Última atualização: 11/10/2023.

Capítulo 1


“Eu me sentia extremamente desconfortável naquele ambiente. As taças de vinho passando por minha visão, as pessoas deslumbrantes e formais conversando umas com as outras, o som de uma ópera ao fundo…”

Sorri ao fazer uma pausa, me remexendo na cadeira ao voltar a rabiscar no papel. Não via a hora de chegar em casa e poder passar a limpo no computador. A ansiedade para escrever era tanta que tive até de ignorar meu professor de palestra, que tagarelava lá na frente sem parar.

“Eu não me encaixava ali. Sabia disso, sabia que não pertencia àquele lugar. Cheio de pessoas tão belas e superiores. Por isso, não pensei duas vezes antes de correr pelo salão, buscando fugir o mais depressa possível. Me sentia perdida, sozinha. Abandonada em meio ao desconhecido.”

Respirei fundo, deixando o lápis descansar por uns segundos antes de continuar.

“Tinha acabado de ultrapassar as grandes portas de entrada, avistando a escadaria como se dependesse de alcançá-las para viver, quando senti algo puxar-me subitamente pelo braço, grudando-me à parede do corredor vazio antes que eu me desse conta de quem se tratava.”

Meu coração já começava a bater mais forte conforme eu escrevia. Era incrível, incrível, a forma como apenas aquele idiota perfeito conseguia me fazer sentir aquelas coisas. Já havia escrito de tudo, sobre diversas pessoas e personagens, mas nenhuma me causava a mesma sensação que Steven quando eu o colocava no papel.

“Arfei, fitando seus olhos .
Era . Bem ali, na minha frente, prensando-me contra a parede para impedir que eu escapasse daquele baile.
— Aonde pensa que vai? — murmurou ele ameaçadoramente, me fitando com uma intensidade excruciante. — Nem me deu a oportunidade de trazê-la para cá. Não queria me ver levando-a ao auge do paraíso, por acaso?
Uma onda de adrenalina e excitação atingiu meu corpo com aquela frase. Eu queria. Queria tanto como jamais quisera algo na vida.
Por mim, Steven poderia me obter bem ali, naquele corredor, que eu não me importaria. Estava total e completamente derretida por ele. Mal sentia meu próprio corpo, de tão mole sobre seu toque. Prensando-me. Prendendo-me a ele.”


Eu estava, finalmente, na melhor parte, quando o som alto e incômodo do sinal explodiu em meus ouvidos. Recostei-me à cadeira em um baque, sentindo o corpo gelar de susto, conforme as pessoas começavam a levantar-se no auditório e caminhar para fora.
Droga. Me distraí completamente.
Bufei ao enfiar o rascunho dentro de meu fichário, levantando-me também. Estava guardando-o na bolsa quando uma voz chamou minha atenção.
— Escrevendo nas aulas de novo? — perguntou Bryce, caminhando até mim com um sorriso bem-humorado.
Joguei a bolsa sobre o ombro, abrindo um sorriso sem-graça. Bryce possuía algumas aulas em comum comigo, e era bom ter uma companhia amigável para conversas rotineiras. Ele ainda tinha aquela imagem de garoto que normalmente deixamos no ensino médio, com o cabelo louro-claro e um sorriso com covinhas. Passando uma imagem ingênua, gentil.
Eu gostava de Bryce. Mesmo que tivesse que admitir que, ultimamente, andava tão focada em escrever que não tinha muito mais tempo para socializar.
Por mais que o projeto total de escrita fosse uma fanfic. Sem futuro nenhum.
— Pois é — eu disse com uma risada fraca, abraçando meu próprio corpo devido ao frio que começava a entrar de fora. — Ando mais concentrada nisso do que deveria.
Bryce pareceu entender o que eu quis dizer, pois olhou na hora para o nosso professor de comunicação; que apagava a lousa na frente do auditório.
— Nem me fale. Com o tédio que as aulas dele andam sendo, nem te culpo por escrever no lugar.
— Isso que nem é um hábito de agora — eu resmunguei, como se repreendesse a mim mesma, antes de observar nosso professor também, sentindo-me meio tensa com a possibilidade de ficar atrasada na matéria. — Sempre tive esse hábito chato de escrever durante as aulas. No colégio principalmente. Era quase impossível não pegar o papel e deixar as ideias fluírem.
Bryce riu de novo, não abandonando a pose amigável ao colocar as mãos nos bolsos de seus jeans.
— Acredite, eu não te julgo. A escola é o melhor lugar pra fazer nossa mente viajar.
Sorri para ele. Sim, eu concordava.
Naquele dia, saí da faculdade com o pensamento de que deveria fazer mais amigos. Bryce, por exemplo, parecia ser uma ótima companhia para bater uns papos. E eu não devia, de todo jeito, ficar tão focada em algo que provavelmente nunca deixaria de ser um hobbie... como escrever.
Bom, mas eu deixaria pra pensar nisso depois. Já que, agora, tudo que precisava fazer era almoçar o mais rápido possível e me enfiar na frente da tela do computador.
Pois eu tinha uma história para escrever.


Capítulo 2

Mordi meu dedo delicadamente, a escuridão do quarto iluminada apenas pela tela do computador.
Estava tarde, e eu sabia que teria aula cedo no dia seguinte, mas o novo vídeo de havia acabado de sair na internet, gravado por uma fã da plateia. E eu amava ver esses vídeos… me sentia como se estivesse realmente lá, como se assistisse a um dos shows dele pessoalmente. Então eu precisava ver, precisava pelo menos um pouco me sentir próxima de .
E aquele, o último que fizera, estava simplesmente incrível.
Eu não me cansava de olhar para ele. tinha os olhos fechados, e segurava o microfone com força e delicadeza nas mãos ao cantar, parecendo entrar em um outro mundo com a música. Sua mandíbula marcada era absolutamente atraente, como se seu rosto todo houvesse sido esculpido. Ele era lindo. E parecia amar o que estava fazendo. Eu enxergava o amor com que ele parecia se entregar àquilo.
Daria tudo pra poder vê-lo pessoalmente. Pra poder ver aqueles lindos olhos em mim, pelo menos por uns poucos segundos. Sentia um frio na barriga só de cogitar a ideia. Era incrível, e ao mesmo tempo horrível, estar apaixonada por alguém assim. Inalcançável.
Entretanto, o que eu sentia por ele era forte demais para ser afetado por essa verdade cruel. De certa forma, as músicas de me deram forças quando eu pensava que tudo estava perdido. Não podia jogar isso fora. E, mesmo que eu fosse uma jovem de anos que ainda passasse pela vergonha de se apaixonar por um cantor famoso, não estava pronta para deixá-lo.
E sentia que, talvez, jamais estivesse.
Por isso, passei a madrugada toda debruçada sobre a escrivaninha do meu quarto, ouvindo aquela voz maravilhosa sussurrar as músicas que ganharam o meu coração.
estava agora numa vibe calma. Suas músicas lembravam as dos anos 80, que tocam até o seu coração. Ele também possuía as animadas, é claro, mas tinha de confessar que sua fase atual estava sendo a minha favorita. Ele arrasava. E parecia passar ainda mais amor, ainda mais ele, com essas de agora.
Ouví-lo cantar era a minha maior inspiração. E eu sabia que, deixando que sua voz rouca e melódica entrasse em minha mente, eu estaria prontíssima para escrever um novo capítulo no dia seguinte.
E eu mal podia esperar por isso.


Acordei com uma mensagem da minha mãe. Ela mandava todos os dias, pois, de acordo com ela, essa era sua forma de se manter perto de mim desde que eu me mudei.
O apartamento era pequeno, o menor possível para uma universitária que não dividia o aluguel. Mas ficava perto do campus, e, já que eu não queria dividir o teto com outras pessoas que atrapalhariam meu sono e provavelmente me irritariam com suas rotinas e modos de organização diferentes, optei pelo cubículo.
Vai sair hoje? — perguntou minha mãe, e eu conseguia enxergar a acusação em sua voz mesmo pelo telefone, enquanto chutava algumas roupas para dentro da cesta e tentava me apressar para a primeira aula do dia. Não começaria tão cedo hoje, mas ainda assim eu conseguia ter a audácia de me atrasar.
— Não sei, mãe — eu respondi, já soltando um suspiro impaciente conforme retornava para o meu quarto e me prostrava em frente ao guarda-roupa. Nesse ponto, sentia falta da escola; usar sempre o mesmo uniforme é muito mais fácil do que ter que escolher uma roupa diferente a cada dia, tomando o cuidado de não repetir muito a ponto das pessoas pensarem que você não troca de roupa. Era bem complicado.
Precisa conhecer pessoas, filha. Sair mais.
Tive que me controlar para não ficar irritada, fechando os olhos por um momento. Ok, ouvir de alguém da sua idade que você precisa sair é uma coisa, agora ouvir da sua própria mãe chega a ser humilhante. E tudo bem que ela queria meu bem, mas eu não morava mais em casa! Ficava chato receber sempre esses mesmos avisos, que faziam eu me sentir a pior e mais sem-graça universitária existente.
E outra, o motivo por eu não ter tantos amigos era claro: eu não me identificava com a galera. Tudo bem que talvez eu passasse tempo demais falando sobre , e que isso fizesse as pessoas me acharem entediante e às vezes até infantil, dizendo que eu babava muito ovo de uma celebridade e que com a minha idade isso já era vergonhoso. Não que eu pudesse discordar tanto, já que minha obsessão por era mesmo meio cansativa, mas eu me recusava a passar tempo com gente assim. Julgando meus gostos como bizarros. Além do mais, nunca foi algo que eu pudesse controlar; nem desfazer a profundidade dos meus sentimentos por ele.
Então, eu me afastava. Era mais fácil assim, sem ficar perto de pessoas que me julgavam e só sabiam falar sobre se drogar em festas universitárias. E é claro que eu podia achar uma cota de pessoas que se interessavam pelas mesmas coisas que eu se procurasse melhor, mas o fato é que eu não estava muito a fim. Não via isso como uma necessidade, embora às vezes me sentisse meio solitária.
— Agradeço o conselho, mãe, mas tenho que desligar. Minha aula começa em dez minutos.
Dez minutos?! — Franzi os lábios pra evitar uma risada quando ela berrou no telefone. — E você ainda não tá pronta, ?!
— Não, e é por isso que preciso desligar. Beijo, te amo!
Apertei rápido o botão de declining, ainda rindo quando joguei meu celular em minha cama e deixei todas as minhas concentrações voltadas para o guarda-roupa.
Estava na hora de mais um dia.


“— Por que veio atrás de mim? — sussurrei, lambendo meus lábios ao sentir o gosto dos seus ainda presente nos meus. Como era bom beijá-lo…
olhou fixamente em meus olhos, de um jeito que deixava-me mole. Ele ficava tão lindo naquele paletó…
— Por que insistes em ser tão insegura, Melli? É óbvio. Porque este lugar não tem graça sem teu corpo junto ao meu.”


Tomei mais um gole do meu café, sentindo um vento leve bater em meu rosto. Estava na área externa da universidade, numa mesa circular em uma área coberta, aproveitando do intervalo para escrever. Havia levado meu notebook hoje, o que facilitava as coisas.
O romance de Melli, minha personagem, e , já estava bem desenvolvido, se passando num futuro utópico onde a monarquia voltara a reinar. era o príncipe disputado, e Mellinda era a plebeia invisível. Mais clichê impossível… mas eu não me importava. A ideia era essa mesmo… passar a fantasia de que um cara rico, gostoso e inatingível pode sim notar uma zé-ninguém.
Qualquer semelhança com a realidade não era nem um pouco uma mera coincidência.
Estava tão distraída ao digitar e imaginar que nem notei quando uma presença surgiu ao meu lado, até que ela colocasse a mão sobre o meu ombro e me fizesse quase pular de susto.
Virei o rosto com a maior cara de despreparada. Era a Sra. Milton, minha professora de roteiro.
E ela sorria para mim.
— Escrevendo, hein?
Assenti conforme tentava recuperar a compostura, voltando o olhar para a tela do computador e pensando seriamente em fechar na cara dela. Torcia mentalmente para que minha professora não estivesse lendo, ainda que não fosse nenhuma cena muito pesada descrita ali. Apenas aquela tensão sexual comum em romances. Porém, ainda assim, era desagradável. Sentia-me como se ela fosse me achar a pessoa mais impura da face da terra.
Que situação.
— Ainda gostaria que você me mostrasse algum rascunho — continuou ela, um tom divertido na voz. — Tem que investir, viu? Um dia quero te ver publicando.
Ela sorriu mais uma vez antes de se afastar, o rabo-de-cavalo louro brilhando pelo sol sob seu corpo cheinho.
As palavras saíram gaguejadas da minha boca antes que eu pudesse impedí-las:
— Ah, eu… eu não vou… publicar, não. — Minha professora virou-se de novo para mim, e eu grudei as mãos na mesa, punindo-me mentalmente no mesmo instante. Não devia ter falado nada, ! Que droga.
Seus olhos claros brilhavam de curiosidade. Eu sabia que minha professora já havia auxiliado vários alunos a publicar livros, o que era até bem comum na área em que eu cursava. Mas aquela história estava fora de cogitação.
— Não vai? Ué, e por que não? — Ela cruzou os braços, me fazendo desejar sair correndo.
— Ah, é que… — Abaixei o olhar de novo, soltando uma risada sem-graça. — Minha história não é bem original. Eu uso… uma pessoa famosa nela.
— Ah, isso? Pois então poste na internet! — exclamou a Sra. Milton, como se eu fosse louca por não ter cogitado a possibilidade. Não que eu não tivesse. — Se o público gostar, você pode levar pra publicação um dia. Conheço alguns alunos que fizeram isso. Quer indicações de sites que aceitam fanfics?
Fiquei chocada por ela conhecer essa expressão. Sabia que minha professora era super por dentro do mundo jovem, mas não pensei que fosse nesse nível.
Como eu não tinha mais o que responder, gaguejei apenas um “sim, claro”, esperando que logo ela esquecesse aquele assunto e acabasse nem mandando. Porém, naquele mesmo dia, quando fui liberada da última aula, já recebi um e-mail da Sra. Milton, com diversos links colados na caixa de texto.
O corpo da mensagem dizia:

“Aqui estão alguns que eu ouvi dizer que são usados. Escolha um de seu interesse e manda ver!”.

