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Finalizada em: 20/05/2021
Music Video: Run - BTS

Prólogo

Você é o meu Sol, minha primeira e única no mundo
Eu floresço por você, mas continuo sedento
É tarde demais, tarde demais, eu não consigo viver sem você
Mesmo estando seco, eu procuro por você com todas minhas forças
Run - BTS

“Não desmaie mesmo quando a escuridão o encontrar, suas lágrimas me machucam.”


O barulho dos pássaros que sobrevoavam aquele pequeno campo verde era o único som emitido dentre eles, algo totalmente atípico de quando estavam juntos. E não era a fase adulta que havia batido na porta, limitando suas atitudes e impondo um perfil menos jovial, menos animado e que os impedissem de ser quem eram. Sendo isso um dos pontos bons em estarem juntos, poderem agir conforme queriam e menos robotizados pela necessidade de uma conduta a ser seguida. Infelizmente era o luto naquele momento que estava ali, fazendo-os desejar que fosse a primeira opção.
Mas era assim como eles se sentiam, vazios de forma individual e coletiva. Nem mesmo o azul do céu acima de suas cabeças totalmente límpido e ensolarado, emitindo uma vida natural que seria capaz de revirar qualquer alegria daqueles que estavam submersos em realidades trágicas, seria capaz de causar tal efeito nos sete homens que encaravam pontos inexistentes para onde fosse direcionados seus olhares. Tinha tudo ali, menos vida. Ou a vontade dela.
Não era emitida nenhuma palavra, não tinha como iniciar nenhuma conversa e a distância que sentiam um do outro só aumentava, galgando quilômetros separados. Os flashes de memórias que rodeavam cada um ali saindo do princípio de quando ainda eram mais novos e descobrindo-se naquela amizade com um grupo tão grande.
Começou quando Hoseok e Jimin passaram a dividir para valer a mesma casa, depois do casamento oficial dos pais. Foi algo natural, a começar pela aproximação final entre os dois, fazendo com que Yoongi e , que já eram amigos de Jimin, se aproximassem. Jungkook e Hosoek, por estarem naquela amizade desde a infância, não se dividiram e apenas se somaram. Logo, Jungkook e descobriram tamanhas afinidades. e Jin já se conheciam também desde crianças, desde sempre na verdade, pelos pais amigos.
foi levada junto, por ser amiga e vizinha de Seokjin. Por último, acolhidos da mesma forma, foram Namjoon e Taehyung, quando chegaram ao Memorial no ensino médio, na última fase de estudos. E então, por se aproximar de Taehyung, , mesmo de fora do colégio, também se juntou a eles, se tornando parte do grupo como todos.
Foi como um efeito dominó, um puxando o outro.
E desse mesmo modo, um refletindo a ação do outro, eles sobraram ao afastamento.
O primeiro a ir embora foi Yoongi, sem dizer nada. Não aguentaria mais ficar à beira daquele rio, olhando para a ponte que cortava o rio Han, que era o lugar favorito da irmã e das outras três como cartão postal de Seul. Doía demais, não podia continuar com a tortura sobre si. E ninguém demonstrou alteração alguma pela sua partida.
Hoseok e Jimin, em silêncio conjunto e individual do grupo, foram os dois seguintes a irem embora. Caminhar de volta para casa, mesmo que fosse um martírio por igual, parecia menos tortuoso naquele momento, portanto, não houve hesitação e a concordância ao trocarem olhares ainda sentados na grama, os levou a fazer o rumo para um lugar diferente daquele, mesmo não fosse melhor. Talvez naquele instante, vivendo aquele estado de graça completamente oposto do significado real, nenhum lugar seria bom o suficiente.
Jungkook não esperou pela carona de Seokjin, optou por sair dali e andar sem rumo fosse lá para qual lugar seu subconsciente o levasse. Não seria nada surpreendente se acabasse parando no portão da casa dos Min, esperando pelo momento que ouviria a mesma gargalhada e voz animada por vê-lo. Nunca desejou tanto que pudesse ir para aquele bairro e se curvar diante do senhor Min, ouvindo alguma piadinha pouco engraçada sobre futebol, algo que ele não se importava muito.
E o amigo não estranhou a mudança repentina, também estava planejando sua fuga, sabendo que não a faria de forma tranquila. Assim que Seokjin colocasse seu corpo para dentro do carro, não conseguiria deixar aquele lugar que antes fora preenchido de tantas boas lembranças. Sabia, com certeza absoluta, que perderia-se na própria negação de afirmar que agora só lhe restavam memórias que em outra ocasião seriam vistas apenas como memórias, mas que no fim acabaram por se ressignificarem em melancolia e muita dor.
Quando olhou para o lado, pela primeira vez desviando o olhar do horizonte coberto por pássaros sobrevoando um caminho para um lugar que Taehyung gostaria de não saber qual, percebeu que sobrava somente ele e Namjoon, o primo. Acreditou que seria seguido pelo outro, que mais uma vez se concentrava em algum ponto qualquer com aquele pirulito na boca e as mãos dentro do moletom college, tirando um pouco da harmonia de um estilo usado em velórios. Entretanto, quando ele alcançou um cruzamento depois de passar pela ponte, percebeu que estava sozinho e, sem estrutura para encarar novamente o lugar em que esteve, decidiu por continuar assim.
E se alguém tivesse avisado Kim Namjoon que ele sobraria daquela forma, vendo seus amigos distanciando-se submersos no próprio labirinto de sentimentos, ele teria se preparado para ter feito melhor e ser menos relapso do que era.
Teria visto mais o próprio celular para compreender que e Yoongi ainda demonstravam como queriam estar juntos usando emojis e entrelinhas nas conversas em grupo; com certeza ligaria mais para para saber se ela precisava de alguma ajuda com as coisas no apartamento, já que Seokjin tinha pouca destreza para reparos; faria com que soubesse o quanto ela era querida por ele não só por ser namorada de Taehyung, mas porquê ele via nela uma mulher extremamente forte; e teria feito com que Jungkook acreditasse mais na posição que ocupava na vida de .
Namjoon teria aproveitado mais cada segundo. Faria isso para não acabar questionando-se hipocritamente a velocidade da vida como o fazia naquele momento, sem coragem para dar as costas a um lugar que muito o fez feliz e que não queria, de forma alguma, perder. Ele teria garantido que a beira do rio Han naquele local em específico, não se tornasse o pior lugar para se estar, porque ali, parado e encarando a água, ele sabia que quando fosse embora não conseguiria mais voltar.
E Namjoon não queria não mais voltar para lugares como aquele, dos quais deveriam guardar boas memórias de , , e .

