ao meu e deixei que os movimentos constantes deixassem meu corpo eletrificado novamente.
— Ah, ! — Ouvi seu suspiro em meu ouvido e seu quadril forçou mais alguns movimentos dentro de mim, fazendo outro orgasmo me atingir sem demora.
— Ah, Torger! — Minha voz saiu afinada e tombei minha cabeça para trás.
— Vamos! Porra! — Ele xingava em alemão, me deixando cada vez mais desnorteada.
Ele apoiou as duas mãos ao lado de minha cabeça, olhando em meus olhos e fechei minhas mãos em seus pulsos. Eu não tinha mais capacidade para focar em seus olhos, meu corpo era impulsionado conforme seus movimentos e os gritinhos que escapavam de meus lábios só me comprovavam o quão contraída eu já estava.
— AH! Toto! Ah, merda! — Meus gritinhos saíam bagunçados, até que ele parou, me fazendo sentir seu gozo dentro de mim. — Caralho! — Relaxei meu corpo no gelado, sentindo pequenos choques passar pelas minhas articulações. — Porra, Torger. — Tombei a cabeça para o lado, deixando a respiração se acalmar.
Senti seus lábios em minha bochecha, deixando um curto beijo e seu corpo se ajeitou em cima do meu, deixando nossas respirações fortes serem nossa trilha sonora por alguns segundos ou minutos. Enquanto isso, meu corpo relaxava, e uma mão fazia carinho em seus cabelos.
— Toto... — Suspirei.
— Hum... — Ele respondeu, erguendo o olhar para mim.
— Eu estou mole... — Falei, ouvindo-o rir e seu rosto se ergueu ao meu.
— Você é perfeita. — Ri fracamente, negando com a cabeça.
— Não, você é! — Disse, acariciando seu rosto e nossos lábios se tocaram em um longo selinho. — Merda, eu poderia ter tido isso por 30 anos... — Fechei meus braços em suas costas novamente e ele riu fracamente.
— É... Poderíamos. — Ele apoiou as mãos na bancada, erguendo seu corpo e meus braços caíram na bancada de novo. — Aguenta aí! — Ele disse, me fazendo gemer quando saiu dentro de mim e o vi descer da bancada.
Quando ele foi para meu lado novamente que eu finalmente pude vê-lo de corpo inteiro. Merda! Nem parece que esse homem faria 50 anos em menos de um mês. O corpo musculoso, o largo pênis, o peito limpo. Merda!
— Vem! — Ele disse, passando as mãos em meu corpo, me pegando no colo e me segurei em seu pescoço, observando seus olhos.
Ele caminhou com facilidade comigo até a suíte e me colocou na cama, me fazendo relaxar com a superfície macia e morna, apesar do corpo suando e do tempo quente lá fora. Ele se debruçou sobre mim, acariciando meu rosto, colocando meus cabelos para trás e me beijou novamente. Minha mão foi até a sua e nossos dedos se entrelaçaram quando ele se afastou.
— Não vá... — Pedi e ele negou com a cabeça.
— Não vou a lugar nenhum. — Ele disse, puxando a coberta para cima de meu corpo e depois deitou ao meu lado. — Eu estarei aqui quando você acordar.
Ele se aproximou de meu corpo, colando seu peito e seu pênis em minhas costas, passando um braço pela minha barriga e minha mão foi para cima da dele, entrelaçando os dedos. Gostaria de ficar acordada aproveitando o momento, mas o cansaço me ganhou rápido demais.

*Sich beruhigen: acalme-me.
*Ich kann nicht: não posso.

Capítulo 5

12 de dezembro de 2021


Gemi ao ouvir um som atrapalhar meu sono. Meu corpo inteiro estava mole e eu sentia que não havia dormido o suficiente. O som se intensificou e finalmente consegui identificar que aquilo não era o meu despertador, e algo ao meu lado começou a se mexer.
— Die scheiße! — A voz exclamou e finalmente abri os olhos, percebendo que era Toto.
Observei-o andar pelo quarto, me deixando uma linda — e embaçada visão — de suas costas nuas e sua bunda torneada e mordiquei o lábio inferior, apoiando o braço na cabeça para levantá-la um pouco mais e o observei fuçar em sua bermuda e cessar o som.
— Verzeihung... — Toto exclamou voltando para o quarto e dei um curto sorriso ao ver esse homem de corpo inteiro mais uma vez.
— Que horas são? — Perguntei e ele se sentou ao meu lado.
— 5:30.
— O quê? — Tombei a cabeça para trás. — Ah, meu Deus, Torger! — Apoiei a cabeça no travesseiro novamente, puxando a coberta para cobri-la. — Por que tão cedo?
— Me exercitar, dar uma olhada em relatórios das minhas empresas, tomar um bom café da manhã, me preparar para o dia?! — Ele disse como se fosse óbvio e neguei com a cabeça.
— Nem a pau! — Ele puxou a coberta. — Não acordo antes do sol de jeito nenhum! — Ele tinha um sorriso nos lábios e retribuí.
— Quer dormir mais um pouco? — Ele acariciou meu rosto. — Posso te deixar dormir.
— Não! — Levei minha mão até a sua. — Não vá... — Ele sorriu e inclinou seu corpo no meu, dando um curto beijo em meus lábios. — Eu quero entender...
— O quê? — Ele perguntou.
— O que aconteceu ontem. — Ele riu fracamente, se sentando ao meu lado.
— Achei que eu tivesse sido bem claro. — Ele acariciou meus cabelos e me sentei, deixando a coberta cair em meu colo e joguei os cabelos para trás.
— Minha cabeça está um pouco nublada depois de ontem. — Brinquei e ele riu fracamente. — Você era apaixonado por mim, Toto? — Suspirei, erguendo minha mão até seu rosto e ele assentiu com a cabeça.
— Eu não sei como aconteceu, mas você sempre estava lá. — Ele apoiou uma mão em minha perna. — Acabei tendo a necessidade de te agradar, de ficar perto de você e tudo foi me inebriando... — Suspirei.
— Não acredito que eu fugi... — Ele negou com a cabeça.
— Não faça isso, . Você fez o que achou melhor. — Ele disse. — Também não gostaria de ficar com alguém que eu não gostasse...
— Mas eu gostava de você. — Suspirei. — Eu só não achava que você gostava de mim. — Pressionei os lábios. — Você sempre foi tão quieto, tão discreto, tão sério... Nunca pensei que você gostasse de mim. Sempre achei que eu fosse um meio para um fim... — Ele negou com a cabeça.
— Mentiria se dissesse que não, mas isso foi mudando com o tempo... — Ele suspirou. — Eu comecei a prestar atenção em você e tudo que você fazia... Eu me apaixonei. — Neguei com a cabeça.
— Não acredito que eu acabei o que poderia ter sido uma história incrível.
— Bem, é uma história incrível! — Ele disse, me fazendo rir. — Você fugiu de um casamento na Stephansplatz! — Ri com ele, inclinando minha cabeça em seu ombro. — E nos encontramos 30 anos depois e estamos dividindo a cama pelados. — Ri fracamente.
— Acho que estou mole até agora. — Falei, vendo-o sorrir.
— Bom! — Ele ergueu meu queixo, colando nossos lábios rapidamente.
— Como foi? — Perguntei, acariciando seu rosto.
— Como foi o quê? — Ele levou as mãos em minha cintura e me impulsionei para sentar em seu colo, sentindo suas mãos na base da minha cintura.
— Enfrentar toda a igreja sozinho. — Perguntei.
— Foi caótico! — Ele colou os lábios em minha bochecha. — Seu pai estava surtando... Eu fiquei sem palavra por um tempo. Acho que eu falei “vão embora, ela fugiu”, não lembro de muito mais. — Assenti com a cabeça. — Eu estava magoado.
— Imagino. — Dei um curto sorriso, levando as mãos até sua nuca, acariciando-a levemente.
— Eu fui ao banheiro e eu chorei. Eu genuinamente chorei. — Neguei com a cabeça. — Eu pensei no que poderia ter feito de diferente, falado mais contigo, tentado entender seu lado... Te chamado para sair. — Sorri.
— Pelo menos daria uma quebrada no gelo. — Comentei e ele assentiu com a cabeça.
— Quando sua amiga chegou com seu bilhete, tudo clareou na minha cabeça. — Suspirei. — Mas é, acabou machucando meu ego um pouco. — Ri fracamente.
— Me desculpe, Toto, por tudo. Acho que vivíamos em dois mundos diferentes, um que você era apaixonado por mim e eu me sentia presa na minha própria realidade. — Ele assentiu com a cabeça.
— Agradeço, mas você não precisa se desculpar por nada. — Ele disse. — Apesar de tudo, foi errado. — Ele suspirou, me abraçando mais forte. — Você não teve escolha, mas eu nunca deveria ter aceitado isso. — Assenti com a cabeça.
— Ao menos você chegou aonde queria mesmo sem o casamento.
— Mas eu perdi você. — Pressionei os lábios. — Poderia ter ficado ao menos com sua amizade. — Ri fracamente.
— Se você tivesse ficado somente na amizade, ontem nunca teria acontecido. — Ele abriu um sorriso.
— Ficamos quase 30 anos sem nos ver pessoalmente, . Aconteceria de uma forma ou de outra. — Ri fracamente, pressionando meus lábios nos dele rapidamente.
— E o que acontece agora? — Perguntei, roçando meu nariz no seu.
— Agora você vai me acompanhar no banho... — Ri fracamente. — E mais tarde vou te levar para jantar.
— Hoje é a corrida final, Toto. — Falei.
— Xi... Não me lembra disso. — Ri fracamente. — Me deixa aproveitar a calmaria mais um pouco. — Colei nossos lábios rapidamente.
— Nem fala de calmaria, a Elëa vem e ela vai estar muito empolgada! — Falei, ouvindo-o rir.
— Meus filhos vêm também. Susie também... — Ele suspirou.
— O que vocês dois têm? — Perguntei.
— Só falta assinar a separação, vamos fazer isso semana que vem, mas ela ainda trabalha na Mercedes e o Jack é muito pequeno para vir sozinho... — Assenti com a cabeça.
— Eles sabem sobre mim? — Perguntei.
— Benedict sabe. Jack é muito jovem ainda. — Assenti com a cabeça. — E sua menina?
— Sim, sabe! Está bem empolgada em te conhecer. — Ele riu fracamente.
— Já estamos nessa? — Dei de ombros.
— Não é o relacionamento convencional, Torger. Supere! — Brinquei e ele riu fracamente.
— Não mesmo. — Ele segurou minha nuca, dando um beijo em meus lábios e apertei meus braços em volta do seu.
— Hum... — Suspirei. — Isso é muito bom!
— Você ainda está com sono, não? — Ri fracamente.
— Um pouco. — Suspirei. — Mas o beijo... — Ele riu, colando nossos lábios novamente.
— Dorme um pouco mais, eu vou pegar umas coisas no meu quarto e eu trago aqui para revisar. — Assenti com a cabeça.
— Faça isso, eu estou de folga esse fim de semana. — Falei bocejando enquanto saía de seu colo, ouvindo-o rir.
— Faz bem descansar um pouco. — Ele disse e deitei novamente na cama, sentindo sua mão em minha cabeça. — Eu estarei aqui quando você acordar.
— Uhum... — Assenti com a cabeça, sentindo nossos lábios se tocarem rapidamente enquanto ajeitava a coberta com a outra mão.
— Dorme bem. — Ele sussurrou, me fazendo suspirar.

