Capítulo Único
- Seria uma incrível oportunidade, ! – eu ouvi do outro lado da linha.
Largado no sofá da sala, camuflado com uma calça moletom cinza e camisa preta surrada, eu me encontrava soterrado entre uma manta velha e inúmeros papéis – todos preenchidos com ideias fracassadas para um próximo livro.
- Acredite, as fãs vão adorar te conhecer. Elas vão cair duras, literalmente!
Em algum lugar não muito distante dali, Jasmine vibrava no telefone, tentando me convencer de ir para o Brasil para promover meu mais recente sucesso em todas as livrarias do mundo, “1+1=11”.
Por um momento não soube me decidir.
No fundo, eu estava esgotado. Não do meu trabalho, o ofício de escrever era minha grande paixão! Mas eu estava cansado de sempre criar histórias onde minhas personagens encontravam sua alma-gêmea e eu continuar sendo o mesmo azarado de sempre no quesito ‘romance’. Até as personagens secundárias em meus romances tinham mais sorte do eu, pois conseguiam arranjar seus pares até nas últimas páginas.
Eu tinha 36 anos, 13 livros do gênero romance publicados, 8 deles best-sellers, 1 casamento e, consequentemente, 1 divórcio e 0 filhos.
- Eu não sei, Jass. – disse com um suspiro desanimado. Ultimamente não vinha com vontade nem sair do pijama, pior ainda seria querer sair do país.
- Sabe sim... – ela deu uma risada quase malévola do outro lado. – !
Certo.
Jasmine realmente sabia como convencer uma pessoa.
Aquele nome cantarolado em meu ouvido fez meus olhos quase saltarem e um sorriso queria se apossar de meus lábios.
- Conseguiria fazer ela estar lá? – tentei soar o mais casual possível, esperando que Jasmine colaborasse e, para minha sorte, o fez: - Sim, senhor!
Eu a imaginei prestando continência ao dizer aquilo e então nos despedimos para que ela pudesse dar inícios aos preparativos necessários para irmos ao Brasil.
‘ no Brasil’, eu conseguia até imaginar tudo o que escreveriam sobre mim. O bom e o ruim...
O ruim era sempre ter o fim de meu casamento com Margaret relembrado ao elaborarem uma breve biografia minha.
O fato é que esse episódio do passado me incomodava muito: “O cara escreve mil histórias melosas e não é capaz de segurar a própria mulher?”. Eu sabia que as más línguas adoravam me apunhalar pelas costas com tal questionamento.
Mas Margaret não era o foco, não mais.
Eu agora me encontrava com o telefone sem fio largado na mesinha de centro e minha boca roía a unha de meu dedão.
- , . – disse em voz alta mesmo ciente de que estava sozinho. O sorriso de antes voltou e tomou conta de mim. Não pude evitar rir de mim mesmo.
Será que Jasmine havia arquitetado tudo aquilo? Não, Jass não perderia seu precioso tempo assim, por mais que fizesse o possível para me agradar. Provavelmente era o mercado brasileiro que a interessava mais. Eu ter mais e mais leitorAs – e alguns poucos leitorEs jamais assumidos – traria para os braços finos de Jasmine mais bolsas Prada, Gucci e Victor Hugo.
era a tradutora responsável por qualquer livro meu publicado no Brasil. Como meus livros são publicados em diversos lugares, é de se imaginar que cada editora administra como entende a questão da tradução de um livro, mas destacava-se.
Quem lia a versão dela e então a original, sempre a elogiava. Contavam-me que ela tinha o dom para saber captar o que eu queria dizer e passar isso para outra língua como poucos sabiam fazer.
Não é fácil traduzir algo, ainda mais se você deseja manter o sentido e, principalmente, a ‘intenção’ do autor ao escrever com aquelas palavras e daquela maneira. Era algo que parecia saber fazer como ninguém.
Eu, infelizmente, não sabia nada de português, então nunca pude conferir de fato o trabalho dela – embora tivesse o exemplar brasileiro em minha prateleira, presente da dona da Editora Bela Vista. Mesmo assim, houve um tempo em que meu interesse por ela estava no auge! Eu a procurei na Internet, vi seu extenso portfólio de traduções literárias e a encontrei no Facebook – em suma, fui seu stalker por algumas semanas. Pesquisei tudo o que estava disponível sobre ela. Mas por não ser uma figura tão pública quanto eu, o número de informações não era tão farto (e menos ainda o de fotos!). No geral, ela parecia uma grande profissional, reservada e seu rosto angelical, adornado com um sorriso adorável.
Jasmine me trouxe de volta a realidade, alegando que eu não podia cair de amores por alguém com quem nem sequer trocara uma palavra!
Tentei de verdade esquecer-me dela!
Mas era difícil não ficar entusiasmado por ela. Se ela conseguia traduzir tão bem os sentimentos que eu colocava em meus livros, é porque ela deveria ser uma romântica tão incorrigível quanto eu! Para mim a matemática estava clara. Eu dera errado com Margaret ao supor que ela fosse minha alma-gêmea, uma pessoa racional e fria. Eu deveria estar ao lado de alguém tão romântico e apaixonado quanto eu, pois 1+1=11! E eu sentia que podia ser essa pessoa.
Dias depois, lá estávamos - Jasmine e eu - em uma livraria no Brasil. Eu sabia que tinha diversos fãs espalhados pelo mundo, mas uma coisa é ter ciência da sua popularidade através de estimativas e relatórios sobre as vendas de livros e outra, completamente diferente, é ver os seus fãs na sua frente. E eram milhares!
Aquilo me fazia sentir especial.
Porém, nem tudo estava sendo como eu idealizei que seria.
- ? – disse-me a sra. Elsa, a dona da Editora Bela Vista. - Aquela menina!
A senhora de meia idade deixou claro o desgosto em não ter sua funcionária presente no evento, ainda mais quando eu insinuei o quanto desejaria conhecê-la antes de vir para o Brasil.
- Não, tudo bem. Sem problemas. - eu comentei, fingindo que aquilo não era uma grande decepção. - Talvez numa próxima vinda…
Vi o rosto de Elsa ficar mudo de expressão, não saberia dizer com exatidão o que se passava em sua mente, mas suspeitava que ela sentia ter deixado seu cliente na mão. Então deu um olhar severo para sua assistente-estagiária, Lorraine, uma moça na casa dos vinte e toda nervosinha - parecia mais uma ratinha assustada. A jovem teclou rapidamente no celular corporativo e se afastou de nós. Elsa deu-me um sorrisinho:
- Já está resolvido. - ela piscou para mim.
Eu estava a ponto de perguntar o que ela queria dizer com aquilo, porém, não havia mais tempo. Era hora do ‘Meet and Greet’ - eu assinaria livros e tiraria fotos ao lado de minhas fãs.
*** *** ***
- Mas como assim?! - eu praticamente gritei. Pobre Lorraine, mas faz parte da vida de estagiário sofrer.
- Assim sendo! Dona Elsa deixou bem claro que era pra você estar aqui! - ela podia ter medo de muitos outros funcionários, mas não de mim. Não éramos exatamente ‘best-friends-4ever’, mas nos dávamos bem. Isso porque Lorraine admirava a minha nova pessoa, ainda que os demais colegas da editora não me suportassem mais.
- Diga para a ‘enrugada’ que ela pode esquecer. Não vou ficar babando ovo para clientezinho dela mais, não. - respondi desgostosa, analisando-me no espelho para garantir se meu ‘make’ ainda estava inteiro.
- Ah, vai! Vai porque é o !! - eu pude notar a euforia adolescente ao dizer o nome dele.
Minhas sobrancelhas praticamente se juntaram, eu via meu reflexo fazer uma cara de nenhum amigo. Não. não. Se havia um ser com quem eu não queria me encontrar, esse alguém seria .
Lorraine ouviu meu suspiro de desânimo, mas não houve solidariedade - também, a menina com jeito de santa parecia entrar no cio ao ouvir o nome do cara!
Ela precisava urgentemente namorar; e eu de alguém para tirar o atraso.
- O sr. estará aí daqui a pouco.
Espere… Daqui a pouco?
- Daqui a pouco?
Olhei apreensiva para a janela e me dirigi até ela saltando e desviando de diversos objetos espalhados graças ao meu desleixo. Movi apenas alguns centímetros a cortina para ter um vislumbre do ‘mundo real’ que me cercava. Ele não poderia estar vindo. Não tinha como ninguém estar vindo porque…
- Lorraine… Por acaso você contou pra ‘enrugada’ onde eu estou?? - minha voz evidenciava minha tendência assassina. Ela não podia ter me dedurado.
- … Foi mal! - ouvi-a dizer cheia de ressentimento. Não era a toa que dona Elsa a mantinha, apesar das patetadas, a velhota conseguia arrancar qualquer informação, segredo ou fofoca dela. Estagiários…
Lembrete mental: nunca mais contar meus planos secretos para um ser da classe ‘estagiário’.
- Não pense que eu vou abrir a porta. - tentei argumentar. Ainda bisbilhotando desde a janela, agachada.
Ouvi Lorraine respirar fundo, decidida, do outro lado da linha:
- Terá de abrir. Se colocar em risco o acordo que a dona Elsa tem com o sr. , você estará acabada. Nunca mais trabalhará no mundo editorial, ouviu? - aquelas palavras eram a cartada final da ‘enrugada’, transmitida a mim por sua garotinha de recados.
Nem respondi.
Desliguei o telefone na cara dela e, frustrada, atirei o telefone sem fio contra o sofá.
A visita de iria acabar com meu ‘ano sabático’.
Eu queria ficar longe de praticamente tudo da minha vida normal e de quem eu costumava ser. Eu estava me reinventando e precisava de espaço, liberdade para me encontrar. Por isso reuni minhas economias, deixei às moscas meu apartamento/cubículo e vim morar por tempo indeterminado em um empreendimento que abrigava inúmeros sítios em seu amplo terreno. Era um pouco distante da cidade, mas não se gastava um dia inteiro para se chegar lá.
