Finalizada em: 20/05/2021
Music Video: Robbers - The 1975

Capítulo 1

Por favor, , não vai! - suplicou com sua voz chorosa no telefonema.
- Eu já confirmei que vou, não posso dar pra trás agora. Não fique ansiosa! - estava firme em sua decisão.
- Eu morro de medo toda vez que você sai de casa.
- Medo de quê? - debochou.
- De quê? Ora, de quê, ? Da polícia te encontrar na rua, te abordar, pegar alguma coisa com você ou até mesmo plantar alguma coisa pra te dar um flagrante. Ou pior: te arrastar pra algum matagal e te espancar! Eu morro se ver você todo quebrado numa cama de hospital… - Suas últimas palavras saíram num sussurro. sentia que se falasse em voz alta, essas palavras se concretizariam.
- RELAXA! Eu sei me cuidar.
- Sabe mesmo? Às vezes eu queria que você nunca tivesse me contado sobre seus esquemas, assim eu não ficaria preocupada.
- Tudo bem, da próxima vez eu não te conto mais nada - ele suspirou - É por isso que nunca conto para ninguém sobre as coisas que eu faço; odeio que se preocupem comigo.
- Seu sorriso é tão lindo, eu não quero que nada tire ele do seu rosto.
O silêncio reinou entre o casal enquanto secava uma lágrima.
- Eu tenho que ir agora. Fica calma, vai dar tudo certo.
Assim era , sempre seco, de poucas palavras. Ele aprendeu cedo que quem fala demais, em algum momento acaba se perdendo nas palavras e entrega detalhes da vida que ninguém deveria saber. Ele andava malandro por aí, como um homem que sabe se defender de todo e qualquer mal que possa aparecer em seu caminho. Mas por Deus! Ele era só um menino. Um menino perdido que buscava se encontrar na vida, mas tomava todas as decisões erradas.
Era esse menino sonhador e otimista que via ao olhar para ele. Talvez isso fizesse com que ela continuasse tentando acompanhá-lo nessa vida louca que ele escolheu. O amor não a deixava perceber que aquele menino por quem se apaixonara já não existia mais, pois saiu de jogo e deu lugar a um homem que não pertencia mais à ela. “Eu me recuso a perdê-lo”, é o que ela pensava.

Capítulo 2

A pista de skate ficava lotada nas noites quentes de verão. Com tantas pessoas falando, música tocando e o barulho dos skates deslizando pela pista, se tornava mais fácil conversar sem ninguém ouvir o conteúdo da conversa.
Num canto mais afastado da pista, próximo a algumas árvores que circundavam a praça, fumava um cigarro enquanto esperava por seus amigos.
O celular de vibrou preso em sua cintura, ele o pegou e viu piscar na tela algumas mensagens de Anna. Ele apenas bloqueou o aparelho e o colocou de volta na calça.
Um carro estacionou à frente do seu e quatro rapazes jovens saíram do veículo.
- Salve, ! - Bryan falou.
- Salve, quebrada! - respondeu, cumprimentando um por um.
- Cê vai encostar lá em casa hoje? A gente acabou de fazer um corre - Heitor tirou do bolso alguns saquinhos ziploc contendo maconha.
- Valeu, mas vou na casa da .
Os amigos riram.
- Isso que é foda, o cara larga os parceiros só porque tá casado. - Bryan debochou.
- Para de ideia errada, fei. - se defendeu - A tá puta comigo por causa da fita da semana passada.
falava sobre um assalto que ele e seus amigos praticaram dias antes, num supermercado de médio porte da cidade. sempre sentia raiva quando ele fazia isso e passava os dias seguintes dando um tratamento de silêncio no namorado.
- Vish, nem fala dessa fita. - Os rapazes ficaram inquietos quando abordou o acontecido.
- Na real eu tenho que falar sobre isso com vocês - começou - Foi treta demais pra mim, já deu!
- Certeza, mano! Chega de mercadinho, padaria e essas coisas. A gente tem que partir pra coisa maior.
balançou a cabeça negativamente.
- Não, cês não tão entendendo. Eu não quero mais fazer fita nenhuma, tô metendo o pé da quadrilha.
Os amigos se entreolharam confusos e tensos.
- Como assim, ? Até semana passada você tava de boa. - Bryan cruzou os braços na frente do peito.
- Isso não é vida, não. Eu quero parar, trampar de verdade, cuidar da minha família. E da , principalmente.
- Ah, claro que tinha que ter mulher no meio. , você tá pensando em largar seus parceiros por causa de buceta? - Heitor questionou.
- Quem é você pra falar de mulher pra mim? - riu debochado, enquanto soltava fumaça do seu cigarro - O cara mais pau mandado que eu conheço! Fica tranquilo, porque a nunca colocou cabresto em mim do jeito que suas ex-namoradas colocaram em você.
Heitor fechou a cara e aprumou a postura, ficando cara a cara com , que não moveu um músculo sequer. Diogo entrou no meio, empurrando os dois levemente.
- , você é o piloto de fuga, não pode deixar a gente na mão.
- Foi mal, mas vocês vão ter que achar alguém pra me substituir.
- Deixa ele, man. Ele gosta de ser gado da ! - Bryan replicou.
- Não fala dela, seu arrombado! - se irritou ao ver o amigo debochar de sua namorada. Por mais que eles tivessem problemas, ele tinha consciência de que ela o amava muito e só queria o bem dele.
- , você não pode vazar agora! A gente tem mais um trampo, o último, e depois vamos parar. Você é o melhor piloto de fuga entre nós. E tem mais uma coisa: a gente tá grampeado - Diogo falou a última frase em voz baixa
- Que porra é essa? - se assustou.
- Foi eu que descobri - Victor falou - Há uns dias atrás eu percebi que meu celular estava estranho, fazia muitos ruídos durante ligações e eu recebia vários sms suspeitos. Levei pra um parceiro meu que é dono de uma assistência técnica e ele disse que tá grampeado. Não conseguiu descobrir a fonte do grampo, mas sem dúvida foram os ‘pm’. Quem mais tem motivos para me grampear?
Dezenas de pensamentos correram pela mente de enquanto ele relembrava todas as provas e indícios de crime estavam arquivadas em seu celular, e calculava a chance de seu aparelho também ter sido rastreado.
- E vocês? - perguntou para os outros amigos
- Trocamos de chip e aparelho, só para garantir. Se eu fosse você, faria a mesma coisa. - Heitor disse
- , a gente tá correndo muito risco em ficar na cidade. Planejamos fazer um último assalto e vazar daqui. Com o dinheiro, vamos comprar novas identidades e ir embora, dar um tempo longe para deixar a poeira baixar. Com a grana que a gente pode levantar, você leva até a junto contigo. Ou você vai ficar de bobeira aqui esperando a polícia grampear ela também? - Diogo disse
- Cara, se você gosta dela de verdade, você tem que fazer esse último trampo. Vocês podem finalmente começar aquela vida juntos cheia de romance besta que ela sonha.
absorveu as palavras do amigo e refletiu.
- Não sei não, mano. Eu já levei a compreensão e a paciência dela ao limite. Prometi que o assalto ao mercado era o último.
- Mas a vida é sua ou é dela? - Bryan se irritou e bateu a mão no teto do carro de - Nós quatro também não planejamos fazer mais um assalto, mas agora que podemos estar grampeados, precisamos de dinheiro para sumir! É uma questão de necessidade, e se ela te ama, vai apoiar.
sabia o quanto a namorada sofreria com a quebra de confiança caso ele decidisse acatar o pedido dos amigos. No último ano, o casal passou por um inferno de altos e baixos emocionais. era a mulher mais resiliente que ele conhecia, entendendo e respeitando todas as decisões do namorado, por mais que deixasse totalmente claro que não as apoiava.
Porém, Bryan tinha razão no que disse. Ele precisava levar para longe para evitar que ela se envolvesse nessa situação, mas para isso, precisava de dinheiro. Dinheiro que ele não conquistaria em seu trabalho das 07:00 às 19:00 como mecânico.
- Então bora. Passem em casa essa semana para acertar os detalhes do plano - os amigos de comemoraram - Mas esse vai ser o último MESMO.
- Tem certeza que não vai colar lá em casa? - Heitor pergunta.
pensa por alguns segundos e balança a cabeça negativamente, repreendendo a si mesmo pela decisão que está prestes a tomar.
- Ela vai ficar bolada… mas vamos logo! - Os amigos comemoram enquanto entrava em seu carro e seguia o carro de Heitor até a casa dele.