Meu corpo relaxou quase imediatamente quando eu deitei novamente, mas se despertou na mesma facilidade quando meu despertador tocou. Eu poderia estar de folga, na teoria, mas na prática nunca era assim. Não importava que parte do mundo eu estava, oito horas eu deveria me levantar.
Tateei a mesa de cabeceira, não encontrando o aparelho e ergui o corpo, suspirando. Encontrei Toto na mesa e ele mostrava o celular para mim. Ri fracamente, jogando a coberta para o lado e me levantei, caminhando até ele. Seu peito estava coberto por uma camiseta, mas ele só estava de cueca embaixo, além dos óculos de grau no rosto.
— Está em ligação? — Perguntei e ele negou com a cabeça.
Me aproximei dele, abraçando-o pelos ombros e dei um beijo em sua bochecha. Ele virou o rosto, fazendo nossos lábios se tocarem e o som do despertador finalmente cessou.
— Guten Morgen*. — Ele disse, segurando minha nuca.
— Guten Morgen. — Repeti, vendo-o sorrir. — Conseguiu trabalhar um pouco?
— Um pouco, você me distraiu um pouco... — Ele negou com a cabeça e sorri, beijando sua testa.
— Ansiedade batendo? — Me ergui e passei a mão em seus cabelos, ajeitando o arrepiado.
— Um pouco de tudo, eu acho. — Ele segurou minha mão, dando um beijo na mesma.
— Você tem tempo para um banho? — Sugeri. — Esfriar a cabeça, tomar um café?
— Um banho? — Ele olhou sugestivamente para mim e ri fracamente.
— Só ofereci um banho! — Ergui as mãos em rendição, dando a volta ao redor do corpo e segui em direção ao banheiro, ouvindo sua risada.
Não estava na porta do banheiro quando ele me abraçou pela cintura, pressionando os lábios em meu rosto. Passei pelo box, abrindo as manoplas, ajeitando a temperatura da água, e vi Toto se livrar da camiseta e da cueca.
Mordisquei meu lábio inferior com seu corpo e fui para baixo do jato de água, passando as mãos em meus cabelos. Toto me abraçou pela cintura, colando seu corpo no meu e virei meu rosto para o dele, sentindo um beijo em minha cabeça. Pela diferença de altura, seu corpo parecia um escudo no meu.
Suas mãos foram para minha barriga, segurando pouco abaixo de meus seios e tombei a cabeça para trás, apoiando-a em seu peito. Ele deslizou a mão pela minha barriga, enquanto a outra foi pelo meu braço. Ele apoiou sua cabeça em meu ombro, fora do jato de água e começou a distribuir beijos pelo local. Passei a mão na ponta dos cabelos, jogando-os para frente.
Enquanto ele distribuía curtos beijos pelo local, sua mão esquerda deslizou entre minhas pernas, chegando em minha virilha e mordisquei meu lábio inferior. Sua respiração soltou forte quando seus dedos entraram entre meus grandes lábios, me fazendo suspirar. Dei uma espaçada entre as pernas, sentindo sua mão entrar mais fundo e ele começou a deslizar os dedos em meu clitóris, massageando devagar.
Apoiei as mãos na parede, puxando a respiração e seus movimentos ficaram cada vez mais fortes, fazendo a respiração sair devagar de meus lábios. Em alguns momentos ele deslizava a mão entre meus grandes lábios, sentindo o úmido entre elas e voltava para o clitóris, fazendo meu corpo começar a apertar e as pernas tremerem.
— Mais rápido... — Suspirei, sentindo seu pênis em minha bunda e fechei os olhos, sentindo seus dedos mudarem o massageado para uma fricção rápida, fazendo minha respiração sair mais acelerada. — Rápido...
Minha voz saía em suspiro, fazendo as pernas começarem a bambear e tremer. A outra mão de Toto me empurrou para frente, fazendo meu peito colar na parede gelada e apoiei minha testa na mesma. Rebolei minha bunda em seu pênis, ouvindo-o soltar um suspiro abafado e sua outra mão foi para meu peito, apertando com firmeza e soltei um gemido quando Toto me penetrou com dois dedos.
— Ah, merda... — Suspirei, sentindo-o tirar com pressa e continuar com a fricção cada vez mais rápido. — Toto... Tot... — Minha voz saía falhada e depois soltei um gemido.
Suspirei quando a mãos de Toto saíram de meu corpo e ele inclinou meu corpo para frente e afastou de mim por alguns segundos. Suas mãos apertarem minhas nádegas, separando-as com pressa e senti seu pênis procurar minha entrada, antes de me penetrar com força.
— MERDA! — Soltei em um gemido, tombando a cabeça para trás novamente, mas espalmando as mãos na parede logo em seguida.
— Geme para mim... — Ele sussurrou em meu ouvido, mordiscando a orelha em seguida e suas mãos foram para minha cintura, começando a me penetrar em um vai e vem contínuo, sendo impossível manter o silêncio.
— Ah, Toto... Merda! — Suspirei, sentindo seu largo pênis sair e entrar com força em mim.
— Merda, ! — Ele disse forte, colando a boca em minha nuca, mantendo o movimento mais curto, mantendo a força e nosso corpo colado.
— Ah! — Suspirei, apertando minha cabeça para trás, fechando os olhos. Seus lábios foram para meu rosto, distribuindo alguns beijos e senti meu corpo se contrair e levei minha mão até sua cabeça, segurando sua nuca. — AH! — Gemi mais alto quando gozei, fazendo meu corpo se contrair com a eletricidade e apoiei a testa na parede, sentindo Toto dar mais duas estocadas antes de soltar um gemido forte.
— Merda! — Ele apertou minha cintura, relaxando os dedos aos poucos.
Nossas respirações misturaram com o jato de água e deixei meu corpo relaxar aos poucos. Toto saiu devagar de dentro de mim, me fazendo respirar com o afastamento repentino. Senti suas mãos em meus ombros, deslizando devagar e ele beijou meu ombro.
— Vem para a água. — Ele disse, me fazendo sorrir e virar o corpo para ele.
Ele tinha um largo sorriso nos lábios e passei os braços em seus ombros, sentindo-o me abraçar pela cintura, e nossos lábios se encontraram levemente em um curto selinho. Ele fechou os braços em meu corpo, me puxando para água mais morna, fazendo meu corpo relaxar.
— Eu gostaria de ter isso pelos últimos anos. — Ele disse e sorri.
— Eu também. — Suspirei.
— Será que a gente consegue simplesmente ignorar esses anos todos e tentar de novo? — Ergui o rosto para ele, desviando do jato de cima.
— Ignorar vai ser impossível, Toto. — Passei a mão em seu rosto, acariciando-o lentamente. — Nós temos filhos, profissões, empresas, muita coisa que dependem da gente... — Ele suspirou. — Mas podemos recomeçar. — Ele assentiu com a cabeça.
— Já é um bom começo. — Ele disse e eu assenti com a cabeça.
— Devemos nos apresentar de novo ou... — Ele riu fracamente, segurando meu rosto.
— Não, eu quero descobrir tudo sozinho. — Sorri e nossos lábios se tocaram novamente.

*Guten Morgen: bom dia em alemão.

— Ok, ok, agora eu preciso ir. — Ele disse e neguei com a cabeça.
— Não, não! Só mais um. — Falei, sentindo suas mãos em minhas pernas e nossos lábios se tocaram novamente.
— Você não tem que ir também? — Nossos lábios se roçaram levemente.
— Eu sou uma mera espectadora hoje. — Falei, sentindo sua mão em minha nuca.
— Quer trocar de lugar?
— Não! — Falei rindo.
— Merda. — Ele xingou e dei um beijo em sua bochecha.
— Tente ficar calmo, ok?! — Segurei seu rosto com as duas mãos.
— Você vai torcer por nós? — Ele perguntou e neguei com a cabeça.
— Não, eu vou torcer para você não morrer de ataque cardíaco. — Rocei meu nariz no dele.
— Então, você vai torcer por nós. — Ele riu fracamente, abrindo um largo sorriso.
— Eu vou torcer pelo Valtteri. — Assumi e ele fez uma careta.
— É um começo.
— E por Kimi. — Suspirei. — Que ele consiga ter uma boa corrida.
— Eu estou cheio de emoções, mas você também... — Ele disse.
— Talvez mais do que você, ele é um dos meus melhores amigos. — Falei em um suspiro. — E eu gosto do Antonio, espero que seja só um até logo.
— Eu estarei na garagem ao seu lado se você precisar de algo. — Sorri.
— Eu também. — Dei um beijo em sua bochecha.
— Eu realmente preciso ir agora. — Ele disse e ri fracamente, me levantando de seu colo. — Fácil assim?
— Agora não queria que eu saísse? — Falei, vendo-o se levantar e arrumar a blusa social.
— Nunca reclamo de uma mulher no meu colo. — Ele disse e passei a mão em seus ombros.
— Vamos trabalhar, finalizamos depois. — Falei e ele fechou a mão em minhas costas, segurando minha nuca com a outra mão e nossos lábios se tocaram levemente.
— Vai para o paddock agora? — Ele perguntou.
— Não, tenho que ver algumas coisas, checar minha filha, onde ela está, depois eu vou. — Ele assentiu com a cabeça.
— Te espero lá. — Ele disse e assenti com a cabeça.
— Tente não surtar antes de eu chegar, ok?! — Caminhei com ele até a porta, ajeitando a blusa por dentro da saia.
— Difícil! — Ele disse e ri fracamente.
— Tente! — Apoiei a mão em seu braço e fiquei na ponta dos pés antes de deixar um beijo em sua bochecha. — Boa sorte.
— Obrigado. — Ele disse. — Você também.
— Pode deixar! — Sorri, abrindo a porta e me assustei com Greta na porta. — Greta!
— Bom dia, senhora ! Eu pens... — Ela parou de falar ao ver Toto ao meu lado e pressionei os lábios, segurando a risada. — Bom dia, senhor Wolff.
— Bom dia. — Ele disse sério, virando para mim. — Até mais tarde, .
— Até mais tarde, Toto. — Dei um toquinho em seu ombro e ele seguiu pela porta com sua maleta e esperei-o entrar no elevador antes de voltar para dentro do quarto.
— Senhora ... ! Chefa! Oh, meu Deus! — Greta falou, me fazendo rir. — Eu não sei se posso perguntar, mas...
— Como se precisasse, Greta! — Abanei a mão, andando até meu notebook.
— Aconteceu o que eu acho que aconteceu? — Ela perguntou e ri fracamente.
— Acho que aconteceu muito mais do que você acha que aconteceu. — Coloquei o notebook na mesa.
— Meu Deus! Ele é gato demais! — Ri fracamente, me sentando na poltrona.
— Aposto que você não veio até aqui para isso. — Falei e ela riu fracamente.
— Não, na verdade, não... Desculpa! Me perdi! — Ela colocou uma sacola na mesa. — Eles mandaram as blusas comemorativas para hoje, tem do Kimi e do Antonio, mandaram a gente escolher. — Suspirei.
— Kimi é meu melhor amigo, e fui uma das que mais apostou no Antonio... — Suspirei.
— Eu mandei fazer uma frente e verso para você! — Ela disse. — Kimi na frente, Antonio atrás.
— Obrigada, você é um amor. — Falei, vendo—a com o olhar ainda chocado. — Você quer perguntar algo?
— Posso? — Ela disse, me fazendo rir.
— Sim, nós transamos, não tenho a mínima ideia do que vai acontecer depois de hoje e ele foi para o paddock. — Respondi. — Serve por enquanto?
— Sim! Está perfeito! — Ela disse, me fazendo rir.
— E você e o mecânico loiro? Pelo jeito fomos mais rápidos do que vocês...
— Ele está trabalhando, pensei em deixar para depois da corrida. — Ela mordiscou o lábio inferior.
— Não perca tempo, Greta, quando você perceber, passou 30 anos. — Falei.
— Ah, chefa! Eu digo até o fim do dia, não 30 anos. Também não é assim! — Ri fracamente.
— Bem, vamos trabalhar? Quero saber como está minha filha e o que eu tenho para assinar. — Falei.
— O voo dela saiu de Zurique tem uma hora e 40 minutos, ela chega por volta da uma da tarde, assim que ela chegar, um carro vai trazê-la aqui. — Ela disse e suspirei.
— Eu não acredito que eu estou pagando um jatinho para trazê-la por um dia. — Neguei com a cabeça.
— Prêmio mãe do ano? — Greta brincou e ri fracamente.
— Ela vai ficar sem presente de Natal! — Falei, colocando a senha no computador.
— É uma opção. — Ela disse rindo e assenti com a cabeça.
— Cadê os papéis? — Perguntei.
— Ah, claro! — Ela disse, se distraindo para sua pasta.

