Finalizada em 18/05/2021
Music Video: Paranoia - Kang Daniel

Prólogo

Passos lentos, um arrastar infinito, correntes balançando...Uma sintonia enlouquecedora e então...NADA! Um silêncio sepulcral envolto na mais pura escuridão. Minha respiração não passava de um mero marco fosse lá o que me espreitava, não havia qualquer informação a respeito do que estava acontecendo; minha mente desesperada por alguma coisa em que pudesse me agarrar mas não havia nada...
Como um prelúdio a uma tempestade.

Uma calmaria agonizante, na qual a incerteza dominava meus sentidos para algo? Não sabia o certo! O que deseja desesperadamente era compreender o que estava acontecendo! Meu único sentido a funcionar era minha maldita audição que não me oferecia nada! Não sentia, não enxergava e não sabia onde estava!
E então...
Enfim houve algo, inenarrável, inexprimível e impossível de compreender...

Capítulo 1

Minhas roupas estavam encharcadas de um suor frio, congelante, meus batimentos ecoavam em meus ouvidos de modo ensurdecedor enquanto sorvia longas gokfadas de ar para dentro como se não fosse o suficiente...O oxigênio que buscava desesperadamente parecia inalcançável até a enfermeira adentrar meu quarto e me acalmar com uma dose de morfina para então ser levada a doce escuridão...
×☠×

Um aroma pungente tomava minhas narinas ao ponto de ser insuportável. Era como se minha face estivesse banhada em um líquido espesso que adentrava minhas cavidades a força, meus olhos encobertos não me permitia enxergar enquanto sentia dores lancinantes em minhas costas; tentei me mexer no entanto o som inesquecível de correntes tomou o ambiente, gélidas como o inverno rigoroso, com a ausência da visão meus sentidos estavam mais apurados e com isto a dor que irradiava em minhas costas era insuportável! Parecia como se minha pele houvesse sido cortada e o odor que tomava minhas narinas fosse o meu próprio sangue.
Passos suaves, quase inaudíveis tomaram o ambiente assim como um odor forte de absinto, e então fogo correu por minhas veias enquanto agonizava sem saber aonde estava...

— Falta muito pouco para que esteja preparada, no entanto esta versão já esta danificada...É uma lástima ter sido facilmente partida.

Como chamas seu toque incinerou-me em questão de segundos, era como se eu fosse o próprio fogo...

— Estou indo até você querida.
×☠×


Meu corpo ergueu-se num rompante enquanto meus batimentos me ensurdecia, o brilho âmbar dos abajures iluminava meu quarto. Estava com outra roupa, a anterior havia sido encharcada pelo meu suor. Meus pesadelos estavam piores, como uma doença desconhecida essa terrível e irremediável situação se estendia por longos anos...Nunca ouvira-se sobre alguém que passasse toda a vida atormentada durante seu sono; com a falta de informação sobre meu estado e com minha qualidade de sono enfraqueci o suficiente para ser desconsiderada como uma ameaça para meus irmãos mais velhos. Minha família possuía um império, o sobrenome era sinônimo de poder, minha frágil saúde me colocou de lado para estar entre os escolhidos para comandar; isso pouco me importava.

Capítulo 2

Buscava me livrar das noites atormentadas e as insones, era um cabo de guerra no qual eu lutava todas as vezes com o sono, todas as vezes que mergulhava nesse território desconhecido para a ciência o meu tormento iniciava. Marcado sempre pelo mesmo e não menos intenso pesadelo, procurei focar em meus sentidos, comprovando que estava desperta. O toque suave do linho entre meus dedos, a maciez da seda contra minha pele, o perfume de lavanda que tomava o quarto...Tais detalhes minuciosos passariam desapercebidos para muitos porém esses pequenos detalhes faziam muita diferença para mim, era dessa forma que diferenciava o real do irreal. Abracei meus joelhos enquanto observava o ambiente, a neve caia tranquilamente no imenso jardim, árvores, arbustos e um oceano de alabastro se estendia enquanto o brilho pálido da lua iluminava tudo, era um contraste gritante com o quarto no qual me encontrava. A paisagem fria não me acalentava tão pouco, era como se além daquele oceano branco algo espreitasse, como sussurros de algo jamais pronunciado um leve brisa levantou parte da neve. Me levantei e fechei as cortinas me abrigando debaixo da mesa que utilizava algumas, raras, vezes. O ambiente reconfortante passara a me sufocar.

