Capítulo Único
“Se for preciso, eu giro a Terra inteira
Até que o tempo se esqueça de ir pra frente e volte atrás
Milhões de anos, quando todos continentes se encontravam
Pra que eu possa caminhar até você” (Rubel, AnaVitória - Partilhar)
Até que o tempo se esqueça de ir pra frente e volte atrás
Milhões de anos, quando todos continentes se encontravam
Pra que eu possa caminhar até você” (Rubel, AnaVitória - Partilhar)
[Rio de Janeiro, Leblon. 12 de janeiro de 2019]
sabia que aquela manhã de terça-feira não seria seu dia desde a hora que ela tinha acordado decidida a correr. Correr. Pela. Manhã. Mas ela não iria mudar de ideia: já tinha se levantado, trocado de roupa e tomado um café da manhã leve, ao contrário do que ela costumava tomar. As torradas sem gosto e o café sem açúcar não eram de longe sua primeira opção, mas ela estava decidida a seguir uma vida mais saudável, como a sua personagem. Ah, como era a vida de atriz, né? Basta o seu personagem em uma novela ser totalmente o oposto, que você passava a olhar sua própria vida com maus olhos! Ela invejava muito a Luana, seu alter-ego na novela de maior audiência da televisão: bonita, saudável tanto fisicamente quanto mentalmente, corria na praia todos os dias e não se alimentava de Doritos e Coca-Cola sempre que podia. Por isso, tanto para manter seu personagem em forma, quanto para melhorar a saúde de si mesma, ela tinha decidido levantar às sete da manhã para correr na Praia da Barra. Tinha escolhido esse horário porque era mais fresco, pois o Rio de Janeiro era o lugar de morada do capeta e também porque temia que alguém a reconhecesse na rua. Ela não gostava de se encontrar com fãs quando estava de mal humor, pois tinha o péssimo hábito de fechar a cara e agir como um homem das cavernas, então ela preferia sempre encontrá-los quando estava de bem com a vida.
Antes que desistisse, calçou seus tênis e preferiu as escadas ao elevador quando saiu de casa, como uma forma de incentivo. Cumprimentou o porteiro e saiu trotando até o semáforo mais próximo, apertando impacientemente o botão que auxiliava os deficientes visuais. Foi quando ela olhou distraída para o lado, que o viu. Ele também a tinha visto, mas os dois não se cumprimentaram. No mesmo instante, tinha se esquecido como usar as pernas ou até mesmo pensar. Olhou novamente para o homem parado ao seu lado, incrédula demais para fazer alguma coisa. Ele também não sabia o que fazer. Tinha esquecido o próprio nome!
Depois de muito relutar, foi a primeira a quebrar aquela cena constrangedora.
一 Ei! 一 ela disse, com a voz um tanto quanto estridente. Sempre acontecia isso quando ela estava nervosa! não conseguiu se policiar antes de erguer os braços para um abraço 一 o homem olhou para ela com o mesmo olhar assustado e retribui o cumprimento.
一 Como você tá? 一 balançou a cabeça, ainda tentando acreditar que Bento estava parado na sua frente.
一 Tô ótimo! 一 ele respondeu sorrindo 一 Eu vi você na novela nova! 一 ele disse, tentando deixar aquela situação menos desconfortável.
一 É, eu… eu voltei pro Rio! 一 respondeu idiotamente 一 Para…
一 Pra novela, é, percebi 一 riu, balançando a cabeça negativamente, ele costumava amar o jeito desengonçado dela e como ela demorava achar as palavras quando estava nervosa 一 Eu vi você na novela, inclusive! Com minha mãe… eu estava indo pra lá… 一 ele completou
一 Manda um beijo pra ela! 一 exclamou subitamente, se lembrando da ex-sogra. Ela era uma mulher maravilhosa, a tinha acolhido como se fosse uma filha. 一 Eu pensei ir lá algumas vezes, mas com essa agenda… 一 mentiu descaradamente. Ela tinha tido férias antes do período da novela, mas era uma tremenda cagona e não queria enfrentar a dona Maura.
não respondeu. Os dois ficaram se encarando por um tempo, sem saber o que dizer ou fazer. Nem parecia que se conheciam há anos. A impressão era que havia um imenso muro entre os dois, que os impedia de agir naturalmente.
一 Acho que esse semáforo já fechou e abriu várias vezes… 一 quebrou o silêncio 一 Eu estava indo correr… a gente pode caminhar para conversar, se… se fizer sentido! 一 ela disse e logo se arrependeu das palavras “se fizer sentido, ?” pensou consigo mesma. Nem parecia que ela era atriz, estava completamente desarmada naquele momento.
一 Claro! 一 respondeu prontamente, e assim os dois atravessaram a rua, em direção ao Posto 12 do Leblon, e começaram a caminhar.
