Trafalgar Square
História por Lettie | Revisão por Sarah C.


A rotina que enfrentamos todos os dias às vezes pode nos fazer pensar que a vida é um pouco previsível, mas ela pode nos guardar grandes surpresas, não? O que poderia transformar a vida de um jovem bonito, rico e bem-sucedido? O que poderia surpreendê-lo e deixar tudo de pernas para o ar?

Talvez a palavra AMOR diga tudo...

Londres, Inglaterra. A praça de Trafalgar Square, no centro da cidade, estava lotada aquela noite, pessoas chegavam a todo momento com suas famílias a fim de aguardar a linda queima de fogos de Ano Novo.

Logo à frente, o National Gallery, um dos mais importantes museus da Europa e um dos mais conhecidos do mundo. Como todos os anos, seu salão principal fora especialmente preparado para receber governantes, executivos e famílias nobres que presenciariam o espetáculo longe da multidão.

Como sempre, as pessoas mais ilustres foram convidadas a prestigiar a festa de réveillon daquele ano. Dentre os convidados, destacava-se Carlisle Cullen, um homem bem sucedido e cobiçado entre as grandes figuras femininas, que vivia solitário em sua mansão.

Carlisle era um homem de natureza gentil e extremamente culto. Desde pequeno encantava a todos com sua desenvoltura e inteligência. Tinha tino para os negócios e em pouco tempo transformou os negócios modestos de sua família em um império.

Mas apesar de seu sucesso evidente, estava cansado de toda aquela vida... Cansado de ser o centro das atenções, cansado dos bajuladores que se aproximavam dele somente por aparência ou interesse. Pensava em seu íntimo em encontrar alguém que ele pudesse amar e amá-lo, alguém especial.

Estava distraído em seus pensamentos quando avistou um conhecido acenando de uma das mesas decoradas com requinte. Caminhou lentamente até lá e estendeu a mão para cumprimentá-lo:

- Meu amigo Aro, como vai ?
- Bem, e você Carlisle? Como vão os negócios?
- Estou ótimo, e os negócios vão bem, obrigado.

Após a troca de algumas palavras triviais, o silêncio veio, mas Aro o quebrou tomando um gole de champanhe e apontando a multidão de pessoas à frente.

- Vê aquelas pessoas? Vê como somos diferentes?
- Para mim elas são como nós, só não tiveram as mesmas oportunidades. – respondeu Carlisle refletindo.
- É, pode até ser... Mas nós nascemos para essa vida, Carlisle. – Aro afirmou, dando alguns tapinhas nas costas de Carlisle.

Dada a óbvia divergência com Aro, Carlisle resolveu não prolongar a conversa com o amigo. Calou-se e ficou a observar a multidão, detendo o olhar aleatoriamente. Após um profundo suspiro, tomou uma decisão.

- Quer saber? Vou descer e partilhar desse início de ano com a multidão.
- Você ficou maluco? – Aro perguntou, com um semblante confuso.
- Talvez. – retrucou, afastando-se.

Caminhou com passos decididos até o local onde deixara seu sobretudo. O rapaz responsável levou alguns minutos para encontrar o longo casaco de tom escuro. A esta altura, Carlisle já estava impaciente e brincava com os dedos sobre a campainha que estava sobre o balcão. Aquilo pareceu irritar o rapaz. Carlisle pegou seu sobretudo, vestiu-o e, antes de sair dali, perguntou ao rapaz:

- Qual o seu nome?
- William, senhor.
- Bem, tenha um bom Ano Novo, William.
- Obrigado, senhor. – respondeu o rapaz um tanto surpreso. Não era comum aquelas figuras importantes se dirigirem a ele.

A pressa de Carlisle ao atravessar o hall de entrada chamou a atenção de alguns, mas ele não hesitou. Desceu as escadas e dali a alguns instantes já se misturava à multidão. A animação de todos era palpável; conversavam, brincavam, dançavam...

“Nada demais!” – pensou Carlisle.

Então tomou a direção do centro da praça, a fim de se enturmar e se posicionar para ver de perto os fogos. Quando tentava passar, esbarrou em alguém, fazendo-a derramar a bebida que estava em suas mãos.

- Droga... – respondeu uma voz desconhecida.
- Me desculpe! – ele disse prontamente.

Carlisle se desculpou sem receber qualquer resposta, apenas um sorriso. Após a troca de um olhar, ela sumiu na multidão. Era inevitável não esbarrar em alguém naquelas circunstâncias.

Ele tentou segui-la, esbarrando e empurrando algumas pessoas no trajeto. Por fim, a viu dançando ao ritmo da música, próxima de alguns músicos que tocavam animados. Se encantou com o sorriso daquela mulher, ele era mágico, mexia com algo dentro dele. A mesma coisa que agora o puxava para ela. Sem lutar contra esse impulso, foi em sua direção.

