Última atualização: Abril/2024

Capítulo 01

— Eu amo tanto essa série, amiga! Tudo foi tudo tão bem construído. Certo que os efeitos não são os melhores, mas isso dá para relevar — dizia com animação, enquanto esperávamos que o episódio seguinte de Teen Wolf começasse. — Sem contar o elenco maravilhoso, só gente bonita por aqui! — completou, com um sorrisinho ladino e um suspiro.
— É! — concordei, com uma risadinha soprada. — Eu admito que subestimei bastante a série, não pensei que fosse gostar — disse, me ajeitando no sofá e observando por alguns segundos a janela e o temporal que caía lá fora. — Essa chuva toda me tira a concentração. Ainda bem que já assistimos tudo, ou eu não teria entendido nada! — resmunguei. Quando pequena, adorava dias chuvosos, porém depois de um pequeno acidente, bastava o céu cinzento para me deixar tensa.
— Deita aqui — convidou , após colocar uma das almofadas sobre suas pernas. Eu nunca resistiria a um cafuné.
e eu morávamos juntas há pouco tempo, porém nos conhecíamos há quase seis anos. Dos dias de escola para a vida adulta, a nossa conexão era inexplicável. Não foi difícil criar uma rotina agradável.
Ambas estudávamos, tínhamos nossos trabalhos e as tarefas de casa eram distribuídas da melhor maneira possível. Um conflito ou outro surgia às vezes, contudo nada o bastante sério para cancelar as nossas maratonas sexta à noite.
— Sua folga é amanhã, certo? — perguntei, enquanto via, pela milésima vez, Stiles ser levado de Beacon Hills pela Caçada Selvagem.
— É, sim — respondeu, antes de levar a mão cheia de pipoca até a boca. — Vamos virar a noite dessa vez, não quero saber! — exclamou, com os olhos vidrados na televisão.
— Não sei, não… — falei hesitante, de novo olhando janela afora. A ventania era forte e os clarões apareciam no céu a cada minuto. — Se não quisermos uma televisão queimada, vamos ter que desligar daqui a pouco.
, fica calma. Se continuar assim, sem trovões, não temos com o que nos preocupar — ela falou, passando os dedos entre os fios do meu cabelo. — O que acha de um chocolate quente? — sugeriu.
— Ótima ideia…
Mas mal ficamos de pé, quando um relâmpago, subitamente, iluminou o céu, seguido de um forte estrondo. Logo cobri os ouvidos e passei a murmurar:
— Desliga, desliga, desliga…
, que permaneceu estática por um momento, suspirou e caminhou até o móvel que sustentava a televisão. Na tela do aparelho, a cena pausada de um dos cavaleiros fantasmas da série trazia uma sensação desconfortável. Eu me sentia observada. A mais velha se apressou, puxando, de uma vez, a tomada.
O apartamento caiu em silêncio.
Morávamos no terceiro e último andar de um prédio, onde no térreo funcionava uma pequena confeitaria. Bem à nossa frente, uma praça arborizada formava a paisagem vista da janela da sala, que debaixo daquele temporal, parecia mais tenebrosa do que nunca.
Vendo quão assustada eu estava, fazia o possível para demonstrar tranquilidade, mas eu sabia que a minha amiga se sentia, no mínimo, desconfortável.
— Vem, vamos preparar o chocolate quente — ela chamou, estendendo a mão para mim. Os trovões já não davam mais sossego e cada vez que um clarão iluminava o céu eu me encolhia um pouco mais em meu suéter.
Estávamos a meio caminho da cozinha, quando fomos pegas desprevenidas por um estouro absurdamente alto. Algumas faíscas caíram pela janela e o breu foi instantâneo, assim como a gritaria foi inevitável.
Sentia meu ouvido apitando pelo barulho alto e podia sentir o pulso acelerado de em minha mão. O meu coração batia tão rápido quanto o dela.
… — choraminguei. Mas ela estava tão baqueada que o máximo que pôde fazer foi apertar minha mão.
Alguns minutos se passaram e a única luz disponível vinha dos relâmpagos lá fora e com espaços imprevisíveis de tempo.
— Cadê o seu celular? — perguntou baixinho.
— Na mesinha da sala — murmurei.
— Certo. A gente precisa ir até o painel de energia lá no telhado. Pega o seu celular que eu vou atrás de algum guarda-chuva — ela falou, me puxando lentamente de volta para a sala.
nos guiava pela escuridão, contudo, quando outro clarão fez brilhar o cômodo por breves segundos, agarrei um de seus braços e estaquei próxima à mesa de jantar. Ela não podia ver a minha expressão de terror, porém com certeza sentiu o tremor em minhas mãos.
Com cuidado, dei um passo para trás, segurando firmemente a mais velha e levando-a junto. Naquele ponto, não sabia o que pensar. Olhou para mim e depois novamente para a direção que pretendia seguir. Para o corredor ao fundo da sala, onde ficavam os outros cômodos.
E então ela viu.
Senti meu sangue gelar. deu um passo para trás, me empurrando junto consigo e um soluço assustado escapou de sua garganta.
Tinha alguém no final do corredor.
— CORRE!


Capítulo 02

Acordei em um pulo.
A minha respiração estava completamente descompassada, assim como o meu coração, que parecia querer sair do meu peito. Tentei normalizar os meus batimentos, sem sucesso. O desespero era tanto que me sufocava.
estava desacordada ao meu lado, ensopada dos pés à cabeça, assim como eu. Olhando ao redor, tudo o que eu podia enxergar eram árvores e mato. Estávamos jogadas no meio de uma floresta, sabe-se lá onde ou há quanto tempo.
Tudo o que eu conseguia me lembrar era da correria e do medo. e eu conseguimos deixar o apartamento aos esbarrões. Não podíamos ver claramente, então acertamos tudo o que estava em nosso caminho até a porta.
Com o prédio sem energia e sem termos a chave do portão principal em mãos, subimos as escadinhas para o telhado às pressas. E então fomos encurraladas.
Quando dei por mim, as lágrimas já desciam descontroladas pelo meu rosto. Tudo o que me lembrava a partir daí era da tempestade que enfrentamos e da sombra gigantesca de sobretudo, botas e chapéu. E da dor lancinante na cabeça antes de apagar.
! — chamei, em meio ao choro, sacudindo a mais velha com força. — Acorda, por favor, temos que sair daqui!
Ela aos poucos abriu os olhos. Sua feição se moldando em desespero à medida que as lembranças lhe voltavam à mente. Logo a puxei para um abraço apertado.
— Estou congelando! — ela murmurou, tentando se cobrir melhor com o casaco molhado que vestia. Suas pernas, cobertas apenas por um short, estavam arrepiadas.
— Consegue se levantar? — questionei, tentando ajeitar o suéter, que encharcado parecia pesar uma tonelada.
— Acho que sim… — respondeu, se apoiando em mim com uma careta de dor. Em sua testa havia um corte, não muito grande, mas que com certeza era a fonte de seu desconforto. — E então, para qual lado vamos?
Estava prestes a lhe dizer que não tínhamos muitas opções, quando fui interrompida por um grito que rasgou o ar. Era uma voz feminina e parecia aterrorizada.
Com o susto, agarrei tão forte que quase voltamos para o chão. Mais uma vez naquela noite que parecia não chegar ao fim, senti o coração disparado de pavor.
— Que droga! — choraminguei. O grito não tinha vindo de muito longe.
— Vamos! — me puxou, enquanto eu observava ao redor uma última vez. Não pude deixar de reparar no imenso tronco cortado até a base na clareira metros à nossa frente.
Parecia familiar, porém minha memória estava em branco. Quando outros gritos ressoaram pela mata, o foco da minha atenção se alterou rapidamente. Respirei fundo, seguindo em frente junto a .
— Emily! Emily! Cadê você? — alguém gritou repetidamente perto dali. Sem uma opção melhor, nos deixamos guiar por aquela voz, em busca de ajuda. E não demoramos muito para encontrá-la.
Esbarramos em uma garota, que andava de um lado para o outro parecendo muito atordoada. Tinha cabelos castanhos, usava calça jeans, uma blusa bege de mangas compridas e botas. Não aparentava ser mais velha que nós.
— Quem são vocês? — ela perguntou assustada, recuando alguns passos.
— Ahm… estamos perdidas. Ouvimos você gritar, então seguimos a sua voz — respondeu hesitante. Por alguma razão, a garota me parecia familiar e, a julgar pela expressão da minha amiga, ela achava o mesmo.
— Pode nos ajudar? — perguntei, com um sorriso amarelo. Não tinha certeza se devíamos ou não contar tudo o que aconteceu antes de pararmos ali.
— Ah, claro… — A hesitação tornava óbvia a desconfiança sobre nós, mas não podíamos julgá-la, considerando a situação. — Mas, por acaso, vocês viram outra garota por aqui? — perguntou preocupada.
— Não, sinto muito — falou, balançando a cabeça.
Ela assentiu e suspirou. Começou a caminhar por onde viera e, com um aceno de mãos, nos chamou para acompanhá-la. Não demorou para avistarmos uma barraca ao lado de uma pequena fogueira.
e eu procuramos nos aquecer o máximo possível, enquanto a garota foi arrumar seus pertences e dar uma última checada ao redor, em busca da tal Emily.
— Ei, como se chama? — perguntei, quando ela voltou.
Porém não obtive resposta. A garota estava paralisada, encarando em choque algum ponto atrás de nós. Engoli em seco e, com cautela, me agarrei a um dos braços de .
Evitando movimentos bruscos, nos viramos. Tentei imaginar, em poucos segundos, o que poderia arrancar aquela reação da garota, mas de todas as possibilidades, aquilo não tinha passado pela minha cabeça.
Era uma outra moça. Estava parada em meio a neblina nos encarando. Por um momento, pensei que fosse a tal Emily, mas quando ela começou a se aproximar, desconsiderei a ideia rapidamente.
a olhava perplexa, assim como eu. Ela não tinha uma expressão amigável e enquanto caminhava em nosso rumo, eu não podia desviar de seus olhos amarelos vibrantes. Sua boca se abriu em um rosnado, mostrando presas afiadas no lugar dos caninos e puxei para trás, apavorada.
Eu simplesmente não podia aceitar a palavra que piscava com um alerta vermelho em minha mente. Não era possível! E então a criatura foi derrubada por um vulto que surgiu do nada por cima de uma árvore.
Era um rapaz loiro e alto, com as mesmas presas e garras à mostra. Prendi a minha respiração, atordoada. Eu conhecia aquele rosto e a cena à minha frente se tornava cada vez mais familiar. E impossível.
Olhando para cima, reparei a lua cheia brilhando no céu.
Um baque forte me fez voltar a atenção para a briga. O rapaz se levantava após ser arremessado no tronco de uma árvore, enquanto um terceiro vulto pulava por sua cabeça.
e eu observávamos boquiabertas. Me sentia tonta.
Aquilo não era possível, no entanto, estava em nossa frente!
Conhecíamos muitíssimo bem aquele rapaz. Assim como nós também conhecíamos o garoto loiro e o homem que surgiu segundos depois. A briga não durou muito depois disso. Dois deles se embrenharam na floresta atrás da garota, o outro voltou sua atenção para nós.
Ele não era muito alto, vestia jeans e uma blusa de mangas compridas. Sem garras, presas e olhos brilhantes, parecia alguém normal. Com exceção do queixo um pouco torto.
— Tudo bem? — ele nos perguntou, com calma.
— O quê? — murmurou perplexa.
— Vocês estão bem? — perguntou mais uma vez, olhando de uma em uma para saber se alguma de nós três fora ferida. Apenas balançamos a cabeça, ainda chocadas. — Vocês precisam sair daqui, certo? Saiam da mata! O mais rápido que puderem! — ele disse, com firmeza, se virando para ir atrás dos outros.
Ninguém menos que Scott McCall.


Capítulo 03

’s P.O.V

Impossível!
Mil vezes impossível!

