Última atualização: 29/12/2017

Prólogo

Era difícil escolher o quê dar de presente para alguém que já tem de tudo.
Tudo mesmo!
Casa grande em bairro nobre?
Ele tinha.
Um carro chique e veloz?
Óbvio que sim.
Um closet com roupas de grife e vários acessórios?
Também — muito mais do que eu!
Os gadgets mais modernos e caros?
Sim, ele tinha.
Então ficava evidente que eu não tinha ideia nenhuma do quê dar de presente de Amigo Secreto para o meu chefe.

ANO 00


A entrevista de emprego era para o cargo de recepcionista.
Não era bem o trabalho dos meus sonhos, mas com minha mãe no hospital e eu sendo a única de meus irmãos com idade o suficiente para trabalhar, coube a mim tomar jeito na vida e agir de maneira responsável.
Alguém lá em cima deveria gostar de mim, pois fui selecionada para o emprego mesmo sem nunca ter trabalhado na vida. Ter o espaço “Experiência Profissional” em branco costumava afugentar qualquer possível contratante, acredite em mim!

Eu tinha praticamente um mês na poderosa e importante Indústrias Fletcher, quando conheci o presidente da empresa.
E não foi nada convencional...
Tratava-se de uma quinta-feira, mês de Natal.
As ruas e casas já estavam tomadas por enfeites e luzes.
A árvore de Natal da empresa tinha acabado de ser disposta na recepção, toda enfeitada nas cores típicas da empresa: azul e vermelho. Era toda alta e robusta.
Eu fingia estar trabalhando, enquanto, na verdade, admirava os enfeites da árvore quando o Papai Noel irrompeu no saguão da empresa. Roupa vermelha, barba branca, barriga de cerveja, botas e tudo mais!
— Hô, hô, hô! — riu escandalosamente.
Estava prestes a apertar o botão de pânico, logo abaixo de minha mesa.
O quê raios era aquilo?
— Funcionária nova? — perguntou-me o bom velhinho. Ainda que parecesse confuso, não deixou de sair do personagem, mantendo sua voz.
Dei apenas um aceno leve com a cabeça. Mamãe sempre me disse para não falar com estranhos. E aquele ser humano se encaixava perfeitamente na descrição dela.
— Muito bem. Seja bem-vinda! Agora... — disse ao se aproximar da minha bancada. — É só colocar a mão no meu saco.
— Quê?!
— Vamos, não seja tímida.
Em seguida, colocou um saco de veludo vermelho sobre o tampo de vidro da bancada e uma sensação de alívio e vergonha percorreu todo o meu corpo.
Acredito que ele notou a percepção equivocada que tive dele a princípio:
— Há prêmios aqui dentro. Você escolhe um e ganha. Vamos lá, retire um papelzinho.
Dei-lhe um sorrisinho amarelo, acanhada ainda.
Peguei um entre os diversos papéis que minha mão sentiu e o entreguei sem nem desdobrá-lo — serviço que ele o fez, vibrando com emoção ao anunciar meu prêmio.
— Você acaba de ganhar... um peru de doze quilos!
— Credo!
Certo, era um prêmio. A empresa não tinha nenhuma obrigação de me dar nada pelo fato de ser Natal e “cavalo dado não se olha os dentes...”... Mas eu odiava peru!
O bom velhinho pareceu hesitar após minha reação espontânea demais. Coçou sua falsa barba (ou seria mesmo verdadeira?) e então dobrou o papel novamente.
— Me desculpe! Eu fico com o prêmio! — meu lado racional e educado me fez dizer, mas meu semblante evidenciava o meu desgosto.
Ele fez apenas um gesto negativo com sua luva branca e aveludada, jogou o papel dentro do saco e o estendeu para mim logo em seguida.
Suspirei, praguejando minha franqueza involuntária, e fiz o que era pedido.
— Muito bem... — ele fez uma pausa para o suspense. — uma árvore de Natal!
Ao menos não é um peru!, pensei comigo mesma com alívio.
— Nesse mesmo estilo. — o bom velhinho apontou para a árvore da recepção. — O Papai Noel espera que desse prêmio a funcionária nova goste.
— Ne-nesse estilo?! — aquela puta árvore gigante?!
Aquela monstruosidade não caberia no meu apartamento!
Seus olhos mostraram certo receio por detrás dos óculos meia-lua de armação fina e dourada.
— Eu sempre quis uma árvore assim! — gritei, fingindo-me de emocionada, chorando e me descabelando no âmago do meu próprio ser. — Obrigada... Papai Noel.
O bom velhinho sorriu, parecendo satisfeito.
— Farei com que seja entregue na sua residência. Hô, hô, hô!
Na hora eu não fazia a menor ideia, mas aquele era o jovem presidente da empresa.
Thomas Fletcher.

Era sábado. Doce sábado.
E se você achava que eu dormia até tarde aos sábados, enganou-se.
Sábado cedo pela manhã era dia de visitar minha mãe no hospital. Um horário meio ingrato, entretanto, não se comparava ao infortúnio de minha mãe de ter de ficar lá e não com seus filhos em casa.
— Oi, mãe! — gritaram meus irmãos gêmeos assim que entramos no quarto. Tentei repreendê-los, mas para minha mãe a algazarra era como música para seus ouvidos.
— Queridos! — ela estendeu a mão, a voz debilitada. — ...querida.
— Está tudo bem, mãe. — tentei assegurar-lhe. Minha mãe costumava se preocupar em excesso comigo sustentando sozinha tudo.
Das sete e meia da manhã até as oito e quinze nós éramos uma família quase normal — era preciso relevar o cenário hospitalar e a condição um tanto frágil de minha mãe.
Optei por tomar um segundo café da manhã com os gêmeos na volta para casa, comida do hospital me deprimia.
Depois de me descabelar em uma padaria por conta de meus irmãos, tudo o quê eu queria era poder me jogar na cama e dormir, dormir e dormir. Só que assim que nos aproximávamos do prédio onde vivíamos, temi que isso não fosse possível.
Vi a carcomida da síndica apontar em minha direção enquanto falava com um entregador trajando um colete, cujo logo era o mesmo em um grande caminhão de mudança, estacionado logo em frente ao meu prédio.
? — perguntou-me o jovem rapaz quando me acerquei.
— Sim?
— Assine aqui, por favor. — ele me estendeu uma prancheta com vários papéis e uma caneta.
— O quê é? — perguntaram meus irmãos.
— Entrega das Indústrias Fletcher.
— Droga, é a árvore! — praguejei.
— Árvore? De Natal?
— Você comprou uma árvore de Natal nova, mana?
— Não, não... Eu ganhei.
— AÊÊ!
Meus irmãos estavam eufóricos; eu, preocupada.
Desnecessário dizer que meus irmãos me torturaram e manipularam até que eu os obedecesse e montasse a bendita árvore...
Mais desnecessário ainda é ter de dizer que a árvore realmente não cabia em nosso apartamento de teto baixo, assim, o objeto acabou envergando no topo — o que facilitou colocar o enfeite de estrela no galho mais alto.
Os enfeites que adornavam por completo a nossa árvore menor não foram capazes de preencher direito nem um dos lados da árvore maior, enquanto o pisca-pisca só chegava até metade do comprimento dela. Havia mais verde do que enfeites!
Por sorte, aos olhos de meus irmãos pestinhas ela estava incrível: grande e imponente.

A segunda-feira chegou e meu ânimo para trabalhar era zero. Sentia meu corpo cansado e incômodos calos em meus dedos, tudo graças a montagem da árvore.
Praticamente joguei-me na cadeira e dei-me ao luxo de dar um longo suspiro — aproveitando o fato de que não havia ninguém na recepção. Não demorou muito para que o fluxo de pessoas começasse... e até ele chegar.
— Bom dia! Recebeu a árvore, senhorita? — perguntou simpático assim que as portas automáticas lhe abriram passagem. Agora sem a barba branca e roupa vermelha.
Ele não se parecia em n-a-d-a com o Papai Noel roliço, pançudo, barbudo e velho. Não senhor, Thomas Fletcher estava mais para neto do Noel.
Parecia um verdadeiro homem de negócios com seu terno slim fit — aqueles que definem melhor a silhueta por serem rente ao corpo — de cor cinza de três peças. Era o primeiro e único homem que eu via ‘ao vivo e a cores’ utilizar uma gravata borboleta também cinza. E se aquele item já lhe dava um aspecto singular, parecia casar perfeitamente com os óculos de armação grossa do tipo “meu-vovô-usava”.
Seu rosto ainda não havia dado espaço para as rugas da idade, viam-se apenas leves linhas de expressão na testa e onde as sobrancelhas se encontram. E embora seus cabelos parecessem brancos, eram de um loiro muito claro — eu me perguntava se era a cor natural.
— Bom dia... Sim, sim. — esforcei-me para que o sorriso vencesse a expressão apática. Reuni fôlego para lhe contar brevemente sobre a montagem da árvore, quando o telefone tocou. Meus olhos ficaram entre o objeto e ele, que indicou com a cabeça que eu devia atender primeiro.
— Indústrias Fletcher. . Bom dia. — disse no melhor tom simpático possível, ao que o próprio Fletcher me devolveu com um sorrisinho leve sem mostrar os dentes. — Certo... — odiava quando o cliente contava toda a sua história para mim, achando que eu poderia resolver o assunto.
Enquanto esperava que a pessoa do outro lado da linha terminasse para então eu lhe dizer que iria transferir sua ligação para a pessoa correta, peguei meu celular e com a mão livre selecionei a galeria de fotos para mostrar ao meu chefe a foto tirada no dia anterior.
Um grande e espontâneo sorriso desabrochou em seu rosto ao ver a tela do celular. Meus dois irmãozinhos sorriam parados lado a lado em frente à nova árvore montada no canto da sala, encurvada pelo teto baixo.
— Devia ter me dito que ela não iria caber... — comentou ele, tentando voltar a um semblante mais sério, estava na empresa, afinal.
— Hum, não, sem problemas. — comentei após analisar a foto com o celular de volta a minhas mãos. Observei o brilho nos olhos de meus irmãos e uma onda nostálgica e cálida invadiu meu peito: — Eu sempre sonhei em ter uma grande árvore.
Eu adorava o Natal
Mas ainda ia descobrir que Thomas Fletcher era capaz de amar o Natal mais ainda.


Ano 1

— Eu duvido que ele faça algo este ano! — disse a secretária pessoal de Thomas na recepção.
— Também, pudera! — comentou aquela que ocupava o cargo de gerente geral.
Ambas esperavam que dessem 8 horas para bater o ponto no aparelho que lia a digital dos funcionários na entrada e na saída, às 08h e às 17 horas.
Eu fingia acertar uma papelada do dia anterior enquanto prestava atenção à conversa. Era o assunto do momento ainda.
— Bom, eu não a culpo... Jonathan sempre foi um pedaço de mau caminho e um devasso. — a secretária disse com certa malícia.
— É verdade! Mas isso não é desculpa para serem flagrados fazendo sexo como dois animais na cama deles. — a gerente geral havia sido traída pelo segundo marido, o que penso ter influenciado sua opinião sobre o caso do presidente da empresa em seguida: — Hunf! Pra mim queriam ser descobertos.
— Ah, mas isso é óbvio... Deve ter se cansado daquele jeito ‘Peter Pan’ dele. Eu sei que não teria paciência.
— Nossa, lembra daquela nevasca horrível em que ficamos presos aqui...
— E ele colocou filmes da Disney para passar o tempo!!! — ambas disseram em coro, caindo na gargalhada logo após, dando entre si leves tapas de mão para que a outra se controlasse. Era preciso, ainda estavam no saguão de uma empresa importante.
— Sessão Tortura. — a gerente fazia um gesto com seu dedo no canto dos olhos para conter as lágrimas.
Foi então que o relógio deu 8 horas, elas bateram o ponto e eu fiquei sozinha. Aproveitei o momento para pegar meu celular e comecei a repassar a fofoca ouvida. E antes que digam “Toda recepcionista é fofoqueira”, não era para ninguém da empresa, mas James, meu recém-namorado.

Muito trabalho, hein, dona ?



Ele respondeu, fazendo-me rir de maneira contida — um ou outro funcionário chegava à empresa para trabalhar e eu não queria que me tachassem de louca.
Algum tempo se passou, o expediente teve início e, pela câmera de vigilância exibida em qualidade bem mediana, notei um carro imponente andar lentamente dentro do estacionamento frontal — reservado apenas para os diretores e o presidente.
Era o Volvo de Thomas Fletcher.
Sua figura surgiu na recepção após duas semanas fora trabalhando em uma filial no exterior. Ele parecia horrível: olheiras profundas, olhar e semblante abatido. Estava até mais magro.
Devia ser a traição e o inevitável divórcio em seguida, pois o trabalho, mesmo nas épocas mais atarefadas, não o deixaram tão ‘destruído’.
— Senhor Fletcher! — levantei-me um pulo após minha avaliação silenciosa sobre meu chefe. Ele se voltou para mim, carregando desajeitadamente seu paletó, a mala do escritório, uma mala de rodinhas e uma sacola com os dizeres “Duty Free”. — Eu ajudo!!
Acerquei-me, tomando em minhas mãos o paletó de forma que ele não amassasse — ainda mais — e a sacola. Não havia nele qualquer esboço de reação, nem mesmo foi capaz de se opor ou agradecer.
Incomodava-me vê-lo daquela maneira, praticamente um morto-vivo.
— Hum... O Natal está chegando, sabe? Não seria bom colocarmos a árvore? — seguia em seu encalço, detendo-me quando chegamos ao elevador e apenas ele entrou. Entreguei-lhe seus pertences enquanto esperava uma resposta.
Fletcher olhou por cima do meu ombro, para o ponto onde costumávamos colocar a árvore na recepção e com um tom frio e cortante me respondeu:
— Não é como se alguém tivesse dado pela falta dela...
Foi minha vez de ficar sem reação.
A traição da esposa havia levado embora até seu entusiasmo pelo Natal?
As portas do elevador então começaram a se fechar e respondi baixo, para mim mesma: — Eu notei.
A essa altura as portas estavam fechadas e o visor indicava o percurso em ascendência feito pelo equipamento até o escritório dele, no topo do edifício.
Suspirei e retornei ao meu posto, jogando-me de qualquer maneira na cadeira atrás da bancada.
Eu gostava daquela puta árvore gigante, da decoração excessiva com enfeite únicos — alguns pareciam mais itens raros e feitos à mão. A irmã gêmea dela, a árvore que ganhei de presente, era decorada com alguns poucos enfeites, todos aleatórios, e com um pisca-pisca cheio de lâmpadas queimadas.
A árvore da empresa era como eu ansiava um dia decorar a minha.
Suspirei e tratei de me recompor, havia muito trabalho a ser feito! Era preciso enviar muitos envelopes com brindes comemorativos com o logo da empresa — calendários e agendas — e era minha função administrar que tudo fosse catalogado corretamente antes de serem despachados para os correios.




