Última atualização: 08/04/2018

Capitulo Unico

Prólogo


Ele observava a garota apresentar seu trabalho completamente conectada com o ponto vermelho pintado no meio da parede do fundo da sala de aula, feito por alguém que nada tinha a fazer. Ela parecia tímida, parecia odiar se sentir observada por todos os colegas de classe, que pareciam não querer fazer amizade. Quantas vezes ele mesmo não quisera se aproximar? Afinal, ele também não tinha tantos amigos assim, se sentia tão tímido quanto a garota. Não se lembrava ao certo o nome dela, talvez fosse Mellany ou talvez fosse , entraram diversas garotas na sala no último ano. Sim, no outro ano, ele a observava em todas suas aulas que coincidiam há um tempo, santa timidez.
Ela o observava também, estava envergonhada, sabia que o olhar daquele garoto tão fofinho estava sobre ela durante cada segundo da apresentação. Sua única colega fazia questão de dizer que ele vivia olhando para ela, mas a menina negava até a morte, como alguém olharia para ela? Ela sentia que passava despercebida por qualquer lugar, imagine então na escola, onde todos buscam por seu lugar de forma incessante. Quando o trabalho teve sua palma final de apresentação, a garota o observou sorrir para ela animado. Ela passou ao seu lado e sorriu para ele, em agradecimento, sentando-se duas carteiras atrás, o que fez com que ele virasse seu pescoço para encontrá-la. Um dia teria coragem de fazer dela sua garota, caso suas diversas coincidências não fossem coisa de sua cabeça.
Ele


Eu odiava quando minha mãe não lavava roupa a semana toda e decidia mandar tudo de uma vez para lavar, porque ela fazia no sábado, o dia em que podia me mandar fazer. Separamos tudo pela manhã e sai de casa com as roupas e meu violão, a fim de fazer algo enquanto esperava. Não tocaria pra todos da lavanderia, mas como estava ainda aprendendo, seria bom apenas para decorar tudo e pegar o jeito. Meu vídeo game portátil estava no bolso, claro, assim se o violão não desse certo, teria o que fazer. Coloquei todo aquele monte de roupa para lavar e decidi me sentar em um banco que havia no vidro da frente da lavanderia. Comecei a dedilhar algumas cordas sem tocá-las, para não atrapalhar quem estivesse fazendo o que quer que fosse, como o senhor no outro banco que lia o jornal. Olhei para a máquina onde minhas roupas estavam para observar o andamento do processo, então ouvi o sino da porta soar e por ela entrava uma garota de minha sala de aula, de algumas aulas na verdade. Há alguns dias percebia nossos olhos se encontrarem em diversos momentos, o que me fez acreditar que algumas coincidências talvez fossem intencionais de algo maior como o destino. Ela olhou para as paredes amarelas do recinto em meio a seu reconhecimento do local, parecia interessada em toda a decoração, até que se deparou com meu olhar sobre o seu e abaixou a cabeça, envergonhada, provavelmente pensando o mesmo que eu. Como era possível aquilo. Ela tentou focar no que fazia, mas aos poucos começou a dividir seu olhar entre o meu, que estava fixo em suas ações, e as roupas em que devia colocar para lavar. Ela sorria despreocupada para mim, o que me deixou cada vez com a maior certeza que talvez fosse hora de nos aproximarmos. Imaginei que enquanto esperava a roupa, ela se sentaria ao meu lado e poderíamos conversar, mas quando terminou de fazer o que deveria, notei que ela estava pegando suas roupas, e não as trazendo. Pensei em oferecer para ajudá-la com o cesto, mas talvez não fosse a melhor forma de aproximação. A garota passou ao meu lado, o mais próximo que era possível de minha cadeira, e sorriu em minha direção. Pensei em chamá-la, mas a voz não saiu. Ela segurava um pano vermelho em sua mão, como se guardasse algo precioso, e esse pano caira no chão bem em minha frente. Me levantei para pega-lo e então entendi o sorriso da menina para mim. E eu sabia o que fazer com aquela desculpa que ela me dera tão sabiamente.

