TOGETHER
História por Bárbara Herdy e Karen Tavares | Revisão por Sofia Queirós


Sonhos por mais doces que sejam sempre são interrompidos, a realidade insiste em interrompê-los. Não importa o quanto você sonhe. Era só mais uma manhã em que, com certeza, eu não estaria pensando nisso se não fosse a "feliz" notícia que meu pai nos deu. Era sempre assim depois que minha mãe, Elizabeth Davis, faleceu em um acidente de carro.
Meu pai, como sempre, estava em uma de suas viagens, voltávamos de mais um final de semana na praia. Recordo-me somente de coisas boas naquele fim de semana, de quanto nos divertimos com ela. Estávamos no carro voltando para casa, afinal, iríamos ter aula na segunda de manhã, cantarolávamos uma música qualquer no rádio, quando minha mãe freia bruscamente e tudo ficou escuro. Talvez pela batida, ou até mesmo o choque de perder minha mãe, aquela a quem eu admirava tanto, mas o fato era que eu não conseguia me lembrar de mais nada naquele dia.
Morava com meu pai, Nick Parker, em um belo apartamento, mas ficava frequentemente sozinha, pois meu pai trabalha com navegação e ficava fora por meses. Não que ele nos tivesse abandonado, não foi isso, ele tentava, realmente dava o melhor de si para nos criar sozinho e conciliar com o trabalho. O homem mais incrível que eu conheço.
Tinha minha irmã, Sarah, aquela com quem eu divida até os pensamentos, que era tão diferente e tão parecida comigo, temos uma ligação inexplicável, eu sei que sempre a terei comigo. Cuidamos uma da outra, é a minha melhor amiga. "Hold The World Together" estava escrito em nossas pulseiras, e sabia que era verdade.
Meu pai sempre inventava coisas novas, mas nessa manhã, ele caprichou na imaginação, resolveu nos exilar em Forks, uma cidadezinha no noroeste do estado de Washington. Essa cidade que nem deve constar no mapa, que chove mais do que em qualquer outro lugar. Com a belíssima desculpa de que vivendo com nossa prima nós estaríamos mais seguras. Sim, depois de 18 anos ele resolveu dar uma de pai protetor, decidindo por mim e por Sarah que iríamos morar naquele fim de mundo.
Estava sentada na janela observando o corre-corre das pessoas lá em baixo, sentiria falta disso, das pessoas nas ruas, das lojas,das músicas nas ruas, do trânsito. Iria sentir falta até do colégio, sei que é uma coisa estranha de se dizer, mas realmente iria sentir falta do meu "inferno" matinal.
Estudávamos em uma das escolas mais populares de Nova Iorque, chamada por mim, carinhosamente, de inferno. Um prato cheio para as "bonequinhas de luxo" e garotos insuportáveis. Uma disputa de quem manda, e de quem é a mais popular do colégio, quem atraía mais os olhares, quem se veste melhor. Ao meu ver, uma baboseira hipócrita, um bando de adolescentes ricos e entediados. Com minha sinceridade exagerada e meu gênio ruim, eu não sou uma pessoa muito simples de lidar, consegui uma distância segura dessas pessoas. Era com Sarah que ficava o tempo inteiro, e não precisava de mais ninguém.
- Mandy, não piore as coisas - minha irmã me repetia isso desde quando me tranquei no quarto.
Olhei pra ela emburrada, cruzando os braços em sinal de que não ia me mexer. Teimosia, eu era boa nisso.
- Eu já disse Sarah, eu não vou a lugar algum. Não vou largar meus sonhos por mais uma das maluquices dele.
Paciência, Sarah era boa nisso, principalmente comigo. - Vamos, é só por um tempo, e além do mais, eu sei que você adora Emily - ela se esforçava para manter as coisas tranquilas em casa.

Sarah era mais alta do que eu, o rosto lembrava muito o de uma criança, tinha as sombrancelhas perfeitamente desenhadas, os cabelos bem mais claros do que os meus, iam até o meio das costas, tinha uma pele clara e um sorrisinho malicioso que caia levemente em seus lábios.
Eu não me achava parecida com ela, não que me achasse feia. Meus cabelos eram mais compridos e escuros, uma expressão e um olhar fortes, eu conseguia esconder tudo o que sinto, sem deixar nada transparecer, meus lábios eram mais grossos e quando sorria costumava ser com todo o rosto.
Forte, era assim que eu aparentava aos outros, e essa era uma das diferenças entre Sarah e eu. Sarah deixava evidente todos os seus sentimentos, eu já conseguia sorrir quando minha vontade era chorar. Foi por ela, e por prometer que sempre enfrentariamos tudo juntas, que eu finalmente terminei de arrumar minhas malas.
O silêncio era sufocante, lá fora estava um céu azul perfeito e o sol brilhava radiante, eu ouvia Tokio Hotel e tentava digerir tudo o que estava me acontecendo. Como de um dia para o outro a vida de alguém pode mudar tanto? Mudar não, virar de ponta cabeça. Estávamos a caminho do aeroporto, meu pai tentava nos contar coisas boas sobre Forks, inutilmente, nos lembrando do tempo que íamos durante todas as férias, de como seria bom rever nossos velhos amigos, sair e nos divertir com eles. Sair? Ele só podia estar brincando! O que teria para fazer naquela cidade? Já podia me ver trancada no quarto, no computador enquanto Sarah lia mais um de seus livros pela milésima vez.
- O Voo sai daqui à meia hora meninas - meu pai nos dizia enquanto tirava as malas do carro e nos acompanhava até o embarque.
Eu não podia negar que ele era realmente um homem muito bonito, tinha um olhar doce e que transmitia calma. Seu sorriso era contagiante, iluminava tudo a sua volta, estava sempre sorrindo. Era um homem incrivelmente bom, e eu detestava isso, porque eu não conseguia odiá-lo.
- Pestinhas, eu não posso ficar, tenho que estar no Porto daqui a meia hora - ele ainda nos chamava de pestinhas, ainda achava que éramos suas menininhas. Nos abraçou e me olhou sorrindo. - Prometa se comportar.
- Eu sempre me comporto - menti, e ele sabia disso. Deu uma gostosa gargalhada apertando meu nariz, me forçando fazer uma careta de reprovação, enquanto Sarah acompanhava a risada dele, se divertindo com a minha careta. - Digam "Oi" a todos por mim.
- Sim, pai - respondemos juntas.
- Eu amo vocês - meu pai nos gritou já correndo, ele vivia correndo, a vida dele era uma correria.
Rimos e mandamos beijos entrando no avião. Finalmente acomodadas em nossas devidas poltronas, ficamos ali, tentando adivinhar o que seria da nossa vida daquele momento em diante.
Morávamos no centro de Nova Iorque, no lugar onde os contos de fadas eram feitos, no coração de Manhattan. Mas acontece que contos de fada acabam...
- Mandy. - Sarah me chamou me despertando dos meus pensamentos. Amanda era meu nome, mais achava muito grande e soava muito formal, besteira minha, eu sei, então nem todos me chamavam assim. - O que nossa mãe acharia disso? Mandy, será que ela..- ela me olhava e era óbvio o seu medo.
- Ela sempre concordava com o papai - respirei fundo tentando achar as palavras, eu também estava assustada. - Ela também concordaria que Forks é uma cidade mais segura para nos duas, afinal foi lá que ela nasceu.
- Ficaremos bem na casa da Emily... Quer dizer, eu espero que tudo fique bem.
Não pude deixar de rir da expressão que ela fez, Sarah era muito medrosa. - Vai ficar tudo bem Sarah, o que pode acontecer naquele fim de mundo? - eu ainda ria dela bebendo um pouco d'água.
- Ah, você sabe - ela ria junto comigo. - Somos boas em atrair confusão.
- Tenta ficar calma e come essa geléia horrível. -eu empurrava minha geléia para ela. Odeio comida de avião, além de você estar a vários metros distante do chão, você ainda é obrigada a comer comida ruim. Sempre levo algo na minha bolsa. Kit de sobrevivência.
- Loira, você se lembra do dia do nosso acidente?
- Eu lembro o mesmo que você, nada. - Sarah me respondeu pegando uma bala dentro da minha bolsa. - Eu lembro da mãe freando bruscamente e de acordar no hospital dias depois. Não foi um acidente normal, Mandy, e você sabe disso tão bem quanto eu. Eu te falei, Morena.
Sarah fazia isso desde pequena. Lembro-me que ela sempre tinha impressões com algo que fosse nos acontecer. Ela me acordava durante a noite, me contando o que estava sentindo, ou o que tinha visto. Dias antes ao acidente, não foi diferente, Sarah teve um pesadelo e me disse que algo ruim iria acontecer. Quanto a mim, bizarrices ficam a conta daquilo que ninguém sabe explicar.
A voz de humanóide da aeromoça nos avisando que estariamos pousando no aeroporto de Port Angeles, nos fez sentar direito e tentar nos arrumar em meio aquela bagunça de papéis de balas e chocolates que nos fizemos. Fazer o quê, era um vicio.
Finalmente lá estávamos, em nossa nova cidade, nossa nova vida. Pegamos nossas malas. Finalmente saímos do aeroporto, podendo ver melhor a cidade. Não era tão ruim quanto eu imaginava. Sou a rainha do drama. Estava um tempo fechado, com nuvens acinzentadas no céu. Pudemos finalmente fumar, sim, Sarah e eu fumávamos e nunca escondemos isso de ninguém, nem mesmo dos nossos pais. Não é algo que eu recomendava.
"Forks é uma das cidades onde se tem uma das maiores médias de dias chuvosos ou nublados por ano, cerca de 305 dias chuvosos em um ano."
- Que bom! - Sarah e eu falamos ao mesmo tempo.
- E agora, praieira? Vai ter que se conformar com a banheira. - Estávamos ambas visivelmente em apuros, mas como sempre, nunca perco meus comentários maldosos.
- Pois é, senhorita Automática. - Ela era minha irmã, tão maldosa quanto eu. - Vai rindo, vai!
As pessoas passavam e nos olhavam ali paradas fumando. Eram os óculos escuros? O cigarro? Ou estava tão visível que éramos de Nova Iorque?
- Sim, estamos com crachás de NOVA IORQUE. - Sarah como sempre lendo meus pensamentos e me causando ataques de riso, que como os do meu pai, não eram nada baixos. Atraindo ainda mais olhares curiosos.
Entramos no táxi, entregando ao motorista o papel onde estava anotado o endereço da nossa prima, Emily Young. Uma hora de carro até Forks. Assim que o táxi entrou naquela cidade tão vagamente familiar, olhamos atentamente as pessoas, as roupas, o único cinema. Para o deleite de Sarah e meu provável tédio, havia uma livraria.
Lanchonete, Hospital, Posto de Delegacia, várias casas até bonitas. A cidade era muito pequena. Provavelmente todos se conheciam ali, e com certeza, seriamos a aberração do lugar. Podia ser o tempo nublado e nuvens cinzas no céu, ou só a ansiedade, mas algo naquela cidade me chamou a atenção. Eu não precisava olhar para minha irmã para saber como ela estava. Sarah podia sentir, assim como eu que tinha algo naquela cidade.
- Morena - ela tocou de leve minha perna, chamando minha atenção para sua direção.
- É... eu também senti. - confirmei com a cabeça, não precisava olhar. Assim como eu, ela também mantinha os olhos fixos na janela.
- O que há por trás de tantos dias cinzas? - Sarah disse baixo, mais o suficiente para o motorista do táxi ouvir.
- Não são da cidade, moças? - perguntou sorridente o taxista. Um senhor gordo, um pouco careta. Eu prestava atenção nele pela primeira vez.
- Não - respondemos juntas. Ô mania!
- Vocês vão adorar a reserva. Tem muitos jovens assim, da idade de vocês. E claro, tem a praia também. - ele era um senhor simpático.
-Praia? Nesse frio? - Sarah fazia bico se encolhendo no banco. E eu acompanhava o desespero dela.
- O jovem daqui não sente frio. - respondeu o senhor rindo do nosso desespero. - Vocês logo se acostumarão também.
Ele finalmente parou. Respirei fundo e desci do carro podendo finalmente olhar onde eu estava. O táxi havia parado em frente a uma casa de madeira, bem rústica, mais com uma beleza única. Passarinhos viam nos bebedouros que haviam em volta da casa. Era realmente um lugar muito agradável. Bancos do lado de fora de casa, feitos com madeira também, onde o taxista deixou nossas malas. Sorrimos em agradecimento e logo ouvimos o barulho da porta se abrir.
Ela continuava a mesma, mesma altura, mesmo cabelo preto comprido. Ela nos olhava sorrindo da porta.
- Amanda, Sarah! - correu e nos abraçou.
Ela não tinha mudado nada, exceto...
- Emy... O que houve com o seu rosto? - eu queria não olhar e não perguntar, mas minha boca grande não deixou. Era impossível não notar a enorme cicatriz que agora Emily tinha no seu belo rosto.
- Foi um acidente na cozinha. - uma voz grossa e rouca ecoou de dentro da casa. Eu tremi.
Um homem muito alto, saiu de dentro da casa. Ele não usava camisa, e parecia não se importar nem um pouco com o frio que fazia naquela tarde. Sua pele tinha um tom diferente, não era um moreno comum. Era um homem lindo e Emily não pôde deixar de sorrir orgulhosa abraçando-o.
-Sam, essas são minhas primas de que lhe falei. - Mesmo com aquela cicatriz Emily continuava linda e eu continuava curiosa para saber o que foi que aconteceu. Não engoli a historia da cozinha, mas um homem daquele, resolve me calar, uma única vez que seja. - Essas são Sarah e Amanda.
Sorrimos para ele, nos convidaram a entrar e eu só confirmei o que tinha pensado antes. Era uma casa pequena mais muito agradável.
- O que foi? - perguntei baixo para Sarah, ela conversava sorrindo mais eu podia ver ela olhando para o Sam.
Ela nada me respondeu. Só me olhou. Resolvi não insistir. Depois perguntaria a ela. Estava curiosa demais para saber sobre Emily e seu namorado, Sam. Pois é, Sam Uley não era só namorado da minha prima como também seu noivo. Mas havia algo nele que eu gostava, me inspirava segurança estar perto dele. Era calado mais muito simpático com nos duas.
- Sarah... Amanda. - Sam fez nossas risadas pararem com sua voz forte. - Tenho assuntos da reserva para resolver, mas por favor, fiquem á vontade.
- Obrigada, Sam - sorrimos após ele dar um beijo em Emily e sair.
- Venham garotas, vou mostrar os quartos de vocês. - Emily estava tão sorridente. Estava realmente feliz em nos ter ali. Nos levou até nossos quartos, que eram separados porém tínhamos o mesmo banheiro e portas de acesso aos nossos quartos. Lindo! Os móveis em madeira. Tudo tão bonito e quente ali dentro, que eu podia até dizer naquele momento que me sentiria em casa.
- Prima, Sam faz o que aqui na reserva? - foi a vez de Sarah fazer as perguntas dela. Eu sabia!
- Ele ajuda a manter as coisas em ordem. Sarah. - Emily nos ajudava a desfazer as malas. - Ele é maravilhoso quando se conhece melhor.
- Ihh prima, essa cara de boba... Daqui a pouco tá casando. - me esparramei na cama rindo.
Emily me jogou um travesseiro rindo também. - Você não muda, Mandy... Vou fazer um bolo para mais tarde. Fiquem à vontade.
- Emy, a gente te ajuda. - Sarah adora cozinha.
- A gente não! Se eu for lá vou explodir a cozinha. - Fui logo me adiantando. Sei que não sou boa na cozinha.
- Não meninas... Vão dar uma volta na praia, conhecer a reserva. Sumam! - Emily saiu do quarto rindo e causando risos em nos duas. Queríamos mesmo conhecer a reserva.
As casas eram todas muito parecidas, de madeira com tons escuros, mas era realmente um lugar muito bonito. Crianças brincavam tranquilas, pessoas conversavam em suas varandas. Andamos até a praia e ficamos sentadas observando o mar por um bom tempo.
- Sam Uley? - eu abraçava meus joelhos. Estava um vento muito gelado.
- Eu não sei, só gostei dele... Inspira-me... - Sarah estava com a cabeça encostada no meu ombro. - Confiança... segurança... - ela confirmou com a cabeça. Eu entendia o que ela estava tentando me dizer.
- Segredo... Sam parece esconder algum segredo. - Ouvindo Sarah me dizendo isso, realmente fazia sentido. Mas não o suficiente para me deixar tão curiosa como ela estava.
O sol foi sumindo no horizonte e nós permanecemos ali, caladas. Apenas perdidas em nossos pensamentos.