O telefone tocou enquanto eu ainda elaborava a lista de clientes e seus devidos emails em uma tabela de Excel — por que fui dizer que sabia mexer com propriedade nesse programa maldito??!!
— Industrias Fletcher. . Boa tarde.
— Sou eu... — disse a voz de Fletcher do outro lado da linha, parecia algo enfadado por tê-lo feito ouvir aquela ladainha ao atender uma chamada.
— Pois não? — perguntei, algo receosa pelo que viria a seguir.
— Pode vir até minha sala, por favor?
— Unh... — eu estava atolada de serviço, e nem um pouco animada de deixar o resto para o dia seguinte. Mas chefe, é chefe. — Sim, claro.
Desliguei, fazendo careta para o telefone.
Larguei o mouse, deixando uma indicação bem evidente para mim mesma sobre onde havia parado.
No elevador, esperei pacientemente até chegar ao último andar. As portas se abriram para a pré-sala do escritório de Fletcher, porém, ela estava vazia. Isso porque o expediente já havia se encerrado há uma hora.
Bati na porta dupla de vidro com educação. Ouvi um som abafado e, julgando ter sido um “Entre”, abri uma fresta e meti minha cabeça por entre o pequeno espaço criado.
Fletcher estavam enclinado sobre sua mesa, assinando freneticamente inúmeros papéis. Quando finalmente ergueu sua cabeça em minha direção, pensei que a frieza em seu olhar congelaria meu corpo e espírito.
— O... o senhor precisa de algo?
Suas narinas se expandiram brevemente, ele bufara, provavelmente pelo uso do “senhor”. Entretanto, o jeito dele não incentivava proximidade.
— Sim. Pode entrar.
O fiz sem muita cerimônia, pois parecia mais se tratar de um comando e não um convite. Ele girou sua cadeira e levantou-se, caminhando até algumas caixas volumosas de papelão.
— Aqui está tudo o que possa precisar.
— Tudo... o quê?
— A árvore, enfeites diversos, luzes...
Meus olhos alternavam entre sua figura e as caixas. Ele esperava que eu decorasse a árvore da recepção??
— Não me disse pela manhã que deu pela falta dela?
— ...é... sim.
— Ótimo. — essa última fala dele me fez pensar que aquilo fosse um castigo disfarçado por abrir minha boca e sair palpitando como se tivesse liberdade para tal.
— O senhor não prefere decorá-la como sempre faz?
— Farei questão de não a responder se continuar me chamando de “senhor”.
Notei que era uma tentativa sua de tentar amenizar o clima chefe/empregado, mas a energia negativa que emanava dele anulava seus esforços. Forcei uma risada amarela ao mesmo tempo em que voltei meu olhar para o lado, tentando me fixar em qualquer outro ponto que não fosse seus olhos frios.
O ouvi dando um suspiro pesado.
— Creio que eu não esteja muito “inspirado” no momento por preencher e assinar papéis de divórcio.
Maneei positivamente a cabeça.
Era melhor desistir e montar logo a droga da árvore. As palavras dele eram tão carregadas de azedume e rudeza que me faziam sentir mal — como se eu pudesse ter alguma culpa!!!
Voltei-me para as caixas, dei um discreto suspiro e sentei-me ao lado delas, retirando primeiro as partes da árvore.
— E então... — ouvi sua voz cortante atrás de mim e o som das rodas da cadeira. — O que as línguas desocupadas e fofoqueiras estão dizendo?
— O... O que quer dizer? — sabia que não seria prudente encará-lo, entretanto, seria deseducado. Ainda mais quando é seu chefe falando com você.
Ele riu, mas se havia qualquer graça na situação, eu estava alheia a isso.
— Não precisa bancar a diplomática comigo. Recepcionistas sempre sabem de tudo e de todos. E repassam também...
Ok. Aquilo era um preconceito muito forte contra minha classe operária.
— Quer saber algo em específico, senhor Fletcher? — perguntei, a voz em tom cínico, fazendo questão de marcar as últimas palavras. Queria que cumprisse sua ameaça de não falar mais comigo. Afinal, que outra forma havia de castigá-lo por seu comentário ardiloso?
O silêncio imperou e eu passei a supor que ele entendeu o recado, havia apenas o som de papéis, caneta e galhos de árvore.
Dei continuidade a minha nova função. A árvore agora estava de pé, com seus 3 eixos encaixados e seus galhos estendidos.
— O que está fazendo? — o ouvi perguntar algum tempo depois.
— Agora estou decorando. — tentei não soar grosseira demais por explicar algo tão óbvio, mas eu ainda estava ofendida.
— Não, não, não. Você não pode colocar os enfeites antes das luzes. Do contrário...
Ele parou de falar ao ver minha melhor “cara de bunda” que consegui fazer.
— Pensei ter ouvido que não estava inspirado, senhor Fletcher.
Eu morria de rir por dentro pelo desconcerto dele perante mim. Estava satisfeita com minha pequena vingança não declarada.
Mesmo a contragosto, retirei alguns dos enfeites colocados antes e peguei a caixa com o pisca-pisca.
— Me desculpe pelo comentário de antes. Ofendê-la não era minha intenção. — disse com uma voz mais próxima do seu jeito de sempre.
Não havia traços de irritação na voz dele, então tratei de ser sincera ao responder:
— Sem problemas.
— Tenho andado com a mente focada em certos problemas...
— Posso imaginar.
— Então já estão todos cientes?
— Disse que imaginava porque é época de Natal e o sen-... você não tem usado sua coleção Natalina de óculos, gravatas ou ternos.
Ah, sim, ele possuía ternos temáticos para o Natal.
E os vestia.
E saía de casa com eles!
— Mas, sim, todos estão comentando.
— E o que comentam?
Mordi meu lábio inferior. Sempre se espera que você repasse a fofoca ou a guarde para si mesmo, mas que não conte para a pessoa sobre quem se fala pelas costas.
— Que sua mulher fez, na casa onde moram, algo que só deveria fazer com você.
Fletcher estava com os olhos semicerrados, incrédulo:
— As pessoas estão comentando dessa maneira??
— Não. Mas você ainda é meu chefe. E eu não quero ser demitida por uma fofoca que eu nem comecei.
— Não se preocupe. Ninguém será demitido. Isso não faria a realidade mudar... — disse aquilo com uma expressão completamente apagada.
Parecia estupidez o questionamento se ele estava bem. Era óbvio que não estava. Mais do que raiva, havia dor em seus olhos. Meu chefe teve seu coração partido.
— Está fazendo isso errado. — ele comentou após algum tempo ‘fora do ar’. Meu cenho se franziu. — Tem que começar de cima.
Vi-o erguer ambas as mãos após o olhar que lhe lancei. Odiava gente que criticava sem ter feito nada.
Ainda assim, após bufar profundamente, passei a retirar as luzes, para então recolocá-las como ele tão adoravelmente orientou. Fui até a mesa dele, empurrando uma das duas cadeiras para visitas em frente à mesa dele até a árvore.
Fletcher entendeu que era melhor voltar ao seu lugar e me deixar trabalhar em paz.
Dei um leve ajuste em minha calça lisa e preta antes de subir descalça na cadeira, com o fio do pisca-pisca enrolado em um dos braços.
Seria uma longa tarefa.


Trilha sonora: McBusted – Get Over It



E ali, decorando, perdi a noção do tempo.
O som estridente do telefone na mesa de Fletcher irrompeu na sala. E eu fui obrigada a me voltar na direção onde ele se encontrava, pois, por algum estranho motivo, Fletcher ainda não havia atendido. O toque já estava me irritando.
— Não vai atender?
Ele não estava esperando que eu atendesse só porque aquela era uma das minhas funções, né?
— Não... não posso. — disse aquilo praticamente em um sussurro, suas sobrancelhas estavam arqueadas, mas seus olhos não continham brilho algum. O telefone parecia ser uma bomba prestes a detonar.
Desci da cadeira e, mesmo descalça, fui até sua mesa e atendi. Fletcher até fez um movimento para tentar me impedir, mas fora lento demais.
— Indústrias Fletcher. . Boa noite?
— Tom??? — ouvi do outro lado da linha a voz de Margaret infiel-ex-Fletcher.
Isso explicava porque ele não “conseguia” atender antes.
— Não, aqui quem fala é , da recepção principal. O senhor Fletcher deve estar fora da sala dele, pois a chamava caiu aqui na recepção.
Fletcher me encarava como se fosse sua grande salvadora, sibilando um “Muito obrigado”. Enquanto eu fazia a voz mais enfadonha possível ao telefone.
— Que palhaçada! — a ex-mulher bufou do outro lado da linha. — Então o encontre e diga que estou chegando. E ai dele se continuar me evitando!!!!
Não pude nem responder, desligou na minha cara sem o menor respeito. Mulherzinha desprezível.
Os olhos de Tom me encaravam com preocupação, o cenho completamente franzido.
Devia esperar pelo pior.
— Ela disse que vem vindo e desligou. — anunciei, ao que ele respondeu apenas com um suspiro pesado de lamentação, afundando seu rosto em suas mãos, com os cotovelos apoiados sobre a mesa.
— Sabe o que é pior? — perguntou-me depois de alguns instantes, com a voz abafada. — É que ela se casou comigo por amor, não dinheiro. Assinou o acordo pré-nupcial que meu pai nos empurrou sem qualquer reclamação...
— E agora ela quer tudo ou então metade do que é seu. — completei com o clichê mais óbvio nos divórcios entre pessoas ricas.
— Nem por cima do cadáver da minha mãe!!! — ele ergueu sua cabeça, seus olhos ardiam em determinação, embora também parecessem prestes a transbordar em lágrimas. Voltou-se com a cadeira de costas para mim, movendo o mouse de seu computador para que o monitor acendesse. De onde eu estava pude vê-lo acessar o sistema de câmeras interno da segurança — eu mesma só tinha acesso ao portão de pedestres principal, enquanto Fletcher tinha centenas de câmeras. Acho que só faltava ter nos banheiros, se é que já não havia.
A figura de uma mulher descendo de um Volvo, estacionado de qualquer maneira e movimentando-se rápido foi exibida. Vê-la, ainda que naquela resolução medíocre, foi como um balde de água fria em meu chefe.
— Vocês já conversaram direito sobre o que aconteceu? — perguntei, lembrando-me do aviso dela para que ele não a evitasse mais.
— Não há nada para conversar ou acertar.
— Mas talvez fosse bom vocês...
Meu corpo deu um salto para trás quando sua mão fechada golpeou com violência a mesa.
— Você não ganha chance de retratação com seu marido após ele flagrá-la sendo comida de quatro no chão da sala!!!!
Encarei imediatamente meus pés, ele disse aquilo em tom colérico, cuspindo as palavras. E eu não tinha ideia do que dizer para se sentir melhor.
Senti pena de meu chefe naquela hora.
A traição da mulher era um golpe que o estava afetando demasiado.
— Se-será que você conseguiria pedir para ela ir embora? — perguntou receoso, massageando sua têmpora com a mão do golpe, toda avermelhada na lateral. Arqueei minhas sobrancelhas e mordi meu lábio inferior: Margaret infiel-ex-Fletcher não era muito de acatar orientações de reles subalternos. Sem contar que eu não queria ter de falar com aquela adorável mulherzinha depois de seu trato gentil comigo. — Dizer que não estou, que fui embora mais cedo, ou nem vim hoje...
Fletcher levantou-se e foi rápido até a porta dupla, girando a chave no trinco mais de uma vez para ter certeza de que a sala estava trancada.
Voltei meu olhar inseguro para a câmera, a mulher agora estava no elevador. Não sei como o painel não quebrou com a gentileza frenética dela ao selecionar o último andar.
Ele veio até mim com as mãos entrelaçadas e olhos em súplica:
— Por favor, por favor, por favor.
Eu tinha o quê? Cara de recepcionista milagreira?
O sentimento era de estar encurralada, pior, no meio de algo que não me dizia respeito. Eu nada tinha a ver com aquela crise conjugal deles. Queria poder ajudar meu chefe, só que era difícil dizer ‘não’ com ele fazendo aquela cara de cão perdido debaixo da chuva com pata quebrada. Entretanto eu, definitivamente, não queria ter que falar com aquela mulher. Tinha certeza de que ela arrancaria meus olhos com suas unhas postiças vermelhas.
— Eu te dou um bônus de Natal! — disse no desespero de para tentar me comprar.
Foi quando se ouviu o timbre do elevador do lado de fora anunciando sua chegada ao andar.
O medo, misturado ao nervosismo, coagiram meu cérebro a pensar em algo rápido!
A porta dupla de vidro era vedada por inteiro com adesivo jateado, uma espécie de película fosca que garantia uma maior privacidade. Quem estivesse dentro veria apenas a silhueta daquele do lado de fora, e vice-versa.
Ele a queria longe; eu não queria ter de encará-la.
Usei minha mão direita como apoio para dar um pulo e sentar-me sobre a mesa dele, puxando Fletcher com ambas as mãos em seguida pelo paletó do terno. Sem aviso, seu tronco veio direito em minha direção, suas mãos espalmadas no tampo de vidro impediram-me de ser esmagada por ele, ao passo que suas pernas bateram na lateral do móvel, levando-me a afastar um pouco mais minhas pernas.
— O que você pensa est-... — começou a perguntar, seus olhos totalmente abertos, atônito.
— Apenas faça o que eu disser: empurre a mesa. — disse ligeira.
O som dos saltos de 09 centímetros começou a ecoar pelo ambiente:
— Fletcher! — ouvimos Margaret gritar, como um general em frente ao seu pelotão, na pré-sala. — Thomas Fletcher, onde você se esconde??
— Empurre! — ordenei em um sussurro entre dentes para o homem paralisado logo em cima de meu corpo.
— Pare de me evi-...!
Ele o fez, e eu acompanhei com um gemido lânguido enquanto as patas da mesa arranhavam o piso.
O vulto indistinto de Margaret agora estava do outro lado da porta: congelada.
— De novo! Vai!
Outro empurrão, o ruído da mesa, e mais um gemido de minha parte.
— THOOMAAAAASSS!! — a voz estridente da ex-mulher soou do outro lado. A bolsa, provavelmente de alguma marca famosa, e mais a compostura em público foram ao chão e suas mãos passaram a forçar em vão a maçaneta. — THOMASSSS!!!
— AH! Não pare! — foi minha vez de gritar, o mais alto que pudesse sem perder o tom sensual, e lançando um olhar significativo para que Fletcher soubesse que ele deveria de fato continuar com o que havia lhe pedido antes.
O tom carmesim dominava todo o rosto de meu chefe, estava claro que ele se sentia desconfortável submetido àquele escarcéu.
— Foi se vingar com a primeira que apareceu, não foi?!?! Aposto que é com aquela puta da recepcionistazinha lá de baixo!!!
— Ow!
Na mesma hora reclamei, ainda que baixo para Margaret não me ouvir. Por que sempre essa visão tão negativa das recepcionistas, gente??
Senti a alento de meu chefe atingir de leve e diversas vezes a região de minhas maçãs do rosto. Ele ria, seu corpo contraindo sobre o meu enquanto esforçava-se não tão bem em nossa atuação.
O show tinha de continuar — mas não sem dar alguns tapas no braço dele, posicionado logo ao lado de minha cabeça.
Fletcher seguia empurrando a mesa e eu voltei a gemer. Paramos apenas por uma fração de segundos ao ouvirmos um baque surdo: Margaret descera do salto, literalmente, e tinha acabado de jogar seus sapatos contra a porta.
— CANAALHA!!! TRAIDORRR!!!
Agora até a bolsa caríssima era arma.
— Ah, continua!!!
— SEM VERGOONHAAA!!! #%$%&!!! @#$@#%@$!!
— Isso!! ISSO!!!
Sei que o repertório de insultos parece bem mais completo do que o de sacanagem, mas eu não tinha assim tanta intimidade com Fletcher. E não era como se realmente estivéssemos praticando aquilo.
Os golpes e os gritos histéricos cessaram, ao passo que a figura de Margaret desvaneceu.
Thomas e eu ficamos paralisados, deixando nossos olhos percorrerem o ambiente, mais interessados em confirmar com os ouvidos se Margaret havia mesmo ido embora.
— Ela se foi? — perguntei enquanto encarava o maxilar de meu chefe, que olhava fixamente para o esquema de câmeras no monitor logo atrás de minha cabeça.
— ...sim. — respondeu com alívio.
Senti meu corpo mais leve quando ele se levantou.
Tratei de fechar minhas pernas, sentando-me em seguida. A vergonha se fez logo presente. Sentia minhas maçãs do rosto arderem e a total inadequação para dizer qualquer coisa.
Fletcher sentou-se no chão, com as costas apoiadas contra a mesa, decidi repetir seu ato:
— ...ééé...
— Numa próxima, seria bom ser avisado previamente sobre seus planos.
Confirmei com a cabeça baixa, e foi como se o movimento fizesse uma ficha cair.
— H-há câmeras aqui dentro?
Seu indicador revelou-me a disposição de não uma, mas três câmeras! Engoli em seco.
— Se... se meu bônus de Natal puder ser “não ser denunciada por assédio sexual”, eu ficaria realmente muito grata...
— Não se preocupe, não irá. — disse-me aquilo muito lentamente. Via-o concentrado, fazendo gestos com as mãos.
Ele estava fingindo acender um cigarro??
— O que está fazendo?
— É um ritual. Cigarro pós-coito.
Não pude me controlar, os músculos de minha face se contraíram em uma careta. Eu odiava aquele termo: coito.
— Nunca reparei que fumasse...
— E não fumo. — disse após uma longa tragada imaginária. — É apenas uma falsa imagem de sofisticação e status... Serei sempre um gordo fã de gordices.
— Mas você não é...
Ele “apagou” o cigarro no chão com uma das mãos enquanto com o outro braço se contorceu para abrir uma das gavetas da lateral da mesa. Sua mão voltou cheia de balas de iogurte, mini-barras de chocolate e bombons, e com o rosto cheio de culpabilidade.
Aceitei sem nenhuma frescura o bombom que me ofereceu de cortesia. Era louca por chocolates!
Mal mordi a metade, o som do toque do meu celular irrompeu na silenciosa sala, levando-me a correr até o objeto largado próximo à árvore.
— Alô? — nem vi quem me chamava.
Está me traindo com alguém da empresa?? — a voz de James soou gélida do outro lado da linha e engoli em seco. O problema é que estava com uma metade de bombom com casca crocante na boca, que desceu me rasgando.
— Quê...?
Oi, mor! — ele me respondeu em uma gargalhada. — Cara, cadê você??? Estou na sua casa há horas te esperando!!
— Ah, oi, James! — sei que devo ter soado como uma boba. Era sempre assim ao falar com ele.
Seus irmãos estão me fazendo montar uma árvore de Natal gigantesca! Sinceramente, eu acho que não vai caber esse troço na sua casa.
Explodi em gargalhada.
— Ela cabe sim... mais ou menos...
E já está voltando? Quer que te busque?
— Ainda não. Desculpe, acabei perdendo a hora aqui. — meus olhos vasculhavam atrás de meus scarpin pretos com salto de 5 cm. — Mas já, já eu chego em casa. Não se preocupe, o ônibus passa de cinco em cinco minutos.
Okay, fofa. Cuidado, viu? — fiz uma breve careta. Secretamente, odiava aquele apelido, mas James parecia não entender meu incômodo com o termo ‘fofa’. Eu me sentia gorda ao ser chamada assim...
— Pode deixar. Juízo vocês aí em casa!
Voltei-me na direção de meu chefe, reunindo fôlego novo para começar a falar.
— Eu te levo. — disse-me tão decidido que parecia não haver maneira de negociar aquela proposta. — Não quero que tenha problemas com seu namorado. Ainda mais depois de ter me ajudado quanto a Margaret.
— Não precisava, mas obrigada mesmo assim. Prometo que amanhã eu continuo a decorar a árvore!!