Capítulo 3

>ei
então
eu não vou poder colar aí hoje :/ 22:45


Do outro lado da tela, suspirou tristemente.

pq não? 22:48


eu esqueci que tinha um aniversário
de um amigo hoje, ele já tinha me
convidado faz tempo, foi mal! 22:49

amanhã a gente se vê tá bom? <3 22:49


23:20



Há alguns quilômetros de distância, ria com os amigos enquanto fumavam e bebiam.
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- Que merda, Ju! - exclamou dentro do carro de - Nunca na minha vida eu achei que algum dia eu seria grampeada.
- Relaxa, por isso eu pedi para os caras arrumarem um celular novo pra você, e um chip também. Por enquanto, evite usar o máximo que puder, e se tiver que usar, utilize no modo avião. - disse antes de tragar novamente seu baseado.
Passou o cigarro para a namorada, que dava risada sozinha.
- O que foi? - ele perguntou
- Eu estava pensando… se a polícia realmente te grampeou - ela puxou a fumaça - isso significa que os policiais viram os nudes que eu te mandei?
As bochechas de se avermelharam, enquanto riu sem graça e deu de ombros.
- Se eu fui grampeado mesmo, seus nudes são os menores dos meus problemas. Tem informações muito mais sérias naquele celular.
Ficaram alguns minutos em silêncio, apenas aproveitando a “sauna”. Fumar maconha dentro do carro de estacionado na garagem da casa dele era um dos passatempos preferidos do casal. Ao fechar as portas e as janelas, a fumaça se concentrava no espaço pequeno do veículo, fazendo com que a brisa batesse mais rápido.
- , vamos fugir! - Repentinamente, se virou no banco do passageiro e ficou de frente para o rapaz.
olhou diretamente para os pés da garota em cima do estofado. Ela sabia muito bem que ele não gostava quando alguém colocava os pés no banco do carro que era seu xodó.
- Fugir pra onde? - Ele perguntou.
- Pra qualquer lugar. Alguma cidade pequena, no interior, onde ninguém nos conheças e a gente possa começar uma vida nova, longe de tudo e todos. - Animada, se aproximava mais do namorado a cada palavra.
- Morar no interior, ? Não é a minha praia. Vamos pra São Paulo, ou pros Estados Unidos, pro Japão. Qualquer lugar maior do aqui. - olhou pelo parabrisa, com o olhar perdido.
ficou de joelhos no banco e colocou a mão no rosto de , virando o rosto dele em sua direção.
- Lembra quando éramos adolescentes e nosso sonho era ir para São Thomé das Letras, em Minas Gerais? Procurar gnomos, avistar OVNIS, beber vinho assistindo ao pôr do Sol e ir em shows de reggae todo fim de semana? - ela sorriu - Por que a gente não pode ter isso?
fechou os olhos e balançou a cabeça negativamente.
- A gente cresceu e tudo mudou.
- As vezes eu acho que você cresceu demais.
- Como assim?
- Você é muito jovem para ser tão sério, fechado, amargo. E principalmente, muito jovem para se meter em merdas tão sérias.
- Eu não poderia ser um menino para sempre, né?! A vida cobra e a gente tem que se tornar homem. - apertou o maxilar.
- Ser homem não é assaltar ou usar drogas, e pensar assim só mostra o quanto você ainda é um menino. Não estou dizendo que você deveria permanecer imaturo; apenas que não precisava sufocar aquele sonhador e alegre - Ela acariciou a face do namorado suavemente e encostou sua testa na testa dele.
- Eu preciso te contar uma coisa, mas você pode prometer que não vai ficar brava? - sussurrou.
se afastou dele e o olhou com os olhos cerrados.
- O que é? - Perguntou séria.
- Eu sei que prometi que aquele assalto ao mercado seria o último, mas eu vou ter que fazer mais um.
- Do que você tá falando, ? - Ela bufou.
- Se os policiais nos grampearam, provavelmente estão apenas esperando o momento certo para pegar a gente! Nós não podemos ficar aqui esperando eles chegarem. Olha para mim, .
pegou o rosto de delicadamente.
- Agora vai ser briga de cachorro grande! Chega de mercados ou lojas; vamos entrar num banco. O dinheiro que pegarmos vai ser mais do que suficiente para irmos para longe e recomeçar nossa vida. Eu vou fazer isso por nós dois.
- Um banco? Puta que pariu! - tapou seu rosto com as duas mãos, incapaz de crer no que o garoto lhe dizia - Chega disso, vocês são kamikazes! Acham que fazer parte de uma quadrilha é uma mera partida de polícia-e-ladrão, não é?! Existem CENTENAS de fatores que podem dar errado num assalto a um banco, eu tenho certeza de que não preciso listar todos para você.
- O Heitor tem tudo sob controle. Um parceiro dele trabalha como segurança na agência e vai dar cobertura. Relaxa, , vai dar tudo certo!
- VOCÊ DISSE QUE NÃO IA MAIS FAZER MERDA, ! PORRA! - gritou.
- Shhh, não grita! Você não quer fugir, meu amor? Ir para a Califórnia, viver a vida sobre as ondas? - Ele sorriu e deu selinhos na ponta do nariz dela, tentando desanuviar a raiva que havia substituído o bom humor de em poucos segundos.
Aos poucos, ela se acalmou e voltou a sorrir, seja por deixar de lado sua frustração com ou por sentir os efeitos da droga em seu organismo.
- Vou ser artista de cinema, o meu destino é ser star! - Ela sussurrou, completando a música que havia começado a cantar.
se aproximou e mordeu o maxilar de , depositando logo depois um beijo no local. Beijou o pescoço do rapaz enquanto fazia carinho na orelha esquerda dele.
a puxou para um beijo, colocando uma mecha de cabelo de atrás da orelha dela. Ele tomou cuidado para tocar os cabelos da namorada levemente, depois de ouvir centenas de vezes ela se queixando de que “passar as mãos no cabelo deixa os fios com frizz!”, seja lá o que seja frizz.
O toque carinhoso de estimulou , que aprofundou o beijo, mordendo o lábio inferior dele. Em alguns milésimos de segundos, ela se contorceu no espaço apertado do carro e subiu no colo do namorado, enquanto ele passava o baseado de uma mão para outra, cuidando para não queimá-la com a ponta.
Cada toque dele era certeiro. acariciava, apertava, beijava, mordia e lambia os pontos que ele sabia que enlouqueciam .
Se conheceram ainda na adolescência, tão jovens e inexperientes, que sentia um enorme prazer em reparar o quanto seu namorado aprendeu com o passar do tempo.
Enquanto se excitava com os novos artifícios que sempre apresentava. Uma posição, um fetiche, uma ideia que ela colocava em prática e fazia ele perceber como aquela menina que ele conheceu aos 16 anos agora se tornara uma mulher. E não qualquer mulher, mas uma que fazia escorrer todo seu juízo junto de seu suor.
- You've got a pretty kind of dirty face - sussurrou no ouvido de um trecho de uma música que ela estava sempre cantando e já tinha até apresentado à , dizendo que a fazia lembrar dele.
- Dirty talk em inglês?! Essa é nova - falou com a respiração entrecortada, extasiado pelos beijos que a namorada depositava por toda a extensão de seu pescoço.
Sentindo o cheiro de cigarro e perfume masculino caro que exalava, inspirou fundo antes de descer para o assoalho do carro. Automaticamente, inclinou seu banco o máximo que pôde, para dar mais conforto para ele e para ela.
acariciou a coxa de , esticando a mão direto para dentro da samba canção que ele usava.

