Capítulo Único
Eu havia acabado de ser dispensada por um cara. Não tinha o amor que merecia e não daria minha virgindade a um homem que queria apenas aquilo.
Quando me permiti chorar, foi por alguns dias. Minha melhor amiga esteve comigo. Meus pais abdicaram compromissos pra me consolar.
Mas aquilo me fez diferente. O que não te mata, te fortalece. Quando saí do que chamou de "fossa", deixei lá no fundo muitas de minhas responsabilidades. Me rebelei e coloquei a integridade da "família real" em risco, eu sabia. Mas não pude evitar.
Eu queria viver uma vida em que pudesse fazer escolhas. Que as pessoas se encantassem por quem eu era, não por meu rostinho bonito ou meu título de "lady". Ou princesa como todos chamavam popularmente, mesmo que só por ser neta da rainha eu não fosse devidamente uma.
O abraço mais sincero que recebi, no entando, fora de um futuro rei. , numero um na sucessão ao trono espanhol. Um grande amigo de infância, e justamente o príncipe mais bondoso que eu havia conhecido.
Eu entendi que ele me dedicava um carinho maior do que eu merecia quando deixou a Espanha para passar alguns dias comigo na França. Eu havia viajado até lá para que tantas câmeras deixassem os jardins do castelo de Wessex, mas dessa vez meus pais não puderam me acompanhar e ainda tinha que sair para seus compromissos.
Ele estava lá quando estive mal e tirou meus mais sinceros sorrisos quando decidi que estava bem.
Meu coração se acalmava com sua presença. Mas ao mesmo tempo, me atormentava o fato dele ser todo cadeado do qual eu havia tentado me soltar. O cara certo pra expressão "chave de cadeia".
Eu lutava contra meus sentimentos para não me apaixonar pelo cara, confesso. Era dificil, no entanto. Mas ao mesmo tempo que era um príncipe perfeito, posteriormente seria um rei e eu não poderia ter uma vida ao lado dele. Seria uma rainha intocada num palácio, sobrevivendo de ouro e amor. E eu queria o mundo. Um mundo que não poderia conhecer quando deveria estar servindo ao rei. Coisa que não queria desde que meus conhecimentos sobre a sociedade de monarquia machista preencheram minhas pesquisas.
Amar não me permitiria ser livre. E é por isso que por toda a vida, eu o afastava.
Por mais que pudesse vir a amá-lo como homem, ansiava minha liberdade. E esse desejo era maior que qualquer amor.
E por anos eu conseguira evitar e suas belas declarações. Suas mensagens sempre tão positivas.
Mas naquele jantar, eu não conseguia deixar de invejar as garotas que recebiam seus sorrisos. Que ouviam suas histórias de guerra e as conquistas de seu reino.
Ergui meu vestido um pouco ansiosa para que tudo aquilo acabasse de uma vez e eu pudesse me esconder frente ao discurso rebelde que carregava desde aquele pé na bunda que levei alguns anos atrás.
Observei Stella, a governanta da mansão me chamar. Tentando não embolar vestido e salto, caminhei até ela.
- Seu pai está há muito tempo no escritório com o rei da Espanha. - Ela sussurrou para apenas eu entender. Era a ela quem eu confidenciava meus maiores temores - Me preocupa que seja algo relacionado a você.
- Estarei indo até lá. - Curvei-me em gratidão, como de costume.
A ocasião reverenciava o aniversário de casamento de meus pais, o conde e a condessa de Wessex. Haviam muitos jornalistas por toda Windsor, ansiosos por mais um encontro da família britância, mas quando você é apenas a décima terceira na linha de sucessão ao trono, sua presença não parece importar tanto.
O que me preocupava realmente eram meus 19 anos cada vez mais próximos, e a necessidade da mídia de montar contos de fadas a respeito dos relacionamentos dos netos da rainha do Reino Unido.
Quando cheguei ao escritório, não foi surpresa encontrar com o mesmo incomodo tentando escutar por entre duas grandes portas. Afinal, eram nossos pais ali, e nossas suspeitas de que tentavam nos arranjar um casamento às cegas a cada dia se confirmavam mais.
- Você não deveria estar fazendo isso. - Ele, de tão assustado por ter sido pego, deu dois grande passos pra trás esbarrando em um vaso que ocupava sua direita. Teve tempo de colocá-lo novamente em pé ou seríamos descobertos.
- Não finja que não veio fazer o mesmo, Lady . - Usou de seu mais ácido humor para me alfinetar. Não pude deixar de notar seus olhos direto em meu decote.
- Perdão, vossa majestade, o príncipe das Astúrias. - O reverenciei da maneira que sabia que ele odiava. nem me olhou de volta. - Está aqui há muito tempo?
- Meu pai solicitou que o aguardasse. - Sem a resposta desejada, me coloquei entre e a porta, prestes a abri-la quando o senti agarrar minha mão. - Você deve mais respeito à vossa majestade, meu bem.
- Ao que parece, é do meu pai e meu futuro sogro que estamos falando. - Brinquei, e empurrei a porta revelando ali nossa presença aos guardas, que protegiam a entrada do escritório. Claro que eles estariam trancados à duas portas. - Solicito sua licença para encontrar com meu pai. - Disse aos guardas que apenas se afastaram para que eu pudesse entrar. me acompanhava ao fundo com a boca fechada.
- Lady Windsor. - Foi o rei da Espanha quem me cumprimentou.
- , não pode ser mais educada? - Meu pai solicitou. Odiava ser interrompido em quaisquer coisa.
- Vovó está solicitando todos à mesa para que possa servir o jantar. - Olhei para ambos os homens sorridentes. - O que estavam fazendo?
- Conversando apenas, como velhos amigos. - Filipe VI disse, sorrindo com sinceridade. Meu pai o acompanhou e pude ver que até fez o mesmo por um momento. - Pois bem, não deixemos a rainha da Inglaterra esperando. - Os reverenciei em silêncio antes de deixar os três homens na sala.
- ainda está em sua fase "jovem rebelde". - Pude ouvir meu pai comentar e não pude deixar de sorrir com o comentário. - Logo volta a tratar o reino com o devido respeito.
- Sei muito bem como é. - Rei Felipe VI concordou e eu sabia que ele se referia a seu filho . Só não conseguia enxergar nele a mesma marra que os dois mais velhos insistiam em discutir.
Eu não discordava da fama de marrenta que vinha ostentando entre os reinos. A questão é que transitar da adolescência para a quase maioridade era um desafio. Eu já tinha perdido toda minha pose de "princesa perfeita" quando tive um affair com o filho do capitão da Guarda Real anunciado em todos os tablóides com apenas dezesseis anos. Meus pais nunca acharam nada demais, mas a simples ideia de uma princesa ter um namorado sendo tão jovem levantava muitos tabus. Princesas podem beijar? Transar? Amar alguém?
- Estarão aqui para a celebração do casamento de Willian? - Perguntei a que mais uma vez ocupava meu lado direito à mesa.
- Se for um pedido da princesa, posso me esforçar em ficar. - Ele sorriu e me calei. Minha mãe sorriu pra mim como fazia toda vez que e eu éramos flagrados juntos.
- Se for um pedido da princesa, é uma ordem para você ficar. -Corrigi sorrindo. Sentia como se toda a mesa nos olhasse em expectativa e aquilo era agoniante.
- Mas é claro. - Me respondeu sem me encarar. - Terei sua companhia durante a semana?
- Se for um pedido do futuro rei... - Não completei pois deixou uma pequena risada escapar. Suficientemente alta para que minha avó nos encarasse em seu mais divertido olhar. Céus, como eu odiava quando me olhavam assim.
- Espero não ter gasto meus pedidos pra hoje a noite. Ou terei que solicitar pessoalmente a Willian que me conceda alguns com sua jovem prima. - Seu charme dessa vez não me fez sorrir.