Ou nem tanto assim…
A minha cabeça girava com tantas possibilidades. Há menos de uma hora, minha melhor amiga e eu estivemos cara a cara com Scott McCall, o protagonista de Teen Wolf, a minha série favorita.
E não, não era o ator que o interpretava. O rapaz que nos alertou para darmos o fora da mata não estava atuando. Não podia estar. Se estivesse, seus olhos não brilhariam e, com certeza, ele não teria garras e presas retráteis.
Meu Deus! — pensei, interrompendo a onda de pensamentos para regular minha respiração.
E não era apenas Scott. Antes dele, quem estava lutando com a garota era Isaac. E ela não era uma garota qualquer, era Cora, irmã de Derek Hale, o último homem que chegou à clareira.
Quatro personagens da minha série favorita.
Quatro lobisomens.
Uma parte minha queria sorrir. Sorrir muito e gritar até eu não poder mais. A outra queria saber, desesperadamente, como e eu viemos parar dentro da série.
Porque era aquilo, não era? Era impossível, mas também a única explicação.
— Estamos dentro da série — murmurei.
— Sim, estamos dentro da série — murmurou, logo em seguida, de olhos fechados.
— Pensei que estivesse dormindo — falei baixinho, saindo da poltrona em que estive desde que chegamos ali.
— Eu estava. Até ter esse pesadelo maluco, onde a nossa casa foi invadida por um estranho de sobretudo e que, por algum motivo ainda mais maluco, acabamos dentro de Teen Wolf — narrou exasperada, com a voz soando rouca e cansada. — Eu acordei e senti o acesso no meu braço. Então me dei conta de que o pesadelo era mais real do que deveria.
abriu os olhos e suspirou, observando o quarto simples do hospital. O hospital de Beacon Hills. A cidade fictícia onde se passava a série. Ela estava deitada na única cama do quarto, recebendo um tranquilizante na veia e embrulhada em um cobertor.
Eu também tinha um, afinal, chegamos ainda molhadas. Em minha testa agora havia um curativo, cobrindo o corte que recebi mais cedo.
— Como você está? — perguntei, me sentando na beirada do colchão.
— Eu não sei. Não deveríamos estar aqui — ela sussurrou. — Temos que sair daqui, antes que comecem a fazer perguntas que não sabemos responder…
— Não vamos conseguir resolver nada se você não estiver calma. Você devia descansar! De manhã nós damos um jeito, se ainda estivermos aqui — sugeri, acariciando o seu cabelo.
suspirou.
— Essa é a terceira temporada, não é? A Cora e o Boyd descontrolados… Não era essa parte que estávamos assistindo. Estávamos vendo a sexta temporada, não? Então por que estamos aqui?
! — ralhei, mas ela estava ocupada demais encarando a parede e batucando os dedos em sua barriga.
Quando ia tentar chamar sua atenção novamente, algumas vozes do lado de fora nos deixaram em alerta.
— Se contar a alguém que te mostrei isso, juro por Deus que o matarei devagar e com muita dor — ameaçou Melissa, a mãe de Scott e a enfermeira que nos ajudou quando chegamos ao hospital.
— Por que quer mostrar um corpo que eu já vi? — uma voz masculina questionou, me fazendo arregalar os olhos. Encarei com o coração disparado. Não ouvimos mais do que isso, já que as pessoas estavam andando, mas eu reconheceria aquela voz de longe.
Stiles Stilinski estava no hospital.


’s P.O.V

Não aguentei a expressão surpresa e empolgada de e soltei um leve risinho. Stiles era um outro protagonista da série e o personagem favorito da minha amiga.
— Meu Deus! — ela disse, contendo um grito de animação. Pela sua cara, provavelmente queria abrir a porta e ir atrás dele para vê-lo pessoalmente.
caminhou até a porta e espiou pela janela de vidro, porém eles não estavam mais lá.
— De que corpo eles estavam falando? Não pode ser o da Emily, ela ainda está desaparecida — comentei confusa — O que mais acontece nessa parte?
— Aquela professora que namora o Derek começa com os sacrifícios em grupos de três pessoas. Por isso a Emily sumiu, ela é uma das virgens, lembra? — a mais velha me explicou, ainda de pé, próxima da porta. E então toda a minha curiosidade foi substituída por choque.
— Temos que sair daqui. Agora! — eu disse afoita. Estava pronta para me levantar, mas senti uma leve fisgada em meu braço, que me lembrou do acesso intravenoso.
— O quê? Por quê? Podemos resolver tudo amanhã, . Não tem outro lugar para passarmos a noite — argumentou.
, me escuta. Eu tenho quase certeza de que o corpo que eles foram ver faz parte do sacrifício. O Stiles vai descobrir que a amiga dele está morta e vai ligar os pontos. A namorada da Emily está aqui no hospital e ele vai atrás dela…
— Ele vai descobrir que nós estávamos na mata também — completou ela, entendendo o meu desespero.
— De duas uma. Ou ele vai querer saber se somos virgens também, ou seremos suspeitas de homicídio — continuei afobada. — Eu adoraria conversar com ele, só que não estou muito afim de ir para a cadeia. Droga! Como eu tiro essa porcaria do meu braço?
— Amiga… acho que a garota já contou sobre nós para a polícia — murmurou, se aproximando outra vez de mim.
— E as chances de irmos para a cadeia só aumentam — comentei, com sarcasmo, logo sentindo uma cutucada no ombro.
Foi quando ouvi uma tosse forçada vinda do outro lado do quarto. Olhei rapidamente para aquela direção e então fechei os olhos, me xingando mentalmente.
Parados ao lado da porta, estavam Melissa, Stiles e o seu pai… o xerife da cidade.


Capítulo 04

’s P.O.V

Stiles estava encostado na porta do quarto, conferindo o corredor uma vez ou outra através da janelinha quadrada. Usava uma camiseta azul, calça vinho e um casaco de estampa xadrez.
Seu típico visual — pensei.
Eu fazia o possível para guardar os mínimos detalhes daquela situação, ao mesmo tempo em que me esforçava para não demonstrar o quanto eu estava nervosa. Depois de anos assistindo a série, sabia como Stiles se comportava, conhecia seu jeito curioso e analítico, e sabia também que naquele momento e eu éramos uma incógnita para ele. Então, deixar minhas emoções atrapalharem não era uma opção.
— Meninas, esse é o xerife Stilinski e o filho dele, Stiles — apresentou a enfermeira. — Se sentem bem para responderem algumas perguntas?
Sem muita coragem ou certeza do que falar, ambas apenas assentimos com a cabeça.
— Como se chamam? — perguntou o xerife. Noah era um homem alto, de cabelos grisalhos. Sua postura séria e o distintivo dourado que brilhava em seu peito o tornavam intimidador.
Miller e Carter — respondi rapidamente, apontando de mim para respectivamente.
— Idade? — questionou, levantando o olhar da caderneta onde terminava de anotar nossos nomes.
— 18 e 17 — respondi da mesma forma.
— Estavam na floresta essa noite... — começou o xerife. — O que faziam lá? — perguntou.
Por alguns instantes, e eu apenas nos encaramos, sem ter ideia do que responder. Os três personagens não tiravam os olhos de nós e tudo o que eu conseguia fazer era intercalar a atenção entre eles.
— Estávamos perdidas — respondeu.
— Ok, mas o que vocês foram fazer lá durante a noite? — indagou Stiles, se afastando da porta e cruzando os braços.
Seu pai logo o repreendeu com um olhar irritado, ainda que parecesse tão interessado na resposta quanto o rapaz e, por fim, nos encarou com a sobrancelha arqueada, pedindo por uma resposta.
— Acredite, não tínhamos intenção alguma de ir para a floresta. A nossa ideia era uma noite de séries e muita comida — suspirou. — As coisas... fugiram do controle.
— Como assim? — Stiles perguntou, antes que seu pai pudesse ao menos abrir a boca.
O xerife revirou os olhos irritado e eu precisei de muita força para não rir das pequenas interações entre os dois. Ao mesmo tempo, agradeci mentalmente por ter tomado as rédeas da situação. Nada do que ela disse era mentira, ainda assim, ela encontrou uma maneira mais sutil de explicar os fatos, ou seja, sem contar que éramos de uma outra dimensão...
— Nosso apartamento foi invadido. Fomos perseguidas e, pode parecer loucura, mas não tenho ideia de como ou quem nos trouxe até aqui. Na verdade, moramos bem longe daqui — explicou ela.
— Acordamos na mata, esbarramos com uma garota e ela nos mostrou o caminho para o hospital. Foi isso — resumi.

’s P.O.V

— Por que estavam molhadas? — perguntou Melissa, que até então havia permanecido em silêncio. Seu olhar parecia transmitir tranquilidade.
— Estava chovendo quando a perseguição começou. — respondeu .
— E por que acha que tem chance de irem para a cadeia? — questionou o xerife. Fechei os olhos e deitei a cabeça por alguns segundos. Aquilo tudo me deixava aflita.
— Bom, ninguém aqui nos conhece e aparecemos na mata exatamente na noite em que uma garota desapareceu... — respondi sem ânimo, já conformada com a péssima situação em que estávamos.
— Só mais uma coisa — murmurou Stiles, com o dedo indicador sobre os lábios e uma expressão pensativa. — Viram alguma coisa na floresta? Algo... peculiar? Talvez peludo? — perguntou ele, agitado, formando uma careta no próprio rosto e gesticulando excessivamente.
Ao meu lado, ouvi prender uma risada na garganta, logo depois me dando conta do pequeno sorriso em meu rosto.
— Stiles! Já chega! — o xerife advertiu, provavelmente sem entender do que o filho estava falando. — Olha... não vou levar vocês até a delegacia, não agora. Mas o que disseram é muito sério e requer investigação — disse ele, respirando fundo. — Vocês podem passar a noite aqui, deixarei um oficial lá fora por precaução. Descansem, eu volto de manhã.
Precaução por nossa segurança ou precaução contra nós? — pensei.
Noah acenou para Melissa e seu filho e seguiu para fora do quarto. A enfermeira foi logo atrás, por outro lado, Stiles apenas fingiu se retirar e fechou a porta rapidamente, voltando a nos observar.
e eu trocamos um olhar confuso e segurei sua mão, inquieta.
Stiles franziu a testa, estreitando os olhos.
— Vocês viram, não viram? — questionou calmamente.
mordeu os lábios e apertou levemente meus dedos, esperando que eu respondesse.
— Se está falando dos lobisomens, então... sim, nós vimos — falei devagar, observando suas reações. Por um momento, fiquei em dúvida do que dizer, mas se não conseguíssemos voltar para casa sozinhas, iríamos precisar de ajuda. E, para isso, eles precisariam confiar em nós.
Stiles comprimiu os lábios e balançou a cabeça algumas vezes, sério e pensativo, até finalmente levar a mão ao bolso de sua calça e tirar um celular de lá. Discou algum número e, instantes depois, para a nossa surpresa, iniciou uma conversa com Scott sem qualquer discrição, bem de frente para nós.
Depois de ouvir toda a narração de Stiles sobre o que tinha acontecido naquela noite, o lobisomem não demorou para se juntar ao trio.
Causando também um curto e silencioso momento constrangedor.
— Vocês estão bem? — Scott perguntou pela terceira vez naquela noite, me fazendo pensar se aquela seria a única frase que trocaríamos com ele. Pela terceira vez naquela noite, respondemos que sim. — Certo, então... duas garotas foram deixadas na floresta, outras duas pessoas foram mortas e... Boyd e Cora podem não ser os culpados?
— Vai querer que tivessem sido eles — disse Stiles, com uma feição séria.
— Por quê? — Scott perguntou, confuso.
— Ainda não tenho certeza, mas a garota, Emily? Logo vão encontrá-la. É uma deles. Emily, Heather e o cara que a Lydia encontrou na piscina, eram todos virgens — explicou Stiles. — E todos tem os mesmos três ferimentos.
Estrangulamentos, gargantas cortadas e golpes na cabeça.
e eu já sabíamos com o que eles lidavam. Nós conhecíamos o rosto e o nome das próximas vítimas e sabíamos quem era o culpado.
— É chamada “morte tríplice” — continuou Stiles.
— Se não são assassinatos aleatórios, o que são? — perguntou Scott.
— Sacrifícios — murmurou , envolvida pela conversa. Stiles olhou para ela e concordou, não parecendo muito surpreso que ela soubesse do que ele estava falando. — Sacrifícios humanos...
— Não acho que tenham sido vocês — disse o rapaz. — Mas também acho que não contaram tudo o que sabem... e acho que vamos precisar de ajuda para resolver isso.