Sarah Davis's POV

Papai nos levava para o aeroporto numa manhã quente na cidade de Nova York.
Seis e dezessete da manha para ser mais exata.
Estava muito quente.
Algo incomum já que normalmente o sol aparece ,mas sempre há um vento frio no ambiente.
Parecia que a cidade estava se despedindo da gente.
Estava vestida com a minha jaqueta de couro preta favorita, encolhida no banco de trás do carro, pouco me importava ir embora de Nova York, não deixei grandes marcas lá e muito menos a cidade me deixou grandes impressões, amizades ou amores.
Mas me importava em deixar para atrás os dias de sol, de ficar deitada na grama do Central Park, curtindo um dia ensolarado sem nada mais para se preocupar. É, eu sentiria muita falta do sol.
Por incrível que pareça, eu já estava acostumada a essa vida de mudanças, diferente da minha irmã mais nova, Mandy.
Papai trabalhava com navegação e sempre mudava de porto, ou seja, tínhamos que nos mudar para ele ter a segurança de que estávamos perto da localidade onde ele trabalha e em segurança.
Eu já estava acostumada, mas Mandy não.

Dentro do carro todos estavam em silêncio e tensos. Mandy olhava atentamente pela janela ouvindo música pelo celular, garanto que era Tokio Hotel. Eu estava um pouco impaciente, não gosto de viajar com essa tensão em torno de nós. Todas as janelas estavam abertas e eu podia ouvir as buzinas dos carros, ver as pessoas andando apressadamente pelas ruas movimentadas de Nova York, e eu sentia profundamente, que não sentiria falta de nada daquilo. Mas o mundo não era centrado em mim.
Mandy e papai estavam brigados, ela não queria ir morar em La Push, uma reserva na cidade de Forks que fica na península Olympic, no noroeste do estado de Washington; em Forks é constante o tempo nebuloso e grandes chuvas, fica muito próximo de Seattle, "a" capital da chuva, provavelmente La Push não seria diferente, mesmo tendo uma praia muito bonita. Me lembro pouco de La Push, desde que nasci lembro de nossa mãe nos levando para passar férias, dois meses inteiros em La Push, ela se divertia com seus parentes e nós nos divertíamos com nossos amigos da reserva, mas depois que mamãe morreu, eu tinha onze anos e Mandy dez, nunca mais voltamos para lá, o pouco que sabemos sobre nossos parentes é por meio do telefone ou e-mail, nossos antigos amigos,provavelmente nem moram mais lá ou nem se lembram de nós, lembro que passava muito tempo com Leah, minha prima de segundo grau, Jacob e Quil e quando íamos para a reserva vizinha, eu passava horas grudadas a Emily. Mas mesmo assim, relembrando desses fatos a Mandy era difícil convencê-la que morar em La Push seria algo bom, tentei persuadí-la por diversas maneiras, mas minha irmã consegue ser bem teimosa quando quer.
Eu estava cansada de viver em uma cidade grande: sem amigos, sem namorado, formada e com algumas cartas de faculdades que eu não tinha o mínimo interesse de entrar; La Push para mim era a chance que sempre desejei: morar em um lugar calmo e longe de toda essa bagunça urbana.

- Garanto que vocês vão amar La Push. - meu pai disse, cortando o nauseante silêncio. - Viajávamos todas as férias para lá vocês se lembram? Quer dizer, eu sei que depois do falecimento da mãe de vocês, nós não fomos mais lá, mas ... - ele olhou pelo retrovisor para a gente, Mandy imóvel e eu, bom, eu estava sendo eu, então apenas sorri levemente. - Oh meus amores, eu sei que vocês não queriam se mudar agora, - nah, Mandy não queria, eu estou tranquila indo para o fim do mundo. - Mas tentem ver os lados positivos, diversos amigos para reencontrar...- eles não vão se lembrar de mim. - Vocês vão sair juntos e trocar experiências. E vai ser muito bom vocês irem morar com Emily, ela sempre amou estar com vocês, uma ótima moça.

Que a verdade seja dita, Emily realmente é uma ótima pessoa, morar com ela não seria nenhum sacrifício por que ela sempre soube nos tratar e cuidar muito bem de nós duas. Papai nos aconselhava a seguir as regras que ela e seu noivo, Sam, implantassem para nós.
- Nada de graçinhas - disse ele olhando serio para Mandy e em seguida olhando para mim. - Nada de impulsividade.
Eu não lembrava em nada meu pai, seus cabelos eram lisos finos e curtos, ele esboçava, até mesmo nos piores momentos, um grande sorriso cheio de dentes branquinhos, seus olhos eram azuis e ele era um homem muito bonito, alto e simpático, mas nunca mais ficou com outra mulher desde que mamãe falecera, algo que sempre me entristeceu.
Então, eu estava animada, Mandy não, papai se fingia de forte.
E fomos nessa ladainha até chegarmos ao lotado aeroporto.
Eu tinha isso em comum com nosso pai, Nick Parker, eu era ótima em fingir estar forte mesmo enquanto me derramava em lagrimas. Vovó faleceu recentemente e eu acredito que essa foi uma das razões para ele querer que essa mudança realmente acontecesse, eu não contara a Mandy, mas papai estava chorando à noite desde o dia que vovó faleceu. Era triste acordar no meio da noite e ouvir o papai chorando desesperado, me doía demais saber que ele havia perdido a mãe dele, nós estávamos preparados para isso, mas no fundo não estamos. Ninguem nunca está preparado para a morte.
Ao chegar ao aeroporto, papai nos deu instruções para assim que chegassemos a La Push fazermos.
Pela animação de Mandy pude sentir que essa viagem não seria a mais agradável.
Abracei o papai tão forte que senti todos os meus ossos estalarem, eu sentiria tanta falta dele e do seu perfume, de nossas conversas, os almoços horríveis e dos jantares desesperados comprados as pressas no restaurante chinês da esquina. Fazíamos isso pelo menos duas vezes ao ano, mas sempre era a mesma ladainha, eu chorava e ficava morrendo de saudades dele. Suspirei, meus olhos estavam cheios de lágrimas, fiquei alguns segundos olhando papai se afastar de maneira apressada. Estava com uma dor no coração, estava sentindo que não o veria mais, odiava ter essas sensações.
Segurei a mão de Mandy e nos viramos, indo em direção ao nosso destino.
De Nova York para Seattle são sete horas de viagem sem escala, mais uma hora em um pequeno avião até Port Angeles, um táxi que nos levariam para La Push, e pronto, estaríamos em nossa nova moradia.
Garanto que em duas horas de voo, Mandy se convence de que não adianta ficar contrariada.
Eu conhecia muito bem a minha irmã para saber o por que dela estar fazendo isso: nervosismo. Ela odiava ser surpreendida com algo novo, inesperado. O friozinho na barriga deixava ela em pânico.
As pessoas tinham essa mania de dizer que eu e Mandy éramos gêmeas, por que não nos desgrudávamos e conhecíamos uma a outra muito bem, mas nós não somos, pelo contrário, somos extremamente diferentes.
Mandy tinha longos cabelos castanhos que íam além da sua cintura, seus olhos eram castanhos, mas na claridade pareciam avelãs, sua pele era branca, e ela era mais baixa que eu em dez centímetros, mesmo não se achando, Mandy era muito bonita.
Eu ao lado dela me sentia horrível.
Alta, desengonçada, magra de uma maneira normal, tinha minhas gordurinhas nos lugares comuns, minhas pernas eram grossas fruto de natação, esgrima e aulas de dança, meus cabelos eram loiros, fruto de varias visitas mensais que faço ao cabeleireiro, coisa que talvez mudaria em La Push, eu era pálida com olheiras, as pessoas pensavam que eu tinha levado socos nos olhos de tão intensas que minhas olheiras ficavam em determinados períodos, meu olhar tinha algo de sonhador, às vezes as pessoas tinham a impressão que eu estava em outro lugar ou realidade apenas em olharem para os meus olhos, mas havia algo em meu rosto que eu amava, uma pinta pequena que fica abaixo do meu nariz e um pouco acima da curva de meus lábios, papai me chamava de Cindy Crawford por causa dessa pinta, mamãe me chamava de Marilyn Monroe.
Ainda existia a diferença de idade entre mim e Mandy, eu era um ano mais velha que Mandy, assim ganho o posto de irmã mais velha, mas mesmo assim as pessoas dizem que somos muito parecidas, gêmeas.
O que podemos fazer? Nós nos conhecemos desde que nós estávamos no ventre de nossa mãe, em momentos separados, mas mesmo assim ninguém pode conhecer alguém tão bem quanto a gente se conhece. Com um olhar, uma leve expressão, entendemos exatamente o que se passa na mente uma da outra. Telepatia? Sensitividade? Eu não sei, e olha que de sobrenatural eu entendo muito bem, só sei que a minha irmã é a minha única e melhor amiga que sempre tive e ponto final.

Argh! Como eu odeio viajar de avião. Eu preciso tomar no mínimo três comprimidos de remédio para enjôo por que eu juro que se eu não estivesse dopada eu iria surtar a cada turbulência que pegamos. Na realidade, as lojas de aeroporto ganham muito da minha mesada, eu compro chocolate, chiclete, bala, pirulito, revistas, jornais, livros e meus comprimidos de enjôo.
Três horas de voo e um filme acabou de passar, eles obrigaram a gente assistir "O Senhor dos Aneis: As Duas Torres". Estou sinceramente com medo do Smeagol. Essa parada de "meu precioso" é muito sinistra.

Mesmo sendo a mais velha, eu tenho as atitudes mais infantis. Tirei da minha mochila o meu ursinho de pelúcia, um macaco que chamo de pato. Não queira saber por que. Agarrada a ele, evito olhar pela janela com medo de ficar louca ao ver a altura em que estamos, mas não resisto, eu sou a minha própria inimiga e olho pela janela. Incrível, eu suspiro ao ver como tudo pode ser tão pequeno se estivermos em pontos de vistas diferentes, o oceano não, isso jamais será pequeno. Para mim, o oceano guarda todas as histórias do mundo, amores, amizades, uniões, guerras, dramas, culturas, tudo está ali, nele. Quando eu era pequena, eu dizia à minha mãe que um dia eu iria amar um homem com a proporção, leveza, intensidade e eternidade do oceano. Minha irmã ria de mim, ela não acreditava no amor da maneira que eu acreditava.
"Tolice", dizia ela, "Ficar esperando pelo cara certo, você precisa ser feliz, Sarah".
Talvez ela tivesse razão.

Olhei para Mandy e ela estava séria, pensativa.
Não conseguia dormir, como eu. Já havíamos assistido "Premonição" muitas vezes, o bastante para não conseguirmos dormir.
Tenho certeza de que seus pensamentos estão em La Push, na estrada que corta aquela cidade.
Eu entendo por que ela está tão relutante em ir para La Push como já esteve para ir para qualquer outro lugar.
Nossa mãe havia morrido ali.
Estávamos voltando de nossa habitual viagem de verão para La Push, papai estava trabalhando em um navio da costa leste enquanto estávamos nos divertindo na praia de La Push. Voltávamos à noite dentro do carro, rindo e brincando. Mamãe sempre atenta a estrada, mas podia sentir que algo estava errado, não sei se era eu que estava tensa ou se era a mamãe, só sei que foi a última vez que vi mamãe viva.
Uma grande luz tomou conta daquele momento e acordei dias depois em um quarto de hospital. Papai estava acabado, ao me ver viva, chorou por horas, abraçado a mim. Os médicos estavam descrentes da minha recuperação, mas eu sobrevivi.
Quando fui ver minha irmã, a recepção já não foi a mesma, foi a primeira vez que vi Mandy sendo fria comigo. Ela sabia que eu sabia o que iria acontecer, então ela me culpava.
Não com palavras, mas com ações.
Ela me evitou até o dia do funeral.
Eu não queria ir, não suportaria ver mamãe dentro de um caixão. Seria como se... Se... Meu mundo acabasse.

Eu estava trancada no meu quarto quando Mandy entrou num rompante, furiosa e séria, ela abriu meu armário e não falou comigo, apenas pegou um vestido rosa bebê que mamãe amava me ver nele e jogou o mesmo para cima de mim. Eu a olhava apática, não conseguia verbalizar, ela não sabia como eu me sentia culpada em saber o que sabia, mas Mandy não era piedosa.
- Você vai vestir essa roupa, vai limpar essa sua cara, vai se maquiar e vai sair por aquela porta da maneira mais divina que poderá estar, você está me entendendo? - disse ela, séria e autoritária, me fazendo chorar mais ainda. - Mamãe quer você no enterro dela, ela esteve aqui, disse que você precisa ir vê-la que é para o seu próprio bem, então se vista e faça isso por ela.
Eu estava sem palavras, só conseguia chorar.
Mandy saiu do meu quarto da mesma forma que entrou.
Eu não conseguia ficar de pé, estava fraca demais, havia me esquecido de comer, de beber, de tomar banho, eu estava um trapo. Um lixo. Uma vergonha. Respirei profundamente e lembrando as palavras de Mandy, tirei as lágrimas que caiam do meu rosto, fiquei de pé e fui até o banheiro.
Ao me olhar no espelho eu pude ver minha mãe. Eu lembrava muito ela, eu tinha o temperamento de meu pai, mas era impossível olhar para mim e não lembrar de Elizabeth Davis.
Eu fui ao enterro, não chorei, não sorri, apenas segurei firme a mão de meu pai e de minha irmã. Mandy e eu nunca mais brigamos, mas também não falamos sobre o acidente por muito tempo, eu sei que ela me culpa, mal sabe ela que eu também vivo me culpando por isso.
As pessoas nos viam como gêmeas e garotas extremamente normais, mas o que apenas nós e nossos pais sabiam era que de normais tínhamos nada.
Desde pequena eu tenho sonhos estranhos que acontecem.
No início levava meses para acontecer, mas com o tempo foi se tornando algo mais periódico. Premonições, é assim que chamam o que acontece comigo. Em certos momentos pareciam simples sonhos onde eu fazia coisas normais e alguns dias depois aquilo realmente aconteciam, mas em outros momentos eram pesadelos horríveis onde eu gritava apavorada e me sacudia pela cama acordando a todos da casa. Foi assim que vi o acidente da mamãe, eu tive uma premonição da morte dela e apenas eu e Mandy guardamos esse segredo.
Não pense que só eu tenho minha carga de &#"habilidades sobrenaturais", Mandy vê e conversa com os espíritos. Eu garanto que a habilidade dela é muito mais complicada e tensa do que a minha. Ela já viu coisas terríveis, mas também a invejei diversas vezes, ela já viu e conversou com nossos avôs que eu nunca conheci, ela já viu a mamãe diversas vezes, ou seja, tudo tem seu lado positivo e negativo, mas ela não vê assim.
Estávamos acostumadas com o sobrenatural, adorávamos um mistério e desconfiávamos de tudo desde que nos entendemos por gente. Seguimos nossa intuição e nosso coração.
Nada pode dar nos amedrontar, só perder uma a outra.
Mandy cortou os meus pensamentos ao me perguntar de maneira reflexiva:
- Loira, você se lembra do dia do nosso acidente? - perguntou ela, de maneira calma.
- Eu lembro o mesmo que você, nada. - eu respondi, logo mexendo na bolsa dela a procura de uma bala, as minhas acabaram, eu evitava ao maximo olhar para Mandy. - Eu lembro da mãe freando bruscamente e de acordar no hospital dias depois. - olhei para ela, buscando as palavras certas. - Não foi um acidente normal, Mandy e você sabe disso tão bem quanto eu. Eu te falei sobre isso, Morena.