Ela


Era um costume da minha irmã mais velha de lavar as roupas no final da semana. Talvez por quê era o dia em que tínhamos tempo suficiente e não tívessemos que conciliar a venda dos doces com trabalho e escola., então, no fim da semana eu recolhia algumas peças e voltava com outras. Naquele dia em especial encontrei sentado no banco em frente a lavanderia. Quis distanciar meu olhar e disfarçar o quão feliz eu tinha ficado por tê-lo visto ali, mas não parecia funcionar, algo me atraia por ele e fazia com que parecesse que ele era diferente dos garotos que rodeavam o bairro ou a escola. Talvez por conhecer a família dele e saber do caráter da Dona Patricia, eu suspirei, pensando se ali, diante daquela troca de olhares, seria o momento ideal para que finalmente conversássemos e meu coração acelerou com prontidão. Minha timidez me impediria de me aproximar, mas algo me ocorreu, e essa mesma timidez não me impediria de deixar algo como uma dica para ele. Eu conseguira reunir toda coragem e enfrentar o sentimento que andava crescendo timidamente dentro de mim e então ao passar próxima a ele, deixei meu cachecol vermelho escorregar pelas minhas mãos e sai dali. Ele teria um motivo para falar comigo.

Ele


Se tinha uma coisa que eu havia aprendido com a minha família era como tratar uma mulher. era sempre tão quieta, tão calada, eu não deveria me aproximar dela como os caras de hoje fazem quando só querem alguém por querer. Não tínhamos intimidade para ir muito além, assim de primeira, mas eu sabia que poderia fazer algo que marcasse para ela. Uma caça ao tesouro não seria exagero, de forma alguma. Tracei minha rota em minha mente e segui para o primeiro local assim que acordei, aquele mais importante onde ela deveria começar a procurar. Talvez fosse difícil de realmente conectar nossos horários, mas eu sabia que ela viria atrás de seu cachecol vermelho no domingo de manhã. Separei todo o material que precisaria em casa e ao chegar era apenas realizar todo o planejado. Peguei a primeira folha sulfite que usaria e escrevi um recado para a garota, eu tinha seu cachecol, e se ela quisesse, deveria vir atrás dele. Desenhei uma seta ao final do recado, para que ela tivesse alguma direção de onde ir e colei em frente a máquina que ela havia usado no dia anterior. Algumas pessoas olhavam-me em volta, mas não me sentia constrangido ou qualquer coisa assim, sabia que estava fazendo algo legal.

Ela


Eu tinha uma sensação boa, como se acordar aquele dia tivesse realmente valido a pena. Abri as cortinas, vi Angeline reclamar pela claridade e caminhei pra fora do quarto. Fiz o que eu tinha que fazer o mais rápido possível e segui meu caminho até a lavanderia, esperando que meus planos tivessem dado certo. Quando cheguei na lavanderia não o encontrei ali dentro, ou em qualquer outro lugar. Recolhi as roupas que tinha deixado ali no dia anterior e percebi um papel em minha frente. Foi impossível não dar um sorriso ao encarar o papel ali. Ele tinha o deixado com as seguintes palavras: "Estou com seu cachecol, se o quer de volta, me encontre." E havia também uma seta direcionando para fora dali. Esquecendo das coisas que eu tinha deixado, segurei o papel e sai rumo a rua, virando à esquerda como a seta indicava.

