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Finalizada em: 14/08/2020

Capítulo um

— Tem certeza de que é uma boa ideia? – Encarei Laís com o cenho franzido.
— Quem vê até pensa que eu estou sendo irresponsável.
— Bem, amanhã tem reunião de pais, e você pretende passar a noite no pagode. Eu não sei se isso é exatamente responsabilidade.
Laís se sentou com as pernas cruzadas em minha cama e tomou outro gole de vinho.
— Tem certeza de que não quer ir?
— Absoluta! – Ela reafirmou e acenou com a taça em minha direção.
Encarei-me no espelho com um suspiro. Será que Laís estava certa?
Ser professora possuía seus percalços, apesar de eu amar as crianças, e um deles era não ser capaz de aproveitar as sextas à noite quando havia programações no sábado. Dessa vez, decidi seguir meu instinto e me divertir. Havia pelo menos três meses desde que eu saí de casa para me divertir. Eu merecia uma noite minha.
— Eu chego em casa até as três, então eu durmo umas quatro horas. A reunião é às oito, preciso chegar lá umas 7h50. Vai dar certo.
— Você vai perder a hora.
— Laís, que pessimismo! – Exclamei enervada.
Laís, minha amiga e fiel escudeira, estava passando a semana comigo, já que sua casa estava empesteada por baratas. Ela ficaria comigo mais uma semana. Eu amava a presença dela, menos os momentos de lucidez, como aquele.
— Eu estou falando sério, . Eu vou dormir cedinho hoje enquanto assisto minha série.
— Isso é coisa de gente velha. – Argumentei.
— E nós somos...?
— Pelo amor de Deus! Temos vinte e oito anos, Laís.
— Mesma coisa. – Revirei os olhos e bati na lateral de minha coxa coberta pela saia de couro justa – Que bundão!
— Todo aquele tempo na academia precisa valer algo. – Arqueei a sobrancelha.
Peguei minhas coisas em cima da mesa e despedi-me de Laís com um aceno.
— Não me espere acordada.
— Vou tentar!
Liguei o rádio ao chegar no carro após descer de elevador do nono ao subsolo. Mordi a ponta da unha recém-feita. Fui tomada subitamente pelo ímpeto de voltar para casa e me enfiar sob as cobertas com Laís. Talvez eu estivesse ficando velha demais para agir irresponsavelmente. Com que cara eu encararia os pais às oito da manhã? De ressaca e descabelada?
Segurei a chave do carro em mãos antes de balançar a cabeça e pular dali rapidamente, pedindo um Uber em meu celular. Se fosse para ser irresponsável, seria com gosto.
— Boa noite, moço. O endereço tá certinho, vamos ao Bixiga. – Sorri para o motorista.
Ser professora de matemática do fundamental pode ser extremamente cansativo. Não, pode é pouco. É muito cansativo. Eu não tinha uma noite só minha em meses. Eu me encontraria com três amigas em uma das rodas de samba mais famosas de São Paulo. Eu nunca havia tido a chance de ir, apesar de morar aqui há oito anos. Entre a faculdade, licenciatura e mestrado sobrou pouco tempo para me divertir.
Eu faria diferente naquela noite. Poderia até ficar selvagem e beijar alguém.
— Moço, pode aumentar, por favor? – Pedi ao ouvir “Atrasadinha” tocar. Sorri ao ouvir ao longe a música ecoar, o pandeiro ecoava ritmado contra o concreto absurdo daquela selva de pedra – Obrigada! – Acenei ao sair do carro. Dei cinco estrelas para o motorista e saí batendo com meu salto contra o asfalto até a rua fechada. Observei meu relógio: sete e meia da noite. Eu teria chão para aproveitar antes de voltar. Passei pelos cones e sorri para um segurança, enxergando minhas amigas ao longe.
Deus, me ajude!
— Você veio! – Carlota exclamou com um sorriso de quem já tinha virado algumas cervejas.
Minhas amigas estavam em uma mesa alta com três baldes grandes de longnecks cheias de gelo preenchendo a tábua de madeira.
— Uau, vocês estão bem aquecidas! – Cumprimentei Carlota e Laura com um beijo em suas bochechas.
— Você é quem está atrasada!
— E onde está Valeria? Ela está atrasada? – Carlota arqueou suas sobrancelhas recém-feitas com um sorriso depravado.
— Ela está dando por aí.
— Meu Deus, o quê? – Exclamei.
— Ela achou um cara gato e foram para o carro dele. – Laura traduziu a linguagem de nossa amiga. Carlota ficava incrivelmente sexual quando bebia. Aquela seria uma noite divertida.
— E vocês, já acharam alguém que chamou a atenção de vocês? – Peguei uma cerveja do balde e acenei para um garçom vestido de branco, pedindo minha comanda.
Ao meu redor, no meio da rua, uma roda de samba enorme estava formada. Pessoas dançavam ao redor do grupo. Um samba antigo tocava, apesar de eu não reconhecer a música, era de uma melodia deliciosa.
— Esse é um samba hétero demais. – Carlota bufou e tomou outro gole de sua Heineken.
— É, odeio concordar. – Laura confirmou e brindou com o gargalo de sua garrafa junto à minha amiga. A pele alva de Laura contrastava com o vestido preto de alcinhas justo ao seu corpo. Ela usava um tênis baixo, e os cílios longos estavam ainda maiores pelo rímel.
Carlota parecia como sempre, uma modelo saída de revista. Os olhos verdes brilhavam sob a luz dos postes amarelados, os lábios inchados de bebida pintados de marrom estavam convertidos em um sorriso em direção aos instrumentos. Ela gritou a letra da música e piscou para uma moça que sambava olhando para ela. É, acho que ela não sairia sozinha.
Arrumei a barra da saia com as mãos e balancei os cabelos trançados para o lado. O salto não estava exatamente desconfortável, mas eu sabia que me arrependeria de minha decisão no dia seguinte. Tomei outro gole generoso de cerveja, sentindo o líquido gelado descer por minha garganta. Abri um sorriso largo ao ouvir uma de minhas músicas favoritas tocar.
— Você é a nossa saudosa maloca! – Carlota disse para mim e segurou minha mão, puxando-me para o canto da roda, próximas a alguns idosos que dançavam juntos.
Carlota me girou de um lado para o outro. Seus pés – muito mais confortáveis em um tênis – se moviam com agilidade. Abracei minha amiga ao final da música, meu riso preenchendo o ar ao meu redor.
Em minha frente, o bar crescia. Dentro, várias pessoas riam alto e falavam umas sobre as outras. Garçons andavam de um lado para o outro com bandejas. Havia uma iluminação especial voltada para a roda. Sete homens e uma mulher tocavam os instrumentos, sendo quatro no vocal. Ao redor deles, as pessoas começavam a se amontoar, o calor de verão preenchia o ar ao redor. De repente, fui tomada por uma sensação de alegria genuína.
— Sabia que essa é a minha primeira vez fora em três meses? – Aproximei-me de Carlota quando a música acabou.
— Nossa, você foi mantida em cativeiro?
— Sim, pela escola.
— Eu também sou professora, mas toda sexta estou aqui. – Ela piscou e bebericou mais de sua cerveja. Olhei ao redor mais uma vez, talvez tentando fingir que ela estivesse errada.
— Sinto que sou irresponsável se aproveitar minha vida. – Disse novamente. Carlota parou subitamente e arqueou a sobrancelha.
— Você é uma das pessoas mais responsáveis que eu conheço. Não é aproveitar sua vida que vai te tornar irresponsável.
— Não sei... – Maneei com a cabeça. O gostinho amargo da cerveja chegou ao fundo da garganta, então tomei o restante da primeira garrafa de uma vez.
— Quero ver você sambando até seu pé sangrar. – Ela afirmou seriamente.
— Eu vou.
— Ok, eu vou lá soltar um jato e já volto. – Gargalhei com minha amiga e assenti. Voltei para a mesa e sentei-me desconfortavelmente na cadeira alta. Valeria havia voltado e agora conversava animadamente com Laura.
— Ora, ora! – Exclamei e beijei minha amiga na bochecha – Aproveitou?
— Se eu aproveitei? – Ela arqueou a sobrancelha – Só voltei por alguns minutos. Daqui a pouco estou indo embora.
— Não esqueça da reunião de pais. – Relembrei-a. Valeria apenas revirou os olhos.
— Meu Deus, para de ser certinha. Óbvio que estarei lá! Você é quem devia se dar a chance de atrasar, por favor.
— Eu falei! – Carlota apareceu de longe e abraçou Valeria – Ela precisa dançar, extravasar e quem sabe chegar bêbada amanhã.
— Perdeu o juízo? – Exclamei – Eu quero meu emprego.
— Dizem que as boas garotas são as piores. – Carlota ponderou, seus olhos verdes diretamente nos meus, mas não consegui sustentar seu olhar – É verdade?
Não consegui responder, minha atenção foi distraída por um moço que se aproximou da nossa mesa. Virei-me de soslaio, mas sem realmente encará-lo. Tomei outro gole de minha cerveja enquanto elas cumprimentavam o homem com animosidade.
Foquei meu olhar no outro lado da roda, meus olhos fitando seriamente um homem de corpo alto e magro. A pele reluzia contra as luzes da rua, o sorriso branco foi destacado quando gargalhou. Fui tomada abruptamente por um queimar nas costas, meu lábio involuntariamente foi comprimido em uma linha fina. O homem voltou seu olhar para mim após dar um empurrão leve em seu amigo do lado. Ele estava atrás da mesa cheia de cerveja, assim como a nossa. Desviei o olhar rapidamente para o homem que ainda conversava com as meninas.
— Já volto. – Laura acenou e acompanhou o homem. Ele aparentemente havia xavecado bem minha amiga. Carlota eu e Valeria estávamos a sós, a música preenchendo o silêncio confortável.
— Ei, tem um cara ali atrás. – Arrumei-me desconfortavelmente em minha cadeira. Valeria encheu a mão de batata-frita e virou descaradamente em direção à mesa com o homem que havia chamado minha atenção. Senti-me enrubescer quando ela gargalhou.
— O branco?
— Ei, qual o problema? – Exclamei, mas sabia o que viria. Valeria e eu, sendo as únicas negras do grupo, estávamos acostumadas a fazermos piadas uma com a outra sobre nossa vida amorosa. E, na verdade, nunca foi um problema para nenhuma de nós duas nos envolvermos com caras brancos, mas havia uma piada no ar cada vez que uma de nós se atraía por um homem branco padrão.
— Nenhum. Boa palmitada. Vai ser legal ver isso amanhã. – Ela sorriu e balançou os cachos, seu olhar parando em algum ponto atrás de mim – Deu minha hora, família. Até amanhã na reunião. Vou fazer questão de usar gola alta. – Ela deu uma piscadela e pegou sua bolsa. Acompanhei seus passos até encontrar as costas de um homem negro alto e largo. Balancei a cabeça. É, ela havia se dado bem.
— Ei, aquela garota ali está me dando um mole gigante. – Carlota comentou baixo. Virei o olhar discretamente. – Eu vou lá dançar, tem problema? Na volta eu cuido das coisas para você ir atrás do seu daddy branco. – Ri de Carlota e assenti. Ele sequer era velho.
Ela sumiu pela roda, perdi-a de vista rapidamente. Turma do Pagode tocava alta nos microfones e caixas de som. Sorri ao achar Laura lutando contra os próprios pés desengonçados. O homem de pele negra que a guiava tinha uma paciência absurda, mas ela não durou muito, logo eles dois se beijavam contra uma das paredes da rua. Suspirei. Como eu queria estar daquele jeito.