Ri de descrença conforme caminhava para fora do campus, passando o dedo pelos links e lendo as sugestões que ela deixou. Hmm… eu conhecia alguns deles. Sabia de fanfics que inclusive ficaram famosas e foram transformadas em livros originais. Nem imaginava como deveria ser a experiência.
Examinei as opções pelo resto do dia, levando a possibilidade a um nível maior. Era divertido escrever para mim, pois tudo o que eu fazia era eliminar minhas fantasias absurdas no papel. Não que eu conseguisse eliminá-las de fato. No entanto, eu tinha que confessar que às vezes dava vontade de mostrar para alguém, mesmo com a vergonha gigantesca que eu sentia. De saber o que as pessoas pensariam. Se iriam gostar. Se achariam uma história legal.
Era um sentimento inevitável, afinal. Não podemos controlar essas coisas.
Além do mais, eu postaria apenas na internet. As pessoas não precisariam saber quem era eu. Seria um desabafo, uma oportunidade de ganhar feedback’s. Apenas isso.
Quando cheguei em casa, a ideia tinha me deixado muito mais animada do que o indicado. Usei o computador para fazer as tarefas de casa e depois depositei todo o resto do meu tempo em pesquisas. Por fim, escolhi publicar no Wattpad, já que ele tinha um público grande. Poderia dar certo.
A plataforma era fácil de usar, então tudo o que tive que fazer foi passar meus capítulos para o aplicativo e escolher uma boa capa. Naquela noite, quando decidi que estava tudo do jeito que eu queria, ajeitei os últimos detalhes do primeiro capítulo e apertei em publicar.
Fui dormir ansiosa naquela noite. Certa de que, a partir daquele instante, minha história mais pessoal e intensa estaria disponível para o mundo.


Capítulo 3

Acordei às onze horas da manhã naquele sábado.
Estava ansiosa para conferir as coisas no aplicativo, certa de que alguma movimentação (que poderia me animar ou me fazer me arrepender) já estaria garantida lá.
Iria para a minha antiga cidade naquele dia, visitar meus pais. Porém, antes disso, garanti que agarrasse meu celular da mesinha da cabeceira e abrisse o aplicativo imediatamente.
Fiquei observando-o por um tempo, ansiosa. Meu sorriso era enorme. Sorriso este que, aos poucos, foi sumindo. Observei minha história com decepção. Marcava 3 visualizações. Três. Só isso.
Inacreditável.
Acabei contrariada pelo resto do dia. Mas, por sorte, isso não me deixou desanimada para escrever. Não, pelo contrário; minha história fazia parte de mim. , por mais que eu não me orgulhasse disso, fazia parte de mim. Não estava pronta para abrir mão dele, e, consequentemente, da história.
Por isso, decidi continuar escrevendo, por mais que estivesse com uma leve raivinha da Sra. Milton. Deveria haver algum truque naquele aplicativo…. ou eu simplesmente não havia chamado a atenção.
No final daquele dia, depois de comer mais do que meu estômago poderia aguentar na casa da minha mãe e dar uma volta com ela no shopping, voltei para meu apartamento, dando outra conferida básica no aplicativo. Nada. Minha história, que eu havia nomeado oficialmente de Biggest Fan para publicar, continuava com três visualizações.
Três.
Bacana.
Peguei no sono na sala de estar, desmaiada sobre o sofá após comer um pote de pipoca e assistir a um filme meloso. Fiquei pensando tanto na história que tive até um sonho confuso com , onde eu estava dentro do meu universo literário, sentindo-o me beijar e sorrir. Acordei meio zonza, e passei todo o domingo com o estômago cheio de borboletas.
Devido a isso, fiquei irritada, contrariada e me sentindo sozinha. Então, juntando forças e indo completamente contra a minha vontade, coloquei um vestidinho preto de verão e saí para um barzinho naquela noite. Precisava me distrair, ver um pouco de gente.
Às vezes, desejava incontrolavelmente ser mais sociável. Mas a minha única habilidade parecia ser mesmo a escrita.
Bom, que se dane. Estava tão deprimida e entediada que me camuflaria com os móveis se continuasse ali.
O bar era perto do meu prédio, então em uns cinco minutos eu cheguei ao local. Conferi a hora em meu celular e caminhei desconfortável até um banco. Uma música legal tocava ao fundo, som de copos de vidro batendo ecoavam pelo ar e algumas pessoas conversavam baixinho. Havia um rapaz louro ao meu lado, bebericando de um drink e parecendo meio desconfortável ao olhar ao redor. Eu podia estar julgando precipitadamente, mas ele me passava a impressão de ser gay. Minha percepção costumava ser muito boa.
Apoiei meus antebraços no balcão, respirando fundo e esperando que o barman se aproximasse. Quando ele finalmente veio, gaguejei ao pedir por um rum, que era a bebida mais suave que eu conhecia. O barman assentiu antes de se afastar de novo, abrindo um sorrisinho para mim que me fez abaixar a cabeça de vergonha conforme esperava.
O que devia ser uns cinco minutos depois, me virei de novo para o garoto louro, sentindo que eu seria patética se viesse aqui e não tentasse socializar; e ele me parecia ser alguém mais parecido comigo do que a galera mais extrovertida que estava dançando ali perto.
— Gostando do bar? — eu indaguei, abrindo um sorrisinho de quem já sabia a resposta.
Ele olhou para mim, meio assustado de início por eu ter falado com ele, e depois riu sem-graça ao ouvir minha pergunta.
— Ah, é. Minha amiga me arrastou pra cá. Ela tá dançando ali agora. — Ele se virou para o outro lado ao apontar com a cabeça, e me inclinei um pouco também para olhar naquela direção. Uma garota morena estava dançando perto do palco de karaokê, rindo e com as mãos para o alto.
Fiz uma cara admirada.
— Uau. Ela é bonita.
— Pois é. E mais extrovertida do que eu jamais vou ser.
Nós rimos juntos, compartilhando do nosso desastre social. Pouco tempo depois, descobri que seu nome era Peter, e que ele se mudara para cá no início do ano quando descobriu que ganhara uma bolsa na Universidade da Califórnia aqui em Los Angeles (a mesma que eu, por sorte. Gostei de saber que tinha mais um amigo no campus agora. E também confesso que vim nesse bar propositalmente, já que soube que a galera da UCLA vinha bastante pra cá). Conversamos bastante, e ele revelou que estava tentando se distrair de uma decepção amorosa que teve com um carinha naquela semana. Tentei consolá-lo, dizendo que ele pelo menos vivia, diferente de mim, que tudo o que fazia era fantasiar um romance com uma pessoa famosa que nem sequer me conhecia. Ele riu, perguntando o nome do bendito, e assim acabamos conversando sobre .
— Ele tá aqui em Los Angeles, aliás, sabia? — comentou Peter, com sua vozinha fofa de quem ainda tinha vestígios da adolescência.
Eu confirmei empolgadamente com a cabeça, tomando mais um gole do rum.
— Pois é, ouvi falar um pouco disso. Ele tá morando aqui, né? Por mais que não tenham revelado nada sobre a localização. Infelizmente.
Revirei os olhos de forma exagerada, como se insinuasse que acamparia na casa dele caso soubesse. Não que não fosse uma boa ideia.
Peter riu de novo, e passamos mais um tempo falando sobre a estranha atração que causava em nós, meros mortais. Demorou um tempo até que sua amiga chegasse, meio tonta pela bebida, e nos acompanhasse a pé para irmos embora. Já eram em torno de uma da manhã quando finalmente cheguei em casa, com o contato de Peter e de (a amiga dele) salvos no meu celular.
Fui dormir até com uma sensação boa no peito, triunfante por ter feito amigos. Quase liguei para a minha mãe de madrugada, apenas para poder gritar para ela: “viu? Eu não sou um desastre social!”.
No dia seguinte, acordei com um aviso sobre no meu celular; pois eu deixava ativada as notificações de seu portal de notícias, para saber de tudo sobre ele.

NAMORANDO?”


Só de ler o título, meu estômago se embrulhou de um jeito puramente desconfortável. Caminhei até o sofá com uma xícara de café na mão, querendo me torturar bastante enquanto esperava me atrasar para a aula.

“Neste domingo, foi flagrado saindo de uma balada bem conhecida em LA, acompanhado de Emma Rubens, uma modelo italiana. Eles riam de alguma coisa e seguiam juntos para o carro. Será que o namoro do século vem aí?”


Deslizei a tela para ver a foto dos dois. estava lindo, uma verdade cruel e constante: usava um terno e óculos escuros, com um sorriso grande nos lábios ao passar pelas portas. Parecia ter sido fotografado no meio de uma conversa engraçada com a tal modelo, uma ruiva alta e de pernas bonitas, que também sorria um pouco ao falar; seguindo-o com um vestido preto chique colado no corpo.
Mesmo que eu me sentisse patética, fiquei triste de ver a notícia. Desejei até parar de acompanhar aqueles portais por um tempo, pra poder me iludir com a versão imaginária de em paz. Eu tinha ficado tão, mas tão feliz quando soube que ele estava possivelmente morando aqui em LA… como se de alguma forma nós tivéssemos uma conexão por isso, como se compartilhássemos de algo simplesmente por respirarmos o mesmo ar. Já havia me cansado das vezes em que me iludi fantasiando esbarrar com ele por aí… mas a vida não é um filme, e eu jamais seria o tipo de pessoa que poderia frequentar os eventos luxuosos e privados que ele frequentava.
Mas, ainda assim, uma parte de mim se sentia feliz por essa dádiva, por saber que, além de morar na cidade que poderia concretizar meus sonhos de me formar em cinema, ainda tinha morando próximo a mim. E solteiro, pelo que eu sabia.
Pelo menos até ontem.
Soltei um bufo alto e frustrado, lendo os comentários do novo boato. Alguns, assim como eu, estavam com ciúme. Outros estavam animados com a ideia de ele estar namorando.
Eu era mesmo patética. Me importando com alguém quando não seria nada para ele além de uma dessas pessoas: que só servem pra falar sobre o ídolo na internet e aumentar sua popularidade. Mas nada além disso. Nunca. Jamais. E eu perdia o meu tempo fazendo o quê? Escrevendo uma fanfic idiota sobre a minha paixão em vez de fazer algo útil da vida.
Maravilha.
Fui pra faculdade estressada naquele dia. Saí de casa batendo os pés, pensando no sorriso branco perfeito de e em sua mandíbula marcada atraente. E também na ruiva que o acompanhava e me mostrava o que eu era e sempre seria para ele: um grande e redondo nada.


Capítulo 4

A coisa aconteceu pouco tempo depois.
Eu estava tendo aula sobre montagem e edição, distraída, quando a tela do meu celular se acendeu. Me estiquei sobre a mesa para ler a notificação estranha que subira ali.
Srta.Hill3 votou em Biggest Fan.
Srta.Hill3 comentou em Biggest Fan.

Não pude disfarçar minha surpresa. Um sentimento bom me invadiu ao ler aquilo, tão bom que não quis nem abrir o tal comentário, com medo de ler. Era uma sensação nova, que eu nunca tinha experimentado antes; mas era boa. Me deixou feliz, animada. Com vontade de escrever. Mesmo que fosse uma única pessoa que houvesse notado minha história. Já era alguma coisa, certo?
Fiquei enrolando para abrir a notificação pelo resto da aula, animada, balançando minha perna sob a carteira e imaginando o que ela teria comentado. Queria preservar aquela notificação o máximo possível, pois não sabia se algum dia receberia outra. Queria manter aquele momento comigo o quanto pudesse; congelando o instante em que ocorrera enquanto fosse capaz.
Por fim, quando fui liberada da aula, não aguentei mais de ansiedade e abri a notificação. O perfil parecia ser de um fã-clube do , já que a foto era dele. Li o comentário umas três vezes até processar.
“Uau! Mal comecei e já adorei sua escrita. É raro encontrar histórias nesse contexto sobre o . Arrasou! Quero mais capítulos agora!!!!”
Fiquei andando pelos corredores com um sorriso bobo no rosto. Poxa, ela havia gostado! Me senti melhor na hora, e até esqueci do desânimo anterior. Pelo menos uma pessoa estava lendo. Já era o suficiente pra mim.
Demorei o resto do dia para encontrar as palavras certas pra respondê-la. No fim, acabei agradecendo e dizendo que iria sim continuar. Pouco tempo depois, ela me seguiu naquele aplicativo. Fiquei ainda mais feliz.
Acabei não vendo Peter ou nessa segunda-feira. Apenas topei com Bryce perto dos bancos externos, e passamos um tempinho conversando sobre a aula extra que fazíamos juntos. Ele contou que estava namorando, e fiquei feliz por ele, mas também com um pouco de invejinha. Era difícil ser um desastre social sabendo que demoraria trezentos anos para encontrar alguém. Não que eu quisesse alguém… estava, de toda forma, ocupada demais pensando numa tal celebridade para isso.
Quando voltei pra casa, dividi meu tempo entre estudar e escrever. A segunda parte, aliás, foi o ponto alto das tarefas. Bastou que eu ligasse o computador e começasse a digitar para que todas as borboletas voltassem a perambular pelo meu estômago. Era até engraçado; o que me fazia pensar se eu gostava mesmo da história ou se escrevia apenas para que os efeitos que causava em mim aparecessem.
Minha personagem era sortuda. Bem sortuda. Mas, se sequer uma pessoa lesse e gostasse de Biggest Fan, me dando os meus primeiros feedbacks, então eu também poderia me considerar uma garota de sorte.


“— ? O que está fazendo aqui?
Eu estava espantada com sua presença. Espantada e admirada. Contente. Borbulhando de felicidade.
Ele havia vindo atrás de mim. O príncipe mais desejado do ano de 2080 viera atrás de mim. Uma plebeia. Uma ninguém. Um nada.
Mas me enxergava. Ele não pensava como eu. E ele estava, naquele momento, vestindo um terno perfeito e sorrindo, parado na porta da minha casa.
— Sentiu saudades, Melli?
Sua voz era divertida. Sapeca. Seus dentes brancos brilhavam com seu sorriso.
E em poucos segundos depois eu estava debruçada sobre seu pescoço. Sentindo seu cheiro. Beijando seu rosto. Sentindo suas mãos em minha cintura.
Uau. Eu o amava. Eu realmente o amava. O mundo parecia não existir. Só eu e ele. Ele. O queridinho de toda a população. O queridinho de toda a população apaixonado por mim. Atrás de mim. Querendo a mim.
A sorte havia mesmo chegado ao meu lado.”

