Última atualização: 18/05/2018

Prólogo

I close my eyes and the flashback stars

Aqueles olhos e profundos me fitavam com tanto interesse e tanta curiosidade que senti minhas bochechas esquentarem, contrastando com o frio que passava pelo meu corpo.
Eu estava sonhando? Quer dizer, era impossível que ele estivesse ali, bem na minha frente, com os malditos olhos que mexiam com a minha cabeça.
Andei em sua direção, sem pensar muito.
Ele estava apoiado no grande carvalho, como se estivesse esperando por mim desde o princípio.
De alguma forma, eu sentia que também estava esperando por ele.


Parte 1

I was begging you, please don't go

A Princesa estava correndo por seu quarto — desesperadamente e um pouco atrapalhada —, atrás do batom que parecia estar fugindo dela. Xingou alto ao bater o dedo no móvel, ignorando o fato de sua mãe, a Rainha, tê-la proibido de falar coisas desse tipo. Ela não se importava. Só precisava achar o batom.
Sentou-se na cama, suspirando. Por que tudo dava errado quando estava com pressa?
?
A porta de seu quarto abriu e , sua melhor amiga desde que se conhecia por gente, entrou. levantou os olhos para a amiga, que retirava a máscara do rosto.
! — se sentou ao seu lado — Você precisa se apressar. Todos estão esperando você descer.
— Eu não gosto disso. — fez careta — Não consigo nem achar meu batom, esse vestido está me pinicando e essas cintas não me deixam respirar.
— Pensa assim: quanto mais rápido você descer e encarar, mais rápido isso acaba.
— Faz sentido.
— É claro que faz! — sorriu — Sou eu quem está dizendo!
riu enquanto fazia-a levantar ir colocar seus sapatos de salto, totalmente desconfortáveis. Ela preferia sentir o chão sob seus pés, mas não podia.
Não podia fazer o que tinha vontade em seu próprio aniversário.
encontrou o batom vermelho de dentro de uma das gavetas de sua cômoda, onde as cintas e roupas íntimas ficavam. devia ter deixado cair sem perceber. revirou os olhos, sorrindo de lado.
, achei seu batom!
— Ah, ! — levantou-se da cama, tropeçando nos próprios pés — Eu já disse que te amo?
— Milhares de vezes. Agora vem aqui, vou passar o batom para você.
— Nem pensar! — fez careta — Tenho 21 anos agora, posso passar batom sozinha.
— Amiga, faz menos de 24h que você tem 21 anos. Não se sinta tão adulta.
— Você ainda não fez 21, sou mais adulta que você.
— Mas eu sou mais alta.
As duas olharam uma para a outra e riram da discussão “adulta” que estavam tendo. agradeceu por ter encontrado o batom e passou-o cuidadosamente.
Era a noite do Baile da Princesa . A noite que a Princesa se tornaria adulta o bastante para começar a tomar atitudes de Princesa e futura Rainha, já que, um dia, o Reino seria seu. não tinha nenhum irmão ou irmã, nem nenhum outro parente do sexo masculino que pudesse assumir o trono, então o Rei fazia questão de que sua filha assumisse tudo que tinha quando ele morresse. ficava orgulhosa por saber que seu pai confiava nela a esse ponto, mas temia fazer ago errado. Mesmo assim, nunca pensou que estaria tão perto de assumir o reino. Estava fazendo 21 anos e, finalmente, começaria a treinar para ser Rainha. Seus pais podiam dizer o que quisessem — coisas como “esse baile é para você” e “o único objetivo disso é te prestigiar” — mas sabia que era onde ela deveria escolher um pretendente. Alguém que fosse bom o bastante para ser um Rei.
Ela estava muito assustada com a possibilidade de não encontrar ninguém ou encontrar alguém errado.
O Rei não queria que escolhesse algum rapaz por sua aparência, então exigiu que todos usassem máscaras. A única exceção era a própria Princesa, já que aquela era sua festa e todos deveriam prestigiá-la.
colocou sua máscara e acompanhou até o salão principal do Palácio, onde a festa estava acontecendo, uma música calma preenchendo o ambiente, tornando tudo mais agradável. As pessoas riam e pareciam se divertir e apreciar o banquete farto que o Rei estava servindo aos convidados.
Todos, menos a própria .
não tinha nada contra os pais ou suas vontades; ela tinha algo contra a sociedade que administraria em alguns anos. Estava cansada de ser atingida por sorrisos falsos, vindos de pessoas falsas, que só estavam interessadas em status sociais, terras e riquezas. achava tudo uma tremenda chatice.
— Boa sorte, Princesa. — murmurou ao se afastar de , que deveria descer as escadas principais do salão para sua “grande entrada”.
— Obrigada. Vou precisar. — sussurrou, apesar de já estar longe, descendo outra escada, no canto do salão.
ficou parada no pé da escada, onde todos podiam vê-la. O Rei e a Rainha estavam na outra ponta, esperando que outra música começasse a tocar para que pudesse descer. As escadas douradas estavam cobertas por um manto vermelho de veludo, feito com a linha mais cara do Reino, tudo só para .
Ela não estava se importando.
A música parou e todos olharam para escada. não conseguiu reconhecer ninguém devido às máscaras que todos usavam, mas, confirmando suas suspeitas, o número de rapazes era bem maior do que o número de moças. A Princesa quis revirar os olhos, mas alguém poderia acabar vendo, então se conteve. Abriu o sorriso falso mais convincente que tinha e, quando a música dos órgãos, flautas e violinos começou a soar suavemente pelo salão, desceu as escadas, erguendo a ponta de seu vestido dourado, tentando não olhar para o chão. Estava com medo de cair, não porque estava no meio de quase 1000 pessoas que esperavam tudo dela, mas sim porque queria andar a cavalo no dia seguinte, e não conseguiria montar se estivesse com a perna machucada.
Não é preciso dizer o quanto ficou aliviada ao descer o último degrau.
O Rei sorriu para e pegou sua mão quando a filha sorriu para ele. Abraçou a garota e sussurrou desejos de felicidade em seu ouvido, depois foi a vez da Rainha. Todos esperavam em silêncio, apreciando o que acontecia na ponta da escada. se sentia uma aberração em um show particular. É claro que o sorriso ainda estava em seu rosto.
— Hoje, minha filha, , se torna uma Princesa. — o Rei começou seu discurso, falando alto para que todos pudessem ouvir. O som ressoava pelo salão, já que sua voz era forte e imponente — completou 21 anos e em poucos anos, será a nova Rainha do Reino. — olhou para , que estava bem ao seu lado, mas continuou a gritar — Filha, hoje você se tornou uma mulher tão bela quanto sua mãe e uma pessoa tão sábia quanto eu. Espero que, um dia, possa governar o Reino como eu e sua mãe fazemos.
sorriu para seu pai, agradecendo suas palavras e então se virou para a multidão, que a encarava, esperando que cometesse algum deslize, uma falha, ou qualquer coisa que a constrangesse no meio de tanta gente. Seus olhos se estreitaram e limpou a garganta discretamente, se preparando para falar o que sentia que era certo.
— Eu, , prometo ser a melhor Princesa que o Reino já teve e, no futuro, serei a melhor Rainha que já pisou por aqui. Prometo tirar as pessoas das ruas e fazer nosso Reino crescer o bastante para conquistar os países ao Sul. Prometo não deixar que as atividades econômicas do nosso amado Reino morram. Mas, mais do que isso, prometo que terão orgulho em chamar de Rainha.
A multidão soltou exclamações agitadas e um coro de palmas foi ouvido. surpreendeu a todos, inclusive a seu pai, que — honestamente — não esperava tudo isso de sua filha. As palavras apareceram para , como se ela tivesse nascido só para dizer aquilo.
Mas era fácil. Todos sabiam mentir um pouco.
— Agora, eu, Rainha , declaro o início oficial do Baile da Princesa . — a Rainha anunciou.
Na mesma hora, a música voltou a tocar e as pessoas começaram a se dispersar. Uns comiam, outros dançavam, outros cochichavam — a final, falar dos outros e fazer fofoca era a atividade mais praticada no Reino — e só queria encontrar .
Aquela festa era a mais comentada do ano, para não dizer do século. Todos os presentes ali se sentiam prestigiados e não haviam penetras. As pessoas mais importantes da região estavam ali e até pessoas de outros Reinos. Todos eram bem vindos.
Ou quase todos.
, ! — ouviu chamando-a. Agradeceu mentalmente por ter achado a amiga. Despediu-se educadamente de Blair, a garota com que conversava e foi atrás da voz de , encontrando-a perto da mesa do banquete. estava um pouco pálida.
— Que bom que te achei, . O que aconteceu?
— Você já ouviu os boatos? Estão dizendo que há um aqui.
— Um ? — estreitou os olhos — Um , tipo um membro do Reino do Rei ?
— Isso mesmo, !
— Isso é impossível. Não há penetras na festa. Os seguranças já mais deixariam um entrar aqui. Isso sem contar que os não teriam coragem de pisar em nossas terras.
— Não de acordo com o resto do salão. — balançou a cabeça — Enfim, o que eu ouvi foi que ele quis desafiar o pai e acabou parando aqui. Você sabe que o Baile de hoje não era nenhum segredo, já que seu pai gritou isso aos quatro ventos. Todos sabiam sobre hoje. Qualquer um com máscara e vestido a caráter pode entrar, .
— Não. — balançou a cabeça — Isso é impossível, . Impossível! Os convidados têm nome na lista!
— Ele pode ter usado um nome falso. Não há como provar.
suspirou, olhando em sua volta. Centenas de pessoas mascaradas cercavam-na e ela era a única que estava com o rosto à mostra. O resto das pessoas usava máscaras dos mais variados tipos e jeitos, deixando-a confusa.
— Quem viu o ? — perguntou para , sentindo-se derrotada.
— Esse é o problema. Ninguém viu. Ninguém sabe como ele está vestido nem que máscara ele está usando.
— E como têm tanta certeza de que ele está aqui? As pessoas falam mais besteira do que meus ouvidos aguentam ouvir, por Deus!
, me escuta. Há um aqui. Tome cuidado.
— O que um pode fazer? — revirou os olhos — O máximo é tentar falar comigo e assim que eu perceber quem ele é, chamarei a segurança e ele vai apodrecer nos calabouços. Não há o que temer, . — sorriu para a amiga — Aproveita a festa, ok? Não se preocupe com nada.
assentiu e as duas mudaram de assunto. não admitiria, mas estava sim com certo medo. Ninguém sabia do que os eram capazes.
O Reino era dividido em três partes. A parte pertencente ao Rei era a parte do Norte, onde era também chamado de o Reino dos Sábios, graças a inteligência dos Reis que já governaram aquela parte do Reino. A segunda parte, localizada no centro, era pertencente ao Rei , parente do Rei , onde o Reino era conhecido como o mais belo de todos, por causa da beleza excessiva dos habitantes daquela parte do Reino e dos Reis e Rainhas que dominavam o lugar. O Rei e o Rei eram muito amigos, então tinham planos para juntar os dois Reinos em um futuro próximo, provavelmente através de um laço de matrimônio entre e , o Príncipe — mesmo que nenhum dos dois não tivesse a menor ideia de que poderiam acabar se casando em um futuro bem próximo. E, por fim, o Reino . Se pudessem defini-lo em algo, definiriam como o Reino da crueldade e da frieza. As pessoas que moravam lá não sofriam, não eram cruéis, não eram frias. Mas os atos dos Reis que haviam governado aquela parte do Reino eram. Todos, sem exceção, haviam feito algo ruim. O último ato de crueldade fora matar a Rainha por causa de uma briga sem motivos com o Rei . Isso fora há 500 anos, com os antepassados de . Com raiva, o Reino revidou e uma pequena guerra começou ali, fazendo com que as pessoas do Reino sofressem sem nem mesmo terem envolvimento em tudo. Por causa disso, o Rei interrompeu a guerra e proibiu qualquer envolvimento entre e . Caso houvesse qualquer briga, os envolvidos seriam condenados a morte em praça pública, no centro do Reino, para que todos pudessem ver a desgraça que brigas e guerras causavam. O Tratado de Paz foi assinado, garantindo que, para o bem comum, e não poderiam estar no mesmo lugar. Desde então, tudo parecia estar bem.
Até ouvir os boatos de que tinha um em sua festa. Um no meio dos . Algo que não acontecia há 500 anos.
Sua vontade era de ir correndo contar para seus pais e pedir que os guardas prendessem qualquer suspeito, até que tivessem certeza de que o estava ou não na festa. Afinal, poderiam ser só boatos. Internamente, rezava para que fossem só fofoca de invejosos que queriam ver a destruição de seu baile. Mesmo assim, estava difícil continuar no salão.
— Princesa . — ouviu uma voz aveludada chamar por ela, então virou-se, assim como . Enquanto uma tentava decifrar quem era o homem, já estava sorrindo.
— Olá, . Ainda somos amigos e você pode me chamar de , como sempre fez.
— Não sei se me sinto bem fazendo isso. Hoje é um dia importante, não é?
— Eu não acho que seja. — bufou. Sempre podia contar com para revelar seus sentimentos — Isso aqui está muito chato.
— Aposto que as coisas vão esquentar se descobrirem quem é o escondido.
— Você também já está sabendo? — se interessou. Ela adorava boas histórias.