Capítulo Único

“Por favor, não chore. Depois que o tempo passar, quando chegar o momento certo, eu voltarei para você.”


A casa estava quieta demais, não tinha resquícios de que havia moradores ali dentro. Namjoon checou todos os pequenos cômodos para ter certeza e se frustrou ao sentir falta de Taehyung. Muito provavelmente ele havia dormido fora de casa novamente e o encontraria facilmente por aí parecendo perdido e sem qualquer perspectiva sobre alguma coisa. Portanto, respirar fundo em mais um dia que começava e se arrumar para sair em busca do primo, foi o que caracterizou a manhã de Namjoon.
Depois de se agasalhar bem e pegar carteira com documentos e seu café cheio de gelo, ele saiu pela porta de casa, sabendo que qualquer um que o encarasse naquele momento o questionaria se era um dia bom ou não só por sua feição nada amigável. É que ele já não tinha mais pavio suficiente para aguentar as situações em que Taehyung vinha se enfiando, não eram problemáticas por comportamento, mas preocupantes pela ausência de perspectivas. Namjoon compreendia a dor, do seu jeito e no seu âmbito como amigo das quatro, Taehyung não estava sozinho naquela perda, assim como fazia parecer.
Poderia soar extremamente egoísta, ele não se importaria, mas diria aquilo em algum momento ou outro, quando chegasse em seu limite de vez.
Caminhou pelas ruas do bairro, cumprimentando um ou outro ser que passava por ele e que conhecia, mas a cada lugar que checava e não encontrava o outro, se frustrava mais. Pensou em perguntar para Jungkook em qual momento Taehyung havia ido embora de sua casa na noite anterior, mas desistiu sabendo que o amigo não responderia, já que era bem provável ter bebido tanto que acabou por dormir antes de todos os cinco que haviam restado irem embora – Nam se lembrava de que quando decidiu voltar para casa, JK já não estava muito dentro de suas faculdades mentais, totalmente influenciado pela quantia exacerbada de Soju ingerido em um só gole.
Mas não desistiu, iria encontrar o primo em algum momento e usaria de sua última tentativa para o recuperar para si, porque no fim, o que Taehyung precisava era um pouco mais de respeito próprio e para isso Namjoon usaria de um jogo baixo, tentaria usar a memória de depois de oito meses de seu falecimento.
Ele precisava fazer alguma coisa para recuperar Taehyung de si e talvez isso pudesse ajudar.