Sorri com triunfo e alívio ao terminar aquele trecho. Me recostei na cadeira, esticando os braços num espreguiço. Estava na biblioteca, e uma semana havia se passado. Nesse meio tempo, recebi mais três comentários. Dois deles eram um simples “continua”, que me deixara contente e frustrada ao mesmo tempo. Custava falar mais alguma coisa? Dar um feedback? Dizer ao menos que estava ansiosa por mais?
O terceiro comentário, porém, foi extremamente fofo. Era sobre uma garota que conhecera há pouco tempo e se apaixonara por ele, então me disse que eu já poderia considerá-la fã número um da minha história. Senti um misto de ciúme e alegria por saber que eu estava tendo uma fã novata de me lendo. Deveria receber alguma recompensa dos assessores de pelo trabalho de graça.
Porém, depois daquelas mensagens fofas, voltei para o período desanimado e triste da falta de feedbacks. As semanas se passavam, mas ninguém novo chegava, e os que já haviam comentado apareciam poucas vezes para dizer alguma coisa. De vez em quando eu recebia a notificação de que alguém favoritou, mas nada além disso. Cheguei a surfar pelo aplicativo e ler outras histórias, me impressionando com a quantidade de leituras que os outros possuíam. E algumas tinham erros de gramática terríveis na narrativa. Não que eu também não errasse, mas era num nível tão absurdo que às vezes eu até desejava me oferecer pra fazer uma revisãozinha de graça. Só pra que o meu toc deixasse de me incomodar.
Apesar disso, tentei deixar essas preocupações de lado e fazer o que eu amava fazer, que era escrever. Por mim, por . Se alguém lesse, ótimo. Se não lesse, eu não deveria deixar que isso me afetasse também.
E foi assim que eu continuei, mergulhando de cabeça no universo que me tornava próxima dele com o pouco que eu conseguia. O tempo foi passando, e algumas leitoras vieram. Poucas, mas vieram. Apesar disso, qualquer coisa já era o suficiente para me deixar feliz. Qualquer voto, qualquer comentário, qualquer novo seguidor. Mesmo que fossem poucos, já tornavam o meu dia mais feliz. Já me mostravam que publicar não havia sido totalmente em vão. Por isso, eu tentava não me comparar com as outras histórias, não duvidar da minha capacidade. Tentava focar em meu objetivo e permanecer confiante. De ser agradecida por cada mínima conquista.
E deu certo. É claro que haviam dias em que eu ficava meio desanimada, principalmente quando pensava no fato de ainda ser totalmente focada em uma pessoa inalcançável. De vez em quando, tornava-se até cansativo conviver comigo mesma, ouvindo meus constantes devaneios sobre aquele que não me conhecia. Mas sentir algo grande por alguém deve ser assim mesmo, não é? Algo intenso, profundo, que te faz entregar-se completamente ao sentimento e agir de forma que você jamais agiria normalmente. É algo exagerado, que te consome de corpo e alma. Algo que te mostra que você não sabia absolutamente nada sobre esse sentimento antes. Que toda e qualquer coisa que você já tenha sentido se torna fraca e insignificante em comparação.
Mesmo que, de certa forma, eu soubesse que fosse um sentimento único. Não recíproco. Tudo bem, ele podia amar as fãs, mas era algo geral, um agradecimento à admiração delas. Era diferente de nós, que conhecíamos a ele especificamente, por mais que nossos recursos fossem meio limitados; já que não incluía um conhecimento tão profundo assim… apenas o que a mídia nos oferecia. E, se apenas assim já fui capaz de admirá-lo tanto, quem dirá se pudesse conhecê-lo mais profundamente? Eu explodiria de tanto sentimento.
Entretanto, eu sabia que essas seriam questões que estariam sempre comigo. Talvez uma hora eu conseguisse superar ou reduzir o sentimento a apenas uma admiração, depois que concluísse Biggest Fan e seguisse em frente. Só que agora eu não estava pronta, e, ainda que pensasse em fazer isso um dia para não sofrer, sentia que sofreria ainda mais caso tentasse diminuí-lo da minha vida.
Pois é, eu era mesmo uma garota sortuda. Tão sortuda que às vezes me perguntava se a vida gostava de complicar as coisas pro meu lado. Pelo menos eu usava isso pra algo útil, por mais que a tal coisa útil fosse escrever uma fanfic. Mas acho que já era alguma coisa. Melhor do que nada, não?
Por agora, eu precisava de . Saber que ele existia e morava perto de mim já era, decerto, um consolo. Um estranho e mísero consolo, mas, ainda assim, um consolo.
E eu tinha que me contentar com isso.
Conforme as semanas foram passando, pessoas novas foram descobrindo minha história. Era um processo lento, inconstante e sem garantias, mas, quanto mais as pessoas chegavam, mais outras pareciam ser atraídas. O começo foi o período mais longo. Dois meses sem quase nenhum retorno, em que eu atualizava os capítulos e simplesmente os deixava lá. Sabia que deveria investir em divulgação, mas nem sempre tinha ânimo para tal, então, na maioria das vezes, apenas esperava que as pessoas me encontrassem. Não dava muito certo.
Entretanto, quando Biggest Fan atingiu a marca de mil visualizações, as coisas começaram a sair do lugar. Às vezes, balões empolgantes de notificação chegavam. De vez em quando eu recebia alguns comentários. Certo dia, cheguei a ganhar cinco votos de uma só vez quando havia atualizado a história. Em cerca de segundos. Me senti muito diferente ao ver que correram ler logo que eu postei. Foi empolgante.
O crescimento leve e devagar de Biggest Fan começava a me empolgar. Eu inclusive não pensava em contar para a Sra. Milton que realmente havia publicado, com medo dela ler e me achar uma tonta pervertida. Entretanto, quando as visualizações começaram a aumentar de maneira absurdamente rápida, acabei tendo um surto de animação e contei.
A Sra. Milton quase gritou de empolgação. Me deu longos relatos sobre fanfics que se tornaram filmes e conversou comigo por horas. Eu nem liguei. Estava feliz, sentindo algo bom no peito por saber que agora haviam pessoas lendo o que antes fora apenas um rascunho fantasioso. Aos poucos comecei a gravar as reações dos leitores que surgiam, que costumavam ser muito parecidas em determinadas situações. Quando chegava uma notificação, principalmente do início, eu conseguia saber exatamente em que parte aquela pessoa estava. As reações deles não mudavam muito.
Mas, não deixavam de ser boas. A cada interação, a cada pessoa que eu descobria que estava lendo, uma parte de mim parecia se acender. Brilhar. Era uma sensação incrivelmente boa. Então continuei escrevendo, mais e mais. Cada vez mais. E pensando se aquele seria o meu limite ou se a história continuaria crescendo. A ideia me animava, mas eu não queria criar muitas expectativas. Então deixava rolar, agradecendo por aqueles que já haviam chegado.
Fiquei até impressionada com a quantidade de fãs de que existiam, mesmo que eu soubesse que ele sempre possuíra milhares. Era engraçado ver tantos deles juntos num lugar só. Chegando na minha história. Conhecendo-a.
Foi um período curioso, porque eu não sabia o que aconteceria. Não sabia se aquele seria o começo de algo maior ou apenas uma sensação passageira, para que no futuro eu me lembrasse que um dia consegui ter vários leitores em uma história minha. Não sabia como as coisas seriam. Eu só tinha uma única certeza: que amava escrever, principalmente se fosse sobre ele.
Então continuei. E os leitores também continuaram vindo.
Até o dia em que, quase um ano depois, atingi a marca de quinhentas visualizações. Mas não apenas quinhentas. Quinhentas mil.
E foi a partir daí que tudo começou a mudar.


Capítulo 5

— Espera, então você é famosa e nem me contou?
Peter parecia chocado com o que eu acabei de revelar.
Revirei os olhos, por mais que estivesse com um sorriso enorme no rosto. Eu não podia evitar; juntar e a escrita, que eram duas coisas que eu adorava, era algo que me deixava feliz demais. Não fazia ideia de como tivera coragem de contar isso a ele, mas, quando estava debruçada sobre uma mesa externa hoje mais cedo, Peter se aproximou de mim e viu os comentários que eu lia. Então, contei tudo a ele. E me senti vibrante por poder compartilhar isso com alguém.
A história crescia cada vez mais, e quanto mais visualizações surgiam, mais as pessoas pareciam se atrair para ela.
Havia algumas semanas que eu atingira um milhão de visualizações.
— Caraca, tá gato demais nessa fanfic — comentou Peter, concentrado enquanto lia Biggest Fan pelo seu celular, sentado em minha frente. Fiquei sorridente e ansiosa enquanto tentava decifrar suas expressões. — Tô ficando atraído só pelos diálogos dele.
Dei risada, enxergando isso como um elogio.
— Pois é. É incrível a capacidade que uma pessoa tem de ser atraente até numa história…
— Atraente não, , pode admitir — murmurou ele, balançando a cabeça, com os olhos vidrados na telinha. — É gostoso, mesmo.
Dessa vez, ri ainda mais alto.
— Melli tem sorte, não? — eu brinquei, recostando-me na cadeira, e referindo-se à minha prestigiosa personagem. — Fazendo com o que todos nós gostaríamos.
Peter assentiu.
— Com certeza. Fico até imaginando qual seria a reação dele lendo. — Meu amigo abriu um sorriso pensativo e malicioso, o que me fez pensar no quanto a carinha de anjo de Peter enganava. Ele era como eu; introvertido por fora, mas nem um pouco santo por dentro….
— Com a quantidade de fanfics dele existentes, com certeza já leu alguma — eu refleti. — E com certeza passa bem longe delas agora.
Peter gargalhou, e eu o acompanhei. Tadinhos dos artistas. Tinha de confessar que uma parte de mim sentia-se mal por fazê-los conhecer histórias tão constrangedoras sobre si mesmos. Mas, por outro lado, devia ser legal ser o protagonista de trilhões de fanfics, não é? Eu gostaria, se estivesse no lugar deles. Passaria o dia lendo e me divertindo com o que fizesse em cada uma delas.
— Mas e aí, pretende transformar a fanfic em um original? — perguntou Peter de repente.
Demorei para responder, ficando subitamente pensativa. Eu queria transformar Biggest Fan em um livro? Não conseguia imaginar tendo outro nome que não fosse o dele. Aquele personagem era ele todinho, mesmo que eu não o conhecesse tão profundamente assim. Comecei a escrever minha história por causa de . Ele era o motivo de tudo.
— Sinceramente, eu não sei — respondi por fim, dando de ombros. — Caso eu tivesse a oportunidade… talvez. Mas por enquanto eu só quero colocar minhas fantasias no papel.
— Então é isso o que é pra você? — disse Peter dramaticamente, fazendo uma falsa expressão de surpresa, conforme levava a mão ao peito. — Apenas uma fantasia?
Revirei os olhos, embora não conseguisse evitar a risada. Eu amava quando Peter se soltava assim comigo. Sabia melhor do que ninguém o quão ruim era ter que se privar por medo das opiniões dos outros. Ele era um cara incrível, e eu tinha certeza que um dia encontraria alguém incrível também. Alguém que talvez pudesse ser Bryce… se eu obtivesse uma certeza sobre sua sexualidade e não ficasse com medo de bancar a cupido.
— Claro que não. é tudo pra mim. Mas não nego que a parte da fantasia também é bem divertida... — concluí num murmúrio, abrindo um sorrisinho.
— Hmm… então dona será uma daquelas escritoras promíscuas com cenas explícitas? — provocou Peter, sorrindo divertidamente para mim. Dei risada, embora sentisse meu rosto começar a esquentar. Maravilha… entrei na brincadeira e não aguentei o tranco.
— Ei, nada definido! — exclamei rapidamente, levantando as mãos para o alto por um momento. — Alguns leitores pedem, mas não sei. Penso que seria falta de respeito com a imagem do … mesmo que a fanfic seja uma versão fictícia dele. Parece… errado.
— Ah, mas também não é como se fosse se incomodar — argumentou Peter. — Você mesma disse que ele nem deve ler as fanfics que fazem dele. Além do mais, você alteraria os nomes se publicasse. A imagem do não estaria sendo queimada.
Assenti, refletindo intensamente sobre o assunto. Parecia que ele tinha razão… então, de repente, voltei a encarar Peter, semi-cerrando os olhos para ele quando saquei sua jogada.
— Você só tá me falando isso porque quer ler um hot do , não é, senhor Peter?
— Eu? Nunca! Jamais. — Ele fez uma expressão tão forçada ao fechar os olhos e balançar a cabeça que caí na risada.
Na semana seguinte, depois de Peter ter contado meu segredo à e ela ter enchido o meu saco até que mostrasse a história a ela, estávamos sentados no mesmíssimo lugar quando chegou. Ela utilizava botas de cano alto e estava com mechas cor-de-rosa no cabelo. Havia pintado na semana passada, e achei que combinou demais com suas madeixas escuras. era uma garota super segura consigo mesma. Às vezes eu desejava ser mais como ela, e tinha de confessar que ficara super feliz quando acabara me aproximando dela e de Peter. Eles eram legais, e era bom não ser mais uma pessoa tão sozinha assim. Nunca tivera muita facilidade em me enturmar com os outros… isso desde a escola.
— E aí, como vai a nossa escritora? — falou , colocando uma mão em meu ombro e a outra no de Peter. — Escrevendo muito?
— Com certeza — respondi baixinho, sorrindo ao me lembrar dos comentários deixados no último capítulo. As leitoras já ansiavam por mais, o que me deixava vibrante de alegria. Era divertido ter alguém com quem compartilhar a solitária atração que eu sentia por , já que todas estávamos na mesma situação. Era bom saber que eu não estava sozinha nessa, e que existiam pessoas compartilhando das minhas fantasias com o .
— Aliás, queria saber se você se importaria caso eu mandasse um rascunho para as editoras que eu conheço — continuou , puxando uma cadeira e sentando-se em nosso meio. Olhei surpresa para Peter, que sorria de modo cúmplice.
— Espera, rascunho de Biggest Fan? — Eu devia estar parecendo absurdamente espantada, porque revirou os olhos diante da minha reação, seus dentes brancos destacando-se da pele escura.
— Claro, né, boba. Do que mais seria? — Ela roubou um alcaçuz do pacote de doces que Peter deixara ali na mesa, apoiando os antebraços na mesa desinibidamente. — Conheço umas que amariam te dar uma chance de publicar. E você já tá quase concluindo a história, não tá?
— Tô, mas… é só uma fanfic. Eu não planejava transformar em algo sério. — Ué, , mas Biggest Fan se passa num futuro utópico, não é? — intrometeu-se Peter. — Se alterasse o nome do , deixaria na hora de ser uma fanfic. Por que não tentar?
Abri a boca para responder, mas acabei não encontrando um bom argumento para rebatê-los. Então apenas mexi os ombros, olhando para os pinheiros distantes enquanto pensava numa resposta. A verdade é que eu tinha medo. Postar numa plataforma grátis, cheia de fanfics e histórias amadoras, era uma coisa, agora publicar numa editora? Tornava-se algo muito mais sério. Muito mais real. E se eu fracassasse, não sabia se teria psicológico para lidar com isso.
— Não sei. Tenho medo de dar errado. Não acho que lidaria muito bem com o fracasso.
— Vai por mim, escrevendo bem desse jeito, a última coisa com que você vai ter que se preocupar é em fracassar — disse seriamente, conforme mastigava. — Duvido muito que não dê em sucesso.
— Não sei — eu murmurei por fim, soltando um suspiro e mordendo o lábio. Então lancei um olhar de esguelha para o pacote de alcaçuz de Peter, arrastei meu braço até lá e peguei um, dando uma bocada de leve enquanto pensava, cabisbaixa e reflexiva.
Prometi à que pensaria sobre o assunto, embora tivesse guardado a promessa no fundo da minha gaveta de responsabilidades. A ideia me assustava, porque era algo do qual eu não tinha controle. Estava vulnerável às circunstâncias, e saber que não tinha como prevê-las ou impedí-las me amedrontava absurdamente.
Quem sabe um dia eu tivesse coragem.
E quem sabe um dia acabasse, sem querer, sendo o responsável por algum ato corajoso meu…
Já que, querendo ou não, ele fora o responsável por eu ter publicado alguma coisa minha. Ele e a Sra. Milton, é claro.
Talvez eu devesse mesmo parar de pensar demais e me arriscar à coisas grandes. Já que, da última vez que tivera coragem para tal, acabei postando a história que deixara meu ano mais feliz.
Então qual o problema se, talvez, eu tentasse de novo? Se me arriscasse mais uma vez? Se parasse de pensar tanto e de temer tanto?
Olhei para e Peter mais uma vez, sentindo um embrulho nervoso no estômago pelo que eu estava prestes a dizer.
— Tá, tudo bem — falei num zunido, preocupada e tensa; fazendo com que meus dois novos amigos abrissem sorrisos espertinhos para mim. — Vou te mandar alguns rascunhos.