Capítulo 4

Às 6:45 da manhã um carro estacionou em frente à casa de . Saíram dele os 4 homens trajados de moletons escuros, jaqueta corta vento e toucas. Logo entraram na residência, que tinha o portão aberto.
No quarto, sentiu um arrepio atravessar sua espinha quando ouviu as vozes dos amigos de adentrando a casa. Sua mão que ajudava o namorado começou a tremer.
- Toma cuidado, pois não pode passar a mão no pescoço, senão a base sai! - sussurrou, tentando se concentrar em bater a esponja de maquiagem com base sobre as tatuagens no pescoço de . Esconder as tatuagens era importante para evitar que ele fosse reconhecido por alguma testemunha ou flagrado numa câmera de vigilância por acidente.
- Por que eu passaria a mão no pescoço? - riu.
- Você sempre passa a mão no pescoço quando fica tenso. - Ela respondeu séria.
se certificou de que conseguira esconder todos os desenhos e beijou o topo da cabeça de , como um aviso de que estava terminado.
Ele levantou e foi até a cozinha, onde os parceiros estavam. Todos em pé ao redor da mesa, falando em voz baixa, apreensivos.
- Bom dia, parceiro. - Heitor falou.
O dono da casa andou pelo cômodo cumprimentando um por um com um toque de mãos.
- Vamo fumar um pra relaxar! Tem bic, ? - Bryan disse, estendendo a mão para o amigo lhe emprestar um isqueiro. tirou um isqueiro azul do bolso e o entregou.
- Senta aí! Ou vocês vão ficar pé igual uns trouxas? - puxou uma das cadeiras e se sentou, convidando todos a sentarem também.
Assim eles começaram a repassar o plano.
Deitada na cama, tentava ignorar as vozes vinda do lado de fora do quarto, assim como o namorado pediu que ela fizesse. Ele não queria ela envolvida de forma alguma no que ele fazia. Ninguém deveria ter de nadar na poça de lama das escolhas que ele fez.
Por mais que ela torturasse sua mente, repassando dezenas e dezenas de vezes as mesmas memórias, tentando buscar por algum detalhe que ela havia deixado passar, não conseguia descobrir em qual ponto foi que tudo começou a mudar.
O homem que ela amava parecia não ter mudado por fora, mas por dentro, era outro. Como uma larva que se recolhe num casulo, com a promessa de transmutar e sair como uma linda borboleta. Porém, o que saiu de lá foi uma mariposa amarronzada, feia e sem graça.
Contudo, não era esse tipo de mulher. O tipo que se tranca no quarto sem questionar, em silêncio. Ela aprendeu, até mesmo antes dele, que a vida é dura e golpeia com força, e criar em sua cabeça um mundo imaginário onde não há nada de errado ou perturbador com seu homem não é uma boa maneira de viver. E além de tudo, era uma grande curiosa.
Levantou e andou pé ante pé até a porta, abrindo-a devagar.
- [...] porque essa é a menor agência do Banco do Brasil na cidade - Diogo disse - Tem menos clientes, menos funcionários, o movimento é menor, vai ser suave!
Pela fresta da porta, pôde ver de relance. Na mão, uma xícara com apenas uma dose de café. se cansou de repetir para que ele não deveria tomar café, pois atacava a enxaqueca e a ansiedade dele, mas ele nunca a ouvia.
Mas pela fresta, viu aquilo que finalmente a fez cair em si. Bryan trouxe uma grande mala preta a jogou no chão, retirando vários coletes à prova de bala. Era real, ia acontecer e ela não poderia fazer nada para impedir.
Sem reação, lembrou-se de um diálogo que viu num filme uma vez. Dois amigos conversam numa ponte e um deles diz que “queria tirar uma foto das pessoas antes delas se jogarem de uma ponte”. “Pra quê?”, pergunta o outro. "Para saber como é a cara das pessoas quando elas não podem mais voltar atrás”.
Ela estava observando a cara de pessoas que não poderiam mais voltar atrás. E para seu espanto, eram caras completamente normais. Traçavam um plano como quem combina de ir ao supermercado, e nem cogitavam a possibilidade de que, talvez, estariam olhando um para o outro pela última vez.
Heitor entrou na casa, vindo da garagem. Guardou seu celular no bolso e bateu as duas mãos com força sobre o tampo de mármore da mesa da cozinha, fazendo todos os outros silenciarem.
- O Victor deu pra trás! - Ele afirmou.
- Que porra é essa? - Bryan questionou.
- É sério! Acabei de ligar pra ele para perguntar se já tava chegando aqui, e ele disse que não vai mais, que não pode fazer isso, sei lá.
passava a mão no pescoço tentando aliviar a tensão.
- Porra! Todo o plano foi pensado com 5 pessoas no grupo.
- E agora? - Diogo perguntou.
- E agora?? AGORA NÃO DÁ MAIS PRA FAZER ESSA PORRA! - Heitor reclamou.
- Calma mano, vamo pensar direito! - tentou acalmar a todos. Sossegado como era, o céu poderia cair sobre sua cabeça e ele apenas daria um passinho para o lado para desviar, sem muita preocupação.
saiu de trás da porta do quarto, de onde ouvira toda a conversa até agora e apareceu na cozinha. Com os braços cruzados e cabeça erguida, não exitou em suas palavras.
- Eu vou.
O silêncio se fez no cômodo conforme todos os homens viraram a cabeça para olhá-la. Vendo aquela garota jovem, pequena e com cara de brava se voluntariar para participar de um crime, eles não puderam evitar rir, o que só fez com que ela fechasse a cara ainda mais.
Além do fato de que ouviu a conversa deles escondida e decidiu sugerir absurdos, ainda se irritou ao ver que os amigos a encaravam por estar vestindo um pijama que ele achava “indecente”.
