Última atualização: 10/02/2016

[Capítulo Único]

Estava eu, passando pela Pracinha dos Amores, segurando a sacola de verduras que minha mãe me pediu para comprar, quando o avistei sorrindo para mim.
– Ainda bem que te encontrei, queria mesmo falar contigo. - Ele disse, enquanto caminhava em minha direção.
– Pois então, fale. - Respondi curiosa.
– Meus pais farão uma ceia de natal especial esse ano e, você e sua mãe estão convidadas. - Engoli o seco.
Minha mãe não gostava de muito contato com a família de . Não sei de muita coisa, só que Mr. vem falindo há anos e culpa meu pai até hoje por isso.
Não tive a oportunidade de conhecer meu pai, mas minha mãe contou que ele foi um funcionário de muita confiança do Mr. . Porém, foi acusado injustamente de roubo por um colega de trabalho e o pai do acreditou no homem, e meu pai foi demitido.
O mais estranho é que Mr. não chegou a denunciar meu pai, e pouco tempo depois, ele foi dado como desaparecido.
Minha mãe nunca disse nada a respeito, mas creio que ela desconfie do Mr. . E se ela realmente pensa assim, eu não a culpo por isso.
, acho muito difícil minha mãe ir e ainda permitir que eu vá. - Disse sinceramente.
– Você pode convencê-la - ele disse, animado e eu forcei um sorriso. – Meus pais são insistentes, de uma forma ou outra sua mãe aceitará. - disse confiante.
– Eu tentarei. - Ele sorriu satisfeito e assentiu. – Agora eu preciso ir, minha mãe tá me esperando para o almoço. - O abracei e me virei, seguindo o caminho de casa.

Cheguei a minha casa, encontrando minha mãe já preparando a refeição.
– Que demora, ! - Reclamou irritada.
– É que eu encontrei no caminho e conversamos um pouco. - Minha mãe me olhou torto e eu repensei se realmente deveria contar a ela sobre o convite. – Mãe, o disse que seus pais farão uma ceia de natal diferente esse ano e, nos convidaram para participar.
– Quê? - ela ergueu as sobrancelhas e descansou uma das mãos no quadril. – Você acha mesmo que eu irei a casa daquele homem? E pior, acha que eu te levaria àquele lugar?
– Mãe, o ficou bastante animado com a ideia e eu também. - Confessei, afinal, eu gostaria de ir – E, seria tão legal se...
– Não iremos! - Afirmou firmemente – Não tenho nada contra o , eu até gosto dele. O meu problema é com o pai dele. - Disse, se virando para cortar mais legumes.
– Exatamente, o seu problema é com o pai dele, não com o resto da família dele.
– Mas é ele o dono da casa. - Ela continuava cortando os legumes – , não insista.
– Eu quase não falo com as pessoas aqui da cidade, você só me deixa sair pra fazer compras. E isso é raro de acontecer! - Ela desviou seu olhar para mim – Os únicos amigos que eu tenho são , Clinton e Whitney. - Ergueu as sobrancelhas – Você poderia, pelo menos desta vez, me deixar ter um natal de verdade. - Eu disse num tom melancólico.
– É pensando em você que eu recuso o convite. - Bufei de raiva – Você sabe que já está na idade de compreender as coisas.
– Tá bom.
– Eu não faço isso para te magoar, . - A encarei – É pelo excesso de cuidado por você.
– É o que você sempre diz. - Respirei fundo – Legumes... Mais um dia comendo apenas legumes.
– Me desculpe por trabalhar dia e noite e mesmo assim não ter condições de te dar não só uma refeição, mas uma vida melhor. - Ela respondeu, chateada e eu me senti mal por isso.
– Desculpe, eu...
– Não precisa se desculpar, é só a verdade, não é mesmo?! - Suas lágrimas desceram e eu, realmente, me senti péssima por ter falado demais. – Se você ainda quiser se alimentar, termine de preparar o almoço, porque eu perdi a fome. - Ela caminhou até seu quarto e conforme bateu à porta, a maçaneta caiu.
Minha mãe não lucrava tanto como costureira e eu apenas a ajudava no que podia. Já pensei em trabalhar, mas ela não permitiu. Disse que meus estudos são mais importantes, só que eu não aguento mais essa situação de pobreza!
E pensar que, se não formos à casa do no natal, teremos nada além de legumes para cear. Não seria um pouco de egoísmo de minha mãe? Ou seria egoísmo de minha parte?