Capítulo 6

Olá. Estamos falando com , certo? Somos da editora Spring, lemos o rascunho enviado pela sua agente e temos bastante interesse em saber mais sobre a obra Biggest Fan. Teria curiosidade em compartilhar conosco? Adoraríamos tê-la em nossa editora. Aguardamos um retorno!

Mesmo que três semanas houvessem se passado, eu ainda dava risada do fato de ter se passado por agente quando enviara meu rascunho para dezenas de editoras. Imagine meu assombro quando soube que ela não estava mandando apenas para algumas, e sim para toda a região de Los Angeles.
Fiquei três dias sem dormir quando recebi a tal mensagem. E até agora não queria acreditar que era real. Peter passou séculos repetindo o fato da Spring ter contatos com produtores de filmes para mim, como se de fato existisse a possibilidade de Biggest Fan se transformar em um. Meu coração ainda se acelerava toda vez que relia a mensagem da editora. Era totalmente inacreditável.
E agora, aqui estava eu, tomando uma xícara de chocolate quente em plena madrugada, com o notebook sobre o colo, enquanto revisava Biggest Fan e alterava os nomes, além de todos os outros detalhes que fossem necessários para desvincular a imagem de da história.
Tinha de confessar que uma parte minha sentia-se triste por isso, então não era atoa que havia deixado um documento salvo com os nomes originais, para ainda poder reler e imaginar meu .
Decidira chamar ele de Brandon , porque Brandon significa príncipe, e é o que praticamente era na fanfic. Mantive o sobrenome original, para manter um pedacinho seu ainda presente. A protagonista permaneceria se chamando Melli — Mellinda, com o nome completo, e que, na minha opinião, também era um nome digno de uma princesa.
A revisão estava sendo tranquila, e a ansiedade de não saber como as coisas seriam ainda me perturbava. Não fazia ideia de qual capa Biggest Fan teria, de como seria segurar o livro nas mãos, se obteria algumas vendas ou se acabaria passando pela humilhação de decepcionar a editora. Não fazia a menor ideia do que viria pela frente. Então apenas escrevia, fazendo o que era necessário, e garantindo que concluiria a fanfic antes do projeto de publicação com a Spring começar.
Meus leitores já sabiam que estávamos na reta final, e eles poderiam ler o destino que eu daria para os personagens antes mesmo de Biggest Fan tornar-se um livro físico e original. Achava que eles mereciam isso por terem dado uma chance à fanfic.
Então, eu revisei. Passei semanas mergulhada naquilo, concentrada em cada mínimo detalhezinho da história. Por algum motivo, o horário em que eu mais conseguia agir era na madrugada. Parecia ser mais fácil de se concentrar quando o mundo estava dormindo. Não que LA fosse lá muito tranquila de madrugada…
E foi assim que, uns dois meses depois, recebi a mensagem de aviso da Spring: Biggest Fan se tornaria um livro.
A essa altura eu já havia concluído a história no Wattpad, e meu surto era tanto que tive que criar um capítulo especial apenas para avisar isso aos meus leitores. Foi divertido surtar junto deles. Os comentários de apoio eram tantos que confortavam meu coração ansioso. Éramos milhares de fãs do que foram unidas por um motivo em comum. Eu era incrivelmente grata por aquelas garotas. Sem elas e sem , provavelmente nada disso estaria acontecendo. Engraçado como eu podia ser tão grata a alguém que nem sabia da minha existência.
E eu tinha de confessar que, por mais que estivesse feliz, animada e ansiosa com a ideia de ter Biggest Fan tornando-se um livro de verdade, uma parte minha lamuriava-se pela pessoa principal que fizera tudo isso acontecer nem saber que Biggest Fan existia. Eu não me cansava de pensar nisso. Ele era tudo pra mim, mas eu era apenas um rótulo para ele. .
E eu tinha que crescer agora. Aproveitar a chance de me tornar uma escritora (mesmo que talvez uma escritora fracassada) e focar naquilo que era real na minha vida.
, por mais que eu o amasse, seria forçado a deixar de ser a minha prioridade agora.
Pois Biggest Fan estava prestes a se tornar um livro.


Capítulo 7

DOIS MESES DEPOIS

, é fantástico — disse a Srta. Turner, sorrindo e balançando a cabeça ao digitar no computador; parecendo abismada ao encarar a tela.
Eu não era capaz de controlar meu sorriso.
Desde que conheci Alexis Turner, minha vida mudou. Ela se tornara minha agente oficial (ainda que empenhasse um papel grande como uma, já que vivia dizendo que seria sempre a minha primeira), me ajudando com tudo o que fosse necessário na Spring e, é claro, com tudo o que se seguiu quando Biggest Fan fora lançado.
Já que, desde que as vendas começaram, eu via algo inacreditável acontecer, e que aumentava cada dia mais.
Porque, no fim, não foram apenas as fãs do que gostaram da história. Mas muito mais.
— Impressionante — continuou Alexis, os olhos brilhando. — , é praticamente um best-seller. Provável de estar nas principais livrarias mês que vem.
— Mesmo? — Mordi o lábio de ansiedade, sorrindo nervosamente. — Tem certeza disso?
Ela assentiu, concentrada, conforme digitava alguma coisa.
— Certeza absoluta. Elas amaram seu livro, garota. É o sucesso do ano.
Nessa hora, eu poderia ter dado pulinhos bem na frente da minha agente. A adrenalina dentro de mim era inacreditável. Biggest Fan dera certo! Não era um fracasso! No fim, eu estava errada! Totalmente errada! Eu agora tinha um livro publicado.
— Inclusive, tem muitas pessoas comentando sobre o — continuou a Srta. Turner, olhando de esguelha para mim. — Você viu isso?
Assenti de imediato.
— Vi sim. Ele até entrou nos trends do Twitter esses dias por causa disso. Não pensei que as pessoas fossem continuar ligando a imagem dele à história, pensava até que iam esquecer.
Alexis balançou a cabeça novamente, dessa vez junto de uma risada de escárnio.
— Com certeza não. Tem se tornado bem comum fanfics famosas virarem livros hoje em dia. E, já que da última vez a autora foi até bloqueada no Twitter pelo famoso de inspiração, a galera continua batendo nessa tecla. Querem alguma polêmica. Não vão parar até que fale alguma coisa.
A ideia fazia meu corpo se esquentar, e não era de um jeito bom. E se eu acabasse bloqueada também? Conhecia bem o suficiente do pra saber que talvez ele não achasse isso lá as mil maravilhas.
— Mas… não tem nenhuma chance de ele ver isso, né? — eu soltei, meio aflita ao me remexer na cadeira. — Ou de falar alguma coisa?
Alexis olhou para mim de novo, arqueando a testa exageradamente.
— Ué, pensei que ele fosse seu ídolo. Qual seria o problema se falasse?
— Ah, é que… — Gaguejei com as palavras, achando de repente desconfortável o peso da bolsa em meu colo. — Não sei, tenho medo de dar ruim. Como deu pra autora lá.
Alexis suspirou, recostando-se em sua cadeira giratória. Ela estava um pouco séria agora.
— Bom, todo mundo sabe que a Spring tem contatos com indústrias cinematográficas. Não me surpreenderia se eles quisessem entrar em contato com pra oferecer o papel do personagem.
Arregalei os olhos.
— Existe a possibilidade disso?
Alexis fez uma expressão de “talvez” com a boca, repuxando os lábios para baixo; uma mania um tanto recorrente da minha agente.
— Quem sabe. Não é todo livro que chama a atenção do público assim. Não me surpreenderia se eles já estivessem mandando propostas disfarçadas para o sobre isso.
— Espera, e sem me avisar? — Me inclinei para frente na cadeira, um tanto nervosa agora.
— Bom, pode ser uma surpresa, . Algo do gênero, sabe? — disse ela, claramente tentando me tranquilizar, conforme apoiava os braços em sua mesa e cruzava as mãos. — A Editora não gostaria de gerar expectativas infundadas em você. Acredite, é a cara da Spring chegar com uma bomba dessas pros autores. Eles são muito reservados quanto à projetos futuros. Mas, se for fazer com que se sinta melhor, posso pedir a eles hoje mesmo que te contem tudo o que estiverem planejando. E então?
Respirei um pouco antes de conseguir confirmar com a cabeça. A ideia da editora esconder uma informação dessas de mim não me soava nem um pouco agradável.
— Por favor.
A Srta. Turner pareceu considerar o assunto como encerrado, e assim voltamos a falar sobre Biggest Fan e os comentários dos leitores no Twitter. Que, por sinal, não eram poucos. Meu novo passatempo se tornara esse: ler o que comentavam sobre o livro nas redes sociais. Não era surpresa para ninguém que meu personagem masculino era o completo, então, entre cinco comentários, quatro falavam ou marcavam ele.
Tinha de agradecer ao pela ajuda com a popularidade de Biggest Fan… assim como também tinha de pensar no fato da minha editora não perder tempo. Será que estavam mesmo mandando propostas para o ? Sentia um misto de medo e adrenalina ao pensar nisso. Meu coração até batia mais forte com a possibilidade. Seria burrice e negação da minha parte pensar que, a essa altura, não teriam mesmo importunado ele sobre a minha história. A começar pelo tanto de marcações ao perfil do que faziam quando se tratava do livro…
Naquele dia, saí do escritório da minha agente com aquilo na cabeça. Quando fui para a faculdade, várias pessoas sorriam e acenavam disfarçadamente para mim, o que eu tinha certeza ser por já me ligarem ao livro. Ouvi até uma garota sussurrar o nome "Biggest Fan” quando passou ao meu lado, me encarando fixamente e sorrindo admirada.
Era engraçado como a maioria tinha vergonha de me abordar, mas que ainda assim já conheciam a história por algum motivo. Não sabia se era devido às coisas serem tão rápidas por aqui ou se Biggest Fan estava realmente mais popular do que eu pensava. Tudo bem que meu livro estava se tornando um best-seller, mas a ficha disso ainda não tinha caído. Muitas vezes eu chegava a esquecer da informação e começava a duvidar de novo. Além do mais, tinha noção da influência de … eu era uma fã publicada. Sabia que os créditos não deveriam nem metade ir todos para mim.
Sem nada disso estaria acontecendo. Ele fora, completamente, a minha inspiração. E era por isso que a ideia da minha editora poder estar contactando-o me preocupava tanto. Algo dentro de mim sentia que isso não ia dar bom.


Quando cheguei em casa, passei a tarde toda lendo comentários e feedbacks sobre o livro. Esperei por horas que Alexis me ligasse, sua menção sobre sem sair da minha cabeça. Será que ela tinha falado sério? Será que estavam realmente entrando em contato com ele? Eu não sabia nem se havia chegado a ler a história. Não conseguia formar na minha mente uma imagem dele lendo a fanfic, vendo seu nome e as coisas um tanto pesadas que escrevi em meus momentos solitários.
Ele possivelmente teria uma baita raiva de mim. Com certeza teria. Tinha certeza que a maioria desses famosos deviam odiar as histórias que encontravam sobre eles. Acho que eu também não gostaria que fizessem histórias sensuais sobre a minha própria imagem sem o meu consentimento. Conseguia entender a razão. Embora no meu caso as coisas tenham saído um pouco de controle, já que eu sequer imaginava que alguém leria no inicio. Foi tudo muito… inusitado.
No entanto, por mais que eu esperasse e me distraísse vendo as pessoas falarem sobre Biggest Fan na internet, o que era um tanto divertido, a ligação de Alexis não chegava nunca. Comecei a ficar nervosa, roendo minhas unhas incessantemente sobre o sofá. Quando meu celular começou a vibrar, peguei-o com tanta pressa de meu colo que quase o derrubei.
Meu coração acelerou ao ver o nome na tela. Alexis. O nervosismo me dominava quando levei o aparelho ao ouvido e gritei um “alô”.
? Podemos conversar?
Percebi de imediato que minha agente estava tensa. O desânimo alcançou meu corpo, murchando-me imediatamente.
— Sim, podemos. Está tudo bem?
Ouvi ela suspirar, demorando um pouco para responder. Sua voz estava ainda mais séria quando Alexis voltou a falar.
— A editora conseguiu contato com .
O calor me atingiu. De repente, toda a calma que eu havia conseguido reunir foi pro espaço em questão de segundos. Um pânico tenso e arrebatador dominou minhas veias.
— E aí? — eu perguntei com desespero. — O que mais eles disseram?
Alexis demorou para responder de novo. Aquele suspense estava começando a me irritar.
— Pelas informações que recebemos, já está sabendo da história. E, para ser sincera com você, , as notícias não são boas.
Senti tudo paralisar dentro de mim.
— Como assim não são boas? O que isso quer dizer?
Eu já havia me levantado a essa altura, andando de um lado pro outro com impaciência.
— Isso já era esperado, pra ser sincera com você. A história fez sucesso, . Não é uma grande surpresa que ele já saiba sobre Biggest Fan.
— Tá, mas, qual é o veredito, então? — indaguei com nervosismo. — Ele não gostou da história? Não quer ter envolvimento com ela, é isso?
, eu…
Bem neste momento, a campainha tocou.
Ergui o olhar para a porta, confusa. Eu não estava esperando visitas. Peter e sempre avisavam quando vinham, além da recepção sempre ligar para mim. Estranho.
— …eu sei que você estava ansiosa pela resposta, mas infelizmente as coisas não saíram como o esperado. — Alexis continuou falando, mas a essa altura eu já caminhava até a porta para ver de quem se tratava. — Então, por favor, peço que veja isso de forma profissional.
Girei a chave e toquei na maçaneta.
— O fato é que
Abri a porta.
Meu coração parou.
Alexis ainda falava, mas eu já não conseguia prestar atenção. Todo o meu cérebro havia parado de funcionar.
Puta merda. Puta que pariu. Caralho, caralho, caralho.
Na frente da minha porta, parado bem diante de mim, estava um cara. Vestindo roupas escuras e com as mãos no bolso da calça. Mesmo parado, ele parecia agitado e nervoso, batendo os pés contra o chão e com um olhar definitivamente sombrio. A pessoa me encarava, suas íris brilhando em pura fúria.
Alexis ainda falava, mas tudo o que pude fazer foi abaixar meu celular, petrificada. Eu não tinha reação. Não era capaz de fazer nada.
Conhecia aquele rosto. Reconheceria-o em qualquer lugar. Era ele. Meu ídolo, meu cantor. Meu garoto.
.
E ele não parecia estar nem um pouco contente.