É o assunto foi encerrado.
A aeromoça avisou para apertamos o cinto por que iríamos pousar em Seattle.
Fiquei tanto tempo presa em meus pensamentos que não percebi o tempo passar.
Argh! Argh! Odeio descida de avião dá um cagaço, parece que a gente vai cair.

Descemos do avião e fomos imediatamente em busca do próximo.
Port Angeles era a próxima parada.
Sem grandes dificuldades fomos direcionadas por um segurança até o avião.
Pequeno e sem muito passageiros.
Seria apenas uma hora de viagem, seria rápido e indolor, mas por via das duvidas, tomei outro comprimido anti enjoo.
Argh! Argh! Argh! Odeio subida de avião dá um cagaço parece que a gente vai cair.

Quando pousamos em Port Angeles, estava chovendo. Não era muito intenso, mas o bastante para deixar você resfriada por alguns dias. Brilhante! Eu não queria sol mesmo. Sim, estou sendo sarcástica.
Nova cidade. Nova vida. Novos amigos.
Argh! Odeio esse frio na barriga, me sinto completamente sem controle da minha vida.
Coloquei meus óculos escuros para esconder as minhas exageradas olheiras.

Ao lado de fora do aeroporto, víamos a cidade por uma visão melhor.
Agradável, pequeno, compacto. Dava para carregar Port Angeles no bolso.
Pelo amor de Deus, que tenha um cinema e uma livraria e eu não reclamarei de nada.
Senti uma brisa fria, o tempo estava fechado e eu estava vestida para a ocasião.
Mandy sacou seu maço de cigarro do cano alto de sua bota e me ofereceu um com uma expressão de tédio. Peguei um cigarro e acendi com o isqueiro dela.
Fumar era minha maneira de relaxar, era errado? Sim, mas garanto que há coisas muito piores no mundo do que um cigarro. Exemplo? Os humanos.

Com um folheto em mãos, Mandy leu de maneira sarcástica o que estava escrito na descrição da cidade enquanto esperávamos um carro:
"Forks é uma das cidades onde se tem uma das maiores médias de dias chuvosos ou nublados por ano, cerca de 305 dias chuvosos em um ano." - Que bom! - Mandy e eu falamos ao mesmo tempo.
- E agora, praieira? Vai ter que se conformar com a banheira. - Mandy e seus comentários maldosos, mas ela tinha razão, sem praia o que eu iria fazer? Nadar na banheira era uma escolha plausível, mas ainda poderia comprar uma piscina inflável, preciso ver o quintal de Emily para ver se é uma idéia a se pensar.
- Pois é, senhorita Automática. Vai rindo, vai! - respondi, sorrindo leve.

Mandy me cutucou e apontou para as pessoas que passavam e nos olhavam com expressões tensas e de choque para nós ali, paradas, esperando um taxi, de óculos escuros enquanto chovia, e fumando. Seria o cigarro? Os óculos? Já sei.
- Sim, estamos com crachás de Nova York. - Disse de maneira fria, sem nem olhar para Mandy.
Eu estava lendo a mente dela. Ela riu de maneira exagerada como nosso pai e eu apenas sorri levemente, apagando o cigarro na calçada assim que o táxi chegou.

O endereço de Emily Young foi entregue ao motorista que sorriu levemente para nós dizendo que demoraríamos um pouco, mas que a viagem seria agradável já que a paisagem é linda.
O motorista tinha toda razão. Eu e Mandy não conseguíamos sair da janela.
Novamente aquele frio na barriga.
Meu Deus, que sensação maravilhosa estava em mim. Eu sorria naturalmente, não sabia por que, mas eu estava sorrindo.
Eu vi uma livraria e senti meu coração dar uma alavancada, olha um cinema também.
Lanchonete, jornaleiros hospital, posto de delegacia.
Passamos por uma estrada de barro extensa e começamos a ver diversas casas simples, mais muito bonitas. Passamos pela costa da praia, algumas lojas, mercadinho, posto de delegacia, e mais casas.
Todas de construção simples e adoráveis.
Que lugar incrível! Mesmo com o dia nublado e frio, a reserva parecia incrivelmente linda, ou, talvez fosse essa sensação que estava em mim.
Me virei na direção de Mandy, evitando não parar de olhar a reserva.

- Morena, - eu toquei de leve a perna dela, chamando sua atenção.
- É... eu também senti - ela confirmou o que eu desconfiava.

Era certo. Havia algo ali que nos fazia sentir bem. Fazia tanto tempo que não ia a La Push, acredito que essa sensação é algo novo. Tão intenso que posso sentir meu coração vibrar.

- O que há por trás de tantos dias cinza? - Nem percebi quando me questionei.

O motorista do táxi percebeu e começou a conversar conosco.
Era um homem simples e gentil que conversou conosco por todo o resto da viagem, falando sobre a reserva e os jovens do lugar.
É oficial, mesmo sem praia, eu acho que vou me dar muito bem aqui.
Aposto toda a minha mesada que Mandy pensa no mesmo.

Chegamos.
Ah Meu Deus,a casa de Emily é linda.
Eu estava sem ar.
A casa dela era cercada por uma floresta, parecia um pouco sufocante, mas o verde tem uma energia tão agradável. Pegamos nossas malas e agradecemos o taxista.
Voltei a olhar para a casa.
Feita de madeira de tom simples, a varanda tinha bancos e algumas plantas bem cuidadas enfeitando o ambiente. Bebedouros pendurados e vi alguns passarinhos voando e matando a sede que sentiam. A casa era pequena, mas aparentava ter dois andares. Respirei profundamente e senti o cheiro de madeira. Não tem como sentir esse cheiro na cidade, parecia que eu estava entrando num novo mundo.
Me virei ao ouvir a porta da frente sendo aberta, Emily surgiu por ela, sorridente com seus cabelos presos em uma bela trança e com a sua beleza única, mas havia algo de diferente nela. Uma cicatriz horrível que cortava o seu belo rosto, fiquei extremamente sentida com a cicatriz, mesmo não destruindo a beleza dela, mas me pareceu dolorosa e me deixou preocupada. Não olhei a mesma, apenas sorri alegremente, estava revendo a minha adorada prima, Emily, mas minha irma não sabe segurar a língua:

- Emy... O que houve com o seu rosto? - Mandy falou de uma maneira assustada se aproximando dela imediatamente como se quisesse ver melhor a cicatriz.
- Foi um acidente na cozinha - uma voz grossa e rouca ecoou de dentro da casa.
Pude ver Mandy dar um passo para trás e tive a leve impressão que ela tremeu.
Aquela voz não me afetou em nada, eu ergui minha cabeça e balancei levemente meus cabelos. Um homem muito alto saiu de dentro da casa. Ele não usava camisa e parecia não se importar nem um pouco com o frio que fazia aquela tarde. Sua pele tinha um tom diferente, não era um moreno comum, ele era muito bonito e algo que realmente me chamou atenção foi seu olhar, forte e firme como sua voz.
Ele nos olhou e em seguida se aproximou de Emily que sorria alegremente o abraçando.
Eles se olharam de uma maneira intensa, como se só houvessem eles dois em todo o mundo, como se nada mais importasse. Parecia um sentimento único o que eles dividiam.
Senti que em meus lábios caiu um leve sorriso.

- Sam, essas são minhas primas de que lhe falei. - Emily nos olhou sorrindo. Sam nos olhou sorrindo levemente. Pude ver seus olhos caírem sobre mim, eu não me senti incomodada, pelo contrario, seu olhar era terno, me lembrava meu pai, era impossível não se sentir bem com Sam. - Essas são Sarah e Amanda.
Logo fomos convidadas a entrar, Sam pegou as nossas malas com uma facilidade que me deixou boquiaberta. A casa era pequena e aconchegante, uma casa bem a cara da Emily já que o espaço da cozinha era o maior, ela amava cozinhar e já estava fazendo um bolo para nós. Eu olhava tudo atentamente, mas também olhava Sam. Era estranho, mas me sentia muito segura com ele.
Mandy percebeu e me questionou se havia algo errado, eu apenas balancei a cabeça. Tudo estava perfeito até o momento. Odeio o meu pessimismo, mas estava acostumada com reviravoltas desagradáveis.
- Eu sei que vocês vão sentir um certo impacto, vocês moravam numa cidade grande, vir morar numa reserva,l ugar tão simples e pequeno... bom, - sorriu levemente Emily ao lado de Sam, enquanto olhávamos ao redor da casa de maneira disfarçada. - esperamos mesmo que vocês sejam muito felizes aqui.
- E seremos - disse Mandy. - Eu amei a sua casa, Emily, e tão o seu jeito.
- Obrigada, Mandy. - disse sorridente.
- Obrigada por ter permitido que nós vivêssemos com vocês. - disse olhando de Emily a Sam. - Foi muito gentil da parte de vocês.
- Não se incomodem com isso. É um prazer ter vocês aqui e esperamos que em breve já possamos todos nos considerar... - ele pausou e olhou para Emily que sorria, concluindo em seguida. - Da família.
Mandy e eu trocamos um olhar, sorrimos levemente.
Se havia algo que não entendíamos muito bem era ter uma família.
Sempre foi eu e ela contra o mundo, ter mais membros em nosso clube particular "familiar" seria novo e até mesmo bem vindo. Sempre quisemos uma família.
Trocamos mais alguns comentários sobre a longa viagem de avião, as primeiras impressões que tivemos de Port Angeles e La Push, enquanto isso comiamos um delicioso bolo de chocolate com suco de laranja.
Não demorou muito e Sam se despediu de nós, disse que precisava resolver uns problemas em relação a reserva. Ele beijou carinhosamente Emily e foi inevitável não sorrir. O amor deles parecia ter saído de um livro de Jane Austen.
Perfeito.
Eu me arrepiava em ver como os dois sorriam um para o outro.
Parecia algo tão intocável, tão irreal.
Eu conhecia Emily muito bem para saber que ela estava completamente apaixonada por Sam que parecia ser uma ótima pessoa, mesmo sendo serio e ter um ar de chefe de família cravado na testa.
Se almas gêmeas existem? Só devemos olhar Sam e Emily e teremos certeza que sim.

Passamos mais algum tempo conversando, Emily falava sobre o cotidiano, Sam e sobre a família, e nos questionava sobre tudo: namorados (nenhum), amigos (nenhun), faculdade (a distância) e papai (a distância.).
Emily nos levou para os nossos quartos, animada, disse que passara as últimas semanas procurando todos os móveis, lençóis e até mesmo requisitou a Sam e seus amigos que pintassem os nossos quartos.
Nossos quartos eram do mesmo tamanho e tinham praticamente as mesmas coisas, a única diferença era a pintura.

- Perguntei a Nick as suas cores favoritas, queria que tudo ficasse perfeito. - disse Emily sorrindo.
- Deve ter dado um trabalhão. - eu disse completamente sem graça, não esperava essa recepção.
- Não precisava ter feito isso. - disse Mandy.
- Claro que precisava. Minhas priminhas vieram morar comigo, vocês sempre foram como irmãs para mim, meninas, ter vocês aqui é mais do que um prazer, é uma honra.
Olhamos para Emily e em seguida e quase juntas, a abraçamos com todas nossas forças, tendo o abraço retribuído com muita ternura.
Levando minhas malas, fui para meu quarto, abri a porta e me deparei com tudo que sempre desejei em silêncio. Era um quarto simples com uma paisagem incrível da floresta. As paredes pintadas de um vermelho claro apaixonante, três prateleiras na parede da entrada do quarto, podia ver meus livros, cd's e dvd's ali. O piso era de madeira, as cortinas de rendas beges, a cama de solteira com um edredom rosa claro, uma cômoda que ficava de frente para a cama e uma pequena escrivaninha próxima a janela.
A janela tinha um acolchoado perfeito para passar horas sentada enquanto lia um bom livro.
Eu e Mandy dividiríamos o mesmo banheiro e o mesmo tinha duas portas.
Quarto com acessos, Emily pensou exatamente em nós duas.
Voltei ao quarto de Mandy, o quarto roxo, super a cara dela e aproveitei e perguntei a Emily se queria a minha ajuda na cozinha, a mesma não quis e mandou que nós fossemos conhecer o local.
Não precisa nem pedir, pensei. Mesmo estando cansada eu me lembrava perfeitamente do caminho até a praia, mas talvez Emily pudesse refrescar minha mente.

Os quartos cheiravam levemente a madeira crua, os lençóis tinham um perfume suave que dá vontade de cheirar o tempo inteiro e era tão agradável estar ali. No quarto de Mandy, na janela dela também havia um acolchoado e vi Mandy imediatamente se sentar la.
Mandy fechou os olhos, dizendo que ia cochilar, e isso não podia acontecer.
Agarrei Mandy e perguntei a Emily como chegar a praia, ela deu orientações simples e alguns minutos depois estávamos na praia.
Era final de tarde, então a reserva estava um pouco movimentada, podiamos ver algumas pessoas nos observarem curiosas e sorrirem levemente e até mesmo acenarem.
Que praia enorme! Foi o primeiro pensamento que tive. Era de tirar o fôlego. A água era verde escura e quebrava na praia cinzenta e rochosa, a extensão de areia era pequena e a mesma bem fina, depois disso podíamos ver apenas pedras e mais pedras. Podia ver pedras, entradas para a floresta, o mar batia com certa violência na areia e nas pedras próximas, o vento estava frio e leve, então com certeza deve ser uma frente fria assolando o ambiente.
Gaivotas rondavam o ambiente tranquilamente e jurava ter visto uma águia.
Sentamos num determinado ponto, éramos as únicas pessoas ali, observamos o ambiente em busca de lembranças e conversávamos sem pretensão de pressa.
- Sam Uley? - Questionou Mandy, fechando o casaco que usava e agarrando firmemente os joelhos. - Eu não sei, só gostei dele. Inspira-me... - Encostei minha cabeça no ombro de Mandy, buscando as palavras, sem tentar soar tão estranho como já era. La Push me dava uma sensação tão maravilhosa ,algo que nunca senti antes. É como se toda minha vida tivesse sido vivida nos lugares errados e estar ali era o certo. Irônico, não é? Passava minhas férias aqui e só agora tenho essa sensação. Só depois de voltar oito anos após a morte de mamãe, La Push parece ser o lugar ao qual pertenço.
- Confiança... Segurança... - Mandy disse e eu apenas balancei a cabeça em resposta. Segurança, me sentia segura com Sam.
Ela sempre me compreendia.