Passado alguns dias, desde quando falei com minha mãe sobre a ceia na casa do , ela ficou pensativa.
24 de dezembro e eu ainda não tinha certeza se iria ou não à ceia.
O pior é que nem panos novos, para fazer nossos vestidos, minha mãe tinha sobrando.
- Ela me chamou do seu pequeno e simples atelier. – Experimente. - Me entregou um vestido preto rendado, estilo boneca.
– Como conseguiu panos? - Perguntei, sem tirar os olhos do vestido.
– Estes eu guardava há tempos. - Ela sorriu satisfeita. – Vá experimentar!
Fui ao meu quarto e coloquei o vestido, me impressionando com o que vi. Comprimento, largura, cor, modelo... Tudo ficou lindo!
– O que achou? - Minha mãe surgiu no meu quarto.
– É perfeito! - Dei uma voltinha, fazendo a barra do vestido se abrir.
– Fico feliz que tenha gostado. Tome. - Ela me entregou um par de luvas também rendadas e eu as calcei. – Use o vestido com suas sapatilhas azul turquesa, àquelas que eu te dei no seu aniversário e eu colocarei um laço da mesma cor em volta de sua cintura.
– Então, iremos à ceia?
– Obviamente, eu não gastaria pano em vão. - Ela disse rapidamente, ingenuidade minha pensar que ela responderia de outra forma. Ri fraco com o meu pensamento. – Agora eu farei o meu, só me chame se for uma emergência.
– Tá bom. - Ela já ia saindo – Obrigada mãe, eu amei o vestido. - A abracei forte e recebi um beijo no topo de minha cabeça.
– Não podia decepcioná-la.
– Sem dúvida é uma das suas melhores criações! - Afirmei com sinceridade e ela sorriu largamente e foi para o seu quarto.
Não queria retirar o vestido, mas se algo acontecesse com ele, eu não me perdoaria. E nem minha mãe.

Passei a tarde fazendo o pouco de unhas que me restavam e minha mãe terminou seu vestido. Ele era longo e delicado, na cor roxa.
– Gostou do meu? - Perguntou já vestida.
– Sim. Além de lindo, realçou as suas curvas.
– Não está dizendo isso só por que sou sua mãe, não é mesmo? - Ela ergueu uma sobrancelha, me fazendo rir.
– Claro que não.
– Se estiver mentindo...
– Eu não estou, acredite em mim! - Ela respirou fundo.
– Ok. Preciso que você vá até o mercadinho e compre alguns ingredientes, farei uma sobremesa para levar amanhã. - Disse, me fazendo estranhar. – Que foi?
– Há mesmo necessidade de levar? - Perguntei inocentemente – Quero dizer, eles são ricos, terão várias outras sobremesas melhores.
– Primeiro: Eu cozinho tão bem que nenhum doce luxuoso será digno de ser comparado ao meu; segundo: não passarei a vergonha de ir sem levar nada; e terceiro: vá e volte sem demora. - Ela escreveu algumas coisas em um papel qualquer e me entregou. – Seja rápida!
Coloquei meu calçado e fui até o mercadinho, tentando ser mais rápida possível.
Já na volta, encontrei na Pracinha dos Amores.
– Oi, . - Ele disse sorridente. – Ansiosa para amanhã?
– Confesso que estou um pouquinho, sim.
– Hum, é quase um milagre você estar animada para algo. - Arqueei minhas sobrancelhas e ele riu.
– Isso não é verdade, hein! - Eu parei um pouco para pensar – Só na maioria das vezes... - Acabei rindo junto com ele.
– Seu sorriso é encantador. - Disse repentinamente, me deixando encabulada.
– Assim como o seu - retribuí o elogio. – Bem, eu preciso ir agora.
– Eu te acompanho. - Assenti.
Caminhamos devagar e conversamos um pouco sobre o que estávamos aprendendo na escola, até que chegamos ao destino final.
– Bem, então nos vemos amanhã. - Ele sorriu fofo, como de costume.
– Sim, e agradeço a companhia. - Ele assentiu, ainda sorrindo e foi embora.
Já entrei em casa me preparando para ouvir reclamações de minha mãe.
– Que demora foi essa, ? - Perguntou preocupada.
– Encontrei na pracinha. - Dei a sacola para minha mãe e peguei uma jarra na velha geladeira. Despejei a água no copo.
– Você gosta dele? - No primeiro gole, me engasguei.
– Q-que pergunta é essa? - Respirei fundo, tentando normalizar minha respiração. – Eu gosto do , mas não passa de amizade.
– Sei... - Minha mãe respondeu, desconfiada. – Lave suas mãos e me ajude a amassar esta massa aqui. - a obedeci.
Viramos a noite fazendo a sobremesa.
Depois de pronta, minha mãe foi se deitar e eu fui para o meu quarto. Fiquei escrevendo num diário que ganhei há anos de minha avó, quando ainda era viva. Não tinha muito tempo para isso, mas, vez ou outra eu escrevia nele. Era sempre um desabafo sobre a minha vida.