- Muito bonito você passar por cima da minha liberdade apenas por acreditar que WIllian tenha alguma influência sobre mim apenas por ser um futuro rei. - Alfinetei. Vi abrir a boca várias vezes buscando o que dizer.
- Me desculpe, . - Me chamou enquanto eu me ocupava em não derrubar aquela sopa extremamente quente em meu colo. - Retiro o que disse. Mas antes que me falte coragem, você está deslumbrante. É a mulher mais bonita que eu já vi e me sinto muito honrado de compartilhar de sua presença. Não consigo me concentrar em outra coisa que não seja sua beleza.
- Você não vai me levar daqui pra nenhum lugar, . - Lembrei de todos nossos quase beijos e todas as vezes que e eu ficávamos sozinhos. Ele riu do seu jeito natural. - Você também está muito bonito. Muito. - Tratei de frisar. Nunca fui boa em elogiar.
- E por que não posso te levar pra um encontro? - Me pediu mais uma vez e eu já tinha todo um discurso ensaiado. - Aprecio de sua companhia. Você aprecia da minha. E se me permite dizer, poderia apenas ficar te olhando pois você não sai dos meus pensamentos de toda forma.
- Não, não te permito dizer nada do tipo. - Fingi meu tom mais bravo enquanto minhas bochechas certamente coravam. - Preciso te evitar, príncipe. Não quero nossos pais entendendo nossa proximidade como um noivado eminente. - Ele me olhou com seu olhar desapontado de sempre.
O jantar foi sem grandes emoções. Quando resolvi não descer para a pós celebração, tive consciência de que no outro dia mais notícias sobre a rebelde neta mais nova da rainha da Inglaterra estampariam jornais. E não que eu realmente gostasse de ver o nome da minha família em sites de fofoca, mas as vezes eu sentia que essa era a única forma de que o mundo pudesse se permitir enxergar a monarquia como um conjunto de pessoas normais.
Pela manhã, não me admirei em ver o castelo novamente muito frequentado, afinal, a rainha da Inglaterra era sempre capaz de reunir muitos reinos em suas celebrações que se extendiam por dias. .
- Sabe onde posso encontrar com ? - Questionei a um dos guardas reais que usou seu telefone para procurar por ela. era minha melhor amiga e marquesa de Bath, título que fora concedido a seu pai.
- Creio que esteja aguardando vossa majestade para a aula de Italiano. - Fez questão de me lembrar. Subi correndo de volta para meus aposentos à fim de pegar meu material e encontrá-los na biblioteca do castelo que chamavamos de lar. O que me surpreendeu, no entanto, fora ver a presença de minha melhor amiga sendo substituída por aquele que carregava o título de meu futuro noivo.
- Mas que honra, príncipe. - Cumprimentei, atraindo sua atenção. Gostava muito de sua companhia, mesmo que me custasse admitir. - Não sabia que se interessava pela cultura italiana também.
- É mais a companhia que me interessa mesmo. - Não pode deixar de me lançar seu mais sedutor sorriso. Me sentei ao seu lado tentando resistir a seus galanteios.
De nós dois, era o mais animado com uma possível notícia de casamento. Nunca fora segredo que de entre tantos reinos, eu fosse sua princesa favorita. Talvez isso tenha despertado o interesse de nossos pais sobre uma relação que pudesse vir a acontecer. A questão é que eu me via muito diferente. Enquanto se preparava e dedicava para ser um bom rei mesmo com seus 22 anos, eu tinha minhas outras prioridades. Não sabia muito bem se conhecia além dos muros dos castelos que frequentava, e isso me fazia sentir muito diferente. Não que eu não me atraísse fisicamente, claro, era um príncipe muito bonito, porém entediantemente "príncipe". Eu só podia ser maluca!
Deixei que a aula retrocedesse um pouco para que pudesse me acompanhar sem dúvidas. No fim, para mim foi mais uma revisão ao mesmo tempo que pra ele parecia algo fantástico. Era bonitinho de ver, até.
- Talvez devesse voltar para mais algumas aulas, . - O cutuquei com o ombro. Da mesma maneira galanteadora que me sorriu mais cedo, ele o fez. Após a aula também estava sendo uma companhia muito agradavel. - Italiano não é dificil, não sei como você não é fluente ainda...
- O que quer dizer com isso? - Perguntou entre risos. - Por que meus pais são reis, acredita que eu já deveria saber de tudo?
- Bom, eu não recebo tantas cobranças para ser impecável quanto você. E mesmo assim já aprendi muitas coisas. - Confessei um pouco envergonhada. Não queria fazê-lo sentir da mesma forma.
- Sei falar espanhol. Inglês. Português. Alemão. Catalão, Francês, Romeno...
- Ok, príncipe, já entendi. - O interrompi, no que ele desatou a rir. - E o que faz com tantas línguas? Dúvido que já tenha tido uma conversa em catalão com alguém que não fosse seu professor.
- Não tive, mas é uma das línguas oficiais do meu país. - Me olhou divertido. - Após nosso casamento, você deverá aprender também. - Ele sorriu e baixei meus olhos um pouco desconfortável. Percebi que mesmo que e eu tentassemos juntos descobrir o que nossos pais conversavam as escondidas, nunca havia lhe dito que o assunto mais me assustava do que animava. Ser privada de uma liberdade que eu ainda não havia experimentado era aterrorizante. Nunca o contei o porquê de me afastar tanto.
- . - Toquei seu braço em um pedido mudo de atenção. - Você acha que temos que cumprir o que eles querem?
- Me pergunta se eu quero esse casamento? - Assenti com a cabeça. - , minha princesa, sei que não é sua vontade no momento. - O olhei em surpresa. - Mas também aceito esperar o tempo que for necessário para que você aprecie minha companhia da mesma forma...
- Não é que eu não goste de você, . - Não deixei de corrigir. - Eu não gosto da ideia de fazer isso por uma obrigação.
- Te ajudaria se você se apaixonasse por mim também? - Ele perguntou e o olhei de olhos arregalados dessa vez. - Não, , por Deus, não estou me declarando ou algo do tipo. Não agora. Mas meu interesse por você nunca foi segredo pra ninguém. Sim, te acho bonita, aprecio as qualidades que reconheço em você. O que quero dizer é que se a gente se permitir conhecer melhor, poderíamos, quem sabe, construir esse relacionamento de verdade. - Suspirei pensando na ideia. - Quando você quiser, claro.
- Não seria difícil fazer você se apaixonar por mim, príncipe. - Gargalhei e recebi sua risada um pouco mais tímida. - Mas não acredito que seja algo verdadeiro. Quer dizer, amor a gente tem que sentir né? Não se cria do nada. E acredito que eu seja tudo o que você foi ensinado a procurar, mas não quem você precise realmente. - Ele me olhou divertido. - Não falo por me achar superior a ninguém, mas seus pais sempre lhe ensinaram que a esposa ideal seria alguém da realeza, pronta a dar sua vida pelo reino. Eu sei que é isso que você enxerga em mim. Mas não tenho certeza se posso ser quem você anseia ao seu lado. Não acredito que deva ser eu a sua rainha, você só aprendeu a enxergar isso em mim.
- Você acredita que amor seja algo a se construir? - Ele perguntou. - Um relacionamento de verdade. Não acredita que seja um pouco mais de admiração e menos do que os outros acreditem que seja o certo?
- Não sei. - Confessei. - É?
- Você já teve um namorado. - Tornou a me lembrar após um tempo de silêncio. - Não o amava?
- Antes de nos beijarmos, éramos amigos. Mas nunca me imaginei deixando de viver minha vida para ficar ao lado dele. - O olhei em expectativa. - Você, de verdade, acredita que eu poderia ser uma grande rainha?
- Sim. - Ele me respondeu sincero e lhe dei meu melhor sorriso em resposta. - E se nossos pais estão tramando algo sobre isso, eu não sou o único.