Não é necessário ser um gênio para deduzir que, se eu não saía há três meses, transar já fazia pelo menos dois anos. Sim, eu sou uma adulta careta. Na realidade, eu prefiro considerar-me ocupada. Minha carreira tomou simplesmente mais espaço do que o imaginado, mas não me incomodava.
Sexo não é exatamente necessário.
Mas ao virar meu olhar rapidamente para a mesa onde o homem de ombros largos e pele bronzeada estava, senti meu interior revirar com uma necessidade quase orgânica de transar com alguém naquela noite. Dois anos controlando meus impulsos não havia sido fácil. Eu havia sobrecarregado meu sistema com funções de segundo grau e frações, não havia tempo para nada além disso dentro de mim. Nem mesmo um pênis. Não importa o quanto eu quisesse naquele momento. Senti meu coração acelerar ao ver seu olhar encontrar o meu mais uma vez.
O ar ao meu redor queimava, gotas de suor escorriam por minhas costas. Minha saia pareceu mais apertada. Como se flerta? Será que se eu jogar meu cabelo é uma boa? Mas eu estou com tranças. Qualquer mulher que usa tranças sabe que jogar o cabelo daquele jeito pode ricochetear. Maldição.
Fiquei tão nervosa que devia parecer uma psicopata o encarando, pois ele franziu o cenho. Desisti da minha pequena carreira como flertadora profissional e tomei meia garrafa de cerveja num gole. Segurei um arroto ao bater com o objeto na mesa e soltei uma gargalhada.
Ah, eu estava sendo ridícula.
Se aquilo fosse seis anos antes, em meu último ano de graduação, eu provavelmente teria ido até ele chamá-lo para dançar. Eu havia conhecido meu ex-namorado assim. Mas como alguém que não namorava há quatro anos e não transava há dois, meu corpo inteiro parecia desacostumado a qualquer presença sexual humana.
Derrotada, voltei meu olhar para a mesa mais uma vez, determinada a encará-lo pela última vez antes de desistir, mas ele não estava mais lá. Disfarcei ao tentar procurar os cabelos loiro escuros pela roda, mas desisti rapidamente. Senti-me levemente frustrada.
— Ei, pode ir! – Carlota apareceu com a boca manchada. Arqueei a sobrancelha – Foi uma experiência legal, mas quero descansar. Queria saber se existe algum momento da vida adulta em que podemos beijar sem transar, é uma burocracia pesada.
— Eu poderia transar sem beijar hoje, Carlota. – Minha amiga arregalou os olhos.
— Nunca te ouvi usar essa palavra.
— Qual? Beijar?
— Ah, não, essa eu ouço constantemente quando fofocamos sobre os alunos. Eu digo, transar! Você transa?
— Ei, não é tão ruim assim!
— Não mesmo, mas eu sempre pensei que você transasse na surdina.
— Quem me dera...
— Bem, você quer transar hoje?
— Carlota...
— Só faça o que se sentir confortável em fazer, querida. – Ela sorriu. Assenti – Você é livre. Não transe por pressão, por nervosismo, nada disso. Sinta-se confortável. Se você quiser, vai, do contrário, não vá. Se precisar de algo é só me avisar, ok?
— Você é uma das melhores pessoas do universo. – Sorri para minha amiga amorosamente.
Levantei-me em um pulo e observei ao redor. Encarei um moço de pele negra e olhos escuros que sorriu para mim assim que pisquei para ele.
— Eu vou atrás do meu peixe hoje, Carlota. – Afirmei. Carlota estendeu a cerveja em cumprimento.
— Vai lá, pescadora.
Sorri para o moço de pele negra com um sorriso digno de novela. Quando ia me levantar para ir, uma outra moça apareceu ao lado dele, a pele branca reluzindo contra as luzes do bar. Franzi o cenho ao vê-los conversando. É, perdi minha chance.
— Eu não dou uma dentro. – Virei-me derrotada para Carlota.
— Não seja pessimista! O peixe mais gostoso é o que leva mais tempo para cair na rede.
— Peixe é peixe, não importa como vem pro meu prato. – Retruquei. Carlota arregalou os olhos.
— O que será que os pais da escola ¬pensariam ouvindo isso? – Ela pôs a mão no peito em choque falso. Sorri e dei de ombros.
— Eles não vão pagar a conta do motel de hoje, então tudo bem.
— Isso é demais até para mim. – Carlota comentou e finalizou outra cerveja. Aquela deveria ser pelo menos a sexta – Vamos achar algum homem para você. Não sei o que vê neles, mas tudo bem. – Ela parecia decidida. Estendeu uma cerveja em minha direção, a qual aceitei de bom grado.
Olhando ao redor, não parecia haver nada particularmente interessante. Homens héteros demais até para mim, alguns que claramente só estavam lá para pegar mulheres bêbadas (pretendia fugir ao máximo desses), outros estavam ocupados enfiando suas línguas nas bocas de outras mulheres e de homens.
— Não tem nada. – Desisti e apoiei minha cabeça contra a madeira da mesa – Eu sequer vou precisar ser enterrada, porque os vermes da minha carne estão me comendo viva.
— Meu Deus, isso lá é hora para citar Machado de Assis?! – Carlota gargalhou.
— Quer saber? – Eu questionei, levantando minha cabeça rapidamente. Senti algo girar em mim. Apoiei a cerveja na mesa – Eu vou dançar. – Disse e me pus em pé em um salto. Tropecei levemente, meu corpo não seguindo exatamente seu papel.
— Boa sorte! – Carlota comentou com um sorriso débil.
Andei até o meio da roda, sem saber exatamente o que fazia. Quando percebi, porém, eu estava cercada por alguns homens que batiam palmas enquanto eu usava toda a minha força e energia para sambar até minhas coxas estalarem. Joguei os cabelos para trás, todo o meu corpo cansado sendo tomado pela batida e pelo repique que havia entrado no jogo. Como aquilo fazia sentido? Não fazia, por isso era mágico. O samba é mágico.
Eventualmente, senti uma mão em minha cintura quando uma das músicas encerrou. Aplaudi a banda e virei-me.
— Posso ajudar? – Desvencilhei-me da mão do homem negro que anteriormente havia sorrido para mim. Limpei o suor da testa de maneira nada sexy com as costas da mão e observei seus lábios abrirem em um sorriso – Uau, que sorriso lindo! – Exclamei. O homem riu. Aquela boca era esculpida.
— Obrigado. – Ele disse.
— Hã?
— Minha boca não é esculpida, mas agradeço. – Ele puxou mais nossas cinturas. Assenti. O que estava acontecendo? – Você dança muito bem... – Seu tom de voz diminuiu, ou parecia estar mais distante.
— Uhum, eu fiz balé.
— Ah, é?
— Uhum. – Revirei os olhos ao sentir sua boca segurar o lóbulo de minha orelha. Abri os olhos rapidamente, meu olhar sendo levado diretamente ao moço branco que eu havia visto mais cedo. Seus olhos fixaram nos meus, e permaneci o encarando por alguns momentos, até fechar os olhos novamente. Senti-me sendo devorada de fora para dentro por ele – Eu não estou em meu perfeito estado. – Disse para o homem – Eu vou ao banheiro.
— Só um beijinho. – Ele pediu. Neguei com a cabeça e afastei meu corpo do dele com força. Força demais para uma mulher bêbada fora de seu juízo perfeito.
Ele não estava me segurando fortemente, então ao me empurrar para longe, tropecei em meus próprios pés e senti meu mundo virar de cabeça para baixo quando caí no chão com um baque. Minha nuca estava dormente quando abri os olhos.
O céu lá em cima estava horrível. São Paulo é poluída demais, então as estrelas sequer aparecem.
— Deixem espaço! – Ouvi uma voz exclamar ao meu lado. Soltei uma gargalhada. A voz parecia a do Bob Esponja.
— Ela está rindo, será que está doida? – Uma outra voz perguntou.
— Ela está bêbada e bateu com a cabeça. – O Bob Esponja falou mais uma vez.
— Bob? Cadê o Patrick? – Perguntei.
— Ele é seu namorado? Irmão? – Bob Esponja perguntou. Tentei virar a cabeça para o lado, mas não estava enxergando bem. Espera, por isso eu não conseguia ver as estrelas. Estava de olhos fechados! Gargalhei como uma boba por minha própria estupidez.
— Eu não namoro. – Respondi ainda de olhos fechados. Acho que dormir ali não seria má ideia... – Eu tenho teias na vagina de tanto tempo sem transar. – Gargalhei novamente, meu corpo convulsionando com as risadas. Bob Esponja riu.
— Isso é preocupante. Ninguém tem teias na vagina. – Abri os olhos subitamente. O céu de São Paulo verdadeiro estava parcialmente coberto por um homem. O branco! Pisquei algumas vezes, minha cabeça doendo ao passo que voltar a fechar os olhos e fingir de morta parecia uma boa ideia.
— Sim, acho que você tem razão. – Desconversei e tentei me sentar, mas ele me empurrou levemente para baixo pela clavícula. Percebi que eu não estava deitada no asfalto, mas em um banco de madeira. As pernas do homem branco abrigavam a base de meu pescoço – Onde eu estou? É o bar? – Perguntei levemente alarmada.
— Sim. A música parou de tocar há uns quinze minutos, agora só lá dentro. – Assenti. Olhei ao redor e não vi Carlota – Ela foi buscar gelo no bar. – Ele respondeu à pergunta no ar. Aprumei-me em sua perna, o tecido da calça jeans contra meu pescoço era uma sensação confortável. Eu poderia simplesmente fechar os olhos e dormir ali até o dia seguinte – Ei, ei! Sem dormir! – Ele deu tapinhas em minha bochecha. Abri os olhos abruptamente, levantando e sentando no banco, mas não sem antes bater com a cabeça em seu queixo. O estalo foi alto, e virei-me alarmada ao ver sua cara de dor.
— Meu Deus! Desculpa! – Exclamei desesperada. Toquei na minha testa e arquejei de dor.
— Não tem problema. – Ele comentou com a voz meio estranha. Arregalei os olhos ao ver um filete de sangue em sua língua.
— Minha nossa Senhora do Sangue!
— Certeza de que ela não existe.
— Isso é intolerância religiosa. – Acusei.
— Não, a do sangue, não é nome de santa! – Ele explicou com um certo desespero no olhar.
— Cheguei. Desculpa a demora. – Carlota apareceu em minha visão com um saco de gelo enorme em mãos. Ela parecia completamente sóbria – Obrigada por ficar com ela, seu Ramirez. Ela não faz essas coisas nunca. Hoje exagerou. – Carlota sorriu cordialmente.
— Por que você está agindo igual uma puritana? – Questionei seriamente ao encará-la, mas fui ignorada. Carlota colocou o gelo em minha mão e guiou até minha nuca. O gelo contra minha pele fez meu corpo inteiro arrepiar e um gemido nada bonito sair por meus lábios – Desculpa, é que eu realmente estava com calor. – Virei-me na direção de seu Ramirez, o homem branco de cabelos loiro escuros que sorria para Carlota.
— Por nada, Carlota.
— Vocês se conhecem? – Questionei, meu olhar alternando entre eles. Carlota assentiu, parecia prestes a gritar. Seu olhar ia e voltava para ele desesperadamente. Nossa, o que havia dado nela? Talvez não estivesse tão sóbria.
— Sim, nos conhecemos há dois anos, mais ou menos. – Seu Ramirez respondeu.
— Bem, quero ir para casa! – Exclamei – Obrigada por cuidar de mim, senhor Ramirez, mas eu preciso ir dormir. Amanhã tem uma reunião de pais insuportável da qual preciso participar.
— Ah, você é professora? – Ele questionou, o olhar indo em direção à Carlota.
