Finalizada: 07/03/2019

Cidade dos Anjos

Helena, Montana – USA

Estava pintando minhas enormes unhas da mão de um vinho bem escuro, praticamente preto, quando, do nada, , minha irmã mais nova abriu a porta do meu quarto bruscamente me fazendo borrar. A olhei bem irritada por isso, mas ela só deu um sorriso em forma de desculpas, fechando a porta atrás de si e se jogando na minha enorme cama, me fazendo borrar a unha pela segunda vez com seu movimento brusco. Respirei fundo para não xingá-la e esperei que falasse logo o que queria de mim. Conversar banalidade que não era, nunca viria até mim para isso.
Apesar de sermos irmãs, não éramos muito próximas, ela sempre preferia suas amigas a mim. Não a culpo por isso, na verdade a entendia muito bem. Eu não sou alguém muito sociável, prefiro a minha solidão do que socializar com as pessoas e elas geralmente sentem medo de mim. era a única que não sentia isso, ela sempre me enfrentava em qualquer que fosse a circunstância na qual nossos ideais não batessem. Para ser sincera, ela era a pessoa mais corajosa que já vi na vida. E eu sentia orgulho dela por isso. Mamãe sempre temia nossas brigas, com medo que eu me descontrolasse e causasse algum mau a , mas eu seria incapaz disso. Apesar de nossas diferenças, eu a amava demais.
Seus enormes olhos azuis, herdados do nosso pai, me olhavam atentos. Infelizmente não tive a mesma sorte e meus olhos eram castanhos bem claros, quase esverdeados, esses os quais não sei de onde vieram, pois os olhos de mamãe eram verdes bem fortes que chegavam a assustar quem os olhavam pela primeira vez.
Soprei a unha que pintei novamente na tentativa que secasse mais rápido. Então minha irmã se mexeu na cama bem na hora que eu estava limpando o canto da unha, e adivinhe só? Borrei novamente. A olhei com raiva e ela soltou uma risada, como sempre bem mais humorada do que eu.
– O que você quer, ? – Perguntei logo para que ela fosse embora.
– Quero que vá em uma festa comigo hoje. – Estreitei os olhos com seu convite, podia sentir que tinha algo por trás daquilo. – Já pedi para mamãe e ela deixou a gente ir.
– Eu não vou em festa nenhuma. – Falei com meu jeito rabugento. Às vezes eu parecia uma velha.
– Por favor, preciso que você vá! – Juntou as mãos enquanto implorava. – Se não fosse preciso, não estaria pedindo.
– Onde é a festa? – me chamando para uma festa e pedindo permissão para mamãe. Certo, tinha algo de muito estranho isso.
– Los Angeles. – Abriu um sorrisão e eu arregalei meus olhos.
– Me fale como vamos para Los Angeles hoje? São mais de dezesseis horas de viagem daqui até lá. – Rebati, minha irmã estava ficando louca. – Vamos nos teletransportar para lá por acaso?
– Não seria uma má ideia, mas vamos de avião. Já comprei as passagens, partimos daqui há duas horas. – Simplesmente se levantou da cama. – Arrume suas coisas. – Saiu do quarto antes deu retrucar algo.
! – Berrei e ela me ignorou. – Que merda. – Olhei para as minhas unhas ainda molhadas. – Vou precisar esperar alguns minutos, a não ser que... Glacies crepito.¹ – Falei e soprei a ponta de meus dedos, que ficaram extremamente geladas, chegando a fazer o esmalte ficar esbranquiçado.
Mamãe odiava que usássemos magia atoa, mas eu precisava que minhas unhas se secassem rapidamente. Balancei a minha mão, e logo o gelo já tinha saído e tudo já estava seco. Perfeito. Sorri olhando minhas unhas e levantei da cama, guardando minhas coisas dentro da bolsinha e a jogando dentro da gaveta.
Puxei minha mala de rodinhas de dentro do meu armário e fui colocando algumas roupas dentro dela. Peguei meu celular e mandei uma mensagem para perguntando quantos dias ficaríamos lá, para saber o que iria levar. Ela me respondeu que seriam cinco. Cinco? Isso era uma festa ou uma rave? Certo, eu não me importava muito com isso, afinal, podia levar meus livros de magia e ficar estudando um pouco caso não tivesse nada para fazer.
Guardei tudo dentro da mala e fui tomar um banho. Demorei uma meia hora, já que tive que lavar meus cabelos pretos enormes. Eu precisava cortá-los, mas hoje não seria o dia para isso. Talvez se tivesse me avisado na semana passada, eu teria tomado as devidas providências. Só que seria bem provável que eu não tivesse aceitado, ela teve sorte que eu estava de bom humor hoje.
Enrolei meu cabelo na toalha e fui correndo vestir minha roupa, afinal, estava ficando sem tempo, e precisávamos chegar antes no aeroporto. Coloquei meu cropped de crochê preto que minha tia-avó tinha feito e me dado de presente no meu último aniversário e uma calça jeans preta também. Não iria me maquiar agora ou ficaria mais atrasada. Apenas penteei meu cabelo e calcei meu tênis preto. Passei meu perfume e desodorante. Peguei uma jaqueta no armário e desci já com a minha mala na mão.
estava jogada no sofá da sala mexendo no celular e rindo toda. Parece que alguém estava flertando ali. Dei um assobio e ela me olhou, ainda sorrindo. Se levantou do sofá e foi puxando seu mala de rodinha em direção a porta da garagem, papai já estava no carro nos esperando.
Colocamos as malas no porta-malas, então entramos no carro, me sentei no banco do carona e no banco de trás. No caminho até o aeroporto papai nos passava recomendações do que deveríamos ou não fazer. Uma delas era para que não brigássemos, nos proibiu de usar magia para qualquer coisa que fosse e também pediu para que ligássemos todos os dias para dizer se estava tudo bem conosco. parecia não estar nos ouvindo, entretida demais com seu celular, então eu ficaria encarregada de tudo, como uma bela e boa irmã mais velha.
Papai ficou conosco até a chamada do nosso voo ser anunciada. Nos despedimos dele e formos andando, estava apressada e foi praticamente correndo na frente, como se aquilo fosse fazer o avião sair quando chegássemos nele, mas apenas ri de sua atitude. Ela parecia estar mesmo ansiosa por essa festa. Entramos no avião e ela pediu para ficar na janela, eu deixei porque para mim não faria diferença, já que ficaria ouvindo música e meditando a viagem toda.
Tivemos uma escala no meio da viagem. E estava quase tendo um treco por isso. Tinha algo que ela ainda não havia me falado, mas não perguntei nada ou poderíamos acabar brigando, e essa não era uma das regras que eu queria quebrar. Então resolvi apenas ignorar e tentar me concentrar na música relaxante que tocava em meus fones de ouvido.

Los Angeles, Califórnia – USA
Depois de mais uma hora e meia finalmente chegamos em Los Angeles. Pegamos um uber na frente do aeroporto e fomos para o hotel que minha irmã tinha feito reserva, com quartos separados... Ok, eu tinha que perguntar agora.
– Por que quartos separados? – Perguntei na frente da recepcionista mesmo.
– Depois eu te conto. – Tentou segurar meu pulso para me puxar dali, mas desvencilhei de sua mão rapidamente.
– Me fala ou eu pego o avião de volta para casa agora. – Ameacei e ela me olhou um pouco nervosa com aquilo.
, por favor. – Pediu e tentou segurar minha mão, e eu deixei.
– Você vai me falar isso quando chegarmos no quarto. – Resmunguei e ela afirmou com a cabeça.
Pegamos o elevador junto com algumas pessoas e fomos para o nosso andar. Pelo menos meu quarto era do lado de dela e tinha uma porta entre eles. Mas mesmo assim nada justificava. Me sentei na cama e cruzei meus braços esperando por sua resposta.
– Não me mata, por favor. – Juntou as mãos e fez cara de piedade.
– Não posso usar magia, então não seria possível te matar sem fazer sujeira, ou deixar evidências. – Ela riu disso, e eu revirei meus olhos. – Fala logo, desgraça.
– Ai, não fala assim. – Falou descontraída. – É que eu conheci um cara há uns dois meses pela internet. – Arregalei meus olhos. – E nós estamos namorando e ele é daqui...
– E ele não podia ter ido até Helena te ver? Nós que tivemos que vir até ele? Ok, tem coisa errada ai! – Soltei de uma vez. – , o que você tem na cabeça? Estamos em uma cidade que mal conhecemos. Se algo der errado estamos longe de tudo e todos que conhecemos! – Levantei da cama na mesma hora. – Nós vamos voltar para casa agora. Vou ligar para a recepção cancelando a nossa reserva. – Falei indo em direção ao telefone.
– Não. – Ela correu até mim e me segurou. – O é legal. Ele só não pode ir até Helena porque, porque, porque... – Tentava arrumar uma desculpa, mas ela era péssima mentirosa.
– Nem você sabe, muito bom. – Tentei pegar o telefone, mas ela não deixou. – Para com isso, ! – Reclamei tentando me soltar dela. – Nós vamos voltar para casa!
– Olha, por favor, me ouve. – Implorava, mas eu não queria ouvir, aquilo era loucura demais para a minha cabeça. – O que ele pode fazer contra duas bruxas? Nada! Ele não pode nos fazer mal algum.
– Ele sabe alguma coisa sobre isso? – Ela negou com a cabeça. – Certo, papai disse que não para fazermos magia, mas dane-se. Vou fazer um colar de ligação para nós duas, se algo acontecer uma vai saber onde a outra está independentemente de sigilo de proteção. – Sai andando em direção a minha bolsa.
. – Chamou, então a olhei. – Não precisa, não vai acontecer nada. Temos celulares para isso. – Levantou seu iPhone. – E se algo acontecer mesmo, o que é impossível, eu posso fazer conexão mental contigo.
– Mas se estiver presa dentro de um círculo que tenha sigilo de proteção você não vai conseguir. – Rebati nervosa. – Não estamos em uma área segura.
– Mas não vai ter, não estamos em uma caça às bruxas. Para com isso. Não vai acontecer nada. – Ela riu. – Está tudo bem. – Veio até mim e me abraçou, e eu fiquei sem saber como reagir, não era do tipo que estava acostumada a receber afeição.
– Me promete que se sentir algo de errado que vai me falar? – Perguntei lhe dando um abraço rápido e me soltando dela logo em seguida.
– Eu prometo. Mas vamos nos arrumar logo, já está quase na hora da festa. – Afirmei com a cabeça e me soltei dela.
Passei uma maquiagem leve no rosto e por fim joguei um batom preto em meus lábios. Não gostava de passar nada pesado em meus olhos, apenas um rímel e delineador neles. Escovei meus cabelos e os joguei para o lado. Ficaria com meu crooped mesmo, apenas troquei minha calça por uma saia de tecido preta e fiquei com meu tênis preto, odiava saltos e nem tinha levado nenhum também.
Voltei para o quarto de e ela estava linda com um vestido dourado e um par de saltos nos pés, que fazia ela ter quase a minha altura. Minha irmã era muito baixa e eu achava isso engraçadinho nela, lhe dava um certo charme, não era igual eu com minhas pernas enormes e desengonçadas. Não sou tão alta assim, tinha um metro e setenta, mas era o suficiente para me sentir desconfortável as vezes, ainda mais quando era obrigada a usar salto.
disse que já está lá. – Falou com um sorriso no rosto. – Estou bonita? – Perguntou passando a mão em sua roupa, e eu sentia sua insegurança. – Pareço ter dezenove anos?
– Pare com isso, você é linda, e não importa quantos anos tem. Ele vai gostar de você pelo que é, e não pelo que aparenta ser. – Lhe estendi a mão. – Vamos. – Dei um sorriso para passar segurança a ela.
– Obrigada. – Agradeceu, então a encarei sem saber o motivo daquilo.
– Pelo que? – Quis saber.
– Por tudo. – Sorriu e passou seus braços ao redor do meu pescoço.
– Ok, ok. – Dei um sorriso pequeno e um tapinha em seu braço esquerdo.
Saímos do quarto, e eu guardei meu celular e documento dentro da barra da minha saia, eles não cairiam ali, ela estava bem apertada. Enquanto ficamos esperando o elevador, batia o pé no chão impaciente.
Sileas.² – Falei e segurei seu mão, então ela respirou fundo e sorriu, agradecendo por isso. Tinha usado uma pequena magia para que se acalmasse. – Ninguém precisa saber disso. – Ela riu e concordou.
As portas do elevador se abriram e nós entramos juntas nele de mãos dadas, apertou o botão do térreo rapidamente. Olhei para o painel numérico que ia diminuindo os números conforme formos descendo, até chegarmos e caminharmos para fora em direção ao ponto de taxi que tinha ali.
Nos jogamos no banco de trás e falou para onde iriamos. A ida foi bem rápida, certamente ela tinha escolhido um hotel próximo da boate que iriamos. O carro parou na frente de um lugar enorme chamado Playhouse, pagamos a viagem ao motorista e descemos do carro.
A fila estava bem grande, e era até mesmo difícil achar alguém ali. olhava para os lados procurando por , mas parecia que não estava vendo ele em lugar nenhum, só falta esse cara ter dado bolo nela.
– Liga para ele. – Disse em seu ouvindo e ela concordou, pegando seu celular entre seus peitos.
Ela fez a ligação e nada. Ficou mexendo por um tempo no celular e depois segurou meu pulso, me puxando em direção ao final da fila.
– Ele disse que está lá dentro e que vai me esperar perto do bar. – Assenti ao ouvir o que ela disse.
Ficamos esperando a nossa vez, e isso demorou longos trinta minutos ou mais, estava sem relógio e não queria pegar meu celular para ter a noção do tempo. Então finalmente conseguimos entrar. O som ali dentro estava muito alto, e o lugar tinha tanta gente que me perguntava como iriamos passar por aquelas pessoas e conseguir pôr fim achar . Demos as mãos novamente e entramos no meio daquelas pessoas que dançavam.
Tocava uma música eletrônica misturada com indie. Ela tinha uma batida gostosa, me fazia querer dançar, pensei em falar para parar e dançar um pouco comigo aquela música, mas ela surtaria se eu pedisse isso. Então só movia minha mão livre que estava para cima e um pouco do meu corpo quando parávamos tentando passar por algumas pessoas.
Até que chegamos no bar e nada. Ótimo. Me debrucei no balcão para pedir uma bebida enquanto mandava mensagem para . Pedi um Sex On the Beach bem gelado, pois ali dentro estava quente. O barman me passou uma cantada quando me entregou a bebida e eu apenas ri daquilo e não respondi nada, entreguei meu cartão da comanda e ele registrou meu pedido.
Me virei e encostei no balcão. Vi um cara vindo em nossa direção. Ele era alto e magro, e seu cabelo era pink em um corte de máquina dois ou três, chamava muita atenção, sem mencionar que ele estava de suspensórios e sem camisa, com uma calça que parecia preta e que estava bem apertada. Ele era cheio de tatuagens, peitos, braços e acho que na mão esquerda também, já que ela segurava o copo que piscava freneticamente várias cores. Em seus lábios inferiores tinham dois piercings, um de cada lado, eram argolas, mas as cores eram indescritíveis em meio daquela iluminação, percebi que no septo ele também tinha um piercing, assim como uma argola em sua sobrancelha direta. Ele era muito bonito inclusive, tinha estilo, gostei. Meu olhar foi subindo e quando encontrou com os dele senti algo estranho, uma aceleração no meu batimento cardíaco me fez puxar o ar com força, uma pequena vertigem tomou minha cabeça no mesmo instante. Mas que porra foi essa? Fechei os olhos e abaixei a cabeça na tentativa de fazer a breve tonteira passar, e passou, mas um frio em meus estômago começou a me tomar, uma euforia desconhecida tomava conta do meu corpo rapidamente. Ergui minha cabeça.
– Achei vocês. – O cara falou, e arregalei meus olhos no mesmo instante.
que estava do meu lado soltou um gritinho e se jogou nos braços dele, então eles se beijaram, e isso me fez olhar para o outro lado e dar um gole em minha bebida. Meu Deus, que sensação bizarra é essa que estou sentindo? Queria sair dali, mas não podia deixar minha irmã sozinha, então apenas esperei que eles parassem de se agarrar.
. – Senti meu ombro sendo puxado. – Esse aqui é o . – Me apresentou ao rapaz de cabelo pink, que sorriu. – , essa é a minha irmã .
– Olá. – Entendeu sua mão esquerda, já que a direita estava ocupada segurando seu copo pisca-pisca.
– Oi. – No instante que segurei a mão dele que estava bem quente e senti sua energia, ele emanava poder. era um bruxo! O soltei rapidamente e tentei não olhar para a cara da minha irmã, ou então falar qualquer outra coisa. – Está calor aqui dentro, ou é só eu? – Cale a maldita boca.
– Não é você, aqui está quente mesmo. – respondeu dando um sorriso. – Vem, vamos dançar. – Segurou a mão de , que segurou a minha.
Não, eu não queria mais dançar. Queria sair dali, queria sair perto dele, pois algo naquele garoto que parecia que me sugava, que me puxava para perto, era assustador. Tinha alguma coisa estranha com aquele cara e não era apenas por ser bruxo, não era possível que não tenha sentido. Bem, talvez seja porque sou mais forte que ela e nossa tia-avó tinha me ensinado a sentir a energia das pessoas para saber com que estou lidando. Só que tinha me deixado confusa. Eu não sabia dizer o que eu tinha sentido quando olhei em seus olhos e muito menos quando toquei sua mão. Foi algo que nunca senti antes e que muito menos li sobre. Meu Deus, eu preciso me afastar!
Me virei para sair dali, mas algo me fez parar, eu não conseguia dar um passo para longe dele. Na verdade... eu não queria. Minha cabeça berrava uma coisa e algo dentro do meu peito berrava outra. Era como se eu estivesse dividida entre o céu e o inferno. Era uma sensação de dúvida horrível. Eu não podia estar perdendo minha sanidade tão facilmente assim. Alguém tira isso de dentro de mim! Parecia um parasita que estava sugando minhas forças. Senti um toque suave em minha cintura, onde meu crooped e saia não cobriam, e era de , eu sabia disso. Então fechei meus olhos e tentei limpar a minha mente, deixando a música entrar em meus ouvidos. Meu corpo começou a me mover na batida, que era lenta agora.
Sinta, apenas sinta. Aquilo me deixou finalmente calma, não sei se foi ele ou o que foi, eu só sabia que não queria mais ir embora. Meu coração não parava de bater com força, mas isso não era mais um problema.
Passei a mão livre em meus cabelos e depois levei o canudo da minha bebida até meus lábios, a tomando lentamente, sentindo o liquido gelado me esfriar por dentro. Aquilo era tão gostoso. Aquela sensação que estava sentindo no momento. Não queria parar de sentir. A mão de ainda estava no mesmo lugar, não queria olhar para trás, não queria olhar novamente em seus olhos por puro medo de que ele conseguisse me ver por dentro. Medo dele ver a escuridão dentro de mim e fugir. Eu tinha tantos segredos nos quais nunca vou poder dizer para ninguém, pois isso assustaria até mesmo o próprio diabo.
Meu corpo se movia de um lado para o outro de um jeito gostoso, meus cabelos compridos já estavam colados em minhas costas e nuca, e eu não queria parar de dançar independentemente do quão quente estava ali dentro. e não saiam do meu lado e dançavam junto comigo, minha irmã entre nós dois. Eu tinha vislumbre de seu olhar em mim, tinha algo estranho e eu precisava saber o que era. A forma como ele me olhava e se mexia, como tocava em meu corpo, tudo o que fazia era como se um imã me puxasse de encontro ao e aquilo me incomodava demais.
Até que a diversão teve fim e a festa acabou. A boate já estava fechando, o que me fez olhar as horas e ficar espantada por já ser três da manhã. Pagamos nossas comandas e saímos de lá. A brisa da noite me fez arrepiar e só ai que me toquei que estava morrendo de fome, não tinha comido nada desde a hora do almoço, isso explica muito bem o motivo de eu ter ficado bêbada tão fácil com apenas uns drinks.
– Meu carro está na rua de trás. – Disse dando um sorriso, ele também estava bêbado.
– Seu carro vai ficar na rua de trás, ninguém aqui está bem o suficiente para dirigir. – Fui andando na frente em direção a um taxi livre. – Andem logo. – Reclamei já entrando no lado do carona.
e praticamente caíram um em cima do outro no banco de trás do carro, e ficaram rindo por isso. Pedi para o homem nos levar até drive-thru mais próximo ou eu desmaiaria de fome. Ele parou em um fast-food qualquer que eu não conhecia. Pedimos três combos de hamburguês, batata e refrigerante grande, acho que isso seria o suficiente. Não esperei até que chegássemos no hotel, fui comendo meu lanche no caminho mesmo, minha irmã até faria isso se não estivesse ocupada demais com a língua dentro da boca do seu “namorado”.
Paguei a corrida e fui a primeira a sair do carro, não aguentava mais ver aqueles dois no banco de trás se pegando. Bem, acho que reclamei cedo demais, já que quando eles me viram saindo, vieram correndo atrás de mim aos risos e quando entramos no elevador eles começaram novamente. Estava quase jogando o lanche deles em suas cabeças ou pelo menos o refrigerante, mas talvez não funcionasse porque o fogo na bunda era grande demais.
Assim que as portas do elevador se abriram saímos de lá, eles quase jogaram uma mesa com um vaso de flor no chão, que estava no meio do corredor.
– Tem como vocês esperarem chegarmos na merda do quarto, pelo menos? – Perguntei irritada com aquilo tudo.
– Ih, ela é nervosa. – comentou e minha irmã riu, e eu apenas dei o dedo do meio para eles dois. – Muito nervosa.
– Você ainda não me viu nervosa, queridinho. – Dei um sorrisinho para ele, abri a porta do quarto de e entrei. Deixando o lanche deles sobre a mesa que tinha ali.
Não desejei nem boa noite, apenas passei pela porta que dava acesso ao meu quarto e a bati atrás de mim, trancando logo em seguida, não queria ninguém me acordando ou interrompendo a meditação que faria após o banho. Tirei minha roupa e liguei a banheira.
Fiquei mexendo em meu celular enquanto esperava. Foi impossível não sorrir os ver as nossas fotos que minha irmã tinha postado em seu Instagram. Elas tinham ficado mesmo ótimas. Achei estranho o não estar marcado nelas, mas depois perguntaria isso a .
Desliguei o registro e joguei sais de banho na água, depois entrei nela. Encostei a cabeça na beira da banheira e fechei os olhos, mas isso me fez ver o no mesmo instante. Voltei a abri-los rapidamente. Não, nem pensar nisso. Eu não posso pensar no namorado da minha irmã, não mesmo. Porcaria. Afundei na água na tentativa de fazer os pensamentos irem embora e fazer com que a minha mente ficasse limpa. Mas não adiantou em nada, o cara de cabelos pink ainda estava em meus pensamentos. Isso não pode ser possível.
Depois do meu longo banho me deitei na cama apenas enrolada na toalha e tentei meditar, e por mais difícil que foi, conseguir fazer isso. que ficava rodeando a minha cabeça, finalmente sumiu, mas isso durou apenas alguns segundo, pois o barulho da cama batendo na parede, que vinha do quarto ao lado, me puxou de volta.
Não, não, não! Logo os gemidos de podiam ser ouvidos. Que inferno! Isso estava me fazendo ficar profundamente irritada. Levantei da cama e pensei em esmurrar a porta apenas para atrapalhar eles, mas isso seria muito babaca da minha parte. Então apenas penteei meu cabelo molhado. Vesti uma roupa e sai, batendo a porta do quarto.
Não tive paciência de esperar o elevador chegar, pois dava para ouvir os gemidos de do corredor, então desci de escadas, mesmo que estivéssemos no vigésimo sexto andar. No fundo eu sabia qual era a verdade do motivo deu estar agindo nessa maneira, mas nunca poderia admitir isso nem para mim mesma ou haveria consequências nas quais não sabia se conseguiria controlar. E para ser sincera não sabia o motivo de estar sentindo isso dentro de mim, não havia cabimento para tal coisa. E isso me deixava irritada, queria descontar o que estava sentindo em algo, eu queria brigar com alguém por isso!
Mas não podia fazer nada. Não podia brigar com por estar me sentindo assim, e muito menos com . Eu nunca fui presente na vida dela, sempre fui apenas um fantasma que morava na mesma casa, e agora que eu estava aqui, próxima dela, não podia estragar as coisas. E sim, eu estava tentando fugir do medo que estava começando a me dominar.
Abri a porta da saída com força e em passos rápidos passei pela recepção, por uma fração de segundos senti algo estranho, como se as coisas ficassem lentas e uma presença forte e sombria. Olhei para o lado tentando ver de onde vinha, mas no segundo seguinte já havia sumido. Uni as sobrancelhas, parei de andar e busquei ao meu redor qualquer vestígio que fosse, só que não tinha mais nada. Que bizarro, será que estou ficando louca? Certo, isso deve ter sido da minha cabeça.
Voltei a caminhar rapidamente e sai do hotel. Fiquei andando pelas ruas, sem destino algum, apenas para tentar me acalmar. Até que eu não sabia onde estava. Peguei meu celular dentro de meu bolso para ver o GPS, mas ele estava descarregado. Ótimo, realmente ótimo. Eu estava perdida em Los Angeles. Guardei meu iPhone no bolso de minha calça e voltei a andar. Até que achei um parque. Me sentei na grama e depois deitei nela, enquanto olhava para o céu escuro. Ele tinha poucas estrelas.
Aos poucos meus olhos foram se fechando, ali estava tão tranquilo comparado ao hotel, que peguei no sono sem ver. Acordei com a luz do dia começando a surgir. Porcaria. Eu dormi demais. Alguém podia ter me roubado, ou feito coisa pior. Apalpei meus bolsos para ver se meu celular, documento e dinheiro ainda estavam comigo, e tudo estava em seu lugar. Me sentei e senti minhas costas doerem. Acho que eu estava ficando velha para dormir em qualquer canto. Levantei e passei a mão em minha roupa para poder limpá-la, e olhei para os lados. Legal, preciso pegar um taxi e voltar para o hotel, mas não sei nem aonde estou.
Comecei a andar e logo encontrei um taxi, pedi para ele me levar até o hotel, que por sorte eu sabia o nome ou estaria ferrada. Não demoramos muito para chegar. Saltei do carro jogando o dinheiro para o motorista e entrei. Quando as portas do elevador se abriram para mim, dei de cara com . Ele parou e ficou me olhando fixamente de volta. Por que ele estava indo embora a essa hora? Fiquei aonde estava esperando que falasse algo, mas não aconteceu, então entrei e apertei o botão para a porta se fechar.
sabe que você está indo embora? – Perguntei cruzando meus braços e encostando na parede.
– Eu vou ligar mais tarde. – Respondeu sem me olhar.
– Qual é o jogo? Chamou ela aqui só para transar? – Eu não conseguia parar de olhá-lo, e isso me incomodava.
– O que? Não, é claro que não. – Falou rapidamente e me encarou. – Eu só preciso resolver uns problemas pessoais. – Tentou se justificar. Olhei para o painel do elevador, e marcava seis e meia da manhã.
– A essa hora? – Apontei para o relógio. – Qual é, , não quer mesmo mentir para mim, não é? – A essa altura ele também deveria saber quem eu era.
– Não estou mentindo. – Me olhou. – Surgiu um problema de última hora que eu preciso resolver.
– Qual seria o problema tão importante assim que você não poderia ficar com a sua namorada que viajou mais de mil milhas apenas para te conhecer? – Apertei o botão que fez o elevador parasse.
, eu preciso mesmo ir. É importante. – Apertou o mesmo botão que eu e depois o do andar seguinte.
– Espero que realmente ligue e de uma boa desculpa para . – Ergui uma sobrancelha e dei passagem para que ele saísse. – Pois vou infernizar a cabeça dela para irmos embora hoje e garanto que sou muito mais convincente que você. – Ele me olhou quando as portas já estavam fechando, nos separando.
Fiquei olhando para o chão esperando que meu andar chegasse logo. Não esperei nem as portas abrirem totalmente, já passei por elas e fui caminhando rapidamente pelo corredor. Entrei em meu quarto e comecei a arrumar minhas coisas. Não ia ficar no inferno daquela cidade nem por mais um minuto. Coloquei meu celular para carregar e fui até o quarto de . Ela dormia sozinha no meio da cama, completamente nua, apenas com o edredom cobrindo a sua cintura. Peguei uma muda de roupa dela dentro de sua mala e joguei em cima de minha irmã, que acordou assustada.
– Vamos embora. – Falei no mesmo instante.
– O que? Está ficando maluca? Cadê o ? – Perguntou enquanto olhava para os lados.
– Foi embora. – Respondi enquanto voltava para meu quarto.
– Não acredito que você o mandou embora! Qual é o seu problema? – Gritou, e a porta pela qual eu ia passar se fechou, quase me acertando.
– E por que eu mandaria ele embora? – Me virei e a olhei irritada. –, não é possível que você seja tão burra ao ponto de não ter percebido! – Ela me olhava nervosa. – é um bruxo, não tem redes sociais, sim, eu fui procurar no seu Facebook e Instragam, ele não tem nenhum dos dois! – Seus olhos me encaravam sem acreditar em minhas palavras. – Ok, você não sentiu a energia dele. Muito bom, . – Bati palmas.
– Você sabe que sou péssima nisso! – Rosnou com raiva. – Mas e daí se ele é um bruxo?
– Ele não é um bruxo como você, ele é diferente! – Passei a mão em meus cabelos. – Me fala, o que você sabe sobre o ? – Cruzei meus braços.
– Sei das bandas que ele gosta, as comidas que ele curte, da cor favorita dele... – A interrompi.
– Família. Sobrenome. Amigos. Coisas reais. O que você sabe sobre isso? Que cara como ele vai para uma balada sem amigos? – Joguei em sua cara, e ela não tinha respostas. – Viu, você não sabe. Você não sabe de nada sobre ele!
– Cala a boca! – Gritou e me atirou contra a parede usando magia, me prendendo contra ela.
, você não vai mesmo querer brigar comigo, não é? – A encarei enfurecida.
– Acha que tenho medo de você? Acha mesmo que tenho medo dessa bosta de escuridão que tem ai dentro? – Se levantou da cama e vinha em minha direção. – Não, eu não tenho medo de você! – Prendeu meu corpo com mais força.
– Para com isso. – Pedi tentando me controlar. – Me solta! – Fechei meus olhos com força.
– Nós não vamos embora. – Finalmente me soltou, me fazendo cair de joelhos no chão.
– Eu vou embora e mamãe não vai gostar nada de saber que você ficou. Não tem opção, vai voltar comigo querendo ou não. – Falei apoiando minhas mãos no chão e respirando fundo, sentindo o gosto de sangue em minha boca.
– Eu te odeio, ! – Gritou e entrou no banheiro, batendo a porta atrás de si.
Acho que comprei meu destino diretamente do inferno mesmo, porque não é possível! Qual era a porra da dificuldade da se portar como uma pessoa de dezenove anos e não como uma de quinze? Não era novidade ela usar magia contra mim quando brigamos, só que dessa vez foi diferente, pude sentir que realmente queria me machucar.

1. Glacies crepito - Gelado
2. Sileas - Fique calma




Filhos de um Deus menor

Helena, Montana – USA

voltou para casa comigo muito a contragosto, mas houve condições, eu não falaria nada sobre , e ela falaria que voltamos mais cedo por não estar se sentindo bem. E naquele dia mais tarde realmente ligou para minha irmã pedindo desculpas por ter saído cedo daquele jeito, e deu a mesma desculpa, dizendo que precisava resolver assuntos pessoais, mas que depois contava a ela o que era pessoalmente, pois viria para Helena vê-la o mais breve possível.
Não é preciso nem falar que não acreditei nisso, certo? Para mim ele não passava de um belo mentiroso. Cheio de segredos que me deixavam desconfiando dele ainda mais.
Depois disso mal trocava palavras comigo, o que para mim era completamente normal. Ela precisou de mim quando nenhuma amiga quis ir até Los Angeles lhe fazendo companhia, e agora eu tinha voltado a ser sua irmã mais velha pela qual ela nutria ódio eterno. Nada de novo sob o sol.
Uma semana depois veio realmente visitar , mas de forma bizarra, assim como tudo que vinha dele, o cara arranjou um apartamento no centro e se mudou para cá. Na verdade ele já trouxe todas as suas coisas quando veio, eu vi seu carro abarrotado de tralha quando parou na frente da nossa casa pela primeira vez. Aquilo era tão estranho que dava para sentir no ar. E eu me perguntava como não conseguia perceber nada! Assim como meus pais que o adoraram e aprovaram o namoro. Mas ao contrário de minha irmã, mamãe viu que ele era bruxo no momento em que cruzou a nossa porta. E acabou confessando que era mesmo e só, sem falar qual era sua linhagem ou de onde veio. E sempre que eu questionava isso dentro de casa as coisas viravam uma verdadeira guerra, e mamãe terminava a discussão falando que ele era um bom rapaz, que fazia feliz, e era só isso que importava. Como assim era só isso? Não, não era só isso. Nós tínhamos um completo desconhecido dentro de nossa casa. Um bruxo sem procedência, cheio de mistérios e segredos. Como era só eu que me importava com isso?
Depois de três meses, mamãe resolveu que iríamos jantar na casa da tia avó Wanda e que ela falaria se tivesse algo com no qual deveríamos saber. Pelo menos isso me deixou mais calma, ninguém nunca conseguiu esconder nada da minha tia avó, ela era uma bruxa com poderes especiais, digamos que tinha aptidão ao elemento espírito, conseguia ver a aura da pessoa sem precisar fazer uma sessão de leitura e ainda conseguia sair do seu corpo a hora que quisesse e puxar qualquer outra pessoa de dentro de seu próprio corpo também. Isso lhe mostrava tudo o que ela precisava saber, pois dizia que a cor da aura falava muita coisa sobre a pessoa. Claro, além de ela ser super sensitiva. Abria um baralho de tarot como ninguém. Existiam poucas bruxas com a mesma aptidão que ela, para ser sincera o ciclo de bruxas com o dom dos cinco elementos era muito pequeno. Ao contrário das bruxas normais cujos poderes eram hereditários, as bruxas que tinham alguma aptidão traziam esse poder desde sua primeira vida, dizia a lenda que elas ganharam o poder dos Deuses.
Cada aptidão funcionava de um jeito, a do fogo podia queimar qualquer coisa do nada, o fogo saia de dentro da pessoa, era algo bem intenso, a do ar podia controlar o vento e fazer um simples ventinho se tornar um furacão, o que ajudava bastante quando queria se livrar de algo, já a da terra podia controlar qualquer coisa da natureza, era lindo ver uma bruxa fazer uma árvore florescer, e a da água transformava qualquer coisa em água, controlá-la e trazer a matéria em sua forma original se desejasse, sem dúvidas era muito foda.
Ouvi alguém bater na porta do meu quarto e pedi para entrar, era minha mãe avisando que já estavam me esperando. Assenti e acabei de prender meu cabelo em um rabo de cavalo alto, e olhei minha roupa uma última vez. Eu estava usando uma jaqueta de couro, camiseta de seda, calça jeans rasgada e um sapato Oxford, tudo preto. Assim como minhas unhas e meu batom.
Peguei meu celular em cima da cama e desci, vi e sentados no sofá, conversando, e ele sorriu quando me viu. Como sempre sentia meu coração ficar extremamente acelerado quando seus olhos encontravam os meus, e isso me deixava completamente sem jeito. Forcei um meio sorriso e fui em direção a garagem, entrando no carro de papai. Logo minha irmã veio, junto de e mamãe, que tinha uma torta de maçã em seus braços. Coloquei meus fones de ouvido para tentar me desligar ao máximo daquele carro.
Saímos de casa e eu fiquei a viagem toda olhando pela janela tentando evitar o garoto que estava sentado ao meu lado. Por que não veio sentada no meio? Parecia que fazia para me provocar, ficava enfiando na minha goela a força, e como sempre eu tentava desviar ou fingir apenas que não estava acontecendo nada, e dava meu show depois quando ele ia embora. E isso fazia minha irmã e eu brigarmos ainda mais.
Assim que papai estacionou rente a calçada, eu abri a porta do carro para sair de dentro dele. Já estava andando em direção a casa da tia avó quando minha mãe me mandou esperar. Rolei meus olhos e bufei, então parei e esperei por eles. Meus pais queriam entrar na frente, coisa de gente velha. Tocamos a campainha, e a velha mais simpática do mundo abriu a porta com um sorriso enorme abraçando meus pais. Eu, e estávamos logo atrás, juntos, e como sempre o garoto de cabelo rosa estava entre nós, me obrigando a ficarmos de braços dados, os três. Nossa, como isso me deixava extremamente desconfortável. Quando passamos pela porta, tia avó Wanda nos olhou por segundos antes de dar seu enorme sorriso. Ela tinha visto algo. Eu sabia que tinha coisa aí, eu sabia!
– Vejam só. Quem é esse rapaz bonito? – Veio na direção de já de braços abertos.
– Esse é o , tia. – respondeu com um sorriso orgulhoso.
– Prazer, Senhora Pretz. – a abraçou de volta.
– Ah, por favor, me chame apenas de Wanda, me chamar de Senhora me faz lembrar a minha idade. – Brincou e isso fez todos rirem. – E olhem só, eu deveria puxar a orelha de vocês duas, especialmente da Senhorita ! Só vêm visitar a tia quando seus pais as trazem.
– Hey, que mentira. – Argumentei. – Eu sempre venho aqui.
, me diga a última vez que você veio? Foi o que, há cinco meses para pegar um livro meu, que por acaso está fazendo falta na minha estante. – Colocou a mão em sua cintura.
– Eu não o trouxe porque ainda estou estudando ele. – Me defendi. – Acho que você esqueceu o tamanho dele.
– Ok, essa eu vou deixar passar, mas agora essa mocinha aqui. – Segurou a orelha da minha irmã. – Eu deveria te colocar ajoelhada no milho por ter me abandonado. – Soltou sua orelha no final da frase.
– Eu sei, tia. Me desculpa por isso, não vai voltar a acontecer, eu prometo. – Choramingou. – Mas veja, eu estou aqui hoje. – Abriu os braços e deu um sorriso.
– Hum, vou pensar se irei te desculpar com isso. – Fez cara de sentida e nós ficamos rindo. – Podem parar de zombar da tia de vocês. – Deu um tapa em nossas bundas para que passássemos por ela. – Andem, entrem logo, não preciso de encostos de porta novos.
– Ela viu algo. – cochichou em meu ouvido quando entramos.
– Ela não viu nada. – Rebati baixinho, tinha medo do que a tia avó Wanda pudesse ter visto algo em mim.
– Ela viu o que? – entrou no meio do nosso cochicho. E quando o olhei, reparei em seus lábios. Haha, porcaria.
– A tia pode ver coisas. – Minha irmã explicou.
– Que tipo de coisas? – O garoto pareceu alarmado ao ouvir aquilo.
– Coisas, oras. – Falei e vi que a tia avó olhava para nós. – Vamos parar com isso, ela está nos olhando.
Então dispensamos a conversa e fomos direto para a sala de jantar, pois ele tinha acabado de ser posto. Uma música celta tocava ao fundo, deixando o ar bem leve e relaxante. Papai serviu vinho para todos, menos para , ele não achava legal ela beber sendo menor de vinte e um, mesmo que estivéssemos dentro de casa. A comida da tia avó Wanda estava deliciosa como sempre. No meio da refeição o questionário começou.
– Então , você é de onde? – Segurei a risada quando ouvi a pergunta, ele nunca falava de onde era. chutou minha canela por isso.
– Ele é de Minnesota. – se apressou ao dizer.
– É mesmo? Que cidade de Minnesota? – Ela olhava diretamente para .
– St Paul. – Mais uma vez se meteu.
– Querida, que tal o responder? – A tia avó Wanda seu um sorriso generoso. – Então, seus pais vieram para cá contigo?
– Não, meus pais faleceram quando eu tinha dezoito anos. – Se lamentou e isso me fez ficar triste por ele, não sabia desse fato.
– Meus sentimentos por isso. – A velhinha abaixou a cabeça por um segundo, mas logo depois voltou a olhá-lo. – Você não tem ninguém? Nenhum irmão?
– Não, eu era filho único. – Respondeu dando um gole em seu vinho. – Desde que meus pais se foram eu tenho buscado um lugar onde me sinto em casa, e acho que encontrei. – Segurou a mão de minha irmã, e isso me fez derrubar a minha taça de vinho sem querer, a sorte era que estava vazia.
– Me desculpe. – Falei rapidamente e olhei para ver se a taça de cristal não havia trincado.
– Tudo bem querida, isso é só cristal velho. – Fez um gesto banal com a mão. – Tome mais vinho. Gregory, sirva mais vinho à sua filha. – Mandou e meu pai pegou minha taça e colocou mais.
– Vó, você está querendo me ver bêbada? – Perguntei divertida. – Obrigada, pai. – Agradeci quando ele me entregou a taça.
– Não, quero te ver apenas alegre. – Sorriu e isso me fez ficar acanhada. – tem alguma aptidão?
– Aptidão? – Uniu as sobrancelhas enquanto pegava sua taça de vinho.
– Sim. Aptidão. , mostre à ele. – Pediu e eu arregalei meus olhos quase cuspindo o vinho que estava em minha boca. Levei o lenço que estava sobre minhas pernas até meus lábios, os secando um pouco. me olhava esperando por algo. – ? – Por segundos eu tinha me pedido nos olhos do rapaz que estava a duas cadeiras de mim.
Turn aqua.¹ – Fiz um gesto com a minha mão, fazendo a taça de vinho dele virar água e vazar por seus dedos e molhar a sua roupa.
– Que merda, ! Odeio quando você faz isso! – reclamou já secando a roupa do namorado com seu lenço de colo.
– Fica calma, amor, é só água. – segurou sua mão e sorriu. Tive vontade de transformar aquela mesa toda em água.
Et revertetur ad veram formam.² – Falei e dei um gole em meu vinho, então a água voltou a virar taça, assim como o vinho que tinha dentro dela. – Viu, agora está todo mundo seco. – me olhou com raiva e fez a minha taça virar em minha roupa usando magia. A sorte era que a minha roupa era preta, me levantei da cadeira na mesma hora, indo em direção ao banheiro.
! – Mamãe falou, a repreendendo.
Turn aqua. – Disse e o vinho que estava melado minha pele virou água, então peguei uma toalha e me sequei. – Seria uma ótima hora eu ter aptidão de fogo para secar isso. – Resmunguei e quando olhei para o espelho, levei um susto, vendo atrás de mim.
– Me desculpe pela . – Pediu, ele não tinha uma cara muito feliz.
– Não precisa se desculpar, estou acostumada com isso. – Passei a toalha em meus peitos e pescoço.
– Nunca tinha visto essa tatuagem. – Apontou para a sombra da cabeça de chacal em meu antebraço. – É Anúbis, certo? – Olhei para a minha marca.
– Sim, é ele. – Concordei e coloquei a toalha de volta no gancho.
– Posso ver? – Pediu e eu fiquei com receio, mas por fim estendi o braço. – Gostei. – Quando foi tocá-la eu puxei meu braço de volta.
– Desculpa, eu não gosto que toquem nela. – Forcei um sorriso e passei a mão em minha nuca. – Acho melhor voltarmos para a sala de jantar.
– Sim, claro. – Deu passagem para que eu passasse.
Quando voltamos estava com cara de maus amigos enquanto acabava de comer sua refeição. O resto de jantar foi silencioso. Quando terminamos de comer, mamãe serviu a torta para nós. Ela estava realmente deliciosa.
, quer ficar para o Sabbat que vai ter hoje? – Do nada a tia avó Wanda perguntou.
– Mas eu nunca participei de um Sabbat. – Falei um pouco assustada com a ideia.
– Não precisa se preocupar, querida, não vamos matar virgens e nem sacrificar nenhum animal. – Soltou uma risada. – Isso ficou para o século passado.
– Se você está dizendo. – Brinquei e nós rimos. – Mas aceito o convite.
– Ótimo, assim poderemos passar um tempo juntas. – Sorriu, ela era a minha única amiga.
Então aquele jantar finalmente acabou, e eu fiquei agradecida por isso. Ajudei minha tia avó a tirar e a lavar as coisas. Meus pais, e foram embora logo depois. A casa estava no maior silêncio, só dava para ouvir eu colocando os pratos secos dentro do armário. Senti uma presença atrás de mim, e quando me virei era apenas Wanda.
– Odeio quando faz isso. – Ela tinha a péssima mania de sempre me assustar.
– É engraçado a cara de pânico que você faz. – Deu uma risada e acendeu seu cachimbo, enquanto pegava seu baralho de tarot dentro de sua cristaleira. – Sente, tem uma carta querendo falar com você.
– Antes disso. – Me sentei e coloquei minha mão sobre a dela. – O que você viu quando entramos?
– Você sabe o que eu vi. – Puxou o fumo de seu cachimbo, fazendo a fumaça vir para meu rosto.
– Me fala, eu não sei. – Pedi e ela suspirou.
– Você ama aquele rapaz. – Ouvir aquelas palavras fez meu coração disparar. Como assim eu o amo? Não, aquilo estava errado. O máximo que sentia era uma atração, e olhe lá. – Mas não é recíproco, ele gosta da sua irmã, e vice versa. Fique longe dele, ou irá magoar . – Abaixei a cabeça, foi duro escutar aquilo. – Tem mais coisas que você vai descobrir com o tempo, mas o momento não é agora. – Segurou a minha mão. – Se quiser ficar aqui comigo eu posso te ensinar mais coisas, e você poderá ficar longe dele.
– Tudo bem, eu aceito o convite. – A olhei e dei um pequeno sorriso. – O que as cartas querem me dizer? – Tentei mudar de assunto.
– É a carta, apenas uma que quer te falar algo. – Abriu sua caixa e tirou seu baralho lá de dentro. – Limpe sua mente e a carta irá se revelar. – Abriu as cartas sobre a mesa, fazendo um círculo.
Fechei meus olhos e limpei minha mente, sentindo o cheiro do fumo do cachimbo de Wanda. Abri meus olhos e passei a mão por cima das cartas buscando a energia que mais me atraia, então puxei. Morte. Olhei assustada para minha tia avó, aquilo fez meu coração acelerar e ficar muito apertado. Ela então tirou a carta de minha mão e embaralhou novamente, e depois tirou outra carta. Morte.
– Vó, me fala que isso está errado. – Pedi e ela não me respondeu. – Vó. – Chamei e seu olhar encontrou o meu. – Me conta o que você está vendo.
– Eu só vejo escuridão. – Podia ver medo em seus olhos.
– A minha? Eu vou causar algum mal a alguém? – Perguntei em desespero.
– Eu não sei. – Guardou o baralho rapidamente e apagou seu cachimbo. – Vamos para o Sabbat.
– Vó. – Chamei e ela me olhou enquanto se levantava. – Me diga o que posso fazer.
– Fique longe do , só isso. – Então se virou e guardou o baralho dentro da cristaleira.
Ela saiu da sala, me deixando sozinha ali. Eu não conseguia sair dali, pensando na carta. Morte. Eu iria fazer mal a alguém. Isso não saia da minha cabeça. Será que eu machucaria o ? Algo aconteceria a ele? Eu me machucaria por causa dele? O que diabos aquele garoto tinha a ver com isso? Por que Wanda nunca deixava as coisas claras?
– Pare de pensar nisso, . Vamos logo. – Minha tia avó já estava de pé na porta com sua bolsa no braço e a chave do carro na mão. – Vai ficar tudo bem.
– As cartas já erraram? – Perguntei levantando e indo em sua direção.
– Não, mas já as interpretei de forma errada. A morte teoricamente pode ser simbólica também. – Se aquilo foi para me deixar mais tranquila não tinha dado certo. – Não vai acontecer nada, fica tranquila.
– E a escuridão que você diz que viu? – Passei por ela e tranquei a porta.
– Acho que a carta absorveu um pouco da sua magia, por isso que eu estava vendo a escuridão. – Explicou, e depois segurou minha mão. – Fica calma, garota. Eu estou aqui para cuidar de você.
– Obrigada. – Sorri e me senti mais calma quando ela segurou minha mão.
Entramos em seu carro e fomos para o local onde seria o Sabbat. Paramos na frente de uma casa grande e demos a volta pela lateral dela, indo para um jardim que tinha na parte de trás. Lá tinha cerca de umas dez pessoas, todas mais velhas que eu. Quando paramos de andar, os olhares se direcionaram para nós, ou foi só para mim? Certo, certamente era para mim, eu podia sentir isso, então senti vontade de me virar e ir embora, por me sentir completamente intimidada com aquelas pessoas. Um homem que deveria ter a idade do meu pai se aproximou com um sorriso no rosto e isso me fez ficar um pouco mais tranquila, pelo menos alguém veio nos receber em vez de ficar nos olhando como se fôssemos intrusas, no caso eu, porque minha tia avó Wanda deveria conhecer todos ali.
– Wanda. – Disse o homem e lhe estendeu a mão.
– James. – Minha tia avó segurou sua mão e deu um sorriso singelo. – Essa é minha sobrinha neta . – Gesticulou em minha direção.
– Muito prazer. – Agora estendeu sua mão para que eu a pegasse. Por segundos fiquei a olhando e por fim aceitei o convite.
– Olá. – Falei de forma tímida e sorri sem mostrar os dentes.
– Querida, todos que estão aqui são como nós. James por exemplo tem aptidão da terra. – Wanda explicou.
Então o homem pegou um botão de rosa da roseira do nosso lado e ela floresceu em sua mão, e por fim me entregou. Fiquei maravilhada vendo aquilo, nunca iria me cansar de ver esse tipo de coisa, era tão lindo. Peguei a rosa e agradeci, ainda encantada com ela, e sentindo a energia que tinha ali. Era reconfortante.
– Muito obrigada, James. – Dessa vez dei um sorriso enorme. – Pequenas coisas assim fazem o mundo ficar mais lindo. – Falei do nada enquanto olhava para a rosa.
– Sentem-se onde quiserem, já vamos acender a fogueira. – Gesticulou em direção aos bancos que estavam ao redor de um empilhado de madeira. – Fiquem à vontade. – Depois disso ele se retirou.
Minha tia avó segurou minha mão e me puxou para um banco de dois lugares, e nos sentamos nele. Fiquei olhando ao redor sentindo a energia daquele lugar que me deixava bastante confusa, era muita coisa junta. Até que uma senhora que aparentava ter uns setenta anos parou na frente do empulhado de madeiras e colocou fogo nele, fazendo as chamas subirem bem alto. Meus olhos se focaram naquilo, vendo o quão gracioso era a dança que as labaredas de fogo faziam, e no meio delas pude ver .
– Vó. – Chamei baixinho e a olhei. – Você viu algo de errado no ? – Quis saber, mas ela apenas negou com a cabeça. – Então porque eu sinto que tem?
– Não é algo errado que você sente, é outra coisa na qual sabe muito bem o que é. – Apertou minha mão. – Ele não é uma pessoa ruim, é só isso que precisa saber por hora. – Meus olhos estavam fixos nela. – Agora pare de ficar pensando nele.
– Eu não consigo. – Soltei o ar e fechei meus olhos.
E ela não falou mais nada, talvez não tivesse mais nada mesmo que me falar para que eu o tirasse da minha cabeça. A mulher que acendeu o fogo começou a falar, dar boas-vindas a todos e disse que hoje era o equinócio do outono, e que estávamos ali para compartilhar nossos conhecimentos uns com os outros, beber, dançar e comer. Todo mundo se levantou, minha tia avó me puxou para cima, e todos bateram palmas. Uma música celta começou a tocar, algumas pessoas saltitavam e dançavam conforme a batida da música, e a energia que se espalhava ali era tão contagiante agora que era impossível não fazer o mesmo. Uma mulher se aproximou e nos entregou uvas verdes. Depois de uma hora dançando, comendo frutas e bebendo vinho, me sentei novamente, um pouco cansada. Então a mulher que acendeu a fogueira veio até mim.
– Não lhe conheço. – Sentou-se ao meu lado e me olhou.
– Sou , sobrinha neta da Wanda. – Expliquei e ela me pareceu que torceu o nariz, mas a luz da fogueira não me dava muita visão.
– E você tem alguma aptidão? – Voltou a me encarar, e eu senti algo bem ruim vindo dela.
– Tenho, da água. – Respondi, e ela parecia meio duvidosa.
– Está tudo bem por aqui, Blanca? – Wanda perguntou se aproximando com um copo de vinho e uma maçã na mão.
– Está, estou apenas conversando com sua sobrinha. – Falou com o maior sorriso no rosto. – Ela me disse que tem aptidão da água.
– E tem mesmo, é mais forte do que parece. – Ergueu uma sobrancelha e depois me olhou. – Mostre a ela o que você pode fazer, querida. – Pediu, e eu fiquei com receio de fazer algo que deixasse Blanca irritada.
– Não sei se devo. – Respondi olhando para as duas.
– É claro que deve, vamos, me mostre. – Pediu a velha que estava ao meu lado.
Turn aqua. – Disse e apontei para um jarro de flores, que logo em seguida virou água.
– Não é que é mesmo verdade? – Blanca olhou para a água. – Traga-a de volta. – Então fiz o que pediu. – Vejam só, eu na sua idade era completamente descontrolada com meus poderes.
– Você não teve ninguém para ensiná-la, Blanca. – Minha tia avó falou. – , o que você aprendeu nesses últimos tempos?
– Eu achei uma feitiço em um site bem interessante. – Respondi e depois mordi minha língua por ter falado aquilo, já que o olhar das duas foi recriminador.
Pois eu tinha navegado Deep Web e achado esse site que tinha vários pdf de livro de feitiços, mas não fiquei muito tempo por lá, apenas baixei os que achei mais interessante e sai. Nunca mais voltei por medo do governo achar que eu estava fazendo outras coisas, mas não vou negar que sinto vontade de voltar, pois eram páginas escaneadas de livros de verdade mesmo, não era algo inventado por qualquer um. Sabia que era perigoso fazer o feitiço de um livro desconhecido, mas eu não sai fazendo todos que li, só fiz um ou outro, e um deles era muito útil.
– Que tipo de feitiço? – Perguntou Blanca com um certo interesse no olhar.
– De ocultação. – Elas ergueram as sobrancelhas, pois deveriam achar que era um sigilo de proteção ou coisa parecida. – Vejam. – Tirei meu celular do bolso e o coloquei sobre o banco. – Manentes intra silvam pristinam formam, si in aquam conversurus tangitur.³ – Falei, isso faria com que meu celular entrasse para dentro da madeira do banco, e projetasse ele como se estivesse por cima, mas se alguém o pegasse, viraria água e retornaria para o mesmo lugar. Isso servia também se eu quisesse entrar em uma parede, mas nesse caso eu não iria me projetar para fora, apenas me esconderia. – Tente pegá-lo. – Mandei, e Blanca o fez, mas assim que se passou dez segundo com meu iPhone em sua mão, ele virou água, que correu de volta para o lugar original que eu havia colocado. – Interessante, não?
, onde você achou esse feitiço? – Minha tia avó perguntou, se aproximando e colocando a taça de vinho do lado.
– Foi de um livro que baixei na internet. – A olhei, e ela tentou pegar meu celular também.
– Qual era o nome dele? – Me olhou um pouco alarmada.
– Não sei, ele não tinha nome, era apenas números, não tinha capa e nem nada. – Respondi já vendo que ia dar merda.
– Por favor, tente desfazer o feitiço. – Pediu, então o fiz, colocando a mão dentro da madeira e tirando meu celular lá de dentro.
– Como você conseguiu esse livro? – Blanca parecia bem nervosa para meu gosto, então me levantei e guardei meu celular.
– Conseguindo. – Dei um passo para trás, mas a velha agarrou meu pulso esquerdo com força me impedindo de continuar.
Então eu tive uma visão, parecia algo do passado dela. Foi muito rápido. Tinha uma pilha de corpos no meio de uma floresta, e um cara que aparentava a minha idade estava de pé ao lado deles. Parecia que estava sugando a energia dos corpos, pois dava para ver algo saindo deles e entrando em suas mãos. Blanca deveria estar de pé em cima de algo alto, já que observava tudo de cima. E do nada ele olhou para ela, diretamente nos olhos, e virou a cabeça de lado estreitando os olhos. Meu Deus! Ele era igual ao , a não ser pelos cabelos pretos e compridos que estavam amarrados em um coque que tinha uma pena presa nele, a barba grande e as tatuagens em suas mãos que eram bem diferentes! Mas os traços do rosto e os olhos eram os mesmo. Fui trazida de volta, e senti meu pulso queimar, o que me fez puxá-lo de volta com força. Olhei assustada para a velha à minha frente e depois para meu pulso, que estava com a marca preta da mão dela. Eu não queria saber o que significava nada aquilo, só queria sair daquele lugar.
. – Wanda chamou, então a olhei, sentindo meus olhos se encherem d’água.
Não respondi, apenas dei uns passos para trás e sai correndo dali. Meu pulso ardia demais, o que me fez parar uns instantes e olhá-lo novamente. Aquilo cheirava a carne queimada, além da minha pele estar frita. Merda, precisava fazer algum feitiço para curar aquilo, ou eu ficaria com uma marca horrível. Precisava ir para a casa.
Andei apressada pelas ruas. Cidade pequena era uma merda, não tinha táxi ou ônibus circulando pelas ruas. E eu não conseguia pensar direito. Aquele homem era igual ao sendo que ele sempre falou que não tinha nenhum irmão. Quem era ele então? Agora estava pensando em ambos. Como que se só de pensar em não fosse o suficiente. As palavras da minha tia avó ainda estavam em minha cabeça, ele não gostava de mim como eu dele. Não podia ser assim tão fácil. O que eu sentia por ele não era amor, tinha algo, era mais do que isso, era uma espécie de ligação, como se eu o conhecesse a anos. Não era possível que ele não sentia esse tipo de ligação também! Tinha algo que ela não quis me falar, eu sentia isso. Eu sentia!
Eu andava noite adentro, desesperada e completamente destruída por tudo que me cercava, louca para chegar em casa, e me trancar dentro do meu quarto, onde considerava meu santuário. Minha cabeça estava a ponto de explodir por causa daquilo tudo. , a carta da Morte, a escuridão, Blanca e o homem misterioso. Isso tudo fazia com que eu quisesse fugir. Fugir por puro medo do desconhecido.
Finalmente cheguei na rua de casa. Minhas pernas estavam cansadas de tanto andar e meu pulso ainda queimava. Até que dei uma trombada em alguém quando estava chegando em minha casa. Era surgindo por detrás da cerca de madeira, certamente saindo escondido dos meus pais. Ele segurou meu antebraço direito para que eu não caísse para trás. O olhei alarmada, e sem pensar, a primeira coisa que fiz foi abraça-lo com força me agarrando em sua jaqueta de onça, e afundar meu rosto em seu peito, chorando desesperadamente.
, meu Deus. O que aconteceu? – Me abraçou de volta e isso foi extremamente reconfortante.
– Você não sente? – Me afastei dele e olhei em seus olhos, com certo desespero, eu estava completamente descontrolada emocionalmente. – Você não sente isso?
– Sentir o que? – Ele olhava dentro de meus olhos de volta tentando entender do que eu falava.
– Essa ligação! – Soltei desesperada segurando minha camiseta de seda.
– Hãm? Que ligação? – Se afastou um pouco.
– Essa! – Segurei sua nuca e colei meus lábios sobre os dele.
E como antes, tive uma visão, tão rápida quanto a outra, mas essa foi diferente. Eu vi várias vidas passadas nossas, em todas estávamos nos beijando e existia um sentimento intenso entre nós. Era a mesma coisa que eu estava sentindo.
– Está ficando louca? – perguntou me empurrou e segurou meus braços.
– Você não sentiu isso? – Meu coração estava disparado a ponto que fazia todo meu corpo tremer.
– Não, , eu não senti nada. – Foi me soltando aos poucos. – Eu vou embora, e isso nunca aconteceu.
– Não, ... – E antes deu terminar de falar senti uma dor extrema em minha cabeça, que me fez cair de joelhos no chão. – . – Falei sentindo seu poder. – Ah! Para! – Levei minha mão direita até minha cabeça, sentindo a dor extrema me deixar tonta.
Apoiei minha mão esquerda no chão, tentando me segurar. Senti o gosto forte de sangue em minha boca, e logo já descia pelo meu nariz, olhos e orelhas. Pude ver o melado vermelho gotejar no chão conforme eu me abaixava de dor.
, para com isso! – Ouvi pedindo, e sua mão repousou sobre minhas costas, mas minha irmã não parou.
A marca da cabeça de Anúbis do meu antebraço começou a ficar maior, e logo meu braço inteiro estava negro sem que eu pudesse ter controle daquilo, e eu pude sentir uma bola de energia saindo de dentro de mim juntamente com um grito estridente. Minhas roupas ficaram molhadas e eu ouvi as coisas ao meu redor se quebrando. Logo em seguida não tive forças para aguentar o peso de meu corpo sobre meu braço, e cai, vendo a escuridão tomar minha visão.
Abri os olhos e eu estava deitada no sofá da sala, meu pai estava abaixando ao meu lado, mas ele não se movia, assim como tudo ao meu redor, o relógio de pêndulo estava parado, e eu pude ver um homem de braços cruzados encostado no batente da porta da cozinha, quando ele saiu da sombra pude ver que era o mesmo cara da minha visão.
– Você. – Falei me sentando rapidamente, e me encolhendo, a energia dele era forte demais, me dava medo. Não tive coragem de olhar em seus olhos.
– Ainda não fomos apresentados. – Ele veio andando em minha direção, o que me fez ficar ainda mais encolhida no sofá. – Me chamo . – Se abaixou na minha frente e estendeu a mão para que eu a pegasse. – Como posso te chamar?
... . – Gaguejei e me senti idiota por isso, ele ainda continuava com a mão esticada.
– Vamos, pegue. – Olhou para a sua mão, então lhe entreguei minha mão esquerda. Pude ver a escuridão dentro dele, o que me fez puxar minha mão rapidamente de volta. – Do que está sentindo medo?
– Escuridão. – Foi a única coisa que consegui falar.
– Como pode sentir medo de si mesma? – Estreitei os olhos ao ouvir aquilo. – Você é a escuridão, eu só tenho o que veio daí. – Apontou para mim.
– Não sei do que está falando. – Abracei minhas pernas, e me arrependi por isso, meu pulso queimado latejou.
– Você sabe muito bem do que estou falando. – Abriu um sorriso. – Nós dois somos apenas vítimas de nós mesmo, filhos de um Deus menor. – Segurou minha mão esquerda. – Se eu estivesse mesmo aqui cuidaria disso. – Se referiu a marca de queimado e fez uma careta. – Isso, nós viemos daqui. – Apontou para a cabeça de Anúbis.
– Quem é você? – Evitei olhar seus olhos enquanto ele ainda segurava meu braço.
E antes dele responder, fui puxada de volta. Abri meus olhos assustada e puxando o ar com força, me segurando no que estava mais próximo, que era o encosto de sofá. Meu pai me olhou preocupado, e me segurou logo em seguida.
– Você atravessou o véu por alguns segundos. – Informou e logo me abraçou. – Que bom que voltou.
e minha mãe entraram na sala, eles estavam me olhando preocupados, esperando que eu falasse algo. E eu só conseguia sentir minha cabeça doendo muito, mas precisava pensar em algo para falar. Não podia chegar e dizer: Então, me atacou porque eu beijei o .
– O que houve? Acordei com as janelas quebrando. – Mamãe perguntou se sentando ao meu lado.
– Eu não sei, alguma coisa com a marca. – Falei baixo e estendi o braço para ela. – Do nada ela se manifestou e soltou energia. – Menti.
– O que é isso? – Perguntou da queimadura.
– Foi Blanca no Sabbat, ela se irritou por causa de um feitiço meu. – Dei de ombros. olhava de longe sem falar nada. – Acho que pode ter sido isso. Eu estava abalada demais, saí de lá sozinha, então me encontrou no caminho e me trouxe até aqui. – Forcei um sorriso para o menino. – Obrigada.
– Por nada. – Sorriu de volta, passando a mão em sua nuca. – Vocês precisam que eu fique?
– Não, , sua ajuda já foi de grande tamanho. – Papai falou. – Qualquer coisa te ligamos.
– Tudo bem. Até mais. – Acenou e saiu sem me olhar novamente.
– As janelas. – Observei, elas estavam como se nada tivesse acontecido.
parou o tempo, enquanto eu reconstruí tudo o que você quebrou. – Mamãe me abraçou. – Não se preocupe. Vamos, vou cuidar disso. – Se referiu ao meu braço.
– Não precisa, eu ajudo. – Ouvi a voz de , ela estava parada no pé da escada.
– Ok. – Me levantei do sofá. – Boa noite, e me desculpem.
– Não precisa se desculpar. – Papai falou de maneira generosa. – Deixe que cuide do seu ferimento e depois vá descansar. – Assenti com a cabeça.
Subimos as escadas em silêncio e entramos no meu quarto. Fui tomar um banho enquanto mexia na minha gaveta onde eu guardava ervas e outras coisas para feitiços maiores. A água gelada não fazia a queimadura doer tanto, e isso me fez ficar ali por bastante tempo.
– Vai ficar ai a droga da noite toda? – perguntou entrando no banheiro e pegando algo dentro do armário de espelho.
– Não, já estou saindo. – Desliguei o registro, e puxei minha toalha.
Me sequei e enrolei meu corpo com a toalha. Voltei para o quarto e sentei no meio da minha cama, entregando meu pulso queimado para minha irmã, que já tinha um pote com uma mistura verde gosmenta do lado.
– Me desculpe. – Falei baixinho envergonhada pelo que tinha feito.
– Fica calada. – Mandou, enquanto passar a remédio em meu pulso com uma espátula de madeira.
– Você precisa ver o que eu vi para me entender. – Segurei seu antebraço e lhe mostrei tudo o que aconteceu durante aquela noite. – Viu?
– Quem era ele? – Certamente se referia a .
– Não faço ideia, tudo o que sei acabei de te mostrar. – Torci os lábios. – Consegue me entender agora?
– Um pouco, mas isso não diminui a raiva que estou sentindo por ter beijado meu namorado. Podia ter me falado antes o que estava sentindo. – Começou a enrolar a atadura em meu pulso.
– Eu tinha medo. – Adimiti, mordendo meu lábio inferior.