Capítulo 05

O restante da noite não foi tão ruim quanto eu esperava, em especial porque a mãe de Scott aumentou a dose do meu calmante, permitindo um descanso para o meu coração e algumas boas horas de um sono tranquilo para mim.
Os rapazes não haviam se demorado no hospital após a breve conversa. Stiles disse que iria para casa, enquanto Scott resolveu que passaria na clínica veterinária onde trabalhava.
e eu, por outro lado, tivemos um momento livre para discutir o que faríamos dali em diante. Precisávamos dar um jeito de voltar para casa, sem interferir demais nos acontecimentos da série no processo. Sabe-se lá quais seriam as consequências de algo assim.
Stiles tinha razão. Os assassinatos seriam facilmente solucionados com a nossa ajuda, mas as chances de comprometermos a série e sua linha temporal eram grandes.
Então nos decidimos. Enquanto não pudéssemos sair dali, faríamos o possível para não expor nenhum fato muito importante. Pelo menos não até descobrirmos o propósito disso tudo.
— Bom dia! — disse o xerife, assim que nos viu na manhã seguinte. Seu ânimo, porém, não parecia muito grande. — Vou liberar vocês — contou ele. se endireitou na poltrona, confusa. — Aconteceu novamente. Mais uma vítima, assassinada exatamente como as outras.
— Não vai mais nos investigar? — perguntei, intrigada. O xerife encostou a porta e respirou fundo, cruzando os braços.
— Não encontrei nada sobre vocês nos registros do condado... para falar a verdade, não encontrei em lugar algum, mas, por enquanto, prefiro encarar isso como um bom sinal, de que não arrumaram problemas em outra cidade — contou. — Precisaríamos de uma busca mais abrangente para conseguir respostas definitivas, porém isso atrairia atenção e o FBI já está na cidade. Ainda tenho dúvidas sobre as duas, mas eu não acho que estejam envolvidas nos assassinatos e não posso deixar que vocês se tornem o foco das investigações. Seria perda de tempo.
— Então podemos ir? — perguntou . O xerife hesitou por alguns instantes, mas logo assentiu e disse, antes de partir:
— Estarei de olho!


***


Melissa conseguiu alguns moletons para nós. Nos ajeitamos da melhor forma que podíamos e então deixamos o hospital.
— Não temos para onde ir... — murmurei, enquanto caminhávamos pela lateral da construção.
me puxou para perto e cruzou nossos braços. Andando devagar e sem um rumo certo, observávamos tudo ao nosso redor, ainda sem saber como agir. Eu fazia uma lista mental com todos os cenários da série, em busca de um lugar para passarmos a próxima noite, caso não conseguíssemos sair de Beacon Hills.
— Tenho uma ideia... — disse , parecendo hesitante. — É meio louca, na verdade, mas não acho que temos muitas opções. — Esperando que falasse o que tinha em mente, eu torcia para que ela não tivesse pensado a mesma coisa que eu vinha pensando. Porque era realmente uma ideia maluca. — Podemos ir para a antiga casa do Derek.
Praguejei.
Mas antes que pudesse dizer o quão ruim era aquela ideia, eu senti um puxão em um de meus braços e virei assustada. E podia jurar que, no segundo seguinte, um ponto de interrogação enorme estava visível em cima da minha cabeça.
Stiles tinha uma sacola enorme estendida em nossa direção e, logo atrás dele, o seu famoso jipe azul estava estacionado de mal jeito no acostamento.
— Consegui essas roupas com uma amiga — disse ele, balançando a sacola para que uma de nós a pegasse. — Se troquem e venham comigo.
Sem se importar em fazer perguntas, pegou a sacola e me puxou de volta para o hospital. Não reclamei, aquelas roupas gritavam Lydia Martin de longe.
vestiu uma calça jeans, uma blusa azul marinho com listras brancas e rosas, e calçou uma botinha de salto preta. E eu fiquei com uma saia xadrez em tons de azul, vermelho e cinza, uma blusa vermelha e um par de tênis branco.
Stiles não falou muito durante o caminho, apenas contou que os alunos de seu colégio haviam encontrado o outro rapaz que foi sacrificado.
Minutos mais tarde, nós três chegamos na clínica veterinária onde Scott trabalhava.
— Saiu cedo da escola — disse Deaton, um homem negro e calvo, chefe de Scott.
— Sim, na verdade, horário livre — comentou Stiles. — Essas são e .
— Sou Alan Deaton — ele se apresentou com um sorriso, depois de nos analisar por alguns segundos. — Posso ajudar?
— Elas apareceram na mata noite passada, não são daqui — começou o rapaz. — Simplesmente acordaram lá, não sabemos quem as levou ou por quê. Mas elas já sabem sobre os lobisomens e eu acho que podem nos ajudar — disse Stiles. — Você deve ter ouvido que pessoas estão sendo assassinadas. É trabalho do meu pai investigar.
— Imagino como seja ser o xerife — Deaton falou, compreensivo.
— É... mas fica difícil fazer o trabalho se ele não tem toda a informação e sabemos que ele está perdendo metade da história aqui, certo? — Stiles suspirou, chateado. e eu sabíamos onde aquela conversa levaria, mas não tínhamos ideia do motivo para estarmos ali. — Então comecei a pensar, e me lembrei de alguém que tem muita informação. E que parece saber mais do que todo mundo por aqui. — Deaton estava sério, mas assentia com a cabeça enquanto Stiles falava. — Você.
O veterinário se virou em direção à parte interna do consultório e acenou para que nós o acompanhássemos.
— Todas essas coisas e símbolos, o triskle, a logomarca do banco, o freixo tudo vem dos Druidas celtas. E qualquer um que já leu sobre sacrifícios humanos sabe que os Druidas adoravam dar alguém aos deuses — Stiles argumentou e olhou para , já que ela parecia saber sobre o assunto. — Sabe sobre o homem de Lindow? Um corpo de dois mil anos encontrado na Inglaterra? Estrangulado, com a cabeça esmagada e a garganta cortada...
— A morte tríplice — pontuou .
— Exato! E também encontraram grãos de pólen no estômago. Adivinha qual a planta favorita deles? — indagou Stiles, não esperando realmente por uma resposta.
— Visco — disse Deaton, retirando de um pote de vidro um pequeno broto da planta citada.
— Está dizendo coisas que ele já sabe — murmurei.
— E por que não conta pra gente? — questionou Stiles, contrariado, se apoiando na mesa de metal no centro do cômodo.
— Talvez porque quando se passa dez anos tentando afastar uma coisa... negando ou mentindo sobre ela, acaba se tornando um hábito muito poderoso — admitiu Alan.
— Então o assassino é um Druida? — Stiles perguntou.
— Não. É alguém copiando uma prática de um povo que deveria conhecer melhor — explicou Deaton. — Sabe qual o significado de Druida em gaélico?
— Não — o rapaz falou, de cabeça baixa.
— Sábio carvalho. Eles eram próximos da natureza, acreditavam no seu equilíbrio — o veterinário respondeu. — Eram filósofos e intelectuais, não assassinos.
— Ok, mas esse é! — Stiles resmungou, levando a mão até o bolso de sua calça. Seu celular estava tocando. — Não posso falar agor. — disse ele para a pessoa na linha. — Calma, o quê? Tem certeza de que ele sumiu?
e eu nos entreolhamos.
Não apenas sumiu, ele foi levado! — dizia Lydia do outro lado.


Capítulo 06

O professor de música havia sido levado.
O que significava que outro grupo de sacrifícios foi iniciado.
Após a ligação de Lydia, não demorou até que todos estivéssemos no jipe de Stiles, a caminho da escola. Deaton ao lado do rapaz, no banco do passageiro, e eu atrás.
Durante o trajeto, Stiles aproveitou para nos deixar cientes do que vinha acontecendo na cidade, sem saber, é claro, que já tínhamos noção de tudo aquilo e muito mais.
Enquanto ele tagarelava sobre a alcateia de alfas, seu líder cego e a inconveniência de todos os outros lobisomens, Deaton mantinha o seu foco em nós, talvez em busca de uma explicação razoável para termos sido levadas até lá ou apenas procurando por vestígios de mentira ou mau caráter em duas desconhecidas.
— Como sabem sobre os lobisomens?
Perguntou o veterinário, calando Stiles por um momento.
— Bom... — murmurei hesitante. — Noite passada não foi a primeira vez que vimos alguém transformado. Mas nunca tivemos que lidar com lobisomens descontrolados antes, então foi bem assustador — respondi, intercalando o olhar entre os dois, enquanto cruzava os dedos para que tivesse sido uma resposta convincente.
continuou calada, com a cabeça voltada para a janela e para a paisagem lá fora, fingindo não estar prestando atenção em tudo o que era dito.
— Do que se lembram antes de acordarem na floresta? — questionou o homem outra vez, disposto a entender a situação. Da forma mais discreta possível, cutuquei a canela de com o pé, pedindo ajuda para sobreviver ao nosso segundo interrogatório.
— Estávamos em casa, assistindo televisão, bem longe daqui. Houve uma queda de energia graças ao temporal e então vimos um vulto no corredor — narrou a mais velha. — Saímos correndo debaixo da tempestade e, pouco depois, fomos encurraladas. Não lembro bem como aconteceu, mas eu vi cair, senti uma dor horrível na cabeça e aí apaguei. E foi isso, acordamos aqui...
— Alguma das duas se lembra de como era esse vulto? Talvez uma característica mais marcante de sua aparência? — Alan perguntou, com uma feição intrigada.
— Usava um sobretudo, chapéu e botas — mencionei.
— E era alto. Realmente alto — acrescentou .
O doutor assentiu, demonstrando atenção em tudo o que dizíamos, porém não disse mais nada durante o restante do trajeto. Logo que chegamos à escola, fomos direto para a sala de música, ocupada por apenas uma garota.
Ela tinha os cabelos longos e ruivos e seus olhos verdes pareciam cheios de preocupação. Lydia vestia uma saia marsala e camisa social azul bebê com estampa de cachorrinhos.
e eu não conseguimos evitar e trocamos um olhar animado que fizemos nosso melhor para disfarçar. Lydia era aquele tipo de personagem que ninguém gosta no início e acaba pegando carinho depois. No nosso caso, ela já era uma das favoritas.
Stiles nos apresentou rapidamente, provavelmente já tendo dito o básico sobre nós quando pediu por algumas roupas emprestadas, e, ainda que nervosa, Lydia não deixou de nos cumprimentar com um pequeno sorriso.
Instantes depois, a ruiva nos mostrou um áudio que encontrou em um celular sobre o piano, junto de marcas de arranhões e manchas avermelhadas.
— Podemos fazer uma cópia disso? — perguntou Alan, recebendo um aceno de confirmação da garota.
— Ei, doutor, qualquer ajuda seria bem-vinda — disse Stiles, olhando as gavetas da mesa do professor. estava ao lado de Lydia, observando o que ela fazia no celular, enquanto eu dava uma volta pela sala, absorvendo todo o cenário. Era tão bizarro estar ali.
— Cada trio deve ter o seu propósito — explicou Deaton. — Virgens, guerreiros, filósofos, curandeiros...
— Espera, espera. Guerreiro pode ser tipo um soldado? — questionou Stiles.
— Certamente — confirmou o veterinário, então o garoto levantou uma foto do professor com a sua noiva, vestido de farda.
— Kyle esteve na força aérea com Boyd — Stiles pontuou, deixando a foto na mesa. Kyle era a última vítima que haviam encontrado. E por causa de sua morte, e eu estávamos “livres”.
— É esse o padrão — falei, me aproximando.
— Onde está o Boyd? — perguntou, entrelaçando seu braço com o meu mais uma vez.
— Em casa, provavelmente. Vou ligar para ele — disse Stiles, com o celular já em mãos.
— Lydia? Algum problema? — o veterinário indagou, percebendo a súbita mudança na expressão da garota.
— Não, eu estava... quero dizer, pensei em outra pessoa com vínculo militar — murmurou ela, intercalando seu olhar entre nós.
— Quem? — perguntou, já sabendo a resposta.


