Última atualização: 22/04/2018

Novo Mundo

— O que?! — foram as únicas palavras que consegui dizer quando me ligou fazendo o pedido mais louco e surreal da minha vida.

Deixei todo o projeto em que trabalhava, peguei a minha bolsa e saí correndo pelas ruas de Tóquio ainda não sabendo como lidar com a mais nova loucura do meu melhor amigo, assim que cheguei a funerária onde a família Kawachi estavam velando o avô de meu amigo, o avistei na porta de acesso ao jardim. Parecia observar algo ou alguém.

. — disse ao me aproximar — Vim o mais rápido que consegui.
— Obrigado. — ele manteve seu olhar para o jardim e apontou para uma criança que estava agachada na grama mexendo em uma flor do campo.
— Então, é ela? — perguntei.
— Sim.

Naquele momento sim eu havia paralisado, no fundo pensava que ele estava brincando ou algo do tipo, mas vendo a criança tudo se confirmava. A pequena Rin tinha seis anos de idade e era uma filha considerada bastarda do falecido avô de , ninguém na família sabia da existência da criança e agora todos queriam enviá-la para o orfanato, porém sendo contra, a primeira reação foi me pedir ajuda como sempre.

— Então, você vai me ajudar? — perguntou.
— Primeiro vamos tirar essa criança daqui, depois veremos o que acontecerá. — disse me afastando dele e indo em direção a criança.

A primeiro momento Rin se encolheu, mas logo me lembrei de alguns conselhos que minha irmã mais nova Jenie havia me dado, sobre como me aproximar de uma criança tímida.

— Olá Rin… Tudo bem? — perguntei de forma mais meiga.

Ela continuou com a face abaixada.

— Está com fome?! — eu remexi de leve meu bolso para pegar uma barrinha de chocolate que sempre deixava — Gosta de chocolate?!
— Hum. — ela assentiu com a cabeça e ainda com receio pegou a barra.
— Que tal irmos para casa? — estiquei a mão para ela e sorri.

Ela olhou por um tempo para minha mão, porém mesmo com receio segurou com firmeza, parecia confiar em mim, assim nos aproximamos dele e saímos daquele lugar triste cheio de pessoas sem coração. Agora iria começar as dificuldade, afinal ainda morava com seus pais por causa de algumas dívidas, que contraiu no tempo da universidade e do pouco salário que ganhava no emprego que estava desde a universidade.

— O que faremos? — perguntou ele.
— Tenho certeza que a casa dos seus pais não está em nossas opções. — respondi pensando em algo — Precisamos de algo urgente.

Eu não tinha família no Japão, minha bolsas de estudos para a pós-graduação estava inclusa morar nos dormitórios da universidade e atualmente depois de formar, dividia um pequeno apartamento com mais quatro garotas, ou seja, não tinha exatamente onde morar. Ficamos um longo tempo até chegar a hora do almoço, sentados na mesa de uma cafeteria discutindo o que faríamos diante a situação, enquanto Rin fazia seu lanche reforçado.

— Estou te colocando nessa situação e nem sei se vai mesmo me acompanhar. — reclamou ele.
— Se estou aqui… — cruzei os braços — Somos amigos desde criança, acha mesmo que te deixaria na mão com uma coisa dessas? Estamos falando do futuro de uma criança.
— Eu sei. — ele sorriu de canto — Só fico pensando que, você tem sua vida e não é obrigada a…
— Pare esta frase. — ordenei — Devo admitir que fiquei em choque quando me pediu para ser mãe de uma criança com você, mas vamos conseguir fazer dar certo.
— Fico mais aliviado e seguro com você me ajudando.

Seu olhar brilhava um pouco, o que me deixava meio encantada por ele, era um bom amigo, mas eu jamais tinha pensado em ter algo com ele e agora nessas circunstância seria ainda mais louco e estranho. Um estalo se deu em meus pensamentos, me fazendo lembrar de uma amiga da universidade que o pai que era corretor de imóveis, liguei para ela e contei a história e de imediato seu pai, o senhor Takeda se sensibilizou e prontificou em nos ajudar.

