13. La Decimotercera

Pasito a pasito, suave suavecito
Nos vamos pegando, poquito a poquito
Que le enseñes a mi boca
Tus lugares favoritos

Despacito - Luis Fonsi ft. Daddy Yankee

— Vai, Inès, chuta pro gol!
Seguindo a sugestão de , o pé esquerdo da garota bateu com força na bola, a mandando diretamente na direção das traves improvisadas. Enzo estava defendendo o gol do time adversário e espalmou a bola, a fazendo cair nos pés de Jorhiam, que deu um passe para Théo.
O terceiro filho de Zinédine Zidane não teve muita dificuldade para driblar as primas Inès e Lohenna com o talento herdado do pai, mas precisou de um esforço extra para passar por Luca, um de seus irmãos também tão talentosos, e conseguir chutar a bola com força para o gol em que estava fazendo as vezes de goleira. Ela levantou uma das pernas para impedir o gol e conseguiu segurar a bola antes que algum dos garotos do outro time a pegasse.
— Isso é o melhor que você pode fazer? — Ela soltou uma gargalhada debochada antes de recolocar a bola em jogo, a arremessando na direção de Lohenna.
A casa de Zizou e Véronique estava cheia, quase a família inteira reunida para comemorar a virada do ano. Além de Malika e Smail, os avós de , seus tios Farid, Madjid e Lila também estavam presentes com suas famílias. Seus pais eram os únicos que não estavam em Madrid, pois haviam preferido passar o Réveillon em Paris, e ela não sabia se deveria ficar chateada ou agradecer, já que ainda não sabia como lidar com os dois depois do ocorrido no Natal. Acabou não tendo muito tempo para pensar sobre o assunto, no entanto, pois se reuniu com os primos no quintal dos fundos da casa e o fato de todos estarem muito bem vestidos para o Ano Novo não os impediu de se dividirem em dois times para jogar futebol.
— Lila chamou ao surgir pela porta de vidro, atraindo sua atenção. — Tem uma moça lá na porta querendo falar com você.
— Quem, tia?
— Ela disse que se chama Amelie. Você conhece?
franziu o cenho. Não esperava receber qualquer visita naquela noite, muito menos de Lalie.
— Conheço sim, ela é fisioterapeuta de alguns jogadores do Real Madrid — respondeu, tentando imaginar qual seria o motivo por trás daquela visita. — Fala pra ela entrar, já estou indo.
— Certo. — Lila deu meia volta para adentrar a casa novamente.
— Assume o gol, Luca — disse e deu um tapinha na bunda do primo antes de sair caminhando pela grama até onde ela, Lohenna e Inès haviam deixado seus pares de sapatos.
Levantou a saia transparente do vestido longo para calçar as sandálias de salto e, em seguida, entrou na casa. Conforme caminhava na direção da porta de entrada, sentia o frio na barriga aumentar. Ela não conseguia imaginar nenhum outro motivo que levaria Lalie a procurá-la que não fosse o único assunto em comum que elas tinham até aquele momento: .
— Ela preferiu esperar ali fora — Lila disse ao passar pela sobrinha, fazendo o caminho de volta para a sala de estar.
apenas assentiu com a cabeça antes de sair pela porta e encontrar a fisioterapeuta encarando os próprios pés. Amelie levantou a cabeça ao notar sua presença e a encarou em silêncio por algum tempo até pigarrear desconfortavelmente.
— Er, oi, … eu vim na paz, prometo.
— Oi — ela respondeu, desconfiada, mas baixou a guarda ao perceber que Lalie não parecia ter quatro pedras na mão como em todas as vezes em que elas se cruzaram por Valdebebas nos dias anteriores. — Você queria falar comigo?
— Queria sim. Você olhou seu celular na última hora?
— Meu celular? Não — disse com os olhos minimamente arregalados de preocupação e deu uma olhada para dentro da casa ao mesmo tempo em que tentava se lembrar onde havia largado o aparelho.
— Vai lá, eu te espero aqui.
— Tem certeza de que não quer entrar?
— Tenho sim, estarei aqui.
adentrou a casa novamente, passando os olhos por todas as superfícies nas quais poderia ter deixado o aparelho até chegar à sala de estar.
— Tia, você viu meu celular? — perguntou para Véronique em meio ao falatório de seus tios e avós.
— Acho que não — ela respondeu, se inclinando para olhar as mesinhas espalhadas em volta do sofá em que estava acomodada ao lado do marido.
— É um desses aqui, ? — Farid perguntou, balançando dois celulares no ar.
— É esse, tio. Obrigada — ela disse, apontando para um dos aparelhos, e se aproximou para pegá-lo.
Saiu da sala ao mesmo tempo em que desbloqueava o celular, mas estancou no meio do hall de entrada da casa quando se deparou com uma mensagem de . A surpresa fez seu coração acelerar e, só naquele momento, se deu conta de como havia sentido falta de ler o nome do dentre as notificações.

: Oi, . Quer se encontrar comigo naquela ponte do dia em que saímos pra andar de bicicleta? Se não for atrapalhar sua noite, é claro, mas eu vou dar uma volta por lá de qualquer forma. Você disse pra eu te procurar quando quisesse conversar e eu quero muito isso.

releu a mensagem algumas vezes, absorvendo as palavras uma a uma, e se assustou ao ver que havia sido enviada meia hora antes. Caminhou até a porta mais uma vez, indo de encontro a Amelie.
— Ele realmente tá me esperando?
— Sim. — Lalie riu levemente do desespero estampado em seu rosto. — Mas não se preocupa, ele vai te esperar, eu vim aqui por isso. Será que a gente podia conversar? — ela questionou e concordou com a cabeça. — Bom, primeiro eu queria me desculpar pelo modo que falei com você naquele dia, foi bastante desnecessário, mas o é muito importante pra mim e acabei me alterando.
— Tudo bem. Entendo que você só quis defender seu amigo.
— O e o Jaime tiraram sarro da minha cara pelo resto do dia, me chamando de guarda costas e pitbull — ela disse, rindo. — Você gosta dele?
A seriedade tomou conta do rosto de ao ser pega de surpresa pela pergunta. Olhou para baixo, fitando as flores coloridas da entrada da casa dos tios. Sentia o coração bater mais forte apenas por pensar em .
— Gosto — respondeu, soltando um suspiro. — Só não tenho certeza ainda se isso é algo bom pra ele.
, tudo que envolve você é bom pra ele. Nunca o vi assim, nem com a Emma — Amelie disse, fazendo-a voltar a encará-la ao ouvir o nome da ex-namorada de . — Eu nunca gostei muito dela pra ser sincera.
— Não? Por quê? — ela perguntou, espantada. — Não a conheço pessoalmente, mas, pelas fotos que já vi dos dois juntos, me pareciam ser quase como o casal perfeito.
— Perfeitinho demais, sem graça, sabe? Pensa na versão feminina do . Às vezes tinha certeza de que ia chegar na casa deles e os dois estariam tomando chá e jogando xadrez. O precisa de alguém que o tire da zona de conforto, não alguém que se afunde lá com ele.
balançou a cabeça em sinal de compreensão. O namoro dos dois não era exatamente algo que ela se interessava em descobrir mais a respeito, por isso nem sequer entrava no assunto, mas escutar o ponto de vista de alguém que havia acompanhado parte dele de perto acabou fazendo nascer uma pequena curiosidade quanto aos anos em que passaram juntos.
— Você não acha que eu e ele seríamos um casal sem graça? — questionou, curiosa por saber a opinião de Lalie.
— Você me parece ser o completo oposto de sem graça. E, pra ser sincera, tudo que o precisa nessa nova fase da vida dele, mas só se você também estiver pronta para ser tudo o que ele precisa.
A sinceridade das palavras de Amelie fez uma confusão de sentimentos tomar o peito de .
— Eu gostaria de poder fazer o feliz, mas tenho medo de acabar ferrando com tudo.
— Do que você tem medo? Se tem uma pessoa que pode te fazer feliz, é ele. é o tipo de homem que só se encontra uma vez na vida.
— Sei que, no meu lugar, qualquer outra mulher não pensaria duas vezes, mas tenho medo de não ser boa o suficiente. Às vezes, ele parece um príncipe de conto de fadas. — riu levemente. — Ele merece uma princesa.
— Merece, mas isso não quer dizer que você não pode ser quem ele esteja procurando. Acredito que cabe a ele decidir se te acha boa o suficiente ou não — a outra falou e um sorriso incentivador estampou seu rosto. – Acho que nós duas sabemos muito bem o que ele pensa sobre você.
— Eu quero tentar... Caso ele não esteja me odiando depois do que aconteceu no Natal.
— Quem estava te odiando era eu — Lalie confessou. — Ele me mandou uma mensagem assim que falou com você. Estava bastante chateado.
— Se estava me odiando, por que está aqui tentando me ajudar agora?
— Na verdade, estou aqui pelo . Ele está lá te esperando, mas eu queria te pedir que pensasse bem se você vai mesmo ao encontro dele ou não. Se você for, gostaria que fosse decidida a deixar seus medos de lado, mas, se acha que não está pronta, prefiro que você não vá. Ele é muito príncipe, como você mesma disse, para que fiquem brincando com os sentimentos dele.
— Minha intenção jamais foi me divertir às custas do . Só quero o bem dele. Depois de toda essa confusão, andei pensando bastante e estou disposta a tentar algo com ele pra valer se ele ainda quiser.
— Acho que você já sabe a resposta para essa pergunta, está aí no seu celular.
encarou a tela desligada do aparelho em sua mão enquanto sentia a ansiedade se alastrar por todo seu corpo.
— Tá esperando o quê? — disse Amelie, chamando sua atenção. — Anda, eu te dou uma carona.

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O coração de batia cada vez mais rápido conforme as duas percorriam o condomínio sentadas lado a lado no carro, imersas em um silêncio que só foi quebrado quando Amelie parou o automóvel próximo ao local onde a esperava.
— Vai lá, ele já deve estar prestes a ter um treco.
— Obrigada por isso, Lalie.
— Não precisa, agradeça fazendo meu amigo feliz — ela rebateu, piscando um olho. — Feliz Ano Novo.
— Feliz Ano Novo pra você também.
abriu a porta do carro, porém, antes de colocar os pés para fora, se virou para a fisioterapeuta e a pegou de surpresa com um abraço apertado. Não se importou muito com o fato de as duas nem terem aquela intimidade toda, só precisava demonstrar quão grata estava pelo que Amelie havia feito por ela e, talvez, buscar por um apoio moral antes de estar cara a cara com . Mostrou outro sorriso ao se afastar, um sorriso mais aliviado, e, finalmente, saiu do carro.
A passos lentos e cautelosos, ela desceu o pequeno declive, sentindo os saltos afundarem levemente na grama, e, ao longe, pôde avistar a silhueta de iluminada pela luz da lua.
Ela estava tão nervosa que mal se reconhecia. Não estava acostumada a estar do outro lado, a não ter o controle da situação em suas mãos, e aquilo era assustador. Ele estava disposto a ouvi-la e isso era a única coisa que a confortava, mas não sabia se bastaria explicar o que havia acontecido no Natal e tudo estaria bem ou se precisaria falar abertamente sobre seus sentimentos para reconquistar a confiança do . Temia acabar enfiando os pés pelas mãos mais uma vez e não era um medo que ela tinha normalmente, pois sempre encarava sua vida amorosa com praticidade: se desse certo, ótimo; senão, algumas lágrimas seriam o suficiente para superar e partir para outra.
O problema era que, daquela vez, não queria ter que partir para outra.
se desencostou da grade da ponte ao perceber a aproximação e se virou para encontrar caminhando calmamente em sua direção, o som de seus saltos se chocando contra a madeira ecoando pelo silêncio do condomínio. Seu estômago se revirou como sempre acontecia quando seus olhos se encontravam aos dela. Se sentiu aliviado por ela realmente ter aparecido mesmo sem ter respondido sua mensagem depois de visualizá-la.
— Oi — ele falou quando parou a dois passos dele.
— Oi — ela respondeu, descendo os olhos pelo corpo dele. — Você tá bonito.
— Você tá linda — ele rebateu timidamente. — Desculpa por ter te feito vir até aqui a essa hora, mas eu precisava falar com você antes que o ano acabasse.
— Não tem problema, . Na verdade, fiquei feliz por você ter me procurado. Eu já estava planejando te mandar uma mensagem à meia-noite.
Os dois sorriram um para o outro. Ao notá-la abraçar a si mesma em resposta à brisa fria que cortou sua pele exposta pelo vestido de tecido leve e mangas curtas, tirou o blazer que vestia e o colocou sobre os ombros de .
— Você tá gelada — ele disse, tocando suavemente suas bochechas.
— Obrigada. Eu deveria ter trazido um casaco.
Um riso baixo escapou por seus lábios conforme ela se perdia nos olhos de , que, finalmente, não fugiam dela. O envolveu com os braços e se aconchegou junto a ele quando o sentiu retribuir o abraço e puxá-la para mais perto. Um arrepio a tomou por inteira quando os lábios dele tocaram suavemente seu pescoço para depositar um beijo acanhado. A proximidade a ajudou a reconhecer o aroma do perfume que havia dado para ele de presente de Natal.
O silêncio os envolveu e nenhum dos dois precisou abrir a boca para dizer que tudo estava bem e que não existia nenhum outro lugar no mundo em que gostariam de estar naquele momento. O abraço tão repleto de carinho falava por eles.
— Eu queria entender o que aconteceu no Natal — disse, sua voz baixa se sobressaindo na calmaria do momento.
se afastou para que pudesse fitá-lo nos olhos.
— A ceia na casa dos meus pais foi um desastre, mas nada que já não fosse esperado. — Ela riu baixo sem realmente achar graça da situação. — Não consigo ouvir certas coisas e ficar quieta, então acabamos tendo uma pequena discussão.
— Então você foi encontrar seus amigos e ficou bêbada para compensar a noite ruim.
— Mais ou menos isso.
O silêncio se instalou entre eles por algum tempo, enquanto analisava atentamente o rosto de . Conseguia enxergar honestidade em sua expressão, mas ainda se sentia frustrado por sua impulsividade. As coisas não estavam completamente claras para ele, especialmente o fato de ela ter dito que não era como sua ex-namorada. Jamais esperaria que ela agisse como Emma. Queria que fosse ela mesma, a mulher por quem ele estava se apaixonando.
— Por que você disse aquilo sobre não ser a Emma? — ele se viu perguntando, fazendo-a desviar os olhos para a água tranquila do lago que refletia a luz da lua. — Não entendi por que você se comparou a ela se eu nunca comparei vocês duas.
respirou fundo antes de tomar coragem para voltar a fitar os olhos curiosos do .
— Vicky postou uma foto da família de vocês reunida e vi que a Emma estava lá com você.
— Sempre passamos o Natal juntos, . As nossas famílias são muito próximas desde quando éramos crianças, como eu já te falei.
— Eu sei, — ela disse, mostrando um sorriso tranquilo —, mas eu me senti como uma intrusa, porque vocês se conhecem há tantos anos e são melhores amigos a ponto de as suas famílias passarem o Natal juntas. Por meio de uma simples foto, pude sentir a sintonia que tem entre vocês.
— O que eu tive com ela foi muito especial, mas acabou e o que nos restou foi a amizade. Nada além disso.
— Me dei conta sozinha de que era besteira me sentir insegura em relação à gente por causa da sua amizade com a Emma. Não costumo agir assim, mas é que juntou a discussão com meus pais com uma conversa que tive com meu ex-namorado depois e o arrependimento de ter ficado com outro cara… Tudo isso fez eu me questionar se sou capaz de ser a mulher que você deseja ter ao seu lado.
— Gosto de você do jeito que você é, não quero que mude pra ficar comigo. Acho que você é capaz de ser você mesma, disse em um tom espirituoso, fazendo-a sorrir em resposta às suas palavras. — Que conversa foi essa com seu ex-namorado?
— Lembra sobre aquela conversa que tivemos sobre as nossas inseguranças na adolescência? Foi o Jérémy que me ajudou a superar isso, ele era meu melhor amigo. É muito triste pensar que hoje em dia mal tenho contato com alguém que foi tão marcante na minha vida. Ver você junto com a Emma como dois bons amigos me fez querer ter tido essa mesma maturidade de preservar a amizade tão bonita que eu tinha com ele. Fui eu mesma que fiz ele se afastar de mim quando não enxerguei nada além do meu próprio umbigo na época que terminei com ele pra vir estudar em Madrid. Estava tão empenhada em realizar meus sonhos que não me importei com os sentimentos de uma pessoa que sempre me tratou tão bem. Nossa conversa teve um pouco a ver com isso.
— Ficou tudo bem entre vocês?
— Sim. Ele não guarda rancor pelas minhas atitudes, mas acho que, de qualquer maneira, nossa amizade nunca vai voltar a ser o que era.
— Eu sinto muito.
— Tá tudo bem. Não é como se ele não estivesse muito melhor longe de mim.
— Também não é assim, … — disse, cauteloso, mas foi interrompido.
— Preciso te explicar melhor o que aconteceu. Eu fiquei conversando com esse amigo do Jérémy que estava por lá e, como a gente se deu bem, aceitei a carona que ele me ofereceu. Não era minha intenção, mas acabei indo parar no apartamento dele — contou, revirando os olhos para o próprio talento de sempre tomar as piores decisões quando estava sob o efeito do álcool. O cara era bonito, porém, se comparado com o homem que estava à sua frente naquele momento, não tinha nada de especial. — Não aconteceu nada demais, como já te falei, mas estou muito arrependida. Acho que fiz isso inconscientemente, porque arranjar um jeito de fugir do que me atormenta é o que sempre faço. Não quero mais ser assim, pretendo enfrentar meus medos de forma madura e me permitir viver algo mais intenso do que uma noite vazia com um cara que mal conheço só por diversão. Isso fez sentido durante um período da minha vida, mas não tem feito mais desde que te conheci.
sentiu-se aliviada ao terminar de despejar tudo que estava entalado em sua garganta. Seu maior desejo era que entendesse que ela se importava com o que estava nascendo entre eles.
— Eu realmente gosto de você, — ele falou depois de ficar em silêncio por algum tempo e, apesar de sentir as bochechas esquentarem, se esforçou para que a timidez não o fizesse quebrar o contato visual. — No início, eu pensava que era o fato de você ser uma novidade que chamava a minha atenção, mas aí a gente se aproximou e eu me vi cada vez mais encantado pelo seu jeito divertido de encarar a vida ao mesmo tempo que é super responsável e determinada. É estranho, mas quando eu paro pra pensar em como as coisas eram antes de você chegar, me parece tudo tão sem graça — disse, rindo baixo, e mordeu o lábio inferior enquanto puxava as abas do blazer que cobria seus ombros, se encolhendo sob a peça de roupa. Estava tremendo, mas não sabia se era de frio ou por causa daquelas palavras. — Entendo que você tem outras prioridades e admiro isso, a última coisa que quero é atrapalhar seus planos, mas eu queria uma chance de ser alguém marcante na sua vida também, assim como seu ex-namorado foi. Só que eu não posso sustentar sozinho um possível relacionamento entre nós dois.
abriu a boca duas ou três vezes, mas estava sem palavras diante daquela declaração de , pois havia identificado seus próprios sentimentos nela. Em menos de seis meses, ele havia virado sua vida de ponta-cabeça. Era até engraçado lembrar que um de seus primeiros lemas de vida costumava ser não se envolver romanticamente com jogadores de futebol. Agora, ali estava ela… se apaixonando por um.
Quando, finalmente, ia dar sua resposta, se interrompeu ao escutar fogos de artifício estourando ao longe. Os dois olharam na direção das explosões que iluminaram o céu de diversas cores, mas que, assim como começaram, repentinamente terminaram, deixando para trás um rastro de fumaça.
— É o Toni, ele comprou uns fogos pra soltar à meia-noite — comentou, rindo baixo, e mostrou um sorriso que a fez sorrir junto. — Feliz Ano Novo, .
Ela se aproximou, envolveu-o pelo pescoço com seus braços e grudou a testa à dele, sentindo as mãos dele pousarem em sua cintura. Os dois fecharam os olhos conforme suas respirações se misturavam e mal ouviram a segunda leva de fogos que estourou ao longe, pois estavam ocupados demais apenas sentindo a presença um do outro.
— Feliz Ano Novo — soprou contra os lábios de . — Não precisa querer ser alguém marcante na minha vida, você já é. Você me faz querer ser alguém melhor, . E eu acho que se envolver com alguém de verdade é isso, né?
Ela uniu suas bocas lentamente e, assim, os dois ficaram por algum tempo, envolvidos em um beijo que era um simples toque de lábios, mas que fez a confusão de sentimentos que havia tomado o coração de ambos se dissipar até sumir completamente. Ambos sentiam como se as coisas, finalmente, estivessem se encaixando em seus devidos lugares.
envolveu-a em um abraço ao mesmo tempo que aprofundava o beijo que os fez se sentirem extasiados. Nenhum dos dois tinha motivos para reclamar de 2016, havia sido um ano especial para ambos, cheio de mudanças e realizações que estariam guardadas para sempre em suas memórias, mas o sentimento de que 2017 seria um ano ainda melhor estava ali, presente e sendo demonstrado na forma com que suas línguas se acariciavam carinhosamente.
Precisaram quebrar o beijo quando sentiram o celular que estava no bolso interno do blazer que cobria os ombros de vibrar e ela pegou o aparelho para entregá-lo a . De relance, viu que o nome de Emma estava estampado na tela e apenas apertou a peça que exalava o perfume do em volta de seu próprio corpo.
Ele revezou o olhar entre seu rosto e o aparelho que tocava insistente.
— Atende logo — ela disse, rindo baixo ao perceber o impasse em que ele se encontrava e se afastou alguns passos para lhe dar privacidade, aproximando-se da grade da ponte.
— Oi, Emma.
Não foi tão difícil para se desligar da conversa do jogador ao celular e permitir que seus olhos se perdessem na próxima leva de fogos que começava a queimar no outro lado do condomínio enquanto seus pensamentos vagavam pelas deliciosas sensações que o beijo de havia despertado em si. Finalmente se sentia plena após se libertar da angústia dos últimos dias e contente por dar início a algo que tinha certeza de que valeria a pena. Pôde ouvi-lo desejar Feliz Ano Novo para Emma e dizer outras poucas palavras entre diversos murmúrios, mas era como se todas as palavras entrassem por um de seus ouvidos e saísse pelo outro.
Poucos minutos depois, finalizou a ligação e colocou o celular no bolso traseiro da calça antes de se aproximar de e apoiar os antebraços na grade da ponte ao lado dela.
— Ela me ligou porque essa é a primeira virada de ano que passamos separados em mais de dez anos.
— Essa ligação foi um momento seu com ela, não precisa se explicar.
Ele assentiu com a cabeça e passou o braço pelos ombros da francesa para aconchegá-la em um abraço de lado.
— Eu queria te levar pra jantar amanhã.
— Eu deixo você me levar pra jantar amanhã — rebateu em um tom divertido. — Vai ser nosso primeiro encontro? Acho que você vai ter que pedir autorização pro meu tio.
riu levemente antes de segurar seu queixo para depositar um beijo estalado em seus lábios.
— Não tem problema, o Zizou gosta de mim.

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Quando desceu para almoçar no primeiro dia do ano após pular o café da manhã por ter acordado às quase 14h da tarde, encontrou Benzema sentado no sofá confortavelmente, batendo um papo animado com seus avós e tios como se fizesse parte da família.
— Bom dia, pessoal — ela disse em um tom animado, se fazendo ser notada.
Karim olhou a amiga de cima a baixo, reparando como, mesmo vestida com um short jeans, um casaco Adidas e a cara lavada de maquiagem, ela estava radiante, bem mais do que estivera nos últimos dias.
— Resolveu dormir mais do que a cama? — ele brincou, se levantando para ir até .
— A Lohenna e a Inès dormiram no meu quarto e a gente ficou conversando até amanhecer — ela explicou, se deixando ser envolvida por um abraço apertado.
— Vim te desejar Feliz Ano Novo. Não sou o melhor amigo do mundo?
— Você é um metido, isso sim — rebateu com um sorriso aberto estampado no rosto. — Feliz 2017 para a gente.
— Você tem alguma coisa para me contar?
mordeu o lábio inferior, contendo um sorriso, e olhou para os familiares entretidos demais na história que Farid contava para estarem prestando atenção nos dois.
— Vamos subir — ela disse, convidando-o para segui-la.
No corredor, cruzaram com os primos pré-adolescentes de .
— Karim! — Elyaz exclamou.
— E aí, cara? Feliz Ano Novo.
— Pra você também — ele respondeu, desviando da mão de Benzema que tentou bagunçar seu cabelo. — , leva a gente pra correr de kart?
— Hoje não vai dar, meninos, eu vou sair. Por que vocês não pedem pro Enzo ou pro Luca?
— O Luca sumiu — Elyaz respondeu, bufando.
— E o Enzo?
— Vou falar com ele, mas bem que meu pai podia nos deixar ir sozinhos, né? Eu já tenho 11 anos.
e Karim trocaram olhares divertidos.
— É claro que vocês não podem sair de casa sozinhos. São meus bebês.
Elyaz revirou os olhos e deu um passo para o lado para fugir das mãos de , que tentou apertar suas bochechas.
— A gente vai procurar o Enzo.
Ela apenas soltou uma risada ao ver o primo correr rumo ao primeiro andar da casa, seguido pelos outros dois, e retomou o caminho que fazia anteriormente.
— Conta logo o que aconteceu — Karim falou impacientemente.
— Adivinha — rebateu com um sorriso arteiro nos lábios ao mesmo tempo que fechava a porta logo após os dois adentrarem o quarto.
— Imagino que tenha a ver com — ele falou, sentando-se na cama, e pôde ver o rosto dela se iluminar ainda mais conforme ela meneava a cabeça, assentindo. — Vocês transaram?
gargalhou, sentando-se ao seu lado.
— Não, a gente se encontrou ontem. Ele me chamou pra conversar, expliquei tudo o que aconteceu e colocamos as cartas na mesa. Acabou que passamos a virada juntos naquela ponte, lembra?
— Não comemoraram com um sexo de reconciliação? — Benzema questionou com uma falsa indignação, fazendo-a rir.
— Ele me chamou pra jantar hoje.
— Vai ser pra valer agora, né? Ou você tá planejando sair de fininho como sempre?
— O cara já deixou claro que tem sentimentos por mim. Que tipo de pessoa você acha que eu sou? — ela questionou, ofendida.
— Olha lá, . Não quero ter que me meter pra te defender se você fizer alguma merda — Karim falou em um tom zombeteiro.
— Tenho boca pra dialogar e resolver meus problemas, não preciso de você.
— Deixa só você começar a usar a boca com o pra outras coisas.
— Não vejo a hora — rebateu maliciosamente, piscando um olho. — Eu te ajudei a escolher a roupa que você usou no seu primeiro encontro oficial com a Lola. Hoje é a sua vez.
— Qualquer coisa que te deixe gostosa — ele falou ao vê-la caminhar na direção do closet. — Não que eu ache que isso vai ser um desafio.
— Isso não me ajuda em nada. Vem aqui!
— Eu não entendo nada de moda, . Não é melhor você pedir ajuda pra uma das suas amigas?
Mesmo sem muita vontade, ele se levantou e foi até onde a amiga analisava cabide por cabide.
— Não, quero uma opinião masculina. Vestido, saia ou calça?
— Vestido. Sempre.
— Você é muito previsível. — rolou os olhos. — Estou mais no clima de usar calça.
— Pra que tá pedindo minha opinião então?
A risada da francesa ecoou pelo ambiente.
— Deixo você escolher minha blusa. Qual dessas duas prefere?
— Essa. praticamente só te vê de uniforme, vai matar o cara do coração se aparecer com um decote desse.
Um sorriso quase imperceptível surgiu nos lábios de conforme ela analisava a blusa que caía perfeitamente em seu corpo e destacava seu busto. Modéstia à parte, sentia-se bastante gostosa quando a vestia e não pôde deixar de imaginar qual seria a reação de quando a visse à noite. Gostava da forma carinhosa e até um pouco inocente com que ele a observava, mas não tinha como ignorar a curiosidade que tinha de descobrir o homem que estava escondido por baixo de toda aquela timidez. Sua intenção não era apressar seu ritmo, mas não via mal nenhum em encorajar que ele saísse do casulo pouco a pouco.
— Nessa eu vou te dar razão — ela disse, piscando um olho, e, depois de devolver a blusa que não usaria ao seu devido lugar, mostrou os cabides com as peças de roupa escolhidas. — Vou ficar bonita?
— É hoje que você perde a virgindade — Karim falou em um tom divertido e acabou por rir junto quando soltou uma gargalhada alta.

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só percebeu que suas mãos tremiam levemente quando soltou o volante ao parar o carro em frente à casa dos Zidane. Pegou o celular no bolso interno do blazer que vestia e digitou uma mensagem para , avisando que já estava ali para buscá-la. Esperou pacientemente por longos cinco minutos que mais pareceram uma eternidade, mas a resposta não chegou, então decidiu tocar a campainha da casa.
A mulher que abriu a porta mostrou um sorriso aberto ao reconhecê-lo. Ele pôde notar traços de nela.
— Você é , certo? Meu nome é Lila, sou irmã do Zizou — ela falou, simpática. — Meu inglês não é muito bom, mas vem, entra, vou chamar a .
Merci — ele respondeu com uma das poucas palavras em francês que sabia, senão a única, atitude que a fez sorrir com apreço ao dar espaço para que ele adentrasse a casa.
— Zizou! — Lila chamou alto enquanto fechava a porta.
O falatório que vinha do cômodo ao lado diminuiu de intensidade e, poucos segundos depois, Zinédine surgiu no hall de entrada e esboçou um sorriso quando se deparou com um de seus jogadores.
— Ei, ! Feliz Ano Novo.
— Obrigado, Zizou. Pra você também.
— Eu vou chamar a . — Lila piscou um olho antes de sumir pela escada.
— Vocês vão sair, né? — Zidane questionou, cruzando os braços com seu jeito calmo de sempre.
— Sim, vamos jantar — respondeu, se sentindo mais tranquilo e confiante diante do treinador, assim como se sentia ao ouvir seus discursos no vestiário.
— Já decidiram o local? Se precisar de alguma dica, é possível que eu e Véronique já tenhamos ido em quase todos os restaurantes de Madrid.
— Eu fiz uma reserva no Ramón Freixa, ouvi boas recomendações.
— Ótima escolha. Além de a comida ser deliciosa, também é um restaurante excelente em termos de privacidade. Vocês vão gostar.
Ambos tiveram suas atenções tomadas pelo som da aproximação de passos apressados. sentiu o coração dar um salto dentro do peito ao ver adentrar seu campo de visão enquanto terminava de vestir um blazer e não pôde evitar que seus olhos subissem dos saltos que a deixavam mais alta do que de costume, passando pelo decote que mostrava seu colo, até chegar aos olhos destacados por um delineado grosso.
— Eu só vi a sua mensagem agora, . Desculpa pela demora — ela disse com um sorriso culpado, passando os dedos pelos fios de cabelo para jogá-los para o outro lado. O olhou disfarçadamente de cima a baixo, perguntando a si mesma como era possível que ele parecesse mais bonito a cada vez que o via. — Você não tá perturbando ele, né, tio?
— Só estou perguntando quais são as intenções dele com minha afilhada — Zinédine brincou, passando um braço pelos ombros da sobrinha, puxando-a para um abraço de lado. — Ou eu deveria perguntar pra você quais são suas intenções com meu jogador?
olhou de um para o outro com um sorriso divertido nos lábios e apenas soltou uma risada.
— Vamos? — ela questionou, entrelaçando seu braço ao de .
— Bom jantar pra vocês. — Zizou se despediu de com um aperto de mão e de com um beijo na bochecha.
Os dois caminharam silenciosamente até o carro estacionado no meio-fio. Pararam um de frente para o outro e sorriu antes beijá-lo.
— Agora sim — ela disse, sorrindo, quando os dois se afastaram. — Aonde você vai me levar?
— Surpresa. — Ele piscou um olho e abriu a porta do passageiro, convidando-a para entrar no carro.
— Deixa que eu dirijo. Só vai me dizendo pra onde tenho que ir.
— Nem pensar. Entra aí.
— Você ainda está se recuperando, . Não pode ficar esforçando o tornozelo desse jeito.
— Está tudo sob controle. Passei o dia com a perna para o alto e Jaime me liberou para dirigir hoje.
— É muita teimosia para uma só pessoa, hein? — disse com as mãos na cintura, mas acabou rindo antes de adentrar o automóvel e se acomodar no banco do passageiro.
Observou dar a volta com um sorriso contido. Não podia negar que era adorável vê-lo se esforçar para tudo sair como o planejado. Ela se sentia uma adolescente desde a noite anterior, mal conseguia manter aquele sorriso bobo fora do rosto.
Percorreram as ruas de Madrid, rumo ao bairro de Salamanca, em um percurso que durou cerca de vinte e cinco minutos, imersos em uma conversa descontraída que proporcionou um clima bastante agradável. encheu o de perguntas, queria saber tudo que tinha perdido nos dias em que estiveram distantes um do outro, como haviam sido suas festas de final de ano e como estava progredindo sua recuperação da lesão no tornozelo. Mesmo que sua posição como assistente técnica a fizesse saber de todos os detalhes técnicos, ela queria ouvir da boca de como ele estava se sentindo e lidando com aquilo tudo. Mal viu o tempo passar enquanto fitava os olhos azuis que se revezavam entre ela e o trânsito, ouvindo a voz que tanto adorava ouvir.
O parou o carro em frente ao Hotel Único e saiu para abrir a porta para , que segurou sua mão estendida e sorriu em agradecimento ao sair do carro. Ela admirou a fachada elegante do prédio de poucos andares enquanto entregava a chave ao manobrista e permitiu que ele segurasse sua mão.
O casal foi guiado por um funcionário do hotel até o restaurante nomeado a partir do chef catalão Ramón Freixa, onde foram recebidos pelo próprio. Ele sempre fazia questão de atender pessoalmente os clientes mais importantes, o que, definitivamente, era o caso de e Zidane.
O salão principal do restaurante tinha um ar retrô por conta do mosaico no chão em tons de branco, preto e marrom, além de uma enorme foto da Gran Vía, uma das principais ruas de Madrid, na parede, e um espelho no teto. Os dois, no entanto, seguiram o chef até o salão privado que o jogador havia reservado para que pudessem ter um jantar tranquilo, longe de olhares curiosos, e se acomodaram em uma das mesas próximas a uma parede inteiramente espelhada.
— Fiquem à vontade — Ramón falou, entregando um cardápio para cada um, antes de se retirar.
— Já tinha vindo aqui antes? — perguntou, analisando o ambiente.
— Não, foi o Toni que recomendou — respondeu e não pôde deixar de se lembrar da sugestão do amigo de que ele reservasse também um quarto no hotel para passar a noite com . ainda estava um pouco inseguro sobre a última parte, mas achou que o restaurante era uma boa opção para um primeiro encontro. — E você?
— Não que eu me lembre, mas é bem aconchegante, né? — ela respondeu, sorrindo.
abriu o cardápio para relembrar os pratos oferecidos pelo restaurante que já havia visto por alto na internet.
permaneceu observando-o e sequer tocou no cardápio. Virou a cabeça e encarou o reflexo dos dois.
— Quer escolher, ? — Ele levantou a cabeça e franziu o cenho ao vê-la entretida com a parede espelhada. — Que foi?
Ela esboçou um pequeno sorriso, balançando a cabeça de um lado para o outro.
— Só estava reparando como a gente forma um casal bonito — disse, fazendo-o rir.
— Eu já tinha percebido faz tempo. — Ele piscou um olho. — Escolhe alguma coisa. Não sei bem do que você gosta de comer.
— Ok, vamos ver o que temos de bom aqui — disse em um tom divertido e tirou o blazer para, em seguida, deixá-lo sobre o encosto da cadeira. Enquanto abria o cardápio, pôde reparar que os olhos do estavam em seu decote e não pôde evitar um sorriso satisfeito. — Meus olhos ficam um pouquinho mais para cima.
sentiu o rosto esquentar e passou uma das mãos na bochecha sem jeito.
— Desculpa, .
— Se eu não quisesse que você olhasse, eu nem vinha com essa blusa, né? — ela brincou, piscando um olho, e riu de sua expressão embasbacada.
voltou a atenção para a lista de pratos elaborados por Ramón Freixa e ele soltou um suspiro, sentindo a vergonha se dissipar diante da naturalidade com que ela agia.
Vez ou outra, quando o chef catalão apareceu para indagar qual seria a escolha da noite e pediu um salmão selvagem do Alasca com seus respectivos acompanhamentos, ou enquanto os dois degustavam o jantar delicioso, conversando sobre trivialidades, os olhos de desciam para o decote da francesa sem ele sequer se dar conta.
Ao terminar a refeição, o casal foi para a varanda do restaurante, onde, pelas paredes de vidro, podia ver o belo jardim do hotel. Ele sentiu uma sensação diferente quando os lábios de tomaram os seus para dar início a um beijo lento e com gosto do vinho francês do qual ela havia tomado duas ou três taças. Ele a envolveu pela cintura com os braços, fazendo o corpo dela se grudar ao seu, e sentiu um arrepio quando as unhas compridas deslizaram por sua nuca. Quanto mais intenso o beijo se tornava, mais vontade tinha de beijá-la.
Quebraram o beijo algum tempo depois, com as respirações descompassadas e sorrisos estampados no rosto. riu baixinho quando ele enterrou o rosto em seu pescoço, inalando o perfume doce que ela havia borrifado na região, e sentiu seus lábios quentes depositarem um beijo molhado em sua pele, o que fez crescer o desejo de ter mais daquela carícia em outros locais de seu corpo que imploravam por serem conhecidos por .
— Eu ainda não entreguei o seu presente de Natal — ele sussurrou próximo ao ouvido de , que sentiu os pelos da nuca se arrepiarem.
— Envolve mais desses beijos? — ela perguntou, rindo levemente. — Você sabe que não precisava de presente.
— Claro que precisava. — sorriu e se afastou para tirar uma caixinha de dentro do blazer. — Espero que você goste.
— A última vez que você me deu uma jóia, ela virou meu amuleto da sorte. É claro que vou gostar — falou, abrindo a caixinha, e levantou as sobrancelhas em admiração quando se deparou com brincos de ouro com quartzos rosas. — Uau, são lindos.
Ela sabia que não era um presente qualquer, a escolha do quartzo rosa, conhecida como a pedra do amor, não havia sido por acaso. A intensidade com que os olhos de analisavam os seus deixava isso bem claro.
— Eu também queria saber se você quer ser minha namorada.
A expressão no rosto de foi de surpresa quando ela absorveu as palavras ditas por ele e um riso nervoso escapou por seus lábios.
Sua resposta foi expressa na forma de um beijo.

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Era dia de jogo, o primeiro do ano, e o Real Madrid enfrentaria o Sevilla pela partida de ida das oitavas de final da Copa del Rey, no Santiago Bernabéu, naquela noite. estava tomando o café da manhã, sentada ao lado de Toni Kroos em uma das mesas do refeitório da residência dos jogadores na Ciudad Real Madrid, os dois sonolentos demais para terem ânimo de manterem uma conversa. Nesse meio tempo, Carvajal adentrou o refeitório, logo se aproximando dos dois, e se inclinou para dar um abraço rápido no alemão.
Ela franziu o cenho, pensando ter escutado o espanhol desejar feliz aniversário para o outro, e foi cumprimentada com dois beijinhos na bochecha por Dani, que, em seguida, foi até o buffet escolher o que comeria de desjejum.
— É seu aniversário hoje? — ela perguntou, se virando para Toni.
— Você é uma ótima amiga, — ele retrucou, soltando um risinho.
— Se você não falar, não tem como eu adivinhar que dia você nasceu. Não dá pra decorar a data de aniversário do time inteiro, minha memória não é tão boa assim. — Ela fez uma careta. — O meu é depois de amanhã.
— Pode deixar que eu também vou esquecer de te dar parabéns — Kroos brincou entre uma golada e outra no seu copo de iogurte.
— Quantos anos você tá fazendo?
— 27.
— Eu também vou fazer 27! — exclamou, surpresa, e riu da coincidência de ter nascido apenas dois dias depois de justamente Toni Kroos, com quem vivia se bicando, mesmo que por pura brincadeira da parte de ambos.
— Eu pensava que você era mais velha.
— Tá dizendo que eu tenho cara de velha?
— É que você já tem uma experiência no futebol que poucas pessoas têm antes dos 30 — ele explicou, dando de ombros. — Caramba, , você me venera tanto que fez questão de nascer dois dias depois de mim.
— Você é muito chato, Kroos — ela disse, mostrando a língua, e pegou o celular que havia deixado em cima da mesa. Após alguns cliques, puxou o jogador ao seu lado para um abraço. — Alles Gute zum Geburtstag.
Danke — ele respondeu, sorrindo. — Desde quando você sabe dar feliz aniversário em alemão?
— Desde quando eu tenho um aplicativo do Google Tradutor instalado no meu celular.
O refeitório foi se enchendo conforme os jogadores iam acordando depois da noite que passaram concentrados em Valdebebas e o falatório ia aumentando cada vez mais.
Um sorriso tomou conta dos lábios de quando passou pela porta, este vindo de sua própria casa, já que estava fora da convocação para o jogo por conta de sua lesão. Ele caminhou até a mesa em que seu grupinho de sempre estava sentado, além, é claro, de sua namorada.
— Feliz aniversário, cara — ele disse, abraçando Toni, que havia se levantado para cumprimentá-lo.
Em seguida, se inclinou para beijar a bochecha de , que não o deixou se afastar sem beijá-lo também na bochecha. Os dois ainda não haviam escancarado o namoro de três dias para o time inteiro, apesar de Zizou, Karim, Toni, Luka e Mateo já estarem por dentro da novidade. Agiam carinhosamente um com o outro em todas as vezes que se encontravam pela Ciudad Real Madrid, mas sempre com bastante discrição.
— Olha o sorrisinho dela só porque o namoradinho chegou — Toni Kroos debochou, fazendo Luka, que estava sentado do outro lado da mesa, soltar uma gargalhada.
Karim, que prestava atenção na cena a algumas cadeiras de distância, também riu.
— Vai se ferrar, Kroos — disse, rolando os olhos, e levantou a cabeça para encarar o , que estava em pé com as mãos apoiadas no encosto de sua cadeira. — Vai pegar alguma coisa pra comer. Você tem que se alimentar direito.
— Tomei café da manhã em casa com a Lalie.
— Esse negócio de a Lalie dormir na casa dele não te incomoda, ? — Toni questionou por curiosidade.
— Por que me incomodaria? É amiga dele.
— A Lalie é como a minha versão feminina — Karim brincou. — Batalhamos muito pra juntar esse casal.
— Espera aí, vocês estão juntos? — Marcelo perguntou, atraindo a atenção de todo o grupo. Ele estava sentado próximo a eles, ouvindo a conversa sem entender muita coisa, já que seu inglês não era dos melhores.
e se entreolharam, como se estivessem questionando um ao outro se deveriam ou não abrir o jogo.
— Sim, estamos namorando desde o dia primeiro. — Foi a francesa quem respondeu, fazendo o brasileiro tapar a boca com as mãos em surpresa.
— Eu sabia que vocês estavam amiguinhos demais! — ele exclamou, fazendo gestos exagerados, e, em seguida, bateu com a palma da mão no tampo da mesa. — Não te falei, Pepe? Você ficou dizendo que eu estava viajando.
— E aí, pessoal? — Cristiano Ronaldo falou sorridente ao chegar ao refeitório acompanhado de Amelie.
— Ouviu essa, Cris? — disse Marcelo. — e estão namorando.
— Sério? — Álvaro Morata perguntou da outra mesa.
Só então, reparou que o refeitório inteiro já estava a par da novidade e uma confusão de perguntas preencheu o ambiente, todos querendo saber mais detalhes sobre o romance dos dois.
— Vou trabalhar que eu ganho mais — ela disse, se levantando da cadeira. — E vocês deveriam fazer o mesmo, bando de fofoqueiros, vocês têm um jogo hoje.
Depositou um beijo rápido nos lábios de , o que despertou uma gritaria e assobios, e deu meia volta em meio a risos.
— Lalie chamou, fazendo-a estancar no meio do caminho —, posso falar com você rapidinho?
Ela assentiu, notando a seriedade no rosto da fisioterapeuta.
— Vamos ali pra sacada.
As duas passaram pela porta de vidro e se acomodaram em um dos sofás que tinham na parte externa do refeitório.
— É sobre ? — perguntou ao ver Lalie soltar um longo suspiro.
— Não, não — ela disse prontamente. — Eu só dei um empurrãozinho pra vocês se acertarem, agora é com vocês.
— Então é sobre o quê?
— Primeiramente, quero que saiba que eu pensei muito se deveria te contar isso ou não. Não contei nem pro , porque ele provavelmente falaria pra não me meter nisso.
— Você tá me assustando, Lalie.
A fisioterapeuta chegou mais perto de e, aos sussurros, disse próximo ao ouvido dela:
— Eu vi a namorada do Benzema com o seu primo lá no condomínio, aquele que é a cara do Zidane. Duas vezes. E, nas duas, eles se beijaram.
Se afastou em seguida e fitou o rosto inexpressivo de , dando alguns segundos para que ela pudesse digerir a informação.
— Eu vou matar o Luca — ela disse entredentes.
— Sei que é uma informação vaga e você tem todo o direito de não acreditar em mim, mas achei melhor te contar pra você decidir o que fazer. Mal conheço o Benzema e muito menos seu primo, mas você já viu como sou quando magoam um amigo meu. Não me sentiria bem em não te contar sabendo da sua amizade com o Karim.
— Eu acredito em você, Lalie, já tem um tempo que desconfio que tá rolando alguma coisa entre aqueles dois. Obrigada por ter me falado, vou ver o que faço antes que a bomba exploda.
Amelie esboçou um sorriso confortador que retribuiu antes de voltar os olhos para o vidro e observar Karim rir de algo que Toni Kroos havia dito. Ela sentia seu coração partir só de imaginar quão chateado o melhor amigo ficaria com aquela punhalada nas costas logo quando pensava que, finalmente, havia encontrado a mulher que o faria esquecer Chloé.

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Dois gols de James Rodríguez e um de Raphaël Varane garantiram uma vitória por três a zero sobre o Sevilla que fez o Real Madrid andar meio caminho rumo às quartas de final da Copa del Rey. Apesar do sentimento de dever cumprido por conta do bom resultado, deixou o Santiago Bernabéu com um aperto no peito. Seus olhos estavam concentrados no trânsito, que estava lento por conta da multidão de torcedores que lotavam as ruas próximas ao estádio, mas seus pensamentos estavam perdidos na confusão em que seu primo Luca havia se metido. Ela passara o dia inteiro pensando sobre aquilo, inclusive durante o tempo em que esteve sentada no banco de reservas durante o jogo. Sabia que teria que se intrometer, já que dois dos três envolvidos eram seu primo e seu melhor amigo, mas não sabia como, exatamente, deveria fazer isso. Conversar com Luca talvez fosse o primeiro passo mais sensato a ser dado.
, que havia ido até o estádio como espectador, estava acomodado no banco do passageiro do carro de e tentava desvendar o que se passava em sua cabeça enquanto a observava de canto de olho. Não que o silêncio que os envolvia não fosse confortável, mas era estranho vê-la tão calada daquele jeito.
— Tá tudo bem? — ele questionou, fazendo-a despertar de seus próprios pensamentos. — Você tá muito quieta hoje.
fitou os olhos atenciosos do e respirou fundo. Precisava compartilhar aquilo com alguém e não podia imaginar ninguém melhor do que seu namorado.
— Luca está tendo um caso com a namorada do Karim — contou de uma vez. O rosto de foi tomado pelo espanto. — Eu já estava desconfiada desde o Mundial, vi os dois de conversinha lá no hotel, longe de todo mundo, e ele anda meio misterioso, tem saído com uma garota desconhecida. Eu só não tinha certeza, mas lembra que a Lalie me chamou pra conversar hoje de manhã?
— Sim, ela não quis me dizer sobre o que vocês conversaram.
— Foi sobre isso. Ela viu Luca e Lola duas vezes lá no condomínio aos beijos e achou melhor me contar — disse, encolhendo os ombros. — O problema é que agora não sei se devo contar pro Karim. Não gosto de saber que ele está sendo enganado, mas não é um cara qualquer, é meu primo.
— Você não está se sentindo culpada por isso, né? — questionou, preocupado, pois era perceptível que ela estava entre a cruz e a espada.
— Um pouco — ela confessou em meio a um suspiro. — Estou furiosa com o Luca. Qual era a necessidade de se envolver com namorada dos outros? Ainda mais um amigo nosso.
— Ele está naquela idade de não pensar nas consequências dos atos.
— Você era assim com 18 anos por acaso?
— Não — respondeu, rindo levemente —, mas a maioria dos garotos é. Eu acho que o Karim vai ficar chateado, é claro, mas não vai querer fazer justiça com as próprias mãos.
— O pior é que não tenho nem como defender o Luca — disse, bufando, e se inclinou para apertar o botão que iniciou a playlist que gostava de escutar enquanto dirigia. — É bom que ele esteja com os ouvidos preparados, porque hoje vai me escutar.
Addicted to You, da Shakira, começou a tocar alto, preenchendo o silêncio em que os dois caíram. A francesa cantarolava junto enquanto dirigia pelas ruas agora mais calmas, já que eles se aproximavam de La Finca, até ouvir o toque de seu celular se misturar à música.
— Vê quem tá ligando, por favor? — ela disse, indicando o banco traseiro, onde havia largado a mochila ao adentrar o carro.
se inclinou para trás, alcançando a mochila sem muita dificuldade, e a abriu para pegar o celular da francesa.
— É um número desconhecido. Acho que é da França.
— Eu não acredito. — bufou, irritada. — Pode recusar. É o cara do Natal. Já recusei trezentas ligações e ele não se toca.
recusou a chamada.
— O cara com quem você ficou? — perguntou, intrigado, devolvendo o celular de volta à mochila. — Você deu seu número pra ele?
— Não, mas não era a tarefa mais difícil do mundo ele conseguir meu número. Juro pra você que não dei abertura nenhuma pra ele me procurar. Vou pedir pro Jérémy dizer pra ele parar de me ligar.
apenas concordou com a cabeça, compreendendo a situação. Não tinha motivos para achar que pudesse estar contando meias verdades, mas também não sabia bem o que pensar sobre aquilo. Ela era uma das mulheres mais bonitas que ele já havia visto em sua vida, não era difícil de entender por que aquele cara estava atrás dela mesmo tendo sido ignorado tantas vezes, assim como provavelmente muitos outros já haviam ficado e ainda ficariam. Seria difícil, mas sabia que teria que aprender a conviver com isso e confiar no sentimento que os unia e se fortaleceria aos poucos.
— Eu passo pra te buscar em meia hora, está bem? — disse ao parar em frente à casa do , seu primeiro destino ao chegar a Los Lagos.
— Tá bom. Boa sorte com o Luca.
— Obrigada.
Ela esboçou um sorriso antes de se inclinar para beijar nos lábios. Um beijo rápido, já que os dois logo se veriam novamente para irem até a casa de Toni Kroos, onde teria uma pequena reunião com os mais chegados para comemorar seu aniversário.
Depois de deixá-lo em casa, seguiu para a sua própria. Estacionou o carro, notando que o de Luca estava por ali, o que significava que ele estava em casa, e agradeceu mentalmente por isso. Cumprimentou a tia rapidamente, que esperava pela chegada do marido, que ainda voltava do estádio, para que os dois fossem jantar fora, e subiu direto para o quarto do primo.
Não fez questão de anunciar sua chegada antes de adentrar o quarto. O baque da porta sendo fechada assustou o garoto que havia acabado de sair do banho e estava apenas de cueca, escolhendo a roupa que vestiria dentro do closet.
— Caramba, ! — ele falou, vestindo rapidamente a calça jeans que tinha em mãos. — Existe uma porta pra você bater nela antes de entrar.
— Existem mulheres solteiras pra você não se envolver com as que têm namorado.
Os olhos de Luca se arregalaram em resposta às palavras da prima.
— Você tá doida — ele murmurou sem encará-la, tirando uma camisa do cabide.
— Não, quem tá doido é você — disse, parando de braços cruzados na porta do closet. — Caramba, Luca, ela é namorada do Karim! Você parou pra pensar na confusão que tá se metendo por puro capricho?
O garoto vestiu a camisa e fechou botão por botão silenciosamente enquanto sentia o olhar de queimar suas costas.
— Ela nem gosta dele — ele murmurou depois de algum tempo.
— Se gostasse, não estaria o traindo — ela com obviedade. — Não se iluda achando que com você é diferente. Na nossa viagem para Marbella, tive a impressão de que ela estava se insinuando pra você e pro Enzo. Agora, tenho certeza. Ela não gosta de você, Luca. Provavelmente, só quis garantir um dos filhos do Zidane para o caso de não dar certo com o Karim.
— Você está querendo dizer que não existe nenhum motivo pra alguém gostar de mim além do fato de eu ser filho do Zidane?
— Claro que não! Se estou aqui tendo essa conversa com você, é justamente porque acho que você merece mais do que as migalhas que essa garota está te dando. — suspirou longamente. — Além disso, é sacanagem fazer isso com o Karim.
— Eu gosto dela — Luca sussurrou, encarando os próprios pés descalços, sem coragem de olhar para a prima.
— Por favor, Luca, cai fora dessa enquanto ainda é tempo. Você não gosta dela, só está encantado. A garota certa pra você vai aparecer mais cedo ou mais tarde — ela falou em um tom mais calmo, tentando se mostrar compreensiva. — Eu vou contar pro Karim, ele é meu amigo e merece saber o que está acontecendo, mas vou te dar uns dias pra terminar com ela. Talvez ele fique menos chateado assim. Não quero ter que me meter nisso pra te defender.
— Eu não preciso que você me defenda, — ele disse secamente. — Também não preciso dos seus conselhos. Você não sabe o que tá rolando entre a gente e não tem nada a ver com isso.
sentiu como se tivesse acabado de levar um tapa na cara. Era difícil de acreditar que o Luca que estava à sua frente, a encarando com um olhar duro, era o mesmo que havia segurado no colo quando era apenas um bebê recém-nascido, o primo que sempre foi o mais apegado com ela. Era complicado não vê-lo mais como aquele garotinho que vinha para seu colo sempre que se machucava jogando futebol. Naquele momento, se deu conta de que, talvez, ele realmente não precisasse mais de sua proteção, pois já era um homem e poderia arcar com as consequências de seus atos por si próprio.
— Você tem três dias. Se vai terminar ou não, o problema é seu, mas eu vou contar pro Karim. Você se resolva com ele.
não esperou por uma resposta, deixou o quarto de Luca e seguiu para o seu próprio com um nó na garganta. Permitiu algumas lágrimas caírem durante o banho e, também, ao contar para como havia sido a conversa quando atravessavam o condomínio na direção da casa de Toni Kroos, mas esboçou um sorrisinho quando ele a envolveu em um abraço apertado e disse que iria ajudá-la a se sentir melhor.

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Era o sexto dia do ano, dia em que Zidane completava mais um ano de vida. Seu aniversário de 27 anos começou um tanto estranho quando pegou o celular para olhar as horas e viu uma mensagem de sua mãe pedindo para que a chamasse no Skype assim que acordasse. Foi o que fez e acabou passando os quarenta minutos seguintes batendo papo com Sylvie por vídeo, ainda deitada na cama. As duas tiveram uma conversa de mãe e filha que há tempos não acontecia e ficaram a par de todas as novidades que deveriam ter contado uma para a outra no Natal. O sorriso não saiu do rosto de enquanto ela narrava seu envolvimento com , algo que sua mãe notou e, inclusive, comentou. A ligação terminou com Sylvie prometendo que ela e Nourredine a visitariam em Madrid em breve.
bloqueou o celular e se levantou da cama se sentindo diferente, mais leve. Mesmo que as duas não tivessem conversado sobre o desentendimento no Natal, sabia que aquilo havia ficado para trás e desejou que o clima descontraído se mantivesse para que as duas pudessem ter outras conversas como aquela. Às vezes, sentia falta de quando era mais próxima à mãe na infância e início da adolescência.
Depois de fazer sua higiene matinal, trocou o pijama pelo uniforme e desceu para tomar o café da manhã. Como de costume, encontrou os tios sentados à mesa da sala de jantar e ambos sorriram ao vê-la passar pela porta.
— Bom dia, aniversariante — Zizou disse, piscando um olho, e se levantou para abraçar a sobrinha. — Feliz aniversário, .
— Obrigada, tio — ela respondeu, também sorrindo, e, depois de cumprimentá-lo, se aproximou de Véronique, que a aguardava de braços abertos.
— Parabéns, querida. Muita saúde e juízo, viu?
— Juízo eu já tenho de sobra — rebateu em um tom divertido.
— Você passou pela sala? — Véronique perguntou e ela negou com a cabeça. — Se eu fosse você, daria uma passadinha lá antes de me sentar pra comer.
Ela revezou o olhar entre os tios e pôde notar que Zinédine prendia o riso sem muito sucesso, pois tinha um sorriso aberto estampado no rosto. Curiosa, deu meia volta e caminhou até a sala de estar, onde parou sob o portal, chocada, ao se deparar com um enorme buquê de tulipas rosas e roxas sobre a mesa de centro. Não demorou a se dar conta de que aquelas flores eram um presente para ela e se aproximou delas com um brilho nos olhos. amava tulipas.
Entre as flores, encontrou um cartão que continha uma mensagem escrita em uma caligrafia apressada, apesar de caprichosa.