- Relaxa , volta pro quarto! A gente vai arrumar outra pessoa. - deu um olhar para os amigos que os deixou sabendo que ele não gostou nenhum pouco de ver sua namorada ser motivo de riso e cobiça.
- Vocês não vão conseguir outra pessoa agora, faltando uma hora para o assalto. Por que não eu? Eu já sei o plano todo de cor! - Ela protestou.
levantou de sua cadeira e tentou guiá-la de volta para o quarto, mas plantou os pés no chão e não se moveu.
- Linda, isso não é brincadeira, tá?! Você é tão pequena que nem deve aguentar o peso da arma. - Heitor debochou.
Num piscar de olhos, levantou o agasalho de moletom que usava, pegou a pistola presa na cintura dele, apontou para a cabeça de Heitor e engatilhou. O clima poderia ser cortado com uma faca de tão tenso.
- Às 08:00 em ponto o cofre deveria ser aberto pelo gerente, mas ele sempre vacila e atrasa cerca de 15 minutos - Anna começou a explicar o plano com detalhes, provando que o conhecia totalmente, mas ainda mirando a arma na cabeça de Heitor - Lá trabalham 3 guardas, mas um deles é quem deu a fita. Marcos, é ex-policial militar, e vai levar 15% do nosso lucro, para garantir que o sistema das câmeras de vigilância, portas automáticas e detectores de metal vão estar desligados por 5 minutos, que é o tempo em que a ação vai acontecer. Os outros 2 guardas não sabem de nada, mas estarão armados com uma arma calibre .38 cada um, vão ser facilmente rendidos. Para não dar pala , o Marcos vai resistir no começo, antes da gente render ele também.
Seria impossível negar que a garota sabia do que falava.
- E então, vão querer minha ajuda ou vão falhar na missão? - Ela provocou, enquanto os rapazes ficaram calados e apenas olharam um para o outro - Vou aceitar esse silêncio como um ‘sim’.
Ela virou as costas e voltou ao quarto para trocar de roupa. respirou fundo e foi até o cômodo pegar sua arma de volta. Quando chegou lá, tentava amarrar um lenço vermelho no pescoço.
- Eu nunca ditei o que você pode ou não pode fazer, mas só para deixar bem claro: eu não aprovo isso. - sussurrou enquanto fazia um nó no lenço da namorada.
- Ride or die, remember? - disse, reproduzindo uma famosa frase de um dos filmes de ação preferidos do rapaz. - Depois de todo esse tempo juntos, você ainda não aprendeu a confiar que eu vou estar em todos os momentos?
- Eu não queria você metida nisso. Se alguma coisa der errado, eu não vou poder viver comigo mesmo.
- Quando eu era criança e me perguntavam o que eu queria ser quando crescesse, eu nunca imaginei que ia ser isso.
- Isso o quê? Assaltante? - riu.
- Sua mulher. - respondeu séria, com verdade nos olhos. Agora de frente para ele, ela ficou na ponta dos pés e lhe beijou ternamente.
Em alguns minutos, já estavam todos prontos para ir. Ao sair no portão, apontou com a cabeça para o carro estacionado na frente da casa.
- De quem é esse carro?
lhe deu um olhar de repreensão por falar em voz alta, correndo o risco de deixar algum vizinho escutar a conversa.
- Roubados. - Ele sussurrou.
- Achei que íamos no seu Chevette ou no carro do Bryan. - Ela deu de ombros, olhando para o antigo carro verde estacionado na garagem de .
- Tá maluca? - ele perguntou incrédulo - Os carros têm que ser roubados uma ou duas horas antes da ação, assim não dá tempo de entrarem no sistema de veículos furtados da polícia para serem rastreados. E ainda há mais um veículo: uma van estacionada num matagal atrás de um velho galpão industrial, próximo à saída do bairro onde fica a agência do banco. Vamos usá-la para fugir.
Ao ouvir o diálogo entre o casal, Heitor riu de lado e encarou .
- Achei que você sabia tudo sobre o nosso plano. - Ele se certificou de dar ênfase à palavra ‘nosso’, para deixar claro que ela não teve participação nenhuma na criação do plano. A única resposta que recebeu foi um dedo do meio.
abriu a porta do lado do passageiro do carro que iria dirigir. Qual não foi sua surpresa ao dar de cara com Diogo sentado no banco do passageiro e a olhando com cara de paisagem.
- O que foi? - O rapaz perguntou ao ver que ainda olhava para ele.
- Sai do meu lugar! - Ela apontou para o banco traseiro, onde ele deveria ir se sentar.
- Eu cheguei primeiro! - Ele protestou.
- E daí? O piloto de fuga é meu namorado, eu sou a primeira dama desse assalto e mereço ir na frente! - Os rapazes no banco de trás riram, enquanto revirou os olhos.
- Estamos prestes a sair para assaltar um banco e vocês preocupados em discutir lugares no carro. - balançou a cabeça negativamente.
- Amor, fala pra ele que o banco da frente é meu lugar! - bateu o pé.
precisou apenas olhar para Diogo do seu lado e o amigo entendeu o recado. Bufou e se levantou para ir sentar no banco de trás. saltitou feliz enquanto entrava no carro.
Escolheram uma agência que ficava num distrito da cidade, próximo à área rural e mais distante de delegacias e postos de polícia.
O trajeto de 40 minutos até o banco foi feito sob um silêncio sepulcral, até que Diogo se esticou no banco do meio e ligou o rádio do carro. Escolheu ouvir ‘Robbers’, da banda The 1975. Ainda nas primeiras palavras da canção, desligou as caixas de som.
- Tá de brincadeira, né?! - Ele olhou para Diogo pelo retrovisor.
- Para entrar no clima, ué. - O rapaz deu de ombros.