— Claro que já! Todos estão. Menos os seus pais, . Não precisa ficar pálida.
— Desculpa. — suspirou — Mas eu estou com um pouco de medo. Se eles descobrirem...
— Vai ser uma desgraça. — completou.
assentiu.
— Haja o que houver, eles não podem ficar sabendo. Vocês precisam me ajudar.
Os dois assentiram, ouvindo atentamente o que dizia.
— Eu vou falar com os convidados. Distraiam meus pais o máximo que puderem, pelo menos até a Última Dança começar.
— Deixa comigo, . Ninguém vai saber que tem um aqui. Esse é o melhor baile do ano, amiga. — se afastou com uma piscadinha. sorriu.
— Ela é ótima, não é?
— Você também é, . — murmurou, sorrindo de lado.
corou um pouco.
— Por que está me olhando assim?
— Acho incrível o jeito que você já consegue comandar as coisas antes mesmo de começar seu treinamento para Rainha. Acho que você nasceu com o dom.
— Obrigada. — sorriu verdadeiramente pela primeira vez na noite — Estou me sentindo bem melhor agora. Vai me ajudar?
— Claro. Não posso recusar uma ordem da Rainha.
corou ainda mais.
— Ah, e antes que eu me esqueça... — se aproximou de ainda mais e depositou um beijo carinhoso e demorado no canto de seus lábios. A máscara de não cobria seus lábios convidativos, então não foi difícil para ele beijar . O ato era quase sensual de tão calmo que era feito — Feliz aniversário.
sussurrou aquilo em seu ouvido e se afastou sem dizer mais uma única palavra. suspirou. causava-lhe arrepios por todo corpo, mas ela não acreditava que amava-o. Para , o amor era algo maior, que deveria ser sentido com mais intensidade e sem pudor algum. Só o fato de ficar constrangida com um simples beijo de era o suficiente para convencê-la de que ele não era o homem certo para ela. Mesmo assim, olhar não tirava pedaço e não machucava ninguém, então observou o desenho perfeito das costas de enquanto ele se afastava, descendo um pouco os olhos para sua bunda, onde perdeu alguns segundos. Depois, pegou uma bebida da mesa de banquete e repreendeu a si mesma por ter ficado olhando demais para .
A festa foi acontecendo sem mais imprevistos. dançara com vários homens diferentes, sem nem saber o nome de todos. Havia conversado com o Rei , seu “tio” de consideração, que lhe desejara um feliz aniversário, acreditando na competência da garota para ser uma grande Rainha em alguns anos. Aquele não foi o único desejo de feliz aniversário que ouviu, então agradeceu a todos do mesmo modo polido e contido. Aceitou pedidos de dança, recusou outros. Até mesmo pediu para dançar com ela, que, obviamente, não recusou. Nenhuma mulher, em sã consciência, recusaria um pedido de um .
A música fez uma grande pausa e o Rei apareceu no topo da escada. Pediu atenção de todos e anunciou o início da Última Dança. A Última Dança era uma dança que só os jovens podiam dançar. Os mais velhos ficavam em volta, observando a beleza que era vê-los moverem-se ao som de uma música calma e forte, tocada principalmente por um violino. A Última Dança servia para marcar o fim das festas — em outras palavras, era um aviso para as pessoas irem embora. Como expulsar alguém não era nada educado, a Última Dança fora inventada. Era conhecida por não ter envolvimento físico, ou seja, os casais não se tocavam durante o ato, mas diziam que o envolvimento emocional entre o casal era bem intenso. não acreditava nisso, já que havia dançado aquilo centenas de vezes e não sentia absolutamente nada.
Uma fileira de mulheres foi feita e, paralelamente, uma de homens. Estavam de costas um para o outro, o que tornava tudo mais intenso. Quem dançava nunca sabia quem seria seu par. Isso incluía , mas ela sabia que acabaria dançando com ela, já que ele sempre era seu par na Última Dança.
Quando a música começou, foi surpreendida.
Um par de olhos encaram , deixando-a completamente sem ação. O rosto do homem estava completamente escondido, mas teve certeza de que não era . Afinal não tinha olhos e seus cabelos não eram tão . também se lembrava da máscara que usava; era uma mascara preta, que cobria ¼ do rosto, deixando os lábios a mostra e uma parte da bochecha esquerda. O rapaz que estava de fronte para ela usava uma máscara branca que cobria todo seu rosto, deixando somente os olhos a mostra. teve medo de ver seu rosto e descobrir que era tão lindo quanto seus olhos. No mesmo instante que o viu, teve certeza de que ele era parte do Reino . Talvez algum parente distante de , mesmo que não fosse parecido com ele. Aquela beleza era só dos , não havia ninguém mais perfeito. Se aquele homem não fosse um , tudo que conhecia deveria ser posto a prova.
Os homens cumprimentaram as moças e vice-versa. A dança começou e o que mais queria no mundo era tocar aquele homem. Queria tirar a máscara e perguntar por seu nome e descobrir quem ele era. Não se importava se seus pais queriam que se cassasse com ; ela se casaria com aquele homem.
não conseguiu tirar os olhos das íris que estavam em sua frente. Eram estranhamente familiares, mas completamente diferentes, de algum jeito. Era como se conhecesse o homem por toda sua vida e estivesse só esperando sua chegada, pacientemente.
Agora que o tinha, não deixaria que escapasse.
A dança acabou rápido demais. Logo, se viu sendo bombardeada por despedidas e palavras inúteis que não faziam sentido em sua cabeça. Precisava encontrar aquele homem.
foi saindo do meio da multidão e seguiu o homem para o jardim do Palácio. Ele não usara a saída convencional, o que estranhou na mesma hora. Ele não...
Os sapatos de salto estavam incomodando seus pés, então tirou-os e carregou-os em uma das mãos, enquanto o outro segurava o vestido volumoso que atrapalhava sua caminhada atrás do estranho conhecido.
— Espera! — gritou. O homem dos olhos parou por um instante, mas não se virou. correu até ele, alcançando-o.
O homem se virou quando tocou sua mão. O coração da Princesa começou a bater mais rápido quando olhou em seus olhos. Havia uma mistura de sentimentos ali que ela não conseguiu decifrar. O predominante era o medo. Ele tinha medo dela? não era tão perigosa assim, era? Mas é claro que não! Ninguém nunca tinha se ferido ao seu lado. Os únicos que se feriam em seu Reino eram os...
Então era isso.
começou a se quebrar em milhões de pedaços.
— É você, não é? — ela murmurou, olhando em seus olhos — Você é o que todos falavam.
Ele não disse nada, apenas engoliu em seco. juntou uma grande quantidade de ar em seus pulmões e ergueu a mão para tocar o rosto do homem. Ele podia não ser um . Ela precisava saber. tinha que saber quem ele era.
Com cuidado, levantou sua máscara, revelando aos poucos as partes de seu rosto. O queixo era forte e másculo, mostrando tudo que ela não deveria ver e gostar; a boca bem desenhada lhe tirou o fôlego e, pela primeira vez, sentiu-se verdadeiramente tentada a beijar um homem. Seu coração bateu mais forte ao perceber que ele não estava interrompendo-a. Concentrou-se em tirar a máscara do homem. O nariz foi revelado e, logo em seguida, seus olhos, que estavam fechados. Sua boca estava entreaberta e ele respirava um pouco forte demais. teve medo, assim como sabia que ele sentia. A máscara caiu das mãos de , fazendo um barulho surdo no chão.
quis chorar.
Ele não era um simples . Ele era o filho do Rei , o Príncipe.
Era pior do que imaginava.
abriu os olhos ao ouvir a exclamação de .
— Vai me denunciar? — ele perguntou. Sua voz era rouca e teve certeza de que era o melhor som que já havia ouvido.
— Eu devo.
— Eu sei. Posso tentar correr?
balançou a cabeça em negatividade. Ela sabia o que deveria fazer. Deveria gritar e tentar segurar até que algum guarda aparecesse e o levasse preso. Ele seria morto em praça pública, já que havia interrompido uma cerimônia dos .
Morto.
não suportava a ideia de ver morto.
se virou para correr, mas foi impedido por um grito de .
— Não! — ela correu atrás dele, segurando seu pulso com toda força que tinha — Por favor, não vá.
— Você não quer que eu vá? — perguntou para , um pouco desconfiado. Estava perto da passagem que tinha por baixo dos muros, onde um buraco cavado de qualquer jeito — provavelmente por um animal — ajudava-o a escapar antes que qualquer guarda o prendesse. Ele tinha tudo pronto em sua cabeça.
— Não. Não vou chamar ninguém. Não posso estragar essa noite.
— Desculpe se eu atrapalhei alguma coisa.
Ela preferiu ignorar aquela sentença à responder que, de algum jeito, a presença dele só tinha melhorado tudo.
— Por que está aqui?
não respondeu. Ele não sabia dizer.
— Você é o filho do Rei, não é? O Príncipe .
. — corrigiu-a. Odiava ser chamado pelo nome que também pertencia ao seu pai.
— Não vai dizer o porquê de estar aqui?
— Não sei por que vim até aqui.
— Não? — retrucou, arqueando uma sobrancelha.
— O que você quer comigo? Não vai chamar os guardas, não quer que eu vá embora. O que você quer, Princesa? — perguntou de forma rude, ficando com os nervos à flor da pele enquanto o tempo passava. Ele precisava correr se quisesse voltar a tempo, mas não queria se afastar da Princesa com quem tinha dançado.
— Honestamente? — perguntou, retoricamente. O que ela queria? Com certeza não queria se envolver com o filho do Rei . deveria ser tão ruim quanto seu pai e como todo os . Não havia mais nada para acreditar, já que isso é tudo que sempre ensinaram para ela. Não conhecia outro jeito ou outra regra. Simplesmente não existia.
se aproximou de . Ela podia sentir seu cheiro e a respiração levemente alterada dele. Os dois estavam correndo perigo ali, tão expostos no jardim. Qualquer um poderia aparecer e ver , que acabaria morto. Percebeu que ele estava tão próximo dela que era difícil raciocinar o que queria. Ele havia perguntado isso, não havia?
— Sim. Honestamente, o que você quer? — perguntou, segurando o rosto da Princesa em suas mãos.
Naquele momento, tudo que queria era que a beijasse. Claro que não diria aquilo em voz alta. Não, seria humilhante demais.
só havia beijado algumas vezes e sempre o mesmo rapaz. . Ele fora o dono do primeiro beijo de , que morria de vergonha disso. Mesmo assim, ela era curiosa e não era bobo. Nunca havia sentido tanta necessidade de ter lábios colados nos seus.
— Diga, Princesa.
— Você... — ela começou, mas perdeu o ar e acabou engolindo o resto de sua sentença. Seus olhos não haviam desviado dos lábios de e ela se deu conta disso, sentindo o rosto esquentar ainda mais.
— Sim? — incentivou. Ele podia imaginar o que ela pediria e ele só podia esperar ansiosamente para que pedisse.
— Você me beijaria? — ela soltou de uma vez, prendendo a respiração e finalmente olhando para os olhos dele, esperando uma resposta.
— Sinto que morreria se não beijasse. — respondeu antes de acabar com a pouca distância entre eles.
teria corado em uma situação normal. Não era correto uma moça de família dizer aquilo. Mas, mesmo assim, era o que ela mais queria e o grande motivo de não ter deixado-o ir. Precisava sentir o gosto de seus lábios. E, quando o contato finalmente aconteceu, sentiu que poderia morrer.
A boca de tocou suavemente a de . Jamais fora tão calmo como . Ele segurava o rosto da Princesa, imobilizando-a. O rosto dela tinha o encaixe perfeito na mão dele. Quando a língua de tocou o lábio superior de , ela sentiu uma corrente elétrica passar por seu corpo. Sua boca não se abriu, mas conseguiu introduzir a língua na boca da garota. E, quando as de ambos se encontraram, gemeram de satisfação. Era como se estivessem esperando por aquele toque durante uma vida toda. A boca de se encaixava tão perfeitamente com a de que era como se fossem feitas uma para a outra. tinha pouquíssima experiência com beijos, então deixou conduzir tudo. Era como se estivessem dançando no salão outra vez. Nada nem ninguém podia atrapalhar os dois ou fazê-los parar até que sentissem que era certo. levou a mão para a de , onde apertou-a um pouco. O beijo ganhou uma certa intensidade quando mudou o ângulo, deixando o rosto de sob a luz da lua, dando-lhe uma perfeição única. Ele queria poder ficar daquele jeito para sempre.
Mas eles eram proibidos.
Quando se deram conta disso, soltaram-se como se tivessem levado um choque. A perda do contato doeu em ambos, mas não iriam admitir aquilo.
— Eu... — tentou falar algo, mas estava ofegante demais e simplesmente não sabia o que dizer.
— Eu também. — murmurou, olhando para o chão, referindo-se a falta de palavras.
— O que isso significa?
não conseguiu dizer nada, apenas apreciar o rosto da mulher em sua frente.
? !
— É a minha mãe. Vá embora, . Agora!
assentiu, mas não se afastou completamente. Deu um último beijo em , dessa vez bem mais breve e mais leve. Então abraçou-a, envolvendo todo seu corpo em seus braços, aproximando a boca de seu ouvido.
— Feliz aniversário, Princesa. — sussurrou.
E então, observou quando se afastou correndo.
***