São 270 tulipas pelos seus 27 anos. Me disseram na floricultura que o roxo, além de transmitir calma, representa respeito e sabedoria, e, o rosa, feminilidade e sensualidade. As tulipas são beleza e prosperidade. Não entendo de flores, muito menos de cores, mas achei que elas combinam com você.
Seu presente de aniversário vai ter que esperar até termos alguns dias de folga. Vamos passar dois dias em Marbella, já que é uma das suas cidades favoritas. Espero que vire uma das minhas também.
Feliz aniversário, .

xx

O coração de batia forte enquanto lia e relia as palavras escritas pelo . Fazia tanto tempo que não recebia flores como um gesto romântico que mal se lembrava de qual era a sensação, mas, como tudo que envolvia , daquela vez estava sendo diferente. Não sabia se era pela surpresa, por ele ter escolhido justamente sua flor favorita ou pela mensagem bonitinha, o que tinha certeza é de que estava louca para encontrá-lo dali a alguns minutos para abraçá-lo e enchê-lo de beijos antes de ir para o treino do dia e ele para a sala de fisioterapia com Jaime e Lalie.
é um amor. — Escutou a voz de Véronique dizer atrás de si e, em resposta, apenas meneou a cabeça, concordando, com um pequeno sorriso nos lábios. — Já está valendo a pena ter se dado uma chance de estar com um cara bacana, não acha?
— Tá sim, tia — disse, dando meia volta para encará-la. — Eu devo estar parecendo uma boba, né? É assim que eu me sinto.
— Você parece feliz. — Véronique piscou um olho. — Vai fazer alguma coisa pra comemorar seu aniversário?
— Sim, o Karim tá organizando tudo. Vamos nos reunir com o restante do time na Banloo, aquela boate famosinha entre os jogadores, sabe? Eu chamei meu tio, mas ele disse que não vai por causa do Théo e do Elyaz, e também pra dar privacidade pros jogadores. O que é uma besteira, né? Todo mundo adora ele.
— Vou tentar convencê-lo a ir, mas acho pouco provável por causa do Théo e do Elyaz mesmo. Eles vão ficar chateados de serem excluídos da festa por serem menores de idade.
— Podemos sair pra jantar qualquer dia desses, mas depois pensamos nisso com calma. Preciso comer alguma coisa, daqui a pouco tá na hora de ir pra Valdebebas. O que faço com essas flores?
— Vou pedir para a Dona Carmen colocar em vasos e deixar lá no seu quarto.
— Obrigada — disse, sorrindo. — Mas deixa eu colocar uma roupa bonitinha pra tirar algumas foto antes.
Véronique gargalhou, observando-a sair apressadamente em direção ao segundo andar.

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Apesar de fazerem parte de um time bastante unido, eram raras as vezes que o elenco inteiro do Real Madrid se reunia fora das dependências do clube. Cada um dos jogadores tinha uma vida à parte do futebol, uma família para dar atenção nos momentos de folga e suas próprias companhias para curtir as noites madrilenhas. Mesmo assim, eles sempre davam um jeito de, uma ou duas vezes na temporada, se juntarem para jantar em algum restaurante renomado ou curtir uma das festas privadas promovidas por Alberto Garrido, o homem de confiança de muitos jogadores e ex-jogadores da equipe madridista que, há mais de uma década, cuidava de todos os detalhes para que os futebolistas não precisassem se preocupar com a repercussão de suas saídas noturnas na mídia.
O aniversário de foi a desculpa perfeita para que todos saíssem da rotina no meio da temporada mesmo que tivessem treino marcado para a tarde do dia seguinte. Karim contatou Garrido e fez questão de cuidar de todos os detalhes para dar à amiga uma festa memorável. Para isso, reservou uma das salas privadas da Banloo, uma casa noturna de Madrid, onde todos poderiam se divertir à vontade, e contratou um DJ de cumbia e reggaetón, já que sabia mais do que ninguém como a francesa adorava se divertir ao som dos ritmos latinos.
A sala conhecida por Love & Sex era ampla e tinha o branco como cor predominante não apenas no piso e nas paredes, mas também nos sofás brancos que circundavam a sala. Vários pontos de iluminação davam um toque moderno ao espaço, dentre eles estavam as mesinhas de vidro em formato de caixa espalhadas por todo o local que tinham lâmpadas internas. O time inteiro do Real Madrid estava por ali, além de suas namoradas, esposas e de alguns dos profissionais que trabalhavam com a primeira equipe. Alguns dançavam, outros apenas riam e bebiam, totalmente alheios à partida que teriam contra o Granada dali a dois dias.
Enquanto esvaziava pouco a pouco mais um copo do drinque recomendado por James Rodríguez, frequentador assíduo da Banloo, extravasava o entusiasmo que sentia dentro de si na pista de dança. Estava ali praticamente desde quando chegara cerca de uma hora e meia antes e, devido ao suor, já sentia alguns fios de cabelo grudados à nuca.
Él nunca supo amarte como yo lo sé, él no conoce cada espacio de tu piel cantava enquanto se movia no ritmo da versão remix de Me Llamas, dos colombianos do Piso 21 com a participação de Maluma, passando a mão livre suavemente pelo próprio corpo.
— Uau, ! Não sabia que franceses tinham esse gingado todo — disse Daniela, esposa de James Rodríguez, dançando próxima à aniversariante.
— São muitos anos imitando a Shakira na frente do espelho, guapa — ela rebateu em meio a risos, piscando um olho.
e Andrea, mulher de Keylor Navas, observavam Daniela dançar em um vestido preto justo que deixava suas pernas compridas e invejáveis à mostra e tentavam imitar seus movimentos. Ela não negava o sangue colombiano que corria em suas veias com os quadris tão soltos que faziam parecer que rebolar daquele jeito era a coisa mais simples do mundo.
Cuando tú quieras me llamas. Tú me llamas. Soy el que te dio amor y el que te lo da hoy — a francesa cantou junto à colombiana de forma exagerada, fazendo caras e bocas. Seus olhos acabaram encontrando os de , sentado a alguns metros dali na companhia de Luka Modrić e Toni Kroos, e, notando que a atenção dele estava completamente voltada para a performance dela junto às outras duas, fez um gesto de telefone com a mão, apontando para ele. — Cuando tú quieras me llamas. Tú me llamas.
Os lábios de se curvaram para cima, formando um singelo sorriso, e ele deixou escapar uma risada fraca. Seu principal entretenimento naquela noite estava sendo assistir dançar. Ela estava tão bonita e radiante que seus olhos não se desviavam dela por um segundo. Nem mesmo Sergio Ramos e Amelie tentando ensinar Luka a rebolar, uma cena impagável, haviam conseguido tirar sua atenção da francesa que se esbaldava na pista de dança. Estava sendo bastante zoado pelos amigos por isso, inclusive. Toni, Mateo, Luka e Lalie o incentivavam a ir dançar com a namorada, mas ele não tinha certeza de que conseguiria manter o controle com rebolando daquele jeito tão próxima a ele e preferia apenas assistir de longe.
— Galera — o DJ disse ao microfone quando a música terminou, tomando a atenção de todos os presentes para si —, a próxima é inédita, vai ser lançada só semana que vem. É uma parceria do Luis Fonsi com o Daddy Yankee, meu parceiro, e foi ele quem autorizou que eu tocasse ela hoje. É um presente de aniversário, , espero que goste — falou, levantando o polegar no ar ao mesmo tempo que piscava um olho e a aniversariante, com um sorriso aberto estampado no rosto, levantou o copo que segurava em resposta. — Fiquem com Despacito.
A música que seria um sucesso gigantesco no mundo inteiro dali a algumas semanas soou alto pelo ambiente e não precisou de muito para envolver a todos. Já no segundo refrão, um coro de “des-pa-cito” acompanhava Luis Fonsi. , junto a Daniela e Andrea, improvisava alguns passos enquanto tentava cantar a música com muitos “na na na” em meio a palavras desconexas, o que causou muitas gargalhadas.
James Rodríguez se aproximou das três e deu um beijo rápido nos lábios da esposa antes de puxá-la para dançar colada a ele, mas logo a soltou para, em seguida, tirar o copo da mão de e largá-lo sobre a bandeja de um garçom que passava por ali.
Seus olhos se arregalaram em surpresa quando ele a puxou pela cintura, grudando seus corpos, e ela soltou uma gargalhada. Se deixou ser conduzida no ritmo da música por James, que ora fazia com que seus quadris se movessem em sincronia, ora se afastava segurando sua mão para fazer com que ela girasse sobre seus saltos.
Durante um desses giros, a francesa pisou em falso, o que ocasionou uma leve torcida no pé.
— Meu salto quebrou! — ela exclamou em meio a gargalhadas, se apoiando em James para recuperar o equilíbrio.
— Se machucou? — ele questionou, preocupado, mas acabou rindo junto ao vê-la em uma crise de risos.
— Não, mas não podemos dizer o mesmo da minha sandália — ela falou, fazendo uma careta divertida, e se abaixou para se livrar dos saltos.
franziu o cenho ao ver caminhar em sua direção de pés descalços, segurando cada sandália em uma mão, pois não tinha entendido bem o que havia acontecido de longe.
— Vou ter que ir em casa trocar de sapato — ela anunciou quando estava próxima o suficiente para ser entendida.
— O que aconteceu, ? — Lalie perguntou depois de um gole sedento em um drinque, pois também estivera na pista de dança junto a Vanja e Jessica, esposas de Luka e Toni, até pouco antes e estava morrendo de sede.
— Consegui a proeza de quebrar o salto enquanto dançava com o James. — Ela fez uma careta. — Vem comigo, ?
— Tudo bem — ele respondeu, se levantando.
— Só vou avisar o Karim que a gente vai dar uma saidinha pra ele não surtar, ok? Tenta arranjar um táxi — disse e ele assentiu antes de cada um ir para um lado.
Ela encontrou Benzema em uma rodinha com alguns amigos franceses que havia chamado para a festa e cutucou a cintura dele, o fazendo olhar para trás.
— Estou indo em casa rapidinho, o salto da minha sandália quebrou — disse, mostrando o par de sandálias que segurava.
— Vai sozinha?
— Não, vai comigo.
— Espera aí, vou com vocês — ele falou antes de pedir licença para os outros caras.
— Pra quê? Só vou trocar de sapato, daqui a pouco estou de volta.
— Você realmente acha que vou arriscar que você e o acabem atracados e você não volte pra festa que eu organizei? — Karim rebateu, fazendo rolar os olhos enquanto o empurrava de leve com o ombro.
— Eu não abandonaria minha própria festa pela metade por mais tentador que isso que você tá insinuando seja.
, que já havia conseguido um táxi na porta da casa noturna, estranhou quando apareceu acompanhada por Benzema.
— Ele tá com medo de a gente não voltar — ela explicou antes mesmo que ele questionasse qualquer coisa.
— É só pra garantir que vocês não vão arranjar algo mais divertido pra fazer em casa.
riu levemente, sem graça, ao entender o raciocínio do colega, mas não se pronunciou, apenas abriu a porta do banco traseiro para a namorada e deu a volta para entrar pelo outro lado enquanto Karim se acomodava no banco do passageiro.
Cerca de quinze minutos depois, o automóvel estava parando em frente à casa dos Zidane e , após pedir para que o taxista os aguardasse, desceu às pressas do carro. Os outros dois a seguiram com mais calma e adentraram a casa silenciosa. Karim, mais à vontade, caminhou até a sala de estar e se jogou em um dos sofás.
— Senta aí, aposto que ela vai acabar trocando de roupa também pra combinar com os sapatos. Você sabe como são as mulheres — ele disse em um tom divertido, fazendo o outro rir enquanto se sentava em uma poltrona.
Um silêncio se instalou entre os dois e, poucos minutos de espera depois, revezava o olhar entre o francês distraído com algo em seu celular e a escada, calculando quanto tempo levaria até reaparecer.
— Karim, posso te fazer uma pergunta?
— Claro que pode — ele respondeu, dando de ombros.
— Você acha que… é conveniente eu chamar a pra dormir lá em casa hoje?
— Cara, eu acho que você não precisa nem chamar, é só levar ela pra sua casa. Se vai rolar alguma coisa, é com vocês, mas você sabe que a é tranquila pra essas coisas. Não precisa esquentar a cabeça.
— Eu sei que não, mas é que… — começou, mas logo se interrompeu ao escutar saltos descendo os degraus. Para a sua surpresa, no entanto, não foi quem seus olhos encontraram parada ao pé da escada.
— Até que enfim! — Karim exclamou, se levantando, mas parou, estático, ao se virar. — Lola? Tá fazendo o que aqui?
O espanto tomou o rosto da espanhola, que arregalou os olhos e balbuciou algo incompreensível. Segundos depois, Luca também desceu os degraus e parou ao lado dela.
— Vamos, amor? — ele disse, pondo uma das mãos na cintura de Lola, e franziu o cenho enquanto seguia o ponto que ela olhava fixamente. Seu coração gelou quando se deparou com Karim Benzema na sala de estar.
— Essa é a sua viagem a trabalho, Dolores?
, ao notar a tensão que se formava, prontamente se pôs de pé e o segurou levemente pelo braço.
, que saía de seu quarto com um vestido diferente e sandálias em perfeito estado nos pés, se espantou com o tom irritado do amigo e, nem por um segundo, teve dúvidas do que estava acontecendo no andar inferior. Se apressou na direção das escadas e desceu os degraus esbaforidamente.
— Mas que merda, Luca! — ela exclamou, furiosa, quando se uniu à cena que se desenrolava. — Meus parabéns, você conseguiu o que queria.
— Karim... — Lola começou em um sussurro, os olhos tomados por lágrimas, mas foi interrompida.
— Nem precisa perder tempo tentando explicar. — Karim puxou o braço, se livrando do toque do . — Se você tivesse qualquer consideração por mim, não estaria fazendo isso — continuou com uma leve mágoa expressa nas palavras ditas. Por mais que tivesse entrado naquele relacionamento sem expectativas, não podia negar que estava se afeiçoando à modelo e gostando de estar com ela. — Mas de você, Luca, eu realmente não esperava isso. Te conheço desde que você era um pirralho, seu pai é quase um irmão mais velho, pensei que tivesse mais respeito por mim.
Um silêncio sepulcral se arrastou por alguns segundos. Lola e Luca não tinham ideia de como lidar com a situação, jamais imaginariam que a noite terminaria daquele jeito. Karim estaria na festa de e a casa vazia, pois Zinédine, Véronique, Théo e Elyaz iriam jantar fora; a ocasião era perfeita e o encontro deles estava planejado em cada detalhe.
— Vai embora, Lola — disse em um tom duro, quebrando o silêncio. — E você, Luca, vai pro seu quarto. É melhor vocês conversarem quando não estiverem de cabeça quente.
— Não foi nada planejado, Karim... — a espanhola tentou se defender com a voz chorosa, mas novamente foi interrompida.
— Por favor, Lola, vai embora — repetiu, apontando para a porta.
— Você deve estar adorando isso tudo, né? — Lola retrucou, soltando uma risada sarcástica. — Você nunca foi com a minha cara, deve estar se deliciando com o fato de, finalmente, estar mostrando pro Karim como eu não presto.
— Só pra você saber, eu poderia ter dito pro Karim não perder o tempo dele com você e ele provavelmente levaria minha opinião em consideração, mas eu fui a primeira a apoiar esse namoro porque não gosto de julgar pessoas que mal conheço.
— Além de ser sobrinha do técnico, já se garantiu com um dos principais jogadores do time. Você não é tão melhor do que eu assim, .
O sorriso maldoso nos lábios de Lola fez a francesa sentir o sangue ferver e, antes que pudesse se dar conta, estava partindo para cima dela. Entretanto, seu corpo se chocou contra o de , que havia se posto em seu caminho, e os braços dele a envolveram.
— Me solta, eu vou enfiar a mão na cara dessa garota!
— Deixa isso pra lá, — ele disse, afastando-a da modelo, que gargalhava com satisfação.
— Pra você ter se afetado tanto assim, é porque sabe que é verdade.
— Chega, Lola — Karim falou, andando a passos largos até ela e a empurrou na direção da porta. — Só vai embora.
— Me larga — ela disse de forma rude e, sem olhar para trás, se retirou da casa.
Benzema fechou a porta e, aos poucos, foi liberando de seus braços conforme percebia que ela se acalmava.
Luca apenas observava toda a cena de cabeça baixa. Se sentia envergonhado por ter sido o responsável por aquela confusão que fugira de seu controle. Lola era uma mulher tão bonita e simpática, nenhuma das garotas que ele conhecia parecia chegar aos pés dela. Ela havia garantido que terminaria o namoro com Karim para que eles pudessem assumir o romance para todo mundo e ele não viu motivos para não continuar se encontrando com ela às escondidas até que aquilo se tornasse realidade. Não tinha a intenção de brigar com Benzema, alguém por quem tinha muita consideração e, muito menos, decepcionar sua prima, uma das pessoas mais importantes de sua vida.
— Você sabia disso, ? — Karim perguntou, desejando que a resposta fosse negativa, apesar de ter praticamente certeza de que não seria. não pareceu surpresa em momento algum.
— Eu desconfiava, mas não tinha certeza e achei melhor não acusar ninguém. Faz dois dias que eu descobri que eles realmente estavam tendo um caso e estava esperando o momento certo pra te contar.
— Há quanto tempo você desconfiava disso?
— Desde quando a gente estava no Japão.
— E me deixou fazendo papel de otário esse tempo todo — ele afirmou em um tom magoado. — Eu pensei que você fosse minha amiga.
— Eu sou sua amiga, mas não queria ser injusta com ninguém. Ainda por cima, era o meu primo envolvido. Você precisa entender meu lado.
— Sabe por que eu nunca deixei o Gressy se engraçar pro seu lado mesmo ele sendo louco pra ficar com você? — Benzema questionou e ela permaneceu em silêncio, dando espaço para que ele finalizasse o raciocínio. — Porque ele é meu irmão e eu sei como ele é. Eu te considero da minha família, . Sei que você é uma mulher incrível e que é demais pro caminhãozinho dele. Esperava que você tivesse essa mesma consideração por mim, mas, pelo visto, ser a pessoa que te acolheu de braços abertos quando você chegou a Madrid sem conhecer ninguém não foi o suficiente pra você não ficar do lado do seu priminho querido.
— Não é questão de escolher um lado, vocês dois são importantes pra mim. Eu só queria que pudessem resolver isso de uma forma amigável.
Como se não tivesse escutado uma palavra sequer, Karim levou a mão à maçaneta e abriu a porta.
— Vocês vão voltar pra festa? — questionou.
— Karim... — ela falou em um tom que suplicava para que ele a compreendesse.
— Espero vocês lá fora.
respirou fundo e se virou para encarar o primo.
— Eu espero que a sua noite tenha sido muito boa, Luca, porque você conseguiu estragar a minha. Vamos, .
Os dois deixaram a casa para se acomodarem no banco traseiro do táxi mais uma vez. Um clima péssimo tomou o automóvel, pois o taxista estava irritado com a demora, Karim e de cara fechada, mais interessados em observar as ruas pelas quais passavam pelas janelas, e não tinha ideia de como agir na situação em que se encontrava. Apenas passou um braço pelos ombros da namorada e a fez se aconchegar junto a ele.
tentou aproveitar as horas restantes de sua festa de aniversário, mas Benzema virava a cara toda vez que eles se cruzavam e isso a fazia se sentir ainda pior.

🏆🌟⚽

estava lutando para manter os olhos abertos. Além de o cansaço ter tomado seu corpo depois de horas na pista de dança, estava um tanto bêbada e aconchegada nos braços de , sentindo os dedos dele deslizarem por seu braço em uma leve carícia, no quarto silencioso. Ele havia a convidado para passar a noite em sua casa quando os dois pegavam um táxi em frente à Banloo e ela não pensou duas vezes antes de aceitar. Não queria perder a oportunidade de desfrutar mais um pouco da atenção redobrada que ele vinha lhe dando desde a discussão com Karim.
— Tá acordada? — o questionou em um sussurro.
— Acho que sim.
Alguns segundos de silêncio seguiram a resposta sonolenta de antes de a voz cautelosa de ecoar pelo quarto mais uma vez.
— Como foi a sua primeira vez?
— A primeira vez... que fiz sexo? — ela rebateu, levantando os olhos para encará-lo com uma mistura de desconfiança e curiosidade.
— Sim — ele murmurou, pronto para uma batalha interna contra um possível arrependimento que poderia dar as caras a qualquer momento.
— Foi bem estranha... Por que a pergunta?
— Só curiosidade.
— Você está querendo transar e não sabe como ir direto ao ponto? — ela perguntou sem rodeios e ele soltou uma risada sem graça que a fez rir também. — Estou brincando, mas por que bateu essa curiosidade em você? Não deve ter sido do nada.
Os olhos azuis, iluminados apenas pelos spots de luz sobre a cama, fitaram com tamanha intensidade que ela sentiu um arrepio correr pelo corpo.
— Eu sei como ir direto ao ponto, ok? O problema é que você teve mais experiências do que eu e isso me intimida um pouco.
— Que besteira, . Sim, tive algumas experiências a mais do que você, mas não sou nenhuma rainha do sexo. Você é meu namorado, a gente tá aqui pra aprender um com o outro. Conforme for rolando, eu vou te dizer o que eu gosto e o que não gosto e espero que você faça o mesmo. Com o tempo, vai virar algo natural e a gente vai saber o que fazer sem precisar que o outro fale — disse e se virou de bruços para apoiar o queixo no peitoral de , enquanto brincava com os botões da camisa que ele vestia. — Minha primeira vez foi no dia do meu aniversário de 19 anos, em uma viagem que fiz com meu ex-namorado e meus amigos pra Paris. Se você quer saber, foi bem mais ou menos, porque ele não tinha muita experiência e eu mal sabia o que fazer. Com o tempo, a gente foi conhecendo não apenas um ao outro, mas a nós mesmos também, e o sexo foi ficando melhor. Acredito que seja assim com todo mundo. — Deu de ombros, esboçando um sorriso. — Agora você vai ter que me contar sobre a sua também.
— Foi… constrangedora. Eu tinha 18 anos e não sabia nem por onde começar a tirar a roupa dela — ele contou, rindo levemente. — Foi depois que eu e Emma ficamos alguns meses sem nos ver. Ela foi me visitar em Londres e aconteceu.
, você não é o único vivendo uma situação diferente aqui. Isso é uma coisa péssima pra se falar, mas eu nem lembro qual foi a última vez que deitei na cama com um cara estando vestida.
— Você não tá entendendo. Estou me sentindo um adolescente virgem, — ele rebateu, fazendo-a gargalhar.
— E eu como se nunca tivesse tido um namorado na vida. — Ela fez uma careta. — Relaxa, por favor.
tinha um sorriso doce estampado no rosto quando se esticou para depositar um selinho rápido nos lábios de .
— Se você não souber como tirar minha roupa, pode ficar tranquilo que eu mesma tiro.
— Striptease? Eu dou o maior apoio.
— Pra um adolescente virgem, você tá muito saidinho, hein? Você que deveria fazer um striptease pra mim. É meu aniversário.
— Já passou de 1h da manhã, não é mais seu aniversário, então temos direitos iguais — rebateu em meio a risos.
colocou uma das mãos no peito, fingindo estar ofendida.
— Depois dessa grosseria, eu vou até tomar meu banho quentinho e relaxante — disse, se levantando da cama e, em pé, ajeitou o vestido que estava todo torto em seu corpo.
— Deixei uma toalha e uma roupa que deve servir em você ali no banheiro.
sorriu em agradecimento antes de caminhar até o banheiro e fechar a porta.
pegou o celular para passar o tempo e se distrair do misto de nervosismo e ansiedade que o tomava enquanto escutava cantarolar a bendita Despacito — que ela havia pedido para o DJ tocar mais umas três ou quatro vezes ao longo da festa — em meio ao som do chuveiro.
Estava um pouco mais tranquilo depois da conversa que haviam acabado de ter, mas ainda se sentia apreensivo ao pensar sobre quando a hora H chegasse. Era humilhante admitir isso, inclusive para si mesmo, mas ele morria de medo de que, por conta dos vários meses com a vida sexual inativa, sua performance não fosse lá grandes coisas. Ou pior... de que acabasse sendo rápido demais. Ele duvidava que uma mulher como ficaria com um cara que não soubesse a satisfazer direito.
O toque do celular de o despertou dos pensamentos que o afligiam e ele largou o seu próprio para ir até a poltrona onde a francesa havia deixado suas coisas. Na tela, estava o mesmo número desconhecido do outro dia, que ele sabia pertencer ao tal Ken.
fitou o celular por algum tempo e, quando seu dedo estava prestes a recusar a ligação, acabou mudando de rumo. Ele aceitou a chamada e levou o aparelho ao ouvido ainda sem saber o que estava fazendo.
— Alô.
— Ce numéro est à ? — a voz grave do outro lado disse, o fazendo franzir o cenho em confusão.
— Eu não falo francês.
Esse, hm... número... é da ?
— Sim, mas ela não pode atender agora. Aqui é o namorado dela — se pegou dizendo sem ao menos pensar. — Quem tá falando?
Namorado?
— Exatamente.
— Salope — Ken murmurou do outro lado o que soou como um xingamento para . — Desde quando vocês estão namorando?
— Desculpa a sinceridade, mas isso não te interessa.
Você sabia que a sua namorada esteve aqui na minha casa outro dia?
— Deixa a em paz, ok? Se ela estivesse interessada, teria atendido suas ligações.
finalizou a chamada em seguida, antes que dissesse algo de que pudesse se arrepender mais tarde. O que tinha que ser esclarecido sobre aquele assunto já tinha sido entre ele e .
— Que cara é essa, ? — A voz de ecoou pelo quarto quando ela saiu do banheiro, trazendo consigo o aroma do mesmo shampoo que ele costumava usar para lavar o cabelo.
— Aquele cara te ligou de novo — ele respondeu, mostrando o celular antes de deixá-lo novamente na poltrona.
— Não acredito que vou ter que trocar de número por causa desse infeliz.
— Eu atendi.
— Sério?
— Desculpa, eu nem parei pra pensar se estava me intrometendo onde não deveria.
— Tudo bem, não tinha problema — disse, o tranquilizando. — O que você disse pra ele?
— Que era seu namorado quem estava falando e pra ele parar de te ligar.
— Aposto que ele vai parar agora. Esse tipo de homem só tem respeito por outros homens — ela disse, rolando os olhos, e suspirou longamente. — Me desculpa por ter te feito passar por isso, .
— Esquece isso, . O importante é que ele não te perturbe mais. Vou tomar banho.
ficou alguns segundos encarando a porta fechada quando ele se trancou no banheiro. Tinha vontade de ligar para Ken e dizer poucas e boas, mas se sentia exausta só de pensar em ter mais aborrecimentos por causa de algo que não havia significado nada. A única coisa que esperava era que ele não tivesse dito nada que pudesse chatear .
Ela, então, parou para observar o quarto de . Era a primeira vez que entrava ali, apesar de já ter estado na casa dele em ocasiões anteriores. O cômodo era amplo e possuía uma decoração bem moderna e clean, nada diferente do que se imagina para o quarto de um jogador de futebol solteiro que mora sozinho.
Seus olhos bateram em alguns quadrinhos grudados a uma das paredes, alinhados uns aos outros para formar um quadrado, e ela se aproximou para observá-los de perto. Eram porta-retratos com fotos de junto a familiares e amigos. Dentre diversos rostos desconhecidos, reconheceu os pais, a irmã e os sobrinhos dele. Sorriu ao ver imagens dele mais jovem, com cara de garoto, e se pegou imaginando quão diferente aqueles s das fotos eram do que ela conhecia e que a encantava mais a cada dia que se passava.
Enquanto olhava cada um dos quadrinhos individualmente, o que levou alguns minutos, se deparou com uma foto em que ele estava sentado ao lado de Emma, a abraçando de lado. O cenário atrás deles era uma praia, o que a fez imaginar que aquela foto havia sido tirada em alguma viagem dos dois.
O som dos passos de a fez tirar os olhos da foto para observá-lo sair do banheiro vestido apenas com uma bermuda e secando o tronco úmido com uma toalha depois de tomar uma ducha rápida.
— Quero uma foto minha aqui, hein?
Um sorriso surgiu nos lábios dele ao se dar conta de que se referia ao “mural de fotos” onde estavam todas as pessoas importantes de sua vida.
— Talvez eu coloque alguma das que a gente tirou hoje — ele respondeu, dando de ombros.
— Quantos anos vocês tinham aqui? — questionou e se aproximou para ver de mais perto a foto que ela indicava.
— Acho que eu tinha 23, ela 21 — ele disse ao constatar que era uma em que estava com Emma em Ibiza. — Eu esqueci de tirar essa foto daí.
— Tirar? Por quê? — ela questionou, surpresa. — Eu perguntei só por curiosidade mesmo, não foi pra fazer você tirar a foto daqui.
— Mas eu acho que não tem nada a ver ter foto da minha ex-namorada no meu quarto, né? — ele perguntou, um pouco sem graça.
— Ela é sua amiga — ela disse com obviedade, frisando a última palavra. — , você não precisa apagar o seu passado só porque tem uma nova namorada agora.
— Eu nunca imaginei que namorar pela segunda vez seria mais difícil do que foi pela primeira — disse, fazendo-a gargalhar.
— Você é quem tá complicando as coisas, que isso fique bem claro. A gente só precisa se beijar e ser feliz. Não é tão difícil assim.
sentiu um arrepio correr pelo corpo quando tocou seu abdômen com as mãos ao mesmo tempo que o beijou lentamente.
— Eu ainda não te agradeci por ter se esforçado tanto pra me distrair depois da minha briga com o Karim.
— É o mínimo que eu poderia fazer. Não ia deixar isso estragar seu aniversário.
— Nunca tinha rolado um desentendimento assim entre a gente.
— Vocês só precisam conversar com mais calma. Tenho certeza de que tudo vai se resolver.
— Espero que sim — disse com um sorriso fraco nos lábios e, em seguida, fez uma careta. — Eu exagerei com o Luca, né?
— Talvez, mas é compreensível — falou enquanto caminhava até o banheiro para deixar a toalha que ainda segurava.
— Cada hora é um drama diferente na minha vida. Eu não aguento mais! — ela exclamou antes de se jogar de bruços na cama. — Eu sou uma péssima amiga. E uma péssima prima também.
riu levemente ao encontrá-la estirada no colchão quando voltou para o quarto. Se deitou por cima, se apoiando em seus braços para aliviar o peso de seu corpo sobre o dela.
— Por enquanto está sendo uma ótima namorada — disse em um tom descontraído e estalou um beijo no ombro de .
— Só até a primeira mancada que eu der — ela rebateu com a voz abafada pelo cobertor. — Acho que eu preciso de um pouco de carinho do meu namorado.
Sentiu afastar seus fios de cabelo para ter livre acesso ao seu pescoço, onde depositou alguns beijinhos demorados que a fizeram se arrepiar dos pés à cabeça. Ela se virou na cama com um pouco de dificuldade para que eles pudessem ficar cara a cara e os dois se fitaram por alguns segundos, sorrindo um para o outro, antes de se entregarem a um beijo calmo.
permitiu que a língua do ditasse o ritmo do beijo conforme se deixava levar pela calmaria que a tomava e fazia todo e qualquer pensamento se esvair pouco a pouco de sua mente. Por maior que fosse a vontade de jogá-lo contra a parede e beijá-lo da forma mais indecente possível na maioria das vezes, ela vinha gostando cada vez mais dos beijos tranquilos de . Era como se eles tivessem a vida inteira para desfrutar de momentos como aquele.
Ela relaxou ainda mais no colchão macio quando ele finalizou o beijo com um selinho demorado e escorregou a boca de seu maxilar até seu pescoço. Mordeu um sorriso, apreciando o carinho, e sentiu uma das mãos do adentrarem a camisa cinza Adidas que havia a emprestado.
— Você tá brincando com fogo, — ela disse, ainda de olhos fechados, se deliciando com os beijos que eram depositados pela região de sua clavícula enquanto os dedos atrevidos dele apertavam sua cintura de leve.
Ele apenas riu levemente enquanto descia ainda mais seus lábios, beijando sobre a camisa. Passou por entre os seios, chegando à barriga, e suas mãos seguraram as laterais das coxas dela, que soltou um longo suspiro em reação às carícias.
retornou pelo caminho que havia percorrido e a beijou mais uma vez. entrelaçou as pernas às dele conforme suas línguas se embolavam de forma intensa em um beijo que foi interrompido com ambos ofegantes e ansiosos por mais.
— Feliz aniversário, — ele sussurrou.
— De novo?
— No meio do refeitório com o time todo zoando a gente não conta.
— Você é muito bobinho, mas obrigada — ela disse, rindo levemente. — Vamos dormir? Estou morta.
sorriu, concordando, e saiu de cima dela para que os dois pudessem se aconchegar debaixo do cobertor.
Apesar do cansaço depois do dia agitado, demorou a pegar no sono. Foi bastante complicado, para ela, ignorar os braços que a envolviam e o desejo que sentia por . Entretanto, não se importou de nada a mais ter rolado naquela noite. Vê-lo se soltar aos pouquinhos já a deixava extremamente satisfeita.



14. La Decimocuarta

Tómame de los pies a la cabeza
Porque quiero ser la lava que derrama tu volcán de miel
Bésame, tápame la boca con tu boca, porque quiero arder

Éxtasis - Pablo Alborán

Quando havia sido o último “dia de garotas” de ? A verdade é que nem ela se lembrava mais. Claro que se divertia bastante com toda a equipe com quem trabalhava diariamente no Real Madrid, se dava muito bem com todo mundo e tinha criado amizades que certamente levaria para o resto da vida, mas, às vezes, sentia falta de ter um bom papo e fazer coisas de “mulheres”. Por mais que defendesse a igualdade entre os sexos, sabia que se chamasse Karim para acompanhá-la até o salão de beleza, por exemplo, ele talvez até topasse por ser um cara bastante vaidoso, mas com certeza estaria longe de ser seu programa favorito. Era o tipo de coisa que costumava fazer com Véronique e apreciava bastante esses momentos de tia-sobrinha ou madrinha-afilhada, no entanto, já fazia algum tempo que vinha pensando que ter uma amiga em Madrid não seria uma má ideia.
havia a incentivado a convidar Amelie para algum desses programas que uma companhia feminina cairia melhor do que uma masculina, já que ela também estava precisando de um tempo para se distrair do trabalho intenso que vinha realizando para ajudá-lo no processo de recuperação da lesão, além de dar um apoio extra para Jaime, atendendo também outros jogadores quando necessário. gostou da ideia, queria conhecer Lalie melhor, pois a correria do dia a dia não permitira isso até então, e viu a aproximação da primeira edição do prêmio The Best, da FIFA, como a oportunidade perfeita.
estava entre as três finalistas da categoria de melhor treinador de futebol feminino. Depois de revolucionar o futebol francês levando o time feminino do Paris Saint-Germain a disputar de igual para igual com o Olympique Lyonnais, era a primeira vez que concorria àquele prêmio. Sabia que ainda tinha uma longa trajetória a percorrer para chegar ao nível das treinadoras das seleções dos Estados Unidos e da Alemanha, as outras duas finalistas, mas se sentia orgulhosa de si mesma ao olhar para trás e perceber que as noites mal dormidas haviam valido a pena e que tinha conseguido se fazer notar.
Honestamente, achava que as chances de conquistar o prêmio eram quase inexistentes, seu principal objetivo era curtir o momento. Queria estar linda naquela premiação e, para isso, precisava de um vestido e, de repente, também de um corte de cabelo novo. Aproveitou a deixa para chamar Lalie para se juntar a ela e Véronique, que também iria ao The Best como acompanhante do marido. Zizou concorria à categoria de melhor treinador de futebol masculino.
Apesar de, pela tarde, ter estado no Santiago Bernabéu, auxiliando o time na vitória por cinco a zero sobre o Granada, se sentia com energia suficiente para experimentar quantos vestidos fossem necessários até encontrar o que a fizesse se sentir maravilhosa.
A consultora andava de um lado para o outro da imensa loja, buscando vestidos que atendessem às exigências da sobrinha de uma de suas clientes mais antigas, enquanto Lalie e Véronique — que já havia escolhido o vestido que usaria dali a dois dias, simples e elegante como ela adorava — estavam sentadas em um sofá confortável, tomando chá e dando suas opiniões a cada vez que saía do provador.
— Você quer matar meu amigo do coração? — Lalie brincou assim que ela saiu da cabine com um vestido que, além de possuir um decote profundo, também tinha uma fenda que deixava a coxa direita inteira à mostra.
riu levemente, mas acabou fazendo uma careta quando parou para se analisar no espelho.
— Vocês não acham que essa fenda é um pouco exagerada? Quer dizer, eu gosto, mas será que não é demais pra ocasião?
— É a sua cara, . Os outros ficaram lindos também, mas acho que esse tem tudo a ver com você — Véronique disse.
Ela encarou o próprio reflexo por algum tempo. A tia tinha razão, aquele certamente era um vestido que compraria, mas, talvez, não para aquela ocasião.
— Malú, você teria um que fosse um pouco menos sóbrio do que aquele — disse, apontando para um vestido preto justo que havia experimentado alguns minutos antes —, mas um pouco mais discreto do que esse? Eu gostei desse estilo, mas prefiro que destaque só o busto.
— Eu separei também esses dois — a consultora falou, pegando dois vestidos na arara. — Algum deles te agrada?
— Vou experimentar esse.
acabou voltando para o provador com o que mais chamou sua atenção e, vinte minutos depois, foi com ele que saiu da loja, bastante satisfeita com a escolha.
As três foram jantar antes de irem para o salão de beleza, onde sabiam que ficariam até o final da noite, mas certamente mal veriam o tempo passar, já que conversavam descontraidamente o tempo inteiro.
— Eu não acredito que você tinha medo do meu tio, Lalie — falou em meio a risos quando a fisioterapeuta comentou que, sempre que cruzava com ele, dava um jeito de não ser notada.
Estavam sentadas, fazendo as unhas dos pés e das mãos, e também esperava o tempo de a tinta tingir seus fios de cabelo. Em meio a tantas mudanças em sua vida, achou que aquele início de 2017 era o momento ideal para uma mudança de visual.
— Sem ofensas, Véronique, mas seu marido tem cara de bravo — disse Amelie, fazendo as outras duas rirem.
— Pena que eu não estava no refeitório quando o Zizou te ouviu falar que sempre se lembra da cabeçada que ele deu no Materazzi na Copa de 2006. disse que você parecia que ia explodir de tão vermelha que ficou.
— Eu pensei que ele ia me dar a maior bronca e me expulsar do CT. Já estava pensando em chegar em casa, fechar as malas e ir pra bem longe de Madrid.
— Meu tio jamais faria isso, Lalie. Juro que ele é legal.
— Eu te entendo — começou Véronique em um tom compreensivo. — É que o Zinédine é um cara bastante discreto, de poucas palavras, acho que isso intimida as pessoas mesmo. Pra você ter uma ideia, quando nos conhecemos na república onde morávamos, ele passava por mim todo dia, me olhava, mas não dizia absolutamente nada. Eu morria de vergonha de dizer qualquer coisa e acabar sendo ignorada. Levou semanas pra ele, finalmente, me dar um oi.
— Vocês já estão juntos há muito tempo, né?
— Desde pouco depois disso, eu tinha 19 anos, ele 17. São vinte e sete anos juntos ao todo.
— Caramba, uma vida inteira juntos. Vocês têm uma família muito bonita.
— Obrigada. Acho que fizemos um bom trabalho — Véronique disse em um tom divertido. — Me conte mais sobre você, Lalie. Sei que é fisioterapeuta e que está ajudando na recuperação do que amoleceu o coraçãozinho de pedra dessa daí — continuou, apontando para a sobrinha, que apenas revirou os olhos com um pequeno sorriso nos lábios —, mas o que pretende fazer depois?
— Eu, na verdade, estou indo embora depois de amanhã. Tenho uma entrevista nos Estados Unidos essa semana com um time de basquete, o Chicago Bulls. Eles demitiram agora no final do ano uma mulher que faz um trabalho parecido com o meu.
— É uma pena, porque pensei que poderíamos repetir o programa de hoje mais vezes, mas tomara que dê certo. Parece uma boa oportunidade, né?
— Sim, especialmente porque eles se interessaram por esse projeto que venho trabalhando nos últimos sete anos. Aliás, foi por causa dele que conheci Luka e .
— Sério? Que projeto é esse? — Véronique questionou com interesse, trocando um olhar rápido com .
— Ai, vou ser rápida pra não matar vocês de tédio — Lalie disse, rindo levemente. — Quando decidi fazer as duas pós-graduações em biomecânica do esporte, tive a ideia de criar um programa para mapear o corpo de um atleta. Faço diversos testes para entender como o corpo do jogador funciona, suas qualidades e defeitos, e então crio um programa completo, com nutrição, exercício e reabilitação focado nas necessidades individuais de cada um para tentar evitar lesões como essa do . A intenção é prevenir e não remediar.
As outras duas se entreolharam novamente, enquanto Amelie explicava brevemente sobre o projeto com um brilho nos olhos. Estava claro que ela não apenas estava certa do que pretendia com aquele projeto, mas também confiante quanto à importância que ele tinha para os atletas. já havia se inteirado sobre o mesmo, pois Cristiano Ronaldo em pessoa havia convocado uma reunião com o presidente Florentino Pérez, Zinédine Zidane, Sergio Ramos e Jaime Benítez sobre a vaga que estava aberta depois da saída de um dos fisioterapeutas da equipe. Jaime, que estava mais a par do projeto, incentivara o Presidente a chamar Lalie para uma apresentação e Zizou conversara a respeito do assunto com David Bettoni e . Como seus assistentes, os dois ajudariam a analisar se a implementação daquele projeto teria espaço junto às estratégias que tinham sido elaboradas e vinham sendo colocadas em prática no decorrer da temporada.
preferia não comentar sobre nada daquilo que estava acontecendo nos bastidores para não dar falsas esperanças à Lalie ou fazê-la desistir da entrevista com o Chicago Bulls, que poderia ser uma ótima oportunidade para ela, mas estava confiante de que ela teria uma chance de fazer seu projeto acontecer ali mesmo, no Real Madrid. A equipe médica estava bastante satisfeita com o apoio que ela vinha dando para a evolução do tratamento de .
— Esse projeto é realmente muito bom, Lalie. Tenho certeza de que, quando você menos esperar, alguém vai comprar a ideia — disse, piscando um olho.
— É o que eu mais desejo.
Com as unhas feitas, acompanhou o cabeleireiro para lavar o cabelo e, depois de secá-lo, se encarou no espelho, passando os dedos pelos fios mais lisos do que de costume após a escova, e sorriu satisfeita. O tom de vinho escuro havia sido uma ótima escolha.

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desceu os degraus até o primeiro andar da casa ao mesmo tempo que prendia o cabelo em um rabo de cavalo e parou no meio do caminho até a porta de entrada ao escutar Zinédine chamá-la do topo da escada.
, já tá indo pra Valdebebas?
— Sim, tô querendo adiantar as coisas pra reunião antes do treino.
— Tudo bem, a gente se vê lá — ele disse antes de se aproximar e depositar um beijo em sua testa.
— Até daqui a pouco. — Ela sorriu e caminhou até a porta quando Zizou deu meia volta para seguir na direção da cozinha.
O clima estava agradável do lado de fora, o sol fraco fazia com que não estivesse tão frio naquela manhã e se sentia de ótimo humor. Deu a volta na casa enquanto cantarolava Vente Pa' Ca, parceria de Ricky Martin com Maluma, caminhando até onde seu Audi estava estacionado junto aos outros carros da casa e pôde avistar Luca brincando com Athos na grama. Ficou observando o primo por um momento sem ter sua presença notada. Ele jogava uma bolinha para o cachorro pegar com o tédio estampado no rosto. A cena a fez rir levemente.
Luca já estaria a caminho da Ciudad Real Madrid àquela hora se seu pai, além de vetar suas eventuais participações nos treinos do time principal, não tivesse pegado a chave de seu carro por tempo indeterminado. Ele próprio havia contado sobre Lola para a mãe no dia seguinte ao aniversário de , pois sempre tivera uma ótima relação com Véronique e era quem ele costumava procurar quando precisava desabafar.
Depois de o garoto escutar um discurso decepcionado da mãe por incontáveis minutos, não demorou muito para Zinédine também estar ciente de tudo que havia acontecido. Diferente da esposa, ele ficou em um silêncio perturbador por algum tempo até se levantar do sofá e pedir que Luca entregasse a chave do carro. Ele se pegou desejando que o pai gritasse, xingasse ou até mesmo o obrigasse a ir até a casa de Karim pedir desculpas. Qualquer coisa seria melhor do que aquela seriedade estampada em seu rosto. Foi, naquele momento, que Luca percebeu a gravidade do que havia feito.
, quando chegou em casa pela tarde, se sentou com os tios, contou toda a história sob seu ponto de vista e tentou manter a imparcialidade, apesar da vontade que tinha de defender o primo. De cabeça fria, ela já não estava mais tão aborrecida com Luca como estivera na noite anterior, sentia até mesmo um pouco de pena. Suas experiências de vida a faziam enxergar que ele havia se autossabotado, se iludindo sobre Lola ter apenas boas intenções. No entanto, pensava que arcar com as consequências seria algo positivo para que ele pudesse aprender com o erro, então decidira não se meter em seu acerto de contas com os pais e com Karim.
— Ei, quer uma carona? — perguntou alto, chamando sua atenção de Luca. Ele a fitou por dois segundos e, sem graça, baixou os olhos para o labrador novamente. Vinha a evitando naqueles dias, pois estava envergonhado e também temia que ela ainda estivesse irritada. — Vem, Luca. Tira uma folguinha do seu pai por hoje.
O sorriso divertido que esboçou foi o suficiente para convencê-lo. Ela destravou o Audi branco e se sentou atrás do volante. No instante seguinte, Luca se acomodou no banco do passageiro.
— Valeu, .
— Pela carona? De nada, você é bem-vindo no meu carro — ela respondeu, piscando um olho, enquanto manobrava o automóvel para sair pelo portão da casa.
— Meu pai tá insuportável — ele disse baixo, fazendo-a soltar uma risada. — Mas eu mereço, né? Não posso reclamar.
— Merece mesmo — rebateu, dando de ombros. — Manda uma mensagem pra ele avisando que você tá indo comigo, senão vai sobrar pra mim depois.
Luca sacou o celular do bolso dianteiro da calça do uniforme e digitou uma mensagem curta para o pai. Voltou a guardar o aparelho em seguida e fitou o perfil da prima.
— Você ainda tá chateada?
— Um pouco, mas tá tudo bem fazer umas besteiras de vez em quando. Eu já fiz muitas também.
— Você já pegou um cara que namorava um jogador que você admira, é treinado pelo seu pai e, ainda por cima, amigo da família?
— Não que eu saiba — disse e gargalhou alto, sentindo-se aliviada ao ver que o Luca brincalhão ainda estava por ali, escondido pelo semblante triste que levava no rosto nos últimos dias. — Mas não me orgulho de várias coisas que fiz e acabei magoando pessoas que se importavam comigo. É por isso que eu sei que você não fez por mal, a única coisa que tinha em mente era o que estava sentindo pela Lola, não pensou nas consequências. Não dá pra voltar atrás e mudar o que aconteceu, mas o importante é a gente reconhecer as merdas que fazemos e não repeti-las.
— É, eu não imaginei que isso poderia fazer você e o Karim brigarem, não era a minha intenção — Luca disse, sincero, e o arrependimento em seus olhos fez sentir um aperto no peito.
— Por um lado, também foi culpa minha. Eu não soube lidar muito bem com a situação, agi como se fosse a responsável por você. Sem contar que deveria ter dito pro Karim o que pensava sobre a Lola desde o início.
— Você estava certa — ele falou em um tom baixo e amargurado que a fez encará-lo, alarmada. — Ela não quis mais nada comigo. Falou que não vale a pena se meter nessa confusão toda e que eu sou só um moleque que vive debaixo da asa dos pais e da prima.
sentiu a raiva lhe subir dos pés à cabeça ao mesmo tempo que suas mãos seguraram o volante com mais força. Ela respirou fundo, contando até dez mentalmente, e aproveitou o sinal vermelho para se virar para o primo.
— Você sabe que isso não é verdade, né? — questionou e o silêncio do garoto fez com que uma resposta não fosse necessária. — Luca, você não pode deixar o que essa garota disse te afetar. Ela só queria te usar. Uma pessoa dessa não gosta de ninguém, só de si mesma. Você não vive debaixo da asa de ninguém, apenas tem pessoas que se preocupam com você. É diferente. Daqui a um tempo, quando você conhecer uma garota legal e que te ame de verdade, vai se lembrar disso tudo e achar hilário.
— Espero que esse dia chegue logo, porque, nesse momento, eu só tô me sentindo um merda mesmo.
— Vai demorar um pouco, mas vai passar. — curvou os lábios em um sorriso reconfortante. — Passar por essas coisas fazem a gente aprender a diferenciar as pessoas que valem a pena das que não valem.
Ao proferir tais palavras, passou por seus pensamentos. Ela desejava, às vezes, que seu caminho tivesse se cruzado com o dele mais cedo, mas sabia que tudo tinha acontecido no tempo certo. Precisava passar por todas aquelas experiências amorosas, não apenas seus dois relacionamentos sérios anteriores, mas os casinhos que tivera ao longo dos anos também, para que pudesse aprender com seus erros e acertos e, ao conhecê-lo, estivesse preparada para se relacionar com um cara tão diferente de si. E enxergar que ele, definitivamente, era alguém que valia a pena.
torceu que o mesmo acontecesse com Luca. Que, um dia, ele se apaixonasse por uma mulher que realmente estivesse disposta a fazê-lo feliz e entendesse o peso daquela conversa que eles haviam acabado de ter.

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foi para o campo de treinamento segurando, debaixo do braço, o iPad que continha as anotações que havia feito sobre o jogo de ida das oitavas de final da Copa del Rey contra o Sevilla, os erros, os acertos e um prognóstico das dificuldades que teriam no jogo de volta para embasar o treino tático daquela manhã. Luis Llopis treinava com os três goleiros enquanto Antonio Pintus e Javier Mallo, os preparadores físicos, separavam os equipamentos que seriam utilizados.
Em meio a alguns jogadores que já estavam por ali, ela avistou Karim correndo de uma lateral do campo à outra e caminhou calmamente até ele, que notou a aproximação e retribuiu o olhar. Respirou fundo diante da falta de reação por parte dele, situação com que vinha tendo que lidar nos últimos dias. O fato de não estar sendo completamente ignorada a tranquilizava um pouco, mas, em contrapartida, ele também não dava muito espaço para que os dois pudessem conversar e esclarecer as coisas.
— Bom dia — disse .
— Bom dia — Benzema respondeu, sem interromper a corrida.
Ela esperou pacientemente que Benzema fosse até a outra lateral e, quando ele se aproximou novamente ao fazer o caminho contrário, soltou um longo suspiro frustrado.
— Fala comigo, Karim.
— Acho que acabei de dar bom dia pra você, não pro cone — ele falou, debochado.
Ela apenas rolou os olhos antes de se abaixar para pegar uma garrafa d’água na caixa térmica. Jogou a mesma na direção do jogador, que a pegou no ar antes de abri-la e levá-la à boca.
— Como você tá?
Ele tomou um longo gole de água antes de largar a garrafa na grama.
— Agora você se preocupa comigo?
— Não seja cínico — rebateu, semicerrando os olhos. — Desde que a gente se conhece, sempre ofereci meu ombro pra você. Até mesmo quando a Chloé te deu um pé na bunda que foi nada mais do que merecido. É claro que me preocupo. Dessa vez não seria diferente.
Karim desviou os olhos para um ponto qualquer ao longe e suspirou.
— Estou bem — disse, simplesmente, fazendo-a revirar os olhos.
Quando abriu a boca para responder, escutou Sergio Ramos chamá-la ao longe.
— Eu entendo que você esteja chateado comigo. Sei que poderia ter compartilhado minhas suspeitas ou ter te contado assim que soube sobre o Luca, mas agora já foi. Espero que saiba que não fiz por mal e só esteja aí fazendo um charminho. Se quiser, a gente sai, enche a cara… É só me chamar. Esse drama não combina com a gente.
Não esperou por uma resposta antes de dar meia volta e sair andando na direção em que Sergio a esperava, o que a impediu de ver a risada discreta que escapou pelos lábios de Karim.
Ao lado do capitão do Real Madrid, estava David Bisbal. As músicas dele não faziam muito o estilo de , mas ela não demorou a reconhecê-lo, pois era um cantor bastante famoso em toda a Espanha e, também, mundo afora.
— Ei, . David quer conhecer a melhor assistente técnica do mundo — Sergio falou, piscando um olho, fazendo-a abrir um sorriso simpático.
— É um prazer conhecer o melhor cantor espanhol do mundo — mesmo que não fosse fã dele, brincou apenas para descontrair. — Não diga para o Alejandro Sanz que eu falei isso.
— É claro que eu vou falar, preciso me gabar desse status — Bisbal rebateu em um tom divertido.
— Se é assim, vou ter que te colocar em segundo lugar. É que eu e o Alejandro temos toda uma história desde que ele gravou La Tortura com a Shakira, não posso traí-lo dessa forma.
— A é fã número um da Shakira — Ramos comentou e David soltou uma risada, compreendendo a brincadeira.
— Então vou ter que gravar uma música com a Shakira?
— É um bom começo. — esboçou um sorriso espirituoso.
— Tem certeza de que você é francesa mesmo? Seu espanhol é muito bom — ele elogiou.
— Nascida e criada em Marselha. Acredita? — ela disse, rindo. — Só fui, de fato, falar espanhol fluentemente quando vim morar em Madrid há mais ou menos seis anos, mas, desde que o Zizou veio jogar na Espanha quando eu tinha uns 11 anos, venho pra cá com frequência. Sou quase uma espanhola.
— Então nem precisou de muita adaptação agora como assistente técnica do Madrid, né?
— Quanto ao país, foi tranquilo. Acho que o pior foi ter que me adaptar à pressão que é trabalhar nesse clube.
— E como é lidar com essa rapaziada aí? — David Bisbal perguntou, acenando para alguns jogadores que chegavam ao campo, com os quais já havia falado alguns minutos antes no ginásio.
— Eu adoro. Eles são uns amores.
— Eu vou lembrar disso no próximo esporro que você der nos garotos — Sergio disse e gargalhou quando encolheu os ombros.
— É que eles são brincalhões demais e, às vezes, é necessário dar uns puxões de orelha, mas não é algo tão frequente assim — ela explicou para David, que sorriu em sinal de compreensão.
— Acho que todo treinador tem um lado pai. No seu caso, mãe — comentou, rindo levemente. — Eu trouxe alguns ingressos para o show que vou fazer aqui em Madrid no fim de semana. Fica com dois pra você.
— Obrigada. Prometo que vou tentar ir — ela disse, pegando os bilhetes que o cantor tirou de uma pequena pilha que tinha em mãos.
— Se for, me manda um recado pelo Sergio — David falou, fazendo com que levantasse os olhos, curiosa com aquele súbito interesse por sua presença, para encontrar os dele a fitando de uma maneira diferente. Ou, talvez, ela só não tivesse notado até aquele momento. — Eu te arranjo um passe para o backstage.
não era hipócrita de negar que ter um cantor famoso, simpático e charmoso interessado em si alimentava sua autoestima. Se fossem outros tempos, ela provavelmente corresponderia os olhares, aceitaria encontrá-lo no backstage do show e só Deus saberia como a noite terminaria, mas, naquele momento, ela achou a situação engraçada. Nenhum outro par de olhos que não fosse o de tinha, sobre ela, o mesmo poder. Ao mesmo tempo que pensava sobre isso, precisou morder um sorriso que quis despontar em seus lábios quando notou que, da sacada do refeitório, estava o próprio a observando. Seus olhares se cruzaram e o disfarçou, fingindo estar entretido com algo no celular.
— Pode deixar, eu aviso sim — disse, voltando a fitar o cantor que ainda a encarava com o mesmo olhar que, em sua opinião, derreteria qualquer mulher que nunca tivesse experimentado ser o centro das atenções dos olhos de . O que não era seu caso. Sua resposta foi mais por educação do que por qualquer outra coisa, já que nem sabia se iria ao show e, mesmo se acabasse indo, não aceitaria tal tipo de oferta. — Bom, vou aproveitar que Zizou ainda não desceu pra dar um pulinho no refeitório. Foi um prazer te conhecer, David.
— O prazer foi meu. A gente se esbarra por aí — o outro falou, piscando um olho, e ela se despediu com um sorriso fechado antes de adentrar a residência dos jogadores.
subiu as escadas até o segundo andar e adentrou o refeitório praticamente vazio para cruzá-lo e sair pela porta de vidro que levava à sacada. Caminhou até , que estava sentado em um dos sofás, mexendo no celular, e se sentou na mesinha de madeira em frente a ele, deixando o iPad e os ingressos que segurava de lado.
— Bom dia — disse, sorrindo, antes de se inclinar na direção do jogador e segurar seu rosto para cumprimentá-lo com um beijo nos lábios.
— Bom dia — ele respondeu quando se afastou, retribuindo o sorriso.
— Não era para o senhor estar na fisioterapia? — questionou ela, cruzando os braços para parecer intimidadora.
— A gente deu uma pausa, aproveitei pra vir comer uma fruta.
— Sei… — murmurou de forma desconfiada, semicerrando os olhos.
— E a senhorita? Não era pra estar trabalhando? — retrucou, adotando a mesma postura que ela, e indicou o campo onde quase todos os jogadores que não estavam lesionados naquele momento já estavam reunidos.
— Dei uma pausa pra vir dar um beijinho no meu namorado, ué — ela falou e abriu um sorriso exagerado.
riu levemente enquanto sentia o coração bater um pouco mais forte. Ainda era difícil acreditar que estava oficialmente em um relacionamento com a mulher mais deslumbrante que havia visto em toda sua vida, especialmente quando agia de forma tão carinhosa e o fazia ter vontade de beijá-la eternamente. E foi exatamente o que ele fez. Escorregou para a ponta do sofá e a puxou para um beijo, que, para sua decepção, durou menos do que ele gostaria.
esboçou um sorriso quando eles se afastaram. Adorava quando a surpreendia e a fazia ter cada vez mais certeza de que ele era o cara mais fofo do mundo.
— Para a sua informação, estou aqui desde cedo vendo e revendo vídeos do jogo contra o Sevilla e até já tive uma reunião com meu tio e o Bettoni, tá?
— Ah, é? E por que não foi falar com seu namorado antes? — ele questionou, erguendo uma das sobrancelhas.
— Porque eu estava trabalhando, bonitão. Primeiro as obrigações. — mostrou a língua.
— É sua obrigação falar comigo, bonitona. — Ele riu. — O que é isso aí?
— Ingressos pro show do David Bisbal. Se quiser, a gente pode ir — ela respondeu, dando de ombros, e assentiu em sinal de compreensão.
Os dois ficaram se encarando por algum tempo. Tinham obrigações esperando por eles e ambos sabiam disso, mas nenhum dos dois queria dar um fim àquele momento.
— Você tá muito bonita com o cabelo dessa cor — disse do nada, fazendo-a rir baixo.
— Você já disse isso ontem à noite — rebateu com um sorriso.
— Eu sei, mas estou dizendo de novo — ele falou, dando de ombros. — De dia a cor tá um pouco diferente.
— Obrigada, eu também adorei.
— Mal vejo a hora de te ver amanhã no The Best, a Lalie fez o maior mistério com o vestido que você comprou — comentou, fazendo uma careta.
— Deixa de ser curioso, . A surpresa faz parte do meu charme — ela disse espirituosamente, fazendo-o rir.
— Eu queria que você me acompanhasse — ele soltou despretensiosamente e não foi capaz de traduzir o que os olhos de refletiram naquele momento.
— Você quer dizer… chegarmos juntos como um casal? — ela questionou sem esconder que havia sido pega desprevenida.
— Tudo bem se você não quiser — ele disse baixo, dando de ombros, por muito pouco não se arrependendo de ter feito tal sugestão.
— Não, é só que… eu não esperava. — Ela riu nasalmente. — Eu gostaria, , até porque, de fato, somos um casal, mas não sei se já estou pronta pra lidar com essa exposição toda.
— Tudo bem.
Ele esboçou o sorriso mais verdadeiro que conseguiu, disfarçando a decepção que sentia. Tinha consciência das grandes chances de ter sua sugestão recusada, pois a ideia inicial era que eles fossem com calma ao mostrar o namoro para o mundo, mas isso não fez com que o “não” doesse menos.
— Você não vai ficar chateado, vai?
— Claro que não, disse, rindo levemente. Aquilo era verdade, ele não ficaria chateado por muito tempo. Entendia perfeitamente os motivos dela e, ao pedi-la em namoro, estava ciente de que teria que ser paciente. Assim como ela também vinha sendo com ele por outros motivos. — Vai ser um dia importante para a gente e eu queria que ficássemos juntos, mas entendo perfeitamente.
— Tenho certeza de que não vão faltar oportunidades. — piscou um olho.
O jogador sorriu de volta e notou, quando olhou de relance para o campo, que o treinador acenava na direção deles.
— Acho que o Zizou tá te chamando.
— Ai, caramba — ela falou, arregalando os olhos, e rapidamente pegou suas coisas e se pôs de pé. — A gente se vê na hora do almoço.
Depois de se abaixar para depositar um selinho nos lábios do namorado, ela fez o caminho de volta para o campo a passos apressados.
O primeiro treino de preparação para o jogo contra o Sevilla começou com Zizou e seus assistentes expondo, para os jogadores, o que haviam discutido na reunião de mais cedo e os pontos que precisavam ser trabalhados nos próximos três dias. Todos escutaram atentamente quando fez um resumo das observações que havia feito sobre a primeira partida das oitavas de final da Copa del Rey e não apenas apontou as falhas, mas também ressaltou os aspectos positivos que só eram possíveis graças ao entrosamento do time e, também, as boas jogadas individuais. Em suas três temporadas treinando o time feminino do PSG, havia aprendido que elogios eram tão importantes quanto os puxões de orelha. Pouco a pouco, Zidane vinha dando cada vez mais abertura para que ela tivesse liberdade de opinar e, inclusive, de tomar algumas decisões que eram muito bem recebidas pelo time inteiro.
Depois de todo o blá-blá-blá, os jogadores finalmente partiram para a ação, começando com os habituais rondos, exercícios em que eles se dividiam em dois grupos e, se colocando em círculo, passavam a bola de pé em pé enquanto dois jogadores, no centro, tentavam roubá-la e, quando conseguiam, trocavam de lugar com o jogador que havia perdido a posse dela. O objetivo principal era trabalhar o toque de bola, que vinha se tornando um dos pontos fortes da equipe comandada por Zinédine Zidane.