Bati o crachá na catraca, vendo minha foto antes de passar pela mesma. Alguns fotógrafos estavam parados na porta, mas me contive com um aceno discreto antes de caminhar pela entrada, sendo acompanhada por Greta.
— Você tem algo que eu não tenho na agenda? — Ela me perguntou.
— Acho que não, só quero acompanhar Kimi e Antonio o mais de perto que eu conseguir. — Falei.
— Ok, o Kimi foi convidado pela Ferrari, creio que é uma homenagem, ele já deve estar lá. — Ela disse e assenti com a cabeça.
— Justo, o campeonato dele foi com eles. — Suspirei, caminhando por entre os motorhomes.
— Antonio deve estar no motorhome. — Ela disse.
— Ok, eu vou lá... — Suspirei, vendo Toto sair do motorhome da Mercedes.
— Seu namorado lá! — Ela disse e vi sua esposa e dois filhos saírem com ele.
— E aquela é a esposa! — Falei sugestivamente, vendo-a fazer uma careta.
— Droga! — Ela disse.
— Mantendo o bom trabalho, Toto? — Falei um pouco alto quando passei por ele, vendo-o rir.
— Eu estou e você? Chegando agora? — Ele disse.
— Sim, tive uma manhã ocupada! — Falei, ouvindo-o rir.
— Susie, Ben, Jack, essa é , CEO da Alfa Romeo. — Ele me apresentou para os três, me deixando até surpresa, inclusive seu menino mais velho arregalou os olhos assim como Greta essa manhã
— Oi, prazer em conhece-los. — Apertei a mão de Susie, depois de seu mais velho e acenei para o mais novo.
— O prazer é meu. — Susie disse com um sorriso.
— Prazer em te conhecer. — O mais velho deu um curto sorriso e bem que Toto tinha contado para ele sobre nós.
— Nos vemos na pista? — Virei para Toto.
— Sim, com toda certeza. — Ele disse.
— Até mais, tenham um bom dia. — Falei e os outros assentiram comigo antes de eu seguir para o motorhome da Alfa, entrando no mesmo, sentindo a diferença de temperatura.
— Bom dia! — Falei para o pessoal presente.
— Bom dia! — Eles disseram e coloquei minha bolsa na primeira mesa, vendo Blanda seguir em minha direção.
— Bom dia, senhora . — Ela disse.
— Bom dia, Blanda, como está? — Disse, pegando o celular.
— Tudo bem. E com a senhora, dormiu bem?
— Sim, perfeitamente bem! — Sorri e vi a família de Antonio ali. — Tem algum compromisso para mim?
— Estamos gravando algumas mensagens para o Kimi, caso a senhora queira deixar também. — Assenti com a cabeça.
— Eu vou assim que possível, vou cumprimentar a família de Antonio. — Falei, vendo-a confirmar com a cabeça.
— Dormiu “perfeitamente bem”? — Greta me provocou.
— Greta, Greta, Greta! — Falei, ouvindo-a rir. — Acho que seu mecânico está na garagem. — Falei e ela deu um sorriso. — Aproveite, Greta. — Dei um tapinha em seu ombro, seguindo para perto da família de Antonio.
! — Ele disse e sorri.
— Bom dia, Antonio. Como estão os nervos? — Trocamos um rápido abraço.
— Estão bons, estou em paz! — Ele disse e assenti com a cabeça.
— Você é da Academia Ferrari, mas saiba que sempre teremos um sofá para você aqui. — Ele riu fracamente.
— Obrigada, ! — Ele disse e virei para seus pais. — Se lembra dos meus pais?
— Claro! Vito e Maria, certo? — Eles sorriram.
— Oi, tudo bem? — Eles disseram no forte sotaque italiano.
Bene, bene! — Dei um aperto de mão em sua mãe, depois em seu pai. — Fico feliz que estejam aqui.
— Feliz que a senhora esteja aqui! — Sua mãe disse e ri fracamente.
— Sabe, precisamos despachar duas pessoas muito queridas, eu tive que vir. — Eles sorriram.
— Obrigada pela oportunidade que deram ao meu filho. — Sua mãe disse e assenti com a cabeça.
— Não fale como se fosse o fim, ele é jovem, tem muito o que aprender, muito o que correr. — Apertei os ombros de Antonio. — Agora sobre o Kimi, esse nem se fala. — Rimos juntos.
— Você viu meu capacete? — Antonio perguntou.
— Não, por quê? — Perguntei.
— É inspirado no que o Kimi usou no campeonato dele. — Sorri.
— Ah, Antonio, isso é tão fofo. — Suspirei, pressionando os lábios. — Aposto que ele vai amar.
— Espero que sim! — Ele brincou e vi Kimi e sua família entrarem no motorhome.
— Faça surpresa para ele! — Falei e ele riu.
— Pode deixar! — Ele disse e o cumprimentei rapidamente.
— Divirtam-se! — Falei para sua família e eles sorriram. Acenei antes de seguir para perto de Kimi e o pessoal.
— Bom dia, pessoal! — Falei.
— Ei, ! Você está por aqui! — Minttu disse e trocamos um rápido abraço. — Demorou para chegar.
— Desculpe, acabei me distraindo pela manhã. — Pisquei para ela.
— Você quis... — Coloquei a mão na boca e ela arregalou os olhos. — !
— Ah, eu não preciso ouvir isso. — Kimi disse e abracei-o de lado.
— Ah, eu vou sentir falta desse humor matinal aparecendo na fábrica toda segunda-feira! — Falei, ouvindo Minttu rir.
— Não brinque, sei que não! — Kimi disse e sorri.
— Pior que eu vou, Mattia. — Apoiei a mão em seu ombro. — Vou e muito.
— Eu não vou morrer, ! Não fique tão dramática. — Ele disse, me fazendo rir.
— Não dá nem para ser carinhosa com esse. — Bati a mão em seu boné, derrubando-o e vi seu mais novo rir.
? — Virei o rosto para porta, vendo Blanda. — Tem alguém aqui que quer te ver. — Franzi a testa e vi Charles entrar pela porta.
— Ah, baby Charl! — Sorri, vendo o atual piloto da Ferrari rir.
— A senhora está fugindo de mim! — Ri fracamente, me aproximando do garoto e o abracei apertado.
— Ah, Charles, que delícia! — Suspirei, sentindo-o me apertar. — Que orgulho que eu estou de você!
— Eu só queria vir aqui e te agradecer. — Ele disse.
— Não tem que agradecer a nada, a Ferrari fez todo o trabalho. — Ele sorriu e finalmente pude olhar para ele. — E você está muito bonito também.
— Olha quem fala! — Ele disse, me fazendo rir.
— Sempre muito gentil. — Ele me abraçou pela cintura. — Quantas você já venceu?
— Esse ano foi meio complicado, ano passado nem se fala, mas ganhei duas, 2019 foi perfeito. — Sorri, apertando-o pelas bochechas.
— Apesar de não estar conosco, vou torcer muito por você sempre. — Ele sorriu.
— Quem sabe nossos caminhos não se encontrem novamente? — Sorri.
— Vou torcer muito para que sim. — Falei, vendo-o sorrir.
— E você? Fiquei sabendo que não fica mais só na fábrica?! — Ri fracamente.
— É uma corrida importante, Kimi e Antonio estão indo embora, achei que deveria vir. — Ele assentiu com a cabeça.
— O paddock faz bem para você, senhora. — Ri fracamente.
— Não sei se é só o paddock... — Kimi sussurrou em meu ouvido e sua esposa o beliscou, me fazendo rir.
— Nossos caminhos vão se esbarrar bastante ainda, Charl. — Ele assentiu com a cabeça.
— Espero que sim, senhora. — Sorrimos juntos.

— Senhora... — Ergui o rosto para Greta e ela indicou a cabeça para porta e sorri ao ver minha menina ali com óculos de sol no rosto e mochila nas costas.
— Elëa! — Sorri, me levantando.
— Mamãe! — Ela disse animada e andei até a entrada do motorhome, vendo-a com uma blusa de Kimi e abracei-a.
— Ah, meine perle! — Apertei-a em meus braços. — Fico feliz em te ver.
— Foram só três dias, mãe. — Ela disse e revirei os olhos. — Foram, vai!
— Você está passando tempo demais com o Kimi. — Falei.
— Eu não fiz nada. — Ele disse no sofá do motorhome.
— Titio Kimi! — Ela disse e ri fracamente.
— E aí, baixinha? — Kimi se levantou e eles trocaram um aperto só deles.
— Finalmente vão te deixar em paz? — Ela disse e ri fracamente, abraçando minha menina, dando um beijo em sua bochecha.
— Finalmente! — Ele brincou e neguei com a cabeça.
— Senhorita Elëa! — Greta disse.
— Oi, Greta! — Minha menina disse sorridente e ri fracamente.
— Fez boa viagem? — Perguntei.
— Sim, tudo certo! O avião era demais! — Ela riu.
— Considere esse seu presente de Natal, ok? — Falei.
— Mas... — Ela entreabriu os lábios e neguei com a cabeça. — Ok, ok! — Ela abanou a mão.
— Ei, se não é a Mini ! — Fred entrou no motorhome.
— Oi, tio Fred! Minha mãe veio tomar seu emprego? — Revirei os olhos.
— Arschloch! — Suspirei.
— Não, sua mãe veio me ajudar. — Ele a abraçou rapidamente. — E você? Decidiu ver o show de camarote?!
— Claro! Isso é demais! — Ela sorriu, tirando a mochila das costas. — Eu quero conhecer tudo!
— Deixa que eu fico com isso. — Greta a ajudou.
— Obrigada! — Ela sorriu.
— Quanto tempo temos até o começo dos protocolos? — Perguntei.
— Quase três horas. — Greta disse.
— Você está com fome? — Falei para Elëa.
— Não, comi no avião! — Ela sorriu sarcástica e ri fracamente.
— Eu vou dar uma volta com ela, nos encontramos na garagem? — Falei para todos na roda.
— Claro! — Eles disseram.
— Vamos! — Estiquei a mão para Elëa.
— Nem vem, mãe, aqui não! — Ela disse e ri fracamente, empurrando-a levemente pelos ombros, saindo com ela do motorhome.
— Fico feliz que veio com uma blusa do Kimi. — Falei.
— Eu estava com uma do Charles, mas a Greta tinha deixado essa no carro. — Ela fez uma careta.
— Ela te conhece melhor do que eu, meine perle. — Falei e ela pressionou os lábios.
— Tudo bem, eu faço um esforço! — Ela disse e ri fracamente.
— Ele veio me ver hoje.
— Mesmo? — Ela perguntou surpresa. — Onde é o motorhome da Ferrari?
— Ah, meu Deus! — Suspirei. — Você não vai lá agora.
— Por quê? O Charl é legal comigo!
— E está se preparando para uma corrida, se comporte! — Pedi, andando ao seu lado.
— Tudo bem, tudo bem, eu falo com ele depois. — Ela abanou a mão e vi Toto saindo do motorhome da Mercedes com George da Williams ao seu lado. — Mãe, aquele não é...
— É ele mesmo. — Ela arregalou os olhos.
— Mãe, ele é mais lindo pessoalmente! Oh, meu Deus! — Ela me apertou pelo braço.
— Você vai adorar saber que ficamos juntos ontem...
— O QUÊ?! AH! — Ela gritou, chamando a atenção de Toto e de metade do paddock.
— Elëa! — A repreendi.
— Desculpe, desculpe! Você vai ter que me contar tudo isso mais tarde.
— Tudo, não. Mas te conto o que for possível. — Falei, vendo-a sorrir.
— Depois disso, já sei de tudo o que preciso! — Ela disse e vi Toto se aproximar com George.
— Senhoras... — Ele disse.
— Ei, Toto! — Falei. — Preparado?
— Preparando... — Ele suspirou. — Essa é...
— Essa é Elëa! — Falei, vendo minha filha sorrir.
— O—o—o—oi! — Ela disse alongado. — É um prazer te conhecer! — Toto riu.
— Ela sabe, sabe?
— É, ela sabe! De ontem, inclusive. — Falei.
— O que aconteceu ontem? — George perguntou, me fazendo rir.
— O prazer é meu, senhorita. — Toto disse a cumprimentando.
— Oi, eu sou George! — George disse sorridente, me fazendo pressionar os lábios.
— Eu sou Elëa! — Minha filha disse, pressionando os lábios. — É um prazer te conhecer. — Ela disse. — Você tem talento.
— Ah, sério? — Ele disse e Toto veio ao meu lado.
— Acho que nossos filhos sabem de nós mais do que nós mesmos! — Ele sussurrou e ri fracamente.
— Talvez optar pela honestidade completa nem sempre é uma boa ideia. — Falei.
— Acho que consigo corrigir as coisas com Jack ainda. — Ele disse, me fazendo rir.
— Talvez seja uma boa... — Ajeitei a gola de sua camisa social.
— Indo para a garagem? — Ele perguntou.
— Ainda não, vou dar uma volta com ela, preciso almoçar ainda... — Ele assentiu com a cabeça.
— Eu tive uma reunião com o George, logo devo ir para lá. — Ele disse.
— A gente se encontra no pit lane. — Falei e ele confirmou com a cabeça. — Boa sorte, ok?!
— Obrigado, você também. — Ele disse e assenti com a cabeça.
— Eu não te vi muito aqui... — Voltei a focar nos mais novos.
— Pandemia, sabe? — Ela disse e neguei com a cabeça.
— Ok, Romeo, vamos lá! — Toto disse, puxando George pela camisa, me fazendo rir.
— Até depois! — Ele disse para Elëa.
— Boa corrida! — Ela disse e vi Toto puxando George para perto, andando pelo paddock e ri fracamente e minha filha finalmente olhou para mim.
— O quê? — Ela disse.
— Nada! — Dei de ombros. — Vamos? — Falei.
— Sim, claro! — Ela deu um de seus sorrisos sarcásticos e andei com ela. — Ah, meu Deus! É Danny Ric, posso ir falar com ele? — Puxei-a pela gola ao ver Ricciardo andar apressado de macacão com sua namorada e treinador ao seu lado.
— Não, não pode! — Falei. — Eles estão começando a ir para a garagem para se preparar para a corrida e ele está com a namorada.
— Ah, caramba, mãe! A ideia de ir no paddock é ter umas vantagens! — Ela disse.
— Não antes da corrida, já tem gente demais em cima deles. — Entrelacei nossos braços. — Agora vamos, logo eu preciso ir também. — Puxei-a, ouvindo-a bufar.