Noite anterior…

Mais um encontro não programado, totalmente de última hora, seria feito na casa de Jungkook, aproveitando a ausência de seus pais, estes que haviam viajado para resolver alguma pendência sobre negócios – o que ele ainda não tinha a menor vontade de se ver envolvido, principalmente depois de perder aquela que tanto o apoiava. Não havia se tornado muito comum que os encontros entre os sete amigos fossem com um contexto diferente daquele: envolvendo muita bebida, música alta e arruaça, dependendo do ambiente em que estavam.
Os primeiros a chegarem foram Hoseok, Jimin e Yoongi, levando as bebidas que gostavam e mais alguns petiscos. Não demorou muito para que Namjoon e Taehyung chegassem com Seokjin, logo completando todo o círculo.
Havia se tornado rotina não haver algum diálogo sobre como se sentiam ou algo do tipo, como se todo o luto tivesse sido ressignificado ao invés de superado. Mas nenhum deles estava de fato querendo cavar a dor do outro, e não por desinteresse, mas sim por receio; não faria nenhum sentido a falta de senso em lidar com o próprio sentimento enquanto tenta suportar a do outro. Infelizmente não conseguiriam lidar com isso ainda, apesar de ser algo mais próximo do comum, um suportar o outro e superarem juntos.
Por mais que tivesse sido uma perda conjunta, cada um tinha a própria dor, não maior e nem menor, apenas individual.
Quando a sobriedade começou a se tornar ausente, os desafios também vieram e em algum momento, Seokjin foi movido pela adrenalina que o fez colocar em segundo plano seus pensamentos rotineiros em , sentando-se para montar um castelo de cartas, algo que ele fazia com ela como um tipo de terapia de paciência. Este era o segredo para a namorada ser um exemplo de tranquilidade, bastando muito a fazê-la perder as estribeiras: montar castelos de cartas e usar toda sua concentração, nunca desistindo até que a última carta fosse colocada.
Seokjin gostava disso e em algum momento de sua vida passou a fazer o mesmo, tornando-se mais habilidoso nessa atividade.
Mas quando Taehyung bateu em seu castelo em cima da mesa, depois dele colocar a última carta, sob o olhar cheio de expectativas dos amigos, ele apenas fixou um ponto distante naquele quarto, enquanto os demais faziam barulho e pareciam comovidos com aquele simples ato infantil do outro amigo. Era como se Seokjin fosse um ponto plácido no meio do caos prestes a colapsar quando saiu do transe colocado em si para viver o momento e esquecer-se da primeira camada de pensamentos em seu consciente.
Aquela falta que elas faziam era o primeiro tópico vivido diariamente e ele sentia a necessidade de encontrar algo que pudesse formar uma órbita diferente, porque se sentia completamente perdido – obviamente não era o único e ele sabia, o que o deixava mais frustrado, porque seria a primeira a colocar-se em frente aquele caos para ajudar um a um, e ele não queria viver na confusão das memórias, afinal, sobre ela e as amigas tudo era vida.
– Eu não sei vocês, mas eu acho que já está na minha hora. – Namjoon foi o primeiro a dizer, sentindo-se um pouco fora de si pela quantia de álcool consumida. – Taehyung?
– Pode ir, depois eu vou pra casa. – O primo lhe respondeu, não dando a mínima atenção.
– Então tudo bem. Vê se não destroem a casa pelo menos. – Ele disse uma última frase com seu tom de preocupação e se encaminhou para a porta.
Ninguém deu atenção a ele, mas estava cansado demais do dia de trabalho que teve para se preocupar, saindo pela porta sem muitas despedidas. Inclusive, sabia que era um tanto preocupante a forma como estavam vivendo, não só naquela distância um do outro além da forma material, mas o modo como se comportavam. Nem mesmo no período de adolescência tiveram tamanho comportamento problemático.
Mesmo com a saída de Namjoon, a baderna não cessou, ela apenas reiniciou.
Bebidas, petiscos e muita animação com as músicas tocadas na playlist que ecoava pelo ambiente. Até a guerra de travesseiros surgir de algum ponto e toda a pequena edícula no território dos fundos da enorme mansão de Jungkook ficar cheio de penas pelo chão e pelo ar.
E isso por aquela hora serviu de distração, servia como um escape para deixar de lado por um tempo o que os abatia. Embora estivesse bom e o outro dia não fosse ser útil, o momento de ir para casa havia chego, inicialmente para os irmãos. Jimin e Hoseok não estavam mais suportando mentir para si, individualmente e como dupla também; no momento em que decidiram passar pela porta e sair totalmente sem rumo Seul a fora, apenas a ponta da saudade e do luto estavam começando a destoar dos sentimentos, mesmo estando completamente fora do estado sóbrio.