— Não se pode escapar do inevitável minha doce !

— Isso não passa de um delírio, isso apenas estou delirando...

Uma gargalhada estrondosa ecoou no ambiente antes de um arrastar de correntes soar, meus lábios continuavam a repetir que estava apenas delirando, que aquilo não passava de um fruto da minha condição precária.

— Você está pronta, aceite seu destino!

Então uma figura parou ao meu lado, o odor de sândalo com toques amadeirado tomou lugar a lavanda, abracei meus joelhos firmemente. Toques incandescente permeou minha nuca, o medo tomava cada célula do meu corpo.

— Deixe-me em paz!

Minha sentença saiu entre meus dentes, como um sussurro, fraco e quase inaudível mal consegui reconhecer minha própria voz.

— Não espere compaixão numa próxima vez!

Quando ergui minha cabeça e consegui soltar meus joelhos, estava sozinha na mais plena escuridão e a luz fraca do escapava pela fresta da cortina.

— Senhorita ?
— Onde ela está?
— O que esta acontecendo?

Enquanto uma confusão se instaurava ali minha mente estava distante, como se buscando entender o que havia acontecido.

Capítulo 3

Dois anos haviam se passado desde aquela noite, como esperado ninguém havia acreditado no que havia dito; encararam como um surto e que estava ficando paranóica por não conseguir dormir direito. Aprendi a me calar e controlar meus próprios demônios, estava farta de ser frágil. Eu sabia que não fora algo produzida pela minha tortuosa mente! Oh não! Fosse lá o que havia me encontrado não havia deixado rastro de sua passagem!
A progressiva melhora de meu estado irritou meus “amáveis” irmãos, como cobras diante suas presas espreitavam a cadeira de diretor da empresa famintos por sua ganância. O brilho do veneno era visto em seus olhares e todos os três pares venenosos estavam voltados para mim, como a filha doente não esperavam me ver um dia sentada na mesa de acionistas, graças a medicina pude fortalecer meu sistema imunológico e investir em tratamentos alternativos gerou resultados...A minha versão daquela fatídica noite me enojava; aquele medo...eu não desejava senti-lo novamente! Por conta disto encarar minha “afetuosa” família não era nada comparado ao que havia sentido aquela noite! Dada a época do ano, meus irmãos poderiam unir-se contra o elo mais fraco, no entanto aquela competição por poder não era o que eu buscava. Eu sabia que minha vida estava em risco ao ser cotada pelos membros do conselho como uma das candidatas a herdar a diretoria graças a morte de meu avô. Não era surpresa nenhuma eles simpatizarem pela menos venenosa, afinal eles queriam algo fácil de impor seus desejos...Crescer nesta família deveria ser o que iniciara meu tormento pessoal!