— É difícil encontrar palavras para esse momento... — Fred disse. — Sabemos que todas as equipes falam disso, mas Kimi e Antonio se tornaram uma parte importante para a família Sauber/Alfa Romeo, e foi uma surpresa para todos quando ambos se tornaram amigos. Algo completamente inesperado. — Ri com alguns mecânicos. — Mas eu só gostaria de agradecer a vocês. Por darem uma chance à família Sauber, Kimi na sua segunda passagem, e quero desejar boa sorte aos dois nas próximas conquistas. — Ele finalizou, fazendo a equipe bater palmas.
— Obrigado. — Eles disseram contidos.
, gostaria de adicionar alguma coisa? — Fred perguntou e ri fracamente.
— Você pergunta isso quando já estou toda emotiva aqui? — Brinquei, com a voz embargada, ouvindo o pessoal rir. — É difícil para eu dizer algo... — Suspirei. — Antonio é um garoto incrível, trouxe seu lado italiano para nossa equipe, sempre feliz, divertido, alegre... Talvez não tenha sido o que esperávamos, mas tudo o que você fez, dentro ou fora da pista, valeu à pena, foi contabilizado, e eu nunca vou esquecer. — Ele sorriu e o pessoal aplaudiu. — Já Kimi... — Suspirei. — Seu finlandês filho da puta! — O pessoal gargalhou. — Você é um dos meus melhores amigos. Meu primeiro ano na Sauber, foi seu último ano e só Deus para entender como nos aproximamos. — Ele riu fracamente. — Você foi para McLaren, Ferrari, ganhou seu campeonato, foi para Lotus, mas nunca deixou de me ligar no final de cada fim de semana para contar como tinha sido e me xingar por não ter ido. — Suspirei. — Eu sempre serei eternamente grata por você ter voltado para nós e finalizado conosco essa carreira tão incrível. Esperava que fosse diferente, mas não conseguimos controlar tudo. — Ele assentiu com a cabeça. — Só tenho que te agradecer e desejar muito sucesso no que é que você inventar na sua vida. — Ele riu e o pessoal aplaudiu.
— Tentando me fazer chorar, ? — Ele perguntou e ri fracamente, sentindo-o me abraçar de lado.
— Eu posso tentar. — Falei, ouvindo-o rir.
— Posso falar? — Antonio falou e sorri.
— Por favor, querido.
— Hum... — Ele suspirou. — Primeiro, eu tenho que agradecer a equipe Sauber/Alfa Romeo por me permitir correr, realizar meu sonho de correr na Fórmula Um, algo que era só sonho. — Sorri. — Fred, , a equipe, mecânicos, engenheiros, foi incrível! Sou muito grato pela forma que fui recebido na equipe, fico triste que não conseguimos realmente lutar pelo campeonato, mas eu aprendi muito e vou levar isso para sempre. — Sorri. — E, Kimi... — Ele riu sozinho. — Nunca pensei que eu fosse me dar bem contigo. — Sorri. — Um italiano que fala demais com um finlandês que fala pouco, mas aprendemos a nos lidar... — Kimi riu. — E eu agradeço a forma que você me recepcionou na sua família, sua esposa, seus filhos... Foi perfeito! Tudo que eu aprendi com você, sua mente, suas estratégias, sua preparação, tudo isso foi perfeito para mim. Então, obrigado!
— Eu que agradeço! — Kimi apoiou a mão em seu ombro. — Foi um prazer correr ao seu lado. — Sorri e ambos se abraçaram, me fazendo aplaudir junto com a equipe.
— Por isso... Eu tenho uma surpresa para você... — Antonio disse e seu treinador lhe esticou o capacete. — Em sua homenagem, você o reconhece?
— Espera... — Kimi franziu a testa. — É meu capacete? — O pessoal rir.
— É, de 2007. — Kimi sorriu.
— Ah, garoto! Você é incrível! — Kimi disse e sabia que meu homem de gelo estava emotivo. — Eu tenho uma também, na verdade. — Franzi a testa e foi a vez de Mark, seu treinador, lhe esticar o capacete e ele virou-o para ver a parte de cima. — É a mesma pintura do meu primeiro capacete que eu usei com a Sauber. — Senti meus lábios tremerem. — Obrigado por tudo. — Ele disse.
— Eu te odeio! — Falei, passando as mãos nos olhos e minha filha me abraçou de lado.
— Eu vou sentir sua falta. — Ele disse para mim, me fazendo rir.
— Relaxa, te espero para um café na semana que vem! — Sorrimos e o pessoal aplaudiu novamente.
— Precisamos ir para os protocolos, senhores. — Mikaela anunciou e assentimos com a cabeça antes de dissipar.
Kimi e Antonio terminaram de se arrumar e segui para a frente da garagem, procurando por Toto. O pit lane e o grid já estavam aquela loucura de sempre, logo teria a foto em grupo, sem a presença de Mazepin da Haas que confirmou Covid esses dias, depois teria uma pequena homenagem a Kimi antes do hino e a corrida.
Nossos pilotos, assim como todos os outros, começaram a sair das garagens, seguindo para o grid para a foto. Parei ao lado do pit wall, estamos relativamente perto do grid, e vi os pilotos começando a se organizar e suspirei, passando o dedo próximo dos olhos.
— Precisa de um lenço? — Ouvi em alemão e virei para o lado, vendo Toto.
— Ei, Toto. — Falei e ele me entregou um lenço.
— Já está chorando? — Ele perguntou e ri fracamente, limpando os olhos lentamente.
— Kimi fez um capacete comemorativo igual de quando ele estava na Sauber. — Suspirei. — Meu primeiro ano. — Ele deu um sorriso.
— Ele vai fazer falta. — Ele disse e assenti com a cabeça.
— Ele provavelmente estará na minha casa antes do fim do ano para falar dos planos dele... — Virei para ele. — Ele é um corredor, ele não vai parar.
— Você acha? — Ele perguntou.
— Eu tenho certeza. Ele não falou nada, mas a gente sabe que é difícil largar o osso. — Ele assentiu com a cabeça.
— Nem fala. Às vezes eu penso em parar e ver meus filhos crescerem, mas penso se estou pronto em ir na academia e fazer palavras cruzadas o dia inteiro. — Ele disse, me fazendo rir e virei o rosto para ele.
— Palavras cruzadas, Toto? Vai dizer que não tem um simulador na sua sala de estar? Até eu tenho! — Ele riu comigo.
— Eu tenho, e me surpreendo de você ter. — Ele disse e dei de ombros.
— Trabalhei na fábrica por muito tempo antes de sentar atrás de uma mesa, ok?! — Dei de ombros e ele assentiu com a cabeça.
— Toto... — Virei para o lado, vendo a assessora da Mercedes. — Temos que ir.
— Estou indo. — Ele disse sério, voltando o olhar para mim. — Nos falamos depois? — Ele sugeriu e assenti com a cabeça, apoiando uma mão em seu braço.
— Fica bem, ok?! — Falei.
— Achei que devesse dizer isso para você. — Ele disse rindo e era a mesma risada de nervoso de 30 anos.
— Eu estou falando sério, Toto. — Suspirei. — Se você não mentiu para mim e está limpo nesse jogo, e o Horner não, eu não quero... — Neguei com a cabeça, não querendo pensar no que poderia acontecer. — Se cuida, ok?!
— Pode deixar, ! Você também. — Contive o desejo de beijá-lo com diversas câmeras em volta e trocamos um aceno de cabeça quando ele se afastou para seguir até o grid com os outros chefes de equipe.
Observei Stefano Domenicali, presidente da F1, fazer uma homenagem para Kimi, me obrigando a derramar mais umas lágrimas por esse finlandês, e voltei para dentro da garagem para acompanhar os protocolos. Era quase 17 horas e eu tinha certeza de que pelo menos duas pessoas estariam muito machucadas pelas próximas duas horas. Toto e Lewis ou Christian e Max.
Pessoalmente, sinto que estava na hora de um novo ganhador aparecer, então talvez minha torcida fosse para Max... Se isso não machucasse Toto, mas isso era impossível.

— Tudo certo aí, filha? — Passei a mão nos cabelos de Elëa e ela assentiu com a cabeça.
— Tudo bem, mãe! Pode ir trabalhar. — Ela disse e deu um beijo em sua cabeça.
— Pega um headphone perto da sala de telemetria e fique atrás da bancada, sem atrapalhar, ok?! — Falei para ela que assentiu com a cabeça e ela se afastou.
Ergui o rosto para Greta que já roía as unhas e dei uma olhada nos outros mecânicos. Não estávamos com a mesma pressão da Mercedes e da Red Bull, mas tínhamos nossa própria pressão. Se despedir de dois pilotos, que entraram exatamente no mesmo ano e ficaram três anos juntos. Era como se despedir de parte de si.
Não tive minha presença dentro dos circuitos, mas quase toda segunda ou terça-feira, um, senão os dois, aparecia na empresa, juntávamos os engenheiros, os chefes de mecânicos e discutíamos sobre o que aconteceu no fim de semana. Pelo calendário apertado pós-pandemia, as reuniões ficaram menos frequentes, mas era sempre uma alegria para mim quando ambos apareciam.
O silêncio que se instalou na hora do hino nacional era só uma prévia do que aconteceria dali alguns minutos. Eu me sentei no pit wall, ao lado de Fred, Ruth e outros engenheiros e respirei fundo. Foi como se o caos do grid se silenciasse. Nunca pensei presenciar isso em meus 20 anos trabalhando com automobilismo, um campeonato tão difícil, arriscado e suspeito em diversos níveis. Toto e Christian talvez tenham culpa no cartório, mas a direção de prova nunca tentou parar o caos ou ser isenta.
Não seria fácil.
Quando os carros saíram para a volta de apresentação, o barulho voltou em meus ouvidos com o retorno dos mecânicos, mas eu só consegui respirar fundo. Não me importava com vitórias, só pedia uma boa corrida, inclusive para nós finalizarmos bem com nossos dois pilotos.
Afastei meu rosto para observar as luzes se acendendo uma a uma e parecia que minha respiração ficava pesada conforme elas acendiam. Quando todas se apagaram, fechei os olhos por alguns segundos antes do som dos motores me atingir.
Max tinha a pole, mas perdeu na largada quando Lewis o passou com facilidade. Em uma disputa direta entre os dois, antes da primeira volta, ambos se tocam, fazendo Max escapar da pista. Antonio e Stroll competiram por posição e Kimi perdeu para Schumacher, competindo por posição com Russel, mas conseguiu reganhar ambas as posições, depois Latifi e ficando em décimo sexto.
O caos do começo deixou os mecânicos empolgados, me impedindo de ouvir as falas de Christian que insistia em chamar o rádio da FIA, provavelmente reclamando da largada, mas nada realmente alterou pelas primeiras 14 voltas onde os carros saíram para pit stops.
Hamilton saiu em segundo, Max em quarto. Kimi e Antonio mantiveram as posições, 16º e 13º, por permanecerem na pista, mas ambos foram para 14º e 11º quando as Alpine e Ferrari foram para o pit stop.
Na volta 18, Antonio fez o pit e saiu em 18º. Max ultrapassou Sainz e ficou em terceiro, atrás de Hamilton. Na vigésima volta, Hamilton passou o Perez, que não facilitou para o inglês, e precisou de algumas curvas para que Hamilton realmente o deixasse para trás. Do nosso lado, Kimi chegou em décimo segundo.
Kimi fez o pit na vigésima segunda volta, saiu em décimo oitavo e Antonio se mantinha em décimo sexto. Quatro voltas depois, o italiano chegou em décimo quarto.
Na vigésima sétima volta, enquanto eu estava preocupada com Hamilton e Verstappen, a câmera mudou, mostrando um de nossos carros no muro.
— Quem é? — Perguntei para os engenheiros.
— Merda, é Kimi! — Ruth disse.
— Que merda! — Tirei o headphone irritada, negando com a cabeça.
A reprise mostrou e Kimi teve trava de rodas, ele deslizou e bateu de frente, danificando a asa.
— Merda! — Neguei com a cabeça, vendo Fred olhar para mim.
— Não era assim que a gente queria. — Ele disse.
— Não mesmo. — Neguei com a cabeça.
— Foi problema de freios. — Ruth disse. — O que a gente disse na reunião de ontem. — Respirei fundo.
— Merda! — Neguei com a cabeça.
Como se já não bastante, duas voltas depois, foi a vez do pupilo de Toto abandonar também. George teve algum tipo de problema e precisou retirar o carro. Não era a melhor forma de finalizar com a Williams, mas agora ele tinha uma vaga na Mercedes, isso era motivos de sobra para sorrir.
Se eu já estava chateada por Kimi, minha tristeza piorou drasticamente quando foi a vez de Antonio abandonar. Ele não bateu, foi problema de câmbio, mas seu carro transformou em um Safety Car virtual e vi a mensagem na tela quando Toto pediu para a direção de prova não colocar um Safety Car real. E ele tinha razão, isso traria muitos problemas, mas o carro de Antonio não estava batido, então foi fácil tirar do caminho. O VSC acabou duas voltas depois e a distância de Lewis para Max era de 18 segundos.
Suspirei quando meus dois pilotos chegaram quase juntos, se cumprimentando dentro da garagem. Desci do banco, olhando o pit lane antes de atravessar e o restante do pessoal foi comigo. A história estava sendo feita atrás de nós, mas nossa corrida havia finalizado.
Quando entrei na garagem, os mecânicos puxaram um coro de palmas e respirei fundo, aplaudindo com eles. Ninguém conseguia dizer alguma coisa. Os motivos de porquê os dois carros pararam não importava mais para eles, nenhum dos dois estariam aqui ano que vem, a equipe, engenharia e fábrica sim, mas era algo que dava para fazer amanhã.
— Desculpe, caras. — Fred disse e ambos negaram.
— Não importa. — Antonio disse. — Obrigado.
— Eu estou livre mais rápido, então... — Kimi disse e neguei com a cabeça, sendo incapaz de xingá-lo, mas Antonio riu, abraçando-o de lado.
— Isso diz muito sobre nós e as melhorias que precisamos fazer para o ano que vem... — Falei. — Mas vamos relaxar. — Pedi. — Vamos finalizar nossos compromissos, relaxar, sei que a maioria quer ir para casa e descansar, mas merecemos uma última bebida juntos. — Fred sorriu.
— É por isso que ela é a CEO e eu não. — Ele disse, me fazendo negar com a cabeça. — Aproveitem, galera. Temos os testes ainda, os problemas de hoje serão falados depois, mas está certa, aproveitem e descansem por agora. — Fred finalizou, fazendo uma salva de aplausos ser puxada por nós.
O pessoal começou a dispersar, os pilotos entraram com suas famílias, e segui para perto de minha filha. Ela me abraçou pela cintura, apoiando a cabeça em meu ombro e sorri.
— Você está bem? — Ela perguntou.
— Ah, meine perle, eu estou sim! — Abracei-a de lado. — Fico triste que acabou assim, mas fico feliz por estar aqui. — Ela sorriu.
— Eu te disse que você era boba em não querer vir. — Ela disse e sorri, acariciando seus cabelos.
— Você sabe que algumas coisas vão mudar depois daqui, não sabe? — Ela assentiu com a cabeça.
— Já estava na hora, não? — Ela disse, me fazendo rir.
— Talvez sim, meine perle! Talvez sim. — Suspirei, voltando a focar em alguma televisão.
Estava na quinquagésima volta, e Max tentava tirar a diferença para Hamilton que acelerava como se a vida dele dependesse disso.
Na quinquagésima terceira volta, meu medo — e de boa parte das equipes — aconteceu. Uma batida severa aconteceu, há cinco voltas do final. Latifi e Schumacher tiveram um toque, o canadense se recuperou, mas talvez uma asa quebrada fez com que ele fosse direto para o muro.
— Merda! — Suspirei.
A vantagem de Hamilton acabou de ir para o saco. O carro de Latifi estava com princípio de incêndio e sabia que não seria na fácil tirar ali. O Safety Car foi lançado e eles tinham menos de cinco voltas para resolver tudo.
Esse campeonato não podia terminar com Safety Car na pista.
— Isso não é bom, certo, mãe? — Elëa sussurrou para mim e suspirei.
— Não. — Mordisquei o lábio.
Max foi esperto e foi para os boxes, assim como alguns carros, já Lewis preferiu ficar na pista. Tinham cinco carros lapeados* entre eles, isso não era bom. Devido ao Safety Car, os carros em atraso teriam que ultrapassar e Max ficaria atrás de Hamilton com pneus frescos.
Droga!
Duas voltas depois, com Safety Car ainda na pista, Perez, da Red Bull, abandonou. Independente do que acontecesse no final, a Mercedes já era campeã no campeonato de construtores. Agora quem seria o campeão?
O comando de prova anunciou que os carros entre eles não poderiam ultrapassar. Estranho, essa não é a regra! Mesmo que fosse ruim para a Mercedes, os carros deveriam ultrapassar, isso é regra!
Já na quinquagésima sétima volta, a ordem mudou, mas somente os carros entre eles poderiam ultrapassar, o que deixava o grid completamente confuso e bagunçado, mas Max estava colando em Lewis e o Safety Car logo sairia da pista.
Max deveria ficar atrás de Hamilton, mas ele se aproximava do mesmo a ponto de ficar quase lado a lado, deixando Hamilton poucos centímetros a frente. Depois Max freava, para não descumprir totalmente a regra de manter um carro atrás do outro, e acelerava novamente*.
Michael, isso não é certo! — Finalmente ouvi a voz de Toto e suspirei.
Que merda está acontecendo?
Meu olhar se ergueu para Fred e a confusão era clara. Ninguém sabia o que estava acontecendo. Isso não está nos livros, Max deveria ser punido por isso.
Quando o Safety Car saiu da pista, meu corpo gelou, faltava uma volta para o fim. Uma volta que decidiria a corrida, mas Max estava com pneus frescos.
Hamilton pisou fundo, mas Max também, então não demorou mais do que cinco curvas para que Max o ultrapasse, fazendo aquele circuito ensurdecer novamente. Hamilton tentou se aproximar, mas Max o fechou rapidamente.
Michael, isso não está certo! — Ouvi a voz de Toto novamente e seu tom era de desespero.
Merda!
Hamilton tentou abrir novamente para uma ultrapassagem, mas Max o fechou novamente. Nessa última fechada, Max conseguiu a vantagem com os pneus novos e disparou à frente, tornando a distância de um segundo, depois dois, quando finalmente passou pela bandeira quadriculada.
Max venceu.
Max é campeão do mundo.
Depois de liderar somente uma volta da corrida.
Mas é só uma que importa, não?
Algumas pessoas dentro da garagem comemoraram, outras ficaram tristes, eu só dei um curto sorriso e um aplauso solitário. Nunca se sabe quando alguém está filmando, então não queria atiçar possíveis comentários de qualquer lado, especialmente que não temos ligação direta com nenhuma das duas, mas sei da amizade próxima de Fred e Toto.
— Você está ok, mamãe? — Elëa me perguntou.
— Sim, meine perle, eu estou. — Suspirei. — Toto talvez não. — Pressionei os lábios.
Michael, isso não é certo, essa volta precisa ser refeita. — A voz de Toto veio entre os gritos de Max, Christian e quem mais gritava em seu rádio.
Isso se chama automobilismo, Toto. — Michael respondeu, me fazendo arregalar os olhos.
— Isso não é certo. — Falei, suspirando.
— Vai atrás dele, mamãe. — Elëa disse. — Ele talvez precise de você agora.
Sorri para minha menina tão madura e tão ingênua, e dei um beijo em sua bochecha antes de me levantar.
Saí com meus headphones mesmo, tentando passar despercebida, devido a proximidade do grid e da garagem da FIA, e precisei desviar de muitos Red Bulls e Ferrari, que havia um piloto em terceiro lugar, e, para mim, infelizmente, não era Charles.
Parei perto da garagem da Mercedes, olhando em volta, vendo o pessoal triste, desolado e alguns até chorando e suspirei. Caminhei pelo local, vendo a ex de Toto, seus filhos e outros relativamente conhecidos no mundo do automobilismo, tentando não chamar atenção e encontrei Valtteri ali. Não tenho a mínima ideia de sua posição, mas ele era o que menos parecia desolado com tudo.
Ser o segundo piloto não era nada legal.
Mas talvez fosse seu jeito finlandês, similar ao Kimi.
— Sinto, Valtteri. — Falei, cumprimentando-o e ele assentiu com a cabeça.
— Obrigado. — Ele disse suspirando. — Espero poder fazer mais no ano que vem. — Sorri.
— Eu também! Vai ser um prazer te ter na nossa reunião para descobrirmos os problemas de hoje.
— Vai ser um prazer, senhora. — Ele disse, ainda tirando a balaclava.
— Nos falamos amanhã. — Disse e ele confirmou.
— Ele não está aqui. — Ele disse e virei para ele.
— Sabe onde ele está? — Perguntei.
— Com a direção de prova talvez?! — Ele disse e assenti com a cabeça.
— Parabéns pelo campeonato de construtores. — Falei.
— Obrigado. — Ele disse novamente e segui de volta para a minha garagem.
Queria muito ir atrás de Toto e consolá-lo, nem que seja do seu jeito austríaco, quieto e irritado, mas se ele está com a direção de prova, as coisas já deveriam estar quentes o suficiente, e eu não queria me meter.
Ainda tínhamos tempo.