- Agradeço sua confiança em mim, . - Segurei uma de suas mãos entre as minhas. - Aprecio isso. Mas como poderia ser rainha de um reino se acredito que meu lugar seja o mundo? Como posso ser uma grande intocável quando o que queria na verdade era ter uma vida normal. Conhecer países, viagens para praias, bebidas além de vinho e champanhe em minhas comemorações. Além de que eu não sei metade do que você sabe, não sou 1% tão inteligente quanto você. Etiqueta não é tudo que você precisa para ter uma grande rainha ao seu lado.
- Você jamais erraria como rainha, isso eu posso apostar. Mas entendo sua ânsia de liberdade. - Ele quem estava segurando minhas duas mãos agora. - Posso propor algo a você?
- Desde que não seja um casamento.
- Na verdade, é. - Arregalei os olhos e ele sorriu. - Mas também não é. Bom, se as coisas se confirmarem, nossos pais não medirão esforços até que esse casamento aconteça, você sabe. E eu sei que você não fugiria, assim como eu. - Ele me olhou. - Bom, eu espero que não. Mas podemos ser amigos, . Se estivermos juntos nessa, será bem mais fácil enfrentar as coisas.
- Você está me pedindo em compromisso?
- Estou te pedindo a chance de nos conhecermos como um casal. - Corrigiu. - Nós temos tempo. Não se organiza um casamento de um dia pro outro. Podemos usar esse tempo a nosso favor.
- Eu vou acrescentar algo a sua proposta. - Pensei após considerar um pouco suas últimas frases. - Eu não vou conseguir fazer metade do que planejo se eles continuarem me prendendo aqui. Muito menos quando a gente se casar... - Ele me olhou em expectativa. - Se a gente se casar!
- O que gostaria de acrescentar? - Parecia tão ansioso quanto eu. Para era muito mais fácil quando tudo o que ele precisava eu já tinha a oferecer.
- A gente se conhece melhor, você me ensina romano, me apresenta toda a Espanha, me ensina a cavalgar, me apresenta a mil e um reinos. - Sorri esperançosa. - Mas antes disso, quero que você viva comigo. Veja bem, eu nunca vou poder sair desse reino sozinha. Se você estiver comigo eu posso conhecer tudo que quero sem meus pais me atormentando. Sem o país me atormentando também. Nós vivemos em uma sociedade muito machista, percebe? Eu não posso enfrentar isso tudo sozinha. Preciso de você.
- Te ensinar a cavalgar? - Pude sentir seu tom mais malicioso possível. Desviei de seu olhar envergonhada.
- Sério que você se concentrou nisso? - Eu ri. Se ele queria usar de sensualidade comigo, eu também sabia jogar esse jogo. - Podemos nos divertir e quebrar regras. Eu também quero que você experimente viver além do conto de fadas que seus pais lhe prometeram. Quero que você erre, ouse, se divirta. Eu adoraria participar e experimentar coisas com você, . Mas eu não quero um príncipe. Quero um homem inteiro. Você me entende?
- Posso me permitir ser um pouco rebelde. - Ele me olhou com todo seu charme. - Então temos um acordo. Eu te mostro meu mundo "chato de príncipe" - fez aspas - e você me leva ao mundo de diversões que tanto sonha.
- Não coloque palavras em minha boca, . - Corrigi. - Você não tem uma vida chata. Eu tenho essa mesma vida, só não encaramos do mesmo jeito. Diversão e responsabilidade não deveriam ser opostos. E seremos amigos, até que nossos pais decidam se isso será um casamento ou não.
- Certo. - Ele me olhou empolgado. - Até que nossos pais decidam.
.
Quando a princesa aceitou nosso acordo, tive que me segurar para não me reunir com todos os cavalheiros e festejar tal situação por três noites.
Chegava a ser um pouco humilhante a quem visse de fora, já que eu praticamente havia tido que implorar por uma chance daquelas.
A verdade é que eu amava Windsor. E tê-la ao meu lado seria minha maior conquista. Ela me permitiria conquistá-la, assim como fez comigo sem a menor das intenções.
Eu a amava antes mesmo do que pudesse me lembrar. Lembro de ainda sermos adolescentes quando comecei a me envolver de verdade. Acompanhar os eventos que ela fazia com as ongs que trabalhava, os sorrisos que distribuía por todo seu reino. era muito mais doce do que deixava transparecer, e me ver capaz de reconhecer isso me fazia bem. Eu queria ser suficiente para estar ao lado daquela mulher.
- Se estamos nessa espécie de acordo, acho que podemos fazer algumas perguntas importantes. - Ela disse. Estávamos em um dos jardins do castelo onde fotógrafos não poderiam nos alcançar.
- O que quer saber? - A olhei desconfiado. me fazia perguntas a todo momento, e vê-la desconcertada sobre algum assunto me tornava ansioso. - Te dedico minhas respostas mais sinceras.
- Você já se deitou com uma mulher? - Perguntou sem me olhar. A pergunta deveria estar rodando sua cabeça a dias para que dissesse com tanta firmeza.
- Não. - Respondi apenas. Para um príncipe que conhecia tantos lugares, certamente parecia uma resposta estupida. A verdade é que nunca me permiti encantar por nenhuma mulher a tal ponto. Acreditava que o sexo sim era mais confiança do que prazer. Ela pareceu relaxar com a resposta. Eu sabia que ela também não. Não por tantas faltas de oportunidade, ela já havia namorado por um tempo. Sabia apenas que seus pais, inconscientemente nunca a deram tal liberdade e ela nunca havia desejado tanto assim para ir atrás.
- Você sente vontade? - Voltou a perguntar. Dessa vez minha surpresa foi ela me encarar.
- Você não gostaria dessa resposta. - Provoquei. Desejá-la foi algo que aprendi com meus 18 anos também. se destacava por sua beleza e vaidade, era dificil para qualquer homem não pensar em como seria tocá-la e amá-la. - Porque está pensando nisso agora, minha princesa?
- É o que todos pensam, não? - Sua voz parecia sem graça.
- Não sei dos outros. Mas não penso isso a todo momento. - Confessei. - Nem com qualquer mulher. Mas nos ultimos dias tenho pensado bastante.
- Basicamente, você espera isso de mim... - Disse num suspiro. - Eu também nunca me deitei com nenhum homem. - Afirmou. - E eu sei que é besteira, afinal nunca nem nos beijamos, mas eu gostaria de que fosse com você. - Tentei conter meus olhos arregalados.
- Podemos resolver as duas coisas de uma vez. - Fingi me aproximar. me estendeu suas mãos para que eu beijasse. Todo meu carinho naquele ato. - Ao seu tempo, princesa. Porque resolveu perguntar sobre isso agora?
- Quero que você me ache bonita no baile. - Sua voz foi esperançosa. - Tenho pensado muito em você, . Saber que você me deseja me motiva a fazer... Bom, o que quero fazer?
- E o que você quer fazer? - Não pude conter minha voz ansiosa. Ficava cada vez mais difiicl acompanhá-la diariamente quando pela noite, tudo o que eu pensava era na sensação de ter seus lábios sob os meus.
se aproximou, segurando meu rosto com suas duas mãos. O beijo mais calmo que eu já havia dado em minha vida, justamente após ela dizer que gostaria de dormir comigo. Eu deveria ser um homem santo.
Deixei que ela controlasse a velocidade do beijo mesmo que minha vontade fosse nunca mais parar com aquilo. Não haviam palavras quando descobrimos que beijar por minutos era muito melhor.
E depois disso, não conseguimos nos ver por dois torturosos dias.
.
Alguns dias se passaram. Ainda no castelo, começou me dar aulas de romeno pela manhã. Na mesma tarde, fomos escondidos a um shopping em um horario pouco frequentado. Ninguém pareceu nos reconhecer e eu devia a o agradecimento pelos disfarces. Em outros dias me levou para andar de cavalo, conversamos sobre a Espanha por horas. Assistimos uma temporada de Friends como adolescentes normais. Bebemos escondidos no porão, mas não foi das melhores experiências dormir após alguns goles de vinho.
