Prólogo
terminava de arrumar o cabelo em frente ao espelho, quando foi chamado. Os amigos já estavam do lado da porta, prontos para saírem, apenas aguardando que ele ficasse pronto.
— Vamos logo com isso! — gritou. — Não quero chegar atrasado!
, então, jogou o casaco por cima dos ombros, pegou a carteira em cima da mesa e buscou pelas chaves do carro.
— Não vamos chegar atrasados, eu garanto. — e dando uma piscadinha para , correu para fora do apartamento de , onde tinha se reunido para irem junto para o aniversário do amigo em um restaurante no centro da cidade. — Sou um excelente motorista, nunca me atraso para compromissos importantes. — comentou rindo enquanto girava a chave entre os dedos. — Estão todos prontos? — perguntou olhando em volta para garantir que as quatro pessoas que iriam com ele estavam do seu lado.
— Onde está o seu carro? — perguntou.
Chany apontou para o outro lado da rua, onde a Mercedes estava estacionada.
Ele foi na frente, liderando o grupo.
Tudo aconteceu muito rápido. mal tinha colocado o pé na rua quando ouviu gritar seu nome. Uma luz forte, vindo em sua direção, tirou-lhe a visão. A última coisa que ouviu foi o som dos pneus freando no asfalto, e então, tudo ficou escuro.
Abriu os olhos com dificuldade. Tinha uma luz muito forte em cima dele, mas foi o barulho das conversas misturadas que mais o incomodou. Piscou os olhos com força, tentando afastar os pontos escuros da visão, mas só o que conseguiu foi começar a enxergar tudo dobrado.
— Ele acordou! — gritou. E aquilo fez a cabeça de doer.
Em volta dele, estavam os amigos, todos de olhos arregalados, todos falando ao mesmo tempo, todos querendo saber como ele estava.
— Calma, não se mexa! O médico já está vindo.
Mas não quis esperar pelo médico. Sentou-se, com dificuldade, sentindo cada parte do seu corpo reclamar de dor. Olhou em volta, encarando cada um dos rostos que mesclavam expressões de susto com alívio. Uma pessoa, contudo, lhe fez falta.
— Onde está Anna?
Olhou em volta mais uma vez, procurando pela garota, mas não a encontrou em lugar nenhum.
— Ela está bem? — voltou a perguntar. Tentou puxar na memória o que aconteceu, como tinha ido parar ali, lembrando-se vagamente do acidente.
Anna estava com ele? Teria se ferido?
— Onde ela está? — repetiu a pergunta, ficando mais preocupado com o silêncio repentino dos amigos. E aquilo fez seu peito gelar.
— O que foi? O que aconteceu, Anna está bem?
Os amigos de se entreolharam, como se perguntassem, entre eles, quem tomaria a frente para seguir com aquela conversa. foi o escolhido. Com a testa franzida e um olhar confuso, ele perguntou:
— , quem é ?
— Vamos logo com isso! — gritou. — Não quero chegar atrasado!
, então, jogou o casaco por cima dos ombros, pegou a carteira em cima da mesa e buscou pelas chaves do carro.
— Não vamos chegar atrasados, eu garanto. — e dando uma piscadinha para , correu para fora do apartamento de , onde tinha se reunido para irem junto para o aniversário do amigo em um restaurante no centro da cidade. — Sou um excelente motorista, nunca me atraso para compromissos importantes. — comentou rindo enquanto girava a chave entre os dedos. — Estão todos prontos? — perguntou olhando em volta para garantir que as quatro pessoas que iriam com ele estavam do seu lado.
— Onde está o seu carro? — perguntou.
Chany apontou para o outro lado da rua, onde a Mercedes estava estacionada.
Ele foi na frente, liderando o grupo.
Tudo aconteceu muito rápido. mal tinha colocado o pé na rua quando ouviu gritar seu nome. Uma luz forte, vindo em sua direção, tirou-lhe a visão. A última coisa que ouviu foi o som dos pneus freando no asfalto, e então, tudo ficou escuro.
Abriu os olhos com dificuldade. Tinha uma luz muito forte em cima dele, mas foi o barulho das conversas misturadas que mais o incomodou. Piscou os olhos com força, tentando afastar os pontos escuros da visão, mas só o que conseguiu foi começar a enxergar tudo dobrado.
— Ele acordou! — gritou. E aquilo fez a cabeça de doer.
Em volta dele, estavam os amigos, todos de olhos arregalados, todos falando ao mesmo tempo, todos querendo saber como ele estava.
— Calma, não se mexa! O médico já está vindo.
Mas não quis esperar pelo médico. Sentou-se, com dificuldade, sentindo cada parte do seu corpo reclamar de dor. Olhou em volta, encarando cada um dos rostos que mesclavam expressões de susto com alívio. Uma pessoa, contudo, lhe fez falta.
— Onde está Anna?
Olhou em volta mais uma vez, procurando pela garota, mas não a encontrou em lugar nenhum.
— Ela está bem? — voltou a perguntar. Tentou puxar na memória o que aconteceu, como tinha ido parar ali, lembrando-se vagamente do acidente.
Anna estava com ele? Teria se ferido?
— Onde ela está? — repetiu a pergunta, ficando mais preocupado com o silêncio repentino dos amigos. E aquilo fez seu peito gelar.
— O que foi? O que aconteceu, Anna está bem?
Os amigos de se entreolharam, como se perguntassem, entre eles, quem tomaria a frente para seguir com aquela conversa. foi o escolhido. Com a testa franzida e um olhar confuso, ele perguntou:
— , quem é ?
DIA 01
Ele estava ansioso. Esfregava as palmas das mãos na calça, na tentativa de as secar, enquanto olhava para a porta da cafeteria esperando que ela chegasse.
tinha aceitado encontrá-lo, finalmente.
Depois de flertarem por alguns dias no restaurante em que a mulher trabalhava, tomou coragem de a convidar para sair. Foi engraçado ver a reação dela.
— Está falando sério? — a mulher perguntou.
— Muito sério, ele respondeu.
Talvez tenha exagerado nas brincadeiras, talvez ele não tivesse se deixado claro o bastante, sobre como gostaria de se encontrar com ela. Mas a verdade era que tudo o que ele conseguia pensar, nos últimos dias, era em como queria ter um momento a sós com .
Até porque, não havia outro motivo para ele ir almoçar, todos os dias nas últimas duas semanas, em um restaurante que o fazia atravessar a cidade inteira.
Bem, talvez o fato de sempre colocar alguns chocolates a mais nas sobremesas dele possam ter contribuído com a frequência assídua de , mas a verdade era que o rapaz queria vê-la de novo.
achou uma graça vê-lo ansioso pela resposta dela.
— Eu saio às quatro. — ela respondeu. Anotou o número do seu celular em um guardanapo e entregou para ele. — Me mande o endereço mais tarde.
E lá estava ele, esperando por que, apesar de não estar atrasada, estava fazendo com que o rapaz ficasse ainda mais ansioso.
alternava o olhar entre a porta da cafeteira e a janela que dava ampla visão da rua. E foi então que ele a viu.
desceu do ônibus, apertou o casaco contra o corpo, fechando-o até o pescoço, esperou pelo semáforo fechar e então apressou o passo ao atravessar a rua. Quando entrou no café, tinha os cabelos bagunçados pelo vento do lado de fora e as bochechas coradas pela pequena corrida.
Ao encontrar já a esperando, sentando em uma mesa no fundo do ambiente, sorriu.
E só aquilo já fez a noite toda valer a pena.
tinha aceitado encontrá-lo, finalmente.
Depois de flertarem por alguns dias no restaurante em que a mulher trabalhava, tomou coragem de a convidar para sair. Foi engraçado ver a reação dela.
— Está falando sério? — a mulher perguntou.
— Muito sério, ele respondeu.
Talvez tenha exagerado nas brincadeiras, talvez ele não tivesse se deixado claro o bastante, sobre como gostaria de se encontrar com ela. Mas a verdade era que tudo o que ele conseguia pensar, nos últimos dias, era em como queria ter um momento a sós com .
Até porque, não havia outro motivo para ele ir almoçar, todos os dias nas últimas duas semanas, em um restaurante que o fazia atravessar a cidade inteira.
Bem, talvez o fato de sempre colocar alguns chocolates a mais nas sobremesas dele possam ter contribuído com a frequência assídua de , mas a verdade era que o rapaz queria vê-la de novo.
achou uma graça vê-lo ansioso pela resposta dela.