*Lapped cars ou carros lappeados é quando o grid está bagunçado, já que os pilotos da frente deram uma volta a mais e mais rápido do que os carros de trás, isso pode piorar principalmente quando os carros entram no pit stop. Então, apesar de Lewis liderar e Max estar em segundo, tinha 5 carros entre eles que estavam uma volta atrás na pista, provavelmente entre as últimas posições.
*Segundo regras da F1, em caso de Safety Car na pista, os carros precisam ficar um atrás do outro, obedecendo a velocidade. Essa ação do Max, foi o que tornou essa final tão controversa, já que ele chega a ficar lado a lado com Lewis, senão à frente, antes de frear e recuar um pouco.


Capítulo 6

12 de dezembro de 2021


— À Alfa Romeo! — As taças se tocaram, fazendo os gritos dos funcionários se silenciarem por um momento ao dar um gole no champanhe e abaixei a taça, ouvindo os funcionários aplaudindo e sorri.
Desviei meu rosto da minha família e suspirei. Encontrava esse pessoal nas festas de fim de ano, mas era muito difícil me afastar dos acionistas e administradores para realmente conhecer todos, então ver essa família, ver o trabalho que todos eles dedicavam, a torcida deles, mesmo como uma corrida como hoje, me dava uma felicidade enorme em meu peito. Depois de tantos funcionários demitidos e perda de outros pela Covid, é bom ter um momento de felicidade.
Kimi e Antonio conversavam e a troca de capacetes se oficializou. Sempre imaginava com quem os pilotos que se aposentariam trocariam seus capacetes e nunca imaginei que Kimi trocaria com Antonio, seu pupilo. Para quem vê Kimi de fora, acha ele duro, sério, sarcástico, usa o apelido Homem de Gelo sem dó, mas quem o conhece, sabe o tamanho enorme do seu coração.
Virei o rosto, vendo minha filha em uma rodinha com Fred, a esposa de Kimi e os pais de Antonio. Trabalho com Fred desde o começo, um dos motivos de eu ser CEO é ele, então ele sempre teve um carinho enorme com minha filha.
Ouvi alguns gritos e aplausos e virei o rosto, rindo ao perceber Greta finalmente aos beijos com o mecânico loiro e a rodinha de mecânicos e assessores em volta deles. Isso me emocionou, Greta sempre foi fechada dentro da empresa, mas era bom poder vê-la finalmente se soltando. Talvez eu tenha perdido minha assistente, mas essa vinda mudaria muito mais do que a minha vida. Tinha muitas pessoas para levar em conta.
— Não chore! — Virei o rosto, percebendo que não havia sido comigo, e notei Antonio e Kimi abaixados, em volta de Riana, a menina de quatro anos do Kimi. — Vamos ver Antonio, ok?!
— Você vai na minha casa no verão. — Antonio disse, acariciando o rosto da mais nova.
— Ok?! Na Itália! E podemos comer mu-u-uita pizza! — Kimi disse, me fazendo sorrir. — Diz tchau para o Antonio, Feliz Natal e Feliz Ano Novo.
— Tchau... — Riana disse, abraçando Antonio fortemente e limpei algumas lágrimas.
— Não sei esqueça de pedir muitos presentes! — Kimi disse, pegando sua menina e ri fracamente, tomando mais um gole do champanhe.
— Tenha uma ótima viagem para casa e a gente se fala. — Minttu o abraçou também, depois Robin e desviei o rosto quando vi Kimi abraçar Mark.
— Merda! — Suspirei, observando as luzes do circuito. Conheci Mark no meu primeiro ano de Sauber, eles estão juntos desde que Kimi começou.
— Oi, mamá! — Virei o rosto para Elëa que tinha um copo de refrigerante na mão. — Salgadinho? — Dei um pequeno sorriso.
— Está tudo bem, meine perle. — Suspirei e ela me abraçou de lado.
— Vai ficar tudo bem, mamãe! — Ela disse, apoiando a cabeça em meu ombro.
— Eu só estou emotiva, querida. — Suspirei. — Logo passa.
— Ela pensa que vai se livrar de mim. — Virei para Kimi que vinha com sua família.
— Eu sei que não. — Dei um curto sorriso. — Mas tem um teor amargo nisso tudo.
— Ah tem! Com certeza tem. — Ele disse, entregando Riana para Minttu. — Você vai começar a ir a corridas e não é nem por mim. — Ri fracamente.
— Mas você pode ter certeza de que sempre vai ser meu piloto favorito. — Falei e ele riu fracamente
— Charles está vindo, você vai dizer isso a ele daqui uns 15 anos. — Ri fracamente.
— Espero estar aqui pelos próximos 15 anos. — Ele assentiu com a cabeça.
— Você vai! Nós vamos! — Sorri e ele veio em minha direção, me abraçando e fechei os olhos ao apoiar minha cabeça em seu ombro. — Chega de medos, ! — Ele disse, me fazendo suspirar. — A vida pode ser colorida de vez em quando. — Ri fracamente.
— Desde quando você é poeta? — Me afastei, olhando em seus olhos.
— Desde que eu estou aposentado! — Ele disse e apertei sua barriga, ouvindo-o rir. — Se cuida, ok?!
— Não suma! — Falei.
— Não! Eu ainda tenho essa menina para cuidar! — Ele disse, abraçando minha filha, fazendo-a sorrir. — Se vocês precisarem de qualquer coisa, me liguem, a qualquer hora.
— E você ainda pode aparecer na Suíça, não se esqueça disso. — Ele confirmou.
— Eu vou.
— Aposto que a equipe gostaria de um conselheiro. — Ele ponderou com a cabeça.
— Quem sabe? — Ele disse e o abracei novamente.
— Aproveite sua aposentadoria. — Falei.
— Eu vou! — Ele riu fracamente. — E não fique assim, vamos nos ver novamente. Agora você tem um motivo mais legal para vir! — Ri fracamente.
— Obrigada por tudo, Kimi. — Ele assentiu com a cabeça.
— Eu que agradeço. — Ele me disse e segui abraçar Minttu, Robin e depois Riana. — Foi uma boa volta. — Assenti com a cabeça.
— É, foi! Agora tira o pé do acelerador, ok?!
— Já tirei! — Ele piscou, dando um beijo na testa de minha filha.
— Divirta-se, ok?! — Minttu disse e ri fracamente.
— Eu vou! — Falei e fiquei com um aceno nos quatro antes de elas virarem para o outro lado.
— Acho que é isso! — Elëa disse e abracei-a pela cintura.
— É isso, querida. — Suspirei, ainda observando a festa do restante da equipe.
— Você vai vê-lo amanhã! Tenho certeza. — Ela disse, me fazendo rir.
— Amanhã eu não sei, mas aposto que quarta-feira! — Falei, ouvindo-a rir.
— Então! Relaxa! — Ela deu um tapinha em meu ombro. — Vamos comer? Tô com fome! — Ri fracamente.
— É, eu estou também! — Abracei-a fortemente. — Por que não vai para o hotel? Vou ver se precisam se algo e logo vou.
— Ok! — Ela disse animada.
— É para ir para o hotel, Elëa, não ir atrás do Charles! — Falei séria.
— Relaxa, eu me certifico que ela chegue lá! — Greta disse e ri fracamente.
— Achei que estava ocupada. — Falei sugestivamente e ela pressionou os lábios, fazendo com que eu e Elëa ríssemos de suas bochechas avermelhadas.