— Sim. Eu amo minha profissão, sabia? As crianças são lindas etc, mas eu odeio reunião de pais. É um porre. Os pais não querem estar ali, nós não queremos estar ali... – Suspirei e virei-me para Carlota – Será que eu posso faltar?
— Não, você não pode. – Carlota respondeu firmemente. Nossa, o que havia dado nela? – Eu vim de ônibus, não posso levar essa mulher nesse estado. – Ela ponderou.
— Eu posso levar vocês duas. – Seu Ramirez se ofereceu – Meus amigos vão entender. Além do mais, vocês têm uma das profissões mais importantes do mundo. – Ele comentou com um sorriso – É o mínimo por tudo que fizeram.
— Nossa, você é bem puxa-saco. – Exclamei com uma risada. Carlota arregalou os olhos – Eu gosto disso. – Dei um soquinho em seu ombro. Fiquei chocada ao perceber que havia músculos ali.
— Vamos lá? – Ele questionou – Precisa de ajuda para caminhar, dona ?
— Dona ? Eu não gostei disso. – Sussurrei para Carlota, que me deu um beliscão no braço – Ai! Eu consigo andar se tirar meus saltos. – Apoiei minha mão no cotovelo do homem estranho e segurei meus saltos na mão, o ar da noite fazendo cócegas em meus dedos do pé.
— Melhor vocês esperarem na rua do lado, e eu levo meu carro, pode ser? – Senhor Ramirez perguntou em direção à Carlota. Percebi que ainda segurava o cotovelo dele, então afastei-me levemente.
— Sim, obrigada. – Carlota sorriu cordialmente.
Agora eu piscava mais fortemente e começava a sentir leves dores nos braços. Olhei para meu antebraço direito e fiz uma careta ao perceber alguns arranhões.
Acompanhamos o homem gigante atravessar a rua do bar e ir até o outro lado. Quando ele sumiu de nossa vista, Carlota virou de supetão.
— Você perdeu o juízo? Que merda foi aquela? Meu Deus, se você tivesse tido uma concussão eu faria o anjo Gabriel te trazer de volta só pra te encher de soco! – Ela exclamou exasperada – Vai lavar esse rosto. Vou pegar uma coca-cola gigante para enxaguar sua falta de sobriedade.
Pisquei algumas vezes atordoada antes de seguir para o banheiro. As coisas haviam parado de se mexer e eu sentia meu corpo acordando aos poucos. O sono me enchia por completo, e foi difícil permanecer acordada. Lavei meu rosto e observei assombrada o Chapeleiro Maluco que me encarava do outro lado. Levantei a mão direita, percebendo que meu reflexo me seguia. Ah, que vergonha! Lavei mais uma vez minha face, a água gelada se mostrando totalmente ineficaz em lavar minha vergonha e humilhação.
Isso é o que acontece quando uma professora com tesão acumulado e falta de senso resolve sair de casa após três meses. Acidentes. Desastres. Homens bonitos que me veem em meu pior estado. Suspirei.
— Eu nunca senti tanta vergonha, Carlota. – Admiti quando já havia terminado minha segunda lata de refrigerante. Seu Ramirez ainda não havia voltado. Que tipo de sobrenome é aquele?
— Você deveria sentir mesmo. – Ela ralhou – Eu amo quando você se diverte, mas hoje foi absurdo! Por que você empurrou aquele homem?
— Ele ia me beijar, mas eu não queria. Ele não estava me forçando a nada, mas eu calculei errado a força e—
— Você é uma bela professora de matemática. – Torci o nariz em uma careta.
Um par de luzes piscou em nossa direção na calçada. Carlota acenou. Caminhamos pela calçada silenciosa em direção ao carro gigante, praticamente um transformers, estacionado.
— Vai na frente. Vou descer primeiro. – Carlota disse.
— Você vai me deixar ir sozinha com esse estranho? – Questionei.
— Ele não é um estranho, , ele— – Carlota foi interrompida quando o bom-feitor abriu a janela.
— Tudo bem?
— Sim, vamos lá. – Carlota indicou. Andei até a porta do passageiro, entrando rapidamente.
Carlota e seu Ramirez conversavam animadamente enquanto atravessávamos São Paulo. Permaneci em silêncio, observando as ruas virarem avenidas e novamente ruas. Estávamos chegando ao bairro de Carlota. Uma sensação desconfortável surgiu na boca do estômago. Carlota o conhecia, mas eu não. E se ele fosse alguém ruim? Pensei automaticamente em ir para o banco atrás do dele, poderia enforcá-lo se necessário.
— Ei, estou indo! – Carlota se jogou no banco da frente e me deu um beijo estalado na bochecha.
— Vou te mandar mensagem com minha localização. – Disse pela janela quando ela começou a se afastar.
— Faça isso! Boa noite, senhor Ramirez, novamente. E obrigada por tudo. Me avise depois o diagnóstico dela, além de bêbada maluca. – Ela piscou para o homem e acenou, indo em direção à garagem de sua casa.
O silêncio recaiu sobre o carro quando Carlota sumiu de vista, acendendo a luz.
— Vamos? – Ele perguntou após alguns segundos. Assenti sem desviar os olhos da rua – Você ainda está com sono?
— Um pouco.
— Só precisa aguentar um pouco mais, ok? Vamos fazer a parada e te levo para casa.
— Espera, parada? – Exclamei. Virei-me de lado rapidamente, meu corpo agindo antes que minha mente. Quando vi, estava com a mão direita dele em posição de ataque perto de mim. Um movimento errado e eu quebraria a mão dele.
— Meu Deus! Solta a minha mão! – Ele exclamou exasperado pelo choque. Forcei um pouco mais seu dedo, meu coração acelerado.
— Você está tentando me levar para uma paradinha? Acha que estou bêbada o suficiente para isso? Eu vou chamar a polícia! – Gritei a última frase. Algum dos vizinhos ouviria.
— Nós acabamos de falar sobre isso! – Ele encarou a própria mão, tentando diminuir o tom de voz. Seus olhos alternavam entre meu olhar histérico e sua mão prestes a ser quebrada – Eu sou médico! Carlota pediu que eu te examinasse! Vou ver se você teve alguma luxação, se está tudo ok. Pelo que eu percebi não é nada, mas você não pode dormir! – Pisquei algumas vezes. Soltei levemente sua mão.
— Desculpa. Meu Deus, desculpa. – Suspirei pesadamente, colocando a cabeça entre as mãos – E-eu nunca fiz isso, eu só entrei em desespero e—
— Ia me dar um golpe de kung-fu?
— Muay thai. – Corrigi.
— Isso.
— Eu não te conheço, perdão. Eu só tive uma reação lógica de alguém que está no carro de um homem que não conhece!
— Você realmente não está me reconhecendo? – Ele parecia incrédulo, mas curioso.
— Eu deveria?
— Bem, acho que sim, já que você e Carlota são amigas.
— Ah. Carlota me apresentou a você no aniversário dela? Desculpa. Ela muda muito de namorados e namoradas, no geral. – Seu Ramirez arqueou a sobrancelha, seu lábio tremendo levemente. Parecia segurar o riso.
— Isso. Isso mesmo. – Ele assentiu – Agora que você lembrou de mim, vamos? – Assenti e encostei a cabeça no estofado.
— Desculpa por quase ter quebrado sua mão.
— Bem, você teria que se desculpar aos meus pacientes da semana. Seria difícil atendê-los com o braço enfaixado. – Mordi o lábio de vergonha – Não que apanhar de uma mulher bonita não seja sexy, mas a situação não pedia isso.
Soltei uma gargalhada incontida, meu corpo convulsionando para frente ao vê-lo continuar a sorrir. Seu perfil era muito bonito sob as luzes da caótica metrópole. Paramos em um semáforo.
— Eu gosto de bater em homens bonitos, quando eles pedem. – Comentei com um sorriso. Seu Ramirez arqueou a sobrancelha.
— Eu não imaginaria que você fosse desse tipo.
— Eu não imaginava que você gostasse de apanhar de mulheres bonitas.
— Só de algumas. – Ele piscou.
Senti meu interior definhar com os cílios longos virados em minha direção, os lábios abertos em um sorriso genuíno e os braços longos capazes de me esmagar em contra si esticados sobre o volante. Pisquei atordoada ao perceber que estava fantasiando com uma cena em que seu Ramirez me desmontava e me virava do avesso. Várias e várias vezes.
— Você está bem? Está ficando com sono? Cansada? Está enxergando pontos pretos? Com vertigem? Ânsia de vômito? – Ele perguntou após eu permanecer em silêncio.
— Hã? Não. Estou ok. Acho que só desmaiei porque bebi demais, não por causa da batida.
— Você não bateu a cabeça com força, pelo menos não parecia de onde eu vi você cair.
— Eu caí igual uma princesa guerreira? – Arrisquei a piada, mas seu Ramirez negou com um sorriso.
— Se a princesa Tiana fosse pagodeira e professora de matemática, sim, como uma princesa guerreira.
— Nossa, você conhece a Tiana? É raro homens conhecerem as princesas.
— Precisei aprender. – Ele comentou. Assenti e permaneci em silêncio. Paramos o carro em frente a um portão cinza gigante, praticamente uma fortaleza. Arqueei a sobrancelha e o encarei – Não quebre minha mão! Essa é a minha casa. Vou pegar meu equipamento e já volto, ok? Se incomoda em esperar aqui?
Ponderei por alguns segundos. Não é porque um homem bonito gosta de apanhar de mulheres bonitas que ele seja automaticamente confiável.
— Eu posso usar o banheiro? Tomei duas cocas. Preciso mesmo. – Ele riu e assentiu.
— Fique à vontade. Ah, só peço que faça silêncio. Ester está dormindo. – Suspirei aliviada. Meu Deus, ele é casado! Carlota não confiaria em deixá-lo me trazer aqui se ele não tivesse uma outra testemunha em casa, creio eu.
Saí do carro descalça, o asfalto recebendo meus pés doloridos após tanto tempo com o salto. Um pequeno portão praticamente escondido dentro do portão maior foi aberto por seu Ramirez. À luz dos postes, ele parecia escalável. Os ombros levemente largos estavam curvados para abrir o portão com a chave, os olhos castanhos viraram em minha direção e sua cabeça maneou para a entrada, indicando que eu entrasse.
— Licença. – Falei ao adentrar.
Um grande jardim se estendia à nossa frente. A casa era tão grande por dentro quanto parecia por fora, coberta pela muralha. Uma piscina quebrava o padrão verde do jardim, com cadeiras de sol ao redor e uma churrasqueira do lado esquerdo. À nossa frente, uma garagem com espaço para dois carros estava desocupada. Hm, ele e Ester dividiam um carro?
Espera, ele estava flertando comigo mesmo sendo casado? Senti um certo nojo revirar meu ser. Ew. Aquele tipo de homem era o pior existente. Ele flertou comigo enquanto a esposa estava dormindo em casa. Honestamente...
— Silêncio, por favor. – Ele pediu mais uma vez quando andamos pelo jardim até a lateral da casa, parecia a entrada da cozinha.
A casa possuía o andar térreo e o superior. As luzes estavam todas apagadas, menos a da sala, foi o que percebi assim que a porta foi aberta diante de mim. Dei dois passos e virei para encará-lo enquanto ele tirava os sapatos na entrada.
— Acho que sua esposa está acordada. – Sussurrei. Ele levantou a cabeça abruptamente.
— O que disse?
— A luz da sala, eu acho, está acesa. Sua esposa deve estar acordada. – Ele franziu o cenho – A Ester.
Pisquei fortemente quando a luz do cômodo em que estávamos foi acesa, e certifiquei-me de que realmente estávamos na cozinha. Uma cozinha enorme. Mas não consegui absorver nada além da criança parada diante de mim. Arregalei os olhos, a compreensão preenchendo cada célula miserável do meu corpo maldito.
— Professora ? O que está fazendo aqui?