Três longas noites haviam se passado desde o grande baile. Aquela fora a última vez que encontrara .
estava em seu quarto, tentando dormir. Olhos não saiam de sua cabeça, assim como aquele beijo. Fora o melhor beijo de sua vida e foi quando começou a entender que havia algo mais do que as verdades que todos costumavam a colocar em sua cabeça. Talvez, houvesse algo mais do que aquilo que conheciam.
A Princesa deitara-se uma hora atrás e não conseguia dormir. O sono parecia não querer tomar conta de seu corpo e ela já estava achando aquilo preocupante. Nas últimas três noites, estava ansiando pelo momento que fecharia os olhos e os sonhos lhe dominariam, já que era o único modo que encontrara para receber a visita de . Mas essa noite era diferente.
Levantou-se e caminhou em direção à sua enorme sacada, onde se apoiou no parapeito. Olhou para o céu bem iluminado e desejou que estivesse olhando para a mesma lua que ela olhava agora. Se ela pudesse vê-lo só mais uma vez...
Foi aí que a grande dúvida lhe atingiu.
O que faria se visse mais uma vez?
Mil e uma ideias passaram por sua cabeça, mas apenas uma ficou martelando: a ideia de fugir por um tempo.
não conhecia nada que ultrapassasse os portões do castelo. Já fora para as ruas algumas vezes, mas sempre em uma carruagem, cercada por guardas reais. Jamais sozinha. Ela queria saber como a rua era de noite, se a luz da lua e das estrelas alcançava os pontos escuros da cidade e conhecer tudo aquilo que via só pela sacada de seu quarto.
Às vezes, invejava . Sua melhor amiga era uma plebéia, filha da costureira de . já tinha viajado para todos os cantos e inclusive já estivera no Reino . Como não tinha o sobrenome , podia entrar livremente nos Três Reinos. era anônima.
E, sentindo o coração pesado, desejou ser anônima também.
— Princesa!
Um pouco assustada com aquela voz que apareceu do nada, olhou para os lados, o coração batendo aceleradamente. Então, olhou para baixo.
Era como um sonho se tornando realidade.
!
— Olá, Princesa. Sentiu minha falta?
— Mais do que posso expressar em palavras.
corou.
— O que veio fazer aqui? — ela perguntou, quando, na verdade, queria perguntar “Por que não veio antes?”.
— Eu queria te ver mais uma vez. Posso subir?
Aquela era a hora. não era do tipo que fazia coisas erradas o tempo todo, mas do tipo que tinha ideias malignas para acabar com a vida daqueles que insistiam em interromper o curso feliz da sua. Deixar subir era, com certeza, algo errado de se fazer. Ela tinha plena consciência disso, mas, mesmo assim, queria que ele fosse até seu quarto. Queria que tocasse-a mais uma vez e fizesse milhares de correntes elétricas percorrerem suas veias.
— Como pretende subir aqui, ? — tentou. Aquela era a última chance de tentar fazer a coisa certa. Se encontrasse uma boa resposta para isso, deixaria que subisse.
— Posso subir pela trepadeira.
— Você vai acabar se machucando.
— Eu não me importo.
E, antes que pudesse responder, começou a escalar a trepadeira que cobria os muros do castelo. As folhas estavam bem aparadas, já que alguns empregados eram bem recompensados para fazerem isso sempre que necessário. Os espinhos não existiam mais, pois haviam sido aparados no dia do baile e ainda não tinham tido tempo de crescer novamente, o que deixou mais aliviada. Não queria ver todo machucado.
Pouco tempo depois, ele chegou à sacada. ajudou-o a pular para dentro.
— E agora? — perguntou.
— Agora me conte como é ter 21 anos.
riu.
— Você já não tem mais de 21?
— Tenho, mas aposto que ser um homem e ter 21 é diferente de ser uma mulher com 21.
— Talvez seja um pouco diferente.
Os dois riram. percebeu que a risada de era um dos melhores sons que poderia ter ouvido durante toda sua vida.
Eles conversaram durante vários minutos. não viu a hora passar, assim como . Ambos estavam perdidos nos olhos um do outro. O dia começou a dar sinais de vida quando o sol começou a nascer.
— Você vai ter que voltar para o Reino dos ainda hoje? — perguntou, quando os primeiros raios de sol começaram a iluminar a sacada de .
— Não. Estou na casa de um amigo no Reino dos .
— Pensei que os não tivessem amigos por aqui.
— E não têm. Acho que sou o único que tem amigos fora do Reino.
— Isso é estranho. — franziu o cenho — Quer dizer, você é o filho do Rei. Deveria ser o que mais apóia o pai.
— Não concordo com tudo que meu pai faz. Na verdade, não concordo com nada que ele faz.
— Você e seu pai não se dão muito bem, não é?
— Sim. Ele espera que eu governe como ele um dia, mas eu não quero. Quero conseguir um Tratado de Paz com o seu Reino. Um Tratado de verdade e não um que apenas garanta que e não se matem toda vez que se encontrarem.
— Sério? Nunca pensei que um pudesse querer paz.
— Você está muito acostumada com o estereótipo de ruim. Nem todos que vivem no meu Reino são ruins, Princesa.
— Desculpe. — corou — É só que... Bom, eu não conheço muita coisa.
— Eu sei que não. Posso ver pelos seus olhos. São tão inocentes quanto os de uma criança.
olhou para ele, incrédula.
— Isso não é verdade! — reclamou, fazendo rir e chegar mais perto.
— É adorável.
estava próximo de . Próximo demais. podia sentir sua respiração regulada batendo em seu rosto e o cheiro dele invadia suas narinas. Ela gostava daquilo. se aproximou ainda mais e beijou os lábios de . Ela era tão inocente! estava apaixonado pela inocência de . Tudo nela parecia atraí-lo. Às vezes tinha até medo de acabar destruindo a inocência que a mulher exalava.
Quebrou o beijo quando sentiu o calor do sol atingi-lo. Se não fosse embora naquele momento, ele não conseguiria sair do Reino dos a tempo.
— Preciso ir. — ele murmurou com a voz um pouco rouca.
— Não. — resmungou. Seus olhos pareciam desesperados para — Me leve para algum lugar que possamos ficar sozinhos, . Quando a noite cair, venha e me leve. Vou estar te esperando e tudo que teremos que fazer é correr. Você só precisa dizer “sim”.
— Sempre direi “sim” para você, .
E, depois de dar um singelo beijo nos lábios da Princesa, partiu.


