— Isso mesmo… Bom garoto.
acariciou o topo da cabeça de , que continha sua enorme língua para fora e deixou um sorriso grande transparecer nos lábios. Ele, por sinal, parecia sentir-se bem e extremamente confortável ao ter as mãos da mulher o apalpando e distribuindo carinhos por seu focinho e corpo.
A verdade era que não era só um dos amigos que havia feito por ali, mas sim um animalzinho que merecia muito amor e carinho, além de ser um de seus pacientes. E ela tentava dar isso ao máximo que pudesse em todos os dias que trabalhava ali.
Observou o animal à sua frente. Ele tinha um olhar curioso em sua direção, quase como se realmente estivesse querendo saber o que se passava na cabeça da mulher. deixou a ponta de seus dedos acariciar, mais uma vez, o focinho dele e seguir para seus pelos curtos e amarelados. era um vira-lata da cor caramelo, mesclado para o castanho. E ela o achava a coisa mais linda do mundo. Como se fosse uma mãe babona pelo seu filho.
Aquilo a fez levantar o olhar para o lugar em que estava. O trabalho era voluntário, mesmo sendo uma veterinária bem reconhecida pela cidade. Sempre que podia, principalmente aos fins de semana, a mulher corria para o abrigo para manter todos os cães que ali moravam, repletos de atenção. Brincava, alimentava, acariciava e cuidava a todo momento, para que eles pudessem perceber que mesmo ali, sem uma família ou um dono em questão, eram muito amados e queridos.
A tirando de todos os devaneios, levantou o corpo, demonstrando animação e lambeu as mãos da mulher, dando a entender que queria brincar mais uma vez.
Ela segurava um graveto médio que se divertia com ele anteriormente.
— Você quer brincar? Tudo bem… Eu vou jogar mais uma vez, vai!
E assim jogou para longe o pequeno pedaço de madeira, vendo o animalzinho correr para longe como se sua vida dependesse daquilo. riu. Achava graça em como atitudes tão simples como aquela os faziam ser mais felizes que nunca.
Deixou que sua mente fosse para longe enquanto brincava agitado ao longe dali com seu mais novo brinquedo. Se ela pudesse, tivesse condições e uma casa maior que a sua, tinha certeza de adotaria todos, sem pensar duas vezes. Faria o possível para dar o lar que mereciam.
Aquilo a fez pensar. Já fazia um tempo desde que ela não tinha mais um amigo em seu lar para lhe fazer companhia e até que sentia falta dessa parte em sua rotina, mesmo passando a maior parte do seu tempo envolvida no abrigo com os outros animais.
Olhou ao longe outra vez. Ele se tornava cada dia mais especial para ela. E não era só pelo fato de que ele corria com uma cadeirinha presa a sua cintura, por não ter os membros posteriores.
— Parece que ele gosta mesmo de você.
se virou rapidamente com o pequeno susto que levou.
— Oi! Você me assustou. — sorriu assim que pôde notar quem era a pessoa em pé ao seu lado. E logo seu coração esquentou.
fazia o tipo perfeito do cara que deixava qualquer mulher ir à loucura. Os cabelos castanhos e ondulados balançavam conforme o pouco vento que passava no local, o sorriso enorme e alinhado que estampava seu rosto a cada vez em que aparecia no abrigo para fazer quase o mesmo que fazia.
E a melhor parte, amava os animais tanto quanto ela.
— Desculpe. Não foi minha intenção. — se desculpou, olhando de para mais uma vez. ficou pouco tempo em silêncio e logo se pôs a sentar ao lado da mulher. — E então, como foi seu dia?
Ela virou o rosto, o admirando mais uma vez e sorriu. Se lembrou de quando o rapaz apareceu no abrigo, querendo oferecer toda a ajuda possível, com ração, medicamentos e atenção para seus pequenos. Claro que não quis se levar por uma boa atitude e bons modos, mas vê-lo tão solícito e educado fez seu coração bater descompassado brevemente.
Mesmo ela se esforçando para não ceder tão fácil.
A amizade dos dois havia crescido com o passar do tempo, com conversas e risos bobos um para o outro. fazia de tudo para não parecer tão interessada, já … Bom, ele fazia de tudo para demonstrar o quão interessado nela ele estava.
E ela só não conseguia perceber.
— Brincadeiras, exercícios e consultas de revisão. Você sabe mais do que ninguém. — deixou uma risadinha fraca escapar. — Eles são uns anjos. E parece mais forte a cada dia que passa.
— E com razão. Ele tem alguém que o incentiva e ajuda cada vez mais.
— Eu sei que se não fosse por ele também… sabe, você consegue ver o quanto ele quer viver. — suspirou, vendo o cachorro jogar o graveto longe, com seu focinho. sorriu.
— E como quer. Mas, me diz… Quando você vai levá-lo para casa?
A pergunta de fez com que a mulher o olhasse, pensativa.
— Por que acha que vou levá-lo para casa?
— Ah, … O jeito que você o olha, que o trata… Bom, você pode ter o maior carinho do mundo por todos os outros que aqui estão, mas o ? — olhou para o bichinho que agora vinha correndo em direção à mulher, deixando o corpo cair na grama à sua frente e deitando de barriga para cima. Ele arqueou a sobrancelha. — Está vendo só?
— Ah, para. Não é bem assim…
— Se você diz…
Eles se olharam por um minucioso instante e sorriu de canto, voltando a acariciar o peitoral de que insistia por carinho e atenção, como se estivesse com ciúmes de ali.
Enquanto isso, a mente da mulher vagou para longe.
E se..?