Capítulo dois




— Pai, a professora precisava ir embora mais cedo? Por que ela não foi com a gente? – Ester mexia em seu celular despreocupadamente enquanto meus olhos a miravam pelo retrovisor.
— Porque ela precisava chegar mais cedo na escola.
— Hm. – Ela assentiu e voltou a ficar em silêncio.
Encarei a estrada à frente, a voz de ecoando em minha mente enquanto ela tentava entender a situação. Em minha defesa, Ester não deveria estar acordada. Não. A mãe dela deveria estar lá com ela. E não era surpresa alguma que não estivesse. Apertei o nós dos dedos com mais força no volante involuntariamente. Encarei novamente minha filha. Os olhos mais claros parecidos com os meus eram o que nos conectava, porque o restante era igual à mãe. Pele escura, cabelos cacheados e volumosos (ela queria alisar, sua mãe quase enfartou com a mera ideia) e o sorriso mais lindo do mundo. Talvez ela tenha puxado isso de mim também.
— Você não está com sono? Passou a noite toda acordada. – Puxei assunto ao pararmos no engarrafamento. A reunião começaria em vinte minutos, e eu estava na metade do caminho.
— Sim. Durmo na volta.
— Não mesmo! – Afirmei com o cenho franzido – Se você dormir à tarde de novo, não vai dormir à noite. Vai virar um ciclo. Sem chance. Hoje você só vai dormir na hora certa.
— A professora bem que podia me fazer companhia igual eu fiz pra ela, né? – Ester provocou. Parecia mais focada do que nunca, mesmo cansada.
— Filha, eu já expliquei por que sua professora estava lá em casa, não é?
A imagem de pálida enquanto tentava se explicar para Ester tornou as coisas ainda mais divertidas.
— Filha, a professora bateu a cabeça no chão e o papai estava por perto. – Resumi a história quando percebi que ainda parecia sem reação. A mulher de pele escura assentiu, o olhar vasculhando a cozinha.
— Sim, seu pai me ajudou muito. Foi gentil. – Ela sorriu em minha direção, as ruguinhas do sorriso à mostra. Lembrei momentaneamente de seu olhar em minha direção no bar mais cedo.
Eu ia atrás dela e chamá-la para dançar, isso até a mãe de ligar avisando que não poderia passar a noite. Achei que ela estava blefando. Ester parada com os olhos vidrados e a boca cheia de chocolate me provaram que não estava.
— Sabia que a professora ganhou um prêmio matemático? – Ester desembestou a falar, preenchendo o carro com sua voz alta.
— É, ela parece inteligente.
— Ela é. Você já considerou casar com ela? – Encarei minha filha em descrença pelo retrovisor.
— As coisas não funcionam assim, Ester.
— E como elas funcionam? Na novela da semana passada disseram que o amor é simples, a gente que complica. E minha mãe falou que novelas têm muito a ensinar. – Suspirei. A mãe de Ester estava deixando que ela dormisse tarde de novo?
— A novela está certa nesse quesito, mas não tem como haver casamento sem amor. – Parei o carro próximo ao meio fio, a escola particular de Ester crescendo imponente no quarteirão. Várias crianças brincavam de correr na frente da portaria, o que significava que as reuniões do fundamental haviam acabado – Eu não amo a sua professora, então não podemos nos casar.
— Você não amava a mamãe e casou, não foi? Ela disse isso. – Bufei pesadamente.
— Eu e sua mãe precisamos conversar. E nós estamos atrasados, vamos. – Abri a porta para ela com um gesto exagerado, fazendo-a revirar os olhos. Ester costumava amar aquilo. Fechei a porta e a segui portaria adentro, sorrindo para os porteiros.
Observei Carlota parada no andar térreo se despedindo dos pais de alunos do fundamental I. Ela havia sido professora de Ester até o quinto ano. Esse era o primeiro ano de Ester com “as crianças maiores", nas palavras delas, e havia muita expectativa no ar. Como a primeira reunião do ano, eu precisava causar boa impressão nos professores. Essa era a forma mais fácil de ter um relatório completo sobre o desenvolvimento de minha família em meio a outras mil crianças.
— Vou lá com as meninas. – Ester despediu-se e saiu correndo em direção às amigas da sala sentadas próximas à cantina.
Ester estava tendo problemas no início do ano com suas amizades, mas as coisas pareciam bem agora. Eu esperava que estivessem.
Subi duas rampas até chegar ao andar das crianças mais velhas, o temido ensino fundamental, do sexto ao nono ano. Peguei o itinerário dos professores em mãos, procurando pelo nome de . Sorri ao ver que ela era a professora responsável pelo sexto ano. Endireitei os ombros e passei a mão pela camisa. Estava sem mancha alguma, creio eu.
Virei à esquerda e segui pelo corredor cheio de pinturas de alunos do sétimo ano. É, eu não sentia a menor saudade da escola. Ou de fazer pinturas.
— Cara, você veio. – Marco sorriu em minha direção ao acenar para mim. Um monte de pais sentados em cadeiras de plástico e segurando uma lista imensa de materiais estavam espalhados pela sala. O quadro negro estava preenchido por diversos números, havia um atlas enorme na parede direita próximo à mesa do professor.
— Claro que vim, assim como venho desde que Ester entrou na escola. – Sentei-me ao lado de meu amigo.
— Não estou questionando sua qualidade parental, mas achei que fosse perder a hora com aquela morena de ontem. – Marco arqueou as sobrancelhas ruivas.
— Ela caiu e bateu a cabeça.
— Sim, se ela tiver transado contigo, eu concordo.
— Ester estava em casa. – Sussurrei quando uma quantidade imensa de pais, mães e avós adentraram na sala. Cada um se posicionava em sua cadeira, esperando pela professora.
— O quê? – Marco exclamou – Ela viu a professora dela transando com o pai? Cara, isso é nojento. – Revirei os olhos.
— Não, mas a professora quase teve um treco. Tentou sair correndo da minha casa e ir embora, mas Ester pediu que ela ficasse.
— E ela ficou? – Ele arqueou a sobrancelha com um sorriso malicioso – Ela ia te dar.
— Pelo amor de Deus. – Bufei – Eu acho que fui um babaca com ela hoje de manhã.
— O que você fez, quer dizer, além de salvar a vida dela ontem à noite?
— Eu quis fazer uma piada durante o café hoje. Eu falei “achei que essa situação fosse acontecer de outra maneira, tipo, na minha cama”. – Marco continuou encarando, esperando que eu continuasse.
— Você estava flertando.
— Eu também achei! – Exclamei. Eu não estava louco! – Ela ficou vermelha de raiva e foi embora na mesma hora.
— Ela bateu a cabeça com força. – Marco deu de ombros – Ela é gostosa, cara. Você deveria tentar algo.
— Não vai rolar. – Respondi com um suspiro – Além do mais, acho que o fato de eu ser pai de Ester tem um grande fator de influência nisso.
— Sexo é sexo, não importa se ela é professora ou a diretora.
— Eu sei disso, você sabe disso, mas eu acho que ela é bem estrita. Parece ser bem séria.
— Bom, isso só torna tudo mais interessante, não?
E foi quando ela apareceu pela porta. Usava uma calça jeans e uma blusa de manga longa que havia pegado emprestado da mãe de Ester. Ela mantinha algumas mudas de roupa lá em casa para quando passasse a noite, mas tinha coxas de uma lutadora e braços musculosos. Encarei hipnotizado sua bunda no jeans emprestado, ainda sem acreditar que aquela mulher era real.
— Você é um molenga. – Marco sussurrou ao meu lado.
— Eu sei. – Respondi. A sala inteira caiu em silêncio.
A pele negra de contrastava belamente com a blusa azul, e ainda mais quando ela colocou um casaco jeans gigante sobre o corpo. Ela deve ter passado em casa no caminho para cá.
— Bom dia, responsáveis. – Ela sorriu para a sala.
— Bom dia! – Respondemos em coro. Ela parecia evitar de propósito olhar para meu lado da sala.
Senti-me levemente incomodado. Eu havia dito algo tão ruim? Quer dizer, eu pensei que ela estava interessada em mim após aquela troca de olhares ontem à noite. Pelo amor de Deus, nós flertamos no carro. Ou era apenas minha imaginação? A sensação de ter criado uma reciprocidade onde não havia caiu como uma bigorna em meu ombro. Isso explicaria sua reação hoje de manhã.
— Obrigada pelo café. – Ela havia dito enquanto se apoiava contra a quina da mesa. A calça jeans marcava suas coxas. Tirei meu olhar dali rapidamente, encarando o jardim pela janela.
— Por nada. – Pisquei e estendi a caneca em um brinde com ela.
— Não, é sério, obrigada por tudo. E desculpa pela situação com a Ester. – Ela encarou o chão, os cabelos balançando.
— Você se machucou e eu te trouxe para cá. Sou médico, é o que faço.
— Você traz doentes para a sua casa? – Sorri e beberiquei meu café forte novamente, comendo uma baguete de queijo.
— Só os que me apresentaram situação de perigo de vida.
— Que exagero, eu não estava tão mal.
— Não, não, perigo para mim. Você me agrediu diversas vezes. – engasgou com seu próprio café e riu.
— É, desculpa por isso também.
— Na realidade... – Afastei-me da ilha da cozinha, aproximando-me dela.
O sol lá fora subia com força, apesar de ser apenas sete da manhã. Os raios da manhã entravam pela janela sem dó, reluzindo contra sua pele bem cuidada.
— Foi um prazer. – Continuei, agora mais próximo dela. Minha mão estava apoiada contra o balcão atrás dela, nossos corpos próximos como eu queria que estivessem na noite passada.
— Você é um bom médico. – Ela sussurrou, seu olhar fixo em meus lábios.
— Queria que essa situação tivesse ocorrido de outra maneira, o café, eu digo. – Ela parou com seu olhar em um ponto atrás de mim, parecia envergonhada – Preferia que você estivesse na minha cama. – Ela pareceu sem reação, mas foi rápido demais, pois no segundo seguinte ela estava fervendo em vermelho. Sua sobrancelha estava arqueada e o café foi despejado pelo ralo da cozinha.
— Eu estou indo. – Ela disse apressada, o corpo tenso.
— O que houve? – Questionei atordoado. Olhei para trás, mas não havia nada lá – Eu disse algo?
— Ah, pelo amor de Deus! – Ela bufou e pegou sua bolsa sobre a ilha da cozinha – Até mais tarde. Vejo Ester na escola.
Cruzei meus braços, encarando novamente o monumento parado diante da sala de aula. Seus lábios se moviam, mas eu só conseguia pensar no que eu havia dito de errado.
— Por isso, creio que uma dinâmica com os pais seria uma boa ideia. – Pisquei algumas vezes ao vê-la finalmente encarando meu lado da sala. Ela pareceu imediatamente arrependida no momento que seus olhos fitaram os meus. Ela abriu e cerrou os punhos, virando abruptamente para a lousa.
— Não gosto muito mais dela. – Marco sussurrou ao meu lado.
— O quê? Por quê?
— Você está prestando atenção? – Marco ralhou comigo, as bochechas super brancas pintadas de um vermelho escarlate.
— Senhor Marco, pronto? – sorriu. Encarei meu amigo, que parecia prestes a desmaiar.
— Eu não sei. – Ele ficou incrivelmente tímido. Como havia feito aquele homem decidido ficar tão tímido?
— Vamos lá, eu confio em você. – Ela incentivou, aproximando-se dele com um sorriso largo. Marco suspirou e colocou-se em pé. Jurei ter visto sua mão tremer levemente – Nosso querido pai vai realizar essa conta matemática. Caso não consiga, a sala vai ajudar. Quero que saibam que esse é o método que uso em sala com os alunos.
Segurei o riso quando Marco se colocou em total desconforto frente à sala cheia de professores. Sim, como no ensino fundamental.
— Você consegue, Marcão! – Gritei em incentivo, o que fez meu amigo querer se afogar em uma piscina de brinquedo, tenho certeza.
Marco resolveu a conta básica na lousa. Uma série de aplausos foi ouvida.
— Temos mais algum voluntário? É só um quebra-gelo. – piscou para ninguém em especial.
— Eu vou! – Levantei a mão antes que percebesse. Repreendi minha boca no mesmo instante. Marco pareceu iluminado.
— Como ele é médico, acho justo que a conta seja mais complicada. – Marco provocou. Os outros da sala concordaram.
— Espera, eu não faço contas assim desde que passei no vestibular. – Dei uma risada de nervoso.
— Você consegue, seu Ramirez. – comentou, mas não sorria, parecia tensa e alerta, como se os outros pais pudessem ver o que havia acontecido somente por interagirmos.
— Ok. – Cedi apenas para ela pudesse ficar calma, o que pareceu funcionar. virou para a lousa e escreveu um cálculo. Eu sabia facilmente apenas de cabeça, mas eu acho que poderia me divertir – Acho que vou precisar de ajuda. – Comentei em voz baixa para ela quando virei para o quadro. Somente ela me ouviria naquele momento, o pai mais próximo estava a pelo menos um metro e meio de distância.
— Ajuda? – Ela arqueou a sobrancelha.
— Eu não sou bom com matemática.
— Sua filha vive se gabando do pai inteligente que tem.
— Eu sou burro por não saber fazer um cálculo? Isso é preconceituoso. – Arqueei a sobrancelha. arregalou os olhos.
— Pessoal, vamos ajudar o senhor Ramirez? Alguém consegue dizer por onde ele deve começar?
— Pela esquerda! – Uma voz feminina gritou do fundo da sala. Virei-me para ver a mãe de Celeste, uma das amigas de Ester. Assenti, mas sabia que estava errado.
— Faz a distribuição primeiro! – Disse um pai. Suspirei aliviado. Não queria fazer o cálculo errado, nem para fingir. Fiz a distribuição, a soma, multiplicação, tudo o que era necessário.
— Professora, está correto? – Questionei ao afastar-me da lousa. precisou se aproximar para ver, então a encarei mais de perto. Deus, como eu queria aquela mulher.
— Sim, correto. – Ela respondeu sem me encarar, mantendo seu olhar na sala. Uma rodada de aplausos preencheu o ar. Alguns pais davam risadas e comentavam sobre sua época de fundamental e sobre o quão ruins eram em matemática. Voltei ao meu lugar ao lado de Marco.
— Cara, parece que ela te odeia. – Marco comentou com o semblante risonho.
— Sério?
— Sim. Acho que ela realmente te deu um fora hoje. – Ele deu de ombros – Não foi dessa vez, garanhão.
É, não foi dessa vez.

Capítulo três

— Você pode dar uma chance a ele, não é errado. – Carlota bufou e me encarou sem paciência. Aprumei-me em seu enorme casaco jeans, cheirava a hidratante caro.
— Não vou dar chance a um cara que flerta comigo na frente da filha falando sobre irmos para a cama dele. – Tomei um gole de café da máquina e agradeci enquanto o líquido quente me aquecia.
— Como assim? – Ela franziu o cenho.
— Ele se jogou todo pra cima de mim. Quando olhei para o lado, Ester estava parada atrás de nós dando risada. Ele nem viu, acho.
— Cruzes. – Carlota fez uma careta.
— Se ela tem esse comportamento, é porque viu em algum lugar. E ela mora com o pai. Então...
— E você teve essa linha de pensamento em um segundo?
— Pensei nisso enquanto vinha para cá de Uber.
— Você não passou em casa? – Engoli em seco e olhei para alguns professores conversando no bebedouro.
— Vim direto de lá.
— Você não estava usando essas roupas.
— Parabéns, Sherlock. – Joguei o café no lixo e suspirei – É da ex-esposa dele. Além do mais, — continuei – Ester não pode imaginar nada disso aqui. Sou professora dela.
— E como foi passar a noite com a família do bagulho?
Começamos a andar lado a lado até voltarmos do intervalo. Agora os pais poderiam ir a cada professor particular tirar suas dúvidas acerca dos boletins. Eu estava pronta para ser uma das professoras que iria embora por último. Afinal de contas, poucas as crianças se dão bem em matemática, ainda mais no sexto ano.
— Ester foi um amor. – Confessei – Ela pediu que eu ficasse, e como eu sabia que não poderia dormir, seria uma opção mais óbvia ser observada por alguém do que ficar em casa sozinha. O medo de convulsionar foi maior do que ficar na casa de um homem estranho. – Carlota gargalhou e assentiu.
— Ele tentou algo com você?
— Não, mas é o mínimo.
— Você deu muito em cima dele ontem.
— É, eu sei. – Dei de ombros – Se ele não fosse pai de uma aluna minha... – Suspirei.
— Ei, tira isso da cabeça. Se você não quer, não fica remoendo.
— Tem razão. Vamos lá ser xingadas por alguns almofadinhas.