Ano 2

— Indústrias Fletcher. . Boa noite? — disse a manjada frase logo após o primeiro toque.
— Oi! Sou eu. — meu chefe me disse animado. — Poderia vir até minha sala, por favor?
— Claro.
Pensei comigo mesmo que aquela poderia ser a oportunidade perfeita.
Todos os anos, além dos prêmios e sorteios que o senhor Fletcher distribuía, havia também o Amigo Secreto entre todos os funcionários da empresa.
E, para o meu azar, naquele ano eu havia tirado justo o presidente. Eu achava bem difícil presenteá-lo com algo que ele verdadeiramente quisesse ou gostasse, levando-se em conta o limite de gastos estipulado no sorteio.
Mesmo assim, eu acreditava que uma simples lembrança ou enfeite, desde que fizesse referência ao natal, já me salvaria. O senhor Fletcher não parecia ter muita sorte com presentes vindos de amigos secretos.
Nenhuma sorte, na verdade...
Ano passado, Danny Jones (do financeiro) teve a árdua tarefa de presenteá-lo. E ele achou que havia encontrado um presente que era “a cara” do chefe. Não era mesmo.
No auditório da empresa para palestras e reuniões com gente importante estava a árvore de Natal abarrotada com os presentes secretos. Estávamos em uma espécie de semi-círculo, com Jones e Fletcher um de frente para o outro. Tom parecia mais uma criança rasgando o lindo embrulho de papel para se deparar com algo que ninguém soube dizer o que era de primeiro momento. Para mim era um tapete cor caramelo — me parecia algo bem insignificante para se presentear. Foi então que Danny o ajudou, retirando o tal objeto do saco plástico e estendendo-o. No fim, era um tapete... Do tipo que tenta imitar a pele de um animal, ali no caso, de um cervo.
Parecia que alguém havia caçado a rena Rudolph do Papai Noel e arrancado sua pele.
E foi exatamente o que Fletcher achou também. Os lábios dele começaram a tremer como se ele não tivesse controle daquilo, Tom até tentou se esconder debaixo de uma das mãos, entretanto, seus olhos já transbordavam em lágrimas.
Nem preciso dizer que, na semana seguinte, Jones foi remanejado para o departamento de logística como assistente.
E havia um caso mais célebre ainda, anos antes de eu trabalhar ali.
Aconteceu quando uma funcionária foi mandada embora por justa causa na semana do Natal. Era costume o pessoal deixar os presentes de Amigo Secreto sob a árvore no auditório alguns dias antes da festa da empresa. A mulher despedida deveria presentear o Tom, porém, ela nunca mais retornou.
No dia da festa em questão, Fletcher se propôs a ficar com o presente que a ex-funcionária iria ganhar, para que o presente não fosse desperdiçado.
Eu só imagino o desespero da mulher para tentar dissuadir o chefe daquela ideia. Era uma linda cestinha de vime com um kit de banho personalizado.
Uma pena que ele tenha notado o curioso tom fúcsia embaixo dos produtos e da palha artificial. Era um segundo presentinho, que deveria ser mantido em sigilo até a amiga secreta original chegar na casa dela. Não foi como o esperado.
Segundo quem estava lá, Fletcher sacou o presente do fundo da caixa, deixando o ambiente em um silêncio mortal.
Todos olhavam o jovem presidente da empresa com um vibrador — atenção para o fato de que NÃO era daquele modelo liso e discreto — cor fúcsia em sua mão.
Tal ocorrido justifica os memorandos, criados no ano seguinte, estipulando orientações sobre os presentes de Amigo Secreto — e também o porquê da funcionária não aceitar participar ou comparecer mais na festa da empresa.
Pelas costas do chefe rolava um bolão sobre qual fim ele teria dado ao ‘presentinho’. Eu e mais um monte de gente apostava que teria ficado para a esposa, mas quando o casal rompeu no ano anterior, ficamos um tanto perdidos. Foi assim que a aposta de que o chefe carregava aquilo para todos os lados dentro dele cresceu esmagadoramente.



— Pode entrar, . — convidou-me após ver meu rosto na fresta da porta de sua sala. Levantou-se e caminhou até o meio da sala, com seu olhar intrigado sobre mim. — Está se sentindo bem?
Funguei uma vez e decidi não pensar mais no que alguns funcionários especulavam maliciosamente sobre meu chefe. Maneei a cabeça em afirmação.
— Estou bem, Tom. — sim, eu já não o chamava de ‘senhor’. Menos nas situações onde estávamos na presença de visitas importantes ou quando o respeitável pai-Fletcher vinha inspecionar seu filho e o trabalho que ele fazia. — Meu nariz fica coçando pelo ar-condicionado.
— Ah, sem problemas! — disse, inclinando-se sobre sua mesa para alcançar o pequeno controle remoto do aparelho, desligando-o. — Melhor?
Não tive escolha senão responder que sim. A mentira era parcial, porém. Meu nariz realmente atacava por culpa de daqueles aparelhos, mas não era por culpa disso que eu estava com a cara estranha momentos antes.
— Estava me perguntando se me ajudaria a enfeitar tanto a árvore de Natal da recepção como a da festa.
— Ajudo, claro.
— Obrigado. Ah! — disse de repente, dando alguns passos para trás e esticou os braços. — O que acha deste?
Coloquei o indicador na ponta de meus lábios, ponderando.
Se ainda não deu para notar, meu chefe era louco pelo Natal. Apaixonado era pouco para ele.
E sua mais nova descoberta para aquele ano era sobre uma empresa que criara ternos natalinos. Óbvio que ele comprou a coleção inteira. O que não estava muito óbvio era por que ele vinha ao serviço com aqueles ternos ao invés de usar um apenas no dia 25, na casa dele.
— Não sei, não. — estreitei meus olhos. Notei que enquanto ficamos em silêncio, ele se desligou, quando comecei a falar ele parecia ter saído de um transe. — Prefiro mais o azul de ontem. O vermelho e o verde estão muito vibrantes. Dá um pouquinho de dor nos olhos... E essa gravata não combinou.
— Teria sido melhor uma verde?
— Não. É o tipo de gravata. Uma borboleta ia ficar melhor!
Aquele tipo de sugestão só era possível porque se tratava de Thomas Fletcher, eu não conhecia mais ninguém que usasse gravatas borboleta. Por isso que para mim já não fazia mais nem sentido vê-lo utilizando outros modelos.
Ele me deu um sorrisinho e com o indicador uma leve batinha em meu nariz, antes de girar seus calcanhares e seguir para o banheiro que havia em sua sala.
Bem, eu podia riscar da lista de possíveis presentes “gravata borboleta”, pois ele saiu do cômodo com duas em cores diferentes: verde e vermelha.
— Agora sim! — dei-lhe um joinha.
Nos dirigimos até as diversas caixas de papelão no canto da sala e começamos a separar as partes que compunham o corpo das árvores e também os enfeites que as adornariam. Mesmo assim, eu deveria continuar em minha sondagem pelo presente que era secreto até para mim!
— Então... — tentei iniciar uma conversa a partir de um assunto quase inocente. — Já sabe o que irá fazer neste Natal?
— Eu costumava ir com Margaret todos os anos ao Concerto de Natal. Ano passado não fui por conta de... você sabe. Mas estava pensando em ir agora.
Maneei com a cabeça. O Concerto de Natal acontecia às noites do dia 24 e tardes do 25, no centro da cidade. Uma grande orquestra tocava de tudo, desde músicas natalinas até trilhas sonoras de filmes consagrados.
Para mim parecia ser um show mágico e aquele finalmente seria o ano que eu iria ver pela primeira vez.
Ou ia...
... com James.
??
Tom tinha o semblante preocupado ao me encarar e apenas quando inspirei mais profundamente, sentindo dificuldade, é que notei que meus olhos lacrimejavam.
— O que houve?? — ele enrolou em volta do pescoço a linha do pisca-pisca e andou depressa até onde eu estava sentada no chão.
— Ah, desculpe! — funguei duas vezes, forçando um sorriso no rosto. — Eu só...
Pra mim já deu o que tinha que dar esse namoro!”, a lembrança das palavras dele reverberaram pela minha mente.
James babaca!
Bastava eu dizer: eu acabei de sair de um relacionamento. Não era difícil.
Ou pelo menos não deveria ser mais. Por favor, já fazia mais de 1 mês!!! O leite já havia sido derramado, mas as palavras ditas naquele fatídico dia ainda feriam.
— ... e-eu já volto!! — foi o que consegui dizer, de maneira afoita, pois tinha medo de que o choro viesse à tona durante a fala.
Corri em direção ao banheiro.
E que banheiro! Espaçoso, moderno, bem decorado. O que ficava no meu andar tinha apenas a privada, pia e simples azulejos brancos — mas, óbvio, eu não era a presidente da empresa, não precisava sentar minha bunda em um troninho hi-tech com acento aquecido.
Apoiei-me na bancada de mármore da pia e aproximei meu rosto do espelho. As lágrimas ainda estavam contidas, mas o tom de vermelho nos olhos denunciavam minha vontade de chorar. Mordi meu lábio com força, advertindo-me com rudeza. Não, eu não deixaria cair mais nenhuma lágrima por James.
Mas, James...
Ah, cara, eu não aguento mais isso. Você é sempre tão...!!
Dei um chute na lixeira metálica que chegava até minha cintura. Eu precisava extravasar.
Um, dois, três chutes.
Os dedos do pé latejavam de dor, só que naquele estado eu preferia a dor física à emocional.
??!
O susto fez meu corpo inteiro contrair antes de meus músculos retesarem. Eu estava paralisada com a presença de meu chefe flagrando aquele momento tosco de irracionalidade.
Eu não fui suficientemente inteligente para trancar a porta?!?!
— Eu... eu estou bem, juro! — minhas mãos logo correram para o canto de meus olhos, ainda secos.
O olhar preocupado dele sobre mim me fez acreditar que eu não o convencia mais.
— É sua mãe? Ela está mal de novo??
— Não, não, não... Graças a Deus minha mãe está bem. Já voltou pra casa e está voltando à rotina pouco a pouco.
— Então, o problema é de ordem sentimental?
Maneei minha cabeça, confirmando.
— Terminei meu namoro com James. — ou melhor, foi ele quem terminou comigo. Terminou, acabou, detonou comigo.
Tom, antes com metade do corpo escondido sob a porta, entrou no banheiro e se acercou. Olhava-me com certa compaixão.
Bom, se havia alguém que pudesse compreender o que era ficar destruído após o fim de um relacionamento, esse era ele. Meses se passaram até que ele fosse capaz de sorrir novamente e já nos últimos tempos se mostrava a mesma pessoa que conheci: alegre, piadista e doido pelo Natal.
— Se me permite: acabei descobrindo o remédio perfeito para corações partidos. Caso queira experimentar. — disse-me com um sorriso confiante. — E já adianto, vai chocolate na receita.
Mesmo cabisbaixa, não pude deixar de rir.
Thomas sabia do meu vício por chocolate, do contrário não haveria em minha mesa uma gaveta cheia de bombons por conta dos inúmeros que ele trazia como recordação dos países para os quais viajava a negócios e me presenteava.
Os dois quilos e meio que ganhei naquele último ano e não conseguia perder de jeito algum eram culpa exclusiva dele!!
Entretanto, meu coração não estava como cacos de vidro. Ao menos não mais.
Com minha mãe deixando o hospital, meus irmãos empolgados aprontando como sempre e a agitação de fim de ano na empresa, não tive tempo, cabeça ou espaço físico para vivenciar os estágios de luto amoroso.
Houve, claro, dias cinzentos e com lágrimas sendo derramadas pelos cantos.
Eu estava ferida pelas críticas de James sobre minha personalidade e jeito de ser, apontados por ele como motivos para terminar comigo. Não queria tomar suas palavras como verdadeiras, mas havíamos namorado mais de um ano, ele me conhecia bem, muito bem... Não era possível que ele estivesse totalmente errado — embora eu também não quisesse que estivesse certo.