1. Turn aqua - Vire água
2. Et revertetur ad veram formam - Volte à sua forma verdadeira.
3. Manentes intra silvam pristinam formam, si in aquam conversurus tangitur - Entre na madeira e com continue com sua forma original, mas se for tocado transforme-se em água




Isso é Guerra

Helena, Montana – USA

Depois daquilo peguei minhas coisas e me mudei para casa da minha tia avó Wanda. Não ficaria mais perto de até que eu parasse de sentir aquela ligação. Mamãe e papai não entenderam muito bem o motivo de eu ter feito isso, já que não falei a verdade para eles, apenas contei que iria passar um tempo lá por achar que a vó estava sozinha demais, eles chegaram a argumentar, falando que eu poderia visitá-la todos dos dias, mas falei que preferia ir e ficar lá mesmo.
Ouvi a campainha tocar, e deixei meu livro de magia de lado para ir atender. Minha tia avó tinha saído para fazer compras, então eu estava sozinha em casa. Me surpreendi ao ver pelo vidro da porta, já havia quase dois meses que não nos falávamos por causa do ocorrido. Dei um sorriso e destranquei a porta. Ela me abraçou no mesmo instante e começou a chorar. A abracei de volta e puxei para que entrasse. Nos sentamos no sofá e esperei até que se acalmasse para finalmente falar o que aconteceu.
– Quer falar o que aconteceu? – Perguntei enquanto alisava seu cabelo loiro.
– Acabei de trair o . – Soltou ainda com a cabeça deitada em minhas pernas.
– Como assim você traiu o ? – Rebati nervosa. – Com quem?
– Com meu professor de desenho da faculdade. – Aquilo me entalou na garganta, eu queria dar uns tapas em por isso.
– Mas você transou com ele? – Afirmou com a cabeça. – Mas que inferno, ! – Foi à única coisa que consegui dizer. – Por que você fez isso?
– Eu não sei. – Falou em prantos. – Você nunca se sentiu atraída por nenhum professor seu quando fazia faculdade?
– E nem tinha como, eram todos velhos. – Eu era formada em enfermagem e estava cursando belas Artes.
Fiz faculdade apenas para ter um curso já que a família do papai e da mamãe era endinheirada, e eu e nunca precisaríamos trabalhar. Nossos pais não gostavam de ter casa e imóveis gigantes, preferiam viver como uma família normal de classe média. Eles diziam que nós já éramos bruxos e que se ficássemos exibindo o nosso dinheiro, poderíamos chamar muita gente para próximos de nós, e isso era o que eles menos queriam, chamar atenção.
– Eu sei quem é o cara? – Tentei me manter calma para ver se ela parava de chorar.
– É o Joseph. – Abraçou minhas pernas. É, o cara era gatinho, eu já tinha visto ele quando fui na faculdade dela levar um livro que tinha esquecido em casa.
, logo o Joseph? Sabe que ele dá em cima de todo mundo. – Isso a fez chorar ainda mais. – Ok, vou parar de falar.
– O que vou falar para o ? – Suspirei com aquilo.
– A questão é; Você quer falar que traiu ele? – Negou com a cabeça. – Então não fale. Não tem como ele ficar magoado contigo se não souber o que você fez. – Passei a mão em seu cabelo.
– Mas se ele perguntar o motivo de eu estar estranha? – Se virou e ficou de barriga para cima, me olhando.
– Fala que está pensando em mim, e que quer vir até aqui fazer as pazes. – Dei de ombros. – Sei lá.
– Não é uma ideia ruim. – Abriu um sorriso fraco, e aquilo me incomodava muito. – Podemos ver um filme?
– Eu estava estudando... – Ela me olhou de um jeito triste. – Mas sim, podemos ver um filme.
– Eu escolho. – Já se sentou e pegou o controle da TV sobre a mesa de centro.
– Vou fazer pipoca. – Levantei do sofá e fui até a cozinha.
Senti meu celular vibrar em meu bolso, e quando o peguei vi o nome de na tela. Merda, ele deveria estar atrás de . Desviei a chamada. Não iria atender, ela que se virasse depois com ele. Não estava conseguindo acreditar que ela o traiu. Estava triste com isso, ficaria magoado se soubesse. Bem, eu não podia fazer muita coisa a não ser esconder o acontecido dele.
Voltei para a sala com a pipoca pronta. Passamos o resto da tarde vendo filmes chatos de romance, enquanto chorava ao meu lado sem parar como uma criança. Quando caiu a noite, a vó levou minha irmã para casa, não fui junto, preferi ficar no meu quarto meditando.
Por mais que o tempo passasse eu não conseguia tirar de minha cabeça, e as vezes pensava em também, mas não era a mesma coisa. Queria saber quem ele era, e por que de ter vindo até mim aquele dia, e outra, como tinha conseguido me achar se nunca nos vimos pessoalmente, ele precisaria pelo menos sentir a minha energia para conseguir fazer um contato mental daquele tipo. A menos que ele e Blanca estivessem conectados através de um objeto mágico, mas se fosse realmente isso, por que ele não veio atrás de mim? Não conseguia entender! Não fazia sentido.
Acordei com a minha tia avó me chamando. Abri meus olhos e olhei para o relógio ao meu lado, marcava três da tarde. Merda, acho que dormi demais. Levantei e escovei meus dentes. Percebi que a marca de queimado tinha saído completamente do meu pulso, e isso me deixou contente. Passei a mão em meu cabelo o arrumando, então desci.
– Querida, coma algo, você tem dormido demais depois do que aconteceu no Sabbat. – Cocei minha cabeça e me sentei à mesa onde tinha um prato de comida, mas não falei nada. – Não quer falar mesmo o quer houve? O que você viu? – Neguei com a cabeça, não queria dividir aquilo com mais ninguém. – Tudo bem, então. – Puxou uma cadeira e sentou-se ao meu lado. – Preciso que faça um favor para mim. – A olhei enquanto mexia na comida, sem a menor fome. – Quero que leve esse livro no salão da Valentina. Sabe onde fica? – Afirmei com a cabeça. – Ótimo. Vou precisar sair para resolver umas coisas, não devo demorar. – Levantou e deu um beijo em minha cabeça.
Dei um sorriso sem mostrar os dentes, e voltei a encarar aquela comida. Apesar de ser deliciosa, eu estava sem o menor apetite, então assim que a vó saiu, levantei, guardei o prato dentro do micro-ondas e voltei para meu quarto. Troquei de roupa, e peguei o livro que estava enrolado em um pano sobre a mesa na sala de jantar.
Fui de ônibus, já que a vó tinha saído com o carro. O salão da Valentina ficava no último andar de um prédio antigo no centro da cidade, era meio que o lugar onde apenas bruxas frequentavam, nunca entendi muito bem isso, mas sempre achei melhor não perguntar. Subi de elevador. Tinha esquecido como aquele lugar era enorme. O andar inteiro era daquela mulher, e ele estava lotado. Olhei ao redor e localizei a Valentina, e então vi minha irmã e sentados no banco de espera. Passei por eles, e do nada as coisas foram ficando lentas, até que tudo parou, mas continuei andando. Uni as sobrancelhas achando aquilo estranho, já tinha sentido aquela sensação antes. Andei até a bancada onde tinha um espelho enorme em cima, e deixei o livro ali. No momento que olhei para o espelho, vi nele, e ele me olhava de volta. Seu olhar se direcionou para e .
, corre. – Mandou em um tom de voz sutil, e eu comecei a sentir uma sensação muito ruim. – Agora! – O espelho quebrou me fazendo abaixar para que os cacos não me cortassem.
No exato momento as coisas voltaram ao normal, corri em direção a e segurei seu braço, a puxando para sairmos dali. Então as portas e janelas começaram a se fechar, algumas luzes piscavam e outras estouravam, e isso fez com que minha irmã e levantassem, e finalmente entendessem o meu pânico todo. Começamos a correr pelo caminho que ainda tinha portas abertas, até que passamos por uma e ela fechou antes do conseguisse passar. Merda. Paramos do outro lado e olhamos através do vidro da porta. o socou tentando quebrar, mas não surtiu efeito.
– Ele se vira. – Segurei o pulso dela e sai a arrastando, mas acabamos chegando em um corredor de janelas sem saída. – Merda! – Precisávamos sai dali, sentia a força maligna chegando perto de nós. Então quebrei a janela de vidro com um banco. – Vamos.
– O que? Eu não vou pular daí, estamos no último andar! – se recusava a fazer o que eu pedia, então a segurei pelos braços e a puxei comigo. – Não, ! – Berrou quando caímos pela janela.
Turn aqua! – Gritei quando vi o telhado que tinha metros abaixo de nós, e isso fez ele virar água, formando uma enorme piscina.
Caímos na água, e logo depois algumas bruxas fizeram o mesmo, se jogando pela janela. Olhei para cima e sorri, nós tínhamos conseguido fugir. Vi o cabelo rosa shock de surgir por uma janela vendo se estávamos bem, e acenou para ele com um sorriso no rosto. Até que do nada começou a surgir cobras negras dentro da água. Merda! Começamos a nadar para fora da água. Sai primeiro e estendi minha mão para ajudar minha irmã, mas quando a puxei, uma cobra mordeu deu pescoço.
– Não! – Gritei, e a arrastei para o cimento. – . – Chamei me sentando e apoiando o corpo dela contra o meu. – . – Lágrimas já surgiam em meus olhos.
. – Ela sorriu e segurou a minha mão. – Jura que vai ficar com o ? – Perguntou me olhando nos olhos.
– O que?! Para de falar besteira. – Passei a mão em seu rosto. – Fica comigo. – Comecei a pensar em qualquer feitiço que eu pudesse fazer para reverter isso. – A vó deve saber... – Puxei o meu celular do bolso, mas ele estava encharcado. – Não, não, não! – O joguei longe. – . – Voltei a abraçar a minha irmã enquanto chorava.
– Está tudo bem. – Sorriu. Como ela ainda podia estar sorrindo? – Não tem nada que possa fazer, eu posso sentir o vene.... – Não deu tempo de terminar a frase, seu corpo ficou paralisado e uma espuma branca começou a sair de sua boca.
– Não. ! Não! – Eu a segurava com força contra meu corpo. – Não! ! – Eu berrava em desespero enquanto chorava. – !
– Não, não, não, não! – Era a voz de que se aproximou rapidamente. – O que aconteceu? Meu amor. – Segurou o rosto de minha irmã, e ainda saia espuma da boca dela. – ! – Começou a chorar também.
– Cobras. Várias delas. – Falei em prantos e olhei ao redor, não tinha mais nenhuma. – O que? – Perguntei espantada. – Aqui estava cheio de cobras. – olhou ao redor também. – Eu juro.
Ele não falou nada, apenas tirou de cima de mim, e saiu andando com ela nos braços. Antes de segui-lo fiz o telhado voltar a sua forma normal, me certificando que não tinha ninguém dentro dele, e depois corri atrás de . Ele colocava minha irmã deitada no banco de trás do carro enquanto chorava, e cobriu o rosto dela com seu casaco. Abracei a mim mesma chorando desesperadamente sem conseguir sair do lugar. Eu não pude fazer nada para salvá-la. Eu era uma fraca mesmo! Não sirvo para nada. Nada! Agora estava morta e não consegui fazer nada para ajudar! Escorei pela parede do prédio e cai sentada no chão, com as mãos no rosto, gritando e chorando. Senti um par de braços me envolverem, e pelo perfume era . Não tive coragem de retribuir o abraço, apenas me encolhi ainda mais. Ele chorava junto comigo.
– Vem, precisamos levá-la para casa. – Me puxou para cima, e fui relutante para levantar, mas fiz assim mesmo.
me colocou sentada no banco do carona e deu a volta em seu carro, entrando no lado do motorista. Nós dois chorávamos o caminho inteiro até minha casa, eu não conseguia falar nada. Só conseguia sentir uma dor enorme dentro de meu peito. Deus. Por que?
estacionou na entrada da garagem, então sai do carro e abri a porta de trás para que ele pegasse minha irmã, e depois fechei. Fui andando por cima do gramado e toquei a campainha de casa para que não precisasse chamar meus pais. Entrei e dei passagem para que o garoto fizesse o mesmo. Ele colocou deixada no sofá com a maior delicadeza do mundo. Minha mãe surgiu pela porta da cozinha, então a abracei com força, e chorei ainda mais.
– O que está acontecendo? – Me soltou e olhou para o sofá. – O que aconteceu com a minha pequena ? – Correu em direção a minha irmã, e eu voltei a me abraçar.
– Fomos atacados no salão da Valentina, e uma cobra a mordeu. – foi rápido e direto.
– Não. ! – Mamãe a sacudia desesperadamente. – Liga para a sua tia Wanda, . – Apontava trêmula para o telefone.
Fiz o que ela pediu, e eu só consegui pedir para que ela viesse até a minha casa. Depois me sentei à janela e fiquei chorando ainda mais. sentou-se ao meu lado e me abraçou. Ele estava tão mal quanto eu. Ficamos ali juntos por muito tempo. Vimos meu pai chegar, ficar desesperado como minha mãe estava, e depois minha avó Wanda, que tentou acalmá-los e dizer que já não tinha mais o que fazer, e que não podíamos trazer de volta, pois além de poder nos matar, precisaríamos de no mínimo três bruxos poderosos, e ninguém toparia tal coisa, isso também era contra as regras. Então ela chamou uma ambulância, e eles vieram, deram o óbito, e mandaram o carro da funerária vir buscá-la. Eles colocaram ela dentro de um saco preto e a levaram. Minha mãe berrava nos braços do meu pai, e minha avó tentava acalmá-la. Chegou uma hora que eu não aguentava mais chorar, minha cabeça doía demais e eu ainda estava toda molhada.
– Vou tomar um banho e deitar no quarto da . Se você quiser ficar, pode deitar no meu. – Falei me soltando do seu abraço. – Se quiser tomar um banho deve ter a toalha da minha irmã no banheiro do corredor, pode usar. – Levantei, e concordou com a cabeça.
Subi até meu quarto, peguei um pijama que ainda tinha deixado lá, era uma calça de flanela xadrez amarela e preto, e um cropped preto. Fui tomar um banho. Fiquei debaixo da água quente por mais ou menos meia hora, minha pele já começava a querer ficar enrugada. Desliguei o chuveiro, me sequei. Fui até o quarto dos meus pais pegar o sacador emprestado. Caminhei descalça pela casa até o quarto de . Entrei nele e sentei na cama de solteiro dela, liguei o secador e fiquei secando meu cabelo por longos minutos, enquanto olhava para as coisas de minha irmã. Apesar das nossas diferenças, iria sentir muita falta dela. Algumas lágrimas voltavam a descer, então as sequei com a mão e desliguei o secador, colocando ele de lado no chão, e me deitei, puxando o edredom até a altura da minha cintura. Fiquei deitada de barriga para cima, olhando para o teto tentando meditar, mas acabei pegando no sono enquanto voltava a chorar.
Acordei sentindo algo pesado por cima de mim, e quando olhei para baixo vi deitado com o braço em minha cintura, e seu rosto quase na altura dos meus peitos. Sua mão estava em minha costela, por debaixo do meu cropped. Sei que era errado me sentir assim, mas a sensação que ele estava me trazendo era boa. Passei a mão em seus cabelos e ele se mexeu, apertando um pouco mais sua mão e a subindo levemente. Fiquei arrepiada com isso. Então ele acordou e me olhou.
. – Olhou para sua mão e arregalou os olhos. – Me desculpe. – A tirou de debaixo de meu cropped na mesma hora. – Não era a minha intenção. Me desculpe. – Começou a se levantar.
– Tudo bem. – Me virei de lado. – Não vai embora, fica aqui. – Pedi enquanto abraçava o travesseiro. – Por favor.
Ele não disse nada, apenas voltou a se deitar, agora entrando embaixo do edredom e me abraçando por trás, passando sua mão pela minha cintura. Aquela nossa proximidade toda era estranha, mas ele deveria estão tão mal quanto eu, e não tínhamos ninguém além de nós mesmos para nos consolar. Meus pais e minha avó deveriam ter ido resolver as coisas sobre o funeral da , e certamente adulterar alguns papéis e subornar algumas pessoas, pois não tinha como explicar uma mordida de cobra no pescoço dentro de casa.
Por mais que tentasse fugir em meu sonho, ou mudar o curso das coisas, continuava revivendo o meu dia, e sempre que morria, eu voltava para o começo no momento em que acordei, sem parar. Estava presa em um loop, e mesmo que usasse magia para parar o tempo dentro do sonho, não funcionava, ele continuava como se uma força maior fizesse isso, me obrigando a reviver aquele tormento. Aquilo estava sendo desesperador demais. A menos que eu não estivesse prestando a devida atenção no que fosse preciso. Talvez se revivesse prestando atenção nos detalhes, eu conseguiria finalmente acordar. Certo. Ainda estou deitada em minha cama e preciso entender que aquele era o momento viver e morrer. Que não adiantava em nada impedir a morte da minha irmã, ela já estava morta, e que eu poderia lutar com todas as minhas forças até a morte, mas nada mudaria o que aconteceu. Respirei fundo e levantei, repetindo tudo igual como da primeira vez. Vamos, , o que você não viu da primeira vez? Aquela seria a última vez que veria morrer em meus braços. Iria conseguir agora. Sinta tudo o que sentiu na primeira vez. Sinta o que aconteceu de verdade, sem medo, . De onde veio o ataque? Localize de onde está vindo. Eu conhecia aquela energia. Sabia de onde vinha... Ela vinha de mim! A força que estava sentindo era minha, a escuridão era a minha! Tanto que por onde eu passava as portas e janelas se fechavam, mas não era eu quem estava controlando aquilo. Como? Tudo começou quando olhei para o espelho e vi o . Foi ele! O miserável usou a minha força para fazer o ataque! Eu não tinha ideia como tinha feito aquilo, mas fez sem ao menos nunca ter me visto antes, sem termos nenhum contato real para ter qualquer tipo de conexão, a não ser que... Olhei para meu pulso já curado. Blaca! Ela fez a nossa conexão na noite do Sabbat! Era assim que ele conseguia se conectar comigo!
Abri meus olhos, tentando puxar o ar, mas estava sufocada. Me joguei para fora da cama de , me ajoelhando no chão, segurando a minha garganta. Tinha algo preso dentro dela. Comecei a tossir e saiu muita água de dentro de minha boca, como se eu estivesse me afogado. Senti uma mão segurar meu cabelo, e a outra era meu ombro, o toque leve e suave era do .
– Foi um aviso. Eu não acredito em nada, nem no começo e nem no fim. – Soltei desesperada. – Eu não acredito em nada, nem na terra e nem nas estrelas. – Não conseguia parar de falar, parecia que não era eu, e não era mesmo! Tinha algo dentro de mim! – Nem na luz e nem na escuridão. Será cem sóis até partimos. – Saiu mais água da minha boca, e depois uma cobra negra, que quando tocou no chão virou água. – Eu não acredito em nada, nem em Satanás e nem em Deus! – Cuspi ainda mais água. – Eu sei a verdade de quem somos! – Berrei, e senti minha cabeça doer.
A luz do quarto começou a acender e apagar, assim como o abajur. As portas e janelas se abriram e um vento forte entrou. Vi a marca de meu antebraço ficar cada vez maior, tomando o meu braço inteiro, o deixando negro como a noite, podia sentir aquilo dominando meu corpo, até chegar em meu cérebro. Então tudo se apagou.
? – Era a voz de . – . – Chamou mais uma vez. – Você está me ouvindo? – Meus olhos finalmente tomaram foco, e eu estava sentada no chão com a roupa molhada, encostada no peito dele.
– Estou. – Respondi, e minha voz saiu fraca. – O que aconteceu? – Perguntei enquanto ele me pegava em seus braços e me colocava deitada na cama.
– Eu acho que tem alguém amarrado em você, e sua magia estava tentando expulsar. – Me olhava apreensivo. Então aproximou sua mão de meu rosto, mas afastei por reflexo. – Calma, só vou tirar um cabelo daqui. – Disse e o fez logo em seguida. – O que você sentiu? – Seu olhar mostrava que ele sabia de mais coisas do que parecia.
– Quem é ? – Perguntei para ver qual seria sua reação, e ele estagnou, me olhando.
– Por que? – Rebateu a pergunta, e desviou o olhar.
– Porque o ataque no salão veio de mim, mas alguém usou a minha força para isso, e sinto que estamos conectados, e eu sei que é ele. – Os olhos de ficaram vidrados nos meus agora. – Então sugiro que esse seja o momento de começar a falar a verdade.
– Como ele te achou? – Mais uma vez ele estava se desviando das coisas.
– Assim! – Segurei seu braço e mostrei o que aconteceu no Sabbat, então se soltou rapidamente e me olhou assustado. – Agora tem como me falar quem é ele?
– É meu irmão gêmeo. – Finalmente falou. – Mas nós fomos separados desde crianças, e quando completamos dezoito anos ele veio atrás dos nossos pais e os mataram, teria feito a mesma coisa comigo se eu não tivesse fugido. – Puxou a gola sua camisa para o lado mostrando um sigilo de proteção tatuado em seu ombro. – Isso é o que não o deixa me encontrar, mas existem meios sem ser com magia para isso. – Abaixou a cabeça. – Aquele dia em Los Angeles eu acordei com uma força maligna bem ao lado da cama, e eu soube que de alguma maneira ele tinha me encontrado.
postou uma foto nossa no Instagram com localização, e a conta dela era aberta. Tinha foto dela no hotel antes de nós te encontrarmos. – Lembrei, me sentando na cama. – Então com um sistema de busca por reconhecimento de face você seria facilmente encontrado. – Levantei seu rosto para que me olhasse. – Agora me fala qual seria o motivo do ter matado seus pais, e por que querer fazer o mesmo contigo?
– Eu não sei. – Uniu as sobrancelhas. – Não deu tempo de perguntar, sabe. – Isso me fez revirar os olhos. – Talvez seja por causa da escuridão que ele tem. – Pendi minha cabeça de lado surpresa por ter ouvido daquilo. – Ele sente ódio por ter ela dentro de si, então penso que isso é o que o move, a raiva. E causar caos e dor nos outros o satisfaça. Simplesmente não sei. – Soltou o ar. – Eu sei que tenho medo dessa escuridão dele.
– Também tenho a escuridão dentro de mim. – me olhou e deu um pequeno sorriso.
– Eu sei. – Continuei olhando para ele, tentando entender o motivo de ter medo do e não de mim, como o resto das pessoas. – Só que você ama a sua escuridão, e isso não te faz querer causar mal a ninguém.
– Como sabe disso? – Arregalei os olhos.
– Por que eu sinto isso em você. – Segurou a minha mão esquerda. – Você ama o que é, não. E isso o faz ser alguém ruim. – Seu polegar passou pela minha pele fazendo carinho, então virou meu braço para cima. – O que significa? – Se referiu a minha marca no braço.
– Deus egípcio dos mortos? – Sugeri e ele me olhou de um jeito repreensivo. – Eu nasci com isso. – Dei de ombros e puxei meu braço de volta, passando a mão em cima da marca. – Minha avó Wanda disse que é de onde vem a minha escuridão, e que veio da minha primeira vida, junto com a minha aptidão da água. – Soltei o ar de forma pesada. – Eu não sei muito sobre, pois ela não me contou. Disse apenas que essa marca sempre vai me proteger quando eu estiver em perigo, que ela tem uma força desconhecida que vem dos mortos. – Olhei para , e ele me encarava atento as minhas palavras. – Quando eu era criança minha mãe fez um feitiço para escondê-la, depois que eu cresci, ela o removeu, e poucas vezes a marca se manifestou. Geralmente medido bastante para ter controle sobre ela. – Torci meus lábios. – E a energia que ela tem faz as pessoas terem medo de mim.
– Eu não tenho medo. – Soltou a segurar minhas mãos. – Mas se sentiu a sua força, com certeza irá vir atrás você, vai ser questão de tempo até descobrir realmente onde está. Ele rouba o poder de outros bruxos. Fez isso com nossos pais, e pelo jeito continua fazendo. – Fiquei alarmada ao ouvir aquilo. – colocou no Instagram dela onde vocês moraram?
– Ela nunca coloca que somos de Helena porque tem vergonha da cidade, sempre pois a localização de Montana. Sei disso porque uma vez perguntei sobre. – assentiu com a cabeça. – E meu Instragram e conta no facebook são bloqueadas, mas ele pode me hakear facilmente, a não ser que eu exclua os dois. – Levantei correndo da cama e pisei no molhado, escorregando nele. – Porcaria, preciso secar isso. – Reclamei comigo mesma enquanto ia para o quarto dos meus pais.
– Certo, então ele também não te achou porquê não tem nenhum objeto seu para fazer um feitiço de localização. – Falou vindo atrás de mim. – Vou pegar um pano para secar o chão, já volto. – Concordei com a cabeça.
Peguei o notebook da minha mãe dentro do armário dela e entrei na minha conta do Instagram e Facebook, as excluindo, assim como qualquer outra conta que contivesse meu endereço, mas era muita coisa. me acharia de qualquer forma se ele procurasse alguém com o mesmo nome e sobrenome que o meu, e que morasse em Montana. Merda, eu precisava ir embora da cidade, seria a forma mais segura. Precisava também fazer um sigilo de proteção conta ele, mas precisava do seu sangue para isso. A não ser que minha tia avó tivesse algum objeto amaldiçoado de ocultação que eu pudesse usar. Espera, eu tenho um livro que fala sobre objetos assim. Acabei de desfazer as minhas contas e corri até o quarto de minha irmã, estava lá secando o chão.
– Preciso que me leve até a casa da minha avó. – Pedi e ele me olhou assustado, pois eu tinha chegado do nada. – Tenho um livro de objetos amaldiçoados, e nele pode ter algum de ocultação de energia, assim o não vai conseguir se conectar a mim e nem fazer um feitiço de localização se tiver alguma coisa minha. – Abri um sorriso grande. – Vou tirar essa roupa.
Corri para meu quarto e troquei de roupa, vestindo qualquer coisa seca que ainda tinha lá. Peguei minhas chaves e desci as escadas correndo, estava de pé na sala me esperando, olhando para o lado de fora. O chamei e então saímos, indo para a casa da minha tia avó.
Entramos na casa e pedi para que me esperasse na sala de jantar. Fui até a biblioteca e procurei pelo livro, o achando depois de dez longos minutos. Aquele negócio era enorme, e bem pesado. O levei até onde estava e o coloquei sobre a mesa. Começamos a procurar juntos, ele olhando em uma página e eu na outra. Ficamos nessa até o sol de outono aparecer e entrar pelas janelas. Eu já estava cansada, e não aguentava mais ver tantos objetos.
– Achei! – Ele gritou do meu lado, me dando um susto. – Aqui. – Apontou para um colar, mas só tinha o desenho dele e falando para que servia, não tinha nenhum feitiço.
– Espera, usava um desse. – Observei. Era um colar de prata feito com pedras redondas e pequenas, o de minha irmã era feito com pedra da lua. – Não é igual?
– Sim, acho que é o mesmo. Isso explicaria o motivo de às vezes não conseguir sentir a energia dela. – Explicou e me olhou. – Mas onde ela conseguiu isso?
– Ela comprou em um antiquário na cidade há uns anos. – Lembrei, e fechei o livro. – o usa de vez em quando, se não estiver com ela, deve estar em casa, vamos voltar para lá e procurar. – Falei alto enquanto andava em direção a biblioteca.
Coloquei o livro de volta no lugar, e voltamos para casa dos meus pais. Procuramos o cordão em todos os cantos, mas não achamos nada, então ela deveria estar usando. Pedi o celular do emprestado, já que meu eu havia o jogado longe mais cedo porque havia molhado. Liguei para a minha mãe e ela demorou para atender.
– Mãe! – Disse um pouco animada demais, então me olhou.
– O que foi, ? – Perguntou com uma voz chorosa.
– Sabe aquele cordão velho que a usa de vez enquanto, de pedras da lua? – Me sentei no sofá.
– Sei. O que tem ele? – Já começava a chorar novamente, e isso me partia o coração.
– Ela está usando? – Eu precisava perguntar.
– Me deixe ver na coisas que me entregaram dela. – Deixou o celular de lado, e pude ouvir ela mexendo em sacolas. – . – Chamou.
– Oi, estou aqui. – Joguei meu corpo um pouco para frente apoiando meus cotovelos em meus joelhos.
– Ela não estava usando ele, pelo menos não está aqui no meio das coisas. – Falou e isso me fez suspirar. Onde tinha ido parar aquele colar? – Por que você quer ele?
– Depois eu te conto. Preciso desligar. – Antes deu fazer isso, minha mãe me chamou outra vez. – Sim.
– O velório vai ser as dez, e as cinco vão enterrá-la, então se arrume logo. – Pediu chorando ainda mais.
– Está bem. – Senti umas lágrimas escorrerem pelo meu rosto. – Até mais. – Sequei meu rosto logo depois.
– Até. – Ela encerrou a ligação, então devolvi o celular de .
– O colar não está com ela, pode ter caído quando pulamos na água, então certamente está dentro do galpão que transformei. – Levantei do sofá já me sentindo cansada. – Vou lá procurar, se quiser pode ir para casa. O velório vai começar as dez, e o enterro vai ser às cinco da tarde. Tenta descansar um pouco.
– Não, eu vou com você. – Deu um sorriso fraco. – Estamos juntos nessa, não vou te abandonar. – Inclinou a cabeça de lado. – Vamos?
– Sim. – Forcei um sorriso, e mais uma vez saímos de casa.
Fomos até o galpão e nada, só meu iPhone quebrado, mas o local estava vazio, o que achei bem estranho. Será que já tinha conseguido me achar, veio até aqui e encontrou o cordão de ? Não, não podia ser. Comecei a sentir o pânico tomar conta de mim. Se ele nos achasse mataria e sabe-se lá o que faria comigo! Nós precisávamos fugir! Mas tínhamos que enterrar , ou minha mãe jamais me perdoaria por isso, ainda mais se descobrisse depois que eu fui uma das culpadas pelo ataque que matou minha irmã.
– O que vamos fazer? – Olhei desesperada para .
– Podemos voltar para casa e fazer um sigilo de proteção nela. Enquanto você estiver lá dentro não vai conseguir se conectar. – Sugeriu e eu achei uma ótima ideia.
– Mas vou ficar lá por pouco tempo, depois vamos para o velório da e ficar lá até as cinco. – Aquilo me parecia uma cilada enorme. Estaria cheio de bruxos lá, incluindo eu e , seria um prato cheio para . Eu estava apavorada.
– É o que temos, depois podemos tentar achar outra solução. Talvez a sua tia avó saiba de algum feitiço que possamos usar. – É, ele tinha total razão. – Você quer ir para onde agora?
– Para a casa da minha vó, minhas coisas estão todas lá. – Deixei meus ombros caírem.
– Me desculpa por isso, é culpa minha. Ele estava atrás de mim, agora está atrás de você também. – puxou meu braço e me abraçou. Ficamos em silêncio por um tempo, e pude perceber que ele estava chorando. – Talvez se eu deixar que me pegue, te deixe em paz.
– Nem pensar! Fora de cogitação. – Só de pensar que eu poderia nunca mais ver também isso fazia meu peito doer. Por mais que não queria, o que eu sentia por ele era muito forte. – Como você disse, estamos juntos nessa. “Você pular, eu pulo.” – Repeti a fala da Rose em Titanic. Eu até o beijaria se o sentimento fosse recíproco, mas não era, então a única coisa que poderia fazer era abraçá-lo mesmo. – Guarde suas lágrimas para , ela as merece de verdade. – Me afastei dele e sequei seu rosto com minhas mãos. – Vai ficar tudo bem. – Tentei dar meu melhor sorriso forçado, mas já sentindo meus olhos se encherem d’água. – Vamos. – Segurei em sua mão e o puxei para fora daquele galpão.
Entramos no carro e dirigiu até a casa da minha tia avó Wanda. Então fizemos o sigilo na casa com o nosso sangue, e isso levou a cerca de uma hora. Quando olhei no relógio já eram oito da manhã. Só teria uma hora e meia para descansar, e foi exatamente o que fizemos. Nos jogamos na cama de casal que tinha em meu quarto e apagamos.
Dessa vez não tive sonho nenhum. Eu estava tão cansada que nem vi a hora passar, apenas acordei com minha avó nos chamando, e quando abri meus olhos ela não tinha uma cara nada boa. Olhei para onde ela olhava, e vi que estava daquele jeito por estar dormindo ao meu lado. Merda, eu devia no mínimo explicações a ela. Comecei a contar as coisas desde o dia em que conheci o , ele estava dormindo mesmo e deveria estar tão cansado que nem acordaria. Minha avó ouvia tudo em silêncio e quando terminei de contar ela soltou um suspiro pesado, o que me deixou bastante preocupada.
– Me diz que você tem o feitiço de ocultação. – Ela negou com a cabeça. – Então me fala o que posso fazer. – Pedi segurando suas mãos.
– Sinceramente, sabe o que eu faria? – Fiquei esperando que continuasse. – Esperaria me encontrar e o enfrentaria, caso não desse certo pelo menos teria o sangue dele para fazer o sigilo de proteção para fugir. Iria estudar todos os feitiços possíveis para quando encontrá-lo novamente, e poder destruí-lo. – O único problema naquele plano era que eu não tinha força para isso. O cara era turbinado. Vai saber de quanta gente ele já roubou poder! – Apesar da sua mãe não estar preparada para outra perda, acho que seria melhor vocês fugirem. – Acariciou minhas mãos. – Não podemos arriscar que ele mate vocês dois. – Olhou para que dormia atrás de mim. – Pelo menos, mesmo longe saberemos que estarão bem, e acho que é isso que importa. – Deu um sorriso triste. – Leve tudo seu para que ele não possa te rastrear, e deixe que eu lido com seus pais. – Passou a mão em meu rosto. – Quando isso acabar volte para casa, sim. – Pediu.
– Claro que vou voltar. – Joguei meus braços ao redor de seu pescoço e desabei a chorar. – Vou sentir saudades.
– Também irei, queria. – Afagou minhas costas. – Agora vá se aprontar, o velório já começou e se você demorar a chegar lá, sua mãe ficará chateada. – Balancei minha cabeça em forma de afirmação. – Vou tomar um banho e me aprontar. Você sabe onde é a capela, não é? – Afirmei, então se levantou da cama e me deixou ali com .
. – Chamei, o balançando de leve. Ele fez uma careta engraçada e abriu os olhos. – Está na hora. – Mordi meus lábios tentando controlar o choro.
– Hm, vou para casa trocar de roupa e volto aqui para te buscar. – Falou enquanto esfregava o rosto. – Não sai sem mim, ok? – Sentou-se na cama e me olhou.
– Está bem. – Concordei com ele.
deu um beijo em minha cabeça e se foi. Fiquei onde estava olhando para o nada e pensando em tudo o que estava acontecendo, em como do nada a minha vida virou de ponta cabeça em pouco tempo. tinha morrido e agora tinha um maluco psicopata atrás de mim! Como isso foi acontecer? Como? Pensando bem a carta tentou me avisar. Morte. Minha vó viu a escuridão e me mandou ficar longe do . Tudo estava ligado. Mas não tinha como saber que ele e estavam no salão da Valentina ontem! Não tinha!
Passei a mão em meu cabelo e me coloquei de pé. Precisava me arrumar e ir para o velório. Abri o armário e peguei um vestido rodado feito de oxford com manguinhas, uma meia calça fina e um coturno, tudo preto. Me vesti e coloquei meu chapéu floop, e por último meus óculos escuros, para poder tampar minhas olheiras e olhos inchados. Passei a mão em meu vestido e depois me olhei no espelho. Senti que meus braços e mãos estavam pelados demais, então pus anéis e pulseiras. Por mais que me arrumasse, parecia que ainda faltava algo, talvez não fosse à roupa, e sim eu. Suspirei e fui para a varanda, esperar minha carona. Fiquei sentada nos degraus da escada da frente, sentindo o sol da manhã bater em minha pele. Aquilo me aquecia, mas não era reconfortante como estar abraçada com . Eu precisava parar de pensar um pouco nele. Isso não era certo.
Ouvi a buzina tocar, e isso me fez erguer a cabeça e ver aquele enorme carro preto, parado na rua, me esperando. Levantei e fui até lá, em passos lentos e cansados. Entrei no lado do carona e olhei para o homem ao meu lado. Ele estava de calça preta, rasgada nos joelhos, uma camisa de botão na mesma cor com as mangas dobradas até os cotovelos e aberta até a altura de seus peitos, deixando sua tatuagem a mostra e mais o piercing que tinha no meio dela, chapéu e óculos escuros. Como de costume ele estava cheio de pulseiras, anéis e seu enorme relógio dourado, tinha mais coisas em seus braços do que no meu. Não falei nada, apenas tirei meu chapéu e encostei minha cabeça no banco, querendo aproveitar o curto caminho até a capela onde estaria sendo velado o corpo da minha irmã. Aparentemente sabia aonde era, minha mãe deveria ter mandando mensagem para ele avisando.
Passamos primeiro na floricultura e cada um comprou um buquê de rosas, eu vermelhas e ele brancas, e só depois fomos para a capela. entrou comigo, com a mão direta em meu ombro. As pessoas nos olhavam. Eu tinha o buquê em meus braços, e ele segurava o seu com uma só mão. Chegamos perto do caixão que só estava meio aberto, parecia que nada tinha acontecido com , ela estava perfeita, parecia uma boneca pálida de porcelana. Rosas brancas estavam na lateral de seu pescoço, e também ela usava um vestido rendado de gola, branco também, o que ajudava a esconder a mordida. Coloquei o meu buquê dentro do caixão e comecei a chorar, então me virei e abracei , que passou seu braço livre por minhas costas. Logo mamãe se aproximou e me tirou de perto dele, por mais que dissesse que não, ela o fez, me fazendo ficar sentada no banco ao seu lado.
Ficamos o dia todo dentro daquela capela, eu não sentia a menor fome, só conseguia chorar e minha cabeça já doía por causa disso. Quando foi quatro e meia, um padre entrou e fez uma pequena missa, e depois o caixão foi fechado. , meu pai e mais alguns homens conhecidos da família levaram o caixão até o carro fúnebre. Minha mãe e minha avó Wanda andavam do meu lado, nós três de braços dados. Fomos andando até o cemitério que era bem perto dali. Os mesmos caras pegaram novamente o caixão e levaram para dentro do mausoléu da família, o colocando no buraco que tinha na parede. Foram jogadas mais algumas pétalas de flor lá dentro e funcionários do cemitério colocaram o mármore no lugar original dele e começaram a fechar o caixão de dentro daquele buraco. Sabia que ela não estava mais dentro daquele corpo, mas mesmo assim era doloroso vê-la sendo presa ali dentro. As pessoas comeram a irem embora, e no final fiquei sozinha lá dentro. Coloquei a pequena foto que minha mãe tinha me entregado no suporte que tinha no mármore a minha frente, onde tinha o nome completo de e mais sua data de nascimento e morte. Optamos em não colocar nada escrito ali, sua foto já bastava para podermos nos lembrar exatamente quem era ela.
– Me desculpe. – Ouvi uma voz atrás de mim. Ele não estava ali, estava apenas enviando uma força para poder falar comigo, dava para sentir a vibração no ar. – Não sabia que ela era a sua irmã. – Meu coração começou a ficar acelerado. – Nunca foi a minha intenção te deixar triste. – Fechei meus dedos com força, tentando controlar a raiva que começava a me dominar. Olhei brevemente para meu braço, e a minha marca começava a tomar conta vagarosamente. – .
– Por que você não vai para o inferno de uma vez? – Perguntei me virando e tentando arranhar seu peito com minha mão esquerda.
A força se desmanchou como fumaça, e eu pude ver sangue no chão e em minha mão. Senti uma vertigem me tomar, e as coisas ficaram pretas. Alguém me sacudia freneticamente, chamando pelo meu nome.
. – Chamei meio tonta. – Ele me achou. – Falei abrindo os olhos e vendo as coisas girarem. – Mas o mandei embora. – Ergui levemente minha mão esquerda, em meus dedos e unhas tinham sangue.
esteve aqui? – Neguei com a cabeça.
– Ele só mandou uma força, mas quando a ataquei senti acertando em algo. Podemos fazer o sigilo de proteção com isso? – me ajudou a sentar.
– Sim, só precisamos de um pouco, uma gota já seria o suficiente para colocar na mistura. Mas como vamos fazer isso? Está grudado na sua mão e no chão. – Olhou para os lados tentando pensar em algo.
– Arranja um recipiente qualquer, eu vou dar um jeito nisso. – Ele concordou e me ajudou a ficar de pé.
– Já volto, deve ter alguma coisa no carro que sirva. – Saiu andando apressado e me deixou sozinha.
Turn aqua! – O sangue começou a virar água, e agora eu podia controlá-lo facilmente.
voltou correndo com um vidro do tamanho de um copo. Fiz com que a água entrasse lá dentro, o que rendeu um a dois dedos de altura. Certo, ficaria assim até fazermos o feitiço. Fomos até o apartamento dele e pegamos o que iríamos precisar, e voltamos para o cemitério. Segundo ele a energia de lá era melhor para fazer isso. Quem sou eu para falar o contrário, não é mesmo? Nos sentamos sobre uma caixa de mármore preto, acendemos umas velas e ele começou a fazer a mistura dentro de uma cumbuca de madeira.
– Pode trazer de volta? – Pediu me entregando o pote de vidro.
Et revertetur ad veram formam. – Falei pegando no vidro, e vendo a água voltar a ser sangue. – Tome.
– Obrigado. – Abriu o pote e jogou o sangue na mistura. – Ignis.¹ – Então saiu fogo de sua mão, fazendo as coisas ali dentro queimarem.
– Você! – Arregalei os olhos. – Tem a aptidão do fogo!
– Não é algo que eu costume dizer, mas sim. – Mas que filho da mãe! Ficou escondendo isso o tempo inteiro e ainda se fez de bobo quando minha tia perguntou sobre. – Aonde vai querer que eu faça o sigilo?
– Pode ser no ombro esquerdo. – Coloquei minha mão para trás e puxei um pouco o zíper do meu vestido. – Aqui. – Puxei a gola junto com a alça do sutiã para baixo, deixando a área à mostra.
– Certo, isso pode doer um pouco. – Pegou um negócio que parecia um cateter de madeira. – Pode segurar minha mão se quiser. – Segurei sua mão esquerda e respirei fundo. – Tenta não me machucar, sim. – Pediu soltando uma pequena risada, e molhando o cateter na mistura.
– Juro que vou tentar. – Então ele começou a desenhar o sigilo com aquilo bem devagar. Caralho, aquilo doía mesmo, estava cortando minha pele. Vi a marca do meu braço querendo se manifestar, mas me concentrei para que isso não acontecesse, a controlando.
– Estou quase acabando. Segura ai. – Olhou para meu antebraço, e depois mais ou menos uns cinco minutos, ele finalmente acabou o desenho. –Isso vai fazer você ficar desacordada, toma cuidado nessa hora. – Pediu me olhando apreensivo. – Et conteret omnia cum domino habet sanguinem pertineret! Adolebitque.² – Sua mão começou a ficar quente, e aquilo começou a queimar muito.
Olhei ao redor e eu estava sozinha no cemitério. Estava escuro, era quase impossível enxergar ali. Merda! O que aconteceu? Desci de cima da caixa de mármore e comecei a andar com cuidado entre as lápides. Até que avistei o portão, tinha um carro parado na frente dele com os faróis acesos. Levei a mão até a altura do meu rosto tentando ver. Continuei caminhando, então as luzes se apagaram e a luz interna do carro se acendeu, pois a porta do motorista foi aberta, e foi ai que consegui ver quem estava dentro dele. Era ! Porcaria! Me virei e sai correndo, eu precisava me esconder em qualquer lugar.
Et hoc in marmore non stabit.³ – Falei e entrei dentro de uma lápide de mármore gigante que tinha ao meu lado.
, não adianta nada se esconder de mim. Eu sei onde você está! – O vi andando por entre as lápides. – Acha mesmo que essa merda de sigilo vai me manter longe? – Bateu em seu ombro esquerdo duas vezes. parecia bem irritado. – Não vai! – Então o perdi de vista. – Eu também conheço esse troque. – Sussurrou perto de mim. – In summitate mármore.⁴ – Senti sua mão me puxando para fora. – Bu! – Soltou bem na frente de meu rosto me fazendo arregalar os olhos.
Abri meus olhos e me sentei rapidamente, levando a minha mão até local que o sigilo tinha sido feito onde o vestido já estava de volta no lugar. Meu ombro não ardia mais. Olhei para os lados e vi me olhando, encostado em uma lápide de braços cruzados.
nos achou. Ele sabe que estamos aqui. Precisamos ir embora! – Pulei de cima do túmulo de mármore apressada.
– O que? Como? – Perguntou apagando as velas, pegando tudo e colocando dentro da bolsa.
– Não sei. Mas ele achou! – Segurei sua mão e saímos correndo dali.