’s P.O.V

— É só uma das muitas possibilidades — disse Lydia, quando fomos para uma outra sala. — Ele pode ter tirado o dia de folga — sugeriu ela, se referindo ao professor de química que não estava na escola.
— Sim, mas não sem isso — disse Stiles, mostrando a maleta do homem, que havia ficado para trás. A partir disso, todos passamos a vasculhar a sala, e eu bem cientes do que deveríamos encontrar.
Estávamos checando a mesa do professor, quando pegou um dos papéis espalhados pelo móvel, chamando a atenção de Alan.
— O que foi? — questionou ele.
— A nota da prova é “R”. — A mais nova mostrou.
Lydia se aproximou rapidamente, verificando o restante da pilha de exames.
— Esta é um “H” — disse a ruiva.
No segundo seguinte, todos tínhamos papéis em mão, colocando de lado todas as provas com notas incomuns. Havia seis delas. Deaton pegou todas e as reordenou na mesa.
— Stiles, lembra que eu disse que druida significa “sábio carvalho”? — indagou ele, respirando fundo.
— Sim...
— Quando um druida vai para o caminho errado, dizem que o sábio carvalho se torna um carvalho negro. E também existe uma palavra gaélica para isso — explicou Alan, passando o dedo pelas letras incomuns nas provas, circuladas de vermelho.
— Darach.


Capítulo 07

e eu estávamos nas escadarias próximas ao colégio, ao lado de Stiles e Lydia, sentados em um silêncio desconfortável. Deaton voltou para sua clínica, nos deixando sem saber o que fazer ou até mesmo pensar. O peso de saber demais se tornava cada vez maior.
Mas como ajudar quando não sabíamos as consequências disso? Interferir na série poderia nos deixar presas para sempre. Era uma decisão difícil de se tomar sem saber como ou por que estávamos ali, em primeiro lugar.
— Vocês têm onde ficar? — Lydia perguntou, quebrando aquele clima esquisito. — Stiles disse que foram deixadas na floresta sem mais nem menos. Como isso é possível? O que aconteceu? — Ainda que não entendesse coisa alguma, as perguntas da ruiva vieram com calma e uma certa preocupação.
— Ainda estamos tentando entender — respondeu , com um suspiro cansado. Eu já me sentia esgotada. Contar o que aconteceu e inventar certos detalhes era cansativo e podia jurar que se sentia da mesma forma. — Contou sobre a perseguição? — minha amiga questionou ao rapaz, que logo assentiu com a cabeça.
— É isso... — murmurei. — Uma hora estávamos em casa e então, depois de toda a confusão, acordamos na mata. E não, não temos um lugar para ficar. Quem quer que tenha nos trazido para cá, nos deixou apenas com as roupas do corpo — expliquei.
— Ou seja, nada de dinheiro ou documentos — completou, frustrada. — Aliás, obrigada por nos emprestar as roupas. — Sorriu fraco, em agradecimento.
— Meu pai não encontrou nada sobre vocês. De onde são? — Stiles indagou, curioso.
— Maine — respondi, olhando para minhas mãos. A tensão da última hora fez com que eu quebrasse duas unhas, mas algo me dizia que esconder informações demais nos traria problemas.
Precisávamos encontrar um ponto de equilíbrio.
— Podem ficar na minha casa essa noite — Lydia ofereceu, pegando a todos de surpresa. — Posso convencer a minha mãe sobre uma noite de garotas — a ruiva acrescentou, dando de ombros.
— Sério? — perguntou, tão espantada quanto eu.
— Vai ser bom ter companhia, — Lydia afirmou, com um sorriso. — E amanhã damos um jeito de hospedar vocês no hotel da cidade.
— Isso seria ótimo, obrigada! — agradeci, sentindo pela primeira vez desde que chegamos ali que as coisas poderiam dar certo.
Talvez o poder intuitivo de Lydia a tivesse levado à decisão de nos convidar. Se fosse essa a explicação pela gentileza e hospitalidade com duas estranhas, não podia deixar de pensar que talvez, de fato, houvesse um motivo para termos acabado em Beacon Hills.


’s P.O.V

Para a nossa sorte, Natalie ainda não havia começado a dar aulas de biologia no colégio que a filha frequentava, então quando Lydia nos apresentou como amigas da escola, a mulher não desconfiou da mentira. Muito pelo contrário, achou ótimo que a garota tivesse outras amizades, além de Allison.
O que levou Lydia a convidar a morena para passar a noite em sua casa conosco. Até onde havíamos entendido, o dia seguinte seria um sábado e a ideia seria que as duas passariam o fim de semana nos ajudando com o que fosse necessário. O que não podia nos dar mais alívio.
Allison Argent tinha os cabelos ondulados e castanhos na altura do ombro e olhos chocolate. Assim como Lydia, era outra personagem de grande importância para a série e também muito adorada pelo público, porém que, infelizmente, não chegou até as temporadas finais.
A garota entrou no quarto da ruiva com uma mochila nas costas e um sorriso acolhedor no rosto. E, naquele momento, acredito que , assim como eu, só conseguiu pensar em como veríamos a sua morte caso não voltássemos para casa antes do fim da temporada que estávamos vivenciando.
Allison ficou sabendo das circunstâncias da nossa presença e, na esperança de ajudar, nos levou algumas mudas de roupa para que tivéssemos um problema a menos para lidar. E, de alguma forma, seu gesto foi capaz de nos deixar ainda mais tocadas.
Durante o resto da noite, e eu nos esforçamos para deixar de lado a situação em geral. Até mesmo a minha melhor amiga, que estava desesperada para voltar para a nossa realidade, não pôde dizer não para um pouco de diversão. Quando é que teríamos outra oportunidade de participar de uma festa do pijama com duas de nossas personagens favoritas?
Sem dúvidas, seria algo que nunca iríamos esquecer.


***


A tranquilidade não durou muito, no entanto.
Enquanto jogávamos conversa fora na casa de Lydia, Scott foi até seu atual inimigo, Deucalion, líder da alcateia de alfas que perturbava os lobisomens da cidade. Mas o que para o rapaz não deveria ir além de um diálogo, se transformou em um conflito ainda maior quando Derek apareceu.
Allison, mesmo após um pedido de Scott para se manter afastada da confusão, logo foi ajudá-los. O que, infelizmente, não impediu a morte do Hale. Ou melhor, sua suposta morte. Ao contrário dos outros, e eu sabíamos que ele permanecia vivo, apesar dos machucados.
Mas não podíamos dizer nada. Junto de Allison, precisamos assistir de longe a dor e culpa consumirem Scott — este, que era o antigo namorado da morena. O que nos levou a uma pequena viagem.
Os rapazes do time de lacrosse da escola tinham um jogo fora da cidade e Allison resolveu que seria uma boa ideia seguir o ônibus escolar, em companhia de Lydia, e, é claro, nós.
— Estou chegando perto demais? Estou, não estou? — indagou ela, dirigindo. A Argent vestia uma meia calça, short jeans e uma blusa verde escura, com mangas dobradas até o cotovelo.
— Depende — disse , ao meu lado, no banco atrás da motorista. — Quer seguir o ônibus ou subir em cima dele? — perguntou em tom de brincadeira, arrancando risadas minhas e de Lydia. Ela vestia uma saia florida, blusa preta de alcinhas e um cardigã alaranjado por cima.
— É, acho que devo me afastar — Allison murmurou.
— Isso também depende — disse Lydia. — Se refere ao ônibus ou ao ex-namorado que está seguindo? — a ruiva perguntou como quem não quer nada, mexendo no cabelo. Lydia usava um vestido preto, estampado com flores rosa e uma jaqueta jeans.
— Bem, depois do que aconteceu, não vou tirar os olhos dele — Allison argumentou e Lydia franziu a testa, em divertimento. e eu sorrimos, em silêncio. — Aliás, isso começou quando ele veio até mim.
Lydia assentiu, sabendo do que se tratava. A visita de Scott na casa da Argent foi um dos principais tópicos discutidos na noite anterior. Além de pedir que ela ficasse de fora dos problemas envolvendo a alcateia poderosa, foi o rapaz quem explicou a nossa situação.
— Ei, , por que está tão quieta? — Lydia questionou, talvez não entendendo onde a minha versão empolgada de ontem foi parar.
— Só pensando — respondi. — Dissemos para a sua mãe que éramos colegas da escola, talvez seja melhor realmente frequentarmos o colégio, ao menos por enquanto, para mantermos as aparências.
— E qual é o problema? — perguntou Allison, notando a preocupação na minha voz.
— Não temos documentos, nem nada — disse .
— Não podemos nos matricular — acrescentei.
— E também não acho que alguém nos contrataria sem qualquer identificação — murmurou , agora também focada na questão. — Não podemos ficar paradas, esperando alguma coisa acontecer.
— Não se preocupem, pelo menos não no momento — disse Lydia, virando o corpo para trás para poder nos olhar. — Vamos dar um jeito. Talvez o xerife possa ajudar.
— E, de qualquer forma, estamos aqui — pontuou Allison, acenando para si mesma e a amiga, com um sorriso. — Pode pegar o meu casaco — adicionou ela, percebendo que eu esfregava os braços com as mãos, devido à minha péssima escolha de roupas.
O tempo havia fechado durante o caminho e, vestindo um short e blusa de alcinhas, eu me sentia desconfortável. Então, não recusei a oferta.
Passado mais algum tempo na estrada, subitamente indagou:
— Aquele papo de “não tirar os olhos dele” é sério?
— Por quê? — Allison questionou, confusa.
— Estamos ficando sem combustível. — Ela apontou para o painel do carro. Lydia interrompeu sua leitura, abaixando o livro Assimetria Termodinâmica do Tempo. Allison resmungou, incrédula.
— É, e tenho certeza de que aquele ônibus tem muito mais gasolina do que nós — comentou a ruiva.
— E se pararmos? — sugeri.
— Não é um problema, é? — Lydia sorriu de lado. — Quer dizer, nós os perderíamos.
— Mas sabemos para onde estão indo — argumentei.
— Vocês não viram o que aconteceu — Allison murmurou.
— Sabemos quem começou — disse Lydia, com os olhos no livro, enquanto grifava algumas linhas.
— Foi o que o Aiden te disse? — questionou a morena. e eu nos entreolhamos, sentindo o clima tenso causado pelo tom acusador na pergunta de Allison.
Aiden, afinal de contas, era um lobisomem da alcateia de alfas.
Aiden? — Lydia olhou descrente para a amiga e riu com escárnio. — Espera aí... Por isso me convidou para a viagem? Ai, meu Deus! Você está de olho neles e em mim.
E em nós... sussurrou baixinho, ao meu lado, entretida com a discussão e me fazendo prender uma risada.
— Então não está rolando nada entre vocês? — Allison perguntou, encarando Lydia pelo canto dos olhos.
— Eu estou chocada com a insinuação! — exclamou a ruiva, indignada. mordeu os lábios, olhando para a janela.
— Nada? — Allison reforçou a pergunta, com um sorriso malicioso.
— Nada! — Balancei a cabeça, rindo sozinha. É claro que rolava algo entre os dois e mesmo para quem não assistisse a série seria bem óbvio. Lydia retocou seu batom tranquilamente. — O que foi? — ela questionou, notando os nossos olhares.
Mas ninguém respondeu, já que, instantes depois, o trânsito parou.