— Obrigada, Tom. — agradeci ao gesto cavalheiro dele de abrir a porta do carona para que eu descesse do carro. — Mas de verdade, não precisava se preoc-...
— Repito: cho-co-la-te.
Franzi meu cenho por um segundo, forçando um sorriso em seguida. Algo me dizia que a pessoa mais interessada no tal ‘remédio milagroso’ era ele, pela desculpa do ingrediente especial.
Aquilo me fez pensar: eu podia dar um chocolate de Amigo Secreto!!
Pisei na soleira da mansão com a ideia em ebulição. Se fosse levar aquilo adiante, não podia simplesmente comprar uma barra de chocolate Hershey’s de 2,99 do mercadinho da esquina, como fazia com meus irmãos.
— Com licença. — disse em um misto de timidez e deslumbramento ao entrar.
O carro de Tom era incrível.
E sua casa era mais incrível ainda!
Parecia que eu estava em uma das revistas de decoração luxuosa de minha mãe: ambientes amplos, bem iluminados, com móveis sofisticados e modernos. Apenas com um pequeno detalhe: a explosão natalina sobre cada canto possível!
— Foi... você quem decorou?
— Gostou? — perguntou-me empolgado, respondendo minha pergunta anterior com um aceno.
Passei meus olhos sobre a sala de estar novamente e então o encarei:
— Se fosse diferente, não seria sua casa.
Ele se ofereceu para pegar o blazer preto de meu uniforme e a bolsa para colocá-los no mancebo próximo à porta.
— Por favor... — indicou com o braço em qual direção deveria seguir para chegarmos à cozinha.
Ao entrar, um adjetivo: modernidade.
O conceito de decoração, os móveis e os eletrodomésticos eram sofisticados e modernos. Era aquele tipo de cozinha americana com bancadas que despertava em você a ambição de se aventurar como chef gourmet.
Sentei-me no banco e admirei, impressionada, o tampo de mogno impecavelmente limpo, enquanto Thomas seguiu para a geladeira separar os ingredientes. Ofereci-me para ajudar, mas não consegui convencê-lo.
O vi preparar com maestria duas bebidas servidas, claro, na taça mais natalina que você possa imaginar.
— Pronto. — empurrou gentilmente a taça em minha direção. — Ah...! Quase me esqueço.
Com movimentos circulares, colocou uma generosa quantidade de chantilly, salpicando na espuma branca como a neve um pouco de pó que, pelo cheiro, denunciava ser canela — segundo ele, porém, tratava-se do secreto ‘pó de fada’. A bebida foi empurrada em minha direção outra vez, via a expectativa em seus olhos castanhos como chocolate.
Dei um gole meramente por educação.
Ca-ra-lho.
Aquilo estava divino!! Teria bebido tudo em uma golada só. Mas mamãe me ensinara a ser uma moça de família educada.
— E então? O que achou?
— Fletcher, preciso dessa receita. — disse com minha melhor expressão de séria possível. Ele riu, uma risada gostosa e contagiosa de se ouvir.
— N-ã-o.
O xinguei mentalmente.
— Se te contar, perderá a magia e logo, suas propriedades curativas. — disse-me com um sorriso ladino como uma raposa. — Gostaria de ver um filme?



— Uau...
Foi o que consegui dizer assim que vi Fletcher deslizar uma porta de correr de madeira, revelando uma estante que ia do teto ao chão, com a mais completa e diversificada coleção de filmes.
Havia filmes infantis, da Disney principalmente, e outras produtoras; havia toda uma sessão para os filmes produzidos entre as décadas de 80 e 90; ação, clássicos, comédias, dramas, mistério e romance.
Inveja era a palavra que melhor me definia naquele momento.
Fui selecionando os títulos que mais me causavam emoção por reencontrá-los. Muitos eu me lembrava de ver na televisão, mas não tinha em DVD. Abraçando-os, os dispus sobre a mesa de café no centro da sala, de frente para uma enorme televisão. Tom, ajeitando seus óculos com seu indicador, analisava com gosto os filmes que despertaram meu interesse — talvez estivesse tentando descobrir que tipo de pessoa eu era.
Bom, eu era uma pessoa medrosa, então não havia nenhum filme de terror; piadista, por isso os de comédia; os filmes das décadas na qual nasci e cresci eram mais do que nostalgia, eu seria uma eterna criança; agora, os romances eram um lado meu que eu não gostava muito de admitir.
— Acho que teremos de fazer uma maratona. — brincou ele, e com o dedo levou um pouco de chantilly até seus lábios, deliciando-se com o sabor.
— Ficaríamos dias para ver tudo isso! — disse com um aceno negativo. — Hummm...
Passei meu dedo sobre as caixas dos DVDs, tentando me decidir sobre um.
— Topo ver qualquer um. — comentou ele atrás de mim.
Estava de costas para ele, sentada no chão, com os cotovelos apoiados possessivamente sobre a mesinha de centro.
Hesitei sobre um: O amor não tira férias — The Holiday.
— Esse então? — sua mão surgiu sobre mim, pegando o DVD e seguindo em direção à televisão.
— Po-podemos ver outra coisa, se quiser. ¬— o vi contrair o rosto em uma leve careta, que indicava sua falta de objeção. — É que ¬— timidamente, ajeitei meu cabelo atrás da orelha. —, estamos na época de Natal e eu tenho esse ritual besta de ficar vendo filmes sobre essa época.
O vi ponderar sobre algo, voltando um olhar interrogativo para sua estante.
— ... não tenho uma sessão só com filmes de Natal?? — acompanhei com os olhos seu trajeto até o móvel. — É uma boa ideia. Lembre-me de criar uma, por favor!
Sorri para sua animação. Ele voltou para se sentar no sofá, a taça com a bebida retornando para sua mão e com a livre, deu o comando no controle remoto para que o filme se iniciasse.
Era hora de ver Cameron Diaz e Kate Winslet terem alguma sorte no amor!



O filme acabou e os créditos começaram a subir na tela lentamente.
A bebida acabou muito antes da metade do filme. Uma bomboniere de cristal estava a nossa disposição sobre a mesinha de café — chocolates, chocolates e mais chocolates!
Espreguicei-me, com os braços erguidos e a cabeça para trás. Sentar por muito tempo no chão faz seu bumbum assumir o formato reto da superfície.
— Preparo mais um? — Fletcher inclinou seu tronco desde o sofá, ele indicava com sua mão para a bebida.
Mordi meu lábio inferior, realmente tentada. Comecei a negar com um aceno:
— Acho que já extrapolei demais os níveis de açúcar para um dia.... Não quero virar uma bola de tão gorda.
— Não se preocupe, só uso ingredientes light. — deu-me uma piscadela marota antes de se levantar, segurando sua taça e pegando a minha. Ao seguir para a cozinha, movimentei-me para acompanhá-lo, porém o que disse em seguida, de costas para mim, me paralisou: — Além disso, você está linda.
O som de seus sapatos ecoaram pela sala, sua figura desapareceu atrás da porta do outro cômodo.
Meu joelho já estava flexionado e o braço apoiado sobre a mesa, entretanto, estavam imóveis. O corpo caiu de volta ao chão, desnorteada.
Eu não esperava receber um elogio daqueles. E menos ainda daquela pessoa, meu chefe. Quando Tom retornou, passando pela porta com cuidado para não derrubar o conteúdo das taças, fingi estar concentrada em escolher um filme.
— Já escolheu? — perguntou, apoiando as bebidas na mesinha. Tomou em suas mãos o segundo filme e se aproximou da televisão.
Analisei as horas, era de noite, mas não tão tarde quanto supus. Considerei terminar a bebida e anunciar minha volta para casa.
Era um bom plano.
Com toda a certeza, já estava abusando demais do meu chefe: alugando seu tempo, fazendo-o bancar o anfitrião, estar em sua casa!!
O início tranquilo de De Volta para o Futuro 3 começou a ser exibido na tela.
? — a voz tranquila de Thomas soou próxima de meu ouvido esquerdo. Voltei um pouco o rosto em sua direção, deixando claro que o escutava.
— Ouvi uns comentários no RH, mas achei melhor perguntar diretamente a você... Chegou a enviar uma carta de demissão?
Desviei o olhar.
Para ser contratado, existe toda uma burocracia em relação a documentos, exames médicos e muita papelada; o mesmo ocorre ao sair do emprego: carta de aviso prévio de demissão. Um tempo para que a empresa busque por alguém para substitui-lo.
— Annh... Sim. — meus dedos brincavam com a aba da taça. — Não quero parecer ingrata, agradeço muito, muito pela oportunidade que me deram na época. Só que agora, as despesas hospitalares de minha mãe acabaram, e ela está me incentivando a retomar os estudos... Quero poder fazer faculdade e ainda trabalhar.
— Entendo. Agora um emprego meio-período vai se encaixar melhor na sua vida.
Estranhamente, eu sentia-me pega no flagra. Maneei a cabeça para confirmar, trazendo a bebida aos lábios a fim de tomar três grandes goles, como se em meio a eles pudesse dissipar a sensação de desconforto.
Sei que aquele sentimento era um exagero, pessoas trocam de emprego todo dia, toda hora.
— Que bom. — estranhei ao ouvir aquele comentário. — Então... não serei mais seu chefe.
Fiz menção de limpar meu lábio superior do chantilly acumulado enquanto virava meu rosto para indagá-lo.
Quase ao mesmo tempo, senti o calor de sua mão em minha nuca, afundando-se por entre as madeixas do cabelo e direcionando-me gentilmente até seus lábios. O chantilly invadiu minha boca, mesclado àquele beijo.
Não, não me afastei ou cortei o contato.
Havia ali um cuidado e, principalmente, carinho que há muito não sentia. Retribui, aprofundando a conexão e pude sentir o sabor do chocolate em nossas línguas.
Foi uma agradável descoberta saber que Thomas Fletcher, chantilly e chocolate poderiam formar uma combinação tão prazerosa.
Sua mão desceu pela lateral de meu corpo, cingindo em minha cintura antes de seus braços me envolverem e puxarem do chão para o seu colo no sofá. O beijo, claro, desfez-se com a transição. Nossos olhos se cravaram um no outro, exibindo um misto de assombro e avidez para retomar o contato.
Céus!!
Com vários selinhos pelo percurso, migrou dos lábios para meu pescoço.
Estava dando amassos com meu chefe!!!
Não importava que ele tivesse começado, não importava a existência da carta de demissão; Fletcher a-i-n-d-a era meu chefe. O envolvimento entre funcionários — independente do cargo que ocupassem — resultava em justa causa quando descoberto. Eu estava ciente de todas as proibições e implicações daquilo que fazíamos e, ainda assim, não colocávamos um ponto final.
Sua mão espalmada tocou minha maçã do rosto, alisando a lateral, puxando-me para outro beijo. A minha se afundou no cabelo dele, enquanto com a outra livre apoiei-me no encosto do sofá, pois Thomas contorceu seu tronco e agora se recostava no espaço vago do móvel. Logo, estávamos ambos deitados, comigo sobre ele. Línguas, braços e pernas entrelaçados.
— Tom... espera. Não! — disse de súbito, com algum resquício de racionalidade.
— O quê...? — perguntou desorientado, sua voz quase inaudível.
Forcei os braços a me erguerem, desajeitadamente, levantando de seu corpo e me colocando de pé. Ele sentou-se imediatamente, o queixo no chão e a boca procurando palavras para se expressar. Quase perdi o equilíbrio mais de uma vez.
— O que houve??
— Eu... não podemos. É errado, você é meu chefe...
— Em breve não serei mais. — ele me cortou, com urgência para tornar claro aquele detalhe. — Assim... se esse for o único impedimento...
Seu rosto, com uma expressão lânguida, vinha em direção ao meu, provavelmente para tomar meus lábios uma vez mais.
Eu desviei o rosto.
— Você não vai querer perder seu tempo comigo.
— Acho que está bem claro que eu quero. — respondeu um pouco impaciente, talvez por ter de deixar o claro ainda mais óbvio: sua calça estava completamente armada. Quis reprimir em mim um sorriso envaidecido por saber que tão pouca ação já o havia deixado daquela maneira. Foram apenas beijos! — Se não quiser é só dizer, não sou surdo. Mas não tem graça se fazer de difícil.
Senti-me em uma posição complicada.
Se eu queria? Claro!!
Fletcher era um homem bonito, charmoso e com um jeito crianção que eu achava adorável.
O problema era eu. A bosta do problema tinha de ser comigo!
Quem eu queria enganar?
Sexo não era bom — pronto. Dito com todas as letras.
E sabia muito bem que Fletcher não tinha a intenção de ficar apenas segurando minha mão ou me dar um selinho aqui, um beijo ali e darmos um amasso acolá.
James, escuta!
Já cansei dos teus draminhas. Sabe o que você é?? Uma...
Cabisbaixa, funguei duas vezes antes de conseguir dizer algo.
Não, eu realmente não sentia falta de James. Sentia medo de que a razão que o fez terminar comigo fosse me impedir de ter algo com qualquer outra pessoa.
— Eu sou frígida, Tom. No sentido médico da palavra.
Eu não precisava do ceticismo de Fletcher sobre o que meu caso peculiar, ou ironia, ou deboche... Tente dizer a um cara que fazer sexo com ele te traz mais dor do que prazer, e você verá que essas são as reações mais típicas e recorrentes.
Por isso mesmo não deixei que morresse ali.
Desatei a dizer: sexo não era tão bom quando diziam por aí; às vezes chegava a sangrar um pouco e eu ficava toda assada por alguns dias.
Revelado o ponto desagradável em minha pessoa, levantei-me do sofá com o ímpeto de ir embora.
, espere. — estava prestes a pegar meus pertences do mancebo, quando suas mãos pousaram sobre meus ombros, fazendo-me voltar em sua direção. — Está certa disso? O médico te definiu qual tipo de frigidez se trata: comportamental, psicológica, hormonal? Ele não te ofereceu nenhum meio de contornar a situação?
Encarei Fletcher aturdida com tantas perguntas, mais ainda porque eu não sabia como respondê-las.
— Eu não... Quero dizer, eu não recebi o diagnóstico diretamente do médico. E o único conselho que tive um dia foi da minha ginecologista, dizendo para “investir mais nas preliminares”, mas... — os olhos de Tom se estreitaram e minha frase morreu com uma careta frustrada no final.
— Por acaso você deduziu esse diagnóstico de frigidez com base em más experiências?
Notei os ombros de Fletcher sacudirem levemente em uma risada contida. Eu não sabia o que podia ser tão engraçado ali naquele momento.
Ele suspirou profundamente, encarando-me. E com gestos harmoniosos, ele se inclinou sobre mim, apoiando suas mãos espalmadas um pouco acima de minha cabeça, nivelando seus lábios na altura de meu ouvido:
— Me parece que seu namoradinho é que não sabia como agradá-la da maneira correta... — a menção a James vinha carregada com desdém. Fechei meus olhos e instintivamente inclinei um pouco meu rosto, sentindo toda aquela região de meu pescoço arrepiada.
— Deixa te mostrar como sexo pode ser bom...