E a cada dia, descobríamos que éramos ainda mais parecidos do que imaginávamos. Aprendi a reconhecer não só um homem destemido e bonito, mas um cavalheiro encantador, um cara muito menos galanteador e ainda mais romântico. E eu só conseguia pensar nisso.
Meus pais estavam cientes que após o casamento de Willian, , , Léon e eu iríamos passar alguns dias no Brasil. E por León ser noivo de minha prima, aquilo meio que se encaixava em uma viagem de dois casais de amigos.
Por isso quando o casamento de Willian chegou, eu resolvi enfrentar meus medos. Se fosse meu destino mesmo estar ao lado do Rei da Espanha, já não conseguia me opor. Eu ansiava estar com e não seria capaz de conter esse sentimento. Mesmo que custasse alguns sonhos e meu orgulho. Ele vinha a cada dia se tornando um sonho pra mim também.
Chegava a ser cômico como em menos de um mês eu conseguira passar de desapegada para apaixonada. Como havia me dito, amor era algo a se construir. Eu ainda não o amava com o coração, mas meus pensamentos eram sempre pra ele. Paixão, que se chama. E eu sabia que paixão já era algo muito proximo ao que ele tanto almeijava.
Eu achava que já tinha partido meu coração o suficiente para amar de novo. E agora estava me arrumando exclusivamente para agradar os olhos do meu príncipe favorito.
Os grandes jornais já falavam da permanência do príncipe espanhol por tanto tempo no reino vizinho. Por isso quando desci as escadas do salão da cerimônia, tratei logo de afastar daquela multidão que poderia nos levar a uma foto comprometedora que não podia sair naquele momento. Não enquanto eu não fosse sincera com meus sentimentos. Não enquanto não fossemos um casal de verdade.
Ele me seguiu com uma distância considerável. Quando encontrei uma das salas reservadas em Buckingham, não demorei a lançar meus lábios sobre os seus. Não queria que nosso beijo fosse tão atrapalhado e pouco romântico, mas sabia que seria o gás que me levaria a enfrentar aquilo com maior verdade. Gostaria de estar ao seu lado durante a cerimônia imaginando que um dia poderíamos ser nós ali, sem me importar se aquilo seria desconfortável ou não.
- Eu não quero que isso seja um plano, . - Disse, me afastando apenas para que ele pudesse me ouvir com maior clareza. - Não quero que sejamos um casal apenas por desejo do seu rei. Não quero que precisemos nos conhecer. Aliás, eu já o conheço. Te beijei porque quero estar com você por gostar de você, não porque achamos que nossos pais, o papa ou o mundo deseje isso. Mas sim porque nós desejamos isso. Porque eu não quero que você seja meu rei, quero que seja meu amigo, quero me entregar inteira para dividirmos o mundo.
- Você sempre foi minha princesa. - Ele sorriu. - E sempre me deixa sem palavras. - Confessou. - Seja por sua beleza, por dizer algo que eu não esperava ouvir, alimentar minhas fantasias. Você é minha liberdade, Windsor. Eu me submeteria ao que fosse pra te mostrar um pouco disso. O quanto preciso e desejo você ao meu lado é pouco comparado ao quanto te admiro. Ao quanto você é encantadora. - Pude ouvir uma movimentação no corredor indicando que a cerimonia estava prestes a começar.
- Sei que isso vai parecer muito inapropriado. - Comecei a dizer. Que Deus me desse sábias palavras. - Mas eu gosto de você, . Gosto muito. Confio em você. Fui sincera quando disse que gostaria de esperimentar coisas, e faz alguns dias que eu queria isso. Acho que já nos beijamos vezes suficientes para avançarmos com isso. - O olhei no fundo de seus olhos. - Passarei a noite aqui em Buckingham. E se você quiser, pode passar a noite comigo. A gente pode, sabe, experimentar.
- O que você me pediu? - Ele perguntou numa inocencia que eu não esperava. Me sentia ridicula por estar realmente o chamando para transar. Mas sabia que seria um passo importante antes que finalmente confessasse a meus pais que aceitaria me tornar a futura rainha da Espanha.
- Quero você, . - Confessei. - Quero te conhecer por completo.
Durante toda a cerimônia, pude sentir mais tenso que o normal. Claro, além do fato de eu tê-lo chamado pra dormir comigo, ainda tinha o fato de que eu havia segurado sua mão quando entramos no salão cerimonial. Na frente de todo um reino, na frente dos meus e dos seus pais.
- Acredito que tenha realizado seu objetivo, pai. - Comentei assim que ele me alcançou. conversava mais ao fundo com um de seus amigos quando fui, finalmente, me esclarecer sobre. - Não pense que devemos assumir um compromisso por obrigação. e eu nos gostamos de verdade, não precisamos forçar nada.
- Do que está falando, filha? - Minha mãe perguntou desconfiada.
- Eu sei dos planos do rei da Espanha. - Admiti a eles pela primeira vez. - Planos de que eu me tornasse uma rainha para o país. Eu sei que tenho que me esforçar, tem me ajudado nisso. Eu quero, de verdade quero, não quero que sintam que estou me forçando porque vocês querem isso, eu sei...
- Não sei realmente do que está falando, filha. - Foi meu pai quem me interrompeu dessa vez. - Você acha que tentariamos arranjar um casamento forçado a você e ?
- E não? - Perguntei perdida.
- Por Deus, não. - Ele riu um pouco desacreditado. - Filha, eu jamais venderia sua felicidade, pelo reino que fosse. Sim, o príncipe sempre teve nossa torcida, mas jamais intereferíamos nisso. Acredito que você tenha tentado por tanto tempo não aceitar que o queria que criou essa história pra você. - Meus pais riam da minha cara. Eu me sentia um pouco perdida ainda. - Ficamos muito felizes que vocês estejam assumindo seus sentimentos um pelo outro. Mas te garanto que vocês descobriram esse sentimento porque sempre se gostaram, não porque seus pais quiseram isso.
Me declarar apaixonada por na verdade não era minha liberdade. Admitir que era eu a dona do meu conto de fadas, sim. Quando o encontrei, embaralhei as palavas minha mente tentando compartilhar essa última descoberta.
- Nunca foi um plano, . - Foi a vez dele me olhar confuso. - Dos nossos pais. Eles nunca tentaram nos casar.
- Eu sei. - Foi a vez dele confessar. - Nunca acreditei que fosse.
- Mas você sempre esteve comigo. Falava disso comigo. - O olhei desconfiada. - Você sabia?
- Bem, não tinha o que saber. - Ele riu. - Nós nunca perguntamos. Mas você começou a acreditar tanto nisso que eu me deixei envolver na história. Nunca escondi que queria isso. Mas não pelo casamento, mas sim por ser você... Sempre te admirei, minha princesa. Nunca precisei de nenhuma imposição ou pedido ou proposta para querer te tornar minha rainha. Sempre foi apenas você.
- Se não tívessemos criado essa história, não tívessemos nos aproximado por acreditarmos que deveríamos nos casar... - Tentei ordenar as palavras. Mas estava pronta pra admitir. Se não fosse por isso... Você me amaria?
- Claro que sim. - Me respondeu. - Eu já a amo, princesa. Há muito tempo.
- Isso é legal. - Resolvi brincar. Sabia que ele esperava uma outra resposta. - Talvez isso dê certo. - Disse, me fazendo parecer um pouco menos envolvida. - De verdade. Sem criar nada. Eu quis me esforçar pra ser sua rainha, , mas agora eu aceito que sempre quis ser o que fosse, desde que fosse ao seu lado. E bom, talvez eu também ame você.
- Te disse que estava disposto a esperar. - Ele me beijou ainda sobre a supervisão do reino. Certamente esse casamento de Willian iria render várias noticias.
E nós viveríamos livres para sempre.