Capítulo 8

Meu coração batia tão alto que era a única coisa que eu podia ouvir retumbando em meus ouvidos.
Não era capaz de me mover, nem de formular uma frase. Por um instante, pensei que tudo deveria ser um mal-entendido. Com certeza era só um garoto parecido com , semelhante a ele. Com certeza era isso.
No entanto, no fundo eu sabia da verdade.
Batucando os pés contra o chão, os lábios franzidos em uma expressão irritada, abaixou o olhar para as minhas mãos, em que eu segurava o telefone, com Alexis ainda chamando por mim.
— Não vai atender?
Ah, meu Deus. Era a voz do . Era a voz do .
Engoli em seco.
— Eu, bem, hum… — Limpei a garganta, fingindo que havia gaguejado apenas por causa disso. — Eu não… eu ia…
franziu a testa diante da minha incapacidade de formar uma frase.
— Espera um pouco — afirmei baixinho, pegando meu celular e levando ao ouvido novamente. Forçando minha voz a estabelecer um tom firme e normal, disse à Alexis: — Vou ter que desligar. Depois te ligo, tudo bem?
Desliguei antes que ela pudesse responder. Ainda carregava o celular em minhas mãos quando olhei para outra vez. Nunca havia ficado tão próxima dele em toda a minha vida. Nunca havia visto seu rosto tão próximo assim, a pele tão real, tão nítida. Quase podia enxergar seus poros. Ele era real. era real e estava na minha casa. Eu ia infartar.
— Você… hum… quer entrar?
O semblante de raiva voltou a ocupar sua face, os lábios fechando-se em um bico contrariado. Se não fosse nas atuais circunstâncias, eu até teria achado aquilo atraente. Ou talvez eu tenha achado, de toda forma.
— Sim. Quero. — disse ele rispidamente, passando violentamente por mim ao entrar em meu apartamento.
Demorei para processar a situação, fechando a porta e me virando para ele. Me sentia tonta.
andava em círculos pela minha sala de estar, as mãos na cintura. Quanto mais ele andava, mais a raiva parecia dominar o seu corpo, daquele jeito engraçado que os homens ficavam.
— É você, não é? — disse em um tom acusatório, encarando-me com ódio ao apontar um dedo para mim. — Você é a autora daquela história.
Ah.
Opa.
Desviei o olhar, e acho que isso foi o suficiente pra que ele tivesse sua resposta.
— Eu sabia. — esbravejou, passando a mão pelo cabelo. — Eu sabia!
Observei-o com curiosidade, por mais que uma parte minha temesse a merda que essa visita iria dar. Quando pensei na possibilidade de odiar Biggest Fan, não imaginei que seria a esse ponto.
Subestimei bastante o meu ídolo.
Quando cansou de dar círculos sobre a minha sala de estar, parou, focando aqueles olhos em mim. Eu podia sentir a raiva que irradiava dele, profunda como o céu.
— Você tem noção do que causou com isso? — indagou com brusquidão. — Tem? Aposto que não. Claro que não. — se virou, encarando algum ponto vazio da minha casa conforme soltava uma risada vazia. — Eu deveria ter imaginado. Com certeza devia.
Eu me sentia uma tonta. Intimidada como um animalzinho indefeso. E tinha certeza de que isso só estava piorando a minha situação.
Mantive-me quieta, cruzando as mãos com nervosismo. Estava envergonhada.
— Você está… chateado? — eu perguntei baixinho, chamando sua atenção. — Com a história?
me fuzilou tanto com os olhos que tive minha resposta.
Assentindo com a cabeça, abaixei o rosto e murmurei:
— Eu entendo.
— Entende? — repetiu ele com grosseria, aumentando o tom de voz. se aproximou de mim, e dei um passo instintivo para trás. — Entende mesmo? Acho que não. Porque se entendesse não teria feito essa merda de história.
Abri a boca, incrédula com o que eu estava escutando.
— Perdão, como?
Isso não pareceu afetá-lo, já que deu outro passo determinado em minha direção.
— Quer que eu repita? — disse com presunção.
Eu estava chocada.
— Não, não é necessário — afirmei, cruzando meus braços sobre o peito. — Eu não sei o motivo exato da sua raiva toda, mas se isso é por causa da proposta da emissora, não precisa se preocupar em recusar. Era apenas uma opção.
Ele soltou outra risada fria, balançando a cabeça.
— Isso só pode ser piada — ouvi-o resmungar.
— Então não é sobre o filme? — acabei soltando sem querer.
Ele se virou como um vulto em minha direção.
— Não, não é sobre o filme. É sobre toda essa merda que você criou!
Sua voz grave reverberava pelas paredes do meu pequeno apartamento. Era engraçado vê-lo pela primeira vez, em carne e osso. Sua voz era a mesma das entrevistas e programas, mas agora tinha algo novo para mim. A raiva, é claro. Jamais havia visto com raiva. Até agora.
Ele ficava uma graça assim.
— Então você não gostou? É isso?
Ele soltou um suspiro impaciente, e quase pude ver a fumaça saindo de sua cabeça conforme me encarava. Mesmo que estivesse morrendo de ódio da minha pessoa, saber que estava olhando para mim era o suficiente para me desequilibrar. Eu estava tonta feito uma barata.
— Não se trata de gostar. — Sua voz estava baixa agora, grave, repleta de seriedade. — Se trata das pessoas começarem a ligar a minha imagem a isso. O que é culpa sua.
Tentei permanecer calma, respirando fundo antes de dizer:
, eu entendo você ter vindo aqui por causa disso, mas… — Fiz uma pausa, juntando coragem para continuar. Era difícil pensar nas palavras certas com o olhar do fucking em cima de mim. Estava com tanta vergonha que mal conseguia encará-lo. — Bem… existem muitas histórias suas por aí. Não entendo porque justo a minha causa tanto…
— Porque a sua é a única que se tornou um best-seller, inferno! — ele exclamou, me interrompendo, conforme dava dois passos em minha direção.
Dessa vez, não tive forças para me mexer. Permaneci ali, sem respirar, com o coração martelando dentro do peito conforme observava-o vir até mim, ficando tão próximo. Estupidamente próximo. Ele não perdera sua pose intimidante, pelo contrário. Seus olhos esbanjavam ameaça.
— Mas… os nomes foram alterados — eu murmurei, fazendo-o semicerrar ainda mais os olhos. Sua mandíbula estava trincada, tamanha era a tensão dominando sua face.
— E você acha que isso é o suficiente pra eles pararem de conectá-lo a mim? Hein? Você acha?
Engoli em seco, minha atenção sendo inevitavelmente atraída para os seus lábios. Nunca imaginei que ficaria tão próxima da boca de em toda a minha vida. Mesmo que ele estivesse prestes a me matar, eu tinha que confessar que morreria feliz agora se esse fosse o caso. Estritamente feliz.
pareceu perceber para onde eu estava olhando, pois ficou meio perdido, seu pomo de adão movendo-se sob o pescoço.
— M-me desculpa — eu grunhi. — Não sabia que… que isso tinha te incomodado.
Parecendo voltar à realidade, assentiu, piscando ao recuar. Ele ainda levava as mãos à cintura, o que era um pouco engraçado.
— Ótimo — resmungou ele. — Pois quero que pare de me conectar à história.
Confusa, franzi a testa para ele.
— Como assim?
Ele me olhou.
— Quero que exclua a fanfic da internet. Que pare de dizer que o tal foi inspirado em mim. Que me desconecte completamente de tudo isso.
Eu estava tão abismada com que ele havia dito que soltei uma risada de choque.
— O quê?
— É isso mesmo que você ouviu.
— Não! — exclamei, respondendo antes que pudesse pensar com clareza. — Não, claro que não!
O semblante de fechou-se em uma careta de ódio.
— Eu não estou brincando, . Não quero meu nome envolvido nisso.
— Mas seu nome não está! — Eu estava prestes a bater os pés no chão em desespero. — O livro não tem nada a ver com você. Alterei os nomes!
— Alterou? — ele repetiu com sarcasmo, arqueando a testa rigidamente. — Mantendo a droga do meu sobrenome?
Dei de ombros.
— É um sobrenome bonito.
me fuzilou com o olhar.
Como eu não tinha mais nada a dizer, permaneci quieta, esperando que ele tomasse alguma atitude. olhou ao redor em um silêncio nervoso, o ar recheado daquela tensão. Por fim, ele olhou para mim mais uma vez, a expressão fria e indiferente ao anunciar:
— Uma semana. Te dou uma semana pra tirar aquela história do ar. Caso contrário, farei isso pelo modo difícil.
E sem mais despedidas, passou como um vulto por mim, abrindo a porta do meu apartamento com violência. Virei-me em sua direção a tempo de vê-lo parar sobre o corredor e olhar para trás. Para mim.
Paralisei. Pela décima vez nos últimos vinte minutos.
— Espero que tome a decisão certa, — disse com deboche, fitando-me por mais uns segundos antes de sumir pelo corredor.
E tudo que eu pude fazer foi permanecer ali, em choque, sem a capacidade de me mover.
Na minha mente, porém, só se passava uma coisa. sabia o meu nome.
E ele com certeza estava um tanto furioso comigo.


Capítulo 9

— Mentira — resmungou pela décima vez, sem tirar os olhos de mim ao inclinar-se em minha direção. — Mentira!
Depois de tudo o que aconteceu, a única coisa que fui capaz de fazer foi ligar para . Eu precisava falar com alguém, pois nem sequer era capaz de pensar direito sozinha. Estava desesperada.
— É verdade, — falei com impaciência, cansada de ter que repetir aquilo. — Por mais que nem eu acredite ainda, é verdade. Ele esteve aqui.
Os olhos dela estavam tão arregalados que pareciam prestes a pular para fora.
— Não é possível — murmurou. — Não é possível!
Soltei um suspiro cansado, contando a história outra vez. Pensava que, se repetisse o que aconteceu vezes o suficiente, a minha ficha cairia, e eu finalmente perceberia que estive mesmo diante de . Mas não parecia estar funcionando. Eu continuava tão descrente quanto antes, as engrenagens de meu cérebro recusando-se a compreender aquele fato.
! — exclamou de repente, me chacoalhando. Pisquei, voltando à realidade e erguendo meu olhar para ela. — Você tá bem? Usou alguma coisa?
Balancei a cabeça, me sentindo um tanto estranha.
— Acho que eu tô em estado de choque — murmurei.
— Calma, vamos recapitular — disse com determinação, batendo nas próprias coxas em um gesto de ânimo. — Primeiro, você disse que tava falando com a Alexis, certo? E que ela não tinha notícias boas?
Fiz força pra assentir.
— Uhum.
— Certo. E o que exatamente ela estava dizendo?
Tentei me lembrar.
— Acho que… acho que ela disse que o sabia sobre o livro. E que as notícias não eram boas.
confirmou com a cabeça, mantendo uma expressão concentrada no rosto. Fiquei feliz por ela não expressar nenhuma reação ao fato de que minha agente já sabia sobre não estar feliz com a história. Isso já era o suficiente pra mexer comigo.
— Certo. Ela disse mais alguma coisa?
Fiquei em silêncio por alguns segundos, minha mente voltando ao momento em que abri a porta e dei de cara com o rosto que fora minha fantasia por anos.
— Não — eu refleti baixinho. — Eu… eu desliguei bem na hora que ela ia dizer. Porque foi quando abri a porta e dei de cara com ele.
parecia preocupada agora ao me encarar.
— E o que ele disse exatamente, ?
Engoli em seco.
— Ele… ele tava super irritado — falei com dificuldade. — Percebi isso só de olhar no rosto dele. E era por causa de Biggest Fan.
suspirou, desviando o olhar. Parecia estar tensa agora.
O silêncio surgiu sob a sala, e eu olhei para ela.
… você acha que disseram algo pra ele? Sobre a história? Algo que o deixou bravo?
Ela me olhou, séria.
— Sinceramente, eu não sei, . Talvez ele esteja irritado de ver a galera falar sobre Biggest Fan na mídia.
Fitei minhas próprias mãos.
— É, verdade. Ele realmente falou algo assim.
— O que ele falou pra você, exatamente? — indagou com cuidado. Mesmo assim, não pude evitar ao suspirar e fechar os olhos.
— Ele disse que… que não quer mais a imagem dele ligada a isso.
— Ué, mas eu não entendo. Você não alterou o nome dele pra Brandon? Não tem mais nenhuma ligação com o no livro. A única semelhança permanece na fanfic.
— Eu sei — respondi sombriamente. Ainda evitava o olhar de , sentindo-me envergonhada. — Mas as pessoas ainda pensam no quando lêem Biggest Fan. Elas continuam conectando a ele. E acho que… acho que sei o motivo de ele estar tão irritado.
arqueou a testa.
— E qual seria?
Respirei fundo antes de responder, observando a vista da cidade pela janelinha do meu apartamento.
— Quando a história começou a ficar conhecida, as pessoas marcavam o nas redes sociais pra ele ler. Eu achava engraçado, por mais que ficasse morrendo de medo de ele acabar lendo, mesmo. — Olhei para , que aguardava com curiosidade. — E mesmo hoje, quando foi publicado, continuam enchendo o saco dele. Acho que os fãs querem que ele se pronuncie sobre a história. E como ele continua em silêncio… elas não param.
— Só por causa disso? — exclamou , franzindo a testa. — Sinceramente, , me parece uma baita de uma desculpa. É um motivo muito tonto pra ele se incomodar tanto assim. Um cantor tem que estar acostumado com esse tipo de coisa. Ele não sabe que existem milhares de fanfics com o nome dele por aí, não?
Soltei uma risada fraca ao me lembrar.
— Eu até mencionei isso hoje pra ele — murmurei. — Mas o olhou nos meus olhos e disse que a minha história era a única que virou um best-seller. E que por isso prejudicava mais a imagem dele do que qualquer outra.
— Não é possível — resmungou , balançando a cabeça em descrença. — Meu Deus, que babaca! Não se pode confiar em homens famosos e bonitos mesmo. Será que não existe um decente neste planeta?
Se eu não estivesse tão chocada com tudo o que aconteceu, até poderia ter dado risada da fala dela. Sentia-me bem por, no mínimo, ter alguém para xingá-lo por mim.
— Você nem sabe da pior parte — eu murmurei, abraçando uma almofada contra o meu peito. — Sabe o que ele disse antes de sair daqui? Que eu tenho uma semana pra tirar a história do ar.
O quê? — berrou . — , isso é um absurdo! Quem ele acha que é pra fazer esse tipo de coisa? Tenho certeza que se você postar essa história no Twitter em forma de exposed, ele vai ser cancelado rapidinho! Onde já se viu tratar uma fã desse jeito?
A essa altura já havia se levantado do sofá, encarando-me incrédula com as mãos na cintura.
— Pois é — eu disse baixinho, abaixando a cabeça. — Mas eu… não quero prejudicar a imagem dele. Jamais conseguiria fazer isso com . — Meu peito doeu quando pronunciei essas palavras. A vontade de chorar me invadiu, mas segurei o choro na garganta. — E eu… entendo ele, sabe? Deve ser difícil ver as pessoas insistirem assim em um assunto. Acho que ele quer ser reconhecido pelo trabalho como cantor, e não como o crush de um bando de adolescentes que ficam o dia inteiro falando sobre fanfics meio… apimentadas demais.
riu.
— Não sei se você é só uma tonta inocente ou se é apenas muito apaixonada por ele, . Que tipo de defesa é essa? Ele quer que você desista da história! Não pode deixar que isso aconteça.
Em vez de responder, apenas continuei com a cabeça abaixada, o que deixou impaciente. Agitada, ela jogou-se no sofá outra vez, pegando em minhas mãos e me forçando a olhar para ela.
, me escuta. Eu sei que você tem um carinho enorme pelo , consigo notar isso toda vez que você fala dele ou escreve sobre ele. Tá claro que esse garoto nem faz ideia do quanto seu amor é sincero. Por isso, acho que você devia falar pra ele. Explicar que em nenhum momento você escreveu Biggest Fan na tentativa de se aproveitar da fama do , e sim porque foi a maneira que você encontrou de expressar o quanto se importa com ele.
Fiquei surpresa. Tão surpresa que não fui capaz de fazer nada além de olhar para a minha amiga, chocada.
— Você acha que daria certo?
deu de ombros.
— Não sei. Mas não custa tentar.
— Não sei não, … talvez seja melhor eu excluir a fanfic das redes sociais e seguir com o livro. Talvez seja melhor.
— E você acha que isso vai ser o suficiente pra ele? — exclamou ela, me olhando como se eu fosse louca. — Você não pode dar o braço a torcer. E tenho certeza que Peter vai concordar comigo. Tem que lutar por sua história! Criar uma fanfic não é crime. Você não fez absolutamente nada de errado. Ele que lide com as consequências disso.
Quando minha amiga terminou seu discurso, tudo o que pude fazer foi enfiar o rosto no encosto do sofá, querendo sumir.
— Pode parar com esse choro falso! — ouvi gritar, pouco antes de começar a puxar meu braço para longe do conforto daquela posição. — Você agora é uma escritora best-seller, e vai agir como tal. não abaixa a cabeça perante o ídolo dela.
Acabei soltando uma risada contrariada com aquela fala. Uma baita mentira, eu diria. Se aparecesse na minha frente de novo, eu faria tudo o que aquele maldito pedisse. Mesmo que ele me olhasse com aquele olhar de arrepiar a espinha.
— Talvez abaixe — eu murmurei.
— Só não deixe o saber disso — ela rebateu, puxando-me para fora do sofá e me arrastando em direção à cozinha.
Como se eu fosse falar com ele de novo… possivelmente mandaria algum agente ou secretário em seu lugar, só para não ter que me cobrar. Talvez eu nunca mais o visse, e ficasse apenas com essa história de lembrança pra contar aos meus filhos; que recebi a maior bronca do meu ídolo mundial. Uma história até que empolgante, e, se você parar pra pensar, um tanto incomum. Poderia ficar famosa com ela algum dia se a soltasse nas redes sociais. Mas isso prejudicaria a .
Que droga. Talvez meu problema fosse exatamente esse: ser boazinha demais. Amava-o tanto que não conseguia me imaginar fazendo algo que o prejudicasse. Mas talvez fosse necessário que eu fizesse. Pois agora sabia da minha existência.
Assim que me dei conta do fato, paralisei, arregalando os olhos diante do balcão da minha cozinha. , que estava abrindo a geladeira para procurar alguma coisa pra beber, parou seus movimentos ao me olhar de relance.
— O que foi agora, criatura?
Não esperei nem um segundo para abrir um sorriso macabro e assustador.
— comecei, dominada pela adrenalina daquela percepção —, sabe onde eu moro. Ele sabe o meu nome. Ele viu o meu rosto! Puta merda, o sabe quem eu sou.
Ela arqueou a testa.
— Só percebeu isso agora?
Sim. Eu só tinha percebido agora.
E eu estava surtando.
Ocupada demais perdendo a cabeça pra me ofender com o seu comentário. Agitada, dei meia-volta e corri para o quarto, gritando tanto que provavelmente receberia uma reclamação do síndico mais tarde.
Precisava contar para Peter. Precisava contar para a minha mãe. Precisava contar para todo mundo.