Estava concentrada nas palavras e me perdendo nos meus pensamentos, quando ouvi um barulho vindo da árvore, que se localiza perto da janela do meu quarto.
Sim, eu me levantei e fui até a janela para descobrir que barulho era esse. estava em cima da árvore, acenando para mim.
– Tá fazendo o que aí?
– Vim te ver, oras. - Ele respondeu.
– Você é maluco? Já está tarde! - Eu disse um tanto brava, estava preocupada.
– Fique tranquila, daqui a pouco estou indo para casa. - Eu assenti e ele sorriu de um jeito fofo. – Eu só queria mesmo ver você. De novo.
– Falando assim até parece que... - Estava prestes a terminar a frase, mas caí em si e me calei.
– Até parece quê? - Ele arqueou as sobrancelhas, curioso, e eu fiquei envergonhada.
– Nada! - Respondi tentando me manter firme. – Você Já me viu, agora tchau. - Eu estava um pouco nervosa.
– Você já foi mais delicada. - Ele disse para me provocar, mas não me importei.
, to falando sério. É perigoso andar na rua nesse horário.
– Então você se preocupa comigo?
– Quando foi que eu não me preocupei com você? - Cruzei os braços e ergui as sobrancelhas.
– Sabe que eu nem me lembro?! - Ele me jogou uma pedrinha e eu bufei. – Agora eu vou, te vejo na ceia.
– Até. - Ele já ia descendo a arvore, quando chamei sua atenção: – , tome cuidado! - Pedi e ele sorriu, largamente.
Ah, que garoto louco!
Graças a Deus, minha mãe ainda não veio aqui no quarto, porque ela tem o costume de vir me olhar todas as noites. Mas, se não veio ainda, certamente virá.
Apressei-me em deitar, antes que eu encarasse a fúria da minha mãe me vendo fora da cama.
Acabei pegando no sono rapidamente.

! - Ouvi alguém me chamar e abri os olhos devagar. Era minha mãe. – Já são 11:46h.
– AHHH- gritei com o susto. Ela estava com o rosto verde e uma toalha enrolada na cabeça. – O QUE É ISSO?
– Deixa de graça, menina - Ela disse, rindo fraco – Eu só to usando um creme que uma das minhas clientes me deu, ela disse que é ótimo para o nosso tipo pele. - Assenti e me sentei na cama. – Vamos almoçar.
– Estou sem fome.
– Mas vai comer. - Saiu do meu quarto e eu me levantei preguiçosamente.
Respirei fundo, aliviada por ela não ter comentado nada sobre algum barulho estranho no meio da noite. Minha mãe tem o sono muito leve e, além disso, é toda desconfiada, com tudo e todos.
- Ela surgiu na porta do quarto, com metade do corpo para fora – Ontem ouvi a voz do .
– Que estranho... - Eu disse sínica e ela ergueu uma sobrancelha, estava intrigada. – Em qual horário aconteceu isso?
– Pela madrugada.
– Será que não era o Papai Noel? - Ela soltou uma risadinha. – Há há há, engraçadinha! - Eu ri alto.
– Na próxima vez, eu arrumo uma desculpa melhor. - Ela deu um passo à frente e descansou uma mão na cintura. – Por que está me olhando assim? - Perguntei sinicamente.
– Não vai ter próxima vez, porque eu não quero o vindo aqui pelas madrugadas. - Bufei – Nós estamos entendidas?
– Sim.
– Ótimo! Agora vamos almoçar - Antes que eu tivesse tempo de perguntar, ela respondeu: – Legumes.