Quando Taehyung notou que sobraria somente ele, Yoongi e Jungkok, percebeu que começou a sobrar literalmente. Parecia que entre os dois amigos, que por muito tempo também foram cunhados, havia uma nuvem negra pairando sobre suas cabeças, trazendo aquele clima estranho e preocupante. Todo mundo notaria que entre os dois tinha algum assunto mal resolvido, porque por mais que tentassem, os olhares estavam vazios e a convivência parecia pesada.
Depois de Seokjin, Taehyung também foi outro a ir embora sem se despedir propriamente.
Os dois estavam em silêncio sem conversa, com o som ligado ao fundo, porém, quando começaram a juntar as coisas que estavam espalhadas pelo pequeno cômodo que montava uma sala. Yoongi carregava um saco preto e coletava os copos descartáveis onde quer que encontrasse um enquanto Jungkook ia atrás de uma vassoura e algo que fosse útil para tentar limpar um pouco o chão sujo. Quando ele retornou para dentro, encontrou o outro parado como uma estátua em frente ao espelho enorme que tinha ali, logo na parede ao lado da televisão. Yoongi encarava o próprio reflexo ali e ele não compreendeu muito bem o que havia acontecido.
– Está tudo bem? – Jungkook perguntou, por impulso, não sabendo de onde vinha tal interesse repentino em se preocupar com ele.
Entretanto, Yoongi apenas o encarou por um pouco e voltou a coletar os copos.
Se questionava como eram tão bagunceiros a ponto de em poucas horas juntos ali gastarem o pacote inteiro de copos descartáveis que continha mais de trinta unidades. Mais de metade indo para o lixo por um desperdício, já que mal usaram para beber, sendo o próprio recipiente das respectivas bebidas consumidas o meio pelo qual consumiram. Contudo, isso apenas estava sendo usado como uma desculpa para ele não deixar o pensamento que o rodeava falasse mais alto.
Não estavam sóbrios, não era momento para lavar alguma roupa suja gerada pelo luto – se é que algum dia encontrariam algum momento para isso.
Talvez o universo estivesse abrindo algum caminho para tal conversa, pois quando Yoongi pegou o último copo perto da mesa no centro da sala, encontrou a foto de com que por muito tempo a irmã manteve ali naquela edícula de Jungkook – como ela mesma dizia: “era um de seus lugares favoritos no mundo como refúgio”. E na imagem, sendo uma montagem profissional feita pela própria , as duas estavam em frente a um telefone típico de Londres. Era um desejo comum das duas de conhecerem todo o país da rainha Elizabeth e tinha planos expressivos quanto a passar suas férias de faculdade em Londres com a amiga, já que se mudaria para lá.
Uma das coisas que fazia com que elas se dessem extremamente bem era o gosto pela cultura britânica e sua literatura.
Parado ali, olhando para aquela imagem que ficou suja de respingos de soju e o vinho consumido por Jin, Yoongi sentiu o peito queimar mais uma vez. Novamente a avalanche do luto trazendo para ele a sensação pesada do luto, mixando os sentimentos em um só. Sentia raiva, acima de tudo, por mais que não fosse maior que sua dor.
Yoongi sentia raiva por Jungkook e sua paranoia ter deixado sua irmã perder o controle do carro. Não estava lá, não poderia saber como foi porque ninguém sobreviveu para contar, mas Jungkook contou o seu ponto de vista do acontecido e neste, ele era o nome a culpar.
Custava ter esperado chegar para ele ter seu acesso de paranoia?
Yoongi precisava da irmã para compartilhar mais de sua vida. Ele precisava dizer para naquela noite como a amava e queria que a transição da vida deles não fosse apenas para a fase adulta naquele momento, mas sim de modo geral para que pudessem construir-se juntos. Yoongi queria saber dela se era tarde demais para aquilo, pensando e pedindo a qualquer ordem acima, que não fosse e que ela o aceitasse da forma como ele queria ser aceito.
Em contrapartida, também doía em Yoongi lançar aquela culpa em cima do amigo, mesmo que fosse de forma silenciosa.
– Você não precisa proferir nenhuma palavra, eu já sei o que pensa.
Jungkook sabia que a hora de encarar um ao outro chegaria e, sentindo o álcool esvair-se de si, penso que a coragem do momento fosse suficiente para dar aquele primeiro passo. Conhecer Yoongi o suficiente para saber que ele não expressaria o sentimento como o primeiro a dar aquele passo, fez com que Jungkook não impedisse sua boca de mover e proferir o que estava pensando.