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Já era noite quando chegou em casa e teve uma grande surpresa. Sentados nos sofás da sala de estar, estavam não apenas seus tios, mas também seus pais. Zinédine botava o papo em dia com o irmão que já não via há alguns meses.
— Por que vocês não me avisaram que vinham? Eu teria voltado mais cedo — ela disse, chamando a atenção dos quatro para si.
— Quisemos fazer uma surpresa — falou Sylvie, que já esperava a filha de braços abertos para um abraço. — Você estava com seu namorado?
— Sim, estava na casa dele.
— Chame ele pra jantar com a gente. Quero conhecê-lo.
— Acabamos de jantar lá na casa dele — logo respondeu, tentando fugir da sugestão da mãe. Claro que gostaria que seus pais conhecessem , mas preferia que fosse algo combinado previamente, ainda mais por saber como Sylvie Zidane sabia ser inconveniente às vezes. — E amanhã o dia vai ser corrido por causa da premiação da FIFA, é melhor a gente marcar outro dia. Vocês vão ficar por aqui até quando?
— Até o Zizou expulsar a gente — Nourredine disse, rindo levemente. — Uns cinco ou seis dias.
— Vocês sabem que podem ficar à vontade — Zinédine falou, sincero, com um sorriso aberto no rosto. Algo que jamais o incomodava era receber sua família em casa.
— Então vai ter tempo de sobra pra vocês conhecerem ele — concluiu, piscando um olho.
é um amor de pessoa, vocês vão adorá-lo — comentou Véronique, sorrindo para a sobrinha.
— Seus tios conhecem seu namorado e seus pais não... — Sylvie soltou, fitando as próprias unhas das mãos como se fosse um comentário despretensioso.
sabia que, na verdade, era uma reclamação.
— Eles conheciam antes mesmo de eu conhecê-lo. Além de trabalhar com o tio Zizou, é vizinho deles.
— Se ele mora aqui perto, por que não pode vir aqui por uns vinte minutinhos?
soltou um longo suspiro e olhou para o tio como se pedisse por socorro, mas Zinédine tinha uma expressão divertida estampada no rosto.
— Chama o pra vir aqui, . Ai dele se recusar um convite do técnico — disse ele, sua risada ecoando pelo cômodo em seguida.
— Só vinte minutos, tá? Não vão querer ficar horas fazendo um questionário sobre a vida inteira dele — ela falou em tom de aviso, encarando a mãe, que sorriu satisfeita em resposta.
Em seguida, subiu até seu quarto para falar com o namorado com mais privacidade.
Já tá com saudade? — disse o ao atender o celular no terceiro toque.
— Vai fazer alguma coisa a respeito? — mordeu um sorriso enquanto se jogava de costas sobre o colchão.
Minha cama é grande o bastante pra nós dois.
— Ui, que proposta tentadora — ela disse em um tom descontraído e sorriu, se lembrando da sensação de dormir envolta nos braços de —, mas, na verdade, liguei pra fazer um convite.
Que convite?
— Meus pais estão aqui em casa, vieram fazer uma visita, e dona Sylvie tá louca pra te conhecer.
Agora? — o jogador questionou do outro lado sem disfarçar a surpresa.
— Só se você quiser, ok? Não tem problema a gente marcar outro dia.
Pode ser agora sim. Tô aqui sozinho fazendo nada de interessante, já que a Lalie saiu.
— Mas você quer? — questionou, preocupada de o namorado acabar aceitando o convite por obrigação.
Claro que sim, . Eu preciso agradecê-los por terem te botado no mundo — ele respondeu brincalhão, a fazendo rir. — Só vou trocar de roupa. Em dez minutos estou aí.
— Ok, estou te esperando.
encerrou a ligação com um sorriso estampado no rosto e suspirou enquanto pensava que, talvez, estivesse exagerando, apesar de ter seus motivos para preferir que aquele primeiro encontro de com seus pais fosse algo planejado. Voltou à realidade quando ouviu uma batida na porta.
— Posso entrar? — Sylvie perguntou, pondo a cabeça para dentro do quarto.
— Claro que pode, mãe. Entra aí — ela respondeu, se pondo sentada na cama. — Já falei com o , ele tá vindo.
— Não entendi por que você tentou escapar de chamar ele pra vir aqui. Não posso querer conhecer o rapaz que botou esse sorriso lindo no rosto da minha filha?
Um sorriso fraco despontou nos lábios de em resposta ao de sua mãe.
— É, né? Besteira minha — disse antes de largar o celular sobre o colchão e se levantar, logo mudando de assunto. — Deixa eu te mostrar o vestido que comprei pra ir ao prêmio da FIFA.
As duas foram até o closet, onde abriu o zíper da capa que protegia o traje.
— Que lindo, ! — Sylvie exclamou, admirando o vestido, e, em seguida, seus olhos orgulhosos pousaram na filha. — Você vai estar tão bonita.
— A tia Véronique me ajudou a escolher.
— Sempre a Véronique... Eu fui modelo por mais de vinte anos e, mesmo assim, você nunca me pede ajuda quando se trata de moda.
— Ah, mãe, por favor...
— Espero pelo menos que, quando for escolher seu vestido de noiva, se lembre de me chamar.
— Mal comecei a namorar e você já tá falando em casamento? — disse descontraidamente, voltando a fechar a capa do vestido.
— Se eu fosse você, já estaria pensando. Ele é um bom partido.
— Você nem o conhece ainda. Como sabe que é um bom partido? — perguntou, fazendo sinal de aspas com os dedos ao pronunciar a expressão que, particularmente, achava péssima.
— Ele é jogador de futebol — Sylvie respondeu, dando de ombros, como se fosse algo óbvio.
— Tá, mas isso não quer dizer nada — rebateu , olhando torto para a mãe.
— Ele não é como aquele seu ex-namorado que, por mais que tenha conseguido crescer na carreira, nunca vai chegar a ser um fotógrafo renomado. Não é um Cristiano Ronaldo, mas todo mundo sabe quem é . Além do mais, já aceitei que nada vai fazer você desistir do futebol. Estar com ele vai te ajudar, né? Quem não vai querer ter como técnica a sobrinha do Zidane e esposa do ?
Os olhos de estavam minimamente arregalados e, por um momento, ela achou que sua voz tivesse desaparecido. Por mais que a opinião de seus pais sobre não fosse o que a faria ficar com ele ou não, gostaria de ver os três se dando bem. Estava feliz por ver a mãe contente de vê-la iniciando um novo relacionamento e, inclusive, desejando conhecê-lo o quanto antes, principalmente porque eram raras as vezes que ela apoiava suas escolhas na vida. O que sentia dentro de si era decepção ao se dar conta de que não era exatamente em sua felicidade que Sylvie estava pensando.
— Espera aí, mãe — disse, se recompondo. — Eu tô com o porque eu gosto dele, não porque ele é um jogador de futebol famoso.
— Eu sei, . Você é minha filha, eu sou capaz de ver que você está realmente apaixonada por esse rapaz, mas é um amor bem conveniente, não acha?
— Eu não acredito que você tá mesmo me dizendo isso.
— Você realmente acredita que estaria ocupando esse cargo no Real Madrid se não fosse sobrinha do Zinédine?
— Eu tenho consciência de que isso abriu as portas pra mim, ok? Mas, você acredite ou não, sou muito competente no que faço.
— Não seja ingênua, . Você já é bem grandinha pra ter esse tipo de ilusão — Sylvie disse, revirando os olhos. — No mundo real, o único tipo de competência que esperam que uma mulher tenha é na cama.
— Se você, que é uma mulher, tem esse pensamento tosco, como esperar que as coisas se tornem mais equilibradas entre homens e mulheres, né? — rebateu e mostrou um sorriso irônico, deixando o closet e a mãe para trás.
— Não estou dizendo que concordo com isso, mas é assim que as coisas são. Como você acha que eu construí minha carreira de modelo lá na década de 80?
— Eu não acho nada e prefiro não saber. Vamos poupar o restinho de respeito que ainda tenho por você, ok?
— É fácil dizer isso tendo tido tudo o que você quis a vida inteira. Se eu tivesse sido orgulhosa e mimada como você é, teria morrido de fome e você sequer teria nascido.
respirou fundo, sentia um nó se formar na garganta. Se fosse qualquer outra pessoa dizendo aquelas coisas, ela a mandaria para um lugar não muito bonito e não daria a mínima importância, mas a pessoa em questão era Sylvie Zidane. Seu coração doía ao se dar conta de que sua própria mãe não acreditava que ela era capaz de conquistar seus objetivos por si mesma.
A campainha soou pela casa em seguida, fazedo-a dar meia volta ainda em silêncio. Antes de deixar o quarto, entretanto, se voltou para a mãe.
é adorável. Dê a você mesma uma chance de conhecer o cara incrível pelo qual a sua filha está apaixonada independente da conta bancária dele.
Sylvie nada disse, apenas seguiu a filha até o andar inferior.
— Deixa que eu abro! — exclamou e correu até o hall de entrada antes que um de seus tios se adiantasse.
Ao abrir a porta, encontrou com as mãos nos bolsos do casaco de moletom e se inclinou para beijá-lo nos lábios.
— Obrigada por ter vindo.
— Não é como se eu estivesse te fazendo um favor — ele disse, rindo levemente. — Só tenho uma dúvida. Seus pais falam inglês?
— Minha mãe é fluente e meu pai sabe se virar, mas, qualquer coisa, eu sirvo de tradutora. Relaxa.
o levou até a sala de estar e quatro pares de olhos se voltaram para eles assim que adentraram o cômodo.
— Mãe, pai, esse é o — disse, entrelaçando o braço ao dele.
— Eu não acredito que você nos apresentou , — seu pai disse em um tom divertindo, arrancando algumas risadas, mas ela se manteve séria enquanto observava os dois se cumprimentarem com um aperto de mão. — Muito prazer. Sou Nourredine.
Apesar de notar o olhar analítico de Sylvie, esteve bastante tranquilo todo o tempo em que permaneceu sentado em um dos sofás da casa dos Zidane. Além da presença de ao seu lado, com quem estava de mãos dadas, a presença de Zizou e Véronique, dois rostos já bem conhecidos, o fez se sentir bastante cômodo.
Os vinte minutos se transformaram em duas horas em que ficou quieta em seu canto e só abria a boca quando alguém dirigia a palavra a ela. contou um pouco sobre sua família, mas o assunto que acabou sendo predominante durante toda a conversa foi o futebol. Pela primeira vez, ela se sentiu incomodada por estar no meio de uma conversa sobre o esporte que amava desde que se entendia por gente e imaginando como seria sua vida se não tivesse nascido naquele meio.

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O treino acabou um pouco mais cedo no dia seguinte. O técnico Zinédine Zidane liberou os jogadores que iriam à premiação da FIFA, assim como ele próprio, e o restante do plantel continuou fazendo exercícios de condicionamento físico com os preparadores físicos. acabou pegando uma carona com Toni Kroos, pois ainda estava evitando dirigir apesar de, naquela altura, já estar prestes a ser liberado pelos médicos para começar a treinar no campo. Havia feito alguns exames no dia anterior e a expectativa era de mais ou menos duas semanas para isso acontecer. Ele estava contando os dias.
— Já que Zizou nos liberou de ir pra Valdebebas amanhã pela manhã, tô pensando em passar a noite com a Jess em Zurique — Toni comentou enquanto dirigia rumo a La Finca.
— É uma boa ideia, melhor aproveitar a oportunidade mesmo — disse em apoio. Vinha escutando bastante reclamações do amigo sobre estar tendo poucos momentos a sós com a esposa por causa das duas crianças pequenas que tinham em casa e demandavam atenção em tempo quase integral.
— Pois é, e os meus sogros estão lá em casa pra ficar com eles hoje, então não tem problema se a gente voltar amanhã pelo horário do almoço.
O ficou olhando pela janela, pensativo, escutando a música do Ed Sheeran que tocava no rádio.
— Acho que vou fazer o mesmo com a — falou, externalizando os pensamentos que haviam tomado sua mente.
— Claro. Por que não? — Toni rebateu, rindo.
— Ah, é que… sei lá… a gente ainda não… — disse e, apesar de soar confuso, o alemão logo entendeu aonde ele queria chegar.
— Vocês não dormiram juntos na sua casa depois da festa de aniversário dela?
— Sim, nós dormimos. Literalmente.
— Fala sério, . Você nem ao menos tentou? — Kroos questionou, um pouco indignado. — Você vai ver, quando chegar a hora H, não vai nem se lembrar dessas paranóias aí.
— Cara, você não tá entendendo. Faz quase um ano que eu não durmo com ninguém.
— E já deu tempo de esquecer qual é o caminho do paraíso? — ele soltou uma gargalhada, fazendo-o revirar os olhos antes de rir levemente. — Eu te entendo. Quando fico muito tempo sem fazer nada com a Jess, também fico um pouco afobado, mas me alivio sozinho antes pra não decepcionar durando cinco minutos e fica tudo certo.
A verdade é que, toda vez que eles caíam naquele tipo de assunto, a praticidade de Toni Kroos fazia se sentir ainda mais bobo, mas só ele mesmo sabia a confusão de sentimentos que desencadeava dentro dele.
Depois de Toni deixá-lo em casa, foi arrumar a pequena mala que levaria na viagem e, também, separar o terno e os sapatos que havia comprado especialmente para a ocasião. Não conseguia parar de pensar sobre dar aquele passo a mais com . Precisava fazer seu subconsciente entender que não tinha por que pensar tanto sobre aquilo. Eles eram namorados, uma hora ou outra iria acabar acontecendo e toda a cautela seria mandada para o espaço. Ele queria muito aquilo, em uma intensidade que jamais havia acontecido antes em sua vida. O desejo que sentia por estava começando a enlouquecê-lo.
Entrou no banho ainda pensando sobre o conselho de Kroos. Sabia que o amigo tinha razão. Do jeito que se encontrava, precisaria aliviar a tensão sozinho antes de tentar qualquer coisa com ou pagaria o mico do século.
A água quente que saía do chuveiro escorria por seu corpo enquanto espalhava o shampoo pelo cabelo para, em seguida, massagear o couro cabeludo. Fazia tudo no piloto automático, entretanto, pois sua mente estava bem distante dali. Via diante de si, sorrindo da maneira que o fazia se arrepiar da cabeça aos pés, e quase podia sentir o gosto do beijo dela, a língua acariciando a sua lenta e sensualmente ao mesmo tempo que as mãos delicadas apertavam seus braços e os seios firmes dela eram espremidos cada vez mais contra seu peitoral. Tudo aquilo não passava de mera imaginação, mas parecia quase tão real quanto a excitação que corria por todo seu corpo e, aos poucos, se concentrava em apenas um ponto.
Uma das mãos de segurou o membro rígido que latejava, implorando por ser tocado. Imaginou que não era ele o responsável por aquelas carícias a si mesmo, mas sim as mãos e a boca de , assim como já havia imaginado algumas vezes e, inclusive, experimentado em alguns sonhos.
Não se sentia mais culpado como na primeira vez que sonhou que transava com ela em seu quarto na residência dos jogadores, quando mal tinha a conhecido. Era algo que apenas ele sabia, mas que havia sido um dos motivos, talvez o maior deles, de evitar ambientes em que estivesse antes de fazer amizade com ela. Se sentia envergonhado sempre que a via e se lembrava do sonho, especialmente quando percebia que, no fundo, gostaria de torná-lo realidade.
só retomou a consciência quando sentiu o líquido viscoso escorrer por entre seus dedos conforme um longo suspiro escapou por sua garganta e a sensação de relaxamento enfim tomou seu corpo.

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— Ué, cadê a ? — Foi a primeira coisa que ouviu Luka perguntar assim que pôs os pés no saguão de entrada do hotel que havia sido o primeiro destino dos jogadores do Real Madrid ao pousar em Zurique. Acabava de descer do quarto, já arrumado impecavelmente para a premiação.
— Deve estar se arrumando — respondeu, dando de ombros, e pegou o celular no bolso interno do paletó para checar se tinha alguma mensagem da namorada. Não encontrou nenhuma notícia dela dentre as notificações.
— Pensei que vocês estivessem juntos — disse o croata, que estava acompanhado por Vanja, sua esposa, e Ivano e Ema, os filhos do casal.
— Não, ela reservou um quarto separado do meu.
— Ah, é mesmo. Tinha esquecido que vocês não vão assumir o namoro publicamente ainda.
— Eu fiquei tão feliz de saber que vocês estão juntos, — Vanja comentou, esboçando um sorriso sincero. — Estava torcendo por isso desde o dia que conheci a quando você levou ela lá em casa.
— A gente passou tanta coisa de lá pra cá que esse dia me parece uma lembrança bem distante — ele admitiu, rindo levemente.
Enquanto o diálogo se desenrolava, saiu do elevador e, ao avistar os rostos conhecidos, caminhou até eles.
— Quer dizer que o é um homem solteiro hoje? — Luka perguntou assim que ela estava próxima o bastante para escutá-lo.
— Só hoje — ela respondeu com um sorriso divertido nos lábios. — Pelo menos ele vai poder me paquerar de longe. Quem sabe no final da noite eu não aceito um convite pra jantar?
— Meu amigo, mais clara do que isso ela não poderia ser — ele debochou, dando um soquinho no braço de .
O , no entanto, mal prestou atenção na brincadeira, pois, assim que seus olhos pousaram na mulher parada ao seu lado, nada além dela parecia ter qualquer importância. Enquanto seus olhos desciam da cabeça aos pés de , ele se sentiu como se estivesse em um sonho. O corpo dela estava moldado por um vestido longo e justo, o decote profundo deixava a curva de seus seios ligeiramente à mostra e o tom de cinza claro contrastava com sua pele. Estava ainda mais linda do que ele imaginou que estaria quando Lalie brincou que ele seria incapaz de tirar os olhos dela naquela noite.
— Não me olha assim, eu sou tímida — brincou, fingindo estar envergonhada, e riu em seguida, fazendo os lábios de se curvarem em um sorriso.
— É sério que eu não posso te beijar? — ele perguntou baixo, só então notando que Luka, Vanja e as crianças eram guiados para fora do hotel, onde alguns carros esperavam para levá-los até o teatro onde aconteceria o evento.
— Mais tarde — ela rebateu, piscando um olho, e segurou a saia do vestido antes de se afastar alguns passos. — Até daqui a pouco.
The Best era a nova premiação anual da FIFA para prestigiar os melhores do ano do futebol. Aquela era a primeira edição e, além de Zinédine e Zidane, que concorriam a melhores técnicos do futebol masculino e feminino, respectivamente, Cristiano Ronaldo concorria ao prêmio de melhor jogador. Junto a Sergio Ramos, Marcelo, Toni Kroos, Luka Modrić e , ele também estava entre os onze jogadores escolhidos para o time ideal daquele ano.
Era a primeira vez de em uma premiação da FIFA e, apesar da frustração de ter tido a boa fase que vinha vivendo no ano anterior interrompida pela lesão no tornozelo direito que o mantinha afastado dos campos há quase dois meses, ele estava bastante orgulhoso de si mesmo por estar desfilando pelo mesmo tapete verde que outros grandes jogadores de futebol.
O sentimento de era exatamente o mesmo. Enquanto posava para fotos e dava rápidas entrevistas, experimentava um pouquinho do gosto de ter seu trabalho sendo reconhecido. As coisas que sua mãe havia dito na noite anterior ainda ecoavam em sua cabeça e, mesmo que a tivessem magoado, dariam ainda mais força para ela continuar ali, realizando seu sonho e mostrando para todos quão competente poderia ser como treinadora.
Era impossível evitar o sorriso que surgia em seus lábios toda vez que seus olhos se cruzavam com os de e ele sorria de volta. Ambos tinham plena consciência de que ainda tinham um longo caminho a percorrer, mas estavam felizes por tudo que tinham conquistado até aquele ponto e, também, por estarem desfrutando daquele momento juntos, mesmo que o mundo ainda não soubesse disso.
acabou sendo a terceira melhor treinadora do futebol feminino, assim como seu tio, que ficou com o terceiro lugar na mesma categoria referente ao futebol masculino. Apesar de não levarem o prêmio para casa, se juntaram aos jogadores e ao presidente Florentino Pérez em um jantar de comemoração aos prêmios individuais conquistados depois de um ano em que a coletividade havia colocado o Real Madrid em evidência.

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tateou os bolsos internos do paletó e não encontrou o cartão do quarto em que estava hospedado no hotel em Zurique. Encarou a porta trancada e soltou um longo suspiro ao concluir que, provavelmente, o cartão havia caído quando tirou o paletó e deixou o mesmo sobre o encosto da cadeira durante o tempo em que estivera no restaurante com seus colegas. Antes de dar meia volta para ir até a recepção resolver o problema, pegou o celular para mandar uma mensagem para , já que os dois tinham combinado de se encontrar dali a alguns minutos. A ideia de fugir mais um pouco da realidade que os esperava na Espanha e passar a noite na Suíça havia sido muito bem recebida por ela.
No entanto, enquanto digitava a mensagem explicando a situação, ouviu um clique que o fez tirar os olhos do aparelho para levantá-los na direção da porta que, para o seu espanto, estava aberta. Cautelosamente adentrou o quarto escuro e, aparentemente, vazio, tentando entender o que estava acontecendo. Mais uma vez foi pego de surpresa quando surgiu em seu campo de visão com um sorriso maroto estampado no rosto e empurrou a porta com a mão para que a mesma se fechasse em um baque.
— Você roubou meu cartão?
— Ops. — Ela riu. — Roubar é uma palavra muito forte, eu só peguei emprestado pra fazer uma surpresa.
— Você tá querendo me matar, ? Meu coração tá pulando — falou, dramático, com uma das mãos no peito.
Seu coração realmente estava batendo mais forte, mas não por causa do susto. Era a aproximação de a passos curtos e despretensiosos que estava causando aquela reação em seu corpo. Ela tinha algo novo em seu olhar, parecia uma diferente da que ele conhecia até então.
Ela o abraçou pelo pescoço, ficando nas pontas dos pés, pois não estava mais calçando as sandálias de salto que estivera usando durante toda a noite.
— Nah, eu não quero te matar — sussurrou, seus lábios roçando os do ao mesmo tempo que as mãos dele iam parar em sua cintura. — Minhas intenções são outras bem diferentes.
— Ah, é? — rebateu e sorriu quando ela mordiscou seu lábio inferior de leve. — E quais são as suas intenções?
— As mesmas que as suas — respondeu com um sorriso presunçoso estampado no rosto.
— Será? — ele questionou em um tom divertido, rindo levemente. — No momento, eu só tô pensando em uma coisa.
mordeu o lábio inferior e aproximou a boca ao pé de seu ouvido.
— Então me diz no que você tá pensando.
sentiu os pelos da nuca se arrepiarem quando ela raspou os dentes no lóbulo de sua orelha.
— Em te beijar — disse, fechando os olhos ao sentir os lábios gelados deslizarem até seu pescoço. — Você nem imagina a tortura que foi passar a noite inteira tendo que fingir que estava nem aí pra você.
subiu os lábios até sua boca e depositou um beijo demorado. Chupou seu lábio inferior lentamente e, em resposta, ele apertou os dedos na cintura dela. Contudo, quando ele tentou aprofundar o beijo, ela se afastou, fazendo-o abrir os olhos para ver seu sorriso divertido.
— Eu não disse que a gente estava pensando na mesma coisa? — ela falou em um tom de voz sugestivo, segurando as abas de seu paletó. — Mas, antes, que tal se a gente ficar mais à vontade?
nada respondeu, mas permitiu que tirasse a peça de seu corpo, os dois pares de olhos cravados um no outro durante toda a ação, e o paletó acabou no chão do quarto. Em seguida, ela afrouxou o nó de sua gravata e também a tirou.
— Você fica tão gostoso de terno, — comentou a francesa ao mesmo tempo que, em um só movimento, puxou a camisa que ele vestia para fora da calça social —, mas, desde que eu pus meus olhos em você mais cedo, eu só conseguia pensar em como gostaria de tirar peça por peça.
Ele riu baixo, um riso um tanto acanhado.
Sem pressa, ela abriu botão por botão, revelando, aos poucos, a pele que estava louca para tocar. Contendo o impulso, apenas desceu os olhos pelo abdômen exposto pela camisa aberta e deu meia volta enquanto juntava os fios de cabelo soltos para prendê-los em um coque.
— Abre aqui pra mim, por favor.
Não demorou mais do que um segundo para se aproximar e puxar o zíper até abri-lo completamente. Ele a assistiu se livrar de cada uma das alças até a parte dianteira do vestido cair. Quase sentia os dedos formigarem tamanha era a vontade de tocar a pele das costas nuas da francesa. Quando se deu conta, suas mãos estavam tocando a cintura dela.
mordeu um sorriso ao sentir o toque suave ao mesmo tempo em que os lábios dele foram de encontro ao seu ombro, depositando alguns beijinhos pela região. Conseguia ver, pelo reflexo do espelho que decorava a parede do quarto, ele a abraçando por trás, fazendo com que seus corpos se grudassem ainda mais. O quarto parecia mais quente em meio ao desejo que emanava de ambos e os envolvia cada vez mais. Os dois estavam dispostos a, naquela noite, se deixarem levar pela vontade que tinham de ter um ao outro.
subiu as mãos pelo tronco de e envolveu seus seios, a fazendo rir baixo em resposta. Ela pôs as mãos em cima das dele, o encorajando a esfregar os mamilos enrijecidos e a apertar seus seios de leve.
Em meio às carícias somadas aos beijos molhados que o jogador distribuía em seu pescoço, soltou um longo suspiro em aprovação e empurrou o vestido que estava na altura de seu quadril para baixo, o fazendo cair e se embolar em volta de seus pés. Levantou as pernas para se desvencilhar do tecido e, em seguida, se virou para tomar a boca de em um beijo sedento enquanto o despia da camisa que não demorou a ser largada no chão. Enquanto se beijavam avidamente, ela deslizou as mãos por seu abdômen definido até alcançar o cós da calça social e esbarrou os dedos na ereção já evidente, o suficiente para fazer um sorriso satisfeito brincar em seus lábios.
— Tem alguém bem animadinho por aqui, uh? — disse, apalpando o volume que a calça social escondia.
… — ele rebateu com a respiração entrecortada.
Ela lançou um olhar cheio de segundas intenções e abaixou as calças dele, que a ajudou a tirar a peça. Em seguida, deu alguns passos para trás e o convidou a acompanhá-la com o dedo indicador.
não pôde evitar percorrer os olhos pelo corpo coberto apenas por uma calcinha rendada vermelha, se lembrando das tantas vezes que havia imaginado aquele momento, e não hesitou em segui-la até a cama.
engatinhou sobre o colchão, dando uma visão privilegiada de sua bunda para o jogador, e se deitou de lado, com a cabeça apoiada na mão. Seus olhos subiram por todo o corpo do homem, admirando cada pedacinho de pele que estava à mostra, e isso fez com que seu desejo aumentasse ainda mais. Seu corpo implorava pelo dele e havia, finalmente, chegado a hora de fazer aquilo acontecer.
— Vem cá — disse ao notar que ele a observava ainda de pé em frente à cama. — Para de pensar tanto, .
— Eu não tô pensando — ele rebateu, fazendo uma careta, e a devorou com os olhos da cabeça aos pés. — Só tô contemplando a cena.
— Por que ficar aí, só olhando, quando você pode vir até aqui e se perder nesse corpinho? — falou, brincalhona, indicando a si mesma com a mão.
O riu baixo e também subiu na cama, indo ao seu encontro. Cobriu o corpo dela com o seu e a envolveu em um beijo apaixonado.
sentia o coração bater mais rápido e estaria mentindo se dissesse que não estava nem um pouco nervosa e cheia de expectativas. Não era com um cara qualquer com quem estava indo para a cama, alguém que não passaria de uma noite divertida de sexo. Era o homem que havia virado seus sentimentos de ponta-cabeça. Estar há certo tempo sem transar com ninguém não era um problema para ela como parecia ser para ele, mas contribuía para que estivesse a ponto de enlouquecer de tão ansiosa.
Suas pernas envolveram a cintura do jogador e ela pôde sentir a excitação dele roçar o fundo de sua calcinha. Arranhou as costas largas com as unhas ao mesmo tempo que rebolou, buscando por maior contato.
— Eu quero que você me chupe, — ela soltou, ofegante, ao quebrar o beijo.
Ele a encarou com um sorriso quase imperceptível nos lábios, os olhos ofuscados pelo desejo, e nada disse antes de descer lentamente pelo corpo dela até alcançar a calcinha vermelha. A intensidade em seus olhos fez estremecer quando ele segurou a barra de sua peça íntima e a tirou lentamente. A admirou por um momento, exposta de corpo e alma, antes de descer a boca até a região entre as pernas dela.
— Porra, ... Você estava escondendo o jogo pra me surpreender, né?
Ele sorriu de canto enquanto acariciava carinhosamente as coxas dela.
— Você é uma delícia, .
Ela sentiu o corpo inteiro estremecer quando absorveu as palavras ditas pela voz baixa e rouca dele e se deixou levar pela urgência de ter dentro de si.
— Tem camisinha aí? — perguntou, se desvencilhando dele.
— Na mala.
encontrou alguns pacotes de camisinha dentro de uma nécessaire e voltou para a cama com um deles na mão. Mostrou um sorriso travesso antes de empurrá-lo, fazendo-o se deitar no colchão, e o deixou completamente nu ao despi-lo da cueca. Mordeu o lábio inferior, se esforçando para conter a ansiedade que a tomou ao ver o membro ereto. O protegeu devidamente com a camisinha antes de iniciar um beijo voraz, quente e que os levou para outra realidade.
Um mundo paralelo em que existia , e mais ninguém.



15. La Decimoquinta

Uno, dos, tres, cuatro, cinco, seis, siete, ocho, nueve y diez
Respirar profundo para liberar el estrés
Yo prefiero un beso tuyo

Mi Propio Funeral - Georgina

O Real Madrid estava a um jogo de completar quarenta partidas consecutivas sem perder e, assim, ultrapassar o recorde de invencibilidade do futebol espanhol que pertencia ao Barcelona naquele momento. Não se falava em outra coisa na imprensa e, por mais que Zizou dissesse que não considerava isso algo relevante toda vez que era questionado sobre o assunto em coletivas, no fundo toda a equipe sentia a pressão que era colocada sobre seus ombros. Todo mundo esperava que eles quebrassem aquele recorde depois de terem superado o do próprio Real Madrid. Até o mês anterior, a maior série invicta que o clube merengue tinha conseguido ter em toda sua história era de trinta e quatro jogos sem ser derrotado.
A torcida do Sevilla lotava o Ramón Sánchez-Pizjuán para a partida de volta das oitavas de final da Copa del Rey. A vantagem de três a zero que o Real Madrid havia conseguido no jogo de ida, no Santiago Bernabéu, não significava muita coisa. Zinédine decidiu poupar alguns jogadores, como Cristiano Ronaldo e Luka Modrić, que não viajaram junto com o restante da equipe para a cidade de Sevilha, mas sabia que o time andaluz sempre era um rival complicado, fosse qual fosse o contexto, e a vaga nas quartas de final do torneio estava longe de estar garantida.
se sentou no banco de reservas ao lado de David Bettoni, o outro assistente técnico, e cruzou os braços para esperar pacientemente pelo início da partida. Apesar de saber que não seria fácil, estava tranquila. Eles haviam trabalhado bastante para aqueles jogos contra o Sevilla e ela sabia que o time estava preparado para o que viesse pela frente.
Levantou a cabeça quando notou a presença de Karim, que passou os olhos por todos os bancos até chegar nela. Para sua surpresa, mesmo com outros lugares disponíveis, ele escolheu justamente o que estava vago à sua esquerda. Fazia três que tentara conversar com o amigo, mostrando ter consciência de que podia ter feito diferente ao saber sobre o envolvimento de Lola e Luca e, também, deixando claro que estava aberta para uma conversa quando ele quisesse. Karim não havia a procurado desde então, mas os dias haviam sido tão corridos com a cerimônia do The Best e os treinos para o jogo que estava prestes a começar que ela sequer havia tido tempo de parar para pensar nisso, mas eram pequenas atitudes como aquela que a faziam ter certeza de que logo tudo voltaria ao normal. E ele não precisou dizer nada para que ela soubesse que era por sua companhia que estava ali.
O apito soou pelo estádio, marcando o início da partida, e a bola rolou. O primeiro tempo começou exatamente como o Real Madrid esperava. O Sevilla tinha pressa de abrir o placar e não teve medo de partir para o ataque. Aos nove minutos de jogo, Pablo Sarabia conseguiu um espaço para colocar a bola na área, buscando por um de seus companheiros, e Sergio Ramos deu um salto, mas não conseguiu alcançá-la. A bola foi parar em Danilo, que tentou tirá-la com a cabeça, mas acabou a empurrando direto para o fundo do gol sem dar chance de o goleiro Kiko Casilla defendê-la.
O estádio inteiro vibrou com o primeiro gol do Sevilla e ninguém do banco do Real Madrid esboçou qualquer reação. levantou os olhos na direção do tio, que estava em pé na beira do campo, mas, como sempre, ele aparentava estar tranquilo. O time de Madrid não se deixou abalar por aquele gol contra, entretanto, e o primeiro tempo transcorreu sem grandes emoções. Boas oportunidades de gol para ambas as equipes, mas nenhuma delas pôde ser concretizada, pois as defesas estavam muito bem posicionadas e os goleiros sempre atentos.
Depois que o árbitro sinalizou o intervalo com seu apito e recolheu a bola, todos seguiram para o vestiário.
— Pessoal — disse Zizou, atraindo todas as atenções para si —, a mentalidade que eu quero que vocês tenham pro segundo tempo é exatamente essa. Temos dois gols de vantagem ainda. Não quero que recuem pra evitar gol, a gente não precisa disso, mas tenham atenção! Vamos tentar aproveitar os erros deles e buscar pelo empate.
— Devemos nos preocupar em quebrar o recorde ou não? — perguntou Marcelo, abrindo uma garrafa d’água para saciar sua sede.
— Que se foda esse maldito recorde — o técnico francês respondeu categoricamente, arrancando algumas risadas de seus jogadores. — A preocupação é passar de fase. Ninguém aqui quer saber de recorde, isso não vai fazer a gente ganhar troféu nenhum.
Zidane deu instruções para o grupo e, também, individualmente para Lucas Vázquez, Marco Asensio, Mariano Díaz e Álvaro Morata, que formavam o ataque naquela partida. Enquanto isso, os outros secavam o suor, trocavam as camisas roxas do segundo uniforme por outras limpas e aproveitavam os minutos restantes de intervalo para se reidratar e repor o sódio e os carboidratos gastos no primeiro tempo com bebidas próprias para tal.
Enquanto comia uma banana, trocava mensagens com , que estava em Madrid, em seus últimos dias de tratamento com Jaime e Lalie.

: E aí? O que tá achando do jogo?

: Tá ótimo. Depois do gol contra do Danilo todo mundo ficou bastante atento, é só questão de tempo pra sair o gol de empate.

: Isso do Danilo foi um azar, né? 😕

: Sim, mas eu acho que não tinha muito o que fazer. Me pareceu que o Kiko não conseguiria chegar na bola e de qualquer forma seria gol.

: Também acho. Paciência...

: Vamos voltar pro campo. Até depois. 😘

: Bom segundo tempo. 😘

Logo no início da segunda parte do jogo, um escanteio a favor do Sevilla fez Casilla sair do gol para tirar a bola com um soco. A mesma foi parar nos pés de Marco Asensio, que aproveitou o campo livre para, em um contra ataque, correr com a bola em seus pés, ultrapassando um jogador adversário e deixando outro para trás e, enfim, ficar cara a cara com o goleiro. O banco inteiro do Real Madrid já estava de pé naquela altura, todos boquiabertos com a corrida de setenta metros do camisa vinte, e já esperavam pelo gol que veio a se concretizar. Marco correu na direção do treinador e foi recebido para um abraço em grupo. Todos o parabenizaram entre tapinhas na cabeça e empurrões.
— Zizou chamou alto quando todos voltavam para seus lugares para o recomeço da partida, fazendo-a se aproximar para escutá-lo em meio à barulheira do estádio. — Aquecimento pro Carva, Rapha, Karim, Mateo e Enzo.
A assistente assentiu com a cabeça, concordando com a ordem dada, e continuou seu caminho em direção ao banco.
— Priminho — disse, fazendo Enzo levantar os olhos —, vai lá se aquecer. Você, você, você e você também.
Os cinco jogadores se levantaram e acompanharam o preparador físico Antonio Pintus até a lateral do campo para iniciar o aquecimento.
O empate não foi o suficiente para assustar os jogadores do Sevilla, que continuaram a atacar e, poucos minutos depois, marcaram mais um gol, ficando novamente na frente no placar. Zizou conversou com seus assistentes e os três optaram por uma substituição defensiva, com o intuito de manter o controle da partida, já que ainda estavam em vantagem no placar agregado. Mateo Kovačić entrou no lugar do atacante Mariano e, minutos depois, Daniel Carvajal no lugar de Lucas Vázquez. O jogo, de fato, parecia sob controle, então a terceira modificação que Zidane fez foi trocar Morata por Benzema para dar novos ares ao ataque e tentar um empate. O que ninguém esperava era que, no minuto seguinte, o Sevilla conseguiria marcar o terceiro gol.
Mesmo sendo derrotado por três a um, era o Real Madrid quem estava passando de fase. No entanto, nenhum dos jogadores pensava nisso ou nas palavras proferidas por Zizou durante o intervalo. Sabiam que não precisavam provar nada para ninguém, pois eram os atuais campeões europeus e mundiais, mas eles queriam quebrar aquele recorde de invencibilidade e tinham dez minutos para isso.
Com um pênalti cobrado por Sergio Ramos, diminuíram o desafio. E, com um gol de Karim Benzema já nos acréscimos, em uma belíssima jogada, alcançaram o objetivo. Com aquele empate, o Real Madrid se tornava o atual clube espanhol com o maior número de jogos seguidos sem perder.
Na ida para o vestiário, não pensou duas vezes antes de ir até Karim e pegá-lo de surpresa com um abraço apertado.
— Que golaço, hein? — falou, dando tapinhas no rosto do atacante, que ria.
— Só mais um dia normal na vida de KB9 — ele rebateu, piscando um olho.
— Ridículo — disse ela, mostrando a língua.
O time voltou para Madrid com o sentimento de satisfação, embora, dali a três dias, viessem a enfrentar o Sevilla novamente ali mesmo, no Ramón Sánchez Pizjuán, dessa vez pelo campeonato espanhol, e a invencibilidade a acabar com uma derrota por dois a um.

🏆🌟⚽

, ainda bem que você chegou, não aguento mais essas duas crianças.
Depois do treino daquela manhã, encontrou uma cena divertida ao adentrar o ginásio da Ciudad Real Madrid. e Jaime tinham suas mãos cobertas por luvas de boxe e se enfrentavam, enquanto Amelie filmava a brincadeira dos dois.
— É isso que vocês ficam fazendo a manhã inteira? — questionou em um tom divertido, cruzando os braços ao parar ao lado de Lalie para observar a cena.
— Você vai me bater se eu deixar o olho do seu namorado roxo? — Jaime perguntou, tentando acertar , que se esquivou facilmente do golpe.
— Ele sabe se defender sozinho — ela rebateu, rindo levemente.
Em meio a risos, os dois homens tentavam acertar um ao outro. Em uma dessas tentativas, a mão de foi tão rapidamente na direção do rosto de Jaime que ele não teve tempo de desviar. O espanhol levou as mãos ao rosto, indo de encontro ao chão, e o não conteve uma gargalhada.
— Ai, meu Deus! — Amelie exclamou, espantada.
levantou os braços em comemoração na direção da câmera e riu de leve com a cena, mas deu um passo na direção de Jaime para se certificar de que ele não havia se machucado seriamente.
— Que violência é essa, ? Você tá querendo matar o seu fisio… — disse ela, mas foi interrompida quando os braços de a envolveram e os lábios dele a calaram com um beijo.
Foi impossível não beijá-lo de volta. pousou as mãos nos ombros do namorado e se deixou levar pelos sentimentos que tomavam seu peito, loucos para serem extravasados.
A verdade era que, na última semana, estava andando nas nuvens. Inúmeras eram as vezes em que ela se pegava distraída, com os olhos perdidos em um ponto qualquer, se lembrando da noite que passara com em Zurique. Uma noite mágica, ela diria. Por mais brega que usar aquele adjetivo parecesse, era uma boa palavra para definir as horas que haviam pertencido aos dois e mais ninguém. Nesses momentos de devaneio, quase podia sentir as mãos de passeando por seu corpo, os lábios dele explorando territórios desconhecidos até então e todas as sensações que causaram nela. Havia se deixado levar pelos desejos mais carnais, ao mesmo tempo que se sentia amada. Aquele e seus benditos olhos azuis faziam cada toque e cada beijo parecerem os mais especiais de sua vida.
Embora ainda não tivessem tido a oportunidade de repetir a noite, já que os dias haviam sido corridos para ambos, cada beijo que agora trocavam tinha um gosto diferente.
— Vocês são tão fofos — disse Lalie, fazendo o casal sair da própria bolha em que estavam.
— Você tá filmando a gente? — questionou ao se afastar do namorado e encontrar o celular voltado na direção em que estavam.
— Talvez… — ela respondeu com um sorrisinho arteiro nos lábios enquanto finalizava a gravação.
— Eu levo um soco no nariz e ninguém tá nem aí, né? — falou Jaime, ainda no chão, com a voz abafada pela mão que cobria seu rosto.
riu, livrando uma das mãos da luva e a ofereceu na direção dele.
— Foi mal, cara. Eu não calculei bem o movimento.
— O que eu vou dizer, né? Levar um soco de é pra poucos — brincou o fisioterapeuta, se pondo de pé com o auxílio do outro.
balançou a cabeça em negação enquanto ria levemente e, em seguida, se aproximou da outra mulher.
— Lalie, seja bem-vinda. Agora oficialmente — disse, a cumprimentando com um abraço.
— Obrigada, . Pelo menos, agora vou receber um salário pra aturar esse tipo de coisa — ela acrescentou, apontando para os dois homens.
— Não precisa fazer charminho, todo mundo sabe que você adora isso — falou, implicante, e ela revirou os olhos em resposta.
— Relaxa, eles costumam ser mais civilizados do que isso — disse em um tom divertido. — Eu fiquei muito feliz quando meu tio disse que você tinha aceitado a proposta. Imagino que tenha sido uma decisão muito complicada, mas acho que tem tudo pra dar certo.
— Foi mais difícil do que quando decidi estudar em Beijing sem saber uma palavra em Mandarim, mas… algo me fez escolher aqui. Sempre que vinha era por pouco tempo e eu gosto muito da família do Luka e do , poder ficar mais tempo com eles, com o Isco e… o Ronaldo também. Espero que ter seguido o coração pela primeira vez na vida valha a pena.
estranhou a hesitação de Lalie ao citar Cristiano Ronaldo e um sorrisinho quase imperceptível surgiu em seus lábios. Estaria acontecendo alguma coisa entre os dois? Já os havia visto conversando vez ou outra, mas não tinha considerado essa possibilidade, pois a fisioterapeuta tinha uma boa relação com todos os jogadores. Achou melhor não comentar nada por conta da presença de e Jaime, mas, certamente, mataria a curiosidade quando tivesse uma oportunidade de estar a sós com Amelie.
— Acho que vai ser menos complicado do que aprender Mandarim — ela disse em meio a risos, fazendo a outra rir também. — Estando enturmada, tudo fica mais fácil.
— Karim chamou ao adentrar o ginásio.
— Oi? — disse ela, o encarando com curiosidade.
— A Closer publicou uma foto sua de lingerie — ele falou sem rodeios, fazendo arregalar os olhos e os outros três franzirem o cenho em dúvida, pois não entenderam a frase dita em francês.
— Uma foto minha... o quê? — questionou, atônita, sem ter certeza de que realmente havia compreendido o que o amigo dissera.
— Olha aí — disse Karim em meio a um suspiro, estendendo o celular para ela. — E já está em vários jornais esportivos também. Marca, AS…
A francesa pegou o aparelho e abriu a boca, espantada, quando seus olhos pousaram na foto que a tela mostrava. Era ela mais jovem, vestida com um conjunto rosa claro de lingerie que costumava ser um de seus favoritos. Estava sentada em uma poltrona de pernas cruzadas em uma pose bastante sensual. Havia sido uma das fotos tiradas por seu ex-namorado Jérémy quando ela topou ser fotografada para que ele pudesse criar um portfólio de moda e publicidade, ramo da fotografia que ele sempre quis seguir.
— O que aconteceu? — perguntou, estranhando a expressão no rosto da namorada, mas não obteve a atenção dos outros dois.
— Essa foto não é uma montagem, né? — questionou Karim.
— Não, foi Jérémy quem tirou — respondeu, piscando os olhos atordoadamente. — Eu posei pra ele uma vez... quando a gente ainda namorava.
— Só ele tinha essas fotos?
— Acho que sim, mas não acho que ele tenha alguma coisa a ver com isso — ela disse em dúvida, levantando a cabeça para fitar o amigo. Sentiu um aperto no peito apenas de imaginar que o ex-namorado, que um dia havia sido seu melhor amigo, pudesse estar por trás daquilo. — Ou será que tem?
trocou olhares com Amelie e Jaime, que estavam tão perdidos quanto ele.
, tá tudo bem? — ele voltou a questionar, preocupado pelo tom em que os dois franceses falavam.
— Uma revista de fofocas da França divulgou uma foto antiga minha de lingerie — ela disse, dessa vez em inglês, e soltou um longo suspiro ao perceber a surpresa nos olhos do . — Foi meu ex-namorado quem tirou pra colocar no portfólio. Ele estava em início de carreira na época e não tinha experiência nenhuma. O mais estranho é que ele me deu o álbum com essas fotos reveladas no Natal, porque estava indo morar com a namorada e ia se desfazer delas. Ele falou que ficou com os arquivos digitais, já que guarda todos os trabalhos que fez na vida, mas não entendo por que faria isso.
— Dinheiro — Karim sugeriu, dando de ombros. — Ele deve ter vendido essa foto por uma fortuna, pode apostar.
— Eu me recuso a acreditar que o Jérémy faria isso — retrucou com indignação.
— Não duvide da capacidade do ser humano de ser escroto.
Ela passou a mão pelo rosto e bufou, frustrada, antes de devolver o celular para Benzema e se afastar a passos duros.
— Vou tirar essa história a limpo com o Jérémy.
Os outros quatro, em silêncio, a observaram sair do ginásio, deixando ali um clima pesado.
— Cadê a foto?
Karim voltou os olhos para ao escutar o questionamento e desbloqueou o celular antes de entregá-lo para ele.
O encarou a tela, encontrando uma um pouco diferente fisicamente. O olhar, no entanto, era exatamente o mesmo que o deixava de pernas bambas. Estava linda, o que não era uma novidade, já que ela era muito fotogênica, mas ele ficou bastante surpreso ao admirar a fotografia. Um sentimento que não foi capaz de definir tomou seu peito.
Jamais imaginaria que havia tirado fotos sensuais um dia. Justo ela, que sempre batia de frente com a vontade da mãe de que ela se tornasse modelo. Além disso, talvez ele não houvesse parado para pensar até aquele momento em como, de fato, havia sido o relacionamento dela com o ex-namorado.
Agora, o mundo inteiro saberia sobre a intimidade dos dois. Todos veriam e comentariam sobre de lingerie. Algo que nada tinha a ver com futebol estaria ofuscando o trabalho que ela estava fazendo no time. Não sabia se, como seu namorado, tinha o direito, mas todas essas coisas o incomodavam.
Ele devolveu celular para Karim, a impassibilidade estampada em seu rosto, e deu meia volta.
? — Lalie o chamou em um tom preocupado.
— Vejo vocês no refeitório daqui a pouco — foi o que ele disse antes de deixar o ginásio.