1. Ignis - Fogo
2. Et conteret omnia cum domino habet sanguinem pertineret! Adolebitque - Quebre toda e qualquer ligação que ela tem com o dono desse sangue! Queime
3. Et hoc in marmore non stabit - Entre nesse mármore e fique como ele
4. In summitate mármore - Saia de dentro do mármore




Chapada

Em alguma estrada qualquer – USA

E nós fugimos feito ratos amedrontados da cobra que estava pronta para dar o bote. Nós corremos o mais rápido que pudemos, o mais rápido que nossas pernas conseguiram. Fomos covardes o suficiente para isso, para deixar minha família, minha casa e minha cidade para trás, mesmo eles correndo tanto perigo quanto nós. Pegamos tudo que conseguimos alcançar, e o que não conseguimos, deixamos para trás para ser destruído. Fizemos isso sem ao menos dar uma explicação, sem sequer olhar para trás para poder ver um último aceno de adeus, falando apenas um até logo, que talvez nunca exista. Em dentro de uma hora já estávamos na estrada, apavorados, cansados demais para pensar no que fazer, e com medo demais para parar. Bebendo café quente tirado direto da máquina, loucos para continuarmos acordados, queimando nossas línguas e nossos olhos com os primeiros raios de sol que surgiam ao longo do horizonte. Nenhum de nós dois nos prestávamos a deixar o outro sozinho por puro pânico de que algo poderia acontecer assim que fechássemos os olhos. A exaustão não estava estampado apenas em nossos rostos, mas também em nossos corpos. Era difícil se manter de pé depois de quarenta oito horas sem dormir, e ainda nem tínhamos chegado ao nosso destino.
Já tínhamos percorri umas de mil milhas, e para ser sincera eu não tinha mais a menor ideia se isso era muito ou pouco, se comparado do que estávamos fugindo. Estávamos completamente esgotados, mas não iriamos desistir, faltavam apenas três horas para chegarmos em Chicago. tinha conseguido emprestado um apartamento de um amigo dele que vendia drogas, o cara tinha mais imóveis na cidade do que poderíamos imaginar, todos em nomes de outras pessoas, então isso nos facilitaria. E nas circunstância que estamos, se o cara era um traficante ou não, esse era um dos nossos menores problemas.
Meu óculos de sol ainda cobriam minhas enormes olheiras, e por mais que já tivesse anoitecido novamente, eu não queria tirá-lo por medo de ver o meu estado e pensar o quão fracassada era por ter deixado as coisas chegarem no ponto que estão de uma forma tão rápido. Minhas mãos seguravam o volante com força, e tentava ao máximo me concentrar nas ruas que entrávamos agora, para finalmente chegarmos no maldito apartamento. olhava pela janela com sua cabeça encostada no vidro, e só a voz do GPS era ouvida dentro daquele carro por horas.
Estacionei na frente de um prédio feito de tijolinho vermelhos, na verdade a rua tinha vários iguais a ele. Apenas pequenas grades preta os dividiam, mas esse em especial não tinha nenhuma. Vi um homem sentado nos degraus da frente fumando um cigarro, poderia até mesmo ser um baseado, mas estava longe demais para que eu conseguisse definir o que era. Ele se levantou, jogou seu cigarro fora e veio até o carro. Abaixei o vidro e o sujeito parou por um segundo, então continuou a andar. Ouvi se remexendo ao meu lado, mas não o olhei.
– Meu grande amigo. – o homem enfiou o braço dentro do carro e estendeu a mão para , que a pegou. – E quem seria essa donzela? – olhou em minha direção com um sorriso no rosto.
– É uma amiga. – respondeu por mim, e eu fiquei grata por isso, pois não sabia o que iria falar. – Mordock, vou precisar de mais um favor seu. – já falou logo em seguida.
– Tudo o que você precisar. – sorriu,
Comecei a questionar qual deveria ser o acordo deles, ou o que já deve ter feito para esse cara topar nos ajudar de tal maneira, mas minha cabeça estava cansada demais para chegar em qualquer conclusão que fizesse muito sentido ou que não fosse algo extremamente pesado.
– Vamos precisar de documentos falsos. – pediu, e isso me fez encará-lo. – Você vai querer continuar com seu nome? Se quiser pode mudar apenas o sobrenome. – parei para pensar por um tempo.
– Não sei se iria me acostumar a ser chamada de outro jeito. – uni as sobrancelhas. – A princípio vou mudar só o sobrenome.
– Ok. – abriu o porta-luvas tirou de lá um maço de notas de cem. – Seremos Nathanael e Willians. – entregou o dinheiro e voltou a pegar mais algumas coisa. – Isso deve dar para pagar a estadia e os documentos. Amanhã nos encontramos para tirar as fotos.
– Certo. – guardou a grana. – Qual vai ser a data de nascimento que vão querer colocar? – puxou o celular do bolso e começou a digitar algo.
– 25 de Março de 1991. – falamos juntos e isso fez com que nós nos entreolharmos.
– Gêmeos? – Mordock questionou erguendo seus olhos até nós com um pequeno sorriso no rosto achando graça daquilo.
– Pode mudar o meu para dia 11 de Agosto de 1991. – pedi por fim de forma educada. – E não quero que meu sobrenome seja Willians, pode colocar Philips, e pensando bem, coloca meu nome como Janne. – não daria azar para o destino.
– Ok, Janne Philips. – brincou. – Dimitri, vai se chamar Nathanael Willians mesmo?
– Vou. – isso me fez perguntar qual era seu verdadeiro nome.
– Aqui estão as chaves. – colocou a mão no bolso e me entregou duas chaves presas por um elo. – Amanhã eu apareço aqui para tirar as fotos. – apertou nossas mãos e saiu.
– Qual é seu nome de verdade? – quis saber. Fechei o vidro do carro e olhei para o menino ao meu lado.
. – respondeu, então me virei de lado no banco.
– Por que eu sempre tenho a sensação de que você está mentindo? – ele desviou o olhar e fechou o porta-luvas.
– Porque a maioria das vezes estou mesmo. – falou por fim e abriu a porta, mas segurei seu pulso para que parasse.
– Entrei nessa junto contigo, então não mente mais para mim. – pedi e ele concordou com a cabeça. – Está mentindo agora.
– Eu vou tentar. – então o soltei para que saísse do quarto.
Pegamos apenas uma mala de roupa nossa e entramos no prédio. Subimos os dois lances de escadas e entramos na porta no final do corredor. O apartamento ficava no último andar e dava de frente para a rua. Ele era pequeno, uma sala conjugado com a cozinha e uma suíte com closet. No quarto tinha uma cama de casal, um sofá de dois lugares e uma penteadeira antiga, bem grande. Um tapete de pelos enorme tomava grande parte do cômodo. Entrei no closet que era até bem grande, e coloquei minha mala lá dentro, não iria desfazer ela agora, estava cansada demais para isso. nem sequer tinha me seguido, ele havia se jogado no sofá da sala e lá ficou. Peguei meu pijama, shampoo, condicionador e sabonete, e me arrastei até o banheiro, que também não era muito grande. Uma pia de mármore por volta de dois metros de comprimento dominava o lugar. O box de vidro era relativamente espaçoso com uma banheira dentro, e o sanitário ficava no canto da parede apertado.
Tirei minha roupa e liguei a água, que logo ficou quente. Entrei embaixo dela, e por mais que quisesse ficar horas ali, minhas pernas não estavam aguentando o meu peso. Então tratei de me lavar logo.
Sai do banheiro e me atirei na gigantesca cama de casal, que para mim dariam umas quatro pessoas nela. Puxei o edredom enorme e me enrolei nele. Não sei se foram segundos, mas eu dormi muito rápido. E dessa vez foi um sono pesado e duradouro, sem sonhos ou pesadelos. Apenas eu e minha amada escuridão silenciosa.

Os meses seguintes se passaram, e o brilho de tinha desaparecido completamente. Ele mal saia, e quando fazia escondia seu rosto com capuz do casaco ou com chapéu e óculos-escuro. Seu cabelo pink não existiam mais, estava compridos agora, com a ponta loira. Suas noites eram acordadas, sempre ficava enrolado na coberta deitado no sofá da sala vendo televisão, dormia lá todos os dias e só se levantava para tomar banho e ir ao banheiro. Eu não podia falar muito, pois passava a maior parte do tempo meditando ou lendo livros de bruxaria nos quais tinha conseguido trazer comigo, e até mesmo os meus arquivos em PDF que havia baixado na vez que entrei na Deep Web, procurando algo que fosse realmente útil para nos protegem, e não apenas os sigilos de proteção que estavam espalhados pelo apartamento.
Ouvi o celular apitar, então o peguei. Era mensagem da minha mãe, falando que tinha depositado dinheiro na conta e perguntando como estávamos. Falei que estava tudo bem e que iria sacar a grana logo.
Então troquei de roupa e sai, indo até um caixa eletrônico e sacando todo o dinheiro que dava. Fiquei olhando para aquelas notas e decidi mudar um pouco as coisas. Entrei em um salão ali perto e pedi para que cortasse meu cabelo acima de meus ombros e que o platinasse em um tom acinzentado. A mulher que atendeu ficou meio assustada, pois eles estavam batendo abaixo da minha bunda e era escuro como a noite, mas fez assim mesmo. Fiquei a tarde toda lá, pois demorou para conseguirem abrir a cor. E agora de super liso, meus fios tinham ganhado volume e estavam ondulados por causa da química, mas eu tinha amado o resultado final. Paguei a moça e fui para o shopping. Comprei o que me deu vontade e até mesmo peguei algumas coisas que achava que iria gostar.
Quando abrir a porta do apartamento, me olhou e arregalou os olhos, o que me fez dar uma risada. Fechei a porta e coloquei as sacolas na sua frente, tirando lá de dentro um pote de pó descolorante e outro de água oxigenada.
– Vamos te colocar loiro também. – falei dando um sorriso e ele soltou uma pequena risada.
– Gostei de como ficou seu cabelo, combinou contigo. – levantou do sofá e veio até mim. – Ficou realmente ótimo. – passou a mão em meus fios. – O que mais você comprou? – Começou a mexer nas sacolas e tirou de lá um casaco de pêlo preto.
– Isso é para quem? – colocou na frente do seu corpo.
– Para você. – e pude ver um sorriso grande surgir em seu rosto. – Gostou?
– Amei! Alguma ocasião especial? – colocou o casaco sobre o sofá e voltou a mexer nas sacolas.
– Estamos vivos? – sugeri erguendo uma sobrancelha. – Vamos sair para dançar um pouco, como na primeira vez que nos conhecemos. Você estava cheio de vida e feliz. – seu olhar para mim foi bem triste. – Não podemos parar de viver por causa do que aconteceu. não vai conseguir nos achar agora. Temos outros nomes, os sigilos de proteção, e não temos redes sociais ou qualquer outra coisa que diga a nossa localização.
– Está bem. – se deu por vencido. – Vou precisar de ajuda com isso. – apontou para o pó descolorante e água oxigenada que estavam em minhas mãos.
– Ok. – dei um pulinho. – Vamos para o banheiro. – o empurrei para que fosse andando na frente.
Descolorimos o cabelo dele, o que abriu a cor infinitamente mais rápido que o meu, depois ele passou um matizador que eu tinha comprado, e seus cabelos ficaram em um loiro bem claro. Eu adorei o resultado. Nos arrumamos. Coloquei uma saia jeans preta curta de cintura alta, e uma regata aberta nas laterais branca escrito Arctic Monkeys e a logo da banda, meu sutiã preto de renda aparecia nos lados, calcei um tênis de bota vermelho, e por fim peguei um casaco de pêlos vermelho de emprestado, que descia até minhas canelas. Passei um batom vinho e fiz um olho de gato bem grande. Parecia que eu tinha saído de um filme de traficante, ainda mais com os colares de corrente que coloquei depois, anéis e pulseiras. colocou uma calça jeans clara toda manchada azul escuro, botas mostardas, uma regata justa preta e casaco de futebol americano, azul marinho com amarelo, lotado de spikes e tachinhas pelos peitos, ombros e bolsos. Cheio de cordões e anéis, que nem eu.
– Quem você vai matar hoje? – perguntou com um sorriso no rosto e me virando de um lado para o outro. – Ficou linda.
– Não sou a única aqui que vai arrasar com os outros. – comentei olhando para sua roupa. – Amei como está vestido. Já falei que amo o seu estilo?
– Não que me lembre. – soltou uma risada, e eu amava o som dela. – Vamos? – estendeu a mão em minha direção, então a peguei dando um sorriso.
Fomos de taxi para uma boate que ele dizia que costumava frequentar quando tinha vindo para Chicago a primeira vez. Encontramos com Mordock na porta e ele deu algo para no qual não vi o que era, e nós entramos. Deixamos os casacos na chapelaria e fomos até o bar.
– Mordock me deu isso. – colocou dois comprimidos azuis no balcão, tinham desenhos neles. – Quer?
– Isso é ecstasy? – uni minhas sobrancelhas e concordou. – Por que não? Como toma isso? – peguei um e ele pegou outro.
– Se quiser que bata rápido, você engole, mas se quiser que seja de vagar, pode mastiga-lo – explicou e depois jogou o dentro da boca. – Me vê uma garrafa de água. – pediu ao baman.
Dei de ombro e coloquei o comprimido na língua, e esperei o homem entregar a garrafa de água para , ele tomou e depois eu tomei, engolindo o ecstasy de uma só vez. Se for para bater, que seja de uma só vez. Segurei sua mão e o puxei para a pista de dança. Aos poucos fui sentindo meu corpo ficar cada vez mais agitado, e quando dei por mim já estava pulando e dançando loucamente, berrando as letras das músicas que conhecia. me acompanhava, enquanto soltávamos risadas de nós mesmo. Seu corpo se esfregava no meu de um jeito gostoso, suas mãos desciam pelas minhas curvas e depois subiam fazendo o mesmo caminho. Às vezes me puxava para perto de si, fazendo minhas costas se chocarem contra seu peito magro com força, e eu jogava meus braços para trás e passava minhas unhas pelo seu pescoço e nuca, sua barba baixa raspava pelo meu ombro quando cantava a música perto do meu ouvido. Então um cara loiro também apareceu do nada e começou a dançar conosco. O que me fez rir, já que ele chegou passando a mão em minha cintura e me puxando para perto. Os dois me apertavam entre si, e aquilo estava sendo delicioso. Meu corpo suava horrores, aquele lugar estava quente demais ou esses dois que estavam me deixando assim? Tanto faz, eu só queria continuar dançando e pulando, e não importava qual fosse o ritmo da música!
Não sei como fomos parar os três no dentro da cabine do banheiro, eu beijando o cara loucamente, enquanto me apertava e se esfregava em meu corpo por trás. Então me virei para ele, que colou os lábios em meu pescoço, me deixando excitada. O outro cara começou a beijar o outro lado do meu pescoço, e eu sentia mãos por debaixo de minha blusa. Fui jogada contra parede da cabine e meus lábios foram tomado novamente por aquele desconhecido, que devo admitir, beijava muito bem. Suas mãos ágeis seguraram minhas coxas e as puxaram para cima, me fazendo passar minhas pernas por sua cintura. Parei de beijá-lo e fui descendo minha boca pelo seu queixo e depois pescoço, e abri meus olhos, vendo que não estava ali. A porta da cabine estava entreaberta, e eu consegui ver ele do lado de fora aos beijos com uma ruiva. Fiquei com muita inveja dela, mas logo minha atenção foi atraída para o cara que já puxava minha calcinha para o lado. Senti a cabeça do seu pau em minha entrada molhada, e não sei como, mas ele tinha colocado camisinha. Eu deveria estar muito louca para não estar conseguindo assimilar as coisas no tempo certo. Logo depois fui penetrada de uma só vez, o que me fez soltar um gemido alto. Segurei na divisória da cabine para me dar mais firmeza. O homem ia e vinha de um jeito gostoso, mas eu só conseguia pensar em . Uma mão segurou a minha por cima da divisória da cabine, o que me fez olhar para cima e reconhecer os anéis de , e seus dedos tatuados. Isso me fez dar um sorriso. Conforme aquilo ia ficando mais gostoso e intenso comecei a chamar pelo entre meus gemidos, e pude ouvir os dele também que vinham da cabine do lado juntamente com meu nome. Céus. Aquilo estava muito bom! Eu iria ter um orgasmo a qualquer momento, e sentia que o cara também. Então soltei um gemido alto e chamei a última vez pelo , me desfazendo por completa nos braços do sujeito, chegando a soltar minha mão da divisória da cabine, e ele gozou logo em seguida. Com o resto de força que ainda me restava, me puxei para cima e fiz com que ele saísse de dentro de mim. Coloquei meus pés no chão, e cai sentada, sem força para me manter de pé. Comecei a rir descontroladamente, sentia pequenos espasmos tomando meu corpo, e aquilo era engraçado demais. O homem tinha se sentado no vaso, e parecia que nem se importava com a maluca sentada no chão do banheiro rindo. Assim que minhas pernas pararam de formigar, me coloquei de pé, saindo da cabine sem olhar para trás.
Me olhei no espelho enorme do banheiro, e arrumei minha saia no lugar. Logo vi saindo da cabine do lado, e ele me abraçou por trás com um sorriso e beijou meu ombro, passei as mãos por cima das dele e ficamos daquele jeito olhando nosso reflexo. Eu amava aquele homem de uma forma tão intensa que não sabia como descrever. O barulho da porta da cabine na qual por onde eu tinha saído me chamou atenção, e o que vi fez meus olhos se arregalarem e me perguntar se era efeito da bala. Eu estava vendo o . Pelo visto não era a droga, já que arregalou os olhos da mesma maneira. Nos viramos juntos. Encarei o cara que antes era loiro, e agora tinha os cabelos escuros, barba e um piercing no canto interior de seu lábio. Ele deu um sorrisinho de lado enquanto me olhava de volta, e depois encarou . A porta do banheiro foi trancada, e não tinha mais ninguém ali dentro a não ser nós três.
– Ela está linda assim, não é? – perguntou para seu irmão de um jeito sarcástico apontando em minha direção. – Esse cabelo ficou mesmo ótimo. – soltou uma pequena risada enquanto gesticulava no ar. – Por que você não ficou com ela? – segurou minha cintura com um pouco de força. – Sei que a ama do mesmo jeito que eu. Dá para ver nos seus olhos de coelho assustado. – riu como se tivesse ouvido uma piada. – O jeito que estavam dançando juntos, a forma como você puxava ela para si, como a chamou quando enquanto transava com outra. – deu um passo à frente, o que me fez travar meus dentes. – Devo admitir que foi um saco te ouvir chamando por ele. – agora falava comigo, e eu sentia vontade de socar sua cara. – Mas posso relevar isso. – passou a mão em sua nuca e riu mais uma vez. – A cara de vocês dois são as melhores, sabiam? – tomou ar. – Não vão falar nada? Vai ser assim?
– Como nos achou? – perguntei entre dente tentando dar um passo à frente, mas me segurou.
– Não é difícil rastrear para onde o dinheiro que sua mãe depositava todo mês estava indo, mesmo que ficasse pulando de conta em conta até chegar em uma tal de Janne Philips. – ergueu uma sobrancelhas. – Vocês acham mesmo que eu sou burro? Que preciso de magia para encontra-los? – perguntou de forma debochada. – Eu estou aqui a semanas observando os dois. – riu. – Vendo esse ai trancado dentro de casa morrendo de medo de sair. – apontou para seu irmão. – Como sempre um covarde fujão. – tentei ir para cima dele, mas me segurou novamente. – Pode deixar ela vir. – estreitei meus olhos ficando com mais raiva, então prendi contra a parede usando magia. – Veja só, ela tem garrinhas. – riu mais uma vez e aquilo me deixava ainda mais irritada.
, vai embora. – mandei enquanto encarava .
– Isso , corre como você sempre faz. – debochou. – Vou adorar ficar com a só para mim. – riu e se soltou da parede. – Devo admitir que isso fez cócegas. – Merda, como ele se soltou? – Estou curioso de uma coisa. – veio andando em nossa direção, e nós fomos andando para trás, até não tem mais para onde ir. – Isso está sendo muito engraçado, sério. – deu um sorriso divertido. – Minha cara , você sentiu alguma coisa quando me viu?
– Não. – uni as sobrancelhas. – Deveria sentir algo que não fosse nojo e desprezo?
– Não irrita ele. – sussurrou em meu ouvido.
– Não, tirando isso. – fez um gesto banal com a mão como se não fosse surpresa o que tinha ouvido. – Não sentiu nenhuma ligação como se já nos conhecêssemos a milênios, ainda mais depois que nos beijamos? – estreitei os olhos, pois eu tinha sentido aquilo com o .
– Não, mas posso tentar ver se sinto, talvez seja por causa do feitiço de ocultação. – fui andando em sua direção, e o empurrei contra a divisória de uma cabine e outra. Olhei dentro de seus olhos e depois o beijei. Senti suas mãos segurarem minha cintura com vontade, me puxando contra ele. – Bem. – falei rompendo o beijo. – Você é gato, tem uma pegada bem gostosa, e também muito beija bem, mas a única coisa que consigo sentir é tesão mesmo. – torci meus lábios e depois soltei uma risada. – Acha mesmo que eu conseguia sentir agora depois de ter matado a minha irmã? – agarrei seu pescoço com minha mão esquerda e estreitei meus olhos. Senti a marca começar a tomar posse do meu braço, e o olhar de foi confuso. Então fui jogada para trás.
– Acha mesmo que me assusta? – perguntou irritado. – Eu sou mais forte. – jogou eu e para a parede do lado da porta de saída.
– E eu sou a escuridão. – rosnei e minha voz saiu completamente estranha.
Lancei uma bola de energia nele, que o acertou em cheio, explodindo e virando água. Fiz os espelhos se quebrarem, e joguei os cacos em sua direção também, mas eles pararam antes de atingi-lo e voltaram para mim, então uma bola gigantesca de fogo saiu de trás de mim tomando tudo. segurou meu pulso e me puxou para fora do banheiro. Fomos andando por entre as pessoas até chegar na saída de emergência. Olhamos para os lados tentando nos localizar.
– Por aqui. – ele segurou minha mão e começamos a correr para o final do beco.
E quando chegamos na rua, começou uma chuva descomunal, nos deixando encharcados em questão de segundos. De uma maneira bizarra a rua não passava carros, então começamos a correr para longe daquela boate o mais rápido que conseguimos, até eu perder o fôlego e entrar em um beco para me encostar na parede e tentar respirar. parou bem na minha frente e se abaixou um pouco, tomando ar, acho que estávamos um pouco velhos para isso. E depois daquilo tudo a bala nem tinha mais efeito.
– Por que você fez aquilo? – perguntei um pouco nervosa me lembrando do fogo.
– Porque você estava perdendo o controle, iria nos matar, o chão estava começando a ficar negro! – explicou ainda ofegante, e isso me fez rir, rir descontroladamente, o que fez me encarar.
– Eu ia matar ele. – falei e a risada começou a virar um choro. – Eu ia matar uma pessoa. – comecei a chorar desesperadamente. – , o que eu ia fazer? – ele me abraçou e pude encostar a cabeça em seu peito, seu coração estava disparado. – Estava sentindo tanta raiva por causa da . – passei os braços em seu tronco.
– Fica calma. – alisou minhas costas molhadas, a chuva não parava. – Vai ficar tudo bem. – deu um beijo em minha cabeça, e aos pouco eu fui me acalmando. – Veja, um taxi! – me puxou e ele fez sinal para que o carro parasse. – Entra. – entramos no banco de trás e fiquei encolhida nos braços de .
– Estou com frio. – reclamei me encolhendo ainda mais.
Aestus.¹ – Pude ouvi-lo sussurrando e seu corpo ficou quente, me aquecendo junto.
Aquilo me reconfortou bastante. Fechei meus olhos e tentei esvaziar a minha mente, mas ela ainda estava agitada demais para isso. Então apenas fiquei quieta aproveitando o valor de . O carro parou, e eu olhei para os lados para ver aonde estávamos, e era em casa. Pagamos a viagem e saímos, a chuva tinha parado, mas as poças de água estavam por todos os lados. Entramos no prédio e subimos para o apartamento. Acendi a luz e fui para o banheiro afim de tirar aquela roupa molhada e tomar um banho quente. Não demorei muito, quando sai estava sentado no sofá de couro com aquela roupa ensopada, olhando para a janela.
– Estava pensando em ir até o e dizer que fico com ele, e propor que te deixe em paz. – falei enrolada na toalha enquanto encostava no batente.
– Fora de cogitação. – me olhou de um jeito sério. – Não vou te deixar ir embora com ele.
– Não é uma escolha, . – ele se levantou do sofá e veio andando em minha direção em passos lentos.
– Vamos arrumar nossas coisas e irmos embora. – segurou a ponta do meu queixo e me deu um beijo na testa.
Fiquei calada, e esperei que entrasse no banheiro, para correr até o closet e me vestir. Coloquei uma calça jeans preta, botas azuis, uma blusa qualquer clara, um casaco de moletom preto com capuz, e uma jaqueta de couro azul escura por cima. Passei a mão em meu cabelo o desembraçando o máximo que pude, e me olhei no espelho uma última vez. Embaixo dos meus olhos tinha resto de maquiagem, e me dava olheiras enormes.
, me desculpe por isso. Respirei fundo e sai sem olhar para trás, ou eu voltaria. Desci as escadas correndo e quando cheguei do lado de fora, puxei o capuz do casaco, iria tentar encontrar .
– Sabia que voltaria. – ouvi a voz dele indo de um beco do lado de um prédio, que ficava a menos de cem metro do que sai. Olhei para o lado e o vi encostado na frente de um carro branco, enorme. – A propósito, eu gostava daquela camisa que você rasgou no cemitério.
– Por que você matou a minha irmã? – já fui para cima dele para socar seus peitos, mas ele segurou meus dois braços.
– Me desculpa, eu não sabia que era sua irmã. – falou enquanto eu tentava me soltar dele. – Eu queria afetar o , não você, nunca quis te machucar. – as lágrimas começaram a sair dos meus olhos.
– Mesmo assim você não tinha direito de tirar a vida de uma menina. – puxei meus braços para trás, mas ele não me soltou. – Por que?
– Fica calma, . – então ele fez o que eu não esperava, me abraçou. – Me desculpa. – fez com que eu encostasse a cabeça em seu peito. – Me desculpa. – pediu mais uma vez, e aquilo não queria entrar em minha cabeça.
– Suas desculpas não vão trazer ela de volta. – tentei empurrá-lo, mas ele não deixou.
– É isso que você quer? Eu posso tentar trazê-la de volta. – isso fez com que eu o encarasse.
– É contra as regras. – rebati.
– Eu já quebrei as regras há muito tempo. – passou a mão em meu rosto tirando os fios que estavam grudados nele. – Mas você teria que ficar ao meu lado.
– Traz de volta e deixa o em paz, que irei fazer o que quiser. – pedi olhando dentro de seus olhos, que agora estavam tão escuros quanto a noite. – Eu só quero eles dois bem e vivos.
– Ok, mas você vai precisar tirar esse sigilo. – colocou a mão por dentro de meu casaco, e puxou um pouco a alça larga da minha blusa para o lado, passando o polegar em minha marca.
– Primeiro você traz a e depois eu tiro o sigilo. – sim, eu estava negociando com o diabo.
– Não dá, se eu ficar preso no véu preciso de alguém forte aqui para ir me busca. – estreitei meus olhos com aquilo.
– Como você me encontrou no véu aquela noite? – me lembrei da vez que meu pai disse que eu tinha morrido por alguns segundos.
– É complicado explicar. – sua mão gelada foi subindo pelo meu pescoço.
– Você tem aptidão do espírito. – negou com a cabeça, ele estava encarando meus olhos. – Então como atravessou?
– Aquele dia eu estava fazendo algumas coisas erradas. – seu olhar agora se encontrou com o meu. – Você viu. – aquilo então não era uma lembrança. – Blanca estava me espionando através de outra bruxa, e você acabou com o disfarce dela. – deu um sorriso de lado.
– Na verdade eu não fiz nada. – olhei para seus lábios. – Ela que me atacou, tentando entrar em minha cabeça. – estava sentido vontade de beijá-lo, mas não iria fazer isso, eu sentia raiva dele pelo que fez.
– Então algo na sua magia contra atacou, tanto que você entrou na mente de Blanca e se conectou na bruxa com quem ela estava ligada. Foi tão forte que eu senti seu poder. – subi o olhar para seus olhos. – E naquele instante soube que tinha que te achar.
– Por que? Como conseguiu sentir isso sem ao menos ter me visto? – sentia meu peito começar a subir e a descer mais rápido.
– Li muito livros de magia, fiz coisas que são proibidas, e com isso meu corpo é mais aberto do que deveria ser. Ao mesmo tempo que isso é bom, chega a ser um karma. – explicou, e eu comecei a entender o motivo de sentir medo dele. – Está com medo, raiva, e eu diria até mesmo confusa. – isso me fez arregalar um pouco meus olhos. – Consigo sentir suas emoções apenas te tocando. – sua mão deslizou para a minha nuca. – Sei que se quiser você também consegue. – pegou minha mão e colocou em seu peito.
– Não consigo sentir nada que vem de você. – uni as sobrancelhas e tentei me concentrar, para pelo menos saber se ele estava falando a verdade.
– Deve ser por causa do sigilo de proteção, é o mesmo do , não é? – afirmei com a cabeça. – Não achei muito sobre esse em específico, só que ele quebrava a conexão do hospedeiro com o dono do sangue, mas pelo visto não é bem isso que ele faz, ou eu não poderia nem ao menos sentir seu poder. – ele tinha razão, quando uma conexão era quebrada, ambas as partes não podem sentir um ao outro. – Pelo que parece, – voltou sua mão até onde tinha a marca. – é que ele apenas quebra a sua conexão comigo, e não o contrário. – falava de uma forma curiosa, e depois deu um sorriso pequeno. – Ainda sinto seu poder e suas emoções, assim como sinto as de também, mas é uma mão de uma só via, é como se fosse apenas um escudo de proteção. – tentou explicar enquanto unia as sobrancelhas. – Só que é ainda mais complexo que isso.
– É como se fizesse uma ligação e chamasse até cair na caixa eletrônica. Você ouve a mensagem com a voz da pessoa falando que não pode deixar recado, sendo que ela viu seu número e não quis te atender. – raciocinei em voz alta. – Você ouviu a voz dela, mas ela não ouve a sua. Você sente saudades e ela não. – me encarou de maneira curiosa. – Ele não quebra a ligação, ela ainda existe, tanto que você sente. Isso é um sigilo unilateral. – me lembrei de um livro muito velho e surrado de feitiços que minha tia avó tinha. – Já li sobre, é um dos sigilos proibidos, por isso é difícil de achar. Muitas bruxas usaram para se vingar de seus maridos infiéis, marcando suas amantes com ele, e depois a si próprias, impedindo que sentissem qualquer coisa pelos homens que as traíram, e também ocultava a energia delas, pois se fossem bruxos, nem assim conseguiram achá-las com algum feitiço de rastreamento, conseguindo muitas vezes fugir para não serem mortas, e vivendo suas vidas sem sofrerem por aqueles que não as amavam, e eles continuariam amando suas amantes, enquanto elas os desprezavam. – ele tinha sido proibido por ser usado de forma descontrolada pelas bruxas. – Não é tão complexo assim.
– Aonde você leu isso? – ele tinha um olhar curioso. – Nele tinha como quebrar o sigilo?
– Não, ele só contava histórias sobre feitiços e sigilos que foram proibidos, não ensinava como os faziam. – e mesmo se ensinasse eu não falaria. – Ainda não falou como me encontrou no véu.
– Eu morri. – confessou, eu achei isso meio difícil de acreditar. – Blanca armou uma emboscada para mim logo depois deu ter percebido que ela estava me espionando. – soltou uma risada, mas meus olhos ficaram vidrados nele, prestando atenção no que dizia para ver se era realmente verdade, pois isso era a única coisa que podia fazer. – Só que eu tinha feito um feitiço de ressurreição em meu corpo por precaução caso algo desse errado, e deu. A desgraçada me matou, então eu atravessei o véu e você me puxou, e quando vi estava parado na sua sala. – mais um dos feitiços proibidos, ele não era usado por interferir na força da natureza. – Então te encontrei, e quando voltei todo mundo correu como ratos assustados, inclusive aquela velha maldita.
– O que você fez com as pessoas que conseguiu pegar? – perguntei como uma criança.
– Você não quer mesmo saber. Mas Blanca está viva, e conseguiu se esconder muito bem. – voltou a olhar para meus lábios. – Precisa de ajuda para pegar suas coisas?
– Não, eu vou falar com o primeiro, deve demorar um pouco. – abaixei a cabeça pensado em como falaria aquilo.
– Está bem, vou te esperar aqui. – se afastou, finalmente me soltando, passando sua mão em meu rosto uma última vez.
No pequeno percurso que fiz de volta para o apartamento me questionava o motivo de ter me tratado tão bem depois de tê-lo atacado na boate, mas pensando por outro lado, na primeira vez que nos conhecemos ele também tinha sido extremamente gentil comigo, e no dia do ataque me pediu para fugir da lá. Eu posso estar errada, e acho que até mesmo quero, mas acho que ele não é diabo que pintou. Ok, ele matou pessoas, inclusive a minha irmã, só que estava disposto a trazê-la de volta apenas para me ver bem, mesmo sendo um trato, só que mesmo assim. Qual bruxo arriscaria sua própria vida atravessando o véu para buscar uma alma que era indiferente para ele? Não podia ser apenas por simples interesse no meu poder, e se fosse, minha nossa, era muito estúpido e burro para isso, e devo confessar, ele não parece ser o tipo que se sacrifica a esse ponto. Algo muito sério não estava se encaixando.
Abri a porta do apartamento e estava acabando de sair do banheiro, apenas com a toalha branca enrolada em sua cintura, aquilo era bastante tentador. Tive que desviar o olhar para não ir até lá e beijá-lo e sentir seu corpo no meu. Ele me olhou e uniu as sobrancelhas, certamente por eu estar vestida com roupas de sair e parada na porta. Apenas em pensar que iria embora e o deixaria para trás, meu coração ficava em pedaços e eu queria chorar agora mesmo por ter feito aquele maldito acordo, mas era por uma causa maior, não podia ser egoísta e pensar só em mim. Estávamos com a chance de trazer de voltar e de ganhar sua amada liberdade, não podia simplesmente jogar isso fora para poder tê-lo apenas para mim.
, o que você fez? – será que a minha cara estava tão evidente assim, ou ele tinha conseguido sentir algo?
– Fiz o que era o certo. – fui andando até o quarto e me sentei na cama. – Vou trazer de volta e você poderá ser livre para poder viver com ela. – forcei meu melhor sorriso enquanto sentia uma vontade tremenda de desabar ali mesmo. – Você está livre. – abaixei a cabeça e olhei para minhas unhas pretas, vendo a minha visão começava a ficar embaçada por causa das lágrimas.
– Meu Deus, . – ele se ajoelhou na minha frente. – O que você fez? – segurou meu rosto e me obrigou a encará-lo.
– Disse ao que ficaria ao lado dele. – sorri sentindo minhas bochechas ficarem molhadas aos poucos. – Você não vai precisar mais fugir. – segurei suas mãos as tirando de meu rosto. – Eu te amo tanto. – as palavras simplesmente saiam e meu peito se rasgava inteiro por dentro, me proporcionando uma dor amarga.
“Você pula, eu pulo. Lembra?” – agora ele chorava e me olhava desesperado. – Eu te amo, sua idiota. – segurou novamente as laterais do meu rosto. Eu não esperava ouvir aquilo. – Se for para te ter ao meu lado, não me importo em fugir o resto da minha vida. Eu não me importo. – fechou os olhos com força e negou com a cabeça, enquanto as lágrimas desciam. – Eu te amo, por favor, não vai embora. – tirei suas mãos de meu rosto.
– Você terá a de volta. – falei encostando minha testa na dele e fechando meus olhos também. – Vocês serão felizes.
– Mas eu quero você, . Eu quero você. – seus lábios tocaram os meus com urgência, como na vez que eu o beijei, e a sensação foi maravilhosa. – Hey, olha para mim. – segurou as laterais do meu pescoço, então abri meus olhos. – Podemos fazer um acordo com o , ele fica com a gente e traz de volta. Só isso. Não me importa aonde vamos estar, se eu estiver ao seu lado está bom.
– Ele não vai aceitar. – balancei a cabeça em negação, mordendo meu lábio inferior, tentando segurar o choro, mas era inútil. – Você sabe disso.
– Precisamos tentar. – se afastou um pouco e secou meu rosto de maneira otimista. – Vamos tentar falar com ele.
– Falar o que comigo? – nos assustamos ao ouvir a voz na porta do quarto. – Vim garantir que vocês não fugissem. – o susto me fez parar de chorar no mesmo instante.
– Me deixa falar com . – pedi para que já se colocou de pé, se ele tentasse falar levaria um não no meio da cara apenas por pura diversão de seu irmão. – A sós. – ele não falou nada, apenas saiu do quarto. – Fecha a porta e senta aqui. – passei a mão ao meu lado na cama.
– O que quer falar? – perguntou depois que fechou a porta e jogando-se ao meu lado.
– Queremos que você fique conosco. – ergueu uma sobrancelha quando ouviu o que eu falei. – Eu amo o , e só de pensar que vamos ficar longe um do outro me dá uma vontade desesperada de chorar. Não quero ir embora sem ele, e também não quero que as coisas continuem como estão. – soltei o ar pesado de dentro de meu peito e encarei o homem ao meu lado. – Sei que vocês dois tem suas diferenças, e que você quer arrancar a cabeça dele, mas por favor, não nos separa. – praticamente implorei enquanto fechava meus olhos com força, mas logo os abri, o encarando. – A ligação que sente comigo é a mesma que sinto com . Consegue entender agora porque não posso deixá-lo? Vai ser como se estivesse faltando um pedaço dentro de mim. Não sei se ele sente o mesmo, mas sei que você sente.
, ele me abandonou quando mais precisei. – falou olhando para suas mãos enquanto mexia em um anel com pedra de ônix, e isso me fez unir as sobrancelhas por causa da escolha da pedra, pois ela servia para sugar energias negativas do arredor. E né? – Não sei se te contou o motivo deu querer ver ele sofrer.
– Falou que fugiu depois que você matou seus pais. – soltou uma pequena risada e balançou a cabeça. – Que fez isso por causa da escuridão, que você a odeia, e isso te faz sentir raiva e querer causar o caos.
– Não é bem assim, e também não é por causa da escuridão que sou assim. – me olhou sério e arrumando sua postura, ficando sentado reto. – . – chamou e ele apareceu, abrindo a porta e colocando a cabeça para dentro. – Vem aqui. – ele entrou e encostou a porta. – Vai vestir algo primeiro. – mandou e seu irmão foi, e logo voltou vestindo um conjunto de moletom. – Por que eu quero te matar?
– Porque eu fiquei do lado dos nossos pais na briga. – cruzou os braços.
– Por que eu matei eles? – Perguntou, e eu estava querendo entender onde queria chegar com isso.
– Porque você estava com raiva por eles. – continuou respondendo.
– E por que eu estava com raiva deles? – abriu a boca para responder, mas então parou.
– Não sei. Não me lembro. – uni as sobrancelhas achando aquilo estranho. – Papai e mamãe só falavam que você era mau por causa da escuridão.
– O que você lembra da sua infância? – acho que estava começando a entender o que estava fazendo.
– Pouca coisa, quase nada. Lembro da escola. – deu de ombros.
– Malditos filhos da puta. – xingou e me olhou, depois voltou a encarar seu irmão. – Aposto que eles apagaram a sua memória depois que fizeram o sigilo em você. – torceu o nariz meio que discordando daquilo.
– Ou o sigilo pode ter apagado. Faz sentido para o que ele serve. – conclui, mas não me lembrava de ter lido isso no livro.
– Não foi o sigilo, ou você também não lembraria de mim. – me olhou e depois soltou um suspiro. – Eles apagaram a memória dele e só devem ter dito que eu era o louco sociopata. – riu consigo mesmo.
– Como assim? Papai e mamãe nunca fariam isso, eles te amavam também. – isso fez soltar um riso debochado e olhá-lo.
– Eu posso ver se eles realmente bloquearam a sua memória. Venha aqui. – Pedi e ele se sentou do meu outro lado. – Posso entrar na sua cabeça? – perguntei e ele olhou para e depois para mim. – Se tiver mesmo razão, vou desbloquear suas lembranças e isso vai doer um pouco. – ele respirou fundo.
– Está bem. – cheguei para trás, e deitou com a cabeça em minha perna. – Espero que ele esteja errado. – olhou de relance para seu irmão.
– Tenta relaxar e abrir sua mente o máximo que puder, pois vai facilitar as coisas. – passei a ponta de meus dedos em suas têmporas. – , segura ele. – pedi, e me olhou preocupado. – Vou tentar não fritar seu cérebro. – dei um sorrisinho e vi segurando os braços do seu irmão nas laterais se seu corpo. Soltei o ar pela boca e fechei meus olhos, limpando a minha mente. – Patefacio!² – Falei e entrei na cabeça dele. – Ostende mihi faciem tuam praeterita.³ – as coisas começaram a aparecer muito rápido de trás para frente, até que pararam, como se eu tivesse sido atingida por algo, me fazendo cair para trás. – Que porra foi essa? – abri meus olhos e eu não estava mais no apartamento. – Merda, eu estou presa na cabeça dele. – olhei para os lados e estava tudo escuro, então tirei um cordão de cristal em meu pescoço. – Lux!⁴ – ele se acendeu como uma luz. – Aonde você está, ? – me perguntei olhando para os lados e vendo apenas paredes. Eu estava em um corredor. – Alguém ai? – chamei e minha voz apenas ecoou.
– Aonde estamos indo? – uma voz infantil perguntou, então a segui, era bem mais na frente.
– Estamos indo ver o seu irmão. – uma mulher respondeu de forma carinhosa.
? – a criança pareceu animada. – Estou com saudades dele.
– Sim, meu anjo. – pude sentir um pequeno desgosto no tom de voz.
Corri na direção as vozes, e os vi passando por uma porta, então segui. Entrando em um quarto bem grande. Tinha um menino sentado na cama com um livro enorme e velho, e quando viu a outra criança abriu um sorriso gigantesco.
Verto off lux.⁵ – falei e meu cristal se apagou, mas continuei com ele enrolado em minha mão.
! – pulou da cama e foi de encontro com o outro menino, que também corria em sua direção. – Senti saudades! – se abraçaram com força.
Me aproximei já que ninguém podia me ver ali mesmo. Eles dois eram idênticos, exceto pelos cabelos, o de estava raspado, e de um corte normal, curto. Ouvi um barulho na porta, e um homem passou por ela, ele estava sério demais, e olhava para as crianças com uma cara nervosa.
– Vamos acabar com essa porcaria logo. – falou de um jeito arrogante, andou em passos largos e pesados até os meninos que deveriam ter onze anos. – Já chega. – os separou com brutalidade, segurando o braço de com força, que tentava puxar seu braço fino de volta, mas era inútil. – Agnes, traz o recipiente aqui. – ordenou, e a mulher deu uma pequena corrida tirando algo de sua bolsa. – Coloque ali. – apontou para uma escrivaninha.
– O que vocês vão fazer com meu irmão? – perguntou, olhando assustados para seus pais.
– Só vamos pegar um pouco de sangue, meu anjo. – sua mãe deu um sorriso gentil. – Não vamos fazer nada demais, agora sente na poltrona. – apontou para uma enorme poltrona de veludo. – Giles, traz ele logo. – mandou e o homem arrastou até a escrivaninha.
– Fica quieto, moleque, ou vou cortar o seu braço fora. – falou grosso com ele, que agora o socava e chutava, tentando se soltar.
, me ajuda! – pediu, mas o mesmo apenas o olhava assustado sem se mover. – ! – chamou em desespero, e o seu irmão apenas colocou os pés sobre a poltrona e abraçou suas pernas, com medo. – Ventus!⁶ – Berrou e as janelas se abriram, entrando uma ventania forte, fazendo tudo ali dentro começar a sair do lugar.
– Vai logo, Agnes! – Giles gritou com sua esposa, que sacou uma faca e cortou a mão de . O homem fez com que ele sangrasse dentro do recipiente de madeira. – Somnum.⁷ – Disse e soltou o menino, que caiu desacordado no chão no mesmo instante, fazendo o vento parar.
– O que aconteceu com ele? – estava de olhos arregalados, chorando, se tremendo inteiro.
– Ele só está dormindo. – seu pai pegou o corpo de e o colocou na cama. – Agnes, faça o sigilo.
, venha cá, meu anjo. – chamou, e ele foi correndo até sua mãe, a abraçando enquanto chorava. – Vai ficar tudo bem, mas para isso você precisa me ajudar, sim? – ele afirmou com a cabeça. – Senta aqui em cima e tire a camisa. – Giles, segure o . – pediu tirando os ingredientes que iria precisar de dentro da bolsa, e por fim uma folha rasgada de um livro, certamente o feitiço. Ela lia e colocava as coisas dentro do recipiente, por fim riscou um fósforo e aquilo tudo queimou. – Meu anjinho, irei precisar que você fique calmo, pois isso vai doer um pouco. – sorriu de um jeito doce e começou a riscar o ombro dele com algo pontiagudo. – Frange omnia, et nihil habet connexionem cum ipse dominus sanguis illius. Adolebitque!⁸ – e segurou ombro dele, fazendo queimar.
Tudo se apagou, e aos poucos foi se ascendendo. estava deitado no chão e agora se levantava, olhando para que estava deitado na cama.
. – chamou, balançando seu ombro. – Acorda.
. – esfregou os olhos e deu um sorriso. – O que está acontecendo? Cadê o pai e a mãe? – olhou para os lados se sentando na cama.
– Não sei, eles sumiram. – deu de ombros, e sorriu. – Vamos brincar enquanto eles não voltam!
– Vamos! Senta aqui! – bateu animado com a mão na cama. – Vamos bater adoleta.
– Vamos! – pulou em cima da cama, e eles começaram a brincar, batendo suas mãos, e fazendo os gestos cada vez mais rápido, enquanto riam por estarem conseguindo fazer aquilo na velocidade que estavam, até errarem. – Errou! – gritou e jogou seu corpo para trás, soltando uma gargalhada.
– É que não brinco disso a muito tempo, vamos, de novo! – puxou pela camisa enquanto ria. E eles fizeram, e antes de terminar a rodada, fomos trazidos de volta.
? – chamou abrindo os olhos e olhando par seus pais. – Cadê o ?
– Ele está dormindo, meu anjo. – sua mãe respondeu. – Vamos deixar ele descansar e voltaremos amanhã.
– Mas eu quero dormir aqui com ele. – falou com uma voz chorosa, olhando para o menino que estava deitado na cama.
– Você não pode ficar aqui, sabe disso. – Giles o repreendeu. – Agora vamos. – segurou na mão do e saiu arrastando ele para fora do quarto.
Olhei ao redor vendo a bagunça que aquilo tinha ficado, e como eles tinham deixado o para trás, com a mão cortada, e não tinham nem ao menos se preocupado em fazer um curativo. Eles eram uns tremendos de uns babacas. Os segui, não tinha nada que eu pudesse fazer, e a memória não era do ou minha, então as coisas ali estavam começando a se apagar. Saímos do lugar, que conclui ser um internato, e pelo visto eles tinham entrado ali escondidos, já que era noite e pareciam preocupados demais olhando para os lados. Chegamos até onde estava o carro, e Giles colocou sentado sobre o capô.
– Me deixa entrar em sua cabeça? – pediu para seu filho que concordou. – Respira fundo e me deixe entrar. – fez o que seu pai mandou, então Giles segurou as laterais de sua cabeça e entrou.
Então fui empurrada para todos os momentos que e tiveram juntos, e eles foram apenas se tornando um borrão negro. Seus pais trancavam em um quarto, o deixando longe de , mas ele sempre dava um jeito de entrar para eles poderem brincar juntos. Foi assim durante muito tempo. ensinou a ler, que muitas vezes conseguiu fugir do quarto e achar livros para ler e passar seu tempo, e um deles foi de feitiço, e foi ele quem ensinou seu primeiro feitiço, que era de destrancar portas. Com isso eles conseguiam se ver mais vezes, até que uma noite foi até o quarto de , e acabou dormindo junto com o irmão, pela manhã seus pais acordaram e viram que eles tinham contato, e decidiram mandar para um colégio interno na Alemanha. E ele só tinha sete anos. Eles nunca foram visita-lo, então descobriu como se conectar a , e eles continuaram mantendo contato através de telepatia, até aquela noite.
! – ouvi a voz de me puxando. – Para! – pediu desesperado. – !
Voltei até o momento que Giles estava com no estacionamento, e fui andando até o menino que ainda estava sentado sobre o capô do carro com seu pai segurando sua cabeça. Coloquei minhas mãos por cima da dele.
Clausus memoriam eorum.⁹ – Giles falou, e eu sentia as memórias de ficarem negras.
Release.¹⁰ – Oordenei para que suas memórias se libertassem, e vi meu cristal que estava dentro da minha palma começar a se acender novamente. – Nunc!¹¹ – e nisso eu fui empurrada com força, me fazendo soltar de .
– Que merda! ! – era a voz de , e eu sentia suas mãos geladas tocando meu rosto. – ! – ele me sacudia de maneira desesperada. – .
– Para de falar alto, não sou surda. – reclamei, sentindo minha cabeça latejar e abrindo meus olhos e percebendo que eles estavam melados, o que me fez levar minha mão até eles. – O que aconteceu? – perguntei vendo minha mão ficar suja com meu sangue. – . – falei vendo ele deitado no mesmo lugar que antes, mas parecia que dormia, já que seu peito subia e descia lentamente e seus olhos estavam fechados.
– Ele está dormindo. – segurou meu rosto. – Você está bem? – olhava assustado para diferentes partes do meu rosto.
– Estou. – me levantei da cama, mas cai e tudo ficou escuro.
. – era de novo, e eu sentia meu corpo todo molhado e quente. – Acorda. – sua mão passava em meu rosto.
– Hm. Eu desmaiei? – perguntei com uma voz fraca.
– Sim. – respondeu e eu abri meus olhos, vendo que estávamos dentro da banheira cheia de água, eu estava encostada nos peitos de e entre suas pernas, com roupa e tudo.
– Por que estamos aqui dentro? – não me mexi, pois estava confortável e quente.
– Porque seu nariz começou a sangrar demais e você ficou extremamente gelada, e o não estava acordado para te aquecer. – colocou a mão em minha testa. – Acho que você voltou ao normal. – concluiu. – Como está se sentindo?
– Muito cansada. – voltei a fechar meus olhos. – E só para constar, seus pais tinham mesmo bloqueado as memórias de .

