Última atualização: 30/05/2024

I

No coração eterno de Roma, onde as pedras suspiram a história de amores inesquecíveis, os deuses, por vezes, decidem caminhar entre mortais.

O cansaço tomou conta do corpo de assim que a mulher colocou os pés no Aeroporto Internacional de Roma.
Sentiu o calor característico da cidade a envolvendo quando pisou fora do portão de embarque, provocando uma careta enquanto empurrava seus óculos de sol para cima do nariz.
não se afeiçoava ao clima quente. Preferia mil vezes o aconchego de um sobretudo nas temperaturas baixas de sua cidade natal, Manchester.
Continuou a arrastar suas malas, só então se dando conta de toda a agitação que se encontrava na porta de saída do lugar; milhares de turistas, assim como ela, demonstravam sua ansiedade e animação em conhecer a cidade.
O último, sendo contrário para .
Sua única ansiedade e animação era a de estar logo em seu hotel.
Enquanto observava todas as pessoas a seu redor, seu olhar capturava cada movimento, cada momento, de qualquer que fosse a pessoa que passava por si.
Cada viagem a trabalho era uma oportunidade única de explorar e desvendar a essência de um lugar através de suas fotografias.
amava o que fazia, sem ao menos hesitar.
O peso de sua câmera pendurada na bolsa que carregava era reconfortante; representava não apenas uma ferramenta, mas uma extensão de si mesma.
Os rostos desconhecidos no aeroporto se tornavam potenciais protagonistas de suas fotografias. se perguntava sobre as histórias que cada pessoa carregava consigo, os momentos que poderiam ser congelados no tempo e as expressões que capturariam a verdadeira emoção de estar em Roma.
Suspirou. Sua profissão a deixava em êxtase.
As vozes de June e Arthur a trouxeram para a realidade. Os dois, além de serem seus colegas de trabalho, formavam um casal vibrante que contrastava com a visão pragmática da mulher. June, a loira dos cabelos esvoaçantes e ondulados, uma romântica inteiramente incurável. E Arthur, o moreno sorridente que deixava seu entusiasmo a cada lugar que passava com sua namorada.
— Você só pode estar brincando que vai continuar com esse olhar entediado no rosto, — June exclamou, ajeitando a bolsa nos ombros minúsculos. — Nós estamos em Roma e mesmo que a trabalho, esse lugar é perfeito para encontrar amor.
A animação da mulher era perceptível.
rolou os olhos.
— Claro, June. Porque é tão fácil encontrar o amor quanto tirar uma foto perfeita. — soltou, em ironia.
Ouviu a risadinha fraca de Arthur.
Sabia que irritaria a amiga ao falar daquele jeito. As duas tinham pensamento inteiramente opostos sobre o romance. Qualquer que fosse ele.
— Talvez você consiga os dois aqui, cuore. Nunca se sabe o que Roma pode te oferecer.
— Cuore?
a olho.
— É, coração. Andei estudando — deu de ombros. e Arthur riram.
— Você sabe que encontrar um amor — fez aspas com os dedos. — Não tá exatamente no topo da minha lista de prioridades, certo?
June arqueou as sobrancelhas ao ouvir, desafiando-a com um olhar expressivo.
Não perdeu o brilho em seus olhos ainda assim. Sabia que logo conseguiria convencer de que, de alguma forma, Roma tinha o poder de mudar até mesmo os corações mais céticos.
— Pode negar o quanto quiser, mas o amor está em todo lugar. É só uma questão de estar aberta para enxergá-lo — piscou.
Arthur, já acostumado com o mesmo assunto que vivia a surgindo entre as duas, interveio, de forma leve.
— Querida, você sempre vê o mundo por essas lentes cor-de-rosa do amor — ajeitou os fios loiros desajeitados da namorada com a ponta dos dedos. — Deixe encontrar o que quer que esteja a esperando, na hora certa. Ok?
deixou um sorriso escapar, ao olhar o amigo. Uma forma de agradecer por sua ajuda.
As palavras de sua amiga trouxeram à tona um sorriso irônico nos lábios da mulher. estava tão acostumada com a natureza otimista e apaixonada de June, quase todo o tempo, mas sabia que as diferenças entre elas eram tão vastas quanto os séculos de história que Roma carregava.
Enquanto June se entregava de corpo e alma para qualquer que fosse a história de amor, faria o possível para correr dela.
Sem pensar duas vezes.
— Tudo bem, vocês venceram. Mas só dessa vez — June apontou para os dois, antes de conseguirem um táxi.
Não demorou muito para que o trio colocasse suas bagagens no porta-malas.
se acomodou na janela aberta e enquanto o veículo percorria as ruas movimentadas da cidade, seus olhos captavam o traçado de Roma passando ao lado externo enquanto suas June e Arthur compartilhavam risadas abafadas a seu lado.
June olhou para a amiga rapidamente. Entendia perfeitamente que histórias de amor não eram exatamente o território em que ela se sentia mais à vontade.
Resolveu por deixá-la quieta, por enquanto, e não tocar no assunto.
A luz suave do fim de tarde banhava as ruas antigas, proporcionando uma atmosfera encantadora que contrastava com a intensidade do trânsito.
contemplava o cenário com um olhar distante, mergulhada nos próprios pensamentos; insistentes e incansáveis.
Conseguia ouvir, ao longe, sua amiga tagarelar sobre seus estudos e descobertas recentes, além de achar incrivelmente romântica a cidade, o que só fez o sorriso no canto dos lábios de crescer. A diferença entre as duas era notável.
O otimismo efervescente de June era contagiante, mas para , a realidade muitas vezes se manifestava de maneira mais complexa e intrigante.
Complicada demais. Enigmática demais.
Foi impossível não refletir sobre as escolhas que a trouxeram até ali.
Seus relacionamentos passados haviam sido como fotografias em preto e branco, cheias de momentos vazios e expressões desbotadas. Se lembrava das promessas quebradas, das palavras não ditas e das despedidas frias. Cada decepção deixada em seu coração se transformou em uma perspectiva inteiramente diferente do que ela tinha sobre o amor.
A ideia de se abrir novamente para a toda a vulnerabilidade emocional era algo que evitava a todo custo. Para , a solidão era uma companheira mais confiável do que o amor que poderia lhe quebrar em pedacinhos a qualquer momento.
O táxi se aproximou do hotel há poucos metros. A mulher olhou pela janela mais uma vez, observando as fachadas antigas e encantadoras que a arquitetura de Roma conseguia fornecer.
Uma sensação de melancolia a envolveu.
A beleza da cidade não seria suficiente para lhe fazer mudar de ideia.