Eu me perguntava até quando dona Elsa tentaria me manter na coleira pelo capricho de agradar a seu cliente. Se havia um motivo para eu ainda trabalhar na Editora Bela Vista, esse motivo era . Meu orgulho era reforçado por saber que era ele quem solicitava que fosse eu a escolhida para traduzir seus livros. Aparentemente, os elogios por minha tradução de seu livro chegaram até ele de algum modo e garantiram que eu traduzisse as publicações seguintes.
Eu costumava achar isso uma benção: emprego garantido por toda uma vida enquanto , vulgo ‘o porta voz do coração’ (coisa brega!), escrevesse seus ‘romances românticos’. Caí na gargalhada ao me lembrar de como eu era ávida por esse gênero, sendo o meu escritor favorito. Que estúpida eu era…
*** *** ***
Dona Elsa realmente fazia das tripas (dos outros) coração para agradar a seus clientes. Explicou-me que a ausência de se deve a um contratempo, mas que sua funcionária queria me conhecer tanto quanto eu queria conhecê-la. Fez com que sua assistente providencia-se um carro confortável e de grande porte para levar-me até onde ela estava vivendo. Dona Elsa e Lorraine vieram no carro, conversando e fazendo acertos para um próximo livro, e acabaram descendo na sede principal da Editora no meio do caminho. Jasmine continuou ao meu lado no assento de couro claro. Então podem imaginar minha surpresa quando o carro parou no acostamento do hotel onde estávamos hospedados e ela desceu. Não iríamos juntos?!
Eu reclamei, entretanto ela meramente entregou-me uma caixinha branca com tampa vermelha com um grande laço de cetim.
- Presentinho! - ao abrir, amaldiçoei-me mentalmente. Eu devia ter previsto.
Tratava-se de um par de camisinhas.
- Ainda lembra como se faz, não? - Jasmine estava com o tronco inclinado, a porta do carro ainda estava aberta e ela fazia gestos obscenos com ambas as mãos para simular o encontro entre um homem e uma mulher.
Eu sou do tipo que morre de vergonha fácil, então tratei de lhe responder com um simples ‘Palhaça!’ e fechei a porta.
O carro seguiu, enquanto eu me afundava no assento.
Não imaginava que iria ter de conhecê-la sozinho.
Eu estava apreensivo: será que a dona Elsa pensava a mesma coisa que Jasmine? Que eu teria segundas intenções no meu interesse por conhecer ?
Joguei a cabeça para trás e tratei de respirar fundo.
Tive tempo o suficiente para poder me acalmar e tentar me convencer de que o fato de eu estar indo visitá-la em sua casa sozinho não era suspeito - todavia, não obtive muito sucesso sobre minha insistência em conhecê-la.
- Chegamos, senhor. - disse-me o motorista, chamando a minha atenção de volta a realidade.
Ela morava consideravelmente longe. Tinha de guardar tal detalhe, pois não poderia demorar muito.
Agradeci ao motorista e desci do carro. Observava tudo ao redor, havia muita grama verde e árvores. Segui pelo caminho feito de pedras arredondadas até uma casa de campo. Dei-me conta de que ainda segurava o ‘presentinho adorável’ de Jasmine em uma das mãos e o guardei no bolso do paletó bem a tempo, quando a porta se abria.
*** *** ***
Portei-me como uma boa menina. Não queria ter de sair da Editora Bela Vista com uma carta ruim de recomendação. Dona Elsa não mentia quando ameaçava queimar a imagem de um de seus ex-funcionários caso falhassem com ela - o Tobias que o diga! Ele, ainda por cima, era funcionário terceirizado…
Para evitar problemas, dei uma leve geral na casa - entenda-se: movi a bagunça de endereço apenas - e troquei por uma roupa melhor (limpa). Estava muito bem em meu look básico: uma bota de salto baixo, legging preta e uma blusa do tamanho de um vestido de listras preto e cinza. Mantive o meu make básico de rímel e delineador pretos e o BB cream, adicionei apenas um blush rosado e um batom avermelhado. Desfiz o coque mal-feito e optei por uma tiara dourada.
No balcão da cozinha americana separei alguns pedaços de queijo (eu precisava fazer compras!) e, por que não? Abri um vinho, aproveitando para me servir adiantado e bebericar um pouco. Não era nenhuma grande marca ou safra, mas era bom… Doce!
Mal terminei de apreciar minha taça, ouvi a buzina de um carro soar do lado de fora. Só poderia ser Adalto, o motorista/capacho de dona Elsa trazendo-me seu convidado.
Esperei que a visita tocasse a campainha e dei meu melhor sorriso. Eu podia tolerar babar ovo por um par de horas para o queridinho da dona Elsa, afinal, pelo que se via na foto da orelha do livro, era um puta homem gostoso.
Assim que abri a porta, meu sorriso cresceu. Assim como o vinho, os anos também fizeram muito bem para a imagem de .
- Oi! Prazer, sou a…
- !
Minha sobrancelha ergueu-se imediatamente quando ele disparou meu nome. Ele parecia nervoso, talvez até meio atrapalhado.
- Isso. E você é…
- ! !!
Céus… Alguém precisava avisá-lo que apresentar-se ao estilo ‘James Bond’ só causava efeito em mulheres se fosse dito no tempo certo, não tudo atropelado.
- Vamos entrando! - disse assim que me recuperei, tentando me atentar ao fato de que teria de relevar aquele nervosismo dele. Mas por que ele estaria tão nervoso? A celebridade era ele, faria mais sentido eu estar daquele jeito - e até teria ficado se esse encontro tivesse acontecido tempos atrás…
O convidei a se sentar no sofá e me ofereci para pendurar seu paletó. Eu não tinha um mancebo ou algo parecido com um ‘closet’ naquela casa, então fui até meu quarto e joguei a peça de roupa sobre a cama, mas algo me parou. Foi o som leve de algo se chocando contra o chão. Retornei para devolver a caixinha de volta ao bolso e não pude deixar de notar que havia um par de camisinhas dentro dela.
Eu congelei.
Aquilo queria dizer o que eu penso que queria dizer?
Bom, camisinhas costumam ter uma função e não é para serem bexigas!
Estava de volta à sala.
Pensava comigo mesma sobre o que a antiga eu faria: provavelmente se assustaria, acreditaria que era um tarado e daria um jeito de me ver livre dele. Mas agora eu era uma versão melhorada (e mais confiante) de mim mesma. A caça dera lugar à caçadora.
- Gostaria de um vinho?
- Anh… cla-claro. - o vi com curiosidade esfregar as mãos nas pernas. Ele estava mesmo nervoso. Mas eu daria um jeito nisso. Ou melhor, o vinho daria.
Eu não esperava ‘tirar o atraso’ naquela noite, menos ainda com , porém, a conveniência e o belo espécime em meu sofá criavam uma oportunidade tentadora. Por que não, afinal?
Se ele estava a fim, eu também poderia me interessar.
Ofereci-lhe uma taça com vinho e em seguida sentei-me ao seu lado com minha taça em uma mão e na outra a bandeja com queijos, esperando que ele aceitasse algum.
- O que está achando do Brasil até agora? Gostando? – perguntei simpática antes de bebericar um pouco do vinho.
- Sim! Estou começando a pensar que devia ter aceitado vir antes. – ele brincou.
- Nós sempre o convidamos, o senhor que se fazia de difícil. – respondi. Quantas vezes não retornei decepcionada do trabalho por saber que mais um livro de era lançado no país e eu não poderia conhecê-lo...
- Não foi bem assim. Sempre havia um impedimento. – ele disse aquilo com os olhos tristemente fixados na taça de vinho e eu soube que era hora de mudar o rumo da conversa.
- Fico feliz que finalmente tenha aceitado. Um brinde! – ergui minha taça e aguardei para que ele me acompanhasse, tímido. – À vinda do grande autor de romances !! Tin-tin.
Ambos bebemos de nossas taças.
- Sabe? – ele iniciou após um breve gole. – Eu... – parecia buscar pelas palavras certas. – Eu estava ansioso por conhecê-la, sabe? Ver cara a cara a pessoa que traduziu meus trabalhos, que leu cada linha e buscou a tradução perfeita para cada palavra e ideia que eu coloquei no papel.
- Obrigada. – respondi devagar, espantada com a forma como ele via o meu trabalho de tradução. Brindamos novamente, segundo ele, pelas minhas excelentes traducões.
A conversa começou a fluir ou talvez fosse o vinho fazendo efeito em nosso sangue. Dona Elsa teria de me pagar um extra por ser tão boa anfitriã – a menos que eu descontasse do (no) próprio !
Quando recém nos sentamos no sofá, estávamos praticamente um em cada extremidade, conforme a conversa se prolongava, a distância diminuía.
Nossos joelhos já estavam colados quando ele interrompeu sua fala, algo sobre o Brasil e a Inglaterra serem muito diferentes, incapaz de prosseguir por causa do olhar que eu lhe lançava.
Eu o tinha no alvo. Era hora de abater a presa.
Tomei para mim seus lábios – coisa que estava me tentando havia tempo – ávida em morder o inferior, mais carnudo. Não pude controlar muito bem meu impulso, ouvindo em seguida um gemido de dor. Nos afastamos e eu mantive meus olhos fixos nos dele, umedecendo lentamente meus lábios. parecia estupefato. Entretanto seus olhos acompanharam fielmente o trajeto de minha língua por sobre meus lábios, enfeitiçado.
Foi a vez dele colar seus lábios aos meus. Creio ter ouvido o som da taça de vinho dele caindo na mesinha de café enquanto seus braços buscaram meu corpo para me envolverem. Facilitei o trabalho passando minha perna sobre as suas e sentando-me em seu colo – garantindo de fazer pressão com meu quadril sobre ele em um pseudo-rebolado.