— Eu saio às quatro. — ela respondeu. Anotou o número do seu celular em um guardanapo e entregou para ele. — Me mande o endereço mais tarde.
E lá estava ele, esperando por que, apesar de não estar atrasada, estava fazendo com que o rapaz ficasse ainda mais ansioso.
alternava o olhar entre a porta da cafeteira e a janela que dava ampla visão da rua. E foi então que ele a viu.
desceu do ônibus, apertou o casaco contra o corpo, fechando-o até o pescoço, esperou pelo semáforo fechar e então apressou o passo ao atravessar a rua. Quando entrou no café, tinha os cabelos bagunçados pelo vento do lado de fora e as bochechas coradas pela pequena corrida.
Ao encontrar já a esperando, sentando em uma mesa no fundo do ambiente, sorriu.
E só aquilo já fez a noite toda valer a pena.
DIA 07
estava próxima da fila da bilheteria do cinema, mexendo no celular, quando a surpreendeu. O rapaz tinha ambas as mãos atrás das costas, claramente escondendo alguma coisa dela, quando se inclinou para ficar na altura da mulher. Insinuou que iria a beijar, mas parou no meio do caminho.
Eles já podiam se beijar em público? Ele não sabia a resposta para essa questão.
e estavam saindo juntos há alguns dias. Oficialmente, aquele seria o segundo encontro do casal, então o rapaz ficou apreensivo acerca da forma com que deveria agir com ela.
Foi quem acabou com o espaço entre eles, ficando na pontinha dos pés, ao tempo em que levava as mãos para os ombros do rapaz. Deu-lhe um beijo leve nos lábios, logo sentindo as bochechas corarem. Olhou em volta envergonhada, mas ninguém prestava atenção neles.
— Oi. — ele disse.
— Oi. — respondeu com um sorriso.
— Desculpe o atraso, tive que passar em um lugar antes.
— Está tudo bem.
A mulher estava prestes a comentar que já havia comprado o ingresso deles, já que ficou com medo de esgotarem por se tratar da estreia do filme que iriam ver, quando tirou as mãos das costas, revelando o que, até então, estava mantendo em segredo.
abriu a boca, surpresa, com as duas rosas brancas que ele segurava e entregava para ela.
— A floricultura próxima à minha casa já estava fechada quando saí. Precisei procurar por uma loja aberta. — explicou-se.
soltou uma risadinha incrédula.
— Obrigada!
Mesmo conhecendo o cheiro das rosas, levou as flores até próximo do nariz, sendo o aroma. a olhava com expectativa. Estava claro que havia se esforçado para surpreendê-la, para agradá-la. E, bem, ele tinha conseguido.
— Eu adorei.
Ele abriu o maior dos sorrisos, satisfeito em ter ido até o outro lado da cidade apenas para comprar as últimas rosas que a floricultura dispunha. O rapaz, então, viu a fila próxima a eles avançando, olhou para o relógio no punho e se assustou com o horário.
— Precisamos comprar nossos ingressos logo.
Mas balançou a cabeça.
— Eu já comprei.
ficou alguns segundos absorvendo as palavras dela.
— Mas eu queria comprar.
A garota deu de ombros, divertindo-se com a cara dele.
— Se quiser me agradecer, pode me dar uma carona para casa mais tarde.
Ele, então, pensou que a troca de favores estava até que muito justa.
— Fechado! — segurou a mão dele, entrelaçando os dedos, e seguiram para a sala 07, onde o filme em breve começaria a rodar.
A noite mal havia começado, mas sabia que não queria que ela terminasse tão cedo.
Eles já podiam se beijar em público? Ele não sabia a resposta para essa questão.
e estavam saindo juntos há alguns dias. Oficialmente, aquele seria o segundo encontro do casal, então o rapaz ficou apreensivo acerca da forma com que deveria agir com ela.
Foi quem acabou com o espaço entre eles, ficando na pontinha dos pés, ao tempo em que levava as mãos para os ombros do rapaz. Deu-lhe um beijo leve nos lábios, logo sentindo as bochechas corarem. Olhou em volta envergonhada, mas ninguém prestava atenção neles.
— Oi. — ele disse.
— Oi. — respondeu com um sorriso.
— Desculpe o atraso, tive que passar em um lugar antes.
— Está tudo bem.
A mulher estava prestes a comentar que já havia comprado o ingresso deles, já que ficou com medo de esgotarem por se tratar da estreia do filme que iriam ver, quando tirou as mãos das costas, revelando o que, até então, estava mantendo em segredo.
abriu a boca, surpresa, com as duas rosas brancas que ele segurava e entregava para ela.
— A floricultura próxima à minha casa já estava fechada quando saí. Precisei procurar por uma loja aberta. — explicou-se.
soltou uma risadinha incrédula.
— Obrigada!
Mesmo conhecendo o cheiro das rosas, levou as flores até próximo do nariz, sendo o aroma. a olhava com expectativa. Estava claro que havia se esforçado para surpreendê-la, para agradá-la. E, bem, ele tinha conseguido.
— Eu adorei.
Ele abriu o maior dos sorrisos, satisfeito em ter ido até o outro lado da cidade apenas para comprar as últimas rosas que a floricultura dispunha. O rapaz, então, viu a fila próxima a eles avançando, olhou para o relógio no punho e se assustou com o horário.
— Precisamos comprar nossos ingressos logo.
Mas balançou a cabeça.
— Eu já comprei.
ficou alguns segundos absorvendo as palavras dela.
— Mas eu queria comprar.
A garota deu de ombros, divertindo-se com a cara dele.
— Se quiser me agradecer, pode me dar uma carona para casa mais tarde.
Ele, então, pensou que a troca de favores estava até que muito justa.
— Fechado! — segurou a mão dele, entrelaçando os dedos, e seguiram para a sala 07, onde o filme em breve começaria a rodar.
A noite mal havia começado, mas sabia que não queria que ela terminasse tão cedo.
DIA 15
deu uma última checada no espelho do elevador antes de ouvir o anúncio de que havia chegado no andar selecionado. Mal tinha jogado os cabelos para o lado e retocado o batom, quando as portas se abriram, revelando um hall com uma só porta — a qual estava entreaberta. esperava por ela.
— Toc-toc? — brincou ao empurrar a porta levemente, revelando o interior do apartamento dele.
Deu alguns passos para dentro, receosa, não porque não conhecia o lugar, mas por estar entrando sozinha pela primeira vez. Mas logo apareceu com um pano de prato nas mãos, enquanto enxugava os dedos, sorrindo para ela.
— Entre, fique à vontade! Se quiser pendurar o casaco… Bem, você sabe onde colocar. — disse com uma risadinha no final. — Estou terminando o nosso jantar.
agradeceu pela recepção, tirando o casaco pesado que usava, apenas para deixá-lo no armário próprio à porta, junto das roupas de frio dele.
De fato, conhecia o lugar. Estivera ali uma vez antes, também a convite de . Na outra oportunidade, tiveram uma pequena e saudável discussão até decidirem em qual restaurante pediriam sua refeição. queria apresentar à sua pasta preferida, enquanto a mulher não entendia como não conhecia a melhor sobremesa da cidade.
Mas naquela noite não teriam porque se provocar em um debate que terminaria em algumas risadas, porque o rapaz estava, ele próprio, cozinhando o jantar do casal.
Ela caminhou até a cozinha, de onde um cheiro agradável tomava conta do ambiente.
— Hm… O cheiro está bom.
Sem olhar para trás, sorriu satisfeito.
— Vou provar para você que sou um cozinheiro de mão cheia.
Ela riu.
— Esse é o único prato que sabe fazer, então imagino que você seja tipo um especialista.
olhou para trás, apenas para fazer uma cara de ofendido. Menos de um segundo depois, já estava rindo junto dela. Realmente, ele não era uma das melhores pessoas na cozinha, mas por , o rapaz estava se esforçando.
Buscou duas taças no armário, entregando-as para , enquanto buscava pelo vinho que havia comprado para aquela noite. Com o saca-rolhas, abriu a garrafa e despejou a bebida em ambas as taças. Segurou uma delas e brindou com a mulher, agradecendo por ela ter aceitado jantar no apartamento dele naquela noite.
— Eu que agradeço pelo convite. — ela respondeu. — Estou ansiosa para saber quais outros talentos você esconde.
— Não vejo a hora de te mostrar todos eles. — respondeu com um brilho nos olhos.
— Toc-toc? — brincou ao empurrar a porta levemente, revelando o interior do apartamento dele.