— É intrigante a razão de ter sido considerada apta para esta disputa. — Vincenzo comentou casualmente após a reunião do conselho.
— Temeroso em perder para uma inválida? — Retruquei ironicamente enquanto recolocava meus óculos de sol.
— Perder ? Incrível como uma louca pode falar tão casualmente. — Henrico surgiu o lado de Vincenzo, seu tom de voz era sombrio e havia um brilho perigoso em seu olhar.
— Vejo que o ditado cai bem em nossa família visto que estão em sintonia. — Lhe dei um aceno antes de seguir em direção ao automóvel que me aguardava.
— Devemos manter os amigos por perto, e os inimigos mais ainda irmãzinha. — Martino saiu de dentro do carro para o qual me dirigia.
— Vocês estão mesmo temerosos que eu ganhe esta disputa! — Um largo e brilhante sorriso enfeitou meus lábios enquanto ligava para o número de meu pai, afinal fingir uma tontura era mais seguro do que embarcar no carro que meu irmão havia acabado de sair.
— Não seja tola . — Vincenzo retrucou num tom frio, seus olhos emitiam chamas frias de um ódio cultivado por anos.
— Nunca fratello afinal aprendi tudo o que sei com vocês. — Lhe lancei um piscar de olhos antes de me apoiar em Henrico como estivesse com tontura, meu semblante assumiu a máscara que usava para meus pais.
— Essa maledetta. — Henrico esbravejou por baixo de seu fôlego enquanto assumia o papel de irmão preocupado, ele não desejaria ficar em maus termos com nosso pai o qual saia do carro com a classe que apenas um possuía.
— Figlios mios. — Gianluca Di Santi, meu amado pai, saudou enquanto me apoiava. — Como esta mia bambina? — Ele indagou verdadeiramente preocupado.
— Apenas uma tontura papa. — Minha voz saiu baixa e fraca, uma encenação clara na qual apenas meu tolo e amado pai não notava; nossa Matrona era a origem do veneno de meus irmãos e embora ela tenha me gerado seu apreço esteve longe de alcançar-me afinal possuía três rapazes e isso era seu maior feito!
— Venha, eu a levarei para casa. — Com gentileza ele me levou para longe do veneno de meus irmãos.
— Melhoras cara mia. — Martino ousou se pronunciar enquanto me lançava um olhar de aviso.
— Ouvi algo sobre o conselho lhe ter como a futura sucessora. — Meu pai me indagou no instante em que adentramos seu carro.
— Não tomarei nada que lhe pertença papa. — Elevei meu olhar de modo a encontrar os olhos de meu pai. — Eu não sou como meus irmãos.
— Eu sei bambina, eu temo que por estar em destaque eles trilhem um caminho irremediável. — O cansaço na voz de meu pai evidenciou sua preocupação, o abracei de modo a lhe assegurar que ficaria bem.
— Nada poderá me machucar a menos que eu assim permita!

Com as notas refrescantes de Vivaldi o carro trafegou tranquilamente pelas ruas de minha amada Florença.

Capítulo 4

Não eram raras as vezes que caminhava silenciosa pelas ruas de Florença, vestia roupas comuns de modo a esconder o status da minha família enquanto observava a vida noturna. Era um hobbie no qual poucos detinham conhecimento; e de certo modo era uma medida de espantar os pesadelos, não teria problemas caso me exaurisse afinal o que meu subconsciente criaria caso estivesse sem qualquer forças?! Era um método rudimentar porém nem mesmo a mais avançada medicina havia tido êxito!

Era melhor ter uma estratégia do que nada.


Minhas caminhadas me proporcionavam uma certa resistência e uma melhora em meu estado de saúde. Era algo aprazível e necessário, era como juntar o útil ao agradável. Seguia sem qualquer direção ou destino certo; como uma andarilha desvendava os segredos e tesouros desta cidade. Sem perceber acabara em um beco sem saída, no entanto não fora isso a me surpreender, já havia me perdido e estado em inúmeros deles! A surpresa se dava a três figuras que bloqueavam a saída do beco, meus três irmãos mais velhos me aguardavam como estivessem encarando sua próxima refeição.

— Mia cara, hoje em dia esta cada vez mais perigoso para uma dama sair desacompanhada. — Vincenzo soprou a fumaça de seu charuto enquanto pronunciava as palavras com falso pesar.
— Que terrível! Já pensara em quantos perigos pudera ter esbarrado somente nesta noite? — Henrico usou seu talento óbvio para teatro, sua entonação fora perfeita! Caso não o conhecesse poderia facilmente cair em suas enganosas armadilhas.
— Nenhum perigo real me assusta tendo o meu próprio sangue como inimigo. — Me detive em ser apenas sucinta, não precisaria prolongar algo que já esperava.
— Pensei que negociaria, que decepção. — Martino apagou seu cigarro com a ponta de seus sapatos de luxo.
— Qual fora o meio que escolheram? — Lhes indaguei, minha morte era esperada porém não lhes daria trunfo algum.
— Você assim o verá cara sorella.