De todos os lugares que visitamos naquele dia, não havíamos encontrado nenhum, então tanto eu como Rin e nos abrigamos na casa de minha chefe Sakura, que assim que expliquei já quis ajudar também. Dois dias se passaram conosco procurando por um lugar para morar, enquanto isso nossos amigos do trabalho haviam se reunido para encontrarem móveis usados e de bom estado para serem doados a nós. Seguindo a indicação de minha chefe, matriculei Rin em uma creche comunitária que ainda havia vagas para período integral.

Finalmente, depois de uma semana negativa, o senhor Takeda encontrou uma pequena casa que se aproximava de nossas condições, porém o valor ainda me obrigaria a fazer hora extra no meu trabalho e a mudar de função no seu para conseguir melhor remuneração e tempo para passar com rin, já que eu ficaria até bem mais tarde. Era um fato que dinheiro estava sendo o nosso maior problema, porém não deixaríamos que faltasse amor a pequena Rin.

— Então o que acharam? — perguntou o senhor Takeda.
— É pequeno, porém acho que poderemos pagar. — disse ao olhar para , seu olhar era um pouco preocupante.
— Acho que sim. — sussurrou ele mantendo Rin ao seu lado e segurando sua mão — É o que podemos pagar.

O senhor Takeda não demorou muito para preencher o formulário e recolher nossas assinaturas, finalmente tínhamos um lugar para morar, mesmo que pequeno e relativamente ainda sem móveis. Eu poderia até pedir ajuda às minhas irmãs, mas tínhamos uma pequena promessa de infância que nos impedia de depender uma da outra. Deveríamos conquistar nossos objetivos por conta própria, então não iria preocupa-las à toa.

- x -

— Bem, acho que agora sim se parece com uma casa. — suspirei franco sentindo algumas dores nas costas — Como é bom ter amigos!!!
— Sim. — concordou ele se sentando no sofá ao lado de Rin que já saboreava os pedaços de melancia que Sakura havia trago para nós — Se eles não tivessem vindo, acho que demoraríamos mais que um final de semana para colocar tudo no lugar.
— Pelo menos agora não temos teia de aranha e mofo pelas paredes. — ri de leve — E seus amigos da empresa fizeram um belo trabalho naquele pequeno espaço lá trás.
— Fala do jardim?!
— Eu não chamaria aquele quadrado de um por um de jardim, mas acho que deu um bom espaço para Rin brincar enquanto toma sol. — expliquei.

Ele riu mantendo seu olhar em mim, estava um pouco mais intenso que o habitual. conseguia ser tão enigmático quando queria, ainda mais em seus pensamentos sobre mim que sempre me deixava curiosa e confusa. Confesso que já havíamos feito uma promessa de amigos que se nenhum de nós se casasse com outra pessoa até os 30 anos, então nos casaríamos. O que eu achava uma loucura já que sempre foi popular na escola e eu a nerd que só pensava em estudar, tinha certeza que ele se casaria antes mesmo de formar na universidade.

Desviei meu olhar para Rin que já havia terminado de comer a melancia.

— Venha Rin, vamos tomar banho pois amanhã é um novo dia cheio de diversão na escola. — disse esticando a mão para ela.

Rin assentiu dando um sorriso e segurou em minha mão.

— Louça suja é sua. — adverti que fez um bico.
— Porque?! — reclamou — Odeio lavar louça.
— Yah, foi eu que fiz o jantar. — retruquei — A louça é sua.

Saí rindo em direção ao banheiro, assim que terminou o banho de Rin, a coloquei na casa para dormir. A casa além de pequena só tinha um quarto que eu dividiria com a Rin, enquanto dormiria no sofá da sala, seria um longo caminho para juntarmos dinheiro e ter mais conforto.