Esforcei-me para que sua camisa saísse logo de meu caminho, impedindo irritantemente o percurso de minhas mãos pela pele desde o seu peito ao abdômen. também não perdeu tempo em comandar suas mãos para retirar quase que desesperadamente minha blusa – se não fosse pela legging, estaria apenas de calcinha e sutiã na frente dele. Sua face afundou-se em meus seios, faminto em saborear cada centímetro que a blusa escondera até aquele momento. Deteu-se quando algo áspero tocou em sua bochecha. Dei-lhe um sorriso, retirando de meu sutiã uma das camisinhas que surrupiara da caixinha.
- Obrigada pelo presente, não precisava! – disse com certo sarcasmo, debochando da situação.
Ele estava um tanto confuso, suas sobrancelhas unidas, até que pareceu reconhecer o pacote e enrubesceu.
- Annh... Extra G?? – eu perguntei, maliciosamente animada com a expectativa. O vi corar mais ainda e tentar balbuciar algo com lógica, mas eu já estava enlouquecida.
O ambiente ao meu redor parecia abafado, pois eu sentia a temperatura do meu corpo muito quente para o inverno que vínhamos tendo.
Inclinei meu tronco sobre ele, dando um tempo para o seus lábios, agora levemente inchados por minha culpa, e tornando sua orelha minha nova vítima – região que parecia ser seu ponto fraco, pois me pareceu fácil fazer com que seguisse meus comandos não-verbais para retirar-lhe as peças de roupa que faltavam. Minhas mãos abriram o botão de sua calça jeans clara e desceram o zíper, os polegares se fixaram dentro de sua boxer verde e, junto com a calça, deslizaram para baixo com ele erguendo levemente seu quadril.
Desci de seu colo e sentei-me no chão, terminando de retirar o que faltava da calça e da boxer e fazendo com que meias e sapatos os acompanhassem. Distribuí pequenos beijos molhados na extensão de sua perna, aproveitando para olhá-lo de vez em quando, enquanto isso eu retirava da equação minhas botas e peças de roupa.
Segurei em minha mão novamente a camisinha e com cuidado abri a embalagem com a ponta dos dentes, o gosto do látex não era o meu favorito e não se tratava de uma daquelas de sabores.
Mesmo assim, havia um truquezinho sacana que eu aprendera e sabia que agradava. Envolvi seu membro com minha mão esquerda e, exercendo certa força, a fiz descer e subir pela sua extensão. O vi respirar penosamente, parecia não estar mais encontrando ar, mas seu olhar estava preso ao meu. E quando finalmente tive pena da expressão que ele me dava, pus minha mão direita com a camisinha na ponta de seu membro e aproximei minha boca, descendo com o material até a base.
Sem dúvida nenhuma, era bem mais complicado fazer sexo oral com camisinha, era preciso ser cuidadosa para não estragar o produto com os dentes – e ainda havia o detalhe de não haver qualquer sabor artificial. Por isso mesmo não me demorei tanto naquela atividade em específico. Havia outra parte de mim que poderia se encarregar melhor daquele tipo de função.
Voltei para o seu colo, colidindo de propósito e desastradamente nossos lábios, roçando minha entrada nele maliciosamente. Ele deixou claro o quanto precisava que eu deixasse de rodeios apertando meus seios com mais força, tornando a sensação quase dolorosa. Meu corpo contraiu-se em uma risada que tentei disfarçar e rebolei em seu colo de uma maneira que seu membro encontrou sozinho seu caminho para dentro de mim. Forçando pele e músculos daquela região a lhe darem passagem. Ainda que houvesse o leve incômodo da dor, forcei-me o máximo possível para baixo, de encontro ao seu membro. Queria que a penetração fosse profunda e completa. Meus braços o envolviam na altura do pescoço e eu o trouxe para perto de meu tronco, jogando minha cabeça para trás e apreciando o prazer de tê-lo inteiro dentro de mim.
*** *** ***
Acordei com certa movimentação na casa.
Casa que não era minha.
Conforme as lembranças da noite anterior foram se tornando mais nítidas em minha mente, um sorriso foi crescendo. Afundei meu rosto no travesseiro – que tinha o leve odor de violeta do perfume dela – e ri. Ria de mim mesmo, pois apenas em minhas fantasias poderia imaginar algo assim, ri dos meus receios da noite passada em vir conhecê-la sozinho.
Eu não sabia bem o que esperar quando a porta se abriu, a mulher com sorriso singelo do Facebook tornou-se finalmente real. Podia vê-la por inteiro, sem impedimentos pelo tamanho do enquadramento da foto e de todos os ângulos. Era ela! Melhor do que a foto dava a entender, pois em uma imagem congelada não se pode imaginar a voz da pessoa e muito menos o seu trato com os demais.
era um deleite para todos os meus nervosos sentidos. Sua voz era simpática e jovial, sua risada um canto. Seu corpo gracioso, mesmo quando estabanada às vezes. Seus lábios sorridente e chamativos pela cor de batom utilizada. E seus olhos...
Hipnóticos seria a melhor definição.
Independente de onde estava ou para onde ia, seus olhos estavam sempre atentos aos meus. Eu me sentia o ser mais especial e importante do universo – embora também um pouco intimidado. Não seria capaz de prever quais poderiam ser minhas reações com aquela mulher incrível prestando tanta atenção em mim.
Eu não podia simplesmente voar nela. Aproveitar-me de minha força física por ser maior do que ela, prensá-la contra o sofá, prender com minhas mãos seus pulsos e beijá-la. A ideia era saída de um certo filme (para maiores de 18 anos) visto recentemente. Mas duvidei que, se repetisse a cena, ela teria a mesma atitude da atriz de gemer, retribuir o beijo e ceder ao meu domínio tão ‘gentilmente’.
Conforme conversávamos, eu conhecia mais e mais sobre aquela mulher tão fascinante. A decoração de sua casa e seus pertences espalhados por ela também ajudavam a completar o quadro sobre quem seria . E cada novo detalhe descoberto era uma brecha para que meu interesse por ela aumentasse ainda mais. Era como se eu nunca tivesse tentado de fato, nem mesmo um pouco, esquecer aquele sentimento que me fervilhava todo o corpo ao pensar nela.
Apaixonar-se por alguém que você nunca viu pessoalmente, isso é possível?
Pior, estar ali com de verdade era como me ‘reapaixonar’ por ela!
Se ela não tivesse me roubado um beijo, provavelmente eu explodiria em frustração ao pensar em como beijá-la sem que ela reagisse mal, gritando, me batendo e ligando para a polícia para denunciar a mim como ‘tarado’.
Todo movimento dela inibia qualquer um meu. Ela estava no comando e eu não buscava mudar aquilo, extasiado demais com a ideia de que aquilo estava acontecendo. Não sabia qual seria seu limite, até onde ousaria ir com um homem que acabara de conhecer, por isso concentrei-me em desfrutar das liberdades que ela e as situações que ela criava, permitiam-me.
Ela estava ciente de que aquilo era loucura, não?
Talvez fosse efeito do vinho. Eu devia ter caído no sono sem perceber pelo efeito da bebida e provavelmente estaria fazendo papel de bobo adormecido em seu sofá, babando e sonhando que a almofada era seu rosto. Entretanto... Nenhum sonho é assim tão intenso. Menos ainda as sensações explosivas que os toques da mão ou boca dela produziam em meu corpo. Aquilo era real, e muito!
- Bom dia... – minha voz soou meio rouca quando a vi entrar no quarto. Minha cara de sono devia estar horrível, com um sorriso meio torto e apenas um olho aberto.
- Dia. – ela respondeu simples, terminando de ajeitar seu brinco.
Senti um peso ser jogado sobre mim e notei que ela trouxera minhas roupas, amassadas e enroladas de qualquer jeito.
- Quer tomar café da manhã? – sugeri, pensando em fazê-la provar de minhas famosas panquecas.
- Não, valeu. Já tomei. – ela respondeu com um sorriso rápido.
Foi então que a situação me pareceu estranha, relevando o que tínhamos feito na noite anterior e onde eu havia despertado.
Parecia haver uma tensão no ar.
- Hummm. – sentei-me, ajeitando o lençol para que continuasse a cobrir-me da cintura para baixo. – Você quer conversar sobre ontem?
- Ah, não! Não se preocupe. – ela respondeu. Parecia meio sem jeito, querendo dizer-me algo.
Eu a encarei por alguns instantes.
O que estava acontecendo ali?
- Você quer que eu vá embora?
- Na mosca!
Fiquei sem ação, pois não conseguiu esconder seu contentamento por eu ‘decifrar’ o que ela queria.
- Mas como assim? – eu estava perdido. Agarrei-me no lençol para poder me levantar, desajeitadamente. – Mas e ontem? Quer simplesmente que eu vá? Não temos que acertar certos detalhes?
Eu vi sua sobrancelha contrair-se e ela tentar segurar uma leve risada. Seu olhar era como se acabara de ouvir algum absurdo do tipo “A Terra é quadrada”.
- Não. – respondeu com certa graça na voz. Meu queixo foi ao chão e quase levou o lençol junto. – Ontem o grande autor de romances do momento veio conhecer a pessoa que traduz maravilhosamente seus livros e eles conversaram por longas horas. Ah... E também fizeram sexo. Mas agradeço se omitir esse detalhe da dona Elsa.
- Detalhe? Ontem foi um detalhe pra você?
- Oras... Homens têm suas necessidades e nós mulheres também. – ela terminou a frase com um suspiro.
Deu-me um sorrisinho e fez menção de deixar o quarto para que eu pudesse me vestir.
Ela estava brincando, não?
Agarrei minha calça – que ainda estava com minha boxer por dentro – e quase tropecei ao passar as pernas.
- ! – agarrei seu pulso. Ela me fuzilou e eu entendi que abusara um pouco da força. – Desculpe... – não fiz por mal, porém, eu estava confuso ali.
Ela ainda estava com a cara um pouco amarrada, até que se jogou no sofá da sala e suas expressões suavizaram.
- Desculpe de verdade. Mas sei que precisamos de conversar...
- Eu fui sincera quando disse que não precisava se preocupar com isso. Não temos nada para acertar sobre ontem, garanto. Nós transamos, eu achei legal, você obviamente curtiu e agora a gente simplesmente diz tchau e segue em frente.