O sobretudo e bolsa permaneceram no mancebo.
Seguíamos pelo espaço da sala, comigo andando de costas enquanto Thomas ditava o caminho. Eu tinha uma das mãos em sua nuca, sentindo com a ponta dos dedos onde seus cabelos loiros e curtos começavam; com a outra percorria um caminho mais ousado, invadindo sua camisa de microfibra sempre tão branca a fim de sentir sua pele cálida por debaixo do tecido. Sem seu consentimento, vi um arrepio lhe percorrer toda a coluna com meu gesto.
A televisão desligara sozinha após tanto tempo com o filme pausado no aparelho de DVD. Por isso mesmo o único som no recinto eram os estalidos causados quando nossos lábios separavam-se entre uma lufada de ar ou outra.
Sem prévio aviso, senti um obstáculo na altura da minha batata da perna impedir-me de dar mais um passo, meu corpo vacilou e um grito surdo de espanto ficou preso em minha garganta. Os braços de Fletcher impediram que caísse de primeiro momento, para logo em seguida me apararem até estar sentada na beirada de seu sofá — o móvel possuía apenas um apoio para braços, no outro extremo de onde eu me encontrava. Com seu tronco inclinado sobre mim, deslizou sua mão para a base de meu quadril, indicando para que eu me movesse ainda mais para a beirada.
Suas mãos me percorreram devagar, até chegar à lateral de minhas coxas, os dedos aferrando-se no tecido da saia.
— Quando optei que as recepcionistas usassem saias ao invés de calças, as imaginei mais curtas, sabe?
A saia-lápis tornara-se parte do uniforme padrão havia poucos meses, todavia, não me passava pela cabeça que fosse o próprio presidente da empresa quem cuidasse de um pormenor como aquele. Não havia questões mais importantes para cuidar?
— Do quão curto estamos falando?
Com um movimento grosseiro, o tecido subiu, deixando minhas coxas quase completamente expostas sob seus olhos castanhos. Pontilhou o caminho para dentro do pouco que a saia ainda cobria, agarrando a bainha da meia-calça preta que usava. Apoiei minhas mãos sobre o sofá e ergui meu quadril, sentindo o alívio de ter a pele respirando livremente daquele item também obrigatório do uniforme. Imaginei-me a própria Cinderela quando Tom retirou o primeiro pé da meia-calça e em seguida, com todo o cuidado, voltou a encaixar o sapato.
— Gosto de mulheres em salto alto... — justificou, depositando um beijo no peito do pé direito.
— Pensei que fosse para tornar a fantasia chefe/secretária o mais fiel possível. — dei de ombros, rindo de leve.
Ele ergueu-se, apoiando seu joelho entre minhas pernas no sofá e inclinou-se sobre mim. — A fantasia era ter você aqui, independente do seu cargo.
O comentário me pegou de surpresa. E não houve como refrear a leve contração prazerosa que ocorreu entre os músculos de meu ventre.
Mordi o lábio inferior, um castigo suficientemente doloroso por ficar balançada com tais palavras. Tom usou seu polegar para liberar meu lábio de meus dentes e então fazê-lo cativo. Trocamos alguns beijos, enquanto desabotoávamos as camisas um do outro, sem qualquer pudor de explorar com mãos ou lábios a pele exposta, as peças de roupa jaziam em algum canto da sala.
Ele forçou suavemente o peso de seu corpo sobre o meu quando seus lábios deixaram meu pescoço livre e seguiram caminho. Fiz menção de sentar-me outra vez ao notar que ele havia chegado à bainha da saia, mas sua mão pesou sobre mim, mantendo-me na posição horizontal.
Angustiava-me não poder saber qual seria sua próxima atitude, seu próximo gesto.
Suas mãos cravadas em minha cintura puxaram-me de assalto em sua direção. Com o quadril quase todo para fora do sofá, minha saia foi erguida até onde era possível. Suas mãos se espalmaram sobre minhas pernas, abrindo-as lentamente.
Tom abocanhou a parte interna de minha coxa. Contorci-me no sofá com o ataque inesperado. A cada mordida, aproximava-se mais do fino tecido de seda da roupa íntima. A expectativa quanto ao seu destino final tornava aquela provocadora tortura ainda mais prazerosa.
— Frígida, não é? — perguntou divertido, com seu indicador exercendo pressão contra o tecido na entrada de meu sexo.
Quis insistir no diagnóstico realizado por mim mesma, entretanto, inalei inesperadamente quando Tom afastou a peça de roupa para a lateral e sua língua serpenteou desde minha entrada até o clitóris.
A região, uma vez provocada daquela maneira, parecia implorar por mais.
Apoiei-me sobre os cotovelos e senti as maçãs do rosto corarem com o olhar indecente lançado por Fletcher.
Sim, eu me depilava ali por uma questão de praticidade, e daí?
Seus dentes cravaram em um dos grandes lábios ao mesmo tempo que seu indicador deslizou para dentro de mim.
Gemidos cada vez mais notórios passaram a preencher o amplo ambiente da sala conforme a palma de sua mão se chocava com a entrada de meu sexo com maior regularidade.
Com 2 dedos inseridos e sua língua friccionando contra meu clitóris, comecei a sentir picos de prazer com um intervalo cada vez menor. Adverti-lhe que me aproximava do ápice, mas aquilo não o impediu de prosseguir.
Me derreti por completo em sua boca, que sorveu até a última gota.
Deixei-me cair sobre o sofá com os olhos lânguidos e os membros mais relaxados do que antes. O observei então passar o indicador nos lábios, com o resquício do que havia de mim ali. Depois se inclinou para alcançar a taça de chocolate na ponta da mesinha de centro, tomou o gole final da bebida para limpar o paladar.
Apreciei o gesto, pois logo em seguida voltou a taça ao seu lugar e, como um felino, veio lentamente sobre mim.
Beijou meus lábios com voracidade.
Ainda era possível sentir um pouco de mim em sua boca, porém, eu não podia reclamar. O oral havia sido incrível!
Cair de boca assim em alguém sem nem bater o pé por uma higiene prévia — convenhamos, os dois carregávamos o suor de um dia inteiro — fazia-me questionar se Fletcher estava desesperado na seca ou se eu era assim tão irresistível.
Passei a tirar vantagem de cada centímetro de pele exposta, apalpando ou deixando rastros avermelhados com minhas unhas. Sua boca migrou a atenção para o lóbulo da orelha, sua saliva era tão cálida e sua língua massageava tão bem o lugar, que meu desejo era parar tudo e poder apreciar aquele carinho. As mãos masculinas dele se prendiam nas coxas, cintura e seios. Mesmo ainda estando de calça social, podia sentir muito bem quando pressionava sua ereção contra mim.
Foi quando seus lábios estavam sobre os meus novamente que precisei interrompê-lo. Não aguentava mais a limitação que as últimas pecas de roupa exerciam sobre nós.
Meu nível de excitação era tão alto naquele momento que conseguia pensar apenas em tê-lo dentro de mim e rebolar ensandecida sobre seu sexo.
Eu podia me dar ao luxo de fantasiar, de acreditar que sexo não significaria dor com meu chefe.
— Tom… — minha mão em seu peito o fez recuar. — Eu não aguento mais esperar...
Foi o que consegui dizer com a voz entrecortada pela dificuldade em encontrar oxigênio.
— Um ano.
— Como? - perguntei desconcertada.
— Um ano tive de esperar para finalmente te ter aqui comigo… desse jeito… — nua, prestes a ter sexo, ele queria dizer.
Corei violentamente.
— Ah, é?
Eu não conseguia me recordar de qualquer episódio que pudesse fazê-lo interessar-se por mim.
— Sim. Desde o dia da sua interpretação na minha mesa. - aproximou sua boca do meu ouvido, sua voz grave me provocou arrepios: — Quero te ver e ouvir igualzinha àquele dia.
Gemi. Sem sequer ter sido tocada.
A ideia parecia tentadora.
Colou seus lábios nos meus, succionando de leve o inferior antes de migrar para o pescoço. Suas mãos me orientaram em meio a um carinho na cintura para que eu me virasse, até estar de bruços sobre o sofá.
Foi quando senti algo sendo pressionado contra minha lateral, uma pequena almofada para servir de calço e nivelar melhor meu quadril. Mal me apoiei e tive de me erguer por um instante, pois Tom fazia a calcinha deslizar minhas pernas abaixo.
Senti de súbito a ausência total do calor de seu corpo quando se pôs de pé para desafivelar o cinto e retirar suas últimas peças de roupa. Ouvia sua movimentação - saindo do cômodo por um breve momento — enquanto mantive meus olhos fechados, com a cabeça deitada no sofá. Balançava infantilmente minhas pernas flexionadas enquanto tentava manter-me calma.
Então senti o dorso do pé tocar seu peitoral e o som típico de uma camisinha sendo aberta. Estremeci quando algo gélido entrou em contato com minha entrada, que mais parecia arder em chamas naquele momento.
— Caso precise de mais... — explicou, colocando o tubo de lubrificante um pouco a frente de meus olhos, no sofá. — Tensa?
— N-não, claro que não. — engasguei, forçando um sorriso.
— Hum… — ele não pareceu acreditar em mim. — Parece tensa.
Disso aquilo após dedilhar toda a região com o lubrificante e inseriu seu dedo médio. A rigidez dos músculos — até pouco tempo atrás tão relaxados — em torno do intruso, evidenciavam o nervosismo que começa a me afligir.
Fletcher não tentou me adular com frases feitas como, “Calma, vai dar tudo certo”, ao invés disso, acariciava-me internamente. Uma tática de relaxamento muito mais eficaz, pois notei como a área mostrava-se mais sensível ao toque após o oral.
O observei de soslaio quando começou a beijar e mordiscar minha nuca, depois com ponta de sua língua percorreu a linha de minha coluna como se exercesse grande peso sobre mim, pois me contorcia por onde passava, acompanhado de um gemido sôfrego.
Quando os estímulos com a boca e o dedo cessaram, suspirei decepcionada.
Suas mãos afundaram-se em meu bumbum. Estirando cada um dos lados o máximo que a pele permitia, revelando cada segredo ao atento espectador.
Tive de desviar o olhar naquele momento. Embora Tom parecesse satisfeito com o que via, eu ainda tinha o pé atrás quanto à aparência de certas partes de meu corpo.
Ouvi um suspiro pesado seu de resignação. E disse-me ao pé do ouvido:
— Só hoje vou pegar leve contigo… frígida.
Os pelos de meu corpo se eriçaram com o “aviso”, esperando que ele não tornasse aquilo uma “promessa” a ser cumprida naquele dia.
Senti a ponta de seu sexo forçar espaço por entre os lábios menores. Mal podia se dizer que entrou, quando se retirou e a cabeça de seu membro foi daquele ponto até meu clitóris, exercendo uma pressão deliciosa por todo o caminho. Tom repetiu o mesmo processo uma, duas, três vezes.
O ‘normal’ para mim era sentir dor na primeira vez que o membro entrava, os músculos do ventre desabituados com aquele novo intruso. Entretanto, a provocação de Tom fazia minha expectativa de tê-lo dentro de mim crescer ainda mais, apesar da possível dor.
Na quarta vez que posicionou seu membro em minha entrada, foi aceito sem resistência. Prosseguiu com cuidado, a musculatura estreita do ventre cedendo-lhe passagem aos poucos.
Uma vez completamente dentro, liberamos um suspiro pesado cada um. Aquilo era só o início de algo que ficaria ainda melhor!
Os músculos do ventre comprimiam seu sexo, em uma tentativa de voltarem ao seu estado natural, fazendo-me sentir ainda mais seu membro pulsando. Censurei um gemido, mordendo meu lábio inferior. Ouvia Tom murmurar algumas palavras para si, como uma espécie de mantra — alguém estava tendo problemas para manter sua palavra.
Bastou que ele retirasse seu membro de dentro de mim e o colocasse outra vez com todo o cuidado possível para que eu tivesse certeza: nenhum dos dois aguentaria ter sexo com restrições.
Ergui meu quadril da almofada, dirigindo-me contra ele, que vinha em minha direção no mesmo momento. Afinal, eu não prometera pegar leve!
O choque de nossos corpos nos fez ver estrelas.
Busquei seu rosto com um sorriso cúmplice de que estava tudo bem, para então me deparar com o olhar carinhoso que Tom me dedicava.
Aquilo me pegou um tanto de surpresa. Me parecia algo muito íntimo.
Sei que estávamos rompendo com todas as barreiras que nos separavam — hierárquica e fisicamente falando. Mas era só uma noitada, apenas sexo casual!
Não havia qualquer outro sentimento ali além do desejo...
Havia?
A linha de raciocínio foi perdida tão logo suas mãos puxaram com vigor meu quadril de encontro ao seu. A cabeça de seu membro me atingiu com violência no ponto mais extremo do ventre. Meu fôlego ficou preso como um nó na garganta, liberado sob a escolta de um audível gemido.
Minha musculatura tentou contrair em torno de seu membro, como uma resposta ao estímulo prazeroso, porém, ele não estava mais lá. Ouvi mais uma vez o som seco de nossos quadris colidindo. O apoio em meus cotovelos cedeu, pensei que desfaleceria por sentir um prazer tão intenso, mas me mantive acordada para vivenciar a mesma ação mais vezes.
As investidas seguintes aconteceriam em um espaço menor de tempo, insuficiente para que eu pudesse recuperar de maneira satisfatória meu fôlego entre seu entrar e sair.
Minha mente estava nublada para qualquer aparição de raciocínio lógico. Estávamos reféns de atos físicos, mergulhados no intento de nos satisfazer por completo.
Notei meu corpo convulsionar mais bruscamente, uma tremedeira nos braços e pernas. Estava chegando ao meu ápice. Os gemidos deixavam isso claro também. Eu podia sentir os picos de prazer vindo com maior intensidade. Eu estava perto, o nirvana se aproximava. Dobrando a esquina…
Quando Fletcher retirou-se por completo e não retornou.
Fechei meus olhos com força, emitindo um gemido misturado a frustração! O prazer esvaindo-se de mim lentamente.
— Maldito… — com a respiração entrecortada, manifestei-me. Ele não podia ter feito aquilo. — Querendo gozar de novo, frígida? Calma… Eu não acabei com você ainda. Eu queria matá-lo naquele momento. Chutá-lo, machucá-lo.
Privá-lo de sentir prazer.
Sem suas mãos em minha cintura, meu corpo desabou sobre o sofá. Afundei meu rosto no móvel.
— Vou compensar, prometo. — disse-me com um beijo estalado na orelha. Meus cabelos eram afagados, incentivando-me a que erguesse o olhar para ele.
— Duvido… — respondi em um muxoxo.
E antes que me chamem de fresca, saibam que interromper alguém de chegar ao orgasmo é um crime!
Tom encontrava-se agora ajoelhado na lateral do sofá, observando-me com um sorriso abobado. Sentei-me reta, afastando a almofada. Sua mão direita segurava a minha esquerda, acariciando-a com movimentos circulares.
Fez um gesto, pedindo silenciosamente que descesse do móvel. Fiz como pedido, abrindo minhas pernas e encaixando-me em seu colo. Arqueei involuntariamente as costas ao sentir seu membro roçar contra meu sexo.
Respirei profundamente, tentando me controlar para não colocá-lo dentro de mim e cavalgar sobre ele até finalizar… me.
Minha cabeça pendia para trás, deixando caminho livre para a língua cálida de Fletcher serpentear por minha pele.
Após percorrer o trajeto, acabando no ponto de encontro dos ossos da clavícula, senti sua mão em minha nuca guiar-me para um beijo. Sua língua ávida para se encontrar com a minha.
Dávamos voltas na língua um do outro, um toque ao mesmo tempo liso e áspero. Era um beijo tranquilo — ou deveria usar o adjetivo “carinhoso” novamente? Mesmo com a falta de ar manifestando-se, não apartei, mas sim o oposto, afastei meus lábios ao máximo para permitir melhor ainda a passagem de Tom.
Estremeci em um dado momento, vocalizando um baixo gemido incômodo na garganta. A cabeça de seu sexo entrara ligeiramente em mim, o suficiente para tornar-me ciente do trecho de pele esfolada.
Foi Tom que se afastou, o olhar lânguido embora demonstrasse preocupação. Puxou-me para finalizar o beijo, os dentes querendo levar consigo meu lábio inferior.
Suas mãos afundaram-se em cada lado do meu bumbum e então fui erguida. Moveu seu pé flexionado para o lado, colocando-me com cuidado sobre a mesinha de café. Por sorte não me viu franzir o cenho quando jogou seu tronco em direção ao sofá. Como uma mesa dura e fria era melhor do que um sofá quentinho e macio?
Fletcher retornou, lembrando-se ainda de retirar sua caneca de chocolate sobre o móvel. — Precisa? — chacoalhou de leve o tubo de lubrificante diante de mim.
Acredito que foi uma pergunta retórica, pois nem mesmo respondi e ele já extraia uma generosa quantidade. Passou parte na extensão do seu membro. Então veio por cima de mim, prestando atenção as minhas feições enquanto dedilhava-me.
Não consegui esconder o alívio quando o produto gélido entrou em contato com a parte machucada, que ardia de maneira desagradável. Quando terminou, ajeitou seu corpo sobre o meu, para que nossos olhos ficassem no mesmo nível.
Seu sexo pendia próximo a minha entrada, fazendo-me delirar só de pensar que em breve estaria dentro de mim.
Aproveitei a proximidade para observar cada detalhe de seu peitoral desnudo. Minhas mãos correram ávidas por sentir sua pele. Afundei-me no espaço entre seu ombro e pescoço, querendo provar seu sabor.
Tom jogou o peso de eu corpo para um lado. Passou a mão direita livre por entre nossos corpos até alcançar seu próprio membro, roçando a ponta dele de uma extremidade a outra de meu sexo.
Céus!
Eu não aguentaria aquele tipo de tortura de novo.
Conforme seu membro deslizava para dentro de mim com facilidade, liberei um gemido extasiado. Posição diferente, logo, uma diferente maneira dos músculos do ventre lhe cederem passagem e acomodarem-se em torno dele.
Movimentou-se devagar no início, porém nossas respirações já se mostravam ofegantes. — Quer que te faça gozar, frígida? — perguntou colado ao meu ouvido.
Ele parecia ter gostado mesmo daquele apelido.
Respondi com um aceno frenético.
— Repete pra mim o que disse naquele dia. — pisquei os olhos algumas vezes. — Mas hoje quero que seja um pouco mais ousada.
Pausa.
Deixei-me ver se entendi direito aquilo, Tom queria me ouvir falando sacanagem? Um ano atrás, sobre sua mesa de escritório, disse coisas com a melhor voz de sexo que consegui fingir. Entretanto, não passava de uma encenação para sua esposa infiel.
Eu não tinha ideia do que dizer!
Ainda mais se ele esperava que eu fosse mais criativa naquele momento.
Meu olhar era refém dele, que posicionou minha perna gentilmente sobre seu peito - garantindo-lhe um acesso mais profundo e facilitado a minha intimidade. Seu olhar incentivando-me a começar logo.
Diante de minha mudez, vi um sorriso perverso brotar no canto de sua boca.
Moveu seu quadril, reproduzindo investidas fortes, rápidas e precisas.
Minhas mãos agarraram-se repetidas vezes em seus braços, como se tivesse medo de cair, mas na verdade sentia apenas o pânico de não senti-lo daquela maneira novamente.
Aquilo era um claro aviso.
Respirei fundo, ele aguardava com o mesmo sorrisinho, depositando um beijo singelo no joelho da perna erguida apoiada sobre ele. Pousei as mãos em sua nuca e cabelos tão loiros, trazendo-o para mim até que minha boca encostasse em sua orelha — quem diria que minha perna era tão flexível!
— Faz isso de novo, vai… Me fode bem gostoso.
Saboreei cada gemido provocado por Tom enquanto ele atendia ao meu pedido.
Ele beijava e mordiscava meus lábios, orelha e pescoço. Retribuía a atenção do mesmo modo.
Não queria que Tom parasse em hipótese alguma e também não o deixaria interromper os movimentos ritmados de seu quadril. Encontrava-me outra vez no caminho para o ápice e se tudo o que Tom precisava para alcançar o dele eram palavras de incentivo, então eu podia me esquecer de sentir vergonha e de me reprimir pela falta de intimidade.
— Soca bem lá no fundo...
Surpreendia-me o contraste no tom de voz. Os gemidos eram agudos, quase gritos de prazer, ao passo que uma rouquidão autoritária me acometia quando lhe dizia algo. Acho que mesmo ele, tendo instigado o despertar desse meu lado, não esperava por tal resultado. Por detrás de seus olhos lânguidos e sorriso fraco, notava-se o fascínio pela minha figura. Eu já estava perto, perto demais.
— Vai gozar, frígida? - respondi com um sussurro gemido contra seu ouvido, parecia não haver mais qualquer ar nos pulmões para falar. — Então goza pra mim… Goza pra eu ver, frígida.
Fui atingida pela euforia, inundei-me em êxtase, mergulhei em puro prazer, e alcancei um torpor completo nos braços de Thomas Fletcher.
Mais algumas investidas suas e ele também alcançou o seu ápice.
Senti seu peso e o calor do seu corpo me abandonarem, ele optou por se largar no chão, ao lado da mesinha de café. Após dois leves apertões em minha mão, entendi que me chamava para lhe fazer companhia. Meu corpo mal me obedecia, como se tivesse corrido uma maratona, enquanto minha mente estava livre de pensamentos. Com muito esforço, desci vagarosamente do móvel, acomodando-me ao seu lado. Apoiei a cabeça entre seu braço e peito ao passo que ele entrelaçou nossas pernas. Eu acabaria por dormir naquele aconchego todo, sério.
— O que está fazendo? — o ouvi perguntar confuso ao ver meus gestos com ambas as mãos.
— Acendendo seu cigarro "pós-coito". — brinquei, deixando escapar uma risada por tal hábito dele.
— Acho que hoje merece ser um charuto.
Ri e fingi com os dedos indicador e médio segurar algo mais grosso do que um cigarro. Uma vez "acesso", dei uma longa tragada e passei-lhe o objeto imaginário. Sua tragada foi muito melhor encenada do que a minha, liberando a "fumaça" de maneira lenta, fingindo criar círculos de fumaça com a boca no formato da letra "O". Sorri largamente antes de acomodar-me melhor ainda contra seu corpo. Além do sexo maravilhoso, Fletcher ainda era um travesseiro excepcional.
E sem ao menos perceber, adormeci.