🏆🌟⚽

estava do lado de fora da residência dos jogadores, caminhando de um lado para o outro com o celular no ouvido enquanto, agoniada, escutava o som que indicava que a ligação estava sendo realizada.
?
— Oi, Jérémy — ela disse e deu uma pausa para respirar fundo. — Eu preciso te perguntar uma coisa e quero que você seja sincero.
Certo… — ele falou mesmo que estranhando completamente aquela ligação desde que viu o nome da ex-namorada surgir na tela de seu celular depois de tantos anos sem aquilo acontecer.
— Você vendeu uma daquelas fotos, uma em que estou de lingerie, pra Closer? — perguntou ela, preferindo ir direto ao ponto.
O quê? — o francês rebateu com bastante surpresa. — É claro que não, . Que história é essa?
— Eles publicaram essa foto e eu quero entender como que isso aconteceu. — soltou um longo suspiro frustrado.
Espera um minuto, estou abrindo o site deles — Jérémy falou e um silêncio se seguiu enquanto ele abria a página da revista Closer na internet e buscava por “ Zidane”. — Merda! Eu juro que não tenho absolutamente nada a ver com isso. Jamais iria te expor dessa forma sem te consultar antes.
Apesar de aliviada por um lado, estava sem chão por outro. Saber que Jérémy também havia sido pego de surpresa não ajudou em muita coisa. Não queria nem imaginar a repercussão que aquela foto estava tendo e não tinha ideia do que deveria ter feito para ser mais cuidadosa e muito menos o que deveria fazer para remediar o problema. Sentia-se de mãos atadas e mal conseguia raciocinar direito.
— Eu acredito em você, mas… — disse ela antes de soltar um grunhido, frustrada e irritada. — Que merda! Como eles conseguiram essa foto?
Não tenho ideia, essas fotos nem estão na internet. Eu guardo todos os meus trabalhos, mas só deixo os mais recentes no meu site. Vou acionar meu advogado, isso é violação de direitos autorais e de imagem. Não vai ficar por isso mesmo.
— Tudo bem… — falou em meio a um suspiro. — Acho que é melhor eu não tomar nenhuma atitude por enquanto. Me avisa se tiver alguma novidade, tá?
Claro que sim, eu te mantenho informada. Desculpa, , não queria que essas fotos criassem problemas pra você.
— Tudo bem, Jerry. Não é como se você tivesse colocado uma arma na minha cabeça e me obrigado a tirá-las — falou, sincera, pois não se arrependia de tê-lo ajudado mesmo que, no início, não tivesse concordado com a ideia. — Preciso desligar, mas a gente vai se falando. Tchau.
Até mais.
encerrou a chamada e guardou o celular no bolso da calça. Seus olhos passearam pelo ambiente, desde o estacionamento do time principal, passando por parte do território da Ciudad Real Madrid, e, por fim, pararam na fachada da residência dos jogadores. Respirou fundo e pediu a Deus que aquilo não se tornasse algo grande, mas, no fundo, sabia que aquele era um dos muitos episódios que teria que suportar de cabeça erguida.
Voltou a entrar na residência do time principal em seguida e tomou o rumo do refeitório. Estava tão imersa em seus próprios pensamentos que não notou a aproximação de , que vinha logo atrás.
— o jogador chamou, a fazendo parar no meio do caminho e se voltar em sua direção.
— Não foi o Jérémy. Ele disse que vai falar com o advogado, já que também violaram os direitos dele como fotógrafo — respondeu ela, levantando os ombros para logo deixá-los cair em sinal de desamparo. — Eu não tenho ideia de como isso chegou na Closer, ninguém mais tem acesso a essas fotos.
— É um pouco estranho, né? — comentou, franzindo o cenho. — Quer dizer, se só o seu ex-namorado tinha acesso às fotos…
— Você acha que ele teria mentido pra mim?
— Será que ele confessaria se tivesse vendido a foto pra revista?
— Eu conheço o Jérémy, sei que ele jamais faria isso.
concordou com a cabeça enquanto fitava os olhos convictos da namorada.
— Ok — disse, simplesmente, e deu meia volta. — Vou almoçar.
— Ei, o que é isso? — a francesa perguntou, pasma, ao mesmo tempo que segurou pelo braço, impedindo que ele se afastasse.
— Isso o quê? — ele questionou, confuso.
— Você simplesmente me deu as costas e saiu andando — retrucou ela com indignação.
— Eu vou almoçar — ele repetiu e seus olhos desceram para a mão dela que o segurava.
— É sério, — disse em meio a um suspiro, o soltando. — Realmente acredito que não foi o Jérémy, eu confio nele.
— Imagino que sim, você não teria tirado essas fotos se não confiasse.
— Exatamente.
— Posso ir agora?
analisou a expressão em seu rosto por algum tempo e cruzou os braços, semicerrando os olhos.
— Você tá incomodado por causa dessa foto? — perguntou, fazendo-o respirar fundo.
— Se você achou que tirar foto de lingerie não tinha nenhum problema, quem sou eu pra dizer qualquer coisa?
— Agora você está me recriminando? — rebateu ela, surpresa.
— Não estou te recriminando, mas talvez você tivesse que ter cogitado que isso poderia vir a acontecer.
— Ou será que as pessoas que deveriam parar de procurar pretextos pra rebaixar as mulheres? — falou em um tom que transbordava ironia, o que fez apertar os olhos e passar uma das mãos pelo rosto.
— Acho melhor a gente conversar depois — ele disse, voltando a seguir o caminho rumo ao refeitório.
— Sério que você vai me deixar falando sozinha?
— Não vai adiantar nada a gente conversar agora se você tá entendendo o que quer.
— Uma foto minha de calcinha e sutiã foi parar numa revista porque tá todo mundo louco pra me ver envolvida num escândalo, meu próprio namorado insinua que a culpa é minha e eu que tô entendendo o que eu quero? — despejou de uma só vez em um volume de voz um pouco mais alto.
— Mais tarde a gente se fala — foi o que disse antes de voltar a seguir seu caminho.
— Estarei ocupada! — ela exclamou e se sentiu ainda mais irritada ao vê-lo virar no fim do corredor sem voltar atrás.
estava tão preocupada com a repercussão do vazamento daquela foto que não havia parado para pensar no que estava achando daquilo tudo, já que, para ele, aquela sessão de fotos sensuais também era uma novidade. Definitivamente, não esperava ouvi-lo dizer que ela deveria ter pensado melhor nas consequências, até porque ela havia pensado muito antes de aceitar ajudar Jérémy. Não era ela a errada por ter posado para fotos por livre e espontânea vontade. De forma alguma isso deveria diminuir a mulher e profissional que era.
Bufou antes de seguir pela mesma direção que . Também precisava almoçar e não poderia fugir de estar no mesmo ambiente que ele naquele momento.
Quase todos os pares de olhos presentes se voltaram para ela quando chegou ao refeitório, mas fingiu não notá-los, assim como fingiu não notar a presença de no buffet quando foi servir seu prato também. Com o almoço em mãos, ela varreu o local com os olhos, buscando por um lugar para se sentar, e pôde ver que o namorado havia se acomodado junto a Amelie e Cristiano Ronaldo. Ela pensou em almoçar na companhia do preparador físico Antonio, mas preferiu fazer sua refeição sozinha mesmo, pois não estava no clima para se socializar com ninguém. Se sentou, então, a algumas cadeiras de distância de Carvajal, Lucas Vázquez, Morata, Isco e Asensio, e tentou prestar atenção na televisão enquanto comia.
A coletiva de Zidane prévia ao jogo que seria no dia seguinte, contra o Celta de Vigo, estava sendo transmitida. Depois de perguntas a respeito da escalação do time para a partida e dos inúmeros boatos de jogadores que seriam vendidos ou comprados até o fim da janela de transferências de inverno no final de janeiro, sentiu o sangue que corria em suas veias gelar com a primeira das duas últimas perguntas, que normalmente eram de jornalistas franceses.
Zizou, você acha que a foto da publicada pela Closer hoje mais cedo pode atrapalhar o time de alguma forma?
Eu não vejo por que uma foto afetaria o trabalho da ou de qualquer pessoa. Ela não deixou de ser uma mulher muito inteligente e que entende pra caramba de futebol só porque descobriram uma foto que ela tirou não sei quantos anos atrás. Mas estou aqui pra responder perguntas sobre o jogo de amanhã, isso não é algo relevante — Zinédine respondeu com sua tranquilidade de sempre.
mal conseguiu prestar atenção na pergunta seguinte, pois o clima pesado que tomou o refeitório era quase palpável. Ela sabia que, naquela altura, todos já haviam visto a tal foto, até mesmo seu tio, que não pareceu nem um pouco surpreso ao ser contestado sobre o assunto. Ao olhar para o lado, notou que o grupinho de espanhóis a fitava de canto de olho, mas cada um logo tratou de disfarçar e se entreter com alguma coisa. Rolou os olhos enquanto largava os talheres dentro do prato e arrastou a cadeira para trás para, em seguida, se levantar.
ergueu a cabeça e seguiu na direção da porta do refeitório, mas, ao passar pelos jogadores, pôde ouvir uma risada baixa. Isso a fez parar no meio do caminho e encará-los. Descobriu, então, que era Lucas quem prendia o riso sem muito sucesso. O jogador galego não conseguia tirar de sua cabeça o debate de minutos antes sobre a clara mudança de tamanho dos seios de .
— Algum problema? — ela perguntou, o tom duro fazendo os cinco congelarem em seus lugares. — Eu fiz uma pergunta e quero uma resposta.
— Não, . Não tem problema nenhum — Carvajal respondeu, cutucando discretamente Lucas, que se esforçava para manter a seriedade, mas não conseguiu evitar que uma risada contida escapasse.
— Que papelão, viu? Vocês já são homens formados! Nunca viram peitos?
Antes que qualquer um dos cinco pudessem encontrar a própria voz para se desculpar com , o som de uma cadeira sendo arrastada preencheu o ambiente.
— Se nunca viram, estão vendo agora — Lalie falou, atraindo a atenção para si, e, para a surpresa de todos, tirou a blusa de frio do uniforme da equipe de médicos e fisioterapeutas, ficando apenas com o top que usava por baixo. — Vocês deveriam apoiar a , não agir feito moleques.
Todos estavam boquiabertos, inclusive , que não ofereceu resistência quando a fisioterapeuta entrelaçou o braço ao seu e a puxou para fora do refeitório.
— O que foi isso? — perguntou, espantada, antes de cair na gargalhada, e as duas pararam no meio do corredor.
— Ah, foi só pra eles terem outro assunto pra fofocar — Lalie explicou enquanto voltava a vestir a blusa. — Eu ouvi eles comentando sobre a sua foto quando cheguei no refeitório. Isso é ridículo, é só uma foto. E muito bonita por sinal.
— Obrigada. Definitivamente, eu prefiro te ter do meu lado na briga — ela disse, fazendo-a rir.
— Sempre que precisar. Não quero me meter, mas o que rolou entre você e pra terem chegado ao refeitório separados e os dois emburrados?
— Acho que tivemos nossa primeira discussão como namorados — respondeu e fez uma careta ao se lembrar desse detalhe.
— Quantos dias vocês têm de namoro mesmo? — Amelie rebateu em um tom espirituoso.
— Pra duas pessoas tão diferentes, até que demorou.

🏆🌟⚽

Era final da tarde e guardava seus pertences na mochila após ter tomado banho em sua suíte na residência do time principal do Real Madrid. Ouviu uma batida na porta e largou as coisas sobre a cama para ir até a pequena sala de estar que todos tinham ao adentrar seus quartos. Levou a mão à maçaneta e abriu a porta de uma só vez para encontrar do outro lado, o que fez seu coração bater ligeiramente mais forte. Não o via desde mais cedo, quando deixou o refeitório com Lalie e as duas ficaram conversando por algum tempo até ambas terem que voltar ao trabalho.
— Posso entrar? — questionou ele com as mãos no bolso.
— Olha, , eu acho melhor a gente se falar amanhã, quando eu voltar de Vigo. Minha cabeça tá no jogo, não tô muito a fim de conversar sobre esse assunto agora — disse quase sem parar para respirar.
O jogador a fitou por algum tempo e, antes que qualquer argumento para que não o dispensasse viesse à sua cabeça, se viu adentrando o quarto. Ela deu alguns passos para trás, um pouco surpresa, e não o impediu de fechar a porta em um baque. Quando foi perceber, estava sendo puxada pela cintura.
Os lábios de tomaram os dela em um beijo agitado. Ele mal sabia o que estava fazendo, apenas se deixou levar pelo impulso. Não queria ir embora com aquela sensação ruim que tinha no peito durante as últimas horas e, por algum motivo que nem ele mesmo entendia direito, estava louco para beijá-la.
levou as mãos ao peito dele, no intuito de empurrá-lo, mas não teve a mínima convicção para tal. Acabou o envolvendo pelo pescoço com os braços enquanto retribuía o beijo com a mesma vontade. Sentir a língua de se embolando à sua e as mãos dele apertando sua cintura era algo que ela, definitivamente, não seria capaz de recusar qualquer que fosse o contexto.
quebrou o beijo para descer os lábios para o pescoço de , embrenhando os dedos por entre os fios de cabelo úmidos dela, o que a fez deixar a cabeça pender para o lado ao mesmo tempo que mordia um sorriso.
— Pensei que você quisesse conversar — ela disse em um tom divertido ao sentir uma das mãos de adentrar a blusa que vestia.
— Eu queria — começou ele entre os beijos molhados que distribuía por seu pescoço —, mas você não quer.
— Isso aqui é melhor — rebateu, sentindo a língua do subir por sua pele antes de ele mordiscar seu lóbulo de leve. Completou, rindo baixinho: — Na verdade, bem melhor.
No entanto, o clima foi cortado completamente quando apertou seus braços em torno do corpo da francesa e apoiou a testa no ombro dela antes de suspirar longamente.
— Me desculpa, .
Ela o afastou delicadamente para olhar nos olhos dele e esboçou um sorriso fraco.
— Você realmente acha que foi mancada minha ter posado para essas fotos?
— Claro que não. Você não tem que se privar de fazer as coisas, são as pessoas que não têm que misturar a sua vida pessoal com o seu trabalho.
— Seria um sonho que isso fosse possível, né? — disse, rindo levemente, e deu meia volta, indo até a cama para terminar de ajeitar a mochila.
— Você chegou a ver o que as pessoas estão comentando pela internet? — o jogador perguntou, a seguindo, e se sentou sobre o colchão enquanto a observava balançar a cabeça em negação.
— Nem sei se quero ver — disse ela, fazendo uma careta, e fechou o zíper da mochila antes de se voltar para o namorado. — Você viu?
— Não, mas o Luka disse que tem umas coisas pesadas.
— Que ótimo — falou e riu sarcasticamente, se sentando ao lado do namorado.
— Me desculpa por ter falado daquele jeito com você, eu não tive a intenção de te julgar. Eu só acho que… — falou, sentindo o olhar atento dela sobre si. — Acho que... fiquei com ciúmes.
se manteve calada por mais alguns segundos, absorvendo as palavras proferidas timidamente por ele, e, por fim, não pôde evitar que um risinho escapasse por sua garganta.
— Meu Deus, , eu tirei essas fotos há, sei lá, sete anos.
— Eu sei, não foi exatamente pelas fotos — ele rebateu, se defendendo. — Quer dizer, não acho o máximo que estejam falando da minha namorada por aí, mas é que foi estranho ter uma comprovação da cumplicidade que você tinha com seu ex — confessou ele. — Uma cumplicidade que nós dois não temos ainda.
— Eu entendo, também senti algo assim quando vi aquela foto sua com a Emma no Natal. Como se estivesse me intrometendo no meio de vocês — disse, levantando os ombros. — Acho que isso é normal, só não pode virar um motivo de briga. Temos um passado com outras pessoas, mas, agora, estamos construindo uma história juntos — falou ela, segurando sua mão carinhosamente. — Não sei se isso vai ajudar, mas posso te mostrar as fotos se você for comigo pra Marselha um dia, o álbum que o Jérémy deixou comigo no Natal ficou na casa dos meus pais. Não têm nada demais. Inclusive, em algumas estou de lingerie como nessa que divulgaram, mas, na maioria delas, estou vestida.
— Não precisa mostrar se não quiser — disse com sinceridade.
— Eu mostro — ela retrucou antes de exibir um sorriso esperto. — Mas você sabe que pode ver pessoalmente sempre que quiser também.
o envolveu em um beijo calmo. Ambos sabiam que estava tudo bem e que aquela era apenas a primeira das tantas divergências que teriam como namorados.
O celular da assistente técnica apitou, os fazendo voltar à realidade, e ela se afastou de para alcançar o aparelho que estava no outro lado do colchão.
— É uma mensagem da Lalie — comentou ao ver a notificação na tela e abriu a conversa.

Lalie: Você já viu o post do Lucas no Instagram?

— Eu não sei se devo ficar feliz ou temer essa amizade que tá nascendo entre vocês duas — disse , a fazendo rir enquanto respondia a fisioterapeuta.

: Não, vou olhar.

— Ela perguntou se eu vi o post do Lucas no Instagram — falou, já abrindo o aplicativo.
— Que post?
— Vamos saber agora.
abriu o perfil de Lucas Vázquez e clicou na última publicação. Era uma foto do final do treino daquela manhã. Estava ela sentada na grama junto a Luka Modrić, Nacho, Isco, Casemiro e, é claro, o próprio Lucas. A imagem não mostrava a cena por completo, mas sabia que havia sido o momento em que eles assistiam à competição entre Marcelo, Cristiano Ronaldo e Karim Benzema, que tentavam acertar a bola no travessão de longe, e os cinco tinham sorrisos nos rostos, pois riam das tentativas falhas.

“Somos una 🍍, y lo sabéis 😉”

A francesa riu ao ler a legenda e mostrou o celular para , que franziu o cenho em sinal de confusão.
— Somos um... abacaxi?
Piña — corrigiu ela, pronunciando, em espanhol, o nome da fruta em questão. — Não tem aquela expressão “hacer piña”, que usam quando pessoas se juntam pra formar um grupinho? Acho que é isso que ele quis dizer. Que somos um grupo unido, que todos nos apoiamos… una piña.
balançou a cabeça, enfim compreendendo a mensagem que Lucas quis transmitir com aquele post.
— Legal da parte dele, né? — disse e ela concordou com um sorriso nos lábios.
voltou a abrir a conversa com a fisioterapeuta e mais uma mensagem dela havia chegado nesse meio tempo.

Lalie: Ok. E o Isco foi falar com você?

: Tem como ficar brava com esses garotos? 😩

: Não, nem o vi depois do almoço.

— Vamos? — ela perguntou, se levantando, e guardou o celular no bolso traseiro da calça jeans antes de pegar a mochila e jogá-la sobre um dos ombros.
— Você bem que podia ir lá pra casa — sugeriu como quem não queria nada, a acompanhando até a porta.
respirou fundo quando os dois saíram do quarto e a porta bateu logo atrás. Parou no meio do corredor, o encarando, e sentiu um frio na barriga. As segundas intenções eram óbvias, ela podia ver nos olhos intensos do . Queria muito continuar o que haviam começado dentro daquele quarto, era uma proposta realmente tentadora, mas não tinha certeza se era uma escolha sensata.
— Eu adoraria, mas hoje não vai dar — ela disse com muita força de vontade e fez uma careta, lamentando. — Meu tio pediu pra eu não chegar muito tarde, disse que quer conversar comigo. Provavelmente é sobre a foto.
— E depois?
, eu tô tentando ser responsável. Amanhã tenho que estar aqui cedinho pra ir pra Vigo — falou, se pondo a andar pelo corredor, e ele riu, a seguindo.
— E daí? Eu te acordo na hora.
— Vai depender do rumo dessa conversa. — Ela suspirou. — Sinto que meus pais também vão alugar os meus ouvidos.
— Tudo bem. Quando estiver livre, é só ir lá pra casa. Estarei te esperando — ele disse, dando de ombros, e a puxou pelo braço, fazendo o corpo dela se chocar contra o seu. Ao pé do ouvido dela, sussurrou: — Você não vai se arrepender.
ficou paralisada mesmo quando se afastou e seguiu seu caminho pelo corredor. Fitando as costas dele, sentiu algo se acender dentro de si.
Não faria tão mal assim dar uma escapadinha em uma véspera de jogo, certo?
O celular em seu bolso apitou duas vezes e ela o pegou ao mesmo tempo que voltava a seguir pelo enorme corredor dos quartos dos jogadores e da comissão técnica. Eram mensagens de Amelie.

Lalie: São esses rostinhos bonitos e esse sotaque. Não dá pra resistir. 😥😂

Lalie: É que o Isco veio falar comigo sobre o que aconteceu no refeitório. Acredito que ele vá falar com você quando tiver uma oportunidade pra pedir desculpas.

: Entendi. Obrigada pelo apoio, Lalie. ❤

: Não é só aos espanhóis que é difícil resistir, viu? A um certo também. 🙈

🏆🌟⚽

— Boa noite — disse ao entrar na sala de jantar.
Seu tios, pais e primos mais novos, Théo e Elyaz, estavam sentados à mesa, jantando, e os seis pares de olhos se voltaram para ela enquanto a cumprimentavam. Quando se acomodou de frente para a mãe e notou que seu pai, ao lado dela, largou os talheres no prato para fitá-la de braços cruzados, lamentou que os dois ainda não tivessem voltado para Marselha. fingiu não notar e começou a servir seu prato como se nada tivesse acontecido.
— O que é aquela foto, ? — a voz dura de Nourredine se sobressaiu em meio ao silêncio, o que fez Zinédine levantar os olhos para estudar o diálogo que estava prestes a se desenrolar.
— Que foto? — rebateu casualmente, sem demonstrar que não estava nem um pouco a fim de falar sobre aquele assunto.
— A que você está praticamente pelada — ele especificou em um tom sarcástico e ela fingiu não saber do que se tratava. — A foto que a Closer publicou. Não se faça de boba.
— Ah, essa — disse, fazendo pouco caso. — Eu não estava pelada.
— Eu não criei filha pra isso.
— Nourredine — Zizou censurou o irmão mais velho, preocupado com o rumo que aquilo tudo tomaria. — Estamos no meio de uma refeição.
— Pra isso o quê? — perguntou, ignorando o tio, e encarou o pai com firmeza.
— Pra agir feito uma prostituta — disse ele rispidamente.
— Uma prostituta? Pai! — ela exclamou, chocada. — Para pra pensar no absurdo que você tá falando.
— É essa imagem que você quer passar pras pessoas? — Nourredine retrucou, lançando um olhar desaprovador na direção da filha. — É assim que você quer ser uma técnica respeitada?
bufou e passou as mãos pelo rosto antes de voltar a olhar o pai nos olhos.
— Eu fiz um ensaio sensual pra ajudar o Jérémy, porque ele precisava de material pra arranjar trabalho e, como namorada dele na época, achei que não custava nada. Só isso — explicou, soltando um suspiro cansado em seguida. — Eu não sei como conseguiram essa foto, mas não vou esquentar minha cabeça por causa disso. Vários jogadores fazem propaganda de cueca e ninguém os julga. Muito pelo contrário, só engrandece a imagem deles — ela disse, sentindo um nó se formar na garganta e se intensificar cada vez mais. — Eu perdi a fome. Com licença.
Antes que seu pai tivesse tempo de dizer mais absurdos, arrastou a cadeira para trás e se levantou.
— Zinédine a chamou e ela levantou os olhos para encontrar os dele cheios de compreensão. Se sentiu um pouco mais aliviada por perceber que a opinião dele era diferente da de seu pai.
— Estarei no meu quarto, tio. Pode aparecer quando quiser conversar.
notou que seu pai já não a encarava e seus primos remexiam a comida no prato, envergonhados em meio àquela situação. Véronique e Sylvie estavam caladas; a primeira parecia irritada e a segunda magoada.
— Eu preferia ter tido um filho — pôde ouvir seu pai dizer quando se retirava da sala de jantar.
foi para o quarto, onde se jogou na cama e ficou encarando o teto por longos minutos. Se sentia exausta não apenas fisicamente, mas também mentalmente.
Uma batida na porta a fez voltar para a realidade e ela gritou um “pode entrar” antes de se pôr sentada. Era Zinédine, que fechou a porta atrás de si após adentrar o cômodo e caminhou calmamente na direção da sobrinha.
— Eu fiquei sabendo sobre o que aconteceu hoje no refeitório e chamei a atenção dos garotos — ele comentou, se sentando ao lado de .
— Não precisava, tio. Eu só quero esquecer essa história. Você também vai chamar a minha atenção?
— Não acho que isso seja necessário. Só vim ver se você precisa de alguma coisa. Se quer que eu fale com meu advogado, que eu procure a imprensa e dê um ponto final nessa história, se quer conversar sobre isso... — ele falou atenciosamente e pôde notar seus olhos cheios de lágrimas. — Ou, talvez, se precisa de um abraço.
não foi capaz de conter as lágrimas e as deixou escorrerem pelo rosto. Não era exatamente por causa da foto que havia sido divulgada que ela chorava, ou por causa dos julgamentos. Era porque queria que seu pai tivesse tido a mesma atitude do irmão mais novo. Gostaria de poder contar com o apoio dele e também de sua mãe em situações como aquela em vez de ter os dedos deles apontados na direção de seu rosto.
Zizou a puxou para um abraço e se acomodou entre os braços dele como uma garotinha.
— O que eu fiz pra eles me odiarem tanto?
— Eles não te odeiam — Zinédine falou em meio a um suspiro, sabendo que ela se referia aos pais. — Só têm ideias diferentes. Seu pai foi criado em uma cultura muito conservadora. Eu também fui, só que eu, desde muito cedo, tive que conviver com gente de toda parte do mundo, culturas muito diferentes, e isso abriu minha mente.
— Mas dói muito, tio — ela falou com a voz embargada. — Dói escutar da boca do meu próprio pai que ele preferia ter tido um filho homem. Parece que nunca vou conseguir ser boa o bastante pra ele sentir orgulho de me ter como filha.
— Ele fala essas coisas sem pensar, claro que tem orgulho de você. Essa ceninha foi a prova isso. Não foi a melhor maneira de abordar o assunto, mas ele ficou incomodado de ver a filha dele numa revista de fofoca, o mundo inteiro fazendo comentários maldosos.
— Mas ele me chamou de prostituta — falou, indignada, levantando a cabeça para olhar nos olhos do tio.
— Eu sei, falta delicadeza pra falar as coisas. Conheço bem esse lado dele. Quando comecei a jogar bola e ele era meu agente, vivíamos brigando porque ele queria mandar em cada passo que eu dava.
— É difícil imaginar vocês brigando. — Ela riu levemente, se soltando do padrinho para apoiar as costas na cabeceira da cama. — Quer dizer, você é sempre tão compreensivo com ele.
— A vida me ensinou a relevar essas coisas — Zinédine pontuou, levantando os ombros. — Sei que ele nunca fez nada por maldade, era pro meu próprio bem. E com você acontece a mesma coisa.
— Espero que um dia eu possa ter um espírito tão evoluído quanto o seu — comentou , fazendo uma careta, o fazendo rir.
— Você já tem.
— Obrigada por estar aí quando eu preciso, tio — disse ela com um sorriso sincero estampando seu rosto.
— Sempre estarei — ele falou, piscando um olho.
O celular de tocou, avisando que uma nova mensagem havia chegado, e ela o pegou para checá-la.

: Já conversou com o Zizou? 😬

Foi impossível não rir enquanto digitava uma resposta.

: Estou conversando com ele nesse momento. Se acalma, homem! 😂

— É o ? — perguntou Zinédine com um sorriso estampado no rosto ao ver a sobrinha sorridente. — Como estão as coisas entre vocês?
— Eu diria que… ótimas — respondeu, rindo de leve. — Fazia tempo que não me sentia assim, toda apaixonadinha por alguém.
— Acho que nunca te vi assim, .
— É, com meus outros namorados foi um pouco diferente. Era mais novinha — disse ela, dando de ombros. — Acho que eu vou dormir na casa dele...
— Você tá me pedindo permissão? — ele rebateu em um tom divertido. — Avisa que, se ele não devolver minha auxiliar amanhã, ele tá ferrado. E você também.
— Estarei antes do horário combinado — garantiu , o fazendo rir.
— Quero só ver — disse ele antes de depositar um beijo em sua testa e deixar o quarto.
se sentia um pouco melhor depois daquela conversa com o tio, mas, mesmo assim, pegou tudo que precisaria para a viagem para Vigo do dia seguinte, decidida a ir para a casa de e esquecer aquele dia estranho que tinha tido.
Quando saiu para o corredor, encontrou sua mãe, que parecia prestes a bater na porta. As duas se encararam por longos segundos e não soube bem como agir. Os olhos de Sylvie estavam marejados e pouquíssimas vezes em sua vida havia a visto chorar. Estava um pouco chateada por ela não ter aberto a boca para impedir que Nourredine dissesse todas aquelas coisas, mas podia ver que as palavras dele tinham a afetado também. Sua mãe participara de propagandas de marcas de lingerie na juventude.
Sylvie nada disse, apenas puxou para um abraço.
— Não liga pro seu pai, você estava linda — ela falou, apertando o corpo da filha entre seus braços. — Eu queria tanto que você tivesse sido modelo.
Quando as duas se afastaram, esboçou um sorriso.
— Boa noite, mãe — disse antes de se afastar e descer as escadas.

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Apesar de todo o esforço do time, o Real Madrid saiu derrotado do jogo contra o Celta de Vigo pelas quartas de final da Copa del Rey. Ainda tinham a chance de virar o placar de 2x1 em casa, no jogo de volta, mas o sentimento geral era de frustração.
A zona mista fervia, cheia de jornalistas loucos por declarações que embasassem suas matérias a respeito da crise em que o atual campeão europeu e mundial estava mergulhando de cabeça. Entretanto, a maioria dos jogadores passava direto, seguindo na direção em que o ônibus que os levaria para o aeroporto estava estacionado. Foi Cristiano Ronaldo quem decidiu parar e prontamente teve um monte de microfones apontados em sua direção.
— Cristiano, como você avalia o jogo de hoje? — um dos jornalistas perguntou.
— Fizemos uma boa partida, soubemos pressionar e tivemos boas chances de gol, mas, infelizmente, faltou um pouco de sorte pra acertar o alvo. O goleiro deles fez um ótimo trabalho também — disse o português com bastante tranquilidade e segurança. — Acabamos tomando dois gols por bobeira, mas não tem nada decidido ainda. Agora temos que pensar no próximo jogo da Liga contra o Málaga e na partida de volta contra o Celta na semana que vem pra reverter o placar de hoje.
— Como o time lidou com o escândalo causado pela foto da assistente técnica de vocês de lingerie? Acha que a repercussão disso pode ter contribuído para o desempenho ruim de vocês na partida de hoje? — outro jornalista questionou e Ronaldo não pôde evitar um risinho debochado.
— A gente não tem com o que lidar, é só uma foto. Também tem dezenas de fotos minhas de cueca na internet e ninguém acha que é grande coisa. O que realmente importa é o que fazemos dentro de campo — ele respondeu e se voltou para outro dos jornalistas.
— Agora vocês têm uma fisioterapeuta também, certo? — o homem questionou e o jogador meneou a cabeça, concordando. — Acha que, abrindo espaço para mulheres no time, coisas desse tipo podem acontecer e desviar o foco?
— Acho que pode sim acontecer, ninguém sabe o dia de amanhã e podemos acordar com mais uma foto vazada, dessa vez minha, do Marcelo, do James... Ter mulheres em grandes times ainda é uma novidade e as pessoas aparentemente não sabem lidar com isso, mas elas são tão profissionais e humanas como todos os outros membros da equipe e devem ser encaradas e tratadas como tal. Devemos continuar trabalhando pras coisas entrarem nos eixos e o foco voltar a ser unicamente o futebol.
Cristiano se despediu com um sorriso fraco e deu meia volta, logo seguindo a passos apressados na direção do ônibus.

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acordou com o celular tocando estridente em cima do criado-mudo na segunda-feira pela manhã. Esticou o braço e tateou o móvel até encontrar o aparelho para, às cegas, aceitar a chamada sem sequer ver quem estava ligando.
— Alô — disse com a voz rouca e sonolenta.
Te acordei? — questionou a pessoa do outro lado e, mesmo com o raciocínio lento, ela reconheceu a voz de Karim. Em resposta, apenas murmurou qualquer coisa em assentimento. — Foi mal. Quer correr comigo antes de ir pra Valdebebas?
A francesa levou algum tempo para absorver as palavras e, quando as compreendeu, estranhou o convite.
— Pode ser — disse mesmo que desconfiada, pois não iria perder a oportunidade de se reaproximar de Benzema de uma vez por todas, já que, apesar de estarem falando um com o outro, ainda andavam um pouco afastados. Estava sentindo falta do melhor amigo.
Beleza, chego aí em dez minutos.
— Quinze — ela pediu, manhosa.
Tá bom — ele disse do outro lado, rindo. — Até daqui a pouco.
acabou cochilando por mais dez minutos e levantou da cama em um pulo quando despertou e se deu conta de que tinha apenas cinco minutos para trocar de roupa e fazer a higiene matinal. Quando saiu de casa, encontrou Karim a esperando e se aproximou dele com um pequeno sorriso nos lábios que logo foi retribuído.
— Acho que a gente precisa conversar — ele disse antes de fazer um sinal com a mão para que ela o acompanhasse.
— Não podia ter esperado até mais tarde? Minhas poucas horas de sono são preciosas — rebateu, fazendo uma careta, enquanto os dois começavam a se afastar da casa em um ritmo leve de corrida.
— É que eu nunca consigo te pegar livre lá em Valdebebas.
— Esses dias estão uma loucura mesmo.
— Como ficou a história da foto?
— O Jérémy tá processando a Closer e conseguiu que tirassem a foto do ar — comentou , dando de ombros. — Não que isso vá resolver muita coisa, já se espalhou pela internet mesmo. Preciso aprender a lidar com esse negócio de ser uma pessoa pública.
— Isso é foda, ter um monte de gente tomando conta da sua vida... — Karim disse, se mostrando bastante compreensivo. Sabia muito bem como era irritante ser vigiado pela mídia e, toda vez, estar envolvido em uma polêmica diferente mesmo quando não tinha culpa de nada. — Mas existe algo com que você não consiga lidar nessa vida, ? No final da história, você vai calar a boca de todo mundo.
— Espero que sim — ela respondeu, rindo levemente. — Enfim, vamos ao assunto que interessa... — disse, fitando atentamente o rosto do homem que percorria as ruas da zona de Los Lagos ao seu lado. — Tá realmente tudo ok entre a gente?
Karim parou de correr para se sentar no meio fio e indicou o espaço ao seu lado, convidando-a a se sentar.
— Andei pensando bastante sobre o que você me disse e cheguei à conclusão de que não valia a pena ficar chateado com você. Quer dizer, eu esperava sim que você, como minha amiga, não tivesse me deixado fazer papel de otário. Eu realmente estava levando a sério esse namoro com a Lola.
— Eu lembro de ter falado lá no início pra você ficar esperto com ela, mas você disse que estava só se divertindo — disse em defesa própria, levantando os ombros. — Eu não fui com a cara dela de primeira. Na viagem que a gente fez pra Marbella, eu peguei ela se insinuando pros meus primos e acredito, inclusive, que foi aí que o Luca ficou a fim dela. Acho que ela só tinha interesse de arranjar um jogador de futebol, sabe? Se com você não desse certo, um dos filhos do Zidane não seria tão ruim assim.
— E por que você nunca me disse isso? — o jogador questionou em um tom derrotado e até mesmo um pouco magoado.
— Porque não cabia a mim julgar as intenções dela sem nem conhecê-la. E também não é como se você não se aproveitasse da sua condição de jogador de futebol para chamar a atenção das mulheres, né? Além do mais, você merecia uma chance de recomeçar, conhecer alguém novo, e eu não quis correr o risco de acabar te tirando essa oportunidade.
Karim desviou os olhos dos de para seu par de tênis de corrida Adidas e, por algum tempo, os dois ficaram em silêncio.
— Eu me dei conta de que não é por causa da Lola ou do Luca que eu fiquei chateado. Fiquei puto por ser traído, é claro, isso fere o orgulho de qualquer homem, mas, mesmo que estivesse tentando fazer dar certo de verdade, nunca achei que ela fosse o amor da minha vida. E ele é só um moleque, não vale a pena comprar briga por isso. Não quero estragar minha amizade com o Zizou.
— Então você ficou puto comigo por nada? — questionou, fazendo uma careta, o que fez o outro rir levemente.
— Eu não fiquei tão puto assim com você, foi comigo mesmo. Porque, no final das contas, é tudo sobre a Chloé — Benzema disse, fazendo a outra sentir um aperto no peito por ouvi-lo fazer tal declaração de forma tão honesta. — Eu me joguei de cabeça nisso pra não sair por baixo, não aceitei que ela fosse a única de nós dois a seguir em frente. E foi como levar um balde de água fria na cabeça, porque, enquanto ela tá lá toda feliz com o cirurgião, eu voltei à estaca zero. Sinto como se eu não fosse bom o suficiente pra ninguém.
— Se você falar isso mais uma vez, eu vou dar um tapa na sua cara — disse, indignada. — Eu entendo que você ainda goste da Chloé. Ela foi a primeira mulher que você amou de verdade e, ainda por cima, é a mãe da sua filha. Ela vai ter um lugarzinho especial no seu coração pra sempre mesmo que vocês nunca voltem a ficar juntos de novo, mas você precisa seguir em frente. Quando digo “seguir em frente”, quero dizer que você tem que aceitar que ela tá feliz com o tal cirurgião e pronto. Esfregar outra mulher na cara dela não é seguir em frente. Só assim você vai ficar bem consigo mesmo.
— O jeito é aceitar que nunca vou dar certo com ninguém — Karim falou, dando de ombros. — Até você, que, desde que eu conheço, nunca quis nada sério com ninguém, agora tá aí toda apaixonada.
— Para de drama, homem! — ela rebateu e não pôde evitar uma gargalhada. — Não sou muito de falar essas coisas, mas eu tenho muito orgulho de ser sua amiga. Você é um cara divertido, parceiro pra todas as horas… Um dos jogadores mais dedicados que já conheci também — ela dizia, enumerando com os dedos, enquanto fitava os olhos do amigo. — Só tem um estilo meio duvidoso pra roupas, né? Mas, pelo menos, é gostoso e cheiroso. Ou seja, é só questão de tempo até a mulher da sua vida aparecer.
Um sorriso acabou surgindo nos lábios de Karim até uma leve risada escapar por sua garganta.
— Na verdade, as mulheres da minha vida já estão por perto — disse ele, sorrindo. — Minha filha, minha mãe, minhas irmãs… A Chloé — falou, fazendo uma careta. — E você também, a irmã que a vida me deu.
mostrou um sorriso aberto antes de puxá-lo para um abraço apertado.
— Você me ama tanto — disse com a voz abafada pelo ombro do jogador.
— Até parece que não é recíproco — ele rebateu, rindo.
— Eu nunca disse que não era — ela falou ao soltá-lo e piscou um olho. — Deixa passar esses jogos importantes que a gente vai ter nas próximas semanas. Quando as coisas se acalmarem, a gente sai pra beber e dançar.
— E o ? Pensei que não fôssemos mais sair juntos agora que você tá namorando, já que ele não curte essas coisas.
— Se ele não quiser, vamos só nós dois mesmo — disse, se levantando, e bateu as mãos em sua própria bunda para tirar as sujeiras que haviam ficado grudadas na calça legging. — Ele é meu namorado, não minha sombra.
— Ele deve ser mesmo muito foda pra aguentar um mulherão como você — Karim comentou em um tom divertido, fazendo-a gargalhar.
— Pode ter certeza de que ele é. — Ela piscou um olho.

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— Acho que tem alguém animado porque vai voltar pro campo hoje, uh? — disse ao adentrar o vestiário, onde calçava os tênis de corrida.
— Finalmente — falou ele com um sorriso no rosto. — Não aguentava mais ficar trancado aqui dentro.
— Modéstia à parte, você vai ter um motivo extra pra ficar feliz — ela disse, parando em frente ao banco em que ele estava sentado, e piscou um olho.
— Que motivo? — questionou, a fitando com curiosidade.
— Zizou me pediu pra acompanhar o seu trabalho com o Javi hoje. Ou seja, você vai ter minha ilustre companhia pra alegrar essa manhã chuvosa.
riu levemente, a observando indicar a si mesma com as mãos.
— Tem certeza de que foi o Zizou? — questionou ele, a fazendo franzir o cenho em confusão. — Tô achando que é você que tá morrendo de saudade de trabalhar comigo.
— É, não vou negar que tenho saudade de ficar admirando as suas coxas durante os treinos — rebateu e esboçou um sorrisinho de canto.
— Então o Zizou te mandou pra admirar minhas coxas? — disse, vestindo as mãos com um par de luvas, e se pôs de pé.
— Na verdade, me mandou pra saber os detalhes do seu condicionamento físico. Não adiantou nada eu garantir pra ele que está ótimo — ela brincou em um tom malicioso que o fez rir sem graça.
se aproximou e colou sua boca à de , que logo entreabriu os lábios, permitindo que o beijo fosse aprofundado. Se beijaram por algum tempo, até ambos estarem sem fôlego.
— Obrigado, — disse ele em um sussurro contra os lábios dela.
— Pelo quê? — ela perguntou, curiosa, sentindo um arrepio percorrer todo seu corpo ao observar os olhos do namorado de tão perto. Ela já havia aceitado que nunca se acostumaria àquele olhar.
— Por ter feito esse período de recuperação ser menos traumático. O seu apoio foi muito importante — respondeu honestamente.
Tinha parado para pensar sobre o assunto na noite anterior, quando levou um tempão para pegar no sono de tão ansioso que estava para, enfim, voltar ao campo. Mal podia acreditar que já iria se preparar fisicamente para logo estar treinando junto aos seus companheiros. As coisas tinham sido mais fáceis com sempre oferecendo palavras de consolo e momentos divertidos.
— De nada — ela disse com um sorriso despontando em seu rosto. — Só mais um pouquinho e você vai estar de volta aos campos fazendo um monte de gols.
— Tomara.
— Então vamos ao trabalho, mon amour falou em um tom espirituoso e se inclinou para selar os lábios aos do namorado rapidamente.
sentiu o coração bater mais forte pela forma com que havia sido chamado. Meu amor. Quis fazer alguma brincadeira em resposta sobre quão sexy ele a achava falando em francês, mas, quando se deu conta, estava sendo puxado na direção de um dos campos de treinamento sem ter tempo de agir.
Os dois encontraram Javier Mallo, o preparador físico com quem iria se recondicionar para voltar à rotina de treinos, e deram início aos trabalhos. Javier o orientou a correr pelo campo e fazer alguns exercícios de alongamento antes de trocar os tênis de corrida pelas chuteiras. Foi um treino leve, pois não podiam exigir dos músculos de mais do que eles poderiam dar naquele momento. foi quem o guiou em alguns exercícios simples com a bola, trabalhando passe e drible, para que ele pudesse voltar a ter intimidade com sua velha companheira depois de tantas semanas sem jogar futebol.
Com a sessão encerrada, os dois combinaram de almoçar juntos e foram cada um para o seu quarto na residência dos jogadores. Após sair do banho, vestia a roupa íntima quando o toque de seu celular soou alto pelo quarto, então terminou de fechar o sutiã e foi até o aparelho que estava sobre um móvel. Um número francês estava estampado na tela e, apesar de não reconhecê-lo, aceitou a chamada antes de levar o celular ao ouvido.
— Alô — disse, indo até a cama, onde havia deixado a roupa que vestiria.
Pensei que nunca fosse falar com você de novo.
— Quem tá falando? — perguntou, confusa por não reconhecer a voz masculina.
Você passou horas conversando comigo no Natal e não tá reconhecendo minha voz? — o homem falou debochadamente. — Ken, amigo do Jérémy.
— Ah, você — ela falou, rolando os olhos. — O que você quer, cara? Eu não quis dormir com você, recusei todas as suas ligações… Tá difícil entender o recado?
Você não parecia me achar tão repugnante assim enquanto a gente se pegava no meu carro.
— O que você quer de mim?
Já que você quer ir direto ao ponto… Quero saber quanto você vai me dar pra não divulgar que você e o estão juntos.
— O quê? Isso só pode ser brincadeira — falou, rindo, completamente desacreditada.
Ele atendeu o seu celular numa das vezes que tentei te ligar e disse que era seu namorado.
— Talvez fosse melhor procurar um médico, porque você anda tendo alucinações.
Não adianta negar. Ele é o único do time que tem o inglês como língua materna, não foi difícil ligar os pontos.
— Tanto faz, não vou te dar um centavo — ela falou, enojada.
Tem certeza? Posso vender a informação de qualquer forma. Ganhei créditos depois de conseguir aquela foto sua de lingerie — Ken disse despreocupadamente e riu levemente quando ficou alguns segundos em silêncio.
— Você… você o quê? — perguntou ela, perplexa. — Como você conseguiu aquela foto?
Você foi ao banheiro e deixou suas coisas em cima da minha mesa. Eu aproveitei pra ver o que tinha naquele álbum, estava curioso desde que te vi segurando ele na casa do Jerry. Pensei que ia encontrar fotos melosas do namoro de vocês, mas, pra minha surpresa, eram fotos sensuais suas. Entendi na hora por que ele demorou tanto tempo pra te superar, eu também não saberia largar o osso se tivesse uma ex gostosa como você — disse em um tom malicioso. — Então decidi pegar uma foto pra guardar de recordação e escolhi uma das últimas porque você talvez nunca se desse conta. Aí você voltou dizendo que estava passando mal, foi embora e não atendeu minhas ligações. Primeiro, eu achei que você só fosse muito ocupada, mas, então, o me atendeu e disse que era seu namorado. Eu fiquei tão puto, . Sei que você não me devia satisfação alguma, mas fiquei puto porque eu sei ouvir um “não”. Entenderia se você dissesse que tinha alguém ou, até mesmo, se dissesse que não tava a fim. Mas não, deu qualquer desculpinha e me deixou lá que nem um otário depois de passarmos horas conversando...
— Nada disso justifica você ter vendido minha foto pra uma revista de fofoca — ela disse. Estava bastante surpresa com a declaração, jamais esperaria ouvir tudo aquilo de Ken.
Você tem razão, talvez eu tenha sido até mais filho da puta do que você, mas eu estava precisando de dinheiro — falou ele, fazendo pouco caso, o que deixava claro que não estava nem um pouco arrependido. — E ainda tô precisando.
— Eu não vou te dar dinheiro. E não me procure mais ou eu vou ser obrigada a tomar medidas drásticas.
Caramba, você é mesmo muito…
Antes que ele concluísse a frase, finalizou a ligação e jogou o celular sobre o colchão. Quase o pegou de volta para ligar para Jérémy e xingá-lo até sua última geração, mas se deu conta de que seu ex-namorado nada tinha a ver com aquilo, era apenas fotógrafo e amigo do rapper. A única culpada era ela mesma, que havia se deixado levar pela bebida e agido impulsivamente tantas vezes em uma só noite, mas não tinha muito o que fazer naquela altura do campeonato. Havia decidido descontar suas frustrações em uma noite de sexo — que agora ela agradecia por não ter se concretizado — com um desconhecido e até admitia que havia sido um pouco egoísta ao simplesmente ir embora, pois não gostaria que um cara fizesse o mesmo com ela. Agora, o que restava era lidar com as consequências.
se vestiu e saiu no corredor. Estava tão aérea que demorou a reconhecer em meio a uma rodinha de conversa com outros jogadores. Fez sinal para que ele se aproximasse quando teve sua presença notada e, um pouco desconfiado, ele o fez.
— Aconteceu alguma coisa? — ele perguntou, notando algo de errado na expressão em seu rosto.
voltou para dentro do quarto, chamando-o para acompanhá-la.
— Foi o cara do Natal que vendeu minha foto pra Closer — ela disse de uma só vez ao bater a porta, fazendo-o arregalar os olhos, espantado.
— Que cara? — ele questionou apenas para ter certeza.
— O cara com quem eu fiquei no Natal, o amigo do Jérémy — disse e cruzou os braços, se sentindo um pouco incomodado por recordar aquele episódio.
— Então Jérémy está por trás dessa história?
— Não, é que eu estava com o álbum quando fui pra casa desse cara. Ele roubou a foto na hora que eu me tranquei no banheiro pra falar com você — explicou ela, soltando um suspiro cansado em seguida.
— E como você descobriu isso?
— Ele me ligou e pediu dinheiro pra não divulgar que eu e você estamos juntos.
— É só a gente... desmentir? — ele disse sem muita convicção.
— Eu não vou dar esse gostinho pra ele — ela disse, esboçando um sorriso irônico, e tirou o celular do bolso.
— O que você tá fazendo? — perguntou ao vê-la mexer no aparelho.
— Escolhendo uma foto nossa pra postar no Instagram — ela respondeu com simplicidade, como se fosse algo que já tivesse feito mil vezes.
, tem certeza disso?
— Tenho.
Por um lado, queria fazer aquilo para que Ken não se desse bem mais uma vez às suas custas, pois ele não conseguiria vender uma informação que o mundo inteiro já soubesse. No entanto, queria fazer aquilo também por . Tinha plena consciência de que não havia sido egoísta apenas com o rapper, agira de forma parecida com outros tantos caras, inclusive Jérémy, e queria fazer diferente daquela vez.
Sabia que o não se importava de seguir seu ritmo, que ele tinha um bom coração e estava genuinamente feliz de estar ao seu lado sem precisar esfregar o namoro deles na cara de ninguém, mas também queria ceder um pouquinho. Tinha certeza de que seria capaz de aguentar qualquer que fosse a repercussão daquela notícia.
E foi com uma selfie que os dois haviam tirado em sua festa de aniversário, uma em que beijava a bochecha dele, que ela contou para o mundo que Zidane e estavam juntos com um emoji que valia mais do que mil palavras.

“💘”



16. La Decimosexta

Todo de mi vida junto a ti
Todo lo que pienso no decir
Todo lo que hago sin pensar
Cuando tu forma de hablar
Me vuelve loco

Apenas - Fredi Leis

— É aqui que tem um homem de quase 30 anos na cara precisando de ajuda pra lidar com a ex-noiva? — perguntou, tomada pelo deboche, quando Karim abriu a porta de casa.
— Entrem logo, elas estão chegando — disse ele impacientemente, ignorando a provocação.
Ela riu e trocou um olhar divertido com antes de abraçar de lado seu primo Elyaz, que os acompanhava, e guiá-lo para dentro da residência do amigo.
Apesar de o jogo do fim de semana seguinte ter sido adiado, propiciando alguns dias de folga para a equipe do Real Madrid, tinha ido para Valdebebas naquela manhã. ainda estava em processo de recondicionamento físico, o dia em que voltaria a treinar com seus companheiros de time cada vez mais próximo, e ela vinha acompanhando todo o processo como uma de suas funções de assistente técnica.
Enquanto trabalhava com o namorado junto aos preparadores físicos em um dos campos da Ciudad Real Madrid, tinha recebido um pedido de socorro.

Karim: SOS

Karim: Minha mãe não vai mais poder trazer a Mélia pra passar uns dias comigo. Quem tá vindo com ela é a Chloé.


Também implorou para que ela fosse até sua casa, pois não se sentia em condições de receber a ex sozinho. Mesmo achando a situação cômica, sugeriu que passassem a tarde juntos, fazendo algum programa infantil para comemorar o aniversário de 3 anos da filha dele e de Chloé. Quando passou em casa para trocar de roupa, até chamou Elyaz para ir também quando o viu jogando videogame sozinho.
— É só a Chloé, Benzema. Precisa mesmo entrar em pânico? — questionou, sentando-se ao lado de em um dos sofás da sala de estar.
— Você sabe que é complicado — ele rebateu, sentando-se desleixadamente em outro dos sofás.
— Elyaz, não mexe em nada aí — ela disse ao ver o primo se aproximar da estante onde estavam todas as medalhas e prêmios individuais de Karim.
— Só tô olhando — o menino se defendeu.
— Deixa ele, .
soltou um longo suspiro, observando atentamente o melhor amigo digitar algo no celular com destreza antes de deixar o aparelho de lado e, em seguida, passar as mãos no rosto. O que ela mais queria era poder fazê-lo se sentir melhor, mas, infelizmente, já fazia tudo o que estava ao seu alcance para ajudá-lo.
— Por que é complicado? — perguntou genuinamente. Sabia que Karim tinha uma ex-noiva e uma filha com ela, e comentara que ele estava surtando por estar prestes a revê-la depois de meses, mas não tinha ideia do que exatamente havia acontecido para não estarem mais juntos.
— Minha história com a Chloé foi difícil.
— Porque você dificultou as coisas — retrucou .
— Tem certeza de que você é minha amiga?
— Justamente por ser sua amiga que não passo a mão na sua cabeça.
— Ok, eu sei que fiz muita merda, mas me arrependo.
— Que tipo de merda? — perguntou , curioso, revezando o olhar entre os dois.
— Ah, umas besteiras de moleque que faziam a gente brigar toda hora — Benzema respondeu, estalando a língua no céu da boca.
— Posso explicar do meu ponto de vista? — questionou e se virou para quando Benzema apenas levantou os ombros, dando passe livre para ela. — A Chloé é uma pessoa muito simples. Sempre foi bem complicado pra ela ter que lidar com o fato de ser namorada de um cara famoso, levava adiante porque era muito apaixonada pelo Karim. Só que ele não ajudava muito, vivia se metendo naquelas polêmicas, você deve se lembrar de algumas. E paciência um dia acaba, né? Eu sinto muito porque sempre torci pelos dois, mas não acho que a Chloé esteja errada de buscar pelo que é melhor pra ela.
— Também não acho, é só que… — disse Karim em meio a um suspiro derrotado. — Me machuca saber que eu não sou o melhor pra ela.
— Você ainda a ama? — perguntou mesmo que a resposta já estivesse mais do que clara. Era bastante estranho, para ele, ver aquele lado tão vulnerável de Benzema que não conhecia até então.
— Foi a única mulher que eu amei na minha vida.
— Até hoje — pontuou, piscando um olho. — Você vai se apaixonar de novo um dia, mas precisa aprender a lidar com seus sentimentos pela Chloé. Vocês têm uma filha, não dá pra surtar desse jeito toda vez que tiver que vê-la pessoalmente.
Como se tivesse sido combinado previamente, a campainha soou pela casa no instante seguinte e uma expressão de pavor tomou o rosto de Karim.
— Quer que eu abra a porta? — perguntou em solidariedade.
— Não, não precisa — ele disse, se levantando, e respirou fundo. — Você tá certa, eu preciso aprender a lidar com isso.
mostrou um sorriso em apoio antes de Benzema sumir pelo corredor.
— Que situação chata — lamentou.
— Nem me fale.
— Por favor, nunca termine comigo.
riu, retribuindo o olhar divertido de , e estalou um beijo nos lábios dele.
Puderam escutar a voz fininha de Mélia se sobressair em meio à calmaria da casa e as gargalhadas dela quando Karim a girou no ar. Som de passos se aproximando tomou o ambiente em seguida e a primeira a surgir na sala foi Chloé.
, quanto tempo! — ela exclamou, largando a mala que puxava pelo meio do caminho.
— Meu Deus, não acredito que você tá loira — disse , imediatamente se levantando para cumprimentá-la com um abraço apertado.
— Pelo visto, não fui a única que mudou o visual.
— Ficou legal, né? — falou, mexendo em seus fios de cabelo tingidos de vinho escuro.
— Você ficaria linda de qualquer jeito — disse Chloé com um sorriso sincero.
desceu os olhos para a menina que estava de mãos dadas com Karim e se aproximou dos dois.
— E essa garotinha linda, hein? — falou, simpática, se agachando. — Lembra de mim?
Mélia olhou para baixo, tímida, e permaneceu em silêncio.
— Lembra da , filha? — disse Benzema, a incentivando a responder a pergunta.
— Eu acho que um gatinho comeu a língua dela. — cutucou a barriga da menina, fazendo-a rir. — Sabia que eu te conheço desde que você ainda estava na barriga da sua mamãe?
— Verdade? — Mélia rebateu, baixinho, e olhou na direção da mãe.
— Verdade! Quantos anos você está fazendo hoje?
— Três — respondeu, mostrando a mesma quantidade de dedinhos.
— Caramba, já tem esse tempo todo que você saiu da barriga dela? — questionou, fingindo-se espantada. — Eu sei que você não se lembra de mim, porque, na última vez que te vi, você era um bebê, mas vamos nos divertir muito hoje. Está bem?
Mélia concordou com a cabeça e ela acariciou sua bochecha antes de se pôr de pé.
— Chloé, você deve saber quem é o , mas deixa eu apresentar vocês um pro outro — falou, indo até o namorado, e o puxou pela mão, fazendo com que ele se levantasse.
— Olá, muito prazer — a ex-noiva de Karim disse, simpática, e o cumprimentou com dois beijos nas bochechas. — Desculpa, meu inglês é horrível.
— Pode apostar que meu francês é muito pior — brincou o . — Prazer em conhecê-la.
— Você ainda não ensinou francês pra ele, ? — Chloé perguntou com indignação.
— Sou namorada, não professora de idiomas. Minha função é ensinar outras coisas.
— Você não presta!
apenas riu levemente enquanto as duas gargalhavam.
— Eu avisei pro no que ele estava se metendo, mas não quis me escutar — Benzema disse, debochado. — O que acham de a gente ir ao cinema depois de almoçar?
— Por mim... — respondeu, dando de ombros, e se virou para encarar o primo, que estava quieto em seu canto, sentado no sofá. — Quer ir ao cinema?
— Pode ser.
— Se lembra do Elyaz, Chloé? — perguntou, se voltando para a velha amiga.
— Até lembro, mas ele tinha metade desse tamanho — ela respondeu, fazendo-a rir.
Antes de seguir até o carro, percebeu que Karim ainda não estava totalmente à vontade com a presença da ex-noiva e sussurrou discretamente que ficaria tudo bem.