*


— Sim, senhora Rodrigues, sua filha colou na prova. Eu não posso dar uma nota maior para alguém que colou. Zero é zero.
Apoiei-me contra a mesa dos professores, já sentindo meus ombros doerem. Meu corpo inteiro parecia feito de geleia. Passei minha mão pela nuca suada. Eu era, como se esperaria, a última professora ali, mas ainda havia cinco pais na fila. Alguns professores já haviam ido para suas casas. Ah, mas não é como se eu tivesse algo para fazer em casa em um sábado de manhã, além de ir para a academia. Olhei o relógio em meu pulso. É, nem a academia.
Suspirei aliviada quando o último pai saiu pela porta da sala do oitavo ano, que havia sido minha sala de trabalho para dúvidas individuais dos pais. Empilhei os relatórios dos alunos que haviam faltado. Observei que Ester ainda estava ali.
— Eu estava esperando os outros pais saírem para poder gritar com você sobre o desempenho mediano da minha filha. – Virei-me assustada ao observar seu Ramirez parado à porta. Seus braços estavam cruzados e sua lateral apoiada contra o batente.
Meu Deus, que homem delicioso.
Pisquei momentaneamente, meu corpo pensando em formas inumanas nas quais seu corpo arrebentaria o meu contra as paredes, rasgando mapas e desenhos. Talvez pudéssemos nos deitar sobre uma tela e nos pintarmos de tinta.
— Pode gritar agora. – Comentei, mas eu parecia dispersa. A imagem da tela de pintura estava vívida em minha mente.
— Na realidade, queria pedir desculpas. – Ele coçou a nuca – Não interpretei direito seus sinais hoje. Achei que quisesse que algo rolasse, pareceu, na verdade.
— Hã? – Questionei.
— Só não estou acostumado a levar muitos “nãos”, acho que não soube reconhecer o seu. – Pisquei algumas vezes. Ali estava a deixa perfeita para acalmar meu fogo.
— Tudo bem. – Falei, por fim. Senti-me mal, já que não tinha ideia por que ele acharia aquilo, mas servia, por ora – Sua filha é um prodígio matemático. – Peguei o boletim de Ester em mãos – Mas ela passa cola para as amigas. Eu deixei passar da última vez, porém não vou deixar na próxima. Vou precisar zerar a prova dela.
— Espera aí, ela passa cola? E ela que zera a prova?
— Sim. Ser conivente com um erro é estar errado. – Afirmei.
Coloquei-me na defensiva imediatamente, pronta para precisar lidar com uma versão nada legal de qualquer pai ou mãe: o desejo de proteger seu filho.
— Mas ela nunca fez isso antes.
— Crianças, quando querem se enturmar, podem fazer essas coisas. – Comentei – Não se preocupe. Converse com ela. Essas coisas se resolvem com a própria criança, ninguém pode forçar outro alguém a ser ético.
— Sim, tem razão. – Ele suspirou – Não sei lidar com essa situação. Eu costumava vir, mas era a mãe de Ester quem lidava com essas questões mais...
— Escolares?
— Sim. – Senhor Ramirez me encarou – Não sou bom com isso de pai solteiro.
— Mas a mãe dela...
— Ela está se mudando para a Nigéria. – Fiquei em silêncio, mudando o peso do pé para o outro.
— Senhor Ramirez, sinto muito.
. – Ele sorriu – Acho que já passamos por algumas coisinhas. Pode me chamar de .
— Ok, , sinto muito.
— Você acha que ela está lidando bem com as novas amigas? – Ele questionou mais sério. A pose de flerte e segurança pareceu sumir ao falar da filha.
— Ester está passando por uma adaptação difícil. Essa é uma fase em que ou você se torna um líder ou um seguidor. Ester está indo para o segundo caminho. Mas o fundamental pode ser assustador, ainda mais quando se é dois anos mais novo do que o comum.
— É, a mãe dela quis que ela entrasse bem cedo na escola.
Encarei mais uma vez. Ele parecia preocupado e tenso, exatamente como eu estava mais cedo ao vê-lo sentado na cadeira pequena demais para suas pernas longas na sala infantil, mas ele ainda estava lindo usando uma camisa preta e uma calça jeans.
— Sei que é bobagem dizer isso, mas não se preocupe tanto. – Tentei confortá-lo. Cometi o erro principiante de colocar minha mão em seu braço esquerdo. Tirei a mão imediatamente – Desculpa.
— Fica tranquila. – Ele sorriu, os olhos claros encarando os meus – E obrigado.
— Mas eu sugiro um acompanhamento psicológico. – Comentei repentinamente – Ela vai passar por uma mudança com a mãe em outro país. Isso pode ser ruim para uma criança da idade dela passando por tantas mudanças.
— A mãe dela não queria ir, eu sei que ela realmente ama a Ester, mas ela precisa ir cuidar do pai doente. E eu não queria Ester mudando de país agora. Acha realmente que um psicólogo é necessário? – Assenti.
— Psicólogos são ótimos. Crianças bem resolvidas emocionalmente têm mais facilidade na escola. Ah, preciso fechar a sala, já deu o horário de encerramento.
— Claro, vamos andando. Ester já deve estar esperando. – Fechei a porta atrás de nós dois.
— Você deveria vir para a feira no sábado. – Antes que percebesse, já havia feito o convite – Sua esposa, quer dizer, ex-esposa, havia aceitado participar. Pode ser uma chance de você se aproximar da sua filha.
— Hm. – me encarou de soslaio – Não é uma má ideia. O que tem demais em fazer alguns biscoitos e cookies para uma feira de comida?


*





Fazer cookies é a coisa mais difícil do universo.
— Pai, isso está horrível! – Encarei Ester com uma careta.
— Está tão ruim?
— Tem um motivo para minha mãe cozinhar quando vem aqui. – Ela largou a colher de pau com a massa de cookie com gotas de chocolate – Todo mundo vai fazer piada, pai. Eu posso pedir para a minha mãe vir.
— Não mesmo! – Exclamei indignado e bati com minha mão sem querer no balcão enfarinhado. Ester arregalou os olhos claros em minha direção.
— Você sequer consegue cozinhar sem se machucar! Não podemos comprar algo para levar? A mãe de Celeste vai fazer isso.
— Como sabe?
— Celeste mandou no nosso grupo. – Minha filha enfiou o celular em meu rosto. Ali, a mãe de Celeste comprava cookies na padaria. Que salafraia!
— Eu não sou a mãe da Celeste. – Comentei levemente chateado – Pensei que isso fosse para nos divertirmos.
— Ah, pai, para. – Ela revirou os olhos – Você não sabe cozinhar, mas sabe um monte de coisa.
— Alguma dessas coisas serve para a feira de comida?
— Bom ponto.
— Vamos lá, precisamos fazer isso dar certo. Vamos recomeçar a receita.
— Pai, isso não vai dar certo.
— Do que adianta passar em medicina e não conseguir fazer cookies? É questão de honra, filha. Honra!


*


— Filha, parece que esses cookies foram comprados? – Sussurrei para Ester enquanto acenava para um dos professores de biologia.
— Não, pai. – Ester enfiou um cookie na boca.
Após seis tentativas, nossos cookies saíram minimamente ok. Nas três primeiras fornadas eles queimaram, a quarta ficou com gosto de óleo, a quinta e a sexta ficaram aceitáveis, mas havia poucos cookies sobrando.
— Certeza?
— Uhum. – Ela assentiu enquanto engolia o cookie laranja com MMs.
— Sua professora veio? – Perguntei enquanto mexia no celular.
— A professora ?
— O nome dela é ? – Fiz-me de desentendido, encarando qualquer lugar menos os olhos de Ester.
Eu havia passado a semana toda atendendo pessoas no escritório, mas eu torcia muito para que Ester precisasse de um ortopedista e calhasse a ir ao hospital em que eu trabalhava. Mas isso implicaria em algo estar errado com ela, então reconsiderei o pensamento.
— Pai, para de graça. – Ester riu – As meninas chegaram, te vejo depois.
Permaneci na minha mesa designada. Em frente, havia uma cartolina cheia de glitter e muita tinta guache que Ester havia feito na noite anterior, e estava escrito: “Cookies 4 U”. Pelo menos ela estava fazendo bom uso do inglês.
Chequei meu celular mais uma vez. Eu havia pedido folga na clínica hoje, mas sentia falta de estar no trabalho, mesmo sendo sábado. Ser pai integral significaria menos sábados trabalhando e mais sábados assim? Não era ruim. Observei Ester rir, e sorri involuntariamente.
— Você que fez? – A mãe de Celeste, pelo que reconheci, apareceu em frente ao meu estande.
— Pois é. Minha primeira vez, acho que não está bom. – Sorri.
— Hm, está delicioso! – Ela disse ao provar de uma das amostras.
— Obrigado.
— Depois vai provar os meus. Meus biscoitos são deliciosos. – A mulher piscou para mim. Sorri de volta.
— Imagino que sejam. – Pisquei de volta enquanto ela se afastava.
Essa mulher realmente acha que eu vou elogiar os cookies de padaria dela? Jamais.
— Uau, você veio! – Olhei para cima a tempo de ver vestindo um sorriso gigante.
— Achava que eu não viria? – Arqueei a sobrancelha.
— Um pouco, sim. – Ela riu – Vou comprar um dos seus cookies, dar uma força antes do início da feira.
Acordei às cinco da manhã hoje. Estava preocupado com os cookies. Ester ainda estava dormindo quando eu assei a sétima fornada. Ela havia ficado melhor que todas as outras, mas eu ainda comprei os cookies e misturei aos que eu havia feito, só para garantir.
— Obrigado. Eu acho que não fiz um bom trabalho. – Escondi o sorriso ao vê-la arregalar os olhos ao provar do cookie da padaria.
— Isso ficou ótimo! Você é um cozinheiro nato.
— É, eu sou o pacote completo.
— Consigo ver.
— Meus cookies são uma delícia, não é? Essa é uma opinião deveras comum. – Encarei de soslaio a mãe de Celeste. acompanhou meu olhar e gargalhou.
— Você vai ser o próximo garotão que dona Celeste Mãe vai devorar? – Ela mastigou o restante do cookie – Boa sorte. Soube que ela é realmente boa no que faz.
— Estou ocupado vendendo cookies. Que mente pervertida! – Acusei – Não sabia que você pensava isso de mim, professora...
— Só às vezes.
— Ai, ai. – Neguei com a cabeça – O que será do futuro do nosso país com uma professora ninfomaníaca?
— Meu Deus do céu. – Ela arregalou os olhos no momento que um pai passou por nós dois. Segurei o riso – E se ele ouviu isso, ?
— Meu nome fica lindo na sua boca.
— Ah, vai se ferrar. – Ela resmungou e saiu andando. Tentei disfarçar, mas observar sua bunda de um lado para o outro apertando contra aquele jeans fez com que minhas próprias calças parecessem inapropriadas.
A feira durou o dia todo, e eu não pude mais conversar com . Por incrível que pareça, minha barraca foi uma das primeiras a vender tudo. Muitas mães queriam provar meu biscoito. Não tenho ideia de quantas queriam o outro biscoito, mas eu me contentava em ter vendido tudo.
— Um recorde de vendas! – A mãe de Celeste (qual o nome dela, meu Deus?) apareceu após algum tempo. Agora havia três botões a menos em sua blusa. Interessante.
— Pois é! Acho que dei sorte. – Comentei educadamente.
— Eu chamo isso de talento. Bem, vamos fazer uma confraternização entre pais e professores na minha casa daqui três semanas, o que acha de ir? Pode levar seus cookies com você.
— Professores? Todos os professores? – Questionei – Eu me sinto meio envergonhado, sabe, eles educam minha filha.
— Ah, você é um fofo!
Sim, um fofo.
— Todos os professores irão, vai ser um churrasco.
— Nesse caso, por que não? – Virei meu olhar para nossa frente, onde conversava com um pai e o ajudava na contagem do dinheiro.
Pensei na mãe de Ester por um segundo, em como minha filha havia ficado animada repentinamente com a presença de lá em casa.
Minha filha brincava com suas amigas enquanto passava de uma mesa para a outra. Seus ombros tremiam com as risadas que dava. Ela parecia feliz. E eu estava feliz por ela, mas não sabia se estava fazendo o certo. Será que eu seria um bom pai enquanto sua mãe estivesse fora?
Eu já estava separado há dois anos, meu casamento com minha ex-esposa havia ido por água abaixo há muito tempo. Na realidade, casamos porque ela estava grávida de Ester, e sua família a deserdaria se não se casasse comigo. Casamos. A família dela ficou feliz. A nossa foi destruída. Ester agora vivia com pais separados. Aquela sensação de que as coisas poderiam ter sido diferentes passa todas as noites me atormentando, me seguiam no banho, no trabalho, em meus momentos de paz, menos naquele dia.
Marco me chamou para ir ao pagode pela primeira vez na minha vida. Eu não sou o maior fã, mas topei. Eu havia tido uma briga catastrófica com a mãe de Ester sobre sua mudança para a Nigéria. Eu entendia seus motivos, mas ela não havia previsão de volta. Disse que seriam seis meses, mas eu sabia que as coisas não seriam daquela maneira. Inclusive, sabia que o namorado nigeriano dela provavelmente gostaria de aproveitá-la lá por mais um tempo.
Quando vi ali, demorei certo tempo para reconhecê-la, especialmente por não ser professora de Ester há mais de dois meses. Eu somente a havia visto de passagem pelos corredores.
— Gostosa, né? – Marco comentou. Assenti – Vai lá, cara.
— Não sei, ela é professora da Ester e-
— Ah, para com isso. Algo desse tipo já te impediu?
— Bom ponto.
— Claro que é um bom ponto. – Meu amigo estendeu a cerveja em minha direção e sorriu.
Quando virei-me para ir em direção à mulher de tranças e coxas grossas, ela me ligou. Suspirei pesadamente ao me preparar para outra briga, quando ela disse não poder passar a noite com Ester. Eu disse que era combinado, ela não poderia deixar nossa filha sozinha em casa para poder ir à casa antiga do pai.
— Perdeu, cara. – Marco lamentou quando voltou. já estava agarrada com outro homem.
— É, perdi. Acontece. – Dei de ombros – Acho que preciso transar hoje, cara.
— Ué, então vai. Você está acostumado com essas coisas.
Uma mulher de pele clara e olhos azuis chamou minha atenção. Ela estava sentada com as amigas no bar, os olhos encararam os meus. Estava no papo. Até bater com a cabeça no chão.
— A moça bateu com a cabeça! – Gritou uma senhora.
Aproximei-me rapidamente.
— Não fiquem em cima, foi só uma batida leve. – Acalmei a pequena multidão que se formava ao redor do corpo desacordado de . Sua saia mostrava muito da coxa, praticamente a calcinha. Pedi à senhora em pé que abaixasse a roupa dela, cobrindo-a.
— Bob? Cadê o Patrick? – Ela murmurou algumas bobagens sobre sua vagina ter teias de aranha. Questionei-me a veracidade dos fatos.
— Carlota, pegue gelo, por favor. Vou apoiá-la no banco para tirá-la do chão. – Peguei o corpo desacordado e mole da professora em meus braços. Deixei-a deitada no banco enquanto esperávamos.
— Então, você vai para o matadouro? – Assustei-me quando apareceu ao meu lado no estande. Eu realmente havia dispersado tanto?
— Hã?
— Soube que você vai para o evento de pais e professores.
— Meu Deus, essas notícias correm rápido! – Exclamei verdadeiramente assustado.
— Você é o novo garoto colírio da semana. Não é todo dia que um pai faz cookies.
— Eu comprei alguns. – Admiti.
— Eu sabia!
— Ei, as mães não podem saber, senão não vão querer meu cookie.
— Vão sim. Mesmo que você se vista de pano de saco elas vão querer seu cookie inteirinho.
— Cruzes, você é realmente uma pervertida.
— Ah, para, você não é melhor. E o que você vai fazer para comermos?
— Eu preciso cozinhar de novo?
— É o que todo mundo espera.
— Todo mundo quem?
— Eu. – Ela sorriu – E a matilha de mães.
— Interessante. O que vou ganhar de você se eu cozinhar? – Senti-me entrando em terreno escorregadio. Será que ela recuaria?
— Quem sabe eu não te dê um agrado? – Ela sussurrou, seu corpo quase imperceptivelmente virado em minha direção – Tenho certeza de que você vai gostar.
Encarei seus lábios completamente estupefato. Só pensava em deitá-la contra aquele estande e agarrar o cabelo dela com toda a força. Isso com certeza faria com que alguns olhares indelicados fossem direcionados em nossa direção.
— Ajude-me a cozinhar. – Soltei antes que pudesse pensar.
— Hein?
— Sim, isso. Laís, a psicóloga que é sua amiga, contou-me que está vivendo com você. Ester vai ter uma consulta com ela. Podemos fazer isso enquanto ela está na consulta, depois te deixo na clínica. – pareceu ponderar.
— Não sei se isso é bom, ... – Ela hesitou.
— Tudo bem, desculpa. Foi invasivo. – Desconversei, a sensação de confusão se apoderando. Ela parecia mais aberta há alguns segundos. Será que era o jeito normal dela?
— Quer saber? Por que não? Podemos fazer farofa e maionese. – Ela sorriu – Contanto que você prometa que vai me deixar provar seu cookie.
— O quanto você quiser. Vai ser um prazer.