Parte 2

I love you and that's all I really know

> se deitou assim que foi embora e, quando finalmente conseguiu fechar os olhos, foi acordada por suas criadas. Estava com olheiras profundas graças à noite que passara sem dormir. Quando uma das criadas perguntou-lhe o porquê, desconversou e deu respostas vagas.
O dia parecia estar se arrastando. queria que a noite chegasse logo para que pudesse ir encontrar , mas isso parecia tão distante. Nem mesmo suas atividades como futura Rainha eram interessantes o suficiente para mantê-la concentrada.
Quando a noite finalmente chegou, fingiu dormir quando as criadas fecharam a porta de seu quarto. Assim que o barulho de passos no corredor cessou, deu um pulo e levantou da cama. Tirou suas roupas de dormir e vestiu algo mais apresentável. Ficou na sacada, esperando dar algum sinal de vida.
já estava quase desistindo quando ouviu seu nome ser sussurrado. Seu coração disparou quando viu .
! — murmurou — Você consegue descer?
— Acho que sim.
E, com cuidado, se pendurou na trepadeira. Apesar do medo, ela estava adorando aquela sensação de pânico que estava dominando seu corpo. Isso mais o fato de que estava indo se encontrar com no jardim de sua casa.
— Está tudo bem? — perguntou, olhando para que parecia que iria cair daquelas folhas a qualquer momento.
— Sim. — ela murmurou, deixando um sorriso escapar dos lábios, seguido por uma risada — Droga, sim!
acabou rindo também. estava tão animada por fazer algo errado! , que já estava acostumado a desobedecer seus pais, achava aquilo tão normal!
A Princesa descia com cuidado, olhando para os lados e, principalmente, para baixo. agradeceu aos céus por ela não ter medo de altura. Poucos minutos depois, ficou a um metro do chão.
, vou pular. — ela anunciou.
— Tudo bem, eu te pego.
E, confiando plenamente em , se jogou.
pegou a Princesa no colo, tombando um pouco para trás. Os dois acabaram caindo na grama do jardim, quase caindo em um canteiro de rosas. Riram.
— Meu Deus, não acredito que estou fazendo isso! — comentou enquanto a ajudava a se levantar.
— Vamos correr, ! Estamos mortos se alguém souber disso.
riu e seguiu .
Os dois passaram pelo buraco que já conhecia tão bem. não estava usando um dos vestidos pomposos e cheios de brilho e pedras como sempre, dessa vez era um simples vestido branco, sem detalhes e costuras aparentes, que logo ficou sujo, mas ela não se importou. Estava se divertindo demais para isso.
Ela ainda sorria quando se embrenhou no meio das árvores, voltando segundos depois com um lindo cavalo negro.
— Princesa, gostaria de te apresentar Lightness, um dos meus melhores amigos.
se aproximou, esticando a mão para acariciar o focinho do animal, que estava extremamente calmo. Por causa de sua pelagem escura, era praticamente vê-lo na escuridão da noite.
— Ele é lindo. — comentou, com a mão ainda acariciando o cavalo forte.
Lightness estava sem cela, então ajudou a montar, com as pernas de lado por causa do vestido. Então, subiu no cavalo também, começando a cavalgar.
— Para onde estamos indo? — perguntou , quando eles atravessaram os limites da cidade e começaram a entrar na floresta mais densa.
— Você vai ver. — respondeu vagamente.
Eles cavalgaram por mais alguns minutos e decidiu que, na próxima vez, usaria calças para poder cavalgar direito.
Próxima vez.
Era loucura pensar que teria uma próxima vez?
Aos poucos, o espaço entre as árvores ficava cada vez maior, na medida em que a floresta se abria. Logo, uma enorme clareira apareceu na frente deles.
— Que lugar é esse? — perguntou, mesmerizada com o lago bem no centro da clareira.
— É um desvio na estrada que une os Três Reinos. Se você seguir a trilha à esquerda, vai encontrar a estrada que vai direito para o Reino . — explicou, acariciando Lightness, agradecendo pela corrida.
Ele seguiu a mulher que corria até o lago. Não era grande o suficiente para ter peixes nem muito fundo. Porém, algumas flores coloridas e brilhantes estavam decorando pontos específicos ao seu redor, tornando-o ainda mais lindo.
— Esse lago só está por aqui nessa época do ano, depois das chuvas de verão. Logo, ele seca e só volta a aparecer no ano que vem.
sentiu uma enorme necessidade de sentir a grama sob os pés e foi exatamente o que fez. Tirou seus sapatos delicados e os deixou no meio do caminho. A grama não era alta, então seria fácil encontrá-los depois. Abriu os dedos para sentir melhor a grama em seus pés e a sensação de liberdade tomou conta de seu corpo. Não conseguiu evitar erguer os braços para o alto, deixando que o vento da madrugada dominasse o ar ao seu redor, fazendo seu semblante reluzir com a luz da lua.
estava totalmente hipnotizado. Aquela era a mulher mais linda do mundo e estava bem na sua frente, com um sorriso maravilhoso.
abriu os olhos para observar ao redor. Perto do lago, encontrou um enorme carvalho de tronco largo, onde as folhas começavam a cair por causa da chegada do outono, criando uma cama fofinha de folhas sob a copa. E, atrás do carvalho, havia as ruínas de um castelo que parecia muito antigo. Ela se virou para .
— E ali, o que é?
se aproximou e posicionou a mão na base da cintura da moça.
— É o antigo Castelo . — contou, sorrindo ainda mais abertamente ao ver a expressão de surpresa no rosto da mulher — Não conhece a história?
fez uma careta.
— Bom, mais ou menos. Estou aprendendo tudo agora, que vou ser Rainha. Podemos ir até lá?
Naturalmente, concordou e os dois seguiram pisando na grama fofa.
— Acho que meus pais nunca esperaram que eu fosse mesmo governar. Eles devem ter tentado produzir um herdeiro homem durante os meus vinte e um anos de vida. Quando perceberam que não ia dar certo, resolveram me educar às pressas para assumir um posto para o qual eu deveria estar treinando desde que nasci. — desabafou, de repente.
se virou para ela, um pouco surpreso com a confissão.
— Por que diz isso, Princesa?
sorriu, mas não havia humor nenhum.
— Bom, pense comigo: nunca uma mulher assumiu um Reino sozinha. Eu vou ser a primeira Rainha. Mesmo que eu precise me casar, ainda vou ser a Rainha original e o homem com quem eu me casar vai ser apenas... Bom, não sei o que ele vai ser, mas sei que vai ser menos importante que eu. E acho que meus pais nunca acreditaram que eu fosse mesmo ser essa pessoa. Acho que eles ainda têm esperança de minha mãe engravidar e dar um menino de presente ao Reino. Então, meus estudos vão poder parar e eu vou virar mais uma sustentada pelo Palácio, sem importância nenhuma, só com um sobrenome que não me serve de nada.
Chocado com aquela explicação ainda mais explícita da confissão feita há segundos, agarrou a cintura de com mais força e a trouxe para ainda mais perto de si.
— Princesa, isso é ridículo... Não consigo imaginar um motivo para seus pais não quererem colocá-la no trono. — revirou os olhos com o comentário, como se não acreditasse, mas percebeu e resolveu reforçar seu ponto — Não, , eu falo sério.
Eles pararam a caminhada quando estavam prestes a subir a escada de pedra que dava acesso ao lado inteiro do Castelo.
— Princesa, olhe para você. É uma mulher incrível. Pode não ter conhecimentos profundos de matemática, história ou geografia. Mas sei que gosta de literatura e ama aprender sobre ervas medicinais. E, pelo que já conversamos, é muito boa quando lhe deixam fazer seu trabalho. Você não é uma princesinha estúpida e mimada, só porque não sabe coisas que acha que deveria saber. Você foi negligenciada. A educação que você quer não lhe foi dada e isso faz com que você se sinta inferior, mas não consigo imaginar o motivo. Você já é bem mais do que todas as pessoas que conheci, sem a instrução que acha que deve ter. Quando, finalmente, assumir o lugar que é seu por direito e se tornar Rainha, será tão brilhante que nenhum Rei jamais poderá superá-la. E sei o que eu estou falando, porque, quando você for Rainha, eu serei Rei também.
sorriu para ele, encantada com tudo o que o Príncipe dissera.
— Acha mesmo tudo isso?
acariciou a bochecha de .
— Mas é claro que eu acho. E, além de tudo isso, você é incrivelmente linda. Sua beleza aumenta cada vez que descubro algo novo sobre você. — ele confessou, dando a entender que não estava falando apenas de beleza exterior.
Ela o beijou antes que começasse a chorar.
Sorriram um para o outro e então subiu o primeiro degrau de pedra.
Era obviamente um antigo castelo medieval, daqueles que serviam como fortaleza. O lado direito, nos fundos da construção, estava destruído pelo que parecia ter sido um bombardeio. Já o lado esquerdo, estava mais conservado. Havia duas escadas de pedra, uma de cada lado do Castelo, subindo em espiral até a entrada, onde se encontravam em uma só. Depois da entrada, mais escadas laterais existiam e levavam para as torres mais altas do Castelo — que não pareciam nada seguras devido ao desgaste do tempo.
e pararam na entrada coberta, onde vigas de pedra sustentavam o telhado, fazendo com que fosse um andar coberto, porém aberto o suficiente para entrar toda a luz que fosse possível.
— Me conte a história. — pediu , se apoiando no muro baixo, olhando para o lago que refletia a lua e as estrelas. se apoiou no quadril e entrelaçou seus dedos com os da Princesa.
— Tem uma estrada aqui perto. Essa estrada costumava a ligar os Três Reinos, sendo que quem seguisse por ela, passaria na frente de cada um dos Castelos: , e . Depois da guerra entre os Reinos, os resolveram ir mais para o norte, ficando bem longe da estrada e se escondendo atrás da cidade. É muito mais seguro.
— E como aconteceu a guerra? O que aconteceu de tão grave que foi necessário uma guerra para resolver?
— “Guerras nunca são necessárias”, era o que minha avó me dizia. Há 500 anos, quando os Três Reinos conviviam em paz, era comum acontecer bailes e festas, como o seu de aniversário. Todos os Reinos eram convidados e a festa podia durar dias. Um desses bailes aconteceu no Castelo . Durou uma semana. A Rainha era uma das mulheres mais lindas na festa e todos sabiam disso. Principalmente o Rei . Eles dançaram juntos a festa toda, o que era normal, considerando que os reis e rainhas dos Três Reinos eram muito amigos. O problema foi quando o Rei encontrou a Rainha nos braços do .
soltou um arquejo de surpresa.
— Não acredito!
— Ninguém acreditou. A Rainha sempre parecera tão apaixonada por seu marido, ninguém nunca imaginou que aquilo pudesse acontecer. Então, eles brigaram dentro daquele mesmo quarto, mas nada aconteceu. A festa acabou imediatamente e cada um voltou para o seu respectivo Castelo.
mudou de posição para poder olhar melhor para , que não tirava os olhos dele, ouvindo a história de suas famílias com toda sua atenção.
— Poucas pessoas ficaram sabendo do ocorrido. Os reis não queriam fazer alarde antes de decidirem o que seria feito. Veja bem, Princesa, naquela época, a sociedade era bem mais cruel com as mulheres do que é hoje em dia. Você sabe qual era a pena para a mulher que traísse seu homem?
Ela não precisou pensar muito. É claro que conhecia a lei machista que fora revogada por sua avó, poucos anos atrás.
— Morte. — murmurou, com nojo da palavra.
— Exatamente. — confirmou, apertando a mão da Princesa ao sentir sua tensão — Mas os já tinham filhos. O mais velho já estava prestes a se tornar Rei. O Rei não podia matar a Rainha sem que todos soubessem o que ela havia feito. E, se soubessem, ele se sentiria humilhado demais. Mas isso não o impediu de matar a Rainha mesmo assim.
Em choque, arregalou os olhos.
— Mas dizem que foi o Rei que a matou!
— Sim, é o que dizem. Porque foi o que o Rei disse. Ele acusou o Reino de ter matado sua Rainha. Quando perguntaram os motivos, ele alegou que era por causa do casamento que estava sendo arranjado entre seu filho mais novo e a Princesa . Disse que os estavam com raiva por ficarem de fora do acordo e resolveram se vingar. A história ficou muito boa e foi facilmente comprada. Mas o Rei não iria ser acusado de traição e ficar quieto.
— O que ele fez?
— O Rei estava loucamente apaixonado pela Rainha . Quando soube de sua morte, ficou enlouquecido. Como tinha inventado uma boa história, ele a usou como desculpa para bombardear o Reino . E a guerra começou. Era muito fácil para os Reinos se atacarem, por causa da estrada. Então, no meio da guerra, o Castelo foi bombardeado. O Príncipe que estava noivo da Princesa acabou morrendo enquanto lutava ao lado do pai, sem ter a menor ideia do que ele havia feito. Os já haviam sofrido bastante com a guerra, já que se abstiveram dela. Não podiam escolher um lado, então resolveram não participar. Mas quando a Princesa ficou viúva antes do casamento, o Rei interveio. E então foi criado o Tratado de Paz.
bufou.
— Não me parece um Tratado de Paz. Parece um tratado de silêncio. Se e não se encontrarem, tudo estará bem. Bom, não acho certo que os Três Reinos se considerem unidos mas sejam separados assim.
— Concordo com você, Princesa.
— Por que será que nunca me contaram a história? — indagou.
— Os únicos que realmente sabem a história são os . Eles são imparciais nessa questão e está tudo registrado na biblioteca do Palácio.
— E como você teve acesso?
deu um sorrisinho malicioso e as pontas de seus dedos correram pelo braço de , fazendo com que ela ficasse arrepiada com o carinho.
— Um amigo conseguiu pegar algumas coisas para mim. Meu pai sempre me contou a história dizendo que a Rainha morreu com alguma doença da época e o Rei acusou nossos antepassados de traição, então começou a guerra. Não acreditei no velho nem por um segundo, então fiquei obcecado em descobrir a verdade.
balançou a cabeça, tirando o braço do alcance de para abraçar a cintura do homem, trazendo-o de encontro ao seu corpo.
— Você é tão determinado, .
sentiu o corpo esquentar quando a Princesa correu os dedos por suas costas, contra o tecido fino de sua camisa.
— Espero que isso não seja um problema, Princesa. Porque estou determinado a ficar com você pelo resto da minha vida e sei o quão difícil isso pode ser.
Ele ouviu a mulher em seus braços suspirar.
— Tudo bem. Nós podemos e vamos tentar.
Ambos sorriram e se aproximou da Princesa para depositar beijos em todo seu rosto.
— Obrigada por me ajudar a ver coisas que eu não poderia ver por mim mesma. — agradeceu.
Ambos sabiam que ela não falava muito além da visão que os dois estavam tendo naquele momento.
***