Deu alguns passos para dentro, receosa, não porque não conhecia o lugar, mas por estar entrando sozinha pela primeira vez. Mas logo apareceu com um pano de prato nas mãos, enquanto enxugava os dedos, sorrindo para ela.
— Entre, fique à vontade! Se quiser pendurar o casaco… Bem, você sabe onde colocar. — disse com uma risadinha no final. — Estou terminando o nosso jantar.
agradeceu pela recepção, tirando o casaco pesado que usava, apenas para deixá-lo no armário próprio à porta, junto das roupas de frio dele.
De fato, conhecia o lugar. Estivera ali uma vez antes, também a convite de . Na outra oportunidade, tiveram uma pequena e saudável discussão até decidirem em qual restaurante pediriam sua refeição. queria apresentar à sua pasta preferida, enquanto a mulher não entendia como não conhecia a melhor sobremesa da cidade.
Mas naquela noite não teriam porque se provocar em um debate que terminaria em algumas risadas, porque o rapaz estava, ele próprio, cozinhando o jantar do casal.
Ela caminhou até a cozinha, de onde um cheiro agradável tomava conta do ambiente.
— Hm… O cheiro está bom.
Sem olhar para trás, sorriu satisfeito.
— Vou provar para você que sou um cozinheiro de mão cheia.
Ela riu.
— Esse é o único prato que sabe fazer, então imagino que você seja tipo um especialista.
olhou para trás, apenas para fazer uma cara de ofendido. Menos de um segundo depois, já estava rindo junto dela. Realmente, ele não era uma das melhores pessoas na cozinha, mas por , o rapaz estava se esforçando.
Buscou duas taças no armário, entregando-as para , enquanto buscava pelo vinho que havia comprado para aquela noite. Com o saca-rolhas, abriu a garrafa e despejou a bebida em ambas as taças. Segurou uma delas e brindou com a mulher, agradecendo por ela ter aceitado jantar no apartamento dele naquela noite.
— Eu que agradeço pelo convite. — ela respondeu. — Estou ansiosa para saber quais outros talentos você esconde.
— Não vejo a hora de te mostrar todos eles. — respondeu com um brilho nos olhos.
DIA 30
e caminhavam de mãos dadas, os dedos entrelaçados, quando a garota parou de supetão.
— Meu Deus!
— O que foi? — ele perguntou.
— Meu Deus, meu Deus!
— O que foi, o que foi?
começou a olhar para o chão, mas não encontrou nada. Olhou em volta assustado, mas nada lhe chamou a atenção. Foi então que ele percebeu que estava com os olhos vidrados na vitrine de uma das lojas do shopping.
— Estão fazendo liquidação de inverno! — ela comemorou batendo palminhas. — Aposto que vou encontrar o presente perfeito para a minha irmã aqui. Vem!
E sem dar tempo para ele responder aquilo, foi puxado pela garota loja adentro. Enquanto olhava as peças oferecidas, o rapaz puxou o celular do bolso de trás da calça e começou a mexer nas redes sociais, já pensando em procurar por um lugar para se sentar, enquanto abria algum joguinho para passar o tempo.
— O que você acha?
— Hm? — levantou os olhos da tela do aparelho, apenas para encontrar segurando um sobretudo na frente do corpo.
— O que você acha? — repetiu.
Ele levou a mão aos cabelos.
— Não sei, não conheço a sua irmã, mas a roupa é legal.
fez uma careta para ele.
— O que tem a ver você não conhecer a minha irmã?
ficou confuso.
— Quis dizer que não sei se a roupa ficaria bem nela, mas a peça é bonita. Se você acha que ela vai gostar, deveria comprar.
A garota levou alguns segundos para entender o que ele havia dito.
— Mas essa roupa eu quero comprar para mim, não para ela.
Ainda confuso e com a testa franzida, ele perguntou:
— Não viemos ao shopping para comprar o presente de aniversário da sua irmã?
— Aham.
— E você não entrou nessa loja acreditando que encontraria algo legal para ela?
— Foi. Mas então eu encontrei algo legal para mim. — respondeu rindo. — E então, o que você acha? Combina comigo?
soltou uma risadinha incrédula.
— Combina, é claro que sim. — respondeu. Porque ele sabia que o que quer que usasse, ficaria perfeito nela.
— Acho que vou provar. — ela disse animada enquanto olhava as outras peças expostas.
— Vou me sentar ali, tá? — ele falou apontando para uma poltrona. concordou, mas não olhou para onde ele mostrava. — Se precisar de mim me chama.
— Ok, obrigada! — sorriu agradecida.
, então, foi se sentar para começar mais uma batalha no joguinho que havia instalado há alguns dias. Enquanto isso, ouvia conversar com uma vendedora, animada por encontrar quase toda a loja em promoção.
Ao contrário do que poderia pensar, o rapaz não se importou nenhum pouco em ter sido trocado momentaneamente por algumas roupas bonitas, afinal de contas, olhar de longe para , enquanto ela se distraía com alguma coisa, era uma das atividades preferidas dele.
— Meu Deus!
— O que foi? — ele perguntou.
— Meu Deus, meu Deus!
— O que foi, o que foi?
começou a olhar para o chão, mas não encontrou nada. Olhou em volta assustado, mas nada lhe chamou a atenção. Foi então que ele percebeu que estava com os olhos vidrados na vitrine de uma das lojas do shopping.
— Estão fazendo liquidação de inverno! — ela comemorou batendo palminhas. — Aposto que vou encontrar o presente perfeito para a minha irmã aqui. Vem!
E sem dar tempo para ele responder aquilo, foi puxado pela garota loja adentro. Enquanto olhava as peças oferecidas, o rapaz puxou o celular do bolso de trás da calça e começou a mexer nas redes sociais, já pensando em procurar por um lugar para se sentar, enquanto abria algum joguinho para passar o tempo.
— O que você acha?
— Hm? — levantou os olhos da tela do aparelho, apenas para encontrar segurando um sobretudo na frente do corpo.
— O que você acha? — repetiu.
Ele levou a mão aos cabelos.
— Não sei, não conheço a sua irmã, mas a roupa é legal.
fez uma careta para ele.
— O que tem a ver você não conhecer a minha irmã?
ficou confuso.
— Quis dizer que não sei se a roupa ficaria bem nela, mas a peça é bonita. Se você acha que ela vai gostar, deveria comprar.
A garota levou alguns segundos para entender o que ele havia dito.
— Mas essa roupa eu quero comprar para mim, não para ela.
Ainda confuso e com a testa franzida, ele perguntou:
— Não viemos ao shopping para comprar o presente de aniversário da sua irmã?
— Aham.
— E você não entrou nessa loja acreditando que encontraria algo legal para ela?
— Foi. Mas então eu encontrei algo legal para mim. — respondeu rindo. — E então, o que você acha? Combina comigo?
soltou uma risadinha incrédula.
— Combina, é claro que sim. — respondeu. Porque ele sabia que o que quer que usasse, ficaria perfeito nela.
— Acho que vou provar. — ela disse animada enquanto olhava as outras peças expostas.
— Vou me sentar ali, tá? — ele falou apontando para uma poltrona. concordou, mas não olhou para onde ele mostrava. — Se precisar de mim me chama.
— Ok, obrigada! — sorriu agradecida.
, então, foi se sentar para começar mais uma batalha no joguinho que havia instalado há alguns dias. Enquanto isso, ouvia conversar com uma vendedora, animada por encontrar quase toda a loja em promoção.
Ao contrário do que poderia pensar, o rapaz não se importou nenhum pouco em ter sido trocado momentaneamente por algumas roupas bonitas, afinal de contas, olhar de longe para , enquanto ela se distraía com alguma coisa, era uma das atividades preferidas dele.
DIA 60
— Podemos trocar de música? Não gosto dessa, acho muito triste.
— Hm? Ah, sim, claro.
pegou o celular de e passou a procurar por outra música para colocar para trocar. Estava sentada no banco do carona, enquanto o namorado dirigia pela rodovia principal. Ele estava distraído desde que deixaram a cidade. Ao colocar as malas dela no carro, tentou até mesmo guardar a bolsa de mão de no porta-malas, tamanho devaneio em que se encontrava.
Se puxasse na memória, diria que , na verdade, estava agindo diferente há alguns dias, sempre muito alheio a tudo o que fazia.
— Está tudo bem?
Ele tirou os olhos da estrada apenas por um segundo, para olhar para a garota.
— Está sim, e com você?
Ela riu.