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O filme que eles assistiram foi A Bailarina, escolhido pela aniversariante. De início, Elyaz não ficou muito contente e até pensou em escolher outro que também estivesse em cartaz para assistir com ele e , mas, quando ouviu da boca do garoto que aquele era um “filme de menina”, ela se convenceu de que o primo precisava tirar da cabeça aquela ideia de que existia tal divisão. Ela gostaria de ter tido na infância mais adultos que a incentivassem a fazer e a gostar de coisas independente do fato de ser uma menina. Ficou bastante satisfeita de ter tomado tal decisão, pois o filme a tocou de uma maneira que ela nem imaginou que iria.
Félicie era uma garota francesa órfã que tinha o sonho de ser bailarina e, para realizá-lo, não tinha o apoio de mais ninguém além de seu melhor amigo Victor. Os dois acabavam conseguindo fugir para Paris e, enquanto ele se empenhava em se tornar um inventor, a garota se metia em muitas aventuras na Ópera de Paris para conseguir o papel principal no espetáculo O Quebra Nozes.
se sentiu boba por isso, mas não pôde evitar se ver em Félicie em diversos momentos da história. Tinha sido uma menina sonhadora como ela, costumava pensar que poderia ter o mundo se quisesse, e, apesar de não ser órfã, muitas vezes se sentia sozinha, pois seus pais estavam sempre querendo cortar suas asas.
— Você tá chorando? — sussurrou ao ouvi-la fungar ao seu lado.
— Deve ser a TPM — ela respondeu, fazendo-o rir levemente.
— Vem cá — disse ele, passando o braço por cima de seus ombros para puxá-la para perto.
se aconchegou junto ao namorado para ver o desfecho da história de Félicie, torcendo para que a garota conseguisse o tão sonhado papel mesmo tendo certeza de que, evidentemente, ela conseguiria, pois era apenas um filme infantil que certamente teria um final feliz. Isso a fez pensar que já estava a caminho de seu final feliz e já se sentia muito grata à vida por isso, mas desejava muito poder chegar lá também.
Era final da tarde quando o filme acabou e deu a ideia de irem ao The Magic Forest quando viu a enorme placa do parque infantil do cinema Kinépolis Madrid. Ideia que foi muito bem recebida, é claro, já que Mélia tinha dormido durante metade do filme e estava com a corda toda.
— Olá! Sejam bem-vindos — a funcionária disse, simpática, os recebendo na entrada do parque. — Peço que os senhores tirem os sapatos, por favor, mas o uso de meias é obrigatório. Se preferirem, podem comprar as do nosso parque — disse, apontando para um quiosque repleto de produtos do mascote que era uma criaturinha verde de um olho só.
— É permitida a entrada de adultos? — questionou.
— Claro — a moça respondeu. — Mas vocês também podem deixar as crianças sob a supervisão dos nossos monitores e ficar no nosso restaurante ou até assistir a um filme no cinema se quiserem. Nesse caso, não precisam tirar os sapatos.
— O quê? — a francesa rebateu, já se abaixando para tirar as botas que calçava. — Até parece que eu vou perder essa oportunidade. Vê seis pares dessas meias pra gente.
, Karim e Chloé riram, mas não a contestaram. Poucos minutos depois, estavam todos dentro do parque de meias verdes.
— Que bonito, mamãe! — Mélia exclamou, andando de mãos dadas com Chloé.
— É lindo, né? Aonde quer ir primeiro, filha?
A menina nem soube o que responder, olhava para todos os lados, completamente encantada. Como o próprio nome sugeria, o parque era como uma floresta encantada. Muito verde, criaturinhas, brinquedos que imitavam plantas e cogumelos para todo lado.
Elyaz, ao contrário da menina, não teve dúvidas de para onde iria ao ver o maior dos brinquedos, com vários degraus, rampas e obstáculos para ultrapassar até chegar ao topo. e o acompanharam e ficaram o observando do lado de fora.
— Acho que não tenho maturidade pra vir num lugar desse — disse para o , o fazendo rir.
— Você tá louca pra entrar aí, né? — ele perguntou e recebeu um olhar culpado da namorada.
— A Mélia quer ir nesse brinquedo também — Chloé disse, se aproximando dos dois seguida pela filha e Karim —, mas acho que ela é muito pequena.
— É, acho que… — começou, mas se interrompeu. Olhou para o namorado e, em seguida, para a garotinha no colo de Benzema. — Ah, eu posso entrar com ela.
caiu na gargalhada e acabou recebendo um empurrão da namorada.
— Você tá parecendo uma criança, script>document.write(Lena).
— Me deixa — disse ela, mostrando a língua. — Vem com a tia, Mélia.
— Você que vai levá-la ao brinquedo ou ela que vai te levar? — debochou Karim, entrando na zoação junto a , e entregou a filha para a amiga.
os xingou em um sussurro antes de adentrar o brinquedo com Mélia. Foi ajudando a garotinha, que realmente era pequena demais para conseguir se virar sozinha em meio aos obstáculos feitos para crianças maiores, até alcançar o ponto mais alto. Não sem serem ultrapassadas duas vezes por Elyaz, que ainda teve a cara de pau de falar que elas eram muito lentas. desceu com Mélia por um tobogã aos risos até estarem de volta ao chão, as duas se divertindo muito.
, tô com fome — Elyaz falou quando a prima se juntou a eles com a aniversariante do dia.
— O que você quer comer? — questionou ela enquanto entregava Mélia para Karim.
— Hambúrguer, vi que tem ali no restaurante.
— Vamos comer então? — perguntou para os outros três adultos, que concordaram.
pegou a mão dela e o grupo foi caminhando na direção do restaurante do parque.
— Tem um cara ali tirando foto da gente — o sussurrou próximo ao ouvido da namorada.
— Meu cabelo tá arrumado?
? — questionou ele, confuso com sua reação. Ou melhor, a falta de reação.
— Quê? — ela perguntou, ainda mais confusa do que ele.
— É que achei que você fosse surtar — explicou, rindo nasalmente.
— Eu já sabia que teríamos que lidar com isso a partir do momento que tornássemos nosso namoro público — disse , dando de ombros. — Espero sair bonita nas fotos pelo menos.
não teve outra reação a não ser rir, mas ficou aliviado de ver com espírito esportivo diante da situação.
A verdade é que não estava sendo tão fácil assim encarar as grandes proporções que uma simples selfie acabou tomando. Havia sido a postagem de com maior número de curtidas e comentários e, por mais que ela tentasse se manter distante da internet e continuar vivendo normalmente, era um pouco impossível ignorar todas as ligações e mensagens que chegavam ao seu celular. Tudo bem, as pessoas haviam tido aquela mesma comoção quando ela foi anunciada como assistente técnica do Real Madrid, mas o fato de ter que dar satisfação sobre estar namorando com a incomodava.
Para piorar a situação, dias depois de ter feito tal revelação bombástica, o Real Madrid acabou sendo eliminado da Copa del Rey pelo Celta de Vigo. O time já vinha sendo bastante julgado por, supostamente, estarem apresentando um futebol não muito convincente e isso agravou ainda mais a situação. Toda a equipe recebia duras críticas e o romance de com a assistente técnica entrou no embalo.
se viu sendo perseguida por paparazzis aonde quer que fosse da noite para o dia, mas não queria ter que mudar seu estilo de vida por causa disso. Se queriam fotos do casal do momento, que tirassem. Desde que nada daquilo afetasse seu trabalho ou o de seu namorado, ela até sorriria e posaria para as fotos. Exatamente como fez naquele momento, fazendo soltar uma risadinha que a deixou com vontade de enchê-lo de beijos, mas ela se conteve.

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, você bem que podia dormir por aqui hoje, né?
Ela estranhou o questionamento de Chloé e levantou os olhos para encará-la. As duas estavam na cozinha de Karim, preparando um chá, enquanto o dono da casa e estavam na sala assistindo televisão e conversando. Mélia já estava dormindo e Elyaz tinha sido deixado em casa, então as duas aproveitaram para, enfim, ter uma conversa mais à vontade.
— Isso é medo de ficar sozinha com o Karim? — perguntou, desacreditada, e ela mordeu o lábio inferior e não negou, o que acabou confirmando suas suspeitas. — Caramba, vocês dois são inacreditáveis!
— Como assim? — questionou Chloé, confusa ao ver a amiga cair na gargalhada.
— Quando você avisou que estava vindo trazer a Mélia, ele só faltou sair correndo pra se esconder debaixo da saia da mãe dele. Tenho vontade de trancar os dois em um quarto até se resolverem, sabia? Vocês são dois adultos, isso é ridículo!
— Eu não tenho nada pra resolver com ele.
— Não? Então pra que você tá querendo que eu desperdice uma noite com meu namorado pra ficar aqui com vocês?
Chloé encarou a postura intimidadora da amiga, que tinha as mãos na cintura e esperava por uma boa resposta, e não soube o que dizer. Serviu parte do chá que tinha feito em uma xícara e colocou um pouco de açúcar para ganhar tempo.
— E você, uh? Namorando jogador de futebol… Quem diria.
— Pois é, mas não mude o foco da conversa. A gente fala de mim depois — logo disse, percebendo a estratégia dela. — É óbvio que vocês têm que se resolver, Chloé. Vocês passaram a tarde inteira juntos sem dirigir a palavra um ao outro.
— Pra que, ? Eu já sei que ele vai inventar um monte de desculpas. — Ela se sentou em um dos bancos, apoiando os cotovelos no balcão da cozinha.
soltou um longo suspiro e se sentou ao lado dela. Aquela era a oportunidade que tinha de ajudar seu melhor amigo, mas também não queria influenciar as opiniões de Chloé. Era amiga dos dois e queria vê-los bem, mas tinha consciência de que não podia se intrometer além do aceitável.
— Não quero dizer o que você deve ou não fazer, mas podia pensar na possibilidade de dar uma chance pra ele se explicar. O Karim tá realmente muito arrependido e o fato de você não querer vê-lo nem pintado de ouro tá destruindo ele.
— Eu tenho um namorado — disse Chloé categoricamente, com uma frieza que até assustou um pouco . — Sei que ele é seu amigo e que, tendo que escolher um lado, é do dele que você vai ficar, mas eu não posso fazer isso.
— Não tô dizendo que você deve voltar com ele. Nem estou do lado de ninguém, Chloé. Eu entendo perfeitamente os motivos que te levaram a terminar com ele e concordo, faria a mesma coisa se estivesse no seu lugar. Sempre falo pro Karim que foi ele quem procurou por isso, mas vocês vão estar ligados por causa da Mélia pro resto da vida. Não podiam pelo menos tentar ser amigos?
Um silêncio pouco confortável envolveu as duas e , que fitava a amiga esperando por uma resposta fosse positiva ou negativa, percebeu os olhos dela se encherem de lágrimas.
— Não sei se conseguiria ser amiga do Karim — disse Chloé em um fio de voz, permitindo que as lágrimas rolassem por seu rosto. — O que eu realmente queria era nunca mais precisar olhar na cara dele.
sentiu um aperto no peito diante daquela cena. O que estava vendo ali não era muito diferente do que via quando Karim se abria sobre aquele assunto. Os dois ainda sofriam muito.
— Tá tudo bem, eu entendi o que te impede de se resolver com ele — disse, puxando a amiga para um abraço de lado desajeitado. — Não tem problema se ainda é difícil encarar a situação. O melhor é dar um tempo então.
— Você nem imagina como eu me odeio por isso — Chloé falou enquanto tentava cessar o choro ao secar as lágrimas com os dedos. — Tenho um namorado incrível que me trata como uma rainha e, mesmo assim, ainda deixo o Karim me afetar.
— É normal, vocês têm uma longa história juntos que acabou de uma maneira confusa. Desse jeito, não tinha como nenhum dos dois superar completamente — disse, se inclinando sobre o balcão para alcançar sua bolsa e, de lá de dentro, tirar um pacote de lenços. Entregou um para a outra, que sorriu em agradecimento antes de usá-lo para secar o rosto. — Por isso que tô dizendo que precisam ter uma conversa honesta. Digo até por experiência própria, tive uma conversa assim com meu ex recentemente e vejo como era necessária mesmo depois de cinco anos. Não temos um filho nos ligando, mas temos amigos em comum e vamos estar sempre tendo que conviver um com o outro. No fim de semana que vem, inclusive, vamos ser padrinhos de casamento dos nossos amigos.
— Jérémy? — perguntou Chloé e confirmou com um aceno de cabeça. Não conhecia o ex-namorado dela pessoalmente, mas sabia de toda a história, já que, quando as duas se conheceram, era algo recente e explicou tudo que tinha acontecido.
— Na verdade, pra essa conversa acontecer dependia mais dele do que de mim, porque foi ele que ficou muito magoado quando eu decidi vir estudar em Madrid sem incluir ele nos meus planos. Foi um alívio poder esclarecer as coisas, pedir desculpas… Agora, a gente não vai mais precisar ficar ignorando a presença um do outro quando a galera estiver reunida.
— Que bom, — disse a enfermeira com um sorriso fraco nos lábios. — Espero conseguir chegar a esse patamar com o Karim também, mas não sei se já estou pronta.
— Posso te fazer uma pergunta?
— Pode.
— Você ainda gosta dele ou é só porque ainda tá magoada?
Chloé ficou em silêncio por um longo instante antes de suspirar e, finalmente, tomar fôlego para responder a pergunta.
— As duas coisas. Eu mal consigo olhar na cara dele porque meu coração quase sai pela boca — confessou, encolhendo os ombros. podia ver a dor que ela sentia em seus olhos. — Mas, por mais que eu goste dele, não estou mais disposta a dar uma nova chance e quebrar a cara de novo. E, agora, ele tá com aquela modelo, né?
— Não, ele e a Lola terminaram. Aconteceu uma coisa meio chata, ela o traiu com meu primo, o Luca — disse e soltou uma risadinha sem graça enquanto Chloé arregalava os olhos em espanto.
— Tá de brincadeira?
— Pior que não, ainda bem que ela sumiu do mapa depois que a gente descobriu. Meu primo que ficou bem abalado com essa história, porque estava gostando dela de verdade. Ela dizia que ia terminar com o Karim pra ficar com ele, mas estava só se aproveitando dos dois.
— O Karim… gostava muito dela?
— Ele estava tentando te esquecer. E não deu certo.
Chloé sentiu o coração bater mais forte e era exatamente por isso que preferia se manter distante de Karim. Ainda gostava dele e sabia que não precisaria de muito para se deixar levar pelas desculpas que sabia que ele daria. Só que ela tinha se cansado de viver daquele jeito, entre Paris e Madrid, tendo que lidar com todas as confusões em que ele se metia e boatos que saíam na mídia o tempo inteiro. Era muita humilhação. Além do mais, agora tinha Didier, que a fazia muito feliz e compartilhava com ela a vida tranquila que sempre sonhara.
— E você, ? — disse, louca para mudar de assunto. — Me conta como aconteceu as coisas com .
— Já reparou naqueles olhos? — perguntou , deixando um sorriso tomar seus lábios. — Não deu pra resistir.
— Meu Deus, é muito estranho te ver apaixonada. Você fugia dos caras com quem ficava! — Chloé falou em meio a risos.
— Eu tentei fugir dele no início — admitiu, rindo também.
Narrou, então, todo seu envolvimento com . Desde o início, quando ele costumava ignorá-la e isso a aborrecia. Contou como as coisas foram mudando aos pouquinhos desde quando ele a presenteou com a Bola de Ouro, que, inclusive, levava no pescoço naquele momento, e os dois acabaram se aproximando até o fatídico dia em que se declarou pela primeira vez. Chloé deu um tapa estalado em seu braço quando ela disse que recusou ficar com ele naquele dia e gargalhou quando falou que não demorou muito para ela mesma beijá-lo pela primeira vez.
Foi uma conversa que fez bem não apenas para Chloé, que precisava desabafar, mas também para , que há muito tempo não passava horas conversando com uma amiga.
Só foram obrigadas a interromper o bate-papo quando e Karim adentraram a cozinha.
— Vamos embora? — questionou o , abraçando por trás.
— Acho que vou ficar por aqui fazendo companhia pra Chloé — ela respondeu antes de depositar um beijo em seu maxilar.
— Não precisa, , eu vou pra um hotel.
— Como assim você vai pra um hotel? — Karim perguntou, surpreso.
— Não quero te incomodar, só vim trazer a Mélia mesmo.
— Me incomodar, Chloé? Tem cinco quartos de hóspedes nessa casa — ele falou com indignação. — Que ideia você tem de mim? Você me conhece, caramba! Sabe que eu jamais faltaria com o respeito com você.
— Você vai acabar acordando a Mélia — foi o que disse a mulher, sem graça demais para encarar o ex-noivo nos olhos.
— Quer saber? Foda-se! Faça como quiser.
Benzema deixou a cozinha e prontamente se soltou dos braços de e deu meia volta.
— Já volto — disse antes de segui-lo, deixando o namorado sem saber se deveria falar algo a respeito daquilo com Chloé ou apenas ficar em silêncio até que ela voltasse. — Benzema, deixa eu falar com você.
— Tô cansado, — ele falou sem nem sequer olhar para trás enquanto subia os degraus da escada, mas, ao alcançar o segundo andar da casa, parou e se voltou para ela.
— Eu que vou falar, você só vai escutar. Não é agindo desse jeito que você vai mostrar pra ela que mudou, então pare e pense antes de fazer essas ceninhas. Eu vou convencê-la a dormir aqui e vou embora, então vê se amanhã tenta ser legal com ela. Não força a barra tentando conversar sobre o relacionamento de vocês, só fala sobre a Mélia ou qualquer assunto neutro. Se você quer que a situação mude, é assim que tem que ser.
Benzema fitou o rosto de sem saber o que dizer. Se sentia até um pouco envergonhado.
— Ok — falou, simplesmente, e soltou um suspiro cansado.
— Boa noite — disse e se inclinou para beijá-lo na bochecha antes de descer os degraus e ir de encontro aos outros dois.

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Tudo o que queria ao colocar o vestido preto, curto e justo, de mangas longas e um decote proeminente, era que a devorasse com aqueles olhos que a faziam se sentir a mulher mais maravilhosa de todo o mundo. E foi justamente o que aconteceu quando ele abriu a porta de casa e a encontrou em uma pose divertida e sensual, com uma das mãos no batente e a outra na cintura.
— Uau — disse ele, subindo os olhos por seu corpo. — Que mulher é essa na porta da minha casa?
— Saí dos seus melhores sonhos — ela rebateu, piscando um olho, mas não se conteve e soltou uma gargalhada que o fez rir também. — Está pronto? Cadê a Lalie?
fez sinal para que ela entrasse em sua casa e a puxou pela cintura, capturando seus lábios enquanto batia a porta. se assustou um pouco com o beijo mais intenso do que o esperado, mas levou a mão à nuca do namorado e o beijou de volta.
— Agora eu vou ter que retocar o batom — ela disse em um tom divertido quando os dois, um pouco ofegantes, se afastaram.
— Depois — ele disse, dando alguns passos para trás e puxando a namorada consigo.
— Por que depois? — perguntou, mordendo o lábio inferior para conter um sorriso, apenas para provocá-lo, pois tinha entendido suas intenções.
— Porque agora eu quero te beijar mais um pouquinho.
— A gente tem uma festa pra ir — ela o lembrou, mas não o impediu de fazê-la se sentar no sofá com ele.
— Só até a Lalie descer — disse, a puxando pela cintura para mais perto.
No entanto, os dois puderam ouvir o som de passos cada vez mais próximos e se afastaram. não pôde evitar uma risada ao ver a expressão de derrota estampar o rosto do .
— Oi, — Lalie disse, surgindo na sala de estar, e abriu um sorriso.
— Você não vai? — perguntou, confuso, ao ver a roupa que a amiga vestia.
— Vou, ué. Tô pronta — ela respondeu, encarando a si mesma.
— Mas… você tá de calça jeans!
— E o que tem isso? — questionou sem entender por que o namorado estava tão incomodado assim com a roupa de Amelie. Mesmo de calça jeans, não era como se ela estivesse mal vestida. E estava muito bonita, aliás.
— Me fez ver, sei lá, uns duzentos vestidos pra ir assim? — ele disse, demonstrando toda sua indignação.
— Tá muito feio? — Lalie perguntou, insegura. — Como não penso em ficar muito, não quis me produzir toda.
— Lalie… — falou com preocupação enquanto se ajeitava no sofá para observar a amiga melhor.
olhou de um para o outro, tentando entender o que se passava ali.
— O que foi? Aconteceu alguma coisa?
— Não, é… algo particular da Lalie — ele respondeu. Não sabia se Amelie queria dividir suas preocupações e achou melhor não alardear.
— Tá tudo bem, , não vou te fazer guardar algo da — a fisioterapeuta disse e soltou um suspiro cansado. — É que amanhã é aniversário de morte do meu pai e eu não lido tão bem com isso, fico meio… assim. Sei que é idiota, não consigo evitar, mas eu prometi ao Cris que iria ao aniversário dele, não quero que ele fique chateado.
— Caramba, Lalie, eu sinto muito — disse com pesar. — E não tem nada disso de evitar. Temos o direito de sentir o que sentimos por quantos dias, meses ou anos forem necessários.
— O seu homem me disse algo parecido essa semana — Amelie falou, sorrindo agradecida, e riu baixo antes de trocar um olhar com o namorado.
— Vamos virar esse tipo de casal mesmo? — ela brincou e deu um beijo rápido nele. Em seguida, se voltou novamente para a fisioterapeuta. — Você não quer mesmo ir?
— Querer eu quero, né? Você sabe que amo dançar e sempre volto mais relaxada do que fui, mas com esse ânimo que tô…
— Ah, não, então deixa comigo! Me mostra esses duzentos vestidos que vamos encontrar um maravilhoso, que só de se olhar nele seu humor vai começar a melhorar — ela disse, imediatamente se pondo de pé. — De você eu cuido mais tarde — falou em um tom divertido para o namorado, piscando um olho em sua direção, e subiu com Amelie até o quarto em que ela estava hospedada desde que chegara a Madrid.
A fisioterapeuta mostrou todas as opções de vestido de festa que tinha e analisou um a um e até tirou alguns do armário para colocá-los em frente ao corpo de Lalie.
— Gosto desse — falou, indicando o vestido azul marinho de paetês de um ombro só e com a manga longa. — E fica bom com a sua maquiagem.
— Vou confiar, você tem bom gosto — a outra disse, pegando o cabide com o vestido de sua mão.
— Vai se trocar enquanto escolho sandálias que combinem.
Amelie voltou poucos minutos depois do banheiro, já vestida, e também calçou o par de sandálias que tinha separado. A assistente técnica a observou atentamente enquanto ela se ajeitava em frente ao espelho, analisando seus gestos e expressão facial. Já parecia um pouco mais animada do que anteriormente.
— Lalie — chamou e ela a encarou pelo reflexo —, você tá gostando de alguém?
— Eu? — ela perguntou, chocada com o questionamento. — Olha, se for o Isco, somos realmente só…
— Na verdade, tô falando do Cris — disse, a cortando, e notou seus olhos se arregalarem minimamente antes de ela os desviar e resmungar algo incompreensível. — Quê?
— Tá tão ridiculamente óbvio assim? — Lalie suspirou longamente.
— Pelo menos pro meu olhar de psicóloga, sim. Duvido que mais alguém tenha percebido. Notei que você sempre dá uma vacilada quando fala dele.
— Ai, meu deus, que vergonha! , nem eu sei como isso foi acontecer. Eu achava ele tudo o que a mídia fala, metido, arrogante, egoísta e nem tão bonito assim, mas, desde que o conheci, tudo mudou. Ele é um dos homens mais atenciosos e cavalheiros que já conheci… Sem falar em como ele é cheiroso também.
não pôde evitar um sorriso ao ver Lalie falar aquilo tudo de forma esbaforida. Aquele desespero era bastante parecido com o que ela própria tinha sentido alguns meses antes.
— O Cris é um amor mesmo. Ele veio conversar comigo quando vazaram minha foto e foi extremamente atencioso.
— Você deve me achar uma ridícula.
— Por que eu acharia?
— Ué, pelo fato de ele…
— Não esqueceram de nada não? — disse, a cortando ao aparecer no quarto. – Tipo... eu lá no sofá?
— Que exagero! — disse em meio a risos. — Não estamos aqui há nem dez minutos.
— Quinze — ele corrigiu e se aproximou de Amelie para abraçá-la. — Essa é a Lalie que eu conheço. Vamos?
— Vamos sim. Essa conversa não terminou aqui — acrescentou em um tom espirituoso para a outra.
Quando os três chegaram ao Teatro Barceló, a festa já estava bastante animada. Cristiano Ronaldo havia escolhido a sala Scotch, da famosa casa noturna, para comemorar seu aniversário de 32 anos. Era espaçosa o suficiente para comportar no andar inferior a pista de dança, o bar e também um pequeno cassino, ideia do próprio aniversariante. O andar superior, por sua vez, tinha sido reservado para que seus colegas de time e funcionários do clube pudessem curtir a festa com privacidade.
— Eu vou beber alguma coisa — Amelie avisou em um volume de voz alto para que o casal pudesse escutá-la em meio à música que tocava.
— Lalie! — a censurou, arrancando uma careta dela.
— Tá tudo bem, vai subindo que eu vou com ela — disse e depositou um beijo estalado na boca do namorado antes de ir atrás da fisioterapeuta, que já seguia em direção ao bar.
— Odeio ficar bêbada, mas acho que hoje eu vou — Amelie confessou e fez um sinal para o barman.
— De vez em quando não faz mal a ninguém. Eu bem sei — ela disse, rindo, e se apoiou no balcão. — Se achar que vai fazer alguma bobeira, promete me procurar?
— Eu pretendo passar a noite toda nessa pista, mas pode deixar. Uma tequila pra começar?
meneou a cabeça, concordando, e mostrou a pulseira que indicava que elas não pagariam por nada naquela noite.
Depois de tomar um shot de tequila, as duas subiram para o andar superior. Apesar de o espaço ser menor, era bastante agradável e tinha o seu próprio bar, o que, inclusive, permitiria os jogadores do Real Madrid curtirem a festa entre eles se quisessem.
Quando os olhos de procuravam pelo namorado, se depararam com Cristiano Ronaldo. A atenção dele estava inteiramente voltada para a mulher ao seu lado e isso a fez sorrir de lado.
— De nada — disse próximo ao ouvido da fisioterapeuta, que riu alto.
— Obrigada mesmo, , eu já estou feliz de ter vindo.
— Nos falamos depois — disse, apertando sua mão em apoio. Ainda teria bastante tempo para desejar feliz aniversário para Cristiano.
Ela acenou para alguns colegas que viu acompanhados por suas esposas, namoradas e amigos, mas não demorou a avistar e Karim sentados juntos e sorriu para os dois. Se sentou em uma mesinha, bem de frente para eles, e se inclinou para beijar a bochecha do melhor amigo, que não parecia muito animado.
— Que cara é essa?
— Você vai querer me dar um soco. É o que eu mereço.
— Que merda você fez, Benzema? Você não disse que as coisas estavam fluindo bem com a Chloé ontem?
— É, eu fiz exatamente o que você falou, tentei conversar com ela sobre coisas que não tivessem nada a ver com a gente e o clima estava ótimo, mas aí hoje caguei tudo como sempre faço — ele falou e passou as mãos no rosto, frustrado. — Eu a beijei, ela me empurrou e disse pra eu nunca mais fazer isso. Tentei me desculpar, mas acabamos discutindo e ela levou a Mélia embora depois do almoço.
— Embora pra Paris? — questionou, surpresa, e ele assentiu com a cabeça.
— Ela disse que tá feliz com o cirurgião como nunca foi comigo — Karim disse em um tom dolorido que a fez sentir pena.
— Você sabe que a Chloé falou isso da boca pra fora — ela disse e pôs uma das mãos em seu ombro, confortando-o. — Não que ela não esteja feliz com esse cara, mas claro que foi feliz com você também.
— Tanto faz, não tem mais volta — ele falou, dando de ombros. — Você não vai nem me xingar?
— Eu deveria te xingar mesmo por não ter seguido meu conselho, mas… — disse e soltou um suspiro cansado. — Ah, Karim, você precisava mesmo de um choque de realidade.
Benzema meneou a cabeça, concordando, e se levantou com um copo quase vazio na mão.
— Vou pegar mais disso daqui e dar uma volta. Não vou ser a melhor companhia pra vocês hoje.
também se levantou e o segurou pelo braço antes que ele se afastasse.
— Você sabe que isso não vai te fazer se sentir melhor, né?
— Nem pior — ele retrucou, dando de ombros, e se afastou.
Ela se sentou ao lado de e os dois se entreolharam.
— Só tá faltando você querer encher a cara hoje também — brincou, o fazendo rir.
— Não é pra tanto.
— Vai se preparando aí que você vai dançar comigo.
… — o falou, fazendo uma careta.
— Ah, nem vem! Eu só te poupei no meu aniversário porque você tinha recém começado a fisioterapia, mas de hoje você não escapa, mon amour.
revirou os olhos, mas não se viu em posição de contestá-la, então apenas a puxou para um beijo e torceu para que ela desistisse daquela ideia.

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— Outro? — Toni Kroos perguntou em um tom implicante ao ver voltar para a rodinha com o terceiro ou quarto drinque que resolvera experimentar dentre as tantas opções.
— Para de tomar conta da minha vida — ela rebateu, fazendo uma careta, e deixou abraçá-la por trás.
— Ainda bem que o não bebe, né? Você bebe por você mesma e por ele também — ele brincou, fazendo-a revirar os olhos enquanto tomava um longo gole da bebida.
— A Jess é mesmo uma santa — disse , fazendo a alemã rir.
— É linda também, a minha florzinha — Toni falou e mostrou um sorriso para a esposa antes de depositar um beijo em seus lábios.
— Por qual apelido brega você vai me chamar? — perguntou, entortando o pescoço para encarar o namorado.
Baby girl — Modrić falou antes que o amigo respondesse.
Boo-boo é mais a cara dele — Kroos opinou e os dois caíram na gargalhada, assim como Mateo Kovačić e Jaime, que também estavam ali.
— Cala a boca — disse, rolando os olhos, mas a verdade é que conteve o riso para não perder a pose.
— O problema não é usar um apelido brega — começou , atraindo todas as atenções para si —, mas sim não bancar o apelido brega. E, meus amigos, não sei vocês, mas esse homem tem condição de bancar o apelido que for — falou, desencadeando risos e assobios.
— Você é meu ídolo, cara — falou Toni Kroos, batendo palmas como se tivesse acabado de escutar o mais formidável discurso.
acabou rindo também e deixou o copo vazio na bandeja de um garçom que passava por ali antes de se virar para o e abraçá-lo pelo pescoço. Os dois se envolveram em um beijo, mas ninguém se importou, pois logo já estavam entretidos com um novo assunto.
— Casal, desculpa atrapalhar — uma voz os interrompeu e eles olharam para o lado, encontrando Amelie.
— Tá tudo bem, Lalie? — perguntou, preocupada.
— Comigo sim, com o Karim é que eu não tenho muita certeza.
— Ai, meu Deus — a francesa disse em meio a um suspiro. — O que ele tá aprontando?
— Por enquanto nada, mas tá no bar lá debaixo enchendo a cara. Percebi que ele não tá muito bem e fiz companhia por algum tempo. Então o chamei pra dançar pra ver se ele se animava, mas não quis. Como é seu amigo e você provavelmente sabe o que tá rolando, pensei que seria mais seguro avisar, porque, pelo jeito, ele só vai sair daquele bar carregado.
— Era só o que me faltava ter que ser babá do Karim — falou, rolando os olhos. — Vamos lá resgatar ele.
Beijou rapidamente antes de entrelaçar seu braço ao de Lalie e, em seguida, as duas desceram até o andar inferior da casa noturna. Foram juntas até o bar e se aproximaram de Karim, que levava um copo à boca.
— Você já bebeu o suficiente por hoje — ela disse, pegando o jogador de surpresa ao tirar o copo de sua mão.
— Me deixa, — ele disse, tentando pegar a bebida de volta, mas a outra foi mais rápida e bebeu tudo de uma só vez. Não pôde evitar uma careta ao constatar que ele estava bebendo whisky puro.
— Definitivamente, já chega por hoje — ela falou em um tom autoritário, deixando o copo sobre o balcão. — Levanta e vem dançar com a gente.
— Não tô a fim.
— Você tem noção de que qualquer homem dessa festa daria tudo pra dançar com duas mulheres dessas? — perguntou , apontando de si para a mulher ao seu lado.
— Ela tem razão — concordou Lalie.
Karim encarou as duas, que o desafiavam com o olhar, e não disfarçou quando desceu e subiu os olhos pelo corpo de ambas.
— Tanto faz, não vou poder levar vocês pra cama depois — disse, se voltando para o balcão novamente, e as duas gargalharam em resposta.
— Deixa de ser safado — o censurou, mas em um tom espirituoso. — Vem logo, você não tem escolha.
O pegou pelo braço, fazendo com que ele se visse obrigado a se levantar do banco, e Amelie segurou seu outro braço. Karim ria levemente, balançando a cabeça de um lado para o outro, enquanto assistia as duas dançarem, uma de cada lado seu, no meio da pista de dança. Foi impossível não se deixar contagiar pelas duas, ainda mais sabendo que tinham a melhor das intenções.
Quantas vezes não tinha vivido cenas bastante parecidas com , quando os dois decidiam sair para se distrair dos problemas, especialmente depois de ele e Chloé terem terminado definitivamente? Lalie era bastante parecida com sua melhor amiga nesse sentido, o fazia querer absorver aquela energia toda que ela irradiava mesmo que, por dentro, estivesse destruído e soubesse que isso não mudaria com uma festa bem aproveitada.
Mas ele se permitiu, pelo menos naquele momento, esquecer as palavras duras que, mais cedo, tinha escutado saírem da boca da mulher que amava e que o fizeram se dar conta de que o relacionamento deles não teria volta. Se deixou levar pelos movimentos de e Amelie, sincronizados com o reggaetón que tocava, e dançou junto mesmo que nem fosse grande fã do gênero musical latino. Estava entre as duas, sentia o corpo de Lalie atrás do seu e, à sua frente, rebolava conforme a música de costas para ele.
A francesa girou sem sair do lugar, ficando de frente para o amigo com um sorriso travesso nos lábios, e o empurrou de leve antes de se aproximar de Amelie. As duas faziam uma coreografia improvisada quando os olhos de captaram uma cena bastante curiosa. Do andar superior, Cristiano Ronaldo tinha toda sua atenção voltada para a pista de dança e não precisou de muito para perceber a quem ele assistia dançar. Riu consigo mesma enquanto desviava os olhos dele para buscar por seu namorado e não se surpreendeu quando eles cruzaram com os do .
— Vou tentar fazer o dançar comigo — gritou para os outros dois para que pudesse ser escutada em meio à música alta.
— Boa sorte! — Lalie exclamou de volta, a fazendo rir.
voltou a subir as escadas e parou ao lado do anfitrião da festa.
— Chama ela pra dançar — disse, fazendo Cristiano Ronaldo encará-la em dúvida.
Sorriu para ele, dando a entender que tinha notado os olhares dele para a fisioterapeuta.
— Ela já tá se divertindo, não vou atrapalhar.
— Você é o aniversariante. Pode qualquer coisa — ela disse em um tom divertido, arrancando uma leve risada de Cristiano. — E merece se divertir, né? Não é sempre que a gente tem como aproveitar uma festa dessa no meio da temporada.
— Talvez eu siga o seu conselho, — ele disse, sorrindo em agradecimento.
— Saiba que meus conselhos costumam ser certeiros — falou ela, piscando um olho. — Feliz aniversário, Cris.
Deu um abraço rápido nele antes de, enfim, se aproximar de e envolver o pescoço dele com os braços.
— Eu não esqueci que você tá me devendo uma dança — sussurrou contra os lábios do , que soltou um suspiro derrotado.
— Claro que não esqueceu.
— Ficou aí se fazendo de sonso, né? — ela rebateu, rindo levemente, mas logo notou a postura rígida do namorado, que sequer tinha colocado as mãos em sua cintura como costumava fazer quando estavam próximos daquela forma. — Que foi?
— Precisava mesmo ter dançado tão… grudada no Benzema?
soltou uma gargalhada quando se deu conta de que ele estava enciumado.
— Não seja por isso, posso dançar grudadinha em você também — disse ela, dando de ombros, com um sorriso divertido estampado no rosto.
não ofereceu qualquer tipo de resistência quando o pegou pela mão e saiu o puxando até o andar inferior da casa noturna. Ela estava louca para se meter no meio das pessoas que lotavam a pista de dança com o namorado e foi exatamente o que fez.
Grudou seu corpo ao de , que pôs as mãos em sua cintura, e começou a se mover no ritmo da música animada que tocava. Os olhos do estavam cravados nos de e um sorrisinho brincava nos lábios dele enquanto deixava que ela guiasse seus movimentos, seguindo a batida. Não era um super dançarino, mas também não odiava dançar. Seu grande problema era se manter são vendo-a se mover graciosamente tão próxima a si.
Ela deu meia volta e passou a dançar com as costas coladas no peitoral do namorado, subindo e descendo enquanto rebolava. Jogou os fios de cabelo apenas para um lado, permitindo que os lábios de tivessem acesso ao seu pescoço, e mordeu um sorriso ao sentir a língua dele deslizar por sua pele. Aquilo tirou um pouco seu foco. Quis estar bem longe dali, em um lugar em que pudesse fazer todas as coisas que passavam em sua mente naquele instante. No entanto, aproveitou o momento para continuar dançando e provocando o para esquentar ainda mais o clima.
Os dois trocaram um beijo sedento ali no meio da pista de dança, sem se importar se chamariam atenção ou não, e, quando suas bocas se afastaram, se arrepiou ao notar os olhos desejosos de .
— Vamos pra casa? — ele perguntou e a verdade é que ela mal escutou a voz dele em meio à música, mas entendeu perfeitamente a frase, pois era exatamente o que estava pensando.
— Vamos.
Os dois subiram a escada e, ao ver Lalie sozinha no bar, disse que ia avisá-la de que eles estavam indo embora, enquanto foi se despedir de todos os jogadores e esposas que vinham se tornando também suas colegas. Depois de garantir a Jessica e Vanja que combinaria de fazer alguma coisa com elas em breve, viu sentado com a fisioterapeuta ainda no bar e foi até os dois. Chegou abraçando de lado o namorado, que sorriu para ela.
— Vai se despedir do pessoal — disse, cutucando a cintura dele. — Você também já tá indo, Lalie?
— Não, Deus me livre ser empata foda — ela respondeu categoricamente, fazendo-a gargalhar e as bochechas de corarem enquanto ele ria levemente. — Vão indo que eu vou mais tarde.
A tão badalada festa de aniversário de Cristiano Ronaldo estava acabando para e , mas, a noite, apenas começando.

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— Gooool! — Rémy exclamou, se levantando do sofá, e saiu correndo pela sala de estar, fazendo uma comemoração que denunciava quão bêbado já estava. Se voltou para , que morria de rir dele, e fez um coração meio desajeitado com as mãos, pois segurava o controle do videogame. — Descobri que é muito satisfatório massacrar um jogador de futebol no FIFA.
— Eu não costumo jogar muito — o se defendeu, dando de ombros.
— Agora pega uma bola de futebol pra ver quem é que vai ser massacrado — disse, debochada.
— Ninguém te perguntou nada, Zidane.
— Ele ficou nervosinho porque eu o humilhava na escolinha, coitado — ela explicou para o namorado e soltou uma gargalhada.
— Vocês jogavam futebol juntos? — perguntou, interessado. Não sabia muito sobre a amizade de com seu grupo de amigos além de terem estudado juntos na escola e serem inseparáveis desde então.
— Infelizmente — Rémy falou, revirando os olhos, e voltou a se sentar no sofá ao lado do jogador. aproveitou para se inclinar por cima do namorado para dar um tapa na nuca do amigo.
— É, a gente se conheceu na escolinha de futebol. Eu apresentei ele pra Margot no início do Ensino Médio e ele nos apresentou pro Florian e pro Jérémy. Depois a Margot trouxe a Fifi pro grupo também — ela contou enquanto pegava uma batata frita no prato que estava sobre a mesinha de centro e deu uma mordida antes de levar o restante da batata à boca do namorado, que já estava concentrado na partida de FIFA novamente.
, você vê esse mulherão hoje em dia e nem imagina que adolescente vivia com o joelho ralado — disse Joséphine em um tom divertido.
Antes que pudesse se defender, a campainha tocou, interrompendo a conversa.
— Deve ser o Jérémy, deixa que eu abro — anunciou Florian, se levantando do sofá em que estava acomodado ao lado da noiva, e foi até a porta, já que Rémy, o dono da casa, estava ocupado no videogame.
— Eu era fogo mesmo, só andava no meio dos meninos e vivia aprontando — confessou, retomando o assunto, e riu baixo, o que fez rir também. — Mas não me arrependo, aproveitei muito bem minha infância e minha adolescência.
Florian logo estava de volta à sala de estar, seguido pelos dois recém-chegados, e os três atraíram as atenções para si.
— E aí, galera? — disse Jérémy, cumprimentando um a um de seus amigos com um abraço rápido.
— Pensei que você não vinha. Depois que se mudou pra Paris, mal lembra que tem amigos — Rémy falou, queixando-se, e pausou o jogo para cumprimentar ele e também Laure, sua namorada.
— É que a gente tá trabalhando pra caramba, mas jamais deixaríamos de vir na despedida de solteiros do Florian e da Fifi — Jérémy garantiu, piscando um olho para o casal, e, então, seus olhos caíram em .
— Tá faltando barbeador lá em Paris? — ela disse em tom divertido, se levantando para abraçá-lo.
— Eu só quis mudar um pouco — ele respondeu, passando as mãos pelos pelos do rosto que estavam mais longos do que de costume. — Tá tão ruim assim?
— Não, só diferente — falou e esboçou um sorriso antes de também cumprimentar a mulher ao lado dele, esta com beijos nas bochechas. — , esses são Jérémy e Laure. Agora você já conhece todo mundo.
largou o controle do videogame sobre o sofá e se levantou para cumprimentar cada um com um aperto de mão rápido e, então, voltou à partida de FIFA que disputava com Rémy enquanto todo mundo se acomodava nos sofás e em cadeiras espalhadas pela sala.
— Sério que vocês estão aqui bebendo e jogando videogame como se fosse um dia como outro qualquer? — perguntou Jérémy, servindo dois copos de cerveja, um para ele e outro para a namorada.
— Eu preferia estar num clube de strip, assistindo a um monte de gostosos seminus dançarem sensualmente, mas é o que temos pra hoje — respondeu Margot, dando de ombros, fazendo Joséphine revirar os olhos enquanto ria.
Ela realmente tinha dado a ideia às amigas, mas, para sua decepção, os noivos acharam que seria muito mais simbólico passar a véspera do casamento juntos, reunidos com seus melhores amigos de tantos anos.
— Levando em consideração que tá sendo quase impossível juntar todo mundo, não dá pra dizer que é um dia comum — Rémy observou e, assim que a partida acabou oficialmente com um placar de cinco a dois, estendeu a mão cordialmente para seu adversário. — Foi bom te derrotar, .
— Eu pediria uma revanche, mas já sei que vou perder de novo, então deixa pra lá.
— Quem é o próximo?
— Próxima — corrigiu antes de pedir o controle ao namorado.
Pegou de surpresa quando se levantou de seu lugar e, em seguida, se sentou sobre as coxas dele.
— Você podia ter pedido pra trocar de lugar — disse o , apesar de não impedi-la de se acomodar em seu colo e, inclusive, envolveu a cintura dela com os braços.
— Assim é mais confortável — falou com um sorriso divertido brincando nos lábios e se virou para beijá-lo na boca.
Era para ser um beijo rápido, um simples selinho, mas a francesa não resistiu a entreabrir os lábios e aprofundar o beijo. correspondeu timidamente, pois sabia que estavam sendo observados por todos ali presentes, pessoas que havia acabado de conhecer, e ainda não se sentia completamente à vontade.
— Eu espero que nem um idiota até a pegação aí acabar, não tem problema — Rémy falou algum tempo depois em um tom irônico, fazendo rir em meio ao beijo e, enfim, separar sua boca da de .
— Pode começar, seu chato — ela falou, recostando-se contra o peito do namorado.
Enquanto jogava contra o amigo em meio a muitas zoações e gargalhadas, especialmente quando algum dos dois marcava um gol e provocava o outro, estava mais calado do que estivera anteriormente. Todos haviam o acolhido muito bem desde quando pôs os pés para dentro da casa de Rémy com , inclusive evitando conversar em francês para não deixá-lo de fora das conversas, e isso fez com que ele se sentisse bastante confortável mesmo que fosse um estranho ali. No entanto, a chegada de Jérémy e Laure tinha mudado um pouco o ambiente. Bom, pelo menos para ele.
Desde que o convidara para ir ao casamento de Fifi e Florian em Marselha, vinha pensando sobre como seria conhecer o tal ex-namorado dela, pois era uma situação totalmente nova para ele, que nunca tinha tido que lidar com um ex de uma namorada sua antes. Ver Jérémy tão à vontade, como se estivesse em sua própria casa, acabou fazendo o jogador se retrair um pouco. Apenas observava-o discretamente, analisando seus gestos e jeito de falar, principalmente quando brincava com por causa do jogo.
— A gente podia jogar alguma coisa que desse pra todo mundo participar — sugeriu Joséphine quando o jogo terminou com mais uma vitória de Rémy, dessa vez por quatro a dois.
— Alguma ideia? — perguntou antes de se levantar do colo do namorado e pegar o copo vazio que tinha deixado sobre a mesa de centro.
— Ainda dá tempo de ir pra um clube de strip — disse Margot como quem não queria nada, encarando as próprias unhas.
— Tá tão necessitada assim, é? — Rémy questionou, debochado, largando o controle do videogame, e se recostou preguiçosamente contra o encosto do sofá.
— Não pedi a sua opinião.
— Você tá aí falando pra todo mundo ouvir, pensei que queria.
— Tá, não comecem vocês dois — Fifi cortou mais uma das tantas discussões entre os dois antes que realmente começasse e apenas riu e deu meia volta para ir até a cozinha pegar mais cerveja. — Rémy, você tem jogos de tabuleiro aí, não tem?
— Lá no meu quarto, no armário em cima do computador.
Fifi se levantou e puxou Margot consigo ao subir as escadas, no intuito de ir até o quarto do amigo escolher um jogo que animasse a noite.
, já tem previsão de voltar a jogar? — perguntou Florian.
— Ainda não, mas ontem fui liberado pra treinar com o time a partir de segunda. Só vai depender do Zizou achar que eu tô pronto.
— Que bom, então não vai demorar muito. Essa lesão foi complicada, né? Três meses longe dos campos… Não deve ter sido fácil.
— Nem me fale — ele falou em meio a um suspiro.
— E como estão as coisas pras oitavas da Champions contra o Napoli? — Rémy questionou.
— Tá todo mundo bastante focado, como sempre.
— Acha que vocês têm chance de ganhar a Champions de novo esse ano? — Florian perguntou, se demonstrando bastante interessado, mas soltou uma risada antes que respondesse. — Desculpa, isso tá parecendo uma coletiva.
— Não tem problema — disse, rindo levemente. Futebol não era seu assunto favorito fora de campo, mas a curiosidade das pessoas era algo com o que havia se acostumado ao longo dos anos, ainda mais depois de se tornar um jogador do Real Madrid. — Chance temos tanto quanto os outros times que ainda estão na disputa, né? Mas vamos fazer o possível pra ganhar de novo.
O notou a movimentação no outro lado da sala, Jérémy cochichando algo no ouvido da namorada, e o observou se levantar e ir em direção à cozinha.
— Eu sempre fico pensando... — falou Rémy, atraindo a atenção de para si mais uma vez. — Depois de ter ganhado duas vezes nos últimos três anos, a motivação não acaba diminuindo?
— Nunca — ele respondeu e olhou rapidamente sobre o próprio ombro, avistando ao longe Jérémy se juntar à , e se voltou para os dois franceses que o olhavam com bastante curiosidade e cheios de perguntas para fazer estando diante de um dos maiores jogadores da atualidade. — Quanto mais a gente ganha, mais a gente quer ganhar.
Na cozinha, improvisava um drinque com champanhe e sucos de pêssego e limão que encontrou na geladeira de Rémy quando escutou alguns passos atrás de si. Virou o pescoço, se deparando com Jérémy, e sua reação foi esboçar um pequeno sorriso antes de voltar a misturar as bebidas.
— Você e essas misturas malucas — disse ele, se apoiando no balcão, bem ao lado de .
Ela deu um gole generoso na bebida antes de levantar os olhos para encará-lo.
— Tá gostoso. Quer provar?
Jérémy pegou o copo estendido em sua direção e tomou um um pouco da bebida antes de devolvê-lo para a mulher.
— Eu ficaria bêbado disso.
— Vou fazer um pra você — disse , abrindo o armário para pegar um copo, e logo começou a despejar a mesma quantidade de cada bebida que tinha usado no primeiro drinque.
— Como ficaram as coisas depois da foto?
— Foi um pouco estressante, mas deu pra sobreviver.
— Eu falei com Ken depois que você me falou sobre a ligação dele — ele revelou para a surpresa de , que deslizou o copo do drinque que tinha acabado de fazer pelo balcão. — A gente não tá mais se falando e nem vou continuar trabalhando com ele.
— Queria poder dizer que não precisava ter perdido um amigo e cliente por minha causa, mas quem saiu perdendo nessa história foi ele.
— Não quero o dinheiro e muito menos a “amizade” — disse Jérémy, fazendo sinal de aspas — de um cara que pensa que pode fazer algo assim com uma mulher só porque não conseguiu o que quis com ela. Queria ter impedido que você fosse embora com ele naquele dia, imaginei que pudesse não dar em boa coisa, mas não queria ser interpretado errado.
— Pensou que eu ia achar que você não queria que eu pegasse um amigo seu? — perguntou e riu baixo antes de se esconder atrás copo de seu drinque, que estava pela metade, e deu um gole na bebida.
— Mesmo que seja pra apenas uma noite, você merece alguém que te respeite. Alguém como ele — ele acrescentou, apontando para a sala.
sentiu como se estivesse tendo um déjà vu, pois não era a primeira vez que escutava aquilo de Jérémy. Mesmo quando eram apenas dois grandes amigos, ele tinha esse mesmo discurso de que ela precisava enxergar a garota incrível que era. Discurso este que, inclusive, a fez se apaixonar por ele.
— Se tem uma coisa que o faz muito bem é me respeitar — disse, sorrindo.
— Posso confessar uma coisa, ?
— Só se não for algo que possa criar um clima constrangedor entre a gente — ela falou, fazendo-o rir.
— Eu fiquei um pouco assustado quando vi a foto que você postou no Instagram, não esperava que você estivesse namorando , mas fiquei muito contente de saber que você tá permitindo que alguém faça parte da sua vida — falou, mostrando um sorriso bastante sincero para ela. — E fiquei ainda mais contente vendo vocês dois juntos e o quanto você tá feliz com ele. Nem parece aquela mesma do Natal.
— Eu não estava num bom dia — ela disse, fazendo uma careta. — E você e Laure? Como estão as coisas lá em Paris?
— Melhores do que nunca — Jérémy falou antes de pegar o copo sobre o balcão e beber um pouco do drinque. — A gente tá pensando em adotar uma criança.
— Sério? — questionou com os olhos arregalados pela surpresa com que recebeu a novidade. — Caramba, que legal!
— Não vai perguntar por que decidimos adotar em vez de… tentar o método convencional? — ele questionou em um tom divertido.
— Imagina, não tem que ter uma explicação. O que importa é o amor que vocês vão dar pra essa criança.
— Descobri que sou estéril — Jérémy soltou de uma só vez, pegando-a desprevenida. — Isso explica porque você nunca... Quer dizer, nós não éramos lá muito cuidadosos.
ficou sem reação. Dentre os possíveis motivos pelos quais achava que eles poderiam ter optado pela adoção, não estava aquele. Eles já tinham conversado no passado sobre se tornarem pai e mãe como qualquer casal de namorados e ela sabia que essa era uma grande vontade que Jérémy tinha. Mal conseguia imaginar o baque que provavelmente tinha sido para ele ter feito tal descoberta.
— Não sei nem o que dizer, Jerry.
— Tá tudo bem, o que você disse tá certo. O que importa é o amor com que vamos criar essa criança, não como ela foi concebida — ele disse e mostrou um sorriso fraco. — Só te peço que não comente sobre isso com o pessoal, você é a única que sabe disso além da Laure por enquanto.
— Ok — disse ela, meneando a cabeça em concordância enquanto soltava um suspiro. Seus lábios, então, se curvaram em um sorriso. — Você vai ser um pai incrível.
— Ei, vocês dois — Fifi disse, adentrando a cozinha, os interrompendo. — Querem jogar Twister?
— Twister? — perguntou, fazendo uma careta. — Tá todo mundo bêbado. Não vai dar certo.
— Sim, qual a graça de jogar isso sóbrio? — ela rebateu em tom de obviedade e deu meia volta, retornando à sala de estar.
largou o copo vazio dentro da pia em meio a risos e também deixou a cozinha, sendo seguida por Jérémy. Entretanto, antes de que ela pudesse se unir ao restante do pessoal, Margot a puxou para um canto.
— Esse cara saiu de um conto de fadas? — ela perguntou aos sussurros, apontando para discretamente. — Eu ofereci cerveja porque vi que ele estava comendo batata a seco e pensei que ele estava me zoando quando disse que não bebe. Sem contar que ele é todo… fofo.
— E ainda é bom de cama, acredita? — acrescentou em um tom divertido.
— Ah, não — Margot disse, espantada. — Eu tinha esperanças de que isso ele não fosse.
— Pois é, morra de inveja do meu príncipe de conto de fadas — ela debochou, soltando uma gargalhada, e cruzou a sala de estar, deixando a amiga para trás rolando os olhos.
A mesinha de centro foi retirada e os sofás afastados para que o tapete com círculos coloridos fosse estendido no chão e o grupo decidiu fazer uma disputa entre dois times. O que perdesse depois de três rodadas teria que cumprir um desafio escolhido pelo outro.
— Vai jogar, mon amour? — perguntou, segurando as mãos de .
— Não, prefiro só assistir mesmo — ele respondeu antes de receber um selinho da namorada.
— Então torce por mim, eles são cruéis com os desafios pros perdedores.
acabou ficando em um time com Fifi e Florian e, o outro, foi formado por Margot, Rémy e Laure. Jérémy também preferiu não jogar e se sentou ao lado de . Os dois ficaram responsáveis por girar o spinner e definir em que cor cada mão e pé deveriam ser colocados. se pegou sorrindo quando, de cabeça para baixo, viu os dois rindo juntos das posições embaraçosas em que ela e os outros ficavam ao longo do jogo.
No final da noite, Rémy, Margot e Laure foram desafiados a dançar Gangnam Style e acabaram indo parar nas histórias do Instagram de .