1. Aestus – Aqueça/Esquente
2. Patefacio – Abra
3. Ostende mihi faciem tuam praeterita – Me mostre seu passado
4. Lux – Ilumine/Acenda
5. Verto off lux – Apague a luz
6. Ventus – Ventania
7. Somnum – Dormir
8. Frange nullam connexionem habet cum omnibus et sanguinis domini illius. Adolebitque! - Quebre toda e qualquer ligação que ele tem com o dono desse sangue. Queime!
9. Clausus memoriam eorum – Bloqueei essas memórias
10. Release – Liberte
11. Nunc – Agora




Espero que Algum Dia Eu Consiga Sair Daqui

Helena, Montana – USA

Quando acordou mal sabia o que falar. Ele estava tão confuso que deu pena, já que o sigilo não o deixava sentir muita coisa em relação ao . Parecia que sua cabeça berrava dizendo para fazer algo em relação de tudo aquilo. E a única coisa que conseguiu pedir foi desculpas por ter sido um covarde completo, e que se pudesse faria qualquer coisa para se redimir com o que aconteceu. por outro lado pareceu que ficou grato ao ouvir aquilo, e entendeu o lado de seu irmão, embora tivesse ficado visivelmente triste por não expressar sentimentos sobre aquilo. Já eu apenas sentia empatia pela causa, era estranho me sentir assim em relação ao , era como se ele fosse uma pessoa qualquer que eu achasse gato e tivesse vontade de beijá-lo, e só. Não sentia mais raiva por ter matado , já que ele a traria de volta.
Combinamos de nos encontrar no cemitério Forest Vale uma semana depois, que seria lua cheia. disse que precisava reunir as coisas para o feitiço e achar o livro dos mortos, então esse tempo seria perfeito para todos nós. Apesar de achar a ideia péssima, não podia negar que estava feliz por isso, por ter minha irmã de volta. se mantinha quieto em relação a isso tudo. Depois daquele dia em que tudo aconteceu rápido demais, ele não falou mais nada em relação a nós dois, então preferi deixar de lado como se nunca tivesse existido, pois deve ter sido apenas no calor do momento ou algum efeito da bala nele. Não deveria ser real. Nada que realmente fosse necessário ser comentado novamente. E eu tentava ficar bem com isso.
Soltei um suspiro e olhei em meu relógio de pulso, era quase meia noite e ainda não tinha chegado, o que me fazia pensar que ele não viria, ou que teria se metido em alguma encrenca só para variar um pouco.
Eu e já tínhamos tirado o caixão da minha irmã de dentro da tumba e ela já estava deitada no chão. Minha mãe deve ter feito algum feitiço em seu corpo, já que ele estava exatamente da mesma forma de quando a enterramos. Olhei para ao meu lado, que estava de braços cruzados e olhando para , pensativo demais. Pensei em perguntar o que estava pensando, mas achei melhor deixar para lá, mal tínhamos trocado palavras durante aquela semana mesmo.
– Desculpa a demora. – ouvi a voz de passando pela porta, e em seu rosto tinha um arranhado e suas roupas estavam meio sujas. – Não estava conseguindo pegar um dos ingredientes. – deu um sorriso de lado.
– O que houve? – perguntei ainda parada aonde estava, apenas o olhando entrar.
– Nada que você vá querer saber. – isso me fez concluir que tinha pessoas mortas envolvidas no meio. – Descobriram como quebrar o sigilo?
– Não. Perguntei para a minha tia avó e ela também não sabia como quebrar esse em específico, e ainda ficou furiosa quando viu que era um dos sigilos proibidos. – me olhou de relance. – E ela não entendeu muito bem o motivo deu querer tirá-lo.
– Não contou para ela que iriamos trazer sua irmã de volta? – perguntou dando um meio sorriso enquanto tirava as coisas de dentro da mochila.
– Por favor, né? – rebati torcendo o nariz. – Ela já vai surtar quando ver de volta. Para que surtar duas vezes? – soltei o ar. – Precisa de ajuda?
– Sim, vai acendendo as velas, vou fazer o pentagrama e os sigilos no chão. , você poderia tirar a sua namorada morta do meio do salão? – pediu e soltou uma pequena risada, o que fez seu irmão revirar os olhos e pegar nos braços.
Peguei as velas dentro da mochila e fui acendendo com o isqueiro que tinha me emprestado. Se alguém da minha família soubesse que eu estava metida com magia negra certamente seria expulsa do clã. Fui colocando as velas já acesas no lugar que foi pedindo, e quando ele acabou de fazer os desenhos, colocou no meio de tudo.
– Se algo acontecer, só peguem a e fujam. – estreitei os olhos ao ouvir aquilo. – Quando eu atravessar o véu vou virar praticamente um farol, vou achar sua irmã e trazer ela de volta, mas pode ser que outras pessoas tentem me pegar, se é que me entendem.
– Se você não arrumasse briga com todo mundo seria bem mais fácil. – comentou e eu dei uma cotovelada em sua costela.
– Eu nunca disse que era santo, mas você também não é. – deu um sorrisinho. – Hora de ir para o inferno. – respirou fundo e abriu o livro dos mortos. – Tolle corpus hoc mihi dominus.¹ – molhou um chocalho de ossos na mistura que ele tinha feito, e passou por cima do corpo de , eles fazia um barulho estranho, como se tocassem em uma sequência certa, criando uma música. – Da mihi potestatem, et secum reducere.² – cortou um pedaço de cabelo dela e o jogou dentro da mistura, depois riscou um fósforo e tacou lá dentro também. Tudo queimou. Ele pegou uma adaga prata e a molhou na mistura. – Aperi modo ad eam.³ – então a enfiou em seu peito com força, me fazendo levar um susto. – Nunc! – seu corpo caiu de lado, fazendo as chamas das velas se elevarem muito alto, enquanto o sangue esvaia e começava a se mover como uma cobra rastejando, traçando o desenho que tinha feito no chão e por fim entrou na ferida da mordida que tinha no pescoço.
As coisas ficaram lentas, até que o tempo parou. Ele tinha atravessado o véu. Olhei para o lado e não se movia, a magia tinha afetado ele também, e logo depois voltou ao normal. Ouvi puxar o ar com força, e as velas se apagaram.
Lux! – falou, e as velas voltaram a se acender. – ! – foi até minha irmã que começava a tossir com força, e então vomitou uma gosma preta.
– Nojento. – torci o nariz e ela me olhou limpando a boca com as costas da mão.
? ? – ela nos olhou com um sorriso no rosto. – Consegui. – olhou para trás, e eu percebi veias negras começaram a subir no pescoço no . – Vocês precisam ajudar ele. – falou arregalando os olhos e apontando para ele. – Uma mulher estava atrás de nós. – eu e nos entreolhamos, mas não nos movemos. – Não vão fazer nada?
– Não temos ligação com ele. – respondi abaixando o olhar. – Precisamos ir embora.
– Não, eu vou atrás dele. – soltou do nada e pegou o livro dos mortos. – Vou precisar da ajuda de vocês. – olhou para nós duas. – pode me ancorar? – afirmei com a cabeça e lhe dei meu cordão que tinha a pedra de cristal, e ele me entregou um anel seu de Lápis Lazuli.
Coloquei o anel em meu dedo sentindo a energia de fluir por ele. Então o olhei, sentindo vontade de beijá-lo e abraça-lo com força, mas apenas respirei fundo e desejei boa sorte. Colocamos no meio do círculo, e as veias negras começava a aparecer ainda mais. e eu demos as mãos ao redor de para lhe passar força e energia, então ele começou a fazer o feitiço e ao contrário do seu irmão, ele cortou a própria garganta, e aquilo foi bem assustador, já que o sangue jorrou longe. teve que me segurar para que não me soltasse dela e ir ao socorro de que caiu de joelhos. Seu corpo foi para trás se deitando de costas e o sigilo em seu ombro queimou sua roupa, e mais uma vez o tempo parou.
Um vento forte entrou no lugar fazendo todas as velas se apagarem. Senti minha cabeça doer muito, mas não soltei a mão de minha irmã. Fechei meus olhos, e quando os abri novamente, as velas tinham voltado a acender. Vi ficando negra como a noite, assim como as coisas ao nosso redor. Era a marca de Anúbis em meu braço!
– Solte-a! – era a voz de . Então fiz o que ele mandou. caiu no chão desacordada, e as coisas rapidamente voltaram ao normal. – ! – senti um par de braços ao meu redor, me segurando, enquanto meu corpo ficava mole.
– Quanto tempo ficamos parados no tempo? – sentia que estava extremamente fraca.
– Uma semana. – respondeu de um jeito estranho. – Isso porque meu sigilo foi quebrado e eu consegui encontrar rapidamente. – explicou, e meu campo de visão foi tomado por ele. No seu pescoço não tinha nada, como se nunca tivesse sido cortado. – Vou levar para casa, não sei como ela aguentou tanto tempo.
– Ela não aguentou. – respondeu. – quem te deu energia. – me olhou de forma preocupada e se sentou ao meu lado, ainda me segurando.
– Como minha irmã está? – perguntei tentando olhar para ela, mas sentia meu corpo inteiro doer.
– Parece que bem, só está esgotada. – respondeu com um sorriso no rosto. – E você?
– Queria saber se alguém anotou a placa do trem que me atropelou. – eles riram da minha piada sem graça. – Sério, meu corpo está doendo muito. – me mexi e tirei o anel de . – Toma, é seu. – lhe entendi a mão com a joia.
– Pode ficar. – falou de forma carinhosa e tirou o meu cordão. – Toma. – o peguei de volta, e eu podia ver a energia circulando por dentro da pedra transparente.
– Eu não quero. – coloquei o anel no chão, e ele me olhou de um jeito estranho enquanto o pegava de volta. – Quero fazer o sigilo no meu outro ombro com o seu sangue. – pareceu bem chocado com meu pedido. – Isso tudo acaba aqui. Eu estou cansada de gente morrendo e de me sentir o que sinto. Essa é a minha parada final.
– Como assim? – os dois perguntaram juntos.
– Não vou usar mais magia, e vou ficar longe de tudo que envolva gente morrendo ou morta. – ficou me olhando sério. – ?
– Ok. Vou levar sua irmã em casa, e irei pegar as coisas para o sigilo. – abaixou o olhar parecendo estar chateado. – Não sei quanto tempo vou levar.
– Tudo bem. – fechei meus olhos e soltei o ar, sentindo meu peito doer por causa da minha escolha que eu havia feito.
pegou e saiu, deixando eu e sozinhos dentro daquele mausoléu. Encostei a cabeça no ombro dele e respirei fundo, tentando me concentrar para não chorar, sua mão afagou meu braço em um carinho reconfortante, ele sabia como eu me sentia naquele momento.
– Será que no livro dos mortos tem alguma coisa para tirar minha marca? – soltei do nada me lembrando que quase matei minha irmã de novo.
– Sua marca é única, não vai ter nada sobre ela ali. – respondeu e encostou seu queixo em minha cabeça como se pensasse em algo. – Mas podemos fazer um feitiço de aprisionamento. – sugeriu, e eu apenas concordei com um murmuro.
– O que precisamos? – desencostei de com certa dificuldade e o olhei.
– Do seu sangue, de barro, fogo e uma adaga enfeitiçada. – olhei para o chão e tínhamos tudo isso ali, e o barro tinha do lado de fora. – Certo, vou te encostar na parede e irei fazer as coisas. – me colocou sentada com as costas encostada na parede.
foi para o lado de fora e logo voltou. Começou a fazer a mistura e depois cortou a minha mão com a adaga com todo o cuidado para não me machucar muito. Achava estranho o modo carinhoso como agia comigo, era como se nunca tivesse nos atacado e como se fosse outra pessoa que conheci aqui no cemitério e aquele dia no banheiro da boate. Tinha algo naquele homem que me fazia gostar dele, talvez a forma como me tratava, e eu achava isso estranho, pois a marca era para que eu não tivesse nenhum tipo de sentimento em relação a ele, bem, talvez fosse apenas empatia. Ele ergueu a cabeça como se tivesse acabado de ler meus pensamentos, seus olhos estavam escuros por causa da iluminação fraca do lugar, me olhava de um jeito tão intenso que me causou um arrepio. Sua mão pegou a minha e a apoiou sobre sua coxa, enrolando um pedaço de pano pela para que parasse de sangrar.
In virtute eram concludens in carcerem, quae hac praesenti notam.⁴
Passava aquela mistura nojenta em minha marca, e depois deslizou com a lâmina da adaga por cima raspando minha pele, e aquilo sim doeu bastante. Meu sangue agora gotejava no chão de tanta força que meu fechava minha mão tentando conter o que eu estava sentindo naquele momento. Tentei não soltar nenhum gemido de dor.
– Pronto. – enrolou outro pedaço de pano por cima da minha marca. – Isso deve funcionar. – sentou-se na minha frente de pernas cruzadas e deu um sorriso fraco.
– O que aconteceu do outro lado?
– Minha mãe. – abaixou a cabeça. Assunto delicado – Ela queria saber onde estava o corpo dela. – uni as sobrancelhas e tombei minha cabeça levemente de lado. – Mas eu não falei.
– E o que ela fez com você? – me esforcei chegando um pouco para frente e segurei sua mão para que me olhasse.
– O que sempre fez. – soltou uma risada fraca como se não fosse novidade o que iria contar. – Estava me torturando, sugando o poder dela de volta. Até que apareceu. – me olhou. – Ele se ofereceu para ficar no meu lugar. – aquilo se duvidas me deixou chocada. – E foi óbvio que ela não aceitou e continuou tentando tirar de mim onde é que eu tinha enfiado o seu maldito corpo. – riu como se tivesse sido divertido. – Então o foi procurar, e o achou. – olhou para o outro lado. – Então agora é bem provável que alguém tenha trazido ela de volta também.
– Quem iria querer trazê-la de volta?
– Blanca. – a resposta me fez erguer as sobrancelhas diante da surpresa.
– Blanca? – indaguei ainda não entendendo o que uma tinha haver com a outra. – Mas o que ela iria querer com a sua mãe?
– Elas são irmãs. – meus olhos se arregalaram naquele instante. – Acho que vou precisar fugir.
– Não. – fechei meus dedos em volta dos dele olhando bem dentro de seus olhos. – Você não vai a lugar nenhum. Elas não vão fazer nada, não se eu estiver por perto. – me olhou de um jeito diferente. – Fique aqui na cidade conosco.
– Não posso, elas vão te usar contra mim. – torci os lábios e soltei uma risadinha.
– Blanca não vai fazer bosta nenhuma comigo, e outra, você é mais forte que elas duas juntas. – o lembrei. – Foi preciso de três bruxos para te buscar do outro lado, enquanto você atravessou sozinho. Pelo amor de Deus!
– Eu fiquei fraco quando fiz isso, e minha mãe tirou uma parcela de poder minha. – explicou, mas mesmo assim ele ainda era forte.
– Olha, não vou fazer mais magia a não ser que seja caso de vida ou morte, mas posso te ensinar as coisas que sei, te ajudar a ficar mais forte. – dei um pequeno sorriso. Eu era louca, sei disso. – Não deixa o , agora que não tem mais o sigilo, se você for embora ele vai sentir a sua falta.
– Do mesmo jeito que senti a dele durante esses anos. – tinha um tom de amargura em sua voz.
– Não foi uma escolha dele, mas se você for, vai ser uma escolha sua que vai magoar a ambos. – e mais uma vez ele abaixou a cabeça. – Eu sei que quer ficar.
– Onde posso deixar o meu trailer? – isso me fez sorrir.
– Não sabia que você tinha um trailer.
– Você não sabe nada sobre mim. – brincou de volta dando um sorriso.
– Gostei disso. – encostei minha cabeça na parede enquanto o olhava.
– De não saber nada sobre mim, ou do meu trailer? – quis saber, se arrastando e sentando ao meu lado.
– De te ver sorrindo mesmo. – respondi fazendo uma careta, ao sentir o ombro dele encostando no meu. – Isso doeu. – reclamei, qualquer toque em mim iria doer.
– Foi mal. – rimos juntos e passou pela porta, o que nos fez parar. – Você foi rápido.
– É, eu apenas deixei lá e fui pegar as coisas. – disse se aproximando e abaixando na minha frente. – Onde vai querer o sigilo? – perguntou já tirando as coisas da bolsa e colocando na nossa frente.
– No ombro direito. – tentei puxar o meu casaco junto com minha blusa para baixo, mas não tive forças. – , me ajuda aqui. – pedi. Ele tirou com cuidado meu casaco e depois abaixou a alça da minha blusa junto com o sutiã. – Obrigada. – forcei um sorriso embora tivesse sentindo dor, o que deve ter parecido mais uma careta. – Como meus pais reagiram?
– Ficaram chorando sem acreditar, e perguntaram de você. – me olhou rapidamente. – Falei que estava bem e que deveria estar lá daqui a pouco. – jogou uma pequena bola de fogo na mistura. – Isso vai doer de novo. – avisou e eu concordei com a cabeça.
Mas como tudo já estava dolorido demais, fazer o sigilo foi o menor dos meus problemas. segurou a minha mão quando me viu fechando os olhos, e eu fiquei agradecida por isso. recitou o feitiço e queimou meu ombro. Abri meus olhos e nós dois estávamos sozinhos no mausoléu. Me levantei sem sentir dor alguma, e me olhava sério sem falar nada.
– Vai ser melhor assim. – falei sem ter coragem de olhar em seus olhos. – Desse jeito eu não vou poder interferir em nada entre você e .
– Não sei se vou ficar com ela, e muito menos se vou continuar na cidade. – sua voz estava bem estranha. – Mas entendo você. – deu um passo para trás e se virou, caminhando para fora do mausoléu. – Espero que viva melhor desse jeito. – disse parado na porta.
. – chamei e ele olhou por cima do ombro. – Posso te pedir uma última coisa antes que isso acabe? – fui andando em sua direção, e parei ao seu lado. Ele me olhava esperando que eu falasse logo. – Quero um beijo seu.
não respondeu, apenas virou e segurou a lateral do meu rosto juntando meus lábios nos dele. Deixei sua língua passar pela minha, e isso foi me entorpecendo aos poucos. Seu beijo era doce e leve, o melhor que eu já tinha provado. Conseguia sentir o que ele sentia, era um misto de dor e amor, e era quente, com um pequeno toque de desejo. Minhas mãos seguraram seus ombros e meus pés foram me elevando para cima, até que fiquei na ponta deles para poder sentir melhor seu beijo aquele jeito, como se a altura fosse me proporcionar isso. O gosto salgado tomou nossos lábios eram de suas lágrimas que desciam pelo seu rosto e, que logo se misturaram com as que escorriam do meu. Minhas mãos foram deslizando aos poucos até que passaram em volta de seu pescoço com delicadeza, alcançando sua nuca. Meus dedos se fecharam levemente nos fios loiros que tinham ali como se pedisse para que aquele momento durasse para sempre. O puxei para mais perto de mim, e os braços dele envolveram a minha cintura, me abraçando juntando nossos corpos. Meu peito contra o seu subia e descia lentamente. Ele me trazia uma calma que jamais senti na vida, um calor em meu peito que me aquecia por inteira de uma forma extremamente aconchegante. Tudo dentro de mim parecia um mar manso, com pequenas as ondas se quebrando tão suavemente que seu som era quase inaudível. Naquele momento era como se o magma tocasse a água fria, e finalmente parasse de avançar.
Nosso tempo acabou...
E como a água, tudo escorreu por entre meus dedos, e sumiu antes que tocasse qualquer coisa. Todos os sentimentos se foram, dando espaço para um enorme vazio dentro de mim. Tudo era tão frio agora que até o ar que saia de meus pulmões estava congelante. Não tinha restado mais nada, nem minha doce escuridão, era como se ela tivesse sido arrastada para bem longe, levando consigo o sentido das coisas. Eu até me questionaria o motivo de ter feito aquilo se ainda sentisse algo. Para mim tudo estava totalmente indiferente, a escuridão e .
Abri meus olhos, e estávamos de volta no mausoléu sujo. Olhei para o loiro na minha frente como se ele fosse um mero estranho. As lembranças ainda estavam ali, mas não tinham nenhum significado. Os olhos dele ficaram marejados, então começou a guardar todas as suas coisas e se levantou, indo embora sem dizer nada, e por mim estava tudo bem.
Puxei o ar com força, e isso doeu minhas costelas, então o soltei aos poucos para que não sentisse a mesma coisa. estava guardando tudo. Meus olhos recaíram sobre o chão sujo. Aquilo precisava ser limpo, ou o coveiro iria achar que ali tinha acontecido um culto satânico ou saquearam um tumulo. Ergui de leve minha mão.
Turn aqua. – falei mesmo prometendo que não usaria magia, mas não funcionou. Achei aquilo estranho. me olhou. – Turn aqua. – gesticulei para o chão sujo, mas tudo continuou a mesma coisa. – Me fala que não está dando certo porque eu estou fraca.
– Não sei. – respondeu simplesmente unindo as sobrancelhas e apagando a última vela. – Talvez não. Tenta fazer outra coisa.
acendeu o flash do celular e iluminou a porta. Olhei para ela e tentei fechá-la com a mente, mas continuou no mesmo lugar. Suspirei me sentindo muito cansada.
– Tem algo muito errado. – então se abaixou ao meu lado segurando a minha mão.
– Não estou sentindo a sua magia. – me olhou nos olhos e isso realmente começou a me deixar apavorada. – Fica calma, deve ser passageiro, você se esgotou demais ancorando o .
– E se não for? – certo, eu não queria mais usar magia, mas ficar sem ela também não era algo que eu esperava.
– É isso sim. Fica tranquila. – colocou a mochila no ombro. – Venha. – me pegou nos braços e eu soltei um gemido. – Vai querer ir para onde?
me levava para fora daquele lugar imundo, deixando tudo para trás. Ouvi as portas se fechando e depois sendo trancadas, e certamente sendo seladas para que nenhum humano fosse capaz de entrar lá e ver a bagunça que foi feita. Depois iria voltar até lá e limpar tudo, não queria que minha família soubesse que usamos magia negra.
– Seu trailer tem lugar para dois? – encostei a cabeça em seu ombro, e ele riu. – Acho que não vou querer ir para casa ouvir minha mãe brigar comigo e perguntar como vamos explicar a ressurreição de depois de seis meses.
– Tem sim, só não está muito arrumado, e não se assuste se ver algum animal morto lá dentro. – soltei um gruído de nojo. – Estou brincando.

me levou para o trailer dele, e não era nada do que ele tinha dito. O lugar era super arrumado, nem parecia que um bruxo maluco morava ali. O único problema era que não tinha banheira, e eu tive que ficar de pé para tomar banho, e isso foi bem complicado. Ele me emprestou uma camisa para vestir. Aquilo tinha ficado enorme quase nos meus joelhos, e eu achei isso engraçado, nunca tinha usado nenhuma camisa masculina. Deitei na cama de casal e tirei o pano que estava molhada de meu braço. Não tinha mais nada li, nem a marca e nem uma cicatriz. Passei a mão pelo local e depois tirei o pano de minha mão, mas esse ainda estava com o corte aberto.
– Deu certo? – levei um susto com a voz de , ele estava só de bermuda e secava seu cabelo com a toalha de banho. Por alguns segundos fiquei babando em seu físico. – ?
– Hã? Ah sim, a marca. Acho que deu. – mostrei meu braço a ele, que sentou-se na beira da cama e olhou. – O que acha?
– Acho que deu certo, e espero que isso não cause um efeito colateral. – me olhou e se levantou. – Vou fazer um curativo na sua mão, ou isso vai inflamar.
Ele saiu e voltou com uma caixa de primeiro socorros. Fiquei olhando a forma como cuidada de minha mão. continuava me tratando com carinho, e quase o perguntei o motivo daquilo, mas achei que era melhor deixar para lá, talvez não quisesse ouvir mesmo a resposta. Assim que terminou, ele levantou e foi lavar as mãos e guardar as coisas.
– Vou dormir no sofá, ok? – parou na porta do quarto e apontou com o polegar para onde iria ficar.
– Não está ok. – torci os lábios. – Anda, deita ai, não tem nada demais, e a cama é enorme. – cheguei para o lado, ficando no canto da parede. – É só você não me assediar enquanto durmo.
– Vou tentar. – riu e apagou as luzes, se deitou ao meu lado de barriga para cima. – Sabe como é, né? É difícil resistir uma mulher como você. – falou e eu ri, já sentindo o edredom cobrindo nós dois.
Me deitei de lado abraçando o travesseiro que tinha seu cheiro. Fiquei olhando para , analisando seus traços. Ele era idêntico ao , a não ser pela cor e tamanho do cabelo, e claro, a barba e a falta de piercings, ao contrário do irmão, ele só tinha duas argolas uma ao lado da outra no canto esquerdo de seu lábio inferior, e alargadores bem grandes nas duas orelhas. era lindo como , mas tão diferente. Dava para ver a diferença de longe, era gritante. A vibração deles eram opostas.
Os olhos dele estava fechados, e seus braços abaixo de sua cabeça, o peito subia e descia com leveza, quase imperceptível. parecia que tinha dormido. Tão sereno quando a noite estrelada que havia lá fora. Poderia até tocá-lo se quisesse, mas meus dedos se fecharam na fronha do travesseiro macio no qual minha cabeça estava deitada, e eu soltei um longo suspiro. Sensação estranha.
– Está me olhando. – levei um pequeno susto.
– Estou. – confessei e me senti desconfortável por ele saber disso.
– Não tinha sido uma pergunta. – abriu os olhos e se virou de frente para mim com um pequeno sorriso. – Ainda está sentindo seu corpo doer? – sua preocupação parecia genuína.
– Uhum. – concordei fechando meus olhos. – Obrigada por tudo. – senti que tinha que agradecê-lo pelo que fez.
– Não precisa agradecer. Eu fiz a merda e precisava concertar. – tinha razão, não iria discutir sobre isso.
Senti a ponta de seus dedos passarem de pelo meu braço descoberto, me causando um arrepio, mas não falei nada e nem me mexi. O cansaço foi me dominando e nem me dei conta de que havia dormido. Nunca tinha dormindo tão fácil na minha vida. Não sei se era porque eu estava cansada, ou o que foi, só sei que eu apaguei muito rápido. Não sonhei com nada, foi só um sono pesado e profundo.
Quando acordei me senti revigorada, e me disse que fiquei adormecida por duas semanas, e que nada me acordava. Aquilo me deixou bastante chocada, ainda mais pelo fato da minha magia não ter voltado e nem ser sentida. Ok, algo tinha dado de errado, mas não queria saber o que era. Estava disposta a começar um novo ciclo da minha vida sem nada daquilo.
Voltei para casa e minha mãe só não me xingou por ter ficado extremamente preocupada com meu sumiço. Não contei o que houve, apenas disse que estava resolvendo algumas coisas, mas ela notou minha falta de poder, e ai tinha que falar a verdade. No começo ela surtou por saber que participei de um feitiço proibido, depois por causa do e do , que eles poderiam ter nos matado, mas ela relevou isso pelo fato de termos conseguido trazer de volta, que por acaso estava melhor do que nunca. Inclusive ela e tinham voltado. Ele ficaria na cidade já que sua mãe apareceu sendo a melhor sogra do mundo, comprou uma casa, vulgo mansão, para eles morarem e tudo mais. O que ela estava planejando eu não tinha ideia, mas temia por .
Umas semanas depois sai de casa e fui morar sozinha em um loft no centro da cidade, não queria ter que ficar cruzando com quase todos os dias. Embora não sentisse nada por ele, ainda assim era desconfortável. Sentia que tínhamos voltado para o início, onde ficava me desviando dele por causa dos meus sentimentos, mas agora era o contrário. Sabia o quanto era ruim gostar de alguém e não poder ficar com aquela pessoa, e mesmo que não sentisse nada em relação a ele, não queria que se sentisse como eu me senti.
Arrumei um emprego de bartender em um pub para distrair a cabeça, já que minha marca e magia não eram algo que interferiam mais em minha vida e que precisavam ser controladas. Acho que no final apenas me conformei com aquilo, pois poderia viver como uma pessoa normal como sempre quis. Era bom ser normal, e melhor ainda sem ter medo que minha escuridão ganhasse vida e saísse por ai machucando as pessoas.
Estava trabalhando quando o copo de choop que estava em minha mão se quebrou, mas por sorte não me cortou, apenas me sujou de cerveja, assim como a máquina e o chão. Isso porque chegou no pub saltitando, com um sorriso de orelha à orelha com um enorme envelope na mão, e do nada jogou na minha cara que iria se casar com . Fiquei olhando para ela sem acreditar naquilo. Então me entregou o convite da festa de noivado e foi embora da mesma maneira que entrou. Não sei o porquê, mas fiquei chocada com a notícia. Abri o envelope branco com a mão suja de cerveja mesmo e li o que estava escrito ali, era sobre o local que seria a festa, a hora e o dia. Seria daqui a um mês.
– Estranho, não é? – a voz de me puxou para a realidade, ele se sentava em um banco à minha frente. Não tinha notado que tinha chegado.
– Bastante. Ela voltou tem o que, dois meses? – ergui uma sobrancelha lhe entregando o convite, e peguei um pano para me secar e limpar a máquina. – Quer me acompanhar na festa? Vai ser na casa da sua mãe. – me olhou e sorriu de lado.
– Esse vai ser um passeio bem chato. – estendeu o convite. – me chamou também, e falei que iria pensar. – rolei os olhos e me afastei, jogando o convite em qualquer canto embaixo do balcão. – Mas posso ir contigo, vamos ter que ir de qualquer maneira mesmo. – o ouvi dizer enquanto eu me abaixava para pegar os cacos de vidro.
– Ok, está marcado. Vai querer o que para beber? – perguntei jogando o que sobrou do copo fora, e me virei para com o pano de prato por cima do meu ombro.
– Sabia que você fica muito sexy assim? – brincou e eu bati com o pano em seu braço, e depois limpei minha mão. – Vim falar com o Theo. – ergui uma sobrancelha querendo saber o que ele queria com o dono do pub. – Estou precisando de dinheiro.
– Sua família é rica. – rebati já enchendo outro copo com chopp e servindo ao cliente que tinha pedido.
– Minha mãe e , eu não tenho acesso ao dinheiro deles, e mesmo se tivesse não iria querer. – fez um gesto banal com a mão. – Então preciso de um emprego. – concluiu. – E não pode falar nada, sua família tem dinheiro e você está ai.
– Estou aqui porque não quero depender deles. – dei um meio sorriso. – E também porque quero ficar longe daquilo tudo, você sabe o que. – revirei meus olhos enquanto falava e lhe lancei um olhar cumplice me referindo a e a magia, eram ambas as coisas que eu não tinha e que queria ficar bem distante por tempo indeterminado. – Você sabe muito bem disso.
– Sei, mas eu gosto quando você fala isso e revira os olhos com extremo tédio. – soltou uma pequena risada.
– Vai falar com o Theo, vai. – bati de novo com o pano em seu braço. – Ele está lá atrás no depósito. – apontei e ri da cara que fez já se levantando.
Ele passou por apertando minha cintura de leve, onde a minha blusa não cobria e entrou na porta que dava para o corredor do depósito. A única coisa que fiz foi rir da sua atitude e tentar acertar com o pano de prato novamente nele. Fiquei servindo os clientes, até que voltou com um sorriso no rosto falando que trabalharia ali também. Fiquei contente por isso, não porque ele ficaria por perto, e sim por estar fazendo algo a não ser arrumando confusão por ai com os outros, ou sentado o dia todo em seu trailer estudando magia. Não que fosse ruim ficar estudando, mas era solitário, e não queria que ele se sentisse assim novamente.

E o dia da festa chegou, e eu estava com vontade zero de ir lá ver minha irmã e comemorarem e muito menos conhecer Agnes. Eu e estávamos trabalhando no pub, e estava bem cheio para a nossa sorte e era bem impossível sair de lá agora. Olhei em meu relógio de pulso e a festa começaria em dentro de meia hora, e eu estava suada e precisaria de no mínimo um bom banho.
– Diego e Lauren já chegaram para nos cobrir. – falou passando por mim e servindo uma moça que o secava, só faltava ela morder os lábios e chamar ele de delícia.
– Eles poderiam ter se atrasado, não? – reclamei e apertei sua bunda por estar na minha frente atrapalhando minha passagem. – Está malhando nas horas vagas? – comentei por ela estar bem durinha. – A propósito, nós podemos ficar aqui trabalhando a noite toda, e você pode até ganhar mais com isso.
– Talvez. – isso me fez rir. – Do que está falando? – me olhou de um jeito provocativo.
– Não sou eu, querido. – abri um sorriso e parei ao lado dele, secando o balcão com um pano. – A ruiva que você serviu agora está olhando para cá e sensualizando com o canudo na boca na tentativa que você a note. – olhei para rapidamente e encarei seus lábios, e já fui servindo outro cliente. – Quem se importa com um noivado chato?
Era engraçado como uma tensão sexual tinha nos envolvido depois que começamos a trabalhar juntos. Talvez a intimidade e o contato tenha feito isso, ou aquilo sempre tivesse existido entre nós e com o tempo só havia se aflorando ainda mais, já que sempre o achei lindo e bem gostoso. Sentia que nos pegaríamos simplesmente do nada. E olha que nem parecia que tinha se passado três meses desde que nos conhecemos de verdade. Será que o sigilo estava perdendo o efeito ou eu realmente estava me apegando a ele? Bem, não fazia ideia.
– Falando nisso. – ele olhou para meus lábios quando se aproximou de mim para entregar uma bebida à um cara que estava na minha frente. – Minha mãe não sabe que estou na cidade. – isso me fez unir as sobrancelhas achando aquele fato bem estranho, mas não iria questionar. – Não sei se ela vai ficar muito feliz quando eu chegar lá.
– Isso está fazendo as coisas ficarem interessantes. – sai de perto dele para ir pegar um refrigerante que me foi pedido, e quando me virei, me olhava de um jeito surpreso.
– Essa não é a mesma que conheci. – falou abrindo um sorriso parecendo ter gostado daquilo. – O que aconteceu com ela?
que você conheceu está entediada.
tinha razão, meus pensamentos mudaram bastante depois que minha marca foi selada, talvez algo estava me afetando, mas quem se importa mesmo? Eu que não. Dei de ombros e parei na frente dele, apoiando minha mão no balcão, bloqueando sua passagem.
– Espero que você esteja pronto para irritar algumas pessoas. – falei e ele estreitou os olhos. – Porque eu estou. – abri um sorriso e joguei o pano de prato em sua cabeça.
Vi Lauren entrar para tomar meu lugar, então acenei para ela, e a menina disse que eu poderia ir. Dei a volta no balcão e fui até a ruiva que secava , ela era muito bonita. Sorri de forma travessa e parei ao seu lado.
– Então, gata. – disse a olhando de cima embaixo. – Hoje é lua cheia e talvez isso esteja me afetando, mas não fique chateada comigo.
Tirei o corpo de sua mão, segurei sua nuca e a beijei simplesmente do nada. Minha língua invadiu sua boca sem pedir licença. Eu não estava em meu normal, muito longe disso. A normal jamais faria aquilo, e eu sinceramente não queria saber onde ela estava, aquela ali era muito mais divertida. Me afastei da mulher vendo como seus lábios tinha virado borrados por causa do beijo.
– A propósito, ele é gay. – sussurrei no ouvido dela e alisei sua cocha desnuda pelo vestido curto.
Me afastei rindo e a ruiva me olhava meio espantada com aquilo tudo. Passei a bola de minha camisa preta em minha boca limpando todo e qualquer vestígio de batom vermelho que tivesse ficado preso ali, e me virei, saindo dali. Empurrei a porta do pub e olhei para o céu, onde a enorme lua já estava nascendo. Sorri para a lua como se dissesse olá para ela.
– O que foi aquilo? – perguntou bem atrás de mim.
– Não sei o que você está falando. – dei uma de sonsa e soltei meu pequeno rabo de cavalo platinado passando a mão em meu cabelo, o bagunçando e jogando para o lado. – Acho que vou assim mesmo. – Olhei para minhas roupa. Eu estava de calça jeans preta, toda rasgada, um old school preto e branco, e um crooped preto escrito 7/11. – O que acha? – estava parado do meu lado agora.
– Acho que não está apropriado para o tipo de festa que é. – respondeu e eu olhei para suas roupas. E ele estava de calça jeans preta rasgada nos joelhos, tênis de bota preto e uma regata aberta nas laterais, branca. – Eu não vou assim, nem pensar.
– Hm, vou tomar um banho, então. Me encontra lá? – sai andando.
– Se quiser posso te pegar de moto no seu apartamento. – ofereceu e eu concordei, apenas levantando minha mão com meu polegar erguido. – Te ligo quando estiver saindo.
– Ok. – Fiz um gesto qualquer com a mão e atravessei a rua.
Essa festa promete.


1. Tolle corpus hoc mihi dominus. - Me leve até a dona desse corpo.
2. Da mihi potestatem, et secum reducere. - E me dê o poder de trazê-la de volta.
3. Aperi modo ad eam. - Abra o caminho até ela.
4. In virtute eram concludens in carcerem, quae hac praesenti notam. - Aprisione o poder contido nessa marca.