Capítulo 08

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Um caminhão havia parado quilômetros adiante, o que impediu o tráfego. Fazia alguns minutos que estávamos as quatro quietas no carro, aguardando o caminho ser liberado, quando o celular de Lydia tocou. A ruiva engoliu em seco, olhando o identificador de chamadas e atendeu a ligação, fingindo tranquilidade.
— Oi, Stiles! — cumprimentou ela. — É, nós vamos ver um filme, sabe, com pipoca e... ok. — A pedido do rapaz, ela colocou a ligação no viva-voz e e eu nos aproximamos para ouvir melhor.
Olha, o Scott ainda está ferido.
— Como assim ainda? Não está sarando? — Allison questionou, com preocupação.
Não está sarando! Acho que está piorando! O sangue está ficando preto.
— O que tem de errado com ele? — Lydia indagou, confusa. e eu nos encaramos discretamente no banco de trás, cientes do que estava acontecendo.
O que há de errado? Por acaso sou doutor em licantropia? Como é que eu vou saber?
— Precisamos tirá-lo do ônibus — a morena disse, angustiada.
— E levá-lo para onde? Um hospital? — questionou, cética.
— Se estiver morrendo, sim. — A motorista assentiu, balançando a cabeça. Lydia olhou para a amiga, se condoendo. — Stiles, tem uma parada a um quilômetro. Diga para o treinador parar.
É, já tentei.
— Bom, convença ele! — Allison insistiu.
Convencer? Você conhece o cara?
— Tente alguma coisa! — disse ela, antes que Lydia desligasse, e então se deitou sobre o volante, preocupada.
e eu nos jogamos de volta para o encosto do banco de trás, sabendo o que viria em seguida. E agradeci fortemente por não estar naquele ônibus escolar no momento.
Algum tempo mais tarde, o transporte parou e Allison estacionou o seu carro logo atrás. Todas descemos rapidamente e a morena ajudou Stiles a levar Scott até o banheiro. Os dois vestiam camisas cinzas, mas a de Scott tinha uma grande mancha preta na lateral. Ele usava uma jaqueta azulada e Stiles, um casaco vermelho.
— Ai meu Deus. Por que não falou nada? — Allison perguntou aflita, checando a ferida que estava realmente feia.
— Desculpa — murmurou Scott, sentado no chão do banheiro.
— Certo, nos dê um segundo, está bem? — falou Allison, enquanto se aproximava de nós. — Isto não deveria estar acontecendo. Já o vi se curando de coisas piores. — Apontou ela, alarmada.
— O que faremos então? Chamamos a ambulância? — questionou Stiles, também assustado com a situação do amigo.
— E se for tarde demais? Se não adiantar? — a morena perguntou desesperada.
— Temos que fazer alguma coisa! — gritou Stiles, andando de um lado para o outro, tão apavorado quanto ela.
— Ei, se acalmem! — exclamei. — A situação não é boa, mas não vão conseguir ajudar desse jeito — falei, baixando o tom de voz.
— Sabe, pode ser psicológico — sugeriu , ganhando um olhar confuso de Stiles.
— O que quer dizer? Psicossomático?
— Somatoforme — Lydia corrigiu, deixando o rapaz ainda mais intrigado.
— Uma doença física de causa psicogênica — simplificou e Stiles arqueou uma das sobrancelhas. — É, está tudo na cabeça dele — explicou ela.
— Tudo na cabeça dele? — questionou o rapaz. — Por causa do Derek — Stiles concluiu, por fim entendendo a situação. — Ele não está se curando porque o Derek morreu.
— Então, o que faremos? — indagou Allison, um pouco mais calma.
— Vamos costurá-lo — disse Lydia, tirando linha e agulha de sua bolsa. Allison ofegou, de olhos arregalados. — Falo sério. Talvez ele só precise acreditar que está curando.
— Vai precisar de outra camisa. Onde está a mala dele? — perguntou Allison, pegando a agulha e esquentando com um isqueiro. Stiles, que estava juntando alguns pedaços de papel toalha, logo se prontificou.
— Vou buscar. Odeio agulhas, então...
— Eu vou junto — disse rapidamente, mal conseguindo olhar para Scott no chão do banheiro. — Sabe o que fazer?
— Sim, meu pai me ensinou — Allison respondeu, tentando ganhar o foco necessário.
— É, mas quanto tempo vai... quer dizer, o ônibus pode ir embora — Stiles comentou, preocupado.
— Então não deixe que vá embora — falei, intercalando meu olhar entre o rapaz e minha amiga.
— Posso ajudar, vamos! — Lydia cruzou seu braço com o de e, com a outra mão, puxou Stiles para fora do banheiro.
A morena se agachou na frente de Scott e eu me pus ao seu lado, pronta para ajudar, caso preciso, ainda que meu estômago desse um giro completo toda vez que meus olhos encontravam a ferida.
A cena era muito mais fácil de ser assistida pela televisão.
— Certo. Fique comigo, aguente firme, ok? Aguente firme! — a Argent murmurou, com as mãos no rosto do rapaz.
— Estou cansado — Scott sussurrou, fraco e repleto de suor.
Enquanto Allison tentava o manter acordado, peguei um maço do papel que Stiles havia separado e passei sobre a testa do rapaz, com um pouco de água fria.
— Scott, olhe para mim, está bem? — pediu Allison, tensa. — Só continue olhando para mim — disse, com a voz já embargada. Focando na morena ao meu lado, apertei seu ombro, em apoio. Ela então pegou a linha, tentando passá-la pelo buraquinho da agulha, sem sucesso.
— Vamos lá... vamos... vamos, por favor! — a garota choramingou.
— Allie... — chamei baixinho.
— Vamos. Vamos! — insistiu ela, inutilmente, sem me dar ouvidos.
Allison! — chamei com mais força, segurando suas mãos. — Respira...
— Não consigo, as minhas mãos não param de tremer — murmurou, com desespero. Apertei suas mãos e, devagar, tirei delas a linha e a agulha. — O que...
— Tudo bem — falei, tentando transparecer a calma que eu também não tinha, e passei a linha pela agulha, entregando de volta para Allison. — Aqui. — Uma lágrima escorreu pelo rosto dela, enquanto me olhava com gratidão, e eu logo a enxuguei, indicando Scott com um aceno de cabeça.
Allison respirou fundo e passou a costurar a ferida, enquanto eu acariciava seus ombros para deixar ambas mais tranquilas.
— Scott — chamei, assim que a morena terminou a sutura. Mas ele, de olhos fechados, não respondeu. Novamente coloquei os papeis úmidos em sua testa. — Scott?
Scott! — Allison exclamou.
Com um pulo, o rapaz voltou a si, nos encarando.
— A culpa foi minha — disse ele.
— Scott, olha pra mim — sussurrou Allison, segurando o rosto dele. — Tudo bem!
— Fizeram isso? — Scott perguntou, vendo o ferimento costurado. A morena apenas assentiu, acalmando a própria respiração. — Legal — disse ele, nos fazendo rir. Eu me levantei e peguei uma nova camisa em sua mochila.
— Consegue se levantar? — indagou Allison, já o ajudando a ficar de pé.
— Coloque isso. — falei, estendendo a roupa limpa.
— Obrigado! — ele disse, pegando a própria mala e se apoiando em nós duas para sair do banheiro.


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— Ele está bem? Você está bem? — Lydia perguntou aflita, logo que avistamos o trio se aproximar. Suspirei aliviada e sorri para o rapaz, pegando a mochila dos braços dele.
— Sim, e o Stiles? Cadê o Stiles?
— Está tentando atrasar o treinador — respondi.
— Ainda estamos sem combustível — Lydia comentou com a amiga.
— Não vou deixá-lo — argumentou Allison, se referindo a Scott.
— Então teremos que deixar o carro — comentou.
— Pode ser.
— O quê? — Lydia indagou, incrédula. — Isso não foi uma sugestão. Allison, espera! Ah, quer saber? Dane-se.
— Stiles, o que houve? — perguntou Scott, enquanto caminhávamos até uma rodinha de alunos. O rapaz respirou aliviado ao nos ver e correu até nós.
— Estão atrás dele. Comentei o que estava rolando com você e ele o atacou — o garoto com casaco vermelho explicou exasperado.
— Quem? Boyd? — Scott questionou, preocupado. Ao chegarmos perto da confusão, porém, vimos Isaac espancando Ethan, o irmão gêmeo de Aiden e outro membro da alcateia de alfas. O treinador gritava o nome do loiro, tentando acabar com a briga, mas sem sucesso. — ISAAC!
O mais alto finalmente soltou o rapaz que espancava e olhou para Scott, aliviado por vê-lo de pé. Aos poucos, Isaac se acalmou e sorriu para o amigo, observando nosso grupo atrás dele.
Seu olhar se intercalou entre e eu algumas vezes, até que ele acenou, nos cumprimentando. Minha amiga, que ainda apoiava Scott junto de Allison, sorriu para ele e buscou meu olhar em seguida, respirando satisfeita.


Capítulo 09

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— Eu já vi piores — disse Scott.
Onde? — Stiles questionou incrédulo.
É ainda pior pessoalmente — pensei.
— Mas que droga... — praguejou baixinho.
O Hotel Glen Capri, onde passaríamos a noite, era terrível, para dizer o mínimo. Dois andares de paredes amareladas, cobertas de mofo e infiltrações, e várias portas vermelhas, indicando os quartos. Ninguém parecia muito disposto a se hospedar ali, mas os jogos foram adiados por conta do atraso na estrada, então não tínhamos muita opção.
— Escutem! — o treinador gritou, se colocando à frente de todos — O torneio ficou para amanhã. Este é o hotel mais próximo, com mais vagas e menos juízo por aceitar tantos degenerados como vocês. Formem duplas. E escolham com sensatez — disse ele, estendendo um monte de chaves com chaveiros numerados. — Quem são vocês mesmo? — questionou de cenho franzido quando e eu nos aproximamos.
— Alunas novas — disse Stiles, jogando os braços ao nosso redor. — Vieram para assistir ao torneio — explicou, com um sorriso amarelo, nos cutucando discretamente. Entrando na onda do rapaz, sorriu, confirmando a resposta dele.
— Certo. Azar de vocês. Aqui. — Peguei uma das chaves restantes e depressa puxei pelo braço. — Não aceitarei perversões sexuais perpetradas por vocês, seus tarados! — o homem gritou mais uma vez. — Ouviram? Mantenham essas mãozinhas sujas em vocês mesmos!
— Lydia? — Allison chamou, ao fundo, conseguindo também a nossa atenção. A ruiva estava de pé, próxima ao ônibus, parecendo bem assustada.
— Não gosto deste lugar. — disse ela, observando tudo ao redor.
— Nem os donos devem gostar daqui — Allison brincou, tentando aliviar a tensão da amiga. — É só uma noite.
— Tanta coisa pode acontecer em uma noite... — murmurou.


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O quarto 120 ficava no térreo e, assim como os demais, tinha as paredes de madeira num tom escuro. As duas camas de solteiro, cobertas por colchas vermelhas, eram separadas por uma pequena mesinha de cabeceira e uma pintura de flores brancas. Logo que entramos, se jogou na cama mais próxima e me encarou, esperando que eu fechasse a porta.
— E agora? O que vamos fazer? — perguntou.
Pensando em uma resposta, me escorei na parede, observando o restante do quarto. Também tinha uma cômoda com uma televisão antiga e um banheiro do lado oposto da entrada.
— Não sei. Quanto tempo acha que temos até o caos começar? Uns vinte minutos? — Enquanto telespectadora, o episódio do hotel era um dos meus favoritos. Estando dentro da série, eu não me atrevia a dizer a mesma coisa.
— Talvez... pelo menos temos algum tempo para conversar sem ter ninguém por perto — comentou. — Estamos aqui há quase cinco dias e algo me diz que não vamos conseguir voltar tão cedo. E uma hora ou outra irão notar a nossa falta — completou ela com um suspiro.
— Será? — questionei, caminhando até a segunda cama. — E se o tempo aqui não passa igual ao nosso? Quer dizer, é possível, não é?
— Eu não tinha pensado nisso... — murmurou a mais velha. — Mas, sim, é possível. Estamos dentro de uma série, usando roupas de Lydia Martin, em um quarto do hotel bizarro de um dos melhores episódios de Teen Wolf... sinceramente, acho que tudo é possível!
Com a mente fervilhando, me deitei, encarando o teto fixamente. fazia o mesmo na cama ao lado e assim nós ficamos por alguns minutos. Em silêncio, percebendo a loucura dos últimos dias. A gravidade e insanidade do que estávamos vivendo ficava mais evidente quando nossos personagens favoritos não estavam ao redor nos distraindo.
respirou fundo, passando a mão pelo rosto, e se sentou. Ajeitou o cabelo que caía no rosto e, em seguida, abriu a gaveta da mesinha entre as camas. Eu a observava confusa, porém logo que ela retirou do móvel uma bíblia de capa vermelha, me levantei às pressas.
Aquele hotel era conhecido pela grande quantidade de suicídios cometidos ali e os donos acharam interessante deixar recortes de reportagens em cada quarto sobre as diversas mortes.
— Quantos? — perguntei, com uma careta, não tendo certeza se eu realmente gostaria de ouvir a resposta.
— Cinco... — respondeu, sem entrar em mais detalhes.
Do lado de fora, um barulho de vidro quebrado roubou o nosso foco. Aquele era o sinal de que os lobisomens começaram a ser afetados pelos poderes do Darach e em breve fariam as próprias tentativas de suicídio, com o objetivo de completar outro grupo de sacrifícios.
— E se interferirmos? — sugeri de súbito. — Tudo o que fizemos até agora foi agir conforme a série e nada aconteceu. E se tentarmos mudar alguma coisa?
— Tipo o quê? — perguntou , concordando logo com a ideia.
— Tipo... — murmurei, fechando os olhos e tentando me lembrar do episódio com mais minúcias. — Tipo pegar o último sinalizador de emergência do ônibus...
— O Scott não vai ter com o que atear fogo nele mesmo — completou, entendendo meu raciocínio. — Certo. Mas agora acho melhor irmos para o quarto das meninas, não podemos levantar suspeitas.
— Ok. Leva a bíblia, vai servir como desculpa. — Ela concordou e se levantou. Fechou até o topo o casaco que usava e caminhou em direção à porta. — , só mais uma coisa... — chamei, atraindo a atenção da mais velha. — Se não sairmos daqui até o final dessa temporada, acho melhor pensarmos em uma forma de contar a verdade. Não temos como esconder isso por tanto tempo.
respirou fundo e assentiu.
— Agora vem, temos que salvar uns lobisomens — disse sorrindo, antes de sair do quarto.