Quando me permiti chorar, foi por alguns dias. Minha melhor amiga esteve comigo. Meus pais abdicaram compromissos pra me consolar.
Mas aquilo me fez diferente. O que não te mata, te fortalece. Quando saí do que chamou de "fossa", deixei lá no fundo muitas de minhas responsabilidades. Me rebelei e coloquei a integridade da "família real" em risco, eu sabia. Mas não pude evitar.
Eu queria viver uma vida em que pudesse fazer escolhas. Que as pessoas se encantassem por quem eu era, não por meu rostinho bonito ou meu título de "lady". Ou princesa como todos chamavam popularmente, mesmo que só por ser neta da rainha eu não fosse devidamente uma.
O abraço mais sincero que recebi, no entando, fora de um futuro rei. , numero um na sucessão ao trono espanhol. Um grande amigo de infância, e justamente o príncipe mais bondoso que eu havia conhecido.
Eu entendi que ele me dedicava um carinho maior do que eu merecia quando deixou a Espanha para passar alguns dias comigo na França. Eu havia viajado até lá para que tantas câmeras deixassem os jardins do castelo de Wessex, mas dessa vez meus pais não puderam me acompanhar e ainda tinha que sair para seus compromissos.
Ele estava lá quando estive mal e tirou meus mais sinceros sorrisos quando decidi que estava bem.
Meu coração se acalmava com sua presença. Mas ao mesmo tempo, me atormentava o fato dele ser todo cadeado do qual eu havia tentado me soltar. O cara certo pra expressão "chave de cadeia".
Eu lutava contra meus sentimentos para não me apaixonar pelo cara, confesso. Era dificil, no entanto. Mas ao mesmo tempo que era um príncipe perfeito, posteriormente seria um rei e eu não poderia ter uma vida ao lado dele. Seria uma rainha intocada num palácio, sobrevivendo de ouro e amor. E eu queria o mundo. Um mundo que não poderia conhecer quando deveria estar servindo ao rei. Coisa que não queria desde que meus conhecimentos sobre a sociedade de monarquia machista preencheram minhas pesquisas.
Amar não me permitiria ser livre. E é por isso que por toda a vida, eu o afastava.
Por mais que pudesse vir a amá-lo como homem, ansiava minha liberdade. E esse desejo era maior que qualquer amor.
E por anos eu conseguira evitar e suas belas declarações. Suas mensagens sempre tão positivas.
Mas naquele jantar, eu não conseguia deixar de invejar as garotas que recebiam seus sorrisos. Que ouviam suas histórias de guerra e as conquistas de seu reino.
Ergui meu vestido um pouco ansiosa para que tudo aquilo acabasse de uma vez e eu pudesse me esconder frente ao discurso rebelde que carregava desde aquele pé na bunda que levei alguns anos atrás.
Observei Stella, a governanta da mansão me chamar. Tentando não embolar vestido e salto, caminhei até ela.
- Seu pai está há muito tempo no escritório com o rei da Espanha. - Ela sussurrou para apenas eu entender. Era a ela quem eu confidenciava meus maiores temores - Me preocupa que seja algo relacionado a você.
- Estarei indo até lá. - Curvei-me em gratidão, como de costume.
A ocasião reverenciava o aniversário de casamento de meus pais, o conde e a condessa de Wessex. Haviam muitos jornalistas por toda Windsor, ansiosos por mais um encontro da família britância, mas quando você é apenas a décima terceira na linha de sucessão ao trono, sua presença não parece importar tanto.
O que me preocupava realmente eram meus 19 anos cada vez mais próximos, e a necessidade da mídia de montar contos de fadas a respeito dos relacionamentos dos netos da rainha do Reino Unido.
Quando cheguei ao escritório, não foi surpresa encontrar com o mesmo incomodo tentando escutar por entre duas grandes portas. Afinal, eram nossos pais ali, e nossas suspeitas de que tentavam nos arranjar um casamento às cegas a cada dia se confirmavam mais.
- Você não deveria estar fazendo isso. - Ele, de tão assustado por ter sido pego, deu dois grande passos pra trás esbarrando em um vaso que ocupava sua direita. Teve tempo de colocá-lo novamente em pé ou seríamos descobertos.
- Não finja que não veio fazer o mesmo, Lady . - Usou de seu mais ácido humor para me alfinetar. Não pude deixar de notar seus olhos direto em meu decote.
- Perdão, vossa majestade, o príncipe das Astúrias. - O reverenciei da maneira que sabia que ele odiava. nem me olhou de volta. - Está aqui há muito tempo?
- Meu pai solicitou que o aguardasse. - Sem a resposta desejada, me coloquei entre e a porta, prestes a abri-la quando o senti agarrar minha mão. - Você deve mais respeito à vossa majestade, meu bem.
- Ao que parece, é do meu pai e meu futuro sogro que estamos falando. - Brinquei, e empurrei a porta revelando ali nossa presença aos guardas, que protegiam a entrada do escritório. Claro que eles estariam trancados à duas portas. - Solicito sua licença para encontrar com meu pai. - Disse aos guardas que apenas se afastaram para que eu pudesse entrar. me acompanhava ao fundo com a boca fechada.
- Lady Windsor. - Foi o rei da Espanha quem me cumprimentou.
- , não pode ser mais educada? - Meu pai solicitou. Odiava ser interrompido em quaisquer coisa.
- Vovó está solicitando todos à mesa para que possa servir o jantar. - Olhei para ambos os homens sorridentes. - O que estavam fazendo?
- Conversando apenas, como velhos amigos. - Filipe VI disse, sorrindo com sinceridade. Meu pai o acompanhou e pude ver que até fez o mesmo por um momento. - Pois bem, não deixemos a rainha da Inglaterra esperando. - Os reverenciei em silêncio antes de deixar os três homens na sala.
- ainda está em sua fase "jovem rebelde". - Pude ouvir meu pai comentar e não pude deixar de sorrir com o comentário. - Logo volta a tratar o reino com o devido respeito.
- Sei muito bem como é. - Rei Felipe VI concordou e eu sabia que ele se referia a seu filho . Só não conseguia enxergar nele a mesma marra que os dois mais velhos insistiam em discutir.
Eu não discordava da fama de marrenta que vinha ostentando entre os reinos. A questão é que transitar da adolescência para a quase maioridade era um desafio. Eu já tinha perdido toda minha pose de "princesa perfeita" quando tive um affair com o filho do capitão da Guarda Real anunciado em todos os tablóides com apenas dezesseis anos. Meus pais nunca acharam nada demais, mas a simples ideia de uma princesa ter um namorado sendo tão jovem levantava muitos tabus. Princesas podem beijar? Transar? Amar alguém?
- Estarão aqui para a celebração do casamento de Willian? - Perguntei a que mais uma vez ocupava meu lado direito à mesa.
- Se for um pedido da princesa, posso me esforçar em ficar. - Ele sorriu e me calei. Minha mãe sorriu pra mim como fazia toda vez que e eu éramos flagrados juntos.
- Se for um pedido da princesa, é uma ordem para você ficar. -Corrigi sorrindo. Sentia como se toda a mesa nos olhasse em expectativa e aquilo era agoniante.
- Mas é claro. - Me respondeu sem me encarar. - Terei sua companhia durante a semana?
- Se for um pedido do futuro rei... - Não completei pois deixou uma pequena risada escapar. Suficientemente alta para que minha avó nos encarasse em seu mais divertido olhar. Céus, como eu odiava quando me olhavam assim.
- Espero não ter gasto meus pedidos pra hoje a noite. Ou terei que solicitar pessoalmente a Willian que me conceda alguns com sua jovem prima. - Seu charme dessa vez não me fez sorrir.
- Muito bonito você passar por cima da minha liberdade apenas por acreditar que WIllian tenha alguma influência sobre mim apenas por ser um futuro rei. - Alfinetei. Vi abrir a boca várias vezes buscando o que dizer.