— Eu estou bem. Mas parece que você está em outro mundo.
deu um sorrisinho nervoso.
— Acho que apenas estou ansioso.
tombou a cabeça para o lado, encostando-a no banco.
— Com o quê?
O rapaz rolou os olhos. Era bem óbvio o motivo, mas estava apenas querendo o provocar.
Com a reação dele, ela riu.
— Só porque finalmente vai conhecer a minha família?
Pensar naquilo fez sentir todo o corpo arrepiar.
Ele não só estava indo para a cidade em que cresceu, para conhecer a família da namorada, como também iria para o casamento de um dos primos de . Como se já não estivesse nervoso por conhecer os pais dela, ele seria apresentado, de uma só vez, a toda família da garota.
— Tem certeza que seu primo não vai achar ruim de eu ir com você no casamento dele? — ele perguntou pelo que deveria ser a centésima vez no último mês.
— Eu já falei! Toda a minha família está ansiosa para conhecer você.
E aquilo foi o bastante para que fizesse uma careta.
— E se eles não gostarem de mim?
jogou a cabeça para trás, rindo divertida.
— Isso é impossível, todo mundo gosta de você, meu amor.
— Mas e se eles não gostarem?
levou a mão até a dele, entrelaçando os dedos. Sentiu a mão do namorado gelada, então a levou até os lábios, deixando ali um beijo singelo.
— Então eles, definitivamente, vão estar perdendo a oportunidade de conhecer a pessoa mais incrível do mundo.
deu um sorrisinho fraco.
— Mas não se preocupe, o meu bom gosto vem de família. — riu. — Não existe a mínima chance disso acontecer.
E aquilo acabou relaxando minimamente os ombros dele.
Durante todo o resto da viagem, foi contando a ele histórias de quando era pequena, com o intuito de deixá-lo mais calmo e confiante. E quando chegaram à casa dela, e o apresentou para os pais, a mulher sentiu os próprios ombros, que estavam tensos sem que ela percebesse, relaxarem, ao notar que se deu bem logo de casa com a sua mãe.
— disse que você gosta de pasta. Deixei o almoço pronto para vocês, venham comer antes que esfrie.
E então o casal soube que aquele final de semana seria melhor do que eles poderiam ter imaginado.
— Hm? Ah, sim, claro.
pegou o celular de e passou a procurar por outra música para colocar para trocar. Estava sentada no banco do carona, enquanto o namorado dirigia pela rodovia principal. Ele estava distraído desde que deixaram a cidade. Ao colocar as malas dela no carro, tentou até mesmo guardar a bolsa de mão de no porta-malas, tamanho devaneio em que se encontrava.
Se puxasse na memória, diria que , na verdade, estava agindo diferente há alguns dias, sempre muito alheio a tudo o que fazia.
— Está tudo bem?
Ele tirou os olhos da estrada apenas por um segundo, para olhar para a garota.
— Está sim, e com você?
Ela riu.
— Eu estou bem. Mas parece que você está em outro mundo.
deu um sorrisinho nervoso.
— Acho que apenas estou ansioso.
tombou a cabeça para o lado, encostando-a no banco.
— Com o quê?
O rapaz rolou os olhos. Era bem óbvio o motivo, mas estava apenas querendo o provocar.
Com a reação dele, ela riu.
— Só porque finalmente vai conhecer a minha família?
Pensar naquilo fez sentir todo o corpo arrepiar.
Ele não só estava indo para a cidade em que cresceu, para conhecer a família da namorada, como também iria para o casamento de um dos primos de . Como se já não estivesse nervoso por conhecer os pais dela, ele seria apresentado, de uma só vez, a toda família da garota.
— Tem certeza que seu primo não vai achar ruim de eu ir com você no casamento dele? — ele perguntou pelo que deveria ser a centésima vez no último mês.
— Eu já falei! Toda a minha família está ansiosa para conhecer você.
E aquilo foi o bastante para que fizesse uma careta.
— E se eles não gostarem de mim?
jogou a cabeça para trás, rindo divertida.
— Isso é impossível, todo mundo gosta de você, meu amor.
— Mas e se eles não gostarem?
levou a mão até a dele, entrelaçando os dedos. Sentiu a mão do namorado gelada, então a levou até os lábios, deixando ali um beijo singelo.
— Então eles, definitivamente, vão estar perdendo a oportunidade de conhecer a pessoa mais incrível do mundo.
deu um sorrisinho fraco.
— Mas não se preocupe, o meu bom gosto vem de família. — riu. — Não existe a mínima chance disso acontecer.
E aquilo acabou relaxando minimamente os ombros dele.
Durante todo o resto da viagem, foi contando a ele histórias de quando era pequena, com o intuito de deixá-lo mais calmo e confiante. E quando chegaram à casa dela, e o apresentou para os pais, a mulher sentiu os próprios ombros, que estavam tensos sem que ela percebesse, relaxarem, ao notar que se deu bem logo de casa com a sua mãe.
— disse que você gosta de pasta. Deixei o almoço pronto para vocês, venham comer antes que esfrie.
E então o casal soube que aquele final de semana seria melhor do que eles poderiam ter imaginado.
DIA 120
A brisa noturna era o que deixava o clima mais ameno.
caminhava ao lado de , ambos descalços sobre a areia, próximos de onde as ondas quebravam. Vez ou outra o vento soprava mais forte, fazendo os cabelos da mulher bagunçar e o vestido dela ameaçar a subir, o que sempre causava algumas risadas nela.
reclamava que deveria ter levado consigo uma blusa de frio, pois assim poderia oferecer à .
— Mas não está frio.
— Pode acabar ficando. — ele respondeu.
— Então você pode me abraçar forte para me esquentar, e aí tudo vai ficar bem.
O rapaz sorriu com aquilo, indo para trás da mulher, abraçando-a forte. Começaram a andar engraçado, dando os mesmos passos, ao mesmo tempo, para não tropeçar nos próprios pés.
A caminhada noturna tinha sido ideia dele. teria que viajar a trabalho no dia seguinte e ficaria fora pelo próximo mês. Como a noite estava belíssima, sugeriu que passassem um tempo juntos fora de casa, mas longe de olhares curiosos. E como sempre topava as ideias dele, foram à praia com a roupa que estava no corpo, deixando os calçados no carro dele, sem pressa para irem embora.
— Queria que essa noite nunca chegasse ao fim. — ela comentou com um suspiro. A lua estava cheia e a quantidade de estrelas no céu dava a impressão de estarem diante de uma cidade iluminada.
— Ainda que a noite acabe, eu vou sempre estar aqui. — respondeu. — E então poderemos ter outras incontáveis noites como essa.
— Promete?
— Prometo.
caminhava ao lado de , ambos descalços sobre a areia, próximos de onde as ondas quebravam. Vez ou outra o vento soprava mais forte, fazendo os cabelos da mulher bagunçar e o vestido dela ameaçar a subir, o que sempre causava algumas risadas nela.
reclamava que deveria ter levado consigo uma blusa de frio, pois assim poderia oferecer à .
— Mas não está frio.
— Pode acabar ficando. — ele respondeu.
— Então você pode me abraçar forte para me esquentar, e aí tudo vai ficar bem.
O rapaz sorriu com aquilo, indo para trás da mulher, abraçando-a forte. Começaram a andar engraçado, dando os mesmos passos, ao mesmo tempo, para não tropeçar nos próprios pés.
A caminhada noturna tinha sido ideia dele. teria que viajar a trabalho no dia seguinte e ficaria fora pelo próximo mês. Como a noite estava belíssima, sugeriu que passassem um tempo juntos fora de casa, mas longe de olhares curiosos. E como sempre topava as ideias dele, foram à praia com a roupa que estava no corpo, deixando os calçados no carro dele, sem pressa para irem embora.
— Queria que essa noite nunca chegasse ao fim. — ela comentou com um suspiro. A lua estava cheia e a quantidade de estrelas no céu dava a impressão de estarem diante de uma cidade iluminada.
— Ainda que a noite acabe, eu vou sempre estar aqui. — respondeu. — E então poderemos ter outras incontáveis noites como essa.
— Promete?
— Prometo.
DIA 240
tinha preparado uma surpresa para ele. Quer dizer, o fato de passarem a tarde no parque da cidade, onde a maioria dos casais e das famílias se reuniam para fazer piquenique, não seria uma surpresa. sabia o que o esperava para aquela tarde, tanto é verdade, que tinha escolhido usar roupas leves.