Capítulo 5

Me encontrava atada a uma pilastra, ou eu assim julgava visto que sobre minha cabeça estava algo como um saco preto; sentia a corda em meus pulsos e tornozelos e embora fosse fortemente atada parecia que o responsável por tal tarefa era um desleixado, apenas por mover levemente sentia os nós se afrouxarem. Porém tendo meus irmãos como inimigos isso poderia fazer parte de um ardiloso espetáculo; Henrico sempre fora tendencioso a um toque de dramaticidade.
Ouvi passos arrastados e algo como pedras se movendo; o odor pungente de ferrugem e óleo me levava a crer que estava no ferro velho; e a julgar o que poderia acontecer, duvidava que fosse o próximo ao centro da cidade. Era o mais antigo e repleto de histórias incríveis a respeito; algo gélido tocou minhas mãos e antes que o som das vozes de meus irmãos me alcançasse o toque se fora.

— Por quê não ateamos fogo? — Henrico sugeriu alto e com um toque de diversão repleta de perversidade — Um cadáver queimado não pode ser reconhecido.
— Mas a arcada dentária poderá confirmar sua identidade. — Martino o repreendeu.
— Calem-se! Me permitam pensar com clareza! — Vincenzo elevou sua voz furioso.
— Que formidável, de fato vocês superaram minhas expectativas! — Me fiz ser ouvida. — Além de serem previsíveis agiram movido pelo impulso; esperava algo assim de Henrico e Martino mas você Vincenzo...meu caro irmão de fato não cansa de decepcionar todos a sua volta com sua mediocridade! — Meu capuz fora retirado num rompante e uma adaga fora colocada ao lado da minha jugular.
— Que eu me recorde, não lhe dei permissão de opinar. — Vincenzo me encarava com a raiva banhando suas orbes cinzentas.
— Me mate com suas próprias mãos se tiver coragem. — O desafiei torcendo as cordas em meus pulsos de modo discreto.
— Não seria divertido apenas um finalizar sua miserável existência. — Henrico buscou afastar Vincenzo.
— Afiada como sempre sorella. — Martino ergueu seu cântaro de uísque antes de tomar um gole como um brinde.

De repente, em um milésimo de segundo, entre o vai vem da luz uma figura surgiu. Em algum canto distante da minha mente eu o reconheci, no entanto não sabia dizer com precisão de onde o conhecia mas o arrepio que tomou-me fora um claro aviso de que algo muito ruim ocorreria! As cordas atingiram o chão no mesmo instante em que a figura quebrou o pescoço de Martino, e então a agonia que banhou a face de Henrico me deu náuseas, era como acompanhar um monstro...

— Não me lembro de ter permitido qualquer mortal danificar o que é meu!

Ali eu soube que meus pesadelos eram reais e que o responsável por meu tormento estava apunhalando meu irmão mais velho sem qualquer hesitação.

, minha doce e querida . — Um sorriso sádico banhava aquela face impiedosa. — Eu a avisei que não teria compaixão na próxima vez que nos encontrássemos.

Capítulo 6

Em dado momento minha consciência escapara entre meus dedos e sem forças meu corpo inclinara-se direção ao chão porém a última imagem que banhou minha mente fora essa figura misteriosa a segurar-me.

— Vamos para casa.

×☠×


Lavanda...
A primeira coisa que consegui processar foi o perfume que tomava todo o ambiente, havia algo suave que diferenciava-se das vestes anteriormente usadas. De fato eu não estava usando as mesmas roupas, apenas pelo tecido poderia identificar as diferenças. Com meus olhos ainda fechados busquei me atentar ao local em que me encontrava, não havia nenhum som além de água, uma fonte?

— Não é preciso fingir que esta dormindo quando claramente encontra-se desperta .

Meu coração disparou com a voz que tomou o ambiente; era realmente intrigante como ele tornava impossível de se negar. Como uma clara evidência de que era real e não havia formas de contradizer isto. Me sentei ainda de olhos fechados, receosa em aceitar a realidade visto que nosso último encontro me encontrei em um estado do mais profundo medo.

— Não há pelo o que temer.

Ele realmente tentou soar convidativo, o tom sombrio e cruel havia sido deixado para trás e uma leve porém tênue cortesia era revelada. Abrir meus olhos era admitir que ele era real porém permanecer com meus olhos fechados era a garantia de provar que tudo o que estava ocorrendo não passava de um dos meus pesadelos.