Capítulo 5

estacionou duas quadras à frente da agência do banco. Todos olharam em volta e se certificaram de que a rua estava vazia.
A primeira a sair foi , com uma mochila preta nas costas. Levantou o lenço que amarrara em seu pescoço e cobriu o rosto. Atravessou a avenida e se dirigiu para um poste com uma câmera de vigilância da prefeitura.
Parou, respirou fundo e alongou os braços rapidamente antes de se agarrar ao poste e começar a escalar, se sentindo ridícula fazendo aquilo. Ao chegar no topo, abriu a mochila que carregava e pegou uma lata de tinta spray preta, usando-a para tapar a lente da câmera. Garantiu que pintou tudo de preto e nada poderia ser avistado pela lente, e escorregou pelo poste até o chão novamente.
Olhou para os rapazes que esperavam no carro e assentiu com a cabeça. Entendendo o recado, eles começaram a descer do carro, um por um, para evitar chamar atenção. Todos se esconderam com capuz ou toucas e carregavam suas glocks e submetralhadoras, inclusive .
Heitor empurrou a porta de vidro do banco levemente e sorriu quando ela abriu. As portas ainda não deveriam estar abertas naquela hora da manhã, mas graças à ajuda de Marcos, todo o sistema de segurança estava desligado. Eles entraram e nenhum alarme disparou.
Foram para trás do balcão vazio onde as atendentes costumavam trabalhar e se abaixaram. Permaneceram escondidos até a entrada dos seguranças.
Eles chegaram pontualmente às 08:00 e vinham conversando pela calçada. Um deles pegou uma chave e tentou destrancar a porta, mas percebeu que já estava aberta. Ambos se olharam surpresos, até que um deles lembrou de um detalhe.
- O Marcos deve ter deixado a porta aberta. Imagina se o gerente fica sabendo disso!
O segundo vigia concordou e deu de ombros enquanto adentravam o local. Mas mal tiveram tempo de pensar e a quadrilha saiu de trás do balcão apontando as armas para eles.
- Entrega a chave, porra, entrega a chave! - Heitor gritou para o segurança que segurava a chave da porta da agência - Abaixa a cabeça e não olha pra mim!
Os dois vigias levantaram as mãos e começaram a tremer. olhou para o lado e seu olhar encontrou o de . O rapaz fez um sinal com a cabeça, querendo lhe dizer que apontasse a arma para os homens.
Ela vacilou de primeira, mas depois acatou e levantou sua glock e a segurou firme com a mão direita.
Enquanto isso, Diogo andou até o primeiro segurança e tomou-lhe a chave, correndo para trancar a porta.
De repente, Marcos, o segurança cúmplice da quadrilha, surgiu vindo dos fundos da agência. Ele parou no meio do corredor e fingiu se surpreender com o assalto.
- Calma, caralho! A agência não abriu ainda, não tem dinheiro algum nos caixas. - Marcos afirmou enquanto levantava as mãos.
Um dos seguranças tentou levantar a cabeça levemente mesmo após a ordem de Heitor, porém percebeu.
- É pra manter a cabeça baixa, porra! - Ela gritou e apontou a arma diretamente para a cabeça do homem, assumindo o personagem que deveria interpretar. Já que ela faria isso, se entregaria totalmente. Ride or die.
a olhou assustado, sem esperar por aquela atitude.
Bryan andou até Marcos.
- Dá a arma! - Marcos começou a tirar sua arma do coldre - Anda logo, gordo filho da puta! - Bryan e Marcos se davam muito bem e Bryan aproveitou da situação para debochar do amigo.
Marcos puxou sua arma rapidamente e apontou para Bryan, fingindo que ia atirar. Bryan continuou a encenação para que os outros vigias acreditassem, pelo menos por um tempo, que Marcos não tinha nada a ver com o assalto.
Eles entraram numa briga física, com o assaltante derrubando Marcos no chão para tentar desarmá-lo. No meio da luta, o ex-policial deu dois tiros no ar, fingindo ter tentado acertar Bryan. O garoto conseguiu pegar a arma do segurança e a usou para ameaçá-lo.
- Entra nessa porra! - Bryan apontou para uma porta que havia naquele corredor e deu um chute em Marcos, que estava sentado no chão. Ele se levantou, entrou na sala de reunião dos funcionários e o rapaz o trancou.
- Mais alguém quer bancar o herói? Não vamos atirar em ninguém hoje, se vocês se comportarem! - disse, ainda apontando a arma para os dois seguranças que ouviam tudo apavorados e rezando baixinho.
- Vamos até os cofres. - Heitor disse e começou a se dirigir até o fim do corredor.
- Mas nós não temos a chave - um dos seguranças disse - Só o Anderson, o gerente, tem.
- Então a gente vai lá pro fundo esperar o Anderson chegar - Heitor sorriu, amedrontando os homens.
Heitor, Bryan e Diogo seguiram pelo corredor. Graças a instruções dadas por Marcos, eles já conheciam toda a planta da agência e sabiam exatamente para onde ir.
- Dá um jeito nesses dois arrombados! - Heitor falou com sobre os dois funcionários.
Dar uma ordem para era o mesmo que dar uma ordem para , pois os dois pareciam um só. Os amigos chegavam a se irritar com a forma como a garota parecia ser uma sombra do namorado, andando atrás dele e fazendo tudo o que ele fazia.
O casal levou os homens para outra sala vazia, num corredor que ficava no lado oposto da agência. Antes de sair, pegaram as mochilas deles e os revistaram, garantindo que eles não portassem celular.
- Cadê as armas? - falou energicamente enquanto revirava as mochilas - Cadê, porra?