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Os quatro almoçavam em um silêncio quase desconfortável, o único som que preenchia a sala de jantar era o dos talheres enquanto saboreavam a refeição preparada por Sylvie, peito de pato com batatas. tinha optado por dormir com em um hotel em vez de na casa dos pais, pois ainda estava magoada com as coisas que seu pai tinha dito sobre a foto publicada pela revista Closer e não conseguia sequer encará-lo nos olhos, mas engoliu seu orgulho e foi almoçar com os dois naquele domingo. Não seria capaz de ir até Marselha e não vê-los.
, precisamos marcar um jantar com seus pais pra nos conhecermos — disse Sylvie, incomodada com o clima pesado do ambiente.
— Claro, é só avisar quando vocês estiverem planejando ir pra Madrid que eu falo pra eles irem também.
— Já conheceu eles, ? — ela questionou, decidida a não deixar o silêncio se instalar novamente.
— Conheci, mas foi antes de a gente começar a namorar — falou antes de limpar a boca com um guardanapo e trocou um olhar rápido com o namorado. — A gente vai pra no fim do mês pro aniversário da irmã do .
— Ah, você tem uma irmã? — Sylvie perguntou, demonstrando-se interessada em conhecer um pouco mais sobre a família dele, e o confirmou com um aceno de cabeça.
— Ela se chama Vicky. Somos só nós dois.
— Ela tem dois filhos tão bonitinhos, a Georgia e o Max. Sou louca pra conhecê-los.
— Eu não tenho pressa de ser avó, viu? — brincou Sylvie, fazendo o casal rir.
— Pode ficar tranquila, mãe, isso ainda vai demorar.
Um breve momento de silêncio se seguiu enquanto os quatro terminavam suas refeições e não pôde deixar de notar que, enquanto sua mãe estava se superando e sendo bastante legal com , seu pai não havia aberto a boca para mais do que um oi seco ao cumprimentá-los.
— O casamento dos seus amigos é hoje, né? — Sylvie questionou antes de beber um gole do suco de laranja e assentiu com a cabeça.
— Nem podemos demorar muito. Eu combinei com a Fifi de ir pra casa dela dar um apoio moral antes de ir pra igreja. Ela deve estar com o coração na boca a essa altura.
— Vão ficar até quando em Marselha?
— Até amanhã de manhã. Nosso voo é às 7h.
— Que cedo!
— É que a gente tem treino amanhã.
— Não entendi por que você preferiu se hospedar em hotel a ficar na sua casa.
soltou um suspiro enquanto pensava no que dizer para a mãe.
— Só não queríamos incomodar vocês — disse, simplesmente, dando de ombros. — Bom, eu vou levar o lá no meu quarto. Quero mostrar umas coisas pra ele.
— Estava uma delícia, Sylvie. Com licença — falou e, em seguida, acompanhou a namorada quando ela se levantou da mesa. Nem notou o sorriso forçado que a mãe de esboçou.
Sylvie bebeu um longo gole de suco enquanto observava a filha pegar a mão de e sorrir para ele antes de guiá-lo em direção à porta. Se sentia um pouco enjoada por vê-los tão… apaixonados. No entanto, entendia por que estava de quatro por aquele rapaz. Ele era realmente adorável.
— a voz grossa de Nourredine chamou, fazendo os dois pararem antes de passarem pela porta —, aproveita e começa a separar suas coisas. Quero desocupar o quarto pra fazer um escritório.
ficou sem palavras por um momento, fitando o rosto do pai, que continuou a comer como se não tivesse dito nada demais. olhava de um para o outro sem entender o que estava acontecendo, pois as palavras tinham sido proferidas em francês.
— Estou sendo expulsa? — perguntou sem esconder a surpresa.
— Você não mora nessa casa desde que decidiu ir viver sua vida e nos excluiu dela.
— Então tá — ela respondeu, seca, antes de dar meia volta e se retirar da sala de jantar.
subiu a escada atrás dela, completamente confuso e preocupado. O que quer que tivesse sido dito por Nourredine, boa coisa é que não parecia ter sido.
— O que seu pai te falou? — perguntou quando os dois adentraram o antigo quarto de .
— Me expulsou de casa — ela respondeu, cruzando o quarto a passos decididos, e abriu a porta de correr do armário sem muita delicadeza.
Ficou na ponta dos pés para alcançar uma caixa que estava no topo do armário e se aproximou, a empurrando sutilmente para o lado.
— Deixa que eu pego — falou, tirando a caixa de plástico do armário com facilidade. — Como assim te expulsou de casa?
— Falou pra eu separar minhas coisas e liberar o quarto, simples assim. Ele quer fazer um escritório aqui — respondeu e pegou a caixa da mão dele. Caminhou até a cama em seguida e largou a mesma no colchão. — Dá pra acreditar nisso? Tudo bem que eu não moro mais aqui há anos, mas é meu quarto, minhas coisas, e não tá atrapalhando ninguém.
— Então conversa com ele, .
— Conversar é uma coisa que Nourredine Zidane não sabe o que é — ela esbravejou, tirando a tampa da caixa, e, em seguida, a jogou com raiva sobre a cama. — Custava me chamar pra conversar antes de simplesmente me mandar tirar minhas coisas daqui? Era só me dizer que quer fazer um bendito escritório e que precisa do meu quarto pra isso, eu não teria nenhum problema de arrumar tudo e mandar pro meu apartamento em Paris. Tô puta porque ele tá fazendo isso só pra me provocar, me dar uma lição por ter tirado umas fotos de lingerie. E ainda teve a cara de pau de dizer que eu excluí os dois da minha vida quando, na verdade, foi totalmente o contrário. Eu saí de casa pra ir em busca do meu sonho, do que eu queria pra minha vida, não por ser uma rebelde sem causa.
— Vem cá — falou, deslizando os dedos pelo braço dela até alcançar sua mão e, então, a puxou para perto de si. — Ficar brava com isso não vai levar a nada.
— Eu não deveria estar tão afetada, né? — questionou , se deixando ser envolvida em um abraço. — Quer dizer, essa não é mais minha casa e nunca mais vai ser.
— Tá tudo bem ficar chateada, . Seu pai não fez isso da melhor maneira mesmo, você precisa ter uma conversa sincera com ele.
Ela sabia que estava certo. Precisava mesmo dizer como se sentia para os pais, talvez só assim as coisas se ajeitassem, mas a barreira que havia sido criada entre ela e os dois era tão resistente que não tinha forças para quebrá-la sozinha.
Soltou um longo suspiro antes de levar uma das mãos à nuca do namorado e puxá-lo para juntar sua boca à dele. Era impressionante como a forma cuidadosa com que a beijava sempre tinha aquele poder de fazê-la relaxar, esquecer todas as preocupações e se sentir tão bem. Os beijos que trocaram por alguns minutos foram o suficiente para ela se lembrar do motivo de tê-lo levado até ali.
O beijo foi interrompido com alguns selinhos e se afastou com um sorriso no rosto.
— Foi nesse quarto que nasceram os meus maiores sonhos — ela disse, observando o ambiente à sua volta com nostalgia. — Eu queria te trazer aqui pra você conhecer essa partezinha de mim.
Só então parou para observar o antigo quarto de , os objetos espalhados pelos móveis, quadros pendurados na parede… Não apenas tudo tinha a cara de sua namorada, mas também o ambiente tinha o cheiro dela, e isso trouxe uma sensação de que aquela não era a primeira vez que estivera ali.
— Olha minha foto com a Shakira — disse, apontando para uma prateleira cheia de porta-retratos, e foi até a mesma para pegar a fotografia à qual se referia. Voltou com um sorriso enorme no rosto.
— Ah, é mesmo. Você já comentou sobre essa foto — falou, observando a foto em que tinha cara de menina e um dos sorrisos mais felizes que ele já tinha visto estampar o rosto dela desde que se conheceram. — Quantos anos tinha aqui mesmo?
— 15 — ela respondeu, sorrindo ao se lembrar do dia em que conheceu sua cantora favorita no Santiago Bernabéu. — Até que eu era bonitinha, né?
— Você era linda. Acho que nunca vou te mostrar minhas fotos dessa época.
— Por que não? — perguntou ela, ultrajada.
— Essa garota nunca daria bola pro de 15 anos — ele respondeu, fazendo-a soltar uma gargalhada.
— Só se for porque essa garota estava ocupada demais se interessando por garotos que esnobavam ela — disse, fazendo uma careta, e se sentou na cama em seguida. — Vem cá, tem umas coisas legais nessa caixa.
se sentou ao lado dela e a observou remexer os objetos.
— O que tem aí?
— Várias fotos, cartinhas, ingressos de shows e de jogos… — a francesa falou, tirando um deles do meio do bolo. — Olha minha entrada da final da Copa de 98.
— Uau, isso é uma relíquia — disse ele, pegando o bilhete da partida entre Brasil e França no Stade de France para analisá-lo de perto.
— Ah, eu tenho uma foto com a taça ali. Tinha 8 aninhos — disse, apontando para a mesma prateleira em que estava sua foto com a Shakira.
— É claro que você tem — falou, rindo levemente. — É muito errado sentir inveja? Nunca vou tocar nessa taça na minha vida.
— 2018 tá aí...
— Primeiro a gente precisa conseguir uma vaga pra jogar a Copa.
— Vocês têm chance de conseguir. Por que não? — falou, dando de ombros. — Em último caso, quando eu for treinadora da Seleção Francesa e ganhar uma Copa do Mundo, te deixo pegar na minha taça.
As gargalhadas dos dois ecoaram pelo quarto e, em seguida, pegou algumas fotos soltas para ver se tinha algo interessante ali para mostrar para .
— Quer ver o Dimitri, meu primeiro namorado? — perguntou e o levantou os ombros antes de pegar a foto.
Ela não estava muito diferente em relação à foto com a Shakira, vestia um uniforme de escola e estava sendo abraçada de lado pelo tal Dimitri.
— Ele parece o Pogba.
— Parecia mesmo — ela disse em meio a risos. — Tem um monte de fotos com a Fifi, a Margot e os meninos… Opa, essa daqui é perigosa.
— Qual? — perguntou, curioso.
— Eu e Jérémy nos beijando na Torre Eiffel — respondeu e, em resposta, ele fez uma careta.
— Prefiro não ver isso.
— Vocês se deram tão bem ontem...
— Ter me dado bem com ele não me impede de sentir ciúme.
— Que bobeira, falou, rindo. — Também tenho um monte de cartas e poemas que ele escrevia pra mim. Talvez eu jogue tudo fora um dia, mas ainda não tenho coragem. Não é como se eu olhasse pra essa foto, por exemplo, e quisesse voltar pra essa época, mas me traz boas lembranças.
O jogador a encarou por alguns segundos, refletindo sobre as palavras dela, pegou a foto e a olhou rapidamente antes de devolvê-la.
— Ele escrevia poemas pra você, é?
— É, ele gosta de escrever — respondeu ela, dando de ombros.
— O cara sabe fazer um monte de coisa e eu só sei jogar futebol, fica difícil superar — se queixou, fazendo uma risada escapar pela garganta de .
— Você também tem seus atributos — ela disse com um sorriso malicioso e se inclinou para beijá-lo na boca.
sorriu contra os lábios dela e aprofundou o beijo, a puxando para si. acabou deixando as fotos de lado, o empurrou até que ele estivesse deitado no colchão e se inclinou por cima dele, adentrando uma das mãos por baixo de sua blusa.
— Você não tem que ir pra casa da Fifi? — perguntou quando desceu a boca para seu pescoço.
— A gente ainda tem um tempinho — ela sussurrou, sua voz cheia de luxúria, antes de sua língua deslizar por sua pele, o fazendo se arrepiar da cabeça aos pés.

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O frio que fazia em Madrid naquela manhã não estava lá muito convidativo, mas colocou uma touca na cabeça e saiu da residência do time em Valdebebas para o campo de treinamento. Estavam a dois dias de enfrentar o Napoli no jogo de ida das oitavas de final da Champions League e ela não teve outra escolha a não ser ignorar a leve ressaca que acabou sendo a consequência de uma noite memorável e ir ao trabalho. Caminhava pela grama quando sentiu um braço passar sobre seus ombros.
— Como foi o casamento? — Karim perguntou e ela curvou os lábios em um sorriso para cumprimentá-lo.
— A coisa mais linda desse mundo, eu chorei pra caramba quando vi a Fifi vestida de noiva — falou, também o abraçando de lado, pela cintura, e riu levemente. — Florian estava tão nervoso que pensei que fosse desmaiar a qualquer momento, mas deu tudo certo. Eles fizeram a cerimônia na igreja St. Vincent de Paul e a festa foi num local mais afastado, num château.
— Você tá com cara de quem bebeu até cair — ele disse em um tom divertido ao notar o abatimento em seu rosto.
— Quase isso — confessou com um olhar culpado. — Só não bebi mais porque precisava acordar bem cedo hoje, mas deu pra curtir.
— Ficou com vontade de se casar também?
— Não é pra tanto — respondeu, fazendo uma careta engraçada que provocou uma risada em Karim. — Mas eu gostei desse negócio de ser madrinha, fiz todo mundo chorar com meu discurso.
— Ah, é? O que você falou? — Karim perguntou, soltando a amiga, e cruzou os braços enquanto a fitava com curiosidade.
— Fui contando a história deles desde quando a Margot apresentou a Fifi pra gente no intervalo da aula... Sério, quando o Florian olhou pra ela, os olhos dele chegaram a brilhar. Foi amor à primeira vista — disse com um pequeno sorriso nos lábios ao se lembrar não apenas da cena de anos atrás, mas também dos amigos chorando no dia anterior enquanto recordavam todo o romance deles com seu discurso. — Falei também sobre como foi a saga até ele convencê-la a aceitar o convite pra sair pela primeira vez, o que demorou alguns meses, e mais algumas coisinhas que tinha combinado com o pessoal.
— Quando eu for o padrinho do seu casamento, vou falar pra todo mundo sobre como você sofria quando o te ignorava.
— Como você é engraçado! — ela rebateu, revirando os olhos.
— Falando nisso, não é hoje que ele volta a treinar?
— É sim, deve estar no vestiário se trocando. Buenos días! — falou ao notar a aproximação de Luka Modrić, Toni Kroos e Mateo Kovačić. Foi abraçando um a um, porém, ao chegar no alemão, falou: — Você não.
Toni mostrou o dedo médio, a fazendo cair na gargalhada.
— Tô brincando, vem cá.
— Sai — ele disse, tentando fugir dela, mas sem muito sucesso.
Os jogadores foram chegando aos poucos ao campo e não se conteve quando avistou . Abriu os braços e esperou ele se aproximar para envolvê-lo em um abraço apertado.
— Já tá com saudade? — ele perguntou em um tom espirituoso ao receber um beijo na bochecha.
— Tô te desejando boas-vindas.
a fitou por alguns segundos e um sorriso despontou em seu rosto ao notar a ponta do nariz dela vermelha por causa do frio.
— Obrigado — falou antes de depositar um selinho nos lábios dela.
— De nada. Agora chega de conversinha e vai se aquecer — ela ordenou, o empurrando, e se voltou para os outros jogadores que estavam por perto. — Vocês aí também. Aquecimento! — exclamou e levou o apito à boca, fazendo o som estridente do mesmo ecoar pelo campo.
Mais do que contente de estar de volta aos treinos, se sentia aliviado. Havia passado quase três meses desde a cirurgia que fora obrigado a fazer no tornozelo por conta da lesão que sofrera e ninguém além dele próprio sabia quão difícil havia sido todo o processo. Não apenas por ter que lidar com as dores e com o tratamento intenso ao qual foi submetido para se recuperar, mas também por ter perdido o Mundial de Clubes e por ter visto o time ser eliminado da Copa del Rey sem poder fazer nada para ajudar seus companheiros. Sem contar que isso tudo havia coincidido com a mesma época em que as coisas entre ele e começaram a dar certo para logo desandarem mais uma vez.
No entanto, tudo tinha dado certo no final tanto na parte profissional como na pessoal. Estava perto de voltar a ser útil para o time e, para completar o combo, podia trocar olhares e sorrisos com sua namorada durante os exercícios que ela própria comandava. Sua vida tinha mudado completamente desde seu último treino com o time, era como se ele fosse uma versão renovada de si mesmo. Um novo e mais forte que ansiava voltar a jogar futebol o quanto antes e que estava aprendendo a lidar melhor com casualidades.



17. La Decimoséptima

Yo soy cerebro y tú todo corazón
Tú que vives el momento, yo que sigo mi argumento
Mi mundo va despacio y el tuyo a todo tren
Quieres tenerlo todo y yo todo probé
Quieres volar muy alto y yo ya aterricé

Incompatibles - Pignoise

A melhor parte de chegar cedo à Ciudad Real Madrid para era poder ter alguns minutos de paz antes do treino. Mesmo com a temperatura baixa de meados de fevereiro, gostava de se sentar na sacada do refeitório e comer algumas frutas de desjejum enquanto admirava os campos de treinamento de Valdebebas ainda vazios àquela hora da manhã.
Naquele dia, no entanto, trocou a paisagem pelas fotos da lua de mel de seus amigos. Joséphine tinha enviado umas cinquenta na noite anterior. Fifi e Florian estavam passando aquela semana em Roma e, pelas fotografias, pôde ver que os recém-casados estavam aproveitando muito bem a viagem.
Sua atenção se voltou para a porta de vidro quando passou por ela e caminhou em sua direção.
— Bom dia — ele disse e se inclinou para depositar um beijo em seus lábios antes de se sentar no espaço vago no sofá ao seu lado.
— Bom dia — respondeu ela, esboçando um sorriso. — A Fifi me mandou um monte de fotos da lua de mel. Quer ver?
concordou e deixou o prato vazio que estava sobre suas pernas na mesinha à sua frente e deslizou o corpo para mais perto dele, que a abraçou de lado. Ela voltou para o início da galeria e foi passando as diversas fotos de seus amigos na capital italiana.
— Falando nisso, temos que marcar sua viagem de aniversário.
— Será que mês que vem a gente consegue? É até melhor, porque deve tá fazendo um frio danado agora. Qual é a graça de ir a Marbella e não curtir um solzinho?
— Você gosta de praia, né? — perguntou, sorrindo. Cada mínimo detalhe de , tanto aspectos de sua personalidade quanto seus gostos, por mais simples que fosse, o fascinava.
— Amo. E sei que tô precisando passar uns dias na praia quando me olho no espelho e vejo que tô pálida — ela respondeu e puxou a manga do agasalho para mostrar a cor de seu braço.
— Fala sério, — ele falou em meio a risos. — Se você tá pálida, o que eu tô então?
— Ah, você é mais branquinho do que eu, é diferente — ela falou, fazendo uma careta, e deitou a cabeça no peito dele enquanto voltava sua atenção para o celular novamente.
— Quero jantar com você mais tarde — soltou algum tempo depois, mexendo carinhosamente no cabelo de enquanto ela digitava comentários sobre as fotos de Fifi no grupo que tinha com os amigos no WhatsApp.
— Tá doido? Hoje tem concentração pro jogo de amanhã — ela falou, rindo levemente. Não deu grande importância, entretanto, pois acreditou que ele tinha se confundido porque não seria convocado para aquele jogo ainda. — Mas a gente pode sair outro dia.
ficou em silêncio por algum tempo, observando com atenção a namorada, e franziu o cenho ao vê-la novamente entretida com o celular como se nada tivesse acontecido.
— Então tá — falou, rindo nasalmente, e se remexeu para que se afastasse e ele pudesse se levantar. — A gente se vê no treino. Quero trocar uma palavrinha com o Zizou antes.
— Tá bom, vai lá — disse, sorrindo, e deu um beijo estalado em sua boca antes que ele se levantasse e voltasse para o refeitório.
O caminhou pelos corredores, rumo à sala da comissão técnica, mas acabou por encontrar o técnico pelo meio do caminho.
— Ei, Zizou, posso falar com você? — perguntou para o francês, que abriu um sorriso e assentiu com a cabeça.
— Vamos indo pro campo.
— Existe a possibilidade de a ser liberada de ir pra concentração hoje? — questionou meio sem jeito. — Eu queria jantar com ela.
— Ah, é o primeiro Dia de São Valentim de vocês. — Zidane logo entendeu o porquê daquele pedido. — Acho que eu posso abrir essa exceção — falou, espirituoso.
— Obrigado.
— De nada. , acho que vou te dar alguns minutos contra o Espanyol no fim de semana. O que acha?
— Estou às suas ordens, Zizou. Já me sinto pronto pra jogar.
— Então tá combinado.
Os dois chegaram ao campo e seguiram por direções diferentes. Zinédine foi se juntar ao restante de sua comissão técnica e a Luka e Toni, que corriam pelo campo, iniciando o aquecimento.
— Acho que minha namorada esqueceu que hoje é Dia de São Valentim — ele soltou, acompanhando o ritmo leve de corrida dos dois. — Devo me preocupar?
— Sério? — Kroos perguntou e não pôde evitar uma gargalhada. — Acho que você é o único romântico da relação, cara.
— Não acho que seja algo preocupante — disse o croata, dando de ombros. — Você sabe que a tem estado com a cabeça cheia com a volta da Champions.
— É, deve ser isso — falou e não quis estender o assunto, então apenas se calou.
O treino não demorou a começar sob os olhares atentos de jornalistas do mundo todo, que estavam ali para cobrir o dia prévio à partida de ida das oitavas de final da Champions League, que seria contra o Napoli.
se empenhou em executar os exercícios junto a seus companheiros de time, ainda mais depois de saber que Zidane pretendia convocá-lo para o próximo jogo de LaLiga, e isso o distraiu, mas, sempre que seus olhos passavam por , se sentia um pouco chateado. Não desistiria de seus planos para mais tarde, mas era quase inacreditável que ela tivesse simplesmente se esquecido do Dia de São Valentim.
Quando o treino foi finalizado, Zinédine comunicou que Luka Modrić era quem o acompanharia na coletiva daquele dia e liberou os outros jogadores.
— Ah, — ele chamou quando ela saía do campo, fazendo-a parar no meio do caminho. — Você tá liberada, não precisa voltar pra concentração. Amanhã você decide se prefere nos encontrar aqui pra ir junto com o time pro Bernabéu ou se é melhor ir pro jogo direto.
— Por quê? — perguntou, bastante chocada. — O que eu fiz?
— Como assim, menina? — Zizou rebateu, rindo, e adentrou o prédio seguido pela sobrinha. — falou sobre os planos pra hoje à noite. Pediu pra eu te liberar.
— Planos? — ela perguntou, completamente perdida.
— Os planos de vocês pro Dia de São Valentim, ué — ele falou, dando de ombros. — Pode aproveitar a sua noite que tá tudo certo pro jogo. Amanhã a gente se vê.
recebeu um beijo na testa do tio, mas não foi capaz sequer de dizer um “tchau” antes de ele se afastar em direção à sala de coletiva de imprensa. Sua mente estava congelada em “Dia de São Valentim” e ela não conseguia pensar em mais nada além daquilo. Seus olhos involuntariamente subiram e cruzaram com outros dois que a encaravam com curiosidade.
seguia na direção do vestiário, mas tinha visto conversando com Zizou de longe e imaginou que, naquela altura, a francesa já teria se dado conta da gafe, então mudou seu rumo e caminhou até ela.
— Eu não sei nem o que dizer — foi o que falou assim que ele parou à sua frente.
— Esquece isso, . Você vai jantar comigo, né?
— Claro que vou — ela imediatamente respondeu e fez uma careta, descontente consigo mesma. — Me desculpa por isso, eu nem me toquei. Por anos esse foi um dia qualquer pra mim.
— Ainda é, pelo visto — ele brincou, rindo levemente.
— Claro que não! — retrucou , indignada. — Prometo que vou me retratar por isso.
— Só quero ver — disse e piscou um olho antes de dar meia volta e ir para o vestiário.

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A verdade, no entanto, era que estava bastante constrangida. Como se não bastasse ter aberto a porta de casa e encontrado com um clássico buquê de rosas vermelhas, ele ainda estendeu uma caixa de bombons — que ela agradeceu mentalmente não ter formato de coração, ou se sentiria ainda pior. Depois de ela deixar os bombons no quarto e pedir que Véronique colocasse as flores em um vaso com água para conservá-las, o a levou até o carro e gentilmente abriu a porta para ela adentrar o automóvel. Andaram poucos metros, no entanto, e estacionou o mesmo junto aos seus outros carros.
— Esqueceu alguma coisa? — perguntou, confusa por ele ter voltado para casa.
— Não, só chegamos ao nosso destino mesmo — ele respondeu com um sorrisinho, se livrando do cinto de segurança.
— Mas você disse…
— Eu disse que queria jantar com você, mas não onde jantaríamos.
Ele saiu do carro e deu a volta para abrir a porta para , que, ainda surpresa por descobrir que não iriam a um restaurante, saiu do automóvel.
Ela adorou a ideia de passar um tempo a sós com ele, longe de olhares curiosos e de possíveis paparazzis, mas, quando os dois adentraram a casa e se deparou com a mesa decorada para um jantar romântico e ele pediu que ela não tivesse grandes expectativas em relação à refeição, pois seria uma pizza que ele mesmo havia preparado, ela quis enfiar a cabeça em um buraco. estava sendo realmente muito fofo, ignorando completamente o ocorrido de mais cedo, mas isso não diminuía o mal-estar que ela sentia por ter se esquecido do Dia de São Valentim enquanto ele preparava aquilo tudo. Nem sequer tinha conseguido pensar em um presente de última hora.
Eles se sentaram à mesa e serviu a pizza que parecia estar uma delícia. O casal trocou poucas palavras enquanto comia. pela falta do que dizer; por estar desconfortável com a impassibilidade dela.
— Você não gostou — ele falou em tom de derrota, largando os talheres no prato.
— Não, eu adorei! — prontamente disse, mas ele a lançou um olhar descrente. — Sério, . Você caprichou, tá tudo lindo e a pizza ficou muito gostosa. Obrigada.
— Por que tá com essa cara? — perguntou ele, observando-a atentamente.
— Eu só tô chateada… comigo mesma — ela logo acrescentou e esboçou um sorriso desanimado. — Tô me sentindo a pior namorada do mundo.
Ele soltou um longo suspiro e se levantou. Deu a volta na mesa e estendeu a mão para ela, que aceitou a ajuda e também se pôs de pé. Ele a puxou pela cintura e os dois ficaram se encarando por longos segundos.
— Tá tudo bem, . De verdade — falou o jogador, acariciando o rosto dela com a ponta dos dedos. — Fiquei um pouco desapontado de você não ter lembrado, mas só porque eu passei duas semanas pensando no que fazer — confessou. — Eu nunca tinha feito uma pizza na minha vida, mas minha mãe me ensinou por telefone e a Lalie me ajudou. A coitada ainda teve que comer umas cinco pizzas que fiz ao longo desses dias.
— Para! Você tá fazendo eu me sentir pior ainda.
— Eu sei que você não fez por mal. Entendo que seu jeito de viver um relacionamento é diferente do meu, mas foi exatamente assim que eu me apaixonei por você.
fechou os olhos, sentindo o efeito que aquelas palavras produziram em seu interior, e sua única reação foi puxar o rosto de e grudar suas bocas. Retribuiu todo o carinho com que ele vinha lhe tratando desde o início da noite com aquele beijo. Quando se afastaram, abriu um sorriso que, para ele, fez todo o esforço de preparar uma surpresa diferente para o primeiro Dia de São Valentim que passavam juntos valer a pena.
— Mas eu não sou tão ogra assim, costumo lembrar de datas importantes e ser fofa à minha maneira. É que nesses últimos dias eu só tenho pensado no jogo de amanhã. É meu primeiro mata-mata da Champions, eu tô nervosa pra caramba.
— Não precisa ficar nervosa, vai dar tudo certo.
— Vai sim, confio no time. É que eu sou muito exigente comigo mesma e quero aproveitar a oportunidade que tô tendo da melhor maneira possível.
— Você precisa relaxar, . E eu sei de um jeito que pode fazer isso… — disse e mostrou um sorrisinho de canto. — Que tal uma massagem?
— Cozinhou pra mim e, agora, tá me oferecendo massagem?
— Hoje é seu dia de sorte — ele falou, piscando um olho. — Vem, vamos pro meu quarto.
Os dois subiram para a suíte principal da casa e desceu o zíper do vestido de calmamente e ela o ajudou a tirar a peça, ficando apenas com a lingerie que usava por baixo. Ele a guiou para a cama e a fez se acomodar confortavelmente no colchão, de bruços.
Ela realmente se permitiu relaxar conforme sentia os dedos do namorado massagearem suas costas com firmeza. Se não soubesse que eles eram capazes de lhe causar sensações ainda melhores em outros pontos de seu corpo, diria que tinham sido feitos para aquilo. Estava imersa em uma calmaria tão grande que foi impossível não se arrepiar dos pés à cabeça quando os lábios de tocaram sua pele e foram subindo até seu pescoço. Pôde sentir os dedos dele abrindo seu sutiã e isso a incentivou a se virar no colchão para tirar a peça íntima.
Os lábios dele voltaram a passear por sua pele sem pressa e se atreveram a brincar com os seios descobertos, a fazendo soltar um longo suspiro.
— Antes que eu esqueça mais uma vez — disse, segurando o rosto de , que levantou os olhos, curioso —, feliz Dia de São Valentim.

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Mesmo que a vaga nas quartas de final ainda não estivesse garantida, já que tinham a partida de volta para jogar na Itália, ficou mais tranquila com a vitória por três a um sobre o Napoli. Foi o suficiente para ela relaxar um pouco nos dias que se seguiram e até conseguiu dar mais uma fugidinha para dormir com .
Na sexta-feira, véspera do jogo contra o Espanyol, no qual o teria alguns minutos depois dos quase três meses de recuperação, os alarmes dos dois celulares soaram juntos, provocando no quarto silencioso um estardalhaço que fez o casal despertar. resmungou algo incompreensível e tampou os ouvidos com o travesseiro.
— Pelo amor de Deus, , desliga essa merda — disse, mal humorada, enquanto ele passava as mãos pelo rosto.
Ele esticou o braço, ainda sonolento, e apertou qualquer coisa para silenciar o celular que estava sobre o criado-mudo do seu lado da cama. O outro ainda tocava, entretanto, então se esticou por cima da namorada para também encerrar o alarme do aparelho dela. Ambos imediatamente se sentiram aliviados e voltaram a relaxar em seus travesseiros, onde permaneceram por alguns minutos, ainda sonolentos demais para terem coragem de começar a viver naquele dia.
— É melhor nos levantarmos, senão vamos acabar chegando atrasados ao treino — falou, mas sem realmente esboçar qualquer menção de fazer o que tinha acabado de dizer.
— Ah, não — murmurou, manhosa, e passou um braço pelo peito dele, o puxando para mais perto. — Eu preciso dormir mais um pouquinho.
— Eu avisei que a gente precisava acordar cedo hoje — ele disse, a abraçando de volta.
— Falando assim, até parece que te obriguei a qualquer coisa — ela rebateu com indignação. Ele não tinha se mostrado muito relutante quando os beijos que trocavam começaram a esquentar o clima.
— Tô brincando — ele falou, rindo levemente, e beijou o topo da cabeça dela. — Vamos tomar um banho pra acordar?
— Você sabe que a última coisa que a gente vai fazer naquele chuveiro é tomar banho, né?
— Acho que é uma boa motivação pra levantar da cama — disse despretensiosamente enquanto acariciava suavemente as costas descobertas de . — Ou a gente pode acordar por aqui mesmo.
deixou escapar um risinho quando se debruçou por cima dela para beijar seu pescoço e mordeu um sorriso enquanto sentia o carinho dos lábios dele em sua pele. A noite anterior ainda estava bastante viva em sua memória, o sexo que certamente tinha sido um dos melhores até então, e a mínima possibilidade de estender aquele momento mais um pouco já era o suficiente para fazê-la perder o foco. Com quase dois meses de namoro, eles ainda estavam aprendendo a encaixar aqueles momentos a dois em suas rotinas bastante corridas, mesmo que estivessem quase sempre juntos. Pouco a pouco, as coisas estavam fluindo e os aproximando cada vez mais como casal.
tentou iniciar um beijo, mas se afastou.
— Vou escovar os dentes — ela disse, saindo de baixo do cobertor.
— Que bobeira, — ele rebateu, rindo, enquanto a observava se levantar da cama e desfilar nua na direção do banheiro.
— Já falei que beijar com bafo não rola.
— Eu não vejo problema nenhum.
pegou a escova de dentes que tinha deixado ali no banheiro de e colocou um pouco de creme dental.
— Vem escovar seus dentes também pra gente poder se beijar, porquinho — falou um pouco mais alto para que ele a escutasse antes de começar a escovação.
O se juntou a ela poucos segundos depois e também pegou sua escova, espremendo o tubo do creme dental sobre as cerdas em seguida.
— Do que você me chamou? — ele perguntou, fingindo estar ofendido.
— Porquinho — repetiu meio enrolado por estar com a boca cheia de espuma.
apenas lançou um olhar cortante, fazendo rir antes de se aproximar da pia para enxaguar a boca. Se secou com uma toalha de rosto em seguida e ficou parada com o quadril apoiado na pia, observando-o terminar de escovar os dentes.
— Prontinho, agora pode me beijar — disse quando ele enxugava o rosto.
— Agora não quero mais — ele rebateu, largando a toalha sobre a pia, e fez menção de sair do banheiro, mas foi mais rápida e o segurou.
— Vai se fazer de difícil agora, é? — ela perguntou, o puxando para mais perto para colar seu corpo ao dele. — Você sabe que não tenho medo de desafios, muito menos se forem desse tipo.
— É por isso mesmo que te desafiar é legal — retrucou com um sorrisinho esperto, piscando um olho.
— Só pra deixar de ser engraçadinho, não vai ganhar o melhor desejo de boa sorte de todos pro jogo de amanhã — falou categoricamente, apontando o dedo indicador no peito dele, e deu um passo para trás, se afastando.
— Como assim? — ele perguntou com um olhar desconfiado.
— Aposto que você ia adorar, pena que não tá merecendo.
a encarou em silêncio por alguns segundos, a analisando. Não sabia o que ela estava aprontando, mas, pela malícia em seus olhos, ele tinha certeza de que ia amar.
— E o que eu tenho que fazer pra merecer? — perguntou com interesse, arrancando uma gargalhada da francesa que o deixou confuso. — Que foi?
— Você é muito fofo! Eu não aguento.
— Eu não quero que você me ache fofo.
— Quer que eu ache o que então? — perguntou com um sorriso divertido.
— Sexy? — disse, esboçando um pequeno sorriso.
— Mas eu te acho sexy! — ela exclamou. — E muito gostoso.
— Acho que eu mereço esse desejo de boa sorte, uh? — falou o jogador em um tom divertido, puxando-a para mais perto. — Por ser sexy e muito gostoso.
— Então me convence com o seu melhor beijo.
— Convencer? Mas tem que ser de coração.
— Me beija logo, .
Ele riu antes de beijá-la. O frescor do creme dental dominou o beijo que não demorou a ser aprofundado. Os dois pareciam bastante ansiosos por aquela troca de carinho.
Enquanto se beijavam, puxou consigo para dentro do box e o empurrou contra a parede. Quebrou o beijo com uma mordidinha no lábio inferior dele e desceu os lábios lentamente pelo corpo nu do namorado até estar com o rosto na altura do quadril dele.
— Boa sorte — ela cantarolou com os olhos transbordando luxúria.
Minutos mais tarde, depois de tomarem um banho mais demorado do que o habitual, os dois estavam vestindo seus uniformes e arrumando as coisas que levariam para o treino rapidamente, pois já estavam um pouco atrasados, quando a campainha tocou. olhou para com o cenho franzido.
— Acho que são seus pais — ela falou.
— Ah, é mesmo! — exclamou o jogador, só então se lembrando da visita que receberia naquele fim de semana, fazendo-a de sua distração.
Ele saiu do quarto a passos apressados e desceu a escada logo atrás, com mais calma. No entanto, quando chegaram ao hall de entrada, Amelie já estava recebendo Debbie e Frank.
— Aleluia! — a fisioterapeuta exclamou ao vê-los. — Eu já estava quase indo lá bater na porta do quarto pra conferir se vocês dois estavam vivos. Já viram que horas são?
— Relaxa, Lalie, temos tempo. Ou tá querendo chegar rápido por algum motivo especial? — falou, debochado.
— Não — ela retrucou rapidamente, o fazendo rir. — Claro que não… Só estamos atrasados mesmo.
— Sei! — ele disse em meio a risos. — Oi, mãe. Oi, Pai.
— Bom dia, filho — falou Debbie, o puxando para um abraço apertado.
abraçou também o pai em seguida.
— E aí? Como estão as coisas para amanhã? — Frank perguntou sem esconder a empolgação pela volta de aos gramados.
— Tô um pouco ansioso — ele confessou e soltou um risinho —, mas tá tudo certo. Zizou disse que deve me colocar pra jogar os quinze minutos finais. Bom, vocês já conhecem a , então não vou apresentá-la de novo.
— Só que não a conhecemos como sua namorada — seu pai brincou e se aproximou para cumprimentá-lo com um aperto de mão.
— Éramos apenas amigos na época — se defendeu.
— Amigos… — Amelie disse em tom de deboche, rindo, o fazendo empurrá-la de leve com o braço.
— Eu sabia que essa amizade ia virar algo a mais — Debbie falou, sorrindo, e cumprimentou com beijos nas bochechas.
— Essa a gente não tem como contestar — disse, rindo levemente.
— Detesto atrapalhar esse momento tão familiar — Lalie falou, atraindo a atenção dos outros quatro para si —, mas estamos mesmo muito atrasados. Vocês não vão tomar café da manhã, né?
— Caramba! — exclamou ao checar as horas no celular e constatar que a amiga tinha razão, eles deveriam estar chegando à Ciudad Real Madrid em cinco minutos e ainda levariam pelo menos 20 se o trânsito colaborasse. — A gente come alguma coisa por lá mesmo.
— Pena que não vai dar pra conversarmos com calma de novo — lamentou.
— Podemos voltar pra almoçar com meus pais antes de irmos pra concentração. O que acha?
— Por mim, tudo bem — ela disse, sorrindo.
— Combinado. Vou fazer um almoço bem gostoso pra gente — Debbie falou, simpática.
sorriu, satisfeito pela oportunidade de seus pais conhecerem e se encantarem com ela tanto quanto ele, e, em seguida, subiu as escadas apressadamente para ir até o quarto pegar sua mochila e a da namorada.
Os pais dele também estavam ansiosos por conhecê-la melhor, principalmente Debbie. No dia que conhecera a francesa dois meses antes, notara um brilho diferente nos olhos do filho quando ele olhava para ela. Soube desde o início que, se não estava acontecendo alguma coisa entre os dois naquele momento, logo aconteceria. E estava muito feliz de ver apaixonado e feliz depois de anos apático, mesmo quando ainda estava com Emma. Elas certamente se dariam muito bem.

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! — o chamou quando ele se aquecia junto aos outros jogadores reservas na beira do campo. — Coloca o uniforme. Você vai entrar agora.
— Cadê minha camisa? — ele perguntou e Jaime prontamente estendeu a mesma para que Lalie, que estava mais próxima, entregasse a ele.
— Eu te desejaria boa sorte, mas acho que você não precisa — ela falou em um tom divertido.
— Valeu. — Ele mostrou um sorriso sem esconder que estava um pouco nervoso.
Tirou o colete e a camiseta de treino que vestia de uma só vez e colocou a camisa branca de jogo. se aproximou com uma prancheta em mãos e mostrou rapidamente as mudanças que o esquema tático do jogo que estava um a zero para o Real Madrid teria com sua entrada.
— O Morata vai sair, então o Cris vai ficar mais centralizado, você jogando pela esquerda e o Lucas pela direita — ela terminou de explicar e esboçou um sorrisinho. — Bota essas pernas maravilhosas pra correr e faz um gol pra mim.
— Vou tentar — ele falou, rindo, e foi até o quarto árbitro, que já sinalizava a substituição no painel digital.
— Zidane falou ao pé do ouvido dele, tapando a boca para que as câmeras não capturassem suas palavras —, só vai lá e se diverte, ok?
Ele apenas sorriu com o detalhe por parte do treinador e assentiu com a cabeça antes de abraçar Álvaro Morata, que saía do campo, e entrar na partida ovacionado pela torcida. Aquilo não fazia sentido nenhum, mas se sentiu como se estivesse pisando no gramado do Santiago Bernabéu pela primeira vez. O sentimento de estar de volta ao estádio que ele considerava sua casa era indescritível.
A vontade de jogar de estava bastante evidente em sua movimentação pelo campo, indo para o ataque e voltando para ajudar na defesa, cheio de gás. Com doze minutos que estava em campo, surgiu a oportunidade de um contra-ataque para o Real Madrid e abusou de sua velocidade para sair correndo. Isco, percebendo sua movimentação, enfiou a bola para ele e os zagueiros do Espanyol não tiveram qualquer chance de alcançar o antes de ele marcar o gol que levantou o estádio inteiro.
Não era apenas o gol que garantiria mais uma vitória em LaLiga, significava também a volta de um grande jogador depois de meses bastante complicados. sentiu-se como se estivesse em um sonho quando correu para comemorar com seus companheiros. Recebeu muitos abraços e mandou um beijo na direção do camarote, onde seus pais certamente estavam muito contentes.
No banco de reservas, estava boquiaberta. Não que duvidasse de , sabia quão talentoso ele era, mas realmente não esperava que ele já marcasse um gol logo em seu primeiro jogo de volta.
— Que danadinho esse — ela brincou, arrancando uma gargalhada de Lalie, que estava ao seu lado.
Quando o time voltava para a saída da bola, acenou para Zizou, que o saudava de longe, e piscou um olho para , que sorriu em resposta.
Com o fim da partida, a assistente técnica correu pelo túnel e subiu as escadas que levavam à área dos vestiários. Ficou esperando pelo namorado longe das câmeras e, assim que o viu se aproximar junto a outros jogadores, correu e pulou em seu colo, o esmagando em um abraço sem se importar com os olhares tortos que recebeu dos jogadores do time adversário.
— Parabéns! — disse e estalou um beijo na bochecha dele antes de voltar para o chão.
— Não é que eu fiz um gol para você mesmo? — ele disse, sorrindo, e a abraçou de lado. — Acho que eu mereço um “parabéns” igual àquele “boa sorte”.
— Vou pensar no seu caso — respondeu, rindo, e os dois caminharam juntos na direção do vestiário.
soltou quando, para sua surpresa, se deparou com seu pai e sua mãe, ambos com um sorriso que ia de orelha a orelha, e foi até os dois para abraçá-los. Véronique estava ao lado deles, acompanhada pelos filhos e Drisse, um dos sobrinhos, que tinha chegado a Madrid pela manhã. Ela tinha um sorriso no rosto, orgulhosa por ter promovido aquele encontro ao sugerir a Debbie e Frank, com quem tinha assistido à partida lado a lado, que descessem até os vestiários.
— Convidamos os Zidane para jantarem conosco, essa vitória merece uma comemoração — Frank anunciou.
— Ótimo — concordou. Sempre preferia descansar depois dos jogos e seus pais sabiam disso, mas também achava que aquele dia era especial o bastante para abrir uma exceção. — Vou tomar um banho e trocar de roupa. Você vem, ?
— Quando estiver mais vazio eu vou lá trocar de roupa. Vocês não imaginam a confusão que esses jogadores fazem — acrescentou para os pais de , que riram.
seguiu sozinho pelo corredor, mas parou no meio do caminho e deu meia volta. não entendeu por que ele estava voltando e o observou tirar a camisa.
— Fica com ela. É um agradecimento por ter feito dos piores meses da minha vida os melhores — ele disse, sincero, e o coração de bateu tão forte que ela pensou que estava prestes a ter um ataque-cardíaco.
Ela não teve palavras para responder, apenas deu um passo para a frente e o beijou nos lábios. sorriu quando se afastaram e, encarando aqueles olhos que tanto amava, ela quase se viu soltando as três palavras que há tanto tempo não dizia para um homem e que, naquele momento, estavam na ponta de sua língua, mas preferiu guardá-las para quando não tivessem plateia.
Quando seguiu sozinho para o vestiário, ela se virou para os outros presentes e se esforçou para não deixar transparecer quão mexida havia ficado com aquele simples gesto. Véronique, Debbie e Frank sorriam, enquanto seus primos encaravam a cena com tédio e Luca, implicante, até pôs o dedo na boca, insinuando que ia vomitar.

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O refeitório da residência dos jogadores estava cheio depois do treino regenerativo daquela tarde, bem leve e tranquilo para que o time pudesse se recuperar do jogo do dia anterior. Parte dos jogadores fora embora com o término dos trabalhos, mas outros tantos tinham decidido assistir juntos à final da Copa del Rey de basquete que passava na televisão naquele momento. O Real Madrid disputava o troféu com o Valencia e a partida estava bastante acirrada, o que resultava em uma gritaria interminável.
aproveitou o ambiente descontraído para fazer seu estômago parar de roncar enquanto morria de rir da torcida calorosa de Marcelo e Pepe, mas, quando terminou de comer, deixou o refeitório para ir em busca de sua namorada que, aparentemente, havia tomado chá de sumiço. Nem do treino ela tinha participado. Checou o celular enquanto andava pelos corredores do prédio, constatando que ainda não tinha visto a mensagem que ele deixara no WhatsApp antes de entrar no banho. Seu primeiro destino foi o mais óbvio, a sala da comissão técnica, onde ela talvez estivesse reunida com Zinédine Zidane e David Bettoni.
Ele bateu de leve na porta e pôde ouvir a voz do técnico permitir sua entrada, então abriu uma fresta e pôs a cabeça para dentro, encontrando apenas os dois homens.
— Ei, . Em que podemos ajudá-lo? — Zizou falou com sua costumeira simpatia.
— Vocês viram a por aí?
— Acho que tá na sala de projeção — respondeu David sem muita certeza. — Pelo menos estava na última vez em que falei com ela.
— Certo, vou procurar por lá. Obrigado — falou e mostrou um sorriso fraco antes de fazer menção de fechar a porta.
! — exclamou Zidane, o fazendo parar no meio da ação e voltar a pôr a cabeça para dentro da sala. — Não deu pra falar com você com calma ontem, mas fiquei muito satisfeito com a sua entrada no jogo. Na próxima partida quero que jogue alguns minutos a mais pra ir recuperando o ritmo.
— Não vai demorar muito pra voltar a jogar uma partida inteira — Bettoni falou.
— Espero que não mesmo. — sorriu, contente por estar ouvindo um feedback positivo por parte de seus treinadores. — Eu só segui o seu conselho, Zizou.
— Bom saber — Zinédine disse, sorrindo. — Pode ir. Até amanhã.
— Até amanhã — ele respondeu antes de, enfim, fechar a porta.
Fez o caminho de volta ao refeitório, onde seus colegas de time ainda assistiam à partida de basquete, e pegou um sanduíche natural e um suco. Se realmente estava trabalhando há tantas horas como ele pensava, provavelmente estava morrendo de fome naquela altura. Foi até a sala de convivência em seguida e seguiu na direção da sala em que o time costumava se reunir quando Zizou precisava ilustrar suas orientações com vídeos ou, em momentos de lazer, para assistir a filmes.
estava sentada confortavelmente na primeira fileira, com as pernas para cima do assento, um caderno apoiado nas coxas, e mordia a ponta da caneta que segurava, concentrada na imagem projetada no painel. Se sobressaltou com a movimentação na porta e desviou os olhos da partida de futebol que assistia para descobrir que o recém-chegado era .
— Trouxe um lanchinho pra você — ele disse, a surpreendendo com a iniciativa.
— Ah, obrigada — ela respondeu, sorrindo, enquanto pegava o copo e o sanduíche das mãos do jogador. Só então percebeu o vazio que pairava em seu estômago. — Pensei que já tivesse ido embora.
— Que nada. Os caras ainda estão aí, assistindo à final do pessoal do basquete lá no refeitório, e aproveitei pra comer enquanto via parte do jogo — comentou, se acomodando no assento vago ao lado do que ela estava. — E eu não iria embora sem te avisar antes, né? Você sumiu o dia inteiro.
— Fiquei aqui analisando os últimos jogos do Valencia — explicou e bebeu um gole do suco antes de deixá-lo no porta-copos da cadeira —, mas só vou terminar de ver esse daí e vou pra casa. Acho que meus tios vão querer jantar fora, já que meu primo tá aí.
— Pensei em te convidar pra jantar comigo e com meus pais.
— Nós já jantamos juntos ontem — ela disse, dando de ombros, e deu uma mordida generosa no sanduíche natural.
— E qual o problema de jantar hoje de novo?
— Nenhum — ela disse de boca cheia e terminou de mastigar e engolir antes de continuar. — É só que eu mal vejo o Drisse, quero aproveitar a oportunidade de passar um tempo com ele. E você também precisa aproveitar os seus pais um pouquinho sem namorada atrapalhando o momento, né?
— Vou lembrar disso na próxima vez que seus pais vierem a Madrid e você ficar fugindo deles — ele a provocou, fazendo-a rolar os olhos.
— Nem vem com essa, é um caso diferente.
— Não vejo diferença nenhuma, mas tudo bem — disse, rindo.
— Mudando de assunto — logo falou, temendo que os dois acabassem entrando em uma discussão sobre o relacionamento dela com os pais —, esqueci de te perguntar ontem. Por que não comemorou o gol fazendo o seu coração com as mãos?
— Na verdade, já tem um tempo que eu não faço — respondeu o jogador, estranhando a pergunta. Na última vez que ele havia comemorado um gol com seu famoso coração, nem sequer fazia parte do time ainda.
— Sério? Eu não tinha reparado — ela falou, franzindo o cenho. — Por quê?
— É que aquela comemoração era pra Emma, não faço mais desde que terminamos o namoro — explicou e a compreensão tomou o rosto de enquanto ela matava sua fome com o sanduíche.
— Mas por que não continua fazendo? Acabou virando sua marca registrada mesmo.
— Seria meio chato, não? Ainda mais agora que eu tenho outra namorada.
— Sei lá, não vejo problema nenhum — falou, sinceramente. — Nem precisa inventar de fazer uma comemoração pra mim, hein? — acrescentou em um tom divertido.
— E se eu quiser fazer uma? — ele retrucou em um tom desafiador que a fez rir.
— Nesse caso, tudo bem. Só tô dizendo que não faço questão. Podemos comemorar seus gols entre a gente — ela falou, esboçando um sorriso malicioso que o fez rir. — Obrigada pelo sanduíche. Eu não comia nada desde o almoço.
— Não vai nem me dar um beijinho de agradecimento? — questionou com um sorriso divertido enquanto ela tomava o suco. balançou a cabeça para os lados, rindo levemente, e se inclinou para depositar um beijo estalado em seus lábios antes de largar o copo quase vazio para, então, pegar o caderno e a caneta que havia deixado de lado. — Só isso?
— Eu tô trabalhando, falou em meio a risos e voltou sua atenção para a partida entre Valencia e Real Betis de duas rodadas antes de LaLiga.
Ou, pelo menos, ela tentou prestar atenção nos lances e fazer as observações que passaria para o tio posteriormente para que, junto ao outro assistente técnico, pudessem pensar e elaborar a tática que utilizariam no jogo seguinte. A presença de não a permitia raciocinar direito. O braço dele encostando de leve no seu, as pernas que ele balançava, entediado… Até mesmo a respiração pesada dele ela conseguia ouvir e sentia uma pequena irritação despontar dentro de si.
— Você pode me deixar sozinha? — soltou, quebrando o silêncio que havia pairado entre eles. — É que eu não tô conseguindo me concentrar.
— Tô sendo expulso? — perguntou, rindo.
— Por favor, realmente preciso terminar essas anotações pro treino de amanhã. Você sabe muito bem que jogar contra o Valencia nunca é fácil.
— Tudo bem — ele falou, mas sem realmente entender por que não podia ficar ali fazendo companhia para ela.
— Obrigada, mon amour disse, sorrindo, e o puxou pela nuca para um beijo repleto de carinho, apesar de rápido.
— Vou pra casa — ele disse quando suas bocas se afastaram. — Se mudar de ideia sobre o jantar, me liga.
— Claro, pode deixar.
se levantou e deixou a sala de projeção mesmo que contrariado e, sem muitas opções, acabou indo até seu quarto pegar a mochila que já havia deixado arrumada e foi para casa, onde seus pais o esperavam para irem jantar fora.
Depois que conseguiu terminar todo o trabalho que tinha planejado para aquele dia, fez o mesmo. Juntou suas coisas e foi até o estacionamento, onde seu Audi branco estava estacionado. Apenas quando saiu da Ciudad Real Madrid e pegou a avenida foi que notou que Zinédine vinha logo atrás. Foi impossível não gargalhar quando ele emparelhou o automóvel ao seu e baixou o vidro antes de exclamar:
— Quem chegar por último paga o jantar!

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— Foi uma derrota injusta, você me pegou desprevenida! — protestou ao sair do carro após estacioná-lo atrás do de Zinédine.
— É pra você aprender a ficar esperta — ele brincou em meio a risos e abraçou a sobrinha de lado.
Os dois adentraram a casa juntos e foram recepcionados por Athos, o labrador dos Zidane. se abaixou para acariciar e falar carinhosamente com o cão e sua voz acabou atraindo Véronique ao hall de entrada. Zizou esboçou o mesmo sorriso apaixonado que sempre tomava seus lábios quando voltava para casa mesmo depois de tantos anos de casamento e cumprimentou a esposa com um beijo rápido.
— Escolhe onde vamos jantar, querida. Hoje é por conta da .
— Ah, é? — Véronique perguntou, desconfiada.
— Apostamos uma corrida agora, voltando de Valdebebas, e ela perdeu — ele explicou sem disfarçar que estava se divertindo com a situação.
— Corrida? Vocês estão malucos?
— Ninguém excedeu o limite de velocidade — ele se defendeu, levantando as mãos.
— Você é pior do que seus filhos às vezes, Zizou — Véronique falou, rolando os olhos, e deu um tapa no braço do marido. Se virou para a sobrinha em seguida, que ria levemente da postura brincalhona que ela tanto adorava do tio. — , preciso conversar com você. A sós.
— Conversa de mulheres, né? Entendi — Zinédine disse em um tom espirituoso. — Vou tomar um banho.
Athos acabou o seguindo até o segundo andar da casa e acompanhou Véronique até a sala de estar.
— Precisa conversar sobre o que, tia? — perguntou, intrigada, largando a mochila no chão para se acomodar no sofá. Sua tia e madrinha, apesar de tratá-la como uma filha, não era muito de chamá-la para conversas.
— Sua mãe… — ela respondeu em meio a um suspiro.
— Ai, meu Deus — falou em um tom cansado e nem um pouco surpreso. — Cadê os meninos?
— Lá na sala de TV jogando videogame — Véronique respondeu e respirou fundo sob o olhar atento de . — Bom, é que saiu fotos minhas com os pais do no jogo de ontem, ou mostraram a gente na transmissão, sei lá — falou e abanou o ar, dando a entender que aquele detalhe era o que menos importava. — Só sei que a Sylvie viu e me ligou pra tirar satisfação por eu tê-los conhecido antes dela. Me disse coisas que acho melhor te poupar de saber.
— Desculpa, tia. Realmente não sei o que minha mãe tem na cabeça.
— Não sou de ferro, né? Acabei dizendo poucas e boas pra ela também, mas não pretendo estender o assunto e muito menos quero que você brigue com ela por causa disso. Nem contei pro seu tio pra não correr o risco de ele e o Nourredine se desentenderem.
— Ah, mas não vai ficar por isso mesmo! — exclamou categoricamente. — Eu tô cansada dessa implicância que ela tem com você. Você é minha madrinha, alguém importante pra mim, e eu não vou te excluir da minha vida só porque minha mãe quer.
, eu falei que não quero que você brigue com ela — Véronique falou em um tom firme que fez se calar para ouvi-la. — Já aprendi a lidar com a Sylvie, nos conhecemos desde antes de você nascer e nunca nos demos muito bem mesmo. Não acho que isso vá mudar depois de quase 30 anos. A questão é que eu me preocupo com você, vejo como não poder contar com o apoio dos seus pais te afeta, e eu queria muito ver vocês se dando bem. Sei que com seu pai é um pouco mais complicado, mas sua mãe…
— Eles fazem questão de me afastar, o que posso fazer?
, eu sei que eles falam e fazem coisas que te magoam muito, mas você não é a única que se machuca com isso tudo — Véronique disse em um tom bastante tranquilo, se mostrando compreensiva apesar de estar querendo mostrar uma nova opinião que, talvez, não aceitasse muito bem. — Eu não sei muito sobre a história da sua mãe antes de conhecer o seu pai, mas, quando a conheci, ela era uma mulher dona de si, determinada. Você certamente teve a quem puxar. Vi como ela foi mudando aos poucos, deixando seu pai assumir o controle da vida dela. Não acho que cabe a mim julgar se foi certo ou errado ela permitir isso, mas tenho certeza de que ela sofreu muito e acho que talvez seja o motivo de ter insistido tanto que você fosse modelo. Pra se realizar de alguma forma, sabe? E não acho que seja fácil pra ela não conseguir ter uma relação de mãe e filha com você.
— Mas também não se esforça muito pras coisas mudarem, né? — murmurou.
— Coloquei quatro pessoas no mundo e posso te dizer com propriedade que mãe nenhuma quer ser inimiga dos próprios filhos. Ela está tentando se aproximar, querer conhecer os pais do é uma prova disso. Também já está aceitando melhor a sua carreira no futebol, né?
ficou em silêncio por algum tempo, fitando os olhos da tia, e acabou desviando o olhar para as próprias mãos, que brincavam distraidamente com a ponta de uma almofada.
— A sensação que eu tenho é que, mesmo tendo convivido com meus pais minha vida inteira, mal sei quem eles são de verdade — confessou algo que percebia desde que superou a fase de rebeldia na adolescência, quando fingia não se importar com nada do que seus pais diziam e batia de frente com eles por qualquer motivo. Foi então que ela se deu conta do quanto sentia falta de ter uma cumplicidade com os dois.
— Que bom que ainda dá tempo de mudar isso — Véronique falou e segurou uma de suas mãos para confortá-la. — Quando tiver um tempo livre, liga pra sua mãe pra bater um papo, conta pra ela como estão as coisas e incentiva ela a falar sobre a vida dela também… Eu acho que só o que a Sylvie precisa é de um pouco de carinho.
Um nó se formou na garganta de , mas ela respirou fundo, espantando a vontade de chorar, e decidiu que seguiria o conselho da tia, pois confiava nela de olhos fechados.
— Certo, prometo que vou fazer minha parte — falou, esboçando um sorriso que ela retribuiu antes de puxá-la para um abraço.
— Vai dar certo, você vai ver.
As duas se afastaram ao ouvir passos apressados se aproximando cada vez mais e logo cinco garotos esbaforidos estavam surgindo na sala de estar.
— Mehdi acabou de mandar uma mensagem pro Drisse falando que vai se casar! — Enzo soltou a novidade de uma só vez, fazendo as duas arregalarem os olhos em surpresa.
— Sério? — Véronique questionou, boquiaberta.
— Sim, ontem ele e a Emilie completaram quatro anos de namoro e ele fez o pedido. Já estava planejando essa surpresa há algum tempo — Drisse explicou os planos que o irmão vinha compartilhando com ele fazia meses.
— Mas que maravilha! Eles formam um casal tão bonito.
Zinédine logo apareceu na sala de banho tomado e já vestido para ir jantar fora, atraído pelo falatório que ouviu do quarto.
— O que tá acontecendo? — perguntou, curioso.
— Mehdi e Emilie vão se casar — Véronique respondeu, sorrindo.
— Estou mesmo ficando velho, hein? Vou ligar para ele.
— Não se eu fizer isso antes — falou com um sorriso esperto antes que o tio desse meia volta para ir em busca do celular, já levando o seu próprio ao ouvido.
Ei, ! — ela ouviu a voz animada do primo dizer do outro lado da linha.
— Mehdi, seu traíra! Não acredito que não fui eu a primeira a saber que você vai se casar — ela disse, fingindo indignação, mas não foi capaz de conter a felicidade que sentia pelo mais velho de seus primos, com quem ela sempre teve muita afinidade, já que era menos de dois anos mais novo do que ela. — Parabéns!
Uma confusão se formou em volta de , todos querendo parabenizar Mehdi também, e ela precisou se esquivar dos primos para conseguir terminar de falar com ele. A família, incluindo os dois agregados, fechou o domingo em um restaurante francês e Zinédine passou o jantar inteiro falando para os filhos e o sobrinho que eles poderiam comer o que e quanto quisessem, pois seria tudo por conta de . No final, entretanto, quem pagou a conta foi ele mesmo.

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Vicky: Você é o melhor irmão caçula do mundo! 💗

sorriu com a primeira das tantas mensagens não lidas que esperavam por serem abertas em seu celular quando se acomodou em um assento vago no avião que levaria o time de volta para Madrid depois de uma vitória apertada por três a dois no Estadio de la Cerámica, a casa do Villarreal.