- Segredo... Sam parece esconder algum segredo - eu disse, de uma maneira sombria, mas era isso que ele me passava.
Todos temos segredos, e eu odeio eles por que podem acabar com relacionamentos, amores e até mesmo com vidas, agora será que devemos descobrí-los?
Será que é apenas uma sensação corriqueira?
Ou será que estou deslumbrada com tudo isso?
Não sei o que pensar, talvez eu devesse simplesmente aceitar.
Nova vida. Novo Lugar.
O sol foi sumindo no horizonte e nos permanecemos ali, caladas.
Apenas perdidas em nossos pensamentos, aguardando temerosas o que a vida estava nos reservando.

Assim que voltamos da praia já estava noite e bem mais frio, Emily e Sam estavam nos esperando para jantar. Sam disse que já se preparava para ir nos buscar se demorássemos mais um pouco, mas não foi necessário já que chegamos antes.
Se existisse uma deusa cozinheira seria Emily. A comida dela era deliciosa, a muito tempo que não comia algo tão gostoso e caseiro, só para constar, em Nova York eu cozinhava e na boa, a sua própria comida nunca é tão gostosa como a feita por outras pessoas e quando Mandy cozinhava era sempre bom deixar os bombeiros em alerta.

Conversávamos animados, Sam tentava ao máximo mostrar que estava feliz com a nossa presença e Emily nem precisava dizer, era obvio que ela estava radiante com a nossa presença.
Eles nos contavam que a casa costumava ficar cheia com os amigos - “irmãos” de Sam -, mas que como tínhamos acabado de chegar, eles acharam melhor termos um dia sossegado já que os garotos eram muito agitados e nós, o que é verdade, estaríamos muito cansadas.

Senti uma felicidade enorme pelo relacionamento de Emily e Sam.
Fazia oito anos que eu não via Emily, mas garanto que eu nunca a vira tão feliz como ela estava atualmente. E garanto que isso tem tudo a ver com Sam Uley.
Eles eram lindos juntos. Eles se olhavam e podíamos ver o brilho nos olhos de ambos, os sorrisos deles se completavam e Sam era uma pessoa completamente diferente perto dela, não era sério e firme, ele era apaixonado e sereno. A conexão deles era algo íntimo, não dava para compreender por completo o que eles sentiam um pelo outro, era um amor único.

Nossa, eu não vejo a hora de me apaixonar. Mas eu quero um amor como o deles, que você olha e pensa que saiu de filmes e livros, um amor que você olha e sinta todo o poder dele. Um amor que vá alem de invejas e ao acaso e apenas o destino trabalhando, um amor que existe a séculos e que retorna a essa existência.
Almas Gêmeas.
Eu nunca me apaixonei dessa maneira, na realidade nunca amei alguém além de minha família. Nunca achei o garoto certo para desfrutar esse sentimento e todas as poucas experiências que tive foram traumáticas causando em mim repulsa em relação ao amor, repulsa seria a palavra errada, as minhas experiências causaram em mim certo medo em relação ao amor.
Mas dentro do meu coração eu quero me apaixonar.
Eu sou uma das ultimas românticas, o que posso fazer?

Eu estava feliz. Satisfeita. E muito cansada.
Mandy e eu subimos. Cada uma esperou sua vez para usar o banheiro e assim que tomei o meu banho, vesti meu pijama rosa, me deitei na cama.
Dura. Estava sem jeito para dormir.
Virei de um lado. Virei de outro. Fechei a janela. Virei de bruços. Abri a janela.
Maldito frio na barriga, vai embora.
Virei de um lado. Virei e encarei o teto por longos segundos. Longos minutos. Talvez horas.
E desisti. Argh!

Me levantei, me olhei no espelho e prendi os meus cabelos, peguei o meu roupão rosa e vesti junto com as minhas pantufas de porquinho. Fui até uma das minhas malas onde eu havia colocado os meus livros e cd’s, o resto de nossas coisas iam chegar na outra semana, mas eu não podia ficar sem os meus livros e cd’s favoritos. Okay, eu exagerei, tinha mais de trinta livros ali e muito mais de quarenta cd’s naquela mala, mas eu precisava deles.
Peguei a minha copia de Drácula, eu havia acabado de começar a ler o mesmo e estava gostando muito da historia.
Abri silenciosamente a porta do meu quarto e fui calmamente tentando não derrubar nada ou fazer algum barulho.
Não queria acordar ninguém e para mim fazer barulho é a coisa mais fácil do planeta.
Cruzei a cozinha e fui para a varanda, a luz da mesma estava acesa e me sentei confortavelmente num pequeno sofá que havia ali.
Abri o livro na pagina que havia parado:
“Relato Cotidiano do Dr. Seward. 07 de setembro.”
Eu estava com sono, isso era um fato, mas não conseguia dormir, talvez ler me ajudasse a cochilar pelo menos, mas pelo visto a floresta não iria me deixar.
Eu podia ouvir estranhos barulhos sendo feitos na floresta. Movimentos. Sons de galhos sendo partidos. Era só me concentrar totalmente com a minha leitura que algum barulho era feito e minha concentração era perdida. Eu estava começando a me sentir incomodada, me sentia observada.
Mandy tem razão, eu sou muito medrosa e desconfiada.
Voltei a ler, evitando ao maximo olhar na direção da floresta.
Após alguns minutos emergida na leitura do livro, tive minha concentração quebrada, quando eu ouvi um barulho mais próximo fechei meu livro alarmada e olhei na direção da floresta já ficando de pé. Falam que as florestas ganham vida à noite, mas essa em particular está viva demais.
Olhei ao arredor, procurando o sinal de algo ou alguém, nesse instante me surpreendi com algo.
Juro que vi dois olhos castanhos me olhando atentamente.
Não pareciam olhos humanos, os olhos humanos são pequenos, esses olhos eram grandes, não estava na altura proporcional de um ser humano, estava na altura de um cavalo, mas não era um cavalo, lembravam olhos de um animal e me observavam atentamente. Fiquei imóvel por longos segundos, tentando ter certeza que aquilo era real.
Engraçado, eu tive mais medo dos sons do que dos olhos, mas mesmo assim, em determinado instante entrei rapidamente para dentro de casa, não sou boba nem nada. Não mexo com aquilo que desconheço, só em extrema urgência, ai sim encaro o desconhecido de frente.
Dei um longo bocejo e no mínimo o que eu vi foi apenas uma alucinação da minha cabeça e corpo cansado. Talvez eu agora conseguisse dormir.

Cheguei ao meu quarto e deitei em minha cama, reparei que deixei o livro na varanda, mas ele estaria no mesmo lugar pela manhã então porque devo me preocupar? Virei para um lado e ...
- Sarah! Sarah! Sarah! – alguma coisa pulava na minha cama, eu fiz uma expressão de pavor, jura que é a Mandy, peste, pensei rabugenta.
- Quando consigo dormir... MANDY! - falei num tom de resmungo - Você me assustou! – Eu afundava o meu rosto no travesseiro tentando inutilmente me livrar dela, a empurrando com os pés e evitando ver a claridade que entrava em meu quarto. Mandy se sentou ao meu lado desistindo de me atormentar, não tinha jeito, eu ia ficar ali, tentando voltar ao meu sono e ela tentando me acordar.
– Você também não dormiu? – questionou ela.
Ainda com a cabeça no travesseiro, balance- a respondendo abafado um “não” e torcendo para que ela tenha entendido.
- Meu friozinho no estomago não me deixou dormir também. – disse Mandy.
Ela me conhecia muito bem, sabia que eu ficava com friozinho no estomago em situações novas.
Eu bufei me dando por vencida, ela ia ficar ali mesmo, então por que tentar dormir?
– É só ansiedade por estar em um novo lugar, morena. Vamos ficar bem – eu disse com uma animação falsa, sorrindo levemente.

Odiava ser acordada, mesmo que fosse minha irmã, eu odiava ser acordada.
Mandy me deu um beijo estalado na bochecha e deu espaço para eu me levantar.
Ela foi se arrumar em seu quarto enquanto eu fui fazer o mesmo no meu.
Podia sentir o cheiro delicioso de café e me senti um daqueles desenhos animados que são atraídos até a comida, voando pelo ar. Quando vi já estava na cozinha acompanhada de Mandy, ambas vestidas para seu primeiro dia em La Push. Emily estava radiante enquanto arrumava a mesa do café ao ver a gente, paradas na entrada da cozinha, ela nos olhou mais animada.
- Meninas! Bom Dia! Dormiram bem? – perguntou Emily sorridente.
- Dormimos muito bem, prima! Obrigada. – menti. Era algo genético. Não queria fazer Emily pensar que estávamos desconfortáveis. Só estávamos ansiosas com o novo, e isso é normal.
Me sentei em uma das cadeiras, olhando a variedade de coisas para comer enquanto Mandy parada próxima à mim tomava o café que Emily já havia oferecido a ela.

- Nick ligou, querendo saber se chegaram bem – disse Emily enquanto me servia café.
Pude ver Mandy engasgar com o café, sabia que ela havia esquecido de algo, como sempre, eu tinha que anotar as minhas tarefas e as de Mandy em post-it, ela tinha um cérebro de peixe, esquecia tudo em cinco segundos.
- Você nunca se lembra das coisas, Amanda, Deus me livre – sorri de lado, pegando um waffle que estava me seduzindo e passando geléia de morango no mesmo, sentindo meu estomago roncar levemente.
- É genético, meu bem – respondeu Mandy que me olhou e sorrio levemente.
Emily deu uma risada gostosa com a nossa provocação.
- Sabe, Sam me deu uma excelente idéia essa manhã. O que acham de darmos uma volta pela cidade? – Emily terminava de servir mais café para nós e parecia animada com a idéia, então por que não?
Mesmo tomando café, me levantei, ajudando Emily a guardar as coisas da mesa, aproveitei para começar a aprender onde se guarda os itens de uso do cotidiano naquela cozinha, enquanto Mandy terminava o café com uma expressão preguiçosa.
- Música pros meus ouvidos – Mandy se mexeu na cadeira, tomando o café.
- Andar por ai? Contem comigo – Dei o ultimo longo gole de café de maneira apressada fazendo Emily e Mandy rir com minha pressa – Quando é que vamos?
Coloquei a xícara na pia e me encostei levemente na bancada.
- Assim que os meninos chegarem – agora todas nós ajudávamos Emily com a mesa do café, precisávamos ser úteis por ali, oras, não éramos apenas visitas.
Troquei um longo olhar com Mandy. Meninos? Pegamos as xícaras na mesa e levamos até Emily. Mandy deve ter amado isso, ela ama ser amiga de garotos enquanto eu, bom, os garotos de Nova York eram uns idiotas, e eu gosto de garotos com conteúdo, que sejam engraçados e vivos. Será que os garotos de La Push eram assim?
- Meninos? Que meninos? – Perguntei na esperança de ouvir algo positivo sobre eles.
- Irmãos do Sam... Bom, pelo menos se consideram assim. – Emily tinha um lindo sorriso nos lábios, era só falar em Sam que ela sorria. – Vocês vão gostar deles. – complementou ela.
Lembrei dos amigos de Sam que ela havia falado no jantar de ontem, supus que sejam eles, então me senti um pouco mais animada.
- E quem não gostaria de mim? - A voz de um garoto tomou conta do ambiente, ele era moreno e entrava pela porta da sala sem cerimônia alguma, acompanhado por outro garoto com o mesmo tom de pele, porém muito mais baixo, esse me recordava alguém, mas não podia ser o meu pequeno primo Seth, ou podia ser? Eu e Mandy levamos um susto com a entrada de ambos.
- Ninguém gosta de você, Jared. Aceite isso – disse o menor com os cabelos compridos, quase caindo sobre os olhos, ele sorria levemente.
- Meninos, finjam que são normais. Não assustem minhas primas – Emily ria das nossas caras de espanto e agora os meninos estavam parados na nossa frente, ambos sorridentes.
- Idiota! Assustou elas com sua feiúra – Jared, esse parecia ser o nome dele, deu um tapa na cabeça do mais novo e não podemos deixar de rir daquela cena, em seguida Jared nos olhou – Olá meninas, eu sou Jared. – nos olhando sorrindo abertamente, arrancando um sorriso de nos duas.
Era inevitável não sorrir para ele. Jared parecia ser muito agradável e simpático, tipo de pessoa que sorri e anima a gente em qualquer momento com um sorriso e expressão brincalhona.
- E sou Seth Clearwater – sorriu timidamente nos cumprimentando com um beijo estalado na bochecha. Seth era nosso primo de segundo grau era raro quando nos encontrávamos com ele, mas sempre foi um ótimo garoto, fofo, de família e tímido. Ele também tem uma irmã, Leah que também era uma garota muito agradável e divertida, temperamento difícil, não nos dávamos muito bem, será que ela ainda vive em La Push? Fiquei surpresa em ver como Seth estava crescido, também a ultima vez que o vi ele era um menininho.
Jared e Seth tinham o mesmo tom de pele e a altura não era o única diferença entre eles.
Seth tinha um enorme sorriso feliz nos lábios e um rosto inocente, tinha o corpo magro e aparência mais jovem.
Já Jared era muito forte, tinha um expressão de diversão no rosto, seu sorriso sempre caia em seus lábios de maneira maliciosa, mas brincalhona, parecia ser alguém sempre alegre. Apesar do tempo não estar quente, ambos estavam sem camisa. Parece que isso é algo bem normal por aqui, ninguém sente frio aqui ou nenhum deles tem blusas, só a gente.
Fazia oito anos que não visitávamos La Push, desde que mamãe falecera não voltamos a reserva, era como se fosse algo que só pudesse ser feito com ela, parecia errado voltar para lá sem ela, mas não naquele momento, por que tudo em La Push parecia extremamente confortável e familiar.
La Push era uma pequena reserva. Cercada por floresta e tendo a praia como grande foco. As ruas eram estreitas e feitas de barro que nem a estrada que cruzamos no dia anterior. As casas eram muito parecidas com a de Emily, algumas menores outras maiores, mas nada monstruoso como você poderia ver numa cidade grande.
Pessoas de aparência simples e olhares bondosos cruzavam com a gente, cumprimentavam os meninos e Emily e de maneira educada, nos cumprimentavam, deixando tanto a mim como Mandy atordoadas com o nível de educação.