Ele


Sai da lavanderia e virei à esquerda com meus planos de seguir por entre as cafeterias que tinham ali até meu próximo local. Apesar da timidez de sempre, estava tão ansioso que consegui me obrigar a falar com estranhos, por mais que minha mãe recomendasse que não fizesse isso né. Colei em um poste uma sulfite com uma grande seta, apontando a direção que eu ia, olhei bem se não estava fazendo nada errado e segui em frente com muitos olhares a minha volta. Conversei com duas moças que estavam sentadas em frente a uma das cafeterias e as perguntei se elas poderiam segurar mais uma seta para mim. As duas pareceram encantadas com a ideia, mesmo que eu houvesse explicado de forma generalizada, dizendo que uma menina muito linda passaria por ali. Segui meu caminho em direção a primeira parada, uma pequena loja, como uma banca, que havia a alguns metros da cafeteria. Agora as surpresas começariam de verdade. Pedi uma barra de chocolate para o senhor que trabalhava ali e peguei a câmera polaroid que vinha trazendo comigo durante todo esse tempo. Me posicionei em frente a banca com o chocolate em mãos e tirei a foto. Peguei outra folha sulfite e a colei, escrevendo abaixo da imagem que compraria chocolates dos mais caros para ela. Não que eu tivesse dinheiro, mas chocolate era algo que eu pagaria o preço que fosse para mim, imagine para a garota que eu poderia vir a tornar minha única.

Ela


Ao virar à esquerda observei outro papel pregado em um poste por ali e vi mais uma seta, segui caminhando em direção a onde a seta indicou e vi duas moças levantarem-se e rirem de forma encantada me entregando o papel seguinte que tinha outra seta. Minha ansiedade parecia aumentar e nada parecia me deixar próximo a ele, mesmo que cada seta diminuísse a distância. Não consegui prestar atenção em nada do que ambas diziam então agradeci e continuei meu caminho. Observei meu próximo destino e vi uma pequena banca ali e um senhor simpático que sorria ao me ver com alguns papeis em mãos, ele então sorriu, me entregando uma barra de chocolate e mais um papel, que dessa vez continha uma mensagem. "Vou te comprar os mais caros chocolates." A foto dele sorrindo, grudada a folha, me fez sorrir também e agradecer ao senhor indo em direção ao próximo lugar indicado.

Ele


Continuei andando em direção a próxima parada. Quem não gostava de cachorros, certo? Eu, por exemplo, pensava desde sempre em ser veterinário, cuidar de bichinhos como aqueles me fazia feliz, tão inocentes, não entendem as maldades do mundo, não fazem nada de propósito além de amar. Conhecia bem o dono do pet shop, eu vivia ali. Sr. Archie me cumprimentou e eu o expliquei sobre a caça ao tesouro que estava fazendo para a garota. Ele vibrou com a ideia e disse que colaboraria, sem dúvida alguma, e ainda ficou me questionando sobre Lari. Contei que era algo novo, e que não a conhecia tão bem, porém sabia que valeria a pena e que ela merecia. Colei mais uma seta em frente ao vidro do pet shop e corri em direção aos cachorrinhos que estavam no cercado e ficaram extremamente animados em ter alguém ali. Me sentei entre eles e entreguei a câmera para o Sr. Archie, que sorriu feliz e tirou a foto que em segundos saiu e foi colocado no papel que ele entregaria a ela com a frase “Vou te encher de beijos”, assim como os pequenos cachorros faziam comigo na foto em que eu havia deixado para ela.

Ela


Encarei o pet shop em minha frente e me lembrei dos constantes pedidos a Angeline para adotarmos um cãozinho, ver que a seta indicava para aquele lugar fez algo aquecer-se dentro de mim. Vi o Senhor Archer, que todo o bairro conhecia, sorrir pra mim como se já soubesse o que eu procurava. Ele me entregou outro papel com duas fotos de , uma, sentado em meio a vários cachorrinhos e outra beijando um deles em especial. "Vou te encher de beijos." Era o que dizia esse novo recado. A sensação de borboletas no estômago estava ali. Archer sorriu e quando o encarei novamente ele me entregou um dos cãezinhos, e eu não acreditava no que ele tinha me dado. As dúvidas só aumentavam, esse garoto realmente era real?