: Eu sei. 😉 Feliz aniversário, irmãzinha! Te vejo mais tarde!

Vicky, a irmã mais velha de , estava completando mais um ano de vida e ele tinha prometido que faria um gol para ela na partida daquele dia. Chegou a pensar que não cumpriria a promessa quando o Villarreal abriu o placar no início do segundo tempo e, pouco depois, marcou o segundo gol, mas conseguiu marcar de cabeça e diminuir a desvantagem. Por sorte, tiveram tempo de correr atrás do prejuízo e, depois de empatar o jogo com um pênalti convertido por Cristiano Ronaldo, fecharam o placar com mais um gol, este de Álvaro Morata. Certamente uma vitória que faria diferença na tabela de LaLiga no final da temporada.
— Tá falando com a Vicky? — perguntou ao se sentar ao lado do namorado depois de deixar a mochila no bagageiro.
— Falei com ela sim, mas tô respondendo outras mensagens também.
— Seus amigos? Estou ansiosa para conhecê-los.
— Melhor nem criar expectativas, eles são muito idiotas — disse, fazendo uma careta ao se lembrar das tantas besteiras que Ben e Aaron, seus melhores amigos, disseram quando ele contou que estava com Zidane depois de meses sendo obrigado a ler brincadeirinhas no grupo que tinha com eles no WhatsApp sempre que citava o nome da assistente técnica.
— Se me contarem histórias constrangedoras suas já vai valer a viagem — disse em um tom espirituoso, fazendo-o rir.
— Eu não tenho histórias constrangedoras!
— Veremos.
Os dois se ocuparam cada um com seu celular nos minutos que se seguiram. Enquanto respondia as diversas mensagens que sempre recebia depois dos jogos, especialmente os que terminavam com vitória do Real Madrid, também respondia as que tinha recebido e aproveitou para checar as páginas dos principais jornais esportivos espanhóis para ver como estava sendo a repercussão do jogo.
— Gente, esse avião não tá demorando pra decolar? — Luka Modrić perguntou, surgindo entre os dois por trás dos assentos em que eles estavam sentados.
— Realmente… — falou, só então se dando conta de que já fazia vários minutos que o time estava inteiramente acomodado no avião, esperando pela decolagem. Levantou a cabeça e pôde ver seu tio e o presidente Florentino Pérez conversando com o comandante. — Vou ver o que está acontecendo.
Ela se levantou, colocando o celular no bolso dianteiro da calça do uniforme, e foi até os três homens.
— Eu também acho melhor do que ficar aqui esperando por horas — pôde ouvir Zizou dizer ao se aproximar deles.
— Algum problema?
— Vão fechar o aeroporto temporariamente por causa da neblina. Como não sabemos quando vão reabrir e isso pode demorar, o Presidente sugeriu que voltemos para o hotel.
— Ah, mentira. Eu e temos um voo mais tarde pra , saindo de Madrid — falou sem esconder a frustração.
— Infelizmente, não vai ter como, . Tenta transferir pra amanhã, voltaremos logo que amanhecer — disse Florentino. — Não temos o que fazer, o melhor é ir para o hotel descansar.
— Pior que planejamos essa viagem porque é aniversário da irmã dele hoje, mas paciência…
Os jogadores foram avisados que teriam que passar a noite em Castellón e pôde notar a decepção nos olhos do namorado quando voltou para perto dele.
— Tudo bem se formos amanhã, né? — ela questionou, também chateada de terem que mudar os planos da curta viagem que vinham planejando há semanas.
— Queria ver minha irmã ainda hoje, ano passado também não pude passar o dia com ela. Pelo visto vai acabar virando tradição — ele respondeu, esboçando um sorriso desanimado, e se levantou para pegar sua mochila e também a de no bagageiro.
Toda a equipe deixou o avião e voltou no ônibus do clube para o hotel em que tinham passado as horas prévias à partida ao chegar à cidade de Castellón de la Plana pela manhã. Assim como todo mundo, subiu acompanhada de Amelie até o quarto que as duas dividiriam naquela noite para deixar suas coisas.
— Eu posso trocar de quarto com o quando todo mundo for dormir — Lalie brincou enquanto as duas esperavam o elevador para ir ao restaurante do hotel jantar. — Sério, não ligaria de dividir o quarto com o Luka.
— Não precisa. Nem rolaria nada mesmo, amanhã a gente tem que acordar cedo pra voltar pra Madrid — respondeu, dando de ombros. — E ter você de colega de quarto vai ser legal. Geralmente eu durmo sozinha mesmo ou, no máximo, divido o quarto com o Karim. E ele fica ouvindo música super alto e não me deixa dormir.
— Benzema é uma figura.
Por coincidência, uma porta próxima se abriu e, de lá, saiu o atacante francês acompanhado por James Rodríguez.
— Você não morre tão cedo — falou.
— Por quê? Estavam falando de mim? — Karim perguntou e os quatro adentraram o elevador quando o mesmo parou no andar.
— Falando mal, é claro — ela disse, debochada.
— Até parece. Do jeito que você me ama…
Logo o grupo estava no restaurante, e, depois de servirem seus pratos, se sentaram para comer. Pouco a pouco o restante do time foi chegando e lotando as mesas.
Mesmo que a mesa em que estava estivesse um falatório só, estava mais calada do que o normal, cansada por conta do dia corrido que tinham tido. Ao acabar de comer, apoiou o braço no ombro de Karim preguiçosamente e reparou que ele estava com os olhos vidrados no celular.
— O que você tá fazendo aí? — perguntou, curiosa, espiando a tela do aparelho. — Que aplicativo é esse?
Rendezvous — ele respondeu, fazendo-a franzir o cenho.
— É um aplicativo de encontros? Parece aquele Tinder — ela constatou ao ver o amigo passar fotos de diferentes mulheres para a esquerda ou para a direita.
— É, mas é só pra gente famosa.
— Sério? Nunca ouvi falar.
— Em que mundo você vive, ? — Benzema perguntou, chocado.
— Me desculpa se eu conheço pessoalmente os caras que pego e não preciso apelar pra aplicativos — respondeu e fez uma careta ao se dar conta do que tinha acabado de falar. — Caras que eu pegava.
— Pois saiba que o seu namorado mesmo tem perfil no Rendezvous — ele rebateu e não pôde segurar a risada ao vê-la arregalar os olhos, espantada.
! — ela exclamou, fazendo a mesa inteira encará-la. — Você tem perfil no Rendezvous?
— Xiiii. Tô indo nessa, galera — Marcelo zoou, se levantando. — Foi muito bom te conhecer, . Você foi um cara muito bacana, um jogador top.
O brasileiro deu um tapinha no ombro do companheiro, arrancando algumas gargalhadas de outros jogadores, antes de se retirar em meio a risos.
— Que história é essa? — voltou a questionar, encarando o sentado do outro lado da mesa, a algumas cadeiras de distância.
— Eu nem mexo mais nisso — ele disse, dando de ombros. Sentia as bochechas queimarem de vergonha.
— Então já mexeu um dia. Estou chocada.
— O que é Rendezvous, gente? — Amelie perguntou sem entender nada da conversa que se desenrolava.
— Olha lá, outra desinformada — Karim disse, balançando a cabeça em desaprovação.
— É um aplicativo de encontros, tipo o Tinder, sabe? Diz o Karim que é só pra pessoas famosas — explicou.
— Ou que tenham dinheiro. Empresários, por exemplo.
— E vocês estão dizendo que o tem um perfil num aplicativo de encontros românticos? — perguntou a fisioterapeuta, também bastante surpresa por aquilo nunca ter chegado ao seu conhecimento. — Eu preciso ver isso.
— Eu também, me mostra aí — pediu, encarando ansiosamente o namorado.
— Muito obrigado por isso, Benzema — falou em um tom irônico.
Meio relutante, ele desbloqueou o celular e abriu o aplicativo antes de esticar o braço sobre a mesa e entregar o aparelho a , que não perdeu tempo e abriu o perfil para matar sua curiosidade. Encontrou apenas três fotos ali. A primeira era de um jogo do Real Madrid; na segunda, estava sentado atrás de uma mesa com um campo de golfe ao fundo; na terceira, para o horror de , ele estava jogando golfe. Não que as fotos estivessem feias, muito pelo contrário, mas aquele perfil não fazia jus ao homem tão interessante que era. Nem mesmo uma descrição tinha.
— Sinto muito, mon amour, mas acho que eu não te daria like — ela confessou, fazendo uma careta. — Você só botou foto sem graça e nem escreveu nada no perfil.
— Qual é o problema disso? Eu também não escrevi nada no meu — disse Karim.
— Bom, se você quiser só sexo casual, beleza, porque aí o que importa na maioria das vezes é a aparência mesmo — respondeu, dando de ombros. — Mas, sinceramente, eu não perderia meu tempo caçando macho num aplicativo quando posso ir pra uma boate me divertir e ir pra cama com alguém que ache por lá mesmo.
— Aí é que tá o problema. Por que você acha que eu, o e mais um monte de jogadores entramos nesse negócio? Não temos tempo, é mais fácil desenrolar por aqui e marcar com alguém pra ir direto ao ponto.
— Mas você não saiu com ninguém, né? — imediatamente perguntou, se voltando para o namorado.
— Não, só conversei com algumas mulheres, mas não cheguei a sair com nenhuma — ele confessou.
— Não acredito, ! — Benzema exclamou com indignação. — Não me decepciona.
apenas riu sem se importar muito. Não que fosse achar ruim caso ele tivesse saído com alguém, mas achava pouco provável, já que o próprio dissera anteriormente que não ficava com ninguém desde que havia terminado o namoro com Emma. Bom, ao que tudo indicava, pelo menos ele tinha tentado. Ela não se conteve e abriu a aba das conversas, onde encontrou as tantas mulheres com quem ele tinha dado match. Eram poucas as com quem ele tinha trocado mensagens e clicou na conversa de uma delas. Não tinha nada demais, nada depravado como ela própria provavelmente diria aos caras se usasse um aplicativo daquele, só perguntava com o que a moça trabalhava e o que gostava de fazer. Ela achou bonitinho, apesar de concluir que certamente nunca sairia com ele se o conhecesse daquela forma. Ele parecia entediante demais para os seus padrões.
voltou para a página principal e entregou o aparelho para Amelie, que também estava morrendo de curiosidade para ver o que encontraria ali.
— Espera aí, Benzema — falou, só então se dando conta de uma coisa. — Foi aí que você conheceu a Lola?
— Foi — ele respondeu, fazendo pouco caso.
— Me dá esse negócio aqui — disse ela, arrancando o aparelho da mão dele. — Deixa que eu escolho, você tem o dedo podre.
Karim nem tentou pegar o aparelho de volta, apenas rolou os olhos e ficou observando a amiga curtir e descurtir mulheres, tomando por base critérios que ele não tinha ideia de quais eram.
— Uau, que estilosa — falou quando apareceu na tela uma mulher negra com o cabelo cacheado e bem volumoso. Ela, que não tinha o cabelo liso e em certas fases da vida até alisava por meio de tratamentos, sempre sonhou em ter cachos definidos daquela maneira.
— Cadê? Deixa eu ver — pediu Lalie, curiosa, e ela virou o aparelho para mostrar a foto. — Bonita. Qual é o seu tipo de mulher, Karim?
— Que tenha vagina — respondeu pelo melhor amigo.
— Olha quem fala! — ele protestou, fazendo-a rir.
Nem perdeu tempo negando, pois ele tinha razão. Ela não era do tipo que gostava de homem loiro ou moreno. Gostava de homens que, por algum motivo, despertavam seu interesse.
— Meu tipo de homem agora é — brincou, piscando um olho na direção do namorado, que apenas observava a cena pensando que, assim que seu celular voltasse para sua mão, deletaria aquele maldito aplicativo.
Enquanto escolhia os possíveis futuros casinhos de seu melhor amigo, até se esqueceu de que estava morta de cansada e só subiu para o quarto com Lalie depois de Benzema dizer pela décima vez que queria dormir e, então, arrancar o celular da mão dela.

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— Vocês que conhecem o quase a vida inteira... — começou, se voltando para os dois sentados no banco traseiro do carro. — Essa história de que ele nunca tomou um porre na vida é verdade mesmo?
— Tá me chamando de mentiroso? — , que estava no controle do volante, perguntou, injuriado, sem tirar os olhos do trânsito.
— Só tô tentando arrancar alguma coisa interessante sobre você dos seus amigos, dá licença — ela rebateu, rindo. — E aí, gente?
— Pior que é verdade. Teve uma vez que ele até tentou provar vodca e cuspiu tudo na minha cara — Ben contou e gargalhou ao imaginar a cena.
— E você ainda é amigo dele mesmo depois disso? — brincou ela.
— Pra você ver… Já tenho meu lugar garantido lá no céu por aturar esse aí por tantos anos.
— Quem tinha que dizer isso sou eu — rebateu com indignação.
— Shh, fica quieto — disse, brincalhona, e deu um tapinha no braço do namorado. Ele lançou um olhar cortante em sua direção, mas ela apenas mostrou a língua. — Por favor, me contem algum podre dele.
— Deixa eu ver… — começou Aaron, olhando pela janela do carro, pensativo. — Já sei. Quando a gente jogava futebol na rua e ele chutava a bola na casa de algum vizinho, ele sempre falava que tinha sido a gente quando ia buscar — reclamou, se lembrando das tantas vezes que levou a culpa pelo amigo. — O bairro inteiro o adorava, mal sabem a verdade...
— Tô chocada, . Não esperava isso de você — falou, fingindo ter escutado o maior dos absurdos.
— É por isso que eu fazia questão de ir eu mesmo pegar as bolas. O que posso fazer se sempre fui o mais esperto? — ele rebateu com um sorriso travesso e recebeu como resposta, por parte de seus amigos, risadas sarcásticas e um dedo médio levantado. Em seguida, estacionou o carro e soltou o cinto de segurança. — Chegamos.
Os quatro desceram do automóvel e pararam para observar a fachada ainda inacabada do Elevens, o mais recente negócio que havia resolvido investir seu dinheiro, um bar em sua cidade natal. Eles adentraram o estabelecimento que ainda estava em construção e o jogador cumprimentou os profissionais que estavam ali trabalhando para que o bar pudesse ser aberto ao público dali a algumas semanas. Seus pais estavam acompanhando tudo de perto, mas, aproveitando que estava em , quis ir até ali para ver pessoalmente como estava o andamento das obras.
— Você não bebe e tá abrindo um bar. Qual o sentido disso? — Aaron perguntou, debochado.
— Eu não bebo, mas outras pessoas sim — respondeu e deu de ombros. — E não é um bar qualquer, é um local para as pessoas se reunirem para assistir e conversar sobre futebol.
— Ele é um homem de negócios — disse em um tom divertido, abraçando o namorado de lado. — Gostei da ideia, tá ficando bem legal.
O grupo não se demorou ali, pois o final da tarde se aproximava e queria passar mais algumas horas com sua família antes de voltarem para Madrid ainda naquele dia, à noite.
— Tchau, . Foi um prazer te conhecer — Ben falou quando o casal foi deixá-lo em casa.
— Digo o mesmo. Inclusive, estão convidados a irem visitar a gente em Madrid quando quiserem. A casa do tá de portas abertas pra receber vocês.
— Ah, que gracinha ela oferecendo a casa dos outros — disse ironicamente, a fazendo gargalhar. — Tchau, cara. Até mais.
realmente tinha adorado conhecer os dois melhores amigos do namorado. O almoço com eles fora bastante divertido, ela até se surpreendeu por ver muito mais solto e falante do que o normal, mas não estranhou completamente porque era algo natural. Ali ele não era o estrangeiro.
Depois de dar uma carona também para Aaron, eles voltaram para a casa dos pais de . Vicky, a irmã dele, e seu cunhado Richard também estavam lá com os filhos. Georgia e Max ficaram animados ao vê-los passarem pela porta de entrada e estendeu a mão para cumprimentá-los com high five. Ela costumava se dar muito bem com crianças, talvez por conta da vasta experiência que tinha por ter tantos primos mais novos, e com os dois sobrinhos de não podia ser diferente.
— Tá gostando de , ? — Vicky perguntou, simpática, quando ela se acomodou no sofá.
— Tô adorando a cidade onde vou ganhar minha primeira Champions — respondeu com um sorriso presunçoso. — A gente até passou pelo Millennium Stadium, já me sinto em casa.
— Você é muito metida — debochou, se sentando ao lado dela, e estalou um beijo em sua bochecha.
Mon amour, o segredo do sucesso é ter convicção — ela rebateu, piscando um olho.
— Se você tiver estrela como seu tio, já ganhou — Richard brincou. — Como é ser sobrinha do Zidane, hein?
— Meu Deus, por que todo mundo me pergunta isso? — perguntou dramaticamente, fazendo os outros rirem.
— Só tô brincando, mas devem te perguntar bastante isso mesmo, né?
— Richard, você nem imagina o quanto — ela respondeu, rindo levemente. — Mas ainda bem que tenho aqui Georgia e Max pra me apoiar. Afinal, eles são sobrinhos do , devem passar pelo mesmo.
— Só no dia que eu puder ser comparado ao Zizou...
— Você é a atual contratação mais cara de todos os tempos.
— Se Zizou ainda jogasse, valeria o dobro — rebateu o e, dessa vez, apenas rolou os olhos. — Viu, você concorda.
A campainha soou pela casa e fez menção de se levantar enquanto ria, mas sua mãe logo veio da cozinha dizendo que abriria a porta.
O clima descontraído se esvaiu completamente quando ele levantou os olhos e viu as duas mulheres que adentravam a casa. Sentiu o estômago se revirar de nervoso. Era Emma e Nancy, a mãe dela.
— Olá, . Ficamos sabendo que você estava na cidade e viemos te ver.
observou a mulher sorridente que entrava na casa como se fosse da família, e, quando seus olhos pousaram na mais jovem que vinha logo atrás, se deu conta de quem eram as duas.
— Ah, não deu pra ir visitar vocês, o dia foi bem corrido e vamos embora hoje ainda — explicou, se levantando do sofá, e recebeu um abraço apertado da ex-sogra.
não pôde evitar observar as reações de Emma atentamente. Ela fitava com um brilho nos olhos e esboçou um sorriso acanhado quando ele se aproximou para cumprimentá-la com um abraço rápido e um beijo na bochecha.
— Não vai nos apresentar sua atual namorada?
Tal questionamento a fez despertar do transe e trocar um olhar com o namorado, mas não sem antes notar que a luz nos olhos de Emma se apagou completamente ao escutar as palavras da mãe. Ao perceber que estava sem jeito diante da situação que não esperava que fosse acontecer tão cedo, se levantou.
— Sou Zidane — falou com naturalidade, estendendo a mão, e a outra a analisou de cima a baixo antes de cumprimentá-la com um aperto de mão.
, essas são Nancy e Emma — o jogador as apresentou.
— Tudo bem? — ela disse com um sorriso simpático, se aproximando da ex-namorada de para cumprimentá-la com um aperto de mão.
— Estou com a comida no fogo — Debbie, que assistia à cena um pouco afastada, disse, atraindo as atenções para si —, mas fiquem à vontade, Emma, Nancy. A casa é de vocês.
Assim que ela deixou a sala de estar, um silêncio constrangedor se instalou no ambiente. sabia que era sua presença que estava causando certa estranheza, então achou melhor se retirar de cena.
, vou ver se a sua mãe precisa de ajuda — comunicou e o mal teve tempo de absorver suas palavras antes que ela desse meia volta e fosse até a cozinha. — Ei, Debbie, quer que eu te ajude com alguma coisa?
— Não precisa, . Faço isso daqui com o pé nas costas — ela respondeu, mexendo o conteúdo de uma das panelas.
— Tem certeza? Pra ser sincera, sou péssima cozinhando, mas posso lavar a louça.
— Obrigada, querida, prometo que está tudo sob controle — Debbie respondeu, sorrindo com apreço pela iniciativa tomada por .
— Então vou te fazer companhia — disse ela, dando de ombros, e se sentou em um banco.
— Você ficou chateada com a visita da Emma?
— Imagina! — imediatamente respondeu. — O já me explicou que a família de vocês é muito próxima à família dela desde quando eles eram crianças. Não vou criar caso por isso, até porque ele também conheceu meu ex-namorado e não teve nada demais. Só achei melhor dar espaço, percebi que ficou um clima meio estranho. Talvez elas não esperassem me encontrar aqui.
— Acho que não esperavam mesmo.
, tá tudo bem? — Vicky perguntou, se juntando a elas na cozinha. — Acho que o tá pensando que você não gostou de elas estarem aqui.
— Não, nada a ver! Estava aqui falando pra sua mãe que só quis dar espaço mesmo.
— Entendi — disse, abrindo a geladeira e pegando uma garrafa de suco. — A Nancy tá enchendo a cabeça do coitado com uma lista de coisas que precisa pro salão.
— Que salão? — perguntou, curiosa.
— O salão de beleza que financia e elas administram. Espero que não tenha problema ter dito isso, pensei que você soubesse.
— Não sabia, mas, por mim… — ela falou, dando de ombros. — Acho que vou aproveitar esse tempinho pra tomar um banho, já que Debbie não tá precisando da minha ajuda por aqui.
— Pode tomar seu banho tranquila.
pôde escutar as vozes que vinham da sala de estar conforme subia a escada, mas não parou para prestar atenção e seguiu até o quarto do namorado. Pegou uma muda de roupa na mochila que tinha levado e se trancou no banheiro. Enquanto tomava um banho bem quente e relaxante, pensava sobre quais eram seus sentimentos naquele momento. Tinha considerado a possibilidade de conhecer Emma e não via problema algum nisso, mas testemunhar o jeito apaixonado com que ela olhava para a pegou desprevenida. Admitia que estava um pouco mexida. Não exatamente com ciúmes, mas também não sabia como deveria lidar com aquilo.
Alguns minutos depois, quando saiu do banho, foi para o quarto já vestida e pegou um pente na mochila. Enquanto penteava os fios de cabelo molhados, procurou um secador de cabelo pelo quarto, torcendo para que tivesse um, mas interrompeu a busca ao ouvir vozes femininas que entravam pela janela. Curiosa, se aproximou para espiar discretamente por uma fresta da cortina. Era Emma e sua mãe, as duas paradas em frente à casa.
— Cadê o seu pai? — pôde ouvir Nancy questionar impaciente, olhando para o fim da rua.
— Ele disse que tá chegando — a outra respondeu.
Voltou a fechar a cortina, mas a pergunta seguinte a manteve alerta.
— O que você achou da tal ?
Pelo volume de sua voz, Nancy não parecia estar preocupada que terceiros a escutassem, então se deu o direito de prestar atenção. Ainda mais se a conversa tinha a ver com ela própria.
— Emma?
— O que você quer que eu diga?
— Minha filha, esse namorico não vai durar muito, é só uma fase. Ela é muito bonita, simpática, parece até uma modelo... Pra mim, é bastante óbvio que o se interessou por isso. Mas você conhece aquele ditado, né? Beleza não põe mesa. Não vai demorar muito pra ele se dar conta de que não tem nada a ver com essa mulher e que é você quem estará esperando sempre que ele precisar.
— Mãe, por favor…
— Só estou dizendo o que penso. Isso sem contar que os dois trabalham com futebol, um dia vão acabar indo pra países diferentes. E o vai querer voltar pra cá quando se aposentar, né? Você consegue imaginá-la morando aqui em ? Eles não têm nada a ver.
— O carro do papai tá virando a esquina. Vamos.
A única reação que foi capaz de ter foi a de soltar um risinho descrente. Estava realmente admirada com o talento daquela mulher de fazer tantos julgamentos em tão pouco tempo. Tinham estado no mesmo ambiente por dois minutos e já tinha assumido que ela não passava de um rostinho bonito, um capricho de , que logo voltaria a si e perceberia que o grande amor de sua vida sempre tinha sido Emma.
Era inacreditável demais.
— Por que tá parada aí?
se sobressaltou e olhou na direção da porta a tempo de ver o namorado adentrar o quarto. Ele a encarava com curiosidade.
— Tô procurando um secador de cabelo. Você tem?
— Aqui não, mas minha mãe deve ter. Vou pedir pra ela — ele disse e voltou a abrir a porta, mas parou com a mão na maçaneta antes de se retirar do quarto. — , tá tudo bem?
— Tá sim, — disse ela, esboçando o melhor sorriso que conseguiu. — Você sabe que eu sou tranquila com essas coisas. Só saí de perto pra você poder conversar com elas mais à vontade. Afinal, eram suas visitas, não minhas.
— Ok. Vou ver o secador pra você.
— Obrigada.
Quando a porta se fechou, se sentou na cama de e respirou fundo. Não tinha tanta certeza assim de que estava tudo bem.

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Aquilo tudo ficou na cabeça de pelas horas seguintes. Não apenas as palavras de Nancy, mas também aquele maldito brilho que Emma tinha nos olhos ao encarar . Tentava prestar atenção nas histórias que Frank contava durante o jantar e rir das piadas que Richard fazia o tempo todo, mas aqueles pensamentos martelavam insistentemente mesmo que ela repetisse para si mesma um milhão de vezes que não tinha por que se sentir tão incomodada. Que seu namoro ia muito bem, obrigada.
Sua mente, no entanto, fazia questão de lembrá-la a cada dois minutos que os dois, seu namorado e a ex, eram amigos desde que se entendiam por gente. Que, por isso, suas famílias eram próximas quase como se fossem parentes. Que ele, inclusive, ajudava a família dela financeiramente, como havia descoberto naquele dia. E, para completar, ela ainda era apaixonada por ele.
Aquele sentimento horrível estava ali de novo, o de estar tomando o lugar que pertencia à outra pessoa. só conseguia pensar que nem sequer conhecia como Emma conhecia. E talvez nunca conhecesse, porque, ao contrário da outra, ela nunca seria a melhor amiga dele da vida inteira.
O percebeu que ela estava inquieta, não era bobo, mas preferiu não tocar no assunto enquanto estivessem na casa dos pais. Em parte por não ser um momento propício para conversarem com calma, mas um pouco por receio de saber o que se passava pela cabeça de . Quando estavam em seu jato particular voltando para Madrid, entretanto, começou a se sentir desconfortável com o silêncio dela.
— Quer beber alguma coisa? Um vinho? Champanhe? — ofereceu, ansiando que aquele clima estranho se esvaísse.
— Você quer me embebedar? — perguntou, rindo nasalmente. — Não quero, obrigada.
O silêncio voltou a pairar entre os dois e ficou analisando a namorada. Ela estava deitada no assento reclinado à sua frente, os dois separados por uma mesa, seu olhar perdido em um ponto qualquer. Parecia descansar, mas ele já a conhecia suficientemente bem para saber que, na verdade, sua mente estava a mil por hora. Eram os únicos momentos que ficava tão quieta.
— Ela ainda gosta de você — disse ela em meio ao silêncio.
— Quê? — questionou, confuso, e chegou a repetir as palavras mentalmente para tentar buscar por um sentido.
— Emma. Ela te ama.
— Você andou bebendo escondida? — perguntou, rindo levemente, e lamentou não ter pedido que seus pais dissessem que ele não estava em casa se Emma ou Nancy aparecessem por lá.
— Não é culpa dela, você não deve ser fácil de esquecer — foi o que disse, encolhendo os ombros.
, eu e ela terminamos em comum acordo — afirmou com bastante calma.
— Quem tomou a iniciativa? Você ou ela? — ela questionou, se pondo sentada, e se sentiu intimidado com a forma com que ela o encarava, esperando pela resposta.
— Eu, mas isso não significa nada.
— Não mesmo — disse , dando de ombros —, mas pode significar. Já pensou na possibilidade de ela ter aceitado terminar simplesmente porque viu que você não estava mais no clima e não quis se humilhar implorando pra vocês continuarem juntos?
— Você tá vendo coisa onde não tem.
— Eu sei muito bem o que eu vi — ela rebateu com convicção. — E o que eu vi foi ela te olhando como se… você fosse o mundo dela.
Ele ficou sem palavras. Em sua opinião, estava viajando, mas a verdade é que ele nunca tinha parado para pensar sobre aquilo. Não tinha tido nenhuma conversa sobre sentimentos com Emma quando terminaram ou depois disso, afinal, era óbvio que eram pessoas importantes um para o outro e que, independente do rumo que tomassem na vida, manteriam contato. Ele só percebeu, na época, que os dois estavam namorando há tempo demais e que não tinha certeza de até que ponto a amava como mulher e até que ponto a amava como uma amiga. Com o tempo, foi percebendo que terminar o namoro talvez tivesse sido uma boa decisão. Quando conheceu , teve certeza. Mas ele não tinha ideia de qual era a visão de Emma quanto àquilo.
— E se, no final da temporada, você receber uma oferta de outro time? Ou se eu receber? — perguntou, voltando a se reclinar no assento enquanto observava o namorado atentamente. Notou que, por alguns segundos, ele ficou sem palavras, talvez imaginando os dois cenários.
— Meu contrato é até 2022 e não pretendo sair antes disso, tô feliz no Real Madrid — ele respondeu com tranquilidade. — E você, se receber uma proposta boa e quiser aceitar… Não vejo problema nenhum. Não tô entendendo aonde você quer chegar com isso.
— Sinceramente? — ela retrucou e soltou um longo suspiro. — Não me vejo namorando à distância.
Aquela resposta fez o estômago de se embrulhar. Ela estava querendo dizer que eles não teriam futuro se, profissionalmente, acabassem se separando?
— Essa crise toda é por achar que a Emma ainda gosta de mim? Ou você recebeu alguma proposta?
— Nenhuma das duas coisas.
— Então para de sofrer por antecipação — retrucou, um pouco aborrecido por estar levantando aquelas possibilidades em vez de aproveitar o momento em que os dois trabalhavam juntos e moravam a poucos metros de distância. — Não temos como saber o que vai acontecer no dia de amanhã. Se algum dos dois realmente receber alguma proposta, vamos conversar e decidir o que é melhor.
Ela fechou os olhos e respirou fundo. Começava a se sentir um pouco irritada, só não sabia se com , por ele não enxergar os obstáculos que poderiam vir a ter, ou se consigo mesma, por não conseguir ser prática como ele. Sentiu a necessidade de se explicar melhor, então abriu os olhos, voltando a encontrar os dele, que aguardava por alguma reação para saber se o assunto estava encerrado ou não.
— Eu escutei uma conversa da Emma com a mãe.
— Quando? — ele perguntou, franzindo o cenho.
— Quando elas estavam indo embora. Eu tinha acabado de sair do banho e as duas estavam conversando bem debaixo da sua janela — explicou. — A Nancy disse que nosso namoro é só uma fase, que vamos acabar tomando caminhos diferentes, e que quem vai estar lá te esperando é a Emma. A própria Emma não disse nada e, apesar de eu ter ficado um pouco incomodada de ver com meus próprios olhos que ela ainda sente alguma coisa por você, não tô preocupada com isso. Não acho que vocês ficariam tantos anos juntos se ela não fosse uma boa pessoa. Além de que, se ela realmente abriu mão de estar com você mesmo sem desejar isso, é porque quer que você seja feliz. O que me deixou pensativa foi o que a Nancy falou. Tenho medo de que ela esteja certa, que o nosso namoro tenha prazo de validade.
… — começou, mas foi interrompido.
— O que te fez se interessar por mim? — ela perguntou subitamente, o assustando.
— Como você quer que eu responda se parece que o futuro do nosso relacionamento depende de eu dar a resposta que você quer ouvir? — ele disse, rindo sem humor.
— Foi por eu ser bonita e simpática? E parecer uma modelo? — rebateu e soltou um riso debochado. — Ela também disse isso. Falou como se estar comigo fosse só um capricho seu.
— Você é a mulher mais linda que eu já vi na minha vida — respondeu categoricamente —, mas você sabe muito bem que não foi a sua aparência que fez eu me apaixonar. Não tô acreditando que você passou esse tempo todo se martirizando com essas coisas que a Nancy falou. Eu, em poucos segundos, já cheguei à única conclusão possível. Que, mesmo me conhecendo há tantos anos, ela não tem ideia de quem eu realmente sou.
— Será que não? — perguntou. — Somos muito diferentes, . Você é mais passional, tá cheio de amor pra dar, louco pra viver experiências novas… Eu sou mais sensata, tenho meus objetivos muito bem definidos há muito tempo. Acho que mais cedo ou mais tarde vamos ter que encarar isso de frente.
— Então você realmente acha que nosso namoro tem prazo de validade… — ele falou, desacreditado.
— Queria te dizer que não, mas… — ela respondeu, esboçando um sorriso triste.
— Sinceramente, eu não te entendo — disse e suspirou, derrotado. — Você sempre deixou claro todos os seus medos, e eu compreendo cada um deles, mas pensei que confiava em mim, confiava em nós. Até algumas horas atrás, parecia estar dando tudo certo.
— Acho que eu voltei pra terra firme.
Decepção era o que sentia. Ouvir falar daquele jeito sobre o relacionamento deles o machucava. Mesmo que se conhecessem há relativamente pouco tempo, sabia que ela era alguém especial, por quem ele certamente abriria exceções e até já tinha aberto algumas. No que dependesse dele, fariam aquele namoro dar certo juntos, e o magoava saber que ela não pensava da mesma maneira.
— Só quero deixar bem claro que você não é a única que tem objetivos aqui. Também tenho os meus e, se tivesse que tomar uma decisão em que eles estivessem de um lado e você do outro, eu escolheria o caminho que pudesse equilibrar os dois lados. Porque eu te amo, caramba! — bradou sem esconder sua irritação. — Não quero que abra mão de nada por mim, mas, se você soubesse como dói te ver falando assim…
Naquele momento, se arrependeu amargamente de não ter guardado suas inseguranças dentro de si. Poderia ser que, no dia seguinte, elas nem existissem mais. Tinha despejado um monte de coisas nos ouvidos de e agora ele estava irritado e magoado, e ela estava devastada por vê-lo daquela maneira.
— Eu preciso de um tempo pra botar as ideias no lugar — disse, sabendo que, se continuasse aquela conversa naquele momento, sem ter certeza de nada, as coisas tomariam um caminho que ela não gostaria que tomassem.
— E foda-se meus sentimentos e todo meu esforço pra tentar te fazer parar de pensar besteira. Entendi — falou ironicamente e pegou o celular que estava sobre a mesa só para ter com o que distrair seus olhos. Olhar para estava o machucando ainda mais naquele momento.
— Se eu tô tão confusa, é justamente porque eu tenho medo de acabar te magoando pelas coisas não saírem como você espera, não por ser egoísta.
As palavras dela fizeram uma risada sarcástica escapar pela garganta do e ele soltou o celular sobre a mesa.
— Não sou tão iludido quanto você pensa, . Não espero que você seja a namorada perfeita ou que nosso relacionamento seja. Só quero estar com você enquanto isso aqui fizer sentido pra nós dois. Não me importaria de pegar um avião uma ou duas vezes por semana se você fosse pra outro país, não seria sacrifício nenhum pra mim, mas não posso ser o único a pensar assim. Tô aqui tentando te fazer acreditar que isso pode dar certo desde antes de a gente começar a namorar oficialmente e você resolve dar ouvidos pras opiniões de uma pessoa que não tem nada a ver. Assim fica bem complicado.
Ele se levantou do assento e caminhou a passos firmes até o banheiro, onde se trancou para jogar uma água no rosto e esperar seu coração, que batia forte, se acalmar. Só saiu de lá quando seu jato particular estava para pousar em Madrid e não dirigiu sequer um olhar na direção de ao voltar a se acomodar no assento, de frente para ela.
— Me desculpa, eu não queria que a gente brigasse — disse em um tom arrependido que quase o fez ceder, mas se manteve o mais impassível que conseguiu, mantendo os olhos bem longe dela. — , fala comigo.
— Você não pediu um tempo? Tô te dando — respondeu, dando de ombros.
— Não quero realmente um tempo, eu só… — ela começou, mas ele a encarou com firmeza, a fazendo se calar.
— Mas eu quero — disse, contundente, e apenas balançou a cabeça, concordando mesmo que a contra gosto.
O caminho do aeroporto até La Finca foi torturante, com os dois em um silêncio sepulcral, e nem conseguiu encontrar sua voz para dizer tchau antes de descer do táxi. Não avisou a seus tios e primos que tinha chegado antes de se trancar no quarto e permitir que o nó em sua garganta se afrouxasse conforme chorava com o rosto enterrado no travesseiro.



18. La Decimoctava

No pienso dar
Ni un paso atrás
En el camino que me lleve hacia tus besos
No pienso en eso
Se los confieso
Hoy me arriesgo a todo sin mirar atrás

La Correcta - Nabález, Morat

?
Ele seguiu na direção da sala de estar, de onde a voz de Amelie tinha vindo, e encontrou a amiga no sofá, encolhida debaixo de um cobertor, enquanto assistia a um filme na televisão.
— Quem mais seria? — ele questionou com uma leve ironia. Toda a discussão que tinha tido com ainda ecoava em sua mente e seu humor, evidentemente, não estava dos melhores.
— Exatamente. Se não fosse você, eu teria que chamar a polícia — ela respondeu em um tom divertido, sem notar a acidez do amigo. — Como foi a viagem?
— Normal.
Só então, Lalie reparou que ele estava diferente. não costumava ser a pessoa mais expansiva do mundo, mas se mostrava mais aberto com quem tinha intimidade. O que era o caso deles, é claro, que já se conheciam desde antes de o ir para a Espanha e mantinham uma amizade mesmo que à distância depois de ele assinar seu primeiro contrato com o Real Madrid. Ela sabia quão importante para era levar na cidade em que ele havia nascido e crescido para conhecer melhor sua família e também seus amigos, e não vê-lo com um sorriso de orelha a orelha e pronto para contar cada detalhe do dia que tinham tido em era, no mínimo, suspeito.
— “Normal” não me parece muito bom — Lalie pontuou e estreitou os olhos, desconfiada. — Aconteceu alguma coisa.
não disse sequer uma palavra que confirmasse sua constatação, mas nem precisaria. Amelie era capaz de ver o abatimento refletido em seus olhos, que se evidenciou ainda mais quando ele soltou um longo suspiro. Ao vê-lo dar meia volta para deixar o cômodo, não se conteve e jogou o cobertor para o lado antes de se levantar do sofá e segui-lo até o segundo andar. Quando o jogador foi fechar a porta após adentrar a suíte, ela espalmou a mão na mesma para impedi-lo.
— Você sabe que pode falar comigo sobre qualquer coisa, né? — ela disse em um tom calmo e reconfortante que o fez baixar a guarda.
Ele se manteve em silêncio, mas seguiu para o interior do quarto e largou a mochila que levava nas costas no pé da cama antes de se jogar sobre o colchão. Lalie entendeu a porta aberta como um convite para se juntar a ele e assim o fez.
— Eu briguei com a — disse quando ela se sentou ao seu lado.
— Ah, … Isso é normal, todo casal briga de vez em quando — ela falou, compreensiva, e esboçou um sorriso divertido. — Pra ser sincera, fico até aliviada de ouvir isso. Não é possível os dois agirem tão apaixonadinhos o tempo inteiro.
— Os dois ou só eu? — Ele soltou uma risada sarcástica. — Nem do Dia de São Valentim ela se lembrou.
— Vai voltar nesse assunto só porque tá chateado, é? Pensei que isso já tinha sido resolvido — Amelie falou, se lembrando do ocorrido e de ter dito que a noite tinha sido incrível quando se encontraram no dia seguinte. — O que aconteceu?
— Emma e Nancy apareceram lá na casa dos meus pais — ele revelou em meio a um suspiro. — estava à vontade antes disso, conversando com minha irmã e meu cunhado. Você sabe como ela não tem a mínima dificuldade de se enturmar, né? Mas, depois que eu a apresentei para as duas, ela falou que ia ajudar a minha mãe na cozinha e sumiu. Eu fiquei sem entender nada.
— Que estranho. Será que... ficou com ciúmes? — arriscou Lalie.
— Ela disse que só quis me dar espaço pra poder conversar com elas — ele falou e levantou os ombros, demonstrando sua incerteza diante do argumento usado pela namorada. — Me pareceu uma explicação plausível, o problema foi que ela mudou da água pro vinho depois disso. Mesmo quando a Emma e a Nancy já tinham ido embora, ficou toda calada e distante, mas preferi não tocar no assunto enquanto não estivéssemos sozinhos. E, então, quando estávamos no avião já voltando pra Madrid, ela veio com um papo de que a Emma ainda gosta de mim.
— Sério? E como a chegou a essa conclusão?
— Segundo ela, pela forma como a Emma me olha — respondeu, debochado, e bufou.
— Bom, é possível.
— Nem começa você também.
— Foi por isso que vocês brigaram?
— Não exatamente.
Ele, então, narrou toda a conversa que tinha tido com desde quando ela começou a questioná-lo sobre o que aconteceria se algum dos dois recebesse uma proposta de outro clube no final da temporada e tivessem que seguir por caminhos diferentes. Amelie revirou os olhos quando ele falou sobre as coisas que tinha escutado Nancy dizer a Emma e que a fizeram mergulhar de cabeça em reflexões sobre um futuro que poderia ou não vir a acontecer, algo que nenhum dos dois tinha como controlar naquele momento.
— Essa tua ex-sogra também, hein? Que mulher inconveniente — Lalie falou, balançando a cabeça negativamente. — Bom, eu acho que essa insegurança da em relação ao futuro de vocês é compreensível. Não deve ser fácil pra uma pessoa tão decidida e acostumada a escolher sozinha o rumo da própria vida de repente se ver apaixonada e tendo que incluir esse outro alguém nos planos que já estavam definidos desde sempre.
— Mas precisava dizer na minha cara que não vê um futuro comigo? — perguntou, a dor estampada em seus olhos.
— Ela estava de cabeça quente e aposto que já deve ter se arrependido nessa altura.
— O problema é que eu me sinto como se fosse o único que estivesse empenhado em fazer esse namoro dar certo — ele admitiu aquele que não apenas era seu maior medo em relação ao relacionamento com , mas também o sentimento que volta e meia tinha quando se deparava com a frieza dela, por mais que, na maior parte do tempo, eles vivessem ótimos momentos juntos.
— Ela me pareceu bastante sincera ao dizer que estava disposta a tentar um relacionamento com você quando fui atrás dela no Ano Novo — Amelie observou com honestidade. — Odeio te ver assim, , mas o único jeito é ter uma conversa pra esclarecer as coisas que vocês disseram um ao outro hoje e os dois chegarem a uma conclusão juntos. Acho que nada que eu fale agora vai te fazer se sentir muito melhor.
O suspirou longamente e ficou em silêncio por algum tempo, perdido em seus pensamentos bastante turbulentos.
— E se ela achar que o melhor é terminar? — perguntou sem esconder sua maior angústia.
— Pior pra ela, posso garantir que não vai encontrar outro dando sopa por aí — Lalie respondeu, sorrindo, e ele riu nasalmente.
— Eu me assustei quando ela pediu um tempo pra pensar — confessou e encarou a amiga com seus olhos inseguros. — Quer dizer, pedir um tempo nunca é um bom sinal, né?
— Relaxa, amanhã vocês conversam e voltam a ser o casal mais fofinho que existe — ela falou, apertando sua bochecha, e riu da careta que ele fez. — Vou te deixar descansar agora. Boa noite.
— Boa noite, Lalie. — Ele sorriu em agradecimento e recebeu um beijo no topo da cabeça. — Obrigado por ouvir meus dramas sem reclamar. Só de ter alguém pra desabafar eu já me sinto melhor.
— Disponha — Amelie disse, sorrindo, e encostou a porta ao sair.
Antes de se deitar, refletiu sobre aquela primeira discussão mais séria entre ele e enquanto tomava um banho quente e relaxante. Se sentia mais calmo depois de despejar tudo nos ouvidos de Lalie, mas as coisas ainda não estavam tão claras quanto ele gostaria e as palavras de ainda o causavam dor quando se lembrava delas.
O namoro deles não era fantasioso, como ela parecia pensar que era, não precisava acabar quando eles se deparassem com os problemas do mundo real. Sentindo o aroma doce do shampoo que usava e que estava impregnado na fronha desde a última vez em que dormira ali, em seus braços, torceu para que ela também estivesse pensando sobre aquilo tudo naquele exato momento e chegasse à mesma conclusão que ele.

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Não que acontecesse com muita frequência, mas, para , a pior parte de chorar antes de dormir era a dor de cabeça que a atormentava no dia seguinte. Se levantou da cama quando o despertador tocou e, quase se arrastando, foi até o banheiro fazer sua higiene matinal e tomar uma ducha rápida. Já vestida com seu uniforme de assistente técnica, desceu até a sala de jantar e encontrou os tios e seus dois primos mais novos tomando café da manhã.
— Bom dia — desejou para ninguém em específico, ainda um pouco sonolenta, se sentando ao lado de Elyaz.
— Ué, você tá aí? Pensei que não tinha chegado ainda — Zinédine comentou, tirando os olhos do celular, onde checava as páginas dos principais jornais esportivos para se inteirar das notícias já publicadas naquele início de dia, para encarar a sobrinha.
— Cheguei ontem à noite. É que fui direto dormir, estava cansada.
— Como foi a viagem? — Véronique perguntou, atenciosa.
— Legal — respondeu, simplesmente, e nem notou os olhares desconfiados que seus tios trocaram entre si.
Ela olhou a mesa farta, repleta de opções de bolos e pães integrais, além de algumas frutas, e nada daquilo abriu seu apetite. Tinha a sensação de que, se colocasse qualquer coisa para dentro, seu estômago logo trataria de se livrar do alimento. Além da cabeça que doía, estava também enjoada. Após alguns minutos, depois de tomar poucos goles de suco enquanto prestava atenção nas novidades que Théo contava sobre o Cadete B, a categoria de base do Real Madrid da qual fazia parte, arrastou a cadeira para trás e se levantou.
— Não vai comer nada, ? Tá sentindo alguma coisa? — perguntou Véronique, preocupada após analisar a afilhada durante o tempo em que ela estivera sentada à mesa com eles.
— Só tô um pouco enjoada — ela respondeu, sem querer entrar em detalhes. — Tio, tem problema se eu não participar do treino de hoje?
— Você não tá grávida, né? — Zizou perguntou, disfarçando a risada com um pequeno sorriso, e arregalou os olhos.
— Não! — ela exclamou e riu levemente ao perceber que o tio estava apenas brincando. — Eu tomo cuidado, tá? Devo ter comido algo que não me fez bem, só isso.
— Tudo bem, fique em casa descansando. Tá tudo sob controle pro jogo — ele disse tranquilamente e piscou um olho.
— Mas não precisa se preocupar, vou pra concentração mais tarde — ela garantiu e se retirou do cômodo, levando um copo d’água consigo.
Voltou para o quarto e a primeira coisa que fez foi se livrar de sua roupa, ficando apenas com a calcinha e o top que vestia por baixo. Sentia-se um pouco sufocada. Em seguida, pegou uma aspirina na caixa de remédios que guardava no armário do banheiro e a tomou antes de se deitar confortavelmente na cama, permitindo seus músculos relaxarem aos pouquinhos. Um tempo consigo mesma era tudo o que ela precisava naquele momento, por mais que odiasse a ideia de permitir que sua vida pessoal afetasse seu trabalho.
— Acho que é tarde demais — pensou alto ao se dar conta de que ter se envolvido com um dos jogadores do time não lhe dava muita escolha naquele sentido, e um risinho amargo escapou por sua garganta.
fechou os olhos e, em sua mente, veio a imagem que a assombrou noite adentro. magoado e irritado como nunca tinha visto antes graças a ela mesma, que, com 27 anos nas costas, ainda não sabia resolver os eventuais problemas de um relacionamento amoroso de uma maneira que não fosse a mais fácil: terminar e seguir cada um para o seu lado.
Tinha sido assim com seus dois ex-namorados. Dimitri, o primeiro, vigiava cada passo que ela dava por ciúmes, implicava com todos seus amigos do sexo masculino e, por mais que gostasse dele, conversar com calma e mostrar como aquele comportamento a irritava não era uma possibilidade aos 15 anos de idade. Romper o namoro foi muito mais prático, afinal, existiam mais um monte de garotos no mundo que não eram ciumentos como ele. Com Jérémy as coisas foram um pouco menos fáceis, pois, muito mais do que seu namorado, era um grande amigo, mas também não foi o fim do mundo se dar conta de que a melhor decisão era terminar, que ela precisava se dedicar à sua vida profissional e que não podia prendê-lo em um relacionamento à distância.
Foi então que ela descobriu a conveniência do sexo casual, que unia a melhor parte de um relacionamento sério, o sexo, e excluía a pior, o compromisso com a outra pessoa. Ou, pelo menos, era o que ela pensava até acontecer em sua vida e mostrar que o sexo não era o melhor aspecto de um relacionamento e muito menos o compromisso era o pior. A única certeza que ela tinha em meio a tantas inseguranças era que, pela primeira vez, o caminho mais fácil não parecia ser realmente o mais fácil.
“Porque eu te amo, caramba!”
Quase conseguia ouvir a voz dele exclamar novamente aquelas palavras com raiva e seu estômago se revirava. Ao mesmo tempo que era a pior coisa que podia dizer naquele momento e que a quebrou por completo, era também tudo o que ela precisava ouvir para perceber que estava sendo injusta ao dizer coisas que alguém que vinha a tratando com tanto carinho não merecia escutar. Se sentiu arrependida e envergonhada por ter se deixado levar pela opinião de uma completa estranha e ter começado a duvidar que eles pudessem ter um futuro juntos, quando o amanhã distanciasse um ou outro de Madrid. Ela não acreditava que o namoro deles tinha prazo de validade; na verdade, esse era o seu maior medo.
se viu pegando o celular que estava sobre o criado-mudo e, em seguida, abrindo as mensagens do namorado no WhatsApp. Passou os olhos pela última conversa que tinham tido por ali na penúltima noite, quando tiveram que dormir em Castellón por causa da neblina que fechou o aeroporto. Ela brincava com o fato de ter um perfil no Rendezvous e ele, todo sem jeito, dizia que tinha baixado apenas para se distrair, que não pretendia realmente sair com ninguém. achava muito engraçado que ele não tivesse coragem de admitir que tinha as mesmas intenções que qualquer outra pessoa ao instalar um aplicativo de encontros no celular.

: Boa noite.

: Boa noite. Sonha comigo. 😉

: Isso você não precisa nem pedir. 😘

As três últimas mensagens, depois de dizer que era melhor irem dormir, pois não queria incomodar Lalie com a luz do celular, a fizeram sorrir. sempre conseguia arrancar um sorriso seu com um emoji mandando beijinho ou qualquer outra coisa tão boba quanto. pensou em mandar um “oi” ou um “bom dia”. Chegou até a digitar e apagar, mas minimizou o aplicativo rapidamente quando ele ficou online, assustada como se estivesse cometendo um crime. Riu consigo mesma, percebendo quão boba estava sendo, e admitiu para si mesma que era melhor se distrair, pelo menos até terem a oportunidade de conversar pessoalmente. Ela precisava olhar nos olhos dele ao se desculpar e explicar melhor seus temores.
Foi então que pensou em ligar para sua mãe. As duas tinham trocado algumas mensagens sem importância nos últimos dias, mas ainda não havia tido propriamente uma conversa com ela, como Véronique havia sugerido, e se lembrar disso a motivou a fazer a ligação.
Oi, — Sylvie falou ao aceitar a chamada e, pelo som do ambiente ao fundo, pôde perceber que ela estava na rua.
— Oi, mãe. Tá ocupada?
Não, só vim caminhar na praia. Aconteceu alguma coisa?
mordeu o lábio inferior, ponderando se deveria contar ou não para a mãe sobre a discussão que tinha tido com . Nunca haviam sido próximas àquele ponto e, sendo bastante honesta, ela achava que os conselhos que Sylvie dava mesmo sem que fossem solicitados nunca pareciam apropriados.
— É… — acabou, por fim, murmurando um pouco sem jeito.
Quer conversar sobre isso?
— Na verdade, te liguei mais pra saber como estão as coisas aí — desconversou. — Tá tudo bem?
Está tudo bem, tirando a confusão que estão fazendo lá em casa por causa da reforma no seu antigo quarto… — Sylvie respondeu e soltou um suspiro cansado do outro lado da linha enquanto rolou os olhos ao se lembrar da dor de cabeça que tinha tido nas últimas semanas para, dali de Madrid, fazer com que seus pertences chegassem ao seu apartamento em Paris. Isso sem contar que precisou importunar Chloé para que ela fosse até o apartamento para se certificar de que as coisas tinham chegado como o esperado. — Eu não concordei com essa ideia, mas seu pai cismou que quer um escritório e você sabe como ele age quando coloca alguma coisa na cabeça.
— É, eu sei — disse em meio a um suspiro. — Mãe, posso te fazer uma pergunta?
Qual?
— Você é feliz? — ela soltou e logo percebeu, pelo silêncio que as envolveu pelos segundos seguintes, que pegou Sylvie desprevenida com aquele questionamento.
Claro que sim, . Que pergunta é essa?
— Você faz tudo o que meu pai quer sem retrucar — ela explicou. — Quem pode ser feliz desse jeito?
Eu amo o seu pai. Estar com ele é o suficiente pra mim.
— O amor não pode ser isso, ter que abaixar a cabeça para tudo o que a outra pessoa fala… — ela confessou o pensamento que sempre teve em relação ao casamento de seus pais.
Pra mim, foi assim que aconteceu. Teve que ser assim — Sylvie soltou um risinho amargo. — Pra você não, né? parece ser bastante gentil. Você teve sorte de se apaixonar por alguém que te compreende e também pode dar tudo o que você precisa.
— Você tem certeza de que ama meu pai? — questionou, incomodada de ouvir, mais uma vez, sua mãe falar como se seu namoro fosse por conveniência.
Você acredite ou não, , eu o amo.
— Eu não entendo como uma mulher pode amar um homem que a fez desistir de todos os sonhos que tinha.
Não desisti dos meus sonhos, minhas prioridades que mudaram depois que conheci o Nourredine.
— Ah, mãe, por favor — falou e bufou, nem um pouco convencida. — Do jeito que você fala, dá a entender que se casou com ele por interesse.
Você não entende…
— Então me explica, ué. Você nunca me contou sobre como era sua vida antes de se casar.
Você não tem que trabalhar? — questionou Sylvie e, pelo seu tom de voz, pôde perceber que o rumo daquela conversa não estava a agradando muito.
— Não agora. Sou toda ouvidos.
Certo… — ela falou e deu uma pausa de alguns segundos, como se estivesse tomando coragem. — Minha infância foi meio complicada, disso você sabe. Nunca chegamos a passar fome lá em casa, mas vivíamos apertados mesmo que seus avós trabalhassem feito condenados. A oportunidade que eu tive de mudar essa situação foi quando consegui entrar pra uma agência. Ser modelo era algo que eu sempre quis, e também tinha consciência de que não teria condições de estudar, fazer uma faculdade, então me joguei de cabeça. O problema é que as coisas não saíram bem como eu esperava…
— Como assim? — perguntou, cuidadosa. Nunca tinha tido uma conversa daquela com a mãe e sabia que, se não fosse um assunto delicado, elas já teriam falado sobre ele antes.
Modelos sofrem muito, . Além das dietas absurdas pra manter o corpo no padrão que as agências exigem, as garotas trabalham duro para, às vezes, nem sequer receber um cachê, dividem apartamentos em péssimas condições… As garotas são obrigadas a deixar a dignidade de lado pra fazer coisas… Coisas que fiz e não me orgulho nem um pouco.
— O que, por exemplo?
Meu agente, ele me chantageava pra… — Sylvie começou, mas sua voz falhou e foi morrendo aos pouquinhos. ficou em silêncio, dando o tempo que ela precisava, até que, enfim, ela continuou: — Ah, filha, eu não gosto nem de lembrar.
— Ele te forçava a dormir com ele, né? — perguntou mesmo que a resposta já estivesse bem clara, sentindo um aperto no peito.
Sim, alguns fotógrafos também...
não encontrou palavras para responder. Era estranho imaginar que uma pessoa próxima a ela, sua própria mãe, tinha passado por aquele tipo de coisa e ela não tinha a mínima ideia. E aquilo só constatava quão distantes elas eram uma da outra.
— Não é como se eu não soubesse que existe esse tipo de coisa na indústria da moda, não sou alienada ou ingênua, mas… — ela disse, ainda abalada. — Eu não sei nem o que dizer.
Agora você entende? Não vou ser hipócrita e dizer que achava que seu pai era o homem da minha vida quando me casei com ele, mas eu não tinha escolha… Ou me bancava por conta própria, nesse sofrimento todo, ou… — Sylvie falou e deu uma pausa, ponderando as palavras. — A beleza era o único atributo que eu tinha pra melhorar de vida, no final das contas.
— Você é muito mais do que a sua beleza, mãe. Se mudasse algumas atitudes, as pessoas veriam isso — disse, sinceramente. Por mais que as duas sempre batessem de frente, nunca tinha achado que sua mãe era uma má pessoa. Era só questão de rever alguns conceitos.
Ela ficou em silêncio por longos segundos. Tudo o que conseguia ouvir era vozes de pessoas e o som do mar ao fundo. Torceu para que não tivesse a ofendido.
Eu queria que você fosse modelo porque sei que as coisas seriam diferentes, que aproveitaria muito mais do que eu pude — Sylvie falou um tempo depois, parecia estar com os pensamentos distantes. — Pularia etapas por ser a sobrinha do Zidane e ninguém teria a audácia de mexer com você.
— É, mas esse não é o meu sonho. Nunca foi — falou e, em seguida, escutou uma risada amargurada.
Porque você sempre se espelhou nos seus tios…
— Eu me identifico com eles, mãe, mas não quer dizer que eu não ame você e o meu pai também mesmo com todas as diferenças e conflito de opiniões que temos — disse ela com um sorriso triste e pôde ouvir Sylvie fungar do outro lado. — Você tá chorando?
Não, claro que não — ela rapidamente disse em um tom quase seco. — Eu preciso desligar, .
— Ok... — ela falou, imaginando que a mãe estivesse envolvida por uma confusão de sentimentos e compreendendo que era melhor continuarem aquela conversa outro dia. — Vou ver com o quando os pais dele podem vir novamente a Madrid e te aviso, tá?
Tudo bem.
— Fica bem.
Você também, filha.
ficou sem saber o que pensar ou fazer quando desligou o celular. Aquela era a primeira vez que as duas tinham uma conversa mais sincera sem terminar aos berros e, infelizmente, sabia que isso talvez não tivesse acontecido se estivessem cara a cara. Sentia algo diferente em relação a Sylvie naquele momento. Não era irritação ou desapontamento, como de costume; era compaixão. Queria vê-la pessoalmente e abraçá-la e esperava que isso pudesse acontecer o mais breve possível. Em meio àquelas emoções, até conseguiu se distrair e parar de pensar sobre o drama que envolvia ela e .
No final da manhã, quando colocava uma série em dia, seu celular apitou e instantaneamente sentiu o coração quase ir à boca ao pensar que poderia ser uma mensagem do namorado. Para sua decepção, no entanto, não era.