O despertador do celular tocou como sempre, às 6h30m da manhã, esperei a música terminar de tocar para então sentar e me espreguiçar como de costume. Joguei para o lado o lençol e então me dei conta de que aquela cama não era minha.
Meus olhos piscaram diversas vezes, tentando acostumar-se à falta de luz no ambiente. Usei o celular como lanterna para chegar ao interruptor.
O quarto de Thomas Fletcher, meu chefe.
Imaginei que veria um quarto com cores sóbrias, porém, a explosão natalina recaía naquele espaço também. O que mais me chamou a atenção foi um boneco com um quadro negro no lugar da barriga, indicando quantos dias faltavam para o Natal.
Após a breve análise sobre a decoração, notei uma porta entreaberta na lateral e imaginei se tratar do banheiro. Dirigi-me até lá acertando melhor o roupão vermelho que trajava — não me perguntem, acordei vestida nele.
Sentada no vaso sanitário, confirmei com o toque do papel higiênico a sensibilidade incômoda na entrada de minha intimidade. Ri sozinha pelo nariz ao me lembrar do quanto valeu a pena. Infelizmente, aquilo me impediria de ter sexo com Fletcher por pelo menos um dia.
Isto é, se fosse haver de novo.
Aproveitei para usar o enxaguante bucal encontrado na estante sobre a pia. E em frente ao espelho penteei os cabelos com os dedos.
Ao sair do cômodo, vi meu uniforme em um cabide, pendurado na maçaneta do armário. Vesti-me antes de sair do quarto, porém, não encontrei os sapatos.
Quando cheguei à sala, meu estômago roncou tão logo o olfato sentiu o cheiro de comida vindo da cozinha.
— Sem chance!!! Preciso que adie! — ouvi a voz de Tom do outro lado da porta vai-e-vem, soava irritado. Seria ele mal-humorado pelas manhãs? — Não estou agindo como um moleque mimado...
Tentei espiar se era seguro entrar, mas logo fui descoberta.
Fletcher estava formalmente vestido em sua calça e camisa sociais, com as mangas erguidas até os cotovelos e com um avental — de Papai Noel, mas é claro —, que o protegia enquanto fritava algo colado ao fogão.
Sorriu gentil ao me ver e indicou com a espátula para que me sentasse na mesa redonda já servida com alguns itens matinais.
— É impossível?? É impossível adiar uma semana? — ele veio até onde eu estava com a panela em mãos, servindo meu prato.
O espanto com o que vi foi tão grande que até o estômago me deu uma folga. Tinha diante de mim uma panqueca com formato e detalhes do Papai Noel!! Eu precisava demais saber como ele havia feito aquilo.
— Tá, tá. Tudo bem… — respondeu ríspido ao telefone. — Depois do almoço. Ok, estarei lá. Desligou o telefone sem fio e veio sentar-se à mesa.
— Não vai comer? — perguntou atencioso, tão diferente de sua versão ao telefone.
— Eu não posso comer isso! — inclinei o prato para ele. — Seria um crime! Canibalismo! Co-como faz isso?
— Vi na internet. — sorriu, depois garfou sua panqueca e a ergueu. — Prefere o Mickey?
Fiz uma expressão de mortificada com a mera ideia de comer uma panqueca com a forma e detalhes do rosto do camundongo mais famoso do mundo.
— Vamos, tem de se alimentar. — incentivou gentilmente.
Pedi desculpas ao Papai Noel, pois eu estava mesmo com fome.
— Dormiu bem?
— Muito bem. Só não sei quando peguei no sono. — acordar na cama dele e em um roupão eu podia deduzir.
— E está bem? — notei ao que se referia pelo seu olhar sugestivo.
— Estou sim. — julguei que ele não precisava saber a verdade, entretanto, seu semblante não parecia convencido. — Ok, estou um tanto assada.
— Tsc… Precisava ter me controlado melhor. — repreendeu-se com severidade.
— Não precisava, não! — disse com certa urgência. Já sentindo minhas maçãs do rosto queimando baixo seu olhar intrigado.
— Quem diria… uma frígida que gosta de sexo selvagem.
Engasguei com minha própria saliva perante seu comentário malicioso.
— Tom!!
Recriminei sua fala, dando-lhe chutes em sua canela por debaixo da mesa. Riu divertido, sentando-se de lado e cruzando as pernas para fugir de mim. Seus olhos possuíam um brilho libidinoso.
Quando terminei, dispondo o garfo no centro do prato, flagrei a hesitação de Fletcher para dizer-me algo. Houve o movimento dos lábios, mas não o som das palavras.
— Está tudo bem?
— Meu pai me arranjou uma viagem de negócios de última hora. — disse com um semblante enrijecido.
— Na semana do Natal? — estranhei. Confirmou-me meneando a cabeça.
— Tentei adiar, mas… Não tem conversa. — pousou seu nariz sobre as mãos entrelaçadas, o olhar fixo sobre mim deixava claro que havia ainda um ponto a ser dialogado.
— Quer falar sobre o de ontem quando voltar?
— Podemos? — perguntou esperançoso.
— Claro. Na verdade, eu nem achei que fôssemos falar de ontem. Pensei que seria só sexo casual e mais nada.
— É a primeira vez que diz 'sim' a um dos meus convites! Não posso deixar que se torne mais nada. — completou, com adorável empolgação.
— Eu não me lembro de outros convites. — disse desconcertada.
— Paris! Praga! Abu Dhabi!
Franzi o cenho para sua expressão de incrédulo, aqueles foram seus últimos destinos em viagens a negócios.
— Sempre achei que estava brincando quando dizia para viajar contigo.
— Você não aceitou os convites mais simples, como um café ou almoço juntos! Fiquei sem ideias...
— Mas é contra as regras aceitar qualquer tipo de convite... de quem quer que seja. Pensei que soubesse.
Tom suspirou, um sorriso parecia brotar a contra gosto em sua face.
— Obra de meu pai, com certeza. Bom, tudo bem! Fico feliz que finalmente tenha aceitado ontem. — terminou seu gole de café. Levantou-se e caminhou até mim. — Ainda não nos demos 'bom-dia' de verdade, não é?
Respondi meneando a cabeça, atenta a sua próxima atitude.
Primeiro um beijo de chocolate quente, agora um de calda de panquecas. Beijar Tom estava se tornando uma doce experiência gastronômica.
E eu, conhecendo-me bem, receava já estar viciada.
Mal nossos lábios se tocaram e meu celular disparou a tocar. No visor do aparelho sobre a mesa lia-se: "Hora de Trabalhar!"
— Me dê 5 minutos... — suas palavras colidiram contra meus lábios, sussurrando. Vi sua figura sair apressada da cozinha, arrancando de qualquer maneira o avental.
Como agradecimento pelo delicioso café da manhã, lavei o pouco de louça usada.
Quando retornei à sala, notei minha bolsa, blazer e sobretudo separados no sofá, com meu par de sapatos preto scarpin logo abaixo. Enquanto os calçava, Tom retornou completamente pronto e com uma mala de viagem a tiracolo. Acertei o sobretudo no corpo para encarar o frio que fazia do lado de fora e apertei meu passo atrás de Fletcher.
— Algum problema?
— Anh... Talvez fosse melhor eu ir de ônibus.
No momento em que meus olhos encontraram a carroceria do belíssimo carro de Tom, senti-me sem equilíbrio nos sapatos.
Chegar ao trabalho no carro do seu chefe? Apenas em sonhos!
— Eu digo que te encontrei no meio do caminho. — sorriu ladino, como se já estivesse tudo resolvido.
Tentei afugentar de minha mente os prováveis comentários sórdidos e libidinosos que nossa chegada causaria. Afinal, não costumam instalar pontos de ônibus próximo à mansões.