No Ar

Prédio ficava na frente do pub, então não precisei andar muito. Abri a porta da frente e subi as escadas, entrando em meu apartamento. Liguei o som, e conectei meu celular nele, colocando o Spotify no aleatório. Entrei no banheiro, liguei o chuveiro e tomei um banho rápido. Enrolei uma toalha em meu cabelo, e outra em meu corpo, e fui me maquiar. Quando terminei ouvi a buzina da moto de lá embaixo. Abri a janela do meu quarto e coloquei a cabeça para fora.
– Ainda não me vesti, espera um pouco. – berrei para ele, que concordou.
Peguei a calça que estava usando antes e a vesti, calcei uma lita boot preta com salto de madeira, e coloquei meu cropped de crochê que minha tia avó havia me dado, eu simplesmente ainda o amava. Tirei a toalha de minha cabeça, e esfreguei ela no meu cabelo, passei um pente e depois o baguncei bastante. Me enchi de pulseiras e anéis, e fui correndo para a porta de um jeito engraçado, pegando minha jaqueta de couro que estava pendurada no gancho. Desci as escadas apressada e quando abri a porta da frente me deparei com encostado na moto, fumando um cigarro. Ele vestia um blazer slim preto, com uma camisa de malha branca por baixo, e uma calça preta um pouco justa deixando suas coxas definidas bem marcadas, em seus pés calçavam botas de couro. Caminhei até ele e tirei o cigarro de entre seus dedos, dando uma tragada e jogando a fumaça para cima. Seus saltos tinham quase me feito ficar da sua altura.
– Vamos? – me afastei e joguei o cigarro no chão, e o apaguei com o pé.
– Daqui a pouco. – respondeu e eu uni as sobrancelhas. – Espera. – pediu e me olhou de cima embaixo. – Estou admirando a vista.
– Idiota. – dei um tapa em seu braço. – Anda logo, já está passando da hora. – peguei o capacete que estava sobre o banco e o coloquei.
Esperei que ele fizesse o mesmo e que subisse na moto, para então sentar em sua garupa. Fomos para a mansão de Agnes e quando chegamos lá os seguranças quase não nos deixou entrar, e eu tive que explicar que éramos irmãos do e de , e só depois deles ligarem lá para dentro e falaram com , é que nos deixaram entrar. Tirei o capacete meio irritada com isso e desci da moto, jogando meu cabelo para frente e para trás, e depois passando a mão neles para que desamassassem. Entreguei o capacete para enquanto ainda arrumava meu cabelo no lugar certo.
– Gente incompetente. – reclamei e riu. – Se eu tivesse magia ainda teria feito com que se afogassem com a própria saliva.
– Que menina agressiva. – observou com um sorriso no rosto. – Seu cabelo está ótimo. Vamos. – estendeu a mão, então a peguei.
Fomos andando em direção a casa, e quando passamos pela porta vimos minha irmã, que parou o que estava fazendo e ficou nos olhando de volta. Ergui uma sobrancelha não entendendo tal espanto. Peguei uma taça de vinho da bandeja que passava e dei um gole.
– Hm, gostoso. – entreguei a taça ao . – Prova. – ele fez o que pedi. – Agora me devolve aqui. – rimos juntos.
. – se aproximou finalmente forçando um sorriso, ela sempre foi péssima em atuar. – E . – olhou para ele e reparou em suas roupas. – Não sabia que estavam juntos.
– Não estamos. – respondemos os mesmo tempo e nos entreolhamos. – E não é por opção minha. – completou e eu fiz uma careta para ele.
– Parabéns pelo noivado. – abracei ela e se afastou logo em seguida. – O que foi?
– Não sinto a sua magia. – tocou minha mão e meu rosto depois. – , o que houve?
– Pensei que mamãe tinha contado. – acabei de beber meu vinho de uma só vez. – É uma história velha, deixa ela no passado. – lhe entreguei a taça vazia. – Onde posso deixar minha jaqueta? – Perguntei já a tirando, o que fez os dois sigilos de meus ombros ficarem expostos. – Sem perguntas. – falei ao reparar que os olhava.
– Me dê aqui, eu guardo. – pegou a jaqueta e saiu andando.
– Não entendo porque minha falta de magia ainda assusta as pessoas. – comentei com . – Vamos ver o que tem de bom para comer.
– Vamos, estou morrendo de fome. – ele voltou a segurar a minha mão. – Quem é bruxo deve se sentir apavorado em pensar sua vida sem magia. – explicou enquanto andávamos. – Deve ser por isso que todo mundo fica apavorado quando descobre que você não tem mais poderes. – o olhei rapidamente.
– Você ficou? – paramos na frente de um buffet.
– Eu ainda tenho convicção de que isso seja passageiro. – passou a mão pelas minhas costas praticamente nuas. – Posso sentir algo dentro de você quando te toco, mas é bem sutil e precisa de muita concentração para isso. – senti minhas costas ficarem quentes. – E some do nada. – tirou sua mão e pegou uma barquete a enfiando de uma vez só na boca.
– Vai se engasgar. – ri de que estava de boca cheia.
– Não sabia que você viria, e muito menos que traria uma prostituta. – ouvi a voz no mesmo instante que mordi uma barquete, e tive que colocar a mão embaixo do meu queixo para que o resto não caísse no chão.
– Agnes, não é? – perguntei ainda mastigando e olhando para , então me virei. – Nossa, você está acabada. – comentei me lembrando da memória de . – Acho que ficar morta por... Quantos anos mesmo? Oito? Quem está contanto? – fiz um gesto banal com a mão e coloquei o resto da barquete na boca. – Definitivamente a morte não lhe caiu nada bem. – ela travou os dentes. – Me permita apresentar. – estendi a mão em sua direção. – . – sorri já de boca vazia.
– Eu deveria te conhecer? – pegou minha mão e ficou me olhando um pouco assustada.
– Meus amigos mais íntimos me chamam de escuridão. – zombei e ergui minhas sobrancelhas dando uma pequena risada.
– Você deveria estar presa em um buraco junto com ele. – olhou para que nem ao menos se deu o trabalho de falar algo.
– Mas todos nós estamos, querida. – soltei sua mão com um sorriso largo em meus lábios. – Estamos presos no mesmo plano, e devo considerar que estar no mesmo lugar que você já é um buraco bem nojento. – me virei e peguei mais uma barquete. – Devo admitir que pelo menos a comida é boa. – riu do meu comentário. – Hm, essa está deliciosa, experimenta. – coloquei um pedaço do que comia boca do rapaz ao meu lado e limpei o canto de seus lábios com o indicador e polegar, e depois os chupei depois.
– Filha. – minha mãe disse abrindo um sorriso e vindo até nós. – Agnes, vejo que já conheceu minha menina mais velha. – me deu um abraço e passou a mão em meu cabelo.
– Ela é sua filha? – questionou tentando disfarçar com um sorriso muito falso. – Quando falava da , eu tinha impressão que era alguém diferente.
– As pessoas mudam. – respondeu por mim e passou a mão pela minha cintura. – Ainda não fomos devidamente apresentados, . – estendeu a mão para minha mãe.
– Você é a cara do mesmo. – Mamãe comentou. – Úrsula. – pegou a mão dele de forma gentil. – tem sorte de ter alguém que a entenda como você. – certamente ela sentiu a escuridão que ele tinha. – Minhas filhas têm muita sorte. – falou contente. – Não é, Agnes?
– Não diria tanto. – olhou para seu filho enquanto trocava sua taça de champagne vazia, por uma cheia. – não era para ser uma bruxa?
– Sou adotada. – Sorri.
se engasgou com uma barquete, rindo e tossindo ao mesmo tempo. Céus, ele iria morrer. Peguei o champagne de Agnes e dei para que bebesse um gole, e depois peguei um guardanapo de pano, e alguns rapinhas de leve em suas costas. Sua mão estava me olhando irritado por ter roubado sua taça, mas fingi não estar entendendo tamanho nervosismo.
– Pare de palhaçada, . – Minha mãe me repreendeu. – Ela é bruxa, mas optou por abandonar a magia por uma causa maior. – explicou, e eu revirei meus olhos.
– Aonde fica o bar? – tentei mudar de assunto, e olhei para os lados caçando o lugar onde poderia pegar bebida.
– É na outra sala. – ouvi a voz de , e isso me fez virar na mesma hora.
Nossa, estava lindo. Por alguns segundos fiquei babando. Seu cabelo loiro estava recém raspado nas laterais com resto minuciosamente penteado para trás com gel. Ele vestia uma camisa de botão branca com pequenos desenhos pretos, e tinha uma jaqueta dourada por cima, sem abandonar seu estilo extravagante...
– Para que são os sigilos em seus ombros, então? – Agnes perguntou roubando toda a minha atenção, e eu a olhei um pouco irritada.
– Não te interessa. – uni minhas sobrancelhas já que ela sabia muito bem a resposta daquela pergunta. Minha mãe se assustou com aquilo. – Por que em vez de ficar questionando sobre mim e minha magia, por que não tenta ser no mínimo uma pessoa digna de estar no mesmo lugar do que eu? – segurei a mão de e sai andando.
! – Minha mãe me repreendeu. – Me perdoe, ela não é assim. – veio andando atrás de mim.
– São as companhias. – Agnes disse de um jeito sarcástico em alto e bom som para que pudéssemos outro. E naquele segundo eu queria muito ter magia para fazer aquele vestido pomposo dela virar água.
, espera. – minha mãe mandou e eu me virei bruscamente, soltando . – O que foi aquilo com a Agnes? Não estou te reconhecendo. – olhava dentro de meus olhos.
– Estou cansada de manter as aparências sempre. Eu nunca fui a filha boa e você sabe muito bem disso. E aquela víbora é a pior pessoa que pode estar aqui. – apontei em direção a Agnes. – Antes de levar aquela maldita para dentro de casa, certifique-se do seu passado.
não é a melhor das pessoas e eu perdoei o que ele fez. – rebateu baixo para que ele não ouvisse.
– Ele morreu para trazer de volta, reveja o que você está falando. E outra, você não sabe o que aconteceu no passado dele para ter feito certas coisas, então não fale do . – dei um passo para trás.
– A escuridão está te dominando. – disse olhando em meus olhos. – Seus olhos não são mais os mesmos.
– Ela não está me dominando, eu sempre fui a escuridão. – abri os braços como se não pudesse fazer nada e fui dando passos para trás, dando um sorriso. – Desculpa por isso. – me virei e fui andando em direção onde ficava o bar. – Quero uma dose de whisky sem gelo. – bati com a mão no balcão.
– Que isso, cowboy? – comentou ao meu lado. – Está assim agora? Violenta, pedindo whisky sem gelo? – ele tinha um sorriso de lado no rosto.
– Sempre fui violenta. – ergui uma sobrancelha.
– Não, não é. – parou do meu lado e eu ignorei. – Me vê uma dose de whisky também, com gelo, por favor. – pediu sem tirar os olhos de mim. – E você não deveria incentivar. – apontou para .
– Não preciso, ela faz por si só. – rebateu com um sorrisinho. – Casinha legal que você está morando com a Agnes. – olhou para os lados. – E aquele quadro é assustador. – apontou para uma pintura enorme de sua mãe na parede.
– Bem assustador. – falei pegando minha dose de whisky e a tomando de uma só vez. – vai usar o mesmo vestido que a sua mãe usou quando se casou com seu pai? – perguntei de um jeito debochado como se tivéssemos dentro de uma longe e enorme tradição de família ali. – Acho que ficaria assim, bem vintage. – riu ao meu lado.
– Nós só ficamos noivos, ainda não pensamos em nada de casamento. – respondeu de um jeito calmo.
– Então para que estão noivando? – observou e tirou seu maço de cigarros de dentro do bolso.
– Não pode fumar aqui dentro. – falou e eu peguei um cigarro de . – Está fumando?
– Aparentemente ela começou hoje antes de virmos para cá. – disse enquanto acendia o cigarro que estava entre meus lábio.
– Algum problema? – Soltei a fumaça para cima e o olhei. Me virei de costas para o balcão encostando meus cotovelos nele. – , aquela ali não é a sua titia querida, Blanca? – apontei para a velha que nos olhou no instante que eu a vi. – ? – já o vi indo atrás dela. – Merda. – coloquei o cigarro entre meus lábios e fui andando apressada entre os convidados, seguindo os dois.
Blanca andava rapidamente, ela era rápida para uma velha. Por onde ia passando as portas se fechavam, atrasando um pouco, e antes dele passar pela última, eu o alcancei. Teria feito isso antes se não tivesse com aquelas porcarias de saltos. Segurei a manga de seu blazer e o puxei para trás.
– Sem mortes. – falei tirando o cigarro de meus lábios, e ele se soltou da minha mão, puxando seu braço para trás. – Deixa ela, é apenas um coelho assustado. – dei uma longa tragada, e segurei seu pescoço e comecei a fazer massagem em sua nuca com meus polegares com cuidado para que o cigarro que estava em minha mão não queimá-lo. – Fica calmo.
– Eu não ia matar. – fechou seus olhos abaixando a cabeça dando mais espaço para meus dedos. – Só machucar um pouco, quem sabe tirar a magia dela e colocar em você. – isso me fez rir, e achei fofo de sua parte. – Estou falando sério. – coloquei o cigarro em seus lábios para que fumasse. – Isso é para me fazer ficar calado? – perguntou meio embolado.
– Sim. – sorri, e continuei fazendo a massagem. – Tenta relaxar.
– O que está acontecendo? – chegou e parou a alguns passos de nós.
– Blanca. – respondi sem olhá-lo. – Sabia que era tia de vocês e não me falou nada. – agora sim o encarei irritada.
– O que tem ela? – estreitei meus olhos com seu cinismo.
– Ah, por favor, . Você sabe que ela me atacou no dia do Sabbat. – revirei meus olhos e tirei o cigarro dos lábios de . – E nem disse que era a sua tia. – dei uma tragada no cigarro.
– Ok, não falei, como não te contei nada sobre a minha vida. – cruzou seus braços como se tivesse total razão. – Vai ficar com raiva disso também?
– Não, não consigo sentir nada por você, esqueceu? – joguei em sua cara e aquilo foi pura maldade. – A questão é que ela matou o uma vez, me atacou e é bem provável que tenha trazido sua mãe de volta. – expliquei e me aproximei. – Quando Blanca nos viu, ou melhor, quando viu seu irmão, saiu correndo assustada, então espero que ela não tente nada contra ele, ou eu mesma vou dar um jeito nas coisas. – joguei a guimba do cigarro dentro de um vaso de flor e me virei para ir embora.
– Espera. – segurou meu pulso e eu o puxei rapidamente de volta, ele serrou os olhos e pendeu a cabeça de leve para o lado. – Podemos conversar? – dei uns passos para trás, e esbarrei em .
– Acho que ela não tem nada para conversar contigo. – passou a mão pela minha cintura e começou a me puxar para fora daquele lugar.
. – chamou, e eu o olhei. – Por favor. – pediu e senti vontade de saber o que tinha para me falar, então parei.
, não. – falou em meu ouvido como se fosse um diabinho. – Você está se esquivando dele a tempos. – lembrou e ele estava certo. – Não estrague as coisas agora.
– Mas eu quero estragar tudo. – sentia uma vontade de causar o caos, queria que aquela casa queimasse e que as pessoas se sentissem vazias como eu.
– Você não quer magoá-lo. – voltou a me puxar e eu ia em passos relutantes enquanto ainda olhava para trás. – E vai ser exatamente isso que irá fazer se for conversar com . – por que tinha que ter tanta razão?
, deixa ela. – falou e isso fez com que seu irmão parasse também.
– Você não quer que eu deixe, te garanto isso. – sua mão livre segurou a minha com firmeza, se certificando que eu não sairia correndo. – não é mais a mesma. – abaixei o olhar ao ouvir aquelas palavras. – Ela vai te machucar.
– Não vai, sei me virar sozinho. Me deixe falar com ela. – se aproximou e as mãos de me seguraram com mais força.
– Ele tem razão, , você não vai querer conversar comigo. – o encarei agora. – A melhor coisa que pode fazer para sua vida é esquecer que eu existo. – mordi meu lábio inferior.
– Eu só quero conversar. – uniu as sobrancelhas como se suas palavras tivessem doído.
– Estou tentando te proteger. – respondi soltando o ar.
– Você já fez isso demais, agora, por favor, me deixa fazer o que quero. – falou, então senti as mãos de me soltarem.
– Desculpa, , mas não dá. – eu queria, mas não podia, algo dentro de mim berrava para eu corresse para longe dali, então dei passos para trás e sai correndo, entrando pela primeira porta que achei.
E eu corri, corri e corri por àquela casa enorme, até que cheguei em um jardim morto. A luz da lua cheia iluminava tudo ao meu redor, mostrando apenas a escuridão que tinha ali. Comecei a caminhar e a passar a mão pelas flores murchas e torcidas, assim como eu. Queria poder revivê-las, mas não tinha o dom para isso. Tinha ciência de que havia mudado, e sabia que até a falta da escuridão me tornando uma pessoa amarga, impulsiva e imprudente, certamente por não conseguir nem ao menos senti-la. Mas sabia que ela ainda estava ali, envolta de mim, como se fosse minha aura. Não podia impedir mais as coisas de acontecerem, a não ser ficar longe das pessoas que gosto, e mesmo que não sentisse nada pelo , minha mente sabia que um dia eu senti, e que ele gostava de mim também, e isso tornava as coisas bem estranhas. Na verdade havia algo dentro de mim, ainda podia sentir, e isso queria sair, era como se garras me arranhassem tentando abrir qualquer buraco que fosse para poder se libertar.
– Sua aura está negra. – me virei assustada quando escutei a voz de minha avó Wanda, eu ainda não tinha tido coragem de ir falar com ela depois de tudo o que aconteceu. – E seus poderes se foram. – ela se aproximou, e eu me afastei. – O que fizeram com a minha ?
– Não fizeram nada. – encostei em algo, e era um chafariz, então dei a volta por ele para criar distância. – Eu que fiz a mim mesma. – ela fechou os olhos e suspirou. – Fiz o que achei certo.
– Se sacrificar pelos outros não é certo. – Wanda abriu os olhos e me encarou. – Você nem ao menos quis saber se eles queriam seu sacrifício.
– Não importa. Agora vai poder ser feliz, estou apenas devolvendo a ela o que peguei sem querer. – travei meus dentes.
– Mas e estão felizes? – se sentou em um banco de pedra e passou a mão ao seu lado. – Senta aqui. – neguei com a cabeça. – Está certo. – suspirou e olhou para o céu. – Não sei se vocês sabem como um feitiço de ressurreição interfere na natureza. – continuei a olhando esperando que falasse logo. – Tudo nela tem que haver um equilíbrio, e tudo sempre tem que voltar para seu lugar. Quando alguém volta a vida quer dizer que outra pessoa precisa morrer. – isso fez meu coração disparar. – E ela isso leva da maneira mais cruel que pode existir.
– Como? – agora me aproximei um pouco.
– Ela leva apenas alguém que você ama de verdade. – voltou a me olhar. – Seria por isso que fez o sigilo em seu ombro contra e ?
– Não fui eu quem fez o feitiço. – mas parecia que ela já sabia disso. – Foi e ... – e no mesmo instante cheguei à conclusão. – Eu vou morrer. – aquilo saiu como um sussurro. – Não estou preparada para isso. – repousei a mão sobre meu peito e a olhei um tanto quanto assustada.
– Ah, querida. – levantou e veio em minha direção, me dando um abraço.
– Quando? – podia sentir lágrimas começando a sair.
– Já começou. Foi desde que voltou, seus anos de vida estão sendo transferidos para ela aos poucos, não sei quando vai terminar. – se afastou e passou a mão em meu cabelo e secou meu rosto. – Eu senti que tinha algo acontecendo contigo, mas esperei que viesse me procurar. – abaixei o olhar. – Por isso que não permiti que sua mãe trouxesse de volta à vida. – fechei meus olhos com força, e senti mais lágrimas descerem.
– Deve haver alguma maneira... – ergui a cabeça e abri meus olhos. – Precisa ter. Eu não quero morrer.
– Mesmo se tivesse, pode ter efeitos irreversíveis. – segurou minha mão e me fez sentar no banco de pedra. – Lembra quando foi lá em casa pela primeira vez? – ela estava mudando de assunto para que eu não pensasse naquilo. – Eu vi muita coisa. – fiquei calada esperando que terminasse de falar. – No momento que meus olhos bateram nele, eu soube que era a sua alma gêmea, mas tinha algo faltando, ele não tinha a ligação contigo. – começou a alisar a minha mão como se a lesse. – Então no dia da morte de , quando vocês dormiam lá em casa, eu fiz uma leitura de aura. – a olhei rapidamente, ela não tinha me contato isso. – Em todas as suas vidas vocês vieram juntos e morreram juntos.
– Mas por que? – quis saber, deveria ter um motivo para isso.
– Na primeira vida de vocês aqui, foi no Egito antigo. – deslizou com a ponta do seu indicador onde ficava a minha marca. – E foi uma vida vermelha. – me pergunto se já tive alguma vida que não fosse vermelha, pois elas indicavam que tinha muita dor, sofrimento e mortes. – Você estava morrendo por alguma doença degenerativa na cabeça e ninguém sabia mais o que fazer para te ajudar, então deixaram que a morte te levasse. – nossa, isso deve ter sido horrível. – Mas você não queria morrer, e ficou lutando até o último segundo, determinada, mesmo sabendo que não tinha escapatória. – ela soltou uma pequena risada como se aquilo fosse previsível. – Então Anúbis apareceu para te buscar e ele ficou admirado com a sua força, pois mesmo sentindo uma dor inacreditável, você não queria se entregar. – me olhou com um sorriso no rosto. – E foi ai que ele te ofereceu uma segunda chance. O Deus dos Mortos levaria outra pessoa no seu lugar e te daria a vida de volta, mas você precisava matar o Faraó do Reino vizinho, então te deu o poder para isso. – indicou onde ficava a minha marca. – E você foi, bem, revigorada, e cheia de vida para a sua missão. Se infiltrou no palácio como uma dançarina e foi se aproximando cada vez mais do Faraó, mas acabou se apaixonando por um dos guardas dele. – eu sabia de quem ela estava falando. Só podia ser o . – Vocês tiveram uma linda história juntos as escondidas dentro do enorme palácio, você mostrou a ele seu poder e sua escuridão, e isso o assustou por um tempo, mas o que ele sentia era maior do que o medo. – sorri ao ouvir aquilo, me lembrando do dia que disse que não tinha medo da minha escuridão. – Então o Faraó de alguma forma o descobriu que você queria mata-lo, e te colocou para lutar com uma de suas melhores guerreiras. – como ele tinha descoberto? – E você se recusou a lutar, e a guerreira te atravessou com uma lança de ouro, e isso fez com que o seu amado se manifestasse, matando a mulher que te feriu. – arregalei os olhos. – O Faraó vendo que nem sob sua morte você confessaria, decidiu pegar o guarda e começou a tortura-lo na sua frente com ferro quente, queimando o corpo dele inteiro e até mesmo perfurando. Os gritos dele davam para servem ouvidos por todo o palácio. – parecia que ela estava lá também, pois a sua cara de sofrimento foi evidente. – Você a beira da morte libertou a sua escuridão, tomando tudo ao seu redor e matando todos que eram pegos pela sombra negra, e finalmente conseguiu matar o Faraó. – minha tia avó sorriu, parecendo aliviada. – E como sempre, se negando a ser levada pela morte, rastejou até seu amado que ainda estava vivo e vocês juraram um ao outro amor eterno, e que voltariam sempre juntos para viverem livres o que não puderam. – segurou minha mão e entrelaçou nossos dedos. – Anúbis grato pelo que fez concedeu esse desejo à vocês, tirando uma pequena parcela de poder seu e dado com o seu amado, fazendo que ele ainda tivesse a luz dentro dele, mas que também portasse a escuridão, para que vocês tivessem a ligação e a escuridão fizessem com que se encontrassem independentemente de onde estivesse. – suspirou e sorriu de um jeito triste. – Vocês estariam ligados para toda eternidade, você sendo a portadora da escuridão, e o seu amado aquele que tem a luz e a escuridão dentro de si, para te ensinar o equilíbrio, te mostrar que tudo tinha o lado bom, e que as coisas não precisavam ser só trevas o tempo todo, ele te daria a felicidade. – soltou minha mão e se levantou. – Mas alguma coisa deu errado, aparentemente Agnes foi amaldiçoada por um bruxa quando estava grávida, o que afetou as coisas e fez a luz e escuridão se separarem. – fez um gesto com as mãos. – e . – Balançou uma mão, e depois a outra. – Você sente a ligação com o , mas ele não sente a mesma porque não tem a escuridão dentro de si, só que de alguma forma ele te ama, foi algo natural que surgiu dentro dele, puro. – agora ela levantou a mão esquerda. – tem a ligação contigo, mais forte do que nas outras vidas, porque ele só tem a escuridão dentro de si, ele te ama tanto que você não pode nem sequer imaginar, é mais forte do que qualquer coisa que ele já sentiu. – ergui minhas sobrancelhas com isso. – As coisas estão completamente desbalanceadas, a natureza está tentando acertar o ciclo dela, portanto não tem nada que possa fazer. Alguém precisa morrer, e esse alguém é você, ou essa vida seria a ruína de vocês.
– Mas por que eu tenho que morrer? – me levantei irritada com aquilo. – Eles vão continuar vivos.
– Mas eles não vão se destruir por sua causa. – aquilo me acertou como um tapa forte na cara. – Entende agora? Eles precisam ficar juntos e não separados como fizeram a vida toda.
– Isso não é justo! – falei contrariada. – Você disse que nós sempre morremos juntos, se eu morrer, eles também vão! – acusei nervosa, aquilo tudo estava dando um nós na minha cabeça.
– Querida, eu não vejo o futuro, apenas o passado. Pode ser que sim, mas pode ser que não. – tentou se aproximar, mas me afastei. – , fica calma.
– Não tem como ficar calma com isso tudo! – levantei minhas mãos e passei elas em meu cabelo. – Não tem, ok? – fui andando de costas. – Eu só preciso dar um jeito nessa bagunça toda.
Sai andando daquele jardim e voltei a entrar na casa. Ouvi a melodia de um piano tocando, e isso me chamou atenção, então a segui. Era uma música bonita, calma, pelo menos me deixava assim. Vi uma porta entreaberta, e o som vinha lá de dentro. Empurrei lentamente a porta para que não fizesse barulho, e olhei pela fresta, era . Fiquei ali parada admirando ele por longo minutos, não sabia que ele tocava, mas também tem muitas coisas sobre aquele homem que eu não fazia ideia.
As coisas que Wanda tinha me falado rebatiam dentro da minha cabeça, e não sabia se deveria contar a alguém, ou se guardava aquilo dentro de mim como fazia a maior parte das vezes. Eu estava morrendo, mas ainda não sabia de que. Talvez eu caísse do nada nesse chão sem vida alguma, ou tivesse uma morte dolorosa e lenta, quem poderia saber? Cogitei em fugir sem dar satisfações, e morrer sozinha em algum lugar, sem ao menos me despedir, mas eu não queria sentir a solidão que isso me causaria, era muito egoísta para isso. Poderia ter algum feitiço que retardasse minha morte, ou então colocar alguém em meu lugar. Mas que diabos estou pensando? Não queria mais que tivesse mortes. Certo, precisava lidar com isso da melhor forma possível, dando o meu melhor às pessoas que gostavam de mim, afinal, agora era a única coisa que eu poderia dar mesmo.
Entrei na sala de músicas e caminhei até , parando atrás de dele e colocando a mão em seus ombros. Ele continuava a tocar, então me sentei ao seu lado, calada, vendo seus dedos tocarem as teclas com perfeição.
– Estou morrendo. – contei, e fiquei na dúvida se ele tinha ouvido, já que não parou de tocar.
– Eu sei disso. – o olhei sem acreditar em suas palavras. – Por causa do meu feitiço de ressurreição. – agora ele me olhou rapidamente.
– Você sabia desde o começo? – afirmou com a cabeça. – Sabia que o feitiço me mataria e mesmo assim fez? – mais uma vez ele concordou. Respirei fundo e coloquei minhas mãos por cima das dele, fazendo o piano tocar alto de uma só vez. – Por que diabos não me falou?
– Porque não acreditaria em mim se falasse. – seu olhar se encontrou com o meu. – Você queria sua irmã de volta, e isso faria com que me desculpasse pelo que fiz.
– Mas agora eu estou morrendo! – falei alto e me levantei. – Deveria ter me falado isso!
– Ah claro, chegar e falar: Então, , não vai rolar o feitiço porque se eu trouxer a de volta ele vai tirar de mim alguém que eu amo, no caso, você. – se levantou e segurou meus braços. – Era isso ou nunca ter você perto de mim nem que fosse por um tempo. Era o que eu tinha para te ter. – puxei meus braços de suas mãos.
– Você é um filho da puta egoísta! – gritei. – Assinou minha sentença de morte sem a minha permissão. – fui para cima dele e comecei a estapeá-lo. – Como pode fazer isso?!
– Porque eu te amo! – segurou meus pulsos.
– Mas eu não! – berrei e puxei meus pulsos de volta. – E queria te odiar agora por ter feito isso comigo, mas não consigo também! – coloquei as mãos em meu rosto querendo sentir raiva dele.
– Eu vou dar um jeito nisso, ok? Tem uma coisa que pode dar certo. – tirou minhas mãos de meu rosto. – Vai ficar tudo bem. – passou a mão em minha bochecha.
– Não, não vai. Não quero que faça nada, já fez demais. – me virei e sai andando dali, batendo a porta atrás de mim. – Sai da minha frente, merda. – Reclamei quando bati de frente com alguém, tentando secar meu rosto que já estava molhado de novo.
– Pensei que tinha ido embora. – era . Muito bom, era só isso que me faltava mesmo. – Está chorando.
– Isso não deveria ser novidade! – abri meus braços e forcei um sorriso, e logo em seguida comecei a chorar de novo. – Porcaria, isso não deveria estar acontecendo. – sequei mais uma vez meu rosto rapidamente. As coisas estavam uma bagunça dentro de minha cabeça.
– Vem, vamos conversar. – segurou a minha mão, e eu não podia fazer mais nada, ele já me puxava para dentro de um quarto. – Clauditis¹. – falou quando passamos pela porta.
– Destranca isso. – apontei para a porta, eu nem tinha mais magia para destrancar aquela merda.
– Não, só quando terminarmos de conversar. Agora senta ai. – fez um gesto com a mão, me jogando sentada na cama.
– Isso não é justo. – reclamei comigo mesma, não podia revidar. acendeu uma mistura com a mão. – O que é isso? – uni as sobrancelhas.
– É apenas um feitiço para ninguém ouvir a nossa conversa. – explicou e tirou sua jaqueta, sentando-se em uma cadeira de veludo. – O que nós trouxemos de volta não é a .
– Como é? – aquilo saiu mais alto do que deveria, sorte que ninguém poderia nos ouvir. – Claro que é.
– Não é. – ergueu uma sobrancelha. – Estou tentando falar isso contigo a tempos, mas você fica fugindo de mim. – reclamou. – É outra pessoa, a energia é diferente, o jeito dela é outro. – tentou explicar, mas para mim não fazia muito sentido. – Falei sobre isso com o , e ele disse que levou a até o mausoléu, e que tem certeza que é ela. – eu apenas uni as sobrancelhas me questionando por que não tinha me falado nada sobre. – Lembra que disse que uma mulher o pegou antes que conseguisse entrar? – me lembrei daquele dia, encostando meus cotovelos em meus joelhos, então concordei com a cabeça. – Quem garante que não pegaram ela também, e outra pessoa não entrou no lugar? – comecei a pensar sobre o que ele estava falando.
– Minha avó teria notado que não é a . – conclui por fim.
– A está fugindo dela que nem diabo foge da cruz. – contou e isso sim começava a fazer sentindo. – Alguém tomou o corpo dela, não atravessou para esse mundo.
– Então por que você vai se casar com ela? – levantei da cama batendo com as mãos em minhas coxas.
– Não vou me casar com ela! Falei que iria apenas para dar essa bosta de festa e tentar falar contigo, já que decidiu dar uma de adolescente de quinze anos! – o olhei com os olhos serrados. – E para ver se sua Tia visse algo de errado, mas aparentemente sumiu depois que viu você e o chegando juntos. – torceu os lábios. – Deve ter sentido algo, não sei.
– Qual a probabilidade disso tudo ser coisa do ? – soltei e me olhou sem entender nada. – Olha, não surta, pois já basta eu surtando. – cheguei perto dele e me abaixei na sua frente. – O quão conveniente seria isso tudo para ele? Aparecer em Chicago, fazer tudo aquilo, dizer que traria de volta, de fato trazer, mas saber que isso me mataria. – seus olhos se arregalaram. – O feitiço de ressureição tinha um preço, mataria quem ele ama. – comecei a jogar aquilo em cima de . – Ok, ele me ama, mas é egoísta demais, e pode estar atrás de poder como você mesmo já disse e...
– Espera, parei na parte que o feitiço de ressurreição te mataria. – fechou os olhos e balançou a cabeça. – Como assim?
– A morte não é instantânea, parece que a minha vida vai sendo sugada aos poucos, não sei como funciona, só sei que estou morrendo desde quando voltou, porque meus anos estão sendo passados para ela. – expliquei e se levantou, me puxando para cima.
– E por que não me falou? – sua cara de pânico me fazia querer abraça-lo.
– Porque acabei de descobrir. – forcei um sorriso mínimo querendo voltar a chorar. – Agora senta ai. – coloquei as mãos em seus ombros e o empurrei para baixo. – Eu perdi meus poderes. – ele ia se levantar, mas o segurei. – Não sei como aconteceu, não sei se foi por causa de ter trancado a minha marca, ou se foi porque te ancorei durante uma semana, eu não sei, ok? – respirei fundo. – Mas pode ter sido o também, ele pode ter roubado meus poderes aquela noite quando fizemos o sigilo. E ele pode ter colocado outra pessoa no corpo de também. – me sentei no chão quando acabei de falar.
– Certo, me deixa ver se entendi o que você está tentando dizer. – suspirou de forma pesada e mexeu com o dedo no ar. – sabia que o feitiço de ressurreição mataria você, e fez assim mesmo, mas ele te ama. – afirmei com a cabeça. – Então ele colocou alguém no corpo da e roubou sua magia enquanto estávamos desacordados. – pendeu a cabeça de lado e serrou os olhos. – Mas então por que ele continua aqui?
– Talvez esteja procurando algo, não sei. – ergui meus ombros indicando que não fazia ideia do que queria. – Ou apenas esperando a hora certa para te matar. É o , não sabemos nada sobre ele. – ergui minhas mãos.
– Que merda, ! – levantou da cadeira e começou a andar de um lado para o outro. – Eu tinha notado que seus poderes tinham sumido quando te vi mais cedo. – apontou em minha direção. – E esse era um dos motivo que eu quis falar contigo. – parou de andar e me olhou. – Por que não me contou?
– Porque é estranho te olhar e não sentir nada. – abaixei a cabeça. – É como se faltasse alguma coisa dentro de mim. – se abaixou na minha frente e segurou meu rosto, olhando dentro dos meus olhos como se procurasse algo. – O que foi?
– Você ainda continua sendo uma idiota. – falou e deu um pequeno sorriso. – Vamos dar um jeito nisso. – se impulsionou para frente, mas me afastei.
– Não. – levantei rapidamente, e uma prateleira de coisas caiu, quebrando um vaso enorme de flores, que começaram a morrer rapidamente. – Certo, tem um jardim inteiro lá atrás morto também. – apontei enquanto falava.
– Não sei, do nada o jardim começou a morrer hoje mais cedo. – achei aquilo estranho. – Pode ser alguém irritado com a gente. Cheguei a pensar que fosse você.
– Eu? – uni minhas sobrancelhas. – Tenho coisa melhor para fazer do que destruir o jardim dos outros.
– Sei lá, você estava me evitando desde Chicago, pensei que estivesse com raiva de algo. – revirei meus olhos. – Por que?
– Eu não estava te evitando, você que ficou estranho depois que me beijou. – acusei de volta. – Só não toquei no assunto porque achei que tinha se arrependido, e que tinha feito aquilo por estar sob efeito da droga. – fui andando em direção a porta. – Tem como abrir? – apontei para a maçaneta.
– Não me arrependi, eu só estava assustado com tudo que aconteceu. – admitiu, e eu não me importei, afinal, não fazia diferença mesmo. – Patefacio². – fez um gesto com a mão, e a porta destrancou. – Não some novamente. – pediu.
– Vou tentar. – olhei para ele antes de sair pela porta.

1. Clauditis - Tranque
2. Patefacio - Abra




Noite do Caçador

Ao passar dos dias podia sentir que algo estava vindo, o cansaço tomava conta de meu corpo, me deixando com uma aparência abatida. Uma sequência de números me perseguiam em sonhos e por todos os lugares que eu olhava, eram sempre os mesmo e na mesma ordem 31, 30, 39, 44, 24, 29, 13 e 84. Talvez eles já tivessem aparecido antes, mas só fui notar a pouco tempo, e desde então eles me assombram incansavelmente. Já coloquei eles no Google e simplesmente não me mostram nada que fizesse sentindo para mim. Pensei que poderiam ser datas, mas não existe dia ou mês 39, 44 e 84. Então cogitei em número de casas ou telefones, mas era tudo tão vago, e eles sempre apareciam em pares, e supostamente eram para ficar assim. E como se isso já não fosse o bastante, a natureza ao meu redor estava morrendo, eu não podia chegar perto de uma flor ou árvore que ela começava a murchar até ficar negra. Era algo assustador. Não conseguia entender o que estava acontecendo. Se isso era a morte vindo, ela estava mais bizarra do que pensei que fosse. Eu não queria ir até minha avó e perguntar o motivo disso estar acontecendo, sentia que não faria diferença alguma, ela não poderia me falar nada mesmo, pois era sempre assim. Por fim continuei trabalhando como se nada tivesse acontecido, tentando ignorar os números e as flores mortas.
Estava evitando falar com , embora ele mexesse comigo sempre quando nos esbarrávamos. Fiz questão de mudar meu horário no pub, quando eu saia, ele estava entrando, se tivesse com sorte naquele dia, nem ao menos conseguia encontra-lo. Assim como hoje, tinha conseguido sair dez minutos mais cedo porque Lauren tinha chegado antes.
Peguei minhas e sai. Indo para meu apartamento.
não tinha dado mais notícias sobre minha irmã, então conclui que tudo deveria ser coisa da cabeça dele, que deveria estar confuso depois que tudo isso aconteceu. Pressuponho até que tenha sido por conta do sigilo que fiz contra ele, cortando nossa conexão mesmo depois de ter dito que me amava, no qual também acho que era mera confusão interna já que não fez nada depois. Então não tinha o que se fazer em relação a isso, já iriamos trazer de volta, o que de fato aconteceu, e como eles eram namorados antes dela morrer, era óbvio que voltariam, e eu seria facilmente descartada. Contando também que aquela paixão platônica não estava me fazendo bem, e a única coisa que havia me restado era tirar aquilo de dentro de mim. Era a lógica, certo? Não brigaria com por causa do , sendo que ele nem tem a ligação como tem comigo. Não podia destruir as coisas em troca da minha felicidade, era egoísmo demais. Não era como , que assinou minha sentença de morte apenas para passar algum tempo ao meu lado, esse mesmo tempo que eu estava fazendo questão de ficar longe dele. Contudo, depois que descobri isso, que morreria, tenho mais certeza ainda que o que fiz foi certo. Me afastar de , e deixaria que ele e minha irmã fossem felizes. Eles não precisavam de mais sofrimento.
Me joguei no sofá e apaguei. Sonhando com a sequência de números infernais sem parar. Aquilo era tão exaustivo, já que quando acordei estava me sentido extremamente cansada, mais do que quando dormi. Me sentei e olhei a hora, uni as sobrancelhas quando vi apenas o número trinta e um em meu relógio digital. Bati nele ainda assim não tinha voltado a funcionar. Aquela porcaria deveria ter queimado. Encostei nas almofadas e passei a mão em meu pescoço. Merda, cadê meu cordão de cristal? Levantei e acendi a luz, e comecei a procurar ele por todos os, mas não o encontrava em lugar nenhum. Eu estava usando ele mais cedo, será que caiu no pub?
Corri e olhei pela janela, ele já tinha fechado. Peguei minhas chaves, e reparei que em uma delas tinha o número trinta. Estranho, nunca tinha reparado isso. Então desci e fui até lá, entrei pelas portas dos fundos e tentei acender a luz, mas elas não acenderam. devia ter desligado a força como sempre fazia. Fui andando em passos lentos no escuro para poder chegar a porta da frente aonde ficava a caixa de luz, para conseguir acender tudo. Então ouvi um barulho vindo do salão. Meus passos pararam e eu queria muito ter magia nesse momento para me defender do quer que fosse, nem que seja uma barata voadora.
Respirei fundo e continuei. Empurrei lentamente a porta que dava para o salão, e vi apenas a luz que ficava sobre a mesa de sinuca acesa. Uni as sobrancelhas achando aquilo estranho, afinal, por que deixaria apenas aquela acesa? Passei pela porta, e olhei atrás do balcão em busca do taco de baseball que tínhamos guardado ali, então vi meu colar caído no chão. Sorri e o peguei, colocando de volta em meu pescoço.
Ouvi o barulho de algo caindo logo seguido de duas risadas, e eu as conhecia muito bem. Não podia ser. Me esguie pela parede e espiei para a parte do salão que dava para a sinuca. Fiquei boquiaberta com o que vi. Era e , e eles estavam... transando? Meu Deus, o que estava acontecendo? Coloquei a minha mão na boca para não fazer nenhum barulho e fui andando de costas, e por fim sai dali apressada.
Parei no lado de fora e olhei para os lados, vendo o número trinta e nove em uma placa que deveria estar escrito quarenta. Fechei meus olhos com força e olhei para o outro lado, e corri para longe daquele lugar. Precisava falar com . Não era para contar fofoca, e sim dizer que estava começando a acreditar em sua teoria da conspiração, mesmo sabendo que já havia traído ele antes.
Peguei um taxi que me levou até a casa de . E mais uma vez eu vi o número da sequência no adesivo do para-brisa do carro, quarenta e quatro. Balancei a cabeça em negação e desci quando vi no contador o número vinte e quatro. Merda, de novo! Isso estava ficando mais rápido do que antes. Podia ser o sinal de que eu estava mais perto da morte. Joguei uma nota para o motorista, a qual não vi o valor, e ouvi ele falar que tinha demais ali. Balancei a mão não me importando com o dinheiro e indicando que poderia ficar com o troco.
Toquei a campainha e me abracei, pois estava sentindo frio e aquele meu casaco era muito fino. Vi o vaso de rosas brancas ao meu lado começar a morrer, e isso era muito ruim. Assim que a porta se abriu, olhei alarmada para a pessoa. Graças a Deus era . Ele estava de pijamas, com um robe aberto por cima de seda branca que se arrastava no chão. Suas sobrancelhas se uniram, certamente estranhando minha aparição àquela hora da noite sem nenhum aviso. Em sua mão tinha um pacote de biscoitos palitos.
– Não me diga que ainda restam vinte e nove biscoitos ai dentro. – falei e entrei, minha cara de insana deveria ser evidente. – Eu sei que é tarde, e que não avisei, mas precisamos conversar. – me virei e ele estava mesmo contando os biscoitos. – .
– Espera, estou contando. – reclamou enquanto virava o pacote em sua mão. – Como sabia que ainda tinham vinte e nove biscoitos aqui dentro?
– Eu não sabia. – arregalei meus olhos balançando a cabeça. – Esquece isso. – segurei sua mão e sai puxando ele. – Aonde podemos conversar?
– Vejam só quem apareceu para roubar meu outro filho. – ouvi a voz de Agnes atrás de mim, e me virei rapidamente. Foi mais um reflexo misturado com susto do que qualquer outra coisa. – Nossa, você está acabada. – usou minhas palavras quando me referi a ela na primeira vez que nos vimos.
– Mãe, deixa a em paz. – pediu, mas sua mãe riu e fez um gesto banal.
– Treze. – falei quando vi o número desenhado bem pequeno em uma das pinturas que nos cercavam. – Agnes, não estou com tempo para discutir contigo hoje. – tentei puxar dali, mas sua mão se soltou da minha.
– Querido, nos deixe a sós. – jogou para o outro cômodo e fechou a porta usando magia. Eu estava ferrada, então me virei e sai correndo para a saída mais próxima. – Pelo que me lembro você já foi mais corajosa. – a porta se fechou antes que eu conseguisse passar por ela, assim como a janela do meu lado, para qualquer lugar que eu corresse as coisas iam se fechando. Cheguei a jogar uma cadeira contra uma janela de vidro, mas nada aconteceu. – Continue, está divertido ver a rata correr assustada.
– Mãe, abre isso! – berrava e esmurrava a porta do outro lado.
– Agnes, eu não sei o que você quer, mas já digo que não tenho nada a te oferecer, eu não tenho mais poder algum. – falei me virando encurralada em uma parede. Vi o número oitenta e quatro estampado embaixo da cadeira que eu tinha jogado contra a janela, que estava virada no chão agora. – Fim da sequência. – disse comigo mesma e neguei com a cabeça.
– Não adianta rezar. – comentou se aproximando como uma raposa. – E sim, você tem algo a me dar. – me jogou para o outro lado do salão de entrada usando magia. Minhas costas bateram no chão, me causando falta de ar. – Sua vida. – não deu tempo nem de me mexer, e novamente fui jogada para outro lado, agora me atirando em cima de uma mesa que tinha um vaso de porcelana, me cortando toda com ele. – Na verdade eu não quero sua vida, só quero tirá-la mesmo.
– O que eu te fiz? – perguntei me levantando com dificuldade e sentindo o sangue escorrer pelos cortes em meus braços.
– Não mandei você ficar de pé. – fez com que eu sentasse no chão, e me arrastou para a parede. – O que você me fez? – soltou uma risada sarcástica. – Não se faça de boba, Ella. – Quem diabos era Ella? Não deu tempo deu perguntar. Agnes pegou um pedaço de porcelana e começou perfurar a minha barriga várias vezes com aquilo, enquanto usava magia para que eu nem se quer me movesse. O barulho de algo sendo quebrado foi estrondoso.
– Não! – berrou e veio correndo em minha direção. – Para com isso! – puxou sua mãe pelos ombros a tirando de perto de mim. – . – segurou meu pescoço, enquanto chorava e colocava a mão sobre a minha barriga tentando estancar o sangramento.
– 31, 30, 39, 44, 24, 29, 13, 84. – falei os números com dificuldade sentindo o sangue sair pela minha boca.
– O que? – ele uniu as sobrancelhas. – Não preciso saber os números da loteria agora. – reclamou e colocou a mão sobre a minha barriga. – Fica comigo, por favor. – pediu e eu sorri.
– 31, 30, 39, 44, 24, 29, 13, 84. – repeti e comecei a riscar o chão com meu sangue naquela sequência. – Proteja o meu corpo, não deixei... – pedi sentindo uma dor absurda, e fechei meus olhos. – Não deixei ninguém encontra-lo. – me engasguei com meu sangue, estava difícil de respirar, e eu já não tinha mais forças.
– Não. ana! – apenas ouvi sua voz. – ana!
Por um segundo tudo parou, e quando voltei a abrir meus olhos já estava fora do meu corpo. Olhei para me segurando, e me abraçava desesperadamente chorando e gritando. Sentia meu peito doer por causa daquilo. Agnes se aproximou e colocou a mão em seu ombro, tentando consolá-lo.
– Não era a ana. – comentou, e ele a olhou muito irritado.
– Como não era a ana?! – gritou com ela me abraçando contra si.
– Não foi ela quem vocês trouxeram de volta. – respondeu, e tanto ele quanto eu franzimos a testa sem entender nada.
– Do que você está falando? Quem nós trouxemos de volta foi a ! – rebateu se levantando do chão com meu corpo nos braços.
– Não foi a ana? – perguntou confusa, mas não teve a resposta. – Como assim não era a ana? O que ela estava fazendo com o , então? – eu tentava entender o que Agnes estava querendo dizer, mas não fazia sentido.
– Eles se gostavam! – saiu andando comigo pela casa, sujando o chão todo por onde passava. – Agora me deixa em paz!
– Idiotas. – dei um pulo com a voz enojada que veio de trás de mim e me virei.
? – arregalei meus olhos e olhei dentro dos seus, então senti algo intenso. Era a mesma ligação que senti quando vi pela primeira vez, só que extremamente forte. – ? – indaguei agora sem entender bosta nenhuma. – O que? Como? Você morreu também? – será que tinha matado ele?
– Morri já tem quase um ano. – eu teria cuspido água se tivesse bebendo, mas engasguei mesmo com a minha própria saliva. – Na verdade foi naquela noite que você me achou.
– Do Sabbat? – questionei e ele afirmou com a cabeça. – Como assim?
– Eu morri, mas tinha feito um feitiço de segurança para voltar a vida caso isso acontecesse, mas você morreu também no mesmo instante, e fui ancorado direto para aonde estava. Então alguém roubou meu corpo nesse meio tempo, e não consegui voltar. – explicou rapidamente e eu mexia com meu indicador tentando entender como se pontuasse as coisas.
– E quem está no seu corpo? – o encarei esperando que tivesse uma boa resposta.
– Giles. – abri minha boca no mesmo instante. Então eu fiquei com o pai dele? Ai que nojo! – E não, para o que você está pensando. Não era eu.
– Como sabe o que estou pensando? – tombei minha cabeça de lado.
– É meio obvio. – torceu os lábios e se virou.
– Onde está indo? – comecei a segui-lo para fora da casa, mas ele não respondeu. – Hey. – acompanhei seu passo ficando ao seu lado. – O que está acontecendo? O seu pai está no seu corpo, a sua mãe voltou a vida e me chamou de Ella. Quem diabos é Ella?
– É a amante do Giles. – disse com arrogância. – Que está no corpo da sua irmã. – então o estava certo. – Minha mãe a matou há anos quando descobriu a traição.
– Então, cadê a ? – segurei seu antebraço para que parasse de andar e explicasse as coisas direito.
– Ela morreu, já atravessou o véu, eu vi quando aconteceu. – deu de ombros e se soltou da minha mão. – Não tem como trazer alguém que já atravessou o véu, e você deveria saber disso. – voltou a andar. – Esperava que fosse mais esperta.
– Hey! – reclamei. – Eu não tenho acesso aos feitiços proibidos. – me defendi. – Espera. – parei de andar, e ele também me olhando com cara de extremo tédio. – Aonde estamos?
– Presos no véu. Na verdade eu estou, você pode atravessar se quiser. – estreitei meus olhos. – Mas preciso que me ajude antes. – continuou andando.
– Ah claro. – revirei meus olhos e dei uma pequena corrida para alcançá-lo novamente. – Me deixa ver se entendi. Giles roubou seu corpo, e ele trouxe Ella de volta. Ok. Mas aonde você estava quando isso aconteceu? – perguntei indignada. – Por que não impediu?
– Teria feito se Agnes não estivesse me torturando para dizer onde estava o corpo dela! – respondeu irritado. – E o disse aonde estava.
– Mas ele disse que sua mãe te soltou. – lembrei.
– Sim, entrou primeiro no corpo, mas Giles já tinha voltado para o meu. Então quando meu irmão atravessou o ritual acabou, e eu ainda estava preso aqui. – explicou enquanto eu o olhava atenta. – Ella queria o seu corpo, ela pensou que você faria o ritual e não o meu irmão.
– Eu estaria fora e meu corpo ficaria vulnerável, então ela pularia dentro dele facilmente. Giles voltaria para o seu, e ele terminaria o ritual me prendendo aqui e selando o corpo de , falando que não havia encontrado ela. – conclui cruzando meus braços. – Espertos.
– Desde o começo eles queriam você por ser mais forte. – o encarei tentando entender onde queria chegar. – Aquele dia no salão foi Giles quem te atacou, eu consegui falar contigo pelo espelho, mandando que fugisse. – ergui minhas sobrancelhas. Agora fazia todo sentido. – Mas ele pegou a por acidente. Era para a cobra ter mordido o seu braço, mas você puxou sua irmã no mesmo instante, então pegou no pescoço dela. – soltou uma risada debochada e balançou a cabeça parecendo satisfeito que o plano de seu pai tivesse dado errado. – Mas ele não desistiu, foi atrás de você e te convenceu de que estava arrependido. – riu. – Eu nunca voltaria atrás e agiria daquele jeito.
– É, mas eu não te conheço. – rebati. – Então tudo o que ele me disse era mentira? Ele não sentia nenhuma ligação comigo? – estava me sentido completamente usada.
– Não, ele só sabia que existia a ligação e usou isso ao favor dele. – parei novamente de andar. – O que foi agora?
– Como eu não vi nada disso? – falei indignada comigo mesmo.
– Porque o sigilo com o meu sangue fez isso, independe de quem estivesse meu corpo você não conseguira sentir nada, e depois ele roubou a sua magia sem que percebesse no momento que em que disse que estava trancando a sua marca. – nesse instante eu me senti completamente burra por ter confiado naquele animal. – Francamente, esperava mais de uma bruxa como você.
– Cale a boca! – fechei a cara e voltei a andar na frente, irritada com tudo aquilo. – Não sei nem para onde estou indo! – disse com raiva levantando os meus braços. – Como que eu atravesso essa porcaria?
– Não vou deixar que atravesse antes de me ajudar. – respondeu parando ao meu lado. – Você não precisa da magia que seus pais te deram, que foi a que Giles roubou. – segurou meu braço o virando para cima. – Sua marca tem energia própria que vem dos mortos e ela não está mais selada. – levantou a manga de meu casaco me mostrando a minha cabeça de Anúbis. – Use o poder dela para falar com o , ele é o único que vai poder te tirar daqui. – puxei meu braço de volta e abaixei minha manga.
– E por que quer que eu saia daqui? – me abracei e dei um passo para trás.
– Porque você vai me tirar daqui. – estreitei os olhos ao ouvir aquilo. – E não vai precisar fazer um ritual de ressurreição para isso, é mais fácil do que aquilo.
– E por que eu faria isso? – o encarei, eu sentia a ligação toda com ele, mas não iria confiar em sua palavra assim tão facilmente.
– Porque você não quer morrer agora. – sorriu de forma cínica. – Sei como posso te ajudar a volta à vida. – ergui uma sobrancelha. – É algo que ninguém nunca tentou antes, mas em teoria funciona. Alguém desse lado te empurra enquanto alguém do outro lado te puxa, mas para isso funcionar precisamos de um lugar sagrado e com muita energia, o solo precisa ser mágico. – torci meu nariz, estava sendo muita informação de uma só vez.
– Certo, não conheço nenhum lugar assim. – me encostei em uma árvore, e felizmente ela não morreu, e eu sorri com isso. – Continue assim. – falei com a árvore.
– Não era você quem estava matando as coisas, era eu tentando falar contigo. – encarei rapidamente. – Era para você ir até sua Tia, e eu falaria contigo por ela, mas não deu certo também. – É, fazia sentido aquilo.
– E por que não falou no dia da festa?
– Eu falei. A parte sobre o as consequências do feitiço de ressurreição era eu falando, mas sua tia me expulsou dali logo depois. – acho que ela não queria falar para ele sobre a ligação das vidas passadas.
– E por que ela não me disse que você estava morto? – aquilo não se encaixava.
– Sua tia avó segue as regras rigorosamente, e contar que eu estava ali iria quebra-las. – concordei com a cabeça, ele tinha razão. – Ela já pagou por ter me deixado falar contigo no dia da festa. – aquilo me deixou surpresa.
– O que aconteceu com minha avó? – estava preocupada com ela agora.
– Os espíritos que a ajudam, alguns a deixaram por isso. – ele não parecia se importar com aquilo.
– E você faria com que ela fizesse isso novamente? – perguntei bem irritada.
– Na verdade eu iria tentar possuir o corpo dela para tentar falar contigo. – o encarei desacreditada, fazia mesmo tudo o que queria mesmo se as pessoas não quisessem.
– Ela iria te trucidar. – apenas avisei.
– Provavelmente, mas pelo menos iria conseguir falar contigo. – deu e ombros e mais uma vez concordei com ele. – Mas não importa, agora estamos presos aqui. – odiava como ele sempre tinha razão das coisas.
– Me conte sobre a sua teoria. – tentei mudar de assunto.
– Esquece tudo o que já ouviu falar sobre Atlântida. – parou na minha frente e gesticulou com a mão. – Eu encontrei um o livro sobre bruxas mais antigo que você pode imaginar, e nele diz o que aconteceu com a ilha. – seu olhar era meio insano. – Atlântida foi onde surgiu os primeiros bruxos com aptidão. Cinco crianças foram achadas dentro de uma caverna, e ninguém as conhecia, então o xamã mais poderoso que controlava a ilha decidiu acolhê-las e cuidar como se fossem suas. – levei minha mão até a boca já achando aquilo um absurdo, mas não falei nada. – Conforme os anos foram se passando, e com a morte do Xamã, a ilha foi dividida em cinco, cada filho e filha cuidava de uma região. Mas algo os assombravam, os anos não afetavam eles. Eram imortais. – bruxos imortais, a tá bom! Ninguém nunca tinha visto um antes, eram apenas lendas. – Então o povo da ilha começou a idolatrar eles como Deuses. Pois que desde quando chegaram, a prosperidade se fez ali naquele lugar. Tudo que o povo precisava a ilha fornecia, ela irradiava magia. Com isso pessoas de toda parte começaram a ir para lá, alguns queriam destruir aquele reino, e outras apenas desfrutar daquilo tudo. – segurei um riso, ou acabaria me xingando. – Com isso os cinco bruxos lançaram um feitiço sobre a ilha, apenas seres mágicos poderiam encontrá-la, deixando longe dos humanos, pois eles acreditavam que apenas seres mágicos eram puros, assim como os primeiros habitantes da ilha que os acolheram. Então expulsando dela todos os clandestinos e deram uma pequena parcela de poder aos moradores como recompensa por ajudarem a tirar os intrusos. E nisso foram surgindo outros bruxos com aptidão, claro que eles eram mais fracos do que os cinco. – certo, eram loucos que nem o . – Por anos a frente às coisas voltaram ao normal. Sempre que alguém fazia algo que não agradassem aos cinco, essa pessoa era banida, mantendo assim o controle através do medo de serem expulsos da grande ilha. Com isso, por décadas os renegados começaram a se juntar, tomados pela raiva e mágoa de não poderem mais entrar na ilha e nem verem seus entes queridos. – ele falava com tanta convicção que qualquer bobo acreditaria. Mas eu sabia que aquilo tudo era lenda. – Então eles se juntaram e fizeram o que qualquer pessoa cheia de ódio faria. Lançaram um feitiço poderoso. Os ventos sopraram tão forte, as ondas foram tão gigantescas, o vulcão cuspia tanta lava, e a terra tremeu tanto, que tudo se tornou um caos completo. Eles atacaram a ilha durante a noite, e tudo foi tão rápido e inesperado que os cinco tiveram suas almas roubadas e nem ao menos conseguiram defender sua amada Atlântida. Afundando junto com ela em um dia e uma noite. – coitados, tiveram seu reino destruído por causa da ira, da ganância e da inveja. Espera, isso não é verdade. Eu não preciso ter pena deles. – E a ilha nunca mais foi vista novamente, pois os renegados lançaram um escudo de proteção para que ninguém mais achasse o local e foram embora. – terminou de contar, e eu fiquei esperando por mais. – Dizem que o solo de lá é sagrado e que tem tantos objetos mágicos que nem podemos imaginar. Encontrei um pergaminho onde diz a localização da ilha, e nele tem inscritos a serem conjurados para conseguir fazer com que ela apareça. – o encarei. Certo. Ele queria me convencer que Atlântida existia? Era a mesma coisa falar que o Papai Noel era real. – Não conseguir ir até lá para vez isso, pois me mataram antes. – respirou fundo e deu um sorriso irônico. – Diz a lenda que os cinco bruxos não morriam porque o solo de lá era mágico, que eles sugavam a energia dele. Pode ser quando seu corpo tocar Atlântida, e nós fizermos o feitiço certo, você consiga voltar a vida.
– Você passou muito tempo preso no véu! Está ficando louco! – levantei meus braços para cima exaltada. – Jogar meu corpo no meio do Atlântico sem ter certeza de nada, baseado em uma lenda de um livro velho e um pergaminho que pode ter sido muito bem falsificado.
– Não era falso, ele estava selado com magia antiga, foi uma merda para conseguir fazer ele se revelar. – aquilo era uma loucura total. – É a sua única chance de continuar vivendo essa vida. – segurou meus braços de leve me fazendo encará-lo. – não tem poder para te trazer de volta, foi preciso dele se ancorar a você e mais o poder da Ella para ir atrás de “mim”, e isso quase matou vocês, na verdade te matou. – me soltou e deu uns passos para trás. – E ele também não vai conseguir enfrentar Giles sozinho, meu corpo tem muito poder, então você é a minha única chance de me tirar daqui, isso precisa dar certo.
– E se não der, meu copo vai ser devorado por peixes no Atlântico. – rebati e cruzei meus braços. – Precisa ter outro jeito. – sai andando passando a mão em meu cabelo.
– Se tivesse eu já teria feito. – veio andando atrás de mim, irritado. – Na verdade eu tentei, mas vocês tinham que ter feito essa merda de sigilo. Não dava para me conectar em nenhum dos dois! A não ser mandar mensagens aleatórias, isso quando eu conseguia ter força o suficiente!
– Se você não quisesse matar o , talvez ele não teria fugido e eu não teria feito a porcaria do sigilo. – me virei e apontei o dedo em sua direção, o acusando. – Você estava atrás de nós.
– Não era eu! – alterou a voz bem nervoso agora. – Eu não queria mata-lo. Giles quem sempre assombrou nós dois, esperando um vacilo para roubar nossos corpos! – tirou o meu dedo de seu peito. – Estou cagando para o ! – se afastou de mim. – Eu só quase matei ele aquela vez por ter entrado no meio da briga que nem era dele! Só queria que ele saísse do meu caminho. Estou me lixando para o . – eu sabia que aquilo era mentira, mas não falei nada.
– Não importa. Já foi, e agora estou presa aqui contigo. – me virei e sai andando para qualquer lado. – Por que eu estou aqui mesmo se já estou morta?
– Porque estamos ligados, minha energia te atrai para perto e vice versa, mas se quiser pode ir embora para o outro lado do véu e esperar a sua próxima reencarnação. – desdenhou com uma certa irritação na voz. Ele estava usando da teoria reversa comigo. – Vou continuar aqui tentando achar um jeito de conseguir meu corpo de volta, e acabar de viver minha única vida, já que na próxima vou ter que dividi-la com o .
– Ok, boa sorte. – virei para o outro lado completamente perdida, mas eu não sabia para onde ir. – Se quiser posso pedir para a minha avó tirar Giles do seu corpo, ela tem aptidão do espírito. – voltei e falei.
– Ele vai matá-la, meu corpo tem a força de mais de dez bruxos. – me encarou entediado.
– Você roubou poder disso tudo? – perguntei alarmada.
– Roubei, por que? – era muito presunçoso, completamente diferente do qual conheci.
– Pra que? – coloquei minhas mãos na cintura.
– Eu achava que podia tirar a escuridão de mim se fosse forte o suficiente para isso. Mas os poderes ficaram no corpo e a escuridão veio comigo quando morri. – sentou-se em um banco de pedra e olhou para cima.
– Não pode se livrar dela, a escuridão é a sua essência. – expliquei unindo as minhas sobrancelhas como se fosse bem óbvio.
– É, descobri isso depois que fiquei preso aqui. – deu um sorriso cínico me olhando naquele instante. – Eu pensava que era alguma maldição que tinham colocado em mim quando nasci, e por mais que eu fizesse feitiços para quebrar uma suposta maldição, não davam certo.
– E ninguém nunca te disse que isso não era uma maldição? – sentei ao seu lado.
ana, meus pais me odiavam pelo que sou, acha mesmo que eles iriam falar algo? – me encarou bem irritado. – Em termos eu fui amaldiçoado, eu e éramos para ser apenas um, mas Agnes teve que irritar uma feiticeira hoodoo.
– Você sabe o que aconteceu? – perguntei me lembrando do que minha avó tinha dito sobre isso.
– Sei, eu entrei na cabeça dela antes de matá-la para tentar entender o motivo de me odiar tanto. – se remexeu meio inquieto do meu lado. – Ella era amante do Giles antes mesmo de nascermos, e minha mãe a matou quando descobriu, mas antes de morrer ela jogou uma maldição em Agnes.
– Como foi a maldição? – queria saber a sua versão da história, e mais detalhes sobre ela para entender todo ódio que tinha sido semeado ali mesmo antes que e nascessem.
– Agnes não teria apenas um filho, mas sim, dois. Um a faria feliz, mas o outro seria sua ruína, tirando dela tudo o que tinha. – explicou e chutou uma pedra que estava perto do seu pé. – Então quando nasci ela soube que eu era a ruína por causa da minha escuridão, e ficou com medo que eu fizesse mal para o , e fez de tudo para me deixar longe dele. Pensou em me dar para doação, mas não fez por não saber onde eu estaria, e assim não teria controle sobre as coisas. Eu poderia aparecer qualquer hora sem aviso e matar todo mundo, pelo menos era isso que passava na cabeça daquela maluca. – riu de forma debochada. Afinal, ele tinha mesmo feito isso. – Ela até mesmo tentou me matar quando era bebê, mas minha magia me salvou, e sempre quando se aproximava de mim algo ruim acontecia. – abriu um sorriso, mas era de completa tristeza. – Eu era a criança amaldiçoada, que sentia algo ruim dentro de mim e sabia que isso machucava as pessoas que gostava, isso realmente me deixava mal, não queria ferir Agnes e o Giles, primeiramente . – mexeu em um anel em sua mão, o de ônix preta. – Até conseguia entender o porquê me prendiam no quarto, mas eu me sentia tão sozinho que achava que não faria mal algum ir brincar com meu irmão as vezes. – seu tom de voz começou a mudar. – Então eles nos pegaram e decidiram me mandar para um internato na Alemanha. Acho que o resto você já sabe. – deu uma pausa e respirou fundo. – Aquele foi o pior lugar pelo que já passei.
– Eu sinto muito. – aquilo que fizeram com ele foi mesmo horrível.
– Não sinta, não tem nada pelo que se lamentar, eu nasci assim. – falou de um jeito rabugento.
– Não, eles te fizeram ser assim. – coloquei a mão sobre a dele. – Se eles tivessem te dado amor, as coisas teriam sido diferentes, mas você pode tentar mudar as coisas.
– Não quero mudar nada, só quero meu corpo de volta e viver o que tiver para viver. – soltou minha mão com descaso e saiu andando. – Os números são coordenadas do lugar onde fica Atlântida.
– Então era você! – e eu poderia jurar que ele estava sorrindo naquele exato momento.
– E era eu também quem te fez falar para esconder seu corpo e dar os números a ele, e que fez seu cordão cair no pub. – sorri com aquilo. era esperto.