– Não deve doer colocar para fora o que sente. – Ele insistiu, vendo Yoongi se levantar e ficar ereto, encarando-o com a foto na mão.
– Você disse que já sabe o que eu penso, logo não se faz necessário eu falar. Vai ser uma perda de tempo. – O respondeu de forma ríspida, virando-se para colocar o papel em cima do balcão abaixo do espelho e o saco de lixo no lugar próprio para ser recolhido.
– Yoongi…
Jungkook se aproximou, a passos largos. Não sentia que poderia sair daquele momento sem que aquilo fosse resolvido e que Yoongi colocasse para fora o que estava sentindo. Isso poderia vir a ser benéfico para o amigo e ele aguentaria ouvir e assumir a culpa. Em sua cabeça isso fazia um certo sentido.
– Não, eu não quero falar sobre isso.
– Eu aceito isso. Mas você precisa colocar para fora. – Novamente a voz de Jungkook foi insistente.
– Não tem nada a ser colocado para fora, Jungkook. – A voz ríspida agora soava cansada também. Yoongi apenas se apoiou no balcão, olhando para a foto virada ali e deixando o saco de lixo cair no chão; se sentia exausto com tanto peso dentro de si que aquele sentimento único gerado por vários que o luto trazia, batendo nele como se fosse um saco de pancadas.
– Eu também sinto muita falta dela-
– Para! Apenas para, Jungkook!
O acesso que Yoongi teve foi o de transbordar-se. Sentir a mão de Jungkok lhe tocando o ombro e ouvir a voz dele carregada na culpa – que ele mesmo estava jogando sobre o amigo, ao invés de apoiar, entendendo que não foi algo do controle de ninguém – foi o mesmo que esfregar ele em cima do túmulo de , , e .
Sua atitude tomada pela raiva de tudo aquilo, não só direcionada a Jungkook, foi de passar o braço pelo balcão e levar ao chão as garrafas e qualquer coisa que estivesse ali. A voz foi alta e sua súplica carregada, Yoongi realmente queria que ele parasse, mas também queria parar a si.
– Fala, olha nos meus olhos e fala! – Desta vez foi Jungkook quem respondeu no mesmo tom. – Coloque em palavras e expresse olhando nos meus olhos o que você sente, porque quando estamos juntos eu vejo, eu sinto e não sou o único. Você me culpa, Yoongi, você não esconde… – tomou uma lufada de ar para continuar. – Você não sabe se esquivar e esconder que me culpa pela morte de e . Por e . Para você eu fui o ceifador da sua felicidade com a mulher da sua vida-
– Eu já falei pra parar!
Novamente Yoongi passou o braço pelo balcão, terminando de levar o resto que estava ali. Doía como um inferno ouvir da boca de Jungkook como tudo estava naquela porcaria, onde ele não conseguia estar ao lado do amigo que também teve perdas. Ele se sentia extremamente culpado e egoísta, mas mesmo que Jungkook tenha avançado sobre ele para o abraçar, enquanto o via gritar e deixar aquelas lágrimas silenciosas rolarem por seu rosto, não conseguia cessar aquele sentimento negativo.
Empurrou Jungkook para longe, fazendo-o bater as costas contra a parede e mesmo com o barulho alto do corpo chocando-se à madeira da construção, não conseguiu inibir o sentimento de raiva. Os dois se encararam, ambos ofegantes e cortantes, de um vinha a culpa e o ódio, de outro o medo e a insegurança. Porém, o reflexo rápido de Jungkook o levou a caminhar os três passos necessários de volta para Yoongi e acertar ele com um soco, fazendo-o ser o corpo da vez jogado contra algo da construção.
Assim que viu o rosto de Yoongi virar em sua direção, o olhando de baixo, Jungkook aproximou-se o puxando para cima pela camisa, vendo que o outro estava desistindo daquilo, novamente em seu acesso de insignificância. Mas quando tentou abraçar ele, Jungkook foi jogado para longe, caindo no chão ao lado do sofá e batendo sua costela ali. Ao invés de Yoongi partir para sua direção, ele apenas pegou a primeira coisa que viu em sua frente e acertou contra a parede, quebrando, então, a cadeira de madeira.
Jungkook continuou no chão, vendo-o destruir o que fosse que aparecesse em sua frente, enquanto chorava e dizia coisas desconexas. No fundo ele se sentiu bem vendo Yoongi extravasar o que estava sentindo. Portanto, não pensou muito ou reconsiderou ficar ali e apenas o deixou viver aquele luto daquela forma pela primeira vez em meses, sabia que era o jeito dele, e se poderia reparar de alguma forma, seria o apoiando e cuidando para que estivesse bem.