Apesar do verão estar dando lugar para o outono, a temperatura ainda era elevada durante o dia, especialmente quando o sol estava forte, como era o caso daquele domingo.
Mas, ainda assim, havia montado a toalha no chão de modo que não visse a surpresa antes da hora. A mulher havia levado frutas e pães, e o namorado comprou sucos em uma loja de conveniência ali perto. Só quando o casal já estava comendo junto, sentados sobre a toalha quadriculada que a garota havia comprado pela internet, foi que mostrou a ele o que tinha levado.
— Trouxe uma coisa para você.
Ele ergueu as sobrancelhas.
— Ah, é? O quê?
tentou fazer mistério, mas era péssima em guardar segredos. Com uma risadinha ansiosa, puxou a sacola atrás de si e, de dentro dela, tirou o bolo de chocolate que havia encomendado especialmente para aquele dia.
Em cima do bolo, “happy birthday, <3” estava escrito com glacê.
Ele se mostrou surpreso.
— Você sabe que o meu aniversário é só na semana que vem, né?
riu daquilo.
— Eu sei! Mas como não vou estar aqui para comemorar com você, pensei em fazer isso hoje! — ela disse batendo palmas pela própria ideia.
riu da empolgação dela.
— Você pensa em tudo mesmo. — disse sentindo a boca salivar.
Procurou por uma faca para cortar o bolo, mas tirou da mão dele antes que o rapaz tivesse a chance de estragar o doce.
— Ei!
— Nada disso. Primeiro, você não sabe cortar bolo, meu amor, sempre estraga tudo. E segundo, não podemos comer antes de cantarmos parabéns.
— Mas dá azar cantar parabéns antes do dia do aniversário.
— Sério?
— Aham.
A garota pensou por alguns segundos, dando de ombros no final.
— Bem, isso não muda o fato de que você continua não sabendo cortar um bolo sem o destruir completamente. Então deixa que eu faço isso.
Sem contestar, buscou pelos pratinhos dentro da sacola e ficou aguardando a namorada os servir.
— O primeiro pedaço vai para a mulher da minha vida! — ele disse eloquente, oferecendo à .
Rindo, a mulher agradeceu, com uma reverência.
Tiraram algumas fotos juntos e se deliciaram com o chocolate, tendo uma tarde de risadas e conversas banais, exatamente do tipo que o casal mais gostava.
Apesar do verão estar dando lugar para o outono, a temperatura ainda era elevada durante o dia, especialmente quando o sol estava forte, como era o caso daquele domingo.
Mas, ainda assim, havia montado a toalha no chão de modo que não visse a surpresa antes da hora. A mulher havia levado frutas e pães, e o namorado comprou sucos em uma loja de conveniência ali perto. Só quando o casal já estava comendo junto, sentados sobre a toalha quadriculada que a garota havia comprado pela internet, foi que mostrou a ele o que tinha levado.
— Trouxe uma coisa para você.
Ele ergueu as sobrancelhas.
— Ah, é? O quê?
tentou fazer mistério, mas era péssima em guardar segredos. Com uma risadinha ansiosa, puxou a sacola atrás de si e, de dentro dela, tirou o bolo de chocolate que havia encomendado especialmente para aquele dia.
Em cima do bolo, “happy birthday, <3” estava escrito com glacê.
Ele se mostrou surpreso.
— Você sabe que o meu aniversário é só na semana que vem, né?
riu daquilo.
— Eu sei! Mas como não vou estar aqui para comemorar com você, pensei em fazer isso hoje! — ela disse batendo palmas pela própria ideia.
riu da empolgação dela.
— Você pensa em tudo mesmo. — disse sentindo a boca salivar.
Procurou por uma faca para cortar o bolo, mas tirou da mão dele antes que o rapaz tivesse a chance de estragar o doce.
— Ei!
— Nada disso. Primeiro, você não sabe cortar bolo, meu amor, sempre estraga tudo. E segundo, não podemos comer antes de cantarmos parabéns.
— Mas dá azar cantar parabéns antes do dia do aniversário.
— Sério?
— Aham.
A garota pensou por alguns segundos, dando de ombros no final.
— Bem, isso não muda o fato de que você continua não sabendo cortar um bolo sem o destruir completamente. Então deixa que eu faço isso.
Sem contestar, buscou pelos pratinhos dentro da sacola e ficou aguardando a namorada os servir.
— O primeiro pedaço vai para a mulher da minha vida! — ele disse eloquente, oferecendo à .
Rindo, a mulher agradeceu, com uma reverência.
Tiraram algumas fotos juntos e se deliciaram com o chocolate, tendo uma tarde de risadas e conversas banais, exatamente do tipo que o casal mais gostava.
DIA 365
— Chalé trinta e seis. — disse a recepcionista entregando a chave para .
Ele agradeceu e então caminhou até onde o esperava, do lado de fora. Para comemorar o aniversário de namoro, o casal havia planejado passar o feriado prolongado em uma fazenda de chalés de inverno.
— Vamos ficar no trinta e seis. — ele disse para a namorada.
O carro já estava na garagem. De acordo com o plano que haviam feito, só precisariam do carro novamente quando fossem embora, dali três dias. A ideia era ficarem dentro do chalé durante todo o tempo, curtindo a presença um do outro, aproveitando a lareira oferecida e tomando muito chocolate quente, já que estava incluso no preço já pago.
estava em êxtase. Falava daquela viagem há semanas, desde que chegaram em acordo acerca do melhor lugar para comemorar o primeiro ano juntos. deixou que escolhesse o destino, já que ele sabia que, independentemente do lugar em que fossem, apenas o fato de estar com o amor da sua vida, já faria aqueles dias especiais.
— Ali, ali! — ela comemorou quando viram o chalé de número 36. Puxou a mala de rodinhas consigo, tendo andando atrás dela.
— Não corra, ! — ele gritou, temendo que a mulher escorregasse no chão molhado com a neve. A mulher apenas riu.
— Vem logo, está frio. Quero tomar um banho quentinho.
apressou os passos e então colocou a chave na porta.
Feito totalmente de madeira, o interior tinha o cheiro característico. Mesmo que o local não fosse muito grande, dentro do chalé estava muito frio, o que fez com que o rapaz logo ligasse o aquecedor da sala.
— Pensei que iríamos acender a lareira. — ela reclamou.
— Podemos ligar mais tarde. — ele respondeu rindo do bico de insatisfação dela. — Vamos levar as coisas para o quarto.
foi na frente. Enquanto ia até a janela para admirar a vista que o chalé proporcionava, deixou as malas em um canto qualquer e foi até a cama. Ao se deitar, gemeu.
— O que foi?
Ele estalou a língua.
— Parece que um carro passou por cima de mim. — disse com uma risada irônica no final. — Meu corpo está todo doendo e estou morrendo de sono.
sentou do lado dele. Puxou a cabeça do namorado para o colo dela e começou a passar a mão nos fios do cabelo dele.
— Então descansa, meu amor. Eu te acordo quando for a hora do jantar.
nem pensou em contestar. Quando deu por si, já estava com os olhos fechados. Só percebeu que, de fato, havia caído no sono, quando ouviu tentando o acordar.
— , acorda.
Mas a voz dela estava tão longe.
— Meu amor, você precisa abrir os olhos.
Ele não queria, estava gostoso ali, tendo próxima dele, fazendo carinho nos seus cabelos.
— , você precisa acordar.
E quando finalmente abriu os olhos, não sabia onde estava.
~ ♥ ~
O telefone estava tocando novamente.
Exatamente como tinha feito nas últimas semanas, ignorou cada uma das chamadas que recebia. Seu celular estava no modo silencioso há tanto tempo que nem se lembrava do som que fazia ao receber uma chamada. De qualquer forma, também as ignorava.
Há um mês havia recebido alta do hospital. Seu ferimentos não foram graves, por algum milagre. Com exceção dos machucados externos, não precisou imobilizar nenhuma parte do corpo.
pensava e repensava no dia que tudo aconteceu, mas só conseguia se lembrar da luz lhe tirando a visão e, então, do impacto. Não lembrava da dor, pelo menos não no momento do acidente.
Mas o que mais o incomodava não era o fato de ter passado alguns dias no hospital após o acidente de carro. Mas sim a ideia de que, aparentemente, todas as suas lembranças envolvendo , não haviam passado de um sonho. Porque não havia outra explicação.
se lembrava claramente dos momentos que passara com a mulher no último ano, de quando se conheceram no restaurante que ela trabalhava, do primeiro encontro, do segundo… De primeira noite que passou em seu apartamento, e então dos finais de semana que aproveitou na casa dela. Das viagens que fizeram juntos, dos jantares que tiveram, das sobremesas que dividiram, das risadas que compartilharam… se lembrava de cada momento que passaram juntos.