Jared e Seth nos questionavam sobre tudo, aonde estudamos, amigos que tínhamos, como tinha sido só os seis meses de faculdade que fizemos, a vida que levávamos na cidade grande; Emily percebendo que estávamos tontas com todas as perguntas mandaram eles pararem um pouco para respirarmos.
- Desculpe Emily,mas não podemos fazer isso – disse Jared fingindo seriedade.
- Por que não? - perguntou Emily confusa.
- Por que como vamos contar aos outros sobre elas? Precisamos de novidades e noticias fresquinhas. – falou Jared abrindo um sorriso sapeca.
- Desculpa. – disse Seth para mim, sem graça – Jared não tem cérebro.
- Olha como fala de mim garoto – dando um leve tapa na cabeça de Seth.
Emily andava ao lado de Mandy que segurava um dos meus braços enquanto Emily contava alguns detalhes da reserva. Jared e Seth agora andavam logo atrás de nós fazendo brincadeiras e mantendo o ambiente agradável.
- Parecem aqueles seguranças de famosos, altos e com cara de malvados – eu cochichei para Mandy que abafou uma risadinha. Eu odiava sentir ser observada, era uma maneira fácil de me deixar constrangida.
Parecia que todos sabiam da nossa chegada, cumprimentavam Emily e logo falavam: “Vocês são as garotas de Nova York, certo?”, deve ser o nosso apelidinho, perguntavam coisas tipo, o clima e a vida urbana, muitos eram simpáticos e sorridentes, e alguns olhavam para nossas caras desconfiados, como se pensassem que carregássemos algum pacote de drogas escondidos no casaco.
Dava para ver que La Push era um lugar lindo e feito para famílias morar. Quem sabe um dia quando eu tiver a minha vida feita com faculdade concluída eu não more definitivamente por aqui.
Eu não me importaria. Seria muito feliz.
O último lugar a visitarmos foi a praia que visitamos no dia anterior.
Com muita insistência pedimos para ficarmos mais um pouco lá. Sem reclamar ou dizer algo contra, apenas um simples alerta para não demorarmos, Emily e os nossos seguranças voltaram para casa.
Diferente do dia anterior, a praia hoje tinha algumas pessoas que andavam próximas ao mar ou simplesmente observavam a paisagem da calçada, o dia continuava frio, mas o mar não estava tão violento. O céu continuava nublado de uma maneira sinistra e cinza, não havia nenhuma ave voando nas proximidades, o que deixava o céu com uma aparência de morto.
Subi em uma pedra um pouco alta e me sentei na mesma, observando atentamente o mar,Mandy fez o mesmo, se sentando ao meu lado e segurando um de seus braços no meu.
Começamos a conversar sobre La Push e a compararmos com os outros lugares que moramos. Com certeza, La Push ganhava disparada. Podia ser no fim do mundo, mas seria o nosso fim do mundo.
- Aqueles dois me dão agonia, Mandy. – reclamei de maneira pacifica, rindo de maneira disfarçada.
- Não entendi porque eles tinham que vir nos seguindo. – Mandy murmurou, rindo da minha expressão incomodada – Mas eu gostei, gostei daqui. – concluiu.
- Eu não sei ainda, eu gostei muito de La Push, mas tem algo de estranho aqui. – não conseguia deixar de ser desconfiada, mas logo desconversei - Seth e Jared nos seguindo estava me irritando. Não sei o por quê disso. Agora sempre que formos sair, alguém terá que ir como nosso guarda-costas? – Eu sei que estava sendo pessimista e autodestrutiva, mas eu sou assim. Eu era a desconfiada, Mandy a esperançosa.
- Pelo amor de Deus, Sarah. Está sempre pensando o pior. Vamos dar uma chance a todos, principalmente para nossa vida. – Mandy falou com um tom de voz irritado e firme.
Virei automaticamente meu rosto, não gostava quando ela falava assim comigo. Ela me conhecia o bastante para saber que eu era assim, auto destrutiva, sempre preparada para o pior, infelizmente.
- Olha, desculpa. Não era para ter dito desse jeito – disse Mandy arrependida.
- Não, tudo bem. Você está certa. – Eu a olhei, evitando seus olhos, sorri levemente tentando não mostrar estar magoada.
Essa era a nossa grande dificuldade.
Éramos muito diferentes então as pequenas palavras podiam nos afetar das piores maneiras.
As nossas diferenças nos completavam, mas às vezes eram elas que causavam atritos em nossas vidas.
- Ei! Vamos fazer um trato? – Mandy após alguns segundos perguntou, eu a olhei desconfiada, lá vem um dos tratos de Mandy – Vamos fazer uma promessa, que a partir de hoje, nossas vidas serão diferentes. Que vamos em busca de coisas boas e da nossa felicidade.
Mandy me olhava atentamente, esperando uma resposta. Eu... Eu não acredito na minha felicidade por que nunca conheci isso. Talvez seja por que eu sempre me fecho quando sinto que vou ter meus sentimentos feridos, ou simplesmente seja a minha autodestruição, como eu gosto de me prejudicar. Mas Mandy tem razão, devemos fazer com que nossas vidas sejam diferentes. E porque não tentar isso em La Push? Havia uma razão para eu ter gostando tanto daqui e essa deve ser a razão, a minha felicidade deve estar aqui em algum lugar. Então porque não tentar? Eu poderia estar jogando a minha felicidade fora se dissesse não a Mandy, e eu nunca diria não a ela.
Sorri levemente e coloquei a palma da minha mão virada em cima do joelho de Mandy que imediatamente sorriu. Mandy catou um pedaço de vidro que encontrou no meio das pedras – e eu contei até mil tentando fingir que aquilo não estaria cheio de bactérias e germes, por que estaria – com as mãos firmes Mandy fez um pequeno corte em nossas mãos e em seguida demos as mãos sorrindo uma para a outra.
Nosso sangue se misturando e sendo um só.
Era como se Mandy soubesse o que eu iria fazer.
- Seu sangue - Mandy disse.
- Meu sangue – eu disse.
- Nosso sangue – falamos juntas, sorrindo.
- Eu te amo, Mandy. Você nunca estará sozinha.
- Eu te amo também. Estaremos sempre juntas, Sarah.
Sorrimos nos abraçando em seguida, sorriamos por que sabíamos que tudo estava mudando, de alguma maneira essa mudança foi algo positivo em nossas vidas. Sim, perdemos nossa avó, perdemos nossa mãe e nosso pai vivia em alto mar, mas existia algo que jamais perderíamos: Uma a outra.
Nos estávamos prontas para fazer as nossas vidas acontecerem e faríamos juntas.
Chegamos em casa e Emily nos avisou que teríamos companhia nesse jantar.
Jared e Seth estariam e bom, provavelmente conheceríamos novas pessoas e isso seria muito bom.
Mandy correu para o banho depois de uma pequena batalha de travesseiros entre eu e ela para saber quem tomaria o banho primeiro. Perdi afogada no meio de milhares de almofadas e ainda pedi socorro por que eu não conseguia me levantar.
Aproveitei para procurar uma roupa para usar, e vi minha mala com os livros aberta e lembrei do meu livro que li na noite anterior, Drácula, não lembrava aonde estava. Saí do quarto e fui até a ponta da escada ia começar a descer, mas Sam estava próximo e nem precisei fazer tal esforço.
- Sam, por acaso você achou um livro na varanda nessa manhã? – no momento que o chamei ele me olhou com uma expressão pensativa.
- Não, achei nada não, Sarah. Por quê?
Droga! Era edição de ouro.
- Nada, é que eu estava lendo ele ontem à noite e pensei ter deixado lá, mas eu devo ter me confundido. – respondi, girando os meus calcanhares e voltando para meu quarto.
Eu não havia me confundido, tinha certeza que havia deixado o livro na varanda.
Talvez Mandy ou Emily tenham pegado, verei isso depois.
Assim que Mandy saiu do banho, tomei o meu bem rápido, estava animada para descer e ajudar Emily.
Assim que terminei de me vestir e pentear os meus cabelos, desci junto com Mandy e Emily, e começamos a ajudá-la a preparar toda a refeição que ela tinha em mente.
E era muita coisa.
Ela tinha muita coisa em mente, então dividimos as tarefas: ela vigiava o fogão, eu cortava os ingredientes e Mandy ficava bem longe da cozinha, essa era a idéia inicial e funcionou muito bem quando colocamos em prática. Enquanto isso, Emily contava coisas sobre os meninos que iam vir jantar conosco.
Jacob, Paul, Quil, Embry, Jared e Seth, todos grandes amigos de Sam e que estariam lá naquela noite.
Ela dizia que Jacob era um rapaz muito sincero; Paul tem uma personalidade forte ; Quil, um bom amigo; Embry, reservado, quieto, mas um ótimo garoto; Jared um convencido que todos adoram; e Seth, o mascote do grupo. Nos divertíamos com as historias que Emily nos contava sobre as peripécias que esses garotos aprontavam enquanto Sam estava na sala assistindo televisão.
Após fazer muita, mas muita comida – parecia que íamos alimentar a população toda de Nova York – Mandy pediu licença para fumar um cigarro, Sam mandou ela ficar por perto e a chamou de Mandy, eu ri levemente. Sabia como Mandy odiava que outras pessoas a chamassem tão intimamente.
Meu laptop estava no sofá e eu aproveitei para checar alguns e-mails do papai ou de algum conhecido de Nova York. Mas nada. Apenas promoções de sites suspeitos e um e-mail da nossa faculdade em Nova York pedindo nosso endereço atual para mandar alguns documentos do primeiro semestre que freqüentamos.
Mandy e eu éramos tão ligadas que eu até repeti o ano, não foi proposital eu juro, e acabamos nos formando juntas e agora faríamos faculdade... Juntas. Provavelmente nos casaríamos no mesmo dia, teríamos filhos no mesmo dia e morreremos no mesmo dia, tudo juntas.
Fechei o laptop, pensando no papai, queria poder conversar com ele, mas o tempo era curto no trabalho.
Ele sempre foi uma pessoa fácil de se lidar. Mesmo quando estava por perto, ele não era o tipo de pai que ficava em cima querendo torturar as filhas com castigos e regras, ele sempre foi do tipo que se mostrava preocupado, mostrava os caminhos que deveríamos seguir, mas sempre nos dando a opção de escolher.
Presa em meus pensamentos, me surpreendi com Sam se sentando ao meu lado.
Eu não sei o que fez ele se sentar ali, mas de repente eu o vi se sentando ao meu lado com uma expressão serena.
- Saudades da sua antiga casa? – perguntou ele com a sua voz autoritária que estava levemente suavizada.
- Não. – depois de algum tempo respondi e eu não estava mentindo, incrível. – Pelo contrário, eu me sinto em casa aqui de uma maneira que nunca me senti em qualquer outro lugar. Parece hipocrisia da minha parte, eu sei, só estamos aqui há vinte e quatro horas, mas La Push me faz sentir... Em casa.
- Por que eu acharia hipocrisia? – Sam deu de ombros, me olhando – Às vezes, vivemos a vida inteira num lugar e de repente descobrimos que estivemos no lugar errado, talvez você esteja tendo a sorte de estar no lugar certo e no momento certo, e isso é muito importante.
Eu não sei o que havia de especial em Sam, mas me senti muito bem com a aproximação dele.
Era como se ele entendesse o que eu queria dizer claramente.
Será que era assim que Mandy se sentia conversando comigo?
- Obrigada por tudo, Sam. Vocês têm sido maravilhosos. – sorri levemente.
- Eu faço qualquer coisa pela família da Emily – respondeu ele, olhando apaixonado para Emily e em seguida voltando a olhar para mim.
- Você realmente a ama, não é? – Me peguei questionando-o sobre isso, sorri levemente.
- Eu não vivo sem ela. – Sam disse sorrindo, em seguida ele fez um cafuné em minha cabeça, se pós de pé e esticou uma mão.
– Agora vamos para a cozinha, tenho a impressão que alguém chegou.
Sam não precisou nem me puxar, ele era muito forte, ele simplesmente segurou minha mão e quando vi eu já estava de pé. Será que emagreci? Vou conferir isso amanhã.
Assim que chegamos a cozinha, Mandy surgiu na entrada da mesma de mãos dadas com um garoto de pele morena, cabelos arrepiados e sorriso largo nos lábios.
Pára tudo e rebobina.
Por acaso entrei em alguma máquina do tempo quando segurei a mão de Sam e nesse plano minha irmã namora esse Deus grego?
Dei um sorriso malicioso e pela expressão seria de Mandy vi que estava no mesmo plano de sempre. Estou mais aliviada então.
Ou não.
- Jacob! Vejo que já conheceu Mandy – Emily disse assim que os viu entrar no ambiente.
Jacob, esse nome me era familiar.
Assim que vi Mandy e Jacob de mãos dadas, ela imediatamente soltou a mão do rapaz que ficou com uma expressão confusa.
Eu não sei o que aconteceu aqui, mas vou descobrir, ah vou. Mandy estava ligeiramente vermelha, e a ultima vez que a vi vermelha foi a cinco anos atrás quando ela correu a maratona do nosso colégio e chegou em segundo lugar. Bom para ela. Ruim para mim que lavei a roupa dela.
Eu não conseguia parar de olhar para Jacob e Mandy, e em alguns momentos me via sorrindo, curiosamente Sam também olhava, mas serio. Começo a desconfiar que ele seja bipolar, porque ele é ótimo em ser sério e de repente doce, quero aprender a técnica.
- Nos conhecemos lá fora, Emily – Jacob disse quebrando o silencio na sala, ele olhou na minha direção sem grandes emoções, mas educado. – Então você deve ser a Sarah?
- Isso mesmo. Está muito bem informado – eu respondi abrindo um sorriso malicioso, eu ia fazer a vida de Mandy um inferno por causa disso. Girei meus calcanhares e voltei ao sofá pegando meu laptop, precisava responder a faculdade mandando o endereço de Emily para podermos receber nossos documentos.
Eu havia acabado de responder o e-mail quando Emily me chamou para ajudá-la com a mesa.
Colocávamos a mesa enquanto Mandy estava obviamente completamente dispersa, olhava toda hora para aonde Jacob estava, faz muito tempo que não a vejo dessa maneira, babando por um garoto, na maioria das vezes era o contrario, eles que se jogavam por ela. Mas pelo visto certas coisas permanecem, Jacob parecia muito interessado em Mandy, mesmo conversando com um Sam sério, ele toda hora virava disfarçadamente olhando para Mandy, num determinado momento ele me pegou o olhando e sorriu sem graça, Emily percebeu o que estava acontecendo e riu disfarçadamente comigo.
Sam ficou de pé e o mesmo Jacob fez, sendo que Sam se aproximou do local onde estávamos enquanto Jacob se encostou no portal da entrada da cozinha, olhando Mandy descaradamente. Ai ai, a noite vai ser boa para Mandy Davis.
- Os meninos chegaram – Sam disse abraçando Emily e lhe dando um beijo terno e suave. – Vou lá fora falar com eles, não demoro.
Sam deu uma ultima olhada em Mandy e em mim, sorrindo de leve.
Ele deve ter uma ótima audição por que eu não ouvi nada.
Assim que Sam saiu começamos a pedir para Jacob nos ajudar, brincalhão e sorridente ele se aproximou nos ajudando. Emily me pediu para ir até a varada pegar um vaso de tulípas que ela colocou no murinho. E eu saí, indo na direção do mesmo.
Eu segurei o vaso, mas algo chamou a atenção dos meus ouvidos, olha só, não é que eu escuto bem, deixei o vaso aonde estava e me concentrei na voz.
Era Sam falando de maneira autoritária com alguém.
- ... Eu preciso pedir isso a vocês, eu temo pela proteção delas.
Nesse instante me afastei levemente, como se estivesse voltando para dentro da casa, mas não fiz isso, eu não queria ser vista por Sam ou com quem ele estivesse falando.
Ouvi Mandy dizer que ia pegar os cigarros dela, rezei para que Jacob não viesse junto e assim que ela colocou o pé do lado de fora, eu a puxei com uma das minhas mãos, fazendo sinal de silêncio. Levemente nos aproximamos da beirada da escada e olhamos disfarçadamente na direção de um pequeno campo aberto, onde estava Sam e mais três garotos. Estava muito escuro, impossível identificar o rosto deles.
Mandy se debruçava sobre mim e eu sentia que um dos meus pés estavam fora da escada ,equilibrada apenas em um pé e extremamente curiosa tentei ouvir o que Sam dizia.
- Vocês entenderam? Quando eu não estiver em casa quero pelo menos um de vocês esteja aqui. E se elas forem para Port Angeles, não quero que vão sós. – Sam ordenava de maneira confiante aos três rapazes.
- Droga! Eu não quero ser babá de ninguém. – reclamou um dos rapazes, sua voz brincalhona era muito familiar, Jared, só podia ser ele.
- Não quero Sarah e Amanda sozinhas nem por um minuto. Entenderam? – Sam repetiu e usava o seu tom de voz que nós já conhecíamos, aquele que causava tremores em Mandy.
O que estava havendo aqui? Porque eu e Mandy não podíamos estar sozinhas?
Será que ele queria nos proteger, tipo, algo de irmão mais velho? Ou seria algo sobrenatural? Odeio sempre pensar nessa hipótese. Engoli em seco, não me surpreenderia se fosse algo sobrenatural.
- O que ele quer dizer com isso? – Eu disse baixo, mas Mandy tampou a minha boca.
Algo surgiu atrás de nós. Mandy gritou me assustando, seu corpo foi para frente, pressionando o meu. Senti meus pés se desequilibrarem, senti a mão de Mandy tentando me segurar, mas ela não conseguiu tal coisa, parecia que tudo estava indo em câmera lenta enquanto meus pés escorregavam pela escada e eu via que meu destino seria quebrar um braço ou uma perna, se eu tivesse sorte apenas ralaria os braços.
Fechei meus olhos impedindo a visão da grama na minha cara que ia acontecer em alguns segundos.
...
...