Capítulo quatro




Encarei a entrada da casa de com um medo absurdo se apoderando dentro de mim. O que aconteceria?
Três semanas haviam se passado desde o momento em que eu havia aceitado ir comer os cookies do médico gostoso vulgo .
Ele aparecia todos os dias para buscar , e todos os dias eu precisava me controlar para não dizer que havia sido um surto e que, sim, eu queria me afundar nele e sentar naquele homem gigante com tanta força que eu nunca precisaria sentar em mais ninguém. Tomei mais um gole d’água de minha garrafa. Apenas iríamos fazer farofa e maionese. Nada sexual. Só aquele homem inteirinho.
Por que eu havia aceitado essa palhaçada?
Toquei a campainha antes que pudesse desistir.
Laís havia dito que eu não deveria me prender tão seriamente às regras. Considerei aquilo absurdamente anormal vindo dela. Regras mantinham o mundo em seu lugar. Flertar com ele havia sido a ação mais radical que eu havia tomado há anos.
— Você quer transar, ele quer te dar a chance de transar. Por que não? É só uma vez. Há outras fontes mais seguras e menos complicadas, mas vocês dois têm química. Isso não acontece sempre. Além do mais, vocês são adultos. Apenas não deixe passar de uma vez, . – Assenti em direção à minha amiga.
Imaginei se eu me contentaria com uma só vez com aquele homem. Ele claramente havia se mostrado disposto, mas o que eu diria? Eu havia dado um fora nele. Ele acharia que eu sou maluca.
— Pode entrar! – A voz robótica pelo interfone foi ouvida. Logo já havia fechado o portão atrás de mim.
Pensei na calcinha que usava. Ela não era ruim, mas não era boa demais. E eu não havia me depilado. Estava cheirosa, tomei um banho delicioso antes de sair, e minha pele estava hidratada. Será que conseguiria uma rapidinha?
— Você está linda! – arregalou os olhos ao me ver.
— Obrigada, mas são só roupas normais.
Não, não eram.
Eu havia colocado um dos meus melhores vestidos de verão e um sapato fechado preto. Minha bunda ficava magnífica naquele caimento e meus peitos praticamente pediam para ficarem quietos no canto. O jogo de sedução começa assim, não é?
— Bom, vamos lá. – Ele sorriu e abriu a porta da cozinha.
usava uma camiseta branca e uns shorts de malha e estava descalço. É, acho que ele não cogitou o que eu cogitei. Senti-me levemente derrotada. Acho que o momento realmente havia passado.
— Trouxe a farofa. – Mostrei o saco do supermercado. pegou de minha mão e sorriu.
— Obrigado. Eu nunca fiz maionese, como funciona?
— Você não sabe fazer churrasco?
— Não, eu só como o churrasco. – Ele admitiu ao dar de ombros – É mais fácil deixar que outras pessoas façam isso. Minha família nunca fez um churrasco.
— Eu concordo plenamente. Eu sou a churrasqueira lá em casa. – Peguei o avental que ele estendeu em minha direção enquanto pegava um outro para si. O avental de possuía o corpo de uma mulher com abdômen trincado e peitos gigantes. Arqueei a sobrancelha.
— Eu tenho algo pra te dizer. – Ele apontou para o avental e eu gargalhei – Eu tenho um avental de homem hétero.
— Gostei do meu. – Encarei o avental já em meu corpo. Era um homem com o abdômen definido e uma linha V que ficaria bem posicionada em meu corpo se eu não fosse mais baixa. O “V” ficou no meu estômago. Não foi legal.
— Hm, eu acho que combina com você.
— O seu combina com você também.
Começamos a cortar a cebola para o vinagrete. Separei os legumes para cozinhar. parecia focado em cortar cada legume corretamente. Cerrei os olhos para não observar enquanto ele cortava uma cebola com os dedos perigosamente próximos à faca.
— Você vai se cortar.
— Você podia vir aqui e me ensinar na prática, não é? – Ele provocou, os olhos descendo por meu avental – Aquelas coisas dos filmes que você fica atrás de mim com esse corpo perigosamente definido e me ajuda a cortar cebolas.
— Tenho certeza de que esses filmes se passam numa mesa de sinuca. – Argumentei, mas já me aproximava dele. O ar ao nosso redor pareceu ficar sufocante, e não por causa dos legumes cozinhando no fogão.
— Lidar com comida é mais divertido.
— Uhum. – Murmurei quando já estava pegando a faca de sua mão – Você não pode deixar seus dedos expostos.
Meu Deus, por que cortar cebola parecia um ato tão pornográfico naquele momento?
— Assim não é mais difícil? – Senti minha mão fraquejar quando o corpo de encostou no meu. Seu braço pairava ao lado do meu enquanto tentava cortar novamente a cebola da maneira como eu o havia ensinado, mas eu sequer prestava atenção naquilo. Apoiei minha mão no balcão quando a virilha dele encostou em minhas costas.
Um silêncio desgastante permaneceu ao nosso redor. O som dos legumes cozinhando era o único ouvido. Senti meu corpo arder em chamas quando tomei o impulso de mexer meu quadril contra seu corpo. As mãos de foram rápidas em segurar minha cintura, largando a faca sobre a tábua de madeira.
Rebolei meu quadril contra o seu mais uma vez, meu corpo sendo levemente inclinado para frente.
Respirei fundo quando a boca de encontrou meu pescoço desprotegido. Seus dedos seguraram firmemente meu corpo, e agradeci por isso. Eu sentia que podia desmontar. Os lábios dele subiram até minha nuca, seus dedos faziam carinho ao subir pelo meu tronco.
— Vira. – Sua voz rouca despertou em mim algo ainda mais visceral do que nas últimas três semanas. Virei-me lentamente, suas mãos não deixando o meu corpo um segundo sequer – Eu não aguento o quão gostosa você é. – Fechei os olhos lentamente quando sua mão segurou minha coxa, puxando-me para mais perto – Você tem ideia do quanto eu te quero agora?
— Me mostra. – Sussurrei. Coloquei uma mão em sua nuca, levantando meu corpo. Queria escalar aquele homem por inteiro e fazer com que ele me revirasse do avesso – Me come como você quis naquele dia. Não é só você que gosta de apanhar de pessoas bonitas.
Senti que a sanidade de foi para os ares no mesmo momento que a minha. Senti meu corpo ser apoiado com força contra o balcão, uma de suas mãos segurou minha nuca enquanto a outra me levantava, colocando-me em cima do apoio.
Pisquei em antecipação, abrindo minhas pernas e subindo o vestido involuntariamente para encaixá-lo melhor entre minhas pernas.
Ia puxá-lo para um beijo, mas seus lábios desviaram para minha clavícula.
— Você é o tipo de cara que não beija? – Questionei intrigada. Uma nova onda de prazer tomou meu corpo quando ele riu contra minha pele, o ar quente arrepiando minha pele úmida por seus beijos.
— Não é isso, princesa. – Ele depositou um beijo atrás de minha orelha. Segurei seu braço com força – Você não espera que a gente transe agora, não é? – Encarei-o atordoada, puxando-o para me olhar diretamente.
— É melhor você ter uma boa explicação para me deixar com tesão e fazer isso em seguida.
— Temos menos de uma hora até que eu precise ir buscar Ester. Quando formos transar, , vai ser em algum lugar digno, em algum momento em que eu tenha certeza de que te beijei em todos os lugares possíveis, de que te chupei até você não ter mais força alguma e de que você esteja pronta pra mim a noite toda. O dia todo se você quiser. – Ele se afastou, lavando as mãos na pia ao meu lado.
— Você vai me matar. – Sussurrei com falta de ar. Meu corpo inteiro parecia brasa viva quando ele voltou, seus beijos desceram levemente para meu colo, ameaçando descer ainda mais, mas voltando para meu pescoço de novo – Se você não me comer logo, eu juro que vou cuidar disso sozinha.
— Ah, é? E como pretende fazer isso? – Ele riu em minha pele novamente, voltando a me encarar. Tão perto. Eu poderia beijá-lo se me aproximasse, mas meu interior gritava por aquele jogo masoquista. Eu sentia meu corpo pulsando inteiramente por aquele momento, antecipando o toque íntimo de nossos corpos. Puxei-o para mais perto com as pernas, rebolando próxima a ele.
— Assim. – Peguei sua mão apoiada ao lado e a levei em direção ao meio de minhas coxas, raspando a ponta de seus dedos contra o tecido de minha calcinha – Você pode ser um bom menino e fazer isso por mim, ou eu posso fazer isso sozinha. – Deitei minha cabeça em seu ombro, descendo os carinhos de seus dedos para mais embaixo – Sua decisão.
Suspirei quando os dedos de começaram a realizar os carinhos sem minha ajuda, seus dedos raspando de leve pelo tecido já levemente molhado. Torci a ponta dos dedos do pé novamente quando sua outra mão abriu ainda mais minhas pernas. Ele estava cedendo.
Meu coração batia acelerado no peito, eu estava começando a sentir o suor em minhas costas, e só torcia para que o mundo sumisse ao nosso redor.
— Que tal um acordo? – Ele parou com as carícias, seus dedos parando ao puxar minha calcinha para o lado. Bufei frustrada.
— Meu Deus do céu, que cerimônia toda é essa?! – Exclamei já sem paciência. gargalhou.
— Me ouve, ok?
— Médicos são masoquistas, eu sempre soube. – Murmurei.
— Quero que use uma calcinha amanhã. – Encarei-o sem entender.
— Eu já uso calcinhas.
— Não, uma diferente.
— Que tipo?
— Uma que vibra. – Deitei a cabeça para trás e gargalhei, mas parei de gargalhar assim que percebi que ele falava sério.
— E onde vamos comprar isso?
— Algum sex shop.
A ideia me animava, não poderia negar. parecia ainda mais excitante daquela maneira. Encarei os olhos castanhos mais uma vez antes de sorrir.
— Topo.
— Sério? – Ele parecia surpreso.
— Por quê? Já tentou isso com outras mulheres e elas não toparam? – Provoquei com um sorriso. coçou a nuca – Médicos podem ser masoquistas, mas professores de matemática são completamente malucos. – Comentei – Ok, eu topo, e depois?
— Amanhã Ester vai dormir com a mãe. Podemos vir para casa depois do churrasco e passarmos o tempo que quisermos aqui.
— Hm, os prós são ótimos. E qual o lance com a calcinha?
— Quero você usando essa calcinha durante o churrasco. E ela é controlável por aplicativo. No meu celular. – Arregalei os olhos.
— Você vai me masturbar durante um almoço com os pais dos meus alunos? – sequer hesitou. E aquilo só deixou meu corpo mais ansioso – Você compra. – Argumentei. riu e assentiu. Eu estava ficando louca.
— É o mínimo. Você é quem vai estar se contorcendo para sentar em mim amanhã, afinal de contas. – Seus dedos enrolaram uma de minhas tranças em seus dedos.
— Nem um beijinho? – Provoquei, mas parecia incrivelmente controlado. Uma situação de espírito totalmente diferente da minha. Sentia-me frustrada, excitada, animada. Eu poderia dar cinco voltas ao redor de uma quadra de futebol sem derrubar uma única gota de suor.
— Não. Ah, e você não pode se masturbar hoje. – Ele pareceu em estado de puro deleite ao ver meu rosto chocado.
— Você tá brincando.
— Eu não vou me masturbar, você também não vai. – Pisquei algumas vezes, incrédula.
— Sem chance. – terminou de lavar as mãos e voltou a se colocar na exata posição anterior, sua mão brincando com o tecido de minha calcinha novamente.
— Hm, por favor, . – Um dos dedos de afastou minha calcinha para o lado, encontrando a pele quente e molhada contra seus dedos gelados pela água. Seus olhos não deixaram os meus, nem quando eu ameacei fechá-los – Olha para mim. – Abri meus olhos novamente. Soltei um suspiro involuntário quando seus dedos prenderam meu clitóris, friccionando contra seu toque – Não sei se aguento até amanhã. – Ele suspirou quando rebolei contra o toque de seus dedos. Estava inebriada.
— Não, espera. – Usei todas as forças do meu corpo para afastá-lo – Amanhã, eu espero. – Meu coração acelerado me traía, meu corpo inteiro estava pronto para recebê-lo. Segurei sua mão e percebi que seus dedos estavam melados. Levei os dois aos meus lábios, a ponta de minha língua acariciando seus dedos. acompanhou o movimento com os olhos, seu corpo demonstrando toda a luxúria que nós dois carregávamos.
— Se nós vamos nos segurar até amanhã, precisamos parar. – Assenti. Usei toda a força inexistente dentro de mim para sair de cima do balcão. Fui em direção ao fogão, os legumes estavam praticamente queimados.
— Acho que vamos precisar fazer de novo. – sorriu e assentiu.
— Quantas vezes você quiser.