Almoçamos e passamos a tarde nos arrumando, da forma que nós podíamos. Não temos muitos recursos, mas conseguimos ficar apresentáveis para a ceia.
Já prontas, minha mãe pegou sua bolsa e eu a sobremesa.
Saímos rumo à casa dos .
Passamos pela Pracinha dos Amores e vimos alguns conhecidos da minha mãe. Desejamos “Feliz Natal” a todas aquelas pessoas (algumas eu nunca tinha visto) até chegarmos à casa do Mr. .
Tocamos a campainha e uma mulher, que eu diria ser a colaboradora da família, nos atendeu.
– Oi, boa noite. Fomos convidadas pelo...
– Mr. e Mrs. , eu sei. - A colaboradora a interrompeu num tom apressado e entediado, deixando minha mãe um tanto indignada. – Me acompanhem.
Passamos pelo jardim, muito bem cuidado por sinal e, não pude deixar de reparar na casa da árvore que havia ali. Antiga, porém, conservada.
Passamos por mais algumas plantas, até chegar frente à porta de entrada da casa.
– Mr. e Mrs. , suas convidadas... - A mulher disse sorridente, mas logo nos olhou com desdém e deixando claro a sua insatisfação por estarmos ali. A contra gosto, ela nos deu passagem para adentrar a casa.
– Boa noite. - Eu e minha mãe dissemos em uníssono.
– Boa noite, meninas. - Mrs. se aproximou de nós – Sejam muito bem-vindas! - Disse sorridente, nos cumprimentando.
– Eu trouxe isto, espero que gostem - Minha mãe disse, mostrando a sobremesa em minhas mãos.
– Oh, parece delicioso, obrigada. Mas não precisavam se incomodar, meninas. - Mr. disse surpresa.
– Não foi incômodo algum.
– Lourdes, leve a sobremesa para a mesa, por gentileza. - Mrs. pediu a colaboradora e ela forçou um sorriso, obedecendo à patroa e tomando a travessa de porcelana das minhas mãos.
Reparei que minha mãe estava incomodada com os olhares da mulher sobre nós, mas ela teria que se segurar durante toda a noite.
- me chamou animado, correndo em minha direção. Abraçamo-nos fortemente. – Como conseguiu convencer sua mãe? - Sussurrou em meu ouvido.
– Só lembrei a ela alguns fatos sobre nossa vida. - Sussurrei de volta e ele se afastou um pouco para me olhar.
– Quer ir ao meu quarto? - Perguntou me deixando surpresa.
– E não teremos problemas por isso depois? - Ele franziu o cenho – Você sabe como as pessoas reagem a uma menina no quarto de um menino. Ainda mais, sozinhos.
– Ah, deixa de bobagem e vamos - ele pegou em minha mão, me arrastando até seu quarto. – Bom, aqui é o meu cantinho.
Observei cada detalhe do quarto, que era bem a cara do . Cheio de quadros significantes, com paredes azuladas, roupa de cama com tema infantil, estante com várias histórias em quadrinhos e soldadinhos de boneco.
– Seu quarto é organizado e aconchegante. - Eu disse sincera e parei perto da janela, ainda admirada.
– Minha mãe não gosta de bagunça. - Ele deu de ombros e eu ri fraco. – Você é tão linda - disse, de repente, me deixando acanhada. – Quando está envergonhada fica ainda mais.
– Pare de falar assim! - Dei uma tapinha em seu ombro, mas ele me puxou contra o seu corpo.
– Há tempos, eu estava me controlando para não fazer isso, porém agora, não consigo mais - segurou meu rosto e me beijou.
Nossa, o primeiro beijo da minha vida.
Ficamos assim por alguns segundos, até sermos interrompidos pelas batidas na porta. Afastamo-nos, rapidamente.
, seu pai quer que você toque para os convidados. - Ouvimos a voz da colaboradora.
– Por favor, diga a ele que já desço. - Ele respondeu, sem tirar o olhar intenso de mim – Me desculpe por isso, eu não sei o que me deu. Você sabe que eu nunca fui assim tão... - ficou pensativo.
– Ousado? - Ele abaixou os ombros, assentindo. – Tudo bem, não precisa se sentir mal por isso. Você não cometeu nenhum crime. - Forcei uma risadinha, eu estava toda trêmula, de tão nervosa.
– Mas você...
– Eu só estou impressionada. - Disse, sem o encarar.
, você gostaria de na...
– Vamos descer? - O interrompi o mais rápido que pude – Seu pai tá te esperando. - Ele assentiu um tanto decepcionado, em vi em seus olhos, e saímos do quarto.
Não queria magoá-lo, mas eu estava nervosa demais para conversar naquele momento. Ainda mais sobre o que eu achava que ele me pediria.
, meu filho - Mr. abraçou de lado – Toque um pouco do seu violino para os nossos convidados. Seu irmão ficará piano e sua irmã no vocal. - Seu pai pediu e ele se juntou aos irmãos. Formaram um trio musical perfeito.
Fiquei perdida tanto na música, quanto nos olhos de . A cada olhar dele, um sorriso meu. Ele era maravilhoso!