No dia seguinte, decidiu que iria investigar a história que havia contado. Não sabia quando seria a próxima visita aos , então pensou em enviar uma carta para perguntando sobre os registros da biblioteca, mas desistiu. Se ele perguntasse como ela sabia daquilo, não teria resposta.
Então, resolveu usar sua segunda melhor opção: seu pai.
— Pai, o senhor pode me contar um pouco mais sobre o Tratado de Paz? — pediu, tomando cuidado com a escolha de palavras. Qualquer coisa dita do modo errado acabaria levantado suspeitas.
O Rei sorriu para a filha ao ouvir a pergunta. Fazia dias que estava tentando ensiná-la a como governar o Reino, mas parecia cansada e sem interesse. Com aquela pergunta, sentiu todo o seu mundo sendo reequilibrado. Ele daria uma aula sobre o assunto, se fosse preciso.
Os dois estavam na biblioteca do Palácio, onde alisava a capa de couro de uma bíblia. O pai havia planejado ensiná-la sobre o catolicismo e todos os rituais dos Três Reinos, mas podia facilmente mudar o assunto da aula.
— O que quer saber, minha filha? Acredito que saiba o básico: nenhum precisa se sujeitar a ter um sob seu teto. Isso quer dizer que os não podem vir até aqui e nós não vamos até o Reino deles, para manter a paz e poupar nossos amigos de possíveis violências, já que não são civilizados.
sentiu o ódio do pai, mas fingiu não perceber.
— Queria que o senhor me explicasse um pouco melhor o que aconteceu antes da guerra. O motivo de precisarmos do Tratado de Paz.
O peito do Rei se inflou quando ele se preparou para contar a história que havia ouvido de seu pai, que ouvira de seu avô e assim se seguira por gerações.
— Muito bem, filha. Eu esperei anos para que você fosse madura o suficiente para ouvir a história. Parece que o dia chegou! Sente-se perto de mim, sim?
se sentou na cadeira ao lado da do pai na mesa de mogno coberta de livros e mapas.
— No começo, quando a paz reinava entre nós, sempre ficou clara a preferência dos pelos . Dizem até que o destino tenta juntar as duas famílias desde os primórdios! E é claro que os tinham inveja e se sentiam excluídos. Tinham medo de que juntássemos nossos reinos por meio de matrimônio, o que nos tornaria ainda mais poderosos. Os sempre tiveram os melhores exércitos com os melhores soldados, mas não seriam capazes de ganhar nenhuma batalha se e se unissem. Porém, o destino falou mais alto e o Príncipe George se apaixonou pela belíssima Rosalinda .
ouvia tudo em silêncio, se lembrando da história de . A do pai era bem parecida, mas deixava de lado alguns acontecimentos.
— A inveja dos ficou clara, pois na festa de noivado do Príncipe e da Princesa , a Rainha foi encontrada morta, com uma facada no coração. A faca tinha a marca do brasão em seu cabo. E, mesmo que não estivesse marcada, todos sabiam que os eram responsáveis pela fabricação das armas nos Três Reinos. Era um modelo típico do exército deles.
Se não soubesse a história verdadeira, poderia acreditar na versão do pai.
— O Rei não podia deixar barato, então a guerra começou. É claro que os foram os verdadeiros responsáveis pelo início da guerra quando mataram a Rainha Anneliza, mas isso não vem ao caso. O que importa é que eles fizeram questão de capturar o Príncipe George. Ele foi torturado até a morte e, depois, nosso Castelo da época foi bombardeado. Rosalinda pediu ao pai para acabar com a guerra e foi o que o Rei fez. Logo após o Tratado ser assinado, a Princesa Rosalinda foi encontrada morta. Ela se enforcou no próprio quarto.
perdeu o fôlego, ouvindo aquela parte nova, que não havia mencionado.
— Isso é... Terrível.
— É sim, minha filha. — concordou o Rei — E é por isso que nós não recebemos um no nosso Reino. Ele não só matou um dos nossos por inveja, mas também causou grandes dores aos nossos maiores amigos.
Naquela tarde, ficou com o pai, ouvindo a história com atenção e se questionando se deveria mesmo acreditar em , um — a família que ela fora ensinada a temer e a odiar desde que nascera — ou se acreditaria na história de seu pai, o homem que a havia amado e criado por 21 anos.
***

Duas noites depois, como havia sido combinado, montou em sua égua branca — Tempestade — e galopou até o lugar combinado para encontrar : o antigo Castelo.
Quando chegou, ele já estava lá, mais lindo do que nunca. Seu cabelo que costumava a ser bagunçado estava penteado para trás, enquanto suas roupas também pareciam mais sofisticadas do que as que usara no último encontro. se arrependeu por estar usando um simples vestido de linho azul.
Porém, o sorriso que ele lançou para ela a fez esquecer suas roupas de criada. Seu coração se aqueceu e todas as dúvidas que tinha tido nos últimos dias pareceram desaparecer quando a envolveu em seus braços. Estar com ele era tão certo. Ela nunca havia sentido nada assim antes.
— Senti sua falta. — murmurou contra os lábios dela, interrompendo o beijo para pronunciar aquelas palavras que estavam explodindo em seu peito.
— Eu também. — respondeu, voltando a beijá-lo com a mesma voracidade de antes.
Quando o beijo ficou perigoso demais, se afastou. estava com os cabelos enrolados em um coque no topo da cabeça, o que deixava seu rosto mais exposto. Ele sentia vontade de beijar cada centímetro da pele dela.
Eles se sentaram à beira do lago, onde os cavalos se refrescavam. tirou seus sapatos e molhou os pés, tomando cuidado para não molhar seu vestido. apenas tentou não olhar para as pernas dela que estavam expostas bem ao seu lado.
— Tenho algo para você. — ele murmurou, com a voz bem mais rouca que o de costume. sorriu de lado para ele.
— É mesmo? O que é?
mexeu nos bolsos da calça, até encontrar o que procurava. Logo, pediu a palma de , depositando nela uma gargantilha dourada com uma pequena placa de ouro servindo de pingente. Quando analisou melhor a placa, encontrou os dizeres “Lightness”.
— Ah, ! É lindo! Não tenho palavras para agradecer! Se importa...? — ela perguntou, em um gesto que indicava seu pescoço, para que colocasse o colar nela.
concordou com um movimento breve de cabeça e a Princesa se virou para que o colar fosse colocado. Ele fitou o pescoço desnudo da mulher e depositou um beijo terno em sua nuca antes de enfim envolvê-la com a gargantilha.
segurou a placa entre os dedos, encantada com o presente.
— O que “lightness” significa para você? — ela perguntou. Achava que era só o nome de seu cavalo, mas se ele tinha uma gargantilha com o nome gravado, devia significar algo importante.
— Era da minha avó. Ela usava esse colar o tempo todo, mas sempre sob o vestido. Não deixava ninguém ver. Uma noite antes de sua execução, ela me deu.
— Oh, é uma joia de família? Então eu não devo aceitar, . É valiosa demais.
— Eu sei que é, Princesa. É por isso que a dei para você. É uma prova do meu amor, para que você sempre acredite em mim.
perdeu o fôlego e abriu e fechou a boca várias vezes antes de conseguir falar outra vez.
— Prova do seu... Amor? — ela repetiu, só para conferir se tinha ouvido corretamente.
Para seu alívio, sorriu.
— Sim, . Prova do meu amor. Eu estou apaixonado por você, Princesa. Eu amo você como pensei que nunca amaria nenhuma mulher enquanto eu fosse vivo. Nunca acreditei que pudesse acontecer com alguém como eu, mas aconteceu. E meu coração não poderia se alegrar mais, tendo escolhido você para ser sua dona.
— Tenho certeza que seu coração iria preferir que eu não fosse uma . — pontuou, se sentindo emocionada e querendo desesperadamente beijá-lo até o nascer do sol.
— Não, . É apenas um sobrenome. Ele não faz quem você é. Eu a descobri de verdade nos últimos dias, e foi por essa pessoa por quem me apaixonei. Não me apaixonei pelo seu título ou pelo seu sobrenome. Me apaixonei apenas por você. E se o meu sobrenome for algo que a mantenha longe de mim, eu o renunciarei sem hesitar.
O coração da Princesa batia tão forte que ela teve medo de que pudesse ouvi-lo. Aceitando o amor que estava oferecendo, ela o envolveu com seus braços e o beijou para demonstrar que sentia o mesmo. Podia não estar pronta para dizer as palavras, mas sabia que sentia.
Eles se beijaram e se amaram por horas até que ficaram apenas abraçados na grama, sob as estrelas e a lua cheia.
— Me conta mais sobre sua avó. — pediu, enquanto seus dedos traçavam formas desconexas no antebraço de .
Ao ouvir aquilo, sorriu. Sentia falta da avó.
— Ah, ela era minha pessoa favorita no mundo. Mãe da minha mãe. Uma mulher tão boa quanto a minha avó não poderia ser mãe do meu pai, um homem sádico e cruel. Ela se chamava Anya. Tinha o sorriso mais lindo do mundo e contava as melhores histórias. Assim como você, era muito curiosa.
soltou uma risadinha e depositou um beijo na bochecha de , incentivando-o a continuar falando.
— Ela me contou uma das minhas histórias favoritas. Gostaria de ouvir?
A Princesa assentiu na mesma hora.
— Como eu te disse, ela foi executada. Foi queimada em praça pública por ordem do meu pai. Aparentemente, ela foi encontrada com cartas com informações importantes sobre comércios dos Três Reinos no exterior, ou algo do tipo. Eu tinha apenas 10 anos, não entendia direito as coisas. Mas sabia que ela tinha sido condenada a morte.
sentiu os olhos se encherem de lágrimas ao imaginar o jovem , com apenas 10 anos, sofrendo pela morte da avó.
— As execuções ocorriam de manhã, então ela teve a noite toda em liberdade dentro do Palácio. Passou a noite comigo, já que nem minha mãe queria falar com ela. Meus dois irmãos mais novos eram pequenos demais para entender qualquer coisa então ela ficou só comigo. Foi quando me deu o colar e me contou a história.
A Princesa continuou atenta, ouvindo com paciência quando a voz de engrossava por causa das lágrimas que ele tentava conter.
— Eu estava muito triste com sua morte, mas ela me pediu para ficar feliz. Me contou que a Vida e a Morte costumavam a ser amantes, em um mundo muito distante do nosso. Eles foram proibidos de ficar juntos, assim como o Sol e a Lua e o Dia e a Noite. Desde então, como prova de seu amor, a Vida costuma mandar presentes para a Morte. Vovó disse que ela seria um presente e ficaria muito feliz em receber a Morte. Aquilo me tranqüilizou o suficiente para eu não chorar durante sua execução. Meu pai achou que eu não chorei porque era igual a ele e ficou orgulhoso. No outro dia, comecei meu treinamento para ser Rei.
abraçou com força.
— É uma história linda.
— Eu também acho.
Os dois ficaram abraçados até o amanhecer e depois se separaram, prometendo um reencontro dali a dois dias.
***