apenas observava, enquanto empurrava os seguranças para o fundo da sala.
- Nós não ficamos com as armas fora do expediente. Elas ficam guardadas nos nossos armários, no vestiário dos funcionários. - Um dos vigias respondeu sussurrando e sem coragem de olhar nos olhos.
O casal verificou que realmente eles não carregavam arma nenhuma.
- Então foda-se! - andou até os dois homens sentados no chão no canto da sala, e levantou o braço, dando coronhadas em ambos com a maior força que podia, fazendo-os desmaiar - Vamo embora, !
Eles saíram da sala e trancaram a porta.
olhou para sem acreditar que aquela garota que parecia uma princesinha, tão meiga e graciosa, pudesse ser capaz de usar tamanha violência e sangue frio. Ela não parecia mais sua garota, e ele não sabia se se sentia mais assustado ou excitado.
Ela percebeu que o namorado a observava sem piscar e devolveu o olhar.
- O que foi? Você não queria que eu me envolvesse no seu mundo, mas cá estamos. Não posso me envolver só pela metade, ! Não posso só enfiar os pés nessa lama; eu vou ter que mergulhar sem olhar pra trás. E agora eu estou tão fundo quanto você.
ouviu aquelas palavras e teve certeza de que aquela mulher à sua frente era melhor do que ele imaginava. A maioria dos casais são amigos, mas eles foram além. São cúmplices, amantes, parceiros.
Ele puxou o lenço que tapava a boca e o nariz de e tirou e a beijou fervorosamente. A levantou em seu colo e ela cruzou as pernas ao redor da cintura dele.
Tirando o capuz de , puxava o cabelo dele com força, do jeito que ele gostava.
- Eu sempre achei que tem algo extremamente romântico, e ao mesmo tempo erótico, em roubar um banco juntos. - falou entre uma respiração e outra.
riu enquanto lambia o pescoço da namorada.
- Como Bonnie e Clyde, não é?! Você é louca!
- Por você? Sou!
Foram interrompidos pelo som de alguém entrando pela porta da agência. Ao longe, viram que era o gerente e trataram de se recompor para continuar. colocou seu capuz e sua balaclava e levantou o lenço no rosto de . Olhou para ela com aquele tecido vermelho amarrado no rosto e seus olhos brilharam.
- Baby, você está tão linda! Quando sairmos daqui, eu vou direto para um estúdio tatuar seu rosto nas minhas costas! - Ele disse, fazendo a garota rir por debaixo do tecido.
Correram para o hall de entrada do banco e renderam o gerente, o levando até o cofre onde os outros esperavam.
- Anda porra, não tem muito tempo! - Heitor falou para o gerente, que tremia feito um cachorrinho assustado.
- Eu não tenho permissão para abrir, apenas os funcionários da seguradora do banco tem as senhas dos cofres. - O gerente tentou tapear o bando, mas não deu certo.
- Ah, é?! Então que merda é essa aqui que tava na sua mesa? - Heitor jogou na cara do gerente um cartão eletrônico que dava acesso aos cofres
estava parada atrás do funcionário, com sua arma encostada nas costas dele.
O homem abaixou-se nervoso e pegou o cartão caído no chão, foi até o cofre do banco e o abriu.
Por alguns segundos, todos pararam e olharam para o local. Eles estavam frente a frente com o sonho de qualquer indivíduo.
Tinha tanto dinheiro ali que eles sentiam que iriam para o inferno só de olhar para as notas, conforme a cobiça atingia níveis surreais em suas mentes. Se o dinheiro é algo sujo, eles queriam ficar imundos.
Diogo, Bryan e pegaram as mochilas e malas vazias que trouxeram e começaram a apanhar desesperadamente todo o dinheiro que conseguiam. Enchiam as malas com maços e mais maços, enquanto e Heitor levaram Anderson até os cofres particulares que ficavam num cômodo ao lado.
- Bryan, fica de olho nos guardinhas! - Heitor ordenou e Bryan consentiu.
não pôde evitar rir ao notar que o gerente urinava nas calças enquanto destrancava a sala dos cofres, tamanho era seu medo.
Heitor a olhou sem entender o motivo do riso e ela apontou para as pernas de Anderson, fazendo-o gargalhar.
- Puta que pariu - ele disse baixinho, controlando o riso quando o gerente finalmente abriu a sala.
Três paredes do cômodo eram tomadas por pequenas gavetas, do chão ao teto. Heitor pegou sua mochila e a de e começou a puxar as gavetas rapidamente, jogando dentro das bolsas tudo o que encontrava. Jóias, pedras preciosas e até pepitas de ouro haviam lá.
Enquanto isso , continuava apontando a arma para Anderson, sem tirar os olhos dele. Ela engatilhou a pistola e o click que a arma fez o levou a chorar. riu do desespero dele.
Depois de pegar tudo o que podiam, a quadrilha saiu correndo com as bolsas em direção ao hall de entrada. Heitor deixou o gerente dentro do cofre e o trancou.
- Tudo certo? Vamo meter o pé! - disse.
Bryan abriu a porta onde Marcos estava trancado e ele saiu de lá.
- Valeu, mano! 100% compromisso, não vacilou. - Bryan disse. Marcos o cumprimentou com um toque de mãos e pegou uma das malas pretas, ajudando-os a carregar o dinheiro para fora do banco.
Enquanto a ação acontecia, o bando não contava com um detalhe: em frente a agência, do outro lado da rua, há um ponto de ônibus. Lá estava um morador do bairrO que iria para o trabalho. Ele notou uma movimentação incomum no banco, principalmente se tratando das 08:00 e pouco da manhã. Por precaução, resolveu ligar para a polícia, que enviou uma viatura até o local.