- Me desculpe, . - Me chamou enquanto eu me ocupava em não derrubar aquela sopa extremamente quente em meu colo. - Retiro o que disse. Mas antes que me falte coragem, você está deslumbrante. É a mulher mais bonita que eu já vi e me sinto muito honrado de compartilhar de sua presença. Não consigo me concentrar em outra coisa que não seja sua beleza.
- Você não vai me levar daqui pra nenhum lugar, . - Lembrei de todos nossos quase beijos e todas as vezes que e eu ficávamos sozinhos. Ele riu do seu jeito natural. - Você também está muito bonito. Muito. - Tratei de frisar. Nunca fui boa em elogiar.
- E por que não posso te levar pra um encontro? - Me pediu mais uma vez e eu já tinha todo um discurso ensaiado. - Aprecio de sua companhia. Você aprecia da minha. E se me permite dizer, poderia apenas ficar te olhando pois você não sai dos meus pensamentos de toda forma.
- Não, não te permito dizer nada do tipo. - Fingi meu tom mais bravo enquanto minhas bochechas certamente coravam. - Preciso te evitar, príncipe. Não quero nossos pais entendendo nossa proximidade como um noivado eminente. - Ele me olhou com seu olhar desapontado de sempre.
O jantar foi sem grandes emoções. Quando resolvi não descer para a pós celebração, tive consciência de que no outro dia mais notícias sobre a rebelde neta mais nova da rainha da Inglaterra estampariam jornais. E não que eu realmente gostasse de ver o nome da minha família em sites de fofoca, mas as vezes eu sentia que essa era a única forma de que o mundo pudesse se permitir enxergar a monarquia como um conjunto de pessoas normais.
Pela manhã, não me admirei em ver o castelo novamente muito frequentado, afinal, a rainha da Inglaterra era sempre capaz de reunir muitos reinos em suas celebrações que se extendiam por dias. .
- Sabe onde posso encontrar com ? - Questionei a um dos guardas reais que usou seu telefone para procurar por ela. era minha melhor amiga e marquesa de Bath, título que fora concedido a seu pai.
- Creio que esteja aguardando vossa majestade para a aula de Italiano. - Fez questão de me lembrar. Subi correndo de volta para meus aposentos à fim de pegar meu material e encontrá-los na biblioteca do castelo que chamavamos de lar. O que me surpreendeu, no entanto, fora ver a presença de minha melhor amiga sendo substituída por aquele que carregava o título de meu futuro noivo.
- Mas que honra, príncipe. - Cumprimentei, atraindo sua atenção. Gostava muito de sua companhia, mesmo que me custasse admitir. - Não sabia que se interessava pela cultura italiana também.
- É mais a companhia que me interessa mesmo. - Não pode deixar de me lançar seu mais sedutor sorriso. Me sentei ao seu lado tentando resistir a seus galanteios.
De nós dois, era o mais animado com uma possível notícia de casamento. Nunca fora segredo que de entre tantos reinos, eu fosse sua princesa favorita. Talvez isso tenha despertado o interesse de nossos pais sobre uma relação que pudesse vir a acontecer. A questão é que eu me via muito diferente. Enquanto se preparava e dedicava para ser um bom rei mesmo com seus 22 anos, eu tinha minhas outras prioridades. Não sabia muito bem se conhecia além dos muros dos castelos que frequentava, e isso me fazia sentir muito diferente. Não que eu não me atraísse fisicamente, claro, era um príncipe muito bonito, porém entediantemente "príncipe". Eu só podia ser maluca!
Deixei que a aula retrocedesse um pouco para que pudesse me acompanhar sem dúvidas. No fim, para mim foi mais uma revisão ao mesmo tempo que pra ele parecia algo fantástico. Era bonitinho de ver, até.
- Talvez devesse voltar para mais algumas aulas, . - O cutuquei com o ombro. Da mesma maneira galanteadora que me sorriu mais cedo, ele o fez. Após a aula também estava sendo uma companhia muito agradavel. - Italiano não é dificil, não sei como você não é fluente ainda...
- O que quer dizer com isso? - Perguntou entre risos. - Por que meus pais são reis, acredita que eu já deveria saber de tudo?
- Bom, eu não recebo tantas cobranças para ser impecável quanto você. E mesmo assim já aprendi muitas coisas. - Confessei um pouco envergonhada. Não queria fazê-lo sentir da mesma forma.
- Sei falar espanhol. Inglês. Português. Alemão. Catalão, Francês, Romeno...
- Ok, príncipe, já entendi. - O interrompi, no que ele desatou a rir. - E o que faz com tantas línguas? Dúvido que já tenha tido uma conversa em catalão com alguém que não fosse seu professor.
- Não tive, mas é uma das línguas oficiais do meu país. - Me olhou divertido. - Após nosso casamento, você deverá aprender também. - Ele sorriu e baixei meus olhos um pouco desconfortável. Percebi que mesmo que e eu tentassemos juntos descobrir o que nossos pais conversavam as escondidas, nunca havia lhe dito que o assunto mais me assustava do que animava. Ser privada de uma liberdade que eu ainda não havia experimentado era aterrorizante. Nunca o contei o porquê de me afastar tanto.
- . - Toquei seu braço em um pedido mudo de atenção. - Você acha que temos que cumprir o que eles querem?
- Me pergunta se eu quero esse casamento? - Assenti com a cabeça. - , minha princesa, sei que não é sua vontade no momento. - O olhei em surpresa. - Mas também aceito esperar o tempo que for necessário para que você aprecie minha companhia da mesma forma...
- Não é que eu não goste de você, . - Não deixei de corrigir. - Eu não gosto da ideia de fazer isso por uma obrigação.
- Te ajudaria se você se apaixonasse por mim também? - Ele perguntou e o olhei de olhos arregalados dessa vez. - Não, , por Deus, não estou me declarando ou algo do tipo. Não agora. Mas meu interesse por você nunca foi segredo pra ninguém. Sim, te acho bonita, aprecio as qualidades que reconheço em você. O que quero dizer é que se a gente se permitir conhecer melhor, poderíamos, quem sabe, construir esse relacionamento de verdade. - Suspirei pensando na ideia. - Quando você quiser, claro.
- Não seria difícil fazer você se apaixonar por mim, príncipe. - Gargalhei e recebi sua risada um pouco mais tímida. - Mas não acredito que seja algo verdadeiro. Quer dizer, amor a gente tem que sentir né? Não se cria do nada. E acredito que eu seja tudo o que você foi ensinado a procurar, mas não quem você precise realmente. - Ele me olhou divertido. - Não falo por me achar superior a ninguém, mas seus pais sempre lhe ensinaram que a esposa ideal seria alguém da realeza, pronta a dar sua vida pelo reino. Eu sei que é isso que você enxerga em mim. Mas não tenho certeza se posso ser quem você anseia ao seu lado. Não acredito que deva ser eu a sua rainha, você só aprendeu a enxergar isso em mim.
- Você acredita que amor seja algo a se construir? - Ele perguntou. - Um relacionamento de verdade. Não acredita que seja um pouco mais de admiração e menos do que os outros acreditem que seja o certo?
- Não sei. - Confessei. - É?
- Você já teve um namorado. - Tornou a me lembrar após um tempo de silêncio. - Não o amava?
- Antes de nos beijarmos, éramos amigos. Mas nunca me imaginei deixando de viver minha vida para ficar ao lado dele. - O olhei em expectativa. - Você, de verdade, acredita que eu poderia ser uma grande rainha?
- Sim. - Ele me respondeu sincero e lhe dei meu melhor sorriso em resposta. - E se nossos pais estão tramando algo sobre isso, eu não sou o único.