— Não vejo razão para acreditar não em sua palavra. — O respondi de modo direto.
— Se eu desejasse matá-la assim o teria feito. — A impaciência dele começava a dar sinais.
— Você deseja me quebrar ao ponto de não reconhecer a mim mesma! Eu ouvi isto de seus próprios lábios enquanto torturava uma de minhas, como você aprecia dizer, versões. — Elevei minha face na direção em que ouvia a respiração dele.
— De fato, porém não há motivos para temer. Meus objetivos são claros e específicos: desejo destruí-la de dentro para fora. — A voz que eu ouvia em meus pesadelos pode ser ouvida ao meu lado, num sussurro tortuoso em meu ouvido.
— Não se pode danificar algo que já fora danificado. — Meu tom de voz manteve-se firme e não cedi ao impulso de abrir os olhos.
— Não há vestígios de tal acusação. — Ele retrucou sem qualquer displicência.
— O que ocorrera dois anos atrás não fora prova suficiente? — O indaguei furiosa.
— O prelúdio de minha diversão. — Ele simplesmente dissera sem qualquer arrependimento.
— Uma sentença de condenação melhor dizendo. — O corrigi me deitando e virando na direção contrária a ele.
— Eu não a machucarei...
— Ainda! — Completei a sentença dele sem qualquer hesitação, como uma tempestade ele me deixara e a pressão no ambiente se suavizou confirmando sua partida.

Receosa com o que ele poderia realizar busquei saber o que trajava para então rasgar parte do tecido e dessa forma cobrir meus olhos, afinal os olhos são a janela da alma!

Capítulo 7

Uma vez, quando criança, cobria meus olhos com o fim de buscar diferenciar a realidade e os meus pesadelos. Dessa forma buscava aprimorar meus outros sentidos forçando-os a estarem afiados, pouco a pouco, num longo e exaustivo processo consegui aprimorar os sentidos. Assim diferenciava com facilidade meus pesadelos e a realidade; com o passar do tempo o utilizei em diversas situações e até mesmo para exaurir meu cérebro forçando uma noite sem qualquer sonho e embarcando em uma noite agradável porém rara.
Como não era exclusivamente dependente de minha visão consegui memorizar características do lugar em que estava, era um quarto peculiar repleto de objetos estranhos. Fosse lá o responsável por minha tormenta, era um homem bastante incomum! Continuando minha busca por informações prossegui para a área externa para apenas me decepcionar com a porta de vidro trancada e a que dava para o corredor do mesmo modo. Haviam peças de roupas penduradas e lançadas por todo o quarto como um acesso de fúria, estava presa no quarto daquela misteriosa figura...

×☠×

— Não abra os olhos, eu imploro.
Um sussurro me despertou, estava novamente na cama e devidamente vestida fosse lá o que estivesse vestindo desimploro
— O quê...Por quê? — Indaguei confusa ainda sonolenta.
— Acredite em mim não vai querer ver. — A agonia naquela voz tão cruel me fez abrir os olhos num rompante.
Em um instante estava naquela cama e na outra estava em um quarto completamente diferente! O ambiente âmbar remetia ao meu antigo quarto; quando minha condição era delicada demais. Havia sinais de destruição por todo o local e em alguns pontos havia trilhas de...água? Não sabia dizer o certo.
— Por quê toda vez que lhe dou este aviso teimosamente o descumpre?! — A figura daquele homem me encarava frustrado, no entanto diferente da forma que o conheci sua aparência era mais suave e terna?!
— O que de fato esta acontecendo? — O indaguei completamente perdida em minha confusão.
— Como duas personalidades minha alma fora separada em duas partes, a boa fica aprisionada e a má tortura-lhe até que falhe em nos unir novamente em uma coisa só. — O cansaço evidente revelava sua desesperança.
— Eu ainda estou confusa! Me explique essa loucura ou sinto que...— Minha voz falhou ao tentar completar a sentença.
— Como algo que não deveria existir, uma vantagem fora vista sobre minha existência. Para realizar os desejos de minha carcereira minha alma teve de ser divida ao meio, a variável imprevista no plano dela era você. Unidos pelo destino, atados estamos até que realize sua missão e liberte os humanos dessa maldita. — Ele me falou com pesar enquanto sentava-se curvado sobrar o colchão.
— Em todos esses anos estou sofrendo por causa de uns desconhecida? — Indaguei ainda confusa.
— Não exatamente, esta nessa loucura porque meu falho coração não consegue deixá-la partir e esquecê-la . — Ele me ofereceu um sorriso triste.
— Mas eu não o conheço? — A confusão parecia uma ótima saída.
— Não exatamente, há muitos anos atrás nos conhecemos, num passado distante no qual a esperança parecia ser uma alternativa. — Ele me respondeu com sinceridade.
— Estamos conversando durante esse tempo todo, sou atormentada por inúmeros pesadelos e eu ainda não sei o seu nome. — Me sentei ao lado dele, meus olhos buscavam enxergar a verdade.
, . — Ele elevou seus lábios num simples porém lindo sorriso, parecia que ele havia se esquecido como era sorrir.
×☠×