Mas algo estava errado.
Algo me segurou, por que eu não estou caída ao chão.
Abri os meus olhos e foi quando eu o vi.
Ele estava com ambas às mãos em minha cintura e me olhava atentamente.
Mais não era um simples olhar, ele olhava fixamente e diretamente em meus olhos.
Sua expressão era confusa e seu olhar era forte.
Havia algo de especial no toque das mãos dele, eram quentes e me seguravam de maneira delicada com segurança.
Nada no mundo parecia me importar mais e eu não entendia o por quê.
Nós continuávamos nos olhando e eu não queria que ele me soltasse, tinha a impressão que se ele me soltasse eu cairia de cara no chão... Seu olhar, suas mãos, seu rosto, sua pele... Meu Deus, o que está acontecendo aqui? Eu não conseguia pensar.
...
- Já pode soltá-la, Embry – uma voz autoritária e firme se aproximou do local onde estávamos. Sam.
Embry, então ele era o Embry?
Sam tinha certa habilidade com aqueles meninos, porque Embry imediatamente me colocou em pé e segura em um dos degraus, e se afastou consideravelmente de mim com uma expressão confusa, envergonhado, foi nesse momento que percebi que éramos observados por todos, incluindo por Emily.
Eu respirei profundamente, eu havia desaprendido a respirar por alguns segundos.
Ouvi a risada de Mandy e Jared tomar conta do ambiente, alguém falava alguma coisa sobre quem estava ali, mas eu não ouvi nada. Havia algo de errado com minha audição por que eu só ouvia zumbidos, Embry estava extremamente envergonhado, com as bochechas vermelhas, exibia um sorriso de leve e olhava disfarçadamente para mim, de uma maneira tão linda.
Embry tinha a pele morena estava usando uma blusa de manga comprida, o único que estava mais agasalhado, seus olhos castanhos ainda me encaravam por rápidos segundos, sobrancelhas bem desenhadas e grossas e com um cabelo preto curto arrumado de uma maneira despojada, ele era quase mais alto que Jacob e ele tinha esse sorrisinho de lado que era tão ...
tão...
- Vamos todos comer. – Sam ordenou, fazendo eu sair do meu devaneio, todos se direcionaram para a cozinha em silêncio.
Embry passou direto, sem ao menos me olhar novamente, Mandy desceu um degrau e me olhou, ainda rindo. Ela apontou para as minhas bochechas e senti meu rosto queimar, fui mexer minhas pernas, mas elas não me obedeceram e dobraram num tremelique besta quase me fazendo cair. Mandy riu mais ainda e me ajudou a chegar à cozinha inteira.
Parecia que haviam jogado uma única vaca para os leões da floresta.
Nunca vi alguém comer da maneira que eles comiam, quer dizer, eles não comiam, eles destroçavam o alimento e devoravam o mesmo enquanto brincavam e conversavam. No inicío fiquei assustada, mas são garotos, o que eu deveria esperar deles? Eu estava evitando olhar para Mandy, sabia que ela estava louca para comentar algo sobre Embry, que se sentou na outra ponta da mesa e eu podia ver Sam e Jared mandarem constantes olhares para ele e para mim; Jared nos olhava sorrindo de maneira maliciosa enquanto Sam nos olhava sério. Ótimo, era tudo que eu precisava!
Bom existia alguém ali que realmente estava muito feliz, e essa pessoa era Emily. Ela se levantava para pegar mais guloseimas para todos nós e sempre dando atenções a seu noivo, Sam que continuava olhando para mim,com uma maneira de olhar que só ele deve saber fazer, será que ele viu que ouvíamos a conversa dele com os garotos?
Mandy estava sentada ao lado de Jacob e eu podia sentir a tensão que estava entre eles.
Mandy nervosa por causa de um garoto? Okay,Jacob é lindo,qualquer uma ficaria nervosa com ele, mas não Mandy Davis, não mesmo.
Um garoto que me segura do nada e surge do nada, evitando que eu caísse de cara no chão?
Sam querendo que a gente seja vigiada vinte e cinco horas por dia?
Não é por nada não, mas é só eu que estou percebendo que tem algo errado aqui?
Entrei em algum filme de suspense e já já a televisão vai começar a chiar e a Samara vai sair por ela ou algo desse tipo?
Observei Paul segurando um pedaço de frango em uma das mãos enquanto comia e discutia com Quil e Jared sobre uma aposta que Quil estava se negando a pagar.
Percebi que nem havia tocado em minha comida, olhei para o prato intacto e senti vergonha por estar tão concentrada em meus pensamentos, peguei o ketchup e taquei uma grande quantidade no arroz e comecei a comer o mesmo, tentando ignorar os olhares de Jared, Sam e Embry.
- Então... Embry... Obrigado por segurar minha doce e desastrada irmã. - ouvi a voz de Mandy.
Senti todo o meu corpo gelar.
Meu rosto estava queimando, olhei lentamente para Mandy com o olhar mais intenso que eu conseguisse fazer. Ela me ignorava descaradamente esboçando um sorriso.
- Não fiz nada de mais – ficando novamente vermelho e olhando discretamente para Mandy.
Ergui uma sobrancelha, extremamente confusa com tudo que estava acontecendo.
Meus olhos encontraram os de Sam que disfarçadamente puxou assunto com Emily.
Todos estavam se divertindo, brincando, sentindo completamente dentro do ambiente.
Até Mandy agora estava conversando com Jacob, estava sendo a irmã que eu conheço.
Mas eu não conseguia fazer parte disso porque estava querendo entender o que estava acontecendo. Eu tenho esse direito e mesmo querendo fingir que nada estava acontecendo, era impossível por que estava ali estampada na testa morena de Sam que ele estava encucado com algo, isso por que havia vinte e quatro horas que eu conhecia ele.
Sam olhou para mim e dessa vez eu mantive o olhar.
Me perdoe Emily, mas eu quero dormir em paz essa noite.
- O que você quis dizer com o “em não deixar Amanda ou Sarah nenhum minuto sozinhas”? – Perguntei olhando diretamente para Sam.
Jared, Quil e Paul se silenciaram imediatamente, Emily ficou com uma expressão tensa e me olhou tentando me acalmar, mas seria em vão, eu me conheço.
- Sarah, essa não é uma boa hora para essa pergunta. – Emily murmurou calmamente.
Todos na mesa olhavam atentamente para mim e Sam, sentia meu rosto queimar, mas eu não ignoraria a minha intuição, eu quero uma resposta e ele me daria.
- Eu preciso e tenho direito de saber Emily – eu continuava olhando Sam, que me olhava com a mesma intensidade. – Me responda Sam, porque os meninos têm que seguir Mandy e eu como seguranças?
Eu juro que queria ser uma pessoa calma e controlada, mas eu sou pavio curto e se nós vamos morar aqui por tempo indeterminado não pode existir segredos. De nenhuma das partes.
- Eu não vou lhe responder isso, Sarah – disse ele me olhando seriamente e falando com uma voz autoritária, mas aquela voz não funcionava comigo. Uma pena para ele.
- Era de mim que vocês estavam falando, portanto como eu sou o assunto, tenho todo o direito de saber – eu não conseguia parar, ele nem tinha a coragem de mentir, era como se, se ele não conseguisse mentir, ou não quisesse.
Seth que estava sentando próximo a minha cadeira, se afastou levemente do espaço que eu estava.
- Eu só estou cuidando de vocês. Vocês não conhecem nada e nem ninguém aqui. Só queria que mostrassem a cidade. – Sam mantinha-se sério, mas tentava falar de uma maneira que me convencesse.
- Eu não acredito em você, Sam. Pode mentir para todos menos para mim. – Ele conseguiu me irritar, não tive respostas, eu estava arruinando a noite de todos, balancei a minha cabeça e fiquei de pé ainda o encarando. - Com licença. – a cadeira se afastou de maneira brusca e me retirei do ambiente, subindo as escadas.
O meu andar estava brusco, eu estava furiosa, abri a porta e tive a sensação que ia quebrar a maçaneta, fechei a porta e tentei me acalmar.
Eu andava de um lado para o outro.
O que estava acontecendo comigo? Estava tendo um surto psicótico? Delirando? Achando coisa errada onde não tinha? Eu deveria descer e pedir perdão ao Sam, ele tem sido tão legal, mas não, havia algo errado ali, eu tenho certeza que havia. Eu não sou assim, eu não explodo à toa.
Mandy entrou no meu quarto e se sentou em minha cama, apenas me observando andar de um lado a outro. Tive que explodir com ela também. Estava tão concentrada em Jacob que não teve a coragem de me apoiar, odeio quando sou a única a debater algo.
Ela se manteve calada durante toda a minha explosão, determinado momento me cansei de pensar, me cansei de tudo e simplesmente me joguei na cama, virada para a parede.
Ouvi a porta do banheiro sendo fechada e supús que Mandy havia saído de lá.
Me virei e olhei para o teto.
Os meus olhos cheios de lágrimas, sentia falta do meu pai.
Ele me entendia até quando estou errada, estava sentindo falta dos conselhos dele, das brincadeiras e dos risos. Fazia tempo que não o via sorrir, desde que vovó faleceu só o via sorri de uma maneira amarela e mentirosa. O meu problema era simples: cresci cheia de liberdades e como se fosse uma adulta praticamente, e agora estou sentindo o gosto do que é realmente ter uma família. Sam era meu irmão mais velho e eu a irmã injustiçada.
Agarrei o meu macaquinho bem apertado e nem ao menos me cobri, estava cansada demais.
Fechei os meus olhos e...
Eu estava em um campo coberto por neblina e sombrio, estava com um vestido longo branco, linda como nunca me vi antes, o ambiente estava frio e eu me sentia observada o tempo inteiro. Grandes olhos me observavam na escuridão que cobria até mesmo os arbustos do ambiente, eu gritei por Mandy e minha voz ecoava pelo ambiente.
Eu estava sozinha.
Era tudo tão real, sentia os meus pés descalços pisando o barro gelado.
Ouvi uma voz, masculina chamar meu nome, essa voz que eu nunca ouvi antes em minha vida.
Era grossa e é o tipo de voz impossível de se esquecer.
Eu olhei em uma determinada direção e lá estava um homem.
Cabelos loiros, pele extremamente pálida, os olhos intensamente pretos me devoravam.
Eu estava apreensiva, sentia meu coração palpitar aceleradamente, e de repente ele não estava mais lá.
Olhei para o outro lado e ele também não estava.
De repente senti duas mãos frias repousarem em meu pescoço.
Fechei meus olhos, havia algo de sedutor naquilo tudo, ele desceu lentamente suas mãos pelo meu ombro aproximou seus lábios de meu pescoço, dando um suave beijo.
Suas mãos geladas me causavam arrepios, foi quando senti uma dor terrível em meu pescoço.
Ele cravou de maneira selvagem seus dentes em meu pescoço, eu gritava de dor e pavor.
E tudo ficou escuro.
Abri meus olhos uma, duas, três vezes.
Sam me segurava com força e dizia alguma coisa para Emily que me olhava assustada.
A luz do teto estava acesa e causava dor aos meus olhos, Sam me ajudou a me sentar e disse algo a Emily. Nesse instante chequei meu pescoço e percebi que ele estava intacto, respirando aliviada.
Mandy abriu a porta do quarto, aflita, todos a olharam incluindo eu que a olhei tentando fingir que tudo estava bem, não queria alertar Emily e Sam.
- Foi só um pesadelo. – menti descaradamente.
Emily repousou delicadamente uma de suas mãos em meu ombro e senti que estava toda gelada, o sonho realmente foi real. Evitei olhar para Sam se havia alguém que veria que eu estava mentindo, seria ele.
- Desculpe acordar VOCÊ, Emily. – eu enfatizei, queria deixar claro que Sam estava ainda na minha lista negra.
Após alguns segundos, os dois nos deram boa noite, concordando que eu ficaria bem, já que Mandy dormiria ali comigo naquela noite. Eles fecharam a porta indo para o seu quarto. Esperamos em silêncio, até a porta do quarto do casal ser fechada.
Mandy apagou a luz do quarto e em seguida se sentou no meio da cama e o mesmo eu fiz. Contei o sonho em detalhes sem esquecer as sensações que tive e como o homem era.
- Vampiro? – Mandy riu silenciosamente. – Você realmente gostou daquele livro do Drácula.
- Não foi só um sonho, Mandy - disse com um tom de voz alterado. Eu conhecia muito bem os meus sonhos quando eram apenas sonhos ou quando eram mais que isso. - Você sabe disso.
Respondi friamente, por que só eu sabia o que tinha visto e sentido.
Mandy pediu para eu contar novamente, ela queria entender e tentar me ajudar na decifração do mesmo.
Era impossível ao mesmo tempo que foi tão real, tudo foi irreal.
Ficamos por um bom tempo em silêncio. Olhando o teto, pensativas. Não sei em que Mandy pensava, eu sei que eu pensava que estávamos realmente em novas vidas.
De repente o silêncio foi quebrado com um barulho na porta da frente, imediatamente nós duas nos sentamos na cama e olhamos uma para outra e rapidamente corremos até a janela.
Tivemos a visão de Sam, Paul e Jacob que acabavam de sair de nossa casa, estavam sem camisa e andavam decididos na direção da floresta. Chovia, e eu não havia nem percebido que havia começado a chover.
Numa fração de segundos, Jacob parou de andar, antes de desaparecer na floresta, ele olhou diretamente para a nossa janela e eu pude sentir o coração de Mandy parar por alguns segundos antes de ter um ataque cardíaco. Jacob permanecia olhando atentamente para nossa janela, olhando certamente para Mandy, mas como?
Em seguida, Paul e Sam se aproximaram, impacientes, e seguiram o olhar de Jacob e pararam olhando fixamente e seriamente para nossa janela, como Jacob.
Um raio iluminou o céu, mostrando que estávamos na janela. Assustadas e tensas.
A chuva caia agora forte enquanto os três mantinham seus olhares fixos em nossa janela. O tempo parecia estar indo mais devagar. Mandy me olhou e eu imediatamente segurei a mão dela. Eu sabia que havia algo de muito errado em La Push e mesmo assim não conseguia ter medo ou detestar aquele lugar, eu continuava tendo a sensação que aquele lugar nos reservava algo. Agora faltava saber se era algo bom ou ruim. Ou ambos.