- Agradeço sua confiança em mim, . - Segurei uma de suas mãos entre as minhas. - Aprecio isso. Mas como poderia ser rainha de um reino se acredito que meu lugar seja o mundo? Como posso ser uma grande intocável quando o que queria na verdade era ter uma vida normal. Conhecer países, viagens para praias, bebidas além de vinho e champanhe em minhas comemorações. Além de que eu não sei metade do que você sabe, não sou 1% tão inteligente quanto você. Etiqueta não é tudo que você precisa para ter uma grande rainha ao seu lado.
- Você jamais erraria como rainha, isso eu posso apostar. Mas entendo sua ânsia de liberdade. - Ele quem estava segurando minhas duas mãos agora. - Posso propor algo a você?
- Desde que não seja um casamento.
- Na verdade, é. - Arregalei os olhos e ele sorriu. - Mas também não é. Bom, se as coisas se confirmarem, nossos pais não medirão esforços até que esse casamento aconteça, você sabe. E eu sei que você não fugiria, assim como eu. - Ele me olhou. - Bom, eu espero que não. Mas podemos ser amigos, . Se estivermos juntos nessa, será bem mais fácil enfrentar as coisas.
- Você está me pedindo em compromisso?
- Estou te pedindo a chance de nos conhecermos como um casal. - Corrigiu. - Nós temos tempo. Não se organiza um casamento de um dia pro outro. Podemos usar esse tempo a nosso favor.
- Eu vou acrescentar algo a sua proposta. - Pensei após considerar um pouco suas últimas frases. - Eu não vou conseguir fazer metade do que planejo se eles continuarem me prendendo aqui. Muito menos quando a gente se casar... - Ele me olhou em expectativa. - Se a gente se casar!
- O que gostaria de acrescentar? - Parecia tão ansioso quanto eu. Para era muito mais fácil quando tudo o que ele precisava eu já tinha a oferecer.
- A gente se conhece melhor, você me ensina romano, me apresenta toda a Espanha, me ensina a cavalgar, me apresenta a mil e um reinos. - Sorri esperançosa. - Mas antes disso, quero que você viva comigo. Veja bem, eu nunca vou poder sair desse reino sozinha. Se você estiver comigo eu posso conhecer tudo que quero sem meus pais me atormentando. Sem o país me atormentando também. Nós vivemos em uma sociedade muito machista, percebe? Eu não posso enfrentar isso tudo sozinha. Preciso de você.
- Te ensinar a cavalgar? - Pude sentir seu tom mais malicioso possível. Desviei de seu olhar envergonhada.
- Sério que você se concentrou nisso? - Eu ri. Se ele queria usar de sensualidade comigo, eu também sabia jogar esse jogo. - Podemos nos divertir e quebrar regras. Eu também quero que você experimente viver além do conto de fadas que seus pais lhe prometeram. Quero que você erre, ouse, se divirta. Eu adoraria participar e experimentar coisas com você, . Mas eu não quero um príncipe. Quero um homem inteiro. Você me entende?
- Posso me permitir ser um pouco rebelde. - Ele me olhou com todo seu charme. - Então temos um acordo. Eu te mostro meu mundo "chato de príncipe" - fez aspas - e você me leva ao mundo de diversões que tanto sonha.
- Não coloque palavras em minha boca, . - Corrigi. - Você não tem uma vida chata. Eu tenho essa mesma vida, só não encaramos do mesmo jeito. Diversão e responsabilidade não deveriam ser opostos. E seremos amigos, até que nossos pais decidam se isso será um casamento ou não.
- Certo. - Ele me olhou empolgado. - Até que nossos pais decidam.
.
Quando a princesa aceitou nosso acordo, tive que me segurar para não me reunir com todos os cavalheiros e festejar tal situação por três noites.
Chegava a ser um pouco humilhante a quem visse de fora, já que eu praticamente havia tido que implorar por uma chance daquelas.
A verdade é que eu amava Windsor. E tê-la ao meu lado seria minha maior conquista. Ela me permitiria conquistá-la, assim como fez comigo sem a menor das intenções.
Eu a amava antes mesmo do que pudesse me lembrar. Lembro de ainda sermos adolescentes quando comecei a me envolver de verdade. Acompanhar os eventos que ela fazia com as ongs que trabalhava, os sorrisos que distribuía por todo seu reino. era muito mais doce do que deixava transparecer, e me ver capaz de reconhecer isso me fazia bem. Eu queria ser suficiente para estar ao lado daquela mulher.
- Se estamos nessa espécie de acordo, acho que podemos fazer algumas perguntas importantes. - Ela disse. Estávamos em um dos jardins do castelo onde fotógrafos não poderiam nos alcançar.
- O que quer saber? - A olhei desconfiado. me fazia perguntas a todo momento, e vê-la desconcertada sobre algum assunto me tornava ansioso. - Te dedico minhas respostas mais sinceras.
- Você já se deitou com uma mulher? - Perguntou sem me olhar. A pergunta deveria estar rodando sua cabeça a dias para que dissesse com tanta firmeza.
- Não. - Respondi apenas. Para um príncipe que conhecia tantos lugares, certamente parecia uma resposta estupida. A verdade é que nunca me permiti encantar por nenhuma mulher a tal ponto. Acreditava que o sexo sim era mais confiança do que prazer. Ela pareceu relaxar com a resposta. Eu sabia que ela também não. Não por tantas faltas de oportunidade, ela já havia namorado por um tempo. Sabia apenas que seus pais, inconscientemente nunca a deram tal liberdade e ela nunca havia desejado tanto assim para ir atrás.
- Você sente vontade? - Voltou a perguntar. Dessa vez minha surpresa foi ela me encarar.
- Você não gostaria dessa resposta. - Provoquei. Desejá-la foi algo que aprendi com meus 18 anos também. se destacava por sua beleza e vaidade, era dificil para qualquer homem não pensar em como seria tocá-la e amá-la. - Porque está pensando nisso agora, minha princesa?
- É o que todos pensam, não? - Sua voz parecia sem graça.
- Não sei dos outros. Mas não penso isso a todo momento. - Confessei. - Nem com qualquer mulher. Mas nos ultimos dias tenho pensado bastante.
- Basicamente, você espera isso de mim... - Disse num suspiro. - Eu também nunca me deitei com nenhum homem. - Afirmou. - E eu sei que é besteira, afinal nunca nem nos beijamos, mas eu gostaria de que fosse com você. - Tentei conter meus olhos arregalados.
- Podemos resolver as duas coisas de uma vez. - Fingi me aproximar. me estendeu suas mãos para que eu beijasse. Todo meu carinho naquele ato. - Ao seu tempo, princesa. Porque resolveu perguntar sobre isso agora?
- Quero que você me ache bonita no baile. - Sua voz foi esperançosa. - Tenho pensado muito em você, . Saber que você me deseja me motiva a fazer... Bom, o que quero fazer?
- E o que você quer fazer? - Não pude conter minha voz ansiosa. Ficava cada vez mais difiicl acompanhá-la diariamente quando pela noite, tudo o que eu pensava era na sensação de ter seus lábios sob os meus.
se aproximou, segurando meu rosto com suas duas mãos. O beijo mais calmo que eu já havia dado em minha vida, justamente após ela dizer que gostaria de dormir comigo. Eu deveria ser um homem santo.
Deixei que ela controlasse a velocidade do beijo mesmo que minha vontade fosse nunca mais parar com aquilo. Não haviam palavras quando descobrimos que beijar por minutos era muito melhor.
E depois disso, não conseguimos nos ver por dois torturosos dias.
.
Alguns dias se passaram. Ainda no castelo, começou me dar aulas de romeno pela manhã. Na mesma tarde, fomos escondidos a um shopping em um horario pouco frequentado. Ninguém pareceu nos reconhecer e eu devia a o agradecimento pelos disfarces. Em outros dias me levou para andar de cavalo, conversamos sobre a Espanha por horas. Assistimos uma temporada de Friends como adolescentes normais. Bebemos escondidos no porão, mas não foi das melhores experiências dormir após alguns goles de vinho.