— Obrigada! — Agradeci ao motorista antes de sair do carro e fiquei feliz pelos fotógrafos estarem mais interessados pelas festas que aconteciam em volta do circuito do que na frente do hotel, então pude entrar sem problemas.
O lado de dentro do largo lobby estava mais cheio e pessoas de vários estilos chegavam e saíam, em sua maioria trabalhadores com os uniformes das escuderias. Segui para perto do elevador, chamando o mesmo.
— Mãe! — Virei o rosto, vendo minha filha acenando para mim da área de espera e fui em sua direção, vendo que alguém estava ao seu lado. Me aproximei e notei que era o mais velho de Toto.
— Ei, você está aqui! — Falei.
— Sim, encontrei o Ben! — Ela indicou o menino com a mão. — Ele é o filho do Toto.
— Eu sei! — Sorri.
— Ele queria te conhecer... Propriamente! — Ela disse e ri fracamente.
— Oi, senhora! — Ele disse se levantando. — Eu sei que você abandonou meu pai no altar, mas eu também sei que você sempre fez parte do coração dele. — Pressionei os lábios. — Talvez esteja na hora de juntar essas duas famílias loucas e estranhas em uma só, não?!
— Ah, querido! — Puxei o mais alto para um abraço e ele encaixou seu rosto em meu ombro. — Fico tão feliz por seu pai ter sido honesto contigo da mesma forma que eu fui com Elëa.
— É difícil não ser quando eu sempre o pegava olhando suas fotos e vídeos. — Ele disse e sorri, me afastando e passei a mão em seus cabelos loiros. — Ele realmente gosta de você, senhora.
— Agora eu sei. — Sorri, fazendo um carinho em seu rosto.
— Eu sei que ele teve outros dois relacionamentos depois de você, mas ele nunca olhou para uma foto da minha mãe da mesma forma que ele olha para você. — Elëa riu e eu a acompanhei.
— A gente concorda que vocês deveriam ficar juntos! — Ela disse e sorri.
— Só o tempo vai dizer, queridos. Vamos tratar uma coisa de cada vez, ok?! — Eles assentiram com a cabeça. — Onde está seu pai? — Perguntei séria.
— Ele está no bar lá de trás. Ele quer ficar sozinho. — Ele disse e assenti com a cabeça.
— Eu o deixei sozinho por 30 anos, não vou repetir o mesmo erro. — Ele assentiu com a cabeça. — Já volto!
Ambos assentiram com a cabeça e segui para onde Ben indicou. Eu não conhecia muito o hotel, mas segui pelo caminho, então não foi difícil achá-lo. Tem vários bares nesse hotel, inclusive piano bar, com um tom mais baixo e calmo, e foi no nesse bar que o encontrei. Identifiquei o copo de uísque em sua mão. Ele estava parcialmente vazio, mas vai saber quantos outros ele já bebeu.
Me aproximei devagar, analisando o território ali em volta e apoiei uma mão em suas costas antes de me sentar ao seu lado. Ele ergueu o olhar para mim e já tinha se livrado da camisa da Mercedes e usava uma camisa azul clara simples.
— Ei. — Falei.
— Ei... — Ele disse fracamente e parecia que ele tinha levado uma surra, seus olhos estavam fundos e sérios.
— Sinto muito, Toto. — Falei e ele suspirou fundo.
— Agradeço, mas não acho que corrige alguma coisa. — Ele disse e neguei com a cabeça.
— Não. — Falei e ele pressionou os lábios. — O que eles disseram? — Perguntei e ele tomou mais um gole do uísque.
— Que a volta é completamente válida, que não tinha nenhum indício necessário para ser refeita, já que Verstappen respeitou a distância durante o Safety Car. — Ele disse, dando uma risada sarcástica. — Ainda precisei ouvir que foi nosso erro de estratégia por manter o Lewis fora do pit stop durante o Safety Car. — Suspirei e ele ergueu o rosto para mim. — O que você acha?
— Eu? — Perguntei surpresa.
— Nossa briga de ontem foi por isso, ! Todo mundo tem uma opinião. — Ele disse.
— Não é como se valha de algo agora, Toto. Todo mundo viu. O mundo inteiro viu! — Suspirei. — Independente da estratégia tomada, o que aconteceu depois da batida não foi válido!
— Maldito Latifi. — Ele rosnou e apertei seu braço.
— Não começa! — Falei. — O motor da Williams é de vocês, não tem motivos para duvidar de nada. O coitado do Latifi já teve azar o suficiente esse ano.
— Eu só não sei como aceitar isso! — Ele suspirou. — O que aconteceu? O qu... — Apertei sua mão, obrigando-o a soltar o copo.
— Eu não sei o que aconteceu lá, Toto. E acho melhor eu não querer saber. Isso é feio demais para o esporte e, se Christian, Red Bull, Masi, Domenicalli, ou quem for, estiver envolvido nisso, vamos saber. — Suspirei.
— Mas isso não vai dar o título ao Lewis. — Ele disse.
— Não. — Falei séria. — Mas, se eu fosse o Lewis, não gostaria de ganhar nessas circunstâncias. — Falei. — Foi feio, Toto. — Ele pressionou os lábios. — Eu ouvi o áudio de alguns pilotos... Ninguém entendeu o que aconteceu.
— Foi roubado! É óbvio! — Ele disse e assenti com a cabeça.
— É. — Suspirei. — E ficou feio para eles. — Falei. — A dor pode ser grande agora, mas pelo menos vocês não têm essa mancha em seu histórico. Ao menos eu espero. — Ele deu um curto sorriso. — Vem... — Me levantei do banco e abracei-o pela cintura.
Ele se levantou do banco também, passando os braços pelos meus ombros e apoiou a cabeça em meu ombro. Dei um beijo em sua cabeça, acariciando seus cabelos e deixei-o me apertar pelo tempo necessário. Sentia que Toto estava a um passo de surtar e, infelizmente, ele não podia surtar aqui.
— Por que não vamos jantar? Você, eu, Elëa e Ben? — Sugeri, vendo-o erguer o rosto.
— Elëa e Ben? — Ele perguntou.
— Os encontrei conversando no lobby. — Falei e ele deu um sorriso. — Seu filho me fez vários pedidos em relação à você. — Ele riu fracamente e vi seu rosto avermelhar.
— Eu vou reduzir a honestidade com o Jack. — Sorri.
— Não, Ben parece um ótimo menino. — Ele assentiu com a cabeça.
— Não acertei com as esposas, mas talvez com os filhos. — Sorri.
— Você pode acertar com uma esposa. 30 anos depois, mas sim. — Ele sorriu. — Vamos?
— É, vamos! — Ele disse. — Deixa eu terminar com isso... — Ele se aproximou do copo e eu o puxei de sua mão.
— Não, não! — Bebi o restante por ele. — Não foi só você que teve fortes emoções essa noite.
— Ah, verdade! Sua corrida! — Ele se virou para mim. — Vocês abandonaram com os dois carros! — Suspirei.
— É, acho que eu preferia a sua emoção. — Suspirei. — Os dois carros, dois pilotos saindo e dois problemas distintos!
— Sério? — Ele perguntou e assenti com a cabeça.
— Freio e câmbio. — Suspirei. — Não poderia ser pior.
— Acredite, podia! — Ele disse, esticando a mão para mim e sorri, segurando-a. — Vamos, senhora ?
— Sim, senhor Wolff! — Falei e trocamos um sorriso antes de seguirmos juntos para fora do bar.

Eu e Toto saímos do bar e os olhos de Elëa e Ben se viraram para nós. Observei o sorriso de ambos e senti a mão de Toto entrelaçando nossos dedos e não precisei olhar para entender o motivo dos sorrisos. Me aproximei de nossos filhos e eles riram.
— Ah! — Elëa me abraçou, me fazendo rir.
— Finalmente, pai! — Ouvi Ben dizer para Toto e sorri.
Parece que eu e Toto somos mais parecidos do que pensava.
— Você vai ter que cuidar da minha mãe! — Elëa disse e Toto riu antes de receber um abraço de minha menina.
— Mais fácil ela cuidar de mim! — O ouvi dizer e Ben sorriu antes de me abraçar.
— Vocês dois merecem serem felizes. — Ele disse.
— Obrigado, querido! E ter o apoio de vocês já me faz feliz. — Sorri.
— Isso já demorou demais! — Elëa abanou a mão.
— Ela nunca mais vai fugir de mim! — Toto disse e senti um beijo em minha cabeça, me fazendo sorrir.
— Por que não vamos lá em cima? — Sugeri. — Pedimos serviço de quarto e ficamos mais confortáveis.
— Claro! — Elëa e Ben toparam rapidamente e recebi uma piscadela de Toto.
Nossas crianças, de 16 e 20 anos, foram na frente e entramos no elevador logo em seguida. Eu ainda não tinha certeza do que estava acontecendo, Toto ainda estava oficialmente com Susie e tinha Jack que talvez fosse pequeno demais para entender o que estava acontecendo, mas, da mesma forma que passei os primeiros anos da minha vida logo que saí da Áustria, eu precisava fazer novamente, viver um dia de casa vez.
Entramos na minha suíte e nos separamos, logo Elëa e Ben dividiram o cardápio, decidindo o que queriam pedir e Toto me abraçou pela cintura, dando um beijo em meu ombro.
— Estamos mesmo fazendo isso, ? — Ele sussurrou e virei o rosto de lado.
— O quê? — Virei meu rosto para ele, apoiando minhas mãos em seu peito.
— Começando do zero?! — Sorri.
— Com uma família alargada? — Falei, ouvindo Elëa e Ben rirem e notei que eles tinham conseguido rasgar o cardápio no meio.
— E bem empolgada sobre automobilismo. — Ele apoiou a boca em minha orelha, me fazendo rir.
— Sobre tudo, eu acho. — Virei meu rosto para ele, roçando nossos narizes. — Eu sinto que estou velha demais para isso. — Sussurrei.
— Por que diz isso? — Ele perguntou.
— Se a vida tivesse seguido o curso normal, talvez nossos filhos fossem mais velhos do que eles. — Falei. — E agora estamos lidando com dois adolescentes. — Ele riu.
— Por mais que eu adoraria ter visto tudo isso, precisamos encarar que se passaram 30 anos, senhora . — Sorri, acariciando seu rosto.
— Eu sei, as rugas não mentem! — Ele riu.
— E eu vou te amar com todas elas. — Ele disse, me fazendo sorrir. — A boa parte sobre esses 30 anos, é que meu amor por você só cresceu.
— Ah, Torger! — Suspirei, abraçando-o apertado. — Eu te amo também. — Ele me apertou, dando um beijo em meu ombro e fechei os olhos.
— Tudo vai ser diferente, , mas vamos ficar juntos, ok?! — Assenti com a cabeça, olhando em seus olhos novamente.
— Está bom para mim. — Ele sorriu e nossos lábios se tocaram por alguns segundos.
— Caham! — Virei o rosto para o lado, vendo nossos filhos sorrindo para nós.
— Estamos atrapalhando? — Ben perguntou, me fazendo rir.
— Estávamos entre pizza e massa, mas a gente rasgou o cardápio das massas, então vai ser pizza! — Elëa sorriu e ri fracamente. — Vocês podem continuar o que estavam fazendo. — Toto riu, beijando minha bochecha.
— Eu vou adorar, mas prefiro longe de vocês! — Ele disse e neguei com a cabeça.
— Vamos resolver isso, continuamos isso depois! — Sussurrei para Toto.
— Longe deles! — Ele beijou minha bochecha antes de se afastar. — Eu quero algo com anchovas.
— Ah, pai, anchovas? Eca! — Ben disse.
— É, eu estou com o Ben nessa! — Elëa disse.
— Pelo menos não é salsicha apimentada! Ele adorava isso quando éramos mais novos. — Me aproximei deles. — Cadê o resto do cardápio? — Estiquei a mão e Elëa me entregou três pedaços de folhas, fazendo uma careta enquanto isso.
— Desculpe! — Ela disse e ri fracamente.
— Aposto que esse é o menor dos nossos problemas! — Falei rindo.

— UNO! — Ben gritou.
— NÃO! — Toto disse em seu tom forte, me fazendo gargalhar.
— Nem vem! — Elëa disse, jogando um +4 na mesa.
— POR QUE PARA MIM? — Toto gritou.
— Ah, droga! Era para ele! — Elëa tombou a cabeça para trás.
— Tenta corrigir isso, hein, ? — Toto disse, comprando as cartas. — Que cor você quer?
— Ah, merda! — Ergui o rosto para Ben que sorria.
— Você não sabe se eu tenho uma cor aqui ou um +4... — Ele disse com o mesmo tom de seu pai.
— Eu quero amarelo. — Falei séria
— Ah, que droga! — Ele disse tomando a cabeça para trás e rimos juntos. — Me dá uma carta, El! — Ele disse e ela lhe entregou. — Ahá! — Ele jogou um quatro amarelo, me fazendo rir. — UNO!
— Ah, vamos de novo! — Elëa tombou a cabeça para trás.
— Não joga em mim, El! — Toto disse e ri.
— Ok, ok! — Minha filha disse, jogando um sete amarelo.
— Isso, devagar! — Toto disse, jogando um sete verde.
— Ah, lá vai... — Suspirei, olhando para minhas cartas e joguei um sete azul.
— Ah, ! Eu te amo! — Ben disse sarcasticamente antes de jogar um dois azul.
— Ah, droga!
— E eu ganhei de novo! — Ben disse e ri fracamente.
— Pelo jeito você só vence corridas, Toto! — Minha filha disse, me fazendo rir.
— Ele é péssimo em videogames. — Ben anunciou, me fazendo rir.
— Ao menos nisso minha mãe é boa! — Elëa disse e me levantei.
— Sério? Isso é surpreendente! — Toto disse se levantando e dei de ombros.
— Falei que tinha um simulador na sala de estar. — Caminhei pela suíte, pegando um dos copos na bancada.
— Vamos jogar de novo? — Ben sugeriu.
— É! — Elëa disse animada. — Eu quero tirar esse sorriso da sua cara! — Ri fracamente, vendo Toto se aproximar.
— Eles já estão agindo como irmãos! — Ele disse, me fazendo rir.
— Bem, a Elëa começou a saber o que é ter irmãos há seis anos quando meu ex se casou, antes disso, era só ela. — Falei.
— Ben não está muito longe, o Jack tem só três anos, mas Ben fica mais com a mãe do que comigo... — Ele ponderou com a cabeça. — Na verdade, na faculdade agora.
— Quando você pensava no nosso casamento, pensava que seria assim? — Ele riu fracamente.
— Com certeza, não! — Ele riu. — Eu primeiro pensava como teríamos uma noite de núpcias sendo que nunca tínhamos nos beijado. — Ele disse, me fazendo rir.
— E qual era sua ideia? — Apoiei os braços na bancada.
— Nós tínhamos uma reserva no Imperial, esperava que ao menos nosso beijo saísse e tudo seguisse dali. — Ri fracamente.
— Com a força do pensamento positivo? — Brinquei.
— É! — Ele riu fracamente. — Poderíamos ir no bar, beber, dançar, as coisas poderiam fluir... — Sorri.
— Eu ia adorar. — Suspirei. — Eu quero tudo isso. — Fiz um pequeno bico e ele deixou um selinho em meus lábios.
— Férias em Viena? — Ele sugeriu e ri fracamente.
— Parece bom para mim. — Ele riu.
— Combinado! Só não acho que temos mais idade para baladas. — Ele disse, me fazendo rir.
— Bem, estamos em Abu Dhabi, aposto que tem várias baladas aqui essa noite. — Falei, ouvindo-o rir.
— Ei, vocês dois, mais uma partida? — Elëa sugeriu e virei para Toto.
— O que acha? Curtir uma balada juntos? — Sussurrei para ele.
— Não acho que estou clima. — Ele disse.
— Acho que isso é um motivo muito bom para irmos. — Falei e ele riu fracamente.
— Você e eu em uma balada? — Dei de ombros. — Was zur Hölle!* — Ele disse, me fazendo rir e virei o rosto para nossos filhos.
— Vamos dar uma saída. — Anunciei para eles. — Não nos esperem acordados, ok?! — Anunciei e eles riram.
— Divirtam—se! — Eles disseram antes de voltar a focar em seu jogo de cartas.
— Já viu isso? Os pais de 50 anos saindo e os filhos de 20 em casa? — Toto brincou e sorri.
— Nunca vi, mas 50 é você, eu tenho alguns anos até lá! — Falei, ouvindo-o rir.