Seria mentira dizer que estava odiando La Push, a reserva indígena onde Emily morava, era um lugar muito bonito e tranqüilo. Um ambiente tão simples, totalmente diferente de Nova York que era uma verdadeira selva de pedras. Milhares de pessoas, milhares de desconhecidos. Morava no centro movimentado de Nova York, frequentava festas, e tinha diversos garotos a minha volta, porém me sentia sozinha. Era como se faltasse um pedaço de mim. Uma tristeza repentina que me pegava desprevenida sem hora e nem local determinado.
Papai dizia que estava ficando cada vez mais fria, chegara até, certa vez, dizer que estava ficando depressiva. Não concordava com ele. Eu estava bem com meu interior, já havia parado de reclamar das minhas visitas constantes, mas no entanto, não sabia o que me faltava.
Estava cansada. Essa era a verdade. Cansada da minha vida corriqueira, sem importância. Cansada de ser apenas mais um ponto insignificante no meio da Times Square.
La Push era o oposto de tudo isso e esse era o motivo de me sentir tão bem aqui. Sentia-me em paz, tranquila como jamais estive em dezoito anos. E por mais que repetisse a mim mesma e a minha irmã que sentiria falta do corre-corre da cidade grande, meu coração me dizia o contrário.
Sarah sempre gostou de lugares calmos aonde possa devorar um de seus livros, às vezes ela lê por horas, e sei que vai adorar toda essa calma que há em La Push já que até eu estava gostando.
Deitada na cama, a preguiça lutava contra a necessidade de acordar, eu olhava para os raios de sol que entravam pela minha janela aquela manhã. Um sol tímido brilhava lá fora, mas o tempo continuava frio.
Podia sentir o vento gelado me causando um leve arrepio, estava quente e aquecida, era essa a sensação de conforto que a casa de Emily nos causava. Havia me esquecido de como era bom estar ali, do cheiro da madeira, do tom prateado habitual no céu.
Quando voltamos ontem da praia, Emily e Sam, nos esperavam para o jantar. Sorriam um para o outro, como se fossem cúmplices, podia se ver em seus olhos o quanto se amavam e o quanto estavam felizes juntos.
Paixões de uma semana, eram o mais próximo que eu já tinha chegado do amor. Olhando Sam e Emily pensando que isso nunca aconteceria comigo e ao mesmo tempo desejava que acontecesse.
Emily se esforçava para nos deixar à vontade e fazer-nos sentir em casa, mesmo pouco tempo ali, eu realmente estava me sentindo bem naquela casa e sei que Sarah também estava. Ela conversava animadamente com Sam tentando entender o jogo que passava na tv. Sam sempre educado e cuidadoso conosco. Não que nos tivéssemos grandes conversas, mas eu gostava do Sam, com poucas palavras e atá mesmo por um olhar eu podia sentir sua sinceridade.
Pensei tanto na possibilidade de odiar esse lugar, que acabei me esquecendo de pensar na possibilidade de gostar daqui. Minha irmã e eu não éramos emancipadas, não tínhamos nosso próprio dinheiro. Papai poderia voltar e querer nos mudar para outra nova cidade. Nos forçando a mais uma mudança e nos adaptar a uma nova rotina de vida.
Estava me sentindo bem novamente, após o delicioso jantar que Emily nos fez, tomei um banho quente e fui para o meu quarto, acompanhada por Sarah que também se dirigiu ao seu quarto, precisávamos dormir, descansar. Muita coisa por apenas um dia, até mesmo para as Davis, estávamos acostumadas com emoções.
Uma boa noite de sono, era tudo que precisava. Mas aquele maldito frio no estômago não me deixava dormir, fazendo-me rolar na cama durante toda à noite. Queria ir até Sarah e conversar com ela até pegar no sono. Ela sempre conseguia me acalmar, não importa o quanto fosse difícil a situação, ela tinha esse poder sobre mim, era a única que sabia das minhas fraquezas. Porem tudo estava muito quieto em seu quarto, ela devia estar tão cansada quanto eu, e provavelmente ter pegado no sono. Não queria acordá-la.
Uma inquietação e frio no estômago, era isso que sentia quando estava ansiosa por algo. Estava nervosa por estar ali em La Push. Desejava com todas as minhas forças que tudo ali fosse diferente, que finalmente tudo ficasse calmo para Sarah e eu. Mesmo sabendo que aquilo seria impossível em nossas vidas.
Me revirava na cama que já não me parecia mais confortável, estava inquieta. Sentei-me encostando as costas na cabeceira da cama abraçando fortemente meu travesseiro tentando achar uma explicação para aquela noite mal dormida.
Vencendo finalmente a preguiça, me levantei indo para o quarto de Sarah acordá-la.
- Sarah! Sarah! Sarah! – pulava na cama dela, me divertindo com o susto que ela levou.
- Quando consigo dormir... MANDY! Você me assustou – Ela afundava o rosto no travesseiro tentando inutilmente se livrar de mim, me empurrando com os pés.
Sentei do seu lado desistindo de fazê-la levantar, não tinha jeito.
– Você também não consegue dormir? – ainda com a cabeça no travesseiro ela balançou a cabeça respondendo algo que eu não consegui entender, mas conclui ser um “Não” - Meu friozinho no estomago não me deixou dormir também.
Ela bufou se dando por vencida, eu não ia deixá-la dormir mesmo.
– É só ansiedade por estar em um novo lugar, morena. Vamos ficar bem – Sarah me disse sorrindo.
Dei um beijo em sua bochecha, amava minha irmã, provavelmente passaríamos o resto da vida juntas.
Levantei-me dando passagem para que ela se levantasse também. Morria de medo do tédio, nunca permitia que ele me pegasse, então iria procurar alguma coisa para fazer hoje, ajudar Emily, visitar alguns velhos amigos e fingir que me lembro deles, sei lá, qualquer coisa para me distrair.
O cheiro do café se espalhava por toda a casa, Emily adorava cozinhar, ficava feliz. Ela estava arrumando a mesa, nos viu entrar na cozinha, dando um enorme sorriso.
- Meninas! Bom Dia! Dormiram bem?
- Dormimos muito bem, prima! Obrigada. – Sarah mentiu por mim, antes que eu abrisse minha boca, sentando-se à mesa ao lado de Emily.
- Nick ligou, querendo saber se chegaram bem. – engasguei com o café, sabia que havia esquecido de alguma coisa.
- Você nunca se lembra das coisas, Amanda, Deus me livre. – Sarah tinha um sorriso no canto dos lábios enquanto comia o seu waffle.
- É genético, meu bem – respondi a fitando com o mesmo sorriso, fazendo Emily rir e nos duas acompanharmos sua risada.
- Sabe, Sam me deu uma excelente idéia essa manhã. O que acham de darmos uma volta pela cidade? – Emily terminava de servir mais café para nos.
- Música pros meus ouvidos – me mexi na cadeira. Finalmente algo a se fazer.
- Andar por ai? Contem comigo – Sarah deu um ultimo gole em seu café, fazendo Emily e eu rirmos da sua pressa – Quando vamos?
- Assim que os meninos chegarem – ajudávamos Emily com a mesa do café.
Nos olhamos por um tempo e voltamos a levar as xícaras para a pia.
- Meninos? Que meninos? – Sarah finalmente se arriscou em perguntar.
Não que eu tivesse problemas com meninos, muito pelo contrário, me sentia à vontade no meio deles, sabia ter meu respeito e entrar no meio das brincadeiras. Então saber que teríamos meninos por perto seria talvez a possibilidade de ter finalmente amigos, amigos verdadeiros.
- Irmãos do Sam... bom, pelo menos eles se consideram assim. – Emily tinha um lindo sorriso nos lábios – Vocês vão gostar deles.
- E quem não gostaria de mim? - A voz de um garoto moreno que entrava pela porta da sala sem cerimônia alguma, acompanhado por outro garoto com o mesmo tom de pele, porém muito mais baixo, fazendo Sarah e eu pularmos com o susto que levamos.
- Ninguém gosta de você, Jared. Aceite isso. – disse o menor com os cabelos compridos, quase caindo sobre os olhos, que eu logo reconheci.
- Meninos, finjam que são normais. Não assustem minhas primas. – Emily ria das nossas caras de espanto.
- Idiota! Assustou elas com sua feiúra. – Jared, esse parecia ser o nome dele, deu um tapa no mais novo e não podemos deixar de rir daquela cena – Olá meninas, eu sou Jared. – nos olhava sorrindo abertamente, arrancando um sorriso de nos duas.
- Eu sou Seth Clearwater. – sorriu timidamente nos cumprimentando com um beijo estalado na bochecha, Sarah e eu. Seth era nosso primo de segundo grau, era raro quando nos encontrávamos com ele, mas realmente era um ótimo primo.
Jared e Seth tinham o mesmo tom de pele e a altura não era a única diferença entre eles. Seth tinha um enorme sorriso feliz nos lábios e um rosto inocente, deveria ser o menor dali, tinha o corpo magro. Já Jared era muito forte, tinha uma expressão de diversão no rosto, parecia ser alguém sempre alegre. Apesar do tempo não estar quente ambos estavam sem camisa.
Encantadora, era a melhor palavra que conseguiria descrever a reserva de La Push, notava-se que todos se conheciam e se respeitavam ali. As estradas e ruas ainda eram de barro, as casas eram de madeira, muito parecidas com as de Emily. Jared e Seth andavam logo atrás, conversando entre si e rindo alto enquanto se divertiam empurrando um ao outro.
- Parecem àqueles seguranças de famosos, altos e com cara de malvados. - Sarah cochichou perto, de forma que sou eu escutasse, embora pelo sorriso que nasceu no canto dos lábios de Jared, eu poderia jurar que ele nos ouviu. Mas era impossível, ele estava muito longe e Sarah falou muito baixo.
Emily nos mostrava cada canto da reserva com brilho nos olhos, pequenas casas de madeira, algumas de dois andares, ou até mesmo planas, todas tinham seu charme e beleza, todas tão familiares e graciosas. Emily morava em outra reserva mas fazia alguns anos que havia se mudado para a reserva. Como alguém não poderia se sentir bem naquele lugar? Caminhávamos pelas ruazinhas estreitas e simples cumprimentandos à todos pelo caminho, estavão curiosos em saber quem éramos.
Com a desculpa e muita insistência que queríamos ficar mais um pouco na praia, Emily seguiu para casa com os garotos, nos deixando sozinhas. Sentamos nas pedras observando em silêncio o mar agitado batendo contra a costa.
- Aqueles dois me dão agonia, Mandy – disse Sarah quebrando o silêncio.
Eu sabia que ela iria reclamar disso.
- Não entendi porquê eles tinham que vir nos seguindo. – disse rindo da sua expressão de incômoda. – Mas eu gostei, gostei daqui.
- Eu não sei ainda. Seth e Jared nos seguindo estava me irritando. Não sei o porquê disso. Agora sempre que formos sair, alguém terá que ir como nosso guarda-costas? – Ela estava fazendo de novo.
- Pelo amor de Deus, Sarah. Está sempre pensando o pior. Vamos dar uma chance a todos, principalmente para nossa vida.
Eu sei que não devia ter falado com ela desse jeito. Ela tinha virado o rosto, mas eu sabia que tinha a magoado.
- Olha, desculpa. Não era para ter dito desse jeito – disse tocando seu ombro.
Odiava tratar Sarah assim, ela não merecia.
- Não, tudo bem. Você está certa. – Ela sorriu para mim, mas eu podia ver a sua relutância em não começar a chorar.
- Hei! Vamos fazer um trato? – Ela me olhava desconfiada, não me respondeu, então continuei a lhe explicar – Vamos fazer uma promessa, que a partir de hoje, nossas vidas serão diferentes. Que vamos em busca de coisas boas e da nossa felicidade.
Sarah ficou um tempo em silêncio, deveria estar pensando se daria certo, depois de um tempo ela colocou a mão em cima do meu joelho sorrindo.
Com um vidro quebrado que encontrei perto das pedras que estávamos sentadas fiz um corto em nossas mãos, em seguida demos as mãos sorrindo uma para a outra. Era como se Sarah já soubesse o que eu iria fazer.
- Seu Sangue.
- Meu Sangue.
- Nosso Sangue. – Falamos juntas.
- Eu te amo, Mandy, você nunca estará sozinha.
- Eu te amo também. Estaremos sempre juntas, Sarah.
Sorrindo nos abraçamos, sorrimos porque sabíamos que tudo estava mudando, nos estávamos mudando e estávamos finalmente prontas para passarmos por isso.
Chegamos em casa e fui tomar banho assim que Sarah desocupou o banheiro. Coloquei uma roupa confortável, uma calça jeans, uma baby look preta e minhas boas e velhas havaianas roxas no pé.
Descemos logo em seguida pois ajudaríamos Emily com um jantar que ela faria hoje para alguns amigos. Seth e Jared estariam lá também, e pelo visto seriam os únicos que conhecíamos.
Na verdade, eu estava proibida de entrar na cozinha, Sarah e Emily cuidariam disso, enquanto eu me encarregava de arrumar a mesa. Não era muito seguro me ter na cozinha, a menos que você more perto do corpo de bombeiros. Decorar sim, era minha melhor habilidade.
Tudo quase pronto, eu estava terminando de colocar a mesa, Sarah estava no laptop mandando um e-mail para nosso pai, enquanto reclamava que tínhamos feito comida demais. Emily disse que era comida o suficiente.
Enquanto as duas faziam seu pequeno debate, peguei meus cigarros e avisei a Sam que iria sair para fumar.
- Não vá muito longe, Mandy. – ele havia me chamado de Mandy? Ok, achei melhor não falar nada. Com aquela voz era impossível não obedecer. Ele tinha um poder na voz que eu não sabia explicar.
Estremeci devido ao frio que fazia ali fora, acendi meu cigarro e me sentei nas escadas da varanda.
Fumava sem presa, observando aquele lugar.
A casa de Emily era um pouco distante das outras, então tudo o que via na minha frente era a floresta que havia em volta da casa.
Uma luz forte atingiu meu rosto, chamando minha atenção em sua direção. Com a medida que ia se aproximando, eu conseguia finalmente ver quem estava chegando. A motocicleta preta e barulhenta parou poucos metros de onde eu estava sentada. Um garoto moreno desceu tirando o capacete e eu consegui ver seu rosto.
Parei de respirar por alguns segundos. Uma beleza que eu jamais vi, sua pele tinha uma cor avermelhada, seus olhos eram de um preto intenso, me prendia dentro deles. Uma camisa preta apertada, com mangas curtas, apesar de ser uma noite razoavelmente fria, jeans surrados e sujos de graxa. Seu rosto duro ainda sim conseguia ser doce, as maças do rosto mais acentuadas e um queixo quadrado que se encaixava perfeitamente ali. Eu podia sentir o frio no estômago voltando a me atormentar. Eu estava tímida, com as mãos geladas, como nunca estive com nenhum outro garoto. Repetindo a mim mesma para não dizer nada estúpido.
- Você deve ser a garota de Nova Iorque. – sua voz rouca me tirou dos meus devaneios, me trazendo de volta para a realidade, vendo-o parado bem a minha frente.
O sorriso animado que agora havia em seus lábios, se espalhava pelo seu rosto, seus dentes brilhantes destacando-se em contraste com o tom da sua pele.
- Sim, Sou Amanda Davis, prima da Emily. E você quem é? – Depois de tanto tempo consegui respondê-lo.
- Eu posso ser quem você quiser. – Ele me estendeu a mão para que eu levantasse, me lançando um sorriso que me fez perder o fôlego outra vez.
Era incrível como sua voz rouca e grossa me parecia tão familiar. A naturalidade com que ele falava comigo, era como se já nos conhecêssemos.
- Eu vou me lembrar disso. – foi a única coisa inteligente que pensei em falar naquele momento, e não estragar tudo.