Lembre-se que Tudo Ficará Bem

Estava parada atrás de , olhando ele limpar os ferimentos da minha barriga, dando pontos e depois passando uma pasta de ervas nos buracos, para que parassem de sangrar. As lágrimas desciam pelo seu rosto, sua roupa estava toda suja de sangue, assim como o chão do banheiro e todo o caminho que ele passou comigo nos braços. A barra de seu robe branco estava manchada em um tom escarlate, dando um ar macabro.
Me sentei na beira da banheira e tentei toma-lo, mas não consegui. Aquilo era angustiante. Respirei fundo e continuei olhando o que ele fazia. Com uma tesoura começou a cortar a minha roupa, deixando meu corpo ficar apenas de sutiã e calcinha, eles não tinham sujado de sangue também. Então usou um pano úmido para limpar meu corpo, e quando terminou, encostou minha cabeça na banheira e lavou meus cabelos loiros com todo o cuidado do mundo. Depois os secou e “me” levou para o quarto, já limpo e colocou o corpo em sua cama enorme de casal. Foi até seu closet e logo voltou com um suéter azul enorme e me vestiu com ele, aquilo era tão grande que chegava a bater acima dos meus joelhos, parecendo um vestido. Espera, conhecia aquele suéter, era o que eu sempre pegava emprestada quando estava frio. Sorri com aquilo e sequei a lágrima que descei de meu olho logo em seguida. Eu amava aquele suéter. Então ele respirou fundo e se levantou, indo novamente até seu closet e pegando um livro lá de dentro. Uni as sobrancelhas vendo o que ele fazia. acendeu umas velas brancas usando magia, e abriu o livro sobre a cama. Coloquei a mão dentro dos bolsos do meu casaco e achei o anel dele de Lapis Lázuli. O que aquilo estava fazendo comigo?
Hanc corpore intacto¹. – suas palavras me chamaram atenção, fazendo com que eu voltasse a guardar o anel onde achei. As chamas se levantaram e a luz começou a piscar. – Hanc corpore intacto! – repetiu e meu corpo começou a levitar sobre a cama. – Hanc corpore intacto. – disse mais uma vez, e tudo se apagou rapidamente.
As luzes foram voltando lentamente, e eu pude ver meu corpo deitado sobre a cama, e minha pele parecia porcelana. Uni as sobrancelhas e cheguei perto para ver melhor.
– Ele fez um feitiço para seu corpo não se degenerar com o tempo. – falou bem atrás de mim, me fazendo tomar um susto. – Até que ele foi esperto.
Não respondi, ou mandaria ele ir a merda. Vi pegar meu corpo e sair com ele do quarto, descer as escadas, e ir para o porão da enorme da mansão. Tinha um caixão empoeirado lá, certamente deveria ser de Agnes. Ele o abriu com magia e me colocou dentro dele com cuidado, depositando um beijo em minha testa e passando a mão em meu rosto. Ouvi um barulho atrás de mim, e me virei para ver o que era. Foi um rato enorme que derrubou umas latas de tintas vazias.
– Eu vou te trazer de volta para casa. – sussurrou e depois fechou o caixão, deixando sua mão sobre a tampa. – Hoc autem modo loculum hii cum spell.² – uma luz dourada saiu de sua palma, e como um escudo envolveu a enorme caixa, e logo desapareceu, como se nada tivesse sido feito. Ainda usando magia desfez uma parede de tijolos e depois colocou o caixão lá dentro, recolocando os tijolos de volta no lugar, e fazendo um sigilo de ocultação na parede, para esconder qualquer resido de magia que poderia ter ali, inclusive minha localização se alguém tentasse fazer um feitiço para me achar. – Você perdeu tudo, mas não vai me perder. – passou a mão na parede e arrastou três caixas enormes para esconder melhor o lugar.
– Que meigo. – debochou e eu apenas olhei para ele por cima do ombro com a cara fechada. – O que foi?
– Você não precisa ser tão babaca assim. – sai andando seguindo .
– Você precisa ir falar com a sua tia. – o ignorei. – !
– Depois, , depois! – não ousei olhar para trás.
voltou ao salão que ainda estava sujo e olhou para o chão onde eu tinha escrito os números. Então foi até o escritório, pegou um bloco de notas e os escreveu, colocando um “WTF?” embaixo. Ri disso. Vamos, você consegue. Guardou o bloco no bolso e começou a limpar aquela sujeira. Ficou umas duas horas ali enquanto eu estava sentada olhando para ele. Afinal, era a única coisa que podia fazer mesmo. Quando ele foi dormir, eu finalmente decidi ir até minha avó. Ela já estava acordada fazendo café.
– Por que você não atravessou para o outro lado ainda? – perguntou sem nem ao menos ver que eu tinha chegado.
– Nossa, não sabia que você podia sentir os espíritos assim. – brinquei e me sentei no balcão ao seu lado.
– Você não sabe de muita coisa, garota. – bateu com o pano em mim, mas isso só fez com que eu desaparecesse e voltasse logo em seguida.
– Não faça isso. – reclamei e desci do balcão. – Preciso que faça um favor.
– E eu preciso que atravesse o véu. – retrucou e isso me fez revirar os olhos. – Ou vai virar uma alma atordoada e cheia de rancor.
– Não vou. Me escuta. – pedi, e ela não me olhou. – Preciso que diga que eu fugi. – agora minha avó Wanda me encarou. – Não fale que estou morta, estão querendo roubar meu corpo. – suas sobrancelhas brancas se uniram sem entender nada. – Vó, é muita coisa para explicar, e eu só preciso que você diga que passei aqui para pegar uns livros e disse que estava fugindo de algo, mas que não falei o que era. E quando reclamarem que não dei notícias, diga que falei contigo através de magia.
– Garota, no que você se meteu? – me olhou de cima embaixo. – Como você morreu? Sua aura está roxa demais, não era para estar dessa cor, e sim dourada.
– Me mataram. – dei um sorriso sem mostrar os dentes. – Mas isso não vem ao caso. Só preciso que diga que estou bem, e que fugi.
– Vou me arrepender disso depois, mas tudo bem. – bateu com o pano de prato em mim novamente. – Agora vai embora e atravesse o véu.
– Te amo, e até daria um beijo se conseguisse. – sorri e sai dali antes que ela me acertasse com o pano mais uma vez.

As semanas foram se passando e eu não conseguia falar com , ele não me ouvia, ou eu não estava fazendo aquilo direito. Ele ao contrário de mim descobriu o que eram os números, e começou a pesquisar tudo sobre Atlântida, ficando obcecado por isso. Giles e Ella tinham dado falta do meu sumiço, mas nenhum dos dois perguntaram as outras pessoas sobre mim, apenas aguardaram notícias. Minha avó fez exatamente o que pedi. Forjou até mesmo uma carta com a minha letra dizendo que eu estava indo embora, e que não era para se preocuparem, pois assim que fosse seguro novamente, estaria de volta. Chegou a ir no meu apartamento e pegar a maioria das minhas coisas às escondidas como se eu mesma tivesse levado, e o resto ela e minha mãe foram lá buscar e guardaram no porão de minha casa. Ella continuava com , mas ele tinha se afastado um pouco dela por causa da pesquisa e não deixava ninguém ver o que fazia, até mesmo arranjou um quarto em sua casa, onde trancava a porta usando magia para que ninguém entrasse, e passava a maior parte do tempo lá dentro.
– Ele não vai encontrar nada ai. – me assustou como sempre fazia.
– E você quer que eu faça o que? Não consigo falar com ele. – respondi nervosa sem olhar para trás.
– Tenta de novo. – rolei meus olhos, eu já tinha tentado milhões de vezes. – Se concentra. – suas mãos seguraram a minha cintura, e seu peito estava quase encostando em minhas costas. Isso estava me deixando tensa. – Respira fundo. – sua voz estava perto do meu ouvido, e soava de um jeito sexy.
– Você não está me ajudando. – comentei fechando meus olhos e colocando a mão dentro do bolso do meu casaco, sentindo o anel de ali dentro. – Não entendo como isso veio parar aqui. – comentei e o tirei lá de dentro, olhando para a pedra azul.
colocou em seu bolso quando você estava morrendo, estava escorregando do dedo dele por causa do sangue. – explicou ainda perto de mim com aquela mesma voz me causando um arrepio. – Depois o colocou em seu dedo antes de fechar o caixão.
– Eu não vi isso. – sussurrei fechando novamente meus olhos e tentando relaxar.
– Você se distraiu com alguma coisa na hora. – chegou mais perto, colando seu corpo no meu. – Agora limpe a sua mente. – suas mãos seguraram minha cintura com mais força.
. – sentia meu corpo ficar um pouco mole.
– Shiu. – mandou me calar. – Coloque o anel no dedo. – fiz o que ele pediu. – Agora vai. – ele me empurrou com força para frente.
– Merda! – me segurei na mesa e os papeis voaram. As luzes começaram a piscar. arregalou os olhos me encarando. – Oh, meu Deus! – falei erguendo minhas sobrancelhas. – Você está me vendo?
– Er... Estou? – perguntou abrindo um sorriso. Olhei para meu braço onde a manga do meu casaco estava levantada vendo a minha marca começar a se manifestar. – Certo, preciso ser rápida. – respirei fundo e tentei tocá-lo, mas não consegui. – está preso no véu comigo. Quem está no corpo dele é o Giles, e no da é a Ella. – me olhou sem entender. – Eles querem o meu corpo para colocarem Ella dentro dele, porque sou mais forte. Giles roubou a minha magia. E o tem uma ideia louca para me trazer de volta.
Diga a ele que o livro sobre Atlântida está nos Arquivos Secretos do Vaticano. – podia ouvir a voz de em minha cabeça.
– O que? Você não tinha me dito isso! – xinguei olhando por cima do meu ombro. – Não podemos invadir o Vaticano!
. – chamou, então voltei a olhá-lo.
disse que tem um livro sobre Atlântida nos Arquivos Secretos do Vaticano. Espera, para que queremos o livro? – perguntei a .
No livro tem o feitiço que pode te trazer de volta usando o Yggdrasil, que é o mesmo que o bruxo que tinha aptidão de espírito usava para trazer algumas pessoas a vida. – ele não tinha me dito isso, não tinha dito que o feitiço já tinha sido feito. – E o pergaminho também está lá, precisamos dele, pois só nele tem o conjuro para fazer Atlântida aparecer. – ouvi tudo aquilo e olhei para a minha marca que já tinha tomado meu braço inteiro, e ela já estava chegando a minha cabeça, conseguia sentir.
– Certo. Vai par o Vaticano e ache o livro. – mandei, e fui puxada de volta.
? – chamou e olhou para os lados, as luzes voltaram ao normal. – Mas que bosta! – começou a juntar seus papeis rapidamente.
– O que aconteceu? – perguntei para que estava caído no chão. – ! – me joguei ao seu lado e sacudi seu rosto, mas ele não respondeu. – Merda. – cruzei minhas pernas e coloquei sua cabeça sobre elas. – Hey. – dei um tapinha leve em seu rosto. – Acorda, porcaria. – mandei.
– Que chute. – reclamou fazendo uma careta de dor. – Me lembre de não fazer isso de novo.
– O que aconteceu? – quis saber.
– Eu te chutei para o outro plano, mas continuei conectado contigo, te segurando desse lado, ou você poderia acabar no limbo, se perdendo entre os mundos, só que a sua marca estava te consumindo, e começou a me consumir também. – me olhou e tentou se sentar, então o ajudei. – Tive que te puxar de volta, ou iriamos desaparecer para sempre. – o olhei irritada por tal imprudência.
– Pare de fazer essas maluquices! – bati em seu ombro. – Seu imprudente.
– Foi divertido. – deu uma risada, então bati novamente nele. – Pare com isso, pelo menos você conseguiu falar com o .
– Hm. – cruzei meus braços. – Por que você não roubou o livro e o pergaminho? E o que é Yggdrasil?
– Porque dariam falta dele, eu entrei lá de maneira normal, como pesquisador, e não escondido. – rolei meus olhos. Ele tinha mesmo que ter bancado o certo logo ali? – Yggdrasil é a árvore da vida.
– Você mata pessoas! O que é roubar um livro? – levantei do chão um pouco irritada. – Espera, mas a árvore da vida é só uma lenda.
– Assim como Atlântida, né? – me olhou de forma debochada. – E eu só matei Agnes e Giles, dos outros bruxos só roubei o poder mesmo. – se defendeu e tentou se levantar, mas não conseguiu.
– Não tinha me dito isso também. – segurei seus braços e o ajudei a se colocar de pé. – Mais o que preciso saber sobre você além de que não é um assassino em série? – coloquei seu braço ao redor do meu pescoço.
– Que faço as coisas só por mim. – fomos andando até acharmos um quarto, então o sentei na cama.
– Vai dizer que não se importa com ninguém? – perguntei fazendo com que se deitasse.
– Me importar para que e com quem? – deu um sorriso de lado e eu soquei seu ombro. – Ai! – passou a mão onde acertei. – Para com isso, sua mão é pesada.
– É para pesar mesmo. – me joguei na cama, deitando ao seu lado. – Por que Blanca te matou?
– Porque matei a Agnes, ela estava atrás de mim há anos. Aquela velha desgraçada. – se virou de lado, ficando de frente para mim. – Você tem uma visão distorcida minha.
– Eu tenho a visão que vejo e do que já me falaram. – respondi e olhei em seus olhos. Sempre quando fazia isso sentir a ligação entre nós ficar mais intensa. – Se estou tão errada, me mostra quem é você de verdade. – pedi.
– Talvez em outra vida. – abriu um sorriso fraco. – Não tem motivos para saber muito sobre mim, depois que saímos daqui você nunca mais vai me ver. – e isso me fez ficar triste. Abaixei meu olhar no mesmo instante.
– Eu vou ver o que está fazendo. – quando fui levantar, segurou meu pulso. – O que foi?
– Ficou irritada pelo que falei. – me soltou e se mexeu na cama, soltando um pequeno gemido de dor. – Você não está sentindo isso?
– Dor? Não. A marca não me fere. – me encostei na cabeceira da cama. – Venha cá. – pedi batendo de leve em minha coxa e repousou sua cabeça ali sem reclamar. – Não fiquei irritada com o que falou. – passei a mão em seu cabelo o soltando da liga fina que o prendia. – Apenas chateada. – ele permaneceu calado. Fiquei passando a mão por entre os fios ondulados por causa do elástico. – Eu me sinto estranha em relação a isso. É como se nos conhecêssemos a milênios, mas não sei nada sobre você. Isso me incomoda. – uni as sobrancelhas claramente irritada com a situação. – Sei que sinto isso por causa da ligação, mas de verdade queria sentir isso por saber quem você é. – apenas se remexeu e permaneceu quieto, o que me fez suspirar. – Isso não vai levar a lugar algum. – me dei por vencida e tirei sua cabeça de minha perna.
Levantei e sai do quarto sem olhar para trás. Uma coisa que eu nunca faria seria me rastejar atrás de alguém. Se queria ir embora quando saísse daqui, que fosse. Mesmo que isso me irritasse bastante, não falaria nada. Já tinha dito o que sentia, e pronto. Não vou repetir novamente, não mesmo.
Caminhei pela mansão a procura de , e o encontrei em seu quarto arrumando as malas. Agnes apareceu e ficou olhando para seu filho.
– Para onde está indo? – perguntou sentando-se na cama e alisando um casaco de pêlo que tinha acabado de jogar ao lado da mala.
– Estou com tanto ódio de você que não sei nem se devo te contar para onde vou. – respondeu sem olhar para sua mãe.
– Posso saber o motivo de tanta raiva? – ela tinha a maior cara de sonsa, e isso me deixava furiosa.
– Você sabia desde quando veio me procurar que o meu pai estava no corpo do ! – berrou com ela, que não se alarmou nem um pouco com isso. – E quem é Ella? – Agora sim, Agnes mudou um pouco a sua feição.
– Não achei que seria necessário te contar isso. – olhou para as próprias unhas. – E essazinha ai é apenas uma ninguém. – estreitou os olhos com isso.
– Uma ninguém que você achou que estava no corpo da e a matou por isso! – eu podia ver a raiva nos olhos dele. – Você deveria ter continuado morta. – pegou o casaco e o vestiu.
– Não diga essas coisas querido. – suspirou e encarou o filho. – já ia morrer mesmo. – deu de ombros. – Eu só adiantei as coisas para ela. – dei um tapa no vaso de vidro que tinha atrás de mim, que fez ele voar longe. Arregalei os olhos com aquilo. – Acho que alguém não gostou do que eu disse.
– Amor. – apareceu com um sorriso no rosto, mas logo sumiu. – Aonde você está indo? – Agnes a olhou nervosa. – O que está acontecendo, gente? – a porta se fechou com força por causa do vento, fazendo a menina dar um pulo de susto.
– Nem pense nisso. – mandou olhando para a sua mãe. – Deixa ela em paz. – olhava sem entender nada. – Mas sua mãe o ignorou e levantou da cama. – Mãe!
– Achou mesmo que iria se esconder de mim? – olhava para a menina com olhos de lince.
– Flor, eu nunca me escondi de você, sempre estive aqui, embaixo do seu nariz. Não tenho culpa se é burra o suficiente para não ter percebido isso antes. – mudou completamente seu jeito de falar, até mesmo suas expressões tinham mudado. Agnes tentou atacar ela usando magia, mas , ou Ella, não sei nem como devo chamar, apenas riu, pois não funcionou. – Saquinho de bruxa. – Tirou uma trouxinha de dentro da bolsa. Hoodoo. – Agnes, acha mesmo que sou como você?
. – falou a encarando.
– Infelizmente não, me desculpe, amorzinho. Sua namoradinha atravessou o véu a muito tempo já. – sorriu de uma forma simpática. – A propósito, alguém sabe onde a está? Não consigo achar ela com magia em lugar nenhum. – fez uma carinha triste.
– Sua vagabunda! – Agnes avançou em cima dela, mas Ella tirou uma boneca de hoodoo de dentro da bolsa, e isso fez a mulher parar.
– Nunca mais me ouse chamar dessa maneira. – fechou a mão e a moveu. Agnes caiu no chão, começando a vomitar sangue. Quando olhei para mão de Ella, a boneca já estava espetada com vários alfinetes.
– Meu Deus, pare com isso. – pediu correndo até sua mãe e se agachando ao seu lado. – Você está matando ela!
– É claro que estou, amorzinho. – se abaixou ficando da altura dos dois. – Estou matando ela do mesmo jeito que me matou. – sorriu enquanto olhava para Agnes. – Isso se chama a lei do retorno.
– Por favor, pare. – implorou, mas Ella não fez nada, apenas continuou olhando Agnes se esvair em sangue. – Mãe. – chamou com os olhos cheios de lágrimas.
– Então, amorzinho, já que você descobriu a verdade vou ter que te levar comigo. – se pois de pé no instante que Agnes parou de se mexer. – Preciso do corpo da .
– Fica longe da . – Mandou ainda segurando o corpo da mãe, e olhando para Ella com raiva. – Ignis³ – disse levantando sua mão, mas não saiu nada.
– Amorzinho, a magia de vocês não vai funcionar quando estiverem próximos de mim. – explicou. – Agora, por favor, vamos, não quero te machucar. – pediu com gentileza.
– Não vou a lugar nenhum com você. – continuava abraçado com Agnes.
– Ai, amorzinho. – torceu os lábios. – Você quem pediu. – tirou outro boneco de dentro da bolsa e o apertou com força, o que fez ele começar a sentir uma dor forte, aparentemente na cabeça.
Essa mulher tinha uma fábrica de bonecos de hoodoo com ela? Corri para seu lado de e segurei seus ombros, por incrível que pareça consegui tocá-lo. Olhei para seu anel que estava em meu dedo e me concentrei ao máximo. Vi minha marca começando a tomar meu braço muito rápido, e logo já tinha possuído meu corpo inteiro. O chão começou a ficar preto, e Ella arregalou os olhos enquanto olhava para . A escuridão começava a andar vagarosamente como uma cobra na direção dela, o que a fez dar uns passos para trás, assustada.
– Pensei que só a tinha isso! – exclamou encostando na parede, então se levantou comigo ainda segurando nele. – Como?
Eu acho que é melhor você correr, vadia. – falei e repetiu. Eu tinha conseguido possuir ele. Meu Deus! – E avisa para o Giles que vou retalhar a alma dele. – Ella abriu a porta e saiu correndo, então soltei que caiu de joelhos no chão, se segurando na lateral da cama.
– Que porra foi essa, ? – perguntou um pouco irritado e eu queria que ele pudesse realmente me ouvir.
“Estava salvando a sua vida. Desculpa.”

Escrevi com o sangue da mãe dele no chão, e realmente tinha aparecido para ele. Isso era ótimo, estava conseguindo me comunicar, então olhei para seu pescoço e vi meu cordão de cristal pendurado ali. Era isso, estávamos conectados pelo cordão e pelo anel!
“Fuja”

– É, depois dessa vou ter que fugir mesmo. – se levantou um pouco tonto e fechou sua mala. – O que vou fazer com o corpo dela? – perguntou olhando para sua mãe morta no chão.
“Queima tudo.”

– Pare de ficar riscando o carpete com sangue. – disse contrariado. – Não vou queimar a casa, vão saber que algo aconteceu.
“Já sabem.”

– É, mas não vou colocar fogo em tudo. – respirou fundo. – Vou deixar que os empregados achem e liguem para a polícia, não posso lidar com isso agora. – Adolebitque – disse e os meus escritos no carpete começaram a queimar, fazendo um buraco torrado enorme. – Se eu achar tudo o que você me disse, volto para pegar o seu corpo.
Eu achava aquilo uma péssima ideia, mas não tinha muito o que fazer. precisava descobrir se o que tinha falado sobre Atlântida era verdade, e se tinha mesmo um feitiço no livro que pudesse me trazer de volta.
– O que a minha mãe está fazen... Ah. – apareceu do meu lado e olhou para o chão. – Quem a matou?
– Ella. – respondi. – Você não estava passando mal? Volte para onde estava. –fiz um gesto com a mão e desapareceu. – Ok, isso está começando a me assustar. – Corri para fora do quarto e fui até o que estava deitado.
– Como você fez isso? – perguntou se sentando.
– Agora estou entendendo o porquê a Ella quer tanto o seu corpo. – Agnes entrou dando passos lentos. – Você é mais forte que parece.
– Eu não sei como fiz isso. – respondi ao , e depois me virei para Agnes. – Eu nunca matei alguém, mas talvez essa seja a hora de retalhar a sua alma.
– Você não teria tanto poder assim. – debochou, e eu percebi quem havia puxado.
– Ah, mas ela tem. – sorriu e me olhou.
– Como é que faz? – perguntei divertida olhando para o rapaz que estava sentado na cama com as pernas cruzadas.
– Você não ousaria. – Agnes estreitou os olhos e deu uns passos para trás.
– Enfia a mão no meio da barriga, ai você vai sentir uma espécie de esfera, isso é a essência dela, então é só puxar para fora que ela desaparece para sempre. – explicou e eu sorri olhando para a vadia na minha frente.
– Não faça isso. – disse rapidamente, mas eu já tinha ido até ela e enfiado minha mão em sua barriga. Achei o que havia dito, cabia na minha mão. – Você não é igual ele. – Agnes estava desesperada, e isso me fazia querer rir. – Sua escuridão não te domina. – deu um sorriso fraco tentando parecer camarada. – Não precisa fazer isso, eu vou atravessar o véu, e depois nunca mais vamos nos encontrar.
– Você me matou de maneira cruel, eu ainda sinto cada apunhalada que deu em minha barriga todos os dias. – falei sentindo a raiva toda dentro de mim me dominar. – Além de ter tentado matar quando era mais novo. Ele era só uma criança! – berrei, e ela fechou os olhos com força. – O condenou sem remorso algum, o odiou por ser covarde demais e não lutou pelo seu próprio filho! Ele só precisava do seu amor e do Giles. – abri minha mão e a soltei. – Mas não sou eu que tenho que te julgar pelo o que fez. – Agnes abriu os olhos surpresa e me encarou. – Espero nunca mais tem encontrar nas minhas outras vidas. – a empurrei para trás com força, e ela foi engolida por uma luz branca.
– O que você fez? – perguntou surpreso.
– Empurrei ela para o outro lado do véu, eu acho. – torci meu nariz e me sentei ao seu lado, um pouco cansada.
– Como? – sentia seu olhar em mim.
– Eu apenas desejei e mentalizei, do mesmo jeito que te joguei para cá. Pode não ter dado certo e eu tê-la jogado em outro lugar. – deitei na cama e olhei para o teto.
– Pensei que iria mesmo retalhar a alma dela, sua aura estava tão escura. Por que não fez? – meu campo de visão foi tomado por ele pairando na minha frente. – Foi por ela ter te comparado comigo?
– Não. – me sentei ficando frente a frente com ele. – Não me ofende ser comparada contigo. – olhei dentro de seus olhos. – Mas eu me conheço e sei que não iria suportar conviver comigo mesma se tivesse retalhado a alma dela. – abaixei o olhar. – Sou fraca demais para isso. – soltei o ar e fechei os olhos. – Estou um pouco cansada.
– Vem, deita um pouco. – me puxou para que me deitasse também. – Você gastou muita energia hoje.
– Eu possui o . – comentei de maneira tímida. – Veja o que aconteceu. – coloquei a mão em seu rosto e lhe mostrei. Então se sentou, me fazendo sentar também, ele fez uma cara de dor.
– Nunca mais faz isso. – segurou meu rosto com as duas mãos enquanto me olhava dentro dos olhos. – Me promete que nunca mais vai fazer isso.
– Ok. Mas, por quê? – coloquei minhas mãos por cima da dele.
– Porque isso poderia ter feito você desaparecer! Não sei nem como ainda está aqui. Se soubesse disso antes, não tinha nem falado como se retalhava alguém! – colocou uma mexa de cabelo atrás da minha orelha. – Você é louca. – soltou uma pequena risada.
– Me pergunto se isso é puro interesse que eu continue “viva” para te tirar daqui, ou se realmente está preocupado comigo. – isso fez com que ele me soltasse e voltasse a deitar, rindo um pouco. – O que essa risada quer dizer? – levou o antebraço para cima de seus olhos, os tampando.
– Quer dizer que você é boba em achar que eu estaria preocupado contigo. – e aquilo sim me magoou, eu sabia que tinha cinquenta por cento de chance de ouvir aquela resposta, mas não estava preparada ainda para isso. ¬– Acha que só porque temos essa ligação que isso muda algo? Você é a minha saída daqui, só isso.
– Se falou isso para que eu ficasse com raiva de você, sabia que não deu certo, a única coisa que conseguiu foi me fazer ficar magoada. – levantei da cama e senti uma leve vertigem, mas me mantive de pé fingindo que não tinha acontecido nada. – Obrigada por isso, realmente era tudo que eu precisava. – sentia meu peito doer de leve e meu olhos já ardiam.
Dei um passo para frente e fui para outro lugar bem longe dali, bem longe dele. Então vi que fui parar dentro de um carro, no banco do carona. Olhei para o lado e vi dirigindo enquanto chorava. No rádio do carro tocava uma música triste, Sign Of The Time . As lágrimas desciam do meu rosto, e eu sentia a sua dor, a sua perda, a falta que sentia de mim, e a maneira como me amava, seus sentimentos estavam se misturando aos meus, era tudo tão forte e intenso. Estávamos mais ligados do que eu poderia imaginar. Eu o amava tanto. O que eu sentia por era tão denso quanto a minha ligação com , era algo assustador, incontrolável, embora minha ligação com fosse mais forte. Mas ambos os sentimentos se igualavam, colocando os dois no mesmo patamar.
Coloquei a minha mão por cima da dele, que estava sobre o câmbio automático do carro, e ele olhou para o lado como se pudesse me ver, mas logo voltou a sua atenção para a rua. Fiz a mesma coisa.
– Sei que está aqui. Posso te sentir. – dei um pequeno sorriso triste. – Vai ficar tudo bem, ok? – ele dizia isso, mas sabia que demoraria para tudo ficar novamente bem, e claro, se realmente ficasse. – Eu sinto tanto a sua falta. – o encarei. – Está me matando te ter longe. – secou o rosto com as costas de sua outra mão. – Só consigo pensar o que vou fazer se conseguir te trazer mesmo de volta. – riu fraco. – Acho que não vou te deixar ir embora nunca mais. – isso só me fazia chorar ainda mais. – Eu te amo tanto, .
– Eu também te amo. – sussurrei mesmo que não pudesse ouvir. – Me desculpe por ter te deixado. – Tentei secar minhas bochechas, mas foi inútil.

1. Hanc corpore intacto - Faça esse corpo permanecer intacto.
2. Hoc autem modo loculum hii cum spell - Esse caixão só abrirá com o meu conjuro
3. Ignis - Fogo
4. Adolebitque – Queime




Eu Tenho uma Guerra em Minha Mente

Já era a segunda conexão que fazia, agora embarcando em Nova York e indo direto para Roma. Cinco horas de viagem só dentro dos EUA, e agora seriam mais oito horas e meia. Ainda era de madrugada, portanto ninguém tinha achado o corpo de Agnes, ou provavelmente a polícia teriam ligado para ele, a não ser que Giles e Ella tenham dado um jeito naquilo, mas duvido muito que tal coisa aconteceria, já que a mulher saiu correndo apavorada quando viu a escuridão saindo de . Bem, era para ficar apavorada mesmo.
Fiquei vendo dormir, tomando conta dele como se a qualquer momento alguém pudesse chegar e fazer algum mal a ele. Se eu estava sendo super protetora? Talvez um pouco, mas também não tinha outro lugar para ir, e ficar próxima dele me fazia bem. E por sorte não tinha aparecido desde então, e eu estava aliviada por isso, não queria ter que olhar para sua cara ou lidar com alguma questão com ele.
Apesar de me sentir cansada e um pouco esgotada, não conseguia dormir, até porque uma alma não dorme. Queria, já tentei algumas vezes, mas não rolava. Então a única coisa que me restava era não usar magia ou tentar me comunicar com .
Assim que o avião pousou em Roma, alugou um carro e foi procurar uma hotel para ficar. Fiquei admirada olhando ao redor, nunca tinha saído dos EUA, e acho que a minha viagem mais longa foi a Los Angeles com . Apesar de tudo que aconteceu aquela noite, eu tinha gostado bastante. Um sorriso bobo surgiu em meu rosto com tal pensamento, ao lembrar do momento que vi pela primeira vez, a maneira que ele tocou em minha cintura me deixando calma e entorpecida ao mesmo tempo. Foi magnifico.

passou dias estudando maneiras de como entraria no Vaticano. Não tínhamos tempo para ele fazer um pedido para olhar os documentos, até a aprovação levaria semanas, e quem sabe meses, a documentação precisa para fazer o pedido poderia ser facilmente falsificado por Mordock, mas a questão não era essa. Quanto mais demorasse mais arriscado era Giles e Ella tentarem fazer algo. Apesar dele ter convicção de que meu corpo estava a salvo, eu não tinha tanta certeza assim, sabia que eles estavam me procurando, e saiba também que Giles tinha certeza que eu estava morta, já que o sigilo de seu ombro deve ter desaparecido no momento em que Agnes me matou, assim como aconteceu com o de , eles só precisavam saber onde ele tinha sido escondido.
A polícia ligou para perguntando onde que esteve na noite da morte de sua mãe, e ele falou que estava com minha tia avó, que confirmou a sua versão, já que tinha ligado para ela falando o que havia acontecido.
Finalmente chegou a noite. abriu o mapa do Vaticano sobre a mesa e mais uma vez decorou o caminho, fechando os olhos e falando direita, esquerda, e o nome das sessões. Ele entraria pelos tuneis subterrâneos, desarmaria o sistema de segurança usando magia, acharia o livro e tiraria foto do que fosse preciso. Não tinha como dar errado.
Eu e ele fomos até a entrada do túnel. Fiquei olhando para os lados e não tinha ninguém, então usou magia para abrir a primeira porta. Certo, isso foi fácil. usava a luz do flash de seu celular para iluminar o caminho. não tinha dado as caras e eu não tinha ido procurar ele, e por mim poderia ficar assim até no momento que ele fosse preciso.
– Certo. – Parou em uma bifurcação. – Esquerda, esquerda, direita. – apontou para ela e seguiu, então paramos, porque era um beco sem saída. – O que? – colocou a mão na parede. – Era para continuar o túnel. – olhei para cima e vi pequena fenda. Me concentrei ao máximo, aquilo precisava dar certo.
– Olha para cima. – falei e ele deu um pulo. Isso! Consegui.
– Que merda, ! – xingou baixinho e se virou. – Me assustou! – Seu flash ofuscava a minha visão, mas não podia me ver.
– Desculpa. – pedi querendo rir. – Fizeram uma mudança nos tuneis. Posso ver o que tem do outro lado.
– Está bem. – se encostou na parede.
– Não demoro – então eu fui para o outro lado e o túnel dava uma volta e terminava na bifurcação. – Ele volta para o começo, acho que você deve subir. – deu outro pequeno pulo de susto.
– Você precisa parar com isso. – comentou e eu ri. – É sério, vai me matar do coração.
– Pelo menos ficaríamos do mesmo lado. – falei e fez uma cara triste. – Certo, vou ver o que tem lá em cima.
Subi e tinha um corredor mal iluminado, cheio de câmeras, já era dentro do vaticano, mas o buraco que eu vi era apenas a saída de ar. A questão era como chegaria até ali. Olhei para um lado e para o outro, procurando por onde era a saída de ar, mas tudo parecia vedado.
– Ele não vai conseguir entrar assim. Acha que seria tão fácil? Vir pelos túneis e pronto? – falou atrás de mim, o que me fez revirar os olhos e sair andando, procurando por uma entrada. – Mande ele ser inteligente uma vez na vida procurar outra maneira.
– Por que você não cala a sua maldita boca? – me virei bruscamente para ele. – Estou cansada de ouvir bosta saindo dela o tempo todo.
– Uou, alguém está nervosa. – levantou as mãos rendido e riu, minha cara se fechou ainda mais. – Ah, fala sério, . Você ainda está irritadinha pelo o que eu disse? – deu um sorriso de lado, e eu enfiei a mão em seu rosto.
– Estou cansada desse seu sarcasmo nojento. – estreitei meus olhos olhando para que ainda tinha o rosto virado por causa do tapa. – Me de licença, tenho mais o que fazer. – fui dando passos para trás, até que me virei e sai andando dali, voltando para onde estava. – Hey.
– Achou algo? – se colocou de pé.
– Isso é uma saída de ar. Você pode entrar nela e tentar achar uma entrada, mas eu não vi nenhuma lá em cima. – informei. – Mais em cima tem um corredor que deve dar acesso à biblioteca. Está mal iluminado, mas é cheio de câmeras.
– Certo, vou tentar por aqui, então. – tirou a tampa da saída de ar usando magia e entrou por ela.
Fui me rastejando atrás dele, e devemos ter ficado nisso por meia hora, procurando algum lugar que tivesse uma saída. Aquilo parecia infinito. Então revolvi ver o que tinha do outro lado. Estávamos dentro de uma espécie galpão enorme, eram cheio de estantes com caixas, e objetos embrulhados em lonas. Certo, precisava ir ali.
– Pare. – pedi e ele bateu com a cabeça na parte superior da saída de ar. – Abra um buraco ai, estamos embaixo de um lugar cheio de estantes.
– Não dá, em cima da gente deve ter no mínimo um metro de concreto, mármore e algum metal bem difícil de perfurar. Se eu tentar abrir um buraco provavelmente vai me matar. – ele tinha razão.
– Conheço um feitiço que pode fazer ele atravessar qualquer matéria. – falou bem atrás de mim como sempre.
– Bem provável que seja um feitiço proibido. – reclamei e olhei por cima de meu ombro.
– Isso é o melhor que nada. – rebateu presunçoso.
– Que feitiço, ? Não tem feitiço nenhum aqui. – perguntou sem entender nada.
– Estou falando com o . Ele sabe de um feitiço para atravessar qualquer matéria. – expliquei olhando para ele agora. – Mas bem provável que seja um feitiço proibido.
– Me fala qual é. – pediu no mesmo instante e isso me fez erguer as sobrancelhas.
– Proibido apenas porquê facilitava demais as coisas, além de pessoas idiotas morrem presas entre paredes. – debochou e isso estava me dando nos nervos. – Vai querer saber?
– Fala logo! – disse sem a menor paciência.
– Mande mentalizar o corpo dele atravessando para o outro lado e diga; Re mihi ad te ire trans fretum¹. – falou, e eu repetir para , que fez a mesma coisa. Conseguindo passar para o outro lado. – De nada. – então fizemos o mesmo. – Manda ele desativar o sistema de vigilância.
– Fez mais do que obrigação. – respondi sem olhar para . – Não precisa, eu faço isso. – coloquei minhas mãos no chão sugando toda a energia que tinha naquele lugar, e as luzes comeram a piscar, até que teve um blackout total. só teria um minuto até o sistema reiniciar.
– Vocês estão brigando por quê? – quis saber enquanto acendia o flash de seu celular novamente.
– Ninguém está brigando aqui. – travei meus dentes. – , onde fica o livro?
– Por aqui. – foi andando na frente e eu fui guiando , para onde ele deveria ir. – É esse livro aqui, o que não tem inscrição alguma. – Apontou para ele, e passei a informação a diante.
– Certo. – o pegou e colocou no chão com brutalidade.
– Tem como ele ter mais cuidado? É um livro muito antigo e preciso. – xingou e eu o ignorei.
– Legal, eu sou péssimo em ler Latim. – me abaixei ficando do seu lado.
– Eu traduzo para você. – coloquei a mão em seu ombro e vi seu braço ficando arrepiado. – Ai está contando a história de Atlântida, que o me disse, passa. – fez o que pedi. – Vai passando, quando eu ver algo relevante peço para parar. – fui olhando com atenção. – Ai! Isso é um feitiço que fala sobre trazer os mortos de volta. – apontei para a página. – Está dizendo que só um bruxo com aptidão do espírito pode fazer isso, pois ele atravessa o véu e puxa a pessoa de volta, o corpo da pessoa tem que estar embaixo da Yggdrasil, e precisa ser realizado um ritual. O corpo do moribundo tem que ter algum tipo de conexão com o bruxo que vai trazê-lo de volta. Mas que merda, , você não disse nada disso. – olhei irritada para ele. – Isso é impossível de fazer!
– Não é. Presta atenção. Eu estou desse lado para te empurrar para o outro lado, e o tem a conexão contigo. Só precisamos achar a ilha e colocar seu corpo embaixo dela. – as luzes foram acesas, o que nos fez olhar ao redor.
– Merda, você precisa sair daqui. – mandei me colocando de pé.
– Só vou tirar uma foto... Não, não, não! – quase jogou seu celular longe. – Acabou a bateria! – isso me fez arregalar os olhos.
– Ótimo, realmente ótimo! Como esse burro me esqueceu de carregar o celular?! – disse passando a mão em seu cabelo enquanto andava de um lado para o outro, nervoso.
– Tem alguém vindo. – escutei passos, então simplesmente arrancou a página do feitiço e a enfiou dentro do bolso de seu casaco.
– O que esse idiota acabou de fazer?! – surtou. – Ele rasgou o livro de Atlântida! – estava quase tendo um treco. – não tem noção de quantos anos isso tem?!
– É só um livro, para de show! Onde está o pergaminho com o mapa? – perguntei vendo colocar o livro de volta no lugar.
– Está na ala leste, em uma câmara de ar controlado e cheio de vigilância. – isso me fez socar seu ombro.
– Você tem noção de onde acabou de enfiar seu irmão? Como ele vai para a outra ala e pegar essa merda sem ser visto? – berrei com ele, e até mesmo se assustou. – Que merda, !
– Não era para ele ter entrado aqui assim, e outra, era para tirar a foto, e não rasgar as coisas! – rebateu irritado. – Vocês são muito burros!
– Você é um idiota! – coloquei as mãos no chão e puxei mais uma vez a energia do lugar, causando outro blackout. – , foge.
– Para de fazer isso! – mandou, me puxando para cima pelo braço, com força. – Vai te matar.
– Como se você se importasse realmente com isso! – puxei me braço de volta e me segurei em uma prateleira porquê fiquei tonta. – Só quer que eu te tire daqui, é só para isso que eu te sirvo mesmo. – me coloquei de pé, mas cai de joelhos sem força.
– Exatamente, preciso que me tire daqui. Agora para de ser tão idiota. – falou me ajudando a ficar de pé, e depois passou meu braço ao redor de seu pescoço. – Consegue andar?
– Claro que sim. – mas não consegui dar nenhum passo à frente.
– Estou vendo que consegue. – me pegou em seus braços. – Vou te tirar aqui.
– Não vou deixar o sozinho. – tentei me debater em seus braços, mas foi inútil, eu não tinha forças para isso.
– Não está em questão. – então nós já estávamos no hotel que estava hospedado. me colocou deitada na cama. – Vou dar um jeito na bagunça de vocês. – desapareceu logo em seguida.
Fiquei deitada na cama me sentindo extremamente cansada. Manter uma conexão com gastava muita energia, e não imaginava que causar aqueles blackouts me fariam tanto mal assim, eu estava sugando a energia, e não tirando de mim e transferindo para outro lugar. Fechei meus olhos e passei o dedo onde ficava o anel de , mas ele não estava ali. Merda. Arregalei os olhos tentando ver se tinha caído na cama, ou se estava dentro dos meus bolsos, mas não, não estava comigo. Eu tinha perdido. Não. Era ele o que me deixava falar com ele. Merda. Aonde estava? Tentei me levantar, mas não consegui, então a única coisa que me restou foi ficar deitada, respirando fundo, tentando manter a calma.
Os minutos pareciam que viraram horas, e nada do ou do aparecerem. Eu estava angustiada, e não podia ir atrás deles, pois estava muito fraca para isso. E lá se foi, uma, duas, três horas. Até que a porta se abriu bruscamente e passou por ela com uma mão na lateral da barriga que estava suja de sangue. O que tinha acontecido? Ele tirou as coisas do bolso, jogando em cima da mesa e foi para o banheiro. Consegui me levantar com dificuldade e ir atrás dele. O vi cortando sua camisa e revelando o tiro de bala ali, ele fez uma careta, e pegou umas coisas dentro do armário, ligando o chuveiro logo em seguida para que fosse aquecendo.
– Conseguimos. – disse aparecendo do lado do irmão, ele me parecia muito cansado, mas tinha um sorriso no rosto.
– Ah, cala a boca. – respondeu irritado, se sentando no chão e tentando tirar a bala com uma pinça grande. – Isso tudo é sua culpa.
– Como ele está te ouvindo? – perguntei sem entender, então levantou sua mão mostrando o anel. – Você o pegou! Me devolve!
– Nem pensar. Você está mais fraca do que eu, se tentar falar com ele pode ser pior. – se sentou em cima do vaso. – Precisamos sair daqui.
– Claro, vai ser bem fácil com a minha cara estampada no jornal pela manhã. – tirou a bala e começou a sutura o furo.
– Faz um feitiço para isso curar. – disse de forma irônica.
– Chega de feitiços por hoje. – rebateu irritado terminado de costurar o furo.
– O que aconteceu? – quis saber.
– Esse burro não sabe se esconder, só isso. – deu de ombros.
– Eu não sei me esconder? Você que não parava de falar nenhum momento na minha cabeça tirando a minha atenção! – cuspiu as palavras irritado. – A culpa disso tudo é sua!
– Minha? Você leva um tiro porque não consegue se esconder direito e eu sou o culpado? – debochou, mas tinha certa irritação em sua voz. – Ok, da próxima vez vou te explicar também como se deve esconder de alguém armado.
– Pare de implicar com ele. – o repreendi. – conseguiu o feitiço e o pergaminho, certo? Então pare de encher o saco.
– Vai ficar defendendo o namoradinho? – perguntou todo irônico.
– Não fala assim com ! – rebateu bem irritado.
– Vocês dois se merecem mesmo. – tirou o anel do dedo e o jogou em cima de mim, e eu o peguei no ar. – Me chama quando ele pegar seu corpo de volta, isso se conseguir fazer sozinho também. – saiu do banheiro com raiva.
Eu até tentaria falar com o , mas não iria conseguir. Não agora. Então apenas voltei para o quarto e me deitei na cama. Fiquei esperando até que saísse do banheiro, o que não demorou muito. Ele arrumou suas coisas e se mandou. Dirigiu sem parar até a costa e comprou um barco de velejar, água e o máximo de mantimentos possíveis. E mais uma vez ele tinha documentos falsos e autorização para velejar por águas internacionais. Dava para ver em sua cara o quanto estava cansado, mas isso não o parou, pois assim que amanhecesse, estaria sendo procurado por ter saqueado o Vaticano.