Vê-la dizer aquelas palavras com tamanha tranquilidade estava levando o meu ser a subir pelas paredes. Eu curti? Aquilo me pareceu uma definição tão pobre para tudo o que ela me fizera sentir noite passada. Por que ela parecia agir como um homem? E pior, daqueles na casa dos vinte que pensam apenas em sexo casual.
- Eu realmente não te entendo. - neguei com a cabeça, deixando que meus joelhos cedessem sobre o sofá.
Queria argumentar de alguma maneira, mas aquela parecia ser uma pessoa diferente da qual eu conheci, da que me ofereceu vinho e queijo, com quem conversei tão bem sobre tantos assuntos. Logo notei que nada dissemos sobre nossos ‘relacionamentos’.
Eu evitei falar qualquer coisa e agradeci mentalmente por não vê-la perguntar por Margaret – na hora julguei que tinha ideia da separação difícil que tivemos e não quis provocar uma ferida antiga.
Respirei fundo, tentando organizar minhas ideias.
- Desculpe, mas eu não acredito mais em príncipes encantados. - seus olhos eram sérios, carregados de lembranças que eu desconhecia. – Parei de esperar flores, demonstrações públicas de afeto, de um dia subir ao altar e ter alguém esperando por mim… Eu não estou me iludindo mais, ok?
Eu devia estar com a cara de maior idiota do mundo. A vi levantar-se e meu impulso foi o de acompanhá-la, primeiro com os olhos e em seguida com o corpo.
- Olha, , eu sou louco por você. – breve pausa para notar que ‘louco por você’ soa assustador e não romântico. - É meio doido, mas...
- Mas agora você precisa ir. – ela abriu a porta e deu um aceno para Adalto, o motorista. – Já fizemos o Adalto esperar por tempo demais. - senti-me intimidado por ela estar tão irredutível. Ela não aceitaria conversar e ponto final. Meus lábios encresparam, insatisfeito por não saber o que argumentar. Sentia raiva daquela , preferia a que conhecera pela parte da noite. Ressentido, revoltado comigo mesmo por ter pensado por um momento que ‘eu’ poderia ter a sorte de encontrar uma mulher interessante para ter ao meu lado, fui até o quarto onde despertei, recolhi o resto de roupa e meus sapatos e parei diante dela.
- Eu sei que é loucura, mas me apaixonei por você mesmo antes de te conhecer. Ouvir de alguns conhecidos que alguém era capaz de traduzir tão bem minhas histórias me fez achar que aquilo só era possível porque essa pessoa compreendia cada palavra que eu utilizava para descrever a paixão, o amor... Sentimentos tão vivos e ao mesmo tempo irracionais, ambos difíceis de explicar e decifrar.
- Bom... Desculpe por não ser a pessoa que você estava esperando. – ela disse como se eu fosse um pobre coitado iludido, todavia, algo naquela fala me chamou a atenção. Não apenas pelo azedume no tom de voz, mas nas palavras usadas. Parecia-me estranhamente familiar. Talvez, só talvez...
- Você é mais do que eu pude imaginar. – fiz questão de encará-la, vendo aquele semblante rígido. – Na verdade, até mais do que consegui um dia imaginar.
- Acho que está me confundindo com uma de suas personagens, senhor . O grande problema é que nenhuma delas existe.
- Tem certeza? Eu olho para você e, nessas menos de 24 horas que nos conhecemos, eu vejo a simpatia encantadora de Grethel do livro “O Hotel Centenário”; vejo o feminilidade da nossa Jocelyn, de “Aqui Nosso Amor Nasceu”; o gosto pela leitura clássica de Ohanna, de “Lembra-se De Mim?”; o amor pelos animais de Madena, de “Mar Vermelho”; a desarrumação de Anyia, de “O Relógio Russo”. Até mesmo essa sua postura de agora, de se armar com um coração de pedra para qualquer um que tente se aproximar... Crente de que está se reinventando como uma mulher independente do século 21, cega demais para ver o rancor que a está consumindo: você está sendo Judith, de “Amanhã Será?”.
Vi que meu lampejo de dedução feita de última hora sobre estava mais do que certa quando notei o semblante sério dela quebrar-se, dando lugar a surpresa. Em algum momento do passado ela sofrera alguma desilusão amorosa e agora buscava recolher todos os cacos de seu coração afastando qualquer outro homem para impedir que a machucassem novamente.
- Você tem um pouco de cada uma das minhas personagens mulheres. Entretanto, elas são partes de um todo que eu nem imaginava encontrar em uma só mulher.
Meti a mão no bolso de meu paletó completamente amassado e, daquele que não guardava a camisinha restante, apanhei meu cartão de negócios.
- Foi um grande prazer conhecê-la. – dei-me ao luxo de provocá-la um pouco. – Meu cartão, para o caso de poder ser como Lucy, minha favorita de todas.
Deixei o cartão sobre um móvel próximo à porta e saí. Esforcei-me para não olhar para trás, e mais ainda para fingir que não me incomodava com os olhares e risadinhas de Adalto.
Encarei o céu através da janela boa parte do caminho, seguíamos para uma reunião na Editora Bela Vista – estava atrasado e Lorraine me ligara mil vezes a mando de dona Elsa, mas não tive vontade de atender ao seu telefonema, afinal, já estava a caminho.
Perguntava-me se me ligaria.
Lucy McFarlane era uma personagem minha: meiga, delicada, companheira. Eu deixei que ela sofresse muito, que passasse por diversas provações e situações difíceis. Dei a ela um final muito feliz, garantindo que fosse, se não para sempre, pelo maior tempo possível. Mas o que a tornava minha favorita era como ela se jogava no desconhecido, procurando garantir de ter seu maior sonho realizado: ser feliz.
...
Joguei-me no sofá do hotel com desânimo. Jasmine fora até uma nova reunião na Editora Bela Vista a qual eu, deliberadamente, não iria comparecer. Dona Elsa podia espernear o quanto quisesse, mas eu não tinha vontade e nem concentração para ir resolver os detalhes para a publicação seguinte de meu livro.
Já era o 3º dia desde aquela noite em que conhecera .
E cada vez que o telefone tocava, eu me lançava para atender, mas nunca tinha a felicidade de ser ela do outro lado da linha.
Tomei a liberdade de permanecer na ligação que Jonas acabara de fazer, já despreocupado em desligar rapidamente para não perder a possível chamada de .
Ela não ligaria, não.
Talvez não fosse nem a questão de que não tivesse nenhum resquício da personalidade de Lucy, talvez fosse eu que não representasse qualquer chance de felicidade para ela.
- Eu não sei, não, cara. – a voz alegre dele debochava de mim. - Três dias e nenhuma chamada é mau sinal... Acho melhor desistir de vez.
Eu ri, mentalmente.
Não fui capaz de esquecê-la quando Jasmine me pediu, agora, depois daquela ‘experiência’ que tivemos no sítio dela, eu jamais seria capaz de apagá-la. Minha mente ficava tumultuada e meu corpo arrepiava-se meramente com flashes daquela noite. Seus toques ficaram gravados em meu corpo como uma tatuagem.
- Pelo menos faturou uma noite com ela! – Jonas tentou me animar.
Concordei com ele, mas não contive um suspiro inconformado.
- Preciso desligar: campainha. – expliquei para Jonas, que reclamou um pouco antes de despedir-se.
Guardei o celular no bolso e fui até a porta. Eu não me lembrava de ter pedido pizza. E tinha certeza de que o interfone não tocara para falar sobre visitas.
Fui incapaz de exibir qualquer emoção assim que a porta revelou a figura de . Parecia até que eu via tudo em câmera lenta. O seu rosto, que antes mirava o chão, erguendo-se para que seus olhos se fixassem nos meus, seus cabelos obedecendo aos seus movimentos e ajeitando-se de uma forma sedutora ao redor de seu rosto. Trajava um sobretudo bege claro que acabava um pouco antes dos joelhos e sapatos pretos de salto alto de veludo. Ela estava incrível... Estaria vestindo algo mais debaixo daquilo? Minha mente não parava de me questionar e queria me obrigar a descobrir de todas as formas.
- Eu pensei... Pensei que não iria ligar... – busquei forças para elaborar um comentário, mas meu fôlego havia sumido.
apenas colocou sua mão atrás de minha nuca e colou nosso lábios com certa brutalidade. Aquilo já me pegara de surpresa o suficiente, deixando-me sem ação, quando fui surpreendido pela perna dela subindo até a altura de minha cintura. Eu a sustentei pela coxa, com meus sentimentos por ela já em ebulição. E, como antes, aproveitei o que era possível com aquela proximidade criada por ela, fazendo minha mão acariciar sua perna, seguindo e seguindo até que não pudesse mais ser vista debaixo daquele sobretudo.
Apartei o beijo por um momento, precisava de uma resposta, queria ver seus olhos, buscar se havia qualquer receio dela naquela decisão que tomara, afinal, se estava ali não era para apenas mais uma noite de sexo casual. Precisava que ela tivesse certeza.
- Humm... O autor é você, mas tenho certeza de que Lucy nunca telefonou para sua ‘felicidade’, ela ia de encontro a ela.
Notei nela apenas determinação mesclada com fogo de excitação. Seu sorriso aumentou e eu não pude evitar retribuir quando me tornei cúmplice de seu segredo: agora eu também sabia que ela vestia uma lingerie debaixo aquele sobretudo. Trouxe-a comigo para dentro e tranquei a porta do quarto de hotel.
Largado no sofá da sala, camuflado com uma calça moletom cinza e camisa preta surrada, eu me encontrava soterrado entre uma manta velha e inúmeros papéis – todos preenchidos com ideias fracassadas para um próximo livro.
- Acredite, as fãs vão adorar te conhecer. Elas vão cair duras, literalmente!
Em algum lugar não muito distante dali, Jasmine vibrava no telefone, tentando me convencer de ir para o Brasil para promover meu mais recente sucesso em todas as livrarias do mundo, “1+1=11”.