- Com licença. – disse tocando de leve seu ombro.
- Oi! – ela respondeu, virando-se curiosa.
- Me desculpe por ter esbarrado em você e derramado sua bebida, me chamo Carlisle.
- Oh, essas coisas sempre acontecem, não se preocupe. Sou .

estendeu a mão e o puxou, dando um beijo cordial no rosto. Sorriu, vendo que ele ficou sem jeito.

- Muito prazer. – ela disse ainda sorrindo.

O sorriso dela lhe tirava o fôlego, não estava acostumado a se sentir assim, leve e despreocupado.

- Você dança muito bem, parabéns. – elogiou-a.
- Ah, fala isso porque ainda não pisei no seu pé. – piscou para ele.

Era uma noite agitada mas Carlisle e logo conversavam como se já se conhecessem há tempos. Por vezes, tinham que gritar um para o outro, devido ao grande barulho à volta.

- Vamos beber alguma coisa? – perguntou certo momento.
- Vamos.
- Fica aí que vou pegar.
- Não se perca, hein. – ele disse, segurando a mão dela com firmeza.

Ela assentiu com a cabeça e acenou de longe enquanto conversava com o vendedor de bebidas.
Momentos depois, retornou com um copo médio de chocolate quente e o entregou a ele, que tomou um gole.

- Ei, não quer saber o que é ? – perguntou divertida.
- Não, por algum motivo, que não sei qual é... Eu confio em você. - e tomou um outro gole – muito bom.
- E eu confio em você também.
- Você não deveria confiar em estranhos. – ele disse sério.

Ela assumiu um ar misterioso e disse, olhando para o copo de bebida nas mãos:

- Er, minha mãe me ensinou isso, fique tranqüilo. Mas você não é um estranho, não mais...

Ele sorriu em resposta.

- Opa, ficou... – ela apontava para os lábios, rindo.
- QUÊ ? – ele gritou, não entendendo o que ela queria dizer por causa do barulho alto.

Ela repetiu um gesto que ele não entendeu e, tomando iniciativa, passou o dedo suavemente na marca deixada pelo chocolate acima de seus lábios.

- É que sujou aqui. – ela disse, bem próximo ao rosto de Carlisle.
- Er... obrigado – ele quase gaguejou. - isso sempre acontece.

A proximidade repentina os deixou um pouco sem graça e um breve silêncio se instalou. Carlisle afastou-se alguns centímetros.

- Eu estou te chateando, não estou?
- Não, você é uma ótima companhia.

Diante da negativa, Carlisle deu um breve suspiro de alívio.

- Que bom, mas onde estão seus amigos?
- Eles sumiram por aí, não consigo achá-los mais.
- Quer procurá-los?
- Ah não, estou bem acompanhada agora.
- Hum, eu digo o mesmo. – ele respondeu.

o olhou e sorriu, dando um gole em sua bebida até acabar.

- Vou pegar mais um pouco, quer?
- Deixa que eu pego.

Ela observou a multidão que se aglomerava e fez uma careta.

- Vamos juntos e está resolvido. Assim a gente não se perde um do outro.

Carlisle segurava em sua mão e abria caminho entre a multidão. Ele a estudava curioso, fazia-lhe várias perguntas que ela respondia sempre alegremente, sem argumentar. Certo momento, eles pararam de falar e ficaram apenas curtindo a presença um do outro. Algumas pessoas passavam por eles e os cumprimentavam, era sempre hospitaleira, abraçava e sorria muito. Carlisle era mais reservado, mas não fez subjeção alguma, entrou enfim no clima.

Após a passagem de um grande grupo de pessoas em algazarra, se encostou em um banco vazio e franziu a testa:

- Estava pensando... Você está sozinho aqui?
- Hum, não... Estou bem acompanhado agora.
- Ah, digo se você veio sozinho para cá? Amigos... – ela pausou ... - namorada, esposa?
- Ah, sim! – ele sorriu para si mesmo compreendendo o que ela queria saber. - Digamos que me cansei do convencional, então eu resolvi ficar sozinho um pouco e ver os fogos.
- Sozinho no meio de uma multidão na Trafalgar Square? Bela escolha... – disse, sorrindo e erguendo o rosto em sua direção.

Carlisle fez uma pequena careta diante do comentário, ela estava certa. Ainda observando-o, continuou:
- Hum, eu entendo você, sabe?
- Entende? – ele indagou surpreso.
- É, o nosso dia-a-dia nos deixa irritados, cobranças no trabalho, essas coisas, então nada melhor que ficar sozinho, ou pelo menos com pessoas que você não conhece, para relaxar um pouco.
- É exatamente isso mesmo. – murmurou ele quase que para si mesmo.

Ela assentiu e voltou o olhar para o céu, que seria palco de uma explosão de luzes e cores. A festa das pessoas com a expectativa dos fogos de Ano Novo era enorme, a música estava bem mais alta e as pessoas, bastante eufóricas, dançavam ao ritmo da música.