— Meu Deus — Peter murmurou, olhando fixamente para o nada enquanto eu me ajeitava sobre o chão. — Calma, é muita coisa pra processar.
deu risada, enfiando um punhado de pipoca na boca.
— Acredite, eu tive exatamente a mesma reação.
Já havia escurecido, e nós três estávamos sentados sobre o tapete da sala de estar, comendo besteiras e fofocando. Havíamos colocado um filme na televisão, que agora estava pausado, enquanto eu e contávamos tudo o que aconteceu para Peter.
Tive que repetir a história umas três vezes. E ainda assim não foi o suficiente; então precisei recontar mais duas. Esperamos o choque inicial de Peter passar, até o momento em que ele ficou chocado demais para dizer alguma coisa e alterou seus gestos entre sorrir e bater em mim (por ter contado primeiro à ). Foi divertido. Me fez pensar na falta que eu sentia em ter amigos assim, tão íntimos. Se eu tivesse que passar por toda essa coisa do sozinha provavelmente teria enlouquecido.
— Cara, eu ainda não consigo acreditar. — Peter nem piscava ao olhar para mim. Era uma mistura de choque admiração. — , você tem noção de que o esteve aqui na sua casa? Nessa sala? Pisando nesse chão? Tipo, nesse chão?
Ele começou a apontar para o piso incansavelmente, o que me fez rir. Aproveitei para pegar um punhado de pipoca do balde no colo de , gostando da forma como Peter estava vendo a situação. Era engraçado. Provavelmente eu estaria agindo do mesmo jeito se não estivesse com aquelas palavras na mente. Uma semana. Te dou uma semana pra tirar aquela história do ar. Minha ficha ainda não havia caído. De nada daquilo. Era loucura. Muita loucura. No entanto, passei tanto tempo fantasiando coisas que sei que isso tudo foi real demais pra ser apenas imaginação. Ele esteve aqui, e eu não sabia como reagir.
— Tem noção de que você viveu uma fanfic, ? — exclamou Peter, sorrindo para mim.
— É, só que sem a parte boa — eu brinquei, enfiando mais pipocas na boca.
riu alto, me empurrando.
— A parte boa ainda tá pra acontecer, meu amor.
— Só se a parte boa for ele me processar — falei de boca cheia, recostando-me contra os pés do sofá e voltando a encarar a tevê. tinha escolhido o filme Starstruck, Meu Namorado é uma Superestrela, o que era uma baita sacanagem da parte dela.
— Não, gente, mas agora é sério. O que será que ele pretende com isso? — indagou , ajeitando-se melhor sobre o chão e ignorando a televisão completamente. — Tipo, que diferença vai fazer a excluir a história? O livro vai continuar fazendo sucesso.
Fiquei pensativa por um instante, observando Jessica Olson discutir com Christopher Wilde. Eles faziam isso bastante nesse filme.
— Ele não quer ter nenhuma relação com a fanfic — respondi com um suspiro. — Deve ser por isso.
— Seja como for, você precisa tentar fazer algum acordo — disse Peter de repente, roubando uma pipoca da tigela e encarando a tevê. — É o que eu faria.
Olhei confusa para ele.
— Mas o não aceitaria nenhum acordo, aceitaria? Ele só me deu uma opção.
— Isso é verdade — concordou . — Mas se ele chegou ao ponto de descobrir seu endereço e vir aqui, significa que tá desesperado o suficiente pra te pedir isso cara a cara. Então no desespero ele pode chegar a aceitar algum acordo.
— Mas que tipo de acordo eu poderia propor? — indaguei baixinho.
— Bem pensado — rebateu Peter. — Com a fanfic no ar, a história sempre vai ser conectada a ele. Dá pra entender.
— Sabe o que eu não entendo? — murmurei, vendo e Peter se aconchegarem perto de mim enquanto olhávamos para a televisão. Sentia que era uma espécie de conforto da parte deles, talvez por tudo o que aconteceu. Isso fez eu me sentir bem. — O porquê ele ficou tão irritado assim com a história. Eu sei que Biggest Fan tem algumas cenas picantes e tudo mais, mas o personagem do é super legal. Não fiz nada que ofenda ele.
— Deve ser por causa das cenas picantes mesmo, — sugeriu , soando séria agora ao repousar a cabeça no meu ombro. — Tem celebridades que não gostam de ler sobre o próprio pau e essas coisas.
Peter, que estava tomando um gole de coca-cola pelo canudinho, quase cuspiu todo o líquido da boca com a fala da nossa querida .
Comecei a rir, por mais que tivesse precisado fechar os olhos por um momento com a vergonha daquela constatação. Eles se juntaram a mim, a voz do Christopher Wilde ressoando ao fundo. Tudo bem que eu era um pouco suspeita pra falar, mas o cantava muito melhor.
Quando enfim consegui me acalmar, voltei a olhar para a televisão, ainda rindo um pouco quando falei:
— Mas realmente, ele deve ter se sentido muito desconfortável lendo aquilo. Isso se ele chegou a ler tudo. — Quando Jessica Olson começou a assistir Christopher cantar da varanda do quarto, abracei uma almofada e soltei um choro falso. — O que eu faço agora?
— Nós vamos pensar em algo — afirmou Peter, soando optimista demais pra essa situação. — Não se preocupe, . Vai dar certo.
— Claro que vai — devolveu , empurrando-me de leve quando disse: — E pense pelo lado bom, dona . Você vai falar com de novo.
Embora as circunstâncias não fossem nem um pouco agradáveis, a maldita frase da minha amiga causou uma reação imediata por mim. Meu coração se acelerou, o corpo ficando quente de pânico com a mera possibilidade de falar com ele de novo.
Talvez eu não estivesse pronta para isso. Deus! Talvez eu não fizesse a menor ideia do que fazer. Mas eu não tinha escolha. Teria que descobrir. De uma maneira ou de outra.


Capítulo 10

— Inaceitável — disse Alexis, parecendo bastante decepcionada ao balançar a cabeça. — Vou ter que falar com o agente dele. Esse tipo de comportamento é completamente inaceitável.
Olhei para baixo, sentindo-me envergonhada por ter tido que tocar no assunto. Era cedo, manhã de segunda, e eu havia matado aula pra poder falar com Alexis. Como era muito urgente e seu escritório ficava do outro lado da cidade, preferimos fazer uma chamada de vídeo, que na minha opinião foi até melhor pra soltar essa notícia humilhante. Contar para e Peter já foi vergonhoso o suficiente. Pelo menos em uma chamada de vídeo a pressão era menor.
teria que pagar por isso. Ah, mas ele teria. Não importava se fosse extremamente lindo e atraente e também o amor da minha vida, mas eu não podia me deixar ser humilhada assim. Tinha que fazer alguma coisa.
De repente, Alexis ergueu o olhar para mim sob a tela do computador, que estava meio embaçada, e me encarou com seriedade.
, preciso que me diga exatamente o que ele te falou. Cada frase, cada detalhe. Você se importaria em repetir?
Sim, eu me importaria bastante.
— Não, claro que não — murmurei em vez disso.
Ela assentiu, pegando alguns papéis que eu não fazia ideia de pra quê seriam usados.
— Muita irresponsabilidade e falta de profissionalismo, isso sim — resmungou Alexis, parecendo estar verdadeiramente incomodada. — Esperava mais de um menino como ele. Pelo visto cometi um erro.
Dei risada, sentindo-me um pouco vingada com seus resmungos.
— Então fomos duas — completei em tom de brincadeira.
Alexis sorriu levemente, o que possivelmente era o máximo que ela podia expressar agora. Pela próxima hora, tive que repetir a ela toda a conversa que tive com desde o momento em que ele apareceu. Não foi difícil, pois o acontecimento permanecia claro como água em minha mente. Contei tudo, detalhe por detalhe, inclusive a forma como ele estava nervoso; andando de um lado pro outro incessantemente. Agia como se eu tivesse feito algo muito, muito ruim, e não apenas escrito uma fanfic com seu nome e detalhado algumas cenas picantes. Nada muito fora do comum.
— Certo — começou Alexis quando eu terminei, soltando um suspiro pesado. — Vou entrar em contato com o agente dele e marcar uma reunião o mais rápido possível. Resolver essa história como profissionais, do jeito que deveria ter sido. — Fiquei quieta, aguardando, quando Alexis olhou pra mim outra vez. — Fique de olho no celular e não marque nenhum compromisso importante. Assim que tivermos uma data para a reunião, aviso você.
Demorei uns segundos para processar a informação.
— Perdão, como? — eu perguntei após alguns segundos, piscando em confusão.
— Direi que é um assunto urgente e que precisa ser discutido o quanto antes — continuou ela com tranquilidade, ignorando o meu questionamento. — Marcus pode querer adiar o mais rápido possível, mas tenho certeza que ele aceitará na hora quando eu mencionar a visita à minha cliente. — A sombra de um sorriso surgiu no rosto de Alexis. — Não preciso nem perguntar pra ter certeza que deve ter feito isso sem avisar à ninguém. Podemos usar como vantagem.
— Alexis, espera — eu exclamei, minha voz desafinando como a de um violino quando me inclinei sobre a mesa. — Como assim reunião? Eu pensei que você fosse resolver isso sozinha.
Ela parou de falar. Sua expressão se fechou quando me encarou, os lábios franzidos em uma linha fina.
, ele envolveu você diretamente nisso quando invadiu a sua casa. Você precisa estar presente. — Arregalei os olhos, começando a suar frio. — Mas não se preocupe, estarei ao seu lado o tempo todo e tomarei controle da situação. Preciso da sua presença apenas como testemunha do ocorrido e do pedido inaceitável de .
— Mas, mas eu…
Alexis me interrompeu.
— Quanto à fanfic, deixe no ar. Não retire a publicação e não comente em nenhum lugar sobre a visita de . Vamos ficar em silêncio até resolver.
Ela empurrou a cadeira para trás e saiu do meu campo de visão, me deixando sozinha ali. Encarei a tela do computador com desespero, ouvindo-a abrir gavetas e mexer em alguma coisa.
— Alexis, mas eu preciso mesmo ir? — eu choraminguei, soando como uma criança assustada. Esperei que ela respondesse, mas como nada veio, repeti o pedido, até que a vi retornar para a cadeira.
— Vai ser rápido, , levará no máximo uma hora.
— Mas… mas ele não vai estar lá, né? não vai estar presente, certo?
Alexis me olhou como se eu fosse louca.
— Mas é claro que vai! Farei questão de exigir a presença dele. Quero uma boa explicação.
Ai meu Deus. Ela estava soando igualzinha à minha mãe.
— Mas, mas Alexis! Eu… eu não… — engasguei com as palavras, procurando por alguma justificativa para aquela ideia maluca. — Eu não posso ir! Se ele me ver lá depois de tudo, ele vai…
— Vai ter que pedir desculpas, isso sim — afirmou ela com veemência. — Pra você e pra mim. E fará isso o quanto antes.
Comecei a entrar em pânico.
— Mas, Alexis… isso não é uma boa ideia, acho melhor a gente só…
Fui interrompida pelo som estridente de um celular tocando.
— Tenho que ir agora — disse minha agente, inclinando-se em direção ao computador pra possivelmente encerrar a ligação. — Falo com você mais tarde, tudo bem? Qualquer coisa me avise imediatamente.
Antes que eu pudesse reclamar mais, a chamada foi encerrada.
Recostei-me contra a cadeira, encarando o nada. Meu coração batia acelerado com a possibilidade daquilo. Depois de sábado, pensei que não veria nunca mais. Talvez porque parte de mim quisesse evitar a humilhação. Mas agora, pelo visto, eu estava prestes a reencontrá-lo, e não tinha nenhuma coragem para isso; muito menos cara de pau.
Que droga. Era por isso que eu amava a fantasia. Quando você apenas imagina as coisas em sua mente, tendo o controle de tudo e podendo criar histórias à vontade, esse tipo de coisa não acontece. Tudo é mais fácil no mundo da fantasia. Tudo é mais simples, melhor. A realidade sempre foi pesada demais para mim. Viver na fantasia era muito mais seguro. Muito mais confortável. E você pode me dizer que na imaginação nada é verdadeiramente real, nada tem a mesma experiência e vivência da realidade, mas eu nunca me importei. Especialmente se tratando de , quem eu sabia ser alguém inalcançável e cujo fato eu já havia me conformado. Aceitara a dor de nunca poder tê-lo havia muito tempo. E por mais que até hoje doesse em mim pensar que ele nunca seria meu, meu psicológico tinha aceitado isso. Ainda que eu nunca, jamais fosse verdadeiramente feliz, estava conformada. Eu era a fã e ele era o ídolo. A única errada aqui era eu, por ter me apaixonado por quem não deveria.
Mas agora, tendo que enfrentá-lo, tendo que vê-lo, tudo iria por água abaixo. Todo o meu plano de mantê-lo apenas como uma fantasia iria desmoronar. Eu não queria enfrentar a realidade, porque tinha medo de me decepcionar com ela. Tinha medo de perceber que na verdade era uma pessoa diferente daquela que eu pensei conhecer.
Ter me tornado sua fã me salvou de muitas maneiras. Ele me salvou de muitas maneiras. Se eu descobrisse que era na verdade uma pessoa ruim, perderia minha rocha. E o que eu seria sem ela? Sobreviveria, é claro, mas até que ponto? Não queria uma vida sem . Mesmo que apenas no meu imaginário. E o engraçado era que talvez o próprio seria a pessoa a estragar isso. A estragar todo o amor, carinho e paixão que nutri por ele nos últimos seis anos.
Fosse como fosse, eu não tinha escolha. Precisava proteger minha história.
Biggest Fan tornara-se real. E eu lutaria por ela.