Mercure Roma Centro Hotel, 19h28.


O sol romano havia se posto, deixando um crepúsculo rosado que tingia o céu com tons de laranja e púrpura. No hall do hotel, , June e Arthur se preparavam para explorar cada canto que pudessem da cidade à noite.
ajustava a alça de sua bolsa, onde sua câmera estava guardada, enquanto observava os detalhes elegantes do saguão do hotel. Sentia uma leve pressão em seu peito, uma mistura de ansiedade e expectativa.
E não sabia explicar o porquê de se sentir daquele jeito.
Desde que havia pisado no aeroporto, seu coração batia frenético como se algo importante demais fosse lhe acontecer.
Só não sabia se devia se preocupar com tal acontecimento.
Resolveu então focar sua atenção em apenas uma coisa: fotografar Roma e tudo o que pudesse até o fim daquela noite.
Aquilo até animaria, mais que o normal, mas a constante animação de seus amigos em relação ao romance a deixava um pouco desconfortável.
June, com seu vestido leve e os fios loiros esvoaçantes, continuava agarrada ao braço de Arthur, mantendo o sorriso radiante refletindo toda a excitação que sentia.
Arthur, sempre atencioso e com um olhar caloroso, segurava a namorada com firmeza, os dois parecendo um casal saído de um conto de fadas.
rolou os olhos, mas deixando um sorriso contido transparecer. Torcia muito pela felicidade dos dois, apesar de tudo.
— Céus, como pode um lugar ser tão lindo? — June exclamou, ajeitando a bolsa nos ombros minúsculos. — As ruas, as praças, as luzes... Tudo parece mágico demais!
assentiu, assim como Arthur.
Deixaria a amiga espalhar toda sua alegria e amor em paz.
Por enquanto.
— Concordo, amor. E tenho certeza de que vai capturar fotos incríveis.
Deu uma piscadela para a amiga que sorriu.
— Vou tentar fazer jus à cidade, pode deixar.
Os três saíram para a calçada, onde a brisa fresca da noite romana proporcionava um alívio muito bem-vindo após o calor do dia.
As ruas estavam vivas com o murmúrio de conversas, o som de música distante e o aroma tentador da culinária italiana. As fachadas dos edifícios históricos, iluminadas por luzes suaves, criavam um clima quase mágico.
Continuaram a caminhar pelas ruas estreitas de paralelepípedos e não pôde deixar de se sentir um pouco contagiada pela energia vibrante da cidade.
As ruelas se abriam em praças encantadoras, onde artistas de rua exibiam seus talentos e pequenos cafés transbordavam de vida e risos.
Foi impossível não tirar a câmera da bolsa, instintivamente ajustando as configurações enquanto capturava a essência noturna de Roma.
A cidade, sob a luz das estrelas e das luminárias antigas, parecia um cenário de filme, cheia de vida e história.
— Olhem! — June sorriu, apontando para um violinista que tocava alguma música encantadora em uma esquina próxima. — Isso é tão romântico!
deixou uma risadinha escapar, achando graça em cada reação que a amiga esboçava. Parecia uma adolescente.
Arthur, contagiado pela empolgação da namorada, puxou June para mais perto.
— Vamos, , tire uma foto nossa com ele ao fundo! Será uma ótima lembrança.
— Com certeza. Se posicionem!
assentiu, posicionando a câmera e enquadrando cuidadosamente o casal na imagem. June e Arthur se encaixaram, sorrindo felizes, enquanto o violinista tocava uma canção suave ao fundo, criando a cena perfeita.
— Prontos? Um, dois, três…
Clique!
E, enquanto observava a imagem dos amigos à mostra na tela de sua câmera, não percebeu quando seu rosto mostrava um sorriso quase nostálgico.
June e Arthur eram um casal incrível.
Talvez fosse a magia da cidade começando a trabalhar em seu coração cauteloso.
Ela sacudiu a cabeça, afastando o pensamento. Quando notou, o casal já estava longe da mesma.
— Ei, esperem por mim, pombinhos!