***


— Só vi o Scott agir assim na noite de lua cheia. — Ouvimos Allison dizer, assim que nos aproximamos do quarto 217.
— Eu sei, ele também agiu estranho comigo — disse Stiles, confuso. — Mas, na verdade, Boyd estava muito estranho também. Eu o vi socar o vidro da máquina automática — contou o rapaz. Sem mais delongas, dei três batidas leves na porta e girei a maçaneta.
— O que está acontecendo? — questionei, fingindo confusão.
— É esse hotel! — respondeu Lydia, exasperada. — Tem alguma coisa estranha aqui e ou a gente dá o fora agora mesmo, ou alguém vai ter que aprender a fazer exorcismo a jato, antes que os lobisomens pirem de uma vez e nos matem — tagarelou, andando de um lado para o outro.
— Realmente tem algo errado aqui — concordou . — Achamos isso no nosso quarto. Várias mortes aconteceram aqui. Suicídios — disse ela, mostrando a bíblia para o grupo. Stiles pegou o livro e passou a folhear as páginas marcadas, enquanto Lydia foi checar a mesinha de cabeceira, tirando de lá uma bíblia idêntica.
— Eles têm um marcador na recepção. Fazem a contagem de todas as mortes — disse Allison. — Quando Lydia olhou pela primeira vez, estava em 198 e agora subiu para 201.
— Espera aí... — murmurou Stiles. — E se não for apenas o hotel? O número na gerência aumentou três dígitos, certo?
— Como se fossem três sacrifícios? — indagou Allison, entendendo onde Stiles queria chegar.
— E se forem lobisomens dessa vez? — ele questionou, preocupado.
— Scott, Isaac e Boyd — murmurei.
— Talvez precisássemos vir aqui... — o rapaz supôs.
— Exato! Então já podemos ir embora? — Lydia questionou, cheia de desespero. — Por favor?
— Espera, eu quero ver essa — Stiles falou, retirando os recortes da segunda bíblia.
— Olhem esses dois, ambos mencionam o quarto 217 — disse Lydia, apontando para as reportagens.
— Se todo quarto tem uma bíblia... — comentou Allison, olhando para cada um de nós.
— Existem matérias em todos os quartos — completou.
— Que ótimo! Outros hotéis deixam balas nos travesseiros. Aqui eles deixam os registros das suas mortes horrendas — Stiles disse com escárnio, passando as mãos pelo rosto.
— E se a porta ao lado tiver a matéria do casal que eu ouvi? — Lydia questionou baixinho. Ela não se explicou, mas e eu tínhamos ciência de que a garota podia ouvir o eco das mortes ocorridas no hotel, graças às suas habilidades de Banshee.
Nos encaramos por alguns instantes e não demorou para que todos os cinco saíssemos em disparada até o quarto 218.


Capítulo 10

Stiles tentou abrir a porta, mas sem sucesso.
— Ela não estava trancada antes — Lydia comentou.
— Esquece. Nós temos que tirar Scott, Isaac e Boyd daqui! — disse Allison.
Quando nos viramos para ir encontrar os rapazes, porém, fomos impedidos por um barulho alto de serra elétrica, que fez com que todos estacássemos no lugar.
— Não fui a única que ouviu isso, né? — a ruiva perguntou assustada.
— Parece que ligaram o serrote — Allison murmurou.
— Serrote? — Stiles questionou desesperado, logo jogando seu peso contra a porta. Do outro lado, Ethan estava prestes a se mutilar. — ETHAN, NÃO! — o rapaz gritou, correndo em direção ao loiro.
Sem saber o que fazer, eu assistia apavorada, ao lado de Allison e Lydia, os dois brigarem pelo equipamento, quando correu para puxar o cabo que ligava o serrote à tomada. Stiles e Ethan caíram no chão, mas vendo que a sua primeira tentativa falhara, o lobisomem passou a usar as próprias garras para se machucar.
Allison partiu para impedi-lo, junto de Stiles, e ambos acabaram o empurrando sobre o aquecedor. Com o choque do calor, o loiro foi para o chão, finalmente consciente. Lydia observava a cena atônita e logo deixei escapar um suspiro de alívio, mas a tensão no quarto ainda era absurda.
— O que acabou de acontecer? — Ethan perguntou, ofegante. Nem sequer esperou que alguém respondesse, antes de sair às pressas do cômodo, quase derrubando no caminho.
— Ethan! — Stiles chamou, indo atrás do rapaz. Lydia e Allison foram em seguida, enchendo o lobisomem de perguntas, enquanto e eu observávamos da grade do segundo andar.
— Não sei como entrei lá e nem o que eu estava fazendo! — Ethan resmungou, mexendo em sua jaqueta.
— Você podia ajudar um pouco mais. Acabamos de salvar sua vida — argumentou Stiles.
— E talvez não devessem ter feito isso — o loiro disse, entrando em seu quarto e batendo a porta.
— E agora? — indagou Lydia.
— Vou achar o Scott. Vocês pegam os outros, o melhor que podemos fazer é sair desse lugar! — Allison declarou, voltando até o segundo andar.
Sabendo que Stiles e Lydia teriam uma breve conversa antes de irem de fato atrás de Isaac e Boyd, pegou a minha mão e nos levou até o quarto deles.
A porta 212 estava entreaberta e assim que pusemos os pés no quarto, ouvimos um baque pesado caindo na água. Boyd tentava se afogar na banheira, com um cofre sobre as pernas. olhou debaixo de uma das camas e, pela sua expressão, tive certeza de que Isaac já estava encolhido lá embaixo.
— Corre, pega os sinalizadores. Os três! — gritei para a mais velha, que deixou o quarto no instante seguinte. Não demorou para que Stiles e Lydia entrassem às pressas no cômodo, indo direto para o banheiro. — Ele tampou o ralo, não dá para tirar — avisei, logo que o rapaz enfiou o braço na água.
— Aonde a foi? Ela passou correndo por nós, gritando sobre o Boyd — contou Lydia, desesperada com a situação.
— Procurar pelos sinalizadores de emergência do ônibus — respondi, ganhando olhares confusos de ambos. — Ethan voltou ao normal depois de queimar o braço, então talvez a resposta seja fogo.
— Os sinalizadores têm agentes oxidantes que queimam debaixo da água — raciocinou a ruiva.
— PEGUEI! — gritou , entrando em disparada no banheiro e entregando um dos sinalizadores para Stiles.
— Como se usa isso? — ele perguntou em pânico.
— A tampa é tipo um fósforo — explicou.
— Stiles! — Lydia gritou, apreensiva.
— Estou tentando! — Uma faísca se acendeu em seguida e o garoto logo mergulhou o sinalizador na banheira.
Parecendo se lembrar da reação do lobisomem, agarrou Lydia e eu pelos pulsos e nos tirou do caminho no momento exato em que Boyd emergiu da água, lançando o cofre para longe. Stiles respirou aliviado e, me sentando no chão, logo lembrei do outro rapaz no quarto.
— Isaac está debaixo da cama — murmurei.
Stiles pegou o segundo sinalizador com e se agachou em frente ao móvel, erguendo a barra da colcha.
— Oi, Isaac. Eu trouxe uma coisa para você...


’s POV

Com Isaac e Boyd se sentindo melhores, fomos atrás de Allison, a encontrando no corredor entre os quartos.
— Não acho o Scott — disse a morena, aflita.
— Também está rolando com ele, né? — Stiles questionou à amiga.
— Deve estar — falou Lydia. — Tinha mais sinalizadores no ônibus? — a ruiva perguntou, enquanto descíamos as escadas para o térreo.
— Sim, está comigo — respondi, mostrando o objeto na minha mão e torcendo para que a ideia de funcionasse.
Quando chegamos lá embaixo, porém, e eu nos encaramos estarrecidas.
Scott estava parado próximo ao ônibus escolar e tinha em uma das mãos o isqueiro de Allison, que a morena usara mais cedo para esquentar a agulha que usaria para costurar o ferimento do rapaz. A chama do pequeno objeto estava acesa e Scott estava ensopado da cabeça aos pés com combustível. O galão do líquido inflamável jazia vazio ao seu lado.
— Scott? — Allison chamou, se aproximando. Ele ergueu a cabeça, mas continuou calado até que todos estivéssemos à sua frente.
— Não existe esperança — murmurou ele.
— Como assim, Scott? Sempre há esperança — a morena falou, com a voz trêmula.
— Não para mim — argumentou abatido. — Nem para o Derek. Ou para vocês — Scott disse em um sussurro, intercalando o olhar marejado entre e eu.
A mais nova engoliu em seco e me encarou confusa, com lágrimas escorrendo pelas bochechas. Com o coração apertado, nunca me senti tão perdida e frustrada.
— Com o Derek não foi culpa sua. E as garotas? Você as salvou. Você sabe disso, Scott! — disse Allison.
— Quando tento lutar, a coisa só piora. Pessoas se machucam. São mortas... — continuou o rapaz.
— Me escuta, Scott. Isso não é você! — Stiles disse, dando um passo à frente. — Tem alguma coisa na sua cabeça mandando fazer isso. Certo? Agora...
— E se não tiver? — questionou Scott, interrompendo o amigo. — E se foi só eu? E se ir em frente for o melhor a ser feito por todos? — ele questionou, entre soluços. — Tudo começou na noite em que eu fui mordido. Se lembra como era antes? Nós dois. Não éramos nada. Não éramos populares. Éramos ruins em lacrosse. Nós não éramos importantes. Não éramos ninguém... talvez eu deva ser ninguém outra vez — Scott disse, em meio ao choro, erguendo o isqueiro.
— Scott só me escuta, por favor — pediu Stiles, com a voz embargada. — Você é alguém. Você é uma pessoa... é o meu melhor amigo, Scott. E eu preciso de você, entendeu? Scott, você é o meu irmão — disse ele, aos poucos se aproximando e colocando os pés na poça de gasolina ao redor do lobisomem. — Então se vai fazer isso, terá que me levar junto.
Meu coração batia descompassado observando a cena e, quando Stiles pegou o isqueiro das mãos do amigo e o jogou no chão, mas não longe o suficiente, eu percebi que tinha sorrido cedo demais.
— NÃO! — Lydia gritou logo que a faísca tocou o líquido, espalhando o fogo rapidamente e se jogou sobre os garotos, os empurrando para longe das chamas.
Ao meu lado, gritou assustada, mas, ao ver todos bem, respirou aliviada. Sentindo meu corpo trêmulo, instintivamente a abracei com toda a força que me restava.
Estávamos de volta à estaca zero e o fogo alto queimava à nossa frente, quando uma sombra encapuzada que conhecíamos bem surgiu entre as chamas por breves segundos nos observando.