Karim: Você e o brigaram, né? Perguntei de você e ele respondeu que não sabia.

: É, a gente brigou. Como ele tá?

Karim: Meio distraído, Zizou até chamou a atenção dele algumas vezes durante o treino. Você tá em casa?

: Tô sim.

Karim: Então almoça comigo. Tô saindo de Valdebebas agora, passo aí em 20 min pra te pegar.

🏆🌟⚽

Como tinha prometido ao tio pela manhã, foi para a concentração na Ciudad Real Madrid à noite. Não tinha visto ainda e sentia um frio na barriga se intensificar conforme se aproximava da sala de convivência. Karim estava ao seu lado, cantarolando despreocupadamente um rap qualquer que ela não conhecia, e a empurrou de leve com o ombro, fazendo-a despertar de seus próprios pensamentos. Ele sorriu e piscou um olho, a confortando como tinha feito durante todo o tempo que passaram juntos à tarde.
Pela ironia do destino, a primeira pessoa em quem seus olhos caíram foi justamente , que estava envolvido em um bate-papo com Luka Modrić, Mateo Kovačić, Toni Kroos, Sergio Ramos e Marcelo, todos divididos em dois dos alguns sofás dispostos pelo local. O estava distraído, mal prestava atenção nos colegas, mas olhou para a porta ao notar a movimentação e, quando seu olhar cruzou com o de , desviou os olhos rapidamente. Sentiu o coração bater um pouco mais forte, estava surpreso por vê-la ali depois de ela não ter aparecido no treino do dia.
— E aí, pessoal? — Karim falou, se juntando ao grupo, e não teve outra escolha a não ser respirar fundo e segui-lo.
— Opa, sentem-se aí — Marcelo falou, chegando para o lado, e ela ocupou o pequeno espaço aberto enquanto Karim se sentava no braço do sofá ao seu lado.
— Posso saber por que a senhorita não foi treinar hoje? — perguntou Sergio.
— Ah, eu só... — começou, devagar, e não pôde evitar uma olhadela na direção de , o encontrando praticamente com o rosto enfiado no celular — não estava me sentindo muito bem.
— Mas tá melhor agora? — Luka questionou em um tom preocupado.
— Um pouco — ela respondeu e esboçou um sorriso fraco, tentando não se importar com a sensação de déjà vu que a tomou diante do fato de estar tendo sua presença ignorada por e a frustração que ela trazia consigo.
— Isso foi só desculpa pra não trabalhar. Pensa que eu não sei? — Kroos debochou.
— Na verdade, foi pra não ter que olhar pra sua cara — brincou, rindo levemente.
— Assim você me magoa — ele disse dramaticamente com uma mão no peito, fingindo estar ofendido, e, em seguida, se voltou para o atacante francês e mudou de assunto. — Ei, Benzema, como estão as coisas no Rendezvous?
— Pergunta pra , ela que tá cuidando dessa parte. Eu só troco mensagens e chamo as mulheres pra saírem comigo. Não vou negar que tá sendo muito prático.
— Então você tá meio que agenciando o Karim, ? — perguntou Luka, fazendo-a rir.
— Na minha língua, isso se chama “cafetão” — Marcelo disse e a confusão estampou o rosto de seus colegas. – Chulo... – acrescentou em espanhol, arrancando, então, gargalhadas deles.
— Vocês são maldosos — falou, ainda rindo levemente. — Eu só fico curtindo e descurtindo as mulheres que aparecem, é divertido.
, você não tá sabendo entreter a sua namorada. Olha o conceito dela de diversão… — debochou Toni.
— É, pelo visto não tô sabendo mesmo — respondeu, sem sequer tirar os olhos do celular.
ficou em estado de choque por dois segundos. Primeiramente, porque não esperava que ele abrisse a boca enquanto ela estivesse por perto; em segundo lugar, pela alfinetada desnecessária.
— O que importa é que o Karim tá adorando os matches que eu consigo — ela emendou para desviar o foco da conversa e os outros, se perceberem qualquer coisa, disfarçaram muito bem.
— Já saiu com alguém? — perguntou Ramos, curioso.
— Seria melhor perguntar se tem alguém com quem ele não tenha saído ainda — ela disse e o camisa nove soltou uma breve e pretensiosa risada.
— Fui num encontro ontem e tenho outro depois de amanhã. Isso responde a pergunta?
— Porra! Tá botando o — Marcelo falou e assobiou, apontando para as partes baixas — pra trabalhar.
— Também não precisa exagerar — Karim disse em meio a risos. — É mais coincidência, porque dei match com as duas na semana passada e ambas me interessaram, mas não tô pegando a cidade de Madrid inteira não.
— Só metade dela — brincou, rindo.
A conversa sobre os encontros de Benzema, que tinha tomado a decisão de apenas curtir o que aquele aplicativo de encontros podia lhe oferecer sem se pressionar a encontrar alguém que pudesse substituir Chloé, continuou. não conseguia tirar os olhos de e estava convencida de que ele não daria qualquer abertura para que eles pudessem conversar. Isso a frustrou e a deixou um pouco irritada também. Eles não tinham mais idade para ficar naquele joguinho bobo, ignorando um ao outro e soltando indiretas. Ela acabou perdendo a vontade de conversar com ele naquele momento e se levantou. Atraiu alguns olhares curiosos, mas não o da pessoa que ela gostaria que lhe desse atenção.
— Vou pegar um chá — falou antes de seguir em direção ao refeitório.
Só então tirou os olhos da tela do celular e soltou um risinho irônico enquanto a observava se afastar.
— Aproveita, vai atrás dela — Toni sussurrou e deu uma cotovelada discreta nele. O não tinha lhe contado sobre o que havia acontecido entre ele e , mas, juntando os fatos que notou ao longo do dia inteiro com a reação que os dois tiveram quando ele brincou sobre não estar entretendo direito, não precisou de muito para concluir que os dois estavam brigados.
— Não sou eu quem tem que tomar uma iniciativa — respondeu categoricamente.
— Ela não parece muito bem — o alemão comentou e ele apenas levantou os ombros, como se não existisse nada que pudesse fazer a respeito.
Os dois ficaram em silêncio por algum tempo, mas alheios à conversa de seus colegas de time, até soltar um longo suspiro.
— Posso te pedir um favor?
— Claro — disse Toni, dando de ombros.
Não muito longe dali, empurrou a porta do refeitório distraidamente, mas parou quando escutou alguém gritar seu apelido e se virou para encontrar Marco Asensio com um sorriso aberto estampado no rosto.
— Eu consegui fazer o gol olímpico hoje! — ele contou, feliz da vida. Nos últimos treinos, vinha tentando fazer o gol marcado de uma cobrança de escanteio em que a bola vai direto para o gol, mas não conseguia pegar na bola da maneira ideal para que a mesma fizesse a curva necessária. estava acompanhando a saga e, inclusive, tinha tentado dar algumas dicas para ele.
— Mentira! — ela exclamou, abrindo um sorriso sincero, e o puxou para um abraço que ele retribuiu em meio a risos. — Esse é o meu menino! Queria ter visto. Será que alguém filmou?
— Depois de um milhão de tentativas, até eu — Dani Carvajal falou, implicante, chegando até eles acompanhado por Álvaro Morata.
— Isso é inveja — Asensio rebateu, dando um soquinho no ombro do colega.
— Acho que é ciúme, hein? — falou, encarando o lateral direito com desconfiança. — Vem cá, Carva, você também é nota dez. Sempre escuta minhas orientações nos treinos, diferente de uns e outros aí — disse, abraçando o jogador.
— Sempre acaba sobrando pra mim — Morata retrucou, bufando.
— Você que vestiu a carapuça, não citei nomes — ela se defendeu, rindo, mas a verdade é que tinha dito aquilo para zoar Álvaro mesmo.
Ela acabou acompanhando os três até o refeitório e, alguns minutos depois, saiu de lá sozinha, mas com um chá de camomila em mãos para se acalmar e aliviar o enjoo que a acompanhou durante o dia inteiro. Se recusou a voltar para a sala de convivência e ter que lidar com naquele momento, preferiu fazer o caminho até seu quarto para descansar.
Quando cruzava o corredor das acomodações dos jogadores e da comissão técnica, avistou Amelie saindo do quarto de Cristiano Ronaldo e sorriu levemente. Os dois estavam ficando há algumas semanas. Não abertamente, mas também não escondiam nada de ninguém. Estava feliz por vê-los construindo algo, pois, em sua opinião, formavam um belo casal. Pensava isso ainda mais depois que Lalie contou como os dois foram se aproximando e que Cristiano, todo cuidadoso e cavalheiro, foi quebrando a ideia errada que ela tinha dele graças à mídia sensacionalista e a conquistando aos poucos mesmo que tivesse certeza de que ele era gay. Isso rendeu muitas gozações por parte de e até mesmo o próprio Cristiano levou na esportiva ao descobrir e não perdeu a oportunidade de zoar Lalie até, por fim, revelar que não apenas era hétero, mas também que estava a fim dela.
Amelie notou a presença de e as duas foram se aproximando calmamente até pararem uma de frente para a outra. A francesa bebericou o chá, um pouco sem graça e sem saber o que dizer. Imaginou que tivesse deixado Lalie a par do desentendimento que tinham tido, já que ela era alguém a quem ele recorria em momentos como aquele, e estava um pouco receosa sobre o que a fisioterapeuta estaria pensando sobre aquilo tudo.
— Espero que não esteja achando que sou uma bruxa — disse, fazendo uma careta.
— Claro que não, . Faz o que for melhor pra você — disse sinceramente.
— Estava com o agora pouco e ele simplesmente ignorou a minha presença. Ainda soltou uma indireta, acredita? Eu tô arrependida de ter gerado essa confusão e não quero terminar com ele, mas, assim, é impossível a gente conversar.
— É o jeito dele de viver tudo intensamente. É muito drama king. — Amelie riu levemente. — Ele realmente ficou magoado, tá achando que não é uma prioridade na sua vida como você é na dele, acho que até duvidando se você realmente gosta dele ou se tá só passando o tempo, mas eu entendo que você tem seu ponto e que não é bem assim.
— Eu tô me sentindo péssima, Lalie. Vê-lo irritado e machucado daquela forma foi horrível. Só quero que a gente fique bem, tô sentindo falta dele.
— Fica tranquila, vocês vão fazer as pazes. E não liga pra opinião da mãe da Emma. Pelas coisas que o me contava, ela se intrometia no namoro deles, ficou até forçando a barra pra voltarem quando os dois decidiram terminar.
— Você sabia sobre ele ajudar elas com um salão de beleza?
— Ah, é verdade. Ele deu esse salão pra Emma quando eles namoravam e ela toca o negócio com a mãe e as irmãs. É o meio de sustento delas — explicou Lalie.
— Acho que isso me surpreendeu mais do que deveria — confessou. — Eu já sabia que as famílias deles eram muito próximas e que teria que lidar com o fato de Emma estar sempre por perto e isso não é um problema pra mim, mas não imaginei que o laço que ainda une eles fosse desse nível. Quer dizer, mesmo que elas trabalhem no salão, dependem dele pra se sustentar de alguma forma. E ele nunca falou nada sobre isso comigo.
— É, isso é algo que vocês vão ter que conversar, .
— Vou tentar conversar com ele amanhã depois do jogo. — Ela bebericou o chá. — Bom, não vou ficar te alugando.
— Imagina — Lalie falou, sorrindo. — Sou amiga do há mais tempo, mas te considero uma amiga também. Pode contar comigo sempre que precisar.
— Obrigada, Lalie. Digo o mesmo — respondeu, retribuindo o sorriso. — Se precisar de alguém pra te acobertar pra dormir no quarto do Cris, você sabe onde me encontrar.
— Ei, essa piada é minha! — ela rebateu, rindo.
As duas se despediram e , então, seguiu pelo corredor. Abriu a porta de seu quarto com a digital e adentrou o mesmo. Cansada, mas não o suficiente para ir dormir, ela se acomodou no sofá e ligou a televisão para escolher um filme para assistir na Netflix enquanto terminava de tomar seu chá.
Algum tempo depois, uma batida na porta que dava para a varanda a fez se sobressaltar. Do outro lado do vidro, pôde ver Toni Kroos e não se surpreendeu, pois os dois dividiam a sacada e volta e meia ficavam por ali conversando antes de dormir. Caminhou até a porta para abri-la e o frio que fazia lá fora a fez estremecer.
— Nossa, tô congelando. Entra aí.
— Você chama isso de frio? Nunca vá morar na Alemanha então — ele disse, debochado, adentrando o quarto.
— Não enche — rebateu, rolando os olhos.
— Está bem, francesinha? Zizou falou que você não estava se sentindo bem e percebi que não está com uma cara muito boa mesmo — Toni falou enquanto a analisava.
— Eu não dormi muito bem e passei o dia todo com dor de cabeça e enjoada, mas nada que uma boa noite de sono não resolva.
— Não me diga que tem um orelhudo vindo aí — ele falou, arregalando os olhos, e apontou para a barriga dela, que soltou uma gargalhada.
— Ainda não, isso é TPM também.
— E suponho que também tenha a ver com a briga que você e tiveram — ele arriscou, fazendo a surpresa estampar o rosto de .
— Ele te contou?
— Não, mas foi bem fácil perceber. A única coisa que ele deu a entender é que tá esperando você tomar a iniciativa — Kroos falou, dando de ombros, mas desviou os olhos para a televisão antes que ela tivesse a chance de dizer qualquer coisa. — Tá vendo o que aí?
— Uma comédia — respondeu, ainda um pouco surpresa e abalada com o que Toni tinha dito. — Senta aí.
— Já que insiste, vou te dar a honra da minha companhia — ele falou, piscando um olho, e ela apenas riu levemente.
Toni não quis entrar no assunto, já que nem tinha lhe contado o que tinha acontecido, e, além disso, dar conselhos amorosos não era seu forte, mas fez questão de fazer companhia para até o filme acabar, falando bobagens que a faziam rir o tempo todo. Tinha ido até ali pelo amigo, que havia pedido que ele fosse ver como estava antes de dormir, mas ela também era sua amiga e não foi sacrifício algum perder quase uma hora de sono.
Depois que se despediu dela e voltou para seu quarto, ele pegou o celular e mandou uma mensagem para tranquilizar .

🏆🌟⚽

O apito do árbitro soou pelo estádio Santiago Bernabéu, sinalizando o fim do primeiro tempo da partida entre Real Madrid e Las Palmas, que, até aquele momento, estava com o placar empatado em um a um. Os primeiros quarenta e cinco minutos tinham sido marcados por um jogo bastante aberto em que os dois times atacavam a todo instante e tinham ótimas oportunidades de gol.
Apesar de estarem jogando bem, Zinédine marchou para o vestiário pouco satisfeito, pois, se não fossem os pequenos erros cometidos, o time de Madrid poderia estar na frente no placar. Despejou uma série de orientações enquanto os jogadores se preparavam para o segundo tempo e o ouviam atentamente. A vitória era imprescindível para que eles pudessem garantir a permanência na liderança do campeonato.
— Mais alguma coisa, ? — Zizou perguntou quando terminou de falar sobre todos os pontos que tinha listado mentalmente e deu espaço para que ela pudesse dar seus palpites, algo que vinha cada vez mais tendo liberdade de fazer. Ele confiava em sua capacidade de observação não apenas por conhecê-la a vida inteira, esse era um dos pontos fortes que ela aprimorava mais a cada partida.
, você perdeu duas ótimas bolas por bobeira e errou pelo menos uns cinco passes que poderiam deixar o Cris ou o Morata na cara do gol. Presta mais atenção no que tá fazendo — disse profissionalmente, tentando não se importar com a expressão fechada no rosto do . — O mesmo pra você, Álvaro. Fica mais atento ao seu posicionamento quando estivermos atacando. Você teve dois gols anulados por impedimento, sem contar outras jogadas que foram interrompidas porque estava adiantado também… Isso não tá bacana, né?
O atacante concordou, também um pouco desgostoso, e o time não demorou a voltar para o campo.
não estava nem um pouco feliz com a crítica feita por , ainda mais por saber que ela estava com a razão. Tinha plena consciência de que não vinha fazendo uma de suas melhores partidas e vê-la jogar aquilo em sua cara na frente de todo o time o incomodou. Pelo menos acabou servindo de motivação para correr atrás do prejuízo assim que o juiz apitou o início da segunda parte.
Logo no segundo minuto, Mateo Kovačić roubou a bola no meio do campo e a passou para . O não conseguiu alcançá-la antes de um jogador do time canário pegá-la e isso o fez sentir raiva de si mesmo por falhar mais uma vez. Sua reação instantânea foi a de correr atrás do jogador para consertar o erro e, em uma das tentativas de roubar a bola por trás, acabou acertando as pernas dele. O árbitro sinalizou a falta, fazendo bufar, frustrado. Ele não quis protestar, pois sabia que a marcação tinha sido justa, então fez menção de voltar à sua posição para o recomeço do jogo, mas o camisa vinte e um do Las Palmas se meteu no caminho.
— Ei, pega leve aí — falou, dando um empurrão leve em seu ombro. — Guarda essa brutalidade pra quando estiver fodendo a gostosa da Zidane — acrescentou em um tom zombeteiro.
Com a menção de sua namorada em um comentário obsceno, não mediu as consequências antes de se jogar para cima do adversário e empurrá-lo de encontro ao chão. No segundo seguinte, um caos se formou à sua volta e, do meio de uma confusão de camisas brancas e amarelas, surgiu o árbitro com o cartão amarelo estendido em sua direção. Em seguida, viu também o cartão vermelho e isso fez a indignação o tomar por completo.
Tentou desviar dos jogadores que estavam em seu caminho para chegar até o juiz, mas foi impedido por Nacho, que o abraçou de lado e o puxou para o lado contrário enquanto o capitão Sergio Ramos e Dani Carvajal foram interceder por ele.
— Deixa pra lá, . Contestar só vai dar argumento pra te darem uma suspensão maior — disse Nacho, dando um tapinha em seu peito para tranquilizá-lo.
— Tá tudo bem, cara, tô tranquilo — garantiu e o zagueiro, então, permitiu que ele se aproximasse do árbitro. — Isso é ridículo, ele me empurrou primeiro, me insultou, e não vai levar sequer amarelo?
— Sinto muito. Na próxima vez, pensa duas vezes antes de revidar provocação — o juiz falou enquanto registrava a expulsão.
não teve escolha. Soltou um risinho irônico e deu meia volta para cruzar o campo e se retirar da partida.
No banco de reservas, estava perplexa desde o momento em que viu perseguir o jogador adversário para tentar roubar a bola à base de patadas. O empurrão foi apenas o detalhe que faltava para ter certeza de que quem estava em campo era um outro , não o que ela conhecia.
, vai atrás dele! — Zizou exclamou da beira do campo.
Ela olhou, hesitante, o túnel que levava ao interior do estádio, por onde o tinha acabado de sumir, e acabou optando por se levantar e ir até o tio antes de seguir pelo mesmo caminho.
— Eu e estamos brigados — ela falou perto do ouvido de Zinédine, tapando a boca com a mão para evitar a leitura labial no caso de estarem sendo filmados naquele instante. — Será que o Bettoni não pode ir lá?
— Você é minha auxiliar antes de qualquer coisa. Se esse namoro começar a te impedir de fazer as tarefas que passo, então vou ter que te dispensar do time — ele falou com uma seriedade atípica em seu tom de voz, também escondendo os lábios com a mão, e deu o caso como encerrado ao se voltar novamente para o jogo que recomeçava.
Ela ficou em choque por um breve momento, fitando as costas de Zizou, mas se viu tendo que dar meia volta e ignorar a apreensão que sentia quando adentrou o túnel e seguiu pelos corredores do estádio até chegar ao vestiário silencioso. Encontrou sentado no banco em frente ao armário que tinha uma foto dele estampada. Ele notou a aproximação e a olhou de canto de olho enquanto tirava as chuteiras.
— Por que fez aquilo? — perguntou.
O jogador se livrou dos meiões e os largou no chão de qualquer jeito antes de, enfim, levantar os olhos e a encarar por longos segundos.
— Porque eu sou um idiota — ele respondeu, rindo sem humor. — Pelo menos não tô mais lá pra atrapalhar os caras com meus passes errados.
— Ai, meu Deus — murmurou e riu, desacreditada. — , eu não quis te ofender. Falei aquilo porque sei que você é um jogador incrível e que pode ser muito mais decisivo do que estava sendo. Se você der o seu melhor, a gente ganha com os pés nas costas.
— É, mas agora já era, já ferrei tudo. O cara me provocou justamente pra que eu perdesse a cabeça, e eu vou lá e caio como um patinho. Sou mesmo muito idiota.
— Mas o que ele falou pra te irritar tanto?
apenas negou com a cabeça, deixando claro que não queria falar sobre o assunto, e pegou uma toalha no meio de suas coisas antes de se levantar e ir em silêncio até a área do vestiário onde ficavam as duchas. ficou ali, com o olhar perdido no pequeno corredor por onde ele havia ido. Não sabia se deveria segui-lo para tentar arrancar alguma coisa dele e, assim, poder ajudá-lo de alguma maneira ou, simplesmente, voltar para o campo.
Enquanto discutia consigo mesma sobre qual opção era a mais adequada, surgiu novamente pelo corredor, sem camisa e a passos duros, e ela deu um passo para trás, assustada.
— Sabe o que tá me tirando do sério? — ele perguntou bruscamente, mas, como não esperava por uma resposta, continuou em seguida. — Você assumiu na minha cara que vai terminar comigo assim que o nosso namoro não for mais conveniente e tá aí agindo como se nada tivesse acontecido. Sequer tentou falar comigo.
— Não é bem assim. E eu só não quis forçar a barra — respondeu, mais uma vez sem jeito diante da irritação que ele demonstrava estar sentindo.
, eu fiquei torcendo pra que você me mandasse uma mensagem — ele falou, deixando transparecer a mágoa através de seus olhos sempre tão expressivos. — Qualquer coisa que me dissesse seria o suficiente pra eu deixar meu orgulho de lado e ir atrás de você. Não me importaria de fazer papel de idiota, porque tudo o que eu queria era não ter que dormir com aquele sentimento horrível de que era o único preocupado com o futuro do nosso namoro.
— Meu Deus, , é claro que também me importo — ela rebateu, indignada. — Estava planejando te procurar pra conversar depois do jogo.
— Você teve um dia inteiro ontem e uma manhã inteira hoje.
— Eu precisava descansar, pensar… Ontem à noite até queria ter te chamado pra conversar, mas você não facilitou meu lado, ficou me ignorando, e eu também estava um pouco indisposta. Hoje de manhã não tinha a mínima chance. Estava focada no jogo, não posso simplesmente ignorar minhas obrigações. Inclusive, Zizou acabou de ameaçar me dispensar se eu não viesse atrás de você. Então não venha me acusar de ser insensível. É você que precisa aprender a separar as coisas — despejou, mas logo percebeu que aquele não era o caminho ideal para que as coisas melhorassem e soltou um suspiro exausto que bloqueou a irritação que se alastrava por seu corpo lentamente. — Desculpa, , eu não quero brigar com você de novo. Precisamos conversar com calma e maturidade pra entender o lado um do outro.
meneou a cabeça, concordando, e passou as mãos no rosto. Não tinha como retrucar, ela estava certa. Ele havia errado feio ao permitir que seus problemas pessoais fossem consigo para dentro de campo.
— Eu tenho que voltar pro jogo. Você vai ficar bem? — perguntou, cuidadosa.
— Sim, pode ir.
Os dois se encararam por um instante, até ela, enfim, andar em direção à porta do vestiário. Parou no meio do caminho, no entanto, e se voltou para mais uma vez.
— Sei que você só falou isso porque tá chateado, mas nunca mais diga que estou com você por conveniência. Não tenho motivo nenhum pra isso. Se eu realmente não quisesse estar nesse relacionamento, teria ido pra cama com você e só, não perderia meu tempo te iludindo. Nem teria coragem. Posso ter mil defeitos, mas não sou esse tipo de pessoa.
nada disse, apenas a observou dar as costas e deixar o vestiário.

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— Não acho que a ação foi pra vermelho — falava ao vivo para a Real Madrid TV na zona mista após o término do jogo contra Las Palmas. — Claro que o amarelo foi pela falta e isso é incontestável, mas, depois, ele me empurrou e o que fiz foi devolver o empurrão. Eu não acho que era pra cartão vermelho, mas estou desapontado de qualquer forma. Sinto que decepcionei os torcedores, o time, o treinador… E peço perdão pra todo mundo por isso. Espero aprender com meus erros e, no futuro, ajudar o time de uma forma melhor.
— E quais são as suas expectativas para as próximas partidas? — perguntou o repórter.
falou brevemente sobre a rodada seguinte de LaLiga, o jogo contra o Eibar que ele perderia por suspensão, e também sobre a partida de volta das oitavas de final da Champions League contra o Napoli, que seria disputada na semana seguinte. Após se despedir, seguiu seu caminho até o estacionamento VIP do Santiago Bernabéu.
estava um pouco mais tranquilo por ter se pronunciado sobre a expulsão e também já havia se desculpado com seus companheiros de time no vestiário, mas não estava contente consigo mesmo. O Real Madrid chegou a estar perdendo por três a um, mas, no final, a partida terminou em um empate por três a três que acabou fazendo o time merengue cair para a segunda posição na tabela do campeonato. Jogar com dez jogadores ao longo de todo o segundo tempo havia dificultado consideravelmente as coisas e ele se sentia culpado por isso, apesar de saber que não existia mais nada que pudesse fazer além de erguer a cabeça e pensar nas partidas que tinham para disputar dali até o fim da temporada.
Conforme caminhava pelo estacionamento, avistou encostada no capô de seu carro ainda de longe e se aproximou calmamente até estar cara a cara com ela.
— Você tem um tempinho pra sua namorada arrependida? — perguntou, o fazendo rir nasalmente.
— Vou olhar na minha agenda — respondeu em um tom divertido, já destravando o automóvel. — Entra aí.
Se acomodou atrás do volante enquanto ela se sentava no banco do passageiro e logo saiu com o carro pelo estacionamento. A saída do estádio foi tumultuada como de costume, com dezenas de torcedores pelas ruas, e precisou esperar pacientemente por uma brecha para pegar a avenida enquanto ouvia uma série de xingamentos. Deu o melhor de si para ignorá-los; caso contrário, se sentiria ainda pior.
olhava pela janela distraidamente, brincando com o colar que tinha virado seu amuleto da sorte e estava quase sempre em seu pescoço. A Bola de Ouro que, de um presente bobo que havia lhe dado apenas para se retratar quando sequer eram amigos, acabou se tornando algo tão especial e já não representava apenas sua paixão pelo futebol. Aquele pingente seria para sempre uma recordação daqueles primeiros passos que estava dando no futebol masculino e, também, de , dos sentimentos que ele tinha despertado nela e de tudo que vinham vivendo juntos. Não pôde deixar de notar como, apenas por tê-lo ali ao seu lado, ela já se sentia mais tranquila.
— Eu também te amo — ela deixou escapar sem se dar conta.
a olhou, confuso, e, ao perceber que as palavras haviam sido sinceras, sentiu o coração bater mais forte. A primeira reação que teve foi a de rir levemente.
— Assim, do nada?
— Não é do nada. Estava com isso entalado aqui na garganta desde quando você me deu a camisa que usou no seu jogo de volta e disse que eu fiz com que os piores meses da sua vida fossem os melhores — ela repetiu as palavras que ainda estavam bastante claras em sua mente. — Você falou que me ama no meio da discussão e eu nem pude responder.
Os dois trocaram um olhar, mas apenas voltou a prestar atenção no trânsito. Não esperava que ela tivesse notado, já que ele próprio só foi reparar que tinha dito que a amava depois de já ter proferido as palavras. No entanto, não deu grande importância, não era como se ele já não demonstrasse isso dia após dia.
— Tem problema se eu parar em algum restaurante? Podemos jantar e conversar com mais calma — ele falou quando parou no sinal vermelho.
— Pode ser.
Incomodada com o silêncio que ela sabia que só acabaria quando chegassem ao destino, ligou o rádio e mal viu os minutos passarem enquanto cantarolava Sirenas, da banda Taburete, até chegarem a Pozuelo de Alarcón. Os dois saíram do carro quando parou em um restaurante de comida tipicamente espanhola que costumava frequentar e, para sua surpresa, ele segurou sua mão quando eles adentraram o estabelecimento.
Um funcionário do restaurante guiou o casal até uma mesa mais afastada, como solicitado pelo jogador, e os dois se acomodaram devidamente. Optaram por comer tortilhas de batata e pediu também uma taça de vinho para acompanhar. Acabou deixando a mesma pela metade quando o garçom a serviu, um pouco de álcool correndo em suas veias certamente seria muito bem-vindo para ajudá-la a tomar coragem.
— Eu não penso realmente que nosso namoro tem prazo de validade, mas sou insegura em relação a isso — ela admitiu sob o olhar atento de . — Não vou ficar em Madrid pra sempre, você também não. Nenhum de nós é daqui e temos uma profissão que não nos permite nos prendermos a um local. Ouvir o que a mãe da Emma falou foi um choque de realidade, porque eu sei que… ela tem um pouco de razão.
— Razão sobre o que exatamente? — ele perguntou, tranquilo, demonstrando estar aberto ao diálogo que não tinham conseguido ter no outro dia.
, eu não vim pra cá pra ser auxiliar do meu tio pro resto da vida, muito pelo contrário — ela falou, esboçando um sorriso amarelo. — Já fui primeira treinadora. Era futebol feminino, mas consegui levar o PSG a acabar com a hegemonia do Lyon, que foi o melhor time da liga isoladamente por anos. Agora elas estão aí fazendo uma boa campanha na Champions e eu também tenho mérito nisso. Quando meu tio me convidou pra vir trabalhar com ele, aceitei dar um passo pra trás e deixar a minha própria comissão técnica porque seria quase impossível conseguir me inserir no futebol masculino de outra maneira. Encarei como a oportunidade perfeita pra mostrar meu trabalho pro mundo, pra aprender com o Zizou e com o Bettoni, que são mais experientes e entendem pra caramba de futebol. E aprender com vocês, jogadores, também. Qualquer pessoa que trabalhe com futebol, seja jogando, comandando o time ou mesmo nos bastidores, quer ter o Real Madrid no currículo, você sabe disso.
— E como sei… — falou, soltando um risinho. Afinal, estar ali era seu sonho de infância.
O garçom os interrompeu, voltando com as tortilhas, mas não demorou a servi-los e desejar bom apetite antes de se retirar. Os dois começaram a comer e só então se deram conta de quão famintos estavam.
— Continuando… — falou e deixou os talheres no prato para bebericar o vinho. — Tá sendo um sonho trabalhar com vocês, mas eu tô encarando isso tudo como algo passageiro, não pretendo fazer parte da comissão do meu tio permanentemente e segui-lo pra onde ele for. Quero ter a minha própria comissão novamente num futuro próximo, porque eu gosto de liderar. Se me fizerem uma boa proposta, mesmo que seja de um time de segunda ou terceira divisão, mas que me possibilite subir os degraus até chegar num time de primeira, eu com certeza vou aceitar. Esse é o sonho da minha vida — disse e soltou um suspiro. — E eu não quero ter que escolher entre meu sonho e você, entende? É por isso que, pelo tempo que estive solteira, foi mais fácil não me apegar a ninguém e não ter essa preocupação. Sempre prometi pra mim mesma que não desistiria dos meus sonhos por ninguém — ela falou, desviando os olhos paro o prato. — Não do jeito que minha mãe fez.
permaneceu longos segundos em silêncio, processando tudo o que a namorada tinha dito e estudando a expressão no rosto dela. Nada daquilo era exatamente uma novidade, mas ele não sabia ao certo aonde ela queria chegar e uma das possibilidades o aterrorizava.
— Ok — começou, sentindo um aperto no peito. — Você quer terminar?
E ele definitivamente não esperava que um sorriso surgisse nos lábios de .
— Não, . Eu refleti bastante sobre isso e a única certeza que tenho é que quero ficar com você. O que vai acontecer no futuro, eu não sei, mas tudo o que você desperta em mim é mais do que o suficiente. Só quero que você entenda por que isso me afetou tanto e tenha paciência comigo.
— Eu tenho, só fiquei chateado de te ver tão pessimista — ele falou, sentindo-se bastante aliviado ao ter um possível término descartado. — Mas pode ficar tranquila, vou ser sempre a primeira pessoa a te incentivar a ir em busca do que for melhor pra você. E a gente vai dando um jeito.
As palavras de fizeram um sorriso estampar o rosto de e, quando ele sorriu de volta, ela sentiu como se um peso tivesse saído de suas costas. Comeu mais um pouco da tortilha e revezou o olhar entre o namorado e o prato quase vazio, considerando a possibilidade de levantar outra questão que também havia povoado seus pensamentos nos dois dias anteriores. Por fim, decidiu que era melhor ser honesta e pigarreou, chamando sua atenção.
— Bom, já que estamos aqui discutindo nosso relacionamento e eu provavelmente não vou ter coragem de dizer em outro momento… — ela disse e riu levemente antes de, um pouco sem graça, continuar. — Sei que eu já falei várias vezes que não me importo com a sua amizade com a Emma, mas acho que me importo sim.
— Não acredito, ...
— Sei que é bobeira minha, ok? Só tô falando porque acho que isso agravou a situação, ciúme não é um sentimento com o qual tenho muita familiaridade — admitiu e não pôde evitar uma risada. — Para de rir, tô falando sério!
— Desculpa, é que foi engraçado o jeito que você falou — ele disse e bebeu um pouco de água para se recompor. — Você não precisa ter ciúme da Emma, de verdade. Já fazia tempo que eu estava com ela mais por comodidade do que por qualquer outra coisa. Ela é uma mulher incrível, merece encontrar alguém que a ame por completo, e posso te garantir que esse cara não sou eu. Hoje em dia eu só tenho um carinho muito grande por ela.
— É que vocês se conhecem a vida toda, isso me dá uma pequena inveja — admitiu e fez uma careta. — A Vicky comentou que você a ajuda com um salão de beleza, isso me surpreendeu um pouquinho.
— É, ajudo — confirmou, embaraçado por não ter sido ele o responsável por contar aquele fato para ela. — Eu dei essa franquia de uma rede de salões de beleza que é bem grande lá em pra Emma quando a gente namorava e ainda ajudo com alguns gastos.
— Acho legal que você a ajude, já que tem condição e é um dinheiro que não faz falta, mas confesso que acho um pouco estranho. Não consigo me imaginar tendo esse compromisso com um ex.
— É, eu já pensei sobre isso, mas fico com medo de que essa ajuda faça falta, mesmo que elas tenham a renda do salão.
— Entendo — falou e esboçou um pequeno sorriso. — Faz o que achar melhor. Eu só dei minha opinião, mas você tem o direito de fazer o que quiser com o seu dinheiro.
concordou com um aceno de cabeça. Sabia que não queria ele fizesse ou deixasse de fazer nada apenas para agradá-la, mas certamente ainda pensaria melhor a respeito daquele assunto.
— Tá tudo bem entre a gente, né? — ele perguntou.
— Acho que sim. Se tiver alguma coisa a dizer também, fale agora ou cale-se para sempre — ela brincou.
— Já que tô ganhando essa oportunidade, quero dizer que tenho me sentido trocado. Você só quer saber do Rendezvous do Benzema agora — falou, fingindo seriedade, fazendo-a soltar uma gargalhada.
— Eu tô fazendo isso pelo bem da vida amorosa dele, ok? — ela se defendeu, mas, em seguida, levantou os ombros e sorriu, culpada. — Talvez porque aquele negócio é viciante também — disse, o fazendo rir.
— Depois de conhecer um pouco mais sobre a vida amorosa dele, acho que é mais seguro se você o ajudar mesmo — ele zoou. — Na verdade, quero te pedir desculpas, acho que eu não precisava ter estourado daquele jeito. Por hoje no vestiário também — falou com um sorriso fraco e estendeu uma das mãos sobre a mesa, a qual prontamente segurou. — Quanto às suas inseguranças, vou fazer o que estiver ao meu alcance. Não posso prometer que não vamos sofrer, que nunca teremos que nos separar... Mas prometo que, aconteça o que acontecer no futuro, vai ter valido a pena.
Um sorriso iluminou o rosto de e ela se inclinou sobre a mesa, puxando o namorado para um beijo rápido antes de, enfim, terminarem de comer as tortilhas espanholas.
Quando dirigia rumo a La Finca, ela se lembrou de algo que não tinha ficado claro ainda.
— O que o jogador do Las Palmas te falou pra você reagir daquele jeito? — perguntou, curiosa.
— Deixa isso pra lá, ...
— Me fala! Tô curiosa.
— Você não vai desistir até eu te contar, né?
— Ainda bem que você sabe — ela respondeu, rindo.
ficou em silêncio por algum tempo, olhando da namorada para o caminho que fazia com o carro pelo condomínio em que moravam diversas vezes até que, enfim, respirou fundo.
— Foi sobre você. Ele me disse pra deixar a brutalidade pra quando estivermos fazendo sexo.
A gargalhada de preencheu o carro em seguida, o deixando confuso, e ele apenas esperou pacientemente até que ela se cansasse de rir.
— Eu não acredito que você voou pra cima do cara por causa disso, !
— O jeito que ele falou foi bem ofensivo, ok? — ele se defendeu.
— Vou até procurar um contato dele pra agradecer. É uma ótima ideia — ela disse, piscando um olho.

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— Ele está bem? — perguntou ao adentrar a sala da comissão técnica em um rompante.
Zinédine tinha abandonado o treino daquela manhã pela metade, deixando ela e David Bettoni no comando, quando recebeu uma ligação sobre Luca ter deslocado o ombro durante o treino do Juvenil A. Preocupada, correu para buscar notícias sobre o estado do primo assim que finalizou o treino dos jogadores do time principal.
— Sim, foi pra casa descansar — Zizou respondeu. Estava acompanhado por José María Gutiérrez e Álvaro Benito, os treinadores do Juvenil A e do Juvenil C, respectivamente. — Os médicos vão avaliar melhor amanhã. A cirurgia não foi descartada.
— Pra essa temporada ele não volta mais, né?
— Não, já nos adiantaram que serão pelo menos três meses de recuperação. O Guti estava aqui me contando como aconteceu, foi só uma queda boba.
— É, eu nem levei a sério num primeiro momento. Ele pulou pra fazer uma defesa e caiu de mau jeito. Foi uma lesão ingrata. É uma pena, ele vai nos fazer falta nas quartas da Youth League semana que vem.
— E pro Castilla também, né? — Álvaro lembrou. Naquela temporada, o time filial do Real Madrid estava buscando subir para a segunda divisão do futebol espanhol e Luca, como um dos goleiros do time, certamente faria falta. — Mas essas coisas acontecem… A única coisa com que ele tem que se preocupar agora é em se recuperar bem.
— Pois é — concordou, esboçando um sorriso desanimado. — Como estão as coisas na Youth League, Guti? Não tô acompanhando os jogos, mas, pelo que tenho escutado falar, os meninos estão arrasando, né?
— Eles são ótimos, só tenho elogios pra dar em relação a esses garotos — respondeu o treinador do Juvenil A em um tom que demonstrava quão satisfeito estava com o desempenho de seu time no torneio que era a versão sub-19 da Champions League, no qual os mesmos clubes classificados para a fase de grupos se enfrentavam paralelamente ao campeonato europeu de nível profissional. — Estamos trabalhando pra ver até onde conseguimos chegar, mas eles estão indo muito bem mesmo. Eu diria que somos um dos favoritos.
— Tomara que dê certo. Boa sorte — a assistente técnica disse sinceramente e piscou um olho. Torcia bastante para que Guti se desse bem como técnico, já que, como jogador, ela costumava ser grande fã dele.
— Precisa de carona, ? — Zinédine perguntou, pegando a chave do carro e o celular sobre a mesa, e jogou a mochila sobre o ombro. — Tô indo pra casa.
— Não, obrigada. Eu volto com o .
— Então tá — ele falou e deu um beijo na testa da sobrinha antes de se voltar para os outros dois treinadores. — Foi ótimo bater um papo com vocês, apareçam mais vezes. Não é necessário que meu filho se lesione pra eu ter o que conversar com você, Gutiérrez.
— Não mesmo. Vou te presentear com a minha presença mais frequentemente.
Zinédine deixou a sala apressadamente, desejando chegar logo em casa para ter a oportunidade de conversar com Luca com mais calma e ver como ele estava lidando com aquela lesão inesperada, e acompanhou os outros dois pelos corredores da residência do time principal.
— Guti, eu já falei que tenho uma foto com você? — questionou ela, apesar de ter certeza de que nunca tinha comentado sobre aquilo com o espanhol. Os dois se esbarravam de vez em quando pela Ciudad Real Madrid, mas nunca tinham sentado e tido uma conversa.
— Ah, não tem... Eu me lembraria — ele falou, galanteador, com um sorrisinho de canto.
— Ei, me respeita, eu tenho namorado — ela rebateu, soltando uma gargalhada.
— E eu sou casado — disse Guti, rindo também. — Desculpa, eu não resisto.
— Perde o amigo, mas não perde a cantada — Álvaro Benito debochou.
— Eu tenho uma lembrança de o Zizou estar sempre com uma menina, que provavelmente era você — ele falou, tentando puxar na memória as lembranças que tinha da época em que jogava com Zidane no Real Madrid —, mas não lembro de termos tirado uma foto juntos.
— Claro que você não lembra, isso faz quase 15 anos — disse em meio a risos. — Foi no dia que vocês conseguiram La Novena.
— Você tá insinuando que eu tenho memória de velho ou o quê? Me lembro perfeitamente desse dia.
— Mas não lembra que tirou uma foto comigo — ela disse com um sorriso divertido.
— É, alguns detalhes foram comprometidos pelo porre que eu tomei — admitiu Guti, dando de ombros.
— Imagino — ela disse, rindo levemente, e parou em frente à sala de fisioterapia. — Você também estava lá em Glasgow, Álvaro? — perguntou para o outro espanhol e também ex-jogador do Real Madrid, se referindo à final da Champions League em que o clube madridista conquistou seu nono título europeu.
— Não, nessa temporada eu estava me recuperando de uma das cirurgias que tive que fazer por causa da lesão no joelho, só joguei umas partidas pelo Real Madrid B pra recuperar o ritmo. Assisti a final pela televisão mesmo.
— O futebol é cruel às vezes — lamentou.
— A pergunta que não quer calar — Guti falou, atraindo a atenção dos dois para si. — Quantos anos você tinha em 2002 mesmo?
— 12, por quê?
— Bom, eu vou me retirar antes que você faça eu me sentir mais velho do que já estou me sentindo — ele disse, voltando a seguir seu caminho pelo corredor.
— Quanto drama, hein? — ela rebateu, rindo. — Tchau pra vocês.
Ao adentrar a sala de fisioterapia, encontrou deitado em uma das macas com Amelie utilizando um aparelho para massageá-lo a fim de relaxar os músculos das pernas dele após o treino intenso que tinham tido.
— E aí? — ele disse quando se sentou na maca vazia ao lado.
— Ele vai ficar no mínimo três meses sem jogar, mas ainda vão avaliar melhor. Talvez tenha que ser operado.
— Acho que esse tipo de lesão pros jogadores mais novos é até pior, sabia? Porque é quando a gente tá desesperado pra jogar e conquistar espaço.
— Com certeza. Daqui a pouco vou pra casa ver como ele tá — ela falou e soltou um longo suspiro. — E você aí só desfrutando das massagens da Lalie, né?
— Ela é minha escrava... Ai, vai com calma aí! — não que tenha doído tanto assim, mas o jogador exclamou por implicância quando a fisioterapeuta aplicou um pouco mais de força do que era necessário. — Não é pra isso que eu te pago.
— Esse teu namorado anda muito abusado, — Lalie rebateu, fazendo-a rir.
— Vem cá, gracinha — chamou, se apoiando nos cotovelos, e fez sinal para que se aproximasse.
— Que foi?
— Me dá um beijo.
— Tá tão carente assim, é? — ela rebateu, mas se inclinou para beijá-lo.
— É inacreditável como o consegue estar ainda mais apaixonadinho depois que vocês fizeram as pazes — Amelie falou, debochada.
— Olha quem fala, tá aí toda caidinha pelo Cristiano — ele acusou e ela apenas fez uma careta em resposta. — Quem cala, consente.
— Ah, deixa a Lalie ser feliz — retrucou, dando um tapinha na testa do namorado, e piscou para a fisioterapeuta, que sorriu em agradecimento. — Inclusive, em vez de ficar tomando conta da vida dela, você bem que podia marcar a nossa viagem pra Marbella logo, né?
— Pra quando?
— Vamos ter dois dias de folga depois do jogo contra o Napoli.
— É você que manda — disse, piscando um olho.
— Pronto, tá liberado — Amelie falou, juntando os aparelhos e o gel que tinha usado no jogador. — Já pode botar esses músculos pra trabalhar testando umas posições diferentes com a mais tarde.
— Oba, ainda bem que o jogo amanhã é fora de casa e não temos concentração hoje — comemorou, espirituosa, com um sorriso malicioso estampado no rosto.
— Vocês nunca dormiram escondidos no quarto um do outro nas concentrações? — a fisioterapeuta perguntou, quase indignada.
— Não, sou cagona demais pra essas coisas. E ele mais ainda — ela respondeu, rindo levemente.
— Pois não sabem o que estão perdendo.
— Você não… Lalie! — exclamou, chocado. — Você tá zoando, né?
— Será? Você nunca vai saber a verdade — ela rebateu, dando de ombros.
— Do jeito que você é doida, eu não duvido de nada — ele disse, fazendo as outras duas rirem.

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subiu as escadas com uma bacia cheia de pipoca e caminhou até o quarto de Luca. Bateu na porta e a abriu ao ser autorizada a entrar.
— Fiquei sabendo que tem alguém por aqui muito entediado — disse ela ao encontrar o primo esparramado na cama, mexendo no celular enquanto, na TV, passava um noticiário que ele certamente não estava vendo. Luca, que estava com um dos braços imobilizado, deixou o aparelho de lado e mostrou um sorriso desanimado quando ela subiu na cama e se acomodou ao seu lado com as pernas cruzadas, deixando a pipoca no meio dos dois. — Vamos ver um filme?
— Pode ser — ele respondeu sem demonstrar um pingo de animação para tal.
— Então escolhe algo pra gente ver aí — falou, indicando a televisão, e o outro pegou o controle remoto e abriu a Netflix. — Como você tá? Muita dor?
— Não muita, me entupiram de remédio, mas tô me sentindo um lixo. Por que tudo dá errado na minha vida?
Ele levantou os olhos desolados e sentiu como se tivesse voltado no tempo, quando ele era criança e a olhava exatamente daquela maneira para pedir algo. Naquele momento, podia ver que ele implorava por ajuda. As lágrimas tomaram os olhos dele e logo estavam escorrendo por seu rosto.
— Ah, não! Não chora! — exclamou , colocando a bacia de pipoca para o lado para puxá-lo para um abraço, e Luca se aconchegou entre seus braços como se fosse um garotinho. — Essas coisas acontecem, meu amor. E esses meses vão passar rapidinho, daqui a pouco você já vai estar ótimo e jogando — ela consolou em um tom quase maternal. — E não diga que tudo dá errado na sua vida, isso não é verdade. Você tem onde morar, não passa fome, tem pais maravilhosos que estão aí pra o que você precisar, três irmãos que te amam e são seus parceiros… Tem a melhor prima do mundo também — acrescentou, brincando, e arrancou um risinho do garoto. — Essas coisas são só obstáculos que você com certeza vai superar.
— Eu queria tanto jogar a Youth League — ele lamentou. — Era o que estava me distraindo depois de… daquilo com a Lola.
— Agora você vai estar focado em se recuperar, não vai ter tempo pra pensar em Lola nenhuma. E não se preocupa, se essa oportunidade com o Juvenil A não deu tão certo quanto você esperava, pode ter certeza de que é porque o destino te reserva algo ainda melhor. Só tenha paciência e continue trabalhando.
passou os dedos pelo rosto dele, secando as lágrimas, e o beijou na testa.
— É assustador como você e meu pai se parecem, ele me disse mais ou menos isso também — disse Luca, fazendo-a rir.
— Pra você ver como eu e ele temos razão. Agora, cadê aquele sorrisinho que faz as meninas suspirarem?
fez cócegas na barriga do primo, que tentou se desvencilhar enquanto ria.
— Para, ! — ele exclamou, puxando o cobertor que acabou se movendo com a movimentação. — Eu tô só de cueca.
— Fala sério, não tem nada aí que eu nunca tenha visto. Cansei de ajudar a tia Vero a te dar banho.
— Mas você não viu do tamanho que tá — Luca retrucou, arrancando uma gargalhada da prima.
— Ah, garoto, esse negócio aí deve ter crescido uns dois centímetros e tá aí se achando. Come pipoca e para de falar besteira.
Luca escolheu uma comédia americana qualquer e colocou para eles assistirem, mas a verdade é que, apesar de apreciar a companhia da prima naquele momento em que estava se sentindo tão mal, acabou nem prestando muita atenção no filme. Além daquela maldita lesão que o deixaria sem poder fazer o que mais gostava por um longo tempo, tinha outro assunto que não estava o deixando em paz.
— Eu reencontrei meus amigos da escola no fim de semana passado — soltou de repente.
— E aí? — perguntou antes de encher a boca de pipoca, sem tirar os olhos da televisão.
— Lembra do Esteban? Ele levou a prima dele — Luca comentou e foi o suficiente para que ela o encarasse, curiosa. — E tá me perturbando desde então pra chamar ela pra sair.
— Ah, é? Como ela se chama? — perguntou e não conseguiu evitar analisar o primo, que parecia um pouco hesitante.
— Beatriz. Ela é legal… E bonita também, mas, sei lá…
— Vocês conversaram?
— Sim, eu fiquei um tempão conversando com ela, temos um monte de coisas em comum. Nós fomos a um restaurante japonês.
— Qual é o problema de chamá-la pra sair?
— Eu ainda penso na Lola — Luca confessou, baixando os olhos. — Não sei se conseguiria sair com outra garota.
— Você pode convidá-la pra sair sem precisar ficar com ela se não sentir vontade. Ainda mais se vocês têm assunto pra conversar — disse, compreensiva.
— Acha que eu devo sair com ela então?
— Se quiser, sim. É só ser sincero e não iludir a garota, mas não vejo problema nenhum em saírem pra se conhecer melhor, de repente até dar uns beijinhos… — ela falou, rindo levemente. — Você não vai estar automaticamente de casamento marcado com ela se fizer isso.
Luca meneou a cabeça, concordando, e o assunto acabou sendo dado como encerrado quando voltaram a atenção para o filme que passava na televisão. Pouco depois, ouviram uma batida na porta e, em seguida, Enzo adentrou o quarto. Tinha acabado de voltar do treino do Real Madrid Castilla.
— Ei, priminho, se junte a nós — falou, chegando para o lado e puxando Luca consigo, de forma que Enzo pudesse se sentar do outro lado dele.
— Como você está, Luca?
— Péssimo, mas vou ficar bem.
— Acho que ele tá precisando do nosso carinho pra ficar bom mais rápido — falou e abriu um sorrisinho maroto.
— Também tô achando — Enzo rebateu, rindo. — Abraço em grupo?
balançou a cabeça freneticamente, concordando, e os dois envolveram Luca em um abraço, o fazendo rir. Ficaram daquela maneira, os três juntinhos, assistindo ao resto do filme, mas acabaram pegando no sono antes de o mesmo chegar ao fim.
Véronique apareceu no quarto algum tempo depois para levar um lanche para Luca sem saber que o outro filho e a sobrinha estavam lá também, e sorriu com a cena que encontrou. Deixou a bandeja no criado-mudo e não resistiu em tirar uma foto dos três antes de descer para pegar alguma coisa para e Enzo comerem também quando acordassem.

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— Você vai amar Marbella!
Os lábios de se curvaram em um sorriso quando ele levantou os olhos para encarar o rosto iluminado de , que tinha um sorriso aberto e parecia uma criança prestes a ganhar o brinquedo que mais desejava ter.
— Eu já visitei Marbella uma vez com a Emma e alguns amigos — ele comentou antes de molhar a garganta com um gole em seu copo d’água. — Foi divertido.
— Sinto te informar, mas você não conheceu Marbella direito — ela rebateu, revirando os olhos. — Comigo não vai ser divertido, vai ser inesquecível. Você não vai querer voltar pra Madrid.
Os dois estavam no jato particular de , viajando rumo a Málaga, onde pegariam um carro para chegar à cidade litorânea de Marbella. Era o presente de aniversário de que estava chegando dois meses atrasado. tinha feito uma reserva no hotel Marbella Club e os dois dias que teriam de folga depois da vitória sobre o Napoli na noite anterior, que garantiu uma vaga para o Real Madrid nas quartas de final da Champions League, acabaram por ser a oportunidade pela qual esperavam desde janeiro.
O olhar malicioso que , sentada no assento do outro lado da mesa, lançou em sua direção enquanto bebericava a taça de champanhe que segurava, fez sorrir de canto. Ela apoiou os pés descalços nos joelhos dele e os deslizou suavemente pelas pernas cobertas pela calça jeans que ele vestia.
— Qual foi o lugar mais doido onde você já fez sexo?
Não era a primeira vez que ela o provocava naquela manhã e não podia negar que aqueles olhares, comentários e toques mais ousados o deixavam extremamente excitado. Riu baixo, refletindo sobre a pergunta.
— Talvez… Na cozinha da casa dos meus pais enquanto eles dormiam — respondeu, levantando os ombros, sem ter muita certeza de que aquilo poderia ser considerado tão doido assim. — E você?
— Provavelmente na escada de emergência da faculdade, mas foi coisa rápida, também não sou muito aventureira — disse, rindo levemente, e, em seguida, colocou os pés de volta ao chão. — Sabe qual foi o cenário que eu imaginei agora?
— Qual? — ele perguntou, curioso ao vê-la largar a taça e apoiar os cotovelos sobre a mesa, se aproximando dele.
— Em um avião, sobrevoando a Espanha — falou em um tom de voz baixo e suave que fez sentir os pelos da nuca se arrepiarem. — Eu sentada no seu colo, suas mãos espalmadas na minha bunda enquanto… você sabe — ela continuou e soltou um risinho. — Muy caliente, não acha?
Ele nem precisou de muitos detalhes para imaginar a cena exata em sua cabeça e, no meio de suas pernas, algo se acender.
— Não estamos sozinhos aqui — sussurrou, dando uma olhadela para trás para se certificar de que nenhum membro da tripulação prestava atenção neles dois.
— Não precisava me lembrar desse detalhe — ela retrucou, fazendo uma careta, e jogou as costas contra o encosto do assento. — Seria divertido entrar pro “clube das milhas”.
não pôde evitar rir. Estar entre as pessoas que já fizeram sexo em um avião seria algo um pouco fora de seus padrões.
Ok, totalmente fora de seus padrões.
— Relaxa, a gente tem dois dias pra aproveitar — falou, piscando um olho.
mostrou um sorriso maroto. Sua mente já fervia de ideias.




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