Capítulo 6

Quando a quadrilha saía do banco, a viatura virava a esquina. Todos saíram correndo em direção ao carro que estacionara duas quadras a frente.
A viatura acelerou e eles abriram as portas do carro rapidamente, jogando lá dentro as malas e se enfiando no espaço que sobrou.
dava a volta no veículo quando olhou para trás e viu um policial na viatura, no banco do passageiro, com os braços para fora da janela e mirando a arma diretamente nele. O rapaz virou as costas para continuar correndo, e foi quando sentiu uma sensação estranha.
Foi forte o suficiente como um soco nas costas, mas doía como uma pontada.
ouviu o urro que o namorado deu e viu o sangue começar a pingar na rua. Tudo parecia acontecer em câmera.
- JOÃO! - Ela gritou.
o puxou pela mão e ele correu, gritando de dor, até o carro. Ao abrir a porta do banco de trás, quase não tinha espaço para eles, então a garota pegou algumas malas de dinheiro e simplesmente as jogou para fora. Entrou e puxou para sentar também, colocando a cabeça dele em seu colo.
Bryan dirigia, já que o piloto de fuga não estava em condições. Ele era bom, mas nunca seria bom como . parecia entender melhor os carros do que as pessoas; com as mãos no volante ele se sentia em casa, como se ali fosse seu lugar.
A perseguição começou e a velocidade com que o carro passava por buracos, lombadas e outros obstáculos fazia a ferida de latejar mais ainda.
Além de toda a tensão do momento, a falta de espaço no banco de trás irritava . Dividir o banco com , Diogo, Marcos e diversas mochilas com dinheiro não era o cenário ideal para cuidar do namorado.
Ela tirou a balaclava dele, para que pudesse respirar melhor.
- Heitor, me dá o canivete que está no porta luvas! - Ela disse, exasperada.
O rapaz abriu o porta luvas e pegou o objeto, entregando-o para . Ela rapidamente rasgou todo o moletom de ao meio e retirou a peça do corpo dele. Por debaixo da blusa, ele estava de colete a prova de balas.
- Porra, como isso aconteceu, Ju? - ela se desesperou, percebendo que provavelmente a situação do namorado era pior do que imaginava - Me ajuda meu amor, você tem que tirar, eu não consigo rasgar o colete.
Ele levantou brevemente e puxou os velcros do colete.
retirou o lenço que usava no pescoço e pressionou no buraco de bala que havia nas costas do namorado, para estancar o sangue.
- Bala oca calibre .40 pode atravessar um colete - parecia que cada palavra emitida lhe causava dor - Achei que eu já tivesse te ensinado isso.
O rapaz riu dolorosamente, enquanto começou a chorar vendo-o ficar cada vez mais pálido e suando frio.
- Porra, caralho Bryan! Ando logo! - Ela gritou.
Até então, não tinha notado as sirenes da viatura. Ao ouvir o som repetitivo, sua mente vagou para outro lugar, enquanto pressionava mais forte o lenço no buraco de bala nas costas de .
Quantas vezes ela teve pesadelos embalados pelo som de sirenes. Em todos os pesadelos ela ajudava a fugir e ele sempre subestimava a polícia, se achando superior e mais esperto. No fim, ela nunca conseguia cumprir o objetivo de protegê-lo e a polícia o alcançava.
Noite após noite, os sonhos se repetiam e ela acordava chorando, desejando que nunca se tornassem realidade.
não acreditava em Deus, mas toda vez que ouvia o som de sirenes ela rezava. Rezava para que aquela viatura não fosse em direção ao bairro onde morava; rezava para que ele estivesse em casa, sossegado, sem fazer nada errado; rezava para que ele não fosse pego.
Quando voltou a si, eles haviam chegado no antigo galpão com uma van estacionada nos fundos, no meio de um matagal. A quadrilha abandonaria o carro na estrada, seguiria a pé até a van e fugiria.
Eles saíram do carro e os rapazes começaram a correr até a van, carregando as malas de dinheiro. ajudou a se levantar e sair, mas ao dar dois passos, ele caiu de joelhos no chão.
- , não podemos continuar. Você tem que ir ao hospital! - Ela colocou a mão na testa em sinal de preocupação.
- Hospital, ? Tá maluca? - Ele perguntou entre dentes, sentindo que a dor ia fazê-lo desmaiar.
- É a única saída pra você sobreviver! Esse lencinho não é o suficiente para estancar o sangue. - O sangue de se camuflava no lenço vermelho da garota.
- Bora, ! - Heitor gritou enquanto entrava na van.
Vendo todos os rapazes entrando na van e esperando por eles, tirou forças de algum lugar desconhecido em seu interior, e ajudou a se levantar e dar alguns passos vagarosos.