Por semanas ele velejou até chegar nos EUA, as vezes nos falávamos, mas era bem pouco, eu não queria ficar gastando a minha força, tinha medo que algo pior pudesse acontecer. Ele deixou o barco em Portland, Maine. E lá se foram mais de quarenta horas de viagem até chegar finalmente em Helena com um carro alugado, indo direto para sua mansão. Tudo lá estava fechado e abandonado, então ele não precisou dar explicações para ninguém por onde esteve.
foi direto para o porão e quebrou a parede usando magia, tirando meu caixão de dentro dela. O abriu para ver se eu realmente estava lá. Sorri ao ver meu corpo intacto, e fez mesmo, passando a mão em minha bochecha. Por fim fechou a tampa e colocou o caixão em cima de uma mesa de rodinhas, onde ele estava anteriormente. O levou para o lado de fora e colocou dentro da caçamba do carro, e o cobriu com a capota para que ninguém visse. Depois voltou lá para dentro e pegou o resto de suas coisas. Quando chegou do lado de fora deu de cara com Giles.
– Pensei que não voltaria para casa. – ele estava encostado na lateral do carro de braços cruzados. – falou que você a abandonou. – estreitei meus olhos. Sonso. – Não entendi muito bem o motivo, vocês pareciam tão bem.
– Não abandonei ninguém. – respondeu descendo os degraus com suas malas e foi até o carro, jogando no banco de trás. – Eu só estou resolvendo algumas coisas, em breve estarei de volta.
– Não é o que parece levando suas coisas todas embora. – observou ainda parado no mesmo lugar. – O que aconteceu? – colocou a mão no ombro de para que ele parasse e o olhasse.
– Eu só estou tentando achar a , ok? – se libertou da mão de Giles.
– Você sabe o que aconteceu com ela. – isso fez abaixar a cabeça. – Ela morreu. – puxou a blusa dele onde ficava o sigilo. – O meu sigilo também deve ter sumido.
– Eu sei, mas preciso encontrar pelo menos o corpo dela. – disse de forma triste, e eu nunca pensei que fosse tão bom ator. – Você sabe o que sinto por ela.
– Eu sei e sinto o mesmo. – deu um pequeno sorriso. – Por que não contou a isso, em vez de só fugir?
– Porque não queria magoá-la. – encarou Giles.– Eu vou voltar para ficar com ela, só preciso de um tempo para colocar as coisas de volta no lugar certo. Ou pelo menos encontrar o corpo da e trazê-la de volta para casa. Talvez assim eu fique em paz. – suspirou e fechou os olhos, deixando umas lágrimas saírem. – Por que concordei com tudo isso? Se não tivesse concordado ela ainda estaria viva.
– Não é culpa sua. – o abraçou com força, puxando sua cabeça para seu ombro. – Vai ficar tudo bem. – deu uns tapinhas em suas costas. – Fica hoje e descansa um pouco.
– Não posso, eu preciso continuar procurando. Só parei aqui porque estava por perto, e resolvi pegar mais algumas roupas. – se afastou.
– Tem alguma pista por onde ela deve estar? – cruzou os braços e negou com a cabeça.
– Estou indo nas cidades próximas procurando por indigentes, ou meninas que tenham sua aparência. – secou o rosto. – Mas até agora ninguém a viu. Queria saber o motivo de ter fugido dessa maneira.
– Talvez ela não tenha fugido. – sugeriu. – Alguém pode ter raptado ela.
– Mas por que? não tinha coragem de machucar ninguém. Por que iriam querer fazer algum mal a ela? – também cruzou os braços, e aquilo estava virando um jogo de indiretas.
– Não sei, era mais misteriosa do que realmente parecia. Vai saber quais segredos ela guardava. – estreitei meus olhos ao ouvir aquilo. Giles era muito cínico mesmo.
– É, talvez nós nunca saberemos. – desfez os seus braços cruzados. – Vou continuar procurando, e volto quando encontrar o corpo dela. merece ficar perto de quem ama. – abriu a porta do carro.
– Precisa de ajuda? – segurou a porta enquanto entrava.
– Não, estou bem sozinho. Como eu disse, preciso de um tempo. – puxou a porta, a batendo. – Qualquer coisa eu te ligo.
– Está bem. – Giles soltou a porta e se afastou enquanto já ligava o carro. – Até mais.
– Até. – engatou a ré e saiu.
– Você sabe que ele vai te seguir, não é? – perguntei aparecendo sentada do seu lado no banco do carona.
– Sei, mas ele só vai conseguir ir até Portland. – falou olhando pelo retrovisor.
Então dirigiu mais quarenta horas de volta a Maine, bebendo café e energético sem parar. Me perguntava como ele ainda aguentava, dava para ver em seu rosto o quanto estava esgotado. Eram o peso de quatro dias acordado, era muita coisa. Chegando lá, ele jogou meu caixão dentro da água e escondeu meu corpo, para que pensarem que havia desovado na baia, me colocando dentro de um baú com algumas roupas dentro. Devolveu o carro e pegou um Uber até o porto. O motorista lhe ajudou a colocar o baú no barco, assim como algumas malas, e por fim voltou a navegar.
Giles e Ella caíram no plano dele, foram atrás do caixão vazio, dando a deixa para sumir pelo Atlântico. Eles ficaram furiosos quando viram que meu corpo não estava lá dentro, mas não conseguiram fazer nenhum feitiço de localização, pois tinha feito sigilos de proteção pelo barco todo para que não fôssemos encontrados. Velejou dias até chegar no lugar onde o pergaminho indicava.
– Pelo menos ele fez algo que prestasse. – comentou sentado na beira do barco ao meu lado. – Não estou nem acreditando que finalmente conseguiu.
– Acho que está na hora. – olhei para o céu que estava negro como a escuridão que habitava dentro de nós. – Tomara que dê certo.
– Vai dar. – falou convicto. – Tome. – tirou seu anel de ônix e me entregou.
– Para que isso? Ele não vai atravessar comigo. – fiquei olhando para o anel de ouro branco com a pedra preta que estava na minha palma.
– Isso é para podermos nos falar. E ele vai sim atravessar contigo. – o encarei no mesmo instante.
– Acha mesmo que vai dar certo, não é? – sorri de lado.
– Tenho certeza. – deu um sorriso de lado também, então tirei meu anel de rubi e o entreguei.
– Quando você voltar me devolva, eu gosto dele. – brinquei e riu pela primeira vez de forma sincera, colocando o anel em seu mindinho. – Se você tivesse noção do quanto fica lindo sorriso dessa maneira, faria mais vezes. – coloquei seu anel em meu dedo, mas ficou largo. – Fit². – falei e ele se ajustou, ficando do tamanho certo. – Sempre gostei desse feitiço. – comentei comigo mesma olhando para o anel em meu dedo.
– Obrigado. – aquilo me assustou, fazendo com que o olhasse no mesmo instante.
– Meu Deus. Acho que estou ficando louca, ou ouvi mesmo você dizendo obrigado? – levantei incrédula e parei a sua frente.
– Vai a merda. – revirou os olhos claramente contrariado. – Eu retiro o que disse.
– Não, devolve o meu obrigado, eu quero ele. – uni minhas sobrancelhas e empurrei seu ombro de leve. – Não precisa agradecer na verdade, você quem sabia de tudo desde o começo. Se não fosse por isso nós nem estaríamos aqui essa noite. Eu que tenho que agradecer. – dei um leve sorriso. – Obrigada, e me desculpe se briguei contigo.
– Deixa isso para lá, fui um babaca contigo mesmo, eu mereci. – isso me fez socar seu ombro. – Ai.
– Só para não perder o costume. – ele riu comigo e eu suspirei. – Eu juro que vou te trazer de volta. – me encarou sério agora. – É uma promessa.
– Eu sei que é. – passei a mão em seu rosto e ele fechou os olhos com meu toque, e aquele ato simples fez meu coração se acelerar.
– É agora! – disse saindo de dentro do barco com o pergaminho na mão. – Tomara que isso não seja falso. – soltei . – Vamos lá. – respirou fundo. – Atlantis pulchra ostendit mihi ante hoc caput egit honestum. Liberari te, ostende mihi quis es³. – e nada aconteceu. – Acho que não funcionou.
– Funcionou sim. – tocou em meu braço e apontou para a água.
Uma luz dourada apareceu de longe e começou a se abrir, formando uma argola, ficando cada vez maior, tomando uma proporção gigantesca, fazendo o formato de uma ilha bem abaixo de nós. sumiu por alguns minutos e quando voltou estava molhado.
– Temos que ir para lá. – apontou na direção sul. – O Yggdrasil está vivo ainda. – falei para e ele velejou até onde havia indicado. – É aqui. Exatamente aqui. Olha. – me mostrou um brilho dourado embaixo da água, que formava galhos que não deveria nem estar a vinte metros de profundidade.
– Você tinha razão. – sorri animada. – , o Yggdrasil está abaixo de nós. – ele foi olhar e parecia que não acreditava no que via. – Faça o ritual.
Ele começou a preparar as tochas e na parte da frente do barco fez um círculo com giz branco, e começou a fazer as runas que estavam na folha do livro que ele tinha pegado. Eu não fazia ideia do que elas indicavam, mas aquilo fazia parte do ritual. Então colocou meu corpo no centro de tudo e começou a recitar o que estava escrito, e os desenhos começaram a brilhar em dourado, e depois se apagaram, assim como as tochas. Depois caminhou até o corpo e colocou meu colar de cristal de volta em meu pescoço.
Lux. – falou e o cristal se acendeu, então pegou meu corpo e o jogou dentro a água.
– É agora. – falou e me empurrou dentro da água sem aviso, o que me fez dar um grito.
– Por que fez isso? – perguntei jogando meu cabelo molhado para trás.
– Não pergunta! – pulou na água e segurou minha mão, me puxando para baixo.
Afundamos atrás do meu corpo, que descia cada vez mais rápido, como se estivesse sendo puxado para baixo. Até que caiu por entre os galhos da Yggdrasil, ficando abaixo dela, tocando a terra que cobria suas raízes grossas. Chegamos logo em seguida. me olhou e segurou minha outra mão, me puxando para perto. Então seu peito se colou no meu e ele me empurrou com força, o que me fez fechar os olhos, e me deu um chute como fez a primeira vez que conseguiu me ver depois que morri. Fui jogada contra meu corpo com violência, e senti ser puxada por algo com força. As coisas pararam, e tudo ficou extremamente silencioso e calmo, como a morte era. Sentia como se estivesse flutuando. Aquela sensação era tão boa que poderia senti-la para sempre. Algo segurou minha cintura e houve muito barulho, uma agitação forte. Meus olhos e garganta ardiam, e eu tossia muito. Cuspi água.
. – era a voz de . Abri meus olhos e vi ele todo molhado. – Meu Deus. – suas mãos seguraram meu rosto. Eu estava já dentro do barco novamente. – Deu certo. – seus olhos estavam cheios de lágrima. – É você mesmo? – afirmei com a cabeça. – Fala algo que só você saiba. – pediu.
– Sou eu mesma. – Segurei seu rosto também e olhei dentro de seus olhos. – Na noite que morreu você dormiu abraçado na minha barriga. – as lágrimas escorriam de seu rosto, e eu as sequei. – A primeira vez que nos beijamos foi na frente da minha casa. – sorri e senti as lágrimas escorrendo pelo meu rosto agora. – E a última foi no mausoléu da minha família. – e nisso seus lábios se tocaram nos meus com urgência.
– Eu senti tanta a sua falta. – falou se afastando e segurando a minha cintura, me puxando para perto dele. – Nunca mais saia de perto de mim. – pediu e nós rimos juntos.
– Também senti sua falta. – me aproximei mais dele e o beijei. – Eu te amo muito.
– Eu também te amo. – disse entre o beijo. – Muito. Mas do que poderia imaginar.
Voltou a me beijar de maneira intensa. Suas mãos seguraram minhas coxas e me puxaram para perto dele, fazendo com que elas enlaçaram sua cintura. Minhas mãos agarram sua nuca, deslizando pelo seu cabelo molhado, os bagunçando de forma gostosa, deixando as pontas das minhas unhas stiletto arranharem de leve por onde passavam, enquanto me deliciava com seu beijo.
Seus apertos em meu corpo eram gostosos, me deixavam excitada.

1. Re mihi ad te ire trans fretum – Matéria, me deixe atravessar por você para chegar ao outro lado.
2. Fit - Se ajuste
3. Atlantis pulchra ostendit mihi ante hoc caput egit honestum. Liberari te, ostende mihi quis es - Bela Atlântida, se revele para mim diante desse conjuro. Eu a liberto, me mostre quem você é