Capítulo 11

— Droga, droga, droga! — resmunguei pela décima vez, olhando-me no espelho de novo antes de me virar, chacoalhando as mãos incansavelmente. — Não posso fazer isso. É demais pra mim. Acho que vou desmaiar.
— Pelo amor de Deus, , fica parada! — exclamou Peter, tentando pegar em meus braços para me parar e falhando miseravelmente.
Estava prestes a chorar. Pior que isso; estava prestes a ter uma síncope.
Por dias, vivi em um estado automático, como uma zumbi perambulando por aí, temendo o dia em que Alexis marcaria a tal reunião. Torcia pra que ela desistisse da ideia e seguíssemos em frente, mas minha agente estava mais brava do que eu com a visitinha de . Ela não deixaria isso de lado. Com certeza não.
No entanto, não imaginei que a reunião acabaria sendo marcada tão rápida assim. O tempo mal havia passado, e, exatos 4 dias depois, ela apareceu com a bomba.

Iremos nos encontrar com Marcus Robben amanhã. Ele garantiu a presença de . Vamos resolver essa história de uma vez por todas. Esteja pronta às quatro em ponto, tudo bem?

Quando li a mensagem pela primeira vez, tive um piriri tão grande que tive que correr para o banheiro.
— Gente, não dá… — choraminguei, afastando-me deles conforme limpava o suor da testa com a costa da mão. — Não vou conseguir. Ele vai estar lá! Vocês tem noção do quão horrível isso vai ser? Ele me odeia!
— Ele não odeia você — respondeu do sofá, revirando os olhos. Ela estava jogada ali desde que comecei o meu mini surto. Ou seja, há bastante tempo. — Ele odeia a sua história. É diferente.
Peter lançou um olhar atravessado para ela.
— É sério, eu não posso — voltei a falar, tentando controlar a minha respiração. — Não vou suportar tanta humilhação. Eu vou morrer de vergonha! Como vou encarar ele depois de tudo isso? E, pior, e se ele me achar uma feia interesseira? Não foi assim que eu planejei as coisas na minha cabeça.
— Impossível ele te achar feia — rebateu Peter, desistindo de tentar parar o meu chilique. — Você é linda, . Se não te conhecesse pensaria que era rica e metida.
riu.
— Que raios de elogio é esse?
Peter a ignorou, aproveitando que tinha conquistado minha atenção para pegar em minhas mãos. Ele olhou bem nos meus olhos, sorrindo gentilmente ao dizer:
, fique tranquila. Vai dar tudo certo. E podemos ir com você se quiser, ficamos esperando no carro.
Semi-cerrei os olhos para ele, me esquecendo do meu desespero por alguns segundos.
— Você só está dizendo isso porque quer ver o , não é?
Ele abriu mais o sorriso.
— Com toda certeza. Mas três por cento da razão é pra te apoiar, te garanto.
Não consegui evitar quando uma risada escapou. Eles eram péssimos.
— Finalmente uma emoção positiva — exclamou , tirando os pés do meu sofá e se levantando num salto. — Bora te deixar linda pro babar quando te ver. Dia de derrubar um famoso mimado!
Ela bateu palmas, focada como nunca, e começou a me puxar em direção ao quarto. Obedeci, mesmo que meio desanimada, e deixei que as piadas sem graça deles me alegrassem um pouco. babar ao me ver… chegava até a ser engraçado. Jamais pensei que fosse ouvir isso na minha vida. E o fato de agora ter se tornado realidade só me deixava ainda mais aflita. Fantasiar sobre a situação é uma coisa, mas o real costuma ser muito mais assustador. Eu estava completamente despreparada quando recebi a visita de , e só lembrar disso já me deixava incomodada. Imagine só ter a chance de finalmente conhecer seu ídolo e isso acontecer justo quando você está feia e capenga? Minha vida era mesmo uma piada.
Mas já que a primeira vez foi um desastre, estava certa. A segunda também não precisava ser. Pelo menos naquela reunião eu tinha que estar bonita. Sabia que as chances de ele olhar pra mim com alguma coisa senão o ódio eram zero, mas não custava tentar, né?
Alexis havia me mandado o endereço do local, embora tivesse dito que viria me buscar. Por isso, assim que acordei hoje, a primeira coisa que fiz foi ligar para Peter e e jogar a bomba no colo deles. Minha agente havia me dito pra não contar sobre a reunião a ninguém, mas se eu não contasse a eles acabaria tendo um treco. E minha mãe não morava em Los Angeles, então meus amigos eram os únicos que poderiam me confortar nesse momento.
— Por que o relógio sempre passa rápido quando a gente não quer que passe? — murmurei de mau humor, bufando para meu reflexo no espelho algumas horas depois. — Tô tão nervosa que acho melhor levar um balde comigo pra caso eu vomitar.
— Quem vai vomitar é ele, isso sim — disse , virando meu rosto para ela para observar o resultado final. — Assim que te ver e perceber a besteira que fez.
Insegura, voltei a me encarar, observando se estava mesmo bom o suficiente. Havia lavado o cabelo e amassado as pontas pra ficarem mais onduladas, o que eu costumava fazer quando me cansava do visual liso armado. Coloquei uma camisa branca social e um terninho preto por cima, pra mostrar que nosso objetivo era estritamente profissional. Pedi pra não exagerar muito na maquiagem, já que eu estava nervosa demais pra conseguir me maquiar naquele momento. Não foi uma ideia muito boa, pois ela tremia demais fazendo delineado; mas até que achei o resultado satisfatório.
Por fim, assim que peguei minha bolsa e a pendurei sobre o ombro, inclinei-me sobre a penteadeira e analisei meu próprio visual. Estava bonita. Bonita o suficiente pra uma reunião com .
Poucos segundos depois, o interfone tocou. Devia ser a portaria avisando que Alexis chegou. Engraçado que quando foi quem apareceu eles não fizeram questão de me avisar. Me perguntava o que ele teria feito pra encontrar meu apartamento com tanta facilidade.
— Merda, tô com dor de barriga — murmurei, fazendo uma careta de terror ao caminhar até a janela da sala e tentar enxergar o carro de Alexis lá embaixo.
— Nada disso, já cagou demais por hoje — afirmou , o que teria me feito bater nela se não estivesse tão nervosa.
Deixei que ela e Peter me guiassem para fora, tremendo ao entrar no elevador. Estava tão preocupada que nem conseguia focar no mundo externo direito. Minha mente era uma constante oscilação entre imagens de e possíveis tragédias que poderiam acontecer nessa reunião (como, por exemplo, ele me expulsar da sala ao ver do que se tratava e me queimar pra internet inteira). Pensei que, depois de tantos anos sendo fã dele, estaria preparada pra esse tipo de coisa, mas me sentia tão perdida e despreparada que chegava a assustar. Em menos de sete dias eu havia conhecido , recebido o maior xingo dele e marcado uma reunião. O que diabos estava acontecendo com a minha vida? Porque ela estava tomando um rumo caótico demais pro meu gosto.
Alexis parecia impaciente quando entrei no carro. e Peter ficaram meio afastados, pois eu não queria que ela soubesse que contei a eles. Ainda assim, fiz eles me prometerem que ficariam com o celular em mãos pra eu poder surtar em casos de emergência.
— O escritório de Marcus fica a uns vinte minutos daqui — anunciou Alexis, parecendo tranquila demais ao ligar o carro e dar partida.
— Certo — murmurei, focando na minha própria respiração conforme colocava o cinto de segurança.
Alexis se concentrou na direção, e eu comecei a ficar nervosa. Mal era capaz de controlar minhas próprias mãos, muito menos a inquietação constante de meu corpo sobre o banco do carro.
Estava surtando por dentro. Meu coração acelerava e minha respiração perdia o controle, deixando-me ansiosa e preocupada; quase ao ponto de chorar. Tudo estava acontecendo tão rápido que eu não conseguia mais acompanhar. Parecia que foi ontem mesmo que eu havia recebido a ligação da Alexis, e, agora, já me encontrava a caminho da tal reunião. Eu iria ver . Eu iria falar com . Puta merda.
Tive que me controlar bastante pra não pular para fora do carro.
E se ele gritasse comigo de novo? Dissesse coisas horríveis? Ou, pior, e se ele ficasse apenas me encarando e não falasse nada?
Meu Deus. Eu deveria estar louca da cabeça pra ter aceitado essa reunião. Com certeza não estava em condições de ver ou falar com . Todos esses anos não serviram pra me preparar para esse momento. Talvez fosse melhor que eu desistisse dessa ideia e pedisse pra Alexis falar com eles sozinha. Eu poderia dizer que esperaria por ela no carro. Seria uma boa ideia, né? Assim eu evitaria humilhações.
É. É isso. Eu cancelaria a minha presença.
A ideia me deixou mais tranquila durante o resto do trajeto. Estava torcendo pra que o trânsito nos atrasasse um pouco mais, me dando tempo pra pensar, mas estava tudo numa maldita paz pela cidade naquele momento. Mal pegamos sinais vermelhos durante o caminho. Seria azar? Ou um bom sinal?
Assim que chegamos a um bairro extremamente chique e silencioso, minha barriga começou a doer. Alexis estacionou, desligando o carro e pegando a bolsa que ela havia trazido. Estava calma, como se já tivesse feito aquilo milhares de vezes.
— Pronto. Chegamos — suspirou ela, retirando o cinto de segurança e preparando-se para abrir a porta.
Meu estômago embrulhou.
— Qual edifício que é? — perguntei num fiapo de voz.
Alexis olhou para frente, apontando com o queixo.
— Aquele ali. De acordo com Marcus o horário já foi agendado. Só precisamos avisar à recepção.
Olhei para o lugar que ela havia indicado. Era um prédio alto e espelhado. Com certeza um ponto nobre de Los Angeles.
— Mas… hum… eles sabem que eu vim com você?
— Sabem, claro.
Alexis abriu a porta. Comecei a me desesperar.
— Mas, Alexis..
Ela parou, com um pé já para fora do carro, e olhou para mim. Parecia ansiosa para entrar logo. Assim que consegui sua atenção, perdi a coragem de falar algo, mordendo o lábio inferior e tirando meu cinto de segurança.
— Nada. Deixa pra lá — murmurei.
Por mais que eu e minha agente já houvéssemos conquistado uma relação de proximidade, não consegui expressar minha falta de coragem. Eu era a autora do livro, afinal. Fora comigo que gritou. Alexis estaria aqui apenas de forma profissional, para me auxiliar. Mas quem deveria resolver as coisas era eu. Eu era a autora do livro. Eu fui ameaçada. Não podia continuar agindo como a porcaria de uma garotinha assustada.
Agora eu era uma autora publicada. Precisava agir como tal.
Respirando fundo, saí do carro. Assim que o ar fresco daquele ambiente desconhecido me invadiu, prometi para mim mesma que esconderia a apaixonada e fã apenas dentro de mim. Assim como Alexis, agiria de maneira estritamente profissional, apenas como uma autora defendendo sua história. A que eu conhecia não existiria hoje.
Eu podia fazer isso. Claro que sim. E eu faria.
Ajeitando a postura, respirei fundo outra vez e caminhei pela calçada ao lado de Alexis.
Estava na hora. E eu só podia torcer para que tudo desse certo.