Por um momento não soube me decidir.
No fundo, eu estava esgotado. Não do meu trabalho, o ofício de escrever era minha grande paixão! Mas eu estava cansado de sempre criar histórias onde minhas personagens encontravam sua alma-gêmea e eu continuar sendo o mesmo azarado de sempre no quesito ‘romance’. Até as personagens secundárias em meus romances tinham mais sorte do eu, pois conseguiam arranjar seus pares até nas últimas páginas.
Eu tinha 36 anos, 13 livros do gênero romance publicados, 8 deles best-sellers, 1 casamento e, consequentemente, 1 divórcio e 0 filhos.
- Eu não sei, Jass. – disse com um suspiro desanimado. Ultimamente não vinha com vontade nem sair do pijama, pior ainda seria querer sair do país.
- Sabe sim... – ela deu uma risada quase malévola do outro lado. – !
Certo.
Jasmine realmente sabia como convencer uma pessoa.
Aquele nome cantarolado em meu ouvido fez meus olhos quase saltarem e um sorriso queria se apossar de meus lábios.
- Conseguiria fazer ela estar lá? – tentei soar o mais casual possível, esperando que Jasmine colaborasse e, para minha sorte, o fez: - Sim, senhor!
Eu a imaginei prestando continência ao dizer aquilo e então nos despedimos para que ela pudesse dar inícios aos preparativos necessários para irmos ao Brasil.
‘ no Brasil’, eu conseguia até imaginar tudo o que escreveriam sobre mim. O bom e o ruim...
O ruim era sempre ter o fim de meu casamento com Margaret relembrado ao elaborarem uma breve biografia minha.
O fato é que esse episódio do passado me incomodava muito: “O cara escreve mil histórias melosas e não é capaz de segurar a própria mulher?”. Eu sabia que as más línguas adoravam me apunhalar pelas costas com tal questionamento.
Mas Margaret não era o foco, não mais.
Eu agora me encontrava com o telefone sem fio largado na mesinha de centro e minha boca roía a unha de meu dedão.
- , . – disse em voz alta mesmo ciente de que estava sozinho. O sorriso de antes voltou e tomou conta de mim. Não pude evitar rir de mim mesmo.
Será que Jasmine havia arquitetado tudo aquilo? Não, Jass não perderia seu precioso tempo assim, por mais que fizesse o possível para me agradar. Provavelmente era o mercado brasileiro que a interessava mais. Eu ter mais e mais leitorAs – e alguns poucos leitorEs jamais assumidos – traria para os braços finos de Jasmine mais bolsas Prada, Gucci e Victor Hugo.
era a tradutora responsável por qualquer livro meu publicado no Brasil. Como meus livros são publicados em diversos lugares, é de se imaginar que cada editora administra como entende a questão da tradução de um livro, mas destacava-se.
Quem lia a versão dela e então a original, sempre a elogiava. Contavam-me que ela tinha o dom para saber captar o que eu queria dizer e passar isso para outra língua como poucos sabiam fazer.
Não é fácil traduzir algo, ainda mais se você deseja manter o sentido e, principalmente, a ‘intenção’ do autor ao escrever com aquelas palavras e daquela maneira. Era algo que parecia saber fazer como ninguém.
Eu, infelizmente, não sabia nada de português, então nunca pude conferir de fato o trabalho dela – embora tivesse o exemplar brasileiro em minha prateleira, presente da dona da Editora Bela Vista. Mesmo assim, houve um tempo em que meu interesse por ela estava no auge! Eu a procurei na Internet, vi seu extenso portfólio de traduções literárias e a encontrei no Facebook – em suma, fui seu stalker por algumas semanas. Pesquisei tudo o que estava disponível sobre ela. Mas por não ser uma figura tão pública quanto eu, o número de informações não era tão farto (e menos ainda o de fotos!). No geral, ela parecia uma grande profissional, reservada e seu rosto angelical, adornado com um sorriso adorável.
Jasmine me trouxe de volta a realidade, alegando que eu não podia cair de amores por alguém com quem nem sequer trocara uma palavra!
Tentei de verdade esquecer-me dela!
Mas era difícil não ficar entusiasmado por ela. Se ela conseguia traduzir tão bem os sentimentos que eu colocava em meus livros, é porque ela deveria ser uma romântica tão incorrigível quanto eu! Para mim a matemática estava clara. Eu dera errado com Margaret ao supor que ela fosse minha alma-gêmea, uma pessoa racional e fria. Eu deveria estar ao lado de alguém tão romântico e apaixonado quanto eu, pois 1+1=11! E eu sentia que podia ser essa pessoa.
Dias depois, lá estávamos - Jasmine e eu - em uma livraria no Brasil. Eu sabia que tinha diversos fãs espalhados pelo mundo, mas uma coisa é ter ciência da sua popularidade através de estimativas e relatórios sobre as vendas de livros e outra, completamente diferente, é ver os seus fãs na sua frente. E eram milhares!
Aquilo me fazia sentir especial.
Porém, nem tudo estava sendo como eu idealizei que seria.
- ? – disse-me a sra. Elsa, a dona da Editora Bela Vista. - Aquela menina!
A senhora de meia idade deixou claro o desgosto em não ter sua funcionária presente no evento, ainda mais quando eu insinuei o quanto desejaria conhecê-la antes de vir para o Brasil.
- Não, tudo bem. Sem problemas. - eu comentei, fingindo que aquilo não era uma grande decepção. - Talvez numa próxima vinda…
Vi o rosto de Elsa ficar mudo de expressão, não saberia dizer com exatidão o que se passava em sua mente, mas suspeitava que ela sentia ter deixado seu cliente na mão. Então deu um olhar severo para sua assistente-estagiária, Lorraine, uma moça na casa dos vinte e toda nervosinha - parecia mais uma ratinha assustada. A jovem teclou rapidamente no celular corporativo e se afastou de nós. Elsa deu-me um sorrisinho:
- Já está resolvido. - ela piscou para mim.
Eu estava a ponto de perguntar o que ela queria dizer com aquilo, porém, não havia mais tempo. Era hora do ‘Meet and Greet’ - eu assinaria livros e tiraria fotos ao lado de minhas fãs.
- Mas como assim?! - eu praticamente gritei. Pobre Lorraine, mas faz parte da vida de estagiário sofrer.
- Assim sendo! Dona Elsa deixou bem claro que era pra você estar aqui! - ela podia ter medo de muitos outros funcionários, mas não de mim. Não éramos exatamente ‘best-friends-4ever’, mas nos dávamos bem. Isso porque Lorraine admirava a minha nova pessoa, ainda que os demais colegas da editora não me suportassem mais.
- Diga para a ‘enrugada’ que ela pode esquecer. Não vou ficar babando ovo para clientezinho dela mais, não. - respondi desgostosa, analisando-me no espelho para garantir se meu ‘make’ ainda estava inteiro.
- Ah, vai! Vai porque é o !! - eu pude notar a euforia adolescente ao dizer o nome dele.
Minhas sobrancelhas praticamente se juntaram, eu via meu reflexo fazer uma cara de nenhum amigo. Não. não. Se havia um ser com quem eu não queria me encontrar, esse alguém seria .
Lorraine ouviu meu suspiro de desânimo, mas não houve solidariedade - também, a menina com jeito de santa parecia entrar no cio ao ouvir o nome do cara!
Ela precisava urgentemente namorar; e eu de alguém para tirar o atraso.
- O sr. estará aí daqui a pouco.
Espere… Daqui a pouco?
- Daqui a pouco?
Olhei apreensiva para a janela e me dirigi até ela saltando e desviando de diversos objetos espalhados graças ao meu desleixo. Movi apenas alguns centímetros a cortina para ter um vislumbre do ‘mundo real’ que me cercava. Ele não poderia estar vindo. Não tinha como ninguém estar vindo porque…
- Lorraine… Por acaso você contou pra ‘enrugada’ onde eu estou?? - minha voz evidenciava minha tendência assassina. Ela não podia ter me dedurado.
- … Foi mal! - ouvi-a dizer cheia de ressentimento. Não era a toa que dona Elsa a mantinha, apesar das patetadas, a velhota conseguia arrancar qualquer informação, segredo ou fofoca dela. Estagiários…
Lembrete mental: nunca mais contar meus planos secretos para um ser da classe ‘estagiário’.
- Não pense que eu vou abrir a porta. - tentei argumentar. Ainda bisbilhotando desde a janela, agachada.
Ouvi Lorraine respirar fundo, decidida, do outro lado da linha:
- Terá de abrir. Se colocar em risco o acordo que a dona Elsa tem com o sr. , você estará acabada. Nunca mais trabalhará no mundo editorial, ouviu? - aquelas palavras eram a cartada final da ‘enrugada’, transmitida a mim por sua garotinha de recados.
Nem respondi.
Desliguei o telefone na cara dela e, frustrada, atirei o telefone sem fio contra o sofá.
A visita de iria acabar com meu ‘ano sabático’.
Eu queria ficar longe de praticamente tudo da minha vida normal e de quem eu costumava ser. Eu estava me reinventando e precisava de espaço, liberdade para me encontrar. Por isso reuni minhas economias, deixei às moscas meu apartamento/cubículo e vim morar por tempo indeterminado em um empreendimento que abrigava inúmeros sítios em seu amplo terreno. Era um pouco distante da cidade, mas não se gastava um dia inteiro para se chegar lá.
Eu me perguntava até quando dona Elsa tentaria me manter na coleira pelo capricho de agradar a seu cliente. Se havia um motivo para eu ainda trabalhar na Editora Bela Vista, esse motivo era . Meu orgulho era reforçado por saber que era ele quem solicitava que fosse eu a escolhida para traduzir seus livros. Aparentemente, os elogios por minha tradução de seu livro chegaram até ele de algum modo e garantiram que eu traduzisse as publicações seguintes.