Uma Fotografia Minha e Sua

Estava sentada na beira do barco vendo o nascer do sol enrolada em uma manta azul, enquanto pensava em tudo o que tinha acontecido, e principalmente em . De forma estranha sentia sua falta. Ele havia me dado o chute, e isso gastava muita força. Será que ele estava bem? Não tinha conseguido falar com ele e isso me deixava tensa. Meus poderes “normais” não tinham voltado, eu só conseguia ter poder sobre a água, e da escuridão. Fazer magia comum era algo que não dava para realizar, e esse poderia ser um dos motivos nos quais não conseguia me comunicar com .
Um par de mãos tocaram em meus ombros, me fazendo tomar um pequeno susto e olhar para trás. Era com seu cabelo loiro todo bagunçado, e sua cara amarrotada de sono, mas tinha um sorriso lindo nos lábios. Sorri de volta e dei espaço para que se sentasse ao meu lado.
– No que está pensando? – perguntou enquanto se cobria com a minha manta, ficando abraçado comigo.
– Em . – confessei, afinal, não tinha motivo para esconder isso.
– O que tem ele? – encostou sua cabeça em meu ombro enquanto olhava para o sol.
me deu o chute para poder atravessar para esse lado e isso gasta muita energia. Da última vez que fez algo parecido ele ficou extremamente fraco, mas do jeito que fez ontem, pode ser que tenha o “matado”. – suspirei e fechei os olhos brevemente para ver se conseguia sentir pelo menos sua presença, mas não, nada.
– Meu irmão é forte, ele está bem. – Falou com extrema ternura, e isso me fez abrir os olhos e dar um sorriso de leve. – Como vamos tirar meu pai do corpo dele?
– Não faço ideia. Pensei em um exorcismo, mas acho que não funcionaria. Precisamos de um plano. – Olhei para , que se encolheu um pouco.
– Precisamos de ajuda. – Refletiu por fim.
– Não posso envolver a minha família nisso. – Segurei sua mão e entrelacei nossos dedos.
– Mas a minha pode. Blanca quem matou meu irmão, ela vai nos ajudar com isso querendo ou não. – Pareceu estar irritado. – E sei onde encontrá-la. – Seu olhar encontrou o meu. – Ainda não acredito que realmente está aqui. – Mudou de assunto.
– Nem eu. – Então se impulsionou e me beijou. – Acho que nunca vou me cansar disso. – Dei um pequeno sorriso.
Fizemos um feitiço, digo, o , para que Atlanta ficasse invisível novamente, e então finalmente voltamos para os EUA. Eu já não aguentava ver tanta água apesar de adorá-la. Vendemos o barco e compramos passagem de avião para Helena, e tivemos que fazer duas conexões. E isso levou muito tempo. A sorte era que o carro de tinha ficado no estacionamento do aeroporto desde a vez que ele tinha ido para Roma. Então assim que chegamos, já fomos para a casa da minha tia avó. Pois não tinha mais meu apartamento, e ir para a mansão seria algo óbvio demais.
Peguei a chave escondida dentro de um vaso de flores e abri a porta da frente, era por volta de nove da manhã. Senti o cheiro de café tomar a atmosfera, e isso me fez sorrir. Caminhei lentamente sem fazer barulho até a cozinha.
– Voltei! – Berrei jogando os braços para cima, o que fez minha vó Wanda dar um pulo de susto, e quase deixar a xícara de sua mão cair.
– Que merda, ! – Reclamou irritada, pegando um guardanapo para se limpa, já que tinha caído um pouco de café em sua roupa. entrou logo atrás de mim, rindo e me abraçou por trás. – Espera, vocês não estão mortos... – Uniu as sobrancelhas e se levantou. – Meu Deus! – Veio andando em minha direção. – O que vocês fizeram? – Segurou meu braço, então lhe mostrei o que aconteceu. – Não é possível. – Me encarava boquiaberta. – Pensei que isso era só uma lenda. – Então finalmente me abraçou com força. – Minha menina! – Senti um pouco de falta de ar.
– Eu também pensei, mas não! Eu voltei mesmo! Viva e sem karmas. – Me soltei dela, que foi e abraçou , que fez uma careta de dor.
– Também estou feliz em te ver Wanda. – Falou o menino tentando se soltar.
– Não posso acreditar que isso é mesmo real. – Minha avó o soltou e deu uns passos para trás. – Sente-se, vou fazer mais café. – Disse contente, e fizemos o que ela pediu.
– Então... – Comecei e ela já me olhou esperando logo a bomba que eu iria soltar. – Roubaram o corpo do . – Ela ergueu as sobrancelhas. – Quem matou a não foi ele, e sim o pai dele.
– Me explique isso melhor. – Se sentou à mesa e colocou suas mãos sobre ela.
– Então, meses atrás, no Sabat, quando a Blanca tentou ver aonde eu tinha achado aquele feitiço, eu vi uma coisa... – Respirei fundo e continuei contando tudo o que tinha acontecido. – Agora precisamos expulsar o Giles do corpo dele, e colocá-lo de volta lá, mas não faço ideia de como fazer isso. Para depois pegar , pois se fizermos o contrário, é capaz dele conseguir trazer ela de volta.
te ajudou a voltar, então acho que devo esse favor a ele também. – Se levantou da cadeira, e logo voltou com um livro enorme na mão. – Vejamos. – Começou a procurar algo. – Se sirvam, o café já está pronto. – Fez um gesto banal com a mão. se levantou e nos serviu. – Aqui. – Apontou para algo no livro. – Tem um feitiço aqui que podemos usar. Precisamos fazer esse sigilo no chão. – Me mostrou qual era. – E selar ele quando Giles estiver dentro, com isso não conseguirá fazer nenhuma magia, vou usar outro sigilo em mim para poder atravessar a barreira então posso tirar sua alma de dentro do corpo de sem que me machuque, mas assim que o fizer, o menino vai precisar entrar na mesma hora, só que para isso vocês precisaram romper o sigilo, ou ele não vai conseguir passar.
– Mas como vamos saber a hora para isso? – se sentou sobre a mesa e olhou para o livro. – Meu pai pode roubar seu corpo também nesse processo. – Observou.
– Meu corpo é selado, apenas eu posso entrar e sair dele. – Respondeu ainda lendo algo no livro. – Não vão saber qual vai ser a hora certa.
– É arriscado demais. – Levantei da cadeira.
– É a única maneira de tirar ele do corpo de . – Minha avó fechou o livro e me olhou. – Não conheço outro jeito.
– E se eu tentar estripar a alma dele? – Sugeri e ela me olhou irritada.
– Nunca, e em hipótese alguma faça isso com alguém! – Encolhi meus ombros com aquilo.
– É só algo que eu poderia tentar fazer. – Soltei o ar e me encostei no balcão com a caneca na mão.
– Isso mataria o corpo, você precisaria arrancar o coração dele junto para dar certo. – Fiz uma cara de nojo quando minha avó Wanda disse.
– Ok. Como vamos fazer isso? – logo cortou o assunto. – Você poderia ligar para ele falando que preciso de ajuda.
– É, pode ser. Mas não sei o número dele de cabeça. – Falei e coloquei a caneca na pia.
– Não seja por isso. – Tirou o celular do bolso e minha tia avó lhe entregou um bloco de notas com uma caneta. – Aqui está. – Me entregou o papel com o número dele.
– Ele ainda trabalha no pub? – Perguntei girando o papel em meu dedo.
– Acho que sim. – Minha avó respondeu. – Por que?
– Porque eu tive uma ideia melhor. Podemos fazer a emboscada no depósito do pub. – Eles me olharam. – Giles geralmente pegava o turno da noite. Ligue para a minha mãe e não deixe que a saia de casa. – Pedi, e Wanda já foi pegando o telefone. – , vamos para o pub fazer o sigilo de uma vez, não tem ninguém lá essa hora da manhã. Vó, cadê as minhas chaves? – Ela apontou para o porta chaves ao lado da porta da cozinha, já que estava no telefone. – Vamos. – Peguei o livro e as minhas chaves, segurou a minha mão, então saímos. – Eu ligo quando for a hora. – Falei antes de bater à porta.
Fomos para o pub e entramos por trás. Escolhemos um lugar e fizemos o sigilo no chão, e deixamos uma pequena abertura, na qual eu selaria com meu sangue quando Giles entrasse nele. usou magia para esconder o sigilo. Quando terminamos fomos para a casa da minha tia avó descansar um pouco, e acabamos dormindo o dia todo. Acordei assustada achando que tinha perdido a hora. Olhei para o relógio e era nove da noite. Levantei e fui tomar um banho. Não demorei muito. Sai do box enrolada na toalha, e passei a mão no espelho para tirar o vapor e poder me olhar nele. Então vi do outro lado. Ficamos nos encarando por longos minutos, até que ele colocou a mão no espelho, e na hora que fiz o mesmo, ele se quebrou levando consigo a imagem do rapaz, e cortando a minha mão fazendo meu sangue pingar dentro da pia branca.
– O que houve? – entrou rapidamente no banheiro quando ouviu o barulho.
– Cuidado, o espelho quebrou. – Levantei a mão para que ele não entrasse.
– Mas você se cortou. – Entrou assim mesmo e segurou minha mão suja de sangue. – Me deixe ver. – Olhou para ela e uniu as sobrancelhas, então abriu a água e colocou minha mão embaixo dela. – . – Meus olhos não acreditavam no que eu estava vendo.
– Não tem nada. – Falei vendo minha mão intacta, então peguei outro pedaço de vidro.
– Não! – Antes de me impedir, eu já tinha cortado meu braço que sangrou, mas o corte se fechou logo em seguida. – Que merda está acontecendo?
– Acho que é efeito colateral do Yggdrasil. – Pensei em voz alta. – Tudo tem um preço, lembra? Talvez me trazer de volta usando a árvore da vida tenha me feito ficar imortal.
– Faz sentido. Aquele latim era antigo demais e não conseguimos traduzir tudo. – O encarei quando disse aquilo, então sorri.
– Isso é ótimo. – Disse contente e o abracei. – Se for isso mesmo eu nunca mais vou morrer.
– Você não. – me pareceu triste e foi ai que me toquei, me fazendo ficar chateada.
– Podemos tentar dar um jeito nisso. – Mordi meu lábio inferior.
– Não vamos pensar nisso agora. – Segurou minhas mãos e forçou um sorriso.
– Ok, vá tomar um banho no banheiro do corredor, eu vou limpar essa sujeira. – Lhe dei um selinho rápido e saiu.
Peguei os cacos de espelho e os joguei fora, depois limpei o sangue da pia e fui me vestir. Estava calor, mas o vento lá fora soprava frio. Coloquei uma calça e uma regata preta colada em meu corpo, calcei um par de coturnos e prendi meu cabelos em um coque, deixando uns fios soltos caírem. Não me maquie e nem nada. Peguei as chaves do carro e desci esperando na cozinha enquanto comia algo. Minha avó apareceu, então disse a ela que já iriamos para o pub, pois hoje ele fechava as dez. Ela falou que estava em casa com algumas amigas e que não apareceria por lá. Perfeito. logo desceu e comeu algo também. Por fim fomos os três para o pub. Eles ficaram no carro, então fui para os fundos do lugar. Me joguei no chão sujo sujando a minha roupa preta, me descabelei, e por fim me machuquei bastante mesmo que as feridas se fechassem logo em seguida o sangue que ficava na minha pele já bastava. Entrei no lugar e me joguei contra a parede deixando um rastro por onde passava, me sentei atrás do sigilo e mandei uma mensagem para eles dizendo que já estava tudo pronto. Peguei o canivete em meu bolso e cortei a palma da minha mão esquerda bem fundo para que saísse bastante sangue. Houve um barulho na porta, e Lauren surgiu por ela dando um grito ao me ver.
! – Correu em minha direção e tocou meu rosto. – Quem fez isso com você?
– O que foi, Lauren? – Giles apareceu para ver o motivo do berro da menina. – Meu Deus! ! – Correu em minha direção, tirando a morena de perto de mim. – Vá ligar para a emergência. – Mandou, e Lauren se levantou apressada e saiu correndo. – O que houve? – Perguntou segurando a lateral do meu rosto preocupado. – Pensei que estivesse morta. – Passou a mão em meu braço esquerdo vendo a minha marca. Ele uniu as sobrancelhas sem entender e me encarou.
– Eu também pensei. – Falei forçando a minha voz para parecer fraca.
Videtur¹ falou e eu vi o sigilo no chão brilhar, então rapidamente empurrei Giles pelo ombro com a minha mão direita o fazendo cair para trás e com a esquerda bati na parte aberta do sigilo, o selando.
– Que merda é essa? – Giles se levantou irritado, e eu fiz o mesmo, sacudindo a minha mão suja de sangue. Ele tentou sair, mas uma barreira invisível não permitiu. – O que pensa que está fazendo? – Olhou para mim e depois para .
– Estamos pegando o corpo de de volta. – Minha tia avó apareceu fechando a porta. – Lauren ficou apavorada, então a mandei para casa. – Avisou com um sorriso no rosto. – Podemos começar logo?
– Claro. – Sorri para ambos.
, seja lá o que pretende fazer, não acredite neles. – Giles falou alterado.
– Acreditar no que? Ninguém me falou nada, eu vi tudo. Você queria me matar para colocar Ella dentro do meu corpo. – Me aproximei do sigilo. – Inclusive, está bem irritado contigo, e ele mantou lembranças. – Dei um sorriso de lado.
– Mas... Como? – Estreitou os olhos e encarou .
– Ele foi o último a saber. – Falei me referindo a . – Sua linda esposa Agnes fez o favor de me matar uns dois meses mais ou menos. – Informei segurando a minha mão na frente do corpo. – Então descobri toda a verdade, Giles. – Ele me olhou no mesmo instante. – Espero de coração que dessa vez você fique do outro lado, em breve mandaremos Ella para lá também.
– Fiquem longe dela. – Se jogou contra a barreira invisível, e começou a força-la.
– Vó! – Berrei, mas ela já estava deitada no chão.
– Eu vou arrancar a sua cabeça fora. – Giles disse sorrindo e eu via o sigilo no chão brilhando cada vez mais. – E depois vou coloca-la de volta no lugar e vou usar seu corpo como casca da Ella. – Dei um passo para trás, a força que ele tinha era assustadora.
– Você não vai tocar nela. – se colocou a minha frente. – Não vai machucar mais ninguém. – Suas mãos começaram a ficar laranjas.
– Não, se fizer isso vai matar o corpo e quebrar o sigilo. – Segurei seu braço que estava quente.
– Vejam só, primeira vez que vejo o tendo coragem. – Giles debochou e bateu com força na barreira. – Acho que é melhor vocês correrem. – Um sorriso sádico apareceu em seu rosto.
– Tente sair dai de dentro e eu mato todo mundo. – Ergui uma sobrancelha e deixei a minha marca começar a se manifestar. – E garanto que a sua morte vai ser mais dolorosa que a minha. – Então o corpo dele caiu no chão, inerte. – Minha avó conseguiu! – Eu e nos abaixamos e rompemos o sigilo. – Vai , vai. – Falei engatinhando e colocando sua cabeça sobre a minha coxa. – Vamos... – Pedi ficando nervosa, ele estava demorando demais. – ! – Segurei a sua mão e eu fechei meus olhos com força.
! – Chamou puxando o ar com força. Abri meus olhos e vi meu anel de rubi em seu dedo. Era ele. Sorri abertamente.
– Prova que é você. – mandou já com duas bolas de fogo em suas mãos.
“Se você tivesse noção do quanto fica lindo sorriso dessa maneira, faria mais vezes.” – Falou e isso fez as minhas bochechas ficarem quentes.
– É ele. – Olhei para que nos encarava de volta. – Eu tenho certeza. – Então as bolas de fogo se desfizeram.
– Hey, garoto. – Ouvi minha avó falando e olhei para trás. – Seu corpo é mais forte do que parece, quase não consegui tirar seu pai de dentro dele. – Estendeu a mão para , que a pegou.
– Obrigado. – Agradeceu e me encarou. – Você até que foi esperta. – Me ajudou a levantar.
– Eu disse que a minha avó conseguia tirar o Giles do seu corpo. – Dei um soco em seu braço.
– É, você disse. – Tirou o anel de seu dedo. – Toma. – Me entregou de volta.
– Obrigada. – O peguei e coloquei em meu dedo. – O seu. – Devolvi seu anel de ônix. – Não serviu, não consegui falar contigo.
– Eu fiquei fraco demais por causa do chute. – Fez uma careta e colocou o anel em seu dedo, fazendo com que se ajustasse do tamanho certo. – Tentei falar contigo pelo espelho, mas não deu certo.
– Talvez seja porque estou sem magia. – Dei de ombros.
– Não seja por isso. – Pegou o canivete dentro do meu bolso, cortou suas mãos, e depois as laterais do meu rosto, as segurando logo em seguida, e olhou dentro dos meus olhos. – Et ego dabo vobis omnia sua virtute retro.² – Senti minha cabeça começar a doer no mesmo instante, e suas mãos ficarem geladas. Fechei meus olhos com força, e soltei um grito de dor.
– Para! Está machucando ela. – mandou, mas não respondeu. Cai de joelhos no chão, com ele ainda me segurando pelas laterais do rosto. – Para, ! – Segurei suas mãos tentando me manter, mas doía demais.
Et ego dabo vobis omnia sua virtute retro. – Repetiu e a dor ficou ainda pior, e eu gritei mais alto. – Et ego dabo vobis omnia sua virtute retro. – Abri meus olhos rapidamente e vi ajoelhado na minha frente, então ele me soltou. Meu corpo caiu em seus braços. – ? – Chamou, e eu o olhei. – Vê se deu certo. – Levantei a mão e fiz a porta de trás se abrir. – Como está se sentindo?
– Está preocupado? – Ri daquilo e revirou os olhos. – Só estou um pouco tonta com a cabeça latejando. – Respondi por fim, e ele me ajudou a levantar. – O que vamos fazer agora?
– Precisamos descansar. – Minha avó respondeu. – E podemos pegar Ella no final de semana, vai ter a festa dos fundadores na cidade, ela com certeza vai.
– Certo. Eu vou para o meu trailer e agir como se nada tivesse acontecido e ver se Ella aparece. – se afastou um pouco. – Vocês dois podem continuar desaparecidos para não levantar suspeitas.
– Está certo. – Abracei pelo tronco e encostei a cabeça em seu ombro. – Qualquer coisa estamos na casa da minha avó. – Dei um pequeno sorriso.
– Ok. – Disse e saiu andando sem se despedir de ninguém.
– Ele é estranho. – A minha avó observou.
– Um pouco. – Concordei. – Bem, precisamos limpar isso aqui. – Soltei de e olhei para a bagunça que tinha e sangue no chão. – Turn aqua! – E tudo virou água.
Siccatum³ falou e a água começou a evaporar.
– Vocês formam uma bela dupla. – Wanda soltou uma risada. – Nunca vi bruxos com aptidão de água e fogo se darem tão bem.
– Fazemos o possível. – Segurei a mão de e saímos andando ali.
Fomos para a casa da minha avó. Tomamos banho juntos e depois nos deitamos, não falamos nada, e eu não sabia o motivo daquele silêncio todo. Me remexi claramente incomodada na cama ficando de frente para .
– O que foi? – Perguntei passando a mão em seu rosto. – Você está calado demais.
– Você e tiveram algo quanto estavam juntos do outro lado? – Quis saber.
– Não, por quê? – Rebati no mesmo instante um pouco assustada com sua pergunta.
– O jeito que estavam se tratando pareceu bem íntimo. – Seus olhos encaravam os meus procurando por algo.
– Eu tenho uma ligação com , a mesma que tenho contigo, e ele tem essa ligação comigo também. Deve ser por isso. – Dei de ombros. – Não temos nada além disso. – Acariciei seu rosto. – Eu te amo, e quero ficar contigo para sempre. – Ele fechou os olhos e sorriu de leve.
– Também te amo. – Beijei seus lábios.
No dia seguinte foi falar com Blanca, e por um milagre ela aceitou ajudar. me manteve informada durante todos os dias até que finalmente chegou sábado, o dia da festa dos fundadores. A festa era de gala na casa do prefeito. Minha avó me arrumou um vestido de veludo azul marinho, que tinha uma fenda na coxa esquerda, mangas compridas e um decote bem grande em V. Deixei meu cabelo solto e o joguei para o lado, usando bastante laque para que ficassem no lugar. Passei um batom vermelho mate que não saia com facilidade, e pintei minhas unhas na mesma cor que o vestido. Coloquei meus olhos bem delineados e uma sombra esfumaçada em preta. E por fim um colar com uma única pedra de safira que pendia até o meio dos meus peitos. e estavam me esperando na sala, combinamos de que iriamos juntos.
, venha cá. – Ouvi a voz da minha tia avó vindo do quarto, então fui até lá, levando meu batom comigo caso precisasse retocar. – Senta aqui. – Pediu apontando para a cadeira a frente de sua mesa de dois lugares que tinha perto da janela.
– Aconteceu algo? – Perguntei me sentando a sua frente vendo o seu baralho de tarô.
– As cartas, elas saem as mesmas independente de como eu as embaralho. – Isso me fez erguer as sobrancelhas. – E é pensando em você e nos meninos, e sobre hoje.
– O que elas estão dizendo? – Sentia já meu coração ficar acelerado.
– Vou lhe mostrar. – Embaralhou suas cartas. – Corta duas vezes. – Pediu colocando o monte na minha frente, então o fiz, o dividindo em três. – Os conselhos; A lua, os enamorados e a morte. – Abriu de lado elas colocando em fileira. – A lua, noite, o lugar aonde tudo vai acontecer. Serão desafiados a buscar a própria verdade, encontrar o poder interior, para assim poderem se libertar. Enfrente seus medos. Não achem que já ganharam a guerra, o perigo está aonde as aparências são enganadas. Alguém os trairá. – Fiquei inteira arrepiada com aquilo. Quem poderia nos trair? – Os enamorados. – Ela me lançou um olhar sugestivo, e eu fingi não entender. Elas se referia a e . – Você terá que fazer uma escolha, mas independente de qual for, haverá um preço.
– Escolher entre o que? – A cortei antes que continuasse a leitura.
– Entre o rei de copas, e o cavaleiro de espadas. – Abriu uma carta de cada lado dos enamorados. – O rei de copas, o ar da água. – Esse era o . – Ele é capaz de ver as emoções de todos, mas se mantêm distante delas, escondendo as suas próprias no mais profundo mar, e isso o faz ter clareza das coisas. Teme ser magoado ou atingido de alguma maneira. – Sorri, pois ele era exatamente assim. – Tem muitas feridas internas. Quando algo o toca, seu poder fica ainda maior. Ele precisa parar de ter medo e cuidar de suas feridas, só assim conseguirá seguir em frente. – Apontou para a outra carta. – Cavaleiro de paus. Fogo do fogo. – . – Intenso, envolvente e arrebatador. – Esse era exatamente quem ele era. – É focado, e aprecia uma mudança. Acredita que tudo pode ficar bem, e que nada é impossível. – Mordi meu lábio inferior. – Mas não costuma manter muitos vínculos, só que ele finalmente se encontrou. – Me encarou e eu sabia o que ela queria dizer. – E você está entre eles. – Colocou uma dama de copas em cima dos enamorados. – Água da água. Acolhe a todos sem julgar suas emoções. Tem a capacidade de amar e perdoar até seus inimigos. Seus sentimentos são intensos, e isso pode te deixar confusa. Liberte todos os seus desejos. – Olhou para a carta mais uma vez. – Essa rainha é a mais forte de todas, e tem uma forte ligação com o Rei de copas. – Tocou nele. – Confie na sua intuição.
– O que a minha escolha vai trazer? – Sentia meu coração ficando apertado com aquilo tudo.
– A morte. – Apontou para a carta. – A situação será muito difícil, e a morte até poderá ser impedida, mas causará danos. – Senti meus olhos se encherem d’água. – Caso contrário ela virá de qualquer forma. – Pegou três cartas. – O destino pode ser mudado. – Colocou um nove de espadas sobre a Rainha de copas. – Aqui diz que sentirá muita dor. Tudo que foi negado não poderá ser mais ignorado. Por mais que fique cansada, a dor irá te mover, mas ela será a sua cura. Machuca, mas não mata.
– Ok. – A interrompi. – Não quero saber sobre mim. O que tem a dizer sobre ele? – Apontei para o cavaleiro de paus. Tirou uma carta, e era o ás de espadas.
– Ele vai encontrar a verdade e a liberdade. O ás de espada mostra que o futuro está nas mãos dele, que só ele pode mudar as coisas, basta ultrapassar seus limites mesmo que isso o cause dor. – Passei a mãos em meus cabelos, e depois lembrei que isso poderia fazer com que meu penteado se desmanchasse. Me remexi inquieta na cadeira. – Dez de espadas. – Colocou sobre o rei de copas. – Ele vai precisar chegar no fundo do poço para perceber as coisas que fez, e finalmente colocar um ponto final em tudo. Nesse processo muita dor será infringida à ele.
– Tem mais alguma coisa? – Eram tantos tapas na cara que eu queria saber se tinha algo bom que sairia dali.
– Sim. – Tirou quatro cartas juntas e as colocou em pares. – A papisa e o Cavaleiro de espadas. São os seus inimigos. O cavaleiro é alguém destemido, que não para até conseguir o que quer, e quando perde o controle é completamente incapaz de sentir remorso e desconhece o limite das coisas. – Fiquei completamente arrepiada com isso. – A papisa, uma mulher loira. – A virou de cabeça para baixo. – Ela aqui não é uma pessoa boa. Ela é falsa, dissimulada. Mente impetuosamente e vai fazer de tudo para te enganar, para impedir que vocês consigam o que quer. – Então minha avó sorriu. – Mas a máscara dela vai cair, na verdade ela vai cair de seu trono, a queda é eminente, ela vai perder.
– E o que acontece com o cavaleiro de espadas? – Quis saber curiosa já com um resquício de felicidade.
– Ele é um homem jovem e moreno, um perigo oculto e não vai conseguir atingir o objetivo dele. – Apontou para o valete de espadas. – A ambição dele o atrapalhará, mas indica que ganhará a batalha. – Aquilo me acertou em cheio. – Não acho que seria uma boa vocês iriem. Isso aqui mostra mais morte do que eu poderia imaginar.
– Não, isso precisa acabar hoje. Não são cartas de tarô que me dirão o que fazer. – Me levantei da cadeira um pouco irritada.
– Então só tenha cuidado. Irei esperar a sua volta para casa. – Sorriu de um jeito triste.
– Até mais tarde. – Dei as costas e sai andando, agora tentando esquecer tudo o que ela tinha me dito. – Que coisa mais idiota. – Reclamei comigo mesma. Desci as escadas lentamente por causa do salto e parei na porta da sala, atraindo o olhar dos gêmeos no mesmo instante. – Como estou? – Perguntei colocando a mão na cintura e dando um sorriso tentando mostrar que tudo estava bem.
– Magnifica. – logo se levantou e veio ao meu encontro. Ele estava com um terno de veludo preto e com um terno normal na mesma cor, ambos estavam lindos de roupa social.
– Obrigada. – Lhe estendi a mão, que a pegou e deu um beijo em suas costas.
– Sem querer ser precavido, mas já sendo. – Falou e se ajoelhou no chão tirando algo de dentro do bolso. – Quero saber se você aceita ficar comigo para sempre. – Abriu uma caixa com um anel dentro, que tinha uma pedra de cristal nele.
– Já estamos ligados para sempre. – Respondi dando um sorriso e entendendo a mão. – Mas sim, quero ficar contigo. – Ele colocou o anel em meu dedo anelar da mão direita.
– Você são tão melosos. – reclamou se levantando do sofá tirando um maço de cigarros de dentro do bolso.
– Ah, para! – Falei, e ficou de pé, me dando um beijo gostoso. – Larga de ser rabugento. – Disse a enquanto saímos pela porta. – Minha avó disse que não vai, está se sentindo indisposta.
– É uma pena. – respondeu. – Inclusive estamos atrasados.
– Isso não é novidade para mim. – Rebati já entrando atrás no carro de . – Eu nasci atrasada.
– Isso não é novidade para mim. – resmungou com um cigarro na boca.
– Não me remede! E guarde para mim. – Fiquei entre os bancos da frente e dei um tapinha em seu ombro, lhe dando meu batom. – E não fume agora, vai chegar fedendo na festa. – Tirei o cigarro de seus lábios e o joguei pela janela.
– Fala sério, né, ? – Me olhou me repreendendo e guardou meu batom em seu bolso.
– Estou falando. – Joguei meu corpo para trás quando entrou no lado do carona.
Fomos para a festa discutindo como iriamos pegar a Ella, ainda não tínhamos decidido. Eu só queria tirar ela do corpo de , já achava melhor matarmos ela e estripa-la, queria prender ela em um caixão para que nunca mais fugisse. No fim não chegamos em conclusão alguma.
Chegamos na casa do prefeito e descemos do carro. Passeis meus braços pelos de e e entramos os três juntos, atraindo olhares no mesmo instante. Pude ver Blanca de pé ao lado de um rapaz bem novo, que acabei reconhecendo sendo Joseph, o professor de .
– O que o Joseph está fazendo aqui? A festa não é apenas para famílias importantes? – Perguntei ao .
– Ele é filho da Blanca. – Arregalei os olhos com tal informação.
– Ele é bruxo? – Aquilo era óbvio, e apenas me olhou revirando os olhos com a pergunta. – Ok. – Voltei a encarar a velha rabugenta que nos olhava. – O que diabos o colar da minha irmã está fazendo no pescoço dela? – uniu as sobrancelhas e olhou para a velha. – É aquele colar que estávamos procurando.
– Sim, eu sei. Quero entender como ele foi parar na mão dela. – ficou pensativo, e logo a resposta veio como dois mais dois são quatro.
– Joseph. – Respondi e ele me olhou. – Minha irmã te traiu com ele, e o babaca deve ter pegado o colar dela. – ergueu as sobrancelhas.
– Espera, o que é isso? – apontou para a testa do irmão. – Eu vejo um par de chifres? – Soltei uma risada.
– Ah, pare de palhaçada. – deu um tapa na mão de . – Idiota. – Seu irmão ria junto comigo. – Como sabe disso?
chegou na casa da minha avó chorando me falando que tinha transada com ele. – Dei de ombros me lembrando do ocorrido.
– Ela ainda transou com ele? – perguntou divertido com a história. – Você sabe escolher bem, hein. – Deu um tapinha no ombro de . – Vou pegar algo para beber. – Saiu andando e nos deixou para trás.
– Por que não me disse nada? – Perguntou quando seu irmão estava longe o suficiente.
– Porque não era algo relevante. – Fui andando e o puxando atrás de mim. – Não quer mesmo falar sobre isso agora, não é? – Parei no mesmo instante quando senti uma sensação muito ruim, me fazendo olhar para os lados tentando achar de onde vinha, mas parecia estar em toda parte.
– Claro que é relevante. Ela me traiu, você sabia e não me contou. As coisas poderiam ter sido diferentes. – ainda falava atrás de mim.
– Vamos dançar. – Mudei completamente de assunto e o puxei para que viesse para a pista que tocava umas músicas lentas dos anos noventa.
Começou a tocar I Don’t Wanna Miss a Thing, do Aerosmith. E isso fez finalmente parar de falar sobre . Encostei a cabeça em seu ombro enquanto bailávamos de um lado para o outro ouvindo a música. Tentei sentir de onde estava vindo aquela sensação tão ruim, mas não conseguia. Então por fim apenas fechei meus olhos comecei a curtir aquele momento.
– Essa música fala exatamente o que sinto por você. – falou encostando seu rosto na lateral do meu. – Eu tenho medo de te perder.
– Você não vai me perder. – Garanti e o olhei dentro dos olhos. – Nunca.
– Posso roubar a sua noiva por uma música? – pediu no momento em que eu ia beijar . – É a minha favorita. – As batidas de Iris, do Goo Goo Dolls já invadiam meus ouvidos.
– Não é a sua favorita. Você nem deve gostar dessa música. – Seu irmão respondeu, mas por fim deu a minha mão à .
– Tem razão, não é, mas preciso falar com ela. – Pegou a minha mão e se afastou antes que começassem a brigar ali mesmo. – A propósito, essa música é muito chata. – Comentou e eu ri.
– Ela é bonitinha. – Passei a mão em seus ombros. – Já prestou atenção na letra dela?
– E faria diferença se eu prestasse? – Questionou erguendo uma sobrancelha enquanto repousava as mãos sobre minha cintura.
– Claro que faria. – Olhei dentro de seus olhos. – Vamos analisar. O cara desistiria da eternidade apenas para tocar a mulher que ama. – Dávamos voltas pelo salão conforme a dança que fazíamos. – Pois ele sabia que ela sentia o mesmo. Ela era o paraíso dele e ele não poderia ir embora e perder o momento que tinha para ficar perto dela, pois só tinham aquela noite. – prestava atenção no que eu falava. – E ele não queria que o mundo o visse, pois achavam que eles não o entenderiam, ele achava que tudo era para ser quebrado, mas queria que ela soubesse quem ele era de verdade. – Fui girada e puxada para perto novamente. Nossos olhos estavam conectados de forma intensa. – Ela não podia lutar contra as lágrimas dentro de momentos de verdades e mentiras, quando tudo simplesmente se parecia como nos filmes, ela se cortava apenas para saber que estava viva. – Suas mãos me seguraram com mais força, e isso fez meu coração ficar acelerado. – Tudo que quer é que ela saiba quem ele é. – Repeti, já que esse era o refrão.
– E você sente o mesmo? – Aquela pergunta fez meu peito doer.
– Sinto. – Respondi me sentindo completamente atraída por ele, eu podia negar para mim mesma todo o momento, mas agora não dava para mentir, não conseguia simplesmente fazer isso, era mais forte que qualquer outra coisa.
– Está por toda a parte. – Isso me fez unir as sobrancelhas, e finalmente entendi do que ele estava falando. – Não acredito que achou que eu me referia a outra coisa. – Soltou uma pequena risada. E como da outra vez eu senti aquilo me atingir em cheio, chegando a doer. Abaixei a cabeça sem saber como reagir a minha estupidez de achar que ele sentia algo, a raiva começou a me tomar. – Fala sério, . Acha mesmo que sinto alguma coisa? – E suas palavras me cortavam cada vez mais fundo. – Quantas vezes vou precisar falar que a nossa ligação no muda em nada? – Parecia que ele se divertia com aquilo.
Me soltei dele e sai andando apressada dali, passando por entre as pessoas com cuidado para não esbarrar em ninguém. Passei as costas da minha mão em minhas bochechas, as secando. Por que diabos eu estava chorando? Não tinha fundamento para isso. Não tinha fundamento para me sentir triste e a magoada por não gostar de mim da maneira como eu gostava dele. Eu tinha , e isso já bastava. Se o sentimento fosse recíproco poderia causar sofrimentos em ambas partes, pois não ficaríamos juntos mesmo. Mas eu sentia raiva por causa disso. Não me conformava com aquela merda, era como se uma parte de mim estivesse sempre faltando independente de qualquer coisa.
. – chamou, mas não olhei para trás, apenas entrei pela primeira porta que vi e a fechei atrás de mim com força usando magia. Entrei em um corredor longo de tapete vinho. – Que merda. ! – Ele abriu a porta e a fechou atrás de si. Continuei andando um pouco mais rápido para tentar chegar no final do corredor. Passei a mão com cuidado em meu rosto o secando novamente. – Para de correr. – Mandou enquanto segurava meu braço e o puxava para que ficássemos frente a frente. – Está chorando. – Constatou quando viu meu rosto e seu olhar mudou completamente.
– Por que você não foi embora logo? – Perguntei puxando meu braço de volta e dando uns passos para trás.
– Porque você é a droga da coisa mais próxima do paraíso que já cheguei! – Usou um pedaço da música para falar, e isso fez mais lágrimas descerem. – E todos os dias dessa semana eu lutei para ficar longe, arrumei minhas coisas para ir embora e desarrumei inúmeras vezes, mas não consigo! – Berrou. – Porque você é a melhor coisa que já me aconteceu. – E por incrível que pareça eu vi lágrimas descerem de seus olhos. – Porque eu amo você mais do que a mim mesmo. – Levei a mão até minha boca tentando controlar o choro e um pouco assustada com o que ouvia. – E não posso fazer nada para mudar isso. Nunca poderei ficar contigo. – Podia sentir a raiva em sua voz. – E ninguém nunca vai saber o quanto dói te ver e não poder te tocar, ou ter que ver a maneira como olha para o meu irmão e saber que nunca vai olhar do mesmo jeito para mim, ou então ter que ouvir falar que o ama e que vão ficar para sempre juntos.
– O para sempre não existe mais para nós. – Falei rapidamente chorando ainda mais por causa daquilo tudo. – Estamos tentando manter as coisas normais, mas sinto que está desabando. – Tentei respirar fundo, mas era inútil. – Eu não posso mais morrer. – me olhou sem entender. – O ciclo que tínhamos não vai mais continuar, não vou mais morrer e renascer para começar tudo de novo, porque sou imortal agora. – Me sentei no chão, minhas pernas tremiam demais. – Eu tentei me matar essa semana de todos os jeitos, mas não dá. – olhei para os meus pulsos que cortei inúmeras vezes. – Então eu peguei o feitiço que roubou e consegui traduzir o final. Nele dizia que após a pessoa ser trazida de volta a vida pelo Yggdrasil, ela nunca mais morrerá. Por isso a ilha e o livro foram escondidos. – Segurei um pedaço do meu vestido com força. – Nunca vou poder ficar o e nem contigo, vocês morrerão e eu continuarei aqui. Passarei o resto da eternidade vendo vocês nascerem, viverem e morrerem. – se abaixou na minha frente e me puxou para cima. – Eu não quero isso. Eu só quero viver a minha vida e morrer no final dela, para então começar tudo de novo. – Comecei a me debater em seus braços.
– Me desculpa. – Pediu e me segurou com força, me fazendo parar de me mexer. – Me desculpa, a culpa é minha, eu deveria ter visto isso no fim do feitiço. – Passou a mão em meu cabelo, mas eu só soltei o peso do meu corpo, e nós nos abaixamos novamente. – Me desculpa. – Beijou minha cabeça. Ouvimos um barulho na porta, mas não olhamos para ver o que era.
– O que aconteceu? – Era perguntando e se aproximando com passos rápidos. Ele se abaixou ao meu lado. – Meu amor, o que houve? – Me tirou dos braços de , e eu só conseguia chorar compulsivamente. – O que houve? – Perguntou ao seu irmão, e olhei para em um pedido mudo para que não falasse nada.
– Nós brigamos e ela ficou nervosa. Só isso. – Se levantou, e eu podia sentir seu tom de voz sendo controlado, mas bem lá no fundo estava embargada. deveria estar segurando o nó na garganta. – Vou ver se acho a Ella. – Foi se virando aos poucos enquanto me olhava.
Ele tinha dito o que sentia por mim, tinha conseguido se libertar de seu medo de ser magoado como as cartas da minha avó tinham dito, agora eu precisava libertar meus desejos.
– Espera. – Falei ainda com a voz embargada, e os dois me olharam. – Não vai, não agora. – Fechei meus olhos com força. – , preciso falar com o , a sós. – Não ousei olhá-lo, apenas tentei secar meu rosto.
– Ok, então eu vou ver se acho a Ella. – Se levantou e me ajudou a ficar de pé. – Eu te amo. – Me deu um beijo.
– Também. – Dei meu melhor sorriso forçado. saiu andando, e ficamos quietos até mesmo quando ele bateu a porta. – Minha avó abriu o tarô antes de eu sair de casa. – Me encostei no peitoril da janela, e encarei o piso quadriculado. – E ela me disse tanta coisa que ainda não consegui digerir, e a principal delas é que nós vamos perder.
– Não, nós não vamos. Me recuso a perder. – falou irritado, então segurei seu braço e lhe mostrei o que minha avó tinha tido. – Isso é baboseira. – Fez com que o soltasse.
– Já está acontecendo e você sabe disso. – Ele se recusou a me olhar. – . – Segurei seu rosto e seus encaram os meus um tanto quanto irritados. – Não quero pensar nisso como um fim, mas preciso falar antes que seja tarde demais. – Continuou me encarando. – Eu te amo, e vou fazer de tudo para protege-lo. – E foi ali que deixei meus desejos fugirem, e me impulsionei para frente, tocando seus lábios com os meus em um beijo apertado.
segurou minha cintura e minha nuca no mesmo instante e passou sua língua pelos meus lábios até tocar minha língua, transformando aquilo em um beijo de verdade. Aquilo foi turbulento, impactante, forte e extremamente intenso, as coisas me atingiram de uma maneira tão forte que me deixou tonta e sem ar. Lembranças de vidas passadas vieram como uma enxurrada, e foi algo que me fez chegar a afastar dele e o encarar. Tudo dentro de mim estava se revirando, e meu coração estava batendo em uma velocidade inacreditável, meu peito doía por causa disso. Coloquei a mão sobre meu peito e tentei puxar o ar, enquanto digeria as cenas ainda. me olhava um pouco assustado e estava ofegante também.
– Você viu? – Perguntei com uma voz falha, e ele afirmou com a cabeça. – É muito mais intenso do que imaginei. – Dei um passo à frente e coloquei a mão em seu rosto. – Por favor, me beija de novo. – Pedi unindo as sobrancelhas como se doesse não sentir seus lábios nos meus.
Então seu corpo se juntou ao meu e seus olhos me encaravam como se tivessem acabado de descobrir algo novo, completamente maravilhado, por fim dando um sorriso largo e me beijando da mesma maneira que antes. Tentei ficar mais nas pontas dos pés para ter mais altura, mas o salto já era grande demais. Então com um só braço, me levantou e me colocou sentada sobre o parapeito da janela. Abri minhas pernas para ele se encaixar entre elas, e isso foi extremamente excitante, já que fez questão de prender seu quadril contra o meu. Seus lábios começaram a beijar meu pescoço, dando pequenos chupões por onde passava, me dando tesão. Mordi meu lábio inferior tentando controlar os pequenos gemidos que eu queria soltar, deixando apenas a respiração pesada sair pelo nariz. Comecei a mexer meu quadril devagar, o impulsionando contra o de e sentindo o seu volume por debaixo da calça social. Minhas mãos puxaram a sua camisa para cima, a tirando de dentro da calça, e assim podendo tocar sua pele quente e arranhar com as pontas das minhas unhas finas. O senti ficar arrepiado com aquilo, então fiz novamente, e isso fez com que ele me apertasse de uma maneira gostosa, enquanto ainda beijava meu pescoço. Minha calcinha começava a ficar molhada e eu estava perdendo meu total controle. Segurei seu cabelo e o puxei com força, fazendo soltar meu pescoço e beijar minha boca. Sua mão direita foi para baixo do meu vestido, e alisou a minha coxa, ela foi subindo até achar a minha calcinha de algodão, passando dois dedos por cima dela, e certamente sentindo como eu estava, já que surgiu um sorriso entre o nosso beijo. Mas só peguei e coloquei a minha mão entre a dele e minha calcinha, e a puxei para o lado de uma forma sugestiva, então ele me invadiu com um dedo, me fazendo segurar um gemido em meu peito. Aquilo foi gostoso. Abri seu cinto sem parar de beijá-lo, e depois o botão e puxei o zíper para baixo, podendo enfim segurar seu pau rígido que estava apertado dentro da cueca, o coloquei para fora sem pensar muito e empurrei sua mão, tirando seu dedo de mim. Nos afastamos rapidamente, e tirei um lado da minha calcinha e subi um pouco mais o vestido. Olhei para e ele voltou a chegar bem perto, então colocou seu pau na minha entrada molhada enquanto me olhava nos olhos, e finalmente me penetrou lentamente por inteira. Soltei o ar lentamente sentindo o êxtase do momento e fechei meus olhos, jogando a cabeça lentamente para trás com um sorriso no rosto. Comecei a mover meu quadril um pouco, e ele a entrar e sair de dentro de mim bem devagar de um jeito maravilhoso. Segurei seu ombro com força e coloquei minha outra mão no parapeito me segurando, me movendo ainda mais contra seu quadril, deixando a coisa ainda mais intensa. Podia ouvir o pequeno gemido saindo dos lábios dele, e isso me deixava com mais tesão ainda, fazendo com que eu gemesse junto. Suas mãos seguraram minha bunda e me puxavam com força contra si em um vai e vem que começava a ficar mais intenso e rápido. Passei minhas pernas ao redor de sua cintura, fazendo a coisa toda ficar mais forte. Gemi ainda mais, pois estava delicioso. Se continuasse daquela maneira ou mais intenso ia acabar chegando no meu ápice rapidamente e teria um orgasmo muito forte, já que eu estava contendo tudo em mim. Eu só queria mais, queria ele inteiro dentro de mim de forma descontrolada, na verdade queria por completo. Fechei meus olhos com força e segurei meu ar, tentando aguentar mais um pouco. Aquilo estava tão bom, tão delicioso, tão prazeroso, e eu não queria admitir que estava sendo a melhor transa que já tive. Algo em fazia tudo ficar maravilhoso, não sabia se era a forma como me penetrava, ou se o jeito como me segurava, se era apenas por ser ele ali. Então eu sentia que não ia conseguir segurar aquela onda de prazer, estava vindo muito forte, sentia que ia explodir por dentro. Olhei dentro dos olhos dele e deixei meu orgasmo me tomar, e ele gemeu junto comigo, alto e repleto de prazer, gozando dentro de mim com tudo. Minha mão segurou com força seu ombro, o espasmo veio forte, e deixou meu corpo sem força logo em seguida. ainda me segurava, mas vi que ele estava fraco como eu. Sua testa encostou em meu ombro enquanto respirava fundo. Aquilo tinha sido uma rapidinha muito, muito boa mesmo!
– Meu Deus, o que foi isso? – Questionei completamente inebriada com aquilo, dando um pequeno espasmo ainda, aquilo levaria algum tempo para parar.
– Agr, eu ainda estou gozando. – Resmungou com uma voz fraca. – O que você fez comigo? – Soltei uma pequena risada de seu comentário.
– Quero saber a mesma coisa. Minha cabeça está girando. – Mordi meu lábio inferior e passei a mão no cabelo de sua nuca, que estava levemente molhados. – Isso foi maravilhoso. – Falei por fim fechando meus olhos e esperando a tonteira passar.
– Foi. – Concordou comigo. – Que porra foi essa? Não posso estar concordando. – Reclamou, e eu sorri.
– Por que você só não aceita? – Acariciei seu pescoço.
– Porque se eu aceitar vou querer mais. – Respondeu e levantou a cabeça, me olhando. – E você sabe que isso não... – Beijei seus lábios.
– Só não fala, ok? – Pedi. – Não diz nada no qual não temos controle. – Olhei dentro de seus olhos. – Eu não sei nem o que estou falando. – Respirei fundo. – Eu quero você pra mim. Me ajuda, por favor, não sei o que fazer agora. – Um pânico começava a me tomar.
– Calma. – Segurou a lateral do meu rosto. – Não pensa nisso agora, nem nessa noite. Ok? – Afirmei com a cabeça. – Caralho, eu te amo muito. – Fechou os olhos. – E eu sou muito fodido.
– Nós somos muito fodidos. – Soltei uma risada fraca. – Não queria precisar sair daqui agora e ir enfrentar todo mundo. – Encostei a cabeça em meu ombro.
– Vou estar ao seu lado para isso. – Segurou a minha mão e entrelaçou nossos dedos. – Agora o grande problema é sair de dentro de você sem nos sujar. – Brincou e eu soltei uma risada com aquilo.
– Ainda não tinha pensado sobre isso. – Olhei para baixo. – Certo, não se mexe, vou tentar puxar meu vestido para cima.
– Ok, mas vai com calma, meu pau ainda está duro. – O encarei com isso. – O que? Não posso fazer nada, ele não ficou mole depois que gozei, e a culpada é você. – Me acusou enquanto tentava puxar o meu vestido para cima.
– Eu? – Apontei para mim mesma. – Claro, eu te dou muito tesão.
– E dá mesmo. – Senti minhas bochechas ficarem vermelhas, mas não o olhei. – Você é deliciosa. – Sussurrou em meu ouvido.
– Para com isso. – Mandei e ele riu. – Ou não vamos sair daqui. – Dei um sorriso de lado e acabei de puxar meu vestido para cima o máximo que consegui.
– Não me provoca. – Passou a mão pela minha cintura e me puxou para perto. – Porque não estou com a mínima vontade de sair de onde estou. – Impulsionou seu quadril contra o meu.
. – Sussurrei tentando me controlar.
. – Falou de volta de um jeito sexy.
– Tem algum lenço ai? – Tentei me focar.
– Hm, tenho. – Tirou de dentro do bolso de seu terno. – Toma. – O peguei e coloquei perto da minha saída, por baixo.
– Sai e cuidado para não sujar a sua calça. – Pedi e ele o fez. No mesmo instante coloquei o lenço dentro de mim e puxei minha calcinha para cima. – Vou no banheiro resolver isso, me espera.
– Ok. – Riu e me olhou. – Se quiser posso te ajudar. – Lhe dei o dedo do meio e ele riu de novo.
Sai andando apressada e entrei no banheiro social que tinha ali no corredor. Fiquei ali dentro uns dez minutos me limpando, e certificando que não sairia nada de dentro de mim. Arrumei minha maquiagem e limpei meu batom, o tirando completamente. Respirei fundo. Ajeitei meu vestido e sorri para meu reflexo no espelho. Tudo vai ficar bem. Repeti isso mentalmente umas vinte vezes, então finalmente sai. Vi encostado no parapeito da janela fumando seu cigarro. Ele tinha prendido novamente seu cabelo, mas sua blusa ainda continuava para fora da calça, e agora a gravata estava frouxa e alguns botões estavam abertos.
– Meu batom está contigo. – Falei e parei a sua frente, colocando as mãos na minha cintura.
– Está. – Respondeu me olhando de um jeito pervertido. – Mas você não precisa dele. – Me puxou para perto e encarou meus lábios.
– Eu preciso sim. – Joguei os braços ao redor de seu pescoço. – Estava com ele antes, preciso estar com ele agora também.
– Ninguém vai reparar. – Aproximou seus lábios dos meus.
– Não quero contar com essa sorte. – Comentei e me beijou. Senti o gosto de cigarro em seu boca. – Para com isso. Você está me fazendo repensar se realmente quero passar por aquela porta.
– Nós podemos simplesmente não passar. – Começou a beijar meu pescoço. – Seu cheiro é tão gostoso.
– Não me tente assim que eu acabo aceitando. – Um sorriso safado foi surgindo nos meus lábios. – Precisamos voltar, antes que voltem a nos procurar. – Estava tentando evitar tocar no nome de para que as coisas não ficassem estranhas. – Me deixei arrumar isso. – Coloquei sua camisa para dentro da calça, depois abotoei seus botões e arrumei sua gravata. – Acho que precisamos ir.
– É. – Jogou a guimba de seu cigarro pela janela. – Só me deixa fazer uma coisa antes que eu esqueça como é. – Segurou minha nuca e me beijou de forma intensa, tirando todo o meu fôlego.
– Faz de novo. – Subi minha perna por entre as dele.
– Alguém está ficando viciada nisso. – Advertiu e eu ri.
– Até parece que sou a única. – Falei e o beijei com fervor. – Certo, agora temos que ir. – Me afastei dele e fui andando na frente.
– Nossa, isso tudo é presa de voltar para seu noivo? – Podia sentir o veneno em sua voz, então lhe dei apenas o dedo do meio de novo. – Nossa, essa gatinha é agressiva.
– Posso ser mais agressiva se quiser. – Parei na porta e encostei minhas costas nela, ficando de frente para .
– Acho que vou querer ver isso. – Disse parando com o rosto a milímetro do meus, e colocando suas mãos uma em cada lado do meu corpo.
– Talvez mais tarde. – Mordi seu lábio inferior e abaixei a maçaneta, fazendo a porta se abrir e conseguir me soltar dele.
Fui andando na frente, e voltamos para a festa. Até que vi dançando com Ella, e isso me fez fechar com força a minha mão. O que aquela garota pensava que estava fazendo? Dei um passo à frente, mas segurou a minha mão e me puxou para dançar.
– Ela quer te provocar, apenas isso. – Falou em meu ouvido. – Se você perder o controle vai ser pior, apenas aja naturalmente. – Me rodou e me puxou para perto.
– Achei vocês! – Minha mãe apareceu com a máquina de retrato na mão. – Vem, chamem o , quero tirar uma foto de vocês três juntos.
. – chamou e ele nos olhou. – A Úrsula quer tirar uma foto de nós três. – Então ele soltou Ella e veio conosco.
– O que aconteceu com o seu batom, ? – perguntou enquanto eu ficava entre ele o para tirar a foto que a minha mãe queria.
– Saiu quando fui lavar o rosto àquela hora. – Menti, e parecia claramente incomodado, mas sorriu para a foto.
, venha aqui também. – Pediu minha mãe, e a Ella se aproximou ficando do outro lado de .
– Fica calma. – sussurrou em meu ouvido. – Está dando para sentir a sua vibração de longe. – Voltou a sorrir para a foto.
– Não dá. – Respondi entre dentes dando um sorriso.
– Pronto. – Mamãe falou dando um sorriso. – Daqui a pouco vamos jantar, se divirtam enquanto isso.
– Acho que alguns já se divertiram bastante. – respondeu segurando a mão de Ella e a levando de volta para dançar.
sabe. – Soltei pronta para ir atrás dele.
– Hey, para. Isso deve ser um jogo da Ella. – Segurou minha mão e me levou para dançar. – Sinta as coisas ao seu redor. – Sua mão segurou minhas costas, me guiando.
– Não dá, eu só sinto uma energia pesada e negativa por todo os lados. – Coloquei as mãos em seus ombros.
What’s Up. – Colocou o indicador no ouvido, e eu prestei atenção na música. – “Hey, o que está havendo?” – Sorriu e deu um passo para trás me afastando. – Vamos lá, você consegue.
– Por que você não me diz? – Pedi quando voltou a me puxar para perto.
– Porque eu não sei de onde vem. – Explicou e repousou suas duas mãos em minha cintura. – Você é mais forte que eu. Então apenas tente sentir de onde está vindo. – Fechei meus olhos e tentei me focar, sentir de onde a energia estava vindo.
– É dela. – Olhei para Ella que dançava com . Alguém caiu no meio do salão espumando pela boca. – Que merda. – Resmunguei enquanto me puxava para trás.
– Está começando. – Ele segurou a minha mão. – Cadê o meu irmão? – Olhou para o lado, e as pessoas já começavam a se aglomerarem em cima do cara que espumava pela boca.
– Ele estava aqui agora. – segurou a minha mão com força.
– Precisamos encontra-lo. – Saiu me puxando apressado. – Você consegue sentir ele?
– Sim. – Afirmei com a cabeça também. – Está vindo daquele lado. – Apontei para a porta, então passamos por ela, era o salão de jantar.
– Não me mata, por favor. – Ella pedida encurralada em um canto, enquanto olhava para ela com a mão erguida. – Juro que não fui eu.
– O que está acontecendo? – Perguntei me aproximando lentamente.
– Ela envenenou aquele cara. – a acusou.
– Eu não fiz isso! – Bateu o pé. – E você não pode me matar. – Colocou a mão em seu barriga.
– E por que não? – quis saber de um jeito presunçoso. – Na verdade eu quem deveria fazer isso.
– Porque estou grávida do . – Arregalei os olhos quando ouvi aquilo, e soltou uma risada alta.
– Como é? – Praticamente gritei. – Como assim grávida? ! – Ele me olhou sem esboçar nenhuma reação. – Fala alguma coisa.
– Falar? Quer que eu fale o que, ? – Rebateu irritado. – Pelo menos eu não estava contigo quando transei com ela. – Aquilo foi um soco e eu não soube o que responder. – Acha mesmo que não sei que vocês dois estavam transando ainda pouco? – Apontou para mim e para o . – Eu não nasci ontem.
– Nossa, por essa nem eu mesma esperava. Você me superou . – Ella debochou e bateu palmas. – Transar com o irmão gêmeo? Uou.
– Cala a boca, vadia. Você não está grávida bosta nenhuma! Não sinto nada no seu corpo a não ser a sua alma podre! – mandou e a fez cair de joelhos no chão com magia. – pode acreditar que você esteja grávida, mas eu não. – Foi andando em direção a ela.
, para! – mandou e jogou o irmão para o outro lado do cômodo usando magia, ele caiu sobre uma mesa e rolou por ela. – Fica longe dela. – Pensei em ir ver como estava, mas seria pior.
– O que? Você vai proteger essa garota? – Questionei apontando o dedo para Ella que se levantava do chão.
– Ela está carregando um filho meu. – Respondeu irritado.
– E quem me garante que é seu? A vi transando com na noite que fui na sua casa, e era por isso que eu estava lá. – Me aproximei dele, e segurei a gola de seu terno. – Mas não deu tempo de te contar, a sua mãe atrapalhou um pouco. – segurou minhas mãos e as tirou de si.
– Larga de ser burro, . – se levantou. – Não vai acreditar mesmo nela, né?
– Quem é você para dizer algo? – Se virou para seu irmão. – Transou com a minha noiva! – Apontou para o próprio peito. – É em você que eu devo acreditar? Me traiu. Os dois! – Gesticulou na minha direção e na de .
– Ai gente. Adoro barraco de família. – Ella riu enquanto nos olhava.
– Cala a boca! – Eu e falamos juntos.
, fica calmo. – Pedi e tentei tocá-lo, mas ele deu um tapa em mim mão, e eu quis chorar por isso.
– Não vou nem perguntar como pode fazer isso comigo, porquê sinceramente não quero saber da resposta. – Me olhou com desdém. – Eu só não esperava isso de vocês. – Encarou seu irmão que provavelmente estava bem atrás de mim.
–Ah! – Senti algo sendo enfiado em minha barriga, então levei a mão até ela rapidamente, e isso me fez andar para trás, sentindo uma dor horrível.
– O que foi? – perguntou alarmado, suas mãos seguraram meu ombro. Olhei para minha barriga e não tinha nada, e a dor sumiu.
– Eu...eu não sei. – Olhei para onde vinha uma energia negativa e vi caído no chão a alguns metros de mim, e Ella estava ajoelhada ao seu lado falando algo em seu ouvido. – . – Corri até ele, e tirei aquela garota de lá com um só puxão. – Meu Deus, meu amor. – Coloquei a mão por cima da dele, onde tinha um punhal preto. – Como isso veio parar aqui? – Tinha sangue saindo pela sua boca.
Do lado de fora as pessoas já começavam a gritar, tinha acontecido algo. se abaixou do outro lado de seu irmão.
– Fala comigo. – Pedi com os olhos cheios d’água.
– A morte vem rastejando. – Ella sussurrou em meu ouvido, mas quando olhei por cima do meu ombro não tinha ninguém.
– Cadê a Ella? – Perguntei não vendo aquela garota em lugar nenhum.
– Cuida dele, eu vou ver se acho aquela maldita. – se levantou e saiu andando apressado.
. – Falei já chorando e tirei o punhal de sua barriga. – Sana⁴, sana, sana, sana. – Disse repetidas vezes, e o corte foi ficando vermelho, até que se fechou. – . – Chamei, e ele me olhou. – Me perdoa. – Pedi segurando a sua mão. – Por favor.
– Eu te amo. – Segurou a minha mão de volta, e começou a sair espuma branca da sua boca, igual que aconteceu com , e com o homem lá fora.
– Veneno. – Reclamei desesperada com aquilo, e eu não sabia o que fazer, na verdade não tinha o que fazer. – . – Coloquei sua cabeça por cima da minha coxa. – Também te amo, meu amor. – Acariciei seu rosto e olhando dentro dos seus olhos, rezando para que tivesse ouvido isso. – Eu te amo. – Então ele parou de se mexer. – Não, não, não. – Me abaixei e encostei minha testa na sua deixando as lágrimas descerem, a dor em meu peito começava a surgir. – Por favor, não. – Eu não podia morrer, não podia ter uma segunda chance com .
– Ela sumiu, e está um caos lá fora, tem cobras negras por todos os lados... – apareceu e veio andando apressado em minha direção. – Merda! Não! – Se ajoelhou ao lado de . – Você não o curou? – Afirmei com a cabeça. – Então o que houve?
– Veneno. – O choro saia alto, e eu só queria ficar abraçada com ele. – Ele morreu, . Ele morreu, e eu não posso morrer. – Balançava para frente e para trás com a cabeça de em minha coxa. – Não existe mais felizes para sempre, não existe.
– Você pode encontrar ele na próxima vida. – Me abraçou e me fez encostar a cabeça em seu peito.
– Não vai ser ele, não vai ser o meu . – Segurei o seu terno.
– Eu sabia que vocês não deveriam ter vindo! – Ouvi a voz da minha avó. – Vamos, levantem daí e vão pegar aquela garota infernal antes que as cobras achem vocês. – Levantei a cabeça e vi ela parada na frente do corpo de . – Vou dar um jeito nele para que Giles não roube o corpo. – Mas não conseguia me mexer. – Andem! – se levantou e me puxou para cima. – A leve daqui, garoto.
– Vem. – Ele foi me levando para o outro cômodo e me encostou em uma mesa de parede. – , olha para mim. – Ergueu meu rosto. – Nós vamos pegá-la, ok? – Levei a minha mão em meu rosto e chorei ainda mais. – Hey, pare de chorar, deixei isso para depois, agora você precisa ser forte.
– Eu não quero ser forte! – Tirei as minhas mãos de meu rosto com raiva. – Só quero ter o de volta, quero a minha mortalidade de volta!
– Infelizmente não vai poder ter mais nenhum dos dois. Então para de agir como criança amedrontada! – Soltou aquilo em cima de mim, estava nervoso. – Nós precisamos pegar a Ella, e acabar com a raça dela. O era meu irmão gêmeo, e estou tão mal quanto você, mas não posso deixar isso me atingir, não agora! – Segurou meus ombros. – Preciso da sua ajuda para acha-la. – neguei com a cabeça sentindo as lágrimas descerem pelo meu rosto.
– Ok. – Tirei suas mãos de mim, e fechei meus olhos. – Não dá para saber, não sei de onde vem.
– Tenta de novo! – Ordenou.
– Não, não vou tentar. – As lagrimas ainda saiam. – Eu não quero.
– Ai, ai, nunca pensei que seria tão fácil pegar dois coelhos em uma cajadada só. – Era Ella falando de um jeito debochado. olhou por cima do ombro, e me encarou rapidamente olhando bem dentro de meus olhos.
– Eu te amo. – Cercou meu corpo com as duas mãos, e eu senti algo atravessando meu peito direito, o que me causou falta de ar. Olhei para baixo e vi uma lança enfiada em nós dois, podia sentir o veneno começando a percorrer meu corpo.
O silêncio começou a corroer tudo. Ergui meu rosto, os olhos dele estavam abertos, mas não tinha medo ou tristeza, apenas me encaravam com ternura. Eu o amava também, assim como amava . Estava perdendo os dois, e não podia deixar isso acontecer. Vi seus olhos se fechando lentamente, como se tudo ao nosso redor estivesse em câmera lenta, eu não ouvia nada, apenas as batidas do meu coração.
– Não, você não vai morrer hoje! – Quebrei a lança de madeira com magia, e a tirei de meu peito, fazendo cair no chão, de costas.
– É inútil tentar se salvar. – Ella vinha andando em nossa direção.
– Por que você não cala a sua maldita boca?! – Coloquei a minha mão no chão e deixei minha marca se manifestar, e ela foi correndo em linha reta na direção de Ella, que começou a correr, até que passou por uma porta e a fechou. – . – Ele me olhava com um sorriso no rosto. – Não morre, seu babaca! Tira esse sorriso do rosto. – Mandei e puxei a lança de meu peito. Saiu um pouco de sangue, mas a ferida se fechou logo em seguida. Arranquei a lança dele com força, o que o fez gemer. – Conscidisti⁵ – Passei a minha unha na palma da minha mão, a cortando, e coloquei rapidamente no buraco que tinha no peito de . – Immortalitatis magniloquentia confero me ad te⁶ – Falei repetidas vezes rezando para dar certo, até que o buraco começou a se fechar, e eu sentia o veneno mais forte em minhas veias. Vi minha marca tomando meu braço lentamente.
, o que você fez? – Ele perguntou se sentando e me olhando assustado, deixei apenas meu corpo cair de lado, estava me sentindo tão cansada. – ! – Me segurou com força. – Sua idiota, o que você fez?
– Não tenho certeza. – Soltei uma risada e isso doeu. – Vamos, me ajude a levantar, e vamos atrás daquela vaca. – me olhava preocupado. – Anda, pare com isso. – Dei um sorriso forçado.
– Você me deu a sua imortalidade. – Disse por fim, e eu fechei meus olhos brevemente. – Por que fez isso?
– Você merece ter a sua vida sem precisar dividi-la com ninguém. – Coloquei a mão em seu rosto. – Viver tudo o que quiser até o fim dos tempos. – Ele segurou a minha mão e a beijou.
– Não tem graça sem você. – Deu um sorriso fraco.
– Mas eu sempre sou a mesma pessoa, só mudo de nome. – Brinquei e ele me olhou de um jeito triste. – Ok, caso eu não seja igual, me faça lembrar e me diga o quanto te amava. – Fechei meus olhos e respirei fundo sentindo dor.
– Hey, não morre agora. – Me sacudiu e eu abri os olhos. – Não vou fazer se lembrar de nada, porque você não vai morrer. Anda, vem. – Me puxou para cima, fazendo ficar de pé. – Consegue andar?
– Talvez. – Fiz uma careta, e ele colocou meu braço ao redor do seu pescoço. – Acho que assim está melhor. – Sorri e foi me ajudando a andar. – Minha marca está tentando combater o veneno, eu estou ficando muito fraca com isso. – Avisei enquanto andávamos.
– E ela vai acabar com o veneno. – Sua mão segurava a minha cintura e a outra meu antebraço que estava ao redor de seu pescoço. – Consegue saber para onde ela foi? – Apontei na direção que sentia a energia. – Certo.
– Joseph! Não faça isso. Meu filho! – Ouvimos a voz de Blanca e nos olhamos.
– Vamos ver o que está acontecendo. – Pedi, e seguimos a voz.
– Ai, ai, Blanca, você é tão burra. – Respondeu Joseph, então passamos pela porta, voltando ao salão de dança. – Vejam só, temos companhia. – Sorriu. – Meu filho e minha calorosa nora.
– Giles. – falou nervoso. – Era algo de se imaginar.
– Eu lido com ele, vão atrás da Ella. – Blanca mandou e olhou para o rapaz. – Não vou deixar que fique com o corpo do meu filho. – Lançou uma bola de fogo contra Giles quanto menos esperávamos.
– Ela é louca, vai destruir tudo. – Comentei e nos protegeu da explosão com uma parede de vento.
– Blanca nunca foi a irmã mais sã. – Respondeu e me tirou dali rapidamente. – Aonde a Ella está? – Apontei para frente, onde a menina estava parada.
– Nossa, por que vocês simplesmente não morrem? – Jogou eu e um para cada lado com magia. – Estou me cansado dessa brincadeira chata, queremos logo os corpos de vocês. – As janelas se abriram com força e um vento forte tomou conta do lugar fazendo Ella ser atirada para longe fazendo eu e sermos soltos.
– Isso é uma briga injusta. – Giles entrou no corredor. – Vamos equilibrar um pouco as coisas. – Lançou uma bola de energia em minha direção, e eu a desviei para o lado, fazendo quebrar a parede. – Vejam só, a bruxinha conseguiu os poderes de volta. – Sorriu.
– Seu assunto é comigo. – falou com raiva e foi andando em direção a Giles, que lançava bolas de energia em sua direção, e ele as dispersavas, até que segurou a última e a jogou contra seu pai. – Essa merdinha não faz efeito, luta como homem! – O pegou pelo colarinho da camisa e deu um soco em sua cara.
– Solta ele. – Ella berrou e jogou uma mesa na direção de .
Turn aqua! – E a mesa virou uma chuva molhando eles. Levantei do chão com certa dificuldade e tirei meus sapatos. – Vem vadia! – Assobiei como se estivesse chamando cachorro.
Ela gritou de raiva e veio correndo em minha direção, fazendo as coisas voarem para os lados. Fiquei parada aonde estava, não tinha muita condição de me mexer. Quando estava bem próxima de mim, libertei a minha marca, estava conseguindo controla-la de uma forma bizarra. Talvez fosse por estar deixando que me tomasse. A sombra negra saiu de minha mão como se fosse uma corda passando pela cintura de Ella, então a levantei no ar e a joguei para trás de mim, virando meu corpo junto e abaixando para que a garota atingisse o chão com tudo. O piso de mármore rachou, e eu fui andando bem devagar em sua direção, pisei em seu pescoço, e tinha sangue em sua boca.
– Como você ainda está viva? – Quis saber, então me abaixei.
– Porque eu sou a morte, e não posso morrer. – Falei apenas para assustá-la e segurei suas mãos, a puxando para cima. – Venha, vamos dançar. – Olhei para meus braços e eles estavam negros como a noite, já não sentia muita dor, e agora conseguia me mover.
– Não, você é a besta. – Ella tinha pavor nos olhos, então olhei para o lado, me encarando no espelho. Meu corpo estava negro e meus olhos brilhavam em vermelho, a minha orelha tinha uma ponta e meus caninos estavam afiados.
– É, talvez eu seja. – Minha voz saiu estranha, e eu a abracei como se a guiasse para uma dança. – Siga meus passos. – A puxava de um lado para o outro vendo seu corpo sendo dominado pela minha escuridão aos poucos, até que ficou totalmente putrificado. – Ops. – Falei e a soltei, e Ella se desmanchou em cinzar nos meus pés.
– Não! – Giles gritou e eu olhei em sua direção, e ele parou. – O que você é?
– Ela é a escuridão! – o puxou para trás e lhe deu outro soco. – E é para lá que você vai. – No momento que iria enfiar a mão no coração dele para arrancá-lo, foi jogado para longe, caindo em cima de uma mesa, ficando suas costas em um pedaço de madeira solto.
– Eu vou acabar contigo! – Cobrar negras começaram a aparecer por todos os lados, me cercando, e ele foi andando para onde estava.
Deixei a escuridão ir tomando o chão, e ela ia destruindo as cobras, fazendo com que virassem cinzas. Caminhei lentamente em direção a Giles, que puxou o corpo de da madeira e o engravatou, o usando de escudo.
– Se usar isso contra mim, ele morre junto. – Então parei de andar, e a escuridão ao meu redor parou também. – Você decide, é tudo ou nada.
– Mata ele, ! – rosnou tentando tirar o braço de seu pai de seu pescoço. – Eu não me importo o que vai acontecer comigo, só mata ele!
é o único que te restou, e ele só tem essa vida. Tem certeza que vai mata-lo também? – Giles jogava comigo, mas eu não tinha o menor ânimo para isso.
faz parte da escuridão, ela não pode mata-lo. – Então voltei a andar e Giles quebrou o pescoço de seu filho, e saiu correndo. – Aonde você vai? – Fechei a porta e se levantou logo em seguida, estalando seu pescoço.
– Mas como? – Olhou assustado para o menino que agora ia em sua direção.
– Truques novos. – sorriu e o segurou, fazendo com que se ajoelhasse. – Quais são as suas últimas palavras?
– Nos vemos no inferno. – Giles respondeu sorrindo.
enfiou a mão pelas costas dele, segurando seu coração, e eu me aproximei deixando a escuridão tomar conta do corpo fazendo ele ser putrificando, e no momento que ia se desmanchar o coração foi arrancado, fazendo uma luz sair de dentro e tudo virar cinzas. Cai de joelho quando trouxe a escuridão de volta e puxei o ar, sentindo muita falta dele. Levei minha mão até meu peito e vi meu braço tomado de veias negras, o veneno estava quase me matando e a marca não tinha conseguido expulsá-lo, apenas retardar o efeito.
. – veio correndo em minha direção e me segurou.
– Me leva lá para fora, quero ver o céu de estrelas. – Pedi e ele me pegou em seus braços e me levou para o lado de fora, passando pelo buraco que eu tinha feito na parede antes.
Fui deitada na grama, e pude ver o céu negro de estrelas, tão lindo. Anos que eu não fazia isso. se deitou ao meu lado e segurou a minha mão, entrelaçando nossos dedos.
– Me encontre. – Pedi, e olhei para o lado, vendo que ele me olhava agora também. – E me faça feliz. – Sorri e ele também. – Está molhado aqui. – Passei o indicador em sua bochecha, onde tinha uma lágrima. – A minha ligação com o era diferente, a sua alma é diferente da dele, e nós dois... – Indiquei eu e ele. – é que somos feitos um para o outro. E só consegui ver isso agora. – fechou os olhos fazendo mais lágrimas descerem. – Nas minhas próximas vidas será apenas nós dois, não tenho mais ligação nenhuma com o . – Apesar de ser triste, era verdade, algo dizia isso dentro de mim.
– Como sabe? – Perguntou me olhando nos olhos.
– Porque quebramos a maldição, a escuridão que nos liga e não a luz. – Expliquei e puxei o ar, sentindo meus pulmões doerem. – Eu sentia isso por ele por vocês serem irmãos gêmeos, mas agora não vai ter mais isso, será outra pessoa, alguém sem qualquer vínculo comigo, e você não vai mais morrer, as almas não vão se juntar novamente e serem uma só como antes. – Comecei a tossir e veio gosto de ferro na minha boca. – Queime meu corpo. – Puxei o ar com força. – Eu te amo. – Olhei a última vez seus olhos, e voltei a encarar o céu. – Me encontre.
. – segurou minha mão com força, chorando. – Eu te amo, e juro que vou te encontrar de novo. – Sorri antes de sentir o veneno tomar meu coração.

1. Videtur – Apareça
2. Et ego dabovobisomniaterga sua potestate – Eu te devolvo todo o seu poder
3. Siccatum – Evapore
4. Sana – Cure
5. Conscidisti - Corte
6. Immortalitatis magniloquentia confero me ad te me ad te - Eu transfiro minha imortalidade para você




Epílogo

Vinte e cinco anos depois

Os anos nunca foram tão longos. A pedido dos Pretz, eu fiquei morando com eles por algum tempo, apesar de tudo ali me lembrar da , aceitei. Não entendia como Úrsula, Charles e Wanda não me odiavam depois de tudo que aconteceu com as meninas. Elas morreram, e os culpados disso eram eu e , se não tivéssemos aparecido na vida delas nada disso teria acontecido, mas Wanda dizia que aquilo estava predestinado a acontecer, e que não poderia ter sido mudado. Após alguns anos a velha morreu, e devo admitir que senti saudades, então me mudei para sua casa, Úrsula achava que eu tinha que herdar os pertences de bruxaria de sua tia, que o legado pertencia a , mas como ela não estava mais entre nós, ele me pertencia agora, e fiquei honrado com isso.
Sempre que me fechava na biblioteca aprendia algo novo, e era extremamente gratificante. As cinzas de ficavam em uma urna em cima da lareira, me fazendo lembrar sempre dela, e o quanto bem ela me fez em um curto espaço de tempo. Não tive mais vontade de ficar com ninguém, e todas as noites sonhava com ela, não sabia se eram vidas passadas, ou se era apenas minha mente fantasiando algo, mas também preferia não saber. Só de vê-la sempre que fechava os olhos era gratificante, sentia como se estivesse comigo.
Decidi fazer algo da minha vida e virei professor de arqueologia na faculdade de Helena no último ano, e não usava mais magia. Era algo que prometi a mim mesmo, pois visto que aquilo havia acabado com minha vida.
Acordei as oito e olhei para a foto de cabeceira da noite do baile, onde estava eu, e . Sorri e me levantei, indo para o banheiro e tomando um banho rápido. Sai enrolado na toalha e separei uma roupa para a aula, me vesti e passei a mão em meus cabelos, depois os penteei e deixei que secasse antes de prender, um a coisa que nunca consegui mudar foi deixar meu cabelo curto. Eu ainda tinha a mesma aparecia, tinha parado nos meus vinte e seis anos, mas a mente era de um cara de cinquenta.
Fiz um café e tomei enquanto lia o jornal. Quando terminei, lavei a minha caneca e fui até o escritório pegar o material que usaria hoje. Escovei os dentes e fui para a faculdade de moto.
A primeira aula foi para o pessoal do primeiro período de história, depois foi para arquitetura do quinto período e por fim parei, pois foi uma aula dupla da manhã. Estava guardando minhas coisas quando vi uma menina se aproximar, ela vestia algo extremamente decotado, e se sentou sobre a minha mesa com suas pernas torneadas, cruzadas. A olhei rapidamente antes de puxar meu bloco de anotação debaixo dela, aonde havia sentando em cima.
– Alguém já disse que você é muito inteligente para aparentar tão pouca idade? – Sua voz era bem fina, até um pouco irritante.
– Já sim. – Respondi ríspido guardando meus materiais. – No que posso ajudar, senhorita... – A encarei e esperei que falasse seu sobrenome.
– Hudson. – Falou mascando seu chiclete de menta com a boca aberta. – Mas pode me chamar de Mind. – Passou o indicador em meu ombro.
– O que deseja, senhorita Hudson? – Tentei não torcer o nariz, mas foi impossível, detestava quando davam em cima de mim daquela forma.
– Hm... – Fez cara de nojo certamente por tê-la chamado pelo sobrenome, e depois sorriu. – Queria saber quanto cobra para dar aulas particulares. – Passou a língua em seu lábio superior.
– Não dou aulas particulares. Se está em dificuldade com a matéria sugiro que pegue o material, o estude e me mande e-mails tirando suas dúvidas, de preferência que seja durante as quartas-feiras, que é o dia que estou de folga. – Lhe entreguei meu cartão com o meu e-mail e telefone. – Se era só isso, poderia, por favor, sair de cima do meu livro. – Cerrei meus lábios e ela pulou de cima da mesa com cara irritada. – Obrigado. – Peguei o livro e o examinei para ver se tinha amassado.
– De nada. – Se virou e saiu andando, rebolando. Só se podia ouvir os saltos da senhorita Hudson subirem para a saída da sala, até a porta se bater.
– Bela resposta que deu a ela, pensei que iria presencia um pornô ao vivo. – Ouvi uma voz feminina e aveludada vindo do meio da sala. Ergui meu olhar e vi uma mulher sentada com os pés cruzados sobre a mesa, ela tinha um jeito despojado. – Quando vi na minha grade curricular Sr. Pretz pensei que era um velho senil, e não um cara da minha idade que dá fora em garotas oferecidas da faculdade. – Ela riu do seu próprio comentário.
– As pessoas ainda usam a palavra senil para descrever alguém? – Questionei de forma retórica, e guardei eu livro na bolsa com cuidado, e a fechei.
– Eu gosto de usar umas palavras velhas, acho que é por causa do meu avô. – Riu e tirou os pés da mesa, pegou suas coisas e desceu até aonde eu estava. – Não sou dessa turma, acabei de ser transferida para cá, e estou na sua turma de história antiga B, na sua aula de sexta e perdi as duas primeiras aulas. – Explicou enquanto andava, e no segundo que olhei em seus olhos esverdeados eu senti a mesma ligação que eu sentia com a . – St. Pretz! – Estalou os dedos, e isso me fez piscar. – Me responda.
– Qual foi a sua pergunta mesmo? – Tentei me recompor e não reparar em sua aparência, e sim no que estava falando.
– Na secretaria me disseram que eu precisava perguntar a você quais livros preciso comprar para a aula de história antiga B. – Repetiu o que desejava saber.
– Ah sim. Vou anotar para você. – Já fui abrindo a minha bolsa.
– Não precisa, é só me falar, eu escrevo no meu caderno, ou vou perder seu papel. – Já colocava suas coisas sobre a mesa e procurava uma caneta em sua bolsa.
– Aqui. – Lhe entreguei uma caneta e ela sorriu agradecida, então fui lhe ditando os livros que usaríamos durante o semestre. – Estou organizando uma ida ao museu, se quiser ir fale com o Seth, representante da sua turma, que ele vai te passar o dia e a hora que os alunos combinarem, provável que seja em uma quarta-feira. – Avisei e ela me devolveu a caneta. – Qual é o seu nome mesmo?
– Eu não falei. – Ela sorriu como se estivesse se divertido com a pergunta. – E acredito que não seja necessário, provável que vai esquecer em meio de tantos alunos. – Guardou as coisas em sua bolsa enquanto eu a olhava, esperando que falasse logo como se chamava. – Não sei se você sabe, mas a primeira regra dos universitários é; não querer que os professores saibam seu nome. – Piscou de um jeito sapeca, ela tinha um espirito de criança. – Obrigada, Sr Pretz. – Foi dando passos para trás.
– Por nada. Qualquer coisa é só me procurar. – Assentiu com a cabeça, e ela se virou e foi subindo os lances de madeira apressada, batendo com sua bota da All Star vermelha no chão.
E ela saiu deixando a porta aberta. Era ela, era a , eu sentia que era.


Fim




Outras Fanfics:

Finalizadas:
You Are My Life - Restritas/Longfic
Má Companhia - Restritas/Longfic
Primeiros Erros (Spin-Off de Má Companhia) - Especial de Agosto/Shortfic
Tarados Anônimos - Especial Dia do Sexo/Shortfic
Tarados Anônimos 2 - Especial Dia do Musico/Shortfic
Tarados Anônimos 3 - Especial Equinócio de Setembro/Shortfic
Only You - Vampire Diaries/Shortfic
Impossible - Especial Dia dos Namorados/Shortfic
Million Voices - Restritas/Shortfic
Mente Dividida - Outros/Shortfic
The House - Especial de Halloween/Shortfic
Miss Santidade - Outros/Shortfic
Rebember. - Restrita - Outros/Shortfic

Ficstapes:
2. R U Mine - #001: Arctic Monkeys – AM
17. Five Colours In Her Hair - #011: McFly – Memory Lane
08. Rocket - #020: Beyoncé


comments powered by Disqus