Capítulo 11

’s P.O.V

Meus olhos ardiam com a claridade, o que me impedia de mantê-los abertos por mais do que alguns segundos. A sensação familiar de desespero enchia meu peito enquanto eu me levantava do chão gelado, apoiando as mãos nas paredes dolorosamente brancas. E, mais uma vez, eu não tinha ideia de onde estava.
? — chamei, sem obter qualquer resposta. O único som que eu ouvia era o eco da minha própria voz, trêmula e assustada.
Eu estava sozinha, no que parecia ser um corredor sem fim. Talvez fosse a luz e as paredes claras ou a vista turva com as lágrimas que já lutavam para sair, mas tudo o que eu enxergava era aquele caminho branco, infinito e estreito.
— Vem logo, ! — alguém gritou ao fundo, depois do que poderiam ter sido horas andando sem rumo. A voz familiar fez meu coração saltar no peito.
? — chamei outra vez, mais alto e com toda a minha força, trocando de passos inseguros para uma corrida até minha amiga.
— Você vai perder a melhor parte! — disse ela, soando indignada. Eu já podia ouvir com mais clareza e ainda que sua frase não fizesse o menor sentido, só me importava encontrá-la.
— Já vou, caramba! Não dá pra pausar? — outra voz respondeu, me causando um sobressalto. Uma voz conhecida. A minha voz. O impacto fez com que eu me embaraçasse nas minhas próprias pernas e rolasse pelo chão.
— Não, não dá, o Stiles vai voltar! — gritou animada.
Uma porta.
Tão bem camuflada entre as paredes que eu não a teria visto caso não tivesse me estatelado bem à sua frente. As vozes vinham dali. Me levantei apressada, ansiosa para escapar de onde quer que eu estivesse. Ansiosa para entender que droga estava acontecendo e por que comigo. Mas, ao me jogar contra a porta, tudo o que senti foi frustração e... pavor.
— Não, não, não! — murmurei, esfregando as mãos pelo rosto sem a menor delicadeza. Tudo o que eu via era mais branco e eu queria berrar.
O espaço dessa vez era maior e de certa forma familiar. Inúmeras colunas preenchiam o lugar, como um estacionamento coberto, mas sem carros, e o teto tinha incontáveis painéis de led ofuscando a minha visão. Eu nunca tinha estado lá, com toda a certeza, mas em um cantinho da minha mente, eu sabia que o conhecia. Já tinha visto.
Vários metros à frente, porém, estava o alvo do meu foco e total assombro. Sobre um sofá acinzentado, embrenhadas em cobertas azuis, que destoavam de toda aquela sala, estavam e eu. Entretidas com o que passava na televisão presa à parede. Não dava para acreditar.
Eu sequer conseguia me mexer.
Com o rosto encharcado e a boca entreaberta de choque, eu me esforçava para respirar enquanto minha melhor amiga e uma outra versão de mim mesma se acabavam de rir com a cena de Stiles Stilinski no FBI.
E então tudo congelou.
As risadas pararam e a sala se tornou um breu.
Mas eu ainda podia enxergar uma sombra distante, onde antes estava o sofá. Uma sombra alta, de sobretudo e chapéu, sobre o que agora parecia ser um imenso e largo tronco de árvore.
Eu me virei para correr, com o coração batendo em meus ouvidos. Porém a porta por onde entrei não estava mais lá. E sim um rosto. Um rosto pálido, calvo e repleto de cicatrizes, como se tivesse sido recém rasgado por enormes garras. Darach.



Quando abri os olhos, precisei de algum tempo para entender que lugar era aquele. Minha respiração ainda estava irregular e o meu coração batia com tanta força que fazia doer meu peito. dormia ao meu lado, com a cabeça encostada na janela do ônibus. Tudo o que eu mais queria era acordá-la e chorar em seu colo, desabafar o terror que eu ainda sentia. Mas ela parecia tão calma e, com tanto acontecendo, aquele sono era merecido.
Depois da terrível noite no hotel, foi decidido que passaríamos o restante da madrugada juntos no transporte escolar. Isaac e Boyd estavam esparramados nos últimos assentos, um de cada lado. Scott e Stiles também estavam sozinhos, enquanto Allison e Lydia dividiam a poltrona atrás de nós duas.
? — um sussurro chamou, me assustando ainda mais, se era possível. Scott estava no assento à minha direita, com os olhos levemente arregalados e uma das mãos estendidas, como se para mostrar que não me faria nenhum mal. — Sinto muito, não queria te assustar. É que... consigo ouvir seus batimentos. Estão muito acelerados — murmurou com cautela, implicitamente perguntando se estava tudo bem.
— Pesadelo — respondi baixinho, com um sorriso forçado e a voz embargada. Antes que ele dissesse outra coisa, me levantei e fui até a entrada do ônibus, me sentando em um dos degraus da maneira mais silenciosa que podia.
O céu ainda estava escuro lá fora e o ar cheirava a combustível.
Não demorou para que o som de passos se fizesse presente. Em poucos instantes, Scott estava sentado ao meu lado. O rapaz não disse nada, apenas colocou uma das mãos em meu ombro, da mesma forma como eu havia feito com Allison várias horas atrás. Quando senti a dor no peito desaparecer, porém, soube o que ele estava fazendo. Virei o rosto a tempo de ver as veias escuras sumirem pelo seu pulso.
— Obrigada... — murmurei. Meu coração ainda batia descontrolado, mas sem a dor, respirar se tornava mais fácil.
— Você ajudou a me costurar, estamos quites agora — ele disse sorrindo, me arrancando uma pequena risada. — Tem certeza de que foi só um sonho ruim?
— Sim — respondi, olhando para os pés. Se ele sabia que eu estava mentindo, não disse nada a respeito.
— Quer conversar sobre isso? — Scott perguntou.
— Não posso — falei, passando as mãos pelo rosto para enxugar as lágrimas restantes. O rapaz me olhou confuso, de sobrancelhas arqueadas. — Não consigo me lembrar. Não sei com o que sonhei, só sei que me deixou apavorada — expliquei, olhando em seus olhos para mostrar que dessa vez eu dizia a verdade.
Tudo o que restava em minha mente era o rosto desfigurado. O rosto que eu sabia pertencer ao Darach, o mesmo que surgiu nas chamas horas atrás. Ademais eu só podia sentir. A insegurança, o medo, o desgaste, a breve esperança e, por fim, o pavor. Disso eu me lembrava.
— Posso fazer uma pergunta? — questionei baixinho. — E, por favor, não diz que eu acabei de fazer — completei rápido, arrancando dele uma risada.
— Claro — ele respondeu, com um sorriso.
— Tudo o que você disse antes... aquilo sobre não existir esperança para nenhum de nós — iniciei com hesitação. — Foi realmente por influência do Darach? — indaguei, me encolhendo no casaco, com medo do que poderia ouvir.
Por um momento, Scott ficou em silêncio, olhando no fundo dos meus olhos como se buscasse por alguma coisa. Todo o discurso sobre não ser ninguém antes da mordida, eu acreditava ser sim possível que ele pensasse sobre isso, afinal todos temos uma parte sombria da mente pronta para nos jogar para baixo no instante em que permitirmos. Mas quanto à esperança... foi o Darach quem abriu essa brecha?
Ele fechou os olhos e respirou fundo, antes de voltar a atenção para mim com uma nova e reconfortante confiança.
— Vamos dar um jeito nisso, ok? Vamos encontrar quem está por trás dos sacrifícios e vamos achar quem trouxe você e a para cá — Scott assegurou, estendendo a mão para mim. Eu a segurei. — Até lá, vocês estão com a gente, são parte da alcateia agora.


’s P.O.V

— Eu não quero saber. Não quero mesmo! — Acordei com a voz do treinador. Ele e o restante dos alunos estavam de volta ao ônibus, nos encarando confusos. Olhando ao redor, todos pareciam estar acabando de acordar, completamente amassados de sono, exceto , que estava sentada ao meu lado, com postura, cabelo e roupas ajeitados. — Mas se perderam o anúncio, cancelaram o torneio e vamos para casa. Façam as malas!
Ethan, que não havia se pronunciado após sua quase morte, foi até o assento de Scott e se sentou ao lado do rapaz. trocou um rápido olhar comigo antes de voltar seu foco para a dupla à sua direita. Só então notei as leves manchas roxas abaixo de seus olhos.
— Não sei o que aconteceu ontem, mas sei que salvou a minha vida — o loiro disse para Scott.
— Na verdade, eu salvei, não que isso importe — Stiles murmurou, alto o suficiente, do banco de trás. — É um pequeno detalhe.
— Então vou te dar uma coisa — continuou Ethan. — Temos certeza de que o Derek não morreu. Mas ele matou um dos nossos. Ou seja, duas coisas podem acontecer. Ou ele entra na alcateia... ou Kali vai atrás dele e nós o matamos. É assim que funciona.
— Seu código de honra é meio bárbaro, só para constar — comentou Stiles, assim que o lobisomem levantou, como se não tivesse acabado de jogar uma bomba sobre Scott, e assumiu o lugar dele ao lado do amigo logo depois.
Quando o treinador se aproximou dos nossos assentos, me cutucou e deitou a cabeça no meu ombro.
— Lydia! — chamei, virando o pescoço para olhar a ruiva na poltrona de trás. — O apito do treinador — cochichei. Ela não entendeu no início, mas assim que viu o pó brilhando na camiseta branca do homem, a garota deu um salto.
— Treinador, posso ver o apito um pouquinho? — perguntou ela, já pegando o cordão antes que Finstock pudesse abrir a boca.
— Ei! Vou precisar disso de volta.
Lydia se sentou outra vez perto de Allison, dessa vez com a atenção de todo o grupo concentrada nela, e então assoprou o apito com uma das mãos tampando a saída de ar.
— Acônito — concluiu, ao ver a própria palma repleta de pó.
— Então toda vez que ele sopra o apito no ônibus, Scott, Isaac, Boyd... — Stiles refletiu.
— E Ethan — acrescentou .
— Nós todos inalamos — apontou Scott.
— Vocês foram envenenados — disse Allison.
— Foi assim que o Darach entrou na cabeça deles, foi assim que ele fez! — Stiles completou, satisfeito por terem compreendido a causa de todo o desespero da última noite e, por fim, arrancou o cordão das mãos de Lydia e o arremessou pela janela.
— Ei, ei, Stilinski! — gritou Finstock, arrancando risadas de todos nós.
O ônibus deu partida e em poucos segundos estávamos de volta à estrada para Beacon Hills. ainda deitada no meu ombro, mas agora de olhos fechados.
? — ela murmurou. — Eu não consigo me lembrar... não consigo me lembrar da última temporada.