estava bêbada. Pela primeira vez na vida, estava extremamente bêbada.
Para sua felicidade, também estava.
Naquela noite, quando se encontraram, estava com uma garrafa de vinho , o melhor vinho do mundo. As vinícolas eram abençoadas e exportavam vinho para os reinos próximos. estava ficando na casa de um amigo no Reino , então não foi difícil conseguir uma garrafa do melhor vinho.
Eles beberam até a garrafa estar vazia e se sentaram sob o grande carvalho para conversar e se beijarem até ficarem com os lábios dormentes.
E foi bêbada que finalmente conseguiu dizer as palavras que nunca tinha dito à homem nenhum.
, eu amo você. Amo tanto você que poderia explodir em amor!
riu e a girou no ar, o que fez os dois ficarem tontos e caírem sobre as folhas macias do grande carvalho.
— Só está dizendo isso porque está bêbada! — acusou, mas o tom de brincadeira em sua voz fez relaxar.
— Não, estou falando sério! — ela teimou — Antes de você eu conheci vários homens. Muitos mesmo! Eu precisava escolher alguém pra casar e conheci tantos homens que fiquei até enjoada! Mas aí... Aí você apareceu e dançou comigo no meu Baile. Eu lembro que meu coração disparou e minha pele coçava de vontade de tocar você. Quando descobri com quem tinha dançado, eu fiquei com medo, mas me esqueci de temer assim que você me beijou, no jardim. Ali, naquele beijo, foi onde comecei a te amar, . Não consegui colocar em palavras antes e, sim, talvez o vinho esteja me ajudando, mas não quer dizer que é menos verdade. Eu te amo muito.
Ele a beijou com vontade, sentindo seu coração pesado ficar leve, finalmente, depois de tantos anos de escuridão.
Um pouco antes de se separarem naquela noite, gravou as iniciais deles no grande carvalho, na altura de onde os dois se encontravam para um beijo. Não colocou as iniciais dos sobrenomes, apenas do primeiro nome, rodeadas por um coração. Eles não precisavam de sobrenomes.


Parte 3

We'll make it out of this mess

estava feliz. Ela e combinaram de se encontrarem apenas dali a sete dias, devido à recorrência de seus encontros. Tiveram medo de serem descobertos e preferiram dar um tempo. também precisava voltar para o seu Reino, então eles aceitaram a distância.
Ela estava sorrindo o tempo todo, até mesmo durante as aulas mais chatas com o pai ou com algum instrutor. Demonstrou interesse e todas as suas atividades e estava bem mais gentil.
Foi aí que as coisas começaram a dar errado.
Uma noite antes de se encontrar com novamente, ela jantava com os pais quando eles resolveram dar a notícia bombástica.
— Você está tão radiante esses dias, meu amor. — a mãe comentou, sorrindo para a filha sentada ao seu lado. Toda sua família estava na longa mesa, incluindo suas tias, tios, primos e os nobres privilegiados pelo Rei.
sorriu de volta para a mãe.
— Estou só feliz por estar aprendendo lições valiosas. — respondeu, contando uma mentira. Ela nem corou. Não se importava.
— Que bom que está interessa, filha. — o Rei comentou, com um brilho nos olhos que não entendeu. Então, subitamente, o Rei ficou de pé e bateu na mesa de mogno, chamando a atenção de toda a família real — Ouçam todos, tenho um anúncio a fazer!
se sentou com as costas eretas, curiosa com o gesto do pai. A mesa ficou em um silêncio absoluto para ouvir as palavras do Rei.
— Há muitos anos, houve o desejo de juntar o Reino e o Reino . Como todos nós sabemos, esse desejo foi massacrado pela inveja dos . Porém, nós, os , somos um povo persistente.
Após ouvir apenas a primeira parte do discurso, sentiu seu estômago revirar. O que quer que fosse ser dito a seguir, não era nada bom.
— Minha filha, , se tornou uma mulher esplendida e com o passar dos dias, demonstra grande potencial para se tornar Rainha. O mesmo aconteceu com o Príncipe , cada vez mais sensato e honesto, como seu grande pai! Assim, eu me sentei com o Rei dias atrás e, em comum acordo, nós decidimos que devemos seguir os planos de nossos ancestrais e selar o acordo que fora feito há anos.
estava prestes a vomitar toda a comida que havia ingerido até aquele momento. Quando seu pai a encarou, a náusea cresceu ainda mais.
— Amanhã, nós iremos até a casa de nossos irmãos , onde anunciaremos para o nosso povo o sagrado matrimônio da Princesa e do Príncipe !
A mesa explodiu em gritos felizes enquanto todos comemoravam. Ninguém pareceu perceber que entrava em choque. , que estava do outro lado da mesa, percebeu o olhar da amiga e tentou chamar sua atenção, sem sucesso.
Depois que a comemoração diminuiu, pediu licença para descansar para a viagem do dia seguinte. Ninguém a questionou. Estavam felizes demais com a notícia do casamento.
Em seu quarto, chorou tanto que sentiu a pele ao redor dos olhos queimar.
entrou no quarto da amiga sem bater, como o de costume.
— O que aconteceu lá embaixo? — ela perguntou, notando as lágrimas de , mas sem saber o que fazer além de abraçá-la com toda a força.
— Eu não posso me casar com ele, ! Eu não posso! Eu amo outro homem!
Assim, pela primeira vez, contou para alguém o que se passava em seu coração e como estava perdidamente apaixonada pelo Príncipe .
***