— Boa noite. — sussurrou ele ao aparecer na porta do quarto.
— Boa noite. — sussurrei de volta ao encostar o dedo na tomada para apagar a luz.

Nossa primeira noite na casa nova passou mais rápido que o primeiro mês em nossa vida nova, quanto mais o tempo passava, mais iam aparecendo outras dificuldades pela frente, principalmente se tratando de nossos horários de trabalho. Após várias vezes nos atrasando para pegar Rin na creche, resolvi abrir mão de fazer as horas extras na editora e sair no meu horário para pegar Rin e trabalhar em casa mesmo.

Não era fácil abrir mão de muita coisa para estar ao lado de , mas não o abandonaria e nem a Rin, em poucos meses já estava mais do que apegada aquela criança, de uma forma tão especial que já me sentia sua irmã mais velha. E quanto a minha amizade com , estava um pouco estranha e confusa.

— Está tudo bem?! — perguntou ele assim que passei pela sala indo em direção ao quarto.
— Sim, por que não estaria? — mantive meu olhar para frente.
— Você está estranha. — ele se levantou do sofá.
— Estranha? Eu? — o olhei confusa — Só estou cansada , assim como você.
— Admito que temos trabalhado muito, mas não é isso. — ele se aproximou e segurou em minha mão.
. — eu tentei me soltar, mas ele continuou segurando com suavidade.
— Olhe para mim. — insistiu — O que há de errado?
— Já disse, nada. — respirei fundo — Só ando estressada com o trabalho, mas vai ficar tudo bem.

Me soltei dele e segui para o quarto rapidamente, desta vez fechando a porta, geralmente eu nunca fechava a porta.

— Você fechou a porta. — gritou ele da sala — Ainda pergunta?!

Talvez eu não quisesse admitir, mas meu coração estranhamente passou a acelerar sempre que eu estava perto dele, o que me fazia ficar o mais longe possível quando estávamos em casa juntos. Felizmente sempre usava a desculpa de ficarmos o mais perto da Rin possível, assim ela não sentiria tanta falta de nós quando estivesse na creche, o lado bom é que todo domingo promovemos passeios educativos para ela perder um pouco da sua timidez.

Todos os conselhos sobre crianças estava tendo com minha irmã Jenie, ela havia se casado recentemente com um arquiteto viúvo que já possuía dois filhos. Infelizmente não pude ir ao casamento dela por causa do meu trabalho e dos estudos de especialização, não era fácil trabalhar na Vogue Japan, principalmente quando se inicia como uma reles estagiária estrangeira.

Entretanto estava feliz, finalmente após quase quatro anos trabalhando naquela editora e cinco promoções, estava começando a fazer algo que gostava, fotografia e edição de fotos. Era cansativo passar metade do dia sentada e a outra metade em pé, mas no final valia a pena, meu trabalho era recompensado e tudo dava certo nas edições que eram publicadas com minha assinatura de fotógrafa.

- x -

— O que?! — e mais uma vez havia me ligado pela manhã para me dar outra notícia que abalou minha estrutura.

Rin havia desaparecido da creche e meu coração já não estava mais batendo quase, desliguei o celular já tremendo e pegando minha bolsa, saí pela redação pedindo ajuda para procurá-la. Felizmente todos se prontificaram e saímos às ruas a sua procura, tanto eu e as pessoas mais próximas da editora, como e seus amigos do trabalho, eu tentava me manter calma sem sucesso enquanto entrava por entre as ruas gritando seu nome.

. — disse ao me encontrar na rua perto da creche.
— Eu não… — segurei as lágrimas — .
— Calma. — ele me abraçou apertado — Vamos encontrá-la.
— Não deveria ter alguém em casa? Caso ela volte para lá. — sugeriu um amigo da empresa de .
— Sim. — concordou minha chefe — Venha comigo , nós ficamos lá caso ela volte para casa.