— Bom-dia, sr. Fletcher! — as portas automáticas se abriram para revelar a figura de Elsie, a secretária pessoal de Tom, e espiã de 'Fletcher-pai'.
— Bom-dia. Provavelmente já está sabendo da...
— Viagem? Claro. O patrão Fletcher queria garantir que não perderia esta oportunidade. — o sorrisinho no final parecia tudo, menos gentil. Seus olhos dardeavam questionamentos a minha pessoa, enquanto eu ia para minha bancada na recepção principal.
— Encontrei a srta. no meio do caminho para cá. O ônibus quebrou. — explicou-lhe Tom, tão tranquilo que era impossível alegar que estivesse mentindo. — Bom trabalho, srta. .
Esbocei um sorrisinho amarelo, vendo-o lançar-me uma piscadela cúmplice ao seguir Elsie até o elevador.
Um suspiro longo e pesado deixou meus pulmões quando as portas se fecharam e eu soube que estava sozinha. Praticamente desmontei na cadeira.
O tempo de privacidade que tive foi curto, porém, pois logo mais e mais funcionários começaram a chegar para dar início ao expediente.
Era época de Natal, ou seja, o fluxo de serviço estava maior por conta dos diversos 'presentinhos' que o marketing inventava, mas no fim, eu quem embrulhava e postava no caderno dos correios.
— IndústriasFletcherBomdia?
Entre o ombro e o pescoço, o telefone; na mão direita, tesoura; na esquerda, fita adesiva. Eu estava um tanto atrapalhada.
— Sou eu. — pude ouvir uma risada. Acredito que pela minha maneira de atender ao telefone. — Pode subir um momento?
— Anh...
— Pode vir rápida a minha sala, por favor?
— OK!
Devolvi o telefone ao ganho e levantei, acertando o blazer em meu corpo.
As portas do elevador abriram no último andar, e um vulto passou por mim. Elsie carregava uma prancheta em uma mão e a mala de Tom na outra.
— Térreo.
Ela 'pediu-me', ao que obedeci com um sorrisinho antipático. Podia imaginar o porquê de Tom resolver praticar a fantasia sexual 'patrão/secretária' comigo e não com Elsie. Uma vez que as portas se fecharam, mostrei-lhe a língua. Segui pela pré-sala, golpeando com o nó do indicador na porta de vidro. "Entre, !", ouvi sua voz dizer abafada.
Meti a cabeça pela fresta que criei, observando Tom dar os últimos toques na decoração da árvore de Natal.
Estava linda, adornada com as cores da empresa, cheia de luzes e diferentes enfeites que Tom colecionava em suas viagens ao redor do mundo. Era bom saber que meu chefe amava o Natal outra vez.
— Então, que tal?
— Está... — eu me sentia boba. Quis me reprimir por me emocionar tanto, embora não parecesse errado estando ao lado de alguém que era mais louco pelo Natal do que eu. — Perfeita.
Sua mão pousou em minha nuca, fazendo-me virar o rosto e encará-lo.
Estava ali mais uma vez o olhar carinhoso.
Talvez o espírito natalino estivesse atrapalhando meu discernimento.
Deu um passo para que nossos corpos ficassem colados e fechou por completo seus lânguidos olhos. Eu parecia um peixe, incapaz de piscar, mas quis aproveitar a oportunidade para observar cada detalhe daquele rosto que vinha em direção ao meu para me beijar. Deixei minhas mãos repousarem na lapela de seu terno, não queria me animar demais e deixá-lo descabelado — Elsie captaria logo o que se passara em sua ausência. Em um beijo tranquilo, sua língua parecia queimar a minha como brasa, uma dando voltas sobre a outra. Quando pensei que apartaríamos, sua mão me fez inclinar a cabeça no sentido contrário ao qual estava, com ele fazendo o mesmo.
— Alguém pode aparecer... Elsie...
Tentei adverti-lo, mas sua língua impedia que a palavras fossem pronunciadas corretamente.
— É um prédio de 30 andares.
Gemi durante o beijo, colando inutilmente minha perna à outra ao constatar que estava ficando excitada.
Não saberia dizer se foi de propósito, mas Tom cessou o beijo logo em seguida. Precisei prender minhas mãos em sua nuca, pois minhas pernas cederam.
— Lembre-se disso de agora, ok? — pediu, encostando seu nariz no meu. Meneei a cabeça afirmativamente, duvidava que tivesse voz para me pronunciar.
Dedicou-me um largo sorriso, daqueles capazes de iluminar o seu dia, então seguiu porta afora com um grosso sobretudo dobrado no braço. Sentei-me na beirada de sua mesa, os dentes mordendo sem piedade o lábio inferior. Após um suspiro, tratei de me recompor. Levantei-me e acertei meu blazer — um número menor, na verdade —, sentindo algo no diminuto bolso lateral que costuraram ali. Estranhei, pois eu não costumava guardar nada nele, pensem: nem meu celular cabia ali! A ponta de algo alfinetou meus dedos, uma espécie de papel.
Dois ingressos para o Concerto de Natal, na tarde do dia 25.




Tal como indicado no ingresso, encontrava-me próxima à entrada da arena onde aconteceria o concerto. O frio era bastante rigoroso naquela época do ano, por isso trajava um grande e abrigador sobretudo vermelho, com botas marrom claro que quase alcançavam os joelhos e um gorro e luvas bem felpudos na cor bege.
Andava lentamente em pequenos círculos, a mente absorta sobre o que fazer no momento em que reencontrasse Tom Fletcher.
Um aperto de mão, um beijo na bochecha ou um beijo de verdade?
Descartei a primeira opção com facilidade. Já as outras duas...
Detive meus passos ao avistar de relance a figura de alguém.
Meu ex-namorado, James!
E não estava sozinho, vinha acompanhado de uma bela jovem. E pela possessividade do braço dele em torno de seus ombros, passavam a imagem de um casal apaixonado. Algo me dizia que James não quis desperdiçar os dois ingressos comprados.
Desde o término, tentei ao máximo evitar encontrar-me, ainda que acidentalmente, com James — morávamos no mesmo bairro pequeno e próximo ao centro. Tinha receio de que não conseguiria fazer "a fila andar". De que me chamaria de 'frígida' aos quatro ventos, para quem quisesse ouvir. Ou de que eu teria um discurso na ponta da língua sobre sua insensibilidade comigo.
Vê-lo me surpreendeu, claro. Mas nenhum dos cenários que imaginei tornou-se realidade. Voltei meu corpo em outra direção, ficando de costas para eles. Aproximei minhas luvas do rosto, em uma falsa tentativa de espantar o frio. Eu simplesmente não queria ser mais uma personagem na vida de James. Se ele havia encontrado um outro alguém, bom para ele! De soslaio, espiei os dois pelo canto do olho, flagrando um momento clichê retirado de filmes natalinos. Ele segurava acima de suas cabeças um azevinho, como desculpa para ganhar um beijo. Sorri de lado — James ainda era o romântico torpe que eu conheci.
Meu coração seguia descompassado, mas pela expectativa de reencontrar-me com Tom e não por rever a James inesperadamente. Sem que eu percebesse, minha 'fila' havia andado. Os músicos começaram a afinar seus instrumentos e a ensaiar algumas notas. Faltavam apenas vinte minutos e nenhum sinal dele.
E eu, claro, demorei a notar que Fletcher jamais me veria se permanecesse no mesmo lugar que escolhi para fugir das vistas de James. Voltei-me e então o vi.
Minha respiração ficou presa.
Ele encontrava-se do outro lado da rua, esperando para atravessar. Ainda assim, nossos olhos se encontraram tão rápido e tão fácil como é identificar o Sol ou a Lua. Um sorriso de quase rasgar a face brotou em seu rosto e no meu.
Tom já não era mais meu chefe, sua viagem de negócios chegara ao fim — a única coisa a nos impedir naquele momento era um semáforo. Os primeiros passos que dei em sua direção logo se transformaram em um leve trote, o presente de Amigo Secreto sacolejando em minhas costas. Uma risada solitária me escapou mais de uma vez ao longo do trajeto. Sentia-me boba — mas no sentido apaixonado.
O semáforo fechou para o trânsito de carros e Tom começou a vir de encontro a mim.
Meus pés não se detiveram no limite da calçada, continuei com o passo apertado até nossos corpos colidirem em um abraço no meio da faixa de pedestres. Os braços dele envolveram minha cintura enquanto cada um se inclinava para alcançar um beijo.
Apartamos com o insistente som de buzinas nos dizendo para sair do meio do caminho.
— Bem-vindo de volta, Tom. — disse logo em seguida, o que tipicamente lhe dizia quando retornava de suas viagens.
— Não pensava que ganharia uma recepção tão calorosa. — disse com as maçãs do rosto mais vermelhas do que o habitual. Parecia lutar para manter sob controle seu real grau de felicidade.
— Não me esqueci de nossa despedida.
Ele sorriu, sua mão buscando pela minha para enlaçá-la e seguirmos juntos para a entrada da arena.
— Trouxe os ingressos?
Os exibi orgulhosa, balançando-os graciosamente diante dele.
— Chegou a ir à festa de Natal? — perguntou enquanto nos acomodávamos em nossos lugares.
— Sim. Aproveitei para me despedir do pessoal. Mas parece que quem me tirou não foi... — fiz muxoxo. Estava exagerando, porém, nunca tive muita sorte em Amigos Secretos.
— O Harry sempre arranja encontros de última hora. — meu ex-chefe riu desdenhosamente pelo nariz.
— Como sabe que o Judd me tirou? — encarei-o confusa.
Ele puxou o bolso de seu grosso sobretudo sobre sua perna cruzada. Retirando de lá uma pequena sacola preta com o monograma de uma joalheria famosa. Segurei o item que me foi entregue ainda sem entender.
— Então... você quem me tirou?!
— Quem me dera! Teria sido bem mais fácil. — respondeu como se estivesse exausto. Meu cenho seguia franzido, embora um sorriso começasse a entortar o canto de minha boca.
— Por acaso você manipulou...
— Eu queria tirar você. E me empenhei mais depois de saber que eu era seu Amigo Secreto.
— Mas eu não me lembro de ter cont-...!
— Copeiras podem ser mais fofoqueiras do que secretárias. — encarou-me sugestivo.
Estreitei meus olhos enquanto meu queixo ia ao chão. Eu negava com a cabeça, porém, havia esse detalhe. Em um momento cheguei a desabafar com Helga, uma das copeiras, sobre o que poderia dar de presente. E ela era a responsável por servir café nas reuniões da diretoria e presidência!
"Burra!"
— Não se preocupe. Treinei minha melhor cara de surpreso no espelho por horas. — tentou assegurar-me.
Ri só de imaginar. Pousei a sacolinha em minha perna e de dentro da mochila retirei o embrulho destinado a Tom.
Abri minha sacolinha com o maior cuidado, gostava de preservar cada detalhe dos presentes que ganhava — até mesmo as embalagens. Já Tom parecia uma criança, o papel destruído com um só puxão. Os olhos dele brilharam com o gigante pote de Nutella e um grosso livro repleto de receitas com o chocolate como ingrediente primordial.
Estava mais do que satisfeita por saber que ele havia gostado. Aquela expressão de felizardo abobalhado não era algo que se podia dominar, mesmo após muito treino. Ele se voltou para mim efusivo, detendo-se ao notar que eu não havia aberto o meu presente ainda. Ao compreendê-lo, abri a caixinha que tinha em mãos. Deixei a corrente prateada se prender entre meus dedos e ergui minha mão até a altura dos olhos. Era um relicário.
Uma armação prateada circular, o centro era vazado, deixando ver seu interior através do vidro de ambos os lados. Dentro, três pequenos enfeites, uma árvore de Natal, um boneco de neve e um coraçãozinho vermelho. O que destoava era o quarto item, de tamanho desproporcional ao dos demais.
— Isto... não pode estar dentro do limite! — referia-me ao valor máximo estipulado para ser gasto nos presentes. Certo, eu me excedera um pouco no de Fletcher, mas aquele que tinha em mãos custava o dobro, senão o triplo, do acordado.
— Precisava dar algo especial... caso você quisesse fazer de hoje a primeira de várias datas juntos.
Tomate. Caqui. Qualquer coisa bem vermelha.
O rosto de Tom estava completamente rubro. Corpo e rosto tensos enquanto esperava por uma resposta minha.
— Quero. — a resposta foi dada sem pestanejar.
Não pensei nos prós ou nos contras da proposta, nem mesmo que terminara meu namoro de mais de um ano há pouco tempo. Sabia apenas que gostava de passar meu tempo ao lado de Tom e desejava passar ainda mais, se possível.
O maestro deu sinal com sua batuta de que estava pronto para reger os inúmeros instrumentistas que compunham aquela especial orquestra natalina.