*Was zur Hölle é “que droga”.

13 de dezembro de 2021


LIGHTS WILL GUI-I-I-I-IDE YOU HOME! — Sorri. — AND IGNI-I-I-I-ITE YOUR BONES! AND I WILL TRY-Y-Y-Y TO FIX YOU! — Gargalhei alto com Toto abraçado a vários desconhecidos, errando cada nota da música.
— Senhora? — Vi outro desconhecido me oferecer um shot e aceitei, virando-o em minha boca antes de devolver.
O álcool desceu pela minha garganta e eu não tinha a mínima ideia do que estava tomando, já fazia uma hora que eu não perguntava, só colocava para dentro. Eu só não estava tão ruim quanto Toto. Incrível o pouco que esse homem de 1,96 de altura aguenta.
Apesar que ele precisava surtar um pouco pelo que houve.
— GO! GO! GO! — Virei o rosto para trás, arregalando os olhos.
— MAIS ALTO! — Toto estava no palco, atiçando a galera e gargalhei alto.
— PULA! PULA! PULA! — Ri ao vê-lo correndo pelo palco e pulou nos 20 homens que o seguravam.
— TO-TO! TO-TO! TO-TO! — As bebidas e copos começaram a voar pelos ares assim que ele pulou, fazendo eu me molhar inteira.
— Ah, definitivamente não pensava em ver meu ex-chefe assim! — Virei para o lado, vendo Valtteri igualmente molhado depois da festa.
— Valtteri! — Ele se virou assustado.
! — Ele disse surpreso.
— O que está fazendo aqui? — Perguntei.
— O mesmo que vocês?! — Ele indicou e virei para Toto que havia perdido a camisa azul e agora só dava para ver a camiseta branca por cima de tudo que ficava cada vez mais molhada com as bebidas sendo jogadas para cima.
— Deus! Eu acho que bebi demais! — Passei a mão na cabeça.
— Não mais do que ele! — Ele disse e vi outro garçom passando.
— Ei, com licença! — Falei, vendo-o passar e vi shots de tequila e peguei dois. — Aqui, um para você! — Entreguei a Valtteri. — Você merece, demorou cinco anos para se livrar do seu chefe e agora vai trabalhar para a nova namorada dele. — Ele riu.
— Saúde! — Ele disse.
— Saúde! — Repeti e brindamos antes de virar os shots para dentro.
— ME LEVA LÁ! — A voz de Toto gritou acima da música, me fazendo rir.
— Te vejo depois! — Valtteri disse, saindo dali.
— ESSA É A MINHA MULHER! — Toto disse rindo e quis esconder meu rosto. Na prática, ele ainda era casado com a Susie, não?
— CALA A BOCA, TOTO! — Falei rindo, puxando-o pelo braço e ele foi colocado no chão.
— O quê?! — Ele disse rindo, passando os braços pelos meus ombros.
— Cala a boca, você ainda é casado! — Falei e ele segurou meu rosto, colando nossos lábios. — Toto! — Nos afastei rindo.
— Ah, cara! Eu te amo! — Ele disse rindo e suspirei.
— Você está bêbado! — Passei a mão em seu peito, vendo a camiseta molhada deixar seu abdome definido a mostra.
— Sim, eu estou! — Ele disse rindo, me abraçando mais perto e passei os braços pela sua cintura. — Mas não menti! — Sorri, sentindo o forte cheiro de bebida.
— Acho que está na hora de ir embora, não? — Falei, sentindo-o colar a testa na minha.
— Nã-não! — Ele disse rindo, colando nossos lábios novamente. — Eu ainda preciso cantar para você! — Ri fracamente.
— Você já cantou o suficiente, Torger! — Falei firme, puxando-o pela nuca.
ALL THE CRAZY SHIT I DID TONIGHT! — O pessoal começou a cantar com a nova música.
THOSE WILL BE THE BEST MEMORIES! — Toto cantou junto e puxei-o pela nuca.
— PARA! — Falei rindo.
I JUST WANT TO LET IT GO FOR THE NIGHT! — Ele continuou cantando com o pessoal.
THAT WOULD BE THE BEST THERAPY FOR ME!
— PARA, TOTO! — Gritei rindo e ele segurou minha nuca, olhando em meus olhos.
— Casa comigo! — Ele disse sério.
— O QUÊ?! — Gritei rindo.
— CASA COMIGO, ! — Ele gritou, me fazendo rir.
— VOCÊ ESTÁ LOUCO?! — Puxei-o pela camiseta.
— SIM! — Ele gritou rindo, colando nossos lábios mais uma vez.
— VOCÊ AINDA É CASADO! — Falei rindo.
— ATÉ AMANHÃ! — Ele disse sorrindo.
— MERDA! — Falei rindo.
— Eu te amo, ! Eu quero passar o resto dos meus dias contigo! — Ele disse com nossos rostos colados, me fazendo sorrir.
— Eu te amo, Toto! — Repeti, pressionando nossos lábios novamente. — E eu caso contigo! — Falei rindo.
— YUHUL! — Ele gritou, me fazendo rir. — Você não vai poder fugir dessa vez! — Ele se afastou dois passos. — I JUST WANT TO LET IT GO FOR THE NIGHT! — Ele continuou cantando, alheio ao papo e ri fracamente.
— Não, eu não vou fugir dessa vez. — Suspirei.

— Ai! — Toto gemeu quando bateu a cabeça.
— Xi! — Coloquei a mão na boca, ouvindo-o rir.
— Ah, minha cabeça dói! — Ele gemeu e coloquei a chave na porta, abrindo-a devagar.
— Xi! — Coloquei a mão na boca novamente, vendo a entrada da suíte escura. — Cuidado onde pisa. — Entrei devagar, puxando-o para dentro e fechei a porta devagar. — Devagar. — Pedi fraco.
— Eu estou logo atrás de você. — Ele me abraçou pela cintura e andei às cegas pela antessala e cheguei na sala, vendo-a um pouco mais clara pela larga janela e vi Elëa no sofá-cama e Ben no divã. — Eles estão dormindo...
— Xi! — Pedi para ele, puxando-o em direção ao quarto. — Fique aqui! Já volto! — Pedi, empurrando-o pela barriga e ele ligou a luz do quarto.
— Ah, as luzes! — Ele gemeu e ri fracamente, puxando um pouco da porta, deixando somente a fresta iluminar.
Me aproximei do sofá-cama, puxando a coberta mais para cima de Elëa e dei um beijo em sua testa, ajeitando a almofada mais perto de seu braço. Fui em direção a Ben no divã e ajeitei a coberta que caía de seus pés e sorri e como ele é parecido com Toto. Dei um beijo em sua cabeça e ele se mexeu um pouco, virando para outro lado.
Ergui o corpo, suspirando, vendo ambos lado a lado, como irmãos, como deveria ter sido por todos esses anos e sorri. Voltei para o quarto, me incomodando com a claridade e fechei a porta devagar.
— Toto? — Perguntei, não encontrando-o no quarto.
— No banheiro! — Ele disse e deixei a camisa imunda de Toto, depois de um encontro com o chão da festa, na bancada e segui para o banheiro, encontrando-o sem blusa, na beirada da banheira.
— Ah, finalmente se livrou daquela blusa molhada. — Falei e ele riu fracamente.
— Posso me livrar de outra coisa também! — Ele disse, me fazendo rir e fechei a porta.
— Não sabia que tinha umas cantadas bregas assim. — Ele sorriu.
— Ah, eu estou salvando 30 anos de cantadas, então... — Sorri. — E eu ainda estou bêbado.
— Eu concordo com isso! — Sorri. — Um banho quente vai ajudar.
— Vai ficar comigo? — Ele perguntou e ri fracamente.
— Pelo o que dissemos hoje, vou. E para sempre. — Me aproximei dele, sentindo-o me puxar pelas mãos.
— Eu estava bêbado, mas eu me lembro disso. — Ele disse e me puxou entre suas pernas. — Talvez eu esteja apressando as coisas, mas...
— 30 anos? Chama isso de apressar as coisas? — Brinquei e ele sorriu.
— Definitivamente não. — Ele disse, entrelaçando nossos dedos. — Mas pensando que te reencontrei há três dias, penso se vai fugir novamente.
— Não, Toto! — Inclinei meu corpo para ele. — Eu não vou. — Suspirei. — Hoje com nossos filhos, me mostrou que tudo seria diferente dos meus pensamentos. — Pressionei os lábios. — Claro que teríamos que passar por muito mais do que “eu aceito” e uma noite de núpcias estranha a base de Uno no hotel Imperial... — Ele riu fracamente. — Mas chegaríamos aos dias de hoje. Com dois ou mais filhos, viajando pelo mundo para realizar nossos sonhos e os deles... — Suspirei. — Não aconteceu da melhor forma possível, mas chegamos ao resultado. — Dei de ombros. — E imaginava que nessa idade já estaria pensando em me aquietar, aproveitar os braços do meu marido e esperar a visita dos nossos filhos no fim do ano, com netos e... — Ele riu fracamente.
— Isso seria legal! — Ele disse rindo e acariciei sua nuca.
— Isso ainda pode acontecer um dia, mas somos dois hiperativos viciados em trabalho e que tivemos filhos velhos. — Ele sorriu. — Então, eu não vou esperar mais para aproveitar minha vida do lado do homem que sempre me amou. E que me mostrou que eu posso ter uma família feliz. — Ele sorriu, colando nossos lábios.
— Isso me lembra uma coisa... — Ele se levantou, saindo do quarto e vi a banheira enchendo e corri para desligar as manoplas. Toto voltou com um guardanapo. — Você merece isso.
— O que é isso? — Ele começou a enrolar o papel.
— Sabe, temos algumas lojas de joias aqui no hotel, mas seria muito estranho eu comprar uma aliança agora. — Ele enrolou o papel, dando um nozinho na ponta. — Então, eu vou te dar essa agora. — Ele esticou para mim e ri fracamente.
— Está perfeito, Toto! — Falei e ele sorriu.
— Ah, espera! — Ele se ajoelhou no chão, esticando o anel de papel para cima e ri fracamente. —Agora sim!
— Agora sim! — Sorri.
, você me daria a honra de não fugir do altar dessa vez e passarmos a vida inteira juntos? — Sorri.
— Sim, Torger, eu aceito! — Estiquei minha mão e ele colocou o anel largo em meu dedo. — Para sempre dessa vez. — Ele se levantou e passei os braços em seus ombros. — Eu te amo.
— Eu te amo, ! — Ele disse e nossos lábios se tocaram levemente.
— Essa vai ser uma história interessante para contar aos dois dorminhocos lá na sala. — Falei e ele riu fracamente.
— Quê? Só porque eu te pedi em casamentos seminu no chão do banheiro com uma aliança de papel? — Sorri.
— Melhor do que da última vez que foi em uma reunião com 54 acionistas e não trocamos nem um aperto de mão. — Falei e ele ponderou com a cabeça.
— Bem pensado. — Ele disse, me erguendo pelas pernas e ri fracamente, passando os braços pelos seus ombros.
— Onde vai me levar? — Perguntei.
— Um banho be-e-em quente! — Ele disse rindo. — Com segundas intenções.
— Você ainda está bêbado, Toto. Estamos velhos, trabalhamos com automobilismo e hoje foi um dia pesado. — Ele riu.
— Ok, ok... — Ele disse rindo, deslizando as mãos pelo meu corpo, me fazendo deslizar para o chão novamente.
— Mas aceito o banho. — Falei, mordiscando seu lábio. — Um banho be-e-em quente!
— Eu posso fazer isso funcionar. — Ele sorriu e nossos lábios se colaram novamente.