Assenti ainda sentindo meu coração apertado, na minha situação emocional eu não conseguiria procurá-la direito.

, procure ela no lugar mais improvável para nós, um lugar que seja significativo para ela. — sugeri a ele me afastando.
— Eu vou, prometo que a trarei de volta para casa.

Respirei fundo indo para o carro de Sakura e ele seguiu para o outro sentido.

Mesmo em casa, mesmo com Sakura me fazendo companhia, não conseguia me manter tranquila, cada minuto sem notícias era um desespero a mais em meu coração, nem mesmo o chá que ela havia preparado para mim, consegui tomar. Ao final da tarde apareceu com ela em seus braços, não aguentei a emoção de vê-la novamente em segurança e desabei em lágrimas, indo abraçá-los.

— Eu disse que a traria de volta. — sussurrou ele.
— Ela parece cansada, coloque-a na cama.

Ele assentiu indo em direção ao quarto.

Aproveitei o momento para acompanhar minha chefe a porta e agradecer a todos pelo telefone e avisar que já estava tudo bem.

— Rin está dormindo tão tranquila, nem parece que fez o que fez. — comentou ao adentrar na sala.
— Onde ela estava?! — perguntei.
— No lugar mais improvável porém significativo. — respondeu — No cemitério visitando o túmulo do meu avô.

Soltei um suspiro cansado.

— Acho que preciso de um pequeno descanso agora. — comentei indo em direção ao quarto.
— Espera. — ele segurou em minha mão.
— O que?!
— Hoje… Você se preocupou como uma verdadeira mãe… — disse ele num tom mais baixo.
— Não foi para isso que me pediu ajuda? Após esses meses cuidando dela, já posso dizer que a amo como se fosse minha filha. — expliquei.
— É por isso que tenho que confessar, o que já deveria ter confessado antes. — continuou ele.
— Confessar o que? — perguntei temerosa.
— Que meu coração é seu. — seu olhar estava intenso como sempre, porém com um certo brilho — E não existe outra mulher que eu queira ter uma família, além de você.

Ao mesmo tempo que meu coração pulava de alegria com suas palavras, meu cérebro estava em choque.

— Obrigado por ser minha melhor amiga… Mas agora também quero que seja minha esposa. — ele se ajoelhou no chão parecia segurar a emoção — Você me aceita?!
— Seu bobo. — a primeira lágrima caiu — É claro que aceito.

Ele se levantou de imediato e me beijou da forma mais doce e carinhosa do mundo, meu corpo se aqueceu por dentro e uma certeza se instalou em meu coração, nossa pequena e surpreendente família seria feliz e repleta de amor.

“Eu o protegerei com um amor que nunca mudará.
Olhando nos seus olhos, palavras são desnecessárias, o tempo parou.

Eu te amo, desse jeito. O desejado fim da nossa caminhada sem destino,
Eu deixo de lado a tristeza sem fim deste mundo,
Caminhando pelos diversos e desconhecidos caminhos, eu sigo uma luz fraca,
É algo que faremos juntos até o fim, no meu novo mundo.”
- Into The New World / Girls' Generation

Amizade: Em alguns casos, uma pura e verdadeira amizade pode se fortalecer mediante a dificuldade, se tornar amor e construir uma pequena e surpreendente família.” - by: Pâms



The End!



Nota da autora:
Para quem já leu minha fic Genie, deve ter notado uma referência ali, sim é uma leve spin-off de Genie, que não leu já indico a ler. Uma fic baseada no anime/live-action Usagi Drop, que gostei muito e deixei o final a meu gosto, já que pelo que vi de spoiler a autora acabou com a história.
Espero que tenham gostado, críticas construtivas, sugestões e elogios são bem vindos.
Bjinhos...
By: Pâms!!!!
Jesus bless you!!!




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