De volta ao presente...

Estava tudo muito quieto, mesmo que ainda não fosse o horário de todos os residentes da casa chegarem, mas Taehyung esperava que pelo menos o barulho vindo da rua desse algum som ambiente para o interior de sua residência quando saiu do banheiro. Era fim de tarde, seria comum que as crianças da pequena vila aparecessem para brincar acompanhadas de seus pais no playground. Talvez fosse a culpa do tempo ruim que condenou o momento de diversão infantil, mas ele também mal reparou muito nos arredores quando chegou em casa poucas horas antes.
O susto que levou ao ver Namjoon sentado no sofá, quieto e ainda com seu capuz e completamente vestido do que parecia ser sua roupa comum de trabalho, causou um suspiro, sendo o único som ouvido por ali.
– Você me assustou. Chegou cedo hoje. – Taehyung disse, indo até a cozinha para pegar uma garrafinha de água.
– Eu não fui trabalhar. – A voz neutra de Namjoon ecoou de volta.
– Por que? – A resposta de Taehyung veio ainda da cozinha.
– Porque fiquei te procurando o dia todo.
Namjoon apareceu na cozinha, encostando-se no batente da porta com seus braços cruzados e o encarando sério, como sempre com o pirulito na boca. Taehyung fechou a geladeira, abrindo a garrafa de água.
– Eu estava aqui.
– Não, Taehyung, você não veio embora ontem da casa de Jungkook. – Namjoon iniciou. O tom de cansaço também lhe cabia. – E hoje não veio para casa. Onde esteve?
– Aqui.
– Não minta pra mim. Nunca tivemos segredos um com o outro e agora você está agindo assim…
– Eu cheguei de tarde, ok? Não consegui pegar um táxi ou qualquer coisa e fui para a estação, mas acabei perdendo o último metrô. – Taehyung começou a se justificar, fazendo uma pausa para beber a água, sob o olhar fixo de Namjoon. – E continuei andando até dar o horário de abrir e poder vir pra casa, mas no meio do caminho acabei dormindo em algum lugar…
– Sermos a ralé não traz como padrão que dormir na rua é algo comum.
– Não vamos começar com o discurso derrotista, por favor, estou cansado disso. Nem tudo é sobre dinheiro, Namjoon, qual é? Você mesmo sempre me ensinou isso – suspirou. – Queria saber a onde eu fui, não queria? Então pronto, agora sabe.
Dito isto, Taehyung passou pelo primo, tão rápido que os pingos do seu cabelo molhado mal atingiram Namjoon. Mas Kim um pouco mais velho por diferença de meses, se virou rápido, o chamando:
– Se vista e vamos dar uma volta. Comprei alguns sprays.
O aceite veio em silêncio e não demorou muito para que Taehyung despontasse na sala completamente vestido e preparado para ir com Namjoon pixar alguma zona afastada e um tanto abandonada. Isso era uma coisa que sempre fizeram juntos, desde mais jovens e antes mesmo de entrar no Memorial Hyun-Gi. Não era algo frequente, mas o faziam quando queriam espairecer de algo e colocar aquela adrenalina do proibido na superfície.
Quando chegaram em um condomínio próximo ao bairro onde moravam, depois de uma caminhada silenciosa, Namjoon entregou dois vidros de spray de tinta para Taehyung e assumiu outros dois, mantendo o restante em sua mochila. De muro em muro, portão em portão, chegaram na parte comercial do local. Estava vazio e como se aproximava de meia noite, um pouco deserto.