Depois de alguns minutos, logo se juntou a mim.
Ouvimos um estrondo na porta e todos se assustaram. Mr. foi até o local se certificar de que não era algo grave, quando se deparou com um homem bem vestido e de boa aparência. Pareceu tomar um susto e deu alguns passos para trás.
Olhei para minha mãe e ela parecia estar mais espantada que todas as outras pessoas. Pedi licença ao e aproximei-me dela.
– O que houve? Por que você tá assim? - Perguntei confusa e preocupada.
– Que brincadeira é essa? O que você está fazendo aqui? - Mr. perguntou assustado ao homem.
– Achou que eu estivesse morto, não é mesmo?! Pois veja, estou aqui muito bem e financeiramente melhor que você. - O homem disse satisfeito.
– Saia já da minha casa antes que...
– Antes que? Vai mandar me matar novamente, já que sua primeira tentativa foi falha? - Perguntou, provocando Mr. , que deu um soco certeiro em seu rosto.
– Querido, que história é essa? - Mrs. perguntou ao esposo.
– Ah, vocês não sabiam? - Ele dizia em um tom debochado – Não tem problema, eu conto tudo.
– Não acredite nesse homem, querida! - Mr. pediu, mas sua esposa o ignorou.
– Quando a empresa começou a falir, ele me demitiu, depois de acreditar em um funcionário antigo, que me acusava de roubo. E o pior nem é a acusação em si, mas a tentativa de assassinato, pois por achar que eu estava falindo o seu “ganha-pão” com os roubos, ordenou que seus capangas me sequestrassem. Espancaram-me tanto que eu não sei como consegui sobreviver, depois de tantos golpes na cabeça, fora ao resto do corpo. Tenho muitas marcas de sutura, e vou usar isso também como prova contra esse homem. - Eu não sabia o porquê da minha mãe chorar tanto, mas estava tão chocada quanto ela. – Tive que me esconder por anos, tentando sobreviver com trabalhos temporários, até o dia em que eu comecei a economizar e guardar o meu salário. Consegui comprar uma pequena parte da empresa, que hoje domina a cidade e, aos poucos, fui comprando outras partes. Até quando percebi que já havia comprado 100% das ações da empresa. - Eu só conseguia pensar em vencer na vida tanto quanto aquele homem – Aparentemente, eu tenho tudo, porém o que era mais importante para mim, Mrs. conseguiu me tirar.
Todos os convidados estavam horrorizados com tudo que presenciaram.
e seus irmãos acolhiam a mãe, que estava completamente abalada com o depoimento do homem. Minha mãe, que estava abraçada a mim, continuava chorando fortemente.
– E-eu não sei o que dizer. - Mr. disse.
– Mas nós sim, seu bandido! - Vez de Mrs. se pronunciar – Como teve coragem de fazer uma coisa dessas? Tentar arrancar uma pessoa de sua família e ainda tentar matá-la é muita crueldade.
– Para mim já chega, você acabou com o natal de todos! - Um dos convidados disse. –Aproveite a sua ceia sozinho, já que está tão farta, enquanto têm um monte nas ruas sem ter um pão para comer. - O homem saiu da casa e todos os outros convidados foram juntos, restando apenas eu e minha mãe.
– Meu Deus, eu não acredito! - O homem de boa aparência disse alto e se aproximou de nós. – Amor? - Minha mãe se jogou em seus braços.
– Eu não consigo acreditar que você está aqui, envolvido em meus braços, novamente - ela se desmanchou ainda mais em lágrimas, e o homem a acompanhou – Deus sabe o quanto eu senti a sua falta!
– Eu não deixei de pensar em você e em nossa filha um só dia. - Eu ainda estava confusa com o que presenciei – Na verdade, foi pensando em vocês que eu consegui mudar o rumo da minha vida. - Minha mãe se afastou um pouco para o olhar e me abraçou.
, nossa filha - Ela disse ao homem, e ele pôs as mãos na cabeça e tornou a chorar forte.
– Minha garotinha - veio em minha direção e me abraçou. A sensação era nova, mas eu estava feliz por finalmente conhecer o meu pai. Sinceramente, achei que não aconteceria nunca. – Você cresceu tanto, está linda! - Ele sorriu para mim e eu retribuí o sorriso.
– Saiam da minha casa, agora mesmo! - Mr. ordenou.
– Não - Mrs. o impediu – Saia você da minha casa!
– Esta casa é minha. - Se indignou – Eu a construí com o dinheiro da minha empresa.
– Nem mais uma palavra. - Ela disse firme – já chamou a polícia e você vai apodrecer lá.
– O quê?
A polícia chegou rapidamente, levando Mr. algemado. O homem de boa aparência, que eu ainda preciso acostumar a chamar de pai, foi à delegacia para depor contra e apresentar as marcas da agressão em seu corpo.