Capítulo cinco




Dormir foi a pior parte daquela noite, sem sombra de dúvidas. Fechei os olhos, mas somente o que me vinha à mente era o corpo de recebendo o meu. Imaginei seus olhos revirando enquanto me enterrava nela, apenas para sair novamente e comê-la mais uma vez. Devagar. Com calma. Durante todo o tempo que ela quisesse.
No caminho para a psicóloga no dia anterior, antes de deixar em casa, fomos ao sex shop. Fazer compras de uma calcinha vibratória ao lado dela seria demais para meu corpo, então pedi para ir por ela e fazer uma surpresa. topou com o mesmo olhar atormentado que ela havia me lançado mais cedo. Eu estava doido para vê-lo novamente em seu rosto.
Escolhi uma calcinha preta. Certifiquei-me da qualidade da marca, baixei o aplicativo em meu celular. A moça foi muito paciente ao me explicar cada passo. Saí da loja balançando a embalagem para no carro. Ela ficou vermelha de vergonha.
— Eu apareço com isso amanhã, é isso? – Assenti e entreguei em suas mãos – E como vou saber quando você começar com isso?
— Você vai sentir, princesa.
— Se você não quer que eu monte em você agora, pare de me chamar de princesa com essa voz.
— Que voz? – Provoquei com um sorriso. revirou os olhos. Como eu adorava quando ela fazia aquilo.
— Essa voz de quem vai me atormentar com essa calcinha.
— Ah, você não tem ideia.
Pisquei algumas vezes na manhã seguinte. Eu sequer sabia por onde começar com ela, queria testar de tudo com , levá-la ao céu e ao inferno no mesmo minuto, comê-la devagar como ela merecia.
Foi uma tortura chegar ao churrasco sem desistir de tudo e chamá-la para ir lá para casa, mas a imagem dela se contorcendo em uma mesa por se segurar para não gozar era demais para mim. Eu precisava daquilo. E foi com esse pensamento puritano que cheguei ao local do churrasco. A casa da mãe de Celeste (eu ainda não sei o nome dela) era enorme, maior que a minha ainda. Era um dia quente de domingo, então crianças e famílias estavam na rua do condomínio fechado.
Ester havia saído com sua mãe naquele dia de manhã, e ela só estaria de volta no dia seguinte. Além da calcinha, eu havia comprado lubrificantes, camisinhas e algumas outras coisas que eu achei que poderíamos usar.
— Olha isso, você é realmente prendado! – A anfitriã me recebeu com um abraço.
— Pois é, eu tive ajuda de uma mulher incrível para cozinhar.
— É tão lindo como você fala de sua filha. – Segurei o riso e assenti. Segui-a pelo caminho de terra até a lateral da casa, em direção à churrasqueira. E foi quando a vi.
Ela estava deslumbrante. Usando um vestido vermelho rodado com um salto preto, senti que poderia largar tudo ali para levá-la embora. Calma, respire. Foi o que disse a mim mesmo.
encarou-me rapidamente e voltou a conversar com uma das mães. Ela estava sem as tranças, percebi após um certo tempo. Os cabelos cacheados estavam presos em um rabo de cavalo. Lembrei-me da mensagem que ela havia me mandado na noite anterior.
“Vou pronta para te ajudar com meu cabelo.”
Ela ia me matar.
— Onde posso deixar as coisas? – Fui guiado até a churrasqueira. Os pais e professores estavam ali. Muitos tomavam cerveja e assistiam ao jogo de futebol ao vivo passando na televisão.
Enquanto conversava com eles, não pude tirar o apetrecho em minhas mãos de minha mente.
— Preciso conferir algo, só um minuto. – Afastei-me levemente deles, abrindo o aplicativo. Encarei de soslaio, ela estava sentada em uma das cadeiras altas próximas ao bar. Sorri discretamente e apertei o botão da primeira potência, a mais leve.
Percebi quando ela cruzou as pernas. Sorri vitorioso. Ela não demorou para encontrar o meu olhar, seus dentes prendendo o lábio inferior entre os dentes quando aumentei a potência do vibrador.
— Desculpe, eu precisava cuidar de um negócio. – Desculpei-me assim que voltei à roda, dessa vez em uma posição na qual poderia ver se contorcendo.
— Cara, você pode trazer o cooler com as cervejas? – O marido da anfitriã, Perseu, pediu. Assenti. O cooler estava no bar, próximo à . Peguei meu celular e aumentei a potência em dois graus. Observei cerrar os punhos contra o balcão, sua mão percorrendo inquieta seu rosto. Ela parecia estar ficando vermelha.
Diminui a velocidade mais um pouco ao levar o cooler na direção deles. Aproximei-me de Carlota e enquanto sorria e acenava com uma mão, aumentando a potência do vibrador com a outra. soltou um gritinho quando coloquei na velocidade máxima. Ela parecia alarmada.
— Está tudo bem? – Carlota perguntou preocupada no mesmo momento em que cheguei.
— Aconteceu algo? – Perguntei com falsa inocência em direção às duas. balançou a cabeça e se esforçou para colocar-se em pé. Seus olhos prometiam um derramamento de sangue mais tarde. Eu mal poderia esperar.
— Eu acho que sentei em algo. – comentou e não pude controlar a gargalhada presa em minha garganta. Carlota franziu o cenho.
— Está tudo bem?
— Sim, sim. Desculpe-me. Fico feliz que tenham me convidado para esse evento. – Comentei em direção à Carlota – É bom que pais e professores possam se tornar mais íntimos. Nós podemos vibrar juntos pelas conquistas um do outro. – Nesse mesmo momento, coloquei o modo vibração intercalada no aplicativo com uma das mãos, bloqueando o celular em seguida. parecia prestes a explodir.
— Você tem razão! Acho que precisamos vibrar mais uns pelos outros, sabe? Somos muito competitivos por natureza. – Carlota concordou.
— O que você acha, ? – Questionei.
— Uhum, ótimo. Tem razão. – Observei uma gota de suor escorrer entre seus seios.
— Carlota, sabe se tem algum banheiro lá dentro? – Questionei.
— Ah, sim, suba o primeiro andar e vire à direita.
— Acho que preciso ir também, estou com cólica. – Aquilo pareceu um código secreto entre as duas, pois Carlota sequer questionou quando adentramos na casa sozinhos. Enquanto subíamos a escada, deixei minha gargalhada preencher o local – Você está achando isso engraçado?
— Hilário. – Admiti – Você deve estar super molhada, não é? – Questionei quando já ninguém poderia nos ver ou ouvir.
abriu a porta do banheiro, e entrei atrás dela após perceber que ninguém nos seguia.
— Isso não é seguro. E se alguém nos vir aqui? – Ela questionou verdadeiramente nervosa. Parecia estar surtando.
— Diz que estava vomitando e eu estava te ajudando.
— Por que eu preciso vomitar?
— Ok, eu vomito.
— Não, faz mais sentido eu vomitar. – Ri pelo nariz.
— Como se sente?
— Excitada pra caramba.
— Hm, gosto disso.
— Quer sentir? – Encarei-a seriamente. se divertiu com meu olhar atordoado, rindo em seguida. encostou-se contra a parede e apoiou seu pé sobre a tampa do vaso sanitário. Engoli em seco ao me aproximar. Ela parecia infinitamente mais confiante. Suspirei ao senti-la por trás da calcinha. estava inchada e molhada, sua intimidade pulsava em meus dedos.
— Tão gostosa... – Comentei ao mexer meus dedos. rebolou contra eles com um suspiro aliviado.
— Acha que podemos vazar daqui agora? – Perguntou.
— Só quero fazer mais uma coisa antes. Sente em meu colo. – Sentei-me na tampa do vaso com as pernas abertas. assentiu, sentando-se de frente para mim, seus peitos na minha cara. Aproximei-me devagar e lambi a carne exposta próxima a cada um – Quero ver sua carinha quando gozar na calcinha. – arregalou os olhos, mas não questionou quando acelerei a vibração, seu corpo tremendo e rebolando contra meu pau enquanto ela se aproximava do orgasmo.
— Para, não quero gozar agora. – Ela pediu quando começou a rebolar mais forte em mim. Deitei minha cabeça para trás, encostando na parede.
— Vamos embora. – Falei seriamente.
— Diga que eu estou vomitando e que você vai me levar ao hospital. – Assenti.
Abri a porta do banheiro, não havia ninguém ao redor. desceu primeiro.
Desci apressadamente com minha melhor cara de preocupação.
— Não acho que seja nada sério, mas ela passou bem mal. Pode estar desidratada. Vou levá-la para tomar soro e devo comprar Gatorade no caminho. – Tranquilizei os presentes – Espero que a maionese esteja boa! – Despedi-me rapidamente e praticamente corri até o carro.
já me esperava ao lado do carona, como eu havia dito que esperasse. Ela balançava a chave nos dedos. Ao nosso redor, as pessoas já pareciam estar entrando em casa.
O sol despontava amarelado e laranja ao fundo, o asfalto e as casas pareciam nos aprisionar. Entrei no carro no mesmo instante em que deixou a chave cair dentro de seu decote.
— Opa. – Ela disse sem me encarar – Pega, querido. – Pisquei algumas vezes, mas direcionei levemente minha mão em sua direção. Ao redor, qualquer um poderia nos ver, mas ela realmente não parecia se importar. Toquei sua pele por dentro do decote, sentindo o gelo da chave em seu seio esquerdo. Precisei respirar fundo antes de ligar o carro.
— Chegamos em quinze minutos. – Comentei.
— Uhum. – Encarei-a de soslaio, percebendo que ela tinha a mão dentro do vestido, tocando a si mesma.
— Você vai acabar gozando. – Falei com o fiapo de sanidade que me restava ao atravessar um farol.
— Não vou não. – Ela suspirou ao deitar a cabeça para trás – Mas estou quase. Nunca pensei que fosse precisar me segurar para não gozar. – Ela comentou com um riso rouco – Diga, o que exatamente vamos fazer quando chegarmos?
— Primeiro vamos te fazer gozar, que tal? – Ela assentiu.
— Isso seria bom. – gemeu mais uma vez ao encontrar um ponto sensível. Encarei meu próprio pau, que já começava a crescer em minha calça.
Chegamos rapidamente, e mal pude esperar abrir a porta antes de atracar-me com contra a parede da garagem. Seu beijo era desesperado, seus lábios pareciam querer me devorar mais ainda.
Senti meu lábio inferior ser puxado levemente. Suspirei contra seus lábios, segurando suas coxas com força, puxando-a para mais perto. Seu corpo, por mais que fosse menor que o meu, tentava subir o máximo possível, escalando meu braço e minhas pernas.
Abri a porta desajeitadamente. Larguei as chaves em cima do balcão de qualquer jeito, segurando o ímpeto de tirar as roupas dela ali mesmo.
— Como você prefere gozar primeiro? – Perguntei diretamente ao nos encararmos, agora já na sala. Em cima da mesinha de centro se encontravam as camisinhas, as bolinhas, os lubrificantes. Tudo estava ali.
— Na sua boca. – Ela respondeu sinceramente – Ou nos seus dedos.
Aproximei-me dela devagar, inclinando-me para beijá-la mais uma vez. Dessa vez, mais calmo. Acariciei sua cintura, levando seu vestido com minhas carícias. Afastei-me para tirá-lo completamente de seu corpo. A calcinha preta estava perfeitamente marcada em sua bunda. Seus seios estavam cobertos por um sutiã parecido com a calcinha. Fixei-me ali por alguns segundos, descendo para sua barriga desnuda.
— Você vai me deixar com vergonha. – Ela sussurrou, as mãos arrumando seu rabo de cavalo enquanto aproximava-se de mim. Seus braços enlaçaram meu pescoço, beijos foram depositados em meu queixo, meu pescoço. Suas mãos tiraram minha camisa por mim. Terminei o trabalho ao jogá-la no chão.