Ou, pelo menos, ele se lembrava até certo ponto. Porque com o passar dos dias, suas lembranças foram ficando cada vez mais fracas. E apesar dele ainda sentir o peito latejar quando pensava em , apesar do seu corpo guardar a memória olfativa do perfume da mulher, apesar dele sentir o corpo se arrepiar ao pensar nos momentos em que as peles se tocaram, não conseguia se lembrar do rosto dela.
— Como posso não me recordar de como ela se parece? — perguntou para si mesmo.
A ideia era inconcebível.
— Como não consigo me lembrar do rosto da mulher que amo?
Ele sentiu a garganta fechar.
— Como posso amar alguém que não existe?
Porque não era real. Pelo menos era isso que os médicos lhe disseram.
— Você sofreu um impacto muito forte na cabeça, sorte que não teve nenhuma concussão. — eles disseram. — Existe a possibilidade de você ter sonhado com alguém, um sonho tão intenso, que acreditou ser verdadeiro. Nosso subconsciente faz isso às vezes, não há nada de errado com você. Aliás, aqui estão os papéis da sua alta. Espero vê-lo dentro de duas semanas para novos exames.
Após a conversa que tivera com os médicos, entrou em um processo de negação.
Não podia ser. Simplesmente não podia acreditar que um inteiro da sua vida havia acontecido somente em seus sonhos, enquanto estava desmaiado pelo acidente. Aquilo era loucura, era impossível.
Mas ao tentar forçar a mente para se lembrar de mais coisas, mais detalhes que comprovassem que não estava ficando louco, que era tão real quanto ele, saiu do estado de negação para o estado de total desespero.
Ele, simplesmente, não conseguia se lembrar do rosto dela.
Lembrava-se dos beijos, dos toques, do som da risada, do perfume dos seus cabelos, mas não se recordava do rosto da namorada.
Sentiu os olhos arderem. Como poderia procurar por ela se não sabia como a mulher se parecia? Porque sim, ele queria encontrá-la. Acreditava ser possível, pois seu médico também havia explicado que o cérebro humano não criava pessoas em sonhos, mas apenas criava mensagens com pessoas que, ao menos, já tenham cruzado nosso caminho em algum momento da vida. São, pois, lembranças que ficam guardadas no nosso subconsciente.
— Nosso cérebro, conscientemente, não consegue guardar absolutamente tudo o que vivemos, vimos e vivenciamos. Então o nosso subconsciente faz o trabalho de armazenar tudo o que vivemos, todos os momentos vivenciados durante a nossa passagem na Terra. Ao sonharmos com uma pessoa que acreditamos não conhecer, na verdade, trata-se de alguém que cruzou nosso caminho em algum momento. Só não nos lembramos de onde.
— Por quê?
— O quê?
— Por que sonhei com alguém que nem mesmo sei quem é ou onde conheci?
O médico deu de ombros.
— Não há uma explicação científica para isso.
E foi isso.
deixou o hospital com a cabeça a mil, fervendo e doendo, não apenas pela pancada que levara, mas pelo turbilhão de emoções que estavam o tomando. De qualquer forma, se ele já tivesse visto em algum lugar, ou seja qual fosse o nome dela, ele poderia vê-la de novo.
Eles ainda podem se encontrar de novo.
A possibilidade era remota, mas queria acreditar que o último ano que viver ou, ao menos, o último ano que sonhou, não seria em vão. E mesmo não sabendo como a mulher se parece, ele acreditava que seu corpo, sua mente, iria reconhecê-la quando finalmente se encontrassem.
— Se nos encontrarmos um dia. — corrigiu-se.
Ouviu o telefone tocar mais uma vez e, como em todas as outras vezes, apenas ignorou o som. Colocou um moletom, levou o capuz até a cabeça, colocou os fones de ouvido, e saiu de casa. O sol estava quase se pondo e ele sairia para correr.
Ultimamente vinha praticando muitos exercícios, mais que o normal. Sentia que precisava gastar energia ou então ficaria louco. Mais do que isso, acreditava que se levasse o corpo físico à exaustão, talvez caísse em um sono tão profundo que poderia vir a sonhar com novamente.
— Eu preciso te encontrar, .
Caminhou até o parque próximo de onde morava, e então começou a correr na passarela. Corria com força, buscando um lugar que ele não conhecia, mas, ainda assim, sabia que precisava chegar logo. Queria levar seu corpo ao limite, queria sentir a roupa pesar com o suor, queria sentir as pernas reclamarem pelo esforço.
Queria se lembrar de .
Queria voltar para a realidade criada pelo seu subconsciente, uma realidade em que ele era feliz, apaixonado, e tinha a mulher da sua vida ao seu lado. queria aquela vida de volta. Ou, melhor dizendo, queria vivê-la de verdade.
Quando os pulmões começaram a arder com a falta de oxigênio, parou.
Ofegante, apoiou as mãos nos joelhos. Procurou por um lugar para se sentar, temendo cair por conta das pernas bambas. Buscou por algum vendedor de bebidas, mas já estava tarde e todos eles já haviam ido embora.
Levantou-se com dificuldade e então caminhou até o outro lado da rua, onde uma loja de conveniência estava aberta.
Caminhou loja adentro, indo até o último corredor, onde ficavam as geladeiras com as bebidas. Bebidas alcóolicas, sucos, chás… Onde estavam as garrafinhas de água? Encontrou a última, o final de uma das prateleiras. Estava com sorte!
Foi até o caixa e pagou pela bebida. Antes de levar a garrafa à boca, contudo, pensou que sua mente traiçoeira poderia estar lhe pregando uma peça. Por um segundo, apenas por um segundo, pensou ter ouvido a voz de . Mas aquilo seria impossível.
Olhou em volta e não encontrou ninguém além dele mesmo e do atendente no caixa.
Ofegante e com o coração batendo em disparada — e isso em nada tinha a ver com a corrida insana que praticava momentos antes — novamente levou a garrafa à boca, mas parou no meio do caminho.
— Olá, com licença. As garrafas de água acabaram?
olhou para trás. Ali, perto dele, a menos de um metro, uma garota conversava com o atendente. não a reconheceu, seus traços não lhe eram familiares e ele tinha certeza que nunca havia a visto antes ou, ao menos, não se recordava.
Mas a voz dela… A voz dela lhe soava íntima, como se a tivesse escutado todos os dias da vida pelo último ano.
O rapaz a encarava tão fixamente que lhe chamou a atenção. A garota, desconfiada, deu alguns passos para trás, afastando-se dele. Foi quando percebeu que talvez estivesse parecendo um louco a encarando daquela forma.
— Hm… Acho que essa é a última. — ele disse sem saber exatamente do que estava falando. Sinalizou para a garrafa que segurava.
A mulher o olhou ainda mais desconfiada.
— . Meu nome é . — apresentou-se.
Definitivamente, não conhecia aquela mulher, ele tinha certeza. Seu rosto, sua feição… Ele tinha absoluta certeza de que nunca a tinha visto antes. Mas então por que sentia o corpo responder a ela?
Era como se uma carga magnética o levasse a se aproximar daquela mulher.
— Olá. — ela respondeu. Voltou-se para o atendente, apenas para confirmar que a loja não tinha mais a bebida que ela buscava e, ao receber a resposta que esperava, virou-se para ir embora.
ainda a olhava deslumbrado, de forma fixa, quase sem piscar. O coração batendo rápido, as bochechas esquentando, sua mente lhe dizendo que, por algum motivo, não poderia deixar ela ir embora de novo.
Espera… De novo?
Ela mal deu dois passos, e voltou. Olhou bem para ele, de cima abaixo, e então perguntou:
— Já nos encontramos antes?
— Não que eu me lembre, não. — ele respondeu.
A mulher ergueu as sobrancelhas, e então estreitou os olhos.
— Tem certeza? Parece que já te vi em algum lugar.
tinha certeza que nunca a viu em lugar algum, mas tinha a mesma certeza de que a conhecia de alguma forma.
— Acho que me lembraria de você se já tivéssemos nos visto antes.
A mulher deu um sorriso de lado, meio envergonhada com a fala dele, mas o incômodo de antes já tinha passado. Da mesma forma que estava curioso sobre ela, a mulher se encontrava curiosa sobre ele.