Eu costumava achar isso uma benção: emprego garantido por toda uma vida enquanto , vulgo ‘o porta voz do coração’ (coisa brega!), escrevesse seus ‘romances românticos’. Caí na gargalhada ao me lembrar de como eu era ávida por esse gênero, sendo o meu escritor favorito. Que estúpida eu era…
Dona Elsa realmente fazia das tripas (dos outros) coração para agradar a seus clientes. Explicou-me que a ausência de se deve a um contratempo, mas que sua funcionária queria me conhecer tanto quanto eu queria conhecê-la. Fez com que sua assistente providencia-se um carro confortável e de grande porte para levar-me até onde ela estava vivendo. Dona Elsa e Lorraine vieram no carro, conversando e fazendo acertos para um próximo livro, e acabaram descendo na sede principal da Editora no meio do caminho. Jasmine continuou ao meu lado no assento de couro claro. Então podem imaginar minha surpresa quando o carro parou no acostamento do hotel onde estávamos hospedados e ela desceu. Não iríamos juntos?!
Eu reclamei, entretanto ela meramente entregou-me uma caixinha branca com tampa vermelha com um grande laço de cetim.
- Presentinho! - ao abrir, amaldiçoei-me mentalmente. Eu devia ter previsto.
Tratava-se de um par de camisinhas.
- Ainda lembra como se faz, não? - Jasmine estava com o tronco inclinado, a porta do carro ainda estava aberta e ela fazia gestos obscenos com ambas as mãos para simular o encontro entre um homem e uma mulher.
Eu sou do tipo que morre de vergonha fácil, então tratei de lhe responder com um simples ‘Palhaça!’ e fechei a porta.
O carro seguiu, enquanto eu me afundava no assento.
Não imaginava que iria ter de conhecê-la sozinho.
Eu estava apreensivo: será que a dona Elsa pensava a mesma coisa que Jasmine? Que eu teria segundas intenções no meu interesse por conhecer ?
Joguei a cabeça para trás e tratei de respirar fundo.
Tive tempo o suficiente para poder me acalmar e tentar me convencer de que o fato de eu estar indo visitá-la em sua casa sozinho não era suspeito - todavia, não obtive muito sucesso sobre minha insistência em conhecê-la.
- Chegamos, senhor. - disse-me o motorista, chamando a minha atenção de volta a realidade.
Ela morava consideravelmente longe. Tinha de guardar tal detalhe, pois não poderia demorar muito.
Agradeci ao motorista e desci do carro. Observava tudo ao redor, havia muita grama verde e árvores. Segui pelo caminho feito de pedras arredondadas até uma casa de campo. Dei-me conta de que ainda segurava o ‘presentinho adorável’ de Jasmine em uma das mãos e o guardei no bolso do paletó bem a tempo, quando a porta se abria.
Portei-me como uma boa menina. Não queria ter de sair da Editora Bela Vista com uma carta ruim de recomendação. Dona Elsa não mentia quando ameaçava queimar a imagem de um de seus ex-funcionários caso falhassem com ela - o Tobias que o diga! Ele, ainda por cima, era funcionário terceirizado…
Para evitar problemas, dei uma leve geral na casa - entenda-se: movi a bagunça de endereço apenas - e troquei por uma roupa melhor (limpa). Estava muito bem em meu look básico: uma bota de salto baixo, legging preta e uma blusa do tamanho de um vestido de listras preto e cinza. Mantive o meu make básico de rímel e delineador pretos e o BB cream, adicionei apenas um blush rosado e um batom avermelhado. Desfiz o coque mal-feito e optei por uma tiara dourada.
No balcão da cozinha americana separei alguns pedaços de queijo (eu precisava fazer compras!) e, por que não? Abri um vinho, aproveitando para me servir adiantado e bebericar um pouco. Não era nenhuma grande marca ou safra, mas era bom… Doce!
Mal terminei de apreciar minha taça, ouvi a buzina de um carro soar do lado de fora. Só poderia ser Adalto, o motorista/capacho de dona Elsa trazendo-me seu convidado.
Esperei que a visita tocasse a campainha e dei meu melhor sorriso. Eu podia tolerar babar ovo por um par de horas para o queridinho da dona Elsa, afinal, pelo que se via na foto da orelha do livro, era um puta homem gostoso.
Assim que abri a porta, meu sorriso cresceu. Assim como o vinho, os anos também fizeram muito bem para a imagem de .
- Oi! Prazer, sou a…
- !
Minha sobrancelha ergueu-se imediatamente quando ele disparou meu nome. Ele parecia nervoso, talvez até meio atrapalhado.
- Isso. E você é…
- ! !!
Céus… Alguém precisava avisá-lo que apresentar-se ao estilo ‘James Bond’ só causava efeito em mulheres se fosse dito no tempo certo, não tudo atropelado.
- Vamos entrando! - disse assim que me recuperei, tentando me atentar ao fato de que teria de relevar aquele nervosismo dele. Mas por que ele estaria tão nervoso? A celebridade era ele, faria mais sentido eu estar daquele jeito - e até teria ficado se esse encontro tivesse acontecido tempos atrás…
O convidei a se sentar no sofá e me ofereci para pendurar seu paletó. Eu não tinha um mancebo ou algo parecido com um ‘closet’ naquela casa, então fui até meu quarto e joguei a peça de roupa sobre a cama, mas algo me parou. Foi o som leve de algo se chocando contra o chão. Retornei para devolver a caixinha de volta ao bolso e não pude deixar de notar que havia um par de camisinhas dentro dela.
Eu congelei.
Aquilo queria dizer o que eu penso que queria dizer?
Bom, camisinhas costumam ter uma função e não é para serem bexigas!
Estava de volta à sala.
Pensava comigo mesma sobre o que a antiga eu faria: provavelmente se assustaria, acreditaria que era um tarado e daria um jeito de me ver livre dele. Mas agora eu era uma versão melhorada (e mais confiante) de mim mesma. A caça dera lugar à caçadora.
- Gostaria de um vinho?
- Anh… cla-claro. - o vi com curiosidade esfregar as mãos nas pernas. Ele estava mesmo nervoso. Mas eu daria um jeito nisso. Ou melhor, o vinho daria.
Eu não esperava ‘tirar o atraso’ naquela noite, menos ainda com , porém, a conveniência e o belo espécime em meu sofá criavam uma oportunidade tentadora. Por que não, afinal?
Se ele estava a fim, eu também poderia me interessar.
Ofereci-lhe uma taça com vinho e em seguida sentei-me ao seu lado com minha taça em uma mão e na outra a bandeja com queijos, esperando que ele aceitasse algum.
- O que está achando do Brasil até agora? Gostando? – perguntei simpática antes de bebericar um pouco do vinho.
- Sim! Estou começando a pensar que devia ter aceitado vir antes. – ele brincou.
- Nós sempre o convidamos, o senhor que se fazia de difícil. – respondi. Quantas vezes não retornei decepcionada do trabalho por saber que mais um livro de era lançado no país e eu não poderia conhecê-lo...
- Não foi bem assim. Sempre havia um impedimento. – ele disse aquilo com os olhos tristemente fixados na taça de vinho e eu soube que era hora de mudar o rumo da conversa.
- Fico feliz que finalmente tenha aceitado. Um brinde! – ergui minha taça e aguardei para que ele me acompanhasse, tímido. – À vinda do grande autor de romances !! Tin-tin.
Ambos bebemos de nossas taças.
- Sabe? – ele iniciou após um breve gole. – Eu... – parecia buscar pelas palavras certas. – Eu estava ansioso por conhecê-la, sabe? Ver cara a cara a pessoa que traduziu meus trabalhos, que leu cada linha e buscou a tradução perfeita para cada palavra e ideia que eu coloquei no papel.
- Obrigada. – respondi devagar, espantada com a forma como ele via o meu trabalho de tradução. Brindamos novamente, segundo ele, pelas minhas excelentes traducões.
A conversa começou a fluir ou talvez fosse o vinho fazendo efeito em nosso sangue. Dona Elsa teria de me pagar um extra por ser tão boa anfitriã – a menos que eu descontasse do (
Quando recém nos sentamos no sofá, estávamos praticamente um em cada extremidade, conforme a conversa se prolongava, a distância diminuía.
Nossos joelhos já estavam colados quando ele interrompeu sua fala, algo sobre o Brasil e a Inglaterra serem muito diferentes, incapaz de prosseguir por causa do olhar que eu lhe lançava.
Eu o tinha no alvo. Era hora de abater a presa.
Tomei para mim seus lábios – coisa que estava me tentando havia tempo – ávida em morder o inferior, mais carnudo. Não pude controlar muito bem meu impulso, ouvindo em seguida um gemido de dor. Nos afastamos e eu mantive meus olhos fixos nos dele, umedecendo lentamente meus lábios. parecia estupefato. Entretanto seus olhos acompanharam fielmente o trajeto de minha língua por sobre meus lábios, enfeitiçado.
Foi a vez dele colar seus lábios aos meus. Creio ter ouvido o som da taça de vinho dele caindo na mesinha de café enquanto seus braços buscaram meu corpo para me envolverem. Facilitei o trabalho passando minha perna sobre as suas e sentando-me em seu colo – garantindo de fazer pressão com meu quadril sobre ele em um pseudo-rebolado.
Esforcei-me para que sua camisa saísse logo de meu caminho, impedindo irritantemente o percurso de minhas mãos pela pele desde o seu peito ao abdômen. também não perdeu tempo em comandar suas mãos para retirar quase que desesperadamente minha blusa – se não fosse pela legging, estaria apenas de calcinha e sutiã na frente dele. Sua face afundou-se em meus seios, faminto em saborear cada centímetro que a blusa escondera até aquele momento. Deteu-se quando algo áspero tocou em sua bochecha. Dei-lhe um sorriso, retirando de meu sutiã uma das camisinhas que surrupiara da caixinha.
- Obrigada pelo presente, não precisava! – disse com certo sarcasmo, debochando da situação.
Ele estava um tanto confuso, suas sobrancelhas unidas, até que pareceu reconhecer o pacote e enrubesceu.