Os chegaram ao Palácio antes do sol do meio dia. As pessoas faziam festa com a visita e tinha vontade de gritar com toda aquela alegria a cercando.
A pior parte seria contar para . Como poderia olhar em seus olhos e dizer que iria se casar com outro, logo depois de ter dito o quanto o amava? Ela sempre estava ansiosa para vê-lo, ainda mais depois de passar uma semana longe, mas, naquele dia, não queria nem pensar no momento em que veria os olhos do homem que amava.
entrou no Palácio, seguida por , que, hora ou outra, lançava olhares de compreensão para a amiga. Assim que passaram pelas enormes portas do Palácio, apareceu para recebê-las, com seu enorme sorriso galante. sempre ficava feliz por vê-lo, mas era diferente agora. Só de pensar que teria que se casar com aquele homem sorrindo para ela, tinha vontade de vomitar.
Os pais entraram na frente e foram cumprimentando os presentes conforme avançavam. estava logo atrás da mãe com . As duas pararam para cumprimentar .
Ele abraçou , sentindo que a mulher não conseguia relaxar.
— Eu sinto muito. — murmurou em seu ouvido, antes de soltá-la para cumprimentar .
ia questioná-lo e exigir saber o motivo de ele sentir muito. Até então, os dois sabiam que existia uma chance de se casarem, mas nunca acreditaram que aconteceria. Estavam até confortável com a ideia de se casar — já haviam discutido aquilo antes. A única coisa que mudara fora que se apaixonara por outro homem e ninguém além de sabia daquilo.
Mas não teve tempo. Antes que pudesse falar qualquer coisa, ouviu a confusão formada atrás de si. Quando virou, viu o Rei tentando tirar seu pai de cima de um homem, sendo que os dois estavam caídos o chão. Sua mãe estava mais para trás, observando a cena com a mão na boca, para impedir os gritos de escaparem. Logo, passou correndo por indo ajudar o pai a separar a briga. Sem pensar duas vezes, o seguiu.
Era uma grande confusão. As pessoas gritavam, chamou os guardas, curiosos se aglomeravam para entender o que estava acontecendo.
— Pai, pare com isso! — gritou, puxando o pai pelo tecido grosso de sua roupa, em uma tentativa de tirá-lo de cima do outro homem.
falhou miseravelmente e logo foi empurrada para longe, caindo de costas no chão, sentindo um impacto forte na parte de trás da cabeça, o que fez sua coroa cair e voar longe.
E então, ela ouviu seu nome ser chamado e seu mundo parou.
Ela ouviu cada sílaba pronunciada com cuidado na voz aveludada que acalmava seu coração e produzia pensamentos incoerentes em sua cabeça. O pânico naquela voz era bem claro, o que fez com que um breve sorriso brotasse em seu rosto.
Mas a dor na cabeça logo apagou qualquer vestígio de felicidade.
De repente, ela não estava mais no chão. Sentiu seu corpo ser erguido do chão e sua cabeça estava apoiada em algo macio que fez sua pele queimar em todos os lugares certos.
, pelo amor de Deus! — a voz murmurou, acariciando sua bochecha.
Então, abriu os olhos e encontrou a imensidão os olhos dele.
. — ela sorriu, totalmente alienada do momento.
— Não. — murmurou, tentando alertá-la dos acontecimentos ao redor.
Ele tinha a coroa dela na mão, então a colocou na cabeça da mulher, fazendo o melhor para não estragar o elaborado penteado de coque. Automaticamente, lembrou de quando usava aquele mesmo penteado — de forma bem menos elaborada — e de como ele passou o colar de sua avó pelo pescoço dela e lhe jurou seu amor. Sentia vontade de beijá-la bem ali, na frente de todo mundo.
Antes que fizesse qualquer coisa, um rugido ecoou pelo Palácio.
— Solte a minha filha, seu animal!
foi tirada do chão e conseguiu se virar a tempo para ver o pai pular para cima de e lhe acertar um soco, fazendo-a gritar e recobrar a consciência.
Os guardas apareceram e tiraram o Rei de cima do Príncipe .
— Já chega! — gritou o Rei , batendo seu cajado de apoio no chão com tanta força que pode sentir um tremor percorrer o Palácio — As famílias reais devem se encontrar no meu gabinete agora!
O Rei estava tão irado que ninguém teve coragem de questioná-lo.
Os guardas precisaram escoltar as famílias até o gabinete. Apenas os membros mais importantes foram permitidos — Reis, Rainhas e futuros governantes.
No gabinete, o Rei e a Rainha se encontravam ao lado de , com uma expressão furiosa no rosto. De um lado, os ; do outro, os .
— Vocês assinaram um Tratado de Paz! — gritou o Rei , fazendo questão de lembrar aquilo antes de dizer qualquer coisa.
Tanto o Rei quanto o estavam com o rosto sangrando, mas só sentiu mal quando olhou para e percebeu que a área ao redor de seu olho esquerdo estava ficando roxo e inchado.
— O Tratado diz que nós não precisamos nos encontrar, nunca! — rebateu o Rei , furioso — O que você fez foi traição!
— Não me venha com essa, ! Nós concordamos que o casamento de e só seria permitido mediante a paz completa nos Três Reinos! Um novo tratado seria assinado por todos nós e por nossos filhos, concordando em manter a paz verdadeira pelas próximas gerações! Você concordou comigo, !
olhou para o pai, chocada.
— O quê? — perguntou — O que isso quer dizer, pai?
Ela foi completamente ignorada.
— Nós nunca concordamos com isso! — interveio o Rei — Vocês não vão se juntar! Não vou ficar sentado vendo vocês dois se aliarem pelas minhas costas!
— O casamento é algo que os sempre quiseram e foi o que eu ofereci para selar o acordo de paz. — Rei rebateu.
— Eu não vejo vantagem nenhuma para o meu Reino!
— A vantagem é o fim da guerra fria que vocês travam! — o Rei gritou outra vez — Todos os dias, pessoas morrem por causa de vocês. Famílias pobres foram separadas e seus membros não puderam voltar para casa! Há duas gerações, vocês mataram um Rei e uma Rainha, por causa de um tratado cujo objetivo é paz! Não há paz em assassinato!
— Ele está falando da vovó? — se manifestou, perguntando para o pai.
Ninguém falou nada.
— O que nós não sabemos, pai? — perguntou também, esperando receber algumas respostas.
— O Rei Edward e a Rainha Trementine foram mortos pelo Tratado. — contou a Rainha , já que os outros presentes não diziam nada — Edward e Trementine se uniram em sagrado matrimônio quando eram jovens, em segredo. Mais tarde, se casaram mais uma vez por dever e mantiveram o primeiro casamento em segredo. Eles se encontraram durante toda a vida, até que foram descobertos. Edward já não era mais Rei e foi morto por asfixia, mas sua morte foi registrada oficialmente como causas naturais da velhice.
soltou uma exclamação chocada e teve que morder a mão para impedir as lágrimas de caírem de seu rosto.
A Rainha não deu tempo nenhum para a Princesa se recuperar e continuou a história.
— Já Trementine foi acusada de traição econômica e queimada em praça pública. Foi feito um acordo de silêncio para que os dois não fossem uma vergonha para seus respectivos Reinos. Dois líderes importantes na história não poderiam ser pegos quebrando o Tratado de Paz, que move os Três Reinos há 500 anos.
tremia.
— Nós descobrimos quando o colar da família sumiu. — confessou a Rainha , quebrando o silêncio assustador que se instalou no gabinete — É um colar de ouro simples, com uma pequena placa com a palavra Lightness gravada. É a joia que costumava ser usada nos casamentos da família . Quando Edward disse ter perdido a joia, nós soubemos que era mentira e começamos a investigá-lo, segui-lo para todos os lados. Mesmo assim, a joia nunca foi encontrada. Por outro lado, o encontramos com Trementine.
soltou um soluço de espanto e olhou para enquanto instintivamente colocava a mão no peito, onde sentia o colar tão procurado repousar, lembrando-a o tempo todo do amor proibido.
— Por que nunca nos contou? — perguntou, sem conseguir tirar os olhos de , que chorava em silêncio.
e jamais se aproximarão, diz o Tratado. — o Rei murmurou.
Um silêncio denso tomou conta do gabinete, enquanto todos se lembravam da história trágica e recente o suficiente para ainda ter feridas abertas nos presentes.
— É por isso que aceitei o casamento. — o Rei murmurou, olhando diretamente para — O casamento é a prova de lealdade entre o Reino e o . E, para provar a minha lealdade para com o Reino , eu ofereço metade das minhas terras.
O Rei arregalou os olhos, surpreso com a proposta.
— Como?
— Se concordar em apoiar e abençoar o casamento de e , cederei metade do meu Reino para você. Assim, o Reino será do tamanho dos outros dois Reinos juntos. Terá o maior território, o que prova que não temos a intenção de atacar suas terras.
O Rei olhou para os e depois seu olhar se voltou para Rei . Notou como os dois reis estavam acompanhados por suas esposas e sentiu falta de sua Rainha, que morrera de depressão poucos anos depois de sua mãe ser morta na fogueira, por causa da estúpida rixa que existia há séculos.
Depois de alguns minutos de silêncio e reflexão, o Rei ergueu a mão na direção do Rei .
— Assim que acontecer o casamento, a paz reinará outra vez, assim como nossos filhos. Eu aceito o novo acordo.
Hesitante, Rei apertou a mão estendida.
O Rei sorriu com aquilo.
— Vou mandar o meu escrivão projetar todos os acordos que foram feitos aqui. Em uma semana, teremos um casamento que trará paz para os Três Reinos, após 500 anos de guerras!
Os três jovens na sala se entreolharam, sem saber exatamente o que acontecera e como seriam suas vidas dali em diante.
***

O banquete começou a ser servido antes do pôr do sol. O Rei e o Rei se sentaram lado a lado e ficaram bêbados com o vinho, enquanto o comemorava a paz.
aproveitou a distração de todos e procurou incansavelmente.
Encontrou-o no jardim do Palácio, andando de um lado para o outro.
! — ela chamou, correndo em sua direção, mas parou antes de poder abraçá-lo. Algo nos olhos dele a fez tremer.
— Você sabia? — perguntou. pode ver melhor seu rosto e notou que estava inchado por causa da briga de mais cedo e molhado com lágrimas.
— De quê?
— Do casamento. Sabia que teria que casar com ?
balançou a cabeça freneticamente e voltou a se aproximar dele.
— Mas é claro que não! Eu sabia que meu pai queria uma aliança com os , mas eu e nunca imaginamos que aconteceria. Fiquei sabendo ontem a noite e nunca me senti mais triste, !
puxou para si e a abraçou com tanta força que, por um momento, ele chegou a pensar que os dois poderiam se fundir em um só.
— Eu não posso vê-la casar com outro. Prefiro morrer, ! Prefiro estar morto a saber que você está com outro!
começou a chorar outra vez. Não aguentava mais tantas lágrimas.
— Eu não posso me casar com alguém que não seja você. — ela murmurou, se afastando dele apenas o suficiente para pegar o colar que pendia em seu pescoço — Está vendo? Eu ainda uso o colar. Eu sou sua, . Não importa o que aconteça.
— E o que faremos agora?
?
Eles se viraram e encontraram se aproximando, trazendo Litghness consigo.
— O que o seu cavalo faz aqui? — perguntou , se afastando de , com medo de que desconfiasse de alguma coisa.
Os dois homens olharam para ela e então disse:
, precisamos conversar.
***