Sorri segurando sua mão e me levantando. Ele pareceu se assustar com meu ato, acho que não esperava tal ato meu. Seu sorriso deu lugar a uma expressão totalmente confusa. Ele me deixava atordoada. Não sabia o que fazer perto dele.
Ficou um tempo segurando minha mão, até que como se desapertasse de um transe, segurou firme a minha mão, me puxando para dentro da casa.
- Jacob! Vejo que já conheceu, Mandy. – Emily disse assim que nos viu entrar na cozinha, atraindo o olhar de todos, principalmente de Sarah, que olhou diretamente para nossas mãos, me fazendo lembrar que ainda estávamos de mãos dadas.
O toque quente da sua mão entrava em contraste com a minha mão fria, causando-me uma sensação de segurança e conforto. Constrangida com meus próprios pensamentos e por todos estarem nos olhando, puxei minha mão, me afastando de Jacob. Então era ele Jacob Black. Brincávamos juntos quando éramos pequenos, mas isso já faz um bom tempo.
Sarah se divertia as minhas custas, me lançando olhares, que eu sabia muito bem que não passavam despercebidos por Sam.
- Nos conhecemos lá fora, Emily. – Jacob disse quebrando o silêncio na sala – Então você deve ser a Sarah?
- Isso mesmo. Está muito bem informado. – Sarah o respondeu com um sorriso malicioso no canto dos lábios, voltando sua atenção para o laptop. Iria me vingar dela depois.
Colocava a comida quente na mesa, enquanto Emily me dizia alguma coisa sobre o tempero, eu não faço idéia, não me lembro, não era nela que minha atenção estava voltada. Jacob estava sentado no sofá conversando com Sam algo que eu não conseguia ouvir. Eu mal tinha falado com ele, e no entanto não conseguia parar de olhá-lo. Não devido a sua beleza, mas era algo nele que me intrigava. Às vezes poderia jurar que ele estava me olhando, mas podia ser só maluquice minha.mallubiersackmallubiersack - Os meninos chegaram. – Sam diz abraçando Emily e lhe dando um beijo terno e suave – Vou lá fora falar com eles, não demoro.
Jacob, depois de muitos pedidos se juntou a nós na cozinha, ajudando Emily a tirar a carne do forno.
Lembrei-me do meu cigarro e sai para procurá-los lá fora. Deveria ter deixado perto da escada.
Sinto algo segurando minha mão, teria gritado se não reconhecesse imediatamente de quem se tratava.
Sarah me chamava com gesto para que a seguisse. Assim eu o fiz.
Sam estava aos fundos da casa, conversando com três garotos altos, no escuro e me esticando com Sarah para poder ouvir melhor o que falavam, não reparei muito em seus rostos.
- Vocês entenderam? Quando eu não estiver em casa quero pelo menos um de vocês esteja aqui. E se elas forem para Port Angeles, não quero que vão sós. – Sam dizia, ou melhor, ordenava, aos três a sua frente.
- Droga! Eu não quero ser baba de ninguém. – Olhamos uma para a outra. Essa voz nos era familiar. Jared!
- Não quero Sarah e nem Amanda sozinhas por um minuto. Entenderam? – Sam usava o seu tom de voz que nos já conhecíamos.
Mas espera. Porque Sarah e eu não podíamos estar sozinhas?
- O que ele quer dizer com isso? – Sarah disse baixo, mas eu tampei sua boca, não rápido o suficiente.
Uma sombra se formou atrás de nós. Nos fazendo gritar e Sarah se desequilibrar nos degraus. Eu não consegui segurá-la. Tampei minha boca, já sabia que ela iria cair. Mas alguém foi mais rápido. Para minha surpresa e a de Sarah também.
Um dos garotos que Sam estava conversando a segundos atrás, agora estava ali, segurando Sarah para que ela não caísse de cara no chão. Ele a segurava firme pela cintura e a olhava com uma expressão um tanto quanto confusa. Aliás, os dois se olhavam, eu naturalmente estaria rindo daquela cena, se não fosse outro garoto aparecer atrás de mim, mostrando finalmente quem tinha nos assustado.
O garoto ainda segurava Sarah nos braços. Reparando agora nele, podia ver que tinhas sobrancelhas grossas e um olhar forte, devia ser por isso Sarah não tinha reclamado ainda. Espertinha. Os cabelos curtos pretos e a pele morena.
- Já pode soltá-la, Embry – Sam e seu tom de voz.
Jared tinha uma expressão divertida enquanto olhava a cena, nossos olhares se cruzaram e não consegui, tudo foi por água a baixo, explodimos em uma gargalhada. Parecia uma competição para quem ria mais alto. Até o garoto que estava do meu lado nos acompanhou na risada.
- Eu sou Paul. – disse, ainda contendo o riso, o moreno alto, e muito forte que estava do meu lado – Aqueles são Quil e Jared. E essa besta segurando sua irmã, é o Embry.
Eu queria não rir, mas era impossível me controlar com a risada de Jared, Sam resolveu terminar com nossa diversão, para o alívio do pobre Embry que mesmo com a noite escura, podia ver o seu tom avermelhado.
- Vamos todos comer. – Sam ordenou e todos entramos em silêncio. Sarah estava vermelha. E eu sabia que não era de vergonha.
Disse que iria me vingar dela. E seria agora.
Todos estavam na mesa comendo, bom, na verdade, Emily, Sarah e eu comíamos, o restante presente na mesa devorava a comida, não sabia de onde vinha tanta fome. Podia jurar que eles nem ao menos respiravam, iam só mastigando sem parar a comida a sua frente. Sarah os olhava comer, tão assustava quanto eu, às vezes nos olhávamos trocando olhares que só a gente entendia. Sabe como é. Coisa de irmãs, fazemos isso desde pequenas.
Emily parecia adorar ver a casa cheia, fazia de tudo para nos deixar à vontade e nos agradar, mas sua atenção e mimos eram voltados todos para Sam que a olhava docemente. Jacob estava sentando do meu lado e apesar de uma certa distância entre nós, eu podia sentir o calor do seu corpo.
Paul segurava um pedaço de frango com a mão, enquanto comia e discutia algo sem sentindo com Quil e Jared, parecia ser uma aposta que Quil teria que pagar. Mas eu não podia esquecer da minha pequena vingança, amava minha irmã e amava principalmente atormentá-la. Embry se mantinha quieto na mesa, ele às vezes ria da conversa dos outros garotos ou conversava com Jacob assuntos que eu também não entendia. Mas ele não conseguia disfarçar sua atenção para Sarah, e isso estava incomodando-a, ela estava sem graça e eu não poderia perder aquele momento.
- Então... Embry... Obrigada por segurar minha doce e desastrada irmã. - Sorri para ele.
Embry era diferente dos outros garotos ali, Embry tinha um rosto jovem e carismático, transparecia uma simpatia, quase se assemelhando com Jacob e Jared. Algo nele que me inspirava extrema confiança. Não que eu não tenha gostado dos outros garotos. Era fácil conviver com todos ali, mas Embry seria um grande amigo.
- Não fiz nada demais. – disse-me ele retomando o tom avermelhado nas bochechas.
Sarah me fuzilava com os olhos e eu sorria em vitória. Jacob sorria ao meu lado, como se tivesse entendendo o meu pequeno joguinho.
Era tão natural estar ali, todos riamos e nos divertíamos, principalmente por Jared que arrancava gargalhada de todos na mesa. Ainda rindo da ultima "pérola" que ele tinha soltado, peguei o ketchup, porém Jacob fez o mesmo, pegando ambos ao mesmo tempo, nossas mãos se tocaram,deixando tanto ele como eu sem graças.
Puxei rápido minha mão, na esperança que ninguém visse aquela cena. Ele sorriu me entregando o ketchup. Nunca iria me acostumar com o sorriso dele. Sempre chamaria minha atenção.
- Então, garota de Nova Iorque, já está sentindo saudades da sua poluição? – ele mantinha um sorriso divertido nos lábios e era impossível não reagir a isso, sorrindo de volta.
- Não, estou gostando muito da sua floresta. – disse divertida.
- Isso significa que vão ficar? – perguntou ele.
- Sim, até meu pai resolver fazer outra mudança, terá que me ver muito por aqui, Jacob. – era incrível como era natural falar com ele.
– Gostando de morar com Emily? – disse ele rindo.
Ele tinha uma risada gostosa de se ouvir, daquelas que te faz rir junto.
- Sim, minha prima é uma pessoa maravilhosa...
Minha conversa com Jacob fora interrompida por Emily, que usava um tom de voz alto.
- Sarah, essa não é uma boa hora para essa pergunta. – Emily dizia a Sarah, trazendo não só a atenção minha e de Jacob, mas como de todos, até mesmo Paul havia parado de comer.
- Eu preciso e tenho direito de saber, Emily. – Sarah mantinha o olhar preso a Sam, que a olhava com a mesma intensidade. Parecia que iria sair faísca. – Me responda Sam, Porque o menino tem que seguir Mandy e eu como seguranças?
Então eu finalmente tinha entendido o motivo da confusão. Eu sabia que ela não iria aguentar, que iria perguntar para Sam, só não esperava que fosse assim. E pelo rosto de todos, ninguém também esperava.
- Eu não vou lhe responder isso, Sarah. - disse Sam seriamente.
- Era de mim que vocês estavam falando, portanto como eu sou o assunto, tenho todo o direito de saber – disse ela trincando os dentes.
Sarah tinha perdido sua paciência, mau sinal. Abaixei minha cabeça, apoiando com as mãos nos rosto. Sabia o que viria a seguir. Nem mesmo eu conseguiria acalmar a situação.
Jacob depositou levemente sua mão em cima do meu joelho, me causando uma sensação de conforto, segurei sua mão num pedido silencioso de obrigado.
- Eu só estou cuidando de vocês. Vocês não conhecem nada e nem ninguém aqui. Só queria que mostrassem a cidade. – Sam tentava inutilmente convencê-la.
- Eu não acredito em você, Sam. Pode mentir para todos menos para mim. Com licença – Sarah levantou da mesa, causando um barulho de sua cadeira, subindo as escadas pisando forte.
Um silêncio perturbador caiu sobre a mesa de jantar. Toda aquela felicidade que havia em todos se acabou. Sam estava sério, como nunca estivera até aquele momento. Jared não sorria mais, apenas brincava com sua comida. Enquanto Quil e Paul comiam de maneira silenciosa e calma. Emily tinha uma expressão preocupada e olhava atenta para Sam. Embry era visível como estava preocupado com Sarah, ainda mantinha os olhos fixos na escada.
Mas o que me deixava ainda mais confusa, era ter a mão de Jacob confortavelmente repousada em meu joelho, eu respirei profundamente, não queria ser eu a primeira a cortar o silêncio tenso, mas não podia deixar Sarah sozinha.
- Eu vou falar com el.a – foram as únicas palavras que disse baixo para Jacob antes de subir para o quarto.
Fiquei parada um bom tempo em frente a porta antes de entrar. Podia ouvir seus passos pesados sobre o chão de madeira. Sarah e eu tínhamos essa mania, andávamos de um lado para o outro quando estávamos nervosas. Entrei no quarto e sentei-me na cama em silêncio. Um, Dois, Três.
- Estúpido! Sam é um estúpido. Com que direito quer controlar cada passa que damos? Acha que é nosso dono só porque estamos morando na sua casa? – Ela precisava colocar tudo para fora, se não falasse comigo iria acabar falando o que não deve e para quem não deve.
- Sarah... - respirei profundamente e sentia falta da mão de Jacob me confortando – Sam só esta tentando nos proteger.
- Meu Deus, Amanda, você esta defendendo ele? Você só pode estar brincando. - ela andava pelo quarto e eu apenas a seguia com os olhos. - Você estava ocupada demais babando em Jacob para perceber que Sam estava olhando para mim a noite inteira. Ele me olhava de uma maneira desconfiada. Eu sei do que estou falando, porque é a mesma maneira que eu olho para você quando sei que vai aprontar.
Ia abrir a boca para dizer algo que pelo menos a fizesse falar mais baixo, porém ela foi mais rápida - Ah, e valeu por agradecer Embry, achei muito engraçado. – disse ela cínica.
O que iria argumentar com aquela cabeça dura? Eu não podia me defender, quanto mais defender Sam. Resolvi deixá-la quieta e fomos dormir. Ela estava irritada não queria conversar, mas eu sabia que pela manhã estaria tudo bem, não conseguíamos nos odiar, nem por um segundo.
Por incrível que pareça assim que deitei em minha cama, a qual ainda estava me acostumando, consegui dormir. Tive um sonho confuso onde não conseguia reconhecer os rostos das pessoas presentes, mas podia sentir algo quente perto de mim, uma mão que estivera repousada em meu joelho recentemente, o sonho estava muito confuso, me sentia deslocada e cansada demais para entender o que se passava foi quando acordei assustada com os gritos, com os gritos de Sarah.
Ah não, outra vez. Sarah estava tendo seus pesadelos outra vez, tinha esperanças que eles parassem algum dia. Corri para o seu quarto o mais rápido que pude.
Emily e Sam estavam lá. Sarah imediatamente me olhou com aquele olhar tipicamente falso que ela faz tentando convencer que tudo está bem.
Emily dava um copo d’água para Sarah, preocupada, enquanto Sam a olhava, de braços cruzados, buscando respostas.
- Foi só um pesadelo. – mentiu Sarah novamente com um leve sorriso falso nos lábios, como a safadinha sabia mentir bem.
Podia ver Emily sorrir tranquila, pelo menos a ela Sarah enganava, por que Sam continuava a olhando seriamente.
- Desculpe acordar VOCÊ, Emily. - Ela havia enfatizado o você, olhando friamente para Sam, ainda estava brava com Sam, é claro.
Os dois nos deram boa noite, concordando que Sarah ficaria bem, já que eu dormiria ali com ela essa noite. Eles fecharam a porta indo para o seu quarto. Ouvimos a porta do quarto do casal ser fechada.
Sentamos no meio da cama, uma de frente para a outra. Enquanto Sarah começou a me contar sobre seu sonho. Eu prestava atenção a cada palavra que ela me dizia, tentando mais uma vez decifrar os seus sonhos.
- Você sabe que meus sonhos nunca são em HQ, mas esse foi o mais real que eu já tive. Havia neblina por toda a tarde, morena, eu estava perdida, te chamava e você não respondia. Era uma floresta, é a única coisa que me lembro no meio da névoa. Um garoto loiro, com cabelos curtos, os olhos tinham uma tonalidade preta intensa, uma expressão como se me conhecesse. Eu tinha medo dele, mas ao mesmo tempo me envolvia completamente com seu olhar e movimentos.
Não sei por quanto tempo permanecemos em silêncio fitando o teto, Sarah tinha a cabeça encostada nas minhas pernas e tinha o mesmo olhar pensativo do que eu. Tentávamos ligar os fatos.
- Vampiro? – ri silenciosamente. – Você realmente gostou daquele livro do Drácula.
- Não foi só um sonho, Mandy. Você sabe disso. - ela disse irritada.
De fato, eu realmente sabia que não era apenas isso.
Um barulho na porta da frente nos despertou de nossos pensamentos, olhamos uma para a outra e corremos ao mesmo tempo para a janela. Sam, Paul e Jacob acabavam de sair pela porta, estavam sem camisa e chovia muito lá fora. Nos olhamos confusas. Aonde os três iriam de madrugada? E nesse frio?
Eles caminhavam em direção à floresta. Quando Jacob simplesmente parou, antes de sumir em meio a escuridão, ele olhou diretamente para a nossa janela. Meu coração acelerou no peito, por mais distante que estivesse, era para mim, o olhar de Jacob estava pousado sobre mim.
Jacob permaneceu parado me olhando atraindo a atenção de Paul e Sam, que esperavam impaciente por ele, fazendo-os olhar para nossa janela também.
Um raio iluminou o céu, mostrando que estávamos na janela. A chuva caia agora forte lá fora, enquanto os três mantinham seus olhares sobre nossa janela. Olhei para Sarah e ela me olhava com uma expressão que eu conhecia muito bem.