16 de dezembro de 2021


E a novidade aqui em Paris é que a Mercedes não mandou nenhum representante para receber seu prêmio pelo Campeonato de Construtores. — O repórter falou. — Depois de um final controverso em Abu Dhabi, nem Toto Wolff ou Lewis Hamilton passaram pelo tapete vermelho. — Ele continuou. — Lembrando que uma das exigências da FIA e da Fórmula Um é a presença de todos os pilotos e chefes de equipe nesse evento que marca o fim do ano para a Fórmula Um. Volta para você, Hannah! — Voltou para a repórter.
Parece que alguém vai levar uma grande multa por isso, Levi! — A apresentadora disse rindo. — Mudando de assunto, no campeonato austríaco... — Desliguei a televisão.
— Não vai levar uma multa, porque o Masi não vai ter coragem depois do que ele fez. — Neguei com a cabeça, ouvindo duas buzinas rápidas.
— Eles chegaram! — Elëa falou.
— Já estou indo! — Falei, me olhando na frente do espelho.
Haviam se passado 30 anos desde a última vez que eu coloquei um vestido branco. Da primeira vez eu parecia uma boneca, com vestido curto, mangas bufantes e saia rodada. Agora o vestido longo, ombreiras e um decote maior, além de mais maquiagem no rosto, mostravam a mudança de tudo isso.
— MÃE, VEM LOGO! — Elëa gritou novamente e ri fracamente.
Demorou, mas faríamos as coisas certas agora.
Ajeitei a cauda do vestido e peguei a caixinha em cima da cômoda antes de sair do quarto. Desci as escadas e minha filha tinha um largo sorriso no rosto e usava um vestido igualmente branco, mas com um pesado sobretudo por cima.
— Você está linda! — Ela disse com a voz chorosa. — Ah, mãe! — Ela me abraçou fortemente.
— Ah, meine perle! — Suspirei, sentindo um beijo em minha bochecha. — Você está bem com isso? — Ela riu fracamente.
— Eu estou, mãe! Muito feliz. — Ela disse rindo. — Eu sei que isso te incomodou por anos, então... Já passou da hora de você ter seu final feliz, não acha? — Sorri, assentindo com a cabeça.
— Se você está bem com isso, é o que importa. — Ela sorriu.
— Eu estou, mãe. Muito bem! — Ela sorriu e ouvi mais duas buzinas. — É melhor a gente ir antes que ele ache que você vá fugir de novo! — Rimos juntos e entrelaçamos nossos dedos antes de passar pela porta de casa.
Toto estava parado ao lado de uma Mercedes conversível e um terno completamente preto e Ben estava no banco de trás com a mesma roupa. Toto sorriu e retribuí. Era o mesmo sorriso de 30 anos atrás, mas ele continuava um homem lindo e incrível.
— Você está linda! — Ele disse e ri fracamente, descendo os degraus e senti seus braços em minha cintura.
— Você também! — Apoiei a mão em seu peito.
— Posso te beijar agora ou preciso esperar o “aceito”? — Ele brincou e colei nossos lábios em um rápido selinho.
— Não somos tradicionais. — Falei.
— Mãe! — Elëa me chamou e sacudiu o sobretudo em minha direção e estiquei os braços para ela me ajudar a colocar.
— Vamos? Nosso horário é em 30 minutos! — Ele disse.
— Quero ver chegar lá com essa neve na rua. — Disse e ele abriu a porta do carro para mim.
— Até parece que nunca viu neve em Vienna! — Ele me zoou e ri fracamente.
Coloquei todo o tecido do vestido para dentro do carro antes dele chegar a porta e ele deu a volta. Elëa entrou atrás com Ben e Toto apoiou a mão em meu colo.
— Antes de ir, eu tenho algo para te mostrar. — Ele disse, abrindo o porta-luvas e pegou um envelope ali.
— O que é isso? — Perguntei, abrindo o papel.
— Meus papéis de divórcio. — Ele disse. — Oficialmente livre! — Ri fracamente.
— E vai se enfiar em outro casamento três dias depois? — Virei para ele.
— Levando em conta que deveríamos estar juntos há 30 anos, não vejo problema. — Ele disse e ri fracamente.
— Eu tenho algo para você também. — Falei, lhe esticando a caixinha que estava em minha mão. — Eu guardei isso... — Ele abriu e vi o anel de noivado que recebi dele há 30 anos.
— Isso é...
— Uhum. — Falei. — O mesmo anel. — Suspirei. — Eu pensei em vender diversas vezes quando estava em necessidade na Suíça, mas não consegui. — Sorri. — E lembro que ele era da sua mãe, não?
— Sim. — Ele disse. — Meu pai a pediu em casamento com ele.
— Naquela época eu nunca entendi por que você me deu um anel tão importante para um casamento arranjado. — Ele sorriu. — Mas agora eu entendo.
— Eu dei ao meu primeiro amor. — Sorri, pressionando os lábios.
— Agora posso usar. — Falei rindo.
— Junto com isso... — Foi sua vez de tirar uma caixinha do paletó. — Será que tem problema a data das alianças ser 16 de julho de 92 e não de dezembro de 2021? — Ele abriu a caixinha, mostrando duas alianças de ouro que eu já conhecia e sorri.
— Você ainda tem isso... — Falei rindo.
— Sim, também guardei algumas lembranças daquele dia. — Sorri.
— Acho que é perfeito. — Falei e nossos lábios se tocaram por alguns segundos.
— Isso está lindo demais, mas acho melhor irmos, vocês pegaram o último horário. — Elëa disse e ri fracamente.
— É, seria ótimo! Temos a noiva, o noivo, mas o cartório fecha! — Ben zoou e ri fracamente.
— Vamos lá! — Toto disse e seguimos em direção ao cartório.
Apesar de todas as diferenças entre o quase casamento em 92, e o de hoje, foi a melhor escolha da minha vida. Ter os olhos do homem dos meus sonhos inteiramente para mim, nossos filhos como nossas testemunhas e fotos tiradas por celulares, não são nem perto o que estava planejado para aquele julho de 92, mas penso que, se tivesse sido assim, talvez estivéssemos renovando nossos votos, não começando do zero.
— Torger Christian Wolff, você aceita Viktoria como sua legítima esposa? — O juiz perguntou.
— Sim. — Ele disse, me fazendo sorrir.
Viktoria , você aceita Torger Christian Wolff como seu legítimo esposo? — O juiz direcionou a mim e ri fracamente, vendo olhar de empolgação de Toto e de nossos filhos.
— Vou pensar... — Brinquei.
... — Toto disse e ri fracamente.
— Sim, senhor. Eu aceito com toda certeza! — Toto riu.
— Uhul! — Minha filha jogou arroz para o alto, me fazendo rir.
— Ainda não, senhorita. — O juiz disse e voltei a olhar para Toto.
— Desculpe. — Elëa disse rindo.
— Continuando... — O juiz disse. — Pelo poder investido em mim, eu os declaro marido e mulher... Finalmente! — Ele disse e ri fracamente. — Você pode beijar a noiva.
— Com prazer... — Toto disse, segurando minha nuca e colou nossos lábios.
— Uhul! — Ri com nossos filhos e senti os grãos de arroz caírem em minha cabeça novamente.
— Você nunca mais vai escapar de mim, ! — Toto disse e sorri
— Nunca. — Sussurrei, colando nossos lábios novamente.


Epílogo

Spielberg, Áustria
Sete de julho de 2022


Os fotógrafos estavam em peso na frente da entrada principal do Red Bull Ring. Era quinta-feira novamente de uma double header*, penúltimo double header antes das férias de verão. O tempo em Spielberg estava gelado, mas o sol acima das cabeças os obrigava a usar chapéus e bastante protetor solar.
Um Alfa Romeo parou em frente à catraca principal e saiu do carro, ajeitando os óculos de sol no rosto novamente, ao menos não precisava se preocupar com a máscara mais. Luísa saiu do outro lado do carro, lhe esticando sua credencial e a CEO da Alfa Romeo só deu um aceno com a mão para os fotógrafos antes de passar pela catraca.
— A senhora tem reunião com a engenharia às 10 horas, depois com os pilotos às 11. — Luísa falava. — A coletiva será do meio-dia e meio às quatro da tarde. Fred gostaria de uma reunião contigo já que não pode comparecer à reunião semanal na fábrica.
— Depois da coletiva. — disse.
— Leclerc também gostaria de um momento contigo, se possível.
— Hum, os sonhos da Ferrari estão indo por água abaixo? — Brinquei e ela riu fracamente. — Tente encaixá-lo no meu almoço, por favor.
— Sim, senhora. — Luísa viu, sorrindo já com a presença de Toto alguns passos abaixo. — Vou dá-los um minuto.
— Bom dia, senhora Wolff! — Toto disse sorrindo.
— Bom dia, senhor ! — falou rindo e passou um braço nos ombros do marido antes dos lábios se tocarem.
— Como foi sua viagem? — Ele perguntou ao se afastar devagar.
— Tudo certo, um pouco turbulenta. — Ela disse e as mãos de ambos se entrelaçaram.
— Como está Zhou? — Ele perguntou.
— Muito bem, na verdade. Já deve estar chegando. — Ela disse.
— Que bom! O acidente foi feio. — suspirou, assentindo com a cabeça.
— Nem fala! — Ela abanou a mão. — Por que são sempre os novatos que passam por isso?
— Falta de experiência? — Toto sugeriu e ela ponderou com a cabeça. — Agradeça ao halo.
— Todo dia! — Ela disse suspirando e ambos pararam na frente dos motorhomes de suas equipes.
— Bom dia, pombinhos! — Fred disse e ambos riram. — Ou será que posso chamá-los assim?
— Oi, Fred! — Toto e disseram juntos.
— Não sabia que era amigo dele. — disse.
— Tudo desculpa para ficar perto de você! — Toto sussurrou perto de seu ouvido e ela riu fracamente.
— Enfim, senhor Wolff, estamos na Áustria, algum plano?
— Além de vencer? — Toto disse e riu fracamente. — Temos duas semanas até França, podemos ficar por aqui, o que acha? Ou precisa voltar para a Suíça?
— Tudo depende do fim de semana. — Ela suspirou. — Contanto que não tenha nenhum acidente igual em Silverstone, acho que estamos bem.
— Dá para tirar uns dias de descanso, vai. — Ele disse. — Jack está comigo, Ben está de férias da faculdade, dá para pedir para ele vir...
— Bem, Elëa está aqui, dá para fazer algo em família. — disse.
— Eu ouvi falar Elëa? — George se aproximou, apoiando o braço no ombro de seu chefe e riu.
— Oi, George! — Ela disse.
— Oi, senhora ! Já falei como a senhora está cada dia mais linda? — George disse, dando um beijo na bochecha dela, fazendo-a rir.
— Ah, cara de pau! — disse rindo.
— GE! GE! GE! OI! OI! OI! — Eles se distraíram com alguns gritos e viraram o olhar para o piloto australiano da McLaren.
— É só minha impressão ou o Daniel está mais feliz do que antes? — falou.
— Você não viu o grupo de pilotos! Ele posta fotos todo dia! — George disse rindo. — Eles estão muito felizes! — A felicidade de George pelo amigo é genuína.
— Mesmo? Eu quero ver! — disse sorrindo. — Me mande depois!
— Pode deixar! — George disse sorrindo e viu Blanda na porta do motorhome da Alfa Romeo.
— Bem, senhores, nos falamos depois. — disse, apoiando a mão no ombro de Toto e deu um beijo em sua bochecha.
— Ei, e sobre a Elëa? — George disse quando andou para o outro lado.
— Cala a boca, George! Ela é muito nova para você! — Toto disse, puxando-o pela gola da blusa, fazendo-o rir.
— Achei que a maioridade na Áustria fosse 14 anos! — George disse.
— É, mas na Inglaterra é 18 e ela não fez nem 17 ainda! — Toto disse firme.
— Ok... Eu só tenho que esperar mais um ano! — George deu de ombros, fazendo Toto revirar os olhos.
Arschloch! — Ele sussurrou.
— Ei! Eu consigo entender, tá? — George disse, fazendo rir.
— Bom dia, Blanda! Me atualize! — disse entrando no motorhome.
— O mais importante de todos é que Zhou está bem... — Blanda disse ao seu lado. — Ele foi liberado pelo centro médico e está pronto para correr.
— Eu quero vê-lo antes disso. — Ela disse firme e viu Greta no fundo do motorhome. — Bom dia, todo mundo!
— Bom dia, senhora ! — Eles disseram.
— Ou seria senhora Wolff agora? — O namorado de Greta falou.
— Eu sempre vou ser a senhora , Agon. Ele goste ou não. — Ela disse rindo e Greta a abraçou de lado. — Bom ver vocês!
— Bom te ver, chefa! — Greta disse sorrindo. — Lu, está cuidando bem dela?
— Sempre! — Luísa disse, fazendo a chefe sorrir.
— Bom, o papo está bom, mas vamos trabalhar? — Mikaela apareceu.
— Vamos lá! — disse sorrindo. — Eu quero ver Zhou, não acredito que aquele garoto saiu limpo depois de tudo.
— Albon não teve a mesma sorte, ele não vai participar dessa corrida, mas se Deus quiser vai estar bem para a França. — Mikaela disse.
— Eu gostaria de dois minutos com Jost também, se possível! — mencionou o chefe de equipe da Williams.
— Claro! Pode deixar! — Blanda disse.
— Mas, antes disso, eu adoraria meu café da manhã! — disse rindo.
— É para já, senhora. — Luísa disse e viu seu celular se iluminar e uma mensagem de sua menina.
“Oi, mãe! Ben disse que vem me pegar para o GP. Fim de semana em família? Não estava sabendo!” riu sozinha, Toto já tinha entrado em contato com Ben que já tinha enviado mensagem para Elëa. Uma família alargada, madura e que a entendesse... É tudo o que ela sempre precisou.

*Double header são duas corridas em dois finais de semana seguidos.




FIM.



Nota da autora: Oi, gente! Finalizando WL junto do fim do ano!
Não esperava poder criar um mundo entrelaçado com The Honey Badger e nem deixar uma abertura inesperada para o George no futuro!
Espero que vocês tenham gostado e cessado o ânimo para fanfic com o Toto Wolff! Esse homem é um espetáculo e faz ter várias ideias, mas uma coisa de cada vez, né?! Hahaha
Espero que gostem e não se esqueçam de comentar!
Agradeço a Sial pela betagem e a vocês por lerem.
Que 2023 traga esperanças e mais fics para nós!
Beijos!

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