Capítulo 12

O silêncio era extenso e perturbador.
Além do tic tac do relógio e da palpitação constante do meu coração, não escutava mais nada dentro da sala. Era como se uma grande onda de tensão se espalhasse pelo ar, expandindo-se mais e mais a cada segundo.
Mais cinco minutos daquilo e eu iria gritar.
Quando chegamos à recepção, a secretária atarefada fez uma ligação para Marcus, avisando da nossa chegada, e em seguida nos orientou para subirmos até o quarto andar. Junto de Alexis, pegamos o elevador e entramos em um corredor tão vazio e silencioso quanto o resto desse lugar. Parecia proposital pra me deixar ainda mais nervosa.
Havia um rapaz bem jovem parado em frente a uma porta, que sorriu ao nos ver e foi bem simpático conosco. Ele nos disse pra esperar dentro da sala enquanto chamava por Marcus.
Então, aqui estávamos. Sentadas sobre um sofá de couro bem confortável e encarando a vista milionária da janela enquanto esperávamos por qualquer sinal de vida do assessor de . Eu me perguntava se Marcus Robben estaria tentando convencer a aceitar essa reunião ou se só estaria muito ocupado mesmo.
Mas algo me dizia que era a primeira opção.
Já estava inquieta a essa altura, remexendo-me sobre o sofá e sentindo a palma das mãos suarem. Alexis mexia no celular, embora, uma vez ou outra, lançasse um olhar afiado em direção à porta, esperando que esta se abrisse.
Não havia muita coisa no cômodo. Apenas uma mesinha de vidro redonda com algumas revistas espalhadas e uma tevê de tela plana sobre a parede. Também tinha uma mesa de escritório com um computador, mas estava tão vazia e organizada que eu duvidava que Marcus ou qualquer outra pessoa realmente trabalhasse aqui.
Era uma mistura de um escritório com uma sala informal.
O ar condicionado estava ligado, mas eu estava tão nervosa que já transpirava sob a roupa. Quando estava prestes a me levantar e observar a vista pela janela, a porta se abriu.
Levei um susto tão grande que dei um pequeno pulo sobre o sofá. Meu coração parou.
— Ah, boa tarde! — cumprimentou um homem, que deveria ser Marcus Robben, com um sorriso grande em nossa direção. Ele parecia agitado, como se tivesse acabado de sair de um compromisso que exigia que andasse e falasse muito. — Esperaram demais?
— Apenas um pouco — respondeu Alexis com rapidez.
— Ótimo! — disse Robben, conforme caminhava com pressa em direção à mesa e batia uma mão na outra. — já está a caminho. Querem um café?
Alexis negou educadamente, mas eu não consegui responder. Tudo o que ouvi retumbando em meus ouvidos era o meu coração, batendo tão rápido que parecia que iria sair pela boca. já está a caminho. Então ele viria mesmo. Não seria apenas Marcus. Eu veria outra vez.
Comecei a ter um leve ataque de pânico, me causando falta de ar, mas disfarcei rápido o suficiente para que ninguém notasse; exceto Alexis, que me lançou um olhar rígido quando me viu perder a cor. Tive que cerrar os punhos sobre o colo, minhas unhas machucando as minhas mãos, conforme inspirava e expirava, inspirava e expirava; tentando me lembrar do meu objetivo ali. Você é a autora de Biggest Fan. Você vendeu um best-seller. As pessoas amam seu livro. Aja como tal. Aja como uma autora.
— Então, sobre o que exatamente precisamos conversar? — perguntou Marcus distraidamente, colocando alguns papéis sobre a mesa antes de se sentar, virando-se na cadeira para nos encarar.
Alexis ajeitou-se sobre o sofá, preparando-se para falar, conforme Marcus Robben colocava uma caneta sobre a boca e aguardava.
— Então, foi à cas…
— Ah, olha quem chegou! — exclamou Robben de repente, estendendo um braço em direção à porta assim que alguém passou por ela.
Alexis não pareceu ficar brava por ter sido interrompida. Assim como eu, ela olhou para a figura que havia chegado, fechando a porta e caminhando até o assessor.
Era ele. Em carne e osso.
E parecia estar estupidamente tranquilo.
— O que foi? — indagou , sentando-se na cadeira em frente à mesa de Marcus e colocando uma perna sobre a outra, relaxado.
Só podia ser piada. Ele não havia nem sequer olhado para nós.
— A assessora de gostaria de falar conosco — respondeu Marcus simplesmente, dirigindo-se a e depois voltando a nos encarar. — Pode falar.
Foi então que pareceu ter notado a nossa presença. Ele se virou, seus olhos parando sobre mim e não saindo mais. Não consegui decifrar sua expressão. Estava sério e indiferente, encarando-me sem nem piscar. Só isso já foi o suficiente para que minhas pernas amolecessem e minha mente ficasse vazia. Tudo pareceu sumir. Eu não conseguia focar na voz de Alexis, que já falava, nem em mais nada. Perdi o rumo, como se estivesse enfeitiçada. Tudo por culpa do maldito .
— … não recebeu nenhum recado de , pois não sabia que ele estava vindo. O apartamento foi praticamente invadido por ele, e minha cliente mal pôde processar o que acontecia quando recebeu as ameaças.
Precisei usar toda a força existente no meu corpo para engolir em seco e desviar o olhar, virando-me para Alexis. Marcus Robben estava concentrado, assentindo com a cabeça e ficando mais sério a cada frase que saía da boca da minha agente. Eu esperei educadamente que ela contasse tudo sobre a visita de à minha casa, fingindo estar tranquila, embora continuasse tendo total ciência dos olhos do cantor sobre mim. Ele não parava de me encarar. Não parava de olhar em nossa direção, possivelmente espumando de raiva por eu não ter mantido sua visitinha entre nós.
Mas apenas vinte por cento da minha atenção estava em Alexis. O resto estava na frase que se repetia constantemente em minha cabeça: estava olhando para mim. Mesmo que isso acabasse da forma mais péssima possível, eu ainda guardaria esse fato no meu coração. Ainda me vangloriaria dele no futuro, sem me importar com o fato de ser, com certeza, um olhar de ódio. Me amando ou me odiando, ele ainda estava olhando para mim. E era isso o que importava.
Meu Deus. Eu era muito estúpida. Talvez merecesse a ameaça de .
— …por isso, acredito que o fato deveria ser discutido de forma mais madura e profissional — explicava Alexis, erguendo o queixo ao encarar Marcus Robben.
O agente de estava surpreendentemente quieto. Um silêncio carregado caiu sobre a sala. Eu e Alexis permanecemos quietas, esperando, quando Marcus enfim franziu a testa, colocando a mão sobre o queixo e virando-se lentamente para na cadeira.
— Isso é verdade, ?
Seu tom era afiado.
Pela primeira vez em toda a minha vida, vi a mandíbula de tremer.
Acho que isso foi resposta o suficiente.
Sentia-me como uma telespectadora vip num show quando Marcus por fim fechou os olhos, passando a mão pelo rosto. Ele soltou um suspiro pesado, e não consegui identificar se estava irritado ou decepcionado. Talvez os dois.
— Por notar que a atitude de foi certamente impensada e impulsiva, pensei que o melhor seríamos resolver isso pessoalmente — Alexis esclareceu, quase sorrindo ao encarar o agente nos olhos. — Assim evitamos desentendimentos futuros.
Não entendi o que ela quis dizer com aquilo. A presença de me deixava tão nervosa que era difícil pensar. Nunca tive tanta dificuldade na vida para formar pensamentos.
Marcus olhava concentrado para Alexis, assentindo como se cogitasse a possibilidade. Pensei que aquele silêncio constrangedor fosse retornar de novo quando ele por fim bateu uma mão na outra.
— Ótimo. O que podemos fazer, então? Talvez um acordo de confidencialidade? O que você acha, ? — ele sugeriu com agitação, virando-se para o cantor, que olhava de Marcus para Alexis com um olhar afiado. Pela primeira vez desde que entrou aqui, parecia concentrado no que estava acontecendo. Nervoso, talvez? Era difícil decifrar suas expressões. Ele com certeza estava se esforçando pra não demonstrar nada além de ódio.
— Talvez possamos acordar em uma divulgação prática — disse Alexis tranquilamente, sem perder aquela postura formal. Olhei para ela, me sentindo como um animalzinho indefeso deixando a mãe controlar a situação. — Se falasse sobre Biggest Fan, isso atrairia um grande engajamento geral.
Alexis não tinha nem terminado de falar quando soltou uma risada de deboche que pareceu ecoar pela sala. Ele olhava para baixo e balançava a cabeça, sem nem precisar verbalizar que achava a sugestão um claro absurdo.
Ah, pois é. Eu estava certa. Meu ídolo odiava a minha história.
Marcus lançou um olhar repreensor na direção dele antes de dirigir-se à minha agente novamente.
— Eu recebi a proposta de parceria. Mas, sinceramente, não sei se seria o ideal agora. acabou de voltar de uma turnê pelo estado e temos trabalhado em maneiras de equilibrar sua agenda. Mas podemos entrar em um acordo, com toda a certeza.
O sorriso enorme e brilhante de Marcus agora começava a me soar meio falso e exagerado. olhava disfarçadamente para o agente conforme o ouvia falar. Estava sério como nunca. Parecia apenas esperar que eu e Alexis partíssemos daqui pra poder gritar com o assessor.
— Isso seria bom — refletiu Alexis. — Mas deixo claro de antemão que não temos o menor interesse em prejudicar ou tirar vantagem da carreira de . sabe disso muito bem como fã do cantor. Os direitos de publicação e a história toda por completo não tem nenhuma relação com na obra publicada.
— Mas a fanfic ainda está publicada — disse de repente.
Alexis parou de falar. Todos olhamos para ele. estava sério, encarando minha agente fixamente de sua cadeira. Seus olhos pareciam lâminas prestes a perfurarem alguém.
— Você disse que a história não tem nenhuma relação com meu nome — continuou ele, aumentando o tom de voz antes que alguém pudesse dizer algo. — Mas a fanfic tem. E ela continua disponível na internet pra qualquer pessoa ler. O que tem a dizer sobre isso?
— A fanfic está publicada gratuitamente — eu falei de repente, atraindo a atenção de todos. Fiquei quente quando me olhou. — Não ganho nada com isso. Não tiro nenhuma vantagem em seu nome.
Me sentia envergonhada sob o olhar de todos, mas sabia que não deveria passar essa impressão. Ainda assim, passava.
— Quanto a isso, não tenho tanta certeza — disse friamente, recostando-se na cadeira e me olhando fixamente. Era estranho ver o rosto que viveu em minhas fantasias por tanto tempo no mesmo cômodo que eu, me encarando de maneira tão fria. Não parecia real. Minha ficha ainda não havia caído. — A fanfic ainda atrai as pessoas pra comprar o seu livro. Uma publicidade que você consegue através de mim. — Ele praticamente cuspiu as últimas palavras.
Comecei a gaguejar, sem saber bem como responder àquilo.
— Mas, eu… eu não sabia que isso podia ser um incômodo. Existem milhares de fanfics suas por aí e…
— Sim, mas nenhuma teve o mesmo alcance que a sua — interrompeu ele, inclinando-se para frente e apoiando os antebraços no joelho. Parecia que ele estava fazendo um jogo comigo de "quem piscar primeiro, perde". E eu continuava perdendo continuamente. — Não gosto do impacto que a história causa. Atrai uma imagem negativa.
— Negativa? — eu falei baixinho, sem conseguir esconder minha perplexidade. — Eu acho que isso é mais uma questão de perspectiva. A história te representa muito positivamente.
Ele soltou outra risada de escárnio.
— Positivamente? Você chama aquilo de positivo?
Não respondi nada. Apenas fiquei olhando para ele, respirando fundo e começando a me irritar.
— Acho que você precisa ser um pouco mais específico nesse quesito, — disse Alexis formalmente, entrando na conversa. — Que aspectos negativos você acredita existirem em Biggest Fan?
transferiu o olhar mortal para ela.
— A parte sexual principalmente. Sua cliente não pensou duas vezes antes de colocar o máximo de cenas obscenas possíveis na querida obra dela — debochou, fechando ainda mais a cara ao esperar por uma resposta de Alexis.
Arregalei os olhos diante do que tinha acabado de ouvir. Parte… sexual?
Oh, meu Deus. havia lido o meu livro.
E pelo andar da carruagem, parecia que ele tinha lido o livro todo.
Merda. Merda, merda, merda. Será que ele achava que eu o havia sexualizado propositalmente? Que tinha me aproveitado da ideia da história pra sexualizar sua imagem diante do público?
Tentei me lembrar de algum trecho específico da história, especialmente aqueles que eu havia escrito em momentos solitários da madrugada.

"— … acho que isso não é uma boa ideia. E se alguém nos pegar aqui?"
"— Eu não estou nem aí pra isso. Eu vou te ter inteira. Nem que seja aqui e agora."


A cena em que a minha personagem e a de ficavam juntos pela primeira vez. As páginas seguintes eram repletas de um conteúdo que talvez eu não devesse ter escrito com a imagem de alguém real na mente.
Puta merda. Talvez tivesse razão. Isso pode ter sido exatamente o que eu fiz.
Talvez eu precisasse me desculpar com uma certa celebridade.
— Eu… não sabia que essa tinha sido a impressão que eu deixei — falei baixinho, levantando os olhos para ele e sentindo Marcus e Alexis me observarem em silêncio. Era extremamente constrangedor. — Me desculpa. Às vezes, quando escrevemos, a gente acaba não notando certas coisas como uma pessoa de fora. É diferente pra quem está passando pro papel. Mas você tem razão, eu deveria ter tido mais atenção sobre a imagem que eu estava transmitindo. Deve ter sido desgradável pra você ter lido aquilo.
Eu já havia abaixado meu olhar novamente quando terminei de falar. Não conseguia encará-lo. Observava minhas mãos de um jeito que qualquer pessoa notaria ser pura distração.
No entanto, quando me forcei a procurar pelo rosto de outra vez, me surpreendi ao ver que ele não parecia mais tão irritado. Ainda estava impassível, me fuzilando com o olhar, mas parecia mais… calmo. Mais normal.
— Bom, então acho que a questão está resolvida — exclamou Marcus, forçando uma animação no ambiente que claramente não se encaixava ali. — O que mais podemos fazer por vocês?
O agente de se recostou na cadeira e esperou, relaxado, como se estivéssemos simplesmente batendo um papo. Acho que Alexis notou por isso, porque se virou para ele e fez questão de exibir uma expressão bem séria no rosto.
— Gostaria que, se possível, entrássemos em um acordo. Acredito que o desgosto de seu cliente com relação ao livro possa não ser uma publicidade muito boa — explicou ela. — Será melhor para ambos os lados se resolvermos o conflito.
— A minha proposta ainda está de pé — anunciou . Olhei para ele na hora. Ele sorria. Um sorrisinho falso e debochado. — Retirem a fanfic do ar e parem de falar no meu nome, e tudo resolvido. É pegar ou largar.
Marcus soltou um suspiro pesado, desviando o olhar com uma expressão de descontentamento. Como se, assim como nós, estivesse começando a ficar de saco cheio disso tudo.
— E então? — insistiu . — Qual vai ser o veredito?
— Posso parar de falar no seu nome — digo de repente, decepcionada ao ver que minha voz não soou tão forte quanto eu pretendia. — Mas a fanfic continuará no ar. Não existe nenhuma lei que impeça os fãs de escreverem.
Me forcei a olhar para ele, levantando a postura de um jeito forçado. Engoli em seco e esperei por uma reação. Ele estava impassível. Ainda assim, apesar da péssima situação em que eu me encontrava, senti um frio na barriga quando seu olhar se fixou em mim. Querendo ou não, eu ainda tinha uma queda por . Ou talvez um precipício.
— Bom, a moça está certa — concordou Marcus alguns segundos depois, aparentando cansaço na voz. Ele olhou para . — Não há como impedir esse tipo de coisa de circulação.
— Certo — resmungou ele, levantando-se da cadeira de supetão. Então fixou aqueles seus olhos lindos em mim, tão arregalados que eu fiquei impressionada com sua capacidade em não piscar. — Valeu, aí, pela reunião. Preciso ir agora.
lançou um sorriso forçado para Alexis e saiu da sala, nos deixando plantadas lá, com um agente envergonhado e uma Alexis que parecia prestes a cuspir fogo.





Continua...



Nota da autora: Sem nota.


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