Capítulo 12

’s P.O.V

Fazia quase uma semana que havíamos voltado da viagem com o time de la-crosse. Quase duas que e eu estáva-mos presas na série. Perceber que as nossas memórias estavam lentamente desaparecendo não ajudava muito.
Graças a Allison e Lydia, nós tínhamos um lugar fixo por algum tempo. Um bom hotel na cidade, sem qualquer histórico bizarro, fizemos questão de checar. Não era a nossa casa, mas confortável o suficiente. Se fechasse os olhos, dava para fingir que estávamos apenas aproveitando as férias na cida-de. O problema é que, cidade fictícia ou não, precisávamos de dinheiro, então não podíamos ficar paradas.
— Alguém sabe onde está a dra. Hilliard? — Melissa perguntou, na recepção do hospital, enquanto auxiliava os paramédicos com a chegada da milésima paciente daquela noite. O lugar estava um caos.
O primeiro lugar onde procuramos por trabalho foi na clínica veterinária de De-aton, mas, como ele já tinha Scott, havia apenas uma vaga disponível, que aceitou de bom grado. Trabalhar no hospital não estava nos meus planos, mas eu precisava admitir que era bas-tante vantajoso. Sendo um dos cenários principais da série, vários momentos importantes aconteciam lá.
Sem formação, eu não podia fazer muita coisa, então o meu papel era cuidar da recepção e auxiliar os pacientes com informações sobre o local e os profis-sionais que atuavam ali. Aquela noite em específico, estava me deixando tonta com a quantidade de pessoas desesperadas. O telefone não parava de tocar e eu já havia perdido a conta da quantidade de prontuários que precisei abrir ou verificar.
E, é claro, toda a confusão era obra do Darach.
— Graças a Deus! — Melissa exclamou com alívio ao ver o filho na entrada do hospital, com duas sacolas em mãos. A minha reação teria sido a mesma, caso eu não estivesse ocupada com os documentos de um homem que buscava por um familiar internado. — Estou faminta! — disse ela, sorridente.
Enquanto a enfermeira pegava uma das sacolas, Scott deixou a outra ao meu lado.
— Obrigada! — murmurei, cruzando as mãos na frente do rosto com um pou-quinho de drama. O cheiro da marmita fez meu estômago roncar. O rapaz sor-riu e voltou a atenção para a mãe, enquanto eu finalizava o atendimento.
— Está tudo bem? — Scott questionou, após receber um abraço de Melissa, que, assim como o restante dos funcionários, estava claramente exausta.
— Tirando as vítimas de um acidente com dez carros que estão sendo trazidas para cá e o médico de plantão que não responde, está sim, tudo bem — a en-fermeira respondeu frustrada.
— Como assim “não responde”? — o rapaz indagou.
— Ninguém sabe cadê ele e a médica substituta também está demorando para chegar — respondi, vendo que uma paciente se aproximava de Melissa. — Tem alguma coisa errada — sussurrei a última parte, sabendo que o rapaz es-cutaria. Antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa, o toque do telefone capturou a minha atenção. Mais um parente preocupado...
— Quanto tempo para a dra. Hilliard? — Melissa perguntou, se escorando no balcão.
— Uns dez minutos — murmurei, tentando manter o foco na pessoa do outro lado da linha. Depois de confirmar a entrada de um paciente em questão, des-liguei o telefone a tempo de ver as veias pretas aparecerem no braço de Scott, enquanto ele tirava a dor de uma mulher machucada.
Aquele, para mim, era um dos aspectos mais incríveis sobre a licantropia de Teen Wolf. O alívio no rosto da moça era comovente e, tendo eu mesma também experimentado aquela sensação, não pude evitar um sorriso.
Um grito na entrada do hospital foi o que trouxe de volta o meu foco. Ethan berrava por socorro, enquanto apoiava Danny em seus braços. O rapaz não tinha forças para se manter de pé.
— POR FAVOR, ALGUÉM ME AJUDA! PRECISO DE AJUDA!


***


’s P.O.V


— Não quero ir... — choramingou, se jogando sobre o colchão inferior do beliche, enrolada em sua toalha. Para o azar dela, o nosso primeiro dia de aulas seria na manhã seguinte ao tumulto no hospital. — Não consegui pregar os olhos a noite, sabendo que vamos pre-cisar encarar a professora duas caras.
Antes que eu pudesse concordar, o celular apitou ao meu lado. Era a nossa mais nova aquisição. Um aparelho antigo de Stiles, que agora facilitava bas-tante a nossa comunicação. e eu o com-partilhávamos de acordo com a necessidade. Se uma de nós ficasse sozinha, o celular estaria ali em caso de emergência.

Chego em 5 minutos — Stiles.

— A não ser que pretenda desfilar assim pela escola, é melhor se arrumar lo-go. A carona já está chegando — avisei, ouvindo mais resmungos. se apressou, penteando o cabelo molha-do, enquanto jogava algumas peças de roupa pela cama.
O jipe azul havia acabado de estacionar, quando saímos do hotel, ambas mor-discando pedaços de torrada.
— A sua animação é contagiante, — dis-se o rapaz, assim que ela se jogou no banco de trás, já de olhos fechados.
Awn, fico feliz em saber — ela murmurou, com tanto sarcasmo quan-to ele, enquanto se aconchegava contra a janela.
é sempre um doce quando está com sono — comentei, rindo da interação dos dois.
— Sorte a nossa — Stiles zombou, espiando a garota pelo retrovisor. — Ela apagou mesmo? — questionou incrédulo, abaixando o tom de voz e virando o pescoço para verificar se ela havia mesmo cochilado.
— A noite foi longa — expliquei, respirando fundo.
— Ela contou o que aconteceu ontem? — o rapaz perguntou.
— Sim... — Não. Mas não foi preciso muito para eu descobrir. apenas disse que os médicos sumiram e eu logo soube do que ela estava falando. — Já encontraram a médica substi-tuta?
— Ainda não — Stiles respondeu, batucando os dedos no volante. — Mas não deve demorar. Temos que descobrir quem é o próximo — acrescentou, preo-cupado.
Scott se juntou a nós assim que chegamos ao colégio e, por mais que eu ten-tasse, era impossível conter a imagem que se formava na minha mente. Era como aquelas cenas épicas e clichês, onde todos abrem caminho para os po-pulares passarem. Exceto pelo fato de que e eu éramos novatas e a minha me-lhor amiga parecia estar sendo arrastada a força...
Nada disso seria possível sem a ajuda do xerife, é claro, que se empenhou bastante para que a diretoria aceitasse as nossas matrículas com documentos provisórios. Depois de tentar contatar nossos familiares, evidentemente sem sucesso, Noah fez questão de nos presentear com um pingo de normalidade, enquanto não pudéssemos deixar a cidade. ficou sem palavras.
— Bom dia! — Jennifer falou, ao entrar na sala de aula. — Como sabem, o sr. Harris ainda está desaparecido, quer dizer... doente. Enfim, eu vou substituí-lo enquanto nós esperamos e rezamos que um substituto mais quali-ficado ocupe o meu lugar — explicou, observando cada aluno até que a sua atenção se concentrasse em e eu.
Por alguns segundos, a mulher de cabelos castanhos manteve seu olhar em nós duas, mas foi o suficiente para que meu estômago virasse de cabeça para baixo. Ao meu lado, sustentava seu foco, enquanto balançava a perna sem parar por trás da bancada.
Discretamente coloquei a mão em sua coxa, forçando que ela se aquietasse, ao mesmo tempo em que abri um sorriso falso em direção à professora.
— Certo, então vamos começar! — disse Jennifer, quebrando a tensão com sua fachada de boazinha.
— O meu pai disse que o médico de plantão não foi estrangulado, mas morreu de asfixia, só não sabem como... — Stiles cochichou, se escorando no encosto da cadeira para que e eu também o escu-tássemos.
— Você acha que a médica substituta ainda está viva? — Scott perguntou, mantendo os olhos no quadro negro.
— Eu não sei — disse Stiles, olhando para nós rapidamente.
— Tem pelo menos outros vinte médicos no hospital, no mínimo — murmurou, deitando a cabeça sobre os braços.
— Qualquer um pode ser o próximo — Stiles completou o raciocínio. O celular de Scott tocou e, em instantes, o rapaz saiu às pressas da sala. Pouco mais tarde, Stiles foi atrás do amigo.
A sensação de saber o que estava acontecendo e não poder ajudar era horrí-vel. e eu poderíamos facilmente dizer para onde a bruxa à nossa frente havia levado Deaton. Evitaríamos o sofri-mento do veterinário e a aflição de todos que o procuravam. Mas isso não aconteceria sem que nos tornássemos suspeitas outra vez.

Acompanhar o restante daquela aula foi muito difícil. Eu podia ver a agonia no rosto de e sabia que o meu provavelmen-te expressava a mesma coisa. O meu coração quase saiu pela boca quando o alarme de incêndio soou pelos corredores. deu um pulo ao meu lado, também sendo pega desprevenida.
Antes, porém, de conseguirmos sair com o restante da turma, Jennifer se colo-cou no nosso caminho.
— Srtas. Miller e Carter, estou certa? Eu só gostaria de dizer que estou à dis-posição caso precisem de ajuda. Sei muito bem como é ser a garota nova, en-tão saibam que podem contar comigo — disse ela, apertando meu ombro, em uma falsa empatia. A sua máscara de boa moça caiu no momento em que ela me tocou.
Por breves segundos, não era mais o rosto bonito de Jennifer Blake que nos encarava, mas, sim, a face verdadeira e desfigurada do Darach. Ela se desen-costou imediatamente, nos observando com uma mistura de surpresa, terror e curiosidade.
— Não, obrigada! — sorriu com des-dém, me puxando para o corredor e nos camuflando em meio aos estudantes.
Não era preciso muito para saber o que ela estava pensando. Jennifer sabia sobre nós. Sabia que a tínhamos visto.
E agora estávamos em perigo.


Capítulo 13

’s P.O.V

— Um tabuleiro Ouija? — Lydia questionou descrente, logo que Stiles colocou a caixa sobre a bancada à sua frente. Todos estavam desesperados para encon-trar Deaton e o rapaz estava disposto a tentar as mais inusitadas alternati-vas.
— Também conhecido como tabuleiro dos espíritos. Vale a pena tentar — ele murmurou, enquanto preparava o jogo.
Enquanto Cora e eu encarávamos céticas a situação, se afastava aos poucos até a porta. Ela nunca foi uma grande fã de brincadeiras espirituais, ou espíritos de uma for-ma geral.
— Parece um tiro no escuro — a ruiva acrescentou com sarcasmo.
— Pode ao menos tentar, por favor? — Stiles pediu impaciente. — Não vamos esquecer para quem é isso. O chefe do Scott, o cara que nos livrou a cara mais de uma vez.
— Todos nós vamos fazer isso? — Cora perguntou. Era estranho estar ao lado dela, como pessoas civilizadas, depois do nosso primeiro encontro na noite em que e eu chegamos a Beacon Hills, mas não era esse o foco no momento.
— Definitivamente, não — declarou instantaneamente, concluindo seu caminho até a porta e se virando para a janelinha de vidro que dava para o corredor. — Alguém precisa ficar de vigia, eu faço esse esforço. Mas a avó da vivia enxergando mortos pela casa, talvez ela tenha herdado esse dom — falou, me jogando uma piscadela, enquanto eu revirava os olhos. Nós quatro então colocamos as mãos no indicador sobre o tabuleiro, enquanto fingia que nada disso estava acon-tecendo.
— Estão prontas? — Stiles perguntou, recebendo a nossa confirmação. — Onde está o Dr. Deaton? — indagou concentrado, intercalando o olhar entre Lydia e eu.
— O que foi? — a ruiva questionou, ao perceber que ele a encarava.
— Não vai responder? — Stiles murmurou a pergunta, a deixando ainda mais confusa.
— Eu não sei a resposta. Pensei que estávamos perguntando a algum espírito — Lydia disse, com a testa franzida em dúvida.
— E você conhece algum espírito? — Cora perguntou.
— Claro que não, mas imaginei que a conhecia — ela respondeu e eu podia jurar que ouvi uma risadinha vinda do canto da sala naquele momento. Da porta, para ser mais específica.


’s P.O.V

Tabuleiro Ouija, psicometria, escrita automática... Várias tentativas inúteis para encontrar uma resposta que e eu tínhamos o tempo todo. Aquilo era frustrante, para dizer o mínimo.
— Lydia, você deveria estar escrevendo palavras, como frases, um local, algo que nos diga onde ele está — Stiles explicou frustrado.
— Talvez você devesse ter me dito isso — a ruiva defendeu, ainda detalhando seu desenho do Nemeton, que até então tinha significado apenas para minha amiga e eu.
— Ela não era uma gênia? — questionou Cora.
— Gênia, sim. Vidente, não — Lydia respondeu. — Sinceramente, não sei por que implicou comigo, principalmente porque é óbvio que devia falar com o Danny — murmurou.
— O quê? Por que o Danny? — Stiles indagou confuso.
— Porque ontem ele foi um alvo — explicou Scott, entrando na sala. Uma de suas mãos pressionava um ferimento no ombro. — Mas não foi um sacrifí-cio.
— Mas o Danny não está no hospital? — Cora questionou, vendo que todos organizavam seus pertences para deixar a escola.
— Sim. É para lá que vamos — Stiles confirmou.
— Espera, espera — chamou , olhan-do nosso celular compartilhado. — Allison mandou uma mensagem — disse ela, me passando o aparelho. — Ela encontrou alguma coisa.
Scott se aproximou para ler o que exatamente estava escrito, enquanto eu en-carava completamente confusa. Segundo Allison, ela não havia conseguido falar com ninguém, mas aquilo não estava certo. A mensagem não deveria ter sido enviada para nós, e sim para o rapaz ao meu lado.
— Vão na frente, encontramos vocês lá.


Continua...



Nota da autora: Sem nota.


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