me encarou seriamente antes de me beijar novamente, guiando-me para o sofá. Seu beijo era lento e demorado, sem pressa. Completamente hipnótico. Ela se sentou abrindo as pernas para mim. Sorri ao aproximar-me dela. Beijei sua coxa, meus lábios depositando lambidas leves e beijos molhados contra sua pele. Encarei-a debaixo, seus olhos encarando os meus em antecipação. Puxei a calcinha pelas laterais, descendo-a ao longo de suas coxas grossas. Sorri ao vê-la totalmente aberta para mim. Agachei-me e abri mais suas pernas, colocando-as sobre meus ombros. Mordi levemente seu clitóris, lambendo-o em seguida. rebolou em minha boca, um gemido involuntário saindo por seus lábios entreabertos. Segurei suas coxas enquanto ela convulsionava contra meus lábios, suas mãos segurando meus cabelos involuntariamente.
— Isso, cacete. – Ela murmurava enquanto sua respiração acelerava. Simulei a penetração com a língua enquanto ela apoiava um pé no chão, dando-me espaço para usar a outra mão para beliscar seu clitóris. soltou um gritinho quando realizei os dois movimentos ao mesmo tempo. Observei hipnotizado quando seus olhos encontraram os meus e ela sorriu, rebolando propositalmente contra minha boca. Senti sua respiração se acalmar aos poucos enquanto ela ainda rebolava contra meu rosto, curtindo seu orgasmo. Ela passou os dedos por entre meus cabelos. Lambi sua intimidade mais uma vez, a ponta de meu nariz também melada. Afastei-me apenas para encará-la aberta diante de mim.
sorriu safada em minha direção e puxou meu corpo para cima, beijando-me. E que beijo delicioso. Sua língua na minha era a coisa mais erótica que eu já havia experimentado. Sua mão foi em direção à minha cueca, empurrando minha calça para baixo.
— Fica de pé. – Ela ordenou, completamente inebriada. Eu via ao redor de seus lábios que ela estava lambuzada. Suas mãos se afastaram apenas para pegar uma das camisinhas em cima da mesa de centro, abrindo-a facilmente. Suas mãos desceram minha calça e cueca, permitindo que meu membro quase todo ereto praticamente batesse em seu rosto. desenrolou a camisinha e a colocou em meu pau, dando pequenos beijinhos por onde passava.
Fechei os olhos e segurei com força seus cabelos quando ela começou a lamber a cabeça, demorando-se enquanto acariciava levemente minhas bolas, sugando minha cabeça novamente com delicadeza. Gemi baixinho quando ela pediu que eu metesse em sua garganta aos poucos. Comecei devagar, deixando que ela se acostumasse. Mantive meus olhos vidrados no dela quando ela começou a usar a mão para ajudar.
— Puta merda, você é tão gostosa. – Gemi inevitavelmente enquanto metia na boca dela. Ouvi-a engasgar levemente, então desacelerei. Puxei seu cabelo com mais força quando sinalizou que era ok meter de novo. Gemi descontrolado quando ela começou a se tocar enquanto me chupava. Os sons que ela realizava reverberavam pelo meu corpo. Tirei meu pau de sua boca – Deixa eu gozar no seu peito.
— Espanhola? – Ela questionou com um sorriso, já se colocando de joelhos novamente. Suas mãos seguraram seus seios, prendendo meu pau entre eles. Comecei a investir ali, a fricção de seus peitos implorando para que eu gozasse. Gozei logo em seguida. retirou a camisinha devagar e lambeu meu pau melado de cima abaixo. Acariciei sua bochecha.
— Próxima vez quero gozar na sua boca. – Falei ao beijá-la novamente, deitando-me por cima de seu corpo. Permanecemos ali por minutos, nossos corpos friccionando um contra o outro. Beijei-a de novo e de novo, totalmente imerso em seu gosto e em seus lábios. Ela se levantou para usar o banheiro. Permaneci com minha cabeça apoiada contra o sofá, acariciando meu pau até que ela voltasse.
Ela era a mulher mais linda do mundo, eu tinha certeza. Seu sorriso cresceu quando se sentou novamente contra meu colo, seus seios já estavam em minha boca antes que eu percebesse. Segurei o bico de seu mamilo entre os dentes, passando a língua ao redor.
— Morde com mais força, . – Ela pediu enquanto voltava a rebolar com seu quadril. deitou sua cabeça para trás quando mordisquei com mais força seu mamilo.
Eu segurava os cabelos dela enquanto Agatha me masturbava, seus lábios contra os meus o tempo todo, sorrindo e mordiscando minha orelha.
— Mete em mim. – Ela pediu após alguns minutos quando ambos já estavam descansados e prontos para a próxima. Observei enquanto suas mãos masturbavam novamente meu pau.
— Vamos fazer isso na cama. Você é meu banquete, . Eu quero te ver inteira enquanto te como. – sorriu preguiçosa, sua mão segurando meu pau voltando a se preparar para ela. Ela me masturbou preguiçosamente a fim de me preparar para pôr a camisinha novamente.
— Me come olhando nos meus olhos. – Ela pediu, sua voz doce contrastava com seu pedido, e aquilo me fascinou ainda mais. Coloquei outra camisinha, aplicando o lubrificante em seguida.
Subimos juntos para o quarto em meio a beijos mais desesperados e urgentes. se deitou na cama com as pernas abertas. Tive uma visão completa dela. Meu Deus, que visão. Aproximei-me, colocando seu quadril sobre um travesseiro. Segurei meu pau e apenas brinquei com ele em sua entrada, sorrindo para .
— Peça, princesa.
— Não. – Ela afirmou com um sorriso quase de outro mundo.
— Vamos lá... – Provoquei de novo, colocando apenas a ponta dentro dela e saindo em seguida.
— Me come, . – Ela disse.
— De novo. – Disse. revirou os olhos e levou seu dedo ao seu clitóris, acariciando-o em minha frente.
, me come. – Ela pediu chorosa. Revirei os olhos de prazer ao penetrá-la. Ouvi meu nome como um gemido em seus lábios, mas não entendi direito, estava completamente extasiado. Senti que ela estava confortável, então comecei a meter devagar, seu corpo reagindo ao meu devagar.
— Não está machucando, não é? – Perguntei. negou.
— Faz isso de novo. – Ela pediu ao gemer. Ela gemeu novamente, dessa vez mais alto. Permaneci ali, mas devagar. encarou-me firmemente. Observei chocado quando ela cuspiu em seus próprios dedos e começou a puxar seus mamilos, sem tirar os olhos de mim por um segundo – Você está uma delícia me encarando assim, sabia? – Provocou com um sorriso.
Mas eu não tinha ideia. Eu podia morrer ali, e não me importaria. Comecei a movimentar-me mais rápido, segurando suas pernas ao redor de minha cintura. Gemi alto quando ela apertou seu sexo ao redor do meu, de novo e de novo.
— De quatro. – virou-se, colocando-se ajoelhada na cama com as costas contra meu peito.
— Mete em mim assim, .
— Certeza? – Questionei. Ela assentiu. Segurei seu pescoço ao entrar novamente nela. Deitei a cabeça em seu ombro, meu corpo já começando a cansar. Meu Deus, ela iria me deixar morto. se agachou um pouco. Segurei seu cabelo com força, puxando-o em minha direção enquanto tentava controlar a velocidade dos movimentos. Seus gemidos preenchiam o quarto. Acariciei seu clitóris enquanto ela apertava seus próprios mamilos. Gemi em seu ouvido, puxando o lóbulo de sua orelha – Aperta sua buceta no meu pau. – Usei a mão com que a masturbava para bater em sua bunda. O estalido a fez gemer mais alto. Suspirei quando ela se apertou contra mim, rebolando contra meu pau deliciosamente, como somente ela poderia fazer.
— Eu vou gozar, . – Ela avisou com um gemido sofrido – Deixa eu gozar sentando em você. – Pediu. Afastei-me dela rapidamente, sentindo que não demoraria a gozar também. Sentei-me na cama, encostado na parede cinza. engatinhou em minha direção, praticamente enfiando seus seios em meu rosto enquanto se encaixava em mim. Gememos sôfregos quando ela começou a rebolar – Deixa a mão atrás da cabeça. Você me fez gozar lá embaixo, quero te fazer gozar agora. – Encarei sem palavras enquanto ela seguia o próprio ritmo. Observava em êxtase quando ela subia e descia, seu sorriso em minha direção e suor escorrendo por entre seus seios, suas mãos estavam apoiadas em meu peito quando ela jogou a cabeça para trás ao atingir um ponto específico de prazer para nós dois. Eu sequer sabia que aquilo era possível.
Usei uma de minhas mãos para dar um tapa em sua bunda. Ela gemeu e riu. Comecei a investir involuntariamente, sentando-me novamente para puxá-la para perto. Parecíamos um, ali, enquanto ela rebolava contra mim. Ela mordeu meu ombro com força quando gozou, sua respiração ofegante misturada à minha enquanto investia contra ela. Mas ela não me deixou terminar sozinho. Gemi contra seus lábios ao gozar, meu corpo desmontou-se na cama próximo ao dela. Permaneci acariciando seu clitóris sensível enquanto ainda tomava minha respiração, suas pernas tremendo involuntariamente quando atingia algum ponto sensível.
— Deveríamos fazer isso mais vezes. – Comentei com a respiração irregular – Dessa vez podemos fazer em uma reunião de pais.
— Há! – Ela riu, sua respiração igualmente desregular. Ela virou para mim e me beijou, seus seios molhados roçando contra meu braço, ela revirou os olhos ao atingir um ponto sensível em seu clitóris – Isso aqui não vai acontecer de novo. – piscou para mim, deitando-se de barriga para baixo e se afastando do meu toque.
— O quê? Você não quer que isso se repita? – Arqueei a sobrancelha. Droga, eu precisava usar o banheiro.
— Eu não vou arriscar meu emprego por duas trepadas.
— É isso o que você acha que eu quero? – Franzi o cenho.
— Você se divorciou há dois anos! Não tem aquela fase "vou transar com todas"? – depositou um beijo em meu mamilo, circulando ao redor com a língua.
— Já passei dela.
— Ahã, tá bom.
— É sério.
— Além do mais, você acha que isso vai ficar em sigilo, de verdade?
— Se você não falar, sim.
— Eu não tô falando de você – me fitou seriamente.
— Ester não vai falar nada! Ela nem vai descobrir.
— Ah, porque você realmente conhece garotas de 12 anos, não é?
— Como assim?
— Elas são fofoqueiras, ! Elas conversam umas com as outras e falam com as professoras também.
— Ah, isso não acontece com a Ester. Inclusive, ela é ótima em guardar segredos.
— Então por que o corpo docente inteiro sabe que você tem uma sunguinha, nas palavras da própria Ester, da cor do arco-íris?
— Mas como-
— A festa do pijama na sua casa rendeu uma semana de meninas vindo na minha mesa falar mal da UNICAMP porque você disse que era uma faculdade chata. – riu e beijou meus lábios novamente – Aproveite-se de mim o quanto quiser hoje, querido. A partir de amanhã é uma nova semana, e isso – ela apontou para nós dois – nunca vai ter acontecido.
— Você tem certeza? – Questionei levemente decepcionado.
— Sim. Sou uma professora de matemática, sei que quando 1+1 der 2 é uma conta correta. No nosso caso, 1+1 é 3. Não é certo.
— Que analogia ótima para me dar um fora. – deu de ombros – Porque se você me dissesse que 1+1 é 3, eu acreditaria.
— Isso é burrice. – comentou.
— Pois é, mas o que vou fazer? 1+1 pode ser 3 na nossa equação. – fechou os olhos.
— Só cala a boca e me beija, . Ainda falta alguns lugares nessa casa para você me apresentar. – Ri e a beijei novamente. E mais uma vez, sem parar. Eu não sabia se ela realmente só gostaria de transar comigo naquele dia, mas eu garantia que estava pronto para tê-la para mim outras vezes. Quantas ela quisesse. Poderíamos nunca chegar às duas transas, pulando para a terceira. Afinal de contas, 1+1 pode sim ser 3.


Fim.


Nota da autora: Minha primeira restrita. Quem diria! Obrigada ao grupo das meninas pelo apoio. Espero que tenham gostado! Não chegou a ser shortfic, mas é quase isso! Um beijo para vocês, querides. Ah, leiam minhas outras histórias se quiserem. São mais do que bem-vindes.




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