Ele


Andei por mais alguns metros colando diversas setas para lhe indicar a última surpresa antes do final. Colei setas em algumas mesas de outra cafeteria que ficava ao lado do carrinho de flores mais visitado da cidade. Todas as garotas passavam por ali suspirando por um dia ganhar flores, independente da idade, até mesmo as mais pequenas pareciam completamente interessadas. Conversei com a Sra. Michaels, explicando o mesmo que havia dito para o Sr. Archie, fazendo com que ela abrisse um sorriso de orelha a orelha, dizendo que as flores seriam algo muito importante naquilo. Ela tirou a foto para mim e escolhi a flor que seria dada para Lari, com sua ajuda, claro. Colei a foto em mais uma sulfite com os dizeres “Te darei flores”, pois quando a conquistasse, não seria por um momento, não seria agora, seria por muito mais, e para isso, existe a necessidade de conquistar alguém todos os dias.

Ela


Eu observei o carrinho de flores no final da rua e me aproximei já tendo em mente o que viria. As pistas estavam acabando, já tinham passado várias e minha felicidade aumentava a cada surpresa, era a melhor caça ao tesouro que eu tinha participado na vida. Suspirei rindo para a mulher do carrinho de flores que me entregou uma flor lilás e um papel com uma frase dizendo que me daria flores sempre. parecia o cara ideal que todas as mulheres sonhavam e eu me sentia imensamente sortuda naquele momento.

Ele


Colei uma última folha no local onde ela deveria me encontrar, onde tudo começou. Na porta da lavanderia deixei uma folha que dizia que faria cada momento ser mágico, pois era minha intenção desde o início. Para que você acolha alguém, não há nada melhor que fazer das coisas os melhores e mais mágicos momentos do mundo. Entrei na lavanderia e comecei a ajeitar as coisas que deveria para nosso, não sei, semi-encontro? Havia conversado com o responsável e enchera o local de luzes que eu sabia que a noite deixariam aquele lugar incrível à meia luz. Separei o cachecol que estava guardado comigo e então esperei, até o momento certo em que ela chegasse, torcendo para que ela realmente estivesse vindo, e estivesse se divertindo com tudo, assim como eu.

Ela
Observei que eu tinha apenas dado uma volta pelo bairro e o caminho parecia infinito. Respirei uma, duas, três vezes antes de abrir a porta da lavanderia que tinha um papel dizendo que faria com que tudo fosse mágico. Encarei todos os papéis em minhas mãos e a expectativa soava a mil. Como ele tinha planejado tudo aquilo? Como ele tinha pensado em cada detalhe em tão pouco tempo? Agora estava ali dentro me causando os melhores sentimentos do mundo: felicidade e paixão. Quando abri a porta encarei as luzes brilhando e sorri ao vê-lo parado poucos metros à frente. Ele estava ali sorrindo pra mim. Ou por mim.

observou o lugar decorado com luzes e não hesitou em sorrir. Não acreditava que aquilo estava realmente acontecendo. A garota não podia mentir que sempre quis uma surpresa daquelas. E nunca tinha encontrado alguém que tivesse despertado tal vontade de realizar aquilo. Eles eram novos, mas era diferente. Não sabia como começar a falar tudo que queria, vê-la ali em sua frente, sorrindo, era uma das cenas mais lindas que ele já havia visto. Caminhou alguns passos pra frente com o cachecol vermelho em mãos e entoou a música que tocava baixinho no som ali. Colocou o cachecol vermelho no pescoço da garota a puxando pra perto de si e envolvendo as mãos em sua cintura, guiando-a para uma dança calma. Ele sussurrou as últimas frases da música e viu sorrir, fazendo seus olhos fecharem-se um pouco por isso. Por Deus, ela era perfeita demais pra ser real.

I'm gonna put you first
(I'm coming for you)
I'll show you what you worth
(that's what I'm gonna do)
If you let me inside your world
There's gonna be one less lonely girl
E então, ele finalmente a beijou. Ele a tinha ali com ele, e nada mais importava. Ela seria sua garota.
Naquele dia, ela era uma garota solitária a menos no mundo.





Fim.



Nota da autora: Rah: Eu estou falando por nós, porque eu scriptei e eu sou ansiosa. Mas sei que a Lari está imensamente feliz com o resultado também. Já eramos parceiras na vida e agora na escrita. Esperamos que gostem, de verdade! <3





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