— .
— O quê? — ele ofegou.
— Me chamo , muito prazer, .
, então, estendeu a mão para ele. engoliu em seco, questionando-se se, finalmente, havia cansado o corpo a ponto de dormir profundamente e voltar a sonhar com , seu amor. Mas ele estava acordado, tinha certeza.
Aquilo ali era real. Mas… Não podia ser a garota dos seus sonhos, poderia? Qual a probabilidade…?
— É um prazer conhecê-la, . — ele apertou a mão dela.
sentiu o corpo todo arrepiar em reconhecimento. Ele conhecia toque, sentia falta dele todas as noites. , por outro lado, levou um susto com o choque que se deu quando as mãos se tocaram.
— Desculpe. — ele disse.
— Não, não, está tudo bem. Essas coisas acontecem. — disse com uma risadinha. — Bom, eu vou até a outra loja de conveniência aqui do lado. — ela falou sem nem mesmo fazer menção de que sairia. — Obrigada por me oferecer a sua água. — apontou para a mão dele.
acompanhou com o olhar, só então percebendo que ainda estava com a garrafinha aberta, mas intocada.
— Ah, claro.
E quando deu o primeiro passo rumo à saída, sentiu um impulso, um impulso de a acompanhar, pois sabia que se a perdesse de vista, as chances de a encontrar de novo seriam mínimas. E ele não poderia correr esse risco.
— Espera. — andou até ela. — Se incomoda se eu a acompanhar?
A garota tinha um sorriso nos lábios, como se achasse graça da situação.
— De jeito nenhum.
Ele soltou o ar, aliviado, que nem mesmo se lembrava de ter prendido.
— Então mostre o caminho.
soltou outra risadinha e então abriu a porta, saindo para a noite do lado de fora, com logo do seu lado.
E como se fossem velhos conhecidos, e caminharam lado a lado, rumo à loja do outro quarteirão, conversando e se conhecendo. Ou, talvez, se reconhecendo.
De qualquer forma, a conversa deles tinha acabado de começar e o casal não parecia ter pressa de ver a noite chegar ao fim. Naquele momento eles não sabiam, mas a verdade era que aquela noite seria a primeira das infinitas que ainda passariam juntos.
Ele agradeceu e então caminhou até onde o esperava, do lado de fora. Para comemorar o aniversário de namoro, o casal havia planejado passar o feriado prolongado em uma fazenda de chalés de inverno.
— Vamos ficar no trinta e seis. — ele disse para a namorada.
O carro já estava na garagem. De acordo com o plano que haviam feito, só precisariam do carro novamente quando fossem embora, dali três dias. A ideia era ficarem dentro do chalé durante todo o tempo, curtindo a presença um do outro, aproveitando a lareira oferecida e tomando muito chocolate quente, já que estava incluso no preço já pago.
estava em êxtase. Falava daquela viagem há semanas, desde que chegaram em acordo acerca do melhor lugar para comemorar o primeiro ano juntos. deixou que escolhesse o destino, já que ele sabia que, independentemente do lugar em que fossem, apenas o fato de estar com o amor da sua vida, já faria aqueles dias especiais.
— Ali, ali! — ela comemorou quando viram o chalé de número 36. Puxou a mala de rodinhas consigo, tendo andando atrás dela.
— Não corra, ! — ele gritou, temendo que a mulher escorregasse no chão molhado com a neve. A mulher apenas riu.
— Vem logo, está frio. Quero tomar um banho quentinho.
apressou os passos e então colocou a chave na porta.
Feito totalmente de madeira, o interior tinha o cheiro característico. Mesmo que o local não fosse muito grande, dentro do chalé estava muito frio, o que fez com que o rapaz logo ligasse o aquecedor da sala.
— Pensei que iríamos acender a lareira. — ela reclamou.
— Podemos ligar mais tarde. — ele respondeu rindo do bico de insatisfação dela. — Vamos levar as coisas para o quarto.
foi na frente. Enquanto ia até a janela para admirar a vista que o chalé proporcionava, deixou as malas em um canto qualquer e foi até a cama. Ao se deitar, gemeu.
— O que foi?
Ele estalou a língua.
— Parece que um carro passou por cima de mim. — disse com uma risada irônica no final. — Meu corpo está todo doendo e estou morrendo de sono.
sentou do lado dele. Puxou a cabeça do namorado para o colo dela e começou a passar a mão nos fios do cabelo dele.
— Então descansa, meu amor. Eu te acordo quando for a hora do jantar.
nem pensou em contestar. Quando deu por si, já estava com os olhos fechados. Só percebeu que, de fato, havia caído no sono, quando ouviu tentando o acordar.
— , acorda.
Mas a voz dela estava tão longe.
— Meu amor, você precisa abrir os olhos.
Ele não queria, estava gostoso ali, tendo próxima dele, fazendo carinho nos seus cabelos.
— , você precisa acordar.
E quando finalmente abriu os olhos, não sabia onde estava.
O telefone estava tocando novamente.
Exatamente como tinha feito nas últimas semanas, ignorou cada uma das chamadas que recebia. Seu celular estava no modo silencioso há tanto tempo que nem se lembrava do som que fazia ao receber uma chamada. De qualquer forma, também as ignorava.
Há um mês havia recebido alta do hospital. Seu ferimentos não foram graves, por algum milagre. Com exceção dos machucados externos, não precisou imobilizar nenhuma parte do corpo.
pensava e repensava no dia que tudo aconteceu, mas só conseguia se lembrar da luz lhe tirando a visão e, então, do impacto. Não lembrava da dor, pelo menos não no momento do acidente.
Mas o que mais o incomodava não era o fato de ter passado alguns dias no hospital após o acidente de carro. Mas sim a ideia de que, aparentemente, todas as suas lembranças envolvendo , não haviam passado de um sonho. Porque não havia outra explicação.
se lembrava claramente dos momentos que passara com a mulher no último ano, de quando se conheceram no restaurante que ela trabalhava, do primeiro encontro, do segundo… De primeira noite que passou em seu apartamento, e então dos finais de semana que aproveitou na casa dela. Das viagens que fizeram juntos, dos jantares que tiveram, das sobremesas que dividiram, das risadas que compartilharam… se lembrava de cada momento que passaram juntos.
Ou, pelo menos, ele se lembrava até certo ponto. Porque com o passar dos dias, suas lembranças foram ficando cada vez mais fracas. E apesar dele ainda sentir o peito latejar quando pensava em , apesar do seu corpo guardar a memória olfativa do perfume da mulher, apesar dele sentir o corpo se arrepiar ao pensar nos momentos em que as peles se tocaram, não conseguia se lembrar do rosto dela.
— Como posso não me recordar de como ela se parece? — perguntou para si mesmo.
A ideia era inconcebível.
— Como não consigo me lembrar do rosto da mulher que amo?
Ele sentiu a garganta fechar.
— Como posso amar alguém que não existe?
Porque não era real. Pelo menos era isso que os médicos lhe disseram.
— Você sofreu um impacto muito forte na cabeça, sorte que não teve nenhuma concussão. — eles disseram. — Existe a possibilidade de você ter sonhado com alguém, um sonho tão intenso, que acreditou ser verdadeiro. Nosso subconsciente faz isso às vezes, não há nada de errado com você. Aliás, aqui estão os papéis da sua alta. Espero vê-lo dentro de duas semanas para novos exames.
Após a conversa que tivera com os médicos, entrou em um processo de negação.
Não podia ser. Simplesmente não podia acreditar que um inteiro da sua vida havia acontecido somente em seus sonhos, enquanto estava desmaiado pelo acidente. Aquilo era loucura, era impossível.
Mas ao tentar forçar a mente para se lembrar de mais coisas, mais detalhes que comprovassem que não estava ficando louco, que era tão real quanto ele, saiu do estado de negação para o estado de total desespero.
Ele, simplesmente, não conseguia se lembrar do rosto dela.
Lembrava-se dos beijos, dos toques, do som da risada, do perfume dos seus cabelos, mas não se recordava do rosto da namorada.
Sentiu os olhos arderem. Como poderia procurar por ela se não sabia como a mulher se parecia? Porque sim, ele queria encontrá-la. Acreditava ser possível, pois seu médico também havia explicado que o cérebro humano não criava pessoas em sonhos, mas apenas criava mensagens com pessoas que, ao menos, já tenham cruzado nosso caminho em algum momento da vida. São, pois, lembranças que ficam guardadas no nosso subconsciente.