Meus olhos fecharam-se o sentir novamente o colchão sobre minhas costas e o toque gélido em minha face. Eu sentia que estava longe de entender o que estava me acontecendo.

Capítulo 8

A cada dia uma nova charada para encontrar, enigmas para desvendar e a realidade para diferenciar...O tormento psicológico estava me desgastando! A responsável por tal ato era uma completa desconhecida e embora buscasse respostas quando a pior versão de surgia...era como procurar um diamante em meio ao lodo! A habilidade de desvendar ambas metades me desgastava, eu via ambos tormentos tanto em meus próprios sonhos como no âmago das metades de ...Eu não sabia se conseguiria preservar algo exclusivamente meu...Estava tomada de lembranças e experiências de meu carrasco.
×☠×

O estalido das madeiras sendo engolidas pelo fogo era como um plano de fundo para o cenário; um garoto frágil se escondia debaixo da mesa enquanto uma figura claramente feminina arrastava suas lâminas banhadas em sangue de um lado para o outro, rondando calmamente o recinto enquanto testava-o; em seguida uma outra imagem me fora mostrada: a figura que julgava ser a parte boa de despertava pouco antes de ter seu peito atingido pela lâmina.
— Pare...
— Por favor!
— Alguém acabe com isso!
Meus lábios tremularam como a chama de um vela, a imagem do quadro parecia distorcer enquanto perdia o equilíbrio...Um loop sem fim e então algo frio, umidecia minhas vestes enquanto me via presa por uma força invisível. Meus olhos não enxergavam nada além de...água? Me debati procurando me libertar para é claro entender que não eu a figura presa ali, o corpo que se debatia lutando para sobreviver era o de . Sentia água adentrar minhas narinas e boca após perder as forças, o choque pela falta de oxigênio era inexprimível, a busca sem fim por algo que não conseguia alcançar embora os músculos exaustos e cansados não pudesse fazer muito a respeito...
Como um piscar de olhos encarava agora uma figura sombria, olhos carmim e...Não! A face que enxergava pertencia a minha mãe! Reconheceria aquela frieza mesmo que perdesse a memória, apenas seus olhos eram visíveis enquanto um véu cobria-lhe a face. Suas vestes eram semelhantes a fios de escuridão que lhe envolvia o corpo esguio; ela encarava a figura desacordada de enquanto a mesma faca que usara contra ele estava sob uma bandeja de prata.
— Iniciem.
×☠×

— Não se aventure como quiser em minhas memórias!

As unhas dele parecia como garras de ferro mergulhadas no fogo, era insuportável esse jogo entre duas faces. O brilho vermelho em suas íris causava calafrios em todo o meu corpo. Estava ali por dias? Eu não sabia dizer exatamente mas havia experimentado em minha pele as loucuras lhe infringidas.