一 Me conta de você! 一 pediu
一 Eu tô... casado!
一 É, eu fiquei sabendo! 一 Ela respondeu de forma descontraída, como se não tivesse ficado horas em uma crise de choro imensa quando viu fotos do casamento no Facebook.
一 Eu não sabia se te mandava convite ou não… 一 respondeu sem graça, ele tinha pensando muito na hipótese, mas em respeito à esposa, que era totalmente ciente da história deles, resolveu não enviar.
一 Eu iria! 一 Mentira. Muita mentira. Pura mentira. 一 Você ainda têm escrito? 一 Ela o perguntou. Seus primeiros papéis, ainda quando os dois eram adolescentes, tinham saído das histórias de .
一 Nah… não tenho mais tempo para isso. 一 ele respondeu, e se sentiu triste. A escrita dele, os poemas que ele escrevia para ela, as cartas e até mesmo as histórias tinham, de certa forma, criado um elo entre eles. Era mais um ciclo que parecia ter sido encerrado.
Os dois caíram em mais um silêncio, esse, no entanto, não estava tão desconfortável. Ambos pareciam ter caído num mar de memórias. Já estavam no Leme, caminhando lentamente, o sol já começava a ficar mais quente, mas ainda batia um vento gostoso, capaz de eriçar os pelos da nuca.
一 Você acha que eu… mudei? 一 perguntou subitamente, o que fez rir, a risada dele continuava do mesmo jeito que ela se lembrava: cantada, escandalosa, ele jogava o pescoço para trás e fechava os olhos ao rir. Ela amava isso nele.
一 Você é tão aleatória, … 一 ele riu novamente, balançando a cabeça. 一 Mas sim. Seria estranho se você continuasse idêntica, não?
一 Você parece o mesmo! Tirando essa aliança no dedo! 一 ela não era muito boa em ser sutil. Mas era realmente um anel enorme 一 Inclusive, como está sendo? Você morria de medo da vida de casado.
一 É bom, às vezes estranho… 一 ele coçou a cabeça, desconfortável. Ele sempre pensou que se casasse um dia, seria com ela. 一 Mas eu sinto falta daquela sensação de que tudo era possível, sabe? Parece que a gente vai ficando mais velho, se casa, e a vida vai afunilando… Eu não posso largar tudo e fazer qualquer coisa…
一 Poder você pode…
一 Mas não posso! 一 exclamou e os dois riram.
一 Você tá feliz? 一 perguntou, com sinceridade e ele demorou um pouco para responder. Estava agora admirando a paisagem de Copacabana. Ele amava o Rio de Janeiro. Amava demais. Ele entendia verdadeiramente o sentido de “cidade maravilhosa”.
一 Por que a gente tem essa obsessão por ser feliz? Eu acho que nunca seremos plenamente, só temos momentos, sabe?
一 Melhor do que ser feliz é viver. 一 completou, ele sempre dizia aquilo.
一 Senti sua falta. 一 soltou, com sinceridade. Ele não olhava para ela agora, estava com vergonha e com medo que ela entendesse errado. Ele amava sua esposa, amava a vida que tinha construído com ela. Mas não podia esquecer o impacto de . Ele a amou até que os dois não puderam ficar mais juntos. Tinham partilhado uma fase maravilhosa da vida, mas o ciclo tinha se encerrado. O processo foi doloroso para os dois, e ao mesmo tempo não parecia ter tido ponto final.
一 Eu tenho que te pedir desculpas, por não ter voltado. 一 parou subitamente e olhou para , bem em seus olhos, aqueles que ela tanto tinha amado.
一 Você estava construindo sua vida lá fora. 一 ele respondeu, colocando um fio de cabelo rebelde atrás da orelha dela.
一 Mas eu falei que ia voltar. 一 devolveu com a voz embargada. Ela não podia pensar assim, mas se perguntava: se ela não tivesse partido, eles estariam juntos? Estariam casados? Com filhos? A vida ia continuar a mesma? Eram tantas perguntas sem respostas e a presença dele ali confirmava todas as dúvidas. Ela amava a vida que ela tinha agora, mas e se…?
一 Mas não voltou. 一 disse, por fim. 一 E tá tudo bem.
“Não tem, pra trás, nada.
Tudo que ficou tá aqui” (Rubel, AnaVitória - Partilhar)
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FIM
Nota da autora: oiii gente, tudo bem? esse foi meu primeiro especial, então não reparem! Mas escrevi com todo amor e com a emoção que o clipe passa de que nem sempre vamos ficar junto do nosso amor, né? Mas enfim, espero que gostem e espero que seja o primeiro dos muitos especiais que participarei! Convido vocês a ler minha fanfic, Even If I Die, que também está hospedada aqui no ffobs. Um beijão da Lua!
Outras Fanfics:
Even if I Die
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