Trilha sonora: Craig Armstrong – Prime Minister’s Love



As primeiras notas da música de "Prime Minister's Love", de Craig Armstrong, do filme Simplesmente Amor soaram, suaves e ritmadas ao início, crescendo gradualmente até seu comovente ápice. Tom espalmou sua mão, com a palma para cima, sobre minha perna. Uni minha mão a dele, enroscando os dedos de modo a não se soltarem mais. A mão livre de Fletcher me puxou gentilmente pela nuca para selarmos um beijo, tendo minha música favorita como trilha sonora.

Epílogo

Era Natal outra vez. Ou melhor, véspera.
E o dia 25 de Dezembro teria um significado a mais aquele ano — primeiro aniversário de namoro com Tom.
Após duas estressantes semanas em busca do presente perfeito para aquela ocasião, eu finalmente estava tranqüila — e quem sabe até um pouco orgulhosa pelo achado. A versão em Lego de uma estação espacial intergaláctica... do Papai Noel. Não sei se inventaram o brinquedo pela desculpa do novo filme de Star Wars nos cinemas, mas o importante é que estavam unindo duas coisas pelas quais Tom era sem dúvida apaixonado. E muito provavelmente, após destruir o lindo embrulho, se entreteria por horas em seu “escritório” — não havia nada de profissional lá, por isso as aspas. Era um quarto repleto de itens colecionáveis, um museu da infância de Fletcher. Quem sabe teria outra vez de realizar uma intervenção a fim de arrancá-lo de sua toca para se banhar, comer e ver a luz do dia.
Assim como meu presente era uma completa incógnita para si, Tom guardava o seu a sete chaves. Dei-lhe várias sugestões do que poderia gostar de ganhar — uma bolsa, uma roupa do shopping, um calçado do salto mais alto — entretanto, ainda o ouvia dizer levemente acanhado, que não sabia qual seria minha reação.
Naquela data tão especial, nos oferecemos para desempenhar o papel de anfitriões na grande mansão do Fletcher para o pai dele, minha mãe e meus dois irmãozinhos. Preparando de tudo para oferecer um verdadeiro banquete na ceia de Natal. Tom era o responsável pelo astro principal, o peru, e eu pela mesa.
— T-Tom!
Tentei dizer em um gemido engasgado.
— T-Tom, a minha mã-...!
Eu tentava alertá-lo de que nossos primeiros visitantes chegariam em breve e não estávamos nem um pouco apresentáveis naquele momento.
Minha blusa vermelho-bordô estava erguida até a altura do busto, o sutiã fora do lugar deixava meus seios expostos e a calça jeans preta encontrava-se pendendo já próxima aos joelhos. Encontrava-me na ponta dos pés, de pernas abertas, no canto da cama e com o tronco na horizontal. Tom investia contra mim repetidas vezes, e o peso de seu corpo impedia-me de me mover.
O ápice se aproximava cada vez mais, só que dessa vez eu desconhecia sua magnitude.
— T-!!
Minha capacidade de falar estava sendo substituída pela comunicação através de gemidos cada vez mais longos e estridentes. Sério, aquilo já não estava mais tão sensual. Porém, eu não conseguia reassumir o controle sobre mim mesma. Tudo por culpa do ‘presentinho surpresa’ de Tom.
Começou com um inocente convite:
— Agora que o peru está no forno e os biscoitos ficaram prontos, posso te mostrar uma coisa lá em cima? — por trás daquele seu lindo sorriso, eu desconfiava a existência de algum plano ou truque.
— Tem um presentinho surpresa pra mim? — brinquei sugestiva, empolgada.
O segui até ‘nossa’ suíte principal — havia uns 3 meses que estávamos literalmente vivendo juntos. Porém, não era oficial, à noite Tom me pedia para dormir ao seu lado e assim eu ia ficando. Por isso a maioria de meus pertences seguia no apartamento de minha mãe.
Ao chegarmos lá, percebi que a situação fora previamente calculada.
— Feche os olhos, por favor.
Uma vez que o obedeci, suas mãos tomaram minha pele de assalto por baixo das roupas. Seguindo em direções opostas, uma correu para alcançar meu seio, ávido por desobstruir o caminho; enquanto com a outra forçava minha calça para baixo com toques de rudeza. Soltei uma risada pela agradável surpresa, enquadrando com minha mão seu rosto próximo ao meu pescoço, percorrendo a região com sua língua.
— Podia ter deixado esse presente para mais tarde. — minha voz saiu alterada, algo mais grave. A cabeça tombada para o lado e minhas costas contra o seu corpo.
— Estava ansioso... E isto ainda não é o presente.
Sua perna se forçou entre as minhas, para que abrisse espaço até onde o tecido da calça permitia. As mãos na base de minha coluna me fizeram deitar parte do corpo sobre a cama. Seu corpo deitou-se sobre o meu, a boca estimulando meu lóbulo enquanto sua mão direita esgueirava-se pelo estreito espaço entre a cama e eu até alcançar minha intimidade.
— Este é o presente.
Um corpo estranho foi pressionado contra meu clitóris, começando a vibrar logo em seguida. Abri a boca pela surpresa, sem emitir qualquer som. Atentei-me ao novo tipo de estímulo que me era apresentado. Era... diferente. Em um bom sentido.
Pouco tempo depois, com sua mão livre alcançou a minha, guiando-me até minha intimidade e tornando-me mestra do aparelho. Aquilo o deixou livre para colocar ambas as mãos em meu quadril e fazer seu membro deslizar para dentro de mim. O caminho mostrou-se muito mais fácil uma vez que a lubrificação natural que partia de mim mesma estava tão intensa.
— Tom!! — quando cheguei ao ápice, clamei por seu nome repetidas vezes em meio a gemidos ensandecidos.
Os ecos da vibração do presentinho ainda reverberavam por meu corpo lânguido sobre a cama. O objeto foi retirado de minha mão sem resistência.
— Vou deixar guardado dentro do cofre. — o ouvi dizer em algum ponto atrás de mim. Meus olhos mal abriam, tamanho o relaxamento e cansaço que se abatiam contra meu corpo. — Não quero minha frígida se divertindo tanto assim sem mim.
Rindo de leve pelo nariz com o comentário, afastou-se. Detrás de um grande quadro na parede lateral à cabeceira da cama havia um maciço cofre onde Fletcher escondia algumas relíquias — escritura da mansão e contratos da empresa.
Não me deixei dormir, não podia. Fui para debaixo do chuveiro uma segunda vez naquele mesmo dia, concentrando-me agora mais na região do ventre e pernas. Quando terminei de me secar e comecei a vestir as mesmas roupas de antes, a campainha tocou. Por sorte, Tom já estava lá para recepcionar a minha mãe e irmãos, vestido como um Papai Noel mais magro e mais jovem.
— MANA!! — gritaram os dois pestinhas ao me verem entrar na sala, com minhas roupas em seus devidos lugares.
Não muito depois o pai Fletcher chegou. E sua barba grossa e grisalha fez meus irmãos acreditarem que se tratava do verdadeiro Papai Noel — e consequentemente Tom era o “herdeiro”.
Mesmo com meus irmãos — e Tom! — insistindo muito, os presentes só seriam abertos após a Ceia. Então, podem imaginar a comoção que foi quando os presentes se reuniram na sala, próximos à árvore de Natal. Os embrulhos maiores, claro, eram para meus irmãos — que mesmo não sendo tão crianças, ainda precisavam ganhar o mesmo presente para não brigarem. Com exceção do presente de Tom, os presentes dos adultos encontravam-se em meias natalinas colocadas sobre uma falsa lareira próxima à árvore.
— A parece ter acertado em cheio! — minha mãe comentou risonha ao ver o presente de Fletcher se revelar após a destruição do embrulho.
— Quando eu o vi na loja, sabia que tinha de comprar! — me gabei, humildemente. Os olhos dos meus irmãozinhos acompanhavam os movimentos de Tom com o brinquedo. Estava ganhando seu respeito ao se parecer tanto com eles.
A principal expressão que o rosto de Tom carregava era a de surpreso, acho que ele não esperava encontrar tudo o que mais amava em um só objeto. Alisou as laterais da caixa, deixou sua mão passear sobre o título do brinquedo em auto-relevo e então voltou seu olhar em minha direção. Um olhar carinhoso de bobo apaixonado que tinha o costume de me lançar desde quando ficamos juntos pela primeira vez. Ergueu-se do chão e sentou-se ao meu lado no sofá. Mudo. Ansioso para me ver abrir o meu presente.
— Eu vou querer um desses de aniversário, mana!
— Eu também!! — o irmão menor erguia seu braço, como se tudo dependesse daquele gesto.
— Se forem comportados, pensarei no caso. — minha mãe sentenciou, dobrando a cashemiere ganha e voltando suas atenções para Fletcher-pai e seu presente, um lindo par de abotoaduras.
— Esse papo furado é pro Natal... — meu irmão mais velho piscou cúmplice para o menor.
Virei a meia natalina, fazendo seu conteúdo cair sobre minhas pernas. Uma caixinha aveludada vermelha com o logo da mesma joalheria do relicário encontrava-se agora em minhas mãos. Lançava a todo o momento olhares desconfiados para Tom, mas este se mantinha calado, em plena tensão. Dentro do objeto, um anel dourado com uma pedrinha vermelha.
— Posso trocar por um par de brincos se não quiser... — Tom disse de pronto, as palavras emendadas rápidas umas as outras.
— Não precisa, está lindo! — sorri entusiasmada. Retirei o anel das duas pequenas almofadas que a sustentavam e coloquei em meu indicador esquerdo.
Melhor, tentei colocar.
Logo depois de passar pelo segundo nó do dedo, pareceu ficar preso. Acho que comi muito Panettone.
— Quem sabe tenha de trocar a numeração? — Fletcher ria de meu esforço para fazer o anel se deslocar.
— Não, não, está correto. Mas o lugar dele é neste daqui... — seu indicador deu leves batidinhas no meu anelar direito.
Foi minha vez de emudecer e ficar pálida.
Ali já residia um anel de compromisso prateado com um filete dourado no centro. Retirei e o coloquei na caixinha vermelha. O novo anel acomodou-se perfeitamente.
Quando se troca um de prata por um de ouro no dedo anelar direito, isso quer dizer...
— Prefere brincos?
Com um sorriso, levei a mão com o presente ao peito, cobrindo-a com a outra, então maneei a cabeça negativamente.
Meus braços correram para envolvê-lo em um abraço. E pude sentir seu respirar aliviado — ele estava naquela tensão havia dias! Por respeito aos nossos pais e meus irmãos presentes no mesmo recinto, deu-me um selinho:
— Feliz Natal, .
— Feliz Natal, Tom.


FIM



Nota da autora: (04/07/2016)
OWNNN!!
Me desculpem, mas eu amo esse casal *O*
É uma fic bem 'previsível' no final, eu sei. Mas o intuito era esse, queria escrever algo como 'filmes que vemos no Natal'. A gente sabe como vão terminar, e mesmo assim queremos ver como se fossem novidade.
Espero que tenham gostado de ler tanto quanto eu gostei de escrever.
Besitos!






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