— Nosso cérebro, conscientemente, não consegue guardar absolutamente tudo o que vivemos, vimos e vivenciamos. Então o nosso subconsciente faz o trabalho de armazenar tudo o que vivemos, todos os momentos vivenciados durante a nossa passagem na Terra. Ao sonharmos com uma pessoa que acreditamos não conhecer, na verdade, trata-se de alguém que cruzou nosso caminho em algum momento. Só não nos lembramos de onde.
— Por quê?
— O quê?
— Por que sonhei com alguém que nem mesmo sei quem é ou onde conheci?
O médico deu de ombros.
— Não há uma explicação científica para isso.
E foi isso.
deixou o hospital com a cabeça a mil, fervendo e doendo, não apenas pela pancada que levara, mas pelo turbilhão de emoções que estavam o tomando. De qualquer forma, se ele já tivesse visto em algum lugar, ou seja qual fosse o nome dela, ele poderia vê-la de novo.
Eles ainda podem se encontrar de novo.
A possibilidade era remota, mas queria acreditar que o último ano que viver ou, ao menos, o último ano que sonhou, não seria em vão. E mesmo não sabendo como a mulher se parece, ele acreditava que seu corpo, sua mente, iria reconhecê-la quando finalmente se encontrassem.
— Se nos encontrarmos um dia. — corrigiu-se.
Ouviu o telefone tocar mais uma vez e, como em todas as outras vezes, apenas ignorou o som. Colocou um moletom, levou o capuz até a cabeça, colocou os fones de ouvido, e saiu de casa. O sol estava quase se pondo e ele sairia para correr.
Ultimamente vinha praticando muitos exercícios, mais que o normal. Sentia que precisava gastar energia ou então ficaria louco. Mais do que isso, acreditava que se levasse o corpo físico à exaustão, talvez caísse em um sono tão profundo que poderia vir a sonhar com novamente.
— Eu preciso te encontrar, .
Caminhou até o parque próximo de onde morava, e então começou a correr na passarela. Corria com força, buscando um lugar que ele não conhecia, mas, ainda assim, sabia que precisava chegar logo. Queria levar seu corpo ao limite, queria sentir a roupa pesar com o suor, queria sentir as pernas reclamarem pelo esforço.
Queria se lembrar de .
Queria voltar para a realidade criada pelo seu subconsciente, uma realidade em que ele era feliz, apaixonado, e tinha a mulher da sua vida ao seu lado. queria aquela vida de volta. Ou, melhor dizendo, queria vivê-la de verdade.
Quando os pulmões começaram a arder com a falta de oxigênio, parou.
Ofegante, apoiou as mãos nos joelhos. Procurou por um lugar para se sentar, temendo cair por conta das pernas bambas. Buscou por algum vendedor de bebidas, mas já estava tarde e todos eles já haviam ido embora.
Levantou-se com dificuldade e então caminhou até o outro lado da rua, onde uma loja de conveniência estava aberta.
Caminhou loja adentro, indo até o último corredor, onde ficavam as geladeiras com as bebidas. Bebidas alcóolicas, sucos, chás… Onde estavam as garrafinhas de água? Encontrou a última, o final de uma das prateleiras. Estava com sorte!
Foi até o caixa e pagou pela bebida. Antes de levar a garrafa à boca, contudo, pensou que sua mente traiçoeira poderia estar lhe pregando uma peça. Por um segundo, apenas por um segundo, pensou ter ouvido a voz de . Mas aquilo seria impossível.
Olhou em volta e não encontrou ninguém além dele mesmo e do atendente no caixa.
Ofegante e com o coração batendo em disparada — e isso em nada tinha a ver com a corrida insana que praticava momentos antes — novamente levou a garrafa à boca, mas parou no meio do caminho.
— Olá, com licença. As garrafas de água acabaram?
olhou para trás. Ali, perto dele, a menos de um metro, uma garota conversava com o atendente. não a reconheceu, seus traços não lhe eram familiares e ele tinha certeza que nunca havia a visto antes ou, ao menos, não se recordava.
Mas a voz dela… A voz dela lhe soava íntima, como se a tivesse escutado todos os dias da vida pelo último ano.
O rapaz a encarava tão fixamente que lhe chamou a atenção. A garota, desconfiada, deu alguns passos para trás, afastando-se dele. Foi quando percebeu que talvez estivesse parecendo um louco a encarando daquela forma.
— Hm… Acho que essa é a última. — ele disse sem saber exatamente do que estava falando. Sinalizou para a garrafa que segurava.
A mulher o olhou ainda mais desconfiada.
— . Meu nome é . — apresentou-se.
Definitivamente, não conhecia aquela mulher, ele tinha certeza. Seu rosto, sua feição… Ele tinha absoluta certeza de que nunca a tinha visto antes. Mas então por que sentia o corpo responder a ela?
Era como se uma carga magnética o levasse a se aproximar daquela mulher.
— Olá. — ela respondeu. Voltou-se para o atendente, apenas para confirmar que a loja não tinha mais a bebida que ela buscava e, ao receber a resposta que esperava, virou-se para ir embora.
ainda a olhava deslumbrado, de forma fixa, quase sem piscar. O coração batendo rápido, as bochechas esquentando, sua mente lhe dizendo que, por algum motivo, não poderia deixar ela ir embora de novo.
Espera… De novo?
Ela mal deu dois passos, e voltou. Olhou bem para ele, de cima abaixo, e então perguntou:
— Já nos encontramos antes?
— Não que eu me lembre, não. — ele respondeu.
A mulher ergueu as sobrancelhas, e então estreitou os olhos.
— Tem certeza? Parece que já te vi em algum lugar.
tinha certeza que nunca a viu em lugar algum, mas tinha a mesma certeza de que a conhecia de alguma forma.
— Acho que me lembraria de você se já tivéssemos nos visto antes.
A mulher deu um sorriso de lado, meio envergonhada com a fala dele, mas o incômodo de antes já tinha passado. Da mesma forma que estava curioso sobre ela, a mulher se encontrava curiosa sobre ele.
— .
— O quê? — ele ofegou.
— Me chamo , muito prazer, .
, então, estendeu a mão para ele. engoliu em seco, questionando-se se, finalmente, havia cansado o corpo a ponto de dormir profundamente e voltar a sonhar com , seu amor. Mas ele estava acordado, tinha certeza.
Aquilo ali era real. Mas… Não podia ser a garota dos seus sonhos, poderia? Qual a probabilidade…?
— É um prazer conhecê-la, . — ele apertou a mão dela.
sentiu o corpo todo arrepiar em reconhecimento. Ele conhecia toque, sentia falta dele todas as noites. , por outro lado, levou um susto com o choque que se deu quando as mãos se tocaram.
— Desculpe. — ele disse.
— Não, não, está tudo bem. Essas coisas acontecem. — disse com uma risadinha. — Bom, eu vou até a outra loja de conveniência aqui do lado. — ela falou sem nem mesmo fazer menção de que sairia. — Obrigada por me oferecer a sua água. — apontou para a mão dele.
acompanhou com o olhar, só então percebendo que ainda estava com a garrafinha aberta, mas intocada.
— Ah, claro.
E quando deu o primeiro passo rumo à saída, sentiu um impulso, um impulso de a acompanhar, pois sabia que se a perdesse de vista, as chances de a encontrar de novo seriam mínimas. E ele não poderia correr esse risco.
— Espera. — andou até ela. — Se incomoda se eu a acompanhar?
A garota tinha um sorriso nos lábios, como se achasse graça da situação.
— De jeito nenhum.
Ele soltou o ar, aliviado, que nem mesmo se lembrava de ter prendido.
— Então mostre o caminho.
soltou outra risadinha e então abriu a porta, saindo para a noite do lado de fora, com logo do seu lado.
E como se fossem velhos conhecidos, e caminharam lado a lado, rumo à loja do outro quarteirão, conversando e se conhecendo. Ou, talvez, se reconhecendo.
De qualquer forma, a conversa deles tinha acabado de começar e o casal não parecia ter pressa de ver a noite chegar ao fim. Naquele momento eles não sabiam, mas a verdade era que aquela noite seria a primeira das infinitas que ainda passariam juntos.
FIM
Nota da autora: Foi a primeira vez que escrevi uma fanfic nesse estilo, então espero que tenha ficado bacana. Sou apaixonada nesse MV, sinceramente <3 Espero que tenham gostado! Se sim, deixem um comentário no final e indiquem a fanfic para as amigas <3
Beijos de luz
Angel
Beijos de luz
Angel
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