💘🏟️

A Fontana di Trevi estava à vista, sua grandiosidade refletida pelas luzes noturnas que iluminavam a água cristalina, realçando a beleza das esculturas de Netuno e seus tritões. A praça ao redor da fonte estava movimentada, cheia de turistas tirando fotos e fazendo desejos, mas isso só aumentava a magia daquele momento.
, June e Arthur caminhavam devagar, aproveitando o ambiente único.
Estavam degustando um gelato, que de acordo com June, era o doce italiano perfeito para uma noite como aquela que aproveitavam.
saboreava um sorvete de pistache, enquanto June tinha uma combinação de morango e limão, e Arthur havia escolhido o de chocolate e baunilha.
O trio passou a andar mais devagar.
Arthur, que estava a alguns passos à frente, resolveu se afastar das amigas e fazer algumas anotações para o trabalho, como sempre costumava fazer. E, enquanto as duas ficaram sozinhas, June aproveitou a oportunidade para puxar conversa sobre um assunto que estava há muito tempo em sua mente.
, — iniciou, com a voz suave e delicada. não se deu ao trabalho de virar o olhar para a amiga. Murmurou um “hm”, a fazendo continuar. — Porque sempre evita falar de sua vida amorosa?
revirou os olhos, já antecipando o rumo da conversa.
— Você sabe que não acredito nessas coisas. Já passei por relacionamentos vazios demais para achar que vale a pena investir nisso outra vez, June.
A amiga suspirou, lançando um olhar compreensivo ainda assim.
— Sei que teve experiências ruins. Mas não acho que você deveria desistir. O amor verdadeiro está por aí, pode ter certeza. Realmente torço para ver você encontrar alguém especial.
deu de ombros, tentando desviar a conversa.
— Não precisa se preocupar com isso. Estou bem assim. Prefiro focar no meu trabalho e nas coisas que posso controlar.
June parou de andar e olhou diretamente nos olhos de , seu olhar cheio de sinceridade. O gelato permanecia em suas mãos.
— Eu entendo, amiga. Entendo de verdade. Mas só quero que você esteja aberta para a possibilidade. Quem sabe o que te espera?
suspirou, chegando à borda da Fontana di Trevi. Seus pensamentos rodeavam as palavras de June quase sempre, sobre encontrar alguém e o que a esperava.
Não notou quando June retirou uma moeda de seu bolso e um sorriso travesso tomou conta de si.
— Acho que podemos resolver isso.
— June…
— Não. É sério, — levantou o indicador. Estendeu a moeda. — Não quer fazer um desejo? Agora é a hora.
— Sabia que essa é uma das coisas que também não acredito?
arqueou a sobrancelha, em descrença.
June não se deixou abater pelo ceticismo da amiga e, mantendo o sorriso travesso no rosto, segurou a moeda com firmeza, determinada a não deixar escapar dessa tradição.
— Sei bem. Mas um pouquinho de fé não faz mal a ninguém, não é? — piscou. — Vai lá, faz um desejo. Quem sabe?
soltou outro suspiro, balançando a cabeça. Mas sorriu com tamanha insistência de sua amiga.
Pegou a moeda das mãos de June, sentindo a frieza do metal contra sua pele. E enquanto olhava para a água da Fontana di Trevi, a mulher ponderou sobre o que realmente queria.
Fechou os olhos por um momento, deixando que um pensamento sincero tomasse forma em sua mente.
Não seria de todo mal desejar algo como aquilo, certo?

Se o amor verdadeiro realmente existe, como todos dizem, quero ver com meus próprios olhos.