A verdade era que o amigo no Reino onde estava ficando naquele mês para visitar era o próprio Príncipe . Fora assim que ele conseguira as informações na biblioteca do Palácio e era por isso que não demonstrava nenhuma surpresa ao ver com ; ele já sabia de tudo.
— Como eu não sabia que vocês eram amigos? — perguntou para — Achei que você me contasse tudo!
— Desculpa, . Eu conheço seu pai e conheço o pai do e sei como eles se odeiam. Antes de me contar que estava apaixonado por você, eu não tinha ideia se era seguro te dizer que éramos amigos. Fiquei com medo de que você surtasse e se afastasse de mim.
— Então... Foi você que colocou o pra dentro no meu Baile, não é? Ele não teria conseguido entrar de outro jeito, mas se você dissesse que ele era seu amigo, os guardas não questionariam o Príncipe .
— Exatamente. — respondeu — Eu estava ficando um tempo por aqui quando me contou sobre o seu Baile. Eu disse que queria ir, só por diversão. Desafiar meu pai, talvez. Entrar no “território inimigo”. não queria me levar, mas eu o convenci. E foi a melhor decisão que eu já tomei na minha vida.
corou, mas não conseguiu deixar de sorrir.
— Tudo bem, mas e agora? — perguntou, se aproximando de Lightness e acariciando seu focinho — O que vamos fazer?
— Eu queria muito poder ajudar vocês. — começou e os outros dois não gostaram nada do tom — Mas acho que o casamento é a melhor solução. Vai trazer a paz, a paz verdadeira. Ninguém nunca mais vai sofrer como os antepassados de vocês sofreram! Todos vão ficar bem.
— Eu não vou ficar bem! — protestou.
— Nem eu!
— Eu sei que parece horrível, mas pensem bem. Eu estou apaixonado por , . — confessou de uma vez, fazendo a Princesa arregalar os olhos, mas não lhe deu nenhum tempo para comentar — E ela é uma plebéia. Eu nunca vou poder ficar com ela. Por outro lado, você também não está apaixonada por mim. Então, nós vamos nos casar, mas podemos muito bem ficar com outras pessoas. Você com e eu com . E ainda traremos paz para os Três Reinos.
e se entreolharam, começando a pensar no assunto.
— Eu não vou te obrigar a ficar comigo, . Sei que você ama o e nosso casamento será apenas de aparências.
De aparências. Tão falso quanto tudo o que ela mais odiava em toda a realeza.
se lembrou de seu aniversário, de todos os sorrisos falsos, de todas as posturas que teve que manter. Lembrou-se de seu avô e da avó de , que mantiveram uma vida de aparências, só para sofrerem ainda mais no fim da vida.
Ela não queria aquilo para si e nem para .
Mas, por outro lado, não podia deixar mais ninguém passar pelo que eles tinham passado.
— Nós podemos conversar? — pediu baixinho, apontando para ela e para .
assentiu na mesma hora.
— Claro. Eu vou procurar e confessar meu amor por ela.
sorriu e puxou para lhe depositar um beijo na bochecha.
— Boa sorte.
Ele se afastou com uma piscadela.
começou a falar assim que sumiu de vista.
— Vamos fugir.
— O quê?
— Fugir! Ir para longe! Sumir daqui. Podemos ir juntos e nunca mais voltar.
— Mas e o acordo?
— Que se dane o acordo, ! Eles não pensam em nós! Eles não pensam em você! Seu casamento foi arranjado há dias e você só ficou sabendo ontem. Um casamento político, ainda por cima! Ninguém te perguntou se você estava apaixonada por , perguntou?
balançou a cabeça, tentando não pensar naquilo que estava ouvindo.
, não podemos ser egoístas e deixar que mais pessoas passem pelo que estamos passando. Vamos ser o sacrifício. Depois de nós, ninguém jamais vai sofrer.
, ouça o que está dizendo! Você acha que seu casamento vai acabar com a guerra? Acha que depois de nós, ninguém vai sofrer por amar alguém de uma família inimiga? Quem nos garante que nossas famílias não irão continuar se odiando depois disso?
— Nós, ! Nós vamos garantir isso! Nossas famílias não vão se odiar porque nós ensinaremos que não vale a pena odiar alguém por algo que já passou.
balançou a cabeça, começando a entrar em desespero.
— Não, . Não. Nós não podemos trocar a nossa felicidade por um acordo. Não podemos abrir mão do nosso amor para que outras pessoas não se odeiem.
, eu...
a puxou pelo braço, colando o corpo dela no dele. parou de falar na mesma hora e, como na primeira vez que o vira, se encontrou presa em seu olhar.
— Sente isso? — perguntou, pegando a mão de e colocando sobre seu peito, onde seu coração martelava com tanta força que parecia que iria explodir a qualquer momento — É por você. Cada batida é sua. — e então ele se abaixou e beijou seu pescoço exposto, deixando sua respiração bater na pele arrepiada — Cada vez que eu respiro... É por você.
ergueu o rosto de para que ela olhasse para ele. Abaixou-se até que sua boca encostou na dela com cuidado, com medo de que a mulher fosse correr se ele ultrapassasse um limite. Deixou um beijo amoroso ali, ainda a segurando perto de seu corpo.
— É por você, .
assentiu, para fazê-lo ver que ela entendia exatamente o que ele queria dizer, porque sentia o mesmo. Impulsionou o corpo para cima e voltou a beijá-lo como beijava quando se encontravam na clareira. Envolveu seu pescoço com seus braços e se agarrou nele como se sua vida dependesse disso.
— Eu vou entender se você não quiser ficar comigo. E eu sou um imbecil por te oferecer uma vida sem os confortos da realeza e sem futuro nenhum, mas não posso evitar. Eu te amo demais. Eu te amo tanto que não sei viver sem você. Então, se aceitar a proposta de , eu vou aceitar o que você estiver disposta a me dar, . Qualquer pedacinho seu vale um mundo todo para mim.
continuava chorando e suas lágrimas se misturavam às de .
— Mas, se você sente pelo menos metade do que eu sinto por você... Então venha comigo. Fuja comigo. Me deixe ser seu pelo resto da minha vida. Me dê uma criança que vai te chamar de “mamãe” e me deixe saber como você ficará em cinquenta anos, com os cabelos brancos e a pele enrugada.
riu daquela possibilidade, como se um futuro com fosse tão impossível que chegava a ser utópico.
— Duvido que vá me achar linda com cabelo branco e a pele enrugada.
— Fica comigo e vou provar pra você em cinquenta anos.
Então, assentiu.
— Tudo bem, . Eu fujo com você. Eu te amo.
— Eu também, meu amor. Eu te amo.


Parte 4

We were both young when I first saw you

, eu juro pra você! Foi o sonho mais louco que eu tive na minha vida!
riu e bebeu um grande gole do conteúdo de seu Starbucks.
— Ah, mas não faz sentido nenhum! Eu duvido muito que o seria contra a fuga do casal! Ele é romântico demais! Não lembra de quando a gente assistiu Titanic e ele chorou como criancinha?
Eu ri, me lembrando claramente daquele dia.
Era uma manhã de outono. Eu e esperávamos , seu namorado — e meu ex — para irmos juntos para a faculdade.
e eu nos conhecíamos desde crianças e acabamos namorando porque era o que nossos pais viviam nos dizendo para fazer. Éramos adolescentes e é legal ter um namorado quando se tem 14 ou 15 anos. Depois, eu apresentei para e ele se apaixonou por ela. Eu fiquei brava com ele por tipo... Dois minutos. Aí terminamos e eu armei um encontro entre ele e . Logo depois, os dois estavam juntos.
É como minha mãe sempre dizia: às vezes as coisas simplesmente não dão certo.
E eu estava espantada como a nossa relação tinha sido capturada perfeitamente no meu sonho.
Havia sonhado com esse reino meio medieval, totalmente fictício com reis e rainha cruéis. Talvez tenha sido porque eu estava estudando Romeu e Julieta no meu grupo de teatro, e fiquei envolvida demais com a história. Mas a verdade era que eu havia sonhado com um maravilhoso homem de olhos e, apesar de ter esquecido seu rosto logo após acordar, não conseguia me esquecer daquela imensidão que havia me capturado.
nos encontrou e eu contei meu sonho para ele, que concordou com ; ele teria ajudado o casal a fugir. Nós rimos e fomos para a faculdade, que era no outro quarteirão.
— Eu estou tão fodido em literatura clássica. — comentou, balançando a cabeça — Mas tão fodido que pedi ajuda para o monitor do senhor Clark.
— E o senhor Clark tem monitor? — perguntei, ainda tomando meu café com leite.
— É, ele acabou de contratar um. Era o único professor que não tinha. O cara é bacana, me passou uns exercícios e fiquei de entregar um resumo para ele dar uma olhada.
— Olha só que lindo, meu amorzinho se esforçando para terminar a faculdade! — brincou , empurrando com o quadril.
Eles começaram a brincar e eu estava rindo, mas me desconcentrei totalmente quando algo entrou no meu campo de visão.
Havia um grande carvalho na frente da escola, onde os alunos costumavam a se apoiar e passar o tempo. Seu diâmetro era tão largo que vários grupinhos se dividiam ali, incluindo eu, e .
Mas aquele homem era novo.
Ele me era vagamente familiar e eu parei de andar no mesmo minuto, analisando-o no meio do caminho, como uma estátua. e não pareceram perceber, porque passaram por mim rindo e tudo. Mas eu não podia me mexer.
Algo nele devia estar conectado em mim porque, assim que fitei seu rosto por mais de cinco segundos, ele ergueu os olhos e me observou também.
Estava encostado no carvalho, usando sua mochila verde militar para se apoiar enquanto lia um livro, que eu não conseguia ver o título. Usava uma calça jeans de lavagem escura e uma camiseta cinza que se agarrava ao seu corpo de uma maneira espetacular.
De repente, ele se levantou.
Do mesmo jeito que eu o esquadrinhava com o meu olhar, ele fazia comigo.
Não sei por quanto tempo ficamos parados nos observando como duas estátuas no meio do campus, mas senti o mundo voltar a girar quando encontrei seus olhos.
Verdes.
Aquele tom único, que eu só havia visto uma única vez em meus...
! — gritou, parando ao meu lado. O homem pareceu levar um susto, assim como eu — E aí, cara? Valeu pelos exercícios! Já terminei alguns resumos, posso te entregar?
Ele olhou para mim, para , para e depois se voltou para mim.
— Ah... Claro. — ele respondeu e, meu deus! Era a mesma voz! Era a mesma voz que eu havia ouvido em meus sonhos!
começou a mexer na mochila para pegar os resumos e, novamente, meu mundo ficou paralisado enquanto o homem — — se aproximava de mim.
— Eu te conheço... — ele murmurou mais para si mesmo do que para mim e meu coração bateu com mais força ao ouvir aquela voz tão de perto.
— Eu já te vi... — murmurei de volta, tentando ligar meus pensamentos. Não era possível eu ter sonhado com aquele homem, sem nem mesmo conhecê-lo, era?
— Aqui, ! — interrompeu outra vez, entregando os resumos para , que os pegou de modo automático — Quando terminar, me avisa?
— Pode deixar.
se despediu de e puxou , que me puxou também.
— Misericórdia, , que homem é esse! — comentou , olhando rapidamente para trás.
— Ah, nem começa, ! Se eu falo de alguma mulher você já começa a encher meu saco!
— Pipipipopopo... — retrucou, revirando os olhos e se virando para mim — Amiga, você precisa chamar ele pra sair!
Antes que eu pudesse falar algo, soltou a bomba bem no meu colo.
— Péssima ideia, . O é monitor do professor, então ele tem acesso às provas e às notas, como se fosse um professor. Sendo assim, as alunas dele não podem se envolver com ele. E eu e somos alunos.
— E como você sabe disso, espertão? — caçoou, sem nem fazer ideia de eu estava quase caindo dura no chão.
— Lembra do Rick? Ele era louco por uma monitora também, ai eles saíram e deu o maior problema. Ela foi até demitida e por aí a ladeira vai descendo...
Eles continuaram a conversar, mas eu não ouvia absolutamente nada.
As cenas que eu havia sonhado voltavam para mim como vários socos no estômago e logo as imagens eram tão claras como uma memória.
Junto com o sonho uma música ficava cantando baixo na minha cabeça:
I know you, I walked with you once upon a dream. I know you, the gleam in your eyes is so familiar a gleam! Yet, I know it’s true that visions are seldom all they seem. But if I know you, I know what you’ll do: you’ll love me at once the way you did once upon a dream…
Eu conheço você, eu andei com você uma vez num sonho. Eu conheço você, o brilho em seus olhos é um brilho tão familiar! Mesmo assim, eu sei que as visões nos sonhos raramente são o que parecem ser. Mas se eu conheço você, eu sei o que você vai fazer: você vai me amar do jeito que me amou uma vez num sonho...


FIM



Nota da autora: Olá pra você, que leu mais uma fic minha!
Love Story é uma das minhas músicas favoritas da Taylor e o vídeo dessa música é o meu favorito de todos os vídeos dela! Tanto que escrevi essa fic quando tinha 12 anos e precisava escrever algo relacionado à Shakespeare e acabei encontrando esse vídeo e as músicas maravilhosas da Taylor! Aí, foi só reescrever e adaptar algumas cenas - tirando o perrengue que passei porque meu pendrive pegou vírus e eu tive que reescrever tudo em 5 dias rs - e ficou tudo certo!
Espero de verdade que tenham gostado dessa história que é uma das minhas favoritas! Estou pensando em fazer uma continuação baseada na música Once Upon A Dream, mas ando ocupada demais, então não prometo nada! Maaas, eu adoraria criar uma relação nova com os mesmos personagens, em um contexto totalmente novo!
Quero agradecer a Clara Prado, capista do FFOBS que fez essa capa M A R A V I L H O S A para a fic! Ficou do jeito que eu imaginava que ficaria <3
Bom, é isto! Espero que tenham gostado dessa fic e que comentem o que acharam (significa muito para mim!!)!
XOXO, Flowers

E o grupo no face, vocês já conhecem? Podem acessar clicando aqui, e aí a gente pode conversar, falar sobre spoilers e tudo mais!
Também escrevo outras fics, caso você tenha interesse em conhecer um pouco mais do meu estilo como escritora! Entra aqui e dá uma olhada na minha página de escritora do FFOBS! Tem todas as minhas fics já escritas, incluindo essa que você está lendo!







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