E a cada dia, descobríamos que éramos ainda mais parecidos do que imaginávamos. Aprendi a reconhecer não só um homem destemido e bonito, mas um cavalheiro encantador, um cara muito menos galanteador e ainda mais romântico. E eu só conseguia pensar nisso.
Meus pais estavam cientes que após o casamento de Willian, , , Léon e eu iríamos passar alguns dias no Brasil. E por León ser noivo de minha prima, aquilo meio que se encaixava em uma viagem de dois casais de amigos.
Por isso quando o casamento de Willian chegou, eu resolvi enfrentar meus medos. Se fosse meu destino mesmo estar ao lado do Rei da Espanha, já não conseguia me opor. Eu ansiava estar com e não seria capaz de conter esse sentimento. Mesmo que custasse alguns sonhos e meu orgulho. Ele vinha a cada dia se tornando um sonho pra mim também.
Chegava a ser cômico como em menos de um mês eu conseguira passar de desapegada para apaixonada. Como havia me dito, amor era algo a se construir. Eu ainda não o amava com o coração, mas meus pensamentos eram sempre pra ele. Paixão, que se chama. E eu sabia que paixão já era algo muito proximo ao que ele tanto almeijava.
Eu achava que já tinha partido meu coração o suficiente para amar de novo. E agora estava me arrumando exclusivamente para agradar os olhos do meu príncipe favorito.
Os grandes jornais já falavam da permanência do príncipe espanhol por tanto tempo no reino vizinho. Por isso quando desci as escadas do salão da cerimônia, tratei logo de afastar daquela multidão que poderia nos levar a uma foto comprometedora que não podia sair naquele momento. Não enquanto eu não fosse sincera com meus sentimentos. Não enquanto não fossemos um casal de verdade.
Ele me seguiu com uma distância considerável. Quando encontrei uma das salas reservadas em Buckingham, não demorei a lançar meus lábios sobre os seus. Não queria que nosso beijo fosse tão atrapalhado e pouco romântico, mas sabia que seria o gás que me levaria a enfrentar aquilo com maior verdade. Gostaria de estar ao seu lado durante a cerimônia imaginando que um dia poderíamos ser nós ali, sem me importar se aquilo seria desconfortável ou não.
- Eu não quero que isso seja um plano, . - Disse, me afastando apenas para que ele pudesse me ouvir com maior clareza. - Não quero que sejamos um casal apenas por desejo do seu rei. Não quero que precisemos nos conhecer. Aliás, eu já o conheço. Te beijei porque quero estar com você por gostar de você, não porque achamos que nossos pais, o papa ou o mundo deseje isso. Mas sim porque nós desejamos isso. Porque eu não quero que você seja meu rei, quero que seja meu amigo, quero me entregar inteira para dividirmos o mundo.
- Você sempre foi minha princesa. - Ele sorriu. - E sempre me deixa sem palavras. - Confessou. - Seja por sua beleza, por dizer algo que eu não esperava ouvir, alimentar minhas fantasias. Você é minha liberdade, Windsor. Eu me submeteria ao que fosse pra te mostrar um pouco disso. O quanto preciso e desejo você ao meu lado é pouco comparado ao quanto te admiro. Ao quanto você é encantadora. - Pude ouvir uma movimentação no corredor indicando que a cerimonia estava prestes a começar.
- Sei que isso vai parecer muito inapropriado. - Comecei a dizer. Que Deus me desse sábias palavras. - Mas eu gosto de você, . Gosto muito. Confio em você. Fui sincera quando disse que gostaria de esperimentar coisas, e faz alguns dias que eu queria isso. Acho que já nos beijamos vezes suficientes para avançarmos com isso. - O olhei no fundo de seus olhos. - Passarei a noite aqui em Buckingham. E se você quiser, pode passar a noite comigo. A gente pode, sabe, experimentar.
- O que você me pediu? - Ele perguntou numa inocencia que eu não esperava. Me sentia ridicula por estar realmente o chamando para transar. Mas sabia que seria um passo importante antes que finalmente confessasse a meus pais que aceitaria me tornar a futura rainha da Espanha.
- Quero você, . - Confessei. - Quero te conhecer por completo.
Durante toda a cerimônia, pude sentir mais tenso que o normal. Claro, além do fato de eu tê-lo chamado pra dormir comigo, ainda tinha o fato de que eu havia segurado sua mão quando entramos no salão cerimonial. Na frente de todo um reino, na frente dos meus e dos seus pais.
- Acredito que tenha realizado seu objetivo, pai. - Comentei assim que ele me alcançou. conversava mais ao fundo com um de seus amigos quando fui, finalmente, me esclarecer sobre. - Não pense que devemos assumir um compromisso por obrigação. e eu nos gostamos de verdade, não precisamos forçar nada.
- Do que está falando, filha? - Minha mãe perguntou desconfiada.
- Eu sei dos planos do rei da Espanha. - Admiti a eles pela primeira vez. - Planos de que eu me tornasse uma rainha para o país. Eu sei que tenho que me esforçar, tem me ajudado nisso. Eu quero, de verdade quero, não quero que sintam que estou me forçando porque vocês querem isso, eu sei...
- Não sei realmente do que está falando, filha. - Foi meu pai quem me interrompeu dessa vez. - Você acha que tentariamos arranjar um casamento forçado a você e ?
- E não? - Perguntei perdida.
- Por Deus, não. - Ele riu um pouco desacreditado. - Filha, eu jamais venderia sua felicidade, pelo reino que fosse. Sim, o príncipe sempre teve nossa torcida, mas jamais intereferíamos nisso. Acredito que você tenha tentado por tanto tempo não aceitar que o queria que criou essa história pra você. - Meus pais riam da minha cara. Eu me sentia um pouco perdida ainda. - Ficamos muito felizes que vocês estejam assumindo seus sentimentos um pelo outro. Mas te garanto que vocês descobriram esse sentimento porque sempre se gostaram, não porque seus pais quiseram isso.
Me declarar apaixonada por na verdade não era minha liberdade. Admitir que era eu a dona do meu conto de fadas, sim. Quando o encontrei, embaralhei as palavas minha mente tentando compartilhar essa última descoberta.
- Nunca foi um plano, . - Foi a vez dele me olhar confuso. - Dos nossos pais. Eles nunca tentaram nos casar.
- Eu sei. - Foi a vez dele confessar. - Nunca acreditei que fosse.
- Mas você sempre esteve comigo. Falava disso comigo. - O olhei desconfiada. - Você sabia?
- Bem, não tinha o que saber. - Ele riu. - Nós nunca perguntamos. Mas você começou a acreditar tanto nisso que eu me deixei envolver na história. Nunca escondi que queria isso. Mas não pelo casamento, mas sim por ser você... Sempre te admirei, minha princesa. Nunca precisei de nenhuma imposição ou pedido ou proposta para querer te tornar minha rainha. Sempre foi apenas você.
- Se não tívessemos criado essa história, não tívessemos nos aproximado por acreditarmos que deveríamos nos casar... - Tentei ordenar as palavras. Mas estava pronta pra admitir. Se não fosse por isso... Você me amaria?
- Claro que sim. - Me respondeu. - Eu já a amo, princesa. Há muito tempo.
- Isso é legal. - Resolvi brincar. Sabia que ele esperava uma outra resposta. - Talvez isso dê certo. - Disse, me fazendo parecer um pouco menos envolvida. - De verdade. Sem criar nada. Eu quis me esforçar pra ser sua rainha, , mas agora eu aceito que sempre quis ser o que fosse, desde que fosse ao seu lado. E bom, talvez eu também ame você.
- Te disse que estava disposto a esperar. - Ele me beijou ainda sobre a supervisão do reino. Certamente esse casamento de Willian iria render várias noticias.
E nós viveríamos livres para sempre.
Fim
Nota da autora: (25/08/2020) Clique aqui para seguir à página da autora.
Essa história vai ganhar uma continuação e o link estará disponível aqui assim que isso acontecer!
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