- O povo está animado hoje, não é? – Carlisle gritou para , fazendo-a voltar a realidade.
- SIM...

Eles agora se encaravam, por vezes pareciam querer falar algo... Mas foi quem tomou iniciativa.

- Eu tive uma idéia...- e lhe lançou um sorriso maroto.
- Ah é? Qual?
- Vamos sair do barulho um pouco? O que você acha?

Carlisle ficou desconcertado com a espontaneidade de , mas não demorou a respondê-la.

- Acho uma ótima idéia.

Ela pareceu aliviada, pois a breve demora na resposta dele a deixara apreensiva.

- Que bom, eu conheço um lugar tranquilo e não muito longe, a gente pode ver os fogos bem melhor.
- Não vai me sequestrar, não é?
- Ah, você acha que tenho cara de sequestradora? – ela perguntou, com uma expressão divertida e inocente.
- Hum... - ele respondeu, com um ar sério, como se estivesse realmente avaliando-a e, em seguida, caindo na gargalhada. – Acho que não... Vamos logo então.

Eles começaram a caminhar, de mãos dadas, tentando abrir caminho entre a multidão. De repente, ela parou e colocou a mão em sua testa como se tivesse esquecido algo.

- Falta uma coisa! Vou pegar, já volto...
- Mas... - ele tentou argumentar.

Alguns minutos se passaram, e diversas dúvidas começaram a surgir em sua cabeça. E se ela tivesse ido embora? Se tivesse se cansado dele? Se ele estivesse se enganando? Se ela fosse como as outras? Não ela, não... Ela parecia tão diferente. Sentiu o ar voltar aos seus pulmões quando a avistou entre as pessoas que se aglomeravam logo à frente. Ao se aproximar, notou que ela tinha uma garrafa de champanhe e duas taças nas mãos.

- Agora sim, vamos?

o puxou pela mão e saíram trombando em algumas pessoas.

Passando por uma rua de construções clássicas e imponentes, chegaram ao lugar, era realmente mais calmo, a Ponte de Vauxhall. A estrutura de aço e granito se erguia em arcos sobre o Rio Tamisa e oferecia uma vista privilegiada do local de onde os fogos seriam lançados. Poderiam ver as luzes dali e até mesmo escutar a música e o burburinho vindo da praça.

- Chegamos, é aqui. Gostou? - perguntou em expectativa.
- Perfeito! – ele exclamou.
- Vamos ficar ali, não se importa, né ? – ela apontou para um espaço vazio no parapeito.
- Claro que não, vamos.

Eles ficaram lado a lado e ele notou que um tipo de eletricidade percorria seu corpo toda vez que ficava mais próximo a ela. Um sutil perfume de violetas que emanava dos cabelos dela invadiu suas narinas. A presença daquela mulher o embriagava. se virou e, encarando-o, disse:

- Que horas são?
- Está quase na hora... – Carlisle afirmou, analisando os ponteiros do relógio em seu pulso.

Alguns minutos depois o burburinho aumentou, a contagem para o novo ANO estava para começar. mais que depressa deu uma das taça à Carlisle.

- Vamos, está quase na hora.

“CONTAGEM REGRESSIVA!”

Carlisle começou a contar com a taça de champanhe na mão. 10, 9, 8...

- Sabem o que dizem desse momento? - se virou e perguntou de repente.
- O quê?
- Que traz sorte beijar alguém à meia-noite...

Carlisle ficou estático e se esqueceu de continuar a contar e até mesmo de respirar. Viu aproximar seu rosto do dele, seus lindos olhos cor de mel o fitavam e seus lábios procuravam os dele.

A contagem continuava... 4,3,2,1.....

colou seus lábios aos dele, Carlisle a correspondeu. Suas mãos deslizaram pelas costas da jovem e agora a puxavam pela cintura para próximo de seu corpo. O beijo começara suave, mas então, sentiu a língua de Carlisle invadindo sua boca entreaberta... E sentiu seu gosto... Um sabor de menta misturado à chocolate... E sentia a urgência daquele beijo. Ela sentiu uma onda de calor subindo por seu corpo... Quando ambos estavam quase sem fôlego, partiram o beijo e se olharam sem saber o que dizer...

Eles continuaram próximos, encostados na armação da ponte, Carlisle acariciava o rosto de com os dedos.

- Agora falta mais uma coisa... – ela sussurrou.
- O quê?
- A champanhe...
- É mesmo. – ele disse, abrindo a garrafa e enchendo as taças. Ficaram alguns instantes observando os fogos e o efeito de seu reflexo nas águas do rio Tâmisa. Era lindo e perfeito.

ergueu a taça e propôs um brinde.

- Ao novo ano que inicia...
- A nós... – Carlisle completou, tocando sua taça na dela e buscando seus lábios mais uma vez para um beijo apaixonado.

FIM