As sirenes se aproximavam e entrava em pânico, mas ainda tentava transparecer calma.
- Vamos meu amor, eles estão chegando. Por favor! - Ela mal conseguia enxergar com as lágrimas em seus olhos.
- Eu preciso de… - balbuciou.
- O que? - o olhou preocupada
- Eu preciso… que você me dê… um cigarro - falou entre um suspiro de dor e outro.
- Você tá de palhaçada com a minha cara, Ju? - revirou os olhos e bufou, mas levou a mão até o bolso da calça de , procurando pelo maço e o isqueiro.
- Hey, cuidado com essa mão no meu bolso! Agora não é hora de me excitar. - brincou, para fazer sorrir.
Ela colocou um cigarro na boca dele e acendeu. respirou aliviado.
Ambos escutaram o motor da van sendo ligado, os apressando.
- Esse bando de filho da puta só se importa com dinheiro! Ninguém vem aqui te ajudar, mesmo você tendo levado a porra de um tiro e não conseguindo andar direito! - praguejava enquanto apoiava , segurando-o pela cintura, e ele tinha um braço por cima dos ombros dela.
Repentinamente, a viatura pôde ser avistada ao longe, vindo pela estrada que chegava no galpão.
- Tudo bem, eles são boas pessoas, . só estão tão desesperados quanto você.
Como sempre, não comprou a ideia de . Ele defendia constantemente os amigos, destacando o lado bom das pessoas. Mesmo sendo jovem e tendo visto tanta coisa na vida, sua carência o tornava ingênuo em suas relações.
- Vai, vai, vai! - gritou para os amigos na van, gesticulando para eles seguirem o caminho. - Podem ir, a gente vai atrás!
Heitor assentiu e deu duas batidas na porta do passageiro, indicando a Bryan que poderia dar partida no veículo.
Observando a van levantar poeira no atalho que havia atrás do galpão, parou de andar e falou num tom sério:
- , eu não vou fugir.
- Você vai se entregar? - Um lampejo de alívio surgiu na expressão dela, pois assim poderia ser levado ao hospital.
- Nunca! Eu nunca me entregaria. - sentia a consciência começando a sair de seu corpo, conforme mais suor pingava pelo seu rosto. A ferida por onde a bala passou quase não doía mais, mas ele sabia que isso não era bom. Seu corpo entrava em choque.
- O que vamos fazer, então? Se não quer se entregar e nem fugir, o que resta?
olhou para trás e viu a viatura se aproximando, o policial que dirigia já estacionava na entrada do galpão.
Os policiais saíram do carro correndo e se espalharam pelo terreno para cercar o casal.
- Você sempre disse que ficaria comigo até o final, não é? - Ele perguntou ternamente, passando a mão pelo queixo da garota de maneira delicada.
Com lágrimas descendo por sua face copiosamente, concordou com a cabeça e respondeu sussurrando:
- Sempre, meu amor. Nosso amor é maior do que a vida - ficou na ponta dos pés para beijar a boca do rapaz, que já estava gelada - Faça o que tem que fazer.
beijou-lhe a testa e acariciou os cabelos cacheados, antes de pegar a arma que ainda estava em sua cintura.
Não pensou muito, pois era assim que ele agia. Se pensasse muito sobre suas decisões, a dúvida e os poréns o prenderiam como uma bola de ferro e ele não sairia do lugar.
, de frente para ele, fechou os olhos, facilitando seu trabalho. Não aguentaria olhar nos olhos delas.
No exato momento em que os policiais se aproximaram o suficiente para atirar no casal caso eles tentassem escapar, um som alto silenciou toda a mata ao redor do velho galpão.
caiu no chão com um tiro na cabeça. Antes que o capitão pudesse abrir a boca para dar voz de prisão a , a mão do garoto foi mais rápida.
Encostou o cano da arma em sua própria cabeça e utilizou a última bala que havia nela.
Os dois amantes restaram no chão, sangrando, de olhos fechados como se estivessem dormindo um sono dos infernos.


“Meu bem, oh meu bem, a gente ainda vai sair nos jornais…”


FIM!



Nota da autora: Dedicada ao meu verdadeiro amor, que me deu inspiração e ajuda, de certa forma, para escrever, e por quem eu mataria e morreria.

Obrigada a todos que leram minha fic. Em vários momentos eu duvidei que terminaria de escrever, pois tenho uma ligação afetiva muito forte com essa história e ela me deixou emocionalmente exausta. Mas a dor de um artista não é só dele; ela é feita para virar arte e ser colocada no mundo.


Nota da Scripter: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.


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