- Annh... Extra G?? – eu perguntei, maliciosamente animada com a expectativa. O vi corar mais ainda e tentar balbuciar algo com lógica, mas eu já estava enlouquecida.
O ambiente ao meu redor parecia abafado, pois eu sentia a temperatura do meu corpo muito quente para o inverno que vínhamos tendo.
Inclinei meu tronco sobre ele, dando um tempo para o seus lábios, agora levemente inchados por minha culpa, e tornando sua orelha minha nova vítima – região que parecia ser seu ponto fraco, pois me pareceu fácil fazer com que seguisse meus comandos não-verbais para retirar-lhe as peças de roupa que faltavam. Minhas mãos abriram o botão de sua calça jeans clara e desceram o zíper, os polegares se fixaram dentro de sua boxer verde e, junto com a calça, deslizaram para baixo com ele erguendo levemente seu quadril.
Desci de seu colo e sentei-me no chão, terminando de retirar o que faltava da calça e da boxer e fazendo com que meias e sapatos os acompanhassem. Distribuí pequenos beijos molhados na extensão de sua perna, aproveitando para olhá-lo de vez em quando, enquanto isso eu retirava da equação minhas botas e peças de roupa.
Segurei em minha mão novamente a camisinha e com cuidado abri a embalagem com a ponta dos dentes, o gosto do látex não era o meu favorito e não se tratava de uma daquelas de sabores.
Mesmo assim, havia um truquezinho sacana que eu aprendera e sabia que agradava. Envolvi seu membro com minha mão esquerda e, exercendo certa força, a fiz descer e subir pela sua extensão. O vi respirar penosamente, parecia não estar mais encontrando ar, mas seu olhar estava preso ao meu. E quando finalmente tive pena da expressão que ele me dava, pus minha mão direita com a camisinha na ponta de seu membro e aproximei minha boca, descendo com o material até a base.
Sem dúvida nenhuma, era bem mais complicado fazer sexo oral com camisinha, era preciso ser cuidadosa para não estragar o produto com os dentes – e ainda havia o detalhe de não haver qualquer sabor artificial. Por isso mesmo não me demorei tanto naquela atividade em específico. Havia outra parte de mim que poderia se encarregar melhor daquele tipo de função.
Voltei para o seu colo, colidindo de propósito e desastradamente nossos lábios, roçando minha entrada nele maliciosamente. Ele deixou claro o quanto precisava que eu deixasse de rodeios apertando meus seios com mais força, tornando a sensação quase dolorosa. Meu corpo contraiu-se em uma risada que tentei disfarçar e rebolei em seu colo de uma maneira que seu membro encontrou sozinho seu caminho para dentro de mim. Forçando pele e músculos daquela região a lhe darem passagem. Ainda que houvesse o leve incômodo da dor, forcei-me o máximo possível para baixo, de encontro ao seu membro. Queria que a penetração fosse profunda e completa. Meus braços o envolviam na altura do pescoço e eu o trouxe para perto de meu tronco, jogando minha cabeça para trás e apreciando o prazer de tê-lo inteiro dentro de mim.
Acordei com certa movimentação na casa.
Casa que não era minha.
Conforme as lembranças da noite anterior foram se tornando mais nítidas em minha mente, um sorriso foi crescendo. Afundei meu rosto no travesseiro – que tinha o leve odor de violeta do perfume dela – e ri. Ria de mim mesmo, pois apenas em minhas fantasias poderia imaginar algo assim, ri dos meus receios da noite passada em vir conhecê-la sozinho.
Eu não sabia bem o que esperar quando a porta se abriu, a mulher com sorriso singelo do Facebook tornou-se finalmente real. Podia vê-la por inteiro, sem impedimentos pelo tamanho do enquadramento da foto e de todos os ângulos. Era ela! Melhor do que a foto dava a entender, pois em uma imagem congelada não se pode imaginar a voz da pessoa e muito menos o seu trato com os demais.
era um deleite para todos os meus nervosos sentidos. Sua voz era simpática e jovial, sua risada um canto. Seu corpo gracioso, mesmo quando estabanada às vezes. Seus lábios sorridente e chamativos pela cor de batom utilizada. E seus olhos...
Hipnóticos seria a melhor definição.
Independente de onde estava ou para onde ia, seus olhos estavam sempre atentos aos meus. Eu me sentia o ser mais especial e importante do universo – embora também um pouco intimidado. Não seria capaz de prever quais poderiam ser minhas reações com aquela mulher incrível prestando tanta atenção em mim.
Eu não podia simplesmente voar nela. Aproveitar-me de minha força física por ser maior do que ela, prensá-la contra o sofá, prender com minhas mãos seus pulsos e beijá-la. A ideia era saída de um certo filme (
Conforme conversávamos, eu conhecia mais e mais sobre aquela mulher tão fascinante. A decoração de sua casa e seus pertences espalhados por ela também ajudavam a completar o quadro sobre quem seria . E cada novo detalhe descoberto era uma brecha para que meu interesse por ela aumentasse ainda mais. Era como se eu nunca tivesse tentado de fato, nem mesmo um pouco, esquecer aquele sentimento que me fervilhava todo o corpo ao pensar nela.
Apaixonar-se por alguém que você nunca viu pessoalmente, isso é possível?
Pior, estar ali com de verdade era como me ‘reapaixonar’ por ela!
Se ela não tivesse me roubado um beijo, provavelmente eu explodiria em frustração ao pensar em como beijá-la sem que ela reagisse mal, gritando, me batendo e ligando para a polícia para denunciar a mim como ‘tarado’.
Todo movimento dela inibia qualquer um meu. Ela estava no comando e eu não buscava mudar aquilo, extasiado demais com a ideia de que aquilo estava acontecendo. Não sabia qual seria seu limite, até onde ousaria ir com um homem que acabara de conhecer, por isso concentrei-me em desfrutar das liberdades que ela e as situações que ela criava, permitiam-me.
Ela estava ciente de que aquilo era loucura, não?
Talvez fosse efeito do vinho. Eu devia ter caído no sono sem perceber pelo efeito da bebida e provavelmente estaria fazendo papel de bobo adormecido em seu sofá, babando e sonhando que a almofada era seu rosto. Entretanto... Nenhum sonho é assim tão intenso. Menos ainda as sensações explosivas que os toques da mão ou boca dela produziam em meu corpo. Aquilo era real, e muito!
- Bom dia... – minha voz soou meio rouca quando a vi entrar no quarto. Minha cara de sono devia estar horrível, com um sorriso meio torto e apenas um olho aberto.
- Dia. – ela respondeu simples, terminando de ajeitar seu brinco.
Senti um peso ser jogado sobre mim e notei que ela trouxera minhas roupas, amassadas e enroladas de qualquer jeito.
- Quer tomar café da manhã? – sugeri, pensando em fazê-la provar de minhas famosas panquecas.
- Não, valeu. Já tomei. – ela respondeu com um sorriso rápido.
Foi então que a situação me pareceu estranha, relevando o que tínhamos feito na noite anterior e onde eu havia despertado.
Parecia haver uma tensão no ar.
- Hummm. – sentei-me, ajeitando o lençol para que continuasse a cobrir-me da cintura para baixo. – Você quer conversar sobre ontem?
- Ah, não! Não se preocupe. – ela respondeu. Parecia meio sem jeito, querendo dizer-me algo.
Eu a encarei por alguns instantes.
O que estava acontecendo ali?
- Você quer que eu vá embora?
- Na mosca!
Fiquei sem ação, pois não conseguiu esconder seu contentamento por eu ‘decifrar’ o que ela queria.
- Mas como assim? – eu estava perdido. Agarrei-me no lençol para poder me levantar, desajeitadamente. – Mas e ontem? Quer simplesmente que eu vá? Não temos que acertar certos detalhes?
Eu vi sua sobrancelha contrair-se e ela tentar segurar uma leve risada. Seu olhar era como se acabara de ouvir algum absurdo do tipo “A Terra é quadrada”.
- Não. – respondeu com certa graça na voz. Meu queixo foi ao chão e quase levou o lençol junto. – Ontem o grande autor de romances do momento veio conhecer a pessoa que traduz maravilhosamente seus livros e eles conversaram por longas horas. Ah... E também fizeram sexo. Mas agradeço se omitir esse detalhe da dona Elsa.
- Detalhe? Ontem foi um detalhe pra você?
- Oras... Homens têm suas necessidades e nós mulheres também. – ela terminou a frase com um suspiro.
Deu-me um sorrisinho e fez menção de deixar o quarto para que eu pudesse me vestir.
Ela estava brincando, não?
Agarrei minha calça – que ainda estava com minha boxer por dentro – e quase tropecei ao passar as pernas.
- ! – agarrei seu pulso. Ela me fuzilou e eu entendi que abusara um pouco da força. – Desculpe... – não fiz por mal, porém, eu estava confuso ali.
Ela ainda estava com a cara um pouco amarrada, até que se jogou no sofá da sala e suas expressões suavizaram.
- Desculpe de verdade. Mas sei que precisamos de conversar...
- Eu fui sincera quando disse que não precisava se preocupar com isso. Não temos nada para acertar sobre ontem, garanto. Nós transamos, eu achei legal, você obviamente curtiu e agora a gente simplesmente diz tchau e segue em frente.
Vê-la dizer aquelas palavras com tamanha tranquilidade estava levando o meu ser a subir pelas paredes. Eu curti? Aquilo me pareceu uma definição tão pobre para tudo o que ela me fizera sentir noite passada. Por que ela parecia agir como um homem? E pior, daqueles na casa dos vinte que pensam apenas em sexo casual.
- Eu realmente não te entendo. - neguei com a cabeça, deixando que meus joelhos cedessem sobre o sofá.
Queria argumentar de alguma maneira, mas aquela parecia ser uma pessoa diferente da qual eu conheci, da que me ofereceu vinho e queijo, com quem conversei tão bem sobre tantos assuntos. Logo notei que nada dissemos sobre nossos ‘relacionamentos’.
Eu evitei falar qualquer coisa e agradeci mentalmente por não vê-la perguntar por Margaret – na hora julguei que tinha ideia da separação difícil que tivemos e não quis provocar uma ferida antiga.