— Você me perseguiu! — O empurrei cansada dessa merda toda. — Me usou como seu brinquedinho favorito! — Continuei o empurrando deixando progressivamente minha irritação evidente. — E me mantém refém como se eu fosse seu animal de estimação!
— Esqueceu de acrescentar o fato de que agora sabe que não passo de um peão nas mãos de sua mãe. — Ele sorriu de modo mordaz.
— Traga ela aqui. — Cuspi as palavras entre dentes, ele não me causava mais medo mesmo que utilizasse seus atributos físicos para me intimidar.
— Ela a caçara até a morte, me colocou como seu carrasco para seus próprios interesses. — Ele inverteu nossas posições, o brilho vermelho havia abandonado seus olhos. — Você realizou um feito e tanto acessando algo que nem mesmo eu consigo alcançar.
— Eu não consigo dizer qual dos dois esta diante de mim agora, há muito ambos encontraram uma forma de se comunicarem! — Devolvi a sentença com uma sobrancelha arqueada.
— Pensei que não notaria. — Ele me liberou servindo-se de uma dose de uísque.
— Como eu a elimino? — Lhe indaguei sem qualquer traço de paciência.
— Não da para eliminar, pode purificar mas matar não. — Lhe dei um olhar confuso. — Alteraria o equilíbrio de tudo.
— Como acabamos com esse ciclo?
— Paciência minha doce .

Capítulo 9

me deixou livre para circular pela área comum de aonde fosse o local em que estava; corredores vermelhos, pretos, azuis...Um labirinto repleto de seres desconhecidos. Minha face e figura estava completamente envolta de modo a esconder quem eu era. Meus pés me levaram a uma câmara familiar, era a mesma que havia visto na mente de .
Cuidadosamente me movi, evitando a fazer qualquer ruído. Eu sentia como estivesse sendo vigiada mesmo estando sozinha. Acalmei meus batimentos enquanto prosseguia minha busca, desejava sair e talvez encontrar certa normalidade, uma entrada reluziu com o brilho carmim antes de eu ser arrastada por figuras que surgiram das sombras...

×☠×

— Já chega!
— Isso não lhe convém!
— Basta!
— Ele não teve o que era lhe merecido...

Vozes agitadas e em discordância viravam uma cacafonia desastrosa; meus ouvidos imploravam por ajuda. No entanto era como se tudo ocorresse em minha pobre mente. Toquei a superfície em que estava sentindo algo macio, como estivesse sobre um colchão.
— Me concedera a vista de seus belos olhos mio caro?
Ao obedecer o comando da imponente voz encontrei trajada nas vestes que sua mãe assim utilizara, minha confusão estampara minha face.

— Me permita encerrar sua existência miserável.

Capítulo 10

— Como ?
— Tudo não passara de manipulação da mente, nada do que ocorreu passou de uma ilusão.

A figura de meu irmão gêmeo me encarava do outro lado da minha cela; seus olhos heterocromático evidenciava o preço que eu fora responsabilizado a pagar. O sangue que manchava minhas mãos era um lembrete do quão poderoso ele poderia ser.
— Quanto as lembranças de...
— Não seja ingênuo ! A própria Matrona é responsável por esta ilusão perfeita; utilizou de uma fantasia e implementou lembranças de sua própria filha para tornar tudo ainda mais realista.
— Ele me respondeu com um sorriso tirano.
— Quanto o tormento causado a ela...
autorizou tudo para que sofresse mais, os não são conhecidos por serem piedosos, fora uma bela piada ter te colocado como o vilão na ilusão. — O brilho hediondo de seu olho carmesim me enojava.
— Como se houvesse qualquer esperança para sua melhor metade.
— Não seja dramático. — Ele me respondeu sem um pingo de humor.
Para alguns o mundo acaba em gelo, para outros em fogo...Eu rogo a um ser maior para que você seja consumido por esse fogo de sua hedionda e inescrupulosa mente ao ponto de não sobrar nada além do pó!

Como uma tempestade viera, assim ele se fora me deixando no eterno limbo, vigiado e sozinho atormentado pelas minhas próprias e errôneas decisões em tentar salvar ele de se mesmo.
×☠×



FIM.



Nota da autora: Sem nota.



CAIXINHA DE COMENTÁRIOS

Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.


comments powered by Disqus