– Você já sentiu que todo e qualquer movimento feliz que é para ser feliz de fato, não tem mais essa mesma empolgação? – A voz de Taehyung, enquanto espirrava a tinta na porta, pintando um desenho qualquer, surpreendeu Namjoon, que apenas mantinha-se encostado ali e prestando atenção não só em seu pirulito, mas no que o outro fazia também.
– O que quer dizer?
– Eu não sinto mais empolgação sobre nada. – Taehyung continuou, ainda pichando. – Sei que isso é por causa do luto, mas em algum momento a gente segue em frente, não segue?
– Não sei, nunca perdi ninguém.
Os dois se olharam por alguns segundos, até Taehyung voltar a prestar atenção no que estava fazendo.
Sentindo que deveria doar seu ombro ao primo, Namjoon respirou fundo e trouxe o melhor de si para dizer:
– Seguir em frente só irá acontecer quando você estiver preparado e sentir que é esse o próximo passo a ser seguido.
– E quais são os passos? Porque eu não sei em qual estou.
– Nunca perdi alguém, Tae, não sei como é.
– Mas você perdeu suas amigas. , , e .
– E segui em frente.
– Como?
Outra vez se encararam. Para aquela resposta, Namjoon não teria coragem de proferir as palavras, sua justificativa vinha de um vazio do qual ele mesmo não compreendia. Se acessasse tais sentimentos, talvez se afogaria mais.
– Eu tenho essa sensação de estar me afogando. – A voz de Taehyung era tão limpa e soava como um disco de vinil novo, como se ele tivesse tirado de algum lugar aquele desejo pelo desabafo. – Porque são tantos sentimentos e tantas coisas rondando meus pensamentos, que eu não consigo nadar contra essa maré. E aí vem os sonhos, vez é um lago escuro e eu caio nele, fundo e sem ninguém para me ajudar. Vez é , outra May, e . E em todas as vezes que elas aparecem eu seguro na mão de cada uma respectivamente, mas elas saem para a superfície e eu fico.
Era incontável as vezes que todos eles pensaram e tentaram compreender como foi a sensação torturante para elas de estarem presas dentro do carro enquanto se afogavam e o ar faltava. Quando a polícia confirmou pela perícia feita o que aconteceu, a agonia tomou conta de todos, fosse família ou amigos. O desespero por não ter alguém a quem gritar e naquele escuro da noite que deixava a profundidade do lago consumir cada uma, fazia com que Taehyung não se desvencilhasse do próprio pesadelo.
Namjoon buscava o que dizer quando viu o giroflex da viatura que se aproximava, havia se perdido naquele desabafo do outro que acabou por perder a atenção em sua vigia. Tocou no ombro de Taehyung e juntos começaram a correr. Corriam da polícia por estarem fazendo algo ilegal, mas nesse tempo ele não conseguia parar de pensar no que ouviu do primo. O relato era forte, era doloroso e cruel.
Se partisse do pensamento em que o sofrimento delas havia cessado, mesmo que não soubesse o que a vida pós morte trazia, a parte cruel permanecia para aqueles que, como Taehyung, viviam aquela tortura de alguma forma. E Namjoon não saberia como agir para o bem do amigo, talvez saber daquilo tivesse o atingido em algum ponto que o levou a desprender-se da fina camada que estava mantendo-o firme.
Como havia aguentado por tanto tempo aquela enxurrada de luto vindo de todos os lados, deixando com que os outros lidassem cada um por si? Se o sentimento da perda era conjunto, por que não superar em grupo?
Ainda correndo, ao mesmo tempo que pensava, sentiu o bolso vibrar incessantemente. Em algum ponto de uma passarela, com Taehyung a frente, ele pegou o celular e leu a mensagem de Seokjin que brilhava na tela.