Respirei fundo, tentando organizar minhas ideias.
- Desculpe, mas eu não acredito mais em príncipes encantados. - seus olhos eram sérios, carregados de lembranças que eu desconhecia. – Parei de esperar flores, demonstrações públicas de afeto, de um dia subir ao altar e ter alguém esperando por mim… Eu não estou me iludindo mais, ok?
Eu devia estar com a cara de maior idiota do mundo. A vi levantar-se e meu impulso foi o de acompanhá-la, primeiro com os olhos e em seguida com o corpo.
- Olha, , eu sou louco por você. – breve pausa para notar que ‘louco por você’ soa assustador e não romântico. - É meio doido, mas...
- Mas agora você precisa ir. – ela abriu a porta e deu um aceno para Adalto, o motorista. – Já fizemos o Adalto esperar por tempo demais. - senti-me intimidado por ela estar tão irredutível. Ela não aceitaria conversar e ponto final. Meus lábios encresparam, insatisfeito por não saber o que argumentar. Sentia raiva daquela , preferia a que conhecera pela parte da noite. Ressentido, revoltado comigo mesmo por ter pensado por um momento que ‘eu’ poderia ter a sorte de encontrar uma mulher interessante para ter ao meu lado, fui até o quarto onde despertei, recolhi o resto de roupa e meus sapatos e parei diante dela.
- Eu sei que é loucura, mas me apaixonei por você mesmo antes de te conhecer. Ouvir de alguns conhecidos que alguém era capaz de traduzir tão bem minhas histórias me fez achar que aquilo só era possível porque essa pessoa compreendia cada palavra que eu utilizava para descrever a paixão, o amor... Sentimentos tão vivos e ao mesmo tempo irracionais, ambos difíceis de explicar e decifrar.
- Bom... Desculpe por não ser a pessoa que você estava esperando. – ela disse como se eu fosse um pobre coitado iludido, todavia, algo naquela fala me chamou a atenção. Não apenas pelo azedume no tom de voz, mas nas palavras usadas. Parecia-me estranhamente familiar. Talvez, só talvez...
- Você é mais do que eu pude imaginar. – fiz questão de encará-la, vendo aquele semblante rígido. – Na verdade, até mais do que consegui um dia imaginar.
- Acho que está me confundindo com uma de suas personagens, senhor . O grande problema é que nenhuma delas existe.
- Tem certeza? Eu olho para você e, nessas menos de 24 horas que nos conhecemos, eu vejo a simpatia encantadora de Grethel do livro “O Hotel Centenário”; vejo o feminilidade da nossa Jocelyn, de “Aqui Nosso Amor Nasceu”; o gosto pela leitura clássica de Ohanna, de “Lembra-se De Mim?”; o amor pelos animais de Madena, de “Mar Vermelho”; a desarrumação de Anyia, de “O Relógio Russo”. Até mesmo essa sua postura de agora, de se armar com um coração de pedra para qualquer um que tente se aproximar... Crente de que está se reinventando como uma mulher independente do século 21, cega demais para ver o rancor que a está consumindo: você está sendo Judith, de “Amanhã Será?”.
Vi que meu lampejo de dedução feita de última hora sobre estava mais do que certa quando notei o semblante sério dela quebrar-se, dando lugar a surpresa. Em algum momento do passado ela sofrera alguma desilusão amorosa e agora buscava recolher todos os cacos de seu coração afastando qualquer outro homem para impedir que a machucassem novamente.
- Você tem um pouco de cada uma das minhas personagens mulheres. Entretanto, elas são partes de um todo que eu nem imaginava encontrar em uma só mulher.
Meti a mão no bolso de meu paletó completamente amassado e, daquele que não guardava a camisinha restante, apanhei meu cartão de negócios.
- Foi um grande prazer conhecê-la. – dei-me ao luxo de provocá-la um pouco. – Meu cartão, para o caso de poder ser como Lucy, minha favorita de todas.
Deixei o cartão sobre um móvel próximo à porta e saí. Esforcei-me para não olhar para trás, e mais ainda para fingir que não me incomodava com os olhares e risadinhas de Adalto.
Encarei o céu através da janela boa parte do caminho, seguíamos para uma reunião na Editora Bela Vista – estava atrasado e Lorraine me ligara mil vezes a mando de dona Elsa, mas não tive vontade de atender ao seu telefonema, afinal, já estava a caminho.
Perguntava-me se me ligaria.
Lucy McFarlane era uma personagem minha: meiga, delicada, companheira. Eu deixei que ela sofresse muito, que passasse por diversas provações e situações difíceis. Dei a ela um final muito feliz, garantindo que fosse, se não para sempre, pelo maior tempo possível. Mas o que a tornava minha favorita era como ela se jogava no desconhecido, procurando garantir de ter seu maior sonho realizado: ser feliz.
...
Epílogo
...
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Joguei-me no sofá do hotel com desânimo. Jasmine fora até uma nova reunião na Editora Bela Vista a qual eu, deliberadamente, não iria comparecer. Dona Elsa podia espernear o quanto quisesse, mas eu não tinha vontade e nem concentração para ir resolver os detalhes para a publicação seguinte de meu livro.
Já era o 3º dia desde aquela noite em que conhecera .
E cada vez que o telefone tocava, eu me lançava para atender, mas nunca tinha a felicidade de ser ela do outro lado da linha.
Tomei a liberdade de permanecer na ligação que Jonas acabara de fazer, já despreocupado em desligar rapidamente para não perder a possível chamada de .
Ela não ligaria, não.
Talvez não fosse nem a questão de que não tivesse nenhum resquício da personalidade de Lucy, talvez fosse eu que não representasse qualquer chance de felicidade para ela.
- Eu não sei, não, cara. – a voz alegre dele debochava de mim. - Três dias e nenhuma chamada é mau sinal... Acho melhor desistir de vez.
Eu ri, mentalmente.
Não fui capaz de esquecê-la quando Jasmine me pediu, agora, depois daquela ‘experiência’ que tivemos no sítio dela, eu jamais seria capaz de apagá-la. Minha mente ficava tumultuada e meu corpo arrepiava-se meramente com flashes daquela noite. Seus toques ficaram gravados em meu corpo como uma tatuagem.
- Pelo menos faturou uma noite com ela! – Jonas tentou me animar.
Concordei com ele, mas não contive um suspiro inconformado.
- Preciso desligar: campainha. – expliquei para Jonas, que reclamou um pouco antes de despedir-se.
Guardei o celular no bolso e fui até a porta. Eu não me lembrava de ter pedido pizza. E tinha certeza de que o interfone não tocara para falar sobre visitas.
Fui incapaz de exibir qualquer emoção assim que a porta revelou a figura de . Parecia até que eu via tudo em câmera lenta. O seu rosto, que antes mirava o chão, erguendo-se para que seus olhos se fixassem nos meus, seus cabelos obedecendo aos seus movimentos e ajeitando-se de uma forma sedutora ao redor de seu rosto. Trajava um sobretudo bege claro que acabava um pouco antes dos joelhos e sapatos pretos de salto alto de veludo. Ela estava incrível... Estaria vestindo algo mais debaixo daquilo? Minha mente não parava de me questionar e queria me obrigar a descobrir de todas as formas.
- Eu pensei... Pensei que não iria ligar... – busquei forças para elaborar um comentário, mas meu fôlego havia sumido.
apenas colocou sua mão atrás de minha nuca e colou nosso lábios com certa brutalidade. Aquilo já me pegara de surpresa o suficiente, deixando-me sem ação, quando fui surpreendido pela perna dela subindo até a altura de minha cintura. Eu a sustentei pela coxa, com meus sentimentos por ela já em ebulição. E, como antes, aproveitei o que era possível com aquela proximidade criada por ela, fazendo minha mão acariciar sua perna, seguindo e seguindo até que não pudesse mais ser vista debaixo daquele sobretudo.
Apartei o beijo por um momento, precisava de uma resposta, queria ver seus olhos, buscar se havia qualquer receio dela naquela decisão que tomara, afinal, se estava ali não era para apenas mais uma noite de sexo casual. Precisava que ela tivesse certeza.
- Humm... O autor é você, mas tenho certeza de que Lucy nunca telefonou para sua ‘felicidade’, ela ia de encontro a ela.
Notei nela apenas determinação mesclada com fogo de excitação. Seu sorriso aumentou e eu não pude evitar retribuir quando me tornei cúmplice de seu segredo: agora eu também sabia que ela vestia uma lingerie debaixo aquele sobretudo. Trouxe-a comigo para dentro e tranquei a porta do quarto de hotel.
FIM
Nota da autora: 26.10.2014 –
Era para ir para o especial do FFOBS, mas não consegui terminar a tempo XD Por isso mesmo, desculpem se ficou difícil compreender os personagens, pricipalmente a pp, afinal, o passado dela ficou muito no 'subentendido'. Com mais tempo até poderia ter desenvolvido mais a fundo.
Resolvi postar assim porque sinto que é o que consegui fazer no 'mais ou menos' no prazo estipulado, que é o desafio.
O mais difícil para mim foi fazer o diálogo quando o pp está quase indo embora. Ao menos ali tudo tinha de ser resolvido, fazer sentido, oferecer algumas explicações e espero ter conseguido isso.
Espero que quem leia goste EEE, por favor, me digam se a parte 'restrita' está legal XD
Não escrevo muito cenas restritas, então não sei avaliar muito bem, e críticas construtivas são sempre bem-vindas ;3
É isso!
Besitos!!
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Resolvi postar assim porque sinto que é o que consegui fazer no 'mais ou menos' no prazo estipulado, que é o desafio.
O mais difícil para mim foi fazer o diálogo quando o pp está quase indo embora. Ao menos ali tudo tinha de ser resolvido, fazer sentido, oferecer algumas explicações e espero ter conseguido isso.
Espero que quem leia goste EEE, por favor, me digam se a parte 'restrita' está legal XD
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É isso!
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