🐾

Alguns dias depois, chegou mais animada que o normal ao abrigo. Depois do que havia lhe dito há alguns dias, sobre ficar com , a mulher não conseguia tirar da cabeça o fato de que talvez, bem no fundo, também queria muito aquilo.
Depois do momento em que ela e ficaram sentados à grama do abrigo, observando o sol se pôr enquanto descansava junto deles, deixaram a conversa tomar conta do clima que ali se formava e aproveitaram para se conhecer um pouco mais. descobriu que era arquiteto e passava parte do seu tempo no abrigo para fugir do estresse que seu trabalho e outras coisas lhe tiravam a calma. Já desvendou que, apesar de ter uma clínica e ser reconhecida pela cidade em que moravam, passava boa parte do seu tempo e dias, se dedicando a dar toda a atenção e cuidado que pudesse aos animais resgatados e abrigados no lugar.
Aquilo era mais do que admirador.
A mulher abriu a porta do local, cumprimentando a todos que estavam ali trabalhando. Alguns colocavam comida para os animais separados, outros davam banho e brincavam. Seguiam os horários à risca de cada atividade.
Ela tinha um sorriso deslumbrante nos lábios. Carregava uma bolsa grande, maior que a que costumava levar consigo quando ia fazer suas consultas e atendimentos.
Chegou ao lado exterior e olhou ao redor.
— Oi, , boa tarde! — Oi! Tudo certo por aqui? — respondeu, deixando as bolsas de lado e procurando por quem ela mais sentia falta quando estava em casa, . — Onde está o ? Tenho uma surpresa para ele.
— Ah, ele… Quer dizer, doutora, é que…
— O que aconteceu?
indagou, preocupada. Não costumava ter muitas explicações quando se tratava do bichinho. Ou ele estava no quintal enorme do abrigo brincando com os outros, ou comendo ou na hora do banho. Será que havia acontecido alguma coisa?
— O que aconteceu? Ele se machucou? Ele… Ele foi—
— Ele foi adotado, . Eu sinto muito, sei que você gostava muito do , mas…
— Não, não. Isso é… Isso é ótimo, de verdade. — tentou sorrir um pouco mais com a notícia. Não percebeu quando seus olhos começaram a lacrimejar minimamente e o olhar vagou para longe. — Eu espero que, quem quer que o tenha adotado, que cuide maravilhosamente bem do . Ele merece mais do que tudo isso. E que venha para algumas consultas de rotina comigo.
Deixou uma risadinha fraca escapar, tentando disfarçar a tristeza e nostalgia pelo que havia acontecido. Desde o começo, tentou não se apegar tanto. E isso não costumava acontecer com ela.
— Eu acho que isso vai acontecer com frequência ainda, doutora.
franziu o cenho, não entendendo a afirmação. Olhou para a funcionária que havia pressionado os lábios, como se estivesse contendo uma risadinha cúmplice e a viu apontar para trás de si, onde o gramado do abrigo brilhava de tão verde pelo sol.
Quando se virou, sentiu o coração descompassar. Pode ter certeza de que a visão que tinha parecia mais uma pintura. tinha em seus braços, o segurando um tanto desengonçado pela outra mão estar apoiando a cadeirinha do cachorro. O animal, por sua vez, tinha a língua para fora, animado ao ver o olhando. Seu rabinho também se abanava.
Mais do que depressa, foi em direção aos dois, deixando um beijo demorado no topo da cabeça de .
— Meu Deus, foi você! — disse, em surpresa e ainda mais animada. — Não acredito. Você adotou o .
riu fraco ao ver a empolgação da mulher e de como ela parecia agradecida com aquilo. Os olhos de brilhavam de tanta emoção. Ele queria puxá-la para um abraço junto de , podendo sentir o calor e o conforto que ela poderia lhe dar.
Queria mais do que tudo.
Então a vendo tão extasiada com a surpresa, resolveu por dizer de uma vez.
— Na verdade, nós adotamos. — soltou, observando um vinco se formar na testa da mulher. parecia não ter entendido. — é nosso agora. Finalmente.
— Sério? Isso é sério, ?
— Pode ter certeza que sim. — confirmou, deixando que o animalzinho fosse para o colo dela. fazia sons graciosos ao beijar por completo e deixá-lo lambê-la. — E pode ter ainda mais certeza de que quero você na minha vida também. Por um bom tempo. Se você permitir, claro.
— , eu…
A verdade era que não sabia ao certo o que sentia naquele instante. Se estava extasiada por saber que seria seu mais novo companheiro, se por saber que também seria seu tutor ou por, principalmente, saber o que o rapaz sentia por ela.
Eram muitas informações, para ser sincera e a única coisa que ela conseguiu fazer foi sorrir. Sorrir abertamente, como se naquele momento, nada lhe pudesse fazer mal. tinha tudo o que precisava ali, bem na sua frente.
Sem pensar muito, diminuiu a distância entre os dois e com os olhos fechados, sentiu os lábios de tocarem o seu, em um beijo calmo, formidável. Como deveria ter sido há muito, muito tempo.
— Finalmente.
Os dois disseram, ao se separarem minimamente.
E assim, puderam ouvir o latido de entre os dois, entre lambidas agitadas, como se também tivesse entendido e concordado com aquilo, fazendo com que e rissem entre si, enquanto se abraçavam ternamente.
— Au!

Nota da autora: Oi, pessoal! Aqui estou com mais uma fic para vocês! Espero que tenham gostado e não esqueçam de deixar um pequeno feedback com o que acharam!
E para quem se interessar em outras histórias minhas, o link da minha página de autora vai estar logo aqui embaixo. Um beijão a todas, e volte sempre <3



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