Jin: Hoseok e Jimin estarão indo para uma clínica se conseguirem sair vivos do hospital hoje.
Jin: Novamente eles tentaram…
Jin: o que estamos fazendo?
Jin: Onde vocês estão?
Jin: Se cuidem


E nesse momento de distração, sentindo o peito apertar por se sentir falho no apoio coletivo, Namjoon parou, erguendo o rosto da tela brilhante e encarando Taehyung a frente, correndo e sorrindo como ele há muito não via.
Mas ele sabia que aquele modo de ressignificar os sentimentos não era benéfico e em algum momento traria a ruína, assim como trouxe para Jimin e Hoseok.



Diferentemente da última vez que estiveram ali, naquele pequeno campo, o barulho dos pássaros era inexistente. Entretanto, tampouco faria falta. Assim que o carro de Seokjin despontou no campo de visão de Taehyung, Namjoon e Yoongi, sendo seguidos pelo de Jungkook, os três que já esperavam se entreolharam ansiosos.
Um ano desde que Jimin e Hoseok haviam sido admitidos em uma clínica de reabilitação e naquele dia tinham sido liberados pela primeira vez. E ao contrário do luto que os levara para aquele lugar na vez anterior, os mantendo distantes, desta eles estavam ali para receber uns aos outros novamente, depois de um longo caminho que os permitiu tamanho crescimento.
Jungkook foi o primeiro a descer do carro e não esperou pelos outros três do outro veículo, caminhou a passos apressados e cumprimentou os dois primos antes de alcançar Yoongi. Havia se encontrado com o amigo a pouco tempo e quando recebeu o abraço de forma recíproca, sentiu-se aliviado de que não era uma mentira e que finalmente tinham recomeçado a amizade, com todos os outros sentimentos sendo trabalhados de forma positiva.
Logo Seokjin, Jimin e Hoseok se juntaram aos demais, em meio a abraços e cumprimentos, todos se olhavam e sem aquela distância que um dia os cobriu, mediam-se para garantir que sim, naquele momento estavam bem e que nenhum pássaro seria motivo de falta.
Muito havia acontecido e mesmo com todas as tentativas, de longe, cada um se cuidando como podia, pareceu o melhor para que cuidassem do todo. Tudo o que é em excesso tende a transbordar e no passado, vivendo a perda, cada um a seu modo, não se tornou nem um pouco saudável que compartilhassem daquilo. O longe acabou por ser o mais próximo que estiveram e foi, sem sombra de dúvidas, o melhor passo.
Um ano mais tarde se sentiam mais próximos e preparados para seguir em frente.
– Eu sei que há inúmeras formas para superar… – Seokjin tomou a frente para começar quando estavam todos juntos, em um círculo. – Mas cada um tem o seu jeito, a sua maneira de fazer isso. Hoje somos menos fortes que o futuro, mas mais preparados que o passado – olhou de um a um. – seria a primeira a puxar nossa orelha por ter abandonado o Parking Lot, odiaria saber que nos abandonamos a ponto de perdermos Hoseok e Jimin, e nunca nos perdoariam pelas noites dormindo em qualquer lugar. Porque não somos assim e não foi pra isso que nos juntamos… Elas gostariam de nos ver seguindo em frente, mesmo que cada um à sua maneira, porém, em a camada além de tênue que nos colocou em distância nesta corrida.
– Porque nunca fomos distância. – Yoongi sorriu simples, concordando. – Sempre correremos juntos e não importa, é até o último e por todos.
De um a um, os sorrisos foram sendo retribuídos, como forma de assentir. No fim, as diferenças eram sim o maior ponto de os manterem juntos, até porque a melhor parte de não ser igual ao outro é poder se completar conforme vai se adicionando. E dentre eles, continuariam somando mesmo com as subtrações feitas diante da ordem natural da vida que levou , , e de forma precoce.



Dentre todos os discursos que um dia ele disse para qualquer pessoa, a maior mentira foi afirmar para si que estava pronto para seguir em frente, quando na verdade não sabia qual frente seguir e se tinha uma. Tudo o que lhe rodeava, mesmo com quase dois anos de sua perda, ainda era o que aquele futuro deveria ter sido se a vida não tivesse lhe tirado o amor de sua vida.
Perdeu muito em diversos pontos, mas o principal foi o seu zelo. Ele que por muitos anos se dedicou aos outros, além de si, e que tinha a companhia certa para isso. Seokjin poderia dizer claramente que teria força suficiente para ajudar qualquer um dos outros seis amigos a superar, mas não tinha para si. Ver todos eles felizes novamente, caminhando para frente, o dava um certo apreço pela vida outra vez, porém não era suficiente para que a indiferença consigo fosse embora.
Era uma parte de si que nunca mais voltaria e ele não sabia em qual lugar procurar, ou se deveria.
Em pé naquela ponte, segurando uma flor que levou em tom de homenagem para as quatro mulheres que para sempre fariam uma falta absurda na vida de cada um deles, Seokjin só sentia-se sendo chamado para testar o que foi que a levou dele. Tentado a testar se algum portal o levaria para outra dimensão em que pudesse encontrá-la, afinal, sua força sempre veio de .
E quando o fez, sentiu o corpo chocar-se na água, com o frio lhe tomando, mas não mais que a apatia.
Ele não sentia nenhuma dor ou qualquer incômodo sequer. Pelo contrário, parecia que estar ali era um alívio e tudo o que conseguia ver, com a ajuda da luz diária que deixava aquela água mais clara, era o sorriso dela e sua mão estendida. Agora ele se sentia mais completo novamente e, mesmo que soubesse não ter sido abandonado propositalmente, o sentimento sobre também se esvaía.

“Em nossas vidas, a mudança é inevitável. A perda é inevitável. A felicidade reside na nossa adaptabilidade em sobreviver a tudo de ruim.”Buda


FIM!



Nota da autora: Olá!
Bem, primeiramente gostaria de pedir desculpa por qualquer coisa.
Lembrando que nada daqui condiz com a realidade – ainda bem, não?
Segundo, obrigada por ler! Essa fanfic é parte de uma trilogia que resolvi fazer com os MV’s de I Need U, Run e Epilogue: Young Forever. Segue a sequência de leitura abaixo:

Trilogia Young Forever
- MV: I Need U

Parte um: Eu preciso de você
- MV: Run
Parte dois: Correremos juntos
- MV: Epilogue: Young Forever
Parte três: Epílogo

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