Alguns meses depois do ocorrido, o homem de boa aparência que passei a chamar de pai, levou minha mãe e eu para morar com ele, em sua mansão.
Já havia imaginado, por várias vezes, ter um quarto espaçoso e muito bem decorado, mas nada se comparava ao quarto que ele criou especialmente para mim.
Também não consigo acreditar que temos bem mais que legumes, em todas as refeições.
Apesar de não dependermos mais da renda da minha mãe para sobrevivermos, ela continuou trabalhando como costureira, para sua distração e para se sentir mais independente. Meu pai respeitou sua decisão e a presenteou com um atelier digno de seus trabalhos. Também construiu uma loja de roupas para ela, o espaço era muito luxuoso e organizado.
E eu, continuei me empenhando nos estudos tanto quanto antes, talvez até mais, pois o novo colégio exigia demais dos alunos e eu não queria decepcionar.
Mas, sempre que eu podia, estava com minha mãe. Eu gostava de ajudá-la em todas as suas escolhas de decoração para a loja, ela sempre mudava. Ainda mais depois que começou a apoiar os movimentos de prevenção e combate a algumas doenças, então a cada mês ela trocava a decoração da loja para as cores do mês representado.
Em mil anos, jamais imaginaríamos viver o que estamos vivendo agora.
Às vezes, eu pensava em como estaria a família , sem o seu pai comandando a empresa.
Não tirava a ideia de visitá-los da cabeça, mas tinha medo de ser rejeitada por eles.
Eu não tinha mais contato com o há tempos, mas sentia a falta dele. Apesar disso, a falta de coragem para encará-los depois de tudo que aconteceu era grande... Mas eu precisava pensar.
– Pai - O chamei da cozinha.
– Estou aqui na sala de estar - fui até ao cômodo, o encontrando assistindo Gold Fever.
– Pai, você teve notícias sobre a família de ? - Ele desviou o seu olhar a mim.
– Não, eu não tive. - Assenti decepcionada – Por quê?
– Eu gostaria de visitá-los. - Disse receosa.
– Filha, sente-se aqui. - Me sentei ao seu lado – Eu acho isso um tanto perigoso - ergui as sobrancelhas – Nós não sabemos se eles sentem mágoa de nós pelo que aconteceu, podem querer se vingar...
– Pai, eu entendo a sua preocupação, mas a culpa de tudo que aconteceu é do Mr. e eles sabem disso. - Respirei fundo – Não acredito que eles fariam algo maldoso.
– Você também não acreditaria que o pai deles faria algo do tipo, mas fez.
– Eu tenho um carinho enorme por eles, os conheço desde a minha infância. Em especial pelo , que foi o meu melhor amigo desde sempre. Na verdade, ainda é, e por isso eu me preocupo.
– Tudo bem, você pode ir visitá-los.
– Sério? - Ele assentiu, tentando esconder o sorriso – Obrigada! - Dei um beijo em sua bochecha e me levantei rápido.
– Mas eu te levo.
– Não confia em mim? - Parei para ouvi-lo.
– Em você sim, neles não.
– Pai, por favor - eu estava levemente irritada.
– Você se irrita fácil, hein. - Ele começou a rir e bufei, revirando os olhos.
Dei uma olhada em mim pelo espelho da sala e saí.
Pedi ao motorista da casa para me deixar na Pracinha dos Amores.
Andei um pouquinho até à casa de e toquei a campainha. A colaboradora Lourdes me atendeu.
– Boa tarde, o tá em casa? - Ela me olhou dos pés à cabeça.
– Sim, só ele está aqui hoje.
– E você pode fazer a gentileza de chamá-lo? - Confesso que eu não me sentia confortável perto de Lourdes e estava um pouco apreensiva.
– Escuta aqui garota, você não vai tirar o da minha filha! - Ela parecia irritada.
– Fique tranquila, eu não tenho essa intenção.
– Eu conheço meninas como você, se aproveita da situação de pobreza para criar amizade com filhos de pessoas poderosas, e depois faz um deles se apaixonar por você para criar discórdia na família. - Eu fiquei pasma com a imaginação da mulher. – Vocês nunca tem a intenção.
– Você é maluca?
– Oh, acha mesmo que o gostaria de uma garota como você?
– O que eu acho é que você é uma mulher frustrada e tenta descontar isso nas pessoas, pra se sentir melhor. - Eu disse calmamente, fazendo-a se enfurecer.
– Você acha que eu não conheço garotas do seu tipinho?
– Ah, cale essa boca e pare de me confundir com sua filha! - Ela abriu o portão com muita fúria e tentou me agredir, mas chegou na hora e a segurou.
– Lourdes, pare com isso! - Ela se debatia tentando se soltar e me xingava muito.