A frase ecoou por sua mente uma única vez.
Com um gesto rápido, lançou a moeda na fonte, a vendo descer para o fundo se misturando com as outras milhões que tinham ali.
O som suave da água se misturou ao burburinho dos turistas ao redor e sentiu uma estranha sensação de alívio.
Ao olhar para June, viu a amiga comemorando, os olhos brilhando de alegria e esperança, em uma dancinha para lá de engraçada.
— Sim! — exclamou a amiga, dando um pequeno salto de felicidade. riu. — Isso mesmo, ! Agora é só esperar.
— Esperar o quê, June?
riu, contagiada pelo entusiasmo de sua amiga, e sentiu uma leveza inesperada. Apesar de seu ceticismo, a cidade eterna parecia ter um jeito de fazer até mesmo os corações mais endurecidos acreditarem em um pouquinho de magia.
— Como assim o quê, oras? Esperar seu desejo se realizar.

💘🏟️


No alto das nuvens de Roma, onde o ar é rarefeito e o tempo parece fluir de maneira diferente, , um cupido esbelto e focado em seu trabalho, repousava em uma almofada macia de vapor, observando a terra um pouco mais abaixo.
era gracioso e encantador, com olhos que refletiam a luz das estrelas e um sorriso que irradiava uma calma ancestral, inexplicável. Suas asas, grandes e branquíssimas, se moviam suavemente como uma brisa ancestral, enquanto observava o mundo humano com uma atenção quase meticulosa.
A cidade de Roma, eterna e mística, estava especialmente iluminada naquela noite em específico. As ruas estreitas e os edifícios antigos pareciam brilhar sob a luz das estrelas e das lâmpadas. , fascinado pela beleza e complexidade da cidade, estava atento aos pedidos que surgiam de cada canto.
Analisava cada um com paciência e cuidado, chegando até a achar graça de alguns que eram feitos pelas mentes mais simples e vazias.
Quero ter mais dinheiro.
Quero ter uma carreira de sucesso.
Quero conquistar o mundo.
Os desejos, embora compreensíveis, muitas vezes eram desprovidos de profundidade e de um verdadeiro entendimento do que era mesmo a felicidade.
Ele, como um cupido designado a atender os pedidos mais sinceros do coração, tinha uma missão mais elevada: ajudar os humanos a encontrar e compreender o que existe no fundo de seu coração.
Sabia que esses desejos materiais frequentemente ocultavam uma busca mais profunda por conexão e sentido.
E, enquanto continuava sua vigília celestial, algo diferente e curioso chamou sua atenção. Um brilho suave e dourado emergiu da Fontana di Trevi, um sinal claro de um desejo sincero e poderoso.
se inclinou para frente, os olhos ainda fixos na fonte. Sentiu um puxão suave em seu coração, algo que indicava que aquele pedido merecia atenção especial e sorriu.
— Que interessante…
Murmurou para si mesmo.
Era raro encontrar um pedido tão puro e sincero, especialmente em uma cidade cheia de turistas e desejos superficiais. E ainda mais fascinante era o fato de que não acreditava no amor verdadeiro.
A ironia disso despertou um sentido de desafio em .
Se sentiu tentado a mostrar à mulher que o amor realmente existia, sim, que era mais do que apenas uma fantasia ou uma história contada em filmes e livros.
E que a pessoa responsável por aquilo era .
se levantou da sua almofada de nuvem, suas asas se estendendo majestosas enquanto ele descia em direção à Terra, ainda invisível aos olhos humanos. Pairou sobre a Fontana di Trevi, observando que se afastava com seus amigos, June e Arthur.
A mulher estava sorrindo, mas podia ver a barreira emocional que mantinha erguida, o escudo que protegia seu coração de todas as decepções.
tinha uma beleza sutil e elegante. Seus cabelos castanhos, levemente ondulados, caiam suavemente sobre os ombros, captando a luz das lâmpadas da cidade e criando reflexos dourados. Seus olhos, de um profundo tom esverdeado, carregavam uma intensidade e uma melancolia que achou intrigante.
Eles eram janelas para uma alma que havia conhecido tanto a dor quanto a esperança, revelando uma profundidade emocional que ela escondia cuidadosamente atrás de um sorriso ligeiramente irônico.
se encantou não apenas pela aparência de , mas pela aura que a mulher emanava. Havia algo profundamente humano e real nela, uma combinação de força e vulnerabilidade que o cupido achou irresistivelmente fascinante.
Se aproximou um pouco mais, mesmo não conseguindo vê-lo e não podia estar mais decidido.
— Parece que seu pedido será atendido, .




Continua...



Nota da autora: Olá, leitoras! Espero que estejam gostando da história. Confesso que estou animada para saber o feedback de vocês.
Até a próxima,
Isy!





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