Eu saí dali e voltei para a Pracinha dos amores. Não queria ficar ouvindo uma mulher que mal me conhece ficar me ofendendo, ainda mais daquela maneira.
Fiquei olhando ao redor da rua, respirando fundo e tentando me acalmar. Olhei em direção à minha antiga casa e consegui vê-la de longe, ela foi doada para uma família muito necessitada. Fiquei feliz pelas crianças que se encontravam brincando no quintal, agora elas têm um lar.
? - Ouvi me chamar. Olhei em sua direção e ele veio correndo.
– Me desculpe por isso - ele ainda tentava se acalmar – Acabei de confirmar que a Lourdes é louca.
– Ela te queria como genro - Eu disse brincalhona e ele riu, se sentando ao meu lado. – Que saudade eu estava sentindo de você! - O abracei forte.
– Você sumiu. - Ele disse num tom de tristeza e se afastou para me olhar.
– Desculpe, meu pai estava um pouco preocupado em me deixar vir aqui, você entende. - Ele assentiu.
– Mas agora você está aqui. - Sorrimos e nos apertamos num abraço, mais uma vez.
– Me conta como vocês estão?
– Depois que meu pai foi preso, Clinton ficou no lugar dele e está se saindo muito bem. Eu o ajudo em alguns negócios e estamos conseguindo reerguer a empresa. - Ele coçava a cabeça. – Mas é difícil conciliar trabalho com os estudos.
– Você consegue! - Ele sorriu, beijando a minha mão – E quanto a sua mãe? Whitney?
– Minha mãe abriu uma clínica de estética. Quando não está no trabalho, fica em casa cuidando das coisas. - Impressionei-me com a notícia, pois apesar de formada, a mãe de nunca havia trabalhado na área. – Whitney é quem mais sofre com a prisão do meu pai e seu desempenho na escola abaixou, mas estamos a ajudando a superar. - Assenti. – Agora me fale de você.
– Ah, eu não tenho o que falar, você sabe de tudo que me acontece.
– Nesse tempo que nos afastamos nada aconteceu?
– Bem, a nossa vida mudou muito e estamos bem melhor agora, em todos os sentidos.
– Isso é mais que merecido, e eu fico muito feliz por vocês. - Ele acariciou a minha mão.
– Obrigada, . - observei algumas pessoas entrando na padaria, mas senti que ele me observava. – Pare de me olhar assim!
– Você fica ainda mais linda quando está envergonhada. - Ele disse, rindo de mim.
– Não tem graça. - O olhei séria, mas não aguentei e ri com ele. – Você não sabe o quanto senti falta das suas risadas.
– Tem uma forma de resolver esse problema de saudade. - Ele disse.
– Sim, um visitando o outro com mais frequência. - Eu disse animada e ele meio que murchou.
– Também. Mas eu diria...
– Acho melhor eu voltar pra casa. - Já ia me levantando, quando ele me puxou.
, pare de fugir - ele disse sério e eu engoli o seco. – Sempre fomos amigos, mas também sempre soubemos o que um sente pelo outro. - Eu respirei fundo. – Mas agora estamos mais maduros e mais apaixonados, o que você acha de nos permitirmos viver essa nova fase da nossa vida?
– Eu acho que... - Ainda estava muito insegura – Você tem certeza, ? - Perguntei nervosa e ele assentiu.
– Nunca tive tanta certeza como estou tendo agora.
– Tudo bem, vamos nos permitir. - Mal terminei de respondê-lo e me roubou um beijo.
Desta vez, o beijo foi longo e bem romântico.
– Esperei tanto por esse dia. - disse e eu ri.
– Deixe pra falar assim quando nos casarmos. - Ele riu fraco e selou nossos lábios.
– Eu vou me lembrar disso, hein!
– Você terá que ir à minha casa pra pedir aos meus pais.
– Tudo bem, eu irei. - Sorrimos e nos beijamos mais uma vez.
– Eu espero que nada nos atrapalhe. - Disse receosa, e me lembrando de Lourdes.
– Não se preocupe, eu não vou deixar a filha da Lourdes me agarrar, novamente.
– O quê? - Soltei um gritinho fraco.
– Calma, eu estou brincando! Você precisava ver a sua cara. - Ele soltou uma gargalhada forte, me deixado nervosa.
– Isso não é brincadeira. - Me senti obrigada a dar um soco em seu braço.
– Nossa! Você está forte, hein. - Reclamou, alisando o braço. – Falando sério agora, ficaremos juntos até o nosso envelhecer.
– Mesmo?
– Por minha vontade, sim. - Ele sorriu fofo – Eu não conseguiria sobreviver sem o seu sorriso - O roubei um beijo – E sem os seus beijos.
– Eu jamais me esquecerei da noite da ceia, foi o nosso primeiro beijo. - sorriu comigo. – Também não me esquecerei do seu pedido. - Ele se aproximou mais, deslizando sua mão até minha nuca e me beijou de forma mais intensa.

50 anos depois, numa noite de natal...
– Mesmo depois de todos esses anos, não me esqueço daquele dia! - Eu disse aos meus netos, que me rodeavam pela minha cadeira de balanço. O olhar emocionado de cada um deles me deixava ainda mais feliz.
– Eu quero ter um amor assim. - Minha neta mais nova disse.
– Oh minha flor, mas você terá. - Ela sorriu para mim – Você terá! Olhei à minha frente e lá estava , brincando com nosso bisneto e me observando, como sempre fazia.
Ele sorriu graciosamente e sussurrou palavras lindas a mim. E mesmo longe, consegui fazer a leitura labial de: "Você continua linda quando está envergonhada!".
Esta simples, porém significante frase me trouxe à memória a nossa juventude enquanto casal, me fazendo ter a certeza que fiz a escolha certa ao dizer: "sim".

Nunca esqueci àquela noite de natal, pois foi o dia em que nossas vidas se transformaram, sendo marcadas pelo início de um grande amor.


[FIM]




Nota da autora: "Bem, eu acredito que esta seja a fanfic mais amorzinho que eu já escrevi até agora e por isso, tenho um carinho enorme por ela!! ❤
E eu espero que vocês se apaixonem pela história, tanto quanto os protagonistas se apaixonaram um pelo outro.
A todos, BJoo 💕"




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